Coronelismo Artigo
Coronelismo Artigo
Coronelismo Artigo
15.06.2004
Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime
representativo no Brasil (1889-1930): uma visão crítica sobre a
obra de Vitor Nunes Leal.
SUMÁRIO
1.
Introdução............................................................................................................
....06.
Leal.......................................................................................................................
....08.
Brasil..............................................................................17.
política de Nunes
Leal...........................................................................................................29.
5.
Conclusão.................................................................................................
................41.
6.
Bibliografia...............................................................................................
...............44.
INTRODUÇÃO
sobre as estruturas de poder local na América do Sul - no foro dos estudos sócio-
públicas estaduais e federais. Contra essa impressão, surgiu o discurso de Vitor Nunes
Leal.
A tese desse autor, contestando o debate político então corrente, que
República Brasileira.
CAPÍTULO PRIMEIRO
Coronelismo, historiografia e a construção do discurso de Vitor Nunes
Leal.
outros pela própria abordagem política característica do fenômeno. Porém, após 1949,
Jean Blondel afirma serem três os canais que levaram sucessivamente para o poder
advogados.
percebe o fenômeno como uma estrutura de clientela política originada nos grupos de
parentela.
típico de um período de transição de uma nação agrária para uma industrial. Pang
considera as origens dos coronéis nas milícias coloniais do final do século XVIII,
milícias. O autor afirma que o poder do coronel, sendo privado, foi patrocinado pelo
ao Estado, tais como justiça, proteção, assistência, etc. Dessa forma, Pang acredita
que nunca houve oposição entre o poder privado e o poder público, mas
complementaridade.
descrita por Raimundo Faoro ao se referir ao coronel como aquele que fazia a política
busca do poder.
de poderes entre o município e o Estado descrito por Pang e Maria Isaura. Velasco
observou que o poder estadual tinha o cuidado de se manter alheio à intervenção nas
entre o Estado e o município, admitindo que, na balança de poder, pesa mais o poder
a propriedade da terra como base de poder político, enfatizando que alguns coronéis
não possuíam propriedade de terra. Enquanto Maria Isaura afirma que “a posse de
bens de fortuna que não a terra superou não raro no Brasil o poder trazido
alguns deles, Pang, Blondel e Maria Isaura, neste sentido, podem minimizar a posse
poderia haver coronéis, mas certamente não haveria sistema coronelístico. A estrutura
comerciais e financeiras.
pelos coronéis, através do voto. Este compromisso permeava toda a estrutura de poder
federais, de forma que o governo do estado concedia o poder político de mando nos
municípios aos senhores locais. Os governadores, por sua vez, aproveitavam-se das
coronelismo em todas as suas facetas nos seus romances do chamado ciclo do cacau,
São Jorge de Ilhéus, Cacau, e numa de suas obras de maior destaque, Gabriela cravo e
canela.
coronelismo e mandonismo. Para José Murilo, a identificação dos dois conceitos foi
nesse caos, uma amplitude e uma frouxidão que lhe tiram o valor heurístico”.
coronelismo “retrata-se com uma curva tipo sino: surge, atinge o apogeu e cai num
história do Brasil. Referindo-se à obra de Vitor Nunes, Celina Vargas entende que
“A situação, tão bem descrita pelo autor [Vitor Nunes], apresenta hoje
conseqüências desastrosas. Se, nas últimas décadas do século, a população
rural correu para as cidades atraída inicialmente pelo processo de
industrialização e deixou de usar a enxada como instrumento de trabalho, a
relação entre o coronel e o voto parece sobreviver sob novas formas
diversificadas do ‘coronelismo’ no Brasil urbano. A relação de
reciprocidade ganha novos contornos e amplia sua esfera para outras arenas:
a escola só é concedida pelo vereador, a rede de água e esgoto ou a
instalação elétrica pelo deputado estadual [...] As políticas públicas que têm
por objetivo melhorar e sustentar os bons índices de desenvolvimento, como
a educação, a saúde e o meio ambiente, para citar apenas algumas, acabam
sendo privatizadas pelas verbas distribuídas diretamente aos parlamentares,
pela contratação cabos eleitorais para assumir funções nobres em órgãos
públicos ou pelos ‘currais comunitários’, desenvolvidos pelos coronéis
modernos”.
