2015 Tese Efmneto PDF
2015 Tese Efmneto PDF
2015 Tese Efmneto PDF
CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE HISTRIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM HISTRIA
FORTALEZA
2015
EMY FALCO MAIA NETO
FORTALEZA
2015
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao
Universidade Federal do Cear
Biblioteca de Cincias Humanas
CDD 363.6109813109034
DEDICATRIA
We investigated how the population of Fortaleza relate to the "water paths" in the
city. Considering the different constructions of spaces and uses of freshwater, we
thought about how the existence of streams, weirs, lakes, springs, wells and ponds
was connected to gestures and feelings of individuals who have practiced - and so
established - these spaces. Books of reminiscences, novels, essays, periodicals,
cartographic plants, official reports, letters and population censuses were used to
understand the meanings assigned to water and watery. It was taken as time
reference the period between the hiring of the engineer Adolpho Herbster (1856) -
mark for the city's public works - and the opening of the piped water supply system of
the Acarape do Meio Weir (1926) - because it brought a water supply that didn't
include most of the population, but was still able to make a new relation with the
liquid possible.
APRESENTAO............................................................................................. 11
FONTES............................................................................................................ 260
APRESENTAO
1
THEOPHILO, Rodolpho. O Caixeiro: reminiscncias [1927]. (edio Fac-similar). Fortaleza: Museu
do Cear, 2002, p. 63.
2
FUNES, Eurpedes; GONALVES, Adelaide. No tempo em que Rodolpho Thephilo era caixeiro.
In.: THEOPHILO, Rodolpho. O Caixeiro: reminiscncias [1927]. (edio Fac-similar). Fortaleza:
Museu do Cear, 2002, p. 26.
3
Para Alain Corbin sempre um risco para o historiador interpretar a cidade sensvel de outrora de
acordo com os sentidos contemporneos. CORBIN, Alain. Saberes e odores: o olfato e o imaginrio
social nos sculos dezoito e dezenove. So Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 10; CORBIN,
Alain. Do Limousine s culturas sensveis. In.: RIOUX, Jean-Pierre; SIRINELLI, Jean-Franois.
Para uma histria cultural. Lisboa: Editorial Estampa, 1998, p. 109.
4
THEOPHILO, Rodolpho. A seca de 1915. Fortaleza: Imprensa Universitria UFC, 1980, p. 31-34.
5
Ibid.
12
aspectos que iam alm da imagem que se construa do Cear em que a seca era
um flagelo natural e se devia apenas a falta de chuvas: um discurso que, alm de
equivocado, podia fomentar a imobilidade. Nas palavras de Mike Davis, se no era
possvel evitar a seca meteorolgica quando em uma determinada regio chove
uma quantidade menor de gua que a esperada , estava ao alcance das obras
pblicas evitarem uma seca hidrolgica insuficincia do volume de gua
disponvel para as necessidades agrcolas com a construo de reservatrios. O
colapso alimentar causado pela seca no se devia apenas a um desastre ambiental,
tinha sempre uma dimenso artificial e, consequentemente, uma histria.6
Esta no , ento, uma histria sobre a seca, mas sobre os sentidos da
gua doce em Fortaleza. Contudo, a fora discursiva da seca acarretava em uma
quase invisibilidade da gua doce para a historiografia sobre a cidade. difcil
acreditar que na metrpole da fome, capital dum pavoroso reino, o reino macilento
do martrio coletivo dum povo em penria, chovia com regularidade em mdias
similares (e, s vezes, superiores) ao Rio de Janeiro e So Paulo.7 Segundo o
escritor maranhense Humberto de Melo, Rodolpho Thephilo no saa de casa em
Fortaleza sem um guarda-chuva.8 Apesar do mesmo atribuir o costume a uma
grande fora de imaginao, possvel que alm da imaginao o autor de O
Caixeiro tivesse precauo. Afinal, quem vive em Fortaleza no ignora a utilidade
de um guarda-chuva e que tendo em mente os textos de Rodolpho Thephilo
plausvel imaginar que ele no queria correr o risco de maldizer uma chuva
inesperada, comum na capital do Cear.
Compreender como se davam os usos da gua e das aguadas ,
observando as alteraes empreendidas nas prticas: na atuao dos usurios, nas
fugas, nas tticas e nos desvios foi o principal objetivo perseguido por este trabalho.
Aproximando-se de uma histria do cotidiano em que se busca perceber as artes do
fazer.9 Todavia, a cidade no dada, no o pano de fundo onde a ao se
6
DAVIS, Mike. Holocaustos coloniais: clima, fome e imperialismo na formao do Terceiro Mundo.
Rio de Janeiro: Record, 2002, p. 28-29.
7
Adjetivos utilizados por Raimundo Giro para descrever Fortaleza durante a seca de 1877. GIRO,
Raimundo. Evoluo Histrica Cearense. Fortaleza: BNB, 1985, p. 201. Sobre Fortaleza durante a
seca de 1877, conferir: NEVES, Frederico de Castro. Fortaleza, Capital de um Pavoroso Reino. In.:
__________. A multido e a Histria: saques e outras aes de massas no Cear. Rio de Janeiro:
Relume Dumar; Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 2000.
8
MELO, Humberto de. Rodolpho Theophilo [Necrolgio]. Dirio Carioca, 26 jul 1932, p. 2.
9
CERTEAU, Michel de. A inveno do Cotidiano: artes de fazer. Petrpolis, RJ: Vozes, 1994.
13
desenrola.10 Primeiro, porque a Fortaleza visitada por este trabalho no est dada
em nenhum lugar. Apesar de no ser uma cidade planejada, Fortaleza foi erigida
pautada em planos urbansticos que lhe atribuiu um desenho ortogonal. Contudo,
como escreveu a arquiteta e urbanista Margarida Andrade, a cidade de Fortaleza
cresceu induzida por planos e normas de regulao urbanstica elaborados pelo
poder pblico, mas foi edificada pelas mos da iniciativa privada.11 A cidade foi
construda na tenso entre a legalidade urbana teia poderosa que regula a
produo do espao e as vontades particulares.12 A manuteno do plano indica
a vontade do poder pblico local em impor uma racionalizao do traado urbano.13
Mas, mesmo assim, observaram-se ruas enviesadas e quarteires arredondados
nas plantas da cidade. Uma constatao de que apesar de funcionar como uma
espcie de molde da cidade ideal ou desejvel, a legalidade urbana determina
apenas a menor parte do espao construdo.14
No que diz respeito aos caminhos das guas, alguns desses planos,
registrados nas Plantas da Cidade, simplesmente os desconsideravam como se
ver no primeiro captulo em prol da linha reta. Os particulares preferiam evitar
empreender grandes enfrentamentos s aguadas e coube s obras pblicas
efetuarem essas intervenes. Desta forma, alguns rios, riachos e lagoas foram,
quando possvel, aterrados. Assim, a cidade se apresenta como um palimpsesto,
constantemente apagada e reescrita: um enigma a ser decifrado.15 Nos lugares onde
hoje se encontram canais, riachos poludos, ruas e prdios, existiam, h algumas
dcadas atrs, lugares usados para banhos, lavagem de roupa, pescarias, coleta de
gua e outras atividades: riachos, lagoas e audes que serpenteavam pela regio.
Uma circulao de gua que atualmente difcil de imaginar. Todavia, conforme no
palimpsesto propriamente dito, nem tudo desapareceu. Algumas marcas ficaram e
10
O cenrio significativo para a trama que se pretende encenar. ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval
Muniz. Nos destinos de fronteira: histria, espaos e identidade regional. Recife: Bagao, 2008, p.
80; SILVA FILHO, Antonio Luiz Macdo e. Fortaleza Imagens da Cidade. Fortaleza: Museu do
Cear/Secretaria da Cultura e Desporto do Estado do Cear, 2001, p. 106.
11
ANDRADE, Margarida Julia Farias de Salles. Fortaleza em perspectiva histrica: poder e
iniciativa privada na apropriao e produo material da cidade (1810-1933). 2012. 297 f. Tese
(Doutorado) - Curso de Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de So
Paulo, So Paulo, 2012, p. 23.
12
ROLNIK, Raquel. A cidade e a lei: legislao, poltica urbana e territrios na cidade de So Paulo.
So Paulo: Studio Nobel; FAPESP, 2003, p. 13-14.
13
SILVA FILHO, op. cit., p. 108.
14
ROLNIK, loc. cit.
15
Cf.: PESAVENTO, Sandra Jatahy. Com os olhos no passado: a cidade como palimpsesto. Revista
Esboos, Florianpolis, v. 11, n. 11, p.25-30, 2004. Semestral.
14
ainda so visveis: caladas altas, aclives e declives que indicam mesmo com o
intenso processo de nivelamento pelo qual a cidade passou antigos caminhos por
onde a gua circulava nos meses de chuva.16 Mesmo as intervenes possibilitam
refletir sobre os sentidos atribudos aos espaos estudados. Um riacho canalizado,
barrado ou aterrado pode dizer muito sobre a sociedade que empreendeu essas
intervenes ou almejou realiz-las.17
Nos Relatrios, Fallas e Mensagens dos Presidentes de Provncia foi
possvel ler: projetos para abastecimento, construes e obras de conteno.
Encontrou-se, em grande medida, um inventrio das alteraes empreendidas na
cidade e novas demandas por intervenes. Uma verdadeira peleja dessas obras
com as guas. Alm disso, esses relatrios costumam trazem informaes sobre o
controle e disseminao de epidemias onde as guas e os pntanos so
apontados como responsveis , programas de higiene escolas, enfermarias e
cadeias e notas sobre abastecimento e esgoto de Fortaleza.
Essa pesquisa teve incio justamente por esse incmodo causado por
uma sensao de abismo entre passado e presente como a descrita por Richard
Sennett entre a Fortaleza das minhas andanas e a observada nos lbuns de
Vistas, principalmente, na que se referiam ao riacho do Jacarecanga. Afinal, at
aquele momento tinha morado praticamente toda a minha vida no bairro homnimo
e no me lembrava de nenhum riacho, aude ou lagoa. Dando continuidade a
pesquisa, percebi outra cidade, feita por outras prticas. Todavia, nos embates
polticos a sensao era completamente oposta, deixando uma impresso de uma
permanncia desconcertante esses pontos foram, inclusive, objeto de anlise.
Contudo, espacializar esses lugares mesmo os que no mais existem
foi apenas uma parte do trabalho. Afinal, o espao a um s tempo expressa e
condiciona as vivncias corporais e as sensibilidades historicamente construdas na
e pela cidade.18 Para uma histria do cotidiano, o espao s se constitui quando ele
praticado.19 Os modos de fazer e de sentir instituem os espaos, mas, alm disso,
os lugares mesmo os que no mais existem so significativos pelas prticas que
16
SILVA FILHO, Antonio Luiz Macdo. A cidade e o patrimnio histrico. Fortaleza: Museu do
Cear/Secretaria da Cultura do Estado do Cear, 2003.
17
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Uma outra cidade: o mundo dos Excludos no Final do Sculo XIX.
So Paulo, Companhia Editora Nacional, 2001.
18
SILVA FILHO, Antonio Luiz Macdo e. Fortaleza Imagens da Cidade. Fortaleza: Museu do
Cear/Secretaria da Cultura e Desporto do Estado do Cear, 2001, p. 106.
19
CERTEAU, Michel de. A inveno do Cotidiano: artes de fazer. Petrpolis, RJ: Vozes, 1994.
15
20
CAGECE - Companhia de gua e Esgoto do Cear. Histria. Disponvel em:
<http://www.cagece.com.br/a-empresa/historia>. Acesso em: 08 fev. 2015.
21
CHARTIER, Roger. Leituras e Leitores na Frana do Antigo Regime. So Paulo: UNESP, 2004,
p. 16-17.
22
ROLNIK, Raquel. A cidade e a lei: legislao, poltica urbana e territrios na cidade de So Paulo.
So Paulo: Studio Nobel; FAPESP, 2003, p. 13-14.
16
atividade relevante para se compreender as histrias que dormem nas ruas.23 Para
isso, inventariou-se uma grande gama de documentos que, apesar das suas
diferentes funes, propiciaram refletir sobre algumas dessas prticas.
Quando discute sobre o patrimnio, Michel de Certeau chama ateno
para as prticas criadoras e inventivas que permeiam os usos, alm dos prprios
objetos.24 Contudo, na ausncia e em busca das formas de fazer esquecidas com
o passar do tempo, metodologicamente pensou-se num movimento contrrio: do
objeto para a prtica. Para Denise Bernuzzi de SantAnna, os objetos o mobilirio,
instrumentos de trabalho e outros trazem importantes contribuies para se pensar
nos gestos que os colocavam em uso. Eis um trecho da historiadora:
23
CERTEAU, Michel de; GIARD, Luce; MAYOL, Pierre. A inveno do cotidiano 2: Morar, cozinhar.
12. Ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 2013, p. 201.
24
CERTEAU, Michel de; GIARD, Luce; MAYOL, Pierre, op. cit. p. 199.
25
SANTANNA, Denise Bernuzzi. de. O corpo na cidade das guas: So Paulo (1840-1910). Proj.
Histria, So Paulo. V. 25. Dez 2002, p. 102.
26
Daniel Roche considera que a nossa cultura banaliza o objeto e o seu papel na sociedade; ela
esquece seu lugar e sua funo, ou ento s quer ver neles a expresso e a causa da nossa
alienao definitiva. Ainda segundo o autor, em um dilogo com a teoria marxista: Os objetos, as
relaes fsicas ou humanas que eles criam no podem se reduzir a uma simples materialidade, nem
a simples instrumentos de comunicao ou distino social. Eles no pertencem apenas ao poro ou
ao sto [infraestruturas e superestruturas] ou ento simultaneamente aos dois, e devemos recoloc-
los em redes de abstrao e sensibilidade essenciais a compreenso dos fatos sociais. ROCHE,
Daniel. Histria das coisas banais: nascimento do consumo do sculo XVII ao XIX. Rio de Janeiro:
Rocco, 2000, p. 12-13.
17
introduo de um chafariz onde antes existia uma cacimba ou um poo sem levar
esses aspectos em considerao?
Relacionando esses anncios com livros de memrias (reminiscncias),
artigos autobiogrficos, crnicas do cotidiano e outros textos percebeu-se a
pluralidade de sentidos. Esses escritos fazem parte do tipo de escrita conhecida
como de si que, apesar de suas especificidades, possuem caractersticas em
comum.27 O medo ou a crena na fragilidade da memria faz com que alguns
homens e mulheres registrem, dando ordem sua existncia no escrito. Numa
tentativa de fazer lembrar, esses escritores buscaram erigir lugares de memria
como uma forma de fugir ao esquecimento.28 Para estes escritores, discorrer sobre
a cidade que deixou de existir era uma forma de fortalecer os laos que ainda os
prendiam a ela.29 Uma vontade de lembrar a si e ao outro dos feitos, dos momentos
e dos sentimentos de que eles so testemunhas. Na luta pelo fazer lembrar o
registro em papel foi utilizado como uma importante ferramenta. Essa prtica
possibilita a construo de um grande acervo de documentos disponveis, um
grande inventrio de prticas e gestos.30 Contudo, as memrias individuais, mais do
que um ponto de vista da memria coletiva, evocam lembranas que so
significativas para o presente de quem as evoca.31 Alm de um pacto com o
passado, esses escritos possuem, pode-se dizer, um pacto com o presente dar
significado ou voz s memrias, ou aos pontos de vistas, que podem estar
encobertos no presente. Assim, a escrita memorialstica marcada pela saudade,
por tentar retornar a uma cidade sensvel que s existe como lembrana.
Todavia, no apenas os escritos de si possuem vestgios do sensvel. A
literatura possui um lugar especial nesse trabalho. Segundo Raymond Murray
Schafer, o texto de literatos fidedignos que para ele so aqueles que escrevem a
27
Desse grupo fazem parte dirios, correspondncias, bilhetes, constituies de acervos e lbuns de
fotos, ou seja, o trabalho de organizao dos papis, to comum entre os indivduos modernos. As
buscas por essas documentaes, segundo ngela de Castro Gomes, comeam a ganhar flego no
Brasil nos ltimos quinze anos, a partir da valorizao de pesquisas sobre o privado, quando h uma
mudana significativa na forma como os objetos de estudo so constitudos. GOMES, ngela de
Castro. Escrita de Si, Escrita da Histria. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004, p. 9.
28
NORA, Pierre. Entre Memria e Histria: a problemtica dos lugares. Projeto Histria. So
Paulo: n 10, 1993, p. 7-28.
29
NOGUEIRA, Carlos Eduardo Vasconcelos. Tempo, Progresso e Memria: um olhar para o
passado na Fortaleza dos anos trinta. Dissertao (Mestrado em Histria) - Centro de Humanidades,
Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2006, p. 101.
30
NORA, op. cit., p. 17.
31
BOSI, Ecla. Memria e Sociedade: lembranas de velhos. So Paulo: Companhia das Letras,
1994, p. 413.
18
32
SCHAFER, R. Murray. A Afinao do Mundo - Uma explorao pioneira pela histria passada e
pelo atual estado do mais negligenciado aspecto do nosso ambiente: a paisagem sonora. So Paulo:
Editora Unesp, 2001, p. 24-25.
33
PAIVA, Manuel de Oliveira. A Afilhada. [1889] In.: Obra Completa. Rio de Janeiro: Graphia
Editorial, 1993, p. 241 e 204.
34
CAMINHA, Adolfo. A Normalista [1893]. Fortaleza: ABC Editora, 2005, p.159.
35
SANTANNA, Denise B. Apresentao. In.: SILVA FILHO, Antonio Luiz Macdo e. Rumores: A
Paisagem Sonora de Fortaleza (1930- 1950). Fortaleza: Museu do Cear / Secretaria de Cultura do
Estado do Cear, 2006, p. 9.
36
GEREMEK, Bronislaw. Os Filhos de Caim: vagabundos e miserveis na literatura europeia (1400-
1700). So Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 10.
37
CAMINHA, op. cit., p. 150 151.
38
O que Michel de Certeau chamou ironicamente de real tagarela, um real fabricado e simulado.
Sobre a mdia, Certeau escreveu: Os combatentes no carregam mais as armas de idias ofensivas
ou defensivas. Avanam camuflados em fatos, em dados e acontecimentos. Apresentam-se como os
mensageiros de um real. Sua atitude assume a cor do terreno econmico e social. Quando avana,
19
o prprio terreno parece que tambm avana. Mas, de fatos, eles o fabricam, simulam-no, usam-no
como mscara, atribuem a si o crdito dele, criam assim a cena da sua lei. CERTEAU, Michel de;
GIARD, Luce; MAYOL, Pierre. A inveno do cotidiano 2: Morar, cozinhar. 12. Ed. Petrpolis, RJ:
Vozes, 2013, p. 287.
39
NOBRE, Geraldo da Silva. Introduo histria do Jornalismo Cearense. [1975] Ed. fac-similar.
Fortaleza: NUDOC / Arquivo Pblico do Estado do Cear, 2006. Sobre esses peridicos, conferir:
FERNANDES, Ana Carla Sabino. A imprensa em pauta: entre as contendas e paixes partidrias
dos jornais Cearense, Pedro II e Constituio na segunda metade do sculo XIX. 2004. 204 f.
Dissertao (Mestrado) - Curso de Histria, Programa de Ps-graduao em Histria, Universidade
Federal do Cear, Fortaleza, 2004.
20
40
Daniel Parish Kidder nasceu em 1815 em Nova York Estados Unidos. Reverendo metodista,
viajou com sua espoca ao Brasil a servio da Sociedade Bblica Americana para divulgar, vender e
distribuir bblias e literatura reformista, traduzidas ao portugus, em naes no protestantes. Aps
passar algum tempo no Rio de Janeiro, visitou as provncias no norte passando por Fortaleza em
1839. Cf: OLIVEIRA FILHO, Srgio Willian de Castro. Estranho em terra estranha: prticas e
olhares estrangeiro-protestantes no Cear oitocentista. 305f. Dissertao (Mestrado em Histria
Social) Programa de Ps-Graduao em Histria Social, Universidade Federal do Cear, Fortaleza,
2011.
41
Joo Luiz Rodolpho Agassiz e Elizabeth Cary Agassiz eram naturalistas ele suo e ela
americana. Desembarcaram na cidade de Fortaleza em duas oportunidades em agosto de 1865 e
em maro do ano seguinte durante deslocamento ao Amazonas. Na primeira ocasio, passaram
apenas algumas horas tempo suficiente apenas para banho, almoo e um pequeno passeio pela
cidade. J na segunda, demoraram 16 dias e nesse intervalo realizaram uma pequena excurso ao
interior da provncia. Cf: STUDART, Guilherme. Estrangeiros e Cear. Revista do Instituto do
Cear. Fortaleza: Typ. Minerva, 1918.
42
Robert Christian Berthold Av-Lallemant nasceu na Alemanha onde se graduou em medicina. No
ano seguinte, veio residir no Brasil onde clinicou at 1855 quando retorna Europa. Em 1858,
retorna ao Brasil onde empreende uma srie de viagens e elabora diversos relatos. Visitou a cidade
de Fortaleza em junho de 1859 quando se deslocava ao rio Amazonas.
43
George Gardner foi um naturalista escocs que passou o perodo de 1836 at 1841 no Brasil,
viajando por diversas provncias do imprio catalogando animais e plantas. No passou por
Fortaleza, mas por Aracati, onde aportou em 1838 e seguiu dias depois ao interior da provncia. Cf:
STUDART, op. cit.
44
Criada em 1856 por iniciativa do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro IHGB e com o apoio
do imperado D. Pedro II, a Comisso composta apenas por cientistas brasileiros, buscava conhecer a
geografia, os recursos naturais e populaes do Brasil. Ambicionava-se percorrer diferentes rinces
do territrio brasileiro, mas o intuito no foi cumprindo a provncia do Cear foi a primeira e a nica
visitada. Cf: SILVA FILHO, Antonio Luiz Macedo e; RAMOS, Francisco Rgis Lopes, RIOS, Knia
Sousa. Apresentao. In: ALEMO, Francisco Freire. Dirio de Viagem de Francisco Freire
Alemo (1859-1861). Fortaleza: Fundao Waldemar Alcntara, 2011, p. 38; SANTOS, Paulo Csar
dos. O Cear Investigado: a Comisso Cientfica de 1859. Dissertao (mestrado) - Universidade
Federal do Cear, Programa de Ps-Graduao em Histria, Fortaleza, 2011.
45
Henry Koster nasceu 1793 em Portugal. Acredita-se que por motivos de sade veio ao Brasil em
1809, se estabelecendo em Pernambuco. Apesar de no ser naturalista, no devia relatrios nem
outras obrigaes tcnico-cientficas, empreendeu longa viagem pelo Norte do Brasil. De volta
Inglaterra escreveu e publicou o Travels in Brazil em 1816 com as orientaes e a vasta biblioteca
de Robert Southey. CASCUDO, Camara. Prefcio do tradutor. In.: KOSTER, Henry. Viagens ao
Nordeste do Brasil Travels in Brazil. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1942, p. 9-27.
Disponvel em: http://www.brasiliana.com.br/obras/viagens-ao-nordeste-do-brasil/ Acesso em: 10 jul.
2014.
21
46
SANTANNA, Denise Bernuzzi de. Cidade das guas: uso de rios, crregos, bicas e chafarizes em
So Paulo (1822-1901). So Paulo: Ed. Senac, 2007; JORGE, Janes. Tiet, o rio que a cidade
perdeu (So Paulo, 1890-1940). So Paulo: Alameda, 2006; SANTOS, Fbio Alexandre dos.
Domando guas: Salubridade e ocupao o espao na cidade de So Paulo, 1875-1930. So Paulo:
Alameda, 2011; ARRAIS, Raimundo. O Pntano e o Riacho: a formao do espao pblico no
Recife do sculo XIX. So Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2004; ALMEIDA, Conceio Maria Rocha
de. As guas e a cidade de Belm do Par: histria, natureza e cultura material no sculo XIX.
2010. 340 f. Tese (Doutorado) - Curso de Histria, Programa de Ps-graduao em Histria,
Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 2010; ALMEIDA, Gilmar Machado de. A
Domesticao da gua: acessos e os usos da gua na cidade do Rio de Janeiro entre 1850 a 1889.
2010. 208 f. Dissertao (Mestrado) - Curso de Histria, Programa de Ps-graduao em Histria,
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010; ADVNCULA, Chyara
Charlotte Bezerra. Entre miasmas e micrbios: a instalao de redes de gua e esgoto na cidade
da Parahyba do Norte (PB) e outras medidas de salubridade - 1910/1926. 2009. 153 f. Dissertao
(Mestrado) - Curso de Histria, Programa de Ps-graduao em Histria, Universidade Federal de
Pernambuco, Recife, 2009.
22
47
SERRES, Michel. Atlas. Lisboa: Instituto Piaget,1997.
23
1
CAQUELIN, Anne. A inveno da Paisagem. So Paulo: Martins, 2007, p. 154.
2
SCHAMA, Simon. Paisagem e Memria. So Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 16-17.
3
MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. A paisagem como fato cultural. In.: YZIGI, Eduardo (org.).
Turismo e paisagem. So Paulo: Contexto, 2002, p. 29; e CORRA, Dora S. Histria ambiental e a
paisagem. HALAC. Belo Horizonte, volume II, numero 1, setembro 2012 fevereiro 2013, p. 47-69.
4
SCHAFER, R. Murray. A Afinao do mundo uma explorao pioneira pela histria passada e
pelo atual estado do mais negligenciado aspecto do nosso ambiente: a paisagem sonora. So Paulo:
Editora UNESP, 2001, p. 11-13.
5
CORRA, op. cit., p. 67.
6
Ibid., p. 69.
26
7
SANTOS, Milton. Metamorfoses do espao habitado, fundamentos Terico e metodolgico da
geografia. So Paulo: Hucitec,1988.
8
O movimento foi denominado pelo gegrafo como espacialidade, que seria o fazer-se dos
espaos. Trata-se de um esforo metodolgico separar o espao da paisagem, como forma de tornar
o movimento que se faz nessa relao inteligvel. Nas palavras de Milton Santos: O espao o
resultado da soma e da sntese, sempre refeita, da paisagem com a sociedade atravs da
espacialidade. A paisagem tem permanncia e a espacialidade um momento. A paisagem coisa,
a espacializao funcional e o espao estrutural. Ibid.
9
No caso da planta, segundo Sandra Jatahy Pesavento, visam dar a conhecer, graficamente, o
territrio urbano. PESAVENTO, Sandra Jatahy. Uma Outra Cidade: o mundo dos Excludos no Final
do Sculo XIX. So Paulo, Companhia Editora Nacional, 2001, p. 25.
10
CERTEAU, Michel de. A escrita da Histria. 2 Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2006.
11
WORSTER, Donald. Para Fazer Histria Ambiental. Estudos Histricos, Rio de Janeiro, Vol. 4. N.
8. 1991, p. 202-203.
12
KNAUSS, Paulo. Imagem do Espao, Imagem da Histria. A representao espacial da cidade do
Rio de Janeiro. Tempo, Rio de Janeiro, Vol. 2, n 3, 1997, p. 135.
27
16
MENEZES, Raimundo de. Coisas que o tempo Levou: Crnicas de Fortaleza Antiga. Fortaleza:
HUCITEC, 1977, p. 87-89.
17
PAIVA, Manuel de Oliveira. A Afilhada [1989]. In.: Obra Completa. Rio de Janeiro: Graphia
Editorial, 1993, p. 324.
18
Liberal de Castro, em alguns dos seus textos, grafou Simoens no lugar de Simes, mas no
justificou a escolha. Assim, optou-se por utilizar a grafia presente na cpia da planta. CASTRO, Jos
Liberal de. Uma planta fortalezense de 1850 reencontrada. Revista do Instituto do Cear. Fortaleza:
2005.
29
FONTE: Planta da Cidade de Fortaleza organizada por Antonio Simes Ferreira de Faria em 1850,
desenhada em escala reduzida por F. B. de Oliveira em 1883. In.: CASTRO, Jos Liberal de. Uma
planta fortalezense de 1850 reencontrada. Revista do Instituto do Cear. Fortaleza: 2005.
19
Segundo Guilherme Studart havia a verso original e uma cpia realizada pelo arquiteto Joo
Saboia Barbosa em 1918 no prdio da Intendncia Municipal. Ambas desaparecidas. possvel
que o historiador no tivesse conhecimento desta cpia elaborada por Jos Joaquim de Oliveira em
1883, localizada por Jos Liberal de Castro no Arquivo Nacional / RJ. Respectivamente: STUDART,
Guilherme. Geografia do Cear [1924]. Fortaleza: Expresso Grfica, 2010, p. 196; CASTRO, Jos
Liberal de. Uma planta fortalezense de 1850 reencontrada. Revista do Instituto do Cear. Fortaleza:
2005, p. 93-121.
30
20
Responsvel pelo alinhamento das ruas e das construes segundo o plano urbanstico.
21
Profissional que realizava medies. Antes do emprego de correntes e fitas metlicas, recorria-se,
nas medies de terrenos e de edificaes, a cordas enrijecidas por engraxamento. Cf.: CASTRO,
Jos Liberal de. Uma planta fortalezense de 1850 reencontrada. Revista do Instituto do Cear.
Fortaleza: 2005, p. 98.
22
FARIAS FILHO, Jos Almir. O plano moderno e a morfologia do traado: Narrativa sobre um
Traado em Xadrez que Aprisiona o Discurso de Projeto Social. Anais do X Seminrio de Histria
da Cidade e do Urbanismo. Recife: UFPE, 2008, p. 4.
23
OLIVEIRA, Almir Leal de; BARBOSA, Ivone Cordeiro. Leis Provinciais: Estado e Cidadania (1835-
1861). Compilao das Leis Provinciais do Cear comprehendendo os annos e 1835 a 1861 pelo
Dr. Jos Liberato Barroso ed. Fac-similada. Tomo 2. Fortaleza: INESP, 2009, p. 105-106.
24
O riacho do Paje tambm foi chamado de Marajaig (riacho das palmeiras), Ipojuca, da Telha e da
rua de baixo. ADERALDO, Mozart Soriano. Histria Abreviada de Fortaleza e a Crnica da Cidade
Amada. Fortaleza: Edies UFC/ Casa Jos de Alencar, 1993, p. 24.
25
Segundo Liberal de Castro, a ocupao da regio de Fortaleza se deu partindo do Forte e seguindo
a ribeira esquerda do Paje direita de quem olha a planta em lotes de uso semi-rural. CASTRO,
Jos Liberal de. Fatores de Localizao e de Expanso da Cidade da Fortaleza. Fortaleza:
Imprensa Universitria / UFC, 1977.
31
26
Em texto escrito na dcada de 1860, Guilherme Capanema citou a presena de um coqueiral nessa
regio. CAPANEMA, Guilherme. Ziguezague da seo geolgica da Comisso Cientfica do Norte
[1860]. In.: PORTO ALEGRE, Maria Sylvia. Os Ziguezagues do Dr. Capanema: Cincia, Cultura e
Poltica no Sculo XIX. Fortaleza: Museu do Cear, 2006, p. 264.
27
Atualmente, caminhando pelo Centro da cidade, ainda possvel observar o desnvel olhando para
a Rua So Paulo na esquina com a Rua Conde dEu, apesar do riacho Paje ter sido desviado e no
passar mais por ali. Raimundo Giro identifica esses elevados existentes na ribeira oeste como a
lombada ou colina do Taliense e a colina da Misericrdia chamada tambm de Marajaiba em que
se encontrava o Forte que deu o nome a cidade. GIRO, Raimundo. Geografia Esttica de
Fortaleza. 2 ed. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 1979, p. 34-35.
28
Entender o que havia nesse vazio e sua relao com a gua ser objeto do prximo item.
32
FONTE: MEDEIROS, Manoel do Rego. Planta da Cidade de Fortaleza. In.: CASTRO, Jos Liberal de.
Uma planta fortalezense de 1850 reencontrada. Revista do Instituto do Cear. Fortaleza: 2005.
29
CASTRO, Jos Liberal de. Uma planta fortalezense de 1850 reencontrada. Revista do Instituto do
Cear. Fortaleza: 2005, p. 115.
30
Manoel do Rgo Medeiros nasceu em Aracati e aps estudos no Recife foi ordenado padre em
1853 retornou a provncia natal. Depois de curta passagem por Aracati, foi residir em Fortaleza
33
clareza. Sendo difcil, para quem no conhece a cidade, identific-lo ficava onde
est a legenda (o uso do verbo no passado no acidental, o mar em Fortaleza
mudou de lugar com os aterramentos e espiges). Em um perodo em que a
orientao no era padronizada, a Planta oferece uma leitura de norte a sul e de
leste a oeste, privilegiando uma rea da cidade em que as construes eram mais
intensas e o plano estava se consolidando.
