Relações de Emprego No Campo - Fleury
Relações de Emprego No Campo - Fleury
Relações de Emprego No Campo - Fleury
Goinia,
dez. 2010
2
__________________________________________ Avaliao:_____
Professora Doutora Vilma de Ftima Machado
Universidade Federal de Gois
__________________________________________ Avaliao:_____
Professor Doutor Eriberto Francisco Bevilaqua Marin
Universidade Federal de Gois
_________________________________________ Avaliao:_____
Professor Doutor Jos Cludio Monteiro de Brito Filho
Universidade Federal do Par - UFPA
Universidade da Amaznia - Unama
Avaliao Final:_____
3
AGRADECIMENTOS
Professora Vilma, por me ter adotado como orientanda; por exigir de mim
mais e mais leitura e estudo; por nunca se mostrar satisfeita com a minha dissertao;
pelos ensinamentos; e, principalmente, pela amizade que nasceu dessa convivncia.
Aos Professores Cleuler, Nivaldo e Pedro Srgio (em ordem alfabtica) pelos
ensinamentos; pelo estmulo e incentivo para que eu cursasse o mestrado, o que
representa para mim uma demonstrao de confiana a que eu espero corresponder; e
pela amizade nesses anos como colegas docentes desta Casa.
Ao Marco Tlio, aos meus filhos, meus pais e minhas irms, pela ajuda e
pacincia nesses dois anos do curso de mestrado.
RESUMO
Trata-se de dissertao que tem como foco principal o estudo, no Estado de Gois, das
relaes de emprego no campo e seus desdobramentos. O desrespeito aos direitos do
trabalhador do campo tem-se perpetuado atravs dos tempos. Somente com a
promulgao da Constituio da Repblica de 1988, trabalhadores urbanos e rurais
tiveram tratamento legal igualitrio. O trabalho escravo que esteve presente por mais de
trezentos anos da histria do Brasil, ainda se perpetua por intermdio de prticas de
trabalho anlogas s de escravo. A chegada das relaes capitalistas de trabalho ao
meio rural constituiu mais um agravante na condio do trabalhador rural. Relao de
emprego uma das espcies de relaes de trabalho, e, para melhor contextualiz-la
como forma de prestao de servios subordinada, distinta do trabalho autnomo e de
outras formas subordinadas de prestao de servios, descrevem-se o disciplinamento
jurdico do contrato de emprego do rurcola e dessas outras formas de prestao de
servios. Nos ltimos anos, duas leis foram editadas criando regras especficas para
disciplinar o vnculo de emprego rural. Ambas decorrem do fato de que a demanda de
mo-de-obra no campo, hoje, ocorre em determinadas fases da produo. O aumento
de produtividade, decorrente da modernizao das atividades agrrias, eleva a
eficincia do sistema, contudo, reduz a gerao de emprego. No implica,
necessariamente, aumento do nmero de postos de trabalho. Por isso, o maior
problema enfrentado hoje, atinente ao emprego no campo, diz respeito ao empregado
volante ou boia-fria. A Teoria Tridimensional do Direito de Miguel Reale v o direito
como uma integrao normativa de fatos segundo valores. Permite uma anlise
elucidativa da problemtica do rurcola empregado, com a verificao das
condicionantes decorrentes do processo histrico e das decorrentes da reestruturao
produtiva, para, em seguida, analisar-se a lei trabalhista compreendida em seu trplice
sentido: fato, valor e norma, luz dos princpios constitucionais da funo social do
imvel rural e da dignidade da pessoa humana. Ao final, conclui-se que a questo do
emprego no campo extrapola o mbito trabalhista. Depende de mudanas culturais e de
alterao na distribuio fundiria. Sem uma viso do empregado enquanto ser humano
digno, o que implica o cumprimento da funo social do imvel rural, e sem uma melhor
distribuio da terra, no se resolver a questo do rurcola empregado. Por ltimo, so
abordadas as perspectivas que se apresentam para o trabalhador rurcola empregado,
em Gois. A dissertao estrutura-se em trs captulos. O primeiro, no qual se faz um
relato da histria do Brasil e de Gois e um estudo dos meios de produo no
desenrolar desse perodo histrico. O segundo, em que so caracterizadas as formas
de prestao de servios -autnoma e subordinada- e descrito o tratamento jurdico-
legal dado ao dispndio da fora de trabalho, sob as diversas formas em que se
apresenta, com enfoque preponderante no trabalho do empregado rural. O terceiro, em
que analisada a situao do trabalhador rural, especialmente do empregado rural no
Estado de Gois, tendo em vista os princpios da funo social do imvel rural e da
dignidade da pessoa humana, sob a tica da Teoria Tridimensional do Direito de Miguel
Reale.
ABSTRACT
This is a dissertation wich main focus is the study, in the state of Gois, of the
employments relations in the field and its relateds.The disrespect to the workers rigths
in the field has been perpetuated through the years. Only after the brasilian Constitution
of 1988, rural and urban workers received the same legal treatment. The slavery that
has been present for more than three hundred years can still be found through work
practices that look like it.The arrival of the capitalist relations to rural area brougth more
damage to the condition of the rural worker. The employment relation is a specie of the
work relation itself and, to better contextualize it as a kind of subordinate service
installment, different from the autonomous work and of other forms of subordinate
service contribution, it is described the juridical discipline of the rural employment
contract and of this other forms of service installment. In the last years, it was edited
two laws creating specific rules to discipline the bond of rural employment. Both of them
came from the fact that the demand of labor in the, nowadays, occurs in specific steps of
production. The increase of productivity, caused by the modernization of agrarian
activities raises the efficience of the system, but reduces the creation of employment. It
does not necessarily implies the increase of work posts. Therefore, the biggest problem
faced today, related to the emloyment in the rural area, is the bia fria employee.
Miguel Reales Three dimension theory of Rigth sees the rigth as a normative
integration of fact according to values. It allows an explainable analises of the rural
employment problems, containing the elucidation of the conditions that came from the
historical process and from the productive recovering, to, in the next step, analise the
work law undestood in its three meanings: fact, value and norm, based in the
constitutional principles of social function of the rural land and the dignity of human
been. At the end, it is concluded that the question of work in the field goes far away from
the work area. It depends of cultural changes and of the land distribution. Without a
vision of the employee as a dignous human been, wich implies the fullfielment of the
social function of the land, and without a better distribution of it, it is not possible to solve
this problem. At last, it is analised the perspectives that shows themselves to the rural
employees in Gois. This dissertation is built up in three chapters. The first one, in
which is related the history of Brasil and Gois and a study about the production ways in
this period. The second one, when the services types autonomous and subordinate -
are characterized and is described the legal and judicial treatment, due to the
expenditure of labor, in the various ways in which it is presented, focusing on the work of
rural employees. The third chapter, in which is analyzed the situation of the rural
employee, focusing the rural employee in Gois, in view of the principles of social
function of rural property and dignity of the human being, from the perspective of the
Tridimensional Theory of Law of Miguel Reale.
LISTA DE SIGLAS
SUMRIO
INTRODUO............................................................................................................14
1 A TERRA, O TRABALHADOR RURAL E OS MEIOS DE PRODUO: BREVE
RELATO HISTRICO ............................................................................................... 22
1.1 O BRASIL ............................................................................................................ 23
1.1.1 O Brasil Colonial: a implantao do modelo latifundirio e escravista ............. 24
1.1.2 O Brasil Imprio: a lei de terras, trabalho livre e terra cativa ............................ 30
1.1.3 O Brasil Repblica ............................................................................................ 33
1.1.3.1 A Repblica Velha: o agravamento da concentrao fundiria e o sistema de
colonato ..................................................................................................................... 33
1.1.3.2 A Era Vargas: a verso brasileira do fordismo/keynesianismo e o imaginrio do
homem do campo...................................................................................................... 37
1.1.3.3 Os governos populistas: as lutas camponesas pela terra e pelos direitos
trabalhistas do rurcola .............................................................................................. 43
1.1.3.4 A ditadura militar: o Estatuto da Terra e a modernizao agrcola ................ 49
1.1.3.5 A Nova Repblica: o MST e os assentamentos de trabalhadores rurais ...... 51
1.2 GOIS: PECULIARIDADES NA OCUPAO E EXPLORAO DA TERRA .... 54
1.3 A REESTRUTURAO PRODUTIVA E OS MEIOS DE PRODUO AGRCOLA
.................................................................................................................................. 64
1.3.1 Os meios tradicionais de produo agrcola..................................................... 65
1.3.2 A modernizao conservadora ......................................................................... 69
1.3.2.1 O modelo fordista/taylorista de bases keynesianas ...................................... 71
1.3.2.2 O xodo rural e a modernizao agrcola...................................................... 73
1.3.3 A reestruturao produtiva ............................................................................... 77
1.3.3.1 O neoliberalismo ........................................................................................... 79
1.3.3.2 A globalizao ............................................................................................... 80
1.3.3.3 O toyotismo ................................................................................................... 82
1.3.3.4 A flexibilizao ............................................................................................... 83
1.3.3.5 A reestruturao produtiva e as suas consequncias no campo .................. 84
12
CONCLUSO.......................................................................................................... 211
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................ 218
APNDICE .............................................................................................................. 230
ANEXOS ................................................................................................................. 231
14
INTRODUO
1
Procedimento Investigatrio n. 179/1997, convolado no Inqurito Civil n. 159/1998, pela Portaria n.
15, de 05 de junho de 1998: primeira diligncia por mim realizada nos dias 03 a 05 de dezembro de
1997, acompanhada do grupo mvel de fiscalizao do Ministrio do Trabalho, representado pelos
Auditores Fiscais do Trabalho Thomaz Jamisson Miranda da Silveira e Paulo da Cruz Alves Lopes
(dados colhidos no respectivo inqurito).
15
e trabalha no campo, na condio de volante, boia-fria etc. Esse rural assalariado pode
laborar para o empregador de forma permanente ou temporria.
No que se refere legislao relativa ao trabalhador rural, no incio da
colonizao vigeram, no Brasil, as Ordenaes portuguesas. Quando o fim da
escravido mostrava-se prximo, comearam a ser editadas as primeiras leis que
procuraram disciplinar as relaes de trabalho no campo. Eram leis civis. Somente
quando o trabalhador rural passou a ser um assalariado, que se fizeram necessrias
leis trabalhistas para disciplinar o emprego no campo.
A regulamentao dos direitos do empregado rural chegou somente em 02
de maro de 1963, com a Lei n. 4.214 (vinte anos aps o advento da Consolidao das
Leis do Trabalho - CLT), substituda, dez anos depois, pela Lei n. 5.889, de 08 de
junho de 1973, ainda em vigor. Contudo, somente com a promulgao da Constituio
da Repblica, em 1988, trabalhadores urbanos e rurais tiveram tratamento legal
igualitrio, relativamente aos direitos decorrentes da relao de emprego.
Ademais, a Carta Magna, expressamente, disps, no art. 186, que o
cumprimento da funo social do imvel rural ocorre quando a propriedade rural
atende, simultaneamente, aos requisitos de aproveitamento racional e adequado, assim
como de utilizao adequada dos recursos naturais e preservao do meio ambiente e
de observncia das disposies que regulam as relaes de trabalho e de explorao
que favorea o bem-estar dos proprietrios e dos trabalhadores. Mas, passados vinte e
dois anos da promulgao da Constituio, praticamente nada foi feito, no sentido de se
cumprir o comando constitucional.
Aduz-se que nos ltimos anos, duas leis foram editadas criando regras
especficas para disciplinar o vnculo de emprego rural. Estas leis, para alguns, trazem
solues para a precria situao do rurcola empregado; para outros, representam
formas de perpetuar este estado de precariedade.
O fato, por si s, de, nos ltimos anos, terem sido editadas as duas normas
citadas (Lei n. 10.256, de 09 de julho de 2001, e Lei n 11.718, de 20 de junho de
2008, esta resultante da converso da Medida Provisria n. 410, de 28 de dezembro
de 2007), visando disciplinar as relaes de emprego no meio rural, j demonstra que
se trata de tema, cuja discusso relevante e atual.
17
2
Para Miguel REALE, enquanto as cincias naturais so explicadas, as cincias culturais so
compreendidas, porque finalsticas ou teleolgicas. Nesse sentido: [...] no pertinente s cincias
culturais, a Sociologia inclusive, a explicao teleolgica se insere na estrutura da compreenso, a
qual pressupe um contedo valorativo e relaes de meio a fim [...] (destaques do original) (REALE,
2000, p. 210).
21
como soluo superadora e integrante nos limites circunstanciais de lugar e tempo [...]
(destaques do original) (REALE, 1994a, p. 57).
Primeiramente, sero vistas as condicionantes decorrentes do processo
histrico e, num segundo momento, as condicionantes decorrentes da reestruturao
produtiva, para, em seguida se analisar a lei trabalhista compreendida em seu trplice
sentido: fato, valor e norma, luz dos princpios constitucionais da funo social do
imvel rural e da dignidade da pessoa humana. Ainda neste captulo, sero abordadas
as perspectivas que se apresentam para o trabalhador rurcola empregado.
Por ltimo, sero expostas as concluses a que se chegou, acerca do
problema proposto, especialmente acerca das perspectivas para a contratao do
rurcola empregado, de forma a garantir-lhe uma vida digna, em que sejam respeitados
os valores sociais do trabalho e cumprida a funo social do imvel rural. No h que
se olvidar de que a questo do emprego no campo no pode ser vista dissociada da
questo do trabalhador rural lato senso e da prpria questo agrria, de modo geral.
22
O Direito corresponde a algo que foi vivido atravs dos tempos. Portanto, o
Direito possui contedo histrico e deve ser analisado pelo conjunto de seus
significados. Se qualquer conhecimento humano desguarnecido da dimenso histrica
seria um conhecimento duvidoso e mutilado, o que dizer do conhecimento do Direito
que exprime o viver, o conviver do homem. O conhecimento do Direito no pode, pois,
jamais, prescindir de sua dimenso histrica, sob pena de se tornar um conhecimento
equivocado (REALE,1994a, p. 80). A historiografia o espelho no qual o homem
temporalmente se contempla, adquirindo plena conscincia de seu existir, de seu atuar
(REALE, 1994a, p.80).
A histria, por sua vez, no pode ser pensada como algo concludo, como
enumerao de fatos pretritos, porque [...] o passado s existe enquanto h
possibilidade de futuro [...] e o futuro que empresta sentido ao presente vindo a
converter-se em passado. O presente representa, pois, a [...] tenso entre passado e
futuro, o dever ser a dar peso e significado ao que se e se foi, estabelecendo [...]
uma correlao fundamental entre valor e tempo, axiologia e histria (destaques do
original) (REALE, 1994a, p. 81). Da a necessidade de se conhecer ou de se relembrar
como se processou a organizao da vida econmica e social do Brasil no decorrer de
seu processo histrico.
23
1.1 O BRASIL
[...] a vitria final do nome Brasil significou uma verdadeira faanha em termos
simblicos, pois logrou deslocar a designao original de Terra de Santa Cruz,
passando por cima da ideologia religiosa que constitua um dos pilares do
processo colonizador. [...] Pois o pau-brasil no era uma rvore qualquer, mas
sim o primeiro elemento da natureza brasileira passvel de ser explorado em
larga escala para benefcio do mercantilismo europeu (destaque do original)
(PDUA, 1992, p. 18).
3
Antiqssimo costume, nalgumas regies da pennsula, prescrevia fossem as terras de lavrar da
comuna, divididas segundo o nmero de muncipes, e sorteadas entre estes para serem cultivadas e
desfrutadas, ad tempus, por aqueles aos quais tocassem (LIMA, 1988, p. 15).
25
4
Fernando Antnio Novais tambm se utiliza em seu texto O Brasil nos quadros do antigo sistema
colonial dos termos empresa e empresrio, para se referir metrpole colonizadora e aos
colonizadores propriamente ditos, razo pela qual se optou por se manter a terminologia mesmo nas
citaes indiretas ou parfrases (NOVAIS, 1990).
26
5
A enxada que no se firmou nunca na mo do ndio nem na do mameluco ;
nem o seu p nmade se fixou nunca em p-de-boi paciente e slido. Do
indgena quase que s aproveitou a colonizao agrria do Brasil o processo da
6
coivara , que infelizmente viria a empolgar por completo a agricultura colonial
(FREYRE, 2008, p. 163).
5
Mameluco: no Brasil, [...] mestio de branco com ndio ou de branco com caboclo (HOUAISS, 2001,
p. 1.827).
6
Coivara: Quantidade de ramagens a que se pe fogo nas roadas para desembaraar o terreno e
adub-lo com as cinzas, facilitando a cultura [...] (HOUAISS, 2001, p. 756).
27
Situao que levou o rei Dom Pedro II, ao final do sculo XVII, a regulamentar o
comrcio negreiro, desde a proporo de espao para cada escravo at o
clculo de mantimentos para alimentar os cativos trs vezes ao dia. A
quantidade de mantimento deveria ser calculada de acordo com a durao da
viagem que variava conforme a distncia e o regime de ventos. Com isso a
Coroa evitava prejuzos num dos mais lucrativos negcios de todos os tempos:
o comrcio de seres humanos escravizados (LOIOLA, 2009, p. 58).
Brasil viveu o apogeu do ciclo do ouro (1750-70), cuja explorao, como metal nobre
que era, constitua o objetivo primeiro da empresa colonial.
E se a cana-de-acar foi responsvel por toda uma civilizao rural, com
seus engenhos, candombls de negros e conventos, o ouro foi responsvel por uma
civilizao urbana, diferente da primeira, mas como aquela, tambm construda com os
ps e as mos dos africanos civilizao localizada na provncia central montanhosa
que tomaria mais tarde o nome de provncia de Minas Gerais (BASTIDE, 1975, p. 112).
Foram os homens pobres de So Paulo, desbravando o territrio brasileiro
por montanhas e florestas desconhecidas, em busca de uma cidade do ouro da qual os
indgenas falavam, que primeiramente pisaram nas areias aurferas das Minas Gerais.
