Didática - Abordagens teóricas contemporâneas_102254ecc937ab3726b6b5377f422a2f
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FACED/UFBA, 2018
Didática
abordagens teóricas contemporâneas
Volume 1
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Reitor
João Carlos Salles Pires da Silva
Vice-reitor
Paulo Cesar Miguez de Oliveira
Assessor do Reitor
Paulo Costa Lima
Conselho Editorial
Alberto Brum Novaes
Angelo Szaniecki Perret Serpa
Caiuby Alves da Costa
Charbel Ninõ El-Hani
Cleise Furtado Mendes
Evelina de Carvalho Sá Hoisel
Maria do Carmo Soares de Freitas
Maria Vidal de Negreiros Camargo
XIX ENDIPE
FACED/UFBA, 2018
Didática
abordagens teóricas contemporâneas
Volume 1
Marco Silva
Cláudio Orlando Costa do Nascimento
Giovana Cristina Zen
organizadores
Salvador
Edufba
2019
2019, Autores.
Direitos dessa edição cedidos à Edufba.
Feito o Depósito Legal.
Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990,
em vigor no Brasil desde 2009.
CDD – 371.3
Editora afiliada à
Editora da UFBA
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Tel.: +55 71 3283-6164
www.edufba.ufba.br
[email protected]
SUMÁRIO
Apresentação 09
parte 1
didática na contemporaneidade
rupturas e perspectivas
Aprendizagens e desaprendizagens na
docência pela experiência estética 189
outros movimentos e tensões no cotidiano educacional
Valeska Maria Fortes de Oliveira
parte 3
didática , metodologias
e práticas inovadoras
9
olhares sobre o contexto atual, seus desafios, embates, enfrentamentos e
implicações na educação básica e educação superior. Confrontamos paradig-
mas, criando espaços de interlocução e trabalho cooperativo entre as insti-
tuições e as pessoas.
Este Livro 01 trata, pois, das abordagens teóricas da didática na atua-
lidade num cotejamento entre o que foi a didática num passado ainda re-
cente, no presente e também no futuro. Abordagens didático-pedagógicas
conservadoras ainda reinantes, como as de matriz conteudista transmissio-
nal, foram debatidas e checadas quanto a sua eficácia em tempos de pro-
fundas mudanças sociais, políticas e econômicas. Exemplares importantes
se fazem notar desde a emergência das novas tecnologias da informação e
comunicação que trouxeram, no seu bojo, uma linguagem singular, efême-
ra, sintética, num pensar diferenciado e em outras sociabilidades.
Além disto, vivemos imersos numa grande crise cataclismática ociden-
tal que nos faz reviver, entre atônitos e perplexos, uma reviravolta conserva-
dora no plano social e político sem precedentes na história. Um sentimento
misto de déjà vu e perplexidade se nos acomete e o medo ante a perda de
conquistas sociais importantes num país ao mesmo tempo gigante e apeque-
nado. Teimamos em resistir.
Uma didática critica, de caráter emancipatório ressurge desde que
foi posta em questão em idos dos anos de 1980. Novas ondas, no dizer de
Selma Garrido Pimenta, permitem-nos surfar e entrever as possibilidades
de ressignificação da didática. Assim como Maria Amélia Santoro Franco
aposta numa didática crítica renovada.
A didática lúdica oriunda de um linguajear sensível se descortina
acalentada por D’Ávila no texto de Pimenta. A didática encarnada de Mar-
co Silva ganha sopro vital e aposta na interatividade, interlocução, diálogo,
interatividade, conectividade, e compartilhamento num novo cenário so-
ciotécnico. Edmea Santos aposta em recursos educacionais abertos que
desafiam a didática na cibercultura. Canda, Lopes e Fortuna acreditam na
força da arte e da ludicidade como linguagens necessárias a estes novos
enfrentamentos. Experiência estética (Fortes), didática aberta associada à
cultura digital (Bruno), além de questões como a interculturalidade e a
apresentação 11
trução colaborativa e o compartilhamento de Recursos Educacionais
Abertos (REA) para a promoção da autoria e a formação de professores.
“Com atividades que promovam a pesquisa, a produção e o compartilha-
mento de REA”, ela sugere, “poderemos contribuir para a divulgação da
filosofia de abertura dentro e fora das escolas, favorecendo a formação
de sujeitos-autores capazes de colaborar na construção de materiais di-
gitais de qualidade”.
