0% acharam este documento útil (0 voto)
8 visualizações

AULA 3

Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOCX, PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
8 visualizações

AULA 3

Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOCX, PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 21

AULA 3

CORREÇÃO DO PARA CASA

Razões do veto do art. 4°, da Lei 11.101/2005

O veto trata da intervenção do Ministério Público nos processos de falência e de


recuperação judicial, com o objetivo de delimitar as esferas dessa atuação. Existia um
esforço no sentido de tornar o processo de recuperação e de falência menos dependente
da atuação sistemática do Ministério Público, pois muitas pessoas entendem que a
atuação do MP tanto na falência quanto na recuperação é uma atuação que deve
acontecer nos aspectos previstos na lei e não em qualquer ato, pois isso prolongaria o
tempo do processo.

Também existe a discussão se na recuperação judicial e na falência a atuação do MP


seria exatamente a mesma, em seu papel de atuar como fiscal, custus legis, verificando
se o processo cumpre todas as etapas, não atinge interesses de terceiros, etc.

A doutrina já discutiu muito sobre qual seria a forma de atuação na recuperação judicial
e na falência. Se é necessário que ele atue todo momento ou se é necessário apenas que
o reconhecimento de atuações pontuais de acordo com previsões expressas da lei são
bem-vindas.

Na reforma, muitos artigos introduzidos por ela, os quais trazem maior possibilidade
negociação entre os credores, possibilidade de maior transigência entre as partes no que
se refere ao procedimento faz com que o MP apareça nos dispositivos como a parte que
deve se manifestar sobre o que está sendo discutido e isso acontece para que não sejam
atropelados direitos quando houver um espaço de discussão entre as partes, sobretudo
quando houver um desequilíbrio contratual entre as partes.

O cenário da discussão, do ponto de vista jurídico, que se tinha antes da reforma, é


compatível com as razões de veto? E a reforma é compatível ou não com as razões de
veto?

O que é protesto?

O protesto serve para dar publicidade da inadimplência e para dar ciência para o
devedor de que aquela se trata da última oportunidade para ele pagar antes da execução.
A Lei 9.492/97 regulamenta o protesto. A dívida cuja origem é a quebra de um contrato
é diferente da dívida que tem como plano de fundo um título executivo extrajudicial.
Para o título poder ser executado diretamente e conseguir penhora, bloqueio de conta, é
necessário o protesto. Uma coisa é a negativação, que é uma forma de se registrar uma
inadimplência, e tem relação com crédito. Outra coisa são os títulos executivos que são
sujeitos a protesto e serão levados a protestado desde que o seu detentor esteja sofrendo
inadimplência com esses títulos.

A Duplicata é um título especifico que tem por objetivo de comprovar a entrega de uma
mercadoria ou que houve a prestação de um serviço. A duplicata pode ser aceita ou não.
O aceite é um dos institutos da duplicata.

Duplicata protestada por falta de aceite é título hábil para o requerimento da falência
com base no art. 94, I, da Lei 11.101/2005?

Existem duas razões para protesto: falta de aceite e falta de pagamento. Nem todos os
títulos podem ser protestados por falta de aceite, pois não cabe aceite. No caso da
duplicata cabe aceite.

O art. 94, §1°, da Lei 11.101/2005, que trata da impontualidade injustificada, diz que
será decretada a falência daquele que não paga no vencimento título ou títulos
protestados no valor de até 40 salários mínimos. Não paga no vencimento. E no caso de
protesto por falta de aceite? Não necessariamente o indivíduo que recusou a duplicata
está insolvente. O art. 94, I, da lei 11.101/2005, é aplicado em casos em que o indivíduo
não paga em determinado momento, mas não significa que as pessoas não tinham
dinheiro para pagar.

Histórico do Direito Falimentar

O desenvolvimento do direito falimentar passou por algumas fases.

A primeira fase era marcada pela responsabilização pessoal. A exigência do pagamento


da dívida era feita com o próprio corpo, com a vida, com partes do corpo. A ideia era
associar uma atividade empresária ou uma atividade comercial infrutífera a um fracasso.
Não é à toa que o Código Comercial de 1850 a expressão que designava lei de falências
não era lei de falências, mas lei de quebras. Nessa fase, entendia-se que a atividade
comercial, por se tratar de uma atividade potencialmente lesiva a economia popular, era
preciso punir o empresário, de uma maneira prejudicial a atividade empresarial, em
razão do simples fato dela ter sido infrutífera. Nessa primeira fase não existia uma
preocupação real com qual era a causa da insolvência, a questão era o prejuízo a
economia popular, ao mercado, aos credores. Assim, o insolvente pagava com o corpo e
a sua própria vida.

