Estágio: Considerações Sobre A Teoria e A Prática Na Formação de Licenciatura em Educação Física

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ESTÁGIO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A TEORIA E A PRÁTICA

NA FORMAÇÃO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Autor: Christian Giovanny Barrios Amarilha


Prof. Orientadora: Maria de Jesus E. Nimer Gatto
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Educação Física (LEF 0014)
12/11/2017

RESUMO

Esta pesquisa visa apontar reflexões sobre a teoria e a prática de sala de aula dentro do contexto
de estágios supervisionados. A importância dessa prática na construção da formação acadêmica
docente, suas ações, orientações, análise da atividade exigida nos cursos de licenciatura e é um
excerto do trabalho de conclusão do curso de Licenciatura em Educação Física. Nos últimos anos,
no Estágio Supervisionado, ocorre a oportunidade do acadêmico de colocar na prática o que
compreenderam teoricamente. Debatemos a partir de um olhar crítico sobre a ação do acadêmico
enquanto observador e aprendiz, na busca de compreender a realidade das escolas, dos alunos,
das práticas pedagógicas, das metodologias e recursos escolhidos, uma construção de formação
pessoal e profissional com ênfase no comprometimento social de ser um professor.

Palavras-chave. Estágio. Teoria. Prática.

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa visa discorrer de maneira reflexiva considerações entre a teoria e a


prática nos estágios supervisionados realizados enquanto componente curricular nos cursos de
licenciatura. Analisar as experiências próprias de vivências do curso de Educação Física. O presente
artigo, portanto, tem como objetivo de estudo abordar a importância do “estágio”, seja o estágio
supervisionado ou estágio sob forma de atividades práticas e suas interações. A pesquisa relata
apontamentos teóricos frente o tema exemplificando o papel do acadêmico na sua formação de
professor, seus medos, buscas, orientações, pesquisas, ações que fazem parte de todo o contexto
educacional e de formação de educadores. O Estágio Curricular Supervisionado, indispensável na
formação de docentes nos cursos de licenciatura é um processo de ensino aprendizagem necessário
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a um bom profissional. No Decreto no 87.497, de 18 de agosto de 1982, regulamentado pela Lei nº


6.494, de 07 de dezembro de 1977, dispõe sobre o estágio de estudantes de estabelecimentos de
ensino superior e de ensino médio regular - antigo 2º grau e supletivo considera segundo esse
decreto, no art. 2º:

Considera-se estágio curricular [...] as atividades de aprendizagem social, profissional e


cultural, proporcionadas ao estudante pela participação em situações reais de vida e
trabalho de seu meio, sendo realizadas na comunidade em geral ou junto a pessoas jurídicas
de direito público ou privado, sob responsabilidade e coordenação da instituição de ensino.

Acerca da definição de estágio e sua importância, Machado (2003. p.23) afirma que:

Estágio é o conjunto das atividades curriculares promovidas pelos diversos cursos de


graduação, em colaboração com instituições diversas, sob situações programadas, visando a
propiciar aos discentes um complemento em sua formação profissional, previsto pelo
Conselho Federal de Educação.

Reconhecer a teoria e a prática como aliadas na formação docente e analisar os estágios


supervisionados como momentos de aprendizagem, reflexão e análise, buscando entender as
instituições de ensino, os alunos, os professores, a realidade e as possibilidades de se realizar uma
proposta coerente de ensino, de transformação social, cultural e educacional. A aprendizagem se
constrói à medida que as experiências vivenciadas nos estágios sejam discutidas e teorizadas num
momento destinado a essa finalidade no interior do curso de formação inicial. O período de
formação, em qualquer curso de formação, é um período marcante e que permanecerá marcado
durante cada momento da realização do trabalho de cada profissional. O tradicional estágio se
configura como uma possibilidade de fazer uma relação entre teoria e prática através de pesquisas
na legislação e literaturas existentes, nesse sentido da importância da pesquisa, Pádua afirma:

[...] toda pesquisa tem uma intencionalidade, que é a de elaborar conhecimentos que
possibilitem compreender e transformar a realidade; como atividade, está inserida em
determinado contexto histórico sociológico, estando, portanto, ligada a todo um conjunto de
valores, ideologia, concepções de homem e de mundo que constituem este contexto e que
fazem parte também daquele que exerce esta atividade, ou seja, o pesquisador” (PÁDUA,
1996, p.30, apud MILANESI,2004, p.16).

A formação docente é uma questão essencial a ser tratada, é necessário compreender a formação
docente como um processo envolto de complexidade. Não podemos deixar de olhar a subjetividade
do professor como um sujeito com seus conhecimentos e suas limitações no processo de
crescimento profissional. Os professores desempenham a articulação entre a teoria e a prática,
buscando relacionar componentes teóricos com as ocasiões da realidade vivida. Freire (1996) nos
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propõe a temática da formação docente junto com a análise da prática educativo-progressista em


prol da autonomia do ser educando, enfatizando os saberes essenciais desenvolvidos pelos
educadores. Diante de um discurso da prática educacional crítica, o autor nos faz refletir acerca das
tarefas quando afirma, que “uma das tarefas mais importantes da prática educativo-critica é
propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o
professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se.” E destaca a importância
de “Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador,
criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar”.

Nesse sentido, a formação docente necessita ter o seu trabalho direcionado para constantes
observações. Dessa forma, a identidade docente deve ser construída, girando em torno de elementos
constituintes da base formativa dos futuros profissionais professores. O educador, efetivamente nas
suas experiências da docência torna-se uma tarefa árdua, partindo do pressuposto que existem
vários desafios a serem enfrentados ao longo da sua carreira profissional. Em consonância deve ser
lançado um olhar de valorização ao professor-estudante, pois esta categoria é representante de uma
parcela de contribuições na busca por uma sociedade justa. A prática que será obtida através das
experiências vivenciadas no estágio supervisionado é de fundamental importância, pois o
graduando, inserido em um ambiente relevante a sua futura atuação. A cerca da importância Silva
destaca:

Os cursos superiores, além de buscar a formação de cidadãos com competência para


intervir no espaço social, pretendem preparar os alunos para o mercado de trabalho. Tal fato
evidencia a necessidade de que os alunos de cursos superiores tenham oportunidades
concretas de evidenciar o exercício da profissão que escolheram, sendo o Estágio
Supervisionado um momento fundamental para o cumprimento desta finalidade (SILVA,
2011, p. 35).

