03 - Célula Bacteriana PDF

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br Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● MICROBIOLOGIA

MICROBIOLOGIA 2016
Arlindo Ugulino Netto.

CÉLULA BACTERIANA

Bactérias (do grego bakteria, bastão) são organismos


unicelulares, procariontes, que podem ser encontrados na
forma isolada ou em colônias e pertencem ao Reino Monera.
São micro-organismos constituídos por uma célula, sem núcleo
celular nem organelas membranares.
A célula bacteriana apresenta várias estruturas,
algumas das quais estão presentes apenas em determinadas
espécies, enquanto outras são essenciais e, portanto,
encontradas em todas as bactérias.

COMPARAÇÃO ENTRE AS CÉLULAS EUCARIÓTICAS E PROCARIÓTICAS

As células bacterianas são pequenas e medidas em micrômetros (µm), 1µm equivale 0,001mm. A menor
bactéria tem 0,2 µm (Chlamydia); há células de Spirochaeta com 250 µm de comprimento. A maior bactéria conhecida é
a Epulopiscium fishelsoni que foi encontrada no Mar Vermelho e na costa da Austrália no intestino de um peixe com
mais de 600 µm de comprimento. Na maioria das vezes o tamanho médio de uma bactéria é de 1-10 µm.
Os procariotos não possuem núcleo organizado nem organelas celulares envoltas por membranas. A maior parte
de seu material genético está incorporada em uma única molécula circular de DNA de fita dupla, frequentemente,
fragmentos adicionais de DNA circular, conhecidos como plasmídeos, também estão presentes.
No citoplasma, além de sais minerais, aminoácidos, pequenas moléculas, proteínas, açúcares ainda são
encontradas partículas de ribossomos, grânulos de material de reserva (amido, glicogênio, lipídeos ou fosfatos).
Exceto os micoplasmas, todos os procariotos têm paredes celulares rígidas. Nas bactérias, esta parede celular é
composta principalmente de peptidoglicanos. As bactérias Gram-negativas, com parede celular que não fixa o corante
cristal-violeta, possuem uma camada externa de lipopolissacarídeos e proteínas, sobre a camada de peptidoglicano,
denominada cápsula, encontrada principalmente nas bactérias patogênicas, protegendo-as contra a fagocitose.
As células procarióticas não apresentam vacúolos, porém podem acumular substâncias de reserva sob a forma
de grânulos constituídos de polímeros insolúveis. São comuns polímeros de glicose (amido e glicogênio), ácido-
hidroxibutírico e fosfato.

FORMA E ARRANJO
A forma bacteriana é uma característica genética própria de cada uma, ou seja, a bactéria nasce com uma forma
definida e morre com a mesma.

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As bactérias classificam-se morfologicamente de acordo com a forma da célula e com o grau de agregação:
 Quanto à forma
o Coco: De forma esférica ou subesférica
(do género Coccus);
o Bacilo: Em forma de bastonete (do género
Bacillus). Podem apresentar extremidades
em ângulo reto (Bacillus anthracis);
o Vibrião: Em forma de vírgula (do género
Vibrio);
o Espirilo: de forma espiral/ondulada (do
género Spirillum);
o Espiroqueta: Em forma acentuada de
espiral.

 Quanto ao grau de agregação (Apenas os


Bacilos e os cocos formam colônias).
o Diplococo: De forma esférica ou
subesférica e agrupadas aos pares (do
género Diplococcus);
o Estreptococos: Assemelha-se a um "colar
de cocos";
o Estafilococos: Uma forma desorganizada
de agrupamento;
o Sarcina: De forma cúbica, formado por 4 ou 8 cocos simetricamente postos.
o Diplobacilos: Bacilos reunidos dois a dois;
o Estreptobacilos: Bacilos alinhados em cadeia.

ESTRUTURAS BACTERIANAS E FUNÇÕES


A estrutura da célula bacteriana é a de uma célula procariótica, sem organelas ligados à membrana celular, tais
como mitocôndrias ou plastos, sem um núcleo rodeado por uma cariomembrana e sem DNA organizado em verdadeiros
cromossomas, como os das células eucariotas.
As principais estruturas da célula procariota incluem:
nucleoide, plasmídeos, hialoplasma, membrana celular,
mesossomo, parede celular, cápsulas, fimbrias e flagelos.