Mas a notcia de que havia sido descoberto ouro no Brasil, logo chegou a Portugal e,
rapidamente, o paulista chocou-se com o portugus. Na disputa pelas riquezas, os
paulistas foram derrotados. A terra descoberta por eles foi, ento, separada da
provncia de So Paulo, passando a constituir uma nova provncia, a provncia de Minas
Gerais (BASTIDE, 1975, p. 112-3).
A explorao da mo-de-obra escrava prosseguiu nesse perodo, porque
foram eles, os escravos africanos, os encarregados da extrao do ouro.
A descoberta do ouro trouxe modificaes na estrutura social do Brasil: a
Colnia que at ento fora essencialmente rural, torna-se tambm urbana. Nas cidades,
surge a classe mdia, desconhecida do Brasil rural. Nessa poca, os Estados Unidos
da Amrica tornaram-se independentes da Inglaterra (1786), levando a que os
brasileiros comeassem a pensar na libertao. Por outro lado, o controle de Portugal
sobre a Colnia, que, at ento, havia sido muito pequeno, aps a descoberta de ouro
e de diamantes, tornou-se extremamente rgido. , portanto, pela conjugao desses
fatores, que tm incio, na classe mdia urbana, as aspiraes pela independncia,
presentes na conspirao liderada por Tiradentes, a Inconfidncia Mineira (1789-92)
(BASTIDE, 1975, p. 31).
No entanto, a independncia do Brasil de Portugal ainda tardou a vir. Em
1.808, a corte portuguesa mudou-se para a Colnia, em razo da invaso dos
franceses em Portugal. Com a instalao da corte no Rio de Janeiro, muitos
melhoramentos foram realizados: criaram-se universidades, misses de artistas
29
vieram... e o brasileiro tomou gosto pela instruo, pelas discusses intelectuais e pela
poltica (BASTIDE, 1975, p. 32).
As transformaes foram operando-se, de tal forma que, dez anos depois da
chegada da corte portuguesa, a colnia enriquecia e prosperava, os hbitos tinham
mudado no Rio de Janeiro e, na Europa, a ameaa de Napoleo tornara-se apenas
uma lembrana distante (GOMES, 2007, p. 259). Mas o abandono que vivia Portugal
fez com que o retorno da corte se tornasse uma exigncia por parte dos portugueses
que l permaneceram.
A metrpole encontrava-se cansada da guerra, amorfa, empobrecida e
humilhada em razo da ausncia da corte, ao passo que o Brasil, pelas mesmas
razes, vivia um perodo de esperana e otimismo em relao ao futuro (GOMES, 2007,
p. 270). Foi assim, que, em abril de 1821, o rei teve que deixar, contra a sua vontade, a
cidade do Rio de Janeiro, que se encontrava completamente transformada, e voltar
para Portugal, deixando seu filho D. Pedro I como vice-rei. O Brasil teve medo, ento,
de que fosse restabelecido o Pacto Colonial, que lhe era to prejudicial. Assim, em 07
de setembro de 1822, um ano e meio aps o retorno da corte portuguesa, D. Pedro I,
de forma a no permitir que terceiros proclamassem a independncia, proclamou-a ele
mesmo:
7
Roger Bastide, utiliza-se de Sul para se referir ao Sudeste (BASTIDE, 1975, p. 129).
32
1999, p. 64). Com ela, a terra foi coisificada, passou a ser objeto de compra e venda.
At ento, a terra no possua valor, o que tinha valor eram os escravos, cuja
quantidade era indicativa das posses de seu proprietrio.
[...] num regime de terras livres, o trabalho tinha que ser cativo; num regime de
trabalho livre, a terra tinha que ser cativa. No Brasil, a renda territorial
capitalizada no essencialmente uma transfigurada herana feudal. Ela
engendrada no bojo da crise do trabalho escravo, como meio para garantir a
sujeio do trabalho ao capital, como substituto de expropriao territorial do
trabalhador e substituto da acumulao primitiva na produo da fora de
trabalho. A renda territorial surge da metamorfose da renda capitalizada na
pessoa do escravo; surge, portanto, como forma de capital tributria do
comrcio, como aquisio do direito de explorao da fora de trabalho. A
propriedade do escravo se transfigura em propriedade da terra como meio para
extorquir trabalho e no para extorquir renda. A renda capitalizada no se
constitui como instrumento de cio, mas como instrumento de negcio
(MARTINS, 1979, p. 32).
Terras sob controle do Estado Imperial eram, ento, alvos principais dos
interessados em apoderar-se destes bens. No podemos afirmar, entretanto, a
inexistncia de uma poltica de terras na Repblica Velha. Se houvera uma total
omisso no tocante incorporao dos ex-escravos vida nacional, o mesmo
no se dava com relao terra. Deu-se uma intensa atividade voltada para a
transferncia de patrimnio fundirio da Unio para os estados e para os
particulares, legitimando toda espcie de apossamento feita pelos grandes
proprietrios depois de 1850, num processo bastante semelhante ao operado
pelos liberais no Mxico. neste sentido que podemos afirmar que a Repblica
Velha foi um dos momentos de pico da formao dos grandes latifndios no
pas a partir do patrimnio pblico. O ponto de partida de tal processo a
prpria Constituio Federal de 1891 que, em seu artigo 64, garantia a
transferncia das terras pblicas para o patrimnio dos estados da federao,
dando-lhes a prerrogativa de legislar sobre o tema. Assim, abria-se ao poder
local, oligrquico e coronelista, a possibilidade de legitimar suas aes de
aambarcamento fundirio. Originava-se, desta forma, mais uma corrida em
direo formao de amplos domnios fundirios no pas, reafirmando-se a
ordem latifundiria (LINHARES; SILVA, 1999, p. 76).
legitimao. Por isso, eles procuravam, com a mudana de regime, legalizar a situao
em que se encontravam (LINHARES; SILVA, 1999, p. 76).
A Repblica Velha possibilitou a ascenso de grupos oligrquicos regionais,
detentores do poder econmico e do prestgio advindo dos latifndios. Tais grupos
apossavam-se das instituies poltico-administrativas e judicirias, de forma a exercer
o controle da vida social na regio por eles dominada (LINHARES; SILVA, 1999, p. 95).
Surgiram, ento, diversos movimentos sociais de cunho religioso, que se
insurgiam contra a ordem estabelecida. Esses movimentos j vinham ocorrendo desde
a passagem do Imprio para a Repblica. Propunham, direta ou indiretamente, a
instalao de uma nova forma de organizao social. Os mais conhecidos foram
Canudos, na Bahia; Contestado, no Paran; e dos Muckers, no Rio Grande do Sul,
cujas abrangncias terminaram por extrapolar a regio em que eclodiram. Esses
movimentos, por questionarem a ordem estabelecida pelas classes dominantes, foram,
todos eles, duramente reprimidos (MACHADO, p.9).
Nessa poca, tambm, intensificou-se o movimento migratrio, haja vista a
interrupo do trfico de escravos e a demanda de mo-de-obra nas fazendas de caf.
Com a proclamao da Repblica, buscando dinamizar a vinda de imigrantes europeus,
transferiu-se para a tutela dos Estados a responsabilidade pela colonizao e pela
imigrao, conforme os desgnios do federalismo que considerava o poder central
incompetente para atender s necessidades regionais e locais. Estados com recursos
suficientes para atrair imigrantes lucraram com essas medidas, como o caso de So
Paulo (PETRONE, 1997, p. 97).
Contudo, a maioria dos estados no tinha condies de arcar com as
despesas da vinda dos imigrantes o que ocasionou uma diminuio na entrada de
estrangeiros no Brasil, e levou a que o governo federal tomasse medidas que
viabilizassem a continuidade da imigrao. Em decorrncia dessa dificuldade dos
estados federados, o Governo da Unio, sem desvincular das administraes estaduais
a responsabilidade pelo processo de imigrao, tomou, a partir de 1907, uma srie de
medidas com intuito de possibilitar a imigrao e a colonizao, haja vista que, a maior
parte dos estados no o havia feito, quer por inexistncia de meios, quer por ausncia
de infra-estrutura de apoio. Com isso, o nmero de imigrantes, a partir de 1908, cresceu
36
bastante e atingiu o seu pice, em 1913, ano em que o Brasil recebeu 192.683
imigrantes (PETRONE, 1977, p. 99).
Mas no se pode olvidar de que a histria da imigrao no Brasil sempre
apresentou duas tendncias8, no que se refere utilizao da mo-de-obra dos
imigrantes: ou os trabalhadores eram aproveitados na grande lavoura, como nos
Estados de So Paulo e Minas Gerais, ou iam para os ncleos coloniais, como nos
Estados do sul (PETRONE, 1977, p. 96).
8
No mesmo sentido IANNI, citando pronunciamento de Campos Sales, que dizia distinguir dois tipos de
imigrao: os operrios agrcolas, que se colocam, satisfeitos, a servio da grande lavoura, nas
fazendas, e os colonos propriamente ditos, os pequenos proprietrios, que povoam os ncleos
coloniais e que dificilmente tomariam outro destino (IANNI, 1984, p. 226).
37
Mas voltando aos rumos tomados pela Velha Repblica, o caf terminou por
ser o responsvel por uma revoluo poltica. O poder nacional que se concentrava no
nordeste do pas, com os senhores de engenho, transferiu-se para o sudeste, com os
bares do caf do Rio de Janeiro e de So Paulo. Com o advento da Repblica, o
poder ficou apenas nas mos de So Paulo, cujos fazendeiros de caf aliaram-se aos
criadores de gado das Minas Gerais, para dirigirem o pas.
O Presidente da Repblica escolhido deveria ser proveniente de um e de
outro desses estados, alternadamente, ou seja, So Paulo elegia o presidente e, na
eleio seguinte, Minas Gerais o elegia. Sob o aspecto social, no havia praticamente
nenhuma mudana com essa alternncia, uma vez que eram eleitas pessoas que
tinham os mesmos interesses, alm de pensamentos e sentimentos muito semelhantes,
quando no idnticos (BASTIDE, 1975, p. 138-9). Imps-se, na poca, a chamada
poltica do caf com leite, liderada pelos Estados de So Paulo e Minas Gerais,
respectivamente. O primeiro, representando os fazendeiros do caf, e o segundo, os
criadores de gado leiteiro.
capitalismo, apenas entendiam que a Repblica estava sob o controle das pessoas
erradas. Os tenentistas e a oligarquia dissidente constituram os principais grupos de
apoio a Getlio Vargas.
No por acaso a Revoluo de 1930 aconteceu durante a grande depresso
de 1929-33. Pode-se dizer, inclusive, que a depresso econmica do perodo de 1929-
33 foi um dos acontecimentos de maior relevncia do sculo passado, j que, no s
ps em evidncia o carter precrio dos princpios do liberalismo econmico, como,
tambm, precipitou acontecimentos polticos importantes em muitos pases (IANNI,
1984, p.192).
No Brasil, no foi diferente. A crise revelou as limitaes da economia
primria exportadora e antecipou o fim do Estado Oligrquico que perdurou durante os
trinta primeiros anos do sculo XX. Assim, da mesma forma que no se pode atribuir,
exclusivamente, grande depresso a causa desses acontecimentos, no se pode
desconhecer a contribuio que ela teve para que eles aflorassem mais rapidamente
(IANNI, 1984, p. 193).
No que se refere questo econmica, com a crise mundial, houve uma
queda substancial no volume e no preo dos principais produtos de exportao
brasileiros, todos eles produtos primrios (IANNI, 1984, p. 197). Nos anos
imediatamente anteriores crise, o caf, por exemplo, representava, mais de 70% do
valor total das exportaes do pas (IANNI, 1984, p. 198). Tudo isso fez com que a
crise na exportao exigisse que o Estado interviesse na economia (IANNI, 1984, p.
201). Uma das formas de interveno foi a desvalorizao cambial, com o objetivo de
possibilitar a manuteno dos rendimentos dos agricultores cafeeiros. Mas a
desvalorizao da moeda teve tambm outro efeito: o encarecimento das importaes,
cujos produtos eram quase todos manufaturados. Com a alta dos preos dos produtos
importados, o brasileiro passou a comprar os similares nacionais, estimulando a
produo da indstria local. Em sntese, ao desvalorizar a moeda nacional, o governo
desencadeia uma sequncia de reaes, as quais se transformaram [...] em aumento
da demanda de manufaturados nacionais (IANNI, 1984, p. 202).
Criaram-se, tambm, condies para as mudanas polticas: como a culpa
da crise foi atribuda ao governo oligrquico de Washington Lus, a populao passou a
39
Uma das conquistas mais perenes da poltica do Estado Novo para o campo foi
[...] a imposio da integrao produtiva do homem do campo como condio
prvia para o desenvolvimento. O imaginrio popular brasileiro fora
sobrecarregado por representaes de um trabalhador forte, habilidoso e
oprimido. Tal construo mental implicava a suposio, assumida quase como
senso comum, da necessidade da superao da injustia social como tarefa
imediata da sociedade brasileira (LINHARES; SILVA, 1999, p. 160).
Em 1945 foram realizadas eleies, nas quais Eurico Gaspar Dutra, militar
ligado ao regime Vargas, foi eleito presidente. Em 1946, promulgou-se a nova
Constituio brasileira, a quinta desde a independncia.
Esse perodo de 1945-51 representou um interregno nas tendncias
estatizantes da poltica econmica, propiciando a articulao das foras conservadoras
favorveis a que se arrefecessem os esforos de investimento no setor de bens de
produo e de infra-estrutura. No chegou a haver um total desmantelamento do
intervencionismo estatal, mas uma estagnao na tendncia centralizadora da
economia (MENDONA, 1990, p. 273-4).
Mas a abertura poltica teve outras conseqncias: levou rearticulao dos
representantes municipais e estaduais, e, com isso, volta do coronelismo. No Estado
Novo tinha havido um controle do coronelismo que, com a nova ordem democrtica, e
com as disputas eleitorais, reapareceu, com toda fora (CAMARGO, 1981, p. 143).
44
Trabalhador Rural, com a fixao de jornada de oito horas para os trabalhadores rurais,
estabilidade, contratos individuais ou coletivos de trabalho (CAMARGO, 1981, p. 156).
Esse pleito resultou na constituio, no Congresso Nacional, em maro de 1956, de
comisso para elaborar o Cdigo do Trabalhador Rural, cuja trajetria na tentativa de
aprovao foi uma sucesso de tentativas, fracassos, apresentao de substitutivo, at
a rejeio, no Congresso, em junho de 1957 (CAMARGO, 1981, p. 160).
Rejeitada a extenso dos direitos trabalhistas ao trabalhador rural, o governo
desistiu da aprovao do Estatuto do Trabalhador Rural, para pr em prtica soluo
que permitisse conciliar mais facilmente os diversos posicionamentos dos
representantes no Congresso Nacional: a aprovao e execuo do projeto da
Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE).
A SUDENE representou no Nordeste uma nova estrutura de poder. A sua
criao representou a chegada da Revoluo de 1930 no (sic) Nordeste [porque] a
continuidade do desenvolvimento capitalista no pas e naquela regio exigia a
reestruturao do poder regional [...] (IANNI, 1984, p. 216). Tambm constituiu
mecanismo de arrefecimento do inconformismo e da revolta do campesinato, [...] no
sentido de controlar ou dominar as tenses crescentes na regio. Alis, a SUDENE no
foi seno uma das solues dadas ao agravamento das contradies polticas no
Nordeste (IANNI, 1984, p. 210-1).
Ainda que no plano poltico, a implantao da SUDENE possa ser vista como
um avano moderado, ela contribuiu para consolidar amplos setores de consenso
reformista, que condena[vam] com veemncia as velhas oligarquias, [e]
populariza[vam] [...] as Ligas Camponesas e Francisco Julio como smbolos do
protesto que romp[ia] uma secular apatia (CAMARGO, 1981, p. 167).
Conforme prometido em campanha eleitoral, faltando menos de um ano para
o encerramento de seu governo, JK, em 21 de abril de 1960, inaugura Braslia e
transfere para o planalto-central a Capital Federal. Como se ver, a mudana da Capital
teve papel importantssimo nos rumos do desenvolvimento do Pas nos anos que se
seguiram sua inaugurao, mormente quanto ao Centro-Oeste, de forma geral, e ao
Estado de Gois, em particular.
47
9
Representou a opo leninista (anticampesinista) para o antigo debate entre Lnin e Chaynov:
descampesinistas versus campesinistas, respectivamente (LINHARES; SILVA,
1999, p. 173).
49
1985, o Colgio Eleitoral consagra Tancredo Neves presidente do Brasil. Tem incio,
ento, a Nova Repblica.
O auge do ciclo do ouro durou apenas meio sculo, mas teve importncia
primordial no que se refere unidade brasileira. Conforme salienta Roger BASTIDE, o
ciclo do ouro representou o centro de gravidade do Brasil colonial, na medida em que
atraiu para o interior do pas, uma populao estvel e urbanizada, vinda de todas as
partes j ocupadas do territrio brasileiro e tambm de Portugal (BASTIDE, 1975, p.
29).
10
Hoje Porto Nacional no Estado do Tocantins. O antigo vilarejo, primeiramente denominado Pontal,
passou a chamar-se Porto Real, ainda durante o Brasil Colnia, Porto Imperial, no Brasil Imprio, e
Porto Nacional, depois de proclamada a Repblica (Portal de informaes e servios do Estado do
Tocantins. Disponvel em: <http://to.gov.br/m/porto-nacional/938>. Acesso em: 24 nov. 2010).
56
agrcolas, uma vez que o gado no necessitava de meio de transporte, j que se auto-
transportava (MARIN, 2005, p. 107).
A situao modificou-se com a chegada da ferrovia. A Estrada de Ferro
Mogiana havia chegado a Araguari em 1896; em 1909, a Estrada de Ferro Paulista
chegou a Barretos; e, finalmente, em 1913, a Estrada de Ferro Gois ligou o Estado de
Gois ao de Minas Gerais. Nesse mesmo ano, a Rede Mineira de Viao tambm
chegou a Gois.
