A Atuação Do Psicólogo Comunitário

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A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMUNITÁRIO

A PARTIR DA PSICOLOGIA DA LIBERTAÇÃO

Rodrigo da Silva Almeida1


Dionísio Sousa da Silva2
Mariana Lemos Braz3
Maria Sônia da Silva Crispim4
Thalita Carla de Lima Melo5

Psicologia

ciências Humanas e Sociais

ISSN IMPRESSO 2317-1693


ISSN ELETRÔNICO 2316-672X

RESUMO

A Psicologia da Libertação de Martín-Baró é uma abordagem crítica que parte da reali-


dade social vivenciada pelos povos latino-americanos para depois construir um conhe-
cimento teórico relevante, indo além da convencional constatação e interpretação dos
fatos. Objetiva libertar o ser humano da alienação produzida por uma minoria dominan-
te, onde o psicólogo social tem um importante papel mediador. Influenciou a Psicologia
Comunitária no Brasil, que surge a partir da busca da legitimação de uma Psicologia me-
nos elitizada e mais voltada aos problemas sociais. A contribuição da Psicologia da Liber-
tação para o desenvolvimento da Psicologia Comunitária é apontar para a necessidade
de se desenvolver uma prática propondo a visão dos processos psicossociais a partir da
vertente do dominado, ao invés de enxergá-lo da vertente do dominador. O psicólogo
comunitário vai então atuar primeiramente levantando as necessidades da comunidade
(método a posteriori) para depois tentar mudanças sociais. Diante da realidade sócio-
-histórica brasileira, existe a necessidade de uma mudança social a partir da libertação
da Psicologia Comunitária. Assim, a atuação do psicólogo comunitário no Brasil pode se
inspirar nessa proposta com o objetivo de construir uma Psicologia capaz de ajudar a
comunidade a se libertar dos condicionamentos que a estrutura social lhe impõe.

PALAVRAS-CHAVE

Psicologia da Libertação. Psicologia Comunitária. Atuação do Psicólogo.


Ciências humanas e sociais | Maceió | v. 2 | n.3 | p. 97-112 | Maio 2015 | periodicos.set.edu.br
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ABSTRACT

The Liberation Psychology of Martín Baró is a critical approach of the social reality expe-
rienced by Latin American people and then build a relevant theoretical knowledge, going
beyond the conventional observation and interpretation of facts. Aims to free human bein-
gs from alienation produced by a dominant minority, where the social psychologist has an
important mediating role. Influenced the Community Psychology in Brazil, which arises
from the search to legitimize a less elitist Psychology and more geared to social problems.
The contribution of Liberation Psychology to the development of Community Psychology
is to point to the need to develop a practical proposing the vision of psychosocial processes
from the part of the dominated, rather than see it dominating the shed. The community
psychologist will then act first raising the community's needs (method a posteriori) and
then try to social change. Given the Brazilian socio-historical reality, there is a need for so-
cial change from the release of Community Psychology. Thus, the actions of community
psychologist in Brazil can inspire this proposal in order to build a Psychology able to help the
community to get rid of the constraints that the social structure requires it.

KEYWORDS

Liberation Psychology. Community Psychology. The Psychologist Working.

1 INTRODUÇÃO

Ignácio Martín-Baró nasceu no dia 7 de novembro de 1942, em Valladolid, na


Espanha. Por volta de 1961 começou a estudar psicologia, tornando-se docente na Uni-
versidade Centro-americana José Simeón Canãs (UCA) de El Salvador. Envolveu-se na
guerra civil salvadorenha, fator que foi determinante na temática de sua obra científica,
marcada pelos acontecimentos históricos dos quais foi protagonista direto. Publicou
vários artigos e livros, entre os quais se destacam: Psicodiagnóstico da América Latina
(1976) e Problemas de Psicologia social y América Latina (1976). Em sua pesquisa social,
abordou vários temas, como: a identidade social, o fatalismo, a violência e a guerra, a
mulher, o machismo, a família e a psicologia política. Dedicou-se à defesa dos direitos
humanos, da igualdade e da justiça social em El Salvador. Foi assassinado em 16 de
novembro de 1989 por uma seção das Forças Armadas salvadorenhas (ÁLVARO; GAR-
RIDO, 2006).

Assim, tendo em vista sua própria trajetória intelectual, política e profissional,


Martín-Baró se propôs a uma Psicologia da Libertação, comprometida com os sofri-
mentos, lutas e aspirações dos povos. Sua psicologia influenciou a Psicologia Social
brasileira, principalmente a Psicologia Comunitária. Essa influência foi tão intensa que
em alguns momentos se torna difícil diferenciá-las, tamanha é a incorporação desta
última dos pressupostos de Martín-Baró.

