Naven - Gregory Bateson

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Antropologia I - Teoria Americana

Professora Daniele Borges Bezerra


Gregory Bateson
Ethos cultural e dinâmica social
(1904-1980)
• Filho de uma família britânica de
intelectuais de classe média alta.
• Estudou Ciências naturais antes de
interessar-se pela antropologia.
• Foi aluno de Alfred Haddon, Malinowski e
Radcliffe-Brown
• Conheceu Reo Fortune e Margareth Mead
na Nova Guiné. Casou-se com Mead e
mudou-se para os Estados Unidos em
1939.
• Após uma tentativa fracassada de
pesquisa com os Baining, na Nova Guiné,
Bateson estudou os Iatmul.
• Naven (1936) é a sua única monografia
etnográfica.
• O encontro de Mead e Bateson ilustra a
relação entre a antropologia britânica e a
norte-Americana nesses anos.
Antropologia I - Teoria Americana
Primeira edição em 1936 Professora Daniele Borges Bezerra
Segunda edição em 1958

Versão traduzida:

Naven: um esboço dos problemas sugeridos por um


retrato compósito

Uma das principais contribuições da obra é fazer do


comportamento ritual o centro da investigação antropológica.

Ainda que lide com questões relativas à integração social no livro


– funcionalismo– enfatiza ser insuficiente, do ponto de vista
explicativo, tomá-las isoladamente. Portanto, busca em outros
campos disciplinares (como a psiquiatria) e tradições
antropológicas (como a norte-americana) instrumentais analíticos
que permitam observar novos aspectos do fenômeno cultural
Antropologia I - Teoria Americana
Professora Daniele Borges Bezerra
Antropologia britânica e Americana
funcionalismo x cultura e personalidade
• Os antrópologos norte-americanos estudavam principalmente os índios de
seu próprio território, enquanto que os ingleses encaminhavam-se ao
Pacifico Sul e a África Ocidental.
• A Escola Americana irá focar no indivíduo e no particularismo histórico,
enquanto a Escola Britânica irá pensar as organizações sociais e na
sociedade como um todo.

• Bateson vai para Nova Guiné, na região do Rio Sepik em 1929 onde
permaneceu até 1930. Retorna a Cambrigde.

• Em 1932, Bateson retorna a Nova Guiné – especificamente as aldeias de


Mindimbit, Kankanamun, Palimbai e Malingai – a fim de aprofundar suas
pesquisas sobre o Naven.
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Professora Daniele Borges Bezerra
Escola cultura e personalidade

“A chegada de parte do manuscrito de Patterns of Culture de autoria da Dra. Benedict (...)


juntamente com conversas com os Drs. Fortune e Margaret Mead deram-me uma vaga
ideia daquilo que eu queria fazer em Antropologia e, nos três últimos meses que passei na
Nova Guiné”. (BATESON, epílogo, 1936)

A partir da leitura da obra de Benedict, dedicada às características psicológicas e às


configurações culturais, utilizando os conceitos de configuração e padrão –este último
proveniente de Edward Sapir (1884 – 1939) – , Bateson pensou em um modelo circular de
padronização cultural, partindo da ideia de configuração subdividindo-a nas
representações etológica e eidológica.

* Tanto Benedict quanto Sapir eram amigos de Mead e integrantes da escola de cultura e
personalidade
Antropologia I - Teoria Americana
Professora Daniele Borges Bezerra

• O livro trata das relações entre Waus (irmãos da mãe) e os Lauas


(filho da irmã em relação ao homem) classificatórios.
• Com uma visão crítica ao pesado convencionalismo inglês, Bateson
trata os costumes e os comportamentos não como convenção, mas
autêntica invenção.

• A contribuição mais original da obra de Bateson reside no fato de


olhar para a “cultura em movimento”, criando e descrevendo
fundamentos para as interações culturais entendidas como sistema,
por meio do desenvolvimento de uma epistemologia da
comunicação.
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Professora Daniele Borges Bezerra
Cerimônia Naven

Ritual de travestimento feito pelos nativos para congratular certos feitos ou ações
notáveis realizados pela primeira vez por jovens de ambos os sexos. O irmão da mãe
daquele que realizara a ação corajosa vestia-se com adereços femininos e com grande
alarde e bufonaria, percorria a aldeia proferindo uma formula laudatória, assumindo
trejeitos de comportamentos femininos, fazendo demonstrações caricaturais - quando não
obscenas- de inferioridade diante do filho ou da filha de sua irmã, isto é, do realizador da
ação comemorada. Na mesma cerimônia, as mulheres vestiam-se com trajes masculinos e
emulavam com exagero atitudes usualmente características da conduta masculina Iatmul.
5 situações nas quais o Naven ocorrem na vida de um menino

