TOSCANO (1999) As Bases Sociológicas Da Educação

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Capítulo 1

As bases sociológicas da educação


"A Sociologia reprcscntn u autoconscítncia
científic11 de u,nn realidade sociál."
Hnns Fn.:yer

1. Conceito d e sociologia
O termo Sociologia foi usado pela primeira vez, no sentido
pelo qual ainda hoje o conhecemos, por Augusto Comce, para
designar, segundo o eminente pensador francês, a ciência da
sociedade. São inúmeras as definições que encontramos nos
manuais de Sociologia, desde as mais restritivas, como aquela
que propõe Durkheim, para quem a Sociologia "é o estudo das
instituições sociais, de sua gênese, de seu funcionamento"', até
as mais abrangentes, como a de Park, para quem a Sociologia
"é a ciência do comportamento coletivo".
Divulgada entre nós pelo professor Costa Pínto, parece-nos
uma definição muito operacional aquela que aponta a Sociolo-
gia como "o estudo científico da formação, da organização e da
transformação da sociedade humana".2 Fica aí perfeitamente
claro que a preocupação da Sociologia não se esgota no fato

1, Emile Dwkheim. As regras do mitudo .fociulQgico. 9. ed. Slo Paulo, Companhlu. EditonJ
Nocioru>I, 1978.
2. Costa Pinco. Soci<Jl(J1ia t dt1t11\'0frime11to. Rio de Janeiro, Civiliz3Ção Brnsilc:it4, 1963.
olo p. 22.
16 INTR01)UÇÃO À SOCIOlOGIA EDUCACIONAi. As bases sociológicas da educação 17

~ocial, tal como ele se apresenta na sua realidade manifesta mas formação de professores em dar a seus alu nos uma base filos-
que. para bem entendê-la, é preciso ir às próprias raízes da rela- soc iológica que lhes perm ita apreender o sentido profundo de
ção socia l, não apenas entre os homens, mas até mesmo entre sua mi ssão cultural. Nossas escolas- principalmente nossas es-
os animais que apresentam alguma manifestação de vida cole- colas normais, em sua maioria - têm-se preocupado até agora
tiva. n,1 certeza de que, ao conhecermos como se originou uma em ensi nar aos jovens nwis as disciplinas relacionadas com as
forma qualquer de interação, estaremos entendendo muitos dos técnicas didáticas, propriamente ditas, do que as discipli11C1s
seus d~sdobr.amentos sucessivos (Os métodos hi stórico e evo- volradas para a fundamentação teórica da educlJ{:ãO.
lucionista, por exemplo, dão grande ênfase a esta reconstitui -
ção, no plano teórico, dos processos sociais). Isto expl ica por que chegamos atualmente ao ponto de en-
contrar, em todo este nosso imenso Brasil, inúmeros professores
Também o segundo ponto da definição ac ima - o que se considerados corno possuidores de um alto gabarito na aplica-
refere à organi zação da sociedade humana - é importante de ser ção dos mais modernos métodos de aprendizagem e que muitas
consi derado, visto que e le se refere àque les aspectos da intera- vezes são incapazes de formular uma apreciação crítica razoá-
ção social que resultam de todo um sistema de ações e reações vel acerca do sistema educacional, enquanto insti tuição integra-
interindividuais e intergrnpais e que se expressam nas di feren- da no contex to global da sociedade. E. o que é mais grave,
tes ordenações societárias, tais como grnpos, instituições, for- muitas vezes tais professores. por terem obtido prestígio no
mas de soc iabilidade, etc. campo da aplicação daquelas técnicas pedagógicas. são chama-
Finalmen te, o último elemento da defi ni ção - as trans- dos a opinar ou até a decidir a respeito de medidas importantes,
formações - nos lembram que a vida cm sociedade só pode ser envolvendo aspectos de nossa política educac ional. O que então
apreendida por nós. em seu sentido mais profundo, se tivennos se ouve ou se lê é quase sempre a manifestação mais completa
presente que esta vida está pennanentemente se modificando e de uma absol uta inge nuidade, quando não de um desco-
que entender e tentar explicar o sentido de cais modificações é nhecimento total dos problemas básicos da educação no Brasil.
tarefa precípua do sociólogo. Esta inoperância das escolas normais em transmitir a seus
Princ ipalmente no Brasil, onde vivemos um período de in· alunos uma base filosófica e sociológica compatível com a im-
tensas e rápidas transformações, em todos os níveis de nossa portância de seu trabalho futuro, ao mesmo tempo que demons-
realidade, não pode escapar à sensibilidade dos estudiosos dos tra uma razoável capacidade de introduzi-los na aprendizagem
problemas sociais a importância de entender o caráter dinâmico das técnicas didáticas mais modernas, leva-nos a concluir que.
das relações sociais e em que medida nosso próprio desempe- em muitas de nossas escolas de formação, os futuros professo-
res aprendem como ensinar, mas não aprendem por que e. so-
nho como educadores pode contribu ir para retardá-las ou acele- bretudo, para que ensinar.
rá-las, no sentido do pleno desenvolvimento do país.
Os professores, e muito principalmente os professores pri- 2. Conceito de educação
mários. têm sido sempre apontados como um dos grupos profis-
sionais de mais acentuadas tendências conservadoras. Este Do ponto de vista sociológico, a educação pode ser defin ida
conservadorismo que pode, em parte, ser explicado pela própria como "a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas.a in -
natureza de sua tarefa específica - "transmitir às gerações mais da não amadurecidas para a vida social" ou, em outras palavras,
jovens o acervo cultural das gerações mais velhas", garantindo '·educação é a soc ialização da criança" (Durkbeim).i
a, condições de continuidade da vida social - pode também. em
parte, ter sua explicação no re lativo descaso de nossos cursos de
o-=t J. E Om•J..hc1m &11,1uçiJ<1e .1(Ku1!tJ;:fo 7. cd São P::iulo. f,.1clhon1men1cs. 1967
18 INTRODUÇAO À SOCIOLOGIA E.OUCACIONAI. As b~cs sociológic::is da tducaç.ão 19

