Misturador Borracha
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VOL. 21 - N1
JANEIRO / FEVEREIRO / MARO 2009
COMPOSTOS DE BORRACHA
Daniela M. Yamashita
A partir de setembro de 2009, as panelas de presso comercializadas no Brasil por fabricantes e
importadores devero estar em concordncia com os requisitos estabelecidos no Regulamento de Avaliao
da Conformidade para Panela de presso de uso domstico, publicado em setembro de 2008.
O mecanismo para avaliar a conformidade do produto sua certificao compulsria, a qual obtida
atravs da submisso do produto aos ensaios e requisitos estabelecidos pela norma ABNT NBR
11823:2008. Os ensaios da norma abrangem as avaliaes das presses de trabalho, presso de
funcionamento das vlvulas de segurana, presso hidrosttica, desempenho de cabos e alas e
capacidade volumtrica, alm dos acessrios elastomricos como o anel de vedao e em alguns casos a
vlvula de segurana.
O anel de vedao auxilia na eficincia de aumento da presso da panela e a vlvula de segurana garante
a sua integridade, assim como do usurio, no caso de no funcionamento da vlvula reguladora de presso
(pino central). Caso isso acontea, a vlvula de segurana acionada aliviando a presso interna e
evitando que a panela estoure.
Dessa forma, fica evidente a importncia do uso de uma borracha de qualidade nos componentes
elastomricos das panelas de presso, garantindo assim um bom desempenho e a segurana do
consumidor. Consequentemente torna-se necessrio o aprofundamento no conhecimento desses materiais
para escolha do composto que atenda aos requisitos da norma.
Definio
As borrachas (elastmeros) so materiais com caractersticas visco-elsticas e que tem um
comportamento intermedirio entre os slidos rgidos e os fluidos lquidos. (GARBIM, 2008)
So materiais que fornecem propriedades mecnicas, qumicas e trmicas muito interessantes
engenharia, isso devido sua composio e ao arranjo de suas cadeias polimricas, que sero explicados
a seguir.
Para visualizar mais facilmente o que esse material, podemos fazer as seguintes consideraes iniciais
sobre ele:
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Histria da borracha
A histria da borracha remonta aos tempos de Cristvo Colombo, na poca do descobrimento das
Amricas. Em uma de suas viagens, ele observou que nativos da Amrica Central confeccionavam objetos
como bolas, revestimentos para impermeabilizao de barcos, botas, entre outros, a partir de uma seiva
colhida de escoriaes feitas na casca de determinadas rvores, o que eles chamavam de Cauchuc (rvore
que chora) e que ficou conhecida como o ltex ou borracha natural.
Trazido para a civilizao, o ltex passou a ser aplicado por espalmao sobre tecidos de algodo,
tornando-o mais resistente gua e ao tempo. Entretanto, foi percebido que em pocas mais frias, o tecido
espalmado se tornava mais rgido, assim como no calor ficava muito pegajoso. Nesse ltimo caso, para
amenizar o problema, eram aplicadas finas camadas de talco, carbonato de clcio ou ainda enxofre sobre o
ltex.
Em 1839, Charles Goodyear observou que adicionando o enxofre borracha natural e submetendo essa
mistura a altas temperaturas num intervalo de tempo, o material apresentava caractersticas totalmente
modificadas, tornando-se elstico a ponto de alongar-se mais de 1000% do seu tamanho original sem se
romper. Alm disso, o aspecto pegajoso no mais ocorria e o material se tornou, a partir de ento, muito
mais estvel a variaes climticas.
Desde ento, a borracha foi sendo testada e desenvolvida de acordo com a necessidade do momento, fato
que gerou grande nmero de tcnicas de fabricao, vulcanizao e adio de diferentes ingredientes para
melhoria de suas propriedades, dependendo de sua atuao.
Alm do incremento da borracha natural, foram desenvolvidas tambm as borrachas sintticas, que so
aplicadas em inmeros setores industriais e no nosso dia-a-dia.
