A Ação Dos Engenheiros Militares Na Ordenação Do Espaço Urbano No Brasil

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Urban ismo 4 de origem portuguesa

A Ação dos Engenheiros Militares na Ordenação do Espaço Urbano no Brasil


Benedito Lima de Toledo

Comunicação apresentada no Colóquio "A Construção do Brasil Urbano", Convento da


Arrábida - Lisboa 2000

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo demonstrar a importância da atuação dos engenheiros militares
originalmente vindos ao Brasil com a missão de dotar a costa com fortificações e repará-las, bem como
inspecionar as propriedades da coroa. Contudo, foram chamados a projetar e construir edificações
para autoridades religiosas e a trabalhar em contato direto com municipalidades, sendo responsáveis
por uma extensa lista de trabalhos em todo o país.

ABSTRACT

The purpose of this paper is to demonstrate the importance of the military engineers who originaly came
to Brazil with the mission of providing and repairing fortifications of the coast ans inspecting
possessions of the crown. But, they were called upon to design and construct buildings for religious
authorities and to work in close association with the municipalities, being responsible for an extensive
list of works all over the country.

É geralmente aceita a afirmação que o século XVIII foi o século em que a arte brasileira produziu suas
obras mais originais. A partir da metade desse século, pode-se constatar um maior florescimento de
uma arte tida especificamente como brasileira em oposição à arte luso-brasileira ou arte portuguesa
feita no Brasil. As mais notáveis obras vão ocorrer em regiões onde a mineração se deu de forma mais
intensiva. A formação de uma rede de cidades em regiões distantes do litoral, é circunstância alinhada
entre as razões do afastamento dos padrões estabelecidos nos dois primeiros séculos de colonização.

Para essa região, acorrem mestres e artífices das mais diversas especialidades vindos do litoral ou de
vários pontos do império colonial português, atraídos pelas oportunidades que a prosperidade da
região oferecia.

No Governo de Gomes Freire de Andrade (1732-62), Vila Rica conheceu significativos


empreendimentos. Pontes de arco pleno foram erigidas sobre cursos d'água, cuidou-se do
abastecimento de água e da construção de elegantes chafarizes. As vias públicas começaram a ser
regularizadas e calçadas, tarefa árdua, face à topografia da região.

Dois edifícios nessa cidade assinalam a presença do poder real. A Casa de Câmara e Cadeia e o
Palácio dos Governadores.

Com a proibição da instalação das ordens religiosas na região, são as irmandades terceiras as
responsáveis pelo florescimento de uma arquitetura capaz de responder aos anseios daquela
sociedade

Para execução de obras tão diversificadas são encarregados oficiais, pedreiros ou carpinteiros
identificados habitualmente apenas pela leitura de contratos e louvações de que participaram.
Exemplo significativo é Manuel Francisco Lisboa, pai de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho,
profissional de alta qualificação.

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A cidade conhecia grande animação, como os poucos viajantes que tiveram acesso à região deixaram
anotado em seus relatos. Segundo essas fontes, Vila Rica teria mais músicos que a Metrópole e as
lojas da Vila seriam mais sortidas que as de Londres. A arquitetura religiosa, porventura, é o
testemunho mais confiável que restou dessa alegada prosperidade, bem como, no que respeita à
música, o são as partituras, que sobreviveram às vicissitudes do tempo.

Todavia, esses fatos habitualmente invocados não são suficientes para explicar as grandes
transformações do século XVIII.

Outros fatores, alguns aparentemente remotos, mas igualmente ponderáveis, e ainda não
suficientemente estudados, vem se somar à fartura trazida pela mineração. Deles, destacaremos dois.

O primeiro fato a ser enfatizado é o terremoto, que a 1o de novembro de 1755, destruiu, em cerca de
dez minutos, a cidade de Lisboa. Terremoto ao qual se seguiu um maremoto e um pavoroso incêndio
que reduziu a cidade a escombros com a conseqüente desorganização de todos os serviços públicos.

A reconstrução de Lisboa, ou melhor dizendo, sua recriação como prefere o Professor José Augusto
França, foi um empreendimento responsável por um grande ímpeto renovador na forma de se entender
o espaço urbano desde sua produção, até pormenores de fatura da arquitetura. A estrutura medieval
dessa cidade, onde era visível a influência mediterrânea em sua origem e a herança mourisca em
muitos pormenores da arquitetura, cede lugar, gradativamente, a uma cidade erigida segundo um plano
racionalizador, preocupado com a salubridade e regida pela "estética do iluminismo", segundo o já
citado Professor França.

A arquitetura, igualmente, abandona formas consagradas como as manifestações do Maneirismo de


que tão extensivamente se serviram os arquitetos portugueses a serviço de ordens religiosas,
notadamente da Companhia de Jesus, ao lado de arquitetos originários de outros países.

Mas, após o terremoto, a racionalização, podemos dizer, foi efetivamente entronizada entre
planejadores e empreendedores.

Essa fase de arquitetura portuguesa ficou consagrada com o nome Pombalino, como referência ao
ministro de D. José I responsável por um dos mais eloqüentes momentos da história daquela cidade.

O outro fator de grande relevância em meados do século XVIII e com repercussões na colônia
americana foi a constituição de Missões Demarcatórias destinadas a dar cumprimento aos Tratados de
Limites relativos às terras da América, celebrados entre Portugal e Espanha.

