Accf, A Música e o Seu Ensino Na Escola Regular, Adequação Ou Novo Paradigma
Accf, A Música e o Seu Ensino Na Escola Regular, Adequação Ou Novo Paradigma
Accf, A Música e o Seu Ensino Na Escola Regular, Adequação Ou Novo Paradigma
Resumo: Este artigo traz reflexões sobre o papel da música e, como resultado das
conexões por ela estabelecidas, sobre os rumos e possibilidades da educação musical na
escola regular e na transformação social em pleno século XXI. Para tanto, promove
breves diálogos entre educadores e pesquisadores, tais como Keith Swanwick, Stuart
Hall, Moema Craveiro Campos, Christopher Small, entre outros. A mídia e a
globalização são alguns dos temas enfocados que interferem diretamente no ensino da
música, passando pelo fazer musical, pelo educando, enquanto ser hábil no manejo da
sintaxe musical, pelo prazer no aprender, pela motivação e ainda pela composição,
como instrumento imprescindível na construção e na solidificação de conceitos
relevantes na aprendizagem musical, que convergem, por fim, para um novo panorama
e um novo paradigma do ensino da música.
Abstract: This article reflects upon the role of music and the routes and possibilities of
musical education at school as an instrument of social change in the 21st century. In
order to do this, we resort to researchers such as Keith Swanwick, Stuart Hall, Moema
Craveiro Campos, Christopher Small, among others. Media and Globalization are some
of the themes that interfere with the teaching of music and are connected with music
composition and with the learner’s motivation. We consider that music composition
can reinforce the comprehension of important concepts in music learning that can create
a new paradigm in the area
1
Professor de Educação Musical da Unidade São Cristóvão II do Colégio Pedro II e Coordenador
Pedagógico da Equipe de Educação Musical dessa Unidade. É Mestre em Educação Musical (UFRJ) e
Músico profissional. [email protected]
Vivências
Muitas vezes, o aluno que ingressa na escola já traz uma considerável bagagem
cultural, seja por influência familiar, da mídia ou de suas relações cotidianas. Por esse
viés, vem junto com a mídia, quase que imediatamente, um tema em voga: a
globalização. Ambos, certamente, incidem inexoravelmente sobre a aprendizagem, que,
como a globalização e a mídia, em termos amplos, é dinâmica e está constantemente se
modificando e se atualizando. Por este diálogo dá-se a interdisciplinaridade ou mesmo
a transdisciplinaridade2.
Partindo da vivência e da cultura do educando, pode-se “extrair” dele o que há de
melhor e, com essa bagagem cultural, conduzi-lo numa aprendizagem mais consistente,
participativa e prazerosa.
Vários educadores, como Murray Schafer3, Keith Swanwick, Philippe Perrenoud4,
Hans-Joachim Koellreutter, Regina Márcia Simão Santos5, Paulo Freire, entre outros,
apontaram, e ainda apontam, para uma educação participativa, autônoma,
contextualizada e que busque o prazer do educando em aprender e participar
2
Termo cunhado por Piaget. Para Nogueira (2006, p. 13), “é o desenvolvimento de uma axiomática
comum a um conjunto de disciplinas. Trata-se, portanto, de um estágio ainda mais avançado que sucede a
etapa da criação das relações interdisciplinares, e que não apenas atingiria as interações ou reciprocidades
entre investigações especializadas, mas também manteria estas relações circunscritas a um sistema total
que dilui as fronteiras estáveis entre disciplina”.
3
Cf. SCHAFER, R. Murray. O ouvido pensante. Tradução de Marisa Trenche de O.
Fonterrada, Magda R. Gomes da Silva e Maria Lúcia Pascoal. São Paulo: Fundação UNESP,1991.
4
Cf. PERRENOUD, Philippe. Pedagogia diferenciada: das intenções à ação. Tradução de
Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
5
Cf. SANTOS, Regina Márcia Simão. “Impasses no ensino de música: desafios à concepção de
currículo e ao tratamento de programas”. Pesquisa e Música – Revista do Conservatório Brasileiro de
Música. Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, p. 43-76, 1998.