Outra ausncia sentida a indicao de rvores e dunas, presentes na
carta de Farias e em diversas outras paisagens de Fortaleza na segunda metade do
sculo XIX. No romance A Normalista, Adolfo Caminha escreveu quando da partida
do personagem Zuza:
onde dividiu suas atenes entre o sacerdcio e o ensino das gramticas Latina, Francesa e
Portuguesa. Cf.: CMARA, Fernando. O primeiro cearense promovido ao episcopado. Revista do
Instituto do Cear. Fortaleza: Instituto do Cear, 1982. Alm disso, possvel encontrar anncios do
Padre Medeiros se oferecendo para aulas particulares durante o ano de 1854 no jornal Pedro II.
31
Romance publicado originalmente em 1893. Edio pesquisada: CAMINHA, Adolfo. A Normalista
[1893]. Fortaleza: ABC Editora, 2005, p. 150 151.
32
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu do Cear
[1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 376-377.
34
segundo plano no Outeiro que ficava acima do nvel do mar. Casebres, dunas, mar
e coqueiros eram uma constate na paisagem de Fortaleza.33
No entanto, a Planta de Rego de Medeiros no a nica em que isso
acontece: na planta de Adolpho Herbster publicada em 1868 no Atlas do Imprio do
Brazil houve supresso semelhante.34 Na tentativa de descobrir as razes dessas
omisses, encontrou-se uma proibio ao plantio de coqueiros, presente nas
Posturas da Cmara Municipal da Cidade de Fortaleza, aprovadas provisoriamente,
em 23 de janeiro de 1865:
33
Estes aspetos sero retomados no prximo tpico.
34
HEBSTER, Adolpho. Cidade da Fortaleza. In.: ALMEIDA, Candido Mendes de. Atlas do Imprio
do Brazil: comprehendendo as respectivas divises administrativas, ecclesiasticas, eleitoraes
e judicirias. Rio de Janeiro: Instituto Philomathico, 1868.
35
Posturas da camara municipal da cidade da Fortaleza, approvadas provisoriamente em 23 de
janeiro de 1865. In.: O Cearense, 7 Fev 1865, p. 4.
36
Resoluo, n. 1216, de 20 de agosto de 1867. In.: CEAR. Colleco dos Actos legislativos,
Regulamentos e Instruces da provncia do Cear no anno de 1867. Fortaleza: Typographia de
Odorico Cols. , 1868. Acervo microfilmado da hemeroteca da BPGMP.
35
exatamente o mesmo texto, mas impondo multa de 10 mil ris.37 possvel que as
novas publicaes tenham se dado para aumentar o valor da multa, e assim, tentar
fazer valer a proibio. Todavia, essas medidas no impediram que os coqueiros
emoldurassem as paisagens da cidade construdas durante toda a segunda metade
do sculo XIX e primeiras dcadas do sculo XX. No mesmo perodo em que a
proibio vigorou, foram publicados anncios de mudas de coqueiros postas
venda.38 Alm disso, stios e terrenos anunciados nos peridicos tambm
enumeravam os ps de coqueiro existentes como um atrativo aos compradores.39
No romance Iracema de Jos de Alencar publicado em 1865 o
coqueiro aparece como um smbolo importante: lpide de Iracema e tero do
Cear.40 No menos interessante, que as crticas que se fizeram ao livro em
Fortaleza se concentraram justamente nos deslizes de carter histrico cometidos
pelo autor entre eles o fato do coqueiro no ser uma planta nativa do Brasil, assim
dificilmente existiria no tempo em que Martins Soares Moreno esteve na regio.41 Os
adversrios na poltica e nas letras se utilizaram desse argumento para contestar
a validade da obra.42 provvel que a discordncia no fosse somente pelo carter
exgeno da planta escolhida por Alencar apesar disso no poder ser descartado e
representar uma falha grave , mas tambm por destoar da imagem que se buscava
construir da provncia e de sua capital.
37
Respectivamente: Resoluo n. 1,358 de 3 de novembro de 1870. In.: CEAR. Colleco das
Leis da Provncia do Cear de 1870. Fortaleza: Typ. Cearense, 1870; FORTALEZA. Cmara
Municipal. Cdigo de posturas da Cmara Municipal de Fortaleza 1893. Fortaleza: [s.n.], 1915,
p. 18.
38
Pedro II, 9 Abr. 1856, p. 4; Cearense, 12 Mar 1866, p. 4; Cearense 28 Jan 1872, p. 4.
39
Cearense, 6 Abr 1852 p. 4; Cearense, 29 Abr 1865, p. 4; Cearense, 26 Maio 1868, p. 3;
Cearense, 21 Out p. 1868, p. 3; Cearense, 18 Jan 1871 p. 4.
40
RAMOS, Francisco Rgis Lopes. O fato e a fbula: o Cear na escrita de histria. Fortaleza:
Expresso Grfica, 2012, p. 61-62.
41
Foram publicadas no jornal Cearense seis cartas sobre o livro assinada por Potyuara
pseudnimo. As cartas criticam diversos aspectos do livro, explicitando, principalmente, as falhas em
reconstituir a paisagem e os hbitos indgenas do perodo em que pretensamente se passaria o
enredo. Cf.: Cartas sobre a Iracema, lenda nacional por J. dAlencar Carta 1.. Cearense, 24 out,
1865, p.3; Cartas sobre a Iracema, lenda nacional por J. dAlencar Carta 3.. Cearense, 14 Nov
1865, p.2-3; Cartas sobre a Iracema, lenda nacional por J. dAlencar Carta 4.. Cearense, 16 Nov
1865, p.3-4; Cartas sobre a Iracema, lenda nacional por J. dAlencar Carta 5.. Cearense, 17 Nov
1865, p.1-2; Cartas sobre a Iracema, lenda nacional por J. dAlencar Carta 6.. Cearense, 24 Nov
1865, p.2-3; A segunda carta no foi localizada.
42
Fenmeno similar pode ser observado na discusso que se travou sobre a salubridade do Chafariz
do Largo do Palcio na imprensa local. Os partidrios do padre Jos Martiniano de Alencar pai do
escritor homnimo defendiam a qualidade da gua e os opositores criticavam. O Chafariz era um
monumento Alencar, assim objeto de disputa. Cf.: MAIA NETO, Emy Falco. Tanta chuva e
nenhum legume: alagamentos, poltica e imprensa em Fortaleza (1839-1876). Revista do Arquivo
Geral da Cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, v. 8, p.135-148, 2014.
36
43
Segundo Luciana Murari, nesse perodo a ideia de paisagem era sempre ligada ao no urbano.
Assim, qualificar um espao como paisagem significava defini-lo a partir do domnio da natureza
sobre os signos da civilizao, do poder, da tcnica e da modernidade. MURARI, Luciana. Natureza
e cultura no Brasil. So Paulo: Alameda, 2009, p. 15.
44
SILVA FILHO, Antonio Luiz Macdo e. Fortaleza: imagens da cidade. 2 Ed. Fortaleza: Museu do
Cear, 2004, p. 49.
45
PORDEUS, Ismael. Fortaleza casas e ruas numeradas. Revista do Instituto do Cear.
Fortaleza: Instituto do Cear, 1963, p. 335 352.
46
Durante muitos anos em Fortaleza foram chamados de ruas os logradouros de norte a sul e de
travessas os de leste a oeste.
37
FONTE: MEDEIROS, Manoel do Rego. Planta da Cidade de Fortaleza. CASTRO, Jos Liberal de.
Uma planta fortalezense de 1850 reencontrada. Revista do Instituto do Cear. Fortaleza: 2005.
Destaques e legenda: Emy F. Maia Neto 2012.
Segundo Mozart Soriano Aderaldo, o chafariz que dava nome rua ficava
na esquina com a Rua da Ponte na planta, no encontro da linha vermelha com a
verde (atualmente, seria o cruzamento da Rua Jos Avelino com a Avenida Alberto
Nepomuceno).47 Trata-se, possivelmente, do primeiro chafariz da Vila, inaugurado
em 1813 a partir de um dos olhos dgua que existiam no terreno disponibilizado por
Joo da Silva Feij.48 Essa rua percorrida noite pelo personagem Joo Batista no
romance A Afilhada descrita como deserta e mida, onde s se escuta o coro
dos sapos e dos grilos.49 O chafariz foi construdo, segundo argumento elaborado
para sua edificao, como uma opo gua do Paje que era utilizada para o
consumo domstico, mas tambm para lavar roupas e animais.
A rua manteve a toponmia at 1882, quando mudou de nome para Rua
Singlehurst em referncia a uma casa comercial exitente na cidade pertencente a
Robert Singlehurst.50 No entanto, no dia a dia, as pessoas continuaram se referindo
rua como do Chafariz. Anos depois, as casas comerciais localizadas no referido
47
ADERALDO, Mozart Soriano. Histria Abreviada de Fortaleza e a Crnica da Cidade Amada.
Fortaleza: Edies UFC/ Casa Jos de Alencar, 1993, p. 130.
48
Conferir: NOBRE, Geraldo S. Joo da Silva Feij: Um Naturalista no Cear. Fortaleza: GRECEL,
1978, p. 133 e segs.
49
PAIVA, Manuel de Oliveira. A Afilhada [1989]. In.: __________. Obra Completa. Rio de Janeiro:
Graphia Editorial, 1993, p. 306.
50
Cearense, 4 Fev 1882, p. 2.
38
51
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu do Cear
[1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 177.
52
Sobre a Travessa e o Aude do Paju, cf.: NOGUEIRA, Joo. Fortaleza Velha. Fortaleza: edies
UFC/PMF, 1980, p. 44; NOGUEIRA, Joo Antiguidades de Fortaleza. GIRO, Raimundo; MARTINS
FILHO, Antnio. Almanaque do Estado do Cear. Fortaleza: Ed. Fortaleza, 1942, p. 42.
53
SILVA FILHO, Antonio Luiz Macdo e. Fortaleza: imagens da cidade. 2 Ed. Fortaleza: Museu do
Cear, 2004, p. 51.
39
54
Conforme se observou concatenando a planta citada com a legenda da Planta Exacta da Capital do
Cear de 1859 elaborada por Adolpho Herbster.
55
OUTRO ARAMAC. Fortaleza de 1845. Revista do Instituto do Cear. Fortaleza: Imprensa
Universitria do Cear, 1958, p. 238.
56
NOGUEIRA, Paulino. Presidentes do Cear Perodo Regencial 7 Presidente Senador Jos
Martiniano de Alencar. In.: Revista do Instituto do Cear. 3 e 4 trimestres. Fortaleza: Typ Studart,
1899, p. 199.
40
e rios que precisam ser discutidos dados a ver e a ler. Para isso, a Planta Exacta
da Capital do Cear publicada em 1859 por Adolpho Herbster oportuna:
FONTE: HERBSTER, Adolpho. Planta Exacta da capital do Cear. Acervo do Museu do Cear.
Destaques: Emy F. Maia Neto 2012.
60
possvel que Adolpho Herbster tenha buscado com a publicao dessa planta, deixar vestgios
de sua passagem e de seu trabalho na cidade. Assim, no absurdo afirmar que ela pode ser
45
pensada como uma tentativa de escrita de si. Ou seja, uma tentativa de se deixar para a
posteridade.
61
Resoluo N 1818 de 1 de Fevereiro de 1879. In.: Actos Legislativos da provncia do Cear:
Promulgados pela respectiva Assembla no anno de 1878. Fortaleza: Typographia do Mercantil,
1879.
46
62
Resoluo N 1216, de 30 de Agosto de 1867. In.: Coleo dos Atos Legislativos e Instrues
da Provncia do Cear. Fortaleza: Typographia de Odorico Cols, 1867.
63
So sedimentos costeiros elicos mais antigos do que as dunas mveis, posicionados sempre em
linha com a costa [...] Geralmente, esto fixos por vegetao. QUESADO JNIOR,
N.; CAVALCANTE, I. N. Hidrogeologia do municpio de Fortaleza, Cear Brasil. guas
Subterrneas, So Paulo, 2000, p. 7. Disponvel em:
http://aguassubterraneas.abas.org/asubterraneas/issue/view/1191/.
47
64
As dunas e paleodunas ocupavam na capital uma rea bem maior do que a atual localizada na
Praia do Futuro/Cidade 2000 e Barra do Cear e despertavam ateno dos homens de letras e
envolvidos com as obras pblicas. QUESADO JNIOR, N.; CAVALCANTE, I. N. Hidrogeologia do
municipio de Fortaleza, Cear Brasil. guas Subterrneas, So Paulo, 2000, p. 7. Disponvel em:
http://aguassubterraneas.abas.org/asubterraneas/issue/view/1191/.
65
CAPANEMA, Guilherme. Ziguezague da seo geolgica da Comisso Cientfica do Norte [1860].
In.: PORTO ALEGRE, Maria Sylvia. Os Ziguezagues do Dr. Capanema: Cincia, Cultura e Poltica
no Sculo XIX. Fortaleza: Museu do Cear, 2006, p. 160 e 165.
66
KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil Travels in Brazil. So Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1942, p. 164 - 165.
67
Ibid., p. 165 - 167.
48
FONTE: Detalhe da "Carta da Capitania do Cear, e costa correspondente levantada por Antonio
Joz da Silva Paulet no anno de 1813". Original disponvel na Mapoteca do Itamarati.
76
DANTAS, Eustgio W. C. Mar vista: estudo da maritimidade em Fortaleza. Fortaleza: Museu do
Cear, 2002, p.48.
77
Detalhe da "Carta da Capitania do Cear, e costa correspondente levantada por Antonio Joz da
Silva Paulet no anno de 1813". Original disponvel na Mapoteca do Itamarati.
50
78
CHATIER, Roger. Do livro leitura. ______. (Org.) Prticas da Leitura. 2 Ed. So Paulo: Estao
Liberdade, 2001, p. 99.
79
PAULET, Antonio Joz da Silva. Carta da Capitania do Cear, 1818. Fonte: Biblioteca Nacional /
RJ.
80
KIDDER, Daniel P. Reminiscncias de viagens e permanncias no Brasil (provncias do Norte).
[1845] So Paulo: Martins / Universidade de So Paulo, 1972, p. 136; AV-LALLEMANT, Robert.
Viagem pelo Norte do Brasil no ano de 1859. V. 2. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro /
Ministrio da Educao e da Cultura, 1961, p. 17; AGASSIZ, Louis e AGASSIZ, Elisabeth Cary.
Viagem ao Brasil (18651866). Braslia: Senado Federal, 2000, p. 146 e 407.
81
GIRO, Raimundo. A tragdia porturia. In.: __________. Geografia Esttica de Fortaleza. 2 Ed.
Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 1979, p. 209 222.
51
82
Que se deslocam por causas naturais, sociais ou integradas. FALCO SOBRINHO, Jos. Litoral
Cearense: uma contribuio para a tipologia das dunas. In.: SILVA, Jos Borzacchiello da. et al.
(orgs.) Litoral e Serto: natureza e sociedade no nordeste brasileiro. Fortaleza: Expreso Grfica,
2006, p. 391.
83
PEREIRA, Felippe Francisco. Roteiro da costa do Norte do Brazil desde o Macei at o Par
publicado sob os auspcios do exmo. Conselheiro Dr. Luiz Antonio Pereira Franco Ministro da
Marinha compreendendo todos os portos, barras e enseadas, e indicando a maneira de
demandal-os; a navegao por dentro e por fora do canal de S. Roque e as derrotas com as
marcas para borjear no mesmo por Felippe Francisco Pereira Pratico da mesma costa. Recife:
Typographia do Jornal do Recife, 1877, p. 86-88.
52
A areia amontoa-se por toda parte, em muito maior quantidade ainda. Sem
que at aqui se possa ter explicado ao certo donde provm toda essa areia,
ela acumula-se por todos os lados, sobretudo na extremidade sudoeste da
enseada, como que saindo do mar, de maneira que tanto se pode pensar
numa aluvio como mais ainda numa elevao da costa; em todo caso,
presencia-se um quadro que lembra o Rio Grande do Sul. (...) Fui cidade
85
atravessando pequeno deserto de areia.
89
CAMPOS, Eduardo. O Inventrio do Quotidiano: Breve memria da cidade de Fortaleza.
Fortaleza: Edies Fundao Cultural de Fortaleza, 1996, p. 51-52.
90
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Uma outra cidade: o mundo dos excludos no final do Sculo XIX.
So Paulo: Companhia Editora Nacional, 2001, p. 12-13.
91
No se entende civilizao como valor absoluto, mas como processo que busca hierarquizar,
condicionar e domesticar as prticas. ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Volume 1: Uma
historia dos costumes. Rio de janeiro, Jorge Zahar Ed., 1994.
92
As areias, quando mencionadas em frase, davam de pronto e na exata o situamento de rea
urbana desassistida, lugar de possveis malfeitores, por onde, como comentado boca pequena, os
crdulos iam dizer em voz alta a Orao da cabra preta. Das areias fluam em maior proporo as
ocorrncias polcias da poca, principalmente agresses a facadas... CAMPOS, Eduardo. O
Inquilino do Passado memrias urbanas e artigos de afeio. Fortaleza: UFC/Casa de Jos de
Alencar, 1996, p. 75-76.
54
93
O calamento da cidade ser discutido no prximo captulo.
94
SILVA, Jos Loureno de Castro e. Breves consideraes sobre a climatologia do Cear, precedida
de uma ligeira descripo da cidade e seus subrbio. Annaes Brasilienses de Medicina, 5. Ano, 5.
Vol., N. 11, 1850, p. 223-226.
95
Ibid., p. 226.
96
A triste considerao em que tida a capital do Cear por uma tradio propalada por alguns
daquelles, que ha muitos anos ali se acharam, e que ainda hoje a transmittem, j porque
grosseiramente ignoram os progressos grandiosos que se notam desde ento, j por uma estpida
vaidade de quererem inculcar que tem visto grandes cousas, julgando deverem rebaixar tudo quanto
lhes no offerece os apparatos da opulencia; esta errnea tradio, dizemos, uma outra razo, que
nos excita a escrever esta memria, certo de que no se nos ter por ousado, procurando ao mesmo
tempo descrever succintamente a topografia desse co de um azul to brilhante, e a saiubridade de
seu clima de uma temperatura to regular. Ibid., p.224.
97
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Uma outra cidade: o mundo dos excludos no final do Sculo XIX.
So Paulo: Companhia Editora Nacional, 2001, p. 12-13.
55
98
O Cearense. 15 Out. 1858, p.2. Em outras edies do peridico citado possvel acompanhar o
desenrolar das aes para a melhoria do porto.
99
No perodo, houve um intenso debate em que muita tinta foi gasta para justificar a ineficincia da
ao. Uns acusavam o governo de no ter dado continuidade ao projeto, outros apontavam falhas na
elaborao e execuo do projeto; havia ainda os que consideravam o problema sem soluo e que
todo investimento seria dinheiro jogado fora.
100
VITAL, Olympio Manoel dos Santos (Org.). Arrolamento da populao da cidade de Fortaleza.
Localizao: Arquivo Pblico do Estado do Cear (APEC), Secretaria de polcia, n 355,
arrolamentos, 1887. Na Planta da Cidade de Fortaleza elaborada por Antonio Simes Ferreira de
Farias em 1850 possvel ver a representao de algumas dessas habitaes.
56
de gua daquele lado do rio.101 Isso no condiz com o que foi estudado por esta
pesquisa.
O que Joo Brgido chama de pouco habitada era, por certo,
razoavelmente povoada por pobres. Quando o assunto a urbanizao de
Fortaleza, o trabalho da citao tomando de emprstimo o ttulo do livro de
Antoine Compagnon102 tem pregado peas a alguns pesquisadores, que acabam
tomando a referncia de alguns autores principalmente memorialistas sem
realizar uma necessria crtica, perpetuando, assim, vises com srios problemas
analticos.103 Nos documentos pesquisados no h referncia sobre escassez de
gua no lado oriental. Assim, no possvel concordar com a justificativa dada por
Joo Brgido para o pouco interesse, entre os mais ricos, pelas terras do lado
oriental do Paje.
Segundo Eustgio Wanderley C. Dantas, o deslocamento dos moradores
do Centro para outros locais iniciado anos depois, margem oriental do Paje
(Prainha, Outeiro e Aldeota) e ao Jacarecanga se deu relacionado a trs aspectos:
busca, por parte desses grupos, de novas regies para a construo de
habitaes que se adequassem nova economia da valorizao dos espaos na
cidade; criao de novos espaos propcios construo dessas habitaes com
a ampliao do plano urbanstico at essas regies; e, por fim, devido facilidade no
deslocamento desses indivduos ao Centro com os adventos da tecnologia os
carros e os bondes.104
Alm disso, no difcil imaginar que os primeiros ocupantes da regio,
com suas plantas, ferramentas e construes tenham dificultado a ao dos ventos,
diminuindo o nomadismo dos morros, possibilitando aos mais ricos segurana para
seus investimentos em locais que estivessem ligados s novas noes de conforto
e de viver bem nas dcadas seguintes.
A Planta Exacta 1859 de Adolpho Herbster mostra outros espaos de
ocupao da cidade: ao longo das estradas para Mecejana, Pacatuba, Soure e
Jacarecanga, no Outeiro e prximo lagoa do Garrote. A planta de Herbster indica a
101
BRGIDO, Joo. A Fortaleza em 1810. Revista do Instituto do Cear. Fortaleza: Typ. Minerva,
1912, p. 94-96.
102
COMPAGNON, Antoine. O trabalho da citao. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996.
103
Antonio Luiz M. e Silva Filho chama ateno para esse problema em: SILVA FILHO, Antonio Luiz
Macdo e. Fortaleza Imagens da Cidade. 2. ed. Fortaleza: Museu do Cear / Secretaria de Cultura
do Estado do Cear, 2004, p. 98-99.
104
DANTAS, Eustgio W. C. Mar vista: estudo da maritimidade em Fortaleza. Fortaleza: Museu do
Cear, 2002, p. 50.
57
105
GIRO, Raimundo. Geografia Esttica de Fortaleza. 2 Ed. Fortaleza: Banco do Nordeste do
Brasil, 1979, p. 30.
106
Nascido em Sobral no ano de 1823. Foi doutor em matemtica pela Academia Militar e formado
em engenharia, alm de deputado e senador ligado ao partido liberal. Publicou estudos sobre
estradas de ferro e sobre as secas do norte em jornais da provncia e da corte. STUDART,
Guilherme. Diccionario Bio-bibliographico Cearense volume primeiro. Fortaleza: Typo-
Lithographia a vapor: 1910, p. 456-459.
107
Thomaz Pompeo de Sousa Brasil que ficou conhecido como Senador Pompeo a nasceu na
freguesia de Santa Quitria (CE) em 1818 e faleceu em 1877 em Fortaleza. Foi bacharel em direito,
professor, autor de diversas obras, deputado, senador e diretor do Lyceu Cearense por vrios anos.
Cf.: STUDART, Guilherme. Diccionario Bio-bibliographico Cearense volume terceiro. Fortaleza:
Typ. Minerva, 1915, p. 141-146. Conferir ainda: BASTOS, Jos Romrio Rodrigues. Natureza,
Tempo e Tcnica: Thomaz Pompeu de Sousa Brasil e o Sculo XIX. 2013. 175 f. Dissertao
(Mestrado) - Curso de Mestrado em Histria, Departamento de Histria, Programa de Ps-graduao
em Histria Social, Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2013.
58
108
Segundo Maria Syvia Porto Alegre, Thomaz Pompeo de Sousa Brasil publicou dois artigos
Memrias sobre o clima e secas do Cear e reflexo sobre as secas do Dr. Viriato em 1877 que
visavam refutar as ideias de Viriato de Medeiros, no que se referiam as causas das secas e aos
meios para combat-la. PORTO ALEGRE, Maria Sylvia. Os Ziguezagues do Dr. Capanema:
Cincia, Cultura e Poltica no Sculo XIX. Fortaleza: Museu do Cear, 2006, p. 332.
109
BRASIL, Thomaz Pompeo de Sousa. Memria sobre a conservao das matas e arboricultura
como meio de melhorar o clima da Provncia do Cear [1859]. Fortaleza: Fundao Waldemar
Alcntara, 1997, passim.
110
BRASIL, Thomaz Pompeo de Sousa. O Clima e as Secas do Cear [1877]. In.: ROSADO, Vingt-un
(org.). Nono livros das Secas. Mossor / RN: Fundao Guimares Duque, 1983, p. 58.
111
Ibid., p. 54.
112
GABAGLIA, Giacomo Raja. Ensaios sobre alguns melhoramentos tendentes prosperidade da
provncia do Cear [1877]. In.: CAPANEMA, Guilherme Schurch de; GABAGLIA, Giacomo Raja.
Estudos sobre a Seca. Fortaleza: Museu do Cear, 2006, p. 69-70.
113
Ibid., p. 70.
59
como os vegetais vistos como os responsveis pela unidade dos solos, manuteno
da amenidade climtica e sustentao dos morros e os matos como a vegetao
encontrada nos campos do serto.114
Keith Thomas observou em sua pesquisa uma distino semelhante no
que se referem as ervas daninhas que deviam ser exterminadas e a cultura
o que devia ser plantado em que a primeira tudo o que no a segunda.115 O
conceito de mato, ao que parece, era bem disseminado e se refere s plantas que
deveriam sair ou que no deveriam ser levadas em considerao. Assim, era a
mata que os homens de letras apesar de divergirem entre si116 buscavam
valorizar e alastrar.
Como argumento para censurar a limpeza do morador do serto, Raja
Gabaglia lamentou o desperdcio de muitas plantas de utilidade medicinal e
industrial com a prtica.117 A distino entre mata e mato passava pelo juzo que
se fazia da utilidade da vegetao de determinada rea, sendo o primeiro, til e o
segundo intil. Assim, classificar a vegetao do entorno de Fortaleza como mato
ignorar os usos que se faziam dela e releg-la a inutilidade, perpetuando a ideia dos
que desejavam derrub-la.
As matas tinham ainda seu destino relacionado com o das areias.
Gustavo Capanema sob o pseudnimo de Manoel Francisco de Carvalho (cabra
esbelto, escurinho e lustroso) acusava os fazedores de lenha de serem os
maiores responsveis pelos descaminhos das dunas em Fortaleza, uma vez que
cortavam a coberta protetora composta por vegetais que mantinham as areias no
lugar.118 Desta forma, a utilizao das matas incorria na ventura das aguadas e das
areias que como se viu no era fcil dissoci-las.
114
BASTOS, Jos Romrio Rodrigues. Natureza, tempo e tcnica: Thomaz Pompeu de Sousa Brasil
e o sculo XIX. 2013. 175 f. Dissertao (Mestrado) - Curso de Mestrado em Histria, Departamento
de Histria, Programa de Ps-graduao em Histria Social, Universidade Federal do Cear,
Fortaleza, 2013, p. 22.
115
THOMAS, Keith. O Homem e o Mundo Natural: mudanas de atitude em relao s plantas e
aos animais (1500-1800). So Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 381.
116
No que diz respeito arborizao, Knia Sousa Rios aponta uma divergncia entre Tomas
Pompeu Brasil e Gustavo Capanema sobre o tamanho da influncia das matas na incidncia das
precipitaes pluviais. Enquanto o primeiro considerava que as matas eram determinantes para se
evitar as secas, o segundo acreditava que a arborizao influenciava, mas no impedia as secas.
RIOS, Knia Sousa. Apresentao. In.: CAPANEMA, Guilherme Schurch de; GABAGLIA, Giacomo
Raja. Estudos sobre a Seca. Fortaleza: Museu do Cear, 2006, p. 39-41.
117
Ibid., p. 71.
118
CAPANEMA, Guilherme. Ziguezague da seo geolgica da Comisso Cientfica do Norte [1860].
In.: PORTO ALEGRE, Maria Sylvia. Os Ziguezagues do Dr. Capanema: Cincia, Cultura e Poltica
no Sculo XIX. Fortaleza: Museu do Cear, 2006, p. 162-163.
60
119
CAPANEMA, Guilherme. Ziguezague da seo geolgica da Comisso Cientfica do Norte [1860].
In.: PORTO ALEGRE, Maria Sylvia. Os Ziguezagues do Dr. Capanema: Cincia, Cultura e Poltica
no Sculo XIX. Fortaleza: Museu do Cear, 2006, p. 162.
120
CAMPOS, Eduardo. A Fortaleza Provincial. Fortaleza: [s.n.], 1988, p. 96.
121
Ibid., p. 96.
122
SILVA FILHO, Antonio Luiz Macdo e. Entre o fio e a rede: a energia eltrica no cotidiano de
Fortaleza (1945- 1965). 328f. Tese (Doutorado em Histria) Programa de Ps-Graduao em
Histria, Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 2008, p. 95.
123
DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e poder em So Paulo no sculo XIX. So Paulo:
Brasiliense, 1995.
61
124
PAIVA, Manuel de Oliveira. A Afilhada [1989]. In.: Obra Completa. Rio de Janeiro: Graphia
Editorial, 1993, p. 169.
125
PINTO, Maria Inez Machado Borges. Cotidiano e Sobrevivncia: a vida do trabalhador pobre na
cidade de So Paulo (1890 1914). So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 1994, p 171-
173.
126
CAMINHA, Adolfo. A Normalista [1893]. Fortaleza: ABC Editora, 2005, p. 165-166.
127
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu do
Cear [1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 108.
62
No incio do Sculo XX, as matas ficavam cada vez mais longe e alguns
indivduos, como o Polegada, foram se apropriando desse comrcio, que se
mostrava minimamente promissor. Para isso desenvolveu-se um mercado, similar ao
observado em So Paulo por Maria Inez Machado Borges Pinto, que empregava
trabalhadores pobres, destrua as matas as prximas e as nem to prximas assim
e que foi adaptando-se s mudanas na paisagem e s novas oportunidades que
surgiam.129
Os quintais por maiores que fossem j no davam conta das
necessidades de lenha, mas se prestavam a outras finalidades. Mesmo nos terreiros
das casas localizadas no centro da cidade, no era raro encontrar pomares e hortas
que supriam a demanda domstica por frutas e verduras. No raros so os relatos,
como o de Robert Av-Lallemant, que parece admirado com a grande quantidade de
ps de ata e de graviola que existiam na cidade.130
Gustavo Barroso escreveu que no quintal da casa em que morou na
respeitvel Rua da Palma, atual Major Facundo havia ateira, goiabeira e
gravioleira.131 Alm disso, ele assume que visitava furtivamente o quintal dos
vizinhos onde devorava mangas, cajus e cajaranas.132 Essa prtica j existia antes,
segundo possvel observar lendo as atribuies dos zeladores das rvores do
municpio de Fortaleza em 1861. No 3 do 11 artigo que regula as atribuies
desses zeladores est: Impedir e dispersar os meninos que as quizerem trepar ou
apedrejar para derribarem os fructos.133
Alm das frutas, muitos quintais produziam tambm outros vegetais, que
eram consumidos e postos venda em tabuleiros. Segundo Av-Lallemant, essa
facilidade em obter alimento fomentava a preguia da gente de cor que passava
128
BARROSO, Gustavo. Mississipi. Rio de Janeiro: Edies O Cruzeiro, 1961, p. 63.
129
PINTO, Maria Inez Machado Borges. Cotidiano e Sobrevivncia: a vida do trabalhador pobre na
cidade de So Paulo (1890 1914). So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 1994, p 128-
140.
130
AV-LALLEMANT, Robert. Viagem pelo Norte do Brasil no ano de 1859. V. 2. Rio de Janeiro:
Instituto Nacional do Livro / Ministrio da Educao e da Cultura, 1961, p. 17.
131
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu do
Cear [1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, passim.
132
Ibid.
133
OLIVEIRA, Almir Leal de; BARBOSA, Ivone Cordeiro. Leis Provinciais: Estado e Cidadania
(1835-1861). Compilao das Leis Provinciais do Cear comprehendendo os annos e 1835 a 1861
pelo Dr. Jos Liberato Barroso ed. Fac-similada. Tomo 2. Fortaleza: INESP, 2009, p. 654.
63
138
DELEUZE, Gilles; GATTARI, Flix. Mil plats capitalismo e esquizofrenia. Vol. 1. Rio de Janeiro:
Ed. 34, 1995, p. 22.
139
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Com os olhos no passado: a cidade como palimpsesto. Revista
Esboo n 11 UFSC, p. 26-27.
65
140
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Com os olhos no passado: a cidade como palimpsesto. Revista
Esboo n 11 UFSC, p. 26-27.
141
CASTRO, Jos Liberal. Contribuio de Adolpho Herbster forma urbana da cidade da Fortaleza.
Revista do Instituto do Cear. Fortaleza: Ed. Instituto do Cear, 1994, p. 73.
66
142
KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil Travels in Brazil. So Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1942, p. 165; MENEZES, Luiz Barba Alardo de. Memria da Capitania do Cear.
In.: Revista Trimensal do Instituto Histrico, Geographico e Ethnographico do Brasil. Rio de
Janeiro: B. L. Garnier, 1878, p. 261; O Cearense, 20 mar 1848, p. 4.
