Petição de Impeachment Popular de Bolsonaro

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS,

DEPUTADO FEDERAL RODRIGO MAIA.

1. MAURO DE AZEVEDO MENEZES


2. DÉBORA DUPRAT
3. SILVIO LUIZ DE ALMEIDA
4. KENARIK BOUJIKIAN
5. CEZAR BRITTO
6. CAROLINE PRONER
7. JUVELINO STROZAKE
8. LUIZ HENRIQUE ELOY AMADO
9. PAULO TAVARES MARIANTE
10. JOSÉ EYMARD LOGUERCIO
11. MARCO AURÉLIO DE CARVALHO
12. CAMILA GOMES DE LIMA
13. JOÃO GABRIEL PIMENTEL LOPES
14. SHEILA SANTANA DE CARVALHO
15. WILSON RAMOS FILHO
16. MARCELISE DE MIRANDA AZEVEDO
17. MONYA RIBEIRO TAVARES
18. GUSTAVO TEIXEIRA RAMOS
19. VERA LÚCIA SANTANA ARAÚJO
20. FÁBIO KONDER COMPARATO
21. FRANCISCO BUARQUE DE HOLANDA
22. FREI BETTO (CARLOS ALBERTO LIBANIO CHRISTO)
23. LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
24. MARIA VICTORIA BENEVIDES SOARES
25. LUIZ GONZAGA MELLO BELLUZO
26. FERNANDO GOMES DE MORAIS
27. JUCA KFOURI JOSÉ CARLOS AMARAL KFOURI
28. GREGORIO BYINGTON DUVIVIER
29. WALTER CASAGRANDE JUNIOR
30. EDUARDO ALVARES MOREIRA
31. PADRE JÚLIO RENATO LANCELLOTTI;
32. JOÃO PEDRO STÉDILE
33. SÉRGIO NOBRE
34. IAGO MONTALVÃO OLIVEIRA CAMPOS
35. CARMEN HELENA FERREIRA FORO
36. ATNÁGORAS TEIXEIRA LOPES
37. DENISE CARREIRA SOARES
38. JOSE ANTONIO MORONI
39. IÊDA LEAL DE SOUZA
40. SONIA GUAJAJARA
41. DANIEL SEIDEL
42. ROMI MÁRCIA BENCKE
43. JOSÉ ARBEX JR.;
44. LUIZ BERNARDO PERICÁS
45. ERIC NEPOMUCENO
46. ANA MERCES BAHIA BOCK
47. DIRA PAES (ECLEIDIRA MARIA FONSECA PAES)
48. OLIVIA BYINGTON
49. VERA HELENA BONETTI MOSSA
50. LUCÉLIA SANTOS, MARIA LUCÉLIA DOS SANTOS
51. ANA LUIZA CASTRO
52. CASSIO LUIZ DE FRANÇA
53. GUSTAVO LEMOS PETTA
54. HELOISA BUARQUE DE ALMEIDA
55. HERSON CAPRA FREIRE
56. JOÃO VICENTE GOULART
57. LIA ZANOTTA MACHADO
58. MILTON RODRIGUES LEITE
59. WAGNER DE MELO ROMÃO
60. ADEMAR ARTHUR CHIORO
61. DIRCEU BRAS APARECIDO BARBANO
62. JOSE HERMES DE AZEVEDO JUNIOR
63. MAMEDE SILVA JUNIOR
64. SANDRA MARIA SALES FAGUNDES
65. LAURA FEUERWERKER
66. ANA PAULA DO REGO MENEZES, além dos nomes dos demais autores e autoras
anexados em listas a esta petição;

vêm, respeitosamente, perante a Câmara dos Deputados, invocando o disposto no art. 14 da Lei nº
1.079, de 10 de abril de 1950 e conforme estipulado no art. 218, caput, do Regimento Interno da
Casa (RICD), apresentar DENÚNCIA contra o Presidente da República Jair Messias Bolsonaro
pela prática de crimes de responsabilidade, com fundamento no art. 85, caput e incisos III, IV e V
da Constituição da República e nos termos das tipificações previstas no art. 5º, incisos 1, 2, 3, 7 e
11; art. 7º, incisos 5, 6 e 9; no art. 8º, incisos 7 e 8; e no art. 9º, incisos 3, 4 e 7, da Lei nº 1.079, de
10 de abril de 1950, aptos a amparar o seu respectivo recebimento, na forma estatuída pelo art.
218, § 2º, do RICD, seguida da autorização pela Câmara dos Deputados para a instauração do
processo e subsequente remessa ao Senado Federal, para processar e julgar o Presidente da
República, nos termos dos art. 51, inciso I; art. 52, inciso I e art. 86, caput da Constituição da
República, visando à suspensão das funções presidenciais e ao julgamento definitivo do
impeachment, com a prolação de decisão condenatória e consequentes destituição do acusado do
cargo de Presidente da República e inabilitação para a função pública, conforme os arts. 52,
parágrafo único, e 86 da Constituição da República e os artigos 15 a 38 da Lei nº 1.079, de 10 de
abril de 1950 e de acordo com o objeto adiante delimitado em tópico introdutório específico.

I. SÍNTESE DOS FUNDAMENTOS DA DENÚNCIA.

1. O sistema constitucional brasileiro dimensionou os crimes de responsabilidade do


Presidente da República a partir da verificação de atos atentatórios contra a própria Constituição
da República (art. 85, caput). Sendo esse o elemento central, em seguida deduzido pela
enumeração específica das hipóteses de transgressões autorizadoras do processo de impeachment
(art. 85, incisos I a VII), a tipificação legal preconizada pelo parágrafo único do mesmo artigo
considera-se suprida pela vigência dos artigos 5º a 12 da Lei nº 1.079, de 1950, recepcionada, em
grande parte, pela Constituição Federal de 1988 (STF - MS nº 21.564/DF).1

2. Não comporta dúvida, portanto, que atos do Presidente da República que atentem contra a
Constituição são, por assim dizer, a pedra de toque da configuração jurídica dos crimes de
responsabilidade e, via de consequência, da deflagração objetiva do processo de impeachment
presidencial em nosso país. Com efeito, no âmbito de nosso Estado de Direito, o texto
constitucional subordina e condiciona os limites da atuação de todas as autoridades públicas, a
começar pela mais proeminente no seio do Poder Executivo, que é o Presidente da República.

3. Nesse contexto jurídico-constitucional, a afronta a comandos constitucionais, identificada


no elenco de condutas institucionalmente patológicas relacionadas nos incisos do art. 85 da Lei
Maior, subverte o delicado e indispensável equilíbrio normativo-administrativo que deve assentar
a legitimidade da ação governamental do Presidente da República. Tal construção lógica resulta
na operação mediante a qual a apreciação de atos de governo, por conseguinte de índole
administrativa, ainda que emanados por autoridade competente, sob o ângulo formal, podem
tornar-se viciados à luz de sua desconformidade constitucional, gerando a noção de delito de
responsabilidade essencial à deflagração do processo de impeachment.2

4. Fixadas tais sólidas premissas jurídicas, cumpre constatar que o atual Presidente da
República, desde o início do seu mandato, vem incidindo, de maneira grave, reiterada e sistemática
em ofensas à Constituição da República. Ao adotar esse padrão de desrespeito à supremacia
incontrastável do texto constitucional, o mandatário parece apostar na tolerância e naturalização
de tais violações, como forma de solapar o caráter cogente da normatividade que o deveria
restringir ao império das regras do direito.

1
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição
Federal e, especialmente, contra: I - a existência da União; II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder
Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação; III - o exercício dos
direitos políticos, individuais e sociais; IV - a segurança interna do País; V - a probidade na administração; VI - a
lei orçamentária; VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais. Parágrafo único. Esses crimes serão definidos
em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento.
2
“Visando a tornar efetiva a responsabilidade do Poder Executivo, a Constituição adotou um processo parlamentar,
fiel ao princípio de que toda autoridade deve ser responsável e responsabilizável” (BROSSARD, Paulo. O
impeachment. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1992. p. 4).
5. A presente denúncia, cujos titulares representam movimentos populares e representativos
da sociedade civil organizada, trará essencialmente um conjunto de transgressões praticadas pelo
Presidente da República em diversas áreas de ação governamental, decisivas na perpetração de um
pernicioso processo de esvaziamento de políticas públicas de inspiração constitucional, assim
como de subversão de diretrizes constitucionais relacionadas com direitos individuais e coletivo,
de natureza econômica, social, cultural e ambiental.

6. Essas condutas, ilícitas e anticonstitucionais, protagonizadas, dirigidas, coordenadas ou


induzidas pessoalmente pelo Presidente da República, consubstanciam posturas irrecusavelmente
delituosas, à luz da definição legal dos crimes de responsabilidade, hábeis à instauração,
processamento e condenação em processo de impeachment. Em paralelo às denúncias já
protocolizadas contra o atual chefe de Estado, referentes a atentados à integridade dos Poderes da
República e ao respeito de instâncias federativas, nesta peça, de maneira concorrente e
complementar, devem ser destacados fatos pertinentes à aniquilação de diretivas enraizadas na
Constituição que têm inspirado ao longo de mais de 30 anos ações estatais, em setores essenciais
ao cumprimento do papel dos poderes públicos e à implementação de propósitos constitucionais,
em favor da promoção da cidadania em diversas esferas.

7. Nos capítulos seguintes, que traduzirão com copiosa narrativa fática e preciso
enquadramento jurídico decisões e atitudes do Presidente da República, será oferecida uma
minuciosa descrição temática das sérias infrações cometidas, cuja caracterização plena não pode
disfarçar o rompimento dos elevados compromissos inerentes ao cargo.

8. Ao cabo da fundamentação elaborada em termos específicos e concatenados, não haverá


como arredar-se da conclusão de ter havido lesões ao exercício de direitos políticos, individuais e
sociais, provocadas por atos deploráveis do Presidente da República, que constituem,
inegavelmente, crimes tipificados no art. 7º, incisos 5, 6 e 9, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de
1950.3 Os atos presidenciais expostos em pormenores nesta denúncia, haverão de conduzir à

3
Art. 7º São crimes de responsabilidade contra o livre exercício dos direitos políticos, individuais e sociais: (...) 5-
servir-se das autoridades sob sua subordinação imediata para praticar abuso do poder, ou tolerar que essas autoridades
o pratiquem sem repressão sua; 6- subverter ou tentar subverter por meios violentos a ordem política e social; (...) 9-
violar patentemente qualquer direito ou garantia individual constante do art. 141 e bem assim os direitos sociais
assegurados no artigo 157 da Constituição;
inexorável comprovação da prática de abusos de poder pelo próprio Presidente da República e por
seus Ministros de Estado, além de diversos outros subordinados seus, estes agindo sob
determinações da autoridade máxima ou fomentados por seus eloquentes e irresponsáveis gestos,
desacertadas convocações e infames orientações. Tais reiteradas configurações delituosas, no que
se refere às referidas autoridades subordinadas ao chefe de Estado e de Governo,
comprovadamente careceram da devida desautorização, sendo, ao reverso, toleradas e até mesmo
estimuladas pelo Presidente da República, a demonstrar cabalmente a infringência do inciso 5 do
art. 7º, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950. Por outro lado, ressairá a observação de uma
temerária concretização, por parte do Chefe de Governo, do intento criminoso de degradar a ordem
social, desarticulando instituições e estruturas estatais voltadas à sua promoção de acordo com os
rumos traçados pelo texto constitucional, o que permite a realização do suposto legal de quebra da
responsabilidade segundo o inciso 6 do já citado art. 7º, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950.
Haverá, ainda, de modo compreensivo e totalizante da verificação objetiva da ocorrência de crimes
de responsabilidade, a exibição de fatos que evidenciarão a patente violação de direitos e garantias
individuais e sociais assegurados na Constituição da República, notadamente nas searas
econômica, social, cultural e ambiental, a representar substrato para a aplicação do art. 7º, inciso
9, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950.

9. Outro relevante aspecto a ser desenvolvido nos tópicos subsequentes diz respeito aos
crimes contra a segurança interna cometidos pelo Presidente da República, ao fazer periclitar,
irresponsavelmente, políticas públicas cruciais à defesa da vida e da incolumidade física dos seus
concidadãos, ofendendo predicados mínimos da prudência governamental, a ponto de incidir nas
previsões arroladas no art. 8º, incisos 7 e 8 da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950.4 Os elementos
a seguir carreados ao exame seguramente projetarão a imagem nítida do mais vil menosprezo do
Presidente da República, por meios tácitos ou expressos, a diversas disposições de leis federais de
ordem pública, sempre em prejuízo ao interesse geral e ao bem comum, o que configura o
suprimento da premissa legal existente no art. 8º, inciso 7 da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950.
Em semelhante e lastimável comportamento, ficará exposta com clareza a omissão negligente e
leviana do chefe de Estado, ao descumprir sua obrigação legal de tomar providências determinadas
por leis federais, no condizente à sua inexecução e descumprimento, nisso mobilizando a
invocação contra si do art. 8º, inciso 8 da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950.

4
Art. 8º São crimes contra a segurança interna do país: (...) 7- permitir, de forma expressa ou tácita, a infração de lei
federal de ordem pública; 8- deixar de tomar, nos prazos fixados, as providências determinadas por lei ou tratado
federal e necessário a sua execução e cumprimento.
10. Incorreu, ademais, o Presidente da República, em figurinos legais que o implicam
dramaticamente na prática de crimes de responsabilidade contra a probidade da administração,
conforme o art. 9º, incisos 3, 4 e 7, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950.5 Sua postura em relação
aos atos insensatos e desatinados levados a efeito por inúmeros subordinados jamais esteve à altura
da responsabilidade do cargo que ocupa. A repetida e progressiva escalada de descuidos e atos
contraproducentes dessas autoridades, em desalinho com a Constituição e com a regularidade
funcional de seus postos contou não apenas com o beneplácito presidencial, senão também com
seu incentivo, o que perfaz com absoluta suficiência o tipo criminal estampado no texto do art. 9º,
incisos 3, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950. Não obstante, e à guisa de agravamento dessa
conduta deletéria, o Presidente da República ignora explicitamente disposições expressa da
Constituição da República, ao expedir ordens e fazer requisições em contrariedade aos termos
normativos da Lei Maior, em nociva concretização do inciso 4, do art. 9º da Lei nº 1.079, de 10 de
abril de 1950. E não bastassem essas demonstrações inequívocas de afastamento da probidade em
seu procedimento como autoridade máxima do Poder Executivo Federal, o mandatário abusa de
posturas completamente incompatíveis com a dignidade, a honra e o decoro do cargo presidencial,
agindo em descompasso ante a previsão do art. 9º, inciso 7, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950.

11. Restará, ainda, comprovado por meio das circunstâncias extraídas desta petição e da
instrução do processo que o atual Presidente da República atuou em oposição a obrigações
relacionadas à integridade da União, especialmente em decorrência da alteração radical da política
externa, comprometendo seriamente a soberania nacional e consumando crimes tipificados no art.
5º, incisos 1, 2, 3, 7 e 11, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950.6

5
Art. 9º São crimes de responsabilidade contra a probidade na administração: (...) 3- não tornar efetiva a
responsabilidade dos seus subordinados, quando manifesta em delitos funcionais ou na prática de atos contrários à
Constituição; 4- expedir ordens ou fazer requisição de forma contrária às disposições expressas da Constituição; (...)
7- proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decôro do cargo.

6
Art. 5º São crimes de responsabilidade contra a existência política da União: 1 - entreter, direta ou indiretamente,
inteligência com governo estrangeiro, provocando-o a fazer guerra ou cometer hostilidade contra a República,
prometer-lhe assistência ou favor, ou dar-lhe qualquer auxílio nos preparativos ou planos de guerra contra a República;
2 - tentar, diretamente e por fatos, submeter a União ou algum dos Estados ou Territórios a domínio estrangeiro, ou
dela separar qualquer Estado ou porção do território nacional; 3 - cometer ato de hostilidade contra nação estrangeira,
expondo a República ao perigo da guerra, ou comprometendo-lhe a neutralidade; (...) 7 - violar a imunidade dos
embaixadores ou ministros estrangeiros acreditados no país; (...) 11 - violar tratados legitimamente feitos com nações
estrangeiras.
12. Em resumo, o Presidente da República deverá sofrer processo de impeachment e ser
condenado, como resultado da apuração dos seguintes crimes de responsabilidade: a) crimes de
responsabilidade contra o livre exercício dos direitos políticos, individuais e sociais previstos
no art. 7º, incisos 5, 6, e 9 da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950; b) crimes contra a segurança
interna do país previstos no art. 8º, incisos 7 e 8; c) crimes de responsabilidade contra a
probidade na administração previstos no art. 9º, incisos 3, 4 e 7, da Lei nº 1.079, de 10 de abril
de 1950; d) crimes contra a existência da União previstos no art. 5º, incisos 1, 2, 3, 7 e 11.

II. EXPOSIÇÃO DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE PRATICADOS


PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA.

13. Adiante, sob organização temática, serão estruturados os elementos descritivos da


prática, pelo Presidente da República, de atos e omissões suficientes a configurar seu
enquadramento em condutas legalmente típicas do cometimento de crimes de responsabilidade.

14. Os fatos narrados abaixo em pormenores, acompanhados de sua dedução lógico-


jurídica, em estrita formulação lastreada na disciplina legal acerca dos crimes de responsabilidade,
conduziram milhares de cidadãos e centenas de entidades dos movimentos populares e da
sociedade civil a se mobilizarem, por intermédio de seus representantes, para formalizarem a
propositura do presente pedido de impeachment.

15. As entidades e os cidadãos que participam desta iniciativa, dotadas de


inquestionável legitimidade, denunciarão diversos crimes de responsabilidade cometidos pelo
Presidente da República desde o início do atual governo, com a desconstrução em marcha batida
do projeto democrático-constitucional vigente desde 1988, ocasionando graves violações de
direitos humanos em diversos matizes e pondo em marcha severas ameaças à vida, à saúde, á
integridade física, à higidez ambiental e à segurança alimentar de milhões de brasileiros.

16. O governo do atual Presidente da República tem correspondido à antítese do


programa constitucional em vigor, mediante a grosseira e brutal desconstituição de políticas de
promoção econômica de contingentes desfavorecidos socialmente, de frustração da inclusão e da
integração de grupos vulneráveis ou vitimados por discriminações históricas ou morais, de
aniquilação das esperanças de conservação de legados importantes para as gerações futuras, no
que concerne ao meio ambiente, aos recursos naturais, à soberania nacional, ao progresso dos
níveis educacionais e às boas condições de saúde da população.

17. No campo social, foi profundamente operada pelo Presidente da República e pelo
seu governo a deterioração das relações trabalhistas, em desacordo flagrante com princípios e
normas constitucionais de índole material ou institucional, mediante a adoção de medidas que
favorecem demasiadamente empresas e conglomerados empresariais engajados politicamente na
eleição e no suporte ao governo, em detrimento das condições de vida dos trabalhadores. Entre
essas medidas, destacaram-se a extinção do Ministério do Trabalho, com o consequente
enfraquecimento do sistema de fiscalização das condições de trabalho no Brasil; a obstaculização
sistemática da eficácia das atividades de controle, fiscalização e autuação de auditores trabalhistas,
com reflexos crescentes nos índices de sonegação de direitos dos trabalhadores e de incidência de
trabalho em condições degradantes, forçadas ou análogas à escravidão, além da ocorrência de
trabalho infantil.

18. Nessa mesma área, foi encerrada a política de valorização do salário mínimo (que
permitia reajustes superiores à inflação para aqueles trabalhadores com menor remuneração), que
vigorava há cerca de quinze anos. Registre-se, ainda, a tentativa despudorada de asfixia financeira
dos sindicatos representativos de trabalhadores, por meio da burocratização excessiva e
insuperável do pagamento das mensalidades sindicais. Merece crítica, ademais, o embaraço à ao
funcionamento das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes de Trabalho nas Empresas. Não
se deve desprezar a vigorosa debilitação de diversos direitos trabalhistas no contexto da pandemia
da Sars-Cov-2 (COVID-19), com a permissão para jornadas de trabalho extenuantes, redução de
salários e suspensão de contratos, deixando trabalhadores desamparados durante período crítico
da crise de saúde pública no país. As medidas implantadas pelo governo federal no mundo do
trabalho terminam por ocasionar severos prejuízos aos trabalhadores, parte mais fraca da relação
de emprego, e ainda ameaçam gravemente direitos sociais consagrados pela Constituição de 1988.
19. Quanto à temática ambiental, diversas condutas do Presidente e seu governo têm
gerado severos riscos ao país. Além de priorizar interesses particulares de grandes violadores de
normas ambientais, tem-se promovido verdadeiro assédio institucional aos servidores
responsáveis pela fiscalização do cumprimento de normas protetivas do meio ambiente. A
liberação de agrotóxicos avançou em ritmo inédito e o país notabilizou-se pelo desmatamento e
pelos incêndios em áreas de preservação, em níveis nunca registrados. Como resultado dessa
política, o Brasil tem perdido o financiamento externo de ações de proteção ambiental (tal como
ocorrido com o fim do custeio do Fundo Amazônia pela Alemanha e pela Noruega) e investimentos
externos em segmentos econômicos diversos, diante das preocupações com a condução do setor.

20. Em meio à pandemia da COVID-19, por outro lado, veio a público a intenção do
governo de fazer “passar a boiada” em matéria de flexibilização das normas ambientais, em prol
de empreendimento destruidores da natureza e de recursos naturais, ou seja, valer-se da distração
da opinião pública com a emergência de saúde, conforme enunciado pelo próprio Ministro do Meio
Ambiente em reunião ministerial ocorrida no dia 22 de abril de 2020, nas presença complacente
do Presidente da República.

21. As políticas de saúde também foram severamente afetadas pela atuação criminosa
de Jair Bolsonaro. Além da desarticulação do Sistema Único de Saúde (SUS), que já vinha sendo
posta em prática no primeiro ano de gestão, a pandemia da COVID-19 escancarou o desprezo do
atual governo pela proteção à saúde da população.

22. O Presidente minimizou o problema desde que o Sars-Cov-2 (novo coronavírus),


causador da doença conhecida como Covid-19, chegou ao país, ora mencionando tratar-se de uma
“gripezinha”, ora buscando realizar campanhas contra o distanciamento social preconizado pela
Organização Mundial da Saúde como modo mais eficaz de conter o avanço da doença. Ou seja,
diante da mais grave crise de saúde pública da história do país e do planeta, o Presidente da
República, irresponsavelmente, oscilou entre o negacionismo, o menosprezo e a sabotagem
assumida das políticas de prevenção e atenção à saúde dos cidadãos brasileiros.
23. Jair Bolsonaro buscou, ainda, descredibilizar instituições científicas nacionais de
renome e represou os recursos destinados à finalidade de combater o vírus, além de incentivar a
população a medicar-se com fármacos sem eficácia comprovada no enfrentamento da doença,
como a hidroxicloroquina, buscando omitir dados que demonstram a gravidade da pandemia que
agora assola o Brasil, principal epicentro atual da contaminação. E, pior, buscou afrontar a
autoridade de prefeitos e governadores, interferindo sucessivamente nas escolhas administrativas
locais, para impedir que fossem adotadas medidas de proteção à população.

24. Relativamente às políticas públicas de acesso e justa distribuição da terra no país, o


governo capitaneado por Bolsonaro paralisou por completo a reforma agrária no país e buscou
legalizar a grilagem (ocupação irregular, direta ou indireta, pelo poder econômico) de terras
públicas por meio da edição da Medida Provisória nº 910, bastando, para isso, a autodeclaração
daqueles que já estejam ocupando essas terras.

25. Por outro lado, o governo federal também interrompeu o programa de compra
antecipada de alimentos (PAA), que, além de favorecer os trabalhadores do campo, produtores da
maior parte dos alimentos que chegam às mesas dos brasileiros, permitia o acesso à comida
saudável por parte significativa da população mais pobre. Cessaram, ainda, os programas que
dizem respeito à capacitação profissional, assistência técnica e fomento dos agricultores familiares
e assentados da reforma agrária, construção de cisternas no semiárido e aquisição de máquinas
agrícolas por trabalhadores rurais. Os esforços dedicados à agroecologia e à redução do uso de
agrotóxicos foram interrompidos e a violência no campo ganhou novos incentivos, por meio da
liberação de armas de qualquer calibre em toda a extensão de fazendas.

26. No concernente às populações tradicionais, tais como povos indígenas e


quilombolas, a postura criminosa do Presidente da república dirige-se, sem rodeios, à implantação
de uma política genocida. Além de não demarcar novos territórios nem respeitar as demarcações
de territórios que a Constituição de 1988 estabeleceu como pertencentes a esses grupos, o governo
Bolsonaro desmontou a estrutura institucional de proteção a essas populações. A Fundação
Nacional do Índio (FUNAI) teve suas competências esvaziadas e entregues aos interesses
ruralistas. Os povos em isolamento voluntário, a seu turno, têm sido submetidos a contatos com
missões proselitistas e diversas comunidades têm sido afetadas pela exploração ilegal de minérios
e pelo desmatamento que se expandiu especialmente na Amazônia e nos Cerrados.

27. A seu turno, as populações quilombolas têm sofrido semelhantes investidas. O


INCRA, responsável pela demarcação de territórios, e a Fundação Cultural Palmares, a quem
compete a guarda do patrimônio cultural das comunidades, foram esvaziados e, no caso desta
última, verificou-se a nomeação de dirigente que contraria todas as políticas que levaram à sua
concepção.

28. Durante a pandemia da COVID-19, milhares de indígenas e quilombolas foram


infectados e muitos deles vieram a falecer à míngua de atendimento médico-hospitalar adequado,
sem que fosse implantada qualquer política específica de assistência ou fornecidos materiais ou
equipamentos individuais de proteção, tampouco designadas equipes de saúde com insumos e
medicamentos capazes de reduzir os efeitos nefastos da contaminação.

29. Impossível não referir, ainda, às políticas abertamente racistas incentivadas pelo
discurso e pela prática institucional do atual presidente. O discurso oficial, permeado de
declarações com viés discriminatório, tem acarretado um incremento do discurso do ódio no
Brasil, o que se afere pela quantidade de novos grupos fascistas e neonazistas disseminados desde
que Bolsonaro chegou ao poder.

30. A promoção da igualdade racial foi sistematicamente substituída pela absurda


negação do racismo, processo que vem acompanhado de uma violência cada vez maior contra a
população negra, levado a cabo, principalmente, pelas forças do Estado. Tais fatos, associados à
falta de políticas de inclusão e realização de direitos sociais das pessoas negras, têm conduzido a
sucessivas denúncias do genocídio em marcha junto a organismos internacionais e deve implicar
a responsabilização político-jurídica do Presidente da República.

31. Essencial assinalar que as circunstâncias de privação da maioria dos brasileiros à


igualdade de oportunidades, à dignidade e aos direitos encontra a sua matriz estruturante
justamente no racismo mantido por uma elite que sempre nutriu ojeriza à população negra,
impondo severas e intransponíveis barreiras à sua ascensão social. A gênese dos dos desenganos
que afetam as esperanças de transformação social e superação de desigualdades e injustiças em
nosso país reside precisamente na estigmatização da gente negra, cuja condenação a mecanismos
opressivos transparece, simboliza e padroniza o tratamento desumano e excludente que é imposto
às classes desfavorecidas do país.

32. A postura do governo brasileiro também tem acarretado sentidos prejuízos à política
exterior e às relações internacionais do país. Além de abdicar da soberania nacional em nome de
interesses, em especial, do governo estadunidense, Jair Bolsonaro vem sendo considerado uma
ameaça global por diversas lideranças responsáveis de países que alimentam paradigmas de
convivência civilizada. O presidente não apenas atua com agressividade e descaso contra atores,
países, líderes e povos, como também descredibiliza instituições internacionais, tal como ocorrido
com a Organização Mundial da Saúde (OMS) durante a pandemia da COVID-19. Em
consequência, o Brasil vem enfrentando entraves na consecução de acordos bilaterais e
multilaterais, além de sofrer com a suspensão de compras de produtos nacionais por outros países.

33. Não bastasse isso, também têm se tornado comuns os posicionamentos que
contrariam o mandamento constitucional de cooperação para a paz entre as nações, como ocorrido
no caso das ameaças públicas de conflitos com países soberanos (tal qual ocorrido com a
Venezuela) e do desrespeito à autodeterminação dos povos (como no dramático caso da Palestina).

34. Em matéria de política cultural, o Presidente da República empreendeu uma


verdadeira perseguição às produções que não se alinham às crenças e aos valores dos grupos
políticos que dão suporte ao seu governo. Após rebaixar o Ministério da Cultura ao nível de
secretaria, o governo federal paralisou o financiamento público de espetáculos e iniciativas
culturais. Determinou, ainda, expressamente, o direcionamento ideológico dos recursos do Fundo
Setorial do Audiovisual e passou a controlar os projetos que poderiam ser contemplados com
recursos provenientes de editais.
35. Quanto ao patrimônio cultural e histórico nacional, sua preservação tem sido
ameaçada com o corte de recursos e a substituição de pessoal técnico por indicações pouco
relacionadas às temáticas das instituições de referência, caso, por exemplo, da presidente do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que não preenche qualquer das
credenciais indispensáveis ao posto.

36. Em matéria de liberdade de expressão e de imprensa, o governo tem se notabilizado


por impor ataques diários à comunicação social, incentivando agressões a jornalistas e
profissionais de imprensa e manifestando a intenção de privilegiar meios de comunicação
alinhados ideologicamente com o governo federal.

37. O Presidente da República, ao longo de seu governo, em associação com a nova


linha adotada pelo Ministério dos Direitos Humanos, vem defendendo o fim da chamada
“ideologia de gênero”, buscando frear iniciativas que incentivem a igualdade, a inclusão e a
diversidade por meio da educação e da cultura. O governo tem agido diretamente para interromper
as políticas de saúde sexual e reprodutiva. Nesse sentido, substituiu as políticas cientificamente
respaldadas de prevenção da violência de gênero por campanhas públicas sem efeito concreto e as
iniciativas de educação sexual por questionáveis campanhas de abstinência na juventude. Por outro
lado, as redes públicas de apoio a mulheres em situação de vulnerabilidade têm visto seu
orçamento minguar, frustrando os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil ao longo
das últimas décadas.

38. Essas condutas representam graves crimes de responsabilidade, na medida em que


ficam claras as condutas do Presidente que atentam contra a existência da União, o livre exercício
dos poderes da República, os direitos políticos, individuais e sociais, além da segurança interna do
país, a probidade da administração.

39. As entidades e os cidadãos que, em articulação nacional, decidiram denunciar Jair


Bolsonaro por seus delitos acreditam que somente o seu afastamento e a responsabilização
jurídico-política de todos os representantes de seu governo que levam adiante as políticas
destrutivas representadas pelo seu projeto político, são capazes de recolocar o país nos trilhos da
observância e do predomínio da Constituição da República.

II.1. A DESCONSTRUÇÃO SISTEMÁTICA DE DIREITOS POLÍTICOS,


INDIVIDUAIS E SOCIAIS COMO TRAÇO CONSTANTE DA ATUAÇÃO DO
PRESIDENTE DA REPÚBLICA.

40. O Presidente da República carregou consigo para o exercício do cargo o desapreço


que já demonstrava à Democracia, ao Estado de Direito e ao predomínio do regime constitucional.
Antes de assumir o cargo, ainda na década de 1990, em um programa de televisão, declarou:

Através do voto, você não vai mudar nada neste país. Nada, absolutamente
nada! Você só vai mudar, infelizmente, quando um dia nós partirmos para
uma guerra civil aqui dentro. E fazendo o trabalho que o regime militar não
fez, matando uns 30 mil, começando com o FHC. Não deixar ir para fora,
não! Matando! Se vai [sic] morrer alguns inocentes, tudo bem, em tudo
quanto é guerra morre inocente7.

41. Na época em que exercia o mandato de Deputado Federal, o atual Presidente da


República mantinha afixado, na porta de seu gabinete na Câmara dos Deputados, um cartaz onde
se lia “Desaparecidos do Araguaia. Quem procura [osso] é [cachorro]”8, numa evidente alusão às
mortes e desaparecimentos ocorridos na Guerrilha do Araguaia, episódio de triste memória, que
deu ensejo a condenação do Brasil pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.

42. Também foram proferidas pelo Presidente da República outras declarações


igualmente repugnantes, tais como: o seu lamento perverso segundo o qual a cavalaria brasileira
não teria sido tão eficiente quanto a americana, que exterminou os índios9; a sugestão, em tom de
escárnio, claramente movido por alguma grave psicopatia, ao afirmar que algumas mulheres não

7
Entrevista à TV Bandeirantes. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=qIDyw9QKIvw> (a partir de
31:00)
8
https://noticias.uol.com.br/politica/2009/05/28/ult5773u1291.jhtm
9
https://www.terra.com.br/noticias/mito-ou-fato/verificamos-bolsonaro-elogiou-cavalaria-dos-eua-por-dizimar-
indios,a0253be3477f453811b0c5e0f06c2ebd23ha8paf.html
mereceriam ser estupradas por serem feias10; o desabafo de que preferiria ver seu filho morto do
que saber que ele era homossexual11; o gracejo nojento que se valeu ao dizer que quilombolas
pesavam como arroba e não serviriam sequer para procriação12; a alegação de que o dotador
chileno Augusto Pinochet “fez o que devia ser feito”13; e que Carlos Alberto Brilhante Ustra, o
mais célebre e doentio torturador da ditadura militar brasileira, seria um herói a ser
homenageado14.

43. Esse histrionismo destituído de decência e humanidade, paradoxalmente, fomentou


a construção de um personagem antissistêmico na política, alimentando a sua bizarra notoriedade
e tornando eleitoralmente viável a sua chegada à Presidência da República, na medida em que
passou a encarnar um modelo muito peculiar de populista, que emulava com notável depreciação
moral um modelo que ganhava força na extrema-direita mundo afora. Jair Bolsonaro, a exemplo
de outros líderes populistas da atualidade, faz uso frequente de um tipo de linguagem que abusa
de figuras retóricas acesas, em apelações emocionais, com antagonismos fortes, para
invariavelmente estigmatizar e ridicularizar os seus adversários, de modo a desencadear
sentimentos de ódio e violência de seus apoiadores em direção a eles.

44. Jair Bolsonaro, desse modo, apresentou-se no processo eleitoral como um outsider
– a despeito de ser parlamentar por mais de 20 anos – movido pela indignação com o sofrimento
do povo e a com a traição que a elite política lhe teria infligido. Toda a sua campanha eleitoral
desenvolveu-se quase que exclusivamente em redes sociais, potencializada por seguidores
agressivos, desconfiados, paranoicos, que se viam como “cidadãos de bem” convocados pelo líder
para enfrentar todas as mazelas da esquerda, especialmente as do tipo “ideologia de gênero” e

10
<http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/06/bolsonaro-vira-reu-por-falar-que-maria-do-rosario-nao-merece-ser-
estuprada.html>
11
<https://www.terra.com.br/noticias/brasil/bolsonaro-prefiro-filho-morto-em-acidente-a-um-
homossexual,cf89cc00a90ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html>
12
<https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/bolsonaro-quilombola-nao-serve-nem-para-procriar/>
13
CARVALHO, Bruno. “Não foi você: uma interpretação do bolsonarismo”. Piauí, julho de 2018.
14
<http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/11/bolsonaro-diz-no-conselho-de-etica-que-coronel-ustra-e-heroi-
brasileiro.html>
“ditadura gay”15. Somadas ao discurso do ódio, vieram as chamadas “fake news”16, mentiras e
distorções da realidade que assumiam ares de verdade, entre outros aspectos, por dois fenômenos:
as “bolhas” virtuais que expandem os grupos de “cidadãos de bem” e a ausência de acesso, pela
população de baixa renda, à internet, impossibilitando a consulta sobre a veracidade do que era
dito no ambiente do Whatsapp, aplicativo de uso gratuito.

45. Ao tomar posse na Presidência da República e iniciar o seu governo, Jair Bolsonaro
encarregou-se de frustrar as apostas de que conteria daí em diante os seus excessos ante as
responsabilidades do cargo. Já em 26 de março de 2019, o porta-voz da Presidência da República
informava que Bolsonaro determinara ao Ministério da Defesa que fizesse as comemorações
devidas com relação ao golpe militar de 31 de março de 1964, incluindo uma ordem do dia,
patrocinada pelo Ministério da Defesa. Convém recordar que a Comissão Nacional da Verdade fez
constar de sua Recomendação nº 4 a proibição da realização de eventos oficiais em comemoração
ao golpe militar de 1964, em virtude de investigações realizadas terem comprovado que o regime
autoritário que se seguiu foi responsável pela ocorrência de graves violações de direitos humanos,
perpetradas de forma sistemática e em função de decisões que envolveram a cúpula dos sucessivos
governos do período. Também àquela altura, as condenações do Brasil pela Corte Interamericana
de Direitos Humanos, nos casos “Gomes Lund e outros” e “Vladimir Herzog”, reconheceram que
o período que se seguiu a 1964 no país foi marcado politicamente por mortes, desaparecimentos
forçados, detenções arbitrárias e torturas.

46. Em 29/7/2019, declarou que “um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é
que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto para ele”. E completou: “Ele não vai querer
ouvir a verdade. Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar a essas
conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e

15
Nas palavras da socióloga Angela Alonso, “[a] comunidade moral bolsonarista se estrutura na crença compartilhada
em códigos binários, que divide o mundo em bem e mal, sagrado e profano, gente de família e indecentes, cidadãos
de bem e bandidos, ético e corruptos, nacionalistas e globalistas. Essas clivagens simbólicas simplificam a realidade,
reduzindo sua complexidade a estereótipos administráveis, e ativam sentimentos coletivos de alta voltagem – o afeto
o medo, o ódio. Seu manejo reforça o senso de pertencimento a uma comunidade de semelhantes e estigmatiza os
diferentes”. (ALONSO, Angela. “A comunidade moral bolsonarista”. In: ABRANCHES, Sérgio et al. Democracia
em risco?: 22 ensaios sobre o Brasil hoje, São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 52).
16
Um dos exemplos mais famosos foi aquele que atribui ao PT a elaboração e distribuição de material de doutrinação
homossexual de crianças (o chamado kit gay): https://g1.globo.com/fato-ou-fake/noticia/2018/10/16/e-fake-que-
haddad-criou-kit-gay-para-criancas-de-seis-anos.ghtml
violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro” 17. Além da
perversidade em si da fala, que tripudia sobre a dor de alguém que não pode fazer o luto do próprio
pai, ela é mentirosa. O desaparecimento forçado de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira foi
investigado pela Comissão Nacional da Verdade e, anteriormente, pela Comissão Especial de
Mortos e Desaparecidos Políticos e pela Comissão de Anistia. Fernando Santa Cruz era funcionário
público, com emprego fixo e integrava a Ação Popular (AP). Ao contrário de outros militantes da
época, não estava na clandestinidade. Não consta registro nessas comissões de que tivesse tido
participação em algum ato da luta armada. Ele foi visto pela última vez quando deixou a casa de
seu irmão, no Rio de Janeiro, em 23 de fevereiro de 1974. Provavelmente, foi preso junto com
Eduardo Collier Filho, por agentes do DOI-CODI do I Exército e, em momento incerto, transferido
para o DOI-CODI do II Exército, São Paulo, à época dirigido por Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Cogita-se, ainda, de que tenha sido assassinado na Casa da Morte, em Petrópolis – RJ. A Comissão
Nacional da Verdade concluiu que Fernando Santa Cruz “foi preso e morto por agentes do Estado
brasileiro e permanece desaparecido, sem que os seus restos mortais tenham sido entregues à sua
família. Essa ação foi cometida em um contexto de sistemáticas violações de direitos humanos
perpetradas pela ditadura militar instaurada no Brasil em abril de 196418.”

