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Haile Selassie

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Se procura o movimento religioso, veja Rastafarianismo.
Haile Selassie I
Sua Majestade Imperial
Leão de Judá
Rei dos Reis
Senhor dos Senhores
Negusa Negast
Negus
Defensor da Fé
Haile Selassie
Imperador da Etiópia
Reinado 2 de abril de 1930
a 12 de setembro de 1974
Consorte Menen Asfaw
Coroação 2 de novembro de 1930
Antecessor(a) Zewditu I
Sucessor(a) Amha Selassie
Regente Plenipotenciário da Etiópia
Reinado 27 de setembro de 1916 a 02 de abril de 1930
Predecessor(a) Tessema Nadew
Sucessor(a) Ijigayehu Amha Selassie
Imperatriz Zauditu da Etiópia
Nascimento 23 de julho de 1892
  Ejersa Goro, Império Etíope
Morte 27 de agosto de 1975 (83 anos)
  Adis Abeba, Império Etíope
Sepultado em Catedral da Santíssima Trindade
Herdeiro(a) Amha Selassie
Dinastia Salomônica
Pai Mekonnen Welde Mikaél
Mãe Yeshimebet Ali Abajifar
Filho(s) Princesa Romanework Hailé Sélassié
Princesa Tenagnework
Amha Selassie
Princesa Tsehai
Princesa Zenebework
Príncipe Makonnen
Príncipe Sahle Selassie
Religião Igreja Ortodoxa Etíope

Haile Selassie ou Hailé Selassié[1][2][3][4] (em ge'ez: ኃይለ፡ ሥላሴ, "Poder da Trindade")[5], nascido como Tafari Makonnen e posteriormente chamado por Ras Tafari, isto é, príncipe Tafari (Ejersa Goro, 23 de julho de 1892Adis Abeba, 27 de agosto de 1975) foi regente da Etiópia de 1916 a 1930 e imperador de 1930 a 1974, Grã-Cruz das ordens GCTE e GCBTO. Segundo a tradição monárquica da Etiópia, Haile Selassie I era herdeiro da Dinastia Salomônica Etíope, linhagem real que remontava à antiga Rainha de Sabá e ao Rei Salomão, de Israel, filho do Rei Davi.[6][7]

Nascido com o nome de Tafari Makonnen, Haile Selassie posteriormente recebeu o prefixo Ras, título real conferido aos príncipes etíopes, passando a ser chamado de Ras Tafari. Quando foi coroado imperador em 1930, recebeu o nome honorífico de Haile Selassie I (em amárico, "o poder da Divina Trindade").

Haile Selassie é uma figura crucial na história da Etiópia e da África e, no século XX, tornou-se símbolo de soberania africana e da resistência africana ao colonialismo europeu.[6][7] É também considerado uma figura sagrada, a reencarnação de Jesus Cristo ou o próprio Deus encarnado para os devotos da religião afrojamaicana Rastafári, crença que contava com cerca de seiscentos mil a oitocentos mil devotos a nível mundial em 2005.[8][9] Os rastafáris também o chamam de Jah (forma abreviada de Jeová), Jah Rastafári, Leão de Judá e H.I.M., que significa "Sua Majestade Imperial" (do inglês: His Imperial Majesty).

Imperador da única nação africana que nunca foi colonizada, Haile Selassie I foi herdeiro da Dinastia Salomônica Etíope, cujas origens remetiam à antiga Rainha de Sabá, da Etiópia, e ao Rei Salomão, de Israel, filho do Rei Davi, razão pela qual os rastafáris afirmam que Haile Selassie I cumpriria uma série de profecias bíblicas relacionadas à segunda vinda de Jesus Cristo. Inspirados pela história bíblica do Êxodo, pelo pan-africanismo e pelo nacionalismo negro do ativista jamaicano Marcus Garvey, os rastafáris crêem que Haile Selassie I seria o aguardado messias negro que libertaria os afrodescendentes pelo mundo para repatriá-los à África.

