Sobre "O Cuidado - Paradigma Ético Da Nova Civilização v01

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Círculos de Leitura: um espaço de troca e conexão

Sobre “O Cuidado: Paradigma Ético da Nova Civilização”*

A linguagem é a chave para saber quem somos como indivíduos.


Nós somos nossas conversas: quando mudamos nossa forma de ser,
mudamos nossas conversas e quando mudamos a forma de conversar,
mudamos a forma de ser. A linguagem nos constrói.

Bernardo Toro

*Comentários da Equipe do Programa Círculos de Leitura do Ceará, Bahia e São Paulo sobre palestras ministradas
por Bernardo Toro.

O filósofo e educador colombiano Bernardo Toro, em seu texto “O cuidado: paradigma ético da
nova civilização” aponta para um pensamento ético que seria o paradigma da nova educação.
Toro propõe que a sociedade precisa substituir o paradigma atual do êxito, da acumulação e do
poder por um paradigma que valorize o cuidado de si e dos outros. Nessa lógica, a comunicação
cumpre um papel fundamental: saber conversar ou interagir dentro da linguagem considerando
legítimo o Outro, como propõe Humberto Maturana, envolve várias habilidades:
– Saber conversar: fazer afirmações verdadeiras, julgamentos embasados, declarações sinceras,
explicações precisas, indagações respeitosas.
– Saber escutar: para reconhecer o outro na criação da realidade mútua: “Ouvir é a habilidade
mais importante na comunicação humana. Na verdade, todo o processo de comunicação se
baseia nela. Ouvir é o que valida o discurso. O discurso só é eficaz quando produz no ouvinte o
resultado que o orador espera”.
– Saber ouvir o silêncio: base da palavra e da escuta. Para que a palavra exista, ela precisa sair do
silêncio e retornar ao silêncio. Sem silêncio não é possível conversar, e escutar só é possível em
meio ao silêncio interior e exterior.
Segundo Toro, precisamos conversar porque cada um de nós é um observador diferente da
realidade. O que conversamos reflete quem somos e por isso mesmo precisamos reconhecer que
a nossa observação é apenas uma das muitas possíveis. Os outros têm observações próprias,
mas ninguém é dono da verdade. Toda a pretensão de verdade envolve um princípio de violência:
procura-se impor, coagir ou neutralizar. Conversando, escutando e estando em silêncio, guiados
pela ética da dignidade humana, podemos, com nossas diferentes observações da realidade,
construir os novos bens coletivos.

A linguagem é a chave para saber quem somos como indivíduos. Nós somos
nossas conversas: quando mudamos nossa forma de ser, mudamos nossas
conversas e quando mudamos a forma de conversar, mudamos a forma de ser.
“A linguagem nos constrói”.

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Círculos de Leitura: um espaço de troca e conexão
Sobre “O Cuidado: Paradigma Ético da Nova Civilização”*

Algumas das habilidades e competências mais valorizadas na sociedade contemporânea, de


acordo com esse paradigma ético, envolvem: o nível ético da pessoa, sua capacidade de criar e
desenvolver círculos de amizade e confiança e a forma como resolve os problemas. Essas lições
não são naturais, é necessário ensiná-las. Esses ensinamentos são também a base da felicidade,
e “essa sensação de existir é em si mesma doce” (Aristóteles).
É preciso aprender a criar vínculos emocionais. “As características que definem um vínculo afetivo
relacionam-se à capacidade de envolvimento emocional, o compromisso com um projeto de vida,
a permanência e a unicidade da relação”. Isso implica aprender a expressar afeto, promovendo o
sentimento de pertencimento, a compreensão mútua, o tempo compartilhado, o compromisso
e o cuidado com o outro. Um relacionamento bem construído não gera dependência, mas sim a
autonomia de cada um: “Você sempre pode se sentir livre para sair, porque você está livre e feliz
para ficar”.
Assim como a inteligência emocional só se desenvolve na convivência com outras pessoas, Toro
propõe que a inteligência cognitiva também esteja a serviço da coletividade:
“Cuidar do intelecto e da inteligência supõe renunciar ao princípio guerreiro da força intelectual e
passar para o altruísmo cognitivo!”
O princípio guerreiro “vê a inteligência como propriedade pessoal, privada e interna”. Nesse
sentido, é um bem privado de um indivíduo, que se localiza no cérebro e se manifesta no
desempenho de provas. Portanto, a escola espera que os seus alunos sejam os mais inteligentes
e os mais competentes em várias provas de avaliação individual. E o aluno espera ser o mais
inteligente de todos, obter as melhores notas nas provas, ter o cérebro mais desenvolvido entre
os colegas, sendo que a implicação fundamental é que o suposto “cuidado” (proteção) é o mais
custoso por seu caráter privado, competitivo e excludente.
O oposto disto significa entender a inteligência como uma dádiva, que se manifesta e desenvolve
no convívio com as outras pessoas, por seu caráter social, público e de inclusão.
Passar para o altruísmo cognitivo é “cuidar do intelecto em condições de reconhecimento da
complementariedade e do cooperativismo humano”. Aristóteles sugere que através da amizade
somos capazes de uma “des-subjetivação”, onde deixamos de ser apenas um, para vivenciarmos
os muitos “eus” possíveis.
De acordo com esses princípios, é papel fundamental das escolas junto com os estudantes:
desenvolver a capacidade de se questionar (“Quem sou eu?”, “Que tempo histórico estou
vivendo?”, “Quem me acompanha?”); desenvolver a capacidade de procurar ajuda para a solução
de um problema (Com quem eu posso contar? A quem perguntar?); fazer exercício contínuo do
intelecto em benefício próprio e dos outros; e desenvolver a responsabilidade política, social e
cultural (A quem posso ajudar? Como devo ajudar?)

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