Marcus Reis Pinheiro - Formas de Interpretar Mito' em Platão

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Boletim do CPA, Campinas, n 15, jan./jun.

2003 121




FORMAS DE INTERPRETAR MITO EM PLATO
E NA CONTEMPORANEIDADE



Marcus Reis Pinheiro
*




A presente comunicao contm trs partes. Em primeiro lugar ir
apresentar uma noo geral do conceito de mito, especialmente aquela
noo formulada pela escola ritualista. Em seguida ir apresentar os modos
principais por onde um mito era transmitido na Grcia Clssica para ento,
a partir de trechos da obra de Plato, apresentar uma interpretao da
funo dos mitos nos dilogos.
bem difcil definir com suficiente preciso o termo mito. A grande
maioria de suas caractersticas e de suas funes em um texto ou em uma
sociedade se mistura com as caractersticas de outros estilos ou gneros
literrios (se que podemos dizer que mito um estilo literrio). Para um
estudo frutfero dos mitos necessrio certa flexibilidade nos seus
conceitos primrios. Tentar circunscrever esses conceitos primrios de

*
Doutorando da PUC-Rio.
Marcus Reis Pinheiro


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forma fechada e cabal talvez seja improdutivo. G. S. Kirk tem razo quando
diz o seguinte:

O que eu tentei chamar ateno sobre algumas dessas reas
modernas de estudos no , com certeza, um erro de observao,
mas sim a aplicao persistente e enganosa de uma falsa pre-
concepo, a saber, que mito uma categoria fechada com as
mesmas caractersticas em culturas diferentes. Uma vez que se
veja que mito como um conceito geral completamente vago, que ele
implica em si mesmo no mais que uma estria tradicional, ento
ficar claro que suas restries a tipos definidos de contos, sagrados
ou aqueles associados aos rituais, so pouco seguros e desvirtuantes
[...] Teorias Gerais de mito no so coisas simples.
1


Podemos dizer que mitos so uma sub-classe da classe dos contos.
A restrio que Kirk tenta bastante interessante, a saber, que os mitos
so contos tradicionais. Walter Burkert tenta uma definio em sua obra
Structure and History in Greek Mythology and Ritual de 1979: Mito um
conto tradicional com secundria, parcial referncia a algo de importncia
coletiva. A grande dificuldade de se definir mito que nem seus aspectos
formais nem os de contedo o destinguem de outros tipos de contos. O que
tanto Kirk quanto Burkert esto tentando fazer limitar o conceito atravs
de seu uso na sociedade. Essa delimitao, apesar de parecer ser a melhor
dos estudos contemporneos, dificilmente pode ser aplicada aos mitos de
Plato, j que estes no so de forma alguma tradicionais, apesar de haver
elementos tradicionais neles. O que quero fazer aqui apenas apresentar
uma corrente de pensamento sobre mitos, a escola ritualstica para que a

1
G. S. Kirk. Myth: its meaning and its funcitons in ancient and other cultures. O negrito meu.
p. 28.
Formas de interpretar mito em Plato e na contemporaneidade


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tenhamos como pano de fundo ao pensarmos os mitos em Plato. Isto se
mostra importante pois estamos lidando com uma noo recente, mitos, que
no vem diretamente dos textos de Plato. Assim, temos que ter um mnimo
de dilogo com a tradio deste conceito para podermos pens-lo em Plato.
A escola ritualsta representada principalmente pela escola de
Cambridge, fortemente influenciada por Frazer e Durkheim. Seus mais
proeminentes expositores so Jane Harrison, A. B. Cook, Francis Cornford
e Gilbert Murray. A pedra de base dessa escola consiste em traar uma
relao necessria entre mitos e ritos. De acordo com Jane Harisson, por
exemplo, os mitos so formas destorcidas de se explicar um rito. Os ritos
seriam primrios nas sociedades antigas, j que eles so uma reao
anterior ao mito frente a natureza: os ritos so uma tentativa de domar e
controlar o mundo natural. Frente ao incomensurvel e espantoso mundo
ao seu redor, o homem cria ritos, com poderes mgicos, para assim
domestic-lo. Depois do rito institucionalizado, procura-se ento um
fundamento e explicao para a sua funo na sociedade. O mito nasceria
desta tentativa de explicao do rito. Como diz Harrison, Minha crena
que em muitos, at mesmo na grande maioria dos casos, a m
compreeno da prtica do ritual explica a elaborao do mito
2