47. Também sem apego ao que foi produzido pela Comissão Nacional da Verdade, e na
ânsia permanente de reescrever a história da ditadura militar, em café da manhã com a imprensa
estrangeira, Bolsonaro afirmou que a jornalista Miriam Leitão integrou a luta armada de resistência
e dirigia-se à guerrilha do Araguaia quando foi presa, na década de 1970. A jornalista, em verdade,
foi vítima de prisão ilícita e tortura durante o regime militar. Estava grávida à época e foi submetida
a sevícias diversas, durante dois meses. Processada na Justiça Militar, veio a ser absolvida19.

48. Em sucessivas atitudes diversionistas, embora no exercício da enormemente


relevante e trabalhosa função de Presidente da República, Jair Bolsonaro prosseguiu dando vazão

17
O Globo, 29/07/2019: “Bolsonaro: 'Se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu, eu
conto pra ele'”. Disponível em https://oglobo.globo.com/brasil/bolsonaro-se-presidente-da-oab-quiser-saber-como-
que-pai-dele-desapareceu-eu-conto-pra-ele-23839835; e Folha de S. Paulo, 29/07/2019. “Se presidente da OAB quiser
saber como pai dele desapareceu na ditadura, eu conto, diz Bolsonaro”. Disponível em
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/07/se-presidente-da-oab-quiser-saber-como-pai-dele-desapareceu-na-
ditadura-eu-conto-diz-bolsonaro.shtml; O Estado de São Paulo, 29/07/2019: “'Se o presidente da OAB quiser saber
como o pai dele desapareceu no período militar, eu conto'”. Disponível em
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,se-o-presidente-da-oab-quiser-saber-como-o-pai-dele-desapareceu-no-
periodo-militar-eu-conto,70002945253?utm_source=estadao:whatsapp&utm_medium=link
18
Comissão Nacional da Verdade, Volume III, p. 1603/1609.
19
https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/07/19/globo-repudia-em-nota-ataques-de-bolsonaro-a-miriam-
leitao.ghtml
ao seu desequilíbrio e à sua obsessão em disseminar mentiras, ódio e preconceitos, ao rejeitar a
credibilidade de dados técnicos apresentados por órgãos oficiais20; afirmar ainda que o país não
poderia ser lugar de turismo gay porque aqui existem famílias21; que o trabalho infantil “não
prejudica as crianças”22; que ninguém passa fome no Brasil23; que a questão ambiental importa
apenas “aos veganos, que comem só vegetais”24; e que o programa Mais Médicos, implementado
por Dilma Rousseff, tinha como objetivo formar “núcleos de guerrilha”25. Somam-se aqui o
discurso do ódio e a inverdade, ambos sem lugar na democracia, como se desenvolverá adiante.

49. As intimidações a veículos da imprensa críticos à sua gestão tornaram-se rotina.


Declarações de agentes públicos e notícias dão conta de possível direcionamento da publicidade
oficial do Governo Federal favorecendo veículos a ele simpáticos e punindo os mais críticos26.
Foi fartamente noticiado que a resistência ao desejo de parte do governo de financiar blogs e sites
simpáticos ao presidente Jair Bolsonaro teria sido a causa da demissão do ministro Santos Cruz da
Secretaria de Comunicação da Presidência da República27. Recentemente, indícios de que o Banco
do Brasil gastou 119 milhões de reais com publicidade em um site famoso pela propagação de
“fake news” fez com o que TCU determinasse a suspensão imediata de qualquer veiculação de
anúncios do banco em sites, blogs, portais e redes sociais28. Em outras oportunidades, o presidente
da República ameaçou cancelar assinaturas do jornal Folha de São Paulo, que chegou a ser
excluído de licitação, em retaliação à sua linha editorial29. Também defendeu boicote a anunciantes
do jornal30, como forma de pressionar empresas privadas a não divulgarem publicidade em
veículos de imprensa críticos a seu governo. Ameaçou ainda não renovar a concessão de emissora

20
https://noticias.uol.com.br/ultis-noticias/agencia-estado/2019/07/31/bolsonaro-diz-que-pediu-a-ministerios-
avaliacao-de-dados-do-inpe.htmma
21
https://exame.abril.com.br/brasil/brasil-nao-pode-ser-pais-do-mundo-gay-temos-familias-diz-bolsonaro/
22
https://exame.abril.com.br/brasil/em-live-bolsonaro-afirma-que-trabalho-nao-atrapalha-criancas/
23
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/07/19/politica/1563547685_513257.html
24
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/07/questao-ambiental-e-para-veganos-que-so-comem-vegetais-diz-
bolsonaro.shtml
25
https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,bolsonaro-diz-que-mais-medicos-tinha-objetivo-de-formar-nucleos-de-
guerrilha,70002950683
26
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/10/chefe-da-secom-sugere-boicote-publicitario-apos-reportagem-da-
folha.shtml
27
https://oglobo.globo.com/brasil/demissao-de-santos-cruz-sucedeu-divergencia-sobre-financiamento-blogs-pro-
governo-23740161
28
https://veja.abril.com.br/blog/radar/tcu-manda-banco-do-brasil-suspender-publicidade-
digital/amp/?__twitter_impression=true
29
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/11/bolsonaro-cumpre-ameaca-e-exclui-folha-de-licitacao-da-
presidencia-para-assinatura-de-jornais.shtml
30
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/11/bolsonaro-amplia-ameaca-a-folha-e-diz-que-boicota-produtos-de-
anunciantes-do-jornal.shtml
de televisão31, por discordar da linha editorial.

50. Num dos episódios mais bizarros dessa batalha contra a imprensa, o governo pediu
a um humorista que entregasse bananas a jornalistas32. Antes, Bolsonaro, em ato machista e
misógino, insinuou que Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha de São Paulo, estaria disposta
a oferecer favores sexuais em troca de um furo de reportagem contra ele 33. Logo após, a Folha
publicou editorial em que acertadamente afirmava que o presidente “atiça as falanges governistas
contra o jornal e seus profissionais, mas seu alvo final não é um veículo nem tampouco a imprensa
profissional. Ele faz carga contra o edifício constitucional da democracia brasileira”34.

51. O avanço sobre os pilares da democracia prosseguiu com mais intensidade com a
chegada ao Brasil da pandemia da Covid-19. Ciente de antemão da incapacidade de seu governo
gerir essa enorme crise sanitária e, igualmente, os impactos econômicos imediatamente projetados,
Bolsonaro deu início a um festival de desinformação, de desorganização administrativa e de
renovação de ataques aos entes subnacionais, ao Parlamento e ao Supremo Tribunal Federal.

52. Em sentido contrário às orientações de caráter sanitário, especialmente no âmbito


da Organização Mundial da Saúde35, o Presidente do Brasil, em pronunciamento veiculado na
noite de 24.3.2020, em cadeia nacional, refutou a necessidade de isolamento social em face da
pandemia, criticando o fechamento de escolas e do comércio, minimizando as consequências da
enfermidade e, com isso, transmitindo à população brasileira sinais de desautorização das medidas
sanitárias em curso, adotadas e estimuladas pelo próprio Governo Federal. Posteriormente, a
Secretaria de Comunicação da Presidência da República publicou em sua conta do Instagram 36
uma matéria, seguida de um vídeo divulgado nas redes sociais que seria a campanha do governo
federal para o enfrentamento da pandemia, com os seguintes conteúdos37:

31
https://istoe.com.br/bolsonaro-ameaca-nao-renovar-concessao-da-rede-globo-vai-ter-dificuldade
32
https://oglobo.globo.com/brasil/bolsonaro-ignora-resultado-do-pib-posta-video-em-que-humorista-da-banana-
para-jornalistas-no-alvorada-24285268
33
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/02/bolsonaro-insulta-reporter-da-folha-com-insinuacao-sexual.shtml
34
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/02/sob-ataque-aos-99.shtml?origin=folha
35
https://news.un.org/pt/story/2020/03/1708272)
36
Disponível em: https://www.instagram.com/p/B-JwjLeHSWy/?igshid=12plbgxy42p5x
37
Link do vídeo divulgado por Flávio Bolsonaro, onde ao final aparece a logomarca do governo federal:
https://www.facebook.com/flaviobolsonaro/videos/198469951450285/
No mundo todo, são raros os casos de vítimas fatais do coronavírus entre
jovens e adultos". A quase totalidade dos óbitos se deu com idosos.
Portanto, é preciso proteger estas pessoas e todos os integrantes dos grupos
de risco, com todo cuidado, carinho e respeito. Para estes, o isolamento.
Para todos os demais, distanciamento, atenção redobrada e muita
responsabilidade. Vamos, com cuidado e consciência, voltar à
normalidade"
#oBrasilNãoPodeParar

Para os quase 40 milhões de trabalhadores autônomos,


#oBrasilNãoPodeParar. Para os ambulantes, engenheiros, feirantes,
arquitetos, pedreiros, advogados, professores particulares e prestadores de
serviço em geral, #oBrasilNãoPodeParar. Para os comerciantes do bairro,
para os lojistas do centro, para os empregados domésticos, para milhões de
brasileiros, #oBrasilNãoPodeParar. Para todas as empresas que estão
paradas e que acabarão tendo de fechar as portas ou demitir funcionários,
#oBrasilNãoPodeParar. Para dezenas de milhões de brasileiros
assalariados e suas famílias, seus filhos e seus netos, seus pais e seus avós,
#oBrasilNãoPodeParar. Para os milhões de pacientes das mais diversas
doenças e os heroicos profissionais de saúde que deles cuidam, para os
brasileiros contaminados pelo Coronavírus, para todos que dependem de
atendimento e da chegada de remédios e equipamentos,
#oBrasilNãoPodeParar. Para quem defende a vida dos brasileiros e as
condições para que todos vivam com qualidade, saúde e dignidade, o Brasil
definitivamente não pode parar”.

53. Segundo matéria do jornal Folha de S. Paulo de 26 de março passado38, o presidente


da República não possuía qualquer estudo técnico para embasar a sua defesa do chamado
“isolamento vertical”, ou seja, aquele restrito aos grupos de maior risco de morte por conta da
doença. Contrariava ainda a experiência dos demais países que tinham enfrentado com mais

38
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/03/governo-bolsonaro-admite-a-estados-nao-ter-estudo-que-embase-
isolamento-vertical.shtml
antecedência a pandemia39 e publicações, como a elaborada pelo segundo o time de resposta ao
Covid-19 do Imperial College (Imperial College COVID-19 Response Team), do Reino Unido,
em trabalho denominado “The Global Impact of COVID-19 and Strategies for Mitigation and
Suppression”,40 de 26 de março de 2020. Segundo o estudo, numa projeção para os próximos 250
dias (contados na ocasião), a diferença entre uma política de não-mitigação ou supressão social
(normalidade de vida econômico-social) para uma política de quarentena horizontal precoce e
ampla podia ser de mais de 1 milhão e cem mil vidas no Brasil. O Presidente da República,
portanto, sem base empírica, resolveu assumir o risco dessas mortes ao veicular expressamente o
desprezo aos alertas lançados pela comunidade científica em relação às perspectivas de
agravamento severo da mortalidade causada pela pandemia no país.

54. Numa outra vertente, é preciso pontuar que o enfrentamento às pandemias depende
de um esforço do conjunto das nações, tendo em vista que a grande circulação humana,
ultrapassando as fronteiras nacionais, é um dado irrecusável dos dias atuais. Com esse propósito,
o Brasil aderiu ao Regulamento Sanitário Internacional, aprovado na 58º Assembleia Geral da
Organização Mundial da Saúde (OMS), em 23 de maio de 2005, e, recentemente, por meio do
Decreto 10.212, de 30 de janeiro de 2020, promulgou o texto revisado do regulamento. O
Regulamento Sanitário Internacional (RSI) tem por objetivos, conforme está expresso na Portaria
do Ministério da Saúde MS nº 1.865, “oferecer a máxima proteção em relação à propagação de
doenças em escala mundial, mediante o aprimoramento dos instrumentos de detecção, prevenção
e controle de riscos de saúde pública” e avaliar e aperfeiçoar as “capacidades dos serviços de saúde
pública para detectar e oferecer resposta apropriada aos eventos que possam se constituir em
emergência de saúde pública de importância internacional”. Para isso; a RSI prevê, em seu art. 4.1,
que “cada Estado parte deverá designar ou estabelecer um Ponto Focal Nacional para o RSI e as
autoridades responsáveis em suas respectivas áreas de jurisdição pela implementação de medidas
de saúde em conformidade com este regulamento”. No Brasil, a Portaria MS nº 1.865, de 10 de
agosto de 2006, estabeleceu a Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde como
Ponto Focal Nacional, informação que foi encaminhada à Organização Mundial da Saúde no
mesmo ano.

39
https://oglobo.globo.com/mundo/isolamento-maior-gasto-publico-conheca-as-medidas-tomadas-pelos-20-paises-
com-mais-casos-da-covid-19-24332153
40
Disponível em https://www.imperial.ac.uk/media/imperial-college/medicine/sph/ide/gida-fellowships/Imperial-
College-COVID19-Global-Impact-26-03-2020.pdf. Acesso nesta data.
55. Em 6 de fevereiro de 2020, veio a ser editada a Lei nº 13.979, que “dispõe sobre as
medidas para enfrentamento de emergência de saúde pública de importância internacional
decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2109”. O § 1º de seu art. 3º estipulou que “as
medidas previstas neste artigo somente poderão ser determinadas com base em evidências
científicas e em análises sobre as informações estratégicas em saúde”. Assim, seja no plano
interno, seja no plano internacional, o Brasil estava comprometido a enfrentar a pandemia
conferindo centralidade ao Ministério da Saúde, o qual, por sua vez, deveria guiar-se
exclusivamente por evidências científicas. O Presidente da República, no entanto, ao seu talante,
numa atitude inteiramente estranha à responsabilidade do cargo, deu início à recomendação de
medicamentos cuja eficácia ainda não havia sido convenientemente testada para a Covid-19 e
conclamou a população, repetidamente, a sair às ruas e retomar as suas atividades cotidianas,
desafiando o protocolo de distanciamento social que passaram a constituir, em todo o planeta, a
chave para provocar a redução da propagação avassaladora do vírus. Em meio à pandemia, foram
exonerados dois Ministros da Saúde, não em razão de suas fragilidades ou erros (ainda que os
tivessem), mas paradoxalmente em virtude de seus acertos: Henrique Mandetta41, demitido, por
não concordar com o afrouxamento do isolamento social, e Nelson Teich42, que saiu por discordar
do Presidente nesse mesmo aspecto e também quanto ao fomento governamental do uso
indiscriminado da cloroquina. No último dia 25 de maio, saiu do governo o Secretário Nacional
de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde43, ponto focal do Brasil na OMS e responsável,
desde o início da pandemia, pelo seu acompanhamento e pela avaliação das estratégias de seu
enfrentamento. Mais uma vez, a razão foi a discordância de Bolsonaro em relação a condutas
prudentes, implementadas com base científica.

56. Essa gestão errática e irresponsável, a olhos vistos, contribuiu decisivamente para
que o Brasil rapidamente se tornasse o país com mais contaminações e mortes em escala diária,
alcançando o segundo maior contingente em adoecimentos e perdas de vidas humanas, de cerca
de 1.800.000 infectados e 70 mil mortos, já na segunda semana de julho de 2020.44

41
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/04/16/mandetta-anuncia-em-rede-social-que-foi-demitido-do-
ministerio-da-saude.ghtml
42
https://oglobo.globo.com/sociedade/saida-de-nelson-teich-do-ministerio-da-saude-repercute-negativamente-na-
comunidade-medica-24429464
43
https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/05/24/secretario-de-vigilancia-do-ministerio-da-saude-
diz-que-deixara-o-cargo-na-segunda
44
https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/07/09/coronavirus-covid-19-casos-mortos-9-
julho.htm
57. A constatação profundamente dramática da análise desses dados e da escalada da
pandemia em nosso país decorre do efeito evitável retardado da disseminação da doença em
território brasileiro, em comparação com países que experimentaram semanas antes os efeitos do
desprezo ao imperativo do isolamento social, a exemplo de Itália, Espanha e EUA.

58. A marcha acelerada e muitíssimo mais letal da pandemia da Covid-19 no Brasil,


escandalosamente, foi uma fria e criminosa escolha política do Presidente da República, que
ignorou orientações e compromissos com a ciência e com o engajamento em diretrizes de
organismos internacionais formalmente internalizadas no Ordenamento Jurídico brasileiro.

59. O Presidente da República, em sua aterradora linha de atuação, reagiu com


indescritível falta de responsabilidade diante da grave desordem na saúde e na economia nacionais.
Passou a atacar autoridades, esferas do poder e entes da federação por sua correta implementação
de políticas de prevenção e respostas fundamentadas em bases científicas. Agiu o mandatário para
subtrair deliberadamente os mecanismos de intervenção eficaz do Estado na pandemia. A
estratégia foi retornar à sua militância mais fiel, mais raivosa e mais anti-institucional,
aumentando, de forma intensificada, a permanentemente auto-exaltação, lembrando que, como
sempre tinha dito, o poder encravado na trama institucional insistia em não lhe permitir governar.
E, em especial, precisava fazer uso do seu maior capital: uma tropa virtual de características
milicianas, produtoras de veementes e exaustivos discursos de ódio e inverdades. Seus apoiadores
não falharam e atacaram os governadores e prefeitos que adotaram políticas de distanciamento
social, propalando uma atitude delirante originada da conduta pessoal do próprio Presidente da
República45. Convém recordar que a jurisprudência constitucional brasileira repele com ênfase o
recurso a tais expedientes deformadores da liberdade de expressão, consoante firmado no
julgamento paradigmático do Habeas Corpus nº 82.424, cujo acórdão foi redigido pelo Ministro
Maurício Corrêa do STF.46

45
https://oglobo.globo.com/brasil/nas-redes-sociais-crescem-ataques-de-bolsonaristas-governadores-24384581
46
Liberdade de expressão. Garantia constitucional que não se tem como absoluta. Limites morais e jurídicos. O direito
à livre expressão não pode abrigar, em sua abrangência, manifestações de conteúdo imoral que implicam ilicitude
penal. (...) As liberdades públicas não são incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira harmônica,
observados os limites definidos na própria Constituição Federal (CF, artigo 5º, § 2º, primeira parte). O preceito
fundamental de liberdade de expressão não consagra o "direito à incitação ao racismo", dado que um direito individual
não pode constituir-se em salvaguarda de condutas ilícitas, como sucede com os delitos contra a honra. Prevalência
dos princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica. (...) No estado de direito democrático devem
ser intransigentemente respeitados os princípios que garantem a prevalência dos direitos humanos. (HC 82424,
Relator Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 17/09/2003, DJ 19-03-2004).
60. O Supremo Tribunal Federal (STF), por sua vez, decidiu, ainda em 2019, instaurar
um inquérito para apurar atos de violência e de distorções da verdade contra os seus ministros,
especialmente nas redes sociais. Mandados de busca e apreensão expedidos com respaldo legal e
determinados recentemente no bojo desse inquérito, abrangendo apoiadores do Presidente da
República geraram reações ainda mais violentas do Presidente de República47, que não hesitou em
recorrer a ameaças e palavras de baixo calão, ao sugerir que “ordens absurdas não se cumprem”48.

61. E para piorar o que já era em si muito preocupante, os atos transpuseram as


fronteiras do virtual e expuseram todo a repulsa de Jair Bolsonaro pela democracia e pelo Estado
de Direito. Ele próprio foi às ruas, em ostensiva demonstração de que estava desobedecendo as
orientações de autoridades sanitárias e de gestores locais, inclusive sem fazer uso da máscara,
quando a pandemia já contabilizava 27 mil mortes entre os brasileiros49. Em 31 de maio de 2020,
mais manifestações contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, inclusive com
alusão ao retorno do AI-5, o mais violento instrumento jurídico de perseguições e violações de
direitos da ditadura militar 50
. Apoiadores do Bolsonaro admitiram ter armas em seu poder,
consubstanciando nitidamente a organização de uma milícia paramilitar atentatória à Constituição
da República (art. 5º, incisos XVII e XLIV), com o estímulo do próprio Presidente da República,
sendo que alguns deles saíram em manifestação contra o ministro do STF Alexandre de Moraes,
com uma performance evocando a Ku Klux Klan, com os rostos cobertos e as tochas acesas51.

62. O discurso do ódio tem efeitos extremamente perversos na vida coletiva. Um é o


silenciamento de muitas vozes, pelo receio dos ataques. Outro é o impacto na percepção de si
próprio e em sua dignidade, na medida em que as pessoas se orientam pelo reconhecimento das
demais. Admitir que um Presidente da República se dirija de forma odiosa a indígenas, mulheres
e quilombolas, entre outros grupos, é naturalizar o patológico.

47
https://www.otempo.com.br/politica/investigados-por-fake-news-e-ataques-ao-stf-reagem-a-corte-e-miram-
ministro-1.2342592
48
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2020/05/29/bolsonaro-ameaca-nao-cumprir-decisoes-
do-stf.htm
49
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/2020/05/30/bolsonaro-volta-a-passear-sem-mascara-e-provocar-
aglomeracoes-durante-pandemia
50
https://congressoemfoco.uol.com.br/governo/ato-contra-o-stf-tem-bolsonaro-sem-mascara-e-alusao-ao-golpe-de-
1964/
51
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/05/31/grupo-300-protesto-supremo.htm
63. A falsa informação, por sua vez, é a antítese da democracia, porque ela distorce a
verdade e falsifica a discussão, levando a decisões que não se amparam em dados da realidade. A
pandemia fez ver a insegurança gerada por esse ambiente em que verdade e mentira são
manipuladas dolosamente pela mais alta autoridade do Poder Executivo do país.

64. Para além dessa face mais ostensiva do autoritarismo do atual Presidente da
República, é preciso avaliar o impacto de sua atuação no conjunto dos demais direitos
fundamentais.

65. A Constituição brasileira, em seu artigo 3º, transmite e assume a ideia de uma
sociedade mais justa e voltada à eliminação das desigualdades, livre de discriminações de todos
os tipos. Tratava-se de uma diretriz que, para avançar, requer investimento perseverante e
ininterrupto.52 Em breve retrospectiva, é possível verificar o avanço substancial na implementação
de direitos no período de 1990-2016.

66. Em 1992, foi homologada a Terra Indígena Yanomami, com mais de 9 milhões de
hectares (Decreto de 25 de maio de 1992). Logo após a promulgação da Constituição de 1988
foram editados ainda o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), o Código de Defesa
do Consumidor (Lei 8.078/90), o Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos (Lei 8.112/90)
e a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/90), que instituiu o SUS e garantiu a universalidade do acesso
à saúde. É também desse período a chamada “Lei Rouanet” (Lei nº 8.313/91), de valorização da
diversidade das expressões e manifestações culturais.

67. Mais adiante, o governo federal abraçou a campanha contra a fome e a miséria que
vinha sendo desenvolvida pelo sociólogo Betinho e, pelo Decreto nº 807, de 22 de abril de 1993,
criou o CONSEA – Conselho Nacional de Segurança Alimentar, com multiplicidade e articulação
de instituições, órgãos e atores sociais, nos diferentes níveis de governo. Também nesse período
surgiu a Política Nacional do Idoso e a criação do Conselho Nacional do Idoso (Lei 8.842/94).

52
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre,
justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade
e quaisquer outras formas de discriminação.
68. Já em 1996 foi lançado o 1º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH)53,
cujo prefácio consignou logo de início: “não há como conciliar democracia com as sérias injustiças
sociais, as formas variadas de exclusão e as violações aos direitos humanos que ocorrem em nosso
país”. Esse documento inaugurou o modelo de conferências locais, regionais e nacional, com
ampla participação de segmentos da sociedade civil. Seu principal enfoque veio ser a cidadania e
a redução das desigualdades sociais, econômicas, sociais e culturais. Há nele uma preocupação
com a não-violência e com a cultura do desarmamento; com o reconhecimento da especial
vulnerabilidade de “crianças e adolescentes, idosos, mulheres, negros, indígenas, migrantes,
trabalhadores sem terra e homossexuais”.

69. Em 2002, foi lançado o 2º PNDH54, com maior enfoque nos direitos econômicos,
sociais e culturais. Está ali expresso que o “PNDH II incorpora ações específicas no campo da
garantia do direito à educação, à saúde, à previdência e assistência social, ao trabalho, à moradia,
a um meio ambiente saudável, à alimentação, à cultura e ao lazer, assim como propostas voltadas
para a educação e sensibilização de toda a sociedade brasileira com vistas à construção e
consolidação de uma cultura de respeito aos direitos humanos.” Compreende o documento que,
para alcançar essas metas, é necessário fortalecer os órgãos da administração pública, como Funai,
Ibama, Incra e Fundação Cultural Palmares, entre outros, bem como os espaços de participação
social nos vários conselhos de direitos humanos já existentes.

70. Nessa época, também foram criadas a Comissão Especial sobre Mortos e
Desaparecidos Políticos (Lei 9.140/95) e a Comissão da Anistia do Ministério da Justiça (Lei
10.559/2002). Também é desse período o Estatuto das Cidades (Lei 10.257/2001) e a Lei da Saúde
Mental (Lei 10.216/2001), que veio a redirecionar toda a política no sentido principalmente do fim
dos manicômios e das internações de longa duração de todos os tipos.

71. Em 2009, o governo federal lançou o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos


(Decreto 7.037/2009), com seis eixos orientadores (Eixo Orientador I: Interação democrática entre
Estado e sociedade civil; Eixo Orientador II: Desenvolvimento e Direitos Humanos; Eixo
Orientador III: Universalizar direitos em um contexto de desigualdades; Eixo Orientador IV:

53
http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Direitos-Humanos-no-Brasil/i-programa-nacional-de-direitos-
humanos-pndh-1996.html
54
http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Direitos-Humanos-no-Brasil/ii-programa-nacional-de-direitos-
humanos-pndh-2002.html#:~:tex
Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência; Eixo Orientador V: Educação e
Cultura em Direitos Humanos; Eixo Orientador VI: Direito à Memória e à Verdade). Isso
significou que direitos humanos se tornaram o tema transversal de todas as políticas públicas e o
artigo 4º do Decreto veio a instituir um comitê para acompanhamento da implementação do PNDH
III. Nesse período, foram criados, entre outros, o Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), o ICMBio
(Lei 11.516/2007), a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades
Tradicionais (Decreto 6040/2007), a Política Nacional para a População em Situação de Rua
(Decreto 7.053/2009), o Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/2010), o decreto de demarcação
de áreas quilombolas (Decreto 4.887/2003). São dessa época, a “Reforma do Judiciário” (EC
45/2004) e importantes políticas de enfrentamento à desigualdade (Bolsa Família, Fome Zero,
Minha Casa Minha Vida e Primeiro Emprego).

72. Vale ressaltar a iniciativa capital traduzida na edição do estatuto da Igualdade Racial
(2010), associada à criação em 2003 da Secretaria de Promoção de Políticas de Igualdade Racial,
centradas no enfrentamento do racismo como elemento central e articulador da exclusão social e
da opressão a grandes contingentes populacionais e culturais de nosso país.

73. Em 2011, foi instituída a Comissão Nacional da Verdade (Lei 12.528/2011),


orientada a resgatar a memória e promover a reparação das violações praticadas pela ditadura
militar contra os direitos humanos. Foram mais adiante também criados o Conselho Nacional dos
Povos e Comunidades Tradicionais (Decreto 8.750/2016), o Conselho Nacional de Política
Indigenista (Decreto 8.593/2015) e o Programa Mais Médicos (Lei 12.871/2013). Nesse período
surgiu a Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/2011), instrumento essencial à concretização da
transperência de governo e da administração pública, assim como a chamada Lei do MROSC –
Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (Lei 13.019/2014), além da Lei do
Feminicídio (Lei 13.104/2015), do Estatuto da Juventude (Lei 12.852/2013), do Marco Civil da
Internet (Lei 12.965/2014) e da lei que destinou 75% dos royalties da exploração do petróleo para
a saúde e 25% para a educação (Lei 12.858/2013).

74. Houve, portanto, desde 1988, o fortalecimento considerável das políticas tendentes
à ampliação de direitos, na linha do compromisso estabelecido na Constituição de 1988. Todo esse
arcabouço, seja legislativo, seja administrativo, implicou necessariamente o reforço dos recursos
e das estruturas institucionais públicas, orientadas ao cumprimento das citadas diretrizes
constitucionais.

75. O atual Presidente da República, apesar disso, dedicou-se obstinadamente a


desconstruir sistematicamente e de modo grotesco as políticas públicas associadas ao cumprimento
do programa constitucional.55. Só não avançou quando foi contido, ou pelo sistema de Justiça, ou
pelas Casas Parlamentares.

76. A Medida Provisória 870, de 1º de janeiro de 2019, foi o primeiro ato do governo,
editado para estabelecer a organização básica dos órgãos da Presidência da República e dos
Ministérios. Alguns sinais antecipavam a demolição da política de direitos humanos que se
avizinhava. Foi extinto, sem que outro órgão ocupasse o seu lugar, o CONSEA – Conselho
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, e com isso ficou desorganizado todo o Sistema de
Segurança Alimentar e Nutricional –SISAN, instituído pela Lei 11.346/2006. Convém lembrar que
o CONSEA nasceu inspirado pelo movimento “Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela
Vida”, sob a liderança do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho,56 e foi reconhecido pela FAO57
como ferramenta central para que o país saísse do Mapa Mundial da Fome em 2014, reduzindo em
82,1% o número de pessoas subalimentadas. Quando a MP 870 foi editada, o Brasil estava numa
curva ascendente de pessoas em retorno à situação de extrema pobreza58.

77. A questão indígena, na MP 870, também sofreu enorme desorganização. A


Fundação Nacional do Índio – FUNAI, historicamente vinculada ao Ministério da Justiça (MJ),
teve a sua supervisão transferida para o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Também a atribuição que sempre esteve na Funai, de realizar a identificação e delimitação das
terras indígenas passou para a Secretaria Especial de Assuntos Fundiários do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), também ficando nesse Ministério, e não mais no
MJ, a competência para expedir portarias declaratórias das terras indígenas. Coube, por fim, ao
MAPA, e não mais à Funai, a atribuição para se manifestar como interveniente em processos de

55
https://oglobo.globo.com/mundo/antes-de-construir-preciso-desconstruir-muita-coisa-no-brasil-diz-bolsonaro-nos-
eua-23530792
56
SILVA, Sandro Pereira. A trajetória histórica da segurança alimentar e nutricional na agenda política nacional:
projetos, descontinuidades e consolidação. 2014. Disponível em:
http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3019/1/TD_1953.pdf.
57
BOJANIC, Alan Jorge; FRANÇA, Caio Galvão de; MARQUES, Vicente Penteado Meirelles de Azevedo; e DEL
GROSSI, Mauro Eduardo. Superação da fome e da pobreza rural: iniciativas brasileiras. FAO: Brasília, 2016.
Disponível em: http://www.fao.org/3/a-i5335o.pdf. Acesso em 12 fev 2019.
58
Disponível em: https://www.ecodebate.com.br/2018/08/13/aumenta-a-pobreza-e-a-extrema-pobreza-no-brasil-
artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/. Acesso em 12 fev. 2019.
licenciamento ambiental que afetem povos indígenas. Embora o Congresso Nacional não tenha
aprovado a MP nesse ponto, restou evidente o propósito de Bolsonaro de colocar nas mãos do
agronegócio os interesses indígenas.

78. As organizações da sociedade civil, até então parceiras importantes na execução de


inúmeras políticas públicas, contaram com uma disciplina inédita na MP 870. Em seu artigo 5º, ao
fixar as atribuições da Secretaria de Governo da Presidência da República, a ela foi atribuída, no
inciso II, a função de: “supervisionar, coordenar, monitorar e acompanhar as atividades e as ações
dos organismos internacionais e das organizações não governamentais no território nacional”. O
absurdo em relação aos organismos internacionais é patente, pela razão singela de que a sua
presença em território nacional e a respectiva imunidade é resultado de tratados firmados e
ratificados pelo Brasil. Mas também quanto às ONGs, a norma violava, direta e expressamente, o
disposto no inciso XVIII do artigo 5º da Constituição, segundo o qual “a criação de associações e,
na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal
em seu funcionamento”. Também afastada tal norma pelo Parlamento, ficou a evidência do pouco
apreço de Jair Bolsonaro pela liberdade de associação e pela gestão participativa.

79. Na sequência, o governo federal editou, em 23 de janeiro de 2019, o Decreto nº


9.690, promovendo alterações no regulamento da Lei nº 12.527, de 18/11/2011, a Lei de Acesso à
Informação (LAI). Por esse decreto, aumentou a dispersão e o número de pessoas habilitadas a
classificar documentos como secretos e ultrassecretos. Tratava-se de uma ampliação que permitiria
delegação para um universo de até 1.100 autoridades para o primeiro caso, e um grupo superior a
200 pessoas poderia realizar a classificação no nível mais alto, o de ultrassecreto, eliminando do
acesso público documentos por até 25 anos. Houve posteriormente recuo, mas não deixa de ser
significativo que um governo que pautou sua campanha pelo combate à corrupção tenha como
marco inaugural a fragilidade do instrumento mais importante para tanto: a transparência. A
Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção59 é expressa nesse sentido em inúmeros
dispositivos.

80. Mais recentemente, aproveitando no mau sentido a pandemia da Covid-19, houve


nova tentativa de fragilizar a LAI, imediatamente impedida pelo Supremo Tribunal Federal. Pela
MP 928/2020, ficava limitado o acesso às informações prestadas por órgãos públicos durante a

59
Promulgada e internalizada no Brasil pelo Decreto 5.687, de 31/1/2006.
emergência de saúde pública. A liminar que suspendeu a vigência dessa norma foi concedida pelo
Ministro Alexandre de Moraes do STF, nos autos da ADI 6351 e, posteriormente, confirmada pelo
Plenário da Corte. Agregue-se a isso a decisão governamental pela não divulgação dos dados de
adoecimentos e mortes pela Covid-19, seguida por uma apresentação bastante confusa dos
números60.

81. Outro episódio revelador da política sistemática do atual Presidente da República


de desconstrução de políticas públicas originárias da Constituição e enraizadas na ação do Estado
brasileiro veio a com extinção de inúmeros conselhos representativos da participação da sociedade
junto às ações governamentais, pelo Decreto 9.759/2019, ensejando a propositura de ação direta
de inconstitucionalidade. O Supremo Tribunal Federal deliberou pela suspensão dessa medida, em
acórdão assim ementado:

PROCESSO OBJETIVO – CONTROLE DE


CONSTITUCIONALIDADE – LIMINAR – DEFERIMENTO PARCIAL.
Surgindo a plausibilidade jurídica parcial da pretensão e o risco de manter-
se com plena eficácia o quadro normativo atacado, impõe-se o deferimento
de medida acauteladora, suspendendo-o. COMPETÊNCIA NORMATIVA
– ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – ÓRGÃOS COLEGIADOS –
PREVISÃO LEGAL – EXTINÇÃO – CHANCELA PARLAMENTAR.
Considerado o princípio da separação dos poderes, conflita com a
Constituição Federal a extinção, por ato unilateralmente editado pelo
Chefe do Executivo, de órgãos colegiados que, contando com menção em
lei em sentido formal, viabilizem a participação popular na condução das
políticas públicas – mesmo quando ausente expressa “indicação de suas
competências ou dos membros que o compõem”.

(ADI 6121 MC, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado


em 13/06/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-260 DIVULG 27-11-
2019 PUBLIC 28-11-2019)

82. Mantidos os conselhos criados por lei, os ataques a eles foram permanentes. Tome-

60
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/06/apos-ameacar-sonegar-dados-governo-promove-confusao-com-
numeros-a-covid-19.shtml
se como exemplo o Conanda – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente,
criado pela Lei 8.242/9. No dia 4 de setembro de 2019, foi promulgado o Decreto 10.003, em que
o Presidente da República alterou o seu regulamento, o Decreto 9.579/2018, reduzindo o número
de seus componentes, esvaziando o seu caráter multissetorial e transversal e ainda retirando o
apoio técnico-administrativo-financeiro do MMFDH necessário ao seu funcionamento. Em
dezembro de 2019, o ministro Roberto Barroso concedeu liminar na ADPF 622, para restabelecer
os mandatos dos conselheiros até seu termo final e determinar a eleição dos representantes das
entidades da sociedade civil em assembleia específica, a realização de reuniões mensais com o
custeio do deslocamento dos conselheiros que não moram no Distrito Federal e que o presidente
do órgão fosse eleito por seus pares, tudo nos termos do regimento interno. Como a decisão ocorreu
no final de 2019, o Conanda se viu impossibilitado, naquele ano, de fazer a gestão do Fundo
Nacional para a Criança e o Adolescente (FNCA), com prejuízo ao financiamento de inúmeros
projetos destinados à promoção, proteção e defesa dos direitos das crianças e adolescentes.

83. Já o Conselho Nacional do Idoso, criado pela Lei 8.842/94, é outro exemplo do
descumprimento dissimulado da decisão do STF na ADI 6.121. Toda a sua estrutura, composição
e funcionamento, tal como previstas no Decreto 5.109/2004, foram alteradas pelo Decreto
9.893/2109, que, de resto, cassou os mandatos da presidente e dos conselheiros e conselheiras
eleitos para a gestão 2018-202061.

84. Outro caso absurdo é o do CIAMP-RUA, Conselho Intersetorial de


Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População de Rua, criado pelo
Decreto 7.053/2009, com composição paritária de nove membros do governo e nove, da sociedade
civil. Extinto pelo decreto de Bolsonaro, foi recriado pelo Decreto 9.894/2019, cujo § 7º do art. 5º
concebeu o absurdo: “os membros do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento
da Política Nacional para a População em Situação de Rua que se encontrarem no Distrito Federal
se reunirão presencialmente e os membros que se encontrem em outros entes federativos
participarão da reunião por meio de videoconferência”. Foi assim estipulado que a reunião de
população de rua seria realizada por videoconferência, quando os recursos para a assistência social
e respectivos repasses para os entes subnacionais estavam seriamente comprometidos, sem
condições de atender às necessidades mais básicas desse segmento62. O fato é que a

61
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=44C4BBF8E9A2C654A79B951433C
41F80.proposicoesWebExterno1?codteor=1774969&filename=Avulso+-PDL+454/2019
62
http://www.congemas.org.br/Publicacao.aspx?id=115474
videoconferência foi a chave para dar a aparência de que os conselhos seguiam funcionando. Sem
o fornecimento de qualquer equipamento de informática, os conselhos de participação social,
quase que em sua totalidade, não realizaram atividade alguma ao longo do ano de 2019.