12
A Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil, de 1891, previa: Art. 34 Compete
privativamente ao Congresso Nacional: [...] 23) legislar sobre direito civil, comercial e criminal da
Repblica e o processual da Justia Federal; [...]. Portanto, lei sobre locao de servios, matria de
Direito Civil, seria da competncia legislativa privativa da Unio, restando vedado aos estados
federados legislar sobre a matria, tanto que o Cdigo Civil de 1916 veio a regular essa espcie
contratual nos art.. 1.216 a 1.236.
59
Santa Dica aparece como curandeira nos primeiros anos da dcada de 1920,
na regio da Lagoa, nas proximidades do Rio do Peixe, no Municpio de
Pirenpolis onde vivia com sua famlia. Aps ser acometida de uma grave
enfermidade foi dada como morta. Ressuscitou, no entanto, no momento em
que estavam dando-lhe banho durante os preparativos do corpo para o enterro.
Desde ento, passou a sofrer ausncias ou transes, momentos em que perdia
sua conscincia e passava a receber mensagens divinas, se transformando em
mensageira dos anjos. [...] Seus milagres e curas foram rapidamente
conhecidos em outras localidades atraindo para o local um crescente nmero
de adeptos, formando em pouco tempo um vilarejo. [...] As atividades de cura,
palestras e profecias foram realizadas por mais de dois anos (1923-1925), at
que o movimento fosse dissolvido pelo governo estadual atravs de interveno
policial. As hostilidades aos integrantes do movimento dos anjos, [...]
comearam a aparecer [...] quando, principalmente os coronis da regio,
identificaram nas idias e atitudes dos integrantes do grupo de seguidores da
Santa, aspectos que prejudicavam diretamente seus interesses (destaques do
original) (MACHADO, p. 9-10).
13
Microeconomia: cincia que trata do modo como as entidades individuais que compem a economia,
consumidores privados, empresas comerciais, trabalhadores, grandes proprietrios de terras,
produtores de bens ou servios, particulares etc. atuam reciprocamente (HOUAISS, 2001, p. 1.916).
65
14
Conforme assinalam Maria Yedda LINHARES e Francisco Carlos Teixeira da SILVA, a histria
econmica brasileira no tem dedicado ateno s tcnicas de cultivo ou foras produtivas, exceto
alguns poucos estudiosos como Alice P. Canabrava e Srgio Buarque de Holanda (1981, p. 136).
66
como se fazia em Portugal. Segundo ele, sob esse aspecto, o colonizador ingls nos
EUA contou com facilidades muito maiores, porque encontrou condies semelhantes
s que tinha na Inglaterra (2008, p. 76-7).
Continua, afirmando que o solo do pas, no geral, no era apropriado ao
cultivo de espcies variadas. Pelo contrrio, tratava-se de solo spero, intratvel,
impermevel, rebelde disciplina agrcola, exceto as pores de terra preta ou roxa,
estas, sim, de qualidade excepcional. Tambm os rios, no facilitavam a atividade
agrcola e a fixao das famlias, porque, no s aconteciam enchentes arrasadoras,
como, tambm, secas esterilizantes. Alm de tudo isso, havia a dificuldade de transpor
os matagais, infestados de insetos, larvas e vermes nocivos ao homem, o que
dificultava o transporte dos produtos agrcolas (FREYRE, 2008, p. 77).
Para o colonizador portugus, no foi fcil a tarefa de cultivar a terra da
Colnia, mesmo considerando que, dentre todos os povos colonizadores, os
portugueses eram os que possuam maior proximidade com o clima tropical. Por isso,
pode-se dizer que o trabalho desenvolvido pelos portugueses foi muito diferente do que
deixam transparecer os autores que narram a exuberncia da natureza no Brasil.
O portugus tambm no era um exmio agricultor15. E, se o portugus no
era um bom agricultor, o ndio menos ainda. Este possua natureza nmade, por isso
no era dado s experincias agrcolas, pouco conhecendo de tcnicas de plantio.
Ademais, o pouco conhecimento de plantio transmitido pelos indgenas aos
portugueses o foi pelas ndias: o conhecimento de sementes e razes, outras
rudimentares experincias agrcolas, transmitiu-a ao portugus menos o homem
guerreiro que a mulher trabalhadora do campo ao mesmo tempo que domstica
(FREYRE, 2008, p. 164).
Srgio Buarque de HOLANDA tambm ressalta o aspecto da pouca
intimidade dos portugueses com o cultivo da terra. Porm, no considera que as
condies por eles encontradas no Brasil fossem demasiado adversas. D maior nfase
ao fato de as tcnicas praticadas pelos portugueses, no cultivo da cana-de-acar,
produto que deu incio agricultura brasileira, serem devastadoras. Afirma que se torna
difcil, inclusive, chamar de agricultura a esses processos introduzidos no cultivo da
15
Existiam excees, como Duarte Coelho, grande agricultor (FREYRE, 2008, p. 86).
67
cana-de-acar para os engenhos, que teriam se prestado, apenas, a tornar ainda mais
nocivos os mtodos indgenas rudimentares (2003, p. 49).
O que se sabe que os europeus adotaram, na Colnia, o sistema de
agricultura praticado pelos indgenas, o que representou, pode-se dizer, um retrocesso,
relativamente ao que era praticado em Portugal j h algum tempo (LINHARES; SILVA,
1981, p. 139). Por que motivo, no Brasil, como, alis, em toda a Amrica Latina, os
colonizadores europeus retrocederam, geralmente da lavoura de arado para a de
enxada, quando no se conformaram simplesmente aos primitivos processos dos
indgenas? (HOLANDA, 2003, p. 67).
Em grande parte, deve-se escassa disposio dos imigrantes ibricos para
as lidas agrcolas e questo do atraso na utilizao das tcnicas de cultivo. Mas
ocorre que colonos europeus vindos de outras regies tambm no se mostraram muito
mais avanados do que os portugueses, no que se refere ao cultivo da terra. Em razo
disso, acredita-se que, alm desse, outros fatores devem ter influenciado na regresso
dos colonizadores, na adoo das tcnicas de cultivo (HOLANDA, 2003, p. 67).
Os descendentes dos colonos alemes e italianos foram, geralmente, mais
interessados do que os luso-brasileiros em fazer uso de tcnicas de agricultura
fundadas sobre mtodos aperfeioados, mas, mesmo eles, terminavam por utilizar
tcnicas rudimentares.
16
Queimada feita depois de realizada uma primeira queimada, relativamente qual tinham sido reunidas
as sobras formando montes espaados, que eram submetidos a outra queimada (LINHARES; SILVA
F. C. T., 1981, p. 140).
69
fazer uso dessa prtica que no lhes vinha lembrana a existncia de outros mtodos
de desbravamento. No lhes ocorria confrontar a produtividade de um hectare de terras
desmatado por outros processos com o rendimento do mesmo pedao, quando
submetido ao fogo (HOLANDA, 2003, p. 67). E semelhante confronto revela[ria], por
exemplo, que a colheita do milho plantado em terra onde no houve queimadas duas
vezes maior do que em roados feitos com auxlio do fogo (destaque do original)
(HOLANDA, 2003, p. 68).
No que se refere ao desgaste excessivo imposto ao solo, este tambm pode
ser atribudo ao fato de os portugueses e seus descendentes no serem adeptos do
cultivo da terra. Talvez por isso, mesmo comparados a outros povos colonizadores, que
tambm fizeram uso da mo-de-obra escrava no plantio de monocultura em grandes
propriedades, os portugueses, provavelmente, tenham sido os que mais exigiram do
solo e muito pouco fizeram para compensar o desgaste (HOLANDA, 2003, p. 51-2).
Essa forma predatria e rudimentar de cultivo da terra pouco se alterou no
decorrer dos anos. A abundncia de terras fez com que os homens que as cultivavam
se descuidassem ou pouco se preocupassem com a produtividade. Por isso, como
mencionado no incio deste tpico, em meados do sculo XX, a produtividade agrcola
no Brasil era uma das mais baixas do mundo.
aproveitar o tempo do operrio na fbrica, criou a esteira mvel, que leva ao operrio o
que ele necessita para o seu trabalho no momento exato em que so exigidos. As
vantagens em ganhos so evidentes, mas os inconvenientes esto vista: o carter
parcelado do trabalho se acentua e o operrio fica sujeito a um ritmo desumano,
fadiga e aos acidentes e doenas profissionais (ROMITA, 2005, p. 28). Foi essa forma
de trabalho que foi imortalizada por Charles Chaplin, no filme Tempos Modernos, no
qual ele foi ator e diretor.
O Keynesianismo,19 por sua vez, prega o pleno emprego e a interveno do
Estado na economia como forma de viabiliz-lo. Surgiu quando o Estado liberal entrou
em crise. Taylorismo, Fordismo e Keynesianismo so teorias que surgiram poca da
segunda revoluo industrial20. Essas teorias impuseram-se no decorrer do sculo
passado. Fordismo e taylorismo foram as principais ideologias orgnicas da produo
capitalista no Sculo XX, tornando-se modelos produtivos do processo de
racionalizao do trabalho capitalista no sculo passado (destaque do original)
(ALVES, 2007, p. 156). Fordismo/taylorismo representaram a hegemonia da fbrica e
havia um compromisso com uma forma de desenvolvimento fundamentada no
keynesianismo. Mas esse modelo no conseguiu incorporar as variveis psicolgicas
do comportamento operrio racionalidade na produo, o que viria a ser feito,
posteriormente, pelo toyotismo (ALVES, 2007, p. 167).
O modelo fordista/keynesiano foi implementado no Brasil, conforme
permitiram as condies do Pas. Nos Estados Unidos, no perodo de 1933 a 1937,
Franklin Roosevelt, para retirar o Pas da crise de 1929-1930, implementou uma poltica
de forte interveno na economia, o New Deal (uma associao de polticas
19
Economista ingls, que criticava o liberalismo e pregava a interveno do Estado na economia. No
que se refere grande depresso de 1929, defendeu o investimento dos estados em obras pblicas,
como maneira de aumentar a oferta de emprego e estimular a reativao da economia. Afirmava que
esta seria a nica forma de os pases sarem da grande depresso. Foram suas teorias que
inspiraram o New Deal (novo acordo), o plano de recuperao nacional, colocado em prtica por
Roosevelt, como forma de debelar a crise de 1929-33, nos Estados Unidos.
20
Segunda revoluo industrial o perodo que vai de 1870 a 1914, no qual a energia eltrica passa a
ser utilizada na produo, ocasionando um rpido desenvolvimento tecnolgico que acelera a
produo, levando fabricao de ao, mquinas e ferramentas, equipamentos de energia eltrica e
produtos qumicos;houve crescimento do setor de transportes e melhoria das estradas de ferro; mas a
produo acelerada levou tambm crises de superproduo, porque havia perodos em que os
mercados no conseguiam absorver os produtos oferecidos (Alceu L. PAZZINATO; Maria Helena V.
SENISE, Histria moderna e contempornea, 2002, p. 186).
73
21
Os financiamentos para aquisio de terras, para plantio, para aquisio de mquinas e implementos
agrcolas, assim como de defensivos e fertilizantes, a cargo do Banco do Brasil, s eram concedidos
aos grandes proprietrios, j que era necessrio que o patrimnio garantisse a dvida (ARAJO, 2005,
p. 42).
77
22
Macroeconomia: ramo da economia que estuda, em escala global e por meios estatsticos e
matemticos, os fenmenos econmicos e sua distribuio em uma estrutura ou em um setor,
verificando as relaes entre elementos como a renda nacional, o nvel dos preos, a taxa de juros, o
nvel da poupana e dos investimentos, a balana de pagamentos e o nvel de desemprego (Antnio
HOUAISS, Dicionrio Houaiss da lngua portuguesa, 2001, p. 1.805).
79
1.3.3.1 O neoliberalismo
23
O texto que deu origem aos postulados neoliberais foi o Caminho da Servido, escrito por Hayek, em
1944, cujo ttulo, refere-se aos comentrios sobre o papel do Estado feitos por Alexis De Tocqueville
em seu famoso escrito Democracia na Amrica (MACAMBIRA, 1998, p. 11).
80
1.3.3.2 A globalizao
1.3.3.3 O toyotismo
24
Na fbrica fordista cerca de 75% do trabalho e da produo so executados em seu interior, ao passo
que, na fbrica toyotista, somente 25% desse trabalho e produo acontecem no interior da fbrica
(ANTUNES, 2007, p. 181-2).
25
Trabalho social combinado foi a denominao atribuda por Marx forma de trabalho que envolve
trabalhadores de diversas regies em um mesmo processo de produo ou em uma mesma
prestao de servios (ANTUNES, 2007, p. 183).
83
1.3.3.4 A flexibilizao
26
Flexibilidade substantivo que significa qualidade do que flexvel ou malevel (HOUAISS, 2001, p.
1356)
84
econmicos. Varia de pas para pas, dependendo da legislao de cada um deles, por
isso um termo aberto e polissmico (CUNHA, 2004, p. 116).
Srgio Pinto MARTINS conceitua flexibilizao como sendo o conjunto de
regras que tem por objetivo instituir mecanismos tendentes a compatibilizar as
mudanas de ordem econmica, tecnolgica, poltica ou social existentes na relao
entre o capital e o trabalho (2004, p. 25).
E prossegue afirmando que flexibilizao no pode confundir-se com
desregulamentao, que, por sua vez, significa desprover de normas heternomas as
relaes de trabalho (MARTINS, 2004, p. 26). Enquanto na flexibilizao reduz-se a
interveno do Estado e alteram-se regras existentes, mediante a participao de
entidades de classe (sindicatos), mas mantida a proteo legal mnima; na
desregulamentao retira-se a proteo do Estado ao trabalhador e, por isso, a lei
deixa de existir (MARTINS, 2004, p. 26).
No Brasil, a prpria Constituio de 1988, que de cunho social,
contemplou, no art. 7, em alguns incisos, hipteses de flexibilizao, como, por
exemplo, no inciso VI (irredutibilidade de salrio, salvo o disposto em conveno ou
acordo coletivo), XIII (durao do trabalho normal no superior a oito horas dirias e
quarenta e quatro semanais, facultada a compensao de horrios e a reduo da
jornada, mediante acordo ou conveno coletiva de trabalho), XIV (jornada de seis
horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo
negociao coletiva).
A flexibilizao , portanto, o vis da reestruturao produtiva que interfere
diretamente na relao de emprego e nos direitos do trabalhador empregado.
fornecessem os filhos para preenchimento dos claros abertos nos exrcitos, mantidos
pelo Estado. Diziam-se, por isso, proletarii, porque lhes cabia dar cidados (proles)
Repblica. [...] Na linguagem atual, designa o operrio ou o trabalhador, que aplica
suas atividades no trabalho manual ou mecnico, como empregado. o obreiro
(SILVA, 1996, p. 470). A designao atual aplicada por extenso para designar o
cidado que s tem para viver a remunerao percebida pelo dispndio de sua fora de
trabalho. O trabalhador rural subordinado um proletrio, porque vende a sua fora de
trabalho a terceiros.
No campo existe trabalho autnomo e trabalho subordinado. O campons, o
agricultor familiar so trabalhadores autnomos. O empregado, o boia-fria, o volante
so trabalhadores subordinados. O trabalho livre subordinado no campo teve incio com
a chegada das relaes de capital ao campo: a surgiu o assalariamento ou a
proletarizao do trabalhador rural.
Nesta dissertao, a abordagem est centrada no trabalhador empregado,
ou seja, a pessoa fsica que prestar servios de natureza no eventual a empregador,
sob dependncia deste e mediante salrio, conforme conceituao constante do art. 3
da CLT. E, em conceito especfico para o trabalhador empregado rural, nos termos do
art. 2 da Lei n. 5.889/1973, toda pessoa fsica que, em propriedade rural ou prdio
rstico, presta servios de natureza no eventual a empregador rural, sob dependncia
deste e mediante salrio.
Ainda que o objeto de estudo seja o empregado rural, para que se
compreenda o contexto no qual este empregado insere-se dentre as demais formas de
relaes de trabalho, necessrio que sejam delineados, tambm, os traos
caracterizadores dos demais trabalhadores rurais. Para tanto, a seguir, tomando por
base a classificao de trabalhador em autnomo e subordinado, sero trazidos os
conceitos e as caractersticas tanto do trabalhador rural autnomo, quanto do
subordinado, assim como se proceder ao estudo da legislao aplicvel a cada uma
dessas situaes.
90
27
Meios de produo: objetos sobre os quais se trabalha e todos os instrumentos e condies que
permitem o ato de produo (OLIVEIRA, 1986, p. 85).
91
por isso que vamos encontrar no campo brasileiro, junto com o processo geral
de desenvolvimento capitalista que se caracteriza pelas relaes de trabalho
assalariado, os boias-frias, por exemplo, a presena das relaes de trabalho
no-capitalistas como, por exemplo, a parceria, o trabalho familiar campons,
etc. (OLIVEIRA, 1994, p. 46).
como produtor de alimentos, sua importncia, como produtor direto, tende a decrescer e
a ser substituda por pequenos produtores capitalizados e empresas capitalistas
(SORJ; WILKINSON, 1983, p. 177-8).
Por fim, necessrio observar que, no Brasil, o termo campons
desapareceu da linguagem oficial. O emprego da palavra assumiu a conotao de
atraso no campo. Tambm desapareceu do dicionrio da Agronomia e das Cincias
Sociais. Atualmente, a preferncia pela utilizao da expresso agricultor familiar, de
fcil identificao, vinculada ao nmero de trabalhadores familiares e no familiares e
ao nmero de meses trabalhados fora do grupo familiar. A opo pela adoo da
expresso nas esferas oficiais (Lei n. 11.326, de 24 de julho de 2006: estabelece as
diretrizes para a formulao da Poltica Nacional da Agricultura Familiar e
Empreendimentos familiares rurais) facilita a utilizao da estatstica, haja vista a sua
capacidade de tornar homognea uma categoria bastante complexa e diversificada
(CARVALHO, 2005, p. 34).