Assim entendida, fica evidente o significado e a importân- caráter cada vez mais compu lsivo, para todos aquel es que pre-
cia da educação para a vida do grupo, pois é ela, em última tendem conquistar seu lugar ao sol.
análise, que garnnte as condições de coesão, de re novação e da
própria sobrevivência da sociedade. O pres1ígio da educaçüo fomwl, a crença de que, para me-
recer crédiro por parle da sociedade. é necessário que a crian-
In formal. espontânea, até mesmo inconsciente, nos grupos ça passe pela escola, seja qual for sua origem de classe, eis
pré-letrados, à medida que a complexidade da vida social au- alguns princípios aceitos como atiomas. na sociedade moder-
menta, a educação vai adquirindo importância cada vez maior, na. Mesmo aqueles que não tiveram, quando crianças, oportu-
de tal sorte que ne11huma colecividade humana dos tempos mo- nidade de ir à escola e que mesmo assim conquisraram seu
dernos deixa de lhe reservar um papel de fundamental relevo no espaço na sociedade. ncio põem em dúvida o valor da escola.
quadro de.suas instituições. Por mais rebelde que seja a criança e por mais que ela resista
Em culturas altamenle complexas, como as que caracte- à presscio social quanro à obrigação de freqüenta r a escola,
rizam as sociedades contemporâneas, é à educação que compete mais cedo ou mais tarde ela passará pelos bancos escolares,
a tarefa superior de criar as condições capazes de evitar que esta como rodas as crianças de sua geração.
complexidade acabe por destruir e eliminar a própria sociedade.
São as instituições educacionais, através de todas as suas mani- 3. Conceito de Sociologia Educacional
festações concretas, que estabelecem e regulamentam os meca- Como acabamos de ver. no início deste capí1ulo, a Sociolo-
ni smos de tra nsferência cu ltural, de especialização de hie- gia tem por objetivo de estudo a vida dos homens em sociedade,
rarquias, das formas de conhecimento socialmente úteis. do do- em suas inter-relações, bem como as criações cultura is que nela
mínio das técnicas de ação social, enfim de todo este verdadeiro têm origem. Por outro lado, a educação é o processo social atra-
universo cultural que constitui o conjunto dos conhecimentos vés do qual a soc iedade sistematiza a tra nsmissão de sua heran-
que o homem moderno domina. ça culrural, sendo esta transmissão a garantia de continuidade
Em tais condições, há cada vez menos lugar para a impro- da espécie humana, enquanto tal.
visação, para o autodidatismo, para o "aprender a fazer, fazen- A partir destas duas definições, não é difícil deduzir-se a
do", ao mesmo tempo que ccndem a ser cada vez maiores as importância que cem, no conjunto das ciências humanas, a So-
exigências, principalmente no mercado de trabalho, em termos ciologia Educacional. que estuda a sociedade do ângulo dos
de conhecimentos teóricos bem fundamentados. para que se seus processos cducacivos. Cabe a esta di sciplina analisar ampla
airibua a alguém a responsabi lidade de uma tarefa especia- e profundamente o quadro em que se processa a vida dos gru-
lizada. Mesmo os trabalhos desqualificados socialmente, que pamentos humanos e compreender, a partir de uma visão global,
em outros tempos podiam ser feitos, praticameme, por qualquer de que forma se relacionam os fins que um decerminado sistema
indivíduo, sem maiores exigências, hoje impl icam em algum educacional se propõe obter e os meios de que lança mão para
tipo de conhecimemo que apenas a "escola da vida" não é mais tanto. Cabe, pois, à Sociologia Educacional desvendar os suces-
capaz de dar.' A passagem pelos bancos escolares assume um sivos véus que cobrem a realidade. para ver, em toda sua obje-
tividade, até que ponto as necessidades sociais básicas estão ou
não sendo atend idas com eficácia; cabe, enfim, a ela apontar.
dentro do quadro das opções que se colocam concrecamente a
4. T.:n)ôs unl exemplo 1lus1r:ativo desro afinnaç!l.o. d1.:iri:.lmcme. SX,:ll lcitu1a dcs ::mUnc1os cada contexm, quais as soluções mais viáveis para a superação
cln.s.s1fic:idos de nossos JOmo,s "Ptocura-sc u,n:i coiinhcita que Sá1ba ler e escrever'', dos obstáculos que se opõem, constantemente, ao funcio-
..od1ni1e-se t!n1regadol' com oe,1ific0Jo de cnsmo fu11dai1-.:.ntal", etc. 02> namento regular das instituições sociais.
20 INTROl)liÇÃO À SOCIOLOGIA EDUCACIONAL As b~cs sociológic:lS da educaç,do 21

Professores, polÍlicos, assistentes sociais, pa is de família, entre as de maior importância no currícul o do curso normal.
todos os grupos ou categori as pro°fissionais que de algum modo Muitas vezes, deparamos com alunos que nos explicavam seu
atuam em soc iedade, estão obrigados a conhecer, nas condições desconhec imento dizendo ter estudado aquela discipli na duran-
da vida moderna, pelo menos os princípios básicos da Sociolo- te dois meses apenas, no decorrer de todo o curso, mal perfazen-
gia Educacional. Desde o encam inhamento profissional dos fi- do um total de oito aulas. 5
lhos ou dos alunos, a1é o planejamento de um sistema de
educação global, será no corpo de conhecimentos organizados Ora, um estudo nestas condições difici lmenie permitirá aos
por esta disciplina que iremos encontrar respostas a muitas de al unos uma visão clara do papel e da importância da Sociologia
nossas mais ansiosas indagações. Educacional na formação dos futuros professores primários.
( .Para tanto, é preciso que estejamos ern condicões de dis1in- Uma exigência básica em qualquer atividade profissional
/ gu ir claramente qual o campo de estudo e o objeto.da Sociologia que se expressa no campo social como é, sem dú vida, o caso dos
da Educação, a fim de que nào a confundamos com a Filosofia professores do ensino fundamental é a de uma participação a1i-
da Educação ou com o mero conhecimento empírico da realida- va de seus agentes em 1odos os aspectos da vida cultural e polí-
de educacional, o que pode acontecer sern o domínio de um tica da sociedade na qual vi vem. Concebe-se que, por exemplo,
quadro de referências que nos penni1a analisar e compreender um botânico entenda principalmente de plantas e claudique ao
esta realidade à luz de categorias científicas. fonnular um conceito sobre a realidade social na qual está inse-
·- rido; pode-se admitir que um radiotécnico não tenha mui1a condi-
A Sociologia Educaciona l, para ser bem compreendida, ção de expressar idéias articuladas a respeito de acontecimentos
pressupõe uma razoável formação teórica no campo das ciên- socia is que se sucedem à sua volta; mas um professor, sej a de
cias sociais e, em particular, da própria Sociologia geral. que nível de ensino for, tem . tacitamente. um compromisso
O estudo daquela especialidade a partir dela mesma, como mais responsável com seu país e mesmo com o mundo, que o
é fei10 muitas vezes. tanto em escolas nonnais como em cursos obriga a pensar e julgar este país e este mundo com categorias
superiores de Pedagogia, responde pelo despreparo existente lógicas, com um mínimo de segurança, com um certo teor de
entre grande nú mero de professores que tenninam seus cursos espírito crítico que são imposições irrefu t,heis da sua condição
conhecendo alguma coisa relacionada com Sociologia Educa- de participante mais ativo do processo social.
cional, podendo citar uns poucos auiores que escreveram acerca É através do processo educativo que se concre1iza a respos-
da matéria, conhecendo algumas definições mínimas lidas nos ia ao desafio da sociedade industrial e que se torna possível
manuais, mas sem condições de '·ver" o fp,ômeno educuçfq__ manter o equilíbrio entre as necessidades cada vez mais urgen-
integrado no processo social 1otal. sem uma visão crílica que tes de especiali zação profissional, de um lado, e de formação de
lhes pennita discernir os aspectos fundamentais de sua profis- quadros políticos suficientemente preparados para assumir a li-
são; enfi m, tendo da educação uma visão parcia l, incompleta, derança social, de outro.
des li gada do contexto e, portanto, insuficien1e enquanto instru- Mas a educação não se esgota nestas duas tarefas primor-
memo de ação.
diais. Ela vai mais longe, quando se propõe comunicar e trans-
Durante os anos em que temos lecionado esta discipl ina em
diferentes cursos universitários da cidade do Rio de Janeiro,
nunca pudemos esconder nosso espanto diame da desinforma- S. Os :.llunos l'tfen:1In-se ao regime de curso imcns,vo que vigorou nris escolas norm::us
ção que caracteriza a maior parte dos al unos que por ali passam, oficiais do antigo Esl:u.-Jo do Guanabara durante alguns anos. Em Líll regi,oe a parte teó~
a respeito de uma disciplina que. sem favor nenhum, situa-se rica do progrlma do terceiro :mo do curso e!':.) dada de modo concent.rodo. durnmc os
o~ nicses de jn.nciro e fe\•ereuo. resc:rva.ndo,se o ~no letivo p.d. pa.r::i a pal1c prálic:l.
r-'"
22 INTROOUÇÃO À SOCIOLOCIAEOUCACIONAb