85. O Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura só sobrevive graças à


intervenção judicial, ainda assim de forma muito debilitada. Logo no início do governo, o
Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH) desautorizou uma missão do o
Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT) ao Ceará63. Convém lembrar
que a preocupação em impedir e prevenir a prática de tortura e de outros tratamentos desumanos
ou degradantes traduziu-se, além da Constituição, na adesão do Brasil a inúmeros atos no âmbito
do direito internacional dos direitos humanos: a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos
ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, assinada em Assembleia Geral das Nações Unidas
na data de 10 de dezembro de 1984 e promulgada pelo Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991;
a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, promulgada pelo Decreto nº 98.386,
de 9 de dezembro de 1989; a adesão ao Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional,
promulgada pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002; e a promulgação do Protocolo
Facultativo à Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes, pelo Decreto nº 6.085, de 19 de abril de 2007. Esse último documento, já em seu
artigo 1, é suficientemente elucidativo: “o objetivo do presente Protocolo é estabelecer um sistema
de visitas regulares efetuadas por órgãos nacionais e internacionais independentes a lugares onde
pessoas são privadas de sua liberdade, com a intenção de prevenir a tortura e outros tratamentos
ou penas cruéis, desumanos ou degradantes”. E a Lei nº 12.847, de 2 de agosto de 2013, em seu
artigo 8º, § 2º, estabeleceu que os membros do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à
Tortura terão independência na sua atuação.

86. Na sequência, veio o Decreto 9.831, de 10 de junho de 2019, prevendo que a


participação no Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura “será considerada
prestação de serviço público relevante, não remunerada”. Era o desmonte do combate à tortura no
Brasil64, que só não se completou por conta de decisão liminar da Justiça Federal no Rio de Janeiro,
mantida pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região65. A situação foi de tamanha gravidade que

63
https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/todas-as-noticias/2019/fevereiro/cndh-manifesta-preocupacao-
frente-ao-cancelamento-da-missao-do-
64
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bolsonaro-desmonta-orgao-de-combate-a-tortura,70002866264
65
https://www10.trf2.jus.br/portal/trf2-mantem-liminar-garantindo-cargos-de-peritos-do-mecanismo-nacional-de-
prevencao-e-combate-tortura/
a Associação para a Prevenção da Tortura, com sede em Genebra, pediu ingresso, na condição de
amicus curiae, na ADPF 607, cujo objeto era esse “serviço voluntário” dos peritos do
Mecanismo66.

87. A área de memória e verdade foi totalmente destruída. É preciso lembrar que o
Brasil foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, no caso Gomes Lund, a
assumir obrigações de instituir políticas de reparação integral às vítimas e familiares da ditadura
inaugurada em 1964. Em 2015, o Brasil apresentou relatório à CIDH, onde justifica a sua aderência
àquela decisão mediante as seguintes iniciativas, todas a cargo da Comissão de Anistia: (i)
implantação do Memorial da Anistia; (ii) projeto Clínicas do Testemunho, com a realização de
4.000 atendimentos, 450 horas de capacitação e conversas públicas com 1.900 pessoas; (iii)
Caravanas de Anistia, por “romper com o silêncio e o medo de discutir publicamente o passado”;
(iv) Marcas da Memória, enfatizando que, ao final do projeto, “os acervos de fontes orais e
audiovisuais organizados serão disponibilizados para consulta pública e pesquisa no Centro de
Documentação e Pesquisa do Memorial da Anistia Política do Brasil”; (v) publicações em
conformidade com os ideais de preservação da memória histórica e da verdade; e (vi) mais de 50
atividades realizadas ao longo de 2014 por ocasião dos 50 anos do golpe, dentre tantas outras ações
de reparação. Nada disso existe mais. Ao contrário, pela Portaria nº 378, de 27 de março de 2019,
a composição do Conselho da Comissão de Anistia passou a contar com pelo menos cinco militares
de carreira, além de pessoas com atuação judicial contrária à concessão de reparação, a atos da
Comissão de Anistia e do Ministro da Justiça e à instauração da Comissão Nacional da Verdade67.

88. A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos sofreu igual destino:


composição por pessoas que negam a ditadura militar. A declaração do presidente a respeito das
nomeações feitas pelo decreto presidencial de julho de 2019 fala por si só: "O motivo é que mudou
o presidente, agora é o Jair Bolsonaro, de direita. Ponto final. Quando eles botavam terrorista lá,
ninguém falava nada. Agora mudou o presidente. Igual mudou a questão ambiental também"68.

66
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=750859776&prcID=5741167#
67
https://oglobo.globo.com/brasil/damares-muda-perfil-da-comissao-de-anistia-rejeita-265-pedidos-23554015 ;
https://jornalggn.com.br/direitos-humanos/para-presidir-comissao-de-anistia-damares-nomeia-ex-assessor-
debolsonaro-
que-ja-atuou-contra-anistiados/
68
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/08/bolsonaro-muda-comissao-de-mortos-e-desaparecidos-em-meio-a-
ataques-sobre-o-tema.shtml
89. Um dos membros recém designados, Weslei Antônio Maretti, assim se manifestou
em redes sociais, ao elogiar um notório torturador do período da ditadura militar: “O
comportamento e a coragem do coronel Ustra servem de exemplo para todos os que um dia se
comprometeram a dedicar-se inteiramente ao serviço da pátria. Apesar de travar uma luta de Davi
contra Golias, a sua vitória é certa porque no final o bem prevalece sobre o mal”.69

90. O Presidente da República ao longo de seu governo, vem defendendo o fim da


suposta “ideologia de gênero”, principalmente nas escolas70. Além de o termo não corresponder a
qualquer categoria analítica, e tampouco a alguma área do conhecimento, o Supremo Tribunal
Federal tem decisão recente sobre o tema, em acórdão assim ementado:

EMENTA: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO


FUNDAMENTAL. DIREITO CONSTITUCIONAL. LEI 1.516/2015 DO
MUNICÍPIO DE NOVO GAMA – GO. PROIBIÇÃO DE DIVULGAÇÃO
DE MATERIAL COM INFORMAÇÃO DE IDEOLOGIA DE GÊNERO
EM ESCOLAS MUNICIPAIS. USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA
PRIVATIVA LEGISLATIVA DA UNIÃO. DIRETRIZES E BASES DA
EDUCAÇÃO NACIONAL (ART. 22, XXIV, CF). VIOLAÇÃO AOS
PRINCÍPIOS ATINENTES À LIBERDADE DE APREENDER,
ENSINAR, PESQUISAR E DIVULGAR O PENSAMENTO A ARTE E O
SABER (ART. 206, II, CF), E AO PLURALISMO DE IDEIAS E DE
CONCEPÇÕES PEDAGOGICAS (ART. 206, III, CF). PROIBIÇÃO DA
CENSURA EM ATIVIDADES CULTURAIS E LIBERDADE DE
EXPRESSÃO (ART. 5º, IX, CF). DIREITO À IGUALDADE (ART. 5º,
CAPUT, CF). DEVER ESTATAL NA PROMOÇÃO DE POLÍTICAS
PÚBLICAS DE COMBATE À DESIGUALDADE E À
DISCRIMINAÇÃO DE MINORIAS. INCONSTITUCIONALIDADE
FORMAL E MATERIAL RECONHECIDAS. PROCEDÊNCIA. 1.
Compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da
educação nacional (CF, art. 22, XXIV), de modo que os Municípios não
têm competência legislativa para a edição de normas que tratem de
currículos, conteúdos programáticos, metodologia de ensino ou modo de

69
https://jornalggn.com.br/politica/novo-integrante-da-comissao-de-mortos-e-desaparecidos-politicos-exalta-
torturador-e-ex-chefe-do-doi-codi/
70
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bolsonaro-defende-familia-tradicional-e-chama-ideologia-de-genero-
de-coisa-do-capeta,70002962393
exercício da atividade docente. A eventual necessidade de suplementação
da legislação federal, com vistas a` regulamentação de interesse local (art.
30, I e II, CF), não justifica a proibição de conteúdo pedagógico, não
correspondente às diretrizes fixadas na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei 9.394/1996). Inconstitucionalidade formal. 2. O
exercício da jurisdição constitucional baseia-se na necessidade de respeito
absoluto à Constituição Federal, havendo, na evolução das Democracias
modernas, a imprescindível necessidade de proteger a efetividade dos
direitos e garantias fundamentais, em especial das minorias. 3. Regentes
da ministração do ensino no País, os princípios atinentes à liberdade de
aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber (art.
206, II, CF) e ao pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas (art.
206, III, CF), amplamente reconduzíveis à proibição da censura em
atividades culturais em geral e, consequentemente, à liberdade de
expressão (art. 5º, IX, CF), não se direcionam apenas a proteger as opiniões
supostamente verdadeiras, admiráveis ou convencionais, mas também
aquelas eventualmente não compartilhada pelas maiorias. 4. Ao aderir à
imposição do silêncio, da censura e, de modo mais abrangente, do
obscurantismo como estratégias discursivas dominantes, de modo a
enfraquecer ainda mais a fronteira entre heteronormatividade e homofobia,
a Lei municipal impugnada contrariou um dos objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil, relacionado à promoção do bem de todos
(art. 3º, IV, CF), e, por consequência, o princípio segundo o qual todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (art. 5º, caput, CF).
5. A Lei 1.516/2015 do Município de Novo Gama – GO, ao proibir a
divulgação de material com referência a ideologia de gênero nas escolas
municipais, não cumpre com o dever estatal de promover políticas de
inclusão e de igualdade, contribuindo para a manutenção da discriminação
com base na orientação sexual e identidade de gênero.
Inconstitucionalidade material reconhecida. 6. Arguição de
descumprimento de preceito fundamental julgada procedente.

(ADPF 457, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno,


julgado em 27/04/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-137 DIVULG
02-06-2020 PUBLIC 03-06-2020)
91. Está suficientemente claro no acórdão que leis tendentes a abolir a discussão, em
sala de aula, de temática relativa à identidade de gênero e à orientação sexual ferem os princípios
fundamentais da igualdade e do pluralismo. De modo que o seu conteúdo não pode ser veiculado
sequer por emenda constitucional. De resto, o Brasil é signatário da Convenção sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, promulgada pelo Decreto 4.377/2002. Em
seu artigo 5.a, estabelece que os Estados partes tomarão todas as medidas para “modificar os
padrões sócio-culturais de conduta de homens e mulheres, com vistas a alcançar a eliminação dos
preconceitos e práticas consuetudinárias e de qualquer outra índole que estejam baseados na ideia
da inferioridade ou superioridade de qualquer dos sexos ou em funções estereotipadas de homens
e mulheres.” Convém ainda lembrar que o Brasil, como Estado membro da ONU, aderiu à Agenda
2030 para o Desenvolvimento Sustentável – ODS71, que contém 17 Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável e 169 metas associadas. São todos integrados e indivisíveis, equilibrando as três
dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. O ODS 5 dispõe:
“Igualdade de gênero. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas”.

92. A despeito desses compromissos internacionais, a ministra Damares Alves, por


ocasião de seu discurso de posse no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, em 2 de
janeiro de 2019, afirmou que “menina será princesa e menino será príncipe”. No mesmo dia,
circulou na internet vídeo onde Damares dizia que o país ingressava em uma “nova era”, em que
“meninas vestem rosa e meninos vestem azul”72. Mais recentemente, Damares lançou uma
campanha no contexto da Semana Nacional de Prevenção à Gravidez Precoce73, pregando a
abstinência sexual como estratégia para reduzir a taxa de gestações na adolescência. No entanto,
de acordo com os documentos internacionais assinalados, essa é uma estratégia inadequada para
enfrentamento da questão, porque a gravidez precoce é resultado, na maior parte dos casos, de
meninas não conseguirem dizer “não”, tamanha a força masculina em sociedades patriarcais. Daí
por que a educação sexual nas escolas, como forma de superar os padrões de dominação, é
imprescindível. A Agenda 2030, em seu ODS 5.6, estabelece que os Estados devem “assegurar o
acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e os direitos reprodutivos como acordado em

71https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/
72
https://oglobo.globo.com/sociedade/menino-veste-azul-menina-veste-rosa-diz-damares-alves-em-video-23343024
73
https://veja.abril.com.br/politica/tudo-tem-seu-tempo-prega-campanha-de-damares-por-abstinencia-sexual/
conformidade com o Programa de Ação da Conferência Internacional sobre População e
Desenvolvimento e com a Plataforma de Ação de Pequim e os documentos resultantes de suas
conferências de revisão. Em relação ao primeiro, consta:

6.15 O jovem deve ser ativamente envolvido no planejamento, na


implementação e avaliação de atividades de desenvolvimento que afetem
diretamente sua vida diária. Isso é especialmente importante com relação
atividades e serviços de informação, educação e comunicação
concernentes à saúde reprodutiva e sexual, inclusive prevenção da gravidez
prematura, educação sexual e prevenção do HIV/AIDS e de outras doenças
sexualmente transmissíveis. O acesso a esses serviços deve ser assegurado,
bem como sua confidencialidade e privacidade, com o apoio e orientação
dos pais e de conformidade com a Convenção sobre os Direitos da Criança.
Além disso, há necessidade de programas de educação que favoreçam
habilidades de planejamento de vida, sistemas de vida saudável e efetivo
desestímulo de abuso de drogas.

93. Já o Relatório sobre a Situação da População Mundial 2016 do Fundo de População


das Nações Unidas (UNFPA), em contraposição às iniciativas contraproducentes adotadas pelo
atual governo brasileiro, consigna74:

A educação integral para a sexualidade é uma fonte essencial de


informação apropriada à idade para milhões de meninas no mundo
todo. Há claras evidências de que a educação integral para a
sexualidade tem um impacto positivo sobre a saúde sexual e
reprodutiva, além de ajudar a reduzir infecções sexualmente
transmissíveis, inclusive o HIV, bem como gravidez não planejada
(UNESCO, 2015a).
A educação integral para a sexualidade também tem um impacto
comprovado na melhoria do conhecimento e da autoestima,
mudando atitudes e normas sociais e de gênero, além de desenvolver
a capacidade de influência e decisão. Esses fatores são críticos
durante a adolescência, quando as pessoas fazem a transição para a

74
http://www.unfpa.org.br/swop2016/BOOK-SWOP-2016-24-10-WEB.pdf
vida adulta. As evidências confirmam que a educação integral para
a sexualidade não incentiva a atividade sexual, mas tem um impacto
positivo sobre comportamentos sexuais mais seguros e pode
postergar a iniciação sexual.

94. Além da destruição de espaços que foram projetados como órgãos de Estado, e não
de governo, e do encolhimento de todas as políticas de enfrentamento à desigualdade e à exclusão,
a administração pública, em sua generalidade, passou a ser moldada pela vontade pessoal de Jair
Bolsonaro. O laudo pericial da reunião ministerial do último dia 22 de abril de 2020 não permite
dúvida. Bolsonaro diz: “eu tenho o poder e vou interferir em todos os ministérios, sem exceção”.
Mais adiante revela que tem que alterar a presidência do Iphan: “O IPHAN, não é? Tá la vinculado
a Cultura. (...) Mas tinha que ter um outro perfil também. O IPHAN para qualquer obra do Brasil,
como para a do Luciano Hang. Enquanto tá lá um cocô petrificado de índio, para a obra, pô! Para
a obra. O que que tem que fazer? Alguém do IPHAN que resolva o assunto, né? E assim nós temos
que proceder. E assim, cada órgão, como eu falei da Teresa Cristina, que mudou uma Instrução
Normativa, revogou uma Instrução Normativa, ajudou quatrocentos mil pessoas no Vale do Ribeira
- parabéns a ela - assim são outras decisões.”75

95. Essa tétrica reunião ministerial, além de revelar o despreparo, a falta de


compromisso com o bem comum, a volúpia dos participantes em agradar o chefe, comprova o
propósito do Presidente da República de destruir as políticas públicas emanadas do texto
constitucional. Houve confissões explícitas nesse sentido, fomentadas e toleradas pelo Presidente
da República, por exemplo na ocasião em que Ricardo Salles, Ministro do Meio Ambiente afirmou:
“estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de
COVID e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De IPHAN,
de ministério da Agricultura, de ministério de Meio Ambiente, de ministério disso, de ministério
daquilo”. Em igual sentido, Damares Alves, Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos,
dirigindo-se ao então Ministro da Saúde que “o seu ministério, ministro, tá lotado de feminista que
tem uma pauta única que é a liberação de aborto”; “nós recebemos a notícia que haveria
contaminação criminosa em Roraima e Amazônia, de propósito, em índios, pra dizimar aldeias e
povos inteiro pra colocar nas costas do presidente Bolsonaro”; “a pandemia vai passar, mas
governadores e prefeitos responderão processos e nós vamos pedir inclusive a prisão de

75
https://valor.globo.com/politica/noticia/2019/06/20/bolsonaro-visita-a-familia-em-eldorado-no-vale-do-
ribeira.ghtml
governadores e prefeitos”. Numa culminância do espetáculo de desfaçatez que foi esse encontro
de altas autoridades federais, presidido de modo canhestro pelo Presidente da República, o então
Ministro da Educação, Abraham Weintraub, investiu contra os Ministros do Supremo Tribunal
Federal, ao verberar: “eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no
STF”; e acrescentou, em desrespeito patente ao disposto na Constituição, produzindo ato
discriminatório impensável para uma autoridade da área educacional: “odeio o termo ‘povos
indígenas’, odeio esse termo. Odeio. O "povo cigano". Só tem um povo nesse país. Quer, quer.
Não quer, sai de ré. É povo brasileiro, só tem um povo. Pode ser preto, pode ser branco, pode ser
japonês, pode ser descendente de índio, mas tem que ser brasileiro, pô! Acabar com esse negócio
de povos e privilégios”. Paulo Guedes, identificado como um “anarcocapitalista”76, evidenciou a
sua incapacidade de elaborar qualquer política pós-pandemia ancorada no Estado, enquanto o
mundo todo se dá conta de que haverá uma grande crise econômica e que a intervenção estatal será
inevitável.

96. A Secretaria de Comunicação da Presidência da República é o eco das vontades de


Bolsonaro. Como referido acima, publica matérias sobre a pandemia em desacordo com as
orientações sanitárias da OMS e do próprio Ministério da Saúde77, usa lema associado ao nazismo
em suas divulgações78, e exalta o encontro de Bolsonaro com o torturador Sebastião Curió, assim
reconhecido em diversos relatórios do Estado brasileiro (p. ex., da Comissão Nacional da Verdade
e da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos). Sebastião Curió, então
conhecido pela alcunha de Doutor Lucchini, foi um dos mais brutais oficiais do Exército brasileiro
em ação na Guerrilha do Araguaia, tendo sido processado pelo desaparecimento forçado,
qualificado como crime contra a humanidade, de cidadãos brasileiros como Hélio Luiz Navarro
de Magalhães, Maria Célia Corrêa, Daniel Ribeiro Callado, Antônio de Pádua, Telma Regina
Cordeiro Corrêa, Divino Ferreira de Souza, André Grabois, João Gualberto Calatrone e Antonio
Alfredo de Lima.

76
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/08/quem-sao-os-libertarios-e-anarcocapitalistas-que-pregam-o-
fim-do-estado.shtml
77
Ver nota 34
78
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/05/10/secom-usa-lema-associado-ao-nazismo-para-
divulgar-acoes-contra-a-covid-19.htm
“A Guerrilha do Araguaia tentou tomar o Brasil via luta armada. A dedicação
deste e de outros heróis ajudou a livrar o país de um dos maiores flagelos da
História da Humanidade: o totalitarismo socialista, responsável pela morte de
aprox. 100 MILHÕES de pessoas em todo o mundo.”

“Heróis do Brasil
Presidente Bolsonaro recebe Tenente-Coronel que combateu a Guerrilha
Comunista do Araguaia.

Tenente-Coronel Sebastião Curió Rodrigues de Moura”

97. Relatório produzido a pedido da CPMI das Fake News identificou mais de 2
milhões de anúncios pagos com verba da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República (Secom) em sites, aplicativos de telefone celular e canais de YouTube que veiculam
conteúdo considerado inadequado. Entre eles estão sites que divulgam notícias falsas, oferecem
investimentos ilegais e até aplicativos com conteúdo pornográfico79.

79
https://blogs.oglobo.globo.com/sonar-a-escuta-das-redes/post/cpmi-das-fake-news-identifica-2-milhoes-de-
anuncios-da-secom-em-canais-de-conteudo-inadequado-em-so-38-dias.html
98. Em 17 de janeiro de 2020, o então Secretário Especial de Cultura, Roberto Alvim,
postou um vídeo para divulgar o Prêmio Nacional das Artes, lançado no dia anterior . No vídeo,
além de reproduzir quase que literalmente pronunciamento de Joseph Goebbels para diretores de
teatro em 1933, o ex-secretário o faz em ambiente estético muito similar àquele constante de uma
foto do ministro da propaganda de Hitler80. A sua sucessora, a atriz Regina Duarte, em entrevista
à rádio CNN Brasil do último dia 4 de maio, minimizou a tortura ocorrida no período da ditadura81.

99. O presidente da Funai é contra a demarcação de áreas indígenas. Assessorou a


bancada ruralista na CPI contra o Incra e a Funai82 e discute gestão fundiária com Nabhan Garcia,
conhecido fundador da UDR83, criada em 1985 contra os avanços do Movimento dos Sem Terra
(MST). Na sequência, o presidente da Funai baixou a Instrução Normativa 09, determinando que
só ingressem no SIGEF – Sistema de Gestão Fundiária as terras indígenas homologadas, deixando
sem nenhuma proteção aquelas já identificadas, com relatório publicado, além daquelas com
portaria declaratória. A ausência delas no SIGEF permite que passem para o domínio privado,
como é o objetivo da MP 910, a “MP da grilagem”, agora convertida no PL 2633/2020. O Conselho
Diretor do Incra tem editado resoluções que implicam a renúncia de processos de desapropriação
ou o cancelamento de títulos da dívida agrária após longo período de tramitação84.

100. O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, a pretexto de


comemorar o aniversário da Lei Áurea, de 1888, publicou, no site oficial da Fundação, artigos que
põem em dúvida a figura de Zumbi dos Palmares, símbolo da luta negra contra a escravidão e, por
isso, razão da designação do primeiro espaço institucional criado para enfrentar o racismo
estrutural da sociedade brasileira. Também, ao longo do dia, fez uso de suas redes sociais insistindo
em que Zumbi não era um “herói autêntico”, mas sim a princesa Isabel 85, que assinou a Lei Áurea.
Algumas de suas postagens são: “Zumbi é herói imposto pela ideologia que a grande maioria dos
brasileiros repudia. Negros, questionem, critiquem e não o aceitem passivamente!"; "Herói da

80
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=aNqAiyMxYRw.
81
Disponível em: https://youtu.be/v9gLHrP7RNw
82
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-49107737
83
http://www.funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/6053-funai-e-ministerio-da-agricultura-discutem-gestao-
fundiaria
84
http://www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr/pfdc-recomenda-ao-incra-revogacao-de-resolucoes-usadas-para-
desistencia-em-processos-de-desa
85
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,presidente-da-fundacao-palmares-repudia-zumbi-que-da-nome-a-
entidade-e-e-simbolo-do-movimento-negro,70003302274
esquerda racialista; não do povo brasileiro. Repudiamos Zumbi!". Em reunião do dia 30 de abril,
chamou o movimento negro de “escória racista” e “vagabundos”, e ainda conclamou seus
subordinados a entregarem os servidores esquerdistas da Fundação, para que fossem demitidos86.

101. Aliás, o assédio sobre os servidores que tentaram prosseguir atuando de


acordo com as atribuições do cargo é enorme. O diretor do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais, Ricardo Galvão, foi exonerado porque criticou o presidente Jair Bolsonaro, que acusou
o órgão de mentir sobre os dados do desmatamento87. O fiscal responsável pela multa contra
Bolsonaro, José Augusto Morelli, flagrado pescando ilegalmente numa reserva protegida no Rio
de Janeiro, em 2012, foi exonerado em março do ano passado do cargo de chefe do Centro de
Operações Aéreas da Divisão de Proteção do Ibama. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles,
e o presidente do Ibama, Eduardo Bim, exoneraram no dia 30 de abril os dois chefes do setor do
Ibama responsável pelas grandes operações de repressão a crimes ambientais no país. Duas
semanas depois da operação que ambos coordenaram a fim de fechar garimpos ilegais e impedir a
disseminação do novo coronavírus em terras indígenas no sul do Pará88.

102. O ICMBio foi reestruturado, com a transformação de 11 coordenações em


5 gerências regionais, cujos titulares são cargo DAS 4 e majoritariamente policiais militares. Para
o presidente da Associação Nacional de Servidores de Meio Ambiente (Ascema), Denis Rivas, a
reestruturação do ICMBio "prioriza a centralização das decisões através da ocupação de cargos
por poucas pessoas com salários mais altos". De acordo com ele, ao reduzir o número de cargos
de chefia, a medida "precarizou a gestão de inúmeras unidades de conservação". E acrescentou:
"Enquanto cargos de poder estão sendo ocupados por PMs, a Coordenação de Fiscalização está
vaga há meses, por exemplo. A diminuição do número de servidores que se aposentaram nos
últimos anos agrava as dificuldades de gestão das unidades de conservação, que seria revertido por
um novo concurso para o ICMBio"89.

103. Essa galopante desestruturação de toda a governança pública, tanto em

86
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/06/presidente-da-fundacao-palmares-chama-movimento-negro-de-
escoria-maldita.shtml
87
https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/08/07/exoneracao-de-diretor-do-inpe-e-publicada-no-diario-
oficial.ghtml
88
https://noticias.uol.com.br/colunas/rubens-valente/2020/04/30/ibama-exoneracoes-amazonia.htm
89
https://g1.globo.com/natureza/noticia/2020/05/12/governo-oficializa-mudancas-no-icmbio-associacao-critica-
troca-de-11-coordenadores-por-5-gerentes.ghtml
termos de equipamento, como em relação ao conhecimento técnico acumulado, explicam a
incapacidade de respostas ágeis e eficientes ao combate do novo coronavírus. O Ministério da
Saúde utilizou até agora apenas 6,8% dos recursos destinados diretamente para a emergência
sanitária provocada pela pandemia, segundo dados retirados do próprio site do ministério no dia
27 de maio. Conforme os dados, somente 804,68 milhões de reais, de um total de 11,74 bilhões de
reais, foram usados para a ação "Enfrentamento da Emergência de Saúde Pública de Importância
Internacional Decorrente do Coronavírus"90. Esse Ministério demorou três meses após a chegada
da pandemia ao Brasil para adotar alguma medida em relação às favelas, que não contam, via de
regra, com saneamento básico, sofrem permanente falta de água, seus habitantes não têm
condições econômicas de adquirir álcool gel e outros equipamentos de proteção individual, e o
adensamento populacional das habitações nesses regiões torna impossível a adoção da
recomendação do distanciamento social. Não é por acaso que o bairro campeão de morte por
Covid-19 em São Paulo é Brasilândia. A imprensa internacional vem se preocupando com o
aumento de militares no Ministério da Saúde e, no dia 3 de junho, após 19 dias de cargo vago, foi
oficializado o general Pazuello como Ministro interino da saúde91. De resto, a imprensa nacional
noticia que o novo secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde foi uma indicação
do chamado “Centrão”, na negociação para impedir o impeachment de Bolsonaro92.

104. Também as respostas para aliviar as perdas econômicas, principalmente dos


grupos mais fragilizados, foram insuficientes e desorganizadas. A proposta inicial do governo para
o auxílio emergencial era de R$ 200,00. Apenas no Parlamento é que ele chegou a R$ 600,0093. A
desorganização no pagamento gerou filas enormes, em contrariedade à orientação do
distanciamento social94. Familiares de presos tiveram seus pedidos retidos, sem qualquer razão
legal ou regulamentar95, aparentemente porque Bolsonaro não deve considerá-los merecedores de
qualquer respeito. E, recentemente, o que parecia improvável aconteceu: parte dos recursos do

90
economia.uol.com.br/noticias/reuters/2020/06/02/mpf-abre-inquerito-para-apurar-execucao-orcamentaria-do-
ministerio-da-saude-na-pandemia.htm
91
https://www.reuters.com/article/us-health-coronavirus-brazil-response-sp-idUSKBN2321DU e
https://oglobo.globo.com/sociedade/governo-oficializa-general-pazuello-como-ministro-interino-da-saude-1-
24459898
92
https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,governo-nomeia-novo-secretario-de-vigilancia-do-ministerio-da-
saude,70003325632; https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/06/05/governo-nomeia-novo-
secretario-de-vigilancia-em-saude-do-ministerio-da-saude.ghtml
93
https://catracalivre.com.br/cidadania/senado-aprova-auxilio-emergencial-de-r-600-a-trabalhadores-informais/
94
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/06/caixa-promete-cadeiras-e-controle-de-distancia-em-fila-para-
saque-de-auxilio-emergencial.shtml
95
https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/05/14/governo-nega-auxilio-emergencial-para-
parentes-de-presos.htm
Bolsa Família destinados ao Nordeste foi transferida para a publicidade oficial96

105. Enfim, o que parece inquestionável é que toda a administração pública


obedece aos desejos e devaneios de Jair Bolsonaro. Aliás, seria covarde da parte dele isentar-se de
responsabilidade por todos os desmandos acima arrolados, quando é do conhecimento geral que
quem atua contra as suas convicções é imediatamente exonerado. E ele próprio, na reunião do dia
22 de abril de 2020, afirma que intervém, sim, em todos os ministérios. Por isso é possível imputar
a ele ato de improbidade administrativa, porque sua gestão se dá em desconformidade com os
princípios que norteiam a administração pública, inscritos no artigo 37 da Constituição da
República. Todos esses princípios (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência), foram seriamente ofendidos nas várias condutas acima enunciadas. Em relação à
publicidade oficial, há dispositivo específico, no parágrafo 1º do artigo 37, segundo o qual “a
publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter
caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos
ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos”.

106. Ainda no campo da improbidade, Jair Bolsonaro tenta desestruturar toda a


máquina administrativa, especialmente a que vem sendo construída desde 1988 para cumprir os
objetivos constitucionais de promoção de direitos. Todo o investimento com equipamentos
públicos, conferências, seminários, reuniões de colegiados, concursos públicos e capacitação de
servidores está se perdendo. Servidores que se apresentaram para áreas com as quais se
identificavam como ideal profissional são perseguidos e, por isso, buscam, quando possível,
aposentadoria, licença capacitação ou algum outro meio para se tornarem invisíveis. Policiais
militares que também tiveram um grande investimento em sua formação estão sendo desviados de
sua função para outras a respeito das quais nada conhecem.

107. O desenho da administração pública na Constituição de 1988 é no sentido


da sua pouca permeabilidade às mudanças de governo. Ela é uma administração técnica, cujo
recrutamento de seu pessoal se dá mediante concurso público (art. 37, II), e só excepcionalmente
se permite a livre nomeação (art. 37, V). União, Estados e Distrito Federal têm que manter escolas
para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores públicos, e a participação nos cursos é um dos

96
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/06/governo-tira-dinheiro-do-bolsa-familia-no-nordeste-para-bancar-
publicidade-oficial.shtml; https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/06/05/estados-do-nordeste-pedem-que-stf-
restabeleca-recursos-transferidos-do-bolsa-familia.ghtml
requisitos para a promoção em carreira (art. 39, parágrafo 2º). Os serviços da administração se dão
com a participação dos usuários e estão sujeitos à avaliação periódica, externa e interna (parágrafo
3º, I e II). A Constituição, em seu artigo 85, V, estabelece ser crime de responsabilidade os atos do
Presidente da República que atentem contra “a probidade na administração”. Idêntica previsão
consta da Lei 1079/50 (art. 4º, inciso V). A Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/92), em
seu art. 11, diz que “constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições”.

108. Em arremate dessa pormenorizada narrativa, é certa a demonstração


conclusiva de ter havido profundas lesões ao exercício de direitos políticos, individuais e sociais,
provocadas por atos do Presidente da República, que constituem, inegavelmente, crimes
tipificados no art. 7º, incisos 5, 6 e 9, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950.97

II.2. DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE DECORRENTES DE


VIOLAÇÕES ESPECÍFICAS A DIREITOS POLÍTICOS, INDIVIDUAIS E
SOCIAIS COMETIDAS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA E POR SEU
GOVERNO.

109. Os atos presidenciais especificamente apontados a seguir capitulam a prática de


abusos de poder pelo próprio Presidente da República e por seus Ministros de Estado, além de
diversos outros subordinados seus, com evidente natureza delituosa, a demonstrar do art. 7º, da
Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950, notadamente nas searas econômica, social, cultural e
ambiental.

a) Violações na área ambiental.

110. A Constituição de 1988 reservou especial proteção ao meio ambiente. O art. 23 da


carta de direitos atribuiu competência comum da União, dos Estados do Distrito Federal e dos
Municípios para “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas”.

97
Art. 7º São crimes de responsabilidade contra o livre exercício dos direitos políticos, individuais e sociais: (...) 5-
servir-se das autoridades sob sua subordinação imediata para praticar abuso do poder, ou tolerar que essas autoridades
o pratiquem sem repressão sua; 6- subverter ou tentar subverter por meios violentos a ordem política e social; (...) 9-
violar patentemente qualquer direito ou garantia individual constante do art. 141 e bem assim os direitos sociais
assegurados no artigo 157 da Constituição;
Também assegurou, no caput do art. 225, como direito de todos, o “meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações”.

111. Referidos dispositivos traduziram uma preocupação que, em nível global, vem
ocupando a comunidade internacional ao menos desde 1972, quando a Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, enunciou, entre seus princípios
que “Os recursos naturais da terra incluídos o ar, a água, a terra, a flora e a fauna e especialmente
amostras representativas dos ecossistemas naturais devem ser preservados em benefício das
gerações presentes e futuras, mediante uma cuidadosa planificação ou ordenamento”.

112. Ao longo das últimas décadas, as prescrições contidas na Constituição foram


complementadas por diversos compromissos assumidos internacionalmente pelo Brasil, tais como
a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento98, a Convenção sobre Diversidade
Biológica99, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima100 e o Acordo de
Paris sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima101.

113. No entanto, desde o início da gestão do ora Denunciado, este tem dirigido um
processo de desarticulação dos principais mecanismos de defesa ambiental e incentivado uma
destruição sem precedentes do patrimônio ecológico brasileiro.

114. Já nos primeiros meses de governo, ficou clara a priorização de interesses


particulares em detrimento do bem comum na gestão do Ministério do Meio Ambiente. Sem
anunciar substitutos, o Ministro Ricardo Salles exonerou 21 dos 27 superintendentes regionais do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA) 102, o que
inevitavelmente implicou descontinuidade das políticas ambientais levadas a cabo até então.

115. Em março de 2019, os servidores da área ambiental do governo, inclusive os do


IBAMA e do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), foram orientados a não
oferecer declarações públicas a respeito de sua área de atuação103. Também têm relatado, inclusive

98
Documento de encerramento da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
realizada no Rio de Janeiro, entre 3 e 14 de junho de 1992.
99
Internalizada pelo Decreto nº 2.519, de 16 de março de 1998.
100
Internalizada pelo Decreto nº 2.652, de 1º de julho de 1998.
101
Internalizado pelo Decreto nº 9.073, de 5 de junho de 2017.
102
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/02/ricardo-salles-exonera-21-dos-27-superintendentes-regionais-
do-ib.shtml.
103
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,ministerio-do-meio-ambiente-impoe-lei-da-mordaca-a-ibama-e-
icmbio,70002753849.
em depoimentos ao Ministério Público Federal, a adoção de medidas pelo governo federal para
prejudicar a fiscalização ambiental e favorecer interesses de criminosos ambientais. Segundo o
MPF, em ação de improbidade ajuizada perante a 8ª Vara Federal de Brasília, destacam-se as
seguintes medidas do governo federal que contribuíram para o enfraquecimento da fiscalização104:

• mudanças de chefia por pessoas com pouco conhecimento das atividades fiscalizatórias ou demora na
definição dos cargos;

• diminuição do número de fiscais;

• reduções orçamentárias;

• inviabilização de atividades estratégicas essenciais, como a destruição de maquinário;

• processos conciliatórios em vez da imposição de multas;

• limitação de horas em campo;

• discursos das autoridades;

• utilização de remoções com desvio de finalidade.

116. Sob Bolsonaro, a liberação de agrotóxicos avançou em ritmo inédito. De acordo


com o Ministério da Agricultura, no primeiro ano do governo liderado por Jair Bolsonaro, o país
atingiu o recorde histórico de pesticidas liberados. Foram 503 registros, um aumento de quase 12%
em relação a 2018. Desses, 110 são classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
como “extremamente tóxicos”105.

117. O levantamento da ONG Repórter Brasil demonstra o incremento substancial de


pesticidas autorizados no último ano:

104
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/07/08/servidores-dizem-em-depoimento-que-governo-toma-medidas-
para-prejudicar-fiscalizacao-ambiental.ghtml.
105
https://reporterbrasil.org.br/2020/01/20-agrotoxicos-liberados-em-2019-sao-extremamente-toxicos/.
118. Ao mesmo tempo, o trabalho da fiscalização ambiental foi severamente prejudicado
pelas políticas levadas a cabo pelo Denunciado, que desde o princípio do seu mandato tem insistido
na existência de uma suposta “farra das multas ambientas”, que, segundo ele, deve acabar106. A
autonomia das autarquias que se encontram sob a alçada do Ministério do Meio Ambiente também
tem sido minada. Em abril de 2019, por exemplo, o IBAMA recebeu uma determinação
proveniente da Secretaria-Executiva do MMA (Ofício nº 2070/2019/MMA) para que fosse
liberada a exploração de petróleo no Parque Nacional de Abrolhos pela “relevância estratégica do
tema”107.

119. Posteriormente, em 15 de abril de 2019, o Presidente da República desautorizou


operação do IBAMA no Estado de Rondônia, demonstrando, uma vez mais, a prevalência de
interesses particulares sobre o interesse público levada a cabo pelo atual mandatário108. As
declarações públicas do Presidente vieram acompanhadas da ameaça de abertura de procedimento
administrativo disciplinar contra os servidores envolvidos na ação, por terem aplicado o
mandamento legal previsto no art. 111 do Decreto nº 6.514/2008.

120. O IBAMA teve, ainda, 24% do seu orçamento reduzido por iniciativa do Poder
Executivo, o que inevitavelmente afeta a capacidade de fiscalização e manutenção das atividades

106
https://noticias.r7.com/brasil/bolsonaro-afirma-que-farra-das-multas-ambientais-vai-acabar-01122018.
107
https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,ministerio-mandou-ibama-liberar-petroleo-em-abrolhos-por-
relevancia-estrategica,70002787439.
108
https://valor.globo.com/politica/noticia/2019/04/14/bolsonaro-desautoriza-operacao-do-ibama-em-
rondonia.ghtml.
do órgão109. No mês seguinte, em maio de 2019, o ICMBio perdeu 26% do seu orçamento,
implicando redução de 95% dos valores destinados à pasta da agenda climática e 38% do montante
destinado à prevenção e ao controle de incêndios florestais110.

