Antropologia y Turismo en Los Paises Del
Antropologia y Turismo en Los Paises Del
Antropologia y Turismo en Los Paises Del
Revista de Turismo
y Patrimonio Cultural
RURAL TOURISM
OVERVIEW EXPERIENCES
OF ANTHROPOLOGY
OF TOURISM FROM THE SOUTH
www.pasosonline.org
www.pasosonline.org
Edita / Publisher:
Instituto Universitário de Ciencias Politicas y Sociales
Universidade de La Laguna (Tenerife, España)
Periodicidad / Publication:
Quadrimestral / Three times annualy
Imprimir / Print:
Clássica
ISSN 1695-7121
D. L. TF 2059-2002
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural es una traducción a inglés), Introducción, los apartados que se estimen
publicación en web que se especializa en el análisis académico oportunos, Conclusión, Agradecimientos (si fuera pertinente) y
y empresarial de los distintos procesos que se desarrollan Bibliografía.
en el sistema turístico, con especial interés a los usos de la Cuadros, Gráficos e Imágenes: Los artículos pueden
cultura, la naturaleza y el territorio, la gente, los pueblos y sus incluir cualquier graismo que se estime necesario. Deberán
espacios, el patrimonio integral. Desde una perspectiva inter estar referidos en el textos y/o situados convenientemente y
y transdisciplinar solicita y alienta escritos venidos desde las acompañados por un pie que los identiique. Pueden utilizarse
ciencias y la práctica administrativo-empresarial. Su objetivo colores, pero ha de tenerse en consideración la posibilidad de
es cumplir con el papel de foro de exposición y discusión de una publicación en soporte papel en blanco y negro.
metodologías y teorías, además de la divulgación de estudios y Abreviaturas y acrónimos: Deberán ser bien deletreados y
experiencias. Pretende contribuir a otros esfuerzos encaminados claramente deinidos en su primer uso en el texto.
a entender el turismo y progresar en las diversas formas de Citas y Bibliografía: En el texto las referencias bibliográicas
prevención de efectos no deseados, pero también perfeccionar la harán referencia al autor y el año de publicación de la obra
manera en que el turismo sirva de complemento a la mejora y citada. Por ejemplo: (Smith, 2001) o (Nash, 1990; Smith, 2001).
desarrollo de la calidad de vida de los residentes en las áreas Cuando se considere necesaria una cita más precisa se indicará
de destino. el número de página (Smith, 2001: 34). La lista bibliográica al
inal del texto seguirá el orden alfabético de autores, siguiendo
PERIODICIDAD (números de carácter ordinario): ENERO; el formato:
ABRIL; OCTUBRE Smith, Valene L. y Brent, Maryann
Para simpliicar el proceso de revisión y publicación se pide a 2001 “Introduction to Hosts and guests revisited: Tourism issues
los colaboradores que se ajusten estrictamente a las normas of the 21st century”. En Smith, Valene L. y Brent, Maryann
editoriales que a continuación se indican. (Eds.), Hosts and guests revisited: Tourism issues of the 21st
Entrega de originales: Los trabajos deberán ser incorporados century (pp. 1-14). New York: Cognizant Communication.
a la plataforma de gestión de la revista, previo registro del Smith, Valene L.
autor principal, en www.pasosonline.org/ojs 1998 “War and tourism. An American Ethnography”. Annals of
Metadatos: Deben incorporarse todos los metadatos solicitados Tourism Research, 25(1): 202-227.
en el registro del trabajo incorporado, incluyendo los datos Urry, J.
referentes a los autores y en el apartado Resumen el realizado 1990 The tourist gaze. Leisure and travel in contemporary
en el idioma original y, seguido, en inglés. societies. London: Sage.
PASOS. Revista de Turismo e Património Cultural é Quadros, gráficos e imagens: Os artigos podem incluir
uma publicação web especializada na análise académica e qualquer graismo que se ache necessário. Deverão estar
empresarial dos destintos processos que se desenvolvem no referenciados com o número correspondente no texto e
sistema turístico, com especial incidência nos usos da cul- acompanhados por um título que os identiique. Podem
tura, da natureza e do território, nas gentes, nos povos e nos utilizar-se cores; porém, a considerar-se a possibilidade de
seus espaços, no património integral. A partir de uma pers- uma publicação em suporte de papel serão usadas apenas a
pectiva inter e transdisciplinar solicita e encoraja escritos preto e branco.
provenientes desde as ciências sociais à prática administra- Abreviaturas e acrónimos: Deverão ser bem deinidos na
tiva empresarial. Tem como escopo cumprir o papel de foro primeira vez que forem usados no texto.
de exposição e discussão de metodologias e teorias, além da Citações e bibliografia: No texto as referencias
divulgação de estudos e experiências. Pretende ainda contribuir bibliográicas terão que reportar o autor e o ano da publicação
para a compreensão do turismo e o progresso das diversas da obra citada. Por exemplo: (Smith, 2001) ou (Nash, 1990;
formas de prevenção de impactes não desejados, mas Smith, 2001). Quando se considere necessário uma referencia
também contribuir para que o turismo sirva de complemento mais precisa deve incluir-se o número da página (Smith,
à melhoria e desenvolvimento da qualidade de vida dos residentes 2001: 34). O aparato bibliográico do inal do texto surge
nas áreas de destino. consoante a ordem alfabetizada dos autores, respeitando o
Periodicidade de números ordinários: Janeiro; Abril; seguinte formato:
Outubro Smith, Valene L. y Brent, Maryann
Para simpliicar o processo e revisão de publicação pede-se 2001 “Introduction to Host and guest revisited: Tourism
aos colaboradores que se ajustem estritamente ás normas issues of the 21st century”. En Smith, Valene L. y Brent,
editoriais que a seguir se indicam. Maryann (Eds.), Host and guest revisited: Tourism
Metadados: Devem ser indicados todos os metadados issues of the 21st century (pp.-14). New York: Cognizant
solicitados no registo do trabalho incorporado, incluindo os Communication.
dados referentes aos autores e, em separado, o resumo no Smith, Valene L.
idioma original seguido de uma versão em inglês. 1998 “War and tourism. An American Ethnography”. Annals
of Tourism Research, 25(1): 2002-227.
TEXTO A INCORPORAR Urry, J.
1990 The tourist gaze. Leisure and travel in contemporary
Formato do arquivo: O arquivo a incorporar deverá estar em
societies. London: Sage.
formato MSWord (*.doc; *.docx) ou OpenOfice Writer (*.odt)
Para outro tipo de publicação terá que ser sempre referenciado
Idioma: Os trabalhos serão publicados no idioma em que
o autor, ano, título e lugar do evento ou publicação e um
sejam entregues (espanhol, português, inglês ou francês).
standard para documentos electrónicos, indicando endereço
Margens: Três centímetros em todos os lados da página.
e data de acesso.
Grafia: Deverá utilizar no texto a letra Times New Roman ou
Originalidade: Requere-se o compromisso. tanto da
Arial, tamanho 10, ou similar. Nas notas utiliza-se o mesmo tipo
originalidade do trabalho, como o de o texto não ter sido
de letra em tamanho 9. Não utilizar diversidade de fontes nem
remetido simultaneamente para outros suportes para
de tamanhos. Se desejar destacar alguma palavra ou parágrafo
publicação.
dentro do texto deve utilizar a mesma fonte em cursiva.
Direitos e Responsabilidade: É importante ler a secção
Notas: Serão sempre colocadas no inal, utilizando o mesmo
“Declaração Ética” no sítio da web da revista. Os autores
tipo de letra do texto (Time New Roman ou Arial) tamanho 9.
serão os únicos responsáveis pelas airmações e declarações
Título: O trabalho deve ser encabeçado pelo seu título em
proferidas no seu texto. À equipa editorial da PASOS reserva-
minúsculas e bold.
-se o direito de utilizar em edições compilatórias sucessivas os
Não devem incluir-se no documento dados do autor. Por
artigos editados. Os textos são publicado ao abrigo da licença
baixo deve ser inscrito o título em inglês. É aconselhável que
Creative Commons, pelo que poderão ser reproduzidos como
o título não ultrapasse os 100 caracteres (incluindo espaços)
arquivo pdf sem alterações, integralmente e citando a fonte
Resumo: Deve constar um resumo do artigo (120 a 150
PASOS Revista de Turismo e Património Cultural (www.
palavras) no idioma em que está escrito e a sua tradução em
pasosonline.org). A integração em publicações que implique
inglês. Para os artigos escritos em inglês deve incluir-se a sua
a alteração do arquivo original requererão a autorização
tradução em espanhol.
expressa do autor e da Comissão Editorial PASOS.
Palavras-chave: Incluem-se 5-7 palavras-chave sobre o
Uma vez comunicada a ACEITAÇÃO do texto para
tema principal e a sua correspondente tradução para inglês.
publicação, os autores devem completar o formulário
Texto: Este deve apresentar o espaçamento de 1,5 ter uma
disponível na secção “Declaração de direitos” e remetê-lo
extensão de cerca de 5 000 a 9 000 palavras paraartigos e
pelo correio electrónico da revista.
3 000 a 5 000, tanto para opiniões e ensaios como para notas
Processo de revisão: É importante ler a secção “Processo
de investigação, incluindo título (e a sua correspondente
de revisão” no sítio web da revista. Todos os trabalhos serão
tradução para inglês), Palavras-chave (e a sua correspondente
submetidos e avaliados por pares anónimos externos à
tradução para inglês), Introdução, as notas que se entendam
revista. Os autores serão notiicados dos resultados da revisão
oportunas, Conclusão, Agradecimentos (se se justiicarem) e
realizada mediante uma icha- resumo da arbitragem.
Bibliograia.
www.pasosonline.org
Índice
Editorial
Javier Hernández-Ramírez Panorama de la Antropología del Turismo desde el Sur 277
Xerardo Pereiro Pérez
Roque Pinto
Artículos
Margarita Barretto Antropología y Turismo en “los países del 283
Alejandro Otamendi Plata” (Argentina y Uruguay)
www.pasosonline.org
Reseña de publicaciones
Maximiliano Emanuel Korstanje Turismo y Patrimonio en la Quebrada de 435
Humahuaca. Lugar, actores y conflictos en la
definición de un destino turístico.
Vol. 13 N.o 2. Special Issue Págs. 277-281. 2015
www.pasosonline.org
Editorial
Javier Hernández-Ramírez*
Universidad de Sevilla (España)
Roque Pinto***
Universidade Estadual de Santa Cruz (Brasil)
Han pasado más de tres décadas desde que Dennison Nash (1981) planteara en la revista Current
Anthropology el debate sobre la pertinencia del turismo como objeto de estudio en la Antropología Social.
Transcurrido este tiempo la cuestión parece del todo superada, ya que es innegable la consolidación de
este campo de estudio en el ámbito de la disciplina no sólo en las universidades y centros de investigación
norteamericanos y centroeuropeos, sino también en los países latinoamericanos, España y Portugal.
La expansión de la actividad turística a escala mundial, su caleidoscópico efecto sobre muchos
territorios transformados en destinos turísticos, así como su papel en la sociedad contemporánea
emisora de turistas, la convierten en un fenómeno nada supericial o intrascendente como algunos
podrían presuponer en los albores de este campo de estudio antropológico.
Son pocos los que hoy en el seno de la disciplina desconfían de las aportaciones de esta especialización
como así ocurría en los ochenta, tal como confesaron algunos autores pioneros (Chambers, 2000; Crick,
1992; Galani-Moustai, 2000; Smith, 1992; Swain, 2000; Van den Bergue, 1980). Por suerte, hoy la
comunidad antropológica es consciente del carácter poliédrico del turismo y de que no puede obviarse
su estudio desde la óptica de la Antropología Social. La investigación ha revelado que el fenómeno es un
hecho social total en el sentido propuesto por Mauss (1979)1, porque comprende amplios dominios de la
cultura (económicos, sociales, ecológicos, políticos, urbanísticos, simbólicos…), y alcanza una dimensión
que ya es prácticamente planetaria.
Esta abarcabilidad contribuye a la comprensión de procesos globales y, consecuentemente, al
avance de la disciplina antropológica. Dicho de otra manera, el turismo como hecho social total que
atraviesa multitud de aspectos impregna globalmente a la propia disciplina antropológica, inluyendo
y ampliando su mirada. Tal como indican Crick (1992) y Salazar (2006), contemplar el fenómeno como
un hecho aislado, por ejemplo como una actividad económica más, implica una mirada reduccionista e
incompleta (burguesa dice Crick).
*
Profesor del Departamento de Antropología Social de la Universidad de Sevilla; E -mail: [email protected]
**
Doutor em antropologia pala Universidade de Santiago de Compostela e doutor em turismo pela Universidade de La Laguna,
professor auxiliar com agregação na UTAD e investigador efetivo do CETRAD (Centro de Estudos Transdisciplinares
para o Desenvolvimento). E -mail: [email protected]
***
Professor Adjunto de Antropologia na Universidade Estadual de Santa Cruz (Ilhéus, Brasil). E -mail: roquepintosantos@ gmail.com
Sin embargo, dada su compleja naturaleza, sería más apropiado abordarlo con una perspectiva
integradora, es decir, como un fenómeno profundamente entrelazado con otros dominios de la cultura
y enmarcado dentro de los procesos de glocalización. Esta mirada holística permite situar al turismo en
el marco del desarrollo del capitalismo como relejo del mismo y como factor que acelera y acentúa dos
grandes procesos globales característicos de la modernidad: la mercantilización y la movilidad organizada.
En el primer nivel, el turismo es un mercado de representaciones y lugares que mercantiliza lo
particular en un mundo global. La actividad pone en circulación no sólo bienes y servicios, sino también
-y sobre todo- ideas intangibles profundamente asociadas a valores culturales contemporáneos que son
transformadas en productos o mercancías. Por ejemplo, las nociones occidentales de pureza, primitivismo,
naturaleza o autenticidad se materializan y localizan –de acuerdo con el marketing- en destinos turísticos
especíicos y, los turistas, como consumidores globales, viajan por el planeta atraídos por el disfrute de
estos singulares y autóctonos productos.
Esto es posible porque en el turismo el lugar de la producción coincide con el del consumo, ya que
los turistas se desplazan para consumir y lo que consumen se halla (se elabora) en el destino. Su
comprensión, por tanto, no puede ser ajena a las dinámicas globales de mercantilización y consumo
características del capitalismo contemporáneo, e incluso es un paradigma del fenómeno, pues supone
un paso adelante en este proceso mediante el cual se llega a comercializar la propia cultura, la cual es
objetivada para los propósitos del mercado global (Meethan, 2001). ¿Existe otra actividad que conjugue
tan claramente la intersección entre lo global y lo local?
Al mismo tiempo el turismo se enmarca en los procesos de movilidad que caracterizan a la sociedad
mundial desde la modernidad. Como indican Lash y Urry (1998), la modernidad es una sociedad en
movimiento y esta movilidad ha sido posible por ser organizada. Coles, Duval y Hall (2005) plantean en
este sentido la necesidad de enmarcar el turismo en los procesos globales de movilidad como una forma
de movimiento humano dentro de un espectro mucho más amplio de las movilidades sociales y físicas
junto con las migraciones, las peregrinaciones o los desplazamientos continuos que forman parte de la
experiencia cotidiana de las poblaciones contemporáneas. De hecho, las fronteras entre algunas formas de
turismo y otras prácticas de movilidad (peregrinaciones y migraciones) son a menudo borrosas, porque estos
desplazamientos con objetivos distintos se integran dentro de la misma actividad viajera de las personas.
En deinitiva, el turismo es parte que se retroalimenta de otras dinámicas y, al mismo tiempo, inluye
en los procesos. Por ello, frente a una mirada sesgada, que impide su comprensión global, la Antropología
Social tiene capacidad para ofrecer una perspectiva integradora que lo enmarque en dinámicas globales de
movilidad y mercantilización, lo que a nuestro juicio constituye el camino para la interpretación adecuada.
No es casual por ello que, dentro de la propia disciplina, la Antropología del Turismo sea una de las
especializaciones que más contribuye al conocimiento de temas centrales que preocupan a la comunidad
antropológica en su conjunto, tales como la globalización, la localización, el consumo, los modelos de
desarrollo o los patrones de movilidad, por citar sólo algunos (Santana, Pereiro y Hernández-Ramírez, 2014).
Desde los noventa, la expansión territorial del fenómeno y su variable efecto sobre la cultura
están suscitando nuevas relexiones antropológicas que desbordan anteriores intereses y enfoques. El
fenómeno alcanza también a otros ámbitos académicos y profesionales situados en los países del Sur
de habla lusa y castellana donde el desarrollo y las repercusiones de la actividad adquieren ciertos
rasgos particulares. En la geografía de América del Sur y de la Península Ibérica proliferan los destinos
turísticos especializados en una gran diversidad de ofertas y los impactos socioculturales del mismo
afectan al núcleo de la cultura de los destinos tanto a las manifestaciones más signiicativas del legado
cultural como a las propias comunidades y grupos étnicos localizados en este vasto territorio.
En este monográico de la revista Pasos se presentan las principales aportaciones que los teóricos y
etnógrafos latinos e ibéricos han aportado al campo de la Antropología del Turismo. Nos preguntamos
si desde estos países del Sur se podría hablar de un enfoque particular al fenómeno, es decir, de una
mirada especial en cuanto a perspectivas teóricas y asuntos tratados o, si por el contrario, los temas
investigados y los marcos teóricos empleados como instrumentos de investigación replican los modelos
diseñados previamente en los países anglosajones con una mayor tradición en los estudios sobre turismo.
Para responder a la cuestión planteada, en el presente número se presentan cinco artículos que repasan
las contribuciones más signiicativas realizadas al estudio del turismo desde la perspectiva antropológica
en Argentina, Brasil, España, Portugal y Uruguay. El esfuerzo de los autores que irman en este número
por desarrollar una genealogía de la producción antropológica sobre turismo en los países donde investigan
constituye una interesante aproximación a los principales estudios, debates y avances de la Antropología
del Turismo iberoamericana. Obviamente, la ausencia del resto de países que conforman el ámbito cultural
seleccionado no agota el tema en cuestión, que sin duda debería seguir siendo explorado.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Javier Hernández-Ramírez, Xerardo Pereiro Pérez, Roque Pinto 279
Las genealogías de la Antropología del Turismo realizadas revelan que este campo de estudio ha
pasado de la inexistencia o marginalidad hasta su institucionalización y cierta normalización. En todos
los países analizados el desarrollo de este campo ha sido tardío, lo cual es muy llamativo pues el modelo
de turismo fordista se implantó tempranamente en los sesenta y setenta en regiones concretas de este
amplio territorio. En este sentido, Margarita Barretto y Alejandro Otamendi resaltan que, en los países
del Plata (Uruguay y Argentina), el proceso de institucionalización de la Antropología del Turismo ha
sido muy rápido pues las etnografías pioneras se realizan a principios de la década de los noventa y
en la actualidad se halla presente en distintas universidades, centros de investigación e instituciones
nacionales e internacionales.
Este origen es paralelo en Brasil donde la antropología empezó a interesarse por el turismo en esta
misma década (Banducci, 2001; Steil, 2002; Barretto, 2003). Sin embargo, como Roque Pinto señala
en este volumen, el grado de consolidación de este campo cientíico es todavía marginal por cuanto las
aportaciones suelen diluirse en investigaciones centradas en otros temas considerados más relevantes y
inanciables por entidades públicas de desarrollo, tales como la conservación ambiental o problemáticas
indígenas, raciales, de género y religión, entre otros.
También en España y Portugal este campo de estudio se consolida a inales de los noventa. Sin
embargo, en las dos décadas anteriores se publicaron notables investigaciones, pero como hechos aislados
y casi siempre en el seno de la Teoría de la Dependencia como marco dominante y característico de
esta etapa de producción del conocimiento antropológico, que subraya los impactos generados en las
comunidades receptoras. En este sentido, los trabajos de Javier Hernández-Ramírez, centrado en España,
y de Xerardo Pereiro y Filipa Fernandes en Portugal desgranan las principales aportaciones realizadas
en estas tempranas etapas, veriicando en estos casos un crecimiento continuo de las investigaciones
sobre todo a partir del presente siglo.
En todo este proceso ha tenido un especial protagonismo la publicación de etnografías sobre turismo
en revistas cientíicas especializadas y genéricas que tienen al español y al portugués como principales
lenguas vehiculares, entre las que destacan Ankulegui, Estudios y Perspectivas y Turismo, Horizontes
Antropológicos, Naya (Noticias de Antropología y Arqueología), Pasos (Revista de Turismo y Patrimonio
Cultural) y RBTur (Revista Brasileira de pesquisa em Turismo).
Al mismo tiempo la presencia de los investigadores de este campo en congresos nacionales e interna-
cionales de Antropología y otras disciplinas ha actuado como caja de resonancia de las investigaciones
realizadas contribuyendo a despertar el interés por nuevos estudios. Pero ha sido la institucionalización
de la Antropología del Turismo en distintas universidades y centros de investigación la que ha consolidado
este campo, destacando la producción cientíica en forma de tesis doctorales y trabajos de maestría.
Las etnografías centradas en el turismo realizadas por autores ibéricos y latinoamericanos tratan de
captar la complejidad del fenómeno, analizando temas de lo más diverso. Si bien los asuntos tratados
generalmente convergen con las preocupaciones de la comunidad antropológica internacional, podría
decirse que la producción cientíica en estos países incide en una serie de temas especíicos que conectan
con las tradiciones investigadoras nacionales, así como con las realidades culturales especíicas y las
modalidades turísticas que se implantan en este territorio. De acuerdo con lo anterior son cinco las
unidades de análisis más estudiadas en su relación con el turismo: el patrimonio cultural, las moda-
lidades de desarrollo, las representaciones turísticas, el medio ambiente y las poblaciones originarias
y locales receptoras.
De los temas señalados, el más recurrente es el estudio de las relaciones entre el patrimonio cultural
y el turismo. Los autores basculan desde la crítica a la mercantilización de la cultura y los procesos de
reinvención de la misma hasta el análisis de las interacciones y negociaciones que se producen entre el
sector y las poblaciones receptoras. Como producto de esta mirada desde el turismo el tratamiento de
la autenticidad de la experiencia, de los espacios y los objetos está generando fructíferos resultados que
permiten reinar dicha noción e incluso reformular el acercamiento al patrimonio cultural, anteriormente
circunscrito a los estudios sobre folklore, cultura popular y museología.
El desarrollo turístico es un asunto que también reúne una creciente producción bibliográica y que
repercute directamente en el desarrollo del conjunto de la disciplina. Tal como plantea Martínez Mauri
en este volumen para el caso español se podría hablar incluso de una turistiicación de la Antropología
del Desarrollo. El fenómeno está relacionado fundamentalmente con la gran expansión de la actividad
y el convencimiento de las instituciones públicas de que la promoción del turismo en zonas cuyas bases
materiales están en crisis puede ser la vía para la convergencia con los países del Norte, ya sea a través
de la Cooperación al Desarrollo o mediante estrategias de dinamización en ámbitos sobre todo periféricos
en el marco del llamado Turismo Comunitario.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
280 Panorama de la Antropología del Turismo desde el Sur
Esta temática enlaza directamente con el estudio de los pueblos originarios convertidos en destinos
turísticos, que constituye una de las preocupaciones características de los investigadores, tal como indican
Barretto y Otamendi para el caso de “los países del Plata”, Pereiro y Fernandes para el portugués y
Hernández-Ramírez para el español.
Por último, la investigación sobre las imágenes turísticas proyectadas sobre la cultura autóctona y
sobre la naturaleza es otro asunto fructífero en el que las investigaciones resaltan cómo la atracción por
lo vernáculo y la reinvención de la naturaleza afectan directamente a las poblaciones, a las novedosas
relaciones interétnicas que propicia y las modalidades de prácticas de consumo que suscita.
La serie de investigaciones más especíicas que completan el volumen ilustran nuevas orientaciones
e inquietudes de la Antropología del Turismo de habla hispana y lusa. De un lado, se presentan tres
trabajos que evalúan las políticas públicas en materia de turismo y cultura, lo que constituye un campo
con un gran potencial. Borba y Barretto analizan los efectos de las políticas públicas de cultura y turismo
entre los Maracatu de Pernambuco (Brasil) como mecanismo para la reairmación y empoderamiento
de este grupo tradicional. Por su parte, Esther Fernández de Paz compara críticamente las políticas
públicas en la puesta en valor del trabajo artesano en dos experiencias contrapuestas en Chile y España,
y relexiona sobre la capacidad de los poderes públicos para articular equilibradamente las dimensiones
sociales y patrimoniales con las comerciales y turísticas.
Por último, el texto de Filipa Fernandes se centra es un análisis sistémico del turismo en la región
autónoma portuguesa de Madeira, un conjunto insular de la Macaronesia, en la cual el turismo juega un
papel central. Después de presentar las estructuras y los agentes sociopolíticos de esta región atlántica,
nos muestra la oferta de alojamiento y las experiencias de animación turística, especialmente las de
senderismo, tan recurrentes en Madeira. Su texto es un ejemplo metodológico de como la antropología
puede y debe utilizar “números” en la etnografía, pues ello enriquece mucho la comprensión del turismo.
De otro lado, otros dos artículos se centran en el estudio de las repercusiones del turismo en sociedades
locales concretas. Aunque esta temática es un asunto clásico en la Antropología del Turismo, lo novedoso
es que los grupos son analizados como actores que intervienen, ya sea promoviendo la actividad o
resistiéndose a la misma, lo que contrasta con anteriores miradas que contemplaban a las comunidades
como entidades homogéneas y víctimas pasivas ante fuerzas globales depredadoras y externas.
Valverde, Maragliano e Impemba analizan las tensiones derivadas de la actividad turística en
el territorio de los Mapuche de Neuquén (Argentina), describiendo episodios de protesta de grupos
Mapuche ante la actividad turística (demanda de protección ambiental y de derechos sobre tierras) y
acciones que persiguen la visibilización de este pueblo originario y su reconocimiento como comunidad,
mediante la estrategia étnica de apropiación y redeinición de las imágenes de lo mapuche que, a pesar
de ser sumamente folklorizadas y esenciales, se utilizan para su posicionamiento como grupo y alcanzar
legitimidad para acceder a recursos e ingresos turísticos. Por su parte, Grünewald estudia al turismo
como una fuerza que intensiica la posición históricamente subordinada del grupo étnico Pataxó (Brasil).
Sin embargo, considera el autor que el impulso de estrategias de etnodesarrollo diversiicado desde el
interior del grupo tiene capacidad para frenar la dinámica de dominación impuesta por la industria
del turismo.
En deinitiva, el balance de la producción cientíica antropológica sobre turismo que se presenta
en este volumen es alentador. No obstante, es conveniente profundizar en las temáticas abordadas,
pero también es necesario impulsar el estudio de otros ámbitos originales que, a modo de ilustración,
abarcarían desde los signiicados del espacio turístico, las nuevas tendencias de consumo, los procesos
museiicación, hibridación o neomonumentalismo, las políticas y organizaciones internacionales del
turismo, hasta las formas de resiliencia, gobernanza o redes de actores.
Un sinfín de asuntos que nos aproximan al objetivo de conocimiento holístico del fenómeno turístico,
abriendo un enorme abanico de posibilidades futuras, entre las cuales se encuentra la posibilidad de
dialogar interdisciplinarmente desde un reconocimiento claro de la especiicidad de la Antropología del
Turismo y una turistiicación de los objetos de estudio antropológicos.
Bibliografia
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Javier Hernández-Ramírez, Xerardo Pereiro Pérez, Roque Pinto 281
Barretto, Margarita
2003 “O imprescindível aporte das ciências sociais para o planejamento e à compreensâo do turismo”.
Horizontes Antropológicos, vol. 9 (20): 15-30.
Chambers, Erve
2000 Native Tours. The Anthropology of Travel and Tourism. Illinois: Waveland Press.
Coles, Tim; Duval, David T. y Hall, Michael
2005 “Sobre el turismo y la movilidad en tiempos de movimiento y conjetura posdisciplinar”. Política
y Sociedad, Vol. 42(1): 85-99
Crick, Malcolm
1992 “Representaciones del turismo internacional en las ciencias sociales: Sol, sexo, Paisajes, Ahorros
y Servilismos”. En Jurdao, F. (comp.) Los mitos del Turismo. Madrid: Endymión, pp. 341-353.
Galani-Moustai, Vasiliki
2000 “The Self and the Other. Traveler, ethnographer, tourist”. Annals of Tourism Research, 27 (1):
203-224.
Lash, Scott y Urry John
1998 Economías de signos y espacio. Buenos Aires: Amorrortu.
Mauss, Mauss
1979 Sociología y Antropología. Madrid: Tecnos.
Meethan, Kevin.
2001 Tourism in global society. Place, culture and consumption. New York: Palgrave.
Nash, Dennison
1981 “Tourism as an Anthropological subject”. Current Anthropology, nº 5: 461-481.
Salazar, Noel
2006 “Antropología del turismo en países en desarrollo: análisis crítico de culturas, poderes e identidades
generados por el turismo”. Tabula Rasa, nº 5: 99-128.
Santana, Agustín, Pereiro, Xerardo y Hernández-Ramírez, Javier
2014 “La antropologíazación del turismo y la turistiicación de la Antropología”. En Tomás, Andreu
et al. Periferias, fronteras y diálogos. Una lectura antropológica de los retos de la sociedad actual.
Tarragona: URV, pp. 165-172.
Steil, Carlos A.
2002 “O turismo como objeto de estudos no campo das ciências sociais”. En Riedl, M. et al (Org.) Turismo
rural: tendências e sustentabilidades. Sanata Cruz do Sul: EDUNICS, pp. 51-80.
Smith, Valene (Coord.)
1992 Anitriones e invitados. La Antropología del Turismo. Madrid: Endymión.
Swain, Margaret B.
2000 “Anthropology”. En Jafar Jafari. Encyclopedia of Tourism. London: Routledge, 23-26.
Van den Bergue, Pierre L.
1980 “Tourism as ethnic relations: a case study of Cuzco, Peru”. Ethnic and Racial Studies, vol. 3 (4):
375-92.
Notes
1
Según Marcel Mauss los fenómenos sociales totales son “hechos que ponen en juego a la totalidad de
la sociedad y de sus instituciones porque los problemas que plantean son al mismo tiempo jurídicos,
económicos, religiosos e incluso estéticos y morfológicos” (Mauss, 1979: 258-260).
Este número especial se enmarca en el trabajo de los proyectos: Turismo: Aportações teórico-
metodológicas” (PROPP/UESC 00220.1700.1076) y “Diseño de escenarios óptimos de gobernanza
turística en Reservas de la Biosfera” (CSO2012-38729-C02-01.), inanciado por el Ministerio de
Economía y Competitividad. Gobierno de España.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
dourintour À Descoberta
do Douro das
Quintas
Co-financiamento
Vol. 13 N.o 2. Special Issue Págs. 283-294. 2015
www.pasosonline.org
Alejandro Otamendi**
Universidad de Buenos Aires (Argentina)
Resumen: El siguiente artículo presenta la creciente producción antropológica en el campo temático del turismo
de Argentina y Uruguay. Desde comienzos de la década de noventa hasta el presente, el interés etnográico de
los investigadores sobre los distintos aspectos del turismo se ha incrementado sustancialmente, lo cual evidencia
que la elaboración de trabajos académicos es cada vez más recurrente, así como diversa. En las próximas páginas
intentaremos recorrer algunas de las investigaciones con las que hemos tenido contacto bibliográico y aquellas
que han sido presentadas en congresos de antropología social, especialmente en distintas instancias de la Reunión
de Antropología del Mercosur (RAM) y del Congreso Argentino de Antropología Social (CAAS), en las que hemos
tenido lugar como coordinadores de grupos de trabajo sobre antropología y turismo. Podríamos decir que el campo
del turismo en la antropología social y cultural de Argentina y Uruguay se halla instalado en el ámbito académico
local, apuntando a nuevos paradigmas.
Palabras Clave: Producción antropológica, turismo
1. Introducción
Argentina y Uruguay son dos países unidos y, al mismo tiempo, separados por el Río de la Plata.
Aunque bañados por otros ríos, como el Uruguay que también establece frontera entre los dos países,
se conocieron frecuentemente como países “del Plata” dado que sus respectivas capitales, Buenos Aires
y Montevideo, están a ambas orillas del que fuera llamado por los indígenas precolombinos “río ancho
como mar”. Fueron, inclusive, durante un tiempo, un solo país: las Provincias Unidas del Río de la Plata,
*
Docente de la Universidad Regional de Blumenau e investigadora del CNPq_Consejo Nacional de investigación, Brasil.
Docente invitada en cursos de las Universidades de Buenos Aires, Córdoba y Tucumán (Argentina); E -mail: barretto.
[email protected]
**
Docente UBA y UNLa, e Investigador de Sección Etnología, Instituto de Ciencias Antropológicas, FFYL, UBA (Argentina)
aunque claramente diferenciados de sus vecinos próximos Brasil y Paraguay. Si bien tanto Argentina
como Uruguay tienen una historia e identidad propia y particular conigurada desde hace casi dos siglos,
las similitudes idiomáticas y prácticas culturales de ambos países llevan a un permanente intercambio,
incluso en el ámbito de las actividades turísticas.
Por todo ello no es extraño hacer un artículo condensando la producción académica de los dos
países, en algo que les es tan reciente como son los estudios de turismo a partir de la antropología, la
llamada “antropología del turismo”, denominación esta que fue paradójicamente criticada por uno de
los primeros antropólogos en estudiar turismo en Estados Unidos al inal de la década de 1970. Nelson
Graburn(2009) sostiene que no hay una antropología especíica “del” turismo, sino que la Antropología
tiene como uno de sus objetos de estudio al turismo.
En el presente artículo recorreremos entonces la bibliografía que se vincula al turismo desde una
perspectiva antropológica, así como también haremos mención de los eventos académicos en donde
coincidieron las distintas investigaciones etnográicas relacionadas con la actividad turística, agrupando
y profundizando así las principales áreas temáticas referidas a este campo del conocimiento. Por una
cuestión de orden expositivo, en las próximas líneas intentaremos seguir dos ejes: uno cronológico y
otro temático. En el primero, avanzaremos mostrando cómo a través de los años fueron sumándose
distintos autores e investigaciones al campo, mientras que en segundo analizaremos algunos de los
temas centrales y características propias detectadas en las etnografías platenses.
Los estudios de antropología relacionados al turismo en las dos orillas del Río de la Plata, Argentina
y Uruguay, empezaron alrededor de los años 1990. A pesar que el turismo fue una actividad económica
importante en los dos países durante todo el siglo XX, con la creación de balnearios y estaciones termales
ya en el siglo XIX en Argentina, y con la creación pionera de un Consejo Nacional de Turismo en los
años 1920 en Uruguay, los estudios cientíicos de turismo empezarían muchos años después.
En la República Argentina los primeros trabajos datan de la última década del siglo XX, cuando el
crecimiento del turismo internacional y los procesos de turistiicación locales vinieron acompañados
con nuevas investigaciones etnográicas en el campo académico, en gran parte inluenciados por los
estudios en el vecino Brasil, donde la antropología empezó a interesarse por el fenómeno en los años
noventa (Banducci Jr. 2001; Steil, 2002; Barretto, 2003) siguiendo el camino de la geografía que lo
había hecho en la década anterior.
Un marco importante desde el punto de vista de la institucionalización de los estudios de antropología
direccionados al turismo es el año de 1999, cuando durante la III Reunión de Antropología del Mercosur
(RAM1), en Posadas, Misiones (Argentina), donde se dio un espacio para la Comisión de Antropología del
Ocio y del Turismo, aunque los investigadores de Argentina presentes al evento, más que antropólogos,
eran turistólogos y geógrafos.
Vale reproducir algunos trechos de Barretto (2009) en que se hace un histórico de esta primera
incursión del turismo en una “ciencia seria”, dado el aspecto anecdótico que la acompaña. Por cuestiones
organizacionales e informacionales los participantes recibimos la información de que nuestra comisión
empezaría el segundo día; no obstante, en el programa oicial se señalaba que empezaría el primer
día. Desconcertados porque nos habíamos organizado para la primera alternativa, tuvimos que oír las
infaltables bromas, tales como que “la comisión está en trabajo de campo: haciendo turismo”.
Esto fue nada más la manifestación de la representación social vigente de la época dentro del medio
académico no solo en estas latitudes sino en el mundo en general. Según Nash el turismo siempre fue
objeto de una “falta de respeto generalizada [...] dentro de la cultura de los antropólogos” (1996:90);
quizás porque también el turista es un personaje con un ethos al que se le adjudica una jerarquía
inferior al etnógrafo o al viajero (Urbain (1993), o porque simultáneamente el turismo es considerado
una actividad supericial, moderna e impropia de la investigación etnográica (Galani-Moustai, 2000) .
Pero los trabajos no solamente transcurrieron con un nivel excelente de discusión sino que además
tuvimos un espacio en la reunión plenaria para registrar que era necesario que las ciencias sociales
en general y la antropología en particular cambiaran de actitud respecto a los estudios de turismo, no
solamente para que hubiera espacio dentro del medio académico sino porque muchos de los problemas
socio ambientales y culturales ocasionados o atribuídos a esta actividad -que justamente provocan su
rechazo como objeto de estudio- podrían, paradójicamente, ser evitados o minimizados si los antropólogos
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Margarita Barretto, Alejandro Otamendi 285
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
286 Antropología y Turismo en “los países del Plata” (Argentina y Uruguay)
A todo esto, en abril y mayo de 2008, Alejandro Otamendi dictó por primera vez un Seminario de
Antropología del Turismo en la Facultad de Filosofía y Letras, UBA, con la idea de proveer una bibliografía
básica y un estado de la cuestión elemental sobre el campo, en la formación académica, trabajando con
autores como Urry 91990) o MacCannell (1999[1976]), Smith (1989), Nash (1996), Jafari (1994), el ya
citado Graburn y otros. Varios de los investigadores que cursaron el seminario luego participarían del
IX CAAS antes mencionado.
Acto seguido, en septiembre de 2009, en la VIII RAM, en Buenos Aires, hubo 74 inscriptos, de los
cuales se seleccionaron 40 trabajos y el GT Turismo, Cultura y Sociedad fue, entre 72 grupos, el segundo
en número de inscripciones y el primero en presencia efectiva con 85% de asistencia dentro de una
media general para el congreso de 60%.
Podemos decir que este momento marca la instalación del campo turístico en la antropología
argentina, con el trabajo de Sofía Cecconi sobre los puntos de encuentro y tensión en la promoción del
tango como hecho cultural enmarcado en las políticas de la ciudad de Buenos Aires, y el de Vivian Irene
Arias con el primer trabajo de análisis del turismo en las provincias del norte argentino4. También
se presentaron investigaciones realizadas por no-antropólogos que, no obstante trabajan temáticas
desde la perspectiva sociocultural de la disciplina. Es el caso de Lia Nakayama y Susana Marioni que
introdujeron en Argentina los estudios sobre Amenity Migration.
La RAM de 2011 se realizó en julio en la ciudad de Curitiba, estado de Paraná, Brasil y el turismo
fue discutido en dos momentos, en un grupo de trabajo5 y en una mesa redonda con la participación de
Alejandro Otamendi como expositor de una síntesis de la antropología dedicada al turismo en Argentina
(Otamendi, 2009).
En ese mismo año aunque en el mes de noviembre y diciembre, el grupo de trabajo dedicado a
turismo en el X CAAS, coordinado por Julia Piñeiro y quienes escriben, los investigadores argentinos
y uruguayos sumaron la mitad de los ponentes, mostrando que el tema sigue su curva ascendente en
el ámbito cientíico regional, hasta entonces compuesto por mayoría de investigadores brasileños. Allí
expusieron sus trabajos los autores de Argentina Fernando Navarro, Elisa Lacko, Juan Esteban de
Jager, Patricia Torres Fernández, Valeria Caldironi, Lucas Ramírez, Catalina Ferstein, Fabián Flores,
Liliana Berguesio y Cecilia Mangione. Mientras que de Uruguay presentaron los investigadores Mónica
Maronna, Rossana Campodónico y Martín Gamboa.
Una situación similar se dio en el marco de la X RAM en la ciudad de Córdoba (Argentina) en el año
2013, en donde aproximadamente la mitad de los investigadores fueron de origen rioplatense, mientras
que el resto fueron brasileños.
De la otra orilla, en la última década del siglo Gabriela Campodónico y Rossana Campodónico desde
la antropología, Mónica Maronna desde la historia, y Alvaro López Gallero desde la geografía, hacían
su aporte, directa o indirectamente, a la antropología del turismo, seguidos poco tiempo después por
los arqueólogos Leonel Cabrera, Carmen Curbelo y los antropólogos Martín Gamboa e Isabel Barreto
así como Paula Florit, Jorge Leal y Alfredo Falero, sociólogos.
En el plano virtual, desde el 2001 hasta 2009, la revista NAYA (Noticias de Antropología y Arqueología)6
aportó una dinámica línea de discusión a partir de la organización de congresos virtuales de turismo
cultural y de intercambios de mensajes en su comunidad igualmente virtual, a través de foros y chats.
Su postura frente al turismo era la de valorar el patrimonio cultural, y manifestar expresamente su
compromiso de acción con los pueblos originarios y comunidades relacionadas con la actividad. En
dicha línea, la antropóloga Claudia Cóceres (2007) tuvo un importante rol en la organización de eventos
virtuales y presenciales sobre turismo cultural, siendo su libro un texto de divulgación especialmente
orientado a guías de turismo.
En el año 2003 se empieza a publicar en España el periódico cientíico on line Pasos, Revista de Turismo
y Patrimonio Cultural, que permitirá que, deinitivamente, los antropólogos de habla hispana tengan
contacto con las más recientes investigaciones de turismo desde una perspectiva predominantemente
antropológica, sin la obligación de saber inglés.
En lo que a los temas tratados por la antropología dentro del turismo se reiere, uno de los aportes
es la obra de Julio Carvajal (1992), a través de la cual se introducen sintéticamente algunos términos
y características muy genéricas del turismo y de la antropología aplicada (aunque con un fuerte sesgo
folklórico), así como también se denuncian ciertas consecuencias de la actividad turística (actitudes
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Margarita Barretto, Alejandro Otamendi 287
Desde el 2002 se incrementaron en la Argentina los estudios sobre el turismo en pueblos originarios,
fundamentalmente grupos Mapuches de las provincias de Neuquén y Río Negro, (García & Valverde,
2006 y 2007; Impemba, 2008, 2013; Morey & Valverde, 2005; Balazote & Radovich, 2009, entre otros).
En líneas generales, y si bien el turismo a veces no es el eje central del estudio, tales escritos poseen un
matiz crítico sobre la actividad y sus efectos sobre las grupos mencionados, destacando las diferentes
estrategias económicas (principalmente la producción de artesanías) y las formas de aceptación/rechazo
que adoptan los pueblos originarios. Por ejemplo, la comunidad Mapuche de San Martín de los Andes,
además de haber iniciado sus propios emprendimientos turísticos, mediante cortes de rutas cercanas
al centro de ski Chapelco como modalidad de reclamo, ha logrado no solo su visibilidad frente a los
turistas y a las autoridades locales, sino también como una vía posible para la solución de problemas
de orden ecológico, económico y político que afectaba a sus tierras (Valverde, 2002 y 2005).
En los temas turismo étnico y ecoturismo también es necesario destacar las investigaciones de Mora
Castro (2008) y Patricia Torres Fernández (2010, 2011), quienes relexionan sobre la conceptualización del
turismo étnico, la exotización, la representación del medio ambiente, los discursos sobre la gobernabilidad
y los usos culturales de la etnicidad y alteridad en el diseño e implementación de políticas nacionales
y provinciales de turismo7. En la misma línea, Germán Pinque (2008), de la Universidad Nacional de
Córdoba, presentó una etnografía que evidencia similares procesos de relexividad y modiicaciones
culturales producidas en una comunidad de las Sierras Grandes de esa provincia.
5. Turismo y Patrimonio
Respecto a los usos sociales y conservación del patrimonio cultural, abundan allí los trabajos
antropológicos. Sin embargo, no todos ellos están necesariamente ligados a la actividad turística pero
muchos se vinculan indirectamente (Cóceres, 2007). Es el caso de Marcelo Álvarez (2002) quien, si
bien sus investigaciones están ancladas en la antropología de la alimentación, ha trabajado sobre el
mapeado de las rutas gastronómicas en la Argentina y Sudamérica. De la misma manera, Mónica
Lacarrieu (2002) y Mónica Rotman (2004) se han referido a los usos del patrimonio cultural en función
de las identidades locales y el turismo. El tango como patrimonio también ha sido abordado por Mariana
Gómez Schettini (2011).
Regina Schlüter, dentro de su vastísima producción investigativa en el campo del turismo, ha hecho
también importante aporte a los estudios de la relación con el patrimonio, algunos de ellos con énfasis
en la gastronomía.
Desde el plano del patrimonio arqueológico, Carolina Crespo y Margarita Ondelj (2004) han escrito
sobre el tratamiento del arte rupestre y sitios arqueológicos de la Patagonia, mientras que Jorge Sosa
(2008) ha desarrollado una profunda y fascinante investigación sobre la utilización y deterioro de las
ruinas de los Indios Kilmes en la provincia de Tucumán (Argentina), al mismo tiempo que ha contribuido
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
288 Antropología y Turismo en “los países del Plata” (Argentina y Uruguay)
Otros autores han profundizado sobre las representaciones sociales y otros factores simbólicos de
la actividad turística. La investigación de Julia Piñeiro Carreras (2008, 2011a y 2011b)8 sobre las
percepciones sociales involucradas en el proceso de desarrollo de la actividad turística en la ciudad
de Victoria, provincia de Entre Ríos, a partir de la construcción del puente Rosario-Victoria, no sólo
da cuenta de un proceso histórico de transformación social y económico en la localidad, sino también
expone controversias públicas, redeinición de parámetros jurídicos y reformulación de las concepciones
simbólicas de los victorienses sobre su ciudad.
Por su parte, Fabián Flores (2008, 2011, 2013) avanza sobre la investigación antropológica del
turismo religioso en las ciudades de San Nicolás y Luján, en la provincia de Buenos Aires, sin dejar de
analizar el contexto etnográico e histórico que le da sentido, y profundizando conceptualmente sobre
algunas categorías que deinen al turista y al turismo. Por otra parte, también puede mencionarse la
investigación sobre el turismo místico-esotérico, tal como lo denomina Norrild (1998), en el área del
norte de la provincia de Córdoba, en relación a los procesos sociales de construcción de imaginarios y
representaciones sociales del turismo en la comunidad de Capilla del Monte (Otamendi, 2005, 2008),
además de otras compilaciones sobre la antropología y el turismo (Otamendi, 2009).
Otro tema de investigación aplicada recurrente ha sido el desarrollo y sus indicadores, tema en el
que se pueden situar las investigaciones de la socióloga Bernarda Barbini (UNMdP) y de Alejandro
Capanegra (UNLa)9
7. La Naturaleza
Los esfuerzos intelectuales que intentaron universalizar la oposición entre la naturaleza de la cultura,
los cuales alcanzaron su apogeo bajo la bandera del estructuralismo de Levi-Strauss (1949), todavía han
dejado secuelas en la producción antropológica contemporánea. Sin embargo, los estudios etnográicos,
especialmente ubicados en el continente sudamericano, han demostrado que la naturaleza está atra-
vesada por categorías culturales y es integrada de distintos modos a la vida social, sin necesariamente
estar “opuesta” o “alejada” (Descola, 2002). En campo temático del turismo la categoría moderna de la
“Naturaleza” adquiere un poder simbólico muy especial. De tal modo, los espacios naturales -parques
nacionales, áreas protegidas, ámbito rural, etc- adquirieron una valoración social positiva dado que son
sitios muy buscados por los turistas, generalmente de áreas urbanas, ciudades o zonas industriales,
recursos escasos que, enaltecidos, se constituyen como “patrimonio natural”. Esta valoración no queda
relegada a un solo lugar o un solo país, sino que también lo hacen entes internacionales como la
UNESCO, por ejemplo en el caso de las cataratas de Iguazú, en lo que se evidencia una atribución de
valor transnacional.
Asimismo los trabajos sobre la patrimonialización de sitios como Delta del Paraná (De Jager, 2013)
o la Laguna de Rocha (Lembo, 2013) evidencian cómo la naturaleza cada vez más es permeada por
las nociones culturales. El “discurso verde” se asocia con la actividad turística en pos de reivindicar el
lugar de lo natural como un espacio “virgen”, “puro”, “único”, “distinto”, incluso “mágico”, que es digno
de cuidado y preservado frente al avance de la deforestación y de la modernidad. De tal forma, dicho
discurso no sólo se relaciona con una ecología que tienda a preservar el medio ambiente, sino también
con prácticas turísticas vinculadas a términos tales como “sustentabilidad” o “calidad ambiental”. Así, el
“patrimonio natural” deja de ser un espacio propio de la naturaleza donde la humanidad no “progresa”,
sino como un espacio de interacción social que es utilizado como un recurso turístico sumamente rico.
Por otra parte también se observa en las etnografías locales, cómo algunos espacios naturales son
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Margarita Barretto, Alejandro Otamendi 289
8. Turismo y comunidad
Varias trabajos de investigación etnográica en el área rioplatense mencionan y dan cuenta de una
actividad denominada “turismo comunitario” o “turismo con base local comunitaria”. En el marco de las
relexiones efectuadas, luego de las exposiciones en eventos académicos, hemos discutido si la noción
de “comunidad” o el adjetivo de “comunitario” es una categoría antropológica o un término nativo. El
concepto antropológico clásico de comunidad, de modo general, hace referencia a un grupo humano
regido por una racionalidad basada en cierta igualdad u homogeneidad entre sus pares, ausencia de
divisiones sociales jerárquicas, castas o clases, fuertemente integrado, y donde todos sus miembros
mantienen un rol activo y participativo en el a toma de decisiones (Godelier, 2010). Similarmente, en
teoría, los integrantes de la comunidad tienen libre acceso o, al menos pueden disponer, de los recursos
de uso común. Por otra parte, el turismo es una institución nacida dentro de una lógica del sistema
capitalista, con una racionalidad distinta en la que prima la búsqueda del lucro, la diferenciación social
y la mercantilización de las actividades.
Ahora bien, ¿en las investigaciones de “turismo comunitario” estamos hablando de una tipología
de turismo elaborada por la academia o la OMT, o sencillamente es un término utilizado por algunos
emprendedores, miembros de comunidades étnicas, que se han volcado al turismo? Este interrogante
aún no tiene una respuesta empírica deinida con exactitud, aunque lo que vemos en algunas de las
etnografías presentadas es que la comunidad está asociada quizás a un pueblo, un grupo étnico, un
área rural, o incluso una unidad familiar. Asimismo, turismo comunitario también en ocasiones actúa
como sinónimo de turismo rural, con identidad, con base local, étnico o sustentable. La ausencia misma
de una deinición más especíica de esta terminología está a la espera también en la antropología
del turismo rioplatense. De la misma forma, lo que se observa a nivel empírico es que a veces dicha
clase de turismo no tiene nada de igualitario, al menos en cuanto al acceso a los recursos, al poder
de decisión, o en lo que se reiere a la distribución de los ingresos de la venta de servicios o productos
artesanales.
En todo caso, nos planteamos relexivamente si no sería más pertinente pensar en términos de
organizaciones vinculadas al asociativismo o cooperativismo, en incluso unidades domésticas o familiares
de producción, todos los cuales resultan etnográicamente más precisos que “comunidad”.
De todas formas el turismo comunitario, más allá de sus múltiples deiniciones, aparece como
estrategia alternativa de ciertos grupos sociales para generar recursos monetarios, sin perder su
identidad cultural y étnica, de la misma forma que intentan preservar el modo de producción local
ancestral y tradicional. Algún intento en ese aspecto lo constituye el trabajo de Enrique Timó (2008)
sobre la Quebrada de Huacalera.
9. Consideraciones finales
En las investigaciones de antropología que tienen como objeto al turismo en el ámbito del Río de
la Plata podríamos airmar no existe un único paradigma teórico para analizar los casos etnográicos.
La propia tradición académica y formación de los investigadores en el campo evidencia riqueza y
diversidad respecto a los marcos teóricos utilizados para analizar los datos analizados en distintos
contextos rioplatenses. De tal forma, podemos hallar variadas conceptualizaciones que provienen desde
las industrias culturales, desde la performance, de lo global y lo local, desde las identidades étnicas,
incluso desde la nociones bourdeanas de “campo” o “habitus”. De la misma manera encontramos en
menor medida algunos trabajos que evidencian marcos teóricos desde el paradigma de la movilidad
de Urry o incluso de las nociones de modernidad y posmodernidad de MacCannell. No obstante, la
bibliografía que hoy podríamos decir “clásica” en antropología del turismo, tales como Smith, Nash,
Graburn y otros autores mencionados anteriormente, no está demasiado divulgada aún en estas
geografías, ya que es escasamente difundida en los centros académicos regionales. Sin embargo,
más allá de ser ésto una limitación o una carencia, lo interesante es que la producción rioplantese de
marcos teóricos emerge de manera original, creativa y variada sobre el campo turístico, siendo aún
esta diversidad su peculiar característica, la cual es acompañada por un matiz crítico que no cae en
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
290 Antropología y Turismo en “los países del Plata” (Argentina y Uruguay)
el lugar común de la valoración negativa o pesimista de la actividad, sino que se encuentra asociada
a lo que Jafari (1994) llamaría la plataforma cientíica o basada en el conocimiento.
Bibliografia
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Margarita Barretto, Alejandro Otamendi 291
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
292 Antropología y Turismo en “los países del Plata” (Argentina y Uruguay)
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Margarita Barretto, Alejandro Otamendi 293
Notes
1
La Reunión de Antropología del Mercosur, es un evento que regularmente se realiza cada dos años,
agrupando a gran parte de los investigadores del sur de Brasil, Argentina y Uruguay. En las últimas
RAMs también se han sumado un gran número de investigadores de Chile, aunque en menor medida
también de Colombia, México y Perú.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
294 Antropología y Turismo en “los países del Plata” (Argentina y Uruguay)
2
Para una muestra de esta producción puede visitarse el site de las Disponible en http://www.naya.
org.ar. Accesible en: http://www.condet.edu.ar/cndt/index.php/simposios-y-jornadas/ix-jornadas-
-nacionales-de-investigacion-y-accion-en-turismo
3
Sobre la producción de Maximiliano Korstanje, Ver Korstanje (2012) y http://scholar.google.es/citat
ions?user=srtyQKMAAAAJ&hl=es
4
Los debates de este congreso están disponibles en http://www.redalyc.org/pdf/881/88112768012.pdf
5
Este grupo sería coordinado por Mónica Lacarrieu pero muchos investigadores argentinos no se
pudieron hacer presentes por problemas logísticos ocasionados por las cenizas del Volcán Puyehue
que afectó los vuelos desde Argentina y Chile durante varios meses de ese año.
6
Disponible en http://www.naya.org.ar
7
Ambas investigadoras ya presentaron sus respectivas tesis doctorales en la FFYL, UBA.
8
En abril de 2013, la autora ha presentado su tesis de doctorado en la Universidad de Buenos Aires
donde se expone esta investigación completa.
9
Ver nota 2
Recibido: 22/07/2014
Aceptado: 03/12/2014
Sometido a evaluación por pares anónimos
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Vol. 13 N.o 2. Special Issue Págs. 295-303. 2015
www.pasosonline.org
Roque Pinto
Resumo: Pretende-se aqui discutir as causas históricas do subdimensionamento do turismo como objeto de in-
vestigação no campo sócio-antropológico brasileiro, tanto no âmbito da sua tradição acadêmica, marcada desde
sempre por um peril simultaneamente aplicado e militante, quanto na perspectiva da importância sociológica e
econômica da atividade turística para o país, isto é, procura-se problematizar, nas aproximações entre turismo e
antropologia no Brasil, o gap entre a relevância econômico-cultural do primeiro e seu respectivo interesse acadêmi-
co, bem como avaliar suas consequências no tempo.
Palavras-chave: Antropologia, Turismo, Brasil
Num livro bastante referido no meio acadêmico James Peacock (2005) utiliza uma metáfora óptica
para situar a Antropologia: tratar-se-ia de um campo de conhecimento cuja lente de investigação e
interpretação se vale da luz forte e do enfoque suave.
Sem embargo, considerando a classiicação de Stocking (1983), a antropologia praticada no Brasil
estaria no rol das “antropologias de nation building”, em oposição às “antropologias de empire building”,
onde se situariam as matrizes britânica e francesa, de algum modo reiterando o panorama descrito por
Gerholm e Hannerz (1982), de um “continente da antropologia internacional”, correspondendo ao eixo
América do Norte/Europa do Norte, contraposto a “arquipélagos” maiores ou menores que gravitam
ao seu redor.
Assim, veriica-se que as diversas tradições acadêmicas são moldadas por seus respectivos entornos
histórico-políticos, que por sua vez deiniriam seus enfoques, lançando luz sobre tal ou tal problematização
e delineando uma hierarquia de objetos de interesse que, no caso brasileiro, é claramente marcada pelas
questões étnicas, raciais, religiosas e político-institucionais, seguidas pelos estudos de gênero, saúde e
segurança pública, problemas que se inscrevem diretamente na dupla valência militante e institucional
característica da Antropologia desenvolvida no Brasil1.
Obviamente que esse viés se deine e se desenvolve numa tensão entre o universalismo teórico-
-metodológico, por um lado, e um particularismo ontológico e deontológico, por outro, tendo como o
grande eixo norteador a própria ideia de projeto e construção do nacional, portanto uma perspectiva
político-estratégica delimitada pelos compromissos institucionais e pelas lealdades acadêmicas que
*
Professor Adjunto de Antropologia na Universidade Estadual de Santa Cruz (Ilhéus, Brasil). E-mail: roquepintosantos@
gmail.com.
vão dar corpo às abordagens teóricas e dar forma aos critérios de seleção dos objetos de investigação,
numa tensão entre a universalidade disciplinar e as peculiaridades (políticas, religiosas, étnico -raciais e
identitárias) do “sub-continente brasileiro”, num frágil equilíbrio entre o universalismo e o particularismo,
muitas vezes resvalando, como indicam alguns autores, para um discurso “neo-orientalista” (Peirano,
1980; Velho, 2006 e 2008).
Tradição
Intelectualista Empirista
Tempo
I II
Sincrônico Paradigma Racionalista Paradigma Estrutural-Funcionalista
"Escola francesa" " Escola britânica"
IV III
Diacrônico Paradigma Hermenêutico Paradigma Culturalista
"Antropologia Interpretativa" "Escola estadunidense"
Fonte: Roberto Cardoso de Oliveira, 1988a.
De acordo com Marisa Peirano (2006, 51), no Brasil “a noção durkheimiana de diferença, mais do que
o exotismo, chamou a atenção dos antropólogos onde e quando eles encontraram um ‘outro’, sancionando,
assim, a ideia de que a inluência francesa foi bem mais forte que a herança germânica”, predominando
o senso pragmático orientado pela École Française de Sociologie, com a negação do interesse pelo mero
exótico, sendo, como ressalta o próprio Durkheim, “a religião e as formas extintas de civilização” objetos
de interesse não pelo simples desejo de “contar suas extravagâncias e singularidades”, mas sim pela
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Roque Pinto 297
airmação do compromisso cientíico das ciências sociais com a explicação de uma realidade imediata,
“capaz de afetar nossas ideias e nossos atos.” (Aron, 1997; Durkheim, 2001).
Tem-se, portanto, nesse panorama, que a seleção da alteridade no contexto da antropologia brasileira
é enformada pelos seus limites estratégicos estabelecidos dentro de interesses acadêmicos e políticos
deinidos numa pauta cujos critérios são marcadamente inscritos num “nacionalismo metodológico”
– deinido como a maneira pela qual conceitos e medidas nas Ciências Sociais são constrangidos pelo
Estado-Nação.
De fato, com a geração de antropólogos brasileiros formados pela missão francesa capitaneada por
Lévi-Strauss, a Antropologia institucionaliza-se com os pioneiros que, segundo Peirano (2000), eram
verdadeiros “trapezistas sem rede de proteção”, imersos num amplo projeto de modernização do país
e submetidos a um grande volume de acúmulo teórico e técnico por parte dos professores europeus
convidados a ensinar no Brasil. Daí a proissão de fé dos antropólogos em “analisar, compreender e,
assim, transformar a sociedade brasileira” (Costa Pinto e Carneiro, 1955, 24).
Não é algo especíico ao Brasil o evitamento do turismo por antropólogos não é algo especíico ao
Brasil, e a história da disciplina bem o demonstra, a despeito da atuação de grandes investigadores nesta
temática e da óbvia relação entre turismo e processos sociais, identitários, econômicos, políticos, ecológicos
e simbólicos (Urry, 1999; Pereiro, 2009; Santana Talavera, 2009; Pinto e Pereiro, 2010; Pinto 2012a).
Com efeito, alguns autores radicam a hostilidade dos antropólogos em relação ao turismo pelo fato
deste ser um objeto “tardio” e eminentemente “ocidental”, como também porque as Ciências Sociais o
capturou inicialmente com um olhar impregnado pelo senso-comum, como algo “bom ou ruim” (Nash,
1996). Incluindo aí toda uma gama de preconceitos arraigados (igura 1). Ou como disse van den Berghe:
“A julgar pelo sorriso irônico que meus colegas trazem na cara à mera menção do turismo, a maior parte dos
cientistas sociais não tomam o tema seriamente... a maioria deles considera que um interesse proissional
pelo turismo constitui pouco mais que uma estratégia inteligente para gozar de umas férias como se
estivesse trabalhando.” (van den Berghe, 1994, 3-4 apud Leah Burns, 2004, 6).
Antropólogo como
Fenômeno indigno trabalhador de campo
de atenção da que nunca deve
antropologia
ser identificado
como turista
Tentativas de formular
teorias do turismo:
Economia, Geografia,
Marketing
Falta de
conciência
sobre a Turismo como
importância uma atividade
sócio-cultural frívola a
do turismo ser evitada
Do mesmo modo, alguns autores hoje referenciais nos estudos sobre o turismo, como Leiper ou
Valene Smith, também indicaram terem sido desencorajados a trabalhar com o tema no começo das
suas carreiras (Crick,1992). Yamashita reconheceu que, quando realizava seu primeiro trabalho de
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
298 O turismo na tradição antropológica brasileira
campo entre os Toraja de Sulawesi, na Indonésia, “porque queria estudar apenas a cultura tradicional,
[via] a presença de turistas como uma monstruosidade... quando tirava fotograias [se] assegurava
de excluí-los da objetiva da câmara.” (Yamashita, 2003, 6, citado por Hernández Ramírez, 2006, 30).
