2013 ElizeuSantosdoNascimento PDF
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2013
Nascimento, Elizeu Santos do
1. Msica
2. Grupos Sinfnicos de Sopros.
3. Conceitos e Estruturas
Data de Aprovao
_____/_____/2013
Banca Examinadora:
A Deus,
minha Famlia,
Ao Professor Rogrio Budaz, pelo livro Time and the Winds, de Frederick Fennell
In Brazil, there is some terminology confusions about the instrumental constitution and the
repertory used for some musical groups named symphonic bands and a wind orchestras.
When we look for the instrumental constitutions and the repertory for these groups, in fact, we
see that, they would be better classified as children bands, youth bands, concert bands, and
after this, symphonic band. This work looks for to demonstrate the differences between the
symphonic musical groups named as bands, showing that there are some distinctions in each
musical group. The subject, that it is not just a question about different names, shows the
conceptual and structural differences between the musical groups with wind instruments, and
we take as the principal example the wind ensemble created by Frederick Fennell (1914-
2004), and the others similar wind symphonic groups. We want to show that, even though
these groups may be similar, they have some little differences, and with this knowledge, some
disagreements will be ended in the repertory and with the wind playing in Brazil. In this work,
to prove what we are saying, we will do some specific analysis, where we will show the
distinctions in this musical groups and its repertory. Finally, the conclusion shows that there is
a truly difference between each wind symphonic group.
Introduo, 11
1 CAPTULO I Conceitos
1.1 A banda no sculo XX, 18
1.2 Que banda? 23
1.3 Categorias de grupos sinfnicos de sopros, 33
1.3.1 Banda de concerto, 33
1.3.2 Banda sinfnica, 35
1.3.3 O conjunto de sopros de Frederick Fennell, 50
1.3.4 A orquestra de sopros, 59
Referncias, 308
11
INTRODUO
estabeleceu bandas de msica nos Batalhes de Infantaria e Caadores, desta vez, com a
incluso de percussionistas 1 bombo e 1 caixa. O autor tambm destaca a criao de outras
bandas de msica em Organizaes Militares tais como: Polcia Militar do Rio de Janeiro
(1866), Marinha (1872) e Corpo de Bombeiros Militares do Rio de Janeiro (1896). Brum cita
ainda a criao de bandas de msica civis como a Banda Lira Siciliana (1858), Banda Euterpe
Friburguense (1863) e a Banda Campesina Friburguense (1870), entre outras.
O 5 Perodo teve incio no sculo XX. Nele a banda de msica passou a ser
constituda de formao instrumental segundo a necessidade da obra. A respeito, afirma
Brum:
Podemos, ainda, em nossos dias, encontrar em seu efetivo instrumental,
instrumentos de cordas atritadas (principalmente na Espanha), dedilhadas e
percutidas, respectivamente, cello e contrabaixo de cordas, harpa e piano.
Ela se transformou, assim, em uma excelente Orquestra de Sopros. E no
deixa de ser por isso, que vem sendo, h muito, mencionada como Banda
Sinfnica, tanto nas Organizaes Militares como Civis. (BRUM, 1987, p.
11).
expressivas aumentadas. Neste cenrio, outro nome importante foi Wilhelm Wieprecht (1802-
1872), famoso regente militar na Prssia. Suas contribuies se deram nas questes referentes
instrumentao, s propores das sees da banda e na importncia dos trompetes e
trompas com vlvulas. Suas transcries de sinfonias de Mozart e Beethoven, aberturas
Clssicas e Romnticas, trechos de peras e msicas nacionais entre outras, expandiram o
repertrio da banda de sopros no sculo XIX.
Ainda segundo Battisti, as principais atribuies da banda de sopros no sculo XIX
na Europa eram o abrilhantamento das cerimnias cvicas nacionais e ocasies sociais. Do
repertrio constavam, geralmente, transcries e arranjos de msicas de carter popular,
msicas folclricas e ligeiras. Por essa poca havia pouca msica original para banda de
sopros. O autor cita Mendelssohn (1809-1847) que comps Notturno harmonie, um tipo de
conjunto de sopros composto de 1 Flauta, 2 Clarinetes, 2 Obos, 2 Fagotes, 2 Trompas, 1
Trompete e 1 Tuba. Mais tarde, com instrumentao maior a obra foi publicada em 1839,
como Overture for Wind Band, Op. 24. Por sua vez, Weber (1786-1826) e Berlioz (1803-
1869) aumentaram a importncia dos instrumentos de sopros em suas obras. Berlioz, por
exemplo, comps Grand Symphonie Funbre et Triomphale, Op. 15 em 1840, para o 10
aniversrio da Revoluo de julho de 1830. Nela se verifica grande concentrao de foras
instrumentais de sopros, percusso e cordas opcionais (15 Violoncelos e 10 Contrabaixos).
Sobre o desenvolvimento da banda de sopros Nos Estados Unidos, Battisti assinala
que tal desenvolvimento se deu a partir de 1798, por meio de uma Lei assinada por John
Adams, instituindo a United States Marine Band. Sua instrumentao consistia de 1 Tambor
Grande, Pfaro principal, 32 Tambores e Pfaros. Posteriormente, as primeiras bandas a se
organizarem foram a Salem (Massachussetts) Brigade Band (1806), constituda de 5
Clarinetes, 2 Fagotes, 1 Trompete e 1 Bumbo; Militia Band of Bethlem, na Pensilvnia e a
Eleventh Regiment Band of New York, estabelecida em 1810. Incialmente a instrumentao
dessas bandas consistiu na combinao de diversos instrumentos de madeira e de metal. Em
geral, esses grupos de sopros eram vinculados s milcias locais e suas atuaes se davam na
participao em desfiles, apresentaes, exerccios militares, solenidades cvicas e patriticas.
Battisti tambm informa que, aps um perodo de sucesso das bandas de metais,
chegou aos Estados Unidos o msico francs Louis Antoine Jullien (1812-1860). Com talento
de promotor de eventos, Jullien organizou diversos concertos espetaculares. Essas produes
inspiraram outro imigrante: o irlands Patrick Sansfield Gilmore (1829-1892), cornetista
virtuose, que se tornou o pai da banda de concerto moderna. sob sua direo que se
desenvolveu a primeira grande banda de concerto norte-americana. Tempos depois, Gilmore
14
1
Organismos sinfnicos com instrumentao prxima ou similar quela comumente utilizada pela seo de
sopros e percusso da orquestra sinfnica, destinados msica de concerto. Trata-se de um termo criado por
mim, a fim de abarcar as bandas de concerto, os conjuntos e orquestras de sopros.
2
Termo genrico. Refere-se banda como organismo sinfnico destinado realizao de concerto. No
decorrer deste estudo ser demonstrado que este termo tambm se refere a uma categoria de grupo sinfnico
de sopros, distinto da banda sinfnica.
3
Este termo ser usado em referncia ao maestro Frederick Fennell. uma criao minha.
15
Outro aspecto importante acerca desses grupos sinfnicos que se verifica na loja
virtual Sheet Music Plus, na pgina eletrnica The Wind Repertory Project, bem como nas
principais editorias e editoras de partituras, classificaes por grau de dificuldade e categoria.
O indicativo de grau de dificuldade se d por meio de algarismos arbicos Grau a 5,
algarismos romanos Grau I a VII e tambm por letras de A a E. As classificaes
indicativas do grau de dificuldade referem-se s questes de escrita rtmica, tessitura e
formao instrumental, que so dividas por categorias referentes s denominaes dos grupos
sinfnicos. Assim, verificam-se categorias de grupos sinfnicos denominadas como bandas
iniciantes, bandas de concerto, bandas sinfnicas, conjunto e orquestra de sopros. Para melhor
entendimento das classificaes e categorias, esses grupos sinfnicos de sopros foram
divididos em Tipos de 1 a 4.
O segundo eixo diz respeito s questes de ordem conceituais. Quando formulo a
seguinte questo: que banda? Talvez no seja muito difcil responder. Alis, no preciso,
por que os dicionrios de msica o fazem. Em linhas gerais, trata-se de um conjunto
instrumental maior que uma orquestra de cmara. A questo foi respondida? Sim e no. Se eu
quiser uma resposta rpida, sim. Todavia, se o intento for por uma resposta mais consistente e
que atenda interesses de ordem estrutural, no. Naturalmente que no existem respostas
prontas e acabadas. Porm, h elementos que possibilitam respostas substanciosas.
Nisto razovel considerar o que ensina John Wilson. Para ele:
Sendo assim, no tarefa segura nomear um grupo musical como banda sem
adentrar um terreno escorregadio e movedio. Em se tratando do termo enquanto organismo
instrumental de concerto, talvez seja ainda mais difcil encontrar o significado adequado.
Porm, o conceito que interessa a presente investigao. Como no se trata de uma entidade
autnoma e separada, como afirma o autor, na esteira do conceito que este trabalho se
conduzir. Tendo tambm em considerao o ensinamento de Michel de Certeau: separar, de
16
apresentados em cinco tipos distintos, quais sejam: Captulo II Grupos Sinfnicos Tipo 1:
Nveis Extremamente Iniciantes, constitudos de bandas extremamente iniciantes; Grupos
Sinfnicos Tipo 2: Nveis Iniciantes, constitudos de bandas iniciantes e juvenis; Captulo III
Grupos Sinfnicos Tipo 3: Nveis Moderados, constitudos de bandas de concerto; Captulo
IV Grupos Sinfnicos Tipo 4: Nveis intermedirios, constitudos pelas bandas sinfnicas; e,
Captulo V Grupos Sinfnicos Tipo 4: Nveis Avanados, constitudos de conjuntos de
sopros e orquestras de sopros.
Este estudo tambm se apoia, principalmente, na literatura de Henry Brant, Franko
Goldman, Frank Cipolla & Donald Hunsberger, Jos Ramos Tinhoro e Frederick Fennell.
Tambm serviram de suporte para as aes metodolgicas de anlise, as partituras de Paul
Hindemith, Alfred Reed, Gustav Holst, Villa-Lobos, Stravinsky, Karel Husa, Kent Kennan,
Vincent Persichetti, Hudson Nogueira, Villani-Crtes, Mestre Duda, Larry Clark, John
Chance, Adam Gorb, John Mackey, entre outros, sem as quais este estudo no seria possvel,
haja vista que foram tais obras que deram sustentao aos objetivos propostos.
A relevncia deste trabalho se d na medida em que pode contribuir para o ofcio dos
compositores e arranjadores por meio de informaes claras, com vistas elaborao de
partituras para grupos sinfnicos de sopros, a partir da capacidade dos instrumentistas e
respectivos grupos, considerando a classificao grau de dificuldade e a categoria tipo de
grupo sinfnico; ser til aos regentes em razo de que podero utilizar as informaes aqui
apresentadas, de modo a escolherem, de forma criteriosa, o repertrio para seus grupos; s
instituies de ensino porque tero a opo de acessar informaes tcnicas, com vistas
elaborao de aes pedaggicas que resultem em polticas de educao e formao musical,
baseadas nas habilidades e competncias tcnicas desde as primeiras at s mais sofisticadas
experincias sinfnicas.
18
CAPTULO I
CONCEITOS
contemplar tanto os instrumentistas dos nveis iniciais quanto aqueles dos nveis avanados de
competncia e habilidades tcnicas. nessa esteira de acontecimentos que surgiram as
categorias de bandas de sopros e as classificaes por graus de dificuldade referentes s tais
categorias, das quais Franko Goldman (1878-1956) faz aluso em seu livro The Amateus
Band Guide and Aid to Leaders (1916) .
Segundo Goldman,
A menos que o lder esteja completamente familiarizado com bandas
amadoras e sabe exatamente o que a msica para iniciantes, o erro est em
assegurar que a msica muito difcil e que servir para retardar o progresso
da organizao. A nica maneira de chegar ao verdadeiro sucesso comear
desde o incio e construir por graus.
As listas aqui fornecidas so classificadas da seguinte forma:
Grau I Muito fcil; Grau II Um pouco mais avanado; Grau III Mdia
dificuldade.
Todas estes so organizados especialmente para bandas amadoras em estgio
iniciante e seria prudente realizar msicas nesses graus em alternncia, antes
de tentar qualquer outra coisa. (GOLDMAN, 1916, p. 44).
O que fica evidente nas colocaes do autor a praticidade dos graus como
instrumentos de aes pedaggicas. Ressalte-se que Goldman era regente de banda
profissional, da Goldman Band, a quem Vincent Persichetti (1915-1987) dedicou o clebre
Divertimento for Band (1950), obra de referncia, ainda hoje, no repertrio da banda de
concerto. Talvez por isso, The Amateus Band Guide and Aid to Leaders se constituiu como
um dos primeiros conjunto de ensinamentos para os regentes das florescentes bandas
amadoras da poca e contribuiu para o que veio em seguida, nas questes atinentes aos
aspectos constitutivos das bandas de sopros.
Diante disso, parece necessrio discutir o conceito do termo banda e seus
correlatos (e suas imprecises), no que respeita s questes de escrita, instrumentao e
finalidade. Oscar Brum, s vezes refere-se a esse grupo instrumental, ora como banda de
msica ora como banda. Segundo ele, o termo banda de msica comeou a ser
utilizado a partir do sculo XVII. Mesmo assim, o autor emprega os dois termos em sua
narrativa sobre os cinco perodos de evoluo do grupo. Apesar disso, parece que Brum
refere-se ao mesmo grupo, talvez por questes de redundncia. A partir do 5 Perodo, o autor
demonstra que sua referncia a banda de msica enquanto grupo sinfnico, destinado ao
concerto.
Frank Battisti, por seu turno, utilizada o termo wind band. Este termo, que pode
ser traduzido como banda de sopros tambm impreciso. Battisti tambm utiliza o termo
20
band como se v em seu livro The Winds of Change quando descreve o desenvolvimento
da banda (BATTISTI, 2002, p. 4) e posteriormente, em sua narrativa sobre o desenvolvimento
da banda na Amrica (BATTISTI, 2002, p. 9), por exemplo. Apesar disso, o autor parece
preferir o termo wind band, tambm encontrado nos CDs da Naxos (Gravadora de Msica
Clssica) pertencentes srie Music for Wind Band. Nesta srie, verificam-se trabalhos de
grupos sinfnicos de sopros, tais como: United States Marine Band Monumental Works for
Winds (2006); University of Kansas Wind Ensemble Wild Nights! (2009) e Rutgers Wind
Ensemble Fanfares and Overtures (2009), entre outros. Tambm se v a utilizao do termo
wind band no CD gravado pela inglsa Royal Northern College of Music Wind Orchestra
German Wind Band Classics (2000). Logo, bvia a prevalncia do termo wind band.
Ademais, a expresso Music for Wind Band, utilizada pela Naxos faz referncia a variadas
formaes de grupos sinfnicos de sopros. Isto posto, verifica-se que a distino encontrada
nos trabalhos da citada Gravadora, encontra-se no repertrio e a partir dele, no tipo de grupo
sinfnico utilizado.
No Brasil, so comuns os termos banda de msica quando se quer aludir s
bandas que no so de concerto e banda sinfnica, sempre em referncia quelas voltadas
s atividades de concerto. Jos Ramos Tinhoro em seu livro Histria Social da Msica
Popular Brasileira (1998) comenta a respeito das pequenas bandas municipais ou liras
formas por mestres interioranos, nas cidades menores. (TINHORO, 1998, p. 177). No
decorrer do seu texto, o autor alude em diversos momentos no s s bandas de msica, mas
tambm s bandas militares5. Segundo Tinhoro, no que se refere msica popular
brasileira, a maior contribuio das bandas militares foi, inegavelmente, as criaes do
maxixe no Rio de Janeiro e do frevo em Pernambuco. (TINHORO, 1998, p. 180). Todavia,
as bandas militares tambm foram e ainda so responsveis pela difuso de outras msicas de
carter popular sambas, baies, valsas e de muita msica de concerto transcries,
arranjos e originais. A atuao dessas bandas de msica, por vezes, possui carter didtico e
cvico, por meio de apresentaes em escolas, solenidades e desfiles patriticos. Suas
atividades se do, comumente em Unidades Militares das Foras Armadas, algumas Igrejas
Evanglicas e em Escolas de nvel mdio. As bandas sinfnicas, so comuns nas Foras
Armadas, na qualidade de representantes da Corporao Banda Sinfnica do Corpo de
Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil e Banda Sinfnica do Exrcito Brasileiro e nas
5
Expresso do final do sc. XVIII para designar uma banda de regimento, formada por instrumentos de sopro
de madeira, metais e percusso. Aplica-se tambm a qualquer conjunto que execute msica militar, incluindo
sinais e chamadas militares. (DICIONRIO GROVE DE MSICA, 1994, p. 71).
21
Quadro 1.1 Efetivo instrumental para Fanfarra sem Saxofones (BRUM, 1987, p. 109)
Modelo A Modelo B
1 Primeiro Trompete Sib 1 Primeiro Trompete Sib
1 Trompete Sib 1 Segundo Trompete Sib
1 Primeira Corneta 2 Trompas em Mib ou F
1 Segunda Corneta Sib 2 Trombones
2 Trompas em Mib ou F 2 Primeiros Bugles (1 Solo)
3 Trombones 1 Segundo Bugle
2 Primeiros Bugles Sib 2 Saxhornes Mib
2 Segundo Bugles Sib 2 Bartonos Sib
3 Saxhornes Mib 2 Bombardinos
2 Bartonos Sib 2 Tubas (Mib e Sib)
3 Bombardinos 1 Bombo
1 Tuba Mib 1 Pratos
1 Tuba Sib 1 Caixa Clara
1 (Par) de Tmpanos* 1 Surdo
1 Bombo
1 Pratos
1 Caixa Clara
1 Surdo
Efetivo Instrumental: 28 Efetivo Instrumental: 21
*Facultativo
Obs.: Ao invs de 2 Trompetes e 2 Cornetas,
podem ser simplesmente 4 Trompetes 2
Primeiros e 2 Segundos.
6
Um tipo de banda de instrumentos de sopro, consistindo unicamente de instrumentos da famlia dos metais
e, s vezes, percusso, que teve origem nos anos 1820. Uma banda tpica consistiria de uma corneta de pistes
soprano em mib; um flugelhorn em sib; trs fliscornes em mib; dois saxhornes tenor em sib; dois eufnios em
mib; trs trombones e quatro baixos de tuba, dois em mib e dois em sib. O crescimento das bandas de metais
este intimamente ligado ao desenvolvimento da indstria, e o sucesso da atividade foi consolidado atravs de
competies. (DICIONRIO GROVE DE MSICA, 1994, p. 71).
22
Quadro 1.2 Efetivo instrumental para Fanfarra com Saxofones e efetivo de Grande Fanfarra (BRUM, 1987, p.
110).
Saxofone Sopranino Mib 1 Saxofone Sopranino Mib
1 Saxofone Soprano Sib 1 Saxofone Soprano Sib
1 Saxofone Alto Mib 2 Saxofones Alto Mib
1 Saxofone Tenor Sib 2 Saxofones Tenor Mib
1 Saxofone Bartono Mib 2 Saxofones Tenor Sib
2 Primeiros Trompetes Sib 1 Saxofone Baixo Sib
2 Segundos Trompetes Sib 4 Trompetes em Mib ou F
2 Primeiras Trompas em Mib ou F 3 Primeiras Cornetas em Sib
3 Trombones 3 Segundas Cornetas em Sib
2 Primeiros Bugles Sib 4 Trompas em Mib ou F
2 Segundos Bugles Sib 6 Trombones
3 Saxornes Mib 1 Pequeno Bugle Mib
2 Bartonos Sib 1 Bugle (Solo) Sib
3 Bombardinos 2 Primeiros Bugles Sib
1 Tuba Mib 6 Segundos Bugles Sib
1 Tuba Sib 4 Saxohornes Mib
1 (Par) de Tmpanos 2 Bartonos Sib
1 Bombo 6 Bombardinos
1 Pratos 2 Tubas Mib
1 Caixa Clara 4 Tubas Sib
1 Surdo 1 (Par) de Tmpanos
1 Caixa Clara
1 Bombo
1 (Par) de Pratos e Acessrios
Efetivo Instrumental: 33 Efetivo Instrumental: 61
Obs.: No sendo possvel a adoo do Saxofone Sopranino em Mib, podem ser adotados 2 Saxofones
Sopranos Sib. No Entanto, sendo possvel a adoo de 1 Trompete Mib, passar a ter apenas 1
Primeiro Trompete em Sib mais aquele. O mesmo poder acontecer com os Bugles: ter um pequeno
Bugle Mib mais trs Bugles Sib.
23
Exemplo 1.2
Fonte: Incio de First Suite in Eb (HOLST, 1984, p. 1)
Quadro 1.3 Instrumentao da banda de concertos segundo Benedictis ((BENEDICTIS, 1970, p. 23).
1Flautim 4 Pistes
2 Flautas 2 Bugles
7
O termo banda de concerto ser inicialmente usado no sentido literal, ou seja, da banda que realiza
concerto. Esse o sentido de banda para Benedictis.
8
Termo que designa a cpia grafada de uma obra musical, envolvendo alguma modificao. Pode ser uma
mudana de meio (significando com isso o mesmo que arranjo; ou pode significar que sua notao foi
transformada (p. ex., de tablatura para pauta), ou ento a sua disposio (de partes cavadas para uma
partitura). O termo tambm pode incluir o registro escrito de msica executada ao vivo ou gravada, ou sua
transferncia de forma audvel para forma grfica, por meios eletrnicos ou mecnicos. (DICIONRIO GROVE
DE MSICA, 1994, p. 957). O termo utilizado em algumas partituras de orquestra, transcritas para banda de
concerto. Exemplo: The Young Prince and Princess, Rimsky-Korsakow, transcribed for concert band by Mark
Hindsley; Toccata and Fugue in D minor, Bach, transcribed by Erik W. G. Leidzn, 1942; Batuque, Lorenzo
Fernandez, Trascribed for band by Richard L. Wolfson, 1936, 1963, 1969; e, Finale (fourth movement) From the
New World Symphony, Dvorak, Transcribed for the Goldman Band by Erik W. G. Leidzn.
9
A reelaborao ou adaptao de uma composio, normalmente para uma combinao sonora diferente do
original. (DICIONRIO GROVE DE MSICA, 1994, p. 43). O termo encontrado nas partituras de orquestra,
arranjadas para banda de concerto, como por exemplo: First Movement (from Symphony in B Minor No. 8),
Schubert, arranged for symphonic band by Lucien Cailliet, 1938; e, Ballet Music from Prince Igor (Polovetzian
Dances), Borodin, arranged by David Bennell, 1962. Partitura de piano para banda de concerto: Adagio
Cantabile (from Sonata No. 8, Op. 13 Pathtique), Beethoven, Arranged by Harold l. Walters, MCMLI; Il
Guarany Overturre, Carlos Gomez, Arranged by Herbert L. Clarke, MCMIV; Firebird Suite Berceuse and
Finale, Stravinsky, Arr. For Band By Robert Longfield, 1998; e, Suite from Bachianas Brasileiras No. 4, Villa-
Lobos, Arranged by Alfred Reed, 1965.
10
Ato ou efeito de adaptar(-se); ajuste, adequao. (DICIONRIO LAROUSSE ESCOLAR DA LNGUA
PORTUGUESA, 2004, p. 12). O sentido do termo pode ser aplicado s partituras para banda de concerto, ou
qualquer outro grupo instrumental diferente daquele para o qual a obra for originalmente composta. Deste
modo, a adaptao refere-se a um ajuste da obra original na formao instrumental desejada. Este termo
encontrado na partitura para banda de concerto In Moonlight (Clair de Lune), Debussy, Adapted by Paul
Wilson, MCMLXI. Segundo a Nota de Programa do trabalho, Paul Wilson informa que o intuito da sua
adaptao apresentar aos jovens instrumentistas a magia das harmonias e a atmosfera meldica de Debussy.
25
11
Os sarrusofones constituem uma famlia de instrumentos metlicos, de tubo cnico e palheta dupla batente.
O nome deriva do seu inventor, o chefe de banda militar francs Sarrus. A patente foi registrada em 1856 e o
sarrusofone foi construdo pela primeira vez por P. L. Guatrot, de Paris. A ideia de Sarrus era equipar as bandas
militares com instrumentos metlicos de grande sonoridade, que pudessem substituir as madeiras de palheta
dupla (obos e fagotes). Estes instrumentos sofriam certa contestao, sobretudo na Frana, devido sua
pouca sonoridade no seio das bandas. Sax tinha registrado a patente do saxofone dez anos atrs, e foi neste
instrumento que Sarrus se inspirou para conceber o sarrusofone: Sax tinha posto uma palheta simples num
tubo metlico, criando assim um instrumento hbrido; Sarrus criou igualmente um instrumento hbrido, mas
dessa vez colocando uma palheta dupla no tubo metlico. O sarrusofone era originalmente construdo em
cinco tamanhos, do soprano em Sib ao contrabaixo em Mib; mais tarde, fez-se tambm o sopranino, o bartono
e o subcontrabaixo. Os dois tamanhos menores apresentam o tubo reto. O sarrusofone tem grandes
semelhanas com os saxofones (tamanho dos orifcios, dedilhaes, extenses e tonalidades). Hoje
praticamente s se usa o modelo contrabaixo em D para uso na orquestra, onde substitui com frequncia o
contrafagote. (HENRIQUE, 1999, p. 302-303).
26
12
String Bass.
27
Exemplo 1.3
Fonte: Incio de Aida: fantasia (PENNACCHIO, 1977, p. 1)
28
13
Uma orquestra pequena, que s pode ter de 20 a 25 instrumentistas [...]. (DICCIONARIO HARVARD DE
MSICA, 2009, p. 845).
29
banda de trompas. Vrios tipos recebiam seus nomes mais pela funo do
que pela constituio (banda de dana, banda de jazz, banda de ensaio, banda
de palco). A banda destinada para desfiles (marching band), que se originou
nos EUA, consiste de instrumentos de sopro de madeira e metais, uma
grande seo de percusso, balizas, porta-bandeiras etc. Outro
desenvolvimento moderno a banda sinfnica de sopros, norte-americana,
que se origina de grupos como Gilmores Band (1859) e a US Marine Band,
dirigida por John Philip Sousa (1880-92). (DICIONRIO GROVE DE
MSICA, 1994, p. 71).
