AULA 3
AULA 3
A doutrina já discutiu muito sobre qual seria a forma de atuação na recuperação judicial
e na falência. Se é necessário que ele atue todo momento ou se é necessário apenas que
o reconhecimento de atuações pontuais de acordo com previsões expressas da lei são
bem-vindas.
Na reforma, muitos artigos introduzidos por ela, os quais trazem maior possibilidade
negociação entre os credores, possibilidade de maior transigência entre as partes no que
se refere ao procedimento faz com que o MP apareça nos dispositivos como a parte que
deve se manifestar sobre o que está sendo discutido e isso acontece para que não sejam
atropelados direitos quando houver um espaço de discussão entre as partes, sobretudo
quando houver um desequilíbrio contratual entre as partes.
O que é protesto?
O protesto serve para dar publicidade da inadimplência e para dar ciência para o
devedor de que aquela se trata da última oportunidade para ele pagar antes da execução.
A Lei 9.492/97 regulamenta o protesto. A dívida cuja origem é a quebra de um contrato
é diferente da dívida que tem como plano de fundo um título executivo extrajudicial.
Para o título poder ser executado diretamente e conseguir penhora, bloqueio de conta, é
necessário o protesto. Uma coisa é a negativação, que é uma forma de se registrar uma
inadimplência, e tem relação com crédito. Outra coisa são os títulos executivos que são
sujeitos a protesto e serão levados a protestado desde que o seu detentor esteja sofrendo
inadimplência com esses títulos.
A Duplicata é um título especifico que tem por objetivo de comprovar a entrega de uma
mercadoria ou que houve a prestação de um serviço. A duplicata pode ser aceita ou não.
O aceite é um dos institutos da duplicata.
Duplicata protestada por falta de aceite é título hábil para o requerimento da falência
com base no art. 94, I, da Lei 11.101/2005?
Existem duas razões para protesto: falta de aceite e falta de pagamento. Nem todos os
títulos podem ser protestados por falta de aceite, pois não cabe aceite. No caso da
duplicata cabe aceite.
O art. 94, §1°, da Lei 11.101/2005, que trata da impontualidade injustificada, diz que
será decretada a falência daquele que não paga no vencimento título ou títulos
protestados no valor de até 40 salários mínimos. Não paga no vencimento. E no caso de
protesto por falta de aceite? Não necessariamente o indivíduo que recusou a duplicata
está insolvente. O art. 94, I, da lei 11.101/2005, é aplicado em casos em que o indivíduo
não paga em determinado momento, mas não significa que as pessoas não tinham
dinheiro para pagar.
A terceira fase é chamada de fase moderna e é onde nos encontramos. Nessa fase,
começa-se a refletir sobre o que é insolvência, se a insolvência decorre apenas da
atividade empresarial malsucedida ou ela pode decorrer de uma série de questões, como,
por exemplo, uma pandemia, uma escassez de produto, um desastre natural, etc. Tendo
em vista que se pretende que o mercado tenha segurança e ao mesmo que quem investe
numa atividade empresarial não seja desencorajado a fazê-lo, pois são as atividades
empresárias que movimentam a economia. A ideia do reconhecimento de que a
insolvência pode ter várias causas tem como resultado a evolução da matéria falimentar
caminhando para um atendimento de múltiplos interesses, ou seja, o processo falimentar
hoje regulamentado, não obstante, em determinado assuntos tenda mais para o
empresário ou para o credor de outro lado ou para o Fisco. A ideia é que haja um
equilíbrio de conciliação desses interesses porque todos precisam ter segurança, receber
dinheiro, movimentar a economia. Para tanto, a lei precisa reconhecer o direito de todos
e não de apenas uma das partes. A fase moderna é representada por alguns autores pela
ilustração de uma pirâmide, indicando de um lado o credor, do outro lado o devedor, e o
topo da pirâmide está o Estado. O atual processo falimentar e a lei 11.101/2005 se
encontram na Fase Moderna, que já passou por algumas transformações, se o devedor
não estiver em uma situação absolutamente inviável de continuar, ele pode tentar se
recuperar com os institutos de refinanciamento de dívida e de renegociação. A fase
moderna é marcada pelo atendimento aos múltiplos interesses. Não é possível que sendo
a atividade empresarial uma atividade complexa que os institutos relacionados a
atividade empresarial não considerem essa complexidade e atendam interesses
unilaterais.
