Inf 0755
Inf 0755
Inf 0755
Este periódico, elaborado pela Secretaria de Jurisprudência do STJ, destaca teses jurisprudenciais
firmadas pelos órgãos julgadores do Tribunal nos acórdãos proferidos nas sessões de julgamento, não
consistindo em repositório oficial de jurisprudência
RECURSOS REPETITIVOS
DESTAQUE
Trata-se de proposta de revisão de tese repetitiva acerca dos efeitos do depósito judicial em
garantia do Juízo (Tema 677/STJ).
No julgamento do REsp 1.348.640/RS foi firmada a tese repetitiva no sentido de que "na fase de
execução, o depósito judicial do montante (integral ou parcial) da condenação extingue a obrigação
do devedor, nos limites da quantia depositada".
Em que pese tenha constado, na redação final do Tema, a referência expressa à extinção da
obrigação do devedor por causa do depósito judicial, observa-se que, àquela ocasião, a Corte
Especial não se debruçou, pontualmente, acerca do efeito do depósito sobre a mora do devedor, isto
é, sobre a sua liberação quanto ao pagamento dos consectários decorrentes do retardamento no
adimplemento da obrigação.
Tanto o é que, em paralelo à tese firmada no recurso representativo da controvérsia, em
21/05/2014, consolidou-se na jurisprudência do STJ o entendimento de que o mero depósito para
garantia do juízo, a fim de viabilizar a impugnação do cumprimento de sentença, não perfaz
adimplemento voluntário da obrigação, porquanto a satisfação desta somente ocorre quando o valor
respectivo ingressa no campo de disponibilidade do credor. Por isso, passou esta Corte a diferenciar
o "pagamento" da "garantia do juízo", para o efeito de incidência da multa prevista no então art.
475-J do CPC/1973 (art. 523 do CPC/2015).
A obrigação da instituição financeira depositária pelo pagamento dos juros e correção monetária
sobre o valor depositado convive com a obrigação do devedor de pagar os consectários próprios de
sua mora, segundo previsto no título executivo, até que ocorra o efetivo pagamento da obrigação ao
credor.
No plano de direito material, considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento na
forma e tempo devidos, hipótese em que deverá responder pelos prejuízos a que sua mora der
causa, mais juros e atualização dos valores monetários, além de honorários de advogado, nos termos
dos arts. 394 e 395 do Código Civil. Outrossim, tem-se por caracterizada a mora do devedor até que
este a purgue, mediante o efetivo oferecimento ao credor da prestação devida, acrescida dos
respectivos consectários (art. 401, I, do CC/2002).
A purga da mora na obrigação de pagar quantia certa, assim como ocorre no adimplemento
pontual desse tipo de prestação, não se consuma com a simples perda da posse do valor pelo
devedor; é necessário, deveras, que ocorra a efetiva entrega da soma de valor ao credor, ou, ao
menos, a entrada da quantia na sua esfera de disponibilidade.
Embora o Código Civil tenha sido lacunoso a respeito do tema, limitando-se a tratar das
obrigações de dar coisa certa ou incerta - com o que não se confunde a obrigação de pagar -, o
Código de Processo Civil, ao dispor sobre o cumprimento forçado da obrigação, deixa claro que a
satisfação do crédito se dá pela entrega do dinheiro ao credor, ressalvada a possibilidade de
adjudicação dos bens penhorados, nos exatos termos do art. 904 do CPC/2015.
Na mesma linha, o art. 906 do CPC, expressamente vincula a declaração de quitação da quantia
paga ao momento do recebimento do mandado de levantamento pela parte exequente, ou,
alternativamente, pela transferência eletrônica dos valores.
Assim, tem-se que somente o depósito judicial efetuado voluntariamente pelo devedor, com vistas
à imediata satisfação do credor, sem qualquer sujeição do levantamento à discussão do débito, tem a
aptidão de fazer cessar a mora do devedor e extinguir a obrigação, nos limites da quantia
depositada. Se o depósito é feito a título de garantia do juízo ou se é coercitivo, decorrente da
penhora de ativos financeiros, não se opera a cessação da mora do devedor, haja vista que, em
hipóteses tais, não ocorre a imediata entrega do dinheiro ao credor, cujo ato enseja a quitação do
débito.