Quadro 1.4 Instrumentao tpica de banda de escola secundria (ERICKSON, 1983, p. 10)
6 Flautas 2 Trompas F
1 Obo 3 Trombones
8 Clarinetes Bb 1 Bartono
1 Clarinete Baixo 2 Tubas
2 Saxofones Alto Percusso Bells, sendo o nico instrumento com teclado
1 Saxofone Tenor Tmpano 2 tambores
8 Trompetes
Samuel Adler (1928) destaca que a banda comeou, sobretudo, como agrupamento
musical para uso ao ar livre e, portanto, necessitava que mltiplos instrumentos tocassem cada
parte para proporcionar-lhe potncia. (ADLER, 2006, p. 772). Isto foi, de fato, a
31
Quadro 1.7 Instrumentao apresentada por Samuel Adler em El Estudio de la Orquestacin (ADLER, 2006,
p. 774-775)
Banda de concerto padro Banda de concerto ampliada
Flautim Flauta 1
Flautas ( normal duas partes) Flauta 2 (flautim)
Obos ( normal duas partes, que podem incluir Obo
Corne Ingls Clarinete Eb
Clarinete Eb Clarinete solista e clarinete 1
Clarinete ( normal trs partes) Clarinete 2
Clarinete alto Eb Clarinete 3
Clarinete baixo Bb Clarinete alto
(Fagotes) Clarinete baixo
Saxofone soprano Bb (usa-se em algumas bandas) Fagote
Saxofone alto Eb Saxofone alto 1
Saxofone tenor Bb Saxofone 2
Saxofone bartono Eb Saxofone tenor
Corneta Bb ( normal trs partes) Saxofone bartono
Trompete Bb ( normal duas ou trs partes) Trompete 1 (Corneta 1)
Trompas F ( normal quatro partes; s vezes se Trompete 2 (Corneta 2)
dispe tambm de trompas Eb Trompete 3 (Corneta 3)
Bartono ou Bombardino (s vezes, duas partes) Trompa 1 F
Tuba Trompa 2 F
Timbales Trombone 1
Percusso ( normal, quatro intrpretes) Trombone 2
Trombone 3
Bartono (T.C.)
Bartono (B.C.)
Baixos (tubas)
Contrabaixo
Timbales
Percusso 1: glockenspiel, xilofone, vibrafone,
marimba
Percusso 2: caixa chinesa, temple-blocks, prato
32
Esta instrumentao bastante similar quela encontrada nas partituras para banda de
concerto de matriz norte-americana. Porm falta algo fundamental nas informaes prestadas
por Adler, qual seja: a quantidade de instrumentistas em cada naipe ou instrumento,
procedimento comum nas capas ou folhas de rosto desse tipo de partitura, como demonstra a
partitura A Festive Overture, de Alfred Reed (ver Exemplo 1.5). Samuel Adler apenas elenca
os instrumentos comumente encontrados numa banda de concerto padro e naquela que o
autor qualifica como banda de concerto ampliada.
Exemplo 1.5
Fonte: Instrumentao de A Festive Overture (REED, 1963, p. 1)
33
msica interpretada pela banda de concerto apontam para a habilidade e capacidade tcnica
requeridas desse grupo sinfnico de sopros, bem como das caractersticas do seu repertrio.
As transcries e arranjos de msicas de orquestra, comuns nessa formao sinfnica, trazem
dificuldades de execuo idnticas quelas encontradas nos originais dessas obras. Por isso,
exigem interpretao de excelncia, resultado impossvel de ser alcanado nos nveis iniciais
de aprendizagem. Sobre os arranjos de msica ligeira e popular, citados pelo autor, h a
ressaltar que se trata de um tipo de repertrio comum nesse tipo de grupo sinfnico. Nesse
repertrio constam trilhas sonoras de filmes, sucessos de astros da msica pop, marchas,
valsas e outras, construindo assim, parte quase obrigatria nos seus programas de concerto.
Todo esse repertrio bastante peculiar categoria banda de concerto, encontrada nas
principais editoras e distribuidoras de partituras, principalmente a Carl Fischer.
Contudo, h diversas obras originais destinadas a esse grupo sinfnico de sopros,
baseadas no sentido literal do termo banda de concerto. Entre elas: Othello (1977), de
Alfred Reed (1921-2005); Et In Terra Pax (1998), de Jan Van der Roost (1956); e,
Nostradamus (2002), de Otto M. Schwarz (1967), entre outras. Isto tambm se v nas
partituras publicadas pela Barnhouse Music Publications, e De Haske Publications, por
exemplo, nas quais a denominao banda de concerto parece ter mais a ver com o sentido
apresentado por Savino de Benedictis e Frank Erickson. o caso de Song and Samba,
Concert Band/Harmonie, Grau 3, Arr. Naohiro Iwai; Frank Sinatra Hits Medley, Grau 3, Arr.
Naohiro Iwai; e, By the Rivers Bend (1993), Grau 3, de Warren Barker, por exemplo.
Nessas obras, como se pode constatar nas transcries e arranjos, h tambm o equilbrio
instrumental citado por Richard Colwell, que definido por meio da insero na capa ou folha
de rosto da partitura, dos instrumentos e da quantidade de msicos a serem utilizados nos
referidos naipes. H tambm originais para a categoria banda de concerto, a saber: Sicilienne
(2009), de Larry Clark (1963) e Ngoma za Kenya (2009), de Paul Basler (1963), por exemplo.
Isto se d por meio da similaridade encontrada nas questes referentes instrumentao e
escrita dessas obras. De todo modo, considerada como categoria, a banda de concerto se
constitui como grupo de acesso ao que h de mais requintado em se tratando de grupo
sinfnico de sopros anlogo orquestra sinfnica nas questes referentes escrita, efetivo,
instrumentao e repertrio, qual seja: a banda sinfnica. o que ser abordado a seguir.
35
Figura 1.1
Fonte: http://www.mar.mil.br/cgcfn/cfn/sinfonica.htm. Ac. em 15 de janeiro de 2013.
37
Figura 1.2
Fonte: http://www.funceb.org.br/galeria_bandasinfonica.asp?materia=6. Ac. em 15 de novembro de 2012.
Figura 1.3
Fonte: POLCIA Portuguesa (ESTEVES, 2007, p. 23)
38
Por sua vez, Richard Colwell ensina que banda sinfnica um termo reservado s
organizaes de instrumentos de sopros, com instrumentao plena e equilibrada, constitudas
muitas vezes de 90-120 instrumentistas e que verdadeiramente similar orquestra
sinfnica. (COLWELL, 2009, p. 189). O autor tambm aponta uma caracterstica comum
banda sinfnica: sua semelhana com a orquestra sinfnica. Isto se d principalmente em dois
aspectos: primeiro em relao a parte do seu repertrio; segundo, em razo do seu
instrumental, constitudo por naipes ampliados. Quanto instrumentao plena, citada por
Colwell, parece que o autor identifica esta plenitude com a ausncia de limites no que respeita
ao emprego dos instrumentos, que podem ser escolhidos mediante a necessidade expressiva
da obra. Enquanto, para o autor, uma banda de concerto constituda de 40-50
instrumentistas, a banda sinfnica tem sees mais amplas em cada uma das partes e,
ademais, um baixo de corda, harpa, trombone baixo, flautim, corne-ingls e ocasionalmente
um contrafagote e um saxofone baixo e/ou soprano. (COLWELL, 2009, p. 189). Por Em
Viva Musica! A Concert Overture for Winds, de Alfred Reed, possvel constatar o que
Richard Colwell designa como instrumentao plena e equilibrada. Na folha de rosto da
obra, consta a instrumentao para banda completa (ver exemplo 1.8). A obra, comissionada
pelo VanderCook College Music, Viva Musica! estreou em Chicago, na Mid-West National
Band and Orchestra Clinic, em 16 de dezembro de 1983, com a VanderCook College
Symphonic Concert Band, sob a direo do compositor. Nela, alm da densidade resultante da
instrumentao indicada, h complexidades de escrita, que exigem habilidades e
competncias tcnicas, peculiares ao instrumentista experiente.
Oscar Brum apresenta entendimento idntico ao de Colwell acerca das semelhanas
instrumentais da banda sinfnica com a orquestra, ao afirmar que o naipe das clarinetas na
Banda de uma variedade imensa, porque, sendo elas as representantes naturais dos violinos
da Orquestra Sinfnica, precisam formar Massa Sonora, que equilibre com os demais
naipes. (BRUM, 1987, p. 62). Note-se que para este autor, a orquestra parece ser o
organismo instrumental por excelncia, pois ele faz questo de mencion-la com destaque,
fato este tambm observado quando faz referncia massa sonora em negrito. A afirmao
de Brum faz supor que ele tem em conta a instrumentao da orquestra sinfnica ao
conceituar a banda sinfnica. Nesta via, a banda sinfnica uma espcie de imitao da
orquestra sinfnica e no um grupo sinfnico autnomo, com repertrio e sonoridade prpria,
apesar das transcries e arranjos de msicas de orquestra ou arranjos e adaptaes de
msicas de Piano. Por esta razo o autor considera o naipe dos clarinetes, representantes
naturais dos violinos da Orquestra Sinfnica. Importa ressaltar que isto se d apenas e to
39
14
Termo utilizado pela Loja Virtual Sheet Music Plus.
40
Exemplo 1.8
Fonte: (WILLIAMS, 1924, p. 1)
41
Figura 1.9
Fonte: (SCHOENBERG, 1949, p. s/n)
Exemplo 1.10
Fonte: Excerto de Il Guarany (GOMES, 1986, p. 8)
43
Exemplo 1.11
Fonte: Excerto de Il Guarany (CLARKE, 1931, p. 7)
Figura 1.12
Fonte: (PERSICHETTI, 1954, p. 1)
45
Figura 1.12
Fonte: Incio de Adagio in Sol minore (ORSOMANDO, 1974, p. 1)
15
Famlia de instrumentos de sopro, feitos de metal, com tubo relativamente largo e afilado, bocal em taa e
vlvulas. Foram desenvolvidos pelo fabricante belga Adolphe Sax, em Paris, no perodo de 1842-5. Existem
muitas variedades, de sopranino em mib a um contrabaixo em sib, e apesar dos modelos maiores terem um
tubo mais largo, existe uma marcante homogeneidade no aspecto de todo o grupo. O tudo dobrado lembra o
de um grande trompete, pousado sobre uma das extremidades, com o bocal projetando-se em ngulo reto. Os
instrumentos mais caractersticos so os saxhorns alto e tenor (em mib e sib, respectivamente), que fazem
parte das bandas de metais britnicas e norte-americanas. Os instrumentos mais graves, o baixo em mib e o
contrabaixo em sib, tm tubo bem mais estreito do que as tubas equivalentes. No outro extremo, o sopranino
47
em mib e o soprano em sib so semelhantes em seu desenho bsico s cornetas de pistes nessa tonalidade,
ainda que os instrumentos de A. Sax, em sua maioria, tenham sido construdos para serem tocados na vertical,
em vez de maneira de um trompete. compreensvel que as pretenses de Sax de ter produzido um
instrumento inteiramente novo, e portanto patentevel, tenham sido violentamente contestadas em sua
poca. (DICIONRIO GROVE DE MSICA, 1994, p. 825)
48
Exemplo 1.13
Fonte: Incio de Preludio a Corale (CECCHERINI, 1956, p. 1)
16
Ancia, segundo Lus Henrique em seu livro Instrumentos Musicais (HENRIQUE, 1999, p. 302) o termo significa
Palheta. Como o instrumento Contrabasso and ancia no est inserido no naipe de Saxofones, supe-se que se
trata do Sarrusofone.
51
Figura 1.4
Fonte: Maestro Frederick Fennell (SIMON, 2004, p. 6)
O conceito proposto por Fennell, segundo seu criador era apenas um recurso de
sonoridade. A instrumentao inspirada na seo de sopros escolhida por Wagner (1813-
1883) no ciclo de peras O Anel do Nibelungo (1848-1874) e por Stravinsky (1882-1971) no
bal A Sagrao da Primavera (1913) foi imaginado como um ponto de partida a ser
utilizado somente se desejado (FENNELL, 1954, p. 52). Todavia, a criao do Eastman Wind
Ensemble demonstrou que a conciso conceitual de Fennell trazia em seu interior
complexidades tais que simplesmente revolucionaram no s a msica para grupos sinfnicos
de sopros a partir da sua criao, mas a difuso das possibilidades expressivas resultantes
daquela formao instrumental. A ideia se espalhou principalmente nas universidades norte-
americanas, na Inglaterra e tambm no Japo, este, com empenho e trabalho pessoal do
maestro Frederick Fennell, frente da Tokyo Kosei Wind Orchestra. Na questo atinente ao
repertrio o resultado foi e ainda formidvel haja vista a elaborao de diversas obras
especficas para essa formao instrumental, inclusive nos dias atuais. Dessa maneira, o
52
Figura 1.5
Fonte: Primeira formao do Eastman Wind Ensemble (Idem, ibidem, p. 49)
17
Juno das palavras banda e orquestrao, referindo orquestrao especfica para banda.
55
Mas Kreitner que parece ir direto ao ponto de interesse. Para ele, a criao do
Eastman Wind Ensemble foi uma tentativa de Frederick Fennell de reformar a banda
tradicional de seu tempo. A crtica de Kreitner refere-se ao fato do entendimento segundo o
qual, os princpios orientadores de Fennell eram no sentido do surgimento de partituras
especficas para sopros, com uma configurao instrumental flexvel e pequena. Alm disso,
para este autor, o Eastman Wind Ensemble mudou o universo da banda de sopros no apenas
pela difuso de um conceito revolucionrio, mas por fazer as coisas direito. Para este
autor, as bandas de concertos das associaes educacionais americanas tinham um problema
de substncia: eram grandes e cheias de msicos medocres. Tais aspectos foram vistos e
corrigidos por Frederick Fennell (KREITNER, 2011, p. 230). Dito isso, parece evidente que a
compreenso de Kreitner em relao ao trabalho realizado por Fennell que a partir da
criao do seu conjunto de sopros, as coisas musicais foram colocadas nos seus devidos
lugares, ou seja, de que os grupos sinfnicos de sopros deveriam ser categorizados por
habilidade e competncia tcnica, como ensinou Franko Goldman em seu livro The Amateur
Band Guide and Aid to Leaders (1916).
Jos Ivo da Silva destaca que a criao do Eastman Wind Ensemble introduziu o
conceito de instrumentao flexvel, possibilitando a execuo de uma variedade de obras
para grupos de sopros, algumas delas com instrumentao diferente daquela adotada pela
banda de sopros tradicional. Para o autor, o conceito aplicado no Eastman Wind Ensemble
resultou na ampliao de possibilidades de execuo do repertrio para grupos de sopros,
podendo executar num mesmo concerto, obras das mais diversas constituies instrumentais
(SILVA, 2012, p. 50). As colocaes de Silva tambm confirmam a expressiva quantidade de
obras surgidas a partir da criao do conjunto de sopros de Frederick Fennell, nas quais se
verificam diferentes complexidades tanto nas questes referentes escrita quanto na
diversidade da instrumentao.
Frank Erickson, por sua vez, relevante distino entre a banda de concerto em
sentido literal e o conjunto de sopros de Fennell, no que respeita escrita. Segundo ele:
Exemplo 1.14
Fonte: (ERICKSON, 1983, p. 10)
Com este exemplo o autor ensina que tal escrita s possvel num conjunto de sopros.
Isto se verifica pela diferena na instrumentao de um e outro grupo sinfnico. No conjunto
de sopros a recomendao de Fennell de um msico para cada parte. Assim, considerando o
Exemplo 1.14, haveria apenas 1 Flauta, 1 Clarinete Bb e 1 Saxofone para a execuo do
trecho em questo. Tendo-se em conta o exemplo ideal de banda de concerto apresentado por
Erickson, o naipe Flauta possui 10 instrumentistas e o de Clarinetes Bb, 18. Como o exemplo
apresentado em unssono, de fato, no h dvidas de que ele mais aplicvel no conjunto de
sopros. Dessa maneira, Erickson descreve a diferena fundamental entre a constituio
instrumental da banda de concerto e o conjunto de sopros de Fennell nas questes referentes
escrita.
Embora no demonstre por meio de partituras as diferenas entre a banda sinfnica e
o conjunto de sopros, Frank Erickson deixa evidente que se trata de grupos sinfnicos de
sopros distintos. Esta distino no se d apenas na constituio instrumental, que
basicamente similar, mas especialmente em relao ao grau de dificuldade das partituras
escritas para uma e outra formao sinfnica, como se v, por exemplo, em Wind, de Chen Yi
(ex. 1.5 instrumentao; 1.6 excerto) e Concerto for Band, de Robert Jager (ex. 1.7
instrumentao; 1.8 excerto).
Exemplo 1.5
Fonte: Instrumentao de Wind (YI, 2011, p. 2)
57
Exemplo 1.6
Fonte: Excerto de Wind (Idem, ibidem, p. 37)
58
Exemplo 1.7
Fonte: Folha de rosto de Concert for Band (JAGER, 1982, p. 2)
59
Exemplo 1.8
Fonte: Excerto de Concert for Band (JAGER, 1982, p. 26)
similar, como a Tokio Kozey Wind Orchestra, Lone Star Wind Orchestra e a Royal Northern
College of Music Wind Orchestra, que possuem constituio instrumentao e de repertrio
ancorados no conceito criado por Frederick Fennell; e a American Wind Symphony Orchestra,
que se constitui a partir da seo de sopros ampliada da orquestra sinfnica, com ampla
percusso. As orquestras de sopros brasileiras, ao que parece, adotam esta apenas para fugir
de uma espcie de preconceito em relao banda de msica no Brasil, na maioria das vezes
ligada msica de entretenimento e execuo de dobrados e valsas, nas praas e coretos de
cidades interioranas. Tanto a Orquestra de Sopros FEA como a OSFER, possuem constituio
instrumental e de repertrio incompatveis com o instrumental e repertrio encontrados na
Tokio Kozey Wind Orchestra, Lone Star Wind Orchestra e a Royal Northern College of Music
Wind Orchestra. Estas so constitudas por um conjunto de solistas um por parte e
possuem repertrio com grau de dificuldade avanado. Aquelas se constituem de efetivo
instrumental e repertrio muito parecido com a instrumentao e repertrio de uma banda de
concerto, em termos de efetivo instrumental e repertrio.
63
CAPTULO II
Exemplo 2.1
Fonte: (Belwin BAND, 2009, p. s/n)
arranjadores ao escreverem suas obras o fazem sob limites previamente estabelecidos, com
base nas habilidades tcnicas do instrumentista por outro, os regentes tm mo, obras
musicais que podem ser utilizadas nas diversas prticas sinfnicas. Tais especificidades sero
apresentadas a seguir, ancoradas nas obras.
Russian Folk Dance (2008), de Ludwig van Beethoven (1770-1827), foi composta
originalmente para piano, com Armadura de Clave de G (Sol). A adaptao (ex. 2.1) ora em
apreo uma realizao do compositor, arranjador e educador Jack Bullock, com base nas
recomendaes atinentes nveis de dificuldade contidos no Grau , com ressalva. O
Andamento Moderately 86 BPM19. Diferentemente da recomendao feita para a
elaborao dessas obras, nas quais h a indicao de que o compasso a ser adotado seja
quaternrio simples (4/4), Jack Bullock opta pelo compasso binrio simples (2/4). possvel
supor que a inobservncia recomendao a respeito do compasso tenha se dado em razo de
se tratar de uma adaptao. Entretanto, o fato relevante na medida em que demonstra que as
recomendaes so apenas sugestes e no prescries.
Nota-se tambm que a instrumentao utilizada compreende, em geral, quela
verificada nas partituras destinadas aos grupos sinfnicos de sopros extremamente iniciantes,
compostos por instrumentistas sem nenhuma experincia nesse tipo de formao instrumental
e com muito pouca prtica na execuo de um instrumento musical. Isso pode ser constatado
na instrumentao indicada na obra, onde h prevalncia de unssonos, inexistncia de diviso
de vozes nos naipes. Outro aspecto digno de nota na instrumentao da obra quantidade de
instrumentistas em alguns naipes, como por exemplo, os naipes das Flautas e dos Clarinetes
em Si Bemol, onde Bullock emprega 10 instrumentistas em cada deles (ver Quadro 2.1) em
unssono.
Quanto Armadura de Clave, se verifica que Bullock, desta vez, observou a
recomendao. Enquanto na obra para piano a Armadura de Clave de G (Sol), em ateno s
recomendaes de escrita para o Grau , Bullock optou pela Armadura de Bb (Si Bemol). A
respeito da deciso de Bullock concernentemente Armadura de Clave nos casos de
orquestrao ou transcrio para banda, bom alvitre considerar os ensinamentos de Oscar
Brum.
19
Batidas Por Minuto
66
para o Grau de dificuldade, fato que resulta numa obra adaptada, mas com possibilidades
efetivas de execuo por um grupo sinfnico nas condies em apreo. Os instrumentos de
percusso tambm foram empregados segundo a capacidade tcnica dos instrumentistas. O
Tmpano, que um instrumento opcional nesse nvel de dificuldade, foi empregado, bem
como outros instrumentos, tais como: Percusso com Teclados (Mallet Percussion) e demais,
divididos em Percusso 1 e 2. Obviamente que se pode depreender que h intenes didticas
em escritas musicais dessa natureza tais como: afinao, sonoridade, sincronia, intensidade,
entre outras.
INSTRUMENTAO
1 Condutor 2 Baritone Treble Clef (World WORLD PARTS
10 Flute Part Trombone in Bb Treble Available for download from
2 Oboe Clef) www.alfred.com/wordparts
10 Bb Clarinet 4 Tuba
2 Bb Bass Clarinet 1 Mallet Percussion (Bells) Horn in Eb
6 Eb Alto Saxophone 1 Optional Timpani (Tune: Bb, Trombone/Baritone/Basson in
4 Bb Tenor Saxophone Eb) Bb Bass Clef
2 Eb Baritone Saxophone 2 Percussion 1 Tuba in Eb Treble Clef
8 Bb Trumpete (Snare Drum, Bass Drum) Tuba in Sib Bass Clef
4 F Horn 2 Percussion Tuba in Bb Treble Clef
6 Trombone/Baritone/Bassoon (Crash Cymbals or Suspended
Cymbal with Snare Drum stick
Triangle)
segundo suas capacidades tcnicas e cognitivas. H tambm a destacar que nesta categoria
que os instrumentistas em fase precoce so levados a participar de um grupo sinfnico.
Todavia, por no possurem domnio na execuo do instrumento nas questes referentes ao
ritmo, afinao, tessitura e outros aspectos afins, as obras classificadas como Graus so
elaboradas de tal maneira que o iniciam de maneira muito elementar no universo da msica de
concerto, sempre com base na sua capacidade de execuo instrumental e de compreenso da
obra musical.
Exemplo 2.1
Fonte: Introduo de Russian Folk Dance (BULLOCK, 2008, p. 3)
Exemplo 2.2
Fonte: (Belwin BAND, 2009, p. s/n)
Antagonist (2010), de Larry Clark (1963), Grau 1. Nos oito compassos da Introduo
da obra, h que serem considerados os seguintes aspectos:
20
Som real.
71
Ressalte-se que sua tessitura compreende uma sexta menor e a chegada a esse
intervalo se d praticamente por grau conjunto, o que facilita sobremaneira a sua
execuo. H tambm a assinalar o emprego da melodia em oitava. Esse recurso de
escrita proporciona ao instrumentista as primeiras experincias relacionadas ao timbre
do seu instrumento combinado com outro e sua resultante sonora. Considerando o
emprego da instrumentao por voz21, verifica-se o seguinte:
Exemplo 2.4
Fonte: Introduo de Antagonist (CLARK, 2010, p. 3)
21
Som real.
72
Exemplo 2.5
Fonte: Introduo de Antagonist (CLARK, 2010, p. 3)
Exemplo 2.6
Fonte: Introduo de Antagonist (CLARK, 2010, p. 3)
Exemplo 2.7
Fonte: Introduo de Antagonist (CLARK, 2010, p. 3)
Quinta voz; Trombone Alternativo; sexta voz, Clarinete Baixo, Saxofone Bartono,
Trombone, Eufnio, Fagote e Tuba:
73
Exemplo 2.8
Fonte: Introduo de Antagonist (CLARK, 2010, p. 3)
Exemplo 2.9
Fonte: Excerto de Antagonist (Idem, p. 3)
Exemplo 2.10
Fonte: (CLARK, 2010, p. 3)
Isso significa que Larry Clark opta por combinar essas vozes entre os instrumentos,
privilegiando o timbre resultante dessa combinao. Com isso, Clark apresenta ao
instrumentista e ao grupo sinfnico, mesmo que de modo ainda incipiente, as
possibilidades e os recursos tcnicos relacionados orquestrao, (ex. 2.11).
75
Exemplo 2.11
Fonte: Introduo de Antagonist (CLARK, 2010, p. 3)
Mesmo assim, observa-se que os instrumentos esto alocados por naipes como
ocorre habitualmente nos grupos sinfnicos mais graduados, ainda que esses no estejam
distribudos em vozes instrumentais. Por exemplo, no naipe de Clarinetes Bb, nota-se que
Clark estabelece oito clarinetistas, situao idntica em outros naipes como o caso do naipe
das Flautas e Saxofones Alto Eb, estes, em nmero de cinco instrumentistas. O resultado
uma obra que, elaborada segundo princpios didticos definidos pela simplicidade tcnica,
76
Exemplo 2.12
Fonte: Instrumentao de Robot Madness (RUDGERS, 2008, p.1)
Tais alteraes apontam que j possvel, nesse nvel de dificuldade, constatar que o
instrumentista apto a executar uma obra elaborada outras dificuldades tcnicas e que possui
habilidades musicais suficientes a proporcionar-lhe as condies de execuo num naipe
77
dividido em duas vozes. Enquanto nos Graus precedentes naipes so elaborados em unssono,
agora esse mesmo naipe divido em duas vozes instrumentais. Nos compassos iniciais da
obra (cp. 1-7), verifica-se que Gregory Rudgers prope um nvel de sincronia entre os naipes
que s possvel de ser executado por instrumentistas possuidores de certo domnio da tcnica
do instrumento, adicionado sonoridade, afinao, intensidade e preciso rtmica, requeridas
pelo grupo sinfnico.
Com andamento Alegretto de 104 BPM, Armadura de Clave em Bb e compasso
Quaternrio Simples, Robot Madness iniciando com Clarinetes Baixo Bb (2), Saxofones
Bartono Eb (2) e Tubas (3) em unssono real, acompanhados pelo Prato Suspenso em rufos
com figuras rtmicas de 1 Semnima, 2 Colcheias que so sobrepostas nos compasso seguinte
pelas Trompas f (4), Trombones (2), Bartonos (2) e Fagotes (2), em unssono real e com
figuras rtmicas de Semnima; sobrepostos pelos Clarinetes em Bb (8) e Saxofones Alto Eb
(5) em unssono real e com figuras rtmicas de Colcheia, sobrepostas pelo 1 Trompete Bb (4)
em intervalo de 5 justa em movimento direto exige do seu interprete pelo menos dois
aspectos fundamentais: preciso e sonoridade, compreendida como a capacidade de combinar
seu instrumento com outros, com caractersticas timbrsticas diferentes das suas, tudo isso
com entradas uma aps a outra, em intervalos de tempo de apenas 1 compasso.