A crença messiânica na figura de Haile Selassie I foi internacionalmente difundida através dos artistas e letras de Reggae, gênero musical surgido nas favelas jamaicanas, na década de 1970, profundamente inspirado pela religião Rastafári. O músico jamaicano Bob Marley foi o devoto rastafári mais famoso de todos os tempos.

Cristão ortodoxo e membro da Igreja Ortodoxa Etíope - uma das tradições cristãs mais antigas do mundo -, Haile Selassie I nunca se afirmou como Deus encarnado e rejeitou a crença messiânica em sua pessoa. Em sua visita à Jamaica em 1966, surpreendido pela comoção nacional jamaicana e pela devoção espiritual dos rastafáris, Haile Selassie I orientou que os rastafáris batizassem-se na Igreja Cristã Ortodoxa Etíope, motivo pelo qual muitos devotos da fé Rastafári identificam-se como cristão ortodoxos etíopes e consideram Haile Selassie I um representante de Deus, que teria sido enviado para proteger a África do colonialismo europeu e resgatar os africanos em diáspora, bem como para defender a fé cristã africana pré-colonial.

Selassie tentou modernizar o país por meio de uma série de reformas sociais, incluindo a introdução da primeira constituição escrita do país e a abolição da escravidão. Entretanto, ele fracassou nos esforços de defesa da Etiópia durante a Segunda Guerra Ítalo-Etíope e passou o período de ocupação italiana em exílio, na Inglaterra. Retornaria à Etiópia apenas em 1941, após o Império Britânico derrotar os italianos na Campanha da África Oriental, durante a Segunda Guerra Mundial. Ele dissolveu a Federação da Etiópia e Eritreia, que fora estabelecida por meio da Assembleia Geral da ONU, em 1950 e integrou a Eritréia como província da Etiópia durante a luta por se manter no poder.[10]

Durante o seu governo, a repressão a diversas rebeliões entre as etnias que compõem a Etiópia, além daquele que é considerado como o fracasso do país em se modernizar adequadamente,[11] rendeu-lhe críticas de muitos contemporâneos e historiadores.[12]

Em 1936, fez um protesto na Liga de Nações, sobre o uso de armas químicas contra a Etiópia por parte da Itália. Representando não apenas um prenúncio do próximo conflito mundial que se seguiria, mas também o advento do chamado "refinamento tecnológico da barbárie",[13] característica que veio a marcar as guerras do período.

Selassie era um orador talentoso, e alguns de seus discursos foram considerados entre os mais memoráveis do século XX.[13] As suas visões internacionalistas levaram a Etiópia a tornar-se membro oficial das Nações Unidas, e a sua experiência e pensamento político ao promover o multilateralismo e a segurança coletiva provaram-se relevantes até os dias de hoje.[14]

Etimologia

O termo Ras Tafari de origem Amárica,[15] onde Ras significa “cabeça” (na Etiópia equivale a príncipe ou chefe), Tafari (Täfäri/teferi) significa "quem é respeitado/temido".

Origens e ascensão

Nascido Tafari Makonnen, casou-se em 1911 com Wayzaro Menen, filha do imperador etíope Menelik II, tornando-se o príncipe (ou Rás em amárico) Ras Tafari. O neto de Menelik II, Lij Iyasu (Iyasu V), tornou-se imperador em 1913, mas foi deposto por uma assembleia de nobres em conjunto com a Igreja Ortodoxa Etíope, por suspeita de conversão ao islamismo. Então assumiu Zewditu, filha de Menelik II, que morreria em 1930. Mesmo antes da imperatriz, em 1917 Rás Tafari assumiu a regência da Etiópia, e em 1928 foi coroado rei (Negus em amárico). Em abril de 1930, a imperatriz morreu, e em novembro do mesmo ano Ras Tafari tornou-se o 225º imperador na dinastia que reaparecia, segundo a crença, ao do Rei Salomão e a da Rainha de Sabá. Assim mudando novamente de nome, para Haile Selassie (O Poder da Divina Trindade em amárico) ou por completo Sua Majestade Imperial, Imperador Haile Selassie, Eleito de Deus, Rei dos Reis, Senhor dos Senhores, Leão Conquistador da Tribo de Judá.

