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A Possibilidade Dialgica no Processo da Psicoterapia Existencial Psiclogo Eduardo Marinho


A questo do dilogo na psicoterapia sempre foi e sempre ser um assunto primordial. Salvo raras excees, mesmo quando o objetivo central da terapia no o aspecto dialtico, ou seja, a argumentao, a discusso e a controvrsia, o dilogo tem seu espao preservado. Uso a palavra controvrsia no sentido e por acreditar que a existncia humana conflito ( escolha ) o tempo todo, e, por isso, descoberta de possibilidades infinitas que alimentam o dilogo. Etimologicamente, dilogo significa conversao entre duas pessoas, troca, familiaridade. Duas pessoas que se disponham ao dilogo buscam tornar-se mais conhecidas uma da outra, mais prximas, cientes e sabedoras de algo particular do outro, enfim, consciente daquele indivduo que compartilha um universo composto de mundos particulares, peculiares e diferentes do seu em suas experincias e suas vivncias. Ainda, para que possamos compreender a importncia do dilogo na psicoterapia existencialista primordial que entendamos o significado e a amplitude da combinao psicoterapia e existencialismo em suas buscas e pretenses. Lanando um olhar para o sentido de Psicoterapia ela significa tratamento psicolgico, ou seja, tratamento dos fenmenos e atividades mentais e do comportamento humano no mundo onde o homem se encontra. Por seu lado, o existencialismo ocupa-se da dimenso do SER desse homem, onde, sendo o existir a dimenso primria, tudo se d nessa existncia e no no seu pensamento (racionalmente). Se juntarmos ento essas duas possibilidades, psicoterapia e existencialismo, o que se vislumbra uma possibilidade de ajuda psicoterapeutica que visa a dimenso do Ser enquanto existncia aonde este indivduo existe, ou seja, no mundo. Percebe-se assim que no existe uma doena para ser tratada, ou uma enfermidade para ser diagnosticada e curada ou ainda um problema para ser resolvido. A psicoterapia existencialista visa outra coisa que os rtulos tradicionais tais como, por exemplo, doena ou distrbio mental, ou melhor, simplesmente no os considera fora da compreenso do prprio indivduo. Relaciona-se com essa inveno ( os rtulos ) como uma forma de expresso do SER como outra qualquer, que sendo diferente, no pode ser chamada de anormal e por isso, no precisa

de tratamento. Essa proposta teraputica visa compreender o SER em suas dimenses e possibilidades, buscando aproximar o indivduo em seu projeto de ser daquilo que ele realmente no mundo, compreend-lo onde ele existe e se expressa, onde ele escolhe o que quer ou no quer ser. Nesse encontro que se d entre o indivduo psicoterapeuta e o indivduo cliente com o objetivo de desvelar e compreender o SER enquanto existncia no mundo, que acredito se encontrar a terra do dilogo. Percebemos assim, que o papel do terapeuta existencialista de extrema delicadeza e ateno para com fato o de que, em momento algum ele poder interpretar, dirigir, direcionar ou apontar caminhos, mas somente estar junto com aquele outro e atravs do dilogo, questionar, perguntar...incomodar as estruturas daquele humano a sua frente, como fez Nietzsche com a sociedade em que vivia concernente aos valores, visando despertar no homem a coragem, a liberdade e a criatividade. Seu papel fundamental o de estar com aquela pessoa que corajosamente escolheu pr-se em questo e estabelecer uma conversao ( dilogo ) de quem nada sabe, partindo de um mar revolto e chegando aonde o outro determinar, mesmo que ele escolha ficar em mar aberto e no deseje a segurana de porto algum. Em seus ensinamentos Scrates lana mo dessa possibilidade dialgica e faz dela sua pedra fundamental. O filsofo tinha o hbito de se encaminhar para a gora e l debater e dialogar com seu interlocutor. Pretendia, com isso, que cada um fosse em busca de sua prpria verdade, descobrindo que nada sabia. Acredito como existencialista e independente dos rumos que possam ser seguidos dentro desse pensamento, que o dilogo visa de imediato e o tempo todo essa verdade que a verdade de cada um. Como Kierkegaard enfatiza em sua filosofia falando da inexistncia de verdades absolutas mas individuais, como Nietzsche tambm pretende com a transvalorizao e a busca por valores prprios de cada um, como Heidegger pretende com seu Dasein - um ser humano aberto compreenso do ser-a, no mundo e tambm Sartre quando coloca que o ser livre para escolher, entre todas as possibilidades, o que deseja ser. O dilogo assim um procedimento que vai buscar o tempo todo que o SER, o INDIVDUO, o HOMEM se mostre como com suas escolhas e consequentemente como verdade. Objetiva sua tomada de conscincia, seus sentidos e significados prprios, suas emoes, pretenses, ou seja, o dilogo visa ajudar o indivduo a falar na primeira pessoa, ao invs de aceitar um final que no tenha ele mesmo escolhido dar a maior de todas as questes: COMO ESCOLHO