Para elaborao de um composto elastomrico, so necessrios os seguintes ingredientes essenciais,
classificados funcionalmente:
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Vulcanizao
A vulcanizao (cura) pode ser definida como uma mudana de estado da borracha crua, passando de
carter plstico e altamente deformvel para um carter elstico, perdendo a sua viscosidade, atravs da
submisso alta temperatura e presso, durante certo perodo de tempo.
A vulcanizao acontece na presena de agentes, ativadores e aceleradores de vulcanizao. Os agentes
de vulcanizao so substncias que so misturadas borracha quando da sua preparao e agem
diretamente nas suas insaturaes, fazendo com que elas sejam quebradas e acontea ligao cadeia
vizinha, ou seja, promovem as reticulaes das cadeias (Figura 3), quando feita via enxofre. O agente de
vulcanizao mais comum o enxofre, doadores de enxofre ou ainda compostos no sulfurosos, como os
xidos metlicos e os perxidos, e a escolha do agente vai depender da necessidade da formulao e
propriedades desejadas para o artefato final. Os xidos metlicos e os perxidos so usados em compostos
saturados.
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Polmeros insaturados
(A)
Polmeros saturados
(B)
As ligaes cruzadas (cross-link) ocorrem nos pontos de insaturao entre dois ou mais tomos de carbono
pertencentes a diferentes macromolculas insaturadas, ou na mesma cadeia molecular. No caso de
polmeros saturados, as ligaes cruzadas ocorrem nos stios onde os hidrognios foram retirados.
Para visualizar melhor o efeito fsico-qumico da vulcanizao, suponha-se uma mistura de vrias cadeias
polimricas emaranhadas como cordas que deslizam umas sobre as outras sem nenhuma ligao que as
unam. Aps o procedimento da vulcanizao, porm, existiro certos pontos das macromolculas que
estaro reticulados, amarrando-se entre si, formando uma enorme rede tridimensional.
Os aceleradores de vulcanizao (geralmente compostos orgnicos) iro reduzir significativamente o tempo
de reao, sem a perda de suas caractersticas timas requeridas, melhorando ainda mais suas
propriedades, em especial a resistncia ao envelhecimento. Os ativadores da vulcanizao vo atuar como
catalisadores dos aceleradores nesta reao e geralmente so utilizados um xido metlico e um cido
graxo.
Existem alguns fatores predominantes para que uma vulcanizao seja eficiente e isso ir variar para cada
tipo de polmero tratado. O tempo e a velocidade de vulcanizao, assim como a quantidade de calor
fornecida para o processo, so elementos que interagem entre si. Um aumento de temperatura pode
influenciar no tempo de cura da borracha, fazendo com que a velocidade de reao aumente
significativamente. Entretanto, um aumento excessivo de temperatura (acima de 210C) pode provocar a
queima da superfcie do artefato, antes da ocorrncia da reao fsico-qumica desejada. Por outro lado,
podemos inferir que uma temperatura insuficiente demandar largos perodos de tempo para a
vulcanizao, podendo ainda comprometer algumas caractersticas do artefato pela cura incompleta. Faixas
entre 135C e 200C oferecem melhores resultados para a grande maioria dos tipos de borracha.
A partir da trade tempo, velocidade e temperatura, chegou-se a um coeficiente de temperatura de
vulcanizao, que se trata de um artifcio emprico (ir depender da composio da borracha) usado pelos
tecnologistas para iniciarem seus ensaios em busca da taxa tima de cura: a razo tempo/temperatura.
Esse coeficiente define que a cada 10C de aumento de temperatura, a cura duplicada.
Outro artifcio emprico usado para calcular o tempo de cura de um artefato prensado (moldado) o mtodo
da espessura da parede do artefato, que dado em funo da propagao de calor na espessura da
parede da pea. Deve-se considerar que a uma temperatura de 150C aplicada pelos plats da prensa ou
molde so demandados 5 minutos para se conduzir a uma espessura de parede de borracha de 6 mm at a
linha de centro. Isso ocorre, pois os dois plats esto aquecidos, ou todo o molde est aquecido, podendo4/9
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se usar a equao (1). Caso a pea tenha outros formatos, a equao acima no poder ser usada. Mas de
qualquer forma, a melhor opo seria construir dispositivos especficos em que seja possvel o controle de
temperatura interno e um minucioso acompanhamento na evoluo do gradiente de temperatura.