O primeiro império

Iniciou então um governo que buscava modernizar a Etiópia, seguindo as linhas gerais traçadas por Menelik II: principalmente trazer tecnologia e inserir o país no contexto da comunidade das nações. O seu discurso na Liga das Nações, em junho de 1936, sobre a guerra em geral e sobre a invasão da Etiópia pela Itália (1935), é considerado um dos mais belos e coerentes pronunciados por um líder político (o país havia sido admitido na Liga das Nações em 1923, logo após abolir a escravatura). Selassie também deu a Etiópia a primeira constituição de sua história, em 1931.

A invasão da Etiópia pela Itália em 1935 foi uma traição dos acordos celebrados entres esses países no ano de 1928. Também a Liga das Nações não fez sua parte, numa atitude muito semelhante àquela adoptada pela Inglaterra e pela França em face da invasão alemã na Checoslováquia — com a diferença de que o país invadido não pertencia à Europa, e sim à esquecida África. Benito Mussolini recebeu uma condenação formal da Liga, mas foi encorajado pela falta de atitudes desta para com seu acto injustificável. A invasão deflagrou a Segunda Guerra Ítalo-Etíope. Em 1936 Selassie viu-se obrigado a se retirar para o exílio na Inglaterra, deixando o posto de imperador.

Exílio

Selassie em visita a Washington D.C. (1963).

A Itália estabeleceu um governo na Etiópia e tentou controlar os movimentos de resistência através de massacres e segregação. Selassie tentava angariar simpatia pelo seu país, e só veio a consegui-lo quando a Itália se aliou, na Segunda Guerra Mundial, à Alemanha. Com o apoio da Inglaterra, mas contando essencialmente com forças de resistência etíopes e norte-africanas, Selassie retoma Adis Abeba em 5 de maio de 1941. Aos poucos conseguiu afastar-se da influência britânica, mas ao mesmo tempo vem do exílio com novas ideias inspiradas na evolução da Inglaterra.

O segundo império

Com a derrota da Itália na frente etíope, já durante a Segunda Guerra Mundial, Haile Selassie reassumiu o império. Havia tensões na Eritreia, que não se identificava com o restante da Etiópia e rejeitava a soberania desta.

Selassie promove a reforma e recuperação da Etiópia, devastada pela guerra. Institui um imposto progressivo sobre a propriedade de terras. Em 1955 é promulgada uma nova constituição etíope, que institui, entre outras medidas, o voto universal, mas também concentra bastante o poder nas mãos do imperador.

Enquanto em missão diplomática no Brasil, em 1960, Haile Selassie sofreu uma tentativa de golpe, organizada e dirigida por Germane Neway, que não teve sucesso, mas polarizou a Etiópia e preparou caminho para um segundo golpe alguns anos depois. Em 1963, Selassie participou da criação da Organização da Unidade Africana.

O golpe militar

Selassie em 1974

O país enfrentou anos difíceis no início da década de 1970. A grande fome de 1972–1973 agravou a contestação ao governo imperial, somando-se aos problemas políticos, estudantes exigiam reformas para que as terras não pertencessem à nobreza.

Em 12 de janeiro de 1974 registrou-se uma rebelião militar contra Selassie. Em junho, um grupo de cerca de 120 comandantes militares, formalmente fiéis ao imperador, formou um comité para exercer o governo. Em 27 de setembro Selassie foi deposto por um golpe militar de inspiração marxista, que instituiu um Conselho Provisório de Administração Militar. Preso pelo novo governo, Selassié morreu em 27 de agosto de 1975, oficialmente por complicações decorrentes de uma operação da próstata. Essa versão é contestada por seus apoiantes e familiares, que entendem que o ex-imperador foi assassinado na sua cama.[carece de fontes?]

