Política Tirânica e Indignação Ética No Romance Terra de Caruaru, de José Condé
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RESUMO: Este trabalho tem como principal objetivo discutir as relaes entre tica, moral e poltica
no romance Terra de Caruaru, de Jos Cond. A obra, publicada em 1960, romanceia o surgimento da
cidade de Caruaru, situada no agreste pernambucano, ainda no sculo XVIII, e, posteriormente, seus
desdobramentos na dcada de 1920. Com base nas definies de tica, moral e poltica tanto na tica
aristotlica (ARISTTELES, 1979; 1985) quanto de pensadores modernos, como Arendt (2003; 2004)
e Sung e Silva (1999), analisa-se como se d a presena da tirania no romance, impressa na
personagem Ariosto Ribas, bem como suas semelhanas e diferenas com Creonte, da tragdia grega
Antgona, de Sfocles. Ao comparar os tiranos, tomam-se como base os estudos abordados em
Koivukoski e Tabachnick (2005) sobre os modelos de tirania na Antiguidade e na Idade Moderna.
Para isso, considera-se ainda a abordagem comparada de Carvalhal (2006), Remak (1961) e
Swarnakar (1998). Conclui-se que a personagem Ariosto Ribas demonstra-se um tirano ainda mais
desmedido do que o modelo tirnico antigo, tal como Creonte, pois suas aes so demasiadamente
autocentradas e sem qualquer sustentao social e poltica, o que gera a indignao tica na sociedade
caruaruense retratada na narrativa.
PALAVRAS-CHAVE: tica; Moral; Poltica; Tirania; Caruaru.
ABSTRACT: This paper aims to discuss about the relationships among ethics, moral and politics in
the novel Terra de Caruaru, by Jos Cond. This novel, published in 1960, portrays the origin of
Caruaru city, located in Pernambuco countryside, in the 18th century, as well as its developments in the
1920s. Based on both Aristotelian definitions about ethics, moral and politics (ARISTTELES, 1979;
1985) and modern authors, such as Arendt (2003; 2004) and Sung and Silva (1999), it analyses how
tyranny takes place in the novel, focusing on Ariosto Ribas, and his differences and similarities to
Creon from the Greek tragedy Antigone, by Sophocles. In order to compare both tyrants, it considers
the studies approached in Koivukoski and Tabachnick (2005) about the tyranny models in Ancient
Times and Modern Age. For that, it also considers the comparative method by Carvalhal (2006),
Remak (1961) and Swarnakar (1998). It concludes that Ariosto Ribas is even a more unconscionable
tyrant than the ancient tyrannical model, such as Creon, because his actions are completely self-
centered and with no social and political ground, what causes the ethical indignation in Caruaru
society portrayed in the narrative.
KEYWORDS: Ethics; Moral; Politics; Tyranny; Caruaru.
Introduo
1
Doutor em Cincias da Religio e Professor titular da Universidade Estadual da Paraba, Depto. de Letras, Ps-
graduao em Literatura e Interculturalidade. E-mail: [email protected]
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Doutorando em Literatura e Interculturalidade pela Universidade Estadual da Paraba e Professor do Instituto
Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Pernambuco. E-mail: [email protected]
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sociedade. O prprio termo politiks deriva de plis, que significa cidade ou estado em grego.
A poltica est, portanto, inerentemente manifesta nas interaes humanas, regente da vida
coletiva. Ao retomar o pensamento aristotlico, Hannah Arendt (2003; 2004) introduz o
conceito de victa ativa, que pressupe a vida poltica como ao. Para a filsofa, a poltica
consiste em prtica que, por seu turno, se configura como ao. Desse modo, tanto Aristteles
(1979), que tinha em sua tica o caminho para a prtica de hbitos virtuosos em nome do bem
da plis, quanto Arendt (2003; 2004), para quem o sujeito individual no pode modificar o
mundo pode at servir de catalizador para mudanas, mas a ao s se consolida na
pluralidade concentram na coletividade a fonte de sua tica.