(e 6 ). 5
Tt v =
+ T0
6
(1)
Onde:
Ttv = tempo total de vulcanizao (min)
e = maior espessura de parede do artefato (mm)
T0 = tempo timo de vulcanizao do corpo-de-prova, ou do remetro (min)
Cargas
Usadas nas composies de borrachas como ingredientes de reforo ou de enchimento. Tm como
finalidades proporcionar determinadas propriedades fsico-mecnicas, reduzir o custo do composto e
facilitar o processamento. Podem ser de dois tipos:
Cargas ativas ou reforantes: quanto maior o tamanho da partcula, maior ser o poder de reforo
da carga. Melhora as caractersticas fsico-mecnicas como dureza e tenso de ruptura, por
exemplo. Podem ser pretas, como o negro-de-fumo (constitudo de 90% a 99% de carbono sendo o
restante hidrognio, oxignio, enxofre e cinzas) ou brancas, como a slica.
Cargas inertes ou de enchimento: tm como funo principal baixar o custo do composto, mas
tambm favorecem muito nos processamentos de mistura. Alguns tipos apresentam um ligeiro
poder de reforo quando utilizados em grandes quantidades, mas ainda assim so considerados
como cargas de enchimento. Outra propriedade das cargas inertes a de manter estveis as
caractersticas dimensionais das peas, principalmente artigos extrusados contnuos e peas de
ebonite (borracha natural de alta dureza). Exemplos de cargas de enchimento: carbonatos, silicatos
e sulfatos.
Plastificantes
Ingredientes fundamentais num composto de borracha, os plastificantes so basicamente leos de diversas
naturezas. Eles podem ser de ao fsica ou de ao qumica (peptizante). Os plastificantes podem atuar
como auxiliares de processamento, redutores de custo ou podem conseguir ainda algumas propriedades
especiais do composto cru ou depois de vulcanizado.
Como auxiliar de processamento, os plastificantes catalisam a quebra das molculas no momento da
preparao da borracha, fazendo com que haja melhor incorporao dos demais ingredientes na
composio. Melhoram a extruso, injeo, moldagem e calandragem (processos de conformao dos
artefatos).
Como extendedores, so usados em grande quantidade em combinao com altos teores de carga para
reduo de custo.
No composto cru, os plastificantes ajustam a viscosidade, aumentam a fluidez e alguns tipos intensificam o
tack (efeito de uma borracha crua aderir outra borracha crua).
No composto vulcanizado, alguns plastificantes podem melhorar a resistncia flexo em baixas
temperaturas, diminuir a deformao permanente compresso (DPC), melhorar a dureza, melhorar a
resilincia (memria elstica) etc.
Processos de mistura
Os materiais elastomricos apresentam a propriedade elstica entende-se como a capacidade de certos
corpos de se deformarem quando submetidos a algum esforo externo e retornar sua forma original to
logo o esforo seja removido como sendo o principal motivo de escolha desse material para um
determinado fim. Entretanto, essa mesma caracterstica pode ser um empecilho durante a preparao do
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composto, devendo ser temporariamente modificada para uma condio plstica ou semiplstica
propriedade apresentada por certos corpos de se deformarem permanentemente mesmo depois de
removido o esforo solicitante. Por isso a importncia da mastigao (plastificao), a qual promove o
cisalhamento das cadeias moleculares, reduzindo o comprimento dessas cadeias e tornando o material com
caractersticas predominantemente plsticas e, finalmente, ajudando na perfeita incorporao dos demais
ingredientes da formulao.
A plastificao obtida pelo intenso trabalho mecnico de mquinas denominadas misturadores, as quais,
alm da mastigao, faro a mistura dos demais componentes necessrios para a fabricao do artefato.
So dois os tipos de misturadores utilizados:
Constitudo de dois rotores que giram no interior de uma cmara com rotao e temperatura adequadas e
com um sistema de pilo que pressiona a mistura sobre os rotores.
basicamente constitudo de dois rolos lisos que giram com rotaes diferentes e em sentido inverso,
provocando o cisalhamento da borracha durante a mistura, promovendo a mastigao e incorporao dos
ingredientes.