H a assinalar que o volume de som solicitado pelo compositor inicia-se em
intensidade em mp que vai crescendo para f cp. 5. Alm disso, cada grupo de instrumentos
inicia sua participao em intensidade de mp < f. Quanto aos instrumentos de Percusso, o
nvel de exigncia tcnica similar quele exigido dos executantes de instrumentos de sopro.
A participao da Percusso se d inicialmente com o Prato Suspenso em rulo22 seguido aps
dois compassos de tempo pela Matraca23, em direo ao f (cp. 5) por toda o grupo sinfnico
de sopros. Com tudo isso, o Grau 1 apresenta caractersticas mais complexas se comparadas
quelas encontradas nos Graus que o antecedem (Graus e 1), conforme se v no exemplo
2.13.
22
Termo brasileiro, s.m., pl. = rulos O mesmo que rulo simples. Tcnica utilizada para executar o maior
nmero possvel de batidas no instrumento (sobretudo nos membranofnicos) de modo que simule a
produo de um som contnuo; o tremolo aplicado aos instrumentos de percusso. A tcnica refere-se
quase exclusivamente s baquetas. (FRUNGILLO, 2003, p. 281).
23
Idiof. Rasp., s.f., pl. = matracas Roda de madeira dentada acionada por manivela de maneira que raspe em
uma ou mais lminas de madeira presas na estrutura do instrumento. (Idem, p. 206).
O instrumento tambm conhecido como raganela.
78
Exemplo 2.13
Fonte: Excerto de Robot Madness (RUDGERS, 2008, p.1)
2.2.3 Ftima
2008, pode ser inserida com algumas ressalvas no Grupo Sinfnico de Sopro Tipo 1:
Nveis Iniciais (Grau 1/2, 1-1) e classificada no Grau 1, categoria banda juvenil.
Tacuchian maestro, professor universitrio e compositor de diversas obras musicais. Entre
elas: O Canto do Poeta (1969), para soprano, violino, flauta e piano; Ritos (1977), para harpa;
Sinfonieta para Ftima (1986), para orquestra de cordas; Dia de Chuva (1963) para orquestra
sinfnica; e, Giga Byte (1994), para 14 sopros, piano e quinteto de cordas.
Ftima possui Armadura de Clave de F (F) at o compasso 17. A partir do
compasso 82 de ensaio a Armadura de Clave muda para B (Si), retornando Armadura de
Clave em F, no compasso 120; a instrumentao bastante econmica (ex. 2.14); as figuras
rtmicas utilizadas so: Mnimas Pontuadas, Semnimas e Colcheias; O compasso da obra .
Sobre o Andamento: Andante cp. 1-81, Alegro cp. 82-176. Comparativamente, no h
similaridade entre a instrumentao de Ftima (exemplo 2.14) e a instrumentao das obras
anteriormente analisadas (ver Quadro 2.2):
Exemplo 2.14
Fonte: (TACUCHIAN, 2008, p. 1)
80
- - - Bombardino 2
Saxhorn Eb
Tuba, 3 Tuba, 3 Tuba, 3 Saxhorn Bb
Bells, 1 Percusso com Teclados Percusso com Teclados -
(Bells, Chimes), 2 (Bells), 1
Tmpano (Op.), 1 - Tmpano, 1 -
Percusso, 2 Percusso 1 (Caixa Clara Percusso 1 (Caixa Clara e Pratos, Caixa Clara
e Bumbo), 2 Bumbo, Bloco de
Madeira), 2
Percusso 2 ( Prato de Percusso 2 ( Ratchet, Tomton grave, Bombo
Corte, Tom-tom, Prato Suspenso, Cowbell,
Tringulo, Pandeiro), 4 Anvil), 4
* Instrumento Opcional. (TACUCHIAN, 2008, 3).
Obs.: Os nmeros em negrito referem-se quantidade de instrumentistas inserida na obra. Em Ftima no h
qualquer referncia quantidade de instrumentistas.
24
Notao em Clave de F. (ERICKSON, 1983, 48).
25
Notao em Clave de Sol. (ERICKSON, 1983, 48).
81
Verifica-se que, enquanto Russian Folk Dance, Antagonist e Robot Madness seguem
um padro instrumental que as classificam como destinadas a um grupo sinfnico de sopros
h instrumentos tais como Obos, Fagotes, Clarinetes Baixo Bb, Trompas F, Tmpanos e
Percusso com Teclados a instrumentao de Ftima no fornece informaes pertinentes
quantidade de instrumentistas a serem empregados para sua execuo, nem parece ser
destinada a um grupo sinfnico de sopros no h Obo ou Fagote, por exemplo. Todavia,
Ftima pode ser classificada como uma Pequena Banda Modelo A ou Modelo B (BRUM,
1987, p.71), nas quais a instrumentao muito parecida com as instrumentaes de bandas
militares de Unidades Militares, destinadas realizao de desfiles e apresentaes de carter
popular nas praas e coretos. O Modelo A, segundo Brum, possui efetivo instrumental de 20
instrumentistas; por sua vez, o Modelo B, 24. O autor, que foi Regente da Banda Sinfnica da
Polcia Militar do Distrito Federal quando a Capital brasileira ainda se encontrava na Cidade
do Rio de Janeiro e das Bandas Sinfnicas dos Estados da Guanabara e Rio de Janeiro,
argumenta que cada tipo de Banda poder ter efetivo variadssimo, na quantidade e qualidade
dos instrumentos (BRUM, 1987, p.71). Comparando o que prope Brum com a
instrumentao de Ftima, se v o seguinte:
Quadro 2.3 Modelos de Pequena Banda (BRUM, 1987, p. 71) e Instrumentao de Ftima (TACUCHIAN,
2008, 1).
Pequena Banda
Modelo A Modelo B Ftima
- - Flautim
- 1 Flauta em D ou Requinta Mib Flauta
1 Requinta Eb - -
4 Clarinetas Bb 5 Clarinetas Sib Clarinete Bb 1
- - Clarinete Bb 2
- 1 Saxofone Alto Eb Saxofone Alto Eb
- 1 Saxofone Tenor Bb Saxofone Tenor Bb
- - Saxofone Bartono Eb
3 Trompetes Bb 3 Trompetes Bb Trompete Bb 1
- - Trompete Bb 2
2 Trompas em F ou Saxhornes Eb 2 Trompas em F ou Saxohornes Eb Trompa F 1
- - Trompa F 2
- - Trompa F 3
- - *Saxhorn Alto Eb 1
- - *Saxhorn Alto Eb 2
- - *Saxhorn Alto Eb 3
3 Trombones 3 Trombones Trombone 1
- - Trombone 2
- - Trombone 3
1 Bartono Bb
1 Bombardino 1 Bombardino Bombardino 1
- - Bombardino 2
82
Ao que tudo indica, parece que Tacuchian imaginou a execuo de sua obra por um
modelo de banda similar aos apresentados por Oscar Brum. No caso dos Saxohornes em Eb e
Bb, verifica-se que o compositor utiliza um nome diferente daquele comumente encontrado na
maioria das partituras para banda, quais sejam: Tubas em Eb e Bb. Somente nas partituras de
matriz italiana as Tubas so identificadas na partitura como Flicorni Bassi Gravi.
Nas questes referentes tessitura dos instrumentos, conforme indicados nos Graus ,
1-1 (Flauta, Clarinete, Trompete e Trompa), h alguma similaridade em relao a Ftima.
Destacam-se tambm os seguintes aspectos (ex. 2.15):
26
Essa tessitura corresponde nota escrita para o Saxofone Tenor e no nota de efeito, que soa uma nona
maior baixo da nota escrita.
27
Ressoa uma 3 menor da nota escrita; 8 abaixo do Saxofone Alto em Mib. (BRUM, 1987, p. 31).
28
A Trompa soa uma 5 justa abaixo da nota escrita.
29
Bb-1 (Si Bemol menos um).
84
constitui uma oitava abaixo do som escrito, indo as notas, portanto, para dentro
do pentagrama (BRUM, 1987, p. 45). Alm disso, Tacuchian utiliza pautas
distintas para os dois instrumentos. Oscar Brum, por sua vez, recomenda o que
tambm verificado tanto nas partituras de matriz americana quanto naquelas
de matriz italiana: a escrita para as Tubas deva ser em D, com som real na
organizao da Partitura para Banda, contendo a, em uma s linha, as notas,
tanto para a tuba em Sib como para a em Mib. Sistema italiano, portanto.
(BRUM, 1987, p. 46);
14. Na Percusso h apenas Pratos, Caixa Clara, Tomton grave e Bombo. A escrita
rtmica consiste em Mnimas, Semnimas (com apojaturas) e Colcheias. Nas
partituras classificadas como Grau e 1-1, o que se v habitualmente :
Percusso com Teclados (mallets percussion) Bells, Chimes), Tmpano
(algumas vezes como instrumento opcional), Percusso 1 (Caixa Clara e
Bombo), Percusso 2 (Pratos de Corte, Prato Suspenso, Tom-tom, Tringulo,
Pandeiro e Bateria opcional). A escrita de Mnimas, Semnimas e
Colcheias, com rulos para Caixa Clara.
Exemplo 2.15
Fonte: Incio de Ftima (TACUCHIAN, 2008, p. 2)
ainda que em estgio inicial de aprendizagem instrumental, executar obras musicais segundo
sua capacidade tcnica. Alm disso, as recomendaes de escrita proporcional aos
compositores e arranjadores, a elaborao de obras com destinao certa. Ftima no possui
informaes que possam informar sua destinao. Do ponto de vista rtmico e do compasso a
obra simples. Ritmicamente, utiliza apenas Mnimas, Semnimas e Colcheias; o compasso
Ternrio Simples (3/4). Nesses aspectos, a obra pode ser enquadrada nas recomendaes
feitas s obras escritas para agrupamentos sinfnicos de sopro tipo Grau e 1-1. Sobre a
Armadura de Clave, at o compasso 81 e a partir do compasso 115, tambm se verifica que h
similaridades com os Graus em apreo. Porm tais similaridades terminam a. A
instrumentao escolhida por Tacuchian tem mais a ver com os Modelos de Pequena Banda
apresentados por Oscar Brum (BRUM, 1987, p. 71) em seu livro Conhecendo a Banda de
Msica quase nada em comum com as partituras editadas pela Carl Fischer, por exemplo.
Enquanto Russian Folk Dance, Antagonist e Robot Madness so claramente destinadas aos
grupos sinfnicos de sopros iniciais, Ftima apenas uma obra para banda. Sobre a tessitura,
enquanto para um instrumento como o Clarinete Sib, a tessitura remendada nos Graus e 1-
1 de Sol2 a Sib3, em Ftima, Tacuchian escreve numa regio entre Mi2 e D5 (1 e 2
Clarinetes). importante ressaltar que o naipe de Clarinetes s dividido a duas vozes
somente nas obras Grau 1. Naquelas pertencentes aos Graus anteriores no h diviso de
vozes. No naipe de Trompetes Bb tambm se pode ver que, enquanto a tessitura
recomendvel para os grupos sinfnicos de sopros classificados como Grau e 1-1, de
D3 a D4, com diviso a duas vozes apenas para aquelas classificadas como Grau 1-1, em
Ftima, Tacuchian escreve para duas vozes de Trompete com tessitura de F2 a D5 (1 e 2).
Diante disso, depreendem-se pelo menos duas concluses:
1. A obra no pode ser executada por grupos de sopros pertencentes aos nveis
iniciais. A tessitura escolhida pelo compositor no favorece tal
possibilidade;
2. Assim, por um lado, a obra pode no despertar o interesse de grupos
sinfnicos de sopros iniciais, pelas dificuldades apresentadas pela tessitura
de alguns instrumentos; por outro, tambm no interessar aos grupos
sinfnicos mais avanados por ser estruturalmente muito simples e por no
possuir em sua instrumentao, instrumentos como Obo, Fagote, Clarinete
Baixo, Contrabaixo, Tmpano e Percusso com Teclados, por exemplo.
87
Desse modo, possvel inferir que Ftima apresenta alguns aspectos que dificultam
sua classificao nos Graus e 1-1. Sua escrita, muito embora apresente aspectos
semelhantes aos Graus citados nas questes referentes Armadura de Clave, Ritmo e
Compasso; nos aspectos atinentes tessitura utilizada, h pouca similaridade. Ao que tudo
indica, a obra de Tacuchian parece mais adequada s Bandas de Msica pertencentes aos
Regimentos de Cavalaria do Exrcito Brasileiro e outras pequenas bandas existentes em
muitas Unidades Militares. Nelas, os instrumentistas, por serem profissionais, so capazes de
executar seus instrumentos na regio escrita pelo compositor brasileiro.
O grupo sinfnico de sopros categorizado como banda juvenil parece ser um grupo j
estabelecido, apesar de principiante. Isto o que demonstra a instrumentao contida no
repertrio destinado a esta categoria, que requer habilidade tcnica no instrumento,
compreenso e capacidade de dar sentido a aspectos extramusicais. Segundo a Editora Belwin
BAND, as recomendaes para as partituras destinadas aos grupos sinfnicos categorizados
como banda juvenil, so as seguintes:
30
Som real.
88
Exemplo 2.16
Fonte: (Belwin BAND, 2009, p. s/n)
comum encontrar nesta categoria, arranjos de canes populares. Bad Girls (2013),
de Joe Beans Esposito, Eddie Hokensen, Bruce Sudano e Donna Summer arranjo de
Victor Lopes; Pure Imagination (2013), de Leslie Bricuse e Anthony Newley arranjo de
Douglas Wagner; I Gotta Be Me (2011), de Walter Marks arranjo de Reid Thomas; e, A
Tribute to Michael Jackson (2009), arranjo de Michael Story, todos elaborados com base nas
recomendaes indicadas para o grupo sinfnico de sopro categorizado como banda juvenil.
Entre as partituras citadas, A Tribute to Michael Jackson (fig. 2.17), Grau 2, ter suas
propriedades constitutivas analisadas a seguir.
89
Figura 2.17
Fonte: Incio de A Tribute to Michael Jackson (STORY, 2009, p. 3)
Exemplo 2.18
Fonte: (STORY, 2009, p. 1)
31
Abreviatura do nome original high hat. Par de pratos de dimetro mdio (entre 13 e 15) colocados
suspensos num sistema de estante acionado com o p. Foi introduzido originalmente na bateria [...] de
conjuntos de jazz para tornar independente do pedal do bumbo. Nesse tipo de mecanismo um dos pratos
fica preso a uma estante na posio horizontal com a cpula voltada para baixo enquanto o outro preso
tambm horizontalmente (com a cpula voltada para cima) por uma haste de metal que passa por dentro da
estante em que est preso o primeiro. Essa haste movida verticalmente por meio de um pedal, fazendo que
este prato possa ser chocado com o inferior. (FRUNGILLO, 2003, p. 151).
91
Figura 2.19
Fonte: Incio de The Way You Me Feel (STORY, 2009, p. 4)
Exemplo 2.20
Fonte: Excerto de The Way You Me Feel (STORY, 2009, p. 5)
Em Heal the World, terceira cano de A Tribute to Michael Jackson, verifica-se que
Story apresenta uma peculiaridade digna de nota. Se na cano anterior Billie Jean o
estado de esprito requerido de rock moderado, 116 BPM, agora o arranjador desemboca
abruptamente contrastante, Andamento Slowly de 84 BPM. Com acompanhamento bastante
simples incialmente a cargo dos Clarinetes Bb a melodia inicial da cano um solo a
cargo do 1 Trompete Bb (ex. 2.21). Do ponto de vista da tessitura e da diviso rtmica, o solo
de Heal the World bastante fcil de ser executado.
Exemplo 2.21
Fonte: Incio de Heal the Word (STORY, 2009, p. 16)
93
Exemplo 2.22
Fonte: Excerto de Heal the Word (STORY, 2009, p. 18)
94
Fig. 2.23
Fonte: Instrumentao de Niagara (RUDGERS, 2008, p. 1)
Rudgers explica que sempre ponderou a respeito das sensaes que teriam acometido o
primeiro ser humano ao encontrar Nigara. A fim de descrever musicalmente tal sensao,
Rudgers explica que os instrumentos de percusso no incio sugerem o som da queda de
longe, passo a passo crescendo, at chegar perto do momento da queda com uma fanfarra
poderosa e pr-histrica (RUDGERS, 2008, p.4).
A fim de alcanar este intento Rudgers recorre ao Tmpano e s trs Sees de
Percusso. Inicialmente a execuo percussiva, a cargo do Bass Drum with Timpani Mallets32
em rulo rtmico de Semibreve, com intensidade crescente a partir de p, acompanhado pelos
Tmpanos tambm em intensidade p crescente, seguido pelos Pratos Suspensos tambm em
intensidade p crescente, pela Caixa Clara em mp crescente, aos quais se junta o Tom-Tom em
intensidade ff, como se fossem passos de algum que se aproxima das cataratas e estupefato
presencia a exploso provocada pela queda das guas, representada pela Seo de Percusso
em intensidade ff executando 2 Colcheias e 3 Semnimas em dois compassos e 8 Colcheias no
compasso seguinte. Juntam-se a estes, os Clarinetes Baixos Bb, Saxofones Bartono Eb e
Tubas. Logo aps, em forma de pirmide, os Bartonos, 2 Trombones, 1 Trombones,
Trompas F, 2 Trompetes e 1 Trompetes Bb, coincidindo com a entrada no compasso 8
dos demais instrumentos de sopro, chega-se ao pice da exploso, com todos os instrumentos
em plena fora. a representao da queda dgua, segundo Rudgers.
Entre os compassos 5-7 (ex. 2.24), o compositor utiliza, excepcionalmente, altera a
constituio do naipe de Trombone, dividindo-o em duas vozes. Tambm nesse mesmo
trecho, verifica-se que o naipe de Trompete Bb dividido em trs vozes, onde o 2 Trompete
executa a parte concernente terceira voz e o 1 Trompete divide-se em segunda e primeira
voz respectivamente. A partir do compasso 8, os instrumentos so empregados conforme a
instrumentao recomendada para a categoria Grau 2,em que h diviso de vozes apenas no
naipe de Clarinete Bb (1 e 2) e de Trompete Bb (1 e 2).
32
Bombo com baquetas de Tmpano.
97
Exemplo. 2.24
Fonte: Incio de The Falls (RUDGERS, 2008, p. 4)
98
Na segunda seo, Lelawla, Rudgers faz referncia histria de uma jovem ndia.
Segundo ele,
concordar ou discordar sobre o que est a ocorrer. Cabe-lhe apenas aceitar a misso
salvadora de sua tribo.
Exemplo. 2.25
Fonte: Excerto de Niagara (RUDGERS, 2008, p. 9)
Fig. 2.26
Fonte: (Excerto de Niagara (RUDGERS, 2008, p. 29)
Tudo isso deve ser executado com um senso de movimento mecnico (RUDGERS,
2008, p.2), segundo o prprio compositor. Tal colocao demonstra objetivamente as
intenses desta terceira seo, como ele mesmo a denomina. A execuo dever ser realizada
de modo ruidoso, vigoroso, sem qualquer ralentando. As sncopes devem ser acentuadas e a
percusso, frentica e ansiosa.
Para Rudgers, as trs sees deste trabalho devem ter carter individual distinto
(RUDGERS, 2008, p. 2). Esta informao, se por um lado parece ser fundamental para uma
execuo razovel da obra, por outro, aponta para as necessidades cognitivas requeridas pelo
102
grupo sinfnico disposto a execut-la. Depreende-se, dessa forma, que Niagara para ser
executada por uma banda juvenil estabelecida, capaz de levar a efeito suas diversas nuances e
mudanas de cenrio. Naturalmente que a capacidade cognitiva requerida para execuo da
obra se d nos nveis atinentes a essa categoria de grupo sinfnico de sopros, o que no
impede que grupos sinfnicos de sopros mais avanados no possam execut-la. Na verdade,
apesar de ter sido elaborada para uma banda juvenil, a obra no fcil de ser bem executada.
Isto demonstra que tal execuo requer capacidades cognitivas e de capacidade tcnica
compatveis com as dificuldades da obra. Nisto est sua dificuldade em relao s obras
anteriormente analisadas.
Escrita para uma instrumentao flexvel, Palpite Infeliz (2008), com arranjo de
Hudson Nogueira, foi editada pela FUNARTE (Fundao Nacional de Artes), na Srie
Msica Brasileira para Banda. A flexibilidade da instrumentao se d em razo de que o
arranjo pode ser executado por diversas formaes de instrumentos de sopros, tais como:
Quarteto de Clarinetes (3 Clarinetas Bb e 1 Clarinete baixo Bb); Quarteto de Saxofones (2
Altos Eb, 1 Tenor Bb e 1 Bartono Eb); Quinteto de Sopros (Flauta, Obo, Clarineta Bb,
Trompa F e Fagote); Quinteto de Metais (2 Trompetes Bb, 1 Trompa F, 1 Trombone, 1 Tuba);
Conjunto de Madeiras; Conjunto de Metais, Banda Marcial e Banda de Msica ou Sinfnica
(NOGUEIRA, 2008, p. V). Alm disso, instrumentos de percusso como Tmpanos,
Teclados e Percusso Auxiliar so opcionais, podendo ser empregados em qualquer uma
dessas formaes instrumentais, segundo informa a Nota ao Regente.
A cano Palpite Infeliz, de Noel de Medeiros Rosa (1910-1937) sambista, cantor,
compositor, bandolinista um dos clssicos do cancioneiro brasileiro. Sobre o arranjo para
grupos de sopros diversos, elaborado por Hudson Nogueira (1968) saxofonista, clarinetista,
arranjador e compositor Marcos Nogueira, Professor de Orquestrao e Composio da
Escola de Msica da Universidade do Rio de Janeiro, afirma:
Quadro 2.4 Fonte: (STORY, 2009, p. 3); (RUDGERS, 2008, p.1); (NOGUEIRA, 2008, p. V)
INSTRUMENTAO Banda Juvenil (Young Band)
A Tribute to Michael Jackson Grau 2 Niagara Grau 2 Palpite Infeliz
Flauta, 8 Flauta, 8 Flauta
Obo, 2 Obo, 2 (Opc. 2 Flauta) Obo
- - 1 Clarineta Eb
Fagote, 2 Fagote, 2 Fagote
Clarinete Bb 1, 4 Clarinete Bb 1, 4 Clarinete Bb 1
Clarinete Bb 2, 4 Clarinete Bb 2, 4 Clarinete Bb 2
- - Clarinete Bb 3
Clarinete Baixo Bb, 2 Clarinete Baixo Bb, 2 Clarinete Baixo Bb
Saxofone Alto Eb, 5 Saxofone Alto Eb, 5 Sax Alto Eb 1
- - Sax Alto Eb 2
Saxofone Tenor Bb, 2 Saxofone Tenor Bb, 2 Sax Tenor Bb
Saxofone Bartono Eb, 2 Saxofone Bartono Eb, 2 Sax Bartono Eb
Trompete Bb 1, 4 Trompete Bb 1, 4 Trompete Bb 1
Trompete Bb 2, 4 Trompete Bb 2, 4 Trompete Bb 2
Trompa F, 4 Trompas em F, 4 Trompa F 1
- - Trompa F 2
Trombone, 4 Trombone, 6 Trombone 1
Bartono, 2 Bartono B.C., 3 Bombardino
Bartono T. C., 2 Bartono T.C. Sib, 2 -
Tuba, 4 Tuba, 3 Tuba
- - Contrabaixo
- Tmpano, 1 Tmpano
Teclado com Percusso, 2 - Teclados (Xilofone, Bells)
(Xilofone/Sinos)
Percusso 1, 3 Percusso 1, 2 Percusso 1 e 2 (Afox,
(Chimbal/Caixa Clara, Bombo) (Caixa Clara, Tom-tom, Sinos, Surdo,Ganz,
(Tom-Tom/Sinos de Vento/Pratos Pratos Suspensos) Tamborim)
Suspensos)
Percusso 2, 2 Percusso 2, 3 Bateria
104
o arranjo foi elaborado, em princpio, para ser executado por grupos sinfnicos de
sopros brasileiros, tambm possvel afirmar que h similaridades entre a escrita
de Hudson Nogueira e as recomendaes quanto escrita para banda juvenil;
4. A instrumentao para banda juvenil consiste em Flauta; Obo; Fagote; 1 e 2
Clarinetes Bb; Clarinete Baixo Bb; Saxofone Alto Eb; Saxofone Tenor Bb;
Saxofone Bartono Eb; 1 e 2 Trompetes Bb; Trompa F; Trombone; Bartono;
Tuba; Percusso com Teclados; Tmpano e Percusso; partes de Sintetizador e
Bateria, opcionalmente. Comparando-a com a instrumentao de Nogueira, h a
apontar algumas diferenas, tais como: insero do Clarinete Eb (Requinta); 3
Clarinete; 2 Trompa; e, Contrabaixo, que no constam nas instrumentaes para
banda juvenil. Quanto ao Bombardino, s uma questo de nome. Nas partituras
de matriz americana, o instrumento identificado como Bartono ou Eufnio B.C.