nessa esteira que este ensaio se prope a caminhar. Observar, analisar, problematizar
e discutir, no campo da literatura de fico, questes ticas, morais e polticas, com foco na
figura do tirano e da indignao social que ele faz emergir. Para tal, tem-se como corpus de
estudo o romance Terra de Caruaru, de Jos Cond, cuja personagem Ariosto Ribas ser
eventualmente comparada a Creonte, personagem rei de Tebas na tragdia grega Antgona, de
Sfocles. Embora com enredos e autores situados histrica, geogrfica e culturalmente em
contextos to distantes, um na Caruaru brasileira do sculo XX e o outro na Grcia antiga do
sculo V a.C., ambas as obras aproximam-se pelo perfil das personagens mencionadas, que,
enquanto lderes de sua plis, Caruaru e Tebas, respectivamente, assumem uma postura
tirnica bem semelhante em alguns aspectos, cabendo a observao de similaridades e
diferenas entre as duas personagens e sua relao com a tica poltica e social na composio
do enredo.
Nessa etapa do ensaio, toma-se como princpio o estudo da literatura comparada, que
designa uma forma de investigao literria que confronta duas ou mais literaturas
(CARVALHAL, 2006, p. 5). Contudo, no se pode deixar de levar em conta o que adverte
Swarnakar: Uma abordagem comparativa tambm deve ser sensvel ao impacto nas obras
literrias dos contextos especficos nos quais os autores as escreveram3 (SWARNAKAR,
1998, p. 03, traduo livre). Portanto, no se busca indicar semelhanas entre o contexto geral
das cidades de Caruaru e Tebas, mas demonstrar singularidades no comportamento dos dois
tiranos. Embora no se possa afirmar nem pretenso aqui, j que no se trata de um estudo
gentico que Jos Cond tenha realizado uma reescritura da tragdia grega, ainda que o
3
Original: A comparative approach must also be sensitive to the impact on literary works of the particular
contexts in which authors have written.
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estudo de Costa (2013) tenha apontado Sfocles como um dos autores presentes na biblioteca
particular de Jos Cond, importante considerar que
Estudando relaes entre diferentes literaturas nacionais, autores e obras,
a literatura comparada no s admite, mas comprova que a literatura
se produz num constante dilogo de textos, por retomadas, emprstimos
e trocas. A literatura nasce da literatura; cada obra nova uma
continuao, por consentimento ou contestao, das obras anteriores, dos
gneros e temas j existentes (PERRONE-MOYSS, 1990, p. 94).
Nessa tica, as relaes inter e intratextuais nas obras literrias esto mais prximas do
que se imagina. Voluntria ou involuntariamente, as literaturas de diversas origens e perodos
histricos permanecem em constante dilogo, o que leva Remak a declarar que
A Literatura Comparada o estudo da literatura para alm das fronteiras de
um pas especfico e o estudo da relao entre literatura e outras reas do
conhecimento e crena, tais como artes (pintura, escultura, arquitetura,
msica), filosofia, histria, cincias sociais [...], religio etc. [...] a
comparao de uma literatura com outra ou outras, e a comparao da
literatura com outras esferas da expresso humana4 (REMAK, 1962, p. 03,
traduo livre).
4
Original: Comparative Literature is the study of literature beyond the confines of one particular country, and
the study of the relationship between literature on the one hand, and other areas of knowledge and belief, such as
the arts (e.g. painting, sculpture, architecture, music) philosophy, history, the social sciences [], religion etc.
[] it is the comparison of one literature with another or others, and the comparison of literature with
other spheres of human expression.
5
O termo coronel utilizado aqui no sentido de coronelismo, isto , a estrutura de poder privada (o coronel)
sobre o poder pblico, tendo como fortes caractersticas o mandonismo e o apadrinhamento.
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(COND, 2011, p. 181). Esse comportamento, tpico do tirano, pode ser tambm identificado
em Creonte, quando nega os pedidos e argumentos de Antgona e de seu filho Hemon sobre o
sepultamento de Polinice e condenao de Antgona, modificando sua postura somente depois
das previses de Tirsias (o sbio-cego). A intransigncia, ou tirania, das personagens resulta
em tragdias: a morte de Jorge, em Terra de Caruaru, e as mortes de Antgona, Hemon e
Eurdice, em Antgona. Todas por suicdio.
