Judaísmo e Cristianismo - Dois Caminhos Que Não Se Cruzarão
Judaísmo e Cristianismo - Dois Caminhos Que Não Se Cruzarão
Judaísmo e Cristianismo - Dois Caminhos Que Não Se Cruzarão
I. INTRODUÇÃO
A idéia para este ensaio foi inspirada por uma apresentação muito sucinta e eficaz das
diferenças entre Cristianismo e Judaísmo preparados pelo movimento “Jews for
Judaism” [Judeus pelo Judaísmo] 2. Outro fator que também contribuiu para a criação
deste ensaio foi a necessidade de responder a alegação comum de alguns cristãos
que intitulam a si mesmos de judeus messiânicos uma vez que eles afirmam estar
praticando o Judaísmo ao invés do Cristianismo.
Muitas pessoas acreditam que a única diferença entre judeus e cristãos centra-se na
crença em Jesus - cristãos acreditam que Jesus é o Messias; e os judeus não. O
problema com este entendimento é que ele não leva em consideração todo o escopo
teológico que se baseia na crença de que Jesus é o Messias. A disparidade entre as
duas teologias se tornam evidentes quando os seus principais elementos são
confrontados e analisados.
1
As transliterações da terminologia hebraica para o alfabeto latino seguirão as seguintes orientações:
A terminologia transliterada será mostrada em itálico negrito
A sílaba acentuada na terminologia transliterada será mostrada em MAIÚSCULAS
Sons das vogais Latinas, A - E - I - O - U, serão utilizadas.
Letras hebraicas distintas que têm sons ambíguos das letras latinas são transliteradas de acordo com a
as seguintes regras:
- A letra אvocalizada será transliterada como a vogal equivalente latina
- A letra עvocalizada será transliterada como a vogal equivalente latina com um agregado sublinhado
- A letra חserá transliterada como "h"
- A letra כserá transliterada como "ch"
- A letra ּכserá transliterada como "k"
- A letra קserá transliterada como "q"
- Um SHVA vocalizado ( ) será transliterado como "e" expoente seguindo a consoante
- Não existe "duplicação" de letras nas transliterações para refletir o daGESH (ênfase)
2
Em inglês: Cristianismo e Judaísmo: As Diferenças - http://www.jewishpassion.com/documents/j_compare.html
Copyright © Uri Yosef, PhD, 2001-2010 for the Messiah Truth Project, Inc.
Tradução: Renato Santos Grun
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1
AS ESCRITURAS
As respectivas escrituras são um ponto de partida lógico para uma comparação das
duas religiões, já que estas estão contidas em seus princípios fundamentais.
Pirkei Avot 1:1 - Moisés recebeu a Torá no Monte Sinai e ele transmitiu a
Josué, e Josué transmitiu aos Anciãos; e os Anciãos a transmitiram aos
5
Profetas, e os Profetas transmitiram aos Homens da Grande Assembléia.
A Torá Escrita contém 613 preceitos que formam a estrutura do Judaísmo, e que são
considerados eternos e de inestimável valor6. A Torá Oral contém muitos detalhes
destes 613 preceitos, essenciais para a compreensão e observância dos mesmos.
Existem, além disso, outras obras escritas pelos sábios judeus incluindo as
codificações Judaicas do rabino Moshe Ben Maimon (o RaMbaM, Maimônides), o
rabino Joseph Karo, e outros tantos, todos os quais tiveram o seu impacto sobre as
práticas judaicas. O Judaísmo Tradicional também inclui uma tradição mística,
3
Os escritos em Aramaico da Bíblia Hebraica são Daniel 2:4b-7:28 e Esdras 4:8-6:18
4
Veja, por exemplo, “Uma Introdução Completa aos Manuscritos do Mar Morto, por Geza Vermes,
pp.174-175, Fortress Press (1999) & “Os Manuscritos do Mar Morto e a Integridade Bíblica” -
http://www.apologeticspress.org/rr/rr1995/r&r9504a.htm
5
Pirkei Avot, literalmente, Capítulos de Nossos Pais, conhecido em português como Ética dos Pais, é
um dos 10 tratados que compõem a ordem de Nezikin na Mishná.