2 ESTÁGIO É LEI

Antes de iniciarmos acerca das dificuldades da realização do estágio, esclareceremos o


estágio sob a ótica da legislação brasileira. Necessitamos entender nesse artigo para fazermos uma
conexão da importância do estágio na vida do acadêmico que, não se trata apenas de uma fase dos
cursos de licenciatura. Sobretudo, estagiar é tão necessário que está respaldado por Lei. Falaremos
de forma breve e resumida acerca da legislação que é rica e muito ampla, pois ao longo dos anos o
estágio percorre uma trajetória buscando valorizar o seu objetivo principal: o estudante. Ao longo
da história da sociedade em geral e a brasileira não difere, percebe-se que um dos fatores de dis-
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tinção das classes sociais está relacionado ao nível de instrução do indivíduo. Em consonância o
estágio amplia essas expectativas. Não é por acaso o estágio está presente nos cursos de licenciatura
no Brasil desde 1930. Pimenta (2010) delineia a configuração desta prática na legislação das
Unidades Federativas do país a partir da década desta, enfatizando a terminologia utilizada e a
forma como a prática estava estruturada.

A formação era em 5 anos, dos quais 3 preparatórios e 2 profissionais, onde se realizava “a


prática profissional sob forma de regência, aulas-modelo, preparação e crítica de planos de
aula, trabalhos de administração escolar” [...]. E como disciplina havia “Didática e
Metodologia Geral e Especial” (Pimenta, 2010, p. 24)

Observamos que a prática do estágio estava intimamente ligada a questão tecnicista vigente
à época. Nesse sentido, considera-se que o estágio, neste contexto, era visto como um espaço de
treinamento para a atuação profissional, não contemplando função educacional na sua integridade,
essa forma de conceber o estágio, além de não valorizar a formação intelectual do professor, o
transformava em um mero repetidor de atitudes e hábitos impedindo-o de analisar criticamente a
realidade. Vemos então que a legislação no Brasil começa em suma na década de 40 do século
passado, com a conhecida - Lei Orgânica do Ensino Industrial, com os cursos para formação
profissional, essa fase expressa o momento em que o país vivia de escassez de mão de obra de
trabalho. Anos mais tarde tivemos a Portaria nº 1.002/67 do Ministério do Trabalho sancionada pelo
ministro Jarbas Passarinho, disciplinando a relação entre as empresas e os estagiários contemplando
os direitos e as obrigações dos estagiários e das empresas.

No início da década de 70 O Decreto nº 66.546/70 instituiu o Projeto Integração mais


voltado principalmente para áreas prioritárias para o país como: engenharia, tecnologia, economia e
administração. No ano subsequente em 1971 o estágio ganha respaldo nas Diretrizes e Bases com a
Lei Federal nº 5.692/71 que possibilitou condição de estágio para o ensino de 1º e 2º contudo ainda
não previa vinculo empregatícia, o que precarizava a função de estagiário. Em artigo 6º afirma “O
estágio não acarretará para as empresas nenhum vínculo de emprego, mesmo que se remunere o
aluno estagiário, e suas obrigações serão apenas as especificadas no convênio feito com o
estabelecimento”. Em 1972 o governo instituiu a Bolsa de Trabalho através do Decreto nº 69.927
de 18 de janeiro. Ainda na década de 70, no ano de 1975 o Decreto nº 75.778, de 26 de maio de
1975 definia o estágio de estudantes do ensino superior e profissionalizante de 2º Grau no serviço
público federal. Em dezembro de 1977, foi regulada a Lei A Lei 6.494, e quatro anos mais tarde
ocorrem mudanças na regulamentação pelo Decreto nº 87.497, em 18 de agosto de 1982, essa Lei
apontava a responsabilidade da instituição de ensino na aprendizagem do estagiário, ou seja, a
universidade:
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Art. 3º O estágio curricular, como procedimento didático pedagógico, é atividade de


competência da instituição de ensino a quem cabe a decisão sobre a matéria, e dele
participam pessoas jurídicas de direito público e privado, oferecendo oportunidade e
campos de estágio, outras formas de ajuda, e colaborando no processo educativo. (BRASIL,
1982 - grifo nosso)

E, somente em 1994, com a Lei nº 8.859 que incluía estudantes com deficiências nos
estágios. Nos anos 2000, entra em vigor a Medida Provisória nº 1.952-24 permitia aos alunos do
ensino médio não profissionalizantes a realizarem estágio. Encerra-se nesse ciclo (pelo menos até
agora), a busca por incessantes tentativas de mudar a forma como o estagiário era visto: como uma
mão de obra barata, o que de certa forma precarizava a função de estagiário. Inicia-se uma mudança
na legislação com a Lei sancionada em 25 de setembro de 2008, número 11.788 assinado pelo então
presidente da República Luís Inácio Lula da Silva. Foi encaminhada como projeto de Lei 2006 e
aprovado pela Câmara dos Deputados e Câmara do senado, foi sancionada apenas em 2008 após
passar por alterações. Como é conhecida a Lei do Estágio traz em sua definição e deixa claro as
definições de estágio obrigatório, que é requisito para aprovação e obtenção de diploma. Também
deixa claro que o Termo de compromisso deve ser assinado, o que torna o estágio formal e dá um
olhar de responsabilidade entre as partes (acadêmico, instituição e escola). Em seu artigo 16º “O
termo de compromisso deverá ser firmado pelo estagiário ou com seu representante ou assistente
legal e pelos representantes legais da parte concedente e da instituição de ensino”.

Contudo, muito ainda tem que ser melhorado para restaurar a imagem de precarização do
estagiário, na legislação vigente ainda não tem previsão de vínculo empregatício, entretanto prevê
vagas para estudantes com deficiência de 10% das vagas.