Na segunda seo, aborda-se a runa do tirano Ariosto, apontando de que modo a tica
representa o ponto de partida para as mudanas ocorridas na sociedade caruaruense retratada
no romance. Em outros termos, a forma como a tica historiciza a moral estabelecida, ao
modificar as prticas sociais, sobretudo a tirania que desfavorece a coletividade. Toda essa
mudana encontra sua origem no que Sung e Silva (1999) chamam de indignao tica, que
ocorre quando uma comunidade se rebela contra as prticas desfavorveis ao bem comum. A
indignao tica no somente retratada no romance como representa seu clmax, o ponto
crucial para as mudanas que iro desfechar a narrativa.
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melhores lojas da capital, cortinas de seda pura, tapetes, cristais; compravam carros Ford e
Overland (COND, 2011, p. 45). Contudo, o sistema poltico da cidade mantm prticas
arcaicas, com destaque para o mandonismo e os votos de cabresto. Trata-se de uma sociedade
que, claramente, se encontra em um processo de transio do rural ao urbano, do arcasmo
modernidade, da oligarquia a um modelo um pouco mais democrtico.
O coronel Ulisses Ribas, mesmo sem cargo poltico oficial, quem emite a ltima
sentena para as decises polticas da cidade no primeiro momento da narrativa. As
personagens que exercem os principais cargos de comando, como o prefeito Zica Soares, o
tenente Batista (delegado da cidade) e o juiz Taveira, obedecem aos ditames do coronel Ribas.
A razo dessa subservincia emana do poder que Ulisses mantm de decidir os ocupantes de
tais cargos, fazendo dessas personagens seus eternos devedores: Ulisses Ribas nunca desejou
ser prefeito. Satisfazia-o, inicialmente, a vaidade de saber que o homem que estava no Pao
Municipal a tinha sido botado por ele (COND, 2011, p. 148).
Antes da metade da narrativa, na pgina 115, Ulisses Ribas assassinado, deixando
assim seu prestgio de coronel para o filho Ariosto Ribas, que, junto com seu pai, j exercia o
poder sobre os habitantes da cidade, a exemplo da cena em que o velho bbado Jos Incio,
sem intenes, por cuspir um pouco de clice no sapato de Ariosto, recebe ordens de priso:
Ariosto Ribas puxa-o bruscamente pela ponta da camisa fora da cala: - Est
preso, seu atrevido. [...] para aprender a respeitar. [...] Bote este cabra na
cadeia. [...] Vamos, adiante diz o soldado. Que foi que fiz? Sou homem
de paz, no bulo com ningum. Cala a boca e toca pra frente. Ariosto retira-
se. Comentando o ocorrido, mas indiferentes, os outros voltam para o
interior da bodega (COND, 2011, p. 72-73).
Com a morte de Ulisses, Ariosto comea a inaugurar prticas cada vez mais
intransigentes. Comea impedindo Dondon (amante de Ulisses) e seus dois filhos de verem o
falecido: Pelo amor de Deus, me deixem entrar. Os meninos querem ver o pai pela ltima
vez. Vestida de preto, xale na cabea, Dondon estava transtornada. Quando Ariosto foi
avisado, chamou um soldado: Bote pra fora (COND, 2011, p. 119).
Dondon, que antes era visitada pelos interesseiros da cidade, incluindo o prefeito Zica
Soares e o tenente Batista, para pedidos de favores polticos (j que Ulisses Ribas atendia a
todos os desejos da amante), agora passa a ser renegada, sendo ordenada por Ariosto a
abandonar a cidade. O dio de Ariosto contra a amante do pai reside no sofrimento e
infelicidade de sua me, que sofrera no casamento em funo do caso extraconjugal mantido
pelo marido.
