Efeitos Do Comprimento Do Duto de Admissão em Motores PDF

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I Jornada Cientfica e VI FIPA do CEFET Bambu Bambu/MG - 2008

EFEITOS DO COMPRIMENTO DO CONDUTO DE ADMISSO NA PERFORMANCE DE UM MOTOR DE COMBUSTO INTERNA


Jos RICARDO SODR; Rodrigo CAETANO COSTA; Rodrigo HERMAN DA SILVA*
CEFET Bambu; PUC Minas

RESUMO
Este trabalho apresenta resultados de desempenho de um motor de combusto interna de ciclo otto de quatro tempos, quatro cilindros, oito vlvulas e 999 centmetros cbicos de cilindrada, obtidos em testes experimentais em dinammetro de bancada. Foi pesquisada a influncia do comprimento do conduto de admisso no torque, na potncia e na presso mdia efetiva. Os resultados encontrados mostram que em velocidades de rotao do motor mais baixas o conduto de admisso com maior comprimento apresenta melhor desempenho. Por outro lado, com o menor comprimento do conduto de admisso obteve-se um melhor desempenho em velocidades de rotao do motor mais altas. Palavras-chave: Motor de combusto interna, conduto de admisso, torque, potncia, presso mdia efetiva

1.

INTRODUO

2.

REVISO BIBLIOGRFICA

A geometria do conduto de admisso est relacionada com a energia cintica do fluido, que por sua vez, possui uma influncia no rendimento volumtrico do motor. A energia cintica da massa de ar que entra no cilindro possui uma correlao com o comprimento e a rea da seo transversal do conduto. Para velocidades mais baixas de rotao do motor, o conduto que adota um maior comprimento, proporciona um maior grau de enchimento do motor. O mesmo efeito ocorre quando adotado um conduto de rea de seo transversal menor, produzindo um efeito inercial mais forte. A eficincia dos motores de combusto interna depende diretamente do aproveitamento dos fenmenos inerciais e transientes que ocorrem no sistema de admisso e exausto do motor. Estes sistemas possuem dimensionamento e configuraes geomtricas diferenciadas, com a finalidade de atender os objetivos do projeto, tais como a curva de potncia, curva de torque e curva do consumo especfico de combustvel desejada. O objetivo deste trabalho investigar a influncia do comprimento do conduto de admisso na potncia, no torque e na presso mdia efetiva de um motor de combusto interna de ciclo otto de quatro tempos, quatro cilindros e 999 centmetros cbicos de cilindrada, variando a velocidade de rotao da rvore de manivelas.

A principal funo dos condutos de admisso em motores de combusto interna conduzir o ar da atmosfera at os cilindros, distribuindo entre eles a massa de ar admitida. Entretanto, alem da admisso de ar, os condutos tm a funo de otimizar a eficincia volumtrica dos motores, produzindo baixas perdas de presso ao longo do escoamento do ar. Esse escoamento feito atravs de sistemas geomtricos. Isto significa que o comprimento e o dimetro do conduto, e eventualmente cmaras intermedirias, tm um papel fundamental no desenvolvimento deste sistema. Leva-se em conta os efeitos de escoamento pulsante com variaes temporal e espacial (Hanriot, 2001). O ar no interior do conduto de admisso possui uma energia cintica (energia de movimento). Esse contedo energtico, se oportunamente aproveitado, pode determinar uma maior compresso no interior do cilindro exatamente no momento em que a vlvula de admisso de fecha. Cria-se ento uma fonte de sobre-alimentao natural devido inrcia dos gases de admisso, melhorando a eficincia volumtrica (Heywood, 1988). Benajes et al, (1997) analisaram os condutos de admisso levando em conta dois subsistemas separados, o pisto e a vlvula, que se movem periodicamente e atuam como fonte de excitao,

* Endereo para correspondncia do autor responsvel pela submisso: [email protected]

I Jornada Cientfica e VI FIPA do CEFET Bambu Bambu/MG 2008 e o conduto de admisso, que responde excitao em funo da sua geometria. Esta interao influencia a condio de escoamento transiente ocorrida na porta da vlvula, conseqentemente, afeta todo o processo de admisso do gs da atmosfera para o interior do conduto de admisso. torque - velocidade angular efetivo (J) (rad/s)

We

A velocidade angular calculada por:

=
Onde:

2 N 60

[Eq. 03]

3. 3.1.