2.1 DE FRENTE COM A REALIDADE DO ESTÁGIO

Após discorrermos de forma breve e sucinta a respeito da legislação, vamos demonstrar as


dificuldades de realização do estágio. Uma das escolhas mais comuns na hora de realizar o estágio é
escolher uma escola mais próxima de casa, até mesmo para diminuir os custos com transporte, aliar
a maximização do tempo, e talvez o mais importante para o acadêmico: geralmente ele já estudou
nessas escolas nos anos iniciais, conhece parte da equipe docente, o que pode no futuro lhe render
uma vaga como profissional no futuro. O que não ocorre muitas vez, a realidade das escolas é
diferente do imaginado, buscamos facilitar o nosso trabalho, entretanto pode não ser a melhor
escolha. A primeira escola que busquei estágio, cumpria essa relação de proximidade, entretanto era
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um cenário desanimador frente as minhas expectativas, e me fez refletir se deveria permanecer na


docência, de qualquer forma, troquei experiências com os demais colegas que compartilharam de
suas vivencias, essa socialização das experiências vivenciada no estágio, para mim foi considerada
um momento muito importante no desenvolvimento e prosseguimento das minhas atividades in
loco.

Muitas escolas eram diferentes daquela em que eu estagiei, eram ambientes bem favoráveis
para o desenvolvimento das aulas de Educação Física, até mesmo pela gestão da escola, o que me
levou a uma maior reflexão sobre as escolhas feitas. Ou seja, escolher bem o local de estágio é uma
questão a ser repensada. Nem sempre a melhor oportunidade, ou o melhor local para se
desempenhar o seu estágio está próximo da sua casa. Uma outra dificuldade enfrentada, é a
diferença entre as escolas públicas e privadas em relação aos espaços físicos, as escolas privadas
tem em boa parte um local apropriado, e de certo modo privilegiado, com pátios, quadras cobertas,
parque com brinquedos, bolas, redes, e demais utilitários como apito por exemplo, um quadro
totalmente diferente das escolas públicas, que, em geral tem suas quadras e boa parte não tem
cobertura para proteger as crianças do sol e chuva, tem uma ou outra bola, que é a mesma situação
das redes, parque é uma realidade distante das escolas públicas. Obviamente que é sabido que as
escolas públicas não contam com os investimentos que as particulares tem, e que muitas são as
necessidades das escolas públicas. Atividades complementares também não são possíveis em boa
parte das vezes, (a menos que o professor, ou estagiário leve o material), pois há falta de material,
há escolas que nem sempre possuem tintas, folhas, cartolinas, enfim materiais para que uma
atividade complementar com os alunos seja desenvolvida, observei casos em que não havia tinta
para poder imprimir as provas dos alunos, o que não é uma atividade complementar e sim uma
necessidade absoluta. No estágio aprendemos a observar as situações e aprendermos com elas,
como afirma Lima (2001, p. 67), “a prática pela prática e o emprego de técnicas sem a devida
reflexão pode reforçar a ilusão de que há uma prática sem teoria”. Desse modo, como aluno-
professor nos deparamos com as adversidades e vamos aprendendo a trabalhar com elas, pois
muitas vezes a realidade choca o estagiário, no tocante que a escola não é aquilo que imaginamos
encontrar. Para Ranghetti e Gesser (2004. P. 311), “o sujeito em formação aprende também na
prática, ou seja, aprende pela ação pedagógica em que exige momentos circunstais de
reelaboração que lhe possibilitam aprender pelo fazer dos professores em ação, no seu futuro
espaço de profissão”.

As salas de aula na rede pública tem muitas crianças, que não param um só minuto,
interagem o tempo inteiro entre si, que correm pela sala, que brigam e que brincam e boa parte das
vezes tem em suas mãos o telefone celular e pouco se interessam em se envolver nas aulas de
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Educação Física. Ou seja, uma realidade degradante, totalmente diferente daquele que imaginas
para ministrar nossas aulas. Eles tem necessidades diferentes da pedagógica, eles tem fome, as
vezes alguma doença, necessidades especiais, alguns sofrem ou já sofreram algum tipo de abuso por
parte daqueles que são responsáveis por protege-los, é uma lamentável realidade que muitas vezes
não podemos mudar, ou que a nossa atitude pode mudar a vida daquela criança/adolescente, em sua
maioria eles não tem a quem recorrer para pedir ajuda, e a escola é o seu refúgio e seu lugar seguro,
onde ela pode se libertar do seu “cárcere”. Nesse sentido Saviani (1995, p. 12), nos traz uma
reflexão:

Em outros termos, se os animais em geral se adaptam a natureza, o homem tem que fazer o
contrário, ele tem que adaptar a natureza a si, ele tem que agir sobre a natureza
transformando-a, se ele não fizer isso ele perece, [ou seja,] ele não subsiste enquanto
homem e este ato de transformar a natureza é exatamente o que se conhece pelo nome de
trabalho.

Contudo, afirmo que é uma realidade distinta uma vez que “à formação docente faz-se pelo
trabalho de reflexão crítica sobre a prática pedagógica, a realidade, a fundamentação teórica
estudada, bem como pela reconstrução permanente da identidade pessoal e profissional” (LIMA,
2001, p. 58).

Uma grande dificuldade, com toda certeza por parte dos estagiários é a insegurança. Como
afirma Pimenta (2001), uma vez que os alunos, por não fazerem parte, integralmente, da realidade
da qual se aproximam, também permanecem ali por um período de tempo limitado, sem conquistar
um espaço considerável de autonomia. O medo de não se sentirem preparados para atuarem como
professores, e nem sempre sabem como agir diante dos problemas, as vezes problemas até simples,
porém a falta de experiência nos coloca frente ao aluno e não temos uma solução, aluno esse que
cada vez mais está bem informado (quando digo bem informado não está relacionado a qualidade
das informações, e sim a quantidade de informações, devido ao acesso à internet o que possibilita
aos alunos estarem por dentro das informações), e questionador. Sabemos que esta situação muda
diminui com a prática do estágio. Essa observação da realidade preparada favorece a construção de
aprendizagens por parte dos futuros professores, uma vez que “o conhecimento não se adquire
‘olhando’, ‘contemplando’, ‘ficando ali diante do objeto’; exige que se instrumentalize o olhar com
as teorias, estudos”. (PIMENTA, 2001, p. 120). O que nos remete a constante reflexão.