III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de
recuperação judicial:
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar
pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da
totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;
Código Civil. Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver
o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de
todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta
dias a partir de sua notificação.
Uma empresa que continua funcionando mesmo quando seu gestor está fora,
ainda tem o administrador. O fato de a pessoa responsável pela dívida não estar ali e não
tenha formalmente dito não significa que isso possa ser considerado um ato fraudulento.
Os atos do art. 94, III, da lei 11.101/2005, por si só, podem ensejar o requerimento de
falência?
Como esses atos tem um caráter absolutamente subjetivo. A alegação por si só não
funciona, é necessário fazer prova disso. Assim, na prática os atos previstos no art. 94,
III, são utilizados para robustecer um pedido feito com base nos incisos I ou II. Em
geral, o art. 94 aparece e não há dúvida é quando ele foi gerado pelo descumprimento do
plano de recuperação judicial, pois aquele que estava em recuperação judicial teve a sua
recuperação judicial convolada em falência. Logo, uma das causas de decretação da
falência é o descumprimento do plano de recuperação judicial.
Para ter um pedido de recuperação judicial, é necessário que esse pedido preencha os
requisitos legais da recuperação judicial, sob pena de ser indeferido e da falência ser
decretada. Se indeferir o pedido de recuperação e a pessoa não tiver garantido o
pagamento da dívida, a falência será decretada.
Art. 98. Citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10 (dez) dias.
Para Fabio Ulhoa, em que pese o juízo seja prevento para receber o pedido de
recuperação, o devedor deve informar o juízo da falência que formulou tal pedido, pois
se o pedido de falência apresentado contra o devedor tiver por fundamento o art. 94, I,
ou seja, a impontualidade injustificada, com a apresentação do requerimento de
recuperação judicial por parte do devedor, a falência não pode ser decretada com base
no art. 96, VII, da lei 11.101/2005. Tendo em vista a crise econômica que levou o
devedor a requerer a recuperação, ela é justificativa suficiente para pode explicar a
impontualidade. Nesse caso, ocorre a suspensão do pedido de falência. Por outro lado,
se o pedido de falência apresentar outro fundamento, como o art. 94, II, não vai
acontecer suspensão do pedido de falência, uma vez que ele vai prosseguir de modo
paralelo ao pedido de recuperação judicial, pois não tem relação exata com o pedido de
recuperação judicial e somente com o despacho de processamento da recuperação
judicial é que o pedido de falência será suspenso.
Alguns entendem que o pedido de recuperação vai suspender o processo falimentar seja
qual for o fundamento que levou o credor a formular o pedido de falência, bastando que
o pedido de recuperação esteja com base no art. 48, da lei 11.101/2005, ou seja, se
preencheu os requisitos do art. 48, está devidamente instruído (art. 51). Caroline se
alinha a esse entendimento, pois para ela essa visão prestigia mais o princípio da
preservação da empresa. Se o sujeito pediu recuperação judicial e preencheu os
requisitos, independente do motivo da recuperação ter relação ou não com a
impontualidade injustificada, o fato é que a recuperação judicial deve ser o primeiro
recurso.