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Dessa forma, assim como os povos da América Latina, o Brasil também possui
um contexto histórico marcado pela exclusão e pela desigualdade social, terreno fértil
pra a prática do psicólogo comunitário com o objetivo de libertar esses indivíduos.

Nesse sentido, o presente artigo consiste numa revisão bibliográfica sobre a te-
mática da atuação do psicólogo comunitário a partir da Psicologia da Libertação. Fo-
ram pesquisados nas plataformas digitais Google Acadêmico, Scielo e BDOT (Biblio-
teca Digital Brasileira de Teses e Dissertações) e na biblioteca do campus do Centro
Universitário Tiradentes- UNIT, as seguintes palavras-chave: psicologia da libertação,
psicologia comunitária, intervenção psicológica e psicologia social. O resultado des-
sa pesquisa ensejou dar visibilidade na possibilidade de atuação do psicólogo como
agente de transformação social.

2 A PSICOLOGIA DA LIBERTAÇÃO

A Psicologia da Libertação foi apresentada por Ignácio Martín-Baró, psicologia


que se propõe comprometida com os sofrimentos, lutas e aspirações das maiorias
populares. Seu objetivo era realizar uma psicologia social crítica, que partisse dos pro-
blemas sociais para só depois chegar a um conhecimento teórico relevante. Logo, é a
própria realidade social quem define a pertinência das teorias para a compreensão e
transformação dessa realidade social (ÁLVARO; GARRIDO, 2006). Na opinião dele: “A
Psicologia deve trabalhar para libertação dos povos latino-americanos, um processo
que [...] incorpora tanto uma ruptura com as cadeias da opressão pessoal como com
as cadeias da opressão social” (MARTÍN-BARÓ, 1998, p. 192).

Martín-Baró (1998) propõe três aspectos que, em sua opinião, são essenciais
para a construção de uma Psicologia da Libertação:

[...] que a Psicologia descentrasse a sua atenção de si mesma,


de seu status científico e social, para se dedicar, eficazmente,
a atender os problemas dilacerantes das maiorias populares
latino-americanas; que procurasse uma nova forma de buscar
a verdade nas próprias maiorias populares; e que iniciasse uma
nova práxis psicológica que, ao contribuir para a transformação
do homem e da sociedade latino-americanos, nos permitisse
conhecer alguém não somente por aquilo que de fato é,
mas também pela sua negatividade, isto é, em todas aquelas
potencialidades negadas pelos ordenamentos sociais atuais.
(MARTÍN-BARÓ, 1998, p. 212).

Criticou o modelo positivista e fez uma revisão das teorias produzidas nos terri-
tórios norte-americano e europeu, ao mesmo tempo em que enfocou a realidade de
El Salvador e da América central naquele seu presente, assumindo a não neutralidade

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da ciência e o compromisso político do pesquisador (SILVA, 2012). A razão dessa crí-


tica é o fato de o cientificismo investigar apenas o “como”, desconsiderando o “quê”,
o “por que” e o “para quê”, processo que deixa de lado significados que para ele são
muito importantes.

Além disso, o não reconhecimento de nada mais além do dado leva o positivis-
mo a ignorar aquilo que não existe, mas que poderia ser historicamente possível, caso
fossem oferecidas outras condições. Isso contribuiu para fazer com que a Psicologia e
especialmente a Psicologia latino-americana tenha servido predominantemente aos
interesses das minorias dominantes (MARTÍN-BARÓ, 1986), processo que não tem
sido diferente no Brasil.

A proposta de uma Psicologia da Libertação objetivou libertar o ser humano


da alienação produzida por uma minoria detentora do poder político-econômico,
atribuindo-lhe uma maior capacidade de autonomia e senso crítico para transformar
a sua realidade social, onde o psicólogo social tem um importante papel mediador.
Segundo Martín-Baró (1986, p. 182):

[...] O importante é perguntar-nos se, com a bagagem


psicológica de que dispomos hoje, podemos dizer e, sobretudo,
fazer algo que contribua significativamente para dar resposta
aos problemas cruciais de nossos povos. [...] a preocupação
do cientista social não deve centrar-se tanto em explicar o
mundo, mas em transformá-lo.