Consequentemente, se o depósito não tem a finalidade de pronto pagamento ao credor, devem
continuar a correr contra o devedor os juros moratórios e a correção monetária previstos no título
executivo, ou eventuais outros encargos contratados para a hipótese de mora, até que ocorra a
efetiva liberação da quantia ao credor, mediante o recebimento do mandado de levantamento ou a
transferência eletrônica dos valores.
Evidentemente, no momento anterior à expedição do mandado ou à transferência eletrônica, o
saldo da conta bancária judicial em que depositados os valores, já acrescidos da correção monetária
e dos juros remuneratórios a cargo da instituição financeira depositária, há de ser deduzido do
montante devido pelo devedor, como forma de evitar o enriquecimento sem causa do credor.
Não caracteriza bis in idem o pagamento cumulativo dos juros remuneratórios, por parte do
Banco depositário, e dos juros moratórios, a cargo do devedor, haja vista que são diversas a
natureza e finalidade dessas duas espécies de juros. De fato, enquanto os juros remuneratórios têm
por finalidade a simples remuneração ou rendimento pelo uso do capital alheio (são os frutos civis
do capital), os juros moratórios têm natureza indenizatória e sancionadora, que deriva do
retardamento culposo no cumprimento da obrigação.
Há de se destacar que o depósito judicial na execução não se confunde com o depósito na ação de
consignação em pagamento, que é ação com procedimento especial cabível nas estritas hipóteses do
art. 335 do CC/02, em especial quando há recusa do credor em receber o pagamento ou dar-lhe
quitação, sem justa causa (inc. I), ou, ainda, quando pende litígio sobre o objeto do pagamento (inc.
V). Este apenas tem o condão de extinguir a obrigação do devedor quando para ele concorrer os
mesmos requisitos de validade do pagamento, como tempo, modo, valor e lugar (arts. 336 e 337 do
CC/2002), sendo que, de todo modo, a Lei Processual garante ao credor a imediata disponibilidade
da quantia, como dispõe o art. 545, § 1º, do CPC/2015.
Assim, não se pode atribuir o efeito liberatório do devedor por causa do depósito de valores para
garantia do juízo, com vistas à discussão do crédito postulado pelo credor, nem ao depósito
derivado da penhora de ativos financeiros, porque não se tratam de pagamento com animus
solvendi.
Entendimento em sentido diverso teria o nefasto condão de estimular a perpetuidade da
execução, porquanto, uma vez ultrapassado o prazo para o pagamento da dívida - com isenção de
multa e honorários advocatícios, no cumprimento de sentença judicial (art. 523 do CPC/2015), ou
com o pagamento dos honorários pela metade, na execução de título extrajudicial (art. 827 do CPC) -
a menor ou maior duração do processo executivo em nada influenciaria o valor final do débito, se
sua atualização (lato sensu) ocorresse apenas mediante o pagamento dos juros remuneratórios e da
correção monetária, devidos por força do contrato de depósito mantido com a instituição financeira.
Assim, na execução, o depósito efetuado a título de garantia do juízo ou decorrente da penhora de
ativos financeiros não isenta o devedor do pagamento dos consectários de sua mora, conforme
previstos no título executivo, devendo-se, quando da efetiva entrega do dinheiro ao credor, deduzir
do montante final devido o saldo da conta judicial.
DESTAQUE
É possível ao servidor que já usufruiu o primeiro período de férias, após cumprida a exigência de
12 (doze) meses de exercício, usufruir as férias seguintes no mesmo ano civil, dentro do período
aquisitivo ainda em curso, nos termos do § 1° do art. 77 da Lei n. 8.112/1990.
A questão central consiste em saber se o servidor tem chancela legal para o chamado gozo de
férias seguintes no mesmo ano civil. Noutras palavras, tendo cumprido o período aquisitivo de 12
meses, pretende-se analisar se pode - ou não - usufruir dois períodos no mesmo exercício.
Acerca dessa temática, o art. 77, § 1º, da Lei n. 8.112/1990, prevê que "O servidor fará jus a trinta
dias de férias, que podem ser acumuladas, até o máximo de dois períodos, no caso de necessidade do
serviço, ressalvadas as hipóteses em que haja legislação específica", bem como que "Para o primeiro
período aquisitivo de férias serão exigidos 12 (doze) meses de exercício".