No linguajar de Harrison, o central para se compreender a vida
religiosa em geral, e especialmente grega, a distino entre dromena,
coisas realizadas, e legomena, coisas ditas. O mito, o legomena, a
contraparte lingustica do dromena, das coisas realizadas. O verdadeiro
sentido e orientao do mito deve ser encontrado no ritual que corresponde
e de onde aquele foi haurido.

2
HARRISON, J. Mythology and Monuments of ancient Athens. Apud. VERSNEL, H.S. Whats
souce for the goose is souce for the gander: myth and ritual, old and new in EDMUNDS, L. ed.
Approaches to greek myth. Johns Hopkins University Press: Baltimore, 1990
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Apoiando-se na sociologia de Durkheim onde a forte emoo das
relaes sociais a origem da experincia religiosa, a escola ritualista v o
daimon, o divino, nascendo da personificao do ritual. Atravs da forte
experincia ritualstca, sempre em grupo, o homem vai criando um mundo
mtico que explica e fundamenta as emoes dessa experincia em sociedade.
O ritual modelar e seu consequente mito para exemplificar essa teoria o ritual
do rei que morre e renasce, com o mito do deus que tambm morre e renasce.
Toda essa concepo de mito foi muito criticada no decorrer do
sculo XX. G.S. Kirk
3
junto com Fontenrose
4
talvez sejam os mais ferrenhos
crticos. As principais crticas teoria ritualista nascem de constataes
empricas, onde apresenta-se um mito que no h indcio algum de um
ritual equivalente e tambm um rito onde no se encontra um mito relativo
que o explique. Kirk vai mais alm dizendo que certos aspectos essenciais
para a compreenso dos mitos e de sua funo na sociedade antiga so
obscurecidos pela enfase na relao dos mitos com os ritos: certos mitos
apresentam aspectos ldicos e narrativos que no precisam de um
equivalente prtico ou cerimonial. H ainda aspectos reflexivos nos mitos
que no so conectados a rituais. Enfim, mitos, de acordo com Kirk, no
podem ser restritos nem noo de sagrado. Mesmo em sociedade
antigas, h no mito a funo de sancionar, como um alvar, costumes e
crenas. Isto vai muito alm da simples explicao de um ritual.
No entanto, certos traos da teoria ritualstica dos mitos tm ainda
hoje valor para a sua correta compreenso. O que acredito ser de extrema
importncia nessa viso dos mitos a caracterstica dos mitos terem

3
Op. cit.
4
The ritual theory of myth. Folklore Studies 18, Berkeley: University of California Press, 1966.
Ver tambm outros crticos dessa escola em Clyde Kluckhohn Myths and Rituals: A general
Theory, Harvard Theological Review 35 (1942); 45-49; William Bacom, The myth-ritual
Theory, Journal of American Folklore 70 (1957): 103-114.
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sempre uma contraparte prtica, um lado de encenao que qualifica e
confere sentido a esse mito. Pensar na relao intrnseca entre mitos e ritos
nos leva a ter em mente o lado performtico do relato mtico. O ato de contar
se torna ento de extrema importncia se pensarmos nele como algo que
acontece qualitativamente, isto , em um determinado momento histrico
individual e pertecente grande ou pequena sociedade que o escuta. Se
levarmos em conta na noo de mito certas idias que qualificam a tragdia
grega, essa como um exemplo de um ritual grego, podemos pensar melhor o
modo de recepo do relato mtico. Os ouvintes de uma tragdia participam
da realizao da tragdia: o ato de assistir uma encenao trgica no
passivo, mas ativo, isto , a platia tem uma funo no desenrolar do drama.
Deste modo eles so chamados de theoroi, os espectadores.
Assim, a teoria ritualista nos lembra da prioridade da enunciao dos
mitos frente ao seu contedo. Desta forma, importante termos em mente
o lugar concreto, na Grcia Clssica, onde esses mitos eram transmitidos.
difcil ter certeza de todas as situaes onde os gregos relatavam seus
mitos, no entanto, podemos salientar seis ocasies: 1) recitaes na
aristocracia antiga grega, 2) nos festivais, 3) nos rituais dos cultos de
mistrio, 4) em recitaes familiares, 5) nos simpsios, como no dilogo de
Plato, 6) em assuntos pblicos, como na corte, durante julgamentos e
reunies deliberativas. Vou detalhar melhor cada uma delas.
1) Podemos encontrar um exemplo dessas declamaes de poesias
na aristocracia da grcia arcaica nas descries da Odissia onde
Demdoco cantaem um banquete aristocrtico
5
.