Para ele, a libertação deveria, então, estender-se até os “porões” da personalida-


de dos indivíduos, visando rastrear ali “ditaduras privas” e “escravidões”. Entretanto, o
autor expõe que todo esse esforço para libertar o ser humano das suas escravidões,
ficou, de certa forma, desacreditado, pois a Psicologia tem sido alvo de uma de suas
acusações mais graves: ter servido aos interesses das classes dominantes, sendo ro-
tulada como uma “mera ideologia” que contribui para manter a opressão social, fato
não diferente para a Psicologia latino-americana. Em sua concepção, para reverter
esse quadro, a Psicologia deveria submeter-se, ela mesma, a um processo de liberta-
ção (MARTÍN-BARÓ, 1998). Assim:

Devemos libertar a Psicologia daqueles lastros teóricos e


técnicos que a marginalizam dos justos anseios das maiorias
populares; devemos libertar a nós, psicólogos latino-
americanos, de todas aquelas travas que nos impedem de
colocar-nos a serviço de povos oprimidos e oferecer o melhor
de nossa capacidade científica para a transformação de nossas
sociedades. Evidentemente, eu não tenho uma fórmula
mágica sobre como conquistar essa libertação da Psicologia e

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dos psicólogos e, definitivamente, não me toca definir isso (...).


A comunidade de psicólogos latino-americanos deve colocar-
se em marcha, com toda a ruptura que isso demanda. Sem
ingenuidades e falsos redentorismos, já que não somos nós
os chamados para resolver os grandes problemas de nossos
povos [...]. (MARTÍN-BARÓ, 1998, p. 214).

Dessa forma, o psicólogo não deve se desviar da sua “responsabilidade his-


tórica”. Ou seja, contribuir com o seu saber para a resolução desses grandes pro-
blemas das maiorias oprimidas, sendo necessária para isso a superação da con-
cepção individualista de libertação psicológica, pois é impossível conceber uma
verdadeira libertação interior que não contenha uma libertação exterior. Entretan-
to, na opinião dele é um erro pensar na Psicologia da Libertação como um mo-
mento de ruptura, pois a libertação é um processo, que tem como seu ponto de
partida a quebra das “cadeias da alienação”. O objetivo da Psicologia da Libertação
consiste em “contribuir para construir um homem novo em uma sociedade nova”
(MARTÍN-BARÓ, 1998, p. 215).

Ou seja,

[...] Não se trata de abandonar a psicologia; trata-se de colocar


o saber psicológico a serviço da construção de uma sociedade
em que o bem-estar dos menos não se faça sobre o mal
estar dos mais, em que a realização de alguns não requeira a
negação dos outros, em que o interesse de todos não exija a
desumanização de todos. (MARTÍN-BARÓ, 1996, p. 23).

O autor ainda cita que a tarefa que deveria ser prioridade dos psicólogos sociais
é a configuração de uma Psicologia popular, objetivando estudar e cultivar, de uma
forma sistemática “todos aqueles aspectos da Psicologia de nossos povos que tenham
contribuído ou que possam contribuir para a sua libertação histórica” (MARTÍN-BARÓ,
1983, p. 216). Isso supõe primeiramente recuperar a memória histórica desses povos,
como: costumes, formas de organização e trabalho, valores e normas que serviram
ontem e que servirão hoje para a libertação. De forma bastante realista, ele chega à
seguinte conclusão:

Sei que assumir como horizonte da Psicologia latino-


americana a construção de uma Psicologia popular que
canalize a libertação histórica de nossos povos contém uma
alta dose de utopia. Mas atrevo-me a dizer que se trata de uma
utopia de vida [...] que mantém, obstinadamente, a esperança
de um amanhã diferente [...]. (MARTÍN-BARÓ, 1998, p. 217).

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Diante disso, o autor apresenta dois desafios para a Psicologia Social latino-
-americana: primeiramente olhar os problemas importantes de suas sociedades,
tendo em vista que uma das “clássicas críticas” que são feitas à Psicologia, sobretudo
à Psicologia Social, é sobre a sua relevância social, que tem sido nula à significativa
resolução dos principais problemas sociais. Entretanto:

[...] o desafio para a Psicologia latino-americana não é o de tornar-


se socialmente relevante; o desafio é orientar sua influência
social potencial para o atendimento prioritário ou preferencial
dos interesses dos grupos dominados, para os problemas das
maiorias populares, para as esperanças e sonhos desses vastos
setores da população latino-americana que continuam se
debatendo com as exigências prosaicas de satisfação de suas
necessidades materiais mais básicas. A relevância social irá
se resumir a atender aqueles que ficaram marginalizados do
processo social e do bem-estar superior que, historicamente,
ofereceu a Psicologia (MARTÍN-BARÓ, 1998, p. 206).
O segundo desafio que ele coloca é sobre como se deve aplicar à ciência que
versa sobre os problemas mais importantes dos povos desses países. Isso implica em
duas questões: à da objetividade e a da sua universalidade. A objetividade refere-se
ao fato de que, por uma questão ética, os psicólogos sociais não podem deixar de
assumir posicionamentos diante de fenômenos como: o uso e abuso de drogas, o
abuso sexual infantil ou a tortura, a violência, a guerra etc. Assim, “O que se pode e se
deve existir é que tais fenômenos sejam analisados com todo o rigor e com abertura
total aos dados da realidade, isto é, a objetividade não é o mesmo que imparcialidade”
(MARTÍN-BARÓ, 1983, p. 211).

