Tratado de Direito Privado, Tomo XLII - Direito Das -- Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Bruno Miragem -- Tratado de Direito Privado 42, 42, 4a, -- 9788520343265 -- b8276948fb45627737a0df4d99f410c8 -- Anna’s Archive
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M672
2012
Vol.42
TRATADO DE
DIREITO PRIVADO
Diretor Responsável
A-VTC-VO BELINELO
OnE
l NE PAVAN
Analistas Documentais. Bethânia Mignolo dos Santos, Bruno Martins Costa, Cristiane Gonzalez Basile de Faria,
Danielle Cândido de Oliveira, Henderson Rirst de Oliveira e ítalo Façanha Costa.
Editoração Eletrônica
Coordenadora
Equipe de Editoração: Adriana Medeiros Chaves Martins, Ana Paula Lopes Corrêa, Carolina do Prado Fatel, Ga-
briel Bratti Costa, Ladislau Francisco de U m a Neto, Luciana Pereira dos Santos, Luiz Fernando Romeu, Marcelo
de Oliveira Silva e Vera Lúcia Cirino.
I S B N 978-85-203-4326-5
12-009SO CDÜ-347(81)
TRATADO DE
DIREITO PRIVADO
PARTE ESPECIAL
TOMO XLII
Atualizado por
Bruno Miragem
EDITORA anos
REVÕSTÃ DOS TRDBUNA1S
PONTES DE MIRANDA - -
TOMOXLII
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES:
Mútuo. M ú t u o a risco. Contrato de conta corrente. Abertura de crédito.
Assinação e Acreditivo. Depósito
PONTES DE MIRANDA
ANTONIO BELINELO
Diretor responsável
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo,
especialmente por sistemas gráficos, microfflmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videcgrá-
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CENTRAL DE RELACIONAMENTO R T
(atendimento, em dias úteis, das 8 às 17 horas)
Tel. 0800-702-2433
e-mail de atendimento ao consumidor: [email protected]
Profissional
EDnORA ATIUADA
ISBN 978-85-203-4326-5
ISBN da Coleção 978-85-203-4321-0
À AMNÉRIS e à FRÂNCIS,
amor e gratidão de seu marido e de seu pai.
Í N D I C E G E R A L D O T O M O XLXI
APRESENTAÇÃO, 9
SOBRE O AUTOR, 2 5
SOBRE O ATUALIZADOR, 3 3
BIBLIOGRAFIA DO TOMO X L I I , 5 0 7
ÍNDICES
JURÍDICAS
D E FILOSOFIA
SOCIOLÓGICAS
LITERÁRIAS
BRUNO MIRAGEM
PARTE G E R A L
PARTE ESPECIAL
TÍTULO XXVII
MÚTUO
PARTE I
CONTRATO DE M Ú T U O
CAPÍTULO I
CONCEITO E NATUREZA
DO MÚTUO
57
§ 4.586. CONCEITO DE MÜTUO
1. Código Civil, art. 1.256. 2. Classificação do contrato de mútuo
CAPÍTULO II
PRESSUPOSTOS SUBJETIVOS
E OBJETIVOS DO CONTRATO DE MÚTUO
CAPÍTULO III
EFICÁCIA DO CONTRATO
DE MÚTUO
CAPÍTULO V
§4.601. REVOGAÇÃO
1. Revogação do pré-contrato de mútuo. 2. Contrato de mútuo
P A R T E II
CAPÍTULO I
MÚTUO A RISCO OU CÂMBIO MARÍTIMO
OU DE VIAGEM COMERCIAL
CAPÍTULO II
VALIDADE E EFICÁCIA
DO CONTRATO DE MÚTUO A RISCO
CAPÍTULO III
EXTINÇÃO DA RELAÇÃO JURÍDICA
DE MÚTUO A RISCO
TÍTULO XXVIII
CONTRATO DE CONTA CORRENTE
CAPÍTULO I
CONCEITO E NATUREZA
DO CONTRATO DE CONTA CORRENTE
CAPÍTULO II
CONCLUSÃO DO CONTRATO
DE CONTA CORRENTE
CAPITULO III
EFICÁCIA DO CONTRATO
DE CONTA CORRENTE
TÍTULO XXIX
ABERTURA DE CRÉDITO
CAPÍTULO I
CONCEITO E NATUREZA
DA A B E R T U R A D E CRÉDITO
CAPÍTULO II
EFICÁCIA DO CONTRATO
DE ABERTURA DE CRÉDITO
CAPÍTULO III
EXTINÇÃO DA R E L A Ç Ã O JURÍDICA
DE ABERTURA DE CRÉDITO
§ 4.631. EXISTÊNCIA E EXTINÇÃO DA RELAÇÃO JURÍDICA ENTRE
CREDITADO CREDITADOR 269
1. Causas de extinção. 2. Tsrmo ou condição. 3. Prazo indeterminado,
denúncia e renúncia. 4. Prazo determinado e denúncia cheia. 5.
Falência, insolvência e abertura de crédito. 6. Impossibilidade
superveniente. 7. Incapacidade, morte e abertura de crédito
TÍTULO X X X
ASSINAÇÃO E ACREDITIVO
(Negócios jurídicos unilaterais para compor ângulo)
PARTE I
ASSINAÇÃO
CAPÍTULO I
CONCEITO E NATUREZA DA ASSINAÇÃO
CAPÍTULO II
EFICÁCIA DA ASSINAÇÃO
CAPÍTULO II!
EXTINÇÃO DA ASSINAÇÃO
P A R T E II
ACREDITIVO
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
PRESSUPOSTOS DO ACREDITIVO
CAPÍTULO III
EFICÁCIA DO ACREDITIVO
E X T I N Ç Ã O DA R E L A Ç Ã O J U R Í D I C A D O ACREDITIVO
TÍTULO X X X N E
DEPÓSITO
CAPÍTULO I
CONCEITO E NATUREZA
DO CONTRATO DE DEPÓSITO
CAPÍTULO II
EFICÁCIA DO CONTRATO DE DEPÓSITO
CAPÍTULO III
DEPÓSITO IRREGULAR
DEPÓSITO NECESSÁRIO
CAPÍTULO V
EXTINÇÃO DA RELAÇÃO
JURÍDICA DE DEPÓSITO
PARTE I
CONTRATO DE MÚTUO
CAPÍTULO I
CONCEITO E NATUREZA DO MÚTUO
§ 4.585. D A D O S H I S T Ó R I C O S E C O N C E I T O
§ 4.586. C O N C E I T O D E M Ú T U O
§ 4.586. B- Doutrina
Mantém-se atual o debate acerca da natureza jurídica do contrato de mútuo, se
contrato real, porque exige a entrega da coisa requisito de existência do negócio,
ou contrato consensual, se apenas necessário o acordo de vontade das partes. O
entendimento majoritário, inclusive com fundamento na doutrina de Pontes de Mi-
randa, é de que se trata de contrato real, distinguindo especialmente a celebração
do contrato de mútuo e a promessa de mútuo. Vale dizer que assim se posiciona a
maioria dos comentadores do Código Civil de 2002. Por outro lado, sustentando a
natureza consensual do contrato, e qualificando a entrega da coisa fungível como
única obrigação do mutuante, na fase de execução do contrato, posiciona-se Caio
Mário da Silva Pereira (Instituições de direito civil. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2011. vol. III, p. 315). Ainda se observa na doutrina a posição que distingue o mútuo
gratuito do mútuo oneroso, de modo que no primeiro, por não haver contraprestação
do mutuário senão a obrigação de devolução, somente a entrega da coisa carac-
terizaria a manifestação da vontade. Já no caso de mútuo gratuito, segundo esta
visão, poderia ser identificado o mútuo como contrato consensual. Na classificação
de Pontes de Miranda, contudo, essa distinção será relevante para outro fim, qual
seja, critério de classificação da natureza unilateral ou bilateral do mútuo.
No tocante ao mútuo de dinheiro vinculado à realização de uma determinada fi-
nalidade, a doutrina refere-se a ele mediante a expressão "financiamentoTcontrato i
de financiamento", referência adotada também pela legislação (por exemplo, o art
52 do CDC, Lei 8.078/1990). ' |
I
§ 4.586. C - Jurisprudência i
; § 4.587. A - Legislação
| Ainda hoje constitui objeto do mútuo, segundo as necessidades dos negócios
j privados, o dinheiro. A regra mencionada por Pontes de Miranda sobre a possi-
| bilidade de mútuo de moedas de ouro e prata (art. 1.258 do CC/1916), não foi
! reproduzida pelo Código Civil de 2002. Encontra-se revogada. A rigor, especial-
mente quando se trate de contratos financeiros, são várias as modalidades que
j atualmente se desenvolvem - dada inclusive sua atipicidade, embora com alguma
! regulação do CMN e Bacen - tais como, quando utilizados os limites tornados
disponíveis no "cheque especial", cartões de crédito, adiantamento a depositante
e outros que são, na essência, similares ao mútuo, embora revestidos de pecu- '
liaridades previstas em contrato. Assim como quando hoje se refere ao contrato
de financiamento, que afinal é o que Pontes de Miranda define como mútuo de
destinação. No caso do dinheiro, mantém-se o custo forçado da moeda, hoje o
Real (R$), conforme art. 1.° da Lei 9.069/1995. No Código Civil vigente, o art. 315
consagra o princípio do nominalismo, pelo qual as dívidas devem ser pagas em
moeda corrente, por seu valor nominal. O art. 318 do CC/2002, da mesma forma, •'
decreta a nulidade de convenções para pagamento em ouro e em moeda estran-
geira, mesmo para compensar o valor dessa em relação à moeda nacional, na
linha do que já dispunha o Dec.-lei 857/1969.
Em relação ao mútuo mercantil, não merecem mais tratamento legislativo dis-
tinto do mútuo civil, tendo as disposições do Código Comercial que o disciplina-
vam sido revogadas pelo Código Civil de 2002, o qual regula indistintamente o
mútuo - civil ou mercantil - pelos arts. 586 e ss.
O exemplo de Pontes de Miranda quanto ao mútuo realizado a fazendeiros
como espécie de mútuo civil, não mercantil, atualmente deve ser cotejado com o
disposto no art. 971 do CC/2002, que faculta a inscrição dos empresários rurais
no Registro Público de Empresas Mercantis.
Foi revogada a regra do art. 248 do CCo sobre a contagem de juros no contra-
to de mútuo mercantil. Todavia, o art. 591 do CC/2002 refere que sendo o mútuo
destinado a fins econômicos, presumem-se devidos juros, o que mantém a atua-
lidade do exemplo citado por Pontes de Miranda.
Quando se trate da possibilidade de resilição do contrato de mútuo de destina-
ção, em face do descumprimento da finalidade a que se destina, atualmente tem
j por fundamento a regra geral sobre resilição, do art. 475 do CC/2002.
Refira-se, ainda no tocante ao mútuo com fim ilícito, que as regras sobre nu- j
lidade do negócio jurídico abrangem atualmente tanto o objeto ilícito (art. 166, II, i
do CC/2002), quanto o motivo ilícito comum a ambas as partes (art. 166, III, do j
CC/2002). |
j § 4.587. B - Doutrina j
O exame do mútuo mediante distinção entre mútuo mercantil e mútuo civil,
realizado por Pontes de Miranda, deve ser situado atualmente frente ao debate
sobre a efetiva unificação ou não do direito civil e do direito da empresa. A unifi-
cação legislativa das obrigações e a introdução do Livro do Direito da Empresa
pelo Código Civil de 2002, foi identificado por parte da doutrina como causa da j
unificação do direito privado. Há, todavia, dissenso nesse particular, de modo que j
muitos autores sustentam, apesar da unificação legislativa, a permanência da j
distinção entre o direito civil e o direito de empresa, razão pela qual se manteria j
j atual a distinção entre contratos civis e empresariais, ainda que por critérios dis- j
| tintos para interpretação destas normas legais (TEIXEIRA, Sávio Figueiredo (coord.). j
Comentários ao novo Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2008. vol. IX, p. 116).
Por outro lado, assume maior relevância a distinção em relação ao mútuo cele-
brado com fins econômicos que se caracterize como relação de consumo, quando
o consumidor é o destinatário final do dinheiro dado em mútuo, e o utiliza para fins
não profissionais, ou ainda, quando se considere que em face da vulnerabilidade
do empresário frente à instituição financeira, justifica-se sua equiparação a con-
sumidor e aplicação do Código de Defesa do Consumidor (art. 29).
No que se refere ao mútuo de destinação, a doutrina e jurisprudência o deno-
minam pela expressão financiamento, a qual também tem assento legal, como é o
caso do art. 52 do CDC. Da mesma forma, como apontam Nancy Andrighi, Sidnei
Benetti e Vera Andrighi, há inúmeras situações em que o mútuo surge como es-
pécie de contrato coligado a um contrato principal (Comentários ao novo Código
Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2008. vol. IX, p. 113).
§ 4.587. C - Jurisprudência
§ 4 . 5 8 8 . A - L e g i s l a ç ã o
Na ausência de prazo estipulado no contrato de mútuo, presumem-se os dis-
postos no art. 592 do CC/2002 (art. 1.265 do CC/1916), quais sejam, até a pró-
xima colheita, se for mútuo de produtos agrícolas para consumo ou semeadura;
30 dias, se mútuo de dinheiro, e o período de tempo declarado pelo mutuante,
quando se trate de outra coisa fungível. Presunção júris tantum.
Menciona Pontes de Miranda a submissão do mutuante, no caso de mútuo |
oneroso, à responsabilidade por evicção e vícios redibitórios. A evicção regula-se
pelos arts. 447 a 457; os vícios redibitórios, pela regra dos arts. 441 a 446, ambos
do CC/2002. |
A remuneração do mútuo oneroso se dá mediante pagamento de juros pelo
mutuário ao mutuante. O Código Civil de 1916, a que se refere Pontes de Miranda, |
estabelecia a necessidade de cláusula expressa que estipulasse a obrigação de j
pagar juros. O art. 591 do CC/2002, estabelece que destinando-se o mútuo a fins j
1
econômicos, presumem-se devidos juros. Ainda no Código Civil anterior, indicava-
-se que a fixação da taxa de juros pode ser acima ou abaixo da taxa legal (art.
1.262, parágrafo único). O Código vigente, todavia, estabelece limite expresso no
mesmo art. 591, estabelecendo que não poderão ser superiores a taxa a que se
refere o art. 406 do CC/2002, qual seja, a taxa de juros para mora dos impostos de-
vidos à Fazenda Nacional. A mesma regra do art. 591 do CC/2002, estabelece tam-
bém a possibilidade de capitalização anual. Segundo entendimento jurisprudencial,
contudo, estes limites não se aplicam ao mútuo em que o mutuante é instituição
j financeira, a qual se submete à disciplina do CMN e do Bacen, observando atual-
I mente liberdade de convenção de taxas de juros em contrato, passível de controle
apenas quando excessivas, pela incidência do Código de Defesa do Consumidor.
No tocante à capitalização de juros, a MedProv 2.170-36/2001, em seu art.
5.°, permite a capitalização de juros em período inferior a um ano, nas operações
realizadas por instituições financeiras, que, portanto, escapam à limitação imposta
pelo Código Civil.
§ 4.588. B- Doutrina
A natureza jurídica do mútuo definida por Pontes de Miranda, indicando tratar-
, -se de contrato real e que pode ser unilateral, quando se trate de mútuo gratuito,
ou bilateral, quando devidos juros pelo mutuário ao mutuante, é tema de longa
divergência no direito brasileiro. Em relação a sua natureza real opõe-se Caio
Mário da Silva Pereira (Op. cit., 315) e dentre os comentadores do Código Civil
vigente, tendem a essa posição os comentários de Tepedino et alli (Código Ci-
vil interpretado conforme a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar,
2006. t. II, p. 308). De acordo com o entendimento definido por Pontes de Miran-
da, considerando o mútuo de natureza real porque elemento legalmente exigido
j para a constituição do contrato, posiciona-se a majoritária doutrina, mesmo sob
a É
! G I D E do Código Civil de 2002 (ANDRIGHI; BENETTI; ANDRIGHI. Op. cit., p. 139; NERY
• JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. São Paulo:
j Ed. RT, 2009. p. 626; e LOPEZ, Teresa Ancona. Comentários ao Código Civil. São
i Paulo: Saraiva, 2003. vol. 7, p. 144). Mesmo a doutrina italiana contemporânea, no
| esteio daquela mencionada por Pontes de Miranda, mantém-se na defesa da na-
tureza real do contrato (e.g. GALGANO, Francesco. II contrato. Corso di diritto civile.
• Padova: Cedam, 2007. p. 240) ainda que ciente das críticas que a ela se opõe em
face do princípio da autonomia contratual (BIANCA, Cesare Massimo. Diritto civile.
II contrato. 2. ed. Milano: Giuffré, 2007. t. 3, p. 241-242).
No tocante à natureza unilateral ou bilateral do contrato de mútuo, parte da
doutrina brasileira divergiu de Pontes de Miranda no sentido de identificá-lo como
contrato unilateral (GOMES, Orlando, Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
p. 355). Esta visão, contudo, é criticada pela doutrina mais atual, que reconhece
razão a Pontes de Miranda, quando este indica a distinção entre o mútuo gratuito
e oneroso, reconhecendo o primeiro como unilateral, porém o segundo como bila-
teral (TEPEDINO; BARBOSA; MORAES. Op. cit., p. 309). Afinal a obrigação de pagar juros
"bilateraliza" o contrato, na expressão cunhada por Pontes de Miranda.
No tocante à limitação dos juros convencionados no contrato de mútuo, a
doutrina indica a necessidade de observar o limite estabelecido pelo art. 406 do
CC/2002, havendo, contudo, dissenso quanto à taxa a ser aplicada, se a estabe-
lecida pela Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) para remuneração
pela União dos títulos públicos que emite, de que trata a Lei 9.065/1995, ou se a
prevista no art. 161, § 1.°, do CTN. Nesse particular, diga-se que as instituições
financeiras não estão a príorí submetidas a êsse limite, segundo entendimento
jurisprudência! dominante.
Pontes de Miranda, igualmente, antecipa uma tendência no contrato de mútuo
no que se refere à distinção quanto a sua gratuidade ou onerosidade, indicando
que mesmo em negócios gratuitos pode haver finalidade econômica oculta, es-
condida, o que foi desenvolvido posteriormente pela doutrina do direito do consu-
midor mediante a distinção entre a remuneração direta e a indireta, sendo essa a
que, sob aparente gratuidade, oculta finalidade negociai do fornecedor (cf. MAR-
QUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 6. ed. São
Paulo: Ed. RT. 2011. p. 410).
§ 4.588. C- Jurisprudência
§ 4.589. A- Legislação
s § 4.589. C- Jurisprudência
Tudo isso pode ocorrer mesmo se, sendo dois ou mais os pré-contratos
de mútuo, algum foi exeqüido, ignorando o outorgante a verdadeira situa-
ção econômica do outorgado.
Não há a extinção automática. Tem de ser feita a denúncia cheia, isto
é, a denúncia com a fundamentação.
A denúncia do pré-contrato de mútuo é afastável pelo oferecimento
de garantia suficiente.
P a n o r a m a a t u a l p e l o A t u a l i z a d o r
§ 4.590. A- Legislação
A oferta de mútuo disciplina-se pelas regras da oferta do Código Civil de 2002
(arts. 427 et seq) e igualmente, quando se trate de relação de consumo, pelas i
regras do Código de Defesa do Consumidor. Este estabelece em relação à oferta,
que qualquer informação suficientemente precisa vincula o fornecedor que a fizer
veicular (art. 30 do CDC), importando, inclusive execução específica (art. 35 do
CDC). No caso da oferta de crédito, o fornecedor do crédito deve cumprir com
deveres específicos de informação (art. 52 do CDC). ;
O art. 875 do CC/1916, citado, corresponde hoje, ao art. 244 do CC/2002. Já o
art. 947 do CC/1916, que permitia pagamento em moeda corrente do lugar do cum-
primento da obrigação não é reproduzido na legislação vigente, sendo referido pelo
art. 315 do CC/2002, apenas que o pagamento deve se dar em moeda corrente.
A alteração das condições econômicas do promissário do mútuo como causa
de extinção da dívida (dever de contratar) do promitente, como a abertura do con-
curso de credores ou insuficiência ou extinção da garantia c.onstam do art. 333 do
CC/2002. Já a exceção de inseguridade prevista no art. 1.092 do CC/1916, hoje é
prevista no art. 477 do CC/2002.
Os arts. 462 a 466 do CC/2002 disciplinam o contrato preliminar.
§ 4.590. B- Doutrina
A doutrina atualmente, sob o influxo do princípio da boa-fé e da proteção à
confiança despertada pela informação e a publicidade, confere eficácia jurídica
vinculativa à conduta daquele que promete contratar, limitando-se a revogabili-
dade da promessa. É o que ocorre na promessa de mútuo, em que as restrições
à oferta deverão ser informadas do mesmo modo e com o mesmo destaque do
conteúdo da informação dirigida à celebração do negócio.
No que se refere à possibilidade de se extinguir o dever de contratar por dúvi-
da sobre o cumprimento, orienta-se a doutrina no sentido de que a força obriga-
tória do contrato não pode ser atenuada pela ausência de diligência de uma das
partes em verificar a situação patrimonial da outra, de modo a exigir-se que o fato
que suscita a dúvida seja novo (AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado de. Comentários ao
novo Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2011. vol. VI, t. II, p. 835).
§ 4.590. C- Jurisprudência
§ 4.591. A- Legislação
A regra sobre mútuo celebrado por pessoa menor, disciplinado pelo art. 1.259
do CC/1916, ora o é pelo art. 588 do CC/2002. Este refere que ausente a autori-
zação prévia daquele sob cuja guarda estiver, não pode ser reavido do mutuário
e de seus fiadores. Não refere, contudo, aos "abonadores" constante da regra
revogada. A ausência de autorização faz com que o negócio não gere efeitos,
| anulabilidade ou nulidade, conforme se trate de relativamente incapaz (art. 171,1,
; do CC/2002), ou absolutamente incapaz (art. 166,1, do CC/2002). A incapacidade,
j no Código Civil de 2002, cessa aos 18 anos (art. 5.° do CC/2002). As situações
j de incapacidade absoluta e incapacidade relativa são previstas, respectivamente,
; nos arts. 3.° e 4.°, do CC/2002. A regra do art. 155 do CC/1916, que veda a in-
| vocação da incapacidade relativa de uma parte pela outra, em beneficio próprio,
!
consta do art. 105 do CC/2002.
| A regra do art. 1.260 do CC/1916, quanto às exceções à regra da ineficácia do
mútuo feito a menor é reproduzida pelo art. 589 do CC/2002.
Quanto à discriminação em relação às operações de mútuos que podem ser
; realizadas por pessoas jurídicas, tem-se tanto a possibilidade, em se tratando de
| bancos públicos, de que a lei autorizativa indique as operações admitidas, assim
como, também em relação às demais instituições financeiras, a autorização do
Banco Central do Brasil (art. 10, X, da Lei 4.595/1964).
Os deveres e responsabilidades de tutores e curadores são disciplinados, no
direito vigente, pelos arts. 1.740 e ss. e 1.767 e ss., respectivamente.
No que se refere às disposições da sociedade por ações, o Dec.-lei
2.627/1940, mencionado por Pontes de Miranda, que dispunha sobre as socie-
dades por ações, foi revogado quase integralmente pela Lei 6.404/1976, que o
substituiu. Esta dispõe em seu art. 154, § 2°, b, vedação aos administradores
tomar por empréstimo recursos ou bens da companhia sem a autorização prévia
da Assembleia Geral ou do Conselho de Administração. No caso de liquida-
ção da companhia, o liquidante necessita, como regra, de autorização assem-
blear para contrair empréstimos, ressalvados (art. 211, parágrafo único, da Lei
6.404/1976). Pontes de Miranda discute, sob a égide da lei anterior, se o caso de
infração a tais comandos seria caso de nulidade ou anulabilidade, convencendo-
-se da ilicitude do objeto (ora, art. 166, I, do CC/2002). Não se trata este caso
de incidência da regra do art. 156, § 2.°, da Lei 6.404/1976, que ao disciplinar
conflito de interesses, estabelece como anulável o contrato entre o administrador
e a companhia.
§ 4.591. B- Doutrina
Há divergência doutrinária em relação ao mútuo prestado a menor, se ineficaz
apenas em relação ao incapaz por idade, ou aos demais. Jsso porque embora
os arts. 824 e 837 do CC/2002 tenham aberto exceção à invalidade derivada da
incapacidade pessoal do devedor, a regra do art. 588 do CC/2002, aplica-se aos
menores, não aos demais incapazes. Parte majoritária da doutrina sustenta, na
linha do entendimento de Pontes de" Miranda, que a ineficácia do mútuo bene-
ficia penas os incapazes por idade (cf. SANSEVERINO, Paulo de Tarso. Contratos
nominados II. São Paulo: Ed. RT, 2011. p. 332). Contudo, parte da doutrina, sob o
argumento dos princípios da boa-fé e da função social do contrato, assim como
dos fins sociais da norma, a extensão da ineficácia aos demais incapazes (cf.
ANDRIGHI, Vera; BENETTI, Sidnei e ANDRIGHI, Nancy Andrighi. Comentários ao novo
Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2008. vol. 9. p. 143).
No tocante à ausência de poderes para contratar mútuo pelo administrador
das sociedades ou por outra pessoa em seu nome, a doutrina tempera reconhe-
cimento da invalidade mediante aplicação da teoria da aparência, fundada na
boa-fé. Contudo, sua aplicação será limitada, no direito empresarial, pela teoria
do ultra vires societatis, que sustenta a invalidade dos atos praticados por quem
não tem poder, que sejam estranhos ao objeto da sociedade. No direito do consu-
midor, a teoria da aparência imputa solidariedade do fornecedor por obrigações
decorrentes de atos praticados por seus prepostos ou representantes autônomos
(nos termos do art. 34 do CDC).
§ 4.591. C- Jurisprudência
A jurisprudência aplica a teoria da aparência para legitimar ação do mutuá-
rio interposta contra pessoa pertencente ao. mesmo grupo econômico do mu-
iuário (STJ, REsp 879.113/DF, 3.aT.', j. 01.09.2009, rei. Min. Nancy Andrighi, DJe
11 09 2009) porém não a reconhece para a prestação de garantia em contrato de
mútuo, por quem não tinha poderes (STJ, REsp 278.650/PR, 4. a T„ j. 08.05.2001,
rei. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJ 15.10.2001).
§ 4.592. O B J E T O D O M Ú T U O
| § 4.592. B- Doutrina
j Acentua a doutrina, na linha do entendimento de Pontes de Miranda, que a
| fungibilidade ou não do objeto se dá em concreto, segundo a relação e o interes-
| se das partes. Coisa que se consideram por seu gênero, não por sua individua-
lidade (LOPEZ, Teresa Ancona. Comentários ao Código Civil. São Paulo: Saraiva,
| 2003. vol. 7. p. 143).
í
| § 4.592. C -Jurisprudência
Reforça a jurisprudência o entendimento de que a fungibilidade pode ser con-
| vencional (STJ, REsp 551.956, 4.aT., j. 24.08.2010, rei. Aldir Passarinho Júnior,
j DJe 14.09.2010).
§ 4.593. FORMA DO CONTRATO DE MÚTUO
§ 4.593. A - Legislação
O art. 133 do CC/1916 tem seu teor reproduzido no art. 109 do CC/2002.
A MedProv 2.172-32/2001 confere o ônus da prova ao credor ou beneficiá-
rio do contrato de mútuo acerca da regularidade das obrigações contratadas,
sempre que demonstrada pelo autor a verossimilhança de suas alegações.
Exclui da sua aplicação, contudo os mútuos em que é mutuante instituição
financeira.
Por força do art. 585, II, do CPC, o instrumento particular assinado por duas
testemunhas caracteriza-se como título executivo extrajudicial.
§ 4.593. B- Doutrina
§ 4.594. A - Legislação j
As regras sobre pagamento por terceiro interessado ou não interessado são
as dos arts. 304 a 307 do CC/2002. Nesse sentido, refira-se que o art. 307 dis-
põe sobre a eficácia do pagamento que importe na transmissão da propriedade ;
apenas quando realizado por quem tenha poder de alienar o objeto que nele |
consiste. Podem as partes convencionar o lugar do pagamento, nos termos do j
art. 327 do CC/2002. . |
Nos contratos de consumo, pode se dar a situação em que quem financia
o bem por intermédio de contrato de mútuo com o adquirente, entrega o valor j
correspondente a seu preço ao vendedor (fornecedor), devendo observar, dentre j
outras disposições, o que estabelece o art. 52 do CDC. j
§ 4.594. B- Doutrina
Quanto ao mútuo que se faz no qual o mutuante entrega o dinheiro a terceira
pessoa credora do mutuário que passa a se obrigar, tem-se situação que a dou- !
trina contemporaneamente vem denominando de contratos conexos, celebrados
entre diferentes partes, mas vinculados a uma finalidade supracontratual comum j
(cf. MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 6. |
ed. São Paulo: Ed. RT, 2011. p. 110). Seu efeito é identificado tanto na imposição
de deveres de informar, com fundamento na boa-fé, quanto na extensão de res-
ponsabilidade aos partícipes, especialmente sob o regime do Código de Defesa
do Consumidor.
§ 4.594. C- Jurisprudência
A jurisprudência reconhece a conexidade contratual no contrato de mútuo
para financiamento (e.g.STJ, REsp 331340/DF, 4. a T„ j. 02.12.2004, rei. Min. Bar-
ras Monteiro, DJ 14.03.2005, p. 340; também: TJSP, ApCiv 205.137.4/4-00, 6.a
Câm. Civ., j. 20.06.2005, rei. Des. Marcelo Bennachio). í
§ 4.595. A- Legislação
§ 4.595. C- Jurisprudência
§ 4.596. A- Legislação
O Código Civil de 2002 reproduziu ipsis literis, em seu art. 586, a definição
legal do contrato de mútuo presente no art. 1.256 do CC/1916. Da mesma forma,
note-se que o Código Civil de 2002, sob a pretensão de disciplina uniforme das
obrigações civis e comerciais, passou a normatizar também o mútuo mercantil,
uma vez que revoga o disposto no art. 247 do CCo. Todavia, permanecem em
vigor as disposições sobre empréstimo de risco ou câmbio marítimo prevista nos
arts. 633 a 665 do CCo, porque relativas ao comércio marítimo, cuja vigência não
foi afetada pelo Código Civil de 2002.
Por outro lado, tratando-se de empréstimos contraídos por sociedade anôni-
ma, mediante emissão de debêntures simpies ou conversíveis em ações, aplica-
-se o disposto nos arts. 52 a 74 da Lei 6.404/1976 (Lei das S.A.).
Tratando-se de pré-contrato de mútuo, aplicam-se as regras do contrato preli-
minar, previstas nos arts. 462 a 466 do CC/2002.
| § 4.596. B- Doutrina
i
1
Pontes de Miranda bem identifica o objeto do mútuo como crédito. Assim
também o faz numerosa doutrina, identificando aí sua causa. Há transferência
! do domínio da coisa e o dever de restituição (RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. Rio
I de Janeiro: Forense, 2011. p. 578). A transmissão da coisa dada em mútuo é
identificada como característica distintiva do contrato de mútuo (PEREIRA, Caio
Mário da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2011. vol.
IM, p- 314; GOMES, Orlando, Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 389;
GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2012. vol.
3, p. 350).
I § 4.596 C. - Jurisprudência
§ 4.597. A- Legislação
A norma do art. 1.263 do CC/1916, não foi reproduzida no Código Civil vigen-
; te. Da mesma forma, estão revogadas as disposições citadas acerca do Código
| Comercial de 1850. Entende-se aplicável hoje limite de juros segundo a disciplina
do art. 591, c/c art. 406 do CC/2002. Tais limites, contudo, não se aplicam aos
juros devidos por contratos celebrados por instituições financeiras. É admissível
o controle de juros, quando deem causa à excessiva onerosidade, segundo a
; disciplina do Código de Defesa do Consumidor. Regra do art. 323 do CC/2002
I refere que ocorrendo a quitação de capital, sem reserva de juros, estes se pre-
l sumem pagos.
i O tipo penal mencionado no texto, constante da Lei 1.521/1951, continua em
; vigor. Contudo, foi revogada pela MedProv 2.172-32, a disposição que impunha
; a nulidade dos juros usurários (art. 4.°, § 3.°, da Lei 1.521/1951). Essa nulidade,
todavia, decorre igualmente do Dec. 22.626/1933, do art. 187 do CC/2002, e do
art. 51, § 1.°, III, do CDC, na linha do entendimento de Pontes de Miranda, como
conseqüência do ilícito. No tocante à obtenção de vantagem aproveitando-se de
premente necessidade ou inexperiência, o Código Civil de 2002 introduziu como
defeitos do negócio jurídico o estado de perigo (art. 156) e a lesão (art. 157), com
os mesmos pressupostos.
Com relação à referência sobre a definição legal do mútuo, remete-se ao art
586 do CC/2002, que reproduz o conteúdo do art. 1.256 do CC/1916.
Sobre as holdings, a que se refere o texto, têm previsão legal expressa no art.
2.°, § 3.°, Lei 6.404/1976 (Lei das Sociedades por Ações).
§ 4.597. B- Doutrina
A definição da holding no contexto dos modelos de estruturação do controle
das empresas observou desenvolvimento pela doutrina (cf. SALOMÃO FILHO, Calixto,
O novo direito societário. 4. ed. São Paulo: Malheiros. p. 56; LOBO, Jorge. Direito
dos grupos de sociedades, RT 763/22), especialmente quanto à multiplicidade
de formas de captação de recursos para investimento. As grandes companhias
brasileiras estruturam-se sob a forma plurissocietária. Contudo, revela-se como
realidade submetida a transformações em decorrência de interesses fiscais, jurí-
dicos e mercadológicos presentes na economia globalizada.
No que se refere ao controle dos juros nos contratos de crédito, há largo tra-
tamento doutrinário em nosso direito, tanto em vista da aplicação do Código Ci-
vil, quanto do Código de Defesa do Consumidor. Nesse sentido, construiu-se o
entendimento pela possibilidade de controle, mesmo na ausência de taxa legal
expressa, em razão da verificação e controle de cláusulas abusivas, mediante
cominação de nulidade (cf. o nosso Curso de direito do consumidor. 2. ed. São
Paulo: Ed. RT, 2010).
§ 4.597. C- Jurisprudência
A abstração do título de crédito em relação ao contrato de mútuo é relativizada
pela jurisprudência contemporânea, em proteção do devedor (STJ, REsp 791.676/
GO, 4.a T.,j. 28.06.2011, rei. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 18.08.2011).