Outra dificuldade encontrada refere-se à questão da relação entre o professor regente e aluno
estagiário, pois a princípio deve se pautar pelo respeito mútuo, uma relação de troca de
experiências, e de cooperação. No entanto, muitos professores regentes veem o acadêmico como
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alguém que atrapalha o desempenho de suas atividades e não gostam de compartilhar suas
experiências tornando o ambiente de estágio hostil e intimidador. Pimenta e Lima (2008), declaram
que, o aprendizado de qualquer profissão é prático, que esse conhecimento ocorre a partir de
observação, reprodução, onde o futuro educador irá repetir aquilo que ele avalia como bom, é um
processo de escolhas, de adequação, de acrescentar ou retirar, dependendo do contexto nas qual se
encontra e, é nesse caso que as experiências e conhecimentos adquiridos facilitam as decisões.
Outra questão é a organização das escolas para receberem o aluno-estagiário, há uma dificuldade
em direcionar o acadêmico para desenvolver suas práticas, nota-se que ainda há muito que melhorar
nesse aspecto. A prática docente é uma atividade indispensável na construção de saberes e
construção de percepções que num futuro próximo colocará na pratica de fato. O estágio para nós
educadores aponta uma mistura de reflexões e experiências, vivenciando os desafios estruturais,
pedagógicos, afetivos, dentre outros, para o exercício pedagógico quanto ao ensino e aprendizagem
de objetos de conhecimento e de ensino. Um outro aspecto observado foi a questão da
interdisciplinaridade, sabemos que trabalhar a interdisciplinar é um ponto positivo a ser considerado
para trabalhar com as crianças e adolescentes, principalmente quando se trata dos Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCNs, que são referências para os Ensinos Fundamental e Médio, e foram
elaborados pelo Governo Federal com o objetivo de auxiliar as equipes escolares na execução de
seus trabalhos. Os PCNs abordam temas como: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Orientação Sexual,
Trabalho e Consumo e Pluralidade Cultural.

Contudo, minha dificuldade não foi relativa sob essa ótica e sim, da maneira como gestores
das escolas abordam e até confundem esse trabalho que tem que ser tão bem articulado que é a
interdisciplinaridade. Gestores abordam professores (notei que foram abordados os professores das
disciplinas de Artes e Educação Física), de forma autoritária e até mesmo arbitrária, com intuito que
“largassem” suas atividades desenvolvidas naquele momento com os alunos e se voltassem para
uma temática específica trabalhada pela disciplina de matemática. Entendam que não é uma crítica
em relação a disciplina de matemática ou mesmo sobre trabalhar em conjunto com qualquer que
seja o tema, ou disciplina. Compreendo que o trabalho feito em equipe tem mais eficácia. Contudo,
minha dificuldade em compreender essa questão, se dá na maneira de abordar os professores, na
forma desorganizada, sem qualquer prévia de que esse trabalho precisa ser realizado. Indicando
uma imposição, sem dialogo, sem considerar o trabalho desempenhado pelos professores em sala de
aula, chegando no meu ponto de vista a desvalorizar o trabalho destes professores.

No entanto, não é produtivo apontar apenas os pontos negativos, pois com eles também se
aprende e conhecimento nunca é demais. Afinal, compreendemos que o estágio supervisionado é
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um espaço para promover novos debates referentes ao processo de ensino-aprendizagem e todavia


de melhora-lo.

3 ESTÁGIO E FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES

Pensar sobre a formação de professores para a educação básica é um ponto muito importante
de reflexão. Pois, pode ser entendido como um tempo dedicado aos estudos práticos, em que se
prepara o sujeito para uma próxima etapa (PIMENTA, 2010). Acerca da definição do que é estagio
Pimenta (2010), define:

As atividades que os alunos deverão realizar durante o seu curso de formação, junto ao
campo futuro de trabalho [...] Por isso costuma-se denomina-lo a “parte mais prática” do
curso, em contraposição às demais disciplinas consideradas como a “parte mais teórica”.
(PIMENTA, 2010, p. 21).

Em relação à conceituação do estágio, Pimenta e Lima (2010) apontam que seu


desenvolvimento deve se basear em uma “atitude investigativa, que envolve a reflexão e a
intervenção na vida da escola, dos professores, dos alunos e da sociedade” (PIMENTA; LIMA,
2010, p. 34). A autora considera que o estágio é apenas um ponto de partida para a
profissionalização docente, em que o aluno precisa conhecer a realidade escolar brasileira. É
importante que se discuta o estágio supervisionado não apenas como um espaço dedicado a prática,
mas também como espaço de formação que permita ao aluno-professor o desenvolvimento de
habilidades necessárias à prática docente. Essa reflexão nos encaminha para uma urgente
necessidade de ampliar o campo de compreensão do estágio para outros lugares nos cursos de
formação de professores, na produção de saberes para ensinar e, ainda, à reflexão sobre a atividade
docente como agente social.

