Haile Selassie
Haile Selassie | |
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Sua Majestade Imperial Negusa Nagast Defensor da Fé | |
Imperador da Etiópia | |
Reinado | 2 de abril de 1930 a 12 de setembro de 1974 |
Consorte | Menen Asfaw |
Coroação | 2 de novembro de 1930 |
Antecessor(a) | Zewditu I |
Sucessor(a) | Amha Selassie |
Regente Plenipotenciário da Etiópia | |
Reinado | 27 de setembro de 1916 a 02 de abril de 1930 |
Predecessor(a) | Tessema Nadew |
Sucessor(a) | Ijigayehu Amha Selassie |
Imperatriz | Zauditu da Etiópia |
Nascimento | 23 de julho de 1892 |
Ejersa Goro, Império Etíope | |
Morte | 27 de agosto de 1975 (83 anos) |
Adis Abeba, Império Etíope | |
Sepultado em | Catedral da Santíssima Trindade |
Herdeiro(a) | Amha Selassie |
Dinastia | Salomônica |
Pai | Mekonnen Welde Mikaél |
Mãe | Yeshimebet Ali Abajifar |
Filho(s) | Princesa Romanework Hailé Sélassié Princesa Tenagnework Amha Selassie Princesa Tsehai Princesa Zenebework Príncipe Makonnen Príncipe Sahle Selassie |
Religião | Igreja Ortodoxa Etíope |
Haile Selassie ou Hailé Selassié[1][2][3][4] (em ge'ez: ኃይለ፡ ሥላሴ, "Poder da Trindade")[5] batizado como Tafari Makonnen e posteriormente chamado por Rás Tafari (Ejersa Goro, 23 de julho de 1892 – Adis Abeba, 27 de agosto de 1975) foi regente da Etiópia de 1916 a 1930 e imperador de 1930 a 1974, Grã-Cruz das ordens GCTE e GCBTO, herdeiro de uma dinastia cujas origens remontam ao século XIII.[6][7]
Haile Selassie é uma figura crucial na história da Etiópia e da África.[6][7] É considerado um símbolo religioso, a segunda vinda de Jesus Cristo ou o próprio Deus encarnado, entre os devotos da religião afrojamaicana Rastafári, crença que contava com cerca de seiscentos mil a oitocentos mil devotos (praticantes) a nível mundial em 2005. Se forem somados também os seguidores do estilo de vida, o número sobe para cerca de dois milhões de adeptos.[8][9] Os rastafáris também o chamam de Jah (forma abreviada de Jeová) e H.I.M., que significa "Sua Majestade Imperial" (do inglês: His Imperial Majesty).
Imperador da única nação africana independente que nunca foi colonizada, Haile Selassie I foi herdeiro da Dinastia Salomônica Etíope, cujas origens remetiam à Rainha de Sabá, da Etiópia, e ao Rei Salomão, de Israel, filho do Rei Davi, razão pela qual os rastafáris afirmam que Haile Selassie I cumpriria uma série de profecias bíblicas relacionadas à segunda vinda de Jesus Cristo. Os rastafáris crêem que Haile Selassie I seria o aguardado messias negro que libertaria os afrodescendentes pelo mundo para repatriá-los à África.
Cristão ortodoxo e membro da Igreja Ortodoxa Etíope - uma das tradições cristãs mais antigas do mundo -, Haile Selassie I nunca se afirmou como Deus encarnado e rejeitou a crença messiânica em sua pessoa. Muitos seguidores da fé Rastafári identificam-se como cristão ortodoxos etíopes e consideram Haile Selassie I apenas uma pessoa iluminada, um representante divino que teria sido enviado para proteger a África e os afrodescendentes ante o colonialismo europeu, bem como para defender a fé cristã pré-colonial.