ferir às jovens gerações os valores culturais e éticos qu.e formam


o substrato espiritual da sociedade humana, v9ltada para a con-
quista, em plano universal, de condições de convivência para
todos. É também a Educação o veículo mais adequado à trans-
CAPÍTULO 18
missão do "projeto nacional" de qualquer sociedade moderna.
São tantas as funções que, se espera, sejam cumpridas pela
educação, que esta já não se pode·limitar às instituições especi-
ficamente educacionais. Daí a importância de se estudar tam-·
bém, além da escola, da universidade, todas as demais ins- Sociologia e Educação
tituições que, embora não estejam diretamente vinculadas à edu-
cação, desempenham papel de magna importância na socialização
das gerações mais jovens; a família, as organizações religiosas e
:, Arós ler estudado numerosos aspectos relativos à organização
políticas, os veículos de comunicação de massa também têm uma f social ela sala de aula, da escola e da educação e às estruturas e proces-
sos h:,si(ns cb sociedade. chegou o momento ele sistematizarmos os
palavra a dizer e não podemos deixar de ouvi-los. Mais do que
nunca, comprova-se a veracidade do postulado segundo o qual con(·eito"- 1'1111cl;u11t·1H ais (la Soriologi;1 e <te: rcfletirn1os sobre a con tri·
"a Educação só pode ser entendida como integrando uma tota- hui('{Ul qu<· 1ai:,; c·onll(:ri111t·1Hos podt·1H lra,.er ao trahalhr, do professor.
lidade cultural, nunca como um fenômen9. isolado". :\ his1c'H·ia de lsahc:I pode :~udar·tH>~ 1u·ssa lal'c·fi·t.
·. l ti:,hc· I e'· do sig-uo <lc• l .c;)o. ('.on1plctar;Í de1c·ssc1c· ano, 110 di.- 10
de· :iHosto . t\1as1 ·c·11 11u111 pequeno povoado. de u{H> 111:iis fll' vinte tl11ní~
lia,'\ cl<' pequeno~ agricullores. Na esco la local fC';, i:lS tr{·s pri111cil'~is
séri<'s rlo ensino fundarnen1.al. Era urna escola de ape11as ,un:., s(, la, na
qual a professora procurava ensina r, ao 1ncslllO te111po. a vinte; e: duas

1
t ,rianças da primeira à quarta série.
Aos dez anos Isabel mudou-se para a cid.1de. Foi morar r,u m apar-
Lamcmo. Nem sabe quem são seus vizinhos do apartamento em fren-
1
te. Apenas "bom dia", "boa tarde", "tudo bem'" e nada mais.
At\1almcnte freqüenta a segunda série do curso de magistério. À tarde
Lrabalha numa loja, par;1 reforçar o orçamento doméstico, que anda
apertado.
Hoje Isabel acordou às sete horas, um pouco .tarde para entrar na
escola às sete e meia. Lavou-se e vestiu-se rapidamente. Pôs o uniforme
,· ela escola, blusa branca e saia azul, meias brancas e tênis. Tomou café
e saiu. No caminho encontrou Joana e Sandra, duas amigas insepará-
veis. Foram conversando ele tudo um pouco, as matérias do dia, os
nun10,·ados, etc.
Saindo da escola, Isabel vai correndo para casa, troca de roupa,
Ulll\C>Çll e vai para o serviço, 011de permanece das 13 h às 19 h. Sabe
que n:'io pode chegar atrasada, pois as conseqüências são pesadas.

10 243
~

Seis hc)ras mostrando tecidos, roupas, blusas, calças, meias.


