Trabalho de Maynard - Dosimetria
Trabalho de Maynard - Dosimetria
Trabalho de Maynard - Dosimetria
RECLAMAO 2636/RJ - RIO DE JANEIRO Relator(a): Min. GILMAR MENDES Julgamento: 08/09/2005 rgo Julgador: Tribunal Pleno Parte(s) RECLAMANTE : ISAIAS PEREIRA CABRAL ADVOGADO : MRIO CYFER RECLAMADO : JUIZ DA 3 VARA FEDERAL CRIMINAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO EMENTA: Reclamao. 2. Alegao de descumprimento da deciso proferida no HC 81769. 3. Pena. Dupla valorao. Internacionalidade do delito considerado no clculo da pena base e como causa especial de aumento. 4. Correo levada a efeito pelo juiz sentenciante, que excluiu da fundamentao da pena base a internacionalidade, contudo, manteve o mesmo quantum. 5. Reclamao improcedente. 6. Concesso de habeas corpus de ofcio para que se proceda nova dosimetria da pena-base, ante a impossibilidade desta ser igual inicialmente glosada
Essa reclamao trata de uma reforma de sentena feita pelo juiz da 3a Vara Federal Criminal do Estado do Rio de Janeiro em virtude de um habeas corpus julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Nesse habeas corpus, o advogado do paciente pleiteava que o juiz praticou bis in idem ao considerar a internacionalidade do delito tanto no clculo da pena pase como nas causas especiais de aumento de pena. A habeas corpus foi concedido, e o juzo a quo reformou sua sentena. A ementa do habeas corpus determinava a manuteno da pena-base, enquanto que a implementao do acrdo no o fazia. O juzo de primeiro grau, ento, retirou da sua argumentao formal a internacionalidade do delito como circustncia que lhe tenha influenciado na fixao da pena-base, mas a manteve idntica. O advogado do ru, inconformado, impetrou reclamao no STF argumentando a impossibilidade de desconsiderao da internacionalidade sem a conseqente reduo na pena-base, o que evidenciaria descumprimento da deciso do Supremo por parte do juzo federal. O Supremo indeferiu a reclamao, pois, de forma correta ou no, a ementa do acrdo determinava a manuteno da pena-base. No entanto, concedeu habeas corpus de
ofcio para que a 3a vara criminal federal do Rio de Janeiro reforme a sentena alterando a pena base.
RELATOR: DES. GILSON GOIS SOARES O Apelante recorreu da sentena atacando exclusivamente o quantum da pena-base fixada, fundamentando que esta fora aplicada no mximo legal sem qualquer motivao, e requereu a sua reduo para o mnimo cominado. O juzo de primeiro grau motivou dessa forma sua sentena: "culpabilidade comprovada e inerente ao tipo penal discutido; antecedentes sem registro; conduta social e personalidade do homem comum; motivos inescusveis; circunstncias prejudiciais, j que o acusado especializou-se na atividade lcita, chegando a fornecer os 'servios' por telefone pela rede de computadores, internet; conseqncias especialmente graves, dada a quantidade e variedade de artistas e gravadoras lesadas com a atividade do acusado; comportamento das vtimas em nada estimulante ao evento". Com base nisso, fixou a pena-base em 04 (quatro) anos de recluso, ou seja, no patamar mximo, considerando que a pena do crime do art.184, 1 do CP varia de 2 a 4 anos de recluso. Dessa forma, o Desembargador Relator entendeu merecer reparos a sentena proferida. Argumentou a primariedade do ru, alm de no constarem informaes de que possua maus antecedentes. Segundo, porque embora o juiz tenha poder discricionrio para fixar a pena-base dentro dos limites legais, assim como se disse no caso anterior, do STJ, tal poder no arbitrrio porque o caput do art. 59 estabelece um rol de oito circunstncias judiciais que devem orientar a individualizao da pena, e na hiptese dos autos, inclusive, essas circunstncias so em parte favorveis ao Recorrente. O Tribunal redimensionou, portanto, a pena-base para 2 anos e 6 meses de recluso. Como o ru confessou espontaneamente o crime, reduziu a pena em 6 meses, tornando-a definitiva em 2 anos de recluso, ante a ausncia de outras causas modificadoras.
