Asilos Alienados e Alienistas
Asilos Alienados e Alienistas
Asilos Alienados e Alienistas
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e{)YyV
R~ferênciasBibliográficas 3
A Psiquiatria Social englobaria três campos le<\ricos bem delimitados. de acordo eom seus Asilos, alienad~s e alienistas
-
ohjetos e seus mélodos respectivos: I" Psiquiarria Social propriamente dita (Método Clínico); 2"
- -
Sociologia das Doenças Mentais (Método Estatístico) e 3" Etnopsiquiatria (Método do "Cross
Nacional.
Cultural"). S.APaulo, 1967. consultar BASTIDE. Sociologia das Doenças Mentais. Companhia Editora
este respeito
FOUCAUL
Paulo Amarante
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1966,
COMISSÃO DE ENFERMIDADE E SAÚDE MENTAL DO CONGRESSO D()S EU~, .
narte bem mais que um,a -- justa admiração. -- É -.uma obra que requer
~ =- um
1961. púg.
púg. 23.
303, citado por G. C,lplan, Princípio.'" di' P.I'Ú/llialria ?reVel/tÍlJlI, Ed. Paidos, B. Aires, estudo profundo, pois se trata de um retrato vivo e perspicaz do processo
piscurso do Presidente Kennedy, /963, p,íg. 02, citado por G. Caplan, Pril/cípios de
de psiquiatrização e patologização do louco no Brasil, em meados do
PsiqlliatriaPrevelltivll,op. cit., púg.2 I. .
século XIX. No conto, Simão Bacamarte, ao voltar da Europa, com o
CLARK,E. G.; LEAVELL,R.H.Leavelsof Applicationof PreventiveMedicine.Prevelltive entusiasmo e a euforia que são características de todos os alienistas,
Medicille for tlze Doetor ill Hi.\'CUIIIIIIlIIlity,MC Gmw HiI/, Inc., N. York, /965.
CAPLAN, G. PrillCÍpioJ'de Psiquiatria Prevelltivll, púg. 35, op. cit.
procura levar a cabo a missão que tem para com a humanidade.
-.Op.cit.
-. Op. cil. Após conquistar o apoio da Câmara Municipal, edifica sua Casa Verde,
-.Op.eit. o que lhe possibilita reunir num mesmo espaço todos os supostos loucos de
-. Op. cit. Itaguaí para, em seguida, 'pesquisar o que vem a ser a enfermidade mental.
-. Op. cit. Parte, enfim, para a ambição maior que é a de conhecer a loucura para sobre
-. Op. cit.
ela intervir com certeza e convicção. A loucura, entretanto, não se deixa
-.Op.cit.
-.Op.cit.
desvendar. Seria o alienista o alienado? interroga, perplexo, o povo de
Itaguaí.
-.Op.cit.
HERSCH. CH.. TlzeDiscOIlICl/11:.:\]1/o.l'ioll
in Mel/lll/ Healtlz, American Psychology. 1968.23.
Este artigo foi retomado de uma antiga id~ia. publicada em A Salide 1/0 Bm.ril. Ministério da Saúde. vol. I.
n!.!3.jul/set.. DF. 1983, p. 149.152.
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História da I~iqlliatria = história do asilmnento o relator da Comissão, Dr. Cruz Jobim, profere a palavra de ordem que
reivindica para a medicina o delegatório sobre a loucura, escrevendo desta forma o
Estt.:artigo não pretende reconstruir a história da psiquiatria brasileira, mas destino da psiquiatria brasileira: um hospício para os loucos ,-
apenas levantar algumas questões. algumas indicações que forneçam subsídios para Quem são estes loucos? A~esparsas referências ~e se pode encontrar demons-
se pensar esta mesma história. Tais questões têm como traço de união o fato de tram que podem ser encontrados preferentemente dentre os miseráveis, os margi-
resgatarem as condições de possibilidades sociais e políticas que abrem espaço para ~aG~_~spobres e toda a~rte de párias. são ainda trabalhadores, camponeses,
o nascimento de uma psiquiatria e de suas subseqüentes etapas de desenvolvimento. desempregadõS,fiidios, negros, "degenerados", perigosos em geral para a ordem
O e~tudo d~s práticas e dos discursos da psiquiatria decorre de uma preocupação ~úbiicã:retirant~ue, de 1!lgyma..fo.ITDa.QlLPor
algum motivo, padecem de algo que
com a análise e o questionamento das articulações historicamente existentes entre se convenciona englobar sobre o título de doença mental.