Preços. descontos. notas. habcl sa i elo serviço, va i para casa, toma
Grupo social
banho, janLa. E agora> Novela das o ito, trabalho de escola, cansaço, Grupo social é um cortjunt0 de ind ivíduos que interagem uns
sono, namorado ... O que fazer? Isabel procura conciliar as coisas, fazer com os outros durante um certo período de tempo. Assim, os am igos
o que dá. Quer ser professora e precisa· esLUdar. de infância de Isabel, sua família, os colegas de escola, a própria esco-
la, a empresa, os habitantes do prédio, etc., formam grupos sociais. Os
exemplos mostram que há dois tipos de grupos:
1. O <1uc é Sociologia
• com as am igas de infância, com a família, com as amigas de sala de
A partir da pequena históri a ele Isabe l, podemos ret0mar e defi- aula, Isabel relaciona-se e interage ele forma mais pessoa l, mais g lo-
ni,· de forma siste,'nática alguns conce iLos básicos de Socio logia, aos bal. envolvendo toda i1 sua personalidade: essas pessoas conhecem
quais já fo.emos referência nos capítulos anteriores: faco social, intera- bastante bem Isabel e, por isso, com ela formam grupos primários;
ção social. grupo social, estratificação social, classe social, comunida- • os moradores do prédio, a maioria dos colegas da escola, o patrão e
de, sociedade. status·,ocial e papel social. muitos colegas da empresa, rebcionam-se com Isabel de forma mais
im pessoal, parcial e profissio nal, uti lizando uma linguage m formal,
Fato social con10 o quadro de avisos, os n1e1noranclos do escritório o u as circu-
lares do sínd ico do prédio. Com essas pessoas Isabel forma grupos
Os falos sociais tên1 duas características principais: são cxleriores secundários.
ao indivíduo. islo é, ex istcn1 antes do indivíduo e continuaria1n exislin-
do mesmo que este não existisse; ern segundo lugar, os fatos sociais Estratificação social
exercem coação sobre o indivíduo, ele não pode deixar de pralid-los,
sob pena de sofrer pre,sões sociais, pun ições, etc. No caso de Isabel, Por estrati fi cação social encende-se o processo que coloca os indi-
dorm ir, comer, beber, vestir-se, tomar banho, etc .. não s,io propria- víduos de un1a sociedade em can1adas sociais, en1 estratos diferentes,
segundo suas condições econômicas. de nascimento, etc. Na soc ieda-
men te f'atos sociais: só ela pode praticá-los e, se não o fizer. não sofre-
de. ,1 111al predomina a escratificação de acordo com as condições eco·
rá punição. Já vescir o uniforme, chegar no horário à escola e ao servi-
nôm iéas cios ind ivíduos, situados em estratos chamados classes socia is.
ço, comunicar-se com as colegas em língua portuguesa. fazer os traba·
Essa estratificação social assume a forma ele uma pirâm ide: no alto
lhos esco lares, etc., sào fatos sociais. Se não os cumprir, sofrcd puni-
esc;io os mais ricos, que formam a minoria; na base, os mais pobres.
ções. lmagi 11 e Isabel de jeans emrnndo na sala de aula, enquanco wtlas que são a grande n1aioria.
as colegas emio ele uniform e, ou tentando comprar pão com pesos
argentinos. Sofreria pressões para q11e passasse a se enquadrar nos
padrões vigentes.
Classe social
A classe social é, portanto, cada um dos estralos ou das camadas
que constituem a sociedade . quando d ividida de acordo com o cri Lério
Interação social económico. Cada classe tem seus ,oalores, suas crenças. seus ideais, que
Nào basta que vários indivíduos estejam lado a lado para que este- a distinguem das outras classes. Assi ,n. Isabel 1.rab,1lha e estuda, perten·
jam interagindo. É preciso que haja uma ação com um , que os faça con- ccndo a uma classe social diferente da classe do seu patrão, o clono da
viver, trabalhar, juntos. Interação é uma ação coletirn, execu tada por loja.
vários indivíduos. com vistas a objetivos comuns e individuais. Isabel Comunidade e sociedade
não está in1eraginclo enquanto está se vestindo, tomando banho. O termo comunidade cem sido empregado cm d iferentes senti-
comendo, etc. Mas csuí interagindo quando conversa com as colegas, dos. Num deles. opõe-se à sociedade e significa um grupo local, bas-
com o professor. ou quando está atendendo um cliente na loja . tante integrado, com predominância ele contatos primJrios: pessoais,
244
- li 245
in forn1ais1 tradicio nais, sc n lirnenta is, que envolve n1 a pessoa coino un) ções u·ansformam a vida iodai". ( BROO.vt, Leonard, e SELZ1' tCK, Phi lip.
todo. A cu ltu ra de um a comunidade é geralmente trad icional homo- e fü,mrntos de Sociologia. Rio ele J aneiro, Livros T écnicos e Científicos,
gê nea, passa de pai para filho e é resiste nte a influências ex ternas. 19i9, p. 2.)
A palavra ~ocicdade também é ut.i li , ad a com difere nces significa- A anál ise da definição citada permite-nos chegar a lrês idéias:
dos. Assim , po r exemp lo , falamos em sociedade; brasileira, ahrangen- Prim.eira: A Sociol~gia é mna ciência, ou seja, trata-se de um con-
dn o conjunto de lodos os brasileiros, seus grupos e relações; falamos junto de w nhecimentos si~tcmácicos. organizados, baseacl9s na obser-
em sociedade c~pitalista, etc. :Via,, em con traposição à comunidade, a vação e na pesquisa obj cti,oa dos fatos sociais e não em cre nças precon-
sociedade quer d i, er o conjunto de indivíd uos, grupo; e institu ições cebidas. ou se,n ime ntos subjeti,·os a respeito do mesmos fatos: "U m
cujos relacioname ntos são impessoa is, formais, LHi li cários, especiali za- sociólogo pode ter sentimentos e crenças bem determinados ace rca de
dos e, geralmen te, baseados em contratos escritos. Na história de como a sociedade deve organizar-se ou trata r a algum de se us mem-
[sabei, o bse rvamos um pt:imeiro momento, até os 10 anos, em que ela bros, porém não são estes se ntirnc:nws ou crenças que defi nem essa
viveu numa comun idade, um peque no povoado em que toda; as pcs- pessoa como sociólogo. Como profissional , um sociólogo tem a obri-
.~oas se conheciam pessoalmente; j á a partir do momemo cm que ela gação de relatar e analisar o bjeti\'ame ute tudo o que constitui a vida
1111,dou p,tr.t a cidade, vi111os que, à exceção dt.: um peq ueno grupo de em grupo (como a vida em família, as classes sociais ou as co munida-
pt::s~oa.~ arnigas corn as quais 1nantét1) re lações rn ais estrei tas. seus rela-
1 de:} e seus cleri\'acl os (valores, tradições e costumes)". (COI IE~. Br uce.
cionarn e11 tos sociais - no prédio. na escola. 11 a loja - são bastan ce SoriolDgia geral. São Paulo, McCraw-Hill. 1980. p. l .)
formais e especializados. Segunda: A Sociologia é uma ciência que te m por obj eto de estu-
d o a sociedade humana. sua estrulllra básica, a coes.ão e a desi ntegra·
Status social e papel social ção dos grupos, a transformação ela vicia social. ,\' Sociologia mostra-
nos que não basta um conjunto de indivíduos para que tenhamos uma
O sca1.11s social correspo,lde à pos,çao que o ind ivíduo ocupa sociedade. É preciso que esses inclivíduCJS in leraj am . se relacionem.
num grupo social ou na sociedade. Essa posição é relativa à posiçJo conviva1n, 1.enhan1 in teresses cnn)uns. viva1n ele acordo corn nor1nas
ocupada por oulros indi\iduos. Assim. por exemplo, Isabel ocupa o
con1uns.
Slallls ele filha, cm re lação aos pais, o status de alun a. Clll re lação ao Terceira: Dependendo dos fatos .socia is que estuda e da forma
profc,sor, o sta tus de e mpregada, cm relação ao patrão. etc. O papel corno os csc.uda. a Sociologia pode ter pelo menos du<>S concepções: ele
soc ial consti tui o conj un to de fun ções que cada indivíduo dese mpe- um lado, a co1>cc:pção. que dá mais importâ ncia ao fato social co mo
nha cm conseqC,c:' ncia do status que ocupa. Afirm a-se que o papel estanque, pronc.o e acabado, cnf'atizando a estrutura social , a ordem
social ,; o aspecto din âmico do status. Exemplificando, podc 111os dizer soóal existenle, etc.; de o uc.ro. a concepção que: dá mais importâ11cia
que a cada um do, sta1t.1s ocupados por isa hei - fil ha, altm o1, ernpre· ao fato social co mo algo clinárn ico. aos aspecc:Os que prod uze m trans-
gada - correspondem funções especíJica,, papéis sociais <lctcr min,1- for111 ação social, 1nudança social, otLseja. aos processos sociais.
dos que. se nti.o cun1priclos, pudcrn acarre tar pressões o;oc iai", puni-
ções. etc.
Breve história