Já no que concerne à universalidade da Psicologia como ciência, o psicólogo:

[...] deve se empenhar mais em encontrar, em construir


a verdade do homem latino-americano e nisso reside o
melhor sentido da predição científica: não tanto em dizer o
que ocorrerá a partir da situação atual, mas em possibilitar
o que deve ocorrer contribuindo para tal um saber dialético.
(MARTÍN-BARÓ, 1983, p. 211).

Essa universalidade da Psicologia reside, então, na necessidade de colocá-la a


serviço das maiorias populares latino-americanas, sobretudo na reconstrução da ciên-
cia da Psicologia baseada nos interesses das angústias e esperanças históricas dessas
maiorias (MARTÍN-BARÓ, 1983).

Finalmente, a proposta da Psicologia da Libertação foi inspirada na chamada


“Teologia da Libertação”, teorização com base na fé religiosa que refletiu, estimulou

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e acompanhou as lutas das massas marginalizadas latino-americanas, visando con-


seguir emergir com “voz própria” na História contemporânea. Ela se remete então,
àquela “experiência pragmática” do povo de Israel sendo libertos da sua escravidão no
Egito, que ao marchar pelo deserto, enfrentando muitos desafios, finalmente conse-
gue chegar à terra prometida (MARTÍN-BARÓ, 1986).

3 A PSICOLOGIA COMUNITÁRIA

Segundo Fiedler (2007), a Psicologia Comunitária é a área da Psicologia cujo obje-


tivo é o estudo dos fatores psicossociais que permitem fomentar, desenvolver e manter
o poder dos indivíduos; de forma que eles possam exercer o controle sobre o seu am-
biente individual e social com o objetivo de solucionar problemas advindos da sua vida
e da vida de sua comunidade, promovendo mudanças nesse ambiente e também na
estrutura societal. A autora ainda ressalta que, pelo fato de todo conceito ser construído
em cima de uma práxis, o conceito de Psicologia Comunitária e o de Psicologia Social
Comunitária sempre sofrerão mudanças, de acordo com a evolução de suas interven-
ções e a própria evolução das teorias advindas do campo.

A Psicologia Comunitária dedica-se então em estudar, compreender e intervir


no cenário psicossocial que caracteriza uma comunidade. Ela é uma área prática que
apresenta uma diversidade de opções teóricas e intencionalidades que estruturam
seus modos de fazer. Dessa forma, a mesma apresenta um caráter histórico-crítico e
generalista, sendo um campo de trabalho que faz interlocução com movimentos so-
ciais e com outros saberes para inspirar práticas atentas à complexidade do cotidiano
(SCARPARO; GUARESCHI, 2007).

Apresenta uma metodologia dialógica, dinâmica e transformadora, sendo, por-


tanto, inconcebível uma intervenção previamente construída, sem o conhecimento
das necessidades e objetivos das comunidades. Dentre as suas principais caracterís-
ticas, destacam-se: a sua multidisciplinaridade e transdisciplinaridade; o conceber a
comunidade como construída por atores dinâmicos e interdependentes; a ênfase
de que o olhar do psicólogo se concentre nas habilidades e capacidades dos atores
sociais e não em suas carências e debilidades; apresenta orientação para a transfor-
mação social a partir da ação participativa e política e possui caráter predominante-
mente preventivo (FIEDLER, 2007).

3.1 O SURGIMENTO DA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA

De acordo com Fiedler (2007), a intervenção comunitária tem origem na Amé-


rica latina quando os profissionais das áreas das ciências humanas e sociais começa-
ram a se envolver de forma direta ou indireta com os movimentos populares que se
revoltavam contra as políticas econômicas dos governos em geral, época que surgiu a
Psicologia Sócio-Histórica. O homem passou então a ser visto como ativo, dinâmico,

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construído e construtor da sociedade, provocando o surgimento de novos campos


de atuação para o psicólogo, como por exemplo: as comunidades, a saúde pública,
os movimentos sociais, as populações oprimidas e desfavorecidas e as relações de
desigualdade social.

No ano de 1962 foi aprovada a profissão de psicólogo no Brasil, período em que


os estudantes e profissionais da área começaram a desenvolver o primeiro eixo da
aplicação social da Psicologia, denominada psicologia na comunidade.