6
Uma lista detalhada e categorizada dos preceitos [em inglês] é apresentada no seguinte site:
http://jewfaq.org/613.htm
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2
conhecida como Qabalah (muitas vezes transliterado como Kabbalah, Cabalá), cuja
obra central é o Zohar.
O Novo Testamento por sua vez é formado por 27 livros. Os primeiros quatro livros do
Novo Testamento, os chamados Evangelhos, são conhecidos como os ensinamentos
de Jesus registrados depois de sua morte, e que levam os nomes de quatro de seus
discípulos. O restante do Novo Testamento foi escrito por várias pessoas, sendo Paulo
de Tarso o principal deles. O Novo Testamento foi originalmente composto em grego.
Muitos cristãos consideram toda a Bíblia Cristã "a palavra inspirada" de Deus. No
entanto, é evidente que para os cristãos, o Novo Testamento substitui o Antigo
Testamento em sua autoridade. Além disso, enquanto as denominações Católicas e
Ortodoxas do cristianismo incluem uma tradição oral, o Cristianismo Protestante
geralmente adere a Sola Scriptura, em latim, a Escritura Somente, a idéia da
autoridade singular da escritura. Em outras palavras, a Escritura (Bíblia) é a única
regra infalível usada para decidir questões de fé e costumes que envolvem suas
doutrinas. Com efeito, esta prática inverte a ordem da autoridade da Igreja, que tem
sido seguida pela Tradição Católica/Ortodoxa por muitos séculos, onde a tradição é a
intérprete da Escritura. Com efeito, a Sola Scriptura faz da Escritura a intérprete da
tradição.
A Teologia cristã primitiva desenvolveu-se muito antes do Novo Testamento ser escrito
e continuou a desenvolver-se e amadurecer através de influências externas ao Novo
Testamento. Em outras palavras, ao contrário da Bíblia Hebraica, que define a
estrutura do Judaísmo Tradicional, o Novo Testamento não define o cristianismo, mas
sim a teologia cristã definiu o Novo Testamento. Este fato está em desacordo com a
idéia de sola scriptura - um conceito ausente na Bíblia Cristã. Isso também explica a
subordinação do Antigo Testamento ao Novo Testamento, que tornou os 613
mandamentos da Torá em não-eternos e sem nenhum valor para o Cristianismo.
7
Nota do Tradutor: Nesta e nas demais traduções serão utilizadas as siglas E.C. (para “Era Comum”) e
a.E.C. (para “Antes da Era Comum”) ao invés de a.C (Antes de Cristo) e d.C (Depois de Cristo).
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3
A Natureza da Divindade
Com exceção de um único verso no Novo Testamento que invoca esses três
elementos, a Trindade em si nunca é mencionada de forma explícita (realce
acrescentado para dar ênfase ao longo deste documento, a menos que indicado de
outra forma):
A fim de transmitir o conceito de uma divindade trina, o versículo deveria ser escrito da
seguinte forma:
Por outro lado, a Divindade na Bíblia Hebraica, o D’us de Israel, é uma Unidade
indivisível. Os quatro primeiros Princípios da Fé Judaica codificada pelo RamBaM
(Rabi Moshé ben Maimon) resumem bem o conceito judaico sobre a natureza de
D’us9:
1. D’us existe
2. D’us é um e único
3. D’us é incorpóreo
4. D’us é eterno
8
Entre as denominações cristãs que rejeitam a doutrina da Trindade estão as Testemunhas de Jeová, os
Mórmons, e os Unitaristas.