Em relação à defesa, que é apresentada nos mesmo autos do pedido falimentar, o
devedor não pode apresentar pedido de recuperação e veicular defesa de mérito contra
pedido de falência, pois, uma vez que como os pedidos são excludentes entre si não
seria possível. Mesmo assim, existe entendimento no sentido de que pode haver
depósito elisivo de forma conjunta com o pedido de recuperação judicial, de modo que
mesmo indeferido o pedido de recuperação judicial não tenha como efeito a decretação
da quebra. O devedor não pode pegar o pedido de recuperação judicial e utilizar isso
como defesa de mérito no pedido de falência porque falência e recuperação judicial são
excludentes entre si. Durante esse período de contestação, o sujeito pode dizer que está
em insolvência, que tem requisitos para pedir recuperação judicial e vai fazer isso com
base no art. 48, seguindo as regras do art. 51, mas não concorda com o pagamento do
valor que está sendo objeto do requerimento de falência, ou seja, o devedor não
reconhece a dívida do pedido de falência. Nessa situação, o devedor pode discutir isso
no processo. Se o devedor discutir o valor ou existência da dívida e garantir a dívida,
ainda que perca a discussão não gerará falência, pois foi feito o depósito elisivo e
consequentemente foi afastada a causa da insolvência. O depósito elisivo serve para
afastar falência sob qualquer hipótese.
Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inciso I do caput, desta Lei, não
será decretada se o requerido provar:
I – falsidade de título;
II – prescrição;
IV – pagamento da dívida;
VIII – cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido
de falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas, o qual
não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado.
Exemplo: Maria requereu a decretação de falência de João com base em título que
não foi pago (impontualidade injustificada). João não tem dinheiro para fazer o depósito
elisivo, mas contesta por não reconhecer esse título como válido e requer a recuperação
judicial. No momento de apresentar a contestação, João contesta no terceiro dia, e
apresenta a recuperação judicial no sétimo dia. Com base no caput, do art. 98, c/c art.
95, da lei 11.101/2005, João procedeu de forma correta?
Autofalência
I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei;
O empresário exerce uma atividade de risco e ele não é obrigado a exercer essa
atividade. O empresário pode ter verificado que o negócio está dando mais prejuízo que
resultado. Assim, o empresário pede a autofalência para poder quitar as dívidas dentro
da lógica daquele negócio infrutífero para poder se livrar daquilo e fazer outra coisa. O
empresário pode também decidir pedir a autofalência para encerrar a atividade, pagar a
dívida dele e ponto.
Quando o sujeito ter a percepção de que o negócio vai mal e não vai melhorar de
forma alguma é melhor pedir a autofalência do que tentar medidas para recompor aquilo
que não tem como recompor. Nesse caso, o sujeito se reconhece numa situação de
inviabilidade e insiste numa viabilidade que não existe e somente serve para agravar a
crise econômico-financeira.
Art. 105. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos
requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência,
expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial,
acompanhadas dos seguintes documentos:
A cota pode ser igual ou desigual. A ação não pode. A ação tem que ser igual para
todo mundo.
IV – qualquer credor.
§ 2º O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa às
custas e ao pagamento da indenização de que trata o art. 101 desta Lei.
III – ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias, relação
nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos
respectivos créditos, se esta já não se encontrar nos autos, sob pena de desobediência;
Obs.: o administrador judicial é uma pessoa física ou jurídica que assume o lugar
do empresário, com o objetivo de liquidar os ativos para pagar o passivo, seguindo os
critérios da lei 11.101/2005. Se houver conveniência, o juiz pode nomear o comitê ou
assembleia de credores.
Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a
improcedência do pedido cabe apelação.
Obs.: Qual é o recurso que cabe da sentença? Apelação. E da decisão interlocutória cabe
qual? Agravo Instrumento.
Por que da decisão que decreta a falência cabe agravo, sendo que o art. 100, da lei
11.101/2005, chama de decisão, mas o art. 99, art. 11.101/2005, chama de sentença não
cabe apelação, mas cabe agravo? Qual é a natureza jurídica da sentença que decreta a
falência?
PRINCÍPIOS
I - preservar e a otimizar a utilização produtiva dos bens, dos ativos e dos recursos
produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa; (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)
Obs.: Quando a lei fala em preservar, está tratando de preservação dos ativos. Quando
fala em otimizar, está falando sobre otimização sobre a utilidade de produção produtiva
dos bens e dos recursos, inclusive os recursos intangíveis (Ex.: marca).
É possível visualizar a ideia de otimização ou maximização dos ativos no art. 75, I e II,
da lei 11.1012/005. Deve ser feita uma remissão para o art. 109, da lei 11.1012/005.