Para viabilização desses tratados, tornava-se necessária a composição de equipes com profissionais
de diferentes formações, recrutados em diversos pontos da Europa destinados a engrossar o quadro
de profissionais portugueses devido à desmensurada amplidão dessa tarefa.

Tais profissionais levaram um ímpeto renovador a Portugal e as equipes constituíram um contingente


de mão-de-obra qualificada, responsáveis, em boa medida, pelas inovações na colônia portuguesa na
América, na segunda metade do século XVIII.

Referindo-se a uma falta de interesse dos estudiosos com relação a arquitetura militar, Rafael Moreira
pondera: "E, no entanto, ninguém ignora que praticamente todos os grandes construtores do século
XVI, do XVII, e mesmo do XVIII, foram também activos construtores militares; que a sua formação
teórica se fez em grande parte sobre as disciplinas e os métodos da "Arquitectura Militar ou
Fortificação”; e que o nosso urbanismo, até o pombalino inclusive, foi essencialmente uma criação de
oficiais de infantaria com exercício de engenheiro".

No que respeita à sua colônia americana o estado atual da questão, à vista das pesquisas em
andamento, vem corroborar essa assertiva.

A AÇÃO DE POMBAL NA AMÉRICA

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Para a América Portuguesa, a política de Pombal pode ser tida como expressão da filosofia do século
das luzes: A razão e a natureza devem compor forças. A natureza deve subordinar-se à razão pelo
exato conhecimento. A razão só pode avançar apoiada na realidade.

Para Pombal, soberania seria “o constante e real domínio de um espaço geográfico bem demarcado”.
Esta era a noção de território nacional, segundo o despotismo esclarecido.

Para colocá-la em prática, seria necessária uma clara divisão territorial que pressupunha a definição de
fronteiras nas cartas e no território, com a criação de um sistema extensivo de fortificações,
assegurada, ainda, a comunicação com centro administrativo.

A Metrópole dividiu as terras americanas em dois eixos: um acompanhando o Rio Amazonas, no


Estado do Maranhão, e outro seguindo a costa no Estado do Brasil.

No primeiro eixo, estabeleceu uma linha de fortificações desde o Macapá até o Rio Negro (1755):

Forte de Macapá,
Forte de Gurupá,
Forte de Óbidos,
Forte de Santarém (Rio Tapajós),
Forte de São José do Rio Negro,
Forte de São Joaquim,
Forte de São Gabriel (S. G. da Cachoeira),
Forte de São José de Marabitanas (Rio Negro),
Forte de São Francisco Xavier de Tabatinga.

Para sede do governo, foi escolhida a cidade de Belém, situada em ponto estratégico da navegação
fluvial e marítima.

No segundo eixo, foi escolhido, para sede do governo, o Rio de Janeiro (1763), situado a meia
distância entre o Ceará e a Colônia do Sacramento. Essa era, ademais, uma região com acesso mais
fácil à região aurífera de Minas Gerais.

No interior, de Mato Grosso a Rio Branco, foi igualmente estabelecido um sistema de fortificação
lindeira extensiva: Forte Príncipe da Beira (Rio Guaporé), Forte Coimbra (Rio Paraguai), Forte Iguatemi
(Rio Paraná).

Definidos esses dois eixos e respectivos centros administrativos, Pombal passa a tomar medidas
efetivas para o exercício da soberania que como vimos consistia no "constante e real domínio de um
espaço geográfico bem demarcado".

A eficácia dessa política, pressupunha uma cartografia rigorosa capaz de produzir cartas que
pudessem servir de base às negociações nos Tratados e, simultaneamente, a criação de uma rede de
fortificações dotada de comunicação com o centro administrativo.

Com essas medidas, reafirmava-se a presença ativa do governo em todo o território.

A fortificação das costas de sua colônia americana, deve-se lembrar, foi permanente preocupação da
Metrópole, constituindo este tema objeto de diversos planos extensivos ou voltados a pontos julgados
estratégicos.

Por esse motivo, a iconografia relativa a Salvador, a antiga capital até 1763, é particularmente rica.
Um exemplo, é a vista marítima realizada pelo "Sargento-Mor Engenheiro, Lente da Aula Militar José
Antônio Caldas".

De excepcional interesse é a peça similar datada de maio de 1779 de autoria de Carlos Julião - Capitão
de Mineiros do Regimento de Artilharia da corte. Trata-se de desenho aquarelado que revela um
observador arguto quanto aos objetivos propostos, a saber, a indicação da posição das fortificações
(dez) acompanhada de suas imagens. Esse capitão permitiu-se, ainda, desenhar tipos humanos
muito expressivos. O original pertence ao Gabinete de Estudos Históricos de Fortificação e Obras
Militares de Portugal.

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As peças cartográficas vem se inserir numa antiga tradição portuguesa.

“Os portugueses foram pioneiros em áreas com a cartografia, a navegação, as ciências da terra e dos
planetas, os estudos sobre as correntes e os regimes dos ventos. Criaram um corpo de literatura
náutica: os guias náuticos”, como observa Russel-Wood, que acrescenta: “120 cartógrafos são
identificáveis do século XV ao XVIII”.

Nas representações gráficas o mar é sempre o centro. As cidades são representadas vistas do mar.
A faixa interior é secundária. Os rios são extensões do mar.