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Contudo, Ariosto deseja confirmar sua razo em dilogo com seu comparsa, o
delegado tenente Batista: No acha que estou no meu direito, tenente? Batista no
responde. Ariosto, insistindo: No acha, tenente? Acho (COND, 2011, p. 181). Nessa
cena, a postura do tirano assemelha-se de Creonte, em Antgona. Diante da autodefesa da
personagem Antgona, dos questionamentos de Hemon e dos rumores dos cidados tebanos,
Creonte declara: A cidade, acaso, me dir como devo agir? (SFOCLES, 2013, p. 53). O
prprio Corifeu, seu aliado, chega a concordar com o discurso de Hemon sobre as aes
equivocadas de Creonte: Senhor, importa, se ele falou a propsito, refletir (SFOCLES,
2013, p. 52). Mas isso no suficiente para sensibiliz-lo.
6
Original: At first glance it seems enough to say that a regime that slaughters its citizens, enslaves them,
vulgarizes their characters, and impoverishes or prevents free thought is tyrannical.
7
Original: Tyranny is monarchy, the rule of one for his own advantage or aggrandizement rather than for the
common good. The extreme tyrant rules according to his choice, that is, not by law, and has full, forceful, and
ultimately imperial power over as many people as possible.
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voltado para a cidade, como a prpria personagem afirma: E quem, acima da ptria, estima o
amigo, declaro-o ningum, pois eu [...] no silenciarei percebendo a runa ameaar os
cidados, nociva ao bem-estar (SFOCLES, 2013, p. 18). Note que a sentena contra o
sepultamento de Polinice baseada em sua traio ao povo tebano. E o de Antgona, por
desobedecer s ordens do rei. Entretanto, ao final da pea, Creonte se arrepende de suas aes,
tenta mud-las em tempo, mas sem sucesso. Com o suicdio coletivo de sua famlia, o tirano
assume: O nico culpado sou eu, e nenhum outro. Eu, s eu foi quem matou, miservel. Eu,
falo a verdade. J, guardas, tirai-me sem demora. Eu no sou nada, sou menos que ningum
(SFOCLES, 2013, p. 89). Vale destacar que, em Antgona, a religiosidade ponto de partida
e ponto de chegada. Todas as personagens, incluindo o prprio Creonte, colocam os deuses
como guias de suas aes. Inclusive, o centro da discusso entre Creonte e Antgona sobre o
sepultamento de Polinice teolgico. Antgona questiona as leis de Creonte que estariam em
desacordo com as leis divinas. O prprio desfecho trgico da pea atribudo, pelas
personagens, aos deuses, que teriam castigado Creonte por tentar ser superior a eles, como
declara Tirsias: O que fizeste no permitido [...] Quem comete tais crimes ser procurado
pelas Frias dos deuses e da Morte, infatigveis, para ser punido com os mesmos males
(SFOCLES, 2013, p. 74-75).
No que se refere a Ariosto Ribas, deve-se destacar que, diferente de Creonte, ele no
possui nenhum cargo de comando oficial na cidade. Utiliza-se de sua influncia, deixada pelo
legado do pai, para decidir o futuro dos cidados caruaruenses com base nos interesses
particulares: o aprisionamento de Jorge sustenta-se apenas na vingana pessoal pelo
assassinato de Ulisses. O descompromisso de Ariosto com os cidados declarado
abertamente: Que se dane a cidade gritava Ariosto (COND, 2011, p. 122). Na cena em
que o prefeito Zica Soares tenta impor sua autoridade ao tirano, tem-se a seguinte reao:
Virou-se, ps-se a gritar: - Prefeito? Prefeito? Voc no passa de um merda, Zica. Um
merda, ouviu? Quem voc para me proibir de fazer alguma coisa? (COND, 2011, p. 260).
Com isso, o prefeito renuncia o cargo. O presidente da cmara, Caldeira, tambm se resigna a
assumir a prefeitura. Ambas as personagens se unem aos revoltados contra a poltica tirnica
de Ariosto, que passa a se autonomear prefeito da cidade: Pois bem, o prefeito agora sou
eu (COND, 2011, p. 268). Durante toda narrativa, diferente de Creonte, Ariosto no se
arrepende de suas prticas. S perde sua posio fora, com a chegada do capito Rodolfo,
vindo da capital do estado, a mando do governador, para manter a ordem em Caruaru. As
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O termo moral deriva do latim mos, mores, que significa costumes. A moral est,
assim, estampada nos hbitos, crenas, valores, na cultura de modo geral, de uma sociedade.
