IvetaMariaBorgesAvilaFernandes PDF
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FACULDADE DE EDUCAO
So Paulo
2009
So Paulo
2009
Catalogao na Publicao
Servio de Biblioteca e Documentao
Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo
371.13
F363m
FOLHA DE APROVAO
Iveta Maria Borges vila Fernandes
Msica na escola: desafios e perspectivas na formao contnua de educadores da rede pblica
Aprovada em:
Banca Examinadora
Prof. Dr................................................................................................................................
Instituio:......................................................Assinatura:...................................................
Prof. Dr................................................................................................................................
Instituio:......................................................Assinatura:...................................................
Prof. Dr................................................................................................................................
Instituio:......................................................Assinatura:...................................................
Prof. Dr................................................................................................................................
Instituio:......................................................Assinatura:...................................................
Prof. Dr................................................................................................................................
Instituio:......................................................Assinatura:...................................................
Agradecimentos
Profa Dra Heloisa Dupas Penteado, querida orientadora, pelo apoio, suporte
e construo constante desse trabalho junto a mim. Muito obrigada!
Ao Prof. Dr. Jos Cerchi Fusari, pelo acompanhamento de minha trajetria,
orientao, encorajamento, estmulo e apoio em diferentes momentos.
Leni Gomes Magi, Diretora do Departamento Pedaggico e Luiza
Conceio Silva, Chefe da Diviso de Projetos Especiais, que comungaram
comigo as alegrias e as adversidades, pelo companheirismo, partilha, e
apoio indispensveis.
s Supervisoras de Ensino, Equipe Tcnica da SME, Direo e
Coordenao das Escolas, aos Professores, aos Orientadores de Informtica
das escolas, s ADIs e ADEs, aos Escriturrios e Ajudantes Gerais das
Escolas que integram o Projeto Tocando, cantando,...fazendo msica com
crianas, da Secretaria Municipal de Educao de Mogi das Cruzes, o
meu muito obrigada a todos por termos construdo juntos, pela parceria e
apoio no decorrer desse trabalho.
Aos profissionais convidados para cursos e workshops, e que conosco
trabalharam no Projeto junto aos educadores desta rede municipal de
ensino, pela inestimvel colaborao.
Aos Monitores(as) / Orientadores(as) de Msica que comigo viveram essa
histria, pelo desafio de ser aprendiz da vida, no saber/ensinar/aprender
msica, e construir a esperana.
Ao amigo e compadre Antonio Jos de Mello Mattos Schemy, pelo
desprendimento, solicitude e auxlio nos procedimentos finais da
elaborao dos exemplares desta tese.
Ao aluno Carlos Roberto Prestes Lopes, pela ateno e profissionalismo na
diagramao desta tese.
minha famlia, pelo constante incentivo e providncias tomadas ao longo de
todo esse perodo de meu doutorado. Pela pacincia com o meu tempo,
exguo na maioria das vezes. Por estar sempre bem prxima, ajudando-me
a desvendar a vida.
RESUMO
erudita; b) que resulte na produo de conhecimento sobre ensino de msica, no registro desse
conhecimento produzido e em sua socializao atravs de escrita, publicao de artigos,
participao em congressos; c) que se realize de forma contextualizada, envolvendo
profissionais de msica e ensino de msica, bem como amadores da comunidade onde a
escola se situa.
ABSTRACT
FERNANDES, Iveta Maria Borges vila. Music in the school: challenges and perspectives
for a continuous training of public school teachers. 2009. 349 p. Thesis (PhD) - Faculdade
de Educao, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2009.
This research is aimed at contributing to the development of continuous training projects for
elementary public school music teachers. Investigation includes two phases. The first
dialogues and reflects on the contributions provided by the Caldeira Filho and Experimental
da Lapa schools among others, related to music in the classroom. The second describes and
analyzes the Tocando, cantando ... fazendo msica com crianas (Playing, singing ...
making music with children) research-action project mounted by the Mogi das Cruzes (SP)
Municipal Secretariat of Education, and discusses proposals for the development of
continuous training projects for music teachers on how to overcome the barriers of traditional
teaching by developing sound and music languages and producing knowledge on music
teaching for children by incorporating new teaching paradigms. The following objectives
were sought: to contribute to the production of knowledge leading to developing projects of
continuous training for public school music teachers who work with children; to design
projects for Elementary School teachers involved in a continuous training process in order for
them to know music and know how to be a teacher working with music. I conducted a
qualitative collaborative/communicational research-action research project. Analysis of data
collected during the projects development resulted in the creation of some guiding principles
for Continuous Training Projects for teachers on how to overcome traditional music teaching
models and incorporate new teaching paradigms. They are developed by the teaching staff
from their professional experience and knowledge of music and music teaching; they favor
the school locus as a constructive space, and enroll the teachers in a Political Pedagogical
Project; they consist of an interdisciplinary aspect of the research-intervention type, a
procedure that is essential for fulfilling fundamental aspects in Continuous Training projects
for music teachers working with children, which are: 1. making a diagnostic, procedural and
final evaluation; 2. making a link between the teaching-investigation work being conducted at
the school and the research-teaching work occurring at the University; 3. treating the
important functions of productive music teaching, which must: a) provide the teaching of
music as a language, including traditional popular and classical music; b) result in the
production of knowledge about music teaching which should be recorded, and published in
Key-words: Project for continuous training of public school teachers. Music as language and
expression. Production of knowledge on music teaching for children. Understanding music
and knowing how to be a music teacher.
Sumrio
Apresentao
17
Captulo 1
Desafios e perspectivas na formao contnua de educadores: continuidade e
mudana no ensino de msica.
1. Desafios e perspectivas na formao contnua de educadores
22
31
Captulo 2
Do ensino de msica na escola: dialogando com teorias e prticas
1. Introduo
39
46
50
60
61
77
Captulo 3
Como tecer o tapete: metodologia da pesquisa
1. Fios condutores da tessitura do tapete. Pesquisa qualitativa
87
89
90
91
98
99
Captulo 4
O projeto Tocando, cantando,... fazendo msica com crianas:
projetando e tecendo, tecendo e projetando o tapete
1. Um portal
101
103
109
116
125
140
151
Captulo 5
Projetando e tecendo, tecendo e projetando o tapete: anlise do
desenvolvimento do projeto
157
1. Cursos e workshops
159
165
3. Apresentaes musicais
170
175
5. Avaliao
177
182
Captulo 6
Um tapete sem fim: elementos para concepo e desenvolvimento de projetos
de formao contnua em msica
188
Referncias
192
APNDICES
APNDICE A
205
Instrumentos de Avaliao
1. Avaliaes Diagnsticas
206
2. Avaliaes Processuais
212
3. Avaliaes Finais
217
APNDICE B
Material selecionado por mim e utilizado em sesses de Assessoria com
equipes de educadores das escolas do Projeto
226
ANEXOS
ANEXO A - Entrevistas
238
239
266
293
309
323
326
17
Apresentao
...o saber sobre a formao provm da prpria reflexo daqueles que se formam.
possvel especular sobre formao e propor orientaes tericas ou frmulas
pedaggicas que no esto em relao com os contextos organizacionais ou
pessoais. No entanto, a anlise dos processos de formao, entendidos numa
perspectiva de aprendizagem e de mudana, no se pode fazer sem uma referncia
explcita ao modo como um adulto viveu as situaes concretas do seu prprio
percurso educativo. (NVOA, 1995, p. 24)
Bsico (CB) como professora especialista em Arte Educao, atuando principalmente com a
linguagem musical. E reiniciei meus estudos na Universidade, fazendo o Curso de
Especializao em Arte Educao na Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de
So Paulo (ECA/USP). Pouco depois fui convidada a integrar a Oficina Pedaggica da 14 a
Delegacia de Ensino da Capital, na funo de Assistente Pedaggico de Educao Artstica.
1
Ciclo Bsico: Criado em 1983 pelo governo Montoro na Rede Pblica de Ensino do Estado de So Paulo, esse
projeto teve como meta combater a excluso escolar (evaso, repetncia,...) de alunos das sries iniciais: 1 e 2 do Ensino Fundamental, transformando-as no Ciclo Bsico (CB). Em 1988, no processo de implantao do Ciclo
Bsico, instituda a Jornada nica: os alunos passam a ter seis horas dirias de aula distribudas entre o
professor de classe, e os professores especialistas de Educao Artstica e Educao Fsica.
18
A gnese da pesquisa de doutorado que ora apresento surge nesta fase, poca em que iniciei
meu trabalho com crianas do Ciclo Bsico na EEPG Csar Martinez, na cidade de So Paulo,
e que fazia o curso de Especializao em Arte Educao. Trabalho que foi buscar seus
alicerces e inspirao: nas brincadeiras cantadas de minha infncia, em Santo Anastcio, uma
pequena cidade do interior do Estado de So Paulo; no conjunto musical Pitagu no qual
cantvamos e tocvamos msica popular brasileira, no perodo contrrio ao perodo de aulas,
na poca em que cursava o Ginsio e o Normal, no Instituto Santa Marcelina em
Botucatu; nos acompanhamentos ao piano das aulas de conjunto de percusso com crianas,
para as quais minha professora me convidava; em meu trajeto de professora de Educao
Musical, ao retornar cidade de Santo Anastcio; no estgio que fiz na rea de msica na
Escola Estadual de 1 Grau Experimental Dr. Edmundo de Carvalho, o Experimental da
Lapa, na cidade de So Paulo; nos novos paradigmas sobre ensino de arte; nos ambientes
culturais que freqentava: ECA/USP, Museu de Arte Contempornea da Universidade de So
Paulo (MAC/USP), e encontros de nossa associao de arte educadores, (AESP); nas leituras,
estudos, encontros e discusses da Oficina Pedaggica da 14 Delegacia de Ensino /
DRECAP-3 da rede pblica estadual, enquanto Assistente Pedaggica de Educao Artstica;
no curso de Especializao em Arte Educao na ECA/USP; no curso de Formao Contnua
de Professores na rea de Arte: artes visuais e msica, que fiz em 1992 na Universidade do
Tennessee / EUA (a convite do MAC / USP e Fundao Iochpe); na reflexo cotidiana que
fazia na prtica e sobre a minha prtica trabalhando com as crianas na construo da
linguagem musical, onde o fazer (a criao, interpretao, improvisao), o apreciar e o
contextualizar estavam presentes. (Trs eixos organizados a partir da Proposta Triangular
para o ensino de Arte elaborada pela Profa Dra Ana Mae Barbosa, liderana desta rea de
conhecimento em nosso pas.)
Em um processo de buscas e indagaes orientado pela Profa Dra Regina Machado, e parte
integrante de sua metodologia de trabalho no Curso de Especializao em Arte Educao, o
eixo central das questes que eu trazia j era a expresso sonora no ensino de arte. Nesta
fase tive influncia do msico e educador musical Koellhreutter, que foi um divisor de guas
tanto entre os compositores como entre os educadores musicais de nosso pas. Os registros
que fiz na poca trazem citaes dele:
... a finalidade da educao no pode mais ser a de adaptar o jovem a uma ordem
existente ou at suplantada, fazendo com que assimile conhecimentos e saber
19
A seguir, no perodo de meu Mestrado o foco foi a relao instituies culturais e rede pblica
de ensino na formao contnua do professor, foco que agora dou continuidade, porm no
ensino da linguagem musical. Se no Mestrado o direcionamento foi para artes visuais, para o
trabalho que eu fazia na Oficina Pedaggica da 14 Delegacia de Ensino onde a maioria dos
professores atuava com artes visuais, hoje escolho para ser campo de minha pesquisa de
doutorado a outra vertente de meu trabalho, a linguagem musical: tema primeiro, formao
principal.
Pesquisando e escrevendo sobre a rea do ensino de msica desde que comecei a trabalhar
com as crianas do Ciclo Bsico no final dos anos 80, e integrando as equipes que elaboraram
os Parmetros Curriculares Nacionais de Arte do Ministrio da Educao (de 1996 a 2002),
trabalhando com a linguagem musical, atuei durante dois anos no projeto PCN com Arte,
projeto esse de formao contnua de professores da rede pblica de alguns estados do pas.
Nesse perodo retomei minhas questes e prticas de ensino de msica. Deparei-me, ento,
com o desafio do ensino da linguagem musical. Agora o pblico era outro, no mais minhas
crianas do Ciclo Bsico, mas professores. Tambm no tinha mais todo um ano letivo, mas
um determinado perodo para o desenvolvimento do projeto. nesta fase que surgem as
questes centrais de meu projeto de pesquisa de doutorado, perodo do qual possuo em meu
20
arquivo pessoal registros grficos, visuais e sonoros advindos de cursos por mim ministrados
nos estados do Acre, Gois, Par e Sergipe, destinados a professores que trabalhavam com
ensino de msica. Essas questes foram se fortalecendo e ampliando quando, em 2002, fui
convidada a atuar na Secretaria Municipal de Educao de Mogi das Cruzes, So Paulo,
tambm com ensino de msica na formao contnua de educadores. Foi nesse espao, e no
decorrer do tempo que venho trabalhando junto a esta rede pblica de ensino, que essa
pesquisa se desenvolveu.
Cap. 2 - Do ensino de msica na escola: dialogando com teorias e prticas. Nesse captulo
idias e experincias/experimentos no ensino de msica so abordados. Idias trazendo
autores como Caldeira Filho, Schn, Quints, Zeichner, Contreras, Chervel, Moreira, Lima,
Pimenta, entre outros, para a fundamentao terica e para a adoo da concepo de escola
produtora de conhecimentos, transpondo assim a concepo tradicional e conservadora de
escola meramente transmissora de conhecimentos. E trazendo o Experimental da Lapa, na
experincia do ensino de msica que teve na Profa Therezinha Fram a gestora, articuladora
por excelncia entre teoria e prtica, garantindo a compreenso de possibilidades de mudanas
fundamentadas no ensino, como processo profcuo de formao contnua de educadores.
21
prticas
de
ampliao
da
cultura
musical
docente,
apresentaes
musicais,
22
Captulo 1
Desafios e perspectivas na formao contnua de educadores: continuidade e mudana
no ensino de msica.
O porque da opo por este tema tem sua origem em minha prtica de sala de aula
com crianas, sendo que nesta pesquisa de doutorado meu interesse pesquisar a
problemtica que se coloca quanto ao desenvolvimento de trabalho desta natureza, na
formao contnua de educadores que atuam com ensino de msica para crianas. O que me
levou a fazer indagaes tais como:
23
24
Orfenico por Villa Lobos, a tentativa de mudana de Liddy Chiaffarelli Mignone com a
Iniciao Musical. No entanto, por ser a Escola Normal tradicionalista, ao absorver o
novo adapta-o a seus propsitos disciplinadores esvaziando qualquer potencial
problematizador. Funcionando a Escola Normal como instituio disciplinar, fazendo do
ensino da msica um instrumento de controle comportamental das normalistas, estas tambm
as usaro como instrumento de controle das crianas.
a escola possui um repertrio de musiquinhas de comando que exercem o papel
de disfarar o poder da instituio, j que cantando ela no se sente mandando. [...]
como se a escola, atravs dessa infantilizao do seu discurso tentasse abrandar o
peso institucional. Mas, que peso esse? [...] Que formao essa? (FUCKS, 1991,
p. 69)
prticas
pedaggicas
que
possibilitem
expresso
do
25
26
Em 2006 Fernandes apresenta nova pesquisa que est disponvel no site da Associao
Brasileira de Educao Musical (ABEM) Teses e dissertaes de educao musical dos
cursos brasileiros de ps graduao stricto sensu em msica, educao, histria, computao,
psicologia, letras, filosofia, comunicao, semitica, engenharia e outros (at 2005), na qual
relaciona, em msica, trs produes em formao contnua distncia, e uma nica em
educao contnua presencial.
Continuando a procurar por pesquisas, agora diretamente nos ANAIS dos Encontros
Anuais da ABEM dos trs anos seguintes, de 2006 a 2008, constata-se que em 2006 j h um
27
Esse quadro nacional, aliado ao que se encontra nas escolas, leva reflexo sobre a
preocupante situao da msica na Educao Bsica de nosso pas. Os paradigmas, as prticas
trazem referenciais do Canto Orfenico da poca de Getlio Vargas, mesmo em escolas onde
as discusses e prticas nas outras reas do conhecimento j refletem fundamentos e
metodologias contemporneas. Analisar limites e possibilidades de uma educao contnua do
professor que atua com msica no sistema pblico, e junto a isso propor superaes, dar
passos que avancem nesta questo.
28
Olhando o que se caminhou na rea de Educao como um todo, verificamos vrios avanos.
Mas, na rea de formao contnua em msica, quase nada se produziu!
Se na rea de Educao como um todo avanos j se apresentam, e muitas pesquisas na psgraduao j foram feitas, em msica isto no est acontecendo! E a busca desta citao
publicada h 15 anos atrs pretende trazer para o presente o que h muito tempo est por se
fazer na rea de msica, componente curricular obrigatrio segundo a Lei 11.769 de 18 de
agosto de 2008, que Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e
Bases da Educao, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da msica na educao
bsica.
A formao contnua de educadores que trabalham com o ensino de msica demanda pesquisa
e investimento para sua realizao e melhoria: projetos que ofeream alternativas para a
formao contnua do educador que trabalha com ensino de msica, apontando para avanos e
superaes. Projetos que tragam um fio condutor composto de questes a serem superadas,
que procurem acompanhar as mudanas scio-culturais em andamento, bem como o lugar e a
funo contempornea da educao, ...no simplesmente readaptar uma proposta do passado
e atualiz-la. (HERNNDEZ, 1998, p.64)
29
Fusari, J. C., mais recentemente, tem desdobrado a concepo de formao contnua em:
- formao contnua (permanente): aquela que envolve toda a prtica social do sujeito,
(convivncia com pessoas e grupos na cidade onde vive, as diversas relaes que so
estabelecidas no cotidiano, a vida em famlia e grupos de amigos, ida a shows, eventos
populares, apresentaes musicais e artsticas quer presenciais ou via TV, DVD, programas de
rdios,... ) e tambm atividades como cursos, encontros, oficinas, palestras, congressos, entre
outros;
- formao contnua em servio: aquela que ocorre na prpria escola, mediada pela ao da
coordenao pedaggica e/ou rea, pela relao professor/aluno, e relao entre os integrantes
de toda a equipe da escola, tendo como objeto a construo coletiva e participativa do Projeto
Poltico Pedaggico da unidade escolar.
a) aspectos amplos
Por cultura da infncia entende-se a diversidade presente nas culturas infantis, conectadas a amplos e
diversificados contextos scio-culturais em que se inserem.
30
Trabalho com linguagem musical que faa sentido e envolva professores e crianas,
necessitando de uma dinmica de dilogos mais freqentes na relao da escola com
tempos/espaos prximos e distantes (presentes tambm nas mdias tecnolgicas), que fazem
parte do meio no qual se vive.
Conhecimento e prtica da linguagem musical por parte dos educadores, bem como
de metodologias de ensino de msica que tm apresentado avanos na rea.
Conexes e parcerias com a educao informal, com profissionais, instituies,
grupos que desenvolvem trabalho na rea musical, com manifestaes culturais e artsticas.
b) aspectos especficos
Reflexo sobre o ensino e o aprendizado de msica na escola e fora dela, e a
necessidade de se trabalhar com msicas do meio sociocultural, com o conhecimento musical
historicamente construdo pela humanidade, e com concepes e prticas musicais trazidas
pelos novos paradigmas musicais.
Conhecimentos musicais e pedaggicos adquiridos pelos professores em suas
histrias de vida, na aprendizagem informal e formal.
Conhecimento de propostas e prticas contemporneas de ensino e aprendizagem em
msica, estabelecendo paralelos com as prticas presentes na escola de hoje.
Construo de conhecimento terico-prtico sobre msica enquanto linguagem, e
portanto como forma de expresso e de comunicao (interpretao, improvisao,
composio) considerando os trs eixos de ensino e aprendizagem de msica (fazer, apreciar,
refletir / contextualizar), com apoio do Referencial Curricular Nacional para a Educao
Infantil (RECNEI) e Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental - 1 a 4
sries (PCN-1 a 4 sries).
31
A partir da criao da Escola Normal em 1835, a msica tinha papel relevante como uma de
suas disciplinas, apresentando - se, na prtica, principalmente por meio do canto conjunto.
32
Esta afirmao nos leva a refletir sobre contribuies de Fucks, para que possamos desvendar
aspectos da memria e do contemporneo da msica na escola brasileira. Num dilogo do
passado com o presente a pesquisadora nos coloca a funo disciplinadora que a msica
executa na escola (FUCKS, 1993, p.140) O que coloca a necessidade de se entender,
tambm, nesta relao msica - escola - currculo, as articulaes da msica na Escola
Normal com o contexto scio cultural. E, paralelamente ao fato de o canto estar presente nesta
escola (muitas vezes no importando sua qualidade, relacionado ao aprendizado de
musiquinhas de comando e associando - se ao disciplinar de comportamentos), poucas
exigncias se fazem quanto qualificao do professor de msica. H uma msica que, no
geral, no cuidada, mal cantada, mas que est afinada com o contexto social maior,
(FUCKS, 1993, p. 143 ) que seria disciplinador.
No sculo XIX o predomnio da msica europia no Brasil se refletiu nas escolas; com a
ecloso do movimento nacionalista, ela passa a ser substituda, paulatinamente, por msicas
patriticas. O canto estava sempre presente, embora sem cuidados especficos quanto a ele e
tambm quanto ao professor que com ele trabalhava. Sobressai - se, no entanto,
...o trabalho executado por Joo Gomes Jnior da primeira dcada do sculo XX em
So Paulo - elogiadsssimo pelo seu elevado nvel de seriedade e de competncia que pode ser entendido como exceo na prtica musical da escola daquela poca....
(FUCKS, 1993, p. 144 )
Canto Orfenico - nome pelo qual passou a ser chamada a disciplina que trabalhava com o ensino de msica na
escola a partir da era Vargas, por meio de orientaes do SEMA, dirigido por Villa Lobos.
33
Com ela teve incio o Estado Novo, vigente at 1945, quando ento a redemocratizao do
pas e a restaurao do regime republicano de governo ocorrem. Com o trmino do Estado
Novo e enfraquecimento do SEMA, aos poucos o movimento do Canto Orfenico bem como
a sua natureza enquanto atividade cvica foi se extinguindo.
Caldeira Filho, eminente professor e crtico musical da poca, em seus artigos questionava a
ausncia de uma filosofia de educao, refutava os novos direcionamentos e o tratamento
isolado que era dado s disciplinas:
Entre ns no se tornou ainda possvel estabelecer distintamente os fins da educao
com base em princpios no menos claramente formulados, nem a adequao
retilnea entre estes e aqueles. Por outro lado, j se verificou que o diminuto tempo
dirio durante o qual o educando est sob a ao da escola desdobrada e
tresdobrada anula a eficcia dela, j de si pouco significante devido tambm falta
de aparelhamento. (p.705)
34
Novas reformas educacionais esto vista. O Canto Orfenico ser por elas
atingido. Uma vez por todas, tente-se resolver o problema perguntando com clareza:
que queremos em matria de educao? E depois formule-se a resposta com no
menor clareza e objetividade. Formuladas os princpios e os fins da educao
nacional poder-se- ento, mas s ento, torn-los efetivos atravs as vrias
disciplinas e atividades escolares, msica inclusive, mas fazendo que cada uma delas
no seja compartimento estanque, no pretenda resolver exclusivamente o problema
da educao, no absorva totalmente a tarefa escolar; antes, que cada uma contribua
proporcionalmente, em funo de um ponto de vista superior a cada uma e
fecundador das possibilidades todas: e que todas (canto orfenico ou msica,
inclusive) se vejam dotadas dos meios indispensveis (sala ambiente, material,
pessoal, horrio, etc) para que possam ter funo efetiva no processo educativo. Sem
essa viso de conjunto e sem agir no plano do conjunto, infantil modificar
programas de disciplina isolada. Em que influir no todo o pormenor? Em nada;
mas, estranhamente, assim que reformamos ou pretendemos reformar as coisas.
(p.706) (CALDEIRA FILHO, 1960, n.117, p. 705-706)
Alguns meses antes da promulgao da LDB, o Governo Joo Goulart, em 21/08/61, assinou
o Decreto n. 51.215 que - Estabelece Normas para a Educao Musical nos Jardins de
Infncia, Escolas Pr-Primrias, Primrias, Secundrias e Normais de todo pas. (SO
PAULO,1984, p.55) Procurava - se dar feio uniforme s atividades de todas as escolas.
Mas, por outro lado, dificuldades eram explicitadas em relao a esta obrigatoriedade que o
presente decreto trazia.
Volta a baila agora o Canto Orfenico. Por decreto do Governo Federal, assinado
21-8-61, foram estabelecidas normas para a educao musical nos jardins de
infncia, escolas pr-primrias, primrias, secundrias e normais de todo o territrio
nacional, com o fim de dar feio uniforme s atividades em todas as escolas de todo
o Pas. Ingenuamente (ser s ingenuamente?) pretende o aludido decreto que alunos
de escolas primrias participem de bandas e outros conjuntos instrumentais, tenham
audies de discos, de conjuntos orquestrais, vocais e coreogrficos, recitais vocais e
instrumentais, concertos de msica popular e folclrica e tudo isso fora do limite
total das aulas semanais... [...]
[...] O decreto em apreo obriga todas as escolas do Pas, oficiais e particulares, sem
exceo alguma. (p.421)
35
Professores com formaes musicais diferenciadas assumem as aulas de msica: tanto os que
haviam feito o curso de Canto Orfenico, institudo em 1942 (Curso considerado de nvel
mdio, e que tinha como funo preparar professores para dar aula da disciplina Canto
Orfenico nas escolas.), como os egressos dos cursos superiores de msica (Instrumento,
Canto,...) e ainda, na inexistncia destes, os que vinham de cursos de conservatrios musicais
de nvel mdio. A formao para o ensino de Educao Musical na maioria das vezes no
existia, o que se tornou elemento dificultador no contexto escolar.
Aps o Golpe de Estado de 64, com a ditadura militar no poder, suspenso das garantias
constitucionais, fechamento do Congresso Nacional, e o advento da Lei 5.692/71, que
modifica o ensino de 1 e 2 Graus no governo Emlio Garrastazu Mdici, feita a unificao
das disciplinas que trabalhavam com arte (Desenho, Educao Musical,...) na disciplina
Educao Artstica, recm criada. Os professores de Educao Musical e Desenho do dia para
a noite se transformam em professores de Educao Artstica. Os docentes que vo
concluindo agora os novos cursos de Licenciatura em Educao Artstica no ensino superior,
chegam aos cursos de Habilitao para o Magistrio, no 2 Grau (Hoje Ensino Mdio.) com
uma formao polivalente, sem formao especfica e/ou com formao insatisfatria em
licenciaturas mal estruturadas.
Neste contexto a modalidade musical nas dcadas de 80 e 90 foi aos poucos ficando ausente
nas aulas de Educao Artstica, o que se reflete at os dias atuais. Vrias so as causas
apontadas para a gradativa ausncia da msica na escola, que j se iniciara quando da
extino do Canto Orfenico e chegada da Educao Musical. So dificuldades bastante
citadas a inexistncia de bibliografia atualizada, a ausncia de produo na rea de educao
musical, de cursos destinados, principalmente, ao ensino de msica e de propostas de ensino
contemporneas. O professor de msica no quer mais o repertrio j defasado e, tambm,
36
questiona a forma como o ensino de msica tem se dado, procura alternativas que
contemplem a relao escola - sociedade, mas, ainda no as encontra. Concomitantemente, as
artes plsticas apresentam inovaes e produo de conhecimento em consonncia com o
contemporneo, levando grande nmero de professores, mesmo os que anteriormente
lecionavam msica, a passarem a atuar com artes plsticas. Assim, tendo se iniciado como
uma rejeio ao canto orfenico, o silncio musical cada vez mais foi se instaurando na
escola.
Ao analisar o decrescer do canto em suas aulas de msica, a escola no entende
como uma forma de luta dos seus professores, mas como sendo fruto da inrcia
destes. O discurso institucional limita - se a afirmar que, cada vez mais, os
professores e alunos vm demonstrando uma grande ausncia de interesse pelo
ensino musical. (FUCKS, 1993, p. 146)
A disciplina passa, ento, a se denominar Arte, e pouco depois, so propostos pelo Ministrio
da Educao do pas os Parmetros Curriculares Nacionais de Arte / MEC, nos quais so
explicitadas as quatro linguagens artsticas que a compe: Artes Visuais, Dana, Msica e
Teatro, cada qual com contedos especficos. As propostas dos referenciais e parmetros
curriculares nacionais passaram a ser elaboradas, aps muito estudo, pesquisas, consultas a
Universidades e Secretarias de Educao, recebimento de Pareceres de vrios profissionais
envolvidos com a causa da educao nacional. Foram, ento, publicados: o Referencial
Curricular Nacional para a Educao Infantil (RECNEI), os
Parmetros Curriculares
37
No perodo que se segue aps a Lei n 9.394 /2006, e a publicao pelo Ministrio da
Educao dos Parmetros Curriculares Nacionais, inicio na Secretaria Municipal de Educao
de Mogi das Cruzes, estado de So Paulo, o projeto Tocando e cantando,...fazendo msica
com crianas, que tem como foco a formao contnua de educadores em ensino de msica.
Formao contnua como meio para o aperfeioamento e o desenvolvimento profissional de
professores polivalentes, e que passa a ser objeto desta tese de doutorado.
Em 18 de agosto de 2008 o governo Luiz Incio Lula da Silva assina a Lei n 11.769, que
altera a Lei de diretrizes e Bases da Educao, incluindo a msica como contedo obrigatrio
no ensino de Arte na Educao Bsica.
LEI No - 11.769, DE 18 DE AGOSTO DE 2008
Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da
Educao, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da msica na educao
bsica.
OPRESIDENTEDAREPBLICA
Fao saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o O art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar
acrescido do seguinte 6o:
"Art. 26. .............................................................................................................
............................................................................................................................
6o A msica dever ser contedo obrigatrio, mas no exclusivo, do componente
curricular de que trata o 2o deste artigo." (NR)
Art. 2o ( VETADO)
38
39
1. Introduo
informaes,
procedimentos,
dificuldades,
requisitos
Meu propsito, minha inteno: propor e trilhar caminhos possveis para a formao
contnua de educadores que pretendam trabalhar com msica na escola. As palavras de
Termos utilizados por Terezinha Rios ao se referir aos pensadores com os quais faz suas reflexes.
MACHADO, Regina. Acordais: fundamentos terico-poticos da arte de contar histrias. So Paulo: DCL,
2004.