A escola e a sociedade devem combater o assédio sexual, a pornografia
infantil, o tráfico e exploração sexual de crianças e adolescentes e às mensa-
gens de ódio contra minoria observados na internet. No texto “Cibercultura
e violência: por uma didática intercultural contra o ódio nas redes sociais”,
Telma Brito Rocha aciona os estudos da didática para essa temática emer-
gente. Apresenta os resultados de um projeto realizado numa escola de Sal-
vador, Bahia, que, utilizando as tecnologias de informação e comunicação e
software livre, preparou crianças e adolescentes a identificar e enfrentar os
crimes do ciberespaço.
“Arte e ludicidade: novos encaminhamentos didáticos” é o tema da
parte 2, que é composta de cinco artigos. O texto incial é de Cilene Nasci-
mento Canda. Um convite para quem deseja refletir sobre a constituição
de espaços/tempos de experiência estética da infância à vida adulta na uni-
versidade. Assim deve ser entendida “Formação estética de professores:
tessituras sobre infâncias, artes e educação”, a contribuição da autora para
este volume. O texto analisa os sentidos atribuídos por estudantes de licen-
ciaturas da Universidade Federal da Bahia (UFBA) à ação formativa Sarau
Infantil Toda Criança é um Poema. Para isso, a autora recorreu à aborda-
gem qualitativa da pesquisa, com inspiração na investigação-formação e
em diálogo com autores e abordagens sobre os fundamentos teóricos da
arte-educação, infância e da educação estética.
Para Conceição Lopes, educar e ensinar envolve um tipo de liderança,
a liderança de serviço. Além de eleger o líder sul-africano Nelson Mande-
la como uma inspiração, em “Educadores e professores, líderes de servi-
ço, ao jeito de Nelson Mandela: mediadores de comunicação e ludicidade
na promoção da aprendizagem e da mudança”, ela reflete sobre o design
apresentação 13
A parte 3 reúne cinco artigos sobre “Didádica, metodologias e práti-
cas inovadoras”. O texto inicial de Adriana Rocha Bruno, “Por uma didáti-
ca aberta, de par em par”, relaciona a didática contemporânea ou “didática
aberta” à cultura digital, aludindo aos mitos de Dédalo e de Ícaro para
propor duas perguntas: a) como nossas criações podem nos aprisionar?; e
b) podem nossos sonhos nos cegar? Ela trabalha com os conceitos de edu-
cação aberta, hibridação e cultura digital, fundamentais para uma didática
aberta, cuja prática seja a parceria de par em par. O texto reprocessa dados
produzidos em Portugal na pesquisa do pós-doutoramento da autora, que
narra a experiência da Universidade de Lisboa intitulada Observar e Apren-
der, uma espécie de fórum de formação de professores interdisciplinar.
Para Marcos Tarciso Masetto, a didática requer uma reflexão sistemá-
tica sobre o processo de aprendizagem, que, por sua vez, envolve quatro
grandes áreas de desenvolvimento: cognitiva, afetivo-emocional, habilida-
des e atitudes. Em “Tempo, espaço e práticas pedagógicas”, ele apresenta
essas concepções e uma angústia: como encontrar tempo e espaço adequa-
dos para trabalhar com os alunos essa aprendizagem, com uma carga ho-
rária de disciplina insuficiente? Seu objetivo é discutir projetos curricula-
res e práticas pedagógicas inovadoras, explorando “o tempo e o espaço” de
modo a criarem condições de aprendizagem para os alunos. Ele analisa os
conceitos teóricos de “tempo kairós” e “espaço-cidade” à luz das conside-
rações de Carbonell (2016) e compartilha práticas pedagógicas inovadoras
estudadas em suas pesquisas e utilizadas em sua própria prática docente.
Em “Didática encarnada: engajamentos docentes na licenciatura”,
Marco Silva apresenta os resultados de uma pesquisa realizada com alu-
nos da disciplina Didática e Estágio Supervisionado (DES), oferecida nas
licenciaturas da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ). Utilizando a metodologia da pesquisa-formação,
sua investigação relaciona as abordagens comunicacionais de Anísio Tei-
xeira e de Paulo Freire sobre docência na sala de aula presencial com as
abordagens de teóricos da cibercultura sobre docência na sala de aula
semipresencial (b-learning). Em tempos de comunicação docente en-
volvendo interação, interlocução, diálogo, interatividade, conectividade,
apresentação 15
professores. Assim, a autora aborda o primeiro coletivo de pensamento,
associado ao corpo biológico e, posteriormente, o segundo, vinculado ao
corpo em uma perspectiva sociocultural. Por fim, discute desafios para o
campo e para a formação de professores, à luz dos princípios de uma edu-
cação sociocorporal.