A moral representada em Terra de Caruaru est, dentre outros aspectos, na poltica do
9
As aspas so utilizadas pela subjetividade que o crime de Jos Bispo carrega. O crime uma reao, uma
defesa, aps anos de sofrimento, agresses fsicas e verbais, impedimento de uma vida livre, cometidos pelo
coronel Ulisses Ribas.
10
Original: Modern tyranny is, moreover, admittedly different from ancient tyranny. It is worse.
11
Original: a small number of new features emerged in some tyrannies of the twentieth century, features that
allowed a new species of tyranny to emerge, what I call genocidal tyranny. All tyrannies are violent, but not all
set out in a systematic way to kill a substantial portion of their population. This was something new in the
twentieth century.
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Antnio representa a mudana das novas geraes. Tataraneto do antigo comandante Joo
Teixeira da Preguia, Antnio sonha com uma nova Caruaru, livre do sistema do coronelismo.
Em conversa com sua me sobre o assassinato cometido por Jos Bispo, Antnio relata:
- Est certo, mame. Mas teve l suas razes para matar. Matava ou jamais
tomava prumo na vida. Seria sempre um homem desmoralizado. Alm disso,
tenho para mim que o gesto de Jos Bispo mais significativo do que pode
parecer: foi a primeira reao contra esse regime de coronelato do interior,
em que uns poucos abusam do poder pela fora e pelo dinheiro. tempo de
acabar com isso (COND, 2011, p. 128).
A declarao de Antnio demonstra para que veio: desconstruir um regime que teve
seu tatarav como um de seus precursores. As ideias de Antnio, baseadas em uma reflexo
tica, esto consolidadas. Em conversa com seu pai, Teotnio Teixeira, acompanhada pelo
av Joo Teixeira, neto do comandante Joo Teixeira da Preguia, o jovem comenta sobre
uma matria que escrevera para publicao no jornal O Combate:
Digo que Caruaru precisa romper com seu acanhado esprito de poltica
municipal, abrir escolas, construir um hospital, industrializar-se. E isso
compete gente moa. Precisamos deixar de ser Princesa do Serto, a
terra dos avelozes esmeraldinos e outras coisas mais (COND, 2011, p.
161).
Com a formao de opinio pblica construda a partir das trs personagens e das
prticas perversas de Ariosto, o poder do tirano estaria por desmoronar. Aps o suicdio de
Jorge, a populao comea a mobilizar-se. O silncio anterior rompido. Falava-se, agora,
abertamente, contra Ariosto Ribas (COND, 2011, p. 184). O prprio juiz Taveira, antes
subordinado aos ditames dos Ribas, rebela-se: Ariosto Ribas j passou dos limites.
Amanh mesmo vou comunicar o fato ao governador (COND, 2011, p. 199). A morte de
Jorge causa revolta na populao, que levanta, inclusive, suspeitas sobre seu suicdio. Durante
o cortejo, Ao longo do percurso, as caladas estavam cheias de gente, mulheres chorando,
tristeza e revolta na fisionomia dos homens. Nunca vi coisa igual em Caruaru comentou
Belmira (COND, 2011, p. 227). O episdio instaura uma guerrilha dos habitantes contra
Ariosto Ribas e seus capachos. Como lderes da revolta esto Reinaldo e Chico Lima. A cena
em que o grupo decide ir at a casa de Ariosto assim retratada:
frente, Chico Lima e Reinaldo; tambm duas mulheres: Jovina e a rapariga
Belmira. Seguiram para a Rua da Matriz, apanhando, de passagem, pedras e
pedaos de tijolos. Como se esperassem aquilo mesmo, alm dos cinco
soldados, vrios cabras de Ariosto Ribas tomaram conta da calada da casa,
rifles apontados na direo da turba. (COND, 2011, p. 228).
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Consideraes finais
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