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Ocotea

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Ocotea foetens (Terra Chã, Açores)
Ocotea foetens (Terra Chã, Açores)
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Laurales
Família: Lauraceae
Género: Ocotea
Aubl.
Espécies
Mais de 200 espécies
(ver texto)
Sinónimos[1]
Madeira de Ocotea guianensis (MHNT).
Cúpulas secas de ishpingo (O. quixos) usadas como especiaria.

Ocotea é um género de plantas com flor pertencentes à família do loureiro (Lauraceae), que inclui cerca de 324 espécies de árvores e arbustos perenifólios com folhas lauroides,[2] distribuídos principalmente (cerca de 300 espécies) pelas regiões tropicais e subtropicais da América Central e América do Sul,[3] pelas Caraíbas e pelo sul da Flórida,[4][5] mas com algumas espécies nativas de África, de Madagáscar[3] e das ilhas Mascarenhas.[6] A espécie O. foetens (conhecida por til) é nativa das ilhas da Macaronésia.[7]

As espécies que integram o género Ocotea são árvores e arbustos, perenifólias, ocasionalmente com raízes adventícias (p. ex. O. hartshorniana e O. insularis), com folhas simples, alternadas, raramente opostas ou verticiladas.[8]

As folhas são do tipo lauroide, em geral de coloração verde escuro, lustrosas, frequentemente acastanhadas na face inferior do limbo e com células ricas em óleos essenciais fragrantes.[9]

As flores são apétalas, agrupadas em pequenas inflorescência do tipo panícula. As espécies africanas e de Madagáscar todas apresentam flores bissexuais (com órgão masculinos e femininos), enquanto a maioria da espécies americanas são unissexuais (com flores que são exclusivamente masculinas ou femininas).[3]

Os frutos são bagas globosas ou oblongas, com 3–5 cm de comprimento, duras e carnudas, apresentando na região de junção com o pedúnculo parte do fruto recoberto por uma calíbio (ou cúpula) em forma de taça, ocasionalmente achatado,[10] que confere ao fruto uma aspecto semelhante a uma pequenas bolota. O fruto é verde escuro, escurecendo progressivamente ao maturar, mas com a cúpula na base do fruto frequentemente apresentando uma coloração brilhante. Cada fruto contém apenas uma semente envolvida por uma camada de tecido endurecida que em muitas espécies é lenhificada.

A madeira de muitas das espécies apresenta um aroma forte e característico, nem sempre agradável (daí o nome comum inglês stinkwood aplicado a algumas espécies, entre as quais Ocotea bullata e Ocotea foetens).[11] Noutros casos o aroma é considerado agradável e semelhante ao da cânfora (espécie do género Cinnamomum, filogeneticamente próximo de Ocotea).

A presença de vestígios de Ocotea no registo fóssil é antiga, tendo sido descobertas impressões foliares de †Ocotea heerii, uma espécie fóssil, em depósitos do Messiniano (ca. 5,7 Ma) em Monte Tondo, norte dos Apeninos, Itália.[12]

As espécies do género Ocotea têm distribuição natural pelas regiões subtropicais e tropicais, frequentemente em habitat de grande altitude. Em muitos casos são espécies características de formações tropicais de montanha (vegetação tropical montana), ocorrendo em formações como a floresta ombrófila mista, a laurissilva da Macaronésia, os biomas do tipo afromontano, as florestas montanas de Knysna-Amatole e as florestas montanas de Talamanca. Em Madagáscar o género ocorre também em florestas de terras baixas.[8]

A maioria das espécies de frutos relativamente pequenos são de grande importância ambiental porque serem o alimento de muitas aves e mamíferos endémicos, especialmente em ilhas e em florestas premontanas e montanas.[8]

As folhas de espécies de Ocotea são a principal fonte de alimento para as lagartas de várias espécies endémicas, incluindo várias espécies do género Memphis.[13] Algumas lagartas de Memphis alimentam-se exclusivamente das folhas de uma única espécie de Ocotea (por exemplo Memphis mora alimenta-se apenas de folhas de Ocotea cernua e Memphis boisduvali alimenta-se exclusivamente das folhas de Ocotea veraguensis.[13]

A dispersão de sementes de muitas das espécies de Ocotea é feita por aves frugívoras, tais como os tucanos, os quetzal (Pharomachrus), os pombos-torcazes, a araponga (aves da família Cotingidae, especialmente a espécie Procnias tricarunculatus)[14] e Poicephalus robustus (na África do Sul).[15]