No tocante ao controle de juros, ao mesmo tempo em que a jurisprudência
fixou-se no sentido da inexistência de limite a príori para contrato de mútuo em
que seja mutuante instituição financeira (Súmula STF 596), admite seu controle
quando manifestamente excessivo (STJ, REsp 1061530/RS, 2a S., j. 22.10.2008,
rei. Min. Nancy Andrighi, DJe 10.03.2009). Todavia, a Súmula STJ 381, objeto de
severa crítica doutrinária, sustenta entendimento que impede o reconhecimento
das cláusulas abusivas de ofício nos contratos bancários.
No contrato particular de mútuo, a jurisprudência de sua vez inclina-se pela
redução de juros, quando excedam ao limite imposto pelo Dec. 22.626/1933 - Lei
de Usura (REsp 1106625/PR, 3.aT., j. 16.08.2011, rei. Min. Sidnei Beneti, DJe
09.09.2011).
CAPÍTULO I V
AÇÕES DERIVADAS DA RELAÇÃO
JURÍDICA DE MÚTUO
§ 4.598. A- Legislação
A disciplina sobre quem pode receber o pagamento consta dos arts. 308 a
312 do CC/2002. O art. 585, II, do CPC estabelece que o documento particular
| assinado por duas testemunhas constitui título executivo extrajudicial, viabilizando
a ação executiva.
] Sobre o momento do nascimento da pretensão incide o art. 189 do CC/2002
que define sua origem a partir do momento de violação do direito subjetivo. A
obrigação de ressarcir perdas e danos em razão do inadimplemento da obrigação
consta do art. 389 do CC/2002. Seu conteúdo é disciplinado pelo art. 402 et seq,
i da mesma lei.
i A Lei 10.931/2004 instituiu, dentre outros títulos, a cédula de crédito bancário,
representativa de operações de crédito realizadas pela instituição financeira (in-
clusive mútuo), e que se caracteriza como título executivo extrajudicial.
§ 4.598. B- Doutrina
Entendimento expressivo da doutrina contemporânea reconhece a teoria das
I ações, de Pontes de Miranda, como decisiva para conciliação das relações entre
o direito material e o direito processual, ainda que se discuta sobre o cabimento
de sua classificação quinária.
Quando se trate de mútuo garantido, note-se que nas hipóteses em que há,
ou conexidade do mútuo com o penhor mercantil - como menciona Pontes de Mi-
randa - ou mesmo situações em que a há equiparação do mutuário a depositário
do bem em garantia (caso da alienação fiduciária em garantia), grande discussão
houve sobre a possibilidade da aplicação da sanção de prisão aplicável ao depo-
; sitário infiel. Neste caso, critica-se a própria equiparação, admitindo-se sua con-
figuração como meio de execução indireta. Atualmente, contudo, não se admite,
em vista da Súmula vinculante STF 25, a prisão do depositário infiel, resultado de
evolução da jurisprudência daquela Corte.
§ 4.598. C - Jurisprudência
Conforme a jurisprudência dominante, a garantia de penhor não afasta a
vinculação de nota promissória a contrato de abertura de crédito (STJ, REsp
435.221/MG, 3.a Turma, j. 10.12.2002, rei. Min. Carlos Alberto Menezes Direito,
DJ10.03.2003). Da mesma forma, o desaparecimento da garantia pignoratícia em
contrato de mútuo autoriza a compensação entre a dívida que daí emerge para o
mutuante e a dívida original do mutuário (STJ, REsp 8453/SP, 4.aT., j. 16.03.1992,
rei. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 03.08.1992). A confissão de dívida,
mesmo que decorrente de contrato de abertura de crédito, é título executivo ex-
trajudicial (Súmula STJ 300). A natureza executiva do contrato de mútuo assinado
por duas testemunhas, embora não precisem estar presentes no momento da
celebração, exige que nenhuma dessas tenha interesse no negócio (STJ, REsp
541.267, j. 20.09.2005, rei. Min. Jorge Scartezzini, DJ 17.10.2005).
§ 4.599. A- Legislação
! Sobre vícios redibitórios incide a regra dos arts. 441 et seq do CC/2002. Já
j a regra que impedia o mutuário de restituir-se do pagamento de juros não esti-
| pulados não permanece vigente, admitindo-se a possibilidade de repetição de
indébito pela regra do art. 884 do CC/2002, que disciplina as conseqüências do
enriquecimento sem causa.
| As normas do Código Comercial de 1850, citadas no texto, foram revogadas.
! A regra de quitação do art. 944 do CC/1916, atualmente é reproduzida no art.
| 323 do CC/2002, vigente. Sobre a possibilidade de execução do pré-contrato,
i mediante o exercício da pretensão que obrigue a sua celebração, vige o art. 461
do CPC.
§ 4.599. B- Doutrina
A possibilidade de execução do pré-contrato é admitida largamente pela dou-
trina contemporânea, especialmente mediante ação de cumprimento específico
de obrigação de fazer, prevista em recentes reformas processuais, inclusive com
a possibilidade de imposição e astreintes (GRINOVER, Ada Pellegrini. Tutela especí-
fica nas obrigações de fazer e não fazer. Revista de Processo, vol. 79. p. 65. São
Paulo: Ed.RT.jul. 1995).
§ 4.599. C- Jurisprudência
A jurisprudência reconhece o direito à restituição dos juros pagos a maior, ou
em face de cláusula declarada nula em contrato de crédito (STJ, REsp 440.718/
RS, 4.a T., j. 24.09.2002, rei. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJ 16.12.2002), com
fundamento na vedação ao enriquecimento sem causa (AgRg no REsp 1021350/
RS, 4.aT.,j. 22.11.2011, rei. Min. Marco Buzzi, DJe 29.11.2011)
CAPÍTULO V
§ 4.600. C A U S A S D E E X T I N Ç Ã O
§ 4.600. A- Legislação
§ 4.600. B- Doutrina
§ 4.600. C - J u r i s p r u d ê n c i a j
É entendimento objeto da Súmula STJ 379 que nos contratos bancários não
regidos por legislação específica, os juros moratórios só poderão ser convencio-
nados até o limite de 1 % ao mês. j
Da mesma forma, o adimplemento substancial como limite ao exercício
do direito de resolução do credor é reconhecido pela jurisprudência nacional
(STJ, REsp 272.739/MG, j. 01.03.2001, rei. Min. Ruy Rosado de Aguiar e REsp
1051270/RS, j. 04.08.2011, rei. Min. Luis Felipe Salomão). Assente, também, o
entendimento de que responde o mutuante garantido com penhor se, após ter a
dívida adimplida, verifica-se o extravio da coisa empenhada (STJ, REsp 83.717/
MG, j. 12.11.1996, rei. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, RDB 5/203). No caso
de mútuo vinculado à finalidade de aquisição de moradia, reconhece, a jurispru-
dência, o direito daquele a quem houve cessão de direitos pelo mutuário original,
pagar a dívida como terceiro interessado, de modo a extinguir o contrato (STJ,
REsp, 184.577/SP, j. 01.04.2003, rei. Min. Franciulli Netto, DJ 04.08.2003).
§ 4.601. R E V O G A Ç Ã O
§ 4.601. A - Legislação
! O art. 1.261 do CC/1916 corresponde ao art. 590, do Código Civil vigente.
! No tocante à revogabilidade da promessa de contrato, é limitada, atualmente,
! pelo Código de Defesa do Consumidor, incidente quando se trate de relações
i de consumo, sob a égide da eficácia vinculativa da oferta, prevista no art. 30
daquela codificação.
i § 4.601. B- Doutrina
| A doutrina de direito bancário é uníssona em reconhecer a possibilidade de
| revogação da promessa de mútuo, considerando que a concessão do crédito,
\ em qualquer caso, pressupõe o exame do risco de inadimplência do tomador. A
doutrina de direito do consumidor, por outro lado, parte da premissa da eficácia
vinculativa da oferta, e sua conseqüente irrevogabilidade.
i
I § 4.601. C-Jurisprudência
! Reconhece amplamente, a jurisprudência, a possibilidade de revisão de con-
i tratos de mútuo já extintos (STJ, REsp 861.196/SC, 4. a T„ j. 06.10.2011, rel.Min.
Luis Felipe Salomão, DJe 27.10.2011).
PARTEH
por mar, não se pode, hoje, fazer qualquer diferença, desde que lícito seja
(dito, outrora, quasi náutico foenus). Nem cabe a discussão que havia em
torno da L. 5, D., de náutico foenore, 22, 2(C. MOLINAUS, Tractatus com-
merciorum et usurarum redituumque pecunia constitutorum et monetarum,
119, que via no quod náutico foenore maior risco, isto é, maior probabili-
dade de perda do que de ganho, diferença que CLAUDIUS SALMASIUS, De
modo usurarum, 372 s., combateu).
O mútuo a risco não pode ser a propósito de percursos de embarca-
ções que só servem dentro do porto, ou da baía. Nas viagens por terra, em
países da extensão do Brasil, se há grande risco, nada obsta a que analò-
gicamente se invoquem os princípios do mútuo a risco regido pelos arts.
633-665 do Código Comercial, a respeito quer de percursos fluviais quer
de percursos terrestres, como os que se fazem através de florestas, ou por
longas estradas. O que é preciso é que não haja a ilicitude ou a fraus legis,
no tocante à lei de usura e a outras normas jurídicas.
§ 4.602. A- Legislação
§ 4.602. B- Doutrina
§ 4.607. E F I C Á C I A D O M Ú T U O A R I S C O
§ 4.615. A- Legislação
§ 4 . 6 1 5 . B - D o u t r i n a
§ 4.615. C - Jurisprudência |
§ 4.616. A - Legislação
§ 4 . 6 1 6 . B - D o u t r i n a
| § 4.616. C-Jurisprudência
| Admite a jurisprudência o direito da instituição financeira de extinguir o i
contrato de conta corrente, desde que mediante prévia notificação (STJ, REsp •
j 567.587/MA, 3.a T„ j. 28.06.2004, rei. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ
11.10.2004). Há dissenso, contudo, na jurisprudência, se a repetição de indé- i
' bito decorrente de lançamentos indevidos em conta corrente abrangem tanto i
! os valores debitados, quanto os encargos, de modo a evitar que o autor do !
| ato se beneficie indevidamente (TJSE, Ap 0639/2004, j. 18.10.2004, rei. Des. !
! Cláudio Dinart Déda Chagas, RT 836/377), ou como sustenta o STJ, de que '
| não pode ser feita pelos mesmos índices de que se utilizam os bancos (EDcl
j no REsp 1.030.295/MG, 4. a T, j. 17.08.2010, rei. Min. João Otávio de Noronha,
i DJe 25.08.2010). ' j
§ 4.617. A - Legislação
§4.617. B-Doutrina j
§ 4.617. C - J u r i s p r u d ê n c i a
A Súmula STJ 247, estabelece que o contrato de abertura de crédito em conta
corrente, acompanhado de demonstrativo de débito autoriza o ajuizamento de
ação monitória.
No caso de conta corrente bancária conjunta, a solidariedade entre os corren-
tistas se dá apenas em relação a suas obrigações com o banco, não com terceiros
(1TACivSP, Ap 693.170-8, j. 19.06.1997, rei. Des. Cyro Bonilha, fí7~749/297). Na
distinção entre o mútuo e o contrato de conta corrente, a distinção feita quanto ao
momento que fluem os juros é o do uso do dinheiro ao tomador do crédito.
CAPÍTULO I I
CONCLUSÃO DO CONTRATO
DE CONTA CORRENTE .
§ 4 . 6 1 8 . A - L e g i s l a ç ã o
§ 4.618. B-Doutrina
| Ao assinalar seu entendimento no sentido da prescindibilidade de manifes-
; tação de vontade específica das partes para cada lançamento aposto em conta
i corrente, Pontes de Miranda orienta-se no mesmo sentido da doutrina contempo-
| rãnea em relação à presunção de continuidade e regularidade do comportamen-
! to das partes nos contratos de duração, razão pela qual se dispensa a neces-
i sidade da formalização de cada ato. Da mesma forma, remanesce na doutrina
o entendimento de que o lançamento dos títulos em conta corrente são, como
regra, pro solvendo, ocorrendo o estorno da conta na hipótese de ausência do
seu pagamento. Nesse sentido, a cláusula "salve embolso" envolveria condição
resolutiva, perdendo efeito a remessa feita se não houver o pagamento do título
(MARTINS, Fran. Contratos e obrigações comerciais. 14. ed. Rio de Janeiro: Foren- i
se, 1999. p. 405).
§ 4.618. C- Jurisprudência
Í
§4.619. A -Legislação !
§ 4 . 6 1 9 . B - D o u t r i n a
§ 4.619. C- Jurisprudência
§ 4.620. A- Legislação
! Para a referência, como exemplo, de ato jurídico strícto sensu de reconheci-
I mento de dívida, em que o texto menciona o art. 172, V, do CC/1916, tome-se o
art. 202, VI, do CC/2002. Sobre novação, e a exigência do animus novadipara sua
constituição, dispõe o art. 361 do CC/2002.
A disciplina sobre a imputação do pagamento, cujas regras não se aplicam,
segundo Pontes de Miranda, pela ausência de pagamento propriamente dito, são
as dos arts. 352 a 355 do CC/2002.
A extinção do contrato de conta corrente pode se dar, como regra, por resili-
ção bilateral ou unilateral, sobre o que dispõem os arts. 472 e 473, ou ainda por
cláusula resolutiva de que trata o art. 474, todos do CC/2002.
§ 4.620. B- Doutrina
Dissente da lição de Pontes de Miranda a doutrina comercialista, ao identifi-
car, no esteio do que consta do Tratado de direito comercial de J. X. Carvalho de
j Mendonça, a indivisibilidade do crédito decorrente do contrato de conta corrente.
I Nesse sentido, entendem alguns doutrinadores tratar-se a indivisibilidade, inclu-
sive, de característica do contrato em questão (MARTINS, Fran. Contratos e obriga-
\ ções comerciais. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 403). Assim, entendem,
| pelos saldos obtidos, não um outro crédito, conforme defende Pontes de Miranda,
mas apuração de saldo que pode ou não dar fim ao contrato, por intermédio de
balanços periódicos (MARTINS, Fran. op. cit., p. 406).
| § 4.620. C- Jurisprudência
; O lançamento em conta corrente não serve como elemento de prova do negó-
cio e da dívida quando há controvérsia sobre o fato que lhe deu causa (TJRS, Ap-
Civ 70024675969,12.a Câm. Civ., j. 04.09.2008, rei. Des. Cláudio Baldino Maciel).
§ 4.621. SALDO E RECONHECIMENTO
§ 4.621. B- Doutrina
Converge a doutrina brasileira, no sentido de que só há compensação nos
contratos de conta corrente, por ocasião do seu encerramento (MARTINS, Fran. Op.
cit., p. 404).
§ 4.621. C - Jurisprudência
A Súmula STJ 286 consagra o entendimento da possibilidade de revisão de
contratos, mesmo quando tenham sido objeto de novação, em vista do fundamen-
to de que não se pode admitir como convalidada disposição contratual nula (STJ,
REsp 450968/RS, 3.a T., j. 27.05.2003, rei. Min. Carlos Alberto Menezes Direito,
DJ 28.10.2003).
§ 4.622. F E C H A M E N T O D A C O N T A C O R R E N T E E EXTINÇÃO
DA RELAÇÃO JURÍDICA IRRADIADA DO CONTRATO
§ 4.622. A- Legislação
A extinção do contrato de conta corrente pode se dar, como regra, por resilição
bilateral ou unilateral, sobre o que dispõem os arts. 472 e 473, ou ainda por cláu-
sula resolutiva de que trata o art. 474, todos do CC/2002. Da mesma forma, o art.
121 da Lei 11.101/2005 (Lei de Falências) reputa encerradas as contas correntes
com o devedor desde o momento de decretação da falência.
A advertência feita por Pontes de Miranda, no sentido da exigência de no-
tificação do correntista sobre lançamento irregular em sua conta corrente, está
de acordo com o princípio da boa-fé reconhecido expressamente pela lei para a
conclusão e execução do contrato (art. 421 do CC/2002). Atualmente, as regras
sobre a forma de penhora e/ou outra constrição no crédito apresentado no saldo,
são as que disciplinam os arts. 671 et seq, do CPC vigente (em substituição ao
disposto nos arts. 937-939 do CPC/1939, revogado).
§ 4.622. B- Doutrina
§ 4.622. C - Jurisprudência
j P a n o r a m a a t u a l p e l o A t u a l i z a d o r
I ' :
!
§ 4.623. A - Legislação ;
O contrato de abertura de crédito é contrato atípico, não tendo regulação no |
Código Civil.Todavia, incide sobre ele, quando celebrado por instituição financei- i
ra, disposições regulamentares específicas, editadas pelo Conselho Monetário I
Nacional e pelo Banco Central do Brasil, no exercício das competências que lhe
são fixadas pela Lei 4.595/1964. De fato a abertura de crédito é contrato que
pode celebrar banco, estabelecimento comercial, ou outra pessoa jurídica de
direito público ou privado. Contudo, quando seja realizado por instituição finan-
ceira, qualifica-se nos termos da atividade privativa a que se refere o art. 17 da
Lei 4.595/1964.
O direito de crédito é equiparado no Código Civil de 2002, assim como o era
no Código revogado, a bem móvel, nos termos do art. 83, III, vigente.
Já no que se refere à menção ao art. 947, §§ 1.° a 4.°, do CC/1916 revogado,
que admitia estipulação de obrigações para pagamento em moeda estrangeira,
já havia sido suspenso pelo Dec.-lei 857/1969 e revogado pela Lei 10.192/2001.
A regra, portanto, é de que as obrigações devem ser pagas em moeda corrente
nacional (art. 315 do CC/2002), salvo as exceções expressamente constantes da
legislação específica (art. 2.° do Dec.-lei 857/1969).
No caso da aceitação da abertura de crédito, pode ser tácita, por força do
art. 111 do CC/2002, nos contratos que não se caracterizem como contratos de
consumo. O surgimento da legislação de proteção do consumidor, faz com que,
quando se caracterizem como contratos de consumo, possam ser celebrados ape-
nas de modo expresso, inclusive mediante atendimento prévio a dever de informar
de largo conteúdo (arts. 30, 31 e 53 do CDC).
§ 4.623. B- Doutrina
A doutrina especializada converge com o entendimento de Pontes de Miranda
no sentido da identificação e distinção dos contratos de abertura de crédito em
relação ao mútuo e à conta corrente bancária. Todavia, observou-se significativo
desenvolvimento da sua situação em relação às demais obrigações insertas em
contratos bancários, seja em razão da estrutura de grupos de contratos e contra-
tos conexos que assumem de modo crescente, ou mesmo em razão do reforço
dos deveres de colaboração e boa-fé que orientam a relação das partes nessa
espécie contratual (MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do
Consumidor. 6. ed. São Paulo: Ed. RT, p. 106 et seq).
A distinção nodal entre a abertura de crédito e o mútuo na doutrina espe-
cializada é a de que, enquanto neste há transferência de domínio, naquela há
disponibilidade do recurso, já previamente ajustado (MENEZES CORDEIRO, Antônio
Manuel da Rocha. Manual de direito bancário. 4. ed. Coimbra: Almedina, 2010.
p. 640).
Distingue Pontes de Miranda, igualmente, a compra e venda com diferimento
do preço, onde, segundo afirma, há secundariedade do crédito. Esta realidade
sobre a qual trabalhou este grande jurista, contudo, parece modificar-se gradual-
mente, estabelecendo-se em muitos contratos de compra e venda, especialmente
os contratados em massa, de consumo, o protagonismo da finalidade econômica
do crédito e o interesse na remuneração desse crédito a juros, especialmente por
parte daquele que o oferta, em relação à função de transferência da coisa, própria
da compra e venda.
;
§ 4.623. C - J u r i s p r u d ê n c i a
O entendimento jurisprudencial é de que não há limite a priori dos juros do
mútuo e demais contratos bancários, não se aplicando o art. 591 do CC/2002
(STJ, REsp 1061530/RS, 2.a S., j. 22.10.2008, rei. Min. Nancy Andrighi, DJe
10.03.2009). A existência do contrato, com a disponibilidade dos valores ao credi-
tado, não autoriza, contudo, a cobrança de juros, que só se dará mediante uso dos
mesmos (REsp 791.676/GO, 4. a T., j. 28.06.2011, rei. Min. Luis Felipe Salomão,
DJe 18.08.2011).
Não faz a jurisprudência, contudo, com absoluta precisão a distinção indica-
da por Pontes de Miranda, entre as figuras da abertura de crédito e do mútuo,
especialmente por considerar a finalidade comum em concreto, afastando-se da
distinção sustentada por Pontes de Miranda (STJ, AgRg no REsp 1199347/SP, 4.a
T., j. 07.12.2010, rei. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJe 14.12.2010).
Note-se, ainda, que a jurisprudência dividia-se em reconhecer a natureza de
título executivo ao contrato de abertura de crédito. A Súmula STJ 233, estabele-
ceu que mesmo acompanhado do extrato da conta corrente, não constitui título
executivo. E da mesma forma, nestas condições, não legitima o pedido de falência
(STJ, REsp 220.436/CE, 3.aT., j. 06.03.2003, rei. Min.-Antônio de Pádua Ribeiro,
{ DJ 07.04.2003). Todavia, a Súmula STJ 247, admite sua exigibilidade por inter-
médio de ação monitoria, desde que acompanhado do demonstrativo de débito.
Da mesma forma, entende que os títulos de crédito a ele vinculados, não são
dotados de autonomia, em razão da iliquidez do contrato (Súmula STJ 258). To-
davia, quando se trate de instrumento de confissão de dívida, ainda que originário
de contrato de abertura de crédito, constituirá, na visão da mesma Corte, título
executivo extrajudicial (Súmula 300). Sobre a aplicação do Código de Defesa do
Consumidor aos contratos com instituições financeiras, firmou entendimento a
Súmula STJ 297.
§ 4.624. N A T U R E Z A D A A B E R T U R A D E CRÉDITO
§ 4 . 6 2 4 . A- L e g i s l a ç ã o
O contrato de abertura de crédito, ainda que seja atípico, faz incidir as normas j
! gerais do Código Civil sobre contratos, assim como, quando se caracterize como ,
I contrato de consumo, as normas do Código de Defesa do Consumidor. Da mesma i
i forma, quando se trata de abertura de crédito realizada por instituição financei-
• ra subordina-se à competência norrfiativa do Conselho Monetário Nacional e do
| Central do Brasil, nos termos da Lei 4.595/1964.
B a n c o
i § 4.624. C - Jurisprudência !
I i
I Apoiando-se na distinção de Pontes de Miranda, entre os contratos de conta
| corrente e abertura de crédito, entende a jurisprudência que não se aplicam a
i este último as disposições da Lei de Falências e Recuperação de Empresas (Lei
| 11.101/2005) (TJPR, Agln 0.662.157-2,17.a Câm. Civ., j. 30.03.2011, rei. Francis- j
co Jorge). No mesmo sentido, sustentam-se na doutrina de Pontes de Miranda !
: diversas decisões que depois resultaram na Súmula STJ 233, a qual sufraga o
entendimento de que o contrato de abertura de crédito não constitui título executi- j
vo extrajudicial (STJ, REsp 422403/SP, 4 a T., j. 13.03.2007,rei. Min. Hélio Quaglia
Barbosa, DJ 09.04.2007).
A B A ou C
B •••-•"""
prestador acreditivo
§ 4.625. A-Legislação j
O art. 258 do CCo encontra-se revogado. O art. 1,262 do CC/1916, dispunha j
sobre a autorização de estipulação de juros no mútuo, desde que estabelecido por j
cláusula expressa. No Código Civil vigente não consta esta regra expressamente; j
todavia o art. 591 estabelece que presumem-se devidos juros quando se destine j
o mútuo a fins econômicos. Da mesma forma, a possibilidade do estabelecimento í
!
í de juros dos empréstimos de dinheiro resulta da ausência de proibição expressa,
| em conformidade com a liberdade contratual afirmada pelo direito privado. ' |
i A referência à ação condenatória, cuja interposíção é cabível no caso, ao ex-
; cluir a ação de que trata o art. 1.006 do CPC/1939, compreende-se atualmente !
| como referência ao art. 466-A do CPC, com a redação que lhe determinou a Lei I
! 11.232/2005. !
§ 4.625. B - Doutrina ;
§ 4.625. C - Jurisprudência
| § 4.626. A - Legislação !
! Decreto-Lei 7.661/1945 foi revogado. Assim, a indicação sobre a possibilidade
i de invocar-se as normas da legislação falimentar para a hipótese da abertura í
| de crédito se dar por intermédio de cláusula ou pacto adjeto em conta corrente, '
| devem ser remetidas hoje ao que dispõe o art. 121 do CC/2002, no tocante ao !
i encerramento da conta corrente em decorrência da decisão que decreta falência,
i Contudo, não mais em relação ao art. 165 do Dec.-lei 7.661/1945, que dispunha
| sobre a concordata, considerando a extinção pelo instituto em face da lei vigente.
| § 4.626. B- Doutrina
I A distinção feita por Pontes de Miranda, entre a abertura de crédito com o
contrato acreditivo, assinalando especialmente o caráter acidental da relação en-
tre o creditador e o terceiro, não merece acolhida uníssona na doutrina. Parte da
doutrina, assim, sustenta quando do exame do contrato de abertura de crédito,
sua classificação quanto ao beneficiário do crédito, admitindo a figura da abertura
! de crédito em favor de terceiros como modalidade específica, e nesse sentido,
| identificando o que Pontes de Miranda distingue (assim: COVELLO, Sérgio. Op. cit.,
| p. 196; SALOMÃO NETO, Eduardo. Op. cit., p. 215). Não são desconhecidas, todavia,
j as dificuldades que daí resultam, tanto no tocante ao eventual desatendimento
í pelo terceiro, de formalidades necessárias ao saque, ou ainda na hipótese de
| resilição do contrato, o que em geral se busca solucionar pela convenção de ir-
j revogabilidade. Da mesma forma, orienta-se a majoritária doutrina em afastar a
noção da abertura de crédito de pré-contrato de mútuo, assinalando as distinções
| evidentes entre ambos os institutos.
j Já quando se trata da abertura de crédito em contrato de conta corrente bancá-
! ria, embora se distinga quanto aos seus elementos caracterizadores, há clara ten-
; dência doutrinária de reconhecimento da conexidade entre os vínculos contratuais.
§ 4.626. C - Jurisprudência
! Consigna o entendimento jurisprudencial que na falência do creditado, só se
reputa vencido o crédito efetivamente utilizado e não o tornado disponível pelo
i creditador (TJRS, Ap 597.039.429, 5.a Câm., j. 28.05.1997, rei. Des. Araken de
• Assis, RT748/380).
§ 4.627. A - Legislação
A possibilidade db creditador exigir o reforço da garantia de direito real, sus-
tenta-se hoje nos arts. 1.427 (de mesmo conteúdo do art. 764 do CC/1916) e
1.425,1, do CC/2002 (que reproduz o art. 762,1, do CC/1916). j
Em relação às garantias pessoais, o art. 826 do CC/2002, permite ao devedor
exigir a substituição do fiador que se torne insolvente ou incapaz. Já o art. 835
faculta ao fiador exonerar-se da obrigação que tiver assumido sem limitação de
tempo, mediante notificação do credor, subsistindo os efeitos da fiança, todavia,
até sessenta dias após a notificação.
Diga-se, da mesma forma, que o art. 333, III, do CC/2002, estabelece como
causa de vencimento antecipado da dívida, 'a cessação ou insuficiência das ga-
rantias do débito, negando-se o credor a reforçá-las.
O penhor de títulos, mediante entrega ao credor, regula-se pelo disposto no
art. 1.451 et seq, do CC/2002.
§ 4.627. B- Doutrina
A regra compreendida pela doutrina em matéria de garantias é de que não
persistem as prestadas por terceiros quando da prorrogação do contrato que dá
causa ã dívida, sem sua anuência. Já em relação às garantias prestadas pelo
próprio devedor, compreendem-se como prorrogadas se não houver declaração
expressa em sentido contrário.
Destaca a doutrina, contudo, acerca dos efeitos da transformação da nature-
za da dívida, de saque a descoberto em conta corrente, para saque decorrente
de abertura de crédito, especialmente para fins da legislação falimentar, a tornar
revogáveis os pagamentos feitos pelo falido nesta condição (SALOMÃO NETO, Edu-
ardo. Op. cit., p. 219).
§ 4.627. C - Jurisprudência
A responsabilidade do fiador pela garantia da dívida não contempla a prorro-
gação do contrato do qual não foi notificado, nem expressou anuência (TJPB, Ap
200.2002.077270-9/001, 4.a Câm., j. 10.01.2006, rei. Des. Antônio de Padua Lima
Montenegro, DJPB 24.02.2006, RT 851/314). Da mesma forma, não responde
quando houver transação entre credor e devedor, dando causa a novo contrato
(STJ, REsp 1047117/PE,3.aT.,j. 06.10.2009, rei. p/acórdão Min. Nancy Andrighi,
DJe 03.12.2009). Já quando se trata de Letra de câmbio fundada em contrato de
abertura de crédito, pode o avalista opor exceções de inexistência ou desapare-
cimento da dívida original (STJ, REsp 162.332/SP, 3. a T. j. 29.06.2000, rei. Min.
Eduardo Ribeiro, DJU 21.08.2000, AT784/191). Da mesma forma anote-se que
títulos emitidos em reforço de garantia de contrato de abertura de crédito mantêm-
-se vinculados a ele, nos termos da Súmula STJ 258, não se constituindo título
executivo em razão de sua iliquidez. O contrato de abertura de crédito, contudo, é
hábil, uma vez acompanhado pelo demonstrativo do débito, para a propositura de
ação monitoria (Súmula STJ 247).
§ 4.628. A- Legislação
No tocante às garantias pessoais, o Código Civil vigente permite, em seu art.
826, ao devedor, exigir a substituição do fiador que se torne insolvente ou incapaz.
No mesmo sentido, o art. 835 faculta ao fiador exonerar-se da obrigação que tiver
assumido sem limitação de tempo, mediante notificação do credor, subsistindo os
efeitos da fiança, todavia, até sessenta dias após a notificação.
Em relação à garantia hipotecária, o art. 1.499,1, do CC/2002, estabelece sua
extinção na hipótese de cessação da obrigação principal garantida, o que con-
verge com Pontes de Miranda que salvo disposição em contrário, extingue-se a
garantia com a derrogação do contrato a que está vinculada, não se presumindo
sua manutenção no caso de renovação do contrato.
§ 4.628. B- Doutrina
A interpretação de que subsiste a garantia prestada pelo próprio creditado na
hipótese de prorrogação do contrato está conforme ao desenvolvimento contem-
porâneo da boa-fé objetiva e sua associação, em especial à proteção da confiança
tutelada pela teoria dos atos próprios.
§ 4.628. C- Jurisprudência
A jurisprudência consolidou-se no sentido de que a renovação do contrato,
renegociação ou ainda a celebração de confissão de dívida, não impede a revi-
são das condições do contrato extinto no tocante a cláusulas abusivas ou ilegais,
segundo o entendimento de que não se admite a convalidação de ilegalidade
(Súmula STJ 286). Da mesma forma, nas obrigações em geral, entende-se como
não prorrogada a garantia quando da prorrogação da obrigação garantida, sem
que haja a expressa concordância do garantidor (STJ, EDiv 302.209/MG, 3.a S.,
j. 23.10.2002, rei. Min. Gilson Dipp, DJ 18.11.2002, RT 812/167). No tocante à
fiança, a Súmula STJ 332, uniformizou o entendimento que sua constituição sem
a participação de ambos os cônjuges, torna ineficaz a garantia.
CAPÍTULO I I
EFICÁCIA DO CONTRATO
D E A B E R T U R A D E CRÉDITO..
| § 4.629. A- Legislação
; O art. 134 do CC/2002 estabelece que os negócios jurídicos entre vivos,
celebrados sem prazo, são exeqüíveis desde logo.
No que se refere ao conhecimento da existência do contrato para pessoas que
tenham negócios com o creditador, deve-se observar os limites estritos fixados na
LC 105/2001, que trata do sigilo das operações de instituições financeiras.
§ 4.629. B- Doutrina
Há acordo da doutrina quanto ao momento em que nasce o direito do creditado,
uma vez que converge com o entendimento de que se trata de a abertura de
crédito de contrato consensual. Eventual inadimplemento do creditador, contudo,
entende-se que dá ensejo, apenas, à reparação civil, não comportando-se a
possibilidade de exigir-se cumprimento específico da obrigação de fazer (tornar
disponível), transformando-a em obrigação de dar (tradição do dinheiro).
§ 4.629. C - Jurisprudência
Segundo a jurisprudência, quando se trate de contratos de consumo, a
abertura de crédito deve ser aceita expressamente pelo consumidor, não
podendo ser condicionada a aquisição de outro produto ou serviço, sob pena de
caracterizar venda casada, acarretando a invalidade dos contratos celebrados
(TRF-3.3 Reg., ApCiv 345/SP 2003.61.19.000345-7, 2.a T„ j."26.04.2011, rei. Des.
Cotrim Guimarães).
4. COMISSÃO DO CREDITADOR. - O c r e d i t a d o t e m d e p r e s t a r a o
creditador comissão de abertura de crédito, que não se confunde com os
juros. Os contraentes podem estipular que só é devida em caso de não
utilização do crédito aberto. Nesse caso, ao fechar-se a conta, isto é,
expirado o tempo para o exercício da pretensão ao crédito, é que nascem
ao creditador direito e pretensão à comissão.
Discute-se se a falta de pagamento da comissão devida desde a
conclusão do contrato, ou desde o início do exercício da pretensão ao
crédito, ou no dia ou prazo que foi determinado, importa resolubilidade
ou resibilidade do contrato de abertura de crédito. A melhor solução é no
sentido de não bastar à desconstituição da relação jurídica, por se tratar de
porção pequena (ADRIANO FIORENTINO, Contratti bancari, Commentario
dei Códice Civile de A. SCIALOJA e G, BRANCA, IV, 485). Aliás, a comissão
pode ser inserta no saldo final, se assim se assentou, ou resulta de uso.
Se as retiradas são creditadas independentemente de ato do creditado,
o que pode ocorrer, a comissão é devida, como são os juros, se o creditado
não utiliza o que lhe foi creditado. Aí, o creditado levanta se quer, mas
seria êrro pensar-se em condição potestativa (Código Civil, art. 115 2 a
parte): o credor é, aí, o creditado.
Na abertura de crédito em conta corrente, o creditado pode fazer
entradas, o que importa restituição total ou parcial, de modo que
dificilmente se poderia apurar a infração do dever de retirada. Por isso,
é de uso prever-se comissão especial se não se atingir o mínimo de
levantamento (MARIO MAZZANTINI, Lezioni di Técnica bancaria, 161 s.).
De ordinário, a solução é a ação de ressarcimento, conforme o contrato, ou
a aplicação da cláusula penal, se houve.