ANLISE TERRICA Torque

N - velocidade de rotao do eixo de manivelas


(rev/min) A equao 2 pode ser descrita da seguinte forma:

O torque representa a capacidade do motor de produzir trabalho, traduzido pelo potencial que o eixo de manivelas possui de fazer girar uma massa em torno de si mesmo. Esse momento gerado pelo motor na sada do eixo de manivelas o torque efetivo desenvolvido pelo motor. O torque calculado a partir do produto da fora medida pela clula de carga do dinammetro pela distncia do ponto de leitura desta fora at o centro do eixo de manivelas, atravs da seguinte equao:

Pe = We

2 N 60

[Eq. 04]

We = F d
Onde:

[Eq. 01]

We - toque efetivo desenvolvido pelo motor na


sada do eixo de manivelas (J) F - fora medida na clula de carga do dinammetro (N) d - distncia do ponto de medio da fora ao centro do eixo de manivelas a (m)

A performance dos motores de ignio por centelha afetada pelas condies atmosfricas, isto , pela presso baromtrica, temperatura e umidade. Existem fatores de correo que, multiplicados pela potncia e torque obtidos em condies atmosfricas diferentes, corrigem os valores para a condio atmosfrica padro. Neste trabalho adotado o fator de converso segundo a norma NBR ISO 1585 (ABNT, 1996), que se aplica somente a motores com ignio por centelha naturalmente aspirados e sobrealimentados.

3.3.

Presso Media Efetiva

3.2.

Potncia

A potncia efetiva pode ser calculada atravs de medio utilizando um freio (dinammetro), que possibilita calcular o trabalho realizado pelo eixo de manivelas na sada do motor. A potncia absorvida pela resistncia passiva pode ser medida atravs de um dinammetro ativo, imprimindo uma velocidade de rotao no eixo de manivelas com o motor sem combusto, ou pela diferena entre a potncia indicada e a potncia efetiva. A potncia de maior interesse prtico a potncia no eixo, disponvel na sada do eixo de manivelas do motor, calculada segundo a esta equao abaixo:

A presso mdia efetiva a mdia da presso dentro do cilindro do motor, baseada na potncia calculada ou medida. Ento tem-se a presso mdia efetiva indicada e a presso mdia efetiva no eixo, derivadas da potncia indicada e da potncia no eixo, respectivamente. A presso mdia efetiva no eixo um parmetro importante de medio da performance do motor, porque obtida pela razo do trabalho por ciclo pelo volume deslocado no cilindro, ou seja, a potncia produzida pelo motor em funo do seu tamanho. A presso mdia efetiva no eixo dada por:

BMEP =
Onde:

2 60 Pe V N

[Eq. 05]

BMEP - presso mdia efetiva no eixo

(Pa)

Pe = We
Onde:

[Eq. 02] no eixo (W)

3.4. Influncia da Geometria do Conduto de Admisso na Eficincia Volumtrica


O escoamento do ar no interior do conduto de

Pe

potncia

I Jornada Cientfica e VI FIPA do CEFET Bambu Bambu/MG 2008 admisso possui uma energia cintica associada sua velocidade. Essa energia contida no ar, se aproveitada no tempo correto de abertura e fechamento das vlvulas de admisso e exausto, pode determinar uma maior compresso no interior do cilindro. criada desta forma uma sobre-alimentao natural devido inrcia do gs. A eficincia volumtrica, est diretamente relacionada com a capacidade que o motor possui em admitir a massa de ar atmosfrico. Pode-se dizer que a vazo mssica de ar no conduto de admisso pela taxa que o volume de ar deslocado pelo pisto:

hf = f
Onde:

L U 2 D2 g

[Eq. 09]

h f - perda de carga no conduto (m) f fator de atrito (adimensional) L comprimento do conduto (m) U Velocidade mdia (m/s) D dimetro do conduto (m) g - acelerao da gravidade (m/s2)
Para regime laminar, isto , nmero de Reynolds (Re) inferior a 2000, o valor do fator de atrito ( f ) calculado pela equao: [Eq. 10]

& 2m a V = a Vd N

[Eq. 06]

Onde: Vd - volume deslocado pelo pisto entre PMI e PMS (m3) N - velocidade de rotao do motor (rev/s) a - massa especfica do ar admitido (kg/m3)