No entanto, a interpretação que se conferiu ao tema é a de que o servidor público pode usufruir as
férias ainda durante o respectivo período aquisitivo, na conformidade de escala de férias organizada
pelo órgão público a que está vinculado, independentemente de isso implicar o gozo de dois
períodos de férias no mesmo ano, contanto que já tenha cumprido os 12 meses de exercício. Dessa
forma, fica expressamente ressalvado que, havendo necessidade do serviço, a Administração Pública
deve formalizar sua negativa em decisão fundamentada, na qual demonstre quais seriam os
prejuízos decorrentes do afastamento do servidor nos períodos solicitados.
Por óbvio, a motivação dada pela Administração Pública tem efeito determinante para a sua
validade. Bem por isso, apesar de a concessão das férias decorrer da conveniência e oportunidade
da Administração Pública - postulado que assegura o equilíbrio entre os interesses da
Administração e os dos servidores -, há de se considerar, por todo, que não existe no serviço público
federal óbice legal para a concessão das férias na forma que se debate, isto é, dois períodos para o
mesmo exercício.
Essa é a leitura que tem sido verberada pelos dois órgãos fracionários do Superior Tribunal de
Justiça, responsáveis pelo controle de legalidade acerca do direito público.
DESTAQUE
DESTAQUE
A prerrogativa de ser recolhido em sala de estado-maior não pode incidir na prisão civil do
advogado devedor de alimentos, desde que lhe seja garantido um local apropriado, separado de
presos comuns.
A Segunda Seção do STJ atualmente é dividida em duas correntes bem díspares em relação à
possibilidade de abrandamento do regime fechado de cumprimento da prisão civil do executado
quando se trata de profissional da advocacia.
A Quarta Turma do STJ, por sua maioria, vem perfilhando o posicionamento de que deve haver a
extensão da regra protetiva da sala de estado-maior encartada no Estatuto da OAB para o advogado
preso por dívida alimentar.
O principal fundamento da questão em análise é justamente o fato de que se afigura "uma
inversão de valores permitir-se que advogado acusado de cometimento de ilícito penal seja
recolhido a sala de Estado Maior, negando-se, contudo, igual direito àquele que tenha praticado um
ilícito meramente civil [...] ainda que tenham finalidades distintas [a prisão penal em relação à
prisão civil], sendo a jurisprudência uníssona em garantir ao acusado em processo penal o direito a
prisão domiciliar na falta da sala de Estado Maior, não se mostra razoável negar-se tal direito a
infrator de obrigação cível, por mais relevante que seja, uma vez que, na escala de bens tutelados
pelo Estado, os abrangidos pela lei penal são os mais relevantes à sociedade".
Em sentido diametralmente oposto, a Terceira Turma vem entendendo que não há incidência da
prerrogativa para a situação em comento. Defende-se que a prisão civil "não constitui sanção penal,
não ostentando, portanto, índole punitiva ou retributiva, mas, ao revés, é uma medida coercitiva,
imposta com a finalidade de compelir o devedor recalcitrante a cumprir a obrigação de manter o
sustento dos alimentandos, de modo que são inaplicáveis as normas que regulam o Direito Penal e a
Execução Criminal".
Na ordem internacional há diversos normativos retratando o objetivo global de se incentivar os
Estados a criar expedientes para o enfrentamento do problema social grave da inadimplência da
obrigação alimentar, como soem:
i) a Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral da ONU em 20 de
novembro de 1989, é o instrumento de direitos humanos mais aceito na história universal,
ratificado por 196 países. Ela prevê que os Estados, dentro de suas possibilidades, adotem medidas
apropriadas, com o objetivo de auxiliar os pais e demais responsáveis pela criança a tornar efetivo o
direito ao seu desenvolvimento, exigindo que os Estados-Partes adotem meios adequados para o
adimplemento da prestação alimentar (art. 27, 4);
ii) o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) das Nações
Unidas, de dezembro 1966 - ratificado no Brasil pelo Decreto n. 591, de 6 de Julho de 1992 -,
determina que se reconheça o direito de toda pessoa a um nível de vida adequado, inclusive à
alimentação, devendo-se tomar as "medidas apropriadas para assegurar a consecução desse direito"
(art. 11, 1.);
iii) o Comentário Geral n. 12 do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais do Alto
Comissariado de Direitos Humanos da ONU, de 1999, traz a obrigatoriedade dos Estados Membros
em adotar todas as medidas que se façam necessárias para assegurar a satisfação, a facilitação e o
provimento dos alimentos (item 15). O Estado deve garantir um ambiente que facilite a
implementação das responsabilidades pelo descumprimento (item 20), além de adotar todas as
maneiras e os meios necessários para assegurar a implementação do direito à alimentação
adequada (item 21);
iv) Por meio da Recomendação n. R (82)2, de 4 de Fevereiro de 1982, o Conselho da Europa
recomendou que os estados membros desenvolvessem um sistema de pagamento antecipado dos
alimentos ante a inadimplência do devedor, conforme os seus princípios de regência (n. 1).