143
Respectivamente; BRASIL / DGE. Recenciamento do Brasil Cear. 1872, p. 1-3. Disponvel
em: http://archive.org/details/recenseamento1872ce; BRASIL / DGE. Recenseamento do Brasil
realizados em 1 de setembro de 1920. Volume IV. Tomo I Populao. Rio de Janeiro, Typ. da
Estatstica, 1928, p. 558. Disponvel em: https://archive.org/details/recenseamento1920pop2.
144
Apesar de intricadamente ligadas, no ser possvel abordar todos esses aspectos neste trabalho
demandaria mais tempo de pesquisa e de escrita, financiamento e pessoal envolvido.
145
Retomar-se- essas questes nos captulos dois e quatro.
146
D ALENCAR, Joz Martiniano. Falla com que o exm. prezidente da provincia do Cear abrio
a segunda sesso ordinaria da assemblea legislativa da mesma provincia no dia 1. de agosto
de 1836. Fortaleza: Typ. Patritica, 1836, p.3.
67
FONTE: Planta da Cidade de Fortaleza organizada por Antonio Simes Ferreira de Faria em 1850,
desenhada em escala reduzida por F. B. de Oliveira em 1883. In.: CASTRO, Jos Liberal de. Uma
planta fortalezense de 1850 reencontrada. Revista do Instituto do Cear. Fortaleza: 2005.
Destaque e edio: Emy F. Maia Neto 2013.
147
STUDART, Guilherme. Estrangeiros e Cear. Revista do Instituto do Cear. Fortaleza: Typ.
Minerva, 1918, p. 198.
148
D ALENCAR, Joz Martiniano. Relatrio com que o excelentissimo presidente da provincia
do Cear abrio a terceira sesso ordinaria da Assemblea Legislativa da mesma provincia no
dia 1 de agosto de 1837. Fortaleza: Typ. Patritica, 1837, p. 3.
69
149
SOUZA E MELO, Manoel Felisardo de. Falla que recitou o Exmo. Sr. Manoel Felzardo de
Souza e Mello presidente desta Provincia na occasio da Abertura da Assemblea Provincia no
1 de Agosto do corrente anno. Fortaleza: Typ Constitucional, 1838, p. 5-6.
70
150 MIRANDA, Joo Antonio de. Discursos que recitou o Exm. Presidente desta provincia na
occasio da abertura da Assemblea Legislativa Provincial. Fortaleza: Typ. Constitucional, 1839,
p. 37.
151
BRGIDO, Joo. A Fortaleza em 1810. Revista do Instituto do Cear. Fortaleza: Typ. Minerva,
1912, p. 95.
152
NOBRE, Geraldo da Silva. Introduo Histria do Jornalismo Cearense. Edio fac-similar.
Fortaleza: NUDOC / Arquivo Pblico do Cear, 2006, p. 71.
153 Correio da Assemblea Provincial, 22 Jun 1839, p. 2.
71
referncias sobre essa cacimba, o que indica que o projeto foi abandonado, apesar
de todo o investimento empreendido at ento. Na tentativa de responder s crticas
no que dizia respeito ao prejuzo, o presidente da provncia obteve conforme
possvel observar na Lei n. 611 de 31 de Dezembro de 1853 (que delibera sobre a
despesa provincial para o ano de 1854) a autorizao para que o governo
provincial vendesse o terreno e os materiais que sobraram do chafariz do largo do
palcio.157
Outra obra realizada no primeiro governo de Jos Martiniano de Alencar e
retomada em diferentes momentos foi o Aude do Paje j citado anteriormente. O
chafariz deu de beber aos moradores que comeavam a se estabelecer nas
circunvizinhanas do palcio e o aude inferiu de forma profunda nos caminhos das
guas da cidade, pois barrava o riacho homnimo, tornando-o no perene. As guas
do Paje eram formadas por fontes subterrneas e pelas guas da chuva que
escorriam de vrios pontos da cidade das duas margens at o leito do rio. Assim,
apesar de apresentar seu maior volume durante a estao chuvosa, o Paju corria
durante todo o ano. Com a construo da barragem, passou a secar totalmente
durante uma parte do ano.
O chafariz foi com o tempo esquecido, mesmo Raimundo de Menezes,
afeito as evocaes das peculiaridades dos tempos idos em seu programa
radiofnico as Coisas que o tempo levou, no incluiu o Chafariz do Palcio quando
o tema foi Chafarizes e Cacimbas.158 Porm, o mesmo no pode ser dito do Aude
do Paje que foi destrudo e reconstrudo ao longo dos anos.
A barragem, apesar de seu efeito colateral secava um trecho do riacho
Paju, deixando um charco apontado como insalubre trazia, aos olhos dos seus
contemporneos duas vantagens: propiciava uma reserva de gua que, apesar das
dvidas quanto qualidade, poderia ser til em um momento de escassez e
facilitava o trnsito de pessoas entre a cidade e o Outeiro, separados pelo riacho.
Assim, a barragem aproximou do centro a fonte de gua que veio a se tornar a mais
159
ROCHA, Jos Moreira da. Mensagem enviada Assembla legislativa pelo desembargador
Jos Moreira da Rocha Presidente do Estado. Fortaleza: Typ. Gadelha, 1926, p. 11.
160
CAMINHA, Adolfo. A Normalista [1893]. Fortaleza: ABC Editora, 2005, p.168.
161
SOUZA E MELO, Manoel Felisardo de. Falla que recitou o Exmo. Sr. Manoel Felzardo de
Souza e Mello presidente desta Provincia na occasio da Abertura da Assemblea Provincia no
1 de Agosto do corrente anno. Fortaleza: Typ Constitucional, 1838, p. 5-6.
74
Fonte: Destaque de FARIAS, Antonio Simes Ferreira de. Planta da Cidade da Fortaleza;
MEDEIROS, Manoel do Rego. Planta da Cidade de Fortaleza. Destaque e edio: Emy F. Maia Neto
2012.
Observao: Seta verde indica a cacimba e a vermelha indica a matriz como ponto de referncia
para facilitar a visualizao.
162
MENEZES, Raimundo de. Coisas que o Tempo Levou: crnicas histricas da Fortaleza antiga.
[1938] Fortaleza/So Paulo: HUCITEC,1977, p. 59.
163
NOGUEIRA, Paulino. Presidentes do Cear Perodo Regencial 7 Presidente Senador Jos
Martiniano de Alencar. In.: Revista Trimensal do Instituto do Cear. 3 e 4 trimestres. Fortaleza:
Typ Studart, 1899, p. 199.
75
muito limpa.164 Em 1840, foi o presidente Francisco de Sousa Martins que exaltou
as qualidades da aguada. Segundo ele, aps pequenos reparos, a cacimba oferecia
ao pblico gua limpa e abundante.165 Em 1847, em artigo intitulado o
aformoseamento da capital, o redator escreveu que a gua oriunda da cacimba do
povo era a nica potvel da cidade.166 Durante a escassez do conhecido ano de
1877, quando as cacimbas do Bem-fica secaram, a gua da Cacimba do Povo foi
utilizada para abastecer os chafarizes de Fortaleza.167
Segundo Paulino Nogueira, a cacimba foi construda com a inteno de
servir aos usos da populao desvalida que vivia naquela regio da cidade, da o
nome.168 No entanto, sua qualidade e perenidade no custaram a atrair os menos
desvalidos. Assim, o que o autor aponta como motivao para a construo da
aguada em 1838, tornou-se o seu maior defeito: a localizao no Outeiro. Nos
Relatrios e Fallas pesquisadas h uma recorrncia em se construir cacimbas nos
moldes da Cacimba do Povo em outros pontos da cidade no largo da Carolina e do
Pedro II (respectivamente, atuais praas dos Correios e do Ferreira).169 A escolha
desses locais mostra bem onde se concentravam as atenes da municipalidade.
No entanto, no possvel saber sobre a ventura dessas duas cacimbas: se foram
construdas ou no. Tomando as demandas por reparos criadas pelas outras
aguadas com referncia para a existncia, a negativa parece mais provvel, ao
menos at a dcada de 1860. No entanto, esse desejo de instituir outras cacimbas
do povo pode explicar ainda as referncias que apontam duas localizaes
diferentes para a Cacimba do Povo. Pode ser que tenham existido duas ou at mais
cacimbas com a mesma nomenclatura.170
164
SOUZA E MELO, Manoel Felisardo de. Falla que recitou o Exmo. Sr. Manoel Felzardo de
Souza e Mello presidente desta Provincia na occasio da Abertura da Assemblea Provincia no
1 de Agosto do corrente anno. Fortaleza: Typ Constitucional, 1838, p.6.
165
MARTINS, Francisco de Sousa. Relatrio, Que Apresentou o Exm. Senhor Doutor Francisco
de Sousa Martins, Presidente desta provncia, na ocasio da abertura DAssemblea Legislativa
Provincial no dia 1 de Agosto de 1840. Fortaleza: Typ. Constitucional, 1840, p. 15.
166
O Cearense, 13 Jan 1847, p. 2.
167
Cearense, 18 out 1877, p.2.
168
NOGUEIRA, Paulino. Presidentes do Cear Perodo Regencial 7 Presidente Senador Jos
Martiniano de Alencar. In.: Revista Trimensal do Instituto do Cear. 3 e 4 trimestres. Fortaleza:
Typ Studart, 1899, p. 199.
169
TAVARES, Joaquim Vilella de Castro. Relatrio que o excelentssimo senhor Doutor Joaquim
Vilella de Castro Tavares, Presidente da Provncia do Cear, Apresentou Assemblea
Legislativa Provincial, Na abertura da segunda sesso ordinria de sua 9. Legislatura, em 1.
de Setembro de 1853. Fortaleza: Typ. Cearense, 1983, p. 54.
170
Em sua tese, Margarida Andrade localiza essa aguada em um terceiro ponto. Contudo, como ela
no explicou como chegou a esta concluso, nem foi encontrado qualquer documento que fizesse
referncia a essa localizao. Optou-se por manter apenas as duas. ANDRADE, Margarida Julia
76
1
BARROSO, Gustavo. Mississipi. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1961, p. 48.
2
CASTRO, Jos Liberal. Fatores de Localizao e de Expanso da Cidade de Fortaleza.
Fortaleza: Imprensa Universitria, 1977, p. 13.
3
STUDART, Guilherme. Geografia do Cear. [1924] Fortaleza: Expresso Grfica, 2010, p. 246.
78
4
Durante todo esse texto se far a distino entre escassez de chuvas e seca. O segundo um
fenmeno imagtico-discursivo que surge a partir de 1877 conforme estudos de Durval Muniz
Albuquerque Junior visando estabelecer um saber-poder cuja inveno deve ser apagada,
remetendo-o para o reino da natureza. ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz. Nos destinos de
fronteira: histria, espao e identidade regional. Recife: Bagao, 2007, p. 229-231.
5
ADERALDO, Mozart Soriano. Histria Abreviada de Fortaleza e a Crnica da Cidade Amada.
Fortaleza: Edies UFC/ Casa Jos de Alencar, 1993, p. 47-48.
79
para darem conta dessa dinmica das guas. No possvel asseverar onde se
localizavam todos, nem quantos eram. No entanto, com a pesquisa, tomou-se
conhecimento de trs.
O primeiro crrego tinha origem nas guas da Lagoinha que se
localizava na atual Praa Capistrano de Abreu e corria por onde foram construdas
as ruas Senador Pompeu, Formosa atual Baro do Rio Branco e Major Facundo
at desaguar no riacho Paje, passando antes pelo Beco do Mercado atual
Travessa Crato.6 Joo Nogueira, indica a existncia de outro riacho que se formava
nos tempos de chuvas e vinha do Campo Amlia atualmente, Praa da Estao
(Praa Castro Carreira, oficialmente) , entrando em confluncia com as guas que
corriam da Lagoinha at o Paje, passando antes, ainda, por um terreno que ficava
vizinho ao local onde foi construdo o sobrado do mdico Jos Loureno.7 Por fim,
Gustavo Barroso escreveu que no seu Consulado da China repblica de
estudantes situada na Rua Major Facundo a gua da chuva passava por um
esgoto no quintal e inundava a rua.8 Segundo Mozart Soriano Aderaldo, isso se
devia a ter sido ali o leito de um riacho que saa da atual Praa Clovis Bevilqua at
a lagoa do Garrote, indo desaguar no Paje.9 Parte desse riacho possvel observar
na Planta da Cidade de Fortaleza-Capital da provncia do Cear 1888 de
Adolpho Herbster. No entanto, a planta no aponta de onde a gua oriunda,
fazendo crer que brotava antes da atual Rua Major Facundo.
Segundo Joo Brgido, era possvel que em um passado pr-histrico
esses crregos estivessem em absoluta continuidade, formando um s e extenso
banhado, lagoas, ribeiros e colinas.10 Hiptese interessante, que faz pensar em
outra configurao do espao da cidade. A partir das narrativas, elaborou-se uma
montagem em que possvel ter uma ideia da localizao das aguadas citadas. Eis
a planta:
6
BRGIDO, Joo. A Fortaleza em 1810. Revista do Instituto do Cear. Fortaleza: Typ. Minerva,
1912, p. 95.
7
NOGUEIRA, Joo. Fortaleza Velha. Fortaleza: edies UFC/PMF, 1980, p. 123-124.
8
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu do Cear
[1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 372.
9
ADERALDO, Mozart Soriano. Notas. In.: BARROSO, ibid., p. 372.
10
BRIGIDO, op. cit., p. 95.
80
por intervenes pblicas em 1855, 1856, 1858, 1865, 1866, 1668, 1870, 1872,
1873, 1875, 1876, 1899 e, com exceo de 1845, 1877, 1878, 1889, 1900 e 1915
quando foram mais escassas , em todos os outros anos choveu regularmente na
cidade. Contudo, um grande volume de chuva no representa necessariamente
enchente. H de se levar em considerao que se as chuvas so parte do ciclo
natural de guas, as enchentes dizem respeito ao escoamento dessas chuvas.11
Assim, a histria das enchentes se relaciona de forma direta com as intervenes
realizadas no espao, principalmente, com a administrao das obras pblicas.
Segundo Janes Jorge dialogando com as consideraes do engenheiro
sanitarista Francisco Saturnino Rodrigues de Brito (um dos mais importantes do seu
tempo) , as cheias por si s no eram prejudicais aos intuitos humanos, sua
propriedade fertilizante era conhecida pelo homem desde a antiguidade.12 Elas
tornaram-se problema com o estabelecimento de determinados aglomerados
humanos, ou seja, as enchentes esto atreladas vontade de domesticar as guas.
A ribeira do Paje foi escolhida para o assentamento humano justamente
pela fertilidade e pelos seus mananciais aquferos. Assim, no de estranhar que
nesse riacho tenha se realizado uma grande interveno no caminho das guas da
cidade: o Aude do Paje. A primeira de muitas alteraes empreendidas que se
relacionavam diretamente com a ventura das guas em Fortaleza. Acompanhando
as obras pblicas possvel observar o trabalho para tentar controlar essas guas.
O primeiro grande contratempo encontrado se remete as chuvas de 1839 e ao
Aude do Paje. Porm, o rigoroso inverno de 1839, usando a expresso adotada
pelo presidente da provncia, no foi o primeiro a destruir as obras pblicas de
Fortaleza.
Anos antes, em 1836, o presidente da provncia Jos Martiniano
DAlencar relatou ter mandando construir duas pontes sobre o rio Coc que
segundo ele tornava a passagem no s cmoda, como agradvel , uma ponte de
cal e pedra sobre o regato que divide a Cidade do Bairro da Prainha, um chafariz
dentro da cidade, um sangrador no Garrote e a construo de estradas que
11
SEDREZ, Lise. Fernanda; MAIA, Andrea Casa Nova. Narrativas de um Dilvio Carioca: memria e
natureza na Grande Enchente de 1966. Histria Oral (Rio de Janeiro), v. 2, p. 221-254, 2011, p. 226.
12
JANES, Jorge. So Paulo das enchentes, 1890-1940. Histrica - revista online do Arquivo Pblico
do Estado de So Paulo, N 47, Abr.2011, p. 2.
82
13
DALENCAR, Jos Martiniano. Falla com que o exm. presidente da provncia do Cear abrio a
segunda sesso ordinria da Assembla Legislativa. Fortaleza: Typ. Patritica, 1836, p. 2-3.
14
DALENCAR, Jos Martiniano. Falla com que o excelentssimo presidente da provncia do
Cear abrio a terceira sesso ordinria da Assembla Legislativa. Fortaleza: Typ. Patritica,
1837, p. 2-3.
15
SANTOS, Fbio Alexandre dos. Domando guas: Salubridade e ocupao o espao na cidade de
So Paulo, 1875-1930. So Paulo: Alameda, 2011, p. 129-130.
83
16
SOUZA E MELO, Manoel Felisardo de. Falla que recitou o ex.mo presidente desta provncia na
occasio da abertura da Assembla Legislativa Provincial. Fortaleza: Typ. Constitucional, 1838,
p. 35-36.
17
MIRANDA, Joo Antonio de. Discursos que recitou o exm. presidente desta provincia na
occasio da abertura da Assemblea Legislativa Provincial. Fortaleza: Typ. Constitucional, 1839,
p. 45.
18
BITANCOURT, Jos Maria da Silva. Relatrio que Assemblea Legislativa Provincial do Cear
apresentou na sesso ordinria, o exmo. Presidente e comandante de armas da mesma
provncia. Fortaleza: Typ. de Jos Pio Machado, 1843, p. 10.
19
BITANCOURT, Jos Maria da Silva. Relatrio do exmo. Presidente e comandante de armas da
provncia do Cear na Assembla Legislativa Provincial. Fortaleza: Typ. Cearense, 1844, p. 12.
84
Entre os itens listados, apenas por fim aos pntanos parecia possvel
naquele momento. No ano seguinte, o presidente Igncio Correia de Vasconcellos
relatou ter concludo o aterro da Prainha.22 Contudo, isto no resolveu o problema
das febres na cidade. Segundo o presidente Fausto Augusto de Aguiar, havia a
necessidade de:
extinguirem completamente os pequenos pntanos que no stio desta
cidade denominado Prainha se forma em parte pelas agoas do mar, que
em certas pocas invadem e alagam os terrenos mais baixos, e em parte
pelas das chuvas, que ahi se conservam constantemente estagnadas. A
esses focos perenes de miasmas so sem dvida devidos aos casos
frequentes de febres intermitentes que, em cestas quadras, se manifestam
23
em suas vizinhanas.
20
OLIVEIRA, Carla Silvino. Cidade (In)salubre: idias e prticas mdicas em Fortaleza. (1838-1853)
Dissertao (mestrado) em Histria Social. Universidade Federal do Cear. Fortaleza: 2007, p. 62.
21
Ofcios expedidos e recebidos pelas autoridades medicas para o Presidente da Provncia. Caixa
no catalogada. Papeis avulsos. Algumas reflexes sobre as febres que ora graa nesta cidade. 21
abr 1846. Arquivo Pblico do Estado Do Cear. Apud. OLIVEIRA, Ibid.
22
VASCONCELLOS, Ignacio Correia de. Relatrio apresentado a Assemblea Legislativa
Provincial do Cear pelo presidente da mesma provncia. Fortaleza: Typ. Fidelssima, 1847, p, 20.
23
AGUIAR, Fausto Augusto de. Relatrio com que o excellentssimo presidente da provincia
abrio a 1 sesso da assemblea legislativa provincial. Fortaleza: Typ. Cearense, 1850, p. 18-19.
24
OLIVEIRA, op. cit., p. 55.
25
Ibid., p. 58-59.
85
Rego, apontou que era necessrio aterrar todos os pntanos em roda desta cidade
e mesmo dentro dela como meio de ficar a salvo do flagelo das febres.26
Porm, ironicamente, os relatos que defendiam o aterro dos pntanos na
cidade, so os principais vestgios que possibilitam pensar neles sabe-se por estes
documentos que existiam pntanos na Prainha e no Paje. Apesar de no ter
encontrado a expresso mangue ou manguezal normalmente utilizava-se o
primeiro para designar os vegetais do segundo nos documentos utilizados,
compreende-se que alguns desses pntanos eram formados por reas alagadas
compostas por guas do mar e repleta de peixes, camares canela e pitu e
outros crustceos.27
Fernanda Cordeiro de Almeida em suas pesquisas sobre os
manguezais durante o perodo imperial brasileiro em Sergipe, no Paran e em Santa
Catarina chegou s mesmas consideraes a partir de trechos semelhantes,
encontrados por ela nos Relatrios e Fallas dos presidentes de provncia. A
historiadora esclarece que, apesar de existirem as expresses mangue e
manguezais no perodo, era comum que as reas atualmente conhecidas como
manguezais fossem citadas nesses documentos como pntanos.28 Contudo,
diferente do que aconteceu em Aracaj, onde muitos dos aterros no foram
concludos antes da dcada de 1970, em Fortaleza pouco se sabe sobre essas
reas no Centro da cidade.29
Tomar essa regio como Manguezal importante, pois, alm de
corroborar com a reflexo sobre os espaos que a cidade perdeu com as
intervenes realizadas e nos possveis usos da rea, faz pensar nas razes que
colocavam essas regies como foco de miasmas e exalaes: os materiais
26
REGO, Joaquim Marcos de Almeida. Relatrio apresentado pelo excelentssimo presidente da
provncia do Cear, na abertura da 2 sesso ordinria da 8 legislatura da Assemblea
Legislativa da mesma provncia. Fortaleza: Typ. Cearense, 1851, p. 12-13.
27
Respectivamente: AGUIAR, Fausto Augusto de. Relatrio com que o excellentssimo presidente
da provincia abrio a 1 sesso da assemblea legislativa provincial. Fortaleza: Typ. Cearense,
1850, p. 18-19; BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939],
Liceu do Cear [1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989,
p. 33; GIRO, Raimundo. Geografia Esttica de Fortaleza. Fortaleza: Banco do Nordeste, 1979, p.
33.
28
ALMEIDA, Fernanda Cordeiro de. (In) salubridade no reino das guas: notas sobre os aterros de
manguezais no Brasil Imprio. In: SIMPSIO INTERNANCIONAL DE HISTRIA AMBIENTAL E
MIGRAES, 2., 2012, Florianpolis. Anais... . Florianpolis: Labimha, 2012. v. 1, p. 1245 - 1259.
29
Para Fernanda de Almeida, outro indcio interessante seria a presena ou relatos de
sambaquis. ALMEIDA, Fernanda Cordeiro de. . A histria da devastao dos manguezais
aracajuanos. 2008. 135 f. Dissertao (Mestrado) - Curso de Desenvolvimento e Meio Ambiente,
Ncleo de Ps-graduao em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Pr-reitoria de Ps-graduao e
Pesquisa, Universidade Federal de Sergipe, So Cristvo, 2008, p. 54 e 42, respectivamente.
86
30
ALMEIDA, Fernanda Cordeiro de. (In) salubridade no reino das guas: notas sobre os aterros de
manguezais no Brasil Imprio. In: SIMPSIO INTERNANCIONAL DE HISTRIA AMBIENTAL E
MIGRAES, 2., 2012, Florianpolis. Anais... . Florianpolis: Labimha, 2012. v. 1, p. 1245 - 1259.
31
CORBIN, Alain. Saberes e Odores: o olfato e o imaginrio social nos sculo XVIII e XIX. So
Paulo: Companhia das Letras, 1987 p. 49.
32
ACCIOLY, Antonio Pinto Nogueira. Mensagem Apresentada a Assembla Legislativa do Cear
pelo Presidente do Estado em 4 de Julho de 1898. Fortaleza: Typ. Economica, 1898, p. 8.
33
CORBIN, op. cit., p. 22.
34
Ver captulo 4.
35
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu do Cear
[1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 33 e 69.
87
possvel que, por esses idos, a diversidade das espcies animais e vegetais da rea
j estivesse drasticamente reduzida devido a grande quantidade de alteraes
realizadas. Porm, o riacho ainda era significativo para a vida na cidade. Pescadores
tiravam o sustento ou o complemento dos lances de tarrafa realizados na foz do
riacho, meninos nadavam e pescavam e lavadeiras ocupavam as margens batendo,
esfregando e enxaguando a roupa.36
Alm das emanaes miasmticas, provvel que a recorrncia de
alagamentos influsse para essa mudana no conceito de bem morar.37 Em 1855, do
dia 15 para o dia 16 de abril:
Choveo 5 horas chuva forte, de modo que agoa allagou as ruas, entrou por
quasi todas as casas terreas, deitou muros baixo, e fasendo outros
prejuisos. Foi a maior chuva que nestes 6 annos e tem cahido nesta cidade,
medio canada e meia dagua por palmo quadrado de superficie, ou 150
38
canadas por braa quadrada.
36
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu do Cear
[1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 91, 164 e 252.
37
As questes que envolvem as noes de salubridade da gua sero retomadas no ltimo captulo
deste trabalho.
38
O Cearense, 17 abr 1855, p. 4.
39
GIRO, Raimundo. Geografia Esttica de Fortaleza. 2 Ed. Fortaleza: Banco do Nordeste do
Brasil, 1979, p. 24-35.
40
BRGIDO, Joo. A Fortaleza em 1810. [1882] Revista do Instituto Cear. Fortaleza: Tipografia
Minerva, 1912, p. 88.
88
41
O Cearense, 09 fev 1858, p.1-2.
42
O Cearense, 7 maio 1858, p. 3.
43
Costumeiramente afirma-se que Fortaleza uma cidade plana. Para este trabalho optou-se pensar
que Fortaleza dependendo da escada adotada uma cidade aplainada. O levantamento histrico
que se fez para este trabalho indicou uma grande movimentao de terras que visava extinguir
alguns aclives e declives na regio onde atualmente est o Centro da cidade. Alm disso, ainda
possvel observar alguns desnveis que so significativos para este trabalho.
44
Pedro II, 28 set. 1852, p. 2.
89
45
SOUZA, Joo Silveira de. Relatrio que Assembla Legislativa Provincial do Cear
apresentou no dia da abertura da sesso ordinrio de 1858, o Excelentssimo Senhor Dr. Joo
Silveira de Souza, presidente da mesma provncia. Fortaleza: Typ Cearense, 1858, p. 14.
46
BARRETO, Francisco Xavier Paes. Relatrio com que o Excellentssimo Senhor Doutor
Francisco Xavier Paes Barreto passou a administrao da provncia ao terceiro vice-presidente
da mesma o Excellentissimo Senhor Joaquim Mendes da Cruz Guimares em 25 de maro de
1857. Fortaleza: Typ. Cearense, 1857, p. 12.
90
para dar vazo gua.47 No mesmo ano, foi produzido um relatrio apresentado
pelo engenheiro Adolpho Herbster e destinado ao presidente da provncia. Nele, o
engenheiro chama a ateno para o escoamento da gua:
Este cano subterraneo que deve ter espao suficiente para que um menino
possa livremente andar no interior e de p esta orado em 8:000$000 ou em
60$000 por braa corrente: sendo sua embocadura no centro da
encruzilhada da rua com a travessa, e o despejo na encosta do morro, entre
o hospital da caridade e a cadeia. Escolhi esta no somente por serem
escavaes menores, como porque passando o cano no pateo interior do
hospital (sendo completado o edifcio) fica tambem servindo de cano de
49
despejo do estabelecimento, o que no de pequena vantagem.
47
SOUSA, Joo Silveira de. Relatrio que Assembla Legislativa Provincial do Cear
apresentou no dia da abertura da sesso ordinria de 1859, o Excelentssimo Senhor Dr. Joo
Silveira de Sousa, presidente da mesma provncia. Fortaleza: Typ. Cearense, 1859, p. 14.
48
HERBSTER, Adolpho. Relatrio apresentado ao Illustrissimo e Excelentssimo Senhor Dr.
Joo Silveira de Souza, muito digno presidente desta provncia, pelo engenheiro Adolpho
Herbster. Fortaleza: Typ Cearense, 1859, p. 5.
49
HERBSTER, Adolpho. Relatrio apresentado ao Illustrissimo e Excelentssimo Senhor Dr.
Joo Silveira de Souza, muito digno presidente desta provncia, pelo engenheiro Adolpho
Herbster. Fortaleza: Typ Cearense, 1859, p. 5.
91
50
OLIVEIRA, Almir Leal de; BARBOSA, Ivone Cordeiro (orgs.). Leis Provinciais: Estado e Cidadania
(1835-1861). Compilao das Leis Provinciais do Cear comprehendendo os annos de 1835 a 1861
pelo Dr. Jos Liberato Baroso. Ed. Fac-similar.Tomo 3. Fortaleza, INESP, 2009, p. 361-362; MELLO
E ALVIM, Joo da Souza. Relatrio com que o Ex.mo Senhor Tenente-coronel de engenheiros
Joo da Souza Mello e Alvim, presidente da provncia do Cear passou a administrao da
mesma ao excelentssimo senhor 1. Vice-presidente Dr. Sebastio Gonalves da Silva, no dia
6 de maio de 1867. Fortaleza: Typ. Brasileira, 1867.
51
BARRETO, Francisco Xavier Paes. Relatrio com que o excellentissimo senhor presidente da
provncia passou a administrao da provncia ao segundo vice-presidente na mesma.
Fortaleza: Typ. Cearense, 1856, p. 11-12.
52
O Cearense, 29 jun 1852, p. 1.
92
53
Sobre a criao da Comisso de Obras Pblicas, conferir: Lei n. 566 de 3 de dezembro de 1851.
In.: OLIVEIRA, Almir Leal de; BARBOSA, Ivone Cordeiro. Leis Provinciais: Estado e Cidadania
(1835-1861). Compilao das Leis Provinciais do Cear comprehendendo os annos e 1835 a 1861
pelo Dr. Jos Liberato Barroso ed. Fac-similada. Tomo 2. Fortaleza: INESP, 2009, p. 239. Sobre o
engenheiro civil Fernando Hitzschky, conferir: REGO, Joaquim Marcos dAlmeida. Relatrio do
excelentssimo senhor doutor Joaquim Marcos DAlmeida Rego, presidente da provncia do
Cear, respectiva Assemblea Legislativa na abertura da 1. sesso ordinria da sua 9.
legislatura em o 1. de setembro de 1852. Fortaleza typ. Cearense, 1852, p. 25; REGO, Joaquim
Marcos dAlmeida. Relatrio apresentado ao ilustrssimo e excelentssimo senhor doutor
Joaquim Vilella de Castro Tavares, presidente desta provncia, pelo seu antecessor o
illustrissimo e excellentissimo senhor doutor Joaquim Marcos DAlmeida Rego ao passar-lhe
administrao. Fortaleza: Typ. Cearense, 1853, p. 15; TAVARES, Joaquim Vilella de Castro.
Relatrio que o excelentssimo senhor doutor Joaquim Vilella de Castro Tavares, presidente da
provncia do Cear, apresentou Assemblea Legislativa Provincial, na abertura da segunda
sesso ordinria de sua 9. legislatura, em 1. de setembro de 1853. Fortaleza: Typ. Cearense,
1853, p. 54 e 57.
54
Sobre a extino da Comisso de Obras Pblicas, conferir: Lei n. 669 de 4 de Outubro de 1854.
OLIVEIRA, Almir Leal de; BARBOSA, Ivone Cordeiro. Leis Provinciais: Estado e Cidadania (1835-
1861). Compilao das Leis Provinciais do Cear comprehendendo os annos e 1835 a 1861 pelo
Dr. Jos Liberato Barroso ed. Fac-similada. Tomo 2. Fortaleza: INESP, 2009, p. 495.
55
BARRETO, Francisco Xavier Paes. Relatrio com que o excellentissimo senhor presidente da
provncia passou a administrao da provncia ao segundo vice-presidente da mesma.
Fortaleza: Typ. Cearense, 1856, p. 12.
93
Pretendia logo que passasse a estao invernosa em que nos achamos, dar
andamento a esta obra [cadeia]; fazendo no plano dela, que cheio de
imperfeies, algumas alteraes. Neste sentido ordenei ao engenheiro,
56
que preparasse os trabalhos necessrios.
56
BARRETO, Francisco Xavier Paes. Relatrio com que o excellentissimo senhor presidente da
provncia passou a administrao da provncia ao segundo vice-presidente da mesma.
Fortaleza: Typ. Cearense, 1856, p. 14.
57
CUNHA, Herculano Antonio Pereira da. Relatrio com que abrio a assembla legislativa
provincial do cear o 1 vice-presidente da mesma. Fortaleza: Typ. Cearense, 1856, p. 16.
58
BARRETO, op. cit.; CUNHA, op. cit.
59
Correio Mercantil, 29 Mar. 1859, p. 1.
94
Por effeito das chuvas torrenciaes, que cahiram nesta capital no mez de
maio, dasabou uma parte do muro que cinge esse edifcio. Este damno, que
se calcula 4:000$000, devido em grande parte m construco de tijolo
e barro e existncia de formigueiros no alicerces.
61
A muralha est sendo reconstruda a tijolo e cal.