§ 4.630. A- Legislação
§ 4.630. B - Doutrina
§ 4.630. C - Jurisprudência
§ 4.631. A- Legislação
§ 4.631. B - Doutrina
§ 4.631. C - Jurisprudência
j § 4.632. A - Legislação
: í
í A denuncia como causa de extinção do contrato está prevista no art. 473 do i
CC/2002. Os efeitos da extinção da obrigação de fazer por inadimplemento, são !
disciplinados pelo art. 248 do CC/2002. O art. 77 da Lei 11.101/2005, estabelece
j como eficácia da declaração de falência o vencimento antecipado das dívidas do !
j devedor, e por conseguinte, a extinção do contrato.
! |
§ 4.632. B - Doutrina j
i
Dentre as causas de extinção comumente aceitas como justas insere-se o i
inadimplemento pelo creditado de obrigações contratuais diversas, como não
pagamento dos juros ou da comissão devida. Outra causa identificada é a insol-
! vencia ou falência do creditado, que resulta, afinal, de lei (ABRÃO, Nelson. Direi-
to bancário. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 168). Identifica-se, igualmente,
como justa causa, a ausência de prestação da garantia concedida. Exclui-se,
contudo, como justa causa, o mau uso do dinheiro, que afinal não se coaduna
com a natureza da prestação principal do contrato que é a de torná-lo disponível.
Todavia, quando a abertura de crédito tem por causa o atendimento de certa
finalidade específica (pot exemplo, os programas de financiamento estudantil), o
descumprimento;da condição específica (e. g. deixar de se manter matriculado
em uma instituição de-ensino), pode dar causa à extinção, mediante denúncia
cheia. Lembrete, igualmente, que a doutrina reconhece como causa justificadora
da denúncia cheia,.não-apenas os deveres principais e acessórios constantes
do contrato, masJgualmehte os deveres laterais, decorrentes da boa-fé objetiva
(MARQUES, Claudia Lima.. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 6. ed.
São Paulo: Ed. RT, 2011. p. 217).
§ 4.632. C - Jurisprudência
PARTE I
ASSINAÇÃO
CAPÍTULO I
CONCEITO E N A T U R E Z A D A A S S I N A Ç Ã O
§ 4.633. A - Legislação
A assinação não é regulada pelo Código Civil, embora por se configurar es-
pécie de serviço bancário se possam aplicar as regras da prestação de serviços
(arts. 529 a 532), ou ainda, quando se identifique relação de consumo, geralmente
por equiparação (art. 29 do CDC), as regras do Código de Defesa do Consumidor.
Conforme observa Pontes de Miranda, não é necessário que já exista relação
jurídica entre as partes, mas que hajà interesse, nos termos que hoje podem ser
reconduzidos ao disposto no art. 304 do CC/2002.
Ao distinguir-se a assinação da novação, a indicação original ao art. 1.001 do
CC/1916, revogado, deve ser tomada em vista do art. 362 do CC/2002. Já as refe-
rências aos arts. 985, II, 989 e 930, do CC/1916, reconduza-se, respectivamente,
ao disposto nos arts. 346, II, 350 e 304, do CC/2002.
§ 4.633. B- Doutrina
O negócio jurídico unilateral a que Pontes de Miranda, a partir de terminologia
fundada no direito comparado, chama de assinação (assegno bancario), dado
o inexorável processo de informatização dos serviços de pagamento bancário,
tende a afastar-se de seus termos originais (por exemplo, há crescente desuso
dos cheques de viagem, conhecido exemplo de assinação), daí porque, em larga
medida, o exame doutrinário da espécie se dá sob a égide do crédito documen-
tário ou ainda como serviço de pagamento. Sustenta-se a aplicação, nesse caso,
da disciplina do Código Civil relativa à prestação de serviços (arts. 529 a 532 do
CC/2002). Dentre os créditos documéntários, a doutrina atualmente distingue en-
tre os não confirmados e os confirmados. A assinação eqüivale a cobrança docu-
mentária, ou ainda, crédito não confirmado, ao contrário do crédito documentário
confirmado a que Pontes de Miranda examina como acreditivo. Daí porque na
assinação não há contrato, enquanto no acreditivo há. Observa-se a remissão à
figura da delegatio solvendi pela doutrina atual, justamente quando seja o caso de
crédito documentário não confirmado (assinação), no qual não assume o banco
qualquer obrigação onerosa (BARRETO, Lauro Muniz. Direito bancário. São Paulo:
Leud, 1975. p. 432; RIZZARDO, Arnaldo. Contratos bancários. 8. ed. São Paulo: Ed.
RT, 2009. p. 95).
Sustenta-se a aplicabilidade, por usos e costumes do comércio internacional,
ao crédito documentário, das regras consolidadas pela Câmara de Comércio In-
ternacional (SALOMÃO NETO, Eduardo. Direito bancário. São Paulo: Atlas, 2005. p.
279), as quais todavia, quando não se entendam como usos e costumes, devem
ser previstas expressamente (p. 281).
Quanto à revogabilidade da assinação, anote-se o entendimento doutrinário
de que o crédito como regra, presume-se irrevogável, devendo a cláusula de re-
vogabilidade ser expressa.
§ 4.633. Q- Jurisprudência
A jurisprudência equipara o crédito documentário à abertura de crédito, de
modo a considerá-lo ilíquido para fins de execução, considerando a possibilidade
de que o emissor tenha realizado creditamentos e amortizações sucessivas (STJ,
REsp 247518/MG, 4.aT., j. 02.02.2006, rei. Min. Barros Monteiro, DJ20.03.2006).
No tocante à aplicação das normas estabelecidas em documentos internacionais
ao crédito documentário, como as fixadas pela Câmara de Comércio Internacio-
nal, admite-se a hipótese em vista da interpretação que ofereça maior segurança j
ao comércio internacional (STJ, REsp 885.674/RJ, 3.a T., j. 07.02.2008, rei. Min. j
Nancy Andrighi, DJe 05.03.2008). Da mesma forma, já decidiu o STJ, pela inci-
dência do Código de Defesa do Consumidor na relação entre as partes no crédito
documentário, para efeito de limitação da multa de mora a 2% (dois por cento),
mediante aplicação da Súmula 285, daquela Corte (STJ, EDcl no REsp 654.969/ I
PR, 3.aT., j. 16.05.2006, rei. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 11.09.2006).
§ 4.634. A - Legislação
Admitindo-se a possibilidade de o assinado assumir perante o assinatário, a
dívida, ao invés de realizar o pagamento, desde que permitido expressamente
pelo assinante, incidem as regras da assunção de dívida, previstas nos arts. 299
et seq do CC/2002, ou ainda às normas de direito cambiário, quando a assunção
se dê mediante vinculação a título cambial.
No que se refere às exigências de forma, incide o art. 221 do CC/2002, que
reproduz o disposto nos arts. 135 e 141 do CC/1916. Da mesma forma, quanto à
l exigência de anuência de terceiro, ou da exigência de instrumento público, incide
í o disposto nos arts. 220, 108 e 109 do CC/2002.
í
I
| § 4.634. B- Doutrina
Não usa a doutrina nacional a expressão assinação. Quando tomada como
crédito não confirmado, serviço de pagamento, tem uso restrito, especialmente no
comércio internacional que prefere certeza e segurança. O entendimento doutri-
nário assentado atualmente converge com Pontes de Miranda no sentido de reco-
nhecer a assinação (crédito documentário), como delegatio solvendi, separando-a
da origem do crédito que pode decorrer de outro negócio jurídico celebrado entre
o assinante e o assinado como, por exemplo mútuo ou abertura de crédito. Da
mesma forma, admite-se que da assinação interprete-se como novação ou cumu-
lação de dívida, conforme se extinga e substitua a obrigação original, ou o assina-
do passe a ser codevedor com o assinante, de dívida em relação ao assinatário.
De regra, contudo, a identificação da assinação com o crédito documentário não
confirmado, na medida em que não se reconhece ao assinatário direito contra o
assinado (banco).
De influenciar aqui, todavia, a doutrina que examina a coligação contratual,
especialmente no que se refere ao desatendimento pelo assinado de ajuste que
tenha porventura sido prometido pelo assinante ao assinatário, especialmente em
vista da tutela da confiança das partes envolvidas.
i § 4.634. C - Jurisprudência
j Entende a jurisprudência que na avaliação sobre o atendimento aos requisi-
| tos pelo assinatário, cabe ao banco assinado apenas seu exame formal, não lhe
j sendo exigido realizar juízo de valor sobre os documentos apresentados (STJ,
I REsp 885.674/RJ, 3. a T, j. 07.02.2008, rei. Min. Nancy Andrighi, DJe 05.03.2008).
CAPÍTULO II
EFICÁCIA D A ASSINAÇÃO
§ 4.635. A - Legislação
As normas do Código Comercial de 1850, citadas ao longo do texto, foram
revogadas. No tocante à referência ao art. 1.092, 2." alínea, do CC/1916, cons-
ta do art. 477 do CC/2002, relativa à exceção de dúvida do cumprimento.
§ 4.636. OBJEÇÕES E E X C E Ç Õ E S DO A S S I N A D O • 309
§ 4.635. B- Doutrina
A revogabilidade da autorização do assinante ao assinado é característica
tida por obsoleta pela doutrina contemporânea, considerando a necessidade
de segurança no crédito. Todavia, entende-se, na mesma linha do entendimen-
to de Pontes de Miranda, que não se confunde com algum outro negócio cele-
brado entre o assinante e o assinatário em razão do qual se faz a assinação.
Nesse caso, eventual revogação da autorização pelo assinante, pode caracte-
rizar inadimplemento e obrigar a ressarcir perdas e danos ao assinatário, bem
como se pode ter a revogação como conseqüência da exceção de dúvida do
cumprimento (art. 477 do CC/2002).
Nestas situações e em outras, contudo, a pluralidade de negócios jurídicos
que envolvem a assinação, permitindo-se conduzir à noção de coligação de
contratos reconhecida pela doutrina. Por outro lado, a distinção entre a carta
de crédito e o aviso de crédito (notificação), não se observa de ordinário na
doutrina em razão, ademais, da ausência de.diferenciação entre assinação e
acreditivo como figuras de natureza distinta, entendendo-se ambos espécies
de crédito documentário, conforme a obrigação que se imponha ao banco (de
simplesmente notificar, ou de garantir pagamento). Sua identificação como co-
brança documentária leva a doutrina defender, com reservas no tocante ao re-
gime de responsabilidade dos bancos, a aplicação das regras convencionadas
pela Câmara de Comércio Internacional (SALOMÃO, Eduardo. Direito bancário.
São Paulo: Atlas, 2005. p. 279).
§ 4.635. C - Jurisprudência
A jurisprudência reconhece o direito do beneficiário de exigir o crédito di-
retamente do banco emissor, sem a necessidade de denunciação da lide do
banco confirmador, quando houver (STJ, REsp 235645/SP, 3.aT., j. 02.05.2000,
rei. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ26.06.2000).
§ 4.636. A - Legislação
A participação do assinado, passando a responder cumulativamente pela
dívida se dá por sucessão ou por novação. Nesse último caso, incidem as nor-
mas dos arts. 360 a 367 do CC/2002.
§ 4.636. B- Doutrina
O dever de reembolso do assinado pelo assinante regula-se pelas regras
da assinação, mas também pode estar vinculado a contrato de abertura de cré-
dito, conforme sejam os valores pagos ao assinatário decorrentes de depósito
do assinante ou de crédito aberto em seu favor junto ao banco assinado. Como
regra, a assinação tem eficácia cumulativa, considerando que a dívida original
entre assinante e assinatário decorre de outro contrato (por exemplo, compra
e venda internacional). Desse modo, concorda a doutrina em afastar qualquer
eficácia extintiva, já que a assinação, nesse caso, nada mais é do que serviço
de pagamento oferecido pelo banco.
§ 4.636. C- Jurisprudência
Segundo a jurisprudência, não se aplica à dívida decorrente da abertura
de crédito para cumprimento de ordem de pagamento, a teoria da imprevisão,
como fundamento da revisão do contrato, uma vez que não pode o banco ser
obrigado a receber menos do que pagou (STJ, REsp 654.969/PR, 3.a T„ j.
07.12.2004, rei. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 28.03.2005).
§ 4.637. A- Legislação
Em relação à possibilidade de aplicação das regras de cessão de direito
na assinação, o art. 1.065 do CC/1916, indicava a regra da possibilidade de
cessão quando não existisse cláusula proibitiva. O art. 286 do CC/2002, além
de reproduzir os termos da disposição revogada, acrescenta que a cláusula
! proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa fé se não
! constar no instrumento da obrigação. Já o art. 1.078 do CC/1916, não foi repro-
I duzido na legislação vigente. Isso não impede, contudo, que se apliquem as
i normas relativas à cessão de crédito à cessão de direitos em geral, mediante
| recurso à analogia. •
Em relação à transferência ou cessão da assinação, faz referência o texto
| ao art. 1.067 do CC/1916 que deve ser reconduzido ao art. 288 do CC/2002, o
j qual estabelece como ineficaz em relação a terceiro, a cessão de crédito que
| não se opere por instrumento público, ou instrumento particular revestido das
solenidades relativas ao mandato, de que trata o § 1 d o art. 654, também do
| CC/2002.
| A necessidade de notificação ao assinado, relativamente à cessão ou
| transferência do direito pelo assinatário remete ao art. 290 do CC/2002, por
analogia, ainda que não tenha sido reproduzido o conteúdo do art. 1.078 do
CC/1916, que autorizava expressamente a aplicação das regras atinentes à
cessão de crédito à cessão de direitos em geral.
Julga, Pontes de Miranda, igualmente, indevido invocar o art. 1.070, 1.®
parte, do CC/1916 (correspondente ao art. 291 do CC/2002), que estabelece a
regra de legitimação, na hipótese de ocorrerem cessões de crédito sucessivas,
àquela em que ocorrer a tradição do título, no que mantém coerência com o
fato de que deverá o cessionário apresentar o título ao assinado para obter
aceite ou a prestação.
§ 4.637. B - Doutrina
Observa Pontes de Miranda em relação à cessão da assinação, que se tra-
ta de direito futuro e eventual, pois depende de aceite do assinado. A doutrina
contemporânea guarda coerência com a designação do fenômeno que indica
como sendo o crédito documentário não confirmado, em que não há obrigação
do banco assinado em relação ao credor, que ostentará esta condição em rela-
ção àquele com quem já mantém relação jurídica (assinante) e que solicita os
serviços do banco. Da mesma forma, recorde-se que para Pontes de Miranda
a cessão de crédito é negócio abstrato (conforme assinala no t. XXIII, dessa
obra), para o que se encontra assento doutrinário, com exceção de Orlando
Gomes (Obrigações. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 206).
P a n o r a m a a t u a l p e l o A t u a l i z a d o r
§ 4.638. A - Legislação .
O prazo geral de prescrição, no Código Civil de 2002, é o fixado no seu art.
205, de dez anos.
O pagamento em consignação tem sua disciplina nos arts. 334 a 345 do
CC/2002. A ação de consignação em pagamento, de sua vez, é regulada pelos
arts. 890 a 900 do CPC.
§ 4.638. B- Doutrina
Pontes de Miranda bem define a assinação como espécie de serviço ban-
cário. Ela, por si, serve a outro negócio, com a finalidade de adimplemento.
Daí porque a possibilidade ou não de se ir contra o assinado depende das
obrigações que ele tiver constituído na sua relação original com o assinante.
Pode ser que haja obrigação de efetuar o pagamento, mediante transferência
do valor, ou de obter o aceite. Não é nesse caso contrato em favor de terceiro,
nem o assinatário necessariamente é credor. Apenas se tem o conteúdo do
serviço que deve ser realizado. No caso de assegurar pagamento, ou de ter
recebido para transferir, há casos em que o assinado poderá ser demandado
pelo assinatário. Todavia, sempre se há de notar se de expectativa ou direito
será titular o assinatário.
§ 4.638. C- Jurisprudência
Admitindo-se a exigibilidade do crédito, o fato de ser protestado o valor de
eventual carta de crédito e não o das transações eventualmente efetuadas,
não acarreta inexigibilidade do título (TJSP, ApCiv 9124781-05.2004.8.26.0000,
23.a Câm. de Direito Privado, j. 29.06.2011, rei. José Marcos Marrone).
CAPÍTULO III
EXTINÇÃO DA ASSINAÇÃO
§ 4.639. A - Legislação
A referência ao art. 942 do CC/1916, revogado, atualmente diz respeito ao
art. 321 do CC/2002, que o reproduz.
A nova Lei de falências (Lei 11.101/2005), não mais faz referência ao sín-
dico da falência, mas ao administrador judicial. A regra, contudo, é de que as
obrigações do falido não se extinguem ou suspendem com a falência (art. 117).
§ 4.639. B - Doutrina
A doutrina, de modo geral, embora indique como não usual, frente às exi-
gências de segurança jurídica do crédito, admite a possibilidade de revogação.
§ 4.640. A- Legislação
No caso de destruição do título que deverá apresentar o assinatário, ad-
mite-se a invocação do art. 321 do CC/2002, de modo que este possa emitir
declaração que inutilize o título desaparecido
§ 4.640. B- Doutrina
A doutrina converge com o entendimento de Pontes de Miranda, no sentido
de que a assinação constitui em prestação de serviços do banco ao assinan-
te, de modo que apenas pelo conteúdo obrigacional deverá este responder. A
obrigação que dá causa à assinação como meio para viabilizar o pagamento
j não se confunde com esta, embora admita-se a possibilidade de coligação
j contratual (COVELLO, Sérgio. Contratos bancários. 3. ed. São Paulo: Leud, 1999.
j p. 219).
PARTE II
ACREDITIVO
CAPÍTULO I
CONCEITO E N A T U R E Z A D E ACREDITIVO
§4.641. A-Legislação
Embora não se trate, em sentido estrito de legislação, no comércio internacio-
nal costuma-se referir à UCP (ou brochura) 500 (Uniform Customs and Practice
for Documentary Credits), editada pela Câmara de Comércio Internacional, que
estabelece regras sobre a emissão e aceitação de cartas de crédito como meio
de pagamento de contratos internacionais. Destas regras e usos uniformes, em
matéria de crédito documentário, além dos atos internacionais mencionados por
Pontes de Miranda (Congressos da Câmara de Comércio Internacional de Viena,
1933, e de Lisboa, 1951), merece menção o Congresso da Câmara de Comércio
Internacional do México, de 1962, que aprovou normas e costumes uniformes
para créditos documentários, assim como as revisões realizadas em 1970, 1974
e 1993.
§ 4.641. B - Doutrina r
Constitui o acreditivo em espécie que a doutrina contemporânea, em unísso-
no, apesar das reservas de Pontes de Miranda, denomina crédito documentário
confirmado, considerando a assunção pelo banco da obrigação de fazer o paga-
mento a terceiro. A carta de crédito em si é tida como instrumento unilateral que
decorre de um negócio jurídico entre o banco e aquele que contrata a carta para
satisfazer sua obrigação com o terceiro. A distinção mais evidente em relação à
assinação é que no acreditivo há vinculação do banco à obrigação de pagamen-
to do terceiro, não se constituindo mera notificação (ainda que haja o dever de
certificar-se da aparência razoável do crédito, mesmo neste caso, conforme o art.
7.° da UCP 500).
As espécies de crédito documentário referidas por Pontes de Miranda (crédito
por aceite, carta de crédito indireta de importação e carta de crédito de expor-
tação) não são reproduzidas pela doutrina contemporânea, que prefere dar um
tratamento uniforme ao contrato. Da mesma forma, enquanto no texto do Tratado,
| parte-se da distinção entre o acreditante, acreditado e terceiro, prefere a doutrina
simplificação, qualificando as partes como ordenante, banco emissor, beneficiário
e, quando for o caso, banco correspondente, que no lugar da situação do benefi-
ciário, realiza o pagamento em seu favor.
As formas comumente identificadas de prestação do banco emissor ao benefi-
ciário envolvem pagamento em pecunia, aceite de letras de câmbio emitidas pelo
i beneficiário, ou a aquisição destas mesmas letras de câmbio. A confirmação bila-
; teraliza o negócio, com a vinculação do banco, por intermédio de negócio jurídico
I plurilateral (ABRÃO, Nelson. Direito bancário. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.
j 175), que determina a angularização do crédito.
: Também pode haver do acreditivo vincular-se a negócio de crédito que não
se destine necessariamente a contrato internacional, mas a contrato de abertura i
j de crédito para financiamento, como ocorre comumente para fins de aquisição de
imóvel. Neste caso a emissão de carta de crédito pelo banco e sua entrega ao
j acreditado, configura-se também acreditivo, sobre o qual há divergência quanto à
aplicação ou não do Código de Defesa do Consumidor.
§ 4.641. C - Jurisprudência
A aplicação dos usos uniformes da Câmara de Comércio Internacional foi j
reconhecida pela jurisprudência brasileira (STJ, REsp 885.674/RJ, 3.a T., j.
07.02.2008, rei. Min. Nancy Andrighi, DJe 05.03.2008; no mesmo sentido: TJSP,
ApCiv 9084303-52.2004.8.26.000, 23.a Câm. de Direito Privado, j. 27.10.2006, rei'.
Fernando Arruda Silveira). Da mesma forma, já decidiu o STJ pela incidência do
Código de Defesa do Consumidor na relação entre as partes no crédito documen-
tário, utilizando-se da equiparação a consumidor de que trata seu art. 29, para
efeito de limitação da multa de mora a 2% (dois por cento), mediante aplicação
da Súmula STJ 285, daquela Corte (STJ, EDcl no REsp 654.969/PR, 3. a T„ j.
16.05.2006, rei. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 11.09.2006). Esta posi-
ção, contudo, está longe de ser consolidada, devendo-se considerar, para efeito
da incidência ou não do Código de Defesa do Consumidor, a finalidade de con-
tratação do crédito (TJSP, ApCiv 9039198-91.2000.8.26.000,14.a Câm. de Direito
Privado, j. 10.08.2008, rei. Pedro Ablas; eTJSP, ApCiv 0095398-96.2008.8.26.000,
18.a Câm. de Direito Privado, j. 30.03.2010, rei. Rubens Cury).
Por outro lado, equipara o crédito documentário à abertura'de crédito, de modo
a considerá-lo ilíquido para fins de execução, considerando a possibilidade de que
o emissor tenha realizado creditamentos e amortizações sucessivas (STJ, REsp
247518/MG, 4. a T., j. 02.02.2006, rei. Min. Barros Monteiro, DJ 20.03.2006; em
sentido contrário: TJRJ, ApCiv 18591/99, 6.a Câm. Civ., j. 02.05.2000, rei. Walter
Dagostino).
Há precedente do STJ, ainda, no sentido de que, no crédito documentário, o
beneficiário tem legitimidade ativa para cobrar o cumprimento da carta de cré-
dito diretamente do banco emissor, não importando que tenha havido no negó-
cio a presença do banco confirmador, que não teria honrado o pagamento (STJ,
REsp 235645/SP, 3. a T„ j. 02.05.2000, rei. Min. Carlos Alberto Menezes Direito,
DJ 26.06.2000).
Assinatário
(credor)
Assinado
Assinante (devedor)_ (prestador)
Acreditante
+ Acreditado
(devedor)
(credor)
Prestador acreditivo
§ 4.642. A- Legislação
Sobre a natureza jurídica do acreditivo, tanto a teoria que o identifica com
contrato em favor de terceiro ou com o mandato, podem ser reconduzidas ao
Código Civil vigente, especialmente, aos arts. 436 a 438, que disciplinam a esti-
pulado em favores terceiro em substituição aos arts. 1.098 a 1.100 do CC/1916,
s aos arts. 554- et seq do CC/2002, relativos ao contrato de mandato.
§ 4.642. B- Doutrina
A doutrina contemporânea, conduzindo o negócio acreditivo ao instituto do
crédito documentário, trata-o como espécie de contrato (Luz, Aramy Dornelles
tia. Negócios jurídicos bancários. 2. ed. São Paulo: Juarez Oliveira, 1999. p. 180;
REZATSO, Arnaldo. Contratos de crédito bancário. 8. ed. São Paulo: Ed. RT, 2009.
o. S3), saja contrato suigeneris, em favor de terceiro (CORDEIRO, Antônio Menezes.
//'anual de direito bancário. 4. ed. Coimbra: Almedina, 2010. p. 670), ou ainda
como espécies de contratos interdependentes (ABRÃO, Nelson. Op. cit., p. 175), ao
que dizemos nós, que se aproxima da figura da coligação de contratos. Não se
faz, portanto, a distinção sugerida por Pontes de Miranda, quanto a sua caracte-
rização como negócio jurídico unilateral. Diz-se, mesmo, contrato de abertura de
carta ds crédito (SALOMÃO,.Eduardo. Direito bancário. São Paulo: Atlas, 2005. p.
270), para caracterizar sua natureza contratual e determinar o dever de prestação
das partes. A angularização indicada por Pontes de Miranda, todavia, mantém-se,
considerando a exigibilidade da prestação do banco, no sentido de proceder o
pagamento ao terceiro.Da mesma forma, preserva-se a indicação da abstração
do negócio acreditivo, uma vez que não se admitirão, por exemplo, exceções do
acreditante/ordenante da carta quanto ao cumprimento do contrato que deu causa
à sua emissão.
§ 4.642. C - J u r i s p r u d ê n c i a :
O STJ reconheceu a legitimidade do banco emissor para responder pelo cum-
primento de carta de crédito a que tenha negado cumprimento o banco confirma-
dor (STJ, REsp 235645/SP, 3.a T., j. 02.05.2000, rei. Min. Carlos Alberto Menezes
Direito, DJ26.06.2000). Da mesma forma, admite-se a ação do exportador contra
o banco confirmador, em vista da falência do banco emissor da carta de crédito
(TJSP, Agln 476.955.4/0, j. 05.07.2007, rei. Lino Machado).
§ 4.643. A- Legislação
Não se confundem as espécies de acreditivos, com a venda sobre documen-
tos, de que dispõe os arts. 529 a 532 do CC/2002, considerando-se que ali, trata-
-se de documentos representativos da coisa, não do crédito, como é o caso.
§ 4.643. B- Doutrina
Distingue a doutrina, na classificação do crédito documentário, quanto a sua i
revogabilidade. De regra, todavia, são contratados como irrevogáveis, em atenção i
à própria finalidade de segurança jurídica que se espera, especialmente em re- I
lação aos contratos internacionais. Nesse sentido, aliás, dispõe o art. 6.° da UCP
500, da Câmara de Comércio Internacional. Quanto às espécies de acreditivo
mencionadas (acreditivo limpo e acreditivo documentário), tal classificação não é
observada na doutrina atual. Como regra, o crédito documentário abrange a emis- I
são de carta de crédito como espécie de promessa incondicional de pagamento j
pelo banco, assim como o crédito contra documentos, que se identifica também j
como cobrança documentária. |
§ 4.643. C - Jurisprudência
Tratando-se de crédito documentário confirmado, tem legitimidade o credor
para exigi-lo tanto do banco confirmador, quanto do banco emissor da carta, po-
rém não do mero notificante (TJSP, ApCiv 1.151.908-3, 21 ,a Câm. de Direito Pri-
vado, j. 24.05.2006, rei. Antônio Marson). Da mesma forma, sustenta a jurispru-
dência que o banco confirmador, diante da falta de pagamento, deve dirigir sua
pretensão de ressarcimento dos valores que pagou ao banco emissor, ao qual
se vincula contratualmente, e não contra a empresa outorgante (TJRS, ApCiv
70003168424,11.a Câm. Civ., j. 15/10/2003, rei. Jorge André Pereira Gailhard).
CAPÍTULO II
PRESSUPOSTOS DO ACREDITIVO
§ 4.644. A - Legislação
§ 4.644. B - Doutrina
A distinção entre as relações jurídicas que fundamentam o acreditivo (crédito
j documentário), especialmente no tocante ao negócio acreditivo e o que Pontes
; de Miranda denomina negócio de valuta, ou seja, aquele a cujo pagamento ser-
| virá o acreditivo, são distintos, porém, interdependentes, embora reconhecida a
| abstração do negócio creditício. Qualifica-se, contudo, operação de crédito ban-
cário - contrato bancário, que se liga a outro contrato de depósito bancário ou de
j abertura de crédito. Ocorrendo, como é comum, necessidade de a prestação ser
j realizada em moeda estrangeira, associa-se também operação de câmbio.
• § 4.644. C - Jurisprudência
| O banco a quem incumbe realizar o exame da documentação para efeito de
pagamento não responde pelo cancelamento do crédito, diante ausência da do-
: cumentação pelo acreditado, no prazo convencionado (TJRS, ApCiv 598036762,
; 3.a Câm. Civ., j. 14.05.1998, rei. Luiz Ari Azambuja Ramos). Da mesma forma,
diga-se que a jurisprudência brasileira reconhece e aplica a UCP 500, da Câmara
, de Comércio Internacional, como norma que disciplina o crédito documentário no
!
comércio internacional (TJSP, 7170722, 18.a Câm. de Dir. Priv., j. 27.11.2007, rei.
Roque Antônio Mesquita de Oliveira). Envolvendo operação de câmbio, entende-
-se que pode ser fixado o termo de conversão da moeda e a respectiva taxa
no contrato (TJSP, ApCiv 9137696-86.2004.8.26.0000, 21 ,a Câm. de Dir. Priv., j. I
21.09.2006, rei. Edgard Rosa). Constitui, assim, risco inerente ao contrato even- j
j tual oscilação da taxa de câmbio (TJSP, ApCiv 9209647-82.2000.8.26.0000, j. I
i 26.09.2006, rei. Benedicto Jorge Farah), de modo que não pode o banco que |
) realiza a prestação acreditivo poder receber menos do acreditante do que aquilo I
| que prestou ao acreditado (STJ, REsp 654.969/PR, 3.a T., j. 07.12.2004, rei. Min. j
i Carlos Alberto Menezes Direito, DJ28.03.2005). |
§ 4.645. A - Legislação
A nulidade do negócio jurídico por incapacidade absoluta do agente está pre-
vista no art. 166,1, do CC/2002. Em relação à ilicitude ou impossibilidade do ob- j
jeto, trata o art. 166, II. A ausência de forma exigida por lei é a hipótese do art.
166, IV j
§ 4.645. B- Doutrina
A crítica à doutrina majoritária feita por Pontes de Miranda quanto à ordem do
exame do negócio acreditivo pode ser mantida em relação ao exame da doutrina
contemporânea. De fato, ao reconhecer-se no crédito documentário espécie de
contrato em que o banco ou oferece crédito (coligação com a abertura de crédito),
ou no mínimo serviço de operacionalização e garantia do pagamento, isso por si
põe em relevo a relação inicial entre o acreditante (ou outorgante/ordenante) e o
I prestador acreditivo (banco) (Luz, Aramy Dornelles da. Negócios jurídicos ban-
cários. 2. ed. São Paulo: Juarez Oliveira Ed., 1999. p. 183; PEREIRA, Caio Mário da
Silva. Instituições de direito civil. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. vol. III, p.
483). É assim também no direito comparado (GAVALDA, Cristian; STOUFFLET, Jean.
Droit bancaire. 7. ed. Paris: Litec, 2008. p. 460). Separa-se, assim, seu tratamento
jurídico, do negócio outro entre o acreditante e o acreditado, cujo pagamento o
acreditivo tem por finalidade viabilizar. Todavia, ainda que implicitamente, percebe-
-se da doutrina majoritária, corretamente, a convergência com o entendimento de
Pontes de Miranda no sentido de que não se trata o acreditivo de um dever aces-
' sório. É perfeitamente claro que se trata de outro contrato, embora identificando-
-se sua interdependência, ou mesmo a coligação contratual.
A anterioridade da prestação do acreditante, a que refere Pontes de Miran-
da, por outro lado, pode ser um fazer, e não necessariamente um dar, já que
antecede a prestação acreditiva tanto o depósito quanto a abertura de crédito.
Daí não poder se referir a exceção de contrato não cumprido, a não ser quando
as prestações devam ser realizadas ao mesmo tempo. Note-se que enquanto a
exceção de contrato não cumprido deriva de expressa previsão legal (art. 477 do
CC/2002), a exceção de cumprimento imperfeito decorre do reconhecimento dou-
trinário, mediante aplicação da boa-fé objetiva ou pela violação de deveres laterais
ou acessórios (AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado de. Comentários aó novo Código Civil.
Rio de Janeiro: Forense, 2011. vol. VI, t. II, p. 798).
§ 4.645. C - Jurisprudência
Admite a jurisprudência o cancelamento da carta de crédito pelo acreditante,
no caso do descumprimento de dever do acreditado no contrato a cujo pagamento
deveria servir, como é o caso do atraso dó embarque de mercadorias cujo preço
seria pago pelo prestador acreditivo, quando decisivo à finalidade útil do contrato
(TJRJ, ApCiv 22.038/2002, j. 05.02.2003, rei. Raul Celso Lins e Silva). Segundo
afirmado pela jurisprudência, o crédito documentário não constitui espécie de títu-
lo executivo (TJRJ, ApCiv 2005.001.05494, j. 29.06.2005, rei. Nametala Machado
Jorge). Todavia, há quem entenda de modo diverso, quando o instrumento siga
os requisitos do art. 585, II, do CPC (TJMG, ApCiv 0139162-68.1998.8.13.0672,
I j. 09.09.2005, rei. Mota e Silva, DJ 12.10.2005). Da mesma forma, consideram
; precedentes judiciais, a necessidade de interpelação para constituição do acre-
i ditante em mora (TAPR, ApCiv 0182629-9, 5.a Câm. Civ., j. 14.04.2004, rei. João
j Domingos Kuster Puppi).
2 . DIREITO DO ACREDITADO. - O a c r e d i t a n t e , se h á , e m v e r d a d e ,
acreditivo, tem de estar em relação jurídica com o acreditado. Se A ape-
nas ofereceu a B o acreditamento, B ou aceita, ou não aceita. Se B acei-
ta, o negócio jurídico acreditivo pode ser constituído, irradiando efeitos.
Se A vinculou C. o futuro prestador acreditivo, a satisfazer a sua dívida
a B, ou se não o vinculou, não importa. O acreditivo é negócio jurídico
que se faz com a manifestação de vontade de A, dirigindo-se para B,
que apresenta o documento ou os documentos ao futuro prestador acre-
ditivo, até então simples indicado para isso. Essa pessoa reage ou com
a confirmação ou com a recusa. Se confirma, dêle parte manifestação
unilateral, receptícia, de vontade, que a vincula a B. A B vincularam -
-se duas pessoas: uma, o acreditante, prometendo que outrem preste, e
o futuro prestador acreditivo que promete prestar ou desde logo presta.
Com a vinculação de futuro prestador aquisitivo, ou com a solução da
dívida, A fica liberado.