O legislador constituinte promoveu uma ponderação entre direitos fundamentais - o direito de
liberdade e de dignidade humana do devedor versus o direito à tutela jurisdicional efetiva, à
sobrevivência, à subsistência e à dignidade humana do credor -, dando prevalência ao direito deste
último. Admitiu-se a prisão civil do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de
obrigação alimentícia (CF, art. 5°, LXVII).
Tem a doutrina reconhecido na prisão civil uma técnica de grande serventia em razão dos seus
"altos índices de eficiência", em que "os dados estatísticos do cotidiano forense não escondem que a
prisão civil do devedor de alimentos cumpre, em larga medida, a sua finalidade: fazer com que o
alimentante pague a dívida alimentar".
Estabelece a norma, ainda, que o cumprimento da prisão civil ocorrerá pelo regime fechado,
devendo o encarcerado ficar separado dos presos comuns (CPC, art. 528, § 4º).
Em relação ao disposto no art. 7º, V, da Lei n. 8.906/1994, o STF reconhece sua
constitucionalidade, tratando-se de direito público subjetivo do advogado de ser recolhido preso em
sala de Estado-Maior e, na sua falta, em prisão domiciliar enquanto não transitar em julgado a
sentença penal que o condenou, definindo que "a prisão do advogado em sala de Estado Maior é
garantia suficiente para que fique provisoriamente detido em condições compatíveis com o seu
múnus público [...] O múnus constitucional exercido pelo advogado justifica a garantia de somente
ser preso em flagrante e na hipótese de crime inafiançável (ADI 1127, Rel. p/ Ac. Ricardo
Lewandowski, Tribunal Pleno, DJ 10/06/2010).
Mais recentemente, no entanto, o próprio Supremo vem adotando uma nova orientação, passando
a considerar que, na ausência de dependência que se qualifique como Sala de Estado-Maior, atende à
exigência da lei nº 8.906/94 (art. 7º, V, "in fine"), "o recolhimento prisional em vaga especial na
unidade penitenciária, desde que provida de 'instalações e comodidades condignas' e localizada em
área separada dos demais detentos" (Rcl 19286 AgR, Rel. Celso de Mello, Segunda Turma, DJ
01/06/2015).
Dessarte, é possível a prisão de profissional de advocacia em unidade penitenciária que possua
vaga especial, desde que provida de instalações com comodidades condignas e localizada em área
separada dos demais detentos. Inclusive, a "existência de grades nas dependências da Sala de
Estado-Maior onde o reclamante se encontra recolhido, por si só, não impede o reconhecimento do
perfeito atendimento ao disposto no art. 7º, V, da Lei nº 8.906/94" (Rcl 6.387/SC, Rel. Min. Ellen
Gracie, Pleno).
Assim, é o caso de se rever o posicionamento exarado no HC 271.256/MS para, agora, reconhecer
que a prerrogativa da sala de estado-maior não pode incidir na prisão civil do advogado que for
devedor alimentar, desde que lhe seja garantido, por óbvio, um local apropriado, devidamente
segregado dos presos comuns, nos termos expressos do art. 528, §§ 4º e 5º do CPC/2015.
Isso porque, numa ponderação entre direitos fundamentais - o direito de liberdade e de dignidade
humana do devedor advogado inadimplente de obrigação alimentícia versus o direito à tutela
jurisdicional efetiva, à sobrevivência, à subsistência e à dignidade humana do credor -, promoveu o
legislador constituinte a sua opção política em dar prevalência ao direito deste último, sem fazer
qualquer ressalva.
Não se pode olvidar que a lei civil dever ser interpretada e aplicada à luz da norma constitucional
- que conferiu ao direito à alimentação estatura constitucional e autorizou a prisão civil do devedor
de alimentos - e não o contrário.