Poucos anos depois, o muro voltou a cair, dessa vez no era possvel
colocar a culpa nas formigas. Sobre as providncias para tentar manter o muro de
p, o presidente Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque escreveu:
60
CASTRO, Jos Liberal de. Contribuio de Adolfo Herbster forma urbana da cidade de Fortaleza.
Revista do Instituto do Cear. Fortaleza: Ed. Instituto do Cear, 1994.
61
HOMEM DE MELLO, Francisco Ignacio Marcondes. Relatrio apresentado Assembla
Legislativa Provincial do Cear pelo presidente da mesma provncia o Exm. Sr. Dr. Francisco
Igncio Marcondes Homem de Mello Na 1 Sesso Da 22. Legislatura em 1. de Julho de 1866.
Fortaleza: Typ. Brasileira, 1866, p. 35-36.
62
ALBUQUERQUE, Diogo Velho Cavalcante de. Relatrio com que passou a administrao da
provncia o Exm. Sr. Presidente Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque ao 2. Vice-
Presidente o Exmo. Sr. Coronel Joaquim da Cunha Freire. Fortaleza: Typ. Constitucional, 1969, p.
12.
63
HENRIQUES, Joo Antonio de Arajo Freitas. Falla com que o Excelentssimo Senhor
Desembargador Joo Antonio de Arajo Freitas Henriques abriu a 1 Sesso da 18 Legislatura
da Assembla Provincial do Cear no dia 1 de Setembro de 1870. Fortaleza: Typ. Constitucional,
1870, p. 31.
64
Cearense, 16 Abr. 1873, p. 02.
95
grade do cano que d esgoto as guas pluviaes das ruas das Flores e
Formosa estava feichada, e ento as guas no encontrando vazo,
espraiaram se invadiado grande parte das cazas adjacentes, cujas famlias
despertaram com a inundao, que cauzou alguns prejuzos.
Ha pouco fisemos uma reclamao nesse sentido, como porem no se
tratava de uma medida eleitoral, que convinha tomar-se, a cmara nenhuma
atteno prestou, e eis que se realisaro nossas previses.
Diz o annexim - o brasileiro s feicha a porta depois que roubado - agora
65
provvel que a cmara se digne tomar alguma provindencia.
A noute de 28 deste mez [maro] cahiu sobre esta capital uma chuva
torrencial, que causou bastantes estragos. Houve uma innundao quasi
geral: casas houve onde gua elevou-se a um palmo; Deram-se vrios
desabamentos de cazas e muros.
A rampa da estao da via frrea ficou inutilisada completamente, fasendo
as aguas grandes escavaes. Muitos edificios, ameaam ruina; a muralha
da cadeia publica no poder, certamente, resistir a invernada.
As cazas prximas aos canos de esgoto foram as que mais soffreram, por
que alem de no comportarem os canos o immenso volume das guas,
acresceu que o lixo do calamento levado pela corrente, amontoou-se todo
ao redor da grade collocada sobre o cano da rua Formoza, vedando assim o
escoamento.
65
Inundao. Cearense, 16 abr 1873, p. 2.
66
Desmoronamento. Cearense, 16 abr 1873, p. 2.
67
NOGUEIRA, Joo. Fortaleza Velha. 2 Ed. Fortaleza: edies UFC/PMF, 1980, p. 123-125.
68
Trovoada. Cearense, 1 fev 1874, p. 2.
69
Chuvas. Cearense, 26 mar 1874, p. 2.
96
70
O pluviometro marcou 120 milmetros.
Anos antes, fazia-se necessrio construir na Rua Amlia outro bueiro com
cano, mais caro que o anterior, orado em 20:000$000 ris.73 Para esse no houve
acordo. Nada de cano e bueiro! Tentou-se dar um jeitinho caprichando na inclinao,
nivelamento e levantando paredes. No entanto, o muro da cadeia e de outras
construes continuou ameaado a cada estao chuvosa. Em 1863, estava em
construo um cano para dar esgoto as gua estagnadas de 23 braas, orado em
883$380 ris.74 Alm de bueiros, a obra de calamento da cidade demandou um
constante deslocamento de areia, visando nivelar os logradouros: declives eram
aterrados e desnveis eram suavizados. Em 1866, a Praa da Municipalidade e a
Rua do Mercado receberam as areias que abundavam na Rua So Bernardo.75
As obras em Fortaleza mudavam e alteravam toda a regio prxima,
extraindo materiais para as construes ou abrindo espao para elas. No intervalo
de poucos anos possvel perceber mudanas nas narrativas sobre a cidade.
Robert Av-Lallemant registrou no segundo volume do seu livro Viagem pelo Norte
do Brasil no ano de 1859 as seguintes impresses:
Cear [Fortaleza], vista pelo mar, realmente bonita. Seu ponto central
um forte imponente, motivo pelo qual era antigamente chamada de Villa do
Forte. Ao lado desse forte, uma igreja branca, completamente nova, e do
outro, um hospital novo, ainda no inteiramente acabado, cuja metade
70
Inundao. Cearense, 31 mar 1874, p. 2.
71
Igreja do Patrocnio. Cearense, 19 abr 1874, p, 2.
72
Inverno. Cearense, 22 abr 1875, p. 2.
73
AZEVEDO, Manoel Antonio de. Relatrio que a Assembla Provincial do Cear apresentou no
dia da abertura da sesso ordinria de 1864 o presidente da provncia Doutor Manoel Antonio
Duarte de Azevedo. Fortaleza: Typ. Brazileira de Paiva & Companhia, 1861, p. 17.
74
FIGUEIREDO JUNIOR, Jos Bento da Cunha. Relatrio apresentado a Assembla Legislativa
Provincial do Cear pelo Excelentssimo Senhor Dr. Jos Bento da Cunha Figueiredo Junior,
por ocasio da instalao da mesma Assembla no dia 9 de Outubro de 1863. Fortaleza: Typ.
Cearense, 1863, p. 39.
75
HOMEM DE MELLO, Francisco Igncio Marcondes. Relatrio com que o Excelentssimo Senhor
Francisco Igncio Marcondes Homem de Mello passou a administrao da provncia ao
Excelentssimo Senhor Joo de Souza Mello e Alvim no dia 6 de Novembro de 1866. Fortaleza:
Typ. Brasileira de Joo Evangelista, 1867, p. 8.
97
dever ser ocupada por um liceu. Na extremidade mesmo, fica ainda uma
cadeia, casa de deteno. (...) As ruas so orientadas conforme os pontos
cardeais, como traadas por bssola, tendo, em parte, bonitas casas.
Algumas de bom calamento, que, contudo, em outras, no passam ainda
76
de barricadas.
76
AV-LALLEMANT, Robert. Viagem pelo Norte do Brasil no ano de 1859. V. 2. Rio de Janeiro:
Instituto Nacional do Livro / Ministrio da Educao e da Cultura, 1961, p.17.
77
AGASSIZ, Louis e AGASSIZ, Elisabeth Cary. Viagem ao Brasil (18651866). Braslia: Senado
Federal, 2000, p. 408.
78
Para Mary Pratt quando se estuda um relato de viagem principalmente os produzidos por
naturalistas se faz necessrio descolonizar o conhecimento. Ou seja, levar em considerao as
funes normalmente, colonizadora e imperialista e as redes que dialogam com essas
publicaes. PRATT, Mary Louise. Os olhos do Imprio: Relatos de viagem e transculturao.
Bauru: EDUSC, 1999, passim.
79
NEVES, Frederico de Castro. A Multido e a Histria: Saques e outras aes de massas no
Cear. Rio de Janeiro: Relume Dumar, 2000, p. 31.
98
80
ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz. Nos destinos de fronteira: histria, espao e identidade
regional. Recife: Bagao, 2007, p. 242.
81
ALBUQUERQUE JUNIOR, ibid., p. 242.
82
Durante a pesquisa encontrou-se nos peridicos publicados em Fortaleza registros de enchentes
em diversas cidades do Cear, alm da capital. Para estudos sobre as enchentes em Jaguaruana e
Aracati, ver, respectivamente: SILVA, Kamillo Karol Ribeiro e. Nos Caminhos da memria, nas
guas do Jaguaribe: Memrias das enchentes em Jaguaruana CE (1960, 1974, 1985). 171f.
Dissertao (Mestrado em Histria) Programa de Ps-Graduao em Histria, Universidade Federal
do Cear, Fortaleza, 2006; DINIZ, Jos Nilo Bezerra. Paisagens marginais: um estudo em
perspectiva histrica de localidades porturias no serto brasileiro (1808-1851) e no deserto do
sudoeste africano (1884-1914). 201f. Dissertao (Mestrado em Histria) Programa de Ps-
Graduao em Histria, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 2014.
83
MIRANDA, Joo Antonio de. Discursos que recitou o Exm. Presidente desta provincia na
occasio da abertura da Assemblea Legislativa Provincial. Fortaleza: Typ. Constitucional, 1839,
p. 50.
84
O Cearense, 09 fev 1858, p.1-2.
99
85
Melhoramentos Materiaes. O Cearense, 2 Jul 1858, p. 1-2.
100
para realizar a sua viagem, e que sabe, outrosim, que o tempo sempre
86
curto demais para o que tem em vista fazer.
86
AGASSIZ, Louis e AGASSIZ, Elisabeth Cary. Viagem ao Brasil (18651866). Braslia: Senado
Federal, 2000, p. 410-411.
87
BRASIL, Thomaz Pompeo de Sousa. O Clima e as Secas do Cear [1877]. In.: ROSADO, Vingt-un
(org.). Nono livros das Secas. Mossor / RN: Fundao Guimares Duque, 1983, p. 39.
88
Ibid., p. 410.
89
Para Reinhart Koselleck tanto o espao quanto o tempo pertencem a condies de possibilidade da
historia, ao mesmo tempo essas categorias tambm possuem uma histria. No caso do espao, es
algo que hay que presuponer metahistricamente para toda historia posible y, a la vez, algo
historiable porque se modifica social, econmica y politicamente. KOSELLECK, Reinhart. Los
estratos del tiempo: estudios sobre la histria. Barcelona: Ediciones Paids / Universidad
Autnoma de Barcelona, 2001, p. 107-108.
90
AGASSIZ, Louis e AGASSIZ, Elisabeth Cary. Viagem ao Brasil (18651866). Braslia: Senado
Federal, 2000, p. 410-421.
101
91
LEMENHE, Maria Auxiliadora. As razes de uma cidade: conflito de hegemonias. Fortaleza:
Stylus Comunicaes, 1991, passim.
92
ARRUDA, Gilmar. Rios e governos no estado do Paran: pontes, fora hydrulica e a era das
barragens. Varia Histria. Belo Horizonte, vol. 24, n 39, p. 161.
102
Fonte: Estradas Reais da capitania do Siar Grande. NOGUEIRA, Gabriel Parente. Fazer-se nobre
nas fmbrias do imprio: Prticas de nobilitao e hierarquia social da elite camarria de Santa Cruz
do Aracati (1748-1804). 2010. 358 f. Dissertao (Mestrado) Curso de Histria, Programa de Ps
Graduao em Histria, Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2010, p. 71.
93
SILVA, Rafael Ricarte da. Formao da elite colonial dos sertes de Mombaa: terra, famlia e
poder (Sculo XVIII). 2010. 188 f. Dissertao (Mestrado) - Curso de Histria, Programa de Ps-
Graduao em Histria, Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2010.
103
Era o sol bastante forte e a estrada toda de areia, passamos o rio Cauau
por duas pontes, o rio Tipui por uma ponte; neste lugar a terra arenosa e
denegrida [...] E uma hora chegamos ao vale do Pacoti. uma larga
vargem, mui plana de barro denegrido, agro-seco e rachado, pelo meio da
qual se espreguia fazendo gepos e dividindo em dois ramos o rio Pacoti
destes ramos s um, que passa perto do morro de Aquiraz, que tinha
gua; no lugar onde passamos teria de largura umas cinco ou seis braas e
gua at dois palmos, e s na ribeira oposta o barro negro fazia atoleiros,
que ofereciam alguma dificuldade ao passar. [...] H feito um aterrado que o
corta em linha reta do Aquiraz entrada do vale, e que havia ponte na
passagem do rio, mas o rio a levou e hoje se no passa por esse aterrado,
ficando a passagem tomada no tempo das cheias ou passando-se com
95
muitos riscos, ou em balsas.
94
ALEMO, Francisco Freire. Dirio de Viagem de Francisco Freire Alemo (1859-1861).
Fortaleza: Fundao Waldemar Alcntara, 2011, p. 37-51.
95
ALEMO, Francisco Freire. Dirio de Viagem de Francisco Freire Alemo (1859-1861).
Fortaleza: Fundao Waldemar Alcntara, 2011, p. 38-39.
96
KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil Travels in Brazil. So Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1942; ALEMO, Francisco Freire. Dirio de Viagem de Francisco Freire Alemo
(1859-1861). Fortaleza: Fundao Waldemar Alcntara, 2011.
104
embarcado. Alm disso, ele mencionou o mato alto, as vrzeas e riachos secos
tendo demorado quatro dias para completar todo o trecho.97
A travessia da Expedio de Freire Alemo foi em um ritmo diferente. Eles
pararam em diversas localidades para dormir, conversar e fazer as refeies. Assim,
a maior demora na realizao do trajeto em comparao com de Koster no
indicativa de uma viagem mais difcil. Os membros da expedio interagiram com as
pessoas no trajeto e se demoravam mais na viagem, enquanto Koster desejava,
apenas, chegar Fortaleza. Alm disso, necessrio lembrar que Alemo narrou
uma paisagem marcada pela presena da gua solo alagado, rios e chuvas
recorrentes enquanto Koster realizou a viagem em uma poca mais seca em que
as chuvas estavam comeando ou por comear.
Viajar ou a partir de Fortaleza durante ou logo aps o perodo de chuvas
era uma tarefa laboriosa. Visando incentivar e facilitar essas travessias, diversas
pontes foram construdas no intervalo entre a viagem de Koster e a de Freire
Alemo. Contudo, conforme se acompanhou nas Falas e Relatrios dos presidentes,
essas construes no tinham vida longa.
Em 1836 foram encomendadas pontes de madeira Pau darco para a
travessia dos rios Coc, Cear e Caua.98 Quando proferiu sua Falla Assembleia
Provincial em 1 de Agosto, o presidente Jos Martiniano de Alencar declarou que a
ponte do Coc j estava construda, a do Caua em andamento e a do Cear
encomendada.99 No ano seguinte, a ponte do rio Coc j carecia de reforma e a do
Cauau estava concluda.100 No entanto, j havia a demanda por mais trs pontes
para colocar sobre o rio Pacoty e para isso j havia comprado 300 linhas de Pau
darco.101 Em 1839, as chuvas levaram tambm essas pontes.
Nos Relatrios e Falas a demanda por estradas e pontes era recorrente.
Em 1840, o Presidente Francisco de Sousa Martins declarou que:
97
KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil Travels in Brazil. So Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1942, p. 163-164.
98
D ALENCAR, Joz Martiniano. Falla com que o Exm. prezidente da provincia do Cear abrio a
segunda sessao ordinaria da assemblea legislativa da mesma provincia no dia 1. de agosto
de 1836. Fortaleza: Typ. Patritica, 1836, p. 3.
99
Ibid., p. 3.
100
D ALENCAR, Joz Martiniano. Relatorio com que o excelentissimo presidente da provincia
do Cear abrio a terceira sesso ordinaria da assemblea legislativa da mesma provincia no dia
1 de agosto de 1837. Fortaleza: Typ. Patritica, 1837, p. 3.
101
D ALENCAR, Joz Martiniano. Relatorio com que o excelentissimo presidente da provincia
do Cear abrio a terceira sesso ordinaria da assemblea legislativa da mesma provincia no dia
1 de agosto de 1837. Fortaleza: Typ. Patritica, 1837, p. 3.
105
Todavia, Srs., nenhum paiz pode prosperar, sem se melhorarem suas vias
de comunicao, tornando-as mais faceis e rapidas, e foroso he que neste
empenho se dispendo annualmente quantias considerveis. Por fortuna as
estradas desta Provincia, com fceis consertos, se torno transitveis para
carros, cavaleiros, e pedestres; mas os reparos devem se repetir quasi
todos os annos; por que os rebentos dos troncos das arvores e as
escavacaes das chuvas, cauzo deterioraes frequentes e peridicas.
As estradas, que partem da Capital ao Ic, Baturit, e Imperatriz,
requerem principalmente a preferencia; por serem auellas por onde se
transporto a mxima parte dos produtos do interior Capital; ou se levo
102
os da Capital ao centro.
102
MARTINS, Francisco de Sousa. Relatrio, Que Apresentou o Exm. Senhor Doutor Francisco
de Sousa Martins, Presidente desta provncia, na ocasio da abertura DAssemblea Legislativa
Provincial no dia 1 de Agosto de 1840. Fortaleza: Typ. Constitucional, 1840, p. 14.
103
Mais sobre as estradas no Cear, conferir: CORTEZ, Ana Isabel Parente. Os caminhos serto
dentro: Vias abertas por nativos e estradas de ribeiras no Cear no sculo XVIII. Revista Latino-
americana de Histria, So Leopoldo, v. 2, n. 8, p.141-160, out. 2013. Bianual.
104
SOUZA E MELO, Manoel Felisardo de. Falla que recitou o Exmo. Sr. Manoel Felizardo de
Souza e Mello presidente desta provincia na occasio da abertura da assemblea provincia no
1 de agosto do corrente anno. Fortaleza: Typ Constitucional, 1838, p. 39.
105
Henry Koster cita em diferentes momentos de sua narrativa a compra de melancias para matar a
sede no trajeto. Alm dele, Freire Alemo tambm cita a venda de melancias realizada por umas
meninas na estrada. Respectivamente, ver: KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil
Travels in Brazil. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1942, p. 157, 195 e 213; ALEMO,
Francisco Freire. Dirio de Viagem de Francisco Freire Alemo (1859-1861). Fortaleza: Fundao
Waldemar Alcntara, 2011, p. 49.
106
Fiz construir huma ponte de pedra e cal no regato, que devide a Cidade do
Bairo da Prainha, tirando dali a velha ponte de Madeira tao arruinada, que
fasia dquelle lugar, alias dntro da Cidade, o mais terrivel mao passo
para os Carros, com notavel incommodo do Commercio, que da Prainha,
onde se acha a Alfandega, conduz todos os seos generos em Carros, como
106
sabeis.
106
Grifou-se. D ALENCAR, Joz Martiniano. Falla com que o Exm. prezidente da provincia do
Cear abrio a segunda sessao ordinaria da assemblea legislativa da mesma provincia no dia
1. de agosto de 1836. Fortaleza: Typ. Patritica, 1836, p. 2.
107
MIRANDA, Joo Antonio. Discurso que recitou o Exm. Sr. Doutor Joo Antonio de Miranda,
presidente desta provncia, na occasio da abertura da assemblea legislativa provincial no dia
1. de agosto do corrente anno. Fortaleza: Typ. Constitucional, 1839, p. 57-58.
108
COELHO, Jos Joaquim. Discurso recitado pelo Ex. senhor brigadeiro Jos Joaquim Coelho,
presidente e commandante das armas da provncia do Cear na abertura da assembla
legislativa provincial no dia 10 de setembro de 1841. Recife: Typ. De Santos & Cia, 1842, p. 27;
BITANCOURT, Jos Maria da Silva. Relatrio do Exmo. presidente e comandante das armas da
provncia do Cear o brigadeiro Jos Maria da Silva Bitencourt na abertura da assembla
legislativa provincial 1 de julho de 1844. Fortaleza: Typ. Cearense, 1844, p. 14.
107
a ser vista como a entrada da cidade pelo mar por onde chegavam os visitantes
estrangeiros e de outras provncias. Eis o trecho:
109
SOUSA, Joo Silveira de. Relatrio que Assemblea Legislativa Provincial do Cear
apresentou no dia da abertura da sesso ordinria de 1859, o excelentssimo senhor Dr. Joo
Silveira de Sousa, Presidente da mesma provncia. Fortaleza: Typ. Cearense, 1859, p. 14.
110
HERBSTER, Adolpho. Relatrio apresentado ao Illustrissimo e Excelentssimo Senhor Dr.
Joo Silveira de Souza, muito digno presidente desta provncia, pelo engenheiro Adolpho
Herbster. Fortaleza: Typ Cearense, 1859.
111
SILVA FILHO, Antonio Luiz Macdo e. Fortaleza Imagens da Cidade. 2. ed. Fortaleza: Museu do
Cear / Secretaria de Cultura do Estado do Cear, 2004, p. 118.
112
SANTANNA, Denise Bernuzzi de. Cidade das guas: uso de rios, crregos, bicas e chafarizes
em So Paulo (1822-1901). So Paulo: Ed. Senac, 2007, p. 38.
108
Chafariz. Afinal, nesse intervalo passaram a existir outras dentro da cidade, inclusive
sobre o mesmo riacho.
Se essa ponte foi feita para o trnsito de carros que deixavam e
chegavam a Alfndega, por onde passavam os moradores do Outeiro que se
deslocavam em direo ao Centro? Durante muitos anos, a travessia se dava dando
a volta para atravessar sobre a ponte, na barragem do Paje ou de ps descalos e
calas arregaadas nos trechos secos do Paje com o auxlio de pinguelas.113 A
barragem do Aude do Paje, apesar de seu efeito colateral secava um trecho do
riacho do Paju, deixando um charco apontado como insalubre trazia, aos olhos
dos seus contemporneos duas vantagens: propiciava uma reserva de gua que
apesar das dvidas quanto qualidade poderia ser til em um momento de
escassez e facilitava o fluxo de pessoas entre o Centro e o bairro do Outeiro que
eram separados pelo riacho. Seco, propiciava passagem ao Outeiro durante grande
parte do ano.
113
O aude foi construdo em 1837, destrudo em 1839 e reconstrudo em 1847. MIRANDA, Joo
Antonio. Discurso que recitou o Exm. Sr. Doutor Joo Antnio de Miranda, presidente desta
provncia, na occasio da abertura da assemblea legislativa provincial no dia 1. de agosto do
corrente anno. Fortaleza: Typ. Constitucional, 1839, p. 57-58; VASCONCELLOS, Igncio Correia de.
Relatrio apresentado a assemblea legislativa provincial do Cear pelo presidente da mesma
provncia o coronel graduado Igncio Correia de Vasconcellos em 1 de julho de 1847.
Fortaleza: Typ. Fidelssima, 1847, p. 18-19. Alm disso, Gustavo Barroso cita o uso de pinguelas
pelos pescadores (e demais moradores dessa regio) para atravessar trechos do Riacho Paje. Cf.:
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu do Cear
[1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 91.
109
114
SOUZA, Joo Silveira de. Relatrio que assemblea legislativa provincial do Cear
apresentou no dia da abertura da sesso ordinrio de 1858, o excelentssimo senhor Dr. Joo
Silveira de Souza, presidente da mesma provncia. Fortaleza: Typ Cearense, 1858, p. 13-14.
115
SOUZA, Joo Silveira de. Relatrio que assemblea legislativa provincial do Cear
apresentou no dia da abertura da sesso ordinrio de 1858, o excelentssimo senhor Dr. Joo
Silveira de Souza, presidente da mesma provncia. Fortaleza: Typ Cearense, 1858, p.14.
110
Poucinho para dar passagem da rua de baixo ao Outeiro.116 Isso indica que a
passagem nas travessas citadas se dava com os ps molhados. Contudo, o
empedramento das ruas que se seguiam aos pontilhes citados, s foi iniciado na
dcada de 1870.117
O grande desafio para vencer ou domar as guas como escreveram,
respectivamente, Gilmar Arruda e Fabio Alexandre dos Santos estava na
durabilidade das construes.118 Afinal, era preciso tornar as comunicaes com as
demais localidades viveis durante todo o ano. Assim, aos olhos dos governantes,
se fazia necessrio aplicar o conhecimento tcnico disponvel investindo em
materiais e procedimentos.
Nesse quesito o ferro foi bastante utilizado. No mesmo perodo em que
Adolpho Herbster foi contratado como engenheiro responsvel pelas obras pblicas,
houve um aumento na utilizao desse material nas construes da cidade.
Conforme se observam nas Falas e Relatrios de Presidentes de Provncia, todos os
artefatos de ferro utilizados pelo governo provincial eram encomendados na Corte
ou em Recife e chegavam a Fortaleza com um custo elevado somando a produo
e o transporte. Muitos comerciantes da provncia e estrangeiros acumularam capitais
intermediando essas transaes.
No por acaso que nos Relatrios de 1852 e 1853, aparecem dois
pedidos por verba para esses artefatos. No primeiro, grades para a cadeia que se
estava construindo na cidade e no segundo, mais grades, um porto para a cadeia
encomendados em Pernambuco e um cano de ferro para o chafariz da Prainha.119
Sobre os canos, segue o trecho do relatrio do presidente Joaquim Tavares:
116
SOUZA, Joo Silveira de. Relatrio que assemblea legislativa provincial do Cear
apresentou no dia da abertura da sesso ordinrio de 1858, o excelentssimo senhor Dr. Joo
Silveira de Souza, presidente da mesma provncia. Fortaleza: Typ Cearense, 1858, p. 13-14.
117
MACIEL, Franciso dAssis Oliveira. Fala com que o excellentissimo senhor doutor Francisco
dAssis Oliveira Maciel abrio a 2. sesso da 21. legislatura da Assembla provincial do Cear
no dia 7 de julho de 1873. Fortaleza: Typ. Constitucional, 1873, p. 18.
118
ARRUDA, Gilmar. Rios e governos no estado do Paran: pontes, fora hydrulica e a era das
barragens. Varia Histria. Belo Horizonte, vol. 24, n 39; SANTOS, Fbio Alexandre dos. Domando
guas: Salubridade e ocupao o espao na cidade de So Paulo, 1875-1930. So Paulo: Alameda,
2011.
119
REGO, Joaquim Marcos dAlmeida. Relatrio do excelentssimo senhor doutor joaquim
Marcos dAlmeida Rego, presidente da provncia do Cear, respectiva assemblea legislativa
na abertura da 1. sesso ordinria da sua 9. legislatura em o 1. de setembro de 1852.
Fortaleza typ. Cearense, 1852, p. 24; TAVARES, Joaquim Vilella de Castro. Relatrio que o
excelentssimo senhor doutor Joaquim Vilella de Castro Tavares, presidente da provncia do
Cear, apresentou assemblea legislativa provincial, na abertura da segunda sesso ordinria
de sua 9. legislatura, em 1. de setembro de 1853. Fortaleza: Typ. Cearense, 1853, p. 53.
111
120
TAVARES, Joaquim Vilella de Castro. Relatrio que o excelentssimo senhor doutor Joaquim
Vilella de Castro Tavares, presidente da provncia do Cear, apresentou assemblea
legislativa provincial, na abertura da segunda sesso ordinria de sua 9. legislatura, em 1. de
setembro de 1853. Fortaleza: Typ. Cearense, 1853, p. 53.
121
MOTTA, Vicente Pires da. Relatrio do presidente o excelentssimo Sr. Conselheiro Dr.
Vicente Pires da Motta na abertura da 20. sesso da 10 legislatura da assemblea legislativa
provincial no dia 1. de setembro de 1854. Fortaleza: Typ. Brasiliense, 1854, p. 11.
122
Pedro II, 11 Jul. 1855, p. 1.
123
Pedro II, 6 Set. 1855, p. 2.
124
Alguns se tornaram foram feitos clebres. Um dos mais famosos na cidade foi Raimundo
Ferreira Maciel vulgo Meia-Noite que teve suas tentativas algumas bem sucedidas de fuga da
cadeia pblica estampadas nos peridicos da cidade. GONALVES, Daniel da Costa. A
insuficincia da ordem: discursos e reformas policiais (Fortaleza,1930-1945). 2011. 169 f.
112
127
VASCONCELLOS, Igncio Correia de. Relatrio apresentado a Assemblea Legislativa
provincial do Cear pelo presidente da mesma Provncia o coronel Graduado Ignacio Correia
de Vasconcellos em 1 de Julho de 1847. Fortaleza: Typ. Fidelssima, 1847, p. 17.
128
BARRETO, Francisco Xavier Paes. Relatrio com que o excelentssimo senhor doutor
Francisco Xavier Paes Barreto passou a administrao da provncia ao segundo vice-
presidente da mesma o excelentssimo senhor Joaquim Mendes da Cruz Guimares, em 9 de
abril de 1856. Fortaleza: Typ. Cearense, 1856, p. 18.
129
O Cearense, 3 Ago, 1855, p. 3; BARRETO, Francisco Xavier Paes. Relatrio com que o
excelentssimo senhor doutor Francisco Xavier Paes Barreto passou a administrao da
provncia ao segundo vice-presidente da mesma o excelentssimo senhor Joaquim Mendes da
Cruz Guimares, em 9 de abril de 1856. Fortaleza: Typ. Cearense, 1856, p. 18.
130
CAVALCANTE, Jos Pompeu de Albuquerque. Relatrio do Engenheiro das Obras pblicas da
provncia do Cear. In.: PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Relatrio com que foi entregue a
administrao da provncia ao excelentssimo senhor doutor Francisco Igncio Marcondes
Homem de Mello pelo excelentssimo senhor doutor Lafayette Rodrigues Pereira em 10 de
junho de 1865. Fortaleza: Typ. Brazileira de J. Evangelista, 1865, p. VIII.
114
131
MELLO E ALVIM, Joo de Souza. Relatrio com que o ex.mo senhor tenente-coronel de
engenheiros, Joo de Souza Mello e Alvim, presidente da provncia do Cear passou a
administrao da mesma ao excelentssimo senhor 1. vice-presidente dr. Sebastio
Gonalves da Silva no dia 6 de maio de 1867. Fortaleza: Typ. Brasileira, 1867, p. 39.
132
PEREIRA JUNIOR, Jos Fernandes da Costa. Relatrio com que o Exm. Sr. Dr. Jos
Fernandes da Costa Pereira Junior passou a administrao da provncia do Cear ao Exm. Sr.
2. vice-presidente coronel Joaquim da Cunha Freire no dia 26 de abril de 1871. Fortaleza: Typ.
Constitucional, 1871, p. 23.
115
A cidade hoje, com os seus trezentos mil habitantes, j no conta mais com
os deliciosos sinetes locais da falta de progresso de ento, como os seus
quiosques para a venda de caf, refrescos de pega-pinto e caldo de cana;
os seus jumentinhos bblicos carregando ancoretas dgua para as casas de
famlia; at mesmo os seus cata-ventos de metal branco girando no alto dos
quintais, de que h to raros atualmente, com a gua canalizada do
133
Acarape.
133
LIMA, Herman. Imagens do Cear. 2 Ed. Fortaleza: Casa de Jose de Alencar / UFC, 1997, p. 48.
134
Nesta pesquisa utilizou-se a segunda edio de 1997, contudo a primeira foi publicada em 1959.
135
SANTANNA, Denise Bernuzzi de. Cidade das guas: uso de rios, crregos, bicas e chafarizes
em So Paulo (1822-1901). So Paulo: Ed. Senac, 2007, p. 11.
136
MARTINEZ, Paulo Henrique. O abastecimento de gua: vida cotidiana e desigualdade social. In.:
__________. (org.) Histria ambiental paulista: Temas, Fontes, Mtodos. So Paulo: SENAC, 2007,
p. 75.
116
139
Estes usos sero retomados nos prximos captulos.
140
SOUZA E MELO, Manoel Felizardo de. Falla que recitou o Exmo. Sr. Manoel Felizardo de
Souza e Mello presidente desta Provincia na occasio da Abertura da Assemblea Provincia no
1 de Agosto do corrente anno. Fortaleza: Typ Constitucional, 1838, p. 34.
118
141
Cear. Lei n. 1013 de 6 de Outubro de 1861. In.: OLIVEIRA, Almir Leal de; BARBOSA, Ivone
Cordeiro (orgs.). Leis Provinciais: Estado e Cidadania (1835-1861). Compilao das Leis Provinciais
do Cear comprehendendo os annos de 1835 a 1861 pelo Dr. Jos Liberato Barroso. Ed. Fac-
similada. Fortaleza, INESP, 2009, p. 653-654.
142
FUNES, Eurpedes Antnio Funes. Negros no Cear. In.: SOUSA, Simone (org.). Uma nova
histria do Cear. 2. Ed. Fortaleza: Edies Demcrito Rocha, 2002, p. 115.
119
143
CEAR. Colleco das Leis da Provncia do Cear de 1870. Fortaleza: Typ. Cearense, 1870.
144
MARQUES, Janote Pires. Festas de negros em Fortaleza: Territrios, sociabilidades e
reelaboraes (1871-1900). 2008. 225 f. Dissertao (Mestrado) - Curso de Histria, Programa de
Ps-graduao em Histria, Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2008, p. 50.
120
chegado que foi com o balde de gua, e vendo um moleque a lavar o tal
vidro, conheceu que eu tinha andado na tenda, apressa-se a ver as chaves,
e como no as encontrasse mais deitou a correr para safar-se pela porta da
145
rua (...).
145
Carta de Joaquim da Silva Santiago remetida a Jos Martiniano de Alencar Ciar, 31 maio 1844.