Para que não haja obscuridade na exposição, precisemos que a cláusu-
la ou o pacto adjecto de ser feita por meio de acreditivo a prestação implica
bílateralidade do negócio jurídico. Daí têrmos falado de oferta e de aceita-
ção. Não há oferta e aceitação em se tratando de acreditivo. O acreditante
lança manifestação unilateral de vontade. O acreditado procura o futuro
prestador acreditivo, como qualquer credor que procurasse o devedor ou
terceiro encarregado da solução; ou o procura o futuro prestador acreditivo,
que provavelmente teve notícia do acreditivo e, até mesmo, esteja - por
outro negócio jurídico - vinculado a atendê-lo.
§ 4.647. FIGURA DO PRESTADOR ACREDITIVO • 351
§ 4.646. A- Legislação
A disciplina do pagamento das obrigações consta dos arts. 304 et seq do
CC/2002.
§ 4.646. B- Doutrina
Considera a doutrina contemporânea que a vinculação do prestador acre-
ditivo tem eficácia cumulativa, não extintiva da obrigação do acreditante (que
é credor do negócio acreditivo, mas devedor do contrato a cujo pagamento
serve), que de fato ficará liberado apenas com a solução da dívida (RIZZARDO,
Arnaldo. Contratos bancários. 8. ed. São Paulo: Ed. RT, 2009. p. 101).Trata-se,
todavia, segundo toda a doutrina contemporânea, de espécie contratual, no
que se separam do entendimento de Pontes de Miranda, quanto a sua natureza
de negócio jurídico unilateral
§ 4.646. C - Jurisprudência
Sustenta a jurisprudência a legitimidade do acreditado para exigi-lo tanto do
banco confirmador,-quanto do banco emissor da carta, quando forem distintos
(TJSP, ApCiv 1.151.908-3, 21 .a Câm. de Dir. Priv., j. 24.05.2006, rei. Antônio
Marson). Da mesma forma, sustenta-se que o banco confirmador, diante da fal-
ta de pagamento, deve dirigir sua pretensão de ressarcimento dos valores que
pagou ao banco emissor, ao qual se vincula contratualmente, e não contra a
empresa outorgante (TJRS, ApCiv 70003168424,11. a Câm. Civ., j. 15.10.2003,
rei. Jorge André Pereira Gailhard).
§ 4.647. F I G U R A D O P R E S T A D O R A C R E D I T I V O
que acaso tenha o futuro prestador acreditivo. Nem êsse pode opor a má fé,
por parte do acreditado em relação ao acreditante, se não ressalta nem pode
ser nociva a êsse; nem cabe ser responsabilizado se a má fé não consta do
exame dos documentos e de fatos que êle, acreditado, deveria conhecer (A.
LEGAL, Le Crédit confirméen pays étranger, 53; EUGEN ULMER, Akkredi-
tiv und Anweisung, Archivfür die civilistische Praxis, 126, 294).
§ 4.647. A - Legislação
Sobre a cessão de crédito, dispõem os arts. 286 a 298 do CC/2002. Disci-
plinam a representação para celebração de ato ou negócio jurídico, os arts. 115
a 120 do CC/2002. Quando se trate de representação convencional, as regras
do mandato constam dos arts. 653 et seq do CC/2002.
§ 4.647. B - Doutrina ;
A responsabilidade do prestador acreditivo pela demora na confirmação
tem natureza contratual, de modo que legitima o acreditante que com ele con-
tratou a exercer pretensão indenizatória ou resolutória do contrato enquanto
não esteja o acreditado vinculado, embora considere a doutrina que no contrato
de emissão da carta de crédito o banco faça uma dupla promessa, em relação
ao ordenante/acreditante e ao beneficiário/creditado (CORDEIRO, Antônio Mene-
zes. Manual de direito bancário. 4. ed. Coimbra: Almedina, 2010. p. 664). Já se
a demora é do acreditante, aí terá o acreditado pretensão, com fundamento no
negócio jurídico base.
Concorda a doutrina atual com Pontes de Miranda, no tocante à abstração
do negócio acreditivo que ocorre com a confirmação, em relação a eventuais
insuficiências da prestação do acreditado no negócio base ao qual serve o
acreditivo de pagamento, o que de resto está em conformidade com os usos
convencionados internacionalmente.
Na doutrina francesa, tal qual no direito brasileiro, mantém-se, igualmente,
o entendimento quanto à natureza contratual do crédito documentário (GAVALDA,
Cristian; STOUFFLET, Jean. Op. cit., p. 460; e.BoNNEAU, Thierry. Droit bancaire. 8.
ed. Paris: Montchrestien, 2009. p. 497-498) subsistindo, portanto, o objeto das
críticas de Pontes de Miranda.
Por outro lado, o caráter abstrato e autônomo do crédito documentário con-
firmado e a possibilidade de sua cessão é assentado na doutrina.(VASCON-
CELLOS, Luis Miguel Pestana de. Direito das garantias. Coimbra: Almedina, 2011.
p. 581).
§ 4.647. C - Jurisprudência
O prestador acreditivo, no exame dos documentos tem dever de realizar um
exame formal dos mesmos, e não qualquer juízo de valor, de modo que não
responde por eventuais fraudes (STJ, REsp 885.674/RJ, 3.a T„ j. 07.02.2008,
rei. Min. Nancy Andrighi). Na hipótese de ocorrer inadimplemento do prestador
acreditivo, entende-se a possibilidade do acreditado demandar tanto o banco
confirmador, quanto o emissor da carta, quando forem distintos (TJSP, ApCiv
1.151.908-3, 21 .a Câm. de Dir. Priv., j. 24.05.2006, rei. Antônio Marson).
§ 4.648. PRAZO
§ 4.648. A- Legislação
A indicação quanto às disposições sobre a mora in re ou in personam, do
art. 960 do CC/1916, devem ser tomadas pelo art. 397, capute parágrafo único,
do CC/2002.
§ 4.648. B - Doutrina i
Na ligação do pagamento do acreditivo e do negócio causai (ou negócio
base), identifica-se também para a doutrina contemporânea a ligação entre
ambos, justificando falar em interdependência ou coligação de contratos. Uma
vez que a prestação do acreditivo constituí pagamento do negócio causai.
§ 4.648. C- Jurisprudência
A mora no pagamento do acreditivo legitima o acreditado a demandar tan-
to o banco emissor quanto o confirmador do crédito (TJSP, ApCiv 1.151.908-
3, 21 ,a Câm. de Dir. Priv., j. 24.05.2006, rei. Antônio Marson). Tendo, todavia,
pago o banco confirmador, pode ressarcir-se do banco emissor (TJRS, ApCiv
70003168424,11.a Câm. Civ., j. 15.10.2003, rei. Jorge André Pereira Gailhard).
§ 4.649. FORMA
§ 4.649. A - Legislação
A declaração de vontade não depende de forma específica, a não ser quan-
do a lei o exigir, conforme prevê o art. 107 do CC/2002. No tocante à aceita-
ção de letra de câmbio, é exigida forma escrita. O mesmo exige-se do aval
- conforme art. 898 do CC/2002 - e do endosso (art. 910 do CC/2002), assim
como a Convenção de Genebra, incorporada ao direito brasileiro pelo Dec.
57.663/1966.
A identificação do negócio entre acreditante e prestador acreditivo como
estipulação em favor de terceiro remete à disciplina dos arts. 436 a 438 do
CC/2002.
§ 4.649. B- Doutrina
Não se utiliza na doutrina contemporânea a expressão "acreditivo". Sua
disciplina insere-se no âmbito do crédito documentário, compreendido como
contrato - de regra não se cogita de negócio jurídico unilateral como sustenta
Pontes de Miranda - , em que há prestação de serviço do banco, ainda que por
ele possa se constituir eficácia vinculativa a partir da confirmação, dando causa
a crédito confirmado. Essas sim, expressões largamente utilizada, inclusive nos
usos convencionados internacionalmente (Uniform Customs and Practice for
Documentary Credits 500, da CCI). Todavia, há acordo com Pontes de Miranda,
por grande parte da doutrina, de que o negócio entre ordenante/acreditante e
o banco/prestador acreditivo, assume caráter de negócio em favor de terceiro.
§ 4.649. C- Jurisprudência
Admitindo-se a vinculação do contrato de crédito documentário a outros
contratos, não se admite sua eficácia executiva nas hipóteses em que é possí-
vel a variação do valor tornado disponível ou as amortizações feitas pelo acre-
ditante (STJ, REsp 247.518/MG, 4. a T„ j. 02.02.2006, rei. Min. Barros Monteiro,
DJ 20.03.2006).
CAPÍTULO III
EFICÁCIA D O ACREDITIVO
§ 4.650. A - Legislação
O pagamento por terceiro interessado tem disciplina do art. 304 do CC/2002.
Pode ter por eficácia a sub-rogação, conforme art. 346, III, do CC/2002. A ces-
são de crédito é prevista nos arts. 286 e ss. do CC/2002.
§ 4.650. B- Doutrina
Há compreensão da doutrina quanto a disciplina do acreditivo por meio de
cláusula que discipline o pagamento no negócio entre o acreditante e o acre-
ditado. Todavia, o crédito documentário considera-se como serviço ou crédito
do banco (prestador acreditivo), como conteúdo da prestação ao acreditante
(MARTINS, Fran. Contratos e obrigações comerciais. 14. ed. Rio de Janeiro: Fo-
rense, 1999. p. 438). Mesmo a confirmação e conseqüente obrigação do banco
perante o acreditado é decorrência da prestação de serviços em questão.
No tocante à possibilidade de cessão do crédito, da mesma forma, é admi-
tida expressamente.
Quanto à natureza jurídica do pagamento, há conhecida polêmica dentre os
que o consideram como espécie de ato-fato jurídico - doutrina capitaneada por
Pontes de Miranda ato jurídico, ou admita sua natureza variável, conforme a
prestação que deva ser satisfeita (PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de
direito civil. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. v. II, p. 169; GOMES, Orlando.
Obrigações. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 111).
§ 4.650. C - Jurisprudência
Reconhece, a jurisprudência, que no contrato de crédito documentário ir-
revogável, o banco que realiza a prestação acreditiva não pode se opor ao
saque do crédito se o acreditado apresenta a documentação referida na carta
de crédito, confirmando sua abstração em relação ao negócio base (STJ, REsp
686.166/RJ, 3.aT., j. 23.08.2007, rei. Min. Nancy Andrighi, DJ 17.09.2007).
§ 4.651. D E V E R E S D O P R E S T A D O R ACREDITIVO
§ 4 . 6 5 1 . A - L e g i s l a ç ã o
A possibilidade do terceiro exigir a obrigação quando haja estipulação em
seu favor atualmente é previsto no art. 436, parágrafo único, do CC/2002, que
reproduz a norma do art. 1.098, parágrafo único, do CC/1916.
A abstração da carta de crédito em relação ao contrato original que lhe deu
base consta do art. 3.° da UCP-500, convencionada no âmbito da Câmara de
Comércio Internacional.
§ 4.651. B-Doutrina
A abstração do negócio acreditivo - em relação ao negócio base ao qual
sua prestação principal servirá de pagamento - é reconhecida em uníssono
na doutrina nacional e estrangeira. No tocante à veracidade ou autenticidade
dos documentos apresentados, o art. 15 da UCP 500, da Câmara de Comércio
Internacional, exime a responsabilidade dos bancos pela "forma, suficiência,
exatidão, autenticidade, falsificação ou efeito legal de quaisquer documentos".
Segundo aponta a doutrina, este entendimento é assente, exigindo-se tão so-
mente exame formal dos documentos. Todavia, na linha do que sustenta Pontes
de Miranda, não se excluem falhas que decorram de culpa grave ou dolo, como
é o caso da fraude evidente dos documentos.
§ 4.651. C - Jurisprudência
A qualificação do contrato em vista da obrigação do prestador acrediti-
vo como espécie de prestação de serviços é reconhecida pela jurisprudên-
cia (TJPR, ApCiv 692.851-4, 15.a Câm. Civ., j. 15.09.2010, rei. Des. Jucimar
Novochadlo) O prestador acreditivo, no exame dos documentos tem dever
de realizar um exame formal dos mesmos, e não qualquer juízo de valor, de
modo que não responde por eventuais fraudes (STJ, REsp 885.674/RJ, 3.a T.,
j. 07.02.2008, rei. Min. Nancy Andrighi).
P a n o r a m a a t u a l p e l o A t u a l i z a d o r
! !
§ 4.652. A - Legislação j
| § 4.652. B- Doutrina
I Conforme já mencionamos alhures, a doutrina entende o acreditivo - tra-
| tando-o sob a epígrafe de crédito documentário - como espécie de contrato,
j Isso não prejudica que se reconheça o caráter unilateral da confirmação que
; passa a vincular o banco à solução da dívida junto ao beneficiário/acreditado
e sua abstração em relação ao negócio base (SALOMÃO NETO, Eduardo. Direito
bancário. São Paulo: Atlas, 2005. p. 283). Assinala-se, contudo, a possibilidade i
i do pagamento pelo prestador acreditivo vir a contrariar regras cambiais do país, J
i hipótese em que não devem ser pagas pelo confirmador, porém não excluem •
i a responsabilidade do banco emissor no seu respectivo país (SALOMÃO NETO, j
i Eduardo. Op. cit., p. 287).
! §4.652. C- Jurisprudência ,
Confirma-se, nas Cortes brasileiras, a aplicação dos usos internacionais con-
vencionados em matéria de crédito documentário (STJ, REsp 885.674/RJ, 3.aT.,
j. 07.02.2008, rei. Min. Nancy Andrighi, DJe 05.03.2008; no mesmo sentido: TJSP,
ApCiv 9.084.303-52.2004.8.26.000, 23.a Câm. Dir. Priv., j. 27.10.2006, rei. Des.
Fernando Arruda Silveira). Da mesma forma, admite-se a possibilidade de que o
acreditado/beneficiário exija a prestação tanto do banco confirmador, quanto do
[ banco emissor (TJSP, ApCiv 1.151.908-3, rei. Antônio Marson, 21 ,a Câm. de Direi-
to Privado, j. 24.05.2006). Há na jurisprudência, todavia, precedentes no sentido
de que o banco confirmador, diante da falta de pagamento, deve dirigir sua preten-
são de ressarcimento dos valores que pagou ao banco emissor, ao qual se vincula
contratualmente, e não contra a empresa outorgante (TJRS, ApCiv 70003168424,
11." Câm. Civ., j. 15.10.2003, rei. Jorge André Pereira Gailhard).
CAPÍTULO I V
§ 4.653. A- Legislação
A hipótese de falência, liquidação ou concurso de credores do acreditado,
quando de desconhecimento do prestador acreditivo, justifica, segundo afir-
mado por Pontes de Miranda, invocação do art. 689 do CC/2002 (art. 1.321 do
CC/1916), com referência aos atos praticados em relação aos contratantes de
boa-fé, quando se ignore causa de extinção do mandato.
Da mesma forma, pode o administrador judicial, na hipótese de falência,
manter a execução do contrato, no interesse da massa falida, uma vez au-
torizado pelo Comitê de Credores, procedimento no qual o art. 117 da Lei
11.101/2005 assemelha-se quanto à possibilidade de manutenção do contrato,
porém distingue-se quanto ao procedimento tendente a esse fim, daquilo que
dispunha o art. 43 do Dec.-lei 7.661, de 21.06.1945, mencionado por Pontes
de Miranda.
§ 4.653. B- Doutrina
As hipóteses de extinção indicadas por Pontes de Miranda são as mesmas
sobre as quais refere-se a doutrina contemporânea. Assim também, natural-
mente, a separação necessária entre a extinção da relação de acreditivo (crédi-
to documentário) e do negócio base a que aquele deve servir para pagamento
(ABRÃO, Nelson. Direito bancário. 12. ed. São Pauio: Saraiva, 2009. p. 180; Ri-
ZZARDO, Arnaldo. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 108). Acrescenta-
-se, todavia, apenas o fato do crédito ter sido oferecido com prazo de vigência,
hipótese em que extingue-se a relação de crédito com expiração do respectivo
prazo (COVELLO, Sérgio. Contratos bancários. 3. ed. São Paulo: Leud, 1999. p.
227-228). Note-se que a necessidade de submissão a prazo é prevista pelo art.
43 da UCP 500, da Câmara de Comércio Internacional.
§ 4.653. C - Jurisprudência
Quando vinculado a contrato de abertura de crédito, a jurisprudência admite
a revisão do contrato de crédito documentado, para identificação de ilegalida-
des, mesmo depois de extinto (STJ, REsp 800.178/SC, 4.aT., j. 07.12.2010, rei.
Min. Luis Felipe Salomão, DJe 10.12.2010).
§ 4.654. A- Legislação
A identificação da confirmação com a assunção de dívida permite remeter
ao disposto nos arts. 299 a 303 do CC/2002.
§ 4.654. B- Doutrina
O dever de substituição da carta de crédito no caso de destruição ou perda
do instrumento original, dentro do prazo que invoca Pontes de Miranda para
distinguir da hipótese de extinção do contrato, amolda-se à espécie de dever
lateral que atualmente a doutrina reconhece sob a égide da boa-fé objetiva.
§ 4.654. C - J u r i s p r u d ê n c i a
O contrato de crédito documentário não gera título executivo, conforme afir-
mado pela jurisprudência (TJRJ, ApCiv 2005.001.05494, j. 29.06.2005, rei. Des.
Nametala Machado Jorge; TJSP, ApCiv 1.276.674-0, j. 08.05.2006, rei. Des.
Manoel Justino Bezerra Filho). A jurisprudência ao mesmo tempo, sustenta que
o banco a quem incumbe realizar o exame da documentação para efeito de pa-
gamento não responde pelo cancelamento do crédito, diante ausência da docu-
mentação pelo acreditado, no prazo convencionado (TJRS, ApCiv 598036762,
3.a Câm. Civ., j. 14.05.1998, rei. Des. Luiz Ari Azambuja Ramos).
Precedente do STJ, da mesma forma, afirma que o beneficiário/acredita-
do pode demandar o cumprimento da carta de crédito diretamente do banco
emissor, na hipótese de o banco confirmador, que não honrar o pagamento
(STJ, REsp 235.645/SP, 3.a T„ j. 02.05.2000, rei. Min. Carlos Alberto Menezes
Direito, DJ26.06.2000).
TÍTULO XXXNE
DEPÓSITO
P a n o r a m a a t u a l p e l o A t u a l i z a d o r
§ 4.655. A- Legislação
O art. 1.265, capute parágrafo único, do CC/1916, foi reproduzido pelos arts.
627 e 628 do CC/2002. Quanto à gratuidade do contrato de depósito, inclusive,
acrescenta o art. 628 do CC/2002, que esta será a regra, salvo se houver conven-
ção em contrário, se resultante de atividade negociai ou se o depositário o praticar j
por profissão.
No tocante aos deveres principais de guarda e conservação da coisa, o
art. 1.266 do CC/1916, revogado, tem seu conteúdo reproduzido no art. 629 do
CC/2002.
O Código de Defesa do Consumidor se aplica aos contratos de depósito que
' se caracterizem como relação de consumo, a saber, aquelas em que depositante
e depositário qualifiquem-se como consumidor e fornecedor, a teor dos arts. 2.° e
3.° dessa lei, ou ainda quando haja hipótese de equiparação legal (especialmente
art. 29 do CDC).
§ 4.655. B- Doutrina
Embora mantenha-se a regra legal da gratuidade do depósito, a doutrina bem
identifica que atualmente, a maior parte das situações práticas são de depósito
oneroso (LOPEZ, Teresa Ancona. Comentários ao Código Civil. São Paulo: Sarai-
va, 2003. vol. 7. p. 340). Em especial, considerando-se que a unificação do direito
das obrigações, pelo qual se passa, sob as mesmas disposições, o depósito
que seja ou não realizado para fins profissionais com o intuito de lucro (ANDRIGHI,
Nancy; ANDRIGHI, Vera e BENETTI, Sidnei. Comentários ao novo Código Civil. Rio
de Janeiro: Forense, 2008. vol. 9. p. 358). Assinala-se, igualmente, que quando
seja oneroso, e considerando que tem no seu núcleo prestação de serviços, pode
atrair a incidência, além das disposições do Código Civil, também do Código de
Defesa do Consumidor, quando presentes os sujeitos, consumidor e fornecedor,
segundo definição legal (arts. 2.° e 3.°, bem como por equiparação, o art. 29,
todos do CDC).
Na linha indicada por Pontes de Miranda, admite a doutrina, embora ausente
da disciplina legal, o depósito de imóveis, especialmente tendo em conta o depósi-
to judicial (PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro:
Forense, 2011. vol. 3. p. 328; VEMOSA, Silvio de Salvo. Direito civil - Contratos em
í espécie. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 248) Esta visão, contudo, é divergente,
| especialmente sob argumento de que, nesses casos, o depósito do imóvel resulta
j de ficção legal (LÔBO, Paulo. Direito civil - Contratos. São Paulo: Saraiva, 2011.
| p. 396-397; Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. São
| Paulo: Ed. RT, 2009. p. 649). E nesses casos não se há de se referir a contrato,
i mas depósito por força de lei, ou como eficácia de ato diverso do contrato.
| § 4.655. C - Jurisprudência
I Admite a jurisprudência, nos termos de previsão legal expressa do art. 645
i do CC/2002, o depósito de coisas fungíveis, qualificados como depósito irregular
i (STJ, AgRg 259.475, 3.a T„ j. 24.05.2005, rei. Humberto Gomes de Barros, DJ
01.07.2005). Nessa mesma linha, também os depósitos bancários, normalmente
de dinheiro, em relação aos quais entende-se aplicável o Código de Defesa do
Consumidor aos depósitos bancários (STJ, REsp 226921/SP, 4.aT., j. 19.04.2001
rei. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ 02.08.2004), mas não a lei de falências no ;
| que se refere à restituição dos bens em poder do falido (STJ, REsp 501.401/MG, l
i 2.a Seção, j. 14.04.2004, rei. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 03.11.2004)'. >
| No tocante a depósito de grãos em armazéns gerais, a jurisprudência enten- !
de cabível a ação de depósito, nos termos da legislação processual dado que j
| mesmo fungíveis, a finalidade do contrato não o faz consumível pelo depositário i
! (STJ, REsp 783.471/GO, 4.a T„ j. 22.03.2011, rei. Min. Luis Felipe Salomão, DJe \
j 25.03.2011). |
§ 4.656. A- Legislação
O dever de guarda e conservação da coisa no depósito, consta do art. 629 do
CC/2002. De outra parte, seu art. 645 do CC/2002, dispõe que no caso de depó-
sito de coisas fungíveis, incidem as normas acerca do mútuo.
Já o art. 642 do CC/2002 estabelece que o depositário não responde pelos
danos a coisa decorrentes de coisa maior, porém lhe incumbe a prova da sua
ocorrência.
§ 4.656. B- Doutrina
Mantém-se a doutrina majoritária convergente no sentido de distinguir o depó-
sito irregular segundo o critério da fungibilidade do objeto depositado, mas tam-
bém do seu fim econômico (GOMES, Orlando. Contratos. Rio de Janeiro: Forense,
2009. p. 420; ANDRIGHI, BENETI, ANDRIGHI. Op. cit., p. 411) Há cuidado, todavia, de
uma parte da doutrina para distinguir, dentre os depósitos irregulares, o depósito
bancário, pela dificuldade de reconduzi-lo à disciplina legal existente (COELHO, Fá-
bio Ulhôa. Curso de direito empresarial. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 3. p. 149;
NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Op. cit., p. 649).
O dever de guarda e custódia é identificado como obrigação principal, conteú-
do principal do contrato (LÔBO, Paulo. Op. cit., p. 396; TEPEDINO, Gustavo; BARBOSA
e MORAES. Código Civil interpretado conforme a Constituição da República. Rio de
Janeiro: Renovar, 2006. t. II, p. 384; LOPEZ, Teresa Ancona. Op. cit., p. 343).
A responsabilidade do depositário, de natureza contratual, reputa-se por regra
geral, eximida no caso de caso fortuito ou força maior, independente da regra do
art. 640 do CC/2002 que, no ponto, reproduz o disposto no Código Civil ante-
rior. Afirma a doutrina, que pelo princípio do res perit domino, os riscos da coisa
em depósito serão do seu proprietário, o depositante (TEPEDINO, BARBOZA, MORAES. I
Op. cit., p. 405), com exceção das situações previstas na lei, como a mora da i
obrigação de restituir (Orlando Gomes. Op. cit., p. 419). Há, todavia, o cuidado
de distinguir-se os depósitos em geral, daqueles que se configurem relação de j
consumo, cujo regime é o da responsabilidade objetiva, com hipóteses restritas
de afastamento da responsabilidade do fornecedor (LOPEZ, Teresa Ancona. Op.
cit., p. 400), como é o exemplo do furto de caixas fortes e depósitos em agências
bancárias (LÔBO, Paulo. Op. cit., p. 404-405). í
j § 4.656. C - Jurisprudência !
; A jurisprudência rejeita a interposição da ação de depósito, com exceção da
i do depósito em armazéns gerais, nos casos de depósito irregular (STJ, REsp
959693/PR, 4. a T, j. 22.04.2008, rei. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJe 19.05.2008; |
; e REsp 293024/SP, 4 a T., j. 29.05.2011, rei. Min. Ruy Rosado de Aguiar Júnior, DJ \
; 20.08.2001), aos quais aplica as regras do mútuo (STJ, AgRg no Ag 458.117/PR,
3. a T,j. 06.10.2009, rei. Min. Vasco Delia Giustina (convocado), DJe 21.10.2009)'.
| O dever de custódia, por sua vez, compreende o dever de conservar o bem com '
; cuidado e diligência que empregaria com as coisas próprias que lhe pertencem i
(TJRS, ApCiv 70008619025, 5.a Câm. Civ., j. 13.05.2004, rei. Umberto Guaspari i
: Sudbrack). Da mesma forma, qualifica como depósito e identifica a violação do i
dever de custódia o estacionamento de veículos no caso de furto ou roubo do !
S bem (STJ, REsp 8069, j. 29.04.1991, rei. Nilson Naves, RT677/223; TJSP, ApCiv !
; 0138146-17.2006.8.26.0000, 9.a Câm. de Direito Privado, j. 22.09.2011, rei. José !
Luiz Gavião de Almeida). Neste sentido a Súmula STJ 130, indicando que a em- j
presa responde pelo furto ou roubo de veículo em seu estacionamento. Preceden- I
j tes, inclusive, imputam responsabilidade do Estado quando haja estacionamento
em área pública, porém guarnecida de grades, de modo a fazer presumir custó-
dia (STF, RE 255.731-5, 1. a T, j. 09.11.1999, rei. Min. Sepúlveda Pertence, DJU \
26.11.1999, RT 774/193). Mas não quando o furto ocorre em área condominial
comum (TRF-1 ,a Reg, ApCiv 96.01.39639-0, j. 31.03.2000, rei. Vera Carla Cruz,
j DJU26.05.2000). Elimina a responsabilidade do custodiante pela violação do de-
ver de custódia o caso fortuito (TJSP, ApCiv 911.782-2,18.a Câm. Direito Privado,
j. 15.09.2005, rei. Roque Mesquita, /TT844/255). Na entrega de bens do coopera-
do à cooperativa distingue-se na hipótese, o ato cooperativo, descaracterizando o
contrato de depósito (1TACivSP, ApCiv 735.614-7, 3.a Câm., j. 15.06.1998, rei.
i Luiz Antônio de Godoy, /TT758/237).
§ 4.657. A- Legislação
§ 4.657. B - Doutrina
A doutrina anota a imponância de distinguir-se o depósito gratuito do oneroso,
especialmente em face de sua repercussão prática, na disciplina da responsabili-
dade das partes, nos termos do art. 392 do CC/2002 (TEPEDINO, BARBOZA, MORAES.
Op. cit., p. 388). A equivalência indicada por Pontes de Miranda entre as expres-
sões gratificação e remuneração do depósito, na doutrina contemporânea se es-
tende também à noção de remuneração indireta, desenvolvida especialmente no
direito do consumidor, pela qual a ausência de contraprestação direta, mas exis-
tência de vantagem econômica indireta permite que se qualifique como remune-
rado determinado contrato, como é o caso do depósito bancário em caderneta de
poupança (MARQUES, Claudia Lima. Relação de consumo entre os depositantes de
caderneta de poupança e os bancos ou instituições que arrecadam a poupança
popular. Revista dos Tribunais, vol. 760. p. 107. São Paulo: Ed. RT, fev. 1999), ou no
estacionamento de automóveis, hipótese em que alguns doutrinadores destacam
a necessidade do exame da finalidade do contrato para sua classificação (LOPEZ,
Teresa Ancona. Op. cit., p. 350). Admite-se, nesses casos a bilateralização do
contrato a que se refere Pontes de Miranda.
No tocante a natureza real do contrato de depósito converge a doutrina, fiel às
origens romanas do contrato (ANDRIGHI, BENETI, ANDRIGHI, Op. cit., p. 361; PEREIRA,
Caio Mário da Silva. Op. cit., p. 327; GOMES,.Orlando. Op. cit., p. 414), o que se
realiza, como regra, com a transmissão da posse, tal qual indicado por Pontes de
Miranda. Assinalam alguns autores, contudo, que nem sempre há efetiva tradição I
| do bem, admitindo-se a tradição simbólica (RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. Rio de
j Janeiro: Forense, 2011, p. 658).
I § 4.657. C - Jurisprudência
j Afirma a jurisprudência que quando o depósito se dá no interesse do negócio, o
dever de vigilância não é elidido pela gratuidade da prestação (STJ, REsp 8069, j.
29.04.1991, rei. Nilson Naves, /7T677/223). A Súmula STJ 130, prevê que "a empre-
sa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo ocorridos
em seu estacionamento". A jurisprudência atual do STJ entende pelo cabimento da
ação de depósito para entrega de bens fungíveis em contrato de depósito propria-
mente dito (STJ, REsp 877.503/MG, 3.°T., j. 06.10.2009, rei. Min. Sidnei Beneti,
DJe 11.11.2009). Da mesma forma, a morte do depositário não extingue neces-
sariamente a ação de depósito, que segundo a jurisprudência, pode prosseguir
contra os herdeiros, visando à cobrança da dívida (TRF-4.a Reg., ApCiv 0013751-
19.1998.404.7100, j. 30.08.2010, rei. Marga Inge Barth Tessler, DJe 10.09.2010).
Reconhece-se, ainda, a remuneração indireta nos contratos de depósito apa-
rentemente gratuitos (STJ, REsp 226.921/SP, 4.aT., j. 19.04.2001, rei. Min. Ruy Ro-
sado de Aguiar Júnior, DJ 02.08.2004). Da mesma forma, compreende-se que a
falta da entrega efetiva dos bens descaracteriza o contrato de depósito (STJ, REsp
1006340/PE, 4 a T., j. 24.03.2009, rei. Min. Fernando Gonçalves, DJe06.04.2009).
§ 4.658. D E P Ó S I T O E O U T R A S F I G U R A S J U R Í D I C A S
§ 4.658. A- Legislação
§ 4.658. B- Doutrina
§ 4.658. C - Jurisprudência
Afastando-se do entendimento de Pontes de Miranda, parte da jurisprudência
brasileira tende a desclassificar a locação de cofres de segurança como espécie i
de locação, caracterizando-os como contrato de depósito (STJ, REsp 767923/
; DF, 4.a T., j. 05.06.2007, rei. Min. César Asfor Rocha, DJ 06.08.'2007; TJRJ Ap
j 2005.001.51532, 2.° Câm. Civ., j. 28.12.2005, rei. Carlos Eduardo Passos, DJe I
| 06.01.2006), embora em boa parte dos casos haja o exame da responsabilida-
| de sem questionar a natureza do contrato das partes, mas o dever de custó-
! dia sobre os bens que se encontrem no cofre (STJ, REsp 333.211/RJ, 4. a T., j i
13.11.2001, rei. Min. César Asfor Rocha, DJ 18.03.2002; REsp 994040/PE, 4.aT. !
j. 07.04.2011, rei. Min. Raul Araújo, DJe 18.04.2011). Admite-se, contudo,' que à '
instituição financeira estabeleça cláusula limitativa de uso (STJ, REsp 1163137/ i
SP, 3.aT., j. 14.12.2010, rei. Min. Massami Uyeda, DJe 03.02.2011). 1
§ 4 . 6 5 9 . A - L e g i s l a ç ã o
| § 4.659. B - Doutrina
§ 4.659. C - Jurisprudência
§ 4.660. A- Legislação
§ 4.660. C - Jurisprudência
Segundo afirma a jurisprudência, para que se desobrigue o depositário, no
termo final do contrato, da guarda da coisa, deve restituí-la ou requerer entrega a
depósito público, sob pena de em não o fazendo, responder por seus riscos (TRF-
-4.a, ApCiv 2001.04.01.086645-4, 4.a T„ j. 18.12.2002, rei. João Pedro Gebran
Neto, DJ 29.01.2003). Tratando-se de depósitos em garantia em contrato de alie-
| nação fiduciária, admite a jurisprudência a manutenção dos bens com o devedor/
depositário, quando indispensável à sua atividade econômica, respondendo pela
mora (STJ, REsp 607.961/RJ, 2.a Seção, j. 09.03.2005, rei. Min. Nancy Andrighi,
DJ 01.08.2005). Da mesma forma, a privação, por ato de império, do bem depo-
sitado, exime a responsabilidade do depositário frente ao depositante (STJ, REsp
65374/SP, 3.aT., j. 24.10.1995, rei. Waldemar Zveiter, DJ 11.12.1995). Da mesma
forma, tratando-se de depósito judicial, não responde o depositante por correção
monetária (STJ, REsp 1129510/SP, 2. a T., j. 25.05.2010, rei. Min. Herman Benja-
| min, DJe 30.06.2010). No mesmo sentido a Súmula STJ 179: "O estabelecimento
! de credito que recebe dinheiro, em deposito judicial, responde pelo pagamento da
! correção monetária relativa aos valores recolhidos".
CAPÍTULO I I
EFICÁCIA D O CONTRATO D E DEPÓSITO
6. REMUNERAÇÃO PARCIAL. - S e a r e m u n e r a ç ã o f o i p o r p e r í o d o o u
tempo único antes de cujo têrmo foi exigida a restituição da coisa, é de
entender-se, na dúvida, que só se presta a parte correspondente ao tempo
em que a coisa esteve depositada. Se, a despeito de acordarem no depósito
os interessados, a coisa não foi entregue, não há pensar-se em remunera-
ção, salvo cláusula expressa em que se preveja tal obrigação pré-contra-
tualmente assumida, como se o contraente, que teria de receber a coisa,
tem de reservar lugar para ela, ou fazer gastos. Se o contrato de depósito é
consensual, ou se houve pré-contrato, a remuneração pode ser cobrada em
caso de inadimplemento e exigida a indenização de perdas e danos.
Nos contratos consensuais de depósito, é usual pagar-se, à assinatura
do contrato, ou à sua conclusão, com o só recibo da remuneração ("Recebi
de B em cuja casa serão apanhados hoje os móveis descritos no verso"),
parte ou toda a prestação periódica. Se o depositante muda de vontade e
deixa de entregar o objeto, tem-se de interpretar que a parte ou o total da
prestação periódica é irrepetível pelo depositante.