9
Vide, por exemplo [em inglês] - http://www.ou.org/torah/rambam.htm
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4
O princípio fundamental do Judaísmo Tradicional se reflete no Sh'ma (Ouve), que
descreve D’us como sendo Um:
Uma vez que a palavra "Um" neste versículo funciona como um adjetivo, este
descreve o substantivo próprio "Senhor", o que exclui a possibilidade de uma "unidade
composta". O conceito de D’us como uma unidade indivisível também pode ser
entendida a partir da seguinte passagem em Isaías:
Isaías 44:6 - Assim diz o Senhor, o Rei de Israel e seu Redentor, o Senhor dos
Exércitos, "Eu sou o primeiro e Eu sou último, e fora de Mim não há [outro] D’us."
A declaração de D’us: "Eu sou o primeiro", indica que Ele não tem pai. Quando Ele
diz: "Eu sou o último", significa que Ele não tem nenhum filho gerado. E quando D’us
proclama, "fora de mim não há [outro] D’us", significa que Ele não compartilha sua
glória com nenhum outro deus ou entidade - Ele não tem parceiros.
A VISÃO MESSIÂNICA10
Ele deve ser um descendente biológico, isto é, da semente, ( ז ֶַרעZera), do rei Davi
(Isaías 11:1, Ezequiel 37:24-25)
Sua linhagem até o rei Davi deve passar através do Rei Salomão (2Samuel 7:12-16;
1Reis 8:18-20)
10
Sobre as visões messiânicas do Judaísmo e Cristianismo vide o artigo Desmascarando os "Textos-
prova" de Salmos: Parte 7 - "A Grande Cena" http://thejewishhome.org/counter-pt/SalmTextProvPrt7.pdf
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Segue-se a estes requisitos que o (Messias) deve nascer de pais humanos -
seu pai biológico irá transmitir-lhe a linhagem do rei Davi, e sua mãe biológica irá
transmitir-lhe sua identidade como judeu.
A visão messiânica judaica tem como peça central uma "agenda messiânica". Esta
"agenda messiânica" consiste em declarações proféticas que descrevem, em diversos
níveis, as condições que prevalecerão ao longo da era messiânica - elas representam
a saída de uma nação que anseia por uma vida melhor em um mundo melhor. Os
itens da "agenda messiânica" compreendem o conjunto de "profecias messiânicas" no
Judaísmo Tradicional.
Segundo a teologia cristã, a natureza e a missão do Messias é que ele atuaria tanto
como Senhor quanto como Salvador:
11
Jesus é divino, pois ele sempre existiu, como parte da divindade (João 1:1-2) .
Jesus foi "enviado a Terra", na forma de um homem (Deus manifestado na
carne), através do "nascimento virginal", tornando-se "Filho de Deus" (Mateus 1:23,
Marcos 1:1).
Jesus veio como o Messias para redimir (ou salvar) a humanidade, removendo
dela o "Pecado Original" através da sua morte sacrificial na cruz (2 Timóteo 1:9-10; 1
João 4:14).
Em sua "Segunda Vinda", Jesus irá reinar sobre o Reino dos Céus (Mateus 5:19,
7:21, Hebreus 9:28).
11
A maioria dos cristãos adere à doutrina da Trindade, embora algumas denominações não a aceitem.
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6
Em seu papel como Senhor e Salvador, Jesus disse ter cumprido todas as profecias
sobre ele no "Antigo Testamento" cristão.
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De acordo com o Judaísmo, existe mais de um "caminho para D’us", talvez o caminho
judaico seja o mais difícil. Assim, todas as pessoas justas, judeus e não-judeus têm
um lugar no mundo vindouro. A Aliança do Arco, que D’us fez com Noé e seus
descendentes (Gênesis 9:1-17) é a confirmação disso, e a justiça de Noé é
reconhecida pelas Escrituras Hebraicas:
Gênesis 6:9 - Estas são as gerações de Noé, Noé era um homem justo, ele era
perfeito em suas gerações; Noé andava com D’us.