121. Como resultado dessa conjunção de fatores, mesmo em período com acentuado
volume de agressões ao meio ambiente, as sanções impostas pela fiscalização ambiental caíram
60% em um ano, levando especialistas a vislumbrarem um “apagão ambiental” no país, decorrente
da intensa pressão para que os servidores responsáveis não apliquem sanções aos transgressores
da legislação ambiental111.

122. As condições precárias de atuação e a descredibilização promovida pelo Presidente


da República geraram efeito imediato. Em 2019, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), o país aumentou em 34% o desmatamento registrado no ano anterior na
Amazônia Legal112. E, em 2020, os dados já consolidados apontam para um crescimento de ainda
maiores proporções. A dois meses do final do período de medição do desmatamento oficial na
Amazônia, os alertas do Sistema DETER aumentaram em 78% em relação ao período anterior113.
Em junho de 2020, o país atingiu 14 meses seguidos de elevação do desmatamento na região,
consoante gráfico produzido pela Folha de S. Paulo:

109
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,ministro-ricardo-salles-manda-cortar-24-do-orcamento-do-
ibama,70002806082.
110
https://www.oeco.org.br/noticias/governo-corta-r-187-milhoes-do-mma-saiba-como-o-corte-foi-dividido/.
111
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2020/07/sancoes-impostas-pelo-ibama-caem-60-em-um-ano-e-
especialistas-alertam-para-apagao-
ambiental.shtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=social&utm_campaign=compwa.
112
http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/dashboard/deforestation/biomes/legal_amazon/rates.
113
https://g1.globo.com/natureza/noticia/2020/06/12/mesmo-com-queda-em-maio-alertas-de-desmatamento-na-
amazonia-indicam-que-temporada-pode-ter-devastacao-maior-que-a-anterior.ghtml.
123. Nem mesmo a atuação do INPE escapou à atuação irresponsável do atual
mandatário. Em lugar de adotar medidas para contenção do desmatamento, no mês de julho de
2019, o Presidente da República criticou publicamente o diretor do INPE pela divulgação de dados
que, na sua compreensão, prejudicaram “o nome do Brasil”114. Poucos dias depois, Ricardo Galvão
foi exonerado de suas funções115.

114
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/07/bolsonaro-critica-diretor-do-inpe-por-dados-sobre-
desmatamento-que-prejudicam-nome-do-brasil.shtml.
115
https://congressoemfoco.uol.com.br/meio-ambiente/diretor-do-inpe-e-demitido-apos-desafiar-bolsonaro/.
124. A situação na região foi agravada com o aumento registrado no número de
incêndios florestais, diretamente relacionados ao aumento do desmatamento116. Segundo o INPE,
a Amazônia registrou incremento de 30% na quantidade de focos de incêndio, em relação ao ano
de 2018117. Paradoxalmente, ao longo de 2019, as autuações do IBAMA relacionadas às infrações
ambientais reduziram em 29,4%118. O governo federal, em verdade, editou Medida Provisória
(Medida Provisória nº 900/2019), permitindo o desconto de até sessenta por cento no pagamento
de multas ambientais, sem qualquer outra contrapartida dos infratores119. O Presidente, em lugar
de adotar políticas públicas capazes de fazer frente à questão, acusou falsamente organizações não-
governamentais de incendiarem áreas de floresta120.

125. O conjunto de atos comissivos e omissivos do Denunciado tem levado a um


incremento da destruição ambiental no Brasil e possui o condão de configurar crimes de
responsabilidade do Presidente da República, mormente naquilo que tange: (i) à tolerância e ao
incentivo a ilícitos cometidos por particulares, frustrando o direito fundamental ao meio ambiente
equilibrado; (ii) à ausência de providências necessárias à consecução da legislação federal (em
especial as disposições contidas na Lei nº 9.605/1998 – Lei de Crimes Ambientais – e na Lei nº
12.651/2012 – Código Florestal); e (iii) à expedição de determinações contrárias aos objetivos de
preservação da fauna e da flora (art. 225, §1º, da Constituição; art. 7º da Convenção sobre
Diversidade Biológica; art. 4º, inciso 8, da Convenção-Quarto das Nações Unidas sobre Mudança
do Clima; art. 5º do Acordo de Paris). Mencionadas condutas enquadram-se como crimes de
responsabilidade, a teor do que enunciam o art. 85, III, IV e V, da Constituição e o art. 7º, inciso
9; o art. 8º, incisos 7 e 8; e o art. 9º, inciso 4; todos da Lei nº 1.079/1950.

126. As atitudes do governo, permissivas em relação a condutas criminosas de


desmatadores, têm ocasionado prejuízos inclusive financeiros ao país. Em agosto de 2019,
Alemanha e Noruega, os dois maiores financiadores do Fundo Amazônia – concebido para realizar
investimentos em proteção ambiental na região –, bloquearam seus repasses a ações ambientais121.

116
https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/08/23/cientista-da-nasa-relaciona-queimadas-na-amazonia-com-
maior-desmatamento.ghtml.
117
https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/01/08/focos-de-queimadas-na-amazonia-aumentam-em-2019-
informa-o-inpe.ghtml.
118
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/08/queimadas-disparam-mas-multas-do-ibama-despencam-sob-
bolsonaro.shtml.
119
https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,medida-provisoria-transforma-conversao-de-multas-
ambientais-em-pagamento-com-desconto,70003055274.
120
https://veja.abril.com.br/politica/sem-apresentar-qualquer-prova-bolsonaro-tenta-ligar-ongs-a-queimadas/.
121
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/15/politica/1565898219_277747.html. Também:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/08/15/bolsonaro-sugere-a-noruega-usar-verba-do-fundo-amazonia-para-
127. A política ambiental predatória tem causado, ainda, outros significativos impactos
em nível internacional. Os Parlamentos de Holanda122 e Áustria123 já rejeitaram oficialmente o
acordo de comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Outros países europeus, como a
França124 e a Alemanha125, devem caminhar no mesmo sentido.

128. Por outro lado, mais de duzentos fundos financeiros, que controlam um total de 16
trilhões de dólares, já alertaram empresas atuantes no país para que “redobrem seus esforços e
demonstrem um claro compromisso de eliminar o desmatamento em suas operações e cadeias de
abastecimento”126. É clara a tendência do país de tornar-se, na expressão do economista Pérsio
Arida, um “pária do investimento internacional”127 por conta da política da área ambiental. As
condutas do denunciado e sua tolerância com as ações ilegais de seus subordinados já prejudicam
o mercado exportador brasileiro128 e mesmo entidades empresariais já apontaram os riscos à
atividade econômica decorrente da atual gestão ambiental promovida pelo governo federal, que,
no entanto, insiste em sua agenda de desconstrução da agenda de preservação dos ecossistemas129.

129. Inegável, portanto, o efeito econômico e orçamentário ocasionado pela gestão


ambiental promovida pelo Denunciado, revelando-se evidente o cometimento do crime de
responsabilidade constante no art. 85, IV, da Constituição e no art. 11, inciso 5, da Lei nº
1.079/1950 (“negligenciar a arrecadação das rendas, impostos e taxas, bem como a conservação
do patrimônio nacional”).

130. A atuação do Denunciado na temática ambiental também se notabilizou


negativamente diante dos fatos ligados ao derramamento de óleo no litoral nordestino durante o
segundo semestre de 2019. As primeiras manchas em praias da região apareceram ainda no final
do mês de agosto130. O governo federal, no entanto, apenas acionou o plano de contingência

reflorestar-alemanha.ghtml. E ainda: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/08/apos-fundo-amazonia-pais-


pode-perder-bilhoes-sem-acao-ambiental.shtml
122
https://congressoemfoco.uol.com.br/meio-ambiente/parlamento-holandes-rejeita-acordo-com-mercosul-por-
desmatamento-na-amazonia/.
123
https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/09/19/parlamento-da-austria-rejeita-acordo-ue-mercosul.ghtml.
124
https://veja.abril.com.br/economia/franca-diz-que-nao-assina-tratado-com-mercosul-na-atual-condicao-
ambiental/.
125
https://br.sputniknews.com/brasil/2020061115689441-embaixador-alemao-alerta-que-sem-queda-na-destruicao-
da-amazonia-acordo-ue-mercosul-nao-deve-sair/.
126
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/18/economia/1568838133_361572.html.
127
https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-virou-paria-do-investimento-internacional,70003361083.
128
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/07/antiambientalismo-de-bolsonaro-ja-prejudica-empresas-
brasileiras.shtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=social&utm_campaign=compwa.
129
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/07/empresarios-do-agronegocio-aumentam-pressao-por-demissao-
de-salles-mas-bolsonaro-resiste.shtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=social&utm_campaign=compwa.
130
https://www.portalt5.com.br/noticias/paraiba/2019/9/249401-oleo-encontrado-em-praia-da-paraiba-nao-veio-do-
vazamento-em-abreu-e-lima-pe-diz-petrobras.
previsto na Lei nº 9.966/2000 quase dois meses depois, em outubro, quando todos os estados
nordestinos já tinham sido atingidos131.

131. Cumpre observar que, por ato do próprio governo federal, o comitê criado em 2013
para elaborar plano de ação em caso de crises decorrentes de desastres desse gênero havia sido
extinto132. Em lugar de adotar ações que reduzissem o impacto para o ambiente e para os cidadãos
brasileiros cuja subsistência depende da fauna marinha, o governo federal preferiu dedicar-se a
novamente enunciar acusações falsas contra entidade de proteção ambiental133. A inexistência de
um efetivo e tempestivo plano de contingência agravou o problema e contribuiu sobremaneira para
que a mancha se espalhasse por mais de 1000km da costa brasileira, atingindo onze unidades da
federação.

132. Tão relevante omissão amolda-se ao crime de responsabilidade contido no art. 85,
IV, da Constituição c/c art. 8º, inciso 8, da Lei nº 1.079/1950, dado que é vedado ao Presidente da
República deixar de tomar as providências determinadas por lei, necessárias à sua execução e ao
seu cumprimento.

133. E não foi só. A perplexidade diante das ações ambientais do Presidente e seus
subordinados foi ainda mais expressiva quando, no âmbito do Inquérito nº 4.831/STF, tornou-se
público o conteúdo de reunião ministerial ocorrida em 22 de abril de 2020. Naquela ocasião, em
meio à pandemia da COVID-19, o Ministro Ricardo Salles enunciou134:

E que são muito difíceis, e nesse aspecto eu acho que o Meio Ambiente é o mais difícil,
de passar qualquer mudança infralegal em termos de infraestru ... e ... é ... instrução
normativa e portaria, porque tudo que a gente faz é pau no judiciário, no dia seguinte.
Então pra isso precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de
tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de COVID e ir
passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De IPHAN,
de ministério da Agricultura, de ministério de Meio Ambiente, de ministério disso, de

131
https://oglobo.globo.com/sociedade/mpf-pede-que-justica-obrigue-governo-acionar-plano-para-conter-oleo-no-
nordeste-1-24026808. E ainda: https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,salles-so-formalizou-plano-41-
dias-apos-manchas-aparecerem-no-nordeste,70003059406.
132
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/10/governo-bolsonaro-extinguiu-comites-do-plano-de-acao-de-
incidentes-com-oleo.shtml.
133
https://oglobo.globo.com/sociedade/salles-insinua-que-greenpeace-pode-ter-derramado-oleo-mas-volta-atras-
24039726.
134
Transcrição disponível em: https://static.poder360.com.br/2020/05/transcricao-video-reuniao22abr.pdf.
ministério daquilo. Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação
regulam ... é de regulatório que nós precisamos, em todos os aspectos.

134. Como se vê, o ministro sugeriu aproveitar-se o foco da cobertura midiática na


pandemia para que o governo, sem a publicidade necessária “passasse a boiada” da modificação
de regras vigentes em matéria ambiental. Tal conduta não mereceu nenhuma admoestação por
parte do Presidente da República.

135. É dever das autoridades brasileiras, diante de flagrante cometimento de ato ilícito
de seus subordinados, exigir pronta retratação e responsabilização dos responsáveis. A omissão
presidencial diante de tão grave afirmação do seu Ministro do Meio Ambiente torna o Denunciado
incurso na conduta constante no art. 85, V, da Constituição c/c art. 9º, incisos 3, 4 e 7, da Lei nº
1.079/1950.

b) Violações na área cultural.

136. Desde 1988, as manifestações culturais gozam de proteção constitucional no Brasil.


O art. 215 da Constituição preconiza que “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos
direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e
a difusão das manifestações culturais”. E, em seu parágrafo primeiro, reserva especial guarida às
“manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos
participantes do processo civilizatório nacional”.

137. Não por outra razão, na forma do art. 23, III e IV, da Constituição, há competência
comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para “proteger os
documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as
paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos” e “impedir a evasão, a destruição e a
descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural”.
Contudo, o que se observa desde a posse do Denunciado na Presidência da República é uma
sistemática desarticulação dos fundamentos constitucionais da política cultural brasileira.

138. Como primeiro ato do atual governo, o Ministério da Cultura (MinC) foi extinto
por meio da Medida Provisória nº 870/2019, passando a compor, inicialmente, a estrutura do
Ministério da Cidadania para, a partir de novembro de 2019, integrar o Ministério do Turismo. Em
seguida ao fim do MinC, iniciou-se uma verdadeira marcha ideológica de perseguição a projetos
culturais que pudessem representar críticas ao Poder Executivo ou transmitir valores diversos
daqueles defendidos pela base de apoio do ora Denunciado.

139. Em agosto de 2019, o Presidente veio a público para criticar o financiamento


público de produções com temática relacionada à diversidade de gênero 135, ameaçando a própria
existência da Agência Nacional de Cinema (Ancine) em caso de liberação de recursos para essa
modalidade de produções136. Ato contínuo, o Ministro da Cidadania, ao qual ainda se vinculava a
Secretaria Especial da Cultura, suspendeu o edital que contemplaria as obras criticadas por
Bolsonaro137 e demitiu o então Secretário, Henrique Medeiros Pires138. Após sua demissão, Pires
apontou o ato do governo federal como censura:

— Eu não vou fazer apologia a filtros culturais — diz Pires.


— Para mim, isso tem nome: é censura. Se eu estiver nesse cargo e
me calar, vou consentir com a censura. Não vou bater palma para
este tipo de coisa. Eu estou desempregado. Para ficar e bater palma
pra censura, eu prefiro cair fora.

140. Após escancarados esses fatos, foi necessária intervenção do Poder Judiciário para
determinar a retomada do mencionado edital. A decisão judicial destacou que houve
“discriminação contra projetos com temática relacionada a lésbicas, gays, bissexuais, transexuais
e travestis”139.

141. Em novembro de 2019, o Presidente da República nomeou para presidir a Fundação


Cultural Palmares, vinculada à Secretaria Especial da Cultura, um notório opositor das políticas
de valorização da cultura afro-brasileira140, contrastando com os objetivos institucionais daquele

135
https://oglobo.globo.com/cultura/projetos-de-serie-que-bolsonaro-quer-abortar-sao-finalistas-na-linha-
diversidade-de-genero-de-edital-publico-23882963.
136
https://oglobo.globo.com/cultura/bolsonaro-sobre-ancine-se-pessoal-se-adequar-da-para-mante-la-23877823.
137
https://oglobo.globo.com/cultura/governo-bolsonaro-suspende-edital-com-series-lgbt-para-tvs-publicas-
23891805.
138
https://oglobo.globo.com/cultura/governo-bolsonaro-suspende-edital-com-series-lgbt-para-tvs-publicas-
23891805.
139
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/10/justica-determina-que-ancine-retome-edital-censurado-por-
conter-conteudo-lgbts.shtml.
140
https://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2019/11/27/novo-presidente-da-fundacao-palmares-nega-
racismo-e-ataca-negros-famosos.htm.
órgão. A incompatibilidade com o cargo era tão expressiva que decisão judicial chegou a suspender
a nomeação141.

142. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também não teve
melhor sorte. Como se verifica na transcrição de reunião ministerial datada de 22 de abril de 2020,
tornada pública por decisão do Supremo Tribunal Federal, o Presidente da República desconhece
as políticas do órgão e busca, mediante interferência em suas atividades, favorecer interesses
privados em detrimento do interesse da coletividade priorizado pela Constituição de 1988.142

143. Ressalte-se que, consoante enunciado pela ex-presidente do instituto, o Iphan teve
alterações recentes em sua estrutura administrativa por pressão de um dos filhos do Presidente da
República, o que demonstra o caráter corrupto, autoritário e personalista do ora Denunciado143. As
práticas não republicanas e o descaso com a atuação daquele importante órgão de preservação do
patrimônio cultural ganharam ainda mais vulto com a nomeação de nova presidente, sem qualquer
vinculação com a área144, mas com proximidade pessoal à família do ora Denunciado145.

144. O ataque ao setor também tem sido levado a cabo por sucessivos cortes do custeio
estatal às iniciativas culturais, bem como pela revisão dos critérios de incentivo ao custeio privado
dessas mesmas iniciativas. Em 2020, por exemplo, o orçamento do Poder Executivo Federal prevê
uma redução de 78% na verba destinada ao patrimônio cultural de cidades históricas146. Por outro
lado, a implantação da Lei de Incentivo à Cultura sofreu severas restrições a partir da publicação
da Instrução Normativa nº 2, de 23 de abril de 2019, que limitou os projetos incentivados ao teto
de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), reduzindo o teto do valor anterior, de R$ 60.000.000,00
(sessenta milhões de reais)147.

141
https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/12/12/governo-suspende-nomeacoes-dos-presidentes-da-fundacao-
palmares-e-iphan.ghtml.

142
“E assim nós devemos agir. Como tava discutindo agora. O IPHAN, não é? Tá la vinculado a Cultura. (...) Mas
tinha que ter um outro perfil também. O IPHAN para qualquer obra do Brasil, como para a do Luciano Hang.
Enquanto tá lá um cocô petrificado de índio, para a obra, pô! Para a obra. O que que tem que fazer? Alguém do
IPHAN que resolva o assunto, né? E assim nós temos que proceder.”
143
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2020/05/25/interna_politica,1150497/ex-chefe-do-iphan-diz-que-
perdeu-o-cargo-por-pressao-de-flavio-bolsona.shtml.
144
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2020/05/12/interna_gerais,1146419/nomeacao-da-nova-presidente-do-
iphan-gera-polemica-e-muitas-criticas.shtml.
145
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/06/justica-suspende-nomeacao-de-presidente-do-iphan.shtml.
146
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/12/bolsonaro-faz-cortes-nas-areas-social-cultural-e-
trabalhista.shtml.
147
https://static.poder360.com.br/2019/04/dou-LeiRouanet.pdf.
145. Toda a cadeia da cultura, que congrega 5,7% dos trabalhadores brasileiros148,
termina por ser vulnerabilizada diante desse cenário de baixo custeio, o qual oferece grave risco
para a divulgação de projetos que não contem com forte apelo econômico e financeiro.

146. A direção destruidora das iniciativas culturais brasileiras ganhou forma ainda mais
alarmante com a nomeação de Roberto Alvim para o cargo de Secretário Especial da Cultura. Em
17 de janeiro de 2020, o então Secretário efetuou discurso transmitido em redes oficiais,
reproduzindo frases do Ministro da Propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels149,
evidenciando a pretensão de conferir viés político-ideológico à atuação do Ministério, de forma a
fazê-lo aderir exclusivamente aos valores defendidos pelo atual mandatário, ora Denunciado. Após
a divulgação do vídeo, o Presidente da República não efetuou qualquer censura pública ao
Secretário, que chegou até mesmo a reportar a compreensão do Denunciado no sentido de que
“não houve má intencionalidade”150.

147. A gravidade das condutas do Presidente da República no setor cultural traduz


inegáveis crimes de responsabilidade. Ao adotar conduta persecutória às iniciativas culturais que
divirjam das suas expectativas, o Denunciado promove verdadeira censura, vedada pelo art. 5º, IX,
e pelo art. 220, §2º, da Constituição. Ao fazê-lo, incorre na conduta criminosa prescrita no art. 85,
III, da Constituição c/c art. 7º, inciso 9, da Lei nº 1.079/1950.

148. De igual modo, ao contrariar os princípios da impessoalidade e da moralidade


administrativa (art. 37, caput, da Constituição), promovendo interesses particulares mediante a
gestão das instituições culturais, tolerando atos ilegais de seus subordinados, bem como expedindo
ordens flagrantemente contrárias aos mandamentos constitucionais, Jair Bolsonaro comete o crime
constantes no art. 85, V, da Constituição c/c art. 9º, incisos 3, 4 e 7, da Lei nº 1.079/1950.

c) Violação dos direitos da população negra e das comunidades quilombolas.

149. A Constituição Federal de 1988 estabelece, no art. 3º, IV, a promoção do “bem de
todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação” como um dos objetivos fundamentais da República. Em seu art. 5º, XLII, enuncia

148
https://biblioo.cartacapital.com.br/setor-cultural-emprega-57-dos-trabalhadores-brasileiros/.
149
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/01/17/secretario-nacional-da-cultura-roberto-alvim-faz-discurso-sobre-
artes-semelhante-ao-de-ministro-da-propaganda-de-hitler.ghtml.
150
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2020/01/17/interna_politica,1115027/roberto-alvim-diz-que-
bolsonaro-nao-viu-ma-intencao-em-citacao-de-nazi.shtml.
que: “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei”.

150. A consagração do combate à discriminação racial e a criminalização do racismo no


texto constitucional estão fundadas no reconhecimento de que o racismo estrutural repercute na
desigualdade de acesso a direitos e no elevado índice de violência que atingem de maneira
desproporcional a população negra no Brasil. E refletem a escolha do constituinte originário no
sentido de enfrentar e eliminar as práticas e discursos racistas da sociedade e das instituições
brasileiras.

151. Não se trata, portanto, de matéria passível de alteração a depender do programa


eleitoral de cada governo ou sujeita à adesão discricionária por parte dos gestores públicos.
Combater o racismo e promover o acesso a direitos em condições de igualdade são comandos
constitucionais, aos quais as autoridades públicas estão vinculadas. Essa determinação
constitucional é reforçada pela legislação ordinária, como a Lei nº 7716/1989 151, que define os
crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, e a Lei nº 7668/1988, que cria a Fundação
Cultural Palmares com a finalidade de “promover a preservação dos valores culturais, sociais e
econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira”. Ademais,
referidas disposições constitucionais confirmam o compromisso assumido pelo Estado brasileiro
perante a comunidade internacional, anos antes, a partir da ratificação da Convenção Internacional
sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, promulgada pelo Decreto nº
65.810, de 8 de dezembro de 1969. E reiterada, posteriormente, através da assinatura de Tratados
Internacionais, como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, promulgada
pelo Decreto nº 5051, de 19 de abril de 2004 (alterado pelo Decreto nº 10.088, de 5 de novembro
de 2019).

152. Apesar disso, atualmente no Brasil a desigualdade no acesso a direitos,


discriminação e violência em desfavor da população negra tem sido potencializada pelo
enfraquecimento das políticas públicas destinadas à proteção dessa população, associado ao
aumento de discursos públicos que naturalizam o racismo e fomentam o ódio152. E esse cenário
tem se agravado ainda mais no contexto da pandemia de covid-19.

151
Alterada pela Lei 9459, de 13 de maio de 1997.
152
Essa é a leitura externada por um grupo de organizações de direitos humanos recentemente enviado para a Relatora
Especial sobre formas contemporâneas de Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Religiosa,
Tendayi Achiume. https://www.terradedireitos.org.br/noticias/noticias/com-negacao-do-racismo-governo-se-abstem-
da-obrigacao-de-garantir-direitos-fundamentais-a-populacao-negra/23413
153. Ainda no ano de 2017, ganhou ampla repercussão a declaração do então deputado
federal Jair Bolsonaro em evento realizado no Clube Hebraica em que se referiu de modo
discriminatório a quilombolas, indígenas, mulheres, LBGTQIA+ e refugiados, utilizando, para se
referir aos primeiros, termos como “arrobas” e “procriar”, igualando-os a bichos.153 Esse grave
episódio foi o prenúncio do discurso que seria adotado pelo candidato Bolsonaro nas eleições de
2018 e, posteriormente, em pronunciamentos públicos como Presidente da República. A partir das
eleições de 2018, as práticas e os discursos racistas foram intensificadas até alcançar o discurso
oficial da Presidência da República e ser adotado como critério para definir a ocupação de cargos
do governo e para orientar políticas públicas.

154. Em 2 de janeiro de 2019, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o governo


pretende “integrar” indígenas e quilombolas. Segundo ele, 15% do território nacional seria
destinado a essa população, que não chega a um milhão de pessoas.154 Em 8 de maio do mesmo
ano, Bolsonaro afirmou, em entrevista para a Rede TV, que "essa coisa do racismo, no Brasil, é
coisa rara. O tempo todo jogar negro contra branco, homo contra hétero, desculpa a linguagem,
mas já encheu o saco esse assunto".155

155. Em novembro de 2019, foi nomeado como Presidente da Fundação Cultural


Palmares Sérgio Nascimento de Camargo156, conhecido por suas manifestações racistas nas redes
sociais e em pronunciamentos públicos. Sérgio Camargo sustenta que “não existe racismo real”,
que a escravidão foi “benéfica para os descendentes”, porque esta teria proporcionado aos negros
melhores condições de vida no Brasil do que no continente africano. Ele critica a existência de
cotas raciais e é contrário ao dia da Consciência Negra. A nomeação foi suspensa por decisão
judicial proferida pela 18ª Vara Federal de Sobral (CE)157, que, após analisar algumas das

153
Afirmou Bolsonaro na ocasião: “"Isso aqui é só reserva indígena, tá faltando quilombolas, que é outra brincadeira.
Eu fui em um quilombola em El Dourado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não
fazem nada! Eu acho que nem para procriador eles servem mais. Mais de um bilhão de reais por ano gastado com
eles. Recebem cesta básica e mais material em implementos agrícolas. Você vai em El Dourado Paulista, você compra
arame farpado, você compra enxada, pá, picareta por metade do preço vendido em outra cidade vizinha. Por que?
Porque eles revendem tudo baratinho lá. Não querem nada com nada”. Degravação da fala do Denunciado constante
no acórdão proferido nos autos do Inquérito nº 4694/DF que tramitou no Supremo Tribunal Federal. Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=750302384
154
Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/apos-colocar-demarcacoes-na-agricultura-bolsonaro-fala-em-
integrar-indigenas-quilombolas-23340520
155
Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2019/05/08/interna_internacional,1052188/bolsonaro-afirma-que-
racismo-e-algo-raro-no-brasil.shtml
156
Portaria 2.377/2019, do Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República.
157
Portaria 2.400/2019, do Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República.
declarações de Sérgio Camargo158, concluiu que a sua nomeação para o cargo de Presidente da
Fundação Palmares “contraria frontalmente os motivos determinantes para a criação daquela
instituição e a põe em sério risco, uma vez que é possível supor que a nova Presidência, diante
dos pensamento expostos em redes sociais pelo gestor nomeado, possa atuar em perene rota de
colisão com os princípios constitucional da equidade, da valorização do negro e da proteção da
cultura afro-brasileira”159.

156. Posteriormente, a nomeação foi restabelecida e, em 20.2.2020, Sérgio Camargo


tomou posse no cargo160. Entre os meses de março e maio, a página oficial da Fundação Cultural
Palmares na internet publicou textos que ofendem a lembrança, a ancestralidade e as tradições da
população negra, as quais foram suprimidas do site em 29.5.2020 por determinação da 9ª Vara
Federal Cível da Seção Judiciária do Distrito Federal que considerou a prática “explícita
desconsideração da raça, cultura e consciência negras”161.

157. Ainda em maio do ano corrente, Sérgio Camargo anunciou a preparação de um selo
em que a Fundação Cultural Palmares “certifica que uma pessoa não é racista” a ser conferido à
“vítima de campanha de difamação e execração pública da esquerda”.162

158. As ações recentes da Fundação Cultural Palmares foram alvo de veemente repúdio
por parte da CONAQ, que registrou: “A Fundação Cultural Palmares era patrimônio de toda
sociedade brasileira, mas sobretudo dos quilombos, posto que traduzia, ainda que de forma
precária, compromissos com mais igualdade, direitos e dignidade para a população negra
quilombola”. E denunciou que a instituição “foi usurpada da população para a qual foi criada,

158
Veja-se: “Menciono, a título ilustrativo, declarações do senhor Sérgio Nascimento de Camargo em que se refere
a Angela Davis como "comunista e mocreia assustadora", em que diz nada ter a ver com "a África, seus costumes e
religião", que sugere medalha a "branco que meter um preto militante na cadeia por crime de racismo", que diz que
"é preciso que Mariele morra. Só assim ela deixará de encher o saco", ou que entende que "Se você é africano e acha
que o Brasil é racista, a porta da rua é serventia da casa". Além das acima mencionadas existem diversas outras
publicações que tem o condão de ofender justamente o público que deve ser protegido pela Fundação Palmares, que
não serão mencionadas por desnecessário, ante a suficiência das anteriormente citadas”. Decisão proferida nos autos
da Ação Popular nº 0802019-41.2019.4.05.8103. Disponível em:
https://pje.jfce.jus.br/pjeconsulta/Processo/ConsultaDocumento/popupProcessoDocumento.seam?idBin=17016562&
cid=88503
159
Decisão proferida nos autos da Ação Popular nº 0802019-41.2019.4.05.8103. Disponível em:
https://pje.jfce.jus.br/pjeconsulta/Processo/ConsultaDocumento/popupProcessoDocumento.seam?idBin=17016562&
cid=88503
160
Portaria 41/2020, do Presidente da Fundação Cultural Palmares, disponível em http://www.in.gov.br/web/dou/-
/portaria-n-41-de-20-de-fevereiro-de-2020245207310.
161
Decisão de 29.5/2020 na ação popular 1028357-89.2020.4.01.3400, disponível em
https://pje1g.trf1.jus.br/consultapublica/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsultaPublica/docu
mentoSemLoginHTML.seam?ca=e21da6bd311c345bae6f0b5c9b1aaa5dcc33fad007ad339e329
142ee539dd177ddf0c9729df1cead3cc405f0bf67cde626af86090af13e9b&idProcessoDoc=2365 93418.
162
https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/05/29/fundacao-palmares-lanca-selo-para-quem-for-
injustamente-acusado-de-racismo-entidades-reagem.ghtml
desvia e se afasta das importantes e fundamentais atribuições que assumiu desde a sua criação
no ano de 1988, logo após o processo constituinte formal”. A CONAQ bem sintetizou a realidade
da instituição: “Verificamos agora o afastamento da FCP em relação aos interesses dos
quilombos, o que demonstra o nível de racismo e de assalto ao patrimônio do povo perpetuado
pelo governo de Jair Bolsonaro”.163 A entidade, que articula as comunidades quilombolas do
Brasil, relembrou, ainda, que o combate ao racismo, assim como o fortalecimento e consolidação
de políticas públicas para os quilombolas constituem compromisso assumido pelo Estado
brasileiro perante a Assembleia Geral, por meio da Resolução nº 68/237, de 2 de dezembro de
2013, por meio da qual “proclamou-se a Década Internacional de Afrodescendentes, com início
em 1º de janeiro de 2015 e fim em 31 de dezembro de 2024”.164

159. No início de junho de 2020, o jornal Estadão revelou áudios de Camargo nos quais
ele afirma, em reunião com auxiliares, que “Não vai ter nada para terreiro na Palmares, enquanto
eu estiver aqui dentro. Nada. Zero. Macumbeiro não vai ter nem um centavo” Na mesma
oportunidade, classificou o movimento negro como "escória maldita", que abriga "vagabundos",
e chamou Zumbi de Palmares de "filho da puta que escravizava pretos"165. Nova ordem judicial
determinou que a Fundação retirasse da página da instituição artigos com críticas e repúdio a Zumbi.
Segundo juíza, a “instituição federal cuja finalidade é a preservação dos valores resultantes da influência
negra, ao fechar os olhos às diferenças raciais, descumpre seus deveres institucionais e sobretudo seu
dever – como ente estatal – de respeitar o direito à identidade dos cidadãos".166

160. Dias depois, a Fundação Palmares censurou biografias de lideranças negras


históricas em seu site, conforme amplamente noticiado pelo imprensa nacional167. Em sua conta
no twitter, Sérgio Camargo afirmou: “Determinei, quando tomei posse, a retirada de lista de
personalidades q (sic) homenageia, entre outros, Benedita da Silva e Marielle, ícones da esquerda
vitimista. A lista retornará após revisão. “Personalidades negras” destituídas de mérito e nobreza
não serão homenageadas na minhas gestão”168.

161. Em diferentes oportunidades, desde a primeira nomeação, o presidente Jair


Bolsonaro veio a público manifestar sua concordância com a nomeação de Sérgio Camargo para

163
http://conaq.org.br/noticias/nota-de-repudio-5/
164
http://conaq.org.br/noticias/nota-de-repudio-5/
165
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2020/06/03/educafro-entra-com-representacao-contra-
sergio-camargo-no-mpf.htm?cmpid=copiaecola.
166
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/05/29/justica-manda-fundacao-palmares-apagar-artigos-com-criticas-
a-zumbi.ghtml
167
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/06/fundacao-palmares-censura-biografias-de-liderancas-negras-
historicas-em-seu-site.shtml.
168
https://twitter.com/sergiodireita1
a Fundação Palmares. Em 13 de dezembro de 2019, Bolsonaro postou em sua conta de twitter “O
afastamento de Sérgio Camargo da Fundação Cultural Palmares de seu por causa de decisão
judicial. Caso nosso recurso seja vitorioso, EU O RECONDUZIREI à Presidência da Fundação”.
Abaixo da postagem, reproduziu vídeo de Sérgio Camargo no qual ele afirma “Claro que tem que
acabar o dia da Consciência Negra do qual a esquerda se apropriou para propagar vitimismo e
ressentimento racial. [...] No que depender de mim a Fundação Palmares não dará suporte algum
a essa data”.169

162. As falas e práticas descritas incorrem no crime tipificado no art. 20, caput, da Lei
nº 7.716/1989: “praticar, induzir ou incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia,
religião ou procedência nacional”, além de violar outros dispositivos legais. A referência de modo
pejorativo aos praticantes de religião de matriz africana, assim como afirmação de que serão
negados expressamente qualquer tipo de acesso e benefício futuramente requerido configura
flagrante violação ao art. 215, § 1º, da Constituição Federal, que consagra o dever do Estado de
proteger “as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros
grupos participantes do processo civilizatório nacional”.

163. Em flagrante desrespeito às previsões legais e constitucional referidas, institui-se


no âmbito da Fundação Cultural Palmares, com expresso apoio e concordância do Presidente da
República, uma política pública que pretende privar de recursos e apoio públicos exatamente a
população que, por força do texto constitucional, deveria ser por ela protegida. De igual modo, “a
fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos
nacionais” e definição das personalidades negras não depende da concordância de qualquer
autoridade pública. Trata-se de previsão expressa da Constituição Federal no §2º, do art. 215. No
caso específico do reconhecimento de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra, o seu
reconhecimento decorre do teor da Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011, que institui o Dia
Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.

164. Em suma, os episódios mencionados revelam o desvio de finalidade na nomeação


e sua incompatibilidade com a missão institucional da Fundação Palmares, expressa nos art. 1º e
2º, da Lei nº 7.668/1988170. Afinal, nos termos da lei, a atuação da Fundação deve estar voltada à

169
https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1205553080948985856 Publicado em 13 de dezembro de 2019.
170
“Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a constituir a Fundação Cultural Palmares - FCP, vinculada ao
Ministério da Cultura, com sede e foro no distrito Federal, com a finalidade de promover a preservação dos valores
culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira.
Art. 2º A Fundação Cultural Palmares - FCP poderá atuar, em todo o território nacional, diretamente ou mediante
convênios ou contrato com Estados, Municípios e entidades públicas ou privadas, cabendo-lhe:
promoção e preservação da cultura afro-brasileira, além do combate ao racismo e fortalecimento
de políticas públicas voltadas à população negra. Por expressa determinação legal, a Fundação
deve promover ações afirmativas voltada a retirar da invisibilidade a cultura negra, formadora da
identidade nacional, e eliminar as desigualdades históricas e as discriminações raciais, étnicas,
culturais e religiosas do povo.

165. Dentro do desenho institucional do Estado brasileiro, a Fundação Palmares é um


órgão fundamental para a população negra, especialmente as que residem em comunidades
remanescentes de quilombos. Prevista na Constituição de 1988, a Fundação é, desde 2004,
responsável por emitir certidões às comunidades quilombolas no Brasil e, assim, cumpre
importante papel na identificação e reconhecimento dessas comunidades e na titulação de seus
territórios tradicionais, condição essencial para garantir o acesso dessas comunidades a políticas
públicas. A adoção de discurso e práticas racistas no âmbito da Fundação, com manifesta
concordância do Presidente, compromete a efetivação do mandamento contido no art. 215, § 1º do
texto constitucional e do art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

166. Além de violar a legislação nacional, referidas condutas constituem flagrante


descumprimento de obrigações assumidas pelo Estado brasileiro perante a comunidade
internacional. Isso porque a Fundação Palmares é um dos principais órgãos responsáveis pela
efetividade da Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho171, no que se refere ao
dever de titular os territórios ocupados por remanescentes de quilombos, e da Convenção
Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial que preveem a
obrigação de eliminar o racismo. Desse modo, os episódios narrados acima contrariam princípios
que regem a administração pública e revelam a institucionalização do discurso racista no âmbito
do Poder Executivo Federal, seja por manifestação direta do Presidente da República, seja através
do seu respaldo público à conduta de outras autoridades públicas.

I - promover e apoiar eventos relacionados com os seus objetivos, inclusive visando à interação cultural, social,
econômica e política do negro no contexto social do país;
II - promover e apoiar o intercâmbio com outros países e com entidades internacionais, através do Ministério das
Relações Exteriores, para a realização de pesquisas, estudos e eventos relativos à história e à cultura dos povos negros.
III - realizar a identificação dos remanescentes das comunidades dos quilombos, proceder ao reconhecimento, à
delimitação e à demarcação das terras por eles ocupadas e conferir-lhes a correspondente titulação. (Incluído pela
Medida Provisória nº 2.216-37, de 31.8.2001)
Parágrafo único. A Fundação Cultural Palmares - FCP é também parte legítima para promover o registro dos títulos
de propriedade nos respectivos cartórios imobiliários”.
171
Promulgada pelo Decreto Legislativo nº 143, de 20 de julho de 2002, alterado, sucessivamente, pelo Decreto nº
5.501 de 19 de abril de 2004 e Decreto nº 10.088, de 5 de novembro de 2019.
167. Além de constituir prática criminosa, nos termos do art. 20, da Lei nº 7.716/1989,
as falas e práticas racistas do chefe do Poder Executivo Federal promovem o aumento de
declarações racistas e discriminatórias por parte de outras autoridades públicas no Brasil e tem
forte repercussão na sociedade, perceptível no aumento dos discursos ódio no país, assim como
das ideologias nacionalistas violentas e as ideologias da superioridade racial que incitam à
violência contra os afro descendentes.