In.: ALVES, Guarino. Elementos para o estudo da escravido no Cear. Revista do Instituto do
Cear. Tomo Especial, 1984, p. 94-96.
146
Durante o perodo em que funcionou a Cear Water Company, a gua era vendida em carroas ao
custo de 40 ris o caneco de vinte litros.
147
Marciano Lopes que chegou a Fortaleza em 1945, narrou em seu livro de reminiscncias Royal
Briar: O sol j comea a esquentar e os aguadeiros comeam a surgir. Vm da Floresta, da Pirocaia
121
e da fonte do Zuca Aciolly. Conduzem o preciosos lquido em grande pipas de madeira, sobre
carroas. Em ancoretas, a gua levada aos potes no interior da casa. LOPES, Marciano. Royal
Briar: a Fortaleza dos anos 40. Fortaleza: Tiprogresso, 1988, p. 188.
148
CAMINHA, Adolfo. A Normalista [1893]. Fortaleza: ABC Editora, 2005, p. 47.
149
Os trabalhadores da gua sero retomados no prximo captulo.
150
PAIVA, Manuel de Oliveira. A Afilhada. [1889] In.: Obra Completa. Rio de Janeiro: Graphia
Editorial, 1993, p. 241.
122
151
Sobre o material utilizado nas construes, cf.: CASTRO, Jos Liberal de. Contribuio de
Adolpho Herbster forma urbana da cidade da Fortaleza. In: Revista do Instituto do Cear.
Fortaleza: 1994, p. 66.
152
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso Corao de Menino [1939], Liceu do
Cear [1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 366.
153
CAMPOS, Eduardo. O Inquilino do Passado memrias urbanas e artigos de afeio. Fortaleza:
UFC/Casa de Jos de Alencar, 1996, p. 67; CAMPOS, Eduardo. A Volta do Inquilino do Passado
segunda locao. Fortaleza: Casa Jos de Alencar/ Programa Editorial, 1998, p. 24.
154
Segundo Marise Magalhes Olmpio, nas dcadas de 1970 e 1980 ainda era muito comum a
construo de cacimbas e poos nos quintais para dar soluo ao abastecimento intermitente de
gua no conjunto Jos Walter. OLMPIO, Marise Magalhes. A stima cidade: trajetrias e
experincias dos primeiros moradores do Conjunto Habitacional Prefeito Jos Walter. 2011. 162 f.
Dissertao (Mestrado) - Curso de Histria, Programa de Ps-graduao em Histria, Universidade
Federal do Cear, Fortaleza, 2011, p. 55-56.
123
VENDE-SE
Uma morada de cazas edificadas de tijollo, cobertas de telha, e mui bem
construidas, sitas na rua Amlia, com uma porta e uma janella na frente
virada para o nascente, oitenta e cinco palmos de fundo, e com com modos
para uma famlia ainda mesmo numeroza, por ter um grande soto: tem
alpendre atraz. cozinha, e dous quartos separados da caza: tem o quintal
bem murado, excellente cacimba. Alm disso, pertence-lhe o terreno
correspondente aos fundos at onde tem de edificar-se a nova rua ao
poente da Amlia. Quem a pretender dirija-se a Antnio Joaquim de
Oliveira, que nas mesmas cazas actualmente mora, ou a Antnio Gonalves
157
da Justa. Vendem-se at a prasos mensaes.
155
Martins, Fran. Ponta de Rua [1937]. 2 Ed. Fortaleza: Casa de Jos de Alencar / UFC, 1999,
passim.
156
Foi pesquisado [O] Cearense de 1846 a 1891.
157
Annuncio, O Cearense, 2 Fev. 1848, p. 4.
158
O Cearense, 20 Mar 1848, p.4.
124
159
Aluga-se uma casa na rua do Quartel, com os commodos seguintes: salla na frente, dous quartos,
corredor, salla de jantar, varanda, cosinha, e cacimba no quintal. A quem convier, dirija se a Manoel
Antonio da Rocha Jnior. Annuncios. O Cearense, 8 abr 1851, p. 4.
160
Manoel Nunes de Mello compra escravos: o mesmo tem para alugar por preos mdicos duas
moradas de casas muito boas e bem construdas, bons commodos, quintal amurado com algumas
fruteiras e boa cacimba, rua da Amlia. Annuncios. O Cearense, 7 Nov 1851, p. 4.
161
Aluga-se uma casa na rua da Cadeia com commodos e cacimba, para uma pequena famlia a
tratar com Francisco Jos Ribeiro Curinga. Annuncios, Cearense, 5 Jan 1866, p. 4.
162
Vende se no largo do Patrocnio um caixo de caza com 30 palmos de frente e 85 de fundo, com
fundo correspondente para o lado da Lagoinha e cacimba no quintal; quem pretender comprar dirija-
se esta Typ. que achar com quem tratar. Annuncio. O Cearense, 15 Abr 1862, p. 4.
163
Destaque no original. Annuncios. Cearense, 5 Set. 1868, p. 3.
164
MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. O fogo da Socit Anonyme du Gaz: sugestes para uma
leitura histrica de um imagem publicitria. Projeto Histria: Revista do Programa de Estudos Ps-
Graduados de Histria, So Paulo, v. 21, n. 1, p.105-119, nov. 2000. Semestral.
165
A casa de duas portas ou de porta e janela contava, aproximadamente, com 20 palmos (4,40m)
de largura; a de trs portas com 30 palmos (6,60m); com 40 palmos (8,80m); e assim
sucessivamente. Inicialmente as casas contavam como um quarteiro de fundo com a frente virada
para o leste (nascente, chamado na cidade de lado da sombra). Com a valorizao dos espaos no
Centro da cidade, as casas passaram a ser construdas dos dois lados com meio quarteiro de
fundo. Alm disso, as casas que ficavam nas esquinas passaram a subdividir os quintais para
125
negociar o aluguel de quartinhos ou pequenas casas nas travessas o que no existia inicialmente.
ANDRADE, Margarida Julia Farias de Salles. Fortaleza em perspectiva histrica: poder e iniciativa
privada na apropriao e produo material da cidade (1810-1933). 2012. 279 f. Tese (Doutorado) -
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de So
Paulo, So Paulo, 2012, p. 85.
166
FIGUEIREDO JUNIOR, Jos Bento da Cunha. Relatrio apresentado a Assembla Legislativa
Provincial do Cear pelo excelentssimo senhor Dr. Jos Bento da Cunha Figueiredo Junior,
por ocasio da instalao da mesma assembla no dia 9 de outubro de 1863. Fortaleza: Typ.
Cearense, 1863, p. 19.
167
CEAR. Resoluo n 1032 de 21 de setembro de 1862. In.: Colleco de leis da provncia do
Cear. Fortaleza: Typographia Cearense, 1863.
168
CEAR. ibid.
169
PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Relatrio apresentado Assembla Legislativa Provincial do
Cear pelo excellentssimo senhor Dr. Lafayette Rodrigues Pereira por ocasio da instalao
da mesma assembla no 1 de outubro de 1864. Fortaleza: Typ. Brazileira de Paiva & Companhia,
1864, p. 38.
126
O progresso va, como apregoando que vir esta cidade a ser uma das
primeiras do Brasil. O movimento extraordinario que se nota no particular,
se observa igualmente no publico. A 25 deste mez [maro] installou-se ou
abriu-se uma bibliotheca publica, entre numeroso concurso de povo, que
concorria a ver este grande impulso da instruco e civilisao de um paiz.
A 26 benzeu o Exm. Sr. bispo desta diocese a fonte e obra da canalisao
das guas do Bemfica para esta cidade, e apresentaram os membros da
associao desta empreza, uma rica e lauta meza de diversas iguarias e
bebidas para innumeros convidados. Concorreu a cidade em peso a ver
este grande acto, e essa obra magnfica.
A obra com effeito digna de ver-se; porque attesta a solidez do saber e o
[mutilado] execuo. No h segunda no [mutilado] e poucas acharo
superiores no Brazil. A obra merecia a festa que lhe fez todo o povo da
cidade, e aos seus executores so dignos dos maiores louvores.
Eram 5 horas da tarde e o povo em movimento [mutilado] uma immensa
parada desde a cidade at o Bem-fica distancia de um quarto de legua.
Homens, mulheres e meninos, a p, a cavallo e em carros apresentavam
um dos mais bellos espectaculos que temos visto. Nesta mesma noite
soltaram-se as guas nos chafarizes illuminados e ao som de musica e
foguetes.
O Cear sentia-se desta necessidade urgente, e a cmara municipal de 61
empenhou-se em remedial-a pedindo aos engenheiros Bastos, Barbosa e
Herbster um plano e oramento para encananal-a de Jacaracanga para esta
cidade.
Abortou este projecto por ser o oramento superior as foras da
municipalidade, e no encontrar ella recursos para realisal-a. Ento vingou
a ida no Sr. Jos Paulino Hoonholtz que obteve da assembla a
concesso e privilegio para este fim que acaba de realiiar e por que o
felicitamos, assim como a todos aquelles que o auxiliaram associando-se.
Uma bibliotheca e um encanamento d'agua j muito para esta cidade, mas
no ser somente isto, breve e muito breve teremos a illuminao a gaz,
porque a obra corre com muita rapidez. E que nos restar fazer depois
d'isto? Um porto? Ainda parece cedo, mas j cousa prevista para que se
sollicita uma associao. Quando aqui aportarem estrangeiros instrudos j
171
tero que admirar a nossa terra e a nossa civilisao por este lado.
172
VELLOZO, Pedro Leo. Relatrio com que o excellentssimo senhor doutor Pedro Leo
Vellozo passou a administrao da provncia ao excellentsimo senhor 1 vice-presidente Dr.
Antonio Joaquim Rodrigues Junior. Fortaleza: Typographia Brasileira, 1868, p. 15.
173
PAIVA, Manuel de Oliveira. A Afilhada. [1889] In.: Obra Completa. Rio de Janeiro: Graphia
Editorial, 1993, p. 183.
174
MARTINEZ, Paulo Henrique. O abastecimento de gua: vida cotidiana e desigualdade social. In.:
__________. (org.) Histria ambiental paulista: Temas, Fontes, Mtodos. So Paulo: SENAC, 2007,
p. 78-79.
128
175
PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Relatrio apresentado Assembla Legislativa Provincial do
Cear pelo excellentssimo senhor dr. Lafayette Rodrigues Pereira por ocasio da instalao
da mesma assembla no 1 de outubro de 1864. Fortaleza: Typ. Brazileira de Paiva & Companhia,
1864, p. 38.
129
CAZA
Aluga-se a caza n 16 na rua Formoza, com grandes commodos para
famlia; com agoa e gaz, e a de n 27 na rua Amlia, a tratar com
181
Luiz Ribeiro da Cunha.
caneco de vinte litros no chafariz e 40 ris com os aguadeiros possa ter motivado
a conservao das cacimbas nos quintais.
Contudo, o abastecimento de gua pela Companhia do Benfica no teve
longevidade. Em 18 de outubro de 1877, entre as notas do noticirio, o peridico
Cearense publicou:
Bemfica. O manancial do Bemfica seccou de todo e nem era possvel
resistir por mais tempo, a vista do desaparecimento das aguas que se tem
operado de um modo rpido e extraordinrio.
A Capital est sendo abastecida dagua da antiga cacimba do povo,
184
Jacarecanga, Trindade e Lagoinha.
184
Bemfica. Cearense, 18 out 1877, p. 3.
185
Chuvas. Cearense, 1 Abr 1877, p. 2-3.
186
gua do Benfica. Cearense, 12 Abr 1877, p. 2;
187
Aguadas publicas. Cearense, 15 abr 1877, p. 3.
188
Ante-hontem e hontem tivemos boas chuvas nesta capital, as maiores que cahiram este anno,
recolhendo o pluvimetro no dia 1. 14,40 milimetros e hontem 11,40. Foram recebidas pelo povo
com um praser indizivel. De vrios pontos da cidade subiram Foguetes. Chuvas. Cearense, 3 Maio
1877, p. 3.
131
189
Em 1866, por exemplo, J. P. H. que se presume tratar de Jos Paulino Hoonholtz descrevia a
Lagoa do Garrote como uma poa formada pelas guas pluviaes, que na estao scca se
transforma num charco imundo. Com o artigo ele demandava o aterro da lagoa com a areia que
abundava na Rua S. Bernado. J. P. H. Lagoa do Garrote. Cearense, 11 Mar 1866, p. 3.
190
Lagoa do garrote. Cearense, 20 maio 1877, p. 2.
132
196
BRITO, Francisco Saturnino Rodrigues de. Saneamento de Fortaleza (1923). In.: _________.
Obra Completa de Saturnino de Brito: Pareceres - Primeira Parte. Vol. XVI. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1944, p. 170.
197
ROCHA, Jos Moreira da. MENSAGEM APRESENTADA ASSEMBLA LEGISLATIVA PELO
DESEMBARGADOR JOS MOREIRA DA ROCHA. Fortaleza: Typographia Gadelha, 1926, p. 55.
CAPTULO 3 A GUA QUE VEM E VAI: TRABALHO E TRABALHADORES.
Voltei para casa, estava j a cidade quase deserta; era a lua lindssima, e o
ar fresco, e eu s, e pensativo? aqui lugar de notar quanto esta linda
cidadezinha vai melhorando, e como h de vir a ser uma prola do Brasil.
Quando chegamos aqui em fevereiro de 1859 eram suas ruas todas de
areia limpa, fina, alva, e profunda; apenas se comeava a calar a rua que
sobe do mar e passa pela frente do Palcio [Rua da ponte, atual Av. Alberto
Nepomuceno e R. Conde DEu]. Hoje quase todas as ruas esto caladas,
de pedrinhas irregulares do Mucuripe; as ruas so todas largas, tiradas a
cordel, e se cortam em ngulo reto, as casas so bordadas de caladas, ou
passeios, largos, de oito a doze palmos, de tijolos artisticamente
assentados, algumas vezes de pedras em lascas, e de pedras calcares
serradas vindas da Europa: h praas largas a de Pedro II plantada de
arvoredos, e outras se esto agora arvorando. (...) No se v pelas ruas e
cantos as imundcies, e os charcos de urinas, como no Rio. No se
1
encontram nas ruas negros, se no raros; no se v despejos.
1
ALEMO, Francisco Freire. Dirio de Viagem de Francisco Freire Alemo (1859-1861).
Fortaleza: Fundao Waldemar Alcntara, 2011, p. 475.
2
Os vendedores de gua aguadeiros so anteriores a instalao dos canos para o abastecimento
de gua potvel. Contudo, no contrato firmado entre o governo provincial e a Companhia de gua
135
estabeleceu-se um monoplio para a venda do lquido. Assim, uma atividade que era realizada por
diversos trabalhadores de ganho passa a ser realizada apenas pelos funcionrios da companhia.
3
BLOCH, Marc. Advento e conquistas do moinho d'gua. In: GAMA, Ruy (Org.). Histria da tcnica
e da tecnologia. So Paulo: Universidade de So Paulo, 1985, p. 59-87.
4
MARTINEZ, Paulo Henrique. O abastecimento de gua: vida cotidiana e desigualdade social. In.:
__________. (org.) Histria ambiental paulista: Temas, Fontes, Mtodos. So Paulo: SENAC, 2007,
p. 75.
5
Nome que se dava a barricas de madeiras que acumulavam os excrementos residenciais em um
perodo em que no havia fossas ou servio de esgoto. Segundo Gustavo Barroso, eram tambm
chamadas de cartolas, cumoas ou cambrones e quando cheias, eram esvaziadas no mar.
BARROSO, Gustavo. Memrias Corao de Menino [1939], Liceu do Cear [1940] e Consulado da
China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 110.
136
das rodas das carroas no calamento da cidade, pouco se sabe sobre o lugar que
esses trabalhadores ocupavam no cotidiano. Que elementos esto presentes nesse
deslocamento do cotidiano para a paisagem? Alm disso, pouco se sabe sobre os
meandros desse comrcio as tenses e as disputas que estavam envolvidas.
Questes atreladas ao trabalho que esto tambm intrinsecamente ligadas ao
desenvolvimento da prpria cidade.
6
ALBUQUERQUE, Diogo. V. de Cavalcante. Relatrio com que passou a administrao da
provncia o Exm. Sr. Presidente Dr. Diogo Velho de Cavalcante Albuquerque ao 2 vice-
presidente, o Exm. Sr. Coronel Joaquim da Cunha Freire, em 24 de Abrl de 1869. Fortaleza:
Typographia Constitucional, 1869, p.12.
7
D ALENCAR, Joz Martiniano. Falla com que o exm. prezidente da provincia do Cear abrio a
segunda sesso ordinaria da assemblea legislativa da mesma provincia no dia 1. de agosto
de 1836. Fortaleza: Typ. Patritica, 1836, p. 3.
8
No pas existia um sistema garantido por tratados internacionais em que os escravos envolvidos
em trfico ilegal eram emancipados e postos sob custodia para servirem de criados ou trabalhadores
livres pelo prazo de 14 anos. A historiadora prope pensar o perodo de transio para o trabalho
livre a partir das prticas de expanso do trabalho no livre. Ainda segundo Mamigonian, entre os
137
analisada por Jos Hilrio Ferreira Sobrinho, enviada pelo presidente da provncia
Jos Martiniano de Alencar ao ministro da justia Manoel Alves Branco consta a
apreenso de duas embarcaes que eram empregadas no trfico de escravos com
a presena de africanos a bordo.9 Na carta, Alencar explica as providencias que
tomou:
Como os Africanos apreendidos em numero de cento e sessenta causasse
muito peso a fazenda publica, e alem disso estiveram a ponto de morrer
apinhados em hua caza, e sempre com maus tratos, tomei a deliberao de
habolitar [habilitar] em coisas particulares excitando para a filantropia e
caridade dos habitantes da cidade, depois de escolher trinta dos mais
10
robustos para se ocuparem nas obras pblicas [...].
anos de 1821 e 1856 aproximadamente 11 mil africanos foram emancipados e postos sob a custdia
do governo brasileiro. MAMIGONIAN, Beatriz Gallotti. Revisitando a transio para o trabalho livre:
a experincia dos africanos livres. In.: FLORENTINO, Manolo (org.). Trfico, cativeiro e liberdade:
Rio de Janeiro, sculo XVII-XIX. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2005, p. 391-411.
9
FERREIRA SOBRINHO, Jos Hilrio. Catirina, minha nga, to querendo te vende...:
escravido, trfico e negcios no Cear do Sculo XIX (1850-1881). Fortaleza: SECULT/CE, 2011, p.
69-71.
10
APEC livro: 32B 1835 / 1843 registro de Correspondncia da Presidncia da Provncia com o
Ministrio da Justia. 1 de Outubro de 1835. Fls. 20v. 21. apud. FERREIRA SOBRINHO, ibid., p.
70-71.
138
11
OLIVEIRA, Almir Leal de; BARBOSA, Ivone Cordeiro (orgs.). Leis Provinciais: Estado e Cidadania
(1835-1861). Compilao das Leis Provinciais do Cear comprehendendo os annos de 1835 a 1861
pelo Dr. Jos Liberato Baroso. Ed. Fac-similada. Tomo 1. Fortaleza, INESP, 2009, P. 54-55
12
LINHARES, Juliana. Entre a Casa e a Rua: Trabalhadores pobres urbanos em Fortaleza (1871-
1899). Dissertao (Mestrado em Histria) Universidade Federal do Cear, 2011, p. 54.
139
13
OLIVEIRA, Almir Leal de; BARBOSA, Ivone Cordeiro (orgs.). Leis Provinciais: Estado e Cidadania
(1835-1861). Compilao das Leis Provinciais do Cear comprehendendo os annos de 1835 a 1861
pelo Dr. Jos Liberato Baroso. Ed. Fac-similada. Tomo 1. Fortaleza, INESP, 2009, p. 100.
14
SOUZA E MELO, Manoel Felisardo de. Falla que recitou o Exmo. Sr. Manoel Felzardo de Souza
e Mello presidente desta Provincia na occasio da Abertura da Assemblea Provincia no 1 de
Agosto do corrente anno. Fortaleza: Typ Constitucional, 1838, p. 40.
15
OLIVEIRA; BARBOSA, op. cit.
16
RAMOS, Xislei Arajo. Por trs de toda fuga, nem sempre h um crime: O recrutamento a
lao e os limites da ordem no Cear (1850-1875). Dissertao. (Mestrado em Histria)
Universidade Federal do Cear, 2003.
17
GUIMARES, Joaquim Mendes da Cruz. Relatrio com que Assemblea Legislativa provincial
do Cear Apresentou no dia da Abertura da sesso Ordinria de 1857, o excelentssimo Senhor
Coronel Joaquim Mendes da Cruz Guimares, 3. Vice-Presidente da mesma Provincia.
Fortaleza: Typ. Cearense, 1857, p. 20.
140
18
GUIMARES, Joaquim Mendes da Cruz. Relatrio com que o excelentssimo Senhor Vice-
presidente Joaquim Mendes da Cruz Guimares, entregou a adminitrao da Provincia ao
excelentssimo senhor doutor Joo Silveira de Souza, Presidente da Mesma, no dia 27 de julho
de 1857. Fortaleza: Typ. Cearense, 1857, p. 05.
19
As questes que envolvem as Companhias Auxiliadoras e a agricultura no sero objeto desse
trabalho. Para uma discusso realizada sobre esse aspecto ver: REIS JUNIOR, Darlan de
Oliveira. Senhores e trabalhadores no Cariri cearense: terra, trabalho e conflitos na segunda
metade do sculo XIX. 2014. 302 f. Tese (Doutorado) - Curso de Histria, Programa de Ps-
graduao em Histria Social, Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2014.
20
OLIVEIRA, Almir Leal de; BARBOSA, Ivone Cordeiro (orgs.). Leis Provinciais: Estado e Cidadania
(1835-1861). Compilao das Leis Provinciais do Cear comprehendendo os annos de 1835 a 1861
pelo Dr. Jos Liberato Baroso. Ed. Fac-similada. Tomo 3. Fortaleza, INESP, 2009, p. 148 e p. 300.
21
OLIVEIRA; BARBOSA, ibid., p.148.
141
22
OLIVEIRA, Almir Leal de; BARBOSA, Ivone Cordeiro (orgs.). Leis Provinciais: Estado e Cidadania
(1835-1861). Compilao das Leis Provinciais do Cear comprehendendo os annos de 1835 a 1861
pelo Dr. Jos Liberato Baroso. Ed. Fac-similada. Tomo 3. Fortaleza, INESP, 2009, p. 301-302.
23
OLIVEIRA; BARBOSA, ibid.
24
OLIVEIRA; BARBOSA, ibid, p. 316.
25
Idem. Leis Provinciais: Estado e Cidadania (1835-1861). Compilao das Leis Provinciais do
Cear comprehendendo os annos de 1835 a 1861 pelo Dr. Jos Liberato Baroso. Ed. Fac-similada.
Tomo 1. Fortaleza, INESP, 2009.
26
Sem percorrer o longo programa de pesquisa sugerido pelo historiador que envolve pesquisas
dos critrios de produo, dos meios de obteno de tecidos, dos tipos de costura e outros , buscou-
se problematizar os significados dos uniformes, assim, como de sua ausncia. ROCHE, Daniel. A
142
Cultura das Aparncias: uma histria da indumentria (Sculo XVII-XVIII). So Paulo: Ed. Senac,
2007.
27
RAMOS, Xislei Arajo. Por trs de toda fuga, nem sempre h um crime: O recrutamento a
lao e os limites da ordem no Cear (1850-1875). Dissertao. (Mestrado em Histria)
Universidade Federal do Cear, 2003, p. 100.
28
MELO, Evaldo Cabral de. O norte agrrio e o imprio (1871-1889). Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984.
29
PINHEIRO, Francisco Jos. A organizao do mercado de trabalho no Cear. 1850-1880.
Dissertao de Mestrado, CFCH - UFPE, Recife, 1990. Apud. RAMOS, op. cit., p. 30.
30
Guerra do Prata tambm conhecida como Guerra de Rosas e Guerra do Paraguai,
respectivamente. MELO, op.cit.
143
preo relativamente menor.31 Alm disso, o presidente afirmou que mandou engajar
outros trabalhadores na Alemanha calceteiros32 e canteiros33 e autorizou a
empresa Pacheco & Mendes a engajar mestres carpinteiros.34
Em 1860 novos trabalhadores chegavam cidade, agora engajados pela
firma maranhense Viva de Joo da Rocha Santos & Filhos que recebeu, pelos seis
trabalhadores engajados em Portugal, 1:328$215 ris, quantia de grande vulto para
a poca.35 Entretanto, ao que indica a manuteno da encomenda de pedras ao
comerciante Francisco Luiz de Vasconcellos, os desejados canteiros no foram
contratados.
Sobre a extrao de pedras no Meireles utilizadas no calamento da
cidade, o presidente Joo Silveira de Souza escreveu, em 1858:
Deste lugar [Meireles] meia legoa desta cidade, para o lado do Mocuripe
tem sido tiradas, e ali mesmo preparadas as pedras para as obras publicas,
de que acabo de fallar-vos. Para este fim estavo ahi empregados alguns
presos, e poucos trabalhadores, sem conhecimento algum daquele officio.
Alm da grande lentido com que esse servio era feito, as ditas pedras
chegavo a esta capital por um preo muito superior ao que terio se
viessem da Europa j promptas, Estas rases determinaro-me no s a
faser a encommenda acima referida, mas tambm mandar engajar na
Allemanha, alguns canteiros: por quanto a boa qualidade de pedra que se
extrae daquelle lugar, e da que existe em abundancia em outros prximos a
esta cidade, e a grande necessidade que ha dellas nas suas construces,
36
tornavao esta medida de muita vantagem e economia.
31
SOUZA, Joo Silveira de. Relatrio que Assemblea Legislativa Provincial do Cear
apresentou no dia da abertura da Sesso ordinrio de 1858, o Excelentssimo Senhor Dr. Joo
Silveira de Souza, Presidente da Mesma Provncia. Fortaleza: Typ Cearense, 1858, p. 14.
32
Trabalhador que realiza o calamento de ruas e travessas.
33
Artfice que lavra pedra.
34
SOUZA, Joo Silveira de. Relatrio que Assemblea Legislativa Provincial do Cear
apresentou no dia da abertura da Sesso ordinrio de 1858, o Excelentssimo Senhor Dr. Joo
Silveira de Souza, Presidente da Mesma Provncia. Fortaleza: Typ Cearense, 1858, p. 14-16.
35
Pedro II, 18 de Jan 1860, p. 2; Pedro II, 6 Ago 1860, p. 1.
36
SOUZA, Joo Silveira de. Relatrio que Assemblea Legislativa Provincial do Cear
apresentou no dia da abertura da Sesso ordinrio de 1858, o Excelentssimo Senhor Dr. Joo
Silveira de Souza, Presidente da Mesma Provncia. Fortaleza: Typ Cearense, 1858, p. 15.
37
CAVALCANTE, Jos Pompeu de Albuquerque. Relatrio do engenheiro das obras pblicas
provinciais. In.: PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Relatrio com que foi entregue a administrao
da provncia ao excelentssimo senhor doutor Francisco Igncio Marcondes Homem de Mello
pelo Excelentssimo senhor doutor Lafayette Rodrigues Pereira em 10 de junho de 1865.
Fortaleza: Typ. Brazileira de J. Evangelista, 1865, p. VIII.
144
38
Pedro II, 10 Nov 1858, p. 1.
39
Cearense, 28 Mar 1882, p. 3; Cearense, 30 maio 1882 p. 3; Constituio, 30 Mar 1882, p. 2.
40
MELO, Evaldo Cabral de. O norte agrrio e o imprio (1871-1889). Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984, p. 158.
41
possvel observar nos jornais Pedro II e Cearense nos meses de abril e maio de 1872 uma
intricada troca de acusaes sobre o fornecimento de pedras para o calamento da cidade que
escancara muitas dessas questes. Mais sobre a relao entre poltica e obras publicas, conferir:
MAIA NETO, Emy F. Tanta chuva e nenhum legume: Alagamentos, poltica e imprensa em
Fortaleza. (1839-1876). Revista do Arquivo Geral do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2014.
42
MELO, op. cit.
145
43
Transformada em Repartio de Engenharia e Direo de Obras Pblicas em 1867.
44
Esse regulamento dividia as obras e trabalhos pblicos em arrematao, contrato ou
administrao. No primeiro, a tesouraria provincial publicava o edital nos peridicos e os interessados
previamente habilitados e apresentando dois fiadores idneos arrematavam a obra como em um
leilo arrematava quem fizesse por menos. No segundo, muito utilizado na capital, o governo
provincial celebrava um contrato com um empresrio ou mestre para a realizao de determinada
obra ou estabelecimento de servio pblico. No ltimo, a repartio contratava os trabalhadores ou
grupos de trabalhadores e se encarregava de administrar a obra. Entre os dois ltimos, ficava o
sistema conhecido como empreita em que para cada tarefa se estabelecia previamente um valor a
ser pago pela obra com o grupo dos trabalhadores, supervisionado pelos engenheiros da provncia.
Os trabalhadores se concentravam em torno de um mestre que organizava os trabalhos,
supervisionava a realizao, tratava das negociaes e encomendas e recebia e distribua o
pagamento. Esse sistema dava aos trabalhadores maior autonomia no tempo trabalhado,
organizao das jornadas e negociaes monetrias. SOUSA, Joo Silveira de. Relatrio que
Assemblea legislativa Provincial do Cear Apresentou no dia da Abertura da Sesso Ordinria
de 1859, o Excelentssimo Senhor Dr. Joo Silveira de Sousa, Presidente da mesma provncia.
Fortaleza: Typ. Cearense, 1859, p. 14.
45
LEI N. 1.540 de 23 de Agosto de 1873. In.: CEAR. Colleco dos Actos Legislativos da
Provncia do Cear Promulgados pela respectiva Assemblea, no anno de 1873. Fortaleza: Typ.
Constitucional, 1874, p. 54. BPGMP / Microfilme.
46
Para Richard Sennett as cincias humanas precisam ir alm da viso que utiliza a cultura
material como um espelho das normas sociais e atentar para a possibilidade de se pensar nos
sentidos que atuam no processo de elaborao dos objetos. SENNETT, Richard. O Artfice. Rio de
Janeiro: Record, 2013, p. 18.
47
O presidente Joo Silveira de Sousa escreveu que demitiu trs calceteiros alemes, que havia
engajado recentemente, por mau comportamento. Infelizmente a documentao no aponta que
comportamento foi esse. SOUSA, Joo Silveira de. Relatrio que Assemblea legislativa
Provincial do Cear Apresentou no dia da Abertura da Sesso Ordinria de 1859, o
146
Excelentssimo Senhor Dr. Joo Silveira de Sousa, Presidente da mesma provncia. Fortaleza:
Typ. Cearense, 1859, p. 14.
48
Cearense, 1874 p. 2.
49
Obras pblicas. Cearense, 30 Abr 1874, p. 1.
50
Segundo Richard Sennet, a primeira se constitua em uma relao que envolvia autoridade, mas
tambm ensino. SENNETT, Richard. O Artfice. Rio de Janeiro: Record, 2013, p. 18.
51
THEBERGE, Henrique. Relatrio do Engenheiro das Obras Provinciais. In.: LEMOS, Francisco de
Farias. Falla com que o excelentssimo senhor desembargador Francisco de Farias Lemos,
presidente da provncia do Cear, abriu a 1 Sesso da 23 Legislatura da Assembla
Provincial no dia 1 de julho de 1876. Fortaleza: Typ. Cearense, 1876, p. 5.
147
aquillo que preciso para lhe dar jus ao mesquinho salario que lhe marca o
52
empreiteiro.
52
THEBERGE, Henrique. Relatrio do Engenheiro das Obras Provinciais. In.: LEMOS, Francisco de
Farias. Falla com que o excelentssimo senhor desembargador Francisco de Farias Lemos,
presidente da provncia do Cear, abriu a 1 Sesso da 23 Legislatura da Assembla
Provincial no dia 1 de julho de 1876. Fortaleza: Typ. Cearense, 1876, p. 5.
53
THEBERGE, ibid., p. 6.
54
LEMOS, Francisco de Farias. Falla com que o excelentssimo senhor desembargador
Francisco de Farias Lemos, presidente da provncia do Cear, abriu a 1 Sesso da 23
Legislatura da Assembla Provincial no dia 1 de julho de 1876. Fortaleza: Typ. Cearense, 1876.
55
LEMOS, ibid., p. 22-23.
148
56
Trabalho e no esmola. Cearense, 7 jun. 1877, p. 1. Um ms depois F. de Paula Pessoa Filho
enviou ao jornal um artigo com o mesmo ttulo e contedo similar. Trabalho e no esmola. Cearense,
12 jul. 1877, p. 1.
57
Cearense, 7 jun. 1877, p. 1.
