Formação continuada de docentes: Experiências e aprendizagens
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Formação continuada de docentes - Katia Caroline Souza Ferreira
APRESENTAÇÃO
A formação de professores/as no Brasil vem se configurando como objeto de estudo de pesquisadores em diversas universidades, do mesmo modo que é considerada um dos grandes desafios enfrentados pelo poder público nos últimos tempos, mesmo com a intensificação e a elaboração de políticas públicas, tanto para formação inicial, quanto para a continuada. Essa preocupação conduz a mobilização de estratégias para se pensar e criar medidas para dirimir os baixos índices de qualidade da educação nacional, dentre eles, o índice de analfabetismo, que se encontra em elevo, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010).
Assim, a formação continuada passa a ter papel central na atividade profissional, diante da necessidade do/a educador/a estar constantemente repensando e aperfeiçoando sua prática docente. Por isso, os sistemas de ensino têm constantemente elaborado planos de ação, visando à qualificação da educação oferecida à sociedade, através de processos de formação docente, com um viés técnico e instrumental, mas também com uma concepção de educação determinada e uma ideologia dominante subjacente.
Conforme as Orientações Gerais contidas no Catálogo da Rede Nacional de Formação Continuada de Professores da Educação Básica, a formação de professores/as deve ser permanente, de modo que ajude a promover a constante reflexão sobre a prática. Além disso, ela deve articular-se com a formação inicial e com a produção acadêmica, ser realizada no cotidiano da escola e contar pontos na carreira docente. Em outras palavras, a formação continuada visa contribuir com o desenvolvimento profissional do professor e com a melhoria da qualidade do ensino, por meio de uma rede que articula um conjunto de agentes atuantes no campo educacional.
De um lado, o Estado tem buscado responder ao que dispõe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) n. 9394/96, a qual estabelece, em seu artigo 87, § 3º, inciso III, que cada instância estadual e municipal, e supletivamente a União, deverá realizar programas de capacitação para todos os professores em exercício
. É importante salientar que esta é uma preocupação antiga nos estudos da educação, e uma constante entre os profissionais da área, sendo condição essencial para a qualidade da educação. Nas Orientações Gerais contidas no Catálogo da Rede Nacional de Formação Continuada de Professores da Educação Básica (Brasil, 2008, p. 17), encontramos, dentre as atribuições dos atores envolvidos na Política de Formação, a participação ativa nos programas, projetos e ações de formação continuada que visam qualificar o trabalho docente
. O documento também apresenta, como competência dos sistemas de ensino, a instituição de políticas voltadas à garantia das condições de trabalho dos profissionais da educação
.
De outra parte, a formação continuada vai além da oferta de cursos de atualização, uma das exigências do mundo atual, ela deve ter como referência a prática docente, o conhecimento teórico, a reflexão sobre o fazer docente e deve integrar-se ao dia a dia da escola, além de ser componente essencial da profissionalização docente, conforme prevê as Orientações Gerais contidas no Catálogo da Rede Nacional de Formação Continuada de Professores da Educação Básica (Brasil, 2008).
Desse modo, o desafio é oportunizar uma formação que valorize os/as profissionais da educação, somente assim teremos uma formação continuada de qualidade. Para tanto, deve ser pensada como elementos articulados ou momentos de um processo de construção de uma prática docente qualificada e de afirmação da identidade, da profissionalidade e da profissionalização do professor
(Brasil, 2008, p. 20). Contudo, para além do que propõe a política de formação de professores/as, não se sabe até que ponto a formação continuada oferecida aos docentes da educação básica modifica, de algum modo, os seus saberes e fazeres pedagógicos, considerando que são pacotes homogêneos para todos, independente das suas especificidades.
Partindo desse pressuposto, nos propusemos, a analisar como os/as professores/as dos anos iniciais do Ensino Fundamental, da rede municipal de Porto Seguro, analisam sua formação continuada, e como apreendem os efeitos dessas atividades em seu desenvolvimento profissional.
No contexto das reformas educacionais da década de 1990, no bojo do desenvolvimento tecnológico, da globalização e do neoliberalismo, exigiu-se dos/as professores/as novos procedimentos de estudo e trabalho, buscando posicionamentos e respostas coerentes às novas demandas da sociedade. O foco nos saberes pedagógicos, relativos ao conteúdo escolar a serem ensinados e aprendidos, bem como a busca por novos referenciais teóricos, para a compreensão da prática docente, são marcos dessa década. É nesse cenário que as políticas educacionais voltam seus olhares para a figura do/a professor/a e da sala de aula, na busca de sua profissionalidade docente. Assim, a educação e a formação de professores/as passam a ter uma grande importância para a realização das reformas educativas.