A segunda fase é chamada de fase patrimonial. Percebe-se uma evolução em relação ao


que se espera de um comerciante, o que se espera de um empresário, ou seja, que ele
lide com o risco econômico, oferecendo como garantia todos os seus bens e todos os
seus ativos, ainda que não tenha relação desses ativos com a atividade desempenhada. O
empresário, nessa fase, responde pessoalmente com o seu patrimônio. Embora seja uma
fase patrimonial não significa que só o patrimônio que será atingido será o patrimônio
da atividade empresarial. A pessoa perdia tudo. Não existia bem de família. Nas
ordenações, a pena para quem falisse em Portugal era o banimento para a Colônia
Brasileira.

A terceira fase é chamada de fase moderna e é onde nos encontramos. Nessa fase,
começa-se a refletir sobre o que é insolvência, se a insolvência decorre apenas da
atividade empresarial malsucedida ou ela pode decorrer de uma série de questões, como,
por exemplo, uma pandemia, uma escassez de produto, um desastre natural, etc. Tendo
em vista que se pretende que o mercado tenha segurança e ao mesmo que quem investe
numa atividade empresarial não seja desencorajado a fazê-lo, pois são as atividades
empresárias que movimentam a economia. A ideia do reconhecimento de que a
insolvência pode ter várias causas tem como resultado a evolução da matéria falimentar
caminhando para um atendimento de múltiplos interesses, ou seja, o processo falimentar
hoje regulamentado, não obstante, em determinado assuntos tenda mais para o
empresário ou para o credor de outro lado ou para o Fisco. A ideia é que haja um
equilíbrio de conciliação desses interesses porque todos precisam ter segurança, receber
dinheiro, movimentar a economia. Para tanto, a lei precisa reconhecer o direito de todos
e não de apenas uma das partes. A fase moderna é representada por alguns autores pela
ilustração de uma pirâmide, indicando de um lado o credor, do outro lado o devedor, e o
topo da pirâmide está o Estado. O atual processo falimentar e a lei 11.101/2005 se
encontram na Fase Moderna, que já passou por algumas transformações, se o devedor
não estiver em uma situação absolutamente inviável de continuar, ele pode tentar se
recuperar com os institutos de refinanciamento de dívida e de renegociação. A fase
moderna é marcada pelo atendimento aos múltiplos interesses. Não é possível que sendo
a atividade empresarial uma atividade complexa que os institutos relacionados a
atividade empresarial não considerem essa complexidade e atendam interesses
unilaterais.

Leitura das alíneas do inciso III, do art. 94, da Lei 11.101/2005

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:

III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de
recuperação judicial:

a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso


ou fraudulento para realizar pagamentos;

b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar
pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da
totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;

c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de


todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;

Obs.: Refere-se ao trespasse. O trespasse é o nome técnico para o alienamento do


estabelecimento empresarial. Quem transfere é alienante ou trespassante e quem recebe
é o trespassário ou adquirente.

Código Civil. Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver
o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de
todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta
dias a partir de sua notificação.

Obs.: O problema desse artigo é a possibilidade de consentimento “tácito”. Como


verificar uma anuência tácita? Para Caroline, é possível presumir uma anuência. A
notificação deve ser carta com AR no correio. Caso o credor não responda, após 30 dias,
presume-se anuência. Assim, a regra é que não houve fraude na hipótese da alínea c.

Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos


anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o
devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos
créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento.

d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de


burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;

e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar


com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;

f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para


pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do
local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;

Exemplo: Relação empresarial complexa, em que a relação entre credor e devedor


é estabelecida por contratos por prazo indeterminado e ocorre inadimplemento. Vai
existir uma presunção porque a pessoa não se encontra e não deixou representante? É
necessária uma prova mais robusta de que a pessoa sumiu.

Uma empresa que continua funcionando mesmo quando seu gestor está fora,
ainda tem o administrador. O fato de a pessoa responsável pela dívida não estar ali e não
tenha formalmente dito não significa que isso possa ser considerado um ato fraudulento.

Se o sujeito viaja e a pessoa jurídica está com várias dívidas, nomeou


administrador para gerir as coisas, pode ter falência requerida, mas não em razão do fato
de ter viajado e sim com fato em débitos que não conseguiram fazer frente de
pagamento ou que preenchem o conteúdo do art. 94, I, ou do art. 94, II, da Lei
11.101/2005. No final, o motivo da falência é o inadimplemento.

g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de


recuperação judicial.

Os atos do art. 94, III, da lei 11.101/2005, por si só, podem ensejar o requerimento de
falência?

Como esses atos tem um caráter absolutamente subjetivo. A alegação por si só não
funciona, é necessário fazer prova disso. Assim, na prática os atos previstos no art. 94,
III, são utilizados para robustecer um pedido feito com base nos incisos I ou II. Em
geral, o art. 94 aparece e não há dúvida é quando ele foi gerado pelo descumprimento do
plano de recuperação judicial, pois aquele que estava em recuperação judicial teve a sua
recuperação judicial convolada em falência. Logo, uma das causas de decretação da
falência é o descumprimento do plano de recuperação judicial.

Os parágrafos do art. 94 estão relacionados com o procedimento para requerimento da


decretação da falência.

