D - Lino, Sonia Cristina Da Fonseca Machado
D - Lino, Sonia Cristina Da Fonseca Machado
D - Lino, Sonia Cristina Da Fonseca Machado
DISSERTAO DE MESTRADO
CURITIBA 1986
SONIA CRISTINA DA FONSECA MACHADO LINO
Curitiba, 19 86
A o Rubinho, companheiro desde
o incio e a noss* filh* que
involuntariamente acompanhou
e participou da fase final do
trabalho.
AGRADECIMENTOS
Pgina
INTRODUO . . . . . 09
Referncias Bibliogrficas 15
I. AS ORIGENS DO FEMINISMO 17
1.1. O Surgimento das Primeiras Organizaes
Feministas * 23
1.2. 0 Movimento Feminista Norte Americano 26
Referncias Bibliogrficas 32
:
CONCLUSO ' . , Hg
sociedades.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
i
1. ALMEIDA, Maria Suely Kofes et .alii. Colcha ds Retalhos. Estudos
sobre a famlia no Brasil. So Paulo, Brsiliense, 19 82 ;
SAMARA, Eni Mesquita. A Famlia Brasileira. Sao Paulo,
Brasiliense, 1981.
2. HAHNER, June. A Mulher no Brasil. Rio de Janeiro, Civilizao
Brasileira, 19 78 ; LEITE, Mriam Moreira. Outra Face do
Feminismo: Maria Lacerda de Moura. So Paulo, tica, 19 84.
CAPITULO I
ORIGENS DO FEMINISMO
AS ORIGENS DO FEMINISMO
!
A escolha da mulher como agente social central deve-se
ao fato desta estar de maneira geral excluda dos relatos
i
historeos, o que, por si s, j revela muito na construo do
objeto e do problema da integrao social da mulher, tema at
hoje causador de polmicos debates. Deve-se ressaltar, no
entanto, que no se pretende destacar a mulher da sociedade
como agente social isolado e desligado das foras sociais
motrizes da sociedade. Essa posio seria fazer o movimento
contrario, sem, no entanto, alterar a estrutura das anlises
que excluem a mulher dos relatos histricos.
18
2.1. Origens
o historiador social.
;
Nessa concepo, a mulher cientificista no estaria
condenada ignorncia, sua salvao era a educao que lhe
permitiria recuperar o atraso imposto pelo tempo. A importncia
social deste desenvolvimento mental feminino era a reformulao
da famlia no sentido do progresso social.
E mais adiante:
Ou a educao da mulher dissolve
a famlia e deve-se educar a
mulher exatamente para que se
aniquele essa instituio que
vivendo da ignorncia, da
escravido, da fraude nos contratos
bilaterais nociva e imoral, ou
a educao da mulher no dissolve
a famlia porque esta no se
fundamenta na ignorncia feminina
e deve-se educar a mulher porque
ela uma utilidade que no
acarreta prejuzos^.
j
Intermediando ps dois polos da sociedade colonial,
pode-se reconhecer um terceiro elemento feminino frequetemente
!
esquecido dos relatos: as mulheres brancas e pobres, para
quem era reservado um campo de atuao restrito ao comrcio de
rua de produtos domsticos por elas produzidos, a ajuda no
trabalho familiar chefiado pelo marido ou a prostituio.
conferncia.
Adultos
< Soma 129.705 55,9
Total 5.937.158 66.732 987.678 204.297 350.202 87.128 93.126 31.607 144.166 31.935 331.093 20.730.105
++
Homens 353.246 7.904 170.802 45.953 142.633 1.234 4.487 8.126 17.004 6.990 9. 707 151.872
Mulheres 35.585 1 30.663 191 4.624 99 406 6.911 1.858 22.934 539.731
Total 388.831 7.905 201.465 49.144 147.257 1.234 4.586 8.532 23.915 8.848 32.641 691.603
+++
Homens 808 13 150 146 87 1 16 23 5 90 12.842
Mulheres 83 64 2 12 7 2 55 10.011
TOTAL 6.376.880 74.650 1. 189.357 2 5 3 . 5 8 7 497.548 88.363 97.712 40.16 7 168.111 40.790 363.879 21.444.561
+ Cidados B r a s i l e i r o s ++ E s t r a n g e i r o s +++ N a c i o n a l i d a d e i g n o r a d a
i
i
Enfatizam-se as qualidades naturais que levam a
mulher ao exerccio da assistncia social na vida pblica,
assim corno pressupe-se j vinha realizando na esfera privada,
com o objetivo final da abertura de horizontes y ao homem. 0 papel
social da mulher vinculava-se impreterivelmente a uma posio
secundaria onde o homem exercia as funes principais.