na expansão lenta do poder do Estado que aos poucos penetra na sociedade e engloba
diferentes e em momentos diversos, mas todos, ou a maioria deles, toma por base a
crítica ao discurso de Vitor Nunes Leal para a construção de suas próprias idéias, por
seus autores.
político brasileiro. Para o autor, o coronel passou a ser parte da análise por estar
A obra de Vitor Nunes Leal, desde seu surgimento, passou a valer como um
quadra que nunca se reproduz ou se repete nos caminhos da história, mas apenas pode
própria história. E é por isso que o autor hesitava em concordar com uma segunda
nossa sociedade, certamente teria que reescrever um outro livro. Por isso o seu desejo
na reedição do livro em sua forma original, o que, para o autor, constituiria o mérito
tomou o debate político brasileiro nos anos de 1930 e 1940 - anos que marcaram a
político-eleitoral do latifúndio não é sua força, mas sua fraqueza; não reflete o
relação ao poder privado outrora incontestável dos grandes senhores rurais”. Para o
representativo de base muito mais ampla que o do Império a uma estrutura social
legislação eleitoral e com a presença cada vez maior da população urbana em relação
à rural.
direito, antes rejeitado por critérios de fortuna e condição social ou mesmo racial -
Para o autor,
“Ocorre que o coronel não manda porque tem riqueza, mas manda porque
se lhe reconhece esse poder, num pacto não escrito. Ele recebe - recebe ou
conquista - uma fluida delegação, de origem central no Império, de fonte
estadual na República, graças à qual sua autoridade ficará sobranceira ao
vizinho, guloso de suas dragonas simbólicas, e das armas mais poderosas
que o governador lhe confia. O vínculo que lhe outorga os poderes públicos
virá, essencialmente do aliciamento e do preparo das eleições, notando-se
que o coronel se avigora com o sistema da ampla eletividade dos cargos, por
semântica e vazia que seja essa operação”.
Embora Nunes Leal admita que alguns chefes políticos municipais tenham
eleitoral e à violência do coronel. Pois, como foi dito, o coronel resumia em sua
local angaria votos através das benfeitorias que proporcionava ao município, senão
por meio da violência, exercida, sobretudo sobre àqueles que constituíam a oposição.
De forma que o trabalhador rural tinha seu patrão como benfeitor local, disposto a
Leal, do Brasil era marcado pela concentração da propriedade no campo. Fato que
ideológico do autor.
rural sobre o urbano, indicando que a maioria do eleitorado brasileiro residia e votava
República Velha.
municipal em relação ao poder público. E, por outro lado, enumerar os que marcaram
atribuições municipais. Para Caio Prado, não se percebe uma divisão nítida entre
há recurso para alguma autoridade superior, seja ela um ouvidor, governador, Relação
ou até mesmo a Corte. Por outro lado, as Câmaras agem como verdadeiros órgãos
municípios, e dos chefes locais face ás reações centralizadoras por parte do Estado.
Porém, Leal formula sua tese invertendo os padrões de análise até então vigentes: o
imperial e mesmo colonial, como foi demonstrado acima. Veja-se que a superposição,
vinculação dos detentores do poder público aos senhores locais, que arregimentaram
interpretações, que não cabe aqui analisar, variam desde o entendimento de 1930
como a revolução burguesa brasileira, como contra revolução cujo produto seria o
Estado Novo de 1937, passando pelas análises de 30, como resultado de cisões
liberal” que incluía facções da oligarquia. Um ajuste necessário pelas mudanças pelo
crack da bolsa de Nova Yorque em 1929. Nesta conjuntura o Estado assumiu o papel
tenentes foram alijados do poder, mas, como classes médias, viram atendidas suas
democracia liberal.
oligarquias, que permaneceram como classes dominantes nas suas áreas de influência.
que limitou o uso da violência e obrigou a barganha de votos. Estes fatores tanto
massas rurais.