6
40
Schn, ao relatar como funciona o ensino prtico reflexivo, cita trs exemplos, dos
quais focarei um, colocando nfase no aspecto criador da improvisao, na reflexo-na-ao:
41
[...] Bernard Greenhouse, violoncelista do Beaux Arts Trio, descreve suas primeiras
lies com Pablo Casals:
[...] E, depois de vrias semanas trabalhando naquela sute de Bach, finalmente, ns
dois pudemos sentar juntos e fazer todos os movimentos de arco e dedos e tocar
todas as frases de forma semelhante. E eu, realmente tinha, me tornado uma cpia
do mestre. [...]
Entretanto, como esse alto grau de imitao foi adquirido, Casals fez algo
surpreendente:
E, em certo momento, quando eu havia conseguido, ele disse: Certo, agora sente a.
Coloque seu violoncelo no cho e escute a Sute em R Menor. Ento, ele tocou a
sute e mudou todo o posicionamento dos dedos, todo o movimento do arco e toda a
nfase na frase. Fiquei sentado l, de boca aberta, ouvindo a uma execuo que era
celestial, absolutamente linda. Quando ele terminou, virou-se para mim com grande
sorriso na cara e disse, Agora voc aprendeu como improvisar em Bach. De agora
em diante, voc estuda Bach assim (Delbanco, 1985, p.51).
A tarefa de imitao ao p-da-letra havia sido, na idia de Casals, uma preparao
para improvisao em Bach. (SCHN, 2000, p. 138-139)
Que semelhana estabelecer deste fato com a forma como aprendemos nossa lngua
materna? A forma como se aprende a imitar o som das palavras, a pronncia, a formao de
frases,... para depois se chegar a improvisar palavras em frases, quando conversamos com
algum? Pablo Casals, na aula de violoncelo que dava para Greenhouse, baseou-se na
demonstrao: no incio para que seu aluno reproduzisse, imitasse a sua execuo ao
violoncelo; depois, ao mostrar sua prpria improvisao, no queria que o aluno o imitasse,
mas, que tivesse seu jeito prprio de improvisar.
A lio no de que h duas maneiras corretas de tocar a pea, mas que h tantas
quantas o msico poder produzir e inventar, cada uma a ser realizada, frase a frase,
atravs de uma coordenao precisa de meios tcnicos e efeitos musicais a serem
obtidos com uma meticulosa experimentao. Casals abriu as possibilidades que ele
pretende que Grenhouse explore, de agora em diante, atravs de sua prpria
reflexo-na-ao.
Em um sentido mais profundo, a lio como um todo consiste em demonstrao e
imitao. Nesse sentido, porm, a imitao que Casals espera de seu aluno de uma
ordem diferente, j que Greenhouse s pode reproduzir apropriadamente a
demonstrao como um todo se criar suas prprias execues. (SCHN, 2000, p.
139)
42
A lio , para quem atua com formao de professores, que h inmeras maneiras de
ser professor, criando suas prprias maneiras de ser e ensinar. Schn em Educando o
profissional reflexivo Um novo design para o ensino e a aprendizagem traz grande riqueza
de propostas, procedimentos, ensinamentos, aprendizado, mesmo para o professor que no
trabalha com msica. E vai auxiliando a construir conhecimento no ensinar, sendo que ...o
que est em causa a capacidade para usarmos as facetas mais humanas e criativas de ns
prprios. (SCHN, 1997, p. 91)
Assim como Schn, Koellreutter tambm advoga a construo de uma forma prpria e
criativa do ato de ensinar, e enfatiza o valor do humano como o grande objetivo da educao
musical.. A msica , em primeiro lugar, uma contribuio para o alargamento da
conscincia e para a modificao do homem e da sociedade. (KOELLREUTTER, 1997,
p.72)
Koellreutter contribui tambm para se pensar uma cultura universal. Em seu livro A
procura de um mundo sem vis--vis Reflexes estticas em torno das artes oriental e
ocidental, constitudo por doze cartas que escreveram um para o outro: S. Tanaka e H. J.
Koellreutter, est:
Ainda no sabemos quais dos valores da herana do homem, numa cultura universal,
sero definitivamente integrados. Isto depende dos ideais e dos objetivos que o
homem colocar para o futuro. Certo , no entanto, que uma futura cultura universal
fundir valores culturais do oriente e do ocidente, num jogo dinmico: a introverso
ser compensada pela extroverso, e vice-versa, a subjetividade pela objetividade e a
automao pela frutificao das foras criativas. (KOELLREUTTER, 1984, p. 27)
43
Schn tocava clarinete e piano, tanto msica erudita como msica popular,
individualmente e em conjunto: tocava jazz e msica de cmara. No s interpretava,
improvisava tambm. Esse seu perfil, seu interesse pela estrutura e pela improvisao esto
refletidos em sua proposta de reflexo-na-ao em educao, como j explicitado na aula de
violoncelo de Pablo Casals. A proposta de Schn citando o exemplo da aula de Pablo Casals,
que alm da interpretao tambm parte para a criao, algo que procuramos fazer em sala
de aula na rede pblica, e agora na formao contnua de educadores.
Ao ler Schn, Koellreutter, Quintz, penso ser o que precisamos para o ensino de
msica. Mas, por ter lido os exemplos que Schn (2000) relata sobre o ensino prtico
reflexivo, percebemos que Ghedin, ao se referir reflexo-na-ao de Schn, o faz de forma
diferente do que encontramos no exemplo citado por Schn. diante disto que se justifica a
proposta de Schn, o problema foi ele ter reduzido a reflexo, como proposta alternativa para
a formao, ao espao da prpria tcnica. (GHEDIN, 2002, p. 132) Schn no se refere desta
forma nos trs exemplos de msica que d (SCHN: 2000, p.137-162), pelo contrrio, eles
esto bastante claros! certo que h necessidade da tcnica, mas, vai muito alm dela.
Podemos dizer que um jogador de futebol em campo est reduzido ao espao da prpria
tcnica? Ele tem, sim, necessidade de muita tcnica, que necessria para que possa
improvisar e jogar em campo. O mesmo acontece com o msico! E, para que o violoncelista
no caso de Casals possa improvisar a partir de Bach ele precisa de um grande
conhecimento musical, de estrutura, de forma, de conhecimento de frases musicais, de
44
interpretao e tambm de tcnica, enfim... precisa saber muito fazer msica. No vejo neste
caso, como a afirmao de Ghedin segundo a qual Schn teria reduzido a reflexo como
proposta alternativa para a formao, ao espao da prpria tcnica.
Ser que as partes dos textos, nas quais Schn se refere a fatos musicais, para mim to
claros, no o so para quem no da rea de msica? Ser que o improvisar para muitos
sinnimo de fazer qualquer coisa, quando dizemos, por exemplo, Vou improvisar alguma
coisa para comermos, pois, no esperava que almossemos hoje em casa? Improvisao em
msica so poucos que sabem faz-lo. No entanto, nas escolas de samba ela muito presente
nos ensaios comunitrios.
45
46
2.1.Caldeira Filho
47
Quem escrevia crtica musical e relacionava suas matrias com educao musical e
com os acontecimentos da poca era Caldeira Filho; era ele quem trazia maior diversidade de
assuntos e pontos de vista.
Assim, depois de ler os artigos todos de Caldeira Filho, separar os que abordavam
questes mais ligadas educao musical, fazer anotaes sobre cada um dos artigos que ele
escreveu, e pensar que agora sim tinha definido o que ia olhar, resolvi tambm ler os Editais.
Queria saber como poderiam ajudar a delimitar/aprofundar meu objeto de estudo.
Depois de tantas voltas e descobertas, foi a vez das relaes entre as fontes da coleta
que havia feito no incio de minha retomada de estudos acadmicos em 1990: a pesquisa sobre
7
A revista ANHEMBI procurou ser meio de expanso e penetrao cultural no Brasil, colaborando no seu
desenvolvimento, buscando sua unidade. Fundada e dirigida pelo escritor e jornalista Paulo Duarte, teve um
ciclo de vida de 12 anos (dezembro de 1950 a novembro de 1962), com periodicidade mensal, e era editada na
cidade de So Paulo. ANHEMBI teve grande nmero de colaboradores das mais diversas reas, e passou a ser
conhecida como uma revista da cultura brasileira. Destinada a um pblico de certa forma homogneo (do ponto
de vista do editor desta revista), abriu espao para intelectuais brasileiros e estrangeiros, e suas pesquisas
acadmicas.
48
Mas...... onde estavam os fios dos novelos para poder tecer? Como olhar, procurar e
entrelaar fios de distintas direes, inclusive os textos de fundamentao terica j
estudados? Algum dilogo comeou a querer se formar, sendo que precisei, ento, retomar
textos de disciplinas cursadas.
Era um mar de ondas, e a cada vez que retomava a pesquisa com suas muitas fontes,
fios, fundamentao, os ventos sopravam em diferentes direes. Eu precisava de uma
bssola, e ela aos poucos apareceu, no sei se por muito tempo, pois quem navega sabe que os
ventos s vezes so fortes, balanam tanto o navio que ela sai de nossas mos. Mas a alegria
da descoberta, da possibilidade de tecer algo que no sabemos ainda como ser, faz com que
se aprenda a segurar a bssola. Ser que de forma correta? Em arte, na criao, no temos de
incio o que o correto, o certo. Vai-se fazendo o caminho e descobrindo conforme ele vai se
configurando... e desta forma que elaboro este texto.
49
Idas e vindas, abrangncia cada vez maior da pesquisa que havia assumido limites
muito amplos, novo afunilamento... e uma certeza: o passado e o presente seriam integrados
minha tese de doutorado.
Passei, ento, a visitar novamente todos seus artigos na ANHEMBI, e ao ler seus
textos e digitar as idias principais, vejo Caldeira Filho professor no apenas nos temas
especficos de educao musical, mas, na quase totalidade de seus textos publicados nesta
revista. Os contedos que ele aborda em suas crticas de msica ora so conceituais, ora
procedimentais, ora atitudinais e de valores. O humano, a tica, o social, a educao musical
integrada educao como um todo, as vrias sugestes que d para distintas instituies ou
para o ensino, so muito presentes em seus textos.
50
Esta pesquisa sobre o Experimental da Lapa abrangeu o perodo 1961 a 1975. Para isto
utilizei fontes: bibliogrficas (Relatrios, Planos Curriculares; documentos pessoais de
professores; livros e tese de doutorado), fonogrficas (documentos sonoros), entrevistas
8
Criado em 1955, o Grupo Escolar Experimental tinha por finalidade primeira a experimentao educacional
nos seus nveis de ensino pr-primrio e primrio. Foi a primeira unidade experimental da rede da escola
primria paulista. Seus objetivos: 1. Realizar pesquisas sobre mtodos e processos educacionais. 2. Conduzir
estudos sobre comportamentos individuais e de grupo, de crianas do grau pr-primrio e primrio. 3. Servir de
campo de estudos e observao a alunos provenientes de Faculdades de Filosofia, Institutos de Educao, Cursos
Normais e de Servios Sociais. 4. Divulgar resultados de experimentos, atravs de publicaes, palestras e
seminrios, a fim de possibilitar seu desenvolvimento em outras situaes escolares. Ao chegar nesta escola
Therezinha Fram encontrou funcionando os cursos pr-primrio e primrio e, pensando na continuidade do
processo educativo, cria em 1967 o Ginrio Pluricurricular Experimental. Em 1970 so reunidas
administrativamente as duas escolas chamando-se "Grupo Escolar-Ginsio Experimental Dr.Edmundo de
Carvalho". Esta escola vai, ento, proporcionar aos alunos 11 anos de escolaridade.
E em 1975, passa a denominar-se "Escola Estadual de 1o. Grau Experimental Dr.Edmundo de Carvalho".
51
Meu objetivo ao fazer este trabalho em 1990, foi conhecer como acontecia a Educao
Musical na Pr-Escola (Educao Infantil) e 1a. a 4a. sries do Ensino Fundamental, bem
como a atuao do Laboratrio de Msica desta escola, visando estabelecer paralelos e
ampliar meu fazer profissional.
Mas,... qual era o contexto da poca? Vamos encontrar no final dos anos 50, o
nascimento da Bossa Nova na msica popular brasileira, com uma batida diferente no violo
nas mos de Joo Gilberto. Em 1960 o presidente Juscelino Kubitscheck inaugura Braslia e,
no ano seguinte, transmite a presidncia a Jnio Quadros. No mbito parlamentar o incio da
dcada de 60 marcada por amplas discusses sobre a nova Lei de Diretrizes e Bases. O
9
52
interesse maior est na disputa entre os princpios da escola pblica e da escola particular.
Esse interesse se reflete, principalmente, no mbito educacional do pas. Quando promulgada
a Lei no. 4.024 em 20 12 1961, o texto foi conciliatrio, no respondendo a nenhuma das
expectativas. Neste mesmo ano a disciplina Canto Orfenico extinta, e em seu lugar o
governo federal coloca a disciplina Educao Musical. Por meio do Decreto N. 51.215, de 21
de agosto de 1961, que Estabelece normas para a educao musical no Jardins de Infncia,
nas Escolas Pr-Primrias, Primrias, Secundrias e Normais, em todo o Pas,10 emite o
governo central orientaes especficas para a educao musical. Era todo um novo contexto,
uma outra poca!
Sobre legislao e ensino artsticos at incio dos anos 80 consultar: SO PAULO (Estado) Secretaria da
Educao. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedaggicas. Educao e Ensino Artsticos. Legislao Bsica
(Federal e Estadual). So Paulo: SE/CENP, 1984.
11
53
Carmem Zilda conta que a linha de trabalho trazida em 1962 para o Experimental dava
criana a possibilidade de brincar e viver a msica. Era um modo diferente de dar aula.
Profa Sofia Helena Freitas Guimares de Oliveira, pianista, compositora, tambm
com livros publicados.12 Ela, em 1971, criou o Laboratrio de Msica como opo de estudo,
execuo e interpretao instrumentais, e vai ser a organizadora de vrios festivais de msica
na escola.
As professoras que so contratadas para este trabalho deram uma forte marca ao
ensino desta escola. Vejo estas duas professoras: Olga e Sofia Helena, como iniciadoras de
dois trabalhos distintos: a primeira com iniciao musical em sala de aula, trabalhando em
duplas, e a segunda com opes extra-classe ligadas ao compor e interpretar msicas. So
estes dois plos que, reunidos, caracterizavam a rea musical desta escola, apresentando um
ensino diferenciado e integrado na rede pblica paulista.
A iniciao musical comea com Profa. Olga que voltava do Rio de Janeiro, onde
tinha feito o curso de Iniciao Musical com Antonio S Pereira (reformador do ensino
elementar de msica no Brasil) e sua mulher Nayde Jaguaribe Alencar de S Pereira, na
Escola Nacional de Msica da Universidade do Brasil. Nesta mesma escola a profa Olga j
havia trabalhado algum tempo com classes de Iniciao Musical. ela quem solicita a
introduo do sistema de duplas (uma professora ao piano e outra coordenando as
atividades no meio das crianas), que propiciou um ensino de msica de qualidade, unido
existncia, na escola, de sala ambiente com piano. O mtodo utilizado era Dalcroze /
Montessori. As crianas viviam a msica com movimentos, brincadeiras cantadas, jogos
rtmicos, rodas dramatizadas, cantos,... trabalhando o desenvolvimento auditivo, rtmico, a
coordenao motora, expresso corporal, mmica, ateno, socializao... Em 1965 a
professora Olga trabalhou seu ltimo ano no Experimental. Ela volta novamente ao Rio de
Janeiro onde apresenta, na Escola Nacional de Msica, a tese A inteligncia musical e seu
desenvolvimento, para o concurso de Livre Docente na cadeira de Iniciao Musical.
12
54
Paralelamente ao trabalho nas salas de aula, onde todos os alunos participavam, existia
um coral formado por professoras que pertenciam Chefia de Msica e Canto Coral do
Estado13. Esta Chefia enviava aos Grupos Escolares professores para a formao de
orfees (com alunos de 3 e 4 anos) e bandas rtmicas (com alunos de 1 e 2 anos). Cada
professora trabalhava em todas as classes da escola para ensinar cantos, o que dava, mais ou
menos, uma vez por ms em cada classe. A professora de classe tambm aprendia e, depois,
continuava o ensaio com os alunos. Cada escola assistida pela Chefia tinha, portanto, um
orfeo (formado por vozes selecionadas) e uma bandinha rtmica (tambm com crianas
selecionadas). Assim, a servio da Chefia de Msica e Canto Coral do Estado, Heloisa Lopes
e Lenice Prioli comearam a fazer orientao no Experimental, nos moldes das outras escolas
do estado de So Paulo que participavam deste projeto. Quando a Chefia foi extinta, estas
duas professoras foram convidadas por Therezinha Fram para ficar trabalhando na rea de
msica do Experimental. Profa. Nlgi veio um pouco depois e, trs anos aps, chega Elena
Armani, ambas tambm tendo trabalhado na Chefia.
Sobre a Chefia de Msica e Canto Coral do Estado, ver em ANEXO A: Entrevista com Profa Heloisa
Lopes.
55
participava do conjunto de flautas tinha trs encontros semanais: ensaio por naipes, teoria
musical e, depois, o conjunto. Os conjuntos instrumentais: tanto de violo como de flautas
apresentaram-se em vrios lugares e a crtica musical fez elogios ao trabalho da professora
Sofia e ao laboratrio. O conjunto de flautas ganha flautas de vrios naipes da Repblica
Federativa da Alemanha Ocidental, e tambm premiado... Cada vez mais os alunos de flauta
se esforam para pertencer ao "Conjunto de Flautas Doce Guiomar Novaes".
56
cada Delegacia ou escola, para difundir em todas escolas. Ela trabalhou para isso.
Que pudesse atender o interesse de mais alunos, de acordo com a vontade e interesse
de cada um. J envolve interesse especfico. Ao passo que a linha de trabalho da
Carmem Zilda uma sensibilizao a nvel de percepo auditiva e desenvolvimento
do senso rtmico. O mais delicioso que aconteceu foi que formou uma famlia: no
havia competio, crescia a cada momento. Um trabalho de amor. Uma ajudava a
outra, at na aula de duplas. A coisa acontecia de forma intuitiva, espontnea. Tinha
um plano, uma espinha dorsal. A aula comeava com um aspecto de relacionar a
crianada, de som. Dvamos uma msica cantada para dali tirar toda parte de
movimento, de criatividade, dramatizao, memorizao, reconhecimento da
melodia, brinquedos cantados, folclore... A gente j sabia as propriedades daquela
msica. A Carmem Zilda tinha muito repertrio e vivncia do pr. A gente sempre
pesquisando, usando muito folclore, trabalhando com muito ritmo; j sabia o que era
mais apropriado para 3, 4, 5 ou 6 anos. A percepo do agudo e grave, o forte e
fraco, a sensibilizao. O resultado disso foi que aconteceu um planejamento em
termos verticais: foi uma construo, foi criando. A criana no tinha dificuldades,
no havia a tarefa difcil, era sempre o ldico. O pr mandava pra gente, a gente
mandava para a 5 srie. Havia continuidade. Num ponto a criana lia msica,
tocava flauta nas classes. Quando chegava na 4 srie ela j tinha vivido tal sorte de
sons e ritmos que j estava preparada para aquela fase de abstrao, quando voc
pe uma notao musical para altura do som, para durao do som. Porque j tinha
vivido, brincado com diferentes ritmos, os andamentos, e estava na hora de por no
papel a coisa: agora ler no papel e realizar na flauta o som que aquilo significa. A
evoluo do pr ao final do 1 grau de forma graduada, resultado da vivncia de uma
equipe. Por isso Da. Sofia teve que fazer um laboratrio: ela via aquela turma e
pegou as que queriam, tinham vocao e prazer para trabalhar mais profundo. Ns
fazamos uma prontido para isso acontecer. (FERNANDES, 1990, [a] )
Disse Heloisa Lopes14: O objetivo era sensibilizar a criana para a msica, percepo
auditiva, desenvolvimento rtmico, canto, movimento corporal aliado s atividades rtmicas.
(FERNANDES, 1990, [d] )
Um grupo de professoras de msica de 1 a 4 sries que foi se formando, e durante
alguns anos se equilibrou e completou: Profa Heloisa, Profa Nlgi e Profa Eleninha. Elas
tinham os mesmos objetivos, e formao um pouco diversificada. Os professores da escola
tinham reunies semanais. Havia momentos em que os professores das quatro sries estavam
juntos, em busca da linha de trabalho e da continuidade. Outros momentos em que 1as e 2as
14
57
se reuniam, e 3as e 4as numa outra reunio: era um trabalho especfico. Discutiam
procedimentos, objetivos (como concretiz-los, quais os gerais e os especficos), o contedo...
Profa Eleninha salientou em sua entrevista A gente sempre inovando e procurando uma
seqncia lgica no trabalho. (FERNANDES, 1990, [c] )
O processo de descobrir como a msica aconteceu antes e aps minha estada l, como
o grupo de professores se formou, experimentou, e teve momentos de repensar, foi muito
valioso para mim. Foram e so experimentos, na conotao dada a essa palavra por Brecht.
A questo de como ensinar e aprender um dos temas centrais da Compra do
Lato, em que o Dramaturgo indaga:
E como se aprende a partir da experincia? No teatro no observamos apenas,
tambm experimentamos. Existe melhor forma de aprendizagem?
E o Filsofo responde:
No aprendemos nada com a experincia sem a introduo de elementos de
comentrio. Existem muitos momentos que impedem o aprender ao experimentar.
Por exemplo, quando determinadas mudanas da situao se processam de forma
demasiado lenta, imperceptivelmente, como se costuma dizer. Ou quando, atravs de
outros incidentes a ateno dispersada. Ou quando se buscam as causas em
acontecimentos que no eram causas. Ou quando aquele que experimenta tem fortes
preconceitos.
Dramaturgo: Ele no abandonaria seus preconceitos atravs de determinadas
experincias?
Filsofo: S se tiver refletido. Mesmo assim ainda pode esbarrar em obstculos.
Dramaturgo: Aprender fazendo no a melhor escola?
58
Com o golpe militar de 1964 a rea musical dessa escola sentiu os reflexos dos
acontecimentos sociais da poca. Com a msica popular se posicionando frente situao
poltica reinante, e uma participao grande do povo frente aos movimentos musicais, a
msica popular brasileira teve um perodo muito rico. Em 1964 com Jair Rodrigues cantando
deixem que digam, que pensem, que falem...; em 1965 nascendo o grupo Opinio, que j
toma uma postura poltica mais definida com Carcar; o movimento da Jovem Guarda
liderado por Roberto Carlos; em 1966 no 1 Festival de Msica Popular Brasileira, da Record,
quando Chico Buarque vence com a msica A Banda... todo esse clima leva a uma
mobilizao no sentido de se realizar, anualmente, festivais de msica. Caetano Veloso vence
o 3 Festival com Alegria, Alegria, no Rio. Geraldo Vandr, em outro festival, apresenta
uma msica de grande contestao: Caminhando e Cantando; Chico Buarque compe
msicas de protesto... Assim, numa poca de muitas composies e festivais, o Experimental
da Lapa faz seu primeiro festival de msica em 1968 e segue fazendo outros. Nesta escola os
59
festivais vo ser organizados pela profa Sofia Helena do Laboratrio de Msica. Em 1971
acontece o 4 Festival de Msica Popular Brasileira do Grupo Escolar Ginsio Experimental
Dr. Edmundo de Carvalho (GEGEDEC), que feito no TUCA, com ampla repercusso, sendo
divulgado pela imprensa. Os alunos de 4 srie j participavam, embora a maior parte fosse de
alunos de 5 a 8 sries.
15
Profa Heloisa uma das autoras do livro: NICOLAU, Marieta Lcia Machado (coord.); SILVA, Alfredo
Carlos Del Santo e LOPES, Heloisa [Artes Plsticas]; LIMA, Arlete de Oliveira e LOPES, Heloisa (Educao
Musical). A Educao Artstica da Criana. So Paulo: tica, 1987.
60
Com a Lei 5.692/71 esta escola no unifica as linguagens artsticas, o que possibilitou
a continuidade de seu desenvolvimento musical. Isso vem a acontecer apenas em 1976,
quando o governo estadual, na pessoa do Secretrio da Educao Jos Bonifcio Coutinho
Nogueira, submeteu o Experimental da Lapa a um grande enxugamento dos setores tcnicos,
reduzindo-os drasticamente. Esse, que foi um grande golpe para a estrutura da escola, faz com
que a educao musical se ressinta, pois, as aulas em duplas passam a no mais existir!
Entrelaando os fios que se apresentaram nas vrias fontes que encontrei, que
surgiram a partir de Caldeira Filho e do Experimental da Lapa, fao algumas conexes, dando
continuidade tessitura do tapete.
Segundo Roger Chartier o discurso pedaggico est na prtica dos professores. E sabendo-se
que o discurso pedaggico precisa colocar-se como novo, bom, como aquele que contribui
para a mudana, podemos ter o momento da modernidade como momento de mudana
contnua, e a escola experimental como marca do anseio reformista. Assim, aos artigos
escritos pelo crtico e educador Caldeira Filho, junto s entrevistas trazendo os discursos
pedaggicos das professoras e da diretora do Experimental da Lapa, Therezinha Fram, se
articularam numa harmonia de idias. Se um reflete e prope, as outras do continuidade
reflexo, implementando um projeto: o do Experimental da Lapa. E as idias colocadas em
prtica, passam a se constituir em novo modelo educacional.
Neste campo educacional no qual delimitei minhas fontes de pesquisa de 1950 a 1975,
abarcando, portanto, a poca que Caldeira Filho escreveu seus artigos na ANEMBI - 1950 a
1962, e o perodo em que Therezinha Fram atua no Experimental da Lapa - 1961 a 1970,
encontramos diferentes naturezas de presses externas.
61
Necessrio se faz analisar as presses, como tambm refletir sobre e analisar as questes de
continuidade e mudana que se apresentam no campo escolar, referentes ao ensino de msica.
Assiste-se atualmente, segundo Lyotard, a uma transformao profunda dos
sistemas;[...] O saber desenvolve-se agora por uma dinmica que assimila os acasos
e os efeitos da tecno-cincia, e atravs de novas mediaes transforma-se muitas
vezes em instrumento de mercado e poder. (FAVARETTO, 1993, p.5).
62
Por onde temos caminhado? Como est este campo epistemolgico e cultural, que hoje
se insere na rea de Arte enquanto linguagem musical? Circe Bittencourt coloca que a
ausncia ou permanncia de disciplinas no currculo,
...depende da atuao de uma srie de sujeitos que exercem diferentes atividades e
ocupam posies diversas na sociedade. A presena de cada uma das disciplinas
escolares no currculo, sua obrigatoriedade ou sua condio de contedo opcional e,
ainda, seu reconhecimento legitimado por intermdio da escola, no se restringe a
problemas epistemolgicos ou didticos, mas articula-se ao papel poltico que cada
um dos saberes desempenha ou tende a desempenhar, dependendo da conjuntura
educacional. (BITTENCOURT, 2003, p.10)
com
toda a rea
63
64
O que permanece? Nos dias de hoje na maioria das escolas do pas, quando a msica
se faz presente, muitas vezes sob forma de coral (o mais exato seria dizer: conjunto de
vozes), e apenas com interpretao de msicas j existentes, onde o regente escolhe o
repertrio e conduz o grupo. o modelo tradicional arcaico de ensino de msica, onde
praticamente o canto conjunto junto preocupao exclusiva com apresentaes para o
pblico com comemoraes de datas cvicas ou festivas, e os procedimentos no democrticos
do professor so dominantes.
65
E como pode ser isso em msica, muitos perguntaro, uma vez que a transposio
didtica na modalidade reprodutiva uma constante na quase totalidade das escolas onde este
ensino se d? Na nossa histria de ensino desta disciplina h indcios que contradizem esta
afirmativa? Sobre a produo de conhecimento em ensino de msica junto s demais
disciplinas da escola, numa proposta educacional democrtica, temos uma exceo: o caso do
Experimental da Lapa.
E a msica foi uma das reas que se conseguiu ter um pessoal fixo durante muito
tempo. Quando foi a Nlgi, a Eleninha Lauretti para o Exprimental, que a gente
trabalhou muito juntas. A Carmem Zilda ficou mais na pr-escola, mas a gente
tambm tinha contatos, no digo semanais, mas a gente tinha contatos. Ento, ns
trs basicamente. Mas, Dona Sofia tambm deu muita contribuio. Era um grupo
querendo a mesma coisa, voltado para as mesmas expectativas em termos da criana
e cada um com uma formao um pouquinho diversificada. Eu digo isso porque o
pessoal da escola falava que era o grupo mais equilibrado, porque no havia
competies... Veja: a Nlgi uma pianista maravilhosa, um ouvido timo. A gente
acostumou a trabalhar junto com a Nlgi. Um trabalho que voc fazia o que
quizesse, porque a Nlgi estava ali pr agentar as pontas. Eleninha tambm uma
pessoa muito criativa, que tinha muitas idias. Ento, cada uma de ns foi dando um
66
pouco aquilo que tinha de si, para tentar construir uma linha de trabalho da prescola at 4a srie, incluindo classes especiais, que a gente tambm trabalhava.
Depois de 72, 73, j mudou um pouco a estrutura. J no eram mais as reunies nos
dias de semana, das 17hs s 19hs, mas, aos sbados. Porque nessa poca j no
havia mais aulas aos sbados na escola. At ento, sbado era dia de trabalho. A o
Experimental fez uma estrutura assim: dois sbados por ms trabalho com a criana;
e os outros dois sbados, trabalho com os professores. Ns trabalhvamos todos os
sbados, quando a rede pblica no trabalhava no sbado. Depois, os diretores
tambm foram se alternando, at que no final ns estvamos s os professores
trabalhando aos sbados. No tinham mais crianas. Ento era um trabalho muito
rico. Era assim: a escola planejava como seria aquele sbado de trabalho. Era bem
dividido. Voc tinha momentos onde voc estava trabalhando s na sua rea. Voc
tinha momentos que voc estava trabalhando com as classes, com os professores de
classe. Se eu trabalhasse com 3a e 4a sries eu estava com todos os professores de
3a a 4a sries. Orientadores trabalhando visando objetivos especficos que eles
colocavam. Ou era para voc discutir determinados temas, ou era para ver
problemticas que estavam acontecendo na escola. Como que a gente ia
operacionar aquilo, cada um na sua rea, no seu trabalho. Foram muito importantes
esses encontros de rea, porque da j comeou se sentir que os orientadores no
tinham meios de assessorar muito a gente. Eles davam, eles queriam dar a parte
didtica, metodolgica, mas, eles tinham dificuldade nisso. Ento ns comeamos
sentir que uma de ns, um professor de msica, que estivesse assim mais abalizado,
poderia ser o prprio orientador; ou um de artes. [...]