• 1 Feitos maiores- são recebidos como alguma demonstração de comportamento Naven. O mais
importante é o homicídio. Depois do homicídio direto, os atos mais honrados são os que ajudam os
outros a matar com êxito
• 2 Atos culturais de menor importância que celebrados apenas por ocasião de sua primeira
realização. Primeira performance de qualquer ato cultural. Matar aves, peixes, enguia, tartaruga,
morcego; plantar qualquer das seguintes plantas – inhame, tabaco, taro, coco, areca, bétel, sagu,
cana-de-açúcar ; descobrir um gambá no mato; derrubar uma palmeira de sagu, abri-la e sovar o
sagu...
• 3 Atos característicos do laua. Atos que o wau e o laua desempenham em relação um ao outro.
Deveres, serviços ou privilégios. Quando o laua desempenha algum ato conspícuo, característico da
sua posição, o wau reagirá com alguma demonstração de comportamento naven. Tais atos incluem
cerimoniais como a exibição de ancestrais totêmicos do clã do wau.
• 4 Blasonaria na presença do wau (raiva ou aborrecimento). É correto um menino vangloriar-se na
presença do seu wau, mas, se for excessivo, o Wau pode ficar ressentido voltando as nádegas para
o seu laua. Normalmente a ameaça é suficiente para conter a língua do rapaz. Mas se isso não
ocorre o wau completa o ato e, assim também o obriga a presenteá-lo com objetos de valor.
A lista para uma moça inclui:

Pescar um peixe com anzol e linha; coletar insetos; lavar, cozinhar panquecas e
cozinhar massa de sagu; confeccionar uma armadilha para peixes, uma capa de
chuva ou um saco de dormir; e parir uma criança. Esses acontecimentos entram
todos na categoria dos atos culturais que são celebrados por ocasião de sua
primeira realização. Além desses há dois outros acontecimentos, iniciação e
participação nas danças tshugukepmas,
que podem ser celebrados com um naven.

Em ambos os casos, Nascimento e morte NÃO são celebrados pelo naven.

São celebradas, portanto, apenas aquelas ações que constituem o ethos feminino
ou masculino naven.
Configuração

Devemos esta dupla suposição, principalmente, a Dra. Benedict; e os conceitos –


ethos e eidos – que estou sugerindo podem ser considerados como subdivisões de
seu conceito mais geral, o de configuração.
O eidos de uma cultura é uma expressão dos aspectos cognitivos padronizados
dos indivíduos, enquanto o ethos é a expressão correspondente de seus aspectos
afetivos padronizados.
A soma do ethos e do eidos e aquelas características gerais de uma cultura que
podem advir de outros tipos de padronização compõem a configuração (BATESON,
1936)
Através da análise do eidos Iatmul, Bateson explicita modos de pensamento
culturalmente padronizados, premissas e operações de identificação
relevantes para o “comportamento naven” do wau (tio).

Bateson observa expressões características da emoção Iatmul, de seu ethos,


e o valor específico a elas atribuído durante a cerimônia, o que mostra como
a análise do naven encontra-se repartida em um ponto de vista sociológico,
um eidológico-cognitivo e outro etológico-afetivo.

Bateson considera que Naven é principalmente um “estudo sobre a natureza


da explicação”, através do qual se deduz a impossibilidade de totalização
explicativa do fenômeno trabalhado, já que sempre haverá resíduos e
impurezas que escapam a qualquer tentativa de análise.
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• Sua análise tomou como elemento central a relação entre o laua e o seu tio
materno (wau), que se comporta durante o naven como mãe e esposa do laua.

• Assim o ritual serve como contexto para determinar a identificação da relação


classificatória e o reforço de um tipo particular de aliança.

• O naven fortalece os laços de afinidade, impedindo a cisão da comunidade. O


objetivo era por em comunicação e religar aquilo ou aqueles que tendiam a se
separar.

• Os contextos iniciatórios produzem a assimilação dos noviços ao grupo dos


homens- Processo de inculcar o ethos masculino nos noviços.