Analizando a apelao, o Desembargador Relator admitiu a inverso das fases da dosimetria na ocasio do proferimento da sentena recorrida, mas no julgou necessrio o anulamento do julgado. Segundo ele, essa caracterstica pode ser corrigida pela instncia superior, no caso o Tribunal de Justia, sem prejuzo para o ru, posto que a pena ainda iria existir, embora talvez maior ou menor, a depender do clculo realizado pelo colegiado. No deferiu, portanto, a anulao da sentena anterior. No que tange o mrito, julgou que a inverso na dosimetria da pena realmente aconteceu, pois praxe forense, decorrente do art. 68 do Cdigo Penal, proceder-se, primeiro, ao aumento pelas causas especficas e, ao final, reduzir a reprimenda em virtude de eventual minorante prevista na parte geral do CP, como a tentativa, que foi constatada no caso em debate. Afirma o relator que a inverso no presente feito no traz nenhum prejuzo ao ru, pois, refazendo os clculos na ordem correta, chegou ao mesmo patamar de pena adotado em primeira instncia. Os advogados tambm alegaram que a reduo por tentativa, que foi menor do que dois teros, puniu novamente o agente pelo uso da arma, resultando em bis in idem, o que foi refutado pelo Relator, para quem no acertado afirmar que h dupla exasperao pela circunstncia do uso de arma, pois o que expressa a Magistrada em sua sentena que a utilizao ostensiva do artefato pelo ru, intimidando as vtimas, configura a realizao de iter criminis significativo, aproximando-se o delito de sua consumao, tornando a tentativa ainda mais prxima da consumao.
Como se v, flagrante o equvoco da sentena, que acabou por confundir qualificadoras com majorantes, institutos absolutamente distintos. Em se tratando de roubo qualificado, inadmissvel a considerao da causa especial de aumento como circunstncia judicial para fixar a pena-base acima do mnimo legal, pois tal causa tem de ser aplicada na terceira fase do sistema trifsico, nos termos do art. 68 do CP, cuja violao, por sua vez, motivo de anulao da sentena, desde que no exista como consertar o engano com a reduo da pena. Aps fixar a pena base em 6 anos e 18 dias multa, ausente circunstncia agravante e presente a atenuante da confisso, a pena foi reduzida em 2 meses e 2 dias multa, restando em 5 anos e 10 meses de recluso e 16 dias multa. Considerando a incidncia do emprego de arma e concurso de agente, sem nenhum fundamento, a magistrada majorou-a no mximo legal de um meio, tornando a pena definitiva em 8 anos e 9 meses alm de 24 dias multa, o que no possvel. O Tribunal decidiu ento pela nulidade da sentena em sua parte dispositiva, sendo mantida a condenao.
O Desembargador Relator concordou com o parecer do Ministrio Pblico no sentido de que, embora o reconhecimento da confisso espontnea tenha servido para que a pena-base fosse fixada pouco acima do mnimo consignado, o juiz precisa obedecer aos critrios previstos no artigo 68 do Cdigo Penal, justamente o que estabelece o sistema trifsico. Assim sobre a pena-base fixada de 05 anos e 05 meses, que se far a atenuao referente confisso espontnea, como indica o doutor Promotor de Justia em suas contra-razes. E sobre essa pena em formao que seria aplicada a causa especial de aumento de pena prevista no artigo 157, que constitui o roubo qualificado pelas circunstncias". Mesmo incidindo duas agravantes no roubo, o respectivo acrscimo no deve ultrapassar o mnimo de um tero, especialmente, quando os autos revelam a inexistncia de nmero excessivo de pessoas e exibio de armas de grande potencial ofensivo. Assim, a sentena a quo foi reformada para que a pena definitiva dos rus fosse fixada em 6 anos e 8 meses.
h como estabelecer uma pena base superior mnima sem a devida fundamentao. Se no houverem circunstncias adequadas ao arbitramento de pena que extrapole mnima cominada, no h possibilidade desta prevalecer, devendo o Tribunal reformar a sentena para recalcular a pena base, e, por conseguinte, as outras fases da aplicao da pena. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CINCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE DIREITO PROCESSO PENAL II - PROF. CLUDIO MAYNART RABELO