De acordo com a interpretação cristã desse relato, Adão (e Eva), ao comerem do fruto
proibido da árvore do conhecimento do bem e do mal no Jardim do Éden
desobedeceram a Deus, cometendo assim o primeiro pecado da humanidade
introduzindo nela a morte (o salário do pecado). A crença cristã de que o pecado de
12
Estas Sete Leis ou estatutos formulados através da interpretação rabínica, baseiam-se nos versos
apresentados, respectivamente: [1] A proibição de assassinato (Gênesis 9:6). [2] A proibição da idolatria
(Gênesis 4:26). [3] A proibição da blasfêmia (Gênesis 4:26). [4] A proibição de má conduta sexual,
especialmente o incesto (Gênesis 6:12, 9:7). [5] O estabelecimento de tribunais de justiça (Gênesis 9:6).
[6] A proibição de roubo (Gênesis 6:11). [7] A proibição de comer carne de um animal vivo (Gênesis 9:4).
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8
Adão e Eva foi transferido para todos os futuros descendentes se refletem nos vários
ensinamentos do Novo Testamento, tais como:
Isto significa que a humanidade está condenada à morte desde o instante do seu
nascimento! Como as pessoas podem livrar-se desta sentença de morte? A resposta
é, de acordo com o Cristianismo, através do sangue de Jesus. Somente aceitando-se
a Jesus como Senhor e Salvador que a "graça" de Deus (lembre-se, para os cristãos,
Jesus é Deus manifestado na carne) retorna a humanidade - a crença em Jesus
"salva" uma pessoa e lhe assegura a salvação:
Atos 15:11 - Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus
Cristo, como eles também. [Vide também Romanos 5:15b,19b,21]
Consequentemente, "a Lei" (ou seja, a Torá) é impotente, e a justiça só pode ser
alcançada se o indivíduo seguir a Jesus:
Gálatas 2:21 - Não aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei,
segue-se que Cristo morreu em vão.
13
A boa inclinação (YEtzer ha'TOV) é a consciência moral, a voz interior que lembra o indivíduo da Lei de
D’us quando ele(a) considera fazer algo proibido. A inclinação para o mal (YEtzer ha'RA) é percebida
como a natureza egoísta, o desejo de satisfazer as necessidades pessoais (alimentação, moradia, sexo,
etc) sem levar em conta as conseqüências morais de cumprir esses desejos. Isso não é necessariamente
uma coisa ruim, já que elas foram criadas por D’us. Sem o desejo de satisfazer as necessidades
pessoais, o homem não construiria uma casa, casaria, teria filhos, ou conduziria seus negócios. Apesar
disso a inclinação para o mal não é um desejo de fazer o mal da maneira que normalmente pensamos
na sociedade ocidental - um desejo de causar danos sem sentido que pode levar a injustiças, quando não
controlada pela boa inclinação. Não há nada inerentemente de errado com a fome, mas ela pode levar a
roubar comida. Não há nada de intrinsecamente errado com o desejo sexual, mas pode levar alguém a
cometer estupro, adultério, incesto, etc.
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9
Essa idéia está expressa no seguinte versículo:
Os seres humanos pecam, pois não são perfeitos. A capacidade de exercer o livre
arbítrio também pode levar as pessoas a agirem de uma forma que transgrida o
caminho delineado por D’us. Na consagração do Templo que construiu, o rei Salomão
disse a D’us:
1 Reis 8:46 - Quando pecarem contra ti (pois não há homem que não peque), e tu te
indignares contra eles, e os entregares às mãos do inimigo, de modo que os leve
em cativeiro para a terra inimiga, quer longe ou perto esteja, [Veja também
2Cronicas 6:36]
Através da Prece,
Através do Arrependimento,
Salmo 51:16-19 [14-17 nas Bíblias Cristãs] - Salve-me do sangue, ó D’us, o D’us da
minha salvação; deixe minha língua cantar louvores da Tua caridade. Ó Senhor, Tu
deves abrir os meus lábios, e a minha boca recitar Seu cântico. Porque Tu não
desejas um sacrifício, ou eu daria; Tu não desejas uma oferenda. Os sacrifícios
para D’us são um espírito quebrantado, D’us não desprezarás um coração
quebrantado e contrito. [Ver também Deuteronômio 4:27-31;. 2 Samuel 12:13]
Daniel 4:24 [27 nas Bíblias Cristãs] - De fato, ó rei, possa meu conselho agradá-lo,
com a caridade removerá o seu pecado e sua maldade, mostrando misericórdia
para com os pobres, talvez se prolonguará sua tranqüilidade” [Ver também Oséias
6:6, Provérbios 10:2, 11:4, 16:6, 21:3].