Registre-se que após esta experiência o pesquisador japonês passou a ter em conta a importância
do turismo no campo de trabalho, o que o levou a cotejar seu objeto segundo um marco mais amplo e
dinâmico no contexto Toraja, considerando o próprio turismo como um relevante fator de mudança social
e, portanto, sumamente importante no âmbito das suas investigações no terreno.
A objeção velada de que o turismo seria algo próximo demais das sociedades ocidentais (ou mesmo a
transplantação de uma parte desta para as sociedades receptoras), implicando numa redução a um grau
mínimo de alteridade – distanciamento cultural que se crê imperativo para a captura em “perspectiva”
do objeto –, parece replicar o mesmo argumento de desqualiicação sofrida pelos primeiros antropólogos
que começaram a trabalhar no contexto empírico do Mediterrâneo:
Mutatis mutandis, além da desqualiicação dos estudos do turismo pela proximidade do objeto
(em que pese a vasta e profícua literatura etnográica e teórica sobre a antropologia urbana), alguns
dos preconceitos referentes ao estudo do tema dizem respeito à ideia de que esta atividade levaria à
destruição do “objeto antropológico”, isto é, à desagregação de sociedades e ao desmantelamento de
tradições pelos bárbaros modernos.
A esse respeito, é ilustrativo o relato de Hernández Ramírez (2006, 31) sobre sua experiência aca-
dêmica: “uma de minhas estudantes de doutorado me comentou que uma amiga sua, também aluna de
antropologia, ao saber que aquela ia cursar estudos de turismo, a contestou, enojada: ‘você vai trabalhar
a favor do inimigo?’ ”. Tem-se aí a clara expressão de uma extemporânea síndrome do bom selvagem,
tal qual se referem Boissevain (1977) e Crick (1992):
“Os antropólogos, com um sentido possessivo de sua gente e uma ideia supersimpliicada da cultura
tradicional, vêm com receio a mudança social e as hordas de intrusos ocidentais que lhes criam dificuldades.
O antropólogo que se lamenta dos danos do turismo, expressando sua simpatia pela população autóctone
e hostilidade pelos turistas é, dessa perspectiva, uma voz rousseauniana queixando-se da fácil vitória da
civilização ocidental sobre as formas de vida tradicionais.” (Crick, 1992, 348-349 [grifos do autor]).
Outro aspecto relacionado a essa negação reside na assertiva de que muitos antropólogos consideram
o turismo um campo de investigação pouco respeitável para o sério estudioso da cultura, pelo fato deste
estar vinculado ao ócio e ao prazer (Swain, 2000) e por ser uma atividade frívola, desimportante e
burguesa (Nash, 1996), para a qual não se deveriam demandar recursos para investigá-la ainda que
muitos etnógrafos tivessem encontrado acidentalmente turistas ao longo dos seus trabalhos de campo e
talvez numa frequência tal que, em nome de algum rigor cientíico, certamente justiicaria sua presença
no cenário etnográico (Simonicca, 2001; Pinto 2012b).
Além disso, o evitamento do antropólogo em relação ao turista diz respeito ao fato de que o primeiro
tenderia a considerar a si próprio como um intrépido trabalhador de campo e, desse modo, procuraria
a todo custo não ser confundido com o turista (Nash, 1996; Burns, 2002), muito embora, ironicamente,
seja relativamente comum que as populações locais classiiquem antropólogos e turistas dentro de uma
mesma categoria (Núñez, 1963)4.
Outro fator ainda relacionado com esse tema diz respeito ao que Hernández Ramírez (2006, 33) chama
de “dualidade de atividades, espaços e tempos hierarquizados”: as bases epistemológicas (moderna e
industrial) donde se forjam as ciências sociais são fortemente marcada pela ideia do trabalho como um
elemento basilar da organização social5, isto é, o trabalho como um catalisador moral, um agente que
produz a percepção de realidade, consciência e identidade (igura 2).
Dentro dessa ótica, por oposição, o ócio (incluindo aí o turismo como uma das possibilidades do
seu “uso”), seria o “lado de fora”, o espaço de “fuga da realidade” cotidiana, marcado pelo jogo, pela
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Roque Pinto 299
fantasia e pela alienação e, portanto, no limite, dentro desta perspectiva se teria um espaço-tempo
identitariamente estéril.
Viagem
processo
retroalimentado Turismo
Desse modo, não só o ócio e o consumo se deiniriam por uma negação: tudo aquilo que não seria o
trabalho (modelo e molde das identidades cotidianas), como também estariam relegados à posição de
meros epifenômenos dependentes do campo “produtivo”,
“o que leva alguns pensadores a sustentarem que a experiência no espaço e no tempo não produtivo não
contribuiria para modelar a identidade social, mas sim acentuar a alienação, porque esta forma de ócio,
considerada não criativa, caracteriza-se pelo consumo passivo e porque sua função terapêutica evidencia
a dependência estrutural da esfera laboral” (Hernández Ramírez, 2006, 34).
De fato, essa perspectiva dicotômica que opõe o tempo consumido pelo trabalho compulsório ao tempo
consumido voluntariamente com o lazer (Dumazedier, 1979; Pinto, 2011) tende a atribuir ao ócio um
caráter instrumental e acessório ao trabalho, segundo uma perspectiva compensatória (repor no lazer o
que é retirado pelo trabalho), utilitarista (função reparadora, voltada para o aumento da produtividade
no trabalho), moralista (de prevenção contra práticas ilícitas) e romântica (Gronau, 1977; Oliveira,
2004; Almeida e Gutierrez, 2004).
Lafargue (2001, 160) relaciona, inclusive, a supressão dos santos católicos pelo protestantismo às
“novas necessidades industriais e comerciais da burguesia”: com a inalidade de reduzir os 90 dias de
descanso popular anuais (52 domingos e 38 feriados), segundo o autor, a nova ordem puritana “tirou
todos os santos do céu para abolir suas festas na terra”.
Contudo, essa dicotomia não é uma unanimidade e não encontra eco nas formulações de alguns autores
(Elias e Dunning, 1992; Huizinga, 1999) que advogam por uma perspectiva hedonista como melhor
estratégia para a compreensão do lazer e da estrutura social como um todo, apontando a importância
do lazer tanto nos processos de socialização e formação – portanto, na urdidura de signiicados sociais
– quanto no de manutenção da dinâmica social.
No entanto, em que pesem as diversas querelas e divergências teórico -acadêmicas sobre o tema,
o grande motor e divisor de águas nos estudos sistemáticos sobre o turismo será o entendimento por
parte dos planejadores de políticas públicas da sua importância econômica, sobretudo, que levará ao
fomento da sua institucionalização no âmbito acadêmico (Jafari, 1994; Velasco González, 2005) e,
consequentemente, a um salto quantitativo e qualitativo da produção acadêmica sobre o tema.
Segundo Jafari (2005), veriica-se um interesse crescente da comunidade acadêmica sobre o turismo
tanto no ensino quanto na investigação e, particularmente, na formação (conhecimento de natureza
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
300 O turismo na tradição antropológica brasileira
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Roque Pinto 301
uma ampla oferta, dentro da segmentação do mercado turístico mais geral, de produtos “étnicos”
e “culturais” e da patrimonialização como emblema demarcatório de autoridade e autenticidade –,
por outro é também notável que o turismo enquanto objeto antropológico, no Brasil é, via de regra,
coninado a uma dimensão marginal, muitas vezes diluído em estudos sobre religião ou etnicidade,
anotando-se um restrito contingente de antropólogos que se dedicam integralmente à temática turística,
proporcionalmente ao conjunto de proissionais atuantes no país.
Desse modo, se o tema do turismo na antropologia brasileira, por um lado, parece não ser ignorado
por completo, por outro o locus que este ocupa no âmbito da comunidade de antropólogos se restringe
a um espaço mínimo, situado nas franjas do campo acadêmico, gerando perdas inestimáveis para a
compreensão dos processos cada vez mais complexos que envolvem a atividade turística no país e
suas conexões com as relações culturais, os deslocamentos humanos, a religião, a ritologia e o jogo de
identidades que permeiam o tecido social.
Bibliografia
Almeida, M. de e Gutierrez, G.
2004 “Subsídios teóricos do conceito cultura para entender o lazer e suas políticas públicas.” Conexões,
2(1). P. 48-62.
Aron, R.
1997 As etapas do pensamento sociológico. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes.
Boissevain, J.
1977 Tourism and Development in Malta. Development and Change, n. 8. P. 523-538.
Burns, P.
2002 Turismo E Antropologia: Uma Introdução. São Paulo: Chronos.
Cardoso de Oliveira, R.
1988a “A Categoria da (Des)Ordem e a Pós-Modernidade na Antropologia.” In: CARDOSO DE OLIVEIRA,
R. Sobre o Pensamento Antropológico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. P. 91-107
Costa Pinto, L. A., e Carneiro, E.
1955 As Ciências Sociais no Brasil. Rio de Janeiro: CAPES.
Crick, M.
1992 “Representaciones del turismo internacional en las ciencias sociales: sol, sexo, paisajes, ahorros y
servilismos”. In: Jurdao Arrones, F. (Comp). Los Mitos del Turismo. Madrid: Endimión. P. 339-404.
Davis, J.
1977 People of the Mediterranean. London: Routledge and Kegan Paul.
Dumazedier, J.
1979 Sociologia Empírica do Lazer. São Paulo: Perspectiva.
Durkheim, E.
2001 Introdução ao Pensamento Sociológico. São Paulo: Centauro.
Elias, N. e Dunning, E.
1992 A Busca da Excitação. Lisboa: Difel.
Galani-Moutafi, V.
2000 “The Self and the Other: Traveler, Ethnographer, Tourist.” Annals of Tourism Research, 27(1).
P. 203-224.
Gerholm, T. e Hannerz, U.
1982 “Introduction: The Shaping of National Anthropologies”. Ethnos, 42. P. 5-35.
Gronau, R.
1977 “Leisure, Home Production, and Work-the Theory of the Allocation of Time Revisited”. The Journal
of Political Economy, 85(6). P. 1099-1123.
Guimarães, V.
2008 “A Sociologia e os Estudos do Turismo: algumas divagações”. V Seminário de Pesquisa em Turismo
do MERCOSUL - Turismo: Inovações da Pesquisa na América Latina, Universidade de Caxias do
Sul, Caxias do Sul, Brasil, 27 e 28 de Junho de 2008.
Hernández Ramírez, J.
2006 “Producción de Singularidades y Mercado Global. El estudio antropológico del turismo”. Boletín
Antropológico, 24(66). P. 21-50.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
302 O turismo na tradição antropológica brasileira
Huizinga, J.
1999 Homo Ludens. Perspectiva: São Paulo.
Jafari, J.
1994 “La Cientiización del Turismo”. Estudios y Perspectivas en Turismo, 3 (1). P. 7-36.
Jafari, J.
2005 “El Turismo como Disciplina Cientíica”. Política y Sociedad, 42(1). P. 39-56.
Lafargue, P.
2001 “Um Dogma Desastroso”. In: De Masi, D. A Economia do Ócio. Rio de Janeiro: Sextante.
Leah Burns, G.
2004 “Anthropology and Tourism: Past Contributions and Future Theorical Challenges”. Anthropological
Forum, 14 (1). P. 5-22.
Maccanell, D.
2003 [or. 1976] El Turista. Una Nueva Teoría de la Clase Ociosa. Barcelona: Melusina.
Melatti, J. C.
1990 “A Antropologia no Brasil: Um Roteiro”. In: O que se Deve Ler em Ciências Sociais no Brasil, vol.
3. VVAA. São Paulo: Cortez/ANPOCS. P. 123-211.
Nash, D.
1996 Anthropology of Tourism. New York: Pergamon.
Núñez, T.
1963 “Tourism, Tradition, Acculturation: Weekendismo in a Mexican Village”. Ethnology, 2(3). P. 347-352.
Oliveira, C. de.
2004 “Sobre Lazer, Tempo e Trabalho na Sociedade de Consumo”. Conexões, 2(1). P. 20-34.
Peacock, J.
2005 La Lente Antropológica. Madrid: Alianza Editorial.
Peirano, M.
2000 “A Antropologia Como Ciência Social no Brasil”. Etnográica, 4(2). P. 219-232.
Peirano, M.
2005 “A Guide to Anthropology in Brazil”. In: Poole, D. (Ed.). Companion to Latin American Anthropology.
New York: Blackwell.
Peirano, M.
2006 A Teoria Vivida e Outros Ensaios de Antropologia. Rio de Janeiro: Zahar.
Pereiro, X.
2009 Turismo Cultural. Uma Visão Antropológica. El Sauzal: Pasos Edita.
Pina Cabral, J. De.
1991 Os Contextos da Antropologia. Lisboa: Difel.
Pinto, R.
2010 “Um Silêncio Ensurdecedor: O turismo como um Objeto Ausente na Antropologia Brasileira”.
Adra. Revista dos Socios e Socias do Museo do Pobo Galego, v. 5. P. 153-172.
Pinto, R.
2011 “Rito, Cambio Cultural y la Naturaleza Cíclica del Turismo”. Estudios y Perspectivas en Turismo,
v. 20, p. 1144-1153.
Pinto, R.
2012a “Tourism, Trade and Cocoa: Politics and Tourist Space in Ilhéus, Brazil”. In: Valença, M.; Cra-
vidão, F. and Fernandes, J. Urban Developments in Brazil and Portugal. New York: Nova Science
Publishers, p. 353-369.
Pinto, R.
2012b “O Turismo e suas Fronteiras Culturais”. Turis Nostrum, 1(1). P. 1-22.
Pinto, R. e Pereiro, X.
2010 Turismo e Antropologia: Contribuições para um debate plural. Revista Turismo & Desenvolvimento,
v. 1. P. 447-454.
Santana Talavera, A.
2009 Antropologia do Turismo: Analogias, Encontros e Relações. São Paulo: Aleph.
Simonicca, A.
2001 Antropologia del Turismo: Strategie di Ricerca e Contesti Etnograici. Roma: Carocci.
Smith, V. & Brent, M., (orgs),
2001 Hosts and Guests Revisited: Tourism Issues of the 21st Century. New York: Cognizant Communication.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Roque Pinto 303
Stocking, G.
1983 “Afterword: a View from the Center”. Ethnos. 47(1). P. 172-186.
Swain, M. B.
2000 “Anthropology”. In: Jafari, J. Encyclopedia of Tourism. Routledge. P. 23-26.
Tribe, J.
2004 “Knowing about Tourism: Epistemological Issues”. In: Philmore, J. & Goodson, L., Qualitative
Research in Tourism: Ontologies, Epistemologies and Methodololgies. New York: Routledge. P. 46-62.
Urry, J.
1999 O Olhar do Turista: Lazer e Viagens nas Sociedades Contemporâneas. São Paulo: Studio Nobel/Sesc.
Van Den Berghe, P.
1994 The Quest for the Other: Ethnic Tourism in San Cristóbal, Mexico. Seattle: University of Washington
Press.
Velasco González, M.
2005 “¿Existe la Política Turística? La Acción Pública en Materia de Turismo en España (1951-2004)”.
Política y Sociedad, 42(1). P. 169-195.
Velho, O.
2006 “The Pictographics of Tristesse: An Anthropology of Nation Building in the Tropics and its Aftermath”.
In: Lins Ribeiro, G. & Escobar, A. (Orgs.), World Anthropologies: Disciplinary Transformations within
Systems of Power. Oxford, New York: Berg. P. 261-279.
Velho, O.
2008 “A Antropologia e o Brasil, Hoje”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 23(66). P. 5-9.
Yamashita, S.
2003 Bali and Beyond. Explorations in the Anthropology of Tourism. New York-Oxford: Berghahn Books.
Notas
1 Trata-se de uma inferência mais genérica e empírica, que carece de dados apurados, mas que à primeira vista pode ser
veriicável, por exemplo, nos sumários dos periódicos nacionais mais importantes e nos Grupos de Trabalho das reuniões
bianuais da Associação Brasileira de Antropologia.
2 De acordo com os autores que tratam do tema, os problemas que poderiam ser identiicados na nationalbildung brasileira
se encontravam em vários “fronts”: a questão indígena nas regiões central e norte do país diante das frentes de expansão
no âmbito do alargamento das “fronteiras nacionais” (e cuja inlexão do ponto de vista acadêmico se dará na década de
1950 com o projeto Harvard-Brazil Central, sob o comando de Roberto Cardoso de Oliveira e David Mayburry-Lewis);
a questão racial e das religiões de matriz africana no âmbito urbano, especialmente nas regiões nordeste e sudeste; a
questão da integração de grupos indígenas “aculturados” (ou a transformação de indígenas em indigentes, nas palavras
de Lévi-Strauss), “misturados” à sociedade nacional em zonas urbanas ou peri-urbanas; a questão da imigração tardia
europeia e asiática no eixo sul-sudeste do país, dentre outros temas-problemas.
3 Florestan Fernandes, um dos sociólogos mais inluentes no Brasil e um nome central na sociologia da Universidade de
São Paulo (USP), defendeu sua tese de doutoramento, em 1952, intitulada “A Função Social da Guerra na Sociedade
Tupinambá”, um trabalho onde se mescla uma análise sociológica funcionalista com uma perspectiva histórica dentro de
um rigoroso inventário etnográico e etnológico.
4 Para cotejar uma aproximação entre a prática etnográica, os discursos do turismo e as narrativas de viagem ver Galani-
-Moutafi, 2000.
5 A ideia de trabalho é o fundamento da solidariedade orgânica durkheimiana (derivada da divisão do trabalho social) e da
conformação da ética protestante, em Weber. E em Marx funciona como o antiplástico que dá nexo a todo o seu esquema
teórico.
Recibido: 14/10/2014
Aceptado: 03/12/2014
Sometido a evaluación por pares anónimos
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Vol. 13 N.o 2. Special Issue Págs. 305-331. 2015
www.pasosonline.org
Javier Hernández-Ramírez
Resumen: En este estudio se presenta una genealogía de la Antropología del Turismo realizada por investiga-
dores de distintas universidades e instituciones cientíicas ubicadas en el Estado español. Se parte del análisis de
las aportaciones pioneras, la evolución de los temas tratados y las orientaciones teóricas fundamentales hasta prin-
cipios del presente siglo. Posteriormente se realiza un estudio de la producción cientíica realizada en el periodo
2000-2013 publicada en las revistas cientíicas internacionales y españolas de mayor impacto en las materias de
Antropología Social y Turismo según los índices bibliométricos de calidad. Tras un primer análisis de contenido
de carácter cuantitativo, el estudio inaliza con el examen de los principales tópicos y el desarrollo de los mismos.
Palabras Clave: Antropología del Turismo, Análisis de contenido, Evaluación temática
“¡Oh forastero! No me es lícito despreciar al huésped que se presente, aunque más miserable que tú, pues
son de Zeus todos los forasteros y todos los pobres” (Homero, Odisea).
Existe un consenso en relacionar el origen de la antropología española moderna con la obra de Julian
Pitt-Rivers (1954) (Prat, 1999; Sanz Abad, 2011). En el caso de la Antropología del Turismo podría
decirse que la labor de este autor británico es un precedente por cuanto sus estudios de comunidad le
aproximaron al análisis de las relaciones establecidas entre forasteros y nativos. A partir de la etnografía
realizada en el municipio de Grazalema (Cádiz), Pitt-Rivers analizó las normas de la sociabilidad entre
residentes y los inusuales forasteros que visitaban la unidad de observación (1968). El autor resaltó que,
en estos escenarios, la hospitalidad se rige bajo normas culturales ritualizadas y organizadas en torno a
un patrón relacional especíico en el que los anfitriones y los invitados desempeñan roles distintos a los
*
Profesor del Departamento de Antropología Social de la Universidad de Sevilla; E-mail: [email protected]
establecidos cotidianamente entre nativos. A diferencia de los vecinos, que poseen un estatus identiicable
por todos, el huésped es un forastero, un desconocido sin lugar en la sociedad, que se incorpora a la
misma gracias al vínculo personal que establece con un nativo que asume su protección. En este contexto
impera la ley de la hospitalidad, que es un principio presente en sociedades premodernas basado en
la reciprocidad y el honor, lo que supone una serie de obligaciones y derechos que deben asumir tanto
residentes como invitados.3 Según el autor y toda una tradición de estudios etnográicos, esta ley de la
hospitalidad permite regular las relaciones entre extraños, asegurar el equilibrio y evitar los conlictos.
No obstante, el desconocimiento e incomprensión por parte de los forasteros de las reglas autóctonas
de la hospitalidad pueden ser motivo de hostilidad entre residentes y visitantes (Pitt-Rivers, 1968).
No hay duda de que la obra de Pitt-Rivers está condicionada por un enfoque teórico estructural-
-funcionalista que da mayor relevancia al análisis sincrónico que al diacrónico, al equilibrio frente
al conlicto y a la estructura más que a la acción. Estos presupuestos generan una visión idealizada,
ahistórica y comunitarista de las sociedades analizadas que ha sido revisada por otros autores (Frigolé,
1980; Serrán Pagán, 1980). Sin embargo, el énfasis en las relaciones presididas por la alteridad inluyó
en el que podríamos considerar uno de los autores pioneros de la Antropología del Turismo en España.
Nos referimos al antropólogo catalán Oriol Pi i Sunyer que, siguiendo la tradición de estudios sobre la
hospitalidad, muestra cómo el turismo representa una nueva etapa en los encuentros entre visitantes
y nativos, ya que supone el paso de una hospitalidad comunitaria a otra comercializada en la que el
forastero deja de ser un visitante excepcional para convertirse en una igura habitual (no por ello
menos extraña) (Cohen, 1972). Bajo las nuevas condiciones, las leyes de la hospitalidad tradicionales
se ven trastocadas por otras basadas en el intercambio de mercado, lo que no implica necesariamente
su desaparición completa (Tucker, 2001; Zarkia, 2011) ni tampoco la superación de los estereotipos
culturales preexistentes (Pi i Sunyer, 1977).4
Además de su carácter precursor, la obra temprana de Pi i Sunyer se caracteriza por su enfoque
innovador en un contexto académico internacional en el que dominaba y se extendía una mirada al
turismo marcada por los presupuestos de la teoría de la dependencia, la cual subrayaba la acultura-
ción como dinámica dominante (incluso única) en las relaciones turísticas (Núñez, 1963) y deinía al
fenómeno como una nueva forma de imperialismo que reproducía el círculo vicioso del subdesarrollo y
descomponía a las frágiles culturas tradicionales (Britton, 1982; Crick, 1989; Nash, 1977; Turner y Ash,
1975). La obra de Pi i Sunyer supuso un avance teórico y metodológico porque el turismo se analizaba
como una relación interétnica compleja basada en contactos directos, pero al mismo tiempo mediada
por la percepción de alteridad y el dominio de imágenes preexistentes más o menos estereotipadas:
“Las ideas que alberga un grupo respecto al otro se basan en parte en la experiencia turística directa,
pero también son producto de las categorías (imágenes y estereotipos) culturales de unos sobre los otros.
Todas las culturas establecen categorías para organizar la realidad. Estas categorías permiten a los
individuos relacionarse los unos con los otros y funcionan también en las relaciones interétnicas propias
del turismo” (1992: 285).5
A pesar de centrar sus estudios en el litoral de Cataluña, la obra de Pi i Sunyer tuvo escaso impacto
en la antropología española de los años setenta. Esto se debe en parte a que el autor desarrollaba su
actividad académica en Estados Unidos, pero sobre todo a la existencia de una serie de prejuicios que
bloqueaban el desarrollo del turismo como objeto de estudio tanto a nivel internacional como en la
propia España (Nash, 1981). En este período de institucionalización de la antropología social en el
Estado español (Prat, 1999), el turismo no se consideraba todavía un asunto de interés cientíico, quizás
por el dominio de un enfoque reduccionista que lo identiicaba como una actividad moderna, frívola
y totalmente ajena a las tradicionales culturas de las poblaciones estudiadas (Hernández -Ramírez,
2006; Nogués, 2009). La antropología hispana, al estar enfrascada en la revisión crítica de los marcos
teórico-metodológicos imperantes hasta entonces (estructural-funcionalismo y estudios de comunidad)
y centrada en otros temas de estudio considerados fundamentales (cultura popular, iestas, religiosidad,
identidad, marginación, minorías, inmigrados y estigmatizados) no concebía al turismo como un digno
objeto de estudio (Prat, 1999).
El conjunto de prejuicios señalados ayuda a comprender la escasez de estudios antropológicos que en
esta época se realizaron sobre el fenómeno, lo cual no deja de ser una enorme paradoja, pues el turismo
organizado de masas estaba afectando radicalmente a la realidad española en todas sus dimensiones
(económica, política, ecológica, cultural…). Esta circunstancia no era exclusiva de España, pues el modelo
de desarrollo que optaba por el turismo fordista como estrategia modernizadora también se aplicaba en
muchas otras zonas del planeta (López y Marín, 2010; Pereiro, 2013; Salazar, 2006). No obstante, en los
setenta se realizaron algunas interesantes investigaciones sobre el turismo en España desde la óptica
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Javier Hernández-Ramírez 307
antropológica que se ajustaban al modelo teórico dominante de la dependencia, (Contreras, 1975; Galán,
Martín, Ruiz y Mandly, 1977; Jurdao, 1979; Greenwood, 1972, 1976, 1977; Nieto, 1975, 1976, 1977).
En todos estos trabajos se combinaba el análisis de los cambios con la denuncia social a causa de los
impactos ocasionados por el turismo. Un caso paradigmático de este enfoque es el trabajo de Francisco
Jurdao (1979) que apoya la tesis del turismo entendido como una forma de expansión del capitalismo
con el análisis del acelerado proceso de urbanización vivido en la localidad costera andaluza de Mijas. En
su obra revela cómo la implantación de un modelo de turismo de masas materializado en un urbanismo
agresivo signiicó una profunda desarticulación de las bases económicas, ecológicas y socioculturales
de este municipio de la Costa del Sol en un ambiente marcado por la corrupción política y empresarial.
En el análisis de los impactos del turismo sobre la cultura tradicional destaca también la obra del
antropólogo Davydd Greenwood y especialmente su artículo La cultura al peso (1977). Aunque este
autor es norteamericano (Universidad de Cornell), la trascendencia de su trabajo hace que merezca
un comentario en esta genealogía, ya que suscitó un intenso debate en los foros antropológicos cuya
repercusión internacional aun sigue vigente (Aramberri, 2001). Greenwood describía las transformaciones
de los rituales del Alarde en Fuenterrabía (País Vasco) a raíz del desarrollo del fenómeno. Narraba la
intención del ayuntamiento de la localidad de organizar una réplica del desile ritual tradicional para
satisfacer la demanda turística y obtener rentabilidad económica de la iesta. Con la etnografía ponía
sobre la mesa el asunto de la mercantilización de la tradición y denunciaba el papel del turismo como
una fuerza que interiere en las lógicas culturales locales generando el extrañamiento de los nativos
con sus acciones simbólicas festivas. Las conclusiones del estudio impulsaron la discusión sobre la
relación entre turismo y patrimonio cultural, así como la revisión de nociones tan resbaladizas como las
de autenticidad y comunidad. En la reedición del trabajo once años después de la publicación original
(1989), el propio autor matizaba sus apreciaciones y reconocía que su énfasis en los impactos negativos
del turismo respondía a un determinado momento histórico y teórico de la disciplina antropológica: “…
la aparente espontaneidad del enfoque antropológico sobre la disgregación de la comunidad local por
parte del turismo no ha sido del todo accidental, ya que encaja a la perfección con la idea de comunidad
tradicional y relativamente estática que de pronto se ve arrojada de bruces al escenario del capitalismo
moderno” (1992: 273).6
En la misma época, y también en el marco de la teoría de la dependencia, es relevante la etnografía
realizada por Galán, Martín, Ruiz y Mandly (1977). En este caso el interés de los autores se centra en el
análisis del universo laboral que irrumpe con el boom turístico fordista en la Costa del Sol andaluza. En
la investigación se desvelan las desiguales relaciones sociales de producción, el carácter asimétrico de las
interacciones entre trabajadores/nativos y turistas/forasteros, así como los procesos de aculturación de
una población vinculada al sector primario que se incorporaba masivamente al terciario en condiciones
precarias.7 Podría decirse además que la obra constituye un precedente del pos-estructuralismo al
deconstruir los discursos hegemónicos del turismo que contribuyeron a la aceptación social del llamado
pomposamente milagro turístico español.
Otras aportaciones interesantes fueron los trabajos de Contreras (1975) y Nieto (1975, 1976, 1977)
que abordaban el turismo como una actividad desestabilizadora que provoca la aculturación e incluso
la extinción de la cultura tradicional. En diferentes unidades de observación ambos autores analizaban
la esceniicación de la autenticidad por parte de los nativos ante los turistas y denunciaban el fenómeno
que, según estos planteamientos, podía provocar “el aniquilamiento de una de las culturas” (Nieto,
1977). Más allá de estas apreciaciones, los trabajos se apoyaban en sólidas etnografías que aportaban
descripciones sistemáticas de las interacciones turísticas. Destaca la obra de Nieto en Formentera que
distinguía metódicamente entre tipos de nativos (autóctonos y peninsulares) y de turistas (vacacionales,
residentes y peluts), delimitando sus características, el tipo de relaciones establecidas entre ellos, así
como el rol de los guías turísticos, auténticos intermediarios (brokers) al servicio de los tourperadores,
que acercaban a los visitantes a los destinos contribuyendo a ijar la mirada y la imagen del lugar.8
A pesar de su gran interés, estas primeras contribuciones no abonaron un campo de estudio es-
pecíico en los circuitos antropológicos. En los ochenta, la producción sobre el turismo siguió siendo
escasa. Tan solo unos trabajos puntuales realizados a menudo con la colaboración de investigadores
extranjeros constituían el exiguo panorama de la Antropología del Turismo en España. En unos casos
los estudios mantenían el espíritu de denuncia de la década anterior (Mandly, 1983; Miquel Novajra,
1989; Oliver-Smith, Jurdao y Lisón Acal, 1989), aportando nuevas evidencias sobre el carácter nocivo
del turismo de masas, pero aparecieron además nuevas temáticas como el estudio de la evolución
histórica de destinos concretos (Lacroix, Roux y Zoido, 1983) o relexiones teóricas sobre el fenómeno
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
308 El turismo como objeto de estudio. Análisis de la producción bibliográica de los antropólogos
en las sociedades emisoras (Aguirre, 1988; Cardín, 1990) que abrieron nuevas perspectivas al turismo
como objeto de estudio antropológico.
Hay que esperar a la década de los noventa para asistir al despegue de la Antropología del Turismo
en España. Este despertar no es un fenómeno aislado, sino que habría que enmarcarlo en el contexto
general de la disciplina donde proliferan nuevos ámbitos de estudio “uniendo a los dominios más clásicos,
otros asuntos tan dispares como el género, la salud, la medicina, la denominada antropología de las
edades, la alimentación, el deporte, la pesca, el turismo, la antropología industrial y de la empresa, la
educación o el patrimonio. Ello dibuja, sin duda alguna, un panorama rico y heterogéneo” (Sanz, 2011:11).
Dentro de este marco plural el turismo adquiere gradualmente plena carta de naturaleza. Superada
la visión comunitarista y los viejos recelos sobre la legitimidad del fenómeno como objeto de estudio,
desde los noventa aumentan paulatinamente las publicaciones sobre el tema, lo que queda recogido
en los índices bibliográicos realizados en esta época (Badillo, 1988; Prat 1991 y 1999; Santana y
Hernández, 1994). Por todo ello, no es casualidad que en el libro editado en 1996 por Joan Prat y Ángel
Martínez, que tenía como objetivo mostrar los principales campos temáticos de la antropología, igurara
un capítulo especíico dedicado a la Antropología del Turismo, obra de los profesores Agustín Santana y
Fernando Estévez. Pero lo que constituyó un verdadero hito en todo este proceso fue la publicación en
1997 por la editorial Ariel del trabajo de Agustín Santana Antropología y Turismo ¿Nuevas hordas viejas
culturas? La obra, muy citada en los círculos académicos, es un texto que ha contribuido decisivamente
a divulgar las aportaciones y potencialidades de la antropología para el estudio del turismo en los países
hispanohablantes.
El arranque de la Antropología del Turismo en España no obedece tan solo a desarrollos internos de
la disciplina, sino también a un creciente interés por el fenómeno en el contexto de las ciencias sociales,
lo que se ha traducido en una rápida institucionalización de los estudios universitarios de turismo. Este
boom académico pretende ser una respuesta profesional a la globalización de la actividad, la cual ya en
los noventa adquiere escala planetaria, pasando de ser un fenómeno localizado en determinadas áreas
de determinados países a abarcar ámbitos territoriales muy amplios y tipos de turismo muy diversos. En
pocos años, los espacios hedonistas propios del turismo fordista, que conformaban una geografía turística
bien delimitada, se fueron extendiendo y diversiicando por todos los rincones del globo para cubrir
una diversiicada demanda de consumo de naturaleza, historia, tradición, espectáculos y modernidad.
La complejidad de un fenómeno, que es más que producción y consumo, porque está estructuralmente
asentado en la lógica y el funcionamiento de las sociedades contemporáneas, supuso a partir de los
noventa la eclosión de estudios sobre el turismo en todas las ciencias sociales y una creciente demanda
social de expertos y profesionales en la materia.
Como consecuencia de ello, el estudio y la enseñanza del turismo en las universidades españolas
comenzó en esta década a dejar de ser un campo marginal e incluso poco reconocido para convertirse
en una de las titulaciones de mayor repercusión si se tiene en cuenta el volumen de estudiantes
matriculados y el creciente número de facultades de turismo que se implantaron desde esta etapa en
todo el Estado.9 Esta institucionalización de la enseñanza del turismo ha requerido la especialización de
profesionales de las distintas áreas de las ciencias sociales tanto en la docencia como en la investigación.
El resultado ha sido un considerable incremento de las tesis doctorales y publicaciones cientíicas en
todos los campos de las humanidades y ciencias sociales y, en materia docente, un aumento de cursos
generales y especializados sobre distintas temáticas relacionadas con el fenómeno. La incorporación
plena de los estudios de turismo al ámbito universitario español ha afectado también a la antropología
social que, en niveles más modestos que los de otras disciplinas como marketing, economía o geografía,
participa en los planes de estudio de las facultades asumiendo la formación en materias relacionadas
con el patrimonio cultural (especialmente el etnológico o inmaterial) y más especíicamente con la
asignatura Antropología del Turismo. Sirva como botón de muestra de esta paulatina incorporación
del estudio antropológico del turismo en la universidad española que en el periodo 1991-2014 se han
defendido casi una veintena de tesis doctorales de esta materia (ver apartado especíico en la bibliografía
al inal de este texto).
El terreno abonado en los noventa ha supuesto el reconocimiento deinitivo de la Antropología del
Turismo en la comunidad de antropólogos españoles. Prueba de ello es que en la práctica totalidad de los
Congresos organizados por la Federación de Asociaciones de Antropología del Estado Español (FAAEE)
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Javier Hernández-Ramírez 309
celebrados desde 2003 se han organizado simposios especíicos sobre Antropología del Turismo, además
de otros centrados en temas relacionados directa o indirectamente con el fenómeno turístico, tales como
el patrimonio cultural o los museos.
En el siguiente cuadro se muestran los congresos, simposios especíicos de Antropología del Turismo
y los coordinadores responsables de los mismos.
Por último y no menos relevante es que en este periodo se han desarrollado importantes iniciativas
editoriales materializadas en publicaciones monográicas. En el ámbito de la Antropología del Turismo
destaca la labor editorial de Pasos Edita que, en formato digital, ha publicado en el periodo 2007-2014
doce monográicos de los que ocho son obras o compilaciones realizadas por antropólogos españoles (ver
Bibliografía). En cuanto a revistas se ha producido también un destacable desarrollo con la aparición
de nuevas publicaciones especíicas del turismo, así como de otras que dedican números monográicos
al fenómeno o publican periódicamente artículos de esta temática en sus volúmenes misceláneos. Entre
las especíicas destacan por orden de antigüedad: Papers de Turismo (1989), Cuadernos de Turismo
(1998), Pasos. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural (2003), Revista de Análisis Turístico (2006),
TuryDes. Revista de investigación en Turismo y Desarrollo local (2007) e Investigaciones Turísticas (2011).
Los factores anteriormente mencionados se han traducido en un crecimiento paulatino de la
producción cientíica de los antropólogos españoles constituyendo en la actualidad uno de los campos
de investigación más fértiles.
Con el objetivo de mostrar una panorámica actual de la Antropología del Turismo en España, en este
apartado se analiza la producción bibliográica de los antropólogos españoles en el periodo 2000-2013
difundida en las principales revistas cientíicas especializadas en antropología social y en turismo tanto
españolas como internacionales. La selección de las publicaciones se ha realizado teniendo en cuenta los
índices bibliométricos estandarizados que persiguen determinar la relevancia, inluencia e impacto de
las revistas en la comunidad cientíica a la que se dirigen mediante el recuento de las citas bibliográicas.
Se han escogido las dos revistas internacionales de turismo con mayor impacto académico en 2012
según los parámetros establecidos por el Journal of Citation Report (JCR) (dentro de la categoría
“Hospitality, Leisure, Sport and Tourism”) y los indicadores de SCImago Journal & Country Rank (SJR)
(en las materias “Tourism, Leisure and Hospitality management”). Son las revistas “Annals of Tourism
Research” y “Journal of Sustainable Tourism”; la primera ocupa el primer puesto en el escalafón del
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
310 El turismo como objeto de estudio. Análisis de la producción bibliográica de los antropólogos
JCR y la segunda el primero en el del SJR. Ambas revistas tienen un carácter multidisciplinar y se
especializan en la difusión de investigaciones sobre turismo.
A partir de los datos proporcionados por el “Índice Impacto de las Revistas Españolas de Ciencias
Sociales” (IN-RECS) del año 2011, se han seleccionado cuatro publicaciones situadas en los puestos
más altos del ranking.10 Son las siguientes: “AIBR. Revista de Antropología Iberoamericana”, “Revista
de Antropología Social”, “Gazeta de Antropología” y “Pasos. Revista de Turismo y Patrimonio cultural”.
Las tres primeras son publicaciones genéricas que abarcan todos los campos de la antropología
social mientras que Pasos es la única seleccionada de carácter multidisciplinar especializada en la
materia. De estas revistas en español tan solo AIBR igura en el JCR en su última edición (2012)
dentro de la categoría “Antropología” y está presente además en Scimago Journal y Scopus.11 En
estos dos últimos rankings también están consignadas la Revista de Antropología Social y la Gazeta
de Antropología; mientras que Pasos está incluida en distintos índices y bases de datos, ocupando
el segundo puesto de las publicaciones españolas de antropología en IN-RECS (2011) detrás de la
Revista de Antropología Social.12
El procedimiento investigador ha consistido en la revisión exhaustiva de los índices de contenidos
de los artículos publicados en estas seis revistas desde 2000 hasta 2013, lo que ha permitido crear
una bibliografía con ochenta y cuatro referencias. Con este vaciado sistemático de los artículos se
pretende responder a cinco grandes cuestiones; las cuatro primeras de carácter cuantitativo y la
última en un sentido más analítico. En primer lugar, conocer en qué revistas publican preferentemente
los antropólogos del turismo españoles; en segundo, comprobar la evolución anual del número de
artículos publicados en el período 2000-2013; el tercer objetivo consiste en saber dónde se localizan
las unidades de observación seleccionadas; en cuarto lugar, determinar qué temas interesan a los
investigadores. Este último asunto permitirá abordar en un ulterior apartado el quinto objetivo, a
saber: los principales debates y aportaciones de la antropología española del turismo y el desarrollo
de los temas tratados.
4. Dónde se publica
La primera constatación de este trabajo es que la mayor parte de los antropólogos españoles publican
sus artículos en revistas latinoamericanas y españolas. Ocupa el primer lugar, Pasos que ha editado
hasta abril de 2014 doce volúmenes anuales que suman treinta y siete números y 415 artículos. De
ellos los antropólogos que trabajan en instituciones españolas han publicado treinta y siete, lo que
representa un 8,9 % del total. Le sigue Gazeta de Antropología que, hasta el primer semestre de 2014,
ha publicado treinta volúmenes de temas genéricos de antropología que suman 524 artículos de los
que los antropólogos españoles del turismo son autores de veintinueve, lo que representa un 5,5 %
del total. En tercer lugar se sitúa la reconocida AIBR que ha publicado desde enero de 2006 hasta la
actualidad nueve volúmenes, veinticinco números (3 números al año) y 141 artículos. En esta revista
los antropólogos españoles del turismo han participado con un total de diez trabajos, lo que representa
el 7% de la producción de la revista en su nueva etapa.13 Por último, la Revista de Antropología Social
ha publicado hasta 2013 veintitrés números (uno por año) que suman 256 artículos de los cuales ocho
tratan directa o indirectamente sobre turismo y siete de ellos son escritos por antropólogos españoles,
lo que representa un 2,7% del total.
La segunda constatación es que los antropólogos españoles del turismo no suelen publicar en
revistas internacionales especializadas que utilizan como vehículo otro idioma distinto del español. Si
nos atenemos a las dos publicaciones internacionales seleccionadas se comprueba que en el periodo
estudiado tan sólo se ha publicado un artículo escrito por un antropólogo español (Gascón, 2013). Llama
la atención esta escasa presencia en un contexto en el que publicar en este tipo de revistas supone
para los investigadores un mayor reconocimiento, mejoras objetivas en sus instituciones académicas y,
por supuesto, la proyección internacional de sus investigaciones. Apunto tres razones tentativas para
interpretar el fenómeno: en primer lugar, las diicultades que supone la aceptación de los artículos
enviados a los consejos de redacción en un ambiente muy competitivo que se desenvuelve en un idioma
extranjero; segundo, la escasa integración de los investigadores hispanohablantes en las redes cientíicas
anglosajonas; y, por último, las distintas temáticas, tradiciones epistemológicas y zonas de estudio que
preocupan a las comunidades cientíicas anglosajonas e hispanoparlantes.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Javier Hernández-Ramírez 311
Gráfico 1
Gazeta de Antropología
Pasos
AIBR
0 5 10 15 20 25 30 35 40
5. Cuánto se publica
El registro de los artículos publicados en las revistas seleccionadas aporta otro dato muy signiicativo:
que la transformación del turismo en objeto de estudio antropológico comienza a consolidarse en la actual
década. Tal como se releja en el siguiente gráico, la producción aumenta a partir de 2003 alcanzado
en 2013 el mayor volumen de trabajos editados.
6. Dónde se investiga
Las unidades de observación donde los antropólogos del turismo españoles tratan de veriicar sus hipótesis
se localizan mayoritariamente en el territorio del Estado (48%) y en segundo lugar en América Latina
(16%). El resto de países y continentes del globo son abordados marginalmente en las etnografías (7%).
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
312 El turismo como objeto de estudio. Análisis de la producción bibliográica de los antropólogos
Otras veces los estudios no se centran en espacios concretos como podrían ser los destinos turísticos sino,
que al tomar como sujetos de investigación a los propios turistas, adoptan como estrategia metodológica
una innovadora perspectiva móvil y multisituada (PMM) (Anta, 2013; Mancinelli, 2009). El resto de los
artículos registrados son de carácter teórico (22%), por lo que carecen de referencia territorial especíica
(SRT), aunque es habitual el recurso a distintos lugares para ilustrar y fundamentar los argumentos.
Gráfico 2
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Fuente: Revistas seleccionadas. Elaboración propia
Gráfico 3
Donde de investiga
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Javier Hernández-Ramírez 313
Esta especialización territorial revela que los antropólogos españoles diseñan sus investigaciones
en ámbitos cercanos a su entorno profesional por su implicación con los territorios donde viven, pero
además por estar condicionados por limitaciones presupuestarias y por la existencia de incompatibilidades
temporales entre la labor docente y la etnográica. La mayor proyección hacia América Latina tiene que
ver con la vinculación histórica e idiomática entre los países de ambas orillas del Atlántico y también
con el contexto de la cooperación española al desarrollo (AECID), que inancia estudios en esta región
considerada zona preferente para la intervención.
Tal como se releja en el siguiente mapa, las investigaciones realizadas en suelo español se realizan
sobre todo en aquellas comunidades autónomas donde la antropología social y los estudios de turismo
están más implantados institucionalmente. Son por orden de importancia Cataluña y Andalucía, es
decir, los territorios en los que las tradiciones académicas de la antropología están históricamente
más asentadas y en Canarias donde se ha producido una fructífera convergencia entre los estudios de
antropología marítima y del turismo en el marco de la Universidad de La Laguna.
Para identiicar los temas de investigación que interesan a la comunidad de antropólogos del turismo
españoles se ha procedido al análisis de las “Palabras Clave” que aparecen en los artículos seleccionados.
Se parte del recuento de las existentes y del agrupamiento posterior de aquellos artículos cuyos términos
se repiten, son sinónimos o aines, lo cual permite establecer una discriminación temática.
El conjunto de artículos sometidos a este análisis de contenido suma un total de 375 “Palabras
Clave”, que se reducen a 352 al suprimir aquellos términos que hacen referencia a los lugares de estudio.
Es signiicativo indicar que los términos que aparecen con mayor frecuencia son los de “Turismo”,
“Patrimonio” y “Patrimonio Cultural”, “Espacios Protegidos” (naturales, reservas, medioambiente),
“Identidad” e “Identidades”. Otras palabras que se repiten son las de “Turismo Cultural”, “Fiesta”,
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
314 El turismo como objeto de estudio. Análisis de la producción bibliográica de los antropólogos
“Campesinado” y “Cultura”. Esta primera síntesis temática ayuda a conocer cuáles son los intereses
más recurrentes de los investigadores.
Una vez agrupados los artículos que contienen un alto grado de coincidencia en las Palabras Clave
(depurando aquellas consideradas menos relevantes) se establece la siguiente clasiicación temática
formada por seis grandes intereses de investigación, que se subdividen en campos más especíicos:
Entre los temas seleccionados es, sin duda, el “Patrimonio Cultural” el que más trabajos reúne (27),
seguido de “Turismo y Desarrollo” (20), “Medioambiente y Turismo” (11), “Residentes y turistas” (15),
“Teoría y Concepto del turismo” (7) y, por último “Imagen y Publicidad Turísticas” (4). En las siguientes
páginas se abordará el tratamiento de los asuntos señalados, resaltando los debates y aportaciones
más signiicativas.
Las relaciones entre el patrimonio cultural y el turismo son complejas; “un mar de confusiones” al
decir de Prats (2011). Este fenómeno es relativamente reciente y se enmarca en lo que Santamarina
denomina “una segunda ola intensiva de patrimonialización de la cultura” (2005: 32) en la que la
ecuación “patrimonio-identidad” se ve reemplaza por la de “patrimonio-venta-consumo”. Considero,
no obstante, que lo que se está produciendo hoy es que ambas ecuaciones coexisten y se conjugan,
alcanzando un mayor protagonismo la segunda fórmula que transforma al patrimonio en producto.
La asociación del patrimonio a la identidad y, al mismo tiempo, la demanda de cultura por parte del
turismo generan contradicciones, conlictos, malentendidos, instrumentalizaciones, pero también
sinergias y retroalimentaciones. Podría decirse que en la actualidad el patrimonio cultural difícilmente
puede concebirse sin sus relaciones con el turismo, porque desde hace tiempo el primero ha dejado
de ser una carga para las arcas públicas gracias al turismo que garantiza su sostenibilidad; pero, al
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Javier Hernández-Ramírez 315
mismo tiempo, las distintas modalidades de turismo cultural diicultosamente podrían ser rentables
sin recurrir al patrimonio. Es lo que Prats denomina “demanda bidireccional” (2011: 250). De ahí que
no sea una casualidad que en las titulaciones de turismo, la asignatura “Patrimonio Cultural” forme
parte de los itinerarios curriculares. Esta demanda de profesionales competentes para intervenir como
gestores del patrimonio en contextos turísticos ha impulsado la formación de un cuerpo de investigadores
especializados en patrimonio y turismo. Prueba de ello es que el 50 % de los artículos analizados en
esta genealogía se agrupan en esta temática.
Los artículos varían entre aquellos ocupados en aspectos teóricos, a veces propositivos, y las etno-
grafías que permiten ilustrar las controversias y sinergias entre patrimonio y turismo. Los autores
parten de diferentes interpretaciones. Santamarina (2013) considera que la alianza del turismo con el
patrimonio obedece a la existencia de un marketing global que introduce en el mercado marcas locales
para el consumo turístico de lo auténtico. Concreta esta idea Santana (2003) al sostener que en los
escenarios turísticos el patrimonio se mercantiliza, lo que implica su objetivación como un producto que
es comercializado como genuino de acuerdo con el gusto de los consumidores globales. Para ello se recurre
a escenografías que, dependiendo del buen hacer del promotor, generan experiencias satisfactorias de
autenticidad entre los turistas. Por su parte Marcos (2010) insiste en la noción del patrimonio como
identidad, por lo que cree que esta comercialización puede alterar los signiicados y usos sociales de
la herencia cultural. Pero también opina que cuando la mercantilización se inscribe en estrategias
socioeconómicas promovidas por la comunidad local o sectores de ésta las acciones pueden favorecer
el desarrollo endógeno, reairmando de paso la identidad colectiva. Esta divergencia de los autores
es, sin embargo, una cuestión de énfasis, ya que el propio Santana señala que el turismo de forma no
intencionada puede revitalizar sentimientos de pertenencia en las sociedades receptoras de turistas.
La etnografía aporta buenos ejemplos de situaciones de banalización patrimonial. Con el caso de la
peregrinación jacobea, Herrero (2011) ilustra un proceso de mercantilización que somete a la tradición
a las reglas de la actual cultura del consumo, lo que supone una resigniicación de los contenidos del
ritual que se difunden globalmente. Así, los contenidos del Camino de Santiago son reelaborados con
nuevas narrativas que combinan toda una suerte de imaginarios de orígenes distintos mezclados
en un collage posmoderno de lo más heterogéneo (historia, espiritualidad, esoterismo, psicoterapia
alternativa, Shirley MacLaine, Paulo Coelho…). El turista hace uso a su antojo de los componentes de
este pastiche ecléctico, lo que le permite vivir una peregrinación personalizada que modela a su gusto
como consumidor. En un sentido parecido, Fernández Juárez (2013) ejempliica cómo es trivializado el
patrimonio de los mineros quechuas del Potosí boliviano al comprobar que el símbolo tradicional que
representa la igura de un diablo protector (llamado “Tío”) y los rituales relacionados con este icono
están en riesgo de desvirtuarse ante la aluencia de turistas atraídos por el presunto “primitivismo y
exotismo” de estas creencias y prácticas. La posible declaración de este culto como patrimonio inmaterial
de la humanidad por la UNESCO podría -según el autor- acentuar este proceso de banalización en el
que se esceniican “parafernalias indígenas pensadas para turistas que constituyen un pálido relejo,
verdaderos sucedáneos, de su propia realidad, lo que constituye en cierto sentido un fraude para el
propio turista” (2013: 309) y una folclorización que silencia y oculta la cruda realidad de los mineros.
Los trabajos suelen concluir con propuestas concretas de gestión turística del patrimonio cultural.
Ante el riesgo objetivo de pérdida de valores culturales del patrimonio y el extrañamiento con el mismo
de sus depositarios, Marcos (2010) plantea la necesidad de introducir la negociación entre los actores
para la deinición del uso turístico del patrimonio. Martín de la Rosa (2003) insiste en desarrollar una
adecuada gestión que impida la descontextualización del patrimonio cuando la cultura se pone en escena
y que asegure al mismo tiempo su propia evolución de acuerdo con los intereses y deseos de sus prota-
gonistas, evitando un conservacionismo que conduzca a la fosilización de los bienes y acciones. Herrero
(2011) sintetiza distintas propuestas de antropólogos españoles que, para el caso de la peregrinación
compostelana, persiguen neutralizar “las fuertes tendencias del régimen de signiicación posmoderno
a mercantilizar la cultura y a reducir sus complejas y múltiples dimensiones y relaciones con la vida
humana” (2011: 300). Por su parte, Fernández Juárez (2013) sostiene que en la gestión y protección
del patrimonio mundial debe involucrarse también la UNESCO, promoviendo una acción que destine
la riqueza generada en torno a los bienes a sus legítimos depositarios, asegurando la continuidad de
los valores y usos sociales del patrimonio cultural.
Los procesos de patrimonialización y su vinculación con el turismo constituyen también un motivo
de relexión y análisis etnográico de enorme interés (Carbonell, 2010; Cornejo, 2011; García 2013;
Gómez Ferri, 2004). Los autores subrayan el carácter construido de todo patrimonio y su dimensión
sociopolítica, identiicando a los sectores sociales que promueven la selección de elementos concretos de
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
316 El turismo como objeto de estudio. Análisis de la producción bibliográica de los antropólogos
la cultura para ser elevados a la categoría de patrimonio y las consecuencias de estas acciones sobre la
memoria y la identidad social. En este sentido, se resalta cómo esta segunda ola de patrimonialización
se materializa en la transformación de territorios, inmuebles y actividades en productos turísticos.
Destaca el trabajo de Carbonell (2010) que analiza en la localidad catalana de Sant Pol de Mar la
patrimonialización de la playa y la oposición organizada de ciudadanos a un proyecto de rehabilitación
del frente marítimo. El estudio destaca las visiones encontradas sobre los signiicados y usos del paisaje
litoral transformado en patrimonio y la emergencia del patrimonialismo como un movimiento social
contemporáneo de indudable interés (Gómez Ferri, 2004). Por su parte Cornejo (2011) en el marco de una
antropología dialógica analiza cómo las autoridades locales de Noblejas (Toledo) cambian su noción de
cultura hacia el patrimonio y la identidad, seleccionando elementos de la tradición rural teñidos de una
estética sumamente idealizada que son patrimonializados. Esta operación se desarrolla de acuerdo con
la estrategia de la UE en el medio rural que persigue atraer a un turista nostálgico “buscador de raíces”.
Redunda en la relexión sobre la patrimonialización García (2013), que estudia la iniciativa política
de transformación de un antiguo poblado minero asturiano (Bustiello) en un Bien de Interés Cultural
(BIC), al tiempo que en un producto turístico. Sostiene que la intervención implica una reutilización
del poblado tras la crisis minera, lo que implica nuevos usos, sujetos y discursos institucionales sobre
el mismo. Esta práctica supone la eliminación de elementos, la selección y transformación de otros y
una resigniicación que da coherencia narrativa al conjunto para el consumo turístico; pero al mismo
tiempo provoca el distanciamiento de la población autóctona con el patrimonio.
Las distintas categorías del patrimonio etnológico en su relación con el turismo constituyen igualmente
temas de estudio etnográico y diagnóstico antropológico. Fiestas y rituales sobre todo y en menor grado
gastronomía (Espeitx, 2004; Medina y Treserras, 2008; Pereiro y Conde, 2005), oicios tradicionales
(Acuña y Ranocchiari, 2012) y arquitectura vernácula (Espinar y López, 2000) son los asuntos que
más interesan. Por su parte, el estudio de los museos y centros de interpretación representa otro
campo especíico muy sugerente con importantes aportaciones. Destaca el trabajo de Fernández de
Paz (2006) que analiza la evolución de los museos y la situación actual en la que la demanda turística
de autenticidad se traduce en la exposición de un patrimonio que expresa una idealización del pasado.
En un sentido distinto Abella, Alcalde y Rojas (2012) subrayan el desajuste que se produce entre los
discursos museográicos clásicos y las necesidades y expectativas de los turistas. Por su parte, Roigé y
Arrieta (2010) relexionan sobre el papel que desempeñan los museos en la deinición y recomposición
de las identidades (locales, regionales y nacionales) en el País Vasco y Cataluña, resaltando la inluencia
de la glocalización y del turismo cultural en estos procesos (proliferación de centros, equipamientos
emblemáticos, instituciones culturales y grandes eventos).
En cuanto a las iestas algunos autores, siguiendo la estela de los estudios de Greenwood, tratan
de demostrar que el ritual se desvirtúa en su relación con el turismo cuando se convierte en objeto de
consumo cultural (Berlanga, 2004; Jiménez de Madariaga, 2011; Santamarina, 2008) mientras que
otros dibujan una relación más compleja cuando son sectores de la sociedad local los que intervienen
en la mercantilización turística de las iestas (Hernández-Ramírez, 2010) subrayando la existencia
de una secular tensión entre los valores de uso (identidad) y los valores de cambio (turismo) (Marcos,
2009) o cuando turismo cultural y nacionalismo se retroalimentan (Herrero, 2009); todo ello revela
que los elementos de la ecuación patrimonio-identidad-mercado no son necesariamente excluyentes.
En cualquier caso, en su conjunto los autores coinciden en que el turismo genera cambios sociales que
son visibles en las acciones simbólicas festivas.
Las relaciones entre poder, turismo y iestas comprenden un campo de investigación especíico abor-
dado por algunos investigadores. Berlanga (2004) analiza cómo el turismo afecta a las peregrinaciones
bereberes en la localidad marroquí de Imilchil. Comprueba que distintas iniciativas promovidas por
el Estado (tales como hacer coincidir la fecha de celebración de los rituales con la temporada turística,
cambiar la denominación del evento, folclorizar las bodas colectivas, disfrazar a los empleados de los
negocios turísticos con vestimentas tradicionales tuaregs, adecuar el municipio a la estética tradicional…)
persiguen atraer al mayor número de visitantes y satisfacer su demanda de autenticidad. Pero, al mismo
tiempo, veriica que son instrumentos de poder para ejercer el control sobre la propia población bereber
y sus instituciones tradicionales. Por su parte, Brisset (2009) sugiere que el poder político promociona
las iestas para fomentar el negocio turístico al comprobar que el reconocimiento administrativo de
“Fiestas de Interés Turístico” (singular, provincial, nacional e internacional) para el caso español es
un fenómeno que continúa desde los setenta y crece en la actualidad, ya que el número de las inscritas
aumenta. El fenómeno releja además la competencia entre distintas localidades para alcanzar una
mayor proyección internacional. También Herrero (2009) se concentra en la estrecha conexión entre
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Javier Hernández-Ramírez 317
identidad, poder y iestas, pero en este caso a través del análisis del discurso. La autora comprueba que
las bases del argumento que trata de atraer turistas y conectar el Camino de Santiago con un histórico
peregrinaje a Finisterre (Galicia) se fundamentan en las tradiciones folclóricas del nacionalismo gallego,
al tiempo que en los actuales discursos de la Unión Europea en los que la peregrinación es contemplada
como un itinerario continental. En el artículo demuestra que turismo, tradición e ideologías políticas
desempeñan un papel clave en la transformación y resigniicación del territorio.
9. Desarrollo y Turismo
El turismo como factor de desarrollo constituye un tópico clásico. Destacan los trabajos de Prats
(2003 y 2011) en los que desmitiica y refuta tres lugares comunes: primero, la ecuación “Patrimonio
+ Turismo = Desarrollo”; segundo, que todo el territorio español es turístico; y, por último, que hay un
sector de consumidores ansiosos de practicar el turismo cultural. Según el autor estas opiniones son
causantes del fracaso de numerosas apuestas de desarrollo y sostiene que, para asegurar la viabilidad
del patrimonio en contextos turísticos, se debería partir de alguna de las siguientes condiciones: que
el destino cuente con recursos patrimoniales de extraordinario atractivo; que los bienes patrimoniales
se hallen en grandes áreas metropolitanas; o que estos recursos se localicen en destinos maduros bien
consolidados. Plantea que la mayor parte de las iniciativas turísticas que se impulsan sin desarrollarse
en lugares que reúnan alguna de las tres situaciones señaladas están condenadas a fracasar.
El papel de los promotores del desarrollo turístico a través del patrimonio es otro asunto analizado
por algunos autores. Hernández-Ramírez (2011) critica el diseño de rutas turísticas por parte de
agentes externos (públicos y privados) que tratan de mercantilizar elementos patrimoniales aislados
desvertebrando los territorios donde se implantan. Zamora (2011) relexiona críticamente sobre el rol
de políticos e ilustrados en los procesos de patrimonialización, apostando por la participación activa de
los ciudadanos y por la implantación de estrategias de desarrollo inclusivas y negociadas que utilicen
el patrimonio como un recurso turístico al tiempo que como un medio para recuperar la autoestima
de los grupos. Dentro de esta línea destacan también los trabajos de Merinero (2009) y Merinero y
Zamora (2009) cuyo foco de interés se centra en el análisis de las redes sociales formadas por los actores
turísticos, lo que permite determinar el grado de interconexión y colaboración existente, así como el
nivel de control que ejercen las sociedades locales en la gestión turística.
Las profundas transformaciones sufridas en las últimas décadas en el medio rural y la emergencia
de la llamada “nueva ruralidad” han suscitado también el interés de la antropología española, que ha
evolucionado de los estudios campesinos a la investigación de las movilidades, las políticas de desarrollo,
los cambios de las bases económicas y la emergencia de nuevos sectores productivos (Roseman, Prado y
Pereiro, 2013). Los diferentes autores comprueban que, en esta nueva y dinámica ruralidad, el turismo
se ha convertido en un pilar fundamental. No solo es un pujante sector que diversiica la economía
(Salas y González, 2013), sino que además favorece el desarrollo de producciones autóctonas de calidad
bajo la etiqueta de lo sustentable y lo ecológico (López y Aguilar, 2013) contribuyendo a modiicar la
gastronomía y sus signiicados (Pereiro y Prado, 2005), los imaginarios colectivos (Nogués, 2006), así
como las relaciones de género (Soronellas, Bodoque y Torrens, 2013). Con un enfoque menos optimista,
Gómez Pellón (2012) señala que las políticas de la Unión Europea que fomentan la multifuncionalidad
de los espacios generan “multitud de paisajes sociales de ruralidad” entre los que se hallan escenarios
con resultados mucho más modestos de lo que se había proyectado.