político nas suas bases eleitorais. Mesmo nos casos em que o poder da oligarquia, dos
“coronelismo” anteriores à tese de Nunes Leal. Este autor, por sua vez, identificou a
CAPÍTULO TERCEIRO
XIX. Clássicos como Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda e Paulo Prado são
exemplos dessa geração. São ainda as grandes famílias que, perdendo seu poder
Nunes Leal, se submete à análise do discurso numa tentativa de perceber o que levou
documento, naquele momento histórico. A obra foi escrita em 1949, momento que
compreender o que essa obra representou para a época de sua produção, e seu
e de sua história. A autora observa que os estudos da linguagem, como prática social
Nunes Leal não perde a excelência conferida a sua obra, pois permanece como um
sistema. A origem dos coronéis é atribuída á extinta Guarda Nacional, no século XIX.
chefe político da comuna. Ele e os demais oficiais uma vez inteirados das respectivas
averbações para que elas pudessem produzir os seus efeitos legais. Posteriormente,
além dos que ocupavam tal posto na Guarda, o tratamento de “coronel” passou desde
logo a ser dado a qualquer chefe político, a todo e qualquer magistrado local, pelo
sertanejo.
discordância, daí advinda, das abordagens discursivas quanto à origem do poderio dos
coronéis. Neste ponto, as análises mais recentes rompem com o discurso produzido
por Nunes Leal.
Por outro lado, Raymundo Faoro considera que o poder político dos
determinava a fonte de poder de um coronel era a presença das milícias militares, sob
seu comando.
que, em algumas regiões, o papel das milícias locais foi significativo no domínio
termos descritos por Nunes Leal. Dessa forma, é um tanto perigosa - e mesmo
que determinava o poder político dos coronéis, ainda que em determinado período
histórico.
importância, em relação a de Leal: tanto Pang como Blondel e Maria Isaura, apesar
tema.
brasileira após 30, têm minguado o sistema coronelista. Embora afirme que, mesmo
nos anos 50, era incontestável o peso do governo nos municípios do interior, através
da aliança coronelista.
coronelismo como fator de coerção política, após a década de 30. Estes pesquisadores
empresário e de coronel.
uma malha social caracterizada pela ausência das garantias dos direitos civis e forte
período imperial, a uma estrutura social ainda arcaica que, na Primeira República, o
Com essa afirmativa Nunes Leal rompia com o discurso até então
produzido, imprimindo um novo significado às relações de força e poder que regiam a
sentidos, relação determinada do sujeito com a história. Daí advém sua interpretação
desse sujeito, responsável pela produção de algo novo, Coronelismo, enxada e voto,
estrutura agrária decadente, que imprime à obra o seu caráter permanente, apesar das
eleitoral paulista e flagra uma realidade que, apesar dos elementos de continuidade do
70. Contra toda uma bibliografia que insiste nas metamorfoses dos coronelismos, Rui
os concebe como prova do caráter autoritário da vida pública brasileira,
processo que põe contra a parede a noção arraigada de que o Chefe do Executivo é o
construção do discurso.
construções teóricas, algumas delas baseadas no discurso do próprio Leal, ainda que
mais força. Em suma, a análise das formações discursivas mais recentes permite
CONCLUSÃO
tomado por base a tese de Vitor Nunes Leal, embora a contradiga em alguns pontos.
Coronelismo, enxada e voto se mantém, por mais de meio século, como o clássico
dias atuais. Outras, por sua vez, consideram findado esse sistema de governo.
Por outro lado, o torna o discurso de Nunes Leal singular nas análises
único meio que lhe permitia a obtenção de poder na esfera pública, a angariação de
votos de cabresto para levar à esfera estadual e federal os senhores de terra. Tal
próprio autor. Boa parte da historiografia brasileira entende que, em certa medida, a
análise de Leal perde por tratar de maneira conjuntural a história dos regionalismos.
predominante, à social. Certamente que alguns autores, como Maria Isaura Pereira de
alguma forma de poder que ainda hoje é exercido em nossa sociedade, e que mantém
uma minoria nas rédeas do poder, ao tempo que exclui da prática política e cidadania
dos elementos que permitem a construção dos discursos diversos, das razões de sua
BIBLIOGRAFIA
2002.
PALACÍN, Luís G. Coronelismo no Extremo Norte de Goiás. Ed. Loyola, SP, 1990.
RJ, 1979.
PINTO, Céli Regina Jardim. Com a Palavra o Senhor José Sarney: o discurso o
PRADO, Caio Jr. Formação do Brasil Contemporâneo. Ed. Brasiliense, SP, 1970.