(Bass Clef), escrito na Clave de F. Acerca dos instrumentos de percusso, como
se trata de um arranjador brasileiro, os instrumentos escolhidos so caractersticos
do samba e podem ser considerados similares queles encontrados nas partituras
escritas para essa categoria de grupo sinfnico de sopro. Alm disso, Nogueira
escreveu para Percusso 1 e 2, aspecto comum nas partituras para banda juvenil;
5. Quanto escrita, verifica-se, no caso da Flauta que h pouca divergncia entre a
escrita recomendada para banda juvenil F3 a Mib5 e aquela encontrada no
arranjo de Hudson Nogueira para o instrumento, tais como pequenas ocorrncias
de F5 (cp. 56 e 92-94 e 97);
6. Para os Clarinetes Sib recomenda-se tessitura escrita entre Sol2 e L4 e diviso de
duas vozes instrumentais (1/2). Nogueira escreve para trs vozes de Clarinete
(1/2/3). No entanto, a tessitura utilizada compreende Sol2 a L4. Neste aspecto
h perfeita similaridade entre a recomendao de escrita para Clarinete na
categoria banda juvenil e a escrita de Hudson Nogueira para o instrumento, muito
embora o arranjador a tenha feito para trs vozes;
7. A escrita para Trompete em Sib nos agrupamentos sinfnicos categorizados como
banda juvenil de D3 a Sol4. Em razo de haver recomendao para duas vozes
(1/2), a tessitura escrita para o 2 Trompete de D3 a Mi4 e o 1 Trompete, at
Sol4. Em Palpite Infeliz, verifica-se que h similaridade tanto em relao
tessitura escrita (R3 a Sol4);
8. Sobre a Trompa, pede-se que a escrita para o instrumento seja de D3 a D4 a uma
s voz. No trabalho de Nogueira se v uma escrita para duas vozes de Trompa,
106
numa tessitura entre Mi3 e L4. possvel que o arranjador tenha escrita desta
maneira em razo da flexibilidade instrumental do arranjo. Segundo Nota de
Rodap contida na partitura, a Trompa 1 deve ser empregada tanto no Quinteto de
Sopros Flauta, Obo, Clarinete, Trompa e Fagote quanto na Banda; por sua
vez, a Trompa 2 deve ser empregada tanto no Quinteto de Metais 1 Trompete,
2 Trompete, Trompa, Trombone e Tuba quanto na Banda. Objetivamente,
porm, no caso da Trompa, no h similaridade entre a escrita para banda juvenil e
a escrita de Hudson Nogueira em Palpite Infeliz;
9. Quanto escrita para os demais instrumentos, a saber: Obo, Clarinete Baixo Bb,
Fagote, Saxofones, Trombone, Bombardino, Tuba, Tmpanos, Teclados, Percusso
e Bateria, verifica-se que h relao de proximidade entre a escrita para banda
juvenil e a escrita de Nogueira, tendo-se em conta que alguns instrumentos como
Clarineta Eb (Requinta), 3 Clarinete, 2 Saxofone Alto Eb, 2 Trompa F e
Contrabaixo no so previstos para a categoria de grupo sinfnico em anlise. De
todo modo, a escrita de Hudson Nogueira bastante similar escrita recomendada
para a categoria, Grau 2-2. As poucas diferenas encontradas se do ao que
parece, em razo de que o arranjador no elaborou seu trabalho sob as
recomendaes contidas para a categoria em questo. Alm disso, o trabalho
tambm foi escrito para uma instrumentao flexvel, de modo a poder ser
executado por grupos instrumentais distintos. Tal peculiaridade no encontrada
nas partituras para banda juvenil, fato este que aproxima e distancia o trabalho de
Nogueira das partituras escritas para a categoria analisada.
107
Fig. 2.27
Fonte: (NOGUEIRA, 2008, p. 1)
CONCLUSO
com peculiaridades objetivas e repertrio compatvel com sua habilidade musical. Por seu
turno, so requeridos dos compositores e arranjadores, conhecimento, aceitao e aplicao
das recomendaes de escrita. Assim, a obras tem endereo certo e sua configurao, prpria
das possibilidades dos instrumentistas e do grupo para o qual elaborada. O resultado prtico
disso tudo que instrumentistas, grupos sinfnicos e regentes tem disposio, repertrio
apropriado para os grupos em nveis iniciais e em consequncia, possibilidades efetivas de
realizao de apresentaes e concertos, a partir das habilidades e competncias tcnicas dos
instrumentistas, ainda que em nvel inicial.
110
CAPTULO III
Exemplo 3.1
Fonte: (BELWIN, 2009, p. s/n)
3.1.1 West Side Story: A Medley including: Maria; Tonight; One Hand, One Heart;
Cool; Somewhere Grau 3
West Side Story A Medley including: Maria; Tonight; One Hand, One Heart; Cool;
Somewhere Arranjo (1990), de Jay Bocook; Msica de Leonard Bernstein (1918-1990) e
Letra de Stephen Sondheim (1930) foi elaborada segundo as recomendaes de escrita para
grupos sinfnicos de sopros categorizados como Grau 3 e est inserida na categoria banda
juvenil de concerto (Young Concert Band), denominada pela editora Hal Leonard, de Young
Band Series. Dessa srie para banda juvenil de concerto, fazem parte arranjos de canes
populares, tais como Thriller, sucesso na voz de Michael Jackson Arranjo (2009), de Jay
Boccok, Grau 3, Msica e Letra de Rod Temperton; e, Final Countdown Arranjo (2006) de
John Moss, Grau 3, Msica e Letra de Joey Tempest, entre muitos outros.
No trabalho de Bocook verifica-se o seguinte:
1. Armaduras de Clave: F (F) cp. 1-93; Bb (Si Bemol) cp. 94-126; F (F) cp.
127-145;
2. Compassos: 4/4 cp. 1-50; 3/4 cp. 51-93; 4/4 cp. 94-145;
3. As figuras rtmicas atendem as recomendaes para a elaborao de partituras para
grupos sinfnicos de sopros, correspondentes ao Grau 3-3;
4. Quanto tessitura dos instrumentos, tambm se verifica respeito s recomendaes
de escrita para a categoria;
5. Sobre a Instrumentao (ex. 3.2) h a assinalar que no consta a voz de 2 Flauta,
conforme preveem as recomendaes categoria de grupo sinfnico de sopros em
anlise. Diferentemente do que se recomenda para essa categoria de grupo
sinfnico, consta na partitura em apreo, Clarinete Alto Eb e Contrabaixo; a
33
Som real.
112
Exemplo 3.2
Fonte: Instrumentao de West Side Story (BOCOOK, 1990, p. 1)
Acerca de West Side Story, Joan Peyser, anota a impresso de Brooks Atkinson,
crtico teatral do The New York Times entre 1925 e 1960:
cp. 1-4/Bell, cp. 1-6); preciso (Fagotes, Clarinete Alto, Saxofones Tenor, Trombones,
Bartonos, Percusso 2, Tmpano cp. 1/Semicolcheia-Mnima); sincronia (Flautim, Flauta,
Clarinetes Bb, Clarinete Baixo Bb, Saxofones Alto e Bartonos Eb, Trompas F,
Tubas/Contrabaixo, Percusso 1). Outro aspecto a destacar no trabalho de Bocook a
habilidade musical requerida dos instrumentistas para a compreenso e execuo dos estados
de esprito extramusicais envolvidos na obra. Esses estados de esprito aparecem nas
mudanas de andamento, variaes rtmicas e expresses de dinmica. Tais aspectos realam
as peculiaridades tcnicas do grupo sinfnico de sopros categorizado como banda de concerto.
Figura 3.3
Fonte: Incio de West Side Story (BOCOOK, 1990, p. 2)
115
Quadro 3.1 Instr. de Niagara e Wet Side Story (RUDGERS, 2008, p. 1; BOCOOK, 1990, p. 1)
Diferenas e Semelhanas de Instrumentao entre a Banda Juvenil e a Banda de Concerto
Niagara Grau2 West Side Story Grau 3
1 Flautim
8 Flauta 8 Flauta
2 Obo (Opc. Flauta 2) 2 Obo
2 Fagote 2 Fagote
4 Clarinete 1 em Bb 4 Clarinete 1 em Bb
4 Clarinete 2 em Bb 4 Clarinete 2 em Bb
4 Clarinete 3 em Bb
1 Clarinete Alto em Eb
2 Clarinete Baixo em Bb 2 Clarinete Baixo em Bb
5 Saxofone Alto em Eb 2 Saxofone Alto 1 em Eb
2 Saxofone Alto 2 em Eb
2 Saxofone Tenor em Bb 2 Saxofone Tenor em Bb
2 Saxofone Bartono em Eb 1 Saxofone Bartono em Eb
4 Trompete 1 em Bb 3 Trompete 1 em Bb
34
Srie de tubos de metal, entre 15 e 30, ocos ou macios, com certa de 0,5de dimetro, cada um com
comprimento maior que o outro (entre 3 e 12). So pendurados por fios numa barra de madeira, alinhados e
bastante prximos, por ordem de altura, de modo que ao se tocar um dos tubos de uma extremidade este
toque o prximo que com o balana provocado tocar o prximo e assim sucessivamente, como uma pilha de
domins alinhados. Como o movimento feito de forma rpida e os tubos obedecem a uma sequncia gradual
de altura sonora, o efeito obtido de uma sonoridade metlica em glissando. O instrumento teve origem em
estdios de rdio na Europa e Amrica do Norte para realizar efeitos de sonoplastia. chamado tambm bar
chimes. (Idem, ibidem. p. 205).
35
Som real.
116
4 Trompete 2 em Bb 3 Trompete 2 em Bb
3 Trompete 3 em Bb
4 Trompa em F 2 Trompa 1 em F
2 Trompa 2 em F
6 Trombone 3 Trombone 1
3 Trombone 2
2 Bartono T.C. em Bb 2 Bartono T.C.
3 Bartono B.C. 2 Bartono B.C.
3 Tuba 4 Tuba
1 Contrabaixo
1 Tmpano 1 Tmpano (Prato Suspenso)
2 Percusso com Teclados
2 Percusso 1 2 Percusso 1 (Drum Set)
(Caixa Clara, Tom tom, Bells, Prato
Suspenso)
3 Percusso 2 2 Percusso 2
(Bumbo, Prato de Corte, Cowbell, Anvil, (Prato de Corte, Mark Tree, Claves, Maracas,
Maracas Prato Suspenso, Tringulo, Hi-Hat)
Exemplo 3.4
Fonte: Final da Introduo e Incio de Beguine (BOCOOK, 1990, p. 3)
funo na famlia dos Clarinetes, o instrumento tambm pode ser utilizado como ampliao
do som vertical em relao ao Clarinete Bb 1, reforo do Clarinete Bb 3, solista, combinado
com o Fagote, Saxofone Alto Eb, Saxofone Tenor Bb e Trompa F, por exemplo. Na
introduo de West Side Story verifica-se que o Clarinete Alto empregado como voz
instrumental de bartono em relao ao Clarinete Baixo Bb. Em Niagara verifica-se apenas
duas vozes de Clarinete Bb; em West Side Story, Bocook prescreve trs vozes deste
instrumento; No caso do Saxofone Alto Eb, em Niagara no h duas vozes distintas na
instrumentao. Em West Side Story h Saxofone Alto Eb 1 & 2. Tanto neste caso quanto em
relao ao aparecimento do Clarinete 3 Bb, verifica-se que os instrumentistas integrantes da
banda de concerto j possuem capacidades tcnicas que os habilitam a executar seus
instrumentos de maneira independente, em outra altura e no em unssono tal se v nas
categorias anteriores. Isto demonstra que a partir do Grau 3 j so requeridas as primeiras
experincias harmnicas dentro do naipe ao qual pertence o instrumentista. Tal ocorrncia
tambm vista nos Trompetes Bb, Trompa F e Trombone. Nos Trompetes, Trompas e
Trombones o arranjador acrescenta mais uma voz, em relao ao verificado no Grau 2.
Bocook tambm acrescenta instrumentos de teclado Percusso e duplica as atribuies do
Tmpano, para quem se solicita a execuo deste instrumento, mas tambm do Prato
Suspenso.
Do ponto de vista da escrita rtmica, as distines verificadas nas primeiras partes de
Niagara e West Side Story so expressivas. Em The Falls primeira pea de Niagara o
compositor utiliza figuras rtmicas simples, de semibreves, colcheias e semnimas, num
andamento Maestoso e marcato (72 BPM). As melodias, por sua vez, se desenvolvem em
unssonos, divises a duas vozes nos Clarinetes Bb e Trompete Bb com divise no Trompete
1 e dobramentos; em contrapartida, Beguine ritmicamente mais complexa. Nela, alm do
andamento rpido (120 BPM), verificam-se sncopes, acentos e harmonia dissonante, tudo
isso num estilo latino solicitado Caixa.
Diante dessas observaes iniciais, possvel constatar as expressivas diferenas
entre a partitura escrita segundo as recomendaes do Grau 2 e Grau 3 tanto nas questes
referentes ao grau de dificuldade, quanto em relao instrumentao. As semelhanas se do
no mbito da quantidade instrumentistas em algumas vozes instrumentais, como por exemplo,
as Flautas e os Clarinetes 1 & 2, por exemplo. Mesmo assim, ainda que semelhantes, a
quantidade de instrumentistas representa melhor qualidade tcnica, haja vista que os
instrumentistas so mais experientes e por tal razo, possuidores de competncia e habilidades
tcnicas compatveis com as peculiaridades da obra.
118
Feita a transio, inicia-se uma execuo tipicamente latina, a cargo dos Fagotes,
Clarinete Alto Bb, Saxofones, Trompas F, Bartonos, Tubas, Contrabaixo e Percusso. A
partir do compasso 15, os Clarinetes Bb, com anacruse, comeam Tonight em unssono
real. Na anacruse do compasso 25, a melodia iniciada pelos Clarinetes reforada pelas
Flautas e Obos. Neste trecho, as Flautas e Obos em unssono de oitava executam a melodia
de Tonight em junto com os Clarinetes, harmonizados em bloco homofnico. A partir da
anacruse do compasso 31, os Trompetes Bb, em unssono de oitava com as Flautas e unssono
real com os Obos, enriquecem a melodia, proporcionando a formao da textura de um s
elemento, resultante da ampliao do som vertical, como ensina Walter Piston, (PISTON,
1984, p. 385).
Um solo de Chimes (cp. 50) anuncia o que vir a seguir. One Hand, One Heart,
uma cano ternria (3/4) elaborada em Semnimas e Mnimas andamento de 80 BPM
com tal simplicidade que mais parece um hino cantado por coro feminino em uma igreja
antiga (ex. 3.5). O ambiente sonoro que se forma devocional, religioso, como solicita a
partitura de Bocook compasso 51 de ensaio (ex. 3.6). A execuo inicial desse trecho a
cargo do naipe de Clarinetes (Clarinete Bb 1, 2, e 3; Clarinete Alto Eb e Clarinete Baixo Bb).
A ambincia de devoo enriquecida pelos rulos do Prato Suspenso, em crescendo (cp. 61-
62). No compasso 71 a cano reexposta, em unssono de oitava, pela Flauta, Obo e
Clarinete Bb 1. A partir desse momento o coro ganha corpo por intermdio do fundo
harmnico passivo realizado pelos Saxofones, Trombones, Bartonos, Tubas e Contrabaixo,
adicionado simultaneamente pelos arpejos do Clarinete Bb 1, todos acompanhados de modo
sutil pelo Tringulo (Percusso 2). A partir do compasso 79 de ensaio, em tutti orquestral e
intensidade crescente, One Hand, One Heart encaminha-se para o final. Dessa vez, como
um grande coro, o hino direciona-se para o amm conclusivo em pequena intensidade
decrescente, a partir de mp para o fecho em p.
Exemplo 3.4
Fonte: Incio de One Hand, One Heart (BOCOOK, 1990, p. 10)
119
A transio de One Hand, One Heart para Cool um pouco mais complexa.
Enquanto a primeira exigiu uma carga emocional intensa de todo o corpo orquestral, a fim de
que o hino fosse executado como uma obra coral de carter fortemente religioso,
requerendo dos instrumentistas habilidades tcnicas sofisticadas para a empreita; em Cool,
a partir do compasso 94 de ensaio (ex. 3.7), tudo diferente. Trata-se de um Moderate Swing
(132 BPM). A Armadura de Clave e o tempo do Compasso so outros: passa de F (F) para
Bb (Bb) e de 3/4 para 4/4 respectivamente, tudo em conformidade com as recomendaes
feitas s partituras escritas para agrupamento sinfnicos de sopros categorizados como banda
de concerto Grau 3-3. A cano inicia-se com estalos de dedos (Fingers snaps), levados a
efeito pelos integrantes dos naipes de Trompetes, Trompas, Bartonos, Tubas e pelo
executante de Contrabaixo, acompanhados pela Percusso 1 e 2 (Hi-Hat). Trata-se de outros
desafios musicais.
Para uma compreenso mais apurada de Cool, vlido considerar a narrativa de
Joan Peyser, autora do livro Bernstein: uma biografia. Segundo a autora,
de saxofones tcnica usual neste tipo de grupo instrumental ele opta por dois saxofones
em unssono real (Alto e Tenor), Clarinetes Bb, Flautas e Obos em unssono de oitava em
relao aos Saxofones e Flautim, em unssono de oitava em relao aos Clarinetes, Flautas e
Obos. O efeito sonoro dessa escrita de unssono em trs dimenses, uma interessante
ampliao do som vertical.
Exemplo 3.5
Fonte: Incio de Cool (BOCOOK, 1990, p. 10)
anuncia a bonita Somewhere (ex. 3.6). Apesar de ser uma cano simples, sua execuo
requer habilidades tcnicas apuradas. A Armadura de Clave volta a ser de F (F), o
Andamento lento Slowly (72 BPM) e o tempo de compasso, 4/4. Ao solista est a
responsabilidade de executar em mp, os compassos iniciais (cp. 127-130) da singela melodia.;
os quatro compassos seguintes a cargo do Flautim, Flautas, Obos e 1s & 2s Clarinetes Bb
requerem as mesmas habilidades necessrias ao solo de Trompete. Esta caracterstica
meldica de Somewhere demonstra o grau de dificuldade do trecho, para uma execuo de
excelncia. O acompanhamento comea misterioso (cp. 128): Tuba em nota pedal (D1),
juntamente com Tmpano (D2) em rulo; Clarinetes em Bb em unssono de oitava entre si e
Flautas em unssono real com os 1 Clarinetes.
Figura 3.6
Fonte: Melodia inicial37 de Somewhere (BOCOOK, 1990, p. 10)
Todavia, a partir do compasso 131 que a cano comea a tomar corpo. Nesse
instante todo o corpo orquestral inicia sua participao para a exploso em ff verificada no
compasso 133. So glissandos (Saxofones Alto e Trompas), reexposio do motivo rtmico
inicial (duas colcheias ligadas a uma mnima pontuada), contrapontos (Fagotes, Clarinete
Alto, Saxofones Tenor, Trombones e Bartonos), notas pedais (Clarinete Baixo, Saxofone
Bartono e Tubas) e ataques intercalados da Percusso, tudo em ff. No compasso 138 comea
um decrescendo para p. fim que se anuncia.
Agora, a cargo das Flautas e 1s Clarinetes em unssono de oitava, juntamente com
os Saxofones Alto Eb em unssono de oitava em relao as Clarinetes Bb, produzem um tipo
de textura que ressoa tridimensional, aquela que produz um efeito de ampliao do som
vertical. O Acorde final de responsabilidade das Flautas, Obos, Fagotes e Clarinetes Bb,
adicionados a uma execuo de Teclados com Percusso (Mallets) apenas uma semnima no
primeiro tempo do compasso. O conjunto de madeiras (Flautas, Obos, Fagotes e Clarinetes
Bb) permanecem em fermata e com intensidade pp decrescente, a executar o acorde
conclusivo.
37
Solo em som real a cargo do 1 Trompete Bb.
123
Exemplo 3.7
Fonte: Instrumentao de (CLARK, 2009, p. 1)
Exemplo 3.8
Fonte: Incio de Aland Remembered (CLARK, 2009, p. 4)
Os elementos meldicos (Elemento A) responsveis pela fanfarra (ex. 3.938) entre si,
tambm produzem o que Piston chama de textura de um s elemento. Os 1s Trompetes Bb e
os 1s Trombones apresentam-se em unssono de oitava, produzindo alargamento vertical da
melodia; por sua vez, unssonos de oitava tambm so verificados entre os 2s Trompetes Bb
e 2s Trombones; os 3 Trompetes Bb, exceo da segunda nota mi de efeito executam
unssono de oitava com os Bartonos; As Trompas F enriquecem a sonoridade do bloco
harmnico ora completando a stima maior do acorde (Eufnios, Trombones e Trompas), ora
em intervalo de 2 menor em relao ao 3 Trompete Bb.
Exemplo 3.9
Fonte: Incio de A Land Remembered (CLARK, 2009, p. 4)
38
Sons reais.
39
Sons reais.
127
instrumentos, ao utilizar unssonos reais entre Flautas e Bells (unssono de oitava com 1s
Clarinetes, Saxofones Alto, Tenor e Chimes). Neste trecho tambm se verifica o que Piston
(PISTON, 1984, p. 385) chama de espessamento harmnico, realizado em teras, pelas 2s
Flautas, Obos e 2s Clarinetes Bb (unssono de oitava).
Exemplo 3.10
Fonte: Incio de A Land Remembered (CLARK, 2009, p. 4)
Exemplo 3.11
Fonte: Incio de A Land Remembered (CLARK, 2009, p. 4)
reexposio do motivo temtico que anuncia o segundo movimento da obra. Dessa vez, sobre
uma textura acrdica em fp, anunciando o fim do primeiro movimento em tutti ff.
Exemplo 3.12
Fonte: Incio de A Land Remembered (CLARK, 2009, p. 4)
Exemplo 3.13
Fonte: Incio de On the Praire (CLARK, 2010, p. 4)
unssonos de oitava. Isto pode ser realizado por meio de tutti orquestral ou sees
instrumentais do grupo instrumental, unssonos reais, ou atravs do dobramento de teras ou
sextas, formando espessamento harmnico. No trecho em anlise, tambm se verifica que o
compositor, alm de utilizar o espessamento harmnico entre as Flautas e 1s Clarinetes, s
vezes emprega estes instrumentos em contraponto meldico em relao ao tema principal, a
cargo das Flautas. (ex. 3.1440).
Figura 3.14
Fonte: (CLARK, 2010, p. 9-11)
Na anacruse do compasso 38 esta melodia muda de cor e altura. Desta vez sua
execuo est a cargo dos 1s e 2s Trompetes Bb. O acompanhamento em fundo harmnico,
com eventuais intervenes em forma de descanto, realizadas pelos Saxofones Alto Eb
(1/2), em unssono real e pelas Trompas (1/2), tambm em unssono real. Todo o trecho,
compreendendo a anacruse do compasso 38 at o compasso 46, dedicado ao tema principal
do movimento em questo. Nisto, o compositor procura retratar a melancolia, mas tambm o
carter fraterno do lugar, atravs de uma melodia simples, numa espcie de vocalize (que
poderia ser cantada por uma voz de soprano).
A partir do compasso 46, h uma preparao harmnica que visa a reexposio do
tema principal da obra, desta vez uma quinta justa (F F) acima do tom inicial. Aps um
crescendo orquestral o tema reexposto em f pelas 1s Flautas e 1s Trompetes Bb em
unssono de oitava. a utilizao do timbre como valor estrutural como ensina Peter Jost
(JOST, 2005, 17). Nisto as caractersticas timbrsticas particulares desaparecem em prol da
sonoridade resultante da execuo simultnea dos instrumentos. Simultaneamente, verifica-se
melodias em teras (2s Flautas e 2s Clarinetes Bb e 2s Trompetes Bb), produzindo
novamente a textura de um s elemento, na qual essas melodias simultneas no resultam em
novas linhas meldicas, mas em possibilidades meldicas que proporcionam espessamento
harmnico. Neste trecho tambm possvel constatar que h uma melodia secundaria a cargo
40
Sons reais.
131
Figura 3.15
Fonte: (CLARK, 2010, p. 9-11)
Figura 3.16
Fonte: Excerto de Hardships on the Rugged Frontier (CLARK, 2010, p. 22)
obra, a um breve momento de repouso que contm os sons da msica dos Seminoles. Essa
msica aps um breve pedal harmnico, a cargo dos Clarinetes Baixo Bb (1/2), Saxofones
Bartono Eb, Trombones, Eufnios e Tubas (1/2) anunciada, em unssono real, pelos
Fagotes, Saxofones Tenor Bb e as Trompas F. No trecho, h a destacar o breve momento de
repouso citado pelo compositor. Para isso, ele utiliza uma tcnica de orquestrao, segundo a
qual o instrumento perde seu carter sonoro especfico (JOST, 2005, p. 18), juntando-se a
outros em favor do valor estrutural da sonoridade resultante da fuso dos instrumentos.
Aps o breve momento de retorno msica dos Seminoles, aparecem movimentos
ascendentes de colcheias em intervalos simultneos de quinta justa, iniciando com os
Trombones e Eufnios, que se juntam s Trompas F e Trompetes Bb, seguidas pelos
Saxofones Alto Eb, Saxofones Tenor Bb, Clarinetes Baixo Bb, Clarinetes Bb, Fagotes e
Flautas. Todos dentro dos seus naipes divididos em intervalos simultneos de quinta justa e
em movimento direto. Quanto percusso, suas intervenes se do em rulos, com pequenos
grupos de colcheias.
Antecedido por um molto retardando em intensidade crescente, o compasso 140
anuncia a retomada da agressividade inicial (Tempo I, 144-152 BPM). Desta vez, aps um
ataque acrdico em tutti orquestral, a percusso que d incio agressividade triunfal. No
compasso 148 de ensaio, verifica-se a reexposio de um tema executado na regio mdia
grave do grupo orquestral. O tema executado em unssono orquestral em mp, sem
acompanhamento da percusso, que vai crescendo em intensidade. No compasso 164, a
percusso inicia sua execuo em intensidade forte para, a partir do compasso 166, todo o
grupo orquestral reexpor o tema inicial do movimento, em f. o retorno seo agressiva,
que leva a uma coda emocionante, segundo Larry Clark. No compasso 194 de ensaio, o
compositor retorna triunfalmente ao tema principal da obra num andamento repentinamente
lento, tal qual fizera anteriormente. Agora, por intermdio das madeiras (Flautas, Obos,
Clarinetes Bb, Saxofones Alto Eb), acompanhados pelos demais instrumentos de sopro num
ataque em fp e pela percusso (Tmpano, Percusso 1 e 2) em ff crescente.
Illinois publicadas pela The Hindsley Transcriptions. Entre elas destacam-se as transcries
de cnones da msica de orquestra de compositores comoBeethoven (1770-1827), Egmont
Overture; Debussy (1862-1918), Prelude to THE AFTERNOON OF A FAUN; Dvorak (1841-
1904), New World Symphony; Mussorgsky (1839-1881), Pictures at na Exhibition; Rimsky-
Korsakov (1844-1872), Scheherazade; e, Tschaikowsky (1840-1893), Capriccio Italien, entre
outras.
Capriccio Italien sinnimo de sucesso em qualquer programa de concerto.
Elaborada com melodias simples, inspiradas nas manifestaes populares italianas, esta obra
possui atributos tais que despertou o interesse de Mark Hindsley em transcrev-la para banda
de concerto (ex. 3.17). curioso que Hindsley, diretor de bandas, maestro e profundo
conhecedor da estrutura e funcionamento de grupos sinfnicos de sopros tenha optado pelas
transcries de msica de orquestra, ao invs das obras originais para sopros.