58
Empedramento. Cearense, 3 maio 1877, p. 3; Melhoramentos materiais. Cearense, 6 maio 1877,
p. 2,
59
NEVES, Frederico de Castro. A Multido e a Histria: Saques e outras aes de massas no
Cear. Rio de Janeiro: Relume Dumar, 2000, p. 25.
60
ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. Nos destinos de fronteiras: histria, espaos e
identidade regional. Recife: Edies Bagao, 2008, p. 230.
61
Ver.: NEVES, op. cit.
62
BEZERRA, Jos Tansio Vieira. Quando a ambio vira projeto: Fortaleza, entre o progresso e o
caos (1846/1879). 2000. 190 f. Dissertao (Mestrado) - Curso de Histria, Programa de Ps-
graduao em Histria, Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 2000, p. 25 e 173.
149
69
Excluindo os distritos de Soure, Paraizinho, Trahiry, Siup, Mecejana, Arronches, Maranguape,
Pacatuba, Jubaia e Tubatinga que faziam parte da comarca de Fortaleza, mas no so diretamente
objetos dessa pesquisa.
70
HOMEM DE MELLO, Francisco Ignacio Marcondes. Relatrio Apresentado Assembla
Legislativa Provincial do Cear pelo Presidente da mesma provncia o Exm. Sr. Dr. Francisco
Igncio Marcondes Homem de Mello na 1 Sesso da 22. legislatura em 1. de Julho de 1866.
Fortaleza: Typ. Brasileira, 1866, p. 31
71
No perodo em que esse recenseamento foi realizado o municpio de Fortaleza era dividido em trs
freguesias S. Jos da Fortaleza, N. S. da Conceio de Mecejana e N. S. dos Prazeres de Soure.
Utilizaram-se apenas os dados referentes Freguesia de So Jos da Fortaleza, por contemplar a
regio pesquisada e abordada no censo anterior.
72
BRASIL / DGE. Recenciamento do Brasil Cear. 1872, p. 1-3. Disponvel em:
http://archive.org/details/recenseamento1872ce
73
FUNES, Eurpedes Antnio. Negros no Cear. In.: SOUZA, Simone (org.) Uma nova histria do
Cear. 2 Ed. Fortaleza: Demcrito Rocha: 2002, p. 113.
152
gua da Jacarecanga
Tainha do Coc
Cunhs de Parangaba
75
Farinha do Tipui.
74
Encanamento do Bemfica. Cearense, 18 Maio 1866, p. 1.
75
ALEMO, Francisco Freire. Dirio de Viagem de Francisco Freire Alemo (1859-1861).
Fortaleza: Fundao Waldemar Alcntara, 2011, p. 38.
76
ALEMO, loc. cit.
154
77
CAPANEMA, Guilherme S. de. Apontamento sobre secas do Cear [1978]. In.: __________.
Estudos Sobre Seca. Fortaleza: Museu do Cear, 2006, p. 159.
78
Lei n. 604 de 5 de Novembro de 1852. [p. 329]
79
CEAR. Resoluo n 1032 de 21 de setembro de 1862. In.: __________. Colleco de leis da
provncia do Cear. Fortaleza: Typographia Cearense, 1863, p. 43. BPGMP / Setor de microfilmes.
80
CEAR. Resoluo n 1936 de 22 de dezembro de 1868. In.: __________. Colleco das leis da
provncia do Cear de 1868. Fortaleza: Typ. Cearense, 1869, p. 23. BPGMP / Setor de microfilmes.
155
81
Publicaes solicitadas: gua Potvel. Cearense, 8 Jul. 1868, p. 3.
82
RONCAYOLO, Marcel. Transfiguraes noturnas da cidade: o imprio das luzes artificiais. Projeto
Histria, So Paulo, v. 18, p.97-101, Mai 1999, p. 98.
83
Publicaes Sollicitadas: Ns tambm bebemos. Cearense, 10 Jul. 1868, p. 3.
84
Agua do Bemfica / D'este manancial no goso eu, e mais habitantes d'esta rua do Quartel.
Publicaes Solicitadas: guas do Bemfica. Cearense, 25 Nov. 1868, p. 4.
156
85
Pergunta-se ao Illm. Sr. gerente da Companhia Bemfica qual a raso porque os moradores da rua
do Chafariz deixo de ter gua comprada desta Companhia. A Illm. Cmara prohibio aos particulares
a venda dagua, porque? Porque h uma companhia dagua para abastecer a cidade. Naquella
malfadada rua desde o dia 17 do corrente [ms] no aparece a tal carroa com agua, se os
conductores no sabem cumprir com suas obrigaes, os despeo, e empreguem pessoa que
saibo cumpril-as, visto que a agua um dos alimentos bem necessrio a humanidade. Pedidos.
Pedro II, 22 Out. 1868, p. 3-4.
86
O texto a resposta a uma solicitao publicada no Pedro II. Contudo, a melhor edio disponvel
est mutilada. Publicaes Sollicitadas: Resposta. Cearense, 23 de Out. 1868, p.3.
157
87
Companhia Bemfica. Cearense, 11 Jan 1871, p. 2.
88
Companhia Bemfica. Cearense, 15 Jan 1871, p. 2.
89
Bemfica, Cearense. 18 jan 1871, p. 3.
90
Bemfica, Cearense. 18 jan 1871, p. 3.
91
Cearense, 10 Dez. 1870, p. 3; e segs.
92
Cearense, 26 Out. 1870, p. 4; e segs.
158
93
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino, Liceu do Cear e
Consulado da China. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 337.
94
CAMPOS, Eduardo. O Inventrio do Quotidiano: Breve memria da cidade de Fortaleza.
Fortaleza: Edies Fundao Cultural de Fortaleza, 1996, p. 53.
95
CAMPOS, Eduardo. A Volta do Inquilino do Passado segunda locao. Fortaleza: Casa Jos
de Alencar/ Programa Editorial, 1998, p. 45.
159
96
BARROSO, Gustavo. Mississipi. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1961
97
RONCAYOLO, Marcel. Cidade. In: ROMANO, Ruggiero (dir). Enciclopdia Einaudi. Vol. 8. Lisboa:
Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 1986.
98
ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma historia dos costumes. Vol. 1. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1994, p. 69-73.
99
Lei n. 583 de Outubro de 1852 Approvando arts. de posturas da camara municipal da cidade da
Fortaleza, ns. l a 4. OLIVEIRA, Almir Leal de; BARBOSA, Ivone Cordeiro (orgs.). Leis Provinciais:
Estado e Cidadania (1835-1861). Compilao das Leis Provinciais do Cear comprehendendo os
160
publicado no jornal Pedro II em 1874, ainda gerava atritos mais de vinte anos
depois, destarte os inconvenientes que resultam desse modo de fazer despejo
dessas guas.100
Por quanto muitas vezes ellas alcanam algumas pessoas que passam
pelas caladas e as deixam em estado deplorvel e com as roupas
101
estragadas, alem de poderem ocasionar molstias.
annos de 1835 a 1861 pelo Dr. Jos Liberato Baroso. Ed. Fac-similada. Fortaleza, INESP, 2009, p.
297.
100
Aguas servidas. Pedro II, 7 jun 1874, p. 1.
101
Aguas servidas. Pedro II, 7 jun 1874, p. 1.
102
Aguas servidas. Pedro II, 28 jun 1874, p. 2.
103
Resoluo n. 1162 de 3 de agosto de 1865. Colleco das Leis da Provncia do Cear.
Fortaleza: Typ. Cearense, 1865, p. 62-83.
Resoluo n. 1162 de 3 de agosto de 1865.
161
104
J. P. H. Comunicado: Limpeza da cidade, Cearense, 17 dez 1865, p. 2.
105
HOMEM DE MELLO, Francisco Ignacio Marcondes. Relatrio Apresentado Assembla
Legislativa Provincial do Cear pelo Presidente da mesma provncia o Exm. Sr. Dr. Francisco
Igncio Marcondes Homem de Mello na 1 Sesso da 22. legislatura em 1. de Julho de 1866.
Fortaleza: Typ. Brasileira, 1866, p. 31
162
106
[Editorial], O Cearense, 15 Jan. 1861, p. 1.
107
CEAR. Resoluo n. 1,365 de 30 de novembro de 1870. Colleco das Leis da Provncia do
Cear de 1870. Fortaleza: Typ. Cearense, 1870.
108
Resoluo n. 1,365 de 30 de novembro de 1870. CEAR. Colleco das Leis da Provncia do
Cear de 1870. Fortaleza: Typ. Cearense, 1870.
163
109
Autor desconhecido
109
In.: GIRO, Raimundo. Geografia esttica de Fortaleza. Fortaleza: BNB, 1979, p. 228.
110
BARROSO, Gustavo. Memrias Corao de Menino [1939], Liceu do Cear [1940] e Consulado
da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 110 111.
164
111
AZEVEDO, Otaclio. Fortaleza Descala. Fortaleza: Edies UFC, p. 129.
112
CAMINHA, Adolfo. A Normalista [1893]. Fortaleza: ABC Editora, 2005, p. 98.
113
LESSA NETA, Benigna Soares. A menina e a provncia: a espera do progresso no romance A
Normalista, de Adolfo Caminha. 2011. 104 f. Dissertao (Mestrado em Letras) - Universidade
Federal do Cear, Fortaleza, 2011, p.65-68.
165
114
AZEVEDO, Snzio de. A Normalista, romance cearense [introduo]. In.: CAMINHA, Adolfo. A
Normalista [1893]. Fortaleza: ABC Editora, 2005.
115
LIMA, Zilda Maria de Menezes. A cidade de Fortaleza na literatura do sculo XIX. In.: NEVES,
Frederico de Castro; SOUZA, Simone de (orgs.). Comportamentos. Fortaleza: Demcrito Rocha,
2002, p. 44.
116
AZEVEDO, Otaclio. Fortaleza Descala. Fortaleza: Edies UFC, p. 129-130.
117
AZEVEDO, loc. cit.
166
118
BARROSO, Gustavo. Memrias Corao de Menino [1939], Liceu do Cear [1940] e Consulado
da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 110-111.
119
BARROSO, Gustavo. Mississipi. Rio de Janeiro: Edies O Cruzeiro, 1961, p. 113.
120
AZEVEDO, Otaclio. Fortaleza Descala. Fortaleza: Edies UFC, p. 130.
167
121
O Cdigo de Posturas da Camara Municipal de Fortaleza de 1879 resoluo N 1818 de 1 de
Fevereiro de 1879 In.; Actos Legislativos da Provncia do Cear: promulgado pela respectiva
Assembleia no anno de 1878. Fortaleza: Typographia do Mercantil, 1879, p.103-126.
122
KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil Travels in Brazil. So Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1942, p. 164. Disponvel em: http://www.brasiliana.com.br/obras/viagens-ao-
nordeste-do-brasil/ Acesso em: 10 jul. 2014.
123
DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e poder em So Paulo no sculo XIX. 2 Ed. So
Paulo: Brasiliense, 1995, passim.
124
DIAS, Ibid., p. 17.
168
Para encontrar esses papeis informais, dos quais falou Maria Odila,
preciso estar alerta [...] saber onde buscar e como olhar.125 Apesar da histria no
se limitar apenas s fontes escritas, estas continuam sendo seu porto seguro,
principalmente quando se debrua sobre determinados perodos. Nesse sentido,
mudanas ocorridas dentro do campo, como a circularidade de documentos e fontes
com edies fac-similares ou disponibilizada na rede mundial de computadores
possibilitam um acesso pouco imaginado anos atrs e que permitem avanar em
alguns temas at ento nebulosos para o historiador. Sendo assim, os cdigos que
buscavam normatizar determinadas atividades so os principais vestgios de
algumas prticas, entre elas a pesca principalmente no perodo pesquisado.
Assim, a ordenana de 26 de outubro de 1811, oportuna para se conhecer alguns
aspectos da pesca em Fortaleza:
1 que todos os jangadeiros sero obrigados todos os dias a ir pescar com
suas jangadas ao mar e isto a horas competentes, salva quando o tempo for
tal, que eles de fora no possam ir ao mar; debaixo das penas de 30 dias
de cadeia, cada um dos jangadeiros;
2 que para execuo deste artigo primeiro, elegem e determinam que um
dos jangadeiros de mais porte e capacidade seja cabo, a quem todos os
outros jangadeiros respeitaro e obdecero, como oficial de justia, ficando
este cabo obrigado a fazer sobreditos jangadeiros irem pescar no mar,
assim como pertence tambm a este cabo decidir se os ventos e o tempo
so favorveis ou no dita pescaria, para que a Camara lhe mandar
passar o seu alvar e gozar de todos os privilgios e imunidades de que
gozam os meirinhos, com declarao porm que toda omisso que tiver
sobredito cabo no seu oficio ser castigado com 30 dias de priso e desde
j nomeia para cabo dos jangadeiros Antonio Raimundo do Nascimento
126
etc.
125
DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e poder em So Paulo no sculo XIX. 2 Ed. So
Paulo: Brasiliense, 1995, p. 51.
126
Ordenana de 26 Out. 1811 Apud. DANTAS, Eustgio W. C. Mar vista: estudo da maritimidade
em Fortaleza. Fortaleza: Museu do Cear, 2002, p. 23-24.
127
OLIVEIRA JUNIOR, Gerson Augusto. O Encanto das guas: a relao dos Trememb com a
natureza. Fortaleza: Museu do Cear, 2006, p. 47-51.
170
128
O pescador Jacar conhecido pelo raid realizado de Jangada de Fortaleza ao Rio de Janeiro
apontava essa peculiaridade da pesca no litoral da cidade. Entrevista concedida por Jacar ao jornal
A Manha. Apud. ABREU, Berenice. O raid da Jangada So Pedro: pescadores, Estado Novo e luta
por direitos. Niteri, 2007. 256 f. Tese (doutorado). Instituto de Cincias Humanas, Departamento de
Histria, Programa de Ps-Graduao em Histria. (Universidade Federal Fluminense), p. 41.
129
Ordenana de 26 Out. 1811 Apud. DANTAS, Eustgio W. C. Mar vista: estudo da maritimidade
em Fortaleza. Fortaleza: Museu do Cear, 2002, p. 24.
130
No se obteve registros de tcnicas alm da salga de conservao do pescado na cidade.
131
BRASIL, Thomaz Pompeo de Sousa. Ensaio Estatstico da Provncia do Cear. V1. Fortaleza:
Typ. de B. de Mattos, 1863, p. 215.
132
GIRO, Blanchard. Mucuripe: de Pinzn ao Padre Nilson. Fortaleza: Demcrito Rocha, 1998.
CAMPOS, Eduardo. O inquilino do Passado: Memria urbana e artigos de afeio. Fortaleza: Casa
Jos de Alencar/Programa Editorial, 1998.
171
133
Coleo das Leis do Imprio do Brasil de 1827. Parte 1. Rio de Janeiro: Typ Nacional, 1878, p. 54-
65. In.: BONAVIDES, Paulo; AMARAL, Roberto. Textos Polticos da Histria do Brasil. 3 Edio.
Braslia: Senado Federal, 2002, p. 866 878.
134
Posturas da Cmara Municipal da Cidade de Fortaleza, aprovadas pela Assembla Legislativa
Provincial em 5 de junho de 1835. Apud. CAMPOS, Eduardo. A Fortaleza provincial: rural e urbana
(introduo ao estudo dos cdigos de postura de 1835, 1865, 1870 e 1879). Fortaleza: Secretaria de
Turismo Cultura e Desporto, 1988.
135
QUEIROZ, Priscilla Rgis Cunha de. Trabalho e Cotidiano: produo e comrcio de gneros
alimentcios em Fortaleza, no final do XIX e incio do sculo XX. Fortaleza, 2011. passim.
136
Posturas da Cmara Municipal da Cidade de Fortaleza, aprovadas pela Assembla Legislativa
Provincial em 5 de junho de 1835. Apud. CAMPOS, Eduardo. A Fortaleza provincial: rural e urbana
172
(introduo ao estudo dos cdigos de postura de 1835, 1865, 1870 e 1879). Fortaleza: Secretaria de
Turismo Cultura e Desporto, 1988.
137
NOGUEIRA, Paulino. Vocabulrio indgena em uso na provncia do Cear, com explicaes
etymologicas, orthographicas, topographicas, histricas, teraputicas, etc. In.: Revista do Instituto
do Cear. Fortaleza: Typ. Econmica, 1887, p. 418 - 419.
138
JORGE, Janes. A pesca na cidade de So Paulo, 1890-1940. Histrica (Online), So Paulo, v. 47,
2006, p. 1.
139
JORGE, ibid., p. 5.
140
Janes Jorge cita que em So Paulo se elaborava uma farinha de peixe.
141
DANTAS, Eustgio W. C. Mar vista: estudo da maritimidade em Fortaleza. Fortaleza: Museu do
Cear, 2002, p. 18-19.
173
142
DANTAS, Eustgio W. C. Mar vista: estudo da maritimidade em Fortaleza. Fortaleza: Museu do
Cear, 2002.
143
Posturas da Cmara Municipal da Cidade de Fortaleza, aprovadas pela Assembla Legislativa
Provincial em 5 de junho de 1835. Apud CAMPOS, Eduardo. A Fortaleza provincial: rural e urbana
(introduo ao estudo dos cdigos de postura de 1835, 1865, 1870 e 1879). Fortaleza: Secretaria de
Turismo Cultura e Desporto, 1988.
144
OLIVEIRA, Almir Leal de; BARBOSA, Ivone Cordeiro (orgs.). Leis Provinciais: Estado e
Cidadania (1835-1861). Compilao das Leis Provinciais do Cear comprehendendo os annos de
1835 a 1861 pelo Dr. Jos Liberato Barroso. Ed. Fac-similada. Fortaleza, INESP, 2009.
174
recorrncia, tem-se uma ideia de que a quantidade de peixes nas lagoas e rios de
guas doces da cidade estava diminuindo drasticamente.
Em seus livros de reminiscncias, Gustavo Barroso dedicou vrias
pginas s pescarias e ao convvio com pescadores. Porm, quando se tratava de
gua doce, registrou apenas a pesca de camares pitus e canelas nos riachos
da cidade Paje e Macei.145 possvel que os usos que os citadinos faziam
dessas aguadas tenham ocasionado a drstica diminuio da oferta de peixes a
ponto de ter se tornado irrelevante j no final do sculo XIX.146
Em 1852 foi sancionada uma lei que criava as companhias de
pescadores. Eis a legislao:
Art. 1. O governo fica autorisado a crear oito companhias de pescadores,
que sero exclusivamente destinadas pesca nos lugares: Prainha desta
cidade, Mucuripe, Iguape, Cana-quebrada, Aquiraz, Parazinho, Pessem e
Mundah.
Art. 2. Para cada uma das companhias o governo nomear um
commandante, que entenda de pescarias, devendo este residir o mais
proximo que for possivel do porto das jangadas.
Art. 3. Estas companhias sero compostas dos actuaes pescadores, e dos
individuos que nellas se quizerem matricular, comtanto que no exceda do
numero que abaixo se declara.
Art. 4. A primeira companhia, que ser a da Prainha desta cidade, se
compor de cento e trinta a cento e quarenta pessoas, a segunda de
sessenta a oitenta, a terceira de cincoenta a sessenta, a quarta de sessenta
a oitenta, a quinta de cincoenta,a sexta de quarenta, a setima de cincoenta,
e a oitava de setenta.
(...)
Art. 8. O governo fica autorisado a dar um regulamento para as
companhias, afim de que se torno effectiva e regular a pesca.
147
Art. 9. Fico revogadas todas as Leis e disposies em contrario.
145
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu do
Cear [1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 33.
146
H atualmente aguadas piscosas dentro de Fortaleza. Contudo, no perodo estudado, eram
consideradas distantes. Alm disso, houve como parte das polticas de combate a seca o
repovoamento de algumas lagoas da cidade. Sobre isso, seria necessria pesquisa especfica que
foge ao recorte e as intenes iniciais desse trabalho.
147
OLIVEIRA, Almir Leal de; BARBOSA, Ivone Cordeiro (orgs.). Leis Provinciais: Estado e
Cidadania (1835-1861). Compilao das Leis Provinciais do Cear comprehendendo os annos de
1835 a 1861 pelo Dr. Jos Liberato Barroso. Ed. Fac-similada. Fortaleza, INESP, 2009.
148
Pedro II, 20 Ago. 1859, p. 1.
149
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Cidades visveis, cidades sensveis, cidades imaginrias. Revista
Brasileira de Histria, So Paulo, vol.27, n.53, Jan./Jun. 2007, p. 17.
175
150
Sobre o temor da populao em relao aos recrutamentos ver: SECRETO, Maria Vernica.
(Des)medidos: a revolta dos quebra-quilos (1874-1876). Rio de Janeiro: Maud X: Faperj, 2011.
151
BRASIL / DGE. Recenciamento do Brasil Cear. 1872, p. 1-3. Disponvel em:
http://archive.org/details/recenseamento1872ce
152
BRASIL / DGE. Recenciamento do Brasil Cear. 1872, p. 1-3. Disponvel em:
http://archive.org/details/recenseamento1872ce
153
Idem.
176
159
KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil Travels in Brazil. So Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1942, p. 165; MENEZES, Luiz Barba Alardo de. Memria da Capitania do Cear.
In.: Revista Trimensal do Instituto Histrico, Geographico e Ethnographico do Brasil. Rio de
Janeiro: B. L. Garnier, 1878, p. 261; O Cearense, 20 mar 1848, p. 4.
160
CEAR. Resoluo N 1682, de 2 de setembro de 1875. In.: Colleo dos Actos Legislativos da
Provncia do Cear Promulgados pela respectiva Assembla no anno de 1875. Fortaleza: Typ.
Constitucional, 1875. Microfilme / BPGMP.
178
161
PERROT, Michelle. Os Excludos da Histria: Operrios, mulheres, prisioneiros. Rio de Janeiro,
Paz e Terra, 1988, p. 227.
162
Foi encontrado trs anncios de oferecimento de servio de engomadeira.
163
Pedro II, 15 Nov 1859, p. 4; Pedro II, 3 Jan 1861, p. 4; Cearense, 19 Nov. 1869, p. 4; Cearense,
17 Dez. 1872, p. 3; Cearense, 17 Maio 1876, p. 4.
164
O Cearense, 2 Fev. 1847, p. 4; Cearense, 14 Fev. 1871, p. 4.
165
Cearense, 15 Out. 1865, p. 3; Cearense, 20 Set. 1871, p. 3; Cearense, 11 Maio 1873, p. 6.
166
Cearense, 9 Jul. 1869, p. 3.
167
Annuncios. Cearense, 15 Out. 1865, p. 3.
179
bons costumes, moa, boa figura que saiba lavar e engomar, ou que seja
boa cozinheira; quem quizer vender dirija-se esta typographia, que se dir
168
quem quer.
Para Alugar.
Nesta typographia se dir quem tem para alugar boas escravas,
169
cosinheiras, engomadeiras, lavadeiras e de boa conducta.
Essa supresso pode indicar que esse comrcio passou a ser mal visto e
que as pessoas interessadas prefeririam no ter o nome publicado nos jornais, mas
continuavam utilizando o servio de lavadeiras escravas alm de cozinheiras,
engomadeiras e outros servios domsticos mas tambm de livres.
Entre os setenta e dois sobrados listados no Arrolamento de 1887, em
apenas um se declarava residir uma lavadeira, na condio de agregada, de nome
Jlia.170 No sobrado localizado na Rua Formosa vivia o negociante Joaquim lvares
Garcia, sua esposa Adelaide Coelho da Fonseca e Garcia, seus sete filhos (com
idades entre 6 e 18 anos), trs parentes (com idades de 20, 16 e 10 anos), quatro
agregados (Luzia com 10 anos, Jos com 12 anos e Raimunda com 20 e Jlia com
45, o trs primeiros com a profisso de servios domsticos) e o caixeiro Jos Lino
de Arruda (25 anos).171
Maria Sylvia de Carvalho Franco, aponta que a relao dos patres com
os agregados se constituam no final do perodo imperial a partir de um forte
carter pessoal, construdos por intermdio de laos de dependncia.172 Contudo, a
condio de agregado possibilitava uma mobilidade para prestar servios para
outros patres.173 Tese problematizada por Hebe Mattos de Castro, para quem essa
mobilidade merece ser mais diretamente questionada.174
No caso citado, preciso levar em considerao que, entre os agregados,
Jlia era a nica que possua uma especializao: lavadeira. A lavagem de roupa
tambm era um servio domstico (que poderia ser realizado dentro ou fora das
168
Annuncios. Cearense, 14 Fev. 1871, p. 4.
169
Annuncios. Cearense, 11 Maio 1873, P. 6.
170
VITAL, Olympio Manoel dos Santos (Org.). Arrolamento da populao da cidade de Fortaleza.
Localizao: Arquivo Pblico do Estado do Cear (APEC), Secretaria de polcia, n 355,
arrolamentos, 1887.
171
VITAL, Olympio Manoel dos Santos (Org.). Arrolamento da populao da cidade de Fortaleza.
Localizao: Arquivo Pblico do Estado do Cear (APEC), Secretaria de polcia, n 355,
arrolamentos, 1887, p. 20.
172
FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. 4. ed. So Paulo:
Ed. UNESP, 1997, p. 100.
173
FRANCO, Ibid, p. 100.
174
CASTRO, Hebe Maria Mattos de. Ao sul da histria: os lavradores pobres na crise do trabalho
escravo. 2 Ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2009, p. 61.
180
casas, sendo o segundo mais usual). Assim, presume-se que a distino era obtida
pela especializao e essa particularizao que lhe possibilitava fazer jus a
alguma mobilidade, alugando o seus trabalhos (o que, possivelmente, Luiza, Jos e
Raimunda no tinham). Jlia deveria ser a responsvel pela roupa dos moradores
do sobrado, mas tambm a de outras casas.
Alm de Jlia, o Arrolamento apontou outras lavadeiras que viviam na
condio de agregadas. Outras tinham agregados como era o caso de Maria de
Nazar do Espirito Santo (42 anos), lavadeira, que vivia em uma casa na Rua da
Praia com seu cnjuge Antnio (56 anos, cego e mendigo), seu agregado Francisco
(10 anos) e Maria Luiza da Conceio (23 anos apontada como meretriz).175
Utilizando mais um pouco da imaginao histrica plausvel pensar que Francisco
servisse de guia a Antnio em sua mendicncia. Todavia, no h qualquer
referncia relao de Maria Luiza com os demais moradores da casa.
J Cndida Maria da Conceio (50 anos) vivia como agregada na casa
de Josepha Maria Assuno (22 anos), solteira, me de Jos (7 anos), apontada
como Meretriz.176 Alm de Josepha e Maria Luiza outras mulheres eram
classificadas como meretrizes pelos arroladores, algumas delas lavadeiras, mas
tambm costureiras, tecedeiras e outras ocupaes.
Conforme j se discutiu, o Arrolamento de 1887 foi organizado pelo chefe
de polcia e seus subordinados mais prximos com o intuito de fornecer subsdios s
polticas pblicas. Assim, ele foi elaborado para ser utilizado como uma ferramenta
na administrao. Nos meses posteriores a publicao do Arrolamento, encontrou-
se nos peridicos pesquisados relatos de cidados que perderam o direito ao voto
por ter sido listado como agregado, de filhos que foram tirados do convvio das mes
meretrizes e muitas reclamaes sobre os dados referentes ao trabalho domstico.
No arrolamento tem lugar a opinio e a moral de diversos sujeitos: dos chefes de
fogo responsveis pelas respostas , mas tambm dos recenseadores.
Em 1865 um correspondente do jornal Cearense escreveu:
O no consentimento de pessoas moas venderem peixe.
Ha muitos velhos que se pem margem; e at essas muitas mulheres,
vindas do centro acompanhando praas para o exercito expedicionrio.
Porque no se lhes d a preferencia, arredando esses moos que podiam
entregar-se a outros misteres?
175
VITAL, Olympio Manoel dos Santos (Org.). Arrolamento da populao da cidade de Fortaleza.
Localizao: Arquivo Pblico do Estado do Cear (APEC), Secretaria de polcia, n 355,
arrolamentos, 1887.
176
VITAL, ibid.
181
177
Lembranas que no ofendem. Cearense. 1 Dez. 1865, p. 3.
178
BARROSO, Gustavo. Mississipi. Rio de Janeiro: Edies O Cruzeiro, 1961, p. 98.
179
ESTEVES, Martha de Abreu. Meninas perdidas: os populares e o cotidiano do amor no Rio de
Janeiro da Belle poque. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989, p. 37.
182
Em outro trecho:
Marcelina, que era to faceira e vem com a filha mais velha bater roupa ao
p do poo l de baixo no duvido mais de que estou nos meus quinze
anos, nos meus dezoito anos, o corao batendo mais ligeiro viso das
moreninhas bonitas dos arredores, como essa que agora estende a roupa
no coradouro, o jeito leve e o passo gracioso, ou, os braos no ar, levando-a
181
s cordas de secar, num todo que tem muito de ballet.
180
LIMA, Herman. Imagens do Cear. 2 ed. Fortaleza: UFC/Casa de Jos de Alencar, 1997, p.12-
13.
181
LIMA, ibid., 1997, p.29.
182
JORGE, Janes. Tiet, o rio que a cidade perdeu: o Tiet em So Paulo 1890 1940. So Paulo:
Alameda, 2006, p. 120.
183
183
Est tudo a retrucava a Isabelzinha (...)
183
CAMPOS, Eduardo. A Volta do Inquilino do Passado. Fortaleza: Edies UFC / Casa de Jos
de Alencar, 1998, p. 34-35.
184
CAMPOS, ibid., p. 35-36.
184
ao trabalho das lavadeiras. Como as lavadeiras atendiam a mais de uma casa era
possvel que algumas roupas, eventualmente, fossem trocadas, gerando alguma
confuso. Alm disso, as roupas eras bens passveis de furtos.
Anos antes se publicou dois anncios envolvendo furtos de roupas. Em
1867:
Domingo 27 de outubro entre as 7 e 8 horas da tarde foi roubado do abaixo
assignado uma poro de roupa dos seus filhos de 6, 7, 9 e 11 annos sendo
cada uma pea marcada com os nomes de Max, Otto, e Adolfou Georg ou
as iniciaes d'elles, roupa de homem sendo camisas com a marca H. K.
palet e colete de baetilha branca como se usa em Pernambuco, colete cor
de cinza sem botes, um vestido de seda encorpada de cr roxo fino, um
dito de seda lavrada cr de caf, um chal de gara branco e rouxo, um
chal de seda da China branco bordado de seda uma manta de bicos de
Bruxellas e muitos outros objectos de roupa.
(...)
Qualquer noticiado roubo ser generosamente recompensada e por cada
um dos ladres entregues a policia paga-se uma gratificao de cincoenta
mil reis.
Cear, 13 do novembro de 1867.
185
Henrique Kalkmann.
No ano seguinte:
GRATIFICAO DE 50$000.
Furtaram do poder de uma lavandeira no Taupe na noite de 24 para 25 do
passado, uma poro de roupa branca de senhora e de homem, marcada
da segunda maneira M. B. Henry Brocklehurst, e Ellen Hutchings. D se
a gratificao acima a quem descobrir.
Cear, 2 de maio de 1868.
186
Henrique Brocklehurst.
185
Roubo. Cearense, 20 Nov. 1867, p. 4.
186
Annuncios. Cearense, 31 Maio 1868, p. 4.
185
No texto, o autor escreveu alguns aspectos do que ele viu e ouviu, mas
tambm, possivelmente, imaginou sobre a conversa das lavadeiras. Porm, esses
aspectos tambm so domnios passveis de interesse do historiador. Assim, a
187
Grifou-se. Moralidade Pblica. Cearense, 2 Abr. 1871, p. 1-2.
188
Segundo o artigo 74 das Posturas de 1844 era proibido a lavagem de roupa nos lugares que no
tem esgotadouros que offereo uma corrente perene, do de 1867 era proibia lavar roupa de
pessoas accommettidas de bexigas, ou de qualquer outra molstias epidmica, e em todos os
ribeiros de Jacarecanga, excepto em sua foz e no de 1870, mantido nas posturas seguintes, proibia
lavar roupa de pessoas accommettidas de molstias contagiosas em outro lugar, que no seja a foz
do ribeiro denominado Jacarecanga.
189
BARROSO, Gustavo. Mississipi. Rio de Janeiro: Edies O Cruzeiro, 1961, p. 74.
186
190
BARROSO, Ibid., p. 7.
191
PAIVA, Manuel de Oliveira. A Afilhada [1989]. In.: __________. Obra Completa. Rio de Janeiro:
Graphia Editorial, 1993, p. 201.
187
192
Cearense, 12 Dez. 1867, p. 3.
193
CAMPOS, Eduardo. A Volta do Inquilino do Passado. Fortaleza: Edies UFC / Casa de Jos
de Alencar, 1998, p. 47.
CAPTULO 4 A GUA QUE LIMPA E LEVA.
1
ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz. Nos destinos de fronteira: histria, espao e identidade
regional. Recife: Bagao, 2007, p. 88.