Art. 109. O estabelecimento será lacrado sempre que houver risco para a execução da
etapa de arrecadação ou para a preservação dos bens da massa falida ou dos interesses
dos credores.
Obs.: Essa medida dura e constritiva tem por objetivo preserva, otimizar, garantir que a
etapa da arrecadação aconteça dentro dos interesses dos credores, pois a ideia é que os
bens sejam preservados para que sirvam de pagamento e não para a continuidade ou
preservação da empresa. Se for possível manter alguma atividade, de forma contínua,
para que ela seja vendida conjuntamente para que se apure mais dinheiro por ela e ela
possa de fato produzir seus resultados com outra pessoa, com outro empresário, isso
pode ser feito. Quando há o lacre do estabelecimento, o juiz pode determinar a venda
dos bens para amealhar os ativos líquidos para a massa falida, desde o início.
Ademais, deve ser feita uma remissão do art. 75, I e II, com o art. 117, da lei
11.1012/005.
Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser
cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do
passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação de seus ativos,
mediante autorização do Comitê.
Obs.: A expressão “realocação útil” significa que os ativos não serão vendidos de
qualquer maneira, mas sim serão vendidos com determinados critérios. A ideia é que
ativo volte de maneira útil para a economia, com possibilidade de expansão, de
incremento, de desenvolvimento de novos projetos. A ideia não é liquidar o ativo e
acabar com a atividade. A ideia é realocar os ativos de uma maneira útil. Aqui está se
tratando de bens individualmente considerados e não de bens conjuntamente
considerados (Ex.: estabelecimento, aviamento, etc.).
Pergunta
A ideia é que uma pessoa que contratou um fornecimento e que é credor porque o
devedor está inadimplente com ela, ela tenha o direito para ser exercido no processo de
falência, mas não será no mesmo momento do direito dos créditos trabalhistas, que
recebem em primeira ordem.
Essa lógica atende ao Princípio Par Conditio Creditorio, que está relacionado a ideia
de ser feito o vencimento antecipado e colocar todos os credores numa fila para serem
tratados de forma igual desde que estejam na mesma classe. Todo mundo da mesma
classe recebe o mesmo tratamento. Crédito trabalhista é tratado da mesma forma que
todos os créditos trabalhistas. Crédito com garantia real é tratado da mesma forma que
crédito de garantia real. A diferença de tratamento é entre a natureza dos créditos, mas
entre si o crédito é tratado da mesma maneira. A ideia é não ocorrer disparidade e,
consequentemente, desatendimento, ao Princípio da Paridade dos Credores.
Da leitura do inciso III, do art. 75, é possível entender que não se admite a demora no
trabalho do administrador judicial, sobretudo na fase de arrecadação e alienação do
bem. Esse atraso pode significar um atraso na venda de veículo, de maquinário, o que
pode resultar em perdas substanciais para a própria massa falida. A ideia desse artigo é
dar um norte para o administrador judicial. O trabalho do administrador deve ser focado
em arrecadar rápido e alienar rápido. O levantamento desse passivo, o pagamento desses
credores, nessa ordem. Uma vez que a liberdade de empreender está garantida na
constituição, faltava na lei uma previsão legislativa que estabelecesse a possibilidade de
insucesso numa empreitada e a forma de conciliação do empresário falido com a
sociedade e o seu retorno à atividade econômica.
Exemplo: o administrador está liquidando os ativos e consegue liquidar uma boa parte e
passa a pagar os credores. Talvez no momento em que ele começa a negociar o
pagamento dos credores, já possa se pedir que retire a negativa. Não esperar o processo
de falência chegar ao final com uma sentença que extingue a falência para retirar a
negativa.
Caroline entende que o instituto do Fresh Start não foi importado completamente, pois
seria necessária a presença de mais dispositivos para aplicação desse sistema no Brasil.
Contudo, algumas modificações se compatibilizam com o art. 75, III. O art. 158, V, fala
que a quitação de um percentual de 25% dos débitos já consiga retomar a atividade, pois
é possível a confirmação da extinção das obrigações no processo de falência.