Este documento apresenta um estudo inicial sobre a vida e obra do arquiteto mineiro Sylvio de Vasconcellos. Descende de tradicional família mineira e exerceu papéis importantes no meio intelectual de Minas como arquiteto, urbanista, professor e crítico. Seu trabalho arquitetônico é importante para entender a produção modernista no estado. O texto propõe o tombamento de conjuntos de suas obras para proteger e preservar sua contribuição.
Este documento apresenta um estudo inicial sobre a vida e obra do arquiteto mineiro Sylvio de Vasconcellos. Descende de tradicional família mineira e exerceu papéis importantes no meio intelectual de Minas como arquiteto, urbanista, professor e crítico. Seu trabalho arquitetônico é importante para entender a produção modernista no estado. O texto propõe o tombamento de conjuntos de suas obras para proteger e preservar sua contribuição.
Este documento apresenta um estudo inicial sobre a vida e obra do arquiteto mineiro Sylvio de Vasconcellos. Descende de tradicional família mineira e exerceu papéis importantes no meio intelectual de Minas como arquiteto, urbanista, professor e crítico. Seu trabalho arquitetônico é importante para entender a produção modernista no estado. O texto propõe o tombamento de conjuntos de suas obras para proteger e preservar sua contribuição.
Este documento apresenta um estudo inicial sobre a vida e obra do arquiteto mineiro Sylvio de Vasconcellos. Descende de tradicional família mineira e exerceu papéis importantes no meio intelectual de Minas como arquiteto, urbanista, professor e crítico. Seu trabalho arquitetônico é importante para entender a produção modernista no estado. O texto propõe o tombamento de conjuntos de suas obras para proteger e preservar sua contribuição.
Em reunio ordinria, realizada em 28 de junho de 2006, o Conselho Deliberativo do Patrimnio Cultural do Municpio de Belo Horizonte CDPCM/BH deliberou pelo tombamento do bem cultural localizado na Rua Bueno Brando, n 84, pertencente ao Conjunto Urbano Bairro Floresta, cuja autoria do projeto arquitetnico pertence a Sylvio de Vasconcellos. Nesta mesma ocasio, o CDPCM/BH solicitou abertura de estudo do conjunto da obra deste renomado arquiteto mineiro.
O presente texto apresenta um estudo inicial acerca da vida e obra de Sylvio de Vasconcellos com o intuito de desvelar a importncia da sua atuao no meio intelectual mineiro e da sua produo arquitetnica, fornecendo subsdios para a proteo do conjunto de obras aqui elencado. Estas obras foram inventariadas e seu grau de proteo indicado pela equipe tcnica para anlise e deliberao do CDPCM/BH.
A identificao inicial das edificaes projetadas por Sylvio de Vasconcellos partiu do projeto de pesquisa Arquitetura Modernista de Minas Gerais via Web, CD e DVD etapa I coordenado pela professora e arquiteta Maria Lcia Malard e de listagem gentilmente fornecida pelo professor e arquiteto Renato Czar Jos Souza. Trata-se, portanto, de estudo em aberto, tendo em vista a possibilidade de ser acrescido de novas informaes referentes obra do arquiteto.
Este dossi de tombamento referente ao Conjunto Arquitetnico Sylvio de Vasconcellos n 01-0581124-07-04. A este processo sero apensos, posteriormente, os dossis de tombamento das edificaes indicadas pelo CDPCM/BH para o primeiro grau de proteo.
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A poltica de proteo em Belo Horizonte e o conceito de patrimnio no planejamento urbano
As cidades so sistemas vivos, espaos em constante construo. Este dinamismo experimentado e transformado por aqueles que habitam os espaos urbanos: os cidados so as razes das cidades. A histria da cidade se constitui de suas permanncias e mudanas, da afetividade e dos smbolos construdos e apreendidos pelos cidados. Estes smbolos, segundo Aldo Rossi, se constituem em verdadeiros ns de significao, e seriam elementos que sintetizam e encerram contedos de construo coletiva de grande importncia para uma sociedade. A cidade pode ser, ento, entendida como lugar privilegiado onde as manifestaes do cotidiano de seus habitantes compem a multiplicidade de seus espaos.
Mas, tambm diante dessa complexidade que se encontra o desafio de gesto desses espaos plurais e de como garantir a qualidade de vida desses lugares da coletividade. Nesse sentido, a preservao do patrimnio histrico, enquanto poltica pblica setorial, assume cada vez mais um papel legitimador no processo da apropriao pelos cidados dos espaos da cidade, sua paisagem, caminhos e smbolos, considerando todas as diversidades e divergncias presentes na dinmica urbana. Assim, preservar o patrimnio uma das vertentes do planejamento urbano. No se trata de uma ao pontual, e sim de aes integradas com os diversos setores da administrao municipal e com a prpria comunidade. Deve- se entender como ao planejadora, uma viso articulada e integrada dos diversos aspectos que interferem na conformao urbana. Tem-se como parmetro primeiro esta viso articulada, a dimenso temporal, ou seja, a noo de que as aes humanas se realizam determinadas por um conjunto de valores vigentes em dados momentos histricos 6 que as contextualizam. Trata-se, portanto, de articular passado, presente e futuro com vistas a uma harmonizao, mesmo que atravs da diversidade, e ao estabelecimento de um dilogo entre passado e presente. Nesse mundo globalizado, onde as cidades se inserem numa extensa rede mundial de comunicao e de mercado, como a teoria dos vasos comunicantes da fsica, existe uma tendncia homogeneizao em todos os nveis, inclusive o da cultura. preciso garantir o vnculo entre passado e presente, pois a partir dele que se estabelecero as identidades relativas quele espao, quele tempo e quela comunidade, ou seja, sero mantidas e respeitadas as especificidades de um lugar, onde a construo do novo se dar tendo como lastro a sua herana do passado. Essa viso, incorporada ao planejadora da administrao municipal, permite que um dos aspectos da cultura, concretizado e realizado no espao da cidade, adquira a importncia que lhe devida no trato da coisa pblica. No Plano Diretor de Belo Horizonte, em captulo que trata de seus objetivos estratgicos para a promoo do desenvolvimento urbano, prev-se a criao de condies para preservar a paisagem urbana e a adoo de medidas para tratamento adequado do patrimnio cultural do Municpio, tendo em vista sua proteo, preservao e recuperao.
Hoje, a poltica de proteo dos bens culturais em Belo Horizonte tem como um de seus fundamentos os conjuntos urbanos, que so reas da cidade definidas com o objetivo de se proteger espaos especficos, denominados espaos polarizadores, onde so encontradas ambincias, edificaes ou mesmo conjunto de edificaes que apresentam expressivo significado histrico e cultural. Alm desses conjuntos existem edificaes que caracterizam conjuntos arquitetnicos, como o caso do Conjunto Arquitetnico de Tipologia de Influncia da Comisso Construtora da Nova 7 Capital e o estudo que se apresenta agora: Conjunto Arquitetnico Sylvio de Vasconcellos. Neste caso, o enfoque a edificao em si, embora em muitos casos haja um conjunto de edificaes do mesmo arquiteto que conformam um conjunto, o que fortalece a sua importncia. 8 Sylvio de Vasconcellos
Sylvio de Vasconcellos nasceu na Capital mineira, em 14 de outubro de 1916, no seio de uma das famlias mais tradicionais de Minas Gerais. Era filho de Salomo de Vasconcellos, funcionrio pblico e historiador diletante, e neto de Diogo Lus de Almeida Pereira de Vasconcellos (1843- 1927), deputado geral do Imprio e, j na repblica, presidente da cmara de vereadores de Ouro Preto. Este ltimo foi tambm historiador, atividade esta que lhe rendeu lugar de renome na sociedade mineira. Suas principais obras Histria antiga de Minas Gerais (1904) e Histria mdia de Minas Gerais (1918) so, at os dias de hoje, riqussimas fontes de informao sobre o processo de formao e desenvolvimento da capitania de Minas Gerais. Seus estudos sobre a histria mineira levaram-no at o Instituto Histrico e Geogrfico de Minas Gerias e a Academia Mineira de Letras, instituies das quais foi membro atuante. Diogo era, por sua vez, sobrinho neto de Bernardo Pereira de Vasconcellos (1795-1850), deputado e senador durante os anos da monarquia e um dos principais fundadores do Imprio do Brasil. Dessa maneira, a famlia Vasconcellos, seja na poltica, seja na produo 9 intelectual, vem, desde o incio do sculo XIX, desempenhando papis de destaque na cena pblica mineira.
Sylvio de Vasconcellos no interromperia essa tradio. Ao contrrio, solidificou-a na medida em que exerceu de maneira dinmica uma srie de atividades culturais que acabaram por elev-lo condio de figura pblica em Minas Gerais. De modo que no poderamos classific-lo dentro de uma categoria profissional nica: foi arquiteto, urbanista, professor, crtico de arte, estudioso da arquitetura mineira, cronista e gestor do patrimnio histrico mineiro. Foi sem dvida, um homem de mltiplas faces. 10 O aluno e o professor
Formatura de Sylvio no curso de Urbanismo recebendo medalha de ouro do paraninfo Juscelino Kubitschek. Fonte: Revista AP, 1995, Ano 1, n 1.
A carreira de Sylvio de Vasconcellos confunde-se, em grande medida, com a prpria histria da Escola de Arquitetura. A trajetria de vida de um no se explica sem a compreenso histrica do outro, uma vez que ambos, escola e arquiteto, mantiveram uma profcua, ntima e duradoura relao de simbiose.
At a dcada de 1930, Belo Horizonte contava com pouqussimos profissionais de arquitetura, ficando os projetos a cargo de desenhistas e copistas que, em geral, baseavam-se nos modelos e padronizaes tipolgicas inspirados na Comisso Construtora da Nova Capital (OLIVEIRA, 2005). De modo que a criao da Escola de Arquitetura da Universidade de Minas Gerais, em 1930, foi um marco na histria da arquitetura belo-horizontina. A importncia dessa escola corroborada pelo fato de que, criada com o propsito de formao de profissionais engenheiros-arquitetos, ela foi a primeira a se organizar de forma autnoma em seu conhecimento estrito de arquitetura, j que, nesta poca, 11
Vista da Escola de Arquitetura da UFMG, dcada de 1950. Servio de fotodocumentao Sylvio de Vasconcellos.
existiam apenas cursos de arquitetura anexos a escolas de Engenharia ou de Belas Artes.
A Escola foi criada por iniciativa de um grupo de profissionais liderado por Luiz Signorelli, um dos arquitetos mais atuantes no cenrio da capital mineira da poca, e que se reuniu com o objetivo de organizar uma escola de formao de tcnicos de arquitetura e profissionais das artes auxiliares, quais sejam, decoradores, escultores e pintores (OLIVEIRA, 2005). A primeira gerao de professores apresentava uma forma de ensino tradicional, com pouca participao dos estudantes. Por outro lado, a formao oferecida pelos fundadores da escola era mais completa, tendo um carter mais humanstico. Foi este o ambiente freqentado por Sylvio de Vasconcellos ao entrar para a Escola de Arquitetura em 1940, compondo, portanto, uma das primeiras turmas de novos profissionais que mudariam a face da arquitetura mineira.
Antes de iniciar sua carreira universitria, Sylvio freqentou os bancos de tradicionais escolas mineiras: Jardim de Infncia Delfim Moreira, Grupo Escolar Afonso Pena, Colgio Arnaldo, Ginsio Mineiro (Barbacena), Ginsio Santo Antnio (So Joo Del Rei) e o Ginsio de Sete Lagoas. Foi somente 12 aos 24 anos que ele buscou a formao superior. Todavia, antes mesmo de ingressar na Escola de Arquitetura, Sylvio j demonstrava interesse pelas atividades desenvolvidas pelo profissional da arquitetura, encontrando-se, inclusive, j trabalhado no Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN) a convite de Rodrigo de Mello Franco de Andrade (BRASILEIRO, 2007:14).