O estágio ajuda o estudante a construir suas competências específicas, bem como o habitus
professoral (SILVA, 2005). Neste itinerário pedagógico não se pode deixar de observar que há
também a perspectiva desse estudante conservar o habitus de aluno (histerese), relutando na
passagem para professor na assunção de uma nova posição. Para Pimenta; Gonçalves (1992), o
estágio pode ser compreendido como um espaço de formação que possibilita ao acadêmico uma
aproximação à realidade em que será desenvolvida a sua futura prática profissional, permitindo que
o mesmo possa refletir as questões ali percebidas sob a luz das teorias.
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A formação inicial consiste em vivenciar e experimentar o aprendizado teórico‐prático, esse


momento surge basicamente quando os alunos realizam o estágio curricular supervisionado, uma
vez que se constituem oportunidade de vivências específicas da docência, contudo estas
experiências devem transcender a mera obrigação curricular assumindo uma função protagonista
em meio à formação inicial. Partindo dessa ideia e em consonância com Pimenta e Lima (2012),
adota-se no presente artigo a concepção de estágio como um campo de conhecimento e
aprendizagem. O que está em destaque, hoje, não se restringe só ao aprimoramento na carreira
docente, as relações sociais, por conseguinte, estabelecem-se em contexto de espaço e tempo, e
refletir educação é discorrer sobre projeto de curso. Contudo, nesse contexto de mudanças dos
professores, como protagonistas que têm de ser, e das instituições educacionais, os desafios se
impõem no seu dia-a-dia a partir de um investimento das suas experiências. O estágio é também um
espaço de produção de conhecimentos, não é meramente uma disciplina curricular obrigatória para
todos os graduandos de cursos de licenciatura, pois não atingiria o máximo de suas possibilidades
formativas se pensássemos de tal forma.

O estágio supervisionado é um espaço aberto para dúvidas, ideias e conhecimento, o saber


não é limitado apenas à “teoria” (PIMENTA; LIMA, 2012). Todavia, o seu cumprimento é uma das
condições para que o futuro professor possa obter a certificação para o exercício da docência. Para
que o estágio se desenvolva é necessário o envolvimento do supervisor pedagógico, ou, em nosso
caso, o professor-tutor, no acompanhamento do percurso do graduando e auxilio nos momentos de
incertezas e adversidades. Ao longo dos anos mostra que parece não haver, (até o presente
momento), durante a realização dos cursos de licenciatura, outro mecanismo adequado que possa
propiciar ao futuro professor o contato com a situação de ensino senão através do estágio. |Um dos
únicos espaços de vivência da situação de ensino, resumindo‐se a uma rápida inserção do futuro
professor na sala de aula, tornando‐se essa aprendizagem limitada à carga horária estipulada para
essa finalidade na matriz curricular. Para Pimenta (1999, p. 29-30) a “formação é, na verdade, auto
formação e pensar a formação do professor, inclui um projeto único, desde a formação inicial até
a continuada”. Na concepção de estágio como lócus de conhecimento e aprendizagem, o aluno
mantém um constante vai e vem entre os saberes práticos e teóricos. Tornando-se um espaço de
conflitos, discussões e construção sobre o ser docente, formando os primeiros traços da identidade
profissional do professor de Educação Física, bem como troca de experiências e auxílio entre
professor-colaborador e aluno-mestre. Assim o estágio assume a finalidade de “integrar o processo
de formação do aluno, futuro profissional, de modo a considerar o campo de atuação como objeto
de análise, de investigação e de interpretação crítica, a partir dos nexos com as disciplinas do curso”
(PIMENTA; LIMA, 2004, p. 24).
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A formação inicial dos professores caracteriza-se em parte como em uma teia de relações
histórico-culturais, políticas, epistemológicas, pedagógicas e éticas. Libâneo (2006) afirma que a
formação inicial está estreitamente vinculada aos contextos de trabalho, possibilitando pensar as
disciplinas com base no que pede a prática pedagógica para que haja sentidos tanto a teoria de sua
formação como a prática. Diferente do que se pensava a respeito de pratica e teoria, elas não são
dicotômicas, ao contrário, nesse sentido entendo que elas se correlacionam, se entrelaçam, se
complementam, jamais haverá teoria sem prática e prática sem teoria, pois uma depende da outra
para existir, ambas não se fazem caminhar sozinhas, elas se dependem. Estas conclusões acerca da
forma de construção das aprendizagens dão início ao processo de construção da identidade docente,
a qual permanecerá em constante construção e reconstrução ao longo da carreira profissional, pois
entendo que esse processo é dinâmico, não estático e passa por constantes transformações,
reformulações e acredito que se estruturam a cada nova experiência mudando a forma de ver as
situações. Esta forma de conceber o processo de construção da identidade docente está embasada
nos pensamentos de Pimenta (2005), a qual entende que:

A identidade não é um dado imutável. Nem externo, que possa ser adquirido. Mas é um
processo de construção do sujeito historicamente situado. A profissão de professor, como as
demais, emerge em dado contexto e momento históricos, como resposta a necessidades que
estão postas pelas sociedades (...) (PIMENTA, 2005, p. 18).

Ao estágio “compete possibilitar que os futuros professores compreendam a complexidade


das práticas institucionais e das ações aí praticadas por seus profissionais como alternativa de
preparo para sua inserção profissional” (PIMENTA; LIMA, 2010, p. 43). O estágio oportuniza ao
estudante-professor uma maior possibilidade de libertação das técnicas e teorias e passe para
realidade dos fatos. Acerca da liberdade necessária para prático do trabalho pedagógico, Freire
(1996) acredita que, a libertação do homem oprimido, tão necessária a si e ao opressor, será
possível mediante uma nova concepção de educação: a educação libertadora, aquela que vai remar
na contramão da dominação. O acadêmico não pode se prender a certas teorias, não pode se
restringir a pensamentos e não construir uma identidade profissional. Para Freire (1996), uma
educação popular e verdadeiramente libertadora, se constrói a partir de uma educação
problematizadora, alicerçada em perguntas provocadoras de novas respostas, no diálogo crítico,
libertador, na tomada de consciência de sua condição existencial.

Com esses pensamentos do educador Paulo Freire podemos entender que o estagiário, após
passar pela experiência de atuar como docente, mesmo que, ainda aluno-professor, adquire sua
emancipação profissional. Segundo Freire (2001), uma vez que, essa dimensão valoriza os
processos de desenvolvimento pessoal e cognitivo das pessoas envolvidas na relação de ensino e de
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aprendizagem, considerando a necessidade de formar um profissional reflexivo-crítico, que exercite


a prática investigativa, objetivando a compreensão da realidade e a intervenção do professor em
vista do desenvolvimento dos alunos. Os saberes possíveis de serem construídos no estágio estão
diretamente vinculados à atuação profissional do professor que, além de saber, numa dimensão mais
teórica, precisa aprender a fazer e analisar esse saber fazer para que sua prática profissional seja
sempre transformada.