de viagem por ter essa aberto em seu pas uma escola "com
o ideal de resolver o problema do servio domstico". Esta
instituio lutaria por t um aumento de salrio, diminuio das
horas de trabalho e uma tarde de repouso na semana para as
empregadas domsticas argentinas como "prmio" pela sua
dedicao patroa. E a feminista brasileira conclui:
pretendia organizar.
s
Das sugestes apresentadas por Bertha Lutz para a
Constituio de 19 34 e de sua participao como deputada na
Cmara Federal, percebe-se a influncia da ideologia liberal
em seu pensamento. Exaltava o trabalho tcnico na administrao
.10 7
Embora f r u t o do d e s e n v o l v i m e n t o cientfico do s c u l o
XIX, no se c o n s t i t u i apenas numa d o u t r i n a moral e poltica
mas numa e s p e c i e de r e l i g i o p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o cientfico,
uma f i l o s o f i a que s e r v i s s e de base p a r a uma p o l t i c a cientfica.
A n a t u r e z a humana e t r a b a l h a d a no p o s i t i v i s m o a
p a r t i r de uma a n a l o g i a e n t r e a biologia e a sociologia que vai
dar o r i g e m a um programa moral e p o l t i c o que se acentuar
p r i n c i p a l m e n t e na sua u l t i m a fase.
A f a m l i a i r a assumir p a p e l fundamental no p r o g r e s s o
s e n t i m e n t a l p r o p o s t o p e l o p o s i t i v i s m o uma v e z que s e r atravs
d e l a que o homem s u p e r a r o p r i m i t i v i s m o moral e se socializara.
So a m o r a l i d a d e s o c i a l p o d e r r e g e n e r a r a humanidade
atravs do e s t a b e l e c i m e n t o de d e v e r e s e de uma ordem no
exerccio do p o d e r .
das r e l a e s e n t r e as c l a s s e s atravs do e s t a b e l e c i m e n t o de
direitos e deveres individuais na produo e d i s t r i b u i o dos
bens.
De o u t r o l a d o a.i.educaao v i s t a como v e c u l o de
conscientizao do p a p e l s o c i a l m o r a l i z a n t e da mulher.
No a r t i g o 3 do E s t a t u t o da FBPF e s s e s o b j e t i v o s so
explicitados:
Art. 3...
1. Promover a educao da mulher e elevar o nvel de
instruo feminina.
2. Proteger as mes e a infncia.
3. Obter garantias legislativas e prticas para o trabalho
feminino.
4. Auxiliar as boas iniciativas da mulher e orient-la
na escolha de uma profisso.
5. Estimular o espirito de sociabilidade e de cooperao
entre as mulheres e interessa-las pelas questes
sociais e de alcance pblico.
6. Assegurar mulher os direitos polticos que a
constituio lhe confere e prepara-la para o exerccio
inteligente desses direitos.
7. Estreitar os laos de amizade com os demais pases
americanos, a fim de garantir a man^eno da paz e
da justia no Hemisfrio Ocidental.
112
A p e s a r de se u t i l i z a r de c o n c e i t o s p o s i t i v i s t a s na
e l a b o r a o de seu d i s c u r s o , e de seu pensamento, as reivindicaes
de maior p a r t i c i p a o p o l t i c a veiculadas p e l o feminismo em
g e r a l , no c o i n c i d i a m com a imagem f e m i n i n a i d e a l i z a d a pelo
pensamento comteano.