Silveira (2012) corrobora com a autora acima, colocando que o nascimento da


Psicologia Comunitária ocorreu como resposta à insatisfação com o modelo da Psico-
logia Social que não conseguia atender às problemáticas por meio de ações efetivas,
sendo então uma disciplina que nasce da Psicologia Social para enfatizar a questão da
opressão dos povos latino-americanos, criticando, assim, o modelo da Psicologia Social
dos Estados Unidos, amplamente aplicado na América Latina. Diante disso, a Psicologia
Comunitária enfatiza a importância das práticas sociais, estabelecendo uma prática so-
cial para o psicólogo atuar em instituições com enfoque social.

Segundo Scarparo e Guareschi (2007), apesar de sua grande relevância, a ado-


ção da comunidade como local de interesse para a Psicologia é considerada tardia.
Isso porque a Psicologia Comunitária só foi denominada uma disciplina apenas em
1965, enquanto que a conceituação de comunidade como categoria de análise da
Psicologia somente foi utilizada em 1970. Até esse período, o estudo das comuni-
dades era realizado, predominantemente, pela Antropologia e pela Sociologia. Foi a
partir do momento que a Psicologia começou a dialogar com outras áreas, com o
senso comum e com os contextos sócio-históricos dos quais ela fazia parte, que as
interlocuções entre ela e comunidade se tornaram mais intensas.

É importante esclarecer que a Psicologia Comunitária nascida na América Latina


tem origens distintas da gerada nos Estados Unidos e na Europa. Nesses últimos ela é ini-
ciada fundamentalmente dos movimentos comunitários e profissionais insatisfeitos com
o modelo biomédico de compreensão da saúde mental vigente na década de 1960. Na
América Latina, ela é produzida a partir do movimento de crise e transformação da Psico-
logia Social, influenciada pelos movimentos populares e pelos problemas sociais vividos
no continente (NEPOMUCENO ET AL., 2008).

Segundo Góis (2008), a expressão “Psicologia Comunitária” é empregada na Amé-


rica latina desde 1975, com o propósito de se pensar e aplicar uma nova Psicologia So-
cial, oriunda da preocupação e do questionamento de diversos psicólogos de diferentes
países latino-americanos, sobre os parcos resultados da Psicologia Social tradicional, e o
grande déficit de melhorias e soluções que ela tem deixado diante dos graves problemas
socioeconômicos que afetam todo o continente.

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Dessa forma, motivados pelo distanciamento dessa ciência dos problemas sociais
vigentes em nossa sociedade e a constante falta de resposta para eles, nasceu um gru-
po de psicólogos sociais que começou a questioná-la na essência de seus objetivos,
em suas ideologias, intervenções e resultados; apontando a diversidade cultural, o con-
texto e a ideologia como questões que deveriam ser primordiais e centrais dentro de
uma Psicologia Social eficaz (GÓIS, 2008).

Silva (2012) fala que os psicólogos então se depararam com o desafio de desen-
volver uma atuação na qual teoria e prática fossem indissociáveis. Dessa forma, du-
rante os anos 1980 a prática na comunidade aconteceu, visando uma sistematização
teórica por meio de pesquisas a respeito do comportamento político das comunida-
des. Ela buscava por meio das suas várias formas de intervenção transformar a vida
das populações desfavorecidas dos países latino-americanos. Já no Brasil, a mesma
ganhou adeptos desde o período da ditadura, época em que a prática de uma psico-
logia transformadora era impossível nas universidades e nas instituições em geral e os
psicólogos sociais se voltaram para as comunidades.

No Brasil, a psicóloga social Silvia Lane atentou para a necessidade de os psicó-


logos voltarem sua atenção para a realidade de seus países, trabalhando em prol da
transformação, na direção de uma sociedade mais justa. Lane afirmou, também, que
a Psicologia Comunitária resulta da conscientização de que a Psicologia na América
Latina deve assumir um papel de destaque na transformação social, em busca de
uma Psicologia Social capaz de contribuir com os graves problemas do continente.
Para alcançar isso ela estreitou seu relacionamento com psicólogos sociais latino-
-americanos, atuantes da Psicologia da Libertação, cujo nome mais representativo foi
Martín-Baró (SILVA, 2012).

Na opinião de Silvia Lane, a Psicologia Comunitária foi um dos avanços da Psi-


cologia Social na América Latina e os primeiros trabalhos comunitários realizados no
Brasil, confundiram-se com os movimentos de resistência e também de militância
política. Lane conheceu Martín-Baró em 1986 e ambos afirmavam que a Psicologia
Social deveria ser um instrumento de transformação social e este último realizava a
superação das contradições existentes dentro da Psicologia, deixando clara a neces-
sidade da atuação na comunidade (SILVA, 2012).