De finição de Soc iologia O estudo do, fotos sociais é muito antigo. Pode-se afir mar que,
clc:,dc o surgi n1enco dos p rin1ei ros gru pos hun1<1 nos. estes não <lc ixa-
En tre as muitas defi niçÕ<' s de Sociologia, selec ionamos urn.i que ran, ele se preocupar co1n a n1e;;-lhor Co rn1a de organiz<1r·sc para alcan-
acham(); bastante completa e fác il de en tender: "A Sociologia é L1111;1 çar ,eu~ obj etivos de sobrevivência.
das Ciências Soc iais. Seu l>bjc tivo mais a,nplo é descobri r ·a estn tlura i Entretanto. foi apc;nas no séwlo XIX que a Sociologia pas,ou "
básica da socil·clade hu mana, iden1 ificar as princi pais Forças que man -
c(·m os g rupos unidos o u que os en fl'aq uccc1n e \'t"r ificar que co11di-
246
l1~
: co1110 ciê·ncia autônorna , i11dcpendente ..Ao lad<) do
co11stl1uir-se
d cs(·n\·o lvi 1nen to das ciências n1orlcrnas (Física, Quín1ica. Bio logia,

~7
etc.), as transformações pelas quais passou a sociedade européia nos Ourkheim explicou confo procedeu em sua pesquisa sobre o suicídio.
séculos XVlll e XIX contribuíram de maneira acentuada para o surgi· que seria publicada em 1897: primeiramente, planejou o esquema da
mento ela Sociologia. Tanto a Revo lução Industria l quanw a pesqu isa; a seguir, colcwu grande número de dados sobre pessoas que
Revo lução Francesa provocaram tra11sformações radicais na sociedade
se suicidaram; por fim, elaborou uma teoria elo suicídio, em que apon-
da época. Muitos estudiosos dedicaram-se a estudar essas transforma-
tou como fator preponderame o isolamento social.
ções e suas conseqüências para a viela humana. Foi essa a origem da
Sociologia corno ciência. Para Durkheim, o princípio fundamental da Sociologia é "consi-
derar os fatos sociais como coisas•. Não se trata ele uma afirn,açào dou-
O filósofo francês Augusto Comte ( 1798-1857) foi o primeiro a
trinária: é claro que os fatos sociais se distinguem dos fenômenos lisi·
empregar a palavra "sociologia'·, em sua obra Fi.losofia positiva, publi-
cos. Trata-se de uma regra metodológica, que irnplica tomar os fatos
cada em 1838. Para Cornte, a Sociologia devia fazer seus estudos com
base na observação e na classificação sistemáticas e não baseada na sociais cm seus aspectos exteriormente observáveis, u1.iliza11do méto-
dos de eswclo apropriados, como a estatística.
autoridade e na esr.eculação, corno era a ciência antig<1.
Herbert Spencer ( L820-I 903), fi lósofo social inglês, publi cou, em Ao lado dos autores citados, considerados os criadores da
L876, a obra P,incipios de Sociologia. Spencer apli cou às sociedades Sociologia, outros há que muito contribuíram com estllclos sobre a
humanas a teoria da evoluçào de Darwin , desenvolvendo sua teoria da sociedade. Embora seus trabalhos não sejam considerados propria-
evoluçJo social, segundo a qual a sociedade evolui nawr..,lmen te do mente sociÓlôgicos, mesmo assim ajudaram a desenvolver a Sociologia.
estado prim itivo ao industrial. Entre estes podemos citar os pensadores social istas Marx e Engch.
Nos Estados Unidos, a primeira obra de Sociologia foi publi cada . Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels ( L820- l 903) não se
cm 1883, com o titu lo de Sflriologia dinâmica. Seu autor, Lester F. Ward ded icaram ao desc11volvimento da Sociologia, enquanto d iscipli na
( 1841-19 13), defe ndeu o progresso soci,d sob a orientação dos sociólo- específica. Em suas obras podem ser encontrados elementos de muitas
gos. disciplinas - Antropologia, Política, Economia, Sociologia, etc., -
Como se observa, c.<ses prime iros soció logos estavam imbuídos ime rligados para uma explicação g lobal da socicd<1de. Mas, com seus
ela idéia de progresso, de evolução. A partir dessa idéia procuravam estudos. '..1arx e Engels acabaram contribuindo de forma decisiva para
fatos que lhes dessem sustentação. E, certamente, a Revolução o desenvolvimemo do conhecimento sociológico crítico ela sociedade
Industrial e a Revo lução Francesa, ao Lado de outras grandes mudan- ca pit.ilista. Segundo eles, a J-lisrória rnarcha incxoravelmeme do capi·
ças sociais, tiveram um papel importante na difusão da idéia de pro- talismo para o socialismo.
gresso. Ko Brasil, os estudos de Sociologia em níve l superior começa-
Os prirneiros cursos de Sociologia em unive rsidades comcçiram ram, praticamente, na década ele 1930. com a fundação da
a ser oferecidos cm 1890. Em 1895 começou a ser publicado o Universidade de São Paulo (1934). L'm elos principais expoc11tes foi
American journal o/ Sociology. Em 1905 foi fundada a Snciedade F'ernando de Azevedo. Com suas au las formou várias gerações de
Americana de Sociologia. sociólogos.