Art. 3 [...]
I no detenha, a qualquer ttulo, rea maior do que 4 (quatro) mdulos fiscais;
II utilize predominantemente mo-de-obra da prpria famlia nas atividades
econmicas do seu estabelecimento ou empreendimento;
III tenha renda familiar predominantemente originada de atividades
econmicas vinculadas ao prprio estabelecimento ou empreendimento;
IV dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua famlia.
28
Art. 4, II: Propriedade familiar, o imvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e
sua famlia, lhes absorva toda a fora de trabalho, garantindo-lhes a subsistncia e o progresso social
e econmico, com rea mxima fixada em cada regio e tipo de explorao, e eventualmente
trabalhado com a ajuda de terceiros (ET, art. 4, II).
97
29
O IBRA foi criado pelo Estatuto da Terra, juntamente com o Instituto Nacional de Desenvolvimento
Agrrio INDA-, que, em 09 de julho de1970, foram fundidos em um s rgo, o Instituto Nacional de
Colonizao e Reforma Agrria INCRA (disponvel em:
<http://www.incra.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=category&layout=blog&id=270&It
emid=288>, acesso em: 19 de ago. 2010).
100
Isso porque, o direito agrrio regido por princpios prprios, resultando que tambm
as regras contratuais se diferenciam das do direito civil.
A Lei n. 4.947/1966, no art. 13, dispe que os contratos agrrios regulam-
se pelos princpios gerais que regem os contratos de direito comum, no que concerne
ao acordo de vontade e ao objeto, mas, no que se refere proteo do hipossuficiente
ou dbil econmico, cuidou de trazer regras prprias.
So limites impostos aos contratos agrrios, fundamentalmente: os que
dizem respeito obrigatoriedade da existncia de clusulas que assegurem a
conservao dos recursos naturais da terra e que assegurem a proteo social e
econmica do arrendatrio ou do parceiro outorgado; a proibio renunciabilidade,
pelo arrendatrio ou pelo parceiro outorgado, aos direitos que lhes so conferidos por
lei; e, proibio da prtica de usos e costumes predatrios da economia agrcola
(BORGES, 1998, p. 69).
Por isso, nos contratos agrrios, resta bastante mitigado o princpio da
autonomia da vontade. Ainda que no direito atual, tambm nos ramos tradicionais do
direito privado, a soberania da vontade - pacta sunt servanda tenha sido abrandada,
no direito agrrio, em razo dos limites impostos vontade das partes, ela
praticamente nula (BORGES, 1998, p. 69).
Os artigos 92 a 94 do Estatuto da Terra traam as regras gerais relativas aos
contratos agrrios. O artigo 92 dispe que o uso e a posse temporria da terra devem
ser exercidos em virtude de contrato expresso ou tcito, estabelecido entre o
proprietrio e os que nela exercem atividade agrcola ou pecuria, sob forma de
arrendamento rural, de parceria agrcola, pecuria, agroindustrial e extrativa [...].
Relativamente a esse dispositivo, faz-se a primeira ressalva ao texto legal, uma vez que
ele menciona que o contrato ser firmado entre o proprietrio e os que nela exercem
atividade agrcola ou pecuria. O art. 92 do Estatuto da Terra comete uma visvel
erronia, quando fala apenas em proprietrio a figurar num dos plos da relao
contratual de que se cuida. Do mesmo modo est no art. 93. Na verdade, tambm o
possuidor, como, por exemplo, o usufruturio, pode perfeitamente ceder o uso do
imvel a outrem, para ser explorado em atividade agrria (destaque do original)
(MARQUES, 2004, p. 224). O equvoco da redao foi corrigido quando da elaborao
101
Art. 3 Arrendamento rural o contrato agrrio pelo qual uma pessoa se obriga
a ceder outra, por tempo determinado ou no, o uso e gozo de imvel rural,
parte ou partes do mesmo (sic), incluindo, ou no, outros bens, benfeitorias e
ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercida atividade de explorao
agrcola, pecuria, agroindustrial, extrativa ou mista, mediante certa retribuio
ou aluguel [...].
30
[...] Pargrafo nico. Ao proprietrio que houver financiado o arrendatrio ou parceiro, por inexistncia
de financiamento direto, ser facultado exigir a venda da colheita at o limite do financiamento
concedido. observados os nveis de preo do mercado local (Estatuto da Terra, art. 93, pargrafo
nico).
105
[...] o contrato agrrio pelo qual uma pessoa se obriga a ceder outra, por
tempo determinado ou no, o uso especfico de imvel rural, de parte ou partes
do mesmo (sic), incluindo, ou no, benfeitorias, outros bens e ou facilidades,
com o objetivo de nele ser exercida atividade de explorao agrcola, pecuria,
agroindustrial, extrativa vegetal ou mista; e ou lhe entrega animais para cria,
recria, invernagem, engorda ou extrao de matrias-primas de origem animal,
mediante partilha de riscos de caso fortuito e da fora maior do
empreendimento rural, e dos frutos, produtos ou lucros havidos nas propores
que estipularem, observados os limites percentuais da lei (DECRETO n.
59.566/1966, art. 13, II, a).
O art. 96, VI, do ET, nas alneas a a g, fixa os percentuais mximos a que
tem direito o parceiro outorgante, na participao dos frutos da parceria, nos seguintes
termos:
Art. 96 [...]
VI [...]
a) 20% ( vinte por cento), quando concorrer apenas com a terra nua;
b) 25% (vinte e cinco por cento), quando concorrer com a terra preparada;
c) 30% (trinta por cento), quando concorrer com a terra preparada e
moradia;
d) 40% (quarenta por cento), caso concorra com o conjunto bsico de
benfeitorias, constitudo especialmente de casa de moradia, galpes,
banheiro para gado, cercas, valas ou currais, conforme o caso;
e) 50% (cinquenta por cento), caso concorra com a terra preparada e o
conjunto bsico de benfeitorias enumeradas na alnea d deste inciso e
mais o fornecimento de mquinas e implementos agrcolas, para atender
aos tratos culturais, bem como as sementes e animais de trao, e, no caso
de parceria pecuria, com animais de cria em proporo superior a 50%
(cinqenta por cento) do nmero total de cabeas objeto de parceria;
f) 75% (setenta e cinco por cento), nas zonas de pecuria ultra-extensiva
em que forem os animais de cria em proporo superior a 25% (vinte e
cinco por cento) do rebanho e onde se adotarem a meao do leite e a
comisso mnima de 5% (cinco por cento) por animal vendido;
g) nos casos no previstos nas alneas anteriores, a quota adicional do
proprietrio ser fixada com base em percentagem mxima de 10% (dez
por cento) do valor das benfeitorias ou dos bens postos disposio do
parceiro [...]
Art. 96 [...]
4. Os contratos que prevejam o pagamento do trabalhador, parte em dinheiro
e parte em percentual na lavoura cultivada ou em gado tratado, so
considerados simples locao de servio, regulada pela legislao trabalhista,
sempre que a direo dos trabalhos seja de inteira e exclusiva responsabilidade
do proprietrio, locatrio do servio a quem cabe todo o risco, assegurando-se
ao locador, pelo menos, a percepo do salrio mnimo no cmputo das duas
parcelas.
um trabalhador individual. Ele contratado juntamente com sua famlia, tanto que,
dentre as obrigaes do tomador dos servios do agregado, inclui-se o fornecimento de
moradia para a residncia exclusiva da famlia do agregado, com rea suficiente para o
plantio de horta e para a criao de pequenos animais (BRAZ, 1996, p. 94).
Como dito, o contrato de agregao no tem previso legal. Poder-se-ia
enquadr-lo dentre os contratos agrrios inominados. Nessa hiptese, estaria sujeito a
todas as limitaes impostas aos contratos de arrendamento e parceria. Mas mesmo as
partes sofrendo limitaes impostas autonomia da vontade, a agregao propicia,
mais do que qualquer outro contrato, a prtica de fraude contra o trabalhador. Isso
porque, a agregao prope que o trabalhador coloque-se, ao mesmo tempo, na
condio de subordinado e de autnomo. E isso no possvel. Com efeito, esse
trabalhador ser subordinado no s quando prestar servios eventuais, que muito
provavelmente no sero eventuais, mas tambm na condio de comodatrio e na de
parceiro outorgado.
Ademais, o 4 do art. 96 do ET, acrescido pela Lei n. 11.443/2007, que
trata da falsa parceria, aplicvel, tambm, ao contrato de agregao. Tal dispositivo
menciona situaes em que o pagamento efetuado parte em dinheiro e parte em
percentual da lavoura cultivada ou em gado tratado, hipteses que sero consideradas
simples locao de servio, regulada pela legislao trabalhista, sempre que a direo
dos trabalhos seja de inteira e exclusiva responsabilidade do proprietrio, locatrio do
servio a quem cabe todo o risco [...]. Como visto, a conjugao da parceria com a
prestao de servios de forma subordinada, j suficiente para enquadrar o contrato
na regra transcrita, sujeitando-se a ela, tambm, a conjugao do comodato com a
parceria e com a prestao de servios subordinadamente, levando a que o contrato
esteja sujeito legislao trabalhista. Esse enquadramento legal representa a no
admisso do contrato de agregao como modalidade de contrato agrrio aceita pela
legislao vigente.
112
31
Aprovada na 3 reunio da Conferncia Internacional do Trabalho, em Genebra, em 1921, tendo
entrado em vigor no plano internacional em 11.05.1923. No Brasil, foi aprovada pelo Decreto
Legislativo n. 24, de 29.05.1956, ratificada em 25.04.1957 e promulgada pelo Decreto n. 41.721, de
25.06.1957, com vigncia nacional a partir de 25.04.1958 (Arnaldo SSSEKIND, Convenes da OIT
e outros tratados, 2007, p. 36).
32
Aprovada na 3 reunio da Conferncia Internacional do Trabalho, em Genebra, em 1921, tendo
entrado em vigor no plano internacional em 26.02.1923. No Brasil, foi aprovada pelo Decreto
Legislativo n. 24, de 29.05.1956, ratificada em 25.04.1957 e promulgada pelo Decreto n. 41.721, de
25.06.1957, com vigncia nacional a partir de 25.04.1958 (Arnaldo SSSEKIND, Convenes da OIT
e outros tratados, 2007, p. 38).
33
Aprovada na 34 reunio da Conferncia Internacional do Trabalho, em Genebra, em 1951, tendo
entrado em vigor no plano internacional em 29.05.1953. No Brasil, foi aprovada pelo Decreto
Legislativo n. 24, de 29.05.1956, ratificada em 25.04.1957 e promulgada pelo Decreto n. 41.721, de
25.06.1957, com vigncia nacional a partir de 25.04.1958 (Arnaldo SSSEKIND, Convenes da OIT
e outros tratados, 2007, p. 124).
118
34
Art. 9 Salvo as hipteses de autorizao legal ou deciso judiciria, s podero ser descontadas do
empregado rural as seguintes parcelas, calculadas sobre o salrio mnimo: a) at o limite de 20%
(vinte por cento) pela ocupao da moradia; b) at 25% (vinte e cinco por cento) pelo fornecimento de
alimentao sadia e farta, atendidos os preos vigentes na regio [...] (Lei n. 5.889/1973).
35
Aprovada na 60 reunio da Conferncia Internacional do Trabalho, em Genebra, em 1975, tendo
entrado em vigor no plano internacional em 24.11.1977. No Brasil, foi aprovada pelo Decreto
Legislativo n. 05, de 1.04.1993, ratificada em 27.09.1994 e promulgada pelo Decreto n. 1.703, de
17.12.1995, com vigncia nacional a partir de 27.09.1995 (Arnaldo SSSEKIND, Convenes da OIT
e outros tratados, 2007, p. 235).
119
36
Aprovada na 14 reunio da Conferncia Internacional do Trabalho, em Genebra, em 1930, tendo
entrado em vigor no plano internacional em 1.05.1932. No Brasil, foi aprovada pelo Decreto
Legislativo n. 24, de 29.05.1956, ratificada em 25.04.1957 e promulgada pelo Decreto n. 41.721, de
25.06.1957, com vigncia nacional a partir de 25.04.1958 (Arnaldo SSSEKIND, Convenes da OIT
e outros tratados, 2007, p. 55).
120
37
Aprovada na 40 reunio da Conferncia Internacional do Trabalho, em Genebra, em 1957, tendo
entrado em vigor no plano internacional em 17.01.1959. No Brasil, foi aprovada pelo Decreto
Legislativo n. 20, de 30.04.1965, ratificada em 18.06.1965 e promulgada pelo Decreto n. 58.822, de
14.07.1966, com vigncia nacional a partir de 18.06.1966 (Arnaldo SSSEKIND, Convenes da OIT
e outros tratados, 2007, p. 134).
121
comrcio pode ser proibido, uma vez que no se oponha aos costumes pblicos,
segurana, e sade dos cidados.
O inciso XXV do mesmo art. 179, por sua vez, punha fim s corporaes de
ofcio, o que permite concluir que estas existiam, e estavam sendo abolidas em razo
da nova ordem, de cunho liberal, que se instalava.
A primeira Constituio republicana, de 1891, no 24 do art. 72, inserido na
Seo II (Declarao de Direitos) do Ttulo IV (Das Qualidades do Cidado Brasileiro)
garantia o livre exerccio de qualquer profisso moral, intelectual e industrial.
V-se que essas constituies no trataram propriamente do trabalhador
empregado. A Constituio de 1934 foi, ento, a primeira a tratar do empregado e o fez
no art. 121 do Ttulo IV, que cuidava da Ordem Econmica e Social. Especificamente
quanto aos trabalhadores rurais, dispunha, em seu 4:
E continua:
38
V. Ana Paula Tauceda BRANCO, A coliso de princpios constitucionais no direito do trabalho, 2007,
40- 53.
39
V. Jos Cludio Monteiro de BRITO FILHO, Trabalho decente: anlise jurdica da explorao do
trabalho, trabalho forado e outras formas de trabalho indigno, 2004, p. 47-54.
125
O Estatuto do Trabalhador Rural foi substitudo, dez anos depois, pela Lei n.
5.889, de 08 de junho de 1973, ainda em vigor, relativamente aos dispositivos
recepcionados pelo ordenamento constitucional vigente. Anteriormente, mas aps o
advento da CLT, devem ser citadas as leis n. 605, de 05 de janeiro de 1949, que
dispe sobre o repouso semanal remunerado e o pagamento de salrio nos dias
feriados civis e religiosos; e 4.090, de 13 de julho de 1962, que institui a gratificao de
natal, ambas aplicveis ao empregado rural.
Nos ltimos anos, duas leis foram editadas criando regras especficas para
disciplinar o vnculo de emprego rural. Estas leis, para alguns, trazem solues para a
precria situao do rurcola empregado; para outros, representam formas de perpetuar
este estado de precariedade.
As duas leis editadas (Lei n. 10.256, de 09 de julho de 2001 e Lei n 11.718,
de 20 de junho de 2008, esta resultante da converso da Medida Provisria (MP) 410,
de 28 de dezembro de 2007) com escopo de resolver a questo do rurcola empregado
tm propostas diferentes. A primeira, o consrcio de produtores rurais, busca um
vnculo de emprego mais duradouro para o empregado, quando possibilita que vrios
empregadores se organizem como empregador nico. A segunda, o contrato de
trabalhador rural por pequeno prazo, por sua vez, desobriga o empregador de
formalidades relativas ao contrato de trabalho, inclusive, em determinada situao, da
assinatura da CTPS, garantindo, contudo, os direitos trabalhistas e a contagem do
129
tempo de servio para todos os fins, objetivando formalizar o maior nmero possvel de
vnculos de emprego.
Por fim, deve ser salientado que a Lei 5.889/1973, art. 17, estabelece que os
seus dispositivos so aplicveis, no que couber, aos trabalhadores rurais no
compreendidos na definio [de empregado], que prestem servios a empregador
rural. E o Decreto 73.626/1974, art. 14, complementando o dispositivo citado,
estabelece que as normas referentes jornada de trabalho, trabalho noturno, trabalho
do menor e outras compatveis com a modalidade das respectivas atividades aplicam-
se aos avulsos e outros trabalhadores rurais que, sem vnculo de emprego, prestam
servios a empregadores rurais. Com isso, evidencia-se a preocupao do legislador
com o trabalhador rural hipossuficiente, seja ele empregado ou no.
40
Apenas o revogado Estatuto do Trabalhador Rural, Lei n. 4.214/1963, previa, no art. no art. 95, a
estabilidade decenal para o rurcola empregado.
132
ao passo que, o extraordinrio, o excepcional, deve ser provado por quem o alega, e,
no caso, o excepcional a contratao a termo certo (SANTOS, 2005, p. 421).
41
Contrato de safra O contrato de safra um tipo de contrato a termo, dependendo das variaes dos
perodos de colheita. O despedimento de empregado, em razo do esgotamento progressivo da
lavoura produzida, no constitui motivo para torn-lo por prazo indeterminado e onerar o contratante
com os encargos da decorrentes. Recurso parcialmente conhecido e provido (TST RR 329.876, 4 T,
Rel. Min. Ives Gandra da Silva Martins Filho DJU 4.2.2000 p. 325).
136
42
Prazo determinado. Configurao. Tarefas compreendidas entre o preparo do solo e a colheita,como
despendoamento, quebra e descasque do milho, faz configurar como sendo de safra o contrato, com
determinao de prazo (art. 19, pargrafo nico, do Decreto n. 73.626/1974) (TRT PR 4 T. RO
10.862/1996. Rel. Armando de Souza Couto).