Embora se possa pedir para ser perdoado pelos pecados a qualquer momento, como
judeus devotos fazem em suas orações diárias, o dia do Yom Kippur (o Dia do
Perdão) é o tempo designado pela Bíblia Hebraica para expiação de pecados (Levítico
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16:29-34; Números 29:7-11). O Yom Kippur objetiva ser um veículo que permite a
uma pessoa arrependida se arrepender por suas transgressões do ano que passou,
tencionando fazer o bem no próximo ano. É importante reconhecer, no entanto, que
Yom Kippur expia apenas para pecados entre o homem e D’us, não pelos pecados
cometidos contra outra pessoa. Para expiar este último, deve-se primeiro buscar a
reconciliação com a pessoa que foi injustiçada, corrigindo os erros e os efeitos
prejudiciais dos atos pecaminosos cometidos (isso inclui a compensação quando
aplicável). Uma vez que atos pecaminosos contra qualquer uma das criações de D’us
são também, com efeito, pecados contra D’us, depois que a reconciliação entre as
pessoas for atingida, o infrator deve iniciar o processo acima descrito.
A NATUREZA DE SATAN
A Crença Cristã em Satan está enraizada no evento que teve lugar no Jardim
do Éden, onde a serpente, imaginada pelos cristãos como sendo uma
manifestação de Satanás, é o autor do mal que tentou o homem a
desobedecer à ordem Divina para não comer da Árvore do Conhecimento do
Bem e do Mal.
O Satan ou Diabo tem seu próprio poder e autoridade, usado para se opor a Deus e
perpetrar o mal - uma visão que reflete a influência das religiões pagãs, tais como a
religião da Grécia antiga, que tinha a correspondente díade Hades-Zeus, e a religião
da antiga Roma, que possuía Plutão e Júpiter. Este dualismo das forças do bem e do
mal em um estado constante de batalha que prevaleceria até o "fim dos tempos",
caracterizava estas e outras antigas religiões pagãs.
Como parte da discussão sobre a visão cristã de Satanás, vale a pena comentar o
nome Lúcifer, que por muitos séculos tem sido associado a Satanás ou Diabo em
textos cristãos.
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11
O nome Lúcifer está ausente do Novo Testamento. Orígenes, Pai da Igreja grega, é
conhecido como o primeiro a identificar Satan com Lucifer14. Desde aquela época,
esse nome começou a ser encontrado em Isaías 14:12, em várias traduções do
"Antigo Testamento": a Vulgata Latina de Jerônimo (BSV; 405), a King James Version
(KJV; 1611), a Tradução de Darby (Darby, 1890), a New King James Version (NKJV,
1982), e a king James Version do século 21 (KJ21; 1994 ). A maioria das traduções
cristãs (inclusive as muitas em língua portuguesa) traz o versículo da seguinte forma:
Isaías 14:12 - Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filha da alva! Como foste
cortado por terra, tu que debilitavas as nações!
A aplicação do nome Lúcifer nestas traduções pode ter sido motivada pelo trabalho de
Orígenes através da suposição de que, a passagem inteira - Isaías 14:4-21 - descreve
Satanás e da crença que Isaías 14:12 é explicada no Novo Testamento por meio de
passagens, tais como a que se segue:
Lucas 10:18 - E disse a eles: Eu via Satanás, como raio, cair do céu.
2Pedro 1:19 - E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis
em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia
amanheça, e a estrela da alva [φωσφορος] apareça em vossos corações.