Otro tópico cada día más frecuente lo comprenden las investigaciones que abordan el desarrollo del
turismo de base local en comunidades indígenas y campesinas de América Latina. Para unos autores,
el turismo comunitario constituye una oportunidad de desarrollo socioeconómico que puede implicar
un reforzamiento de las instituciones y valores tradicionales, e incluso promover la etnogénesis
(Hernández y Ruiz, 2011), así como un control comunitario de los cambios (Pastor, 2012). Todo ello
se traduce potencialmente en el empoderamiento, la equidad social y la negociación continua bajo un
modelo horizontal. Desde esta aproximación el turismo se adapta a los intereses y necesidades de la
comunidad (Ruiz, et al, 2008). Sin embargo, esta adaptación es problemática para Gascón (2013) quien
describe las diicultades de todo tipo que supone la introducción del turismo como actividad exógena
y desconocida en la isla Amantaní (Perú), al tiempo que cuestiona la viabilidad del modelo resaltando
los conlictos y contradicciones que genera (desigualdad económica y exclusión en el proceso de toma
de decisiones). Coinciden con este diagnóstico Escalera, Cáceres y Díaz (2013) los cuales comprueban
cómo en Caño Negro (Costa Rica) la política de conservación de la naturaleza y desarrollo turístico
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
318 El turismo como objeto de estudio. Análisis de la producción bibliográica de los antropólogos
comunitario encuentra una gran diicultad antes los conlictos y relaciones de poder que se viven en el
interior de la comunidad.
Otro tema controvertido es el papel de la Cooperación Internacional en el turismo comunitario. Gascón
(2013) es crítico con el rol intervencionista de las ONG al igual que Valcuende y de la Cruz (2009) que
indican que muchas de estas organizaciones se han convertido en empresas de intervención social e
incluso en multinacionales de la cooperación, que requieren ingresos para su propia supervivencia, lo
que supone que las lógicas comunitarias y las de las ONG son a menudo distintas, poniendo en evidencia
la retórica participativa con que las organizaciones deienden las propuestas de turismo comunitario.
En un sentido diferente, Ruiz-Mallén, et al (2012) resaltan las ventajas de la investigación aplicada
para apoyar y asesorar iniciativas impulsadas desde el interior de comunidades locales y grupos étnicos.
El turismo implica transformaciones en los usos y signiicados del territorio (Pastor, 2003), especialmente
de aquellos protegidos por la administración. Este asunto está generando una relexión de profundo
calado en la producción antropológica. Frigolé (2012) analiza en el Pirineo Catalán cómo la declaración
de un parque natural junto a otros procesos comunes a muchas áreas rurales protegidas (crisis agrícola,
éxodo campesino, nuevos vecinos y terciarización) implican profundos cambios. Todo ello se traduce en
la coexistencia en un mismo lugar y tiempo de distintas cosmologías y concepciones de la naturaleza y
de la historia acordes con diferentes sectores sociales, que relejan y dan contenido a relaciones sociales
jerarquizadas y llenas de tensiones. Del mismo modo, Valcuende et al (2011) estudian los discursos y
visiones que sobre la naturaleza activan distintos sectores en el Parque Natural Cabo de Gata-Níjar y
la controversia generada fruto de lógicas económicas e intereses opuestos difícilmente compatibles. La
narrativa hegemónica que recrea el espacio como paraíso natural se esgrime para construir legitimidades
sobre los usos adecuados en el entorno protegido y sirven para potenciar nuevos aprovechamientos
supuestamente sostenibles como el turismo de calidad, pero también para criminalizar la agricultura
intensiva de regadío bajo plástico que domina en el entorno del espacio protegido y constituye la principal
fuente de riqueza de la población local. Rodríguez Darias (2007), Santamarina (2008) y Santamarina y
Bodí (2013) coinciden con los anteriores autores al destacar también la proliferación de áreas protegidas,
el dominio de discursos ecológicos globalizados y el conlicto que se genera en la arena local cuando se
enfrentan a prácticas culturales especíicas. Estas narrativas hegemónicas fundamentan las políticas
conservacionistas que permiten redeinir y reorganizar el espacio, favorecer procesos de terciarización
y limitar usos tradicionales. En estos contextos de patrimonialización de la naturaleza, el turismo,
rebautizado ahora como sostenible, se plantea como la tabla de salvación de la población; pero esta
población solo es considerada formalmente en los procesos de toma de decisiones, los cuales adoptan
generalmente un sistema jerárquico (top/down).
Mención aparte comprenden los trabajos realizados por investigadores canarios herederos de la
tradición de estudios de antropología marítima que, ante el desarrollo del turismo, han ampliado su
mirada a este fenómeno. Los autores analizan cómo la diversiicación de la oferta turística en Canarias
se enmarca en un contexto de crisis del sector pesquero tradicional y de declaración de amplias zonas
marítimas como reservas (Cabrera, 2004; De la Cruz, 2004; De la Cruz, et al, 2012; Pascual, 2003).
Las investigaciones revelan cómo en un espacio marítimo y litoral construido ahora como patrimonio
natural se ordena y restringe la extracción de recursos y se promueven nuevos usos recreativos que,
poco a poco, reemplazan a los tradicionales. Estos procesos generan profundas transformaciones que
afectan a todos los niveles de la cultura de las poblaciones vinculadas a las zonas protegidas y propician
diversidad de respuestas locales (rechazo, adaptación, apoyo, conlictos relacionados con el control de
la gestión, exclusión, etc.).
Es precisamente la forma de adaptación de las poblaciones a las transformaciones del medio ecológico
y a las políticas conservacionistas impulsadas por agentes externos el asunto tratado de forma muy
sugerente por Escalera y Ruiz (2011). En las etnografías realizadas en dos comunidades de Ecuador
y Costa Rica veriican que las poblaciones no son pasivas, sino que desarrollan distintas capacidades
para sobreponerse, resistir o adaptarse a las crisis de los socio-ecosistemas. La diversidad empírica
muestra que esta capacidad o resiliencia es variable: a mayor resiliencia más fortaleza para adaptarse,
oponerse o reconducir los cambios, así como para conservar o transformar bajo el control local los
rasgos culturales y ecológicos propios; pero un nulo grado de resiliencia conllevara la pérdida absoluta
de inluencia local sobre el desarrollo. Este enfoque empírico les permite plantearse una cuestión muy
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Javier Hernández-Ramírez 319
alejada de antiguos debates apriorísticos propios de la teoría de la dependencia: “¿Puede el turismo ser
una estrategia resiliente?”.
El turismo concebido como un hecho social total, tanto de las sociedades emisoras como de aquellas
que reciben turistas, ha motivado una interesante relexión teórica que persigue crear marcos adecuados
para su interpretación o establecer valoraciones críticas sobre las repercusiones de la actividad.
En el primer sentido, los antropólogos coinciden en señalar que en la actualidad se carece de un
enfoque comprensivo y de metodologías que permitan integrar la diversidad empírica en marcos teóricos
capaces de establecer generalizaciones (Acuña, 2004; Francesch, 2004; Hernández-Ramírez, 2006). Con
el objetivo de alcanzar explicaciones o generalizaciones sobre el turismo y para superar un fenómeno que
se presenta “oscuro, borroso y escurridizo”, Francesch (2004) plantea la creación de un modelo teórico
que desarrolle una mayor capacidad heurística para lo que considera imprescindible la formulación
de conceptos precisos y bien deinidos. Se esfuerza el autor en enmarcar con precisión el fenómeno
contextualizándolo históricamente en la contemporaneidad, subrayando que no todo desplazamiento
es turístico, deiniendo al sector como un objeto bien delimitado y no un como un difuso agregado de
actividades y describiendo al turista como un viajero de ida y vuelta. Con su propuesta pretende superar
la confusión que genera una indeinición de los límites del fenómeno, sin negar su complejidad. Por
su parte, Ros (2010) sugiere que para el estudio del turismo como fenómeno de masas contemporáneo
la tradición de la antropología social aporta marcos muy pertinentes, resaltando conceptos como los
de cambio cultural, difusión y aculturación que se hacen operativos dentro de un enfoque diacrónico
o etnohistórico.
En esta labor de deinición del turismo como objeto de estudio, Nogués (2009) investiga la evolución
del conocimiento antropológico y establece tres momentos de desarrollo de la teoría: una primera etapa
crítica que aborda el estudio de los impactos; una segunda, más instrumental centrada en el desarrollo
económico y social, y una tercera que analiza cómo afectan al turismo las actuales transformaciones
glocales y la tendencia posmoderna a la desdiferenciación. A pesar de los avances, el autor aboga por la
consolidación del turismo como objeto de estudio antropológico. Este esfuerzo de teorización se aprecia
en otro trabajo (Nogués, 2011) en el que sitúa al turismo como “la creación más perfecta y soisticada del
capitalismo” que actúa como “un agente globalizador de primer orden” por cuanto incide en las políticas
públicas, comercializa hasta lo intangible (“esculpe los paisajes del deseo”) y produce signiicados sobre
la alteridad. Este último aspecto es tratado de forma muy sugerente por Daniel (2003) quien inscribe
al turismo dentro del fenómeno más general de la movilidad espacial que integra a las migraciones y el
turismo como el anverso y reverso de la misma moneda. Para la autora estos movimientos de población
generan relaciones interétnicas y son productores de sentido.
Siguiendo la tradición de autores clásicos como Boorstin (1961) o MacCannell (1976), otros antropólogos
se sitúan en una posición crítica con el fenómeno, el cual es interpretado como actividad alienante.
García (2000) deiende que la práctica turística es consustancial a la especie humana y puede rastrearse
en los albores de la humanidad (“mono andariego”), sin embargo, las formas y contenidos del viaje
han variado y se han degenerado a lo largo del tiempo. Hoy el turismo es para García una travesía
reiterativa en la que sólo se aspira a ver lo anticipado por la publicidad y los medios. De modo similar,
Rodríguez Regueira (2002) subraya que la práctica turística es, ante todo, una actividad consumista
y que el interés por la historia y la identidad del llamado turismo cultural es una icción que incide en
los destinos, los cuales son reinventados y teatralizados al servicio de la actividad.
La relexión teórica sobre el turismo se materializa en los estudios que tratan de caracterizar tanto
a visitantes como a residentes, así como a las relaciones establecidas entre ellos.
El turista como sujeto polimorfo, consumidor de placer, memoria, fantasía y paraísos es analizado a
través de sus motivaciones y prácticas. Calvo Varela (2009) observa cómo el turismo es un espejo de la
desigualdad y cómo las actividades que realizan los distintos sectores están cargadas de connotaciones
que marcan las distinciones sociales. La playa abierta como lugar compartido es el “laboratorio” donde
el autor aprecia estas diferencias. Por el contrario, Anta (2013) se acerca al avión como un espacio
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
320 El turismo como objeto de estudio. Análisis de la producción bibliográica de los antropólogos
privilegiado para observar la realidad social y como un medio de transporte que durante un tiempo
concreto iguala al heterogéneo sujeto que llamamos turista como un cuerpo disciplinado.
Otros autores se aproximan a sectores de consumidores especíicos. Lacaba (2004) atiende al fenómeno
del turismo gay, el cual ha adquirido en muy pocos años una espectacular visibilidad en algunos destinos.
El autor destaca la conversión de la localidad catalana de Sitges en un lugar mítico del turismo gay y
describe las prácticas recreativas, estéticas y de consumo de este colectivo durante el carnaval, la formación
de una iesta paralela y los conlictos por la ocupación del espacio público con la población autóctona.
Rodríguez Regueira (2000) relexiona sobre el turista que busca espectáculo en los parques temáticos
al que describe como un consumidor “vivencial”, “narcicista” y juguetón que persigue la diversión en
un escenario que sabe que ha sido “construido a su medida”, donde es espectador y actor desinhibido al
mismo tiempo. Por su parte, Martín de la Rosa (2003) y Cornejo (2011) se detienen en el turista que se
acerca al medio rural en busca de naturaleza y cultura. Cornejo lo caliica como “navegante nostálgico de
la aldea global” o “buscador de raíces” en un medio que ha sido mitiicado y presentado como atemporal,
pero advierte que el contraste entre la imagen proyectada y los lugares y personas que puede hallar puede
ser considerable. Mancinelli (2009) se centra en los turistas estudiantes norteamericanos que realizan
intensos periplos en viajes organizados por la Europa mediterránea para destacar el encapsulamiento
de la experiencia y la formación de una especie de unidad social en movimiento segregada de la realidad
visitada; una burbuja turística que proporciona seguridad ontológica al viajero. Esta investigación y la
de Anta (2013) contienen una propuesta metodológica muy sugerente, ya que el trabajo de campo no se
realiza en una unidad de observación deinida sino que se adopta una perspectiva móvil y multisituada,
pues el investigador se desplaza con el turista sujeto de estudio.
Las interacciones entre residentes y turistas constituyen un fértil campo de estudio. Para unos
autores la etnografía del contacto turístico interétnico permite profundizar en cuestiones teóricas. Por
ejemplo, Francesch (2011) analiza el concepto de autenticidad en su trabajo de campo sobre los masai
mara en contextos turísticos. Otros investigadores analizan los territorios de encuentro entre nativos y
visitantes. Nogués (2008) resalta la existencia de territorios hiperespecializados para el turismo en los
que los usos sociales están monopolizados por esta actividad, pero también la de espacios compartidos
donde se establecen negociaciones y surgen conlictos sobre los aprovechamientos, formas de apropiación
y signiicados simbólicos. Asimismo, el autor muestra cómo los contextos turísticos no son impermeables
sino dinámicos y están sujetos a una continua disputa y negociación donde entran en juego multiplicidad
de actores e instituciones por lo que la variabilidad empírica de situaciones posibles es muy diversa.
Por su parte, Jiménez y Prats (2006) reconstruyen la naturaleza de las relaciones entre visitantes y
visitados advirtiendo la existencia de “una creciente intolerancia cultural de los autóctonos respecto a
ciertos colectivos de turistas y sus hábitos” (2006: 160) en los escenarios de masiicación turística. Estos
turistas que despiertan el rechazo de residentes suponen además escasos beneicios económicos en la
mayoría de los destinos, porque “compran paquetes cerrados en origen a bajo precio, viajan en vuelos
chárter, se instalan en un mismo establecimiento y realizan un escaso consumo externo” (2006: 161).
Otros trabajos se centran en las transformaciones socioeconómicas derivadas de los contactos. Unos
autores señalan que estas interacciones favorecen la movilidad social de colectivos especíicos. Por ejemplo
la etnografía de Bayona (2013) sobre los efectos de la comercialización de productos textiles nativos
a turistas en los Altos de Chiapas resalta la transformación económica que produce en las sociedades
locales la mercantilización de las labores tradicionales, pero sobre todo las nuevas posiciones sociales que
alcanzan las mujeres en la sociedad local gracias a estos intercambios. En el mismo sentido, Sacchetti
(2009) analiza la dinámica social generada por las transacciones entre turistas y nativos en Cuba a
raíz de las medidas de reestructuración económica iniciadas en 1993 que impulsaron el surgimiento
de microempresas privadas. El trabajo ilustra el papel del turismo como un sector “refugio” en tiempos
de crisis, así como uno de los agentes de cambio sociocultural en un contexto en el que es cada vez más
difícil reproducir el sistema socialista. También subraya el carácter dinamizador de los intercambios
turísticos la etnografía realizada por De Juan (2010) entre los saharahuis refugiados en Argelia. En una
economía sometida a condiciones extremas es una alternativa interesante la venta de souvenir a familias
españolas que visitan los campamentos (Programa de Vacaciones en Paz), así como a los antropólogos,
sociólogos, cooperantes e historiadores interesados en su cultura. El caso ilustra además que el turismo
alcanza hoy una dimensión planetaria y que el atractivo de los destinos puede ser de lo más variado.
En un sentido contrario, algunas investigaciones se detienen en los efectos más negativos de las
relaciones turísticas. Es el caso del trabajo de Alcázar (2009 y 2010) que estudia también en Cuba el
turismo asociado a la prostitución como un fenómeno que (re) produce las desigualdades de género,
etnicidad, clase, nacionalidad, desde una perspectiva donde se articulan lo local y lo global. La autora
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Javier Hernández-Ramírez 321
analiza esta dimensión oculta de las relaciones nativo-visitante denominada localmente como “jinete-
rismo”, la cual consiste en el uso de la sexualidad como una estrategia de la economía informal para
conseguir bienes y/o privilegios (2010: 316).14
En deinitiva, el panorama que abren las investigaciones sobre tipos concretos de turistas, así
como de las interacciones con los nativos es muy amplio y prometedor. Supone la superación de una
visión estática que caliicaba tanto a visitantes como a nativos como categorías ijas, homogéneas e
inmutables por un enfoque más empírico en el que pueden hallarse multitud de motivaciones, prácticas
y tipos de contactos. Precisamente, por esta naturaleza relacional del turismo y las consecuencias que
genera, algunos autores proponen idear mecanismos que canalicen aquellas situaciones generadoras de
conlictos y malentendidos culturales hacia resultados más enriquecedores. Por ejemplo, Daniel (2003)
que asegura que el turismo produce aculturación y refuerza estereotipos negativos en ambos sentidos,
por lo que plantea como alternativa el etnodesarrollo y la promoción de un diálogo intercultural en el
que la antropología intervenga como instrumento de acercamiento y mediación.
La imagen proyectada de los destinos turísticos por parte de los responsables políticos, del marketing
turístico y de los medios de comunicación de masas constituye un tema tratado aún de forma incipiente,
pero con una interesante perspectiva de futuro. Sobre esta temática la antropología puede aportar una
mirada crítica y competente para estudiar el papel que desempeña la publicidad en la construcción y
difusión de una determinada imagen de los escenarios turísticos como elemento de diferenciación en un
mercado global muy competitivo (Díaz-Rodríguez, Santana-Talavera y Rodríguez-Darias, 2013). En este
sentido, los estudios revelan que el marketing unas veces se apropia de la representación universal de
los destinos, por su conocimiento y atractivo para los visitantes; otras la reelabora, edulcorando aquellos
aspectos más controvertidos, pero también genera nuevas imágenes sugestivas que se incorporan
añadiendo valores para ser consumidos (Hernández-Ramírez, 2013).
Las investigaciones sobre este tópico se ocupan de la defensa de propuestas metodológicas para el
análisis de folletos y Web turísticas (Díaz, Rodríguez y Santana, 2010; Díaz, Santana y Rodríguez,
2013); el estudio de la evolución histórica de la imagen proyectada, mediante el análisis de contenido y
semiótico de los anuncios (Hernández-Ramírez, 2013); el análisis de las administraciones en la deinición
de las marcas turísticas y el de las grandes operadoras en la comercialización (Jiménez y Prats, 2006)
y la investigación de los procesos sociales que intervienen en la selección de elementos de los destinos
para la determinación de su imagen (Palou, 2006). En su conjunto, los estudios muestran que la imagen
construida y proyectada de cada destino es un compendio abreviado que incluye y excluye componentes
de la realidad, lo que afecta a la mirada y la práctica turística, pero también a la auto-percepción de
los residentes.
A pesar de las todavía escasas contribuciones al estudio de la representación turística de los destinos,
las investigaciones realizadas hasta ahora abren nuevas vías para explorar el papel del turismo como
una de las actividades más determinantes en la producción de signiicados sobre la alteridad y en la
puesta en el mercado global de bienes intangibles simbólicos que motivan el desplazamiento de millones
de personas por todo el planeta para su consumo.
14. Conclusiones
En este trabajo se ha estudiado la evolución de la Antropología del Turismo en España desde sus
primeros balbuceos hasta la actualidad. Tras el diagnóstico de los trabajos pioneros y sus tímidos
desarrollos, se constata el crecimiento de la producción a partir del presente siglo. El análisis de
contenido cuantitativo de las publicaciones realizadas por antropólogos españoles en seis revistas
cientíicas de impacto según los índices bibliométricos permite determinar el volumen de la producción,
los principales temas de investigación y las unidades de observación seleccionadas. El análisis posterior
de los principales tópicos revela que son muy interesantes los resultados alcanzados hasta ahora, pero
también que es necesario impulsar la investigación para alcanzar tres tipos de retos entrelazados. En
primer lugar, profundizar en las temáticas abordadas; en segundo, explorar otras nuevas y, por último,
generar marcos teóricos explicativos capaces de encuadrar la pluralidad empírica hallada y establecer
generalizaciones.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
322 El turismo como objeto de estudio. Análisis de la producción bibliográica de los antropólogos
Bibliografía
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Javier Hernández-Ramírez 323
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
324 El turismo como objeto de estudio. Análisis de la producción bibliográica de los antropólogos
Derrida, Jacques
2006 La Hospitalidad. Buenos Aires: Ediciones de la Flor.
Díaz Iglesias, Sebastián
2004 “Jarramplas. Tiempo de iesta en Piornal. La construcción de identidades colectivas en torno al
ritual”. Gazeta de Antropología, 20, artículo 14.
Díaz Rodríguez, Pablo; Rodríguez Darias, Alberto J. y Santana, Agustín
2010 “El análisis de la imagen proyectada: una propuesta para la normalización de folletos y web
turísticas”. Pasos. Revista de turismo y patrimonio cultural, Vol. 8 (1): 211-218.
Díaz-Rodríguez, Pablo; Santana-Talavera, Agustín y Rodríguez-Darias, Alberto Jonay
2013 “Destination image, image at destination. Methodological aspects”. Pasos. Revista de turismo y
patrimonio cultural, Vol. 11 (3): 83-95.
Elías, Luis Vicente y Contreras, Margarita
2013 El paisaje del viñedo en las Islas Canarias. Tenerife: Colección Pasos edita, nº 11.
Escalera, Javier, Cáceres, Rafael y Díaz, Antonio L.
2013 “Las apariencias engañan”. Conservación, sociedad local y relaciones de poder: El caso de Caño
Negro (Costa Rica)”. AIBR. Revista de Antropología Iberoamericana. Vol. 8, nº 3: 369-394.
Escalera, Javier y Ruiz Ballesteros, Esteban
2011 “Resiliencia Socioecológica: aportaciones y retos desde la Antropología”. Revista de Antropología
Social, nº 20: 109-135.
Espeitx, Elena
2004 “Patrimonio alimentario y turismo: una relación singular”. Pasos. Revista de turismo y patrimonio
cultural, Vol. 2 (2): 193-213.
Espinar, Antonio Luis y López Osorio, José Manuel
2000 “Transformaciones recientes en la arquitectura, el urbanismo y el paisaje en la comarca de la
Alpujarra”. Gazeta de Antropología, 16, artículo 23.
Fernández de Paz, Esther
2006 “De tesoro ilustrado a recurso turístico: el cambiante signiicado del patrimonio cultural”. Pasos.
Revista de turismo y patrimonio cultural, Vol. 4 (1): 1-12.
Fernández Juárez, Gerardo
2013 “El “Tío” está sordo: Los mineros bolivianos y el Patrimonio Cultural Inmaterial”. AIBR. Revista
de Antropología Iberoamericana. Vol. 8, nº 3: 303-322.
Francesch, Alfredo
2004 “Los conceptos del turismo. Una revisión y una respuesta”. Gazeta de Antropología, 20, artículo 29.
2011 “Una tarde con los auténticos maasai mara. Turismo, autenticidad y de cómo eludir un pozo sin
fondo”. Pasos. Revista de turismo y patrimonio cultural, Vol. 9 (2): 237-248.
Frigolé, Joan
1980 “El problema de la delimitació d l´objecte d´investigació i anàlisi en antropologia. Critiqua d´alguns
models emprats per a l´estudi de la Península Ibèrica” Quaderns de l´ICA, 2:163-182.
2012 “Cosmologías, patrimonialización y eco-símbolos en el Pirineo catalán en un contexto global”.
Revista de Antropología Social, nº 21: 173-196.
Galán, J. J., Martín, A., Ruiz, J. y Mandly, Antonio
1977 Costa del Sol. Retrato de unos colonizados. Madrid: Campo Abierto Ediciones.
Galván, José Alberto, González, Nicolás, Moore, Kenneth y Hernández, Ramón
2004 Sol de invierno. Homenaje de Arona al Turismo Sueco. Tenerife: Llanoazur ediciones.
García, Francisco F.
2000 “El turismo forzoso. Las cárceles de la libertad”. Gazeta de Antropología, 16, artículo 1.
García García, José Luis
2013 “La utilización, reutilización y patrimonialización de la cultura en los procesos de intervención
social”. Revista de Antropología Social, nº 22: 155-175.
Gascón, Jordi
2013 “The limitations of community-based tourism as an instrument of development cooperation: the
value of the Social Vocation of the Territory concept”. Journal of Sustainable Tourism. Vol. 21, No.
5: 716-731.
Gascón, Jordi, Morales, Soledad y Tresserras, Jordi (Ed).
2013 Cooperación en turismo. Nuevos desafíos, nuevos debates. Barcelona: Foro Turismo Responsable.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Javier Hernández-Ramírez 325
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
326 El turismo como objeto de estudio. Análisis de la producción bibliográica de los antropólogos
Lagunas, David
2010 “El poder del dinero y el poder del sexo. Antropología del turismo sexual”. Periles Latinoamericanos,
36: 71-98.
López Moreno, Ignacio y Aguilar, Encarnación
2013 “La nueva economía rural europea. Especialización territorial de calidad en la isla de Texel y la
Sierra de Cádiz”. Gazeta de Antropología, 29 (2), artículo 04.
López Santillán, Ángeles y Marín Guardado, Gustavo
2010 “Turismo, capitalismo y producción de lo exótico. Una perspectiva crítica para el estudio de la
mercantilización del espacio y la cultura”. Relaciones, Vol. XXXI, No. 123: 219-258.
MacCannell, Dean
1976 The tourist: a new theory of the leisure class. London: Macmillan
Majó, Joaquim (Coord.)
2004 Título de Grado en Turismo. Madrid: Agencia Nacional de Evaluación de la Calidad y Acreditación.
Mancinelli, Fabiola
2009 “More pins on the map. Las prácticas y los discursos de los turistas americanos de viaje por la
Europa mediterránea”. Pasos. Revista de turismo y patrimonio cultural, Vol. 7 (1): 13-27.
Marcos Arévalo, Javier
2009 “Los carnavales como bienes intangibles. Espacio y tiempo para el ritual”. Gazeta de Antropología,
25 (2), artículo 49.
2010 “El patrimonio como representación colectiva. La intangibilidad de los bienes culturales”. Gazeta
de Antropología, 26 (1), artículo 19.
Martín de la Rosa, Beatriz
2003 “Turismo y gestión cultural en las Islas Canarias: apuntes para una relexión”. Pasos. Revista de
turismo y patrimonio cultural, Vol. 1 (1): 105-110.
2003 “Nuevos turistas en busca de un nuevo producto: el patrimonio cultural”. Pasos. Revista de turismo
y patrimonio cultural, Vol.1 (2): 155-160.
2009 Turismo en ecosistemas insulares. Antropología en el paraíso. Tenerife: PASOS edita, nº 3.
Medina, F. Xavier y Sánchez, Ricardo
2005 “Actividad físico-deportiva, turismo y desarrollo local en España”. Pasos. Revista de turismo y
patrimonio cultural, Vol. 3 (1): 97-107.
Medina, Javier y Tresserras, Jordi
2008 “Turismo enológico y rutas del vino en Cataluña”. Análisis de casos: D.O. Penedès, D.O. Priorat y
D.O. Montsant”. Pasos. Revista de turismo y patrimonio cultural, Vol. 6 (3): 493-509.
Meethan, Kevin
2001 Tourism in Global Society. Place, culture, consumption. New York: Palgrave.
Merinero Rodríguez, Rafael
2009 “Las redes de actores como elementos claves del desarrollo local. Aportaciones desde la sociología
y antropología del desarrollo”. Gazeta de Antropología, 25 (2), artículo 34.
Merinero, Rafael y Zamora, Elías
2009 “La colaboración entre los actores turísticos en ciudades patrimoniales. Relexiones para el análisis
del desarrollo turístico”. Pasos. Revista de turismo y patrimonio cultural, Vol. 7 (2): 219-238.
Miquel Novajra, Alejandro
1989 “El canvi sorgit arran de l´aparició del turismo. Problems d´identitat a Mallorca”. El Mirall.
Revista de l´Obra Cultural balear.
Moore, Kenneth
1978 [1970] “Modernización en una aldea de las Islas Canarias”. En Douglass, William A. y Aceves,
Joseph B. Los aspectos cambiantes de la España rural (pp. 117-136). Barcelona: Barral.
Moreno, Sergio y Picazo, Patricia
2012 “Difusión de la investigación cientíica en revistas de turismo realizada por instituciones españolas”.
Revista de Análisis Turístico, nº 14: 33-52.
Nash, Denisson
1992 [1977] “El turismo considerado como una forma de imperialismo”. En Smith, Valene L. (ed.)
Anitriones e invitados. Antropología del turismo (pp. 69-91). Madrid: Endymion.
1981 “Tourism as an anthropological subject”. Current Anthropology, 22 (5): 461-481
Nieto Piñeroba, José Antonio
1975 “Turismo: ¿Democracia o imperialismo?”. Revista de estudios sociales.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Javier Hernández-Ramírez 327
1977 “Implicaciones socioeconómicas, ecológicas y culturales del turismo. Su impacto en una pequeña
comunidad”. Cuadernos de realidades sociales, pp. 67-80.
1977 “Turistas y nativos: el caso de Formentera”. Revista española de la opinión pública, 47: 147-165.
Nogués Pedregal, Antonio Miguel
2006 “Ruralismo y tecnotropismo: turismo y desarrollo en la Bonaigua”. Pasos. Revista de turismo y
patrimonio cultural, Vol. 4 (1): 53-68.
2008 “Poder político y urbanismo en entornos turísticos. La mediación del espacio turístico en la
producción de signiicados”. Gazeta de Antropología, 24 (2), artículo 26.
2009 “Genealogía de la difícil relación entre antropología social y turismo”. Pasos. Revista de turismo
y patrimonio cultural, Vol. 7 (1): 43-56.
2012 “El Cronotopo del Turismo: Espacios y Ritmos”. Revista de Antropología Social, nº 21: 147-171.
Núñez, Theron
1963 “Tourism, tradition, and acculturation: Weekendismo in a Mexican village” Ethnology 2 (3): 347-52.
Oliver-Smith, A, Jurdao, F y Lisón Acal, J.
1989 “Tourist development and the struggle for local resource control”. Human Organization, 48 (4):
345-352.
Palau Rubio, Saida
2006 “La ciudad ingida. Representaciones y memorias de la Barcelona turística”. Pasos. Revista de
turismo y patrimonio cultural, Vol. 4 (1): 13-28.
Pascual, José J.
2003 “Del “mar es de todos” al mar reservado: turistas, poblaciones de pescadores y reservas marinas
en Canarias”. Pasos. Revista de turismo y patrimonio cultural, Vol. 1 (3): 65-78.
Pastor, María José
2003 “Turismo, cultura y medio ambiente”. Pasos. Revista de turismo y patrimonio cultural, Vol. 1 (2):
145-153.
2012 “Turismo y cambio en el entorno de los lacandones. Chiapas, México”. Pasos. Revista de turismo
y patrimonio cultural, Vol. 10 (1): 99-107.
Pereiro, Xerardo
2009 Turismo cultural. Uma visao antropológica. Tenerife: Colección Pasos edita, nº 2.
2013 “Los efectos del turismo en las culturas indígenas de América Latina”. Revista Española de
Antropología Americana, Vol. 43, No. 1: 155-174.
Pereiro, Xerardo y Pedro Conde, Santiago
2005 “Turismo e oferta gastronómica na comarca de Ulloa (Galiza). Análise de una experiência de
desenvolvimento local”. Pasos. Revista de turismo y patrimonio cultural, Vol. 3 (1): 109-123.
Pi-Sunyer, Oriol
1973 “Tourism and its discontents: the impact of a new industry on a Catalan community”. Studies in
European Society 1: 1-20
1977 “Cómo vemos a los turistas”. En Flores, J. (ed.) Curso de la antropología del turismo (pp. 21-36).
Cuzco: Universidad Nacional de Cuzco. (Reeditado en Torres, V., Araujo y Edward Pierre, 2013,
Antropología del turismo. La industria sin chimeneas. Cuzco. Perú).
1992 [1977] “Percepciones cambiantes del turismo y de los turistas en un centro turístico catalán”.
En Smith, Valene L. (ed.) Anitriones e invitados. Antropología del turismo (pp. 281-300). Madrid:
Endymion.
1979 “The politics of tourism in Catalonia”. Mediterranean Studies 1 (2): 47-69.
1981 “Tourism and Anthropology”. Annals of Tourism Research, 8 (2): 271-284.
1982 “The cultural cost of tourism”. Cultural Survival Quartely 6 (3): 7-10.
1996 “Tourism in Catalonia”. En Barke, M y Newton, M. T. (eds.) Tourism in Spain: Critical Issues (pp.
231-264). Oxford: CAB International.
Pitt-Rivers, Julian
1954 The people of the Sierra. Chicago: University of Chicago Press.
1968 “The Stranger, the Guest and the Hostile Host: Introduction to the Study of the Laws of Hospi-
tality”. En Peristany, J. G. (Ed.) Contributions to Mediterranean Sociology (pp. 13-30). Paris and
the Hague: Mouton.
Prat, Joan
1991 “Relexiones sobre los nuevos objetos de estudio en la antropología social española”. Cátedra, María
(ed.) Los españoles vistos por los antropólogos (pp. 45-68). Barcelona: Júcar.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
328 El turismo como objeto de estudio. Análisis de la producción bibliográica de los antropólogos
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Javier Hernández-Ramírez 329
Tesis doctorales
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
330 El turismo como objeto de estudio. Análisis de la producción bibliográica de los antropólogos
Notes
1
Este artículo ha sido realizado en el marco del Proyecto de Investigación de Excelencia: “La Gestión
Pública del Patrimonio Etnológico” (HUM-7377), inanciado por la Consejería de Innovación, Ciencia
y Empresa de la Junta de Andalucía.
2
Deseo expresar mi agradecimiento a Ana Surian Ruiz, bibliotecaria de la Facultad de Turismo de la
Universidad de Sevilla que asesoró en la selección de las revistas estudiadas; a Alejandro Hernández
Ramírez, periodista que apoyó en las labores de documentación y a Sandra Poblet López, antropóloga
que colaboró en el diseño y discutió los contenidos del trabajo.
3
El tema fue analizado tempranamente por el propio Franz Boas (1887) y más recientemente por
autores contemporáneos como Jacques Derrida, (2006) y en el plano turístico por Aramberri (2001),
Tucker (2001) y Zarkia (2011).
4
Hijo del político catalán Carles Pi i Sunyer exiliado tras la guerra civil, Oriol Pi i Sunyer se formó en
la Universidad de Londres y en la Escuela Nacional de Antropología e Historia (ENAH) de México
D.F. Doctor en ciencias sociales por la Universidad de Harvard desarrolla su actividad en Amherst
(Massachussets) donde tomó contacto con la primera generación norteamericana de antropólogos del
turismo, participando en la reputada obra publicada en 1977 y coordinada por Valene Smith bajo el
título Anfitriones e Invitados. Antropología del Turismo.
5
El historiador Thomas Glick, que colaboró con Pi i Sunyer en 1968, subraya la inluencia de Kroeber y
del difusionismo en la obra de este antropólogo catalán: “Pi-Sunyer insistía en que las culturas eran,
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Javier Hernández-Ramírez 331
y habían de ser, entidades siempre en lujo, sujetas a cambios sociales desde adentro y bombardeadas
desde el exterior por elementos procedentes de culturas ajenas que se asimilaban según criterios
de selectividad que era preciso identiicar” (2004). Obviamente, este enfoque dinámico contribuyó a
modelar una particular mirada sobre el fenómeno turístico en sus posteriores estudios.
6
Otro trabajo pionero sobre el turismo en España, pero de menor trascendencia fue el realizado en
1970 en las Islas Canarias por el antropólogo norteamericano Kenneth Moore. Esta obra ha sido
analizada, revisada y completada en 2004 por Galván, el propio Moore y otros autores.
7
Acompaña al texto un conjunto de viñetas dibujadas por el humorista gráico Martínmorales que
expresan con agudeza y lucidez extraordinarias el enfoque crítico de la teoría de la dependencia.
8
Este autor defendió en 1976 la que probablemente fue la primera tesis doctoral de Antropología del
Turismo realizada por un español con el trabajo titulado: Tourism: its penetration and development
on a Spanish island. New School for Social Research. Nueva York.
9
La primera regulación legal de la formación profesional turística se desarrolla en España en 1963
(Decreto de 7 de septiembre de 1963) creándose la titulación de Técnico de Empresas Turísticas
(TET), reformada en 1980 con la creación del Plan de Estudios de Técnico en Empresas y Actividades
Turísticas (TEAT), equivalente a un Diplomado universitario (Real Decreto 865/80). Esta titulación
era impartida por la Escuela Oicial de Turismo (EOT) con sede en Madrid, que contaba con una red
de centros adscritos repartida por todo el Estado. A partir de 1989, con la descentralización autonó-
mica, se fundaron por todo el territorio nacional Escuelas Oiciales de Turismo dependientes de las
distintas Comunidades Autónomas. En poco tiempo el número de centros se multiplicó pasando de
los 37 existentes en 1989 a más de setenta en 1997, que sumaron la cifra nada despreciable de 22.405
alumnos matriculados en el curso 1996/97 (Majó, 2004). En 1996 se produjo la inclusión deinitiva
de los estudios superiores de turismo al ámbito universitario creándose la titulación de Diplomado
en Turismo (Real Decreto 259/1996). En la actualidad (Ley Orgánica 4/2007) se ha consolidado
plenamente este proceso gracias al establecimiento de tres ciclos en la enseñanza universitaria en
Turismo: Grado, Máster y Doctorado (Ceballos, et al, 2010).
10
Último año en que se actualizó el producto por el grupo de investigación: “Evaluación de la Ciencia
y de la Comunicación Cientíica (EC³)”.
11
Es interesante señalar que en la actualidad ninguna revista en español especializada en Turismo
igura en el JCR ni en SJR.
12
La antigüedad de las revistas seleccionadas es variable: Annals of Tourism Research se publica
desde 1973 mientras que Journal of Sustainable Tourism desde 1993. De las escritas en español,
Gazeta de Antropología es la más veterana, pues comienza su andadura en 1982; le sigue la Revista
de Antropología Social, que publica desde 1991; AIBR a partir de 2000; siendo la más joven Pasos,
que lo hace desde 2003.
13
En el JCR la revista AIBR ocupa el puesto 75 de 83 publicaciones con un factor de impacto de 0.111
que la sitúa en la categoría cuartil Q4. AIBR se inicia en septiembre de 2000. Sin embargo, en la
presente investigación sólo se ha contabilizado y analizado la producción de la nueva etapa que se
inicia en enero de 2006 y continúa hasta la actualidad, ya que a partir de esta fase la revista adquiere
un estilo más académico, difundiendo artículos antropológicos y reseñas de investigaciones.
14
Este asunto es bastante marginal en la antropología del turismo española. Por su interés destaca
también el estudio de Lagunas (2010).
Recibido: 28/07/2014
Reenviado: 10/11/2014
Aceptado: 03/12/2014
Sometido a evaluación por pares anónimos
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
¿El turismo es cosa de pobres?
Patrimonio cultural, pueblos indígenas
y nuevas formas de turismo en
América Latina
Raúl H. Asenssio
Beatriiz Pérez Gallán
(Eds.)
www.pasosonline.org
Filipa Fernandes**
Universidade de Lisboa (Portugal)
Resumo: o presente artigo aborda as convergências, sinergias e as divergências entre a antropologia e o turismo
no espaço português. Tem por objetivo analisar a turistiicação da antropologia (as adaptações metodológicas e
epistemológicas ao objeto de estudo por parte da disciplina) em Portugal e uma certa antropologização do turismo.
Enquadrado na história da antropologia portuguesa, o artigo parte da análise da obra dos antropólogos que con-
struíram uma certa genealogia da antropologia do turismo em Portugal: nascimento, desenvolvimento, presente e
rumos atuais que apontam a um futuro com maior atenção à atividade turística. As conclusões apontam para uma
normalização da antropologia do turismo no contexto académico português e também para uma antropologização
maior do campo dos estudos turísticos nos níveis do ensino e a investigação.
Palavras-chave: Antropologia, Turismo, turistiicação, Portugal
Anthropology and tourism: the Rails, actors and spaces on the genealogy of turistificação of an-
thropology in Portugal
Abstract: this article discusses the similarities, differences and synergies between anthropology and tourism
in Portuguese space. The aim is to analyze the touristiication of anthropology in Portugal (the methodological
and epistemological to the object of study by the discipline adaptations), and a certain anthropologization of
tourism. Framed in the history of Portuguese anthropology, the paper starts with the analysis of the work of
anthropologists who built a certain genealogy of anthropology of tourism in Portugal: birth, development, pres-
ent and current directions pointing to a future with more attention to tourism. The indings point to a normal-
ization of the anthropology of tourism in Portuguese academic context and also to greater anthropologization
of the ield of tourism studies in the levels of teaching and research.
Keywords: Anthropology, Tourism, Touristiication, Portugal
1. Introdução
*
Doutor em antropologia pala Universidade de Santiago de Compostela e doutor em turismo pela Universidade de La Laguna,
professor auxiliar com agregação na UTAD e investigador efetivo do CETRAD (Centro de Estudos Transdisciplinares
para o Desenvolvimento). E-mail: [email protected]
**
Doutora em Turismo pela Universidade de Évora. Professora Auxiliar no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas
– Universidade de Lisboa. Investigadora do CAPP) (Centro de Administração e Políticas Públicas. E-mail: ffernandes@
iscsp.ulisboa.pt, [email protected]
PT: “Este trabalho é inanciado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito
do projeto UID/SOC/04011/2013”.
EN: “This work is supported by national funds provided by the FCT - the Portuguese Foundation for Science and Technology,
through its project UID/SOC/04011/2013”.
com o turismo e das mais inovadoras na investigação turística (Pinto e Pereiro, 2010). Pretende-se, neste
texto, analisar as convergências, as sinergias e as divergências entre antropologia e turismo, evidenciando
os papéis e os trabalhos dos antropólogos do turismo portugueses e dos antropólogos não portugueses
que investigaram em ou sobre Portugal. Se antes se veriicava uma relação distante e desconiada entre
antropologia e turismo, hoje em dia, os antropólogos participam cada vez mais numa antropologia do
turismo enquanto o mesmo objeto de estudo impregna, em termos gerais, a própria disciplina antropológica.
Tal é assim, que é estranho encontrar um território não afetado, duma ou doutra forma pelo sistema
turístico, ou os múltiplos problemas abordados interferidos por variáveis que implicam o consumo e o
movimento ocioso das pessoas. Se a antropologia começou por ser crítica com o turismo, hoje encontra-
-se implicada e aplicada em minorar os efeitos indesejados provocados pelos desenvolvimentos e pela
implantação de produtos turísticos, existindo já uma inserção da antropologia do turismo na mercadologia
turística (análise e intervenção nos mercados turísticos). Desta forma, o turismo inspira e desaia a
antropologia, do mesmo modo que turistiica os seus objetos.
O objetivo deste texto é analisar, do ponto de vista teórico, a turistiicação da antropologia (as
adaptações metodológicas e epistemológicas ao objeto de estudo por parte da disciplina) em Portugal.
A metodologia adotada para a construção deste texto foi a análise de conteúdo das obras de: a) os
antropólogos, portugueses ou não, que trabalharam sobre turismo em Portugal; b) os antropólogos
portugueses que trabalharam sobre turismo noutros lugares fora de Portugal. Será também dada
atenção à biograia intelectual, as linhas teóricas, métodos, técnicas e práticas proissionais destes
antropólogos, com o intuito de construir uma certa “genealogia”.
O presente artigo divide-se em quatro partes. A primeira parte apresentará uma sumária contextu-
alização histórica da antropologia portuguesa. Na segunda parte expõem-se os autores e os objetos da
génese da antropologia do turismo em Portugal. Os autores e as linhas orientadoras da ‘normalização’
do turismo como objeto antropológico em Portugal constituem a matéria da terceira parte deste artigo.
Na quarta e última parte apresentam-se os rumos da antropologia do turismo em contexto nacional.
De acordo com João Pina Cabral (1986: 12; 1991: 15-36), a antropologia portuguesa divide-se em cinco
fases: 1) a fase de interesse pelos costumes populares; 2) a época dos românticos; 3) a “belle époque”; 4) a época
do pós-guerra; 5) o pós-25 de abril de 1974. A primeira fase coincide com a subida ao poder da burguesia, na
primeira metade do século XIX, e o estudo dos “costumes populares” foi considerado uma questão de interesse
fundamental para a construção da nação portuguesa. O discurso político cientíico dominante associava a
“cultura popular” com autenticidade, tipicidade, primitividade, longa existência e povo, quem representaria a
identidade nacional, sendo a cultura burguesa a da não autenticidade. Esta ideia da etnograia ao serviço da
construção de uma identidade nacional perduraria até à primeira metade do século XX (cf. Llaneza Fandón,
1999; Sobral, 2012) e representaria uma antropologia autocentrada em palavras de João Leal (2000: 16).
Numa segunda fase, iniciada em 1820, autores românticos como Almeida Garret ou Alexandre
Herculano, fascinados pelas antiguidades e os vestígios do passado recolheram contos e canções populares
numa tentativa de deinição da nova nacionalidade portuguesa. Os modelos teóricos dominantes na altura
eram os do difusionismo e o evolucionismo (Castro Seixas, 2000) e o objetivo implícito era demostrar que
Portugal constituía-se por um povo lusitano e celta. Na terceira fase, delimitada por Pina Cabral (1991)
entre 1871 e 1920, e à qual denominou “belle époque”, foi criada a República e tem como representantes
a Oliveira Martins, Adolfo Coelho, Teóilo Braga, Rocha Peixoto e Leite de Vasconcelos, entre outros.
Esta foi uma época de grande criatividade cientíica e de inluência internacional do evolucionismo.
Numa quarta fase, o regime ditatorial instituiu o estudo das colónias, com o objectivo de elaborar mapas
etnológicos. Isto foi bem deinido no Primeiro Congresso Nacional de Antropologia Colonial que se celebrou no
Porto em 1934. Um dos seus autores foi Mendes Correa quem utilizou e promoveu os métodos antropométricos
de campo. Foram enviadas missões para todas as colónias portuguesas, nomeadamente para África. Entre os
impulsores destas missões destaca-se Joaquim do Santos Júnior (Pereira, 1988). Esta antropologia representava
as tendências mais conservadoras das ideologias coloniais do regime do Estado Novo. A partir de inais de
1950 produz-se uma nova antropologia colonial, protagonizada por Jorge Dias, que se distancia cada vez mais
e aos poucos, do grupo de Mendes Correa (Porto) e que vira as suas investigações para o Portugal continental
e as problemáticas da ruralidade como substrato da nacionalidade portuguesa (Leal, 2000).
Na quinta fase situada no pós 25 de abril de 1974, a antropologia portuguesa torna-se mais cosmopolita,
mais europeia, mais urbana e mais transnacional. Um autor e uma obra inauguram a antropologia
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Xerardo Pereiro, Filipa Fernandes 335
Portugal não foge à tendência internacional de menosprezo do turismo como objeto de investigação
antropológica, nem tampouco à mudança dessa tendência a partir dos meados da década de 1990.
Nessa época alguns antropólogos começam a dar atenção ao turismo e aos turistas, resultado da sua
companhia em terrenos que eles tinham estudado previamente mediante outros enfoques e focados
noutros problemas socioculturais. Este interesse contribuiu para objetivar e representar o encontro
intercultural.
Nesta secção apresentar-se-á de forma breve um pequeno inventário de autores com o objetivo de
apresentar uma genealogia da antropologia do turismo em Portugal, enquanto objeto mais central da
investigação antropológica.
A antropologia do turismo sobre Portugal nasce por iniciativa de um antropólogo estado-unidense,
Eugene L. Mendonsa (1982), antropólogo formado em Cambridge (Reino Unido) que foi professor na
UCLA, e que nos inais dos anos 1970 fez trabalho de campo em Portugal. Hoje retirado (cf. http://
eugenelmendonsa.tripod.com/ ), ele foi dos primeiros a focar o turismo português como fenómeno social e
cultural. Com um trabalho de campo durante cinco meses entre 1979 e 1980, sobre os efeitos do turismo
na vila piscatória da Nazaré, este autor analisa o turismo como mecanismo de estratiicação social e
motor de impactos sobre as comunidades recetoras. Na sua visão, o turismo apresenta ponderadamente
aspetos positivos e negativos para os recetores de turistas. Segundo ele, o turismo acentua a integração
de Portugal na economia mundial, contribui para a modernização mas também para o acréscimo das
desigualdades sociais devido a que as comunidades recetoras, como a Nazaré, já apresentavam uma
estrutura social desigual de base que o turismo contribui a acentuar.
Um dos primeiros antropólogos portugueses a fazer do turismo um objeto central de investigação
foi José da Cunha Barros (cf. Cunha Barros, 2002), professor do Instituto Superior de Ciências Sociais
e Políticas (Universidade Técnica de Lisboa), quem iniciou nos inais de 1992 uma tese doutoral sobre
os efeitos do turismo na região do centro litoral português. Privilegiou um estudo de caso acerca do
turismo termal e as termas da Curia, no qual a ênfase é dada aos efeitos do turismo nos recetores. Este
autor não descura o uso de uma antropologia histórica para contextualizar as práticas e representações
do turismo enquanto campo de interação social. E outra inovação foi a introdução de novas técnicas
procedentes da sociologia e da geograia do turismo como os inquéritos por questionário.
Carla Sousa, antropóloga da Universidade do Algarve é uma das antropólogas portuguesas que mais
tem trabalhado sobre turismo e que se centrou no estudo do turismo já desde os meados da década de
1990 (cf. Sousa, 1996; 2003). Estuda a relação entre folclore e turismo no Algarve, na medida em que
o turismo, enquanto encontro com a alteridade, representa um mecanismo de reinvenção de tradições.
Nessa tensão entre turismo, cultura e património cultural que ela aborda, o turismo procura experiências
“verdadeiras” diz-nos Carla Sousa (2003: 570) e diferentes agentes sociais produzem representações da
etnicidade para consumo turístico como as que ela analisa no Algarve.
Outro dos primeiros antropólogos portugueses a abordar o turismo foi Pedro Prista, que num trabalho
publicado em 1998 (Prista, 1998) se aproxima da turistiicação dos espaços rurais portugueses e a
idealização turística deles. Questionando-se sobre o grande poder do turismo como indústria global e
desde uma perspetiva diferente aos anteriores autores, alerta sobre os efeitos negativos da atividade
turística e os seus riscos. Para além disto, critica o turismo rural e as suas transformações, enquadradas
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
336 Antropologia e turismo: dos trilhos, atores e espaços à genealogia da turistiicação
na nova dominação urbana sobre o rural, que esvazia o campo de habitantes e contribui a levar estes
para os subúrbios das cidades.
Incontornável neste quadro de primeiros autores da antropologia do turismo em Portugal destaca-se
Francisco Martins Ramos, catedrático emérito de antropologia da Universidade de Évora. Francisco
Ramos, além de promover a investigação, foi impulsionador da licenciatura, o mestrado e o doutoramento
em turismo da Universidade de Évora. Foi também dos primeiros a focar o turismo como um objeto de
investigação antropológica importante, algo que já fez na sua tese doutoral concluída em 1992 (Ramos,
1997). Foi ele também um dos primeiros a lecionar antropologia do turismo numa licenciatura em turismo
em Portugal e a orientar teses doutorais sobre antropologia do turismo. Este antropólogo desenvolveu
e desenvolve uma intensa atividade de dinamização do campo do turismo (2008, 2010, 2011, 2013),
sendo membro fundador da Associação Internacional de Turismo Rural “Via Mediterrânea” e criador
da licenciatura em turismo, gestão hoteleira e animação da Universidade Metodista de Angola.
Sintetizando, nas suas origens a antropologia do turismo em Portugal focalizava-se nas problemáticas
dos impactos, nos encontros entre turistas e recetores, e na relação do turismo com os processos de
patrimonialização. Isto é algo que não foge ao panorama internacional da antropologia do turismo (cf.
Smith, 1989; Santana, 1997; Burns, 1999; Santana, 2009; Pereiro, 2009).
Nesta seção, sem pretender compor um catálogo exaustivo dos antropólogos que trabalharam ou
trabalham sobre turismo em Portugal, serão apresentados os autores que mais contribuíram para
o que denominamos “normalização” do turismo como objeto de estudo antropológico em Portugal, e
algumas linhas de força orientadoras ou balizadoras desse processo. Em geral podemos airmar que
este processo foi protagonizado inicialmente por académicos e universitários e não por antropólogos no
mercado turístico como aconteceu noutros contextos de aplicação da antropologia.
Uma das antropólogas que mais tem contribuído para essa normalização do objeto tem sido Maria
Cardeira da Silva, professora da Universidade Nova de Lisboa. A autora tem uma vasta obra sobre a
problemática relação entre turismo, patrimónios culturais e identidades (cf. Cardeira da Silva, 2006; 2010;
2013). Tendo feito trabalho de campo em Marrocos e Mauritânia, contribuiu também para a formação
especializada em antropologia do turismo (mestrado em antropologia do turismo). Não podemos descurar
na sua trajetória a organização de simpósios, encontros e publicações sobre antropologia do turismo em
Portugal como, por exemplo, o simpósio “Turismo, mobilidades e consumo de lugares”, enquadrado no
congresso da APA (Associação Portuguesa de Antropologia) em 1999 e intitulado “Novos Terrenos da
Antropologia” (cf. Cardeira da Silva, 2004). Além mais, numa dupla direção, tem realizado uma intensa
divulgação em Portugal da antropologia do turismo e, também, tem divulgado muito internacionalmente
o trabalho dos antropólogos portugueses que trabalham sobre turismo. Em palavras desta autora, a
antropologia não deve demitir-se do turismo:
“Estou apelando à antropologia para aproveitar as características propícias dos terrenos que o turismo
lhe oferece para airmar as suas competências, a sua argúcia treinada ao longo de uma extensa história
de práticas e metodologias incorporadas pelos antropólogos, agora já suicientemente objetivadas. Faço-o
não por corporativismo mas porque acredito que a interdisciplinaridade, e mesmo a transdisciplinaridade,
se baseia no pressuposto da contribuição de várias disciplinas e, portanto, obriga ao zelo pela manutenção
das competências de cada uma” (Cardeira da Silva, 2004: 7-8).
Para além das modas académicas internacionais, Maria Cardeira da Silva propõe ir mais além da
exotização das mobilidades turísticas para centrar-se no que ela chama de lugares turísticos, cronotopos
de encontros turísticos que representariam um palco para a análise antropológica. Face ao processo de
politização e mercantilização da cultura, no qual intervém o turismo, ela propõe uma reterritorialização
da cultura e da antropologia como caminho para avançar no conhecimento antropológico do turismo.
Os lugares turísticos podem tornar-se assim em laboratórios de conhecimento antropológico, indo mais
além da criação de um subcampo teórico da antropologia.
Luís Silva, investigador do CRIA (Centro em Rede de Investigação em Antropologia) é um dos
antropólogos mais profícuos no campo do turismo a partir de meados da primeira década do século
XXI, especialmente no subcampo do turismo em espaço rural e no turismo de natureza. Doutorado em
antropologia no ISCTE em 2007, com uma tese doutoral sobre turismo rural em Portugal orientada por
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Xerardo Pereiro, Filipa Fernandes 337
João Leal, Luís Silva revolucionou as perspetivas do turismo em Portugal, para questionar os discursos
megalómanos sobre a importância do seu desenvolvimento e os seus efeitos sobre o desenvolvimento
rural. Desde uma perspetiva de alerta, as suas publicações (2006, 2007a, 2007b, 2007c, 2009a, 2009b,
2011, 2013a, 2013b) internacionalizam em grande medida a antropologia do turismo feita em Portugal,
abordando assuntos como os efeitos do turismo nos espaços rurais, as motivações e práticas dos turistas
rurais, as perceções nativas dos efeitos turísticos ou os conlitos dos processos de patrimonialização
ao serviço do turismo. Em 2009 coordenou com Agustín Santana e Xerardo Pereiro um simpósio sobre
antropologia do turismo no IV Congresso da Associação Portuguesa de Antropologia.
Xerardo Pereiro trabalha na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) desde 1998 e é
membro do CETRAD (Centro de Estudos Transdisciplinares para o Desenvolvimento) e do CEDTUR
(ISMAI), lecionando antropologia do turismo no curso de turismo da UTAD. Ele chegou ao estudo do
turismo a partir dos processos de patrimonialização da cultura e consumo turístico dos museus em Alhariz
-Galiza- (Pereiro e Vilar, 2008), tendo como foco de atenção as problemáticas relações entre turismo,
cultura e identiicações (Pereiro, 2006; Richards e Pereiro, 2007; Pereiro, 2009b). Tem-se debruçado sobre
a construção de imagens turísticas do outro entre Portugal e Espanha (Pereiro, 2005; Pereiro, 2009a;
Pereiro, 2012b). Junto com o também antropólogo Cebaldo de León (CETRAD) tem desenvolvido desde
2003 um projeto de investigação longitudinal sobre o turismo indígena guna, um modelo de turismo
autocontrolado pelos indígenas gunas da República do Panamá (Pereiro e De León, 2007; Pereiro, 2008;
Pereiro, 2010; Pereiro et al, 2012; Pereiro, 2012a; Pereiro e De León, 2012). Neste trabalho espelha uma
etnograia do sistema turístico contextualizada num lugar da periferia geopolítica latino-americana.
Preocupado por mostrar formas alternativas e diversas de oferecer e vivenciar a experiência turística
está a pesquisar sobre os turismos indígenas na América Latina (Pereiro, 2012d; Pereiro, 2013ª) e as
experiências ecoagroturísticas na Península Ibérica (Pereiro, 2012c; Prado e Pereiro, 2012). Xerardo
Pereiro, que é também doutor em turismo desde 2014 pela Universidade de La Laguna (Espanha),
tem dinamizado vários encontros à volta da antropologia do turismo como dois simpósios da APA,
um da FAAEE, cinco edições do Turchaves (ciclo de conferências sobre turismo, no Pólo da UTAD em
Chaves), o VIII CITURDES Congresso Internacional de Turismo Rural e Desenvolvimento Sustentável-
(Cristóvão e Pereiro, 2012). Em adição e, numa linha de aplicação da antropologia ou de intervenção
nos assuntos públicos, tem colaborado na elaboração de estudos estratégicos do turismo para o Eixo
Atlântico do Noroeste Peninsular, com particular destaque para a agenda estratégica do turismo para
Trás-os-Montes (Pereiro, 2013b).
Ema Pires, professora na Universidade de Évora, tendo feito a sua tese de mestrado na Universidade
de Évora (Pires, 2003), orientada por Francisco Ramos e Maria de Fátima Nunes, achegou-se ao papel
das imagens e dos imaginários turísticos construídos no Estado Novo e utilizados como propaganda
política. Tendo como pano de fundo a relação entre turismo e nacionalismo, a autora produz uma
excelente antropologia histórica do turismo em Portugal, cruzando e estabelecendo um diálogo frutífero
entre antropologia, história e sociologia, algo que comprova a necessidade de que o campo do turismo
assuma perspetivas inter e transdisciplinares (Pinto e Pereiro, 2010). Doutorada em antropologia pelo
ISCTE, sob a orientação de Brian O´Neill, fez trabalho de campo sobre o bairro português de Malaca
(Malásia) e as apropriações turísticas desse espaço (Pires, 2011; 2012; 2013a; 2013b).
Paula Mota Santos, professora na Universidade Fernando Pessoa do Porto, foca a atenção sobre as
perceções e vivências do património cultural da “Baixa” da cidade do Porto, integrando na sua análise
a visão dos turistas (Mota Santos, 2003; 2005; 2007; 2012). A autora tem desenvolvido uma produção
cientíica nessa linha de relexão sobre o património cultural, enquanto processo de construção social e
a sua relação com o turismo. Se bem que a antropologia do turismo não seja central na sua obra, tem
contribuído de forma decisiva para o entendimento sobre a patrimonialização e os consumos turísticos
dos centros históricos, das arquiteturas emblemáticas e dos parques temáticos (Mota Santos, 2014).
Preocupada também pela análise das representações dos espaços urbanos, tem interpretado o turismo
como um mecanismo de representação e imaginação do espaço urbano.
Filipa Fernandes antropóloga e professora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas,
Universidade de Lisboa, orientada por Francisco Martins Ramos, doutorou-se em 2013 em Turismo pela
Universidade de Évora. O seu trabalho efetuado na ilha da Madeira tem-se debruçado pelos processos de
patrimonialização (2010a, 2010c, 2011, 2013), pelas representações turísticas (2010b, 2013, 2014), pelas
motivações e práticas dos turistas (2013), e ainda, o turismo de natureza (2012, 2013). O património
cultural enquanto recurso turístico foi o tema da sua tese doutoral na qual a problemática abordada
se inseriu no mapa de questões associadas às estratégias de ativação patrimonial, às representações
turísticas das levadas e aos discursos promocionais e, ainda, às experiências e motivações dos turistas.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
338 Antropologia e turismo: dos trilhos, atores e espaços à genealogia da turistiicação
Mais recentemente tem vindo explorar a temática dos desastres e do turismo num projeto multidisciplinar
acerca da (des)memória do desastre, e ainda, a antropologia e o turismo de natureza.
Paulo Mendes é professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) desde o ano
2000 e investigador do CRIA. O seu trabalho centrou-se na análise da construção comunitária de uma
localidade alentejana de pescadores (Meneses e Mendes, 1996). Mais tarde, este longo trabalho de campo
derivou numa tese doutoral sobre uma antropologia da perceção do ambiente e das emoções (Mendes
2008; 2013) na qual o turismo é um eixo de análise importante, ao ponderar as fricções entre os nativos
e os turistas à luz dos diferentes níveis de consciência e categorização identitária. É este um exemplo
de como a proposta de Maria Cardeira da Silva de construir uma antropologia dos lugares turísticos
se torna muito ambígua, pois, hoje, há muito poucos lugares que não sejam consumidos por turistas e
pelo turismo nas suas diversas modalidades.
Marta Lalanda Prista é uma investigadora do CRIA que desenvolveu investigação sobre as Pousadas
de Portugal (Prista, 2013a, Prista, 2013b) enquanto discursos patrimoniais da identidade nacional
portuguesa. Esta original investigação acerca da rede hoteleira de charme criada pelo Estado português
há mais de sete décadas é analisada desde uma perspetiva sistémica, processual e histórica que aponta
para os seus agentes sociais (políticos, arquitetos, operadores turísticos, residentes locais e turistas)
e as narrativas do passado. Com este trabalho, concluído em 2011 no seu formato de tese doutoral,
doutorou-se em antropologia na Universidade Nova de Lisboa, o que signiica que o turismo é cada vez
mais um objeto de estudo importante para a academia antropológica portuguesa.