Selassie tentou modernizar o país por meio de uma série de reformas sociais, incluindo a introdução da primeira constituição escrita do país e a abolição da escravidão. Entretanto, ele fracassou nos esforços de defesa da Etiópia durante a Segunda Guerra Ítalo-Etíope e passou o período de ocupação italiana em exílio, na Inglaterra. Retornaria à Etiópia apenas em 1941, após o Império Britânico derrotar os italianos na Campanha da África Oriental, durante a Segunda Guerra Mundial. Ele dissolveu a Federação da Etiópia e Eritreia, que fora estabelecida por meio da Assembleia Geral da ONU, em 1950 e integrou a Eritréia como província da Etiópia durante a luta por se manter no poder.[10]
Durante o seu governo, a repressão a diversas rebeliões entre as etnias que compõem a Etiópia, além daquele que é considerado como o fracasso do país em se modernizar adequadamente,[11] rendeu-lhe críticas de muitos contemporâneos e historiadores.[12]
Em 1936, fez um protesto na Liga de Nações, sobre o uso de armas químicas contra a Etiópia por parte da Itália. Representando não apenas um prenúncio do próximo conflito mundial que se seguiria, mas também o advento do chamado "refinamento tecnológico da barbárie",[13] característica que veio a marcar as guerras do período.
Selassie era um orador talentoso, e alguns de seus discursos foram considerados entre os mais memoráveis do século XX.[13] As suas visões internacionalistas levaram a Etiópia a tornar-se membro oficial das Nações Unidas, e a sua experiência e pensamento político ao promover o multilateralismo e a segurança coletiva provaram-se relevantes até os dias de hoje.[14]
Etimologia
O termo Ras Tafari de origem Amárica,[15] onde Ras significa “cabeça” (na Etiópia equivale a príncipe ou chefe), Tafari (Täfäri/teferi) significa "quem é respeitado/temido".
Origens e ascensão
Nascido Tafari Makonnen, casou-se em 1911 com Wayzaro Menen, filha do imperador etíope Menelik II, tornando-se o príncipe (ou Rás em amárico) Ras Tafari. O neto de Menelik II, Lij Iyasu (Iyasu V), tornou-se imperador em 1913, mas foi deposto por uma assembleia de nobres em conjunto com a Igreja Ortodoxa Etíope, por suspeita de conversão ao islamismo. Então assumiu Zewditu, filha de Menelik II, que morreria em 1930. Mesmo antes da imperatriz, em 1917 Rás Tafari assumiu a regência da Etiópia, e em 1928 foi coroado rei (Negus em amárico). Em abril de 1930, a imperatriz morreu, e em novembro do mesmo ano Ras Tafari tornou-se o 225º imperador na dinastia que reaparecia, segundo a crença, ao do Rei Salomão e a da Rainha de Sabá. Assim mudando novamente de nome, para Haile Selassie (O Poder da Divina Trindade em amárico) ou por completo Sua Majestade Imperial, Imperador Haile Selassie, Eleito de Deus, Rei dos Reis, Senhor dos Senhores, Leão Conquistador da Tribo de Judá.
O primeiro império
Iniciou então um governo que buscava modernizar a Etiópia, seguindo as linhas gerais traçadas por Menelik II: principalmente trazer tecnologia e inserir o país no contexto da comunidade das nações. O seu discurso na Liga das Nações, em junho de 1936, sobre a guerra em geral e sobre a invasão da Etiópia pela Itália (1935), é considerado um dos mais belos e coerentes pronunciados por um líder político (o país havia sido admitido na Liga das Nações em 1923, logo após abolir a escravatura). Selassie também deu a Etiópia a primeira constituição de sua história, em 1931.
A invasão da Etiópia pela Itália em 1935 foi uma traição dos acordos celebrados entres esses países no ano de 1928. Também a Liga das Nações não fez sua parte, numa atitude muito semelhante àquela adoptada pela Inglaterra e pela França em face da invasão alemã na Checoslováquia — com a diferença de que o país invadido não pertencia à Europa, e sim à esquecida África. Benito Mussolini recebeu uma condenação formal da Liga, mas foi encorajado pela falta de atitudes desta para com seu acto injustificável. A invasão deflagrou a Segunda Guerra Ítalo-Etíope. Em 1936 Selassie viu-se obrigado a se retirar para o exílio na Inglaterra, deixando o posto de imperador.
