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O FANTÁSTICO

MISTÉRIO
DE FEIURINHA
Pedro Bandeira
© Avelino Guedes

Resenha
Era uma vez um escritor apaixonado por contos de fadas, que
certo dia viu-se metido não no meio, mas no fim de todas as his-
tórias: debatendo-se com uma grande crise de inspiração, viu en-
trar porta adentro uma figura estranhíssima, que se apresentava
como Caio, o Lacaio. Ora, o tal Caio alegava que vinha procurá-lo
em nome de Branca Encantado, mais conhecida como Branca de
Neve, que tinha se reunido com todas as demais princesas de
contos de fadas para solucionar o mistério do desaparecimento
de Feiurinha, uma princesa cuja história ninguém mais sabia con-
tar. Quando o escritor estava prestes a ligar para o hospício para
que cuidasse daquele doido varrido, eis que recebe a visita das
heroínas das histórias que amava: Branca de Neve, Cinderela, Ra-
punzel, Bela Adormecida... Para ajudá-las, ele escreve a todos os
maiores conhecedores de contos de fadas do mundo para des-
cobrir algum vestígio da história de Feiurinha, apenas para rece-
ber uma única e mesma resposta: “Feiurinha? Nunca ouvi falar”.
A solução para o tal mistério, porém, estava mais perto do que ele
imaginava: a história de Feiurinha era a preferida de Jerusa, sua
empregada, que a tinha ouvido de sua avó. E é assim que o autor
finalmente consegue escrever a história da heroína desaparecida
e garantir que ela e todas as outras princesas possam voltar a ser
felizes para sempre...
Nessa saborosa história, Pedro Bandeira vai tentar descobrir
aquilo que se encontra por trás da famosa fórmula “e viveram fe-
lizes para sempre” que encerra todos os contos de fadas. Numa
sátira bem-humorada que não esconde o fascínio por esse gênero Coordenação:
Maria José Nóbrega
de contos, o autor faz com que princesas famosas, como Branca
de Neve e Cinderela, grávidas e um tanto envelhecidas, remetam
a cada instante às suas próprias histórias e disputem entre si a
respeito daquela que seria a narrativa mais bela e comovente.
Bela Adormecida continua a adormecer a cada instante; Rapunzel
tem dor de cabeça por ter de deixar seu príncipe, que já não é tão
magro, subir pelas suas tranças; Chapeuzinho Vermelho se res-
sente porque sua história não tem príncipe encantado. Por meio
da história da desaparecida Feiurinha, o autor remete àquelas
histórias da tradição oral que, por mais belas que sejam, quando
não são registradas por escrito, correm o risco de desaparecer no
decorrer do tempo.

a trama era recapitulada com prazer e interesse.