EXISTIR NO MUNDO? Outro filsofo que acredito ter contribudo imensamente para o esclarecimento da importncia dialgica na psicoterapia existencialista foi Martin Buber. Fortemente marcado pelos pensadores existencialistas, entre outras coisas, ele enfatiza a importncia da relao entre os homens e eles mesmos e entre os homens e as coisas. Ou seja, uma relao entre o sujeito e o outro sujeito ( EU e TU ) e a relao entre o sujeito e as coisas ( EU e ISSO ), que ele chamou de palavras princpio. O que considero excepcional na filosofia dele, para o desenvolvimento prprio de quem escolhe o desafio de ser psicoterapeuta e pretende realmente estabelecer um dilogo teraputico genuno so: 1 - A viso do outro como um tu - como um ser humano que tem um EU e que no uma coisa. 2 - A questo mesma da relao entre o EU e o TU. Sem o intuito de aprofundar a filosofia de Buber, o importante que olhemos para aquele que se coloca a nossa frente para o dilogo como uma existncia original, que tem uma histria para contar que original, que tem uma emoo para expressar que original, que tem um ser para revelar que original. Com isso quero enfatizar que inconcebvel a possibilidade de dilogo sem acreditar naquilo que o indivduo tem de mais original, ele mesmo. Sem estar sempre atento ao que o outro tem para me dizer com o objetivo de compreender como ele diz. Mesmo cnscio de que o que o outro diz passa pelo crivo dos meus valores, se abandono a compreenso a partir da valorizao que o outro capaz de dar, ento abandonei o dilogo com ele. Usando um pouco o aprendizado com a filosofia de Buber, se transformo o outro em uma "coisa ou isso" a quem posso interpretar e impor minha verso para seu drama pessoal, ento no estarei dialogando, s falando de algum para si mesmo - ao invs de dialogar com algum sobre si mesmo. O simples fato de respeitarmos o ponto de vista levantado no pargrafo anterior nos lana no desafio de estabelecer, de fato, uma relao entre o que o outro e ns ( psicoterapeutas ) conseguimos ser em nosso esforo de ser no mundo, e a sim, poderemos dialogar. Como o prprio Buber afirma em EU E TU, relao reciprocidade tal qual acredito ser o dilogo, por excelncia na relao teraputica. Mas o que recproco? De um lado, do cliente, a tentativa corajosa de se mostrar. Do outro, do psicoterapeuta, a entrega respeitosa escuta isenta do que o outro tem para dizer no intuito de compreend-lo sem limites. no encontro face-a-face, ou seja, no entre ns dois, que vai se dar

o dilogo. claro que podemos falar um com o outro estando um ao lado ou at mesmo atrs do outro, mas dialogar predispe estar de frente, olho no olho, despojado, entregue, verdadeiro, autntico, enfim, genuno. Com a fenomenologia, mtodo que o existencialismo adotou, descobrimos que a busca incessante pela intuio da essncia do fenmeno, ou seja, seu sentido e significado para o prprio indivduo. Se assim , onde mais poderamos pretender alcanar tal intuito que no fosse no dilogo autntico onde o outro fosse visto e aceito como si mesmo e a busca no fosse ele mesmo como tal? Construindo este texto percebi o quanto a questo do dilogo mais sria e mais vasta do que eu j o tinha refletido. Assim, para terminar minha pretenso de falar um pouco sobre este assunto, gostaria de enfatizar duas questes que acredito povoam os questionamentos de cada um que, em algum momento, refletiu sobre esse desafio chamado dilogo. A primeira, a certeza de que se possa lanar mo de outras tcnicas que, facilitando e ajudando o indivduo a emergir, nascedouro do verdadeiro assunto do dilogo: O SER. A Segunda questo, a percepo de que o dilogo importante no s na relao psicoteraputica existencialista, mas em qualquer relao que vise cuidar do SER, e para tanto busco Flon em os terapeutas de Alexandria para concluir que, com sensibilidade e humildade, todo indivduo que cuida do SER, de alguma forma um terapeuta. Percebam que quem cuida no trata, acalenta e respeita em sua prpria verdade. Psiclogo Eduardo Marinho Psicoterapeuta Existencial formado pela SAEP Especialista em metodologista e didtica do ensino superior Fundador do Espao Livre Existencialista http://www.existencialismo.org.br http://www.existencialismo.org.br/jornalexistencial

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