NUCLEOIDE
O nucleoide não é um verdadeiro núcleo, já que
não está delimitado do resto da célula por membrana lipídica
própria. O nucleoide consiste em fibrilas de DNA dupla
hélice na forma de uma única molécula. O seu tamanho
varia de espécie para espécie. Na Escherichia coli, uma
bactéria típica, o genoma tem quase 5 milhões de pares de
bases e vários milhares de genes codificando mais de 4000
proteínas (o genoma humano tem 3 mil milhões de pares de
bases e cerca de 40.000 proteínas). Tem como função
carregar informações genéticas da bactéria.

PLASMÍDEOS
Os plasmídeos são pequenas moléculas de DNA circulares que coexistem com o nucleoide, ou seja, é um DNA
extra-cromossômico situado no citoplasma da bactéria. São comumente trocadas na reprodução sexuada. Os
plasmideos têm genes, incluindo frequentemente aqueles que protegem a célula contra os antibióticos.
Estes elementos são capazes de autoduplicação independente da replicação cromossômica e podem existir em
número variável. Ex de plasmídios: fatores sexuais (fator-F), fatores de resistência a antibióticos (fator-R), plasmídio de
fixação de N2, etc.

HIALOPLASMA
O hialoplasma é um líquido com consistência de gel, semelhante ao dos eucariotas, com sais, glicose e outros
açúcares, proteínas funcionais e várias outras moléculas orgânicas. Contém também RNA da transcrição gênica, e cerca
de 20 mil ribossomas. Os ribossomas procariotas são bastante diferentes dos eucariotas (essas diferenças foram usadas
para desenvolver antibióticos usados para só afetar os ribossomas das bactérias).

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MEMBRANA CELULAR
A membrana celular é uma dupla camada de fosfolípidos, com proteínas importantes (na permeabilidade a
nutrientes e outras substâncias, defesa, e na cadeia respiratória e produção de energia). É composta de 60% de
proteínas imersas em uma bicamada lipídica (40%). Além das interações hidrofóbicas e pontes de hidrogênio, cátions
2+ 2+
como Mg e Ca são responsáveis pela manutenção da integridade da membrana. Tem como funções:
 Transporte de solutos: a membrana plasmática atua como uma barreira altamente seletiva (mecanismo de
difusão facilitada e transporte ativo), impedindo a passagem livre de moléculas e íons. Moléculas hidrofílicas
polares como ácidos orgânicos, aminoácidos e sais minerias não conseguem passar livremente pela membrana
e, por isso, devem ser especificamente transportadas;
 Produção de energia por transporte de elétrons e fosforilação oxidativa: a presença de citocromos e de enzimas
da cadeia de transporte de elétrons na membrana plasmática lhe confere uma função análoga à da membrana
interna das mitocondrias em células eucarióticas;
 Biossíntese: as enzimas de síntese de lipídios da membrana e de várias classes de macromoléculas
componentes de outras estruturas externas à membrana (peptidoglicano, ácidos teicoicos, lipopolissacarídios e
polissacarídios extracelulares) estão ligadas à membrana citoplasmática;
 Duplicação do DNA: algumas das proteínas do complexo de duplicação de DNA estão localizadas na membrana
plasmática;
 Secreção: macromoléculas como toxinas, bacteriocinas, penicilinases podem também ser secretadas através da
membrana plasmática.
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OBS : Algumas espécies de bactérias têm uma camada externa de polissacarídeos que protege contra desidratação e
pode garantir resistência à antimicrobianos, chamada de cápsula.

MESOSSOMO
A membrana citoplasmática bacteriana pode apresentar invaginações
multiplas que formam estruturas especializadas denominadas de mesossomos.
Existem dois tipos:
 Septal: desempenha papel importante na divisão celular, pois, após a
duplicação do DNA, ao qual se encontra ligado, atua como o fuso no
processo de divisão na célula eucariótica, separando os dois cromossomos e
conduzindo-os para os pólos da célula.
 Lateral: encontrado em determinadas bactérias e parece ter como função
concentrar enzimas envolvidas no transporte eletrônico, conferindo à célula
maior atividade respiratória ou fotossintética.

PAREDE CELULAR
A parede celular bacteriana é uma estrutura rígida
que recobre a membrana citoplasmática e confere forma às
bactérias. É uma estrutura complexa composta por
peptidoglicanos, polímeros de carboidratos ligados a
proteínas como a mureína, com funções protetoras. A
parede celular é o alvo de muitos antibióticos. Ela contém
em algumas espécies infecciosas a endotóxina
lipopolissacarídeo (LPS) uma substância que leva a reação
excessiva do sistema imunitário, podendo causar morte no
hóspede devido a choque séptico.
É por meio da parede celular e da Técnica de
Coloração Gram (nome em homenagem a Christian Gram)
que se pode classificar o tipo de bactéria. As paredes de
bactérias Gram-negativas e Gram-positivas apresentam
diferenças marcantes. Bactérias Gram-negativas possuem
uma parede composta de várias camadas que diferem na
sua composição quimica e, consequentemente, é mais
complexa que a parede das Gram-positivas que, apesar de
ser mais espessa, apresenta predominantemente um único
tipo de macromolécula. O conhecimento das diferenças
entre as paredes de bactérias Gram-positivas e Gram-
negativas é da mais alta relevância para o estudo dos
mecanismos de ação dos quimioterápicos, de
patogenicidade e de outros tantos assuntos que estarão
relacionados diretamente à composição química e estrutura
da parede bacteriana.

