Resenha A Invenção Das Massas

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES


INSTITUTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

CAMILA TEODORO DA SILVA

A INVENÇÃO DAS MASSAS:


A PSICOLOGIA ENTRE O CONTROLE E A RESISTÊNCIA
Resenha do texto de BARROS, Regina D. B. B. e JOSEPHSON, Silvia C.

Rio de Janeiro - RJ
2018
CAMILA TEODORO DA SILVA

A INVENÇÃO DAS MASSAS:


A PSICOLOGIA ENTRE O CONTROLE E A RESISTÊNCIA
Resenha do texto de BARROS, Regina D. B. B. e JOSEPHSON, Silvia C.

Trabalho apresentado à disciplina Psicologia do


Século XX à Contemporaneidade, ministrada pela
professora Ana Maria Jacó-Vilela, para obtenção
de nota parcial no curso de graduação em
Psicologia, da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ).

Rio de Janeiro - RJ
2018
BARROS, R. D. B. B.; JOSEPHSON, S. C. A invenção das massas: a psicologia entre o
controle e a resistência. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T.
História da Psicologia: rumos e percursos. Nau Editora, 2005. p. 441-462.

Regina Duarte Benevides de Barros tem doutorado em Psicologia Clínica e é


professora do Departamento de Psicologia UFF. Atualmente trabalha na Pathfinder
International em Moçambique em projetos de saúde, educação e políticas sociais.
Silvia Carvalho Josephson é doutora em Psicologia pela UERJ e professora do
Departamento de Psicologia da UFF.

O livro História da Psicologia: rumos e percurso tem como principal objetivo mostrar
o quanto o conhecimento da emergência histórica de cada uma das ciências psicológicas tem
um papel fundamental na formação do psicólogo. Este capítulo do livro cumpre
primorosamente sua função dentro da obra, levando-nos a uma viagem através do tempo,
fazendo com que o leitor se sinta convidado a um passeio, não através do passado de uma
ciência com uma coleção de personagens ilustres e suas respectivas teorias, mas incitado a
pensar nas condições que possibilitaram o surgimento dessa ciência, o que nos permite dar
sentido e compreender os tempos atuais.
De linguagem de fácil assimilação, apesar de ser um texto didático, nos dá a sensação
de estarmos adentrando num romance histórico. Diferentemente de grande parte da literatura
acerca do assunto, A invenção das massas: a psicologia entre o controle e a resistência não só
nos mostra como a psicologia das massas e a psicologia social se formaram e se
transformaram, como abre um espaço especial para mostrar como a psicologia no Brasil foi
influenciada pelo desenvolvimento da psicologia social no mundo. Escrito de maneira bem
estruturada e de forma a prender a atenção do leitor, permitindo-o compreender o surgimento
da preocupação com o social dentro da psicologia e passando por pensamentos teóricos e
políticos que dão base a essa forma de ver o mundo.