A autorização da prisão civil do devedor de alimentos é endereçada a assegurar o mínimo
existencial ao credor. Admitir o seu cumprimento em sala de estado-maior ou de forma domiciliar,
em nome da prerrogativa do profissional advogado, redundaria, no limite, em solapar todo o
arcabouço erigido para preservar a dignidade humana do credor de alimentos.
A prerrogativa estipulada no art. 7º, V, do Estatuto da OAB é voltado eminentemente em relação à
prisão penal, mais precisamente às prisões cautelares determinadas antes do transito em julgado da
sentença penal condenatória.
Portanto, a aplicação dos regramentos da execução penal, como forma de abrandar a prisão civil,
acabará por desvirtuar a técnica executiva e enfraquecer a política pública estatal, afetando a sua
coercibilidade, justamente o móvel que induz a conduta do devedor alimentar.
TERCEIRA SEÇÃO
DESTAQUE
DESTAQUE
Após o advento do art. 23 da Lei n. 13.431/2017, nas comarcas em que não houver vara
especializada em crimes contra a criança e o adolescente, compete à vara especializada em violência
doméstica, onde houver, processar e julgar os casos envolvendo estupro de vulnerável cometido
pelo pai (bem como pelo padrasto, companheiro, namorado ou similar) contra a filha (ou criança ou
adolescente) no ambiente doméstico ou familiar.
DESTAQUE
DESTAQUE
A sobreposição da propriedade rural com área indígena, ainda que o processo de demarcação não
tenha sido concluído, inviabiliza a certificação de georreferenciamento.
DESTAQUE
Não cabe recurso ordinário em mandado de segurança com fundamento no art. 105, inciso II,
alínea "b", da Constituição da República, na hipótese em que houver a concessão da segurança e a
parte impugna capítulo que havia tão-somente excluído a multa cominatória para o cumprimento da
liminar.
DESTAQUE
A pré-existência de ações penais envolvendo, de um lado, o juiz, e de outro lado, a parte ou o seu
advogado, é causa típica de impedimento (art. 144, IX, do CPC/2015) que obsta a eventual
decretação de prisão civil por dívida de alimentos, ainda que presentes os requisitos para adoção da
medida coativa extrema.
Não é lícito ao juiz presidir nenhum processo que envolva a parte ou advogado com quem litiga,
na medida em que se trata de impedimento absoluto, pois ligado às partes ou seus representantes,
razão pela qual existe a real possibilidade de comprometimento da neutralidade e da imparcialidade
em relação a quaisquer causas que porventura os envolvam.
De outro lado, ainda que se entenda não ser possível concluir, desde logo, que se trataria de
hipótese de impedimento do juiz, especialmente porque, nas hipóteses de ações penais públicas
condicionadas à representação ou incondicionadas, o juiz, tecnicamente, não é a pessoa que
promoveu a ação contra a parte ou seu advogado, não há nenhuma dúvida acerca da configuração da
suspeição, como reconhecido pelo próprio magistrado, com base no art. 145, I e IX, do CPC/2015.
Dessa forma, o juiz que reconheceu sua suspeição com fundamento em inimizade com a parte ou
advogado tem a sua neutralidade e imparcialidade comprometidas em relação a quaisquer
processos que os envolvam, ainda que a suspeição apenas tenha sido reconhecida em um desses
processos.
No caso, desde a decisão proferida, por meio da qual o juiz se declarou suspeito (em verdade,
impedido) para atuar em pedido de alvará judicial no qual o paciente atuava como parte e advogado,
estava também o juiz impedido para atuar nos demais processos judiciais que envolviam o paciente,
como parte ou advogado, inclusive na execução de alimentos em que o julgador impedido decretou a
prisão do paciente, ainda que, nesta execução de alimentos, o impedimento somente tenha sido
reconhecido expressamente depois.
Significa dizer, portanto, que o reconhecimento do impedimento com base no art. 144, IX, e
também da suspeição com base no art. 145, I, ambos do CPC/2015 - uma vez lançado em algum dos
processos que envolvem as partes ou advogados em conflito com o julgador -, produzem efeitos
expansivos em relação aos demais processos, inviabilizando a atuação do magistrado em quaisquer
deles, independentemente de expressa manifestação em cada um dos processos individualmente.