Soia Sampaio, investigadora pós-doutorada do CRIA que procede dos estudos culturais trabalha sobre
turismo e cinema. Interessa-se pelo turismo como instrumento de representação política das identidades
e pela relação entre turismo, literatura e cultura visual (cf. Sampaio, 2013a,2013b). Peter Antón Zoetl é
um antropólogo visual (Zoetl, 2011), investigador pós-doutorado no CRIA, que tem feito um documentário
sobre o turismo entre os indígenas pataxó do extremo sul da Bahia (Brasil) em cooperação com os
indígenas (Zoetl, 2010). Nele exibe o protagonismo indígena na produção do turismo, os estereótipos
na criação de cenários para consumo turístico e as diiculdades para enriquecer a experiencia turística
nesse jogo de espelhos que é o turismo. Este trabalho mostra a projeção da antropologia do turismo
portuguesa pelo mundo fora.
Elsa Peralta é uma antropóloga formada no Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade
Técnica de Lisboa que hoje é investigadora pós-doutorada no ICS (Instituto de Ciências Sociais) do
Instituto Universitário de Lisboa. Já desde cedo (Peralta, 2000; 2003a; 2003b) se preocupou por pensar a
relação entre património cultural, identidades e turismo, mas logo se centrou nas políticas dos processos
de musealização e patrimonialização da cultura (Peralta e Anico, 2006; Peralta e Anico, 2009).
Joana Lucas, investigadora do CRIA ligada à equipa de Maria Cardeira da Silva na Universidade
Nova de Lisboa, tem-se debruçado sobre a articulação entre pesca e turismo na Mauritânia (cf. Lucas,
2008) (cf. também http://www.buala.org/pt/autor/joana-lucas ) com especial ênfase numa relexão sobre
o pós-colonialismo e o turismo (Lucas, 2013). Maria José Aurindo, investigadora entre a geograia e a
antropologia, aluna de mestrado em antropologia do turismo liderado por Maria Cardeira da Silva, é
um exemplo mais da normalização da antropologia do turismo em Portugal e da atração que outros
cientistas sociais reconhecem na antropologia do turismo (cf. Vidal e Aurindo, 2010). Com uma tese de
mestrado exemplar, sobre a representação identitária de Portugal nos cartazes turísticos entre 1911 e
1986 (Aurindo, 2006), o seu trabalho constitui um magníico contributo não só para a antropologia do
turismo, mas também para os estudos turísticos e o que alguns chamam de ‘turismologia’. Enquadrada
numa perspetiva do turismo enquanto mecanismo de representação, analisa como a promoção turística
vende signiicados da identidade nacional e vai evoluindo com tempo e as transformações dos contextos
históricos.
Edgar Bernardo (2013a;2013b) e Vitor Popinsky (2010) são dois ex -alunos da licenciatura em
antropologia da UTAD, doutorandos sobre turismo, o primeiro no CIES (Centro de Investigação
em Sociologia) do ISCTE, sobre os impactos do turismo na ilha de Boa Vista (Cabo Verde), e o
segundo, Vitor Popinsky, está-se a doutorar em antropologia no ICS, com uma tese sobre turismo,
desenvolvimento e parentesco na ilha de Fogo em Cabo Verde. Ambos representam uma geração mais
jovem de antropólogos formados em Portugal nos inais de 1990 e início da década de 2000, e que
têm enveredado nos seus rumos investigadores para o turismo como objeto central da investigação
antropológica.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Xerardo Pereiro, Filipa Fernandes 339
Licenciatura Universidade
Antropologia Universidade Nova de Lisboa (UNL), pública.
Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior de Ciências Sociais
Antropologia
(ISCSP), pública.
Antropologia Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), pública.
Antropologia Universidade de Coimbra, Faculdade de Ciências e Tecnologia, pública.
Fonte: Elaboração própria
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
340 Antropologia e turismo: dos trilhos, atores e espaços à genealogia da turistiicação
ISCTE –
Instituto Mestrado em
http://iscte-iul.pt/cursos/mestrados/7095/apresentacao.aspx
Universitário de Antropologia
Lisboa
Mestrado em
Universidade Antropologia
http://www.unl.pt/guia/2013/fcsh/UNLGI_getCurso?curso=4281
Nova de Lisboa – várias
especializações
Universidade de Mestrado em http://www.iscsp.utl.pt/index.php?option=com_content&view=a
Lisboa – ISCSP Antropologia rticle&id=67&Itemid=287
Universidade de Mestrado em http://www.uc.pt/fctuc/Ensino/cursos/2ciclo_continuidade/Lista/
Coimbra Antropologia ANT
Do mesmo modo, a antropologia tem enveredado em Portugal por um caminho que é o do ensino da
antropologia e da antropologia do turismo para licenciados em turismo. O ensino superior do turismo
(universitário e politécnico) é relativamente recente em Portugal e não vai mais além de duas décadas,
mas na atualidade, o número tem aumentado muito1. A formação de indivíduos e proissionais para a
atividade turística é uma preocupação tardia, como aconteceu noutros países, apesar do grande peso do
turismo na economia nacional. Por via da antropologização do ensino do turismo, o turismo e os seus
alunos universitários têm-se familiarizado com enfoques teóricos e métodos de investigação antropológicos.
Esta familiarização por via do ensino está subordinada aos enfoques econometristas, economicistas
e de gestão, predominantes nos cursos superiores de turismo em Portugal, mas é importante mais
além de um simples corporativismo académico. A antropologia oferece aos estudantes de turismo uma
bagagem conceitual, uma forma holística de olhar a diversidade turística e ferramentas etnográicas
para analisar os seus efeitos e consequências. Do mesmo modo, a antropologia, com o seu sentido
crítico e relexivo, ajuda a criar um melhor turismo (sustentável, responsável, alternativo) e melhores
turistas. De forma concreta, nas estruturas curriculares das licenciaturas em turismo (3 anos) a
antropologia aparece de duas formas: a) nalguns casos como formação introdutória ou como etnologia
da diversidade cultural; b) noutros como antropologia do turismo, património cultural e turismo ou
turismo cultural. Seja como for, a antropologia aplicada ao ensino do turismo está capacitada para
uma melhor preparação dos alunos na criação de produtos turístico-culturais, na investigação de
mercados/sistemas turísticos, na mediação, comunicação e interpretação dos atrativos turísticos, na
hospitalidade, acolhimento e acompanhamento dos turistas, e também, na avaliação de políticas e
ciclos de desenvolvimento dos destinos.
Finalmente, um outro rumo da antropologia do turismo em Portugal é a inserção proissional fora da
universidade, a investigação académica e o ensino. Nesta linha, não podemos olvidar que o turismo é um
produto de consumo e um negócio mercantil, uma atividade económica profundamente antropológica,
mas não há bastantes trabalhos antropológicos ainda sobre o mundo empresarial e tecnocrático do
turismo. As perspetivas epistemológicas ainda estão reféns dos modelos mais clássicos e pensamos
que temos que arriscar mais e focar de jeito central os problemas nucleares do sistema turístico (ex.
globalização de luxos, desigualdades, neoimperialismos, oportunidades de desenvolvimento de turismos
sustentáveis e responsáveis). Tampouco há muitos antropólogos portugueses a trabalhar no mercado
turístico, algo que pode converter-se num campo de ação privilegiada.
Pensamos que a antropologia pode em Portugal e, não só, avaliar programas, projetos, produtos,
destinos e políticas do turismo, compreendendo as dimensões socioculturais e orientando o rumo das
mudanças e dos efeitos, alertando sobre as consequências negativas de determinados desenvolvimentos
turísticos e, contribuindo, para a reinvenção, renovação e impulso dos lugares de encontro turístico.
Além de ajudar a pensar o mundo de hoje (sociedade de mobilidades e viagens) a antropologia do turismo
está chamada a integrar-se proissionalmente na promoção – enquanto forma de representação - e na
educação turística, construindo uma postura anti etnocêntrica e repensando as relações com a diversidade
cultural e a natureza. Para isso temos que ir mais além de alguns preconceitos moralizadores do turismo
como atividade negativa, dar voz a todos agentes do sistema turístico e não só aos turistas e os seus
recetores, e mostrar com visão etnográica a complexa diversidade da atividade turística.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Xerardo Pereiro, Filipa Fernandes 341
6. Conclusões
Bibliografia
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
342 Antropologia e turismo: dos trilhos, atores e espaços à genealogia da turistiicação
Fernandes, Filipa
2011 ” ‘A Costa da Laurissilva’: a produção de um destino turístico-cultural”. In: Prats, L. e Santana,
A. (Coords.), Turismo y Patrimonio: Entramados Narrativos, (pp.135-143). El Sauzal, Associación
Canária de Antropología e PASOS, Revista de Turismo y Patrimonio Cultural.
Fernandes, Filipa
2012 “O turismo de trilhos pedestres nas levadas e veredas da ilha da Madeira”. In: Sebastião, Sónia
Pedro e Ribeiro, Raquel (eds), Portugal, Destino a Comunicar. A comunicação no Turismo Português
(pp.128-135). Lisboa: ISCSP – CAPP (E-Book).
Fernandes, Filipa
2013 Pelos Caminhos da Água. As levadas e veredas da Madeira como recurso turístico, Évora, Uni-
versidade de Évora, tese de doutoramento submetida e aprovada (não publicada).
Fernandes, Filipa
2014 “As Representações turísticas na Região Autónoma da Madeira: os discursos em torno das levadas”.
Revista Turismo & Desenvolvimento, 21/22 (1):23-31.
Hernández Ramírez, Javier
2006 “Producción de singularidades y mercado global. El estudio antropológico del turismo”. In
Boletín Antropológico nº 66 (janeiro-abril 2006): 21-50.
Leal, João
2000 Etnograias Portuguesas (1870-1970). Cultura Popular e Identidade Nacional. Lisboa: Dom Quixote.
Leite, Naomi e Graburn, Nelson
2009 “Anthropological Interventions in Tourism Studies”. In Robinson, M. e Tazim, J. (eds.): The
Sage Handbook of Tourism Studies (pp. 35-64). London: Sage.
Llaneza Fadón, Leopoldo
1999 “Tendencias y procesos de la antropología portuguesa en el siglo XIX. Notas para una historia de
la antropología en la península ibérica”. In: Ateneo-Revista Electrónica de Antropología, n.º 1, em
www.ucm.es/info/dptoants/ateneo/, consultado o 18-06-2002.
Lucas, Joana
2008 Um serviço de chá e um kit GPS: Reconigurações identitárias e outros desaios entre os Imraguen
da Mauritânia. Lisboa: ISCTE (tese de mestrado não publicada).
Lucas, Joana
2013 “Orientalism and imperialism in french west Africa. Considerations on travel literature, Colonial
tourism, and the desert as ‘commodity’ in Mauritania”. In: Sarmento, João e Brito-Henriques, Eduardo
(eds.): Tourism in the global south: landscapes, identities and development (pp.25-43). Lisboa: Centre
for Geographical Studies.
Mendes, Paulo
2008 O MAR É QUE MANDA. Comunidade e Percepção do Ambiente no Litoral Alentejano. Lisboa:
ISCTE (tese doutoral em antropologia).
Mendes, Paulo
2013 O MAR É QUE MANDA. Comunidade e Percepção do Ambiente no Litoral Alentejano. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian.
Mendonsa, Eugene L.
1982 “Turismo e estratiicação na Nazaré”, Análise Social, XVIII: 311-329.
Meneses, Inês Salema e Mendes, Paulo Daniel
1996 Se o mar deixar. Comunidade e género numa povoação do litoral alentejano. Lisboa: Instituto de
Ciências Sociais.
Nash, Dennison (ed.)
2007 The Study of Tourism. Anthropological and Sociological Beginnings. Amsterdão: Elsevier.
Santos, Paula Mota
2005 Porto´s Historic Centre and the Materiality of Belonging. London: University College of London
(tese doutoral não publicada).
Santos, Paula J. M.
2007 “Being in or out of place: shifting visibilities of a collective other in the city of Porto”, Trabalhos
de Antropologia e Etnologia 47 (3-4): 49 - 69
Santos, Paula M.
2012 “The power of knowledge: tourism and the production of heritage in Porto’s old city”, International
Journal of Heritage Studies 18 (5): 1 – 15
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Xerardo Pereiro, Filipa Fernandes 343
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
344 Antropologia e turismo: dos trilhos, atores e espaços à genealogia da turistiicação
Pereiro, Xerardo
2012d “Tourism and indigenous cultures in Latin America”. In Smith, Melanie e Richards, Greg (eds.):
Handbook on Cultural Tourism (pp.145-150). London: Routledge.
Pereiro, Xerardo e De León, Cebaldo
2012 “Museos, representaciones glolocales de la cultura guna y turismo”. Revista Tareas (Panamá),
141: 75-95.
Pereiro, Xerardo
2013a “Los efectos del turismo en las culturas indígenas de América Latina”. Revista Española de
Antropología Americana, 43(1):155-174.
Pereiro, Xerardo
2013b “Valorização dos recursos territoriais. Turismo”. In: Bento, Ricardo (coord.): Agenda Estratégica
dos Territórios da Fronteira Interior/Transmontana da Macrorregião do Sudeste Europeu (Agenda
Estratégica Trasmontana, AET) (pp.60-78). Porto: Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular.
Pinto, Roque e Pereiro, Xerardo
2010“Turismo e Antropologia: contribuições para um debate plural”, Revista Turismo e Desenvolvimento,
13:219-226.
Pires, Ema
2003 O baile do turismo. Turismo e propaganda no Estado Novo. Casal de Cambra: Caleidoscópio.
Pires, Ema,
2011 “Birds’ nests, heritage trails and shopping malls: nostalgia and contested heritage in Malacca (West
Malaysia). In: Heritage Conserved and Contested: Asian and European Perspectives, Conference
Book of Papers, IIAS (International Institute for Asian Studies) / Univ. Leiden, pp. 179-190
Pires, Ema
2012 Paraísos Desfocados: Nostalgia Empacotada e Conexões Coloniais em Malaca. Lisboa: Tese de
Doutoramento em Antropologia submetida ao ISCTE-IUL.
Pires, Ema,
2013a “Showcasing the past: on agency, space and tourism”. In Sarmento, João e Henriques, Eduardo
B. (orgs.), Tourism in the Global South: Heritages, Identities and Development (pp.179-192). Lisboa,
Centre for Geographical Studies da Universidade de Lisboa.
Pires, Ema
2013b “Sobre espaços, turistas e homelands imaginadas”. In Lobato, Manuel e Manso, Maria de Deus
(orgs.), Mestiçagens e Identidades Intercontientais nos Espaços Lusófonos (pp.145-161). Braga,
Núcleo de Investigação em Ciências Políticas e Relações Internacionais.
Popinsky, Vitor
2010 “The Development projects of the Gilé National Reserve in Mozambique: Interests and processes
within communities, and between communities and other social actors in natural resource management”
(Tese de mestrado) online: http://www.lu.se/o.o.i.s?id=19464&postid=1662224
Prado Conde, S. e Pereiro, X.
2012“Ecoagroturismo en Galiza: Análise comparada de dous casos de estudo”. In Simón Fernández,
X. e Copena Rodríguez, D. (coords.): Iniciativas agroecolóxicas inovadoras para a transformación
dos espazos rurais. Atas do IV Congresso Internacional de Agroecologia e Agricultura Ecológica
(pp.213-231). Vigo: Universidade de Vigo - Fundação Juana de Veja.
Prista, Marta
2013a “Mediating Rurality, History and Exclusivity in Pousadas de Portugal”. In Silva, Luís e Figueiredo,
Elisabete (eds.): Shaping Rural Areas in Europe. Perceptions and Outcomes on the Present and the
Future (pp.109-128). Dordrecht: Springer.
Prista, Marta
2013b “Turismo e sentido de lugar em Óbidos: uma pousada como metáfora”, Etnográica, 17 (2),
consultado no dia 25 Abril 2014. URL : http://etnograica.revues.org/3160
Prista, Pedro
1998 “Turismo nos Campos”. In Prista, Pedro (ed.), Essas Histórias que há para Contar” (pp.155-161).
Lisboa: Salamandra, Abril em Maio e SOS Racismo.
Quintino, Maria Celeste Rogado
2004 Revisão de agendas etnográicas. Convés, varandas, aldeias e cidades. Lisboa: Instituto Superior
de Ciências Sociais e Políticas – Universidade Técnica de Lisboa.
Ramos, Francisco Martins
1997 Os proprietários da sombra. Vila Velha revisitada. Lisboa: Universidade Aberta.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Xerardo Pereiro, Filipa Fernandes 345
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
346 Antropologia e turismo: dos trilhos, atores e espaços à genealogia da turistiicação
Silva, Luís
2013a “The Pastoral Ideal in Portugal: From Literature to Touristic Practices”. In Silva, Luís e Figueiredo,
Elisabete (eds.): Shaping Rural Areas in Europe. Perceptions and Outcomes on the Present and the
Future (pp.95-108). Dordrecht: Springer.
Silva, Luís
2013b “Impactos do turismo em meio rural: relexões a partir de Portugal”. In Silva, Vanda da e Carmo,
Renato do (orgs.), Mundo Rural: Mito ou Realidade? (pp.295-313). São Paulo, Annablume.
Sobral, José Manuel
2012 Portugal, Portugueses: Uma Identidade Nacional. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Sousa, Carla
1996 “Cultura Popular e Turismo: O Folclore no Algarve”, Dos Algarves, Revista da ESGHT/UAL, 1: 12-19.
Sousa, Carla
2003 “Folclore e turismo: relexões sobre o Algarve”. In El-Shawan Castelo-Branco, Salwa e Freitas
Branco, Jorge (orgs.), Vozes do Povo. A Folclorização em Portugal (pp.569-579). Oeiras: Celta Editora.
Smith, Valene (ed)
1989 Hosts and Guests. The Anthropology of Tourism, 2ª ed, Philadelphia, University of Pennsylvania
Press.
Stocking, George. W.
1982 Race, Culture and Evolution: Essays in The History Of Anthropology. Chicago: Chicago University
Press.
Stocking, George W.
1992 The Ethnographer´s Magic and Other Essays in The History of Anthropology. Madison-London:
The University of Wisconsin Press.
Stocking, George W.
1996 After Tylor: British Social Anthropology, 1888-1951. London: Athlone.
Vidal, Frédéric; Aurindo, Maria José,
2010 “Turismo e Identidade Nacional: Uma nova imagem para Portugal”. In Viajar: Viajantes e Turistas
à Descoberta de Portugal no Tempo da Iª República, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações
do Centenário da República: 119-124
Zoetl, Peter Anton
2010 Capa de índio, documentário em http://vimeo.com/24472557
Zoetl, Peter Anton
2011 “O “vídeo participativo “ como meio de relexão e autorrelexão sobre imagem e identidade de grupos
indígenas reemergentes no nordeste brasileiro”. Espaço Ameríndio, Porto 5(3): 143-159.
Notas
1
Cursos superiores de turismo registados na DGES (Direção Geral do Ensino Superior) em março de
2014:
• Turismo: 29 cursos superiores universitários de turismo
• Turismo e gestão de empresas turísticas: 1 (Universidade Lusófona do Porto)
• Turismo e lazer: 1 (Instituto Politécnico da Guarda)
• Turismo sustentável: 1 (Instituto Superior Dom fonso III)
• Turismo, lazer e património: 1 (Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras)
• nimação turística: 1 (Instituto Politécnico de Leiria – Peniche)
• Informação e animação turística: 1 (Universidade do lgarve – Portimão)
• Informação turística: 1 (Escola Superior de Hotelaria e Turismo – Estoril)
• Gestão do lazer e animação turística: 1 (Escola Superior de Hotelaria e Turismo – Estoril)
• Marketing turístico: 1 (Instituto Politécnico de Leiria)
Fonte: http://www.dges.mec.pt/guias/indcurso.asp?curso=9810 (consultado o 5-03-2014)
Recibido: 03/06/2014
Aceptado: 19/11/2014
Sometido a evaluación por pares anónimos
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Vol. 13 N.o 2. Special Issue Págs. 347-358. 2015
www.pasosonline.org
Resumen: El presente artículo relexiona sobre la turistiicación de la antropología del desarrollo en España
resumiendo las principales aportaciones etnográicas de investigadores de instituciones del Estado. Además de
presentar la especiicidad de la mirada antropológica hacia la polémica relación entre el turismo y el desarrollo, el
texto intenta entender porqué se produce este tránsito hacia el estudio del turismo desde la antropología preocu-
pada por los procesos de desarrollo. El artículo argumenta que las razones que explican este cambio de objeto de
investigación en la antropología española son: (1) el prestigio que gana el estudio del turismo durante la última
década en el mundo académico, (2) la expansión del turismo y de grandes inversiones de promoción turística en
el espacio latinoamericano, y (3) la introducción del turismo en las agendas políticas de los organismos dedicados
a la cooperación al desarrollo.
Palabras Clave: turismo, desarrollo, antropología social, etnografía, Estado español
En una reciente reseña sobre los estudios antropológicos del turismo en España publicada en
Anthropology News, Saida Palou recordaba que en nuestro país los estudios del turismo se iniciaron
cuando el antropólogo norteamericano Davydd J. Greenwood analizó la naturaleza y la signiicación
de los cambios introducidos por el turismo en un pequeño pueblo del norte de España, Fuenterrabia.
Al analizar los efectos del turismo en la arquitectura, la economía, la organización social, el rol de las
familias y en los hábitos de consumo, Greenwood constataba que en los años 1970 esta nueva actividad
surgía en detrimento de la agricultura y que por esta razón podía tener consecuencias negativas sobre
el desarrollo de la localidad. Poco después, antropólogos españoles como Oriol Pi -Sunyer (1978), Antonio
Madly y Francisco Jurdao (1992) también se dedicaron a analizar críticamente las transformaciones
que introducía el turismo en la sociedad española. Estas fueron las primeras veces en que el turismo fue
etnograiado en nuestro país (Palou, 2014: 31), y lo fue porqué preocupaban los cambios que introducía
en la economía y la sociedad.
*
Investigadora postdoctoral en el marco del Programa Juan de la Cierva en el Grupo de Estudios sobre Culturas Indígenas
y Afroamericanas (CINAF) de la Universitat de Barcelona. Doctora en Antropología social por la Universitat Autònoma
de Barcelona (UAB) y la École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS); E -mail: [email protected]
Mucho tiempo ha pasado desde ese primer momento, y hoy en día la antropología del turismo en
España se ha diversiicado estudiando las dinámicas y los efectos de los sistemas y agentes turísticos
en el ámbito local, regional y nacional a muchos niveles. No es el objetivo de este artículo hacer una
radiografía de estos interesantes desarrollos, el propósito de este texto es analizar el interés por el
estudio del turismo de parte de antropólogos y antropólogas del Estado, en contextos marcados por la
cooperación internacional, fuera de las fronteras nacionales.
Durante la última década numerosos son los investigadores españoles dedicados a la antropología
del desarrollo “entendida como el estudio de los procesos de cambio en contextos marcados por las
políticas de cooperación al desarrollo en países de América Latina, África o Asia”, que se han inclinado
por analizar el papel del turismo en los lugares donde ya habían realizado trabajo de campo con
anterioridad. En las líneas que siguen enumeraré y resumiré algunos de estos trabajos etnográicos
con el in de ejempliicar este destacado cambio.
Uno de los primeros antropólogos del Estado en transformar su objeto de estudio a raíz de la prominencia
del turismo en el contexto social y cultural que estudiaba fue Jordi Gascón. Pionero en abordar la relación
entre el desarrollo y el turismo, varias son las publicaciones1 que derivan de su trabajo de campo en la
comunidad quechua de Amantaní, la isla más poblada y extensa del lago Titicaca. Una de las más destacables
es su tesis de doctorado sobre los efectos del desarrollo del turismo en los procesos de diferenciación social
y en la generación de nuevos conlictos campesinos (Gascón, 1999, 2000 y 2005). Aunque inicialmente
las investigaciones de Gascón pretendían centrarse en las cuestiones agrarias, poco a poco el contexto
etnográico del altiplano peruano lo llevó a orientarse hacia el estudio del turismo como factor de cambio
social. Algunas de sus publicaciones en este ámbito muestran que la entrada de esta nueva actividad ha
generado cambios coyunturales, como una cierta movilidad social y un aumento de los ingresos, pero no
ha comportado una gran transformación de la estructura socio-económica existente (Gascón, 1996). Sus
investigaciones etnográicas ponen en evidencia que en lugar de beneiciar a toda la comunidad, un grupo
minoritario de comuneros acapara la mayor parte de los beneicios generados por el turismo, mientras que
la gran minoría sólo se aprovecha marginalmente de este nuevo recurso (Gascón y Pérez Berenguer, 1997)
También en el Perú, otra antropóloga española, Beatriz Pérez Galán, con una larga trayectoria de
trabajo de campo en el ámbito de la aplicación de proyectos de desarrollo por parte de ONG y en analizar
el papel de la cultura en estas intervenciones desarrollistas (Pérez Galán, 2003a y 2009), ha incursionado
en el ámbito de la antropología del turismo. Sus trabajos se han centrado en indagar sobre el uso del
patrimonio cultural en los proyectos de turismo sostenible impulsados por los agentes del desarrollo en
las comunidades indígenas del sur del Perú (Pérez Galán, 2003b y 2008; Asensio y Pérez Galán, 2012).
Desde una perspectiva etnográica, ha investigado la transformación de las prácticas culturales rurales
como resultado de los procesos globales en los que se inscribe el turismo. Se ha interesado por comprender
en qué manera el rescate y la puesta en valor de las tradiciones culturales (bienes y servicios), ofertadas
al turismo por las comunidades rurales, puede contribuir a reforzar el sentido de pertenencia colectiva, al
tiempo que mejorar sus precarias condiciones de existencia. Desde su particular perspectiva, Pérez Galán
no busca resaltar los aspectos culturales que son seleccionados para el turismo, ni estudiar el impacto
económico, sociocultural y político de esta actividad, sino describir etnográicamente el proceso por el
cual la población de estas comunidades decide participar en los proyectos, el signiicado diferencial de
esa participación (en términos de edad, género, clase social e identidad étnica), y el grado de autonomía
con el que cuentan para recrear las manifestaciones identitarias que forman parte de la oferta turística.
Además de la zona andina, en América Latina, Panamá ha sido otro de los países que ha recibido la
atención de investigadores del Estado interesados inicialmente por el desarrollo sostenible, la emergencia
de organizaciones indígenas y la ecología política. Después de varios años de trabajo de campo en el
país, Mònica Martínez Mauri y los panameños Cebaldo de León, Jorge Ventocilla y Yadixa del Valle,
se integraron a un equipo transdisciplinar dirigido por Xerardo Pereiro, para llevar a cabo una larga
investigación etnográica dedicada a conocer de forma holística el sistema turístico de la comarca indígena
de Gunayala (Panamá). Gracias a un proyecto de investigación2 de tres años de duración, el equipo
tuvo la oportunidad de describir y analizar las actividades y las estrategias turísticas desarrolladas
por los habitantes de las islas de Gunayala tanto a nivel individual, comunitario como comarcal. Para
ello documentaron empíricamente la creación de cabañas y hoteles gestionados por los propios gunas3,
la producción de artesanía, el turismo de veleros, yates y cruceros, las políticas locales y nacionales en
materia de turismo, la opinión de los turistas que visitan la región, las perspectivas de las comunidades
de la región entorno al turismo y la historia de esta actividad en el país, entre otros elementos. Uno de
los principales objetivos de esta etnografía fue producir informaciones para que las autoridades de la
comarca elaborasen un Plan de desarrollo turístico. Numerosas son las publicaciones (Pereiro, Ventocilla
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Mònica Martínez Mauri 349
y Martínez, 2010; Martínez Mauri, 2010a y 2010b; Pereiro, De León, Martínez, Ventocilla y Del Valle,
2012; Pereiro, 2011 y 2012; Pereiro y De León, 2007 y 2012) y los proyectos de investigación4 que han
derivado de esta primera investigación en turismo étnico.
A este reciente interés de algunos americanistas españoles por el tema del turismo, se suma la
curiosidad de antropólogos del Estado español especializados en patrimonio cultural por los contextos
americanos y la relación que puede existir entre patrimonio, turismo y desarrollo. Los trabajos de
numerosos grupos de investigación en Sevilla, Alicante y otros puntos de la Península ponen en evidencia
este nuevo giro en la investigación antropológica.
Un buen ejemplo de este segundo giro es la trayectoria investigadora del grupo GISAP (Grupo
de Investigación Social y Acción Participativa) de la Universidad Pablo Olavide. En este espacio, un
numeroso grupo de antropólogos liderado por Esteban Ruiz Ballesteros −entre los que se cuentan
Macarena Hernández, Agustín Coca, Pedro Cantero, Javier Escalera Reyes y Alberto del Campo−,
han abandonado los contextos mineros del Sur de España por las comunidades que apuestan por el
desarrollo del turismo comunitario en Ecuador y Nicaragua (Escalera Reyes, 2010). Aunque la etiqueta
turismo comunitario pueda parecer muy amplia y vaga, Ruiz Ballesteros y su equipo la han utilizado
para denominar las actividades turísticas impulsadas por comunidades que adoptan una organización
empresarial y consideran que constituye una estrategia alternativa para el desarrollo social, económico
y cultural (Ruiz y Solís 2007: 13). En otro artículo (Ruiz et al. 2008) en base a la experiencia de cinco
comunidades ecuatorianas, tanto de la costa, como de la sierra y la amazonía, han mostrado cómo el
Community-Based Tourism fortalece las estructuras locales y debe ser considerado como un proceso de
“traducción”, y no de “adaptación”, al mercado. El trabajo de Ruiz Ballesteros en Ecuador sobre el turismo
rural comunitario se ha materializado en diferentes publicaciones, entre las que hay que destacar las
referidas a su trabajo en la comunidad de Agua Blanca, en la costa de Ecuador (Ruíz Ballesteros, 2009
y 2011) y la isla de Floreana (Galápagos) (Ruiz Ballesteros y Cantero Martín, 2011).
Desde la misma Universidad, José María Valcuende del Río, junto aDdeLla Cruz Quispe (2009)
se ha centrado en comprender el papel que juegan las ONG (Organizaciones no gubernamentales) en
contextos turísticos, analizando el caso de la amazonía peruana. A partir de un estudio micro, intentan
comprender los contextos globales de las intervenciones de las ONG en materia de turismo, la visión
de los interventores sobre los intervenidos y viceversa, las expectativas que se generan entorno a los
proyectos y sus consecuencias.
Proveniente de los estudios del turismo y el patrimonio en la costa levantina, María José Pastor
Alfonso, se ha trasladado a Venezuela y México para estudiar el turismo comunitario. En Chiapas, en la
Selva Lacandona, desde inales de la década pasada, ha codirigido un equipo mixto con la Universidad
Intercultural de Chiapas centrado en deinir los impactos del turismo rural comunitario (Pastor y
Gómez, 2010), y en identiicar el patrimonio comunitario susceptible de ser utilizado como recurso
turístico en la zona (Pastor, 2011). Sus investigaciones en el área han generado productos bibliográicos
y audiovisuales. Cabe destacar el esfuerzo por publicar estos textos no solo en castellano y valenciano,
sino también en tzotzil, lacandón, ch’ol y tzeltal, con el objetivo de hacerlos accesibles a la población
local y generar nuevas dinámicas socio-económicas.
En el continente africano, concretamente en lugares como la Reserva Nacional de Maasai Mara (Kenia),
también han realizado trabajo de campo antropólogos españoles interesados en entender los cambios
que introduce el turismo en la auto-representación de las culturas locales. Partiendo de las actitudes,
conductas, evaluaciones morales y percepciones de los turistas en relación a la “autenticidad” de las
prácticas maasai, Alfredo Francesch rechazandp las interpretaciones esencialistas, las ha analizando
en su interacción dentro de entornos más amplios (Francesch, 2011).
Estas conversiones de un buen número de antropólogos españoles americanistas, africanistas y
especializados en patrimonio al mundo del turismo en contextos de desarrollo, también han venido
acompañadas de una mayor preocupación por parte de antropólogos dedicados al estudio del patrimonio
por los debates que suscita el binomio turismo/desarrollo. Muestra de ello son dos artículos publicados
durante la última década. El primero, escrito por Llorenç Prats (2003), discute la causalidad y la
metodología de proyectos encaminados a reconciliar patrimonio, turismo y desarrollo. A su modo de ver,
la mayoría de proyectos de desarrollo local basados en los usos turísticos del patrimonio obedece a los
intereses convergentes de las administraciones y los técnicos, pero no a las demandas de la población
local. Ante esta realidad, el turismo puede representar ingresos, vitalidad y relevancia política para el
patrimonio, pero también conlictos provocados por un mercantilismo abusivo.
En una línea parecida se sitúa la relexión más reciente de Elías Zamora Acosta sobre el patrimonio
cultural y el desarrollo. Desde su perspectiva, la conversión del patrimonio cultural en recurso cultural y en
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
350 Una mirada sobre la turistiicación de la antropología del desarrollo en el Estado español
objeto de mercado, ha comportado beneicios para las sociedades rurales descapitalizadas y despobladas. El
patrimonio puede ser activado con ines turísticos en las estrategias de desarrollo territorial, sin embargo debe
ser gestionado de forma participativa. La gente del territorio debe liderar el proceso de cambio. En ningún
caso debe tratarse de un desarrollo impuesto por criterios ilustrados ajenos a la realidad local (Zamora, 2011).
Siguiendo de cerca estas conversiones y preocupaciones por el turismo y el desarrollo, una nueva
generación de antropólogos y antropólogas está iniciándose en la investigación etnográica a partir del
estudio de casos concretoo en contextos latinoamericanos y africanos.
En América Latina, María Eugenia Mellado, estudiante de doctorado de la Universidad de Lleida,
plantea la polémica relación entre turismo y desarrollo en el archipiélago de las Perlas (Panamá), un
conjunto de islas que experimenta el inicio y apogeo de un modelo turístico residencial promovido por
las políticas públicas y de cooperación en materia de desarrollo del área (Mellado, 2012). Como en
otros casos (cf. Aledo, 2008), se trata de proyectos, liderados principalmente por grupos empresariales
nacionales y extranjeros, que se concretan en la compra de suelo, la producción de viviendas y la venta
de las mismas (Aledo, 2008). A partir de la etnografía Mellado analiza la reacción de las comunidades
isleñas a los proyectos inmobiliarios así como las respuestas gubernamentales y privadas.
La promoción de este modelo turístico en las islas y costas de América Latina es una de las principales
problemáticas con las que se encuentra hoy la antropología interesada en el estudio de la relación entre
turismo y desarrollo en ese continente. Es por ello que tesis como la de Claudio Milano (2013), de la
Universidad Autónoma de Barcelona, centrada en analizar el proceso de turistiicación promovido por
inversionistas extranjeros en la comunidad isleña de la Ilha Grande de Santa Isabel (nordeste brasileño),
son necesarias para aportar datos etnográicos que nos permitan entender el alcance de estas políticas
de promoción turística en contextos sumamente especulativos.
En otro contexto lejano, en Madagascar, la antropóloga Fabiola Mancinelli realizó una tesis doctoral
en la Universidad de Barcelona sobre los efectos del turismo en la sociedad zaimaniry. Efectos que
según la investigadora se traducen en un desajuste entre dos realidades: por un lado, la imaginada por
los turistas y promovida por los gestores del patrimonio y, por el otro, la vivida por la población local.
Y efectos que se concretan en una turistiicación gradual de la identidad zaimaniry hacia formas de
folclorización (Mancinelli, 2011).
En deinitiva, todos estos trabajos de investigación muestran que, como ha sugerido Nogués (2005), el
turismo, al promover un nuevo régimen de producción del espacio y del tiempo, puede ser abordado desde
varias perspectivas. En primer lugar, su estudio puede ayudarnos a comprender los procesos de cambio
en toda su complejidad social y cultural. En segundo lugar, nos permite un análisis semiológico de las
narrativas y metáforas generadas por la expansión global de sus imaginarios, discursos y modalidades. En
último lugar, puede ser abordado desde la economía política como un factor que promueve el neoliberalismo,
la ruptura de la continuidad ecológico-cultural de los territorios y la integración supranacional (2005: 33 y
34). Partiendo de varias etnografías realizadas en el contexto mediterráneo, Nogués (2012) profundiza en
su análisis proponiendo dos hipótesis de trabajo que pueden inspirar futuras etnografías sobre turismo y
desarrollo. En primer lugar, plantea que las prácticas sociales y culturales vigentes están orientadas por
la presencia de un turismo de larga duración. En segundo lugar, airma que el espacio turístico media
la manera de percibir y entender estas prácticas. Quizás por todos estos motivos el turismo ha sido un
tema de interés pa a los profesionales dedicados a la antropología social del Estado español, tanto para los
que trabajan en contextos rurales e indígenas, como para los que trabajan en las urbes del viejo mundo.
Si bien es cierto que no podemos dar la espalda al estudio del turismo en razón de su poder de transfor-
mación espacial y social, existen otros tres motivos que explican este renovado interés de los antropólogos
españoles por el turismo y su relación con el desarrollo tanto en España como en América Latina.
Una primera explicación de este giro hacia el estudio del turismo y su relación con el desarrollo, es
el prestigio que ha ido ganando el estudio del turismo en el mundo académico. En tan sólo dos décadas
hemos pasado de una situación en la que, a pesar de la relevancia económica y demográica de esta
actividad, las ciencias sociales no le prestaban ni atención teórica ni empírica (Crick, 1992: 347), a una
situación en la que su consideración es inevitable.
Es probable que tal y como imaginaba Boissevain (1996), el rechazo inicial por estudiar el turismo
obedeciera a las ganas de realizar trabajos de campo en lugares remotos, alejados de los emplazamientos
turísticos y auténticos, es decir, en sociedades campesinas y tradicionales no corrompidas por las fuerzas
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Mònica Martínez Mauri 351
externas. O, como insinuaba Crick, era un tema banal por el método utilizado por los antropólogos que
lo documentaban (1985 y 1995). Pero el resultado siempre era el mismo: en épocas pasadas el turismo
era considerado por algunos académicos como un tema poco serio (Nogués, 2009: 44).
Aunque la antropología del turismo empezó en los años 1970 con los trabajos de Smith (1978),
Graburn (1983) y Nash (1981) y la creación de la revista Annals of Tourism Research en 1973, en la
última década asistimos a una multiplicación de publicaciones, seminarios y conferencias, tanto en el
mundo anglosajón como francófono, que enaltecen el papel del turismo en el entendimiento del cambio
social y cultural. En Inglaterra ilustra este fenómeno la elección del tema Thinking through tourism
para la conferencia de la ASA (Association of social anthropologist of the UK and Commenwealth)
de 2007. En Francia, Bélgica y Canadá evidencia este interés la proliferación de números temáticos
dedicados al turismo en revistas como Anthropologie et Sociétés (2001), Ethnologie Française (2005),
Autrepart (2006), Actes de la Recherche en Sciences Sociales (2007), Civilisations (2008), Cahiers d’Etudes
Africaines (2009) y Cahiers des Amériques Latines (2010).
En España este interés académico también se ha manifestado en la publicación de revistas como
Pasos, o con números monográicos dedicados al turismo (Revista Ankulegi, 2009; Política y Sociedad,
2005). En los estudios de grado en antropología social de algunas Universidades −como la de Barcelona,
Sevilla, Complutense de Madrid− se han introducido asignaturas optativas dedicadas al turismo. A
nivel de postgrado, por un lado, la Universitat Autònoma de Barcelona oferta un Máster en Turismo y
Humanidades desde el año 2013 con una asignatura en Antropología y turismo, por el otro, el Máster
en Investigación Antropológica y sus Aplicaciones de la UNED (Universidad Nacional de Estudios a
Distancia) ofrece la asignatura “Antropología del turismo: fundamentos teóricos y líneas de trabajo”
con el in de ilustrar las posibilidades de investigación que brinda esta subdisciplina.
Otro buen ejemplo del interés que ha suscitado el turismo, y concretamente su relación con el desarrollo es
la emergencia de redes sectoriales dedicadas a este binomio. Entre estas últimas destaca la Red Internacional
de Investigadores en Turismo, Cooperación y Desarrollo (COODTUR), la cual en 2009 -gracias a los esfuerzos
del Grupo de Investigación de Análisis Territorial y Estudios Turísticos de la Universidad Rovira y Virgili
junto al Centro de Cooperación para el Desarrollo Rural de la Universidad de Lleida- organizó su I Congreso
en Vilaseca (Tarragona). Este y los posteriores encuentros organizados por la red constituyen un importante
hito en los estudios sociales sobre la relación entre turismo, desarrollo y cooperación española en los países
del Sur y un espacio de diálogo entre antropólogos, geógrafos, sociólogos y economistas.
Una segunda explicación de la turistiicación de la antropología del desarrollo la encontramos en la
expansión del turismo y de grandes inversiones de promoción turística en el espacio latinoamericano.
Desde la segunda mitad del siglo XX, el turismo es un fenómeno muy importante a nivel global, pero
en la actualidad, a pesar del contexto de crisis en el que viven las sociedades occidentales, no deja de
crecer. Tal y como nos recuerda la Organización Mundial del Turismo (OMT), el pasado año a nivel
mundial las llegadas de turistas internacionales crecieron un 5% hasta alcanzar los 1.087 millones.
Para 2014, la OMT prevé un crecimiento de entre el 4% y el 4,5%5.
En la región latinoamericana, una de las más frecuentadas por los antropólogos españoles, con un
crecimiento del 5% en las llegadas de turistas en 2013, tanto los agentes privados como las políticas
públicas se han encaminado a promover actividades de inversión turística. Ante los ojos de algunos
investigadores, la realidad latinoamericana del presente recuerda la del mediterráneo en los años
1970, cuando países como España apostaron por una estrategia de modernización que contemplaba el
binomio turismo/desarrollo. Partiendo de los paralelismos que pueden establecerse entre estas realidades
distintas pero convergentes, investigadores como Cañada y Blásquez (2011) en las Islas Baleares, el
Caribe, Centroamérica y México, y Antonio Aledo Tur junto a Tristan Loulom en Brasil (Aledo Tur, 2008;
Louloum, 2010; Demajorovic, Aledo y Landi, 2011), han relexionado críticamente sobre los efectos de
la turistiicación de las sociedades sobre la economía y el medioambiente6.
El tercer factor que explica el interés del turismo por parte de los antropólogos del desarrollo es su
introducción en la agenda política de los organismos dedicados a la cooperación al desarrollo. Desde
hace más de una década, un gran número de proyectos de cooperación promueve el turismo comuni-
tario (muchas veces impulsados por programas de agencias internacionales como el BID o el Banco
Mundial) y existen fondos para trabajar analíticamente estos nuevos temas a partir de la elaboración
de diagnósticos o planes estratégicos.
El crecimiento del turismo en la cooperación al desarrollo es una realidad compleja en el caso de
los fondos de la Agencia Española de Cooperación Internacional para el Desarrollo (AECID). Según
Salvador Palomo −a pesar de no aparecer en las estadísticas por no ser considerado un tema central− los
proyectos con componentes en turismo inanciados por la AECID son numerosos. Al analizar las líneas
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
352 Una mirada sobre la turistiicación de la antropología del desarrollo en el Estado español
estratégicas de la cooperación bilateral española en los cuatro Planes Directores de Cooperación ideados
por la ECID para el periodo 2001 ‑2016, los estudios de Palomo (2012) y de Marta Nel•lo ndreu
junto a Yolanda Pérez Albert (2014) muestran que aunque el turismo no ha sido incorporado como una
prioridad sectorial hasta 2009, durante los dos primeros planes fue objeto de inanciación al promover
la preservación del patrimonio cultural o actuaciones de apoyo a la micro empresa con dotación en
infraestructuras. En el tercer plan (2009-2012) se plantea analizar la aportación de la cultura a las
distintas actuaciones de cooperación al desarrollo, tanto en sus dimensiones más simbólicas como en
las más tangibles (economía, empleo, turismo) (Palomo 2012). Finalmente, en el Plan Director vigente
el turismo aparece como una línea de acción y un sector estratégico en el seno de la orientación general
“Promover oportunidades económicas para los más pobres”. Concretamente se propone promover
“sectores estratégicos o con gran potencial de desarrollo, como por ejemplo, la energía y, en particular,
las energías renovables -siguiendo la iniciativa de Naciones Unidas Energía Sostenible para Todos-, las
Tecnologías de la Información y Comuniación (TICs), la pequeña, mediana y gran infraestructura, el turismo
sostenible o el transporte, según las demandas locales” (MAEC, 2013: 23).
Ciertos organismos internacionales ven el turismo como una opción fácil para el desarrollo. Hace tan
solo unos meses, la OMT (Organización Mundial del Turismo) aseguraba que “el turismo sostenible es
un aliado de la erradicación de la pobreza en Centroamérica”. Esta renovada creencia en las bondades
del turismo se releja en la resolución de las Naciones Unidas sobre Turismo sostenible y desarrollo
sostenible en Centroamérica. Una resolución aprobada por la Asamblea General de las Naciones Unidas
durante su 68º periodo de sesiones en 2013, que trata de dar un paso importante en la integración
generalizada del turismo sostenible en la agenda de desarrollo internacional. Y, una resolución que
intenta marcar los objetivos de desarrollo sostenible que se establezcan cuando en 2015 venzan los
Objetivos de Desarrollo de las Naciones Unidas para el Milenio (ODM).
La OMT ve una relación directa entre el crecimiento del turismo en el área y la reducción de la pobreza
extrema. Según sus datos, el turismo internacional en Centroamérica creció signiicativamente en los
últimos años. En 2012, Centroamérica recibió casi 9 millones de turistas internacionales, que generaron
8.000 millones de dólares de los EE.UU. en ingresos, cuando en el año 2000 la cifra de llegadas era de
4,3 millones de llegadas y los ingresos de 3.000 millones de dólares. Hoy en día, el turismo internacional
representa hasta un 17% del total de exportaciones de Centroamérica.7 Estos datos se correlacionan
con los proporcionados por el Programa de las Naciones Unidas sobre el Desarrollo (PNUD) según los
cuales, entre el periodo comprendido entre el año 1990 y el 2010, se produce una reducción de la pobreza
extrema en la región centroamericana. En los últimos 20 años las tasas de pobreza extrema de América
Latina y el Caribe se han reducido a la mitad, es decir, se ha pasado de un 12% a un 6% de personas
que viven con menos de 1,25 dólares al día (PNUD, 2013).
A pesar de que la OMT vea una relación de causalidad entre estos datos, desde la antropología social se
ha abordado la controversia entorno a la relación del turismo con el desarrollo8 cuestionando la idea de que
el turismo constituía una fuente de crecimiento económico (Turner, 1976; Turner y Ash, 1975; Young, 1973),
demostrando que podía tener impactos económicos y sociales muy desiguales (Britton, 1981, 1982; Bryden,
1973; Hills y Lundgren, 1977; Salazar, 2006), y adoptando una postura pesimista en relación a su relevancia9.
Esta aproximación pesimista también ha dado sus frutos en España. Durante la última década,
antropólogos como Jordi Gascón han trabajado sobre el binomio cooperación al desarrollo y turismo desde
un punto de vista crítico (Gascón 2007, 2008, 2009c; Gascón y Cañada 2005 y 2007). Concretamente
abordando los debates entorno a los instrumentos más adecuados para incidir en las políticas corporativas
de las transnacionales, la creación de certiicaciones para promover unos mínimos requerimientos
laborales, medioambientales o sociales (Gascón y Cañada 2008), la despolitización del turismo solidario
y el comercio justo (2009), y, sobretodo, estudiando detalladaments estrategias ideadas por organismos
de cooperación para combatir la pobreza: el programa ST-EP promovido por la Organización Mundial
del Turismo (O, ),y la línea de intervención Pro-Poor Tourism, impulsada por la cooperación británica
a inales de los años 1990 (Gascón 2009a y 2000)).
En colaboración con Buades y Cañada, colegas provenientes de otras disciplinas, Gascón ha analizado
críticamente el rápido crecimiento del turismo -incluso en tiempos de crisis económica y energética (Buades,
Cañada y Gascón, 2012). A partir del concepto de tasa de retorno, es decir, los beneicios de la actividad
turística que no permanecen en el lugar de destino, sus trabajos muestran que en los países en desarrollo
esta tasa es muy elevada y, por lo tanto, no inluye en el desarrollo del país. En su libro, ponen de maniiesto
que el turismo infravaloriza sus costos, sobredimensiona los beneicios y crea conlictos a nivel local.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Mònica Martínez Mauri 353
En un reciente artículo, Gascón (2013) discute la validez del turismo comunitario (community-based
tourism, CBT) como una estrategia de reducción de la pobreza en el mundo rural. Sirviéndose del
concepto de Social Vocation of the Territory (SVT) muestra que el turismo comunitario está limitado por
la creciente diferenciación social campesina, los problemas en la toma de decisiones locales, el malestar
social, la falta de formación en turismo a nivel local, la restructuración del tiempo y del trabajo. Dando
continuidad al tema de los impactos del turismo en el sector agrario-campesino, Gascón acaba de publicar
un libro junto a Diana Ojeda (Gascón y Ojeda, 2014) en el que entroncan los debates y análisis que se
están dando en los estudios rurales en relación a la (re)valoración de la economía campesina con los
que se producen desde los estudios turísticos.
Además de los trabajos realizador desde el critical turn de los estudios del turismo inspirado por la obra
de Ateljevic, Pritchard y Morgan (2007) y con una agenda centrada en justicia social discutida en congresos
desde 2005 hasta el último celebrado en Sarajevo el 2013, es también pertinente mencionar la abundante
literatura sobre los impactos del turismo que también ha tenido en cuenta la cuestión del desarrollo. Asu-
miendo que el turismo puede desarrollarse de maneras muy diferentes y que procesos similares aplicados a
contextos diferentes pueden dar lugar a impactos diferentes (Pearce, 1986), el procedimiento general para
el estudio de los impactos del turismo ha consistido en empezar considerando los tipos de turismo, turista
y desarrollo turístico. Siguiendo el modelo propuesto por Pearce (1986), se ha examinado el contexto del
desarrollo (medio ambiente, sociedad, cultura, economía, etc.), valorado el desarrollo del turismo cuantitativa
y cualitativamente, realizado previsiones futuras del desarrollo del turismo e identiicado las diferencias
entre la valoración y las previsiones. Finalmente, se han ordenado los resultados de estos análisis teniendo
en cuenta tres categorías: impactos económicos (costos y beneicios que resultan del desarrollo y uso de los
bienes y servicios turísticos); físicos (alteraciones espaciales y ecológicas); y, socio-culturales (cambios en las
estructuras sociales y en las formas de vida de los residentes) (Santana, 1997: 69-70).
Los resultados que han evocado los estudios realizados desde el critical turn y los impactos del turismo
en España, muestran la vitalidad de una nueva antropología social preocupada por los procesos de cambio.
Todos ellos han sido motivados por la incorporación −la mayoría de veces de una forma completamente
acrítica− del turismo en las agendas de los organismos de desarrollo y cooperación internacional.
3. Conclusiones
En este artículo además de presentar el amplio abanico de investigaciones que se realizan desde
la antropología social española sobre la polémica relación entre desarrollo y turismo, he intentado
explicar porqué durante la última década la antropología del desarrollo se ha acercado al estudio del
turismo. Como hemos podido apreciar, múltiples son las razones que explican este giro. Las tendencias
academias, las políticas públicas en materia de cooperación al desarrollo y las crecientes inversiones en
el área Latinoamericana son algunas de las más importantes. Existen sin embargo muchas otras que
pueden explicar el cambio de problemáticas y de regiones de estudio, razones coyunturales de carácter
personal o vinculadas a cuestiones de oportunidad profesional que escapan a este análisis.
Investigar sobre los efectos del turismo en el desarrollo de un pueblo o un Estado no es tarea fácil.
Muchos son los impactos, no sólo de carácter económico y social, que puede comportar la movilidad de
personas a nivel mundial, y muchos son los sentidos del concepto desarrollo. En algunos contextos está
muy vinculado a la idea de crecimiento económico, en otros al bienestar social. Pero el desarrollo nunca
se presenta como un bien que se reparte de forma equitativa entre todos los ciudadanos y ciudadanas.
Como ha mostrado la antropología social en España y en otros muchos lugares, el turismo no siempre
supone un incremento de los ingresos de los sectores más marginales de la población, a veces incluso
puede incrementar la desigualdad social y comportar consecuencias negativas sobre el medio ambiente.
La antropología social, y especialmente el método etnográico, ocupa una posición privilegiada
para documentar los cambios que experimentan las sociedades, tanto receptoras como emisoras de
turistas, marcadas por intervenciones a favor del desarrollo. Vivimos en un mundo en el que el turismo
es utilizado como pretexto por los capitales –y las personas que los poseen– para expandirse por una
geografía cada vez más amplia. En este mundo globalizado la construcción patrimonial, la tradición y
la cultura se inscriben en una relación dialéctica entre el grupo y el exterior. Tal y como nos recuerda
Maïté Boullosa-Joly (2010), el turismo permite que estos elementos se crucen con cuestiones de poder,
autoridad e identidad. La antropología social, gracias a su perspectiva holística y a la consideración
de múltiples puntos de vista, nos brinda los elementos necesarios para abordar esta gran complejidad
cultural, política y económica.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
354 Una mirada sobre la turistiicación de la antropología del desarrollo en el Estado español
4. Agradecimientos
La elaboración del presente artículo se ha realizado en el marco del contrato Postdoctoral del Sub-
programa Juan de la Cierva 2011 (Ministerio de Economía y Competitividad, España). Doy las gracias
a mis colegas Jordi Gascón y Llorenç Prats por los comentarios y sugerencias durante la elaboración
de este texto. Las posibles deiciencias son de mi exclusiva responsabilidad.
Bibliografía
Aledo Tur, A.
2008 “De la tierra al suelo: la transformación del paisaje y el nuevo turismo residencial”, Arbor Ciencia,
Pensamiento y Cultura, 729: 99-113.
Ateljevic, I., Pritchard, A. y Morgan, N.(eds)
2007 The Critical Turn in Tourism Studies: Innovative Research Methodologies. Amsterdam: Elsevier.
Asensio, R. H. y Pérez Galán, B.
2012 ¿El turismo es cosa de pobres? Patrimonio Cultural, pueblos indígenas y nuevas formas de turismo
en América Latina. Colección Pasos Edita nº. 7: Universidad de la Laguna.
Baidal, J.
2007 “El turismo en América Latina y el Caribe”. En: PARDO, G. Y PEDREÑO, A. (eds.) América
Latina en la encrucijada de la inserción internacional (p. 125-150). Alicante: Publicaciones de la
Universidad de Alicante.
Boissevain, J. (Dir)
1996 Coping with tourists. European reactions to mass tourism. Oxford: Berghahn.
Boullosa-Joly, M.
2010 “Tourisme, patrimonialisation et politique: un cas d’école : « La fête nationale de la Pachamama »
(Nord-Ouest argentin)”. Cahiers des Amériques Latines, 65: 95-112.
Britton, S.G.
1982 “The political economy of tourism in the Third World”. Annals of Tourism Research, 9(3): 331-358.
Britton, S.G.
1981 “The spatial organization of tourism in a neo-colonial economy: A Fiji case study”. Paciic Viewpoint,
21(2): 144-165.
Bryden, J.M.
1973 Tourism and development: A case study of the Commonwealth Caribbean. Londres: Cambridge
University Press.
Buades, J., Cañada, E., Gascón, J.
2012 El turismo en el inicio del milenio: una lectura crítica a tres voces. Madrid: Foro Turismo Responsable.
Callejo, J., Gutierrez, J., y Viedma, A.
2005 “El proceso de constitución de España en una sociedad turística”. Política y Sociedad, 42 (1): 151-168.
Cañada, E.
2010 Turismo en Centroamérica, Nuevo escenario de conlicto social. Albasud/PRISMA. Versión digital:
http://albasud.org/publ/docs/32.low.pdf Último acceso: el 18-10-11
Cañada, E. y Gascón, J.
2007 Turismo y Desarrollo. Herramientas para una mirada crítica. Managua: Enlace.
Cañada, E. y Macia, B. (Eds.)
2011Turismo placebo: nueva colonización turística: Del Mediterráneo a Mesoamérica y El Caribe. Lógicas
espaciales del capital turístico. Managua: Edisa. http://albasud.org/publ/docs/41.pdf
Crick, M.
1985 “‘Tracing’ the anthropological self ’ quizzical relections on ield work tourism and the ludic”. Social
Analysis, 17: 71-93.
1995 The anthropologist as tourist: an identity in question. En M-F Lanfant, Allcock y Brunner (coord.)
International tourism: identity and change (p. 203-223). Londres: Sage Publications.
1992 “Representaciones del turismo internacional en las ciencias sociales: sol, sexo, paisajes, ahorros y
servilismos”. En: F. Jurdao Arrones (comp.) Los mitos del turismo, Madrid: Endymion.
Demajorovic, J., Aledo Tur, A. y Landi, B.
2011 “Complejos Turísticos Residenciales. Análisis del crecimiento del turismo residencial en el
Mediterráneo español y en el Litoral Nordestino (Brasil) y su impacto socio-ambiental”. Estudios y
Perspectivas en Turismo, 20: 772– 796.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Mònica Martínez Mauri 355
Escalera Reyes, J.
2010 “Turismo sostenible, desarrollo local y cooperación internacional: resilencia, socioecología y arti-
culación regional transfronteriza en el Río San Juan (Nicaragua-Costa Rica)”, En: M. Nel-lo Andreu,
L. Beas Secall, (coord) Turismo, cooperación y desarrollo (p.66-67), Actas I Congreso COODTUR.
Francesch, A.
2011 “Una tarde con los auténticos maasai mara. Turismo, autenticidad y de cómo eludir un pozo sin
fondo” Pasos, Revista de turismo y patrimonio cultural. Vol. 9 Nº 2 págs. 237-248.
Gascón, J.
1994 “Recreando la propia historia. Luchas campesinas e historia oral en una comunidad del Altiplano
Peruano (Isla Amantaní, Lago Titicaca)”, García Jordán, P.; Izard, M.; Laviña, J, (coord.) Memoria,
creación e historia: Luchar contra el olvido (p. 305-318). Barcelona: Publicacions de la Universitat
de Barcelona.
1996 “La polémica sobre la Tragedia de los Comunes: Un caso andino”. Debate Agrario, vol., núm. 25:
21-35.
1999 Gringos como en sueños. Diferenciación y conlicto campesino en el sur andino peruano ante el
desarrollo de un nuevo recurso: el turismo. Universitat de Barcelona: Tesis doctoral.
2000 “Gringos como en sueños. Diferenciación y conlicto campesino en el Sur Andino Peruano ante el
desarrollo de un nuevo recurso: el turismo”. Historia Agraria, vol. 21: 237-239.
2004a “Rich Peasant, Poor Peasant: Differing Fates of Urban Migrants in Peru”. Latin American
Perspectives, vol. 31 (5): 57-74.
2005 Gringos como en sueños: Diferenciación y conlicto campesino en los Andes peruanos ante el
desarrollo del turismo. Lima: Instituto de Estudios Peruanos.
2007 “Prólogo: El turismo rural comunitario: una herramienta a favor del mundo rural en los países
del sur”. En: Tudurí, C. (ed.) Turismo responsable: 30 propuestas de viaje (p. 15-17). Barcelona:
Editorial Alhena Media.
2009a “¿Pro-poor tourism o pro-corporation tourism?: La cooperación internacional como fuente de
legitimidad de los intereses transnacionales”. En: Cordobés, M.; SANZ, B. (Coord.) Turismo para el
Desarrollo (p. 84-97). Barcelona: Obra Social La Caixa.
2009b El turismo en la cooperación internacional: de las brigadas internacionalistas al turismo solidario.
Barcelona: Icaria.
2009c “Pròleg” en: Miralles, J. & Rosselló, A. (eds) El turisme sostenible com a eina de cooperació per
al desenvolupament: experiències a Amèrica Central (p. 11-14). Mallorca: Editorial Universitat de
les Illes Balears.
2013 “The limitations of community-based tourism as an instrument of development cooperation: the
value of the Social Vocation of the Territory concept”. Journal of Sustainable Tourism, Vol. 21, No.
5: 716–731.
Gascón, J. y Ojeda, D.
2014 Turistas y campesinado. El turismo como vector de cambio de las economías campesinas en la era
de la globalización. Madrid; El Sauzal (Tenerife): Foro de Turismo Responsable; ACA; PASOS, RTPC.
Gascón, J.; Cañada, E.
2005 Viajar a todo tren. Turismo, Desarrollo y Sostenibilidad. Barcelona: Icaria.
Gascón, J. y Montagut, X. (Coord.)
2010 Estado, movimientos sociales y soberanía alimentaria en América Latina. ¿Hacia un cambio de
paradigma agrario?. Quito, Barcelona: FLACSO, Icaria Editorial, Xarxa de Consum Solidari.
Gascón, J.; Pérez Berenguer, E.
1997 “El impacto del turismo y de los proyectos de desarrollo de ONG’s en la estructura social y económica
de dos comunidades andinas”. Agricultura y sociedad, num. 84: 225-252.
Greenwood, D.
1972 “Tourism as an Agent of Change: A Basque Case”, Ethnology, 11(1): 80-91.
Hills, T.L. y Lundgren, J.
1977 “The impact of tourism in the Caribbean: A methodological study”. Annals of Tourism Research,
4(5): 248-267.
Janoschka, M.
2011 “Imaginarios del turismo residencial en Costa Rica”. En: Mazón, T., Huete, R. Y Mantecón, A.
(eds.) Construir una nueva vida. Los espacios del turismo y la migración residencial (p. 80-101).
Barcelona: Milrazones.
Janoschka, M y A. Borsdorf
2006 “Condominios fechados and Barrios Privados: the rise of private residential neighbourhoods in
Latin America”. En: Frantz, K.; C. Webster y G. Glasze (Eds.), Private City Fragments. The global
spread of (gated) proprietary neighbourhoods (p. 92-108). Londres: Routledge.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
356 Una mirada sobre la turistiicación de la antropología del desarrollo en el Estado español
Jurdao, F.
1992 Los mitos del turismo. Madrid: Endymion.
Louloum, T.
2010 Con-Dominium. Turismo Residencial Internacional y Desarrollo Inmobiliario en el Nordeste
Brasileño. Tesis de maestría inédita, Instituto Agronómico Mediterráneo de Zaragoza, Universidad
de Zaragoza.
MAEC (Ministerio de Asuntos Exteriores y Cooperación)
2013 IV Plan Director de la Cooperación Española 2013-2016. Madrid: Ministerio de Asuntos Exteriores
y de Cooperación (MAEC), Secretaria de Estado para la Cooperación Internacional y para Iberoa-
mérica. Disponible en http://www.aecid.es/Centro-Documentacion/Documentos/Divulgaci%C3%B3n/
iv_plan_directorce_2013-2016_inal2.pdf (Última consulta: 10 de noviembre 2014].