§ 4.661. A- Legislação
O art. 1.265, capute parágrafo único, do CC/1916, foi reproduzido pelos arts.
627 e 628 do CC/2002. Quanto à gratuidade do contrato de depósito, inclusive,
acrescenta o art. 628 vigente, que esta será a regra, salvo se houver convenção
em contrário, se resultante de atividade negociai ou se o depositário o praticar
por profissão. .
No tocante aos deveres principais de guarda e conservação da coisa, o
art. 1.266 do CC/1916, revogado, tem seu conteúdo reproduzido no art. 629 do
CC/2002.
O comando do art. 1.278 do CC/1916 é reproduzido pelo art. 643, do CC/2002.
As demais disposições, dos arts. 1.266 a 1.271 e 1.273 do CC/1916, foram repro-
duzidas parcialmente pelos arts. 629 e ss., no CC/2002.
Sobre o seqüestro como medida executiva, disciplina-o os arts. 822 a 825
do CPC.
§ 4.661. B- Doutrina
§ 4.661. C-Jurisprudência |
§ 4.662. A - Legislação
O art. 1.275 do CC/1916, estabelece que o depositário, como decorrência do
dever de custódia, não pode se servir da coisa depositada sem licença expressa
do depositante, sob pena de responder por perdas e danos. Esta regra encontra-
-se reproduzida in integrum no art. 640 do CC/2002, o qual, contudo, foi além, ao
proibir igualmente o depositário de dar em depósito a terceiro, bem como, se o
i fizer com autorização do depositante, a responder por culpa na sua escolha.
I Os arts. 1.251, 1.252 e 1.254 do CC/1916, que disciplinam os deveres e a
| responsabilidade do comodatário, correspondem aos arts. 582 e 584 do CC/2002.
| O art. 486 do CC/1916 que define a posse indireta e seus efeitos, manteve seu
i significado, com melhoria da redação no art. 1.197 do CC/2002, que estabeleceu
regra genérica reconhecendo a posse indireta e sua convivência com a posse !
direta do bem, acrescentando, contudo, em relação à legislação revogada, de !
! modo expresso, a legitimidade do possuidor direto defender a sua posse contra
| o indireto.
| O art. 1.268 do CC/1916, que dispunha sobre o dever de restituição do deposi- i
! tário a qualquer tempo, quando exigido pelo depositante, e respectivas exceções, I
! é reproduzido pelo art. 633 do CC/2002, apenas ressalvando expressamente,
! além da transcrição da norma, o direito de retenção com fundamento no art. 644
| do mesmo Código, para fins de ressarcimento de despesas. Este art. 644 corres- I
í ponde ao art. 1.279 do CC/1916. :
i O art. 1.266 do CC/1916, que dispõe sobre o dever de guarda, custódia da j
coisa e restituição da coisa no depósito, corresponde ao art. 629 do CC/2002. O I
art. 1.277, revogado, relativo à exclusão da responsabilidade do depositário na j
hipótese de caso fortuito e força maior, é reproduzido pelo art. 642 do CC/2002,
sem a menção ao caso fortuito.
i
i
t § 4.662. B - Doutrina
, A doutrina contemporânea segue a tradição de considerar a excepcionalidade
do uso da coisa pelo depositário no contrato de depósito, especialmente em cotejo
à obrigação principal de custódia. O aspecto mais controverso, todavia, é se a au-
torização de uso não serve para desnaturar o contrato como depósito, passando a
I configurar espécie de comodato (se coisa infungível) ou mútuo (se coisa fungível),
j Parte da dourina cogita, inclusive, com apoio na jurisprudência, o enquadramento
! do uso não autorizado da coisa como crime de apropriação indébita (ANDRIGHI,
I Nancy; BENETTI, Sidnei; ANDRIGHI, Vera. Comentários ao novo Código Civil. Rio de
| Janeiro: Forense, 2008. vol. 9, p. 398).
| No caso do dever de restituição, converge a doutrina, nos termos da lei, com
í a lição de Pontes de Miranda sobre o dever de restituição incontinenti da coisa
depositada ( L Ô B O , Paulo. Op. cit., p. 405). Nesse sentido, observa a doutrina que
j o direito de retenção para efeito de pagamento das despesas com o depósito,
ou como acrescenta o Código Civil vigente em relação ao anterior, também da
remuneração do depositário no caso de depósito oneroso, só existirá quando for a
I dívida líquida e certa ( T E P E D I N O , BARBOZA, M O R A E S . Op. cit., p.,645).
| Com relação à excludente de responsabilidade do depositário nas hipóteses
| de caso fortuito e força maior, afirma-se o princípio da res perit domino, que indica
| os riscos da coisa ao proprietário. Nesse sentido, observe-se que em nada muda
j a reflexão de Pontes de Miranda com fundamento na norma do Código Civil de
1916, que fazia expressa menção ao caso fortuito e à força maior, em relação
ao Código vigente, em que o art. 642 do CC/2002 faz referência apenas à força
maior, a não ser no tocante à afirmada distinção entre o fortuito interno o fortuito
| externo, desenvolvido pela doutrina contemporânea. Neste particular, observe-se
! que a qualificação como fortuito interno, de eventos ligados à atividade negociai,
! faz com que deixe de ser considerado para fins de afastar a responsabilidade,
| configurando risco inerente a uma determinada atividade, suscetível de respon-
j sabilidade agravada ( N O R O N H A , Fernando. Direito das obrigações. São Paulo: Sa-
!
raiva, 2010. p. 651).
! § 4.662. C - Jurisprudência
j É uníssono na jurisprudência que o direito de retenção, para ser exercido, deve
I ter comprovação suficiente acerca das despesas e/ou remuneração a que se refe-
a
! r e m (TJSP, ApCiv 9075336472006826,19. Câm. de Direito Privado, j. 28.02.2011,
j rei. João Camillo de Almeida Prado Costa, p. 21.03.2011). No que se refere à res-
ponsabilidade dos armazéns gerais, a incidência do Decreto 1.102/1903 implica
i na responsabilidade objetiva sobre danos a mercadorias em depósito (STJ, REsp
! 523.884/GO, 4.aT., j. 14.09.2010, rei. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 23.09.2010).
Da mesma forma, o reconhecimento do roubo ou furto dos bens depositados em
banco firma-se como espécie de fortuito interno, de modo a não afastar a respon-
sabilidade do depositário (STJ, REsp 1133111/PR, 3. a T„ j. 06.10.2009, rei. Min.
Sidnei Beneti, DJe 05.11.2009).
depositário
7 . D E P O S I T Á R I O E C A R Á T E R P E S S O A L DA C U S T Ó D I A . - O
não pode dar em depósito a outrem o que lhe foi entregue, salvo se houve
prévio assentimento do depositante. Se há "motivo plausível", para que o
depositário não o "possa guardar", o que a lei permite é o depósito judicial
(Código Civil, art. 1 . 2 7 0 : "Ao depositário será facultado, outrossim, reque-
rer depósito judicial da coisa, quando, por motivo plausível, a não possa
guardar, e o depositante não lha queira receber"). Outras razões para a
restituição, ou o depósito judicial, são a suspeita de que a coisa foi furtada
ou roubada (arts. 1 . 2 6 8 e 1 . 2 6 9 ) , o arresto, ou o seqüestro, casos em que o
depositário não é adstrito a ficar como depositário judicial.
Se o depositário, sem assentimento do depositante, deposita em po-
der de outrem o bem, continua de responder como depositário. Se diz ser
depositário e indica (ou não) quem é o depositante, o contrato de depósito
continua com toda a sua eficácia e o depositante, que não assentiu, tem as
ações contra o depositário e, como quem vai contra terceiro tenedor, contra
o depositário em segundo grau (e. g., a ação de reivindicação). Se havia
assentimento, a ação contra o depositário também pode ser exercida contra
o depositário em segundo grau (subdepositário). Não há, porém, relação
jurídica contratual entre o depositante e o subdepositário. Tal relação ju-
rídica somente existe se foi permitida a transferência do contrato, caso em
que o depositário deixa de ser depositário.
| § 4.663. A - Legislação
j O art. 1.277 do CC/1916, relativo à exclusão da responsabilidade do depo-
! sitário na hipótese de caso fortuito e força maior, é reproduzido pelo art. 642 do
| CC/2002, sem a menção ao caso fortuito. O comando do art. 1.278 do CC/1916,
que impunha o dever do depositante de pagar as despesas e prejuízos do depó-
sito ao depositário, é reproduzido pelo art. 643 do CC/2002.
No tocante à responsabilidade dos auxiliares e servidores da posse subor-
dinados ao depositário, invoca Pontes de Miranda a aplicação do art. 1.521, III,
do CC/1916, relativo à responsabilidade solidária do patrão, amo ou comitente, i
pelos atos praticados por empregados, serviçais e prepostos. O Código Civil de j
2002, neste particular dispôs em seu art. 932, reproduziu a regra de imputação da
responsabilidade pelo fato de terceiro, apenas atualizando a redação à terminolo-
gia técnica contemporânea, substituindo a expressão "patrão" por "empregador".
| Todavia, a mudança substantiva diz respeito à natureza da responsabilidade do
empregador nesse caso, que no regime do Código Civil anterior suscitava dúvi- |
das, em vista do art. 1.523 do CC/1916, ou ainda da figura da presunção de culpa. '
O art. 933 do CC/2002 é expressivo ao indicar que a responsabilidade nesse caso
é independente de culpa. Significa dizer, responsabilidade objetiva, mantendo-se, !
naturalmente, a solidariedade com o infrator. |
Neste particular, recorde-se que se a relação de depósito se caracterize como j
relação de consumo, atraída será a incidência do Código de Defesa do Consumi- j
dor, de modo que, dependendo da circunstância concreta, impõe-se a regra de ]
solidariedade entre os fornecedores causadores do dano (art. 7.°, parágrafo único,
do CDC), as regras de imputação da responsabilidade objetiva por fato do serviço
(art. 14 do CDC) e vício do serviço (art. 20 do CDC), bem como a que indica so-
lidariedade entre o fornecedor, seus prepostos e representantes autônomos (art.
34 do CDC).
O art. 1.268 do CC/1916 é reproduzido pelo art. 633 do CC/2002, determi-
nando o dever de restituição incontinenti do bem pelo depositante ao depositário,
salvo nas hipóteses em que o objeto foi judicialmente embargado, recaia sobre
ele execução notificada ao depositário, ou tenha motivo razoável para suspeitar |
| que se trata de coisa furtada ou roubada. Além destas exceções, ressalva expres-
| samente o direito de retenção com fundamento no art. 644, do mesmo Código,
i para fins da remuneração do depositário, ressarcimento de despesas e prejuízos
| porventura havidos com o depósito. A redação do art. 644, neste particular, faz
I expressa referência à retribuição/remuneração do depositário, no que diz mais
| que seu corresponde art. 1.279 do CC/1916).
O art. 1.269 do CC/1916, que prevê a providência do depositário de requerer
que seja encaminhado ao depósito público, frente à suspeita de que o bem tem
: origem ilícita, é reproduzido pelo art. 634 do CC/2002.
i i
| Em relação à ação de depósito, trata-se de procedimento especial regulado j
pelos arts. 901 a 906 do CPC - os artigos mencionados por Pontes de Miranda, {
| neste particular, remontam ao Código de Processo Civil de 1939. A indicação . j
| feita em relação à necessidade de acompanhamento da prova do depósito com a j
] petição inicial (art. 159 do CPC/1939), ora tome-se pelo art. 283 do CPC vigente, j
I o qual aduz que a petição inicial deve se fazer acompanhar dos documentos in- !
dispensáveis à propositura da ação. Tratando-se de coisa divisível, a legitimidade
para ação refere-se apenas à parte do bem que caiba ao autor, salvo solida-
riedade, nos termos do art. 639 dó CC/2002, que corresponde ao art. 1.274 do
CC/1916, citado por Pontes de Miranda.
Cabe ao réu da ação de depósito, conforme art. 902 do CPC vigente, entregar
a coisa, depositá-la em juízo ou consignar-lhe o equivalente em dinheiro, ou con-
testar a ação. Se conduz, tanto na legislação revogada, quanto na vigente, pelo
procedimento sumário (art. 903 do CPC).
Havendo transação, a homologação do juízo faz título executivo judicial, nos
termos do art. 475-N, III, do CPC vigente. A desistência também deve ser homo-
logada para que gere efeitos (art. 158, parágrafo único, do CPC).
A forma do contrato adprobationem remete ao disposto no art. 646, do Código
Civil vigente. Os arts. 366 e 367 do CPC/1939, que disciplinam aos requisitos da
petição inicial e os primeiros atos do procedimento devem ser tomados pelos arts.
901 e 902 do CPC, que adotou parcialmente sua redação. Nesse particular tem
relevo a sanção de prisão civil do depositário infiel, prevista tanto na legislação
revogada, quanto vigente, mas que não mais subsiste frente ao entendimento
afirmado pelo Supremo Tribunal Federal ao editar a Súmula vinculante STF 25
que estabelece como ilícita "a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja
a modalidade do depósito".
No caso de desaparição da coisa dada em depósito, a obrigação do depositá-
rio de comunicar e restituir o equivalente mais perdas e danos, nos termos do art.
234 do CC/2002, sem prejuízo de cláusula penal convencionada, nos termos do
art. 408 e seguintes da mesma lei.
A condenação do réu implica expedição de mandado de busca e apreensão,
nos termos do art. 625 do CPC, que reproduz parcialmente o art. 993, do Código
de Processo Civil de 1939.0 art. 627 do CPC vigente refere-se ao direito do autor
de receber, além das perdas e danos, o equivalente a coisa, quando esta não
possa ser entregue.
De aplicar igualmente, na ação de depósito, o disposto nos arts. 461, § 4."
e 461-A, § 3.°, do CPC vigente, que autoriza a fixação de multa diária por des-
cumprimento.
No tocante à disciplina da execução, remete Pontes de Miranda a disposições
do Código de Processo Civil de 1939, arts. 676, I e II, 935, 931, 930 e 937, § 1
que dispunham sobre as medidas de arresto, o seqüestro e a penhora de bens, os
quais são disciplinados, atualmente, pelo disposto nos arts. 813 et seq (arresto),
822 et seq (seqüestro), 646 et seq (penhora), do Código de Processo Civil vigente.
| Observou Pontes de Miranda, ainda o silêncio da lei processual quanto à res-
I tituição de frutos e acessões, que integram o dever firmado pelo art. 1.266 do
CC/1916, reproduzido pelo art. 629 do CC/2002. Indica, todavia, que a sentença
da ação constitui por lei título hábil para execução também dos frutos, conforme :
• o art. 994, § 1 d o CPC/1939, que corresponde ao art. 624 do CPC em vigor.
A possibilidade de celebração do contrato de depósito de coisas fungíveis e
i sua submissão às regras sobre o mútuo consta do art. 645 do CC/2002. A disci- i
plina do mútuo, de sua vez, que no Código Civil de 1916 correspondia aos arts. j
1.256 a 1.264, ora é estabelecida pelos arts. 586 a 592 do CC/2002. j
Quanto ao conteúdo da defesa do réu na ação de depósito, observa Pontes I
de Miranda que pode versar sobre a impossibilidade física de cumprimento, sem
culpa do depositário, para o que se remete, no Código Civil vigente, ao art. 642,
que exclui a responsabilidade por força maior, bem como ao art. 639, indicando ou
que já entregou, ou lhe cabe entregar apenas parte, considerando a pluralidade
de depositantes de coisa divisível em que não haja solidariedade. Reproduzem,
neste particular parcialmente, o disposto nos arts. 1.277 e 1.274 do CC/1916 re-
vogado. Da mesma cabe alegar algumas das exceções ao dever de restituição
que.prevê o art. 633, correspondente ao art. 1.268 do CC/1916. Ou ainda, opor
exceção de compensação em relação a outro depósito havido com o autor, do
qual seja credor, nos termos do art. 638 do CC/2002 vigente, correspondente ao
art. 1.273 do CC/1916.
As qualidades do objeto da dívida suscetível de compensação a que referia
o art. 1.010 do CC/1916 revogado, ora são indicados em norma de mesma reda-
ção, do art. 369 do CC/2002. No mesmo sentido à norma que impunha óbice à
compensação quando houvesse diferença de causa entre as dívidas quando uma
se originasse de comodato, depósito ou alimentos (art. 1.015, II, do CC/1916), foi
reproduzida pelo art. 373, II, do CC/2002.
§ 4.663. B - Doutrina
A responsabilidade do depositário pela perda ou deterioração da coisa é ob-
jeto de discussão doutrinária, especialmente em vista da redação do art. 642 do
Código Civil vigente, que menciona apenas a força maior como causa de exone-
ração, deixando de mencionar o caso fortuito. Neste particular, oscila-se dentre
os que remetem o reconhecimento do caso fortuito como causa de afastamento
da responsabilidade à regra geral sobre inadimplemento das obrigações que ex-
pressamente o refere, e os que entendem que o esclarecimento na norma seria
útil para efeito de distinguir a situação do depositário no Código Civil e aquela que
emerge do direito do consumidor, com a distinção entre caso fortuito interno e
caso fortuito externo, para efeito de não afastar a responsabilidade daquele cuja
atividade negociai é causa de risco interno da ocorrência de danos.
No tocante à responsabilidade do depositário como empregador, por atos pra-
ticados por empregados, serviçais ou prepostos (art. 932, III, do CC/2002), igual-
mente a doutrina reconhece aí hipótese de responsabilidade objetiva fundada no
risco, alterando entendimento havido sob a égide do Código Civil, revogado, pela
demonstração de culpa in eligendo ou pela culpa presumida. Da mesma forma,
tratando-se de relação de consumo, sustenta-se a incidência do art. 34 do CDC,
ensejando a responsabilidade solidária do fornecedor pelos atos de prepostos e
representantes autônomos.
A doutrina converge com Pontes de Miranda no tocante à regra que restringe
a extinção por compensação apenas de dívidas decorrentes de depósito. Es-
pecialmente com relação ao fundamento da restrição, que é o fato de se tratar,
no depósito, de crédito de restituição (ANDRIGHI, Nancy; BENETTI, Sidnei; ANDRIGHI,
Vera. Comentários ao novo Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2008. vol. 9.
p. 396).
Em relação ao lugar da restituição pelo depositante, é uníssono que deve ser
o do lugar da guarda, mesmo quando o depositante a tenha recebido em outro
lugar, de modo que a obrigação do depositante é quérable, e não portable ( L O P E Z ,
Teresa Ancona. Comentários ao Código Civil. São Paulo:'Saraiva, 2003. vol. 7.
p.364; TEPEDINO, Gustavo; BARBOSA; M O R A E S . Código Civil interpretado conforme a
Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. t. II. p. 392). Esta regra
todavia, pode ser afastada por convenção das partes, nos termos do art. 631,
tratando-se de norma dispositiva.
Da mesma forma, refere-se Pontes de Miranda ao caráter pessoal da custódia,
de modo que incumbe, como regra, ao depositário o dever de guarda da coisa,
não podendo fazer ele depósito a terceiro sem autorização expressa do deposi-
tante - conforme o art. 640, parágrafo único, do CC/2002. Sobre esta caracterís-
tica do contrato de depósito, refere-se a doutrina qualificando o depósito como
contrato intuitu personae ( G O M E S , Orlando. Contratos. Rio de Janeiro: Forense,
2009. p. 414), todavia o dever de custódia não é personalíssimo, uma vez que
pode se utilizar o depositário de auxiliares e prepostos, tal qual assinalado neste
Tratado ( P E R E I R A , Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 15. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2011. vol. 3. p. 330). Neste sentido a confiança é considerada
elemento decisivo na decisão de contratação ( R I Z Z A R D O , Arnaldo. Contratos. Rio
de Janeiro: Forense, 2011. p. 638).
Já no que se refere à sanção de prisão do depositário infiel, afirmada por
Pontes de Miranda com fundamento no Código Civil anterior, no Código de Pro-
cesso Civil, e inclusive no art. 652 do CC/2002, trata-se de tema que permane-
ceu dos mais controversos durante muitos anos. O próprio Supremo Tribunal
Federal o admitia, inclusive por intermédio de entendimento sumular anterior à
Constituição vigente (Súmula STF 619). Da mesma forma a Constituição de 1988
a admitiu, junto a do devedor de alimentos (art. 5.°, LXVII, da CF).Todavia, desde
sempre a doutrina a entendeu como inaplicável a tôdas as situações de depósito,
afastando seu cabimento, por exemplo, no depósito irregular - de coisas fungí-
veis como o dinheiro, por exemplo - e ainda, no depósito regular, quando haja
oferecimento de garantia pelo depositário ( A N D R I G H I , B E N E T I , ANDRIGHI. Op. cit. p.
433). Porém houve quem a admitisse se maiores restrições, uma vez legitimada
pelo texto constitucional de modo expresso ( V E N O S A , Silvio de Salvo. Direito civil
- Contratos em espécie. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 262). A discussão,
contudo, mostrou-se de grande repercussão prática no tocante à equiparação
legal a depositário que o Dec.-lei 911/1969 fez em relação ao proprietário fidu-
ciário, nos contratos de alienação fiduciária em garantia. Isto porque, conforme
assinala a doutrina, não há tecnicamente um contrato de depósito ( L O P E Z , Teresa
Ancona. Op. cit., p. 652). É ficção legal, em que a prisão, como regra, se aplicava
mediante a conversão da ação de busca e apreensão em ação de depósito, se-
1
gundo a técnica processual, como meio de execução indireta (ALVES, José Carlos
j Moreira. A ação de depósito e o pedido de prisão. Exegese do § 1 d o art. 902
i do Código de Processo Civil, Revista de processo, vol. 36, p. 7. São Paulo: Ed.
RT, out. 1984). Nesse sentido, de um lado passou-se a questionar a natureza da
i equiparação (RIZZARDO, Arnaldo. Op. cit., p. 656), e de outro o próprio status dos I
tratados sobre direitos humanos quando incorporados no ordenamento jurídico
! brasileiro, especialmente em vista da redação dada ao § 3.°, do art. 5.c, da CF,
especialmente em vista da Convenção Americanas de Direitos Humanos (Pacto I
j de San Jose da Costa Rica) que, ratificado sem reservas pelo Brasil, por inter-
médio do Decreto Legislativo 27/1992, em seu art. 7.°, § 7.°, estabelece como j
inerente ao direito à liberdade pessoal que ninguém será detido por dívida, com
exceção do devedor de obrigação alimentar. A partir de uma mudança na in-
i terpretação do STF sobre o tema, com fundamento na convenção em questão
| e seu status supralegal no direito brasileiro, e conseqüente edição da Súmula ;
vinculante STF 25, de 2009, razão passou a assistir, na perspectiva do direito
vigente, ao entendimento que sustenta a impossibilidade de prisão civil como
sanção aplicável ao depositário infiel.
§ 4.663. C - Jurisprudência
Não admite a jurisprudência ação de depósito tratando-se de bens fungíveis e
consumíveis (STJ, REsp 15.597/MS, 4.aT., j. 23.03.1993, rei. Min. Barras Monteiro,
DJ 10.05.1993; no mesmo sentido: STJ, REsp 551,956/MS, 4.a T„ j. 24.08.2010,
rei. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJe 14.09.2010); excetuados os depósitos em
armazém geral, cuja atividade social é a conservação e guarda de mercadorias
dessa natureza (STJ, REsp 783.471/GO, 4.a T„ j. 22.03.2011, rei. Min. Luis Felipe
Salomão, DJe 25.03.2011) Não é a ação de depósito, contudo, meio adequado
para reclamação de perdas e danos (STJ, REsp 8.880/SP, 4.aT., j. 27.09.1993, rei.
Min. Fontes de Alencar, DJ 27.06.1994)
No contrato de leasing, contudo, entende a jurisprudência incabível a cláusula
de depósito (STJ, REsp 155999/MG, 4.aT., j. 05.03.1998, rei. Min. Ruy Rosado de
Aguiar, DJ 01.06.1998)
Incabível a ação de depósito quando verse sobre safra futura, o que descarac-
teriza o depósito, uma vez que impossibilita sua restituição (STJ, AgRg no Agln j
35.177/RS, 3.aT., j. 01.06.1993, rei. Min.WaldemarZveiter, DJ28.06.1993).
Na ação de depósito, a estimativa do valor refere-se ao bem depositado, não
ao débito porventura havido na relação entre as partes, salvo se este for menor
(STJ, AgRg no Agln 852.388/SP, 4. a T„ j. 11.12.2007, rei. Min. João Otávio de
Noronha, DJ 11.02.2008; e HC 62739/MG, 4. a T„ j. 23.10.2007, rei. Min. Aldir Pas-
sarinho Júnior, DJ 19.11.2007) •
No tocante à prisão do depositário infiel como sanção à violação do dever de
custódia no depósito (art. 1.287 do CC/1916; art. 652 do CC/2002), após terço
período em que foi admitida pela jurisprudência, especialmente pela a equipara-
ção que por muito tempo admitiu-se em relação ao devedor-alíenado no contrato
de alienação fiduciária em garantia, com fundamento na regra inscrita no Dec.-lsí
911/1969, a jurisprudência contemporânea passou a considerá-la indevida. Pri-
meiro, a Súmula STJ 304, passou a afirmar como ilícita a prisão civil daquele que
não assume expressamente o encargo de depositário judicial. Porém, decisivo foi
o entendimento quanto à sua inconstitucionaüdade, pela interpretação conjunta tio
art. 5.°, LXVII e §§ 1 2 . ° e 3.°, da CF/1988, ã luz do art 7.°, § 7.°, da Convenção
Americana de Direitos Humanos - Pacto de San José da Cosia Rica (STF, RE
466.343/SP, j. 03.12.2008, rei. Min. Cezar Peluso, DJ 05.06.2009), dando origem
à Súmula vinculante STF 25, que veda a prisão civil do depositário infiel em qual-
quer modalidade de depósito. Porém, mesmo antes, precedentes do STF davam
conta da impossibilidade de custódia efetiva do bem exciuía, por si, a caracteriza-
ção da infidelidade do depositário (STF, HC 83.416-7,1. 2 I, j. 14.10.2003. rei. p/
acórdão. Min. Antonio Cezar Peluso, DJU 12.08.2005).
CAPÍTULO III
DEPÓSITO IRREGULAR
§ 4.664. D E P Ó S I T O D E C O I S A S F U N G Í V E I S ,
C O M TRANSMISSÃO DA PROPRIEDADE
contra-
2 . C O N C E I T O E C O N S I D E R A Ç Õ E S GERAIS SÔBRE A E S P É C I E . - O
to de depósito irregular pode resultar de contrato escrito, ou não. Na L.
3 1 , D., locati conducti, 1 9 , 2 ( À L F E N O ) , diz-se que, se alguém depositou
dinheiro de contado, de modo que não o entregasse fechado, nem selado,
mas que o contasse, aquêle em cujo poder se depositou não deve mais do
que a quantidade (si quis pecuniam numeratam ita deposuisset, ut neque
clausam neque obsignatam traderet, sed adnumeraret, nihil aliud eum de-
bere apud quem deposita esset nisi tantundem pecuniae solveret).
No depósito forçado, dito, mais tarde, depositum miserabile, que era
o feito devido a ruína, incêndio, ou naufrágio, cabia o duplum de interês-
ses (texto do Edicto na L. 1, § 1, D., depositi vel contra, 16, 3). Aí, não se
concluiu acordo, de modo que as circunstâncias mesmas irregularizaram
o depósito.
Duas correntes tentaram dar explicação extrema do contrato do depó-
sito irregular e das relações jurídicas que dêle se irradiam. Uma, apegando-
-se ao nome, o faz espécie do contrato de depósito regular, exprobrando o
adjetivo. Outra o reduz ao contrato de mútuo, negando que se trate de de-
pósito. Essa não vê contrato de depósito onde não há posse de bem alheio
atribuída ao depositário, mas as longas dissertações pecam, de início, pelo
nível inferior da teoria da posse, que ainda persiste nos sistemas jurídicos
em que se discutiu o problema.
O que é inegável é a afinidade de estrutura e de função entre o de-
pósito regular e o irregular. Por outro lado, não se pode dizer que falte a
posse ao depositário, no depósito irregular, porque, devido à fungibilidade
inafastada do bem depositado, o depositário, no depósito irregular, recebe
mais do que o depositário, no depósito regular: recebe propriedade e rece-
be posse própria.
Quanto à redução do contrato de depósito irregular a contrato de mú-
tuo, um dos argumentos contrários que não se conseguiram destruir é o de
diferença de função entre os dois institutos jurídicos.
§ 4.664. DEPÓSITO DE COISAS FUNGÍVEIS, COM TRANSMISSÃO DA PROPRIEDADE • 457
§ 4.664. A - Legislação
O art. 1.280 do CC/1916, que remete o depósito fungível à aplicação das re-
gras sobre mútuo, corresponde ao art. 645 do CC/2002. A indicação das regras do j
mútuo que a que refere expressamente a norma revogada, ora são disciplinadas i
pelos arts. 586 a 592 do CC/2002. !
| § 4.664. B - Doutrina
I Observa a doutrina que o depósito irregular não apenas refere-se à coisa
[ fungível, mas sobretudo pela transferência do bem ( P E R E I R A , Caio Mário da
Silva. Instituições de direito civil. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. vol.
I I I , p. 3 2 9 ; L O P E Z , Teresa Ancona. Comentários ao Código Civil. São Paulo:
§ 4.664. C - Jurisprudência
A jurisprudência atual do STJ entende pelo cabimento da ação de depósito
para entrega de bens fungíveis em contrato de depósito propriamente dito (STJ,
REsp 877.503/MG, 3. a T„ j. 06.10.2009, rei. Min. Sidnei Beneti, DJe 11.11.2009).
Assim ocorre no depósito de grãos em armazéns gerais, em que se entende
cabível a ação de depósito, nos termos da legislação processual dado que mes-
mo fungíveis, a finalidade do contrato não o faz consumível pelo depositário
(STJ, REsp 783.471/GO, 4. a T., j. 22.03.2011, rei. Min. Luis Felipe Salomão, DJe
25.03.2011). Desse modo, nem sempre que haja fungibilidade do objeto com-
preende a jurisprudência que haja depósito irregular (STJ, REsp 2.326, 3.a T., j.
12.06.1990, rei. Gueiros Leite, RePro 60/227).
Nessa mesma linha, também os depósitos bancários, normalmente em di-
nheiro, em relação aos quais se entende aplicável o Código de Defesa do Con-
sumidor (STJ, REsp 226921/SP, 4. a T., j. 19.04.2001,. rei. Min. Ruy Rosado de
Aguiar, DJ 02.08.2004).
§ 4.665. D E P Ó S I T O I R R E G U L A R E O U T R O S CONTRATOS
2. D E P Ó S I T O I R R E G U L A R E V I N C U L A Ç Ã O . - No depósito irregular, o
depositário é vinculado a restituir a coisa em igual quantidade eiusdem
generis; somente não é obrigado a restituir in specie.
Na L . 2 4 , D . , depositi vel contra, 1 6 , 3 , tirou-se de P A P I N I A N O : Lucius
Titius Sempronio salutem. Centum nummos, quos hac die commendasti
mihi adnumerante servo Sticho actore, esse apud m e ut notum haberes,
hac epistula manu mea scripta tibi notum facio: quae quando voles et ubi
voles confestim tibi numerabo (Lúcio Titio saúda a Sempronio. Faço-te
saber, por essa epístola, escrita de minha mão, para que o notes, que estão
em meu poder as cem moedas que m e confiaste, hoje, por entrega feita,
de contado, pelo escravo Stichus, administrador; as quais eu te entregarei,
quando queiras e onde queiras, imediatamente (confestim).
Cabe a ação de depósito, comenta P A P I N I A N O ; porque confiar (com-
mendare) não é outra coisa que depositar. Se se convencionou que se res-
tituísse outra tanta quantidade de moeda, e m vez de as mesmas moedas, o
negócio (jurídico) ultrapassa os conhecidíssimos têrmos do depósito (si ut
tantumdem solveretur convenit, egreditur ea res depositi notissimos térmi-
nos), sem deixar de haver depósito.
Tentou ler L. J. N E U S T E T E L (Rõmischrechtliche Untersuchungen, 15
s.) o "egreditur ea res depositi notissimos términos" e o "si depositi actio
non teneat" como se afastassem tratar-se de depósito. Mas seria desatender
a que se tem, no texto, o commendare como depositare e a que a L. 25, §
1 , depositi vel contra, 1 6 , 3 , t a m b é m tirada de P A P I N I A N O , foi explícita:
"Qui pecuniam apud se non obsignatam, ut tantundem redderet, depositam
ad usus próprios convertit, post m o r a m in usuras quoque iudicio depositi
condemnandus est". O que inverteu em seus próprios usos o dinheiro de-
positado em pacote sem selo, para que devolvesse outra tanta quantidade,
há de também ser condenado nos interêsses, no juízo do depósito.
P A U L O , na L. 2 6 , § 1 , D . , depositi vel contra, 1 6 , 3 , depois de narrar
que Lúcio Tício recebera e tinha em seu poder dez mil dinheiros de prata,
que se obrigara a entregar, pagando interêsses, notou que tal contrato ex-
cedia o modo do depósito de moeda (eum contractum, de quo quaeritur,
depositae pecuniae modum excedere), mas admitiu pedirem-se, na ação de
depósito, os interêsses. O êrro de L. J. N E U S T E T E L foi o de muitos de hoje:
estar preocupado com a transferência dos riscos; não prestar atenção: a) à
inadmissibilidade da compensação, que seria irrecusável em se tratando
de mútuo (os banqueiros de hoje, como os argentários, os mensulários e
os numulários de outrora, sabem que não podem tirar o dinheiro da conta
corrente para cheque e com êle pagarem-se de letra de câmbio e notas
promissórias ou duplicatas mercantis); b) à inadmissibilidade da exceptio
non numeratae pecuniae (L. 14, § 1, C, de non numerata pecunia, 4, 30;
c) o privilegium exigendi, de que, embora exíguo em certas legislações,
gozam os créditos por depósitos em argentários, mensulários, numulários
e banqueiros (A. C. J. S C H M I D , Über das depositum irregulare, Archiv für
die civilistische Praxis, 30, 83 s.).
4. D E P Ó S I T O I R R E G U L A R E C O N T R A T O D E R E P O R T E . - O contrato de
reporte é aquêle contrato pelo qual alguém (reportador) transmite a pro-
priedade e a posse de títulos de crédito ou ações, ou títulos representativos,
com a cláusula de, a certo tempo, ou ao implemento de condição, o adqui-
rente (reportado) transmitir-lhe a propriedade e a posse de outros títulos da
mesma espécie e qualidade, recebendo o transmitente o preço do reporte,
quase sempre mediante percentual para mais ou para menos. Se ao preço
da primeira alienação e igual o preço da segunda, diz-se reporte ao par.