Art. 95. Dentro do prazo de contestação, o devedor poderá pleitear sua


recuperação judicial.

Obs.: Quando não se tratar de autofalência, o devedor pode requer a recuperação


judicial dentro do prazo de contestação. O art. 95, da lei 11.101/2005, trata a
recuperação judicial como uma forma de defesa ao pedido de falência requerida por
terceiros. O prazo é de 10 dias para contestar. Nesse prazo, o devedor pode apresentar a
contestação e requerer a recuperação judicial para afastar a decretação da falência. Se o
devedor optar pelo regime da recuperação, esse pedido que foi feito junto com a
contestação, será um pedido autuado em separado como uma ação jurídica incidental,
que será distribuída no mesmo juízo que recebeu o pedido de falência e o pedido de
falência tornará prevento o juízo para todos os pedidos de falência ou de recuperação
judicial em relação aquele credor.

O pedido de recuperação judicial tem por objetivo afastar o pedido de falência. A


recuperação judicial é apresentada como matéria de defesa junto com a contestação. A
contestação é apresentada no prazo de 10 dias. O pedido de recuperação é autuado em
separado, distribuído para o mesmo juízo que recebeu o pedido de falência e esse
pedido de falência tornará esse juízo, que é um juízo universal, chamado de juízo
indivisível, será o juízo prevento para todos os pedidos da falência e da recuperação
judicial.

Para ter um pedido de recuperação judicial, é necessário que esse pedido preencha os
requisitos legais da recuperação judicial, sob pena de ser indeferido e da falência ser
decretada. Se indeferir o pedido de recuperação e a pessoa não tiver garantido o
pagamento da dívida, a falência será decretada.

Os requisitos da recuperação judicial estão no art. 48, da lei 11.101/2005, e são


cumulativos.
O prazo de 10 dias pode ser considerado um prazo curto para o devedor juntar toda a
documentação necessária para realizar o requerimento da recuperação judicial, apesar
de poder ser tempo suficiente para a apresentação da contestação. A documentação
necessária para o pedido de recuperação judicial está prevista no art. 51, da lei
11.101/2005. Esse prazo pode ser considerado curto quando comparado com o CPC,
mas quando se observa o histórico do direito falimentar os prazos eram mais curtos. No
decreto 7661/45, o prazo era de 24 horas.

Art. 98. Citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10 (dez) dias.

Para Fabio Ulhoa, em que pese o juízo seja prevento para receber o pedido de
recuperação, o devedor deve informar o juízo da falência que formulou tal pedido, pois
se o pedido de falência apresentado contra o devedor tiver por fundamento o art. 94, I,
ou seja, a impontualidade injustificada, com a apresentação do requerimento de
recuperação judicial por parte do devedor, a falência não pode ser decretada com base
no art. 96, VII, da lei 11.101/2005. Tendo em vista a crise econômica que levou o
devedor a requerer a recuperação, ela é justificativa suficiente para pode explicar a
impontualidade. Nesse caso, ocorre a suspensão do pedido de falência. Por outro lado,
se o pedido de falência apresentar outro fundamento, como o art. 94, II, não vai
acontecer suspensão do pedido de falência, uma vez que ele vai prosseguir de modo
paralelo ao pedido de recuperação judicial, pois não tem relação exata com o pedido de
recuperação judicial e somente com o despacho de processamento da recuperação
judicial é que o pedido de falência será suspenso.

Esse é o entendimento unânime? Não.

Alguns entendem que o pedido de recuperação vai suspender o processo falimentar seja
qual for o fundamento que levou o credor a formular o pedido de falência, bastando que
o pedido de recuperação esteja com base no art. 48, da lei 11.101/2005, ou seja, se
preencheu os requisitos do art. 48, está devidamente instruído (art. 51). Caroline se
alinha a esse entendimento, pois para ela essa visão prestigia mais o princípio da
preservação da empresa. Se o sujeito pediu recuperação judicial e preencheu os
requisitos, independente do motivo da recuperação ter relação ou não com a
impontualidade injustificada, o fato é que a recuperação judicial deve ser o primeiro
recurso.
Em relação à defesa, que é apresentada nos mesmo autos do pedido falimentar, o
devedor não pode apresentar pedido de recuperação e veicular defesa de mérito contra
pedido de falência, pois, uma vez que como os pedidos são excludentes entre si não
seria possível. Mesmo assim, existe entendimento no sentido de que pode haver
depósito elisivo de forma conjunta com o pedido de recuperação judicial, de modo que
mesmo indeferido o pedido de recuperação judicial não tenha como efeito a decretação
da quebra. O devedor não pode pegar o pedido de recuperação judicial e utilizar isso
como defesa de mérito no pedido de falência porque falência e recuperação judicial são
excludentes entre si. Durante esse período de contestação, o sujeito pode dizer que está
em insolvência, que tem requisitos para pedir recuperação judicial e vai fazer isso com
base no art. 48, seguindo as regras do art. 51, mas não concorda com o pagamento do
valor que está sendo objeto do requerimento de falência, ou seja, o devedor não
reconhece a dívida do pedido de falência. Nessa situação, o devedor pode discutir isso
no processo. Se o devedor discutir o valor ou existência da dívida e garantir a dívida,
ainda que perca a discussão não gerará falência, pois foi feito o depósito elisivo e
consequentemente foi afastada a causa da insolvência. O depósito elisivo serve para
afastar falência sob qualquer hipótese.

Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inciso I do caput, desta Lei, não
será decretada se o requerido provar:

Obs.: esse artigo trata especificamente da hipótese de impontualidade injustificada.

I – falsidade de título;

II – prescrição;

III – nulidade de obrigação ou de título;

IV – pagamento da dívida;

V – qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a


cobrança de título;

VI – vício em protesto ou em seu instrumento;


VII – apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação,
observados os requisitos do art. 51 desta Lei;

VIII – cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido
de falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas, o qual
não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado.

§ 1º Não será decretada a falência de sociedade anônima após liquidado e


partilhado seu ativo nem do espólio após 1 (um) ano da morte do devedor.

§ 2º As defesas previstas nos incisos I a VI do caput deste artigo não obstam a


decretação de falência se, ao final, restarem obrigações não atingidas pelas defesas em
montante que supere o limite previsto naquele dispositivo.

Exemplo: Maria requereu a decretação de falência de João com base em título que
não foi pago (impontualidade injustificada). João não tem dinheiro para fazer o depósito
elisivo, mas contesta por não reconhecer esse título como válido e requer a recuperação
judicial. No momento de apresentar a contestação, João contesta no terceiro dia, e
apresenta a recuperação judicial no sétimo dia. Com base no caput, do art. 98, c/c art.
95, da lei 11.101/2005, João procedeu de forma correta?

O princípio da preservação da empresa pode servir para fundamentar a resposta


afirmativa a essa pergunta, pois o indivíduo apresentou contestação no prazo e
apresentou o pedido de recuperação judicial no prazo. Contudo, no caso em questão, a
resposta mais certa é que não poderia em virtude da ocorrência da preclusão
consumativa. A contestação e o pedido de recuperação judicial devem ser apresentadas
no mesmo momento, ainda que não no mesmo instrumento. A ideia é que o réu não
pode apresentar uma parte da matéria de defesa em um momento e outra parte em um
segundo momento porque opera em relação a segunda preclusão consumativa.

Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:

Autofalência

I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei;
O empresário exerce uma atividade de risco e ele não é obrigado a exercer essa
atividade. O empresário pode ter verificado que o negócio está dando mais prejuízo que
resultado. Assim, o empresário pede a autofalência para poder quitar as dívidas dentro
da lógica daquele negócio infrutífero para poder se livrar daquilo e fazer outra coisa. O
empresário pode também decidir pedir a autofalência para encerrar a atividade, pagar a
dívida dele e ponto.

Quando o sujeito ter a percepção de que o negócio vai mal e não vai melhorar de
forma alguma é melhor pedir a autofalência do que tentar medidas para recompor aquilo
que não tem como recompor. Nesse caso, o sujeito se reconhece numa situação de
inviabilidade e insiste numa viabilidade que não existe e somente serve para agravar a
crise econômico-financeira.

O devedor tem o dever de confessar a falência quando o negócio está inviável.

Art. 105. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos
requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência,
expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial,
acompanhadas dos seguintes documentos:

Obs.: “O devedor...que julgue...deverá”. O termo “deverá” deveria ser “poderá”


para não responsabilizar o devedor, pois não se pode responsabilizar aquele que poderia
ter feito e não fez. Se o devedor julgar de boa-fé que o negócio é viável, mas depois o
negócio não se mostrar viável, o devedor pode ser responsabilizado pela dívida toda,
mas não pode agravar a responsabilização pelo aumento da dívida, na medida em que
esse julgamento foi feito dentro do poder de gestão do devedor.

Todavia, esse entendimento começou a ser mitigado pela aplicação da


jurisprudência, influenciada pela atuação do Ministério Público, que começou a olhar
para a situação das pessoas em que a falência era decreta em um nível altíssimo de
endividamento, de modo que o MP começou a pensar se o nível de endividamento
poderia ter sido evitado em algum momento, se existiria um momento em que deveria
ter ocorrido uma confissão de falência quando o empresário constatasse que atividade
estava inviável. Esse dever tem o nome deepening insolvency, traduzido como dever de
confessar a falência ou dever de pedir a autofalência. É a ideia de que o empresário
pode ser responsabilizado pelo agravamento do estado de insolvência quando ele
escolhe arriscar em uma atividade que já deveria ter sido considerada inviável.
Atualmente, existe o instituto da perícia prévia, previsto na lei 11.101/2005, introduzido
pela reforma, e pode ser uma forma de evitar que uma série de recuperações judiciais de
empresas não recuperáveis sejam processadas. Antes, o magistrado pegava o pedido de
recuperação judicial e, apesar da empresa ter uma dívida absurdamente grande, caso
preenchesse os requisitos da recuperação judicial, ele autorizava proceder a recuperação
judicial. Se na análise ficar comprovado que se chegou até ali, mas na verdade aquele
problema deveria ter sido sanado pelo gestor antes, vai poder ser feito um cálculo e o
aprofundamento da insolvência pode imputado ao gestor pessoalmente.