Ento, eram reunies ricas. Mas, as reunies mais ricas eram as reunies de
planejamento de trabalho. No nosso horrio de trabalho ns trabalhvamos (como
Professor I), ns trabalhvamos no sei se eram quatro horas e meia ou cinco horas
de trabalho. Mas, ns tnhamos dentro desse horrio um horrio para planejar o
trabalho. No me lembro mais agora como que era esse horrio: se eram... 2hs
semanais... uma coisa mais ou menos assim. Ento, nesses momentos, ns nos
reunamos e da planejvamos juntas. Tinham momentos que a gente estava: a 1a,
2a, 3a, 4a srie juntas para sentir a linha de trabalho, a continuidade. E tinham
momentos que ns estvamos separadas: e 3a e 4a srie ou 1a e 2a para fazer o
trabalho especfico: que estratgias seriam trabalhadas, os objetivos, enfim, fazer um
plano de trabalho.
[...]
Foi enriquecedor o trabalho de grupo, parecia que a gente estava assim bebendo as
coisas... (FERNANDES, 1990, [c] )
67
No incio dos anos 60, por meio de seus artigos na revista Anhembi, Caldeira Filho
questionava a ausncia de uma filosofia de educao, e refutava os novos direcionamentos e o
tratamento isolado que era dado s disciplinas. Fez uma anlise crtica da questo da msica
na escola, e dos novos programas promulgados pelo governo federal, alm de vrias
colocaes para se pensar uma reforma no ensino de msica no Brasil. Reforma que no
tardou, pois em 1961 o Canto Orfenico extinto, e no seu lugar surge a disciplina Educao
Musical.
16
68
69
ao
desaparelhamento
escolar
em
que
vivemos.(p.705)
Lendo este trecho de Caldeira Filho temos uma dimenso do que se passava na escola
de seu tempo. o olhar / pensar interno da escola que muito nos auxilia. Sobre isso escreve
Juli:
...a histria das disciplinas escolares deve, para ser realmente operatria, partir mais
dos fenmenos e dos mecanismos internos escola do que da aplicao de
explicaes externas, e pouco convincentes, sobre essas mesmas escolas. (JULI,
2002, p.40)
Entrevistas com:
. Carmem Zilda Fernandes e Nelgi Sonia Moretti Accorsi Cruz - dia 18/05/90
. Elena Lauretti Armani - dia 09/07/90
. Heloisa Lopes - dia 11/05/90
. Lenice C.Toledo Prioli - dia 25/06/90
. Sofia Helena F.Guimares de Oliveira, junto a ex-alunos do Experimental da Lapa, que ainda eram
integrantes do "Conjunto de Flautas-Doce Guiomar Novais" - dia 05/05/90.
70
Ento, o currculo tinha que ser mesmo integrado. Foi neste momento que o
Experimental tomou uma posio de muita liderana, com a ajuda, tambm, do Prof.
Joel Martins, que foi uma pessoa decisiva no plano do
Experimental. (A ele o
Joel
Martins
operacionaliza este objetivo em msica? E voc, Ilza Leal Ferreira, nas artes
plsticas? E voc, Nelgi? E voc, Lenice, no coral? Como que integram isto aqui
com o estudo do meio? Professor de portugus, como voc v o servio da Dna.
Sofia Helena? Em que voc pode entrar? Os alunos esto compondo."Dona Sofia
Helena ajudava os alunos em composio.
. Sim, eu estou, inclusive, com material que vou xerocar sobre isto.
- Os textos eram trabalhados junto aos professores de portugus. Havia msicas e
letras lindas, feitas pelas crianas e pelos jovens. O TUCA ficava lotado. Dna.Sofia
Helena trazia um jri da maior qualidade: crticos de arte... Voc chegava l e dizia:
"No possvel que isto seja um festival de msica de uma escola pblica de So
Paulo". Quando eu conto hoje este fato, o pessoal diz assim: "Mas, aconteceu
mesmo isso?"
Da a importncia de voc resgatar este trabalho! Foi todo um movimento. A gente,
desde 1961, procurou que a escola tivesse um planejamento global. Um
planejamento de currculo era importantssimo, onde os objetivos fossem definidos,
operacionalizados, ns amos ter essa integrao na base de objetivos. No pensar
numa coisa s vezes artificial, que pensar que a gente pode estar integrando
contedo. s vezes os contedos so dspares, mas ns, estamos unindo os
objetivos. s vezes Dna.Sofia estava fazendo uma coisa, Ilza outra, mas,
absolutamente integradas nos objetivos. E desenvolver o pensamento crtico era
desenvolver a criatividade sim, a sociabilidade sim, cada um no seu canto. Ento
voc no despersonalizava a rea, que o grande problema. Voc no pode
despersonalizar. Eu no posso fazer uma coisa to difusa na msica que daqui a
pouco a msica perde a sua caracterstica, a sua natureza. Insisto muito, no plano
71
Caldeira Filho, em seu texto que atribui a fenmenos e mecanismos interiores escola
a falta de formao docente, de aparelhamento escolar, e de tempo dos alunos na escola, a
impossibilidade de realizao do programa vigente, antecipava importantes questes hoje
consideradas na educao em nosso pas.
Sob uma outra perspectiva, a dos Estudos Culturais, podemos ter os textos de Caldeira
Filho tambm como textos culturais.
[...] a expresso textos culturais utilizada para referir-se a uma variada e ampla
gama de artefatos que nos contam coisas sobre si e sobre o contexto em que
circulam e em que foram produzidos. Filmes, obras literrias, peas publicitrias,
programas de rdio e TV, msica, quadros, ilustraes, bem como livros didticos,
leis, manuais, provas e pareceres descritivos, ou mesmo um museu, um shopping
center, um edifcio, uma pea de vesturio ou de mobilirio etc... so textos
culturais. (VORRABER, 2002, p.138)
72
abordam questes do folclore. Quando o fazem so sobre pesquisas folclricas de Curt Lange
e Guerra Peixe. O prprio Caldeira Filho escreve que fazer crtica sobre esses trabalhos
escapa sua competncia (1956). Ele era um crtico musical da rea de msica erudita.
Como melhor analisar esta questo de concepo elitista, em Caldeira Filho, se no olhandoas a partir dos Estudos Culturais? Sabemos da influncia dos espaos que educam, sobre os
quais nos falam Vorraber e tambm Souza:
...estudos recentes inscritos no campo relativamente novo dos Estudos Culturais tm
nos alertado, igualmente, para o que Henry Giroux e tambm a pesquisadora Shirley
Steinberg denominam pedagogia cultural, ou seja, a idia de que a coordenao e a
regulao das pessoas no se d apenas pelos discursos circulantes nos espaos
pedaggicos institucionalizados como as escolas e seus similares. Segundo esses
autores, todos os locais da cultura em que o poder se organiza e se exercita, como
programas de TV, filmes, jornais, revistas, brinquedos, catlogos, propagandas,
anncios, videogames, livros, esportes, shoppingcenter, entre tantos outros, so
espaos que educam, praticando pedagogias culturais que moldam nossa conduta.
(VORRABER, 2002, p.144)
A compreenso das prticas sociais dos alunos e suas interaes com a cidade, o
lugar como espao do viver, habitar, do uso, do consumo e do lazer, enquanto
situaes vividas, so importantes referncias para analisar como vivenciam,
experimentam e assimilam a msica e a compreendem de algum modo. Pois no
lugar, em sua simultaneidade e multiplicidade de espaos sociais e culturais, que
estabelecem prticas sociais e elaboram suas representaes, tecem sua identidade
como sujeitos socioculturais nas diferentes condies de ser social, para a qual a
msica muito contribui. (SOUZA, 2004, p.10)
73
74
75
Textos assim nos levam a refletir sobre a questo da msica na escola, e as mudanas
polticas, sociais, educacionais que ocorreram no pas: a mudana de Canto Orfenico para
Educao Musical, a Lei 5692/71 que unifica a rea de arte na disciplina Educao Artstica,
sendo que neste contexto a modalidade musical foi aos poucos ficando ausente nas aulas de
Educao Artstica, o que se adentra nas dcadas de 80 e 90. Dificuldades bastante citadas so
a inexistncia de bibliografia atualizada, a ausncia de produo na rea de educao musical,
e de cursos destinados, principalmente, ao ensino de msica. O professor de msica no quer
mais o repertrio j defasado e, tambm, questiona a forma como o ensino de msica tem se
76
produz efeitos na
construo
de subjetividades
identidades
Pensar reformas e currculos imprescindvel, uma vez que ... produzem efeitos na
vida dos escolares que perduram para alm da vida escolar e, por isso mesmo, merecem
profunda reflexo da nossa parte. (MATE, 2004, p.578)
77
Musical / Educao Artstica linguagem musical / Arte Msica. Reflexo e ao que nos
levem a desvelar saberes e prticas transformadoras.
como
suporte
imprescindvel
capacidade
do
raciocnio
Refletir sobre a prpria prtica, tomando a prtica como ponto de partida numa
atuao em parceria. No exemplo de autoria de Schn, extrado da experincia de primeiras
lies de Bernard Greenhouse, violoncelista, com seu mestre Pablo Casals, citada na
introduo deste captulo, em que coloca nfase no aspecto criador da improvisao e na
reflexo na ao, h grande riqueza de propostas, procedimentos, ensinamentos,
aprendizagens, mesmo para o professor que no trabalha com msica. E o autor ainda conclui
referindo-se aos trs exemplos (Schn, 2000, p.138-142) que d, de aulas de interpretaes
musicais:
Em cada exemplo, o estudante aprende a expandir sua ateno para incluir efeitos
musicais diferentes, possveis de serem adquiridos atravs de diferentes meios
tcnicos, e aprende a considerar, avaliar e escolher as alternativas possveis de ao.
Ele ou ela experimenta a prtica no modo de experimentao, no qual cada
experimento revela uma nova conexo entre meios tcnicos e resultado musical. O
estudante convidado, mais cedo ou mais tarde, para prestar ateno a suas prprias
preferncias e a tom-las no como autoridade externa, mas como um critrio pelo
qual regular suas aes. E em cada um desses trs exemplos, ainda que de formas
muito diferentes, o instrutor abre mtodos e materiais possveis para a
experimentao.
78
Esses exemplos representam variaes de uma forma de lidar com a tripla tarefa da
instruo: estabelecer e resolver os problemas substantivos da execuo, moldando a
descrio e a demonstrao s necessidades particulares do estudante e criando um
relacionamento que conduza aprendizagem. (SCHN, 2000, pp. 141-142)
E ainda: a lio , para ns que atuamos com formao de professores, perceber que
[...] o que est em causa a capacidade para usarmos as facetas mais humanas e criativas de
ns prprios. (SCHN, 1997, p.91)
- Como vencer a barreira do modelo tradicional de ensino de msica, onde apenas o canto
conjunto (sem criaes dos prprios grupos), junto preocupao exclusiva com
apresentaes para o pblico, e os procedimentos no democrticos do professor so
praticamente dominantes?
Schn tocava clarinete e piano, tanto msica erudita como msica popular, individualmente e
em conjunto. Tocava jazz e msica de cmara. No s interpretava, improvisava tambm.
Esse seu perfil, seu interesse pela estrutura e pela improvisao esto refletidos em sua
proposta de reflexo-na-ao em educao, como j explicitado na aula de violoncelo de
Pablo Casals. Ao ler Schn, e sua proposta de reflexo-na-ao creio ser o que precisamos
para o ensino de msica.
79
Por outro lado, tambm normal que em muitas ocasies, surpreendidos por algo
que nos afasta da situao habitual, pensemos sobre o que fazemos, ou inclusive
pensemos enquanto estamos fazendo algo. a isto que Schn chama de reflexo-naao. Supe uma reflexo sobre a forma com que habitualmente entendemos a ao
que realizamos, que emerge para podermos analis-la em relao situao na qual
nos encontramos, e reconduzi-la adequadamente. (CONTRERAS, 2002, p.107)
E compara a
80
81
82
Assim Contreras nos coloca que temos que pensar em um conhecimento que em
parte individual, em parte compartilhado, e em parte diversificado:
[...] parece que temos que pensar num conhecimento que em parte individual,
produto das reelaboraes sucessivas dos docentes a partir de sua experincia, em
parte compartilhado, por obra dos intercmbios entre professores e processos
comuns de socializao e em parte diversificado, produto de diferentes tradies e
posies pedaggicas, o que supe formas diferentes de interpretar a realidade
escolar, a ao docente e as aspiraes educativas (Grimmett e MacKinnon, 1992).
(p.83)
[...] A anlise e a reflexo sobre a prtica profissional que se realiza constitui um
valor e um elemento bsico para a profissionalidade dos professores (p.84)
(CONTRERAS, 2002)
83
Moreira, em seu texto Basta implementar inovaes nos sistemas educativos? traz rica
contribuio para pensarmos nosso trabalho de formao de professores em servio.
84
Moreira traz, a seguir, alguns eixos que resultaram de sua pesquisa sobre
implementao de inovaes, a serem considerados:
Superar a perspectiva do controle (grifo nosso) Assumir o carter complexo de
uma inovao , antes de tudo, perder a iluso do controle. [...] No se pode forar a
equipe de uma escola ao nvel de engajamento necessrio para a elaborao de uma
proposta curricular consistente, em sintonia com a realidade, com as necessidades
dos alunos e da comunidade que envolve a escola. Devemos, ainda, levar em conta
uma possvel ausncia das competncias necessrias para tal empreendimento. [...]
A mudana uma jornada cujo mapa no se conhece antecipadamente (grifo
nosso) Reconhecer que no possvel controlar a implementao de uma inovao
implica abrir mo de pontos de chegada fixos. Isto no significa ausncia de
direes claras, objetivos claros e definidos, de planos, de anlise racional,
coordenao, organizao. Contudo, as direes devem ser suficientemente amplas,
possibilitando a flexibilidade, a capacidade de negociar permanentemente,
sobretudo, com os profissionais da escola. preciso uma atitude de indagao
sistemtica sobre os acontecimentos que vo concretizando a implementao. Uma
atitude de indagao que permita aprender continuamente com os novos contextos.
Os problemas so inerentes a qualquer contexto de mudana (grifo nosso)
Problemas so inerentes a qualquer esforo srio de produzir mudanas. So
condio necessria para o aprender. Mas, para tanto, tambm essencial uma
atitude sistemtica de indagao no enfrentamento dos problemas. No h como
desenvolver respostas efetivas a situaes complexas, evitando o confronto com os
problemas ou mesmo atribuindo-os resistncia, ignorncia e viso errada de
85
86
Considero que os trabalhos de Moreira e Lima apresentam resultados que podem vir a
contribuir, junto s demais teorias aqui consideradas, como instrumentos de reflexo e anlise
de meu objeto de pesquisa.
87
Captulo 3
Como tecer o tapete: metodologia da pesquisa
O homem foi procurar o sbio e lhe entregou o tapete, conforme ele havia lhe
pedido.
O sbio sorriu e, olhando bem dentro de seus olhos, ofereceu-lhe uma xcara de ch,
enquanto dizia pausadamente:
- Voc s conseguiu esse tapete, porque a partir de um certo momento de sua busca,
deixou de pensar em voc mesmo e passou a trabalhar apenas por ele. Ento agora
poder obter o conhecimento que veio buscar, quando falou comigo pela primeira
vez. (MACHADO, 2004, p. 202)
O tapete que aqui foi construdo uma pesquisa sobre formao contnua de
professores, da Educao Infantil e do Ensino Fundamental I para o ensino de msica, o foco
desta pesquisa, cujo conhecimento procurei buscar.
Quais fios condutores da tessitura do tapete podero levar a respostas esperadas dessa
pesquisa, que busca caminhos de superaes para atuais dificuldades encontradas por
docentes no ensino de msica para crianas?
88
[...] anlise dos significados que os indivduos do s suas aes [...] suas vidas e
suas relaes, compreenso do sentido dos atos e das decises dos atores sociais
[...] dos vnculos indissociveis das aes particulares com o contexto social em que
estas se do. (CHIZZOTTI, 2009, p.78)
Fios de mltiplas cores entram na composio do nosso tapete. Tal compreenso exige
um mergulho no fenmeno pesquisado, em que o pesquisador
89
reflexo crtica coletiva pode promover, aponta para a pesquisa qualitativa, em sua
modalidade de pesquisa-ao colaborativa/comunicacional, o modo de tecer os fios do tapete.
Colaborativa pelo fato de ter a sua origem em necessidade sentida pela SME de Mogi
das Cruzes, no caso do presente trabalho, solicitando cursos e projetos de formao contnua
de professores, ratificada pela adeso voluntria de professores das escolas que tiveram a
liberdade de atender ou no a um convite para participao em cursos e projetos
disponibilizados. E ainda por ter se articulado, ao longo de seu desenvolvimento, com outras
instituies.
O que o tapete tecido nesta pesquisa pretende cobrir? O solo do ensino de msica
para crianas, transitado por educadores da Educao Infantil e Ensino Fundamental I, que a
cada dia se amplia, se diversifica, se modifica. Para cobertura de tal dimenso foram por mim
organizadas as seguintes questes de pesquisa:
90
na superao das dificuldades que se apresentam no quadro atual do ensino de msica nas
escolas pblicas? Quais possibilidades e limites apresentam?
na preparao dos educadores em servio para atuar com novos paradigmas em suas prticas
docentes?
Objetivo amplo:
Objetivos Especficos:
91
Como tecer o tapete? O procedimento da espiral cclica (Lewin, 1946, apud Franco,
2005, p.487) envolvendo trs fases adequado aos objetivos aqui propostos. Compreende:
Pois foi dessa maneira que o projeto de ensino de msica para educadores da
Educao Infantil e do Ensino Fundamental I, Tocando, cantando,...fazendo msica com
crianas foi se realizando.
92
O projeto aqui focalizado teve sua origem em 2002 e continua at hoje. Foram
selecionados para os propsitos dessa pesquisa dados vivenciados no perodo que vai de 2002
a setembro de 2007, recolhidos junto s equipes das 23 escolas da SME de Mogi das Cruzes,
por essa pesquisadora que exerceu no projeto as funes de assessora e coordenadora
pedaggico musical.
A adeso das escolas ao projeto da SME foi ocorrendo de forma espontnea ao longo
desse perodo.
A pesquisa envolveu as seguintes escolas:
1. CCII Dr. Argu Batalha
2. CCII Horcia de Lima Barbosa
3. CCII Profa Ignz Maria de Moraes Petten
4. CCII Sebastio Silva
5. EM Adolfo Cardoso (Prof.)
6. EM Dr lvaro de Campos Carneiro
7. EM Antonio Nacif Salemi
8. EM Antnio Paschoal Gomes de Oliveira
9. EM Vereadora Astrea Barral Nebias
10. EM Profa Emili Nehme Affonso
11. EM Profa Guiomar Pinheiro Franco
12. EM Dr. Isidoro Boucault
13. EM Prof. Joo Gualberto Mafra Machado
14. EMESP Profa Jovita Franco Arouche
15. EM Profa Maria Colomba Colella Rodrigues
16. EM Profa Maria Jos Tenrio de A. Silva
17. E.M. Prof. Mrio Portes
93
Participaram do projeto:
No espao escolar:
Diretores e vice-diretores de Escola
Coordenadores Pedaggicos
Professores
Orientador de informtica na escola
94
Uma vez por ano - e isto em todo o perodo da pesquisa - os participantes do projeto
eram convidados para assistir em So Paulo apresentaes musicais; a inteno era investir em
prticas culturais, ampliar o universo artstico-musical, e potencializar a apreciao musical.
18
ADI: Auxiliar de Desenvolvimento Infantil. Antigamente chamadas de babs, tiveram a denominao alterada
quando as creches passaram a ser unidades educacionais e estas profissionais deixaram de ser apenas cuidadoras
para terem tambm funo educativa.
19
ADE: Auxiliar de desenvolvimento da Educao (merendeiras)
95
convidadas a fazer apresentaes musicais num evento da SME, realizado no espao de tempo
da Reunio de Orientao do Trabalho Educacional.(ROTE), para todos os professores da rede
municipal de ensino. Naquela ocasio foram apresentadas duas palestras sobre o tema A
Arte, a Educao Fsica e a formao global dos alunos, proferidas, respectivamente, por
mim Iveta Maria Borges vila Fernandes (Arte) e Vilma Pavanelli Farvola (Educao
Fsica).
O grande interesse de uma dessas escolas visitadas, a EM Dom Paulo Rolim Loureiro,
uma pequena escola rural, e por sua solicitao, deu origem ao Pedro e o Lobo, projeto
piloto realizado em 2003, no lcus da escola, como requeria a equipe escolar, e envolvendo
toda a escola.
O sucesso de Pedro e o Lobo, e dos projetos desta mesma natureza que lhe
sucederam, desencadearam de 2004 a 2006, solicitaes sucessivas de escolas para realizao
de projetos de ensino de msica, nos mesmos moldes, compondo as 23 escolas do universo
dessa pesquisa.
96
desenvolvimento infantil (ADIs). A proposta era que o projeto se relacionasse com demais
reas de conhecimento trabalhadas pela escola, que houvesse integrao com o Projeto
Poltico Pedaggico (PPP), e que passasse a fazer parte do mesmo. Junto a isso, neste ano
foram organizados alguns Encontros de Prtica Musical, no perodo noturno. Estimulei
tambm os docentes das equipes escolares para que escrevessem artigos com relatos dos
trabalhos que estavam sendo desenvolvidos e que foram publicados na Revista da SME:
Educando em Mogi - n.16.
Passei, ento, a prestar assessoria mensal nessas escolas junto s equipes pedaggicas
das mesmas. A ampliao do nmero de escolas participantes tornou necessria a
diversificao de procedimentos, sendo que em 2005 introduzimos monitores de msica para
atuarem junto aos educadores nas escolas.
Em
2005,
com
ampliao
diversificao
que
projeto
Tocando,
neste mesmo ano (2005), quando ento j tinha clareza das necessidades gerais e especficas
do ensino de msica do corpo docente, foram organizados trs cursos e sete workshops.
97
Ao final de cada ano de 2002 a 2007, procedi a Avaliao no processo e ao final, com
propostas para o ano seguinte.
98
O que a articulao dos fios tecidos nesse tapete nos diz do fenmeno pesquisado? No
dilogo com teorias e prticas busquei as categorias com que pudesse compreender as tramas
do tapete:
De Moreira (2001) servi-me das contribuies que resultaram de sua pesquisa sobre
implementao de inovaes, como recursos de anlise dos dados registrados ao longo do
processo de pesquisa, resumindo-as e fazendo delas minhas categorias. A partir de ligeiras
adaptaes detive-me nas passagens vividas e pesquisadas que evidenciam a necessidade de:
99
A seleo de categorias de anlise com apoio em Moreira e Lima se justifica por ter
encontrado nesses autores consideraes sobre a formao contnua de professores que
abarcam os pressupostos tericos que fundamentam esse trabalho.
Espera-se que do olhar analtico sobre o tapete at aqui tecido, seja possvel elucidar
caractersticas de projetos de qualificao profissional docente sob modo de formao
100
continua de professores que atuam com msica na Educao Infantil e no Fundamental I, que
contribuam com as mudanas esperadas nas prticas do ensino de msica, nos nveis de
ensino aqui considerados, e que permitam avanar em conhecimentos de construo de
projetos de formao contnua.
101
Captulo 4
O projeto Tocando, cantando,... fazendo msica com crianas:
projetando e tecendo, tecendo e projetando o tapete
...uma paisagem que pode ser contemplada de inmeros pontos de vista. [...] Quando
[..] olhei para a paisagem pela primeira vez como estudiosa, trazia comigo uma
pergunta que me acompanhava h muito tempo: O que se aprende em contato com
a arte? (MACHADO, 2004, p.19 - 20)
1. Um portal
Ao olhar para a paisagem que se descortinava minha frente eu tinha uma pergunta.
Quais as caractersticas de um projeto de formao contnua em ensino de msica, podem
auxiliar na superao das dificuldades que se apresentam no ensino de msica nas escolas
pblicas? Quais possibilidades e limites nessa questo? Pergunta que foi se solidificando,
crescendo e se desdobrando:
102
A paisagem era da rede municipal de ensino de Mogi das Cruzes. Eu pouco conhecia
de Mogi das Cruzes. Em 2001 comecei a lecionar na Universidade Braz Cubas desta cidade.
No ano seguinte fui convidada para ministrar um curso para os professores da Secretaria
Municipal de Educao de Mogi das Cruzes. E junto a isso um pedido: que abordasse os
Parmetros Curriculares Nacionais de Arte - Msica, proposta na qual havia trabalhado junto
equipe de Arte do MEC.
Dirigi-me ao prdio da Prefeitura, subi cada um dos lances da longa escada que
percorria trs andares e cheguei Secretaria Municipal de Educao. Conheci Leni Gomes
Magi, Coordenadora do CEMFORPE, e fomos a um pequeno espao, uma sala improvisada,
para conversarmos sobre os instrumentos musicais que eu estava indicando: xilofones,
metalofones, atabaque, ocean drum, caxixis, pandeiro, afux, clavas, bloco de madeira,
chocalho, reco-reco, tringulo, cmbalo, ganz, castanhola, tambor de fenda, xilindr, cco,
surdo, marac,... Isso alm de instrumentos musicais criados e construdos pelo luthi
Fernando Sardo. Leni muito atenta, interessada, perguntava: como isso, como aquilo?
Onde se pode comprar?
A SME ainda no possua um espao para cursos, e este curso seria em salas de aula
da Universidade Braz Cubas (UBC) - a Universidade na qual eu lecionava a disciplina
Fundamentos do Ensino de Arte, no curso de Pedagogia - e continuou no espao
improvisado e com condies adaptadas, no prdio da Merenda Escolar Municipal. Planejei o
curso de forma que a maioria das aulas fossem dadas por mim, e duas aulas para as quais
convidei Fernando Sardo (msico e luthi) que trabalhava com criao e construo de
103
104
105
(interpretao,
improvisao,
composio),
apreciao
reflexo
contextualizao.
4.3.Construo de instrumentos musicais propiciando a ampliao de experincias
com sons diversos.
4.4. O ensino e aprendizagem de Msica na escola de hoje: conexes com a educao
informal, insero e valorizao de msicas do contexto sociocultural, e do repertrio da
humanidade.
4.5. Prtica de msica em conjunto (instrumental e vocal), dando nfase produo
instrumental, com propostas de desdobramentos em sala de aula.
4.6.Grafias musicais: novas perspectivas.
6. Avaliao em dois momentos pontuais: avaliao diagnstica e avaliao final alm da avaliao processual.
106
7.2. Materiais
7.2.1. Xerox de instrumentos de avaliao e de textos.
7.2.2. Material para construo de instrumentos musicais.
7.2.3. Papel pardo, manilha ou kraft
7.2.4. Pincis atmicos coloridos
7.2.5. Giz de cera
7.2.6. Papel sulfite, lpis e/ou caneta
7.2.7. Fita crepe e rolo de barbante
7.2.8. Lousa ou lbum seriado
107
A pedido da SME escrevi um texto sobre o curso que estava ministrando, que foi
publicado na recm criada revista da SME:
20
Sala So Paulo: A antiga estao de trens da Estrada de Ferro Sorocabana, na cidade de So Paulo, aps
restaurao, recuperao e reforma, transformou-se no Complexo Cultural Jlio Prestes, sede da maior e mais
moderna sala de concertos da Amrica Latina. sede da Orquestra Sinfnica do Estado de So Paulo.
108
No final do segundo curso e dos encontros noite, que foram trs, fizemos
apresentao de algumas msicas no salo social do Clube Nutico Mogiano da cidade, em
espao de tempo da uma ROTE, em seguida s duas palestras, para todos os professores da
rede municipal, que tinham como ttulo A Arte, a Educao Fsica e a formao global dos
alunos, e foram proferidas por mim Iveta Maria Borges vila Fernandes (Arte) e pela Profa
Vilma Pavanelli Farvola (Educao Fsica).
O repertrio apresentado, com msicas que eram cantadas e tocadas pelos dois grupos,
compreendia as msicas:
- O sapinho - histria sonorizada de autoria da Profa Dbora Siqueira Bitares, (que
participava com suas duas filhas, ainda crianas, dos trs encontros das 3as feiras noite);
O sapo - Thelma Chan; Galopando - folclore alemo. Essas msicas e respectivos arranjos
foram feitos com a turma de 3 feira noite.
- Asa Branca de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira; O Palhao de Kabalevsky: a
primeira tocada e cantada, e a segunda uma msica instrumental, com arranjos de ambas
elaborados em conjunto por mim e pelo grupo que conclua o segundo curso.
109
No ano seguinte, em 2003, por solicitao dos participantes, a SME pediu-me que
desse um outro curso em continuidade ao segundo. Neste terceiro Curso Tocando,
cantando,...fazendo msica com crianas, Mdulo III - 2003 a necessidade dos
educadores(as) desenvolverem a linguagem musical, de saber msica, e ainda de saber ser
professor(a) que atua com msica, por mim constatada, levou-me a focar o trabalho em
duas vertentes: o conhecimento e prtica da msica em si, e o ensino de msica para crianas,
procurando, assim, contribuir na formao contnua dos(as) professores(as) da rede municipal
de ensino. O curso Mdulo III - 2003, de 30hs, teve 32 participantes.
O Curso Tocando, cantando,... fazendo msica com crianas, Mdulo III - 2003,
tambm com durao de 30 horas como os outros anteriores, tendo 20 educadoras cursistas,
teve como objetivos:
1. Desenvolver a linguagem musical em processos articulados entre os trs eixos de
ensino de Arte: fazer / apreciar / contextualizar.
2. Desenvolver a linguagem musical tocando e/ou cantando, explorando sons de
diferentes procedncias ao improvisar, compor e interpretar.
3. Desenvolver a percepo auditiva, despertar a percepo de paisagens sonoras
empregando conhecimentos de ecologia acstica.
4. Saber utilizar elementos da linguagem musical (ritmo, melodia, timbre, textura,
dinmica, forma) em processos de criao e apreciao musicais.
5. Procurar e organizar informaes sobre msica: fontes de registro (discos, fitas
sonoras, fitas de vdeo, recortes de jornais, revistas,...); fontes de informao (videotecas, sites
na internet,...); espaos e instituies culturais que fazem apresentaes musicais; grupos
musicais e momentos em que se apresentam.
110
No decorrer desse ano (2003), por solicitao da SME, dei assessoria s escolas:
EM Adolfo Cardoso
21
Projeto Tom da Mata: Desenvolvido em conjunto por Furnas Centrais Eltricas, Fundao Roberto Marinho e
Instituto Antonio Carlos Jobim, e levado s escolas da rede municipal por meio de parceria com a SME de Mogi
das Cruzes.