DESTAQUE
DESTAQUE
Se não há consenso entre as partes a respeito da escolha do perito, o profissional indicado por
uma das partes, mas rejeitado pela outra, não pode realizar a produção da prova como perito do
juízo.
É cabível a capitalização mensal dos juros remuneratórios que incidem sobre as diferenças
decorrentes de expurgos inflacionários reconhecidas em ação civil pública.
Cinge-se a controvérsia a determinar se, havendo previsão expressa no título judicial, é cabível a
capitalização mensal de juros remuneratórios que incidem sobre as diferenças decorrentes de
expurgos inflacionários reconhecidos em ação civil pública.
A Segunda Seção desta Corte, no julgamento do REsp 1.392.245/DF, sob o rito dos repetitivos,
fixou a tese de que é vedada a inclusão de juros remuneratórios nos cálculos de liquidação/execução
se inexistir condenação expressa na fase de conhecimento, sem prejuízo de, quando cabível, o
interessado ajuizar ação individual de conhecimento. Na ocasião do julgamento do referido recurso
especial, prevaleceu o entendimento de que os juros remuneratórios possuem natureza contratual,
dependendo sua incidência de pedido na inicial da ação de conhecimento e condenação expressa a
esse respeito na sentença exequenda. Assim, a determinação de capitalização mensal dos juros
remuneratórios da poupança não conflita com esse entendimento, haja vista que, naquela
oportunidade, apenas se decidiu sobre a inclusão de juros remuneratórios não previstos no título
exequendo quando do respectivo cumprimento de sentença.
Tratando-se de contrato de caderneta de poupança, é possível concluir que os juros
remuneratórios contemplados na sentença devem incidir mês a mês.
A capitalização mensal dos juros remuneratórios das cadernetas de poupança foi autorizada pelo
BACEN por meio da Resolução nº 1.236/86, que estabeleceu "que as instituições autorizadas a
receber depósitos de poupança livre deverão creditar os rendimentos às contas de pessoas físicas
no 1º (primeiro) dia útil após período de 1 (um) mês corrido de permanência do depósito".
Além disso, os juros remuneratórios das cadernetas de poupança, ao se agregarem ao capital,
passam a constituir o próprio crédito, deixando de ter a natureza de acessório. Tanto que a
jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que o prazo prescricional aplicável para a
pretensão de recebimento de referida verba é o vintenário.
Portanto, havendo condenação expressa ao pagamento de juros remuneratórios no título
exequendo, estes capitalizam-se mensalmente.
QUARTA TURMA
DESTAQUE
DESTAQUE
Na teoria das obrigações, a resilição se sobressai como uma de suas formas de extinção,
integrando o tema geral do "poder de desligamento nas relações contratuais".
Com efeito, a doutrina assevera que por encerrar um "poder contratual" mais severo, o exercício
da resilição dá ensejo a situações mais suscetíveis ao abuso de direito, principalmente quando não
fundamentada no inadimplemento da outra parte. De fato, a prerrogativa de "sair e se desligar",
unilateralmente, de uma relação jurídica contratual, por si só, é causa de frustração da expectativa
legítima de manutenção da relação jurídica no tempo, de obtenção de ganhos e proveitos que
haviam sido projetados quando da constituição do contrato.
Em julgamento da Quarta Turma, também ficou consignado que os contornos traçados pelo
ordenamento sobre este tema nunca pretenderam a aniquilação do instituto, visando, tão somente
garantir que a resilição unilateral seja responsável, impondo-se a observância da boa-fé até mesmo
no momento de desfazimento do pacto, principalmente quando for contrário aos interesses de uma
das partes. (REsp 1.555.202/SP, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em
13/12/2016, DJe de 16/03/2017).
No mesmo rumo, a doutrina afirma que a resilição não pode ser levada a efeito pela parte que
agiu culposamente. "Isto posto, se o contratante se encontrava em mora (por deixar de realizar a
prestação no tempo certo) ao tempo da onerosidade excessiva, terá que suportar todos os riscos do
novo cenário ambiental. Haveria abuso do direito (art. 187, CC) por parte do contratante que exige o
direito a resolução com base na norma violada".