II – o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;

III – o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da


sociedade;

Obs.: O cotista é sócio de uma sociedade de cotas por responsabilidade limitada.


Na sociedade limitada, o capital social é dividido em cotas. Os acionistas são sócios da
sociedade por ações. A sociedade por ações ou sociedade anônima tem o seu capital
social dividido por ações.

Qual a diferença das cotas para as ações?

A cota pode ser igual ou desigual. A ação não pode. A ação tem que ser igual para
todo mundo.

Essa hipótese não costuma acontecer, pois se o cotista ou acionista pedir a


falência e esta vier a ser decretada, ele será um dos últimos a receber, conforme o
quadro geral de credores, do art. 83, da lei 11.101/2005.

IV – qualquer credor.

Obs.: É possível o requerimento de falência por a) Fazenda Pública? b) Ministério


Público? c) Sindicatos? d) Credor com garantia real? e) Credor estrangeiro?

A resposta deve conter: sim ou não, a justificativa, com o artigo da lei, a


doutrina e a jurisprudência se houver.
§ 1º O credor empresário apresentará certidão do Registro Público de Empresas
que comprove a regularidade de suas atividades.

§ 2º O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa às
custas e ao pagamento da indenização de que trata o art. 101 desta Lei.

Art. 98. Citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10


(dez) dias.

Parágrafo único. Nos pedidos baseados nos incisos I e II do caput do art. 94


desta Lei, o devedor poderá, no prazo da contestação, depositar o valor
correspondente ao total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e
honorários advocatícios, hipótese em que a falência não será decretada e, caso
julgado procedente o pedido de falência, o juiz ordenará o levantamento do valor
pelo autor.

Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras


determinações:

Obs.: O sujeito pediu a autofalência ou um terceiro pediu a falência e o instrumento


utilizado pelo juiz para decretar a falência é a sentença. Por que é uma sentença? Se a
falência é um início de um processo, uma vez que quando o juiz decreta a falência
existe para o devedor o início de uma nova realidade. Nessa realidade, o devedor não
fará mais parte diretamente da gestão e deverá observar os atos praticados por um
administrador judicial, vendendo os ativos para o pagamento do passivo. Na falência, a
prioridade é vender o que se tem para pagar o que se deve. Mas nessa venda, é
necessário observar uma série de coisas, como a preservação das atividades que
puderem ser preservadas, vendas das unidades produtivos de uma maneira conjunta,
para valorizar os ativos. Contudo, a falência trata-se do momento em que a preservação
da empresa deixa de ser a prioridade e passa a ser a continuação da atividade na medida
em que for possível maximizar os ativos para pagamento dos credores. Por que esse
início se dá por sentença? Ler Tomazette para entender a natureza dessa sentença, se
tem natureza declaratória ou constitutiva e quais são os efeitos de uma ou de outra. Essa
sentença cria uma condição para esse empresário. Possui uma série de efeitos. Os
incisos do art. 99, da lei 11.101/2005 detalha o que a sentença irá conter. Pesquisar uma
sentença de falência. Alguns autores entendem que a natureza da sentença é declaratória
ou constitutiva. O art. 99 trata de tudo que o juiz precisa observar na sentença.

I – conterá a síntese do pedido, a identificação do falido e os nomes dos que forem


a esse tempo seus administradores;

II – fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90


(noventa) dias contados do pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou do
1º (primeiro) protesto por falta de pagamento, excluindo-se, para esta finalidade, os
protestos que tenham sido cancelados;

III – ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias, relação
nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos
respectivos créditos, se esta já não se encontrar nos autos, sob pena de desobediência;

IV – explicitará o prazo para as habilitações de crédito, observado o disposto no §


1º do art. 7º desta Lei;

V – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido,


ressalvadas as hipóteses previstas nos §§ 1º e 2º do art. 6º desta Lei;

VI – proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do


falido, submetendo-os preliminarmente à autorização judicial e do Comitê, se houver,
ressalvados os bens cuja venda faça parte das atividades normais do devedor se
autorizada a continuação provisória nos termos do inciso XI do caput deste artigo;

VII – determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses das


partes envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus
administradores quando requerida com fundamento em provas da prática de crime
definido nesta Lei;

VIII – ordenará ao Registro Público de Empresas que proceda à anotação da


falência no registro do devedor, para que conste a expressão "Falido", a data da
decretação da falência e a inabilitação de que trata o art. 102 desta Lei;