INTRODUÇÃO
A PRÁTICA SEM TEORIA?
19
professores. Esses conglomerados detêm cerca de 70% dos cursos de licen-
ciatura no país, sendo 88% destes em Educação a Distância (EaD).
Qual concepção de professor, de profissional docente e de trabalho
docente defendem?
Para os conglomerados financistas, o professor é um simples técnico
prático, com identidade frágil, executores dos scripts e currículos produzi-
dos por agentes externos empresários/financistas do ensino, que elaboram o
material, as atividades, as técnicas e as estratégias a serem executados pelos
professores em qualquer que seja a realidade das escolas. Esses materiais
são vendidos às secretarias municipais/estaduais de educação, em pacotes
acompanhados de cursos e treinamentos para a formação contínua das equi-
pes escolares. As avaliações externas dirão os professores que poderão rece-
ber abonos, e não aumento de salários, e conforme os resultados que seus
alunos obtiverem. A docência, por sua vez, é reduzida a habilidades práticas,
com ausência dos saberes da teoria pedagógica ou reduzidos à prática; uma
formação prática – sem “teoria”; com estatuto profissional precário: contra-
tos por tempo determinado, sem direitos trabalhistas. As Diretrizes Curri-
culares Nacionais (DCN), expressas na Resolução n° 02/2015, evidenciam,
em parte, essa concepção ao manter na estrutura dos cursos de licenciaturas
as Práticas como Componente Curricular (PCC). Sem se valer das pesquisas
que evidenciaram o uso indiscriminado desse componente por parte das
Instituições de Ensino Superior (IES), que introduziram em seus currículos
disciplinas e atividades que em nada guardam identidade com a formação
docente. (PIMENTA et al., 2017b ) Nesse sentido, o Conselho Nacional de
Educação (CNE), na Resolução de 2015, deixou brecha para a sanha pra-
ticista dos conglomerados. Outro exemplo dessa investida privatista/prati-
cista pode ser conferido no Parecer que instrui a Deliberação n° 154/2017,
do Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo, dominado por
representantes e defensores dos setores privatistas.
No dizer de Shiroma, Moraes e Evangelista (2010), as chances de
extrair lucro da desqualificação dos trabalhadores, advinda de uma for-
mação sucateada, abrem a oportunidade de negócio para os empresários
da educação. A situação de instabilidade, precarização, terceirização e
A DIDÁTICA EM MOVIMENTO
AS ONDAS CRÍTICAS
O MOVIMENTO DE RESSIGNIFICAÇÃO
NA DIDÁTICA EM SEU CAMPO DISCIPLINAR
NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
E nos apresenta trechos das entrevistas que realizou das quais repro-
duzo trechos e partes de suas análises às quais acrescento as que realizei
para a escrita deste texto a partir de diferentes autores. Esse movimento
me possibilita traçar um mapa próvisório das recentes tendências críti-
cas que emergiram (ou foram reconfiguradas) na área nas duas décadas
deste século. São elas: Didática Crítica Intercultural (CANDAU, 2000,
2010); Didática Crítica Dialética Reafirmada (PIMENTA, 2008; OLIVEI-
RA, 2009); Didática Desenvolvimental (LONGAREZI; PUENTES, 2011);
Didática Sensível (D´ÁVILA, 2011, 2018); Didática Multidimensional
(FRANCO; PIMENTA, 2014, 2016).
Candau (2000 apud Faria, 2018, p. 10) “[...] entende que é preciso captar as
contribuições da crítica pós-moderna para repensar o campo da pedagogia
e da didática”. Nesse sentido, salienta:
Maria Rita Oliveira foi uma das entrevistadas por Faria (2018). Para anali-
sar seu depoimento, traz um dos escritos dessa autora:
Para esses autores, a “[...] ciência pedagógica sob uma vertente ma-
terialista histórico-dialética, assume uma perspectiva desenvolvimental”
(PUENTES; LONGAREZI (2013, p. 11), na qual fundamentam a didática
desenvolvimental que definem como segue:
Edgar Morin (1990, 1999, 2016) comparece por ser “[...] crítico
à hiperespecialização das ciências que deixam de se comunicar entre
si, perdendo, assim, a visão global da realidade”. (DUARTE JR, 2004,
p. 185) e por propor “que a educação do sensível se dê através da arte e
do fazer artístico desde a infância.” Para compor os fundamentos de sua
didática do sensível, traz as contribuições de autores de quatro verten-
tes da psicologia cognitiva: a epistemologia construtivista de Jean Piaget
(1970), a epistemologia sociointeracionista de Lev S. Vygotsky (1984),
DIDÁTICA MULTIDIMENSIONAL –
FRANCO, PIMENTA (2014)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre:
ARTMED, 2000.