AS MISSÕES DEMARCATÓRIAS

Para solução do complexo problema de definição de fronteiras particularmente em dois momentos da


segunda metade do século XVIII, Portugal e Espanha se empenharam em negociações.

Do primeiro esforço diplomático, resultou o Tratado de Madri (1750) e do segundo, o Tratado de Santo
Ildefonso (1777).

Um documento de 1750 oferece a "Relação dos oficiais portugueses e mais pessoas que se acham
nomeadas por Sua Majestade para expedição da América Portuguesa". Examinando essa relação,
vemos que, dos 34 especialistas engajados, somente 10 eram portugueses, dos quais 4 médicos. O
comandante era o genovês Blasco. Os tenentes, todos alemães. Os seis astrônomos italianos dos
quais 4 jesuitas.

Ainda não foi estudada, com a profundidade necessária, a obra desses profissionais, cujos nomes
freqüentemente aparecem vinculados a trabalhos de vulto, embora imprecisamente referidos. A eles
devemos peças cartográficas de reconhecida qualidade.

A cartogafia dos limites de 1750 a 1777, quer nas suas partidas do sul, quer nas do norte, segundo
José Honório Rodrigues "delineou com extraordinários resultados o corpo físico do Brasil. São
verdadeiros monumentos cartográficos que elucidam complicadas questões de limites".

De todos os integrantes da famosa expedição de 1750, quem mais se destacou, em todos os setores,
foi o Brigadeiro José Custódio de Sá e Faria, engenheiro militar, arquiteto, administrador, homem de
armas e a quem podemos reservar o título de maior cartógrafo da América do Sul, como propõe Dom
Clemente Maria da Silva Nigra.

Por essa forma, dava-se efetivo cumprimento a uma das premissas para o exercício da soberania,
segundo a filosofia do despotismo esclarecido: "A natureza deve se subordinar à razão pelo exato
conhecimento: a razão só pode avançar apoiada na realidade".

Portugal passou a constituir, a partir de então, um sólido acervo documental de suas terras, expresso
em uma cartografia rigorosa. Com esse acervo, passou-se à elaboração de planos de defesa,
segundo os quais redes de fortificações começaram a se estruturar e núcleos urbanos começaram a
se consolidar.

A obra cartográfica de José Custódio de Sá e Faria é um acervo de inestimável valor para o estudo da
formação territorial do país e suas relações com demais nações.

As peças gráficas são acompanhadas de relatos circunstanciados, em excelente apresentação e


clareza expositiva. Nos diários e planos de viagem comparecem informações preciosas sobre as
formas de se transitar, seja por caminhos em terra, trilhas de nativos, trilhas de colonizadores, alguma
"estrada Real", seja por vias fluviais. São, ainda, descritas as formas utilizadas na transposição desses
cursos d'água. Há descrição da configuração das vilas, da atividade econômica, das relações entre
os diferentes grupos, hábitos sociais e comportamento ou algum tipo de fortificação.

Além das vilas, são registrados pousos, fazendas, pontos de comércio, presídios, capelas, arraiais e
aldeias de índios e outros pontos de referência. De algumas vilas pode-se ter idéia precisa, a exemplo

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de Curuguaty (1754).

São documentos de excepcional valor por seu pioneirismo e por indicar com muita clareza a formação
da rede urbana em função das principais rotas de penetração, de comércio ou de defesa.

AS DIRETRIZES MARIANAS

Um segundo momento de grande significado, na segunda metade do século XVIII, ocorreu após o
falecimento de D. José I, em 1777, com o conseqüente afastamento de seu ministro, o Marquês de
Pombal.

Apesar de todas as alterações ocorridas com a ascenção de D. Maria I, pode-se notar que,
basicamente, não houve alterações nas diretrizes da política administrativa: definição do território,
ocupação efetiva, implantação de fortificações lindeiras, centralização das decisões, aperfeiçoamento
dos quadros e incentivo às atividades produtivas e distributivas. Em resumo, pode-se afirmar que "as
diretrizes pombalinas e as marianas atingem as raias de uma identidade total".

Uma das primeiras medidas de D. Maria I foi a celebração do Tratado de Santo Ildefonso em 1º de
outubro de 1777 e, novamente, a constituição de uma segunda expedição demarcatória.

Mais uma vez um contingente de profissionais qualificados trouxe grande contribuição ao país.