VIII - ordenará ao Registro Público de Empresas (Junta Comercial) e à Secretaria


Especial da Receita Federal do Brasil que procedam à anotação da falência no registro
do devedor, para que dele constem a expressão “falido”, a data da decretação da falência
e a inabilitação de que trata o art. 102 desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.112,
de 2020) (Vigência)

IX – nomeará o administrador judicial, que desempenhará suas funções na forma


do inciso III do caput do art. 22 desta Lei sem prejuízo do disposto na alínea a do
inciso II do caput do art. 35 desta Lei;

Obs.: o administrador judicial é uma pessoa física ou jurídica que assume o lugar
do empresário, com o objetivo de liquidar os ativos para pagar o passivo, seguindo os
critérios da lei 11.101/2005. Se houver conveniência, o juiz pode nomear o comitê ou
assembleia de credores.

X – determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repartições públicas e outras


entidades para que informem a existência de bens e direitos do falido;

XI – pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das atividades do falido


com o administrador judicial ou da lacração dos estabelecimentos, observado o disposto
no art. 109 desta Lei;

XII – determinará, quando entender conveniente, a convocação da assembléia-


geral de credores para a constituição de Comitê de Credores, podendo ainda autorizar a
manutenção do Comitê eventualmente em funcionamento na recuperação judicial
quando da decretação da falência;

XIII – ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às


Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver
estabelecimento, para que tomem conhecimento da falência.

XIII - ordenará a intimação eletrônica, nos termos da legislação vigente e


respeitadas as prerrogativas funcionais, respectivamente, do Ministério Público e das
Fazendas Públicas federal e de todos os Estados, Distrito Federal e Municípios em que o
devedor tiver estabelecimento, para que tomem conhecimento da falência. (Redação
dada pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
Obs.: se o sujeito ter negócio em diferentes locais essa sentença terá o efeito para
que a Fazenda e o MP procedam a intimação não apenas na sede, mas nos principais
estabelecimentos, seguindo a ideia do critério econômico do maior volume de negócios.

Parágrafo único. O juiz ordenará a publicação de edital contendo a íntegra da


decisão que decreta a falência e a relação de credores.

§ 1º O juiz ordenará a publicação de edital eletrônico com a íntegra da decisão que


decreta a falência e a relação de credores apresentada pelo falido. (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020) (Vigência)

§ 2º A intimação eletrônica das pessoas jurídicas de direito público integrantes da


administração pública indireta dos entes federativos referidos no inciso XIII
do caput deste artigo será direcionada: (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)

I - no âmbito federal, à Procuradoria-Geral Federal e à Procuradoria-Geral do


Banco Central do Brasil; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)

II - no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, à respectiva Procuradoria-Geral,


à qual competirá dar ciência a eventual órgão de representação judicial específico das
entidades interessadas; e (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)

III - no âmbito dos Municípios, à respectiva Procuradoria-Geral ou, se inexistir,


ao gabinete do Prefeito, à qual competirá dar ciência a eventual órgão de representação
judicial específico das entidades interessadas. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)

§ 3º Após decretada a quebra ou convolada a recuperação judicial em falência, o


administrador deverá, no prazo de até 60 (sessenta) dias, contado do termo de
nomeação, apresentar, para apreciação do juiz, plano detalhado de realização dos ativos,
inclusive com a estimativa de tempo não superior a 180 (cento e oitenta) dias a partir da
juntada de cada auto de arrecadação, na forma do inciso III do caput do art. 22 desta
Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
Obs.: esse dispositivo cria uma obrigação importante para o administrador da falência,
que é a apresentação de um plano detalhado de realização dos ativos. O administrador
judicial deve ter preocupação com os prazos.

Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a
improcedência do pedido cabe apelação.

Obs.: Qual é o recurso que cabe da sentença? Apelação. E da decisão interlocutória cabe
qual? Agravo Instrumento.

Por que da decisão que decreta a falência cabe agravo, sendo que o art. 100, da lei
11.101/2005, chama de decisão, mas o art. 99, art. 11.101/2005, chama de sentença não
cabe apelação, mas cabe agravo? Qual é a natureza jurídica da sentença que decreta a
falência?

PRINCÍPIOS

A priorização dos princípios não é a mesma no instituto da falência e da recuperação


judicial.

Princípio da Maximização ou Otimização dos Ativos

Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa


a: (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)

I - preservar e a otimizar a utilização produtiva dos bens, dos ativos e dos recursos
produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa; (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)

II - permitir a liquidação célere das empresas inviáveis, com vistas à realocação


eficiente de recursos na economia; e (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)

Obs.: Quando a lei fala em preservar, está tratando de preservação dos ativos. Quando
fala em otimizar, está falando sobre otimização sobre a utilidade de produção produtiva
dos bens e dos recursos, inclusive os recursos intangíveis (Ex.: marca).

O que significa maximização dos ativos?