Para o maestro Roberto Farias,
Figura 3.17
Fonte: Incio de Capriccio Italien (HINDSLEY, 1982, p. 1)
138
Exemplo 3.18
Fonte: Incio de Capriccio Italien (TCHAIKOVSKY, 1986, p. 108)
Exemplo 3.19
Fonte: Instrumentao de Capriccio Italien(HINDSLEY, 1982, p. s/n)
Exemplo 3.20
Fonte: Instrumentao de Pageant (PERSICHETTI, 1954, p. 1)
140
Figura 3.21
Fonte: Instrumentao de A Festive Overture (REED, 1963, p. 1)
41
Conjunto instrumental baseado na formao base de jazz band (4 Trompetes Bb, 2 Saxofones Alto Eb, 2
Saxofones Tenor Bb e 1 Saxofone Bartono e 4 Trombones, adicionados a outros instrumentos tais como 2
Flautas, 1 Obo, 1 Fagote, 2 Clarinetes Bb, 1 Clarinete Baixo Bb, 1 Trompa e 1 Tuba, mais Piano, Guitarra,
Contrabaixo, Percusso e Bateria.
141
Exemplo 3.22
Fonte: Instrumentao de Dance of the Sugar Plum Fairy (NESTICO, 1966, p. s/n)
Exemplo 3.23
Fonte: Lay out de Dance of the Sugar Plum Fairy (NESTICO, 1966, p. 1)
142
Exemplo 3.24
Fonte: Instrumentao de Capriccio Italien(HINDSLEY, 1982, p. 19)
143
Maestro Duda, nascido Jos Ursicino da Silva (1935), velho conhecido no universo
das bandas de msica brasileiras. Pernambucano de Goiana, obosta, maestro, arranjador e
compositor de obras como Suite Recife, Gonzagueando e Msica para Metais No. 1, gravadas
no CD Brazil: Brass Music from Northeastern Brazil (1995), pelo Quinteto de Metais Brassil;
de obras originais para banda de concerto como Msica para Metais, Sute Pernambucana de
Bolso e Sute Nordestina uma das obras mais populares do repertrio das bandas brasileiras;
do clebre arranjo para jazz band da Aria (Cantilena), das Bachianas Brasileiras No. 5,
(VILLA-LOBOS), registrado no CD Arranjadores (1997), alm de outros trabalhos como
compositor ou arranjador.
A fim de posicionar uma obra brasileira na categoria de banda de concerto como se
v no catlogo de distribuidoras e editoras como Hal Leonard e Carl Fischer, Sute
Nordestina foi escolhida por suas caractersticas constitutivas e por ser uma obra bastante
conhecida nas bandas de msica brasileiras. A obra ser analisada, a partir das recomendaes
de escrita para grupos sinfnicos de sopros categorizados como banda de concerto (Grau 3-
3.5/3). A partitura em apreo faz parte da Srie Msica Brasileira para Banda, publicada
pela FUNARTE (2008).
Assim, verificam-se os seguintes aspectos:
1. Suite Nordestina constituda de quatro movimentos contrastantes entre si, quais
sejam: Introduo; I. Lento-Baio; II. Pesante-Serenata; III. Maracatu; e, IV.
Vivo-Frevo;
2. No h indicao do grau de dificuldade nas informaes referentes execuo
da obra;
3. Armadura de Clave: I. Lento-Baio, F (F); II. Pesante-Serenata, D (R-r); III.
Maracatu, C (D); IV. Vivo-Frevo, C-F (D-F);
4. Compasso: I. Lento (4/4)-Baio (2/4); II. Pesante-Serenata (4/4); III. Maracatu
(2/4); IV. Vivo-Frevo (2/4); Coda (4/4);
5. Ritmo: de acordo com as recomendaes feitas categoria banda de concerto,
guardadas as peculiaridades da msica popular brasileira no que se refere aos
deslocamentos rtmicos;
6. Instrumentao: ver Quadro 3.2 com instrumentao comparativa, a seguir:
144
da obra 70 instrumentistas. Por sua vez, na capa da obra de Larry Clark, 79. Na folha de
rosto de Sute Nordestina, de Mestre Duda, no consta tal informao.
Sobre a tessitura, verifica-se que h semelhana, com algumas excees, entre as
recomendaes feitas s obras escritas para grupos sinfnicos categorizados como banda de
concerto. Naturalmente que em razo de Mestre Duda no ter escrito sua obra baseado nas
recomendaes apropriadas a uma banda de concerto, verifica-se h algumas ultrapassagens
nos limites da tessitura de alguns instrumentos, como por exemplo: Flauta (cp. 84, 94, 100,
104, 108, 116, 120); 1 Clarinete (cp. 70, 125); 1 Trompete Bb (cp. 35, 84, 94, 100, 104, 108,
117, 120, 125); 1 Trompa (cp. 94, 100, 104, 108, 116-117, 120, 125). H a ressaltar que a
ateno aos aspectos referentes tessitura, dizem respeito diretamente habilidade do
instrumentista na execuo do seu instrumento. Isto orienta principalmente o regente na
escolha de repertrio compatvel com a habilidade dos seus instrumentistas. neste sentido
que recomendaes divididas por categorias tm sua funcionalidade garantida. Demonstra que
a categorizao dos grupos de sopros no mera exigncia editorial, mas sim, didtica e
funcional.
Sobre a obra em si, trata-se de um evento sonoro divido em quatro sees I. Baio;
II. Serenata; III. Maracatu; e, IV. Frevo antecedidas por uma introduo. Segundo Marcos
Nogueira,
Essa figura meldica, presente na introduo (ex. 3.25) e referida por Nogueira,
aparece explicitamente na transio da primeira seo (lento, 60 BPM, cp. 34) para a
introduo (Pesante, 54 BPM, cp. 38-39) que antecede a segunda seo (Serenata, 60 BPM,
cp. 40-53). As demais sees fazem parte de gneros aparentados Maracatu e Frevo que,
diferentemente do que afirma o autor, no necessitam da figura meldica em apreo para
interligao. H, porm, um aspecto que parece implcito na obra de Maestro Duda: um tipo
de sonoridade peculiar jazz band, que o Mestre conhecia to bem. Sobre isto, basta recordar
seu famoso arranjo para a erudita Bachianas No. 542, de Villa-Lobos.
42
Bachianas No. 5 (Heitor Villa-Lobos/Arr. Duda do Recife) Banda Savana. Projeto Memria Brasileira (1997).
147
Exemplo 3.25
Fonte: Abertura de Suite Nordestina (SILVA, 2008, p. 1)
Exemplo 3.26
Fonte: Continuao da Abertura de Sute Nordestina (SILVA, 2008, p. 3)
43
Baiano ou Baio parece ser uma dana usada apenas da Bahia para cima. Sobre ela se encontra referncias
neste Estado, em Sergipe, Paraba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Cear e Maranho. uma dana de
pares solistas, um homem e uma mulher, com sapateados, palmas, umbigada, meneios e o uso de castanholas
ou de um castanholar de dedos que as substitua. [...] o Baiano apresenta o detalhe de que os espectadores no
formam a costumeira roda, mas se mantm sentados ao redor da sala; entre eles o par solista vai buscar o seu
substituto, com a clssica umbigada. Em outras descries [...], a umbigada aparece substituda por uma
mesura ou pelo estalar castanholado de dedos diante do sucessor escolhido. [...] o Baiano danado em roda,
por mulheres e homens aos pares ou sozinhos (provavelmente, no centro da roda), sendo o ritmo da dana
acompanhado por sapateados e palmas. Tanto Slvio Romero como Rodrigues de Carvalho do o Baiano como
a dana caracterstica do samba, usando esta palavra no seu sentido genrico de baile popular em que se
executam danas movimentadas. (ALVARENGA, 1982, p. 177-178).
149
Para Nogueira,
Exemplo 3.27
Fonte: Incio de Baio (SILVA, 2008, p. 4-6)
150
nesta linha que o tema do Baio se desenvolve, como uma cantiga sem poesia, mas
facilmente assimilvel, com tal singeleza constitutiva que sua melodia fica no ouvido como
assinala Bernstein. Essa uma caracterstica das melodias composta por Maestro Duda, como
se ver na apreciao de sua Sute Nordestina. Orquestrador habilidoso, Duda apresenta a
primeira parte do tema (cp. 18-25) utilizando a regio de bartono e baixo do grupo sinfnico
(Fagotes, Clarinetes Baixo Bb, Saxofones Tenores Bb, Saxofones Bartono Eb, Trompas F,
Trombones e Bombardinos). Na segunda parte do tema (cp. 26-33), ele emprega as vozes
agudas e mdias do corpo orquestral em oitavas, ampliando dessa forma o som vertical da
melodia e explorando as caractersticas timbrsticas dos instrumentos empregados, ora em
unssonos reais, ora em unssonos de oitava.
Secundariamente o compositor emprega trs tipos de acompanhamento: 1.
arpejo mixoldo a cargo dos Clarinetes Bb e Saxofones Alto Eb (cp. 20-21/24-25); 2. cortina
harmnica44 a cargo dos Clarinetes Bb, Clarinete Baixo Bb e Saxofones; 3. rtmico-
percussivo a cargo das Tubas, Contrabaixo e Percusso (ex. 3.25]8). Dessa forma,
caracteriza-se o baio enquanto dana brasileira, recheada de meneios, palmas e muita alegria.
Aps uma repetio, esta cantiga chega ao fim (cp. 34). A o motivo temtico da Introduo
inicial reexposto, desta vez, resumidamente contrado para concluir jazzisticamente com um
recurso segundo a qual a dominante resolvida por semitom descendente, sub V7 (dominante
substituta). Neste caso, em vez de chegar ao acorde de F (F Maior) antecedido de sua
dominante tradicional (D7), chega-se por intermdio de outro caminho, mais prximo Gb7
(Sol Bemol Maior com Stima) F 7M/9 (+11/13) F Maior com Stima e Nona Maior,
acrescido de Dcima-Primeira Aumentada e Dcima-Terceira Maior).
Exemplo 3.28
Fonte: Excerto de Baio (SILVA, 2008, p. 4)
44
[...] contracanto passivo harmonizado em bloco (GUEST, 1996, p. 119)
151
Uma breve introduo (cp. 37-39/ex. 3.29) com a melodia a cargo do 1 Trompete
Bb e Bombardino, em unssono de oitava anuncia a segunda seo. O acompanhamento, em
fundo harmnico bastante simples: consiste basicamente de figuras rtmicas de
Semnimas, exceo do 1 Saxofone Alto Eb (cp. 37 e 39), 2 Trompete Bb e 1 Trompa F
(cp. 39).
Exemplo 3.29
Fonte: Introduo de Serenata (SILVA, 2008, p. 7)
152
Exemplo 3.30
Fonte: Incio de Serenata (SILVA, 2008, p. 8)
Exemplo 3.31
Fonte: Introduo de Maracatu (SILVA, 2008, p. 10)
Exemplo 3.32
Fonte: Tema de Maracatu (SILVA, 2008, p. 11-14)
interessante observar que neste tema, Maestro Duda utiliza uma tcnica de
repetio parcial. Trata-se da repetio quase literal da melodia inicialmente executada, dois
compassos depois (ex. 3.33). Nesta repetio so utilizados os Fagotes, Saxofones e o
Bombardino. Outros instrumentos Trompas e Trombones executam fundo harmnico (cp.
45
O Maracatu parece que s tem vida ativa em Pernambuco, especialmente no Recife, embora tenha sido
assinalado tambm nos Estados da Paraba e Alagoas. Os Maracatus do Recife se exibiam antigamente por
ocasio de festas religiosas, cvicas ou populares; hoje se limitam quase apenas ao carnaval. No possuindo
parte representada, constituem em essncia um cortejo real, meio religioso meio profano, possivelmente
idntico forma primitiva dos Congos e Congadas. Tal como os ranchos destes bailados, os negros danadores
de Maracatus conservam ainda hoje a tradio de irem danar diante de igrejas, principalmente da de Nossa
Senhora do Rosrio. As figuras dos Maracatus so o Rei, a Rainha, Prncipes, Damas de Honra, Embaixador, a
Dama-do-Passo, o Baliza e as Baianas (danarinas). (ALVARENGA, 1982, p. 118).
155
Figura 3.33
Fonte: Excerto do Tema de Maracatu (SILVA, 2008, p. 11-12)
Exemplo 3.35
Fonte: Percusso de Maracatu (SILVA, 2008, p.10)
46
1) Dana surgida em Recife PE a partir dos ltimos anos do sc. XIX, com a progressiva multiplicao das
sncopas e do gingado rtmico das msicas de bandas militares, a fim de propiciar desarticulaes de corpo dos
capoeiras, que exigiam sua agilidade, abrindo os desfiles militares, com passos improvisados ao som das
marchas e cobrados. Segundo Renato Almeida, citando Mrio Melo, surgiu da polca-marcha e teve sua linha
divisria estabelecida pelo capito Jos Loureno da Silva (Zuzinha), ensaiador das bandas da brigada militar de
Pernambuco. A marcha tem um ritmo frentico e contagiante, que lhe confere o carter de uma dana de
multido. Seu compasso binrio e o andamento, semelhante marcha carioca, mas o ritmo tudo. Conforme
Renato Almeida divide-se em duas partes e seus motivos se apresentam sempre em dilogos de trombones e
pistons com clarinetas e saxofones. O grande interesse est na sua coreografia, individual, improvisada: os
danarinos raramente repetem um gesto ou atitude, mantendo sempre uma feio pessoal e instintiva de
improvisao o passo originado no gingar dos antigos capoeiras. O passo, vindo a ser feito com a ajuda
rtmica de velhas sombrinhas e guarda-chuvas, dava massa dos danarinos que evoluam pelas ruas apertadas
uma impresso de fervura, o que originaria a palavra frevo, como deverbal de frever, por ferver.
Posteriormente a 1917, conforme Pereira da Costa, o frevo foi introduzido nos sales, nos clubes
carnavalescos; a, com frequncia, os danarinos exibem seus passos individualmente. 2) Frevo de rua. Frevo
puramente orquestral, destinado a animar a improvisao dos passos por parte dos danarinos, que na
realidade segundo observa o maestro Guerra Peixe danam a orquestrao, pois cada volteio de um
instrumento acompanhado por um passo ou uma firula do passista. 3) Frevo-Cano. Frevo com ritmo
marchado, surgido a partir da dcada de 1930 em recife, caracterizado por uma introduo de frevo comum, a
que se segue parte cantada, semelhante s marchas cariocas de Carnaval. Quando cantado em tom lamentoso,
pela madrugada, na volta dos danarinos de blocos aos seus bairros, o frevo-cano recebe o nome de marcha-
regresso. (Enciclopdia da Msica Brasileira: erudita, folclrica e popular, 1977, p. 292).
157
puramente orquestrais, pela ausncia de letra e por no ser lamentoso como o caso do frevo-
cano.
Exemplo 3.36
Fonte: Introduo de Frevo (SILVA, 2008, p.14)
CONCLUSO
inserida na categoria banda de concerto por conter algumas caractersticas que a permitem
pertencer categoria em apreo, porm, com ressalvas. Os deslocamentos rtmicos
verificados fazem parte das peculiaridades da msica popular brasileira e no impedem que a
obra seja categorizada como apropriada para banda de concerto. As ressalvas so poucas:
notas fora da extenso recomendada, observada, por exemplo, no 1 Trompete Bb; e, a escrita
para cinco vozes de Saxofones, comum jazz band, mas geralmente no encontrada na escrita
para banda de concerto. Tambm no h na instrumentao, a quantidade msicos a serem
empregados na execuo da obra, como habitual nas edies das obras das editoras e
distribuidoras j elencadas. Mesmo assim, Sute Nordestina enquadra-se na categoria banda
de concerto.
Assim, verifica-se que tanto os grupos sinfnicos categorizados como banda de
concerto, quanto s obras escritas para esta categoria sinalizam que tais grupos sinfnicos so
constitudos por instrumentistas em nvel de desenvolvimento que os habilita s execues
mais exigentes do ponto de vista tcnico e cognitivo. Alm disso, parece que a banda de
concerto j se apresenta como um grupo estvel e por isso, capaz de executar obras que
requerem habilidades que no podem ser exigidas dos grupos sinfnicos em nveis iniciais.
Nisto, a banda de concerto apresenta-se como elo transitivo entre as categorias iniciais e as
categorias de nvel avanado por sua constituio instrumental e pelas caractersticas do seu
repertrio.
161
CAPTULO IV
Figura 4.1
Fonte: (BELWIN, 2009, p. s/n)
47
Som real.
163
O sentido de tais explicaes obvio: a obra foi escrita para grupos sinfnicos de
sopros norte-americanos. Desta maneira, parece natural que antes da execuo musical
propriamente dita, o maestro e seus instrumentistas tenham informaes bsicas acerca da
obra, sua estrutura e peculiaridades, inclusive por se tratar de uma obra que procura retratar,
mesmo que de natureza introdutria, alguns panoramas da msica brasileira de raiz popular. O
fato em si bastante comum nas obras principais editoras de msica. As notas de programa,
alm de conterem informaes gerais acerca da obra, orientam o regente sobre pontos crticos
e possibilidades de execuo da obra. que se v no texto elaborado pelos compositores.
164
Entretanto, h a destacar que as notas de programa so raras nas obras para grupos
sinfnicos de sopros no Brasil. A Srie Msica Brasileira para Banda, publicada pela Funarte
em 2008, uma exceo. As informaes e orientaes contidas na nota de programa de
Cenas Brasileiras atendem ao que parece ser um princpio editorial verificado nas partituras
obras publicas por editoras e distribuidoras como Belwin BAND, Carl Fischer e Hal Leonard,
entre outras. Apesar disso, a obra no contm na capa ou folha de rosto, a instrumentao da
obra, procedimento comum nas obras publicadas pelas empresas citadas. Nelas, a
instrumentao compreende no apenas a relao dos instrumentos utilizados na obra, mas
tambm a quantidade de msicos a serem empregados em cada naipe instrumental. A partitura
de Cenas Brasileiras, muito embora vise o pblico e os grupos sinfnicos de sopros norte-
americanos, no atende totalmente as recomendaes feitas s obras escritas para os grupos
sinfnicos categorizados como banda sinfnica, no que respeita instrumentao.
Comparando-a com a instrumentao de Seascape (1962), Grau 3, de Alfred Reed (1921-
2005); e, Nostradamus (2002), Grau 4, de Otto M. Schwarz (1967), todas escritas para banda
sinfnica, verifica-se que h semelhanas e diferenas, como se v no Quadro 4.1.
Quadro 4.1 Fonte: (REED, 1962, p. 1), (SCHWARZ, 2002, p. 5), (AQUINO; VASCONCELLOS, 1999, p. 1)
Instrumentao Comparativa
Seascape Nostradamus Cenas Brasileiras
Grau 3 Grau 4
1 Flautim C 1 Flautim Flautim
6 Flauta 1 & 2 4 Flauta 1 & 2 Flauta
- - -
2 Obo 1 & 2 2 Obo 1 & 2 Obo
2 Fagote 1 & 2 2 Fagote Fagote
1 Clarinete Eb 1 Clarinete Eb -
4 Clarinete 1 em Bb 5 Clarinete 1 Bb Clarinete 1 Bb
4 Clarinete 2 em Bb 5 Clarinete 2 Bb Clarinete 2 Bb
4 Clarinete 3 em Bb 5 Clarinete 3 Bb Clarinete 3 Bb
2 Clarinete Alto Eb 1 Clarinete Alto Eb -
2 Clarinete Baixo Bb 1 Clarinete Baixo Bb Clarinete Baixo Bb
1 Clarinete Contrabaixo Bb -
1 Saxofone Alto 1 Eb 2 Saxofone Alto 1 & 2 Eb Saxofone Alto 1 & 2 Eb
2 Saxofone Alto 2 Eb - -
2 Saxofone Tenor Bb 2 Saxofone Tenor Bb Saxofone Tenor Bb
1 Saxofone Bartono Eb 1 Saxofone Bartono Eb -
3 Trompete 1 Bb 2 Trompete 1 Bb Saxofone Bartono Eb
3 Trompete 2 Bb 2 Trompete 2 Bb Trompete 1 Bb
3 Trompete 3 Bb 2 Trompete 3 Bb Trompete 2 & 3 Bb
2 Trompa 1 & 2 F 1 Trompa 1 F Trompa 1 F
- 1 Trompa 2 F Trompa 2 F
- 1 Trompa 3 F -
2 Trompa 3 & 4 F - -
2 Trombone 1 2 Trombone 1 Trombone 1
165
- 2 Percusso 2 Percusso 2
- - Percusso 3
Serto
Esta primeira cena pode ser dividida em duas partes: a primeira uma espcie de
abertura festiva (cp. 1-30; fig. 4.11). Com Andamento de 140 BPM, a obra comea vibrante,
em mf, a cargo do Flautim, Flautas e Obo, combinados com os metais Trompetes Bb em
bloco, utilizando uma tcnica orquestral denominado por Walter Piston de ampliao do som
em vertical (PISTON, 1984, p, 384).
166
Exemplo 4.1
Fonte: Introduo de Cenas Brasileiras (AQUINO; VASCONCELLOS, 1999, p. 1)
Exemplo 4.2
Fonte: Tema de Baio (AQUINO; VASCONCELLOS, 1999, p. 8-9)
48
Campnulas de metal percutidas com baquetas, muitos deles industrializados com forma trapezoidal. Seu
uso caracterstico na msica popular de Cuba fixado nos timbales por meio da ala e na msica pop pop
segurado por uma das mos e percutido com o cabo de uma baqueta de madeira. (FRUNGILLO, 2003, p. 69).
168
Exemplo 4.3
Fonte: Excerto de Baio (AQUINO; VASCONCELLOS, 1999, p. 10)
Exemplo 4.4
Fonte: (AQUINO; VASCONCELLOS, 1999, p. 12-13)
Cantilena
Exemplo 4.5
Fonte: Incio Mana Deixei Ir (MACHADO, 1988, p. 1)
Exemplo 4.6
Fonte: Tema da ria (Cantiga), das Bachianas Brasileiras No. 4 (VILLA-LOBOS, 2009, p. 23)
A Cantilena de Cenas Brasileiras comea aps uma introduo elaborada com uma
espcie de coro de metais Trompetes Bb, Trombones, Eufnios e Tubas tal qual informa
a Nota de Performance, em mp. O trecho parece evocar a sonoridade caracterstica de um
172
grande rgo a anunciar algo solene e misterioso. O andamento lento (54 BPM). A entrada
do Tubular Bells se d apenas terceiro tempo do compasso 4, em intensidade f. Segundo a
Nota, a execuo desse instrumento faz referncia ao ambiente mstico e melanclico, no qual
abriga-se a melodia de Mana Deixeu Ir (ex. 4.7).
Exemplo 4.7
Fonte: Incio da Cantilena (AQUINO; VASCONCELLOS, 1999, p. 15-16)
Flautas, uma 8 justa do Obo. Neste mesmo instante, o Fagote refora o trecho em unssono
real com Trompa. Tudo isso com acompanhamento harmnico realizado apenas pelas
madeiras do grupo orquestral Clarinetes Bb, Clarinete Baixo Bb e Saxofones e do Tubular
Bells, sempre a partir do segundo tempo de cada compasso.
Na letra B o 1 Trompete Bb solo que assume a responsabilidade de dar
encaminhamento concluso da Cantilena (ex. 4.8). A partir da anacruse do compasso 18 se
junta ao Trompete solo, o Obo em unssono real. A letra C a parte que d incio
concluso do trecho em apreo. O carter conclusivo permanece solene e misticamente
melanclico com o ltimo toque do Tubular Bells em ff, contrastando com os demais
instrumentos de sopros do grupo orquestral, em intensidade mp decrescente.
Exemplo 4.8
Fonte: Excerto de Cantilena (AQUINO; VASCONCELLOS, 1999, p. 17-18)
Capoeira
49
A capoeira um jogo atltico introduzido no Brasil pelos negros de Angola. Tal como o jiu-jitsu, um jogo
essencialmente de destreza e no de fora, que exige grande flexibilidade de corpo e prontido de
movimentos. Seus golpes, na sua maioria aplicados com as pernas e a cabea, so batizados numa gria
pitoresca, que parece variar com o tempo e o lugar, embora conserve sempre alguns nomes tradicionais. Esto
neste caso, por exemplo, o a ou au, salto mortal em que um dos contendores se atira de cabea sobre o
outro; o balo, em que as mos sustentam o corpo do adversrio para jog-lo, por cima da cabea, para trs
174
Esta cena parece ser a pea que apresenta um tipo de dificuldade mais instigante.
Trata-se, efetivamente, da retratao do esprito danante da capoeira por um grupo sinfnico
de sopros. Isto requer dos instrumentistas uma execuo sincrnica, mas sem perder a
malemolncia prpria da luta, que se confunde com uma dana, que pode tambm ser
entendida, segundo o conceito apresentado por Oneyda Alvarenga, como um jogo atltico.
(ALVARENGA, 1982, p. 282-283). Em se tratando de uma obra escrita para msicos no
brasileiros, os compositores optaram pela monorritimia, utilizando um compasso quaternrio
cortado, ao invs do compasso binrio simples. possvel que o tenham feito em razo das
partituras de matriz americanas de ritmos binrios serem escritas pela equivalncia do
compasso.
Capoeira, 74 BPM, inicia com uma imitao do Berimbau, executada pelo grupo
orquestral de forma alternada, exceo feita aos baixos Clarinete Baixo Bb, Fagotes,
Saxofone Bartono Eb, Eufnios e Tubas, em intensidade f a ff com acento (ex. 4.8). O
acompanhamento percussivo se d por intermdio do Ganz, Vibra Slap50, Cuca, T. Blocks,
Surdo e Bumbo.
(Edison Carneiro); o famoso rabo-de-arraia que consiste em cair sobre as mos e rodar o corpo de encontro s
pernas do adversrio, para derrub-lo (Pequeno Dicionrio Brasileiro da Lngua Portuguesa). (ALVARENGA,
1982, p. 282-283).
50
Armao feita de um grosso arame de metal com 4 dobras (3 para a direita e uma para a esquerda). Numa
das extremidades encaixada uma esfera de madeira com cerca de 1,4 de dimetro. A armao segurada
pela mo esquerda entre a primeira e a segunda dobras. Na poro final do arame h uma srie de furos em
distncias regulares nos quais so encaixados pequenos cilindros de metal. Essa parte coberta por uma pea
triangular de lminas finas de madeira. Ao se percutir a esfera com a palma da mo direita, a vibrao
percorre o arame e faz vibrar os cilindros que chocam suas extremidades com as lminas de madeira da caixa
triangular de forma irregular, produzindo uma sonoridade de chocalho com dinmica forte e decrescendo at
a extino. Foi inventado para simular o som da queixada. (FRUNGILLO, 2003, 383).
175
Exemplo 4.8
Incio da Capoeira, (AQUINO; VASCONCELLOS, p. 19)
essa categoria de grupo sinfnico possui as habilidades requeridas execuo de obra com o
grau de dificuldade apresentado por Capoeira. Neste sentido apropriado que Cenas
Brasileiras tenha sido classificada na categoria banda sinfnica. Nesta categoria no h
limites para a elaborao das partituras. Alis, as questes referentes ao ritmo, compasso,
tessitura, entre outras, ficam a cargo do compositor e das necessidades do contedo da obra,
como recomenda a editora Belwin BAND.