Durkheim e Marx 2. A Sociologia e seus métodos


O soc iólogo francês Émile Durkheim ( L858-l 9 17) haveria de Entre os prin cipais métodos utilizados pelo sociólogo eslào a
con Lribuir decisivan1cnLe para tornar rnais rigoroso o n1étodo científi~ experin1cntaçào, a observaç:'.io. o questio nário. a entrevista e o estudo
co ern Sociologia. Em seu livro Regras do método sociol!Ígico ( 1895). de casos.
248
\ '.) 249
Método experimental A observação pode ser de dois üpos: não participante e panici-
No método experimenlal modifica-se uma das variáve is que p,m te. A observação não participanl.e é aquela em que o observador
influenciam o comportamemo de um grupo, manlclldo-se as outras não partic ipa da vid a do grupo que está observando. Como exemplo
constantes. Supo,,h amos que d eseja mos saber se a abolição das provas podemos citar o jornalista sociólogo que p rocura observar e analisar a
b imestra is nas escolas aumenta o número de comportame ntos de coo- interação entre o grupo de onze jogadores de um time ele futebol.
peraç,io entre os a lunos. A h ipótese é que as provas aumentam o nh e l Na observação participante, o observador p,micipa ela ,·ida do
de competição e, portanto. dimin uem os comportamentos d e coope- g rupo que está observando. É o caso do sociólogo que se torna joga·
ração. dor de futebol para observar ele dentro cio grupo a integração social
en tre os jogadores. Outro exemplo é o do sociólogo que vive a lguns
Divide-se ,J turma cm dois grupos: um continua normaln,eme
meses na prisão. na mesma cela que os presos, para cswdar seu com-
com as provas bimestrais {grup o d e controle); o outro não tem mais
portamento social.
provas b imestrais (grupo experimental). O s do is gru pos devem ter as
tTHtStTlas caracterí~ticas (variáve is): n1csn,a idade, n1es,no grau de in ~
trução, 1ncsn10 níve l econ ô 1u ico etc. Só é 111oclificacla unia variáve:-1: as Questionário e entrevista
1

provas, que u m grupo tem e outro não. O g rupo não pode saber a O questionário compõe-se de uma série de perguntas por escri to
razão pela qua l as provas foram ;iboliclas. parn serem respondidas por un, n úmero maior ou menor d e pessoas.
>lo final de um determinado período, um 011 dois anos. faz-se um Depois de res ponderem. por escrito, essas pessoas d evolvem os ques-
1cstc qualquer ou, sim p lesmen te, um observador pode- a llOtar. d u ran- tionários ao pesquisador, que tabu la os resultados, isto é, coloca-os em
te um certo período. o número de comportamentos de cooperação ele ordem. a través ele tabela.~. quadros, gráficos, etc.
ambos os grupos. Se o grupo e m que foram ~bulidas as provas mani- .Já a entrevista estabe lece u m relacionamenco mais pessoal entre
festar n1aior nl1111cro de con1p<.>rt.arnentos de cooperação, é sina l de o e n trevistador e o entrevistado. Kormalme,Hc a en trevista é fe ita de
que a hipótese foi co11firmada. forma oral, en trevistador e e ntrevistado co,wersanclo sobre o assun to
Pelo exemplo pode-se observar que o experimento em pes(]uisado. A utilizaç,io cio gra,-.,clor evi ta que o e ntrevistador esqueç,,
Socit,lug id c.::11r, e 11la UI II~ ~i; rlc dt" uU~tftculo~: é 11 1uilu Uiíic.:i} 4_Ut: l l V~ 0 11 d is1orça as respostas do entrevisLado.

dois grupos as variáveis sejam todas idênticas, e xceto a que é modifica-


da; h;í muitos fatores descon hecidos que influencia 11, o comportamen- Estudo de caso
to hum ano, corno o comportamento d e cooperação. por exemplo:
Nesta técnica, geralmente o pesquisador utilila vários métodos
a lém da abolição elas provas outras variáveis podem ter sido ,noclilica- prowranclo levaniar o maior número possível de informações sobre o
clas no grupo c.:xperimemal, sem que o expC'rimentaclor pe rceba ou fato que está est11rlando. Suponhamos que um a luno se mantém isola-
independentemente de sua voniadc.
d o c n1 rt: laçilo ao resto da turn1a, não con\·e rsa co111 n inguérn , rnlo par·
ticipa das atividades coletivas, difi cilme nte faz pergunt.as em classe. etc.
Observação Trata-se de um caso individua l, que o pesquisador pode analisar
Consiste.:: en1 observar e regisu·ar, con1 o 111;, io r número possível uti lizando vários métodos: observar o comporiamento do aluno na
ele d etal hes, os componarnentos dos gru pos. A vantagc111 da obsen<a· sala de aula e fora dela. conversar com o próprio aluno, c111rc,istar
çtlo sobre a cxperin1entação é que a prin1c ira não interfel'c na vida seus pais e irn1àos. etc. É1n resu1no, o pesqu isador p rocura levan tar
ta lltas informações quantas for possível sobre o alunn, tentando desco-
norma l cio gru po, ellquan to a segunda. apesar dt: o grupo não sabe r
brir as causas do seu con1porta1nen 1.o de isoh11neuto social.
que· seus con1porta1nenros cstclo sendo an;;\lisados, sen1ptc proçoca
·~ De maneira geral, o cientista social lança m,io ck todos ou de
11n1a 1nudança nas condições an1c ri ores, jã qu(' u111a vari áve l e 111odi·
ficada.