IDEIAS CENTRAIS DO TEXTO


As autoras iniciam o texto nos situando no tempo, no século XVIII, quando se erguia o
capitalismo liberal, mudando a concepção de indivíduo. Dentro desse contexto, todos os
indivíduos passaram a ser vistos como iguais, desfrutando cada um deles da mesma
possibilidade de ascensão hierárquica, com direitos iguais perante o Estado, mas cada qual
com direito a expressões individuais. As autoras ressaltam que surge, então, um novo modo
de existência, o “modo-indivíduo”, fruto de um modo de produção capitalista, investindo-se
na produção de uma subjetividade, o indivíduo como produto e produtor, de forma a garantir a
continuidade desse novo modo de produção.
Como destacado no texto, é a partir desse novo modo de olhar o indivíduo que surge a
medicina social em meados do século XVIII, na Europa, como uma estratégia biopolítica,
visando controlar, organizar e administrar a população. População essa que cresceu
descontroladamente nas grandes cidades, trazendo diversos problemas como desemprego e
doenças, e fazendo emergir as primeiras revoltas de partes dessa população. Como salientam
as autoras, a medicina passa a olhar, então, não mais somente para o corpo do indivíduo, mas
para o corpo das populações, e o Estado passa a ser o orquestrador-produtor dessa forma de
regulação das grandes cidades. Aqui, as autoras chamam de “resistência” esse movimento das
relações de poder.
Levando o leitor a compreender como surgiu o interesse ao estudo das massas, o texto
aborda a transformação que se deu na configuração dos espaços público e privado no século
XIX. No século anterior, o espaço público era objeto do Estado e, no âmbito privado, as
relações íntimas e pessoais eram valorizadas, exigindo comportamentos diferentes em cada
um deles. A transformação se deu em função das mudanças econômicas, urbanas e políticas,
nascendo assim uma “sociedade intimista”. Essa nova forma de funcionamento social cria um
isolamento e um “silêncio”. As autoras ressaltam que a sociedade passa a ser vigia das
expressões dos indivíduos, que se sentem desestimulados a ter comportamentos que possam
criar algum tipo de exposição do seu interior.
Segundo as autoras, é nesse contexto que surge uma série de trabalhos que tentam
entender e explicar os grandes conjuntos de seres humanos e a interface entre a sociedade e o
indivíduo. Nessa tentativa, além de terem sidos utilizadas diversas teorias já conhecidas,
foram criadas novas disciplinas: a medicina social, o higienismo, a sociologia e a estatística,
com o objetivo de intervir e controlar.
O texto aborda alguns dos mais destacados estudiosos dessas multidões, que trazem
conceitos diferentes de acordo com o conhecimento e com o contexto social, político e
econômico de sua época, influenciados pela ideia de criminalidade e periculosidade das
massas, pelos movimentos dos operários, pela deflagração da Primeira Guerra Mundial e o
surgimento da psicologia coletiva, e pela ascensão do nazi-fascismo. Até então, esses
estudiosos estavam preocupados com a natureza das massas, o que as motivava e o que as
mantinha unidas, sempre ligados a um viés negativo, ligados à irracionalidade e sujeição a
líderes e ideologias.
As autoras chamam a atenção para a análise de Canette, segundo o qual o homem se
insere na massa para escapar do medo diante o estranho, descarregando-se das diferenças, e
que as massas podem ser de diversos tipos, podendo ser classificadas por diferentes vieses.
Dessa maneira, as massas passam a ser vistas com um sentido diverso daquele habitual, com o
sentido de “dignidade e responsabilidade”.
Para as autoras, o movimento das massas surgiu como uma resistência ao modo de
subjetivação do século XIX, e que o modo de ver as massas como perigosas e irracionais, na
verdade, indicavam que o que se temia era o processo de desterritorialização do capitalismo, a
desfragmentação de formas instituídas e a constituição de outros modos de subjetivação,
diferente do individualizante, que era dominante. Daí a importância histórica do papel de
resistência das massas aos processos de exploração e assujeitamento do capitalismo.
Finalmente o texto faz uma comparação entre a preocupação com as massas na Europa
e no Brasil. Nós vimos como esse tema ganhou expressão no final do século XIX e início do
XX nas grandes cidades europeias. No Brasil republicano do início do século XX, no Rio de
Janeiro, a industrialização no país ainda era embrionária, tendo, então, o estudo das massas
tomado um rumo um pouco diferente.
Como a maior parte da população era mestiça e analfabeta, ela era vista como um
problema, como causa de doenças e que atrapalhava a ordem social e dificultava o caminho
para a civilização. De acordo com as autoras, surgiram algumas propostas para solucionar
esse “inconveniente”, como a esterilização dos pobres, o impedimento da miscigenação com
os povos considerados inferiores e o embranquecimento progressivo, com o cruzamento entre
mestiços e brancos, estes últimos considerados superiores.
As autoras salientam que a polícia republicana era responsável pelo corpo da cidade e
da população e estava incumbida de reprimir qualquer tipo de movimentos de associação
popular. Juntamente a eles, o corpo médico era responsável pela higienização da população.
Os psiquiatras, detentores dos saberes psi, tornaram-se aliados na imposição de controle e
ordem da população pobre e miscigenada. Segundo Foucault, essa intervenção surgiu da
necessidade de assegurar a ascensão do capitalismo industrial. As autoras ressaltam que, no
Brasil, a segregação populacional foi sustentada nas ciências biológicas quase em toda a sua
totalidade, o que causou desqualificação e extermínio dos índios, exclusão de loucos, dos
pobres e da população negra.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ESCAVADOR. Regina Duarte Benevides de Barros. Disponível em:
<https://www.escavador.com/sobre/2770104/regina-duarte-benevides-de-barros>. Acesso
em: 25 jun. 2018.

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