A partir da letra A de ensaio (ex. 4. 9), verifica-se uma espcie de evocao da
cano Berimbau, de Vincius de Morais (1913-1980) e Baden Powell (1937-2000) com seu
ritmo sincopado, levada a efeito pelos 1s Trompetes Bb, com mute. O trecho, ao que parece,
procura imitar a presso exercida pela moeda ou pedra no arame do berimbau. Por sua vez, os
2s e 3s Trompetes Bb, seguidos pelas Trompas F, parecem reproduzir o som resultante da
percusso da varinha de madeira percutida no arame do instrumento.
Exemplo 4.9
Letra A de Capoeira, (AQUINO; VASCONCELLOS, 1999, p. 19-20)
A parte a do tema principal de Capoeira (cp. 15-22), parecida com cano, mas
sem letra a cargo inicialmente dos Clarinetes Bb e posteriormente com as Flautas, Obos e
Trompetes Bb bastante simples (ex. 4.10).
Exemplo 4.10
Letra A de Capoeira, (AQUINO; VASCONCELLOS, 1999, p. 19-20)
177
Exemplo 4.11
Letra D de Capoeira Flauta, (AQUINO; VASCONCELLOS, 1999, p. 24-25)
Carnaval
Em Carnaval, quarta e ltima cena, a opo dos compositores foi pela elaborao de
uma pea carregada de elementos extramusicais, como a alegria, a satisfao, o deslumbre,
onde os papis sociais s vezes se invertem, para depois do meio-dia da quarta-feira de cinzas
tudo voltar a ser como antes. Segundo a Nota de Performance:
A introduo (ex. 4.12) de Carnaval remete quela bandinha de rua, prpria dos
blocos carnavalescos com poucos instrumentos de sopros e percusso econmica tais
como o Galinho da Madruga, em Braslia e o Cordo da Bola Preta, no Rio de Janeiro.
178
Exemplo 4.12
Introduo de Carnaval, (AQUINO; VASCONCELLOS, 1999, p. 29-30)
Exemplo 4.13
Letra A de Carnaval, (AQUINO; VASCONCELLOS, 1999, p. 31)
181
Exemplo 4.14
Letra B de Carnaval, (AQUINO; VASCONCELLOS, 1999, p. 35-36)
Na letra C de ensaio o tema do Frevo reexposto, desta vez, pelo Flautim, Flautas,
Obos, 1s Clarinetes Bb, Saxofones Alto Eb e 1s Trompetes Bb, todos acompanhados em
fundo harmnico pelos demais instrumentos de sopros e percusso do grupo sinfnico de
sopros, com intensidade crescente, em direo ao acorde final em ff que decresce subitamente
(cp. 47) e cresce novamente para a intensidade ff.
51
Apito.
52
O Frevo uma modalidade pernambucana de marcha, usada pela massa popular no carnaval do Recife.
Distingue-se musicalmente da Marcha e da Marchinha cariocas pelo movimento mais rpido e pelas suas
frmulas rtmico-meldicas. Alm disso, no tem canto; msica exclusivamente instrumental, executada
pelas bandas que acompanham os cordes. O Frevo apareceu em 1909 segundo uns, em 1911 segundo outros.
Mrio Melo diz que o Frevo nasceu da Polca-marcha e foi o capito Jos Loureno da Silva (Zuzinha),
ensaiador das bandas da Brigada Militar de Pernambuco, que estabeleceu a linha divisria entre o Frevo e a
Polca-marcha, que comea na introduo sincopada em quilteras (Renato Almeida). (ALVARENGA, 1982, p.
345-346).
182
Barnhouse Music Publications, por exemplo, a classificao Grau 4.5 ser considerada como
sendo integrante do conjunto das obras classificadas como Grau IV, no qual, obviamente, se
encontra o grau intermedirio 4.5.
Em Prelude and Rondo constata-se a complexidade estrutural peculiar banda
sinfnica. Isto significa que a partir dessa categoria de grupo sinfnico h mudanas
significativas na instrumentao, na total ausncia de limites para a constituio da obra
enquanto evento sonoro e na total ausncia de limites para a elaborao da obra e na
quantidade de instrumentistas a serem empregados. Prelude and Rondo descreve de modo
ordenado e pormenorizado o que a banda sinfnica, a saber: um grupo sinfnico de sopros
hierarquicamente requintado, anlogo orquestra sinfnica nas questes referentes sua
constituio instrumental por naipes ampliados, capaz de executar qualquer repertrio, tanto
aquele originalmente elaborado para a sua organizao instrumental, quanto as transcries e
arranjos de obras da orquestra sinfnica, arranjos de obras para piano, ou qualquer
constituio instrumental, diversa da sua.
Comparativamente, a constituio de A Land Rememberd, de Larry Clark,
classificada no Grau 3.5, prpria da categoria banda de concerto. Prelude and Rondo,
pertence categoria imediatamente superior: banda sinfnica. Suas diferenas estruturais
so significativas em todos os aspectos musicais possveis. O que h de comum entre esses
grupos sinfnicos o fato de pertencerem aos grupos sinfnicos de sopros executantes de
msica de concerto. Dessa maneira, parece vlido compar-las, incialmente do ponto de vista
da instrumentao, como se v no Quadro 4.2.
Quadro 4.2 Fonte: Instrumentao comparativa (CLARK, 2009, p. 1; HOLSINGER, 1976, p. s/n)
A Land Remembered Prelude and Rondo
Grau 3.5 Grau 4
- 1 Flautim C
4 Flauta 1 5 Flauta 1 & 2
4 Flauta 2 -
2 Obo 1 Obo 1
1 Obo 2
2 Fagote 1 & 2 2 Fagote 1 & 2
- 1 Clarinete Eb
4 Clarinete 1 em Bb 4 Clarinete 1 Bb
4 Clarinete 2 em Bb 4 Clarinete 2 Bb
4 Clarinete 3 em Bb 4 Clarinete 3 Bb
- 2 Clarinete Alto Eb
2 Clarinete Baixo Bb 2 Clarinete Baixo Bb
2 Saxofone Alto 1 Eb 2 Saxofone Alto 1 & 2 Eb
2 Saxofone Alto 2 Eb -
2 Saxofone Tenor Bb 1 Saxofone Tenor Bb
2 Saxofone Bartono Eb 1 Saxofone Bartono Eb
183
- 3 Corneta 1 Bb
- 3 Corneta 2 Bb
- 3 Corneta 3 Bb
4 Trompete 1 Bb 2 Trompete 1 & 2 Bb
4 Trompete 2 Bb -
4 Trompete 3 Bb -
2 Trompa 1 F 1 Trompa 1 F
2 Trompa 2 F 1 Trompa 2 F
- 2 Trompa 3 & 4 F
- -
3 Trombone 1 2 Trombone 1
3 Trombone 2 1 Trombone 2
- 1 Trombone 3
2 Eufnio T.C. Bb 1 Bartono T.C.
3 Eufnio B.C. 2 Bartono B.C.
4 Tuba 5 Tuba
- 1 Contrabaixo
5 Percusso com Teclados -
(Bells, Chimes, Xilofone, Rains Sticks53,
Claves)
1 Tmpano 1 Tmpano
2 Percusso 1 3 Percusso 1
(Caixa Clara, Bumbo, Rains Sticks)
2 Percusso 2 2 Percusso 2
(Pratos de Corte, Tringulo, Prato Suspenso,
Tom-toms, Thundersheet54, Maracas)
53
Pau-de-chuva. (FRUNGILLO, 2003, p. 270).
54
Folha de flandres. (FRUNGILLO, 2003, 346).
184
Exemplo 4.16
Fonte: Compassos iniciais de Prelude and Rondo, (HOLSINGER, 1976, p. 2)
Nesse trecho, Holsinger utiliza os 1s, 2s e 3s Clarinetes Bb; Clarinete Baixo Bb; e,
Trompas F. A intensidade inicial de mf (cp. 1-5) com um crescendo (cp. 6). Para o
efeito de fiber mute o compositor utiliza 12 Clarinetes Bb, 2 Clarinetes Baixo Bb e 4
Trompas F. Embora o trecho no procure reproduzir um cenrio extramusical, a
combinao instrumental e a textura resultante dela, parecem apontar para um clima
186
Figura 4.17
Fonte: Excerto de Prelude and Rondo, (HOLSINGER, 1976, p. 22)
3. Na parte final (cp. 211-216), David Holsinger emprega toda a fora sonora da banda
sinfnica. O ritmo irregular, manifesto pela alternncia dos compassos 4/4, 6/4, 5/4,
2/2. Este trecho (ex. 4.18), caracteriza-se pelo emprego de sncopes em tutti orquestral
e intensidade f crescente em direo a ff, que conclui em fff. Os compassos finais (214-
216), construdos em acordes, preparam o pice da obra, aps uma fermata (cp. 215),
executado pelo Bumbo em fff.
188
Exemplo 4.18
Fonte: Final de Prelude and Rondo, (HOLSINGER, 1976, p. 35)
de cmara, Reed ajudou a consolidar o conceito e a estrutura dos grupos sinfnicos de sopros,
por intermdio de aes enquanto educador musical, mas principalmente como compositor.
Sua atividade no se deu apenas nos Estados Unidos, mas tambm na Europa, Canad,
Mxico, Austrlia, Amrica do Sul e Japo onde gravou vrias das suas obras como regente
convidado da Tokyo Kosei Wind Orchestra.
Comissionada e dedicada Banda Sinfnica do Estado de So Paulo e ao maestro
Roberto Farias, Canto e Camdombe55 uma das obras mais interessantes da sua lavra. A obra,
divida em duas partes autnomas, classifica pela loja eletrnica Sheet Music Plus, como
Grau 4.5. Sua instrumentao ampla (ex. 4.19), constituda de instrumentos at o momento
no utilizados nas obras analisadas, tais como: Corne Ingls, Clarinete Contrabaixo,
Contrafagote (opcional), Saxofone Soprano eventual56, Harpa e cinco sees de Percusso.
A primeira parte, Canto, lrica, como uma cano sem palavras, uma espcie de
vocalize, como se fosse para cantada por voz de soprano. A introduo (ex. 4.24) breve, de
apenas quatro compassos. Os dois compassos iniciais so acordes pedais a cargo das
Cornetas Bb pp, com Cup mute; e, 1 Trompa F pp; Contrabaixo p, em pizzicato; Harpa;
Tmpano pp; Percusso I p (Vibrafone); e, Percusso II p (Tringulo). A partir do quarto
compasso, o 1 Fagote, 3s Clarinetes Bb, 2s Clarinetes Bb e 1s Clarinetes Bb, todos em
intensidade p-pp, executam uma pequena entrada imitativa e sustentada, com movimentos
harmnicos, a partir do 1 Fagote. Tudo isso prepara a entrada do canto (tema principal) em
antecipao rtmica a cargo das Flautas e Obos em soli, unssono real e intensidade p-mp.
55
Denominao gacha para as danas de umbigada dos negros, conhecidas em outros Estados como jongo,
tambu, bambaquer, samba de roda, batuque etc. Aparece em locais de charqueadas, como Pelotas, ou em
regies de culturas dispersas, com ocupao ilimitada do terreno (agricultura extensiva), como ocorre em
Osrio e no vale do Taquari, ou ainda em locais de concentrao urbana, como na parte velha de Porto Alegre.
Segundo Paixo Cortes e Barbosa Lessa, o candombe, circunscrito a essas regies, acabou por no adquirir
maior significado no sul, logo caindo em desuso. O informante desses autores exibiu ainda diversos ritmos,
tocados em velhos tambores, aos quais chamava de canjenjera, tibitibi e santo-antnio. Revelou que outrora os
tambores soavam durante toda a noite, num ritmo trepidante chamado semba pelos negros (crioulos). O canto
era comeado pela cumba, uma cantora-danarina-solista, que lanava um tema, repetido intermitentemente.
pelo coro. (ENCICLOPDIA DA MSICA BRASILEIRA, 1977,p. 138).
56
O instrumento tocado eventualmente pelo 1 Saxofone Alto Eb (cp. 23-56/191-207).
190
Exemplo 4.19
Fonte: Introduo de Canto e Camdombe, (REED, 1999, p. 4)
(cp. 12-13); 5/8 (cp. 14); 6/8 (15-17); 5/8 (cp. 18); 6/8 (cp. 19; 5/8 (cp. 20); 6/8 (cp. 21-48);
9/8 (cp. 49); 6/8 (cp. 50-52); 9/8 (cp. 53); 6/8 (cp. 54-68); 9/8 (cp. 69-70).
Na anacruse do compasso 23 (ex. 4.20), o 1 Saxofone Alto Eb que deve ter
prximo de si o Saxofone Soprano Bb lana mo deste para a execuo da continuidade do
tema, juntamente com os 1s Clarinetes Bb, em unssono real. A partir do compasso 27
juntam-se para a execuo do tema, as Flautas, Obos, Clarinete Eb e 1s Clarinetes Bb em mf
crescente/decrescente. O trecho em unssono real e de oitava, acompanhado em descanto
pelos 3s Clarinetes Bb, Clarinetes Alto Eb, Saxofones Tenor Bb, 1 Trompa F, em unssono
real. O acompanhamento harmnico se d pelas Trompas F, Trombones, Eufnios, Tubas e
Harpa em arpejos.
interessante observar o equilbrio entre as vozes instrumentais (ex. 4.21),
verificadas na intensidade de cada uma delas. Esta diversidade na intensidade dos
instrumentos resulta em sonoridade rarefeita, com pouca densidade sonora, prpria ao esprito
do tema. Enquanto as Flautas iniciam o trecho em mf-f >, Obo, Clarinete Eb, 1s Clarinetes
Bb e Saxofone Soprano Bb, executam o mesma melodia em mp-mf >. Simultaneamente,
Corne Ingls e 2s Clarinetes Bb executam o descanto em mf <. O contracanto a cargo dos
Clarinetes Alto Eb, Fagotes e Saxofones Tenor Bb se d mf >. Em contrapartida, o
acompanhamento em bloco harmnico a cargo dos Trombones em p. As vozes de baixo
e contrabaixo Clarinetes Baixo Bb, Clarinete Contrabaixo Bb, Eufnios, Tubas e
Contrabaixo o fazem em <mf >. Por sua vez, a Harpa faz acompanhamento arpejado em f
>.
Outro trecho digno de nota o que antecede o quase tutti orquestral compasso 53.
Trata-se do pice do Canto, em que o grupo sinfnico explode em intensidade fortssima
exceto Tubas, Contrabaixo e Harpa (que executam apenas a primeira nota do compasso),
Bumbo, Maracas e Bells. Eufnios e Pratos Suspensos executam no segundo tempo do
compasso em intensidade f. A partir desse trecho, o Canto vai se dirigindo para a sua
concluso em pp. Participam desse momento apenas alguns instrumentos, quais sejam:
Clarinetes Alto Eb, Clarinetes Baixo Bb, Trompas F, Eufnios, Contrabaixo, Tmpano todos
em pp >. No acorde final, apenas a Harpa e o Vibrafone em p57.
57
Esta parte opcional e s deve ser executada se a obra no seguir adiante, para o Tempo de Camdombe.
(REED, 1999, P. 15)
192
Exemplo 4.21
Fonte: Excerto de Canto e Camdombe, (REED, 1999, p. 4)
Prato Suspenso, em fermata (cp. 71). Este trecho parece uma chamada de ateno, em que
aps o lirismo do Canto, o grupo orquestral conclamado celebrao. No compasso
seguinte, uma Clave solo principia o Tempo de Camdombe, em intensidade p, seguida pelos
2s & 3s Trombones (L -1 em p), Contrabaixo, Harpa; Tom-toms (Bongs); Tmpano,
Giro58; Clarinete Baixo Bb e Contrafagote (ex. 4.22).
Exemplo 4.22
Fonte: Tempo de Camdombe, (REED, 1999, p. 16)
58
Cabaa alongada, geralmente com forma de peixe, na qual se faz uma srie de cortes transversais e
paralelos (entre 30 e 40), com muito pouca distncia entre eles, de modo que possa ser raspado por uma
baqueta ou vareta em curto movimento. So encontrados instrumentos industrializados, feitos de madeira
escavada em forma de peixe cujos cortes so feitos em toda a circunferncia. Sua caracterstica tpica dos
povos latino-americanos de lngua espanhola. No Brasil o instrumento similar que prevalece o reco-reco,
que, por ser feito geralmente de bambu, tem os cortes em distncias maiores e, pela prpria estrutura do
material, produz um som mais grave que o guiro. O instrumento usado por I. Stravinski na Sagrao da
Primavera (1911-13). chamado tambm de guaracha ou gutacha [span.], calabazo (Espanha),
Flaschenkrbis ou Krbisraspel [alem.], guitcharo [fr. e ital.], gourd scraper ou gourd, rasper ou
rasp [ingl.], rpe guiro ou guero [fr.], gcharo ou carracho (Am. Central), mas o nome giro
aceito em todas as lnguas. (FRUNGILLO, 2003, p. 146).
194
Exemplo 4.23
Fonte: Tempo de Camdombe, (REED, 1999, p. 18)
que John Chance viveu somente quarenta anos. Foi eletrocutado no quintal da sua casa.
Antes, porm, compusera Incantation and Dance (1960) para banda sinfnica. A obra,
classificada pela pgina eletrnica The Wind Repertory Project no Grau V de dificuldade,
apropriada para grupos sinfnicos intermedirios do ensino mdio e de universidades.
Dividida em duas partes interdependentes, traz em si a sensao de ser uma trilha sonora para
um danarino solitrio. Segundo David Goza, Diretor de Atividades de Orquestra, da
Universidade de Arkansas, a verdade da questo que Incantation j contm as sementes
intervalares da Dana, e as duas existem numa relao de interpenetrao, como o yin e yang
taoistas (em que o primeiro no pode ser significativamente pensado como de alguma
maneira, antes deste ltimo). (GOZA, 2013, p. 1). Nisto, Chance prope banda sinfnica
outra utilidade, diferente da sua atuao mais habitual; pressupe outro cenrio, em que este
grupo sinfnico agrega sua atividade a outra: a dana. Considerando as colocaes de David
Goza, tambm possvel afirmar que dessa maneira a banda sinfnica cumpre similar ao
papel da orquestra sinfnica no apenas no que respeita sua constituio por naipes
ampliados, mas tambm em relao s suas possibilidades como instrumento funcional,
atravs do qual fornece suporte sonoro a outras atividades artsticas.
A instrumentao de Incantation and Dance semelhante quelas at ento
observadas (ex. 4.24), com algumas excees, se comparadas com a partitura de Canto e
Camdombe, por exemplo. Em Incantation and Dance no h 2a Flauta, 2 Obo, Corne
Ingls, Clarinete Eb, 2 Fagote e Trompetes Bb. Quanto aos outros instrumentos encontrados
em Canto e Camdombe tais como a Harpa e o Guiro, por exemplo, no sero consideradas
suas ausncias, haja vista que tais instrumentos so circunstanciais, ou seja, dependem do
contedo musical abordado na obra e do interesse do compositor ou arranjador, no sendo,
dessa forma, parte integrante da instrumentao habitual da banda sinfnica ou de qualquer
outro grupo sinfnico de sopro. Verifica-se tambm que no caso da Percusso, as informaes
contidas na capa da partitura no indicam detalhadamente quais instrumentos a compem. H
apenas a meno de 6 Percusses, todavia, sem a descrio pormenorizada dos referidos
instrumentos.
197
Exemplo 4.24
Fonte: Instrumentao de Incatation and Dance, (CHANCE, 1963, p. s/n)
198
Exemplo 4.25
Fonte: Incio de Incatation and Dance, (CHANCE, 1963, p. 1)
Exemplo 4.26
Fonte: Complemento inicial de Incatation and Dance, (CHANCE, 1963, 1963, p. 2)
O que h ento que justifica trechos como os citados, serem considerados de difcil
execuo? H pelo menos trs aspectos: 1. Andamento lento, que requer domnio do
instrumento, principalmente nos trechos graves e de pouca intensidade; 2. Expressividade da
200
Exemplo 4.27
Fonte: Final de Incantation, (CHANCE, 1963, p. 3)
201
Exemplo 4.28
Fonte: Incio de Dance, (CHANCE, 1963, p. 4)
202
Para David Goza, o Concerto para Percusso que comea aqui expe a maior parte
dos importantes motivos rtmicos que permeiam a Dance e, no caso do temple blocks, que
faz parte do seu perfil meldico. (GOZA, 2013, p. 6). A partir do compasso 33 verifica-se A
intensa atividade do naipe de percusso, em que no basta ao instrumentista possuir
habilidade tcnica em seu instrumento e uma excelente leitura da sua parte. Exige-se deste e
de todos, execuo precisa e sincrnica com os demais instrumentistas da percusso. S assim
o naipe de indica o estado de esprito de Dance. Tudo isso se d inicialmente pela Percusso
1 Maracas (cp. 33), em mp; Percusso 3 Claves (cp. 35), em mf; Percusso 5
Gourd59(cp. 39), em f; Percusso 4 Pandeiro (cp. 43), em mf; Percusso 2 Temple Blocks60
(cp. 47), em f ; Percusso 5 Timbales (cp. 51), em f; Tmpano (cp. 53), em pp < f;
Percusso1 Shake61 (cp. 55), em ff. H a destacar o acorde pedal invertido de Mi Bemol, a
cargo dos Clarinetes Bb, Clarinetes Alto Eb e Clarinetes Baixo Bb, em contraste com a nota
pedal L, executada pelo Clarinete Contrabaixo Bb, Fagotes, Bartonos Bb e Tubas. Esta
execuo se d simultaneamente ao Concerto de Percusso citado por David Goza, a partir
do compasso 33.
A partir do compasso 57 (ex. 4.29), as Trompas F, 1s & 2 Trombones e Bartonos,
em unssono real, iniciam uma melodia feroz, em intensidade fff , seguida (cp. 59) pelas
madeiras Flautim, Flautas, Obos, Clarinetes Bb e Clarinetes Alto Eb, em ff; e,
simultaneamente, com ataque em bloco harmnico feito pelos Saxofones, em f > mf. Trata-se
de um trecho de difcil execuo em razo da entrada, que se d no quarto tempo do
compasso, em quiltera de semnima subdiviso ternria, ao mesmo tempo em que o
Tmpano executa uma subdiviso binria. Isto, aps uma pausa da primeira semnima. Outra
dificuldade a intensidade fortssima. Neste caso, fundamental uma sonoridade de
excelncia, que se traduz em atender prescrio da partitura sem alterar negativamente as
caractersticas do instrumento. Do ponto de vista da orquestrao, h a assinalar a sonoridade
resultante de instrumentos com timbres parecidos, mas distintos, como o caso das Trompas
F, Trombones e Bartono, todos em unssono real. Juntam-se a esse verdadeiro frenesi
59
Forma abreviada de gourd scraper. [...]. Genericamente nomeia qualquer tipo de cabaa. (FRUNGILLO,
2003, p. 142).
60
Tipo de tambor de madeira feito com um bloco de madeira escavado em forma arredondada, tendo um
corte longitudinal em mais da metade de sua superfcie. usada madeira de fibras moles, de modo que que ao
ser percutido por uma baqueta no muito dura produza um som mais suave e doce do que o wood
block. Sua forma arredondada tem, em gera, entre 3 e 6 de dimetro, mas so encontrados instrumentos
de at 28. So usados nos templos budistas como sinalizadores e geralmente esculpidos com desenhos de
flores, peixe ou drago. (FRUNGILLO, 2003, p. 343-344).
61
Nome dado a qualquer chocalho de recipiente contendo areia ou grnulos. chamado tambm de
shaker. (FRUNGILLO, 2003, p. 301).
203
rtmico, as madeiras (ex. 4.30). Qual a dificuldade? Preciso sincrnica, aliada ao domnio
tcnico do instrumento.
Exemplo 4.29
Fonte: Excerto de Dance, (CHANCE, 1963, p. 7)
204
A partir do compasso 70, Dance fica ainda mais difcil de ser executada (ex. 4.30). Os
1s Trompetes iniciam uma frentica melodia em Sol menor recheada de acentos e staccatos.
A melodia comea num compasso ternrio simples (3/4) e no compasso seguinte muda para
quaternrio simples (4/4). O andamento do trecho extremamente regular. A dificuldade est
em sincronizar as ampliaes do som vertical, realizadas pelo Flautim, Flautas, Obos e
Clarinetes Bb em intervenes episdicas com a melodia dos 1s Trompetes Bb. Alm
disso, outra dificuldade que se apresenta no trecho em anlise encontrar a sonoridade ideal,
resultante da combinao desses instrumentos a cargo do regente. Concomitantemente, as
Trompas F executam um acompanhamento harmnico, ora a tempo, ora em contratempo, em
intensidade f tambm com acentos e staccatos. No compasso 75, essa melodia desta vez, em
R Mixoldio transfere-se para as madeiras Clarinetes Bb, Clarinetes Alto Eb, Clarinetes
Baixo Bb, Clarinete Contrabaixo Bb e Fagotes. H a destacar neste trecho, a diferena de
dinmica entre as vozes instrumentais. Enquanto para os Clarinetes Bb e Clarinetes Alto Eb, a
partitura indica intensidade mp; para os Clarinetes Baixo Bb, mf; para o Clarinete Contrabaixo
e para os Fagotes, a intensidade ff.
No compasso 80, juntam-se s madeiras anteriormente referidas, os Obos. Agora, a
melodia comea em Mib menor em direo a D menor, at chegar novamente em Sol menor.
Desta vez a melodia reexposta pelas Flautas, Flautim em reforo episdico, Clarinetes Bb,
com acompanhamento rtmico dos Clarinetes Alto Eb, Clarinetes Baixo Bb, Clarinete Baixo
Bb e Trompas F. Apesar de todas as dificuldades de execuo, sincronia e de sonoridade
encontradas na estrutura orquestral, verificadas desde o compasso 70, a partir do compasso
88 que parece residir a maior dificuldade no que respeita execuo do instrumento e seus
consequentes. Desta vez a reexposio da melodia em apreo de responsabilidade dos 1s e
2s Trombones, acompanhados somente pelos Trombones Baixo, Bartonos e Tubas (ex. 4.
31). O desafio que se evidencia consiste no fato de que a melodia reexposta extremamente
difcil de ser executada num instrumento como o Trombone, num andamento de 138 BPM.