instituições sociais específicas e o universo das relações sociais. }~'o_Hospício de Pedro:lI, inaugurado no Rio de Janeiro, na Praia Vermelha,
A história da nossa psiquiatria é a história de um processo de asilamento' ~ em 1852,,-os poucos pensiopistas particulares têm boas instalaçi')es,jnclllSiv~_u!!1
a história de um processo de medicalização social. A ordem psiquiátrica. como -guarto -mobiliado,
- - cQm çonfOl:to,além de..umct:iado..à.sua.inteÍ1:aqi.spo~içã<;h-MHs-e
- 1
veremos, é oferecida como paradigma de organização modelar às instituições de - quadro geral é bem dif~~n~!,
uma sociedade que se organiz~. Mesmo tratando. ou procurando tratar, pela via
. médica. o que lhe é alheio ou que não lhe é exclusivo, como desejam alguns.
.A crítica ao hospício e a criação das colônias
Mesmo procurando disciplinar o que foi demonstrado. historicamente. no ser uma
questão de disbplina. \ i 00
_A_Loucurasó vem a ser objeto de..iJ1tervençãoespecífiça por parte do Estado
Da cria ão do Hos íc'o de Pedro I até a Proclama ão da Re ública, os
médicos não poupam crítica~ ao hospício,~xcluídos ~~tll~m de sua direção e
a partir da chegada da Famíli_aReal. no início do século passad.? 1 As mudanças -+
sociais e economicas, no período que se segue. exigem medida~eficientes dê I íriCOn1õ'rmãdoscom a ~sên~~ de U!!1.P!o.kto'l~s.i~teDci~l.
ciel!!ífico. Reivi;dicm~1
o poder institucional que se' encontra nas mãos da Provedoria da Santa Casa de
coniiol~ social. sem asquais torna-se impossível ordenar o crescimento das cid;des Misericórdia do Rio de Janeiro, assim como da fgreja~ com a 'ltiv'l pa[tic.1Da.ÇãQ.Q~~
e~as populaç_ões. Con vocada a parfic iQar dessa ~mpresa de rebrdeDt!meE- Írmandade de São Vicente, p'ertencente~ ao.s.setores.mais conser.vadme':LdoÇl,~ro:.._
to do espaço urbano, a -medicina
...- - - termina
-- por de'senhar
-- o -projeto
- do qual emerge a ' Em sua grande maiori~,I os alienistas compartilham dos ideais positivistas e
psiquiatria brasileira. - - -- -
republicanos e aspiram ao re~onhecimento legal, por parte do Estado, que legitime
Em 1830, uma comissão da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro e autorize uma intervenção fnais ativa no campo da doença mental e assistência :,1
realiza um diagnóstico da situação dos loucos na cidade. E a partir desse
_m_of!lentoqu~ os loucos passam a ser considerados doentes mentais, merecedo-
psiquiátrica. S> hospício devh ser medicalizado, isto é, deve ter em sua direção o \\
poder médico, para poder cqntar com uma or aniza ão embasada or rincí ios I
res, portanto. de um espaço social próprio, para sua reclusão e tratamento-=., técnicos. Isso se toma neces~ano para que se permita alcançar a respeitabilidade
Antes. eram encontrados em todas as partes: ora nas ruas, entreO'ues à sorte, ora
pública, da qual a medicina mental carece, devido ao estado em que se desenvolve
)
~s p~"ões e c~~a~ ~ c_orreção,ora em asilos de mendigos, ora ainda nos porões a psiquiatria no Hospício de:Pedro lI. Mas também para que o hospício se torne
das Santas Casas de Misericórdia. Em enfermarias e hospitais era muito raro-
um lugar de produção e conhecimento.