250
I
1 I~
alguns desses métodos,. de ac~rclo com ~s.exi~ências elo terna e com os
obJeUvos de sua pesquisa. Alem d isso . e importante destacar que ta, s

251
métodos levam à coleta de dados sobre o assunto esllldado. Ma, esses
amplo, e pela comu nidade, no sentido mais restrito. Por outro lado,
dados precisam se r analisados, comparados. É a partir dos dados, dos
fatos sociais, que o sociólogo desenvolve o seu estudo, a sua reflexão, mesmo no in terior da escola, multiplicam-se os grupos sociais. Esses
em busca da compreensão da sociedade, das suas estruturas e dos seus grupos - de alunos, de professores, de administradores, etc. - têm
processos. enorme influência sobre o comportamento dos alunos e sobre sua
educação. Até dentro da sala de aula, apesar do controle que pode ser
O campo profissional do sociólogo exe rcido pelo professor, a infl uência das condições sociais do aluno e
dos grupos de que ele participa dentro e fora da sala não pode ser
O trabalho do soció logo constitu i atualmen te, no Brasi l, urna menosp,·cz<lda.
profissão lega lrne.nte regulamen tada pe lo governo federal. Para tor-
nar-se soció logo o indivíduo precisa completar o cu rso supe rior de A contribuição da Sociologia da Educação ao trabalho pedagógi-
Ciências Sociais, que geralmen te está integrado numa Faculdade de co abrange pelo menos dois aspectos principais:
filosofia, Letras e Ciências Hum anas. J•) O estudo elos processos e das in fluências sociais envolvidos na
Depois ele te rininar o curso e obter seu registro como sociólogo, atividade educativa, em especial na escola. Incluem-se aqui os processos
o indivíduo passa a dispor de várias opções de trabalho: na escola, na de inr.c:raç,io dos indivíduos e de organização social e as influências
indústria, em em presas de prestação de serviços. junco a órgãos gover- exercidas pela sociedade, pela comun idade e pelos grupos sobre a
namentais, em instituições ele assistência social, em ce ntros de pesqui- educaçào. ·
sa1 etc.
22) A aplicação dos conhecimentos e descobercas da Sociologia à
Na esco la, o sociólogo pode dar au las de Sociologia para o segu n- atividade educativa. Isto é, a utilização ela Sociologia e de seus princí-
do grau . se tiver o curso de Licenc iatu ra. Na indústria, a atividade do pios para tornar mais eficiente o processo educativo.
sociólogo esc,'i mais ligada à organização do trabalho e às relações
Ern todo o decorrer deste livro procuramos ter sem pre presen tes
entre os d iversos grupos: en tre as várias categorias ocupacionais, entre
chefes e subord iriados. c11tre patrões e empregados, en tre sind icatos e estes dois aspectos: o teóri co, de conhecimento da realidade ed ucacio-
empresas, etc. Já em empresas de prestação de sc>rviços, ó rgãos gover- nal, e o prático, ele modificação dessa mesrna realidade a partir dos
namentais, institu ições de assistência socia l, ce ntros ele pesquisa e conhecimentos sociológicos.
o,·gan izações siniilares, a atuação do soció logo está mais orientada Das considerações !citas, ao lo11go do nosso curso, podemos con-
para estudos e pesquisas de o pini ão pública, de aspi rações co municá- cluir que a Soc iologia da Educação dá atenção a, pelo menos, três
rias, cond ições de viela e outros aspect0s sociais de interesse desses gran des áreas de estudo:
orga n is1l1 os.
19) en1 níve1 n1ais particular, à organização social da sala de aula:
22 ) em nível interrnediário, à in teração en tre a escola e a comu-
3. A Sociologia e o trabalho pedagógico nidade em que está inserida;
3 2} em nível mais gera l, à educaç,io relacionada coin a sociedade
A educação 11ào acontec~ só 11,t escola. Talve1, nem seja a educa- em seu sentido rnais amplo.
ção escolar a que mais influência exerce sobre o desenvolvimento dos Desse modo, com os con hecimen1os e reflexões desenvolvidos ao
indivíduos. Entretamo, como esre livro se dirige mais a professores, é longo do curso ele Sociologia da Educação, espera-se que o professor
à educação escolar que damos mais atenç,io.
tenha melho res condições de rea lizar o seu trabalho pedagógico. Mas
E o que tem a ver a Sociologia com a educação escolar? :VI uito,
o mais importante é <iue o professor esteja sempre aberto à aprendi1.a-
po is a escola não está isolada em relação i, comun idade e à sociedade
gem const;ime, que pode ocorrer no dia-a-dia do seu trabalho escolar.
em que está inserida. A esco la é. até certo ponto, reflexo das cond ições
C-0n10 diz Guimarães Rosa, ..o rc:al não esLá na saída ne1rl na chegada:
e ela;, exig,'ncias estabelecidas pe la soôedade, em seu sentido mais
ele se dispõe para a gen te é no meio da travessia".
252
IÕ 253
Resumo 3. Resumo o desenvolvimento do Sociologia.
l . A observoção e o análise do história do ser humano permitem-nos 4. Qua l o papel de Marx e Engels no desenvolvimento do Sociologia?
chegar o alguns dos conceitos básicos do Sociologia: 5 . Cite os principois métodos utilizados pelo sociólogo.
o) loto social: externo ao indivíduo e coercivo; 6 . De que formo e com que objetivo o sociólogo utilizo tais métodos?
b) interação social: ação comu m entre indivíduos; 7. Em que consiste o Sociologia do Educação?
c) grupo social: interação de um con junto de indivíduos por certo 8. No seu entender, os conhecimentos e reltexões feitos ao longo do
tempo; curso de Sociologia do Educação podem contribuir poro o traba-
d) estratificação social: organ ização do sociedade em camadas lho do professor? De que modo?
superpostos;
e) classe social: cada um dos estra tos do sociedade.
2. A análise do definição de Sociologia conduz-nos o três idéias: Outras atividades
oi A Sociologia é umo ciênc ia: conhec imento objetivo e siste-
mático. Debate: Que contribuições o estudo do Sociologia do Educação
b} A Sociologia estudo o soc iedade e os grupos que o formam. pode trazer ao trabalho do professor?
c) Existem d ua s concepções de Sociologia: o Sociologia do ordem
e o Sociologia do mudança, ou seja, o estático e o dinâmico.
3. A Sociolog ia como ciência teve início no século XIX por influência Texto para análise
tonto do desenvolvimento dos outros ciências quanto dos transfor-
mações sociais do época.
4. Augusto Comte é considerado o fundador do Soci ologia. Seguirom- Enfoques teóricos em Sociologia da Educação
se Spencer, Word, Durkheim e outros. No Brasil, Fernando de A trajetória dos t:Studos sociológicos da educação permite distin-
Azevedo foi um dos pione iros.
gu ir, no seu período 111ais recente, duas fases: un1 a, que vai até os anos
5. No campo do Sociologia do tronsformoçõo destocorom-se Marx e
Engels. 60. in clusive, caracterizada por conceber a educação como fator de
6 . Os principa is métodos utilizados em Sociologia são: experimenta- democratização, de d istribuição de renda e até, segundo tradição anti-
ção, observação, questionário, en trevisto e estudo de coso. ga. de rnelhorarnento da natureza humana. Foi a fase do "01 imismo
7. Dois ospectos importantes são considerados em Sociologia do pedagógico" sucedida, nos anos 70, pelo "pessimismo pedagógico".
Educação: Nào tendo a ed ucaç,io satisfeito as elevadas expectativas em relação
o) Os processos e influências sociais envolvidos no educoção.
aos seus efeitos sociais. seguiu-se un, período de desilusão e cinismo,
b) A aplicação dos conhecimentos sociológicos à educação.
quando a educação passou a se r vista predon1inan Le1nc;nle corno urn
processo de manutenção do poder estabelecido.
Atividades A esta.~ duas fases correspondc n, também basicamen te dois para-
dig 1n as. 0 11 ~cja, n1anciras pelas quais são vislos o can1 po de escudos.
Questões propostas iden tificados os te mas para invc:,tigação e especificados conceitos t'