A DIVERSIDADE DA ATUAÇÃO DOS ENGENHEIROS MILITARES

A extensão de obras dos engenheiros militares portugueses no Brasil mostra uma grande pluralidade.
É surpreendente, deveríamos dizer, a capacidade desses profissionais de responder a tão
diversificados programas. Há uma bela síntese devida a Robert Smith que merece ser transcrita em
sua íntegra: "Registros coloniais indicam que, no período entre 1549 e 1822, quando a independência
do Brasil foi proclamada, mais de uma centena desses "oficiais de infantaria com exercício de
engenheiro" serviu no Brasil. Ainda que seu papel na história da arquitetura brasileira não tenha sido
até agora inteiramente investigado, há uma crescente evidência a indicar que foi substancial.
Instruídos tanto na arquitetura civil como na militar, graduados por rigorosos cursos em Portugal e no
Brasil, trabalhavam os engenheiros em estreita colaboração com as municipalidades. Participavam de
planos urbanísticos, supervisionavam o traçado e a manutenção de ruas e praças, esgotos e
abastecimento de água. Desenhavam a planta das cidades e "vistas" das mesmas. Não era raro
serem chamados a projetar e construir edifícios para autoridades civís e religiosas. Assim procediam
em aditamento a suas obrigações regulares de prover e reparar as fortificações da costa e do interior,
inspecionar minas e outras possessões da corôa e delinar mapas da área ocupada pelos portugueses
na América. Foram esses engenheiros do exército que decidiram do destino a ser dado ao patrimônio
da Sociedade de Jesus depois do banimento de seus membros. Fizeram plantas de numerosos
edifícios então desocupados. Para dirigí-los, o maquinismo estava bem à mão, pois, sete anos antes,
o jovem rei D. José I havia publicado o alvará de 7 de fevereiro de 1752, pelo qual procurou
estabelecer um código do procedimento a ser seguido no império e em Portugal por seus inúmeros
engenheiros".

O Pombalino foi a mais evidente expressão da arquitetura de caráter oficial. As manifestações


anteriores, como o Manuelino, principalmente, decorriam de um anseio de expressão da grandeza do
poder real e, sobretudo, os sucessos marítimos ao tempo de D. Manuel (1495-1521). Na verdade,
expressavam-se sobre estruturas já elaboradas, o Gótico tardio, por exemplo, como notou Pierre
Lavedan. Mas os componentes desse estilo são bem diversificados, além do “flamboyant”, o
plateresco, o mourisco e formas tomadas à natureza, fantásticas por vezes, criam uma profusão
barroca.

Se considerarmos que o Joanino participa de um quadro da cultura européia de sua época,


notabilizando-se pelo requinte das soluções alcançadas, constatamos que o Pombalino, por sua vez,
tem peculiaridades que justificam sua notoriedade.

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Para começar, é arquitetura de arquitetos oficiais, notadamente os engenheiros militares que não
deixavam de revelar sua personalidade, mesmo quando realizando edificações religiosas ou civís,
devendo-se acrescentar que o ensino de arquitetura em Portugal, sempre foi fortemente influenciado
por esses engenheiros militares. Haja visto os primórdios da atividade editorial inteiramente voltada à
arquitetura militar. Segundo Rafael Moreira, "Os primeiros livros de arquitectura impressos em
português tratam exclusivamente de questões de engenharia militar, enquanto livros de texto
(reveladores, só por si, do conteúdo desse ensino profissional) para uso na "Aula de Arquitectura do
Paço da Ribeira": o Método lusitânico de desenhar as fortificações (Oficina Craesbeeckiana, Lisboa,
1680) de Luís Serrão Pimentel; as traduções de Deville (O Governador de Praças, Lisboa, 1708) e de
Pfeffinger (Fortificação moderna, Lisboa, 1713) feitas por Manuel da Maia; O Engenheiro Português de
Manuel de Azevedo Fortes (2 vols., Lisboa, 1728-29); etc. Os compêndios manuscritos de teor idêntico
contam-se pelas dezenas, sobretudo na segunda metade do século XVII".

Esses militares sempre foram fiéis aos princípios vitruvianos e sua arquitetura, quase sempre, foi
vignolesca. No que respeita ao traçado de cidades, não se afastavam de alguns padrões. Podemos
tomar dois exemplos no Brasil:

Aproximadamente em 1621, Francisco Frias de Mesquita, Engenheiro-mor do Estado do Brasil,


elabora um plano para a cidade de São Luís do Maranhão, na forma de um reticulado hipodâmico que
ignora as características do terreno, como podemos ver no álbum de Gaspar Barléus. Até hoje, o
centro histórico da cidade sofre as consequências desse projeto, principalmente no que respeita à
circulação, embora devendo-se registrar que ruas, que terminam em degraus, criam recantos
pitorescos nessa cidade.

Outro exemplo ocorre com o Brigadeiro José Fernandes de Pinto Alpoim, embora inovador em muitos
aspectos, ao elaborar um plano para extensão da cidade de Mariana, projetou um bairro exatamente
segundo um reticulado que não leva em conta a topografia, com seus inconvenientes notórios.

Alpoim, como se recorda, foi figura relevante no século XVIII no Rio de Janeiro, responsável por uma
diversificada atuação profissional. Quando, em 1738, foi criado um curso regular de formação de
engenheiros militares denominado “Aulas de Artilharia e Uso de Fogos de Artifícios”, a direção foi
confiada a Alpoim.

O Brigadeiro José Custódio de Sá e Faria, em plena segunda metade do século XVIII, projeta para a
cidade do Rio de Janeiro a Igreja de Santa Cruz dos Militares que pode ser tomada como uma
arquitetura jesuítica ou pelo menos maneirista, segundo as diretrizes do Tratado de Serlio ou Vignola.
Esse profissional, após sua capitulação, foi conduzido preso pelos espanhóis para Buenos Aires.
Seus captores respeitaram sua alta qualificação e se beneficiaram de sua atividade como arquiteto.
Dessa fase, conhecemos o projeto para a Catedral de Buenos Aires e para a Catedral de Assunção do
Paraguai, ambas lembrando muito as composições que vemos no Tratado de Serlio (Tutte l'opere
d'architettura, et prospectiva, de Sebastiano Serlio Bolognese).