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Na maioria das bactérias, a parede celular deve a sua rigidez a uma camada composta por uma substância
somente encontrada em procariotos e que recebe diferentes denominações como: mureína, mucopeptídeo,
mucocomplexo, peptidoglicano ou glicopeptídeo. O peptidoglicano representa a maior parte da parede das bactérias
Gram-positivas, atingindo de 15% a 50% da massa seca da bactéria, ao passo que nas Gram-negativas não ultrapassa
5%. Trata-se de uma macromolécula formada por um arcabouço composto de uma alternância de N-acetil-glicosamina
(NAG) e ácido N-acetilmurâmico (NAM). A este ultimo, encontram-se ligadas, covalentemente, cadeias laterais de
tetrapeptídeos (L-alanina, D-glutamato, mesodiaminopimelato e D-alanina). O número de interligações entre as cadeias
laterais de tetrapeptídeos em bactérias Gram-positivas é bem superior ao encontrado em bactérias Gram-negativas.
Embora as ligações glicosídicas entre NAG e NAM sejam ligações fortes, apenas estas cadeias não são capazes de
prover toda a rigidez que esta estrutura proporciona. A total rigidez do peptidoglicano é atingida quando estas cadeias
são interligadas pelos aminoácidos. A forma de cada célula é determinada pelo comprimento das cadeias de
peptidoglicano e pela quantidade de interligações existentes entre essas cadeias.
Em contrapartida, a Gram-negativa apresenta uma dupla camada externa de lipopolissacarídeos (fosfolipídios e
proteínas), ao passo que as Gram-positivas apresentam apenas uma fina camada de lipopolissacarídeos envolvendo a
sua espessa camada de mucopeptídeo. Esta camada, nas Gram-positivas, geralmente é ausente.
Tendo conhecimento das estruturas da parede celular de cada tipo de bactéria, pode-se fazer uso da Técnica
Gram de Coloração. Faz-se uso de substancias na seguinte ordem: violeta (corante roxo) e lugol (juntos, formam o
“complexo iodopararronilina” ou “complexo violeta-iodo”); trata-se a lâmina com álcool; em seguida, aplica a fucsina
(corante avermelhado).
As células Gram-positivas e Gram-negativas absorvem o complexo iodopararronilina, devido a ligação iônica
entre os grupos básicos do corante e os grupos ácidos constituintes da parede celular. O iodo, em solução, penetra nos
dois tipos de células e forma com o corante um complexo violeta-iodo. Ao fazer uso do alcool como substância
descorante, nas células Gram-negativas, o mesmo dissolve o complexo corante-iodo (assim como as camadas externas
de lipopolissacarídeos), elimina-o e deixa a célula incolor, a qual, ao ser corada com a fucsina, adquire a coloração
avermelhada. Já nas células Gram-positivas, o álcool penetra com dificuldade na espessa camada de mucopeptídeo. A
maior parte do complexo violeta-iodo permanece na célula, que retém assim, a sua coloração azulada.
 Bactérias Gram-positivas (parede celular espessa)  Violeta + Lugol + Alcool + Fucsina  Coloração
Azulada
 Bactérias Gram-negativas (parede celular fina)  Violeta + Lugol + Acool + Fucsina  Coloração
Avermelhada
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OBS : A lisozima (enzima presente na lágrima e secreções lubrificantes do olho) quebra a ponte de ligação entre a NAG
e a NAM, apresentando ação bactericida, quebrando a parede celular.