3.1 O ESTÁGIO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A TEORIA E A PRÁTICA NA FORMAÇÃO DE


LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Durante toda a formação acadêmica o estágio supervisionado provoca vários sentimentos


aos estudantes: vontade de aprender, entusiasmo, medo, busca, pesquisa e a compreensão da
importância da disciplina estudada para o sujeito em sala de aula no caso das licenciaturas,
delimitada nesta questão pela formação em Educação Física. A teoria de metodologias, didáticas e
conteúdos muitas vezes contrapõe a prática real do ensino de Educação Física, ou em outra
percepção, amplia o comprometimento do professor com a sua profissão na dedicação de
contextualizar a sua disciplina para diferentes sujeitos, em diferentes contextos sociais e culturais.

Dentro do Curso Superior, o estágio supervisionado possui vários objetivos, um deles é


vivenciar a prática de sala de aula com ações de aprendizagem, articulando a teoria e a prática,
mesmo que em uma carga horária pequena e por vezes desgastante para o acadêmico.
Compreendemos o estágio supervisionado não como um teste de habilidades, ou o “aprender a dar
aula”, mas a observação e a mediação de metodologias como formação profissional, as alternativas
encontradas e não encontradas para a aprendizagem do aluno, a reflexão sobre o planejamento,
sobre o desenvolvimento do aluno e sobre o papel do professor na sociedade. A respeito da prática
pedagógica, Pimenta (2001) afirma:

[...] A prática seria a educação em todos os seus relacionamentos práticos e a teoria seria a
ciência da Educação. A teoria investigaria a prática sobre a qual retroage mediante
conhecimentos adquiridos. A prática, por sua vez, seria o ponto de partida do
conhecimento, a base da teoria e, por efeito desta, torna-se prática orientada
conscientemente. [...] Essa relação de reciprocidade entre teoria e prática é uma relação
onde uma complementa a outra (2001, p. 99).
13

O estágio possui um cunho investigativo para o acadêmico, onde ele observa, relata,
pesquisa, aponta, intervém e transforma perante os seus julgamentos e ensinamentos na escola em
que está inserido, nos professores e nos alunos. Os estágios supervisionados funcionam como aulas
práticas para a formação do acadêmico, a oportunidade de concretizar tudo que tenha aprendido na
teoria, sua ação perante os alunos e matérias, onde a observação é muito importante para
compreender a estruturação do sistema em que está fazendo parte momentaneamente, assimila-lo e
construir ações coerentes, aprendendo, acrescentando e criando o seu perfil profissional.

LIBANÊO (1994, apud ALVAREZ,2010, p.244) afirma:

“[...] ‘a formação profissional do professor implica, pois, uma contínua interpenetração


entre teoria e prática, a teoria vinculada aos problemas reais postos pela experiência prática
e a ação prática orientada teoricamente’” (LIBÂNEO, 1994, apud ALVAREZ, 2010,
p.244).

Dessa maneira a ação maior mediante as observações e ações de regências é o


compartilhamento de saberes, onde em um contexto escolar todos estão aprendendo e através de
reformulações de conceitos e vivências a cada estágio oportunizado, demonstrando a diversidade
dentro da Educação de um mesmo sistema escolar, as particularidades e peculiaridades de cada
turma e professores regentes em sala. Para compreender como o estágio poderia ser considerado na
formação de um docente, Guerra (1991) aponta que:

Nas atuais circunstâncias, de sucateamento e desvalorização pela qual passa o magistério é


necessário que se crie ações coletivas de embates para acabar com os estágios vistos como
uma função burocrática, ou como contemplação de modelos, a fim de que nesse espaço se
crie condições para que o aluno estagiário possa refletir que tipo de escola ele está
querendo ou precisando. Mais do que nunca é preciso que o estágio propicie ao estudante
através de um conhecimento científico e teórico sólido oportunidades de vivenciar o
cotidiano de uma escola pública e nesse momento buscar uma formação política, através de
uma informação crítica, que o leve a buscar uma articulação com os seus interesses
profissionais, que não permita mais a sua expropriação, nem a sua desvalorização (p. 5).

A criticidade dentro dos estágios supervisionados possuem um teor reflexivo de prática


pedagógica mediante o aprendido e a realidade, a transformação e não apenas a idealização de
resultados diferenciados, não esquecendo que o papel de aprendiz está relacionado ao formando
(acadêmico) onde este através do confronto do real e ideal, teoria e prática está se constituindo
enquanto profissional, pois a troca de experiências resulta na construção de novos conhecimentos.

BARREIRO e GEBRAN (2006, p.22) apontam:


14

A articulação da relação teoria e prática é um processo definidor da qualidade da formação


inicial e continuada do professor, como sujeito autônomo na construção de sua
profissionalização docente, porque lhe permite uma permanente investigação e a busca de
respostas aos fenômenos e às contradições vivenciadas (BARREIRO; GEBRAN, 2006, p.
22).

Estudar para ser professor em qualquer disciplina e principalmente na de Educação Física


requer um contexto de uma prática social, pois além de seus conhecimentos a sua ação deve
possibilitar a mediação do conhecimento. Uma vez que, um trabalho de construção mutuo entre a
instituição de estágio, a universidade e suas orientações, dos alunos e do acadêmico, analisando
sobre a observação em que pretende atuar, os pontos relevantes, os pontos que necessitam
reformulação, os modelos utilizados dentro da normatização do ensino em que está presente e
refletindo como aprendiz de professor. As teorias aprendidas são as bases teóricas para embasar a
pratica pedagógica do professor, oferecendo instrumentos de ação, análise, avaliação, reflexão e
investigação da prática pedagógica, ações diárias no papel do professor dentro de uma sala de aula,
questionando muitas vezes a própria teoria em relação à prática, se realmente abrange os objetivos
que o profissional propõe dentro daquele perfil de ação. O estágio supervisionado, objetiva
instrumentalizar o aluno do curso de Pedagogia para que este possa construir sua práxis pedagógica.
A formação profissional não ocorre pelo acúmulo de recursos, palestras e técnicas, ao graduando
cabe compreender as relações existentes no processo de constituição escolar e analisá-las de forma
crítica colaborando para estabelecer transformações neste processo para que a escola venha a
desempenhar sua função da melhor forma possível buscando num constante processo de ação e
reflexão levando a uma ação transformadora.