O RIO DE JANEIRO NA ÉPOCA DOS VICE REIS

A cidade do Rio de Janeiro no século XVIII conheceu obras de invulgar importância. As invasões pelos
franceses (1710-11) levaram a Metrópole a tomar medidas mais eficazes de proteção. Em 1713, o
Brigadeiro João Massé (francês, como os invasores e designado em 1712 para servir no Brasil)
elaborou uma planta da cidade onde, pela primeira vez, comparece o traçado de ruas. A missão desse
Brigadeiro era a reelaboração do plano de fortificação da cidade. O prestígio desse militar junto a D.
João V era de tal ordem que, segundo o Professor Paulo Santos, esse rei só permitiu a publicação do
Engenheiro Português (1728-29), de Manuel de Azevedo Fortes, após passar pela censura do
Brigadeiro João de Massé.

Massé propôs a construção de um muro defensivo com revelins unindo os morros do Castelo ao da
Conceição, que não chegou a ser construído, mas que revelava uma visão global do sítio urbano.

A esse Brigadeiro devemos, ainda, um plano para Salvador e um plano para a cidade de Santos com
princípios semelhantes aos do Rio de Janeiro

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INOVAÇÕES FORMAIS: IGREJAS DE PLANTA CENTRAL

Se podemos constatar o caráter em geral conservador da obra dos engenheiros militares, de outra
parte alguns desses profissionais no século XVIII mostraram estar sintonizados com o que de mais
avançado havia na arquitetura da Metrópole. Vejamos o caso do Tenente-Coronel Manuel Cardoso
Ramalho. Esse arquiteto é tido como o introdutor de plantas poligonais no Brasil. Suas obras mais
notáveis foram a Igreja da Glória do Outeiro (1714-1739) e a Igreja de São Pedro dos Clérigos (1733),
no Rio de Janeiro, esta última demolida à época das operações urbanas do urbanista francês Agache.

A Igreja da Glória em seu despojamento parece antecipar obra notáveis por sua originalidade. Se a
data de sua construção fosse confirmada (1714), esse pequeno templo se anteciparia à memorável
Igreja de São Pedro dos Clérigos que Nicolau Nasoni projetou no Porto (1732-50), como muito
agudamente observou o conceituado historiador argentino Mário J. Buschiazzo.

A singela igreja, habilmente implantada em seu outeiro, tem intrigado pesquisadores de várias
nacionalidades como John Bury, Robert Smith, Germain Bazin, Lúcio Costa, Rodrigo de Mello Franco
de Andrade, além dos já citados, Mário Buschiazzo e Augusto da Silva Telles.

Este último, dá a razão desse interesse.

"[...] a (igreja) da Glória do Outeiro representa uma antecipação no sentido barroco do plano
arquitetônico, por ter precedido às três de São Pedro dos Clérigos, do Recife, do Porto e do Rio de
Janeiro, bem como as mineiras que acima citamos. Entretanto é quase contemporânea da das
Barrocas do Aveiro e pouco posterior à do Menino Deus de Lisboa".

Mesmo não se confirmando a data (1714), permanece o fato de termos no Tenente-Coronel Manuel
Cardoso Ramalho um arquiteto imaginoso e familiarizado com o que havia de mais avançado em seu
tempo.

A pequena igreja terá motivado outras no Rio de Janeiro e em outros núcleos do litoral, onde
poderíamos assinalar uma clara influência recíproca da arquitetura contemporânea do norte de
Portugal.

O tema das igrejas de plano central está a merecer maior atenção. Há antecedentes muito
significativos em Portugal a exemplo da Igreja de N. S. da Piedade em Santarém. O início da
construção deste templo data de 1664 e teve origem na crença popular que a vitória decisiva na guerra
da Restauração deveu-se a milagre atribuído a uma imagem de N.S. da Piedade existente em uma
pequena ermida local. D. Afonso VI sensibilizado promove a construção de novo templo de planta
central em forma de cruz grega. Três braços da cruz contam com porta e o quarto abriga o altar.

“No exterior, cúpula octogonal, uma grande contenção decorativa, normal nesta tipologia, com pilastras
a acentuarem os ângulos retos e as portas a interromperem a secura do contínuo discurso dos muros.”

Neste século XVII vai se destacar a figura erudita e criativa de João Antunes a quem devemos, entre
outras,

Igreja de Sta. Engrácia de Lisboa (1689)


Igreja do Bom Jesus da Cruz de Barcelos (1705)
Igreja do Menino Deus de Lisboa (1711)

Santa Engrácia inspira-se em planta existente no livro terceiro de Serlio, mas com uma reinterpretação
para colocá-la na tradição da arquitetura religiosa portuguesa, a exemplo da disposição do altar.

No Rio de Janeiro, igrejas como São Francisco de Paula (1759) ou a Igreja da Candelária, iniciada em
1775 pelo Coronel Francisco João Roscio e concluída posteriormente por outros arquitetos, revelam
coerência formal com igrejas lisboetas, como a Matriz da Estrela de Lisboa (1779-90), projeto de
Matheus Vicente de Oliveira e Reinaldo dos Santos ou com a Igreja das Mercês (1760-70) de Joaquim
de Oliveira, ou ainda com a Igreja dos Paulistas, de Manuel Caetano de Souza, ambas em Lisboa.