111
EM Antonio Paschoal
EM Dom Paulo Rolim Loureiro
No 2 semestre de 2003 ocorre nova solicitao dos participantes para outro curso em
continuidade, dando origem ao Curso Tocando, Cantando,...fazendo msica com crianas,
Mdulo IV - 2003. Esse curso era destinado a: Assessores da SME, Diretoras e Professores
que j haviam participado dos mdulos I e/ou II e/ou III; dele participaram 20 educadores.
Objetivos:
Tocar e cantar repertrio variado desenvolvendo contedos de natureza atitudinal (saber
ser), procedimental (saber fazer), e conceitual.
Desenvolver a linguagem musical articulando os 3 eixos do ensino aprendizagem em
Msica propostos pelos: RECNEI e PCN Arte Msica, do Ensino Fundamental:
produo
(interpretao,
improvisao,
composio),
apreciao,
reflexo
contextualizao.
Trabalhar com paisagem sonoras, ecologia acstica e interpretao de msica de Tom
Jobim, em conexo com o Projeto Tom da Mata.
Assistir apresentao musical visando enriquecimento dos processos de apreciao /
reflexo / produo musicais.
Desenvolver, no decorrer do curso, atividades pedaggicas (50%) e atividades de fazer /
refletir / apreciar msica (50%), ampliando o conhecimento de msica e ensino de
msica.
Retomar msicas feitas nos mdulos anteriores, recuperando os processos pedaggicos
especficos que lhes deram origem.
Fazer apresentaes musicais a partir do repertrio musical desenvolvido.
Contedos:
Prtica de msica em conjunto:
a) incluindo contedos:
112
113
Neste mdulo trabalhei com o conhecimento e prtica da msica em si, e com o ensino
de msica para crianas, tendo a proposta ficado assim constituda:
Objetivos:
Conhecer e refletir sobre a importncia de uma verdadeira educao musical e sua presena
na escola.
Iniciar um trabalho com os trs eixos de ensino aprendizagem em Educao Musical:
produo
(interpretao,
improvisao,
composio),
apreciao
reflexo
Contedos:
O desenvolvimento do ser humano atravs da msica e da Educao Musical.
Os trs eixos da aprendizagem de Msica: produo (interpretao, improvisao,
composio), apreciao, e reflexo / contextualizao.
O(a) professor(a) pesquisador(a) e o ensino de msica a partir de projetos de Educao
Musical.
A importncia do ldico na educao musical de crianas.
Experimentao / vivncias de atividades musicais a partir de relatos de experincia
elaborados pelos participantes deste Mdulo IV.
Preparao de apresentaes musicais.
Procedimentos:
Aulas prticas (utilizando instrumentos musicais da SME, e outros objetos sonoros) e
tericas, com propostas de trabalho na maioria grupais, utilizando metodologia de ao /
reflexo / ao.
Neste ano de 2003 comecei a preparar mdias CDs, materiais didticos para que as
professoras pudessem t-los e trabalhar com eles na escola. Durante o curso Mdulo I Verso 2 a profa, Jaqueline Palanca Correa que trabalhava em classes vinculadas EM Dom
114
municpio de Mogi das Cruzes, comeou a desenvolver atividades musicais efetivas com seus
alunos, a partir dos materiais e mdias por mim preparados e/ou selecionados.
Foi ainda em 2003 que na EM Dom Paulo Rolim Loureiro, escola de educao infantil
da zona rural, devido ao grande interesse e envolvimento de suas professoras Jaqueline
Palanca Correa, Judite Maria Grilli Lovro, Maria Benedita de Campos Reis, Mrcia Silva
Maciel, e da diretora Lucia Mayumi Sagawa Takemoto, que indiquei e a equipe da escola
solicitou desenvolvimento de um projeto de ensino que fosse realizado no lcus da escola, e
que envolvesse toda a instituio. Iniciamos, ento, o projeto Pedro e o Lobo que teve por
referncia a obra de Prokofiev. Para isso tivemos alguns novos encontros de assessoria nessa
escola, com a parceria sempre constante da supervisora de ensino desta escola, Luiza
Conceio Silva, que participava ativamente contribuindo com suas indicaes e reflexes.
Nesses encontros tnhamos vivncias de apreciao musical, contextualizao histricogeogrfica desta obra e de atividades construdas em conjunto por mim e pelas professoras e
direo da escola. Algumas das professoras no haviam participado dos cursos j ministrados,
e aderiram ao projeto pelo entusiasmo que se alastrou por toda a equipe pedaggica. O
envolvimento possibilitou a articulao com outras linguagens artsticas e vrias reas do
conhecimento. Tornou-se projeto interdisciplinar. Toda escola passou a reconhecer e
diferenciar no s os timbres dos instrumentos musicais, como os temas musicais de cada
personagem da pea de Prokofiev, e algumas caractersticas gerais do contexto nacional do
compositor (Rssia).
115
Ao ir s escolas levava sempre, durante todo o perodo desta pesquisa, uma pequena
maleta com livros, revistas, CDs, vdeos, DVDs, mdias que eram selecionadas ora umas ora
outras, dependendo do rumo da assessoria, e cujo uso eu incentivava as docentes, e elas
comearam a tomar emprestado. Tambm elaborava snteses sobre itens de contedos, a partir
da proposta que trabalhava.22
22
23
Algumas snteses e materiais preparados por mim para utilizar nas Assessorias: ver em ANEXO.
A respeito dessas mdias: ver em ANEXO.
116
117
Alm da solicitao por essas escolas, esse trabalho se justificava por ser a msica
parte integrante da rea de Arte, obrigatria segundo a LDB vigente Lei N. 9.394/96, e muito
pouco conhecida pelos professores(as), sendo a transposio deste conhecimento para a
prtica em sala de aula um desafio a ser vencido. Era necessrio que o professore(a)
desenvolvesse a linguagem musical, sabendo msica, e
118
mensalmente com elas, no lcus de cada escola, tendo a parceria sempre presente da
supervisora de ensino de cada uma delas. Era um trabalho conjunto no qual estavam junto a
mim a supervisora, a direo e os professores da escola via projeto em dilogos e reflexes,
na direo do crescimento pessoal e profissional de todos.
119
No segundo semestre desse mesmo ano mais duas escolas tambm passam a integrar
esse grupo, totalizando, portanto, oito escolas em 2004. Essas duas escolas foram:
No incio deste ano, indiquei para as escolas do projeto alguns livros para professores
e tambm alguns infantis, relacionados educao musical, o que foi providenciado.
Ainda no 1 semestre de 2004, para a nova revista bimestral da SME de Mogi das
Cruzes: Educando em Mogi, coordenei a produo de artigos - e tambm escrevi um deles -
120
sobre o trabalho que estava sendo realizado. Esses artigos 24 foram publicados na edio de
Maio e Junho de 2004 - Ano III, N 16, da referida revista. Foram eles:
No final do 1 semestre deste ano de 2004 incentivei as escolas para que com a
liderana de suas diretoras, participassem de mesas do 1 ENFOPEB - Encontro de
Formao de Professores da Educao Bsica, de 01 a 04 de junho / 2004, na Universidade
Braz Cubas, em Mogi das Cruzes, universidade na qual eu lecionava. Assim participamos:
cada uma das escolas iniciais da rede municipal, a Equipe Tcnica da SME e esta
pesquisadora. As escolas perguntavam: - Como vamos participar? O que vamos fazer?
Estamos ainda comeando... A resposta era: - Vamos contar como estamos construindo o
projeto de ensino de msica. Muitos querem saber como comear um projeto de msica.
Vamos contar o nosso comeo: as possibilidades e desafios! Assim, cada escola teve uma
educadora representante, relatando nesse evento o processo vivenciado at o momento, que
teve como tema e organizao:
24
Artigos sobre os projetos de msica nas escolas, publicados na revista Educando em Mogi, n.16 - 2004: ver
em ANEXO B
121
. Equipe Tcnica / Direo / Profs da Rede Municipal de Ensino de Mogi das Cruzes
MESA DA MANH
EM PROF. ANTONIO PASCHOAL GOMES DE OLIVEIRA
Diretora: Darly A. Carvalho
EM PROFa. EMILIE N. AFFONSO
Diretora: Lucimara Ferreli C. B. Ferraz
EM DOM PAULO ROLIM LOUREIRO
Profas Judite Maria Grilli Lovro e Jaqueline Palanca Correa
MESA DA NOITE
EM PROF. ADOLFO CARDOSO
Profa: Jussara Maria Rafael Lavras
EM PROF. NOMIA REAL FIDALGO
Diretora: Maria de Ftima P. de Melo
EM PROF. SERGIO HUGO PINHEIRO
Diretora: Lucia Mayumi S. Takemoto e Profa: Patrcia Marins Aguiar Conde
122
- Aspectos culturais dos pases de origens das famlias das crianas. Interpretao e arranjo
musical cantando, tocando e danando msicas de vrios pases.
- Vivncia de apreciao musical ao vivo de obras instrumentais, com a presena dos pais e da
comunidade, nos seguintes eventos:
123
Neste mesmo ano a equipe desta escola tomou conhecimento do Concurso V Prmio
Arte na Escola Cidad - 2004 do Instituto Arte na Escola e quis participar. Como o
regulamento do concurso no permitia inscrio de equipes, estas foram orientadas a se
inscrever fazendo-se representar por uma professora. Para esse concurso o projeto foi
colocado, pela equipe da escola, em nome da Profa Judite Maria Grilli Lovro, que muito havia
se envolvido em todo esse projeto - e no projeto de msica como um todo - tendo muitas
idias de procedimentos, desdobramentos e realizaes com as crianas desde o ano anterior.
O resultado foi que essa pequena escola de educao infantil, na zona rural de Mogi das
Cruzes, foi classificada como finalista, ficando entre as quatro do Estado de So Paulo, nesse
concurso nacional.
Nas assessorias s escolas passei tambm a levar msica erudita por meio de vdeos do
Walt Disney: Fantasia (selecionava uma por vez as obras que trabalharia: Sinfonia Pastoral
de Beethoven; Dana das Horas de Poncelli); Fbulas (Sinfonia da Fazenda); e tambm
por meio de CDs de msica erudita destinados ao pblico infantil. A apreciao,
contextualizao se fizeram presentes, sendo que no fazer musical os temas dessas obras
foram adaptados e trabalhados adequando-se faixa etria das crianas.
Nas reunies de assessoria com as equipes das escolas, algumas orientaes / reflexes
/ vivncias foram constantes:
124
Levar alunos a apresentaes musicais e trazer escola msicos, pais ou familiares que
cantadas.
Foram realizadas ainda, algumas reunies com as diretoras dessas escolas, bem como
com o grupo de supervisoras de ensino desta SME, e Leni Gomes Magi (Coordenadora do
CEMFORPE). Eu apresentava a essas educadoras, que ocupavam
diferentes funes e
espaos que o projeto procurava articular, como o processo estava se dando, trocvamos
idias, esclarecamos dvidas, discutamos e procedamos a exerccio de reflexo sobre a
experincia em curso.
125
Tambm em 2004 foi feita avaliao diagnstica e final por meio de instrumento de
pesquisa, e avaliao durante o processo.
126
Com a entrada de mais sete escolas, e uma escola que no continuou neste ano (vindo
retornar ao projeto em 2008), o total de escolas participantes foi para quatorze. Surgiu, ento,
a necessidade de se ter mais pessoas atuando nas escolas.
Aprender fazendo! Assim como fizera em 2003 com o projeto Pedro e o Lobo na EM
Dom Paulo Rolim Loureiro, em 2004 com o projeto Tocando, cantando,... fazendo msica
com crianas, no lcus das oito escolas, e com toda a equipe escolar, em 2005 dvamos
incio monitoria de msica para aprender fazendo! Existiria melhor aprendizado para todos
ns?
127
a mesma sistemtica, tendo as supervisoras de ensino como parceiras. Havia escolas com
turmas de EJA, que tambm foram atendidas pelo projeto.
Camila Valiengo
Gustavo de Castro Lima
Luciana Massro Cardoso Pereira de Souza
Telma Cristina Milito de Oliveira
Esses quatro monitores comearam, no incio de 2005, e atuar nas salas de aula junto
ao professor da classe. Eram previstos 30 minutos para cada classe, mas as escolas faziam
ajustes e adaptaes a partir do total de horas que cada escola tinha para sua monitoria de
msica. Cada escola, ento, fazia seu cronograma: uma estabelecia um cronograma quinzenal
de 50 minutos para cada classe; outra unia turmas e ampliava para uma hora o tempo de
monitoria para um grupo unificado; outra estabelecia um tempo menor para as classes com
crianas de faixa etria menor;... E assim, cada escola ia se adequando ao seu perfil e
necessidade.
A monitoria mensal comeou somente nas escolas que j tinham seus instrumentos
musicais. No ms de outubro chegaram os instrumentos musicais para as demais escolas, e
outros monitores foram convidados. Com isso iniciaram-se as monitorias de msica em todas
as escolas do ano de 2005. Desses monitores novos, alguns eram da cidade, e os demais eram
meus alunos do curso de Licenciatura em Educao Musical, do Instituto de Artes da Unesp So Paulo. Eram eles:
128
Quanto a essa pesquisa ainda importante afirmar que ela teve, desde o incio, todo o
suporte e parceria imprescindvel da Secretria Municipal de Educao de Mogi das Cruzes,
129
Maria Geny B. A. Horle, bem como da Equipe Tcnica desta SME, grupo de diretoras e
equipes das escolas participantes.
No incio de 2005 enviei SME uma relao de livros, CDs, DVDs: mdias da rea de
educao musical, como indicao para serem comprados, pois, eram indispensveis para o
bom andamento do projeto. Eles foram comprados, e passei, anualmente, a complementar
essa relao a cada ano, sempre com respectiva compra por parte da SME.
130
Quanto aos Contedos, o foco era o trabalho que j havia sido realizado em escolas
pelas equipes a seguir citadas, agora coordenando no curso vivncias de atividades musicais
que haviam realizado anteriormente. Foram os seguintes:
Dana Minu
Grafias e composies musicais infantis
EM Prof. Joo Gualberto Mafra Machado
Profa Iveta M. Borges vila Fernandes
131
132
Quanto aos mtodos / procedimentos estes foram por meio de palestras e algumas
atividades prticas, procurando contribuir na formao contnua dos educadores(as).
A avaliao se processou no decorrer do curso, bem como no seu final, esta por meio
de instrumento de avaliao final.
Com um total de 20hs, esse curso teve por meta a socializao da experincia para a
comunidade, tanto das escolas como deste projeto de msica da SME, e forneceu subsdios
para possvel apresentao em congressos, e para montagens de exposies para a
comunidade.
Como pblico alvo, esse curso foi planejado para o grupo de diretoras e coordenadoras
das escolas do projeto, e realizou-se no perodo diurno, como formao em servio. Suas
aulas foram expositivas, com variados recursos de imagens, aliados a exerccios prticos e
133
planejamento da exposio dos PPP das escolas, que ocorreria no final do ano. Como
convidada para ministrar esse curso tivemos a museloga Marlia Xavier Cury, do Museu de
Arqueologia e Etnologia da USP. (MAE / USP)
134
135
Notao musical
Simone Teodoro Silva Viana, professora da EM Dom Paulo Rolim Loureiro.
25
Folder para comunicao/divulgao de trabalho apresentado pela Profa Patrcia M. A. Conde: Que tem na
Sopa
do
nenm?
A
criao
de
um
Arranjo
Musical
:
ver
em
ANEXO C.
136
2.
VIII
CONGRESSO
ESTADUAL
PAULISTA
SOBRE
FORMAO
DE
3. No Jornal APASE, logo em seguida a esse congresso, foi publicada uma matria sobre a
participao da Secretaria Municipal de Educao de Mogi das Cruzes: Mogi das Cruzes
participa do Congresso sobre Formao de Educadores, de educadoras desta SME:
HORLE, M. Geny B. A. ; MAGI, Leni G; TAKEMOTO, Lcia M. S., respectivamente:
Secretria de Educao, Diretora do Departamento Pedaggico e Supervisora de Ensino.
26
Folder para comunicao/divulgao do projeto de msica para o VIII Congresso Estadual Paulista sobre
Formao de Educadores: ver em ANEXO C.
137
Prmio Arte na Escola Cidad do Instituto Arte na Escola de autoria da profa Judite M.
G. Lovro
Neste ano, com a indicao de vrios nomes, e posterior eleio do que as escolas
preferiam, o projeto de arte da SME passou a se chamar Educando com arte, e compreendia
o Tocando, cantando,...fazendo msica com crianas, e o projeto de Artes Visuais.
138
EJA: 1 ao 4 Termos
139
E.J.A. - 1 ao 4 Termos
Projeto Interdisciplinar
140
EJA: 1 ao 4 Termos
141
142
Foram planejadas apresentaes musicais das escolas que integravam o projeto, para
pais e comunidade, o que aconteceu em outubro, no mesmo local do ano anterior, no Clube
Nutico Mogiano, espao da cidade que tinha condies de abrigar evento desta proporo.
Todas as escolas se apresentaram: foram dois dias e uma noite de apresentaes! Toda
estrutura necessria foi providenciada pela SME, bem como folder e programas impressos.
Alm dos nibus para transportar as crianas, organizao do espao, sistema de som, toda
uma estrutura para receber um pblico de tal extenso.
143
4. Compra de livros, CDs, DVDs para educao musical. A cada ano, a partir de 2004,
passei a enviar SME uma relao de livros, CDs, DVDs: mdias da rea de educao
musical, como indicao de aquisio para todas as escolas, pois, eram indispensveis para o
bom andamento do projeto.Sempre com a respectiva compra providenciada pela SME.
144
145
Explorando o maravilhoso universo musical, de autoria das profas Ana Cristina Picolomini,
Ciomara R. P. de Miranda, Rosangela L. F. de Mello e Silvana A. de vila, da Escola
Municipal Dr. Isidoro Boucault..
Educao Musical, de autoria da profa Judite Maria Grilli Lovro, da Escola Municipal Dom
Paulo Rolim Loureiro.
146
Projeto Meio Ambiente: Terra... Planeta Msica, de autoria da diretora Edilamar Regiane C.
Macedo Pazini, da Escola Municipal Dom Paulo Rolim Loureiro.
Em Dezembro de 2006 a Revista Nova Escola lanou uma edio especial: ARTE 20 projetos e 30 atividades para turmas de creche a 8 srie [Msica - Teatro - Artes Visuais
- Dana] Entre os projetos e/ou escolas escolhidos, a Nova Escola selecionou uma escola
integrante do projeto Tocando, cantando,...fazendo msica com crianas: EM Prof. Srgio
Hugo Pinheiro para apresentao de seu trabalho. 27
preparados.
Educao musical nas escolas: ampliando horizontes (Mdulo I ) - 2006 (40h), com 56
participantes, tendo como pblico alvo educadores de escolas que integraram o projeto de
27
Matria publicada na Revista Nova Escola sobre o trabalho de ensino de msica na EM Prof. Srgio Hugo
Pinheiro: ver em ANEXO D.
147
msica. O objetivo desse curso era: Ampliar vivncias e conhecimento de msica e ensino de
msica, por meio de reflexes e prticas.
Desenrolando brincadeiras
Chico dos Bonecos
A criao musical
Pedro Paulo Salles (Escola de Comunicaes e Artes / USP)
148
149
Gesto e Coordenao do trabalho na escola: coerncia para lidar com gente e com o
conhecimento
Helenice Maria Sbrogio Muramoto (APASE)
A avaliao foi feita a partir dos trabalhos solicitados e entregues, e por meio de
instrumento de avaliao final.
150
EM Profa Guiomar Pinheiro Franco, um encontro com Arthur Irau Amaral Fuscaldo, no qual
o tema foi A msica na aula de EJA.
GRUPO 1
Defender a idia da introduo da msica como meio de formao o caderno em
si. / Transformar a publicao em instrumento de formao para o professor. /
Fazer parte da bagagem que o professor utilizar no dia a dia.
Mostrar de forma clara, objetiva e simples, a importncia da introduo do se
fazer msica com instrumentao, vocabulrios, permitindo o enriquecimento
do trabalho do professor com novas idias e segurana / A transformao que
se faz visvel tanto no professor quanto nas crianas e na escola.
Defender o porqu e o para qu trabalhar com msicas diversificadas e informar
os meios para que isso seja possvel. / Mostrar ao professor como pode ser
simples e fcil despertar e estimular o trabalho com a diversidade de msicas
sem extinguir os gostos das crianas, permitindo criana ampliar e ser capaz
de discernimento de significados, de interpretao associada sensibilizao e
ampliao de conhecimentos.
GRUPO 2
Socializar experincias bem sucedidas do projeto de msica, que sejam
fundamentadas teoricamente, e partilhar diversos conhecimentos relacionados
musicalizao infantil e produo musical scio-histrica e cultural da
humanidade.
GRUPO 3
151
Como nos outros anos, alm da avaliao no processo, houve avaliao final em
2006, com propostas para 2007.
Ao chegar em 2007 havia todo um movimento em torno do grande evento que seria
realizado pela Secretaria Municipal de Educao de Mogi das Cruzes: o Forum Mundial de
Educao do Alto Tiet, que teve lugar no ms de setembro. Um grande evento em todos os
sentidos, para o qual a cidade se preparou!
28
Material recolhido em nossa 1 reunio do CADERNO DE MSICA, 25 05 06, na qual estavam presentes 3
152
Educao musical nas escolas: ampliando horizontes - Mdulo II, de 30hs, destinado a:
professores, ADIs, coordenadores, orientadores de msica, diretores, supervisores, equipe
tcnica da SME, teve 71 participantes. Seus temas e docentes foram:
Quanto aos procedimentos foram aulas com forte componente prtico, com nfase em
oficinas, sendo que a fundamentao terica estava tambm presente. A avaliao no final do
curso foi feita por meio de instrumento de avaliao.
153
Neste mesmo ano a monitora de msica Camila Valiengo fez uma comunicao sobre
o projeto: Tocando e cantando,...desenvolvendo a linguagem musical na rede municipal de
ensino no XVI Encontro Anual da ABEM em Campo Grande (MS), que foi publicado no
ANAIS ABEM 2007 (CD-ROOM).
29
154
155
Os projetos nas escolas, durante o ano de 2007, deram continuidade ao que j se vinha
fazendo no decorrer do projeto, bem como atuao dos orientadores de msica,
anteriormente denominados monitores. A liderana e entusiasmo da Profa Patrcia M. A.
Conde, junto ao orientador de msica Geraldo Monteiro Neto, e diretora da EM Prof. Srgio
Hugo Pinheiro, Silmarli de Souza Mello Soares, foi neste ano a primeira de uma srie de
turmas que se sucederam, em levar alunos para assistir ao Programa Descubra a Orquestra
da Sala So Paulo. A SME DE Mogi das Cruzes, por meio de seu Projeto Caminhando e
Conhecendo30, foi que disponibilizou os nibus para que a escola levasse alunos So Paulo.
Por ser 2007 o ano em que Mogi das Cruzes foi sede do Frum Mundial de
Educao do Alto Tiet, o grupo de diretoras resolveu fazer a edio de um DVD com todas
as escolas, para apresentar neste evento o projeto Tocando, cantando,...fazendo msica com
crianas. O trabalho de Rita de Cssia Rocha de Oliveira Luiz, Maria Ins de Melo Faria
Peixoto de Miranda e Patrcia Maria Aguiar Conde, respectivamente: Diretora de Escola,
Coordenadora de Escola e Professora de escola, autoras do roteiro do DVD Tocando e
cantando,.. fazendo msica com crianas, sintetiza o esprito do projeto registrando
momentos significativos do processo, articulando com um texto oral os seus mltiplos
significados, que para alm das palavras, se inscrevem nas imagens apresentadas.
Em 2007, por solicitao da SME de Mogi das Cruzes, elaborei um novo projeto de
pesquisa, com o mesmo nome, agora em parceria com o Instituto de Artes da Unesp, Campus
de So Paulo, e com a Fundunesp, ampliando desta forma a articulao entre instituies e
tendo agora os monitores como pesquisadores estagirios da Fundunesp.
30
O Projeto Caminhando e Conhecendo tem como objetivo incentivar a realizao de excurses de carter
educativo, como parte integrante da proposta escolar. Cada escola planeja as excurses que realizar e a SME
fornece os nibus para transporte. Todos os alunos devem participar da atividade, sem custo para a famlia.
156
Tomei ento setembro de 2007 como finalizao da coleta de dados dessa pesquisa,
que j se mostravam suficientes para a elaborao de princpios orientadores de projetos de
formao contnua de professores da Educao Infantil e do Ensino Fundamental I que
ensinam msica para as crianas, tendo por meta a conquista da autonomia e da autoria dos
docentes e das escolas.
Por enquanto, espero ter delineado um ponto de partida: olhar [e escutar] a paisagem
dos contos [e das sonoridades] pela janela, por uma janela particular, como a que
acabo de apresentar at aqui, significa recolher dados para que se configure uma
determinada inteno. (MACHADO, 2004, p.35)
157
Captulo 5
Projetando e tecendo, tecendo e projetando o tapete: anlise do desenvolvimento do
projeto
Procuro nesse captulo o sentido das vivncias sonoras que compuseram os caminhos
dessa pesquisa, enveredando-me pelas suas pistas. Busco emergir da fumaa que, quando
mergulho na vivncia dos fatos, pode embaar uma viso mais clara dos sentidos dessa
experincia.
O projeto de formao contnua de professores da Educao Infantil e do Ensino
Fundamental em ensino de msica, constituiu-se processualmente em uma seqncia que
compreende trs momentos.
O primeiro deles realizado ao longo dos anos 2002 e 2003, solicitado pela SME de
Mogi das Cruzes, preocupada com a qualificao contnua docente e compreendeu cinco
mdulos de cursos. Embora referenciados nas questes de ensino das escolas, elas nem
sempre eram o lcus de sua ocorrncia.
O segundo momento teve incio em meados de 2003 dando origem ao projeto Pedro e
o Lobo, inspirado na obra de Prokofiev, por iniciativa da EM Dom Paulo Rolim Loureiro,
uma pequena escola rural que tinha grande vontade de saber e ensinar msica para crianas,
fazia muitas perguntas. A cada assessoria solicitava mais, trazia realizaes e mais queria, o
que levou ao desenvolvimento do projeto de formao contnua para o ensino de msica
realizado no espao da escola e envolvendo toda a equipe pedaggica (professoras e diretora).
O xito desse projeto em 2003, propiciou em 2004 a sua expanso para oito escolas
solicitantes, (incluindo nessa contagem a EM Dom Paulo Rolim Loureiro), em uma verso
aprimorada intitulada De Pedro e o Lobo para outras culturas (nome dado pela escola) e que
158
159
1. Cursos e workshops
2. Apreciao esttica e prticas de ampliao da cultura musical docente
3. Apresentaes musicais
4. Participaes/Comunicaes em eventos, Publicaes, Produes
5. Avaliao
6. Assessorias, Monitorias, Coordenao
O que a passagem de um para outro momento nos revela sobre o sentido do percurso
dessa pesquisa-interveno? Detenhamo-nos nelas.
1. Cursos e workshops
A respeito dos cursos observamos que, de 2002 a 2007, eles foram se transformando,
indo cada vez mais de encontro s necessidades dos professores e das escolas, indo de um
conhecimento de msica e de ensino de msica mais gerais para as necessidades mais
especficas e possibilidades do professor de Educao Infantil e Ensino Fundamental I. Houve
um aprendizado no que diz respeito ao que propor e quais procedimentos eleger, para que esse
professor, que no tinha conhecimento musical especfico, pudesse tambm trabalhar com
msica na escola, semelhana da maioria dos msicos populares de nosso pas. Ou seja,
nosso foco no seria o aprendizado musical por meio do cdigo musical tradicional, da grafia
musical, mas, pela vivncia, percepo sonora e musical, pelo conhecimento que passavam a
adquirir da msica como linguagem sonora. Tudo isso tendo em vista a meta ampla de
propiciar ao aluno o gosto pela msica e a familiaridade com a possibilidade de se expressar
por meio dela.
160
31
161
trabalho realizado, que por vrias vezes pensvamos ser simples, porm, para as
apresentaes tivemos que repensar o caminho e ver como foi rico.
(Como interferiu na sua prtica e reflexo?) O pensar sobre a educao que
oferecida na escola pblica, a qualidade tem que ser a nossa meta.
(Conceito sobre ensino/aprendizagem de msica) [...]o ensino de msica se
resumia s musiquinhas que eram decoradas. Hoje sei que a msica na escola
muito mais que isso. (Educadora A)
(Momento que chamou sua ateno.) Todos os momentos chamaram a minha
ateno, principalmente as apresentaes das escolas, onde cada uma apresentava
atividades maravilhosas, me encantando com as novidades. E cada escola tinha um
contudo diferente para apresentar, tornando o curso mais interessante.
(Como interferiu na sua prtica e reflexo?) Interferiu totalmente, comecei a
avaliar a minha prtica, e com o curso estou ampliando o repertrio de msica,
atividades, dinmica, etc, e tambm percebi a importncia da leitura, da base terica,
para poder regar a nossa prtica.
(Conceito sobre ensino/aprendizagem
162
mais. Trazem a msica que est fora da escola, oferecem atividades e repertrio didtico
que o que se constatou como a grande necessidade do professor. No adianta s saber cantar
e/ou tocar, mas, para ser professor necessrio saber de que forma ensinar. Com qual
procedimento de ensino? Este um saber que se vivencia e constri. Este um saber que
diferencia o msico do professor que trabalha com msica na escola.
Os cursos ainda trouxeram contribuies quanto ao fazer msica: desde 2002 eles j
propunham ao professor no s interpretar, mas, improvisar e compor. Muitos ainda
pensavam que fazer msica era s interpretar cantando ou tocando a msica que algum
msico/compositor famoso escreveu. Essa foi uma grande barreira a ser transposta desde o
incio. Comeou-se tentando a criao de pequenos trechos musicais, histria sonorizada, e
depois, organizao de arranjos. Importante para a execuo desta proposta foi a variedade de
instrumentos musicais que a SME comprou para cada escola.
Lima nos alerta para o fato de que ...a natureza do trabalho docente requer que ele
tenha uma permanente e constante reviso das suas prticas (p.171-172).
A contribuio dos cursos tambm foi a de propiciar aos participantes a vivncia das
novas propostas de ensino terica e praticamente apresentadas e de modo geral desconhecidas
dos docentes, para que ao experimentar introjet-las em si, tivessem a oportunidade didtica
de perguntar, duvidar, negar, para aprender. Caminhvamos assim, na direo de Lima,
segundo o qual
...a formao contnua precisa realizar-se nas condies e possibilidades de acesso
aos espaos formais de conhecimento, nas diferentes modalidades e nveis de
ensino, para que o docente, alm de ascender profissionalmente, tenha a
fundamentao terica necessria reflexo e anlise da realidade, indispensveis
construo de sua prxis docente. (2001. p.171-172)
163
164
(...)