______. ““Melhoria de vida” ou “fazendo a vida vibrar”: o projeto social para dentro e fora da
escola e o lugar da educação musical”. Revista da Associação Brasileira de Educação Musical. Porto
Alegre, n. 10, p. 59-64, mar. 2004.
Pode-se por certo dizer que, para cada tipo de música - clássica, jazz,
indiana, africana - há tanto da boa, quanto da ruim. Às vezes acontece de ouvirmos
afirmações auto-suficientes, de atribuição apócrifa a vários compositores, de que só
há dois tipos de música, a boa e a ruim. Mas o fato de que algumas estações de
rádio que se especializam em música artística ocidental chamam a si mesmas de
“rádios de música boa” demonstra as atitudes genéricas do estabelecimento
clássico. A hierarquia das músicas e a evitação de contaminação da boa música e
dos seus executantes pelas outras - por evitação, ou pelo que se poderia chamar de
rituais de purificação - são elementos importantes na vida da escola de música.
(NETTL, 1995)
Novos caminhos
6
Arte-Educação foi um movimento na reforma de ensino das artes plásticas, na Inglaterra,
proposto por Ebenzer Cook no final do séc. XIX, se estendendo depois para o continente americano e
outras artes, inclusiva na música. (CAMPOS, 2000)
Outro bom exemplo vem da Barão de Santa Margarida, que também tem uma
história de vitórias no Fecem8. O trabalho de música, coordenado pelos professores
Roberto Stepheson, Marcos Melo e Claudia Valéria, mobiliza os alunos o ano
inteiro. A empolgação é tão grande que eles freqüentam a escola aos sábados para
os ensaios. “É muito melhor estar aqui que na rua, sem ter o que fazer”, opina
Aparecida da Conceição Oliveira, de 15 anos. Seja nas aulas de música ou nas
oficinas que a escola promove, os alunos aprendem ou aprimoram seus
conhecimentos em dança, canto, percussão e instrumentos musicais, além de
investirem em ritmos apontados por eles próprios. “O importante é abrimos um
espaço para que eles mostrem o que sabem. Muitas vezes, o que apresentam nem
foi aprendido com a gente. Muitos já vêm com uma bagagem musical grande e
temos de estar atentos a isso”, reflete Roberto Stepheson. (PETROCELLI, 2006a,
p. 42)
Conclusão
Isso tudo nos remete a caminhos múltiplos e, por vezes, amedronta. A pós-
modernidade que estamos vivenciando será a glória dos mais fortes ou o fim das
“culturas mais fracas”? Ou então levará tudo isso a contínuos cruzamentos, pluralismos
7
A Escola Municipal Barão de Santa Margarida é uma instituição escolar que faz parte da rede
municipal de ensino e atende alunos do segundo ciclo do ensino fundamental. Localiza-se no bairro de
Campo Grande, Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro.
8
FECEM (Festival da Canção Escolar) é um festival de música que acontece todo o ano na Rede
Municipal de Educação. A E. M. Barão de Santa Margarida participou de cinco deles (2002, 2203, 2004,
2005 e 2007), na etapa regional da 9ª Corregedoria Regional de Educação (9ª CRE).
Educar é estar em conformidade com o meio e também, por que não dizer, é
sinônimo de mudança e experimentação. E, nesse sentido, tanto o educador, como o
educando podem compartilhar essas descobertas.
Sem dúvida, o novo e o moderno são incertos. Mas, ao mesmo tempo, nos
fascinam e nos renovam. Nessa incessante busca e diálogo, surgirão respostas e, em
contrapartida, alguns questionamentos provavelmente não poderão ser respondidos,
pelo menos de imediato. Isso nos impulsiona à frente, sempre: não as respostas, mas a
certeza de que nos renovaremos, atingindo patamares até então inimagináveis.
Referências