Uma identidade profissional constrói-se com base na significação social da profissão; na


revisão constante dos significados sociais da profissão; na revisão das tradições. Mas
também na reafirmação das práticas consagradas culturalmente e que permanecem
significativas. Práticas que resistem a inovações porque são prenhes de saberes válidos às
necessidades da realidade, do confronto entre as teorias existentes, da construção de novas
teorias. Constrói-se também pelo significado que cada professor, como ator e autor, confere
à atividade docente do seu cotidiano com base em seus valores, seu modo de situar-se no
mundo, suas histórias de vida, suas representações, seus saberes, suas angústias e seus
anseios (PIMENTA, 1997, p.42).

Os cursos de licenciatura não possuem a característica de ditar regras para os professores


ensinando a “dar aulas” conforme um instrumento único, mas sim compreender as ações das
práticas em sala de aula em sua complexidade no desenvolvimento social, afetivo, cultural, político,
motor, psíquico e cognitivo de cada aluno. Inserir o acadêmico dentro das práticas educacionais é
15

proporcionar a reflexão sobre seus propósitos, seus anseios, curiosidade, conhecimentos específicos
e profissional, superando a teoria e a prática como conceitos contraditórios, através da auto reflexão
e investigação das ações durante os estágios. O professor em formação deve ter um olhar de
observação, ouvindo mais, buscando orientação em todas as dúvidas mediantes seus professores de
prática em estágio supervisionado, questionando a prática encontrada sem criticidade, lidando com
dificuldades, limitações e diferenciações de escola para escola.

AZEVEDO (2004, p.37) Relata a dicotomia entre a teoria e a prática em sua experiência:

Puxando alguns fios da memória – inteiramente comprometidos com o que quero dizer -,
percebo, hoje, minha formação acadêmica a partir de conteúdos curriculares que
explicavam uma realidade que, na realidade, não encontrei. Ao entrar, como professor, na
sala de aula – pela primeira vez e em praticamente todas as outras vezes até hoje -, não
reconheci o que ‘aprendi’ porque encontrei coisas muito diferentes. (SGARBI, 2004, p.37).

Para Pimenta e Lima (2010), essa visão tem sido traduzida em posturas dicotômicas na
relação teoria e prática, pois “a prática pela prática e o emprego de técnicas sem a devida reflexão
podem reforçar a ilusão de que há uma prática sem teoria ou de uma teoria desvinculada da
prática” (PIMENTA; LIMA, 2010, p. 37). A teoria e a pratica não devem ser analisadas apenas
somente pelo ponto de vista do acadêmico e sim do curso superior em questão, suas reflexões e
lacunas, seus objetivos enquanto formação profissional discente, suas leituras, orientações, qual
contexto social cada acadêmico está inserido, quais os objetivos propostos de ação prática para cada
um compreender o papel do professor. Somente assim a formação do acadêmico será mais coerente
e reflexiva, sem medos, sem cópias de modelos antigos de planejamento ou meras reproduções,
formam se então um sujeito crítico e atuante do saber, compondo a teoria e a prática em uma só
ação, com suas reflexões e metodologias próprias (embasadas) e coerentes com a sua realidade
complementando uma a outra. Nesse sentido, a práxis se constitui como atividade material que
possibilita o movimento entre teoria e prática, não as caracterizando como dicotômicas e sim como
dialéticas (PIMENTA, 2010). O Conselho Nacional de Educação homologou o parecer CNE/CP
9/2001, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais, aponta uma crítica à dicotomia estabelecida
entre conteúdos teóricos e a prática:

Nos cursos de formação de professores, a concepção dominante, conforme já mencionada,


segmenta o curso em dois pólos isolados entre si: um caracteriza o trabalho na sala de aula
e o outro, caracteriza as atividades de estágio. [...] Assim, são ministrados cursos de teorias
prescritivas e analíticas, deixando para os estágios o momento de colocar esses
conhecimentos em prática. (BRASIL, 2001).
16

Contudo, se o estagiário for bem orientado no exercício da prática, com um professor-tutor,


ou um coordenador que saiba encaminhá-lo, este aluno/estudante poderá vir a ser um bom
professor, pois “o modo de aprender a profissão. Conforme a perspectiva da imitação será a partir
da observação, imitação, reprodução e, às vezes, reelaboração dos modelos existentes na prática
consagrados como bons”. (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 35). Consideramos que de certo modo o
professor que observa com ressalvas e críticas, consegue distinguir os caminhos que devem ser
percorridos, em consonância Pimenta (2010), “análise crítica fundamentada teoricamente e
legitimada na realidade social em que o ensino se processa” (PIMENTA; LIMA, 2010, p. 36).

Em relação à formação do professor as autoras destacam:

Essa perspectiva está ligada a uma concepção de professor que não valoriza sua formação
intelectual, reduzindo a atividade docente apenas a um fazer que será bem-sucedido quanto
mais se aproximar dos modelos observados. Por isso, gera o conformismo, é conservadora
de hábitos, ideias e valores, comportamentos pessoais e sociais legitimados pela cultura
institucional dominante (PIMENTA; LIMA, 2010, p. 36).

As autoras reafirmam sua crítica a esse modelo de estágio, como um método conservador,
em que pressupõe uma realidade de conformismo e de um mundo imutável.

[...] reduz-se a observar os professores em aula e imitar esses modelos, sem proceder a uma
análise crítica fundamentada teoricamente e legitimada na realidade social em que o ensino
se processa. Assim, a observação se limita à sala de aula, sem análise do contexto escolar, e
espera-se do estagiário a elaboração e execução de “aulas-modelo” (p. 36).