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Este último, bem como Matheus Vicente como se sabe, são discípulos de Ludovice. Dessa escola de
Mafra, há um templo na Bahia, a Igreja da Conceição da Praia (1739-69) atribuída ao Tenente-Coronel
Manuel Cardoso de Saldanha, onde já são vistas algumas características comuns ao Pombalino, a
começar pela disciplina do neopaladianismo que, todavia, não impede o uso de torres bulbosas.
Segundo Robert Smith, esse templo foi baseado em desenho de Ludovice e Manuel da Maia. A
disposição da fachada ladeada por pavilhões lembra o projeto de Ludovice para Mafra, o mesmo
podendo dizer-se do forte paladianismo de suas portadas. Como se recorda, a cantaria dessa igreja foi
inteiramente executada nos canteiros de Mafra e trazida como lastro de navio para Salvador, onde foi
montada pelo referido Tenente-Coronel Manuel Cardoso de Saldanha e pelo pedreiro Eugênio da Mota.

Manuel Cardoso de Saldanha teve um discípulo à sua altura: José Antônio Caldas que revelou-se um
dos melhores engenheiros da Aula (curso de formação), desenhista de talento, responsável por
algumas vistas marinhas de Salvador. Trabalhou com seu mestre Manoel Cardoso de Saldanha em
diversas obras de vulto. Tornou-se professor na "Aula Militar" e a ele são creditadas obras bem
diversificadas como fortificações, obras portuárias e edifícios religiosos. Nasceu em Salvador e, como
se constata, formou-se à sombra dos engenheiros militares.

A INFLUÊNCIA DO POMBALINO NO BRASIL

Uma postura característica do absolutismo esclarecido foi a atenção dedicada a obras públicas nos
centros urbanos. Um episódio elucidativo ocorreu ao tempo do Marquês do Lavradio, Vice-Rei de 1769-
79. Lavradio promoveu o que hoje chamaríamos um concurso: encomendou um plano de defesa
simultaneamente a três oficiais: Brigadeiro Jacques Funck, Coronel Engenheiro Francisco João Roscio
e Brigadeiro José Custódio de Sá e Faria tendo encarregado um quarto oficial, o Tenente-General
Henrique Bohn de eleger o melhor plano.

Lavradio, considerado um verdadeiro "governante esclarecido", destacou-se pelo número de


melhoramentos urbanos que promoveu na capital nos quais os oficiais militares tiveram destacada
atuação.

Para caracterizar a arquitetura da segunda metade do século XVIII no Brasil, poderíamos nos referir
brevemente a três núcleos urbanos de estruturas bem diversificadas: Belém do Pará, Rio de Janeiro e
Ouro Preto.

Nessas regiões, fica clara a presença do Pombalino, arquitetura esta assim caracterizada por Germain
Bazin: "Le style pombalin est en quelque sorte une regulation neo-classique du Rococo se traduisant
par une accentuation des éléments marquant les structures, une simplification des profils, une reduction
du decor à la modenature et à quelque rocailles d'applique".

O maior despojamento parece ligar-se ao movimento do neopaladianismo internacional, enquanto os


ornatos parecem revelar influência de Ferdinando Galli da Bibiena, autor de L'architettura civile
preparata sula geometria (Parma, 1711).

Um dos discípulos formados na escola de Bibiena foi o arquiteto bolonhês Antônio José Landi, que veio
ao Brasil em 1753, como "desenhador", integrando a Partida Norte das expedições militares enviadas
ao Brasil em função do Tratado de Madri.

O "Capitão Antonio Joseph Landi, Architecto Regio", como é referido em documentos, radicou-se em
Belém do Pará, capital do "Estado do Maranhão", e ali realizou apreciável número de obras
caracterizadas por uma grande coerência: uma disciplina neopaladiana, composição marcada pela
regularidade da modulação e modenatura, com os ornatos parcimoniosamente usados segundo uma
linguagem rococó, notadamente nas portadas e nas janelas.

O maior templo da cidade, a Igreja jesuítica de Santo Alexandre, uma obra maneirista, com notável
acervo de retábulos barrocos, não parece ter impressionado o arquiteto bolonhês. Nem sequer seus
espetaculares púlpitos, notáveis por sua elaboradíssima composição.

Se alguma associação pudesse ser feita com a arquitetura portuguesa, talvez devessemos lembrar a
obra de Nicolau Nasoni que trabalhou no Porto entre 1732-72, arquiteto que apreciava o uso de ornato

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rococó contra fundo branco e marcava suas estruturas, cunhais, pilastras, cornijas e as aberturas com
granito, destacando-se da caliça branca das paredes.

São Luís, capital do Maranhão, é outra cidade do norte que vem se colocar ao lado de Belém, em
aspectos que evocam o Pombalino, sobretudo na arquitetura civil. Nessa perspectiva, o conjunto de
edificações da Praia Grande, sobretudo por sua volumetria, está a merecer mais aprofundado estudo.
O traçado dessa cidade, como se recorda, foi realizado por Francisco Frias de Mesquita, Engenheiro-
Mor do Estado do Brasil, e a catedral foi projetada por outro militar, o Sargento-Mor Engenheiro de
Estado do Maranhão, Custódio Pereira.