O trabalho dos peptizantes definidos anteriormente ser tambm de auxiliar no processo de mastigao
feito pelos mastigadores, aumentando a velocidade do cisalhamento das cadeias polimricas. Alm disso,
os peptizantes inibem a reversibilidade dos radicais livres impedindo-os de se juntarem novamente, pois a
plastificao mecnica provoca a oxidao dos radicais livres produzindo uma pequena modificao na
estrutura polimrica do material, efeito tal que poder afetar negativamente nas propriedades fsicoqumicas do artefato final.
O processo de calandragem produz lenis de borracha ou aplica finas camadas de borracha sobre tecidos
e a vulcanizao feita no lenol pronto em autoclaves ou outro sistema.
A extruso utilizada quando se deseja obter perfis contnuos com diversas formas geomtricas de seo
transversal, como mangueiras ou recobrimento de cabos eltricos, por exemplo. O processo se inicia com a
alimentao da extrusora com fitas de borracha crua que so transportadas, aquecidas e desaeradas,
sendo compactada contra uma matriz cujo furo de sada da borracha tem o desenho do perfil desejado. Ao
final do processo, o perfil vulcanizado em tneis contnuos ou em autoclave.
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Como descrito anteriormente, o material elastomrico obtido diretamente da natureza e foi o primeiro
composto utilizado em artefatos. Foi a partir desse material, que novos compostos foram desenvolvidos,
assim como foi vislumbrada a necessidade do uso de agentes para modificao de diversas propriedades,
testadas convenientemente dependendo da finalidade da pea de borracha.
O monmero da borracha natural o poliisopreno natural, e a estrutura qumica da unidade monomrica da
NR est mostrada na Figura 4.
Alm da cadeia polimrica, a borracha natural constituda de protenas, carboidratos, lipdeos naturais,
glicolipdeos + fosfolipdeos, materiais inorgnicos, entre outros.
Como se pode observar pela Figura 4, um polmero insaturado e, portanto, vulcanizado via enxofre.
Cargas reforantes melhoram ainda mais as propriedades mecnicas, entretanto necessita do uso de
antidegradantes para conservao das propriedades.
Borrachas de polibutadieno
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Borrachas de etileno-propileno
Nesta famlia de elastmeros, temos dois grupos:
c) Dipolmeros: Etileno propileno EPMs
d) Terpolmeros: Etileno propileno dieno EPDMs
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(A)
(B)
Pode-se perceber que o EPM tem sua cadeia completamente saturada e por isso no pode ser vulcanizado
via enxofre. O EPDM tem pequena quantidade de insaturao existente no dieno e a vulcanizao pode ser
feita com enxofre.
O terpolmero EPDM amorfo quando o teor de etileno for menor que 60%. Nessa proporo, o composto
torna-se mais elstico e possui propriedades dieltricas inferiores s do semicristalino. O polmero
cristalino quando o teor de etileno maior que 60%, dotando-o de maior termoplasticidade, maior dureza,
menor alongamento, melhor DPC quando vulcanizado por perxidos e pobre resistncia flexo em baixas
temperaturas.
Consideraes
Esses foram apenas alguns exemplos de borrachas existentes no mercado mundial atualmente e de alguns
entre os ingredientes principais utilizados no preparo de suas formulaes. possvel notar a complexidade
desse material que considerado uma cincia pelos estudiosos do assunto. Portanto, existe muito mais no
que se aprofundar no que diz respeito a esse material, tanto no sentido de composio qumica do polmero
e substncias a serem adicionadas composio, quanto na aplicao do composto de borracha em
artefatos.
Referncias Bibliogrficas
- GARBIM, W. J. Introduo Tecnologia da Borracha Campinas: Universidade Estadual de Campinas,
2008. (Apostila curso).
- GARBIM, W. J. Tecnologia Aplicada da Borracha Campinas: Universidade Estadual de Campinas,
2009. (Apostila curso).
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