189
Vicente, correndo ainda, foi sala de jantar, escancarou a janela que dava
para o curral.
(...)
Sofregamente, o rapaz estendeu a cabea fora da janela. Entreabriu os
lbios, recebendo no rosto, na boca, a umidade bendita que chegava.
E longamente ali ficou, sorvendo o cheiro forte que vinha da terra,
2
impregnado dum calor de fecundao e renovamento (...).
2
QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. 92. ed. Rio de Janeiro, RJ: Jos Olympio, 2011, p. 139.
3
WILLIAMNS, Raymond. O campo e a cidade: na histria e na literatura. So Paulo: Companhia das
Letras, 2011, p. 471.
190
5
Segundo o autor, o casaro foi demolido, por obras da picareta das modernizaes, em 1934.
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu do Cear
[1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 95.
6
MENEZES, Antonio Bezerra de. Descrio da cidade de Fortaleza. Fortaleza: Edies UFC, 1992,
p. 37.
7
BRASIL, Thomaz Pompeo de Sousa. Ensaio Estatstico da Provncia do Cear. Tomo II.
Fortaleza: Typ. de B. de Mattos, 1864, p. 22.
8
Resumo do Arrolamento da populao da cidade da Fortaleza, capital da provncia do Cear,
procedido em Agosto de 1887. O Cearense, 06 nov 1887, p. 2.
192
9
ANDRADE, Margarida Julia Farias de Salles. Fortaleza em perspectiva histrica: poder e
iniciativa privada na apropriao e produo material da cidade (1810-1933). 2012. 279 f. Tese
(Doutorado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de So Paulo, So Paulo, 2012, p. 83.
10
CERTEAU, Michel de. A inveno do Cotidiano: artes de fazer. Petrpolis, RJ: Vozes, 1994.
11
ROCHE, Daniel. Histria das coisas Banais: nascimento do consumo do sculo XVII ao XIX. Rio
de Janeiro: Rocco, 2000, p. 13.
12
Em suas memrias, Gustavo Barroso cita a existncia de caixa de gua e cata-vento na Praa da
Lagoinha. BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu
do Cear [1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 177.
13
No se encontrou outro anncio nesse intervalo. Cearense, 6 Dez. 1861, p. 4.
193
ordinrias e nem baratas por esses idos a ponto de valer a pena o trabalho.
Possivelmente as bombas tinham uso restrito s casas de alguns abastados e a
prdios pblicos como a Santa Casa e o Palcio da Presidncia.14
Segundo Raimundo Giro, no incio do sculo XIX:
Continuava a cidade a suprir-se do precioso liquido retirando-o de cacimbas
escavadas nos quintais das casas e elevado por moinhos de vento a
rodarem desesperadamente dia e noite. Pelo seu crescido nmero, s
centenas, ofereciam esses cataventos sugestivo aspecto a quem
observasse a cidade de qualquer ponto mais saliente. Em geral, eram de
fabricao norte-americana, quase todos dos tipos Dandy e IXL. A gua
potvel, de mais confiana do povo, a gua de beber era distribuda pelas
residncias em cargas de quatro ancoretas ou canecos, transportadas por
jumentos, o que dava ao turista singular impresso, fazendo-os por em usos
15
as suas codaques para os flashes mais interessantes.
Todos sabiam que, no Alto, o cacimbo era a fonte dos pobres. Era de l
que eles tiravam agua para beber, para cozinhar o feijo, para aguar os
canteiros. (...) E justamente naquele dia Clementino achou de mandar
aterrar o cacimbo. Estava em terras dele, ele era o dono, podia fazer o que
quisesse. Nem se lembrou que esse seu gesto seria o maior martrio
imposto aos antigos companheiros, porque era de l que todos bebiam, o
cacimbo era to necessrio que eles nunca pensaram que isso
17
acontecesse.
14
O Hospital contava como trs poos, bombas e cata-vento que custou 20:000$000. MENEZES,
Antonio Bezerra de. Descrio da Cidade de Fortaleza [1895]. Fortaleza: Edies UFC, 1992, p. 78.
15
GIRO, Raimundo. Geografia Esttica de Fortaleza. 2 Ed. Fortaleza: Banco do Nordeste do
Brasil, 1979, p. 227.
16
MARTINS, Fran. Ponta de Rua [1937]. 2 Ed. Fortaleza: Casa de Jos de Alencar / UFC, 1999, p.
121-122.
17
MARTINS, Fran. Ponta de Rua [1937]. 2 Ed. Fortaleza: Casa de Jos de Alencar / UFC, 1999, p.
146.
18
MACEDO, Dimas. Prefcio. In.: MARTINS, Fran. Ponta de Rua [1937]. 2 Ed. Fortaleza: Casa de
Jos de Alencar / UFC, 1999, p. 8.
194
19
MARTINS, Fran. Ponta de Rua [1937]. 2 Ed. Fortaleza: Casa de Jos de Alencar / UFC, 1999, p.
18.
20
MARTINS, ibid., p. 18.
21
Pedro II, 2 Set. 1856, p. 4.
22
Cearense, 14 Jul 1869, p. 3.
195
23
Cearense, 10 Maio 1868, p. 4.
24
Cearense, 9 de jul 1871, p. 4.
25
Cearense, 11 Jul 1871, p. 2-3.
196
26
Cearense, 11 Jul 1871, p. 4.
27
Em pesquisa mais ampla, encontrou-se ainda: Jovem morreu afogado num poo. O Nordeste,
Fortaleza: 6 Mar. 1934, p.6; Morreu afogado. O Povo. 2 Fev. 1935, p.4.
28
Afogada. Cearense, 5 Jan, 1873, p. 2.
197
A trgica morte de Maria trs detalhes dos perigos que envolviam retirar
gua de uma cacimba em que um erro no gesto cotidiano como se curvar mais
que o normal poderia resultar em bito. Maria Carolina, ao que indica o texto, no
era escrava, possivelmente a gua que foi buscar era para o seu prprio usufruto ou
da sua famlia. O tempo que custou para ela ser encontrada duas horas pode ser
um indicativo de que no havia ningum esperando pelo lquido. As cacimbas de
barris que existiam em Fortaleza no possuam guarda corpo. Segundo Rodolpho
Thephilo, tratava-se de um buraco, uma pequena poa d'gua, que os terrenos
argilosos alimentavam gota a gota, com muita usura.30 No trecho em que est
contida essa descrio, o autor no deixa de imaginar o medo que deveria petrificar
as pessoas que retiravam gua dessas cacimbas.31
Levando em considerao os gestos e os riscos que envolviam a
atividade, possvel imaginar o significado dos carreteis e bombas para o
deslocamento da gua. O carretel citado na labuta cotidiana da criada no
romance A Normalista32 e pelos sons que seu uso produzia (ganir intermitente,
ganir moroso e gruinhir) no A Afilhada33 consistia em um rolamento (polia) que
era anexado a uma trave sobre a cacimba que centralizava o balde e facilitava o seu
29
Morte cruel. Cearense, 22 Nov 1874, p. 2.
30
THEOPHILO, Rodolpho. A Fome / Violao. Rio de Janeiro: Academia Cearense de Letras /
Livraria Jos Olympio, 1979, p. 160.
31
A profundeza da escavao crispou-lhe os nervos em medroso arrepio. Chegou rampa que
conduzia aguada e teve medo de descer. Parecia-lhe que as barreiras se uniriam, logo que
descesse. Indecisa, implorava coragem Virgem, porm, do cu no descia nada que a amparasse.
No aparecia um companheiro, ningum vinha tomar gua. O tempo corria e os doentes em casa
estariam a estalar de sede! Era preciso descer, e fazendo um esforo supremo, desceu a rampa. No
fundo da escavao estava a fonte, pequena poa d'gua, que os terrenos argilosos alimentavam
gota a gota, com muita usura. Viu-se quase assombrada dentro daquele abismo. As barreiras,
perfiladas em crculo, parecia que se inclinavam aos poucos, diminuindo a cada instante o crculo
azul que aparecia do espao. A moa desviou a vista do precipcio, criado por sua imaginao
excitada, e tratou de encher o vaso e fugir, em tempo de no ser soterrada. THEOPHILO, ibid., p.
160.
32
CAMINHA, Adolfo. A Normalista [1893]. Fortaleza: ABC Editora, 2005, p. 47.
33
PAIVA, Manuel de Oliveira. A Afilhada. [1889] In.: Obra Completa. Rio de Janeiro: Graphia
Editorial, 1993, p. 201,241 e 243.
198
34
ROCHE, Daniel. Histria das coisas banais: nascimento do consumo sc. XVII - XIX. Rio de
Janeiro: Rocco, 2000, p. 29.
199
35
Cearense, 15 Jul 1881, p. 4.
36
Cearense, 13 Jan 1982, p. 3.
37
No foi encontrado nenhum trabalhador oferecendo seus prstimos como encanador na
documentao pesquisada.
38
ROCHE, Daniel. Histria das coisas banais: nascimento do consumo sc. XVII - XIX. Rio de
Janeiro: Rocco, 2000, p. 183.
39
Vende engenho de ferro para ser movido gua. Cearense, 20 fev 1867, p. 4.
40
ROCHE, ibid., p. 19.
200
41
Cearense, 1 jan 1882, p. 4.
42
Ficha Histrica Arquivo Pitoresco. Hemeroteca Digital - Hemeroteca Municipal de Lisboa.
Disponvel em: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/FichasHistoricas/ArquivoPitoresco.pdf. Alguns
artigos do Archivo Pittoresco foram publicados no jornal Cearense, o que pode ter fomentado um
interesse pelo peridico e indica sua circulao na cidade ao menos entre os editores.
201
A agua faz-se subir quasi sempre por meio de bomba, mas casos ha cm
que a prpria fora da ascenso do liquido sufficiente para a trazer ao
43
nivel do terreno.
43
Carvalho, Tito de. Poos Instantneos. Archivo Pittoresco, N. 33, Tomo XI, 1868, p. 261.
44
Carvalho, Tito de. Poos Instantneos. Archivo Pittoresco, N. 33, Tomo XI, 1868, p. 260.
45
Os balanos nas contas da cmara. Cearense, 13 Dez 1871, p. 2.
46
Cearense, 21 Jul 1871, p. 2; Cearense, 23 Jul 1871, p. 3.
202
48
Segundo Dbora Dias diferente do jornal, em que o anncio teria que ser republicado diariamente,
o Almanaque oferece a possibilidade das ofertas e servios oferecidos serem consultados durante
todo o ano. MACAMBIRA, Dbora Dias. Impresses do tempo: Os Almanaques no Cear (1870-
1908). 2010. 236 f. Dissertao (Mestrado) - Curso de Histria, Programa de Ps-graduao em
Histria, Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2010, p. 161.
49
Observa-se isso com grande clareza nos anncios da Casa Villar. Contudo, a histria da
propaganda em Fortaleza ainda carece de um estudo mais sistemtico.
50
SANTANNA, Denise Bernuzzi de. Cidade das guas: uso de rios, crregos, bicas e chafarizes em
So Paulo (1822-1901). So Paulo: Ed. Senac, 2007, p. 125-126.
204
que sai do visvel dos recipientes espalhados pela casa para armazenar gua
para o invisvel das caixas dgua, mas no das contas de gua.51
Nas casas em que as guas no corriam por canos havia outros objetos
destinados a lhe dar movimentao: depois que saa do poo, do barril do aguadeiro
ou de outra origem, era destinada gua uma srie de vasilhames. Eis um trecho
das Memrias de Gustavo Barroso em que ele apresenta algumas dessas
possibilidades:
Dum lado, rente parede, a fila das jarras de barro, bem tapadas, em que
se conserva a gua da chuva. So oito sobre seus altos bancos furados em
que se embutem os fundos em cone truncado. Uma delas muito diferente
das outras, com relevos, vidrada, de asas. Veio da Bahia. Perto da porta
que abre para o corredor, sobre o guarda-comida de tela de arrame, duas
fileiras de moringas e quartinhas, com suas camisetas de croch, esfriando
a gua ao vento encanado. Umas tm um copo de barro, outras um caneco
de lata emborcados sobre o gargalo, porque certas pessoas acham que a
gua bebida em caneco de barro mais gostosa e outras que melhor
52
ainda em caneco de folha-de-flandres.
51
SANTANNA, Denise Bernuzzi de. Cidade das guas: uso de rios, crregos, bicas e chafarizes em
So Paulo (1822-1901). So Paulo: Ed. Senac, 2007, p. 125-126.
52
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu do Cear
[1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 96.
53
H aqui grande preveno contra gua de chuva, que desprezam, querendo antes a beber de
cacimba ou de rio, que nem sempre so boas. ALEMO, Francisco Freire. Dirio de Viagem de
Francisco Freire Alemo (1859-1861). Fortaleza: Fundao Waldemar Alcntara, 2011, p. 494.
54
PAIVA, Manuel de Oliveira. A Afilhada. [1889] In.: Obra Completa. Rio de Janeiro: Graphia
Editorial, 1993, p. 307-308.
205
55
SANTANNA, Denise Bernuzzi de. Cidade das guas: uso de rios, crregos, bicas e chafarizes em
So Paulo (1822-1901). So Paulo: Ed. Senac, 2007, p. 78.
56
Cearense, 28 Ago 1869, p. 4.
57
Louas, vidros & porcelanas. Cearense, 3 nov 1864, p. 4.
58
CAMPOS, Eduardo. A volta do inquilino do passado - segunda locao. Fortaleza: Casa de Jos
de Alencar / UFC, p. 51-52.
206
59
Amanuense Joo da Mata, com gua fresca sempre mo durante a refeio.
Alm de armazenar gua, os potes aparecem como vasilhas destinadas ao
transporte de gua. Nos romances Ponta de Rua de Fran Martins, A Fome de
Rodolpho Theophilo, A Afilhada de Manoel de Oliveira Paiva e nas Memrias de
Gustavo Barroso aparecem moas carregando gua equilibrando os potes de barro
sobre a cabea.60
O missionrio protestante Daniel p. Kidder escreveu:
medida que se visitam as cidades brasileiras, pouca cousa se nos
apresenta to remarcadamente caracterstica quanto os potes dgua que
61
os negros levam sobre a cabea.
59
CAMINHA, Adolfo. A Normalista [1893]. Fortaleza: ABC Editora, 2005, p. 165.
60
Martins, Fran. Ponta de Rua [1937]. 2 Ed. Fortaleza: Casa de Jos de Alencar / UFC, 1999, p. 18-
19 e 143; THEPHILO, Rodolpho. A fome; Violao. Rio de Janeiro, J. Olympio; Fortaleza:
Academia cearense de Letras, 1979, p. 159; BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso -
Corao de Menino [1939], Liceu do Cear [1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo
do Estado do Cear, 1989, p. 308; PAIVA, Manuel de Oliveira. A Afilhada. [1889] In.: Obra Completa.
Rio de Janeiro: Graphia Editorial, 1993, p. 201 e 315.
61
KIDDER, Daniel P. Reminiscncias de viagens e permanncias no Brasil (provncias do Norte).
[1845] So Paulo: Martins / Universidade de So Paulo, 1972, p. 57-58.
62
BARROSO, op. cit., p. 134.
63
SANTANNA, Denise Bernuzzi de. Cidade das guas: uso de rios, crregos, bicas e chafarizes em
So Paulo (1822-1901). So Paulo: Ed. Senac, 2007, p. 78. A historiadora Joyce Mota Rodrigues,
escreveu ainda que os potes de barro usados comumente pela populao foram a nica soluo
encontrada pelas cientistas britnicos, brasileiros e americanos que visitaram a cidade de Sobral
(interior do Cear) em 1919 para observar um eclipse solar para esfriar a gua a 20 temperatura
necessria para revelar as fotografias que confirmariam a Teoria da Relatividade de Einstein.
RODRIGUES, Joyce Mota. Entre telescpios e potes de barro: o eclipse solar e as expedies
cientficas em 1919 / Sobral CE. 2012. 131 f. Dissertao (Mestrado) - Curso de Histria, Programa
de Ps-graduao em Histria, Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2012, p. 99.
207
uma fonte alternativa para fugir dos preos cobrados. Alm deles, louas, aparelhos
para latrinas, pias, canos, filtros, sentinas e fossas sanitrias estavam anunciados no
Guia de 1927.68 A inaugurao da rede de abastecimento em 1926, com as guas
do Acarape do Meio, possibilitou um novo acervo de apetrechos e desejos.
(...) o cu, que h vrios dias se vinha carregando tomando aquela cor de
ardsia que prenunciava aguaceiros violentos, de repente, ao estrondo de
meia dzia de troves, abria as comportas da altura, e a gua se despejava
em jorros pelas biqueiras do telhado, alcanando uma violncia de pequena
cascata pela boca dos grandes jacars da fachada.
Pouca gente de hoje, mesmo em Fortaleza, com as belas residncias
funcionais que enfeitam agora a cidade, saber da delcia que era a gente
correr ento para baixo do jato estrondejante que desabava do alto sobre
nossas cabeas, fazendo-nos dar saltos e gritar cheios de alvoroado gozo,
como nalgum jogo proibido e cheio de pecado.
Mais tarde, a invernia se prolongando por alguns dias, os baixios do stio,
inundados, viravam lagoas, que se estendiam dum cercado ao outro, e por
onde vogvamos, numa velha caixa dgua, de folha de flandres,
improvisada em canoa balouante sobre a gua clara, em cujo leio corriam
69
as lianas das salsas os tufos negros da grama da praia.
68
Guia Cearense. Fortaleza: Typ. Central, 1927.
69
LIMA, Herman. Imagens do Cear. [1959] 2 Ed. Fortaleza: casa de Jos de Alencar / UFC, 1997,
p. 34.
70
CAMPOS, Eduardo. Na flor da idade: memrias de infncia e adolescncia. Fortaleza: Tukano,
1991, p. 37-39.
209
71
RODRIGUES, Jos Wasth. Documentrio Arquitetnico: relativo antiga construo civil no
Brasil. 2 ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; So Paulo: Ed. USP, 1979, p. 310.
210
72
DUARTE JUNIOR, Romeu. Arquitetura colonial cearense: meio-ambiente, projeto e memria. Rev.
CPC, So Paulo, n. 7, abr. 2009. Disponvel em <http://www.revistasusp.sibi.usp.br>. Acesso
em 10 maio 2012, p. 52.
73
FORTALEZA. Resoluo n 1818 do 1 de fevereiro de 1879. Actos legislativos da provncia do
Cear: promulgados pela respectiva Assembla no anno de 1878. Fortaleza, Typographia do
Mercantil, 1879, p. 103-126.
74
FORTALEZA. Cmara Municipal. Cdigo de posturas da Cmara Municipal de Fortaleza
1893. Fortaleza: [s.n], 1915, p. 5-6.
75
FORTALEZA. Cdigo Municipal (Dec. N 70 de 13 de Dezembro de 1932). Fortaleza: Tipografia
Minerva, 1933, p. 42 e 102.
76
Campos. O Inventrio do Quotidiano: Breve memria da cidade de Fortaleza. Fortaleza: Edies
Fundao Cultural de Fortaleza Serie Pesquisa n 6, 1996, p. 56.
77
Atualmente, ainda existem alguns desses artefatos em prdios localizados no Centro de Fortaleza.
211
78
HOLANDA, Cristina Rodrigues. A construo do Templo da Histria Eusbio de Sousa e o
Museu Histrico do Cear (1932- 1942). 2004. 249 f. Dissertao (Mestrado em Histria Social)
Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2004, p. 146.
79
HOLANDA, ibid., p. 147.
80
ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma historia dos costumes. Vol. 1. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1994, p. 110.
81
ELIAS, ibid..
82
ROLNIK, Raquel. A cidade e a lei: legislao, poltica urbana e territrios na cidade de So Paulo.
So Paulo: Studio Nobel; FAPESP, 2003, p. 13.
212
cena tenha se tornado mais difcil at tornar-se inimaginvel, como pensou Herman
Lima ao olhar as residncias funcionais do seu tempo.
A narrativa em retrospecto permite perceber, em meio a tentativas de
escrita de si, as mudanas na cidade e das prticas. Segundo Antonio Luiz
Macedo e Silva Filho, o que era percepo do mundo, decantada nos meandros do
lembrar, torna-se da por diante uma operao apoiada no rigor analtico do
alfabeto.83 No entanto, trabalhando com esses livros em srie possvel
compreender diferentes formas de vivenciar a cidade, marcadas pelo tempo,
diferentes territorialidades e desgnios da escrita.
Alm das reas inundadas da cidade ou debaixo do jorro das biqueiras,
havia em Fortaleza uma srie de piscinas naturais propcias ou nem tanto aos
banhos nos arredores da cidade. Rios, riachos, audes e lagoas que faziam a
alegria dos meninos e adultos.
Gustavo Barroso que foi apontado por ele prprio e alguns
contemporneos seus como o menino mais levado danisco, danado,
perguntador e endiabrado84 que j viveu em Fortaleza, no deixou de escreveu
sobre alguns desses espaos:
No tempo de inverno, temos timas piscinas em volta da cidade: a lagoa do
Tauape, no Benfica; os audes do Joo Lopes, entre o Jacarecanga e o
Alagadio, e o do Padre Pedro, ali ao lado do Matadouro. Por ser o mais prximo,
85
este o preferido desde o dia em que o Pimenta no-lo revelou.
83
SILVA FILHO, Antonio Luiz Macdo e. Volteios da letra nas memrias urbanas. TRAJETOS
Revista de Histria da UFC, v. 5, n. 9/10, 2007, p. 55.
84
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu do Cear
[1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 92; LIMA,
Herman. Poeiras do tempo: memrias. Rio de Janeiro: Jos Olympio Editora, 1967, p. 57.
85
BARROSO, ibid., p. 45.
86
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu do Cear
[1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 45.
213
87
ADERALDO, Mozart Soriano. Histria Abreviada de Fortaleza e a Crnica da Cidade Amada.
Fortaleza: Edies UFC/ Casa Jos de Alencar, 1993.
88
ADERALDO, Mozart Soriano. Notas Explicativas In.: BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo
Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu do Cear [1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza:
Governo do Estado do Cear, 1989, p. 45.
89
Segundo Raimundo de Menezes, datam de 1880 os primeiros bondes puxados a burros de
Fortaleza. Estes foram substitudos pelos bondes eltricos a partir de 1913, quando o servio j
pertencia empresa The Cear Tramway, Light and Power Co. Ltd. MENEZES, Raimundo de.
214
percorrida por Gustavo Barros no ser impossvel de ser vencida andando, preciso
acrescentar que nesse perodo haviam poucos trechos pavimentados fora da zona
central da urbe. A caminhada em areia frouxa era desgastante, difcil e demorada.
Apesar de no condicionar os deslocamentos sua existncia, h de se ponderar
que os bondes minimizavam as dificuldades do trajeto. A relao de proximidade
dos meninos com o Aude Padre Pedro marcada pela passagem da linha do
bonde que seguia at o Matadouro. Assim, preciso lembrar que as distncias na
cidade se relacionam com os novos meios de transportes e a pavimentao de
estradas.
No entanto, nem todos podiam pagar os bilhetes para se deslocar entre
os trechos ligados pelos bondes, assim como nem todos podiam se deslocar sempre
que desejavam tomar banho nesses espaos. Alm da distncia, a escolha dos
reservatrios para os banhos sofria a influncia de outros elementos. Sobre este
assunto, mais um trecho de Gustavo Barroso:
Do Parque [da Liberdade] vamos ao Reservatrio do Paje, construdo na seca de
1845 pelo Senador Alencar e melhorado na de 1877, pelo Baro de Sobral, todo
coberto de aguaps e pacaviras, menos nos lugares onde a meninada dos
arredores costuma tomar banho. Caboclinhos e moleques das choupanas
prximas ali se atiram gua com o sol a dourar-lhes os corpos escuros,
acobreados, mergulhando aos pulos, nadando de brao ou de cachorro, jogando
cambap.
Como so felizes! Fico com tanta inveja deles que um instante desejo ser antes
90
um moleque do que um filho-famlia.
Coisas que o Tempo Levou: crnicas histricas da Fortaleza antiga. [1938] Fortaleza / So Paulo:
HUCITEC, 1977, p. 41-44.
90
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu do Cear
[1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 27.
215
91
FORTALEZA. Cdigo Municipal (Dec. N 70 de 13 de Dezembro de 1932). Fortaleza: Tipografia
Minerva, 1933, p. 103-126.
92
Cear. Lei n. 328 de 19 de Agosto de 1844. In.: OLIVEIRA, Almir Leal de; BARBOSA, Ivone
Cordeiro (orgs.). Leis Provinciais: Estado e Cidadania (1835-1861). Compilao das Leis Provinciais
do Cear comprehendendo os annos de 1835 a 1861 pelo Dr. Jos Liberato Barroso. Ed. Fac-
similada. Fortaleza, INESP, 2009, p. 400-401.
93
BARROSO, Gustavo. Memrias de Gustavo Barroso - Corao de Menino [1939], Liceu do
Cear [1940] e Consulado da China [1941]. Fortaleza: Governo do Estado do Cear, 1989, p. 27.
(1989:164)
94
FORTALEZA. Cdigo Municipal (Dec. N 70 de 13 de Dezembro de 1932). Fortaleza: Tipografia
Minerva, 1933, p. 101.
216
O autor, no que diz respeito aos seus prprios banhos, deixou poucos
registros. Talvez isso se d por conta de tratar-se de um assunto ordinrio que no
era digno de nota ou, realmente, o autor poderia considerar que os banhos dirios
ou quase dirios eram desnecessrios.99 Porm, a paixo pelo banho no era
uma exclusividade dos cearenses. Segundo Conceio Maria de Rocha de Almeida,
nas cidades de Camet e Belm, os viajantes Daniel Kidder e Robert Ave-Lallemant
se impressionaram com a recorrncia e a grande quantidade de homens, mulheres e
crianas oriundos das classes mais humildes que pela manh e no fim da tarde
95
FORTALEZA. Cdigo Municipal (Dec. N 70 de 13 de Dezembro de 1932). Fortaleza: Tipografia
Minerva, 1933, p. 103-126.
96
FORTALEZA. Resoluo n 1818 do 1 de fevereiro de 1879. Actos legislativos da provncia do
Cear: promulgados pela respectiva Assembla no anno de 1878. Fortaleza, Typographia do
Mercantil, 1879, p. 103-126.
97
LIMA, Herman. Imagens do Cear. [1959] 2 Ed. Fortaleza: casa de Jos de Alencar / UFC, 1997,
p. 13.
98
ALEMO, Francisco Freire. Dirio de Viagem de Francisco Freire Alemo (1859-1861).
Fortaleza: Fundao Waldemar Alcntara, 2011, p. 520.
99
ALEMO, ibid., passim.
217
100
ALMEIDA, Conceio Maria Rocha de. As guas e a cidade de Belm do Par: histria,
natureza e cultura material no sculo XIX. 2010. 340 f. Tese (Doutorado) - Curso de Histria,
Programa de Ps-graduao em Histria, Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo,
2010, p 88.
101
ALMEIDA, ibid., p. 89
102
AGASSIZ, Louis e AGASSIZ, Elisabeth Cary. Viagem ao Brasil (18651866). Braslia: Senado
Federal, 2000, p. 147.
103
Cearense, 26 Jul. 1867, p. 4.
218
104
Banho. Pedro II, 23 Ago, 1867, p. 3.
105
Cearense, 17 Jul 1869, p. 4.
106
SANTANNA, Denise Bernuzzi de. Cidade das guas: uso de rios, crregos, bicas e chafarizes
em So Paulo (1822-1901). So Paulo: Ed. Senac, 2007, p. 157-158.
219
Os banhos custavam 160 ris pelo avulso e 2$000 por vinte cartes ou
mensal sem direito toalha. A casa se localizava Contgua ao sitio do Sr.
Francisco Piralho, com entrada pela travessa por baixo da Fortaleza, cancella
pintada de verde.107 O valor era o mais do triplo do preo cobrado pelo Banho
pertencente a Joaquim Sombra, construdo no centro de Maranguape 40 ris.108
A oferta dos pacotes oferecidos aos banhistas 20 banhos ou mensal
possibilita pensar na demanda e, consequentemente, na recorrncia a que os
frequentadores faziam usos do banho. Eles apontam para dois tipos de possveis
usurios: os que tomavam menos de 20 banhos por ms, que poderiam utilizar os
cartes na medida das suas necessidades (uma, duas ou trs vezes por semana,
por exemplo) e os que tomavam banhos mais de quatro vezes por semana (talvez
todos os dias) para quem compensaria a obteno do pacote mensal. Sem dvidas
esses pacotes indicam um momento de mudana na frequncia e sentidos dados
aos banhos realizados nessa casa.
Em Maranguape, o stio de Sombra oferecia banhos de nado e de
choque, alm de espao para sociabilidade nos jardins.109 No caso do banho a
nado no h muito o qu explicar: consistia em submergir o corpo em um tanque
com gua corrente. Conforme, o narrado pelos Agassiz.
Sobre o banho de choque, uma nota publicada no Pedro II explica:
Por sobre uma cascata artificial de 20 palmos de cumprimento, colocada
sobre a parte superior do banheiro, passa toda agua do dito corrente, e
derramando-se sobre o grande tanque forma em sua queda, uma bela
onda, que forma o grande choque, atravessada por quatro tubos, que
110
formo quatro choques parciaes.
107
Caza de Banhos. Cearense, 8 Ago 1867, p. 4.
108
Pedro II, 20 Fev. 1868, p. 4.
109
Pedro II, 20 Fev. 1868, p. 4.
110
Pedro II, 23 Fev. 1868, p. 4.
111
Cearense, 14 Out 1875, p. 4.
220
12 1:000
Banho avulso 100
Recebese assignaturas a 2$000 mensaes, fornecendo-se toalha, porem
112
pagos adiantados.
112
Cearense, 14 Out 1875, p. 4.
113
Cearense, 4 Nov 1875, p. 4.
114
MENDES, Manoel T, da C. Relatrio do Director do Atheneu Cearense Manoel Theophilo da Costa
Mendes. (anexo) In.: HENRIQUES, Joo Antonio de A. F. Fala com que o Exellentssimo senhor
desembargador Joo Antonio de Arajo Freitas Henriques abriu a 1 sesso da 18 legislatura
da Assembla Provincial do Cear no dia 1 de Setembro de 1870. Fortaleza: Typografia
Constitucional, 1870.
115
MENDES, Manoel T, da C. Relatrio do Director do Atheneu Cearense Manoel Theophilo da Costa
Mendes. (anexo) In.: HENRIQUES, Joo Antonio de A. F. Fala com que o Exellentssimo senhor
desembargador Joo Antonio de Arajo Freitas Henriques abriu a 1 sesso da 18 legislatura
da Assembla Provincial do Cear no dia 1 de Setembro de 1870. Fortaleza: Typografia
Constitucional, 1870, p. 4.
116
PINTO, [Padre] Florencio de Almeida. Relatrio do diretor do Collegio de Educandos Artfices do
Cear. In.: PEREIRA. Lafayette Rodrigues. Relatrio com que foi entregue a administrao da
221
atualmente, quando se costuma tomar banho com gua doce aps um mergulho no
mar, em grande parte do perodo pesquisado eles eram, se no equivalentes, ao
menos similares. Contudo, quando o saber mdico passou a se apoderar do banho
do mar para tratamento de algumas doenas, principalmente de pele, as tenses em
torno desse uso aumentaram.
Com o ttulo de Immoralidade, o jornal Cearense publicou uma nota em
13 de Outubro de 1872:
Diariamente vm-se [ver-se] homens banhando-se ns no mar, com todo o
despudor, affrontando a moralidade publica.
As famlias no podem transitar tarde pela praia sob pena de se
encontrarem com esses espectaculos degradantes.
E estes factos do se defronte da caza de residncia do subdelegado de
117
policia e do capito do porto.
O mar malso que putrefaz os corpos dos sculos XVII e XVIII tornou-se,
ao longo do sculo seguinte, o mar teraputico, que limpa e cura.120 Isso no
significa que seus antigos usurios abandonaram a praia, mas a chegada de novos
banhistas. Multiplicando-se os usos e, principalmente, os usurios, crescem as
provncia ao excelentssimo senhor doutor Francisco Igncio Marcondes Homem de Mello pelo
Excelentssimo senhor doutor Lafayette Rodrigues Pereira em 10 de junho de 1865. Fortaleza:
Typ. Brazileira de J. Evangelista, 1865, p. 10.
117
Immoralidade. Cearense, 13 Out. 1872, p. 2.
118
Affronta moralidade publica. Cearense, 31 out 1872, p. 2.
119
Immoralidades. Cearense, 23 de Set. 1875, p. 2.
120
CORBIN, Alain. O territrio do vazio: a praia e o imaginrio ocidental. So Paulo: Companhia das
letras, 1989, p. 26.
222
121
BARROSO, Gustavo. Mississipi. Rio de Janeiro: Edies O Cruzeiro, 1961, p. 159-160.