Exílio
A Itália estabeleceu um governo na Etiópia e tentou controlar os movimentos de resistência através de massacres e segregação. Selassie tentava angariar simpatia pelo seu país, e só veio a consegui-lo quando a Itália se aliou, na Segunda Guerra Mundial, à Alemanha. Com o apoio da Inglaterra, mas contando essencialmente com forças de resistência etíopes e norte-africanas, Selassie retoma Adis Abeba em 5 de maio de 1941. Aos poucos conseguiu afastar-se da influência britânica, mas ao mesmo tempo vem do exílio com novas ideias inspiradas na evolução da Inglaterra.
O segundo império
Com a derrota da Itália na frente etíope, já durante a Segunda Guerra Mundial, Haile Selassie reassumiu o império. Havia tensões na Eritreia, que não se identificava com o restante da Etiópia e rejeitava a soberania desta.
Selassie promove a reforma e recuperação da Etiópia, devastada pela guerra. Institui um imposto progressivo sobre a propriedade de terras. Em 1955 é promulgada uma nova constituição etíope, que institui, entre outras medidas, o voto universal, mas também concentra bastante o poder nas mãos do imperador.
Enquanto em missão diplomática no Brasil, em 1960, Haile Selassie sofreu uma tentativa de golpe, organizada e dirigida por Germane Neway, que não teve sucesso, mas polarizou a Etiópia e preparou caminho para um segundo golpe alguns anos depois. Em 1963, Selassie participou da criação da Organização da Unidade Africana.
O golpe militar
O país enfrentou anos difíceis no início da década de 1970. A grande fome de 1972–1973 agravou a contestação ao governo imperial, somando-se aos problemas políticos, estudantes exigiam reformas para que as terras não pertencessem à nobreza.
Em 12 de janeiro de 1974 registrou-se uma rebelião militar contra Selassie. Em junho, um grupo de cerca de 120 comandantes militares, formalmente fiéis ao imperador, formou um comité para exercer o governo. Em 27 de setembro Selassie foi deposto por um golpe militar de inspiração marxista, que instituiu um Conselho Provisório de Administração Militar. Preso pelo novo governo, Selassié morreu em 27 de agosto de 1975, oficialmente por complicações decorrentes de uma operação da próstata. Essa versão é contestada por seus apoiantes e familiares, que entendem que o ex-imperador foi assassinado na sua cama.[carece de fontes]
Em 1991, após a queda de Mengistu Haile Mariam, foi revelado que os restos mortais de Selassié tinham sido conservados no porão do palácio presidencial. Finalmente, em 5 de novembro de 2000, receberam um funeral da Igreja Ortodoxa Etíope digno, sendo sepultados. A família do cantor Bob Marley esteve presente na cerimônia.
Legado
É reconhecida a influência que Haile Selassie teve sobre o movimento negro, em especial em lideranças como Martin Luther King e Nelson Mandela.[carece de fontes] Além disso, Selassie é encarado como um messias por parte de um movimento religioso de origem jamaicana, o rastafarianismo, que crê que Haile Selassie vive, conduzirá os negros de volta à África, e é Deus Vivo.[carece de fontes]
Trecho de Discurso de Haile Selassie na Organização das Nações Unidas, em 1963
“ |
Enquanto a filosofia que declara uma raça superior e outra inferior não for finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada; enquanto não deixarem de existir cidadãos de primeira e segunda categoria de qualquer nação; enquanto a cor da pele de uma pessoa for mais importante que a cor dos olhos; enquanto não forem garantidos a todos por igual os direitos humanos básicos, sem olhar a raças, até esse dia, os sonhos de paz duradoura, cidadania mundial e governo de uma moral internacional irão continuar a ser uma ilusão fugaz, a ser perseguida mas nunca alcançada. E igualmente, enquanto os regimes infelizes e ignóbeis que suprimem os nossos irmãos, em condições subumanas, em Angola, Moçambique e na África do Sul não forem superados e destruídos, enquanto o fanatismo, os preconceitos, a malícia e os interesses desumanos não forem substituídos pela compreensão, tolerância e boa-vontade, enquanto todos os Africanos não se levantarem e falarem como seres livres, iguais aos olhos de todos os homens como são no Céu, até esse dia, o continente Africano não conhecerá a Paz. Nós, Africanos, iremos lutar, se necessário, e sabemos que iremos vencer, pois somos confiantes na vitória do bem sobre o mal. |