Os frutos de Ocotea são também consumidos por diversas aves Columbiformes, tais como Columba trocaz,[16] pombo-de-delegorgue (Columba delegorguei),[15] pombo-de-bolle (Columba bollii),[17] pombo-do-congo (Columba unicincta)[18][19][20] e algumas rolas americanas (especialmente Zenaida macroura, a rola-carpideira).[21]

A maioria das espécies arbóreas africanas de Ocotea são antigas espécies paleoendémicas,[22] que em tempos antigos tiveram uma ampla distribuição naquele continente.[17][22] Contudo, esta não é a situação nas Américas, onde apenas na Venezuela foram colectadas 89 espécies distintas.[23]

Várias espécies de Ocotea são susceptíveis ao ataque de diversos organismos fitopatogénicos indutores do apodrecimento das raízes, entre os quais Loweporus inflexibilis, Phellinus apiahynus[24] e Phytophthora cinnamomi.[25]

Algumas espécies de Ocotea servem de local de nidificação para formigas, as quais que podem viver em bolsas na base das folhas ou em caules ocos. As formigas patrulham as suas plantas hospedeiras com maior frequência em resposta a perturbações ou ao aparecimento de pragas de insectos, entre os quais gafanhotos.[26]

As plantas do género Ocotea produzem óleos essenciais ricos em cânfora e safrol, que nalguns casos têm importância económica. É o caso das espécies O. cymbarum, O. caudata, O. pretiosa e O. usambarensis que são exploradas comercialmente.

As espécies Ocotea usambarensis (conhecida por cânfora-da-áfrica-oriental), Ocotea cernua (do Peru) e Ocotea odorifera (sassafrás do Brasil) são mesmo comercializadas iternacionalmente.

Os calíbios secos da espécie Ocotea quixos, conhecida por ishpingo, são utilizados no Equador para dar sabor a bebidas, entre as quais a colada morada.

Canela Sassafrás é uma das arvores brasileiras nativas de madeira mais estimadas para confecção de toneis para envelhecimento de cachaça.

Algumas espécies arbóreas de Ocotea de crescimento rápido são utilizadas em silvicultura comercial para produção de madeira. Entre essas espécies contam-se Ocotea puberula (da América Central e do Sul), Ocotea bullata (comercializada como black ou true stinkwood na África do Sul) e Ocotea usambarensis. A madeira destas espécies é valorizada pela sua resistência à decomposição por fungos.

Ocotea odorifera (sassafrás) e Ocotea kuhlmanni são frequentemente cultivadas como plantas melíferas.

Lista de espécies

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O género Ocotea inclui mais de 200 espécies, quase todas neotropicais. A lista que se segue, embora não é exaustiva, apresenta as espécies mais relevantes de Ocotea:[27]

A distinção entre as espécies de Ocotea e as de Nectandra e outros géneros filogeneticamente próximos é problemática. As espécies do género Povedadaphne podem melhor ser integradas em Ocotea.

As seguintes espécies foram tradicionalmente colocadas no género Ocotea mas estudos de filogenia molecular confirmaram a sua pertença a outros géneros:[28]