Apocalipse 22:16 - Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas
coisas nas igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente
estrela da manhã [ο αστηρ ο λαμπρος ο πρωινος].
Por esta razão, com poucas exceções, os teólogos cristãos geralmente têm rejeitado e
abandonado esta interpretação da passagem em Isaías, como é evidente do número
insuficiente de traduções que usam o nome Lucifer15.
Este título deriva da raiz do verbo ( טןstn), que tem vários significados relacionados:
denunciar, condenar, contrariar, perseguir, odiar. O verbo é usado na Bíblia
Hebraica neste contexto (como por exemplo, Zacarias 3:1, Salmo 38:21[20], 109:4). O
14
Jeffrey Burton Russell, Satan: The Early Christian Tradition, p. 131, Cornell University Press (1981).
15
Lamentavelmente, uma tradução em língua inglesa muito respeitada realizada pelo rabino A.J.
Rosenberg também contém o nome de Lúcifer, embora por um motivo diferente, como dito no comentário
sobre o versículo: "Esta é Vênus, o que dá luz como a estrela da manhã". [The Book of Isaiah, Volume
Um, p. 125, The Judaica Press, Inc. (1992]
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12
substantivo טןderiva daquela raiz, e tem vários significados relacionados, bem
como: um acusador, um adversário, um inimigo, um obstáculo, um procurador.
Das 30 aplicações deste substantivo na Bíblia Hebraica ele é usado neste contexto em
11 ocasiões (Números 22:22,32; 1Samuel 29:4; 2Samuel 19:23; 1Reis 5:18, 11:14,23;
Salmos 71:13, 109:6,20,29). Os restantes 19 casos são exemplos de seu uso para um
título/nome. Com uma exceção, todas essas instâncias utilizam a forma explícita do
título, inclusive do artigo definido (ha), e aparece como שטן, o Satan, também
conhecido como o adversário. A única exceção está em 1Crônicas 21:1 onde aparece
simplesmente como טן, Satan, e que o contexto indica claramente ser uma
referência a שטן.
→ Como um dos anjos de D’us, שטן foi criado sem o livre arbítrio.
Embora não haja nenhuma referência direta na Bíblia Hebraica, isso pode facilmente
ser deduzido dos relatos sobre vários anjos e as suas missões, bem como o
entendimento do que realmente o "livre arbítrio" significa16. Em termos mais simples,
"livre arbítrio" significa a capacidade de dizer “não”. Em todas as narrativas da Bíblia
Hebraica onde as missões angelicais e suas ações são observadas, não há um único
exemplo em que um anjo recusa uma missão incubida de cumprir17.
16
A idéia de que os anjos não têm livre arbítrio é discutida pela primeira vez no Talmud e no Midrash
(Talmud Babilônico, tratado de Shabat 88b e Bereshit Rabbah 48:11).
17
O Talmud e o Midrash falam de anjos como realizadores de uma única missão de cada vez (Talmud
Babilônico, Tratado de Bava Metzi'a, Folio 86b; Genesis Rabbah 50:2). O Talmud e o Midrash observam
que os anjos possuem inteligência e uma vida interna complexa, e que eles argumentam (mas nunca
recusam uma missão) e são sujeitos a erros (Talmud Babilônico, Tratado de Sanhedrin, Folio 38b;
Midrash de Salmos 18:13).
18
שטןé frequentemente identificado como uma manifestação da inclinação para o mal, em fontes
judaicas extra-bíblicas.
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13
Esta disputa entre שטןe a boa inclinação tem lugar nos relatos do Livro de Jó, onde
é evidente que (a) Satan age completamente sob o controle de D’us, agindo somente
por intermédio da permissão divina ao afligir Jó, e (b) uma pessoa virtuosa, uma
manifestação da boa inclinação pode prevalecer contra ele19.