Re =

a U D
f = 64 Re

& m a - vazo mssica de ar atravs do conduto de


admisso (kg/s) A massa especfica do ar admitido determinada atravs da equao abaixo. Onde:

[Eq. 11]

- viscosidade dinmica (kg/m.s)


Para regime turbulento, isto , nmero de Reynolds (Re) superior a 4000, o valor do fator de atrito ( f ) para tubos lisos, aplicvel aos casos em que Re > 105 , dado pela equao de DarcyWeisbach:

P a = R T

[Eq. 07]

Onde P a presso do ar admitido (kPa), T a temperatura do ar admitido (K) e R constante do ar (0,287 kJ/kg.K) Por sua vez, a massa no interior do conduto calculada de acordo com seu comprimento:

ma = a A L

[Eq. 08]

1 = 2 log Re f

f 0.8

[Eq. 12]

Nota-se, ento, que a reduo do dimetro aumenta a energia cintica do ar no interior do cilindro. A massa da coluna de ar no interior do cilindro maior quanto maior for o seu comprimento, sendo diretamente proporcional energia cintica devido ao movimento das partculas de ar. Quando a massa de ar escoa atravs do conduto de admisso, ocorre uma perda de carga devido ao atrito do fluido com as paredes do conduto. A perda de carga pode ser calculada pela equao de Darcy-Weisbach, vlida para escoamento laminar ou para escoamento turbulento em dutos:

Nos casos em que Re < 105, aplica-se a equao de Blasius:

f = 0.316 Re 0.25

[Eq. 13]

4. METODOLOGIA EXPERIMENTAL
Todos os testes foram realizados segundo a norma NBR ISO 1585 (ABNT, 1996). Para realizao dos testes, o motor foi instalado no dinammetro na mesma posio na qual est montado no veculo, previamente alinhado e nivelado para que no houvesse vibraes nos sistema de transmisso e evitar erros de medio.

I Jornada Cientfica e VI FIPA do CEFET Bambu Bambu/MG 2008 Com o objetivo de estudar os efeitos do conduto de admisso sobre a performance do motor em estudo, variando o comprimento, foram utilizados trs tubos de material PVC, com comprimentos de 300, 600 e 900 mm. Foi utilizado um paqumetro para a medio das dimenses e uma serra de fita para construir os prottipos. As curvas de desempenho foram executadas com o acelerador totalmente acionado para possibilitar que a borboleta se encontrasse plenamente aberta durante todo o teste, proporcionando uma vazo mxima de ar naturalmente aspirado. Todos os testes mantiveram a temperatura do lquido de arrefecimento na sada do motor dentro de uma faixa de 82C 2C, a umidade relativa entre 48 % e 52 %, a temperatura do leo com valor superior a 100 C, a presso baromtrica em torno de 910 mbar, a temperatura do ar de admisso a 20C 2C e a presso de combustvel em 3,50 0,02 bar. Para determinar a potncia nas condies atmosfricas de referncia, a potncia observada (lida) foi multiplicada por um fator de correo (ABNT NBR ISO 1585), que permaneceu em torno de 1,12 nestes experimentos.

55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000

POTNCIA CORRIGIDA ABNT (kW)

GASOLINA COM 22% DE AEAC D = 53 mm L = 900 mm L = 600 mm L = 300 mm

VELOCIDADE DE ROTAO DO MOTOR (rev/min)

Figura 2 Comparativo de Potncia variando o comprimento do conduto de admisso Verifica-se na Figura 3 que o conduto de admisso de maior comprimento proporciona maior torque em velocidades de rotao mais baixas. Pode-se atribuir este resultado melhor eficincia volumtrica do conduto de maior comprimento nesta regio de funcionamento do motor. Isto demonstra que, em baixas velocidades de rotao do motor, quanto maior for o conduto, maior ser o efeito inercial da massa de ar.
95

TORQUE CORRIGIDO ABNT (Nm)

90

Conduto de Admisso

85

80

Figura 1 - Conduto de admisso de ar do motor

75

GASOLINA COM 22% DE AEAC D = 53 mm L = 900 mm L = 600 mm L = 300 mm

5.