Aqui, os p r i n c p i o s liberais no se o r i g i n a r a m na
luta entre burguesia e a r i s t o c r a c i a nem se embasaram
economicamente na r e v o l u o i n d u s t r i a l e nas l u t a s operrias.
Na r e a l i d a d e a industrializao brasileira s
o c o r r e r i a no s c u l o s e g u i n t e e os p r i m o r d i o s do liberalismo
aqui se d e f i n i r a m p a r t i r de uma a d a p t a o de seus c o n c e i t o s
~ 54
a uma r e a l i d a d e e s c r a v i s t a e uma t r a d i a o c o l o n i a l .
Essa a d a p t a o no d e s t i t u i u , no e n t a n t o , o liberalismo
brasileiro de uma de suas p r i n c i p a i s caractersticas, ou s e j a ,
o cunho meramente j u r d i c o de suas r e i v i n d i c a e s . Ao contrario,
essa c a r a c t e r s t i c a aqui se acirrou.
A v e r i f i c a o dessa aproximao se f a z no s no
c a r t e r de c l a s s e assumido p e l o movimento como tambm p e l a s
opoes de l u t a que se l i m i t a r a m ao a s p e c t o jurdico.
No B r a s i l d e i x a m - s e de l a d o c r t i c a s com r e l a o
hierarquia de p o d e r d e n t r o da f a m l i a , influncia conservadora
da I g r e j a na formao f e m i n i n a e a l u t a p o r d i r e i t o s civis da
mulher, p o r uma opo jurdico-poltica.
-t
No B r a s i l , o voto feminino f o i "coincidentemente
c o n c e d i d o j u n t o com a p r i m e i r a legislao trabalhista que
f r e i o u os movimentos t r a b a l h i s t a s urbanos , a t r e l a n d o os
sindicatos ao g o v e r n o f e d e r a l atravs da c r i a o do Ministrio
do T r a b a l h o . 55
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
41. SAFFIOTI, H. o p . c i t . 2 6 8 .
42. QUEIROZ, C a r l o t a P e r e i r a d e . Voto em separado. P r o j e t o 623-
19 37; SOIHET, R a c h e l , o p . c i t . 4 2 .
43. P r o j e t o 623 - 1937 <-
44. LUTZ, B e r t h a . Sugestes para o Ante-projeto da constituio.
45. SOIHET, R a c h e l , o p . c i t . 5 6 , 5 7 .
46. I b i d .
47. HAHNER, June. A mulher brasileira e suas lutas sociais e polticas.
So P a u l o , B r a s i l i e n s e , 1980.123.
48. COMTE, Augusto. Sntese subjetiva. I n : COSTA, Cruz. Augusto
Comte e as origens do positivismo. So P a u l o , N a c i o n a l , 1956 .
79.
49. I b i d .
50. COMTE, A u g u s t o . Discursos. I n : C 0 S T A , Cruz. I b i d .
51. Jornal do Comrcio. 18/11/1922.
52. FEDERAO BRASILEIRA PARA 0 PROGRESSO FEMININO - FBPF-
E s t a t u t o s . 1922.
5 3. COSTA, Cruz, o p . c i t . 9 0 .
54. COSTA, E m i l i a V i o t t i da. Ba monarquia republica. So P a u l o ,
B r a s i l i e n s e , 1985.
55. MUNAKATA, Kazumi. A legislao trabalhista no Brasil. So P a u l o ,
B r a s i l i e n s e , 1981.
FOTO 12. Bertha Lutz em 1967 em sesso comemorativa de mais um aniversario da FBPF.
Arquivo Nacional.
CONCLUSO
CONCLUSO
D e v e - s e r e s s a l t a r que e s s a s t r a n s f o r m a e s ' n o
penetram homogneamente em t o d a s as camadas s o c i a i s e dessa
forma as r e a e s p o r e l a s s u s c i t a d a s no podem s e r analisadas
sob o mesmo p o n t o de vista.