l. A parti r do história de Isabel, defino os conceitos: foto soc ial, inte· métodos legítimos: os parad igmas do consenso e do con flito. (... )
ração social, g rupo social. estratificação social, classe social. - Do pós-guerra até o início dos ano.i; óO. verifi can1-~c a guerra fria

I
2 . Comente os três idéias básicos envolvidos no defin ição de e urna in tensa competição, quando não con fli 10 dccbrado. entre as
Sociolog ia. ,upcr·potências. Oada a nc(essidade d(' in tegraçfto interna então gcTa-
254 ~ lh 255
ela, ílo resce u o paradigma do consenso, representado sobrewdo pelo nantes? Ou haveria fráções ela classe dominante em compe tição/con-
funcionalismo. em Sociologia, e pela 1.eoria cio c;ipi tal humano, em
fli to, com repercussões diversas e, até mesmo, opostas sobre o sistema
Economia. Basic,unente o paradigma do consenso vê a sociedade educacional? Além disto, só as chamacl,ls classes dominantes seriam
corno um conjunto de pessoas e grupos un idos por valores comuns, capazes ele iníluenciar a educação) Por outro lado, lev-anla-se a ques-
que gernm um consenso espont,ineo.
tão de que a educação teria efe itos tão diversos que poderiam ser favo-
Todavia, a partir dos anos 60, o ml111clo tem sido marcado pela ráve is a uma fração ela classe dominante e não a outra ou, ainda, des-
co ntestação dos padrões es1.abelecidos, lutas interna, e cresc'c ntes difi- favoráveis a todas as suas frações.
cu ldades econômicas. Por acréscimo, as reformas educacionais não
Outro question amen10 refere-se à atividade da escola em sua
atendem às demandas em grande parte irrealistas cio se u contex to
ação reprodutora. Seria a chamada classe dominada tão passiva em
social. Com isto, pass;o a viceja r o paradigm a do coníli1 0, representado
pelo neomarxisrno, utopismo e outras correntes. A sociedade passa a face ela escola? Por que se verifica freqüen teme nte que a esco la não
se r vista basicamc,1te como um co,~unto de grupos cm comínuo con- age em sintonia com o poder estabelecido? Por que não poucas vezes
flito, onde u11s estabelecem dnminação sobre ns outros. Ern vez de um as próprias elites cri1icam a escola por sua ação inadequada? Se a esco-
consenso espo ntâneo, obtém-se um consenso imposto. A cducaç,io é la socializa os alunos para atuar 11os am bientes ele trabalho cor respon-
consid erada um instrum en1 0 de dom inação e de dissimulação do ve r- den tes à sua classe social, por que se apontam tantas inconsistências
dadeiro caráter da dominação. Tal con tex to, todavia, não determinou
que d ificultam a transiç,'ío da escola para o trabalho, de n,aneira tão
a sucessão ele un, paradigma por outro, mas a passagem do domínio
grave e con tinuada? Seria a escola uma in stituição dependente ou rela-
quase absolu to do paradigma cio consenso para o predomín io d o para:
d igma cio conílito. (... ) tivamente autônoma? Seriam os alunos receptáculos passivos uu ele-
O parad igma do conílito deu uma comribuição inestimáve l nos mentos capaies de respostas? Estudos etnográficos 1.ê m mostrado que
anos iO ao estudo da educação. Ele ofereceu meios efetivos para con- alunos de baixo níve l sócio-econômi co podem efetivamente resistir à
testar urna visão freqüen1ernente ingênua e otim ista sobre o poder aç,,o escolar ou , pe lo meno,, rc::agi r de 111udo bem difere nte cio espe-
transformador ela ed ucação. Trabalhos daquela década formularam as rado.(... )
chamadas teorias da correspondência, segundo as quais, en, ge ral: 1) As críticas têm levado a observar que a correspondência entre
tnna classe dorninaute exerce seu poder, e ntre outros n1eios. acravés da
sociedade e educação não é urn processo linear e simples. Verifica-se
educação, im pondo sua ideologia i, classe dom in ada; 2) a escola é
cíuc esta-5 relações são muito mais complicadas e exigem um estudo
inteira ,ncnte depc.;11dente da cJasse don1inante e '\e encontra a ~c u ser-
mais profundo e desagregado.
viço: 3) a classe dominada ,ofre passivamente a ação ela escola como
institui ção sele1i va e difusora ele uma id eo logia. A escola seria, pois, Ccrtan1enle a escola te rn un1a ação b(:rn n1a is cornplcxa e diversi·
uma instiruiçiio efetiva no proc<'sso de reprodução. Aq ueles que se (icada, com efeitos não esperados por mui tos ai.ores. :-.Ião h~ determi-
dedicas;em â educação nada mais estariam fazendo do que p,lrticipar nismo$ simples, mas relaçóc$ e inter-re lações que ocorrem de maneira
de um proce,so de reprodução direta das <lf-sigualclades sociais. pouco conhecida.
O avanço do couh ecin1en10. en tre outro:; f;.-1 tores. levou a urna
visão bem mais complexa ela realidade. Assim, os anos 80 têm pe la
frente urna perspectiva mais rica. Prin1eiro, coloca-se ein que!ttào a sin ~
(Adap1Jdo ele CTmclido Gome:." A edwr,,w nn P,.•spediua sorrnlâgim. S,io
~u laridade da classe rlnn1ina11tc. l-laveria un1a ou 1nais <"h:1';.ses do1ni-
Pa11lo, EPU, 198.'i, p. 15. l i, 49 e 52.)
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