168. A institucionalização do racismo no discurso oficial do Presidente e na formulação


de políticas públicas tem como consequência a desobrigação do Estado em relação ao dever de
implementar os direitos fundamentais da população negra. Tem como consequência direta o
enfraquecimento das políticas públicas de proteção à população negra associado ao incremento
dos discursos públicos que contestam a garantia de direitos a essa população, “desqualificando
suas lutas, afirmação de identidades e posicionalidades”172.

169. Nesse contexto, a população negra é forte e diretamente impactada pela subversão
do programa constitucional de combate ao racismo, através do aumento da discriminação,
deslegitimação das políticas públicas, dificuldade no acesso a direitos e incremento da violência
contra a população negra. Segundo dados atualizado, estima-se que “quase três mil pessoas foram
mortas por intervenção da Política Militar em 2019 apenas nesses dois estados (719, em SP, e
1810, no RJ)”, ao mesmo tempo em que “aumentou o número de pessoas desaparecidas, corpos
que nunca foram encontrados”173, a maioria pessoas negras.

170. Diante dessa realidade alarmante, em 2020 a Coalizão Negra por Direitos174
denunciou o Estado brasileiro perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e o
Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas pelo genocídio da população
negra. Segundo a entidade, “o genocídio negro não se trata, portanto, apenas das balas diretas
projetas por agentes do Estado contra o povo negro”, mas, “também se sustenta em uma ausência
de políticas públicas que “nos deixam morrer””. A denúncia de genocídio está fundada, portanto,
na “sistêmica exclusão econômica e social que priva negras e negros do devido acesso à saúde,

172
https://www.terradedireitos.org.br/noticias/noticias/com-negacao-do-racismo-governo-se-abstem-da-obrigacao-
de-garantir-direitos-fundamentais-a-populacao-negra/23413
173
https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/opiniao/2020/03/04/coalizao-negra-por-direitos-e-a-denuncia-
internacional-ao-genocidio-negro.htm
174
Articulação nacional que envolve mais de 100 organizações e coletivos negros de todos o país.
educação, trabalho, representatividades e outros aspectos básico que impedem a vida, plena e
sadia” 175.

171. A política pública constitucional quilombola está prevista no artigo 68 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) que estabelece: “aos remanescentes das
comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade
definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”. O Decreto nº 4.887/2003, por sua
vez, “regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação
e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata
o art. 68”, inserido no arco de competências do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA).

172. Os artigos 215 e 216 da Constituição Federal estabelecem o dever do Estado de


garantir as “manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros
grupos participantes do processo civilizatório nacional”, compreendidas como patrimônio
cultural brasileiro.176 A Convenção nº 169, da Organização Internacional do Trabalho sobre povos
indígenas e tribais, incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro, impõe ao Estado a obrigação
de realizar ações e políticas voltadas para a manutenção e reprodução física, social, cultural, étnica
e territorial das comunidades quilombolas.

173. Dentre os direitos constitucionais e as políticas públicas destinadas às comunidades


quilombolas, o reconhecimento e titulação dos seus territórios possui especial importância,
porquanto o território constitui “fator fundamental de identidade cultural e coesão social”
(MALCHER, 2016, p. 7) e constitui aspecto central para garantia de acesso a diversos outros
direitos, como saúde, educação, cultura, vida e tantos outros. Por outro lado, a “não regularização
dos territórios tem um impacto severo no gozo e exercício de direitos pelas comunidades e
perpetuam os conflitos fundiários que constituem o cenário em que acontecem grande parte das
violências sofridas por essas comunidades”.177

174. Segundo dados da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras


Rurais Quilombolas (CONAQ)178, existem cerca de 5.000 (cinco mil) comunidades, enquanto a

175
https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/opiniao/2020/03/04/coalizao-negra-por-direitos-e-a-denuncia-
internacional-ao-genocidio-negro.htm
176
Atualmente, a política quilombola tem o procedimento previsto no Decreto nº 4.887/2003, delineado pela IN 57,
de 20 de outubro de 2009, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
177
Relatório do Coletivo RPU – Meio Período, com dados da CONAQ e Terra de Direitos.
178
A CONAQ) fundada em 1995, englobando 25 estados, é movimento social de abrangência nacional que tem por
objetivo atuar em defesa dos direitos fundamentais da população negra quilombola. Uma das principais razões de ser
da CONAQ é o combate ao racismo secularmente incrustrado na sociedade e nas instituições brasileira.
Fundação Cultural Palmares registra cerca de 3.500 (três mil e quinhentas) comunidades
quilombolas certificadas em todo o território nacional, revelando um grande número de
comunidades que aguardam a titulação de seus territórios.

175. Em 2017, o déficit histórico no processo de titulação e regularização desses


territórios foi denunciado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos179, que vem
monitorando a situação desde então. Nas observações preliminares à vista oficial ao estado
brasileiro, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos que, em recomendou que o Brasil se
desenvolvesse “um plano nacional de titulação dos territórios quilombolas por meio de consulta
livre, prévia e informada às comunidades, incluindo metas para a estruturação do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e contribuição orçamental progressiva, em
adequação às normas interamericanas e a ordem constitucional interna”180.

176. Além da omissão do Estado na efetivação dos comandos constitucionais, a situação


tem se agravado no último período, em decorrência das limitações estabelecidas pela Emenda
Constitucional nº 95. Conforme estudos técnicos do IPEA (2019) constantes nos autos da Ação
Direta de inconstitucionalidade nº 5658 que analisa a Emenda Constitucional nº 95, “os valores
orçamentários executados entre 2014 e 2017 representaram uma redução de 87%, e a ação
orçamentária voltado ao reconhecimento e indenização de territórios quilombolas destinado para
o ano de 2019 foi o menor em toda a história recente da política”.

177. Além da morosidade do poder público e da falta de destinação de recursos para a


titulação, centenas de comunidades negras rurais encontram-se ameaçadas de expulsão de suas
terras devido a projetos econômicos por todo o país, especialmente na Amazônia brasileira.181

178. A situação das comunidades quilombolas, que já era de extrema vulnerabilidade,


foi agravada no Governo Bolsonaro, em razão da declaração do Presidente de que não fará
demarcação de terras indígenas ou quilombolas ou ampliação de áreas de proteção ambiental
durante o seu governo. A esse respeito, Jair Bolsonaro, em flagrante contrariedade à previsão
constitucional – art. 215, § 1ºe art. 68 do ADCT – e às obrigações contraídas a partir da ratificação
da Convenção 169/OIT, afirmou que: “Enquanto eu for presidente não tem demarcação de terra
indígena”. E agregou: “Não pode continuar assim, [em] 61% do Brasil não pode fazer nada. Tem

179
Informe de Carta 41, de junho de 2017, e a realização da audiência temática sobre “Direito de Acesso à Terra de
Pessoas Afrodescendentes Quilombolas no Brasil”, no 165º Período de Sessões desta E. Comissão Interamericana de
Direitos Humanos, em Montevidéu, no Uruguai.
180
https://www.oas.org/es/cidh/prensa/comunicados/2018/238OPport.pdf
181
https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/06/18/movimento-negro-denuncia-bolsonaro-na-onu-e-
defende-inquerito.htm?cmpid=copiaecola
locais que, para produzir, você não vai produzir, porque não pode ir numa linha reta para
exportar ou para vender, tem que fazer uma curva enorme para desviar de um quilombola, uma
terra indígenas, uma área de proteção ambiental. Estão acabando com o Brasil”.182

179. Desde o início de 2019, o governo federal tem promovido o enfraquecimento e


desmonte da estrutura administrativa responsável pela política de regularização fundiária,
fomentado a grilagem e desrespeito aos territórios tradicionais. Nesse sentido, “em seu primeiro
dia de mandato, através da Medida Provisória n° 870, o atual Presidente da República realocou,
no organograma institucional, o INCRA da Casa Civil da Presidência da República para o
Ministério da Agricultura”. E a Secretaria de Assuntos Fundiários, do referido Ministério,
responsável por coordenar os trabalhos do INCRA, “passou a ser comandada pelo presidente da
União Democrática Ruralista, Nabhan Garcia, notório opositor da política pública de titulação
quilombola”. Dessa forma, “a reorganização administrativa realizada vincula a política pública
de titulação de territórios quilombolas a um ministério que é hegemonizado politicamente por
setores do agronegócio que historicamente se opões à efetivação da política de titulação de
territórios quilombolas”.183

180. Além de contradizer o projeto constitucional de 1988, essas alterações


administrativas foram feitas sem a realização de consulta livre, prévia e informada, em flagrante
violação ao art. 6° da Convenção 169 da OIT. 184

181. Durante o Governo do Presidente Jair Messias Bolsonaro, intensificou-se a


militarização dos territórios, tendo como consequência direta o aumento da violência sofrida pelas
comunidades. Destaca-se, nesse sentido, “a grande presença de pessoas ligadas às forças armadas
brasileiras em Ministérios do Governo Federal, e em outras posições políticas de comando do
governo civil, apontam para o incremento da violação de direitos humanos em comunidades que
apresentam situações de vulnerabilidade, como o Quilombo Rio dos Macacos (Bahia), Quilombo
de Alcântara (Maranhão) e Quilombo de Marambaia (Rio de Janeiro)”.185

182. Com a chegada da pandemia o quadro de violações a direitos da população negra


tem se agravado, potencializadas por condutas comissivas e omissas do Governo Federal. Segundo
a representante do Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil, Astrid Bant, “a

182
https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2019-08/bolsonaro-diz-que-nao-fara-demarcacao-de-terras-
indigenas
183
Relatório do Coletivo RPU – Meio Período, com dados da CONAQ e Terra de Direitos. Pág. 20 e seguintes.
Disponível em: https://iddh.org.br/wp-content/uploads/2019/10/VERS%C3%83O-WEB.pdf Acesso em: 11 jul 2020.
184
Ibidem.
185
Ibidem.
pandemia, unida ao racismo e à dificuldade de a população negra exercer seus direitos, tem
resultado no agravamento de doenças, na maior letalidade frente à COVID-19 e em mais
desemprego e pobreza”. Pesquisadores reunidos em evento sobre os impactos da pandemia de
COVID-19 sobre a população negra no Brasil, realizado pela Associação Brasileira de Estudos
Populacionais (ABEP) e (UNFPA), indicaram que “os obstáculos que as iniquidades, o racismo e
a discriminação impõem à população negra brasileira, a tornando mais vulnerável aos impactos
de saúde, econômicos e sociais da pandemia”.186

1. Taxa de letalidade da COVID-19 por raça/cor. Fonte: PUC-RJ187

183. Levantamento realizado pela Agência Pública, a partir de dados referentes ao mês
de abril, revela uma situação alarmante sobre a desigualdade racial no que tange à letalidade de
Covid-19. No Brasil, “há uma morte a cada três internações de pessoas negras por síndrome
respiratório aguda grave, causada pelo novo coronavírus”, ao passo que, “entre brancos, essa
média é de uma morte a cada 4.4 hospitalizações”.188

184. Tais constatações têm chamado a atenção de analistas e de meios de imprensa


internacionais, os quais destacam as políticas implantadas pelo governo de Jair Bolsonaro e as

186
Disponível em: https://bit.ly/2XMc257
187
https://nacoesunidas.org/covid-19-deve-agravar-situacao-de-saude-pobreza-e-capacidade-de-recuperacao-da-
populacao-negra-no-brasil/
188
A análise foi feita com base em dados do Ministério da Saúde divulgados até 26 de abril. Disponível em:
https://apublica.org/2020/05/em-duas-semanas-numero-de-negros-mortos-por-coronavirus-e-cinco-vezes-maior-no-
brasil/ Acesso em: 11 jul 2020.
condutas pessoais do presidente como dois dos principais agentes promotores da precariedade das
condições de vida da população negra durante a crise da Covid-19189.

185. Apesar do quadro de extrema vulnerabilidade pré-existente, o Governo Federal não


tem oferecido atenção específica às comunidades quilombolas. Segundo o “Observatório da
COVID-19 nos Quilombolos”190, o descaso da União e a ausência de adoção imediata de medidas
de proteção e enfrentamento ao Covid-19 nos territórios quilombolas, associado à falta de acesso
a bens e serviços básicos, têm agravado a situação dessas comunidades. Assim, “a invisibilidade
da doença em territórios quilombolas revela uma situação dramática, que não tem recebido a
atenção devida das autoridades públicas e dos meios de comunicação dominantes”191.

186. Devido à falência estrutural da política de assistência às comunidades e dinâmicas


de racismo institucional, os quilombolas não contam com um sistema de saúde estruturado. Ao
contrário, os sistemas de saúde nos municípios em que há presença de quilombos não conseguem
prestar assistência específicas às comunidades. Para ter acesso a centros de saúde melhor
estruturados, os quilombolas precisam se deslocar até os grandes centros urbanos, se expondo
ainda mais ao risco de contaminação. Some-se a isso o fato de que, em razão da discriminação
racial, quando logram acessar o sistema de saúde, comumente recebem assistência precária e
dissociada dos protocolos de assistência sanitária. Em relação aos quilombolas, por exemplo, não
tem sido observados os protocolos de testagem para Covid-19.192

187. As condições de acesso à água em muitos territórios é motivo de preocupação, pois


dificulta as adoção das medidas de higiene básicas e necessárias para evitar a propagação do vírus.
Além disso, as comunidades quilombolas possuem maior dificuldade para ter acesso ao auxílio
emergencial, o que potencializa a situação de vulnerabilidade, que tende a se agravar
exponencialmente com as consequências sociais e econômicas da crise da Covid-19 na vida das
famílias quilombolas. Buscando minimizar o impacto da pandemia nesse territórios, foi aprovado
o PL nº 1142 que estabelecia medidas emergências para povos indígenas, quilombolas e
tradicionais, e previa a possibilidade de fornecimento de agua potável a essa população. No
entanto, o texto que trazia essas garantias, entre outros, foi vetado pelo Presidente da República.

189
https://www.newyorker.com/news/news-desk/how-jair-bolsonaro-and-the-coronavirus-put-brazils-systemic-
racism-on-display.
190
O Observatório é uma realização da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas (CONAQ) com o Instituto Socioambiental e a informação sobre os casos quilombolas advém do
monitoramento autônomo desenvolvido pela Conaq junto aos territórios em que atua.
191
https://quilombosemcovid19.org/
192
https://apublica.org/2020/06/nos-quilombos-coronavirus-mata-um-por-dia/
188. Segundo dados do Observatório da Covid-19 nos Quilombos, e os casos de
transmissão da doença em territórios quilombolas são “subnotificados, pois muitas secretarias
municipais deixam de informar quando a transmissão da doença e a morte ocorrem entre pessoas
quilombolas”. Além disso, “tanto as secretarias de saúde como o próprio Ministério da Saúde
têm negligenciado uma atenção específica em relação às comunidades negras. Parte do problema
é a ausência de dados epidemiológicos para populações quilombolas”. Além da subnotificação
de casos, “situações de dificuldades no acesso a exames e denegação de exames a pessoas com
sintomas têm sido relatadas pelas pessoas dos quilombos”193.

189. Desde o início da pandemia a Coordenação Nacional de Articulação das


Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) vem alertando o governo federal e demais
autoridades públicas para as consequências alarmantes da disseminação da Covid-19 nos
territórios quilombolas. Diante da ausência de registro nacional oficial da situação epidemiológica
da doença entre a população remanescente de quilombos, as comunidades têm realizado o
monitoramento autônomo, fazendo o trabalho que deveria ser feito pelo Ministério da Saúde. Vale
ressaltar que a ausência de dados oficiais desagregados invisibiliza o impacto da doença sobre os
quilombolas e impede a formulação de qualquer medida de atenção e cuidado específicos.

190. Segundo dados do Observatório da Covid-19 nos Quilombos, a partir do


monitoramento juntamente com as entidades quilombolas estaduais e em parceria com o Instituto
Socio Ambiental, revelam o avanço da Covid-19 nos territórios quilombolas. Mesmo com a
subnotificação, esse monitoramento revela a alta taxa de letalidade da Covid-19 entre a população
quilombola. Segundo dados atualizados em 9 de julho de 2020194, já se chegava ao alarmante
número de 3.034 infectados confirmados, com mais de 131 óbitos, 04 óbitos suspeitos sem
confirmação e 675 casos em observação. Segundo a CONAQ, a pandemia expõe o estado de
abandono com os quilombos195 e evidencia o racismo estrutural existente no país.

191. A Comissão Interamericana, na Resolução nº 1/2020, alerta que a pandemia não


poderia ser utilizada como pretexto para violar direitos da população. Em flagrante desrespeito a
essa recomendação, o governo federal editou a Resolução nº 11, de 26 de março de 2020, do

193
Fonte: https://quilombosemcovid19.org/
194
Fonte: CONAQ. https://quilombosemcovid19.org/
195
https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/pandemia-de-covid-19-expoe-abandono-do-
estado-com-quilombos
Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República do Brasil, através da qual
determinou a remoção de 800 famílias quilombolas de Alcântara, no Maranhão, para consolidação
do Centro Especial de Alcântara. Para além do desrespeito às diretrizes estabelecidas pela
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, essa medida contraria, de modo flagrante e direto,
a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que prevê a consulta prévia,
livre e informada sobre instalação e impactos de projetos em territórios tradicionalmente ocupados.

192. Em meio à pandemia da Codiv-19, “onde todas as atenções e esforços da sociedade


estão voltados para a gestão da maior crise de saúde pública enfrentada pelo Brasil neste século”
196
, a resolução não apenas viola os direitos territoriais dos quilombolas de Alcântara, mas,
também, os coloca em risco em meio à pandemia. Não houvesse sido suspensa por determinação
judicial, a ordem de remoção exarada pelo Governo Federal poderia te acarretado “um verdadeiro
etnocídio em território brasileiro em meio a uma pandemia global”.197

d) Violação dos direitos dos povos indígenas.

193. O Estado brasileiro possui uma riqueza pluriétnica que se traduz em mais de 900
mil indígenas, representando 305 povos, falantes de 274 línguas indígenas e ainda 114 registros
de grupos isolados ou de recente contato. Desde 1500 até a década de 1970, a população indígena
brasileira decresceu acentuadamente e muitos povos foram extintos. A partir da década de 1990,
o contingente de brasileiros que se consideravam indígenas cresceu 150%, resultado concreto dos
valores reconhecidos em nossa Carta Constitucional.

194. O contexto atual da política indigenista no Brasil é extremamente desfavorável aos


povos indígenas. Pela primeira vez, no período pós-redemocratização há um Presidente da
República declaradamente anti-indígena. Jair Bolsonaro foi eleito mesmo lançando a ameaça de
“não demarcar nenhum centímetro de terra indígena e quilombola”. Ao tomar posse, no dia 1º de
janeiro de 2019, assinou a Medida Provisória n. 870, estabelecendo a organização básica dos
órgãos da Presidência da República e dos Ministérios. Dentre as principais alterações, transferiu a

196
http://conaq.org.br/noticias/nota-de-repudio-a-resolucao-do-governo-que-ataca-quilombolas-de-alcantara/
197
http://conaq.org.br/noticias/nota-de-repudio-a-resolucao-do-governo-que-ataca-quilombolas-de-alcantara/
atribuição de identificar, delimitar, demarcar e registrar as terras tradicionalmente ocupadas pelos
povos indígenas para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, pasta ministerial
chefiada pela fazendeira Teresa Cristina, cuja família tem um histórico conflito de terra com os
Terena no Mato Grosso do Sul198. A mesma medida provisória transferiu a Fundação Nacional do
Índio (Funai), do Ministério da Justiça para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos,
pasta esta chefiada pela pastora Damares Alves.

195. Neste caso, ficou flagrante o desvio de finalidade ao transferir para o Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento a atribuição para decidir o que será ou não terra de
ocupação tradicional. Não é preciso muito esforço intelectual para concluir que tal transferência
visou nitidamente a acatar reivindicação da classe ruralistas, mas sobretudo, colocar os interesses
privados acima dos interesses coletivos de toda a sociedade brasileira, visto que terra indígena é
bem da União (Art. 20, inciso XI, da Constituição da República). A situação é corroborada, tendo
em vista que é público e notório que a ministra Teresa Cristina é notadamente contra a demarcação
de terras indígenas, sendo assídua militante e representante do agronegócio. Logo, os processos
demarcatórios estariam comprometidos, em flagrante violação aos princípios da impessoalidade e
finalidade, fundamentos da administração pública de acordo com o disposto no art. 37 do texto
constitucional.

196. In casu, pelo conceito alhures mencionado – desvio de poder -, percebe-se como
ardilosa a tarefa de identificação do instituto em comento haja vista que, como bem frisou o
professor Adilson Dallari de Abreu199, “o desvio de poder nunca é confessado, somente se
identifica por meio de um feixe de indícios convergentes, dado que é um ilícito caracterizado por

198
REVISTA FÓRUM. Bolsonaro dá poder aos ruralistas para demarcação de terras indígenas e quilombolas.
Disponível em https://www.revistaforum.com.br/bolsonaro-da-poder-aos-ruralistas-para-demarcacao-de-terras-
indigenas-e-quilombolas/?fbclid=IwAR0gnb87qTQWLYpat6-
oI6a_BMCtdhe3c7Pv0nG9dTSB4wgM8VjBU2PKiNI . Acesso em 10.jun.2020.
199
DALLARI, Adilson Abreu. Desvio do Poder na Anulação do Ato Administrativo. Instituto de Direito Público da
Bahia. Revista Eletrônica de Direito do Estado. Numero 7 – julho/agosto/setembro, 2006. Disponível em:
http://www.direitodoestado.com/revista/REDE-7-JULHODESVIO%20DE%20PODER-
ADILSON%20DALLARI.pdf
um disfarce, pelo embuste, pela aparência da legalidade, para encobrir o propósito de atingir a
um fim contrário ao direito, exigindo um especial cuidado por parte do Judiciário”.

197. Como já se manifestou o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal


(STF), no Recurso Extraordinário n. 183.188, “a disputa pela posse permanente e pela riqueza
das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios constitui o núcleo fundamental da questão
indígena no Brasil”. E no mesmo sentido caminhou o ministro Menezes Direito, durante o
julgamento do caso Raposa Serra do Sol (Pet. 3388), ao afirmar que “não há índio sem terra”.
Pois a relação com o solo é marca característica da essência indígena, pois tudo o que ele é, é na
terra e com a terra. Daí a importância do solo para a garantia dos seus direitos, todos ligados de
uma maneira ou de outra à terra. Assim, de nada adianta reconhecer-lhes os direitos sem assegurar-
lhes as terras, identificando-as e demarcando-as200.

198. Pois bem, desde quando assumiu a Presidência da República, Jair Bolsonaro vem
implementando uma política indigenista extremamente nociva aos povos indígenas, nomeando
pessoas para ocupar cargos na Fundação Nacional do Índio (Funai) publicamente contrárias aos
direitos e interesses dos povos indígenas. Uma preocupação importante diz respeito à proteção aos
povos em isolamento voluntário, tendo em vista a recente nomeação de um missionário ligado à
Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), missão proselitista que busca o contato com povos
isolados, para a coordenação da Coordenação Geral de Índios Isolados e Recém Contatados
(CGIIRC), departamento da FUNAI responsável pelas políticas para os povos isolados e de recente
contato. Sua nomeação foi indicada pela bancada evangélica201 que apoia o governo de Jair
Bolsonaro, com o claro interesse de que sejam alteradas as diretrizes de não-contato e o respeito
ao isolamento voluntário desses povos atualmente em vigência no órgão202e a abertura de contato
evangelizador impositivo e homogeneizador, caracterizando mais um ato de violência contra a
identidade étnica das comunidades visando sobretudo a sua colocação numa posição subordinada

200
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). Pleno. Petição n.º 3.388/ED/RR. Voto-Vista: Ministro Menezes
Direito. DJ 25.09.2009.
201
REPORTER BRASIL. Ex-missionário nomeado para Funai é acusado de manipular indígenas e dividir aldeias.
Disponível em https://reporterbrasil.org.br/2020/02/ex-missionario-nomeado-para-funai-e-acusado-de-manipular-
indigenas-e-dividir-aldeias%EF%BB%BF/. Acesso em 15.jun.2020.
202
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA). O que está em jogo com a nomeação de um missionário para a
coordenação de isolados da Funai. Disponível em https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/o-
que-esta-em-jogo-com-a-nomeacao-de-um-missionario-para-a-coordenacao-de-isolados-da-funai. Acesso em
15.jun.2020.
de “selvagens”, à espera do cristianismo civilizador no cenário geral branco e supremacista que
defendem para o país.

199. Paralelamente aos ataques no âmbito institucional da Funai, tem havido assédio de
missionários nas TI’s com presença de isolados, como no Vale do Javari. Desde setembro de 2019
a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA) vem denunciando a atuação de
missionários proselitistas. Naquela ocasião, três missionários, dentre eles Andrew Tonkin – que já
havia tentando invadir a TI em outras ocasiões - realizaram uma expedição em um igarapé onde
vive um povo em isolamento voluntário203. Em um novo comunicado do início de março de 2020,
a UNIVAJA novamente denunciou o aumento do assédio de missionários e a preocupação com a
nomeação de Dias para a CGIIRC, além da compra de um helicóptero pela missão Ethnos360
(novo nome da MNTB) para atuar no contato com povos isolados da TI Vale do Javari204. No final
de março de 2020, lideranças relataram que Andrew Tonkin e Josiah Mcintyre estavam realizando
reuniões na cidade de Atalaia do Norte, aliciando jovens indígenas e comprando equipamentos
para invadirem a TI Vale do Javari em busca de isolados205. Ante a recusa da UNIVAJA em
permitir a entrada dos missionários no território, o pastor Josiash Mcintyre invadiu a associação e
ameaçou colocar fogo na sede206.

200. No que tange à política de demarcação de terra indígena, o Presidente Bolsonaro


tem adotado uma postura inconstitucional, ao paralisar os procedimentos demarcatórios em trâmite
e criar obstáculos para inviabilizar a homologação de processos que estão “maduros” do ponto de
vista administrativo. A esse respeito, vale registrar que Jair Bolsonaro afirmou pública e

203
CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO (CIMI). Univaja divulga nota denunciando invasões, assassinato,
ameaças e proselitismo evangélico no Vale do Javari. Disponível em https://cimi.org.br/2019/09/univaja-divulga-
nota-denunciando-invasoes-assassinato-ameacas-e-proselitismo-evangelico-no-vale-do-javari/. Acesso em
15.jun.2020.
204
UNIVAJA. Aumento do assédio de grupos missionários fundamentalistas no Vale do Javari. Disponível em
https://trabalhoindigenista.org.br/wp-
content/uploads/2020/03/Nota_a%CC%80_Imprensa_Univaja_03._03.2020_asse%CC%81dio_missiona%CC%81ri
o-1.pdf. Acesso em 15.jun.2020.
205
O GLOBO. Missionário americano prepara invasão a terras indígenas com povos isolados na Amazônia, dizem
lideranças. Disponível em https://oglobo.globo.com/brasil/missionario-americano-prepara-invasao-terras-indigenas-
com-povos-isolados-na-amazonia-dizem-liderancas-24325032. Acesso em 15.jun.2020.
206
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA). Em meio a pandemia, indígenas do Javari denunciam ameaça de
missionários a isolados. Disponível em https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/em-meio-a-
pandemia-indigenas-do-javari-denunciam-ameaca-de-missionarios-a-isolados. Acesso em 15.jun.2020.
expressamente que não fará demarcação de terras indígenas ou quilombolas durante o seu
governo.207

201. Importante consignar que demarcar terra indígena é imperativo constitucional, pois
ao tempo que a Carta Constitucional reconheceu o direito originário dos povos indígenas as terras
tradicionalmente ocupadas (art. 231, CF), impôs prazo de 5 (cinco) anos para a conclusão de todas
as demarcações (art. 67, ADCT). A Constituição de 1988 atribuiu à União a obrigação expressa
de demarcar as terras indígenas, protegê-las e fazer respeitar todos os seus bens. Trata-se de poder-
dever outorgado ao Estado brasileiro, a ser implementado mediante o exercício da competência
administrativa, atividade típica do Poder Executivo Federal. Note-se que a demarcação das terras
indígenas, nos termos impostos pelo texto constitucional, possui conteúdo declaratório, vez que
corresponde ao reconhecimento de direitos originários dos povos indígenas, imprescritíveis,
inalienáveis e indisponíveis, que precedem a própria fundação do Estado brasileiro.

202. Nesse sentido, demarcação de terra indígena ostenta caráter indubitavelmente


administrativo e vinculado, insuscetível a discricionariedades políticas. Nesse sentido, é firme a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), in verbis: “os direitos dos índios sobre as
terras que tradicionalmente ocupam foram constitucionalmente "reconhecidos", e não
simplesmente outorgados, com o que o ato de demarcação se orna de natureza declaratória, e não
propriamente constitutiva. Ato declaratório de uma situação jurídica ativa preexistente. Essa a
razão de a Carta Magna havê-los chamado de "originários", a traduzir um direito mais antigo do
que qualquer outro, de maneira a preponderar sobre pretensos direitos adquiridos, mesmo os
materializados em escrituras públicas ou títulos de legitimação de posse em favor de não-índios.
Atos, estes, que a própria Constituição declarou como ‘nulos e extintos’ (§ 6º do art. 231 da
CF)”208.

203. A conduta de não demarcar terras indígenas ficou clarividente em atos do Ministro
da Justiça e do Presidente da Funai. Na última semana do mês de janeiro de 2020, o então Ministro
Sérgio Moro, determinou a devolução à Funai dos 17 processos administrativos de demarcação

207
Afirmou Bolsonaro: “Enquanto eu for presidente não tem demarcação de terra indígena. [...] Não pode continuar
assim, [em] 61% do Brasil não pode fazer nada. Tem locais que, para produzir, você não vai produzir, porque não
pode ir numa linha reta para exportar ou para vender, tem que fazer uma curva enorme para desviar de um
quilombola, uma terra indígenas, uma área de proteção ambiental. Estão acabando com o Brasil”.
https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2019-08/bolsonaro-diz-que-nao-fara-demarcacao-de-terras-
indigenas
208
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). Pet 3388, Rel.: Min. CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em
19/03/2009, publicado no DJe-181 em 25/09/2009 e republicado no DJe-120 em 01/07/2010.
que há muito aguardam a assinatura da Portaria Declaratória, segundo respectivamente o Jornal
do Brasil e a coluna do jornalista Rubens Valente, em matéria no jornal Folha de S. Paulo:

“Nos ofícios de devolução enviados à Funai, Moro argumenta que a consultoria


jurídica do ministério "sugeriu a devolução" dos processos para a Fundação
Nacional do Índio "avaliar, ponto a ponto, o cumprimento das diretrizes fixadas
no parecer" adotado por Temer em 2017 a partir de uma manifestação da AGU
(Advocacia-Geral da União).

O parecer de Temer impõe a aplicação administrativa do chamado "marco


temporal", uma interpretação jurídica não prevista na Constituição.

Segundo essa tese jurídica, os indígenas que não estavam em suas terras em
outubro de 1988 (data de promulgação da Constituição) ou que não lutaram
judicialmente por ela não teriam mais direito algum sobre as terras, ainda que
sobre elas existam pareceres antropológicos demonstrando que pertenceram a
seus antepassados.

A então advogada-geral da União, Grace Mendonça, emitiu um parecer para


concordar com o "marco temporal", decisão tomada a partir de votos e decisões
isoladas de alguns ministros ou de turmas —o assunto ainda não passou pelo
plenário do STF (Supremo Tribunal Federal).

Com isso, uma série de adiamentos e entraves passou a ocorrer com os processos
de demarcação de terras indígenas tanto na Funai quanto no Ministério da
Justiça.

A tese é atacada por advogados especializados em direitos indígenas.

Líderes indigenistas ouvidos pela reportagem sob a condição de anonimato


afirmam que alguns dos mesmos processos devolvidos por Moro já haviam sido
restituídos anteriormente e analisados, inclusive sob a ótica do parecer de Temer
e com participação da consultoria jurídica do ministério.”209

"Os processos estão fisicamente na Funai e foram devolvidos visando avaliar,


ponto a ponto, o cumprimento das diretrizes fixadas no parecer GMF nº
005/2017, aprovado pelo presidente da República [Temer], referentes à
demarcação de terras indígenas, conforme sugestão apresentada pela consultoria
jurídica junto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública."

204. Os 17 processos, segundo a matéria de jornal, devolvidos à FUNAI para adequar


ao Parecer nº 01 da AGU, são os seguintes: Vista Alegre (AM); Tuwa Apekuokawera (PA);

209
JORNAL DO BRASIL. Moro usa parecer de Temer e trava demarcação de 17 terras indígenas no país. Disponível
em https://www.jb.com.br/pais/politica/2020/01/1021896-moro-usa-parecer-de-temer-e-trava-demarcacao-de-17-
terras-indigenas-no-pais.html. Acesso em 04.02.2020.
Sambaqui (PR); Marú (PA); Pindory/Araçá-Mirim (SP); Guaviraty (SP); Kanela Memortumré
(MA); Cobra Grande (PA); Barra Velha do Monte Pascoal (BA); Tupinambá de Olivença (BA);
Wassú-Cocal (AL); e, Paukalirajausu (MT).

205. Ainda, nas redes sociais é possível perceber a agitação. São frequentes, pelo que se
percebe do perfil de dirigentes e líderes de associações vinculadas ao agronegócio, as reuniões de
pessoas para fazer frente à demarcação das terras indígenas, o que pode culminar em violências de
toda ordem. Essa agitação está se dando em função da decisão do Ministro da Justiça em
determinar que a Funai reveja os casos acima apontados. Veja-se o ofício encaminhado à Funai:

OFÍCIO Nº 2740/2019/SE/MJ

Brasília, 30 de dezembro de 2019.

Ao Senhor MARCELO AUGUSTO XAVIER DA SILVA


Presidente da Fundação Nacional do Índio SCS Quadra 9, Torre B,
Edifício Parque Cidade Corporate - Asa Sul 70308-200 –
Brasília/DF

Assunto: Processo administrativo de demarcação da Terra Indígena


Tupinambá de Olivença/BA. Referência: Processo nº
08620.001523/2008-43.

(...)

Sobre o assunto, esclarece-se que à Consultoria Jurídica junto ao


Ministério da Justiça e Segurança Pública sugeriu a restituição dos
autos a esta Fundação Nacional do Índio (10635195), visando
avaliar, ponto a ponto, o cumprimento das diretrizes fixadas no
Parecer GMF nº 005/2017 (10635190), aprovado pelo Presidente da
República, referentes à demarcação de terras indígenas.

206. Além disso, Funai vem tomando posição pela desistência de ações de sua
titularidade e abandonando a defesa das comunidades indígenas em várias ações judiciais; e isso é
apenas mais um ato pernicioso, num conjunto maior de atos, que, embasados em orientação da
Advocacia Geral da União (AGU), por meio do Parecer 001/2017/AGU. Assim decidiu o
presidente da Funai quanto a desistência da defesa técnica em autos de ação rescisória com liminar
deferida (autos nº 5037051-44.2019.4.04.0000; Rel. Des. Rogério Favreto, TRF4):
207. Veja-se também, a FUNAI desistiu da defesa em ação que tramita no Supremo
Tribunal Federal (STF), com data de 21 de novembro de 2019, deixando à míngua os interesses
dos povos indígenas e, sobretudo, se omitindo da defesa do patrimônio público federal (art. 20, da
Constituição da República).

208. Note-se que chegamos ao extremo da irracionalidade, pois o Brasil é o único país
do mundo que possui uma agência oficial indigenista do porte institucional da Funai, criada para
a defesa dos direitos indígenas e agora está se negando a defender a sua razão de ser.

209. Ainda no campo da política fundiária, alguns expedientes merecem atenção, tal
como a Medida Provisória n. 910/2019, agora transformada no Projeto de Lei (PL) n. 2633/2020,
em trâmite na Câmara dos Deputados e a Instrução Normativa (IN) n. 9 da Funai.

210. No dia 22 de abril de 2020, foi publicada a Instrução Normativa n. 09/2020, da


Fundação Nacional do Índio (Funai), que disciplina o requerimento, análise e emissão da
“Declaração de Reconhecimento de limites em relação a imóveis privados”. Essa normativa
revogou a Instrução Normativa n. 03, datada de 20 de abril de 2012, promovendo significativa
mudança administrativa e atingindo os direitos e interesses dos povos indígenas do Brasil. A citada
normativa foi comemorada por representantes do setor ruralista.

211. O parágrafo primeiro do art. 1º, da Instrução Normativa n. 09, preceitua que a
“Declaração de Reconhecimento de Limites” (DRL) se destina a fornecer aos proprietários ou
possuidores privados a certificação de que os limites do seu imóvel respeitam os limites das terras
indígenas homologadas, reservas indígenas e terras dominiais indígenas plenamente regularizadas.
Na prática, a Funai mais uma vez fechará seus olhos para as grilagens que ocorrem em relação as
terras indígenas, bastando lembrar que temos pelo menos 246 terras indígenas ainda pendentes de
homologação. Os invasores de TI poderão pedir regularização à Funai e, munidos desse
documento, requerer junto ao Incra, por meio de cadastro autodeclaratório, a legalização dessas
áreas invadidas.

212. Neste contexto, preocupa a situação vulnerável dos povos indígenas isolados.
Atualmente existem 114 registros de povos isolados considerados pela Funai. Destes, apenas 28
são confirmados, de acordo com a metodologia do órgão, em 17 Terras Indígenas e 3 áreas com
Restrição de Uso. O restante, 86 registros, estão em fase de qualificação. Os registros ainda não
estão confirmados e principalmente aqueles localizados fora de áreas protegidas, configuram assim
um grande passivo de estudos e pesquisas do órgão indigenista oficial (Funai) e um entrave para a
efetivação da política de proteção aos isolados no Brasil. Esse passivo no reconhecimento da plena
existência desses povos, principalmente em áreas não demarcadas, leva ao risco de genocídio
desses povos, uma vez que seus territórios ficam à mercê de invasores e empreendimentos que
causam tanto violência direta quanto risco de contágio por doenças infecciosas.

213. Assim, na medida que a Funai passa a considerar passível de emissão de


Declaração de Reconhecimento de Limites (documento que atesta que a propriedade não incide
em Terra Indígena) toda posse (sem escritura) ou propriedade que não incida apenas sobre terra
indígena homologada, reserva indígena, terras indígenas dominiais, passa a liberar para a compra,
venda e ocupação todas as terras em estudo, as delimitadas pela Funai, as terras declaradas pelo
Ministério da Justiça, além das áreas sob portarias de restrição de uso, inclusive permitindo a
emissão da DRL em áreas interditadas para estudo sobre a presença de isolados.