CHARLOT, B. Da relação com o saber às práticas educativas. São Paulo: Cortez, 2013.
FREIRE, P. A educação como prática da liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 1979.
FREIRE, P. Educação e mudança. 30. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 24. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
INTRODUÇÃO
65
de representar e de valorar o mundo. Gentili (1995, p. 244) realça que o
neoliberalismo precisa, entre outras coisas, despolitizar a educação, dan-
do-lhe significado de mercadoria para garantir o triunfo de suas estratégias
mercantilizantes e o necessário consenso em torno delas.
Esta despolitização é uma das principais rupturas que abalam a ra-
cionalidade pedagógica (crítica) da educação. Paulo Freire (2000, p. 95), há
tanto tempo, já se indignava com este processo e afirmou: “Nunca talvez se
tenha feito tanto pela despolitização da educação quanto hoje”.
A ciência da educação em sua história já compreendeu e pesquisado-
res já comprovaram que não funciona oferecer ao educador teorias sobre
fatos e normas observadas por outrem, para que ele, professor, aplique em
sua prática; no entanto, é fundamental auxiliar o educador “a perceber as
exigências de cada situação educacional concreta, de tal forma que ele se
torne apto a levá-las a cabo autonomamente.” (SCHMIED-KOWARZIK,
1983, p. 50)
O que se realça é a necessária formação do professor, do pedagogo,
para o pensamento autônomo, crítico, uma vez que esta posição, sobre
a reflexão da responsabilidade do educador, deve ser o cerne da ciência
pedagógica.
As práticas educativas, quer as práticas de formação do aluno, quer
as do docente, se realizadas de forma apenas tutorial, organizadas de fora
para dentro, mecanicamente reproduzidas, supondo-se práticas neutras,
sem os compromissos com o sujeito e suas circunstâncias, são inviáveis,
correspondendo a ações sem sentido, que não funcionam como práticas
pedagógicas. Por isso, considero que toda pedagogia deva transformar-se
em uma pedagogia para o oprimido, no sentido de trazer o sujeito ao diá-
logo, à reflexão e ao compromisso com a formação.
Nunca é demais evidenciar que quando se fala da politicidade das
práticas pedagógicas, quer-se afirmar que isto não significa a doutrinação
pedagógica ou domesticação pedagógica. Ao contrário, o pensamento críti-
co do professor, é a maior arma contra o proselitismo doutrinário. A politi-
cidade exerce-se na perspectiva freireana, sugerindo que:
DIDÁTICA CRÍTICA
Tenho visto muitos alunos repetirem a frase muito presente nas redes so-
ciais: “educar é para famílias e ensinar é tarefa das escolas”. Vejo isso como
um grande equívoco. Não posso conceber um ensino fora da perspectiva
da formação!
CONCEITOS EMPRESARIAIS
Por que nos curvamos e não dizemos não, quando invadem nossas con-
vicções? Por que assumimos conceitos que deturpam o sentido da educa-
ção? Por exemplo: por que aceitamos falar de tutores ou agentes de ensino
substituindo o conceito de docência? Por que aceitamos e reproduzimos
o vocábulo “protagonismo” na escola, substituindo o conceito que nos é
tão caro, de autonomia intelectual? Por que aceitamos a substituição dos
orientadores educacionais e hoje temos o tutor de vida e trabalho, nas esco-
las de tempo integral do estado de São Paulo? Há muitos outros exemplos,
mas o importante é que devemos resistir em propagar e dar credibilidade
a esses conceitos estratégicos.
Somos gerentes, gestores ou somos diretores de escola, ou adminis-
tradores das condições educativas das escolas?
“Rankear” as escolas? Por que damos tanta importância a isso? Será que
as medidas que fundamentaram o tal ranking representam nossa concepção
de educação? O que informam esses rankings sobre boa formação, processos
de autonomia/emancipação?