137
43
lavouras permanentes e temporrias, compreendendo o tipo de explotao vegetal (...), qualquer que
seja a finalidade, o ciclo de cultura (curto, mdio ou longo) e a natureza do produto, de plantas
herbcias ou arbreas, mas no florestais, e independentemente da espcie, do nmero, da poca e
dos perodos das colheitas (inciso II do art. 14 do Decreto n. 55.891, de 31/03/1965).
138
44
O contrato de trabalho por prazo determinado por obra certa est previsto 1 do art. 443 e na Lei n.
2.959, de 17 de novembro de 1956, assemelhando-se muito ao contrato de empreitada, mas neste
no h subordinao (Lei n. 2.959, de 17 de novembro de 1956).
139
contrato de safra.
[...] a relao de emprego sempre personalssima. Por mais humilde que seja
a funo do trabalhador, o empregador o admite tendo em vista suas
qualidades pessoais. [No entanto, pode-se] estabelecer uma relao inversa
entre o grau de dependncia hierrquica e a pessoalidade da relao de
emprego. [...] medida que se sobe nos escales funcionais, essa
subordinao disciplinar diminui, em proporo direta maior soma de
responsabilidades tcnicas ou diretivas atribudas ao trabalhador. Ao contrrio,
quanto ao carter intuitu personae da relao de emprego, para os
trabalhadores de menor categoria, so menos relevantes sua identidade
pessoal e suas qualidades individuais. medida, porm, que o trabalhador
sobe na escala funcional da empresa, mais diretamente importam suas
qualidades, como consequncia natural das funes que lhe so atribudas
(destaques do original) (RUSSOMANO, 1991, p. 58).
O fato de a pessoalidade ser reduzida faz com que seja mais fcil, no s
substituir esse empregado, como, tambm, trat-lo como se fosse trabalhador eventual.
Mas esse tipo de trabalho no pode ser considerado eventual45, uma vez que
o trabalhador eventual o trabalhador cujos servios no coincidem com os objetivos
que a empresa busca alcanar no desenvolvimento de sua atividade econmica
(SILVA, 2004, p. 47). Exemplifica-se, com a hiptese de um eletricista que v executar
servios em uma fbrica de produtos alimentcios, em que o servio prestado no
coincidente com os objetivos da atividade empresarial (SILVA, 2004, p. 47), o eletricista,
nessa hiptese, um tpico exemplo de trabalhador eventual.
Como forma de garantir os direitos trabalhistas ao empregado rurcola que
realiza atividades temporrias, que vinha sendo tratado como se fosse um trabalhador
eventual, recebendo, apenas, a remunerao relativa aos dias trabalhados, pensou-se
45
So caractersticas do trabalhador eventual: descontinuidade ou no permanncia em uma instituio
com nimo definitivo; impossibilidade de fixao jurdica a uma fonte de trabalho; em razo da
descontinuidade, da pluralidade de tomadores e da inconstncia; curta durao de cada trabalho
prestado (SILVA, 2004, p. 47).
141
feita por qualquer meio admitido pelo direito. O trabalhador rural assim contratado ter
assegurados todos os direitos trabalhistas e a isonomia salarial em relao ao
trabalhador permanente, sendo que o clculo das parcelas devidas ser feito dia a dia e
os valores sero pagos diretamente ao trabalhador, mediante recibo.
A principal inovao trazida pela lei, porm, foi a possibilidade de
formalizao do contrato de trabalho sem a assinatura da CTPS. Para fazer uso dessa
possibilidade, o contrato ter que adotar a forma escrita, conter duas vias, dele devendo
constar: a identificao do empregador e do imvel rural em que o trabalho ser
realizado, com a respectiva matrcula; a identificao do empregado, com indicao do
nmero de inscrio do trabalhador (NIT); e a remisso existncia de autorizao
expressa em conveno ou acordo coletivo da categoria, para a realizao desse tipo
de contrato. Caso no sejam preenchidos esses requisitos, a formalizao do contrato
dever ser feita conforme a regra geral, mediante a anotao da CTPS e de ficha ou
livro de registro de empregados.
As alteraes trazidas pela Lei 11.718/2008 so recentes e por isso no
existem ainda muitos estudos a respeito delas. Mas, os que existem, em sua maioria,
criticam a nova lei, por entender que ela representa uma forma de precarizao do
emprego do rurcola.
Antenor J. VAROLLA, Auditor fiscal do Trabalho, dentre outras crticas MP
410/2007, afirma que a matria regulada na MP j est normatizada na Lei n.
5.889/1973, que prev o contrato de safra, cuja durao depende das variaes
estacionais da atividade agrria. Quanto eliminao da exigncia de assinatura da
CTPS, entende que ela retira do trabalhador rural a garantia de diversos direitos
previstos na CLT, alm de ter carter discriminatrio, haja vista que os demais
trabalhadores urbanos e rurais permanecero tendo direito assinatura da CTPS e ao
registro do contrato em Livro ou Ficha de Registro de Empregados. Por outro lado, a
dispensa dessas formalidades, especialmente do registro em Livro ou Ficha de Registro
de Empregados, dificultar enormemente o trabalho da fiscalizao. Sob a tica do
empregado, afirma que a medida representa precarizao da relao de emprego, uma
vez que dispensa, por exemplo, a realizao de exames admissionais, e alerta para o
fato de que os trabalhadores, quando prejudicados, tero que ajuizar reclamaes
144
46
V. no mesmo sentido Gustavo Felipe Barbosa GARCIA, Contrato de trabalho rural por pequeno prazo
e precarizao das relaes de trabalho no campo, 2009.
145
estava sendo concedido. Por outro lado, isso no implica entender que no se deva
buscar maior proteo e melhor soluo jurdica para o disciplinamento legal desses
trabalhadores.
[...] dentre os propostos este o nico nome que consegue veicular a ideia de
uma reunio solidria de empregadores, pelo que acredito o mais apropriado,
embora destitudo da exata tcnica jurdica. Ademais sinttico, de usual
pronncia e fcil lembrana, servindo inclusive para a melhor divulgao do
modelo, especialmente no meio rural (2002, p. 41).
uma pessoa fsica ou jurdica, ou uma figura a estas equiparada por lei, o que no
ocorre no caso do consrcio, uma vez que este no se enquadra como pessoa jurdica,
de acordo com o art. 44, I, do Cdigo Civil, mantendo a pluralidade de sujeitos (2005, p.
94). E conclui afirmando:
Existem trabalhadores rurais que, pela forma como despendem sua fora de
trabalho no se enquadram propriamente quer como autnomos (camponeses) quer
como empregados rurais. Tambm, existem aqueles que so tpicos empregados, mas
cujo vnculo formal com o tomador dos servios se d a outro ttulo, justamente para
encobrir a relao de emprego. Dentre esses trabalhadores rurais, podem ser citados: o
trabalhador avulso, o trabalhador cooperado, o empreiteiro e o prestador de servios.
O trabalhador avulso, por disposio constitucional, tem os mesmos direitos
que o trabalhador com vnculo empregatcio permanente (art. 7, XXXIV, da CF/2008).
Nos termos do disposto no art. 12, VI, da Lei n. 8.212, de 24 de julho de 1991,
trabalhador avulso aquele que presta a diversas empresas, sem vnculo
empregatcio, servios de natureza urbana ou rural [...] ou, de acordo com a doutrina,
todo aquele que, sindicalizado ou no, presta servio de natureza urbana ou rural, sem
vnculo empregatcio, a diversas empresas, com intermediao obrigatria do sindicato
da categoria (VIANNA, 1999, p. 121).
Recentemente, em 27 de agosto de 2009, foi sancionada a Lei n. 12.023,
que dispe sobre as atividades de movimentao de mercadorias em geral e sobre o
trabalho avulso fora dos portos49 (tradicionalmente o trabalhador avulso executa
atividades porturias). Referida lei, no art. 1 estabelece que as atividades de
movimentao de mercadorias em geral exercidas por trabalhadores avulsos [...], so
aquelas desenvolvidas em reas urbanas ou rurais sem vnculo empregatcio, mediante
intermediao obrigatria do sindicato da categoria, por meio de Acordo ou Conveno
Coletiva de Trabalho para execuo das atividades (destacou-se). No art. 2 dispe
acerca das atividades consideradas movimentao de mercadorias em geral:
49
A Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, dispe sobre o regime jurdico da explorao dos portos
organizados e das instalaes porturias, e d outras providncias.
155
Art. 2 [...]
I cargas e descargas de mercadorias a granel e ensacados, costura,
pesagem, embalagem, enlonamento, ensaque, arrasto, posicionamento,
acomodao, reordenamento, reparao da carga, amostragem, arrumao,
remoo, classificao, empilhamento, transporte com empilhadeiras,
paletizao, ova e desova de vages, carga e descarga em feiras livres e
abastecimento de lenha em secadores e caldeiras;
II operaes de equipamentos de carga e descarga;
III pr-limpeza e limpeza em locais necessrios viabilidade das operaes
ou sua continuidade (LEI n. 12.023/2009).
50
O Decreto-Lei n. 3, de 27 de janeiro de 1966, disciplinava as relaes jurdicas do pessoal que
integrava o sistema de atividades porturias (disponvel em <www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del1003.htm>, acesso em: 28 set. 2010).
156
51
Em 20 de junho de 2002, foi aprovada, na 90 Conferncia Mundial do Trabalho da OIT, a
Recomendao sobre a promoo das cooperativas, em substituio Recomendao n. 127, de
1966.
157
52
Cooperativas singulares so as previstas no inciso I do art. 6 da Lei n. 5.764/1971 e diferenciam-se
das cooperativas centrais ou federao de cooperativas (art. 6, II) e das confederaes de
cooperativas (art. 6, III). A estrutura corresponde, adotando um raciocnio analgico, estrutura dos
sindicatos, federaes e confederaes.
158
53
Art. 605 Nem aquele a quem os servios so prestados, poder transferir a outrem o direito aos
servios ajustados, nem o prestador de servios, sem aprazimento da outra parte, dar substituto que
os preste. [...] Art. 607 O contrato de prestao de servios acaba com a morte de qualquer das
partes. [...] (CC).
160
prestao autnoma de servios rurais, que possam ser contratadas na forma dos art.
593 a 609 do CC, podendo-se exemplificar com os servios de veterinrios, agrnomos,
passveis de serem prestados sem subordinao.
Com relao a essas outras formas de prestao de servios rurais,
importante salientar que se caracterizadas como contratos agrrios estaro sujeitas s
normas protetivas do ET, por fora do disposto no 1 do art. 13 da Lei n. 4.947/1966,
e estaro sujeitas, tambm, ao disposto no art. 17 da Lei n. 5.889/1973, que dispe,
expressamente, que as suas normas so aplicveis, no que couber, aos trabalhadores
rurais no compreendidos na definio de empregado, que prestarem servios a
empregador rural. Por outro lado, se caracterizadas como contratos trabalhistas estaro
sujeitas legislao do Direito do Trabalho.
161
rumo a determinado valor (1994a, 118-9). E conclui dizendo que foi dessa forma que
comeou a elaborar a sua teoria tridimensional, segundo a qual direito no apenas
norma, como pretende Kelsen, nem s fato como querem os marxistas ou os
economistas, e, tambm, no primordialmente valor, como entendem os tomistas,
adeptos do direito natural: o Direito a concretizao da ideia de justia, na
pluridiversidade de seu dever-ser histrico, tendo a pessoa como fonte de todos os
valores (1994a, p. 128).
E como consequncia da viso do Direito como a concretizao da ideia de
justia que se entende que a primeira intuio do Direito foi em termos de Justia, ou,
se quisermos empregar palavras de nossos dias, em termos axiolgicos (destaque do
original) (REALE, 1994b, p. 503).
Foi sem descuidar de que a intuio primeira do direito foi em termos de
valor, mais propriamente do valor justia, que se desenvolveu a Teoria Tridimensional
do Direito, conforme proposta por Miguel REALE, em que existem duas condies
necessrias a que haja uma correlao unitria e concreta entre fato, valor e norma:
57
Autora de A teoria dos valores de Miguel Reale: fundamento de seu tridimensionalismo jurdico, obra
publicada a partir da parte final de sua tese de doutorado, que versou sobre o pensamento filosfico e
filosfico-jurdico de Miguel Reale. Angeles Mateos Garca doutora cum laude da Universidade
Complutense de Madri, perante a qual defendeu sua tese de doutorado (nota explicativa elaborada a
partir da nota dos editores da referida obra, publicada pela Editora Saraiva, em 1999).
164
58
A implicao uma das caractersticas do valor, assim como a bipolaridade: do fato de os valores
serem bipolares decorre que eles implicam-se reciprocamente, ou seja, nenhum valor realiza-se sem
que influa, direta ou indiretamente, na realizao de outros valores (Cf. Miguel REALE, Filosofia do
direito, 1994, p.189).
59
Vide nota anterior.
165
Poder.60 O ato de legislar implica a eleio de uma via que representar a tutela dos
interesses tidos como legtimos (REALE, 1994b, p. 551-2).
60
Manteve-se a grafia de Poder, com inicial maiscula, conforme utilizada por Miguel Reale, para
designar o rgo competente para legislar. Conforme Jos Renato Gaziero CELLA, O Poder deve ser
visto aqui como ato decisrio munido de garantia especfica, sendo que possui sua eficcia de acordo
com os modelos jurdicos em que se fundamentam os estados (Jos Renato Gaziero CELLA, Teoria
tridimensional do direito de Miguel Reale, 2009, p. 66, nota 33).
167
maneiras: o que est vigendo, o que j vigeu e o que ir viger (REALE, 1994b, p. 599).
Ou seja, considera-se Direito Positivo, o direito que prevalece hoje, o que obrigou
anteriormente ao atual, e aquele que ainda vir a impor-se, quando no mais prevalecer
o direito de hoje.
Como se percebe, a questo da vigncia mais complexa do que o seu
aspecto tcnico-jurdico, vinculado unicamente observncia dos requisitos formais.
A positividade liga-se, pois, vigncia e eficcia e constitui uma das formas
de realizao de valores. Essa realizao de valores ocorre mediante a manifestao
da vontade, por meio da escolha de uma via, dentre as opes possveis (REALE,
1994b, p. 604).
A norma jurdica decorrente dessa composio de fato e valor, sob a
interferncia do Poder, pode ser estudada sob os aspectos de seu fundamento, de sua
vigncia e de sua eficcia, todos eles objeto de estudo da Filosofia do Direito.
A eficcia a qualidade de uma norma que diz respeito sua produo de
efeitos. Se presentes os requisitos fticos, uma norma efetiva ou socialmente eficaz.
Vigncia, diferentemente, expresso atinente ao tempo de validade da norma.
Portanto, os termos vigncia e eficcia no possuem o mesmo significado.
Toda norma jurdica, uma vez vigente, pode tornar-se eficaz, mesmo quando j
revogada. Poder-se- objetar que uma lei continua produzindo efeitos depois de
revogada s porque outra lei vigente manda respeitar as situaes jurdicas
definitivamente constitudas ou aperfeioadas no regime da lei anterior, ou
ento porque se deve aplicar a lei em vigor na poca em que dados fatos
ocorreram (destaque do original) (REALE, 1994b, p. 607).
Se por um lado, a norma vigente pode e, regra geral, torna-se eficaz, por
outro, a ausncia de eficcia pode levar a que uma lei, formalmente vigente, no venha
a ser cumprida, uma vez que no se ajusta aos ditames da sociedade a que se destina.
Trata-se de lei que no se positiva, por no atingir o seu momento de eficcia. Mas h,
ainda, as regras que so cumpridas, reiteradamente, de forma a atingirem o plano de
vigncia e tornarem-se positivas (REALE, 1994b, p. 609). Donde poder dizer-se que a
positividade surge tanto quando a eficcia se faz vigente, como quando a vigncia se
torna eficaz, em ambos os casos valendo o pressuposto de um valor a realizar [...]
(REALE, 1994b, p. 609).
A problemtica entre vigncia e eficcia pode acontecer de quatro formas:
quando se harmonizam vigncia e eficcia, em razo de a lei encontrar
correspondncia no meio social; quando a lei subordina-se ao processo ftico, em
razo de ser vigente, mas necessitar adequar-se ao meio social, para produzir efeitos;
quando, durante certo tempo, harmonizam-se vigncia e eficcia, mas, depois, a lei
perde a eficcia; e, por fim, quando a desarmonia entre vigncia e eficcia tamanha,
que a norma, apesar de vigente, no possui qualquer efetividade (REALE, 1994b, p.
611).
Sendo assim, cabe queles encarregados de exercer o Poder de escolha,
queles que representam o Estado, evitar a edio de normas que no reflitam a
realidade social, de forma a no levar ao descrdito no s a lei m, como as boas leis
(REALE, 1994b, p. 611), porque quando vigncia e eficcia mostram-se completamente
dissociadas, a lei, mesmo vigente, no se impe.
170
61
V. p. 51, a UDR constitui, hoje, o maior bloco no partidrio do Congresso Nacional.
172
62
Conforme o Decreto n. 2.827, de 15.03.1879, [...] a locao de servios propriamente dita, a parceria
agrcola e a parceria pecuria teriam tempo de durao do contrato [de] seis anos para brasileiros,
cinco anos para estrangeiros e sete anos para libertos, bem como [prescrevia] pena de priso para
173
casos de ausncia do locador e, ainda, para a hiptese deste prestador de servios ou locador
permanecer no estabelecimento, mas no se dispor a trabalhar. Nessas situaes, a priso era de 5 a
20 dias, sendo apenado em dobro aquele que fosse reincidente (SANTOS, 2005, p. 419).
174
o fato, como elemento que condiciona o agir do homem, o fator negativo, que
se contrape liberdade de iniciativa e de criao pelo statu quo. A tendncia a
constituir e a realizar fins o fator positivo ou o polo positivo do agir. Os dois,
porm, se exigem e se implicam: - a norma a centelha que resulta do contato
do polo positivo com o negativo (REALE, 1994b, p. 573).