encontrar um louco submetido a tratamento. J" J"
~-
,~
sob a égide de uma nova ordem social que então se constitui. a psiquiatria deve para mulheres indigentes, e em 19204 são iniciadas as obras da Colônia de
partir para atuar no espaço social, no ~spaço onde vivem as pessoas, onde se Alienados de Jacarepaguá (para onde serão transferidos os internos de São Bento
estruturam as doenças mentais, e não se limitar apenas ao espaço cercado pelos
muros do asilo.
_Efetivamente, com a chegada dos republicanos ao poder, em janeiro de 1890, ~
o Hospício de Pedro 11 é desvinculado da Santa Casa, ficando subordinado à
/;
J
e Conde de Mesquita, que devem ser extintas) e as obras do Manicômio Judiciário.
Iodo este processo iniciado por Teixeira Brando encontrará em seu sucessor,
Juliano Moreira, um continuador competente e obstinado, mas com uma vertente .
teórica muito mais peculiar e inovadora.
administraçãopública,passandoa denominar-se ' '0 Nacional de Alienados.
Locrono mês se uinte é édico-Legal aos Alienados rimeira
..Jnstituição pública de saúde estabelecida DelaReDública. No âmbito da assistência De Juliano Moreira à Liga Brasileira de Higiene MentaL
são criadas as duas primeiras colônias de alienados, que são também as primeiras
da América Latina. Denominadas de Colônias de São Bento e de Conde de Ao retor ~ e estudo ,à Euro a, Juliano Moreira é designado em
Mesquita. ambas situam-se na Ilha do Galeão, atual Ilha do Governador, no Rio !90~'para a dirigir a Assistência Médico-Legal aos Alienados. Com ele tem
de Janeiro, e destinam-se ao tratamento de alienados indigentes do sexo masculino. continuidade a criação de novos asilos, a reorganização dos já existentes e a busca
Logo após serão criadas as Colônias de Juqueri, em São Paulo, e a de Vargem de legitimação jurídico-pol~tica da psiquiatria nacional. Essa legitimação dá um
Alegre, no interior do Estado do Rio. passo importante com promulgação da Lei nQ1.132, de 22 de dezembro de 1903,
que reorganiza a assistência aos alienados. ,
Este conjunto de medidas caracterizam a primeira reforma psiqu~a no l
Juliano Moreira ocupa esta direção por 27 anos, até 1930, quando é destituído
Brasirque tem cõ"fnoescopo a ÍlTIplantaçãodo mo~eTo9~c~i'oma~~a a~slstenCta ;~i
pelo Governo Provisório de Getúlio Vargas. Por sua obra prática e teórica. passa
~o-s d_oen_tesm.:..õt~ls.Hl?ssemodelo ãs'lfar de-cõTônias inspira-se em experi'êiicias-
européias que, por sua vez, sao baseadas numa pr:ítlC'nn:ltnral cie J]ma ~quena a ser conhecido como o Mestre da Psiquiatria brasileira.~Moreira traz para
aldeia belga, Gee!, p;:ã õndc os doentes eram levados para receber uma curu o Brasil a escola psiquiátrica alemã, que toma o lugar dominante até então
;;;ilagrosa, patrocinada pela Santa Dymfna, a Padroeira dos Insanos.' A idéia ocupado pela escola franc~sa, vinda na bagagem de Teixeira Brandão.
x fundamental desse modelo de colônias é a de fazer a comunidade e os loucos
- .-- ...- --- --
A vinculação da psiq1)iatria brasileira à corrente alemã tem um impor-
--
função -nuclear
- -- - na terapêutica asilar. nã02.ó_ éLorige.nLda~ças-m6flt-a-i.s,mas-t-a-m-I;H~m-lUUitos_dOLfal~
João Carlos Teixeira Brandão, que é o primeiro diretor tanto da Assistência a~p.ectos étnicos, éticos, p:olíticos e ideológicos 'de mlÍltiplos f>Vf>ntos so-
CiaiS.