Essa consideração das autoras nos faz refletir enquanto futuro professores, de modo que se
quisermos legitimar nossa função na sociedade teremos que, não apenas reproduzir o que
aprendemos, todavia como encontrar um caminho próprio de caminhar, claro, com auxilio e
orientação, mas certos de que somos agentes de nossas escolhas e podemos faze-las por nossas
próprias vontades. Ter domínio de nossas escolhas parece ser um tanto desafiador, entretanto o
estágio supervisionado nos dá suporte para vermos a realidade de forma um pouco mais madura e
menos romântica. O significado social que os professores inferem para si mesmo e à educação
escolar, exerce um papel fundamental nos métodos de construção da identidade docente,
entendemos que o professor tem que ser um experimentador, um pesquisador constante, que não
pode deixar sua curiosidade estacionar, pois ela, a curiosidade é lenha para brasa que existe no
intuito de melhorar sempre.
17

A profissão docente está sempre em constantes mudanças, é uma profissão dinâmica, com
desafios e muitas perspectivas acerca dos modos de ensinar e de aprender e sua maneira de olhar
para o outro, e para educação.

4 CONCLUSÃO

Pesquisar sobre a teoria e a pratica dentro da atuação de estágios supervisionados trouxe-nos


uma reflexão durante todo o curso de Educação Física, os primeiros estágios, os medos, as buscas e
as dúvidas que tínhamos enquanto acadêmico foram aos poucos dando lugar a um espaço de criação
de identidade profissional. Ser um agente de construção de aprendizagens significativas no processo
de formação prática de professores é um dos objetivos centrais do estágio enquanto componente
curricular obrigatório. Podemos observar o quanto é importante a orientações dos professores do
curso superior e a observação da prática pedagógica nas salas de aula, não com o caráter de julgar o
certo e o errado, mas de aprender a construir uma formação, aprender a pesquisar, a buscar soluções
e diferenciar a aprendizagem de aluno para aluno, realizando uma docência com real objetivo de
transformação social.

Durante muito tempo acreditamos que as teorias e as práticas pedagógicas eram muito
distantes uma da outra, pois a realidade escolar reflete uma enorme lacuna nas estruturas físicas,
recursos e carga horária para a disciplina de Educação Física e perante sua magnitude de conceitos,
formas, metodologias e significação. Mas ao mesmo tempo durante todos os estágios realizados,
fomos reformulando nossos conceitos, adequando os conteúdos, solicitando auxilio dos professores
e compreendendo que o papel do professor é transformar, mediar e construir uma educação para a
vida, para o dia a dia dentro da sociedade em que atua, não uma sociedade ideal, mas real. Como
afirma Pimenta e Lima apud Buriolla (2012, p.62) “o estágio é o lócus onde a identidade
profissional é gerada, construída refletida; volta-se para o desenvolvimento de uma ação
vivenciada, refletida e crítica e, por isso deve ser planejado gradativa e sistematicamente com essa
finalidade”

Sendo assim, as divergências entre a teoria e a prática foram substituídas pelo embasamento
teórico de escolhas metodológicas, buscas e pesquisas sobre experiências que dentro de uma
realidade ocorreram bons resultados e formas de adaptação e reflexão sobre elas, tendo a certeza de
que aprender é um ato diário de um professor. O estágio supervisionado se consolida no campo
prático que prevê integrar o itinerário formativo do acadêmico desenvolvendo e aprimorando
habilidades e competências que são essenciais para sua formação inicial e continuada. Os estágios
18

supervisionados nos são segurança, base teórica e o comprometimento com a Educação em


Educação Física. Considero que o estagiário é um indivíduo autônomo, sujeito de seu processo de
formação, capaz de se transformar num profissional reflexivo e desenvolver competências
investigativas que o levem a compreender a realidade em que está atuando, pretendendo-se que
“adote uma posição crítica relativamente ao contexto em que exerce sua atividade e que se
emancipe dos constrangimentos que podem inibir a sua prática profissional e impedir o seu
desenvolvimento pessoal” (FREIRE, 2001, p. 14). Concordo com os pensamentos de Anísio
Teixeira, quando afirma que “Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no
sentido mais autêntico da palavra”.

Percebi durante a realização dos meus estágios, que os estagiários (e me incluo nessa
proporção), procuram nos estágios respostas para aulas bem sucedidas, como se fossem receitas
prontas de elaboração de bons materiais didáticos, resolução de indisciplina, bom relacionamento
com os alunos, um bom relacionamento com a gestão da escola, pois sabemos que a direção da
escola influencia em sua contratação. Contudo, sabemos que essa seara é necessária passar sozinho,
o máximo que conseguiremos é um auxílio ou orientação do professor, algumas considerações e
muitas, muitas trocas de experiências, com os colegas acadêmicos, com professor regente, e todos
que se mostram nessa caminhada. Saint-Exupéry o escritor de “Pequeno Príncipe” tem uma
observação a respeito do caminho, gosto muito da ideia que ele tenta passar: "Cada um que passa
em nossa vida passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada um que
passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só, nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós
mesmos, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas não há os que não levam nada.
Há os que deixam muito, mas não há os que deixam nada. Essa é a maior responsabilidade de
nossas vida. É a prova evidente de que duas almas não se encontram por acaso". (Antoine de
Saint-Exupéry). Acredito que todo percurso feito ao longo dos anos enquanto acadêmico me
proporcionou deixar um pouco de mim nos colegas e professores e até alunos, mas certamente levo
um pouco do que aprendi, do que vi, e vivenciei da vida de cada um dos meus colegas acadêmicos,
futuros colegas de profissão, vou levar um pouco dos professores, isso é fato pois aprendemos
muito com eles, e até com os alunos dos estágios que me propiciaram momentos inesquecíveis de
aprendizagem de ensino institucionalizado, e o mais enriquecedor, conhecimento de vida passado
por eles. Me sinto grato e feliz pela escolha que fiz ao iniciar meu curso, não me arrependo em
nenhum momento, somente tenho a agradecer.

5 REFERÊNCIAS
19

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