5
Odyssia, 8, 470ss, trad. Carlos Alberto Nunnes.
Postas arautos j cortam, assim como o vinho misturam.
Por outro araauto trazido, o divino cantor j chegava,
que tanto o povo acatava, Demdoco. Fazem-no logo,
junto de uma alta coluna asssentar-se, no meio do hspedes.
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2) Nos festivais havia competies entre cantores-poetas onde era
decidido qual seria o melhor a recitar Homero e os textos homricos.
Nessas ocasies, uma grande audincia estava presente e uma importante
interao entre os cantores e os theoroi (espectadores) se dava.
3) Descrever com cuidado os cultos de mistrio foge do escopo do
presente trabalho, mas alguns pontos principais podem ser apresentados.
Normalmente, havia trs parte nos rituais de iniciao: algumas coisas eram
encenadas, outras eram mostradas e ainda outras era declamadas. Muito
provavelmente esses hieroi logoi, essas palavras sagradas apresentadas
no eram escritas, mas sim transmitidas oralmente Aps aqueles sendo
iniciados praticarem aes definidas, que alimentavam certas emoes e
estados psicolgicos especficos, os iniciandos ouviam esses hieroi logoi. Os
mitos eram recitados para pessoas em estados psicolgicos especficos para
que ento as palavras pudessem ser experimentadas no modo mais radical.
4) Plato
6
mesmo expressa que as mulheres contavam mitos e
estrias sobre os deuses para as crianas em sua primeira infncia.
Descrever como ocorriam esses momentos muito difcil, mas podemos
supor que as histrias eram recitadas de memria.
5) No Banquete de Plato ns temos um idia muito boa de como
deveria ser um tpico encontro da alta sociedade grega. Esses encontros podem
ter seus antecedentes nos banquetes aristocrticos exemplificados na Odissia.
6) Edmund
7
resume bem em um exemplo de como mitos eram
usados em situaes pblicas ou jurdicas: No livro 2 deste trabalho
(Retrica de Aristteles) ele analisa as vrias formas de argumento retrico.
Um deles o exemplo, que ele divide em duas variedades: pralelos

6
Timeus 26b2-7; Repblica II 381e1-6; Leis X 887d2-3, etc.
7
Cf. EDMUND, Lowell (editor and introduction). Approaches to Greek myth, introduction, p. 8.
Formas de interpretar mito em Plato e na contemporaneidade


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histricos e estrias ou contos (lgoi), que ele especifica como de Esopo ou
da Lbia.
8
importante termos em mente que os oradores usavam mitos
como suporte de seus argumentos em discusses pblicas. Isso nos lembra
a funo dos mitos de sano legal.
importante salientar a preponderncia do discurso oral na Grcia.
Os mitos eram recitados e isso significa que todas as caractersticas do
discurso oral devem ser levadas em conta quando quremos descobrir o
valor dos mitos na Grcia Clssica.
Antes de entrar para a terceira parte desta apresentao, isto , falar
sobre os mitos em Plato mesmo, queria apenas comentar certo emaranhado
de questes que no estou levantando e que seria importante para dar
clareza ao assunto. Falar de mito em Plato no algo to simples como se
pensa. Em primeiro lugar, por Plato mesmo ter uma relao muito ambgua
com esse termo, certas coisas que ele chamara com a sua palavra mythos,
ns no qualificariamos com o nosso termo mito: esses dois termos, mythos
e mito no so sinnimos. Mythos em Plato pode ser qualquer histria, at
mesmo um sistema supostamente racional para descrever um acontecimento
fsico ou biolgico, como Plato descreve o ato de olhar no Teeteto. Qualificar
exatamente a noo de mythos para Plato nos demandaria certo tempo
desnecessrio para a presente comunicao. No entanto, bem claro que
em alguns dilogos, mythos aparece contraposta noo de logos. No
entanto, para a anlise que segue, basta ter em mente uma noo intuitiva,
quase que inconsciente da palavra mito: contar uma histria para explicar ou
apresentar determinada realidade.
Em Plato, eu quero apresentar certas passagens da Repblica onde
ele trata do poder de persuaso que tm os mitos. O meu interesse achar