Dessa forma, a prática na comunidade tinha como objetivo a prevenção da


saúde mental da população e a educação conscientizadora com um forte caráter
político-ideológico de transformação e em muitos casos, de revolução social. Então,
a Psicologia Comunitária surge a partir da busca da legitimação de uma psicologia
menos elitizada e mais voltada aos problemas sociais, vendo nas comunidades uma
população que precisa ser atendida e assistida pelo Estado em suas necessidades e
carências. Desta forma, os primeiros psicólogos comunitários a tratar da intervenção
comunitária tinham a comunidade como local de intervenção e não como objeto

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de estudo; entretanto, eles não deixaram de denunciar a situação conflituosa vivida


pelos grupos que conviviam com a falta de direitos sociais, como saúde, educação e
informações (FIEDLER, 2007).

Nepomuceno e outros autores (2008) acrescentam que o paradigma emergen-


te da crise da Psicologia Social, entre outros, caracteriza-se pelo reconhecimento do
caráter ativo dos sujeitos como produtores da história e a necessidade de incluir no
estudo psicológico o ponto de vista dos oprimidos, fomentando a autonomia e a
emancipação social desses indivíduos. Como produto dos movimentos de mudança
de paradigma cientifico-profissional e pela forte demanda de mudança social, come-
ça a se desenvolver uma Psicologia Comunitária como práxis de libertação.

Diante da problemática apresentada, o presente artigo tem como objetivo pro-


por uma nova prática de atuação para o psicólogo comunitário brasileiro a partir da
Psicologia da Libertação de Ignácio Martín-Baró.

4 O PSICÓLOGO COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Viecheneski (2014) afirma que a profissão de psicólogo firmou-se inicial-


mente numa prática elitista e focada no atendimento clinico e individual. Porém,
com o passar do tempo esse profissional foi deslumbrando novas formas de
atuação e foi se enquadrando no universo das políticas públicas de assistência
social, começando a oferecer o seu serviço às camadas menos favorecidas da
população. Assim, a prática psicológica na comunidade tem o objetivo de ten-
tar transformar e modificar as condições de vida da população, propiciando o
surgimento da Psicologia comunitária como área de atuação e produção do
conhecimento.

Dessa forma, pensar na perspectiva comunitária implica em realizar uma interven-


ção que origine a inclusão social, o empoderamento, o fortalecimento de vínculos, a
mobilização da comunidade, a construção de sentidos e projetos de vida por meio de
intervenções psicossociais que reflitam o grupo e sua organização. Entretanto, experiên-
cias práticas mostram que não é nada fácil desvincular a imagem do psicólogo tradicional
com as demandas de trabalho das áreas da assistência social, áreas que inclusive, ainda,
são estranhas a Psicologia (VIECHENESKI, 2014).

De acordo com Nepomuceno e outros autores (2008), a contribuição da Psi-


cologia da Libertação para o desenvolvimento da Psicologia Comunitária é, sobre-
tudo, apontar para a necessidade de se desenvolver uma prática transformadora da
sociedade, apta a lutar em oposição às relações de opressão, servilismo e violência
fundamentadas no capitalismo, e auxiliar ainda no fortalecimento de uma perspec-
tiva de construção cientifica que considere os processos subjetivos do sujeito e sua
capacidade de agir na realidade histórico-cultural. Para isso é preciso que se busque

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combater práticas alienadas e descontextualizadas, construídas a partir de subsídios


teóricos importados acriticamente de realidades diferentes da nossa.

Martín-Baró (1986) propõe que essa nova perspectiva venha “de baixo”, ou seja,
das próprias maiorias oprimidas, sugerindo a visão dos processos psicossociais a par-
tir da vertente do dominado, ao invés de enxergá-lo da vertente do dominador:

[...] Como se vê a saúde mental a partir do colono da fazenda,


a maturidade pessoal a partir do habitante de um barraco, a
motivação a partir da senhora em um mercado? Observem que
se diz ‘a partir’ do analfabeto, do desempregado, do colono, da
senhora e não ‘para’ eles. Não se trata de pensarmos por eles,
de lhes transmitir nossos esquemas ou de resolver os seus
problemas; mas trata-se de pensarmos e teorizarmos com eles e
a partir deles [...]. (MARTÍN-BARÓ, 1986, p. 192).

Além disso, na opinião dele o psicólogo, de uma forma geral, tem tentado inse-
rir-se nos processos sociais por meio do que ele chamou de “instâncias de controle”.
Isso corroborou para que a pretendida assepsia científica se tornasse na prática uma
aceitação da perspectiva de quem tem o poder e um atuar tomando como base
quem domina. No que se refere à atuação do psicólogo comunitário ele denuncia:

[...] como psicólogos comunitários temos chegado, com


frequência, nas comunidades, montados no carro de nossos
esquemas e projetos, de nosso saber, e de nosso dinheiro.
Não é fácil deixar nosso papel de superioridade profissional ou
tecnocrática e trabalhar lado a lado com os grupos populares.
Mas se não embarcarmos nesse novo tipo de práxis, que além de
transformar a realidade transforma a nós mesmos, dificilmente
conseguiremos desenvolver uma Psicologia que contribua para
a libertação de nossos povos. (MARTÍN-BARÓ, 1986, p. 194).