Mancinelli, F.
2011 Sobre los distintos usos del patrimonio: Anàlisis de dos estudios de caso en Madagascar. En: Prats,
Ll. y Santana, A. (coords) Turismo y patrimonio. Entramados narrativos. (p. 87-100). Pasos, Revista
de Turismo y Patrimonio Cultural. Colección pasos edita, no. 5. Universidad de la Laguna.
2013 Zaimaniry: La invention d’une tribu. Art ethnique, patrimoine inmatériel et tourisme dans une
communauté de Madagascar. Tesis de doctorado, Universitat de Barcelona.
Martínez Mauri, M.
2010a “El tesoro de Kuna Yala. Turismo, inversiones extranjeras y neocolonialismo en Panamà”. Cahiers
des Amériques Latines. 3, 65: 73-88.
2010b “De la antropología del desarrollo a la antropología del turismo: la experiencia de la comarca
indígena de Kuna Yala (Panamá), un paraíso turístico en desarrollo.” En: Marta Ne·lo (ed.) Turismo,
Cooperación y Desarrollo (p. 64-65), Tarragona: Publicacions de la Universitat Rovira i Virgili.
Medina, F. X. y R. Sánchez
2005 “Actividad físico-deportiva, turismo y desarrollo local en España”. Pasos, Revista de turismo y
patrimonio cultural Vol. 3 Nº 1: 97-107.
Mellado, M.E.
2012 “El turismo como eje de intervención en las políticas de cooperación para el desarrollo. El caso de
Panamá y el archipiélago Las Perlas”. En: C. Larrea Killinger y M. Martínez Mauri, Contribuciones
Antropológicas al Estudio del Desarrollo (p. 81-97). Barcelona: Editorial UOC.
Milano, C.
2013 “De espacio rural a espacio turístico: una etnografía del desarrollo en el Delta de Parnaíba (Brasil)”.
Quaderns-e, 18 (1): 128-143.
Nel•lo ndreu, M. y Pérez lbert, Y.
2014 “La formación curricular y la investigación en Cooperación y Turismo en la Universidad Española”,
en: Gascón, J.; Morales, S.; Tresserras, J. (2013) “Cooperació en turismo: Nuevos desafíos, nuevos
debates” (p. 65-85). Editores: Foro de Turismo Responsable, Universitat Oberta de Catalunya,
Universitat de Barcelona y COODTUR, Barcelona.
Nogués Pedregal, A.M.
2005 “Etnografías de la globalización. Cómo pensar el turismo desde la antropología”. Archipiélagos,
cuadernos de crítica de la cultura, 68:. 33-38.
2006 “Ruralismo y tecnotropismo: turismo y desarrollo en la Bonaigua”. Pasos, Revista de turismo y
patrimonio cultural, Vol. 4 : 53-68.
2009 “Genealogía de la difícil relación entre antropología social y turismo”. Pasos, 2009, vol. 7 (1): 43-56.
Nogués Pedregal, A.M. (Ed)
2012 Culture and society in tourism contexts. UK: Emerald.
Palou, S.
2014 “The Anthropological Study of Tourism in Spain: Notes about a brief anthropological culture
dedicated to the study of tourism”. Anthropology News, 55 (9-10): 31.
Pastor Alfonso, M. J.; (Coord.)
2011 Interpretación del patrimonio: comunidades, territorio y turismo en la selva lacandona. Alicante:
Aguaclara.
Palomo, S.
2012 “La inanciación de proyectos de cooperación al desarrollo turístico en el marco de los planes direc-
tores de cooperación en España”, en Navarro, E. et al. Cooperación y turismo: intenciones y olvidos.
Experiencias de investigación a debate (p. 113-125). Málaga: Universidad de Málaga COODTUR.
Pastor Alfonso, M. J. y Gómez López, D.
2010 Impactos socioculturales en el turismo comunitario: una visión desde los pueblos implicados (selva
lacandona, Chiapas, México). Alicante: Aguaclara.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Mònica Martínez Mauri 357
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
358 Una mirada sobre la turistiicación de la antropología del desarrollo en el Estado español
Notes
1
En este mismo contexto etnográico, Gascón también ha analizado los cambios y adaptaciones del
sistema de compadrazgo (2004a), las transformaciones de la dieta alimenticia (2000), la historia
oral entorno a las luchas campesinas (1994). Superando los trabajos gestados desde la óptica de la
tragedia de los comunes, en lugar de entender la ineicacia en la gestión de recursos como la pesca
y el pasto en relación exclusivamente al sistema de propiedad de la tierra, Gascón lo ha relacionado
con otras variables (características del recurso, inmersión en el sistema de mercado, intereses
puntuales de los propietarios, etc.) (Gascón 1996). Este investigador (2004b) también relexiona sobre
las conexiones entre el mundo urbano y el mundo de origen de los migrantes del campo peruano.
Según él no se puede entender el éxito o fracaso económico de estos migrantes sin tener en cuenta
su estatus socioeconómico en la comunidad de origen.
2
Proyecto “Estudio estratégico del turismo en Kuna Yala (Panamá)” inanciado por la Secretaria
Nacional de Ciencia y Tecnología de Panamá (SENACYT) CID07-009, gestionado por la Universidade
De Trás-Os-Montes e Alto Douro (UTAD), 2008-2011.
3
Hasta el año 2011 en la literatura etnográica eran conocidos como kunas, cunas, dules o tules. Este
cambio se debe a la decisión del Congreso General Guna de adoptar la “g”.
4
De esta investigación inicial, ha derivó, el año 2009, un nuevo proyecto con la ONG comunitaria
Asociación Gardi Sugdup llamado “La avifauna del sector occidental de Kuna Yala: Inventario,
Etnotaxonomía y Ecoturismo”, también inanciado por la SENACYT, (CCP09-015). Este segundo
proyecto, mucho más concreto y acotado a la realidad de una comunidad kuna, pretendía crear ins-
trumentos para desarrollar un modelo de turismo adecuado a la realidad ecológica, social y económica
de la región. En 2011 el proyecto continúa gracias a un nuevo inanciamiento de la SENACYT para
fortalecer la formación de guías en observación de aves (CVP11-13).
5
http://media.unwto.org/es/press-release/2014-01-20/el-turismo-internacional-supera-las-expectativas-
-con-52-millones-llegadas-a (última consulta: 14 mayo 2014)
6
Estas nuevas realidades también han despertado el interés de muchos investigadores de las ciencias
sociales. A modo de ejemplo podemos citar los trabajos de Michael Janoschka (Departamento de
Ciencia Política y Relaciones Internacionales de la Universidad Autónoma de Madrid), sobre las
nuevas formas de movilidad y estilos de vida (lifestyle mobility) en Costa Rica (2011) o en América
Latina en general (Janoschka y Borsdorf, 2006).
7
http://media.unwto.org/es/press-release/2014-01-09/asamblea-general-de-las-naciones-unidas-el-
-turismo-puede-fomentar-el-desarr (última consulta: 28 octubre 2014)
8
Para una interesante compilación sobre la relación entre turismo y desarrollo desde los development
studies cf. Sharpley y Telfer, 2002
9
Para una excelente síntesis de los puntos de vista desde los que se ha estudiado, descrito y analizado
el turismo, cf. Santana, 1997: 19-24.
Recibido: 19/05/2014
Aceptado: 03/12/2014
Sometido a evaluación por pares anónimos
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Vol. 13 N.o 2. Special Issue Págs. 359-373. 2015
www.pasosonline.org
Margarita Barretto*
Universidad Federal de Santa Catarina (Brasil)
Resumo: O presente artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que teve como objetivo analisar as políticas
públicas de cultura e turismo em relação aos produtores de cultura, buscando entender os efeitos das primeiras
nos grupos tradicionais, focando no caso dos maracatus de Pernambuco. Tratou-se de uma pesquisa etnográica e
documental, com entrevistas aos líderes dos maracatus, agentes culturais e agentes turísticos, assim como análise
dos documentos referentes às políticas públicas do estado. Foi possível constatar o direcionamento das políticas
públicas para a valorização dos maracatus como produtos culturais e o rebatimento desta ação na revalorização
dos maracatus como elementos da cultura local, assim como no empoderamento dos líderes, permitindo sua par-
ticipação ativa e criadora dentro dos mecanimos do mercado, com a consequente valorização econômica. A pesquisa
limita-se aos grupos pernambucanos poranto os resultados não podem ser generalizados; no entanto acenam com a
possibilidade de que este processo possa ser encontrado em referência a outros grupos tradicionais no Brasil, onde
este tipo de estudo não tem antecedentes.
Palavras-chave: turismo cultural, políticas públicas, folguedos, maracatus, Pernambuco- Brasil
Public policies for culture and tourism and its influence in the professionalization of traditional
performers. Case study with Maracatus at Pernambuco, Brazil
Abstract: The article is an outcome of a ield research aiming to analyze public policies in tourism and culture
and its inluence in cultural agents, focussing in traditional performers, in particular Maracatus at Pernambu-
co State, Brazil. It was an ethnographical and documental research, where interviews with maracatu leaders
were held, as well as with cultural brokers and travel agents; also public policies documents were analyzed. It
was possible to conirm the existence of public policies oriented to enhance the value of maracatus as cultural
products and the following recognition of maracatus as valuable local culture producers, the empowering of
maracatu leaders, and their insertion in market economy. The research is limited to performers in Pernam-
buco, so no generalizations are meant, even it is possible to hypothesize that similar processes are taking place
with other tradicional performers in Brazil, where this research has not been made before.
Keywords: cultural tourism, public policies, traditional performances, maracatus, Pernambuco-Brazil
*
Doctora en Antropologia por la UFPE. Pofesora de turismo. Centro de Ciencias Sociales Aplicadas UFPE; E-mail: carla-
[email protected]
**
Doctora en Educación por la UNICAMP. Profesora de Turismo. Centro de Ciencias Sociales Aplicadas. FURB; E-mail:
[email protected]
O turismo contemporâneo tem frequentemente buscado como seu principal apelo a distinção do
destino mediante atrativos culturais retomando, nas últimas décads do século XX, sob outras formas,
a relação entre cultura e turismo que remonta ao século XVII.
Desde a década de 1950, o mercado turístico cresceu de forma acelerada, principalmente associado
a oferta de sol e praia; os números do turismo em todo o mundo atingiram cifras de grande relevância,
tanto no aspecto econômico quanto no de movimento de pessoas, e a partir da década de 1980 o segmento
do turismo cultural ressurge como possível alternativa de promover experiências turísticas, entre outras
coisas -mas não exclusivamente- pela forte discussão acadêmica sobre os impactos negativos do turismo
massivo, aliado a um certo desgaste da oferta anterior. Assim, a busca de um turismo mais brando,
reaviva o interesse do mercado por questões como história, tradições, museus, patrimônio, entre outros1.
O inal do século XX marca a busca por um turista mais seletivo, que procura experiências e produtos
segmentados, personalizados. Ademais, este momento é marcado por preocupações socioambientais, de
caráter global, baseados no conceito de sustentabilidade (Santana, 2009).
Sob essa ótica, o conceito do turismo cultural teria como principal premissa a minimização de efeitos
negativos nos núcleos receptores e uma demanda mais sensível a conhecer e respeitar modos de vida
distintos, além de poder ser oferecida durante todo o ano, reduzindo a sazonalidade, verdadeiro problema
nos destinos de sol e mar.
Simultaneamente, a partir da década de 1980, há um crescimento do setor cultural nunca visto antes,
sendo o turismo um aliado promissor de desenvolvimento econômico do mesmo. O cultural registra entre
1980 e 1998 um crescimento quatro vezes acima do da maioria dos setores econômicos2 (Tolila, 2007:35).
Começa a conigurar-se um padrão mercadológico favorável para os dois setores, o que aumenta
o interesse da cultura em se apropriar do turismo e vice-versa. Para o turismo, capitalizar a cultura
signiica oferecer ao turista uma opção diferenciada, uma vez que no contexto da globalização a cultura
passa a ser um elemento que singulariza os lugares. Como airma Craik (1997:113):
“A cultura do turismo vem sendo modiicada em resposta a mudanças ocorridas na área da cultura.
Isto inclui interesses de comercialização da cultura e de produtos culturais, os investimentos recentes
na indústria cultural, os investimentos governamentais em capitalizar a cultura, o aumento do consumo
cultural das pessoas e oportunidades e aumento da produção cultural”.
Sendo assim, sustentar a cultura através do turismo passa a ser uma prática que tem na Europa uma
série de casos emblemáticos, principalmente no que se refere ao patrimônio material. Como exemplo,
as visitações a castelos na Inglaterra, que viabilizam economicamente a permanência das famílias
proprietárias sustentando parte dos custos com as taxas pagas pelos turístas (Barretto, 2007).
O turismo vem sendo, a partir de então, além de uma alternativa econômica, uma instância que
valoriza o legado propiciando a revitalização e renovação do interesse dos próprios residentes sobre
seu patrimônio.
Ao mesmo tempo, o consumo cultural de produtos e serviços introduz um novo modelo de gestão, no
qual os equipamentos culturais, como por exemplo os museus, são geridos como unidades de negócio,
com técnicas e estratégias de gestão de visitantes, metas preestabelecidas, controle de visitantes, vendas
de reproduções (Icom, 2004; Borghi, Mariotti y Safarzadeh, 2011)
Do ponto de vista do mercado, esse cenário favorece a proliferação de pacotes turísticos com toques
de “cultura”, que selam a imagem de destinos através de ícones culturais distintivos.
Apesar da lógica menos massiva na qual o conceito do turismo cultural de início foi projetado, na
atualidade aquele desenvolvido principalmente dentro das grandes áreas urbanas das capitais em
todo o mundo, faz parte dos circuitos de massa e é oferecido sob a ótica do mercado em grande escala.
Como airma Santana (1998:40), “grande parte do patrimônio turístico corresponde à imagem
pré-conigurada dos consumidores, construída através dos estereótipos que lhes são oferecidos desde o
destino e bem induzidos pelos meios de comunicação de massa”.
O que se tem não é uma demanda e uma oferta diferenciada, mas um produto cultural sendo
consumido da mesma forma que o turismo de massa, isto é, com alto grau de supericialidade, mais
que nada conirmando idéias preconcebidas.
Ao longo dos anos diversas deinições de turismo cultural foram elaboradas. Smith (1989:4-5) deine
como turismo cultural a experiência de visitação a locais pitorescos, com vestígios da vida antiga, de
cultura colonial, diferenciando-o do turismo histórico e étnico. No Brasil o Ministério do Turismo tem
por deinição de turismo cultural “Atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Carla Borba, Margarita Barretto 361
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
362 Políticas públicas de cultura e turismo, e sua inluência na proissionalização
“Recordo de um desfile do maracatu Nação Elefante, em 1991, de que participei como batuqueiro, no qual
grande parte do público presente às arquibancadas nos vaiava e pedia que nos retirássemos para que fossem
iniciadas as apresentações das escolas de samba. Também me lembro do número diminuto de desfilantes dos
maracatus nos anos 1980, o que contrasta com os grandiosos desfiles dos grandes maracatus-nação existentes
atualmente. [...]o público não dava tanta atenção para esta modalidade da “cultura pernambucana”. Também
não percebia que nessa época já se desenhava um quadro favorável ao fortalecimento desses maracatus,
ainda que de modo muito tímido”.
Depois passaram a apresentar-se em passarelas com arquibancadas, o que deu início ao processo de
espetacularização e, na segunda metade da década de 1980, é perceptível uma popularização motivada
por um período de efervescência cultural. Compositores e artistas conhecidos começam a utilizar imagens
e ritmos dos maracatus, a poduzir clipes e realizar shows vestidos de caboclo de lança, consagrando
esta igura na mídia.
Caboclo de Lanza
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Carla Borba, Margarita Barretto 363
É através de uma ação política entre governo e produtores culturais que se institucionaliza a participação
e o apoio aos grupos de maracatus; há uma decisão de colocar o maracatu como símbolo de Permambuco,
“Cadoca resolveu colocar o maracatu como símbolo de Pernambuco e Jonatan, do Ministério da
Cultura, foi quem, junto com Cadoca, fomentou esse trabalho de Mestre Salustiano9 [...], me chamaram
para fazer um encontro dos maracatus de Nazaré [...]é uma construção social” (entrevista concedida
por Afonso, produtor cultural em fevereiro de 2009).
Os produtores culturais que buscaram no turismo uma forma de viabilizar ações integradas para
difundir de potencializar a cultura popular procuraram o poder público, que gerou recursos, embora
descontinuados.
“O maracatu foi estruturado num trabalho de política cultural mesmo. Houve uma articulação de nós
produtores com os maracatus, em que a gente procurou o vice-presidente, ministro, secretário de Cultura,
secretário da Prefeitura do Recife,[...], todos eles geraram recursos, [...] fizeram o financiamento e no segundo
momento a divulgação, que foi superimportante. Mas não houve uma continuidade, [...] num período de oito
anos, mais ou menos” (entrevista concedida por Afonso, produtor cultural – fevereiro de 2009).
Maracatus Governo
Investimentos em eventos culturais e
Efervescência cultural – musical
turísticos
Apresentação em palcos junto com artistas famosos Apropriação da cultura como produto turístico
Escolha de um ícone cultural: caboclo de lança
Valorização da mídia
no material publicitário de turismo
Início de uma venda agregada que soma
Valorização da cultura popular
cultura ao tradicional sol e mar
Recebimento de cachês Pago de cachês
Fonte: Borba, C., 2010
Esse investimento governamental favoreceu não somente os maracatus, mas também outras
manifestações de cultura popular, como a ciranda e o coco (Vicente, 2008). A efervescência cultural tem
desdobramentos que chegam às ruas através de ensaios de grupos de maracatus no Bairro do Recife,
com uma forte participação de residentes locais de vários segmentos das classes média e universitária.
Os maracatus começam a funcionar o ano todo não apenas pelo turismo mas também pela valorização
de ritmos afro brasileiros por artistas internacionais como Paul Simon (que inclusive em 1990 viaja
ao vizinho estado da Bahia para gravar com o grupo afro Olodum, projetando-o em nível mundial)10.
A partir daí, os maracatus passam a ocupar espaço além do período de Carnaval, o que possibilitou
um novo olhar da elite, com foco muito mais no espetáculo do que na sua conotação afrorreligiosa. A
musicalidade, o ritmo e as cores contribuíram para uma aceitação mais aberta e menos preconceituosa,
passando a criar um traço identitário associado ao conceito de cultura pernambucana.
No caso de Pernambuco, sempre houve interesse por parte do turismo em divulgar sua potencialidade
cultural, tendo como exemplo outros investimentos públicos feitos em décadas anteriores para a inserção da
ciranda, forró, entre outros ritmos, na programação dos turistas. De fato, o que muda a partir desse início
de relação com os grupos de maracatus é a valorização e o espaço de mídia ocupado pelo caboclo de lança,
como ícone da cultura. Há um esforço do poder público em criar uma identidade entre governo e maracatus,
de forma que essa representação do Estado vai além dos turistas e é reforçada também entre os residentes.
Para a cidade de Recife a ênfase no potencial cultural11 (gastronomia, museus, teatros e patrimônio
histórico), foi, na época, ainda maior, uma vez que o cartão-postal do turismo – a Praia de Boa Viagem
– passou a ser alvo de imagem negativa pelo aparecimento de tubarões12.
Em 1994, dentro de um projeto de revitalização do centro, a secretaria de cultura de Recife organizou
o primeiro encontro de maracatu rural. Embora esse trabalho do governo tenha sido mais voltado para
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
364 Políticas públicas de cultura e turismo, e sua inluência na proissionalização
a questão promocional, especula-se que o interesse da classe média em aceitar os grupos de maracatus
está muito atrelado ao movimento musical manguebeat13, que possibilitou a participação dos maracatus
nos palcos, inluenciando assim também o consumo da classe média14 (Vicente, 2005).
Embora haja uma série de registros de apresentações oiciais no carnaval desde a década de 1930,
a descrição de como era e para qual público ocorriam sinaliza a importância secundária que as apre-
sentações populares sempre tiveram.
O início da década de 1990 representou uma nova fase de convites para desiles fora do período do
Carnaval, como, por exemplo, a abertura do Recifolia,15 o que aproximou os grupos de maracatus de
um público novo – apreciadores de espetáculos culturais, turistas e residentes locais que diicilmente
frequentariam as apresentações nos terreiros.
Inicia-se a partir de então um movimento, apoiado pela sociedade, de valorização dos maracatus, o
que envolveu a Prefeitura do Recife e outras prefeituras municipais. Está evidente nessa fase o interesse
político em apoiar uma manifestação que ganhara na mídia uma grande magnitude nos últimos anos.
As décadas sombrias com risco de desaparecimento são substituídas pela proliferação de grupos de
maracatus, com o intuito de darem conta de todas as apresentações que apareciam. Os grupos entram
na economia de mercado, passam a negociar cachês, e surge a necessidade de se organizarem para
“vender o seu produto”.
Os espaços de apresentação passam a ser os mais variados, incluindo shoppings, casamentos, aniver-
sários, formaturas, e os cachês recebidos passam a complementar a renda das atividades tradicionais
dos brincantes.
Paralelamente aos movimentos culturais de valorização da “pernambucanidade”, a mídia positiva
aumentava o interesse público em investir na manifestação popular como parte integrante do produto
turístico oferecido. Estes investimentos, no entanto, são mínimos ao lado dos investimentos que o estado
faz em infraestrutura para o turismo. Limita-se à promoção de apresentações pagas com cachês e à
confecção de material publicitário de turismo divulgando o maracatu.
A década de 1990, em nível mundial, está marcada por uma valorização de produtos turísticos mais
segmentados e maior interesse da demanda internacional pela cultura.
Em termos de políticas públicas de turismo, Pernambuco oicializou, através de documento, a
macroestratégia de turismo, cujas diretrizes apontavam para uma valorização da cultura, destacando
a interiorização do turismo, a promoção de destinos longe da orla marítima. Assim, foi proposta uma
série de ações de investimento cultural, principalmente com a promoção de eventos (ligados ou não ao
ciclo festivo do Estado).16
O patrocínio público às manifestações de maracatu abre espaço para que mais grupos sejam formados
e se apresentem como aptos para ocupar a cena artística e turística. Dessa forma, além dos grupos
de maracatus artísticos, maracatus-nação (tradicionais e outros que ressurgiram), maracatus rurais,
surgem os grupos de percussão,17 que com sua similaridade buscam ocupar o mesmo espaço social.
A possibilidade de gerar recursos motivou a formalização da Associação18 dos Maracatus Rurais, com
o objetivo de organizar os grupos e defender os interesses de classe. A transformação das apresentações
em espetáculo passa a ser um negócio rentável e os produtores culturais passam a trabalhar a im de
viabilizar os grupos para o mercado musical.
Por outro lado, o governo, e o trade, estão cada vez mais irmes na intenção de oferecer um produto
cultural como alternativa turística, e os grupos de maracatus coniguranm-se como a opção mais viável
naquele momento.
Adaptar-se ao patrocínio do governo também signiicava, para os grupos, buscar o tipo de espetáculo
que o setor de turismo acreditava ser o ideal para o seu público. Sendo assim, o objetivo das apresentações
era valorizar as danças populares a partir do enfoque artístico, além de, conforme destacou em entrevista
o líder do Maracatu Nação Pernambuco, tirar o maracatu da armadura de estar ligado só ao Carnaval
e torná-lo o um espetáculo para o ano inteiro.
Para esse início de apresentação artística, o governo exerceu papel fundamental, inclusive motivando
a formação de grupos de maracatus artísticos (ou seja, sem ligações religiosas), passando a ser o principal
cliente de compra das apresentações para representar Pernambuco em vários estados e países.
A partir daí, muitos grupos “tradicionais” passaram a adotar critérios que lhes possibilitariam ocupar
o mesmo espaço, de forma que uma nova preocupação estética passa a fazer parte das apresentações.
Sendo assim, o investimento em roupas, o colorido das lantejoulas assim como a adequação do tempo
de apresentação e a diversiicação de danças apresentadas, passaram a ser aspectos importantes para
a inclusão dos grupos no mercado cultural e turístico.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Carla Borba, Margarita Barretto 365
A intervenção do setor público e o discurso de investimento no turismo cultural são coadjuvantes com
outros fatores, tais como a capacidade de articulação com artistas e instituições, a entrada no mercado da
produção cultural, a gravação de CDs, a negociação de cachês. Neste momento há uma decisão política
de utilizar o maracatu como símbolo da cultura no material publicitário de turismo:
“A gente precisava ter um ícone da nossa cultura para fazer divulgação de nosso potencial e elegemos o
maracatu [...]para resgatar um pouquinho da nossa cultura, deixar de vender o sol e mar e utilizar o elemento
cultural” (entrevista de um gestor público – concedida em fevereiro de 2009).
Aliar a imagem do maracatu ao turismo é uma forma de signiicar uma série de sentimentos fun-
damentais para o turismo, tais como alegria, exotismo, tradição, natureza, encanto; o maracatu deixa
de ser apenas um tema regional, para ser alvo de atenção do órgão nacional de promoção de turismo.
“Um belo dia eu estou lá no terceiro Carnaval quando alguém chega e diz que a Embratur19 mandou
fazer outro ilme sobre o maracatu. Então um dos encontros de maracatu deu cinco, seis, sete, oito
chamadas no Brasil todo em cima do maracatu rural, contando a história, como surgiu, como que era,
como começou com cortador de cana” (entrevista de um gestor público – concedida em abril de 2009).
Simultaneamente ao interesse do turismo pela cultura, os meios de comunicação passam a exaltar
o exotismo do vestuário, aliado às cores e ao próprio ritmo, como parte da “tradição” e “memória” da
cultura pernambucana.
O turismo vai procurar retratar, na imagem dos maracatus, uma ligação com o passado e apresentar
uma “tradição” que, num cenário de globalização, ganha força pelo aspecto da singularidade. Os grupos
de percussão entram em cena com interesse de cativar espectadores a partir da musicalidade, porém
são vistos como uma ameaça para os maracatus-nação, uma vez que buscam ocupar o mesmo espaço
em termos de espetáculo. Para os espectadores, não há diferença, uma vez que a toada passa a ser mais
importante do que a evolução da manifestação cultural em si.20
Diante desse contexto e do interesse público de valorização da cultura através da imagem dos
maracatus, toda uma rede se forma Seus membros passam a ser stakeholders dentro de um mercado
com interesses diretos e indiretos na cultura e no turismo.
Os stakeholders (Sautter e Leisen, 1999:316), são pessoas ou entidades membros de um grupo
determinado que, por razões de interesse, frequentemente exercem determinados papéis; nesse caso
são os grupos com interesses diretos nas ações culturais mediadas pela Secretaria de Turismo.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
366 Políticas públicas de cultura e turismo, e sua inluência na proissionalização
A mediação do Estado vai repercutir diretamente nos grupos de maracatus, que entram em cena
como principais protagonistas na integração turismo e cultura; os maracatus vão ter uma relação de
mercado com o trade turístico em que surgem contratações feitas por hotéis, agências de receptivo,
eventos, o que durante um bom tempo ocorrera com a mediação dos produtores culturais.
3. Os maracatus e o trade
A relação dos maracatus com o trade turístico é semelhante à que ocorre com o governo. Sob a ótica
dos empresários, cabe aos grupos de manifestações culturais criar produtos para serem oferecidos aos
turistas.dentro de um padrão de mercado exigido pelos mesmos.
Para o trade, atingir o padrão do turista signiica oferecer um produto de qualidade, criativo, colorido,
alegre, o que não necessariamente representa um produto original ou tradicional. Diante disso, nos setores
envolvidos há uma tensão entre a noção do que deve ou não ser comercializado. Para os representantes
do trade turístico, resulta incompreensível
“essa mania que eles têm de não querer se vender. Eles acham que o ato de se comercializar é um ato de
desagregação, é um ato em que você perde a originalidade. Eu acho que isso é burrice [...], está entendendo?
Em todo o canto do mundo você tem que mostrar o que você tem de especial (...). Eu não acho que você, ao se
mostrar, se desvirtua. Eu acho que você pode se mostrar e passar a vida toda sendo maracatu” (entrevista
concedida por um gestor do trade turístico – março de 2009).
Na relação com os hotéis a prática de apresentações culturais programadas vai ocorrer de forma
semanal em resorts do litoral e nos hotéis da capital em função de eventos e congressos. Isso se dá
principalmente com grupos artísticos que apresentam vários ritmos, de modo que possa ocorrer um
“passeio” por todos os ritmos locais.
No caso das agências de viagens receptivas, apesar de haver interesse em oferecer produtos turístico-
-culturais, isto é, espetáculos e visitas culturais, há uma preocupação em oferecer produtos que possam
ser consumidos pelos clientes dentro de uma relação custo-benefício. Dessa forma, o padrão da excursão
para o maior número de pessoas prevalece, o que faz com que os pacotes oferecidos recebam uma
padronização que resume a visita a um olhar panorâmico da janela do ônibus ou de forma bastante
rápida, com tempo de parada para a fotograia.
Um percentual pequeno e mais autônomo vai fugir desse padrão e procurar o “mercado paralelo”
em busca de opções menos “turísticas”, para ter contato com a cultura em meio aos seus moradores. É
dessa forma que alguns chegarão aos terreiros para ensaios de maracatus, visitarão museus, conhecerão
centros culturais, não motivados pelos produtos turísticos oicialmente oferecidos nas agências ou
mesmo pelo Estado.
O que mercado turístico conhece dos maracatus é algo muito pontual dentro dos espaços do turismo. No
entanto, os maracatus criam e recriam suas práticas diariamente, independentemente do viés turístico.
Nos terreiros, estudantes e pesquisadores estrangeiros iniciam um relacionamento direto com os
líderes de maracatus, após o qual eles participam e vivenciam o cotidiano do grupo.
“Eu tenho um pessoal da Alemanha que traz o povo deles para aqui. Tem Scott, que é americano e todo ano
vem com 30 pessoas, e a gente faz turismo aqui, não é? Eu faço almoço, faço a janta, só não fazem dormir,
porque eu não tenho espaço para dormir, mas a comida dá para eu me virar e fazer” (entrevista concedida
com líder de maracatu – março 2009).
Essa prática ocorre de forma independente (contato turista-líder maracatu) e se constitui fora do
roteiro turístico-cultural que pode ser encontrado nas agências de turismo receptivas.
Por outro lado, este trade vislumbra certos aspectos do turismo cultural. Por exemplo, reclama da
inexistência de uma casa de espetáculos para o turista conhecer as danças típicas tal qual as casas de
tango na cidade de Buenos Aires (Argentina).21
As grandes críticas feitas pelos próprios líderes de maracatus sobre a diferença entre um maracatu
autêntico e artístico não são levadas em consideração no momento de contratação. Diante de tantos
grupos de origem tradicional ou artísticos, importa para a apresentação turística saber sua real origem?
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Carla Borba, Margarita Barretto 367
Qual diferença faz para o turista? Qual o signiicado da dança naquele momento para os brincantes?
Para o contratante, o que ele pretende motivar com essas apresentações?
O discurso do trade em torno da valorização do turismo cultural como produto diferenciado no Estado
é bem disseminado entre todos os segmentos – restaurantes, agências, hotéis –, embora limitado à visão
comercial em torno da cultura.
No caso especíico dos maracatus, há uma relação consolidada entre Estado (leia-se órgão de turismo
e órgão de cultura). A Setur-PE (Secretaria de Turismo de Pernambuco) solicita os grupos quando
necessita das apresentações e a Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco)
faz o agendamento de grupos culturais de forma a atender aos interesses de ambos. São solicitadas
apresentações em serviços receptivos turísticos (aeroportos e porto), ou em eventos de outra natureza,
mediante pagamento de cachês.
Além de solicitar a apresentação das manifestações culturais à Fundarpe, a Setur-PE pode agir de
forma autônoma se houver necessidade “extra” e patrocinar apresentações. De uma forma ou de outra,
a relação com os artistas é praticamente nula, resumida a um contato informal, muitas vezes pelo
telefone, em que, sem mais. se agenda a data da apresentação e a forma de pagamento.
Apesar de o discurso valorizar a cultura, o que se compreende como tal é a cultura do ponto de vista
do que interessa ao turismo. “Oferecer o que tem de melhor, a arte, a música, as danças e a gastronomia”,
discurso frequente no turismo que signiica operacionalizar a cultura para o seu consumo.
Ao mesmo tempo que o olhar do turismo se direciona a alguns elementos da cultura, a Fundarpe vem
construindo nos últimos anos uma política pública estadual, com ampla participação de produtores,
artistas e interessados na cultura, e o turismo surge como um dos meios de viabilizar a mesma, embora
não o único.
Os líderes de maracatus, interessados em participar nas duas secretarias (Fundarpe e Setur), possuem
duas alternativas para oferecerem os seus “serviços”. De início a relação com o governo se dava através
dos produtores culturais, que tiveram um papel importante na organização e formalização de muitos
grupos. No entanto, alguns líderes passaram a atuar de forma autônoma, principalmente com relação
aos contratos com o governo, o que passou a diicultar a aprovação de projetos22.
No atual contexto, a cultura e o turismo assumem discursos distintos, e os principais interessados
nesta relação – os líderes dos maracatus – são hoje em dia verdadeiros negociantes do seu produto.
Diante de um governo que valoriza o popular, a Fundarpe vai assumir, por opção e ideário político,
um papel de indutor e principal responsável pelo desenvolvimento da cultura:
“O poder público do Estado de Pernambuco pela primeira vez começou a dizer que é papel, sim, do poder
público garantir uma política pública cultural. [...] garantir igualdade de oportunidade de disputas através
de editais, [...] prioridades para alguns segmentos excluídos, ela tem que contribuir para que o modelo de
desenvolvimento seja um modelo de desenvolvimento sustentável, porque ele é poder público, ele é mediador
das relações sociais[...]” (entrevista de um gestor público – concedida em maio de 2009).
O processo não é isento de tensões. A preocupação do setor de turismo em não apresentar algo pouco
produzido ou de má qualidade em nome da cultura é muitas vezes alvo de crítica, o que é interpretado
na área cultural como desejo -por parte do primeiro- de “maquiagem” do real.
5. Considerações Finais
Apesar de acreditar que a cultura é o diferencial, “é o plus que Pernambuco tem para promover como
um grande destino turístico no Brasil”,23 a relação do turismo com os grupos de maracatus reduz-se às
fotos impressas, à imagem do caboclo de lança, providenciadas via agência de publicidade.
As atividades estampadas nas fotos no desembarque do aeroporto, na chegada do turista, somente
serão acessíveis durante sua permanência na cidade caso haja alguma apresentação programada ou
se o turista icar hospedado em algum resort que tenha uma programação autônoma de apresentações
culturais. Apesar de os maracatus terem ensaios em suas sedes e até mesmo alguns ensaios abertos
promovidos em espaços como Mercado Eufrásio Barbosa24 (Olinda) e Rua da Moeda (Recife), este circuito
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
368 Políticas públicas de cultura e turismo, e sua inluência na proissionalização
não faz parte do que é oferecido aos clientes pelas agências. Percebe-se que, embora se deseje fortalecer
o turismo cultural, faltam ações práticas para viabilizar a consolidação deste segmento.
Pelas agências de turismo, principais distribuidores do sistema turístico local e que, como regra,
trabalham dentro de um modelo massivo, diicilmente esse turista chegará a algum desses dois pontos.
Embora o governo pareça satisfazer anseios do trade (que cobra um espaço/local para apresentação das
manifestações populares) e dos grupos de maracatus que buscam apresentações como meio de sustento,
os turistas, pressumidamente os principais interessados em ter acesso às apresentações culturais,
precisam se satisfazer com pequenas exibições enquanto pegam a bagagem na sala de embarque25 ou
em coincidir sua estada com um período de festividade especíica em que apresentações de maracatus
tenham sido predeterminadas pelas áreas de turismo e cultura.
A política de cachês limita as possibilidades de apresentação para turistas, ao mesmo tempo que traz
para as secretarias a ilusão de promover o turismo cultural através das mesmas. Está claro o interesse
da iniciativa privada em gerar negócio, mas não parece transparente ainda o fundamento das ações
pontuais da iniciativa pública. O pagamento dos cachês não evoluiu em mais de uma década para uma
política mais deinida para o setor.
Enquanto as ações culturais buscam valorizar as manifestações populares e, dessa forma, procuram
espaços para que estas recebam cachês artísticos, há uma tensão quando o turismo quer desenvolver
algo para o turista ver, não sendo levado em consideração o grau de supericialidade. O reconhecimento
do potencial do turismo cultural existe, porém os interessados da cadeia produtiva têm olhares distintos:
enquanto a Fundarpe valoriza a cultura do ponto de vista mais amplo, simbólico, a Setur-PE relete a
ótica do trade turístico, que enxerga a cultura como negócio.
“O turismo, ele entra para somar, a partir do momento que nós temos uma cultura forte, como um grande
diferencial como tantos outros produtos que nós temos no Recife e em outras cidades Eu acho que isso é o
grande diferencial. E o turismo, sim, aproveitando todas essas manifestações culturais da nossa cidade,
[...] fazendo com que as pessoas venham aqui encontrar essa diferença” (entrevista de um gestor público
– concedida em fevereiro de 2009).
Sob a ótica do trade, não se cogita a possibilidade de que o turismo cultural possa ser realizado em
pequenos grupos, pessoas com interesses especíicos que possam ir a alguns locais que tenham condições
de recebimento de turistas.
Alguns espaços têm horários e programações preestabelecidas; no entanto, são muito mais frequentados
por residentes locais. É o caso da Casa da Rabeca, onde está abrigado o Maracatu Piaba de Ouro, que
recebe semanalmente uma grande quantidade de residentes interessados em ritmos populares.
Nessa direção, a Secretaria Municipal de Turismo do Recife desenvolve, através do programa Turismo
na Comunidade,26 melhorias para disponibilizar alguns locais com características culturais que são
potenciais atrativos para visitação in loco.
Esses espaços tendem a possibilitar uma relação de experiência cultural entre turistas e residentes
mais espontânea, uma vez que os primeiros teriam chance de dividir o mesmo espaço, o que não ocorre
nas apresentações.
A Secretaria de Turismo porém, talvez inluenciada pelo próprio trade turístico, não vislumbra algumas
dessas possibilidades como alternativas reais para o contato entre turista e manifestações populares.
Inserir-se na esfera do turismo ampliou o processo de visibilidade dos maracatus, que tornaram-se
ícones turísticos do estado, tendo sua imagem reconhecida no panorama nacional e internacional em
função de uma opção das políticas públicas que direcionaram as ações para o turismo cultural.
As apresentações para turistas, encontram seu lugar na dinâmica do mercado. Para os grupos de
maracatus, trata-se de uma fonte de renda; para os turistas, um entretenimento; para o trade, uma
forma de oferecer “cultura”; para o estado, uma forma barata de atender demandas.
Pensando pela ótica do encontro visitante-visitado, à luz da antropologia, pode-se considerar essa
relação como produtora apenas de contatos rápidos e supericiais, típicos de shows. O espetáculo vai, no
máximo, em alguns momentos, permitir convidar o turista a participar de uma dança, quando trocará
poucas ou nenhuma palavra com o artista e logo em seguida o grupo se despede.
Do ponto de vista do discurso da aculturação, tão presente na antropologia na década década de 1980,
não há indícios de que este processo esteja acontecendo entre os maracatus. Eles fazem parte de uma
arena turística, como no caso dos índios pataxó pesquisados por Grünewald (2002), que se deslocam
de sua aldeia para colher os benefícios econômicos da relação com os turistas e mantêm internamente
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Carla Borba, Margarita Barretto 369
seus rituais na sociedade à qual pertencem, ou como os Balinenses estudados por Mckean(1989) que
retiram, das suas danças apresentadas em público, os elementos rituais.
No caso dos maracatus, há uma clara separação entre o sagrado e o profano. As práticas religiosas
dos grupos tradicionais não foram esquecidas; os maracatus passaram a manter os seus rituais em sua
rotina diária dentro da sua comunidade, separando-os do espetáculo.
Sendo assim, principalmente os líderes dos maracatus tradicionais buscam ressaltar a importância
de manter as oferendas, apesar de parecer uma relação pessoal do brincante com os santos.
A manutenção da religião tem sentido de distinção até mesmo entre tipos de maracatus nação e
rural. No entanto, para os brincantes, não há uma incompatibilidade entre o sagrado e as apresentações
remuneradas ao longo do ano. Percebe-se que há um orgulho por serem valorizados e admirados como
artistas e, portanto, merecedores do cachê, visto que ser artista também é uma proissão.
Além disso, a exposição ao público atinge em graus diferentes a relação dos brincantes com os seus
santos e há um claro entendimento de que a apresentação artística não passa de um espetáculo “para
turista ver”.
Manter-se diante desse novo contexto signiica desenvolver novas habilidades, como saber empre-
sariar o próprio grupo, frequentar reuniões e buscar formas de viabilizar economicamente o máximo
de apresentações para o grupo:
“A gente (os líderes de maracatus) se encontra muito pelas repartições públicas catando alguma coisa. Aí às
vezes a gente se encontra numa reunião, e dali se tornou uma amizade, mas existe sempre um respeito um
com o outro, porque até o formato deles é diferente do nosso, não existe concorrência, porque é diferente, até
o nosso lado religioso é diferente do deles. Nós somos da jurema, eles são dos orixás, assim, não tem como
haver uma rivalidade. Você nunca ouviu falar que um baque solto brigou com um baque virado, isso nunca
vai acontecer, porque esse respeito é mútuo” (líder de maracatu – entrevista concedida em maio de 2009).
Em primeira análise, entrar no cenário dos cachês signiica para os grupos de maracatus buscar
atingir os níveis de formalização para que os grupos encontrem condições de competir no contexto
empresarial: projetos culturais, apresentações individuais, seleções para participarem de receptivos,
apresentações em hotéis, etc.
Embora todos os grupos busquem outras apresentações patrocinadas pela iniciativa privada, o governo
ainda é o seu maior cliente, uma vez que a cultura popular não tem um apelo capaz de sensibilizar a
iniciativa privada.
Para além das ações culturais mediadas pelo governo do Estado, o ano de 2004 passou a ser um
marco importante com os chamados pontos de cultura. Esses constituem uma ação prioritária dentro
do programa Cultura Viva, em que mediante uma parceria entre o Ministério de Cultura e a sociedade
civil são irmados convênios e através de editais públicos são selecionados pontos de cultura que vão
desenvolver suas atividades em benefício da comunidade. A partir do momento em que um local se
transforma em ponto de cultura, ele ica responsável por articular e impulsionar as ações que já existem
nas comunidades.27
O programa do Ministério da Cultura (MinC) veio ampliar o leque de uma ação que garantiria com
maior efetividade o desenvolvimento dos grupos de maracatus em comparação com a política de cachês
da Setur-PE (ou mesmo da Fundarpe). O primeiro edital federal contemplou os grupos de maracatus
Estrela de Ouro (município de Aliança) e Piaba de Ouro (município de Olinda). Embora não seja foco
da pesquisa analisar os pontos fortes e os pontos fracos, esse programa amplia possibilidades de
desenvolvimento numa perspectiva mais empreendedora do que a ação do turismo, visto que os grupos
apresentam projetos e recebem recursos para desenvolverem suas habilidades em treinamentos, gravações
de DVDs, cursos para a comunidade, etc. Ações culturais dessa natureza possibilitam o fortalecimento
e a autonomia para os grupos, além de uma interlocução promovida pelo próprio programa. De fato,
ao longo desses anos, esta parece ter sido a única alternativa pública que surge paralela à busca dos
grupos de inserir-se no calendário de eventos e assim garantir os seus cachês. Como evidenciado nas
entrevistas, há nos grupos de maracatus já inseridos no programa um orgulho em ser ponto de cultura e
a possibilidade de conseguir desenvolver ações concretas com foco principalmente na própria comunidade
onde o maracatu se encontra inserido.
Apesar das críticas existentes com relação aos pontos de cultura, para os maracatus contemplados essa
atuação torna-se muito mais concreta do que as constantes visitas a repartições públicas, desconectadas
e dependentes da boa intenção do governo. Sendo assim, o caminho de elaborar projetos e investir na
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
370 Políticas públicas de cultura e turismo, e sua inluência na proissionalização
sua sede passa a ampliar as possibilidades e a permitir uma certa independência de alguns grupos
com relação às gestões municipais e estadual. Com isso conseguiram inclusão social e digital, entre
outros benefícios.
Para os grupos populares que já estavam formalizados, participar dos editais era muito mais
uma tarefa de aliar-se a produtores culturais, que vão exercer um papel importante de organização
e intermediação desses grupos para que eles se habilitem (roupas, adereços, tipos de apresentações,
organização empresarial, obtenção de CNPJ28) ao modelo do mercado cultural.
A prática, ao longo dos anos, tem permitido aos próprios líderes agenciar os seus grupos e investir em
aprimorar cores, som, expressão corporal, tradição, singularidade, resgate, luta, história, adaptação dos
aspectos simbólicos, de forma que o folguedo permaneça a ocupar um lugar de destaque ao longo das décadas.
A permanência dos maracatus como manifestação cultural transforma todos os atores sociais em
“clientes em potencial” para o “negócio maracatu”.
Entrar no circuito de mídia local, nacional e internacional possibilita aos grupos de maracatus
adaptarem suas apresentações-espetáculo dentro do que faz sucesso entre os espectadores: ritmo musical,
lutas entre caboclos, envolvimento do público, valorização da tradição, inclusão da mulher, além de
investimento na elaboração de roupas coloridas, que impactam a apresentação por causa do colorido.
Essa re formatação dos maracatus faz parte do modelo que o mercado passa a exigir e que os grupos
passam a assumir conscientes de entrarem em cena sob o conceito artístico da manifestação cultural.
“O que ocorre é uma desritualização do maracatu e uma transformação de ritual em música. É difícil explicar
isso em poucas palavras, mas, tentando resumir, se nos anos 60 e nos anos 70 era difícil, era inconcebível
criar um maracatu, isso explica o fato de existirem cinco grupos, seis grupos, sete grupos no máximo. Na
atualidade a fundação de maracatus é quase que um por ano; atualmente nós temos 28 maracatus nação.
Então sua transformação em produto é concomitante a esse crescimento dos interesses da indústria e do
turismo local, que se apoia em uma suposta cultura pernambucana para poder transformar o turismo em
algo atraente” (entrevista de um líder de maracatu – concedida em março de 2009).
Paralelamente e de forma mais sistemática, o caboclo de lança vai igurar em todos os catálogos
publicitários de turismo tanto no setor público quanto no privado. Dessa forma, a igura do maracatu
torna-se emblemática, embora o seu signiicado seja confuso, assim como a sua representação para os
turistas, o que é assunto para outra investigação.
Bibliografia
Barretto, Margarita
2007 Cultura e turismo: Discussões contemporâneas. Campinas, SP: Papirus.
Boissevain, Jeremy
1996 Coping with tourists. European Reactions to Mass Tourism. EUA: Berghahn Books.
Borba, Carla
2010 Nós somos o mundo: Políticas culturais e turismo em tempos globalizados. Tese. Universidade
Federal de Pernambuco. Programa de Pós Graduação em Antropologia.
Cecconi, Sofía,
2009 Tango y turismo. Un acercamiento al territorio de las casas de tango. VIII Reunion de Antropología
del Mercosur. Ponencia. Buenos Aires, 29 de septiembre al 2 de octubre.
Craik, Jennifer
1997 “The culture of tourism”. In: Rojek, C.; Urry, J. Touring cultures: transformations of travel and
theory. Routledge, EUA.
Cravidão, F. M. S. D. D.
2004 Turismo e cultura: o lugar dos lugares. Turismo: Visão e Ação, v. 6, nº 3, set-dez. Itajaí: Editora
Univali, 307-316.
Grünewald, Rodrigo.
2002 “Tourism and Cultural Revival”. Annals of Tourism Research, nº 4, v. 29, 1004-1021.
Guerra-Peixe, César
1980 Maracatus do Recife. 2ª. ed. Prefeitura da Cidade do Recife/Irmãos Vitale.
Lagunas, David
2007 Antropología y turismo: claves culturales y disciplinares. México: Plaza y Valdés S.A.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Carla Borba, Margarita Barretto 371
McKean, Philip F.
1989 “Towards a Theoretical Analysis of Tourism:Economic Dualism and Cultural Involution in Bali.”
In: Smith, Valene Hosts and Guests. The anthropology of tourism. Philadelphia:University of
Pennsylvania Press.
MTUR_Ministério do Turismo
2005 Segmentação do turismo. Marcos Conceituais. Brasília
Ryan, C.
2002 “Tourism and Cultural Proximity: Examples from New Zealand”. Annals of
Tourism Research (29), 952-971.
Santana, Agustín
2009 Antropologia do turismo. Analogias, encontros e relações. São Paulo: Aleph.
Santana, Agusrtín
1998 Patrimonio cultural y turismo: relexiones y dudas de un anitrión” Revista Ciencia y Mar, 6, 37-41.
Smith, Valene
1989 Hosts and guests: the anthropology of tourism. 2 ed. USA: University of Pennsylvania Press.
Tolila, Paul
2007 Cultura e economia: problemas, hipóteses, pistas. São Paulo: Iluminuras/Itaú Cultural.
Vicente, Ana Valéria.
2005 Maracatu rural – o espetáculo como espaço social: um estudo sobre a valorização do popular através
da imprensa e da mídia. Recife: Ed. Associação Reviva.
Vicente, Tâmisa.
2008 Vamos Cirandar. Políticas públicas de turismo e cultura popular: Festivais de Ciranda em
Pernambuco 1960-1980. Dissertação de Mestrado. Universidade de Caxias do Sul. Programa de
Pós-Graduação em Turismo.
Omin, Suiá
2011 Carnaval em terras de caboclo. Uma etnografia sobre Maractus de Baque Solto. Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Disponível em http://www.ppgsa.ifcs.ufrj.br/pesquisa-alunos/suia-omim/
Documentos consultados:
Notas
1
Embora esse discurso exista até os dias atuais, Craik (1997:120) adverte que somente uma minoria
dos turistas podem ser considerados verdadeiros turistas culturais, enquanto a maioria é “culture
proof”. Com base em pesquisa, Silberberg revela que somente 5% dos residentes e 15% dos turistas
eram considerados altamente motivados pela cultura. Na esteira do discurso da mudança de foco da
demanda, Boissevain (1996) diz que não somente o sol e a praia se tornam atrativos, mas também a
cultura, a natureza e a vida rural passam a ser objetos de desejo do turista pós-moderno. Nesse caso,
estudos apresentados em seu livro Coping with tourists referem-se aos diferentes graus de turistas
cultural.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
372 Políticas públicas de cultura e turismo, e sua inluência na proissionalização
2
Ressalvando setores como as indústrias culturais (livro, cinema e música), que movimentam cifras
e têm um esquema distributivo em nível mundial bem delineado.
3
O termo turismo cultural é compreendido como um entre vários segmentos oferecidos no mercado,
no entanto, Cravidão (2004) considera essa utilização um pleonasmo, uma vez que o turismo é
naturalmente cultural, pois envolve paisagens, patrimônio e lugares. De fato, na atualidade, o
turismo tornou-se símbolo da sociedade do bem-estar.
4
1- O turista cultural por intenção é aquele que tem como razão principal na escolha do destino uma
experiência cultural profunda; 2- o turista cultural a passeio é aquele que tem como principal interesse
a cultura do outro, porém de forma mais supericial e divertida; 3- o turista cultural casual é aquele
que observa o que existe em termos de cultura, mas isso não foi decisivo na escolha do destino, pois
ele tem um interesse supericial pela cultura; 4- o turista cultural por acidente é aquele que não
escolheu um destino por razão da cultura, mas que poderá participar de forma supericial em alguma
atividade cultural no destino; 5- o turista cultural espontâneo é aquele cuja decisão pela viagem não
foi inluenciada pela questão cultural, mas quando chegou ao país teve uma experiência profunda
com os atrativos culturais encontrados.
5
Segura (2007) narra a experiência do que é oferecido nos pacotes turísticos em Teotihuacán, no
México, e tudo o que deixa de ser aproveitado no local, visto que a excursão permanece um número
de horas predeterminado no local.
6
Grandes operadoras de turismo que são intermediários do produto em todo o mundo, diretamente
ao cliente ou através das agências de viagens.
7
https://www.youtube.com/watch?v=3MZB_ccvUqQ
8
Para mais detalhes sobre deinições e origem dos maracatus, ver LIMA, Ivaldo Marciano de França.
Maracatus e maracatuzeiros: desconstruindo certezas, batendo afayas e fazendo histórias. Recife,
1930-1945. Recife: Bagaço, 2008.
9
Carismático artista popular proveniente da Zona da Mata que impulsa a valorização do maracatu
rural Piaba de Ouro criado em 1977
10
Album Rhythm of the Saints, especialmente a música “The obvious child”
11
Assim como no turismo de eventos e nas viagens de negócios.
12
Conforme relatório de 31/12/2012 do Instituto Oceanário de Pernambuco, do Departamento Pesca
e Aquicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco, de 1992 a 2012 houve 56 ataques de
tubarão no local. Este departamento realiza desde então um grande trabalho de educação ambiental
aos banhistas. Relatório disponível em http://www.portaisgoverno.pe.gov.br/c/document_library/
get_ile?uuid=0fab503c-d5b8-48e3-8587-0d4ce336e368&groupId=124015. Acessado em 17/05/2014.
13
movimento musical que surgiu no Recife na década de 90 que mistura ritmos regionais, como o
maracatu, rock, hip hop e música eletrônica.
14
A partir dos anos 90, com o movimento manguebeat, os maracatus de baque solto, ditos rurais,
passaram a subir aos palcos. A exposição no palco ao lado de artistas famosos inluenciou a mudança
do cenário dos grupos de maracatu, que muitas vezes eram considerados manifestações inferiores, até
mesmo discriminadasFoi necessário, no entanto,um grande trabalho de organização e de formalização
dos grupos que possibilitasse a exposição dos maracatus e até mesmo o recebimento de cachês.
15
Carnaval fora de época que ocorreu durante vários anos na Avenida Boa Viagem com ênfase em trio
elétricos e bandas de axé.
16
Carnaval, Semana Santa, São João, Natal.
17
Esses são bastante criticados por valorizarem o toque em si e terem como atrativo principal o ritmo,
fora de qualquer contexto do maracatu em si.
18
A Associação dos Maracatus Rurais, criada pelo Mestre Salustiano na década de 80, começou com 12
grupos. Após quase 20 anos de existência, possui 105 grupos participantes. O nível de formalização e
seus avanços são narrados em entrevista: “O maracatu era o nome do dono, por exemplo, maracatu de
seu Antônio, era o Maracatu Leão de Ouro de Seu Antônio. Mas não tinha o CNPJ e aí a associação
foi tendo cuidado com isso e até hoje vem crescendo. Todos os anos a gente vem associando maracatus
novos. E ninguém é melhor que ninguém, todo mundo lá tem direitos iguais. Se chegar R$ 1,00, é
para dividir para todos, e se chegarem R$ 1.000.000,00, divide em partes iguais, não tem maracatu
grande e maracatu pequeno. Com isso foram se criando oicinas de qualiicação, porque os caras já
sabiam bordar, mas tinham uma certa diiculdade, e às vezes tinha caboclo velho que tinha deixado
de bordar e voltou a bordar. Aí com isso também vai se economizando dinheiro, porque você deixa de
pagar a um artesão e você mesmo era o artesão. A associação foi criada dessa forma, ela foi criada com
ideia de unir, depois criou a ideia de se organizar com documentações, conscientização e qualiicação
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Carla Borba, Margarita Barretto 373
dos próprios fogazões. Essa é a ideia da associação” (entrevista concedida por um integrante do
Maracatu Piaba de Ouro em maio de 2009).
19
Instituto Brasileiro de Turismo (antes Empresa Brasileira de Turismo) encarregado da promoção
turística vinculado ao Ministério.
20
Há semelhança é tal que segundo o mestre de maracatu o que vai diferenciar esse grupo de percussão
do maracatu nação é sua ligação com o terreiro, mas por uma questão de inserir-se socialmente no
espaço muitos dirão que tem essa ligação, mesmo não sendo verdade.
21
Cecconi (2009) reforça os resultados negativos produzidos por estas casas de espetáculo em Buenos
Aires, tanto em relação aos trabalhos gerados para os artistas quanto pela artiicialidade envolvida
nas apresentações para os turistas .
22
Desde que elaborar projetos para serem apresentados a órgãos públicos requer um conhecimento
especíico.
23
Entrevista de um gestor público – concedida em março de 2009).
24
No caso de Olinda, há um espaço cedido pelo município para que os grupos realizem apresentações
no local.
25
Esta ação é bastante questionada, uma vez que o turista, quando chega, tem pressa em sair do
aeroporto e não quer parar e observar a apresentação. Além disso, o maracatu passa a ser uma
manifestação que faz bastante barulho, muitas vezes parecendo uma grande agitação, e não uma
forma receptiva de receber os turistas.
26
O programa tem como objetivo estruturar determinados locais de grande potencial turístico e valor
cultural da comunidade para torná-los mais aptos a receber visitantes. Além da requaliicação dos
espaços, a Secretaria de Turismo do Recife promove capacitação e treinamento voltados para o
turismo. A deinição dos espaços se dá a partir de uma análise dos espaços e das solicitações da própria
comunidade sob a supervisão da Fundação Gilberto Freyre. Para a primeira etapa do programa,
oito espaços foram contemplados: Arlindo dos Oito Baixos, Terreiro de Pai Adão, Espaço Cultural
da Moeda, Bar da Geralda, Clube Bela Vista, Restaurante da Mira, Clube Madeira do Rosarinho,
Clube das Pás.
27
Após a seleção via edital, o ponto de cultura recebe a quantia de R$ 185 mil, divididos em cinco
parcelas semestrais, para investir conforme o projeto apresentado. Parte da primeira parcela, no
valor mínimo de R$ 20 mil, é utilizada para aquisição de equipamento multimídia em software livre
(os programas serão oferecidos pela coordenação), composto por microcomputador, miniestúdio para
gravar CD, câmera digital, ilha de edição e o que for importante para o ponto de cultura. Fonte:
http://www.cultura.gov.br/cultura_viva/?page_id=31. Acesso em 25 de agosto de 2009.
28
Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, que é a inscrição para ins impositivos.
Recibido: 22/05/2014
Aceptado: 03/12/2014
Sometido a evaluación por pares anónimos
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Objetivos
Estudios y Perspectivas en Turismo es una publicación con referato de aparición trimestral que analiza al
turismo desde la óptica de las Ciencias Sociales y constituye un foro interdisciplinario para la expansión de las
fronteras del conocimiento.
Estudios y Perspectivas en Turismo busca encontrar el balance entre teoría y práctica al igual que ir
construyendo un campo de conocimientos sólidos en el ámbito del turismo en función del aporte de diferentes
ciencias y disciplinas. Se interesa tanto por las contribuciones que pueden realizar los especialistas que
proceden del ámbito del turismo como de aquellos que provienen de la antropología, ciencia política, ecología,
economía, geografía, psicología, sociología, etc.
http://www.estudiosenturismo.com.ar/
http://www.cieturisticos.com.ar/
Vol. 13 N.o 2. Special Issue Págs. 375-393. 2015
www.pasosonline.org
Resumen: Este texto busca relexionar sobre el papel que juegan las administraciones públicas en la defensa
y puesta en valor del trabajo artesano. En España, estas competencias han venido recayendo en los organismos
dedicados a promover la industria y la economía, sin mantener, incomprensiblemente, relación alguna con los
encargados de velar por la defensa y promoción del patrimonio cultural. En la actualidad, la incomunicación pa-
rece incluso haberse agravado, desde que tales competencias han pasado a unirse a las de Turismo en muchas
Comunidades Autónomas. Ello conduce a una disgregación de esfuerzos, encaminados además a metas distintas,
incapaces de aunar la multiplicidad de vertientes que emanan de la artesanía. El modelo chileno que se describe,
podría aportar una referencia de actuación, al haber sido capaz de llegar a una enriquecedora conjunción de las
diferentes visiones, desde la social hasta la turística, desde la patrimonial hasta la comercial, redoblando así la
eicacia de las acciones acometidas.
Palabras Clave: Artesanía; Administración; Identidad; Turismo; Desarrollo; Chile
The artisan recovery and its tourism impact. The case of Chile
Abstract: This paper relects upon the role of public administrations in the defense and the enhancement of
the appreciation of craftsmanship. In Spain, these competencies have fallen upon those organisms dedicated
to promoting industry and the economy without maintaining, incomprehensibly, any connection with those
organisms responsible for ensuring the protection and promotion of cultural heritage. Nowadays in many au-
tonomous regions this lack of congruency seems to have worsened as such competencies have gone on to relate
themselves more towards Tourism. This leads to a breakdown of efforts, aimed at different objectives, unable
to unite the multiplicity of aspects emanating from craftsmanship. The Chilean model described herein, could
provide a frame of reference for acting, having been able to achieve a rich combination of different views, from
the social to the touristic, from the cultural to the commercial, thus doubling the effectiveness of the actions
undertaken.
Keywords: Craftwork; Administration; Identity; Tourism; Development; Chile
1. Introducción
Como antropóloga patrimonialista, con muchos años de atención a los aspectos socioculturales
emanados de los procesos de trabajo artesanales, nunca dejó de sorprenderme que las competencias
administrativas sobre la artesanía radiquen en los Ministerios y Consejerías relativos a Industria y/o
Economía, sin que los correspondientes a Cultura tengan, por lo general, la menor inluencia. Sólo
cuando un oicio, de probado arraigo en una comunidad, cesa por completo su actividad, puede plantearse
su catalogación como bien patrimonial, en un intento de proteger su recuerdo, que no su continuidad.
En la actualidad, tanto en el ámbito estatal como en muchas comunidades autónomas, esas compe-
tencias han pasado a unirse a las de Turismo, una realidad que expresa por sí misma la inalidad que
hoy se atribuye a los productos artesanos; a la par que puede adivinarse fácilmente qué especialidades
*
Dra. Antropología Social. Profesora Titular de Universidad. Integrante del Grupo de Investigación GEISA. Presidenta de
la Comisión Andaluza de Bienes Muebles de la Consejería de Cultura de la Junta de Andalucía. E-mail: [email protected]
concretas van a ser objeto prioritario de ayudas oiciales y de los intentos de fomento. Paralelamente,
son cada vez más numerosos los estudios antropológicos centrados en la documentación de saberes
tradicionales, como integrantes del patrimonio inmaterial, aunque sin conexión alguna con lo anterior.