214. A citada IN nº 9 da FUNAI, veio na mesma guinada da Medida Provisória n. 910,


de 10 de dezembro de 2019, que dispunha sobre a regularização fundiária de ocupações incidentes
em terras situadas em áreas da União ou do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
Esta medida “caducou” durante sua tramitação no parlamento brasileiro e foi apresentada em
forma de projeto de lei. O deputado Zé Silva (Solidariedade-MG), então relator da Medida
Provisória 910, apresentou no dia 14 de maio de 2020, o PL 2633/2020, que repete o mesmo
conteúdo da MP.

215. Vale lembrar que a MP entrou em vigor em dezembro de 2019, ano marcado pela
alta do desmatamento em terras públicas federais não concedidas. Segundo o do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE), de agosto de 2018 a julho de 2019, o desmatamento nessas áreas
foi 61% maior em relação ao mesmo período do ano anterior e atingiu cerca de 2,5 mil km². No
mesmo período, terras públicas representaram 36% do desmatamento total do país, segundo
análise do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). Em 2020, quase 800 km2 de
floresta foram derrubados nos três primeiros meses, um aumento de 51% em relação ao mesmo
período em 2019. Um terço da devastação ocorreu em terras públicas, alvo preferencial dos
grileiros.

216. A análise da MP 910/2019 feita pelo Núcleo de Avaliação de Políticas Climáticas,


do Climate Policy Initiative, da PUC-Rio (CPI/ NAPC PUC-Rio)210, indica que estas mudanças
geram graves impactos ambientais e sociais. Em especial, estas alterações: (i) legitimam a prática

210
CLIMATE POLICY INITIATIVE. Medida provisória recompensa atividades criminosas. Análises da MP
910/2019 que altera o marco legal da regularização fundiária de ocupações em terras públicas federais. Disponível
em https://climatepolicyinitiative.org/wp-content/uploads/2020/02/NT-MP-910.pdf. Acesso em 15.jun.2020.
de grilagem e desmatamento ilegal, (ii) promovem o desalinhamento das políticas fundiária e
ambiental; e (iii) beneficiam médios e grandes produtores rurais em detrimento de agricultores
familiares, povos indígenas e comunidades tradicionais.

217. De Acordo com o Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia


(IMAZON)211, a MP visava a alterar as regras de regularização fundiária apenas dois anos após a
última modificação, promovida em 2017. Uma nova mudança na lei fundiária estimula a
continuidade de um ciclo de ocupação de terras públicas e desmatamento. Isso porque criará a
expectativa de que haverá mudanças posteriores na lei permitindo anistiar novos casos de invasão.
Esse ciclo ameaça pelo menos 19,6 milhões de hectares de áreas federais não destinadas na
Amazônia, que podem ser ocupados na expectativa de regularização. Se isso ocorrer, haverá dois
grandes prejuízos para a sociedade brasileira: i) desmatamento adicional entre 11 mil km2 e 16 mil
km2 até 2027 e ii) perda de arrecadação entre R$ 62 milhões e R$ 88 milhões pela venda de terra
pública abaixo do valor de mercado (conforme determina a lei)

218. A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal


(PFDC) enviou duas notas técnicas aos parlamentares, uma delas citou o Acórdão nº 727/2020 do
Tribunal de Contas da União (TCU) que mostra os graves prejuízos ao patrimônio público e ao
meio ambiente provocados pelo programa de regularização fundiária, o Terra Legal. De acordo
com o TCU, não existe uma fiscalização efetiva da ocupação de áreas na Amazônia Legal, o que
acarreta, na prática, perda de receitas públicas, grilagem e desmatamento. Ou seja, a questão da
regularização fundiária, não se deve à lei, e sim, a problemas operacionais, capacidade, gestão e
orçamentária do INCRA.212

219. Segundo a Terra de Direitos213, a proposição também pode inviabilizar a


homologação de terras indígenas, já que, após a instrução Normativa nº 09/2020 da Fundação
Nacional do Índio (Funai), as Terras Indígenas não homologadas via decreto presidencial - ou seja,

211
IMAZON. Nota Técnica sobre o segundo relatório do Senador Irajá Abreu referente à Medida Provisória (MP)
n.º 910/2019. Disponível em https://k6f2r3a6.stackpathcdn.com/wp-
content/uploads/2020/03/Nota_Tecnica_MP910_2019_Imazon.pdf Acesso em 15.jun.2020.
212
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (MPF). Nota Técnica n. 8/2020/PFDC/MPF, de 13 de abril de 2020. Tema:
Medida Provisória nº 910, de 10 de dezembro de 2019 (Regularização fundiária deocupações incidentes em terras
situadas em áreas da União ou do Instituto Nacional de Colonziaçãoe Reforma Agrária). Disponível e
http://www.mpf.mp.br/pfdc/manifestacoes-pfdc/notas-tecnicas/nota-tecnica-8-2020-pfdc-mpf. Acesso em
17.jun.2020.
213
TERRA DE DIREITOS. 7 razões para não aprovar a MP da Grilagem. Disponível em
https://terradedireitos.org.br/noticias/noticias/7-razoes-para-nao-aprovar-a-mp-da-grilagem/23306. Acesso em
15.jun.2020.
aquelas que ainda não têm limites geográficos definidos no processo de demarcação administrativo
- estão abertas para regularização por terceiros.

220. Ao incluir o Cadastro Ambiental Rural (CAR) na instrução do processo de


regularização fundiária, um imóvel poderia ser regularizado de acordo com os limites de terras
declarados no CAR. O problema é que já foram registradas diversas situações em que propriedades
particulares foram cadastradas dentro de territórios quilombolas, indígenas e de povos e
comunidades tradicionais. Se um desses imóveis for regularizado seguindo o CAR, a tendência é
que haja maior dificuldade para a titulação do território quilombola em área sobreposta, uma vez
que aumentaria o custo para a desapropriação para fins de titulação. De acordo com a Coordenação
da Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), existem no Brasil mais de
5 mil territórios quilombolas, destes, menos de 200 são titulados.

221. Por fim, no contexto de pandemia do Covid-19, os povos indígenas estão entregues
à própria sorte – o genocídio já está ocorrendo. Nos últimos meses, temos acompanhado com
preocupação o avanço da pandemia sobre as comunidades indígenas. Segundo dados do Comitê
Nacional pela Vida e Memória Indígena214, atualizados em 11 de julho de 2020, o país registrava
469 indígenas falecidos, 13.683 infectados e 128 povos atingidos pelo vírus. Os estados com maior
número de casos de mortes são Amazonas, Pará, Roraima, Pernambuco e Ceará.

214
O Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena foi criado pela APIB ao final da Assembleia Nacional da
Resistência Indígena, realizado entre os dias 08 e 09 de maio de 2020. O grupo reúne ativistas e comunicadores
indígenas que coletam diariamente dados das organizações locais e comunidades indígenas sobre o avanço da
pandemia nas terras indígenas e indígenas que estão fora de seus territórios.
222. Nota-se que o vírus se alastrou de forma rápida entre os indígenas. Com base nos
dados da APIB, denota-se que o índice de letalidade entre os povos indígenas é de 9,6%, enquanto
entre a população brasileira geral é de 5,6%.

223. Diversos estudos confirmam que os “povos indígenas são mais vulneráveis a
epidemias em função de condições sociais, econômicas e de saúde piores do que as dos não
indígenas, o que amplifica o potencial de disseminação de doenças”.215 E a experiência histórica
confirma a baixa imunidade dos povos indígenas a doenças dos brancos, é o caso dos efeitos da
“gripe espanhola” sobre os indígenas da Amazônia no início do século XX ou das doenças
disseminadas pelos brancos durante a ditadura militar instalada no país em 1964.216

224. Vale ressaltar que a transmissão de doenças foi uma estratégia usada, em diferentes
momentos da história, para dizimar etnias. Segundo a pesquisadora Manuela Carneiro da Cunha,
“as cruéis estratégias coloniais de dominação aliadas à baixa imunidade dos povos indígenas a
doenças como varíola, sarampo, tuberculose e gripe, custaram a vida de milhões de indígenas,
com a dizimação de inúmeros grupos”217

225. Especificamente no contexto da pandemia, pesquisadores do Centro de


Sensoriamento Remoto, da Universidade Federal de Minas Gerais e do Instituto Socioambiental
elaboraram um estudo sobre a vulnerabilidade dos povos indígenas no Brasil ao covid-19218. De
plano o estudo registra que:

A perspectiva da Covid-19 entrar em comunidades indígenas pode representar


um cenário devastador. Uma alta porcentagem da população indígena pode ser
impactada devido à alta transmissibilidade da doença, vulnerabilidade social de
populações isoladas e limitações relacionadas com a assistência médica e
logística de transporte de enfermos. A possibilidade de subnotificação das
populações indígenas e a falta de vigilância dos vetores de dispersão da doença
podem impactar seriamente a capacidade de controlar a transmissão da Covid-
19. Além da mortalidade populacional, a diminuição da integridade
socioeconômica pode reduzir ainda mais a capacidade dos povos indígenas em

215
https://covid19.socioambiental.org/
216
Cf. BRASIL. Comissão Nacional da Verdade. Relatório Final. Vol. II. Texto 5. Violações de Direitos Humanos
dos Povos Indígenas.
217
Cf. Manuela Carneiro da Cunha. Índios no Brasil: história, direitos e cidadania. São Paulo: Editora Claro Enigma,
2012, p. 14-15. In: Petição Inicial da ADP 709 proposta pela Apib.
218
Nota Técnica disponível em: https://drive.google.com/file/d/1H596_oDmOGf4mOTziHGIrbYM17PdycVj/view
Acesso em 09 jun 2020.
lidar com a crescente fragilização das políticas públicas de saúde e proteção
territorial.

226. Desse modo, a Nota Técnica integra “dados de vulnerabilidade social,


disponibilidade de leitos hospitalares, números de casos por município, número de óbitos, perfil
etário da população indígena, vias de acesso e outros fatores relacionados com a estrutura de
atendimento da saúde indígena e mobilidade territorial”.

227. Nesse sentido, a pandemia expôs as fragilidades que as equipes de atenção primária
à saúde (APS) do Sistema Único de Saúde (SUS) e, mais intensamente, as do Subsistema de
Atenção à Saúde Indígena (SASISUS) enfrentam cotidianamente há anos, como: falta de
infraestrutura adequada; insuficiência de equipamentos de proteção individual (EPI); reduzido
estoque de insumos e medicamentos; alta rotatividade de profissionais; dificuldades de garantir
formação adequada e implementar educação permanente com as equipes; problemas de
integração com a rede de saúde; e a situação de precariedade e insalubridade das Casas de Saúde
do Índio (CASAI).

228. A realidade das áreas remotas e dos DSEI mais interiorizados conta ainda com
outras dificuldades como: restrições de comunicação (algumas áreas têm comunicação
exclusivamente via rádio); dificuldade de acesso e dificuldades logísticas decorrente do isolamento
geográfico (alguns DSEI têm acesso apenas por via fluvial ou aérea); além da complexidade do
cuidado de populações indígenas no contexto intercultural.

229. A mesma Nota Técnica registra, a título de conclusão, que “o desmatamento e


garimpo ilegal, bem como invasões e assentamento ilegais são percebidos pelos povos indígenas
como questões de saúde pública também, principalmente sobre como essas ameaças impactam as
comunidades indígenas em termos de segurança alimentar e medicina preventiva”. E indica que
essas “variáveis de pressão e ameaça” devem ser incorporadas para avaliar o impacto diferencial
da Covid-19 sobre os povos indígenas.

230. A presença de invasores nas terras indígenas com presença de indígenas isolados
aponta para o risco concreto de genocídio neste contexto de pandemia. No atual governo, várias
situações colocam em risco a política do não-contato. Desde a eleição de Jair Bolsonaro à
presidência do país, houve o aumento acelerado do desmatamento na Amazônia brasileira,
inclusive nas terras indígenas. Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE)219, o desmatamento na Amazônia Legal em 2019 aumentou 30% em relação a 2018. O
levantamento do INPE apontou as terras mais desmatadas, sendo: Ituna/Itatá (Pará), Apyterewa
(Pará), Cachoeira Seca (Pará), Trincheira Bacajá (Pará), Kayapó (Pará), Munduruku (Amazonas e
Pará), Karipuna (Rondônia), Uru-Eu-Wau-Wau (Rondônia), Manoki (Mato Grosso), Yanomami
(Roraima e Amazonas), Menkü (Mato Grosso), Zoró (Mato Grosso) e Sete de Setembro (Rondônia
e Mato Grosso).

231. Nota-se que dentre essas, Ituna/Itatá (restrição de uso), Munduruku (homologada),
Kayapó (homologada) e Zoró (homologada) possuem referências de povos em isolamento
voluntário em estudo pela Funai, enquanto Uru-Eu-Wau-Wau (homologada) e Yanomami
(homologada) possuem povos isolados confirmados, totalizando 10 registros220. O movimento
indígena tem sistematicamente denunciando a situação da terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau que
vem sofrendo com invasões por grileiros e madeireiros ilegais, assim como a TI Araribóia, no
Maranhão, que abriga o povo isolado Awá-Guajá. Em ambas, os próprios indígenas se
organizaram para fazer a vigilância proteção do território e denunciar a invasão e extração de
madeira nas Terras Indígenas, o que acirrou os conflitos com os invasores. Essas tensões
resultaram, somente nos últimos seis meses, no assassinato de três membros dos grupos de
proteção indígenas e lideranças: Ari Uru-Eu-Wau-Wau, em 18 de abril de 2020, Paulinho
Guajarara, em 1º de novembro de 2019 e Zezico Guajajara, em 31 de março de 2020221.

232. Em relação as TI’s Yanomami e Munduruku, os indígenas vêm relatando há anos a


escalada da atividade garimpeira ilegal de ouro. Somente na TI Yanomami são estimados mais de
20 mil garimpeiros em atividade dentro do território e em plena expansão. Em 2020 foi identificada
uma nova área de garimpo distante apenas 5km de um roçado dos isolados Moxihatetea222. Além
da preocupação com a violência dos invasores e o risco de contaminação pelo Covid-19 que trazem

219
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPECIAIS (INPE). A estimativa da taxa de desmatamento por corte
raso para a Amazônia Legal em 2019 é de 9.762 km². Disponível em
http://www.inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_Noticia=5294, acesso em 15.jun.2020.
220
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA). Relatório do ISA denuncia na ONU risco elevado de genocídio de povos
indígenas isolados. Disponível em https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/relatorio-do-isa-
denuncia-na-onu-risco-elevado-de-genocidio-de-povos-indigenas-isolados. Acesso em 15.jun.2020.
221
EL PAÍS. Assassinato de líder Guajajara abala comunidade indígena e Moro garante que PF vai investigar.
Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2019/11/02/politica/1572726281_632337.html. Acesso em
15.jun.2020.
222
BBC NEWS BRASIL. Em meio à covid-19, garimpo avança e se aproxima de índios isolados em Roraima.
Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52225713. Acesso em 15.jun.2020.
no contexto da pandemia, estudos tem mostrado alta contaminação por mercúrio nas zonas
invadidas223.

233. Na TI Munduruku, os indígenas também vêm se organizando para coibir o garimpo


e a mineração ilegal (realizada com máquinas pesadas, como retroescavadeiras) e denunciam em
uma série de comunicados o aumento paulatino da invasão e destruição causada no território. Em
2019 a região das cabeceiras do rio Cabitutu foi invadida e destruída pelas máquinas de garimpo
em uma região reconhecida como de presença de um povo em isolamento voluntário pelos
Munduruku.

234. A TI Ituna/Itatá está sob Restrição de Uso para o estudo da presença de indígenas
isolados. Em 2019 registrou aumento de 656% no desmatamento em relação a 2018 pela invasão
sistemática de posseiros e grileiros. A TI é hoje alvo de um forte lobby de políticos locais e do
senador pelo estado do Pará, Zequinha Marinho. Desde o ano passado, quando a área teve sua
portaria de interdição renovada, o senador vem tentando deslegitimar a presença de indígenas
isolados na TI e liberar a exploração da área por particulares, tendo chegado inclusive a propor um
projeto de decreto legislativo propondo o fim da interdição224. Em uma fiscalização do Ibama,
realizada em agosto de 2019, com apoio da Polícia Federal e Força Nacional, realizada em um
garimpo nas proximidades da TI, os agentes foram recebidos a tiros225 e houve a queima de
máquinas dos garimpeiros ilegais.

235. Em operação de fiscalização realizada em janeiro de 2020, o Ibama encontrou cerca


de cinco mil litros de combustível que seriam usados para queimadas ilegais nos municípios
próximas à TI Ituna/Itata. As equipes do Ibama foram hostilizadas pela população local e pelo
senador Marinho, que os chamou de “bandidos”226. Em outra operação do Ibama, desta vez dentro

223
FIOCRUZ. Contaminação por mercúrio se alastra na população Yanomami. Disponível em
http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/46979. Acesso em 15.jun.2020.
224
SENADO FEDERAL. Zequinha Marinho nega existência de índios isolados em área protegida no Pará.
Disponível em https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/09/03/zequinha-marinho-nega-existencia-de-
indios-isolados-em-area-protegida-no-para. Acesso em 15.jun.2020.
225
TERRA. Equipe do Ibama é alvo de tiros em operação perto de área indígena no Pará. Disponível em
https://www.terra.com.br/noticias/brasil/equipe-do-ibama-e-alvo-de-tiros-em-operacao-perto-de-area-indigena-no-
para,3692e3c2f218d2ae9513007d3074d8d2vsxrj125.html. Acesso em 15.jun.2020.
226
G1 NOTÍCIAS. Agentes do Ibama conseguem retornar de operação no PA, após serem bloqueados por população.
Disponível em https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2020/01/16/agentes-do-ibama-conseguem-retornar-de-operacao-
no-pa-apos-serem-bloqueados-por-populacao.ghtml. Acesso em 15.jun.2020.
da TI Ituna/Itata em fevereiro de 2020, o senador tentou articular a paralização da fiscalização no
Ministério do Meio Ambiente227.

236. No início de março de 2020, o IBAMA lançou outra série de ações de fiscalização
em terras indígenas nas proximidades da TI Ituna/Itata. A ação visou reprimir a invasão das TIs
Apyterewa, Trincheira-Bacaja e Arawaté por garimpeiros e posseiros para impedir o contágio dos
indígenas pelo Covid-19. A operação, que novamente queimou e inutilizou maquinários dos
invasores, teve grande cobertura midiática e, na semana seguinte, o diretor de Proteção Ambiental
do órgão, em Brasília, Olivaldi Borges Azevedo, foi exonerado do cargo e outros servidores em
cargos de chefia também estão sendo pressionados228. Tal posicionamento do governo federal, de
coibir as ações de fiscalização e as constantes declarações de Jair Bolsonaro contrárias às
demarcações de terras indígenas, vem criando uma enorme pressão nestes territórios pela grilagem
e ocupação de posseiros que esperam legalizar as áreas invadidas229.

237. Desde início da pandemia, o elevado risco que o novo coronavírus representa para
os povos indígenas, assim como o severo impacto sobre a saúde dos povos, vem sendo Denunciado
pela comunidades indígenas, entidades indigenistas e por algumas instituições.

238. A omissão da União Federal levou a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil a
ajuizar, com apoio de seis partidos políticos, uma Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental, sob o fundamento de que “o Estado brasileiro vem falhando gravemente no seu
dever de proteger a saúde dos povos indígenas diante da COVID-19, gerando o risco de
extermínio de muitos grupos étnicos”. e de que “o Estado vem se omitindo intencionalmente no
seu dever de proteger esses territórios indígenas – inclusive aqueles em que vivem povos isolados
ou de recente contato –, abstendo-se de impedir e de reprimir invasões, que tantos riscos

227
G1 NOTÍCIAS. Antropólogo tenta impedir ação do Ibama em terra indígena e é detido. Disponível em
https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/02/17/antropologo-tenta-impedir-acao-do-ibama-em-terra-
indigena-e-e-detido.ghtml. Acesso em 15.jun.2020.
228
UOL NOTÍCIAS. Diretor do Ibama é exonerado após operação contra garimpos ilegais. Disponível em
https://noticias.uol.com.br/colunas/rubens-valente/2020/04/14/ibama-conoravirus-crise.htm?cmpid=copiaecola.
Acesso em 15.jun.2020.
229
G1 NOTÍCIAS. Áudios e vídeos revelam detalhes de esquema de grilagem dentro de terras indígenas. Disponível
em https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2020/04/19/audios-e-videos-revelam-detalhes-de-esquema-de-grilagem-
dentro-de-terras-indigenas.ghtml. Acesso em 15.jun.2020.
ocasionam”. Além das omissões, indica a APIB que, “muitas vezes, é o Estado que causa
ativamente a disseminação do vírus entre povos indígenas”.230

239. Como fundamento da ADPF nº 709, são enumeradas uma série de manifestações
de instituições nacionais e de organismos internacionais que corroboram o descumprimento por
parte do Estado brasileiro de suas obrigações para com os povos indígenas. Colaciona-se excerto
da petição:

13. Em nota pública, a 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do


Ministério Público Federal também alertou para o descaso com a
saúde indígena durante a pandemia. A falta de transparência do
Estado, a subnotificação de casos e a ausência de uma política
coordenada e integral dos órgãos de responsáveis pela política de
saúde são algumas das constatações. O órgão ressalta que as
instituições públicas, sobretudo a FUNAI e a SESAI, devem atuar
“para que o contexto da pandemia da covid-19 não se transforme em
um episódio de “genocídio consentido das populações indígenas
pelo Estado brasileiro”.

14. Diversos órgãos internacionais vêm também advertindo para a


necessidade de proteção especial para os povos indígenas no
contexto da pandemia do coronavírus. Nessa linha, o Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos expediu
diretrizes para o enfrentamento da COVID-19, destacando medidas
que devem ser adotadas em relação aos povos indígenas:

“Os Estados devem levar em conta que os povos indígenas


utilizam um conceito diferente de saúde, que compreende a
medicina tradicional, e devem consultar e considerar o
consentimento prévio e informado destes povos com vistas à
elaboração de medidas preventivas para impedir o COVID-19.

Os Estados devem impor medidas que regulem o acesso de


pessoas ao território indígena, em consulta e colaboração com os
povos interessados, especialmente com suas instituições
representativas.

Em relação aos povos indígenas que vivem em isolamento


voluntário ou na fase inicial de contato, os Estados e outros
agentes devem considerá-los como grupos populacionais
especialmente vulneráveis. As barreiras que forem implantadas
para impedir o acesso de pessoas de fora de seus territórios devem
ser gerenciadas rigorosamente, a fim de evitar qualquer contato.”

230
Petição inicial da ADPF nº 709. Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoi
ncidente=5952986 Acesso em: 9 jun 2020.
15. A Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos
(OEA), por sua vez, emitiu comunicado aos Estados-membros,
instando-os a prestarem especial atenção às populações indígenas
durante a crise de saúde causada pelo COVID-19. Devido à dupla
situação de vulnerabilidade das comunidades indígenas, resultantes
de sua marginalização histórica e do seu isolamento geográfico, “as
autoridades locais, regionais e nacionais de cada Estado Membro a
trabalhar em coordenação com protocolos específicos que visam
garantir a saúde e o bem-estar de sua população indígena desde uma
perspectiva intercultural, conforme contemplado na Declaração dos
Direitos dos Povos Indígenas das Nações Unidas, aprovada em 2007,
e na Declaração Americana dos Direitos dos Povos Indígenas da
Organização dos Estados Americanos, aprovado em 2016”.

16. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, ao seu turno,


expediu a Resolução n° 01/2020 sobre ‘Pandemia e Direitos
Humanos nas Américas’,14 reconhecendo que grupos em situação
de especial vulnerabilidade, como os povos indígenas, sentem mais
fortemente os impactos do vírus, dada a realidade desigual e de
violência generalizada a que estão submetidos. Por isso, a CIDH
recomenda aos Estados as seguintes medidas:

“54. Proporcionar informação sobre a pandemia em seu idioma


tradicional, estabelecendo, quando for possível, facilitadores
interculturais que lhes permitam compreender de maneira clara as
medidas adotadas pelo Estado e os efeitos da pandemia.

55. Respeitar de forma irrestrita o não contato com os povos e


segmentos de povos indígenas em isolamento voluntário, dados
os gravíssimos impactos que o contágio do vírus poderia
representar para sua subsistência e sobrevivência como povo.

56. Extremar as medidas de proteção dos direitos humanos dos


povos indígenas no contexto da pandemia da COVID-19, levando
em consideração que estes coletivos têm direito a receber uma
atenção à saúde com pertinência cultural, que leve em conta os
cuidados preventivos, as práticas curativas e as medicinas
tradicionais.

57. Abster-se de promover iniciativas legislativas e/ou avanços na


implementação de projetos produtivos e/ou extrativos nos
territórios dos povos indígenas durante o tempo que durar a
pandemia, em virtude da impossibilidade de levar adiante os
processos de consulta prévia, livre e informada (devido à
recomendação da OMS de adotar medidas de distanciamento
social) dispostos na Convenção 169 da OIT e outros instrumentos
internacionais e nacionais relevantes na matéria.”

17. Por constatarem o crescimento exponencial da pandemia entre


os povos indígenas da Amazônia, a ONU e a Comissão
Interamericana divulgaram comunicado conjunto, em que
advertiram que os Estados “devem aumentar as medidas para
proteger os povos indígenas contra o COVID-19, tanto no nível de
contágio quanto nos impactos sobre seus direitos associados à
pandemia”. Como bem destacou a declaração conjunta:

“Enquanto os sistemas nacionais de saúde enfrentam sérias


dificuldades em dar uma resposta efetiva, o coronavírus tornou
mais evidente a ausência histórica ou presença limitada do estado
em muitos territórios e sua capacidade insuficiente para atender
às necessidades desses povos, levando também em consideração
seus conhecimentos ancestrais, práticas de cura e medicamentos
tradicionais, a partir de uma abordagem intercultural.

A pandemia também destacou a importância de garantir que os


povos indígenas possam exercer seu autogoverno e
autodeterminação. Portanto, é essencial que os Estados garantam
a participação dos povos indígenas por meio de suas entidades
representativas, líderes e autoridades tradicionais na formulação
e implementação de políticas públicas para enfrentar o alto risco
de extinção física e cultural dos povos indígenas amazônicos.

Nesse sentido, exortamos os Estados a respeitarem as medidas de


autoisolamento adotadas pelos povos indígenas - sejam elas
tradicionais ou resultantes da pandemia, como os cordões
sanitários -, bem como a fornecer-lhes material de proteção
individual de maneira segura. Também é de extrema importância
compartilhar com os povos indígenas informações culturalmente
apropriadas e em seus próprios idiomas ou dialetos, que sejam
verdadeiras e oportunas em relação à contingência.

[...]

Numa etapa seguinte, as medidas de mitigação e recuperação de


danos devem valorizar em seu projeto, implementação e
avaliação as prioridades de desenvolvimento dos povos indígenas
[...]. É especialmente importante que os Estados garantam
processos de consulta prévia, livre e informada, culturalmente
apropriados e de boa fé para os povos e comunidades indígenas
sobre qualquer nova política de recuperação que possa afetar seus
direitos e interesses legítimos” 18.

18. Todos esses atos e recomendações internacionais apontam


claramente as obrigações dos governos nacionais de garantir os
direitos dos povos indígenas durante a pandemia. Elas se baseiam no
Direito Internacional dos Direitos Humanos, mas são plenamente
convergentes com a Constituição de 1988, que além de proteger os
direitos fundamentais à vida (art. 5°, caput) e à saúde (arts. 6º e 196),
consagra o direito dos povos indígenas a viver em seus territórios,
de acordo com os seus costumes e tradições (art. 231).
240. Demonstrando o risco de genocídio, foi requerido, em caráter cautelar, a adoção de
uma série de medidas de cuidado e proteção em favor dos povos indígenas. As medidas foram
parcialmente deferidas para impor à União Federal a obrigação de, em relação aos povos em
isolamento e de contato recente, criar de barreiras sanitárias em proteção, instalar Sala de Situação,
retirar invasores de suas terras, garantia acesso aos serviços de saúde. Em relação aos demais
povos, determinou-se, dentre outras, a “elaboração e monitoramento de um Plano de
Enfrentamento da COVID-19 para os Povos Indígenas Brasileiros pela União”231, no prazo de 30
dias, com participação dos representantes das comunidades indígenas e outras instituições.

241. Em decisão monocrática, o Exmo. Ministro Relator reconheceu a “grande


resistência no governo quanto à concretização dos direitos dos povos indígenas” e aludiu a falas
atribuídas pela imprensa ao Presidente da República, como:

“Não entro nessa balela de defender terra pra índio”; “[reservas indígenas]
sufocam o agronegócio” (Campo Grande News, 22.04.2015)[4]; “Em 2019
vamos desmarcar [a reserva indígena] Raposa Serra do Sol. Vamos dar fuzil e
armas a todos os fazendeiros” (No Congresso, 21.01.2016)[5]; “Se eu assumir
[a Presidência do Brasil] não terá mais um centímetro quadrado para terra
indígena” (Dourados, Mato Grosso do Sul, 08.02.2018)[6]; “Reservas indígenas
inviabilizam a Amazônia” (Revista Exame, 13.02.2020)[7].

242. O Ministro registra ser esse o contexto “em que se insere a presente discussão e que reforça
o dever de cuidado por parte do Tribunal quanto a tais povos”. O recurso ao poder judiciário se
dá em um cenário em que o Presidente da República se pronuncia pública e expressamente aos
direitos dos povos indígenas, consagrados na Constituição Federal e em Tratados Internacionais
de proteção dos Direitos Humanos.

e) Violação dos direitos individuais e coletivos dos trabalhadores.

243. Jair Bolsonaro nunca negou o seu desprezo pelos direitos sociais, bem como pelo sistema
protetivo do trabalho constitucionalmente estabelecido e garantido. Desde a época da campanha
eleitoral, Jair Bolsonaro defende o voto dado na qualidade de deputado federal a favor da Reforma

231
Decisão monocrática proferida em 8 de julho de 2020. Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoi
ncidente=5952986
Trabalhista de 2017, apesar das consequências de agravamento da desigualdade social e perda da
dignidade de quem trabalha. Em matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, o então candidato
à Presidência da República justificava sua posição referindo-se a frase que, segundo ele, ouvia de
empresários brasileiros: “um dia o trabalhador vai ter que decidir: menos direito e emprego ou
todos os direitos e desemprego”.232

244. Ao longo de quase dois anos de governo, essa visão do mundo do trabalho
não só é repetida pela Presidência da República e seus ministros233, como também é posta em
prática por meio de medidas provisórias de constitucionalidade duvidosa. E essa racionalidade que
norteia as ações do atual governo é perseguida, e muitas vezes implementada, inclusive durante a
pandemia, conforme explicitaremos a seguir.

245. Na primeira entrevista concedida após a posse presidencial, em 4 de janeiro


de 2019, Bolsonaro repetiu a máxima de que a falta de emprego é causada pelo excesso de direitos,
culpando a burocratização pela baixa atividade empresarial:

"O Brasil é um país de direitos em excesso, agora, falta emprego.


Porque, quando você pensa em produzir alguma coisa, quando você
vê a questão dos encargos trabalhistas, o que atrapalha a todo mundo
no Brasil, aquela pessoa desiste de empreender.

Não adianta você ter direito e não ter emprego, não ter trabalho."234

"Qual país do mundo que tem (a Justiça do Trabalho)? Ela tem que
ser a justiça comum. Poderíamos fazer, está sendo estudado.
Havendo o clima, nós podemos discutir essa proposta e mandar para
frente."

246. Tal perspectiva de natureza ultraliberal selvagem e extremada passou a


conduzir iniciativas governamentais que, além de aprofundar em demasia a linha desconstrutiva
de direito e de acesso à Justiça, deflagrada com a Lei nº 13.467/2017, editada ainda sob o governo

232
Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/10/candidatos-a-presidencia-querem-alterar-
reforma-trabalhista-de-temer.shtml>.
233
Disponível em: < https://www.cartacapital.com.br/politica/os-trabalhadores-querem-menos-direitos-e-mais-
trabalho-diz-bolsonaro/>.
234
Disponível em: < https://www.sbt.com.br/jornalismo/sbt-noticias/noticia/119459-bolsonaro-afirma-que-pode-
acabar-com-justica-do-trabalho-e-propoe-idade-minima-para-aposentadoria>.
chefiado por Michel Temer, trouxe um elemento novo e corrosivo para o equilíbrio das relações
trabalhistas e para o respeito ao Direito Constitucional do Trabalho: o esvaziamento e a implosão
de instituições responsáveis pela fiscalização de condições de trabalho e promoção do
cumprimento dos direitos sociais.

247. Como primeira medida governamental, por meio da Medida Provisória nº


870, de 1º de janeiro de 2019, o Presidente da República Jair Bolsonaro extinguiu o Ministério do
Trabalho235, transformado em mero departamento do Ministério da Economia (art. 83 da MP nº
870/2019), ao lado de competências díspares, tais como Fazenda, Planejamento, Desenvolvimento
e Gestão, e da Indústria, Comércio e Serviços. Ou seja, um único ministro com atribuição de tratar
assuntos tão amplos e diferentes quanto moeda, administração financeira, dívidas públicas, preços
em geral, comércio exterior, planejamento estratégico nacional de longo prazo, plano plurianual
de investimentos e de orçamentos, administração patrimonial, governança corporativa das
empresas estatais federais, previdência, geração de emprego, política salarial, fiscalização do
trabalho, para citar apenas alguns itens de sua competência. E não é só, as competências do extinto
Ministério do Trabalho foram transferidas para mais outros quatro ministérios: Secretaria de
Governo da Presidência da República, Ministério da Cidadania, Ministério do Desenvolvimento
Regional e Ministério da Justiça e Segurança Pública.

248. Esta foi a primeira vez, desde sua criação em 1930, que deixou de existir a
pasta específica para cuidar das relações de trabalho. A simbologia desta Medida Provisória é
reforçada por outras circunstâncias da época: atribuição da competência relativa ao registro
sindical para o Ministério da Justiça e Segurança Pública, remetendo ao tempo em que as questões
sociais eram “caso de polícia”; e nomeação do relator da Reforma Trabalhista, Rogério Marinho,
como Secretário Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia.

249. O fim do Ministério do Trabalho importa, dentre outras medidas, um


gravíssimo enfraquecimento do sistema de fiscalização do trabalho, inaugurando uma série de
cerceios e restrições às competências e aos recursos da carreira auditoria fiscal do trabalho,
debilitando sobremaneira as ações de combate às piores formas de exploração trabalhista, inclusive
no que diz respeito ao trabalho análogo à escravidão e ao trabalho infantil. Operou-se um
retrocesso bastante significativo, que incluiu medidas legislativas provisórias que intentaram
estabelecer o conceito de aviso prévio aos empregadores fiscalizados, com a regra da dupla visita

235
Disponível em: < https://www.brasildefato.com.br/2020/01/14/extincao-do-ministerio-do-trabalho-o-que-mudou-
apos-um-ano>.
antes de qualquer autuação e a tentativa de conversão do trabalho dos fiscais do trabalho em
atividade meramente orientadora, sem poder sancionador (Medidas Provisórias 905 e 927).

250. Também de 1º de janeiro de 2019 é o Decreto nº 9.661, que determinou o


reajuste do salário-mínimo para R$ 998,00, valor abaixo do aprovado em votação orçamentária
pelo Congresso Nacional em dezembro de 2018, fixado em R$ 1.006,00 para o exercício financeiro
de 2019. Com isso, Jair Bolsonaro afrontou diretamente o art. 157, inciso I, da Constituição da
República, que estabelece a capacidade de satisfazer, conforme as condições de cada região, as
necessidades normais do trabalhador e de sua família como balizas para a fixação do salário-
mínimo.

251. O DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos


Socioeconômicos – divulga a cada mês uma estimativa do valor monetário para atender as
necessidades mais básicas de um trabalhador e sua família, levando em consideração os fatores
elencados na Constituição, como alimentação, moradia, educação, lazer, saúde, higiene, vestuário,
previdência social e transporte. Na época do Decreto, o DIEESE considerava como o mínimo
necessário o valor de R$ 3.959,98 (três mil, novecentos e cinquenta e nove reais e noventa e oito
centavos) para uma família com quatro pessoas.236 O reajuste abaixo do esperado representou o
fim da política de valorização do salário-mínimo e movimento oposto à recuperação da economia
nacional, já que, com menos recursos, consome-se menos, produz-se menos e, portanto, não são
gerados tantos postos de trabalho.

252. No mês seguinte, em fevereiro de 2019, o Ministro da Economia, Paulo


Guedes, ao falar a empresários237, voltou a apresentar o raciocínio do governo quanto às relações
de trabalho:

“Porta da esquerda: Carta del Lavoro, Justiça Trabalhista, sindicato, você tem proteção, você tem
tudo, as empresas têm que pagar, mas quase não tem emprego. É o sistema atual. Porta da direita:
novo regime trabalhista e previdenciário, não tem nada disso, se seu patrão fizer alguma besteira
como você e te tratar mal, vai pra justiça comum, é privado, privado, privado.”

236
Disponível em <https://www.dieese.org.br/analisecestabasica/salarioMinimo.html>
237
Disponível em <https://oglobo.globo.com/economia/reforma-da-previdencia-devera-mudar-regras-trabalhistas-
para-jovens-23431614>
253. Tal raciocínio, depois, será plasmado na Medida Provisória nº 905, de
novembro de 2019, quando o governo criou o Contrato de Trabalho Verde e Amarelo para,
supostamente, fomentar o primeiro emprego.

254. Em 1º de março de 2019, o governo editou a Medida Provisória nº 873, que


modificou imediatamente dispositivos relativos às contribuições sindicais, asfixiando ainda mais
as contas das entidades sindicais, que já haviam sido restringidas pela “Reforma Trabalhista”.

255. A Medida dificultou o procedimento existente de desconto das mensalidades


associativas em folha de pagamento; burocratizou a cobrança da contribuição sindical (autorização
prévia, voluntária, individual, expressa das pessoas que trabalham); e alterou o recebimento da
contribuição sindical dos empregados não associados para boleto bancário ou equivalente
eletrônico, encaminhado obrigatoriamente à residência do empregado, dentre outras regras.

256. As modificações trazidas pela MP implicaram clara interferência na


autonomia sindical, em confronto ao art. 8º, em especial incisos I e IV da Constituição, e
convenções da Organização Internacional do Trabalho das quais o Brasil é signatário ou está
obrigado a observar em razão de sua qualidade de membro da Organização.

257. A excessiva tentativa de pautar o Congresso Nacional, via medidas


provisórias, com o rebaixamento dos direitos sociais em clara precarização, exige esforços
redobrados de contenção permanente dos atos do Presidente.

258. Em relação ao trabalho infantil, Bolsonaro afrontou o inciso IX do art. 157


da Constituição, que trata da proibição de trabalho a menores de quatorze anos. Vejamos algumas
declarações compiladas em matéria veiculada pelo jornal O Globo:238

"Trabalhei desde os 8 anos de idade plantando milho, colhendo banana, com caixa de banana nas
costas com 10 anos de idade e estudava. E hoje sou quem sou. Isso não é demagogia. Isso é
verdade."