Em 1944, Sylvio forma-se na Escola de Arquitetura, obtendo uma medalha de ouro pelas mdias excepcionais atingidas. Esse contexto em que comea, efetivamente, sua vida profissional foi extremamente profcuo ao desenvolvimento da arquitetura moderna, principalmente aps a passagem de Le Corbusier pelo Brasil. O modernismo consolidava-se tambm em Belo Horizonte sob o incentivo de Juscelino Kubitschek, determinado a transformar a metrpole em cidade moderna.
Em 1942, com o conjunto arquitetnico da Pampulha, projetado por Oscar Niemeyer, o modernismo instalava-se em Belo Horizonte. A Pampulha foi um marco importante porque foi o primeiro projeto de arquitetura moderna to ousado, no mundo, a ser financiado por um governo. Muito embora esse empreendimento modernista tenha causado polmicas entre a populao da cidade, os primeiros arquitetos formados pela Escola de Arquitetura tiveram-no como referncia para o desenvolvimento do seu trabalho, levando as propostas modernistas adiante. No por acaso, essa gerao de arquitetos imprimiria sua marca em Belo Horizonte em bairros como a Cidade Jardim, So Luiz e a Cidade Universitria da UFMG.
O perfil da escola de arquitetura comeou a mudar justamente quando estes primeiros alunos por ela formados retornaram instituio para lecionarem. Foram eles: Shakespeare Gomes, Raphael Hardy Filho, Eduardo Mendes 13 Guimares e Sylvio de Vasconcellos. Entre as duas geraes do corpo docente da escola os fundadores e os ex-alunos chegou a existir um conflito referente aos mtodos de ensino e ao posicionamento frente aos novos rumos da arquitetura. Enquanto os mais novos inclinaram-se para a arquitetura moderna, os antigos mantiveram-se fiis aos estilos j consolidados.
Foi durante este processo de transio e de adaptao da escola aos novos tempos que Sylvio de Vasconcellos entrou para o seu corpo docente, em 1948, lecionando Arquitetura no Brasil. Em 1952, concluiu o curso de urbanismo, adquirindo nova medalha de ouro. Essa nova formao permitiu-lhe um maior entrosamento com o mundo acadmico, o que o levou ao cargo de professor catedrtico da Escola de Arquitetura, em 1953, aos 37 anos, tendo como tema de sua tese, a arquitetura residencial em Ouro Preto.
Durante o tempo em que lecionou nesta instituio, Sylvio foi considerado um dos mais competentes professores. Ministrando a cadeira de Arquitetura no Brasil, ele incentivava os alunos a ler, pesquisar e debater no s os assuntos diretamente ligados ao tema da disciplina, como tambm quaisquer outros assuntos que se relacionassem a esses. Segundo relato do arquiteto e professor da Escola de Arquitetura, Ronaldo Masotti,
A cadeira de Arquitetura no Brasil abria um painel amplo e livre aos fundamentos da arquitetura e, no raro, era a oportunidade de os alunos questionarem toda a ortodoxia acadmica ministrada nas demais disciplinas. No demais afirmar que o professor, ento, conseguia uma atividade letiva de nvel realmente universitrio (OLIVEIRA, 2005).
Sylvio foi um dos primeiros professores da escola a inovar nos mtodos de avaliao. Enquanto a maioria dos docentes 14 limitava-se s provas escritas e orais, ele props trabalhos com temas livres e a elaborao de pequenas monografias.
BRASILEIRO (2007) destaca que, como acadmico, Sylvio de Vasconcellos exerceu tambm a atividade de pesquisa cuja metodologia e a temtica, voltada para o patrimnio histrico e as artes, adveio da influncia paterna. Inclusive, Sylvio chegou a colaborar, indiretamente, com o seu pai na elaborao da obra Igrejas de Mariana: pediu-me meu pai que o ajudasse com o negcio de procuraes. Estava cansado delas e queria dedicar-se a pesquisas histricas sobre a Mariana e sua infncia e seus antepassados (Citado por BRASILEIRO, 2007:13).
A atuao de Sylvio como docente da escola de arquitetura no se limitou, porm, s pesquisas e ao ensino. Diante do problema da carncia de livros-textos disponveis aos alunos, ele encabeou a criao do servio de fotodocumentao e da grfica na escola. Isto foi possvel a partir de 1960, quando assume o cargo de Supervisor da Seo de Pesquisas da Escola de Arquitetura, promovendo numerosas e significativas publicaes de grandes mestres como Lcio Costa e Edgar Graeff. Alm dos grandes nomes, a Escola de Arquitetura publicou tambm os livros escritos pelos professores e que serviram de base para o ensino das disciplinas, divulgando, desse modo, o conhecimento produzido na instituio. A grfica da escola, vale dizer, acabou no s resolvendo o problema de falta de material didtico para aos alunos, que dispunham to somente das anotaes feitas em sala de aula, como acabou ganhando notoriedade no meio acadmico brasileiro, em funo das obras publicadas (OLIVEIRA, 2005).
A dedicao de Sylvio para com a escola e os alunos acabou levando-o ao cargo de diretor da instituio entre 1963/64. Sua gesto foi marcada pelo desenvolvimento de inmeras 15 pesquisas e estudos sobre esttica e histria da arquitetura das cidades mineiras. No obstante toda essa atividade, sua permanncia no cargo foi bem curta, tendo sido interrompida pelo golpe militar de 1968.
Desde 1962, Sylvio de Vasconcellos, juntamente com diversos outros professores universitrios, como por exemplo, o seu colega na Escola de Arquitetura, Raphael Hardy Filho, encontravam-se sob investigao pelo DOPS (Departamento de Ordem Pblica e Social) debaixo da suspeita de esquerdismo. No caso especfico de Sylvio, essa suspeita foi alimentada por denuncia encaminhada pelo DOPS, em 4 de abril de 1964, e assinada pelo Diretrio Acadmico da Escola de Arquitetura. O exagero das acusaes feitas a Sylvio vale a transcrio desse documento:
Manifesto nao Considerando o momento histrico em que vivemos, o Diretrio Acadmico Democrata da Escola de Arquitetura da Universidade de Minas Gerais, recentemente empossado, sente-se no dever de denunciar nossa nao a participao efetiva da Diretoria dessa Escola, atravs de seu diretor, Sylvio de Vasconcellos, e vice-diretor, Joo Boltshauser, o processo de comunizao da escola, transformando-a numa clula de subverso, pactuando com elementos de agitao e at mesmo incentivando a ao nefasta desses elementos. Atestando este processo e procurando alertar as autoridades civis e militares responsveis pela ordem cvica do pas, alinharemos os fatos que evidenciamos: - fato notrio que o senhor diretor Sylvio de Vasconcellos e o vice-diretor Joo Boltshauser so tendenciosamente favorveis causas esquerdistas. - A colocao dos servios grficos da escola disposio do processo de comunizao (...) - Facilidades para distribuio, dentro do recinto da escola, entre os alunos, de publicaes comunistas (...) - Envio de alunos e instrutores a Cuba (...) H evidncias de desmandos administrativos e financeiros a merecerem um acurado exame. (...) Na noite de 31 de maro, alunos pregaram cartazes subversivos no hall do estabelecimento sob o estmulo do diretor Sylvio de Vasconcellos que sugeriu a colocao dos aludidos cartazes do lado de fora do prdio, afirmando haver a necessidade de incitar as massas, pois a escola j estava politizada. 16 Denunciamos esses fatos para conhecimento das autoridades civis e militares e fazemos um apelo a todos os democratas que cerrem fileiras. Diretrio Acadmico da Escola de Arquitetura da Universidade de Minas Gerais. Belo Horizonte, 4 de abril de 1964. (Arquivo do DOPS/ APM)
As acusaes imputadas a Sylvio de Vasconcellos carecem de comprovao e apresentam-se contaminadas com o clima anticomunista que gerou o golpe, clima este impregnado de teorias conspiratrias. Renato Rocha Lima, amigo ntimo de Sylvio e responsvel pela construo de vrias casas por ele projetadas, afirma que durante as vrias dcadas em que conviveram, o amigo nunca se envolveu com questes poltico-partidrias 1 . tambm Rocha Lima quem afirma saber a origem das acusaes lanadas contra Sylvio. Segundo ele, as acusaes de esquerdismo foram feitas por um professor da Escola de Arquitetura que se aproveitou do clima de perseguio para afastar Sylvio da academia. Corrobora esta hiptese o relato da professora da Escola de Arquitetura, Celina Borges, segundo a qual invejosos e falsos amigos o denunciaram como pessoa perigosa para os rumos da nao. Na verdade, era proibido ser to brilhante na poca (OLIVEIRA, 2005).
Como conseqncia das denncias levantadas contra Sylvio, este foi afastado de suas funes. O inqurito militar aberto contra ele e publicado no Dirio de Justia era constitudo pelas seguintes acusaes:
Facilitou, acompanhou, permitiu, tomou parte, consciente e deliberadamente, em todas as atividades comunizantes ou cubanizantes dentro e fora da Escola que dirigia, tentando mudar a ordem poltica e social estabelecida na constituio e a tomada de poder (...) cartazes que ofereciam aulas de marxismo, tambm ostensivamente; duas vezes por semana, pelo menos, os favelados de Belo Horizonte iam para a sua Escola, para se doutrinarem com a pregao revolucionria, de origem espria e estrangeira; tocavam-se discos cubanos, com hinos e discursos de Fidel. (OLIVEIRA, 2005).
1 Entrevista realizada com Renato Rocha Lima pela equipe da GEPH, em 6 de dezembro de 2007. 17
Enquanto esteve afastado da universidade, Sylvio permaneceu no Chile, lecionando na universidade daquele pas. Aps ter sido absorvido do Inqurito Policial, ele retomou suas atividades na Escola de Arquitetura. Este retorno, porm, mostrou-se extremamente breve. Em 1969, por ocasio da promulgao do Ato Institucional n 5, Sylvio de Vasconcellos foi aposentado compulsoriamente. A Escola de Arquitetura perdia, assim, um de seus mais brilhantes professores. Sua perda, porm, no ficou limitada a Sylvio. Grande parte da estrutura de ensino nela montada acabou sendo desmontada por ocasio da interveno militar em 1964.
Esse golpe lanado sobre o arquiteto, obrigado a separar-se da instituio qual se dedicara com afinco por anos, levou-o a optar pelo auto-exlio. Foi para os Estados Unidos, l permanecendo at 1979, data do seu falecimento.
18 O intelectual
Sylvio com alguns alunos em Ouro Preto. Fonte: Revista AP, 1995, Ano 1, n 1.
A face intelectual de Sylvio de Vasconcellos eclodiu num momento em que no havia muitos arquitetos escrevendo sobre o que pensam e o que fazem. Segundo SOUZA (1995:115), poucos so os arquitetos que tero deixado por escrito seus pensamentos, inquietaes e metodologias de abordagem dos problemas de arquitetura e Sylvio foi um deles. De modo que o conjunto de livros, crnicas e artigos publicados por Sylvio oferecem-nos, no s um acurado estudo sobre a arquitetura e o modo de viver mineiro, como permitem-nos refazer o caminho terico que norteou seu trabalho como arquiteto. Nas palavras de SOUZA, os escritos de Sylvio permitem-nos estabelecer ainda que empiricamente, uma comparao entre inteno e realizao, ou seja, entre ideais arquitetnicos e obras construda (1995:116).
A trajetria intelectual de Sylvio de Vasconcellos iniciou-se ainda em fins dos anos 40, tendo se estendido at a dcada de 70, quando o arquiteto encontrava-se, ento, exilado. Sua obra terica caracteriza-se pela diversidade e amplitude de temas tratados, indo da crtica de arte crnica esportiva. Sua produo pode, assim, ser distribuda em vrias categorias: 19 textos de histria da arte, da arquitetura e do urbanismo nos quais ele compe um quadro evolutivo da arquitetura mineira, particularmente, da setecentista; crticas e manifestos por meio dos quais Sylvio expe os conceitos modernos que fundamentaram sua obra, criticando o fazer arquitetnico; crnicas sobre o cotidiano da cidade e textos sobre o patrimnio.