No Rio de Janeiro, algumas dessas características podem ser surpreendidas, na arquitetura da


segunda metade do século XVIII, devendo-se lembrar o hábil uso de portadas e molduras enviadas de
Portugal. (Uma dessas portadas, a da Igreja da Ordem Terceira do Carmo (1761) parece ter exercido
papel significativo na arte brasileira, segundo estudo de Lúcio Costa. Esse autor vê nessa peça um
modelo que teria impressionado Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, em sua única viagem ao Rio
de Janeiro. Seria a inspiração para as magistrais portadas franciscanas.)

A arquitetura em Vila Rica merece ainda uma referência: no último quartel do século XVIII, atingiu uma
maturidade perceptível em expressões de caráter local. Alguns edifícios oficiais marcam
ostensivamente a presença da Metrópole, como a Casa de Câmara e Cadeia (1784), de autoria
atribuída ao governador Luís da Cunha Menezes, um edifício que, por sua escala, parece destinado a
impressionar os súditos, mas cuja arquitetura revela equilíbrio e até comedimento e do qual se conhece
o projeto original, pertencente ao Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

O edifício congênere em Mariana é dos mais bem proporcionados da arquitetura colonial brasileira,
devido ao talentoso mestre José Pereira dos Santos, originário do Porto.

Ambos edifícios parecem revelar que havia sido superada a aspiração à sobrecarga ornamental típica
do Barroco, em favor de um maior apuro nas relações formais. Ao nome desse mesmo mestre José
Pereira dos Santos, estão ligados dois outros notáveis edifícios: a Igreja do Rosário (1784), em Ouro
Preto e a Igreja de São Pedro dos Clérigos (1763), em Mariana, conhecida pelas suas plantas
realizadas a partir de elipses, seus alçados marcados pela estrutura e redução dos ornatos à
modenatura, para usar a expressão de Germain Bazin.

Apesar da elegante movimentação da composição dos volumes dessas igrejas, pelo que se pode
constatar na Igreja do Rosário de Ouro Preto e se pode induzir pela Igreja inacabada de Mariana, seus
autores estavam longe das elaborações formais complexas não por falta de recursos técnicos, que
dominavam com segurança, como mostra a primorosa cantaria, mas por uma postura deliberada.

Da mesma forma, edifícios como a Casa dos Contos, em Ouro Preto, originalmente construída para
residência (1782), ou a Casa Capitular de Mariana, atual Museu de Arte Sacra, revelam domínio da
arte de construir associados a um apurado senso de equilíbrio. A composição, ainda neste caso, se
faz pela modulação do edifício e pela maior elaboração da modenatura sobretudo nas aberturas a
exemplo da bela portada da Casa dos Contos, que se abre para a Rua São José.

Uma análise mais detida desse quadro parece revelar uma coerência com o que ocorria na Metrópole
desde o surgimento do Pombalino.

CONSEQUÊNCIAS DO TRATADO DE SANTO ILDEFONSO

Bernardo José Maria de Lorena e Távora tomou posse no governo de São Paulo em Julho de 1788.
Filho da Marquesa de Távora a quem o Rei D. José I dedicava grande afeto.

Lorena, que nunca usou o nome Távora, recebeu requintada educação. D. Maria I concedeu-lhe título
de Oficial do Exército e o enviou à França e Inglaterra onde permaneceu 5 anos. De volta a Lisboa, em
1786, recebeu o título de Conselheiro e, nesse mesmo ano, foi nomeado Governador de São Paulo.
Era Coronel da Legião de Voluntários Reais. Governou São Paulo de julho de 1788 a 15 de junho de
1797.

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Dessa Legião de Voluntários Reais quem mais se destacou em obras de real significado para a
Capitania de São Paulo foi João da Costa Ferreira, Capitão de Infantaria, com exercício de engenheiro,
designado para integrar a 1a Divisão das demarcações. Não tendo sido necessária sua presença
nessa atividade, dirigiu-se à Capitania de São Paulo, onde chegou a 4 de julho de 1788, iniciando uma
longa série de empreendimentos, dada sua larga experiência.

Uma de suas mais notáveis iniciativas foi "um plano para guiar a cidade em seu crescimento" ou seja,
um plano diretor, certamente o primeiro dessa cidade. Em 1792, foi responsável pela construção de
uma estrada inteiramente calçada de pedra em plena Serra do Mar , "entre a base da serra e a borda
do campo", obra fundamental para a economia paulista.

Foi responsável por obras urbanas, como a melhoria do abastecimento de água e construção do
primeiro chafariz em pedra da cidade. Construiu uma ponte em granito, conhecida como Ponte do
Lorena, melhorou o calçamento urbano e edificou um muro de arrimo de pedra junto ao Convento do
Carmo, com técnica e em escala desconhecida na cidade.

Examinando-se a atuação do Brigadeiro João da Costa Ferreira, pode-se constatar a relevância de sua
obra na modesta escala da cidade de São Paulo. Projetou edifícios oficiais, entre eles o Quartel dos
Voluntários Reais, onde podemos ver uma manifestação arquitetônica que poderíamos classificar de
protoneoclássica.

De sua biografia, já nos ocupamos em nossa obra O Real Corpo de Engenheiros na Capitania de São
Paulo, destacando-se a obra do Brigadeiro João da Costa Ferreira (Tese de
doutoramento/FAUUSP/1973).