• Para Bateson, a moldagem do ethos, tanto feminino quanto masculino, resulta


das experiências que meninas e meninos são submetidos na infância, como os
rituais.
“Em primeiro lugar, apresentarei o comportamento cerimonial, removido de
seu contexto, de modo que ele pareça bizarro e absurdo; em seguida,
descreverei os vários aspectos de seu cenário cultural e indicarei como o
cerimonial pode ser relacionado com os vários aspectos da cultura”
(BATESON, 1936)

Desta forma, Bateson parte do ritual – Naven –, descolado de seu contexto,


para percorrer diversos “blocos” temáticos – detalhes –, movimentando-se
entre o geral e o específico para apresentar ao leitor o ethos Iatmul.

• Ex. A classificação das fotos por temas, blocos temáticos:

Visão Geral da Aldeia, Cerimonia Naven, Casas Cerimoniais, Iniciação dos


homens, Vida Cotidiana, Cerimônias públicas masculinas e femininas,
Cerimônias mortuárias, Tipos Masculinos, Tipos Femininos, Figuras e
Máscaras referentes ao
clã.
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Eles puseram as saias mais velhas, imundas e amarrotadas, que apenas as


viúvas mais feias e mais decrépitas poderiam usar e, assim como as viúvas,
foram cobertos com cinzas. Investiu-se considerável criatividade na
vestimenta, que visava a criar um efeito de decrepitude total. Sobre as
cabeças colocaram velhas capas esfarrapadas e puídas, que começavam a se
desfazer de tão antigas e deterioradas.
Suas barrigas estavam amarradas por cordões, como as das mulheres
grávidas. De seus narizes, em vez dos pequenos triângulos de conchas de
madrepérola usados pelas mulheres nas ocasiões festivas, pendiam grandes
massas triangulares de panquecas de sagu, sobras de uma refeição já bem
passada.
As crianças da aldeia saudavam essas personagens com gargalhadas ruidosas
e amontoavam-se em torno das duas “mães”, seguindo-as aonde quer que
fossem e irrompendo em novos gritos toda vez que elas, em sua debilidade,
tropeçavam e caíam e, ao cair, exibiam sua feminilidade assumindo no
chão atitudes grotescas com as pernas abertas.
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Professora Daniele Borges Bezerra
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• Durante essa apresentação o laua havia deixado a aldeia, ou se


escondido. Assim que percebeu que seus waus iam envergonhá-lo,
ele se afastou para evitar assistir ao espetáculo desse comportamento
degradado.
• Se conseguir encontrar o menino, o wau o humilhará ainda mais,
esfregando a fenda de suas nádegas longitudinalmente na perna do
seu laua, uma espécie de saudação sexual que consta ter o efeito de
fazer com que o laua se apresse em conseguir objetos de valor para
presentear o seu wau a fim de consertá-lo
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Professora Daniele Borges Bezerra
Em busca de um método próprio

A analise do ritual naven é realizada através de um tríplice ponto de


vista: uma abordagem estrutural (eidos), sociológica e etológica
(ethos), mostrando que uma complementa as limitações da outra.

Assim, ultrapassando o nível da forma e das funções sociais, sugere


que, por trás dos aspectos formais das explicações sociológicas e
estruturais, há elementos vivos que dinamizam e singularizam o fato
social, além de introduzir o conceito de cismogênese para pensar a
questão da dinâmica e da busca do equilíbrio social.
Cismogênese
Bateson define cismogênese como um “processo de diferenciação” nas normas de
comportamento individual. Aplicável a outros contextos (casais, situação de contato
cultural, políticos internacionais…)
A cismogênese interessava a Bateson, porque ele buscava um modelo de compreensão do
conflito e, sobretudo, dos fatores de restrição ao conflito. Este conceito lhe foi útil para
analisar os “desequilíbrios” e identificar os fatores culturais de controle destes
desequilíbrios.
Ele percebia a sociedade em constante movimento, não como algo equilibrado e coeso,
mas como algo em constante 'desequilíbrio dinâmico’.
O conceito de cismogênese vem dessa ideia. A proposição de Bateson sobre a
cismogênese, aplicada as interações entre os indivíduos de grupos de uma mesma cultura
(…), funciona sobre o que ele chama de 'estados de desequilíbrio’.

• A cerimônia do naven é uma situação de inversão para ambos os sexos. Logo, evidencia
uma complementaridade que dilui os desequilíbrios.
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Naven também é uma experiência, uma tentativa de descrever o


comportamento humano mediante o reconhecimento de que o
observador faz parte do próprio comportamento observado. Pois, o
cruzamento entre descrição e interpretação obriga-o a realizar uma
opção metodológica.

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