Valorizao da atitude de fazer perguntas relativas arte e s questes a elas
relacionadas.
(...)
Reconhecimento dos obstculos e desacertos como aspectos integrantes do
processo de criao pessoal.
(FERNANDES e MARGARIDO, 2004, p.30)
Esse era o teor dos comentrios que precediam a vinda dos especialistas que
trabalharam nos workshops. O conhecimento especfico que cada um deles trazia, abria
muitas janelas que mostravam outras paisagens mais.
A produo de mudanas no interior da escola passa pela abertura da instituio,
passa pela atitude de transpor seus muros, abrir portas e janelas. Significa conhecer
que os desafios apresentados escola no sero vencidos apenas pelos profissionais
que atuam dentro dela. fundamental estimular a abertura da escola participao
dos diferentes segmentos sociais. [... ] A construo de currculos e de uma prtica
escolar, dentro de uma perspectiva emancipatria, passa, necessariamente, pela
abertura e no fechamento da escola. (MOREIRA, 1999, p. 140-141)
165
No ano seguinte a caracterstica dos workshops foi incorporada pelos cursos que
passaram a ter uma parte prtica bem maior, de fazer musical com vivncias de atividades, e
uma menor parte expositiva. Os workshops no continuaram, mas, se deslocaram da forma
que acaba de ser explicitada, pois, fazer todo o entrelaamento e articulao das escolas da
rede municipal participantes do projeto, em momentos de ROTE, mostrou-se uma tarefa
possvel, mas, que deveria ter um derivativo para sua continuidade.
Os workshops vieram a retornar mais tarde, em 2008, ano que j no mais compreende
o perodo desta pesquisa, com uma outra caracterstica na qual as prprias escolas escolhiam o
tema e os especialistas a serem convidados e se agrupavam nas ROTES por organizao
tambm prpria delas mesmas. Foi uma evoluo no desenrolar do processo e da autonomia
das escolas!
166
32
FERNANDES, Iveta Maria Borges vila. A relao Instituies Culturais e Rede Pblica de Ensino na
Educao Contnua de Educadores que trabalham com Ensino de Arte. So Paulo: ECA/USP, 2000. (Dissertao
de Mestrado)
167
Porque nos passou a imagem do evento, de como se portar; da disposio dos naipes
instrumentais, e at mesmo da expectativa de haver e poder participar de novos
eventos musicais. (Educadora F)
So Paulo conta com espao cultural maravilhoso, e que a populao de baixa renda
tem a possibilidade de visit-lo e ter contato com a msica. (Educadora G)
Percebi que, tendo um contato direto com os msicos, cria-se uma riqueza de
conhecimentos, pois, podemos escutar e ver ao mesmo tempo, contribuindo para
uma melhor apreciao da msica. (Educadora H)
A Sala So Paulo se tornou, junto ao SESC, um dos espaos mais procurados para
apreciao esttica e prticas de ampliao da cultura musical docente. A Associao para
Crianas e Adolescentes com Cncer TUCCA passou a apresentar na Sala So Paulo a Srie
Aprendiz de Maestro, que tem at hoje uma tima produo destinada ao pblico infantil, e
que para o projeto tinha dupla finalidade: tanto pensar educao musical da criana, como
tambm contribuir na formao musical dos professores.
Os espetculos da Srie Aprendiz de Maestro: O Aprendiz de Maestro d volta ao
Mundo (2003), Mozart Criana (2004), deram importantes contribuies na formao do
professor, o que, a partir de 2007, tambm acontece para alunos de uma primeira escola,
ampliando-se para outras mais. A natureza dos espetculos unia msica de orquestra com
personagens criados pela produo dos mesmos, figurinos interessantes e bem adaptados s
histrias que eram contadas, trazendo alm da apreciao musical a contextualizao
histrica do que estava sendo apresentado. Tivemos, ento, a possibilidade de ter, na Srie
Aprendiz de Maestro, dois dos eixos do ensino de Arte/Msica propostos por Barbosa:
168
Em outros momentos, ao levar o grupo para assistir aos musicais A Bela e a Fera,
O Fantasma da pera no Teatro Abril de So Paulo; P com P (SESC Pinheiros),
Mawaca (SESC Pompia) alguns fatores se salientaram na grande participao que houve:
o grupo j estava sensibilizado para esse tipo de programa em So Paulo, as mdias televisiva
e jornalstica fizeram ampla cobertura dos dois primeiros citados, o que se aliou organizao
de nibus fretados em final de semana, e a possibilidade de poder levar pessoas da famlia.
Lima nos adverte, devemos considerar as condies de tempo livre e de vida para acesso a
bens culturais.
Nas avaliaes finais Revendo nosso caminhar em 2004
33
boa acolhida dessas prticas de apreciao esttica e ampliao da cultura musical docente:
5.Quanto ao Projeto de Msica Tocando, cantando,...fazendo msica com crianas, para
2005 gostaria de:...... solicitaes tais como:
Continuar com as excurses para que possam nos dar conhecimentos. (Educadora A)
Passeios culturais. (Educadoras B, C)
Eventos culturais (excurso) (Educadora D)
Passeios culturais com as crianas programados com antecedncia e inclusos no
planejamento anual para dar oportunidade de pais e alunos participarem. (Educadora
E)
Mais passeios para apresentaes. (Educadora F)
Passeios com os alunos a espetculos e eventos culturais fora da escola. (Educadora
G)
Passeios culturais com os alunos. (Educadora H)
Levar as crianas para assistir uma orquestra (conhecer) (Educadora I)
Sadas com os alunos para assistirem apresentaes culturais (Educadora J)
169
34
34
170
No entanto, verificamos tambm que nos dois musicais amplamente divulgados pelas
mdias: A Bela e a Fera e O Fantasma da pera, que foram inseridos em nossos
planejamentos de 2003 e 2006, houve uma grande procura por parte dos educadores, que
levaram alguns familiares. Nestes dois casos o valor pago no era baixo, pelo contrrio.
O que nos traz a reflexo: em nome de baixos salrios de que a profisso de professor
alvo de modo geral em nosso pas, e das conseqentes dificuldades econmicas que
atravessam em suas vidas, propostas de ampliao cultural que impliquem em gastos, deixam
de ser feitas a ele.
Foi com esse pensar, de levar em considerao a vida do professor no trabalho e com
sua famlia, que desde o incio os programas artstico-culturais que eram planejados, eram
propostos nos finais de semana, possibilitando a participao de sua famlia. Expandiam-se,
desta forma, os espaos de conhecimento musical, pois, eles eram tambm os espaos onde os
espetculos musicais aconteciam: teatros, praas, salas de concerto,..
3. Apresentaes musicais
171
partir dos trs eixos da Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa, integrando-se ao projeto da
escola, articulando-se com as diferentes reas e disciplinas escolares e tendo o humano como
objetivo da educao musical, como apregoava Koellreutter.
Como artista e educador, Koellreutter jamais considerou a educao musical
apenas um meio para a aquisio de tcnicas e procedimentos necessrios
realizao musical. Sua abordagem privilegia e valoriza a importncia e o porqu da
msica [e da arte] na vida humana, lembrando o fato de que cada sociedade, com
suas caractersticas e necessidades tpicas, condiciona um tipo de arte. Atento e
responsvel, o professor preocupou-se, sobretudo, em propiciar uma educao viva,
adequada a cada poca, a cada contexto, servindo-se da msica como um
instrumento de educao. (BRITO, 2001, p. 40)
Quanto aos trs eixos da j conhecida Proposta Triangular para o ensino de Arte,
formulada por Ana Mae Barbosa, que apresenta como componentes do ensino/aprendizagem
de arte: o fazer artstico, a leitura da obra de arte, e a contextualizao histrica, a autora
assim se refere:
Estamos propondo [...] uma postura metodolgica para o ensino de Arte baseada no
modo como se aprende Arte, isto , integrando o fazer artstico, a leitura desse fazer
individual dos fazeres de outros e sua contextualizao no tempo. O conhecimento
em Artes se d na interseo da experimentao, na decodificao e da informao.
(BARBOSA, 1989, p.8)
172
35
173
Mas houve tambm - tanto com professores como com alunos - apresentaes
musicais ou produtos musicais que no aconteceram no final de processos de aprendizagem;
ou que no foram felizes; como tambm apresentaes musicais feitas exclusivamente para
serem apresentadas, com longos e cansativos ensaios. O que nos diz essa constatao? Nas
categorias de anlise encontradas em Lima e Moreira, tem-se um suporte para resposta aqui
procurada.
Compreender com Moreira (1999, p.138) que ...a mudana como uma jornada cujo
mapa no se conhece antecipadamente e que, ...implica em abrir mo de pontos fixos de
chegada... (adotando) direes ... suficientemente amplas ... (e) a capacidade de negociar
permanentemente, sobretudo com os profissionais da escola, que os problemas so inerentes
a qualquer contexto de mudana...(e como) condio necessria para o aprender, encaminhanos ao pensamento de que cada escola ou educadores que dela fazem parte, precisam ser
entendidos e atendidos no tempo e espao no qual se encontram, na peculiaridade de seus
processos de desenvolvimento.
174
Talvez seja preciso que todos tenham mais claras questes tais como: - O que um
verdadeiro ensino/aprendizagem de msica numa escola democrtica, participativa e
emancipadora? - O que queremos em matria de educao?
175
Uma vez por todas, tente-se resolver o problema perguntando com clareza: que
queremos em matria de educao? E depois formule-se a resposta com no
menor clareza e objetividade. Formulados os princpios e os fins da educao
nacional poder-se- ento, mas s ento, torn-los efetivos atravs as vrias
disciplinas e atividades escolares, msica inclusive, mas fazendo que cada uma
delas no seja compartimento estanque, no pretenda resolver exclusivamente
o problema da educao, no absorva totalmente a tarefa escolar; antes, que
cada uma contribua proporcionalmente, em funo de um ponto de vista
superior a cada uma e fecundador das possibilidades todas: e que tdas (canto
orfenico ou msica, inclusive) se vejam dotadas dos meios indispensveis (sala
ambiente, material, pessoal, horrio, etc) para que possam ter funo efetiva no
processo educativo. Sem essa viso de conjunto e sem agir no plano do conjunto,
infantil modificar programas de disciplina isolada. Em que influir no todo o
pormenor? Em nada; mas, estranhamente, assim que reformamos ou pretendemos
reformar as coisas... (grifos nossos) (CALDEIRA FILHO, 1960, p.706)
176
preciso destacar que a produo das duas mdias Cadernos e DVD, revelam a
conscincia dos autores e produtores da importncia dos conhecimentos produzidos junto a
seus pares e ao mesmo tempo, a assuno da responsabilidade por eles, ao inseri-los no
espao pblico.
O trabalho de Rita de Cssia Rocha de Oliveira Luiz, Maria Ins de Melo Faria
Peixoto de Miranda e Patrcia Maria Aguiar Conde, respectivamente: Diretora de Escola,
Coordenadora de Escola e Professora de Escola, autoras do roteiro do DVD Tocando e
cantando,.. fazendo msica com crianas sintetiza o esprito do projeto registrando
momentos significativos do processo, articulando com um texto oral os seus mltiplos
significados, que para alm das palavras, se inscrevem nas imagens apresentadas. Dentre
essas chamam a ateno para experincias musicais vividas por todos ns vindas da prpria
imerso no universo sonoro que o nosso habitat desde a vida intra-uterina, deixando em
cada pessoa um legado de conhecimento de que em geral no temos conscincia. E destaca a
linguagem musical como recurso de reapropriao deste legado, favorecendo a capacidade de
expresso e de criao na formao de nossos estudantes.
177
[...] para o fato de que nem todo trabalho individual significa isolamento, resistncia
a aprender o novo, e que nem todo trabalho coletivo significa avano no interior da
escola.
[...]
Portanto, preciso [...] No excluir nenhum deles, inseri-los em uma mesma
totalidade que contribua para tornar a escola uma instituio aberta, capaz de
produzir e interagir com novos contextos. (MOREIRA, 1999, p.139,140)
5. Avaliao
178
36
O Captulo 2: Dilogos sobre saber ser professor de Arte, do Referencial Curricular do Ensino de Arte
para o Ensino Fundamental II do Estado do Acre, tambm com a parceria de Marta Arantes.
179
180
Lanando mo agora de uma das avaliaes finais, as que foram feitas pelas diretoras
em 2004: Instrumento de Reflexo e Proposio - Revendo nosso caminhar em 2004, no
181
fundamental;
precisamos
sistematizar
os registros e
182
183
Vrios
desses
itens
foram
citados
pelas
supervisoras
de
ensino
como
Mas, um problema surgiu: onde encontrar tantos monitores de msica para o nmero
de escolas que se apresentava? A realidade do nosso pas bem diversa de suas necessidades.
Foi ento que, por eu ser professora do Instituto de Artes da Unesp, Campus de So Paulo, do
curso de Licenciatura em Educao Musical, que propus SME: na universidade temos alunos
que sabem msica, mas, eles ainda no sabem ensinar, so alunos da licenciatura. A SME tem
professores que sabem ensinar crianas, mas, ainda no sabem msica. Poderamos fazer o
seguinte: propor um trabalho conjunto dos dois grupos: o professor de classe ensinando o
aluno da licenciatura e o aluno da licenciatura ensinando o professor. Era a nica sada e por
sinal ousada, que havia no momento. Todos aceitaram, no s a equipe tcnica da SME, mas,
as escolas, direo e professores que receberam to bem os alunos. E nesse processo de
formao conjunta que temos caminhado: construindo juntos com nossos erros e acertos.
38
39
184
O prprio nome Projeto de Formao Contnua exige que nos detenhamos nele para
reflexes. Se a formao proposta CONTNUA, ela envolve pressupostos que, explicitados,
podem orientar melhores encaminhamentos e resultados.
185
186
187
coordenao, que vai colocando suas exigncias durante o exerccio constante da ao,
reflexo, ao.
188
Captulo 6
Um tapete sem fim: elementos para concepo e desenvolvimento de projetos de
formao contnua em msica
Porque sem fim a produo de conhecimentos sobre essa realidade complexa que a
vida, onde a linguagem musical e o ensino de msica na escola se inserem.
Uma resposta suscita mil perguntas. (Moreno, 1975, p. s/n) Infinito o ato de
ensinar/aprender. Interminvel a possibilidade humana de perguntar e incansvel sua
capacidade de procurar respostas.
189
O que ela nos ensina? O que aprendemos com ela? Dela podemos extrair princpios
norteadores de Projetos de Formao Contnua de professores de msica para crianas da
Educao Infantil e do Ensino Fundamental I que:
sejam construdos a partir dos docentes, de suas experincias profissionais, de
seus conhecimentos e desconhecimentos de msica e do ensino de msica, dos
problemas que experimentam ou sentem em relao a esse ensino e que, sobretudo,
sejam construdos com eles;
privilegiem o lcus da escola como local de construo, inscrevendo-se em seu PPP
e que sejam de realizao interdisciplinar, envolvendo e/ou ressoando em toda a
instituio;
sejam realizados no modo de pesquisa-interveno, procedimento este capaz de
cobrir pontos fundamentais em projetos de Formao Contnua de Educadores que
trabalham com Msica, quais sejam:
1. produzir um relatrio de pesquisa que simultaneamente se apresenta como
avaliao processual e circunstanciada da vivncia realizada;
2. articular o trabalho de ensino investigativo com a Universidade, propiciando
a participao de pesquisadores acadmicos formadores de professores de
msica, de professorandos de cursos de licenciatura em msica junto aos
professores-pesquisadores das escolas de Educao Infantil e do Ensino
Fundamental I, enriquecendo a produo de conhecimento de ambas as
instituies e rompendo com a produo verticalizada e a fragmentao
entre
teoria
prtica
pela
produo
conjunta/colaborativa/comunicacional de conhecimento;
3. dar conta de importantes funes de um ensino produtivo de msica:
3.1. que providencie uma aprendizagem de msica como linguagem e
forma de expresso artstica, que introduza professores e alunos na
diversidade de expresso artstica-musical, da erudita at popular
de tradio, passando por diferentes modalidades;
3.2. que resulte na produo de conhecimento pelo docente sobre o ensino
de msica, no registro desse conhecimento produzido e em sua
socializao atravs de escrita e publicao de artigos, da
participao em congressos;
3.3. que se realize de forma contextualizada, envolvendo profissionais de
msica e amadores da comunidade onde a escola se situa e
190
191
fazendo
msica
com
crianas, cuja proposta me foi solicitada, e cujo desenvolvimento continua at hoje (2009)
revela os princpios para construo de projetos como promotores, implementadores da autoestima e autonomia docente, indispensvel para uma docncia criativa, produtora de
conhecimentos sobre o ensino de msica e da aprendizagem de msica pelos alunos,
procurada pela SME de Mogi das Cruzes, para a construo da Autonomia da Escola, meta
maior que procura promover.
Teria esse percurso formativo renovado o olhar dos professores sobre o lugar do
ensino de msica na Educao Infantil, no Ensino Fundamental I, e a compreenso deles do
seu lugar nesse ensino?
Por causa da experincia que tivera no reino de Misr, o prncipe Dhat pde admirar
com outros olhos seu pas natal. Ele compreendeu que aquele era um lugar
magnfico e que era, verdadeiramente, o seu lugar. (MACHADO, 1998, p.62)
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Tese (Doutorado) - Faculdade de Educao, Universidade de So Paulo, So Paulo, 1999.
MORENO, J. L. Divisas. In: Psicodrama. So Paulo: Cultrix, 1975.
NARITA, Flvia Motoyama. Msica na Educao Infantil: formao de professores
pesquisadores de suas prticas. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAO
BRASILEIRA DE EDUCAO MUSICAL, 15., 2006, Joo Pessoa, ANAIS ABEM
2006, Joo Pessoa: Associao Brasileira de Educao Musical, 2006. 1 CD-ROM.
NVOA, Antnio. (Org.) Os professores e a sua formao. 3 ed. Lisboa: Publicaes Dom
Quixote Ltda, 1997.
NVOA, Antnio. (Org.) Vidas de Professores. 2. ed. Porto: Editora Porto, 1995.
______ (Org.) Profisso Professor. 2.ed. Porto: Porto Editora,1995.
OLIVEIRA, Fernanda de Assis. Materiais didticos nas aulas de msica: um survey com
professores da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre RS. In: ENCONTRO
ANUAL DA ASSOCIAO BRASILEIRA DE EDUCAO MUSICAL, 15., 2006,
Joo Pessoa, ANAIS ABEM 2006, Joo Pessoa: Associao Brasileira de Educao
Musical, 2006. 1 CD-ROM.
200
201
202
203
204
APNDICES
205
APNDICE A
Instrumentos de Avaliao
206
1. Avaliaes Diagnsticas
207
5 / 04 / 02
Nome: ____________________________________________________
Endereo: ___________________________________CEP________________ Cidade:______________
CEP:________________ Fone: ___________________
E-mail:____________________
1. Sua formao:
( ) Ensino Mdio. Curso:________________________________
( ) Ensino Superior. Curso:___________________________
( ) Aperfeioamento. Curso:________________________
( ) Especializao. Curso: _____________________
( ) Outro. Qual? __________________________________
2. Voc tem participado de cursos, encontros ou congressos de Educao, Arte Educao ou Educao Musical?
( ) sim
( ) no
Em caso positivo, qual / quais?____________________________________________________________
3. A Escola / Instituio na qual trabalha de:
( ) Educao Infantil, e a faixa etria de seus alunos ___________________
( ) Ensino Fundamental, e a faixa etria de seus alunos _______________
( ) Outro. Neste caso cite qual segmento, bem como a faixa etria de seus alunos:________
4. H quanto tempo voc leciona? (em geral) _______________________
5.Atualmente, qual funo voc desempenha? ____________________
6. Voc j participou de outros projetos de formao contnua de professores:
- de Msica? Caso afirmativo cite alguma experincia que lhe foi significativa. _______________________
__________________________________________________________________________________________
- das demais linguagens da Arte (artes visuais, dana, teatro)? Caso afirmativo cite alguma experincia que
lhe foi significativa. ________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
- de Educao de forma geral? Caso afirmativo cite alguma experincia que lhe foi
significativa.________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
7. Na sua opinio:
- quais as dificuldades encontradas pelos professores em relao ao trabalho com a linguagem
musical?_____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
- e quanto a facilidades? Quais voc pode enumerar?___________________________________
____________________________________________________________________________________
8. Voc participa em seu local de trabalho de algum projeto pedaggico, no qual a msica ou demais linguagens
artsticas (artes visuais, dana, teatro) esto inseridas? Caso afirmativo, poderia escrever um pouco sobre esta
questo?_______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
9. O que importante para voc no ensino / aprendizagem de msica?
__________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
208
( ) sim
( ) no
( ) tocam instrumento(s)
( ) cantam msicas
( ) compem
( ) improvisam
( ) outro. Qual?______________________________________________
14. Quais suas expectativas quanto a este curso?___________________________________________
__________________________________________________________________________________________
15. Qual poderia ser sua contribuio junto ao grupo de colegas professores(as), no desenvolvimento deste curso:
TOCANDO, CANTANDO... FAZENDO MSICA COM CRIANAS ?
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________
06 / 05 / 04
Nome:________________________________________Funo:__________________
Endereo:_____________________________________Cidade:___________________
CEP:______________Fone:_____________(res.)E-mail:_______________________
Escola:_______________________________________Fones:____________________
1. Sua formao:
( ) Ensino Mdio. Curso:_______________________
( ) Ensino Superior. Curso:_________________________
( ) Aperfeioamento . Curso:_________________
( ) Especializao. Curso: ________________
( ) Outro. Qual? ________________
2. Voc tem participado de encontros ou congressos de Educao, Arte Educao ou Educao Musical?
( ) sim
( ) no
Voc participou, nos ltimos 5 anos, de cursos / projetos de formao contnua de professores:
( ) de Msica
209
210
18 / 03 / 06
Nome: ______________________________________________________________
Endereo:_______________________________Cidade:____________________ CEP:______________
Fone residencial: ______________ Celular:_______________ E-mail:__________________________
1. Sua formao:
( ) Ensino Mdio. Curso:______________________
( ) Ensino Superior. Curso:_______________________________________
( ) Aperfeioamento. Curso:______________________________________
( ) Especializao. Curso: __________________
( ) Outro. Qual? _______________________________________________
2. Voc tem participado de cursos, encontros ou congressos de Educao, Arte Educao ou Educao Musical?
( ) sim
( ) no
211
__________________________________________________________________________________________
9. O que importante para voc no ensino / aprendizagem de msica?
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________
10. Voc costuma assistir a apresentaes musicais? ( ) sim
( ) no
( ) tocam instrumento(s)
( ) cantam msicas
( ) compem
( ) improvisam
( ) outro. Qual?______________________________________________
14. Quais suas expectativas quanto a este projeto?
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________
15. Qual poderia ser sua contribuio junto ao grupo de colegas professores(as), no desenvolvimento deste
projeto: TOCANDO, CANTANDO... FAZENDO MSICA COM CRIANAS ?
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________
212
2. Avaliaes Processuais
213
E-mail:__________________________________
A - Avaliao do Curso:
1. Os temas trabalhados nas aulas contribuem para uma possvel reconstruo de sua pratica
pedaggica?
Por qu?
2. Os objetivos das aulas foram alcanados?
214
Por qu?
3. A metodologia das aulas manteve-se coerente com a proposta do curso?
Por qu?
4. A atuao do professor pode ser considerada satisfatria?
Por qu?
5. As aulas corresponderam as suas expectativas?
Por qu?
( ) NO
( ) PARCIALMENTE
Por qu?
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
C Auto- avaliao :
1. O seu aproveitamento nessas aulas foi bom?
( ) SIM ( ) NO
( )
PARCIALMENTE
Por qu?
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
COMENTRIOS / SUGESTES / CONSIDERAES FINAIS:
.....................................................................................................................................................................................
....................................................................................................................................................................................
01 07 2004
Nome:............................................................................................
Escola:...........................................................................................
215
No ( )
Porqu?........................................................................................................................................................................
.....................................................................................................................................................................................
2. Quanto dinmica e s aulas ministradas o curso foi:
( ) timo
( ) bom ( ) regular
( ) fraco
( ) bom ( ) regular
( ) fraco
4. Quanto s mdias utilizadas: CD player, lousa, retroprojetor, vdeo, canho e telo o curso foi:
( ) timo
( ) bom ( ) regular
( ) fraco
( ) bom ( ) regular
( ) fraco
6. Houve algum momento que chamou sua ateno? Caso afirmativo qual/quais e por qu?
.....................................................................................................................................................................................
.....................................................................................................................................................................................
7. Durante o curso houve uma programao livre: assistir ao show de lanamento do CD P com P do Palavra
Cantada, no SESC Pinheiros, em So Paulo.
Voc pde ir?
( ) sim ( ) no
Caso afirmativo esta programao contribuiu para seu melhor aproveitamento do curso de msica?
( ) sim
( ) no
Por qu?..............................................................................................................
216
( ) no
217
3. Avaliaes Finais
218
Nome:...................................................................................................................
AVALIAO
18 / 10 / 02
1. O curso atingiu suas expectativas? Sim ( )
No ( )
Por qu?............................................................................................................
.............................................................................................................................................
2. Quanto dinmica e s aulas ministradas o curso foi:
( ) excelente
( ) timo
( ) bom ( ) regular
( ) fraco
( ) timo
( ) bom ( ) regular
( ) fraco
( ) timo
( ) bom ( ) regular
( ) fraco
5. Quanto s mdias utilizadas (CD player / toca-fitas / projetor de slides / lousa / retroprojetor / vdeo /:
( ) excelente
( ) timo
( ) bom ( ) regular
( ) fraco
6. Houve algum momento (Dinmicas introdutrias das aulas / Tocar instrumentos musicais / Cantar / Fazer
msica criando, compondo em grupos / Tocar e/ou cantar conjunto com toda a classe / Criar arranjo musical
tocando e cantando com toda a classe / Apreciao musical: Trenzinho Caipira com reflexes, trabalhando o
imaginrio, e registros com giz de cera em papel sulfite / Apreciao musical com escuta ativa, pro exemplo a
msica Galopando/ Aulas preparando e/ou retornando da visita Sala So Paulo / Ida Sala So Paulo
assistindo a Banda Sinfnica de Jovens e, depois, fazendo visita monitorada / Relato de experincia com crianas
do Ciclo Bsico / Outros ....... ) que foi particularmente marcante?
( ) sim
( ) no
( ) no
Caso afirmativo esta programao contribuiu para seu melhor aproveitamento do curso de msica?
( ) sim no ( ) Por qu?..........................................................................................................................
.....................................................................................................................................................................................
...............................................................................
Caso negativo a aula que foi dada logo aps a ida SALA SO PAULO, com comentrios / reflexes
e discusses dos que foram, contribuiu para seu melhor aproveitamento do curso de msica?
( ) sim no ( ) Por qu?.........................................................................................................................................
.....................................................................................................................................................................................
...................................................................
219
9. Este curso contribuiu para ampliar seu conceito de ensino / aprendizagem de msica? Caso afirmativo, de que
maneira? (Como era / como ?)
.....................................................................................................................................................................................
.....................................................................................................................................................................................
..........
E para o mudar /ampliar suas prticas na funo que voc desempenha (professora / diretora / supervisora /
assessora tcnica / .............)? Caso afirmativo como?
.....................................................................................................................................................................................
.....................................................................................................................................................................................
..........
10. Qual sua auto-avaliao neste curso?
............................................................................................................................
............................................................................................................................
11. Comentrios / consideraes
.....................................................................................................................................................................................
.....................................................................................................
A avaliao s se completa com a possibilidade de indicar caminhos LUCKESI em seu texto: O que mesmo o
ato de avaliar a aprendizagem? (Revista Ptio, ANO 3, N.12, FEV/ABR, 1999) faz a seguinte colocao:
Caso a situao de aprendizagem diagnosticada seja satisfatria, que vamos fazer com ela? Caso seja
insatisfatria, que vamos fazer com ela? A situao diagnosticada, seja ela positiva ou negativa, e o ato de
avaliar, para se completar, necessita da tomada de deciso. A deciso do que fazer se impe no ato de avaliar,
pois, em si mesmo, ele contm essa possibilidade e essa necessidade. A avaliao no se encerra com a
qualificao do estado em que est o educando ou os educandos. Ela obriga a deciso, no neutra. A avaliao
s se completa com a possibilidade de indicar caminhos mais adequados e mais satisfatrios para uma ao, que
est em curso. O ato de avaliar implica a busca do melhor e mais satisfatrio estado daquilo que est sendo
avaliado.
Como diz Luckesi:
A avaliao s se completa com a possibilidade de indicar caminhos.......
Portanto, quais so seus caminhos, e neles quais so seus desejos / sonhos / necessidades / projetos / realizaes,
pensando a msica na escola e na vida de cada um de ns?
2 semestre de 2003
Nome:...............................................................................................................................
AVALIAO
20 / 11 / 03
220
221
Avaliao:
- no decorrer do curso utilizando instrumentos de registro: Dirio de Bordo, fita de vdeo;
- no final do curso avaliando o processo e o resultado, e indicando elementos para continuidade do saber msica
e saber ser professor de msica: nas funes de professora, diretora e integrantes da equipe tcnica da SME.
Luckesi coloca que a avaliao da aprendizagem auxilia cada professor(a) e cada aluno(a) ... na busca e na
construo de si mesmo e do seu melhor modo de ser na vida. pois, Avaliar um educando implica, antes de
mais nada, acolh-lo no seu ser e no seu modo de ser, como est, para, a partir da, decidir o que fazer.
(Luckesi, 1999, p.7) E assim, como diz o prprio Luckesi: de forma no impositiva, com uma atitude
acolhedora faz-se o diagnstico e a tomada de deciso, dois processos que se articulam no ato de avaliar.
O humano, objetivo dos estudos musicais na escola moderna. H. J. Koellreutter
* A partir dos
fundamentos explicitados e caminho percorrido: faa sua avaliao desta etapa que juntas estamos
concluindo e concomitantemente projete caminhos para a continuidade de sua educao contnua em
Educao Musical, procurando vislumbrar qual porta deve ser aberta (Iami Tiba), pois, cada um tem
seu lugar no mundo e no tempo que lhe concedido. (Guimares Rosa)
Nas reunies mensais nem nossa escola, ressalto os seguintes aspectos sobre:
- idias e propostas abordadas:.....................................................................................................................
......................................................................................................................................................................