Os trabalhos de histria da arte, da arquitetura e do urbanismo de Sylvio de Vasconcellos constituem um dos conjuntos mais notveis de sua produo. Os estudos acerca da arquitetura religiosa barroca no Brasil e as particularidades da arquitetura setecentista mineira foram realizados, de maneira pioneira, por crticos do perodo moderno brasileiro, como Lcio Costa, Paulo Santos, Lourival Gomes Machado e Sylvio de Vasconcellos. Porm, foi sobretudo na obra desse ltimo que as idias sobre o universo do sculo XVIII mineiro encontraram as melhores contribuies do ponto de vista crtico e reflexivo. Segundo DANGELO (2006), a produo de Sylvio conseguiu uma sntese conceitualmente bem amarrada entre a cultura colonial, arquitetura e cidade ainda no atingida por pesquisas anteriores sua obra. Reafirmando sua vinculao s razes modernistas, ele trabalha tambm a defesa da originalidade do barroco mineiro, caracterizado como um episdio particularizado dentro da arte colonial brasileira. Tambm, em seu trabalho como pesquisador inaugura quase que pioneiramente um mtodo baseado em investigaes arquivsticas e no estudo das referncias bibliogrficas mais importantes sobre a histria das Minas Gerais (DANGELO, 2006:113).
20
Habitao trrea caracterstica da arquitetura colonial mineira. Fonte: Arquitetura Dois Estudos. Acompanhando a trajetria intelectual de Sylvio, DANGELO (2006) identifica a Arquitetura particular de Vila Rica, escrita em 1951 como tese para o concurso ctedra de Arquitetura Brasileira na Universidade de Minas Gerias, como sendo sua primeira obra significativa, tendo sido posteriormente publicada com o ttulo Vila Rica. Formao e Desenvolvimento. Neste trabalho, o arquiteto inicia sua trajetria investigativa referente evoluo da cidade colonial mineira e s particularidades de sua arquitetura. Sua idia era mostrar como as cidades coloniais surgiram a partir da existncia de um caminho principal chamado de estrada- tronco, e das conurbaes sucessivas que ocorreram, o que explicaria o modelo urbano das cidades mineiras.
Sylvio trabalha tambm nesta obra a tese de que no seria verdadeiro classificar como plenamente autnticas a arquitetura brasileira ou mineira, uma vez que seriam oriundas da adaptao da arquitetura reinol, transposta para a colnia. Todavia, DANGELO observa que no decorrer do texto, o autor acaba enveredando-se em um discurso diferente, tendendo a demonstrar o valor e a autonomia da arte mineira no universo cultural brasileiro (2006:114). Com base nas particularidades sociais e econmicas que produziriam o fenmeno da arte mineira, Sylvio defende que a nossa arquitetura, adaptando-se s dificuldades impostas pelo ambiente hostil e pelo isolamento geogrfico, acabou construindo, com um carter original, suas realizaes arquitetnicas. 21
Contudo, ser em Arquitetura Colonial Mineira que Sylvio tratar mais diretamente de questes ligadas arquitetura, discutindo os modelos civis e religiosos da arquitetura do perodo colonial em Minas Gerais. A anlise promovida por este texto buscou reunir a interpretao funcional modernista para a arquitetura civil descrio tipolgica e plstica para entender a evoluo da arquitetura religiosa mineira. Deixando-se influenciar pelos parmetros racionalistas, Sylvio compara a arquitetura domstica mineira com os ideais da racionalidade modernista vigente no perodo da produo dos seus textos.
Segundo DANGELO, o arquiteto chega a uma concluso geral no tocante ao fenmeno arquitetnico mineiro: o processo de construo das igrejas e a evoluo do partido arquitetnico so fruto das relaes sociais que regeram o processo de implantao da igreja mineira nas suas diversas fases. De modo que os estudos da arquitetura setecentista mineira interessariam no s arte, como tambm s cincias sociais e econmicas (2006:115).
Ainda dentro do conjunto de obras relativas a histria da arquitetura, destacam-se outras produes. Em Arquitetura no Brasil: sistemas construtivos, Sylvio apresenta uma anlise nica dos processos construtivos na poca colonial mineira, esclarecendo sua feitura. Este trabalho, segundo Celina Borges, tornou-se um verdadeiro manual para os que se dedicam a trabalhos de restaurao dos monumentos mineiros (VASCONCELLOS, 1983:13). Destacam-se ainda, na referida categoria, as seguintes publicaes de Sylvio: Arquitetura. Dois Estudos, que trata da teoria da arquitetura, bem como da arquitetura colonial mineira; Noes sobre Arquitetura, constituda por vrios artigos publicados na imprensa mineira sobre temas ligados arquitetura e Capela 22 Nossa Senhora do que realiza um levantamento sobre a capelinha de Sabar.
Analisando vrios estudos acerca da arquitetura setecentista mineira, DANGELO conclui que definitivamente, foi Sylvio de Vasconcellos o que mais contribuiu para o desenvolvimento de uma metodologia de anlise mais pertinente sobre as bases da cultura arquitetnica em Minas Gerais no sculo XVIII, avano inclusive sobre um processo de anlise esttica amadurecida (2006: 120).
Segundo BRASILEIRO (2007), foi por meio das crnicas e artigos de jornal publicados no Estado de Minas que a atuao pblica de Sylvio de Vasconcellos alcanou dimenso mais significativa. Nestes textos, Sylvio, por meio de uma linguagem mais simplificada, dialoga com o pblico leigo, mais amplo, rompendo com o universo fechado da academia. Para SOUZA (1995), estes textos tinham a finalidade de chamar a ateno para problemas da arquitetura pouco considerados pelo homem do povo. A temtica discutida, porm, no se restringiu arquitetura. Ao contrrio, mostrou- se ampla, abarcando todas as dimenses do humano: paixes, medos, relaes de trabalho, os modos de viver mineiro, os modos de viver americano. No por acaso, os textos de Sylvio ganharam a ateno e o apreo de muitos belo-horizontinos, de modo que habituaram-se a falar de seus escritos, saudando-se com a mesma pergunta: j leu o Sylvio hoje? (VASCONCELOS, 19-).
Os artigos publicados na imprensa, j quando Sylvio encontrava-se no exlio, foram reunidos no livro Noes sobre Arquitetura. J em Crnicas do Exlio, publicao pstuma, ele trata de diversos aspectos da vida americana e de suas lembranas de Minas e do Brasil.
23 Analisando esta categoria de publicao de Sylvio, SOUZA (1995) afirma que grande parte dos seus artigos possui importncia direta e definidora na anlise da obra arquitetnica daquele arquiteto. Esta afirmao comprovada por meio da anlise de um artigo chamado A Famlia Mineira e a Arquitetura Contempornea. Neste texto, Sylvio insiste na idia de que a arquitetura geradora de modo de vida. Portanto, se a arquitetura residencial se modifica, mudam tambm os hbitos familiares. Exemplificando essa afirmao, ele demonstra como, em Belo Horizonte, ocorreram grandes alteraes na rotina da cidade e nas suas prticas de sociabilidade como conseqncia direta da construo da Pampulha.
Finalmente, deve-se lembrar aqui a faceta de Sylvio como crtico da produo arquitetnica contempornea a ele. O estudo da arte colonial mineira tornou-se importante fonte de inspirao para que ele elaborasse seus escritos de crtica arquitetura ento realizada em Belo Horizonte e no Brasil, bem como para a elaborao de seu iderio modernista e de seus projetos arquitetnicos. Nas palavras de SOUZA: todas essas boas influncias do passado e o que elas continham de sugesto, Sylvio soube traduzir nos seus projetos (1995:115). Os textos que tratam de crtica arquitetnica, e que expressam os preceitos modernistas de Sylvio, encontram-se distribudos em vrios livros e artigos. A leitura dessas obras demonstra o descontentamento de Sylvio para com a arquitetura que fora desenvolvida em Belo Horizonte, desde sua criao at os anos de 1950. Para ele, tratava-se de uma enxurrada de elementos e estilemas retirados do passado, muitas vezes conjugados aleatoriamente, segundo o sabor popular (BRASILEIRO, 2007:2). O neocolonial, por exemplo, manifestao arquitetnica tpica dos anos 20 e 30 da capital mineira, era visto pelo arquiteto como uma apropriao anacrnica e descontextualizada de chafarizes, janelas e 24 varandas, inspiradas nas igrejas coloniais e reaproveitadas na arquitetura residencial. De modo que, somente passado o delrio ecltico, Sylvio acredita ser possvel resgatar a verdade arquitetnica, como se as expresses de fins do sculo XIX e incio do sculo XX no passassem de um hiato entre o colonial e o modernismo (BRASILEIRO, 2007:3).
Contrapondo-se arquitetura acima citada, Sylvio percebe na casa colonial mineira, com toda a sua rusticidade, um verdadeiro exemplo de arquitetura: Eis a nossa arquitetura tradicional domstica. Funcionalmente caracterizando pela boa distribuio das composies claras e limpas, definidas, bem molduradas e rtmicas (VASCONCELLOS, 1960:44). De modo que, o mais simples dos espaos arquitetnicos abriu caminho para o racionalismo abraado pelos modernistas: estes tipos com seus esteios de pouca seco, os cheios jogando bem com os vazios, faz lembrar perfeitamente as solues de nossa arquitetura moderna. A pureza, a franqueza das solues so as mesmas, o mesmo esprito (Citado por BRASILEIRO, 2007:8).
Ao sobrepor temporalidades, Sylvio de Vasconcellos emergiu como um dos maiores defensores da aproximao modernista com a mineiridade colonial, representada, dentre outras obras, pelo Grande Hotel de Ouro Preto (1938), o Clube Diamantina (1950), Escola Jlia Kubitschek (1951) e o Hotel Tijuco (1951-53). Ele acreditava que
Assim como nas Minas, o barroco mineiro se casaria com o iluminismo cartesiano para ensejar uma arquitetura local peculiar, agora o rigorosismo funcionalista courbusiano se casaria com a desenvoltura imaginosa nacional para buscar a mesma autenticidade local que havia constitudo a glria de Antnio Francisco Lisboa. (VASCONCELLOS, 1968:165)
Da passagem acima depreende-se que Sylvio de Vasconcellos, ao acompanhar todo o crescimento da arquitetura modernista no Brasil, acreditava que havamos alcanado o mesmo 25 sucesso do barroco mineiro. MENDONA e MALARD (2005) ressaltam que, no momento em que a arquitetura moderna era criticada como sendo ultrapassada, Sylvio j antecipava o que hoje vem sendo discutido a respeito do valor simblico- nacional da arquitetura brasileira e o seu carter inovador, desde seu incio na dcada de 20 at 60.
Os artigos de Sylvio demonstram tambm o momento de orientao funcionalista daquele pensador da arquitetura. Para BRASILEIRO (2007), o artigo Como saber se sua casa boa ou ruim reflete claramente a inteno catequtica de Sylvio que prescrevia os elementos da boa e moderna residncia. Esta deveria contemplar os aspectos funcionais desde a implantao sobre o terreno at a posio do mobilirio nos cmodos. Com tempo, todavia, as anlises crticas realizadas por Sylvio indicam uma reviso na concepo funcionalista da casa e uma aproximao aos princpios organicistas.