CÁPSULA
O termo cápsula é restrito a uma camada de polissacarídeos
que fica ligada à parede celular como um revestimento externo da
extenção limitada e estrutura definida. Nem toda bactéria apresenta
cápsula, mas as que apresentam, usam-na para as seguintes
funções:
 Reservatório de água e nutrientes: visto serem formadas por
macromoléculas muito hidratadas, servem como proteção
contra dessecação do meio e podem ser fonte de nutrientes;
 Aumento da capacidade invasiva de bactérias patogênicas:
as bactérias encapsuladas são escorregadias e escapam à
ação dos fagócitos;
 Aderência: as cápsulas possuem receptores que servem como sítios de ligação com outras superfícies. Ex:
bactérias formadoras de cáries (Streptococcus mutans) produzem um polissacarídio extracelular que se liga ao
esmalte do dente e promove o acúmulo de outros micro-organismos. Quanto maior o número de bactérias
aderidas, maior a produção de ácido pela fermentação microbiana da sacarose, resultanto na desmineralização
do esmalte do dente. Ex²: Formação de biofilmes: bactérias podem produzir o chamado biofilme capaz de aderir
a diferentes superfícies, inclusive tubulações, que podem trazer prejuízos adversos às indústrias por causa de
vazamentos por perfuração.

PILI OU FÍMBRIAS
Os pili são microfibrilas proteicas que se estendem da parede celular em
muitas espécies Gram-negativas. Têm funções de ancoramento da bactéria ao seu
meio e são importantes na patogénese. Um tipo especial de pilus é o pilus sexual,
estrutura oca que serve para ligar duas bactérias, de modo a trocarem plasmídeos.
(Pilus vem do Latim, que significa pêlo, cabelo. Pili - Plural; Pilus - Singular).
Muitas bactérias Gram-negativas são dotadas desses apêndices filamentosos
proteicos que não podem ser confundidos com flagelos. Tais apêndices – as fímbrias

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(pili ou pelo) – são menores, mais curtos e mais numerosos que os flagelos e não formam ondas regulares. Suas
funções são:
 Não desempenham papel relativo a mobilidade;
 Fímbria sexual: serve como porta de entrada de material genético durante a conjugação bacteriana;
 Outros tipos funcionam como sítios receptores de bacteriófagos;
 Servem como estruturas de aderência às células de mamíferos e a outras superfícies.

FLAGELO
O flagelo é uma estrutura proteica que roda como uma hélice. Muitas espécies de bactérias movem-se com o auxílio
de flagelos. Os flagelos bacterianos são muito simples e completamente diferentes dos flagelos dos eucariotas (como,
no homem, os dos espermatozoides). Nem toda bactéria possui flagelo.
O flagelo bacteriano confere movimento à celula e é formado de
uma estrutura basal, um gancho e um longo filamento externo à
membrana, sendo formado, predominantemente, pela proteína flagelina.
Suas funções estão relacionadas com:
 Movimentação da célula: o movimeno que algumas bactérias
realizam, estimuladas por fatores físicos ou quimicos, é
chamada taxia (fototaxia: estimulado pela luz; quimiotaxia:
estimulado por agente químico);
 Classificação de acordo com a quantidade de flagelos.

COMPONENTES CITOPLASMÁTICOS
O citoplasma da célula bacteriana é uma solução aquosa limitada pela membrana plasmática. Imersas no
citoplasma existem partículas insolúveis, algumas essenciais (ribossomos e nucleoide) e outras encontradas apenas em
alguns grupos de bactérias, nos quais exercem funções especializadas como os grânulos e vacúolos gasosos.

RIBOSSOMOS
Partículas citoplasmáticas responsáveis pela síntese proteica,
compostas de RNA (60%) e proteína (40%). Em procariotos, possuem
coeficiente de sedimentação de 70S e são compostos de duas
subunidades: uma maior (50S) e outra menos (30S)

ESPOROS BACTERIANOS
Algumas bactérias podem enquistar, formando um esporo, com um invólucro de polissacáridos mais espesso e
ficando em estado de vida latente quando as condições ambientais forem desfavoráveis.
Os endosporos são estruturas formadas por algumas espécies de bactérias Gram-positivas, sobretudo dos
gêneros Clostridium e Bacillus, quando o meio se torna carente de água ou de nutrientes essenciais. Assim, a formação
do esporo em procariotos é um tipo de diferenciação celular que ocorre como resposta a uma situação desfavorável do
meio ambiente.
O processo de formação do esporo dentro de uma célula vegetativa é chamado esporogênese. O pré-esporo
desidratado (forma de esporo nos primeiros estágios da esporogênese, já com a maior parte da água do citoplasma
eliminada) contém apenas DNA, RNA, ribossomos, enzimas e algumas quantidades de ácido dipícolínico, junto com
grandes quantidades de íons cálcio.
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OBS : Os vacúolos não são verdadeiros vacúolos já que não são delimitados por dupla membrana lipídica como os das
plantas. São antes grânulos de substâncias de reserva, como açúcares complexos.

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