A otimização dos bens do falido é feita sempre com o objetivo de reduzir o passivo e
incrementar o ativo. O núcleo desse princípio é justamente atingir os objetivos do inciso
I, do art. 75, da lei 11.101/2005, na medida em que a falência promove o afastamento do
devedor dessas atividades com o objetivo a preservação dos ativos, a otimização dos
ativos, a utilização produtiva dos bens, visto que a retirada do devedor da atividade e a
nomeação de alguém cujo objetivo passa a ser esse. Esse é o princípio norteador da
falência. Para uma atividade inviável, com falência, o princípio norteador deve ser o
princípio da otimização ou maximização dos ativos.

É possível visualizar a ideia de otimização ou maximização dos ativos no art. 75, I e II,
da lei 11.1012/005. Deve ser feita uma remissão para o art. 109, da lei 11.1012/005.

Art. 109. O estabelecimento será lacrado sempre que houver risco para a execução da
etapa de arrecadação ou para a preservação dos bens da massa falida ou dos interesses
dos credores.

Obs.: Essa medida dura e constritiva tem por objetivo preserva, otimizar, garantir que a
etapa da arrecadação aconteça dentro dos interesses dos credores, pois a ideia é que os
bens sejam preservados para que sirvam de pagamento e não para a continuidade ou
preservação da empresa. Se for possível manter alguma atividade, de forma contínua,
para que ela seja vendida conjuntamente para que se apure mais dinheiro por ela e ela
possa de fato produzir seus resultados com outra pessoa, com outro empresário, isso
pode ser feito. Quando há o lacre do estabelecimento, o juiz pode determinar a venda
dos bens para amealhar os ativos líquidos para a massa falida, desde o início.

Na vigência do Decreto 7661/45, essa providência de lacrar o estabelecimento e


começar logo a vendar os bens do empresário, sobretudo, os bens perecíveis, não era
possível. O estabelecimento era lacrado e os bens se desvalorizavam. Assim, para evitar
a desvalorização dos bens, ocorria logo a venda imediata e nem sempre a venda
imediata era melhor medida a ser tomada no interesse da massa falida.

O lacre do estabelecimento é providência necessária quando for a melhor medida para a


preservação dos ativos e otimização produtiva dos bens.

Ademais, deve ser feita uma remissão do art. 75, I e II, com o art. 117, da lei
11.1012/005.
Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser
cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do
passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação de seus ativos,
mediante autorização do Comitê.

Obs.: Nos contratos bilaterais, geralmente, as pessoas colocam uma cláusula


resolutória expressa em caso de falência: “Em caso de falência, esse contrato será
resolvido”. Se a resolução do contrato bilateral não for a melhor providência para a
massa falida, mas sim a continuidade do contrato, visto que pode resultar na
maximização ou otimização dos ativos, o empresário pode continuar a cumprir o
contrato e ignorar a cláusula. A ideia é preservar os interesses da massa falida. Esse
critério do art. 117, da lei 11.101/2005, se a melhor providência é prosseguir ou não
contrato, é um critério que vai ser definido pelo administrador judicial. Somente o
administrador vai saber se a continuidade vai maximizar os ativos ou prejudicar os
ativos.

O entendimento é que cláusula resolutória expressa, baseada em falência, é


inexigível, pois cabe ao administrador judicial definir ou sobre a continuidade ou não do
contrato, o que se coaduna com a função social dos contratos da empresa. O contrato
não pode apenas atender aos interesses das partes. Nos EUA, a cláusula de resolução
expressa em caso de falência é vedada nos EUA.

O que é um contrato bilateral? O que significa resolver um contrato? (Para Casa)

§ 1º O contratante pode interpelar o administrador judicial, no prazo de até 90


(noventa) dias, contado da assinatura do termo de sua nomeação, para que, dentro de 10
(dez) dias, declare se cumpre ou não o contrato.

§ 2º A declaração negativa ou o silêncio do administrador judicial confere ao


contraente o direito à indenização, cujo valor, apurado em processo ordinário,
constituirá crédito quirografário.

Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa


a: (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
III - fomentar o empreendedorismo, inclusive por meio da viabilização do retorno
célere do empreendedor falido à atividade econômica. (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020) (Vigência)

Esse dispositivo está relacionado à evolução da matéria falimentar no Brasil. A falência,


ao promover o afastamento do devedor, deve criar condições para uma série de coisas
acontecer: preservar a utilização, permitir a liquidação célere das empresas inviáveis e a
realocação de recursos. O afastamento tem por objetivo a liquidação célere. Princípio
da celeridade da liquidação. Economia processual.

O fomento ao empreendedorismo se dá no sentido de dar condição para o sujeito


retornar à atividade econômica. O sujeito não pode ficar anos preso a um processo que o
impeça de voltar à atividade econômica. Deve-se respeitar o contraditório, a ampla
defesa, mas a prioridade é a celeridade.