Vano ha sido cualquier intento de aunar las miradas, los proyectos y los recursos de estas parcelas
administrativas. Ello no constituiría en sí mismo iniciativa novedosa alguna, puesto que ya existen
modelos a imitar: ejemplos de un enriquecedor encaje del trabajo de profesionales de la cultura, el
desarrollo y el turismo; ejemplos de uniicación de esfuerzos para armonizar el mantenimiento actualizado
de unas formas de trabajo ancestrales, en base tanto al valor que suponen para la identidad cultural de
un pueblo, como por la vitalidad económica derivada. En esta, se hace primordial la oferta al turismo
de unos productos artesanos con calidad material y simbólica indiscutibles.
Uno de los casos más interesantes de esta provechosa asociación en pro de sus artes populares es el
que se viene impulsando en Chile: organismos estatales, regionales, asociaciones y fundaciones diversas,
conluyen en su propósito de preservar, promover y ofertar el trabajo propio y exclusivo de los distintos
pueblos que conviven en su territorio, visibilizando al mismo tiempo a sus cultores, de modo que lleguen
a nativos y turistas y que ello revierta en su desarrollo socioeconómico1.
La artesanía, como cualquier otra actividad humana, ofrece innumerables perspectivas de análisis,
en función de la óptica, intereses y inalidades que presidan su estudio y su gestión. Cada objeto arte-
sanal contiene unos conocimientos técnicos y unas predilecciones estéticas que relejan la relación del
producto con las pautas vitales de su comunidad, ya que tanto las formas y elementos decorativos como
su funcionalidad transparentan una peculiar manera de resolver las necesidades del grupo. Al mismo
tiempo, ese objeto encierra una determinada organización social y reporta una cambiante valoración
económica. El reto consiste en saber contemplar la artesanía en toda su complejidad.
Como ya hemos analizado en otras ocasiones, muy posiblemente los focos de atención más polarizados
son los que la entienden como un sector productivo, con sus correspondientes altibajos en cuanto a
potencialidades de desenvolvimiento económico, y los que atienden con preferencia a su vertiente
sociocultural.
En principio no cabe duda de que se trata de un sector económico. De hecho, el más antiguo existente,
porque antes de la revolución industrial todo era artesanía. Los distintos oicios artesanos fueron
hasta ese momento los encargados de surtir a la sociedad de todos los productos necesarios para su
supervivencia: desde los más utilitarios y cotidianos hasta los requeridos para actividades lúdicas,
manifestaciones religiosas o soluciones decorativas.
Por el contrario, desde el punto de vista cultural, la atención no se focaliza en el producto inal,
aislado y descontextualizado, por más que la manualidad sea su forma de realización. El interés del
trabajo artesano viene determinado por constituir el testimonio de saberes seculares, transmitidos
generacionalmente, con los que se siguen elaborando unos objetos cuya morfología, dimensiones,
materiales, técnicas y decoraciones, contienen la cosmovisión de una determinada población. Por eso son
indisociables de su territorio y llegan a convertirse en verdaderos modelos identitarios del grupo cultural.
Pero, además, la práctica artesana supone un claro exponente de la dinámica cultural en su creciente
adecuación a los dictámenes del modo de producción dominante. Y es aquí donde aparece la conjunción
con el fenómeno turístico. No podemos olvidar que el turismo, en la era de la globalización, demanda
crecientemente nuevos productos en el mercado, donde la historia, la cultura, la calidad y la exclusividad
juegan un papel determinante.
La Unesco, en declaraciones que suscribimos, se reconoce como “la única organización internacional
que tiene una visión global del papel sociocultural y económico de la artesanía en la sociedad y, desde
hace numerosos años, se ocupa de desarrollar una acción armoniosa, coherente y concertada en favor
de este sector. Los programas dedicados a la artesanía integran actividades de formación y promoción,
estimulando la cooperación necesaria entre los organismos nacionales interesados, las organizaciones
regionales, internacionales y no-gubernamentales. El objetivo de estas actividades es demostrar a las
autoridades concernidas la prioridad que merece la artesanía en los programas nacionales de desarrollo”2.
Bajo estas premisas, la Unesco estimula la creación de productos de calidad e incita a los artesanos
a la comercialización de sus productos en el mercado internacional, entendiendo la clara repercusión
del sector en términos de desarrollo económico. El objetivo principal no es otro que contribuir a mejorar
la condición del artesano.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Esther Fernández de Paz 377
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
378 La valorización artesana y su repercusión turística. El caso de Chile
Ciertamente existe un tipo de producciones artesanas que encaja a la perfección con las ofertas
creativas actuales. Se suele caliicar de “artesanía urbana” o “neoartesanía” porque introduce y asume
con toda naturalidad cambios y adaptaciones intencionadamente provocados. A veces pueden ser objetos
no referenciales de una cultura o grupo humano especíico, a pesar de que incluso en los acomodos a las
tendencias más generalizadas, un trabajo artesano siempre maniiesta de alguna manera la vinculación
con el territorio de creación.
En el lado opuesto se halla la denominada “artesanía tradicional”, esto es, la que mantiene visiblemente
las pautas culturales del grupo productor. Es justamente la artesanía que mejor conserva unos modos
de hacer ancestrales, que trabaja con formas y elementos singulares y representativos del colectivo,
traspasados generación tras generación. Ello no obstante, no signiica inmovilismo. Cada nueva
generación dejará la impronta de su tiempo, relejando así la propia evolución del grupo en cuestión.
Cuando, además, esta artesanía proviene de pueblos originarios -lo que referido al territorio
latinoamericano equivale a descendientes de las poblaciones prehispánicas - se habla entonces de
“artesanía indígena”. Por lo general, suele asociarse más estrechamente con objetos rituales, receptores
y transmisores en sí mismos de los más atávicos saberes de dichas culturas.
No son pocos los conocimientos, diseños, decoraciones y funciones de artefactos, perdidos entre
los pueblos originarios de todos los continentes a lo largo de las imposiciones coloniales. Sólo muy
recientemente estamos asistiendo a un esfuerzo de recuperación de las memorias culturales, productos
artesanales incluidos, en parte movilizado por la defensa de su patrimonio identitario, en parte guiado
por la necesidad de desarrollo económico. Los cambios inevitables vienen más referidos a la pérdida
de valores simbólicos de muchos de los objetos producidos en la actualidad, en su ajuste al destino
preferente: el mercado turístico.
Sumado a ellos, en el caso concreto de Latinoamérica suele establecerse un grupo diferenciado de
los anteriores, bajo el epígrafe de “artesanía rural”, integrado por la que mejor compendia las formas
de vida campesina. “En estas artesanías es donde se logra, con mayor acierto, la mezcla de la cultura
indígena e hispánica” (Programa Artesanía, 2003: 23).
Un último apartado supone la artesanía elaborada expresamente para la venta turística, eufemísti-
camente denominada “artesanía del recuerdo” pero mayoritariamente conocida como simple “souvenir”.
Al ser piezas fabricadas intencionadamente para el turista, tienden a reproducir los estereotipos más
extendidos, con los que la población local no suele identiicarse, y a veces necesita añadir la leyenda
“Recuerdo de...” como prueba de su falsa autenticidad. Los especialistas en Antropología del Turismo
hablan de “réplica comercializada de la artesanía tradicional” y analizan detenidamente cómo estos
productos han adaptado su tamaño, calidad y precio a los requisitos del comprador (Santana, 1997: 101).
En deinitiva, encontramos diversas clasiicaciones para la artesanía, que se han ido fraguando con el
transcurso del tiempo, a veces perilando sus límites, a veces desdibujándolos, en un intento constante
por diferenciar unas producciones de otras, especialmente cuando de ello depende una especíica
valoración tanto cultural como económica.
El Estado chileno del siglo XXI contiene en su seno todas estas modalidades artesanas, cada cual
con sus características y peculiaridades. En la actualidad todas son reconocidas y valoradas y de todas
se ocupan las políticas públicas. Pero no siempre ha sido así.
Si el normal desarrollo de las expresiones culturales de las distintas etnias originarias se vio drásticamente
violentado, cuando no interrumpido, en el largo periodo colonial, no fue menos devastador el proceso de
reajuste y consolidación de fronteras de la república independiente. El siglo XIX implementó la práctica
de la “chilenización”, un estudiado mecanismo de aculturación que buscaba alcanzar una única identidad
chilena. Con el dirigismo de la educación pública y el refuerzo que suponía el servicio militar obligatorio,
se fue extendiendo la política estatal de “civilización o barbarie”: para ser civilizado y adentrarse en la
modernidad había que abandonar los atrasados patrones culturales indígenas -desde la indumentaria
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Esther Fernández de Paz 379
hasta el habla, desde las actividades hasta los rituales autóctonos- y chilenizarse. Así se fue avanzando
en la reconversión del componente indígena, o lo que es igual, en la homogeneización cultural.
El pueblo aymara fue uno de los que sufrió este proceso con mayor virulencia, tras las disputas
territoriales que culminaron con la Guerra del Pacíico, así como el pueblo mapuche, igualmente
dividido por las fronteras estatales, en este caso argentina10. No obstante, las mismas directrices de
absorción de lo indígena llegaron a todos los rincones del país. De ahí que en Chile se perdiera mucha
de la artesanía de sus pueblos originarios.
Habrá que esperar a la década de los treinta del siglo XX para que un reconocido investigador,
Tomás Lago, inicie una campaña de concienciación sobre el valor de la artesanía tradicional. La
“Primera Exposición de Arte Popular” que organiza en 1935 podría considerarse el principio del in
del desprestigio de las producciones artesanas. Lo que se acentúa no es precisamente la insoslayable
vinculación cultural de los objetos con sus sujetos creadores sino su papel en el patrimonio nacional
chileno y, además, muy escorado hacia posiciones esteticistas. Baste resaltar la denominación de “arte”
popular o la elección del Museo de Bellas Artes de Santiago para su celebración. Sin embargo, inicia el
camino para la reconsideración del pasado indígena. De hecho, Lago consiguió introducir el estudio de
estas manifestaciones en el mundo académico, con el consiguiente cambio de mirada que ello comporta.
Tras algunas otras exitosas experiencias, en 1943 la Comisión Chilena de Cooperación Intelectual
y la Universidad de Chile organizan la “Primera Exposición de Arte Popular Americano”, invitando
así a otros países vecinos, e igualmente celebrada en el Museo de Bellas Artes. Muchos de esos objetos
conformaron la colección inicial para la apertura, al año siguiente, del Museo de Arte Popular Americano.
La dimensión artística de estas realizaciones sigue primando en eventos como la “Primera Feria de
Artes Plásticas”, que reunió en Santiago a artesanos junto a pintores y escultores, en 1959. Ese mismo
año, en el contexto de la “Mesa Redonda de Arte Popular Chileno”, organizada por la Universidad de
Chile, además de otras diferencias, se debatieron las concernientes a “arte popular” y “artesanía”,
incidiendo en la organización de esta, frente a la espontaneidad creativa del arte popular: “Es un hecho
que la producción de arte popular cuando alcanza cierto éxito tiende a convertirse en artesanía, esto es,
tiende a desarrollar la organización de una industria” (Sociedad Amigos del Arte Popular, 1959: 30).
No por casualidad, será en los años sesenta cuando la atención hacia la artesanía comience a ser
económica. Son momentos de desarrollismo, de alza de la pequeña industria, prisma bajo el que puede
contemplarse el trabajo artesano; al tiempo que el turismo empieza a convertirse en un fenómeno de
masas, potenciales compradoras de todo tipo de objetos artesanos.
Debido a ello, la década siguiente asiste a numerosos programas y proyectos de apoyo a la artesanía,
comenzando por el que promovió en 1971 el Servicio de Cooperación Técnica (SERCOTEC) para la
“Artesanía Típica Chilena”; un nuevo concepto que requería una nueva deinición, casando en lo posible
el aspecto cultural con el económico: “Sector que produce artículos tradicionales modernos, folklóricos,
decorativos y artísticos –utilitarios u ornamentales– a base de materias primas nacionales, con gran
predominio del trabajo manual, como medio permanente o provisional de trabajo, y fuente principal o
complementaria de ingresos” (Rodríguez, 2008: 30).
En aquellos momentos, el escultor y artesano Lorenzo Berg multiplicaba esfuerzos buscando espacios
expositivos para los artesanos y comisariando ferias conjuntas de artes plásticas y artesanía en distintos
lugares del país. Con esa dilatada experiencia y promovido por la Universidad Católica de Chile,
comenzó a organizar la “Primera Feria de Artesanía Tradicional”. En una época de infraestructuras
tremendamente deicientes, cuando no inexistentes, Berg viajó por todo el territorio chileno animando
a los artesanos a acudir a Santiago a participar en la muestra. Obviamente se les abonaban los gastos y
entre todos levantaron los pabellones e hicieron posible la culminación del proyecto. Es el año 1974, ya
en pleno gobierno de Pinochet, circunstancia que no nubló el enorme éxito del evento ni su continuidad.
El propio Berg siguió organizando las Ferias hasta su muerte en 1984, a la vez que creó un programa
de documentales sobre la vida de los artesanos en su lugar de residencia.
Pero el período de la dictadura militar supuso el retorno a las políticas homogeneizadoras, disfrazadas
ahora con la envoltura del desarrollo económico. A las comunidades indígenas se las considera incapaces
de progresar por sí mismas, por lo que se las convierte en receptoras de subvenciones estatales en pro
de su modernización e integración en la ideología nacionalista.
En lo referido expresamente a la actividad artesana, el control será ejercido por el Centro de Madres
(CEMA), una organización creada en 1957 para el apoyo a mujeres necesitadas, ahora encabezada por
la esposa del dictador con la ayuda de monitoras voluntarias, que llegó a contar con 10.000 centros
distribuidos por todo el país. Lo deinitorio del trabajo artesano se ciñe al aspecto técnico y lo único
que cuenta son las manos capaces de producir manualidades. A cambio, en los puestos de venta para
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
380 La valorización artesana y su repercusión turística. El caso de Chile
turistas van aumentando los souvenirs, idénticos en forma, tamaño y precio por todos lados, al ser
manufacturas prácticamente industriales, vendidas por artesanos no productores sino comerciantes.
Pero al mismo tiempo, durante la dictadura fueron muchos los cientíicos sociales que se refugiaron en
las periferias para escapar de la represión política, y de eso se beneiciaron las comunidades receptoras. Sus
enseñanzas y su trabajo, comprometido con las poblaciones indígenas, no sólo ofrecen un modelo distinto
de desarrollo socioeconómico sino que, además, van extendiendo la conciencia de la identidad cultural.
En un proceso similar al que se vive en otros países latinoamericanos, “los nuevos protagonistas del fomento
artesanal, los antropólogos indigenistas, no se limitan a aplicar el criterio estético-tradicional heredado de
sus antecesores, los artistas, para valorar la importancia de las artesanías” sino que ahora “se inserta en el
conjunto de medidas denominado ‘desarrollo de la comunidad’, dentro del que el aislado objeto artístico de
las exposiciones se reintegra en el contexto de su producción y comercialización” (Dietz, 1995: 104).
De manera progresiva, los miembros de pueblos originarios que habían crecido al margen de su
identidad cultural, empiezan a comprender la pérdida de la misma e inician las reivindicaciones. Muchos
ni tan siquiera eran conscientes de ser descendientes de pueblos indígenas, de tener -parafraseando
a Isabel Hernández (1993)- su identidad enmascarada, y algunos emprenden estudios universitarios
para formarse y poder profundizar en las raíces culturales propias. Sólo así pueden comenzar a ser los
ejecutores de su destino.
Con el retorno de los gobiernos democráticos cambian las políticas indigenistas. En 1993 se promulga
la “Ley sobre Protección, Fomento y Desarrollo de los Indígenas”. De ella deriva la creación del Consejo
Nacional de Desarrollo Indígena (CONADI), que atiende la acción del Estado en favor del desarrollo de
estas comunidades. Uno de sus programas, enfocado a iniciativas de difusión local, anima a personas,
comunidades y asociaciones indígenas a presentar proyectos para la realización de talleres, capacitaciones,
muestras y publicaciones en materia de artesanía tradicional, entre otras.
No obstante, una de las claras manifestaciones del creciente protagonismo asumido es la prolife-
ración de asociaciones indígenas, conformadas por colectivos muy especíicos y muy repartidos por
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Esther Fernández de Paz 381
todo el territorio chileno, que comparten el afán por rescatar sus derechos, desterrar imposiciones,
preservar su identidad e impulsar su economía11. A este in, artesanía y turismo se erigen sin duda
como los sectores más solventes. En la actualidad no son pocas las asociaciones indígenas que ofrecen
una atención especializada al turista, dando a conocer su cultura a través de sus servicios y de sus
productos artesanos.
Por una parte, ya viene siendo usual encontrar guías autóctonos, de amplia formación académica, que
han asumido la gestión de sus territorios, que controlan sus propios recursos y lo revierten en su desarrollo.
Nadie mejor que ellos para su cuidado, manteniendo un profundo respeto por la naturaleza, que ni la
dependencia del turismo ha logrado modiicar12. Así entendidas, estas nuevas prácticas, lejos de suponer
la mercantilización de su cultura, están relejando un modo práctico de adaptación a la realidad actual,
capaz de reportar beneicios económicos, culturales y ambientales a sus protagonistas (Pereiro, 2013).
Junto al turismo indígena, los artesanos, al recuperar técnicas y diseños tradicionales en los productos
que ofertan, no sólo encuentran una vía de ingresos sino que los convierten, además, en una eicaz
forma de recreación identitaria. Y no sólo de cara al turista, ya que, como indican Báez y Collin, “las
artesanías se difunden en la sociedad mayoritaria como símbolos étnicos diferenciales, para que esta
acepte la pluralidad cultural del país que las artesanías expresan” (1981: 7).
Sin embargo, aquí sí se patentiza la prioridad dada al mercado turístico: la insistencia en determinados
productos y materiales es una respuesta a las preferencias del turista. Se recupera lo más fácilmente
vendible, como es el caso, por ejemplo, de los tejidos de llama o alpaca13, y se relegan necesidades internas,
como pudieran ser los conocimientos de luthería para la fabricación de instrumentos musicales propios.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
382 La valorización artesana y su repercusión turística. El caso de Chile
que hoy se trabaja en casi todo el territorio chileno. Y es que, como es obvio, la artesanía de Chile no
proviene exclusivamente de comunidades indígenas14. La mayoría de los objetos artesanales son fruto
del mestizaje cultural, de la mezcla de conocimientos técnicos y de gustos estéticos que el devenir
histórico ha ido asentando.
Mención aparte merecen los trabajos elaborados por la cultura rapa nui, etnia de ascendencia
polinesia sin conexión alguna con el origen y evolución de las culturas amerindias pero anexionada a
Chile en 1888. Desde entonces la Isla de Pascua es receptora de un creciente turismo al que ofrecen
reproducciones en madera de sus moais y personajes legendarios, a pesar de la escasez de este
material en la isla, a la vez que han desarrollado una especialización en piezas de adorno realizadas
con conchas marinas.
El siglo XXI arrancó con la creación, concretamente en el año 2003, de un Área de Artesanía en
la División de Cultura del Ministerio de Educación, con el objetivo de trabajar por el reconocimiento,
valoración y fomento de la actividad artesanal. Ese mismo año se crea el Consejo Nacional de la Cultura
y las Artes (CNCA), organismo público autónomo encargado de implementar las políticas de desarrollo
cultural, y el Área de Artesanía pasó a formar parte de esta institución15. Seguidamente se instaura
el 7 de noviembre como “Día Nacional del Artesano” de modo que, desde 2003, todos los cultores de la
artesanía chilena encuentran en esa fecha una conmemoración y reconocimiento, junto con actividades
de promoción y valorización de su actividad.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Esther Fernández de Paz 383
Como remate de las actuaciones en pro de la artesanía, 2003 asiste también al arranque de la
Fundación Artesanías de Chile16. Se trata de una entidad sin ines de lucro, dependiente de la Dirección
Sociocultural de la Presidencia aunque con participación privada. Su misión es preservar y difundir
las expresiones culturales chilenas representadas por las obras de los artesanos, a in de mejorar su
calidad de vida y brindarles mayores posibilidades de desarrollo sociocultural y económico.
En su interior trabaja un competente equipo multidisciplinar, que está incrementando notablemente la
vitalización de las formas de trabajo tradicionales, más allá de la obvia comprensión de la trascendencia
de la producción artesana en el sector turístico. Son ellos quienes gestionan la “Red de Artesanías de
Chile”, integrada en la actualidad por casi 2.000 artesanos: algo más de la mitad proceden de pueblos
originarios, más del 80% son mujeres17 y en igual proporción son del quintil I y II18.
El artesano que desea ingresar en la Red presenta una o varias de sus creaciones, acompañadas de
la referencia a su trayectoria profesional, y una comisión experta en distintas especialidades se reúne
periódicamente para estudiarlas, analizando con detalle la calidad técnica y adecuación al modelo
tradicional. Superado este análisis, el artesano queda incluido en la Red y su producto es adquirido
por la Fundación para ser comercializado en sus tiendas. Si el mismo artesano desea presentar otros
productos, debe iniciar todo el trámite porque la evaluación es hacia cada objeto concreto. También
puede hacerse la comprobación sobre el terreno, cuando son los miembros de la Fundación quienes
visitan a los artesanos en sus localidades.
En todos los casos se acuerda la cantidad de piezas que el maestro es capaz de elaborar mensualmente
del producto incluido en la Red, y a eso se comprometen: él a entregarlas y la Fundación a comprárselas.
El precio lo establece en principio el artesano pero la Fundación puede incluso elevarlo si lo considera
oportuno. Es la ilosofía del comercio justo. A ese precio se comercializa, aunque el artesano recibe todos
los meses el importe de su trabajo independientemente de que se venda o no. Con eso obtiene lo más
parecido a un sueldo ijo y a una mínima estabilidad económica. Y ello conduce a su vez a que los hijos
que no querían proseguir la actividad por su escasa rentabilidad, ahora sí se animan a continuarla y
manteniendo, además, las pautas tradicionales.
Sumándose a las seis tiendas repartidas a lo largo del país, el pasado 2013, coincidiendo con el
décimo aniversario de su puesta en marcha, la Fundación inauguró una más, esta vez en el aeropuerto
internacional de Santiago. En el acto intervino una representación de los artesanos integrantes de la
Red y uno de ellos, el orfebre mapuche Giovani Millao, indicó que: “como artesano y en representación
de todos los artesanos de Chile, estamos muy contentos porque esto va a ser una gran vitrina que va
a difundir nuestra artesanía y cultura a nivel internacional, y quienes se lleven una de estas piezas,
llevarán también un sentimiento, un cariño de las piezas que nosotros hacemos y también nuestras
cosmovisiones que se expresan en nuestras artesanías”19.
La nueva tienda, de grandes proporciones, ofrece objetos de las diferentes culturas originarias así
como de diversas poblaciones que sobresalen por la singularidad de su artesanía, todas reseñadas en
un gran mapa de Chile que facilita su localización y contextualización. En este espacio no sólo se pone
al alcance del viajero internacional muestras de las variadas expresiones culturales chilenas sino que,
como era de prever, se han aumentado considerablemente las ventas de la Fundación, con la consecuente
repercusión en la posibilidad de incremento del número de artesanos que obtienen cada mes un ingreso
complementario ijo.
En verdad, las ubicaciones de los puntos de venta de la Fundación nunca son arbitrarias sino que
buscan la máxima aluencia turística. Uno de los más destacados, sin duda, se halla en el Centro Cultural
Palacio la Moneda de Santiago, lugar de obligada visita, donde además de la posibilidad de adquirir
los objetos artesanos, se dedica una amplia área a exposiciones temáticas, montadas por museólogos
profesionales, a in de ahondar en el conocimiento de sus técnicas y valores culturales. Otro camino
más en la valorización de las artesanías tradicionales chilenas.
Esa misma zona es utilizada para la realización de talleres didácticos, impartidos por maestros
artesanos de la Red y dirigidos fundamentalmente a escolares. De esta forma los chicos dialogan con
el artesano, aprenden y realizan sus pequeños trabajos que luego llevan a sus casas, introduciendo así
la artesanía en el ámbito urbano.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
384 La valorización artesana y su repercusión turística. El caso de Chile
Esta política de talleres con reconocidos maestros es practicada asimismo en distintas localidades,
sea en las escuelas rurales, sea en colectivos o asociaciones, siempre con la idea de fomentar la práctica
artesana propia del lugar y traspasar el conocimiento a nuevas manos, fortaleciendo con ello la identidad
local.
Al mismo tiempo, estas enseñanzas encuentran un sólido acomodo en el área social que la Fundación
desarrolla. Un claro ejemplo son los talleres de “Formación de Aprendices” en el interior de centros
penitenciarios o los programas educativos orientados a niños con altos índices de vulnerabilidad social,
emprendidos junto a otras fundaciones benéicas; o los cursos en gestión comercial pensados para la
“Mejora a la empleabilidad para artesanos y artesanas tradicionales de zonas rurales”, en colaboración
con el Ministerio del Trabajo.
Ello sin olvidar intervenciones extraordinarias, como la que se abordó para los damniicados por el
devastador terremoto de 2010. “Epicentro, territorio artesanal” supuso un intento de paliar las terribles
repercusiones económicas, además de sociales y personales, de los artesanos afectados por la catástrofe.
Como recoge la publicación editada al efecto (Fundación Artesanías de Chile, 2011), se registraron 1.294
artesanos que habían sufrido daños considerables, siendo muchos los que habían perdido no sólo su
hogar sino también sus talleres y herramientas y, por tanto, su fuente de ingresos y su forma de vida.
El proyecto contempló que 31 artesanos impartieran talleres de los oicios afectados a casi 3.000 niños
y profesores de colegios damniicados, en el espacio expositivo de Epicentro, así como en las regiones
más castigadas. Ello les permitió seguir desarrollando su actividad y, unido a las ventas alcanzadas,
colaborar en la reconstrucción.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Esther Fernández de Paz 385
Al año siguiente, en las “Directrices para la creación de sistemas nacionales de Tesoros Humanos
Vivos”, la Unesco anima a “identificar a los depositarios del patrimonio cultural inmaterial, algunos
de los cuales serán reconocidos mediante una distinción oficial e incitados a seguir desarrollando y
transmitiendo sus conocimientos y técnicas” 20.
Reiriéndose en concreto a las “Técnicas artesanales tradicionales”, puntualiza que la inalidad es
garantizar que los conocimientos se transmitan a las generaciones venideras, de modo que se siga
practicando en las comunidades como medio de subsistencia y como expresión de creatividad e identidad
cultural, y asegura que la oferta de incentivos inancieros a aprendices y maestros es un medio eicaz
para reforzar y consolidar los sistemas de aprendizaje, ya que hace más atractiva la transferencia de
conocimientos para todos ellos21.
Aunque la normativa patrimonial española todavía no contempla esta igura, son muchos los Estados
que la han adoptado. No todos han recogido literalmente el término propuesto (THV) pero comparten
idéntico deseo de asegurar la transmisión de unos conocimientos considerados de singular importancia
cultural para sus respectivas comunidades. Tampoco todos establecen la delimitación de igual manera:
Francia, por ejemplo, lo reserva exclusivamente a la actividad artesana, mientras otros, como Japón
-país gestor de la idea en 1950-, lo amplía a las artes del espectáculo, y algunos otros incluyen cualquier
manifestación de su patrimonio inmaterial. Este último es el caso de Chile desde la puesta en marcha
de la iniciativa en el año 2009. De ahí que el organismo encargado de su gestión sea el Departamento
de Ciudadanía y Cultura del CNCA, con sede en Valparaíso, a quien compete la gestión del patrimonio
inmaterial chileno.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
386 La valorización artesana y su repercusión turística. El caso de Chile
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Esther Fernández de Paz 387
En la actualidad nadie cuestiona que el turista se ha convertido en el mejor cliente de los productos
artesanos, por lo que hoy más que nunca se hace imprescindible la unión de los profesionales de la
Antropología y el Turismo.
En principio ello evitaría la confusión entre la artesanía de raíz tradicional y elaborada con la calidad
requerida, y la mera industria del souvenir, esa supuesta artesanía que produce objetos a gran escala
y de bajo costo, repitiendo las formas y decoraciones que el turismo de masas demanda como típico en
cada lugar. Barroso habla irónicamente de “industrianía” y apostilla que esos productos pueden provenir
de lugares remotos, sin reportar ningún beneicio a la región (2004: 6).
Tales objetos han conseguido inundar las plazas y mercados de cada localidad turística, adueñándose
de los sitios donde secularmente se ha vendido la artesanía. Cuanto menos, han ido conquistando espacio
junto a los verdaderos artesanos productores, quienes, ante esta obligada convivencia, suelen trabajar ante
los ojos de los visitantes para marcar la diferencia con los simples vendedores de productos adquiridos.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
388 La valorización artesana y su repercusión turística. El caso de Chile
Quizá por ello resultan tan valiosas las tiendas que aseguran el rigor de la procedencia y calidad
de los productos ofertados, al modo de las promovidas por la Fundación, o los espacios reservados para
pueblos originarios, como pueda ser el “Centro de Exposición y Comercialización de Arte Indígena”, que
aymaras, mapuches y rapa nui comparten en el Cerro Santa Lucía de la capital chilena27.
Sin embargo, de estos canales de comercialización queda fuera el creciente sector que conforman
los artesanos urbanos, creadores de piezas que buscan justo las innovaciones en materiales y formas,
ensayando a partir de tradiciones consolidadas, y trabajadas con tal calidad que muchas de ellas vienen
siendo merecedoras de la distinción “Sello de Excelencia” que desde el año 2008 otorga anualmente el
Comité Nacional de Artesanía de Chile28.
Debería ser evidente que la artesanía, como cualquier otro producto cultural, es dinámica en el
tiempo. Acorde con los nuevos destinatarios, modiica sus formas, adaptando motivos tradicionales
a las actuales tendencias estéticas, o cambia su función, despojándola del simbolismo original para
abrir su uso a cualquier consumidor. Es así como los jóvenes relejan el cambio de costumbres, usos y
signiicados; es así como expresan en sus obras la adaptación de la herencia cultural recibida.
En Chile, es hacia 1990 cuando puede situarse el arranque de un interesante diálogo entre
artesanos y diseñadores, que está dando como resultado unas piezas artesanas tan innovadoras
como reconocibles en su tradición. En esta empresa ha tenido mucho que ver, ya en el siglo XXI, la
incorporación en la Escuela de Diseño de la Universidad Católica de talleres en los que el estudiante
aprende directamente del artesano y juntos proyectan trabajos originales; un modelo de colaboración
que también se está implantando en Valparaíso y otras universidades. En 2005, en asociación
con la Fundación Artesanías de Chile, experimenta el “Taller Piloto Artesanía+Diseño”, con el
in de actualizar los objetos de lapislázuli, combarbalita, cobre y lana de localidades especíicas,
“otorgando mayor valor agregado y mejorando posibilidades de comercialización” (Programa de
Artesanía, 2008b: 18-19).
En realidad se trata de una tendencia incentivada por la Unesco ese año, a través del Programa
de Artesanía y Diseño, con el objetivo de “potenciar el fructuoso vínculo entre estos sectores, donde
mujeres y hombres dedicados al diseño y la artesanía, contribuyen al bienestar y el desarrollo de sus
países”, tal como explica el “Dossier Unesco Taller A+D”, que recoge el encuentro que tuvo lugar en
Santiago unos años después, corroborando la continuidad del proyecto (2009: 9). Desde entonces, la
artesanía chilena está asistiendo a grandes avances en este derrotero: materias primas ancestrales
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Esther Fernández de Paz 389
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
390 La valorización artesana y su repercusión turística. El caso de Chile
6. Conclusión
Bibliografía
Báez, F. y Collin, L.
1981 “Artes populares e indigenismo”, México Indígena, 50.
Baixas, M.I.
1993 Chile, Artesanía tradicional. Santiago: UC.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Esther Fernández de Paz 391
Barroso, E.
2004 “Diseño y artesanía. Límites de intervención”. En 31 Muestra Internacional de Artesanía Tradi-
cional. Santiago: UC.
Benítez, S.
2010 “La artesanía latinoamericana como factor de desarrollo económico, social y cultural”, Revista
Cultura y Desarrollo, 6: 3-19.
Berg, L.
1978 Artesanía tradicional de Chile. Santiago: Ministerio de Educación.
Cáceres, A. y Reyes, J. (2008) Historia hecha con las manos. Santiago: CNCA.
Carrasco, A.M., Gavilán, V. y González, H.
1993 Una experiencia productiva con mujeres aymara. Promoción a la producción artesanal. Arica:
Taller de Estudios Andinos.
Cerda, P.
2008 Informe del sector artesanal en Chile. Caracterización social, cultural y económica. Santiago: CNCA.
Consejo Nacional de la Cultura y las Artes
2008 Antecedentes previos para la formulación de una política nacional de artesanía. Valparaíso: CNCA.
Consejo Nacional de la Cultura y las Artes
2010 Política de fomento para la artesanía, 2010-2015. Valparaíso: CNCA.
Córdova, J. y Reyes, P.
2010 Chile, Enciclopedia del Bicentenario. Artesanía tradicional. Santiago: Unlimited.
Dannemann, M.
1975 Artesanía chilena. Santiago: Edt. Gabriela Mistral.
Dannemann, M.
2003 “Los cambios en la plástica folklórica”. En 30 Muestra Internacional de Artesanía Tradicional.
Santiago: UC.
Dietz, G.
1995 Teoría y práctica del indigenismo. Quito: Abya Yala.
Fernández de Paz, E.
1999 “La documentación y protección de las artesanías como actuaciones sobre el patrimonio etnográico”.
En Patrimonio Etnológico. Nuevas Perspectivas en el Estudio. Sevilla: IAPH.
Fernández de Paz, E., dir.
2005 Fondo Andaluz de Recuperación del Conocimiento Artesano. Sevilla: Consejería de Turismo,
Comercio y Deporte.
Fernández de Paz, E. (2006)
“Actividades artesanas. Cambios socioeconómicos, continuidad cultural”. Boletín PH, 59: 66-75.
Fernández de Paz, E. (2012) “Las actividades artesanas en Andalucía. Economía y cultura del trabajo
manual”. En Expresiones Culturales Andaluzas. Sevilla: Centro de Estudios Andaluces.
Fundación Artesanías de Chile
2011 Epicentro, Territorio artesanal. Santiago: Fundación Artesanías de Chile.
García Canclini, N.
1982 Las Culturas Populares en el Capitalismo. La Habana: Casa de las Américas.
Godoy, H. y Venegas, B.
1976 Antecedentes históricos de la artesanía en Chile. Santiago: UC.
González, H.
1988 Acerca del rol y la importancia de la artesanía textil en la economía campesina andina. Arica:
Taller de Estudios Andinos.
Gundermann, H. y González, H.
1989 La cultura aymará. Artesanías tradicionales del altiplano. Santiago: Ministerio de Educación,
Museo Chileno de Arte Precolombino.
Hernández, I. y Calcagno, S.
1993 La identidad enmascarada. Buenos Aires: Eudeba.
Kaplun, M.
1990 Artesanía y diseño, un lenguaje en común. Santiago: UC.
Lago, T.
1971 Arte popular chileno. Santiago: Universitaria.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
392 La valorización artesana y su repercusión turística. El caso de Chile
Notes
1
Agradezco enormemente los conocimientos que me transmitieron tantos artesanos y artesanas de
Chile. Y mi sincero reconocimiento a la atención dispensada por Celina Rodríguez (Universidad
Católica de Chile), Carolina Franch y Sonia Montecino (Universidad de Chile), Héctor González y
Ana María Carrasco (Universidad de Tarapacá), Tania Salazar (Consejo de la Cultura y las Artes,
Santiago), Patricio López (Consejo de la Cultura y las Artes, Valparaíso), Patricia Arévalo, Pilar Vicuña
y Michelle Trillar (Consejo de la Cultura y las Artes, Arica), Susana Rojas (Fundación Artesanías de
Chile) y, como siempre, a la antropóloga Isabel Hernández.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Esther Fernández de Paz 393
2
http://www.unesco.org/new/es/culture/themes/creativity/creative-industries/crafts-and-design/
3
http://unesdoc.unesco.org/images/0011/001114/111488s.pdf
4
http://portal.unesco.org/culture/es/ev.php-RL_ID=38134&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html
5
http://www.unesco.org/culture/ich/index.php?lg=es&pg=00006
6
http://portal.unesco.org/es/ev.php-URL_ID=13141&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html
7
http://www.wipo.int/tk/es/igc/
8
http://portal.unesco.org/es/ev.php-RL_ID=31038&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html
9
http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001471/147132s.pdf
10
Para los primeros existe una abultada bibliografía sobre el tema, integrada en gran parte en el
Departamento de Antropología de la Universidad de Tarapacá, actualmente dirigido por Héctor
González Cortez. Para los segundos, igualmente abundante, véanse especialmente los trabajos de
Isabel Hernández.
11
http://www.plasmadg.com/prueba_/index.php/registro-de-comunidades-y-asociaciones-indigenas.
12
A la pregunta de un turista, en la más pura lógica capitalista, indagando el motivo por el que no
comercializan a gran escala las plantas medicinales atacameñas, el guía nativo respondió sonriendo:
“porque se agotarían, a la naturaleza siempre la tomamos de a poquito…”
13
También se ha recuperado la vicuña, una especie que llegó a estar en peligro de extinción, aunque
los prestigiosos tejidos elaborados con esta lana se destinan principalmente a la exportación.
14
Según los datos del Instituto Nacional de Estadísticas para el año 2012, Chile cuenta con 16.634.603
habitantes. De ellos, 1.842.607 declaró pertenecer a algún pueblo originario (11,08%): el mayor
porcentaje corresponde al pueblo mapuche (84%) seguido de los pueblos aymara (6,25 %), diaguita
(2,53 %) y en menor medida kawésqar, rapa nui y quechua.
15
http://www.cultura.gob.cl/artes/artesania/
16
http://www.artesaniasdechile.cl/
17
Contra nuestro criterio y en pro de la luidez del texto, hemos optado por el uso del masculino genérico,
renunciando a la especiicación “maestro/a”, “artesano/a”, etc. a pesar de la inexactitud que expresan
estos datos.
18
Quintil es el nombre que reciben los cinco grupos que clasiican a la población chilena por niveles de
ingresos económicos: el primero corresponde a los de menores ingresos y el quinto a los mayores.
19
http://www.aeropuertosantiago.cl/noticias-y-novedades/primera-dama-cecilia-morel-inaugura-espacio-
-de-artesanias-de-chile-en-aeropuerto-internacional.html
20
http://www.unesco.org/culture/ich/doc/src/00031-ES.pdf
21
http://www.unesco.org/culture/ich/index.php?pg=00057
22
http://www.cultura.gob.cl/patrimonio/tesoros-humanos-vivos/
23
Relexión recogida en toda la prensa chilena el viernes 28 de marzo de 2014 con motivo de la apertura
de la sexta convocatoria del programa THV.
24
http://www.portalpatrimonio.cl/
25
En los cinco primeros años de vigencia del Programa ha habido 596 postulaciones y se han reconocido
26 THV.
26
Trabajos realizados con las crines de las colas de los caballos, transformadas en inísimas hebras
teñidas de distintos colores.
27
Ellos mantienen el nombre original de Cerro Welén, que en la lengua mapudungún signiica tristeza.
28
Integrante del Consejo Mundial de Artesanía (WCC) para América Latina, con este Sello se imple-
menta otro mecanismo para reconocer la producción artesana de calidad y difundirla a través de
publicaciones y exposiciones monográicas.
29
http://www.diarioelcentro.cl/?q=articulo-columnistas&id=1931
30
Organizador de la Muestra desde 1986, dirigido por María Celina Rodríguez, que también ha ostentado
la presidencia del Consejo Mundial de Artesanías entre 2004 y 2008.
31
http://www.cultura.gob.cl/artes/artesania/
Recibido: 19/11/2014
Aceptado: 03/12/2014
Sometido a evaluación por pares anónimos
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Áreas de interesse: Cultura e Turismo
Periodicidade: semestral
ISSN: 1982.5838
http://www.uesc.br/revistas/culturaeturismo
Contato
Vol. 13 N.o 2. Special Issue Págs. 395-410. 2015
www.pasosonline.org
Graciela Maragliano**
Marcelo Impemba***
Universidad Nacional del Comahue(Argentina)
Resumen: En el presente artículo nos proponemos analizar los diversos conlictos asociados a la actividad turísti-
ca, protagonizados por diferentes organizaciones y comunidades del pueblo indígena Mapuche en el denominado
“Corredor de los Lagos” de la Provincia de Neuquén, Argentina. Atenderemos las causas, dinámicas y efectos de
estos litigios y al mismo tiempo, vincularemos estos procesos con la particular visibilización que se efectúa de lo
“Mapuche” bajo contextos turísticos, por parte de diferentes agentes estatales y privados, confrontando el modo en
que dicha presencia es apropiada y redeinida por los integrantes de las organizaciones y de las comunidades de
este pueblo originario.
Palabras Clave: Expansión turística, comunidades Mapuche, conlictos, Provincia de Neuquén
1. Presentación
“Piedra Pintada Resort se ubica entre La Cordillera de los Andes, el bosque y la inmensidad de la estepa patagónica.
Ñires, lengas y cipreses dan marco a este imponente paisaje y entre formaciones de piedra volcánica asoman
las araucarias. Frente a Piedra Pintada, el Lago Pulmarí -diez cosas bien hechas, en lengua mapuche-
completa un escenario perfecto para el avistaje y los safaris fotográficos. El ciervo colorado y más de 170
*
Doctor en Ciencias Antropológicas. Docente del Departamento en Ciencias Antropológicas de la Facultad de Filosofía y
Letras de la Universidad de Buenos Aires, Investigador del CONICET. Dirección electrónica: [email protected]
**
Guía Universitaria de Turismo, Docente del Asentamiento Universitario San Martin de los Andes, Universidad Nacional
del Comahue. Dirección electrónica: [email protected]
***
Doctor en Ciencias Antropológicas, Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad de Buenos Aires. Licenciado en Turismo,
Docente del Asentamiento Universitario San Martin de los Andes, Universidad Nacional del Comahue. Dirección electrónica:
[email protected]
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Sebastián Valverde, Graciela Maragliano, Marcelo Impemba 397
especies de aves conviven en la cercanía del Hotel. Desde todos los ambientes del resort se puede disfrutar
de la vista a las montañas y al Lago Pulmarí.
Con estilo montañés, en madera y piedra de la zona, el resort fue concebido con conciencia ambientalista,
en armonía con el entorno y al servicio de sus visitantes” Sitio www.lounges.com.ar con el titular “Piedra
Pintada Resort reabrirá sus puertas en diciembre próximo”).
Estas palabras pueden leerse en un sitio de Internet promocionando el “Resort” de Montaña “Piedra
Pintada”, en la Patagonia Argentina1, en la Provincia de Neuquén2, especíicamente en el Departamento
Aluminé3. En esta publicidad, se apunta a mostrar una imagen bucólica que alude claramente a
tradiciones alpinas, ecológicas y en supuesta “armonía” con el medio, asociadas indudablemente a
consumos de elite. Se puede observar que la única mención al pueblo Mapuche4 es una denominación
en la lengua de este grupo indígena, para luego hacerlo “desaparecer” deinitivamente de esta crónica.
Naturalmente el lector de este anuncio puede preguntarse si hay pobladores Mapuche en la zona,
o si los hubo en el pasado, ya que su referencia solo como denominación de un hito geográico –y no
como un pueblo actual- denotaría una ausencia. Pero a la vez, también lo Mapuche es una “marca”,
una impronta vinculada a ciertos atributos regionales y locales, a la riqueza del “entorno natural” y
al “exotismo” de algunos ámbitos geográicos –como la estepa patagónica, región cordillerana (con sus
lagos, montañas, exuberantes bosques, etc.)-, reproduciendo un proceso de “folclorización” de la cultura
Mapuche. En deinitiva, se consolida el proceso de naturalización de una identidad indígena procesada
y adaptada al gusto burgués y urbano, apropiándose de sus “símbolos culturales” del consumo a la
medida del turista (sin connotaciones sociales ni culturales).
Aquellos atributos propios del pueblo Mapuche que se reelaboran como recursos turísticos, son partes
seccionadas y hacen referencia concretamente a una cultura que tiene un valor de mercado, para ser
consumida y digerida desde sus rasgos “folclóricos y ancestrales”, en un claro exponente de lo que
Comaroff y Comaroff han deinido como la “industria de la identidad” (2011:45). Este recorte no incluye
aspectos conlictivos tales como las reivindicaciones culturales y territoriales actuales.
Un ejemplo de esto puede encontrarse en relación a la cita que presentamos como epígrafe de
este trabajo. En efecto, el día 28 de Julio de 2006 las comunidades Mapuche del área de Pulmarí, del
Departamento Aluminé (por cierto una de las de mayor presencia indígena de la Provincia de Neuquén)5,
junto con la organización supracomunitaria -la Confederación Mapuche Neuquina- ocuparon una parte
del predio administrado por el “Spa de Montaña Piedra Pintada”, manifestándose así, públicamente,
uno de los conlictos paradigmáticos en esta región en la última década. A través de los comunicados
y diferentes proclamas, los Mapuche pusieron en evidencia “la otra cara” de la idílica imagen con que
iniciamos este escrito. El Spa de Montaña, “Piedra Pintada” es el resultado –según lo denunciado por
las organizaciones indígenas- de una de las polémicas concesiones de Pulmarí (por una duración de 99
años y por tan solo unos pocos miles de dólares) de un predio de 3.500 hectáreas, donde se construyó
este mega emprendimiento de elite. Los dirigentes indígenas denunciaban la alteración del espacio
natural del lago Pulmarí (parte fundamental de la identidad territorial de este pueblo en esta zona),
el alambrado de una gran porción de territorio-históricamente Mapuche- impidiéndoles el acceso, y
llegándose incluso, a la profanación de antiguos cementerios indígenas6. Estos litigios, de alguna manera
son “la contracara” de dicha visibilización o como lo hemos señalado en otra oportunidad, lo que está
“detrás de la escenografía” (Impemba, 2013: 37).
A partir de la problemática que aquí hemos presentado, en el presente artículo nos proponemos analizar
los diversos conlictos asociados a la actividad turística protagonizados por diferentes organizaciones
y comunidades Mapuche en el denominado “Corredor de los Lagos”7 de la Provincia de Neuquén.
Atenderemos a las causas, dinámicas y efectos de estos conlictos y al mismo tiempo, vincularemos
estos procesos con la particular visibilización que se efectúa de lo “Mapuche” bajo contextos turísticos,
por parte de diferentes agentes estatales y privados, confrontando el modo en que dicha presencia es
apropiada y redeinida por los integrantes de las organizaciones y de las comunidades de este pueblo. En
este sentido, adquieren centralidad las políticas provinciales y locales, y la manera en que las mismas
producen una determinada visibilización –o bien negación- de la presencia indígena, y en consecuencia
condicionan las formas en que se vienen expresando los diferentes litigios.
Para el desarrollo de este ensayo, empleamos variadas fuentes documentales, y realizamos un
exhaustivo trabajo de campo desde inales de la década del ´90 hasta la actualidad. Los autores de este
artículo hemos efectuado diversos trabajos de investigación y dirigido proyectos de intervención en la
región que nos ocupa, por lo que parte de lo abordado en estas páginas surge de dichas experiencias8.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
398 Expansionismo turístico, poblaciones indígenas Mapuche y territorios en conlicto en Neuquén
Cabe señalar que la investigación antropológica como la que aquí se incluye, vincula el mundo social
sumamente complejo que se indaga –y reconstruye- a través de la interrelación entre el trabajo etno-
gráico y las diferentes elaboraciones teóricas. Se trata, parafraseando a Guber (1991) de “(…) articular
el mundo de los actores con el plano teórico que sustenta la tarea explicativa, sin anular o extrapolar
uno al otro” (1991:63) evitando los reduccionismos en uno u otro sentido, es decir los “teoricismos” o
bien los “empirismos” (Guber, 1991). El proceso de investigación, constituye, así un todo integrado,
de carácter “flexible, creativo y heterodoxo” (1991:80) ya que se subordina a esa constaste y paralela
interrelación: “(…) entre la observación y la elaboración, la obtención de información y el análisis de
los datos” (Guber, 1991:80).
El ordenamiento dado a este trabajo reiere, en un primer apartado, a la visibilización que se efectúa
de las poblaciones Mapuche y su cultura en la región Norpatagónica de Argentina y, en particular en el
contexto del sudoeste neuquino, considerando la manera en que se relacionan las mismas a partir del
desarrollo turístico sobre sus territorios, tomando tres casos diferenciados del denominado “Corredor
de los Lagos” que nos permiten realizar un análisis comparativo de acuerdo a sus características y
particularidades: Aluminé – Pulmarí, San Martín de los Andes y Villa La Angostura. Seguidamente
analizaremos diferentes conlictos resultantes de los procesos de expansión y vinculación con el campo
turístico, y las dinámicas que posibilitan –y en muchos casos alimentan y retroalimentan- dicha
movilización en el marco del desarrollo territorial de esta actividad socioeconómica.
El pueblo indígena Mapuche ha logrado a partir del año 1983 con la restauración democrática -y en
particular en los últimos años- una destacada presencia social y una capacidad de generar transformaciones
en la sociedad en su conjunto. Sus organizaciones etnicistas (de los pueblos originarios) fueron de las
primeras del país y vienen generado profundos cambios sociales, políticos y culturales en la región del
Norte de la Patagonia donde se asienta el pueblo Mapuche (al igual que en el sur de Chile).
Estos procesos de creciente “re-emergencia”, “reactualización de la identidad”, “transiguración étnica”
(Ribeiro, 1971 y Bartolomé y Barabas, 1996) o “revival de lo étnico” (Vázquez 2000) son coincidentes
con las que se dan en el resto del país y América Latina. Conllevan la airmación de estos pueblos como
sujetos de derecho y como agentes sociales y políticos, y a la vez implican una creciente presencia, lo
que explica las movilizaciones y reivindicaciones que efectúan por sus territorios, su identidad étnica,
su cultura y sus derechos especíicos (Valverde, 2013).
Esta región de los Lagos de Norpatagonia argentina, por su atractivo paisajístico (bosques, montañas,
cuencas lacustres, paisajes boscosos, ríos, arroyos, etc.) y a la vez la infraestructura con que cuenta,
desde hace años viene creciendo en importancia como centro turístico y de servicios. Estas condiciones
vienen contribuyendo a promover la expansión de la actividad turística (y sus asociadas). Desde hace
varias décadas, pero en especial en las dos últimas, en estas localidades se vienen desarrollando aún
más los servicios terciarios y las actividades político-administrativas9. Esto no sólo ha implicado un
gran incremento en la cantidad de visitantes y nuevos propietarios, sino también una modiicación
cualitativa en la demanda, con nuevos periles socio-económicos y de consumo que tienden a generar
un mayor “prestigio” del lugar, cambios que se evidencian en una multiplicidad de indicadores10.
Paralelamente, cabe destacar que la actividad turística tuvo un gran impulso a partir de la deva-
luación de la moneda local (el peso argentino), en el año 200211. A partir de ese momento, con el in de
la paridad peso–dólar, se ha dado una gran ampliacion de esta fuente de ingresos, tanto a partir de
turistas extranjeros que en mayor medida han comenzado a viajar hacia la Argentina, como locales
que han reducido los viajes al exterior (ante los mayores costos en relación a los ingresos locales). Estas
dinámicas han afectado de diferentes formas a las poblaciones indígenas (al igual que a los restantes
segmentos de la sociedad) y en particular a los territorios en que éstas se asientan.
La “esceniicación” que se efectúa del pueblo Mapuche desde la promoción turística en la región
cordillerana de Norpatagonia, es sumamente heterogénea según una multiplicidad de factores dife-
renciados e interrelacionados. Entre las variables que explican la forma en que se da tal “apropiación
de lo Mapuche” y su consiguiente “puesta en valor”, se encuentra la coniguración que adquieren las
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Sebastián Valverde, Graciela Maragliano, Marcelo Impemba 399
poblaciones Mapuche en base a los procesos histórico – sociales regionales y locales. Otra variable
determinante, la constituyen las características que adquiere la oferta turística en cada localidad, a
qué mercado se dirigen, y cuáles son los productos y atractivos locales que buscan promover (Valverde,
2014). El sitio web oicial de la Provincia de Neuquén, al promocionar el denominado “Corredor de los
Lagos” señala en uno de los párrafos:
“El paisaje, compuesto por montañas imponentes, majestuosos lagos y mágicos bosques milenarios,
se ve enriquecido con encantadores mitos y leyendas, que le brindan una mística especial. Pero existe
otro componente que dota a la región de una riqueza sin igual: la presencia de sus primitivos pobla-
dores, forjadores indiscutibles de gran parte de su historia, su cultura e identidad” (Sitio web oicial
“NeuquénTur”, sección “corredor de los Lagos”, 2014)12. Como vemos, son los denominados “primitivos
pobladores” los que le asignan un “toque exótico” al paisaje y a la vez un valor diferenciador al mismo.
En la localidad de Aluminé13 -cuyo conlicto entre las comunidades Mapuche con el Resort de Montaña
“Piedra Pintada” mencionamos anteriormente- los indígenas son invisibilizados en la oferta turística local,
como se puede leer en las “crónicas históricas” de esta región. Al presentar esta localidad cordillerana,
se dice que el origen de la denominación “Aluminé”: “(…) en lengua mapuche significa Hoya Brillante”
(Subsecretaría de Turismo de la Provincia de Neuquén, Aluminé, 2014). A continuación, no se vuelve a
aludir a ellos en el relato (como también lo señalamos para el caso del Resort “Piedra Pintada”).
En la crónica local, los hechos históricos que se relatan, reconocen exclusivamente como antecedentes
a los pobladores de origen “blanco” -europeo-, negando los antecedentes de población indígena14. Tal
imagen es coherente con la que antes señalábamos de los indígenas “en el pasado”, es decir que no
formarían parte de la “historia”, sino que pertenecerían a una suerte de “fase anterior”, motivo por el
cual estarían excluidos (desde estos discursos) de los hechos relevantes locales, que sugestivamente
siempre se inician con un poblador de origen europeo.
En esta línea de análisis, en la localidad de San Martín de los Andes la imagen de lo “Mapuche”
que se ofrece al turismo formaría parte de una naturaleza que se desea presentar como “prístina y
armónica”. A medida que se fue aianzando la actividad turística, se fue deiniendo su imagen actual de
“aldea de montaña” orientada a un peril de turistas de alto poder adquisitivo, donde se apela a diversas
tradiciones europeas15, -claramente diferenciada de la masividad de otros ámbitos competidores cercanos
como la ciudad de San Carlos de Bariloche-16. Con esta operación se refuerza una de las características
claramente asociadas con San Martín de los Andes: la naturaleza, el centro invernal y la infraestructura
para un turismo de alto poder adquisitivo (condensado en la marca de la “aldea de montaña”) 17, donde
determinados símbolos indígenas son apropiados y resigniicados para transformarlos en distintivos
de esa “identidad aldeana”. Además, debe considerarse que el “turismo cultural” suele dirigirse a los
segmentos sociales de mayor capital cultural (Pereiro Pérez, 2009), lo que contribuye a compreender
esta esceniicación, atendendo a las características especíicas de San Martín de los Andes.
Así, esta localidad incorpora lo indígena despojado de sus condiciones históricas, con el in de sostener
el relato de los “blancos”, donde “esforzados pioneros” –desde ya de origen europeo- convivieron con los
“primitivos indígenas” en una suerte de coexistencia pacíica y de mutuos beneicios que se traslada
al presente.
Esto implica una “visibilización de lo indígena” desde el marketing oicial y su “puesta en valor”18
y/o “patrimonialización” como producto turístico o como parte del “patrimonio local”. En el marco de
este modelo hegemónico de desarrollo, las comunidades Mapuche se incorporaron paulatinamente en
forma indirecta al paisaje como consecuencia de la puesta en valor de su patrimonio y cultura, donde el
propio poblador es quien tendría que dar cuenta de todo lo relacionado con lo Mapuche en esta suerte
de representación que haría referencia solo al pasado (Impemba, 2013 y Maragliano, 2011 y 2013).
Una construcción idealizada de estos habitantes “originarios” que estarían siempre dispuestos a ser
“descubiertos” por el visitante, y que viven de su trabajo rural, en un territorio compartido en comunidad,
sin exteriorizar –desde esta visión- conlictos relacionados con la propiedad y usurpación histórica de
su territorio. Desde diversos ámbitos institucionales que gestionan y planiican la actividad turística,
el patrimonio es visto como un “recurso potencial” para la actividad, donde se percibe al turismo solo
como un generador de riquezas, desentendiéndose de las necesidades o identidades de las comunidades
locales, poniendo el énfasis en las ganancias económicas por encima de dichas identidades locales. Así,
la relación turismo-patrimonio es vista como una relación “positiva” en la medida en que ambos se
beneiciarían económicamente (Almirón, et al. 2006).
A partir de la demanda de nuevos y originales sitios patrimoniales, el “mercado turístico” y la circulación
cultural como objeto de interés comercial, han priorizado el “valor económico” del patrimonio del territorio
sobre el “valor simbólico”, con lo cual se asiste a procesos de mercantilización o folclorización de las culturas
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
400 Expansionismo turístico, poblaciones indígenas Mapuche y territorios en conlicto en Neuquén
locales. Procesos que, como señala Guerrero Valdebenito (2005), han tenido una serie de implicancias para
las dinámicas sociales de apropiación y signiicación social del patrimonio de una comunidad.
En San Martín de los Andes se presenta esta situación de apropiación y mercantilización del signiicado
del patrimonio (en este caso Mapuche) por parte de los sectores dominantes, quienes “utilizan” el idioma
Mapuche –el mapudungun- como parte del marketing turístico, eligiendo nombres de fantasía para los
comercios y la hotelería que representarían ese toque “exótico” necesario, sin reparar en su signiicado
y la pertenencia social del mismo, tomando la palabra como un elemento más del “valor promocional”
(Impemba, 2013 y Maragliano, 2011 y 2013).
En deinitiva, se asiste así a una manipulación y selección de los signiicados del patrimonio,
activando y comunicando una “idiosincrasia” de montaña que no expresa las condiciones y relaciones
que se establecen entre los sujetos y sus posiciones en la estructura social. A su vez, esta tendencia se
asocia a una visión economicista del turismo y la cultura, que construye una “tradición”, supuestamente
representativa de la región, mediante una “selección” intencionada de las expresiones culturales que
concibe a la misma como un cúmulo o “colección de piezas”. Esto se manifestaría en expresiones tales
como “el acervo cultural de los pueblos”.
Un discurso que se repite con regularidad en los planes oiciales es el que apela a la falta de
“valorización” de los fenómenos culturales y al aprovechamiento de los objetos y sitios patrimoniales.
Es por ello, que se considera al turismo como una actividad capaz de “poner en valor” a los “recursos”
materiales y culturales con los que cuentan las sociedades locales -como si dicho patrimonio no fuera
valorado por las comunidades-.
Autores como Prats (1997) señalan, cómo las activaciones patrimoniales en la actualidad, han adquirido
dimensiones nuevas a partir del ocio y el turismo, donde más allá de los signiicados identitarios, el
patrimonio se evalúa como “recurso” y se valora como “factor de desarrollo”, activado como artículo de
“uso” a partir de las demandas de la sociedad de consumo. El mismo autor reiere que la “activación
patrimonial” es el resultado de procesos de selección de determinados objetos, entre un conjunto amplio,
susceptible de ser “patrimonializado”. Estos procesos son llevados a cabo por determinados grupos
hegemónicos que se hacen portavoces de los valores simbólicos del patrimonio. Dicha activación, consiste
entonces en un proceso de legitimación de referentes simbólicos a partir de fuentes de autoridad, sean
éstas académicas o del poder político, quienes seleccionan, interpretan y comunican un relato histórico
y signiicativo que valide los procesos socio-históricos oiciales.
Como consecuencia del aumento de la demanda de “productos turísticos” relacionados con el patrimonio,
el Estado y distintos organismos internacionales ven en el turismo la condición necesaria efectuar para
la “puesta en valor” y gestión del patrimonio del territorio, muchas veces entrando en conlicto con los
intereses locales. Como bien señala Crespo “la intervención de estos agentes en torno a la puesta en valor de
un determinado pasado suponen procesos de definición de “sí mismos” y de los “otros”, en la que los sectores
dominantes tienen mayor capacidad de seleccionar, apropiarse y definir el sentido de los repertorios del
pasado considerados propios, y de legitimar el propio punto de vista sobre quién se es, qué cosa representa
qué y a quiénes” (Crespo 2009:63). Estas argumentaciones habilitan a los agentes dominantes a decidir
el “valor” y desconocer la pertenencia y herencia del patrimonio de los grupos subalternos.
Entendemos que la situación que presentamos al inicio de este trabajo -correspondiente a las comuni-
dades del área de Pulmarí en el Departamento Aluminé- resulta elocuente de la particular esceniicación
del pueblo Mapuche en contextos de actividad turística y las consecuencias que genera en términos de
movilización y disputas entre los pueblos originarios y otros sectores, por el manejo y acceso a los recursos.
Como señalábamos, la región se encuentra administrada por la “Corporación Interestadual Pulmarí” (CIP),
ente interjuridiccional conformado por tierras de la Nación y la Provincia- que surgió con el (supuesto)
in de mejorar las condiciones de vida de estas comunidades originarias. Pero muy lejos de los propósitos
explícitos, desde su conformación las políticas de este organismo tendieron a desmejorar cada vez más
las condiciones de vida de las familias indígenas, a causa de la falta de tierras, las restricciones a sus
actividades productivas (muchas no sólo de un valor económico sino también cultural) y la falta de una real
participación indígena en el directorio de la CIP. Malestar que inalmente derivó en una intensa movilización
indígena que tuvo lugar entre los años 1995-1996 –con profundas consecuencias- transformándose el
denominado “conlicto de Pulmarí” en emblemático de las movilizaciones de los pueblos originarios en las
últimas décadas, en Argentina en general y en particular en relación al pueblo Mapuche.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Sebastián Valverde, Graciela Maragliano, Marcelo Impemba 401
Las causas que promovieron la movilización indígena de 1995-1996 tuvieron que ver con la escalada de
medidas restrictivas hacia las comunidades Mapuche a partir de la falta de tierras, la escasa participación
indígena en el directorio de la CIP y a la ausencia de reconocimiento de comunidades que por aquellos
años se estaban reorganizando. En contraposición, la CIP otorgó generosas concesiones a particulares
para emprendimientos principalmente turísticos a un bajo canon (o que simulan una actividad de tal
naturaleza, pero en realidad son destinadas a segundas residencias), en ámbitos de alto valor paisajístico,
donde los adjudicatarios de dichos permisos son dueños de destacadas empresas o estancias en la región.