Médico-Legal aos Alienados quanto do Hospício Nacional de Alienados, caracte-
riza sua gestão com a ampliação dos asilos. Cria, ainda, a primeira cadeira de
psiquiatria para estudantes de medicina (que é também a primeira cadeira de clínica ~ É bastante interessante o discurs~ pronunciado pelo Dr, Rodrigucs Caldas. então direlOr das Colônias da
especializada), assim como a primeira escola de enfermagem, sistematizando Ilha e primeiro diretor da Colôni::i de Jacarepaguá. Eis um trecho do discurso. quando solicita ao Ministro
da Justiça e Negócios Interiores':a remodelação das normas assistenciais. com a "promulgação lIe urna
assim a formação de profissionais para a especialidade. nova legislação na qual serão res~lvidos delicados problemas alUais lIe higiene e defesa social pertincntcs
aos deveres 110Estado para com os tarados e desvalidos de fortlma. do cspírito ou do caráter. para com os
Enfim, o período que conclui-se em 1920 constitui uma etapa do desenvolvi-
mendicantes ociosos e errabundo~. para com os ébrios. loucos e menores rctardados. ou delinqÜcntcs ou
mento da psiquiatria em que se destaca a ampliação do espaço asilar. Neste período, abandonallos. assim corno para os indesejáveis inimigos da ordem e 110bem plíblico. alucinados pelo delírio
no Rio de Janeiro é criada a Colônia de Alienadas do Engenho de Dentro (1911), vermelho e fanático das sang~inárias e perigosíssimas doutrinas anarquistas ou comunistas, do
maximalismo ou bolchevismo, <faldas. Rodrigues. "Discurso Pronunciado no Lançamenlo da Pcdra
Fundamental das Novas Constru~'Pes da Colônia de Alienados dc Jacarcpaguá. em 29 lIe maio de 1')20"
A cste rcspeito \cr A~I,\Rt\NTE. P.\liLU. PsiiJlIilllria Social e COlrll1ills de Aliellado,l'IIO Brasil (1830.ICJ20), In Arquivos BI'lI,\'ileiro.\'de Nellriairill e I',\'iqllialrill. ano 11.n~ 2, 1920. RJ.
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Em 1923. Gustavo Rieuel funda ir Liga Brasileira ue Higiene Mental, Je 1l00l-restraillt.OUainda de opell door, foram realizadas antes mesmos do advento
com a qual se cristaliza o movimento ua higiene mental. f\. carta dos Jos psicotrópicos. Por outro lado, cumpre observar que o furor farmacológico uos
princípios da Liga constitui um programa de intervenção no espa~ocial, psiquiatr~á ori~m a...!:!m'!..E0stur~()uso dos~dicarnentos Que nem sempre é
~ caractell.'itícas mâfc.auÜillê'iíte eugenistas ,en )"-'.. s antilibÚ.ais ~- ..tecnicamente
- --orientada", .muitas das vezes _utiliwd()])a(lCnasel]] decorrência
.-- - ua
~
racistas.)
I~ssão da prollli&.a!!<lli
industrial, muitas das vezes por ignorância quanto aos seus
Através da Liga Brasileira de Higiene Mental. a psiquiatria coloca-se efeito~ou às su.as.limi1açõe~quando..não-comQmec.illlismode reJ?!:..essão e violên-
defi;;-itivamente;~detesa ~o Estado, levandg-o '.!.-lll1-;aa<ião ri~orosa de Lia. ou, ainda, como no caso dos manicômios, com o fito de tornar a internação
_controle~oci~1 e reiY.i.lliJicnDC!Q,P-llJacdaJn~:iJ:u.'l...lJ.mJJli!.iQIRQder
s!e Inter- mais tolerável e os enfermos mais dóceis.