  1. «Tropicos.org» 
  2. «Ocotea». Theplantlist.org. Consultado em 19 de maio de 2012 
  3. a b c Henk van der Werff (1996). «Ocotea ikonyokpe, a new species of Lauraceae from Cameroon». Novon. 6 (4): 460–462. JSTOR 3392056 
  4. «ITIS, Integrated Taxonomic Information System» 
  5. Alain H. Liogier; Luis F. Martorell (2000). Flora of Puerto Rico and Adjacent Islands: a Systematic Synopsis. [S.l.: s.n.] ISBN 9780847703692 
  6. Kostermans, Achmad Jahja (GH); Marais, W. (1979). Ocotea (Lauraceae) in the Mascarene Islands. [S.l.]: H.M. Stationery Office. Consultado em 19 de maio de 2012 
  7. «Ocotea foetens». Lista Vermelha da IUCN de espécies ameaçadas da UICN 2011.2 (em inglês). 1998. ISSN 2307-8235. Consultado em 24 de Maio de 2012 
  8. a b c José González (2007). «Flora Digital De Palo Verde» (PDF). Consultado em 10 de outubro de 2018. Arquivado do original (PDF) em 24 de setembro de 2015 
  9. Andrés Castillo Q. (2010). «Manual dendrológico de las principales especies de interés comercial actual y potencial de la zona del Alto Huallaga» (em espanhol). Cámara Nacional Forestal 
  10. Henk van der Werff (2002). «A synopsis of Ocotea (Lauraceae) in Central America and Southern Mexico». Annals of the Missouri Botanical Garden. 89 (3): 429–451. JSTOR 3298602 
  11. «Plants Profile: ''Ocotea'' Aubl.». USDA. Consultado em 1 de abril de 2008 
  12. Palaeoenvironmental analysis of the Messinian macrofossil floras of Tossignano and Monte Tondo (Vena del Gesso Basin, Romagna Apennines, northern Italy) - Vasilis Teodoridis, Zlatko Kvacek, Marco Sami and Edoardo Martinetto - December 2015 DOI: 10.14446/AMNP.2015.249.
  13. a b Daniel H. Janzen. «About Memphis mora». Ontario Genomics Institute. Consultado em 1 de maio de 2012. Arquivado do original em 26 de setembro de 2011 
  14. J. Phil Gibson & Nathaniel T. Wheelwright (1995). «Genetic structure in a population of a tropical tree Ocotea tenera (Lauraceae): influence of avian seed dispersal» (PDF). Oecologia. 103 (1): 49–54. JSTOR 4221000. PMID 28306944. doi:10.1007/BF00328424. Consultado em 10 de outubro de 2018. Arquivado do original (PDF) em 23 de setembro de 2015 
  15. a b «''Ocotea bullata''». Plantzafrica. 22 de novembro de 2002. Consultado em 20 de maio de 2012 
  16. Paulo Oliveira; Patricia Marrero & Manuel Nogales (2002). «Diet of the endemic Madeira laurel pigeon and fruit resource availability: a study using microhistological analyses». The Condor. 104 (4): 811–822. JSTOR 1370703. doi:10.1650/0010-5422(2002)104[0811:doteml]2.0.co;2 
  17. a b «MANAGEMENT of Natura 2000 habitats * Macaronesian laurel forests (Laurus, Ocotea) 9360: Directive 92/43/EEC on the conservation of natural habitats and of wild fauna and flora» (PDF) 
  18. David Gibbs (2010). Pigeons and Doves: a Guide to the Pigeons and Doves of the World. [S.l.]: A&C Black. ISBN 9781408135563. Consultado em 20 de maio de 2012 
  19. «Biodiversity Explorer: The web of life in southern Africa». Columba arquatrix (African olive-pigeon, Rameron pigeon). Biodiversityexplorer.org. Consultado em 20 de maio de 2012 
  20. Steven T. Mwihomeke; Innocent J.E. Zilihona; William C. Hamisy; Dismas Mwaseba (n.d.). «Assessment Of Forest User Groups And Their Relationship To The Condition Of The Natural Forests In The Uluguru Mountains» (PDF). Wildlife Conservation Society of Tanzania (WCST). Consultado em 10 de outubro de 2018. Arquivado do original (PDF) em 27 de fevereiro de 2012 
  21. Mahabir P. Gupta (2006). «Medicinal Plants Originating In The Andean High Plateau And Central Valleys Region Of Bolivia, Ecuador And Peru» (PDF). Consultado em 10 de outubro de 2018. Arquivado do original (PDF) em 10 de setembro de 2016 
  22. a b Ben H. Warren & Julie A. Hawkins (2006). «The distribution of species diversity across a flora's component lineages: dating the Cape's 'relicts'». Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences. 273 (1598): 2149–2158. PMC 1635518Acessível livremente. PMID 16901834. doi:10.1098/rspb.2006.3560 
  23. Hernán E. Ferrer-Pereira (2009). «Lauraceae at the Herbario Nacional de Venezuela (VEN)» (PDF). Herbario Nacional de Venezuela 
  24. P. Renvall & T. Niemelä (1993). «Ocotea usambarensis and its fungal decayers in natural stands». Bulletin du Jardin botanique national de Belgique / Bulletin van de National Plantentuin van België. 62 (1/4): 403–414. JSTOR 3668286 
  25. W. A. Lübbe & G. P. Mostert (1991). «Rate of Ocotea bullata decline in association with Phytophtora cinnamomi at three study sites in the Southern Cape indigenous forests». South African Forestry Journal. 159 (1): 17–24. doi:10.1080/00382167.1991.9630390 
  26. Jean Stout (1979). «An association of an ant, a mealy bug, and an understory tree from a Costa Rican rain forest». Biotropica. 11 (4): 309–311. JSTOR 2387924 
  27. «Ocotea Aubl.». Agricultural Research Service (ARS), United States Department of Agriculture (USDA). Germplasm Resources Information Network (GRIN). Consultado em 19 de fevereiro de 2010 
  28. [1].

Ligações externas

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