- o que foi discutido / vivenciado: :....................................................................................................
......................................................................................................................................................................
2. Das leituras feitas, os seguintes contedos chamaram minha ateno:
.....................................................................................................................................................................................
.....................................................................................................................................................................................
3. No meu pensar foram conquistas:
.....................................................................................................................................................................................
.....................................................................................................................................................................................
4. No meu pensar so dificuldades a serem superadas:
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
5. Quanto ao Projeto de Msica Tocando e cantando, fazendo msica com crianas, para 2005 gostaria de:
- conservar: .......................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
- modificar: ......................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
- incluir: .............................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
6. Comentrios sobre minha participao no projeto:
..............................................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................................
7. Espao para livre manifestao:
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
222
Supervisoras de Ensino
24 / 11/ 04
Nome:____________________________________________
Endereo:____________________________________Cidade:_____________________CEP:____________
Fone: ______________________(res.)
E-mail:____________________
1. Sua formao:
( ) Ensino Mdio. Curso:______________________________________________
( ) Ensino Superior. Curso:____________________________________________
( ) Aperfeioamento. Curso:___________________________________________
( ) Especializao. Curso: _____________________________________________
( ) Outro. Qual? ____________________________________________________
2. Atualmente, qual funo voc desempenha?_______________________________________
H quanto tempo?__________________________
Anteriormente trabalhava na rea de educao? ( ) sim ( ) no Em qual funo?
3. Tem participado de encontros ou congressos de Educao, Arte Educao ou Educao Musical?
( ) sim
( ) no
223
8. Pensando na questo acima, quais caractersticas ou desenho de projeto de formao contnua em msica pode
melhor auxiliar no avano do projeto de msica em nossas escolas?
__________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
9. A partir das assessorias que partilhamos este ano nas escolas com projetos de msica, como poderemos, para
2005, melhor atuar em parceria?
__________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
10. Como este projeto Tocando e cantando, fazendo msica com crianas pode tambm contribuir para a ao
supervisora?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
Comentrios / sugestes:___________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
Diretoras de Escola
1. O diretor o articulador do projeto da escola, construindo com sua equipe a Proposta Pedaggica da escola,
com suas possibilidades e limites. Como foi para voc, neste ano de 2004, ser o articulador deste projeto, tendo
msica como um dos componentes deste todo?_____________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
2. Nas reunies mensais em sua escola, quais aspectos voc gostaria de ressaltar sobre:
- idias e propostas abordadas:_________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
- o que foi discutido / vivenciado:_______________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
- o que foi oferecido em materiais: ______________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
3. Das leituras feitas no decorrer do Projeto de Msica, os seguintes contedos chamaram a minha ateno:
___________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
224
4. Olhando nosso caminhar neste ano de 2004, quais conhecimentos construmos a respeito da formao contnua
de professores da rede municipal, na rea de msica? ______________________________________________
___________________________________________________________________________________________
5. Pensando na questo acima, quais caractersticas, ou desenho de projeto de formao contnua em msica pode
melhor auxiliar no avano do projeto de msica em nossas escolas?___________________________________
___________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
6. Quais conquistas tivemos? E quais dificuldades precisamos superar?
___________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
7. Quanto ao Projeto de Msica Tocando e Cantando, fazendo msica com crianas, para 2005 penso que
deveramos:
- conservar:_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
- modificar:_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
- incluir:___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
- Comentrios / sugestes:_____________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
225
226
APNDICE B
Material selecionado por mim e utilizado em sesses de Assessoria com equipes de
educadores das escolas do Projeto
227
PEDRO E O LOBO: O que foi apresentado equipe da EM Dom Paulo Rolim Loureiro, escola rural de
Educao Infantil, e com ela discutido.
Junho 2003
1. Texto: Vou ouvir a msica dos grandes mestres Pedro e o Lobo do livro O mundo encantado da msica,
Vol III de Nilza Zimmermann (Ed. Paulinas)
2. Texto: A evoluo do jogo na criana do livro Atividades Ldicas na Educao da Criana, de RIZZI &
HAYDT (Ed. tica)
3. Texto livro de Nicole Jeandot: Pedro e o Lobo (Ed. Scipione)
4. Conto Musicado - pgs. 78 a 81 do texto de Dulcimarta Lemos: Msica ... cantar, danar... e brincar! Ah,
tocar tambm! - Livro: Cor, som e movimento de Suzana R. Cunha (Org.) (Ed. Mediao)
5. Tenha livros com instrumentos musicais para as crianas folhearem, e objetos sonoros no cantinho
sonoro. Exemplo: livro Conhea a orquestra. Hayes & Thompson (Ed. tica)
6. Imagens dos instrumentos musicais das personagens de Pedro e o Lobo
7. Algumas observaes dos livros a seguir:
- Pedro e o Lobo (Ed. Verbo) - Quais sons tm essas imagens?
- Pedro e o Lobo (Ed.Agir) Que idias este livro me d? V anotando-as.
- Pedro e o Lobo (Ed. Martins Fontes) Chirlr! Quac! Chirl! Quac! Continue a histria incluindo sons
ao narr-la. V mostrando as imagens em transparncia e pea para as crianas fazerem os sons dos
animais. Combinem como ser a hora do som.
- Pedro e o Lobo (Ed. FTD) Procure sons... Procure instrumentos musicais... Invente novas histrias com
esses instrumentos / com esses ou outros animais...
8. Construa e/ou organize jogos de percepo musical e visual: domin, buscando os pares, ouvindo
temas musicais e relacionando com seus instrumentos, quebra-cabeas, dramatizao, audio e
apreciao musical dirigida, escuta ativa (Ex: Galopando / folclore alemo), etc. Selecione imagens de
instrumentos musicais pesquisando em livros.
9. Pedro e o Lobo - CD preparado por Iveta
10. Pedro e o Lobo - Vdeo Royal Ballet de Londres
11. Pedro e o Lobo - Vdeo da Disney
12. Imagens xerocadas do livro que tem as mesmas imagens do vdeo Pedro e o Lobo / Disney
13. Pedro e o Lobo - London / animao com dobraduras - Narrao Miguel Falabella
14. Proponha: Como seria esta histria nos dias de hoje, na regio que moramos?
15. Pensar / criar atividades a partir:
228
- do conhecimento que Piaget, Vygotsky,... nos trazem (Extratos de trechos de livros sobre os respectivos
autores.);
- do conhecimento de diferentes verses dos livros e vdeos de Pedro e o Lobo;
- do conhecimento de seus alunos e da busca de projeto significativos para voc, para eles: BRILHO NOS
OLHOS!!!
Pedro e o Lobo CD
15 10 2003
Faixa 1 - Histria de Pedro e o Lobo
Faixa 10 - Para jogos de Percepo Musical: Nesta faixa a msica de cada personagem da histria tocada 3
vezes. H intervalo de 3 segundos separando cada tema musical apresentado.
Pensem em jogos/brincadeiras com crianas de Ed. Infantil e/ou Ensino Fundamental de 1 a 4 sries.
Obs: A seqncia dos temas musicais nas faixas 11 e 12 : pata / lobo / Pedro / tiros / av / pssaro / gato /
marcha dos caadores
Faixa 11 CD As 150 Mais Belas Melodias / Disco 5 Faixa 10: Pedro e o Lobo*
* Esta gravao corresponde a uma das partes da histria. QUAL SER???
229
230
o percurso da msica que vem sendo criado pela humanidade no decorrer da histria.
Ensinar msica :
colocar os alunos em contato com a informao e a produo histrico-social da msica;
garantir ao aluno liberdade de imaginar e edificar msicas pessoais e/ou grupais;
trabalhar com a msica regional, nacional e internacional e enfocar criticamente a msica produzida pelas
mdias;
decidir procedimentos e recursos didticos, observando sempre a necessidade de introduzir formas musicais,
porque ensinar msica com msica sempre o caminho mais eficaz;
trabalhar o percurso criador do aluno na interpretao, improvisao e composio;
levar aos alunos informaes, procedimentos, bem como orientar e preservar o desenvolvimento do trabalho
pessoal e grupal, dando oportunidade para que faam suas escolhas;
trabalhar com percepo esttica musical;
necessitar de capacitao contnua de professores para orientar a formao do aluno.
(Adaptao)
1997
OBJETIVOS:
Contribuir para o desenvolvimento dos projetos de msica em escolas da SME de Mogi das Cruzes, no que diz
respeito rea de MSICA e de ENSINO DE MSICA.
Dar suporte s escolas que desenvolvem projetos de msica por meio de conhecimento e prtica de msica e
ensino de msica, bem como troca de experincias entre as equipes das escolas participantes do Projeto de
Msica.
FOCO / CONTEDO DA ASSESSORIA:
Trabalho com as equipes pedaggicas da escola na orientao e assessoria ao conhecimento de msica e de
ensino de msica junto s crianas.
Trocas e relatos de experincia entre as equipes das escolas que desenvolvem projetos de msica.
Vivncia musical.
MTODO / PROCEDIMENTO:
Ao /reflexo / ao.
AVALIAO:
Ser feita no incio (avaliao diagnstica), no decorrer e no final do processo, por meio de instrumentos
diferenciados de registro.
Planejar e atuar por meio dos eixos do ensino de msica proposto pepelos: RECNEI e PCNs:
Fazer (interpretar, improvisar, compor)
Apreciar
231
Refletir / Contextualizar
Registrar as atividades desenvolvidas de forma escrita, fazendo observaes / comentrios. Esses registros
so poderosos auxiliares ao planejar as aulas posteriores.Ex: dirio de bordo, portflio,... Tirar fotos, gravar ou
filmar so outras formas excelentes de registro.
Levar alunos a apresentaes musicais e trazer escola msicos, pais ou familiares que toquem algum
instrumento musical ou cantem. Fortalecer relaes com a comunidade, instituies culturais, grupos artsticos e
festas de tradio.
Trabalhar o esprito ldico, a sensibilidade, a musicalidade por meio das Brincadeiras Cantadas.
Incentivar e coordenar o estudo e a pesquisa:
- tocando / cantando / ensaiando
- lendo textos
- ouvindo e comentando CDs
- procurando atividades diferenciadas
- assistindo vdeos e programas televisivos
Como avaliar em msica?
A forma como avaliamos revela nossa viso de mundo e de educao!
Avaliao: instrumento norteador, de diagnstico, de acompanhamento, de verificao, de redirecionamento, de
ampliao de conhecimento, de deciso de como prosseguir! (Luckesi)
Relao de livros que as escolas receberam / recebero:
* BRASIL, MINISTRIO DA EDUCAO E DO DESPORTO. Secretaria de Educao Fundamental.
Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil. Braslia: MEC/SEF, 1998. (vol.3)
* BRASIL, Secretaria de Educao Fundamental. Parmetros Curriculares Nacionais: arte / Secretaria de
Educao Fundamental Braslia: MEC/SEF, 1997.
FERES, Josette S. M. Beb Msica e movimento. Jundia: Josette S. M. Ferez, 1998.
BRITO, Teca Alencar de. Msica na Educao Infantil. So Paulo: Peirpolis, 2003.
COLL, Csar / TEBEROSKY, Ana. Aprendendo Arte (org.). So Paulo: tica, 2.000. (Coleo Aprendendo)
COLL, Csar / TEBEROSKY, Ana. Aprendendo Personagens (org.). So Paulo: tica, 2.000. (Coleo
Aprendendo)
232
OBJETIVO DE MSICA
Desenvolver percepo auditiva e cuidar do meio ambiente trabalhando com paisagens sonoras e
utilizando conhecimentos de ecologia acstica.
A Ecologia Acstica estuda a relao entre organismos vivos e seus respectivos ambientes sonoros. Diferentes
paisagens sonoras podem se referir a ambientes reais , como por exemplo os sons que se ouve nas margens
do rio Acre quando um batelo vai subindo esse rio; como a composies musicais que descrevem um
determinado ambiente sonoro, como por exemplo, o percurso de uma moto atravessando uma movimentada
avenida em uma cidade. Uma das possibilidades de trabalho da linguagem musical com o meio ambiente
identificar transformaes pelas quais o meio ambiente tem passado, projetar modificaes necessrias, e
desenvolver responsabilidade social e ecolgica.
CONTEDOS DE MSICA
FAZER MSICA
Expresso e comunicao em msica: improvisao, composio e interpretao
. Improvisao, composio e interpretao de msicas que descrevam ambientes sonoros / paisagens sonoras.
APRECIAR MSICA
Apreciao musical: percepo, fruio e anlise
. Audio de ambientes sonoros reais ouvindo paisagens sonoras de espaos nos quais se vive, estabelecendo
relaes entre organismos vivos e respectivo ambiente sonoro, utilizando conhecimento de Ecologia Acstica.
CONTEXTUALIZAR MSICA
Contextualizao em Msica: relaes entre contextos culturais, histricos e geogrficos
. Contextualizao, no tempo e no espao, de paisagens sonoras de diferentes ambientes, descrevendo,
refletindo e tirando concluses sobre as causas e transformaes sonoras pelas quais o meio ambiente tem
passado, refletindo sobre os efeitos que a poluio sonora causa na sade (audio, qualidade de vida,
temperamento das pessoas), posicionando-se e fazendo sugestes sobre transformaes necessrias.
CRITRIO DE AVALIAO EM MSICA
Criar em grupo composio musical que descreva alguma paisagem sonora. Apreciar paisagens
sonoras diferenciadas, e posicionar-se criticamente frente poluio sonora propondo solues
problemtica.
Com esse critrio pretende-se avaliar se o(a) aluno(a) improvisa e compe descrevendo uma paisagem sonora.
Avalia-se tambm se o(a) aluno(a) reconhece e diferencia distintas paisagens sonoras, se posiciona-se sobre a
poluio sonora, seu dano ao organismo humano, e se prope sugestes sobre transformaes necessrias.
233
______________________________________________
In: Referencial Curricular / Ensino de Arte Ensino Fundamental, 5 a 8 sries. Rio Branco, Acre, 2004.
Iveta Maria Borges vila Fernandes
Heloisa Margarido Salles
Seqncia do que est neste vdeo, para facilitar o trabalho nas escolas:
1. Tocata e Fuga em R menor - Johann Sebastian Bach
2. O Quebra Nozes - Peter Ilyich Tchaikovsky
. Dana da Fada Aucarada
. Dana Chinesa
. Dana das Flautas Vermelhas
. Dana rabe
. Dana Russa
. Valsa das Flores
3. O aprendiz de feiticeiro - Paul Dukas
4. Sagrao da Primavera - Igor Stravinsky
5. Sinfonia n. 6 (Pastoral) Op. 68 - Ludwig Van Beethoven
. Allegro Ma NonTroppo
. Andante Molto Mosso
. Allegro
. Allegro
. Allegretto
6. Dana das Horas (da pera La Gioconda) - Amilcare Ponchielli
7. Uma noite no monte Calvo Modest Mussorgsky
8. Ave Maria Op. 52 N.6 - Franz Schubert
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importante que, alm de diferentes brincadeiras cantadas da cultura popular brasileira, haja tambm variedade
quanto s categorias destas brincadeiras.
Ampliem este repertrio a partir das vivncias com as crianas, vivncias da equipe na escola, vivncias da
comunidade e pesquisas nos livros!!!
Rose Marie Reis GARCIA, e Llian Argentina Braga MARQUES, em seu livro Brincadeiras Cantadas
classificam as rodas cantadas:
Quanto formao
a) roda simples
b) com um elemento no centro
c) com dois ou mais elementos no centro
d) com um elemento fora da roda
e) com elementos dentro e fora da roda
f) com duas rodas independentes
g) rodas concntricas
h) roda com molinete no centro
i) roda e fileira independente ao lado
Quanto ao desenvolvimento
a) com pulos
b) em gingados
c) coreogrfica
d) imitativa
e) dramatizada
f) com evolues
Verssimo de Melo, em seu livro Folclore Infantil classifica as CANTIGAS DE RODA em:
AMOROSAS
Vestidinho branco
A Margarida
Esta menina que est na roda
Sereno da Meia-Noite
Penedo vem
Bela pastora
Na mo direita tem uma roseira
Siu, siu, siu
O Ba, B, Bi, B, Bu
Debaixo do laranjal
Estou presa, meu bem
A cor morena
A moda da Carranchinha
Seu Tenente
Voc gosta de mim
Periquito Maracan
Constncia
Anda roda
Bom dia meu senhorinho
Toror
O pirulito
O cravo brigou com a rosa
Terezinha de Jesus
Eu sou pobre, pobre, pobre
Olhe a rolinha
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236
237
ANEXOS
238
ANEXO A
Entrevistas
239
Entrevista com Therezinha Fram, feita por Iveta Maria Borges vila Fernandes em 11 / 05 /
1990. 40
Foi numa 5a. feira pela manh! Eu j havia, pelo telefone, combinado um horrio para
conversarmos. Ela me receberia e eu estava numa grande expectativa! Fui ao seu local de
trabalho: EEPSG Caetano de Campos, em seu prdio novo na rua Pires da Mota / Liberdade /
So Paulo. Numa primeira sala, quase toda com enormes janelas de vidro, ela estava sentada
junto a uma grande mesa atendendo algum... Eu nunca tinha visto Therezinha Fram, mas, no
mesmo instante, tive para mim que era a pessoa com a qual tinha vindo falar!
J havamos trocado algumas idias, e pedi-lhe que me falasse sobre o incio da rea de
msica no Experimental. Ela j tinha comeado a falar quando liguei o gravador:
- ...foi todo um grupo... A Olga Xavier estava vindo do Rio de Janeiro e, aqui em So Paulo,
iniciava um trabalho. Eu estava naquele momento querendo introduzir todo um trabalho de
educao musical relacionado com as outras reas tentando, inclusive, fazer um currculo
integrado. No deixar portugus fora de um trabalho de msica, e vice-versa, educao fsica
fora de um trabalho de msica. Ns tnhamos Artes Industriais, Tcnicas Comerciais, Artes
Plsticas. Ns queramos ver como era possvel e era um desafio naquele momento. Primeiro
o desafio de falar em currculo, s vezes se falava em plano de curso, mas no se falava em
currculo num sentido amplo. Nosso desafio era o seguinte: Como poderamos implantar, aqui
no Experimental, um currculo significativo para a nossa comunidade. Ns j tnhamos feito
uma caracterizao da comunidade: geogrfica, fsica, onde a escola estava.
40
Integrou pesquisa efetuada sobre o Experimental da Lapa, enquanto era aluna do Curso de Especializao da
240
Foi um trabalho muito bonito. Tivemos a orientao do Jos Pastore, socilogo, naquele
momento um professor da Caetano de Campos. Sua cadeira era na Caetano de Campos. Ns
pedimos que a Secretaria pusesse o prof. Jos Pastore, que hoje est na Fundao Instituto de
Pesquisa Econmica para nos assessorar na anlise dessa comunidade (que saiu daquele
levantamento scio-econmico,
publicao. Isto deve estar na biblioteca do Experimental, caso no tenha sofrido danos pelo
incndio ocorrido na escola. Ns estamos, inclusive, dentro das possibilidades, levantando
com as pessoas que tm a documentao existente, para que reconstruam um pouco a
memria do Experimental. At tivemos duas reunies na prpria escola, no Experimental,
vendo quem pode ajudar. Isso foi h uns quatro anos atrs. Tivemos a presena do Jos Carlos
Libneo, elemento que est hoje apresentando trabalhos de uma nova concepo de educao,
fora a presena Ana Maria Saul...
241
Ns, naquela poca, estvamos sempre pensando em trazer elementos jovens. Houve uma
caracterstica no Experimental, que foi interessante: primeiro aproveitar os elementos que
estivessem na casa, que uma coisa que interessa. Por exemplo: como introduzir inovao em
uma escola. Quando eu cheguei em 1961 era uma escola que estava passando por algumas
dificuldades. Eu tinha feito meu concurso e ingressei em Mococa. Fui chamada de l pelo
Secretrio de Educao da poca, que eu nem conhecia, dizendo: "Estamos aqui com uma
escola que tem uma perspectiva incrvel, mas, que est enfrentando uma srie de dificuldades
e no consegue deslanchar uma proposta." Diante deste convite eu pensei um pouquinho, para
ver se eu tinha condies de assumir. E assumi enfrentando o seguinte desafio: Como fazer
com que essa escola possa realizar em si um bom trabalho, um grande trabalho de educao,
mas, ao mesmo tempo, fertilizar um pouco o campo da educao, ser um pouco sal e
fermento? Ento, como perfil, procurvamos pessoas que no quisessem s ficar na unidade
escolar, mas, que tivessem vontade de passar a sua experincia para outros. Porque h pessoas
que gostam de fazer um bom trabalho fechados numa unidade, e quando voc solicita: Voc
estaria disposta a ir para o interior?... "A j mais difcil... No, eu preferia ficar aqui..." Ou
ento: "Voc est disposta a fazer um curso?" Ns tnhamos vrios professores do
Experimental que no tinham, por exemplo, pedagogia. Ns fizemos assim, desde aquela
poca: uma busca muito grande de talentos, de garra. Quem tem potencial, aqui nesta equipe,
que esteja interessado em fazer, por exemplo, um curso de pedagogia? Fazer uma
fonoaudiologia que a PUC estava abrindo. E assim ns montamos, numa escola pblica, o
primeiro setor de fonoaudiologia. Quer dizer, ela comeou a inovar, mas, sempre apoiada no
talento que existia dentro da escola. Ns no podemos desprezar o recurso humano e o talento
que temos dentro da escola. Mas, estimulando, sempre trazendo muita gente de fora. Quando
a gente descobria... Por exemplo: "Therezinha, h um elemento maravilhoso fazendo um lindo
trabalho em tal lugar... Presidente Prudente. D pra gente trazer?" Eu dizia: "Por que no?
Vamos apresentar para o Secretrio da Educao a possibilidade de trazer essa pessoa. da
rede, ele pode ser dispensado, passa uma semana nos ajudando, nos ensinando."Ento, a
escola nunca ficou sozinha com o seu grupo (que depois fica uma autofagia). Acabam as
pessoas se destruindo, numa certa competio. No, sempre foi muito arejada. Eu achei, hoje,
olhando com uma certa perspectiva para esse passado: Que interessante, como foi uma linha
certa. Foi assim que ns buscamos a Da.Sofia Helena, que no tinha nada a ver com a rede.
Uma pessoa que estava trabalhando em outras situaes de msica, mas em outros lugares...
Eu disse: - "Se vamos comear com o setor de msica, porque no podemos chamar a Da.
Sofia Helena?" Eu me lembro que algumas pessoas diziam: "Therezinha, impossvel! O
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Governo no vai contratar. Para msica, algum?"... Tinha que ser da rede. Tinha que ser, por
exemplo, essa pessoa colocada disposio. Mas, jamais trazer o contato. "O Secretrio da
Educao no vai valorizar suficientemente a rea de msica para contratar algum". Pensei:
"Mas, se ns apresentarmos um trabalho srio, muito bom, fundamental, eu tenho certeza que
o Secretrio da Educao autoriza a contratao."
. Durante a poca que a Sra. esteve no Experimental tinha sempre essa dinmica?
- Sempre essa dinmica, que no se pode perder. Eu converso sempre com a Elaine, a
diretora atual de l e digo: uma coisa que o Experimental no pode perder, no deve, seno ele
pode se esvaziar ao longo do tempo... o interesse e dinamismo! fazer com que pessoas
venham e pessoas daqui saiam.
243
Mas,
como
est
discutida, porque, o que est sendo descentralizado? No fundo, est sendo desconcentrada a
tarefa de conservao de prdio e repasse de recursos, colocando o prefeito como um timo
dirigente
de
descentralizao de decises
Secretaria.
educacionais.
. Eu tenho uma colega que fez a pesquisa dos anos 20 a 40 aqui, na rea de plstica,
colega desse curso que fao na USP.
- Aqui ns estamos abrindo a Caetano de Campos naquele sentido que ns estvamos
fazendo no Experimental. O diretor tem essa mesma viso, o prof. Paulo de Tarso. Ento
ns estamos tentando abrir a Caetano para que ela tambm possa, num determinado
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momento, dizer para pessoas interessadas, o que ela est fazendo. E possa tambm receber.
Tanto que, no momento ns estamos aqui na
escola
com 75 estagirios
de
diferentes
duas que so do
Conservatrio Dramtico que esto trabalhando com o Ciclo Bsico, fazendo um trabalho
especial no C.B.
Muito
Conservatrio, que aceitou um desafio nosso: "A Sra. no aceitaria (como ela diretora do
departamento cultural da APM) comear msica no pr?" Ela disse: "Por que no?"
ousado, no ? ousado. "No temos como pagar, nada. A Sra. pode fazer este trabalho?"
A histria vai se mesclando, porque, para mim, a histria do Experimental continua sempre
ligada a todo restante do trabalho que estes elementos, que passaram por l, continuaram a
fazer na educao. Eu acho que nunca houve uma ruptura, apesar de em muitos momentos as
pessoas dizerem: "Que pena, Terezinha, o Experimental no mais o mesmo". Mas, muita
coisa ficou. Ele pode ter se transformado em algumas reas, mas, algumas caractersticas dele,
fundamentais, ficaram, e foram resgatadas por alguns diretores que continuaram o trabalho,
como a Maria Ins Longhini Siqueira; a Elaine, diretora atual que est tentando dar uma fora
ao trabalho. Ela lutou, por exemplo, para ter um CEFAM. uma coisa que eu dizia: "Vai ter
um momento em que o Experimental precisar do Magistrio, da formao do professor".
"Elaine, lute para voc ter um CEFAM. Vai ser importantssimo o Experimental fechar este
crculo aqui."
. O CEFAM na rea de artstica apresenta um trabalho muito bom, porque no 1 o. ano est
com plstica, no 2o. ano com teatro, no 3o. ano pretende implantar a msica, e no 4o ano
vai trabalhar as linguagens integradas. O que no est acontecendo com os outros, porque
eles esto procurando os caminhos... Eu achei muito interessante!
- O CEFAM do Experimental tem um papel social. Eu acho, sabe Iveta, que a gente precisa
lutar muito para que as escolas assumam esse carter que elas tm, esse papel muito forte, que
o de agente de mudana. No simplesmente de prestao de um servio educacional. Eu
sempre tenho, ao longo da minha vida profissional, lutado para que as escolas, as
Universidades sintam isso. No para prestar um servio para aquela populao que,
eventualmente, est ali. Mas, que elas sejam, pela sua integrao na comunidade, na
sociedade, etc., antenas para perceber as tendncias: sejam das cincias exatas, das
245
humanidades, das artes... Que elas sejam agentes de mudana junto ao sistema de ensino de
So Paulo e do Brasil.
No sei se voc sabe, mas, a primeira experincia de unificao no Brasil, da escola de 8 anos,
foi no Experimental.
. Eu soube atravs dos Relatrios. O Experimental era a nica escola, a nvel de 1a. a 4a.
sries "experimental"?
- Era. Trabalhando com o pr e os quatro anos ns comeamos a dizer o seguinte: "Esta escola
precisa ter continuidade. Ela precisa fazer a continuidade de 8 anos. E, em seguida, de 11,
com mais 3 anos: 14." Desde aquela poca, 1961, o pessoal perguntava: "Mas, Therezinha,
isso no utopia?" Eu disse: "No, porque quando voc est trabalhando com o ser humano, a
educao, tem que trabalhar na linha evolutiva desse ser humano, da vida. E a vida
evolutiva, a vida no para, a criana no para de estudar e crescer depois dos 10 anos. Chegou
ali, ns precisamos nos interessar pela criana de 11, 12 anos, os jovens de 15... etc. A escola,
o pr, o primrio, tem que ser ousado. Ns temos que lutar junto Secretaria da Educao
para que eles nos permitam fazer mais quatro anos." Temos, ento, a escola de 8 anos.
tnhamos Prticas
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Agrcolas." Era muito importante que a criana urbana comeasse a ter vivncia do campo.
A, como ns no podamos implantar rea agrcola, porque a rea agrcola s podia estar
sediada no campo, ns comeamos, atravs da educao fsica, explorar o campismo. J que
o Experimental no pode ter Tcnicas Agrcolas, por estar a escola numa zona muito urbana,
na Lapa, ainda que eu discordasse um pouco disso), vamos comear pela Educao Fsica, o
Estudo do Meio, atravs de Geografia e Histria. Vamos levar as crianas para o mato e
comear o estudo do ambiente, da ecologia, que a gente j fazia naquele momento. lindo
todo o problema do estudo do meio, do ambiente. O Experimental deu muita nfase a isto.
Onde - voltando para a nossa rea de interesse de hoje, voltando para o seguinte, Iveta - nada
disto era separado das reas expressivas. A msica, as artes plsticas, a educao do
movimento (que ns tnhamos na Educao Fsica), eram absolutamente integradas. E, ento,
eu retorno ao que coloquei anteriormente: por qu o levantamento da comunidade? Porque,
atravs deste levantamento ns comeamos, inclusive, a perceber que muitas crianas
manifestavam o interesse
Ento, o currculo tinha que ser mesmo integrado. Foi neste momento que o Experimental
tomou uma posio de muita liderana, com a ajuda, tambm, do Prof. Joel Martins, que foi
uma pessoa decisiva no plano do
Ele era nosso assessor, grande especialista em educao e currculo, doutor em psicologia.
Joel era professor da Escola
Anchieta.
perguntamos se ele gostaria de ser transferido, ser comissionado na escola para poder ajudar
a pensar todo este programa. Naquele momento contava-se com o Pastore, contava-se com o
Joel Martins e com tantos
outros
repensar das reas de expresso artstica. No foram s os de artes, no! porque estava o
Joel Martins que dizia: "Dna Sofia Helena, como que a Sr a. operacionaliza este objetivo
em msica? E voc, Ilza Leal Ferreira, nas artes plsticas?
Lenice, no coral? Como que integram isto aqui com o estudo do meio? Professor de
portugus, como voc v o servio da Dna. Sofia Helena? Em que voc pode entrar? Os
alunos esto compondo."Dona Sofia
. Sim, eu estou, inclusive, com material que vou xerocar sobre isto.
41
Ns
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- Os textos eram trabalhados junto aos professores de portugus. Havia msicas e letras
lindas, feitas pelas crianas e pelos jovens. O TUCA ficava lotado. Dna.Sofia Helena trazia
um jri da maior qualidade: crticos de arte... Voc chegava l e dizia: "No possvel que
isto seja um festival de msica de uma escola pblica de So Paulo". Quando eu conto hoje
este fato, o pessoal diz assim: "Mas, aconteceu mesmo isso?"