O lucro é para o reportador. Se o lucro é para o reportado, diz-se contrato
de deporte. Temos de falar do contrato de reporte e do contrato de deporte
como um dos negócios jurídicos de bôlsa e de banco.
Trata-se de contrato único e indivisível, translativo da proprieda-
de sôbre os títulos, contrato oneroso e real. No direito brasileiro, pode
haver o pré-contrato de reporte ou de deporte. Não se confunde com o
depósito regular.
Ao contrato de reporte e ao de deporte de modo nenhum são invo-
cáveis regras jurídicas peculiares ao depósito ou ao mútuo. O que o rege,
fora das normas jurídicas que lhe são peculiares, são as do contrato de
compra-e-venda. O que é comum a êle e ao depósito irregular é o direito
concernente ao acordo de transferência da propriedade, ao acordo de trans-
ferência da posse e ao têrmo para a segunda transmissão de propriedade e
de posse, que é a retro. O depositário, no depósito irregular, restitui o que
já não é seu. O reportado restitui o que deve e, se não presta, cabe a ação
por inadimplemento, e não a ação de depósito.
5. S U P O R T E F Á C T I C O D O A R T . 1.280 D O C Ó D I G O C I V I L . - Se houve a
cláusula ou pacto adjecto de se restituir o tantundem, e não eadem num-
morum corpora, o depósito irregular é evidente. Restitui-se o tantundem
eiusdem generis.
Resta saber-se se o simples fato de se entregar ao depositário coisa
fungível basta para se ter a figura do art. 1.280 do Código Civil. O assunto
prende-se aos arts. 1.267 e 1.280. No art. 1.267, estabelece o Código Civil
que, "se o depósito se entregou fechado, colado, selado, ou lacrado, nesse
mesmo estado se manterá; e, se fôr devassado, incorrerá o depositário na
presunção de culpa". Teremos de mostrar que o art. 1.267 não é elemento
bastante para se dar solução ao problema. O depósito que se entregou
fechado, colado, ou lacrado, de que fala o art. 1.267, é o depósito que em
tal estado se entregou para que não fôsse aberto; portanto, depósito que
não se rege, necessàriamente, pelo art. 1.280 e tem a particularidade, a
mais, de se ter entregue como indevassável. ^Para que o depósito de bens
fungíveis seja depósito regido pelo art. 1.280, é preciso que tenha havi-
do a cláusula ou o pacto adjecto de só ser exigível o tantundem eiusdem
generis (art. 1.280, verbis "em que o depositário se obrigue a restituir
objetos do mesmo gênero, qualidade e quantidade")? ^Não se disse que,
sendo de coisa fungível o depósito, sempre se entende que foi entregue
em depósito irregular?
Examinemos primeiro o problema de direito romano.
A L. 31, D., locati conducti, 19, 2, que é de A L F E N O , levou a pensar-
-se em que, sendo de coisas fungíveis o depósito, de depósito irregular se
havia de cogitar. Mas o texto não permite que se vá até aí: não se dispen-
sava, em direito romano, nem se dispensa hoje, a manifestação de vontade
dos contraentes. Diferente, C H R . F R . G L Ü C K (Ausführliche Erlãuterung der
Pandecten, 15, 157). A leitura da L. 24, D., depositi vel contra, 16, 3, basta
para se ter certeza do que era a regra jurídica romana. Aí, P A P I N I A N O frisa
que é de mister a convenção de só se restituir o tantundem.
O que se havia de explicitar era tratar-se de depósito, porque, se isso
não ocorresse, de mútuo é que se havia de cogitar. Aliás, o texto de PAPI-
N I A N O , na L. 24, D., depositi vel contra, 16, 3, foi muito desfigurado.
§ 4.665. A - Legislação
O art. 1.256 do CC/1916, que define o mútuo, corresponde ao disposto no art.
586 do CC/2002. O art. 1.248 do CC/1916, que definia o comodato, foi reprodu-
zido pelo art. 579 do CC/2002. O art. 1.265 do CC/1916, mencionado por Pontes
de Miranda, corresponde integralmente ao disposto no art. 627 do CC/2002. O
art. 1.280 do CC/1916, que remete o depósito fungível à aplicação das regras
sobre mútuo, corresponde ao art. 645 do CC/2002. Os arts. 1.010 e 1.015, II, do
CC/1916, que disciplinam a compensação e, no segundo caso, sua impossibilida-
de se uma das obrigações que se pretenda compensar originar-se de comodato,
depósito ou alimentos, correspondem aos arts. 369 e 373, II, do CC/2002.
Os arts. 1.265 e 1.267 do CC/1916, são reproduzidos, respectivamente, nos
arts. 627 e 630 do CC/2002. Neste particular, observe-se que enquanto o art. 633
do CC/2002 estabelece a pretensão de restituição incontinenti, quando se trate
de depósito, o art. 592, ll, do CC/2002 no caso de mútuo de dinheiro, o estabelece
em 30 dias, à falta de estipulação expressa.
A referência ao art 1.092, caput e seu parágrafo único, do CC/1916, que pre-
veem a hipótese de resolução por inadimplemento e a exceção de contrato não
cumprido, as quais são afastadas do contrato de depósito por Pontes de Miranda,
considerando .sua natureza unilateral, correspondem aos arts. 476 e 475, respec-
tivamente, do CCS002.Com a ressalva, em relação a este último, que ao lado da
; resolução e da indenização por perdas e danos, previstos na lei revogada, faculta
alternativa ao credor, de exigir o cumprimento da prestação. .
Há a pretensão à restituição a qualquer momento (art. 1.265 do CC/1916), ao
passo que, no tocante ao mútuo, em se tratando de mútuo de dinheiro, há o prazo
de 30 dias (art. 1.264, II, do CC/1916).
§ 4.665. B - Doutrina
A doutrina reconhece no depósito irregular, especialmente de dinheiro em
que o depositário é instituição financeira, hipótese de contrato bilateral, conside-
rando - tal qual a lição de Pontes de Miranda (§ 4 . 6 5 7 ) , de que é a contrapresta-
ção que bilateraliza o contrato, a existência de remuneração do depositário. Esta
remuneração vem, geralmente, da disponibilidade e uso do dinheiro em outras
operações de banco, do que lhe resulta vantagem econômica indireta ( M A R Q U E S ,
Claudia Lima. Relação de consumo entre os depositantes de caderneta de pou-
pança e os bancos ou instituições que arrecadam a poupança popular. Revista
dos Tribunais, vol. 7 6 0 . p. 1 0 7 . São Paulo: Ed. RT, fev. 1 9 9 9 ) . Daí a longa tradição
no direito brasileiro, desde Teixeira de Freitas, e mesmo dentre os modernos
doutrinadores, em desclassificar o depósito bancário como tal, identificando-o
como empréstimo ( L O P E Z , Teresa Ancona. Op. cit., p. 4 1 2 ) , mesmo sob os pro-
testos da doutrina de direito bancário ( B A R R E T O , Lauro Muniz. Direito bancário.
São Paulo: Leud, 1 9 7 5 . p. 1 7 0 - 1 7 1 ; S A L O M Ã O N E T O , Eduardo. Direito bancário.
São Paulo: Atlas, 2 0 0 5 . p. 2 2 8 - 2 2 9 ) . Todavia, fixa-se a orientação majoritária
que - na linha da orientação de Pontes de Miranda - reconhece no depósito de
dinheiro, autêntica espécie desse contrato, ainda que considerado sob a espécie
de depósito irregular.
§ 4.665. C - Jurisprudência
Quanto ao depósito irregular e aplicação das regras do mútuo, no que couber,
ao depósito irregular, a jurisprudência expressamente faz uso da lição de Pontes
de Miranda, com a finalidade de identificar as situações de incidência dessas
normas, em vista da natureza distinta do contrato (STJ, REsp 50830/PR, 4.aT., j.
07.10.1997, rei. Min. César Asfor Rocha, DJ23.03.1998). Também no penhor mer-
cantil, no qual a garantia permanece em depósito, tratando-se de coisas fungíveis
aplicam-se as regras sobre mútuo, inviabilizando a ação de depósito (STJ, REsp
15597/MS, 4. a T.,j. 23.03.1993, rei. Min. Barras Monteiro, DJ 10.05.1993).
Firme é a jurisprudência, da mesma forma, pela aplicação aos contratos ban-
cários, do Código de Defesa do Consumidor, como se vê da Súmula 297 do
STJ, bem como por decisão do STF vinculante sobre o tema (STF, EDcl na ADIn
2.591/DF, j. 14.12.2006, rei. Min. Eros Grau, DJ 13.04.2007). Nessa linha de en-
tendimento, imputa ao banco depositário o dever de repor remuneração de depó-
sitos de poupança (STJ, REsp 152.460/SP, 3.aT., j. 02.06.1998, rei. Min. Eduardo
Ribeiro, DJ 08.09.1998), a não ser quando se trate de ativos retidos por força de
ato de império (STJ, REsp 397.169/AL, 2. a T., j. 07.12.2004, rei. Min. F r a n c i u l l i
Netto, DJ 02.05.2005).
§ 4.666. N A T U R E Z A E E F I C Á C I A D O D E P Ó S I T O I R R E G U L A R
2. D E P Ó S I T O I R R E G U L A R E O U T R O S C O N T R A T O S . - Como o depósi-
to regular se distingue do comodato, mesmo coincidindo serem, in casu,
gratuitos, o depósito irregular não se pode confundir com o mútuo. O de-
positante, no depósito regular como no irregular, precisa de depositar, o
comodatário e o mutuário precisam de que se lhes dê o bem. Mesmo no
depósito irregular, o depositante pode pedir, a todo tempo, a restituição,
conforme os princípios que expusemos.
Se o contrato é de mútuo, e não de depósito irregular, a que correspon-
da o art. 1.280 do Código Civil, a ação do tradente é a actio certae creditae
pecuniae (cf. N E R V A , P R Ó C U L O e M A R C E L O , em U L P I A N O , L . 9 , § 9 , D . , de
rebus creditis si certum petetur et de condictione, 12, 1). Se o contrato é de
depósito, irrégularizado com a transferência da propriedade, havia a actio
depositi (iudicium bonae fidei) e não podemos negar a existência de tal
ação, hoje, se o contrato não deixou de ser contrato de depósito. O próprio
direito romano chegou a admitir, aí, os interêsses, e a atitude contrária à
admissão da figura do depósito irregular, inclusive no tocante a interesses
(e. g., juros) pagáveis pelo depositário, dificultaria, enormemente, a expli-
cação científica dos depósitos bancários. Basta pensar-se, para a confirma-
ção do que dissemos sôbre o depósito com transmissão de propriedade,
sem se levar em conta (porque não vem ao caso) as interpolações à L. 25, §
1, D., depositi vel contra, 16, 3, e a L. 28, em que aquêle texto e êsse falam
da actio depositi ainda para reclamar os interêsses.
3 . C O N T R A T O D E D E P Ó S I T O D E T Í T U L O S D E C R É D I T O E DE TÍTULOS
REPRESENTATIVOS. - De ordinário, o contrato de depósito de títulos de cré-
dito ou de títulos representativos é depósito regular, de jeito que não há
qualquer diferença entre êle e o contrato de depósito de outro bem móvel.
Todavia, além do dever de custódia, tem o depositário o dever de admi-
nistração, isto é, de receber os dividendos ou os interêsses, informar-se
quanto a bonificações, prêmios e reembolsos, preferência para subscrição
de aumento de capital ou do empréstimo. Dever de administração somente
pode existir se o depósito é regular, pois é preciso que continue titular do
direito de propriedade, ou do usufruto ou do uso, o depositante. O deposi-
tário só tem a posse imprópria, imediata, e não pode usar dos títulos, nem,
afortiori, deles dispor.
Os riscos da perda de posse dos títulos ao portador e dos títulos endos-
sáveis levam os portadores a depositar em bancos ou estabelecimentos es-
pecializados os seus títulos. Ou se oferece aos clientes o depósito de títulos,
ou a locação de cofres fortes. A segunda solução é menos completa, em
segurança, porque o depositário dos títulos tem o dever de administração,
o que falta ao locador de cofres fortes. O dono ou usufrutuário dos títulos
postos em cofre forte têm de retirá-los para apresentação e formalidades,
de lhes cortar cupões e de informar-se s e providenciar quanto às operações
a que tem direito. O locador do cofre forte ignora-lhe o conteúdo. Por isso
mesmo, não pode, sequer, aconselhar o locatário em qualquer dos pontos
de fato e de direito, inclusive quanto a acontecimentos previsíveis.
Com o depósito de títulos, o depositário exerce a administração, com-
parecendo, inclusive, a assembléias gerais, tomando resoluções sôbre au-
mento de capital e sôbre conversão.
O cofre forte tem o inconveniente de poder alguma pessoa, que saiba
da morte próxima do locatário, apanhar a chave, ou a chave e o segrêdo.
Discute-se se o depósito de títulos pode ser anônimo, isto é, sem que
o recibo diga quem depositou. Tem-se de responder negativamente, não só
porque poderia ocultar crime como porque se fraudaria o fisco, em casos
de infiscalizabilidade das rendas (cf. R. C O R D I E R , Des Operations sur titres
dans les banques, 332).
Dizem-se depósitos simples de títulos os que não têm regras jurídicas
especiais que os rejam. Depósitos clausulados, os depósitos em nome de
incapazes, ou de cônjuges, e os coletivos. Não há razão para não se consi-
derarem simples os depósitos em nome de pessoas jurídicas. Quem exerce
os podêres e direitos a propósito dos depósitos de pessoas jurídicas são os
órgãos, ou, se êles lhes outorgaram podêres especiais, os representantes.
Os depósitos de títulos, se há nu proprietário e usufrutário, são depósitos
coletivos. Os depósitos para a garantia de certa conta, ou para despesas
futuras e eventuais, são depósitos clausulados.
É possível abrir-se conta corrente de títulos, mas ou a figura é a do
depósito bancário em conta corrente, ou a do contrato de conta corrente em
que as remessas são em títulos.
O depositário de títulos tem os deveres de conservação e de restitui-
ção, quase sempre o de a<iministração.
Se advém direito de subscrição, o depositário ou procede conforme
as instruções recebidas, ou tem o dever de consultar o depositante. Ou
subscreve, ou cede o direito de subscrição. Se o depositante não atende ao
aviso, sem que seja caso de se reputar manifestação de vontade o silêncio,
no caso, o que se há de entender é que, no último dia, o depositário pode
ceder, onerosamente, o direito de subscrição. Se não o cedesse, perdê-lo-ia
o depositante.
O depósito de títulos de crédito ou de títulos representativos pode ser
irregular, mas isso é excepcional. A aquisição da propriedade, por parte
do depositário, supõe que se haja tratado o bem como bem fungível. Se o
título é a) título de massa, ou se é b) título de série, ou c) título singular,
é questão de fato, que se supõe resolvida para que se possa raciocinar a
respeito da irregularidade do depósito. Os títulos da classe c) são infun-
gíveis, ao passo que os das duas outras classes podem ser tratados como
fungíveis ou como infungíveis. Se ao portador, a fungibilidade é fácil; se
à ordem, o endosso em branco pode bastar, se admitido. O fato de haver
sorteio, pelo número, não é óbice à fungibilização, se fica preestabeleci-
do que o depositante tem comunicação do nôvo número antes do sorteio
(sem razão, F R A N C E S C O M E S S I N E O , Operazioni di borsa e di banca, 330;
ADRIANO FIORENTINO, Le Operazioni bancarie, 256, que não aludem a
essa possibilidade).
Se os títulos foram mencionados sem se referir o elemento individua-
lizante que serve ao sorteio, o que se há de entender é que se abstraiu disso.
A fungibilização pode dar ensejo a contrato de depósito irregular, ou
a contrato de mútuo. Numa e noutra figura, a propriedade passa ao de-
positário ou ao mutuário. Só a restituição pode individuar o bem institu-
ído. No mútuo, o fim do contrato é a transferência; no depósito irregular,
efeito. Aqui, o que se entrega entrega-se para segurança da posse e, pois,
da propriedade, a despeito da contingência da fungibilidade. Ali, o que o
mutuante dá ao mutuário a êsse vai para seu uso e disposição. No mútuo, o
mutuário sói pagar interêsses; no depósito, o depositante é que paga remu-
neração, pôsto que se possa admitir que o depositário conta juros a favor
do depositante, ou o depositante remunera.
4 . D E P Ó S I T O I R R E G U L A R E R E G R A S J U R Í D I C A S C O N C E R N E N T E S AO CON-
- Dentre as regras jurídicas sôbre o mútuo, que o Códi-
TRATO DE M Ú T U O .
go Civil diz invocáveis a respeito do depósito irregular - as dos arts. 1.256-
1.264 do Código Civil - somente podem incidir, a propósito do contrato de
depósito irregular e dos seus efeitos, o que não se choque com o conceito
de depósito. Faltou, evidentemente, ao art. 1.280, mas subentende-se, o
usual "no que fôr aplicável". Passemos ao exame das regras jurídicas.
Não há dúvida quanto ao art. 1.256, 2.a parte, onde se estabelece que
"o mutuário" - portanto, na espécie, o depositário, se irregular o depósito -
"é obrigado a restituir ao mutuante o que dêle recebeu em coisas do mesmo
gênero, qualidade e quantidade". Apenas se há de notar que a expressão
restituir é anfibológica, se se fala de o locatário de coisa restituir e de res-
tituir o mutuário, de restituir o depositário ou o fiduciário, na propriedade
fiduciária, e de restituir o comodatário. O depositante, no depósito irregu-
lar, restitui como o locatário de coisa, como o fiduciário, se a propriedade
fiduciária volta ao constituinte do fideicomisso, e como o depositário, no
depósito regular. Não é possível abstrair-se da diferença, a despeito da
expressão "restituição".
No art. 1.257 do Código Civil, estatui-se que o mutuante - portanto,
na espécie, o depositante, se irregular o depósito - "transfere o domínio
da coisa emprestada", digamos depositada, "ao mutuário", isto é, ao de-
positário, "por cuja conta correm todos os riscos dela desde a tradição". A
sorte do bem e a do figurante são iguais num e noutro contrato. As razões
são óbvias: a fungibilidade obrigou a que se tivesse a posse recebida pelo
depositário como posse própria, pela impossibilidade de determinação do
bem possuído; nas duas relações jurídicas, tinha de incidir o mesmo prin-
cípio Res perit domino.
É invocável, no. tocante ao depósito irregular, como a respeito do mú-
tuo, o art. 1.258 do Código Civil, que trata de moeda de ouro ou de prata,
observada a legislação especial.
No art. 1.259 do Código Civil diz-se que "o mútuo feito a pessoa
menor, sem prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver, não pode
ser reavido nem do mutuário, nem de seus fiadores, ou abonadores (art.
1.502)". Cf. arts. 155 e 1.502. Se a figura do depósito irregular foi in frau-
dem legis, claro é que o art. 1.259 incide. Se houve depósito irregular,
invalidamente feito, o que pode acontecer é trazer-se à discussão o art. 155
do Código Civil, ou o art. 1.260.
O art. 1.261 do Código Civil diz que "o mutuante pode exigir garantia
da restituição, se antes do vencimento o mutuário sofrer notória mudança
na fortuna". Em princípio, o depositante pode exigir, quando entrega, a
restituição do bem depositado, seja regular seja irregular o depósito (Códi-
go Civil, art. 1.268). Se irregular o depósito, o art. 1.261 do Código Civil
incide, afortiori.
O mútuo civil pode ser oneroso, se há cláusula expressa (Código Ci-
vil, art. 1.262). O mútuo mercantil dispositivamente o é (Código Civil, art.
248). O depósito irregular é gratuito, mesmo se mercantil. Na prática, a so-
lução é sem grande alcance, devido a não ser freqüente o depósito irregular
mercantil. O depósito bancário - assunto de que trataremos em conjunto
com os outros negócios jurídicos bancários - exerce função relevante. O
depósito irregular, como depósito, que é, tem de ser considerado gratuito,
dispositivamente, mesmo porque o diferimento da restituição foi no inte-
rêsse do tradens, e não do accipiens. Daí falar-se, no art. 1.265, parágrafo
único, do Código Civil, de gratificação ao depositário, e não de interêsses
pagáveis por esse. Isso não importa vedar-se que se paguem interêsses pelo
depósito irregular, como é de praxe geral no depósito bancário.
O art. 1.264 do Código Civil não é invocável a propósito do depósito
irregular.
Se algum prazo foi estabelecido entende-se a favor do depositante, e
não do depositário. Nenhuma regra jurídica sôbre têrmo do mútuo se há de
invocar a propósito do depósito irregular, a despeito da referência do art.
1.280 ao art. 1.264. Se, no contrato a que se chamou depósito irregular, se
diz que o bem depositado, produto agrícola, se destina a semeadura, ou ao
consumo, não houve contrato de depósito irregular, mas sim contrato de
mútuo, e o art. 1.264,1, incide. Se o depósito irregular foi de dinheiro, é
exigível quando o depositante o queira, porque a prevalência do interêsse
do depositário o tornaria mútuo.
§ 4.666. A - Legislação
O art. 1.280 do CC/1916, que remete o depósito fungível à aplicação das re-
I gras sobre mútuo, corresponde ao art. 645 do CC/2002. A indicação das regras do
mútuo que a que refere expressamente a norma revogada (arts. 1.256 a 1.264 do
j CC/1916), ora são disciplinadas pelos arts. 586 a 592 do CC/2002.
O art. 1.257 do CC/1916, corresponde ao disposto no art. 587 do CC/2002. Já
o art. 1.258 do CC/1916, não foi reproduzido no Código Civil vigente. A regra so-
| bre mútuo celebrado por pessoa menor, disciplinado pelo art. 1.259 do CC/1916,
ora o é pelo art. 588 do CC/2002. Os arts. 155 e 1.502, revogados, sobre as
conseqüências do contrato celebrado em proteção do incapaz e do fiador são re-
produzidos nos arts. 180 e 837 do CC/2002. A ausência de obrigação do incapaz
e do fiador cessa nas hipóteses do art. 1.259 do CC/1916, ora reproduzidos no
| art. 588 do CC/2002.
| O art. 1.261 do CC/1916, que assegura ao mutuante exigir a restituição quan-
| do houver notória alteração da condição econômica do mutuário, corresponde ao
! art. 590 do CC/2002.
• As disposições que regulavam o mútuo mercantil foram revogadas, unificando-
-se a disciplina do mútuo civil e do mútuo mercantil no Código Civil de 2002, do
; qual se presumem devidos juros se realizado com fins econômicos (art. 591 do
'. CC/2002), ao contrário do art. 1.262 do CC/1916, que admitia a cobrança apenas
por cláusula expressa.
O art. 1.268 do CC/1916 é reproduzido pelo art. 633 do CC/2002, determi-
nando o dever de restituição incontinenti do bem pelo depositante ao depositário,
salvo nas hipóteses em que o objeto foi judicialmente embargado, recaia sobre
ele execução notificada ao depositário, ou tenha motivo razoável para suspeitar
i que se trata de coisa furtada ou roubada. O art. 1.269 do CC/1916, que Pontes
de Miranda sugere poder ser invocado também no depósito irregular, prevê a pro-
vidência do depositário de requerer que seja encaminhado ao depósito público,
frente à suspeita de que o bem tem origem ilícita, sendo reproduzido pelo art. 634 I
do CC/2002. O depositário, no depósito irregular, faz-se dono e possuidor próprio
do bem depositado. Isso não impede que o depositante invoque o art. 1.268, art.
1.269 ou o art. 1.273, do CC/2002 em vez de invocar outros princípios. O art.
1.273 do CC/1916, foi reproduzido pelo art. 638 do CC/2002, admitindo a possibi-
lidade de compensação apenas entre créditos de mesma natureza, decorrentes
de contratos de depósito.
A possibilidade do contrato de depósito ser oneroso, mediante gratificação
do depositário, previsto no art. 1.265, parágrafo único, do CC/1916, hoje corres-
ponde ao art. 628 do CC/2002, que amplia a hipótese para os casos em que se
estipule remuneração por convenção, se resultante de atividade negociai ou se o
depositário o praticar por profissão. O art. 1.266, 2.a parte, do CC/1916, corres-
ponde ao art. 629 do CC/2002, que obriga o depositante a ressarcir com todos
os frutos e acrescidos.
§ 4.666. B - Doutrina
Sustenta a doutrina contemporânea que o princípio do res perítdominum não
se aplica ao depósito irregular, uma vez que o gênero não perece (genus non pe-
rítj ( L O P E Z , Teresa Ancona. Op. cit., p. 412). Aí o fundamento pelo qual se diz que
suporta o caso fortuito ( L O R E N Z E T T I , Ricardo. Contratos. Parte especial, I I . Buenos
Aires: Rubinzal Culzoni, 2003. p. 525).Todavia, aspecto freqüentemente destaca-
do pela doutrina para distinguir o. depósito irregular e o mútuo é de que enquanto o
primeiro tem por finalidade precípua atender ao interesse do depositante, o outro
é empréstimo, e como tal visa atender o interesse do mutuário de fazer uso da
coisa ( A N D R I G H I ; B E N E T I ; A N D R I G H I . Op. cit., p. 412).
§ 4.666. C - Jurisprudência
Conforme a jurisprudência, configura espécie de contrato misto de depósito e
mandato a entrega de títulos ao banco para que efetue a cobrança, respondendo
por eventual extravio (STJ, REsp 6.298/DF, 4. a T., j. 26.04.1994, rei. Min. Fontes
de Alencar, DJU 27.06.1994). O mesmo ocorre em depósito de grãos junto ao
ente público de armazenamento, que responde pelo desvio ou extravio do produto
(TRF-43 Reg., ApCiv 2003.04.01.049641-6/RS, 3.a T., j. 20.01.2009, rei. Maria Lú-
cia Leiria, p. 26.02.2009). Observe-se o mesmo, ainda, no desembaraço aduanei-
ro de mercadoria perecível, pode-se constituir o representante legal da empresa
como depositário em depósito irregular (TRF-4.3 Reg., Ag 2007.04.00.024323-7,
1 .aT., j. 05.09.2007, rei. Álvaro Eduardo Junqueira, p. 25.09.2007). Não cabe, toda-
via, pedido de restituição do depósito bancário pelo depositante, com fundamento
na Lei de Falências, dado o regime especial de liquidação a que se submetem as
instituições financeiras (STJ, REsp 501.401/MG, 2.a Seção, j. 14.04.2004, rei. Min.
Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 03.11.2004). Nesse sentido, entende-se que
j passam a integrar a massa falida (STJ, REsp 492956/MG, 1 . a T., j. 06.03.2003, rei.
i Min. José Delgado, DJ 26.05.2003).
CAPÍTULO IV
DEPÓSITO NECESSÁRIO
§ 4.667. C O N C E I T O E N A T U R E Z A D O D E P Ó S I T O N E C E S S Á R I O
2 . B A G A G E N S D E V I A J A N T E S , H Ó S P E D E S o u F R E G U E S E S , NAS H O S P E -
DARIAS, ESTALAGENS o u CASAS D E P E N S Ã O . - Lê-se no art. 1.284: "A esses
depósitos" - está-se a falar dos depósitos necessários - "é equiparado o
das bagagens dos viajantes, hóspedes ou fregueses, nas hospedarias, es-
talagens ou casas de pensão onde elas estiverem". E no parágrafo único:
"Os hospedeiros ou estalajadeiros por elas responderão como depositários,
bem como pelos furtos e roubos que perpetrarem as pessoas empregadas
ou admitidas nas suas casas".
Quem permanece, ainda que por poucas horas, em hotel, hospedaria,
estalagem, albergue ou casa de pensão, precisa de guardar o que consigo
traz. Saindo, só as gentes do hotel, da hospedaria, da estalagem, do alber-
gue ou da casa de pensão podem vigiar o que, por minutos, por horas, ou
por dias, ou por mais tempo, o freguês deixou. Não se pode, indistintamen-
te, considerar de depósito qualquer das situações estabelecidas, nem como
sendo sempre de natureza diversa da situação contratual de depósito.
As opiniões pendem para a unicidade de figura jurídica. Assim, apa-
recem as que assentam só haver, em todos:
a) Responsabilidade legal do hospedeiro, decorrente do fato de haver
consentido na introdução de equipagem no lugar em que exerce a sua in-
dústria ( L . E N N E C C E R U S - H . L E H M A N N , Lehrbuch, I I , 1 4 . A recomp., 6 9 4 ;
G . P L A N C K , Kommentar, I I , 4 . A ed., 7 1 5 ; P A U L O E R T M A N N , Das Recht des
Schuldverhãltnisse, 8 4 2 ; H . D E R N B U R G , Das Bürgerliche Recht, I I , 2 , 6 4 5 ;
C A R L C R O M E , System, I I , 7 5 2 , nota 7 ; F. E N D E M A N N , Lehrbuch, I , 1 1 6 7 ,
nota 7 ; F. S C H O L L M E Y E R , Recht der Schuldverhãltnisse, 1 3 7 ; J O S E F ESSER,
Lehrbuch des Schuldrechts, 3 3 8 ; H . S I B E R , Schuldrecht, 3 7 7 ) .
b) Efeito do contrato de hospedagem (A. L A N G E N , Die privatrechtli-
che Stellung der Wirthe und der Gastaufnahmevertrag, 27 s.).
Aí, tem-se o contrato pelo qual se aloja alguém com a sua bagagem
como irradiador do efeito de dever de custódia, de modo que hospedar é,
necessariamente, assumir tal dever. Em todo o caso, advirta-se em que se-
ria de levantar-se a questão de ser permitida, ou não, a cláusula que pré-ex-
cluísse êsse efeito. Noutros têrmos: seria de discutir-se se a regra jurídica,
não escrita, sôbre o dever de custodiar, é ius cogens, ou ius dispositivum,
ou mesmo ius interpretativum.
c) Efeito de contrato especial de hospedagem distinto do efeito do con-
trato de hotel ou de albergue (K. P O L E N S K E , Gastschaftsvertrãge, 313 s.).
Segundo tal opinião, há contratos de hospedagem de que resulta o
dever de custódia e contratos de hospedagem de que não deriva tal efeito.
A regra seria a não produção do dever de custódia, pelo menos do dever de
custódia que importasse a figura do depósito. Essa opinião levaria a ter-se
de fixar qual a espécie de contrato de hospedagem de que se emanaria o
dever de guardar em depósito.
d) Efeito de contrato autônomo de depósito ( O T T O GIERKE, Deutsches
Privatrecht, III, 743).
A opinião d) nega o efeito de dever de custodiar, que implique ser
depositário o hospedeiro. Exige que se haja concluído, expressa ou tàcita-
mente, contrate de depósito, que funcionaria como pacto adjecto, ou talvez
como contrato inteiramente à parte, isto é, sem adjecticiedade.
No direito brasileiro, a despeito do art. 1.284 do Código Civil, que se
poderia interpretar como se houvesse adotado a solução b), ou a solução
d), não se pode assumir qualquer atitude a priori.
O contrato de hospedagem é unitário, a despeito da pluralidade de
prestações que dele derivam, a cargo do hospedeiro. O mais simples é o
contrato de casa de cômodo, uma vez que se aloja o hóspede sem se lhe
fornecer comida. Discute-se se a prestação principal é a do alojamento, o
que faria contrato de locação de coisa qualquer contrato de hospedagem,
ou se o contrato é misto (locação de coisa, de obra e de depósito); ou se é
contrato atípico.
A responsabilidade do hoteleiro tem-limite espacial. Só é responsável
pelo que está ao hotel, ou em carro do hotel, ou j á está ou ainda está em
mãos dos seus empregados. Tem-se como incluso no espaço custodiante
o que foi entregue. Se foi dada ficha ou cartão para retirada, tem-se como
atribuída ao hotel a posse mediata para obtenção da posse imediata: até
êsse momento, a responsabilidade é de mandatário, e não de depositário;
recebido o bem, inicia-se a responsabilidade de depositário. Mas a res-
ponsabilidade do hoteleiro começa de ser responsabilidade de depositário
desde o momento em que êle retarda, sem ser por caso fortuito ou fôrça
maior (que êle tem de provar), a retirada dos bens a que a ficha, o recibo,
ou o cartão se refere.
Há também limite funcional. A responsabilidade do hoteleiro é so-
mente quanto ao que é de uso normal do freguês.
Há limite temporal à responsabilidade: é preciso que já esteja con-
cluído o contrato de hospedagem, reputando-se conclusão do contrato a
resposta de haver quarto, ou apartamento, ou lugar para o hóspede. Se o
dano ocorreu antes da resposta negativa, a responsabilidade rege-se pelos
princípios comuns.
Cumpre observar-se que, mesmo nos casos em que não há responsabi-
lidade de depositário, por parte do hoteleiro ou outro explorador de acomo-
dações, nem outro dever de custódia, pode êle ser responsável pelos danos,
segundo o direito comum, ainda extracontratualmente, quer provenham de
culpa sua, quer de seus empregados.
Os bens entregues e os bens portados não têm o mesmo trato. Os bens
entregues podem ser portáteis, ou não; os bens portados são os que são
portáteis (e. g., a maleta de mão, a pasta, a bolsa de viagem) e os que foram
levados com o viajante como se portáteis fossem (e. g., a mala que o via-
jante ou o hóspede quis que pusessem no apartamento, quarto ou cabina.
A responsabilidade do hospedeiro não é a mesma se o bem lhe foi
entregue, ou se o bem apenas foi portado ao hotel, porém a diferença é pe-
quena. Maior é a que concerne àqueles objetos que o hóspede traz sempre
consigo, como o relógio de bolso ou de punho, a cigarreira e o isqueiro.
Se algum bem foi entregue ao hoteleiro para guarda, há custódia es-
pecial, não se devendo pensar apenas no art. 1.285 do Código Civil, pois
há o elemento da voluntariedade (arts. 1.267-1.275). A acessoriedade di-
lui-se, tanto assim que pode ter deixado o hotel o freguês e ter pedido que
os bens continuassem em custódia especial. A gratuidade não é obstáculo
a essa conclusão.
Sempre que falamos de hoteleiro, aludimos a quaisquer hospedeiros,
inclusive hospitais, estabelecimentos balneários de estadia, ônibus com lei-
tos, navios em que se dorme, aeronaves e trens de leito. O que importa é
indagar-se se, na espécie, o freguês poderia custodiar êle mesmo os bens
que não possam ficar consigo, ou não se costuma pôr sob a vigilância do
próprio freguês.
Quem permanece no hotel, ou na pensão, ou mesmo em clube que
hospeda, tem de pôr nas dependências do prédio as malas e outros objetos.
Desde o momento em que os empregados retiram as malas e os pacotes e
os levam para lugares que não são de freqüência ordinária, o que se há de
entender é que os coloca onde fique a coberto de furtos e êrros de entrega.
Não se compreende que não haja chaves, ou vigias em número suficiente.