Tal dificuldade acentua-se na no fato da execuo estar a cargo de quatro trombonistas, em
unssono real, intensidade f e com acentos e staccatos.
a partir do compasso 92, aps nova exposio, que a melodia reexposta pelos 1s
e 2s Trompetes Bb, desta vez em tutti. o momento em que essa ideia musical, anunciada no
incio da Dance pelo Temple Blocks (cp. 47) atinge o ponto mais elevado de exposio (ex.
4.32).
205
Exemplo 4.30
Fonte: Excerto de Dance, (CHANCE, 1963, p. 10)
Exemplo 4.31
Fonte: Excerto de Dance, (CHANCE, 1963, p. 12)
206
Exemplo 4.32
Fonte: Excerto de Dance, (CHANCE, 1963, p. 14)
207
Exemplo 4.33
Fonte: Excerto de Dance, (CHANCE, 1963, p. 15)
208
Exemplo 4.34
Fonte: Excerto de Dance, (CHANCE, 1963, p. 16)
Exemplo 4.35
Fonte: Final de Dance, (CHANCE, 1963, p. 42)
210
Exemplo 4.36
Fonte: Instrumentao de Divertimento for Band, (PERSICHETTI, 1951, p. 1)
211
propriedade resultante de toda a sua experincia como maestro dedicado aos grupos
sinfnicos de sopros Persichetti no escreveu para a banda na acepo habitual da escrita,
mas para os instrumentos que a compem. Nisto, Fennell percebe que Vincent Persichetti
apontou outra direo, onde demonstrou possibilidades que ele mesmo indicou serem
perfeitamente factveis. Tais possibilidades de escrita para banda sinfnica tambm demonstra
em outra obra de sua lavra: Serenade for Band, (1961) elabora em cinco movimentos I.
Pastorale, II. Humorieske, III. Nocturne, IV. Intermezzo e, V. Capriccio na qual se
verificam caractersticas similares quelas encontradas em Divertimento for Band. Como diria
Fennell, tambm nesta obra a escrita no feita para a banda, mas para os seus instrumentos.
Prologue
Segundo Fennell,
62
A utilizao simultnea de duas ou mais tonalidades. Pode durar pouco tempo ou estender-se durante um
lapso mais amplo. (DICIONRIO HARVARD DE MSICA, 2009, 211).
213
comum nas composies para grupos sinfnicos de sopros. Saliente-se, porm, que
Divertimento foi dedicado Goldman Band, importante grupo sinfnico estadunidense, de
nvel profissional, dirigido pelo maestro Edwin Goldman (1878-1956). Isto por si demonstra
que a obra no foi destinada aos grupos sinfnicos de sopros pertencentes iniciais ou
moderados. Isto se v na medida em que, embora tenha sido inserida na categoria banda
sinfnica, o grau de classificao da obra encontra-se prximo ao grau de dificuldade mais
elevado da categoria, Grau VI.
Exemplo 4.37
Fonte: Incio de Folk Song Suite, (WILLIAMS, 1924, p. 2)
Prologue Fast, 108 BPM exige habilidade e competncia tcnica que possibilitem
massa sonora. Com harmonia dissonante, assim o demonstram os compassos iniciais (ex.
4.38), at o compasso 49, a intensidade exigida na partitura forte e fortssima, com muitos
acentos, marcatos, sforzandos e crescendos. Requer volume potente e denso, mas tambm
muita preciso.
214
Exemplo 4.38
Fonte: Incio de Prologue (PERSICHETTI, 1951, p. 3)
Song
Exemplo 4.39
Fonte: Incio de Song (PERSICHETTI, 1951, p. 12)
Dance
Dance (ex. 4.40) Lightly, 132 BPM, tempo de compasso binrio simples (2/4).
A respeito dela, salienta Fennell:
Dance como Prologue tem sido uma introduo a um novo tipo de msica
de banda para aqueles em ambos os lados da estante do condutor desde que
Divertimento se tornou repertrio padro no incio de 1950. Ele ainda um
218
novo tipo de msica de banda para mim. Novo porque eu sempre senti que
seu compositor escreveu para os instrumentos, em vez de para a banda, e ao
faz-lo explorou alguns dos recursos inexplorados da banda, criando ao
mesmo tempo um estilo que se tornou sinnimo de muito meio e fim para a
msica de banda do sculo XX. (FENNELL, 2008, p. 10).
Exemplo 4.40
Fonte: Incio de Dance (PERSICHETTI, 1951, p. 10)
Burlesque
Burlesque (ex. 4.41) Heavily, 112 BPM, compasso binrio simples (2/4)
sugestivamente engraado, cmico. O movimento fiel proposta de Persichetti de explorar
os espaos vazios como uma espcie de possibilidade expressiva. At o compasso 25, o grupo
de sopros escolhido pelo compositor apenas Saxofones Alto Eb, Saxofones Tenor Bb e
Trompas F, em unssono real, contratempos de colcheias, em p, reforados no quarto de
tempo do compasso pelos Obos, Clarinetes e Fagotes, em sfz. Tudo isso constitui
acompanhamento para a melodia grave das Tubas, em mf pesante. No compasso 15 inicia-se
um crescendo. molto para ff, preparatrio para a entra dos Trombones em ff marcado, stacatto
simples e acento no acorde do quarto de tempo do compasso 19. Neste momento surge um
coro de madeiras Flautim, Flautas, Obos, Clarinetes, Fagotes, Saxofones e Trompas, em
intensidade suave. Apenas os Clarinetes Bb numa melodia constituda de semnimas e
colcheias, em mf. Os demais sopros, todos em mp. A percusso (Caixa Clara) em p sempre.
Sobre Burlesque, Frederick Fennell comenta:
Exemplo 4.41
Fonte: Incio de Burlesque (PERSICHETTI, 1951, p. 23)
Todavia, parece que tanto para o regente do grupo sinfnico quanto para os
instrumentistas, h outro desafio, a saber: o trecho que compreende os compassos 19-49 de
Burlesque (ex. 4.42). Trata-se de um local em que o estado de esprito requerido
diametralmente oposto ao trecho antecedente, realizado a partir da melodia pesante realizada
222
pelas Tubas. Qual a dificuldade? Sair da comicidade e subitamente passar para uma
interpretao branda, sbita e brilhantemente suave.
Exemplo 4.42
Fonte: Excerto de Burlesque (PERSICHETTI, 1951, p. 25)
O compasso 50 reexpe a melodia inicial das Tubas, porm com outra sonoridade.
Desta vez, o acompanhamento em contratempos a cargo dos Clarinetes Bb, combinados
com os Saxofones Alto Eb Tenor Bb, todos em intensidade mp. Outra novidade em relao
ao incio de Burlesque a imitao da melodia das Tubas, realizada pelos Trompetes Bb, em
mf marcato. A partir do compasso 70 a melodia iniciada pelas Tubas muda de lugar. Agora,
sua execuo a cargo do Flautim, Flautas, Obos, Clarinete Eb e Cornetas Bb. Aos demais,
o acompanhamento em tempos e contratempos de colcheias. Do compasso 75 em diante, h
223
uma espcie de dilogo entre Trombones e Tubas com o Flautim, as Flautas, Obos e
Cornetas Bb, em intensidade f < ff. O compasso 86 retoma a brandura nos compassos 19-49.
Trata-se de uma breve reexposio com o mesmo esprito: brilhantemente. O compasso 90 de
ensaio, em mf crescente o incio da concluso do movimento, em ff com acento, em tutti
orquestral, exceto Tmpano.
Soliloquy
Soliloquy (ex. 4.43) Slowly, 54 BPM, tempo de compasso quaternrio simples (4/4)
parece uma reflexo sonora em si mesma. Neste movimento no h acompanhamento dos
instrumentos de percusso. Assim, somente os sopros acompanham a 1 Corneta Solo. Trata-
se, sem sombra de dvida do movimento mais inspirado de Divertimento. a sntese da
percepo de Fennell, segundo a qual Divertimento for Band no foi escrito para banda e sim
para os instrumentos dela. Elaborada de maneira extremamente simples, a melodia desfila
solenemente, em mp dolce, como se fosse uma voz de soprano acompanhada por um coro em
bocca quiusa63. Soliloquy, como caso de Song (II), parece no ter sido escrita para um grupo
sinfnico de sopros tal qual uma banda sinfnica, grupo anlogo orquestra sinfnica,
composto de naipes instrumentais ampliados, habitualmente constituda de mais 70
instrumentistas.
A constituio de Soliloquy parece mais adequada a um conjunto ou seo de
sopros da orquestra sinfnica, tal a sua brandura e elevado esprito reflexivo. Persichetti sabia
disso. A soluo encontrada por ele novamente a utilizao dos espaos em branco e
instrumentos solistas. o caso da Tuba Solo (cp. 1-7); 1 Trompa F (cp. 1-7); one Clarinete
Bb (cp. 11-13); Tuba Solo (cp. 13-20). A partir do compasso 21, o acompanhamento da
Corneta efetuado apenas pelos Clarinetes, 2 Trompa, Eufnios e Tubas. Alm dessas
tcnicas de escrita, h a assinalar a mudana de timbre na breve reexposio da melodia
inicial da Corneta (cp. 29), sob a qual o acompanhamento inicial a cargo dos Fagotes e
Trombones. Sobre a Corneta Solo, h uma expressiva melodia contrapontstica, a cargo das
Flautas. Para terminar, ouvem-se somente Clarinetes, 1a Trompa, Eufnios, Tubas, todos sob
a execuo da Corneta, contraposta pelas Flautas, em p dim. com ritardando. A respeito de
Soliloquy, afirma Fennell: Soliloquy um dos mais belos solos para corneta na literatura para
banda [...]. (FENNELL, 2008, p. 13). fato.
63
Canto sem palavras e com boca a fechada; sussurro, murmrio. (DICIONRIO GROVE DE MSICA, 1994, p.
116).
224
Exemplo 4.43
Fonte: Incio de Soliloquy (PERSICHETTI, 1951, p. 25)
March
March alegre, exultante Spirited, 132 BPM. Para Savino de Benedictis, marcha
uma composio de gnero brilhante, adequada para desfile de tropas ou qualquer outra
solenidade: Religiosa, Nupcial, Triunfal, Fnebre, etc. (BENEDICTIS, 1970, p. 78). Para
225
Vincent Persichetti, o termo parece ter pouco a ver com o conceito de Benedicts. O que
March coincide com o ensinamento de Benedictis no sentido de que se trata de um
movimento brilhante. No mais, completamente inadequado para solenidades ou desfiles de
qualquer ordem. Assim, Persichetti parece apenas e to somente utilizar o gnero em si, sem
ter em sua utilizao habitual. Para ele, a marcha um mero ponto de partida, em que aponta
o caminho em direo s novas possibilidades de escrita para uma formao sinfnica muito
popular em sua terra natal.
O ltimo movimento de Divertimento for Band inicia com o Wood Block64, em
intensidade f. No compasso 5, juntam a este, o Tmpano e o Bumbo, em intensidade f e mf,
respectivamente. Se possvel apontar que March triunfal, como ensina Benedictis, quem o
faz brilhante e espirituosamente, o Tmpano com suas batidas fortes e intensas. Os demais
instrumentos de percusso aos poucos integram o corpo percussivo de March (ex. 4.44) que
sinaliza o estado de esprito a ser levado a efeito.
Exemplo 4.44
Fonte: Incio de March (PERSICHETTI, 1951, p. 38)
64
Bloco geralmente retangular de madeira com um corte que transforma uma parte dele numa lmina para
ser percutida. O som geralmente sem definio e agudo, diferente do bloco de madeira no qual a pea de
forma arredonda escavada, formando uma cmara-de-ar, alm de praticamente toda a pea se transformar
numa lmina vibratria. (FRUNGILLO, 2003, p. 387).
226
expressiva dos instrumentos com o emprego de acentos marcados, sforzatos e staccatos (ex.
4.44).
Exemplo 4.44
Fonte: Incio de March (Idem, ibidem, p. 38)
CONCLUSO
da obra, como j fora mencionado. Assim, categorizar uma obra como sendo
pertencente ao Grau III-IV de dificuldade, como o caso de Cenas Brasileiras,
dificulta sua destinao e compromete sua execuo;
3. Escrita parece que Cenas Brasileiras mais apropriada categoria banda de
concerto, precisamente Grau III. A dificuldade da obra se d apenas porque foi
escrita para grupos sinfnicos de sopros no brasileiros. Isto constitui seu grau de
dificuldade moderado. Mesmo assim, a cena mais complexa no que respeita
execuo Capoeira (p. 19). Nela, possvel que um grupo sinfnico no
brasileiro encontre dificuldade para executar os deslocamentos rtmicos,
peculiares capoeira enquanto jogo atltico/dana/luta. Todavia,
comparativamente, o Frevo de Suite Nordestina (SILVA, 2008, p. 14-15)
apresenta maior dificuldade de execuo com suas sncopes de
semicolcheias/colcheias/semicolcheias, que o frevo de Carnaval (p.35), onde tais
aspectos no aparecem.
Apesar disso, preciso reconhecer que se trata de uma obra para ser executada com
facilidade pelas bandas sinfnicas brasileiras. Embora seja estruturalmente simples, Cenas
Brasileiras soa confortvel e sempre uma boa escolha para apresentaes em forma de
concerto65, como o caso dos grupos de sopros brasileiros categorizados como banda
sinfnica. Outro aspecto digno de nota a indicao do grau de dificuldade na folha de rosto
da obra novidade nas obras brasileiras escritas para banda sinfnica. Provavelmente, os
senes encontrados na obra se deram em razo do desconhecimento da parte dos compositores
em relao ao de padro de escrita, verificado nas obras com destinao idntica.
Prelude and Rondo insere-se no grau de dificuldade apontado como ponto de partida
no universo na categoria banda sinfnica, qual seja: Grau 4. A obra foi elaborada com base
nos padres de escrita recomendados para a categoria. As dificuldades verificadas desde os
primeiros compassos da pea demonstram que sua execuo no recomendada para os
grupos sinfnicos de sopros iniciais ou moderados. A compreenso dos aspectos
interpretativos e a necessidade de habilidades e competncias tcnicas especficas no deixam
dvidas quanto s dificuldades da obra. a partir do Grau 4 de dificuldade que se verificam
naipes completos, com divises de vozes entre si, dinmicas complexas e variedade de tempos
de compassos. Isso tudo j constatado em Prelude and Rondo e anunciam que o grupo
65
Cenas Brasileiras foi executada sob minha regncia em Concertos realizados pela Banda Sinfnica da Polcia
Militar do Distrito Federal, um deles, com a presena dos compositores.
230
grupo sinfnico de sopros. interessante ressaltar que, apesar de classificada pela The Wind
Repertory Project no Grau VI de dificuldade, a obra ritmicamente simples. Suas
dificuldades residem na preciso e habilidade tcnicas requeridas no domnio do instrumento
e suas resultantes no que respeita ao timbre e aos estados de esprito solicitados. Alm disso,
seus espaos em branco demonstram que sua execuo no indicada para grupos sinfnicos
inexperientes; explica objetivamente as possibilidades expressivas da banda sinfnica como
grupo sinfnico de concerto, que diferem substancialmente das categorias de banda
anteriormente analisadas.
Isto posto, fica demonstrado que o grupo sinfnico de sopro categorizado como
banda sinfnica um organismo instrumental autnomo, com repertrio e possibilidades
expressivas prprias. Como categoria, est no nvel mais elevado dos grupos sinfnicos de
sopros constitudos por naipes instrumentais mltiplos. Mesmo assim, a classificao das suas
obras aponta que h diferentes nveis de dificuldade no repertrio. Fica evidente que a banda
sinfnica no m substituta da orquestra sinfnica ou que o Clarinete Eb e os Clarinetes Bb
so equivalentes aos Violinos da orquestra sinfnica. Uns e outros instrumentos fazem parte
das vozes agudas de seus grupos sinfnicos. Quando se trata de transcrio ou arranjo de
msicas de orquestra natural que esses Clarinetes assumam a funo dos Violinos. Porm,
apenas e to somente nesta condio. Na estrutura sonora da banda sinfnica, o Clarinete Eb
os Clarinetes Bb fazem a parte que lhes atribuda pelo compositor ou arranjador, como
demonstram Francisca Aquino & Ricardo Vasconcellos, David Holsinger, Alfred Reed, John
Barnes Chance e Vincent Persichetti.
232
CAPTULO V
CONJUNTOS SINFNICOS DE SOPROS TIPO 4 NVEIS AVANADOS
No possvel afirmar que a maneira pela qual o Divertimento for Band (1950), de
Vincent Persichetti e a Symphony in B flat (1950), de Paul Hindemith foram elaboradas
contriburam para a criao de outros grupos sinfnicos de sopros, distintos da banda
sinfnica tradicional. Todavia, fato que esses compositores deram a estas obras, tratamento
no habitual matria prima disponvel na banda sinfnica, privilegiando combinaes
instrumentais e tcnicas expressivas diferentes daquelas encontradas em obras anteriores para
esta formao instrumental, tais como a Suite in E-flat (1909) e a Suite in F (1911), de Gustav
Holst e Folk Song Suite (1923), de Vaughan Williams. Alm disso, enquanto na capa de
Divertimento h informaes objetivas no que respeita quantidade de msicos a serem
empregados para a sua execuo, em Symphony, na folha de rosto consta apenas a
instrumentao. Isto sinaliza para a hiptese de que a obra foi concebida para um conjunto de
sopros com instrumentao similar quela utilizada pela banda sinfnica, porm, sem
quaisquer dobramentos para cada instrumentista, uma parte. Tal constatao, ao que parece,
pavimentou o caminho que comearia a ser percorrido pelos grupos sinfnicos de sopros
pouco tempo depois.
A verdade que em 1952, surgiu um conceito de grupo sinfnico de sopros, com a
criao do Eastman Wind Ensemble pelo maestro norte-americano Frederick Fennell,
curiosamente, dois anos aps o aparecimento de Divertimento for Band e Symphony in B flat.
Na esteira deste conceito, diversos grupos sinfnicos foram criados, a maioria deles
denominados conjuntos de sopros e outros com a denominao de orquestra de sopros, como
a Tokyo Kosei Wind Orchestra, no Japo da qual Frederick Fennell foi regente e da Royal
Northern College of Music Wind Orchestra, na Inglaterra. No repertrio desses grupos de
sopros, releituras de obras de referncia para banda sinfnica, mas principalmente, msicas
escritas segundo o conceito de Frederick Fennell, as quais se caracterizam pelo grau avanado
de dificuldade de execuo e instrumentao constituda por solistas. com ateno
primordialmente voltada para as propriedades constitutivas dessa literatura, que sero
analisadas Symphony in B flat, de Paul Hindemith (1895-1963); Night Soliloquy, de Kent
Kennan (1913-2003); Al Fresco, de Karel Husa (1921); e, Vozes do Agreste, de Edmundo
Villani-Crtes (1930).
233
66
Este termo ser usado nas referncias criao de Frederick Fennell, qual seja: o conjunto de sopros e seu
similar: a orquestra de sopros. Assim, conjunto de sopros fennelliano e orquestra de sopros fennelliana
referem-se diretamente a seu criador. Optou-se por tais denominaes em razo de que h conjuntos e
orquestras de sopros que no se orientam pelo conceito criado por Fennell.
234
Symphony in B flat possui trs movimentos, a saber: I. Moderately fast, with vigor,
88-92 BPM; tempo de compasso inicial: 3/2; II. Andantino, 56 BPM, tempo de compasso
inicial: 2/2; III. Fuge, Rather broad, 100 BPM, tempo de compasso inicial: 3/2; no h
Armadura de Clave. A partitura analisada uma edio Scott & Co. Ltd., London (1951). Na
instrumentao (ex. 5.1), contida na folha de rosto da partitura, consta apenas a relao dos
instrumentos utilizados na obra, diferentemente da maior parte das partituras at o momento
analisadas.
Exemplo 5.1
Fonte: Instrumentao de Symphony in B flat (HINDEMITH, 1951, p. s/n)
Quadro 5.1 Fonte: Instrumentao de Divertimento for Band e Symphony in B flat (PERSICHETTI, 1951, p.
1; HINDEMITH, 1951, p. s/n)
INSTRUMENTAO COMPARATIVA
Divertimento for Band Symphony in B flat
Corne Ingls SIM -
Clarinete Solo Bb - SIM
Corneta Solo Bb - SIM
Bartono T.C. (Treble Clef) SIM -
Xilofone SIM -
Wood Block SIM -
Pandeiro - SIM
Tringulo - SIM
Quanto escrita, Symphony in B flat extremamente complexa (ex. 5.2)
contraponto desta vez est a cargo dos metais Cornetas, Trompetes Bb, 1 Trompa F, com
pequena participao da Caixa Clara.
Exemplo 5.2
Fonte: Incio de Symphony in B flat (HINDEMITH, 1951, p. 1)
Nesta parte, Hindemith utiliza os metais como uma espcie de fanfarra, com ritmos
binrios e ternrios (quilteras de colcheias). interessante verificar o tratamento que o
compositor d Corneta Bb Solo, s Cornetas e aos Trompetes Bb. Tais instrumentos,
embora parecidos, possuem timbres diferentes. Segundo Oscar Brum, a Corneta tem
237
sonoridade bem mais encorpada, redonda, e aveludada que a do Trompete e seu papel em
determinados tipos meldicos de grande importncia. melhor cantante que o Trompete.
(BRUM, 1987, 36). Acerca do Trompete, este autor ensina que na Banda, o Trompete
representa um papel parecido com o do Obo, na Orquestra Sinfnica. [...]. O timbre claro,
timo para ser empregado como solista. (BRUM, 1987, p. 36). Na Letra A a participao
diferenciada das Cornetas e Trompetes Bb digna de nota. O ritmo o mesmo. Todavia, os
instrumentos so empregados em dilogo: incialmente os Trompetes, em seguida as Cornetas
(1s e 2s), depois a Corneta Solo, tudo em intensidade mf.
No compasso 78, aps tutti orquestral, em intensidade ff crescente, h uma
suspenso. Agora, o estado de esprito outro, Molto agitato, compasso 2/2 em mesma
Unidade de Tempo. A cargo do Clarinete Alto Eb e Saxofones Alto Eb, em unssono, novos
ares se anunciam. Em seguida, outros instrumentos Clarinete Bb Solo e 1 Clarinete Bb;
Obos e Clarinetes Baixo Bb repetem o tema . Neste trecho, onde so requeridas habilidades
como preciso e sonoridade excelente, Hindemith emprega apenas as madeiras. Apenas no
compasso 99 que o mesmo tema anunciado pelos metais inicialmente pelos 2s & 3s
Trombones, Trompas F acompanhados pela Caixa Clara.
A partir do compasso 157, o tema principal do Movimento reexposto. Desta vez, de
responsabilidade das Flautas e Obos. Paul Hindemith, como o fez Persichetti em seu
Divertimento, utiliza diversos espaos em branco. A utilizao do tutti orquestral
econmica e constata-se a prevalncia pelos timbres de alguns instrumentos. O resultado
uma sonoridade transparente como se v, por exemplo, a partir da letra L. Neste trecho (ex.
5.3), o compositor utiliza, inicialmente, apenas 1 Flauta, Clarinete Bb Solo, 2s & 3s
Clarinetes Bb, 1 & 2 Trompa F (muted) e Bartono. Apenas no compasso 176 entra o 1
Obo em sucinta participao. Os Baixos (Tubas), com idntica insero, no compasso 182-
184. Aps a letra N verifica-se o emprego de tutti orquestral que se d at o fim do
Movimento. Agora h a participao do Tmpano. No compasso 201 se junta a este, o Bumbo
com trinado, em mf <.
238
Exemplo 5.3
Fonte: Letra L de Symphony in B flat (HINDEMITH, 1951, p. 34)
Exemplo 5.4
Fonte: Incio do Movimento II da Symphony in B flat (Idem, ibidem, p. 41)
Com isso, o Movimento comea tal qual uma seo de sopros qualquer, sem lanar
mo das propriedades habituais de uma banda sinfnica. A intensidade p, exceto a Corneta
Solo e o 1 Saxofone Alto Eb, estes em intensidade mf. No compasso 8, aparecem os
240
passa para o Flautim e as Flautas na letra B seguidas pelos Baixos e posteriormente pelas
demais vozes instrumentais.
Exemplo 5.5
Fonte: Incio do Movimento III da Symphony in B flat (HINDEMITH, 1951, p. 69)
Exemplo 5.6
Fonte: (FENNELL, 1954, p. 52)
68
Notas reais.
244
Exemplo 5.7
Fonte: Instrumentao de Night Soliloquy (KENNAN, 1962, p. 1)
Exemplo 5.8
Fonte: Incio de Night Soliloquy (KENNAN, 1962, p. 3)
71
Detido. Retardado; geralmente uma reduo mais sbita de tempo que a que se requer por meio de um
retardando e um rallentando. (RANDEL, 2009, p. 956).
247
Exemplo 5.9
Fonte: Excerto de Night Soliloquy (KENNAN, 1962, p. 7) KENNAN, 1962,
Sobre os cinco compassos finais (ex. 5.10), Kent Kennan deixa a critrio do regente
quais os instrumentos a executar, elencando as seguintes possibilidades: Piano sozinho;
248
Exemplo 5.10
Fonte: Final de Night Soliloquy (KENNAN, 1962, p. 7)
249
5.2.2 Al Fresco
Al Fresco, Karel Husa (1921), teve sua estreia em 19 de abril de 1975, pelo Ithaca
College Concert Band, sob a regncia do compositor. Em 2002, a obra foi gravada em CD
pelo The Ithaca College Wind Ensemble. No verso da folha de rosto da partitura de Al Fresco
consta o seguinte:
72
A obra foi executada por msicos da Banda Sinfnica da PMDF e convidados, sob minha regncia.
250
Exemplo 5.11
Fonte: Instrumentao de Al Fresco (HUSA, 1975, p. 1)
Outro aspecto que refora tal hiptese o lay out do grupo orquestral (ex. 5.12),
includo no verso da folha de rosto da partitura, algo incomum nas partituras para grupos
sinfnicos de sopros. Isto indica uma vontade objetiva a respeito da disposio do grupo
orquestral. possvel que a partir de tal indicao Husa tenha imaginado as consequncias
sonoras da orquestrao da obra, principalmente acerca dos instrumentos da disposio dos
instrumentos de percusso no interior do grupo sinfnico. Nesta indicao de lay out h
textualmente a denominao wind ensemble, como se v no Exemplo 5.12. Alm disso, a
escrita da partitura corrobora o entendimento segundo o qual a obra no foi elaborada para
outro grupo sinfnico seno o conjunto de sopros fennelliano. com base no entendimento de
o compositor imaginou sua obra para conjunto de sopros que a partitura de Al Fresco ser
analisada.