A mudana de Sylvio de Vasconcellos para os Estados Unidos permitiu-lhe tambm rever as crticas que antes fizera ao ecletismo, questionando, inclusive, a ausncia de proteo dos imveis pertencentes a este estilo: (...) onde esto as construes dos sculos XIX e XX? Que houve no Brasil neste perodo que no deixou pegada? Por que estranha razo sobreviveram os conjuntos coloniais e desapareceram todos os traos materiais dos sculos dezenove e vinte? Muito mais coisas se realizaram no Brasil, de capital importncia para o futuro entre 1800 e 1950 do que nos trs sculos anteriores. No entanto, babamos com o nosso barroco, persistimos em construir casas coloniais e nenhuma ateno concedemos ao perodo de nosso Imprio e Repblica. Nos Estados Unidos, qualquer conjunto de casas com mais de cinqenta anos de idade j olhado com respeito. Mesmo que no inclua elementos de importncia arquitetnica. O que importa o conjunto, o aspecto geral, o testemunho de uma vida e tempo desaparecidos. 26 Quando chegar o ano dois mil o Brasil ter diante de si esta coisa estranha: cidades coloniais de um lado, e cidades moderninhas por outro. Nada no meio. Ento os brasileiros se perguntaro assustados: onde est a arquitetura que esteve aqui? (VASCONCELLOS, 1974)
Esse processo de amadurecimento da crtica arquitetnica, assim como do fazer arquitetnico de Sylvio, podem ser melhor apreendidos atravs da leitura dos vrios artigos e livros por ele escritos. Segue abaixo a indicao de suas principais obras: Livros: - Vila Rica: Formao e Desenvolvimento. BH: Instituto Nacional do Livro, 1951. - Arquitetura no Brasileira .Sistemas Construtivos. BH: Editora Universitria, 1959. - Formao das Cidades da Regio Aurfera Brasileira. BH: Editora Universitria. - Minas, Cidades Barrocas. SP: Universidade de So Paulo, 1969. - Vocabulrio Arquitetnico. BH: Editora Universitria, 1961. - Mineiridade: ensaio de caracterizao. BH: Imprensa Oficial, 1968. - Arquitetura, dois temas. Porto Alegre: Instituto do Livro, 1960. - Notas Sobre Arquitetura. BH: Editora Universitria. - Arquitetura Colonial Mineira. BH: 1957. - Pinturas Mineiras e Outros Temas. - Vida e Obra de Antnio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. - Crnicas do Exlio. BH:[S.l.]: Littera Maciel, [19- ]. - Capela de Nossa Senhora do . Belo Horizonte, 1964. - Noes sobre Arquitetura. BH, 1968. - Arquitetura Dois Estudos. Goinia: MEC/SESU/PIMEG- ARQ/UCG, 1983.
27 Artigos - Contribuio para o estudo de arquitetura civil em Minas Gerais. Revista Arquitetura e Engenharia Jul/Ago 1946 n. 02 p. 30-35; Nov/Dez 1946 n. 03 p. 42-49; Mai/Jun 1947 n. 04 p. 34-38; Set/Out 1947 n. 05 p. 5 - O barroco no Brasil. Revista Amrica Jan/Ago 1974 n. 01-10 p. 48-64 - Sistemas Construtivos adotados na arquitetura do Brasil. Revista Arquitetura e Engenharia 1951 p. 01-53
- Notas sobre a arquitetura religiosa mineira. Revista Arquitetura e Engenharia Jul/Set 1951 n. 18 Ano: III p. 41-44 - Do Av ao neto a casa mineira mudou. Revista Minas Gerais Jul/Ago 1969 n. 02 Ano: I p. 50-53
- Como cresce Belo Horizonte? Revista Arquitetura e Engenharia Nov/Dez 1947 n. 06 p. 51-53
- Pequena apreciao, talvez injusta sobre Belo Horizonte. Revista Social Trabalhista 12 de dezembro de 19+47 p. 16-19
- Formao urbana do arraial do Tejuco. Revista do IPHAN. 1975 n. 18
- Arquitetura em Portugal. Revista Acrpole. Dez 1965 n. 324 p. 32-35
- Problema habitacional: cidades industriais. Revista Acrpole Ago 1966 n. 331 p. 42-44
- Inqurito nacional de Arquitetura. Revista Arquitetura e Engenharia Jan 1963 n. 7 p. 33-40
- Jos Pedro S, escultor mineiro. Revista Arquitetura e Engenharia Set/Out 1952 n. 23 p. 53-55
- Estrutura social e estrutura urbana. Revista Arquitetura Dez 1967 n. 66 p. 14-16
- Roteiro para o estudo do barroco em Minas Gerais. Revista Arquitetura Dez 1968 n. 78 p. 14-18
- O cotidiano: arte e arquitetura. Revista Arquitetura Jan 1966 n. 43 p. 25-26
- Urbanizao da Amrica Latina - Marginalizao. Revista Arquitetura Jun 1966 n. 48 p. 12-13
28 - Residncia em Belo Horizonte. Revista Arquitetura e Decorao Mar/Abr 1956 n. 16 Ano: III p. 41-44 - Silvio sempre presente: tempos de menino na cidade. Revista Pampulha Jul/Set 1980 n. 03 p. 44-45
- Aspectos em detalhes da arquitetura em Minas Gerais. Revista Arquitetura Dez 1964 n. 38
- A arquitetura colonial mineira. Revista Primeiro seminrio de estudos mineiros UFMG 1959
- Carta para a revista. Revista Arquitetura e Engenharia Nov/Dez 1955 n. 14
- Residncia. Revista Arquitetura e Engenharia Nov/Dez 1951 n. 37 p. 18-21
- Crtica de arte e arquitetura. Revista Arquitetura e Decorao, 1957, n. 40 Ano: I
A faceta intelectual de Sylvio no pode ser restringida sua produo bibliogrfica. Isto porque foi como intelectual que este arquiteto esteve frente de vrias instituies e de vrios projetos de pesquisa. Seu vasto e diversificado conhecimento foi responsvel por lev-lo presidncia do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), seo Minas Gerais, ao Instituto Histrico Geogrfico de Minas Gerias (IHG-MG), ao conselho e curadoria do Museu de Arte de So Paulo (MASP), Associao de Crticos de Arte do Brasil e da Associao Internacional de Crticos de Arte e Direo do Instituto Cultural Brasil- Estados Unidos (ICBEU). Entre 1964 e 1965 ele foi arquiteto-associado ao Servio de Planejamento Territorial da Frana. Em 1966, exerceu no Chile o cargo de Chefe da Unidade de Urbanismo do Centro de Desenvolvimento Econmico e Social para a Amrica Latina. Radicado nos Estados Unidos atuou entre 1971 e 1973 como Especialista em desenvolvimento urbano nas Organizaes dos Estados Americanos (OEA), em Washington e na Cidade do Mxico. Ainda na OEA, entre os anos de 1973 e 1977, desenvolveu diversos trabalhos como consultor para assuntos de cultura brasileira, preservao do patrimnio artstico e 29 histrico e desenvolvimento urbano. Em 1978, recebeu uma bolsa do U.S. National Endowment for the Umanities para estudo e verso par ao ingls de documentos selecionados do sculo XVIII mineiro.
De todas as instituies pelas quais Sylvio de Vasconcellos passou, foi, sem dvidas no Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional onde ele mais desenvolveu sua veia pesquisadora, encontrando o espao propcio para o aprimoramento de seus conhecimentos sobre a histria da arquitetura e do urbanismo mineiro. Sua longa experincia como gestor dessa instituio, merece, portanto, uma apresentao mais detalhada. 30 O Gestor
Posse de Sylvio como diretor da Escola de Arquitetura da UFMG. Fonte: Revista AP, 1995, Ano 1, n 1.
Sylvio de Vasconcellos, por indicao de Rodrigo de Mello Franco de Andrade, foi o primeiro superintendente do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional - Distrito de Minas Gerais. Sua longa trajetria nesta instituio, onde entrou como tcnico ainda antes de se tornar arquiteto, estende-se de 1939 a 1969, quando se exila nos Estados Unidos.
Sua atuao como superintendente do IPHAN/MG foi marcada, sobretudo, pela realizao do primeiro grande estudo do conjunto arquitetnico da cidade de Ouro Preto, levando a cabo os trabalhos de conservao e restaurao de bens culturais coloniais mineiros. Foi, portanto, durante os anos em que Sylvio de Vasconcellos esteve frente do IPHAN/MG que Outro Preto tornou-se, efetivamente, alvo de polticas pblicas em prol de sua preservao. Estas polticas pblicas, por sua vez, imprimiram em Ouro Preto, de maneira quase irreversvel, as marcas da concepo de patrimnio histrico defendida pelo IPHAN, no seu momento primeiro de existncia. 31
De modo que a maneira como as polticas de proteo na cidade de Ouro Preto foram encaminhadas por Sylvio de Vasconcellos contam, no s a histria da proteo de um dos maiores conjuntos de bens culturais do Brasil, como revela- nos os princpios e as naes acerca do que patrimnio e do que se deve preservar que nortearam os anos inicias do IPHAN.
As primeiras aes do IPHAN nos centros tombados, desde sua criao em 1937 at a dcada de 1960, trataram a cidade como expresso esttica. Esta atuao inicial refletiu nos critrios adotados para intervenes e obras novas e influencia at hoje as polticas preservacionistas e o entendimento que as comunidades urbanas tm sobre o valor das cidades como patrimnio.
No primeiro momento de atuao desta instituio, as cidades mineiras foram selecionadas pelos modernistas para o exerccio da busca da identidade nacional. Isto porque a arquitetura colonial era entendida como a primeira expresso autenticamente brasileira e, conforme j visto nos textos de Sylvio de Vasconcellos, fonte de inspirao para a arquitetura moderna. Foi neste contexto que Ouro Preto tornou-se patrimnio nacional e referncia de patrimnio histrico. Nesse processo, quase todas as referncias da evoluo da cidade posteriores ao sculo XVIII frontes, platibandas, elementos eclticos foram retiradas, uma vez que o colonial foi eleito como marca dessa nacionalidade e as novas edificaes deveriam diluir-se no conjunto.
Foi imbudo deste entendimento que Sylvio de Vasconcellos, em 1949, realizou um inventrio de Ouro Preto com o objetivo de executar um amplo estudo da cidade para apropriao de um plano de trabalho. Neste trabalho foram cadastrados 693 32 imveis em conjuntos que ele julgou de interesse e que abrangem os seguintes bairros ou regies: Cabea, Rosrio, Centro, Pilar, Carmo, Palcio, Antnio Dias, So Francisco, Lages, Dores e Alto da Cruz. Este material consta de fichas divididas por distrito onde cada uma das edificaes, identificadas por seu endereo e levantamento fotogrfico classificada quanto ao nmero de pavimentos e estado de conservao, atentando par a urgncia ou prioridade das obras (VIEIRA, 2006).
As concluses mais importantes desse estudo foram: a constatao de grande nmero de ruas e becos desaparecidos, fechados, com construes novas ou incorporados a casas imediatas; o grande nmero de casas que desapareceram ou foram demolidas para novas construes ou no e o nmero diminuto de casas novas em terrenos vazios. A constatao era de um verdadeiro estado de runa dos prdios em geral (VIEIRA, 2006:21).
Para a restaurao das edificaes, Sylvio previu despesas e estabeleceu critrios a considerar para a escolha das edificaes que seriam contempladas: aspecto legal, aspecto geral que abrange o esttico e o tcnico; aspecto psicolgico (logradouro mais importante ou mais transitvel, prximo a monumentos, logradouros afastados, restauraes que perturbam o conjunto) e aspecto econmico (proprietrios mais pobres, casas mais instveis, moradores mais ricos, casas mais inestticas). Tambm Lcio Costa escreveu sobre os critrios para a escolha das edificaes e sugeriu, dentre as casas que apresentavam maior interesse do ponto de vista arquitetnico ou urbanstico, as mais centrais ou que se achassem prximas de monumentos mais importantes, excluindo aqueles cujos proprietrios teriam recursos (VIEIRA, 2006).
33 importante destacar a extrema preocupao com a fachada e a cobertura evidenciada nas prticas restaurativas e a indicao de elementos tipolgicos entendidos como setecentistas: cobertura em duas guas, com telha colonial e cumeeira paralela rua; esquadrias em madeira, janelas do tipo guilhotina, ambas com pintura em tinta a leo; fachada caiada, normalmente de branco. Os critrios adotados buscavam a preservao da arquitetura colonial, do autntico, mas geralmente restringiam-se ao exterior das edificaes.
Em ofcio em 1952, Rodrigo de Mello Franco de Andrade evidenciou a preocupao com o exterior das edificaes ao esclarecer para Sylvio de Vasconcellos sobre a demolio total ou parcial das edificaes no conjunto arquitetnico tombado de Ouro Preto:
Essa proibio categrica se estende (....) apenas com relao estrutura e arquitetura exterior das construes, podendo ser permitidas demolies de paredes e elementos internos de edifcios, em casos de necessidade ou convenincia, exceto se se tratar de imveis de particular valor individual, histrico ou artstico.(Citado por VIEIRA, 2006:50).