“No dia anterior, durante uma ‘live’ em uma rede social, o presidente havia falado do assunto
espontaneamente. ‘O trabalho dignifica o homem, a mulher, não importa a idade’, afirmou na
transmissão ao vivo.

Tanto na entrevista desta sexta quanto na ‘live’ de quinta, o presidente disse não defender o trabalho
infantil e afirmou que não enviará nenhuma proposta ao Congresso com essa finalidade. Ele
afirmou na ‘live’ que, se fizesse isso, ‘seria massacrado’.

238
Disponível em: < https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/07/05/bolsonaro-diz-nao-defender-trabalho-infantil-
mas-ressalva-que-trabalho-enobrece-todo-mundo.ghtml>.
‘Trabalhar enobrece, tá? Não estou defendendo o trabalho infantil, muito menos escravo. Mas me
fez muito bem trabalhar e me transformou até fisicamente muito bem."

259. Em 30 de abril de 2019, Jair Bolsonaro edita a Medida Provisória nº 881, a


denominada MP da Liberdade Econômica. Do texto da MP, destacam-se a criação de mecanismos
que dificultam a fiscalização e autuação fiscal e retiram os sindicatos do sistema; criação de
sistema de recursos contra multas decorrentes de fiscalização do trabalho, desobrigando o
empregador do depósito recursal e tentativa de acabar com a obrigatoridade das CIPAs, para micro
e pequenas empresas e estabelecimentos ou locais de obra com menos de 20 trabalhadores.

260. O enfraquecimento da inspeção do trabalho constitui política de governo


orientada para destruição do sistema protetivo do direito social ao trabalho, que remonta à
reestruturação ministerial (MP nº 870 acima mencionada) e continua a ser aperfeiçoada inclusive
no contexto da crise sanitária do coronavírus. Estudo detalhado a respeito da simbologia e dos
efeitos prejudiciais desta ação política foi realizado e divulgado pelo Sindicato Nacional dos
Auditores Fiscais do Trabalho239.

261. Outra Medida Provisória desestruturante foi a de nº 889, de 24 de julho de


2019, que tratou de hipótese excepcional de saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço sob
o argumento de reaquecimento da economia. O resultado concreto, porém, é o desvirtuamento do
instituto jurídico e o desamparo de trabalhadoras e trabalhadores no momento crucial de
desemprego. Ou seja, a Medida divulgada como favorável à classe trabalhadora serve, na verdade,
apenas e tão somente para aquecer os negócios pela via do consumo, deixando quem perde o
emprego à própria sorte. Novo saque é permitido apenas após o lapso de um ano e nem mesmo a
emergência sanitária da Covid-19 autoriza a movimentação da conta. A MP nº 889, em resumo,
vai de encontro ao estabelecido pelo inciso XV do artigo 157 da Constituição, que estabelece que
a legislação trabalhista deve ter em conta a assistência aos desempregados.

262. Em 11 de novembro de 2019, concretizando a ideia de “trabalhadoras e


trabalhadores com menos direitos, mas com emprego”, Bolsonaro editou a MP nº 905, denominada
MP do Contrato de Trabalho Verde e Amarelo. A Medida Provisória nº 905 promoveu brutal
alteração da legislação trabalhista brasileira, avançando para outros temas além do “fomento do

239
Disponível em: < https://sinait.org.br/mobile/default/noticia-
view?id=17687%2Fsinait+apresenta+estudo+dos+impactos+da+configuracao+ministerial+atual+sobre+a+fiscalizac
ao+do+trabalho >
primeiro emprego” e causando novos prejuízo à classe trabalhadora. Dentre as principais
alterações, há de se destacar: a) precarização do trabalho dos mais jovens, que terão menos direitos
trabalhistas; b) liberação do trabalho aos domingos no comércio e na indústria e aumento da
jornada de trabalho e liberação de trabalho aos sábados de bancários e bancárias; c) transformação
da gorjeta em salário; d) redução dos juros referentes a condenações trabalhistas; e) modificações
na PLR, com a exclusão dos sindicatos da comissão de empregados e possibilidade de acordo
individual com empregados que ganhem mais do que o dobro do teto do INSS; f) multa de R$ 1
mil a R$ 100 mil para os associados de sindicatos que deixarem de votar nas eleições sindicais
sem justificativa; g) cobrança de 7,5% de alíquota para o INSS do valor do seguro-desemprego;
h) redução do adicional de periculosidade, de 30% para 5%; i) revogação de mais de 30
dispositivos da CLT, dentre outros.

263. Com a MP, a discriminação entre os trabalhadores foi incentivada, pois as


novas condições somente se aplicavam aos que possuíam entre 18 e 29 anos, algo vedado no art.
7º da Constituição federal, que, no inciso XXX, proíbe que haja diferença de salário ou no critério
de admissão por idade. Contratados pela nova modalidade teriam seus salários limitados a salário-
mínimo e meio, o recolhimento do FGTS no percentual de 2% (hoje 8%) e a indenização na
dispensa reduzida de 40% para 20%. A MP nº 905 ofendia, assim, e de uma só vez, vários incisos
do art. 157 da Constituição.240

264. Com a chegada da pandemia ao Brasil, Jair Bolsonaro intensificou a edição


de medidas provisórias tratando de matéria trabalhista, com o mesmo norte de sempre: reduzir
direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores e beneficiar a classe empresarial, sem, contudo,
garantir nem gerar empregos.

265. No dia 23 de março de 2020, foi publicada a Medida Provisória nº 927, que
dispõe sobre as medidas trabalhistas para enfrentamento do estado de calamidade pública
reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020. Embora a conjuntura de crise
sanitária recomendasse a adoção de medidas protetivas do emprego, da renda e dos negócios, para

240
“Art. 157 - A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão nos seguintes preceitos, além de outros
que visem a melhoria da condição dos trabalhadores:
II - proibição de diferença de salário para um mesmo trabalho por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado
civil; (...) IV - participação obrigatória e direta do trabalhador nos lucros da empresa, nos termos e pela forma que a
lei determinar; (...) VI - repouso semanal remunerado, preferentemente aos domingos e, no limite das exigências
técnicas das empresas, nos feriados civis e religiosos, de acordo com a tradição local;
(...) XVII - obrigatoriedade da instituição do seguro pelo empregador contra os acidentes do trabalho.”
criar condições de combate ao vírus e estabelecer patamares mínimos necessários ao crescimento
econômico pós-pandemia, a linha de conduta da Presidência da República permaneceu intocada.
Menos direitos para quem trabalha, mais facilidade e benefícios econômicos para empregadores.
Aliás, a essa visão, somou-se a negação da própria Covid-19 e conclamação do povo às ruas com
o slogan “o Brasil não pode parar”241.

266. Além de ser totalmente incongruente com a pandemia e seus efeitos


complexos, a medida revelou-se insuficiente para afrontar o agravamento da crise econômica que
assola o país, oferecendo alternativas e alento apenas e tão somente aos empregadores. E, pior,
jogou o peso do resultado das escolhas nos ombros dos trabalhadores e trabalhadoras, cuja vontade
individual está completamente maculada diante da ameaça concreta de desemprego e miséria.
Assim, o Presidente da República pauta o Congresso Nacional com medidas provisórias que
retiram direitos dos trabalhadores, deixando muitas vezes o sistema político refém de uma
estratégia de governo que não apresenta solução que esteja de acordo com os compromissos
internacionais assumidos pelo Estado brasileiro perante a Organização Internacional do Trabalho
e Organização dos Estados Americanos. Vejamos, a título de exemplo, alguns dos pontos mais
graves dessa medida:

- Não estabelece qualquer tipo de garantia de emprego, permitindo dispensas


individuais e coletivas.
- Autoriza a celebração de acordo individual escrito entre trabalhador e
empregador para regular a matéria, com eficácia sobre qualquer outro
direito, inclusive aqueles oriundos de acordo coletivo, ressalvados os
previstos na Constituição.
- Desprestigia as negociações coletivas ao permitir a celebração de acordos
individuais e estabelecer sua prevalência sobre qualquer outra norma,
deixando de observar recomendações expressas da OIT que atribui ao
diálogo social o poder de conferir legitimidade às respostas encontradas para
a crise sanitária e econômica que assolam o mundo do trabalho242.
- Flexibiliza a fiscalização do cumprimento de normas de medicina e
segurança, deixando os trabalhadores mais vulneráveis pela
ausência de treinamentos previstos nas Normas Regulamentadoras – NRs.
- Exclui do âmbito de aplicação da norma trabalhadores informais,
autônomos ou de aplicativo como se não fizessem parte do mundo do
trabalho brasileiro e não fossem o grupo mais afetado pela crise sanitária e
econômica.

241
Disponível em: < https://istoe.com.br/em-meio-a-pandemia-governo-cria-acao-brasil-nao-pode-parar/>.
<https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_protect/---protrav/---
safework/documents/instructionalmaterial/wcms_745541.pdf>.
242
Disponível em: <https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---
dcomm/documents/briefingnote/wcms_740981.pdf >.
- Não concede nenhuma garantia, seja de proteção à saúde (a mais
importante), seja pecuniária, aos trabalhadores do serviço de saúde,
instituindo somente regras para intensificar suas jornadas de trabalho e
ampliar as hipóteses de posterior compensação ou pagamento.

267. O texto original da MP, publicado em 23 de março, previa, no art. 18, que o
empregador também poderia suspender o contrato de trabalho, sem pagamento de salários, por até
4 meses, para o empregado participar de curso de qualificação não presencial, por acordo
individual. A medida flexibilizava a previsão do art. 476 da CLT, possibilitando o
empregador conceder ajuda compensatória com valor definido livremente entre as partes. O artigo
foi revogado na noite do dia 23, pela MP nº 928/2020, de tão absurdo e prejudicial às trabalhadoras
e aos trabalhadores neste momento de crise sanitária.

268. Vale ressaltar, ainda, que o Supremo Tribunal Federal, em 29 de abril de


2020, declarou inconstitucionais dois artigos da MP nº 927, os arts. 29 e 31.

269. O art. 29 previa que os casos de contaminação pelo coronavírus não seriam
considerados ocupacionais, exceto mediante comprovação do nexo causal. Ou seja, a vítima de
moléstia nessas condições teria que, paradoxal e absurdamente, fazer a desafiadora comprovação
do nexo de causalidade entre a atividade desenvolvida e a contaminação pelo coronavírus. Nem
mesmo as pessoas que trabalham na área da saúde e são responsáveis pelo combate efetivo do
coronavírus e pelo cuidado de quem adoeceu foram poupadas. A caracterização da Covid-19 como
doença profissional ou do trabalho é de fundamental importância para trabalhadores e
trabalhadoras, já que garante a obtenção do auxílio-doença acidentário e a garantia de emprego
por 12 meses, assim como possibilita que o trabalhador possa ser indenizado pela empresa em caso
de lesão permanente ou morte decorrente da doença adquirida no ambiente de trabalho.

270. Já o art. 31 da MP impossibilitava a fiscalização do trabalho pela Auditoria-


Fiscal do Trabalho, que passaria a ter caráter apenas de orientação no período dos próximos 180
dias. Restava claro que a limitação inconstitucional imposta à Auditoria colocaria em risco a vida
de milhões de trabalhadores que permanecem laborando durante a pandemia, momento no qual a
fiscalização de empresas, especialmente em matéria de saúde e segurança no trabalho, deve ser
intensificada para minimizar os riscos à vida de quem não pode fazer isolamento social.

271. Quanto à Medida Provisória nº 936, de 1º de abril de 2020, que institui o


Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e dispõe sobre medidas
trabalhistas complementares para enfrentamento do estado de calamidade pública, os seus dois
eixos centrais da MP são a redução proporcional de jornada e salário e a suspensão dos contratos
de trabalho que, conforme critérios intrincados, resultam no pagamento do Benefício Emergencial
de Preservação do Emprego e Renda, de responsabilidade do governo, e da “ajuda compensatória
mensal” de natureza indenizatória facultada e a cargo do empregador.

272. A redução salarial por acordo individual é inconstitucional por ofender o


previsto no art. 7º, VI, da Constituição federal, que exige a negociação coletiva. A MP mostra,
novamente, a insistência do governo em eliminar um dos polos do mundo do trabalho, as entidades
sindicais.

273. A crise sanitária implicará prejuízos em toda a cadeia econômica:


trabalhadores, empresas e governo. Porém, a MP não resguarda efetivamente os empregos, nem
os trabalhadores; a preocupação principal é com as empresas, sendo pífia a participação financeira
do Estado para enfrentar o período crítico de combate à Covid-19. O próprio Secretário do
Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Dalcolmo, deixou bem clara essa intenção, ao
explicar a MP: “Tudo para que elas (as empresas) possam demitir menos nesse momento”.

274. Ainda em relação ao momento de pandemia pelo qual passa o Brasil, há de


se destacar outra ação de Jair Bolsonaro contra a classe trabalhadora. Trata-se do veto, em 15 de
maio de 2020, a trechos da Lei nº 13.998, que ampliava o rol de pessoas elegíveis para o
recebimento da renda básica transitória. Com esse veto, Jair Bolsonaro excluiu extrativistas,
pescadores, agricultores, assentados de reforma agrária, quilombolas, ambulantes, artesãos, atletas,
artistas, diaristas, garçons, taxistas, motoristas de aplicativos e de vans e caminhoneiros do
recebimento do benefício, prejudicando a sobrevivência de grande contingente vulnerável neste
momento histórico.

275. Com postura insensata, o governo invocou a isonomia para justificar a


rejeição ao Projeto de Lei, fazendo interpretação desvirtuada do texto que claramente traz um rol
exemplificativo, e não taxativo, daqueles contemplados pelo auxílio. Além disso, alegou ausência
de indicação de fonte de custeio, ignorando o crédito extraordinário instituído pela MP nº 936/2020
para atender à necessidade da adoção de medidas emergenciais. Pior do que medidas insuficientes
é o silêncio de Jair Bolsonaro em relação ao grupo de trabalhadores dos mais vulneráveis, as
empregadas domésticas. Ele e seu governo sempre demonstraram desprezo a essa categoria.
276. Em diversas entrevistas, Bolsonaro declarou ser contrário a estender os
direitos trabalhistas às domésticas, porque, para ele, não seria possível bancar os mesmos direitos
como na iniciativa privada. Quando deputado federal, votou contra a Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) nº 66/2012, também conhecida como PEC das Domésticas, a Emenda
Constitucional nº 72.243

277. A posição do presidente é a tônica de seu governo neste tema. Em recente


entrevista, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou, sobre o valor baixo do dólar:
“Empregada doméstica estava indo pra Disney, uma festa danada”.244 O governo, assim, ignora
contingente enorme de brasileiros. Em 2018, 6,2 milhões de pessoas tinham como ocupação o
serviço doméstico, sendo que destes, 97% eram mulheres, das quais 3,9 milhões negras.245 Chama
a atenção, ainda, que, durante a pandemia, a primeira pessoa a morrer no país foi uma empregada
doméstica no Rio de Janeiro, contaminada pela empregadora que voltara da Itália.246 Mesmo
assim, nenhuma ação de governo foi tomada para garantir a saúde e renda dessas trabalhadoras.

278. Por fim, mas não menos importante, no campo trabalhista, é imprescindível
chamar a atenção para o desrespeito de Jair Bolsonaro a órgão por ele mesmo criado, em 4 de
outubro de 2019, o denominado Conselho Nacional do Trabalho.247 Depois de sua criação, o
Conselho Nacional do Trabalho não foi consultado sobre nenhuma das propostas e medidas
provisórias do governo sobre relações do trabalho. O Conselho foi criado exatamente para
estimular os debates tripartites entre governo, representantes dos trabalhadores e representantes
dos empregadores em assuntos relacionados ao trabalho. O diálogo tripartite, inclusive, é
compromisso assumido pelo Brasil ao ratificar a Convenção nº 144 da Organização Internacional
do Trabalho248. Ou de fato o Conselho serve como órgão consultivo, ou não tem nenhuma função.
A MP nº 905, de novembro de 2019, e as MPs nºs 927 e 936, de 2020, não foram discutidas no
âmbito do CNT e, assim, constituem exemplos práticos de um governo que não realiza efetivo
diálogo social. Mais de uma vez as Centrais Sindicais reivindicaram uma participação efetiva na

243
Disponível em: < https://www.camara.leg.br/radio/programas/401222-jair-bolsonaro-e-contra-aprovacao-da-pec-
das-domesticas/> .
244
Disponível em: <https://www.huffpostbrasil.com/entry/guedes-empregada-
disney_br_5e448759c5b671eafe1e44d8>
245
Disponível em: < https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2019-12/ipea-trabalho-domestico-e-exercido-
por-mulheres-mais-velhas >.
246
Disponível em: < https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51982465> .
247
Portaria nº 1.097/19.
248
“Art. 2 — 1. Todo Membro da Organização Internacional do Trabalho que ratifique a presente Convenção
compromete-se a pôr em prática procedimentos que assegurem consultas efetivas, entre os representantes do Governo,
dos empregadores e dos trabalhadores (...).”
elaboração de medidas relativas ao mundo do trabalho, especialmente no contexto da pandemia.
O governo, porém, limita-se a utilizá-las para forjar um arremedo de diálogo. Em contrapartida,
Jair Bolsonaro reúne-se com empresários e chega até mesmo a visitar o Supremo Tribunal Federal
para pressionar para a retomada das atividades nas empresas e flexibilização na reabertura do
comércio.249

279. Nessa mesma linha, aliás, pode-se mencionar o Decreto nº 9.759/2019, que
extinguiu todos os colegiados da Administração Pública federal, entre conselhos, comitês,
comissões, grupos, juntas, equipes, mesas, fóruns e salas, organizações que foram criadas por
decreto ou ato normativo inferior e que faziam parte das estruturas de participação social na gestão
estatal e, em sua maioria, com natureza consultiva. O Decreto desconsiderou e ignorou que os
conselhos são forma de efetivação da democracia brasileira, pela qual se possibilitava o diálogo
permanente entre o governo e os diversos grupos organizados da sociedade civil, onde era
desenvolvido um trabalho relevante na melhoria, fiscalização e gestão de políticas públicas. O
Supremo Tribunal Federal, não obstante, instado a analisar a constitucionalidade da norma,
suspendeu trecho do Decreto referente à extinção dos colegiados previstos em lei. Essa medida
segue o tom do projeto político de Jair Bolsonaro, que desconsidera por completo o diálogo social.

280. Nenhum ato do governo ou medida provisória pode contrariar a


Constituição federal, como já elencado anteriormente, nem os Tratados Internacionais em matéria
de direitos humanos ao qual o Estado Brasileiro se vinculou, neles inseridos os que versam de
matéria trabalhista. Seguramente, é possível dizer que a MP nº 927 e a MP nº 936, editadas em
razão da pandemia, esbarram no controle de convencionalidade entre suas disposições e as
matérias regulamentadas pelas convenções da Organização Internacional do Trabalho.

281. De início, o processo de edição das MPs não promoveu a consulta tripartite
para as normas do trabalho, violando, dessa maneira, o princípio do tripartismo disposto na
Convenção nº 144 da OIT (aprovada pelo Decreto Legislativo nº 6, de 01/06/89, e promulgada
pelo Decreto nº 2.518, de 12/03/98, substituído pelo Decreto nº 10.088/19), que versa sobre a
necessidade do diálogo entre as “organizações representativas”, compreendidas como sendo o
governo, os representantes dos empregadores e dos trabalhadores, com o objetivo de se alcançar

249
Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2020-05/bolsonaro-vai-com-empresarios-ao-stf-
para-pedir-retomada-da-economia >
justiça social em prol do trabalho digno para todas as pessoas, objetivo este que é central em um
Estado Democrático de Direito.

282. As MPs foram editadas de forma unilateral pelo Poder Executivo brasileiro,
sem que tenha havido qualquer participação dos demais atores, o que reforça ainda a sua
fragilidade e insuficiência para lidar com a situação de urgência. Fato que ilustra bem a situação
foi a revogação do art. 18 do texto original da MP, que regulamentava a suspenção para
qualificação, sem salários, por meio de outra medida provisória, a MP nº 928/2020, no mesmo dia
de sua publicação, como citado acima.

283. A OIT dispõe sobre a necessidade de observância do princípio do


tripartismo para que haja equilíbrio nas relações de trabalho e limitação do poder diretivo do
empregador. O empregado, especialmente nesta situação de crise, de urgência, para além da
indisponibilidade do próprio trabalho em si, não têm poder de interferência na atividade do
empregador que seja capaz de exigir qualquer forma de permanência sem que lhe reste um prejuízo
efetivo, daí porque esta MP só cumpriria a sua finalidade (e gozaria de validade) se determinasse
a manutenção de direitos já existentes no contrato de trabalho, assegurasse a permanência do
contrato de trabalho e de salário, inclusive por um período posterior à pandemia. Destaquemos
trechos da Convenção nº 144 da OIT:

“CONVENÇÃO Nº 144 SOBRE CONSULTAS TRIPARTITES PARA


PROMOVER A APLICAÇÃO DAS NORMAS INTERNACIONAIS DO
TRABALHO

ARTIGO 1º
Na presente Convenção, a expressão "organizações representativas" significa as
organizações mais representativas de empregadores e trabalhadores, que gozem do
direito de liberdade sindical.

ARTIGO 2º
1. Todo Membro da Organização Internacional do Trabalho que ratifique a presente
Convenção compromete-se a pôr em prática procedimentos que assegurem
consultas efetivas, entre os representantes do Governo, dos Empregadores e dos
trabalhadores, sobre os assuntos relacionados com as atividades da Organização
Internacional do Trabalho a que se refere o Artigo 5, parágrafo 1, adiante.
2. A natureza e a forma dos procedimentos a que se refere o parágrafo 1 deste artigo
deverão ser determinados em cada país de acordo com a prática nacional, depois
de ter consultado as organizações representativas, sempre que tais organizações
existam e onde tais procedimentos ainda não tenham sido estabelecidos.

ARTIGO 3º
1. Os representantes dos empregadores e dos trabalhadores, para efeito dos
procedimentos previsto na presente Convenção, serão eleitos livremente por suas
organizações representativas, sempre que tias organizações existam.
2. Os empregadores e os trabalhadores estarão representados em pé de igualdade
em qualquer organismo mediante o qual sejam levadas a cabo as consultas.

ARTIGO 5º
1. O objetivo dos procedimentos previstos na presente Convenção será o de
celebrar consultas sobre:
a) as respostas dos Governos aos questionários relativos aos pontos incluídos na
ordem do dia da Conferência Internacional do Trabalho e os comentários dos
Governos sobre os projetos de texto a serem discutidos na Conferência.
b) a propostas que devam ser apresentadas à autoridades competentes relativas à
obediência às convenções e recomendações, em conformidade com o artigo 19 da
Constituição da Organização Internacional do Trabalho.
c) o reexame, dentro de intervalos apropriados, de convenções não ratificadas e de
recomendações que ainda não tenha efeito, para estudar que medidas poderiam
tomar-se para colocá-las em prática e promover sua ratificação eventual;
d) as questões que possam levantar as memórias que forem comunicadas à
Secretaria Internacional do Trabalho em virtude do artigo 22 da Constituição da
Organização Internacional do Trabalho.
e) as propostas de denúncia de convenções ratificadas.”

284. Ligadas intimamente ao desrespeito ao tripartismo, há violações graves à


Convenção nº 98 da OIT sobre Direito de Sindicalização e de Negociação Coletiva (aprovada pelo
Decreto Legislativo nº 49, de 27/08/52; ratificada em 18/11/52; promulgada pelo Decreto nº
33.196, de 29/06/53) e à Convenção nº 154 da OIT sobre Fomento à Negociação Coletiva
(aprovada pelo Decreto Legislativo nº 22, de 12/05/92, e promulgada pelo Decreto nº 1.256, de
29/09/94, substituído pelo Decreto nº 10.088/19), que dispõe sobre a obrigação solene de a OIT e
os Estados-Membro de estimularem mecanismos para se alcançar o reconhecimento efetivo do
direito de negociação coletiva.

285. A Convenção nº 154, em seu art. 7º, consagra expressamente o tripartismo


ao prever que “as medidas adotadas pelas autoridades públicas para estimular o desenvolvimento
da negociação coletiva deverão ser objeto de consultas prévias e, quando possível, de acordos entre
as autoridades públicas e as organizações patronais e as de trabalhadores”. Desse modo, todas as
alterações legislativas referentes à negociação coletiva devem ser precedidas de consultas e, se
possível, de consenso, entre o governo e os entes de representação dos trabalhadores e dos
empregadores.

286. As MPs, ao contrário, alijaram as entidades sindicais, não garantindo nem


mesmo que sejam comunicadas pelos empregadores das medidas urgentes tomadas durante a
pandemia.Vejamos alguns dispositivos da Convenção nº 98 e da Convenção nº 154:
“CONVENÇÃO Nº 98 SOBRE DIREITO DE SINDICALIZAÇÃO E DE NEGOCIAÇÃO
COLETIVA

Art. 4 — Deverão ser tomadas, se necessário for, medidas apropriadas às condições nacionais, para
fomentar e promover o pleno desenvolvimento e utilização dos meios de negociação voluntária
entre empregadores ou organizações de empregadores e organizações de trabalhadores com o
objetivo de regular, por meio de convenções, os termos e condições de emprego.

CONVENÇÃO Nº 154 SOBRE FOMENTO À NEGOCIAÇÃO COLETIVA

Art. 1 — 1. A presente Convenção aplica-se a todos os ramos da atividade econômica.


2. A legislação ou a prática nacionais poderá determinar até que ponto as garantias previstas na
presente Convenção são aplicáveis às forças armadas e à polícia.
3. No que se refere à administração pública, a legislação ou a prática nacionais poderão fixar
modalidades particulares de aplicação desta Convenção.

Art. 2 — Para efeito da presente Convenção, a expressão ‘negociação coletiva’ compreende todas
as negociações que tenham lugar entre, de uma parte, um empregador, um grupo de empregadores
ou uma organização ou várias organizações de empregadores, e, de outra parte, uma ou várias
organizações de trabalhadores, com fim de:
a) fixar as condições de trabalho e emprego; ou
b) regular as relações entre empregadores e trabalhadores; ou
c) regular as relações entre os empregadores ou suas organizações e uma ou várias organizações de
trabalhadores, ou alcançar todos estes objetivos de uma só vez.”

287. Sobre este ponto, vale lembrar que o Brasil segue Denunciado na OIT em
relação à Reforma Trabalhista exatamente pela ausência de diálogo tripartite e enfraquecimento
das negociações coletivas. No Informe da Comissão de Expertos em Aplicação de Convenções e
Recomendações (Informe III – Parte A), divulgado em fevereiro deste ano250, a OIT levou em
conta as informações prestadas por entidades representativas de trabalhadores e de empregadores,
bem como do próprio governo sobre as medidas tomadas em relação a violações a convenções
internacionais ratificadas pelo Brasil, em razão da Lei nº 13.467/2017.

288. No caso da Convenção nº 98, o relatório solicita que o governo brasileiro


tome medidas que coíbam atos antissindicais; que revise os artigos da CLT alterados pela reforma
que permitem a negociação coletiva ampla, inclusive contrariando a lei (arts. 611-A e 611-B, CLT)
e a negociação direta entre empregados e empregadores sem a participação dos sindicados (art.
444, CLT); bem como que tome medidas para facilitar a negociação coletiva dos “trabalhadores

250
Disponível em: <https://www.ilo.org/global/standards/applying-and-promoting-international-labour-
standards/committee-of-experts-on-the-application-of-conventions-and-recommendations/WCMS_735948/lang--
es/index.htm>.
autônomos” (art. 442-B, CLT). Todos estes pontos, como se vê, estão também presentes nas MP
nºs 927 e 936/2020. Por fim, cite-se a Convenção nº 155 da OIT sobre Segurança e Saúde dos
Trabalhadores (aprovada pelo Decreto Legislativo nº 2, de 17/03/92; retificada em 18/05/92; e
promulgada pelo Decreto nº 1.254, de 29/09/94):

“Art. 8 — Todo Membro deverá adotar, por via legislativo ou regulamentar ou por qualquer outro
método de acordo com as condições e a prática nacionais, e em consulta com as organizações
representativas de empregadores e de trabalhadores interessadas, as medidas necessárias para tornar
efetivo o artigo 4 da presente Convenção.

Art. 13 — Em conformidade com a prática e as condições nacionais deverá ser protegido, de


consequências injustificadas, todo trabalhador que julgar necessário interromper uma situação de
trabalho por considerar, por motivos razoáveis, que ela envolve um perigo iminente e grave para
sua vida ou sua saúde.

Art. 16 — 1. Deverá ser exigido dos empregadores que, na medida que for razoável e possível,
garantam que os locais de trabalho, o maquinário, os equipamentos e as operações e processos que
estiverem sob seu controle são seguros e não envolvem risco algum para a segurança e a saúde dos
trabalhadores.”

289. A MP nº 927, por exemplo, ao suspender a obrigatoriedade de todos os


exames ocupacionais, com exceção do demissional, viola a proteção à saúde dos trabalhadores
estabelecida na Convenção. A saúde dos trabalhadores e das trabalhadoras deveria ser amplamente
assegurada considerando o momento de pandemia mundial, e não o contrário. Suspender os
exames ocupacionais para os trabalhadores em situação de riscos a agentes químico e biológico é
colocar em risco a vida deles. O exame ocupacional pode indicar, inclusive, a Covid-19, indo na
contramão das medidas sanitárias indicadas atualmente.

290. Sob a justificativa de estado de calamidade, as medidas limitam-se à


restrição de direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras, com o aprofundamento da precarização
de sua condição socioeconômica, sem qualquer diálogo com os sujeitos políticos que lhe dão voz,
contrariando todas as recomendações da Organização Internacional do Trabalho e da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos frente à pandemia.

291. No segundo comunicado da OIT sobre a Covid-19251, a Organização


orientou algumas ações políticas: a) normas internacionais do trabalho fornecem uma base sólida
para atuar no nível político; b) a resposta no nível político deve enfatizar dois objetivos de curto

251
Disponível em: <https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---
dcomm/documents/briefingnote/wcms_740981.pdf >
prazo: a proteção de saúde e apoio financeiro, tanto no que diz respeito à demanda quanto à oferta;
c) é necessário adotar medidas efetivas e integradas em larga escala em todas as esferas políticas
para alcançar resultados favoráveis e sustentáveis; d) criar confiança por meio do diálogo é
essencial para que a ação política seja bem-sucedida eficaz.

292. Assim, as respostas no nível político, para a OIT, precisam contemplar


quatro pilares: Pilar 1: estimular a economia e o emprego; Pilar 2: dar apoio às empresas, emprego
e renda; Pilar 3: proteger os trabalhadores no local de trabalho; Pilar 4: encontrar soluções por
meio do diálogo social. E o que faz o governo de Jair Bolsonaro? Contraria todas essas
recomendações.Não estimula o emprego, já que suas medidas para enfrentamento da crise não
garantem emprego e não proíbem as demissões; dá apoio a apenas um dos atores da relação de
trabalho – o empregador; não protege os trabalhadores no ambiente de trabalho, propondo até
mesmo que a Covid-19 não se considerada doença laboral; e não promove nenhum diálogo social,
pois consulta e beneficia apenas a única parte que considera na relação de trabalho: o empregador.

293. Jair Bolsonaro também vai de encontro às recomendações da Comissão


Interamericana de Direitos Humanos frente à pandemia da Covid-19. Na Resolução nº 1/2020 –
Pandemia e Direitos Humanos na América252, a CIDH considera que as Américas são a região
mais desigual do planeta, caracterizada por profundas lacunas sociais, agravadas pelas altas taxas
de informalidade do trabalho e trabalho e renda precária que afeta grande número de pessoas na
região e que a torna ainda mais preocupante o impacto socioeconômico da crise sanitária. Dessa
forma, proteger os direitos humanos particularmente dos trabalhadores é essencial. É importante
levar medidas para garantir renda econômica e meios de subsistência para todos os trabalhadores,
para que tenham condições iguais para cumprir as medidas de contenção e proteção durante a
pandemia, bem como condições de acesso a alimentos e outros direitos essenciais.

294. Para a CDHI, pessoas que continuam a realizar suas atividades laborais
devem ser protegidas dos riscos de contágio dos vírus e, em geral, deve ser dada proteção adequada
a empregos, salários, liberdade de negociação sindical e coletiva, garantia de auxílios e outros
direitos sociais relacionados com o ambiente trabalhista e sindical. E o que faz o governo de Jair
Bolsonaro? Contraria todas essas recomendações. Estimula a volta ao trabalho e a reabertura do
comércio; não protege empregos e não proíbe demissões, individuais ou coletivas; não garante
liberdade de negociação sindical, ao alijar os sindicatos dos acordos com os empregados; e veta

252
Disponível em: < http://www.oas.org/es/cidh/decisiones/pdf/Resolucion-1-20-es.pdf>
auxílio a vasta gama de trabalhadores informais, extrativistas, pescadores, agricultores,
ambulantes, artesãos, atletas, artistas, diaristas, garçons, taxistas, motoristas de aplicativos e de
vans e caminhoneiros.

295. Como se vê, por todo o exposto, Jair Bolsonaro comete crime de
responsabilidade, conforme item 9 do art. 7º da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950, já que viola
patentemente direitos sociais assegurados no artigo 157 da Constituição, que devem sempre visar
à melhoria da condição social das trabalhadoras e trabalhadores brasileiros.

f) Violação aos direitos da população LGBTQI

296. O Governo de Jair Bolsonaro não gerava quaisquer expectativas positivas


para a população LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexos), posto que
a trajetória política do Denunciado sempre foi marcada pelo discurso e atitudes abertamente
lgbtifóbicas, inclusive com manifestações em favor de "violência corretiva" contra esta
população253.

297. Ao assumir a Presidência da República, Bolsonaro manteve seu discurso


lgbtifóbico, em flagrante afronta ao artigo 1º, III, da Constituição Federal. Alguns episódios
especialmente graves foram registrados no Relatório da Human Rights Watch sobre a situação dos
direitos humanos no Brasil: “Em abril, o presidente Bolsonaro disse que o Brasil não deveria se
tornar um "paraíso do turismo gay" e, em agosto, disse que as famílias são apenas aquelas
constituídas por um homem e uma mulher”.254

298. Ademais, desde o início de seu governo, conferiu concretude ao discurso


discriminatório, através de alterações legislativas e administrativas voltadas a restringir os direitos
dessa população. Assim, no bojo do decreto que acabou com a participação social no governo
federal e no mês em que se celebra o Dia do Orgulho LGBTI, Bolsonaro extinguiu o Conselho
Nacional de Combate à Discriminação LGBT255. Em seguida, acabou com área de atuação LGBT
no Ministério dos Direitos Humanos, agora denominado Ministério da Mulher, Família e Direitos
Humanos, reduzindo a Coordenação Nacional LGBT a um papel meramente figurativo. Trata-se

253
Em entrevista concedida quando ainda era parlamente, Bolsonaro afirmou incentivando a “violência corretiva”
que: “O filho começa a ficar assim meio gayzinh, leva um coro, ele muda o comportamento dele. Olha, eu vejo muita
gente por aí dizendo: ainda bem que eu levei umas palmadas, meu pai me ensinou a ser homem”. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=QJNy08VoLZs . Acesso em: 11 jul 2020.
254
https://www.hrw.org/pt/world-report/2020/country-chapters/336671
255
https://revistaforum.com.br/colunistas/julianrodrigues/bolsonaro-extingue-conselho-lgbti/.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Decreto/D9883.htm
de flagrante afronta ao artigo 1º, III, da Constituição Federal e a todas as normas nacionais e
internacionais que vedam a discriminação.

299. Os ataques de Bolsonaro aos direitos da população LGBTI não se limitaram


aos desmontes no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, alcançando as políticas
públicas de cultura. Ao anunciar a posse de uma nova Secretária da Cultura, o Presidente afirmou
que uma das determinações a ser cumprida pela nova titular daquela pasta seria a absoluta vedação
de financiamento de projetos, em quaisquer editais da ANCINE ou de outros organismos, que
abordassem a temática LGBTI, numa aberta censura à liberdade de manifestação artística prevista
no artigo 5º, IX, da mesma Carta Magna.256

300. Historicamente, o Brasil é o país no mundo com os mais elevados índices


de violência e assassinatos de pessoas LGBTI, especialmente as trans. Segundo dados do Grupo
Gay da Bahia, “a cada 26 horas um LGBT+ é assassinado ou se suicida vítima da LGBTfobia, o
que confirma o Brasil como campeão mundial de crimes contra as minorias sexuais. Segundo
agências internacionais de direitos humanos, matam-se muitíssimo mais homossexuais e
transexuais no Brasil do que nos 13 países do Oriente e África onde persiste a pena de morte
contra tal segumento. Mais da metade dos LGBT assassinados no mundo ocorrem no Brasil
(WAREHAM, 2020)”.257

301. No governo Bolsonaro, o problema tem se agravado. Sua postura


discriminatória tem fomentado o aumento da violência e dos assassinatos contra essa população.
Segundo o relatório sobre “Mortes Violentas de LGBT+ no Brasil”, elaborado pelo Grupo Gay da
Bahia, em 2019 “329 LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) tiveram morte
violenta no Brasil, vítimas da homotransfobia: 297 homicídios (90,3%) e 32 suicídios (9,7%)”258.

302. Vale ressaltar que o Denunciado é o primeiro Presidente da República,


depois da ditadura militar, que tem um discurso - e uma prática – contrária aos Direitos Humanos
em geral e antagônica da população LGBTI em especial.

256
Esses fatos foram detalhadas no item “b) violações na área cultural” da presente denúncia e constam, também,
no Relatório Anual da Human Rights Watcha sobre o Brasil em que se registra: “O governo Bolsonaro suspendeu o
financiamento público de quatro filmes que tratavam de questões LGBT”. “https://www.hrw.org/pt/world-
report/2020/country-chapters/336671. Acesso em: 11 jul 2020.
257
https://grupogaydabahia.com.br/relatorios-anuais-de-morte-de-lgbti/
258
https://grupogaydabahia.com.br/relatorios-anuais-de-morte-de-lgbti/
303. Lamentavelmente, a pandemia do Covid-19 não impõe tréguas a estas
violações e à realidade de violência vivenciada pela população LGBTI. Com efeito, a pandemia
tem “agravando ainda mais as desigualdades já existentes”, levando à piora nas condições de vida
desta população, especialmente para as trans. Vale ressaltar que a maioria das trans, principalmente
as travestis e mulheres transexuais trabalhadoras sexuais, “não conseguiu acesso as políticas
emergenciais do estado devido a precarização histórica de suas vidas e não possui outra opção a
não ser continuar o trabalho nas ruas, se expondo ao vírus” 259.