” |
Reflexo
Esse discurso serviu de inspiração para a canção "War", um dos maiores clássicos do cantor de reggae jamaicano Bob Marley.[16]
No Brasil
Na visita de Haile Selassie ao Brasil, estourou em 13 de dezembro de 1960 um golpe de Estado em Adis Abeba. O embaixador Edmundo Barbosa da Silva, secretário-geral do Itamaraty, foi encarregado de transmitir ao imperador a notícia do golpe e levou-o ao aeroporto. Na ocasião, ouviu dele a garantia de que voltaria a seu país e debelaria a insurreição "sem derramar uma gota de sangue".[17]
Em Portugal
Em 1925, Selassie foi agraciado com a insígnia de Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada de Portugal. Em 1957, realizou uma visita de estado a Portugal, e em 1959 foi novamente agraciado com a insígnia de Grã-Cruz da Banda das Três Ordens de Portugal.[18]
Outras Referências e Links
Referências
- ↑ Na pronúncia original, tanto em "Haile" quanto em "Selassie" o acento (tonicidade) recai sobre a letra "a". «(ouvir)»
- ↑ «Folha de S.Paulo»
- ↑ «O Globo»
- ↑ «BBC em português»
- ↑ Gates, Henry Louis and Appiah, Anthony. Africana: The Encyclopedia of the African and African American Experience. 1999, page 902.
- ↑ a b Erlich, Haggai. The Cross and the River: Ethiopia, Egypt, and the Nile. 2002, page 192.
- ↑ a b Murrell, Nathaniel Samuel and Spencer, William David and McFarlane, Adrian Anthony. Chanting Down Babylon: The Rastafari Reader. 1998, page 148.
- ↑ «Major Religions of the World Ranked by Number of Adherents». Adherents.com
- ↑ Barrett, Leonard E. Sr (1997) The Rastafarians. Boston: Beacon Press.
- ↑ Ewing, William H.; Abdi, Beyene (1972). Consolidated Laws of Ethiopia Vol. I. Addis Abeba: The Faculty of Law Haile Sellassie I University. p. 45–46
- ↑ Meredith, Martin. The Fate of Africa: From the Hopes of Freedom to the Heart of Despair. 2005, page 212-3.
- ↑ Rebellion and Famine in the North under Haile Selassie, Human Rights Watch
- ↑ a b Safire, William. Lend Me Your Ears: Great Speeches in History. 1997, page 297-8.
- ↑ Karsh, Efraim. Neutrality and Small States. 1988, page 112.
- ↑ «An Etymology of the word Rás-Tafari – By Ras Naftali | Rasta Livewire». www.africaresource.com (em inglês). Consultado em 15 de abril de 2017
- ↑ Bob Marley – War Lyrics - Rock Genius Media
- ↑ Ribeiro, Guilherme Luiz Leite. Os bastidores da diplomacia Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007, p. 389.
- ↑ «Cidadãos Estrangeiros Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Hailé Selassié Imperador". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 16 de abril de 2015
Precedido por Franklin Delano Roosevelt |
Pessoa do Ano 1935 |
Sucedido por Wallis, Duquesa de Windsor |
Precedido por Zauditu |
Imperador da Etiópia 1930 - 1974 |
Sucedido por Monarquia Abolida |
- Nascidos em 1892
- Mortos em 1975
- Haile Selassie
- Doutores honoris causa da Universidade de Bonn
- Imperadores da Etiópia
- Primeiros-ministros da Etiópia
- Pessoas proclamadas messias
- Pessoas deificadas
- Cavaleiros da Ordem da Jarreteira
- Grã-Cruzes da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito
- Oponentes internacionais do apartheid na África do Sul
- Grã-Cruzes da Banda das Três Ordens
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