Ele então propõe uma nova forma de atuação para o psicólogo, ou seja, uma
intervenção em conjunto com a comunidade, que deve participar ativamente com
esse profissional na tentativa de solucionar um determinado problema enfrentado
por determinada comunidade, a fim de possibilitar a libertação desse público, por
meio da ruptura das cadeias de alienação social e das cadeias de opressão social.
Nesse processo, a verdade dessas maiorias não deve ser encontrada, mas sim cons-
truída. Para que isso aconteça, o psicólogo precisará, portanto, modificar a sua práxis
(MARTÍN-BARÓ, 1986).

O psicólogo comunitário vai então atuar e compreender os processos psíquicos


resultantes da vida em comunidade, primeiramente, levantando as necessidades da co-

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munidade para posteriormente tentar mudanças sociais por meio do desenvolvimento


da consciência grupal, sempre considerando a população como sujeitos históricos que
são (VIECHENESCHI, 2014).

Corroborando com a autora acima, Freitas (1998) propõe que o psicólogo, ao


realizar uma intervenção em uma comunidade, deve inicialmente se orientar pela
necessidade de serem detectadas, conhecidas e mapeadas as demandas, dificuldades
e problemas vividos pela população para então, posteriormente, serem levantados os
objetivos para o trabalho de intervenção. Logo, é um modo de atuação com objetivos
estabelecidos a posteriori. Nesse processo, existirá inicialmente a incerteza sobre o
“quê” e “como” fazer e o desconhecimento sobre as necessidades e a vida da popu-
lação estarão presentes. Porém, à medida que essas informações vão sendo obtidas,
vão sendo delimitados os aspectos e fenômenos como temáticas possíveis para o
desenvolvimento do trabalho de intervenção.

Também, irá selecionar ou construir instrumentais para efetivar sua ação. Des-
sa forma, os objetivos são delimitados dentro de um processo decisório participativo,
onde tanto o psicólogo como a própria comunidade e seus respectivos representantes
irão estabelecer relações horizontais de discussão, análise e definição sobre elas. Assim,
o modo de intervenção a posteriori, confere autonomia à comunidade para a solução
de problemas e uma parceria para a elaboração de um serviço eficaz, proposta de in-
tervenção que consiste numa aplicação da Psicologia da Libertação (FREITAS, 1998).

É importante ressaltar que um dos princípios fundamentais da Psicologia Comu-


nitária é a união entre teoria e prática, já que a principal característica dessa forma de
atuação é a perspectiva metodológica participativa. Isso possibilita que ela delimite seu
campo de competência na luta contra a exclusão de qualquer natureza e no empode-
ramento social, possibilitando à comunidade ter “voz” e “vez” (VIECHENESKI, 2014).

Em diálogo com a Psicologia da Libertação, a Psicologia Comunitária trata de


fenômenos psicossociais produzidos em relação a processos comunitários, levando
em conta o contexto cultural e social em que ocorrem, tendo uma orientação para
mudança social dirigida ao desenvolvimento comunitário a partir de uma dupla mo-
tivação: comunitária e cientifica. Ao discutir a relevância da Psicologia da Libertação
para o desenvolvimento da Psicologia Comunitária se faz necessário considerar a
importância de fortalecer uma prática transformadora da sociedade, disposta a lutar
contra as relações de opressão estruturadas no modo de produção capitalista (NEPO-
MUCENO ET AL., 2008).

Para Nepomuceno e outros autores (2008), é fundamental que se busque


desenvolver trabalhos capazes de contribuir para a construção de sujeitos crí-
ticos, que promovam a transformação das condições de miséria econômica e
opressão política, caminhando para a construção de uma política que revo-

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lucione as dimensões micro e macrossocial. Como consequência dos movi-


mentos de mudança de paradigma cientifico-profissional e pela forte demanda
de mudança social, a Psicologia Comunitária começa a se desenvolver como
prática de libertação.

Viecheneski (2014) destaca as características que devem fazer parte do perfil


de um psicólogo comunitário, são elas: sensibilidade geral e sentido de justiça;
aceitação da diversidade do outro; estar sempre aberto para a aprendizagem, sem
desprezar o conhecimento proveniente de lugares, pessoas e situações que estão
fora dos chamados “centros de saber”; colocando o seu conhecimento a serviço
das transformações que forem necessárias e almejadas pelos indivíduos com os
quais se vai trabalhar.