Os movimentos f e m i n i s t a s que s u r g i r a m em f i n s do
s c u l o XIX e no i n c i o do s c u l o XX foram apenas formas de
r e a e s que t e n t a r a m compreeender as t r a n s f o r m a e s ocorridas
e readaptar a r e a l i d a d e das mulheres de determinadas camadas sociais
a elas. Porm, alm de no terem s i d o as nicas m a n i f e s t a e s de
r e a o e conscientizao da mulher de seu p a p e l s o c i a l , tambm no
foram homogneos e n t r e si. I s t o se d porque a d i s c r i m i n a o
s o f r i d a p o r q u a l q u e r camada dominada da p o p u l a o se manifesta
d i f e r e n t e m e n t e e n t r e os grupos s o c i o - e c o n m i c o s de uma mesma
120
sociedade.
Alem d i s s o , na c o n c e s s o de d i r e i t o s polticos e
civis para as m u l h e r e s , que se c o n s i s t i u na grande batalha
dos movimentos f e m i n i s t a s em g e r a l , e necessrio se distinguir
a aceitao real do desempenho de novos p a p e i s sociais pelas
mulheres a t r a v s de uma r e a l r e n o v a o dos v a l o r e s sociais,
da u t i l i z a o de mecanismos s o c i a i s de a d a p t a o do s i s t e m a
a outras s i t u a e s para se manter dominante. Ou s e j a , a
c o n c e s s o de d i r e i t o s polticos s mulheres pode no encontrar
c o r r e s p o n d n c i a na p r t i c a m a t e r i a l de.vida cotidiana,
vinculando-se por outro lado, manuteno de um c o n j u n t o de
idias mais amplo e que do s u s t e n t a o ao s i s t e m a e
e s t r u t u r a de c l a s s e s em v i g o r .
No s c u l o XX, os anos 20 e 30 a s s i t i r a m a um d e b a t e
jurdico-ideologico sobre o papel s o c i a l f e m i n i n o e os
movimentos f e m i n i s t a s se d i f e r e n c i a r a m dos o u t r o s movimentos
reivindicatoros o r g a n i z a n d o - s e em t o r n o do v o t o e da
legalizao do t r a b a l h o f e m i n i n o . Embora essa opo jurdica
assumida p e l o s movimentos f e m i n i s t a s tenha l h e s dado a t n i c a ,
e tenha s i d o e x p r e s s o de uma c l a s s e social e s p e c f i c a que os
liderou, i s s o no s i g n i f i c a que as mulheres da poca s
tenham se m a n i f e s t a d o p o l t i c a e s o c i a l m e n t e p o r meio deles.
e da s o c i e d a d e como um t o d o .
No B r a s i l , as t r a n s f o r m a e s no r i t m o de v i d a
c o t i d i a n o foram s e n t i d a s com mais i n t e n s i d a d e no i n c i o dos
anos 2 0 com o aumento da d i v u l g a o e expanso das informaes
e a crescente industrializao e consumo de p r o d u t o s
industrializados.
F a v o r e c e - s e o s u r g i m e n t o das p r i m e i r a s associaes
f e m i n i s . t a s que t e r i a m na FBPF de Bertha Lutz sua principal
r e p r e s e n t a n t e uma v e z que f o i a que c o n s e g u i u maior repercusso
publica.
As q u e s t e s que i n t e r e s s a v a m a FBPF, l i g a d a
A s s o c i a o Pan-americana de M u l h e r e s , podem s e r sintetizadas
em: e d u c a o , mtodos para o d e s e n v o l v i m e n t o , progresso e
organizao feminina, condies de t r a b a l h o , assistncia e
p r o t e o mulher, funes e r e s p o n s a b i l i d a d e s f e m i n i n a s no
l a r e na comunidade e a q u e s t o da paz mundial.
t.
DOCUMENTAO OFICIAL
LOCAIS DE PESQUISA
A r q u i v o N a c i o n a l - Rio de J a n e i r o
B i b l i o t e c a N a c i o n a l - R i o de J a n e i r o
Fundao Casa de Rui Barbosa - R i o de Janeiro