Portanto, o IPHAN-MG, sob a gesto de Sylvio de Vasconcellos, ao recriar a prtica da restaurao, elegeu um padro com vis estetizante de uma fase de Ouro Preto, indicando o uso de elementos tipolgicos. Essa prtica continuada gerou, inclusive, um padro para toda a cidade o que VIEIRA (2006) chama de arquitetura pseudocolonial no qual se outorgou fachada um papel primordial com objetivo de conservar a imagem da cidade. Esse falso colonial repete exteriormente o padro colonial de tradio portuguesa: cobertura em duas guas com cumeeira paralela rua e telha colonial; fachada caiada de branco, portas e janelas em madeira, do tipo guilhotina, com pintura de tinta a leo em cores primrias e caixilhos de vidro em branco, elementos de ferro pintados de preto (VIEIRA, 2006). 34
A consolidao da tipologia pseudocolonial apresenta-se como conseqncia de um processo de mitificao do monumento histrico. O IPHAN promoveu uma imagem tradicional de Ouro Preto na medida em que se preocupou em manter fachadas com aspecto colonial. Essa imagem colonial foi introjetada e encontra-se, ainda hoje, no inconsciente coletivo dos ouro-pretanos.
Sylvio de Vasconcellos, obviamente, foi um homem de seu tempo e, em sintonia com este e com a mentalidade dominante entre os gestores do patrimnio histrico brasileiro, colaborou para a promoo dessa imagem tradicional de Ouro Preto. Foi necessrio um maior amadurecimento da poltica de proteo do patrimnio e da prpria concepo do que um bem cultural passvel de preservao para que a crtica aos parmetros e princpios norteadores do IPHAN, em sua fase inicial, se realizasse. Crtica esta que, alis, foi feita pelo prprio Sylvio de Vasconcellos quando, j no exlio, reviu a importncia de outras manifestaes arquitetnicas que, goste-se ou no, fizeram parte da nossa histria, fato este que no pode ser simplesmente ignorado.
Por fim, fundamental registrar que, para alm da implantao de polticas de proteo dos bens culturais de Ouro Preto, o estudo realizado por Sylvio de Vasconcellos atravs do IPHAN/MG foi fundamental para a construo de toda a sua obra terica acerca da arquitetura colonial mineira. Neste sentido, pode-se dizer que o Sylvio gestor do patrimnio e o Sylvio intelectual no se diferenciam nem se separam, ao contrrio, completam-se perfeitamente.
35 O arquiteto
Sylvio em 1941. Fonte: Revista AP, 1995, Ano 1, n 1.
A produo arquitetnica de Sylvio de Vasconcellos iniciou-se na dcada de 40, quando ainda era estudante, projetando principalmente residncias em Belo Horizonte. Juntamente com Raphael Hardy Filho, projetou sua prpria residncia, em 1942, que, logo em seguida, em 1945 recebeu um segundo pavimento, com projeto de autoria de Juscelino Ribeiro da Fonseca. Este projeto significativo pelo fato de ser sua prpria residncia, revelando uma escolha pessoal muito prxima arquitetura colonial.
Sylvio no jardim de sua casa na Rua Caldas n47. Fonte: Revista AP, 1995, Ano 1, n 1. 36
Para falar do Sylvio arquiteto, necessrio falar do que estava acontecendo na arquitetura, no Brasil e no mundo, e de como ele se apropriou dos sintagmas do movimento moderno ao criar a sua arquitetura moderna mineira.
O Modernismo pode ser definido como um movimento esttico surgido na dcada 20, do sculo passado, marcado por uma mentalidade renovadora, que se manifestou nas artes plsticas, literatura e arquitetura. Vivenciado em vrios pases, no Brasil, o movimento modernista teve incio quando, no Rio de Janeiro cidade denominada pan brasileira por Gilberto Freire, surgiu uma elite de escritores, pintores, escultores e msicos que negava o academicismo e buscava uma linguagem prpria (GUIMARAES,1954). Marcado por caractersticas singulares, resultantes do somatrio das novas linguagens que surgiam na Europa e das tradies populares brasileiras, esse movimento foi aqui abraado por representantes tanto da intelectualidade do Pas, quanto das tradies populares mais genunas. Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Mrio de Andrade, Emiliano Di Cavalcanti, Cndido Portinari, Heitor Vila-Lobos, Noel Rosa, Carlos Cachaa, Paulo Portela e Ary Barroso eram, ento, artistas dessas duas esferas da produo cultural do Brasil que perceberam a importncia desta interao. Era uma nova percepo do mundo, que passava a permear tanto a produo, quanto a recepo dessa nova arte, nascida sob aplausos, espanto e protestos.
No mbito da arquitetura, o movimento moderno, inaugurado pela Semana de Arte Moderna no Brasil, em 1922, no havia amadurecido a ponto de produzir uma obra, havendo, ento, apenas desenhos, ou seja, utopia. Esse movimento esttico arquitetnico, tambm chamado de arquitetura moderna, s se manifestaria mais tardiamente, a partir de um sistema de 37 significao, de uma linguagem bastante identificvel, nitidamente influenciada pela pintura cubista, pela Bauhaus e, sobretudo, pelos princpios caractersticos da arquitetura de Le Corbusier, principalmente por obras produzidas nas dcadas de 20 e 30, naquela considerada sua fase herica.
Segundo o arquiteto Eduardo Mendes Guimares, autor de importantes obras modernistas de Belo Horizonte, das quatro correntes advindas direta ou indiretamente do cubismo, quais sejam, o purismo francs (de Le Corbusier); o construtivismo (de Malewitsch); o protomodernismo (de Marinetti e SantElia) e o neoplasticismo (de Theo Van Doesburg e Piet Mondrian), apenas a primeira e a ltima alcanaram um grau maior de influncia e ligao com a arquitetura moderna. Quanto origem da arquitetura moderna, afirma ainda que, embora sua gnese esteja bem mais distante no tempo, o neoplasticismo ocupa uma posio de importncia mpar no conjunto histrico e destaca Mies Van der Rohe, como o mais criativo de seus representantes, tendo sido aquele que reeditou os princpios fundamentais dessa corrente, aps Theo Van Doesburg.
Em 1927, Gregori Warchavchik projetou a sua Casa Moderna, em So Paulo, considerada como o primeiro cnone da arquitetura moderna brasileira. Todavia, essa construo no utilizava os novos padres construtivos da poca, como o concreto armado e, sim, alvenaria de tijolos. Esse evento levaria Hugo Segawa a considerar que Warchavchik inseriu o Brasil no mapa da arquitetura mundial logo no incio dos anos de 1930 (SEGAWA,1998). Nesse contexto, Warchavchik foi posicionado na historiografia da arquitetura como o iniciador da arquitetura moderna no Brasil, no obstante a vinda de Le Corbusier, em meados da dcada de 30, tenha sido o evento catalisador do processo de discusses em torno das teorias 38 do modernismo, ento j conhecidas pelos jovens arquitetos atuantes no Pas.
A partir dos anos 30, um novo arranjo na composio da elite dirigente do Pas, at ento predominantemente agrria, incorporou o segmento industrial e a massa urbana em sua vida poltica. Durante o governo de Getlio Vargas, de 1930 a 1945, a mentalidade conservadora das classes dominantes ainda prevalecia, mas mudanas na estrutura administrativa, somadas ao progressivo adensamento das cidades, ao progressivo incremento do parque industrial nacional, dentre outras transformaes, criaram as condies favorveis para o desenvolvimento da arquitetura modernista no Brasil.
No plano ideolgico, o projeto poltico nacional desenvolvimentista, determinado a inserir o Pas no cenrio mundial, incorporou os princpios modernistas e a arquitetura foi, neste contexto, instrumentalizada para promover aquela insero, passando a ser identificada como signo do progresso. Se inicialmente essa nova arquitetura foi recebida com grande averso pelos arquitetos mais conservadores, o mesmo no aconteceu na esfera governamental, que passou a adot-la nas edificaes pblicas, o que acabou por abrir um caminho para que a arquitetura modernista 2 se implantasse de forma definitiva no Pas, consolidando-se como uma arquitetura com vocabulrio regionalizado singular. Alm disso, o vnculo estabelecido entre polticos e jovens arquitetos facilitou a produo arquitetnica de qualidade e de solues tcnicas inovadoras, de forma diferente daquelas estabelecidas academicamente. Soma-se ainda, como observa BRUAND (1981), o carter de extrema personalizao do poder, sobretudo em relao construo de edifcios pblicos, que influenciou consideravelmente a arquitetura
2 Utilizam-se como marcos cronolgicos da arquitetura modernista no Brasil, 1937, ano do projeto do Ministrio da Educao, no Rio de Janeiro e 1960, ano da inaugurao de Braslia. 39 brasileira e em particular a arquitetura moderna, quando polticos com poderes quase ilimitados, como Gustavo Capanema e Juscelino Kubitschek, impuseram suas vontades e deram boas oportunidades de trabalho a arquitetos que se fizeram presentes no momento.
Data desse perodo a criao do Ministrio da Educao, que agrupou em escala federal as atividades essenciais ao desenvolvimento do Pas, antes relegadas responsabilidade dos vrios Estados. As escolas assumiram nova importncia, ao mesmo tempo em que universidades comeavam a ser criadas, iniciando uma evoluo que s veio a se acelerar aps a queda do ditador em 45. A arquitetura moderna, portanto, que comeava a tomar impulso, encontrou ali um campo de ao que lhe foi generosamente aberto. O Edifcio do Ministrio da Educao e Cultura Pblica, no Rio de Janeiro, foi projetado em 1936, segundo risco original de Le Corbusier, sob encomenda do Ministro Gustavo Capanema. Concludo em 1945, considerado um marco do surgimento da chamada nova arquitetura no Brasil, tendo sido o primeiro edifcio com partido em lmina alta com fachadas de vidro e brise- soleil, articulada com um volume baixo sobre o terreno e envolta por espaos verdes, que tambm recebeu o primeiro projeto paisagstico modernista do Pas. Esta edificao foi concebida por Lcio Costa, Oscar Niemeyer, Carlos Leo, Jorge Machado Moreira, Affonso Eduardo Reidy e Ernani Vasconcellos e teve, ainda, a consultoria de Le Corbusier.
Mas, no obstante a importncia dessa obra, Oscar Niemeyer no a apreende como um exemplar genuno da arquitetura brasileira, estabelecendo uma linha divisria entre uma arquitetura moderna e outra, tambm moderna, mas de carter nacionalista: se o prdio do Ministrio projetado por
40 Le Corbusier constituiu a base do movimento moderno no Brasil, a Pampulha permitam-me diz-lo que devemos o incio da nossa arquitetura, voltada para a forma livre e criadora que at hoje a caracteriza (XAVIER, 1987:231) e Lcio Costa, em 1951, vislumbrou a Pampulha como um marco divisor; um rumo diferente que assegurou uma nova era (SEGAWA, 1998:96). Ela, por certo, seria a primeira grande aventura modernista experimentada por esses profissionais e, tambm, pelo Pas.
Primeira experincia de planejamento urbanstico no Brasil, Belo Horizonte foi erigida na regio onde antes houvera o arraial do Curral del Rei. Contrapondo-se ao arruamento sinuoso e ao casario colonial da velha capital, Ouro Preto, o projeto da nova cidade foi idealizado sob princpios racionais positivistas, de acordo com o chamado urbanismo cientifico, de influncia haussmanniana, que previam vias pblicas retilneas e ocupao setorizada nas zonas. O funcionamento da cidade adviria no de uma ocupao espontnea, mas antes na interao de suas zonas, cada qual com suas especificidades. Os esforos da Comisso Construtora da Nova Capital concentraram-se, prioritariamente, na edificao da zona urbana, rea esta destinada s instituies da administrao pblica estadual, acomodao do funcionalismo pblico e ao comrcio e servios necessrios cidade.