O Direito Natural tem sido uma constante histrica, no sentido de que, apesar
de todas as objees que lhe foram e so feitas, permanece sempre como um
problema inarredvel dos domnios da cognio jurdica. Mesmo nas pocas de
mais arraigado positivismo, quando parecia superada de vez a tese
jusnaturalista, [...] no se poder afirmar que, mesmo ento, a idia de Direito
Natural tenha deixado de ser um problema para se converter apenas em uma
indagao ilusria, devido persistncia inadmissvel de um equvoco
(destaques do original) (REALE, 1984, p. 1).
63
Reale esclarece que o termo Direito Natural parece-nos insubstituvel, apesar de lhe terem sido
dadas as conotaes mais diversas, acrescentando que at mesmo Kelsen denomina a sua teoria
da norma fundamental de Direito Natural lgico-transcendental (REALE, 1994b, p. 591, nota de
rodap n.4).
178
64
[...] o Direito Natural clssico, de fonte greco-romana, sempre fundou os princpios gerais de Direito
Natural na ideia de natureza humana, o que podia ser hoje entendido em funo das peculiaridades
do nascimento ou advento do homem sobre a face da terra (REALE, 1984, p. 15).
179
65
A dogmtica moderna foi desenvolvida em grande parte com base nos estudos de Ronald Dworkin e
Robert Alexy (FLEURY, 2010, p. 313).
180
como uma duplicata intil do Direito Positivo, mas, sim, em funo da experincia
jurdica (REALE, 2002, p. 305-6).
A terra deve pertencer a quem nela trabalha, a quem a fecunda e dela retira
o seu sustento. Estar, pois, cumprida a funo social da terra, quando se der acesso
terra a um maior nmero de pessoas, que nela vivero e trabalharo (MIRANDA, 2003,
p. 27-8).
No Brasil, a Constituio Federal de 1988 assegura, no art. 5, XXII, o direito
de propriedade, alando-o ao rol dos direitos fundamentais. No mesmo artigo, no
entanto, dispe que a propriedade atender a sua funo social (inc. XXIII),
evidenciando, portanto, que o direito de propriedade, assim como qualquer outro direito
conferido pelo legislador constituinte, no absoluto, devendo ser exercido em
consonncia com a sua funo social. Pela primeira vez, a Carta Constitucional incluiu,
dentre os direitos fundamentais, a funo social da propriedade.
183
exige no s do proprietrio, mas de qualquer pessoa que explore o imvel rural, que
cumpra sua funo social.
No captulo destinado poltica agrcola e fundiria e reforma agrria,
visando dar concretude ao princpio da funo social do imvel rural, a Carta Magna
estabelece, nos incisos do art. 186, os requisitos, a serem atendidos
concomitantemente, a fim de que a propriedade rural seja considerada socialmente til,
apenando a violao da referida obrigao com a desapropriao do imvel rural por
interesse social (art. 184). Tais requisitos so: o aproveitamento racional e adequado; a
utilizao adequada dos recursos naturais e a preservao ambiental; a observncia
das disposies que regulam as relaes de trabalho e a explorao que favorea o
bem-estar dos proprietrios e trabalhadores (destacou-se). Esses requisitos so
elementos essenciais ou sub-funes da funo social do imvel rural.
Contudo, contraditoriamente, a despeito de a funo social ter sido alada
condio de direito fundamental, o texto constitucional vigente, em razo do disposto no
art. 185, estabelece no ser suscetvel de desapropriao, para fim de reforma agrria,
a propriedade produtiva (BRAGA, 1991, p. 111). E, o fato, por si s, de ser produtiva a
terra, no deve ser considerado suficiente para vedar a possibilidade de
desapropriao, como se ver mais adiante.
A previso constante do inciso IV do art. 186, que diz respeito explorao
que favorea o bem-estar dos proprietrios e dos trabalhadores, apesar de tratar do
trabalhador rural, no ser objeto de anlise especfica, haja vista o entendimento de
que, se cumpridas as disposies que regulam as relaes de trabalho no campo, ter-
se-, necessariamente, um tipo de explorao que favorece o bem-estar dos
trabalhadores. Da o atendimento de que, tal requisito, quanto ao trabalhador,
conseqncia do cumprimento do requisito anterior.
Conforme salienta Roberto Wagner MARQUESI, a locuo relaes de
trabalho, constante do inc. III do art. 186, no se resume ao servio assalariado e,
nesse passo, o trabalho quer aqui significar toda atividade braal empreendida por
aqueles que, de fato, exploram a terra, excetuada, naturalmente, a figura do titular
(destaque do autor) (MARQUESI, 2001, p. 105).
185
emissrio de Deus para salvar as espcies animais, com elas coabitando sua
Arca em meio semelhante ou pior que o descrito na petio inicial (em meio a
fezes de sunos e de bovinos) (TRT 3 R., RO n. 484/2003).
3.1.3 A lei trabalhista compreendida em seu trplice sentido: fato, valor e norma
jurdica que resulte desse processo venha a possuir fundamento tico (REALE, 1994a,
p. 124).
A observncia do princpio precede a escolha da proposio propriamente
dita e representa uma reduo no leque de possibilidades que se oferecem ao
legislador, mas, ainda assim, permanecem opes em relao s quais deve ser feita a
escolha. Da mesma forma, se no se observar o princpio, adotando-se valores
contrrios aos consagrados pelo direito positivado, permanecero, ainda, opes para o
exerccio da escolha, mas essas opes carecero, todas elas, de fundamento tico. O
que se pretende observar que, uma vez que certos princpios so consagrados pelo
ordenamento, para que a regra que venha a ser editada no padea de vcio por
ausncia de fundamento, necessrio faz-se que a escolha da via que se tornar lei,
esteja dentre as proposies que possuam o contedo axiolgico presente no princpio.
Em outras palavras, o princpio representa uma primeira bifurcao, uma pr-escolha,
dentre os caminhos oferecidos ao legislador. Optando ele pelo caminho que contm os
valores consagrados pelo princpio, ter diante de si uma srie de possibilidades
normativas, que, se adotadas, gozaro de fundamento tico, porque em conformidde
com o contedo valorativo consagrado pelo princpio. Por outro lado, no escolhido o
caminho que consagra os valores presentes no princpio, ter diante de si, opes que,
se adotadas no gozaro de fundamento tico.
Dessa forma, as regras jurdicas que dizem respeito ao trabalhador rural,
quer se trate de trabalhador autnomo, quer se trate de trabalhador subordinado, tm
que, necessariamente, observar o princpio funo social do imvel rural, especialmente
quanto ao requisito da observncia das disposies que regulam as relaes de
trabalho, e o princpio da dignidade da pessoa humana. Caso isso no ocorra, essas
regras carecero de fundamento tico, o que interferir na sua vigncia.
Ademais, no que se refere interpretao e aplicao do princpio da
funo social do imvel rural, o intrprete deve se orientar pelo princpio da
proporcionalidade ou razoabilidade, princpio constitucional instrumental, bem como
fazer uso da tcnica da ponderao, aplicvel s situaes em que a subsuno
mostra-se insuficiente, mormente em situaes nas quais, no caso concreto,
envolvendo a aplicao de normas de mesma hierarquia, estas indicam solues
196
Nesse caso, a valorao para a conduta tida como negativa, no vista pela
sociedade como suficientemente condenvel a ponto de ser considerada criminosa.
No que no se tenha o ilcito como grave, mas a sua gravidade no requer a
interveno do direito penal. As condutas tidas como criminosas so aquelas mais
199
convenes firmadas ainda muito pequeno. Segundo Jos Maria de Lima, Secretrio
de Assalariados da FETAEG, os patres ainda resistem em contratar na forma da lei
(LIMA, entrevista, 2010).
No caso dos trabalhadores cortadores de cana, os contratos firmados so
contratos de safra (ANEXO G). Nas lavouras de cana-de-acar, assim como nas de
caf, laranja, limo, figo, uva etc., que possuem ciclo produtivo longo, a safra
corresponde colheita (acepo restrita do termo safra).
A safra da cana diz respeito apenas ao perodo da colheita, que vai de abril a
novembro. Um produtor que se utiliza da mo-de-obra de 300 a 350 trabalhadores para
o plantio da cana, para o corte (safra) necessitar de aproximadamente 2.000. Em
2010, no Estado de Gois, a mo-de-obra envolvida no corte da cana foi de 15 a
18.000 trabalhadores, mas h poucos anos atrs (aproximadamente cinco anos atrs) o
corte da cana ocupava 50.000 rurcolas: a mecanizao est diminuindo a mo-de-obra
necessria aos tratos agrcolas (LIMA, entrevista, 2010).
No que se refere arregimentao de trabalhadores em outras regies ou
mesmo em outras unidades da Federao, outro grande problema que envolve os
rurcolas volantes, a questo melhorou bastante depois que as convenes passaram a
contemplar clusulas no sentido de que se devem contratar prioritariamente os
trabalhadores do prprio municpio e de municpios circunvizinhos (LIMA, entrevista,
2010).
66
V. Milton HEINEN, Trabalho rural: mudanas na realidade e inovaes na legislao, 2008.
202
Mas, sob alguns aspectos, as crticas nova lei tm razo de ser. Com
efeito, no havia necessidade de se criar uma nova forma de contratao, uma vez que
j existia a previso do contrato de safra, para situaes em que as atividades a serem
realizadas dependessem das variaes sazonais. Poder-se-ia, simplesmente, permitir a
contratao de forma simplificada naquelas situaes em que o contrato no
ultrapassasse dois meses.
Por outro lado, apesar de no ser objetivo deste estudo o aprofundamento na
discusso da constitucionalidade ou no da MP 410/2007, efetivamente, parece que ela
no atendia aos requisitos de relevncia e urgncia que autorizam a edio dessa
espcie normativa, ainda que, bvio, tenha havido pronunciamento do relator da MP
no Congresso (MENSAGENS 1040/2007, 00192/2997, converso da MP em lei),
acerca de terem sido preenchidos tais requisitos.
No entanto, quanto possvel existncia de vcio de inconstitucionalidade
material na MP e na Lei, por ferir o princpio da igualdade, adota-se posicionamento
divergente do expendido pelos autores citados no item 2.2.4.2.1 do segundo captulo.
A CTPS, com todo o respeito e significado que possa merecer e ter, no que
se refere conquista de direitos pelos trabalhadores empregados brasileiros, nada mais
do que a forma utilizada pelo legislador para assegurar esses direitos: um meio de
prova da existncia da relao de emprego. Tambm, um documento que contm toda
a vida profissional do empregado. Mas a CTPS, por si s, no cria ou extingue direitos.
Os direitos trabalhistas pr existem e existem independentemente da existncia da
CTPS. Tanto que, rotineiramente, so reconhecidos direitos pelo judicirio trabalhista,
relativamente a empregados que no tiveram seus vnculos de emprego anotados na
CTPS. Se a CTPS no cria ou extingue direitos, no se pode dizer que a sua no
exigncia gere situao de desigualdade entre trabalhadores. Ao contrrio do que se
tem afirmado, a Lei n. 11.718/2008 possibilitou trazer para uma situao de igualdade,
trabalhadores que estavam em condies desfavorecidas. Ademais, como forma de
comprovao da existncia do vnculo de emprego, a CTPS merece ser substituda por
instrumento mais moderno e, at mesmo, mais seguro e eficaz.
A simplificao trazida pela Lei n. 11.718/2008 salutar, porque permite a
formalizao de vnculos de emprego de trabalhadores que sempre estiveram na
203
67
Dorothe Suzanne Rdiger foi orientadora da dissertao de mestrado de Viviane Aparecida Lemes
(RDIGER, 2005, p. 86).
206
empregadores [...] [seria] uma forma de rede68 com o objetivo nico de contratao e
de gerenciamento de trabalhadores para atividades econmicas rurais
individualizadas. E acrescenta que o consrcio abriga uma contradio fundamental,
um verdadeiro paradoxo existente nas redes: a presena concomitante da
fragmentao e da organizao (RDIGER, 2005, p. 86).
Argumenta, ainda, que, no campo, a conjugao dos fatores - exigncia do
mercado globalizado e as variaes dos ciclos naturais da produo agrcola tem
levado s mais variadas formas de contratao intermediada e de trabalho flexvel.
Afirma que o toyotismo, que carrega consigo o emprego flexvel e intermediado,
constitui, apenas, um dos aspectos da precariedade do trabalho rural, no se podendo
esquecer que cada cultura tem seu ciclo, que sofre a influncia de fatores climticos e
sazonais (RDIGER, 2005, p. 94).
Assim, segundo Dorothe Suzanne RDIGER, o consrcio de
empregadores rurais um exemplo manifesto para o fato de que o ordenamento
jurdico trabalhista brasileiro est reagindo s mudanas de organizao de um
capitalismo globalizado (2005, p. 88).
A elaborao e a viabilizao do consrcio decorreram de ideias propostas
por advogados trabalhistas, que logo foram abraadas por rgos do setor pblico,
especialmente pelo Ministrio Pblico do Trabalho e pelo Ministrio do Trabalho e
Emprego, porque facilitavam o cumprimento da legislao trabalhista. No fosse todo o
apoio e o incentivo desses rgos, inclusive na busca de soluo para as pendncias
junto previdncia social, teriam sido frustradas as tentativas de organizao do
consrcio.
No se vislumbra que o surgimento de tal instituto, no meio rural, signifique
que no esteja havendo a adoo de princpios toyotistas no campo. Trata-se, sim, de
tentativa, de fugir da adoo desses princpios, de forma a preservar as conquistas dos
trabalhadores empregados, e essa tentativa de fuga decorre, justamente, do fato de
que o toyotismo j chegou ao campo. No se v o consrcio como um movimento
68
Sociedade em rede um conceito referente nova sociedade em que o carter sistmico e a
interconeco abrangem toda a sociedade. uma nova forma de organizao que tende a crescer e
vir a predominar no mundo contemporneo (RUSCHEL; RAMOS JUNIOR, disponvel em:
<http://www.buscalegis.ufsc.br/arquivos/TecnSocGlbAirtonRuschelHelioRamos[1].pdf>, acesso em: 02
set. 2010).
207
Municpio de Goiatuba, sendo que, em 2002, havia dois consrcios no Estado de Gois,
conforme informa Daniel Botelho RABELO69, e, em 2005, tambm havia dois
consrcios, conforme noticia Maurcio Antnio Csar VILLATORE70. Por esses dados,
v-se que houve uma reduo no nmero de consrcios no Estado de Gois, onde,
essa forma de contratao, no chegou a empolgar os produtores rurais como
empolgou nos estados de So Paulo, Paran e Minas Gerais.
Assim, a previso da possibilidade de contratao no campo, por intermdio
do consrcio de produtores rurais, permanece na legislao e deve mesmo
permanecer, razo pela qual, podero ser constitudos novos consrcios e criados
empregos rurais por meio deles. Igualmente, no se discute que o consrcio oferea
inmeras vantagens, quer para o empregado, quer para o empregador, quer para o
prprio Estado. Porm, no se veem perspectivas de que ele venha a se tornar a
soluo para a questo do emprego temporrio no campo, seja pelas dificuldades
apontadas, seja porque, talvez, como consequncia dessas prprias dificuldades, a
adoo desse tipo de contratao, aps um entusiasmo inicial, no esteja mais
seduzindo os produtores/empregadores.
69
V. Daniel Botelho RABELO, O consrcio de empregadores no direito brasileiro, 2007, p. 68.
70
V. Maurcio Antnio Csar VILLATORE, Consrcio simplificado de empregadores rurais, 2005, p. 433.
209
CONCLUSO
quer sob a tica do empregado, quer sob a tica do Estado, quer sob a tica do
empregador, de difcil viabilizao. Para sua formao, imprescindvel a realizao
de um pacto de solidariedade entre os produtores que iro integr-lo. Depende da
existncia de fidcia entre esses produtores. Por outro lado, demanda alto nvel de
organizao e, at mesmo, uma correta combinao de produtos a serem cultivados
por cada empregador, ou de poca de plantio, de forma a permitir um escalonamento
na utilizao da mo-de-obra comum. Essas dificuldades fizeram com que, decorridos
pouco mais de dez anos de seu surgimento, a utilizao dessa modalidade de
contratao no tenha correspondido s expectativas nela inicialmente depositadas e o
interesse por ela tenha se arrefecido.
A segunda lei (Lei n. 11.718/2008), regulamentadora do contrato de
trabalhador rural por pequeno prazo, garante ao empregado os direitos trabalhistas
relativos aos dias trabalhados, mesmo que em nmero inferior ao de uma quinzena,
alm de simplificar a formalizao do vnculo para o empregador, com a dispensa da
assinatura da CTPS, quando h previso em norma coletiva. Mas, assim como o
consrcio, no tem tido utilizao significativa pelos produtores rurais, o que se
evidencia pelo pequeno nmero de convenes e acordos coletivos firmados no Estado
de Gois, com clusulas que o prevejam.
Como se v, as duas novas formas de contrato de emprego, pensadas e
implementadas na tentativa de solucionar o problema do empregado rural, mais
especificamente do rurcola contratado por prazo determinado o volante ou boia-fria ,
no atingiram seu intento e, apenas, amenizaram os problemas desse trabalhador.
A no-formalizao do vnculo de emprego no campo uma constante. Se o
empregado rural temporrio o mais lesado em seus direitos, o empregado
permanente tambm no v formalizado o seu contrato de emprego.
No que se refere questo fundiria, propriamente dita, e reforma agrria,
o ET, editado durante a ditadura militar, , at hoje, a legislao mais avanada de que
o Pas dispe. A no-realizao de uma melhor redistribuio fundiria decorre muito
mais da ausncia de vontade poltica em fazer valer o ET, do que do prprio
instrumento legal.
213
71
V. nota 9, p. 48.
214
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Histria geral do Brasil republicano. T. III. 2 v. Cap. III. Rio de Janeiro: DIFEL, 1977.
______. Experincia e cultura. 2. ed. Campinas: Bookseller, 2000, cap. VII, p. 195-238.
RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de direito do trabalho. 4. ed. 2. tir. Curitiba: Juru,
1991.