RESULTADOS

70 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000

Foi observado que a partir da velocidade de rotao do motor de 4500 rev/min o conduto de admisso com o comprimento de 300 mm apresentou valores superiores de potncia, o de comprimento de 600 mm valores intermedirios e de comprimento de 900 mm gerou valores inferiores (Figura 2). Esse efeito pode ser explicado devido perda de carga proveniente do atrito do fluido com as paredes do conduto ser maior quanto maior for o comprimento do conduto, como conhecido de fundamentos de Mecnica dos Fludos.

VELOCIDADE DE ROTAO DO MOTOR (rev/min)

Figura 3 Comparativo de torque variando o comprimento do conduto de admisso Esse mesmo efeito pode ser visto no comparativo de PME (Figura 4). A tendncia observada para velocidades de rotao mais elevadas justificada pela maior perda de carga quando utilizado um maior comprimento do conduto de admisso suplantando os efeitos inerciais.

11.0

I Jornada Cientfica e VI FIPA do CEFET Bambu Bambu/MG 2008 PEIDRO, J., Predesign Model for Intake Manifolds in Internal Combustion Engines, Engine Modeling, SAE Paper 970055, Society of Automotive Engineers, Inc., U.S.A., 1997. GANESAN, V., Internal Combustion Engines, McGraw-Hill Publishing Company Limited, U.S.A., 1994. GIACOSA, T. D., Motori Endotermici, 2 ed., Ulrico Hoelpi Editore S.p.A., Mio, Itlia, 1986. HANRIOT, S. M., Valle, R. M., Medeiros, M. A. J., Estudo Experimental dos Fenmenos Pulsantes em um Coletor de Aspirao de Tubo Reto de um Motor de Combusto Interna Alternativo, Anais do IV Congresso Iberoamericano de Ingenieria Mecnica, Santiago do Chile, 1999. HANRIOT, S. M., Estudo dos Fenmenos Pulsantes do Escoamento de ar nos Condutos de Admisso em Motores de Combusto Interna, Tese de Doutorado, Departamento de Engenharia Mecnica, UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil, 2001. HEISLER, H., Advanced Engine Technology, Hodder Headline Group, U.S.A., 1995. HEYWOOD, J.B., Internal Combustion Engine Fundamentals, McGraw-Hill Book Company, U.S.A., 1988. SODR, J. R., PEREIRA, L. V. M. e STREVA, E. R., Gasoline-Ethanol Blend Aging Effects on Engine Performance and Exhaust Emissions, SAE Paper 2003-01-3184, Fuels and Lubricants, Society of Automotive Engineers, Inc., U.S.A., 2003. SODR, J. R. e SOARES S. M. C., 2002, Effects of Atmospheric Temperature e Pressure on the Performance of a Vehicle, Journal of Automobile Engineering, V. 216, n. D6, Pg. 473477, London, UK. , 2002. TAYLOR, C. F., 1971, Anlise dos Motores de Combusto Interna, So Paulo, Editora Edgard Blucher Ltda., 1971. WHITE, F.M., Mecnica dos Fluidos, McGrawHill Book Company, U.S.A., 1999. WINTERBONE, D. E., e PEARSON, R. J., Theory of Engine Manifolds Design Wave Action Methods for IC Engines, SAE, U.S.A., 2000.

10.5

10.0

PME (bar)

9.5

9.0

8.5

GASOLINA COM 22% DE AEAC L = 53 mm L = 900 mm L = 600 mm L = 300 mm

8.0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000

VELOCIDADE DE ROTAO DO MOTOR (rev/min)

Figura 4 Comparativo de PME variando o comprimento do conduto de admisso

6.

CONCLUSO

Atravs dos resultados experimentais obtidos, pode-se perceber que o comprimento do conduto de admisso influenciou significativamente o desempenho do motor. Para os comprimentos dos condutos pesquisados, constatou-se que o conduto de maior comprimento desenvolveu um melhor torque e melhor PME em baixas velocidades de rotao do motor. Por outro lado, o conduto de menor comprimento resultou em melhor torque e potncia em altas velocidades de rotao do motor. Esses resultados explicam a tendncia atual de diversas montadoras de adotar coletores de geometria varivel que permitem a variao do comprimento dos dutos de admisso conforme a rotao do motor. Esse recurso permite um rendimento volumtrico ideal em todas as faixas de utilizao.

REFERNCIAS
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