Depoimento Imagino que isso aconteceu com espontaneidade

De Mônica Rodrigues, pela desenvoltura com que Pedro Bandeira presen-

atriz e mãe teia o leitor com uma “história-brinquedo” como


essa. Miguel notou a brecha oferecida pelo autor:
A experiência da leitura é uma experiência do “Eu sempre achei que a história não acaba depois
fantástico: o mundo descortinado por meio das do felizes para sempre”.
palavras que criam questões, sentidos, afetos;
Durante a leitura, as passagens pelo reino
propõem ritmos; bagunçam nosso modo de ver as
da fantasia ou pelo plano do cotidiano do autor
coisas. Uma opção pela desordem que, jogando as
tornaram-se nítidas, fazendo de Pedro um perso-
coisas para o alto, revela uma nova forma de ser,
nagem-pessoa próximo, de quem voltávamos a
contar, sentir.
falar ao olhar a quarta capa, observando a foto-
O livro de Pedro Bandeira nos interroga sobre
grafia e comparando com a ilustração divertida
o já sabido e nos lança para o universo do fantás-
de Avelino Guedes.
tico, do imprevisível. Com certa dose de ousadia,
explora personagens que já tinham sua “respeita- Já minha filha menor, Luara, não aguentava
da fama e legado” conquistadas. Diante dos olhos, mais esperar pela história de Feiurinha. Só queria
passeiam Branca Encantado, que conhecemos por saber dessa princesa de quem ninguém nunca ou-
seu nome de solteira – Branca de Neve –; Rapun- viu falar, nem mesmo ela. A percepção de que as
zel e suas dores de cabeça causadas pelo peso personagens dependem de vozes para que não
dos cabelos; e mais outras ex-princesas clássicas morram e continuem nos nutrindo de imagens, pa-
dos contos de fadas, que se apresentam casadas, lavras e conselhos sábios foi sentida na frase de
mais velhas, grávidas, vivendo um momento dra- Miguel, ao se referir à empregada Jerusa, a única
mático e inédito em suas vidas: o risco de desapa- que conhecia a história de Feiurinha: “Às vezes,
recerem. E para sempre! justo quem a gente menos imagina sabe as coisas
Nas seguidas noites para ler a história, meus de que a gente mais precisa”. Quando chegamos à
filhos, Miguel e Luara, Eliza, uma amiga deles, e eu história de Feiurinha, o mundo mágico fundido en-
optamos por reler trechos do capítulo lido no dia tre autor, coautor leitor(es) e personagens clássi-
anterior que mais nos chamaram a atenção. Assim, cos se amplia de encanto, sonho, poesia.
A fábula possibilita uma reflexão incomparável vários prêmios, como Jabuti, APCA, Adolfo Aizen e
sobre beleza e feiura, aparência e verdade. Eliza, a Altamente Recomendável, da Fundação Nacional
amiga dos meus filhos (e minha), acha intrigante: do Livro Infantil e Juvenil. Desde 2009, toda a sua
“Eu e minha mãe somos opostas no belo e no feio”: produção literária integra com exclusividade a Bi-
tudo o que uma acha feio, a outra acha bonito. E cai blioteca Pedro Bandeira da Editora Moderna.
na risada, porque acha um grande barato o feio e
o belo serem tão diferentes para pessoas tão pró-
ximas. E avança em seu exercício filosófico sobre Leia Mais
a beleza: “Porque, também, cada pessoa tem sua
beleza interior”. Do mesmo autor
A incomum e preciosa história de Pedro Ban- cc Mais respeito, eu sou criança! São Paulo:
deira transfigura-se em um convite aberto para Moderna.
experienciar, com fascínio, a perspectiva existente cc Ritinha Danadinha. São Paulo: Moderna.
entre as fronteiras da realidade, do mundo apa- cc A droga da obediência. São Paulo: Moderna.
rente; e as do encantamento e do “mundo interior”
cc Anjo da morte. São Paulo: Moderna.
das coisas.
cc Droga de americana! São Paulo: Moderna.
cc A droga do amor. São Paulo: Moderna.

Um pouco sobre o autor


Nascido em Santos, São Paulo, em 1942, Pedro Do mesmo gênero
Bandeira mudou-se para a cidade de São Paulo em cc História meio ao contrário, de Ana Maria
1961. Trabalhou em teatro profissional como ator, Machado. São Paulo: Ática.
diretor e cenógrafo. Foi redator, editor e ator de co-
cc Chapeuzinho amarelo, de Chico Buarque. Rio de
merciais de televisão. A partir de 1983, tornou-se
Janeiro: José Olympio.
exclusivamente escritor. Sua obra, direcionada a
cc A verdadeira história dos três porquinhos, de Jon
crianças, jovens e jovens adultos, reúne contos, po-
Scieszka. São Paulo: Cia. das Letrinhas.
emas e narrativas de diversos gêneros. Entre elas,
estão: Malasaventuras — safadezas do Malasartes, cc Ervilina e o princês ou Deu a louca em Ervilina, de
O fantástico mistério de Feiurinha, O mistério da fá- Sylvia Orthof. Projeto Poa.
brica de livros, Pântano de sangue, A droga do amor, cc Little lit: fábulas e contos de fada em quadrinhos,
Agora estou sozinha..., A droga da obediência, Droga de Art Spiegelman e Françoise Mouly. São Paulo:
de americana! e A marca de uma lágrima. Recebeu Companhia das Letras.

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