223
122
SILVA, Jane Derarovele Semeo e. Mulheres de Fortaleza nos anos de 1940: uma vivncia da
Segunda Guerra Mundial. 2000. 220 f. Dissertao (Mestrado) - Curso de Histria, Programa de Ps-
graduao em Histria, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000, p. 155.
123
PROST, Antoine. Fronteiras e espaos do privado. In.: __________. (org.) Histria da vida
privada, 5: Da primeira guerra a nossos dias. So Paulo: Companhia das letras, 2009, p. 14.
224
124
CARREIRA, Liberato de Castro. Chronica Medica. O Cearense, 24 Fev. 1848, p. 3.
125
VASCONCELLOS, Ignacio Correia de. Relatrio Apresentado A Assemblea Legislativa
Provincial do Cear pelo Presidente da Mesma Provncia o Coronel Graduado Ignacio Correia
de Vasconcellos em 1 de Julho de 1847. Fortaleza: Typ. Fidelissima, 1847, p. 17.
225
126
SILVINO, Carla. Cidade (in)salubre: idias e prticas mdicas em Fortaleza (1838-1853). 2007.
156f. Dissertao (Mestrado em Histria). Centro de Humanidades. Universidade Federal do Cear.
Departamento de Histria, Fortaleza, 2007, p. 28.
127
CUKIERMAN, Henrique. Yes, ns temos Pasteur: Manguinhos, Oswaldo Cruz e a histria da
cincia no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumar: FAPERJ, 2007, passim.
128
VASCONCELLOS, Ignacio Correa de. Falla Dirigida pelo Exm. Sr. Commendador Igncio Correa
de Vasconcellos ao entregar a administrao da provncia ao Exm. Sr. Capito Joo Chrisostomo de
Oliveira. O Cearense, 5 Ago, 1847, p. 2.
129
SILVINO, op. cit., p. 15.
226
130
PINTO, Luiz Maria da Silva. Diccionario da Lingua Brasileira por Luiz Maria da Silva Pinto,
natural da Provincia de Goyaz. Na Typographia de Silva, 1832, p. 846 e 961. Disponvel em:
http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/02254100. Acessado em 19 de dezembro de 2014.
131
FOUCALT, Michel. Microfsica do poder. Rio de Janeiro: Edies Graal, 1979, p. 93.
132
CARREIRA, Liberato de Castro. Chronica Mdica. O Cearense. 20 Abr 1848, p. 2.
133
CARREIRA, Liberato de Castro. Chronica Mdica. O Cearense. 05 Jun 1848, p. 1.
227
134
Ressalta-se que Apesar de formados os dois [Liberato Castro Careira e Jos Loureno de Castro
e Silva] pela mesma instituio [e parentes], a ao mdica marcada por conflitos: divergncias na
concepo das doenas, na forma de tratamento, e no mbito das aes polticas, em disputas no
peridico O Cearense e em Relatrios Mdicos. SILVINO, Carla. Cidade (in)salubre: idias e
prticas mdicas em Fortaleza (1838-1853). 2007. 156f. Dissertao (Mestrado em Histria). Centro
de Humanidades. Universidade Federal do Cear. Departamento de Histria, Fortaleza, 2007, p. 16.
228
Diferente das condies citadas por Castro Carreira dois anos antes, Jos
Loureno Castro e Silva descreve uma cidade com uma oferta abundante de gua.
Preterindo o chafariz do palcio pelo da Prainha oriundo de um olho dagua a
escolha se adequava s questes mdicas que sempre desconfiavam de guas
estagnadas e no gastavam esforos com o chafariz. Alguns anos depois, o mdico
Robert Av-Lallemant quando passou por Fortaleza em 1859 achou a gua
potvel muito agradvel [...] clara e inspida, qualidade que, de comum, no se
encontram nas cidades da costa do norte do Brasil.136 Todavia, o velho problema de
uma aguada dentro da cidade persistia.
Alm de ser manuseada com asseio e ser oriunda de fonte limpa de
preferncia corrente a gua consumida em algumas condies deveria obedecer a
outros preceitos. Em 1855, a Comisso de Hygiene Pblica da Provncia do Cear
publicou no jornal Pedro II instrues sanitrias populares com o intuito de evitar
uma possvel epidemia de clera. Entre os diversos itens encontrou-se:
N. 6. conveniente no beber gua fria estando suado, ou com o corpo
quente. Seria sempre perigoso fazel-o.
ento til misturar agua com uma pequena quantidade de vinho ou dagua
137
ardente.
135
SILVA, Jos Loureno Castro e. Breves consideraes sobre a climatologia do Cear, precedida
de uma ligeira descripo da cidade e seus subrbios. Annaes brasilienses de medicina. N. 11.
Ago, 1850, p. 224.
136
AV-LALLEMANT, Robert. Viagem pelo Norte do Brasil no ano de 1859. V. 2. Rio de Janeiro:
Instituto Nacional do Livro / Ministrio da Educao e da Cultura, 1961, p. 18.
137
Hygiene Publica. Pedro II, 30 Ago, 1855, p. 1.
138
VIGARELLO, Georges. O limpo e o Sujo: Uma Histria da Higiene Corporal. So Paulo: Martins
Fontes, 1996, p. 2.
229
Raimundo Ramos deu a ler em seus poemas uma cidade plural, marcada
por usos astuciosos dos espaos.142 Alm disso, sua circulao entre as rodas
letradas da cidade e os bailes das areias lhe permitiu a produo de uma poesia
singular repleta de ironia s prticas e aos discursos das elites ilustradas locais.143
Em seu poema beber! ele contrasta o discurso mdico que defendia a ingesto
de lcool como meio de evitar diversas doenas seus miasmas e micrbios
com o discurso igualmente proferido por mdicos que aponta o lcool como
veneno para os trabalhadores braais.144 Sem entrar ainda mais nas questes que
envolvem o consumo de lcool em Fortaleza, no se ignora que essa prtica e sua
relao com o saber mdico eram corriqueiras, conhecidas e apropriadas
astuciosamente na cidade.145
139
Mocoror uma bebida fermentada feita de caju.
140
PAIVA, Manuel de Oliveira. A Afilhada. [1889] In.: Obra Completa. Rio de Janeiro: Graphia
Editorial, 1993, p. 296; CAMINHA, Adolfo. A Normalista [1893]. Fortaleza: ABC Editora, 2005, p. 85,
Afflico e Medo. Cearense 1 abr 1877, p.4.
141
RAMOS, Raimundo. Cantares Bohmios. [1906] Fac-similar. Fortaleza: Museu do Cear, 2006,
p. 111-112.
142
COSTA, Raul Max Lucas da. Tenses sociais no consumo de bebidas alcolicas em
Fortaleza (1915-1935): Trabalhadores, bomios, brios e alcolatras. 2009. 209 f. Dissertao
(Mestrado) - Curso de Histria, Programa de Ps-graduao em Histria, Universidade Federal do
Cear, Fortaleza, 2009, p. 27.
143
CARVALHO, Gilmar de. Prefacio. In.: RAMOS, Raimundo. Cantares Bohmios. [1906] Fac-
similar. Fortaleza: Museu do Cear, 2006.
144
STUDART, Guilherme. Alcoolismo conferncia realizada no Crculo de Operrios Catlicos So
Jos [1916]. Apud. COSTA, idib., p. 67.
145
Para uma discusso mais pontual e vertical sobre o consumo de bebidas alcolicas em Fortaleza
no incio do sculo XX, conferir: COSTA, ibid., 2009.
230
146
SILVINO, Carla. Cidade (in)salubre: idias e prticas mdicas em Fortaleza (1838-1853). 2007.
156f. Dissertao (Mestrado em Histria). Centro de Humanidades. Universidade Federal do Cear.
Departamento de Histria, Fortaleza, 2007, p. 49-51.
147
Essas ideias tinham base nas teorias dos humores e galnica. Para uma melhor explicao sobre
a circulao dessas ideias e a prticas delas decorrentes, ver: SILVINO, ibid., 2007.
148
Segundo Geraldo da Silva Nobre, no decnio 1860-169, apareceram, no Cear, os primeiros
peridicos dedicados a assuntos jurdicos, mdicos, militares e trabalhistas. A revista do Foro
comeou a sair, quinzenalmente, em julho de 1860; A Lanceta em 1862; O artilheiro no ano
seguinte. NOBRE, Geraldo da Silva. Introduo histria do jornalismo cearense edio fac-
similar. Fortaleza: NUDOC, 2006, p. 98.
149
Nascido em Ic e graduado na Universidade de Haward, Cambridge, em 1853, com tese
defendida diante da Faculdade da Bahia. Em Fortaleza, exerceu a funo de mdico da pobreza de
Fortaleza (nomeado em 1858) e redator e fundador do jornal A Lancta. STUDART, Guilherme.
Diccionario Bio-bibliographico Cearense pelo Dr. Guilherme Studart. Volume Segundo.
Fortaleza: Typ-lithographia a vapor, 1913, p. 6-8.
150
STUDART, Guilherme. Catlogo dos Jornais de Grande e Pequeno Formato Publicados em
Cear. Revista Trimensal do Instituto do Cear. Tomo XVIII. Fortaleza: Typ. Minerva, 1904, p. 242.
231
151
Agua Potvel. A Lancta: jornal de medicina, Physiologia, Cirurgia, Chimica, Pharmacia, Literatura
e Noticioso, 25 Jun 1863, p. 94 - 95.
152
MARTINS, Fran. Ponta de Rua [1937]. 2 Ed. Fortaleza: Casa de Jos de Alencar / UFC, 1999, p.
19.
232
153
Hygiene. Aurora Cearense, 2 Set, 1866, p. 1.
154
Hygiene. Aurora Cearense, 2 Set, 1866, p. 1.
155
FOUCALT, Michel. Microfsica do poder. Rio de Janeiro: Edies Graal, 1979, p. 93.
156
CAMPOS, Eduardo. Vocabulrio antigo e mais coisas menos longevas. Fortaleza: Imprece,
2003, p. 82.
233
157
Cearense, 24 Dez. 1868, p. 4.
158
Filtro Econmico. Cearense, 26 Nov. 1881, p. 1.
159
ACCIOLY, Antonio Pinto Nogueira. Mensagem Apresentada a Assembla Legislativa do Cear
pelo Presidente do Estado em 1 de Julho de 1897. Fortaleza: Typ. d A Repblica, 1897, p. 7.
160
Idem. Mensagem Apresentada a Assembla Legislativa do Cear pelo Presidente do Estado
em 4 de Julho de 1898. Fortaleza: Typ. Economica, 1898, p. 8.
161
GARCIA, Ana Karine Martins. A cincia na sade e na doena: Atuao e prtica dos mdicos
em Fortaleza (1900-1935). 2011. 199 f. Tese (Doutorado) - Curso de Histria, Programa de Ps-
graduao em Histria, Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 2011, p. 12.
234
Sem entrar ainda mais na questo do saber mdico, mas atentando para
essas implicaes no que diz respeito s noes gua limpa, no impossvel
especular que o arbtrio sobre a gua consumida na cidade passasse cada vez mais
pelo laboratrio. Em Relatrio da Inspetoria de Hygiene de 1915, o mdico Carlos
da Costa Ribeiro inspetor escreveu sobre a condio da gua em Fortaleza. Eis
o trecho:
A agua de cacimbas que sempre se bebeu na Fortaleza no podia ser mais
suspeita, e como muito qualificou um dos meus illustres antecessores, no
passa de uma verdadeira diluio de culturas bacterianas das nossas
sentinas. No preciso me deter sobre o horror de tal prtica que hoje do
conhecimento e do julgamento de todos e que tem disso muito bem
estudada por quantos se ocupam do casso, sem uma soluo oficial, que
no o comeo dos trabalhos de abastecimento, parados hoje por motivos
maiores. Apenas direi que, aproveitando-me da feliz circumstancia de j
haver alguns poos profundos de agua mais ou menos potvel debaixo do
ponto de chimico e de enorme e incontestvel superioridade em relao as
de cacimba, sob o ponto de vista bacteriolgico, estou, no momento mesmo
162
Segundo Denise SantAnna, a partir da [divulgao das pesquisas em microbiologia], o imaginrio
da limpeza sofreu modificaes significativas. A sujeira vista a olho nu passou a ser apenas uma
parte do risco, pois outro problema grave, impossvel de ser flagrado sem a ajuda de uma
microscpio, ameaava a sade de todos. SANTANNA, Denise Bernuzzi de. Higiene e higienismo
entre o Imprio e a Repblica. In.: PRIORE, Mary Del; AMANTINO, Marcia (orgs.). Histria do
corpo no Brasil. So Paulo: Editora Unesp, 2011, p. 306.
163
BORGES, Pedro Augusto. Mensagem apresentada Asembla Legislativa do Cear em 1 de
Julho de 1901 pelo presidente do estado. Fortaleza: Typ. Economica, 1901, p. 58-59.
164
BORGES, ibid., p. 60.
235
165
RIBEIRO, Carlos da Costa. Relatrio da Inspectoria de Hygiene Publica Apresentado pelo
Inspector. In.: BARROSO, Hermino. Relatrio Apresentado Ao Exm. Snr. Presidente do Estado
do Cear pelo Secretrio de Negocios do interior. Fortaleza: Typ. Gadelha, 1915, p. 94.
166
RIBEIRO, Carlos da Costa. Hygiene. In.: Norte Mdico, Anno. IV, N 3 e 4. Mar e Abr. Fortaleza:
1916, p. 13-14.
167
Segundo o resumo das atas publicados na Revista Cear Mdico, apenas no ano de 1928 o
abastecimento de gua foi assunto nos dias 18 de maio, 06 de julho, 10 de julho, 27 de julho, 03 de
agosto e 09 de novembro de 1928.
168
Chegou a ser escolhido juntamente com Guilherme Studart para ocupar o cargo de presidente
honorrio da instituio. SALES, Tibrio Campos. Medicina, Associativismo e Represso: o Centro
Mdico Cearense e a formao do campo profissional em Fortaleza (1928-1938). Dissertao
(Mestrado em Histria). Centro de Humanidades. Universidade Federal do Cear. Departamento de
Histria, Fortaleza, 2010, passim.
236
169
Cear Mdico, Dez. 1928.
170
Somente no segundo semestre de 1928 perodo em que retomada a publicao da revista
Cear Mdico , encontram-se seis referncias em atas ao Aude do Acarape do meio. Conferir:
Cear Mdico, set. 1928; Cear Mdico, dez. 1928.
171
Cear Mdico. set. 1928, p. 14
172
Cear Mdico. set. 1928, p. 14-16
173
VIGARELLO, Georges. O limpo e o sujo: uma histria da higiene corporal. So Paulo: Martins
Fontes, 1996, p. 2.
174
VIGARELLO, ibid., p. 3.
237
chama a ateno para o quanto o limpo foi ficando mais complexo.175 O que no
quer dizer mais limpo, apesar dessa justificativa ter sido amplamente utilizada pelo
saber mdico, inclusive em Fortaleza. Perceber a limpeza como um processo
civilizador ou parte dele significa, eminentemente, que se trata de um processo
hierrquico e desigual.176 Ela se destina aos que no tem, ao sujo. Contudo, o sujo
e o limpo no so noes alheias s historicidades e as disputas pelo direito de
enunciar.
As legislaes municipais, comisses e outras buscavam impor esses
padres, mas entre a norma e o uso havia uma enorme distncia. Entendida como
um cdigo de civilidade a limpeza, assim como
(...) todo dispositivo que visa criar represso e controle provoca tticas que
o amenizam ou o subvertem, e, inversamente, que no existe produo
cultural livre e indita que no empregue materiais impostos pela tradio,
pela autoridade ou pelo mercado e no esteja submetida vigilncia ou
censura de quem tem poder sobre as palavras e as coisas. Os programas
das festas ou os usos da civilidade so ilustraes exemplares dessa
tenso entre disciplinas superadas e liberdades foradas, que uma oposio
demasiado simples entre espontaneidade popular e coeres no consegue
177
esgotar.
175
VIGARELLO, Georges. O limpo e o sujo: uma histria da higiene corporal. So Paulo: Martins
Fontes, 1996, passim.
176
A referncia explicita a Norbert Elias, feita por Georges Vigarello, possvel ler na introduo do
seu livro o limpo e o sujo. VIGARELLO, Georges. O limpo e o sujo: uma histria da higiene
corporal. So Paulo: Martins Fontes, 1996.
177
CHARTIER, Roger. Leituras e Leitores na Frana do Antigo Regime. So Paulo: Editora
UNESP, 2004, p. 16-17.
178
PAIVA, Manuel de Oliveira. A Afilhada. [1889] In.: Obra Completa. Rio de Janeiro: Graphia
Editorial, 1993, p. 247.
238
Como desculpa a afilhada respondeu que havia rifado uma fronha que
outrora tinha bordado. Contudo, o dinheiro e os presentes vinham do Visconde
Afrodsio com quem ela havia engatado um enlace e almejava casar. Porm,
Antnia no era a nica amante do Visconde que no tinha inteno de despos-la.
Enredo parte, uma das perguntas que fica : por qual motivo a utilizao desses
produtos pela afilhada Antnia filha de pedinte cego e criada pela madrinha
Fabiana causava estranhamento?
Cheirar bem no era para todos. Produtos que se destinavam a
domesticar os odores do corpo custavam caro e, alm disso, eram tidos como
dispensveis por grande parte da populao da cidade, que trabalhava pela
sobrevivncia.
Em anncio de 1853, consta que os sabonetes eram timos para fazer
mimos.179 J a gua-florida, segundo um anncio de 1868, era um perfume
delicado, mimoso e, ao mesmo tempo, durvel importado dos Estados Unidos que
podia ser usado no leno, toucador, no banho ou, diludo em gua, como dentifrcio.
Alm das vantagens olfativas, o produto, ainda segundo o reclame, era um meio
seguro e rpido contra as dores de cabea, nervosidade, debilidade, desmaios,
flatos, assim como contra todas as formas ordinrias de accidentes hystericos, alm
de fazer desapparcer qualquer um disfiguramento que tanto desfeiam as lindas
feies do bello sexo.180
Doenas essas exceto as alteraes nas feies , segundo alguns
mdicos e boticrios da poca, ligadas efuso de odores ptridos e, assim,
malficos.181 Alm disso, o anunciante declarou que seu produto fazia remover de
sobre a pelle do rosto toda a qualidade de brotoejas, ebullies, sardas, pannos,
manchas, impigens, e espinhas que s a gua j no capaz de fazer.182 Assim, j
no bastava um banho, era almejado, aos que podiam pagar, um tratamento
esttico e profiltico.
Em anncio intitulado perfumaria higinica o comerciante divulgava o
recebimento de essencias, extractos, leos, sabonetes, gua de colnia, gua
179
Pedro II, 22 Jun 1853, p. 4.
180
Cearense, 10 Jul 1868, p. 4.
181
Alain Corbin cita a crescente utilizao de substncias perfumadas que visavam equilibrar os
maus odores na Frana na segunda metade do Sculo XVIII. Prtica que perdurou por muitos anos,
sendo suplantada pela cientificidade atribuda s anlises qumicas crescentes no decorrer da
primeira metade do sculo seguinte. CORBIN, Alain. Saberes e Odores: o olfato e o imaginrio
social nos sculo XVIII e XIX. So Paulo: Companhia das Letras, 1987.
182
Cearense, 10 Jul 1868, p. 4.
239
183
Perfumaria Higienica. Cearense, 5 nov 1871, p. 4.
184
CORBIN, Alain. Saberes e Odores: o olfato e o imaginrio social nos sculo XVIII e XIX. So
Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 95-96.
185
Relatrio de Hygiene. Cearense, 16 Jun 1868, p. 1.
186
CORBIN, ibid., p. 83.
CONSIDERAES FINAIS.
1
WORSTER, Donald. Para fazer histria ambiental. Estudos Histricos, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 8.
1991, p. 199.
2
Antonio Luiz Macdo e Silva Filho (2003, p. 19) prope como mtodo para o conhecimento cultural
e histrico do Centro da cidade de Fortaleza sem negligenciar o saber oriundo dos livros o
caminhar. Segundo ele, a percepo da riqueza da rea central de Fortaleza est condicionada a
uma geografia dos passos. SILVA FILHO, Antonio Luiz Macdo e. A cidade e o patrimnio
histrico. Fortaleza: Museu do Cear, 2003, p. 19.
3
GIRO, Raimundo. Geografia Esttica de Fortaleza. 2 Ed. Fortaleza: Banco do Nordeste do
Brasil, 1979, p. 34.
241
4
WOSTER, Donald. Pensando como um rio. In.: ARRUDA, Gilmar (org. ). A natureza dos rios:
histria, memria e territrios. Curitiba: Editora UFPR, 2008, p. 28.
5
SANTANNA, Denise Bernuzzi de. Cidade das guas: uso de rios, crregos, bicas e chafarizes em
So Paulo (1822-1901). So Paulo: Ed. Senac, 2007, p. 293-294.
6
Edio pesquisada de 1979. GIRO, Raimundo. Geografia Esttica de Fortaleza. 2 Ed. Fortaleza:
Banco do Nordeste do Brasil, 1979, p. 34.
7
FEBVRE, Lucien. O Reno: histria, mitos e realidades. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2000,
p. 71-79.
242
8
Para conferir trechos desse embate, conferir: GIRO, Raimundo. A Cidade do Paje. Fortaleza:
Editora Henriqueta Galeno, 1982.
9
ALBUQUERQUE JNIOR, Durval Muniz. Violar memrias e gestar a histria: abordagem a uma
problemtica fecunda que torna a tarefa do historiador um parto difcil. CLIO - Srie Arqueolgica
(UFPE), v. 15, p. 39-53, 1994.
10
Introduo. In.: SOUSA, Simone de; NEVES, Frederico de Castro. (orgs.) Seca. Fortaleza: Edies
Demcrito Rocha, 2002.
11
Muniz, Maria gueda Pontes Caminha. Plano Diretor Como Instrumento de Gesto da Cidade:
O caso da cidade de Fortaleza/CE. Dissertao (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Centro de
Tecnologia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Ps-Graduao em
Arquitetura e Urbanismo, Natal, 2006, p.121; CASTRO, Jos Liberal de. Contribuio de Adolfo
243
foi apontada com o empecilho ao crescimento da cidade, muito pelo contrrio, ela
aparece como uma das boas caractersticas de Fortaleza.
A gua oriunda do Acarape e outros pontos e transportada por canos
no foi rapidamente assimilada pela populao. Muitos mantiveram a utilizao da
gua oriunda das cacimbas concomitantemente da trazida pela rede de
abastecimento havia ainda os que, alm disso, juntavam gua das chuvas e as
compravam do aguadeiro para diferentes fins. possvel, como escreveu Denise B.
SantAnna, que houvesse uma uma ponta de estranheza em relao s guas que
parecem emancipadas da terra ou que essa manuteno remetesse a tticas para
driblar o preo elevado da gua distribuda em canos.12 Em Fortaleza, Knia Sousa
Rios observou que para suas entrevistadas o lquido que brota de forma natural
parece mais confivel para o banho e a ingesto.13 O consenso em torno da ideia
de que se perdeu muito com a poluio das aguadas, acaba escondendo a
necessidade de realizar pesquisas que busquem compreender o tamanho do que foi
perdido, dos usos, dos sentidos dados s guas.14 Este foi um dos caminhos
trilhados por este trabalho. Alm disso, tomou-se como vlido no separar em uma
relao do tipo causa e efeito no processo de estabelecimento de redes de
abastecimento e outras obras pblicas com a poluio das guas.15 Afinal,
esto atrelados. Com escreveu Bruno Latour:
[...] no existe de um lado a poltica e de outro a natureza. Desde a
inveno do termo, toda poltica definida por sua relao com a natureza,
de cada trao, cada propriedade, cada funo, de encurtar caminhos, de
16
iluminar a vida pblica.
Herbster forma urbana da cidade de Fortaleza. Revista do Instituto do Cear. Fortaleza: Ed.
Instituto do Cear, 1994, p.65.
12
SANTANNA, Denise Bernuzzi de. Cidade das guas: uso de rios, crregos, bicas e chafarizes em
So Paulo (1822-1901). So Paulo: Ed. Senac, 2007, p. 179-180.
13
RIOS, Knia Sousa. Por gua abaixo e rio acima: falas e escritos sobre a gua no Cear. In.:
MEDEIROS, Aline da Silva; RIOS, Knia Sousa; LUCAS, Meize Regina Lucena (orgs.). Imaginrio e
Cultura. Fortaleza: Ncleo de Documentao Cultural UFC / Instituto Frei Tito de Alencar, 2011, p.
216 218.
14
JORGE, Janes. Tiet, o rio que a cidade perdeu (So Paulo, 1890-1940). So Paulo: Alameda,
2006.
15
SERRES, Michel. O mal limpo: poluir para se apropriar? Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
16
LATOUR, Bruno. Polticas da natureza: como fazer cincia na democracia. Bauru, SP: EDUSC,
2004, p. 11.
244
BEZERRA, Jos Tansio Vieira. Quando a ambio vira projeto: Fortaleza, entre o
progresso e o caos (1846/1879). 2000. 190 f. Dissertao (Mestrado) - Curso de
Histria, Programa de Ps-graduao em Histria, Pontifcia Universidade Catlica
de So Paulo, So Paulo, 2000.
CASTRO, Hebe Maria Mattos de. Ao sul da histria: os lavradores pobres na crise
do trabalho escravo. 2 Ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2009.
CORBIN, Alain. Saberes e Odores: o olfato e o imaginrio social nos sculo XVIII e
XIX. So Paulo: Companhia das Letras, 1987.
CORTEZ, Ana Isabel Parente. Os caminhos serto dentro: Vias abertas por
nativos e estradas de ribeiras no Cear no sculo XVIII. Revista Latino-americana
de Histria, So Leopoldo, v. 2, n. 8, p.141-160, out. 2013.
COSTA, Raul Max Lucas da. Tenses sociais no consumo de bebidas alcolicas
em Fortaleza (1915-1935): Trabalhadores, bomios, brios e alcolatras. 2009. 209
f. Dissertao (Mestrado) - Curso de Histria, Programa de Ps-graduao em
Histria, Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2009.
CUNHA, Dandra Baptista da; Guerra, Antonio Jos T. (orgs.) A Questo Ambiental:
Diferentes Abordagens. 4 Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.
249
ELIAS, Norbert. A Sociedade dos Indivduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
1994.
FALCO SOBRINHO, Jos. Litoral Cearense: uma contribuio para a tipologia das
dunas. In.: SILVA, Jos Borzacchiello da. et al. (orgs.) Litoral e Serto: natureza e
sociedade no nordeste brasileiro. Fortaleza: Expreso Grfica, 2006.
FUNES, Eurpedes Antnio Funes. Negros no Cear. In.: SOUSA, Simone (org.).
Uma nova histria do Cear. 2. Ed. Fortaleza: Edies Demcrito Rocha, 2002.
JORGE, Janes. Tiet, o rio que a cidade perdeu (So Paulo, 1890-1940). So
Paulo: Alameda, 2006.
MACEDO, Dimas. Prefcio. In.: MARTINS, Fran. Ponta de Rua [1937]. 2 Ed.
Fortaleza: Casa de Jos de Alencar / UFC, 1999.
MAIA NETO, Emy Falco. Um som meio fanhoso, mas gostoso de ouvir:
radiofonia e cultura musical em Fortaleza (1932-1944). Dissertao (mestrado) em
Histria Social. Universidade Federal do Cear. Fortaleza: 2010.
__________. A paisagem como fato cultural. In.: YZIGI, Eduardo (org.). Turismo e
paisagem. So Paulo: Contexto, 2002.
MELO, Evaldo Cabral de. O norte agrrio e o imprio (1871-1889). Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1984.
OLIVEIRA, Almir Leal de; BARBOSA, Ivone Cordeiro (orgs.). Leis Provinciais:
Estado e Cidadania (1835-1861). Compilao das Leis Provinciais do Cear
comprehendendo os annos de 1835 a 1861 pelo Dr. Jos Liberato Baroso. Ed. Fac-
similada. Fortaleza, INESP, 2009.
PAULA, Karuna Sindhu de. Travessia por Terceira Margem de um rio: natureza
e cultura no Rio Jaguaribe (Sculo XIX-XX). Dissertao (Mestrado em Histria)
Programa de Ps-Graduao em Histria, Universidade Federal de Pernambuco,
Recife, 2011.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Uma Outra Cidade: o mundo dos Excludos no Final
do Sculo XIX. So Paulo, Companhia Editora Nacional, 2001.
__________. Histria & Histria Cultural. Belo Horizonte: Ed. Autntica, 2005.
RAMOS, Xislei Arajo. Por trs de toda fuga, nem sempre h um crime: O
recrutamento a lao e os limites da ordem no Cear (1850-1875). Dissertao.
(Mestrado em Histria) Universidade Federal do Cear, 2003.
__________. Histria das coisas banais: nascimento do consumo sc. XVII - XIX.
Rio de Janeiro: Rocco, 2000.
256
__________. Por gua abaixo e rio acima: falas e escritos sobre gua no Cear. In.:
MEDEIROS, Aline da Silva. Rios, Knia Sousa; LUCAS, Meize R. Lucas (org.).
Imaginrio e Cultura. Fortaleza: Nucleo de Documentao Cultural UFC / Instituto
Frei Tito de Alencar, 2011.
SANTANNA, Denise Bernuzzi de. O corpo na cidade das guas: So Paulo (1840-
1910). Proj. Histria, So Paulo. V. 25. Dez 2002.
__________ (org.). Politicas do corpo: elementos para uma histria das prticas
corporais. 2. Ed. So Paulo: Estao Liberdade, 2005.
__________. O mal limpo: poluir para se apropriar? Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2011.
SILVA FILHO, Antonio Luiz Macedo e; RAMOS, Francisco Rgis Lopes, RIOS,
Knia Sousa. Apresentao. In: ALEMO, Francisco Freire. Dirio de Viagem de
Francisco Freire Alemo (1859-1861). Fortaleza: Fundao Waldemar Alcntara,
2011.
SILVA, Jane Derarovele Semeo e. Mulheres de Fortaleza nos anos de 1940: uma
vivncia da Segunda Guerra Mundial. 2000. 220 f. Dissertao (Mestrado) - Curso
de Histria, Programa de Ps-graduao em Histria, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000.
SILVA, Jos Borzacchiello da. et al. (orgs.) Litoral e Serto: natureza e sociedade
no nordeste brasileiro. Fortaleza: Expreso Grfica, 2006, p. 391.
SILVA, Rafael Ricarte da. Formao da elite colonial dos sertes de Mombaa:
terra, famlia e poder (SCULO XVIII). Dissertao (Mestrado em Histria Social),
Universidade Federal do Cear. Fortaleza, 2010.
SOUSA, Simone de; NEVES, Frederico de Castro. (orgs.) SECA. Fortaleza: Edies
Demcrito Rocha, 2002.
__________. Pensando como um rio. In.: ARRUDA, Gilmar (org. ). A natureza dos
rios: histria, memria e territrios. Curitiba: Editora UFPR, 2008
FONTES
1. MAPAS E PLANTAS
2. PERIDICOS
2.1. JORNAIS
Pedro II / 1840 1889; Cearense / 1846 1891; Constituio / 1865 1889; A
Lanceta / 1863, Aurora Cearense /1866 e Gazeta do Norte / 1880-1890.
Fonte: Biblioteca Pblica Menezes Pimentel e Biblioteca Nacional.
2.2. REVISTAS
2.2.1. Norte Mdico / 1913 1917; Cear Mdico / 1917 - 1918 e 1928 1936.
Fonte: Academia Cearense de Medicina e Biblioteca Nacional.
2.2.2. Revista do Instituto do Cear (Geogrfico, Histrico e Antropolgico) /
1887 2011. Fonte: Instituto do Cear e Academia Cearense de Letras.
3. ALMANAQUES E GUIAS
4. OFICIAIS E LEGISLAO
4.3. Pareceres
BRITO, Francisco Saturnino Rodrigues de. Saneamento de Fortaleza (1923). In.:
_________. Obra Completa de Saturnino de Brito: Pareceres - Primeira Parte.
Vol. XVI. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1944.
LIMA, Herman. Poeiras do tempo: memrias. Rio de Janeiro: Jos Olympio Editora,
1967.
LOPES, Marciano. Royal Briar: a Fortaleza dos anos 40. Fortaleza: Tiprogresso,
1988.
264
MARTINS, Fran. Ponta de Rua [1937]. 2 Ed. Fortaleza: Casa de Jos de Alencar /
UFC, 1999.
MENEZES, Luiz Barba Alardo de. Memria da Capitania do Cear. In.: Revista
Trimensal do Instituto Histrico, Geographico e Ethnographico do Brasil, Rio
de Janeiro: B. L. Garnier, 1878.
PAIVA, Manuel de Oliveira. A Afilhada. [1889] In.: Obra Completa. Rio de Janeiro:
Graphia Editorial, 1993.
QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. 92. ed. Rio de Janeiro, RJ: Jos Olympio, 2011.