A solução a) é a que se impõe se não há elementos a mais, que se hajam de
levar em conta. Uma vez que há a entrada e colocação de equipagem, há
responsabilidade, sem que se tenha de alegar e provar a culpa do hospedei-
ro ou dos seus empregados.
Todavia, se há nota das peças entregues, ou se é de interpretar-se que
o contrato supõe a dação de lugar, a solução b) intervém.
Porém não só. Se há quartos ou espaços que se tomam (=se pagam) à
parte, como se o preço do hotel éxe mais y para as bagagens de porão, há a
figura da solução c). Quando os registos do hotel avisam que, a respeito de
jóias e valores estranhos às vestes,:sapatos e chapéus, a responsabilidade só
existe se foram entregues para depósito, há a figura da solução d).
No que observamos quanto aos hotéis de muitos Estados-membros do
Brasil, ressaltou que há as quatro figuras. Uma só não esgotaria o problema.
^Como se há de interpretar o art. 1.284 do Código Civil?
Primeiramente, o art. 1.284 do Código Civil nada tem com os res-
taurantes e outros estabelecimentos que somente fornecem comida e be-
bida. Aí, os chapéus e pacotes quase sempre são dados ao porteiro, ou ao
chapeleiro, às vêzes com o cartão ou a ficha. Nem o art. 1.284 do Código
Civil pode ser invocado se o hospital ou casa de saúde não tem leitos para
dormidas à noite, ou para internações. No tocante aos vagões-leitos, o art.
1.284 somente há de incidir se a bagagem não fica junto ao viajante. Se
fica, a solução é a).
O art. 1.284 do Código Civil de modo nenhum pode ser invocado pela
pessoa que apenas visita o hoteleiro, ou é hóspede pessoal (invitado) da
pessoa que é o gerente ou o hoteleiro, e não da emprêsa.
A responsabilidade começa desde que o motorista, ou encarregado de
fregueses do hotel, os apanha no porto, ou no aeroporto, ou na estação fer-
roviária ou rodoviária. Ou desde o momento em que o hotel já devia estar
de posse, imediata, dos bens de cuja retirada se incumbiu.
É preciso que o dano tenha sido por perda ou mau trato da bagagem.
Tanto pode ser aos bens que chegaram com o hóspede, como aos que êle
recebeu depois, mesmo se não pertencem ao hóspede, posto que só o hós-
pede possa reclamar. Idem, quanto aos bens que chegaram antes do hóspe-
de e foram recolhidos como bens de hóspede a chegar.
Não há a responsabilidade do hotel se o dano é imputável ao próprio
freguês, a empregado dêsse ou a pessoa da sua família, ou a pessoa rece-
bida pelo hóspede, ou sua família, ou empregado. Idem, se houve fôrça
maior (cf. Código Civil, art. 1.277). Mas ao hospedeiro incumbe o ônus
da prova.
A pré-exclusão negociai da responsabilidade é permitida, desde que
escrita e com explícita aceitação do freguês. Não basta o cartaz, o letrei-
ro, o aviso posto na portaria ou no apartamento. Todavia, a cláusula pré-
-exclusiva deixa margem à responsabilidade por culpa do hoteleiro ou do
serviço; e nula, por ilícita, é a cláusula que não se coadune com a indústria
de hospedagem e de hotéis, e. g., com os regulamentos.
O art. 1.284 do Código Civil não apanha os ônibus e os carros de
viagem, porque aí o contrato é de transporte, e não de hospedagem, nem
os lugares em que se toma banho de mar ou de piscina, barcos de passeio,
ou barracas de praia. Ainda assim, há hospedagem nos navios, aeronaves,
ônibus, e outros veículos em que se dorme. Por outro lado, se há entrega
de tíquetes, estabelece-se a responsabilidade pela custódia de que adiante
se falará.
Não há inteira correlação entre a responsabilidade do hospedeiro e
o seu eventual direito de penhor legal. Responde êle pela perda ou dano
dos bens, não pertencentes ao hóspede, que por êle foram levados para
a guarda do hotel ( P A U L O E R T M A N N , Das Recht der Schuldverhãltnisse,
846), embora ao dono, não hóspede, faltem a pretensão e a ação; e não tem
direito de penhor legal sôbre o que se acha na bagagem sem ser do hóspede
( G . P L A N C K , Kommentar, N , 4 . A ed., 7 2 4 ; O T T O G I E R K E , Deutsches Privat-
recht, I I I , 7 4 5 ; A . L A N G E N , Die privatrechtliche Stellung der Wirthe und
der Gastaufnahmevertrag, 1 3 0 ; A . S T U R M , Die Einbringung von Sachen
bei Gastwirten nach dem Recht des BGB., 31).
A responsabilidade do hospedeiro supõe a existência de contrato de
hospedagem entre o hospedeiro e o hóspede, devendo-se evitar a referência
a hospedeiro e a pessoa que sofreu o dano. O dano pode ser a bem que está
com o hóspede, como se é empregado de emprêsa e tem consigo amostras
ou encomenda. O que importa é que o cliente haja introduzido no hotel o
bem a que se refere o dano, ou haja entregue a empregado do hotel, mesmo
se no aeroporto, ou no porto de mar ou de rio ou de lago, ou na estação de
trem ou de outro veículo.
Não importa qual o tempo que haveria de durar, ou durou, a hospe-
dagem.
Pôsto que as leis especiais, de ordem administrativa, exijam forma-
lidade de inscrição de hóspede, a introdução com permissão tácita basta
para que se tenha como concluído o contrato de hospedagem. Se a pes-
soa, a cuja presença no hotel se liga a estada de objeto, não é cliente, a
responsabilidade do hospedeiro rege-se pelos arts. 159 e 1.521, III e V, do
Código Civil. Lê-se no art. 1.521, IV, que são também responsáveis pela
reparação civil "os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos
onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus
hóspedes, moradores e educandos". Já o art. 1.521, III, estatui também ser
responsável "o patrão, amo ou comitente, por seus empregados, serviçais
e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir ou por ocasião
dêle (art. 1.522)". A distinção é de relevância, porque, se é de invocar-se o
art. 1.284 e parágrafo único, rege o art. 1.285, ao passo que, nas espécies
que se prendem aos arts. 159 e 1.521, III e IV, a quem sofreu o dano é que
incumbe fazer a prova da culpa do hospedeiro.
O direito brasileiro não tem regra jurídica escrita que distinga da res-
ponsabilidade em se tratando de bem entregue ao hospedeiro a responsa-
bilidade se o bem foi apenas levado ao hotel, ou hospedaria, ou estalagem,
ou albergue, ou casa de cômodos. A distinção tem relevância pela precisão
que se dá com o dever de custódia se o bem foi entregue para guardar.
Aí, o guardar é guardar especialmente (e. g., em quarto especial, em
cofre, em lugar seguro, em lugar fresco ou quente).
§ 4.667. A - Legislação
Refere-se, Pontes de Miranda, ao poder do Estado para requisitar bens, hipó-
tese que na Constituição de 1988, em vigor, está prevista como efeito da decre- ;
tação do estado de sítio (art. 139, VII), na forma disciplinada por iei federal (art. j
22, III). Nesses casos observa que o Estado responde como se tivesse havido !
contrato de depósito. •
i
As hipóteses de depósito necessário previstas no art. 1.282 do CC/1916 sao !
1
reproduzidas integralmente pelo art. 647 do CC/2002.0 mesmo ocorre com o art.
1.283 da lei revogada e o art. 648 vigente, capute parágrafo único, que remetem I
a disciplina do depósito necessário pelo desempenho de obrigação legal às res-
pectivas leis ou às regras de depósito voluntário. !
f
i
O art. 1.284 do CC/1916, de sua vez, eqüivale ao texto atualizado do art. 649,
do Código Civil vigente, equiparando ao depósito necessário o de bagagens dos
viajantes ou hóspedes nas hospedarias onde estiverem. Assim também o parágra-
fo único desse artigo, ao indicar a responsabilidade das hospedarias pelos furtos
| e roubos realizados por empregados ou pessoas admitidas no estabelecimento.
| O art. 1.285 revogado estabelece as causas de exclusão de responsabilidade, tal
| qual o art. 650 vigente, que lhe simplifica a redação indicando que não responde
| o hospedeiro se provar que o fato não poderia ser evitado. Todavia, considerando •
j a indicação de Pontes de Miranda nas situações em que na entrega pelo hóspede
| ao hospedeiro, há voluntariedade, invoca os arts. 1.267 e 1.275 do CC/1916, que ;
j correspondem aos arts. 630 e 640 do CC/2002. !
| A sistemática da responsabilidade civil nestes casos, segundo o direito vigen-
1
te, é que difere sensivelmente da disciplina legal examinada por Pontes de Miran- i
j da. Inicialmente, mencione-se que a técnica legislativa do Código Civil de 2002 j
j alterou-se. Neste sentido, enquanto no Código Civil anterior o art. 159 configurava
j cláusula geral de atos ilícito, contendo suporte fático e sanção, correspondente
| ao dever de indenizar, no Código Civil vigente o art. 186, que lhe corresponde, !
restringe-se à definição conceituai do ato ilícito, com o acréscimo de previsão ex- i
j pressa do dano moral que dele pode resultar. A obrigação de indenizar, contudo, j
consta em título próprio, da responsabilidade civil, no art. 927, cabível também i
a uma segunda sanção de ato ilícito constante na parte geral, do art. 187 do j
CC/2002 (do abuso do direito). Decisivo, contudo, é que o parágrafo único do art. j
927 vigente, impõe também uma nova causa de responsabilidade, esta indepen- |
dente de culpa, com fundamento no risco da atividade, na medida em que imputa j
o dever de indenizar os danos causados pelo titular da atividade que por sua i
natureza gere risco aos direitos de outrem. j
Mais expressivo ainda, deve-se dizer, é a incidência, como regra, aos contra- j
tos de hospedagem, e consequentemente ao depósito que a eles se vincula, do j
Código de Defesa do Consumidor. Considerando que, como regra, trata-se de |
hospedagem remunerada realizada como parte de atividade profissional no mer-
cado de consumo, incide a legislação consumerista, que no caso impõe a regime
de responsabilidade objetiva e solidária dos fornecedores, tanto no tocante ao
fato do serviço (art. 14), quanto por vício do serviço (art. 20), e os prejuízos que j
causem aos consumidores-hóspedes e, mesmo, a terceiros. Neste último caso é j
de relevo, igualmente, o art. 932, III a V, do CC/2002, que reproduz, na essência, j
o disposto no art. 1.521, III aV, do CC/1916 em disciplina à responsabilidade por
fato de terceiro, no qual o sistema vigente impõe responsabilidade objetiva aos
empregadores, hospedeiros e aqueles que gratuitamente concorrem com o pro-
duto do crime, até a respectiva quantia.
§ 4.667. B - Doutrina
A referência legal às hospedarias, conforme aduz a doutrina, deve ser enten-
dida como exemplificativa, uma vez que pelo mesmo critério deve fazer a norma
abranger todos os lugares que ofereçam hospedagem por dinheiro, como é o
caso de alguns colégios e pousadas ( P E R E I R A , Caio Mário da Silva. Instituições de
direito civil. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. vol. III, p. 337).
Aspecto essencial a ser atualizado no entendimento de Pontes de Miranda,
especialmente em relação a alterações legislativas que serviram para alterar a
natureza da responsabilidade do hospedeiro no contrato de hospedagem diz
respeito à natureza objetiva dessa, independente de culpa, seja em razão das
disposições do Código de Defesa do Consumidor que a ele se aplicam, seja pela
regra do Código Civil. Constitui, entretanto, responsabilidade por risco do negócio.
Nesse sentido, há um reconhecimento da doutrina contemporânea, do acerto da J
lição de Pontes de Miranda, compreendendo o contrato de hospedagem e de de- i
pósito com um mesmo caráter unitário que lhe empresa finalidade. Ou, ainda, sua J
acessoriedade ao contrato de hospedagem (GUIMARÃES, Paulo Jorge Scartezzini. j
Dos contratos de hospedagem, transporte de passageiros e de turismo. São Pau-
Io: Saraiva, 2007. p. 36; RIZZARDO, Arnaldo. Contratosbancários. 8. ed. São Paulo:
Ed. RT, 2009. p. 643).
A doutrina largamente majoritária reconhece que as hipóteses em que se dá o
contrato de hospedagem, como regra se constituem relação de consumo (Lopez,
Teresa Ancona. Comentários ao Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. vol. 7,
p. 424; Tepedino, Gustavo; Barbosa; Moraes. Código Civil interpretado conforme
a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. t. II, p. 414). Nesse
sentido é atraído, igualmente, o depósito que lhe é parte integrante. Isso porque,
ademais, o depósito necessário neste caso não é gratuito. O art. 651 do CC/2002,
define que a remuneração do depósito está incluída no preço da hospedagem.
Da mesma forma, há convergência com o entendimento de Pontes de Miranda
no sentido de que o dever do hospedeiro nasce desde a entrega da bagagem,
mesmo antes do preenchimento ou assinatura de ficha ou termo que formaliza a
hospedagem. Alguns autores, diante desta situação, falam mesmo em responsa-
bilidade pré-contratual ( L Ô B O , Paulo. Direito civil - Contratos. São Paulo: Saraiva,
2011. p. 402). Pressupõem, contudo, a necessidade de formalização do contrato,
o que nem sempre é de exigir. Certo é que o dever de custódia não se extingue
necessariamente com a hospedagem, uma vez que mantidas as bagagens em
poder do hospedeiro, persiste a eficácia de depósito.
Questão mais difícil estará na interpretação atual da distinção bem posta por
Pontes de Miranda entre bens entregues e b,ens portados. Os primeiros, entre-
gues ao hospedeiro, o são em depósito. Não os segundos. E nesse caso, eventual
responsabilidade por extravio desafia, na prática, a responsabilidade dos hos-
pedeiros, que é objetiva, e a possibilidade de prova pelo hóspede de que o bem
em questão estava nas dependências do estabelecimento hoteleiro quando de-
sapareceu. Nesse caso, a indicação da inversão do ônus da prova, como permite
o Código de Defesa do Consumidor (art. 6.°, VIII), a ocorrer nas situações auto-
rizadas pela norma e segundo convencimento judicial, não é suficiente para dar
uma resposta única à questão. Isso porque, se não há dúvida da responsabilidade
objetiva do estabelecimento hoteleiro também neste caso, não é menos verdadei-
ro que nem sempre terá o hóspede - ou porque não aconteceu, ou porque não
tem meios de provar - como demonstrar o dano. O mesmo ocorre nas situações
indicadas por Pontes de Miranda de estabelecimentos em que a guarda de peças
de roupa ou pacotes se faz mediante entrega de cartão ou ficha, hipótese em que
servem de prova, ou no mínimo, para juízo de verossimilhança de que trata o art.
6.°, VIII, do CDC.
j Por fim, refira-se que o regime de responsabilidade previsto no Código de
| Defesa do Consumidor tem natureza objetiva e solidária, abrangendo todos os
| membros da cadeia de fornecimento (arts. 14 e 20).
i
| § 4.667. C - Jurisprudência
i Fundamenta, a jurisprudência, a responsabilidade do hospedeiro no risco do
| negócio (TJRJ, ApCiv 0016990-10.2009.8.19.0208, 9.a Câm. Civ., j. 07.06.2011,
rei. Des. Carlos Eduardo Moreira da Silva), mediante aplicação do Código de De-
fesa do Consumidor (TJSP, ApCiv 9230301-17.2005.8.26.0000, 34.a Câm. Dir.
Priv., j. 03.08.2009, rei. Des. Cristina Zucchi). Esta responsabilidade estende-se,
não mais por depósito, mas com natureza extracontratual, aos bens portáveis a
que se refere Pontes de Miranda (TJSP, ApCiv 1196819002, 36.a Câm. Dir. Priv.,
j. 12.03.2009, rei. Des. Romeu Ricupero). Exige-se do consumidor-hóspede, con-
tudo, prova ou verossimilhança quanto à identidade dos bens em depósito (TJSP,
ApCiv 9083089-89.2005.8.26.0000, 11 .a Câm. Dir. Priv., j. 31.03.2011, rei. Des.
Vieira de Moraes; TJRS, ApCiv 71001225218, 3.a Câm. Rec. Civ., j. 22.05.2007,
rei. Des. Eugênio Facchini Neto). Admite-se da mesma forma, nestes casos, o
reconhecimento de danos morais (TJRS, ApCiv 70028999258, 10.a CâmCiv, j.
28.05.2009, rei. Des. Paulo Antônio Kretzmann).
§ 4.668. T R A N S M I S S Ã O E EXTINÇÃO
DAS PRETENSÕES D O HÓSPEDE
§ 4.668. A - Legislação
Surgindo pretensão de reparação em vista da ausência de restituição ou ava-
ria da bagagem em depósito, o art. 206, § 3.°, V, do CC/2002, estabelece prazo
de três anos, a contar do nascimento da pretensão. No Código de Defesa do
Consumidor, tratando-se de vício do serviço ou de produto durável, o prazo é de
90 dias, contados da data do conhecimento do vício, conforme art. 26 do CDC.
Havendo pretensão de indenização, o prazo é do art. 27 do CDC, de cinco anos,
contados da data do conhecimento do dano e de sua autoria.
§ 4.668. B - Doutrina
No caso de morte do hóspede que se encontra no hotel, o dever de restitui-
ção tanto é em favor dos sucessores que são imitidos imediatamente na posse
indireta por força da saisine (art. 1.784 do CC/2002), como também como decor-
rência da boa-fé objetiva e o dever de colaboração e lealdade que se evidencia
nesta situação.
A doutrina reconhece, ainda, deveres pós-contratuais, de modo que a extinção
do contrato de hospedagem e do depósito das bagagens não ocorrem necessa-
riamente ao mesmo tempo, persistindo a responsabilidade do hospedeiro ( L Ô B O ,
Paulo. Op. cit., p. 402).
§ 4.669. D E P Ó S I T O E M D E S E M P E N H O D E D E V E R L E G A L
2 . D E P O S I T Á R I O D E B E N S E M CASO D E P E N H O R A O U D E M E D I D A CAUTE-
LAR. - (A) O Decreto-lei n. 8.951, de 28 de janeiro de 1946, não excluíra
a parte do art. 945, no tocante ao depósito em mãos do próprio executado;
nem o fizera o Decreto-lei n. 3.077, de 26 de fevereiro de 1941. A reara
jurídica derrogada foi "... os bens penhorados depositar-se-ão da seguinte
forma."; ainda assim, onde houver a figura do depositário judicial.
A legislação posterior ao Código foi a seguinte:
a) Decreto-lei n. 3.077, de 26 de fevereiro de 1941, art. 1.°: "As con-
signações em pagamento e, em geral, as importâncias em dinheiro cujo
levantamento ou utilização depender de autorização judicial serão obri-
gatoriamente recolhidas ao Banco do Brasil". Parágrafo único: "Todos os
que, a qualquer título, sejam atualmente depositários de importâncias em
tais condições ficam obrigados a transferi-las ao Banco do Brasil, mediante
comunicação ao juízo competente".
b) Decreto-lei n. 8.951, de 28 de janeiro de 1946, art. 1.°: "Onde hou-
ver depositário judicial, a êle cabe, obrigatoriamente, a função, não se apli-
cando o disposto no art. 945 do Código de Processo Civil". Art. 2.°: "Nos
casos de penhora, seqüestro, arrestos, buscas e apreensões em dinheiro,
jóias, pedras e metais precisos, títulos e papéis de crédito, já depositados
no Banco do Brasil, Caixa Econômica ou outros bancos, o depositário judi-
cial assinará o respectivo auto e terá direito a uma comissão arbitrada pelo
juiz". Art. 3.°: "Com exceção dos casos previstos no art. 2.° desta lei, o de-
positário judicial terá sempre direito à remuneração fixada no Regimento
de Custas em vigor".
O depositário judicial, quando os bens se achavam depositados no
Banco do Brasil (Decreto-lei n. 3.077, art. 1.° e parágrafo único), não tinha
responsabilidade pela guarda. Apenas recebia caderneta, que não podia
movimentar. A percentagem segundo o Decreto-lei n. 8.951, e sempre que
o depósito se fizesse no Banco do Brasil, era pelo receber e guardar a
caderneta, e não pelo serviço de guardar, que é do Banco do Brasil (5.a Câ-
mara Cível do Tribunal de Apelação do Distrito Federal, 21 de dezembro
de 1943, A. J., 70, 221; Câmaras Cíveis Reunidas, 10 de junho de 1943, li-
dos T., 152, 708).
c) O Decreto-lei n. 8.951, de 28 de janeiro de 1946, foi ab-rogado,
e deu-se a restauração do art. 945 do Código de Processo Civil, no que
aquêle decreto-lei havia atingido. Disse o art. 1.° da Lei n. 3.186, de 24
de junho de 1957: "É revogado o Decreto-lei n. 8.951, de 28 de janeiro de
1946 (Dispõe sôbre o depósito judicial e dá outras providências)". E o art.
2.°: "É revigorado o art. 945 do Código de Processo Civil".
O preposto que exerce o cargo por escolha do depositário judicial não
tem pretensão a salários (3.a Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São
Paulo, 1.° de setembro de 1943, R. dos T„ 147, 179). Em casos especiais,
podem ser fixados judicialmente salários de guardas, dadores de ração,
lavadores, veterinários, etc.
A dação de posse do depositário não é caso de entrega a que se refere
o Código de Processo Civil, art. 842, XVII; por isso mesmo, se o depo-
sitário recebe os bens, ou a êle se manda entregar em depósito, ainda que
coincida ser terceiro embargante, não cabe recurso de agravo de instrumen-
to (l. a Câmara Civil do Tribunal de Apelação de Sao Paulo, 17 de abril de
1944, R. dos T., 149, 591).
A remoção, para o depósito público, de bens penhorados, quando se
trata de estabelecimento comercial, é injustificável; os bens hão de ficar
onde se acham e ao depositário judicial cabe guardá-los (Conselho de Jus-
tiça do Tribunal de Apelação do Distrito Federal, 4 de dezembro de 1940,
A 7., 62,24).
A lei considera o depósito judicial em mão do executado como ne-
gócio jurídico em que a declaração de vontade do Estado é dependente de
aceitação do executado e do exeqüente. Não cabe a êsse o ônus de afirmar
ou de provar que o executado não lhe serve como depositário. Está-se em
plano de declarações de vontade. Em todos os outros casos (Código de
Processo Civil, art. 945,1-III), o depósito independe da aceitação do exe-
qüente. Tudo se passa entre o Estado e o depositário. O exeqüente é como
o terceiro do art. 1.098 do Código Civil. Em todo caso, o art. 945, pr., sofre
limitação na regra jurídica do Código de Processo Civil, art. 945, II. Cf.
Conselho de Justiça do Tribunal de Apelação do Distrito Federal, a 23 de
maio de 1944 (R. F., 100, 289).
Os estabelecimentos estatais e os paraestatais são obrigados a aceitar
o depósito; os outros, congêneres, a que se refere o Código de Processo
Civil, art. 945,1, somente são obrigados segundo as leis que os regem. Se
o exeqüente entende que um deles lhe não merece confiança, não pode
exigir que se mude o depósito. Todos os seus atos hão de ser tendentes a
assegurar a responsabilidade do Estado e a dos seus órgãos. Daí a conve-
niência de informar o juízo quanto a elementos de contra-indicação. As
informações podem bastar a estabelecer-se, daí em diante, a culpa do juiz.
O interessado pode interpelar o Estado e exercer, se o quer, a pretensão
cominatória, judicialmente.
Os móveis e semoventes, quando o exeqüente recusa o executado
como depositário, podem ser depositados em mão desse, se ao juiz lhe
parecer preferível. A regra jurídica do Código de Processo Civil, art.
945, II, estabelece duas distinções: a declaração de vontade do exeqüen-
te, no caso de querer o juiz depositar os bens em mão do executado, não
perde o caráter de declaração de vontade, porém cede como declaração
de vontade ante a do juiz (diferença essencial entre a comunicação de
vontade, que permitiria a apreciação judicial do caso, e a declaração
de vontade que quebra diante de outra, cp. Código Civil, art. 635, §§
1.° e 2.°, e em todos os casos de maioria). O juiz emite declarações de
vontade, quer no segundo, quer no primeiro caso do Código de Processo
Civil, art. 945, IL
Tudo se passa entre o juiz e o depositário. O juiz emite declaração de
vontade, dependente de aceitação. Se o nomeado ou o depositário judicial
tem de aceitar é outro problema, entre êle e o Estado.
A responsabilidade do depositário é só sua, e não da parte (3.a Câmara
Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, 27 de outubro de 1943, R. E,
99, 451). O Estado pode ter responsabilidade.
Os riscos da coisa depositada, sendo nomeado pelo juiz, ou judicial,
o depositário, são do devedor, enquanto não perde, judicialmente, a coisa
(arrematação, adjudicação). São os riscos do valor da coisa: se o deposi-
tário judicial (oficial) ou nomeado pelo juiz perde ou se apropria da coisa,
sofre a perda da coisa o devedor executado, tendo, ainda, de prestar o valor
para nova penhora (cf. l. a Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São
Paulo, 13 de abril de 1942, R. E, 91, 457). O Estado responde ao devedor
executado, segundo os princípios. Se, no exercício do direito do art. 926 do
Código de Processo Civil, o credor nomeia bens à penhora, com infração
da lei, de modo que perece a coisa que, se não tivesse sido indevidamente
depositada, não teria perecido, ou não seria provável que perecesse, pode
exigir outra penhora, mas responde pelo ato ilegal e suas conseqüências.
Na ação contra o credor pode o executado pedir medida constritiva sôbre
o depósito.
Ao depositário judicial, nas execuções, cabe guardar e conservar os
bens depositados. Não há relação jurídica processual entre êle e o exe-
qüente, ou entre êle e o executado. A relação jurídica é entre o Estado e
êle. Todo ato do depositário é de responsabilidade perante o Estado. Se
êle assume, in concreto, dizendo, por exemplo, que o bem nunca saíra
de sua guarda e cuidados, qualquer responsabilidade de outrem rege-se
pelos arts. 159 e 160 do Código Civil, fundada na culpa. Por isso mesmo,
a responsabilidade de guarda e de conservação é do depositário judicial,
e qualquer incumbência que, no tocante ao bem depositado, deu a ou-
trem, é de inteira responsabilidade sua, não se podendo invocar as regras
jurídicas sôbre responsabilidade somente por culpa in eligendo ou in vi-
gilando, pois a função de guarda e conservação, regida, aí, pelo direito
público, é indelegável. Tal limitação de responsabilidade do depositário
judicial poderia exsurgir, se o juiz, examinando a designação do encarre-
gado pelo depositário, a aprovasse: a aprovação excluiria a responsabili-
dade pela culpa leve e pela culpa in eligendo, posto que deixando de pé
a responsabilidade pela culpa in vigilando e pela culpa inspiciendo. E o
Estado assumiria.
Após o depósito judicial, qualquer acordo entre exeqüente, ou execu-
tado, e depositário, para se prepor alguém a esse, nas funções específicas,
é estranho ao plano processual, e só se processualizaria com a aprova-
ção pelo juiz, em ato que poderia ser válido, se ouvido o executado, ou
o exeqüente (isto é, a outra parte), ou, se não houve tal audiência, neces-
sariamente nulo. Nos casos em que a preposição, ou alguma substituição
funcional do depositário se deu, a aquiescência de uma das partes, por ser
estranha ao processo, de modo nenhum é ato da parte.
Se o exeqüente, em acordo com o depositário judicial, obtém que ter-
ceiro faça as vêzes dêsse, ou auxilie a êsse, na guarda e conservação, sem
audiência do executado e sem aprovação do juiz, ou com essa aprovação
mas sem aquela audiência, ao executado fica livre reclamar do Estado a
reparação dos danos, ou de reclamá-la do depositário, ou do exeqüente,
com fundamento nos arts. 159 e 160 do Código Civil.
Por outro lado, se o executado, em acordo com o depositário judicial,
obtém que terceiro faça as vêzes dêsse, ou auxilie, a êsse, na guarda e con-
servação, sem audiência do exeqüente, com ou sem aprovação do juízo, ao
exeqüente fica livre reclamar do Estado a reparação dos danos, ou reclamá-
-la do depositário, ou do executado, com fundamento nos arts. 159 e 160
do Código Civil.
(B) A função e a responsabilidade do depositário, que foi investido
em processo de medida cautelar, são as que tem o depositário, em caso de
processo executivo.
Panorama atual pelo Atualizador
§ 4.669. A - Legislação
O art. 1.282, I, do CC/1916, corresponde ao art. 647, I, do CC/2002.
O Dec.-lei 8.951, de 28.01.1946, foi revogado pela Lei 3.186/1957, que de
sua vez restaurou a vigência do art. 945 do CPC/1939, que hoje corresponde, em
parte, ao disposto no art. 666, do Código de Processo Civil vigente.
O Dec.-lei 3.077, de 26.02.1941, que vige até hoje, dispõe sobre a obriga-
toriedade de depósito de dinheiro cujo levantamento ou utilização depender de
autorização judicial junto a bancos controlados pelo Estado.
A regra da maioria na administração do condomínio é a do art. 1.323 do
CC/2002 e ss., no que difere sensivelmente do art. 635, §§ 1.° e 2.°, do CC/1916.
Os arts. 159 e 169 do CC/1916 correspondem, com alterações, ao disposto
nos arts. 186 e 188 do CC/2002.
§ 4.669. B - Doutrina
As situações de depósito legal relacionadas pela doutrina são as da coisa
perdida que seu descobridor encontra, até que faça a devolução; dos bens em
depósito voluntário cujo depositário torna-se incapaz; da mercadoria que entregue
ao transportador permanece em seus armazéns (art 751 do CC/2002), dentre ou-
tros (ANDRIGHI, Nancy; BENETTI, Sidnei; ANDRIGHI, Vera. Comentários ao novo Código
Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2008. vol. 9, p. 417-418).
Dentre estes, o depósito judicial decorrente de arresto, seqüestro, penhora, ou
outras medidas executivas sempre foi considerado pela doutrina como situação
a justificar com maior razão a prisão do depositário infiel ( R I Z Z A R D O , Arnaldo. Op.
cit., p. 645), o que se coaduna com a finalidade de preservação da autoridade do j
juízo. Esse entendimento, naturalmente, ora deve ceder em vista da Súmula vin- j
culante 25 do STF que firma o entendimento da ilicitude da medida independente j
da modalidade de depósito.
§ 4.669. C - Jurisprudência
Identifica a jurisprudência, quanto ao depósito judicial, duas espécies, de pa-
gamento e de garantia, conforme a finalidade observada no processo (STJ, REsp j
389.324, 2.aT., j. 25.03.2003, rei. Min. Eliana Calmon, DJU 14.04.2003). Da mesma j
forma, o encargo de depositário judicial não é transmissível por convenção das par- ,
tes (STF, HC 86.160-1/SP, 1.aT.,j. 23.08.2005, rei. Min. Eros Grau, 0^25.11.2005). j
Entende ainda, a jurisprudência, que no depósito judicial de dinheiro cabe ao ban-
co depositário diligenciar no sentido de evitar sua desvalorização (STJ, REsp 95.289/ j
RS, 3.a T., j. 17.06.1997, rei. Min. Eduardo Ribeiro, DJU08.08.1997, fl7"746/201), o j
que dá causa o dever de assegurar a correção monetária (TJSP, Agln 135.338-5/0, j
3.a Câm. Civ., j. 14.03.2000, rei. Des. Pires de Araújo, RT780/236), independente de
ação específica, conforme estabelecem, inclusive, as Súmulas STJ 179 e 271.
No depósito judicial o estabelecimento bancário não é terceiro, mas auxiliar da
justiça, correspondendo-lhe o dever de restituir integralmente os valores deposi-
tados e acrescidos (1.°TACivSP, Agln 580.645-3, 4.a Câm. Civ., j. 19.10.1995, rei.
Des. Sidnei Beneti, RT719/155).
§ 4.670. D E P Ó S I T O E M O C A S I Ã O D E C A L A M I D A D E P Ú B L I C A
§ 4.670. A - Legislação
O art. 1.282,1 e II, do CC/1916, tem seu conteúdo reproduzido no art. 647,1 e
| II, do CC/2002. Indica, Pontes de Miranda, que a responsabilidade pela custódia
j nos casos de depósito em ocasião de calamidade rege-se pelas regras da gestão
| de negócios, previstas nos arts. 1.331 a 1.345 do CC/1916, e cuja disciplina legal,
! atualmente, é a dos arts. 861 a 875 do CC/2002.
| § 4.670. B - Doutrina
j Refere-se a doutrina, neste caso, de depósito miserável, não tendo condições
| o depositante de escolher livremente seu depositário em face de necessidade
; ( A N D R I G H I , B E N E T I , A N D R I G H I . Op. cit., p. 4 1 8 ; L O P E Z , Teresa Ancona. Op. cit., p. 4 1 6 ;
1. D E P Ó S I T O DE O B J E T O S Q U E I N T E R E S S A M AO PROCESSO P E N A L . - A l -
guns objetos são instrumento do crime ou que interessam à prova, devendo
acompanhar os autos do inquérito (Código de Processo Penal, art. 11).
Outros são de porte que não permite que acompanhem o inquérito ou o
processo, a despeito de serem apreendidos, por interessarem ao processo.
Os bens apreendidos e os seqüestrados (Código Penal, arts. 74, EL, e 100;
Código de Processo Penal, arts. 118, 119 e 779) são depositados. Enquanto
em mãos da autoridade policial ou judiciária, responde ela como deposi-
tário necessário.
§ 4.671. A- Legislação
§ 4 . 6 7 1 . B - D o u t r i n a .
A Constituição de 1988, em seu art. 37, § 6.°, manteve a referência à res-
Í ponsabilidade objetiva do Estado para os atos praticados por seus agentes, ou
por pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público. Contu-
do, refira-se que tanto doutrinariamente, quanto na jurisprudência sustenta-se
distinção quanto a atos comissivos e omissivos do Estado, de modo a indicar-se
a responsabilidade independente de culpa apenas em relação aos primeiros,
porém voltando a tratar de responsabilidade subjetiva quando se trate de con-
duta omissiva.
! § 4.671. C- Jurisprudência
Reconhece a jurisprudência a responsabilidade objetiva do Estado pela vio-
j lação dos deveres inerentes ao depósito pelo depositário judicial, que nesta con-
| dição exerce múnus público conferido por lei (STJ, REsp 648.818/RJ, 1.aT., j.
28.06.2005, rei. Min. Francisco Falcão, DJ07.11.2005).
hospeda-
1. C U S T Ó D I A E D E V E R D E PRESTAÇÃO D E T R A N S P O R T E . - A
gem em hotéis, hospedarias, albergues, estalagens, casas de pensão e casas
de cômodo não é a única prestação que pode dar ensejo a responsabilidade
dos empresários.
O devedor da prestação de transporte é responsável pelos danos aos
bens ou às pessoas. Aí, há dever de proteção, que a emprêsa assume uma
vez que se reputa apta a transportar.