O vnculo com a Paris de Haussman pode ser ainda percebido na dissociao entre a inteno do projeto e a realidade implementada: enquanto na capital francesa, segundo Benvolo, a escala grandiosa das novas avenidas minimizou a imponncia dos monumentos que o projeto pretendia destacar, na capital mineira, a topografia ondulosa tornou mais orgnico o traado geomtrico, distorcendo os ngulos retos e os eixos rgidos criados no papel. Pode-se tambm 41 perceber no desenho original de Belo Horizonte uma certa similaridade com a cidade jardim howardiana 3 , que ainda viria a existir na Inglaterra, no incio do sculo XX. Isto pode ser notado atravs de caractersticas como o zoneamento das funes no espao, a integrao entre ferrovia e cidade, a conteno do ncleo urbano dentro de um limite proposto (a atual avenida do Contorno), os cintures agrcolas circulando este limite e a integrao entre natureza e cidade. Devido grande presena de vegetao em seu espao urbano, como, por exemplo, os Fcus Benjamina na avenida Afonso Pena e o Parque Municipal Amrico Renn Giannetti, Belo Horizonte receberia, algumas dcadas aps sua inaugurao, o epteto Cidade Jardim.
O desenho urbano de Belo Horizonte est vinculado, em suas origens, a iderios modernos e inovadores de urbanizao, o que contribuiu, dentre outros fatores, poca de sua construo, para sentimentos antagnicos de entusiasmo e desconfiana com relao nova cidade que iria surgir. Em meio a descrenas e foras opositoras a esse empreendimento oneroso e ambicioso, a cidade, ou pelo menos parte dela, foi construda e inaugurada em 1897, j sob o signo da mudana e da modernidade. A cidade se imps de modo a negar toda uma herana do passado, excluindo tudo aquilo que lembrasse as formas barrocas dos tempos coloniais, passando estas a serem relacionadas ao atraso e ao provincianismo.
3 Ebenezer Howard publicou em 1898 o livro Tomorrow: A Peaceful Path to Social Reform - que seria republicado em 1902 sob o ttulo Garden-cities of Tomorrow onde, em busca de uma soluo para os problemas ambientais e sociais da cidade ps- industrial, estabelece o conceito cidade jardim. De cunho socialista, a obra prope a unio entre os benefcios do campo e do meio urbano, atravs do projeto de cidades novas. Sugere ento um modelo formal de cidade, onde sociedade e natureza esto equilibradas de tal forma a oferecer uma vida ideal ao homem: a healthy, natural, and economic combination of town and country life. Seus diagramas de cidade apresentam ento uma cidade circular, onde vrios anis concntricos, cortados por ruas radiais, correspondem a um zoneamento das funes. A partir do centro tem-se: jardim circundado por edifcios de uso coletivo destinados sade, cultura e administrao pblica; parque circundado por palcio de cristal, onde se desenvolvem as atividades de pequeno comrcio e lazer coberto; setor residencial e de jardins; grande avenida, onde se situam equipamentos como escolas e igrejas; outro setor residencial e de jardins; setor para indstrias, mercados, lojas, depsitos e servios localizados ao longo de uma estrada de ferro circular e; finalmente, um cinturo verde, ocupado por reas naturais e fazendas ou stios produtivos. Dispes ainda sobre o planejamento e funcionamento econmico e social da cidade jardim, discursando sobre questes como a propriedade, o crescimento demogrfico, o controle pblico sobre as construes e a liberdade econmica. 42
Vieram os primeiros anos da nova Capital e as dificuldades econmicas, acirradas pela Primeira Guerra Mundial, desaceleraram seus crescimentos econmico e urbano, que foram retomados nos anos que se seguiram ao trmino da Guerra. Em 1917, com a inaugurao de ramais ferrovirios de bitola larga para o oeste e para o vale do Rio Doce, foi feita a articulao da cidade com outras reas do Estado, reforando-se sua importncia no escoamento de recursos minerais para o porto de Vitria, no Esprito Santo. A retomada do crescimento acelerou o processo de migrao populacional. A populao da Capital saltou de 55,5 mil habitantes, em 1920, para 140 mil no incio dos anos 30, e atingiu 214 mil, em 1940. No ncleo central, um ritmo acelerado de construo dava incio a um processo de substituio de edificaes daquela cidade to jovem e j to ultrapassada. Assim foi demolido o Mercado Municipal para dar lugar Feira de Amostras, enquanto consolidava-se a concentrao hospitalar de Santa Efignia e a rea central como o centro comercial e financeiro, com o aparecimento de grandes casas bancrias mineiras como o Banco do Comrcio e Indstria de Minas Gerais 1925, o Banco da Lavoura 1925 e o Banco Mineiro 1928. As atividades industriais continuavam concentradas na rea central, observando-se a instalao de algumas indstrias na regio dos bairros Carlos Prates e Cachoeirinha.
At os anos trinta, os investimentos mais significativos na infra-estrutura de Belo Horizonte haviam sido destinados zona urbana, em conformidade com projeto original da Capital que, desde seus primeiros anos, vinha sendo modificado com ocupaes desordenadas na zona suburbana, principalmente leste e oeste.
43
A Revoluo de 30 e o novo arranjo da composio da elite poltica dirigente do Pas, at ento predominantemente composta pela elite agrria, determinou a incorporao do segmento industrial e da massa urbana em sua vida poltica. As cidades, que progressivamente vinham conquistando o status de lugar da produo industrial, do operariado, do crescimento demogrfico tornam-se objetos de ateno e de aes polticas e urbansticas. Belo Horizonte, ento com trinta e poucos anos de idade, via seu parque industrial incrementar-se e seus limites estenderem-se para alm da avenida do Contorno. A cidade, que nascera planejada em traos geomtricos, via, ento, sua forma orientada por impulsos naturais, que segundo a percepo de Sylvio de Vasconcellos, faziam-na assemelhar-se ao antigo Curral del Rei ( VASCOCELLOS, 1947:52).
Belo Horizonte comeava a ganhar ar de metrpole. Em sua rea central concentravam-se as principais referncias da administrao pblica, comerciais e financeiras, enquanto instituies fabris iam surgindo em reas distantes, tornando- se epicentros de novos bairros e vilas operrias. A Capital havia crescido, como haviam crescido tambm seus problemas infra-estruturais e sociais, que passavam a merecer maior ateno do poder pblico. Se at ento, a zona urbana havia sido objeto das iniciativas pblicas, aps 1930, todavia, uma srie de medidas seriam tomadas para se tentar organizar o espao tambm fora do permetro da Avenida do Contorno, em contraposio ao pouco interesse por aquela rea at ento (GOUGH, 1994:47) Os investimentos na infra- estrutura da zona suburbana buscavam implementar melhorias tais como calamentos de vias pblicas, saneamento bsico, transporte e incentivo ao lazer e cultura, alm de estabelecer um controle do crescimento urbano, por parte da municipalidade. 44
A dinamizao da economia trouxe a retomada de investimentos na rea da construo civil. Inicia-se o processo de verticalizao da avenida Afonso Pena, o mais importante eixo comercial e financeiro da cidade. Surgem os arranha- cus art dco, como o Ibat, o primeiro edifcio da cidade, seguido pelos Mariana, Acaiaca, Sulacap e outros. Sob o esprito de renovao e de modernidade, casas residenciais e comerciais tambm ganham novas fachadas geometrizadas, em substituio s eclticas.
No perodo em que Juscelino Kubitschek foi prefeito de Belo Horizonte (1940-1945), deu-se incio a uma mudana de enfoque no conceito de administrao pblica. Foi em sua gesto que a idia de modernizao, presente na construo do Ministrio de Educao e Sade, no Rio de Janeiro, se consubstanciou na capital mineira, sendo reforada por uma ao concreta na estrutura da cidade e nas tipologias das edificaes que aqui foram construdas. Tambm foi nessa poca que a cidade consolidou sua expanso para alm do traado original, com a abertura de vias urbanas, como as avenidas radiais Teresa Cristina, Francisco S e Silviano Brando, capazes de arejar a regio central 4 e suprir as necessidades de expanso da Capital.
A herana do modernismo constituiu-se num fator crucial na trajetria da arquitetura de Belo Horizonte. O pensamento moderno, caracterizado por um novo olhar, uma nova esttica da geometria pura e da clareza funcional, j havia sido trabalhado no estilo art-dco, com fachadas revestidas em p de pedra e ornamentada com motivos geomtricos, iniciando um processo de racionalizao construtiva e de alisamento das superfcies, que foi empregado, em 1935, no mais
4 PIMENTEL, Thas Velloso Cougo. Prefcio do mito. In: Museu Histrico Ablio Barreto- Juscelino Prefeito 1940 1945 - Belo Horizonte: Prefeitura Municipal, 2002. 45 importante prdio municipal, o da Prefeitura, e acabou abrindo espao para uma arquitetura racionalista, para o uso de formas geomtricas elementares juntamente com o emprego de elementos da arquitetura colonial brasileira; para a consolidao de uma arquitetura influenciada por formas orgnicas.
A convite do prefeito, Juscelino Kubitschek, Oscar Niemeyer e Roberto Burle Marx conceberam, nos anos 40, a Pampulha, um bairro para a elite industrial emergente, localizado no vetor norte da cidade, onde j havia uma represa iniciada em 1936, pelo ento prefeito Otaclio Negro de Lima (nome atual da via de 18 km que a contorna). Para Juscelino Kubitschek, seu idealizador, a construo da Pampulha transcendia a questo material, serviria tambm aos propsitos esttico e de fruio:
A Pampulha estava l desafiando minhas reservas de imaginao. Um prefeito no deve pensar to somente em coisas prticas. A beleza, sob todas as formas, precisa fazer parte de suas cogitaes. Numa cidade, vivem massas humanas que sentem que so capazes de emoes e que, portanto, no prescindem de estimulantes espirituais. Em face daquele desafio, o que pretendia era aliar o til ao agradvel: criar um centro de turismo e faz-lo, emprestar uma ressonncia de poesia iniciativa municipal (KUBTCHECK)
A Pampulha era um complexo turstico e de lazer, dotado de espaos de uso pblico, dos quais a cidade era carente, tendo por o entorno da lagoa artificial cuja barragem se conclua (1938), e onde deveriam ser edificados um Cassino, o Iate Clube, um hotel (obra no executada), a Igreja de So Francisco de Assis e a Casa do Baile, obras realizadas entre 1941 e 1945.
O jornalista Cludio Bojunga, em sua biografia de JK, afirma que no h modernizao poltica sem formas modernas e
46 que toda a trajetria e plano de ao poltica de Juscelino sintetizam a crena nesse paradigma. Sendo assim, suas realizaes denotavam uma formao esttica, tendo Juscelino praticado a poltica como a arte do impossvel, sempre agindo no limite da impossibilidade e mostrando aos brasileiros que eles so capazes de realizar muito alm do que imaginavam. Portanto, a criao do complexo da Pampulha, inaugurou um modo de fazer poltica em que as formas concretas da arquitetura foram tornadas o meio ideal para se consolidar um plano de governo, e foi atravs dela que as idias passaram a ser representadas e fixadas no imaginrio coletivo.
Na experincia da Pampulha, o arquiteto e o paisagista incorporaram composio purista racionalista as formas sinuosas, dando arquitetura um carter barroco, definido por barroco modernista 5 . Fosse como marco de ousadia, fosse como reflexo de uma sociedade que evoluiu e se atualizou s novas necessidades que quele instante se impunham, a arquitetura moderna desenvolveu um de seus principais desdobramentos quando da realizao daquele conjunto arquitetnico.
Belo Horizonte entrava ento no cenrio nacional da arquitetura modernista brasileira, atravs da figura de 0scar Niemeyer, o mais importante desta poca ( CAVALCANTI: 246).
No entanto, outros arquitetos em Belo Horizonte j discutiam a nova arquitetura. Sylvio de Vasconcellos dizia: mesmo antes da Pampulha eu j brigava em favor da arquitetura moderna. Essa postura vinha sendo gestada nos primeiros sales de arte que j contavam com a participao de
5 Para uma anlise maior do termo ver Monte-Mor (1994) 47 arquitetos como Nicola Santolia, Raphael Hardy Filho, Virglio de Castro, Romeo de Paoli, Shakespeare Gomes entre outros que trabalhavam na capital mineira. O primeiro salo aconteceu no poro do Cine Brasil, em 1936, e considerado, segundo Ivone Luzia Vieira, como o marco concreto da instaurao do Movimento Modernista em Minas Gerais. Foi uma conscientizao poltica dos artistas sobre a necessidade da criao de um mercado de artes na capital, de uma escola no-acadmica e da oficializao dos Sales da Prefeitura, a partir de 1937. Dando continuidade aos sales de arte, em 1944, foi realizada por Juscelino Kubitschek, a exposio de arte moderna com carter cosmopolita, articulando o movimento local ao nacional.