Art. 75. § 2º A falência é mecanismo de preservação de benefícios econômicos e sociais


decorrentes da atividade empresarial, por meio da liquidação imediata do devedor e da
rápida realocação útil de ativos na economia. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)

Obs.: A expressão “realocação útil” significa que os ativos não serão vendidos de
qualquer maneira, mas sim serão vendidos com determinados critérios. A ideia é que
ativo volte de maneira útil para a economia, com possibilidade de expansão, de
incremento, de desenvolvimento de novos projetos. A ideia não é liquidar o ativo e
acabar com a atividade. A ideia é realocar os ativos de uma maneira útil. Aqui está se
tratando de bens individualmente considerados e não de bens conjuntamente
considerados (Ex.: estabelecimento, aviamento, etc.).

O aviamento é um atributo do estabelecimento. O aviamento é o valor atribuído aos


bens, conjuntamente considerados. Exemplo: se uma sala de aula fosse um
estabelecimento comercial e devesse ser vendido, poderia ser vendido o local em que a
atividade acontece sem nada, ou o local em que atividade acontece com Datashow,
carteiras, com projetor, com o objetivo de que aqueles ativos possam exercer uma
atividade. Muito provavelmente se os bens que compõe o estabelecimento forem
vendidos de forma singular o valor arrecadado será menor que se forem vendidos junto
com o local físico. O valor dos bens conjuntamente considerados é chamado de
aviamento.
A ideia de observar liquidação imediata e a realocação útil é que na medida do possível
os bens sejam vendidos considerando sua maior potencialidade: aviamento e
estabelecimento.

Pergunta

Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação


judicial implica: (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)

II - suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive daquelas dos


credores particulares do sócio solidário, relativas a créditos ou obrigações sujeitos à
recuperação judicial ou à falência; (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)

Obs.: A suspensão das execuções gera a impossibilidade de exercer constituição sobre


os bens do devedor. A suspensão das execuções é colocar as pessoas que fazem parte da
execução a par de um processo de falência para que recebam de acordo com a natureza
de seu crédito, pois existe uma ordem de pagamento prevista no art. 83, da lei
11.101/2005, que segue uma lógica de dignidade da pessoa humana, de atendimento ao
credor vulnerável, de atendimento aos créditos de natureza alimentar.

A ideia é que uma pessoa que contratou um fornecimento e que é credor porque o
devedor está inadimplente com ela, ela tenha o direito para ser exercido no processo de
falência, mas não será no mesmo momento do direito dos créditos trabalhistas, que
recebem em primeira ordem.

Essa lógica atende ao Princípio Par Conditio Creditorio, que está relacionado a ideia
de ser feito o vencimento antecipado e colocar todos os credores numa fila para serem
tratados de forma igual desde que estejam na mesma classe. Todo mundo da mesma
classe recebe o mesmo tratamento. Crédito trabalhista é tratado da mesma forma que
todos os créditos trabalhistas. Crédito com garantia real é tratado da mesma forma que
crédito de garantia real. A diferença de tratamento é entre a natureza dos créditos, mas
entre si o crédito é tratado da mesma maneira. A ideia é não ocorrer disparidade e,
consequentemente, desatendimento, ao Princípio da Paridade dos Credores.

Da leitura do inciso III, do art. 75, é possível entender que não se admite a demora no
trabalho do administrador judicial, sobretudo na fase de arrecadação e alienação do
bem. Esse atraso pode significar um atraso na venda de veículo, de maquinário, o que
pode resultar em perdas substanciais para a própria massa falida. A ideia desse artigo é
dar um norte para o administrador judicial. O trabalho do administrador deve ser focado
em arrecadar rápido e alienar rápido. O levantamento desse passivo, o pagamento desses
credores, nessa ordem. Uma vez que a liberdade de empreender está garantida na
constituição, faltava na lei uma previsão legislativa que estabelecesse a possibilidade de
insucesso numa empreitada e a forma de conciliação do empresário falido com a
sociedade e o seu retorno à atividade econômica.

O princípio do fomento ao empreendedorismo. A possibilidade do retorno célere do


empreendedor à atividade econômica é chamado de fresh start. A ideia é possibilitar que
o empresário encerre o ciclo e possa retornar de forma produtiva e regular sem muita
demora.

Art. 75. § 1º O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da economia


processual, sem prejuízo do contraditório, da ampla defesa e dos demais princípios
previstos na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
Civil). (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)

Exemplo: o administrador está liquidando os ativos e consegue liquidar uma boa parte e
passa a pagar os credores. Talvez no momento em que ele começa a negociar o
pagamento dos credores, já possa se pedir que retire a negativa. Não esperar o processo
de falência chegar ao final com uma sentença que extingue a falência para retirar a
negativa.

Caroline entende que o instituto do Fresh Start não foi importado completamente, pois
seria necessária a presença de mais dispositivos para aplicação desse sistema no Brasil.
Contudo, algumas modificações se compatibilizam com o art. 75, III. O art. 158, V, fala
que a quitação de um percentual de 25% dos débitos já consiga retomar a atividade, pois
é possível a confirmação da extinção das obrigações no processo de falência.

Você também pode gostar