Mas aqui temos de distinguir o dever de custódia, que supõe inserção
do bem no lugar em que se presta o serviço, ou que se aluga, e o dever de
proteção, que independe de posse ou tença pelo prestador do serviço ou
do bem locado.
A bagagem posta no porão ou no camarote do navio, ou do ônibus ou
da aeronave, é entregue à emprêsa, que dá ficha ou recibo. O que o passa-
geiro tem consigo, não. Esse dever de proteção não é integrativo do dever
de transportar, de modo que a sua infração pudesse considerar-se infração
do dever de prestar o transporte ( H E I N R I C H STOLL, Abschied von der Lehre
von der positiven Vertragsverletzung, Archivflir die civilistische Praxis,
136, 2 8 7 s.; SPIROS SIMITIS, Die faktischen Vertragsverhãltnisse, 69 s.).
§ 4.672. A- Legislação
§ 4.672. B- Doutrina
§ 4.672. C - Jurisprudência
§ 4.673. A- Legislação
O art. 1.270 do CC/1916, que admite a possibilidade do depositário denunciar
o contrato e restituir o bem por motivo plausível, e havendo resistência do deposi-
tante, requerer depósito judicial, é reproduzido pelo art. 635 do CC/2002.
O art. 1.274 do CC/1916, que disciplina o contrato quando existam mais de
um depositante de coisa divisível, é reproduzido pelo art. 639 do CC/2002, com
alterações de redação que não lhe retiram a identidade de sentido.
A ação de depósito, no Código de Processo Civil vigente, constitui procedimen-
to especial regulado pelos arts. 901 a 906 do CPC - os artigos mencionados por
Pontes de Miranda, neste particular, remontam ao Código de Processo Civil de
1939. No que se refere à ação cominatória para que alguém realize ou se abstenha
de realizar determinado ato, o sentido do art. 302, XII, do CPC/1939 é contemplado
j e ampliado, atualmente, pelo disposto no art. 461 do CPC vigente. A regra geral de
| solidariedade no Código Civil vigente consta nos arts. 275 e 276, que reproduzem
j o disposto nos arts. 904 e 905 do CC/1916. A incapacidade do depositário, a que
| se refere o art. 1.276 CC/1916, é disciplinado pelo art. 641 do CC/2002.
i A Lei 2.313/1954, estabelece que o depósito regular e voluntário de bens de I
' qualquer espécie s e extingue em vinte e cinco anos. Havendo decurso de prazo,
devem ser recolhidos ao Tesouro Nacional, e s e não reclamados no prazo de
cinco anos, s e incorporam ao patrimônio nacional, com exceção das contas de
depósito popular, que são imprescritíveis. ;
§ 4.673. B - Doutrina ,
i
Converge a doutrina com relação às c a u s a s de extinção do contrato de de-
pósito, seja por inadimplemento, pelo advento do termo, mediante exigência do !
depositante, ou a perda da coisa (LÔBO, Paulo. Direito civil - Contratos. São Paulo: j
Saraiva, 2011. p. 408). Por outro lado, quando há morte do depositário, nem sem-
pre se extingue o depósito, no qúe podem seguir s e u s sucessores, especialmente
j para assegurar a guarda e restituição. No caso de incapacidade do depositário a
| extinção do contrato s e dá quando o contrato for exclusivamente intuitu personae
I (PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 15. ed. Rio de Janeiro:
| Forense, 2011. vol. 3. p. 336; VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil - Contratos em
espécie. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 264).
| Por outro lado, nota-se abertura da doutrina para identificar situações que a
I teor do art. 635, do CC/2002, possam constituir motivo plausível para o deposi- j
tário requerer o depósito judiciar caso não possa guardar a coisa, e recuse-se o
j depositante a recebê-la, que de regra guardam sentido com a superveniência da j
! incompatibilidade do exercício do dever de guarda.
| § 4.673. C - Jurisprudência I
í j
| Precedentes judiciais assentam que a morte do depositário não extingue ne- |
| cessariamente a ação de depósito, que segundo a jurisprudência, pode prosseguir j
contra os herdeiros, visando à cobrança da dívida (TRF-4. 3 Reg., ApCiv 0013751- |
19.1998.404.7100; j. 30.08.2010, rei. Marga Inge Barth Tessler, DE 13.09.2010). j
! Da mesma forma, orienta-se a jurisprudência, no depósito irregular, que quando os J
| bens, por ato de império, ficam sob guarda do Estado, não responde o depositário |
| original (banco) pelo dever de custódia (STJ, REsp 53.282/SP, 3. a T., j. 28.11.1995, j
rei. Min. Cláudio Santos, DJ 05.02.1996). Não é o caso de correções de valores j
! depositados em conta, pela incidência de planos econômicos governamentais, pe- j
los quais a instituição financeira tem legitimidade ativa para responder (STJ, REsp j
; 253482/CE, 4,E T., j. 03.08.2000, rei. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ25.09.2000). j
No depósito bancário, provado o depósito cabe ao depositário restituir ou provar j
| transferência dos valores ao Tesouro Nacional, nos termos da Lei 2.313/1954 |
| (TJRS, ApCiv 70045323128, 20. a Câm. Civ., j, 14.12.2011, rei. Carlos Marchionatti).
§ 4.674. PARTICULARES EVENTUALIDADES
NO TOCANTE À RESTITUIÇÃO
2 . R E S T I T U I Ç Ã O AO TERCEIRO R E F E R I D O N O C O N T R A T O . - S e o b e m
foi depositado em nome de terceiro, houve contrato a favor de terceiro e
regem os arts. 1.098-1.100 do Código Civil. A substituibilidade do terceiro
somente ocorre se foi reservado pelo depositário o direito de substituição.
Se foi convencionado que não se restituiria ao depositante o bem de-
positado sem que houvesse assentimento ou consentimento do terceiro, não
houve, propriamente, contrato a favor de terceiro, porque não se falou de
restituibilidade ao terceiro, mas sim ao depositante, com a anuência do ter-
ceiro. Algumas vêzes é recomendável essa cláusula, que reconhece interes-
se do terceiro sem que o contrato seja a favor dele. Não tem o terceiro pre-
tensão à restituição, mesmo em alternativa com a pretensão do depositante.
Se no contrato de depósito ou em pacto adjecto foi dito que o depósito
é feito também no interêsse de terceiro, sem cláusula de substituibilidade
(Código Civil, art. 1.100), o depositário não pode restituir ao depositante
o bem depositado, sob pena de ter de ressarcir os danos ao terceiro, se não
mais pode ser satisfeita a exigência do terceiro. Se o depositário quer resti-
tuir o bem, nos casos em que o pode fazer, tem de comunicar a sua vontade
ao depositante e ao terceiro.
§ 4.674. C - Jurisprudência
A ação de depósito pode prosseguir contra os herdeiros do depositário, vi-
sando à cobrança da dívida (TRF-4.a Reg., ApCiv 0013751-19.1998.404.7100, j.
30.08.2010, rei. Marga Inge Barth Tessler, DE 13.09.2010). No depósito bancário,
o banco depositário que utiliza dinheiro depositado para satisfazer a dívida em que
é credor responde por perdas e danos perante o correntista (TJSC, 2007.040443-
6, 1.a Câm. Civ., j. 07.07.2010, rei. Carlos Prudêncio), inclusive quando feito por
terceiro em seu favor (STJ, REsp 250.523/SP, 4. a T„ j. 19.10.2000, rei. Min. Ruy
Rosadode Aguiar Jr., DJ 18.12.2000)
B I B L I O G R A F I A D O T O M O XLIX
(Somente dos livros consultados)
Abbott, Lord Tenterden, A Treatise ofthe Law relative to merchant ships and seamen,
veja n. 7148.
7227. Adam, Paul, Die Natur der Reallasten (A Natureza dos ônus reais), Schwerin,
1885.
7228. A f f o l t e r , A., Das verzinsliche Darlehen (O Mútuo com juros), Archiv für Bürger-
liches Recht, 26 (1905), 1-6.
7229. Andreoli, M., La Delegazione, Padova, 1937.
Arangio Ruiz, Vincenzo, Responsabilità contratuale nel diritto romano, veja n. 4830.
Arnold, Wilhelm, Zur Geschichte des Eigéntums in den deutschen Stãdten, veja n.
7150.
7230. A s c a r e l l i , T u l l i o , Cambiale, Assegno bancado, Titoli di credito, extr. do Nuovo
Digesto Italiano.
7231. Asquini, A l b e r t o , Pagamenti mediante rimborso di banca, Rivista dei Diritto
commerciale, 1922,1, 244 s.
7232. Bach, A., De VOuverture de credit, Paris, 1892.
Balbi, Giovanni, UObbligazione di custodire, veja n. 4617.
Barassi, Ludovico, La Teoria Generale delle Obbligazioni, veja n. 4620.
Barbero, Domenino, Sistema istituzionale dei Diritto privato italiano, veja n. 2535.
Bem Ferreira, Agostinho de, Suma da Instituía, veja n. 1960.
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Festschrift für J u l i u s v o n G i e r k e , B e r l i n , 1 9 5 0 , 1 s.
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Betti, Emílio, Teoria generale delle Obbligazioni, Milano, veja n. 4627.
Beviláqua, Clóvis, Código Civil Comentado, veja n. 37.
Bigiavi, W a l t e r , La Delegazione, veja n. 4844.
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romano, Studi Paoli, 1956, 97-104.
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Boehmer, Gustav, Realvertrãge im heutigen Rechte, veja n. 990.
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Livros N ã o - J u r í d i c o s
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CXXXm. B l o d g e t t , R a l p h H., Comparative Economic System, New York, 194?.
CXXXIV. B o u l d i n g K e n n e t h E., Economic Analysis, New York, 1941.
CXXXV. Daremberg e t Saglio, Dictionnaire des Antiquités grecques et. romaines,
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ÍNDICES
Alfabético dos Autores citados
Cronológico da Legislação
Cronológico da Jurisprudência
A b b o t t , L o r d T e n t e r d e n , § 4.605, B i o n d i , B i o n d o , § 4 . 6 3 3 , 1.
3. B l o d g e t t , R a l p h H „ § 4 . 5 9 7 , 3.
B u l l a , G u s t a v A d o l f , § 4 . 6 5 8 , 1.
B ' A m e l i o , M„ §4.618, 6.
B y n k e r s h o e k , C. v a n , § 4 . 6 6 6 , 1 .
D a n k w a r d t , H., § 4 . 5 8 9 , 1 .
C a i l l e m e r , E., § 4 . 6 0 2 , 1 . D a n z , E., § 4.635, 5.
C a p e l l e , K a r l H è r m a n n , §§ 4.642, D a r e m b e r g e S a g l i o , § 4.602,1.
1, 3, 5; 4.643, 2; 4.650, 3; 4.651, 1;
4.653, 3. D a r e s t e , R., §§ 4.602,1; 4.605, 6.
C a r n e l u t t i , F r a n c e s c o , §§ 4 . 5 8 8 , 3; D e d e k i n d , J. L. J., § 4 . 6 6 6 , 1 .
4.615, 2. D e Vries, §4.602, 1.
C a r r e s i , F r a n c o , §§ 4.588, 3; 4.592, D e i t e r , G e o r g , § 4.590,1.
1; 4.595,1.
D e m o g u e , R e n é , § 4 . 6 5 6 , 3.
C a r v a l h o d e M e n d o n ç a , J. X . ,
§§ 4.595, 2; 4.618, 6; 4.620, 2, 3; D e m ó s t e n e s , §§ 4.602,1; 4.605, 6.
4.635, 5. D e r n b u r g , H., §§ 4.587, 3; 4.590,
C a r v a l h o S a n t o s , J. M . d e , § 4 . 6 6 3 , 9; 4.591, 5, 6; 4.599, 2; 4.601,2;
5. 4.639, 1; 4.655, 1; 4.663, 3; 4.667,
2.
C a s a n o v a , M a r i o , § 4 . 6 5 6 , 3.
D e R u g i e r o , R o b e r t o , §§ 4 . 5 8 8 , 3 ;
C a u v e t , J„ § 4.605, 7.
4.600, 4.
Celso, §§ 4.591,5; 4.635, 6; 4.640,3;
4.662, 2; 4.663, 1. D e Simone, M a r i o , § 4.656,1.
C o l a g r o s s o , E n r i c o , §§ 4 . 6 2 4 , 7, 9; D e v o t o , L u i g i , §§ 4.624, 6; 4.628,1.
4.625, 2. D i e t z e l , G„ § 4 . 5 9 1 , 5 .
C o m m o n s , J o h n R., § 4 . 5 9 7 , 5.
D o n a d i o , G i u s e p p e , §§ 4 . 5 2 5 , 1 ;
C o p p a - Z u c c a r i , § 4.656, 3. 4.627, 2; 4.630, 2, 6; 4.631, 7.
C o r r e i a T e l e s , § 4 . 5 9 1 , 5. D u e c k e r s , H. J. H„ § 4.591, 5.
C o r s a n i , G a e t a n o , § 4 . 6 2 6 , 1. D ü r i n g e r , A., § 4 . 6 2 1 , 2 .
C o r d i e r , R., § 4.666, 3. D ü r i n g e r , A . , - H a c h e n b u r g , M . , §§
C o s a c k , K o n r a d , §§ 4.586, 1; 4.634, 4.615, 3; 4.618, 5; 4.642, 5.
1; 4.665, 1.
E d e l m a n n , H a n n s , § 4 . 6 3 3 , 1.
C o u r c y , A. d e , § 4.605, 6, 7.
C o v i e l l o , N i c o l a , § 4 . 6 2 4 , 4.
E h r e n b e r g , V., § 4 . 6 1 0 , 4 .
F r a g a l i , M i c h e l e , §§ 4.591,4; 4.595,1. H a e b e r l i n , H . U . , § 4 . 6 4 0 , 3.
F r a n ç o i s , A . L e , § 4 . 6 3 1 , 5. H a r t , H j e r b e r t , § 4 . 6 5 2 , 2.
H a r t e n f e l s , § 4 . 6 4 2 , 1.
F r e d e r i c k , K a r l C „ § 4 . 6 5 2 , 3.
Heck, Ph., §§ 4.588, 2; 4.590, 1.
F r i e d l i e b , E „ § 4 . 6 0 8 , 6.
H e f e r m e h l - S c h l e g e l b e r g e r , §§
F u n a i o l i , C. A . , § 4.5188, 3.
4.621, 2; 4.643, 2; 4.650, 3; 4.651,
4.
G a f n e r , h., § 4.647,7.
H e f e r m e h l , W o l f g a n g , § § 4 . 6 1 5 , 2;
Gaio, §4.585,1.
4.617, 1; 4.620, 1.
G e i b , O t t o , § 4 . 5 8 9 , 8.
Henne, R. Chr., § 4.666,1.
G e r b e r , F. C., § 4.608, 6. H e r o l d , H e r m a n n , § 4 . 6 3 0 , 2.
G i a n n i n i , T., § 4 . 6 3 1 , 2. H e s s h e y , O m e r F., § 4 . 6 4 7 , 4 .
G i a n u z z i , A d o l f o , § 4 . 5 8 9 , 6. H i l d e b r a n d t , W o l f g a n g , § 4 . 5 8 9 , 9.
HOLZSCHUHER, F. R. VON, § 4 . 6 3 5 , 5. LARENZ, KARL, §§ 4 . 5 9 0 , 1 , 3; 4.601
HUDTWALCHEB, M . J., § 4 . 6 0 2 , 1.
2; 4.634, 1.
QUARANTOTTI, § 4 . 6 5 4 , 3.
SCIALOJA, A., §§ 4.591,4; 4.595,1;
4.630, 4.
RAMELLA, A., §4.621,2. SCHWANERT, H . A . , § 4 . 5 9 1 , 5.
WÜRDINGER, HANS, §§ 4 . 6 1 0 , 4;
VALABRÈGUE, E., § 4 . 6 1 6 , 5.
WOLFF, §§ 4.643,2; 4.650, 3; 4.643,2;
VASSALLI, F., §§ 4.588, 8; 4.592,1; 4.649, 5.
4.595, 1.
VENZI, GIULIO, § 4 . 5 8 8 , 2, 3. ZOLLER, FR. G „ § 4 . 6 6 6 , 1 .
ÍNDICE ALFABÉTICO D O S A U T O R E S
NO P A N O R A M A ATUAL
- §§ 4.624. B; 4.632.
 B R à O , NELSON 4.663. B; 4.664. B; 4.666. B;
B; 4.641. B; 4.642. B; 4.653. B; 4.669. B; 4.670
4.662. B ANDRIGHI, V E R A - §§ 4.587. B;
AGUIAR J Ú N I O R , R U Y R O S A D O DE - §§ 4.588. B; 4.591. B; 4.595. B:
4.589. B; 4.590. B; 4.600. B; 4.655. B; 4.656. B; 4.657. B
4.645. B 4.659. B; 4.661. B; 4.662. B
4.663. B; 4.664. B; 4.666. B
ALVES, J O S É C A R L O S M O R E I R A - §
A S S I S , ARAKEN D E - § 4.672. B
4.663. B
- §§ 4.587. B;
ANDRIGHI, N A N C Y BALTAZAR JÚNIOR, J O S É PAULO - §
4.588. B; 4.591. B; 4.595. B 4.659. B
4.655. B; 4.656. B; 4.657. B BARBOSA - §§ 4.588. B; 4.595. B;
4.659. B; 4.661. B; 4.662. B 4.600. B; 4.656. B; 4.658. B;
4.661. B; 4.662. B; 4.663. B; - §§ 4.622. B; 4.655.
LÔBO, P A U L O
4.674. B B; 4.656. B; 4.659. B; 4.661.
- §§ 4.589.
B A R R E T O , LAURO M U N I Z B; 4.662. B; 4.667. B; 4.668. B;
B; 4.624. B; 4.633. B; 4.665. B 4.673. B
BENETTI, SIDNEI - §§ 4.587. B; LOPEZ, TERESA ANCONA - §§ 4.588.
4.588. B; 4.591. B; 4.595. B; B; 4.589. B; 4.592. C; 4.595.
4.655. B; 4.656. B; 4.657. B; B; 4.655. B; 4.656. B; 4.657. B;
4.659. B; 4.661. B; 4.662. B; 4.658. B; 4.659. B; 4.660. B;
4.663. B; 4.664. B; 4.666. B 4.661. B; 4.663. B; 4.665. B;
4.666. B; 4.667. B; 4.670. B;
BIANCA, C E S A R E M A S S I M O - § 4.588.
B 4.674. B
L. 7, §§ 12-14, D., de senatus consulto L. 1, § 47, D., depositi vel contra, 16,
Macedoniano, § 4.591, 5. 3: § 4.663, 5.
L. 7, § 14, D., de senatus consulto L. 2, § 24, D., depositi vel contra, 16,
Macedoniano, 14, 6: § 4.591, 5. 3: § 4.674, 3.
L. 7, § 16, D., de senaUis consulto L. 12, § 1, D., depositi vel contra, 16,
Macedoniano, 14, 6: § 4.591, 1. 3: §4.663, 3.
L. 19, D., de senatus consulto L. 26, § 1, D., depositi vel contra, 16,
Macedoniano, 14, 6: § 4.591, 5. 3: §§4.654, 1; 4.665, 2.
L. 1, § 1, D., depositi vel contra, 1.°, 3" L. 28, § 1, D., depositi vel contra, 16,
§4.654,1. 3: § 4.666, 2.
L. 1, § 6, D., depositi vel contra, 16, 3" L. 32, D., depositi vel contra, 16, 3: §§
§ 4.662, 3. 4.662, 2; 4.663,1.
L. 1, § 34, D., depositi vel contra, 16, L. 1, § 34, pr., D., mandati vel contra,
3: § 4.665, 5. 17, 1: §4.585, 1.
L. 12, § 5, D., mandati vel contra, 17, L. 1, § 5, D., de obligationibus et
1: § 4.634, 8. actionibus, 44, 7: § 4.662, 2.
L. 12, § 12, D., mandati vel contra, 17, L. 68, D., de verborum obligationibus,
1: § 4.635, 5. 4 5 , 1 : § 4.585, 1.
L. 34, pr., D., mandati vel contra, 17, L. 122, § 1, D., de verborum
1: § 4.662, 3. obligationibus, 4 5 , 1 : § 4.602,2.
L. 7, C, ad senatus consultam
L. 1, D., de náutico faenore, 22, 2: §
Macedonianum, 4, 28: § 4.585, 1.
4.602, 2.
4.613, 1.
Código Criminal do Império de 1830,
art. 654: § 4.607, 3. art. 258: § 4 . 6 6 5 , 1 .
art. 655: §§ 4.605, 7; 4.607, 3.
Código Penal, art. 11: § 4.671,1.
art. 656, l. a alínea: § 4.606, 1.
- art. 74, II: § 4.671, 1.
art. 656, 2.a alínea: § 4.606,1.
- art. 100: § 4.671, 1.
art. 656, inciso 1.°, 2.a parte: §
4.606,1. - art. 168: § 4.671, 2.
art. 656, inciso 2.°, 2.a parte: § - art. 168, § 1.°, I: § 4.671, 2.
4.606,1. - art. 168, § 1.°, II: § 4.671, 2.
a
art. 656, inciso 3.°, 2. parte: § - art. 168, § 1.°, III: § 4.671, 2.
4.606,1. - art. 258: § 4.665, 1.
6 . CÓDIGO DE P R O C E S S O CIVIL - art. 842, XVII: § 4.669, 2.
- art. 895, IV: § 4.610, 4.
Código de Processo Civil, art. 2.°: §
4.669, 2. - art. 930: § 4.663, 5.
- art. 9 0 2 - § § 4.657. A; 4 . 6 6 3 . A;
6 . CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL
4.673. A
- art. 9 0 4 - § § 4 . 6 5 7 . A; 4 . 6 6 3 . A, B;
7 . CÓDIGO PENAL
4.673. A
Lei 4 . 8 2 9 / 1 9 6 5 Lei 9 . 9 8 3 / 2 0 0 0 - § 4 . 6 7 1 . A
- art. 9.° - § 4.586. A
Lei 1 0 . 1 9 2 / 2 0 0 1 - § 4 . 6 2 3 . A
I Lei 10.931/2004 - §§ 4.598. A; Dec.-lei 7.661/1945 - §§ 4.626. A;
! 4.630. A 4.631. A
- art. 4 3 - § 4.653. A
| Lei 1 1 . 1 0 1 / 2 0 0 5 - § 6 . 6 2 4 . C - art. 102, § 2 . ° , I I I - § 4 . 6 5 2 . A
| - art. 7 7 - § § 4.595. A; 4.631. A;
1
- art. 1 6 5 - § 4 . 6 2 6 . A
4.632. A
i - art. 83, IV, c - § 4.652. A j Dec.-lei 8 . 9 5 1 / 1 9 4 6 - § 4.669. A
| - art. 1 1 7 - § § 4 . 6 3 9 . A; 4.653. A
- art. 121 - § § 4 . 6 1 9 . A; 4 . 6 2 2 . A;
Dec.-lei 413/1969 - § 4.586. A
4.631. A
t Dec.-lei 857/1969 - §§ 4.586. A;
4.587. A; 4.623. A
Lei 11.232/2005 - § 4.625. A
- art. Z.° - § § 4 . 6 2 3 . A; 4.644. A
Lei 1 1 . 3 8 2 / 2 0 0 6 - § 4 . 6 1 5 . A
Dec.-lei 911/1969 - § 4.663. A,
Lei das S.A. - Vide: Lei B, C
6.404/1976
1 3 . DECRETOS
Lei de Falências e Recuperação
Empresarial - Vide: Lei Dec. 1 . 1 0 2 / 1 9 0 3 - 4 . 6 6 2 . C
11.101/2005
Dec. 22.626/1933 - § 4.597. A, C
1 1 . MEDIDAS PROVISÓRIAS
Dec. 57.663/1966 - § 4.649. A
MedProv 2.170-36/2001
Dec. 678/1992
- art. 5.° - § § 4 . 5 8 8 . A; 4 . 6 1 9 . A;
4.631. A - art. 7.°, § 7.° - § 4.663. C
1 2 . DECRETOS-LEI - a r t . 7.°, § 7 . ° - § 4 . 6 6 3 . A, B
Súmula 3 7 9 - § 4.600. C
S U P E R I O R T R I B U N A L DE J U S T I Ç A
Beteilungsgesellschaft, § 4.597,4.
Bagagem: e depósito necessário, §
4.672. Bilateralização do contrato de mútuo,
§ 4.586, 1.
Bagagem de hóspedes: e depósito ne-
cessário, § 4.667, 2. Bodmerei, §§ 4.605, 6; 4.613, 1.
Bagagens de viajantes: e depósito ne- Bottomry bond, § 4.613, 1.
cessário, § 4.667, 2.
Lombardgeschãft, § 4.642, 5.
Juros-, e mútuo, capitalização, §§ 4.588, Lugar dado sem assunção de dever de
2; 4.597. custódia, § 4.661, 8.
ÍNDICE A L F A B É T I C O DAS M A T É R I A S
NO PANORAMA ATUAL
BANCÁRIO
I CARTA DE CRÉDITO - §§ 4.635. B;
- Revogação da p r o m e s s a de | 4.641. B; 4.651. A
mútuo - § 4.601. B
; - Abstração-§4.651. A
BANCO ; - Boa fé objetiva - § 4.654. B
- de países diferentes - Relação - § ; - Cancelamento - Possibilidade - §
4.644. A 4.645. C
- Serviço de cofre - Depósito - I - Contrato - § 4.642. B
Distinção - § 4.661. B
i - Cumprimento pelo banco emissor
i - § 4.654. C
BEM
- de e x p o r t a ç ã o - § 4.641. B
- Depósito - § 4.674. A, B
- Destruição - § 4.654. B
- Depósito - Transferência - §
4.664. B - Dever de substituição - § 4.654. B
- Perda-§ 4.654. B
CÓDIGO DE DEFESA DO
- Título - Valor protestado - § 4.638. C CONSUMIDOR
- Acreditivo - Contrato de abertura
CASO FORTUITO - § 4.666. B
de crédito para financiamento - §
- Depositário - Exclusão de 4.641. B
responsabilidade - § 4.662. A
- Contrato bancário - § 4.665. C
- Responsabilidade do depositário
- Contrato de abertura de crédito
- § 4.663. A
para financiamento - Acreditivo -
§ 4.641. B
CÉDULA DE CRÉDITO
- Financiamento - Contrato de
- Contrato de mútuo - Prova - §
abertura de crédito - § 4.641. B
4.593. C
- incidência - Abertura de crédito -
- bancário - Instituição financeira -
§ 4.630. A
§4.598. A
- Incidência - Crédito documentário
- bancário - Título de crédito
- §§ 4.633. C; 4.641. C
extrajudicial - Promessa de
pagamento - § 4.630. A
COFRE DE SEGURANÇA
- bancário - Título executivo
extrajudicial - § 4.598. A - Depósito-§ 4.658. C
- Dever de custódia - § 4.658. C
CESSÃO - L o c a ç ã o - § 4.658. C
- Assinação - § 4.637. A, B
- Cláusula proibitiva - § 4.637. A COISA
- de crédito - §§ 4.618. A; 4.637. A, - Conservação-Deveres-§4.661. A
B; 4.650. A, B - depositada - Restituição - § 4.662. B
- de crédito - Distinção de contrato - divisível - Depósito - § 4.673. A
de desconto - § 4.589. A
- fungível - Depósito - § 4.664. B
- de direito-§ 4.637. A
- fungível - G a r a n t i a - Depósito-§
- de direito-Assinação-§4.637. A 4.665. C
- Guarda-Deveres-§4.661. A
CHEQUE DE VIAGEM - § 4.633. B
- perdida - Depósito legal - § 4.669.
B
CLÁUSULA
- abusiva - Nulidade - § 4.597. B, C
COLIGAÇÃO DE CONTRATO - § 4.642.
- abusiva - Revisão - Renovação B
de contrato - § 4.628. C
- "salve embolso" - Condição COMÉRCIO INTERNACIONAL - §§
resolutiva - § 4.618. B 4.633. B, C; 4.634. B; 4.641. A
i - Crédito documentário - CONSUMIDOR
: Regulamentação - § 4.644. C
- Abertura de crédito - §§ 4.629. C;
4.630. A .
COMÉRCIO MARÍTIMO - § 4.596 A
- Acreditivo - Contrato de abertura
' - Câmbio marítimo - § 4.596 A de crédito para financiamento - §
: - Empréstimo de risco - § 4.596 A 4.641. B
- A s s i n a ç ã o - § 4.633. A
C O M I S S Ã O - § 4.630. A - Conta corrente bancária -
- de Comércio Internacional - § Contrato-§4.619. A
4.644. A - Contrato de abertura de crédito -
- de crédito - § 4.630. B § 4.630. B
- Moeda estrangeira - § 4.630. A - Contrato d e abertura de crédito
para financiamento - Acreditivo -
COMODATÁRIO § 4.641. B
- Garantia - Responsabilidade do
DINHEIRO f i a d o r - § 4.627. C
- Depósito - §§ 4.664. B; 4.665. B
- Vencimento antecipado-§ 4.600. B
- Depósito bancário - § 4.664. C
- Vencimento antecipado -
- Mútuo - Depósito - § 4.665. A Hipóteses - § 4.595. A
DIREITO
D O C U M E N T O PARTICULAR - § 4 . 5 9 8 . A
- bancário- Assinação-§ 4.633. B
- Título executivo extrajudicial - §
- bancário - Conta corrente - §
4.598. A
4.619. B
- bancário - Contrato - Juros
E C O N O M I A GLOBALIZADA - § 4.597. B
moratórios - § 4.600. C
- bancário - Depósito - § 4.665. B
E F I C Á C I A VINCULATIVA DA O F E R T A
- bancário - Revogação da
promessa de mútuo - § 4.601. B - Revogabilidade - Direito do
consumidor - § 4.601. B
- cambiário-Assinação-§4.634. A
- Revogabilidade da promessa de
- de crédito - § 4.623. A
contrato-§4.601. A
- de resolução do credor - § 4.600.
C EMBARCAÇÃO
- do p o s s u i d o r - P o s s e - D e f e s a - § E N D O S S O - § 4.649. A
4.674. A - Aceitação - Forma - § 4.649. A
j ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA - §§ - Resolução - § 4.600. B s
FIANÇA - § 4.630. A
EXECUÇÃO - § 4.598. A
- Constituição sem a participação
- Título executivo extrajudicial - § de ambos os cônjuges - Ineficácia
4.598. A - § 4.628. C
- do pré-contrato - § 4.599. A, B - Mútuo - § 4.666. A
- moratórios - § 4.600. A
INDÉBITO
- moratórios - Contrato bancário -
- R e p e t i ç ã o - § 4.599. A § 4.600. C
- moratórios - Taxa - § 4.600. A
INFORMAÇÃO AO CONSUMIDOR
- M ú t u o - § 4 . 5 8 8 . A, B
- Lançamento em conta corrente - - Mútuo destinado afins econômicos
§4.619. A ' - § 4.625. A
- Pagamento - § 4.625. B, C
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA - § 4.622.
- Restituição - Pagamento - §
B
4.600. A
- Cédula d e crédito bancário - §
- Restituição d e pagamento - §
4.598. A
4.599. C
- Depósito - § 4.665. B
- Restituição de pagamento -
- Depósito bancário - § 4.673. C Mutuário - § 4.599. A
- Juros-Limitação-§4.619. A
LANÇAMENTO
- Responsabilidade objetiva - §
4.622. B, C - d e título em conta corrente - Pro
solverido - § 4 . 6 1 8 . B
- S i g i l o - § 4.629. A
- em conta c o r r e n t e - § 4.618. C
J U R O S - §§ 4.597. A, B, C; 4.630. C - em conta corrente - Informação
- abusivos - Conta corrente bancária a o consumidor - § 4.619. A
- Direito do consumidor - § 4.619. B
LEGITIMIDADE
- Capitalização - § 4.631. A
- Capitalização - Conta corrente - Carta de crédito - § 4.642. C
b a n c á r i a - § 4.619. C - Crédito documentário - § 4.643. C
- Capitalização - Instituição - Cumprimento de carta de crédito -
f i n a n c e i r a - § 4.619. A § 4.642. C
- Contrato - instituição financeira - - ativa - Crédito documentário -
§ 4.597. A, C Cumprimento da carta de crédito
- Controle - § 4.597. A, B, C - § 4.641. C
OFERTA-§4.618. A PENHOR
- de c r é d i t o - § 4.590. A - Nota promissória - Contrato de
- Eficácia vinculativa - Direito do abertura de crédito - § 4.59S. C
consumidor-§ 4.601. B
| PENHOR MERCANTIL - §§ 4.59S. B:
- Eficácia vinculativa
Revogabilidade da promessa de j 4.665. C
contrato - § 4.601. A I - Mútuo - § 4.598. B
P E N H O R A - § 4.669. B - da função social do contrato - § ;
4.591. B !
- Depósito judicial - § 4.669. B I
- do dever de colaboração entre os I
- Títulos - Regulamentação legal -
contratantes - § 4.600. B j
§ 4.627. A
- do dever de lealdade entre os
- Valores escriturados em conta
contratantes - § 4.600. B
corrente - Possibilidade - §
4.615. A - do nominalismo - § 4.600. B
- do res perit domino - §§ 4.662. B;
PERDAS E DANOS 4.666. B; 4.674. B
QUITAÇÃO-§4.599. A
RESOLUÇÃO •
RECONHECIMENTO D E DÍVIDA - § - Direito do credor - § 4.600. C
S A F R A FUTURA
- d o f o r n e c e d o r por a t o s d e s e u s
p r e p o s t o s - § 4.591. B
- Ação d e depósito - § 4.663. C - do fornecedor por atos d e s e u s
representantes autônomos - §
S E G U R O S MARÍTIMOS - § 4.602. B 4.591. B
- p a s s i v a N a t u r e z a - § 4.616. A
SELIC
- Taxa de j u r o s - § § 4 . 6 0 0 . A; 4.619. A SUB-ROGAÇÃO
- b a n c á r i o - § 4.659. B
TEORIA
- Instituição f i n a n c e i r a - § 4 . 6 2 9 . A
- d a aparência - § 4.591. B, C
- da imprevisão - Revisão do
SILÊNCIO
contrato - Dívida decorrente da
- Anuência - § 4.618. A abertura d e crédito - § 4.636. C
- Contrato d e conta corrente - § - do adimplemento substancial - §
4.621. A 4.600. B
TÍTULO TRANSFERÊNCIA
- Assinação — § 4.837. A
- cambial - Assinação - § 4.634. A
- Bem — Depósito — § 4.634.3
- Carta de crédito - Valor protestado
- § 4.638. C
TRANSPORTE
- de crédito - Abstração - Contrato
de m ú t u o - § 4.597. C - Bagagem — Dano—§ 4.572. A 3, C
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