A partir da LDBEN n. 9394/96, as propostas de formação de professores/as foram implementadas no país, trazendo novas ideias acerca dessa temática. As reflexões sobre as reformas educacionais vão tomando forma mais ampla do que as anteriores. Consequentemente, as Instituições de Ensino Superior passam a buscar novas estruturas curriculares. No fluxo, em tempos atuais, observamos constantes mudanças na sociedade, no conhecimento, nos pressupostos epistemológicos, no mundo do trabalho, e com isso os modelos econômicos e sociais vêm ganhando novas reestruturações, exigindo, assim, novas qualificações profissionais. Com tais mudanças, surgem novas proposições e exigências quanto aos processos de formação dos/as profissionais da educação.
Na primeira década deste século, o Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica torna-se resultado de uma ação conjunta do Ministério da Educação e Cultura (MEC), de Instituições Públicas de Ensino Superior (Ipes) e das secretarias de educação dos estados e municípios, no âmbito do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação (PDE), o qual estabeleceu no país um novo regime de colaboração da União com os estados e municípios, respeitando a autonomia dos entes federados (Brasil, 2015).
A partir de 2007, com a adesão ao PDE, os estados e municípios elaboraram seus Planos de Ações Articuladas (PAR), os quais representavam uma reflexão das suas necessidades. Nele contém ações, demandas, prioridades e metodologias que visam assegurar a formação exigida na LDBEN/96, para todos/as os/as professores/as que atuam na educação básica. Para a concretização do PAR, o MEC vem adotando estratégias diferenciadas, capazes de oferecer maior dinâmica e eficiência ao processo, dentre elas, a formação inicial e continuada do/a professor/a (Brasil, 2015).
Em 2009, o Presidente da República, no uso de suas atribuições, confere o Decreto n. 6.755, oficializado em 29 de janeiro de 2009, o qual institui a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica, possibilitando à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), fomentar programas de formação inicial e continuada. Assim, em seus artigos, parágrafos e incisos, estabelece que esta Política tem finalidade de organizar, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, a formação dos/as profissionais do magistério, para as redes públicas da educação básica, em suas diferentes modalidades, considerando um padrão de qualidade dos cursos oferecidos a esses/as profissionais, tanto presenciais quanto à distância (Brasil, 2009). O referido documento foi revogado e substituído pelo Decreto n. 8.752, de 9 de maio de 2016 (Brasil, 2016).
Ademais, as modificações ocorridas exigem mudanças, também, na função social da escola. Esta função não se restringe apenas a socializar o saber sistematizado, a ser criticamente apropriado pelo indivíduo. Além disso, a escola deve formar indivíduos capazes de enfrentar a realidade com autonomia, exercer atitudes de respeito, solidariedade, cooperação, e dominar saberes necessários para o exercício profissional.
Os efeitos das políticas públicas federais nos municípios são inegáveis. Na cidade de Porto Seguro, por exemplo, podemos afirmar que houve um expressivo investimento na formação continuada de professores/as, haja vista que o município desenvolveu diferentes programas de formação para os/as profissionais dos anos iniciais do Ensino Fundamental, no período de 2000 a 2014. Neste contexto, o município vivenciou mudanças significativas na educação, encerrando um ciclo de perspectivas tradicionais e iniciando outro, com novas teorias e mudanças de paradigmas. Daí surge a nossa inquietação em investigar os efeitos das atividades de formação continuada na prática docente, ou seja, de que modo elas têm contribuído para o desenvolvimento profissional dos/as professores/as.
A concepção e as finalidades da formação continuada de professores/as foram mudando, devido aos diferentes contextos econômicos, políticos e sociais do país. Assim, o conceito de desenvolvimento profissional docente é entendido aqui como um processo que deve ser contextualizado no local de trabalho do/a docente, que possa contribuir para o desenvolvimento de sua profissionalidade, uma vez que toda formação contribui (ou não) para as mudanças das relações que estruturam o desenvolvimento profissional docente, sem perder de vista posicionamentos críticos como os de Boaventura de Sousa Santos (2010), para quem os processos de profissionalização fomentados pelas instituições de ensino transformaram-se num serviço a que se tem acesso, não por meio da cidadania, mas mediante pagamentos. Coloca-se em suspenso, e sob suspeita, a qualidade dos processos de formação e o direito à educação de qualidade e gratuita.
Essa obra é resultado da pesquisa de mestrado, a qual foi realizada através de uma pesquisa qualiquantitativa, a qual é entendida como uma forma de se obter um entendimento mais apurado dos objetos estudados. Conforme Goldenberg (1997, p. 62), a abordagem qualiquantitativa "permite que o pesquisador faça um cruzamento de suas conclusões de modo a ter maior confiança que seus dados não