Ao mesmo tempo em que o Brasil é um país rico com um grande parque indus-
trial e com um avanço científico tecnológico; é também um país onde o desrespeito
à vida e a dignidade humana são práticas comuns. Por exemplo, morrem crianças e
adolescentes assassinados, presos são torturados em cárceres degradantes, mulhe-
res e meninas se prostituindo por um prato de comida. As injustiças sociais no Brasil
são inúmeras e há muito a se fazer, uma vez que o problema da exclusão social vem
de um passado com longa história. O reflexo disso é que a situação da maioria dos
brasileiros – sejam eles oriundos do campo ou da cidade – é de miséria e injustiça
(SILVEIRA, 2012).

Silveira (2012) justifica que, diante da realidade sócio-histórica brasileira existe a


necessidade de uma mudança social a partir da libertação da Psicologia Comunitária
no Brasil. Em sua opinião a atuação do psicólogo na comunidade deve seguir a Psico-
logia da Libertação proposta por Martín-Baró, posicionando-se na busca de respostas
aos graves problemas de injustiça social e desigualdades sociais, situando sua prática a
partir das circunstâncias concretas dos povos latino-americanos. Assim, a atuação do
psicólogo comunitário no Brasil deve se inspirar no objetivo de construir uma Psicolo-
gia capaz de ajudar a comunidade a compreender a realidade e poder se libertar dos
condicionamentos que a estrutura social impõe aos brasileiros.

A Psicologia Comunitária, influenciada pela Psicologia da libertação, está vol-


tada para o desenvolvimento humano e a mudança sociopolítica de uma realidade
psicossocial marcada por relações de dominação e de exclusão social, denominada
por Martín-Baró de “Cultura da Pobreza”. Dessa forma, é possível atuar no contexto
de vida de uma comunidade pobre vivendo e buscando conhecer a criticamente
sua realidade, fortalecendo e criando relações culturais, sociais, econômicas e psi-
cológicas saudáveis; além de facilitar o esforço de organização da população e de
sua luta contra a opressão e exploração, tentando possibilitar a sua libertação (SIL-
VEIRA, 2012).

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, com a elaboração de sua Psicologia da Libertação, Martín-Baró pre-


tendia realizar uma psicologia crítica, partindo da realidade social vivenciada pelos
povos latino-americanos para depois construir um conhecimento teórico relevante.
Sua proposta vai além da convencional constatação e interpretação dos fatos, obje-
tivando libertar o ser humano da alienação produzida por uma minoria dominante,
atribuindo-lhe autonomia e senso crítico para transformar a sua realidade social, onde
o psicólogo social tem um importante papel mediador. Sua psicologia influenciou a
Psicologia Comunitária no Brasil.

A Psicologia Comunitária surge a partir da busca da legitimação de uma


Psicologia menos elitizada e mais voltada aos problemas sociais. A contribuição
da Psicologia da Libertação para o desenvolvimento da Psicologia Comunitária é
apontar para a necessidade de se desenvolver uma prática, propondo a visão dos
processos psicossociais a partir da vertente do dominado, ao invés de enxergá-lo
da vertente do dominador.

Martín-Baró propõe, ainda, uma intervenção em conjunto com a comunidade, que


deve participar ativamente nesse processo. O psicólogo comunitário vai então atuar pri-
meiramente levantando as necessidades da comunidade (método de intervenção a pos-
teriori) para depois tentar mudanças sociais por meio do desenvolvimento da consciência
grupal. Além disso, fortalece uma prática transformadora da sociedade, disposta a lutar con-
tra as relações de opressão estruturadas do capitalismo.

Diante da realidade sócio-histórica brasileira existe a necessidade de uma mu-


dança social a partir da libertação da Psicologia Comunitária. Assim, a atuação do
psicólogo comunitário no Brasil pode se inspirar na proposta de Martín-Baró no ob-
jetivo de construir uma Psicologia capaz de ajudar a comunidade a compreender a
realidade e poder se libertar dos condicionamentos que a estrutura social impõe a
esses indivíduos.

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Data do recebimento: 23 de Fervereiro de 2015


Data da avaliação: 23 de Fervereiro de 2015
Data de aceite: 24 de Fervereiro de 2015

1 Graduando do curso de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes – UNIT.


E-mail: [email protected]
2 Graduando do curso de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes – UNIT. E-mail: dion_livros@
hotmail.com
3 Graduanda do curso de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes – UNIT. E-mail: marianalemosbr@
gmail.com
4 Graduanda do curso de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes – UNIT. E-mail: sonia_crispim1@
hotmail.com
5 Psicóloga e docente do curso de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes – UNIT.
E-mail: [email protected]

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