Desde aquel entonces, la región se caracteriza por elevados niveles de conlictividad aún irresueltos –en
gran medida con estos emprendimientos privados-, la judicialización de la movilización indígena, así
como las agudas disputas entre los diferentes –y variados- sectores que interactúan en la administración
de este Ente y en estos espacios territoriales.
Uno de los litigios paradigmáticos que también analizaremos, son los protagonizados por las comuni-
dades Curruhuinca y Vera, que residen en las cercanías del centro de deportes invernales Cerro Chapelco
(en San Martín de los Andes) y vienen manteniendo múltiples disputas con el concesionario –con la
intervención de los diferentes niveles estatales- por el control territorial y los beneicios de esta preciada
área turística. Este complejo se sitúa en una de las laderas del cordón montañoso del mismo nombre,
a unos 20 kilómetros de la ciudad de San Martín de los Andes. Por la envergadura de las instalaciones
y medios de elevación con que cuenta, representa uno de los centros de esquí más importantes de la
Argentina y el más destacado de la Provincia de Neuquén (Impemba, 2013)19. Las disputas se vienen
dando, tanto por la regularización de los diferentes territorios, como por las consecuencias ambientales
de este centro turístico en los espacios comunitarios.
Dada la proximidad de las comunidades Curruhuinca y Vera de este centro de recreación invernal
(con la consiguiente circulación de turistas), los pobladores de las mismas desarrollan una serie de
incipientes actividades para este mercado turístico. Con este mismo in, es que se fue construyendo
el “Centro Cultural Mapuche” sobre la base del cerro (inaugurado hace dos años) donde se ofrecen
diferentes servicios a los visitantes (ver fotografía).
Las situaciones conlictivas han derivado en cortes de ruta por parte de las comunidades Mapuche
al acceso al centro invernal Cerro Chapelco, manifestaciones con movilizaciones en las calles de San
Martín de los Andes, intervenciones de la justicia provincial y federal, negociaciones con el poder político
y económico de San Martín de los Andes y de la Provincia de Neuquén y, amplias repercusiones públicas
en los diversos medios de comunicación locales, regionales y nacionales.
La comunidad Curruhuinca ocupa un territorio de 10.500 hectáreas sujeto a un régimen de propiedad
comunitaria, asentada en los alrededores de la localidad de San Martín de los Andes (Valverde, 2006 y
Stecher, 2011). Se encuentra dividida en cuatro parajes: Pil Pil, Quila Quina, Trompul y Payla Menuko;
los tres primeros se asientan en jurisdicción de Parques Nacionales y el último en jurisdicción del
Municipio. Las condiciones de vida son de tipo rural, pero con estrechas relaciones con la ciudad -donde
muchos de sus pobladores trabajan y estudian-.
La comunidad Mapuche Vera20 obtuvo su reconocimiento legal y su personería jurídica en el año 1991.
Desde ines de los 90’, sus integrantes vienen efectuando un reclamo por el territorio ubicado en las
áreas en que se asienta este centro invernal, que corresponde al territorio ancestral de la comunidad.
De hecho, el Cerro Chapelco, ha sido siempre parte de la vida productiva y cultural de esta comunidad,
sirviéndoles a los pobladores como ámbito de pastoreo en los meses de verano (denominada “veranada”)
donde hoy se ubica la mayor parte de las instalaciones del complejo de esquí (Impemba, 2013).
En este particular escenario de crecientes disputas, un factor que actuó como disparador de la
movilización fue en el año 2000, cuando el Estado provincial decidió aumentar la supericie para la
práctica de esquí -y por lo tanto concesionable del cerro Chapelco-.
En el año 2001, el municipio entregó legalmente las 250 hectáreas que se encuentran en su juris-
dicción (la fracción “J”). Las restantes áreas (que corresponden a las fracciones “A” y “B”) pertenecen
a la provincia y son reclamadas por la comunidad (ver mapa adjunto).
La confrontación fue en aumento con la situación que se desencadenó en el invierno del año 200221,
cuando en el momento de mayor auge del turismo, los pobladores del paraje Payla Menuko de la comu-
nidad Curruhuinca cortaron el acceso al cerro. La causa de esta protesta radicó en que los arroyos que
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
402 Expansionismo turístico, poblaciones indígenas Mapuche y territorios en conlicto en Neuquén
bajaban del centro de esquí, producto de las cloacas de los baños, llegaban contaminados a dicha área de
la comunidad. Los antecedentes sobre contaminación de las aguas en esta área tenían larga data22. Los
Mapuches se concentraron en horas de la mañana, cuando es mayor el tránsito de turistas hacia el Cerro
Chapelco, impidiendo el acceso al mismo. A partir de la realización del piquete, miles de esquiadores y
turistas se vieron impedidos de ingresar al centro de recreo invernal. A partir de esta protesta, se conformó
un grupo integrado por los diversos sectores involucrados –incluyendo a los Mapuche– que tomó las
pruebas correspondientes de los residuos cloacales y la jueza decretó la clausura del complejo, con lo cual
inmediatamente se levantó el piquete (Diario “Página 12”, 29/08/2002). Al comprobarse la contaminación
que producían los baños, quedó en evidencia el incumplimiento de las medidas de saneamiento, así como
la contaminación que los aluentes generaban. La decisión de la jueza causó gran sorpresa, ya que la
clausura en el momento de mayor turismo no era la resolución al conlicto que podía esperarse, quedando
la empresa concesionaria “Nieves de Chapelco S.A.” en el centro de las críticas ante la falta de previsión.
También quedó en evidencia la falta de cumplimiento de los acuerdos y la contaminación, en una localidad
que paradójicamente se promociona como “una aldea ecológica” (Balazote, 2006; Valverde, 2006)23.
Las consecuencias de este litigio, no se veriicaron tanto en la temporada invernal en sí, sino más bien
en las relaciones interétnicas locales, donde quedó en evidencia la capacidad de movilización indígena
y su presencia como un actor sumamente relevante.
Con relación al litigio territorial de los Vera, en el 2003 volvieron a recrudecer los litigios, ya que
ante la falta de regularización del lote “69 B” (cercano a la base del cerro), los Vera realizaron una
ocupación de las tierras que reclamaban y comenzaron a construir un puesto comunitario (Diario “Río
Negro”, 13 de enero de 2003).
Los Vera lograron inalmente la escrituración de 355 hectáreas del lote “69 B” en marzo del 2003.
Entre 2003 y 2008, el reclamo se centró en las 279 hectáreas ubicadas en la base del cerro Chapelco
(lote “69 A”) que es el sector más importante de todos por estar asentado en este ámbito turístico (Ver
mapa adjunto).
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Sebastián Valverde, Graciela Maragliano, Marcelo Impemba 403
Croquis del ejido municipal de San Martín de los Andes, Comunidad Mapuche
Vera y Cerro Chapelco
En julio de 2008, a partir de realizar una protesta en la base del cerro, lograron la irma de un
acuerdo (ratiicado en diciembre del mismo año), por el cual la provincia debía pagar un canon a la
comunidad en concepto del uso del espacio territorial por parte de la concesión, y a la vez se efectuaría
la titularización de dicho lote (Diario “La Bandurria”, 3 de diciembre de 2008). Por otro lado, se respeta
las propiedades privadas existentes en este lote, por ello también es que debe efectivizarse este pago
a la comunidad, ante la presencia de estos emprendimientos en el ámbito comunitario de los Vera.
En deinitiva, vemos como hay un reclamo de la comunidad Vera -aún irresuelto en su totalidad- que
se superpone e incluye la base de operaciones del Cerro Chapelco, de propiedad provincial (pero
concesionado a privados). Al mismo tiempo, la vecina comunidad Curruhuinca también reclama el
co-manejo y la co-propiedad compartida del mismo sector (Impemba, 2013). Este complejo entramado
es el que aún está abierto y que es parte fundamental de la manera en que asumen las relaciones
interétnicas en San Martin de los Andes.
6. El Departamento “Los Lagos” y la influencia histórica del Parque Nacional Nahuel Huapi:
negación, conflicto y estigmatización
Otra situación bien diferente es en la zona norte del Parque Nacional Nahuel Huapi, también en
la Provincia de Neuquén, pero en el Departamento Los Lagos -que es el área localizada más al sur de
este estado provincial, que limita con la vecina Provincia de Río Negro- cuya localidad de referencia es
Villa la Angostura24 (ver mapa). Se trata de una ciudad de grandes bellezas naturales que ha crecido
aceleradamente en los últimos años25 y se ha convertido en un destino para turistas de alto nivel
adquisitivo, por eso se viene dando una acelerada expansión turística e inmobiliaria26.
En esta zona, a diferencia de los restantes distritos de la provincia de Neuquén, predominó una
ausencia de reconocimiento y una invisibilización de las poblaciones indígenas locales, sumadas a un
progresivo despoblamiento del medio rural circundante a las localidades -como Villa la Angostura
y en mucho menor medida Villa Traful-, producto precisamente de las políticas de expulsión de los
pobladores rurales de menores ingresos (criollos, indígenas, etc.) históricamente aplicadas por Parques
Nacionales. Esto es explicable, dada la menor incidencia que tuvo en esta región el Estado provincial
neuquino, en conjunción la mayor inluencia de actores privados locales y Parques Nacionales –con
su impronta europeizante y aristocratizante de los años 30’ y ’40-, lo que entendemos, contribuyó a
un menor reconocimiento de la diversidad cultural (García y Valverde, 2007; Valverde, 2006) en las
décadas de 1960 y 1970 si lo comparamos con otras regiones del mismo “corredor de los Lagos” (como
los Departamentos neuquinos antes señalados).
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
404 Expansionismo turístico, poblaciones indígenas Mapuche y territorios en conlicto en Neuquén
En el distrito “Los Lagos” las comunidades Mapuche locales, aún no cuentan con el correspondiente
reconocimiento institucional desde el Estado municipal y provincial (sí el del Estado nacional a través
del Instituto Nacional de Asuntos Indígenas (I.N.A.I.) o la Administración de Parques Nacionales). Por
esto tampoco estas comunidades poseen la propiedad de la tierra, lo que agrava aún más su situación.
A partir del proceso histórico particular que hemos descripto, en este contexto desde las políticas
públicas no se promueve un producto turístico ligado al pueblo Mapuche y en algunas instancias hasta
se niega su legitimidad como pueblo originario27, donde la comunidad Paichil Antriao (asentada en
el municipio de Villa La Angostura), mantiene una situación sumamente conlictiva con propietarios
privados y el Estado provincial y local. A esto se suma el crecimiento poblacional y por sobre todo
vertiginosa actividad inmobiliaria, lo que explica la creciente presión sobre los territorios –que no se
encuentran titularizados en favor de la comunidad ante la falta de reconocimiento provincial-, lo que
ha generado un agudo conlicto que lleva casi una década.
Cabe destacar que desde el año 2003, los descendientes de Antriao y Paichil, vienen realizando una
serie de movilizaciones y reclamos judiciales en busca de su reconocimiento como “Comunidad Mapuche”
(como Lof Paichil Antriao), que es objeto de grandes controversias. Las tierras que tradicionalmente
ocupa el Lof Paichil Antriao28 se hallan titularizadas a nombre de particulares ajenos a la comunidad
que -aunque nunca tuvieron su posesión- las reclaman como propias. Esto contribuye a explicar la
situación de conlictividad con diferentes sectores privados, interesados en avanzar sobre esos valiosos
terrenos. Desde aquel momento, los Mapuche se encuentran asentados sobre el cerro Belvedere (área
periurbana de la localidad), al tiempo que se han producido múltiples episodios de violencia, desalojos
de algunas familias –a partir de la denuncia a los indígenas a través de diferentes iguras del Código
Penal, tales como “usurpación”, “amenazas”, etc.- Esto ha llevado a que los Paichil Antriao reúnan un
número muy elevado de los integrantes de comunidades Mapuche de la provincia de Neuquén procesados
en diversas causas judiciales.
En el recorrido efectuado a lo largo de estas páginas, hemos podido visualizar cómo, la esceniicación
que se presenta acerca de los Mapuche es de carácter esencializante y folklorizante -efectuándose
como caracterizamos en otra oportunidad una- “(…) apropiación de fragmentos turistificables de la
cultura Mapuche” (Impemba, 2013. 197). Por cierto, esta puesta en escena asume características
sumamente complejas. Por un lado, implica está “apropiación” de la cultura indígena, donde la forma
que adquiere dicha representación soslaya las múltiples contradicciones, así como el rol subordinado
que desempeñan los pueblos indígenas en estos contextos (García y Valverde, 2006; Valverde, 2006). A
la vez -parafraseando a Pereiro Pérez- “(...) la mercantilización turística cultura causa una distribución
desigual de los beneficios del turismo” (2009:131). Pero a la vez, esta “puesta en valor” y los conlictos
resultantes de tales desigualdades, paradójica y contradictoriamente, brindan el marco necesario para
permitirles posicionar sus reclamos (Valverde, 2014; Impemba, 2013).
El conlicto de Aluminé posibilita evidenciar cómo a pesar de la negación y “puesta en escena” de los
atractivos locales soslayando la presencia indígena, los avances en la capacidad de movilización en las
comunidades locales (que se veriican desde mediados de la década de 1990) los ha llevado a disputar
con mega emprendimientos por los preciados ámbitos territoriales y a la vez interpelar al Estado en
relación a la política de concesiones de la Corporación Interestadual Pulmarí.
Los litigios de San Martin de los Andes -y en particular por el Cerro Chapelco-, han puesto de maniiesto
la capacidad de brindar respuestas frente al avance de la actividad turística y sus consecuencias (tales
como la contaminación de los arroyos), generando una creciente presencia territorial y capacidad de
acceder a los recursos en ámbitos sobre los que ya se encuentran reconocidos.
En contraste con estas dos regiones, los litigios protagonizados por la comunidad Paichil Antriao
de Villa la Angostura permiten evidenciar cómo la creciente adscripción étnica Mapuche y su visibili-
zación publica, se dio en estrecha asociación a la defensa de los territorios ancestrales, una creciente
valorización de los mismos, la ampliación de distintos emprendimientos y a la vez crecientes disputas
entre los diferentes sectores involucrados.
En relación con estas heterogeneidades, desempeñan un rol nodal las coniguraciones en asociadas
a las relaciones interétnicas durante el proceso de formación y consolidación del Estado – Nación
(Trinchero, 2000). Como hemos señalado en un trabajo reciente referido a la visibilización de “lo
Mapuche” (Valverde, 2014), la minuciosidad de la experiencia etnográica, posibilita profundizar en
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Sebastián Valverde, Graciela Maragliano, Marcelo Impemba 405
dichos procesos, en complementariedad con otras fuentes de información para dar cuenta de variables
contextuales (a nivel nacional, regional y local).
Ahora bien, más allá de las grandes heterogeneidades que hemos podido veriicar entre las diversas
localidades en relación a estas esceniicaciones (o bien la falta de las mismas), observamos cómo uno de
los resultados fundamentales de la actividad turística fue favorecer la conformación y el reconocimiento
de los Mapuche como sujetos sociales. A la vez, los conlictos que se han dado, han originado por
intermedio de la actividad turística, prácticas de resistencia que les permitieron posicionarse social,
cultural, económica y políticamente, y han conllevado un reforzamiento de la identidad étnica y su
expresión política –la etnicidad. La clave para comprender estos procesos está dada en cómo se refuerza
la identidad en los límites étnicos, en las “fronteras” con los “otros” (Vázquez, 2000), y en especial a
través de las diferentes iguras en las que éstos se ven personalizados: los propietarios privados, el
Concesionario del Cerro Chapelco, el “Spa de montaña”, el estado provincial y municipal, etc.
Pero además, es desde dicho posicionamiento que incluso puede hablarse de un salto “cualitativo”
en su capacidad de movilización (Balazote y Radovich, 2009) que en deinitiva han logrado acrecentar
su presencia como pueblo en general y en particular en el “campo” turístico -entendido en los términos
que Bourdieu (1996) asigna a la noción de “campo social”-.
El carácter por demás paradójico y contradictorio que asume la expansión de esta fuente de ingresos,
no hace más que reforzar y reairmar el hecho de que las transformaciones que genera la actividad
turística deben ser analizadas en su complejidad y multidimensionalidad, lo cual va mucho más allá
de considerar los diversos conlictos como meros “efectos” o concebir no el vínculo entre “turistas” y
“anitriones”, sino mas bien entre “turistas”, “anitriones” y “anitriones”.
Bibliografia:
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
406 Expansionismo turístico, poblaciones indígenas Mapuche y territorios en conlicto en Neuquén
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Sebastián Valverde, Graciela Maragliano, Marcelo Impemba 407
Valverde, Sebastián.
2013 “De la invisibilización a la construcción como sujetos sociales: el pueblo indígena Mapuche y sus
movimientos en Patagonia Argentina”. Anuário Antropológico. Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social da Universidade de Brasília (PPGAS/UnB). 2013 (I): 139-166.
Valverde, Sebastián.
2006 “Las condiciones de existencia y las prácticas de reproducción de la población mapuche en las
regiones turísticas de las provincias de Neuquén y Río Negro”. Tesis Doctoral. Facultad de Filosofía
y Letras, UBA, Universidad de Buenos Aires.
Vázquez, Héctor
2000 Procesos identitarios y exclusión sociocultural. La cuestión indígena en la Argentina. Buenos
Aires: Biblos.
Villa la Angostura. El Portal de la Villa.
2014 Sitio web “Villa la Angostura. El Portal de la Villa”.
En: http://www.villalaangostura.com.ar/historia-de-la-villa.html
Referencias Periodísticas:
Argentina.Indymedia.2006 – 2 de Agosto de 2006. “Pulmarí, otra parte del territorio mapuce recuperado”,
por Newen Antv. En: http://argentina.indymedia.org/news/2006/08/428500.php
Diario “La Bandurria”, 3 de diciembre de 2008 (en Argentina.Indymedia).
http://argentina.indymedia.org/news/2008/12/641923.php
“Neuquén: El gobernador ratiicó acuerdo con la Comunidad Vera”.
Diario “La Mañana del Neuquén”, 29 de diciembre de 2010.
“La Angostura tiene 11.087 personas”.
http://www.lmneuquen.com.ar/noticias/2010/12/29/la-angostura-tiene-11087-personas_94000
Diario “Río Negro”, 13 de enero de 2003.
“Mapuches ocupan tierras que reclaman”.
http://www1.rionegro.com.ar/arch200301/r13s09.html
Diario “Página 12”, 29 de Agosto de 2002.
“El piquete mapuche que paralizó el complejo de esquí de Chapelco”.
http://www.pagina12.com.ar/diario/sociedad/3-9457-2002-08-29.html
Notas
1
La Patagonia constituye la parte más austral de América del Sur. Comprende los territorios del sur
de Chile y de Argentina. En Argentina, abarca un sector de la Provincia de Buenos Aires, junto con
La Pampa, Neuquén, Río Negro, Chubut, Santa Cruz y Tierra del Fuego (Ver Mapa Nº 1).
2
La Provincia del Neuquén se localiza en el noroeste de la Patagonia, recostada sobre la Cordillera
de los Andes. Posee una supericie de 94.078 km2 y está dividida administrativamente en 16
departamentos. Limita al Norte con la provincia de Mendoza, al Sur con la provincia de Río Negro,
al oeste con la cordillera de los Andes (límite natural que la separa de la República de Chile) y al
Este con Río Negro y La Pampa (Ver Mapas Nº 1, 2 y 3).
3
El Departamento Aluminé se encuentra localizado en el centro-oeste de la provincia de Neuquén,
ocupando una supericie de 4.660 km2 (lo que equivale al 5% del total provincial). La localidad
cabecera lleva el mismo nombre que el distrito (INDEC, 2001).
4
Mapu signiica en “mapudungún” (en su lengua originaria) “tierra” y “che” signiica “gente”, así
“Mapuche” quiere decir “Gente de la tierra”. Este pueblo indígena que se asienta en el sur de Chile
y de Argentina (en el área norte de la Patagonia), sobrevivió a los ataques genocidas y etnocidas
llevados a cabo a ambos lados de la cordillera de los Andes a ines del Siglo XIX. En el vecino país de
Chile se asientan en la Octava, Novena y Décima Región y (como resultado de las migraciones) en la
región Metropolitana, sumando –de acuerdo a lo que señala Bengoa (2007)- 900.000 integrantes, de
los cuales 250.000 habitan en el campo y el resto en las ciudades. En Argentina, se asientan en las
provincias de Chubut, Río Negro, Neuquén, La Pampa y Buenos Aires (Balazote y Radovich, 2009)
conformando algo más de 200.000 miembros de acuerdo al último censo de población del año 2010
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
408 Expansionismo turístico, poblaciones indígenas Mapuche y territorios en conlicto en Neuquén
(INDEC, 2012), siendo el pueblo originario más numeroso del país (seguido por los grupos Qom-Toba,
Guaraní, Diaguita y Kolla).
5
La región de Pulmarí, se caracteriza por una destacada presencia de este pueblo originario y a la vez,
una gran conlictividad asociada al acceso a su territorio ancestral. Desde ines de la década de 1980, la
región se encuentra administrada por la “Corporación Interestadual Pulmarí” (CIP), ente interjuridiccional
conformado por tierras de la Nación y la Provincia- que surgió con los objetivos –al menos explícitos- de
mejorar las condiciones de vida de estas comunidades originarias. Esta zona posee una gran comple-
jidad social, ya que en el área administrada por la CIP se asientan, además de siete comunidades del
pueblo indígena Mapuche (Lof Katalan, Lof Ruka Choroy, Lof Ñorkinko, Lof Kurumil, Lof Leiman, Lof
Yegeywaj, Lof Tayiñ Rakizuam, además de la Confederación Mapuche Neuquina), los denominados los
“Concesionarios”, que constituyen particulares a quienes la CIP ha otorgado concesiones con distintos
ines (ganaderas, agrícolas, apícolas, turísticas, etc.) por plazos determinados. En algunos casos, en
especial las más grandes que conforman verdaderas empresas privadas, suelen mantener situaciones
de gran conlictividad con el pueblo Mapuche, por los ámbitos territoriales.
6
Las organizaciones indígenas señalaban: “Ya recuperamos los cuadros de invernada que estaban en
jurisdicción del ejército. Recuperamos el perilago -del Lago Pulmari-, la pintura rupestre y el cementerio
Mapuce, que estaban apropiadas”, en un comunicado de prensa del 1 de agosto, irmado por las
autoridades de las comunidades Mapuce Lof Katalan, Lof Ruka Choroy, Lof Ñorkinko, Lof Kurumil,
Lof Leiman, Lof Yegeywaj, Lof Tayiñ Rakizuam y la Confederación Mapuche Neuquina (Argentina.
Indymedia.org, 2006). A la vez exigían: “La convocatoria urgente a la Auditoria General de la Nación
para que proceda a revisar los métodos, las concesiones y los beneficios otorgados a amigos del poder
provincial y otros oscuros negociados sin resolver” (Argentina.Indymedia, 2 de Agosto de 2006).
7
El denominado “Corredor de los Lagos” abarca los Departamentos de Aluminé, Huiliches, Lácar y
Los Lagos de la provincia de Neuquén donde –en los tres primeros casos– en el sector cordillerano
se asienta el Parque Nacional Lanín. En un área que abarca una fracción del departamento Los
Lagos, y en la zona norte del Departamento de Bariloche (en la vecina provincia de Río Negro) se
encuentra la jurisdicción del Parque Nacional Nahuel Huapi, mientras el resto corresponde a las
áreas provinciales. Luego, continuando hacia el sur, la zona de los lagos también incluye la región
del Noroeste de la Provincia de Chubut (que no consideraremos en este trabajo). También hay una
región de los Lagos en la vecina República de Chile, que corresponde a las regiones IX y X (y que
tampoco incluimos en este análisis).
8
El primer autor de este artículo, Dr. Sebastián Valverde, se ha desempeñado y dirigido diversos proyectos
y trabajos académicos que han abordado la conlictividad territorial del pueblo Mapuche en relación
a los procesos de actualización étnico-identitaria, las transformaciones socioeconómicas regionales y
el desarrollo de los movimientos indígenas. Por su parte, Graciela Maragliano y Marcelo Impemba,
son docentes e investigadores de la Facultad de Turismo de la Universidad Nacional del Comahue
con sede en San Martín de los Andes y Neuquén. Se han desempeñado y dirigido diferentes proyectos
de investigación, extensión y de intervención en la región, con proyectos turísticos desarrollados con
las propias poblaciones indígenas, investigando sobre las consecuencias de las dinámicas turísticas
y las formas de patrimonialización en poblaciones indígenas.
9
La variación poblacional de los últimos años (1991-2010) permite dimensionar los cambios de
este período. Mientras la Provincia de Neuquén creció de 388.833 a 551.226 habitantes (41,8% de
incremento), en los cuatro Departamentos del “Corredor de los Lagos” que corresponden a la zona
de mayor desarrollo de la actividad turística (Aluminé, Huiliches, Lácar y Los Lagos) la población
creció casi el doble que en el total provincial: un 80,5% (INDEC, 2001 y 2012).
10
Un ejemplo de esto se puede observar con la cantidad de pernoctes registrados en establecimientos
habilitados al comparar la temporada estival (meses de Enero y Febrero) entre los años 2004 y 2014
para el conjunto de la Provincia de Neuquén, el que ha crecido de 534.433 en el año 2004 a 830.587
en 2014, lo que implica un crecimiento del 55,4%. Los establecimientos habilitados son de 758 (para
este año 2014) un 96% más que hace una década, con 27.163 plazas, lo que representa un 58%
más elevado que en el año 2004 (Ministerio de Desarrollo Territorial, Gobierno de la Provincia de
Neuquén, 2014). Estas últimas cifras, posibilitan dar cuenta de la consolidación de la región como
centro turístico, también con una ampliación de la oferta y los servicios brindados.
11
Entre los años 1991 y 2001 rigió en Argentina un sistema denominado de “convertibilidad” de la
moneda, basado en la equivalencia de un peso argentino con un dólar estadounidense. En el año
2002, en un contexto de una severa crisis socioeconómica se anuló esta medida -con la consiguiente
devaluación del peso- con el in de incentivar la producción local.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Sebastián Valverde, Graciela Maragliano, Marcelo Impemba 409
12
Subsecretaría de Turismo de la Provincia de Neuquén, Corredor de los Lagos, 2014.
En: http://www.neuquentur.gob.ar/es/corredor-de-los-lagos/
13
Cabe destacar que nos estamos reiriendo a las comunidades asentadas en la zona de Pulmarí del
Departamento de Aluminé, con su ciudad cabecera del mismo nombre. No así a la localidad de Villa
Pehuenia en el mismo Departamento, que posee ciertas características vinculadas a su origen como
centro turístico y particularidades que se derivan de una fuerte y sostenida intervención provincial
(por lo que no será abordada en este trabajo).
14
En el Sitio web oicial de la Provincia de Neuquén puede leerse, en relación a Aluminé, que la “historia
[de la localidad] es relativamente reciente, en el año 1915 oficialmente se reconoce el asentamiento
de los colonos, cuyo origen se remonta alrededor de los años 1880. A medida que pasa el tiempo esta
localidad y sus alrededores convoca a quienes buscan el contacto con la naturaleza y aventuras
diferentes” (Subsecretaría de Turismo de la Provincia de Neuquén, Aluminé; 2014).
15
Tal es el caso de los “concursos de leñadores” o la conmemoración de la navidad con una impronta
que remite a tradiciones europeas (Balazote, 2006).
16
La ciudad de San Carlos de Bariloche (en la vecina provincia de Río Negro) es el centro urbano más
importante de la zona cordillerana de la Patagonia lo que contribuye a que sea receptora de un
turismo “masivo”.
17
Esto lleva a omitir en el relato histórico de la localidad las actividades económicas anteriores al
desarrollo turístico (forestales, agrícolas, ganaderas, etc.), que serían incompatibles con la imagen
de naturaleza “virgen” que se desea promover (Valverde, 2014).
18
Cuando en el campo turístico los actores que representan a los sectores privados y públicos expresan
la necesidad de la puesta en valor, se reieren al diseño y colocación en el mercado de un producto
turístico (en este caso Mapuche) y, por lo tanto convertirlo en un recurso económico donde lo cultural
se deine a partir de su valoración monetaria, para lo cual habría que adecuar dicho producto al
gusto del turista: Qué exhibirse y en deinitiva, cómo y dónde exponer a ese conjunto heterogéneo
denominado comunidad Mapuche.
19
El complejo invernal es propiedad del estado provincial y es administrado a través de un concesionario
privado, en la actualidad bajo la denominación “Nieves del Chapelco S.A.” (Impemba, 2013).
20
Esta comunidad se sitúa en la margen norte de la cuenca del Lago Lácar, en el Lote “69” con una
supericie total de 775 has. Está integrada por 46 familias, limitando con el cerro Chapelco, con la
comunidad Curruhuinca y con diversos barrios de San Martín de los Andes.
21
Recordemos el cambio cualitiativo que se produce a partir del año 2002 con la devaluación de la
moneda local y la mayor aluencia de turistas a partir de ese momento.
22
En el año 1999 se había irmado un convenio por el cual la empresa concesionaria del cerro se
comprometía a efectuar las reformas en el sistema cloacal, pero nada cambió. En el año 2001 los
indígenas habían ocupado el concejo deliberante de la ciudad para conseguir entregas de agua
mineral y por la resolución de este problema. A mediados del año 2002, la jueza de faltas había
dispuesto la clausura de las instalaciones sobre la base de inspecciones realizadas por el organismo
de control municipal. La misma se levantó en el mes de Junio, pero con carácter provisorio, sujeta
al cumplimiento de las obras de saneamiento (Balazote, 2006).
23
Los diferentes conlictos Mapuche por el cerro Chapelco han sido abordados por diversos investigadores
(Balazote, 2006; Valverde, 2006; Stecher, 2011; Impemba, 2013).
24
La localidad de Villa la Angostura -cabecera del Departamento “Los Lagos” de la Provincia de Neuquén-
se asienta sobre la orilla norte del Lago Nahuel Huapi y se extiende hasta el Lago Correntoso en
una zona de grandes bellezas naturales, al contar con lagos, ríos y montañas (que forman parte de
la Cordillera de los Andes, que oicia de límite con el vecino país de Chile). Se encuentra a 80 Km.
de las ciudades San Carlos de Bariloche y a 110 Km. de San Martín de los Andes (por el circuito
turístico de “Los Siete Lagos”) y a 30-40 kilómetros de la frontera con Chile.
25
En 1991, Villa la Angostura poseía 3.056 habitantes, en el año 2001 contaba con 7.325 habitantes, y
en el último censo del año 2010 registra 11.087 habitantes (de acuerdo a cifras provisorias del censo
2010, Diario “La “Mañana del Neuquén”, 29/12/2010).
26
Los datos de los “permisos para construcciones nuevas y ampliaciones” según municipio, resultan
elocuentes de esta tendencia. Villa la Angostura, con tan solo el 2% de la población provincial en
el año 2012 (último dato disponible) fue la segunda localidad de la provincia (después de Neuquén
capital con el 43,55% de la población provincial) en cantidad de permisos para construcciones nuevas
y ampliaciones -con 255 autorizaciones, lo que representa el 16,1% del total provincial- (Dirección
Provincial de Estadística y Censos de la Provincia del Neuquén, 2012). El promedio de los años
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
410 Expansionismo turístico, poblaciones indígenas Mapuche y territorios en conlicto en Neuquén
2008 a 2012 da cuenta de este mismo posicionamiento, es decir es la segunda ciudad de la provincia
concentrando casi el 20% de las autorizaciones de todo el territorio neuquino (Dirección Provincial
de Estadística y Censos de la Provincia del Neuquén, 2012).
27
Al igual que lo que se puede leer en otras crónicas de la región, en el sitio web oicial y otros
promocionales, se atribuye el origen local a las gestas de “pioneros” de origen europeo, negando los
antecedentes indígenas en la zona, que están ampliamente documentados. Como se puede leer en
esta crónica histórica del sitio web de la localidad de Villa la Angostura “villalaangostura.com.ar”
se menciona la presencia indígena al referirse a “los primeros pobladores” que se asentaron en la
región a ines del siglo XIX, no obstante se omite en el relato, el origen étnico u otra característica.
No obstante, cuando es un poblador de origen europeo (que llega a la zona varias décadas después de
las familias indígenas), allí es identiicado por su nombre y nacionalidad. Allí, se enfatiza su “gran
empuje y visión” y a la vez se vinculan sus acciones de aquel entonces con la oferta turística actual
de la localidad, al enfatizar la fundación de un Hotel y la llegada del primer contingente de turistas.
En: http://www.villalaangostura.com.ar/historia-de-la-villa.html
28
Cuando se conformó la “Colonia Agrícola Pastoril Nahuel Huapi” en el año 1902, les fue otorgado el
lote Nº 9 (donde actualmente se asienta el ejido de la localidad de Villa la Angostura) a los pobladores
Mapuche Ignacio Antriau y José María Paisil. Este beneicio a los antepasados que dan origen a
la actual comunidad Paichil Antriao, les fue otorgado precisamente como reconocimiento por su
colaboración con la “comisión de límites” que trabajó en la zona por aquellos años y que concluyó con
la delimitación de la frontera con Chile en el año 1902 (si bien el limite efectivo funcionaria en los
hechos varias décadas después). No obstante, a través de la copropiedad a ambos grupos familiares,
luego por medio de sucesivas subdivisiones del lote original, así como el avance de diversos actores
privados –a medida que estas tierras se iban valorizando- sus descendientes fueron perdiendo la
mayor parte de estas tierras.
Recibido: 14/01/2015
Reenviado: 18/01/2015
Aceptado: 22/01/2015
Sometido a evaluación por pares anónimos
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Vol. 13 N.o 2. Special Issue Págs. 411-424. 2015
www.pasosonline.org
Resumo: Ao examinar o turismo entre os Pataxó da Terra Indígena de Coroa Vermelha, no estado da Bahia
(Brasil), este artigo coloca em evidência duas modalidades de turismo ali observadas: uma na qual predomina
uma perspectiva imperialista, e outra onde o discurso pós-colonial é mais facilmente negociado entre indígenas e
visitantes. Baseado em dados etnográicos coletados de forma variada nos últimos dezenove anos, o artigo toma
como io condutor os discursos e as performances correntes na localidade em destaque para reletir sobre a agência
constitutiva de sentidos acerca das tradições e do patrimônio local, que põe em evidência uma memória sobre o
Descobrimento do Brasil.
Palavras-chave: Turismo, imperialismo, pós-colonialismo, patrimônio, memória, tradição, povos indígenas
Tourism in Coroa Vermelha Pataxó indigenous land: imperialism and pós-colonialidade in the re-
gion of the discovery of Brazil
Abstract: By examining tourism among the Pataxó of the Coroa Vermelha Indian Land, in the state of Bahia
(Brazil), this article highlights two modalities of tourism observed at that place: one in which prevails an impe-
rialist approach and other in which postcolonial discourse is more easily negotiated between Indians and the
visitors. Based on ethnographic data collected in a varied manner over the last nineteen years, this paper fo-
cuses the discourses and performances present at that location in order to relect on the agency that constitute
meanings about those traditions and local heritage, and that highlights a memory on the Discovery of Brazil.
Keywords: Turism, imperialism, post-colonialism, heritage, memory, tradition, indigenous peoples
1. Introdução
Há séculos pessoas viajam para conhecer populações indígenas. O que torna essa questão importante
na atualidade é a escala e a velocidade com que o turismo se espalha para as longínquas terras indígenas
antes ignoradas (Hinch and Butler, 1996), bem como o fato de essas populações nativas estarem agora
buscando assumir a posse e o controle sobre tais visitações (Bunten and Graburn, 2009: 2).
No Brasil, apesar de todas as diiculdades que o turismo tem enfrentado para se efetivar em terras
indígenas por conta da feição do indigenismo brasileiro (Grünewald, 2009a), os Pataxó habitantes do litoral
do extremo sul do estado da Bahia estão em contato com o turismo há cerca de quarenta anos. De fato, foi
na década de 1970 que o turismo começou a envolver os Pataxó e, desde então, cada vez mais o turismo
penetrou na vida desses indígenas. Igualmente, o desenvolvimento de toda a região onde habitam foi
alavancado pelo turismo, que hoje continua sendo o alicerce da economia local: tanto das municipalidades
de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, quanto das aldeias Pataxó que se espalham pela região.
O envolvimento dos Pataxó com o turismo tem sido registrado em diversas produções acadêmicas
- principalmente na área de antropologia -, as quais tiveram início ainda em ins da década de 1980
*
Rodrigo de Azeredo Grünewald é professor associado de antropologia do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
(PPGCS) - Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) – Brasil. Email: [email protected]
(Rocha Júnior, 1987). Hoje, um conjunto relativamente extenso de publicações já se registra e muitas
palestras já foram proferidas sobre a presença do turismo entre esses índios.
Em geral, o foco desses trabalhos acadêmicos recai sobre artesanato, identidade indígena ou
territorialidade, embora outras abordagens ligadas à educação, gênero, religião, conlitos, entre outras,
tenham sido levadas a efeito. De qualquer forma, o que importa é que em quase todos esses trabalhos
o turismo aparece com maior ou menor peso.
Neste artigo, buscarei comentar duas modalidades de turismo contraditórias, mas que se encontram
simultaneamente presentes na Terra Indígena Pataxó de Coroa Vermelha, a qual se divide em duas glebas
e em cada qual predomina uma dessas formas de turismo - embora ambas as formas se insinuem em
ambas as glebas, diferindo apenas em intensidade. Na Gleba A (Praia) predomina uma atividade turística
imperialista ou colonialista (mesmo com a elaboração indígena de um discurso contra-hegemônico),
enquanto na Gleba B (Mata) predomina um movimento pós-colonialista embutido na realização do
turismo. São essas formas de turismo (e sua distinção) que este artigo se propõe explorar com base em
trabalhos de campo etnográicos variados que tiveram lugar naquela Terra Indígena em várias ocasiões
nos últimos dezenove anos.
Ao distinguir ambas as modalidades de turismo, me concentrarei, como io condutor, nos discursos
e nas performances correntes na região sobre o descobrimento do Brasil, na medida em que a recriação
histórica desse episódio colonial ultramarino é parte fundante ou constitutiva das atividades turísticas
inauguradas nesse território Pataxó.
O Ilhéu da Coroa Vermelha, situado no atual município de Santa Cruz Cabrália, é o lugar onde o
descobridor Pedro Álvares Cabral desembarcou em 22 de abril de 1500. Ali, quatro dias depois, foi
também foi celebrada a Primeira Missa em solo brasileiro. Neste localidade, os portugueses foram
recebidos por índios Tupiniquim, que se acercavam ainda de outras populações nativas, tais como os
Botocudos, além de famílias Pataxó, Maxacali e Camacã, que circulavam em pequenos bandos nas
matas próximas à faixa costeira. Nos três séculos seguintes ao Descobrimento, sabe-se que grupos de
todas essas etnias realizavam ataques, mais ou menos recorrentes, aos colonizadores - mesmo tendo
sido estabelecidos alguma atividade de trocas comerciais entre índios e colonizadores e mesmo tendo
havido aldeamentos capuchinhos e jesuítas na região para congregar os índios sob domínio colonial.
Em 1861, com o objetivo de acabar com os ataques a fazendas da região e civilizar os índios, o
Governador da Província da Bahia mandou fundar a atual aldeia de Barra Velha (situada no limite
meridional do atual município de Porto Seguro) congregando ali os nativos de todas as etnias acima
referidas, os quais icaram fadados ao esquecimento, vivendo em relativo isolamento e mantendo contatos
esporádicos apenas com pescadores, comerciantes com quem trocavam mercadorias ou deixavam sua
produção em consignação e fazendeiros para quem alguns trabalhavam sazonalmente.
Na década de 1940 foi iniciada sobre o território indígena uma demarcação de terras para a criação
do Parque Nacional do Monte Pascoal1, que, depois de sérios conlitos que provocaram diásporas a
partir daquela territorialidade, acabou por ser criado em 1961, quando se tentou formalmente excluir
os indígenas da vida produtiva no seu território. Contudo, apesar de todas as adversidades, muitos
daqueles nativos recusaram-se a assimilar-se completamente ao contexto regional e escolheram manter-se
unidos num agrupamento indígena. É a partir dessa opção de se manter como índios no seu território
- e na luta para conseguir isso no âmbito desse luxo colonial (Grünewald, 2002a; 2010) - que surge a
necessidade de criar um regime de índio (Grünewald, 2001) para a representação da indianidade nas
amplas arenas políticas que ali começavam a se estabelecer.
Ao se assumirem publica e oicialmente como índios, lograram, enim, a fundação de um posto
indígena na aldeia de Barra Velha, embora as condições de vida continuassem extremamente precárias e
a assistência governamental lhes fosse extremamente escassa. A essa época, destaca-se a construção da
rodovia BR 101 (e em seguida a da BR 367), a qual trazia o desenvolvimento para região, inicialmente
com a instalação de serrarias e de fazendas de gado. Mas os Pataxó não se inseriram inicialmente
nessas atividades, permanecendo retraídos em Barra Velha ou em alguns outros núcleos familiares
formados pelas dispersões mencionadas e espalhados em matas ou povoados próximos ou distantes.
Viviam de pequenas roças, um pouco de caça e pesca e extrativismo na mata e no mangue. Mantinham
em comunicação principalmente através das trocas realizadas entre as famílias que moravam no interior
e litoral e as quais se perpetuavam há gerações.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Rodrigo de Azeredo Grünewald 413
A difícil situação dos indígenas para manter uma boa qualidade de vida levou um chefe do citado
posto da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) a propor aos índios a confecção de artesanato para ins
comerciais, dado o luxo turístico que se anunciava com a construção das rodovias, inclusive com a
prevista inauguração do marco do Descobrimento do Brasil em Coroa Vermelha, no município vizinho
(ao norte) de Santa Cruz Cabrália. O chefe do posto indígena mostrou então aos Pataxó colares de índios
Xerente (onde ele havia trabalhado) e orientou-os na produção e comercialização das peças. A “ideia
do artesanato indígena para venda a turistas vinha, enquanto alternativa econômica, tentar suavizar
aquela situação de penúria” (Grünewald, 2002a: 7).
Nessa mesma época, mais exatamente em 1972, alguns índios se transferiram para Coroa Vermelha,
principiando uma nova aldeia Pataxó naquela localidade onde, um ano e meio depois, se inauguraria o
marco do Descobrimento. Esta nova aldeia, voltada quase que especiicamente para a comercialização
do artesanato ao turista, se desenvolveu rapidamente e assumiu características urbanas. No inal dos
anos 1970, durante toda a década de 1980 e ainda hoje, famílias indígenas de várias aldeias Pataxó da
região vêm encontrando no turismo, quer de maneira direta ou indireta, uma importante fonte de renda.
De fato, o turismo chegou como uma frente de expansão da sociedade brasileira que remodelou a vida
indígena em boa parte da região, impondo novos ritmos, inserções socioeconômicas, hábitos culturais etc.
Como já expusemos em outra ocasião (Grünewald, 2002a), foi a partir das noções de fricção interétnica
de Roberto Cardoso de Oliveira e de frentes de contato de Darcy Ribeiro que Paul Aspelin (1977) “introduziu
na antropologia do turismo a ideia de frente turística para se referir ao turismo como uma forma de contato
cultural encontrada no âmbito geral da economia política e da ética de tomada de decisão e levando
em consideração a presença da indústria do turismo” (Grünewald, 2002a: 8). Na mesma comunicação,
airmamos que “é nesse âmbito que é entendida a situação de contato cultural assimétrico produzida
na interação social entre nativos e uma sociedade desconhecida que se aproxima a im de explorar os
recursos turistiicáveis” (Ibid). Em consonância com Nelson Graburn (1976), vemos aí uma situação
de colonialismo interno. No caso do artesanato Pataxó, este teve que ser criado e constantemente foi
sendo reconigurado segundo diretrizes que visavam o consumo externo2, do qual icaram os indígenas
economicamente dependentes e sem autonomia. Em contrapartida, o artesanato indígena em tal contexto
de conformação sociocultural tem importante função não só ao manter a identidade dos membros de
um grupo, mas também de fortalecer sua etnicidade independentemente se, no processo de renovação
das tradições, ocorre empréstimo de traços culturais ou mesmo a criação de novos visando a interação
comercial com turistas. Esse é exatamente o contexto do surgimento do turismo étnico entre povos
indígenas de todo o mundo, tal como notado por Graburn (1976). Segundo MacCannell (1992), além
disso, essa forma de colonialismo interno a partir do moderno turismo de massa impulsiona um “tipo
de etnicidade-para-turismo no qual culturas exóticas iguram como atrações chave” (MacCannell, 1992:
158) e onde o indígena esforça-se “para ‘fazer-se-nativo-para-turistas’” (Ibid: 159).
Há ainda que se levar em consideração, contudo, que não apenas uma identidade pode estar em
construção numa ampla arena turística, tal como a que aqui analisamos. De fato, no litoral do Extremo
Sul da Bahia, mais do que uma identidade indígena o que o Estado e os empresários do ramo turístico
promovem é uma baianidade (Grünewald, 2001), ou seja, uma identidade baiana onde as características
culturais do baiano são incrementadas como tradicionais e positivas. Essa baianidade, como airmamos,
“se estende desde a questão racial da morenidade3, e segue pela oferta de comidas e ritmos musicais que
são gerados periodicamente como símbolos representativos da Bahia e que rapidamente se transformam
em moda em todo o país e até no exterior” (Grünewald, 2002a: 10).
Na região em foco, só muito recentemente os indígenas Pataxó começaram a ser promovidos pelos
setores turísticos públicos e privados, embora tal promoção ainda esteja muito aquém da empregada com
relação à natureza local com suas praias e pessoas sensuais, belos retiros para descanso e outros locais
para badaladas noites, além dos prédios coloniais e dos elementos culturais baianos. É justamente essa
assimetria que estabelece uma “Cultura Branca dominante” (MacCannell, 1992) e sua contrapartida
estrutural com a formação de grupos étnicos. De fato, se o turismo enquanto colonialismo - ou fluxo
colonial (Grünewald, 2002a) - quer domar a atividade produtiva indígena, integrando os índios a um
domínio imposto pela ordem capitalista global (inclusive em termos culturais), em contrapartida a
partir das culturas colocadas em posições subalternas emergem etnicidade. Segundo Bhabha (2001), é
nesse contexto que se deve pensar a emergência de discursos sobre a diferença cultural como estratégia
de sobrevivência em termos de uma postura pós-colonial que força “um reconhecimento das fronteiras
culturais e políticas mais complexas que existem no vértice de esferas políticas frequentemente opostas”
(Grünewald, 2002a: 2). Por im, é contra o colonialismo interno (ou imperialismo) que emerge, assim,
a etnicidade Pataxó com a forma retórica de índios do descobrimento.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
414 Turismo na Terra Indígena Pataxó de Coroa Vermelha
Os Pataxó contam atualmente com uma população de mais de 11.000 indivíduos distribuídos em
vinte e cinco aldeias espalhadas por cinco Terras Indígenas ao longo da costa sul do estado da Bahia. A
Terra Indígena de Coroa Vermelha conta com uma população de mais 3.500 indivíduos.
Ao longo de sua história de contato interétnico com segmentos da sociedade brasileira, os Pataxó
alteraram em muito seus modos de vida e seus costumes. Já no início da década de 1970, entretanto,
“quando um marketing do Descobrimento do Brasil é destacado na região, os Pataxó passaram a ser
chamados para fazer representações de sua cultura (danças, mais especiicamente) em contextos escolares,
inaugurações municipais e outros atos políticos (o que faziam em troca de uma feira)” (Grünewald, 2002a:
10-11). Soma-se a isso o fato do início da confecção de artesanato para comercialização num contexto
turístico que se anunciava. Tais atividades os izeram se concentrar em sua cultura especíica de modo
que, consequentemente, iniciaram um processo de revitalização e produção de itens de cultura gerados
em termos de tradição. Está “claro que o elemento mais rapidamente desenvolvido foi o artesanato,
em função do retorno inanceiro imediato que proporcionava. Mas os turistas compradores das peças
artesanais demandavam que os índios apresentassem uma língua própria, além de nomes indígenas e
uma história ligada ao Descobrimento do Brasil – ainal, ocupavam o local do encontro inicial entre os
nativos e o colonizador europeu” (Ibid: 11). Por im, outros itens de cultura indígena (bem como aspectos
de sua vida cotidiana) passaram a ser também objeto de interesse dos turistas, como danças e músicas,
xamanismo e medicina tradicional, moradia e alimentação etc.
Foi assim que o local do Descobrimento do Brasil em Coroa Vermelha começou a ser ocupado por
indígenas em novembro de 1972, quando uma família de índios que moravam fora dos limites de Barra
Velha mudou-se para esta localidade, a qual, “já no ano seguinte, receberia várias outras famílias
oriundas de Barra Velha que foram tentar a vida ali vendendo ou trocando artesanato com os poucos
hippies que acampavam nas praias” (Ibid). Em 1974, “o marco do Descobrimento foi inaugurado com a
instalação inclusive de grande cruz de madeira representando a Primeira Missa celebrada no Brasil.
A partir daí o turismo começou a se desenvolver na região; no início de forma bastante tímida, mas, a
partir do início dos anos 1980, de maneira avassaladora” (Ibid), dando início ao aluxo do turismo de
massa para visitação a Porto Seguro com vistas a “um turismo histórico (local do Descobrimento do
Brasil e da Primeira Missa celebrada em solo brasileiro, além das importantes instalações coloniais
com sua arquitetura restaurada), recreativo (belas praias) e cultural (chamariz da cultura baiana, com
sua culinária, danças, músicas ou ritmos)” (Ibid).
Desde o início, Coroa Vermelha sempre se caracterizou como um local urbano e comercial de
visitação ao marco do Descobrimento e à cruz da Primeira Missa. Os índios sempre se mantiveram ali
e, se inicialmente sofria forte variação sazonal, com sua demograia alterada entre o inverno e verão,
com o tempo sua população ixa foi gradativamente aumentando com a chegada de parentes que ali
estabeleciam residência para viver, em sua maioria, da produção e comercialização de artesanato para
turistas. Consequentemente, essa população Pataxó precisou aumentar seu território especialmente
visando a agricultura e o extrativismo vegetal para obtenção de matéria-prima própria ao artesanato.
Assim, ocuparam inicialmente uma faixa de loresta próxima à praia, que desmataram vendendo parte
da madeira para madeireiras e parte utilizando para o artesanato (bem como as sementes de muitas
árvores) e a tornaram, por im, uma área destinada à agricultura. Posteriormente, em 1997, os Pataxó
ocuparam outra parcela de mata ameaçada por tratores da empresa proprietária, o que colocava em
risco recursos (como a piaçava, sementes e outros produtos lorestais) que costumavam extrair em suas
amplas perambulações por todas aquelas matas da região. Esta segunda parcela de loreta ocupada
deveria ser então preservada com vistas a um turismo sustentável aliado, portanto, à preservação
ambiental e renovação de seus recursos naturais.
Em abril de 1998, por im, a Terra Indígena de Coroa Vermelha foi demarcada em duas glebas: uma
área de praia incluindo o sítio do Descobrimento, as residências e o comércio indígena; e outra abarcando
as duas lorestas ocupadas, sendo uma destinada à agricultura e outra à preservação ambiental e
“ecoturismo”. Nesta segunda mata – e com o objetivo explicitado de “vivenciar e demonstrar a beleza
da nossa cultura e preservar o meio ambiente” -, os índios criaram a Associação Pataxó de Ecoturismo
(ASPECTUR) e inauguraram a Reserva Ecológica da Jaqueira no ano de 1999 para visitação turística,
como também de estudantes e pesquisadores (com acompanhamento de guias Pataxó daquela associação).
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Rodrigo de Azeredo Grünewald 415
Em 1974, o Capitão de Marinha Raimundo dos Santos Coelho foi designado para assumir o comando da
região sul da Bahia, que compreendia toda a área do Descobrimento. Em Coroa Vermelha ele encontrou
uns poucos índios que ali haviam iniciado habitação e, ao invés de cumprir sua obrigação de retirar
quaisquer ocupações na faixa de praia ao longo daquela orla, ele preferiu - em função de “um ideal”
de ver aquele “ambiente do Descobrimento” com “mata, cruz e índios”, tal como emoldurado na sua
lembrança do tempo de escola – permitir a ixação indígena na área onde haviam iniciado a construção
de barraquinhas de comércio de artesanato independente de intermediários e sem apoio de nenhum
empresário que, hipoteticamente, poderia ter se interessado em investir na promoção do artesanato
indígena como atrativo turístico. Muito pelo contrário, houve ali um desen volvimento imobiliário
desordenado que, embora combatido pelo Capitão Raimundo, provocou uma descaracterização do que
deveria ser um “ambiente histórico4”. Só em 1979, “considerando que os indígenas já estavam em número
adequado em Coroa Vermelha para ornamentar o local do Descobrimento com a presença do índio”, o
Capitão Raimundo enviou um documento à FUNAI solicitando a regularização daqueles índios, o que,
entre diversos encaminhamentos, teria acabado acarretando o início de um processo de regularização
através de contatos do Ministério do Interior com o Serviço do Patrimônio da União (SPU).
Mas, estabelecidos em Coroa Vermelha, passando por diiculdades de sobrevivência e diante de um
incerto respaldo governamental para sua permanência ali, os Pataxó precisavam se airmar deiniti-
vamente como legítimos ocupantes do sítio histórico do Descobrimento do Brasil. Dessa forma, vale
reletir um pouco o contexto social caracterizador da exposição pública dos Pataxó no local histórico do
encontro inaugural entre portugueses e indígenas. Segundo Sampaio (1996):
Assim, Coroa Vermelha emerge como uma arena privilegiada para a representação “deste ‘encontro’,
concebido no imaginário social brasileiro — e, sem dúvida, também no dos Pataxó —, como um momento
emblemático da constituição da própria nacionalidade” (Ibid).
O problema que gostaria de justapor aqui é que os Pataxó parecem celebrar em Coroa Vermelha
antes de tudo sua anterioridade à nação brasileira. Todos os seus discursos conluem para isso: airmar
que quando Cabral chegou eles já ocupavam, se não diretamente (caso de discursos que apontam para
sua descendência também dos Tupi), mas também periodicamente (caso de discursos de serem índios
das matas que aluíam sempre para aquele pedaço da costa), aquela porção do litoral. De qualquer
forma, destaca-se invariavelmente um discurso sobre o momento histórico da chegada de Cabral como
uma “invasão5”. Por im, em termos práticos, o que parece que estava em jogo desde a década de 1970,
quando índios Pataxó procuraram se estabelecer em Coroa Vermelha, era a tentativa de legitimar sua
presença ali como quem retorna ao lugar de origem remota.
Uma vez um assessor da secretária de turismo de Santa Cruz Cabrália disse que “o Pataxó não é, mas
representa o índio descoberto por Cabral”. Essa é uma visão ainda positiva quanto ao estabelecimento
dos Pataxó em Coroa Vermelha, pois a grande maioria dos cidadãos de Santa Cruz Cabrália ou Porto
Seguro os considera simplesmente como outsiders. Lembrando trabalho de Elias e Scotson (1994), os
Pataxó em Coroa Vermelha são antes established porque chegaram antes dos “brancos6” nesta localidade.
O que eles querem impor é a visão de que eram established também com relação a Cabral ou à própria
nação brasileira. Foi essa a retórica Pataxó para justiicar sua ocupação de Coroa Vermelha. Mas e a
grande cruz, esse bem do patrimônio cultural7 ali implantado para consagrar a nacionalidade?
Sampaio (1996) foi muito feliz no título “Sob o Signo da Cruz8”, pois, conforme Handler (1984), “as
culturas e os traços culturais que são imaginados como continuamente existentes (do mesmo modo
que as coisas existem continuamente na natureza) não são naturais, mas semióticos e como tais são
continuamente recriados no presente” (Handler, 1984: 62). Também, “objetiicação” é seletiva e a
construção de uma narrativa ou imagem de uma cultura envolve necessariamente a seleção de alguns
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
416 Turismo na Terra Indígena Pataxó de Coroa Vermelha
elementos à expensas de outros e, além disso, a construção de uma “cultura objetiicada” envolve uma
nova contextualização dos elementos selecionados, que “por serem selecionados fora de uma série de
elementos em um contexto diferente, torna-se algo diferente do que era. Em outras palavras, os objetos
de uma nova interpretação — vistos sob uma nova luz, transpostos para novos contextos — tornam-se
algo novo, embora, mais uma vez, possam ser representados como contíguos com um passado cultural
autêntico” (ibid.).
Assim, com relação à cruz, pode-se dizer que ela não é a da Primeira Missa e nem tampouco a Primeira
Missa teve cruz (só a segunda, próxima à foz do rio Mutari), mas, na descontinuidade, representa a
continuidade a contar do início da nossa história enquanto brasileiros. Também, os Pataxó não são os
tais, mas estão ali marcando uma continuidade com os nativos que receberam Cabral e representando,
assim, os índios do descobrimento — e talvez por isso eles não evoquem em seu discurso a personalidade
do Capitão Raimundo como um agente fundamental para a fundação de Coroa Vermelha.
No que se refere a uma política de memória pública (Norkunas, 1993), outro ponto a destacar é que
a cruz, que se torna atrativo turístico, está envolvida numa reconiguração de realidade. Se no caso do
turismo a cruz, como passado reconstruído e realidade reconigurada, visa o outsider, por outro lado serve
assim também para convencer os insiders (established) que essa é a história, a realidade deles. Segundo
Norkunas, “a classe dominante controla cuidadosamente a forma e o conteúdo das recriações históricas
e paisagens turísticas, se legitimando ao proteger seus próprios valores socioculturais contemporâneos
sobre o passado” (Norkunas, 1993: 97). E, num tal contexto, a realidade indígena fundar-se-ia, segundo
Valaskakis (1993), “na experiência caleidoscópica de estar inscrito como subalterno na história de
outros e como sujeitos na sua própria herança9. Para os índios, essas são disposições construídas sobre
imaginários sociais contraditórios...” (Valaskakis, 1993: 158).
O problema aqui recai diretamente sobre questões que tangem uma dualidade sobre memória
e identidade. Se para Boyarin (1994) “‘memória coletiva’ e ‘identidade coletiva’ são antes os efeitos
de práticas intersubjetivas de signiicação, nem dadas nem ixadas, mas constantemente recriadas
dentro do quadro de regras de discurso marginalmente contestáveis (...)” (Boyarin, 1994: 23), isso ica
claro quando se depara com a emergência da Coroa Vermelha indígena, na medida em que memória e
identidade são acionadas conjuntamente quando os Pataxó buscam uma autenticidade legitimadora
de sua ocupação da área. Se uma memória — mesmo que ictícia — dos “troncos” (passada através
das gerações) é evocada como legitimadora da sua identidade contínua como povo desde a época do
Descobrimento, é essa conjunção que vai conigurar uma história de uma tradição Pataxó que passará
a fazer parte da cognição principalmente das novas gerações que se iniciam a partir da ocupação de
Coroa Vermelha. Cognição esta que, depois de estruturada (certeza de grande parte dos índios de que
eles são, de fato, os índios do descobrimento), passa a ser a pedra de toque para uma justiicativa do
seu reconhecimento como população étnica com direitos de acesso àquela terra e com status de “povo
testemunho” (Ribeiro, 1975). A luta política, inclusive, que se estabelece a partir da década de 1970 já
era pelo reconhecimento de sua autenticidade como índios do descobrimento.
Assim, uma disputa ideológica quanto à questão fundiária de Coroa Vermelha10 se acompanha de
outra: uma disputa arquetípica que penderia para uma uniicação no imaginário de uma Coroa Ver-
melha indígena e brasileira simultânea e igualitariamente — até como modo de reformular o passado
colonial. Mas talvez o único ponto mesmo em comum foi o fato de que ali deveria se constituir como
lugar turístico. Se a presença indígena sempre foi aceita para “ornamentar” o lugar, isso só se concebia
através da venda de artesanato “tradicional” e nunca residencialmente.
Foi assim, portanto, que durante as três últimas décadas do século XX, especuladores imobiliários ou
empresários do ramo turístico procediam administrativamente de forma a desqualiicar a indianidade
Pataxó na tentativa de conseguir a gerência de Coroa Vermelha. A população da região em geral, em
consonância com as airmações dos políticos locais, reconhecia os Pataxó como um empecilho a um
proveitoso melhoramento da área do Descobrimento. Inclusive a mídia também nunca foi de promover
os Pataxó e incentivar a exibição de sua cultura como se estes tivessem sofrido tamanha aculturação
que não restasse nada mais de interesse para o desenvolvimento turístico da região. A mídia promovia
sim a cultura e um modo de ser baianos – uma baianidade construída em torno de uma cultura regional
com fortes origens africanas – expressa na culinária, musicalidade e outros itens culturais que bem se
vendem aos turistas. Contra essa baianidade hegemônica, era importante para os Pataxó o trabalho
de resgate cultural a im de demarcar nitidamente suas fronteiras étnicas e se mostrar um grupo
atraente no mercado.
Assim, além de se apresentarem como os índios do descobrimento, os Pataxó tiveram também que
recriar suas tradições diante do turismo em Coroa Vermelha. Se o trabalho com o artesanato abriu o
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Rodrigo de Azeredo Grünewald 417
caminho para a interação social e comercial com turistas, um processo de criação de tradições para
promover a etnicidade Pataxó continuou. No início da prática do artesanato, os nativos não usavam
nomes indígenas e nem tinham uma língua Pataxó. Com a comercialização do artesanato, muitos
turistas perguntavam sobre seus nomes e eram surpreendidos ao ouvir nomes cristãos em português. Os
índios icaram repentinamente cientes da relevância de portar nomes indígenas e começaram a usá-los
como estratégia de marketing, principalmente nas barracas de venda de artesanato. Mas os turistas
também queriam ouvir sua língua. Como eles falavam apenas o português, eles decidiram começar a
usar palavras alegadamente Pataxó para impressionar os turistas nos pontos de venda de artesanato.
Isso levou muitos índios a criarem palavras, sempre empregadas na estrutura gramatical da língua
portuguesa. Por im, os turistas também perguntavam sobre música e danças e os Pataxó passaram a
criar tradições nessa direção também.