SANTOS, Saulo Emdio dos. Contratos de trabalho rural e agrrios. Revista do Tribunal
Superior do Trabalho, v. 66, n. 3, p. 139-43, jul./set. 2000.
SENA, Natlia; OLIVEIRA, Andressa Batista de. Contrato de trabalho rural por pequeno
prazo: Lei n. 11.718/2008, um convite fraude. LTr suplemento trabalhista. 105/08.
So Paulo: LTr, 2008.
SILVA, De Plcido e. Vocabulrio jurdico. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996.
SILVA, Lus Carlos Cndido Martins Sotero da. O contrato de safra. In: GIORDANI,
Francisco Alberto da Motta Peixoto; MARTINS, Melchades Rodrigues; e VIDOTTI,
Tarcio Jos (coord.). In: Direito do trabalho rural. 2. ed. So Paulo: LTr, 2005.
TRT 3 R., 7 T., RO n. 484/2003, Relator Juiz Milton Vasques Thibau de Almeida,
DJMG 25 mar. 2003.
VENOSA, Slvio de Salvo. Direito civil: contratos em espcie. 7. ed. So Paulo: Atlas,
2007.
APNDICE A
9) Que em 2010 Gois possui 32 usinas moendo, ao passo que h seis anos atrs,
eram apenas quatorze.
ANEXO A
Gois - Nmero de Empregos em 31/12/09 segundo o Setor de Atividade
Econmica por Situao do Vnculo na rea Rural
ANEXO - B
(INFORMAES EXTRADAS DA RAIS DO ANO DE 2008 FONTE MTE)
ANEXO - C
(INFORMAES EXTRADAS DA RAIS DO ANO DE 2003 FONTE MTE)
ANEXO - D
(INFORMAES EXTRADAS DA RAIS DO ANO DE 2006 FONTE MTE)
ANEXO - E
(INFORMAES EXTRADAS DA PNAD/2006 FONTE PNAD-IBGE)
PNAD/2006 NMERO DE OCUPADOS SEM CARTEIRA ASSINADA POR SETOR DE ATIVIDADE ECONMICA, DIVISO CNAE E U.F.
SETORES DE ATIVIDADES ECONMICAS DIVISO CNAE GO
AGRCOLA AGRICULTURA, PECURIA E SERVIOS 111.004
RELACIONADOS COM ESSAS ATIVIDADES
AGRCOLA SILVICULTURA, EXPLORAO FLORESTAL E 3.122
SERVIOS RELACIONADOS COM ESSAS
ATIVIDADES
AGRCOLA PESCA, AQUICULTURA E ATIVIDADES DOS
SERVIOS RELACIONADOS COM ESSAS
ATIVIDADES
AGRCOLA TOTAL TOTAL 114.126
237
ANEXO - F
(CONVENO COLETIVA DE TRABALHO 2009/2010)
A presente Conveno Coletiva de Trabalho abranger a(s) categoria(s) dos empregados rurais em
atividades de safra,, com abrangncia territorial em Piracanjuba/GO.
Piso Salarial
O piso salarial dos empregados contratados para atividades de safra, mediante contrato individual ou
coletivo, nunca ser inferior a R$ 817,50(Oitocentos e Dezessete Reais e Cinquenta Centavos)
correspondendo a R$ 27,25 (Vinte e Sete Reais e Vinte e Cinco Centavos) por dia.
Aos empregados que prestarem servios somente em parte do dia, por exigncia do empregador, da
natureza do prprio trabalho ou por qualquer outro motivo alheio vontade do empregado, portanto, no
perfazendo as oito horas dirias, garantida a remunerao nunca inferior a diria estabelecida nesta
Conveno.
Reajustes/Correes Salariais
Os salrios dos empregados abrangidos por esta Conveno sero reajustados em conformidade com a
poltica salarial vigente.
O pagamento do salrio dos empregados ser efetuado semanal ou quinzenal, conforme o costume j
praticado, sendo que os empregados contratados por safra recebero o pagamento semanalmente. Em
qualquer hiptese o pagamento dever ser efetuado em dias e horrios que observem as disposies
legais.
Pargrafo nico Aos empregados safristas dispensados antes do trmino da jornada semanal de
trabalho, garantido o pagamento de suas verbas no ato da dispensa, devendo o documento de
quitao discriminar, entre outras, as verbas proporcionais referentes a RSR, Frias com acrscimo de
1/3, 13 Salrio e FGTS.
O valor do trabalho por produo (metro, kg, caixa, arroba, ou outra medida de aferimento da quantidade
trabalhada) ser previamente combinado entre as partes e dever obedecer aos valores mnimos abaixo
estipulados e, em se tratando de atividade especfica de safra, constar do contrato escrito, devendo os
empregadores fornecer comprovante dirio de produo semanal, conforme modelo anexo, no qual
conste a perfeita identificao das partes, a data, a quantidade produzida, o valor unitrio, incluindo
eventuais acrscimos, ficando garantido ao empregado, como valor mnimo o estabelecido nesta
Clusula.
Pargrafo Primeiro O trabalho por produo dever obedecer ao valor mnimo para o arranquio de
feijo o importe de R$ 0,0072 (Setenta e Dois Milsimos de Real) por metro linear; o valor de R$ 0,26
(vinte e seis centavos) por caixa de tomate arrancado e batido na caixa; R$ 13,08 (Treze Reais e Oito
Centavos) a tonelada de milho doce; R$n 0,26 (vinte e seis centavos) a caixa de laranja.
Pargrafo Segundo - O valor de outros servios realizados por produo ser combinado entre as
partes, garantindo-se em qualquer caso, como mnimo o valor salarial dirio.
Remunerao DSR
O valor do repouso semanal remunerado, no caso do empregado laborar por produo, corresponder a
1/6 (um sexto) da remunerao diria do empregado multiplicada pelo numero de dias trabalhados na
semana, desde que o empregado no tenha faltado injustificadamente na semana que ser refere.
Excepcionalmente, em caso de servio inadivel, ou naqueles casos onde a natureza do prprio servio
o exige, poder haver trabalho em domingo e/ou feriado, devendo o dia trabalhado, nestes casos, ser
pago em dobro, independente do direito pelo dia de descanso.
239
Os empregadores fornecero a todos os seus empregados, contratatos por prazo determinado (safra) e
abrangidos por esta Conveno, comprovante (recibo) de pagamento no qual dever estar discriminado o
nome e a identificao do empregador, o nome e o numero da CTPS do empregado, o servio
executado, o perodo em dias trabalhados, cargo ou funo, o valor bruto a receber, especificando
eventuais horas-extras, o repouso semanal remunerado e outras verbas, o valor do desconto
previdencirio e outros eventuais descontos, o total liquido a receber e a data do pagamento, conforme
modelo anexo e parte integrante desta Conveno.
Os empregados contratados por prazo determinado (safristas) com contrato de durao superior a 15
(quinze) dias, recebero os valores referentes a Frias, acrescidas de 1/3, e de 13 salrio, nos termos
da legislao em vigor.
Os empregados safristas com vinculo de prazo inferior a 15 dias, alm das verbas normais, tero
acrescidos no ultimo comprovante (recibo) de pagamento, valores referentes a frias (com acrscimo de
1/3), 13 salrio proporcionais e FGTS.
Pargrafo nico Aos Empregados cujo vinculo contratual for inferior a 15 dias, os empregadores
pagaro 1/2 (um doze avos) da mdia salarial diria do perodo trabalhado, multiplicado pelo numero de
dias trabalhados, a ttulo de 13 salrio proporcional e, este mesmo valor, acrescido de 1/3 (um tero), a
titulo de frias proporcionais, ficando garantida esta ultima verba desde que o empregado no tenha
faltado injustificadamente na semana ou perodo a que ser refere.
Com os empregados contratados para a realizao de atividades de safra cuja durao prevista inferior
a 30 dias, os empregadores ficam dispensados da assinatura da C.T.P.S., celebrando contrato individual
ou coletivo, devendo o instrumento respectivo indicar a atividade especfica a ser executada e o perodo
aproximado da durao, entre outros elementos, conforme modelo em anexo e que parte integrante
240
desta Conveno, devendo o empregado e o sindicato dos trabalhadores ficar com uma via do referido
contrato.
Pargrafo Primeiro - Caso o empregador opte pelo contrato coletivo de safra, este ser celebrado com a
assistncia do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Piracanjuba, ficando arquivado cpia dos contratos
no referido rgo.
Pargrafo Segundo - Na modalidade contratual prevista nesta clusula no poder ocorrer prorrogao
ou renovao de contrato com os mesmos trabalhadores na mesma lavoura, sob pena da transformao
automtica do mesmo em contrato por prazo indeterminado.
Mo-de-Obra Temporria/Terceirizao
Mo-de-Obra Jovem
A comunicao de dispensa do empregado contratado por safra e dispensado antes do trmino, dever
ser efetuada por escrito, com uma via para o empregado, sendo que neste caso caracterizar a dispensa
sem justa causa, com as conseqncias legais resultantes desta modalidade de resciso.
Pargrafo nico O transporte das ferramentas dever ser efetuado em compartimentos prprios e
seguros, de modo a no expor em risco a vida e a sade dos trabalhadores.
Fica vedada qualquer punio ao empregado em virtude de ter reclamado direitos trabalhistas ou de ter
participado da negociao da presente Conveno Coletiva de Trabalho.
Durao e Horrio
A jornada (semanal) de trabalho dos empregados abrigados por esta Conveno ser de, no mximo, 08
horas por dia e 44 horas semanais, devendo o horrio de inicio e de trmino ser combinado entre as
partes de modo a no ultrapassar a jornada mxima estabelecida.
Os empregadores fornecero gua potvel no local de trabalho, que dever ser armazenada em
recipiente que garanta a sua qualidade.
empregados os equipamentos de proteo individual, exigidos por lei, tais como mscara, macaco,
luvas, botas, chapu e mangotes, entre outros,etc., devendo ainda efetuar a instruo quanto ao uso
adequado dos equipamentos e a conscientizao quanto importncia dos mesmos para a segurana e
a sade no trabalho.
Fica assegurado transporte gratuito do empregado em caso de acidentes ou de doenas graves, para o
local de atendimento mdico, reconduzindo-o at a sua residncia quando for atendido e no estiver em
condies de retornar ao trabalho, devendo o empregador comunicar o fato a famlia.
Em casos de doena devidamente comprovada por mdico habilitado, ou em caso de acidente que
obrigue o empregado ao afastamento, o empregador se obriga a pagar normalmente o salrio dos
empregados at o 15 (dcimo quinto) dia de afastamento, devendo ainda dar andamento ao processo
junto ao rgo competente (INSS) visando a obteno do beneficio.
Pargrafo nico Em caso de acidente de trabalho, a falta de sua comunicao (CAT) ao INSS, obriga
o empregador a efetuar o pagamento integral do salrio do trabalhador durante o perodo de inatividade,
independentemente de anotaes da C.T.P.S do trabalhador.
Relaes Sindicais
Contribuies Sindicais
As rescises contratuais dos empregados abrigados por esta Conveno, cujo vinculo for superior a 30
(trina) dias, devero ter suas quitaes homologadas pelo SINDICATO DOS TRABALHADOES RURAIS
DE PIRACANJUBA, sob pena de no ter a resciso o valor probante para fins de quitao dos dbitos
trabalhistas.
Pargrafo nico Para o ingresso nos locais de trabalho, os dirigentes sindicais faro comunicao
prvia aos empregadores ou a preposto ou administrador desta, podendo os mesmos acompanhar as
visitas.
Disposies Gerais
As divergncias surgidas em razo de aplicao dos dispositivos desta Conveno sero resolvidas pela
interveno de seus representantes legais. No havendo soluo, os conflitos sero solucionados pela
Justia do Trabalho, nos termos da legislao vigente.
ANEXOS
ANEXO I - MODELO DE CONTRATO INDIVIDUAL DE SAFRA
1 O EMPREGADO contratado a partir de _____/___/ 2009, por prazo determinado (safra), com
trmino coincidindo com o encerramento do servio de ............................(especificar = colheita de
tomate, ou outro servio especfico que for), trmino este, com data aproximada, previsto para ____/___/
2009.
2 O empregado contratado para exercer a funo .... (colheita de tomate), podendo
excepcionalmente, por problemas tcnicos e mediante acerto prvio entre as partes, com a presena do
sindicato da categoria profissional, realizar outras atividades.
3 A remunerao, forma e periodicidade de pagamento e demais condies, obedecero as normas
legais e as estabelecidas na Conveno Coletiva de Trabalho em vigor.
4 O empregado se compromete a cumprir fielmente o presente contrato at o trmino do servio para o
qual foi contratado.
5 A parte que rescindir o contrato antes do trmino do servio especificado, pagar outra parte,
indenizao nos termos dos artigos 479 e 480 da CLT.
6 A empregadora fornecer comunicao por escrito ao empregado, com antecedncia de 05 (cinco)
dias, notificando-o do encerramento do trabalho (safra) para o qual foi contratado e indicando a data de
comparecimento para efetuar a resciso, com observncia dos prazos legais e as condies previstas na
Conveno Coletiva. Na falta desta comunicao, e/ou na manuteno do empregado para a realizao
de outros servios, aps o encerramento da atividade objeto do presente contrato, ocorrer a automtica
transformao do contrato de safra em contrato de prazo indeterminado.
7 O empregado autoriza o desconto, em seus salrios, das importncias que lhe forem adiantadas pela
empregadora, bem como valores referentes a Contribuio Assistencial, conforme pactuado na
Conveno Coletiva.
8 E por estarem de acordo com as condies acima expostas firmam o presente contrato em duas vias
de igual teor, e na presena de duas testemunhas que tambm o assinam.
_________________- Go, _______de______________ de 2009.
____________________________
245
EMPREGADORA
____________________________
EMPREGADO
1 TESTEMUNHA - ____________________________
2 TESTEMUNHA - ____________________________
COMPROVANTE DE PRODUO
N. _______________
Empregador: ______________________
Empregado: _______________________
Data: ____________________________
Quantidade Produzida: ____ (mts, Kg, etc)
Valor unitrio: _____________________
Percentual de Acrscimo: ____________
TOTAL: _________________________
Ass. do Responsvel:________________
246
RSR____________________________________________________________
DESCONTOS:
INSS: ___________________________________________________________
OUTROS: _______________________________________________________
ASSINATURA DO EMPREGADO____________________________________
247
Clusula 2 - A jornada de trabalho dos empregados ser de 08 horas de segunda a sexta feira e de 04
horas no sbado, ficando o horrio de incio e trmino a critrio do empregador. Trabalhando alm da
durao normal da jornada, a empresa empregadora pagar os acrscimos legais.
Clusula 3 - Os empregados sero remunerados de forma fixa ou de acordo com a quantidade de sua
produo individual (Kg, tarefa, braa ou outra medida de aferimento), no devendo a remunerao diria
ser inferior estabelecida na Conveno Coletiva de Trabalho em vigor, cujo pagamento ser efetuado
em dinheiro, no encerramento da jornada semanal, ou at 24 horas aps o encerramento do servio para
o qual os empregados foram contratados.
Clusula 4 - A empregadora efetuar o pagamento dos salrios mediante recibo que garanta a perfeita
identificao das partes e das verbas que esto sendo pagas, incluindo valores a ttulo de Repouso
Semanal Remunerado na proporo de 1/6 (um sexto) da mdia salarial diria multiplicado pelo nmero
de dias trabalhados e o desconto previdencirio, conforme recibo modelo ajustado na Conveno
Coletiva.
Pargrafo nico O Repouso Semanal Remunerado, na forma como est estipulado nesta clusula,
ser pago desde que o empregado no tenha faltado injustificadamente ao servio na respectiva
semana.
Clusula 5 - Encerrado o servio (Contrato), a empregadora pagar aos empregados safristras, o valor
de 1/12 (um doze avos) do salrio dirio, multiplicado pelo nmero de dias trabalhados, a ttulo de 13
Salrio, e o mesmo valor encontrado, acrescido de 1/3 (um tero), a ttulo de Frias Proporcionais,
devendo referidas verbas constar do ltimo recibo de pagamento. Se o trabalho se prolongar por mais de
14 (quatorze) dias, a empregadora aplicar a regra legal para as verbas referidas nesta clusula.
Pargrafo nico No recibo de quitao das verbas, a empregadora incluir valor referente a FGTS,
correspondente a 8% (oito por cento) do valor salarial recebido pelo empregado no perodo trabalhado.
Clusula 7 - A parte que rescindir o presente contrato antes do trmino do servio especificado na
clusula primeira, pagar outra parte, indenizao nos termos do que dispem os artigos 479 e 480 da
CLT.
Pargrafo nico Os empregados se comprometem a no trabalhar para outro empregador antes do
trmino da atividade especificada no presente contrato, sob pena de perderem as verbas proporcionais
ora pactuadas.
248
Clusula 10 - E por estarem de acordo com as condies acima expostas, firmam o presente Contrato,
em 02(duas) vias de igual teor, sendo firmado, tambm pelo Representante Sindical dos Empregados.
P/EMPREGADORA:________________________________
RELAO DE EMPREGADOS:
1.NOME:_______________________________________
C.T.P.S. N e Srie: ___________________________
ENDEREO: _____________________________________________________
ASSINATURA: ___________________________
2.NOME:_______________________________________
C.T.P.S. N e Srie: ___________________________
ENDEREO: _____________________________________________________
ASSINATURA: ___________________________
3.NOME:_______________________________________
C.T.P.S. N e Srie: ___________________________
ENDEREO: _____________________________________________________
ASSINATURA: ___________________________
4.NOME:_______________________________________
C.T.P.S. N e Srie: ___________________________
ENDEREO: _____________________________________________________
ASSINATURA: ___________________________
A autenticidade deste documento poder ser confirmada na pgina do Ministrio do Trabalho e Emprego
na Internet, no endereo http://www.mte.gov.br
249
ANEXO G
CONVENO COLETIVA DE TRABALHO 2010/2011
A presente Conveno Coletiva de Trabalho abranger a(s) categoria(s) dos empregados rurais do
setor canavieiro goiano, compreendendo os trabalhadores utilizados nas funes de corte de
cana para moagem, corte de cana para plantio, plantio de cana, capina, aplicao de defensivos
agrcolas, catao de bituca e nos servios de irrigao das lavouras de cana, com abrangncia
territorial em GO.