João da Costa Ferreira encontrou em Antônio Rodrigues Montesinhos um colaborador à sua altura.
Brasileiro, ao que tudo indica, formou-se na "Aula Militar" do Rio de Janeiro, ingressando,
posteriormente, no Corpo de Engenheiros no governo Lorena.

Da análise do extenso rol de serviços prestados por esses engenheiros militares, podemos constatar
que as expedições dermacatórias, vindas ao Brasil com missão inicial de criar condições para o
cumprimento dos tratados de limites, foram responsáveis pela vinda de contigente de profissionais cuja
atividade, além de cartografia de excepcional qualidade, veio renovar o planejamento urbano, o traçado
de estradas, a arquitetura e as técnicas construtivas em geral.

Para finalizar, no local de uma conclusão, pode-se fazer uma constatação:

O século XVIII, conhecido como o “século do ouro”, por sua diversificação, apresenta riquezas ainda
longe de serem esgotadas.

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BIBLIOGRAFIA

BAZIN, Germain - L’architecture religieuse au Brésil. Paris, Plon, 1955.

BUSCHIAZZO, Mário - História de la arquitectura colonial en Iberoamérica. Buenos Aires, Emecê,


1961.

FRANÇA, José augusto - Lisboa Pombalina e o Iluminismo. Lisboa, Horizonte, 1965.

LAVEDAN, Pierre - Histoire de l”art. Paris, PUF, 1949.

MACHADO, Lourival Gomes - Política e administração sob os últimos vice-reis. In: HOLANDA, Sérgio
B. - História geral da civilização brasileira. A época colonial. São Paulo, Difusão Européia do Livro,
1963.

MOREIRA, Rafael - A arquitetura militar do Renascimento em Portugal. In: A INTRODUÇÃO da arte


da Renascença na Península Ibérica. Coimbra, EPARTUR, 1981.

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PEREIRA, José Fernandes - O barroco do século XVII: transição e mudanças. S.L., Temas & Debates,
1997.

RODRIGUES, José Honório - Teoria da história doBrasil. 3.ed. São Paulo, E. Nacional, 1969.

RUSSEL-WOOD, A J. R. - Portugal e o mar um mundo entrelaçado. Lisboa, Assírio & Alvim/Expo 98,
1998.

SILVA-NIGRA, Clemente Maria da - Sobre as artes plásticas na antiga capitania de São Paulo. In:
ENSAIOS paulistas. São Paulo, Anhambi, 1958.

SMITH, Robert C. - Arquitetura jesuítica no Brasil. São Paulo, FAUUSP, 1962.

SOUSA VITERBO - Expedições científico-militares enviadas ao Brasil. Lisboa, Ed. Panorama, 1962.

TEIXEIRA, Manuel C. & VALLA, Margarida. O urbanismo português. Séculos XIII-XVIII. Portugal-
Brasil. Lisboa, Horizonte, 1999.

TELLES, Augusto Carlos da Silva – Atlas dos monumentos históricos e artísticos doBrasil. 2.ed. Rio
de Janeiro, FENAME/SEAC, 1980.

TOLEDO, Benedito Lima de - O Real Corpo de Engenheiros na Capitania de São Paulo, destacando-se
a obra do Brigadeiro João da Costa Ferreira. São Paulo, João Fortes Engenharia/Ex Libris, 1981.
(Tese - doutoramento - FAUUSP)

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ILUSTRAÇÕES

1. Planta da cidade de São Luís do Maranhão. Autor Engenheiro-Mor Francisco Frias de Mesquita (1621).
Gravura de autor desconhecido. Figura do livro História dos feitos recentemente praticados durante oito anos
no Brasil. Gaspar Barléus (1647).
2. Frontaria das Casas do Alferes A . S. Azevedo. Autor Antônio José Landi. Figura do livro Viagem Filosófica.
Alexandre Rodrigues Ferreira (1783-1792).
3. Pormenor do “Exemplo Geographico do Terreno comprehendido entre a Cid.ª de S. Paulo, a do Paraguay, a
Va. De Cuyabá, de Minas no qual se expreção a situação do Rio Iguatemy, Campos da Vacaria e Sertoens de
Tibagi, & Guarapuava”. Notar a localização da cidade de São Paulo e dos principais caminhos.
4. “Prospecto da Fortaleza de S. Cruz da Ilha Anhatomiri vista de Leste”. Brigadeiro José Custódio de Sá e
Faria.
5. “Prospecto da Fortaleza de S. Cruz da Ilha de Anhatomiri vista Oeste, ou da Terra firme”. Brigadeiro José
Custódio de Sá e Faria.
6. “Plano da Villa de N. S. do Desterro da Ilha de S. Catarina”. Brigadeiro José Custódio de Sá e Faria.
7. “Exemplo Geographico do Caminho da Cidade da Asumpção do Paraguay”. Brigadeiro José Custódio de Sá
e Faria.
8. “Planta da Villa de Santos & de seu Porto, com suas Fortificaçoens dessinadas de novo”. Brigadeiro João
Massé (c1714).
9. “Planta de hua Fortaleza dessinada de novo na Villa de Santos, cuja explicação vay em papel a parte”.
Brigadeiro João Massé (c1714).
10. Relação geral de todas as fortalezas e baterias ao redor da Bahia e Praça do Rio de Janeiro (1768), Projeto
Marechal de Campo Jacques Funck.
11. Calçada do Lorena, construída pelo Brigadeiro João da Costa Ferreira (1792).

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