Contudo, esse movimento em torno de um incremento da cultura indígena não se deu sem problemas
intra e interétnicos. Um dos mais importantes aspectos é que os turistas que se deslocavam para Coroa
Vermelha queriam visitar o Sítio do Descobrimento do Brasil e ter ainda algum lazer nas barracas de
praia. Eles geralmente não chegavam ali cientes da presença indígena no local. Os Pataxó exibiam
seu artesanato em barracas simples no centro da aldeia como parte de um conjunto de setenta e três
barracas que, juntas, formavam dois círculos. Muitas dessas barracas foram vendidas ou arrendadas
para comerciantes “brancos”, que comercializavam todo tipo de coisas aos turistas. Assim, o centro de
artesanato oferecia uma mistura de diferentes tipos de mercadorias, variando do indígena e do regional
para camisetas, sandálias, redes etc. também vendidas por Pataxó e não-índios, muito frequentemente
indistintamente. Além disso, o comércio em Coroa Vermelha incluía várias barracas de praia, onde comida
e bebida eram vendidas à beira da praia e por muitos ambulantes, índios e não-índios. Nessa aldeia
não havia performance de música ou danças aos turistas, que frequentemente tinham diiculdade de
reconhecer/legitimar os Pataxó por conta da percepção de que eles eram muito “civilizados” e careciam
de “tradições autênticas”. Inclusive, os turistas chegavam nas barracas de venda de artesanato e se
deparavam com nomes indígenas diferentes para as mesmas coisas, justiicativas diferentes quanto ao
seu idioma originário ou mesmo sua pertença étnica de origem. Talvez as crianças Pataxó criadas em
Coroa Vermelha eram as mais unânimes quanto ao fato de eles serem Pataxó e terem encontrado Cabral
quando este chegou ao Brasil. Ainal, cresceram ouvindo seus pais elaborando esse discurso sob o marco
do Descobrimento do Brasil. Mas entre os adultos sempre houve muita discordância e acusações de que
uns e outros denegriam a imagem Pataxó ao apresentar itens de cultura que não seriam apropriados
para a indianidade deles. Um discurso sobre sua autenticidade era extremamente requerido naquele
momento histórico quando lutavam pela demarcação de sua terra tão disputada com os especuladores
e para, enim, receber ali, no local do primeiro encontro com o europeu, todas as etnias do país nas
comemorações dos 500 anos de Brasil que se aproximava. Dessa forma, era importante também se
mostrar “índios autênticos” aos visitantes indígenas de outras etnias, quando eles mesmos não sabiam
exatamente que critérios os deinia em sua autenticidade em termos relacionais, isto é, diacriticamente.
Ou seja, não era pertinente se continuar com cada mágico fazendo a sua mágica individual, tirando da
cartola o item cultural que achasse conveniente, pois o encantamento diacrítico devia ser coletivo para
marcar a etnicidade do grupo indígena.
Mas de fato, para o ano de 2000 houve uma reurbanização (efetuada pelo governo brasileiro) de
Coroa Vermelha para os festejos dos 500 anos de Brasil. Foram construídos um museu indígena,
uma área de comércio, e uma nova cruz em granito – o que gerou conlito na área porque os índios
reconheciam a antiga cruz de madeira como símbolo de sua ocupação daquela terra e de sua história e,
depois de confrontos com a polícia, conseguiram incar a antiga cruz arrancada do seu lugar de origem
a poucos metro dali. De modo que hoje, em Coroa Vermelha, se pode observar a cruz de granito, que é
o monumento oicial brasileiro, bem do patrimônio histórico nacional do marco do Descobrimento e da
Primeira Missa celebrada no Brasil; e, de outro lado, a velha cruz de madeira que representa para os
índios sua territorialidade, que compõe agora apenas o patrimônio histórico indígena - e é, em matéria,
sua memória da ocupação colonial e da resistência indígena em Coroa Vermelha.
Ainda, embora tendo sido também o centro de moradias e de venda de artesanato Pataxó remo-
delados, poucos meses depois da citada comemoração, os Pataxó já estavam novamente vendendo
material diversiicado (não apenas indígena) e arrendando pontos de comércio. Com efeito, a ausência
de projetos de sutentabilidade para os Pataxó na região depois da reurbanização da área só poderia
acarretar um movimento de competição desregulada na mesma. De fato, os problemas se repetem e
outros mais resultaram da reurbanização da área, que não contribuiu para um turismo étnico nem
trouxe sustentabilidade para os Pataxó, que competem no mercado de artesanato com o “branco”. O
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
418 Turismo na Terra Indígena Pataxó de Coroa Vermelha
Sítio do Descobrimento é uma Terra Indígena Pataxó. Contudo – e apesar da etnicidade -, lá eles são
forçados a permanecer sob o sistema capitalista.
A reurbanização de Coroa Vermelha contribuiu, assim, não para uma sustentabilidade indígena e
para uma recolocação do discurso Pataxó, mas, muito pelo contrário, para continuar gerindo um espaço
eurocêntrico onde até o museu ali instalado apresenta uma imagem de índios como que frigoriicados na
história, e os aculturados pataxós se acotovelam entre si e dispõem espaços para venda de artesanato
fora e dentro do shopping indígena, continuando sua subalternidade à cruz, a Cabral, aos baianos, aos
brasileiros.
Claro, entretanto, que houve mudanças signiicativas na qualiicação indígena para responder ao
discurso imperialista em seu território e sob o marco do Descobrimento. Um exemplo é quanto aos
guias turísticos que ali apresentam aos visitantes a história do lugar. Antes da reurbanização de
Coroa Vermelha havia apenas guias de grandes empresas que atendem ao turismo de massa e que,
em geral, explicavam aos turistas que os Pataxó eram descendentes de índios de outras regiões, que
haviam se misturado com os baianos no processo de evolução e se mudaram para lá, que era terra
originalmente dos Tupi. Contra esse discurso predominante, alguns pataxós criavam versões variadas
para o episódio do Descobrimento, as quais estavam sempre prontas a serem contadas para os turistas,
que as escutavam com um sorriso embaraçado. Atualmente, depois da demarcação da Terra Indígena
e da reurbanização da área, não apenas os guias das grandes empresas apresentam discursos mais
simpáticos aos indígenas, como há ainda uma forte presença de guias Pataxó que se organizaram para
o receptivo aos turistas e que, durante a visitação, ressaltam através de um discurso pós-colonial, tanto
o sofrimento que passaram com o colonialismo, quanto a importância indígena na história do Brasil e
na constituição daquele território.
Foi assim também que a participação indígena mudou com relação a projetos artístico-culturais
provenientes do exterior da área indígena. Por exemplo, antes da reurbanização de Coroa Vermelha
uma ONG de Santa Cruz Cabrália11 todos os anos promovia a encenação, no dia 26 de abril, do Auto do
Descobrimento e onde os índios eram meras peças de algo estabelecido de fora com objetivo comemorativo
do encontro inicial que funda o colonialismo português no Brasil e que não fazia parte de um projeto
turístico com destaque indígena por parte da administração do evento e muito menos na concepção
indígena. Apesar da participação indígena, vários pataxós criticavam essa performance imperialista
e descontinuaram sua participação nela - embora ela tenha continuado a ser desempenhada após a
reurbanização da área indígena e com participação de alguns índios Pataxó.
Recentemente, para marcar ainda mais a indianidade do lugar, foi criado um conjunto de monumentos
indígenas, cujas feições das estátuas que representam a vida indígena anterior à colonização foram
baseadas nos rostos de índios famosos dessa Coroa Vermelha que cresceu com o turismo. Depois da
defesa da antiga cruz de madeira, esse novo patrimônio marca a resistência e a airmação indígena ali,
entre o comércio variado de peças artesanais e outras - étnicas ou não, locais, regionais ou globalizadas.
A especialização discursiva indígena atual decorre, enim, de importantes ações do setor da educação
indígena, bem como das iniciativas de resgates culturais promovidos por setores indígenas ligados à
preservação e recriação de seu patrimônio histórico e cultural. Se ainda predomina uma modalidade
imperialista de turismo em Coroa Vermelha, tais agências tem erigido um importante conjunto de
representações e valores culturais próprios aos Pataxó.
Retomando a década precedente aos festejos dos 500 anos de Brasil, ainda nos anos 1990 os Pataxó
iguravam como atração casual no turismo ao Sítio do Descobrimento. Contudo, como vimos, eles ocu-
param duas porções de lorestas próximas à área da Praia e, numa delas, os índios fundaram a Reserva
Ecológica da Jaqueira em 1999. Ao contrário do que aconteceu na Coroa Vermelha urbana, apenas na
Jaqueira, longe de uma indianidade imposta e liderados por três irmãs que estavam a frente do trabalho
de resgate cultural em Coroa Vermelha, alguns pataxós, enim, criaram um programa de ecoturismo.
Na Jaqueira, o visitante entra a pé por um portão com instruções sobre a visitação, depois passa pelo
rio sagrado e caminha por uma estreita trilha na mata até o centro da Reserva, onde estão as cabanas
turísticas. Há também cabanas de moradia e outra usada para rituais sagrados em lugar mais reservado.
A visita começa com uma palestra sobre a Jaqueira e a história Pataxó (quando também lembram aos
visitantes serem eles os Índios do Descobrimento). As outras atrações consistem de: museu indígena
(quadros e artefatos), cabana de artesanato (que vendem produtos indígenas de Coroa Vermelha pelo
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Rodrigo de Azeredo Grünewald 419
dobro do preço). Durante caminhada em outra trilha na mata os guias (principalmente as crianças)
por vezes costumam ridicularizar os portugueses (da época colonial) em termos de sua ingenuidade
quanto ao meio ambiente, ressaltando, assim, a sabedoria indígena sua e adequação àquele nicho. Nessa
caminhada, os turistas escutam objetivamente palestras sobre árvores, replantio, plantas medicinais,
armadilhas de caça. Há um campo para jogos intertribais, como futebol, corrida de toras e luta corporal.
Há uma escola para o ensino da nova língua (Patxohã). Há uma cabana em exposição para mostrar como
era uma típica moradia indígena na loresta. Os visitantes vão ainda para outra cabana para provar
peixe e chá tradicionais. Por im, há a cabana de rituais onde eles podem compartilhar alegremente
das danças indígenas.
Para a construção disto, alguns indígenas estudaram livros antigos do período colonial, onde havia
desenhos dos antigos pataxós e suas moradias. Com base nesses desenhos foram recriados não só a
cabana de palha, mas também outros padrões estéticos empregados pelos Pataxó atualmente em suas
performances na Reserva da Jaqueira. Mas, além disso, houve um importante trabalho de busca entre
índios idosos - e que ainda guardavam certa sabedoria - de informações sobre artefatos como as armadilhas
de caça, entre outros. Durante a visitação turística é esse discurso que se remete à busca, entre os
mais velhos, por tradições há muito esquecidas o que aparece. Finalmente, ao término do passeio, eles
mostram aos turistas o símbolo da Jaqueira: um tronco caído no solo de uma jaqueira aparentemente
morta, do qual novas jaqueiras cresceram representando a revitalização indígena depois da colonização.
Mais que algo meramente comercial, devemos perceber o caráter educativo que tais recriações
históricas e culturais exercem entre os próprios Pataxó e para os visitantes que ali podem repensar os
conhecimentos anteriormente adquiridos sobre indianidade ou a história da colonização. Tais recriações
aparecem como performances do patrimônio nas quais sentidos do passado são muitas vezes negociados
com a audiência turística, a qual não deve ser vista como meramente passiva, mas também atuante
na negociação da memória e da identidade ali em exposição – desde que proveitosa para a agência
pós-colonial e contra-hegemônica dos Pataxó. Nesses encontros interculturais proporcionados pelo
turismo na Jaqueira, vazios narrativos acabam por ser preenchidos a partir das experiências de vida
e das propulsões imaginativas desses atores que recontextualizam seu patrimônio histórico e cultural
– como pensamos em concordância com Raposo (2010).
Além disso, eu diria que os Pataxó tiveram sucesso com o projeto da Jaqueira porque a família extensa
que o sustenta (além de outros índios que proissionalmente ali se engajaram) a considera também uma
terra sagrada (aquilo que ironicamente o Capitão Raimundo esperava para o Sítio do Descobrimento) de
cuja loresta eles retiram energia para seu revigoramento espiritual. Ali surgiu uma nova espiritualidade
que os coloca mais próximos à natureza que, por seu turno, é vista como um sujeito dotado de poderes e
responsável por sustentar o grupo a longo prazo. Essa re-ligação indígena com a natureza foi muito bem
recebida pelos turistas que passaram a colaborar também, a partir de suas experiências acumuladas,
para novos sentidos ali estabelecidos e os quais tornaram o enredo da visitação ainda mais adequado
às demandas do ecoturista (em seu amplo sentido), que, em geral, deixa o lugar após o passeio muito
satisfeito com a encenação ambientalista-indígena ali observada.
Assim, se a perspectiva indígena histórica Pataxó nunca foi considerada pela sociedade brasileira
em Coroa Vermelha, na Jaqueira, longe da ingerência empresarial ou governamental branca, os Pataxó
conseguiram fazer desmanchar no ar o sólido discurso que os cerca, e construíram uma arena onde a
maioria dos visitantes, os interessados no passeio de visitação a uma arena histórico-cultural-ambiental
indígena, não mais acionam uma arrogância cultural ao negar o posicionamento discursivo Pataxó, mas
assumem ou uma postura de cumplicidade cultural enquanto pós-turistas (Feifer, 1985; Urry, 1990) que
querem se divertir com o passeio indígena ou que se confraternizam com um discurso contra-hegemônico
acerca da colonização e da história e cultura indígena, ou ainda os que são acometidos por forte encanta-
mento pelo que foi construído na Reserva. Contra uma carência de autenticidade enfatizada pelo Poder
Branco, destaca-se aí duas formas de autenticidade (Grünewald, 2009b) que, luidas, se atualizam, via
cumplicidade ou via encantamento, nesses encontros interculturais na Jaqueira.
Por im, vejo a dinâmica turística realizada na Jaqueira não como a apresentação de um simulacro,
pois sua autenticidade cultural se processa no próprio âmbito criativo da renovação das tradições, da
memória e da identidade – do patrimônio histórico e cultural indígena, enim. Ainda, o desenvolvimento
turístico sustentável ali realizado se baseia justamente na criatividade, quando o patrimônio cultural
indígena é renovado, revigorado e sua identidade fortalecida de forma a conigurar um nítido quadro de
etnodesenvolvimento (Stavenhagen, 1984; Souza Lima & Barroso-Hoffman, 2002; Grünewald, 2004) face
ao fenômeno especíico do turismo. A Jaqueira é agora a arena dos Pataxó de Coroa Vermelha onde novas
tradições construídas através de intenso trabalho de “resgate da cultura” indígena estão sendo exibidas
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
420 Turismo na Terra Indígena Pataxó de Coroa Vermelha
para turistas através de um projeto de ecoturismo (ou etnoturismo), o qual se compõe por um sistema
de ideias e ações para orientar o desenvolvimento sustentável de parcela da comunidade indígena. E,
quinze anos depois de criada a Jaqueira, nos salta à vista seu sucesso devido ao desenvolvimento, ali,
de uma ética de sustentabilidade com relação à natureza e à cultura Pataxó.
O vigor do trabalho de turismo étnico realizado na Jaqueira é tão expressivo que notamos também
sua recente difusão para outras cinco aldeias Pataxó. De fato, a Jaqueira recebeu índios de outras
aldeias que ali aprenderam a gerir o turismo naqueles moldes. Essas cinco novas arenas turísticas
Pataxó replicam o modelo da Jaqueira em tudo o que podem: aprendizado de uma língua em construção,
nomes indígenas, danças e música, pintura corporal, adornos, explicações sobre meio ambiente, história
e cultura indígena. Há inclusive um projeto de interligar todas essas arenas num roteiro (pacote)
turístico da cultura Pataxó.
Todas essas arenas turísticas (Grünewald, 2003) baseadas no modelo da Jaqueira estão conduzindo
o turismo gerido pelos próprios Pataxó através de um padrão especíico. Se desde o início do contato
com turistas os Pataxó precisavam exibir uma cultura distintiva para se mostrar como índios no
cenário brasileiro, encontraram na produção artesanal um meio de “enfatizar o conteúdo distintivo
de sua cultura para turistas” (Sjöberg, 1993: 187) — o que se tornou processo central na reconstrução
consciente de suas identidades.
Com os desenvolvimentos recentes no turismo Pataxó – e para além da comercialização de artesanato
-, a exibição de elementos culturais para turistas está se tornando cada vez mais especializada. O turismo
étnico tem se desenvolvido em arenas especíicas, onde os Pataxó se apresentam como “os primeiros
brasileiros” ou os “Índios do Descobrimento” (Grünewald, 2001; 2002b; 2010). O movimento de recriar
e exibir tradições que satisfaçam o imaginário do turista sobre indianidade tem levado os Pataxó a
uma especialização proissional - e cada vez mais eles têm procurado manter as atividades turísticas
longe de sua intimidade12 e mais direcionadas às arenas sociais onde eles desempenham e encenam
uma indianidade feita-para-turista própria ao turismo étnico (Grünewald, 2012). Indianidade essa que
se torna, assim, uma mercadoria.
Um padrão parece, dessa forma, se ixar entre esses indígenas e o qual chamamos de modelo palco. Ao
substituir o foco sobre a autenticidade para a encenação da indianidade, isso signiica se debruçar mais
sobre agência e menos sobre ideia. Ao destacar esse padrão de encenação da indianidade, salientamos
que esse modelo palco encontrado na arena turística da Jaqueira e que tem se difundido para outras
aldeias é o único de sucesso e o que prevalece em termos da promoção do turismo étnico gerenciado pelos
próprios índios. Esse modelo, devemos ressaltar, não é um construto abstrato do pesquisador para ins
analíticos, mas uma forma de desenvolvimento turístico conigurada na prática pelos próprios atores
sociais e observada empiricamente. Enim, tal modelo está se difundindo e se ixando como um padrão
performático (e altamente criativo) do turismo étnico Pataxó em arenas preparadas especiicamente
para tal atividade proissional.
Entre os Pataxó, com a maturidade de quarenta anos de turismo e com a proissionalização das
“reservas13”, cada vez mais se tem a consciência de que a encenação da cultura aos turistas é um “trabalho”
e que sua identidade étnica se constrói prioritariamente em outras arenas (espaços sociais onde o io
condutor das interações sociais não é o turístico), tais como o setor da educação (escolas indígenas)
ou da política (políticas públicas, lutas territoriais etc). Inclusive, a cultura exibida aos turistas não
é, muitas vezes, considerada como Pataxó, mas simplesmente indígena14, que é o que o turista quer
ver genericamente. Nem por isso, entretanto, deixam os Pataxó de produzir um conhecimento sobre
sua realidade; muito pelo contrário, o fazem intencionalmente e educativamente através das próprias
modalidades performáticas criativas.
6. Considerações Finais
As interações sociais encontradas em situações coloniais de contato interétnico sempre foram turbulentas
onde quer que tenham existido, pois é própria ao colonialismo a imposição de interesses externos sobre
um território tradicionalmente ocupado por uma população local, autóctone. Assim também, no âmbito
do turismo, centros metropolitanos buscam assumir certo controle sobre a natureza do turismo e seu
desenvolvimento em regiões alheias. Trata-se da ocupação de territórios distantes para exploração do
lazer por parte das pessoas situadas nos centros metropolitanos. Essa forma moderna de imperialismo
buscou colonizar as populações locais, impondo novos ritmos de trabalho, novas necessidades e novos
nexos sociais e econômicos. Nash (1989; 1996) reletiu muito bem o turismo enquanto uma nova forma
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Rodrigo de Azeredo Grünewald 421
de imperialismo ou colonialismo, alertando ainda que os nativos, por seu turno, também podem ser
elementos ativos na criação de recursos turísticos, uma vez que o desenvolvimento do turismo depende
de alguma cooperação local.
Atualmente, se a ideia de turismo indígena implica no gerenciamento pelos próprios nativos de
pelo menos parte dos produtos e serviços disponibilizados aos visitantes, muitas vezes aí se encontra
implícita a ideia de mercantilização: ou seja, quando uma sociedade indígena dispõe comercialmente
elementos de sua cultura (ou natureza) para visitação turística – e isso ica ainda mais expressivo
quando se nota que atualmente a etnicidade está se tornando cada vez mais mercantilizada. De fato,
em época pós-colonial, grupos étnicos buscam empoderamento ao construírem uma marca exclusiva de
si (Comaroff, 2009). Penso, entretanto, que, mesmo de forma comercial, o turismo pode atuar também
na direção de uma descolonização ao projetar os discursos nativos a turistas globais que os visitam, os
escutam e muitas vezes endossam seus anseios de autodeterminação.
Note-se ainda que, na sua relação com o patrimônio cultural, um dos elementos fundamentais do
turismo cultural é o consumo de lugares que, ao atraírem turistas pelo seu valor histórico, artístico ou
recreacional, passam a ser mercantilizáveis para visitação turística. Nesta perspectiva, o patrimônio
se apresenta como forma de produção cultural, como um meio através do qual algumas localidades se
convertem em destinos turísticos (Kirshenblatt-Gimblett, 2001). Se em certos casos o turismo coopera
na conservação de elementos distinguíveis de cultura, em outros o turismo ajuda na invenção de novas
práticas culturais, rapidamente convertidas em tradição para uma melhor comercialização enquanto
produtos turísticos (Pérez, 2009).
Segundo Graburn (2010),
“o patrimônio tem com a cultura uma relação inversa ao conceito de habitus de Bourdieu (1977); o primeiro é
escolhido de forma consciente, valorizado explicitamente, e é público, enquanto o último se aprende de forma
inconsciente, se comparte implicitamente e se incorpora individualmente (Graburn 2000a). O patrimônio
consiste em aspectos materiais, naturais e intangíveis da cultura que são sentidos como permanentes e
transmissíveis (Lowenthal 1985 e 1996), um conceito aliado ao igualmente carregado termo tradição. O
‘patrimônio’ requer, da mesma forma que as artes turísticas e a etnicidade, uma seleção de traços peculiares
para serem resguardados e exibidos, fomentando a competição entre grupos etnonacionais em sociedades
plurais e entre grupos de status e classes em sociedades estratiicadas. O patrimônio então é um destes
elementos da cultura que são escolhidos e mercantilizados enquanto produtos para a muito competitiva
‘indústria’ turística (Nadel-Klein 2003; Tunbridge e Ashworth 1996)” (Graburn, 2010:27-28).
Além disso, vale ainda mencionar algo sobre a importância da memória com relação ao patrimônio e
aos lugares explorados turisticamente. Se Boyarin (1994) já destacou que a memória, enquanto discurso
sobre o passado, é mobilizada politicamente, cabe acrescentar que, na medida em que ela é também
capaz de agregar valor ao produto turístico, pode assim carregar uma dimensão mercantil (como se
observa em situações diversas de turistiicação de tradições ou patrimônio cultural e natural).
Chronis (2005) deiniu storyscapes como “ambientes comerciais onde narrativas são negociadas,
moldadas e transformadas através da interação entre produtores e consumidores” (Chronis, 2005:
389). Trata-se de lugares que atraem as pessoas por suas histórias – reais, ictícias ou míticas. Nesses
lugares, os signiicados (sobre a história, a cultura, a tradição, o patrimônio enim) emergem da interação
entre comerciantes (nativos e outros interessados na empresa daquela localidade) e turistas. O aspecto
performático é aí também notável, incluindo ainda a presença de intermediários e consumidores do
passado histórico que se envolvem na formatação do texto narrativo dentro de uma perspectiva de
co-construção cultural (Ibid).
Devemos lembrar que, como história é “invariavelmente subjetiva” (Lowenthal, 1985: 216), ela está
sempre aberta a negociações entre os turistas e os performers locais. Ambos incorporam, através de
suas experiências, cultura, tradição e passado, que vão constituir – para além de um mero processo
cognitivo (Chronis, 2005: 395) a base signiicativa da história ou do patrimônio do lugar. Por im, ao
tematizar o caráter construído dos imaginários turísticos, Chronis (2012) enfatiza o importante papel
desses enquanto reforço de ideologias competitivas. Tais imaginários, como narrativas construídas,
teriam a capacidade de criar lugares que se destacam enquanto iccionais. Já as experiências sensitivas
experimentadas pelos corpos físicos dos visitantes (e performers em geral) seriam muito mais reais e
constitutivas do entendimento de um lugar turístico e do que ali se encena.
No caso Pataxó em Coroa Vermelha, entre o imaginário patriótico que se constrói sobre aquela
localidade turística e, em contrapartida, o imaginário igualmente construído acerca da violenta
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
422 Turismo na Terra Indígena Pataxó de Coroa Vermelha
colonização que ali se sobrepôs aos nativos, ica para o turismo, em termos de sua ocorrência concreta,
as experiências vivenciadas naquele lugar pelos atores em interação social e em observação aos
itens materiais ali presentes e que são as que realmente icam inscritas nas pessoas. Mais que o
conteúdo discursivo sobre os temas explorados no Sítio do Descobrimento ou na Reserva da Jaqueira,
as performances locais, principalmente as indígenas, são as que têm possibilitado as experiências
que preenchem de signiicados os motes ressaltados nos encontros interculturais estabelecidos nas
atividades turísticas em foco.
Por im, na referida Terra Indígena, duas arenas foram destacadas ao longo deste artigo: sob o marco
do Descobrimento do Brasil, no setor urbano e estritamente comercial de Coroa Vermelha, notamos um
conlito permanente entre os dois imaginários citados em meio a uma formação turística colonialista
promovida a partir do exterior da área indígena e que tem apoio comercial, mas que enfrenta resistência
ideológica por parte dos nativos. Na Reserva da Jaqueira, por sua vez, os Pataxó tem a gerência do
turismo indígena e conseguem airmar suas tradições e história performaticamente - mesmo que através
de acordos semióticos cínicos com os turistas.
Bibliografia
Aspelin, Paul L.
1977 “Anthropological analysis of tourism: indirect tourism and political economy in the case of the
Mamainde of Mato Grosso, Brazil”. Annals of Tourism Research, 4 (3): 135-160.
Bhabha, Homi K.
2001 O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG.
Boyarin, Jonathan
1994 Remapping Memory. The Politics of TimeSpace. Minneapolis: The University of Minnesota Press.
Bunten, Alexis C y Garburn, Nelson
2009 “Guest Editorial: current themes in indigenous tourism”. En: London Journal of Tourism, Sport
and Creative Industries, 2 (1): 2-11.
Comaroff, Jonh L & Jean
2009 Ethnicity, Inc. Chicago: The University of Chicago Press.
Chronis, Athinodoros. 2005 Coconstructing heritage at the Gettysburg storyscape. En: Annals of Tourism
Research, 32 (2): 386–406.
Chronis, Athinodoros
2012 Between place and story: Gettysburg as tourism imaginary. En: Annals of Tourism Research, 39
(4): 1797–1816.
Elias, Norbert y Scotson, John L.
1994 The Established and the Outsiders. London: Sage Publications.
Feifer, Maxine
1985 Going Places: The Ways of the Tourist from Imperial Rome to the Present Day. London: Macmillan
Gonçalves, José Reginaldo
1988 “Autenticidade, Memória e Ideologias Nacionais: o problema dos patrimônios culturais”. En:
Estudos Históricos 1 (2): 264-275.
Graburn, Nelson
1976 “Introduction: the Arts of the Fourth World”. En: Graburn, Nelson (Ed.), Ethnic and Tourist Arts:
Cultural Expressions from the Fourth World. Berkeley (pp. 1-32). University of California Press:.
Graburn, Nelson
2010 “Antropologia ou Antropologias do Turismo?”. En: Graburn, Nelson et al. (Orgs.), Turismo e
Antropologia: novas abordagens (pp. 13-52). Campinas: Papirus.
Grünewald, Rodrigo de A.
2001 Os índios do descobrimento: tradição e turismo. Rio de Janeiro: Contra Capa.
Grünewald, Rodrigo de A.
2002a. “Os Pataxó e os luxos coloniais”. En: Encontro Anual da ANPOCS, 26.Caxambu: comunicação
oral (texto digitalizado).
Grünewald, Rodrigo de A.
2002b. “Tourism and Cultural Revival”. En: Annals of Tourism Research, 29 (4): 1004-1021.
Grünewald, Rodrigo de A.
2003 “Turismo e Etnicidade”. En: Horizontes Antropológicos 20: 141-159.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Rodrigo de Azeredo Grünewald 423
Grünewald, Rodrigo de A.
2004 “Etnodesenvolvimento indígena no nordeste (e leste): aspectos gerais e especíicos”. En: Anthro-
pológicas, 14: 47-71.
Grünewald, Rodrigo de A.
2006 “Pataxó Tourism Art and Cultural Authenticity”. En: Smith, Melanie y Robinson. Mike (Eds.),
Cultural Tourism in a Changing World: (Re)presentation, Participation and Politics (pp. 203-214).
Clevedon: Channel View.
Grünewald, Rodrigo de A.
2009a “Indigenism, tourism and cultural revival among the Pataxó People in Brazil”. En: London
Journal of Tourism, Sport and Creative Industries, 2: 21-27.
Grünewald, Rodrigo de A.
2009b “The Contingency of Authenticity: Intercultural Experiences in Indigenous Villages of Eastern
and Northeastern Brazil”. In: Vibrant, 6 (2): 52-80.
Grünewald, Rodrigo de A.
2010 “Os Pataxós e a construção social dos Índios do Descobrimento”. In: Reis, Daniel .A. et. al. (Orgs.),
Tradições e modernidades (pp. 77-91). Rio e Janeiro: Editora FGV.
Grünewald, Rodrigo de A.
2012 “Staged indigeneity and the Pataxó”. En: Lohmann, Ghi. y Dredge, Dianne. (Eds.), Tourism in
Brazil: environment, management and segments (pp. 158-172). London: Routledge.
Handler, Richard
1984 “On Sociocultural Discontinuity: Nationalism and Cultural Objectiication in Quebec”. En: Current
Anthropology, 25 (1): 55-71.
Kirshenblatt-Gimblett, Barbara
2001 “La cultura de les destinacions: teoritzar el patrimoni”. En: Revista de Etnologia de Catalunya, 14.
Hinch, Tom y Butler, Richard
1996 “Indigenous tourism: a commom ground for discussion”. In: Butler, Richard y Hinch, Tom (Eds.),
Tourism and indigenous peoples (pp. 3-19). London: International Thomson Press.
Lowenthal, David
1985 The Past is a Foreign Country. Cambridge: Cambridge University Press.
MacCannell, Dean
1992 “Reconstructed ethnicity: tourism and cultural identity in Third World communities”. En:
MacCannell, Dean, Empty Meeting Grounds (pp. 158-171). London: Routledge.
Nash, Dennison
1989 “Tourism as a form of imperialism”. In: Smith, Valene (Ed.), Hosts and guests. The anthropology
of tourism (pp. 37-52). Philadelphia: University of Pennsylvania Press, (second edition).
Nash, Dennison
1996 Anthropology of tourism. Kidlington: Pergamon.
Norkunas, Martha K.
1993 The Politics of Public Memory. Tourism, History, and Ethnicity in Monterey, California. Albany:
State University of New York Press (SUNY).
Pérez, Xerardo P.
2009 Turismo Cultural. Uma visão antropológica. Tenerife: ACA/PASOS.
Raposo, Paulo
2010 “Diálogos Antropológicos: da teatralidade à performance”. En: Ferreira, Francirosy. C. B. y Müller,
Regina. P. (Orgs.), Performance: arte e antropologia (pp. 19-49). São Paulo: Hucitec.
Ribeiro, Darcy
1975 Conigurações Histórico-Culturais dos Povos Americanos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
Rocha Júnior, Omar
1987 “Yes, nós também temos índios”. En: Cadernos do CEAS, 111. Salvador: 38-48.
Sampaio, José Augusto L.
1996 Relatório Circunstanciado de Identiicação e Delimitação da Terra Indígena Coroa Vermelha GT
PORT. 860/PRES/FUNAI/95. Brasília.
Sjöberg, Katarina
1993 The Return of the Ainu: Cultural Mobilization and the Practice of Ethnicity in Japan. Harwood
Academic Publishers.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
424 Turismo na Terra Indígena Pataxó de Coroa Vermelha
Notas
1
O Monte Pascoal é uma importante referência aos brasileiros, pois foi a primeira porção de terra
avistada pela frota de Cabral por ocasião do Descobrimento do Brasil.
2
Para maior aprofundamento na história do artesanato comercial Pataxó, ver Grünewald (2006).
3
Uso esse termo em função da auto-atribuição nativa de ser moreno como algo positivo.
4
Para um detalhamento do caso, ver Grünewald (2001).
5
São comuns extensas narrativas (contadas como que vivenciadas pelos ancestrais) de como os índios
avistaram as naus de Cabral, seus posicionamentos na praia, o contato inicial etc. Uns contam que
chegou apenas um barco com o prático, o padre e o Cabral e narram também como foi a viagem
destes três, outros acrescentam que as naus de Cabral foram avistadas por um índio que estava em
cima de um pé de araçá, outro lembra que os índios se encantaram com os colonizadores por conta
dos panos vermelhos que trouxeram e que lhes tiraram as forças e assim muitas outras narrativas.
6
Os Pataxó se referem às pessoas que não são indígenas (independentemente da raça) como “brancos”.
7
Gonçalves (1988) interpreta os patrimônios culturais “como coleções de objetos móveis e imóveis,
através dos quais é deinida a identidade de pessoas e de coletividades como a nação, o grupo étnico
etc.” (Gonçalves, 1988:266).
8
Título da versão deinitiva do Relatório Circunstanciado de Identiicação e Delimitação da Terra
Indígenas da Coroa Vermelha (Sampaio, 1996).
9
Herança aqui é usada em substituição a patrimônio, mas com o mesmo sentido amplo.
10
Para uma análise de todo o processo jurídico-administrativo da constituição de Coroa Vermelha (e
regularização fundiária), ver Sampaio (1996) e Grünewald (2001).
11
A Associação Cultural Arte e Ecologia (ASCAE) de Santa Cruz Cabrália, inventora do Projeto Auto
do Descobrimento e que encenava os dez dias de Cabral no Brasil ao ar livre em Coroa Vermelha
todo dia 26 de abril desde 1980 e com certa participação indígena.
12
Na Jaqueira e nas outras arenas que seguem tal padrão, as moradias dos índios icam distantes do
lugar das performances e os índios não gostam (e icam sem jeito) quando os visitantes se aproximam
dos seus lugares mais reservados.
13
Reservas é como alguns Pataxó chamam às arenas turísticas que seguiram o modelo da Jaqueira.
14
Ou, “de índio”.
Recibido: 20/05/2014
Reenviado: 08/12/2014
Aceptado: 19/12/2014
Sometido a evaluación por pares anónimos
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Vol. 13 N.o 2. Special Issue Págs. 425-434. 2015
www.pasosonline.org
Filipa Fernandes
Resumo: Este artigo visa o estudo dos sistemas turísticos e o papel activo da antropologia na construção de uma
abordagem e leitura críticas. Centrar-se-á num estudo de caso insular (a ilha da Madeira) alicerçado numa etno-
graia do sector turístico regional, em particular do lado da oferta, e com a tónica na observação nos promotores/
produtores de serviços relacionados com o produto ‘passeios a pé nas levadas’.
Palavras-chave: Antropologia, turismo, sistema turístico, oferta, ilha da Madeira, Portugal, passeios a pé
1. Introdução
Sendo complexos, dinâmicos e lexíveis, os sistemas turísticos são pautados por um jogo entre o
networking de actores diversos pertencentes tanto ao sector público como ao sector privado.
Na ilha da Madeira a oferta do turismo desenvolve-se por intermédio da combinação de políticas,
planos e acções visando a promoção dos vários produtos existentes no mercado, operadas por
estruturas diversiicadas. A oferta reparte -se, por um lado, pelo sector público, que envolve as
estruturas governamentais regionais e as autarquias locais. E, por outro, pelo sector privado, que
envolve as empresas de animação turística, as unidades hoteleiras, e os intermediários (agências
de viagens e turismo).
Perilhando as leituras de Mathieson e Wall (1982), Santana (1997) e Hall (2008), este artigo
pretende examinar as conexões existentes entre os vários actores do sistema turístico regional, apre-
sentando para tal um estudo etnográico do sector turístico regional, em particular do lado da oferta,
focando a observação nos promotores/produtores de serviços relacionados com o produto ‘passeios a
pé nas levadas’ e na sua oferta. Evidenciar-se-ão as técnicas utilizadas bem como alguns resultados
obtidos, os quais servirão para realçar o papel crítico e activo da antropologia para o entendimento
a ‘antropologização’ do turismo.
*
Doutorada em Turismo pela Universidade de Évora. Professora Auxiliar no Instituto Superior de Ciências Sociais e
Políticas da Universidade de Lisboa; E-mail: [email protected]
Como é que a antropologia poderá estudar um sistema turístico? Quais os contributos para esta
análise? O interesse da antropologia pelo turismo não é novo. De entre os vários aspectos abordados
contam-se o estudo dos elementos primários do turismo, ou seja, aqueles sobre os quais têm incidido
o conjunto dos trabalhos desenvolvidos. Temos então a procura de viagens (o conjunto dos factores
económicos, políticos, sociais e culturais proporcionadores das viagens); os intermediários do turismo
(fornecedores de viagens: hotéis, transportes, agentes de viagens); e as inluências do destino (ligações
históricas, acessibilidade, estabilidade política e económica), as quais conduzem a um conjunto de
impactos e relações diversiicadas (Burns 1999).
A multidisciplinaridade caracterizadora dos trabalhos efectivados acerca do turismo, da actividades
turística e dos seus múltiplos actores, permite uma leitura sob a lente antropológica através da qual,
para além da metodologia que a caracteriza – pesquisa etnográica, dará contributos acerca “das relações
recíprocas inerentes a cada grupo e das diferentes estratégias de decisão dos actores” (Santana, 1997:16).
Acresce a isto o facto de o turismo ser um campo social que inclui muitas interacções, que vão mais
além do binário ‘hosts’ e ‘guests’. No interior da zona de contacto turística encontram-se para além de
vários grupos de turistas, guias locais, trabalhadores dos restaurantes, hotéis, lojas, e outros serviços,
vendedores ambulantes, representantes de ONG, investigadores, os residentes com ligação directa ou
indirecta à indústria turística, e ainda, outras partes interessadas como os poderes locais/regionais,
agências de viagens, etc. (Leite e Graburn, 2009:47-48).
O conceito de indústria turística reúne um conjunto de redes sectoriais interligadas, que permitem
oferecer serviços pelos produtores/promotores, os quais incluem: os transportes, os hotéis e outras
formas de alojamento turístico e as atracções e facilidades destinadas a atrair turistas. A venda destes
serviços assume diferentes formas: directamente ao consumidor, por intermédio de agentes de viagens
ou operadores turísticos (Holloway 1994).
A articulação dos destinos e produtos implica o seu posicionamento dentro de um sistema que
reúne os actores envolvidos nestes processos de gestão (os seus papéis e competências), de marketing
dos recursos e produtos locais, e ainda, nas estratégias promocionais e acções. Neste sentido, o
sistema pode ser compreendido como “um grupo de actores ligados por relações mútuas com regras
especíicas, onde a acção de cada actor inluencia a dos restantes, para que os objectivos comuns
sejam deinidos e alcançados de forma coordenada” (Manente e Minghetti 2006:230). Este sistema
abrange actores pertencentes ao sector público e ao sector privado, os quais assumem diferentes
responsabilidades, papéis e competências perante o destino. Se um qualquer produto do destino
concerta bens e serviços produzidos pelo mercado, juntamente com os recursos endógenos locais,
então o sector público tem aqui uma importância essencial na preservação destes bens e atracções,
já que estes são vitais para as actividades turísticas. Portanto, o sector público é, na sua actuação,
um agente de desenvolvimento, criador de condições para ultrapassar obstáculos à cooperação
e networking. O sector privado, por seu turno, contribui para a preservação do destino e seu
desenvolvimento, ou seja, é um agente de mercado, que combina a procura e a oferta e a produção
dos produtos turísticos (Mantente e Minghetti 2006).
O sistema turístico pode ser retratado como um “modelo conceptual de um processo formado por
um conjunto de elementos ordenados segundo as suas funções, localização espacial, interligados
racionalmente por princípios e regras de mercado, que mantêm por seu turno, relações de intercâmbio
com outros sistemas de diferente categoria” (Santana 1997:53). Neste sentido aigurar-se-á um sistema
turístico que é interdependente, aberto, lexível e dinâmico, adaptável às condições do meio (físico,
sociocultural e económico) (Santana 1997). Este conceito aplica-se à interdependência de elementos
que no seu conjunto compõem os destinos turísticos (Laws 1995).
3. Metodologia
Adoptando a visão recente dos estudos sobre o turismo (Ateljevic et al 2007, Franklin 2007,
Hollinshead 2004, Phillimore e Goodson 2004a, Tribe 2004), direccionada para uma multiplicidade
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Filipa Fernandes 427
4. Estudo de caso
O turismo é a maior indústria à escala mundial e, naturalmente é crítico para o crescimento das zonas
periféricas, rurais, alpinas e insulares, com diiculdades no desenvolvimento de indústrias alternativas.
Neste sentido, a análise do turismo de uma qualquer região terá de observar as tendências do lado da
oferta e da procura (Costa e Buhalis 2006a), visando avaliar o quadro conceptual inerente. Assim sendo,
procurarei mostrar uma visão etnográica do sector turístico regional, em particular do lado da oferta,
tal como foi mencionado anteriormente, pondo a tónica na observação nos promotores/produtores de
serviços relacionados com o produto ‘levada e vereda’ e na oferta deste produto.
As levadas e as veredas da Ilha da Madeira são de acordo com o Plano de Ordenamento Turístico
da Região Autónoma da Madeira (POT), um produto emergente e, como tal, os turistas consumidores
deste produto não fazem parte do tradicional turismo de massas; ao invés, posicionam-se em novos
segmentos de turismo como o turismo de natureza, o ecoturismo, e até mesmo, o turismo de aventura
tendo a natureza como atracção turística.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
428 O estudo dos sistemas turísticos e a antropologia. Madeira: um estudo de caso
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Filipa Fernandes 429
Relativamente à frequência dos passeios a pé nas levadas e nas veredas organizados pelas unidades
hoteleiras regionais, veriica-se que 9,40% dos passeios ocorrem entre 1 a 3 vezes por semana, e 11,97%
ocorre mais de 4 vezes semanais.
O contacto com a natureza (4,3%), a condição física/idade do cliente (2,6%), a proximidade (1,7%) e
a curta duração dos mesmos (2,6%) estão entre os critérios mais indicados na escolha destes passeios.
Entre os percursos mais escolhidos quando organizados os passeios a pé nas levadas e veredas
constam: Levada do Rabaçal e das 25 fontes (13,7%), Levada do Caldeirão Verde (7,7%), Vereda Pico
Areeiro/Pico Ruivo (7,7%), Levada Ribeiro Frio/Portela (7,7%), a Vereda da Ponta de São Lourenço
(4,3%), e a Levada Maroços/Caniçal (2,6%).
Vimos acima que 24,8% das unidades hoteleiras airmaram organizar passeios a pé nas levadas
e veredas. Deste modo impera a necessidade de perceber como é que os mesmos são organizados. Os
resultados do questionário revelam que na classiicação dos passeios a pé, 53% dos respondentes airmaram
que esta é uma actividade efectuada de forma autónoma. Por outro lado, 75,2% responderam ainda
que esta também é uma actividade efectuada num quadro de prestação de serviços/passeio organizado.
Em suma, e como expresso na tabela seguinte, 32,5% dos inquiridos consideram estes passeios como
sendo uma actividade efectuada de forma autónoma e ainda, uma actividade efectuada num quadro de
prestação de serviços. Deste modo, evidenciam-se aqui um conjunto de relações entre diversos elementos
do sistema turístico expressas nos valores obtidos os quais se materializam no quotidiano aquando da
aquisição dos passeios a pé por parte dos turistas,
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
430 O estudo dos sistemas turísticos e a antropologia. Madeira: um estudo de caso
Ainda a propósito da organização dos passeios a pé, 77,8% dos inquiridos airmaram que são as agências
de viagens quem o realiza, enquanto 30,8% referiram que esta tarefa cabe exclusivamente às empresas
de animação turística. De destacar ainda que 22,2% dos inquiridos airmaram que a organização dos
passeios a pé nas levadas e veredas é uma tarefa realizada quer pelas agências de viagens quer pelas
empresas de animação turística.
Agências de N 1 26 64 91
Sim
viagens % 0,9% 22,2% 54,7% 77,8%
N 0 10 3 13
Não
% 0% 8,5% 2,6% 11,1%
N 14 36 67 117
Total
% 12,0% 30,8% 57,3% 100,0%
Fonte: elaboração própria.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Filipa Fernandes 431
“A Nature Meetings foi a primeira empresa na Madeira a proporcionar actividades de ‘passeios pela ilha’.
Criámos experiências de caminhadas excepcionais para indivíduos bem como para grupos, de todos os
graus de experiência. Somos uma empresa de ‘passeios em levada’ fundada em Junho de 2000” (http://www.
walkingmadeira.com/pt/node/383, 16 de Junho de 2010).
A maioria das empresas apresenta duas opções diárias (passeios de meio-dia e de dia inteiro),
representando assim uma oferta variada, adequada às necessidades dos turistas. Veriica-se igualmente
alguma semelhança nos programas apresentados (ver tabela nº 4) havendo poucas diferenças entre as
empresas contactadas.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
432 O estudo dos sistemas turísticos e a antropologia. Madeira: um estudo de caso
Caldeirão Levada do
Ad.K Referta - Pico Areeiro Rabaçal: 25 _
verde Rei
fontes
1. Ribeiro 1. Pico 1.Machico/
1. Camacha/ 1. Caldeirão
1. Rabaçal: Frio / Areeiro/Pico Boca do
Santo Verde 1. Rabaçal:
25 fontes Portela Ruivo Risco/Porto
TA 2. Levada 2. Palheiro 25 fontes
2. Penha d’ 2. Pico 2. Parque da Cruz
Nova Ponta Ferreiro / 2. Rabaças
Águia Areeiro / Ecológico 2. Ribeiro
do Sol Monte
Pico Ruivo Funchal Frio/Portela
BN b)
1. Pico do
Areeiro /
Ponta
Ribeiro Frio Caldeirão Achada do Caldeirão
KK de São - -
/ Portela Verde Teixeira Verde
Lourenço
2. Rabaçal:
25 Fontes
Fonte: elaboração própria.
a) Na época alta, realizam alguns passeios à segunda-feira apenas para alguns clientes ou consoante
pedidos especíicos. Integrei um deles ao Fonte do Bispo/Galhano/Ribeira da Janela.
b) Efectuam programas especíicos de meio-dia (Vereda da Ponta de São Lourenço, Vereda dos
Balcões) e de dia inteiro (Achada do Teixeira/Pico Ruivo/Achada do Teixeira, Encumeada/Lombo
Mouro/Folhadal/Encumeada) por marcação.
Relativo a esta matéria o responsável de uma das empresas referiu: “Rabaçal, Pico do Areeiro, Ribeiro
Frio e pouco mais. Nós lançamos aqui algumas dessas levadas, claro que os outros todos começaram a
fazer o mesmo, inclusivamente até lhe posso dizer que nós começamos a fazer o Rabaçal ao sábado, e o
que é que aconteceu? Começamos a ter muita gente, e começaram a aparecer outras empresas a quererem
fazer o mesmo serviço que nós, a única forma de eles conseguirem fazer o mesmo serviço que nós era
colocar ali no nosso dia, quando eles telefonavam para nós e nós tínhamos muita gente, mandavam para
eles, então toda a gente manteve o sábado depois, mas fomos nós que começamos a fazer isto ao sábado.
Portanto na nossa altura, a gente ia ao Rabaçal quando começamos havia umas 50 ou 100 pessoas, se
for lá agora, estão umas 5000” (TA, Funchal, 05 de Junho de 2009). Por outro lado, a oferta excessiva
de alguns percursos como o Rabaçal conduz ao excesso de procura, ultrapassando a capacidade de carga
do local. Por este motivo, uma das empresas aposta noutro dia da semana que não o habitual de forma
a evitá-lo. Outra evidência é que a maioria dos percursos oferecidos são Percursos Recomendados (PR)
pelo Governo Regional.
Os operadores turísticos têm de um papel distinto no sistema turístico. Compram elementos diferen-
ciados ao nível do transporte, alojamento e outros serviços, combinando-os seguidamente num pacote que
pode ser vendido directa ou indirectamente aos consumidores (Holloway 1994). Integrando a cadeia de
distribuição dos serviços turísticos, vendem produtos para a indústria turística (Page 2009). No caso em
análise, o produto passeios a pé nas levadas e veredas é vendido por um conjunto de operadores turísticos
nacionais e internacionais. As agências de viagens assistem o cliente na aquisição dos programas de
passeios a pé na região, principalmente organizados pelas empresas de animação turística.
Registando esta informação, e sabendo que a oferta em torno deste produto não se esgotava nas
empresas anteriormente indicadas, procuraram-se mais informações com o propósito de se perceber
quais as agências de viagens e operadores turísticos que vendiam as levadas e veredas. Averiguou-se a
existência de ‘programas’ semelhantes aos oferecidos por algumas empresas de animação turística. A
fundamentação reside no facto de algumas empresas de animação turística venderem os seus programas
através de intermediários, como sejam os operadores e as agências de viagem, conforme descrito no
depoimento seguinte: “nós vendemos maioritariamente através de intermediários, digamos que 90% das
vendas que nós fazemos, são feitas através de intermediários, portanto, agentes de viagens ou operadores
turísticos, com quem nós trabalhamos. [Os] hotéis também, portarias [Recepções], mas maioritariamente
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Filipa Fernandes 433
operadores turísticos. Hotéis também trabalhamos, claro. Nós trabalhamos com toda a gente, mas o
grosso do negócio é de operadores turísticos, e isto tem que ser programado com muita antecedência”
(TA, Funchal, 05 de Junho de 2009).
Para completar a análise em curso efectivou-se uma análise na internet com o objectivo de aferir
a existência de pacotes turísticos/experiências que tivessem como objecto de interesse os passeios nas
levadas. Os resultados revelam alguma variedade de experiências/pacotes turísticos disponíveis no
mercado regional, nacional, internacional. Em primeiro lugar veriica-se uma repetição dos percursos
‘mais turísticos’ pela maioria dos OT/AV. Outro aspecto a realçar compreende os pacotes turísticos de 5
a 8 dias, os quais incluem um conjunto de percursos pedestres, alguns dos quais fora do circuito regional
dos percursos recomendados. Esta oferta tem sido criticada no seio do sistema turístico por alguns
actores associados a empresas de animação turística, pelo facto de os programas serem organizados
exteriormente com recurso a guias de montanha estrangeiros, que por vezes desconhecem o estado actual
do terreno, causando algum descontentamento, e realçando-se o problema relativo à segurança. Noutros
casos, os programas são organizados no país de origem mas com recurso a guias de montanha locais.
O conceito de ‘walking holidays’ está presente nalguns pacotes turísticos como por exemplo, os
apresentados por Sherpa Walking Holidays, Rotas do Vento, Exodus, Intertours, Adventure Company,
Headwater, High Point Holidays e EuroHike. Uma análise aos itinerários revela que apenas o EuroHike
contempla um percurso pedestre na costa sudoeste da Madeira, os restantes limitam os percursos
pedestres à zona centro-este da ilha. Uma vez mais e à semelhança do que acontece relativamente
à oferta de experiências nas levadas pelas empresas de animação turística, os percursos pedestres
repetem-se. A maioria concentra-se dentro do circuito regional de percursos recomendados.
5. Reflexões finais
O sistema turístico regional foi etnografado permitindo, deste modo, analisar a oferta turística. Foram
examinadas as estruturas envolvidas no turismo na RAM, em concreto o sector privado.
Desde inais da década de 2000 que os passeios a pé nas levadas/veredas têm vindo a constituir-se
como um produto, o que veio reforçar a atractividade do destino. Exemplo disso é o número de empresas
que incluem nos seus programas a venda do produto bem como o aumento do número de percursos
recomendados oiciais. Acresce a isto o facto de grande parte das unidades hoteleiras regionais recorrerem
a estes serviços para complementar a oferta existente, evidenciando-se deste modo as redes de relações
existentes no sistema turístico regional. No lado da procura regista-se um aumento do número de
consumidores deste produto (Fernandes, 2013).
A obtenção dos resultados permite reforçar o papel crítico e activo da antropologia para o entendimento
a ‘antropologização’ do turismo. A pesquisa etnográica encetada permitiu identiicar um conjunto de
relações que afectam os vários agentes do sistema com implicação directa ou indirecta nas estratégias
de decisão dos turistas.
Bibliografia
Ateljevic, Irena et al
2007, “Editors’ Introduction: Promoting an Academy of Hope in Tourism Enquiry”. In: Ateljevic, I.
et al (eds), The Critical Turn in Tourism Studies. Innovative Research Methodologies (pp.01-08).
Amsterdam, Elsevier.
Burns, P. M.
1999, An Introduction to Tourism and Anthropology, London, Routledge.
Costa, C. e Buhalis, D.,
2006a, «Introduction», in: Buhalis e Costa (eds), Tourism, Business, Frontiers. Consumers, Products
and Industry, (pp.01-06). Oxford: Elsevier Butterworth-Heinemann
Frankin, Adrian
2007, “The Problem with Tourism Theory”. In: Ateljevic, I. et al (eds), The Critical Turn in Tourism
Studies. Innovative Research Methodologies (pp.131-148). Amsterdam, Elsevier.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
434 O estudo dos sistemas turísticos e a antropologia. Madeira: um estudo de caso
Fernandes, F.
2013, Pelos Caminhos da Água. As levadas e veredas da ilha da Madeira como recurso turístico.
Tese apresentada à Universidade de Évora para obtenção do Grau de Doutor em Turismo, Évora,
Documento não publicado.
Hall, C. M.
2008, Tourism Planning. Policies, Processes and Relationships, 2ª ed. Harlow: Pearson/Prentice Hall.
Hollinshead, K.
2004, “A primer in ontological craft. The creative capture of people and places through qualitative
research”. In Phillimore, J. e Goodson, L. (eds), Qualitative Research in Tourism. Ontologies,
Epistemologies, Methodologies. (pp.63-82). London, Routledge.
Holloway, J. C.
1994, The Business of Tourism, Harlow: Longman
Laws, Eric
1995, Tourist Destination Management. Issues, Analysis and Policies, London: Routledge.
Leite, Naomi e Graburn, Nelson
2009, “Anthropological Interventions in Tourism Studies”. In: Jamal, T. e M. Robinson (eds), The Sage
Handbook of Tourism Studies (pp.35-64). London: SAGE.
Manente, Mara e Minghetti, Valeria,
2006, «Destination management organizations and actors», in Buhalis e Costa (eds), Tourism, Business,
Frontiers. Consumers, Products and Industry, (pp.228-237). Oxford: Elsevier Butterworth-Heinemann.
Mathieson, Alister e Wall, Geoffrey
1982, Tourism: economic, physical and social impacts, Harlow: Longman Scientiic & Technical.
Phillimore, J. e Goodson, L.
2004a, (eds), Qualitative Research in Tourism. Ontologies, Epistemologies, Methodologies, London,
Routledge.
Phillimore, J. e Goodson, L.
2004b, “Progress in qualitative research in tourism: epistemology, ontology and methodology”. In:
Phillimore, J. e Goodson, L. (eds), Qualitative Research in Tourism. Ontologies, Epistemologies,
Methodologies (pp.03-29). London, Routledge.
Prats, Llorenç
1997, Antropología y Patrimonio, Barcelona, Editorial Ariel, S. A.
Roberts, Lesley e Hall, Derek
2001 Rural Tourism and recreation. Principles to Practice. Wallingford: CABI Publishing.
Santana, Agustín,
1997 Antropología y Turismo. Nuevas hordas, viejas culturas?. Barcelona: Editorial Ariel, S.A.
_____, 2003, “Mirando culturas: La Antropología del Turismo”. In: Rubio Gil, A. (coord.), Sociología del
turismo, Barcelona, Ariel, 103-125.
Tribe, John
2004, “Knowing about tourism. Epistemological issues”. In: Phillimore, J. e Goodson, L.
(eds), Qualitative Research in Tourism. Ontologies, Epistemologies, Methodologies (pp.46-62). London,
Routledge.
Notas
1
Apenas iguram nesta tabela os dados referentes às empresas de animação turística contactadas no
decurso do trabalho de campo e que responderam à solicitação da autora.
Recibido: 02/06/2014
Reenviado: 23/10/2014
Aceptado: 04/11/2014
Sometido a evaluación por pares anónimos
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Vol. 13 N.o 2. Special Issue Págs. 435-437. 2015
www.pasosonline.org
Reseña de Publicaciones
ISBN 978-84-88429-20-9
Maximiliano Emanuel Korstanje*
University of Palermo (Argentina)
*
Department of Economics - University of Palermo, Argentina; E-mail: [email protected]
book, or the more naive. From chapter III to VII, Troncoso redeines the concept of patrimonialization.
If tourism was for the community a vital aspect for the generation of economic resources, the inclusion
of Quebrada within the UNESCO world heritage list, coupled with speciic policies of developments
taking into consideration the limitation of the assumptions of what is undeveloped or developed country.
In view of that, the outcome of the research is contrasted to the specialized bibliography to adequate
new alternative view-points.
At the stage of touristiication, the process of negotiations was subject to countless conlicts and
discrepancies. The territorial unit leads to think tourism from the perspective of geography, alluding
to the value the space creates. Tourism and territory are inextricably intertwined. The valorization of
that soil depends on the human interaction and interpretation given by the space. It may be created,
elaborated and changed according to the evolution of social dynamic. At a irst glance, Troncoso alludes
to territory as a product of historical background and mobility which are subject to a broader context
of commoditization and globalization. We have to imagine the space as something open underpinned
an ongoing state of transformation. This book calls us to think of the tourist-space as a place, which is
connected to much broader units of commercialization. The competence of destinations not only produces
internal changes in local communities, but also new strategies of adaptation to the international
demands of tourists. The current forms of consumption are broader processes of cultural valorization
but class-differentiation. Following the legacy of Bourdieu, Troncoso proposes us to reconsider the
roots of tourism as a unit of identity engrained in the economic system. At time, heritage sheds light
on the relevant aspects of history to form a shared consciousness these construes only are valid in the
tourist-delivering societies. That way, La Quebrada offers decentralized products, which incorporates
heterogeneity and intercultural values, which are at odds the mass-tourism archetype including tourists
who are interested for protecting local landscapes. This represents a sustainable opportunity for real
development. From its consolidation, la Quebrada experienced diverse conlicts and dissonances,
whereby some stakeholders struggled to impose the monopoly of meaning as well as the rights to
create certain identities and ignore others. Collateral damages as real estate, a decline of quality of
life, and economic asymmetries have not been corrected by rational planning. Beyond the surface of
the destination, Troncoso explains, lays some cleavages which merit attention. Tourism-led scholars
and students will ind a polished written work that focuses on the problem of cultural tourism and
gentriication in Quebrada de Humahuaca, Argentina. This site like many other else, shows serious
problems resulted from the introduction of real estate. To what an extent the market respect the local
voice of natives is one of the strong points of entry in Troncoso´s sight.
In its diverse chapters, the book provides substantial evidence that helps reader to understand the
conlicts surfaced in spaces nominated as common heritage mankind as well as gives a fresh explanation
of the limitation of state to control real-estate speculation. Among the weaknesses, we found an over-
valorization of authenticity ignoring the problem this concept has generated by developing countries.
Methodogically, Troncoso gives too much attention to the voice of locals respecting to heritage and
development ignoring its pervasive effects worldwide. Her one-sided argument only shows the tip
of the iceberg. It is common to think that questionnaires or interviews are the best methodologies to
understand the reality. As a result of this, others methods and perspective of research are trivialized.
This represents a serious epistemological problem for tourism research because sometimes people lie,
or ignore the deep emotions that determine their behaviour. The excessive interest of micro-sociology
leads Troncoso to put the horse before the chart. For local community, this means that gentriication
problems are not resulted from real-estate dynamics, but from a new conception of Biopolitics to
understand culture. Let me explain this better in the following lines.
Is capitalism commoditizing communities enrooted in poverty?. One of the aspects that deines the
success of late-capitalism to transform the social behaviour is the need of self-determination, which
introduces the needs of progress in excluded aboriginal tribes and pours countries. From north to south,
the globalized economies have posed cultures into a dilemma, becoming in a property for commercial
exploitation or disappear. This belief, encouraged by international inancial institutions as World Bank
or IMF issued loans so that peripheral countries to adopt development and tourism as primary factor
for progress. Of course, not only peripheral nations should accrue higher rates of interest, which lead
anyone to pauperism but they were unable to develop sustainable forms of tourism in their respective
economies. The concept of culture, heritage not only worked a pivotal role in this process but also paved
the ways for the adoption of “ethno-merchandise”. The concept of heritage has been commoditized by local
and international business corporations as a private property to stimulate an unlimited consumption. In
the classical market, more demand entails less supply. This does not happen with ethno-merchandise,
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Maximiliano Emanuel Korstanje 437
because the value of attractiveness (product) not only does not decline with its use, neither rises with
further demand. Cultures are subject to many changes and luctuations based on the adaptancy of
humans to their Enviroment. For this process was success, the minorities were conferred to rights
to trade off with their heritage, or history at their discretion. Culture become in business enterprises
managed by aborigines (Comaroff & Comaroff, 2012; Korstanje, 2012a; 2012b). This is exactly what
Commaroff and Commaroff names “ethnicity Inc”.
Conducive to its ossiication, the concept of authenticity intends to homogenize the rich dynamism
of human interaction. At the time a site is nominated as common-heritage mankind, diverse voices and
cultural aspects of the site are molded according to the taste of an international demand. Why does
patrimony trigger discrepancies among stakeholders?. The sense of independency of the community
to exploit its own patrimony generates no few conlicts with nation-states (Comaroff & Comaroff, 2012;
Korstanje, 2012a; 2012b; Korstanje & George, 2012; Skoll & Korstanje, 2014; Thirkettle & Korstanje,
2013). Since the book presents some descriptive situation without an all encompassing diagnosis,
Troncoso´s view would be enriched in an historical exploration of the use of development and heritage
would be discussed.
References
Recibido: 22/05/2014
Aceptado: 03/12/2014
Sometido a evaluación por pares anónimos
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 13 N° 2. Special Issue. Febrero 2015 ISSN 1695-7121
Mais informações sobre a obra em: [email protected]
Página Web:
www.pasosonline.org
Correo electrónico:
[email protected]
Correo postal
P.O. Box 33
38360 El Sauzal (Tenerife) España