8
Edmund, introduo, p. 10.
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em Plato aquilo que me descreva a situao emocional e existencial da
pessoa que ouve o relato. Quero apresentar para vocs o efeito que os
mitos tm no momento de sua transmisso.
Uma das passagens mais marcantes sobre mitos e seu efeito no
ouvinte quando Plato apresenta a educao primria dos guardies da
Repblica (especialmente a parte da msica , II 376e III 412b.) Vou
situar a passagem. Procurando pela justia no homem, Scrates resolve
procur-la em algo maior, no cidade, sendo esta da mesma forma que o
homem . Apesar de a verdadeira cidade ser aquela que ele constri
primeiro, ele abandona essa e continua a descrever a cidadde luxuosa. Ele
chega ao ponto onde a cidade ir precisar de guardies. Ele primeiro
descreve o temperamento destes guardies e ento prossegue a descrever
qual deveria ser a educao perfeita para eles. Socrates comea
9
dizendo
que eles (Socrates e Adeimantos), como fazendo estrias (en mythi
mythologountes), iro descrever em discursos (lgos) qual a educao
que os guardies iro ter. Aqui temos o exemplo de como a palavra
mythos tem em Plato um poder de autoridade e de validade como
discurso sobre as coisas, apesar de tambm conferir um certo tom de
distanciamento de um rigor epistmico.
Scrates ento prescreve para os guardies a educao tradicional
na grcia clssica. Ela era composta por ginstica para o corpo e musik
para a alma. A educao deveria comear com mousik e ento ir para
ginstica. Scrates ento vai tratar das duas separadamente tentando
precisar ainda mais que tipo de educao o guardio precisa. Seria errneo
dizer que o sentido de mousik bem traduzido pela nossa palavra
msica. A palavra mousik, falando estritamente, qualquer arte sobre a

9
376d9-10
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qual a Musa presidir, especialmente msica junto com poesia lrica.
Dependendo do contexto, pode querer dizer tocar a lira, msica, poesia,
letras, cultura e at mesmo filosofia. A idia de mousiknesta passagem a
mais vasta, incluindo poesia necessariamente, pois imediatamente depois ele
estabelece que em mousik sempre h lgos (mythos includo nesse
lgos). Ao falar que a mousik importante para a educao dos
guardies, que sero o grupo da onde nascero os filsofos, ele est falando
eminentemente sobre as histrias que se cantam nessa mousik, mas
tambm se refere ao rtimo e a melodia que acompanham esses mythoi.
Descrevendo, ento, que tipo de lgos esse da mousik,
Scrates diz que existem dois tipos de lgos: um verdadeiro e o outro
falso. Os falsos so os mitos que ... como um todo so falsos, mas h
alguma verdade neles tambm.
10
Acredito que aqui temos uma importante
passagem sobre o que so mitos para Plato. Qual exatamente o sentido
dessa passagem? Scrates mesmo nos explica onde est a falsidade e
onde a verdade das histrias na mousik. Podemos afirmar que os mitos
moldam as almas de tal forma que elas produzem um bom comportamento.
Apesar do contedo expresso pelos mitos no apresentar a realidade, o
produto de sua enunciao benfico para aquele que o ouve
11
, e desta
forma pode-se dizer que eles contm alguma verdade. A noo de verdade
aqui no pode ser uma de correlao entre linguagem e realidade, mas sim
de funcionalidade. Ao falar que mitos tm alguma verdade, Scrates quer
mostrar que atravs de mitos ns podemos alcanar resultados corretos, e
se esses resultados forem a inteno primeira de os ter produzido, ento os