Pelo exposto, parece distante da razoabilidade cogitar-se que o interesse exclusivo de uma das
partes no desfazimento de um contrato seja bastante à conclusão pela regularidade da resilição. Na
hipótese em análise, a resilição configura abuso de direito, não podendo dela surtir os efeitos
esperados, uma vez que fora manifestada quando a arrendatária já se encontrava em estado de
inadimplência e somente após ter sido judicialmente compelida à satisfação das obrigações que já
havia descumprido.
Perceba-se que, não bastasse manifestar-se sobre a pretensão de resilir o contrato após estar
inadimplente, a executada, ofereceu à penhora o bem objeto do arrendamento mercantil, que não
era de sua propriedade. Deve ser destacado, o fato de o bem arrendado ter permanecido na posse da
arrendatária, por todo o tempo, condição inquestionavelmente contrária à intenção de efetivamente
resilir.
Ademais, na hipótese, a espécie de leasing celebrado entre as partes foi o leasing financeiro.
No rumo dessas ideias, a doutrina leciona que o arrendamento mercantil financeiro não confere
"qualquer direito ao arrendatário de pretender devolver a coisa e resilir unilateralmente o contrato,
salvo se pagas todas as prestações do negócio e ressarcido o arrendador de todos os prejuízos
sofridos".
DESTAQUE
A Constituição da República, em seu art. 5º, inciso XI, afirma que "a casa é asilo inviolável do
indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial".
O Pleno do Supremo Tribunal Federal, no exame do RE 603.616 (Tema 280/STF), reconhecido
como de repercussão geral, assentou que "a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é
lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas
a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade dos atos
praticados".
Não procede o fundamento de que o fato de o agravante habitar o prédio abandonado de uma
escola municipal descaracterizaria o conceito de domicílio, para que haja proteção constitucional
Anota-se, por fim, que o Decreto n. 7.053/2009, que instituiu a Política Nacional para População
em Situação de Rua, reforça a condição de moradia aos habitantes de logradouros públicos e áreas
degradadas.
PROCESSO AgRg no REsp 2.015.414-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares
da Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em
25/10/2022.
DESTAQUE
Aplica-se se o percentual previsto no art. 112, inciso VI, alínea "a", da Lei n. 7.210/1984 (Lei de
Execução Penal) para a progressão de regime ao condenado por crime hediondo com resultado
morte e reincidente genérico, quando a condenação tenha ocorrido antes da entrada em vigor da Lei
n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime).
Cinge-se a controvérsia a determinar qual seria o percentual de pena a ser cumprido para que a
pessoa condenada por crime hediondo com resultado morte e reincidente genérica possa requerer a
transferência para regime menos rigoroso, quando a condenação ocorreu antes da entrada em vigor
da Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime).
A Terceira Seção desta Corte Superior, no julgamento dos Recursos Especiais 1.910.240/MG e
1.918.338/MT, ambos pela sistemática do recurso representativo de controvérsia, estabeleceu tese,
no Tema Repetitivo n. 1.084, no sentido de que "é reconhecida a retroatividade do patamar
estabelecido no art. 112, V, da Lei n. 13.964/2019, àqueles apenados que, embora tenham cometido
crime hediondo ou equiparado sem resultado morte, não sejam reincidentes em delito de natureza
semelhante".
A tese estabelecida nos mencionados recursos repetitivos, limita-se à retroatividade do art. 112,
inciso V, da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal - LEP), na redação da Lei n. 13.964/2019, aos
condenados que, embora tenham cometido crime hediondo ou equiparado sem resultado morte,
não sejam reincidentes em delito de natureza semelhante.
Conquanto tenha o relator, em obter dictum, ponderado que a parte final do art. 112, inciso VI,
alínea "a", da Lei de Execução Penal (na redação da Lei n. 13.964/2019) não seria aplicável aos
condenados por crimes hediondos com resultado morte antes da entrada em vigor da Lei n.
13.964/2019, fossem eles primários ou reincidentes genéricos, pois também vedaria o benefício do
livramento condicional, disposição que não existiria ao tempo da vigência do art. 2º, § 2º, da Lei n.
8.072/1990, situação mais gravosa ao sentenciado, ao julgar o recurso especial, na sistemática dos
recursos repetitivos, vota-se na tese final nele fixada, não necessariamente aderindo a todos os
fundamentos postos no voto condutor do acórdão, sobretudo quando exarados em obiter dictum,
que não tem efeito vinculante.
