Comentários Lei de Falência

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1.

0 CONCEITO DE FALÊNCIA

Na culta lição de WALDO FAZZIO (FAZZIO JR, Waldo: Manual de Direito


Comercial – 11 ed: São Paulo: Atlas: 2010. p. 637), a falência é “um processo
concursal instaurado por uma sentença constitutiva, que tem por objetivo
solucionar as relações jurídicas oriundas da inviabilidade econômico-financeira
revelada pela insolvência do agente econômico, tendo em vista o tratamento
paritário de seus credores”. Em outras palavras, o processo falimentar
vislumbra à satisfação dos credores, quando o panorama financeiro da
empresa dá indícios de que não conseguirá cumprir suas obrigações.

2.0 O ESTADO DE INSOLVÊNCIA

A insolvência atua como uma reveladora desequilíbrio financeiro da empresa,


ela é definida pelo resultado negativo da operação ATIVO – PASSIVO.
Destarte, a insolvência é um pressuposto para a instauração do processo de
falência, muito embora não seja o único.

Deve ser a insolvência, nas palavras do mestre FÁBIO ULHÔA (COELHO,


Fábio Ulhôa: Comentários à Nova Lei de Falência e de Recuperação de
Empresas: 6 ed: São Paulo: Saraiva, 2009. p. 252), “compreendida num
sentido jurídico preciso que a lei falimentar estabelece”. Em verdade, a
demonstração da inferioridade do ativo em relação ao passivo, por si só, não
enseja a decretação de falência, tampouco, o saldo positivo do balanço
patrimonial livra o agente econômico de tal execução. É preciso mais do que
isso, se faz necessário, para a decretação do estado de insolvência jurídica
que ocorra pelo menos uma das hipóteses elencadas no art. 94 da Lei
11.101/05. Quais sejam, impontualidade injustificada no cumprimento de
obrigação (inciso I), tríplice omissão (inciso II) ou se incorrer em atos de
falência (inciso III). Ocorrendo uma dessas três hipóteses, será decretada
falência, mesmo que o empresário tenha patrimônio líquido positivo.

3.0 CRITÉRIOS AFERIDORES DA INSOLVÊNCIA

3.1 Impontualidade Injustificada (art. 94, I)

Dispõe a letra da lei que

 “será decretada a falência do devedor que: I- sem


relevante razão de direito, não paga, no vencimento,
obrigação líquida materializada em título, ou títulos
executivos prestados, cuja soma ultrapasse o equivalente
a 40 (quarenta) salários mínimos na data do pedido de
falência.”

Aduz-se do dispositivo em comento que a obrigação deve ser líquida, esta


entendida como a representada por título executivo, judicial ou extrajudicial,
protestado. Além disso, o montante da dívida deve superar 40 salários
mínimos, o equivalente hoje a R$ 21.600, valores até esse devem ser
pleiteados por via de execução individual. Preceitua ainda o § 1º do art. 94 que
poderão pleitear a falência de empresa, diversos credores que sozinhos não
atingirem o mínimo legal exigido, mas que juntos ultrapassem esse valor,
desde que atuem em litisconsórcio.

Vale lembrar que a impontualidade há de ser injustificada, pois se tiver razão


que justifique o inadimplemento não caracterizará insolvência e, por
conseguinte, não importará falência. A própria lei em seu art. 96 elenca os
casos em que a falência não será requerida com base na impontualidade, são
eles: falsidade do título; prescrição; nulidade da obrigação; pagamento da
dívida; qualquer motivo que extinga ou suspenda o cumprimento da obrigação
ou não legitime a cobrança do título. Por óbvio, se uma dívida é inexigível, o
devedor não pode incorrer em inadimplemento, quanto mais, esse implicar em
falência.

3.2  Execução frustrada (Art. 94, II)

Há casos em que o credor executa individualmente um título, em face do


devedor inadimplente, mediante ação de execução simples. Quando tal ocorre,
pode acontecer do devedor-empresário omitir-se de satisfazer a execução.
Nesse caso, pressupõe-se que o agente econômico inadimplente não adimpliu
a execução pela impossibilidade de fazê-lo em face de sua situação de
insolvência.

É exatamente disso que trata o inciso II do art. 94, in verbis:

“Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:

(...)

II- executado por qualquer quantia líquida, não paga, não


deposita e não nomeia a penhora bens suficientes dentro
do prazo legal.”

 
Aqui não há de se falar em protesto do título, pois que o estado de insolvência
patrimonial já se positivou com o não cumprimento da execução.

FAZZIO JR, assim leciona:

“Se, na execução individual, o empresário devedor não


paga, não deposita o quantum reclamado ou não nomeia
bens à penhora, no prazo legal, o credor pode requere o
encerramento da execução singular e ingressar com o
pedido de falência do mesmo devedor em processo
próprio”. (COELHO, Fábio Ulhôa: Comentários à Nova Lei
de Falência e de Recuperação de Empresas: 6 ed: São
Paulo: Saraiva, 2009. p. 642)

É bom lembrar que nesse caso não se fala em valor mínimo do montante da
dívida como no caso do inciso I (40 salários mínimos).

3.3  Atos de Falência (Art. 94, III)

Quis o legislador enumerar outros casos que denotam as dificuldades


financeiras da empresa e supõem uma insuficiência que põe em risco a
satisfação dos credores.

Como se verifica, esses atos legais não implicam dizer que a instituição esteja,
de fato, em estado de insolvência, mas apenas que tais práticas insinuam uma
conjuntura patrimonial em dificuldade pondo assim, em cheque, os interesses
dos credores.