~. E, a bem da verdade, a assistência psiquiátrica continua a ser prestada. nos
A psiquiatria não se limita a estabelecer moue/os ideais de comporta- anos que se seguem, quase que exclusivamente por estruturas manicomiais. Se as
mento individual, mas retender a recupera 'ão de "raças", a novas técnicas serviram para aumentar a demanda e produzir novos clienres. I
pretender a constituição de coletividades sadias. ,Çom o movimento da principalmente no que tange à assistência privada, em nada contribuíram seja na ti
eugenJa. o aSIlo passa a contar com uma nova ideologia que o fortaTece:-ã Jesospitalização, seja na desinstitucionalização.
t
p"iqÚJalria.deve operar a reproduçãoideal do COl1]lliiiÕ
socIal qu~:;e '11110- A partir do fim da Segunda Guerra Mundial. surgem també~ variadas
xima de uma concepção modelar da natureza humana. Um espaço eugênko, experiências de reformas ps'quiátricas, dentre as quais destacam-se as de comuni-
~épticõ."" dero-r~allda~.- a es terapêuticas, de psico rapia ins_titucional,de psiquiatria de setor, de psiquia-
~
trra preventiva e comunitár!p, de an!ipsiguiat!"ia:.ge psiql~iatri~dem,?c!ática, par~ J.
A em dos choques e t7psiqllit7trit7 c0111unitárit7 -ficar apenã.'i nas maTs-importantes..: Uma característica comum a todas estas
~xpenenclas no tirasll e a sua marginalidade. São experiências locais. referidas a
~os 30, a psi~iatri',!.J?arece tel:..fin<11rnen
te_encontrado a tão procurada um ou outro serviço, a um.ou outro grupo. Tão Ü margem das propostas e dos
cura para as doenças -I~entais. É grande o entusiasmo com a descoberta do choque - investimentos públicos efet~vos, que suas memórias são de difícil, senão impossí-
vel, resgate.
insulínico, do choque cardiazólico, da eletroconvulsoterapia e das lobotómias;
Técnicas novas que vêm substituir ou a maJarioterapia. ou o descabido empirisrl1o, Muito deste insucesso:deve-se
I à forte oposição exercida pelo setor privado
A psiquiatria torna-se mais poderosa. e o asilamento mais freqüente. Em que,saude.
e,mfranca expansão, parsa a controlar o aparelho .de Estado também no campo
meados da década de 40, o Hospício Nacional de Alienados é transferido da Praia da !
, f!
, f I
Vermelha para o Engenho de Dentro. onde conta com novas instalações, das quais
I
destacam-se a ampliação de vagas e os modernos centros cirúrgicos para as A privt7tizt7ção 11t7psiqllintrit7 I."
promissoras lobotomias.
.J'la década de 50, fortalece-se este processo de psiquiatrização, com o apare- Na década de 'ia e Jensões.
cimento dos primeiros neuroléPticos. Embora tenham sua importante parcela ue ~ cria o o Instituto Naciol)al de Previdência Social (lNPS). O Estado passa a
-Contribuição. cumpre lembrar que as mais importantes inovações no campo das comprar se~os p~iquiátricos dCUie.tQIf2liyadoe. ao ser privatizaJa grande parte:
reformas psiquiátricas, a exemplo das comunidades terapêuticas, das experiências t[iêConomia, o Esta<:!.9concA~1no setor saúde pressões sociãís com o interesse~k
lucro por parte dQ!i~mpresários. A doença mental torna-se. definitivameme. um
objeto de lucro, u~a mercaüoria.