Em 1991, após a queda de Mengistu Haile Mariam, foi revelado que os restos mortais de Selassié tinham sido conservados no porão do palácio presidencial. Finalmente, em 5 de novembro de 2000, receberam um funeral da Igreja Ortodoxa Etíope digno, sendo sepultados. A família do cantor Bob Marley esteve presente na cerimônia.

Legado

É reconhecida a influência que Haile Selassie teve sobre o movimento negro, em especial em lideranças como Martin Luther King e Nelson Mandela.[carece de fontes?] Além disso, Selassie é encarado como um messias por parte de um movimento religioso de origem jamaicana, o rastafarianismo, que crê que Haile Selassie vive, conduzirá os negros de volta à África, e é Deus Vivo.[carece de fontes?]

Trecho de Discurso de Haile Selassie na Organização das Nações Unidas, em 1963

Reflexo

Esse discurso serviu de inspiração para a canção "War", um dos maiores clássicos do cantor de reggae jamaicano Bob Marley.[16]

No Brasil

Juscelino Kubitschek recebe em audiência o imperador, Palácio do Planalto.

Na visita de Haile Selassie ao Brasil, estourou em 13 de dezembro de 1960 um golpe de Estado em Adis Abeba. O embaixador Edmundo Barbosa da Silva, secretário-geral do Itamaraty, foi encarregado de transmitir ao imperador a notícia do golpe e levou-o ao aeroporto. Na ocasião, ouviu dele a garantia de que voltaria a seu país e debelaria a insurreição "sem derramar uma gota de sangue".[17]

Em Portugal

Em 1925, Selassie foi agraciado com a insígnia de Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada de Portugal. Em 1957, realizou uma visita de estado a Portugal, e em 1959 foi novamente agraciado com a insígnia de Grã-Cruz da Banda das Três Ordens de Portugal.[18]

Referências

  1. Na pronúncia original, tanto em "Haile" quanto em "Selassie" o acento (tonicidade) recai sobre a letra "a". «(ouvir)» 
  2. «Folha de S.Paulo» 
  3. «O Globo» 
  4. «BBC em português» 
  5. Gates, Henry Louis and Appiah, Anthony. Africana: The Encyclopedia of the African and African American Experience. 1999, page 902.
  6. a b Erlich, Haggai. The Cross and the River: Ethiopia, Egypt, and the Nile. 2002, page 192.
  7. a b Murrell, Nathaniel Samuel and Spencer, William David and McFarlane, Adrian Anthony. Chanting Down Babylon: The Rastafari Reader. 1998, page 148.
  8. «Major Religions of the World Ranked by Number of Adherents». Adherents.com 
  9. Barrett, Leonard E. Sr (1997) The Rastafarians. Boston: Beacon Press.
  10. Ewing, William H.; Abdi, Beyene (1972). Consolidated Laws of Ethiopia Vol. I. Addis Abeba: The Faculty of Law Haile Sellassie I University. p. 45–46 
  11. Meredith, Martin. The Fate of Africa: From the Hopes of Freedom to the Heart of Despair. 2005, page 212-3.
  12. Rebellion and Famine in the North under Haile Selassie, Human Rights Watch
  13. a b Safire, William. Lend Me Your Ears: Great Speeches in History. 1997, page 297-8.
  14. Karsh, Efraim. Neutrality and Small States. 1988, page 112.
  15. «An Etymology of the word Rás-Tafari – By Ras Naftali | Rasta Livewire». www.africaresource.com (em inglês). Consultado em 15 de abril de 2017 
  16. Bob Marley – War Lyrics - Rock Genius Media
  17. Ribeiro, Guilherme Luiz Leite. Os bastidores da diplomacia Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007, p. 389.
  18. «Cidadãos Estrangeiros Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Hailé Selassié Imperador". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 16 de abril de 2015 

Precedido por
Franklin Delano Roosevelt
Pessoa do Ano
1935
Sucedido por
Wallis, Duquesa de Windsor
Precedido por
Zauditu
Imperador da Etiópia
1930 - 1974
Sucedido por
Monarquia Abolida
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