10
377a5-6.
11
Ver sobre o uso dos discursos falsos como remdios, as mentiras boas: Repblica 382d,
389b, 414c, 415a.
Marcus Reis Pinheiro


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mitos seriam corretos ou verdadeiros. Isso nos lembra a funo de
sancionar legalmente, como em um alvar, funo que j tratamos um
pouco. Como os mitos so o modo atravs do qual se valida um
determinado hbito ou costume, muito natural esperar que Plato tambm
os use para validar o comportamento que ele pensa ser o correto. Que os
mitos tm essa tarefa de implantar um comportamento claro na
Repblica
12
mas eu gostaria de sublinhar a forma que eles fazem isto. O
ponto que trataremos agora exatamente sobre o modo como o relato
mtico coloca a alma em determinada condio.
Continuando a passagem sobre a primeira educao dos guardies,
Scrates continua, Voc no sabe que o princpio de toda obra o mais
importante, especialmente para algum jovem e gentil? Pois ento que
mais ainda um tipo (typos) moldado e colocado sobre ele, qualquer tipo
que se queira imprimir em cada jovem.
13
Aqui temos ento a imgam que
me interessa: a imagem da impresso de moldes, de esculpir formas, que
se torna um lugar comum como descrevendo a aquisio do
conhecimento
14
. O que Scrates descreve aqui que um typos especfico
moldado na alma atravs de ouvir mitos quando se pequeno. O sentido
primeiro desta palavra, typos, de um golpe para produzir uma impresso
especfica, exatamente como em uma mquina tipogrfica ao se imprimir
jornais. A palavra para moldar, platto, tambm est relacionada com a
imagem de escultura, pois ela descreve exatamente a ao de se forjar ou

12
Acredito que o tratamento que Plato d a boa mentira em 414c ff. exemplifica que mitos
(nesta passagem trata-se do homem de metal) so um importante meio de se garantir um
comportamento.
13
377b, OC+)4C _C+ - 4E+4] OC+44]4C) gC)
]-4+]4C) 44+OE>- E" C 4)> pE4+4C)
]O+COC) ]gC+4
14
Teeteto, 191d, e o uso estico da impresso na alma.
Formas de interpretar mito em Plato e na contemporaneidade


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esculpir uma forma em algo
15
. Mais a frente, Scrates continua: E ns
persuadiremos as mes e as amas-seca a contar para as crianas e a
moldar (plattein) as almas delas com mitos muito mais do que seus corpos
com as mos. Ento os mitos tm essa habilidade de esculpir uma forma
em uma alma. Ele tambm usa o verbo enduo que tem o sentido de
colocar sobre, vestir roupa, como para cobr-lo com pano ou vestimenta. E
por fim ele usa o verbo ensemaino que designa o ato de colocar um selo
ou uma marca em algo, derivando a noo de dar notcia de algo. Este
ultimo verbo, ensemaino, formado pelo prefixo en que quer dizer em e
pelo verbo semaino que quer dizer indicar, significar, dar um signo.
Scrates est aqui assumindo que a alma algo que pode ter
diferentes formas, e que tem uma habilidade plstica de se moldar a si
mesma atravs de influncias, e especialmente quando ela jovem. A
persuaso de mythos uma que afeta a forma da alma e esta forma a
causa principal de suas aes. A idia aqui que a alma age de acordo
com o typos ou forma na qual ela foi posta desde sua infncia. Ento
poderiamos interpretar a verdade que h no mito como o poder de moldar a
alma no modo correto.
Assim, acredito que delineamos uma forma bastante clara de
entender a funo dos mitos nos dilogos platnicos: eles tm a funo de
moldar a alma de quem os l ou ouve, para que a correta forma ou typos
seja impressa em sua alma e assim ajam apropriadamente.

15
Desta palavra, platto, temos o nosso plstico indicando a capacidade de se moldar em
algo.

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