I
Ocorre. assim. um enorme aumento cio mílllL'I:;-;
..\ rc,pc"" ua Liga. \cr (',,,ta. Juralldir Frclrc, Ifislorlll tltI 1'.\';'/IIIÚlrÜI110
IIm.fi/: VIII COI"/<''d<,o/tÍgiro,
('.11111"'"RJ. Y cd., IlJSI. de vagas e Je internações em hospitais psiquiátricos privados. princlpal1nenLL11()~
~
, -
grandes centros urbanos. Chega-se ao ponto de a Previdência Social destinar 97% Os novos tempos da desinstitucionalização
do tã[. " . ..;... . .,.- s na rede hos italar. r
As propostas mais inovadoras, ou pelo menos aquelas que buscam uma Em 1987, o Movimento dos Trabalhador.es e.m-.S.aúdeMental assume-se
alternativa não manicomial, mesmo partindo de organismos oficiais, como é o caso enquanto um movimento sQrial~penas de técnicos e administradores. e lança
dos planos de psiquiatria preventiva e comunitária, e de comunidades terapêuticas, o lema' 'Por uma Sociedade sem Manicômios". O lema estratégico remete para a
a exemplo do Plano Integrado de Saúde Mental (PISAM), além de outras propostas socIedade a dIscussão sobre a loucura, a doença mental, a psiquiatria e seus
de atenção primária, encontram dificuldades sérias, seja por não enfrentarem manicômios. No campo prático, passa-se a privilegiar a discussão e a adoção de
adequadamente a idéia da superação dos asilos, seja pela barreira de resistências experiências de desinstituclOnahzaçao. Esta, implica IIÚUupcllas num processo de
levantada pejos empresários e suas representações no aparelho de Estado. desospitalização, mas de inv~n'ião d~ er:.á~ic~s_assístencTa~r~ltona~s; um proces-
Este modelo privatizante (em todo o setor saúde. e não apenas no subsetor so prático de desconstrução dos conceitos e das práticas psiquiátricas.
saúde mental) é de tal forma tão violento. concentrador, fraudulento e ganan- Neste contexto, surge o projeto de lei 3657/89 que, ao propor a extinção
cioso. que contribui com parcela significativa de responsabilidade para a crise progressiva dos hospitais psiquiátricos e sua substituição por outras modalidades
institucional e financeira da Previdência Social que se deflagra no início dos e práticas assistenciais, desencadeia um amplo debate nacional, realmente inédito,
anos 80. quando jamais a psiquiatria esteve tão permanente e conseqüentemente discutida
Esta crise leva o Estado a adotar medidas racionalizadoras e disciplinado- por amplos setores sociais. Em muitas cidades e estados, acontece um processo
ras do setor privado, ao lado de medidas que visam reorganizar o setor público muito rico de experiências inovadoras em psiquiatria, de criação de associações de
,
para ocupar umaparcela da assistência pública até então delegada aos serviços psiquiatrizados e de familiares, e de aprovação de projetos de lei de reforma
comprados. Assim, é implantado o processo de Co-Gestão entre os Ministérios psiquiátrica.
da Saúde e da Previdência Social e é também criado o Conselho Consultivo da
Administração de Saúde Previdenciária (CONASP), este último responsável
pela elaboração de um plano de reorientação da assistência psiquiátrica, que
fica conhecido como o "plano do CONASP". No decorrer deste processo,
surgem as Ações Integradas de Saúde (AIS), os Sistemas Unificados e Descen-
tralizados de Saúde (SUDS) e o Sistema Unificado de Saúde (SUS), cujos
princípios mais importantes são inscritos na Constituição de 1988, ainda
em vIgor.
Deste último momento, destacam-se as tendências à descenrralização, a
fTIunicipalização das ações de saúde, a participação de setores representativos
da sociedade na formulação e gestão do sistema de saúde, processo este que
está em curso. com as idas e vindas próprias da construção da democracia. Um
outro aspecto merece atenção especial: a definição de financiamento do setor
público de saúde. Dentre as conseqüências mais importantes desta definição
está o surgimento de novas gerações de técnicos e usuários que têm espaço,
possibilidades e condições de criação e invenção da assistência no serviço
público, o que até então não vinha ocorrendo.
80 81
W'
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