Dito isto, ainda que a Lei n. 13.964/2019 tenha trazido disposições sobre o livramento
condicional, não promoveu alteração nem revogação expressa do texto normativo pelo qual este
instituto é regido, o Código Penal, com as alterações trazidas pelas Leis n. 7.209/1984 e
13.344/2016.
Por consectário lógico, não há por que vedar a aplicação da retroatividade no tocante à fração
para progressão de regime, em razão da vedação do livramento condicional, na medida em que não
há combinação de leis, uma vez que esse instituto estava à época regulamentado materialmente em
lei diversa da lei que dispunha sobre a progressão de regime.
Portanto, não há a criação de uma terceira lei, nem se viola a vontade do Poder Legislativo,
porque o diploma legislativo que delibera sobre as regras do livramento condicional para o
condenado em crime hediondo com resultado morte é o Código Penal, alterado pelas Leis n.
7.209/1984 e 13.344/2016, que permanece em plena vigência, e não as Leis n. 7.210/1984 e
8.072/1990, como no caso da progressão de regime.
Nessa linha de entendimento, recentes decisões desta Corte afirmam que a aplicação retroativa
do art. 112, inciso VI, alínea "a", da LEP aos condenados por crime hediondo ou equiparado com
resultado morte, seria admissível e não prejudicial ao executado, tendo em vista que, em uma
interpretação sistemática, a vedação de concessão de livramento condicional somente atingiria o
período previsto para a progressão de regime, não impedindo posterior pleito com fundamento no
art. 83, inciso V, do CP.
Assim, aplica-se a exigência do cumprimento de 50% (cinquenta por cento) da pena imposta à
pessoa condenada por crime hediondo com resultado morte e reincidente genérica, quando a
condenação ocorreu antes da entrada em vigor da Lei n. 13.964/2019, para fins de obtenção de
progressão de regime prisional, na forma do art. 112, inciso VI, alínea "a", da LEP (na redação da Lei
n. 13.964/2019).
SEXTA TURMA
DESTAQUE
Não sendo o crime praticado em razão e durante o exercício do cargo ou função, as regras de
competência não são alteradas pela superveniente posse no cargo de Prefeito Municipal.
O foro por prerrogativa de função exige contemporaneidade e pertinência temática entre os fatos
em apuração e o exercício da função pública, haja vista que o Supremo Tribunal Federal decidiu que,
"não obstante as recorrentes discussões doutrinárias e jurisprudenciais acerca da competência
absoluta em razão da prerrogativa de função, o Supremo Tribunal Federal assentou posicionamento,
ainda que restrito a Deputados Federais e Senadores, de que o foro por prerrogativa de função
aplica-se tão somente aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções
desempenhadas, sendo que, terminada a instrução processual, a competência para processar e
julgar ações penais não mais será afetada em razão de o agente público vir a ocupar cargo ou deixar
o cargo que ocupava" (AP n. 937 QO/RJ, Rel. Ministro Roberto Barroso, Tribunal Pleno, julgado em
3/5/2018).
No caso, além de o crime ser anterior à posse como chefe do Poder Executivo Municipal, o ato
praticado não guarda relação com o seu cargo eletivo, não havendo que se falar em deslocamento do
feito para julgamento pelo Pleno do Tribunal de Justiça.
Esta Sexta Turma entende que as regras de competência não são alteradas quando, após a
prolação da sentença, um dos réus passa a exercer cargo de Prefeito Municipal, mantendo-se o
julgamento do recurso interposto por órgão fracionário do Tribunal de origem.
RECURSOS REPETITIVOS - AFETAÇÃO
A controvérsia rememora a ação civil pública contra a TIM Celular S.A. julgada procedente para
condenar a ré em danos morais coletivos no valor de 100 milhões de reais (posteriormente reduzida
a 50 milhões de reais), em razão de falha na prestação de serviço consistente na derrubada de
chamadas, impondo prejuízo direto aos consumidores que aderiram ao plano INFINITY.
Por sua vez, o agravo interno reitera alegação de dissídio jurisprudencial. Ressalta que o acórdão
agravado divergiu com acórdão paradigma da Segunda Turma do STJ com relação ao momento da
inversão do ônus da prova. Além disso, sustenta que o valor do dano moral coletivo foi fixado em
patamar exorbitante.
Após o voto da Sra. Ministra Relatora, negando provimento ao agravo, pediu vista regimental o Sr.
Ministro João Otávio de Noronha.