251
Exemplo 5.12
Fonte: Instrumentao de Al Fresco (HUSA, 1975, p. s/n)
Acerca de sua obra, Karel Husa afirma que ela no tem contedo programtico,
apesar de confessar sua admirao pela arte da pintura, especialmente a pintura mural
ocidental em gesso molhado. (HUSA, 1975, p. s/n). Apesar desta afirmao, Al Fresco
produz a sensao de querer retratar coisa, talvez uma pintura contempornea, talvez um
ambiente. Do ponto de vista estritamente musical, Donald MacLaurin assinala que entre as
tcnicas empregadas pelo compositor esto o uso de modulao timbral, dispositivos
aleatrios, faixas ampliadas de instrumentos (indicao de notas mais agudas e mais graves
possveis) e quartos de tom. (MacLAURIN ,2003, p. 126). O autor no explica os termos
modulao timbral e faixas ampliadas. Todavia parece tratar-se das mudanas de timbres e
tessituras de execuo, verificados na obra.
Al Fresco Molto moderato inicia com rulos de D#2 com fermata, executados
pela Marimba (soft mallets) em intensidade ppp. No compasso seguinte h um solo de
Trombone com Harmon mute, tambm em D#2, em intensidade ppp e slow glissando em
direo nota R2, em intensidade decrescente (ex. 5.13).
252
Exemplo 5.12
Fonte: Incio de Al Fresco (HUSA, 1975, p. 2)
regio grave do grupo orquestral e rulo contnuo da Marimba, as entradas pontuais de alguns
instrumentos solistas como a Tuba com surdina e as entradas pontuais do Piano em oitavas
aumentadas inferiores, parecem querer retratar o incio de algo.
A partir da anacruse do compasso 20, Karel Husa d incio participao de outros
instrumentos, com as Flautas (a 2) acompanhadas pelo Clarinete Eb em nota longa (Mi3) ao
mesmo tempo em que os Clarinetes Bb executam trmulos com entradas um aps o outro, em
intensidade ppp. Na percusso, o Prato Suspenso executa rulos em pp, simultaneamente
execuo do Vibrafone em bloco harmnico em ritmo de colcheia. A Marimba, por sua vez,
aps o trmulo contnuo, executado desde o incio da obra, inicia uma melodia em
contraponto quela realizada pelas Flautas. Tais aspectos apontam, alm do grau de
dificuldade relativo s intervenes dos instrumentos com solos sutis, com aparies
episdicas e acompanhamento igualmente sutil caso dos Clarinetes Bb e Alto Eb em tutti
em intensidade ppp, para outras habilidades, estas relacionadas interpretao do estado de
esprito presente na construo da obra. Karel opta por vozes instrumentais episdicas. Isto
faz com que Al Fresco se constitua maneira de uma paisagem sonora, rarefeita.
No compasso 30 o estado de esprito presente at o momento comea a demonstrar
outra configurao. Iniciam-se intensidades crescentes na Percusso Marimba em mp cresc.
seguida do Piano e Vibrafone (cp. 33). O compasso 35 de ensaio indica mudana no estado
de esprito de Al Fresco. Nele, o Vibrafone, a Marimba e o Piano, indicam em intensidade ff
com acento, o novo estado de esprito que vir. Cabe ao Tmpano, com trmulos crescentes,
pp < molto cresc. ffff em fermata, tal indicao: Allegro risoluto. A partir da a sensao de
aspereza, que se d em razo de ritmos de semicolcheia com apojaturas, contratempo de
colcheias e o emprego de naipes densos primeiramente nos Clarinetes Bb, Clarinete Alto
Eb, Clarinete Baixo Bb, Clarinete Contrabaixo Bb, Saxofones e Bartono em bloco em
intensidade f. Em seguida essa mesma execuo transfere-se para os metais e Percusso
(Caixa Clara e Bumbo). No compasso 43 verifica-se o emprego de todas as madeiras do grupo
orquestral, combinadas com Bartono, Tuba, Contrabaixo e Contrafagote, Tmpano, Percusso
Caixa Clara, Prato Suspenso e Piano. Agora Al Fresco rude e denso, exprime fora. Os
ritmos se tornam complexos, requerendo preciso e sincronia, adicionados a intensas
densidades contrastantes, como se v a partir do compasso (5.13).
254
Exemplo 5.13
Fonte: Excerto de Al Fresco (HUSA, 1975, p. 14)
Exemplo 5.14
Fonte: Excerto de Al Fresco (HUSA, 1975, p. 38)
alguns ataques em rulos, com intensidade crescente. O compasso 248 pede ainda mais calma
Molto rit. e o compasso seguinte, Ancora meno. Ainda se verificam intensidades f marc. e
at fff. Todavia, um pequeno solo do 1 Obo, em intensidade mf espr. anuncia a mudana de
estado esprito; a 1 Flauta reexpe a melodia inicial. Al Fresco se deixa concluir da mesma
maneira pela qual iniciou: calma e serenamente. Aos poucos a densidade instrumental
diminui. No compasso 270 se vem poucos instrumentos 1 Flauta Solo sobre nota pedal a
cargo da 2 Flauta em trinado; 1 Saxofone Alto Eb com melodia descendente muito simples,
apenas trs notas; Trompas F (a 2) com surdina e ritmo de colcheias, em mp; trmulos da
Marimba como no incio da obra; Bartono, Tubas, Contrabaixo e Contrafagote; Vibrafone e
Piano eventuais. No compasso 272 verifica-se um solo do 1 Clarinete Bb na regio grave do
instrumento, simultaneamente ao 2 Trombone com Harman mute, stem in completely;
Clarinete Alto Eb Rb2 com nota pedal em trinado, p dim.; 1 Trompa F, Bartono D#2
nota pedal; Tubas e Contrafagote D#1, em p; Tmpano trmulo de D#1 nota pedal
em p. O compasso 274 revela um solo do Clarinte Baixo Bb, em intensidade p. O acorde final
a cargo dos Clarinetes Clarinete Eb, Clarinetes Bb, Clarinete Alto Eb, Clarinete Baixo Bb
e Clarinete Contrabaixo Bb; todos em intensidade pp >. Para estes recomenda-se: O som da
seo de clarinetes deve desaparecer progressivamente. Mantenha as fermatas enquanto for
necessrio, sem pressa. Em seguida, mantenha um momento de silncio. (HUSA, 1975, p.
46).
com algumas ressalvas, pode ser classificada na categoria de grupos avanados, como o
caso do conjunto de sopros fennelliano.
A instrumentao, comparada quela proposta por Frederick Fennell ou com a
instrumentao de obras como Night Soliloquy e Al Fresco, guarda certas peculiaridades,
talvez em razo de no ter sido escolhida segundo os propsitos fennellianos. Assim
verificam-se considerveis diferenas (ver Quadro 5.2):
Quadro 5.2 Fonte: Instrumentao (KENNAN, 1962, p. 1; HUSA, 1975, p. s/n; VILLANI-CRTES, 1997, p.
1)
INSTRUMENTAO COMPARATIVA
Night Soliloquy Al Fresco Vozes do Agreste
- Flautim
Flauta Solo - -
1 Flauta 1 1 Flauta 1 Flauta 1
1 Flauta 2 1 Flauta 2 Flauta 2
1 Flauta 3 - -
- 1 Obo 1 Obo
- 1 Obo 2
- 1 Corne Ingls
- 1 Clarinete Eb
1 Clarinete Bb 1 1 Clarinete Bb 1 Clarinete Bb 1
1 Clarinete Bb 2 1 Clarinete Bb 2 Clarinete Bb 2
1 Clarinete Bb 3 1 Clarinete Bb 3 Clarinete Bb 3
- 1 Clarinete Alto Eb
1 Clarinete Baixo Bb 1 Clarinete Baixo Bb Clarone
1 Clarinete Contrabaixo Bb 1 Clarinete Contrabaixo Bb
1 Fagote 1 Fagote 1
- 1 Fagote 2
- 1 Contrafagote
- 1 Saxofone Alto Eb 1 Saxofone Alto Eb 1
- 1 Saxofone Alto Eb 2 Saxofone Alto Eb 2
- 1 Saxofone Tenor Bb Saxofone Tenor Bb
- 1 Saxofone Bartono Eb Saxofone Bartono Eb
- 1 Saxofone Baixo Bb
1 Trompete Bb 1 1 Trompete Bb 1 Trompete Bb 1
1 Trompete Bb 2 1 Trompete Bb 2 Trompete Bb 2
1 Trompete Bb 3 1 Trompete Bb 3 Trompete Bb 3
- 1 Trompete Bb 4
1 Trompa F 1 1 Trompa F 1
1 Trompa F 2 1 Trompa F 2
- 1 Trompa F 3
- 1 Trompa F 4
1 Trombone 1 1 Trombone 1 Trombone 1
1 Trombone 2 1 Trombone 2 Trombone 2
- 1 Trombone 3
1 Bartono T.C.
1 Bartono B.C. 1 Bartono 1 Bartono 1
- 1 Bartono 2 Bartono 2
1 Tuba Tuba
1 Contrabaixo 1 Contrabaixo
1 Tmpano 1 Tmpano Tmpano
1 Piano 1 Piano Piano
259
74
Plural de bell (= sinos). Indica o glockenspiel ou, como menor frequncia, o carrilho. (FRUNGILLO,
2003, p. 38).
261
posterior do Saxofone Bartono e Tubas, seguidas das Flautas, Obos, Trompetes Bb,
Trombones e Bombardinos.
Exemplo 5.15
Fonte: Incio de Vozes do Agreste (VILLANI-CRTES, 1997, p. 1)
Exemplo 5.16
Fonte: Excerto de Vozes do Agreste (VILLANI-CRTES, 1997, p. 4)
Exemplo 5.17
Fonte: Excerto de Vozes do Agreste (Idem, ibidem, p. 8)
Exemplo
5.18
Fonte: Excerto de Vozes do Agreste (VILLANI-CRTES, 1997, p. 4)
Exemplo 5.19
Fonte: Excerto de Vozes do Agreste (VILLANI-CRTES, 1997, p. 16)
credenciam a ser classificada no universo dos grupos sinfnicos de sopros avanados, mais
especificamente na categoria conjunto ou orquestra de sopros fennelliana.
Exemplo 5.20
Fonte: Final de Vozes do Agreste (VILLANI-CRTES, 1997, p. 23)
268
5.3.1 Metropolis
Metropolis (1992), foi escrita para a RAM Symphonic Winds. A foi estreada sob a
regncia do maestro Edward Gregson, como parte do Da Capo Festival, Royal Academic of
Music, no dia 08 de maro de 1993, em Londres. Nos Estados Unidos, a obra foi estreada pela
Ithaca College Wind Ensemble, conduzida pelo maestro Rodney Whinter, Ford Hall, Ithaca
College, em 19 de maro de 1994. Foi registrada em CD pela Royal Northern College of
Music Wind Orchestra, em 1996, sob a regncia do maestro Timothy Reynish. Acerca de sua
obra, o professor e compositor Adam Gorb (1953), afirma:
H muito tempo queria escrever uma obra que refletisse o ritmo frentico da
vida moderna. O convite para compor uma pea para a combinao muito
urbana de madeiras, saxofones, metais, piano e percusso extensa, me deu
uma oportunidade rara. A ideia inicial para Metrpoles veio de um jogo de
rdio, que foi criado no sculo XXI, onde toda a populao do pas vivia em
seus veculos, rodando em volta de uma autoestrada circular dia e noite,
parando apenas para por comida e gasolina. A obra se divide em quatro
sees. A primeira a mais longa e rpida e agitada. Ento a voz "humana"
do saxofone tenta introduzir alguma tranquilidade antes da msica a partir da
seo de abertura retornar, desta vez em um estilo ousado e vulgar. A seo
final segue um clmax e dispe de um suave coral para todos os sopros e a
percusso tocando em ritmos cruzados. O trabalho termina dura e
simplesmente. (GORB, 1996, p. 2).
obstculos a serem superados por todos os envolvidos regente e instrumentistas para uma
execuo de excelncia. Se em Al Fresco haviam dificuldades tais como quartos de tons,
dispositivos aleatrios (improvisos grupais), modulaes timbrais e o requisito elementar de
domnio da tcnica do instrumento e compreenso da obra, em Metropolis o grau de exigncia
ainda maior em todos os aspectos referentes execuo de uma pea musical.
O conceito de orquestra de sopros adotado por Adam Gorb similar ao conjunto de
sopros proposto por Frederick Fennell. A orquestrao completa, com extensa percusso,
dividida em seis sees em que, cada instrumentista tem como atribuio a execuo de
diversos instrumentos. Alm disso, h determinao textual de que a obra para ser executada
com um instrumentista para cada parte, como se v abaixo (ex. 5.21).
Exemplo 5.21
Fonte: Orquestrao de Metropolis (GORB, 1995, p. s/n)
270
Exemplo 5.22
Fonte: Incio de Metropolis (GORB, 1995, p. 1)
No nmero 3 de ensaio, compasso 5/4, verifica-se bloco harmnico linear feito pelo
Flautim, Flautas, Clarinete Eb, Clarinetes Bb, Clarinete Baixo Bb, Fagotes em fp e
Trompas, em mf > p. Na Percusso um pequeno ataque da seo (Cym. Soft stick) em
intensidade f. No terceiro tempo do compasso h um trmulo desse grupo de instrumentos de
sopros. Ressalte-se que Gorb emprega um grupo de madeiras, uma espcie de quarteto de
sopros ampliado sem Obo, pois h no grupo as Trompas instrumento de interseo entre as
madeiras e os metais. Os Obos no participam efetivamente do bloco. Sua insero no trecho
com uma melodia harpejada descendentemente (5J-5Dim). A novidade em relao a esses
instrumentos o emprego de trmulos, recurso extremamente raro e de elevada dificuldade de
execuo. Simultaneamente aos trmulos verifica-se tambm a entrada dos Trompetes Bb,
com surdina (straight mute) e intensidade fppp em pirmide, mas com entradas invertidas (de
cima para baixo). No compasso seguinte (ex. 5. 23) o compasso se altera para 4/4. O trmulo
se inverte para os trs primeiros tempos do compasso na parte do Flautim e Flautas, Clarinete
Eb; Os Clarinetes Bb, Clarinete Baixo Bb e Fagotes, nos dois primeiros tempos. Nas Trompas
os trmulos se alteram. Desta vez em compasso completo no primeiro, trmulo com figuras
de semibreve, no segundo compasso, em trmulos divididos ao meio. Nos outros metais, se
verifica os Trompetes com o mesmo desenho piramidal, onde os instrumentos entram um
aps o outro; Aos demais instrumentos (Trombones, Tuba Tenor e Tuba) dada a mesma
atribuio, porm em modelo de pirmide habitual (a partir dos graves), todos com surdina
straight mute. H a destacar o instrumento Tenor Tuba. Apesar da nomenclatura diferente
entre as obras analisadas, em nenhuma delas h tal denominao trata-se do Bartono B.C.
(Bass Clef) ou Eufnio, conforme se v habitualmente nas instrumentaes. Ate o momento, o
papel da Percusso episdico. No entanto, verifica-se na seo 5 da Percusso (Side drum
with snares) com a mesma construo rtmica dos instrumentos de madeira, em semicolcheias
e intensidade p cresc. f.
A partir do nmero 4 de ensaio verifica-se a entrada da voz humana do Saxofone
que se d por meio de uma anacruse do compasso seguinte, em intensidade ffp. Desse trecho
em diante at o nmero 8 de ensaio, verifica-se um quarteto de Saxofones extremamente
compacto em bloco harmnico cerrado. o momento em que Adam Gorb tenta imprimir um
pouco de tranquilidade obra, segundo suas prprias palavras. Apesar disso nota-se um
Contrabaixo e Piano em completo frenesi rtmico num ff >.
274
Exemplo 5.23
Fonte: Excerto de Metropolis (GORB, 1995, p. 6)
Exemplo 5.24
Fonte: Excerto de Metropolis (GORB, 1995, p. 1)
Exemplo 5.25
Fonte: Excerto de Metropolis (GORB, 1995, p. 32)
No nmero 26 de ensaio (ex. 5. 26) , destaca-se a parte que cabe aos Clarinetes Bb. A
dificuldade de execuo se apresenta na medida em que a regio de escrita grave para o
277
Exemplo 5.26
Fonte: Excerto de Metropolis (GORB, 1995, p. 36)
278
Exemplo 5.27
Fonte: Excerto de Metropolis (Idem, ibidem, GORB, 1995, p. 38)
279
Exemplo 5.28
Fonte: Excerto de Metropolis (GORB, 1995, p. 46)
280
Exemplo 5.29
Fonte: Excerto de Metropolis (GORB, 1995, p. 86)
281
Exemplo 5.30
Fonte: Excerto de Metropolis (GORB, 1995, p. 101)
282
A partir do compasso 72 de ensaio (ex. 5.31), solicita-se que todo o corpo orquestral,
exceto Tuba e Contrabaixo, tome instrumentos de percusso como pequeno tambor, lata,
peas de madeira ou pedaos de metal no reverberante. Tuba e Contrabaixo, solicita-se
que executem Maracas, conforme a indicao rtmica, que se v a partir do compasso 73 de
ensaio, em pp. No compasso 75 de ensaio comea um f cresc. para a concluso da obra em
intensidade ffff juntamente com todas as sees da Percusso num grandioso tutti orquestral.
Exemplo 5.31
Fonte: Excerto de Metropolis (GORB, 1995, p. 108)
283
Alm das informaes referentes s motivaes que inspiram a obra, Mackey tambm
informa na Nota da Instrumentao que a obra est escrita para sopros de orquestra e deve
ser realizada com apenas um instrumentista para cada parte. (MACKEY, 2010, p. s/n). Dessa
maneira, na Instrumentao da obra (ex. 5. 32), contida na folha de rosto, h no somente a
relao dos instrumentos separados por seo Madeiras, Trombone Solo, Metais,
Contrabaixo, Piano, Tmpano e Percusso mas tambm notas para a Percusso e a relao
completa dos instrumentos pertencentes a este naipe.
284
Exemplo 5.32
Fonte: Instrumentao de Harvest (MACKEY, 2010, p. s/n)
285
Exemplo 5.33
Fonte: Incio de Harvest (MACKEY, 2010, p. 1)
286
Exemplo 5.34
Fonte: Excerto de Harvest (MACKEY, 2010, p. 9)
287
Exemplo 5.35
Fonte: Excerto de Harvest (MACKEY, 2010, p. 17)
288
Exemplo 5.36
Fonte: Excerto de Harvest (MACKEY, 2010, p. 35)
289
Outro aspecto que salta vista neste conceito de grupo sinfnico de sopros a
sonoridade resultante dessa combinao instrumental (ex. 5. 37), que se distancia tanto da
orquestra e da banda sinfnica, mas tambm do conjunto e da orquestra de sopros fennelliana.
O que h de comum entre esse grupo sinfnico e o conjunto ou orquestra de sopros ancorados
na criao de Fennell o estilo orquestral de desempenho.
Exemplo 5.37
Fonte: Excerto de Harvest (MACKEY, 2010, p. 77)
290
Exemplo
5.38
Fonte: Instrumentao de Symphonies of Wind Instruments (STRAVINSKY, 2001, p. xiv)
291
Exemplo 5.39
Fonte: Incio de Symphonies of Wind Instruments (STRAVINSKY, 2001, p. 1)
292
Fantasy (ex. 5.41), apesar das suas especificidades no que respeita sua
instrumentao, uma obra bastante simples, se comparada, por exemplo, a Metropolis, de
Adam Gorb; Harvest: Concerto for Trombone, de John Mackey; e, Symphonies of Wind
Instruments, de Igor Stravinsky. A obra de Stravinsky no possui Tmpano, Piano, Harpa ou o
naipe de Percusso. Em Metropolis h 6 Sees de Percusso, nas quais os instrumentistas
possuem a responsabilidade de executar diversos instrumentos. Trata-se de uma obra de
elevado grau de dificuldade de execuo em diversos aspectos, tais como: diversidade de
tempos de compasso, andamento, escrita rtmica e interpretao complexa dos aspectos
extramusicais implcitos na obra. Harvest tambm apresenta propriedades estruturais
igualmente complexas. Symphonies of Wind Instruments, apesar de ser uma obra de referncia
no repertrio para a categoria orquestra de sopros, com suas dificuldades de execuo,
menos complexa do que Metropolis e Harvest. O que h de comum entre estas e Fantasy
que todas pertencem categoria das orquestras de sopros. A dificuldade de execuo
verificada na obra de Villa-Lobos se d em razo das peculiaridades da sua instrumentao,
que no incomum, mas no impossvel de ser arregimentada para uma execuo
respeitosa.
294
Exemplo 5.40
Fonte: Incio de Fantasy in Three Movements in Formo f a Chros (VILLA-LOBO, 1959, p. 1)
295
Exemplo 5.41
Fonte: Final de Fantasy in Three Movements in Formo f a Chros (VILLA-LOBO, 1959, p. 58)
296
CONCLUSO
CONSIDERAES FINAIS
Esta pesquisa procurou apresentar a banda e seu universo enquanto grupo sinfnico de
sopros destinado realizao de msica de concerto, seja nos ambientes de grande
concentrao pblica, seja na sala de concerto ambiente mais adequado s formaes
constitudas de solistas como o caso dos conjuntos e orquestras de sopros. Foi demonstrado
que tais grupos constituem uma categoria dos grupos sinfnicos de nvel tcnico avanado,
para os quais h significativa quantidade de obras e que por suas peculiaridades, so
impossveis de serem executadas pelos grupos sinfnicos de sopros pertencentes s categorias
anteriores. Outra demonstrao que os grupos sinfnicos de sopros pertencentes s
categorias de iniciantes, dos quais fazem parte os instrumentistas em nveis extremamente
elementares podem realizar concerto de forma bem sucedida e honesta. Isto em razo de que
h repertrio apropriado s suas habilidades musicais.
Incialmente foi apresentado breve histrico da banda no sculo XX, sempre com
nfase nela enquanto grupo de concerto, inclusive na esteira de que concerto tambm pode ser
msica de entretenimento, como entendia John Philip Sousa. Assim, consideraes acerca da
existncia de outras formaes musicais tambm denominadas, conhecidas e reconhecidas
como bandas ou fanfarras foram abordadas sem a pretenso de aprofundamento. Por isso, as
bandas realizadoras de concerto foram denominadas desde o incio como grupos sinfnicos de
sopros, entendidos como grupos que possuem instrumentao prxima ou similar quela
utilizada pela orquestra sinfnica, tais como instrumentao constituda por naipes ampliados,
nas quais h instrumentos como Obo, Fagote, Clarinete Eb Clarinete Baixo Bb, Trompa,
Percusso com Teclados, entre outros o caso das bandas extremamente iniciantes,
iniciantes, juvenis, banda de concerto e banda sinfnica e tambm dos grupos constitudos por
conjuntos de solistas conjuntos e orquestras de sopros.
A partir desse programa de trabalho, procurou-se compreender as
classificaes e categorias de grupos sinfnicos de sopros, tendo como base as partituras
destinadas a esses grupos, conforme se verifica nas editoras, distribuidoras de partituras para
bandas e conjuntos e orquestras de sopros, alm de lojas virtuais e a pgina eletrnica The
Wind Repertory Project. Assim, as categorias foram divididas em tipos de 1 a 4, por suas
classificaes de nveis de dificuldade. Tambm foram discutidos os aspectos estruturais que
envolvem tais partituras, nas questes referentes tessitura, tempos de compasso, ritmos,
armaduras de claves, instrumentao e orquestrao.
299
tessitura maior; diviso de duas vozes para os Clarinetes Bb e trs vozes instrumentais para os
Trompetes Bb; existncias de solos um pouco mais exigentes. No repertrio, permanecem
muitos arranjos de canes populares, trilhas sonoras, mas tambm obras originais,
transcries e arranjos de partituras para orquestra e piano.
O estgio seguinte a banda sinfnica. Agora no h limites de escrita. A partir
desse estgio o instrumentista e o grupo sinfnico esto aptos execuo das mais diversas
partituras. Os instrumentos podem ser divididos por vozes instrumentais de acordo com o
contedo da obra e verifica-se a prevalncia de obras originais. Ainda se veem transcries e
arranjos de partituras para orquestra e piano, todas com significativas complexidades
estruturais. Nesta categoria, encontram-se grupos universitrios e bandas profissionais. No
Brasil, so comuns as Bandas Sinfnicas Militares, adequadas em razo da capacidade de
realizarem concertos, desfiles e recepes s autoridades nacionais e internacionais. H
tambm bandas sinfnicas civis como a Banda Sinfnica do Estado de So Paulo e outras.
Enquanto a banda sinfnica representa o pice no que respeita s formaes
sinfnicas de sopros, o nvel avanado pertence categoria dos conjuntos e orquestras de
sopros. Estes grupos so constitudos por msicos solistas de excepcional nvel tcnico.
Criado por Frederick Fennell, o conjunto de sopros se estabeleceu desde 1952, como o grupo
sinfnico de sopros por excelncia, como se v em diversas instituies de ensino norte-
americanas, mas tambm na Inglaterra e Japo, institudas como orquestras de sopros, mas
segundo o modelo proposto por Fennell. Do repertrio, o que h de mais complexo na
literatura para sopros sinfnicos de sopros. Das obras recentes h, por exemplo: Metropolis,
de Adam Gorb; Turbine, de John Mackey; Spin Cycle, de Scott Lindroth; mas tambm as
clssicas Symphony in B flat, de Paul Hindimeth; e, Theme and Variations, Op. 43a, de
Arnold Schoenberg. Na outra categoria de grupos orquestras de sopros orquestras sem
cordas: Harvest Concerto for Trombone, de John Mackey e Ascent, de Adam Gorb, entre
outras.
Diante do exposto, possvel depreender pelo menos trs aspectos centrais, quais
sejam: primeiro, que os grupos sinfnicos de sopros constituem grupos autnomos, com
repertrio e caractersticas prprias, possuem semelhanas e diferenas em relao orquestra
sinfnica e que, por isso, no so substitutos da orquestra; segundo, que as divises por
categoria apresentam-se como efetivos instrumentos de aes pedaggicas, notadamente, nos
nveis iniciais; que tais aes demonstram claramente a possibilidade de serem utilizadas no
Brasil, de modo a orientar a aprendizagem, mas, sobretudo a msica sinfnica para sopros
levada a cabo pelos grupos sinfnicos brasileiros; terceiro, que tais princpios estruturais
301
podem ser utilizados pelos compositores e arranjadores brasileiros. Se for assim, possvel
que suas obras sejam aproveitadas de maneira efetiva pelos grupos sinfnicos de sopros
pertencentes aos nveis iniciais, moderados e intermedirios para os quais se escrever obras
segundo suas capacidades tcnicas mas tambm para os grupos sinfnicos universitrios e
profissionais, sem quaisquer limites de escrita ou configurao instrumental.
302
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