3.3.1     Liquidação Precipitada

Aqui a lei protege os credores dos desmandos irresponsáveis do empresário


que, de forma abrupta se desfaz de importantes ferramentas à manutenção do
funcionamento da empresa. Ou ainda, o empresário que contrai empréstimos
sem qualquer perspectiva de adimpli-lo ou recuperar a empresa endividada.

3.3.2     Negócio Simulado
Nas palavras de FABIO ULHÔA:

“Se o empresário individual ou a sociedade empresária


tenta retardar pagamentos ou fraudar credores por meio
de negócios simulados, ou ainda, alienar, parcial ou
totalmente, elementos do seu ativo circulante” (COELHO,
Fábio Ulhôa: Comentários à Nova Lei de Falência e de
Recuperação de Empresas: 6 ed: São Paulo: Saraiva,
2009. p. 256)

3.3.3     Transferência de Estabelecimento

A transferência de estabelecimento só deve ocorrer com o consentimento dos


credores. Caso contrário, o devedor deve conservar bens suficientes para
responder pelo passivo.

3.3.4 Transferência Simulada do Principal Estabelecimento

Malgrado tenha o empresário liberdade para transferência seu estabelecimento


de acordo com sua nacionalidade empresarial, há casos em que a
transferência tem finalidade ilícita, tratando-se de uma simulação,
caracterizando falência.

3.3.5 Garantia Real

Em suma, tal inciso busca assegurar a paridade dos credores, não acertando a
concessão de garantia real pelo empresário a um ou mais de seus credores,
em detrimento dos demais.

3.3.6 Abandono

O abandono do estabelecimento empresarial por parte do empresário importa


caracterização de ato de falência.

                      3.3.7 Descumprimento de Obrigação Assumida no Plano de


Recuperação Judicial

Uma vez em recuperação a empresa deve honrar os compromissos firmados


sob pena de falência.

 
 

4.0 O Pedido de Falência

            4.1 Legitimidade Ativa

Na dicção do art. 97 da lei 11.101/5, estão legitimados para o pedido de


falência: “o próprio devedor (inciso I), o cônjuge sobrevivente, qualquer
herdeiro do devedor ou o inventariante; o cotista ou o acionista;  qualquer
credor.

No que concerne a autofalência (inciso I) é evidente a ineficácia do dispositivo,


pois que não há imposição de sanção.

Outra hipótese rara é o pedido de falência pelos próprios sócios ou acionista.


Ora tais pessoas são diretamente afetadas pela instauração do processo
falimentar.  Mesmo assim,, tendo vontade a maioria dos sócios ou acionistas,
tal pedido dar-se-ia em conformidade com o inciso I, pelo instituto da
autofalência. Em verdade a hipótese do inciso III só tem alguma lógica se
pensarmos em um pedido de sócio minoritário, mesmo aqui, na prática, não é
frequente, pois tem-se preferido a dissolução parcial.

O inciso IV traz a regra geral, pois que põe como sujeito ativo o maior
interessado no pedido de falência – o credor. Tamanha é a recorrência dessa
hipótese que processo falimentar tem sido na prática, um mero instrumento de
pressão na busca de satisfação do crédito devido. Por óbvio, há uma
preferência pela execução         concursal em detrimento da execução comum,
pois essa última nem sempre tem eficácia assegurada. Com vistas a essa
manobra muitos juízes têm indeferido a petição inicial se o credor não houver,
impetrado execução individual. Atitude essa questionável, já que a lei não
impõe tal requisito.

            4.2 Procedimento Peticionário

A petição iniciadora do processo de execução concursal reúne tanto requisitos


comuns, quanto específicos. Assim, recebida a inicial pelo juiz, este verificará
se estão presentes as condições da ação, os pressupostos processuais, os
requisitos formais da petição  inicial e, sobretudo, os pressupostos processuais,
os requisitos formais da petição inicial e, sobre tudo, os pressupostos
específicos da falência. 

            Os requisitos específicos dependem do alicerce do pedido. Se a ação


se funda na impontualidade injustificada, no exame da inicial deve constar o
título executivo superior a 40 salários mínimos e a certidão de protesto do
mesmo. Em se tratando de pedido com respaldo na execução frustrada, a
petição inicial deverá conter certidão expedida pelo cartório onde se processa a
execução. Por ultimo, sendo o ato de falência a causa do pedido, o autor
deverá atribuir ao devedor uma ou algumas condutas enumeradas na Lei.

A partir daí, na culta lição de FAZZIO JR:

“Estando o pedido regular, mediante despacho liminar, o


juiz manda citar o réu. Tratando-se de ré sociedade
ilimitada, deverão ser citados também seus sócios, posto
que sujeitos a quebra. Nada impede que, nessa
oportunidade, presentes o fomus boni iuris e opericulum in
mora, o órgão judicial decrete medida cautelar tendente,
não apenas a preservar o interesse do credor, mas,
sobretudo, o ativo do devedor, em risco decorrente de sua
omissão administrativa ou operacional.” (COELHO, Fábio
Ulhôa: Comentários à Nova Lei de Falência e de
Recuperação de Empresas: 6 ed: São Paulo: Saraiva,
2009. p. 658)

Com a inicial acatada, abre-se ao devedor o lapso temporal em que


apresentará defesa (10 dias). Julgada improcedente a resposta do devedor o
juiz ordenará o pagamento em favor do requerente e extinguirá o processo. Em
caso de procedência da resposta, o pedido de falência será indeferido,
sucumbindo o autor que ainda, em caso de dolo, arcará com perdas e danos.

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