No fim dos anos 40, os impactos do crescimento econmico e da administrao empreendedora de JK se fazem sentir no espao urbano belo-horizontino para alm da criao da Pampulha, do embelezamento e melhoria da infra-estrutura das reas centrais e perifricas. Nesse perodo, tambm implementado o bairro da Cidade Jardim, cujo conceito foi inspirado nas idias de Howard, para quem a concretizao destas idias implicaria na criao de cidades com reas residenciais de baixa densidade e com predominncia de reas verdes. Em 1904, havia sido criada a cidade de Letchworth; em 1909, Hampstead e, em 1919, Welwyn - todas as iniciativas obtiveram grande sucesso e influenciaram o urbanismo em diversos pases. O planejamento destas cidades ficou a cargo dos arquitetos Raymond Unwin e B. Parker. Raymond Unwin publicou os resultados das experincias de Letchworth e Hampstead no livro Town Planning in Practice, que constitui um verdadeiro manual de composio urbana e cuja ampla divulgao contribuiu para a teorizao do desenho urbano e para o conhecimento das idias da cidade jardim, influenciando o urbanismo em todo o mundo, no perodo entre as duas guerras. Para Jos M. R. 48 Garcia Lamas, a cidade jardim representa um momento de ruptura com a cidade tradicional, propondo modelos alternativos para a cidade moderna. Com a construo do bairro Cidade Jardim, em 1950, em Belo Horizonte, consolidou-se mais uma vez a vocao para o novo, presente ao longo de toda a trajetria da cidade. Em seus lotes amplos e generosos foram construdas edificaes de inspirao modernista num perodo em que a sua utilizao traduzia, ao mesmo tempo, um sentido de alinhamento com uma vanguarda arquitetnica mundial e ostentao de poder econmico, capaz de tornar realidade aquele iderio.
O bairro da Cidade Jardim foi ocupado rapidamente, tendo sido todas as suas casas construdas praticamente juntas - e quase todas seguindo o movimento moderno -, constituindo- se, segundo MONTE MOR (1994:21), no principal bairro residencial da (nova) elite dominante. Concebido pelo engenheiro Lincoln Continentino, na gesto do prefeito Jos Oswaldo de Arajo (1938/40), o bairro Cidade Jardim fazia parte de um plano maior de urbanizao da cidade, que no foi realizado em sua ntegra. Segundo CASTRIOTA (2000.), se destacavam neste Plano de Urbanismo da Cidade as seguintes premissas: conteno do crescimento da cidade dentro do permetro atual; criao de grandes avenidas rdio- cntricas ligando as reas urbanas s suburbanas; zoneamento da cidade atravs da especializao de reas em usos restritos; e reforma dos arruamentos no edificados, buscando imprimir nos bairros o carter de cidade celular, provendo-os de servios urbanos, de modo a torn-los independentes do centro. Deste projeto original, que apresentava uma ntida influncia do conceito de cidade jardim desenvolvido por Ebenezer Howard, apenas o bairro Cidade jardim Fazenda Velha (atual Cidade Jardim) foi 49 executado, com algumas modificaes 6 , na gesto seguinte, de JK.
Ocupando a regio junto avenida do Contorno, prxima sede da Fazenda Velha, nico edifcio remanescente do antigo Curral Del Rei, este novo bairro caracterizou-se por uso exclusivamente residencial, longos quarteires retangulares e de pouca profundidade, lotes amplos, recuos frontais e laterais generosos e presena abundante de vegetao, seja nos passeios pblicos ou nos terrenos particulares. A qualidade de vida e o status gerados por esta urbanizao diferenciada, assegurada por legislao especfica, impulsionaram a ocupao da rea pela elite poltica e econmica da poca. Como conseqncia, proliferaram no bairro Cidade Jardim, nas dcadas de 40 e 50, manses de inspirao clssica e ecltico-pitoresca e, como nos indica MONTE-MOR (1994:21), principalmente, as novas casas modernas dos arquitetos de vanguarda da precoce escola de arquitetura local: Eduardo Guimares e Sylvio de Vasconcellos, os mais famosos, mas tambm Nelson Marques Lisboa, Osvaldo de Santa Cruz Nery e muitos outros.
Desta forma, Cidade jardim e Pampulha estabeleceram, com sua arquitetura moderna e seu tratamento paisagstico dos vazios urbanos, um novo padro de morar em Belo Horizonte. Esse padro foi adotado tambm em outros bairros da cidade como Sion, Serra, So Lucas, Gutierrez, Santo Agostinho, entre outros, graas atuao dos arquitetos modernistas, entre eles, Sylvio de Vasconcellos.
O Modernismo inaugurou na Capital cinqentenria, um novo tempo na vida belo-horizontina no qual, como apontou Sylvio de Vasconcellos, a populao tomou contato com situaes
6 Dentre as modificaes, destaca-se a no execuo de um parque local, envolvendo a antiga sede da fazenda Velha e desenrolando-se ao longo das margens do Crrego do Leito, que cortava a rea no eixo onde hoje se encontra a Av. Prudente 50 diferentes da vida provinciana, situaes que foravam o encontro de classes sociais absolutamente diversas, como a criao dos novos espaos coletivos de lazer da Pampulha: o Iate Clube, o Cassino. Este perodo foi marcado pelo fortalecimento do processo de industrializao e pela consolidao urbana no Brasil e, neste contexto, a produo da arquitetura voltou-se para o aproveitamento e a assimilao de recursos tcnicos, desencadeando uma reavaliao de seus possveis relacionamentos com as estruturas urbanas existentes.
O ano de 1945, em que teve fim a Segunda Guerra Mundial, correspondeu a uma data-chave no processo histrico do Brasil e merece destaque na periodizao do Modernismo, tendo tido grande influncia em nossa economia e mentalidade e, como nos apontam, Antnio Cndido e Jos Aderaldo Castello, em obra que analisa o Modernismo na literatura brasileira:
Fazendo-nos entrar na era industrial, formando um proletariado numeroso, que passou a exigir sua participao na vida poltica, liquidando nas reas adiantadas o mandonismo local. Ao voltarem as liberdades democrticas abafadas pelo regime ditatorial de 1937, inclusive as da imprensa, o Pas verificou, meio atnito, que tinha ingressado numa fase nova, de industrializao e progresso econmico- social acelerado, que nos vai agora transformando rapidamente em potncia moderna, apesar dos graves e perigosos problemas do subdesenvolvimento. ( CNDIDO, 1997:11).
Ocorreu a uma significativa transformao nas prticas culturais 7 , nas formas de sociabilidade, na escala de valores sociais. E como estas transformaes influram ou condicionaram as novas formas de morar, a arquitetura
de Morais. 7 A expresso prtica cultural considerada neste trabalho, no sentido da tradio antropolgica (Morgan, Boas, Frazer, Durkheim, Mauss, Lvi-Strauss etc), definida por Michel de Certeau (1996, p.347) como sistemas de valores subjacentes que estruturam as tomadas de posturas fundamentais da vida cotidiana, que passam despercebidos conscincia dos sujeitos, mas so decisivos para a sua identidade individual e de grupo.
51 residencial? Com as mudanas de comportamento, de hbitos sociais em que j se recebem estranhos e a casa no mais o refgio ou o esconderijo que resguarde as aparncias e com os novos recursos tecnolgicos, a arquitetura modernista foi se configurando atravs de uma nova linguagem, de uma nova sintaxe: a casa j no mais estanque, fechada ou cbica, mas acolhedora, aberta e franca ( VASCONCELLOS, 1963). Com uma grande fora transformadora, o modernismo se estendeu pelas dcadas seguintes, quando foram consolidados os tipos e tambm os modismos que caracterizam este estilo arquitetnico na cidade.
Segundo Sylvio de Vasconcellos (1963), excetuando-se algumas variantes de concepo plstica com tendncias ora art-nouveau, ora chalet, a arquitetura produzida em Belo Horizonte, entre 1897, ano de sua fundao, e 1930 caracterizou-se, basicamente pelos seguintes aspectos:
Construo junto rua com platibanda; jardins, quando existentes, laterais; extensos pomares aos fundos; plantas organizadas em duas partes (visitas e ntima), com as funes domsticas polarizadas pela copa; pavimento quase sempre nico, embora elevado do solo por pores de ventilao ou de uso precrio. ( VASCONCELLOS, 1963)
Vasconcellos aponta como prenncio de uma evoluo arquitetnica a estrutura de ferro utilizada nos apoios e abobadilhas, bem como na estrutura das coberturas em vidro das varandas.
Por volta de 1930, modificaes substanciais j se manifestavam na arquitetura residencial belo-horizontina. Vasconcellos atribui estas modificaes ao uso do cimento, por vezes j em concreto armado, e s novas concepes plsticas viabilizadas por esta tecnologia. Surgem, neste 52 perodo, as formas ditas cbicas, os vos providos de esquadrias metlicas basculantes; as lajes e as marquises.
As casas so mais compactas e j recuadas do alinhamento da via pblica, em sua maioria no limite mnimo de trs metros preconizado pelo regulamento de obras local. Baixa para trs metros o p-direito interno, aparecem terraos descobertos e principia a haver maior preocupao quanto decorao interna.( VASCONCELLOS, 1963)
A dcada de 30 foi marcada, tambm, pela pluralidade de manifestaes arquitetnicas: ecletismo, art dco, cubismo (j se fazendo notar a uma certa depurao da forma) ou o chamado estilo p-de-pedra, decorrente do uso deste revestimento, normanda, bungalow, californiana, misses ou neocolonial. Evidencia-se nesta ltima a inspirao de natureza nacionalista, uma busca de revalorizao das tradies, da identidade nacional em meio a tantas influncias europias e americanas.
As primeiras manifestaes modernistas surgem na dcada de 40. Neste perodo, ocorrem iniciativas de ordem poltico- econmica que influiro na produo da arquitetura, do espao urbano. Os grupos de renda mdia passam a contar com um sistema de financiamento de construo, promovido pela poltica habitacional implementada pelo Governo Federal, atravs da Caixa Econmica Federal, o que contribuiu para um significativo crescimento da cidade, segundo testemunha Sylvio de Vasconcellos. A ordem construir residncias de dimenses e custo reduzidos, com plantas mnimas e pouca folga para embelezamento. Predomina, ento, o chamado chalet ou pseudocolonial, com pequenos alpendres de acesso, trs quartos de trs por trs metros, sala, copa, cozinha e banho, dispostos em duas alas longitudinais, com os quartos separados em um dos lados. No se verificam substantivas mudanas de partido, planta, programa ou na vida domstica, mas importante assinalar algumas alteraes: os lotes 53 passam ser mais e mais subdivididos, tendo suas frentes reduzidas; abandonam-se os quintais, pomares e galinheiros; a estrutura de ferro e a cobertura em vidro das varandas desaparecem; ocorre a substituio da telha cermica francesa pela colonial, semi-cilndrica; surge o uso dos tacos nos pisos; aparecem as jardineiras nas janelas; as garagens e as salas de jantar passam a ser cotidianamente utilizadas, tambm como salas de visitas, que ganham um uso especializado: escritrio. A casa foi, deste modo, abrindo-se aos poucos aos estranhos, como conclui Sylvio de Vasconcellos.