A crença religiosa em uma entidade que compete com D’us e tem o seu próprio poder
e autoridade para se opor a Ele viola os princípios básicos do Monoteísmo. A visão
Judaica sobre שטןé de um anjo que trabalha para D’us, e não contra Ele, ele deve
obter a permissão Divina para cada ação que quiser tomar. שטןna verdade atua
como facilitador para o crescimento moral do ser humano proporcionando-lhe desafios
necessários. Se D’us quisesse que a humanidade fizesse o "bem" sempre, Ele teria
criado robôs.
Em vez disso, os seres humanos foram criados com livre arbítrio, dando- lhes a
capacidade de fazer escolhas:
É claro que D’us quer que "escolhamos a vida" e lutemos pelo bem. Em contraste com
a idéia cristã de Satanás ou Diabo, ele testa a humanidade, שטןserve a D’us ao
fazer a bondade humana uma verdadeira escolha e uma oportunidade contínua em
direção a excelência.
O CONCEITO DE "INFERNO"
Mateus 8:12 - Mas os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali
haverá choro e ranger de dentes.
Mateus 25:41 - Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-
vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus
anjos;
19
O Talmud e o Midrash descrevem os anjos sendo subordinados ao Justo (Talmude Babilônico,
Tratado de Sanhedrin 93a & Nedarim 32a; Genesis Rabbah 21 e Deuteronômio Rabbah 1).
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14
De acordo com o Novo Testamento, para as almas condenadas a viverem lá, o inferno
é um lugar de trevas, fogo, enxofre, e lagos de fogo, onde choro, ranger de dentes e
tormento são uma constante.
A população do inferno é formada pelas almas daqueles que estavam fora da Graça
de Deus quando morreram, isto é, pessoas que morreram em pecado e sem
arrependimento, incluindo todos os "maus" cristãos e todos aqueles que não
professaram o cristianismo, independentemente de como eles se comportaram
durante sua vida, assim como Satanás, o Demônio e seus anjos (os demônios). No
“fim dos tempos", as almas e os corpos dos condenados ao inferno se reunirão e
permanecerão lá para serem atormentados, mas nunca serão consumidos pelo fogo
que é eterno.
O Talmud fala de um lugar para o qual são enviadas as almas de pessoas que não
levam uma vida exemplar na terra, a palavra hebraica para esse lugar é ּג ּנ
(geihiNOM). Este termo deriva do lugar bíblico conhecido como ( ֵּּג ־ ּנGEI-
hiNOM), [o] Vale de Hinom (por exemplo, Neemias 11:30) e ֶ ן־ ּנ ( ֵּּגGEI-ven
hiNOM), [o] Vale do Filho de Hinom (por exemplo, Jeremias 19:6). Este é um vale
localizado ao sul de Jerusalém, onde o deus do fogo Moloch, era adorado pelos
amonitas (através do sacrifício de crianças). Durante os dias em que o Templo estava
em Jerusalém o vale serviu como depósito de lixo, onde as carcaças dos animais que
eram oferecidos em sacrifício no templo eram queimadas20.
15
as almas são purificadas dos pecados para os quais as pessoas não se
arrependeram antes de morrer. Uma vez que todos os pecados são purificados a
partir dele, a alma purificada ascende ao "mundo vindouro". As únicas exceções a
este processo são os mais justos e aqueles profundamente perversos. É dito que
as almas dos justos passam diretamente para o "mundo vindouro". Segundo
alguns, as almas das pessoas profundamente perversas são destruídas depois de
12 meses no ֵּ ּג ּנ, ou eles continuam a existir mas permanecem em um estado
constante de remorso, de acordo com outros.
III. SUMÁRIO
Judeus respeitam o fato de que os cristãos, tal como os seguidores de qualquer outra
religião, têm suas próprias crenças, também precisam entender que a teologia cristã,
independentemente de bandeiras denominacionais, está em desarmonia com o que a
Bíblia Hebraica ensina e, portanto, não é adequada ao povo judeu.
21
Tirado de uma carta de Jim Brule para a "Página de Leitores", em The Post-Standard, um jornal diário
em Syracuse, NY (informações de data e página não estão disponíveis).
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