Por que assumirmos desenvolver em nossas escolas projetos pré-
-prontos e que nada significam aos participantes desta escola?
REFLEXÕES FINAIS
Segundo Hill (2003, p. 24), Glenn Rikowski, desenvolve uma análise mar-
xista baseada no estudo da força de trabalho. Referindo-se à educação, ele
sugere que os professores são os mais perigosos dos trabalhadores porque
eles têm um papel especial na formação, no desenvolvimento e na força
da única mercadoria sobre a qual depende o sistema capitalista: a força
de trabalho.
Rikowski, de acordo com Hill (2003, p. 25, grifo nosso), defende que
o Estado precisa controlar esse processo por duas razões:
Paulo Freire nos deixou seu legado que se vincula à necessária poli-
ticidade da educação. Disso decorre a compreensão de que, para aprender,
o aluno precisa se fazer sujeito, cobrir-se de humanidade e construir sen-
tidos: fazer-se um sujeito que se vê no mundo e que pode dizer-se autor
desse mundo. Ensinou-nos Paulo Freire: despersonalizados, somos opri-
midos e mudos!
REFERÊNCIAS
António Nóvoa exorta professores a dizer “não”. Público, Lisboa, 3 maio 2013.
Disponível em: https://www.publico.pt/2013/05/03/sociedade/noticia/antonio-
novoa-exorta-professores-a-dizer-nao-1593260. Acesso em: 12 jul. 2018.
CARR, W. Una teoria para la educación: hacia una investigación educativa crítica.
Madrid: Morata, 1996.
FREIRE, P. A educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
edméa santos
tatiana stofella sodré rossini
INTRODUÇÃO
89
O movimento de software livre, conhecido também como Free Libre
and Open Source Software (FLOSS), tem se consolidado cada vez mais no
âmbito global, propiciando o aperfeiçoamento constante de programas/
aplicativos/serviços por praticantes em sintonia com o espírito do tem-
po. A abertura de códigos informáticos permite a construção colaborativa
horizontal e a livre participação possibilitando a personalização para cada
contexto a ser empregado. Primeiramente, começou com softwares com-
plexos, como por exemplo, o sistema operacional Linux, depois com apli-
cativos mais simples (ex: Mozila1), até chegar a customização e remixagem
(LEMOS, 2008) de serviços oferecidos na internet (ex: Flickr2).
Em 2002, a partir da iniciativa do Massachussetts Institute of Te-
chnology (MIT) de disponibilizar materiais de cursos on-line para acesso
aberto (open access), a United Nations Educational Scientific and Cultural
Organization (Unesco) cunhou o termo “Open Educational Resources”
(OER), conhecido como “Recursos Educacionais Abertos” (REA), no Fo-
rum on the Impact of Open Courseware for Higher Education in Deve-
loping Countries. Neste fórum, os participantes definiram os REA como
materiais digitais oferecidos de forma livre e aberta para professores, es-
tudantes e a comunidade acadêmica em geral para uso, remixagem e com-
partilhamento na docência, aprendizagem e pesquisa. (LEMOS, 2008)
O objetivo é promover a produção colaborativa de “bens culturais comuns”
(AMIEL, 2012), conhecidos como commons, para toda a humanidade e tor-
ná-los disponíveis gratuitamente e devidamente licenciados, em prol do
conhecimento globalizado e da redução de custos na compra de livros di-
dáticos impressos. (UNESCO, 2009)
Com a intensificação do movimento de software livre, várias institui-
ções educacionais internacionais começaram a oferecer livre acesso a con-
teúdos abertos de cursos de graduação e pós-graduação para a comunidade
acadêmica em geral. Os REA podem ser conteúdos de aprendizagem de
cursos abertos, interfaces de apoio ao desenvolvimento, à utilização, ao
1 Mozila é um Software livre que possui o código aberto para ser transformado pelos usuários.
2 Flickr é um software social o qual fornece suporte para grupos de pessoas interagirem colabo-
rativamente, compartilhando informações e recursos.
O movimento para uma Educação Aberta tem se intensificado cada vez mais
em busca de processos de ensino e aprendizagem cada vez mais complexos
e flexíveis, levando em consideração a diversidade de contextos e os interes-
ses dos participantes com vistas à colaboração, à interatividade, à liberdade,
sem restrições de uso, reapropriações e compartilhamento. (AMIEL, 2012)