Da a importncia de voc resgatar este trabalho! Foi todo um movimento. A gente, desde
1961, procurou que a escola tivesse um planejamento global. Um planejamento de currculo
era importantssimo, onde os objetivos fossem definidos, operacionalizados, ns amos ter
essa integrao na base de objetivos. No pensar numa coisa s vezes artificial, que pensar
que a gente pode estar integrando contedo. s vezes os contedos so dspares, mas ns,
estamos unindo os objetivos. s vezes Dna.Sofia estava fazendo uma coisa, Ilza outra, mas,
absolutamente integradas nos objetivos. E desenvolver o pensamento crtico era desenvolver a
criatividade sim, a sociabilidade sim, cada um no seu canto. Ento voc no despersonalizava
a rea, que o grande problema. Voc no pode despersonalizar. Eu no posso fazer uma
coisa to difusa na msica que daqui a pouco a msica perde a sua caracterstica, a sua
natureza. Insisto muito, no plano curricular, que as reas tenham a sua natureza. No posso
querer desfigurar a matemtica, no posso querer desfigurar a lngua materna portuguesa ou
estrangeira, no posso desfigurar cincias. Cada uma tem a sua natureza prpria. O modo de
pensar a matemtica diferente do modo de pensar o portugus. O modo de pensar e refletir a
arte um modo diferente do que eu vou refletir a fsica. Desde aquela poca a gente j
estudava muito isto. Como o professor de fsica, de cincias, de portugus, vai poder no
perder a caracterstica de sua rea, mas ao mesmo tempo, fazer um trabalho absolutamente
integrado? Acho que isto o Experimental logrou atingir. Penso que foi um desafio. Mas, a
equipe toda era uma equipe muito comprometida, muito engajada, e uma equipe que estudava,
ia buscar. Muito competente ela enfrentava esses desafios dizendo: - "A nossa integrao no
est legal, porque um objetivo no est claro aqui: o geral. Ento, na hora que vou
operacionalizar, na minha rea, eu acho que no estou vivendo esta realidade". E a gente
repensava. Se voc retomar, atravs da documentao, todos os planos de curso, voc vai ver
a evoluo de 1961. Pegue os planos de 1965, 1966, 1967.
248
. No tem!
- Eu vou ver se a gente consegue resgatar com algumas pessoas..42
. , porque eu estou interessada em ver o de msica, que est inserido no geral. Tinham
os relatrios que eram editados. Eu tenho a partir de 67. Anteriormente havia relatrio
impresso?
- Desde 1961 ns fizemos. Uma preocupao que tnhamos desde o
comeo
era
documentar o trabalho.
Aonde fica?
. Fica na Pompia.
42
249
. Eu consegui com a professora Olga, que em 1962 foi para l, algumas coisas que ela
tinha em sua casa: relatrios, planos... enfim, alguma coisa.
- Ela passou para voc, no?
. Ela passou para mim. Ela trabalhava, principalmente, na pr-escola, era Iniciao
Musical.
- Lindo trabalho!
. ...E aquela sala toda livre para as crianas poderem se movimentar... enfim, para
acontecer a atividade... A, uns anos depois, eu j tinha meus filhos e estava procurando
uma professora de msica para eles. Eu tinha conhecimento dos trabalhos da professora
Olga, editados (inclusive criaes de seus alunos) e de que ela tinha aberto uma escola de
msica. E, quando eu ia passando na frente da escola, (perto da minha casa), eu disse:
"Ah! Eu acho que a a escola dela". Por coincidncia..., passando em frente, sem saber
250
onde era. A, eu matriculei minha filha e ela comeou a fazer Iniciao Musical com Dna
Olga. Eu vi uma semelhana da linha de trabalho dela com o que eu tinha visto no meu
estgio em 1973. Depois, resgatando a histria do Experimental na biblioteca, e lendo a
forma de trabalho das professoras, na poca, nos anos 60, eu vi alguma semelhana.
Ento, eu fui perguntar para a professora Carmem Zilda (porque ela est l at hoje). Eu
falei: - "Escuta, Carmem Zilda, eu estou achando que este trabalho que eu vi com a Dna
Olga agora (caracterstica de trabalho dela), em 1973 eu tinha visto um trabalho mais ou
menos nesta linha. Esse trabalho, como foi que comeou? Comeou com Dna Olga? Ela
falou: -"Foi, o trabalho comeou com ela. Foi ela quem implantou essa linha, esse tipo de
trabalho no "pr".
- No pr, foi.
251
. Voc est dizendo uma coisa que, no meu segundo ano de C.B. eu percebi: acho que o
profissional que trabalha com o Ciclo Bsico tem que saber de alfabetizao.
- .
. E a coisa que eu estou comeando a me informar, porque eu no sabia, (eu sempre tinha
trabalhado com o "ginsio"), que para a criana se alfabetizar ela precisa ter toda uma
colocao espacial, lateralidade... Uma srie de conceitos, e ela mesma se localizar frente a
isso tudo, para ter condio... a "prontido", no ?
- Isso mesmo.
252
recreio (eu ia muito para o recreio) e chamava os professores: "Olha, pessoal: fazendo aqui,
espontaneamente, o que eles esto aprendendo l na sala de msica. Com voc, Clia, em
Educao Fsica: olha as brincadeiras espontneas. Porque, na hora que os professores destas
reas trabalham seriamente com as crianas, o que acontece? As crianas transferem para a
vida da famlia. Ento, os pais chegavam para a reunio e diziam assim: -"Sabem que a minha
casa est mais alegre?" "? Por que? O que aconteceu?" (s vezes eu pensava at que era o
nascimento de um outro filho). -"Sabe que a minha criana canta o dia inteiro?" O outro:
poesia. -"Olha aqui o que ele est fazendo de poesia". A gente comeava a sentir que a criana
estava se expressando. Que a gente estava mexendo com o talento da criana, com o potencial
desta criana. Era uma coisa extraordinria, realmente, o que acontecia neste momento. Nas
outras reas os professores diziam: "Sabe, Therezinha, eu estou comeando a ver, atravs da
reunio de pais, que as crianas esto comeando a mexer com a rea de cincias. Esto
fazendo pesquisa em casa. Mas, o que a cincia tinha a ver com a arte? Porque tudo era
planejado com objetivos comuns. Como eu estava dizendo, mantendo a natureza das suas
reas. No porque h integrao que a cincia deixa de ser cincia, a arte deixa de ser arte.
No! Ento, comeou uma mtua estimulao incrvel, de uns professores em relao aos
outros. ... Isto que d a dinmica de uma escola.
. , ela me contou isso, que ela foi aprender flauta, violo, bateria... Para poder ensinar!
- "Dna.Sofia,vamos fazer bateria? Dna.Sofia, e flauta? Ela foi aprender para trazer para as
crianas, porque apareceu o interesse. (Est ligado com aquele levantamento geral de
interesses e expectativas que ns fizemos. Como a gente podia responder? Quando aparecesse
aquele interesse). Chegou um momento que, um dia, um aluno pequenininho chegou
professora e perguntou: "Dna.Sofia,d pra gente fazer uma coisa? D pra Sra. ensinar pra
gente, jud?"
253
. mesmo!
- Se a escola no abre esta possibilidade o aluno jamais pergunta se o professor pode
ensinar qualquer coisa. No ousa! No ousa!
254
Morumbi nos emprestasse esse espao. E, um dia, eu estava l dirigindo uma equipe enorme,
e recebi um recado do Secretrio da Educao dizendo: -"Therezinha, a partir de amanh
voc, por favor, assuma a Diviso de Orientao Pedaggica, porque eu quero que voc
transforme numa Diviso de Assistncia Pedaggica para todo o Estado". Eu falei: "Sr.Secretrio, mas eu no poderia neste momento fazer. Eu estou, justamente, preparando
todo o Plano 70". Ele falou: "Se voc foi uma boa profissional, quem est na sua equipe vai
seguir este trabalho. Eu no aceito um no. A partir de amanh, por favor..." Eu tive que
chegar para a equipe, eu estava em meio de treinamento, e dizer: "- Gente, quem pode
assumir? Porque eu estou convocada, no posso dizer no". (...Meu corao despedaado...) "Voc, amanh, tem que assumir e voc vai assumir l o prdio da Pensylvnia, onde estava o
antigo Servio Educacional. Voc assume l, porque era uma Diviso de Orientao
Pedaggica, e ns queremos que seja uma Diviso de Assistncia Pedaggica". Nesse
momento j existiam 80 Grupo Escolar-Ginsio, da experincia do Experimental, unindo o
primrio com o ginsio. A Secretaria, com autorizao do Conselho Estadual, montou 80,
espalhados por todo estado. E, naquela altura, j eram 91 experimentais, ginsios
pluricurriculares. E havia necessidade de um rgo para controlar essa experincia,
documentar, supervisionar, etc. O Secretrio ento me disse: "Eu preciso demais que voc
assuma isso aqui porque, inclusive, eu vou colocar, neste rgo, o Experimental, os
Vocacionais...
No fim de 1969 tive que deixar este trabalho em pleno auge e assumir. Nesta data foram
integrados, por decreto do Governador Abreu Sodr, os 80 "Gegues" (Grupo Escolar-Ginsio)
e os 91 Pluricurriculares.
- Therezinha, agora voc sai de um e voc vai verificar o que est acontecendo com este
grupo que, no fundo, voc mesma implantou: o 1o. Pluricurricular Experimental, no ?
Agora voc vai fazer este trabalho para a rede..." A eu tive que assumir a DAP e verificar
como estavam os "Gegues" e estes Pluricurriculares pelo estado todo. Eu tive que ir para todo
o interior: Rio Claro, Americana,... Presidente Prudente (tinha um trabalho lindo de um
"pluri" em Presidente Prudente).
255
Eu fui para Pirapozinho (que trabalho bonito) com um Sr.que dirigia: era o Homero. Ele fazia
um trabalho com tcnicas agrcolas. Eu fui ver: toda a merenda da escola era plantada pelas
crianas. Uma maravilha, sabe? Fiquei encantada!
Bom... esse trabalho foi evoluindo at que, em um determinado momento, que foi em 1973,
eu propus Secretria da Educao, ento Dr a.Esther de Figueiredo Ferraz: "Este trabalho
precisaria ser um centro de pesquisa e desenvolvimento de recursos humanos". Ento eu, essa
equipe, props o CERHUPE (Centro de Recursos Humanos e Pesquisas Educacionais)."
Naquele momento, havia o GEPE-1, que era o que seguia o Experimental, era acoplado ao
Experimental - saia daqui e ia para o GEPE-1. Depois tinham: GEPE-2, 3 e 4, que estavam
acoplados a outras escolas, porque eu quis j fazer uma experincia. Ento, eu pus o GEPE-3
acoplado no Alfredo Paulino, GEPE-4 em outra escola. O GEPE-2 foi uma experincia que o
256
Libneo dirigiu com adolescentes, foi espetacular. Ele fez at um livro sobre isso. Era um
Ginsio Pluricurricular especial para adolescentes que tinham perdido anos, tinham sado do
sistema, e que eu queria recuperar para o sistema. Foi uma experincia lindssima, que nunca
mais se repetiu no Brasil, que eu tinha muita vontade de resgatar. Quando eu falo com o
Libneo digo assim: "-Libneo, se prepare para, um dia, resgatar em So Paulo essa
experincia".
Tudo isso foi passando para o Carlos Luiz Gonalves, que foi o que assumiu o GEPE-3, a
Maria Helena Malvezi, que hoje Delegada de Ensino, que assumiu o GEPE-4. Percebeu?
antigo
257
avaliao de como foi o dia. No tnhamos cadeira nem mesa, nenhum equipamento escolar.
Cada criana levou uma cadeirinha e uma tabuinha para poder escrever. Assim ns
comeamos o GEPE-1. Foi assim: no houve nada de riqueza, nada disso. s vezes as pessoas
dizem: "-Vocs comearam com o Experimental, o Ginsio, porque, decerto, tinham tantas
condies. No tnhamos nada de condies, ns no tnhamos uma mesa. Eu me lembro que
levei uma mesa para servir de apoio para a gente poder escrever um pouquinho, e ns mesmos
levvamos a nossa pranchetinha, uma tabuinha e os alunos tambm. E assim essa escola
funcionou um ano. E o Xavier analisando o fluxo, o movimento. Como esse prdio devia ser
utilizado, qual era a dinmica que esse prdio deveria ter. E ele fez esse plano: lindo!
Quando um outro Secretrio me disse: "-Eu quero fazer, estou fazendo uma reforma
administrativa na Secretaria. Quero que voc Therezinha, e sua equipe, faa uma proposta de
evoluir o CERHUPE para a CENP". Eu disse: "-No faa isto. Este tem que continuar como
um centro mesmo. No faa a CENP, no precisa. O CERHUPE j est conhecido no Brasil
inteiro, j conhecido mundialmente". Ns recebamos gente do Japo, equipes que vinham
do Japo (voc vai ver pelos relatrios) para analisar o que era esse CERHUPE que
continuava coordenando essas experincias, indo para o interior, j comeando a fazer os
"Guias Curriculares", dizendo: "- O que ns j consolidamos aqui, vamos por como "Guia".
. E eu vi o reflexo,"nos Guias", de todo o trabalho atravs dos relatrios da 1a. a 4a. sries.
(Eu estou me fixando do pr a 4a. srie) Eu vi o reflexo deles nos "Guias Curriculares".
- Porque ele uma continuidade.
258
reas. E foi assim que surgiu o primeiro documento, que foram os "Guias Curriculares" que o
pessoal chamava "O Verdo, no ?"
portugus... e
comear.
- Isso mesmo.
. Ento a gente teve que fazer uma certa adaptao para a 5 a. srie... e, mesmo assim, a
coisa foi meio que... Como que foi sentido isso da?
- Foi sentido de maneira extremamente grave. Alis, nas duas reas: Estudos Sociais e
Educao Artstica, foram as reas que localizamos os mais graves problemas na definio de
currculo para So Paulo. E depois a gente viu que foi no Brasil tambm. O "Guias
Curriculares" devia ser, simplesmente, uma inspirao, quer dizer: ele era um guia, no para
ser seguido rigidamente. Muitas pessoas no interpretaram assim: "-Eu no gosto daquilo no!
Eu quero fazer do meu jeito". para fazer do seu jeito, mas, aqui tem um modelo terico,
testado, analisado, passado por todas essas experincias e, se eu puder aproveitar daqui,
maravilha. O que voc no puder aproveitar, jogue fora e crie o seu!
Ns tivemos dificuldades srias com duas reas. Primeiro: quando a Lei 5.692 uniu Geografia
e Histria (agora voc sabe que houve uma mudana da lei maior de Educao e voltou outra
vez geografia e histria). Porque, naquele momento, foi posto Estudos Sociais. E havia,
justamente, uma luta que ns tnhamos inclusive com os professores universitrios, que
259
vinham nos ajudar nisso aqui. "- um absurdo fazer isto. Realmente, a viso tem que ser
integrada, porque a histria para localizar, tambm, num espao. E a geografia tambm
sofre o problema do tempo, no ? As montanhas, o relevo tambm. Sofrem a noo de tempo
espao, tem que estar junto. "Mas, no se pode unir as duas." E ns tnhamos que nos
conformar e seguir a proposio legal. Ns no podamos, nos "Guias Curriculares", colocar
Geografia e Histria separados, porque a Lei 5.692 estabeleceu o Ncleo Comum, no ?
. Devido a implantao da Lei 5.692, ela me falou: "-Tem que ter um derivativo".
- Porque, no fundo, o Laboratrio de Msica j vinha sendo gestado.
260
Pois a Sra.vai ter o meu piano". Ento, eu peguei o meu piano, que est no Experimental at
hoje, no Laboratrio.
. Nos "Guias" a gente via, por exemplo, Expresso Musical: de 5 a 7 anos havia propostas
de objetivos, atividades; de 7 a 9, depois... at que chegava a um momento, 11 anos, que era
o que realmente tinha o professor de Educao Artstica, na rede pblica de todo o estado.
- O polivalente.
. O polivalente, mas, anteriormente, no havia. Ento, qual foi o pensar da equipe quando
fez essa proposta? Porque at hoje isso no existe ainda. Comeou agora na 1a. e 2a.
sries. Qual o pensamento de vocs quando propuseram tudo isto?
- Do ponto de vista do trabalho com a criana ou do problema do professor?
261
. No, do trabalho com a criana, porque teria que ser um especialista pela forma como
estava sendo proposta.
- Ns nunca abandonamos a idia, a convico de que ns no podemos dispensar o
especialista.
. E havia alguma luta, alguma busca de que fosse introduzido nas turmas de 1 a. a 4a. sries
tambm?
- Sempre ns lutamos por isso - nem sempre com sucesso.
262
trabalha mais com a parte plstica vai para o plstico. Tenho impresso. A que est mais
familiarizada com a rea de msica, ela vai mais para a rea de msica. Isso no est certo, e a
Secretaria da Educao, bem como o Conselho Estadual, bem como quem est hoje pensando
na proposta da LDB, que est agora para ser votada...
263
. Veja que a proposta da nossa rea de Educao Artstica est muito ainda no global. Ela
ainda no especifica as linguagens, est mais na teoria. O ms passado eu recebi a
"Proposta do Rio de Janeiro" (de uma pessoa que conheci no curso do Schaeffer, ela me
enviou a Proposta do Grupo). Eles j esto comeando a fazer a especificidade das
linguagens.
- Agora eu peo a voc, Iveta, que voc lute, que voc esteja com o grupo desta sua rea,
enquanto eu e outras pessoas estamos, vamos dizer, no nvel das unidades escolares, das
delegacias, etc., que a gente tem que chegar a isto aqui; por isso importante que as pessoas
que esto trabalhando com as vrias linguagens apresentem um modelo terico, um
delineamento: "Qual a concepo que deve existir hoje de msica, desde o pr, e que eu
diria, se fosse o caso, desde a creche, at o fim do 2o. grau, numa continuidade orgnica?"
. Sabe o que acontece muito na nossa rea? Muitos dizem: "No se d receita". Gente,
tudo bem, no se vai dar receita. No receita, mas, a gente tem que ter algum modelo."
- Modelo terico no receita.
. No !
- O modelo terico no diz: Voc faz o contedo e voc vai fazer desta forma. Ele vai dizer:
Assim concebida a msica na formao do ser humano, esta a fora e o papel da msica na
formao da personalidade. Esses so os objetivos da msica, os gerais, e aqui esto,
provavelmente, os especficos, nas diferentes faixas etrias.
. Justo, mas, isto que est precisando. A Lei 5.692 que ficou entre ns deixou as
seqelas... e est difcil para a rea poder se organizar neste sentido.
- , isso mesmo.
. Essa coisa que ficou toda solta e que, de repente, voc quer organizar e...
264
- , e precisa. Porque atingimos um ponto em que ns estamos diante de dois extremos, sabe,
dois extremos: de um lado est a coisa geral de Educao Artstica, que no est contentando
a ningum. Nem alunos, desde os nossos pequenos, e nem aos professores, nem aos diretores
de escola. Eu posso falar, no momento, como Orientadora Pedaggica da Caetano de Campos,
que no estamos absolutamente satisfeitos. E ouo dos professores que esto trabalhando com
a rea de Educao Artstica e tenho estagirios dos Conservatrios, da UNESP, que esto
aqui tambm... No esto satisfeitos. Porque no isso que ns queremos. Ao mesmo tempo,
quando se fala em especificar o pessoal j passa pro outro lado, na receitinha de cada rea. De
jeito nenhum! No podemos dar esse salto. No isso que ns queremos. Alis, no queremos
receita para nada. Cada escola tem que fazer seus "Guias Curriculares". A minha luta esta, e
desde O CERHUPE, quando ns propusemos aquele guia, no era para que ele fosse "O Guia
do Estado de So Paulo". Era uma proposta, e que cada escola, diante daquilo, tivesse estilo
para fazer os seus "Guias Curriculares". E ns, na Caetano de Campos, estamos partindo pra
isto. Por isso que ns fizemos um plano de 10 anos. E dissemos: "Vamos ver se, dentro de 5
anos, ao longo do tempo, a Caetano de Campos pode ter os seus "Guias Curriculares". Por que
no? Ela pode ter, desde que ela defina os objetivos das reas de acordo com a populao.
Estamos fazendo um levantamento aqui, tambm, um levantamento scio-econmico.
Estamos resgatando. Eu pego o antigo e digo: "- Ah! Que beleza! Olha a diferena gritante! J
fizemos 600 entrevistas, vamos fazer com toda a populao: um instrumento lindo! Posso por
at na sua mo, se voc quiser. E, a partir daqui... Ele tem at uma riqueza maior que aquele
anterior, porque ele j entra numa parte de atitudes, de interesses, que o outro no entrava.
Justamente para que este material nos d a base para ns sairmos com o Guia Curricular
daqui. Cada escola tem que ter os seus guias curriculares.
265
aulas semanais. Quando voc no tem esta clareza da continuidade voc v, s vezes, muito se
repetir a matria, o contedo, na 6a. srie, na 7a. srie, na 8a. srie. E alunos perguntam: "Ah!
Meu Deus, mas ser que eu no poderia ter um portugus um pouco diferente? H falta do
Guia. Porque o Guia v pr-requisitos e v evoluo. Ele v escala de escolaridade. E se eu
tenho essa escala de escolaridade definida... Era uma coisa que sempre esteve presente no
Experimental, sempre presente. Vamos tentar ver uma escala de escolaridade e fazer uma
linha mesmo. Olha o que dado de lngua materna no pr, e olha o que dado depois, o que
deve ser dado at no 2o. grau. Porque a idia era de que o Experimental tivesse o 2o. grau
naquela poca. Naquele momento eu ainda no consegui. Na minha gesto, no. Mas, a, voc
tem uma continuidade e aluno nenhum pode chegar e dizer: Eu estou tendo Geografia, na 8 a.
srie, a mesma que eu tive na 5a. srie. No d para ser uma Geografia diferente? "Sabe que
eu estou vendo, no 2o. ano a matria da 7a. srie? "- Mas, certamente, voc est vendo com
uma abordagem diferente, no?" "- No, o contedo o mesmo!
Se no tiver o fio condutor para voc ver a evoluo, o crescimento, os conceitos... O
problema do modelo voc ver em que conceitos voc vai trabalhar. Por exemplo, em
Histria, o conceito de tempo, o conceito de permanncia, o conceito de evoluo... Como
que eu pego esse conceito que a criana tem de tempo? Desde os 4 anos e ela ter o conceito
de tempo quando ela tem 17 ou 18 anos ou, como os nossos alunos do noturno aqui, que tm
46, 50 anos. Ns temos uma aluna de 60 anos. Eles tambm tem conceito...
E ela foi terminando de contar sua nova experincia que est comeando. E bem assim que
ns podemos v-la: nunca parando, sempre continuando e recomeando! Como ela mesma
diz, a histria do Experimental no se encerra na prpria escola, mas, continua nos
elementos que l estiveram e contriburam, fizeram parte. E, desta forma, ela vai se
mesclando e, nas palavras de Therezinha Fram, sendo "sal e fermento", acreditando,
ousando!
266
Entrevista com a Profa Heloisa Lopes, feita por Iveta Maria Borges vila Fernandes em 11 /
05 / 1990. 43
. Heloisa, eu queria saber de voc como que era a estrutura do trabalho docente na rea de
msica, no Experimental.
- Eu trabalhei no Experimental de 70 a 76 e, logicamente, a estrutura foi passando por
modificaes. Ento, eu vou tentar relatar como era a estrutura quando cheguei, e como era a
estrutura quando eu sa da escola. Quando iniciei, em 70, eu iniciei trabalhando como 3a grau
da Pr - Escola, 1as e 2as sries. Ento a estrutura era assim: os alunos tinham em um perodo,
da manh ou da tarde, o currculo normal da escola. E, depois, em outro perodo, contrrio ao
que ele freqentava, o que ns chamvamos de aulas complementares. O aluno ficava na
escola: levava um almoo, almoava - isto na poca que estou falando, em 70 - e, depois,
tinha as aulas complementares, que eram de artes plsticas, educao musical, e... expresso
corporal. Como funcionava isso? Nessa poca eu cheguei e, no incio, dava aula sozinha.
Dava aula sozinha para a classe. A classe que vinha para a sala ambiente, que era bastante
precria nessa poca. A gente j tinha um piano, mas, nem sempre o piano estava na sala,
porque eram vrias professoras na sala que a gente trabalhava. Tinham alguns instrumentos de
banda rtmica e ali a gente desenvolvia as atividades. A aula durava 50 minutos para as sries
mais avanadas, 3a e 4a sries; para 1a e 2a sries eram 40 minutos; e pr-escola eram 30
minutos. Essas aulas eram preparadas pela professora da classe, pela professora de msica,
(no caso eu preparava). Mas, sempre subsidiada... pelas orientadoras da escola. Nessa poca
ns no tnhamos uma orientadora especfica para msica, ns tnhamos uma orientadora para
43
Integrou pesquisa efetuada sobre o Experimental da Lapa, enquanto era aluna do Curso de Especializao da
267
artes. Uma vez por semana ns nos encontrvamos das 17 s 19 hs. No se ganhava nenhum
tosto. Reunia-se, ento, e as reunies variavam de acordo com a proposta da direo da
escola. s vezes a gente tinha reunio s das reas de artes. s vezes a gente tinha reunio
para discutir problemas relacionados a temas como a disciplina, por exemplo; para uma
festividade que se aproximava; reuniam-se pessoas, tambm professores de classe, orientador
e os professores de artes. E reunia-se, quando era desse tipo, por srie. Ento, s vezes 1a e 2a
(sempre 1a e 2a juntas); 3a e 4a; pr-escola separado.
268
Eram atendidos no canto em classe. E, tambm havia uma bandinha rtmica. O orfeo fazia
parte da 3a e 4a sries, e a bandinha rtmica era 1a e 2a sries, tambm selecionada. Voc
fazia um teste rtmico. Aquela criana que tinha habilidades motoras e rtmicas, assim...
facilidades, ela era escolhida para tomar parte. A gente participou at de concursos. Esse
mundo de coisas que hoje, do ponto de vista de educao, a gente sente que no era, no foi
uma coisa boa nesse aspecto. Foi boa sim porque a gente aprendeu, e at pra gente se
analisar e perceber hoje, que aquilo no deveria ser feito. Era uma orientao que o Estado
dava, que a Secretaria da Educao dava, no ensino de msica.
. Engraado, eu no sabia que existia esse tipo de... organizao no Estado. Foi at... at 60
que voc falou?
- At: sessen... Olha, ela foi extinta em 70...? Em 69 foi extinta a Chefia.
. 69?
- Foi. Da que eu fui direto para o Experimental.
. Voc veja bem: a Lei de Diretrizes e Bases que saiu em 61, ela extinguiu o Canto
Orfenico, e mudou para Educao Musical. E a, nesta fase, teve toda uma orientao
diferente a nvel federal, de como deveriam ser as aulas... Eu estive lendo uns artigos, umas
crnicas, umas reportagens do Caldeira Filho, na Revista Anhembi na qual ele escrevia,
em uma tese defendida por uma amiga minha, a Maria Helena Maestre Gios. No sei se
conhece ela.
- No, no.
. Ento, eu estive lendo... Estou com este material para at dar uma rememorada da poca,
no ?... Mas isso que voc est me contando, que a Chefia do Canto Orfenico... Ento,
cada professor tinha...
- Ns ramos, ns ramos um grupo de 60 professoras...
269
- Ficvamos. ramos comissionadas. Eram todas professoras com classe aqui na Capital.
Professoras efetivas que eram colocadas disposio do Departamento de Educao daquela
poca, porque a Chefia de Msica e Canto Coral era um... adendo do Departamento de
Educao. Ento, ns tnhamos um rgo prprio. Duas vezes por semana ns amos ao rgo
da cidade, era na Praa da S a Chefia, onde a gente formava o Coral do Professorado
Paulista. Ns nos apresentvamos em festividades cvicas do Estado. Era um trabalho muito
bonito. Mas, o que aconteceu foi uma pena. Inclusive eu com meu esprito assim de querer
inovar as coisas, tambm me meti num grupo que estava querendo atualizar a chefia. A chefia
tinha linhas muito boas, mas, estava precisando passar... Como tudo, voc vai transformando,
no ? E a tinham umas pessoas assim muito arraigadas naquela metodologia mais antiga.
Em suma, o trabalho era um trabalho bom: se voc no pode dar para todo mundo, voc vai
aos Grupos. E tambm no eram todos os Grupos. Eram 60 professoras e cada professora...
tinha dois Grupos para orientar: s 120 Grupos.
270
. . E para mim interessante porque quando eu comecei a fazer este trabalho eu comecei
a procurar o perodo anterior, para eu poder at entender como foi.
- Ah! Sim...
. Ento, eu comecei a pesquisar desde a poca de Villa Lobos. Como foi, o que foi
introduzido, para eu poder entender como que chegou at 61, e como estava o pas todo em
termos econmicos, sociais, educacionais... Foi o momento que o Experimental comeou
com a direo da Therezinha Fram, que deu uma linha toda especial para o trabalho, no
?
- Ento, justamente a Therezinha. A minha irm, a Gilda, j estava no Experimental. A
Therezinha tem um olho clnico, no ?
271
. Sei!
- Apresentaes assim em conjunto. Dia da rvore, por exemplo, ns nos reunamos l no
Horto Florestal. Trabalhvamos todo mundo mais ou menos o mesmo repertrio para ser
apresentado... Ento tinha tudo isso. E, da, quando foi extinta, cada professora deveria voltar
para sua escola. Alguns rgos de orientao que pertenciam tambm Secretaria da
Educao, que centralizavam a orientao para cada grupo de escolas...
. No o DAP?
- No, no era, era anterior. Eles arrebanharam cada um. Foi assim um negcio meio de
aleluia, cada um pega uma coisa. E a Terezinha mais do que depressa: Bom, deixe eu
aproveitar e pegar vocs.
. H! H! H!
- E nos levou para l. Ento ns fomos a comissionadas.
. Vocs quem?
- Eu e a Nlgi nesse caso.
. A Lenice Priolli?
- A Lenice Priollli. E a Nlgi foi para um desses... no era CERHUPE, l na... Engraado, se
a Lenice estivesse aqui era capaz de lembrar. A Nlgi pode ser que lembre porque ela foi para
um desses rgos. E ento, as pessoas voltaram para suas escolas. Foram se repartindo,
inclusive na esperana que se conseguisse juntar de novo as pessoas e formar um outro rgo.
Porque a gente estava consciente que era uma coisa importante, no ? Mas, a coisa se
dispersou e da foi que eu fiquei l em definitivo no Experimental.
272
Eu peguei uma reforma fsica do prdio l do Experimental. O meu incio de trabalho foi num
ambiente... eu dava aula em um pedao da cozinha. No tinha instrumento. Olha, foi um
negcio sabe? As crianas no estavam acostumadas com aquela sistemtica de almoar na
escola. Ns organizvamos esse almoo, que era por grupos, na prpria sala ambiente. Era um
tipo de um lanche que as crianas levavam. Foi assim o incio. Foi assim bem revolucionrio,
vamos dizer. Ento, o que que eu trazia? Eu trazia minha experincia da Chefia de Msica.