Piso Salarial
O piso salarial da categoria dos trabalhadores na lavoura canavieira, a partir de 21/05/10, no ser
inferior a R$ 606,77 (Seiscentos e Seis Reais e Setenta e Sete Centavos) mensais.
Respeitando-se as prticas e os acertos j existentes no mbito das empresas, que lhes garantem
remunerao superior, os empregados rurais que prestarem servios por dia e por produo, desde que
cumpram integralmente a jornada diria e salvo os casos em que a empresa dispensar o empregado
antes de cumprir integralmente a jornada, tero valor salarial dirio nunca inferior a R$ 20,23 ( Vinte
Reais e Vinte e Trs Centavos).
PARGRAFO NICO O trabalho no corte de cana apenas em parte do dia, com a obrigao do
empregado cumprir o restante da jornada em outras atividades, no pode ser adotado como prtica
normal das empresas ou com finalidade punitiva, ficando restrito a situaes eventuais e inesperadas.
PARGRAFO QUARTO No caso de pagamento quinzenal, este ser efetuado s sextas-feiras (ou
sbados, conforme o costume), de forma alternada e de sorte a que o pagamento ocorra efetivamente a
cada 15 (quinze) dias.
PARGRAFO SEXTO Fica mantido o sistema de pagamento mensal, obedecidos os limites da lei, aos
empregados que atualmente recebem os salrios nessa periodicidade.
Os preos para o corte de canas "bisadas" (assim entendidas aquelas que, tendo atingido suas ideais
condies para o corte, tenham ficado pendentes de uma safra para outra), e de cana crua para moagem
e para plantio, sero negociados entre as partes, nos locais de trabalho, sendo facultada a participao
dos representantes sindicais dos trabalhadores. Em no havendo acordo, a participao desses
garantida, caso solicitada pelos trabalhadores.
Os preos dos servios executados por produo, sero estabelecidos previamente, mediante acordo
entre as partes interessadas e sero fornecidos pelo gerente ou fiscal do empregador rural no incio do
pega ou, no mximo, at s 09:00 (nove) horas do dia do incio do servio.
PARGRAFO PRIMEIRO Havendo outros pegas no mesmo dia, o preo ser fornecido no incio dos
mesmos.
PARGRAFO SEGUNDO Na medio da cana cortada, bem como nos demais servios que exigirem
medio, ser usada uma medida padro (compasso de 2 metros com ponta de ferro) aferida pelos
prprios trabalhadores e seus representantes sindicais e a empresa, servindo o Instituto Nacional de
Pesos e Medidas INPM como rbitro em caso de controvrsias.
PARGRAFO TERCEIRO A medio da cana ser efetuada eito a eito para cada trabalhador pelo
fiscal ou coordenador de turma.
No incio da jornada de trabalho do dia seguinte, ou no final da jornada de trabalho, se essa j for a
prtica, os empregadores fornecero a cada empregado um comprovante de sua produo diria com o
nome e nmero do empregado, o nmero de metros de servio praticado, especificando e classificando o
preo desse servio. Podero ser mantidas outras normas tradicionalmente praticadas, em casos
especiais, desde que ofeream as mesmas caractersticas de especificao acima.
Respeitando-se as prticas locais que j garantem remunerao superior, os empregados rurais que
prestarem servios no corte de cana por produo, recebero suas remuneraes mnimas, com base no
preo da cana cortada por metro corrido ou linear, enleiradas em 5 (cinco) linhas.
Nos eitos sobre terraos, as 05 (cinco) linhas tero seus preos acrescidos, at o 3(terceiro) corte, em
25% (vinte e cinco por cento), e o 4 e 5 cortes em 5% (cinco por cento), em relao aos constantes da
tabela.
PARGRAFO TERCEIRO Quando o corte da cana for realizado em lavoura com presena do capim
colonio, ou outra erva daninha, que dificulte os servios de corte de cana, o preo a ser pago ser
negociado entre as partes, observando-se o disposto nesta Clusula Nona. Os empregadores devero
lanar no comprovante de produo dirio do trabalhador, o percentual de acrscimo que for negociado
na hiptese prevista neste pargrafo.
PARGRAFO QUARTO Os preos para o corte de cana cuja tonelagem por hectare ultrapassar 129
(cento e vinte e nove) toneladas por hectare, tero acrscimo de 20% (vinte por cento) sobre a cana Tipo
1, da tabela desta clusula.
Remunerao DSR
Os empregadores pagaro aos empregados que trabalharem durante os 6 (seis) dias da semana, o
repouso semanal remunerado, assegurando-lhes, desta forma, folga remunerada aos domingos,
esclarecendo-se que os empregados que prestarem servios base de produo, tero direito de
receb-lo de acordo com a mdia salarial semanal.
PARGRAFO PRIMEIRO - A folga semanal dos trabalhadores nas atividades de catao de bituca e
irrigao, quando possvel, dever tambm, coincidir com o domingo e, nas demais situaes, de acordo
com a prtica das empresas por ocasio da assinatura desta Conveno, obedecidas as determinaes
legais.
PARGRAFO SEGUNDO Em casos especiais poder ocorrer a realizao de trabalho aos domingos,
desde que aprovado pelos trabalhadores envolvidos, remunerando na forma da lei.
Os servios de corte de cana atrs referidos, devero obedecer s normas correntes, que lhes so
prprias, conforme o uso, o sistema, os costumes e tcnicas locais.
O preo para o trabalho de plantio e capina da cana executado por produo, ser negociado entre
empregadores e empregados rurais no prprio local de trabalho, podendo participar seus representantes.
Fica assegurado ao trabalhador rural o pagamento de seus salrios nos dias em que no trabalhar em
virtude de motivos alheios a sua vontade, desde que comprovada a sua presena no "ponto" costumeiro
de embarque, calculado o pagamento de acordo com a mdia salarial semanal.
13 Salrio
Aos empregados que recebem por produo, a remunerao referente a 13 Salrio ser calculada com
base na mdia da remunerao do empregado nos ltimos 06 (seis) meses ou do perodo trabalhado,
quando este for inferior, ou dos ltimos 30 (trinta) dias, caso este tenha valor superior ao da mdia
encontrada.
Comisses
255
Fica assegurado aos empregados, que exeram atividades insalubres um adicional de 20% (vinte por
cento) calculado sobre a sua remunerao diria, cessando o direito recepo desse adicional, em
caso de eliminao do risco sade ou integridade fsica do empregado, com observncia do disposto
na Norma Regulamentadora Rural NR 31 e demais normas aplicveis.
equipamentos necessrios (luvas, mscaras, botas e outros que se tornarem necessrios ou obrigatrios)
PARGRAFO SEGUNDO O adicional a que se refere esta clusula dever ficar discriminado no recibo
de pagamento do empregado.
Os empregadores assinaro a Carteira de Trabalho de todos os empregados que lhes prestem servios,
devendo a mesma ser devolvida ao empregado, pelo empregador ou preposto, com as devidas
anotaes, no prazo mximo de 48 (quarenta e oito) horas, de acordo com o que dispe o artigo 29 da
CLT, bem como cumpriro todas suas obrigaes trabalhistas e sociais.
Os empregadores rurais daro preferncia contratao de trabalhadores dos municpios sedes das
usinas e destilarias, do local da cana plantada e dos municpios vizinhos, desde que estes trabalhadores
retornem ao seu municpio ao final da jornada diria de trabalho.
PARGRAFO NICO As rescises contratuais dos empregados abrangidos por esta Conveno
Coletiva devero ter sua quitao apresentada para homologao no Sindicato dos Trabalhadores Rurais
que representa o trabalhador, sob pena de no ter o instrumento de quitao qualquer valor probante,
assegurado, todavia, no caso dos safristas, o prazo de 10 (dez) dias para a quitao das verbas
rescisrias, contados a partir da extino do contrato de trabalho.
Mo-de-Obra Jovem
Fica assegurado ao empregado rural estudante o direito de se ausentar do trabalho nos perodos de
estgio ou outras atividades exigidas pela escola, considerando-se falta justificada, porm no
remunerada, desde que o empregado comprove tal situao mediante declarao ou outro documento
fornecido pela escola.
Mo-de-Obra Feminina
Normas Disciplinares
Para aplicao da pena de suspenso ao empregado, esta ter que ser comunicada, por escrito,
indicando o dia e hora da prtica da infrao e relatando os motivos da aplicao da penalidade, e na
presena de 2 (duas) testemunhas.
Transferncia setor/empresa
Fica vedada qualquer punio ao trabalhador que tenha participado da negociao desta Conveno
Coletiva de Trabalho, ou de movimento reivindicatrio ou greve, ocorrido em virtude desta negociao,
pelo cumprimento das clusulas aqui convencionadas, ou pela garantia de qualquer outro direito
legalmente assegurado, inclusive a transferncia para trabalho isolado dos demais trabalhadores da
mesma propriedade e funo, desde que o mesmo tenha atuado dentro da legalidade.
Os empregadores rurais fornecero aos seus empregados, sem nus para estes, as ferramentas (podo,
enxada, foice, afiadores, enxado), necessrios e indispensveis ao cumprimento de servios a eles
atribudos, sendo que, no ato da resciso do contrato ser descontado do empregado o valor da
ferramenta que no for devolvida ao empregador.
PARGRAFO SEGUNDO Os empregadores disponibilizaro sempre dois pares de luvas e dois pares
de mangotes a seus empregados, possibilitando assim a higienizao destes equipamentos.
Igualdade de Oportunidades
Fica proibida qualquer discriminao em razo de idade e sexo, oferecendo-se igual oportunidade de
trabalho a todos e a todas.
Durao e Horrio
A jornada de trabalho na atividade rural, ser de segunda a sbado. A jornada diria de segunda a sexta-
feira ser das 07:00 s 16:00 horas, com uma hora de intervalo para refeio e descanso e, aos sbados,
das 07:00 s 11:00 horas, facultada a pr-assinalao.
PARAGRAFO NICO Para as atividades de catao de bituca e irrigao poder ser adotado o
sistema 5x1 (cinco dias de trabalho por um de descanso), respeitando-se o limite mximo de jornada de
trabalho de 08:00 (oito) horas dirias, sem revezamento, com intervalo de 01 (uma) hora para refeio e
descanso.
258
Frias e Licenas
Remunerao de Frias
Aos empregados que recebem por produo, a remunerao referente a frias e, em caso de extino do
contrato de trabalho, tambm das demais verbas rescisrias, ser calculada com base na mdia da
remunerao do empregado nos ltimos 06 (seis) meses ou do perodo trabalhado, quando este for
inferior, ou dos ltimos 30 (trinta) dias, caso este tenha valor superior ao da mdia encontrada.
PARGRAFO SEGUNDO Ao final da jornada diria de trabalho, ser destinado local apropriado para
banho e troca de roupa para os empregados que desempenham essa funo.
PARGRAFO TERCEIRO Constatada a inadaptao para este servio, firmada em atestado por
mdico credenciado, o empregado ser transferido para outra funo.
Os empregadores fornecero gua potvel no local de trabalho, que dever ser armazenada em
recipiente que garanta a sua qualidade.
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Exames Mdicos
Fica assegurado o pagamento do salrio pelos empregadores durante os primeiros 15 (quinze) dias do
afastamento do empregado por motivo de doena ou acidente, calculado de acordo com a mdia salarial
dos ltimos 07 (sete) dias trabalhados em caso de acidente e, sobre a mdia salarial dos ltimos 30 dias
trabalhados em caso de doena, ou a partir de sua admisso, quando este intervalo for inferior,
comprovado por atestado na forma da lei, firmado por mdicos ou odontlogos credenciados pelos
rgos da Previdncia Social, sem nus para o empregado.
Os empregadores rurais fornecero aos seus empregados transporte seguro e gratuito para o local de
trabalho, por motoristas habilitados, evitando-se o excesso de velocidade, observando as normas da NR
31.
PARGRAFO PRIMEIRO Os veculos utilizados pelos empregadores rurais para o transporte dos
empregados rurais at o local de trabalho, devero sair dos pontos de embarque s 6:00 horas e
regressar, s 16:00 horas, aps o expediente de trabalho, direto ao ponto de origem.
PARGRAFO QUINTO Os horrios fixados no Pargrafo Primeiro desta clusula no se aplicam nas
situaes de trabalhadores submetidos s atividades de catao de bituca e irrigao, devendo o veculo
estar disposio para o transporte de ida e volta, nos horrios de incio e trmino das jornadas para
eles estabelecidas.
260
0 empregador transportar gratuitamente o empregado que sofrer acidente no trabalho ou ficar doente
em servio, para o hospital credenciado pela Previdncia Social da cidade dos servios e manter na sua
rea de produo, prximo s lavouras, posto de atendimento ambulatorial para os primeiros socorros.
Relaes Sindicais
Os empregadores rurais facultaro aos Dirigentes Sindicais dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais (nas
esferas de suas jurisdies), FETAEG, CONTAG e CENTRAL SINDICAL credenciada pelo STR ou
FETAEG, o comparecimento ao local de trabalho, sem prejuzo deste, para visitar ou manter contato com
os trabalhadores que prestem servios a esses empregadores, assegurando-se-lhes o livre exerccio da
atividade sindical prevista em lei, desde que o empregador ou seu preposto seja previamente
comunicado, facultando-se s entidades sindicais patronais (SRs, FAEG, SIFAEG e CNA) igual
oportunidade em relao aos empregadores.
Representante Sindical
Fica facultado aos Sindicatos de Trabalhadores Rurais instituir delegacias sindicais ou sees,
obedecidas as prescries legais, dentro de sua base territorial, para o fim de tomarem conhecimento das
sugestes com vistas a melhorar as condies de trabalho, formuladas pelos trabalhadores e encaminh-
las sua entidade sindical e ao representante patronal designado pelo empregador, prestar informaes
e assistncia aos trabalhadores e promover sua sindicalizao (art. 517, Pargrafo Segundo e 527 da
CLT), s podendo os delegados sindicais serem dispensados por justa causa. Esta estabilidade
garantida desde que o empregado no esteja no trmino do contrato de safra. Os delegados sindicais
tero que ser escolhidos em Assemblias Gerais do respectivo sindicato, dentre os trabalhadores que
prestam servios aos empregadores.
PARGRAFO NICO Fica proibida a separao do Dirigente ou Delegado Sindical de sua turma
costumeira de trabalho, e qualquer outra iniciativa patronal que prejudique a livre ao sindical, nos
limites da lei.
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PARGRAFO PRIMEIRO Fica assegurada a mesma garantia para os dirigentes sindicais empregados,
regularmente eleitos e empossados, pelo perodo mximo de 10 (dez) dias, desde que o respectivo
sindicato encaminhe empresa, para esse fim especfico, o nome do dirigente, o perodo de ausncia e
sua respectiva motivao.
PARGRAFO SEGUNDO As faltas dos empregados ao servio em funo da participao nas rodadas
de negociaes da Conveno Coletiva sero consideradas justificadas, porm no remuneradas,
mediante comunicao escrita feita empresa pelo respectivo sindicato dos trabalhadores at o incio
das negociaes, limitada esta garantia a um empregado por empresa, no se aplicando esta limitao
quando se tratar de dirigente sindical.
Contribuies Sindicais
Os empregadores rurais, por fora desta Conveno, descontaro dos empregados rurais que lhes
prestarem servios, em cumprimento deciso da Assemblia Estadual, realizada em 17 e 18 de abril de
2010, que aprovou a pauta de reivindicaes, a quantia equivalente ao valor de 3 (trs) dirias do piso
salarial convencionado, sobre a remunerao dos empregados no ms de junho de 2010 (dois mil e
dez), a ttulo de Contribuio Confederativa, nos termos do disposto no Precedente Normativo n 119 do
TST. O total desses valores, ser creditado diretamente na conta bancria da FEDERAO DOS
TRABALHADORES NA AGRICULTURA DO ESTADO DE GOIS - FETAEG, no prazo mximo de 10
(dez) dias, a contar do dia do desconto, para posterior rateio e distribuio aos sindicatos de
trabalhadores rurais signatrios da presente conveno coletiva.
Os empregadores rurais, por fora desta Conveno, descontaro de todos os seus empregados, aps
devida autorizao, a mensalidade sindical, em favor do respectivo sindicato de trabalhadores rurais,
cujos valores sero repassados conta do sindicato at o dcimo dia do ms subseqente a que se
referem.
Disposies Gerais
Fica facultada, a qualquer das partes, a convocao da outra parte para a avaliao e discusso de
problemas gerais e/ou especficos e de interesse coletivo, devendo a convocao ser feita por escrito
relatando-se os motivos que a justifiquem.
A parte convenente que infringir qualquer das Clusulas contidas na presente Conveno, estar sujeita
ao pagamento de uma multa correspondente ao valor de um dcimo (1/10) da diria vigente da categoria,
e por trabalhador, em favor da parte prejudicada.
Outras Disposies
O processo de prorrogao e de reviso total ou parcial das Clusulas desta Conveno ser
disciplinado pelo artigo 615 e seus pargrafos, da Consolidao das Leis do Trabalho CLT.
Presidente
SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE INHUMAS E DAMOLANDIA
EDIMO PESSONI
Presidente
SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE NOVA VENEZA, NEROPOLIS, BRAZABRANTES,
SANTO ANTONIO DE GOIAS E GOIANIA
SANTO GARCIA
Presidente
SINDICATO RURAL DE SANTA HELENA DE GOIAS
A autenticidade deste documento poder ser confirmada na pgina do Ministrio do Trabalho e Emprego
na Internet, no endereo http://www.mte.gov.br.