Sylvio foi precursor da divulgao dos ideais da arquitetura moderna, como forma de resgate da verdade arquitetnica. Para ele, a arquitetura que se fazia at a dcada de 40 em Belo Horizonte, representada pelo ecletismo e o neocolonial, correspondia a um amontoado de elementos arranjados aleatoriamente, dispostos ao gosto popular, sem critrio e conceito. Sobre a arquitetura Neocolonial, teceu crticas severas:
Transplantando para a casa formas de monumentos, chafarizes principalmente, detalhes de igrejas, etc. e decorando-a com elementos tambm retirados de lugares muito diferentes daqueles onde foram aplicados, nada pior se poderia conseguir e nada mais deprimente para a nossa arquitetura colonial de fato. No caso tpico fizeram do chafariz um lado da casa: onde havia a inscrio colocaram almofadas de azulejos, onde havia a carranca de boca aberta para a gua puseram a janela, do tanque fizeram jardineira para flores e as mesmas pinhas e conchas colocaram encimando a platibanda. De lado abre-se a varanda com arco ou a chamada curva colonial, porm, sustentado por colunas s vezes torsas e de capitis exticos inspiradas (mal-inspirao) nas colunas de altares. Estava a o neocolonial que se esparramou pelas cidades (Belo Horizonte, coitada) e outras, antecipando o misses, o californiano, o mi casita. (VASCONCELLOS, 1946b, p.47-48).
Ainda em 1940, a linguagem modernista, principalmente aquela de traos racionalistas de sintaxe corbusiana, comea 54 a se manifestar em Belo Horizonte. Para Sylvio de Vasconcellos, a Pampulha, marco inicial dessa nova arquitetura, introduzira na cidade o hbito do esporte, da vida ao ar livre, a comunicabilidade entre estranhos, ou seja, a experincia de uso de espaos coletivos pblicos e de novas formas de sociabilidade. Esta mudana de hbitos e costumes iria influenciar de modo significativo a arquitetura da casa belo-horizontina.
As salas de visitas se abrem e ganham maiores dimenses, aperfeioam-se cozinhas, tornadas mais funcionais, e os cmodos sanitrios tornam-se mais confortveis. As paredes ganham transparncia com o uso do vidro, deixando de ter funo estrutural, passando a ser apenas painis de fechamento, caracterstica viabilizada pelo novo sistema construtivo e estrutural tipo esqueleto, pelos princpios corbusianos da fachada livre e da planta livre. Uma significativa mudana ocorre na espacializao da casa, em decorrncia da conjugao da sala de estar com a de jantar, gerando fluidez espacial e criando ambientes mais amplos, onde de fato a famlia se demora, abandonando a cozinha e os quartos. [...] J se recebem mais estranhos, e a casa no mais o refgio ou o esconderijo que resguarde as aparncias. (VASCONCELLOS, 1963). Segundo BRASILEIRO (2007), a casa projetada por Sylvio era concebida com o objetivo da comodidade, no sentido de se chegar a uma adequao do espao s funes a serem ali exercidas, considerando os resultados produzidos pelos elementos materiais constituintes sobre o vazio. Ou seja, um ser considerado cmodo se os elementos envoltrios que o delimitam oferecem a dimenso, o conforto trmico e acstico, a luminosidade, a possibilidade de um arranjo correto do mobilirio, dentre outros atributos.
55 Os jardins de composio livre ganham notoriedade e, em muitos casos, integram-se s salas de estar. Como um jardim de carter ntimo e mais preservado surge novamente o ptio de tradio mourisca, presente tambm na arquitetura colonial. As casas recuam-se mais da via pblica, com jardins de pelo menos dez metros de profundidade. Os quintais, agora cimentados ou ladrilhados, perdem sua funo anterior, transformando-se em espaos de brincar, lavar roupa, de jogos ou piscina. O setor de servio, antes uma edcula destacada da casa, localizada nos fundos, incorpora- se a esta e melhorado qualitativamente. As garagens passam a ser necessrias no s como abrigos dos automveis, mas tambm, eventualmente como varandas. Os quartos aumentam de tamanho e surge uma nova categoria de espao: a sute do casal. As janelas passam a ser de correr (preferencialmente s de abrir), de vidro, com venezianas; as plantas tendem a ser compostas de formas retangulares, sendo possvel o uso de coberturas em terraos impermeabilizados de uma s gua; os interiores so fartamente iluminados e as cores vivas e contrastantes substituem a discrio dos tons cremes ou rosados.
Como bem observa Sylvio de Vasconcellos, com estas categorias, com a ordenao e setorizao do espao domstico que ganha zonas pblicas, sociais, surge o chamado quarto de costura, destinado a ocultar a baguna e abrigar os guardados. Esta categoria de espao marca uma transio e reveladora do conflito entre os velhos hbitos, vestgios do passado que permanecem, e a nova forma de morar, o novo habitar modernista. O quarto de costura o espao ntimo da desordem que deve ser escondido, porque transgride as normas da boa conduta, da casa exemplar, impecvel em organizao e eficincia. A desordem da casa depe contra o carter da prpria famlia. Sobre o quarto de costura, Sylvio destaca: 56
Como a casa est toda aberta, aparece a necessidade de, pelo menos, uma pea que atenda s reminiscncias de hbitos antigos: o quarto de costura, que, na realidade, o quarto de baguna, uma espcie de play-room americano, onde se faz tudo o que no pode ser feito nas demais peas da construo e onde se guardam todos os guardados: costurar, estudar, brincar, roupa velha, embrulhos, etc. (VASCONCELLOS, 1961:18).
Todas estas transformaes descritas por Vasconcellos apontam para uma reflexividade entre a casa e a vida cotidiana, o senso de intimidade, privacidade, domesticidade e sociabilidade (atributos do conforto), noes ligadas ordem simblica da arquitetura.
A crena no poder transformador da arquitetura e do urbanismo tpica da utopia modernista, incentivada pela promessa do desenvolvimento industrial: a arquitetura se abre em sorrisos e toda a populao se torna tambm mais feliz. Esta afirmao de Sylvio de Vasconcellos revela sua viso apaixonada, apologtica e romntica do surgimento da arquitetura modernista na cidade.
Segundo MENDONA (2005), a arquitetura modernista brasileira foi peculiar por absorver o modernismo internacional, sem, contudo, ignorar as razes locais. Desta forma, a brasilidade aproxima-se mineiridade, consolidada desde o Brasil colnia, atravs de uma arquitetura inovadora e que se tornou referncia mundial. Lcio Costa iniciou esse processo com a adaptao dos preceitos corbusianos arquitetura colonial em um projeto de consolidao da identidade nacional. A fora poltica governamental, principalmente de JK, foi uma grande aliada para que Oscar Niemeyer afirmasse a brasilidade, inicialmente no conjunto modernista da Pampulha em 1942. Mas com o arquiteto Sylvio de Vasconcellos que percebemos essa fuso da arquitetura modernista internacional com a arquitetura 57 colonial mineira, filtrando e misturando tendncias. Observando, principalmente, os projetos residenciais de Sylvio de Vasconcellos, entre 1942-1969, nota-se uma gradativa mudana dos materiais e mtodos empregados, acompanhando a evoluo tecnolgica da poca. Entretanto, sua caracterstica pessoal, voltada para a histria de Minas Gerais, mostra uma arquitetura ligada s razes locais sem, contudo, ser uma cpia do passado. Diferente de Oscar Niemeyer, ele mostra que h outras maneiras de sintetizar o velho e o novo, e que a sua escolha, mais contida e no por isto menos criativa, revela que Minas ainda pode ser referncia para o pas. Neste sentido, conclui-se que o modernismo brasileiro inovador por ser tardio, assim como foi o barroco mineiro, atingindo uma ascenso, em uma poca em que, internacionalmente, o modernismo j no era mais novidade. Aqui, ao contrrio, foi, justamente, a partir de 1940, que o modernismo ganhou fora, inicialmente em obras do governo, mas que atingiu dimenses ainda maiores ao ser incorporado pela sociedade em suas habitaes, disseminando a semente modernista em todo o pas.
Em termos gerais, a versatilidade do uso do espao, a fluidez, a linguagem arquitetnica e estrutural conferindo unidade e expresso ao objeto, associados a uma arquitetura ligada s razes locais (arquitetura colonial mineira) so temas que constituem a potica modernista que se manifesta nos projetos do arquiteto elencados neste estudo.
A seguir, apresentamos a lista dos imveis pertencentes ao estudo elaborado, com a indicao do grau de proteo sugerido pela GEPH, qual seja, Registro Documental ( RD) ou tombamento ( T): 1. Rua Paulo Simoni, n 54 Santo Antnio ( RD) 2. Rua Califrnia, 150, esq. com Buenos Aires, 363 - Sion (T) 58 3. Rua Montevidu, 643 Sion (T) 4. Rua Caldas, 47 Carmo (T) 5. Rua Luz, 168 Serra (T) 6. Rua Luz, 206 Serra (RD) 7. Rua Bernardo Figueiredo, n 205 Serra (RD) 8. Rua Bernardo Figueiredo, n 47 Serra (RD) 9. Rua Alumnio, 129 Serra (T) 10. Rua Alumnio, 145 Serra (T) 11. Rua Alumnio, 157 Serra (T) 12. Rua Alumnio, 169 Serra (T) 13. Rua Alumnio, 179 Serra (T) 14. Rua Cames, 123 Serra (T)
Imveis pertencentes ao Conjunto Urbano Bairro Cidade Jardim: 15. Avenida do Contorno 7871 - Cidade Jardim (T) 16. Rua Manoel Couto, n 339 Cidade Jardim (T) 17. Rua Manoel Couto, 182 Cidade Jardim (T) 18. Rua Olmpio de Assis, 77 - Cidade Jardim (T) 19. Rua Olmpio de Assis, 333 - Cidade Jardim (T) 20. Rua Sinval de S, 586 - Cidade Jardim (T) 21. Rua Sinval de S, 639 - Cidade Jardim ( T) 22. Avenida do Contorno, n 7510 Lourdes ( T)
Imveis pertencentes a outros conjuntos urbanos protegidos: 23. Rua da Bahia,1723 ICBEU (tombado) 24. Rua Gonalves Dias, 1581 antigo DCE-UFMG (tombado) 25. Rua da Bahia Capela Verda Farrar ( tombado) 26. Rua Gonalves Dias, 1354 - Ed. MAPE ( T) 27. Rua Joaquim Murtinho n 135, esquina com Quintiliano Silva - Santo Antnio ( T) 28. Rua Bueno Brando, 84 Floresta ( tombado)
Imveis demolidos: 30. Rua Carangola, 439 Santo Antnio 31. Rua Paracatu, 1161 Santo Agostinho 32. Av. do Contorno, 4120 Esquina com Rua Rio Doce, So Lucas Registro Documental aprovado pelo CDPCM-BH . 33. Rua Felipe dos Santos, entre Ruas So Paulo e Rio de Janeiro Lourdes 34. Rua Antonio Aleixo, n 200 - Lourdes 35. Rua Alvarenga Peixoto, 1027 Lourdes 36 - Rua Eduardo Porto, 502 - Cidade Jardim Rua Eduardo Porto, 452 - Cidade Jardim 60 Justificativa para proteo
Acontece que, de fato, toda a arte atual no ocidente trilha caminhos excessivamente intelectualizados, assentada em formas mentais de tal modo hipertrofiadas que leva ao desprezo do lado humano que lhe intrnseco. No caso da arquitetura o aspecto humano ento primacial, pois que casas jamais devem ser feitas para serem admiradas, mas sim para que nelas vivam pessoas. (VASCONCELLOS, 1961, p.18).
O presente texto rene informaes que visam justificar a proteo do conjunto de obras de Sylvio de Vasconcellos. Como restou provado, o referido arquiteto legou-nos uma produo intelectual importantssima, sendo considerado um dos mais destacados estudiosos da arquitetura colonial mineira, bem como teorizador da produo arquitetnica desenvolvida em Belo Horizonte entre 1950 e 1970. Alm disto, Sylvio foi, nas palavras de Suzi de Mello arquiteto por excelncia, tanto por sua excepcional cultura quanto pela abrangncia de seu pensamento ldico, em que a arquitetura est sempre presente e se destaca como o elemento fundamental e sintetizador de toda cultura humana atravs dos tempos (Citado por SOUZA, 1995:118). De modo que, as edificaes por ele projetadas, para alm de sua excelncia arquitetnica, refletem o amadurecimento de sua crtica a arte de projetar, constituindo importante registro da corrente modernista mineira.
61 Bibliografia
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___________________________ Guisa de Indagaes. IN: Sylvio de Vasconcellos: um arquiteto para alm da forma. Universidade Federal de Minas Gerais. Programa de Ps- graduao em Histria. Tese de doutorado (ainda no defendida). 2007.
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