Tinha feito o Canto Orfenico, e o Canto Orfenico deu aquela formao que voc conhece a
formao do Canto Orfenico. Em termos de Iniciao Musical, em termos de trabalho de
sensibilizao de crianas, a gente no tinha quase nada. Ento o trabalho era assim de muita
leitura. Da eu fui fazer o curso de Iniciao Musical do Santa Marcelina...
. Eu fiz na dcada de... 70? Foi no final de 70... uma coisa assim.
- Eu fiz j quando eu estava no Experimental. Ento foi... 70, mais... para o comeo. Eu no
estou nem lembrando, porque a gente fez tanta coisa, n ?
. .
- Que depois a gente... as datas a gente no lembra bem. Havia o gosto, a vontade de fazer
alguma coisa boa, de ajudar, de trabalhar bem com a criana. Fui catando aqui, catando ali e,
nesse meio, praticamente eu trabalhei muito pouco sozinha. Da eu j comecei a trabalhar...
fazer duplas com a Carmem Zilda para planejar os trabalhos. Logo no comeo no dando aula
juntas, planejando. Depois cada uma desenvolvia o seu trabalho. A coisa mais difcil
escrever aquilo que voc estava fazendo, no ? Quer dizer, a gente no estava acostumada a
esse tipo de trabalho. O Experimental oferecia pra gente muita coisa. Assessorava com
muita fundamentao pedaggica, etc... Mas voc tinha que fazer uma adaptao para sua
rea.
273
. lgico.
- Em termos de bibliografia, praticamente aqui ns no tnhamos nada, a no ser a Liddy
Chiafarelli, mais alguma coisa. Ento, utilizvamos bibliografia argentina, que tinha muita
coisa! E foi a que a gente trabalhou muito: o Wilhems, o Martenot, os instrumentos Orff...
Era uma metodologia ... A gente no seguia um mtodo. A gente lia um pouco de cada um, e
tentava fazer uma adaptao para nossa realidade, a da criana brasileira. A gente fez curso
tambm com o Wilhems, quando ele veio. Voc no fez?
. No...
- Ah! Foi um curso muito bonito. Foi uma coisa linda, porque a gente j conhecia o
pensamento... a filosofia... a sistemtica de trabalho dele, que era para a musicalizao da
criana.
. .
- O que ns tnhamos que fazer, que tirar daquela musicalizao? O qu? Porque o objetivo
era simplesmente sensibilizar a criana para a msica, no ? Trabalhar percepo auditiva,
desenvolvimento rtmico, canto, movimento corporal aliado a atividades rtmicas, no ?
Ento a gente tentava, e isso que foi muito enriquecedor no nosso trabalho. Porque medida
que a gente comeou a trabalhar em grupos e que os grupos foram crescendo, esses grupos
foram alguma coisa importante depois de 72, mais ou menos. O problema do Experimental
era muito... e a Terezinha sabia bem disso. Havia muita rotatividade do professor. O professor
no criava uma base na escola. Ele ficava um, dois anos e j saia. Da comeava-se tudo de
novo. E a msica foi uma das reas que se conseguiu ter um pessoal fixo durante muito
tempo. Quando foi a Nlgi, a Eleninha Lauretti para o Exprimental, que a gente trabalhou
muito juntas. A Carmem Zilda ficou mais na pr-escola, mas a gente tambm tinha contatos,
no digo semanais, mas a gente tinha contatos. Ento, ns trs basicamente. Mas, Dona Sofia
tambm deu muita contribuio. Era um grupo querendo a mesma coisa, voltado para as
mesmas expectativas em termos da criana e cada um com uma formao um pouquinho
diversificada. Eu digo isso porque, o pessoal da escola falava que era o grupo mais
equilibrado, porque no havia competies... Veja: a Nlgi uma pianista maravilhosa, um
ouvido timo. A gente acostumou a trabalhar junto com a Nlgi. Um trabalho que voc fazia
274
o que quizesse, porque a Nlgi estava ali pr agentar as pontas. Eleninha tambm uma
pessoa muito criativa, que tinha muitas idias. Ento, cada uma de ns foi dando um pouco
aquilo que tinha de si, para tentar construir uma linha de trabalho da pr-escola at 4a srie,
incluindo classes especiais, que a gente tambm trabalhava. Depois de 72, 73, j mudou um
pouco a estrutura. J no eram mais as reunies nos dias de semana, das 17hs s 19hs, mas,
aos sbados. Porque nessa poca j no havia mais aulas aos sbados na escola. At ento,
sbado era dia de trabalho. A o Experimental fez uma estrutura assim: dois sbados por ms
trabalho com a criana; e os outros dois sbados, trabalho com os professores. Ns
trabalhvamos todos os sbados, quando a rede pblica no trabalhava no sbado. Depois, os
diretores tambm foram se alternando, at que no final ns estvamos s os professores
trabalhando aos sbados. No tinham mais crianas. Ento era um trabalho muito rico. Era
assim: a escola planejava como seria aquele sbado de trabalho. Era bem dividido. Voc tinha
momentos onde voc estava trabalhando s na sua rea. Voc tinha momentos que voc
estava trabalhando com as classes, com os professores de classe. Se eu trabalhasse com 3a e
4a sries eu estava com todos os professores de 3a a 4a sries. Orientadores trabalhando
visando objetivos especficos que eles colocavam. Ou era para voc discutir determinados
temas, ou era para ver problemticas que estavam acontecendo na escola. Como que a gente
ia operacionalizar aquilo, cada um na sua rea, no seu trabalho. Foram muito importantes
esses encontros de rea, porque da j comeou se sentir que os orientadores no tinham
meios de assessorar muito a gente. Eles davam, eles queriam dar a parte didtica,
metodolgica, mas, eles tinham dificuldade nisso. Ento ns comeamos sentir que uma de
ns, um professor de msica, que estivesse assim mais abalizado, poderia ser o prprio
orientador; ou um de artes. Tivemos, ento, um professor de artes que via as trs linguagens.
Via msica, artes plsticas e... expresso corporal. Da comeamos a sentir que puxavam um
pouquinho mais para determinada rea; at que no final, quando j sa de l, j existia um
orientador para rea de msica, especfico.
Ento, eram reunies ricas. Mas, as reunies mais ricas eram as reunies de planejamento
de trabalho. No nosso horrio de trabalho ns trabalhvamos (como Professor I), ns
trabalhvamos no sei se eram quatro horas e meia ou cinco horas de trabalho. Mas, ns
tnhamos dentro desse horrio um horrio para planejar o trabalho. No me lembro mais agora
como que era esse horrio: se eram... 2hs semanais... uma coisa mais ou menos assim.
Ento, nesses momentos, ns nos reunamos e da planejvamos juntas. Tinham momentos
275
que a gente estava: a 1a, 2a, 3a, 4a srie juntas para sentir a linha de trabalho, a continuidade.
E tinham momentos que ns estvamos separadas: 3a e 4a srie ou 1a e 2a para fazer o
trabalho especfico: que estratgias seriam trabalhadas, os objetivos, enfim, fazer um plano de
trabalho.
Era um momento em que a gente, por exemplo, fazia assim: - Bom qual o nosso objetivo?
Muita discusso em termos de objetivos. O que era objetivo mais amplo, o que era objetivo
menor. O que era... desenvolver a percepo auditiva. A gente comeava a trabalhar. Depois a
gente estava vendo que desenvolver a percepo auditiva voc desenvolvia desde o pr.
Desde o menininho, da criana de 3 anos, at l no final da 8a srie. Ento, comeamos a
enxugar e conseguir descobrir os objetivos especficos daquela srie. O que que eu quero em
termos de percepo auditiva na 1a e 2a srie? O que ns trabalhamos na pr escola?
Trabalhamos at aqui! Ento, para dar continuidade a esse trabalho que foi feito, como que
ns vamos...? Assim, ns chegamos concluso que, na verdade, os contedos no mudavam
muito. O que mudava? Era a estratgia e a amplitude do desenvolvimento. Ento, se eu vou
trabalhar com sons eu vou trabalhar desde a criana pequenininha at l a 8a srie. Como eu
vou trabalhar? A que vem a maneira, a estratgia, que eu vou usar. A amplitude que vou dar
pra isso que modificava. Ento a gente foi sentindo toda uma linha. E a gente dividiu: som,
ritmo, no para um trabalho em si, mas, para diviso didtica, n? O som, o ritmo, o canto e
o movimento. Mas as coisas estavam juntas quando ia trabalhar o ritmo se trabalhava com a
msica, o canto, se trabalhava com o movimento. Foi bonito a gente ir descobrindo que estava
tudo junto. Era apenas voc poder dar uma linha.
. Focar melhor.
- Tanto que isso foi muito trabalhoso. A gente hoje fala: mas o bvio. Mas, naquele tempo, a
gente no enxergava desse jeito. E cata daqui, cata de l, cada um trazia uma... contribuio;
esse trabalho de grupo que muito rico. Eu no abro mo de trabalho de grupo. Eu acho que a
gente se enriquece. Eu no fao hoje mais nada. Eu estou trabalhando numa escola como
276
orientadora. Eu oriento as professoras, mas me sinto muito mal porque eu trabalho assim
sozinha. Lgico, tudo o que eu j fiz, o resultado de um trabalho em grupo...
Tudo que a gente chegou a fazer foi fruto de descobrir, de experimentar, de dar certo, de
no dar certo; de l daqui, de l de l. Mas isso no deu certo por causa disso. A Escola
Experimental tambm teve, por causa da estrutura da escola, muito problema do aspecto
disciplinar. As crianas tambm ficaram assim muito acostumadas...Voc fazia trabalhos
muito sofisticados e eles no valorizavam. Alis, foi um problema, acho que do prprio
professor. Quer dizer: comeou-se a sofisticar tanto que... uma hora eu parei. Eu falei: Gente,
as escolas por a no tem nada, essas crianas tm coisas demais. E ns temos que dar uma
balanada neles pr valorizar. Precisava parar um pouquinho, chamar a ateno da criana.
Quanta coisa, quanta riqueza ela possua na escola e a criana no estava valorizando, sabe?
Quando eram aulas muito boas, muito gostosas. Uma vez fiz um trabalho com folclore, acho
que foi com 5a srie. Mas foi assim: eu busquei de tudo quanto jeito as coisas. Projeo
fixa, gravao, no sei o qu, no sei quanto...Olha! Da que eu me toquei. Eu falei: No!
Precisamos parar e dar uma conversada a nvel de escola, sabe? Conscientizar essas crianas
para valorizar o que elas esto recebendo. Eu chamava muito as crianas a mostrar o que tem
uma escola: a escola A, B, C, D. E ns? O que temos em relao s escolas? Porque que essa
escola assim? Porque no fim cai numa rotina e voc no lembra de mostrar para a criana o
que ela est tendo. Porque veja: uma criana que est tendo 3 reas, que as outras crianas no
tinham, e ainda cada professor querendo inovar,sofisticar... Era muita riqueza, e no dava! Da
comeou-se tambm a fazer atividades nas reunies de pais. Eu me lembro de fazer muita
atividade de msica com os pais, mostrando um pouco do que a gente estava pretendendo
com o nosso trabalho. At para o pai no s valorizar, mas saber enxergar as coisas que as
crianas faziam.
Foi enriquecedor o trabalho de grupo, parecia que a gente estava assim bebendo as coisas... A
gente fazia tambm muitas festas, comemoraes... A msica entrava, mas, no era uma
comemorao onde diziam: professor de msica, veja o que vai fazer. Era uma coisa que todo
mundo participava: o professor da classe, as orientadoras. Era uma coisa bem planejada junto
com a criana. Por exemplo, ao se fazer uma dana, vamos supor, a criana ajudava a
construir aquela dana. Ento, era tudo muito pesquisado com a professora de classe, muito
integrado. Principalmente no final, quando elas, as professoras, j estavam h mais tempo na
escola, e j tinham mais definidas as coisas que elas queriam, e o que a escola tambm queria.
277
Porque era assim: de vez em quando se parava e se fazia mil perguntas, mil interrogaes e
parece que a gente no estava muito sabendo. Todo mundo no estava pensando igual. E... no
final a gente j sentia uma unidade e
expresso corporal que fazia..., fazia... e no fim parecia que estava fazendo uma baguna;
aquela liberdade excessiva. Porque experimental no para chamar ateno! Ento as coisas
foram entrando mais nos eixos, vendo bem, por exemplo, o problema disciplinar, que foi um
problema muito srio na escola, mas muito! Ento, muita coisa no se podia fazer porque a
disciplina atrapalhava muito. O professor estava preocupado porque no era para chamar a
ateno; que no era para ficar bravo; que eram tcnicas mais modernas; no era para
deixar;..... vamos deixar;.... no pra impor;..... pra deixar fazer o que eles quisessem.....
Quer dizer: nem 8 nem 80.
. Vocs costumavam sair da escola para fazer um curso? Ou no era permitido isso?
- A gente saiu um pouco. Agora eu tambm fui privilegiada, porque eu consegui, e foi no
tempo da Therezinha. Como a Therezinha havia recebido, da Secretria da Educao, um
oferecimento para um curso de msica na Argentina, eu fiquei louca! Era eu e o Humberto
Cantoni. O Humberto Cantoni era tambm professor de msica.
. E voc foi?
- No cheguei a ir.
278
. Em 71! Mas quando saiu o que a gente chama de Verdo, foi em 75.
- Certo! Mas bem antes ento. Em 70 e... em 73 eu fui para o Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro
ia sediar um... no era bem congresso. Eles reuniram professores, um representante de cada
Estado do Brasil. A Secretaria da Educao mandava um representante ligado uma rea
artstica: podia ser msica, artes plsticas o que fosse, para ficar um ms no Rio de Janeiro,
na Escolinha de Arte do Brasil. Ah! Mas foi a coisa mais...
. Voc foi?
- Fui, a eu fui.
279
acho que a oportunidade maior foi essa. E foi uma oportunidade onde a gente trocou muito
com os outros Estados. Viu muito as outras realidades. Foi muito gostoso! Eu no tinha feito
nada ainda de Artes at ento, de artes plsticas! Ns nos esbaldamos de fazer coisas. Coisas
com areia, coisas super criativas. Ento, para mim abriu muito. Mas, principalmente, nesse
aspecto da criatividade. Eu ainda era muito... departamentalizada... ainda era muito assim...
quadradinha.
. Quando da implantao da Lei 5.692, acho que aconteceu muito isso que voc esta
dizendo com os que vieram da rea de msica, e tiveram contato com as outras linguagens
artsticas. At ento a msica estava muito organizadinha, muito dentro dos compassos, das
notas...
- , .
. Abriu... e...
- E voc enxergou isso?
44
CERHUPE- Centro de Recursos Humanos e Pesquisas Educacionais Prof. Laerte Ramos de Carvalho-
280
Eu estive no DAP45, estive no CERHUPE, mais ainda no como funcionria deles: fazendo
cursos, oferecendo treinamentos pelo Experimental. O Experimental oferecia o professor. E l
a gente tambm conversava, trocava idias...
. Era CERHUPE? Voc trabalhava no CERHUPE? Voc lembra em que ano foi pra l?
Foi no comeo?
- Eu trabalhei no Experimental de 70 a 76. Foi em 76, 76-77.
46
281
quero. Ento eu trabalhei com msica numa escola quase de periferia, no Alto da Moca. Mas
bem l no alto, e fui trabalhar com msica desde a 1a srie at a 4a, incluindo as classes
especiais. Eu fiz um plano de trabalho, eu orientava, eu fiz o meu horrio. Eu nunca tive um
trabalho to gratificante. Mais to gratificante! Porque eu levei tudo aquilo que eu fazia no
Experimental... Eu j tinha uma experincia. Eu levei pra l um dcimo daquilo. O que que
eu fazia? Eu cantava, eu fazia algumas atividades rtmicas na classe, nas carteirinhas deles. Eu
aparecia na classe as crianas batiam palmas. Isso foi tambm muito rico! Os professores
poderiam... at ficavam s vezes enciumados. Porque veja: Eu estou l h tantos anos com os
meus alunos, e chega uma professora a... e de repente as crianas ficam gamadas! No era
por mim: era pelas atividades que elas no tinham. A hora que levantava, que fazia
movimento, que batia lpis, que batia palmas, que mexia, que fazia mil coisas... era um
negcio do outro mundo. Ento, as professoras tambm tinham uma loucura, me trataram
assim... Ento eu fiquei l - eu acho que foi mais ou menos uns 8 - meses antes de ir para
CENP. Porque a j tinha mudado para CENP.
. Voc me disse que no comeo, quando chegou l, voc tinha vindo com uma formao de
Canto Orfenico.
- .
282
. E que no tinha ainda aquela vivncia boa de iniciao musical, e de tudo isso. Ento,
chegando l, voc adquiriu alguma coisa na escola, em termos de ver como, eles
trabalhavam j algumas atividades... Como que foi este seu comeo? Existia j alguma
linha da escola que voc continuou?
- , existia, existia. Porque o trabalho de msica na escola comeou com uma professora que
trabalhava com a Carmem Zilda Esqueci o nome dela agora...
. J entrevistei ela.
- J?!?
. Eu consegui relatrios de 67 at 75. a nica fase que est impressa. Tem os relatrios
todos. A partir de 71, por a, j se comea imprimir o plano.
283
- Ento voc pode ver 67. O que tem de msica? E voc pode bem fazer uma comparao
olhando - eu nunca fiz isso - mas, o que tem em termos de msica em 67 no relatrio. Porque
em trabalho existia, e muita coisa. E o que tem, e que apareceu depois l em 75-76.
284
mais fcil. A criana aceita bem: principalmente com aquelas crianas, naquela realidade. As
crianas aceitam bem tudo que voc coloca. Chega na 3a e 4a srie... E comeou o pessoal a
palpitar muito. Tipo coisas assim: Ah, no! Mas, isso a ... vamos pegar msica de televiso.
A gente estava falando em metodologia, ela estava muito baseada no ldico. Era muito o
ldico nas nossas estratgias. Ento, o que a gente estava querendo? Por exemplo, a gente
trabalhava muito com ecos rtmicos, improvisao rtmica. Isso num crescendo. Quer dizer,
numa 3a ou 4a sries voc podia fazer coisas tipo desafios rtmicos. E da, j ao mesmo
tempo, tentando amarrar alguma coisa para musicalizao, para escrita. Na 4a srie eles j
comeavam a fazer ditados, mas com a escrita deles. Em termos sonoros usvamos muito o
que Wilhems usava. Outro dia estava pensando: nunca mais, usei a flauta de mbulo. No tive
nem oportunidade de usar os materiais sonoros dado s circunstncias. Voc precisa ter um
trabalho para fazer, uma seqncia para usar determinados materiais.
. Ah! Sim!
- Sons ascendentes e descendentes: primeiro bem contrastantes e fechando at a criana
perceber sons mais prximos. Tem um mundo de coisas para se trabalhar. E mesmo do ponto
de vista rtmico tambm. As crianas criarem uma simbologia rtmica. A gente foi levando at
conseguir passar desta simbologia, dela para a simbologia tradicional, j na 5a srie. Por isso
que digo que eu fui privilegiada, eu consegui acompanhar essas crianas. Na 5a srie elas
assumiram, usaram a terminologia adequada, usaram a simbologia musical tradicional.
285
Sabendo que existe e trabalhando ao mesmo tempo com uma simbologia prpria deles. Pois,
na nossa msica ns podemos fazer tanta coisa, no ?
. Ah! ?
- Martenot... Quer dizer: no fazamos nada assim da nossa cabea. Ns tnhamos a...
. Uma fundamentao?
- Fundamentao terica: porque que se fazia, a faixa de idade... Nessa faixa quais so os
interesses, as necessidades, etc... tentava-se adaptar realidade. Na 5a srie j a gente
comeou, e eu j trabalhei com flauta... Olha: com classes de 28-30-32 crianas. Trabalhando
com flauta.
286
conhecerem. Sei l quantos deles continuaram isso. Mas, era o momento deles conhecerem. E
a flauta ajudou muito e foi muito bom o trabalho. Trabalhei na 5a e na 6a srie e deu para
fazer at algumas coisinhas a duas vozes. Bem simples, mas deu para fazer. E, ao lado disso,
se fazia, por exemplo, com Educao Fsica, algumas danas, sabe? Bem ritmadas. Danas
tradicionais, Tudo isso com um trabalho de conversa. Quem quer? Por que se vai fazer? De
assumir se vou querer fazer. No era obrigado! De sempre se apresentar alternativas. No
dizer: todo mundo vai fazer dana. No era! Ns vamos apresentar 3 opes: vocs vo se
encaixar numa dessas opes. Agora, o instrumento no era opcional! A gente chegou
concluso, juntas, que era bom e que valia a pena se fazer isso.
. Nessa fase que voc esteve l foi justamente a fase da mudana para a Lei 5.692, no ?
- Foi, justamente.
. Como que era a questo do laboratrio? Tinha algum relacionamento com as aulas do 1o
grau? Ou no?
- ... o laboratrio tinha. Olha, eu fiz dupla com a Dona Sofia at nas classes especiais, que
Dona Sofia gostava. A gente trabalhava junto. A Dona Sofia tinha uma veia muito artstica,
muito criativa. Mas a Dona Sofia j era mais, assim... tradicional, entende? Mais, pronta! Para
a idade dela sempre muito avanada, porque ela aceitava. Dona Sofia teve uma coisa muito
boa, em todo o trabalho dela, (Era tambm voltado para a musicalizao) ela estava pronta a
aceitar uma criana desafinada... Uma criana que chegava... Ela se preocupou muito com
essas crianas no dotadas, pouco dotadas.
. Sei...
287
- E eu senti no laboratrio dois momentos. Um voltado para crianas com muita dificuldade.
Porque a gente percebeu que as crianas das classes de deficientes mentais tinham afinidade
com as atividades musicais. Lgico que dentro dos padres e possibilidades deles. Ento, ns
tambm tentvamos descobrir estratgias que ajudassem, sendo sempre assessorados pela
professora que era tcnica, que dava pra gente os elementos para ns podermos trabalhar. E
Dona Sofia trabalhou muito nossa linha. E os demais, o laboratrio na parte das crianas mais
dotadas, eram crianas que se interessavam. Isso a Dona Sofia tambm teve muito jeito. Ela
no estava preocupada com criana que era s dotada, mas queria, que gostava. Ela tem um
jeito todo especial, no ? E ela sempre estava a par do que ns estvamos trabalhando.
Sempre tentvamos fazer uma troca. Por exemplo: procurvamos fazer com que a criana que
estava no laboratrio aproveitasse alguma coisa do laboratrio na prpria aula do currculo
normal. Para prpria apresentao, para o prprio contedo que a professora estava
desenvolvendo. Isso no era uma
suficiente. Comecei a forar eu tive um calo nas cordas vocais. Tudo isso antes de fazer a
msica. E tirei nessa poca esse calo das cordas vocais. Talvez tenha at sido isso que me
tenha levado para esse tipo de trabalho. Comecei, ento, a fazer exerccios de impostao de
voz, de respirao, de relaxamento, afim um tratamento, para melhorar, para no forar as
cordas vocais. Anualmente eu ia ao mdico para ver se estava tudo bem. Mas o meu rouco da
288
voz no saiu. Minha voz sempre foi uma voz de extenso muito pequena. Ento, eu nunca
pude fazer, por exemplo, um trabalho... porque a criana imita a voz do professor,no ?
. .
- A criana canta igualzinho... Eu tinha colegas com aquelas vozes agudinhas, no tempo da
Chefia de Msica, e as crianas cantavam aquilo agudinho... Ento isso era mim uma
dificuldade que eu sanei fazendo outro tipo de coisas que eu gostava. A msica tem n
caminhos, no ? Mas, mesmo assim, eu consegui fazer vrios corais bonitinhos, afinadinhos.
A voz to bonita quando trabalhada, no ? Trabalhou-se tudo isso tambm com grupos
rtmicos. No sei se voc chegou a ver alguma coisa: eu, a Nlgi e a Eleninha conseguimos
fazer algumas coisas com pandeiros, sabe? Pegar a msica erudita, trabalhar com pandeiros,
batidas diferentes. Tinha muita coisa para ser feita. E a gente, no fim, vai passando para outra
srie e vai fazendo outras coisas.
. Artes plsticas?
- Artes Plsticas. Mas... no se chegou a fazer um trabalho integrado completamente no. Mas
discutimos muito. Brigamos muito!
. Sei.
- Mas brigamos muito at. Porque de fato uma coisa que no to fcil. Principalmente
porque a gente teve uma formao... toda separadinha, no ?
289
. verdade.
- E, de fato, algumas coisas continuam.
. Ento vocs tiveram, mesmo nessa poca, ainda uma situao privilegiada, continuando
trabalhar as suas linguagens.
- Tivemos, tivemos!
290
Olha, hoje eu vejo essa experincia como a primeira coisa para mim, na minha vida
profissional. Foi uma coisa muito rica, uma oportunidade. Eu sempre digo: eu, se tivesse que
fazer tudo de novo, acho que eu ia fazer isso de novo. Eu me lembro que na 4a srie
primria, eu fiz uma redao: O que voc quer ser. Eu queria ser concertista (porque o
conceito de concertista era tocar o piano bem) e... ensinar. Ensinar criana, ensinar msica.
Ento, acho que fiz aquilo que eu estava me propondo. Agora, eu acho que fui privilegiada.
Profissionalmente, na parte financeira, no tive nada de especial. Mas tive sim em termos de
experincia, de vivncia, de crescimento. Quer dizer, um crescimento muito grande, que me
possibilitou fazer uma linha. Se eu fosse pegar uma orientao em uma escola eu sei bem o
que a gente quer de uma criana de 3 anos - do ponto de vista da msica - E o que eu quero de
uma criana ao pensar em uma linha gradativa de desenvolvimento? E muito essa relao
alfabetizao-percepo auditiva. Um trabalho muito espacial, sabe? Isso ficou muito claro
para mim. A msica no como a msica pela msica em si, mas a msica como uma rea
expressiva que vai ajudar a criana a se comunicar. Vai oferecer condies dela desenvolver
essas habilidades que ela necessita...E a msica integrando. A msica na linguagem, a msica
no ritmo, a msica no movimento corporal. Olha, l na escola que eu estou trabalhando, eu
fao um trabalho assim... uma gotinha de gua. s vezes eu paro para dizer: Meu Deus, o
que que eu estou fazendo? Eu no fao nada! Porque eu oriento professor de classe, de pr
2a srie, no trabalho de msica. De vez em quando eu estagio pra ver o que ele est fazendo.
uma coisa muito pequena. Ns estamos trabalhando com som, com os pequenininhos, e
com os maiores. Num trabalho to amplo que tem que ser, diria, at 8a srie, tamanho o
campo que se tem nesse aspecto. E eu vejo professor conseguir perceber como importante
ele desenvolver isso. Quer dizer: se a criana no est sabendo ouvir, no est sabendo
perceber diferenas de coisas to contrastantes, como que ele vai perceber o pa, o ba, o
ma, que tudo to prximo? Ento, necessrio saber como toda uma sistematizao no
desenvolvimento da percepo vai contribuir para a alfabetizao da criana.
. Escuta Heloisa, essa experincia toda... Foi baseando-se nela que voc fez o livro?47
- O livro foi um corte, uma parte. Por exemplo: minha experincia em 3a e 4a sries no est
ali. E uma experincia minha com as minhas colegas. Por circunstncias, eu formei um
47
Livro referido no texto: NICOLAU, Marieta Lcia Machado (coord.). A Educao Artstica da Criana Plstica e Msica : Fundamentos e Atividades. So Paulo, tica, 1987.
291
grupinho que, a Marieta, (que coordenou o livro) convidou para a gente trabalhar junto. A
Arlette que escreveu tambm comigo, ela trabalhava comigo na Secretaria de Esportes e
Turismo. Tambm trabalhou um ano ou dois no Experimental. Eu a levei para l quando sa.
Ficou no meu lugar. E a Arlette tinha muita vivncia de criana pequenininha, que eu no
tinha. Eu peguei Pr-3, quer dizer: crianas de 6 anos. A Arlete tinha crianas de dois anos,
trs anos, sabe? Muito no est no livro. O livro, vamos dizer, so flashes!
. , verdade!
- uma experincia, acho que d para perceber o que que a gente est querendo... D?
. Lgico, d sim.
- Mas so flashes. Ali teria um mundo de coisas para colocar. E depois do livro, se eu fosse
pegar o livro hoje, eu teria crticas a fazer...(Graas a Deus, no ?)
. Sempre depois que se termina algum trabalho a gente fala: Olha, agora eu j estou
pensando de outro jeito.
- , ... Graas a Deus que a gente cresce. Ento eu vejo assim: um trabalho que me
enriqueceu muito, que me trouxe muita satisfao profissional. Eu acho que a realizao
profissional muito importante na vida da gente. A gente uma pessoa que precisa da
realizao familiar, da realizao profissional. Todos os aspectos... o aspecto religioso... Acho
que tudo isso a vida da gente. E eu acho que no aspecto profissional eu me sinto realizada!
Apenas eu gostaria de ter dado continuidade, de estar fazendo outras coisas. E acho que
poderia at estar fazendo. Mas algumas circunstncias de famlia no me permitiram. Mas...
eu achei que valeu! Eu achei que foi uma experincia muito vlida, muito boa, e que a gente
teve oportunidade de conhecer pessoas muito ricas. Voc v: ns tivemos diretores,
comeando pela Terezinha, que at hoje esto dentro do corao da gente. (De vez em quando
ela lembra da gente para fazer alguma coisa). Pessoas imbudas do melhor para a educao. E
no final, o que a gente est querendo? A gente est querendo um Brasil melhor que a gente,
infelizmente, no est vendo.
. No est vendo!...
- Na educao voc no est vendo, no ? Voc est vendo um Brasil cada vez pior at...
infelizmente.
292
. T caminhando...
- Ento, a gente pergunta... E a gente no sabe at que ponto, o que a gente fez foi uma gota
no oceano. Ser que isso valeu? Espero que tenha valido! Porque voc trabalhou com pessoas.
E aquilo que as pessoas recebem, como o que a gente recebeu, fica, no ?
293
ANEXO B
294
295
296
297
298
299
300
301
302
303
304
305
306
307
308
309
ANEXO C
310
311
312
313
314
315
316
317
318
319
320
321
322
323
ANEXO D
324
325
326
ANEXO E
327
328
329
330
331
332
333
334
335
336
337
338
339
340
341
342
343
344
345
346
347
348
349