Bem Jurídico Penal
Bem Jurídico Penal
Bem Jurídico Penal
ARGUMENTATIVA
Yuri Castro Carneiro
1. INTRODUÇÃO
Desta forma, apesar de não ser uníssono na doutrina a definição do que seja o
referido termo, ao partirem da mesma ideia, em síntese de: “Elemento identificador
das condutas criminosas”, ou seja, a centralidade do que seria uma conduta
penalmente relevante, podemos identificar em distintas ramificações da academia
conceitos que são relevantes a nível de estudo e debate da estrutura do tipo penal e
da proteção dos indivíduos que são submetidos a organização comportamental que
pretende elucidar aquele tipo, tal qual a definição sucinta, porém esclarecedora de
Nelson Hungria (1958), citada por Yuri Carneiro Coelho (2003, p. 126.) quando trata
o bem jurídico como item que “incide sob a proteção do direito in genere”, a
conceituação do referido autor é prática e adequada ao entendimento do termo na sua
assunção fática como limitador da extensão da norma, sob quem se deve punir
mediante qual comportamento a partir da violação de qual item, sendo este item o
bem jurídico definido no tipo, objetiva ou subjetivamente, portanto, é o bem jurídico
para Nelson Hungria, a substancia digna de proteção no interior da norma.
Bem jurídico penal é um valor tutelado pelo direito penal, que possui seu substrato
na Constituição, ancorado na realidade social, sendo o elemento material da estrutura
do delito e que tenha a capacidade de relativizar o princípio da liberdade e de
concretizar o princípio da dignidade da pessoa humana enquanto valor fundamental
para a convivência pacífica em sociedade. (COELHO, 2003, p. 130).
1.2.Funções do bem jurídico
2.1 Iluministas
Há neste momento histórico, talvez a relação mais simplória entre o direito
penal e a tutela dos indivíduos que devem ser abordados a nível de proteção justa e
eficiente por parte do Estado. Como é sabido, a transição do absolutismo Europeu,
este que é marcado por uma organização coercitiva fundamentada na moral religiosa
e que, consequentemente pautava as infrações penais em valores teológicos além da
concentração de poderes nas mãos do chefe de estado, para o Estado liberal,
racionalista, que detém o crédito histórico pela exposição da doutrina defensora dos
direitos inatos, subjetivos, dos indivíduos ao mundo, e da consequente transformação
do direito cunhado na moral religiosa para um direito privatista e metafísico, pode ser
melhor entendida se colocado no presente plano as noções de bens jurídicos
compreendidas no referido momento histórico.
Deste ponto partimos para o que será de maior importância neste trabalho
cientifico, se justificado o Estado através do contrato social, e discernida sua função
primordial, a limitação do direito de punir do Estado, questiona-se, através do quê?
2.2 Birnbaum
Este é tido por boa parte da doutrina como patrono da concepção do termo bem
jurídico, e faz em seu processo de edificação da significação da palavra críticas
veementes a Feuerbach (autor que será tratado posteriormente para fins didáticos),
já que, Birnbaum “buscou a construção de uma nova concepção de crime, pautada na
lesão de um bem jurídico, e não de um direito subjetivo” (COELHO, 2003, p.39).
2.3 Binding
2.4 Neokantianos
Da mesma forma que o bem jurídico positivista, e aqui inclusive uma das
semelhanças entre as respectivas correntes de pensamento, a valoração cultural não
resulta num limite a possibilidade de punir estatal, pois, não há perspectiva de
determinar a natureza material do bem jurídico, e muito menos, da emissão de juízos
de valor analíticos sobre o binômio positivo-negativo da respectiva cultura e do
comportamento e/ou bem jurídico protegido a partir desta, tornando esta uma
justificativa absurdamente vaga.
3. ÉTICA ARGUMENTATIVA
O corpo, deste modo, é um recurso escasso, recurso pois é meio utilizado para
que obtenhamos o fim desejado, e escasso pois não pode atingir dois fins ao mesmo
tempo, assim, podemos inferir que os conflitos surgem na medida que indivíduos
tentam utilizar o mesmo recurso para fins conflitantes, o que apenas pode ocorrer com
recursos escassos. Deste modo, uma ética, classificada como regramento de normas
destinadas a dizer o que não se deve fazer, carece apontar quais comportamentos
devem ser seguidos para não gerar conflitos, podendo ser aplicada a todos os seres
humanos a todo tempo sem que nesta incorra conflitos internos, já que estes violariam
a definição do que é ética.
A ética qual nos referimos está implícita a priori na argumentação, onde esta
explicita que, indivíduos que argumentam, mesmo que não concordem em
absolutamente nada, terão que concordar sobre a existência deste consenso, e que
este é, portanto, um ato livre de conflitos. A única categoria capaz de reiterar a
veracidade do que foi alegado seria o controle exclusivo sobre o próprio corpo e o
consequente reconhecimento quanto a apropriação do outro perante si, visto que sua
negação implicaria em duas possibilidades segundo Murray Rothbard:
Uma certa categoria de pessoas tem o direito de ter a propriedade sobre outra
classe, ou; todos tem o direito de possuir sua própria fração sobre todos os
outros indivíduos. A primeira alternativa implica que enquanto uma classe
merece o direito de ser humana, a que difere é, na realidade, sub-humana.
Porém como eles são de fato seres humanos a primeira alternativa se
contradiz ao negar direitos humanos para quem efetivamente o é. [...] A
segunda alternativa sustenta que todos os homens deveriam ter o direito de
possuir a propriedade de uma parcela igual de todos os outros. [...] podemos
afirmar que este ideal se considera um disparate; afirma que cada homem
tem o direito de ter propriedade sobre parte de todos os outros, e, no entanto,
ele não tem o direito de ter propriedade sobre si mesmo. (ROTHBARD, 2013.
P. 43)
4. FEUERBACH
Ainda para Feuerbach, o delito seria, a priori, elemento separado das concepções
teológicas e morais, e definir-se-ia como “lesão de um direito subjetivo que decorre da
teoria contratualista aplicada no âmbito penal”, conforme entendimento de Luiz Regis
Prado. E Feuerbach, em concórdia com a tese que será abordada, acerta ao
considerar os direitos subjetivos como os bens jurídicos mais eficazes a consecução
de garantia das liberdades individuais, encerrando a lista nestes a priori, pois pode-se
valorar e ponderar a existência de bens jurídicos outros a partir de um consenso
universal mediante cada micro e/ou macrosociedade que se disponha a tal.
5. CONCLUSÃO
TAVARES, Juarez. Teoria do Injusto Penal. 3. Ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003..