304. Não bastassem as atitudes de desmonte das políticas para a população


LGBTI, o Governo Bolsonaro, através da Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos,
divulgou dados falsos sobre uma pretensa redução de mortes das pessoas trans em nosso País. Essa
informação foi desmentida pelo reconhecido e legitimado levantamento feito pela ANTRA -
Associação Nacional de Travestis e Transexuais, o qual evidenciou o aumento do número de
mortes violentas. Segundo o Boletim n 03/2020 sobre assassinatos contra Travestis e Transexuais
“o Brasil chega a 89 assassinatos de pessoas trans no primeiro semestre de 2020, com aumento
de 39% em relação ao mesmo período do ano passado”260. Segundo análise dos estudiosos
constante no Boletim, o aumento da violência contra essa população possui relação direta tanto
com as práticas discriminatórias levadas a cabo pelo atual chefe do Poder Executivo Federal, como
em razão das omissões de medidas de proteção dessa população, “mesmo depois da decisão do
Supremo Tribunal Federal que reconheceu a LGBTIfobia como uma forma do crime de
racismo”.261

II.3. DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE DECORRENTES DE


VIOLAÇÕES À SEGURANÇA INTERNA PRATICADAS PELO PRESIDENTE
DA REPÚBLICA.262

259
https://antrabrasil.files.wordpress.com/2020/06/boletim-3-2020-assassinatos-antra.pdf
260
https://antrabrasil.files.wordpress.com/2020/06/boletim-3-2020-assassinatos-antra.pdf
261
Ibidem.
262
Parte das condutas do Presidente da República descritas no presente tópico foram apresentadas pelas organizações
Terra de Direitos e Labá – Direito, Espaço & Política perante a Relator Especial das Nações Unidas para Moradia
Adequada em chamada de contribuições específica sobre a pandemia de convid-19. Disponível em:
https://ohchr.org/EN/Issues/Housing/Pages/callCovid19.aspx
305. Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou
que o surto da doença causada pelo novo coronavírus constitui uma Emergência de Saúde Pública
de Importância Internacional. Em razão da orientação geral de distanciamento e isolamento social,
em 6 de fevereiro foi promulgada a Lei nº 13.979 que estabeleceu as “medidas para enfrentamento
da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus pelo
surto de 2019” e as primeiras disposições sobre os serviços públicos e atividades essenciais.263

306. Após edição da referida Lei, houve um agravamento do quadro de


disseminação da doença no País, ao passo que, em 11 de março de 2020, a COVID-19 foi
caracterizada pela OMS como uma pandemia.264 Posteriormente, em 20 de março, o Ministério da
Saúde do Brasil declarou a existência de transmissão comunitária da COVID-19 em todo o
território nacional e determinou que todos os gestores nacionais adotassem medidas para
“promover o distanciamento social e evitar aglomerações, conhecidas como medidas não
farmacológicas, ou seja, que não envolvem o uso de medicamentos ou vacinas”.265

307. No Brasil, o primeiro caso de contaminação pela doença foi registrado em


26 de fevereiro na cidade de São Paulo. Atualmente, o país é segundo com maior número de
pessoas infectadas e mortes no mundo. Segundo dados coletados em 13 de julho de 2020, o Brasil
atingiu a marca de 1.864.681 casos da doença e o total de mortes chegou a 72.100. Os Estados
com mais mortes acumuladas no Brasil são: São Paulo (17.848), Rio de Janeiro (11.415), Ceará
(6.868), Pernambuco (5.595) e Pará (5.289)266. O país possui, atualmente, o segundo maior número
de casos e mortes confirmados entre todos os países do planeta e é um dos poucos com curva em
franca ascensão, como se verifica do comparativo a seguir:

263
Essa Lei estabeleceu que fica assegurado às pessoas afetadas pelas medidas previstas no referido artigo “o pleno
respeito à dignidade, aos direitos humanos e às liberdades fundamentais das pessoas, conforme preconiza o Artigo 3
do Regulamento Sanitário Internacional”. Anexo ao Decreto nº 10.212, de 30 de janeiro de 2020.
264
OPAS Brasil. OMS afirma que COVID-19 é agora caracterizada como pandemia. Disponível em:
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6120:oms-afirma-que-covid-19-e-
agora-caracterizada-como-pandemia&Itemid=812. Acesso em: 25 mar. 2020.
265
BRASIL. Ministério da Saúde. Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46568-
ministerio-da-saude-declara-transmissao-comunitaria-nacional. Acesso em: 25 mar 2020.
266
Os dados são do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). A entidade criou uma plataforma para
registrar os dados sobre o novo coronavírus no país após o Ministério da Saúde excluir de seu boletim epidemiológico
diário o número total de pessoas infectadas pelo Sars-Cov-2, assim como o total de mortes e a curva de evolução da
doença no país. Os dados atualizados estão disponíveis em: http://www.conass.org.br/painelconasscovid19/.
308. Em que pese a adoção inicial de diretrizes de distanciamento social e o
anúncio, por parte do governo federal, de que seriam adotadas medidas de proteção dos direitos
da população à luz do Regulamento Sanitário Internacional, no Brasil as medidas de enfrentamento
à pandemia esbarraram e continuam esbarrando no negacionismo, ou na minimização da gravidade
do problema, por parte do Presidente da República, o que impacta de modo muito negativo e
determinante na forma como o problema vem sendo tratado no país. Com isso, a crise não apenas
se agravou, como também durou mais tempo, causando ainda maiores danos sanitários e
econômicos.

309. Em 24 de março, em pronunciamento oficial, Jair Bolsonaro referiu-se à


doença causada pelo novo coronavírus como uma “gripezinha” e criticou governados e prefeitos
que têm determinado quarentena com fechamento de escolas, comércio e fronteiras.267 No final do
mês de abril, quando o país contabilizava 2.575 mortes e 40.581 casos confirmados, ao ser
indagado sobre o número de mortos, o Presidente voltou a menosprezar a gravidade da situação e

267
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/03/24/leia-o-pronunciamento-do-presidente-jair-
bolsonaro-na-integra.htm
sua responsabilidade nesse contexto. Na ocasião, afirmou “todos nós iremos morrer um dia” e
agregou, em tom jocoso, “não sou coveiro, tá?”.268

310. O menosprezo retórico e o negacionismo por parte da mais alta autoridade


pública do Estado brasileiro é, por si só, extremamente grave, pois retardou o reconhecimento da
gravidade da situação no país e a adoção de medidas de prevenção e cuidado, por parte de
autoridades públicas e, também, da sociedade.

311. Estudo científico elaborado por pesquisadores da Universidade Federal do


ABC “Ideologia, isolamento e morte: uma análise dos efeitos do bolsonarismo na pandemia de
COVID-19” indica que em praticamente todas as ocasiões em que o presidente minimizou a
gravidade da pandemia isso acarretou quedas significativas nas taxa de isolamento social em todos
os Estados da Federação, sem exceção. O estudo indica, ainda, que “mais pessoas morreram,
proporcionalmente, nos municípios que mais votaram em Bolsonaro em 2018”269.

312. A postura negacionista do governo federal brasileiro foi expressamente


registrada pela Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, durante a
44ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Na ocasião, a Alta Comissária
alertou que essa postura está ampliando os impactos da crise sanitária e colocou o país ao lado de
outros negacionistas, como Burundi, Nicarágua, Tanzânia e Estados Unidos. Bachelet afirmou:
“Preocupa-me que declarações que negam a realidade do contágio viral, e a crescente
polarização sobre questões-chave, possam intensificar a gravidade da pandemia, minando os
esforços para conter sua propagação e fortalecer os sistemas de saúde”. E alertou para a situação
especialmente grave dos indígenas e da população afrodescendente no país.270

313. Além disso, o Presidente da República segue rejeitando a orientação de


isolamento social, em flagrante contrariedade a consensos científicos e diretrizes dos Organismos
Internacionais. No final do mês de maio, o Presidente voltou a se manifestar publicamente em
defesa da retomada das atividades comerciais.271

268
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/04/20/nao-sou-coveiro-ta-diz-bolsonaro-ao-responder-sobre-mortos-
por-coronavirus.ghtml
269
O estudo ainda não foi publicado, mas os dados foram amplamente noticiados pela imprensa nacional e
internacional. https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/06/falas-de-bolsonaro-contra-isolamento-
podem-ter-matado-mais-seus-eleitores-aponta-estudo.shtml
270
https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/07/02/itamaraty-omite-na-onu-dimensao-da-pandemia-e-
diz-que-protege-indigenas.htm?cmpid=copiaecola
271
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2020/05/26/bolsonaro-volta-a-criticar-isolamento-
social-nao-da-para-continuar-assim.htm
314. O desrespeito do Presidente brasileiro às diretrizes científicas para o
enfrentamento da pandemia vai desde a inobservância da medida sanitária mais basilar, como o
uso de máscara272, até o protocolo médico relativo à administração de medicamentos. Em que pese
a inexistência de comprovação por estudos científicos da eficácia destes medicamentos no
tratamento da covid-19, o Governo Federal publicou em maio uma recomendação para que o
sistema público de saúde passe a prescrever cloroquina e a hidroxicloroquina a pacientes com
sintomas leves da doença. 273

315. Outro grave problema é a baixa execução por parte da União do orçamento
aprovado para combate à pandemia. Segundo especialistas do Instituto de Estudos
Socioeconômicos, o Governo Federal retém 60% do orçamento de emergência aprovado pelo
Congresso contra pandemia, provocando falta do auxílio emergencial até recursos para hospitais.
Alertam que: “após quatro meses de declaração de emergência nacional, apenas 40,1% do
valor planejado no orçamento do governo federal para combater a pandemia do novo
coronavírus foi de fato gasto: dos R$ 274 bilhões autorizados, somente R$ 110 bilhões foram
pagos” e “a baixa execução dos valores orçamentários é sentida pela população, que, em
grande parte, está sem acesso às políticas de enfrentamento à Covid-19”. 274 Essas omissões
agravam a situação de vulnerabilidade de segmentos historicamente bastante impactados pela falta
de acesso a políticas públicas e direitos.

316. Além disso, a postura negacionista do Presidente tem levado a um grande


conflito entre este, de /um lado, e os governadores e prefeitos, de outro. Essa disputa constitui um
dos problemas centrais da luta brasileira contra o novo coronavírus.

317. Desde o início da pandemia, o Governo Federal tentou centralizar a


definição das medidas de enfrentamento à emergência de saúde pública decorrente do coronavírus,
especialmente a definição do funcionamento dos serviços públicos e atividades essenciais. A

272
Apesar da existência de norma legal que determina a obrigatoriedade do uso de máscara em todo o Distrito Federal,
o Presidente não tem utilizado o equipamento. A situação foi levada à Justiça que, em decisão de 22 de junho de 2020,
determinou “ao réu Jair Messias Bolsonaro a obrigatoriedade de utilizar máscara facial de proteção, em todos os
espaços públicos, vias públicas, equipamentos de transporte público coletivo e estabelecimentos comerciais,
industriais e de serviços do Distrito Federal, sob pena de cominação de multa diária, que desde já fixo em R$2.000,00
(dois mil reais)”. Decisão proferida no Processo n. 1032760-04.2020.4.01.3400. https://www.dn.pt/mundo/bolsonaro-
obrigado-pelos-tribunais-a-usar-mascara-12343368.html
273
https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/05/20/novo-protocolo-nao-autoriza-a-compra-de-
cloroquina-na-farmacia-o-que-muda.htm
274
https://diplomatique.org.br/as-despesas-da-uniao-com-a-covid-19/. Aceso em: 29 jun 2020.
União pretendia centralizar a definição das medidas de distanciamento social, pautada na postura
negacionista do Presidente da República.

318. A matéria foi levada ao Supremo Tribunal Federal que reconheceu que a
União pode legislar sobre a essencialidade de atividades, mas que o exercício desta competência
deve também resguardar a autonomia dos Estados e Municípios275.

319. A judicialização da questão não encerrou o conflito, o qual pode ser


observado, especialmente, nos problemas de repasse de verbas da União para os outros entes da
Federação. Bolsonaro já afirmou que irá suspender repasses para os Estados e, a partir da
barganha orçamentária, tem pressionado os Estados e Municípios para que flexibilizem o
isolamento social e promovam a reabertura da economia.

320. Na reunião ministerial ocorrida em 22 de abril e à qual foi dada ampla


visibilidade, o Presidente, em referência à postura dos outros entes da Federação no combate à
pandemia, afirmou: “Um bosta de um prefeito faz um bosta de um decreto, algema, e deixa todo
mundo dentro de casa. Se tivesse armado, ia pra rua”.276 É gravíssima a postura do Presidente de
incitar que a população se arme para “se defender” ou “se insurgir” em face de medidas de
distanciamento que venham a ser estabelecidas por Governadores e Prefeitos.

321. Ademais, as políticas de reabertura econômica incentivadas pelo


Presidente, em meio à curva ascendente de casos e mortes por Covid-19, repete erros já
verificados em outros países, como os Estados Unidos da América, tais como: não respeitar a
taxa de contágio, não avaliar a janela epidemiológica, não realizar coordenação nacional das
ações de combate à pandemia e, sobretudo, manter o negacionismo em relação à gravidade da
emergência sanitária 277.

322. Como consequência dos fatos acima narrados, de extrema gravidade


institucional, constata-se a incorrência em crimes contra a segurança interna pelo Presidente da
República, ao fazer periclitar, irresponsavelmente, políticas públicas cruciais à defesa da vida e da
incolumidade física dos seus concidadãos, ofendendo predicados mínimos da prudência

275
Julgamento ocorrido em 15 de abril de 2020. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 6341.
276
Transcrição da reunião ministerial disponível em: https://asmetro.org.br/portalsn/wp-
content/uploads/2020/05/Leia-a-%C3%ADntegra-da-transcri%C3%A7%C3%A3o-da-reuni%C3%A3o-ministerial-
com-Bolsonaro-_-CNN-Brasil.pdf
277
https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/07/12/que-erros-cometidos-pelos-eua-na-
reabertura-foram-repetidos-no-brasil.htm.
governamental, a ponto de incidir nas previsões arroladas no art. 8º, incisos 7 e 8 da Lei nº 1.079,
de 10 de abril de 1950.278

II.4. DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE CONTRA A PROBIDADE DA


ADMINISTRAÇÃO PRATICADOS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA. 279

323. Desde o início da pandemia, a sociedade civil e outras autoridades públicas


no país tem alertado para a necessidade de criação de um plano nacional e da importância do
alinhamento com as diretrizes estipuladas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No
entanto, passados mais de cem dias do início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, “o
governo federal não apresentou até o momento nenhum plano integrado de contenção do vírus e
defesa das vidas, em especial as da população mais vulnerável à pandemia e à crise”280, como
denuncia o Observatório dos Direitos Humanos na Crise da Covid-19281.

324. Segundo o Observatório, “com respostas governamentais que priorizam


“salvar a economia”, em detrimento de salvar vidas (veja abaixo), o Estado Brasileiro tem gerado
um custo sobre a vida e a saúde de uma parcela da população, já vulnerável e marginalizada do
acesso a bens, serviços e direitos”. Assim, “a manifestação da pandemia se mostra ainda mais
intensa e mais grave para os grupos sociais e população que já são violentados ou ignorados pelo
Estado Brasileiro. Com alta densidade populacional, casas muito próximas, falta de saneamento
e de oferta de água regularizada, e menos providas de demais serviços públicos – condições

278
Art. 8º São crimes contra a segurança interna do país: (...) 7- permitir, de forma expressa ou tácita, a infração de
lei federal de ordem pública; 8- deixar de tomar, nos prazos fixados, as providências determinadas por lei ou tratado
federal e necessário a sua execução e cumprimento.
279
Parte das condutas do Presidente da República descritas no presente tópico foram apresentadas pelas organizações
Terra de Direitos e Labá – Direito, Espaço & Política perante a Relator Especial das Nações Unidas para Moradia
Adequada em chamada de contribuições específica sobre a pandemia de convid-19. Disponível em:
https://ohchr.org/EN/Issues/Housing/Pages/callCovid19.aspx
280
https://terradedireitos.org.br/uploads/arquivos/Observatorio-DH-covid-junho.pdf Aceso em: 29 jun 2020.
281
O Observatório dos Direitos Humanos na Crise da Covid-19 é uma ação de um conjunto de organizações sociais e
movimentos populares, de um espectro diverso dos direitos humanos, para monitorar, formular e sistematizar
informações relativas aos direitos humanos no contexto da pandemia de coronavírus. Integram o Observatório a
Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos(ABGLT); Articulação de
Mulheres Brasileiras (AMB); Associação Juízes para a Democracia (AJD); Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
(APIB); Anistia Internacional; ARTIGO 19; Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea); Coalizão Negra por
Direitos; Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq); Criola;
GeledésInstituto da Mulher Negra; Instituto de Estudos Socioeconômicos(Inesc); Justiça Global; Movimento de
Mulheres Camponesas(MMC); Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); Plataforma DHESCA; SOS
Corpo; e Terra de Direitos. Disponível em: https://www.facebook.com/ObservaDHeCovid19/
essenciais para proteção ao coronavírus, as favelas e cortiços apresentam maior letalidade do
que em bairros ricos das grandes cidades”.282

325. A inércia do Governo Federal no Brasil tem um impacto imediato sobre os


direitos da população, em flagrante dissonância em relação às diretrizes do Alto-Comissariado das
Nações Unidas para os Direitos Humanos, segundo as quais, no contexto da pandemia, é preciso
reforçar a proteção, tanto médica quanto econômica, dos grupos mais vulneráveis e negligenciados
da sociedade. 283

326. Merece destaque, ainda, o fato de que, em meio a uma crise sanitária da
maior gravidade, o Brasil encontra-se sem Ministro da Saúde desde 15 de maio, ou seja, há mais
de 50 dias.284 E as sucessivas trocas no Ministério, vale ressaltar, decorrem da discordância das
equipes técnicas com o Presidente da Repúblicas sobre as medidas para combater a covid-19,
notadamente, o descompasso com as orientações internacionais para enfrentamento da crise.

327. Tem se observado, a partir da experiência de outros países, que a capacidade


dos Estados de enfrentar a pandemia está relacionada com as estruturas de proteção social e
garantia de direitos já existentes e aquelas desenvolvidas no contexto da pandemia 285. Como bem
aponta o estudo elaborado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC), o Brasil, sétimo
país mais desigual do mundo (PNUD, 2019), antes mesmo da pandemia, já se encontrava com a
“imunidade baixa”. Isso porque a Emenda Constitucional nº 95 e outras medidas de austeridade
fiscal reduziram recursos de programas sociais importantes para o combate a pandemia de COVID-
19, comprometendo a capacidade do país de enfrentar seus graves efeitos durante e após a crise
sanitária.

328. Dezenas de organizações de direitos humanos brasileiras, articuladas na


Coalizão Direitos Valem Mais286, têm Denunciado perante a Suprema Corte o “imenso sofrimento
gerado à população em decorrência da terrível combinação no país do desmantelamento das
políticas sociais e da profunda crise econômica com a chegada da pandemia”.

282
https://terradedireitos.org.br/uploads/arquivos/Observatorio-DH-covid-junho.pdf Aceso em: 29 jun 2020.
283
United Nations Human Rights. Coronavirus: Human rights need to be front and centre in response, says Bachelet.
Disponível em: https://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=25668&LangID=E.
284
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/05/15/teich-deixa-o-ministerio-da-saude-antes-de-completar-um-mes-
no-cargo.ghtml
285
Disponível em: https://www.inesc.org.br/obrasilcombaixaimunidade/
286
https://direitosvalemmais.org.br/
329. No mês de abril, dois Relatores Especiais das Nações Unidas - Juan Pablo
Bohoslavsky, o especialista independente em direitos humanos e dívida externa, e Philip Alston,
o Relator Especial sobre pobreza extrema – afirmaram em nota à imprensa que “o Brasil deveria
abandonar imediatamente políticas de austeridade mal orientadas que estão colocando vidas em
risco e aumentar os gastos para combater a desigualdade e a pobreza exacerbada pela pandemia
da COVID-19”. 287

330. Diante desse cenário, a Coalizão Direitos Valem mais lançou Alerta
Público sobre a insustentabilidade do Teto do Gastos e sobre a execução orçamentária baixa,
lenta e desigual regionalmente nas operações de enfrentamento à pandemia. Informam e
repudiam o fato de que “apenas 25% da já baixa dotação orçamentária para saúde e somente
12% dos recursos do orçamento para repasse da União aos Fundos de Participação de estados,
municípios e distrito federal tenham sido executados”. 288

331. A baixa execução do orçamento destinado ao combate à pandemia é objeto


de inquérito instaurado pelo Ministério Público Federal para apurar “irregularidades na execução
dos recursos federais destinados ao enfrentamento da COVID-19”, vez que “foram
disponibilizados R$ 11,74 bilhões pelo Ministério da Saúde, mas somente foram usados R$ 2,59
bilhões” e “apenas R$ 804,68 milhões foram efetivamente pagos até 27 de maio, o que equivale a
6,8% dos recursos disponíveis para o enfrentamento da pandemia”.289

332. O desrespeito do governo Bolsonaro às medidas adequadas de


enfrentamento da pandemia é evidente em falas e comportamentos públicos noticiados pela
imprensa. De fato, chega a causar muito espanto ver o Presidente da República, de forma
irresponsável e inconsequente, dar declarações, minimizando a gravidade da pandemia pela covid-
19. Dentre os absurdos proferidos pelo Presidente podem ser citados os de chamar o COVID-19
de “gripezinha”, “fantasia”, “histeria.

333. Além disto, o Presidente criticou publicamente ações acertadas que


governadores adotaram em seus estados. Infelizmente, as medidas propostas pelos estados para
reduzir o fluxo de pessoas entre os estados, que poderia circunscrever a maioria dos casos em

287
https://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=25842&LangID=E
288
https://direitosvalemmais.org.br/wp-
content/uploads/2020/06/AlertaPublico_BaixaExecucaoOrcamentaria_junho2020.pdf.pdf. P. 1.
289
Ibdem. P. 2.
poucas regiões e não no País como um todo, foram revogadas pelo Governo Federal através da
MP 926/2020 em mais uma atitude irresponsável e totalmente injustificada.290

334. O desrespeito do governo ao povo se expressa ainda em documentos oficiais


que deveriam ser pautados pelo conhecimento técnico-científico. Um exemplo é o Boletim
Epidemiológico nº 7 do Ministério da Saúde (MS), publicado no dia 6/4/2020, que recomenda que
“...municípios, Distrito Federal e Estados que implementaram medidas de Distanciamento Social
Ampliado (DSA), onde o número de casos confirmados não tenha impactado em mais de 50% da
capacidade instalada existente antes da pandemia, devem iniciar a transição para Distanciamento
Social Seletivo (DSS)”.

335. Registre-se que o Conselho Nacional de Saúde se insurgiu contra essa


recomendação, defendendo a manutenção das medidas de DSA e avaliando que a transição para o
DSS poderia trazer agravos à situação emergência no país291.

336. Em linha semelhante, estão as “Orientações do Ministério da Saúde para


tratamento medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da Covid-19”, publicadas no dia
20 de maio de 2020. Essas orientações oficiais, mesmo reconhecendo a inexistência de benefício
comprovado do tratamento, autorizam o uso de Cloroquina e Hidroxicloroquina para tratar
sintomas leves da doença e ampliam seu uso para todos os pacientes infectados. Além do CNS, a
Sociedade Brasileira de Infectologia292 e a Sociedade Brasileira de Bioética293 manifestaram-se
publicamente contra essas orientações.

337. Além de não existir evidência científica que comprove o benefício do uso
da Cloroquina e da Hidroxicloroquina no tratamento dos pacientes acometidos pela covid-19, são
medicamentos que têm conhecidos efeitos colaterais e potenciais riscos. Outros efeitos deletérios
da recomendação foram estimular a automedicação da população e passar a falsa crença da
efetividade da medicação, fazendo com que as pessoas reduzam os cuidados de proteção e o

290
https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/1231-nota-cns-lamenta-as-50-667-mortes-por-covid-19-no-
brasil-um-marco-evitavel-causado-pelo-descaso-do-estado
291
Nota pública: CNS defende manutenção de distanciamento social conforme define OMS
https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/1102-nota-publica-cns-defende-manutencao-de-distanciamento-
social-conforme-define-oms
292
Sociedade Brasileira de Infectologia. Informe sobre o novo coronavírus n° 13: esclarecimentos científicos sobre
orientações que propõem o uso universal da cloroquina ou hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19
https://www.infectologia.org.br/admin/zcloud/137/2020/05/d4826f984f26ea5dc55119e087716868e8e62dc3a4dc5f3
1349b2844aeaeafd6.pdf
293
NOTA PÚBLICA: SBB solicita revogação imediata da orientação do Ministério da Saúde sobre uso da cloroquina
em pacientes com COVID-19. http://www.sbbioetica.org.br/Noticia/777/NOTA-PUBLICA-SBB-solicita-revogacao-
imediata-da-orientacao-do-Ministerio-da-Saude-sobre-uso-da-cloroquina-em-pacientes-com-COVID-19
distanciamento social. No caso da Cloroquina e da Hidroxicloroquina, vale acrescentar que o
governo tem investido vultosas somas na produção desses medicamentos em laboratórios
militares, conforme amplamente noticiado.

338. O desrespeito é patente ainda em ofensas do presidente da República aos


profissionais de saúde e na incitação a ações que comprometem o funcionamento dos serviços e
põem em risco a segurança e a vida de pacientes e trabalhadores de saúde. Em claro exemplo
dessas ofensas e incitações, no dia 11 de junho de 2020, o presidente insuflou a população a invadir
hospitais e serviços de saúde para fotografar e filmar os atendimentos de profissionais, acusando-
os de estarem negligenciando o cuidado para salvar as vidas dos pacientes.

339. À agressão aos profissionais, se soma à falta de alocação de profissionais de


saúde para o enfrentamento da pandemia. Efetivamente, não tem havido a contratação de novos
profissionais, mesmo onde houve ampliação do número de leitos hospitalares e de UTI. Mesmo
programa Brasil Conta Comigo, lançado para emergência da covid-19 tem sido negligenciado,
com profissionais deixados sem salários.294

340. A falta de medidas para suprir a necessidade de profissionais não se limita


aos hospitais. Também atinge a Atenção Básica que, pela carência de uma orientação nacional tem
atuado de forma heterogênea na pandemia, sem aproveitar o seu potencial na execução de ações
contundentes de contenção da doença, sobretudo nos municípios que têm boa cobertura para a
Estratégia Saúde da Família. A capilaridade da distribuição dos agentes de saúde, por exemplo,
não tem sido suficientemente aproveitada para fazer chegar à população das áreas cobertas uma
mensagem clara de como proteger da covid-19 a comunidade em geral e, em particular, os idosos
e as pessoas com condições crônicas, no interior dos seus domicílios.

341. Uma das estratégias para suprir a necessidade de médicos na Atenção Básica
é o Programa Mais Médicos que foi duramente criticado por Bolsonaro desde o início do seu
governo, chegando a lançar em agosto de 2019 o Programa Médicos pelo Brasil, mas que não
chegou a fazer contratações.

342. Diante da pressão da sociedade civil e dos parlamentares, em março de 2020,


o governo admitiu que precisaria retomar o Mais Médicos para o enfrentamento da covid-19.

294
https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/06/25/profissionais-enviados-ao-am-para-combate-a-covid-19-
cobram-salario-atrasado.ghtml
Foram lançados editais de convocação de médicos, com muitas vagas não preenchidas e o governo
insiste em descumprir a legislação deixando de convocar os médicos brasileiros formados no
exterior, que estão em segundo lugar na ordem de chamada para participar do Mais Médicos,
quando as vagas não são preenchidas pelos médicos brasileiros formados no Brasil.

343. Ao desrespeito se soma o descaso com as medidas de enfrentamento da


pandemia demonstrado, em primeiro lugar, pelo fato de o Ministério da Saúde estar desde
15/5/2020 com um dirigente interino de notória incompetência técnica para assumir a função. Em
segundo lugar, o descaso se evidencia na baixa execução orçamentária dos recursos financeiros
alocados ao SUS, em geral, e ao enfrentamento da pandemia, em particular. Saliente-se que a falta
de uso dos recursos financeiros tem sido repetidamente denunciada.

344. Com efeito, no dia 18 de junho de 2020, o CNS e mais 23 Conselhos


Estaduais de Saúde lançaram o Manifesto “Repassa Já”, cobrando do Ministério da Saúde o
repasse e a utilização de R$ 8,489 bilhões que ainda não foram empenhados. Ressalte-se que se
tratam de recursos específicos para enfrentamento à pandemia, oriundos de Medidas Provisórias
de crédito extraordinário295.

345. Uma semana depois do lançamento do Manifesto, no dia 25 de junho de


2020, a Comissão de Orçamento e Financiamento (Cofin) do CNS publica boletim296 em que
informa que estão parados, sem uso, no orçamento do Ministério da Saúde, R$ 25,7 bilhões
destinados ao combate à pandemia de covid-19, o que corresponde a 66% de um total de R$ 39
bilhões.

346. Na verdade, desde o início da pandemia, a Cofin vem chamando a atenção


dos dirigentes do Ministério da Saúde (MS) para a morosidade do uso das verbas. Essa morosidade
é fruto da indefinição da direção do MS quanto à aplicação dos recursos em transferências para
estados e municípios ou em compras centralizadas de equipamentos e insumos para o combate à
Covid-19. Em consequência, os recursos não foram ainda empenhados, nos termos da Lei nº
4.320/1964, e se encontram sem uso, ao tempo em que pacientes e profissionais de saúde sofrem
com a escassez dos insumos e equipamentos necessários à realização das ações de cuidado à saúde.

295
. https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/1186-cns-e-conselhos-estaduais-se-unem-para-exigir-do-ms-
financiamento-integral-do-sus-frente-a-pandemia
296
https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/1241-dinheiro-para-enfrentamento-a-covid-19-que-esta-
parado-no-ms-daria-para-comprar-428-mil-respiradores-mostra-boletim-do-cns
347. Em alerta ao Governo divulgado amplamente na imprensa em 24/06/2020 o
Tribunal de Contas da União - TCU referiu a falta de diretrizes estratégicas para combater a
pandemia do novo coronavírus, "como denota a saída de dois ministros da Saúde num intervalo
de um mês, durante a maior pandemia deste século”. O alerta apontou ainda que há falta de
gerenciamento de risco e ausência de profissionais da área da saúde atuando para mitigar a
disseminação da doença.

348. Esse descaso se agrava com a iniciativa de limitar o repasse de recursos ao


enfrentamento da pandemia, configurada no veto do presidente da República ao Projeto de Lei de
Conversão (PLV) referente à Medida Provisória nº 909, aprovado pelo Congresso Nacional, que
estabelecia a destinação de R$ 8,6 bilhões integralmente aos Estados, Distrito Federal e
Municípios “para a aquisição de materiais de prevenção à propagação da covid-19”. Os
argumentos do governo para justificar o veto - violação aos princípios da reserva legal e do poder
geral de emenda e criação de despesa obrigatória ao Poder Público - estão claramente em
desacordo com a flexibilização estabelecida tanto pela decretação de estado de calamidade pública
pelo Congresso Nacional, quanto pela Emenda Constitucional 106/2020297, o que permite
caracterizar esse veto como um boicote às ações de combate ao novo coronavírus.

349. Também passível de caracterização como boicote ao enfrentamento da


pandemia, tem sido a atuação do governo no sentido de impedir a transparência e a
disponibilização atualizada dos dados estatísticos relacionados a morbimortalidade relativa à
covid-19, parcialmente barrada pela intervenção do Poder Judiciário.

350. O boicote se revela ainda nos vetos a artigos da Lei 14.019/2020 que
disciplina o uso de máscara facial em espaços públicos em todo o território nacional, sancionada
no dia 02/07/2020. De acordo com a Agência Senado “o presidente Jair Bolsonaro, vetou a
obrigatoriedade do uso da máscara de proteção individual em órgãos e entidades públicas e em
estabelecimentos comerciais, industriais, templos religiosos, instituições de ensino e demais locais
fechados em que haja reunião de pessoas. Ao justificar os vetos, o Planalto alega, entre outras
razões, que a obrigatoriedade “incorre em possível violação de domicílio".

351. Isto é mais um absurdo. A Constituição protege a inviolabilidade do


domicílio (art. 5º, XI). O bem jurídico tutelado é a intimidade e vida privada do indivíduo. Mas a

297
https://conselho.saude.gov.br/recomendacoes-cns/1214-recomendacao-n-043-de-05-de-junho-de-2020
lei trata de uso de máscaras para circulação em espaços públicos e privados acessíveis ao público.
Ou seja, não invade a intimidade, mas ainda que se considerasse que haja alguma intervenção na
vida privada, o veto está errado, pois as liberdades individuais estão condicionadas na origem pelo
interesse público, que se sobrepõe.

352. O distanciamento social e o uso de máscaras são medidas eficazes para


reduzir o número de casos de infectados pelo coronavírus. No mundo todo, os dirigentes
incentivam o distanciamento social e obrigam o uso de máscaras, No Brasil, Bolsonaro descumpre
as regras de distanciamento e de etiqueta respiratória, desestimula o uso da máscara e expõe o
povo brasileiro à morte.

353. Devido à recusa de Bolsonaro a usar a máscara a 9ª Vara Federal Cível do


Distrito Federal, em ação popular movida por um advogado obrigou o seu uso. Por mais incrível
que pareça, a AGU (Advocacia-Geral da União) recorreu da decisão ao TRF-1, tendo sido
derrubada a decisão liminar provisória. Estamos numa guerra de enfrentamento da pandemia. Em
junho, houve vários dias que registraram mais de mil mortes. A negligência no provimento de
pessoal, a falta dos insumos e de equipamentos e a falta de coordenação das ações têm levado a
milhares de mortes que poderiam ser evitadas.

354. O Brasil está em segundo lugar no número de casos de covid-19 no mundo,


perdendo apenas para os EUA. Sozinho, o Brasil já respondia em 5/7/2020 por mais de 1,6 milhão
de casos confirmados, correspondentes a 14% de todos os casos registrados no mundo e 64,9 mil
mortes, equivalente a 12% das mortes mundiais pela covid-19.

355. Para que se possa ter uma ideia melhor do significado destes números, é
importante verificar a taxa de incidência, calculada dividindo-se o número de casos pela população
e assim permitindo a comparação dos resultados de diferentes locais. De acordo com os dados
atualizados até 07/07/2020 a incidência de covid-19 no Brasil era de 7.924 casos a cada um milhão
de habitantes. Comparando-se com outros países do Mercosul que estão tendo um desempenho
mais adequado na condução da pandemia, observa-se, por exemplo que na Argentina a incidência
é de 1.856 e no Uruguai, 274 casos a cada um milhão de habitantes. A comparação das taxas de
incidência se faz dividindo-se uma pela outra para calcular o risco relativo. Desta forma, o risco
de um brasileiro contrair covid-19 é 4,3 vezes maior do que o risco de um argentino e 28,9 vezes
maior do que a de um uruguaio!
356. Estes números refletem o total desacerto do governo brasileiro na condução
do combate à pandemia. Se estivéssemos numa situação semelhante à da Argentina, por exemplo,
estaríamos totalizando agora cerca de 400 mil casos e 15 mil mortes, que ainda seriam muitos, mas
bem menos grave do que a atual tragédia que se verifica no Brasil. Muitos casos e muitas mortes
teriam sido evitados.

357. Infelizmente a realidade do número de casos e de mortes no Brasil é ainda


pior do que os números acima que são os oficialmente registrados. Na comparação com outros
países somos um dos que menos fazem testes, em torno de apenas 4,2 mil testes para cada milhão
de habitantes, comparado com os EUA e Espanha, por exemplo 50 mil e 76 mil testes para cada
milhão de habitantes, respectivamente. Outro indicador que aponta para um subregistro é a
quantidade de mortes por síndrome aguda respiratória grave (SRAG) que só nos primeiros meses
de 2020 já foi muito superior à quantidade de óbitos por este motivo nos anos anteriores.
Certamente muitas destas mortes devem ter sido decorrentes da covid-19 mas não foram
confirmadas como tal porque não foi feito o teste de RT-PCR.

358. Outro aspecto da tragédia da covid-19 é que o Brasil é o País onde mais
profissionais de saúde perderam a vida na linha de frente de combate à doença. Além do
desrespeito, do descaso e do boicote às ações de enfrentamento da covid-19, o governo Bolsonaro
vem tomando várias medidas de enfraquecimento de diferentes programas do SUS, das quais
quatro exemplos são citados a seguir.

359. O governo excluiu do site eletrônico do Ministério da Saúde e exonerou os


técnicos responsáveis pela redação da Nota Técnica nº 016/2020-
COSMU/CGCIVI/DAPES/SAPS/MS que recomendava a os gestores do SUS a garantia de
“serviços essenciais de Saúde para mulheres e meninas, incluindo serviços de saúde sexual e
reprodutiva, sobretudo acesso a contraceptivo e ao aborto seguro nas Unidades Básicas de Saúde
e Centros de Referência em IST/AIDS”. Em um momento em que o confinamento necessário à
redução da transmissão da doença aumenta o risco de violência sexual contra as mulheres, a
fragilização dos serviços de saúde sexual e reprodutiva retira das mulheres um importante apoio à
preservação e à recuperação da sua saúde298.

298
https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/1223-nota-cns-repudia-retirada-de-documento-tecnico-sobre-
saude-sexual-e-reprodutiva-das-mulheres-durante-pandemia-do-site-do-ministerio-da-saude
360. Vale salientar que, ao contrário do Poder Executivo, o Congresso Nacional
discute projetos de lei (por exemplo: nº 1267/2020, nº 1291/2020 e nº 1444/2020), que estabelecem
medidas emergenciais de proteção à mulher vítima de violência doméstica durante a emergência
de saúde pública decorrente da pandemia de covid-19.

361. A Portaria GM/MS nº 1325, de 18 de maio de 2020, extinguiu o Serviço de


Avaliação e Acompanhamento de Medidas Terapêuticas Aplicáveis à Pessoa com Transtorno
Mental em Conflito com a Lei, se descomprometendo com o custeio das equipes constituídas e
devidamente habilitadas e com o apoio à implementação de novas equipes. As justificativas
apresentadas – de que as equipes não têm atribuições exclusivas de saúde e de que poucas foram
implantadas até o momento – são tecnicamente inconsistentes, dado que as ações de proteção à
saúde dessas pessoas requerem, necessariamente, a articulação das ações de saúde com as de outros
setores e que mais equipes precisam ser implantadas299.

362. A pandemia tem, claramente, comprometido o acompanhamento médico


das Pessoas com Doenças Crônicas e Patologias. Apesar disso, o Ministério da Saúde tem se
omitido de tomar qualquer medida visando a assegurar o devido acompanhamento dessas pessoas,
o que motivou o Conselho Nacional de Saúde a aprovar a recomendação nº 30, de 27 de abril de
2020, instando o MS a apresentar medidas de proteção à saúde e planos de apoio às Pessoas com
Doenças Crônicas e Patologias durante a epidemia da SARS-COV-2, com vistas a reduzir o risco
de desenvolvimento de co-morbidades e óbito, incluindo fluxos e alternativas ao acesso de
medicamentos e protocolos específicos de atendimento, especificamente na manutenção de formas
remotas de contato dos pacientes com seus respectivos médicos especialistas11.

363. Como consequência do seu modo malévolo de pensar e agir, o governo


cuidou ainda do “rebaixamento do Departamento de IST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério
da Saúde para parte de um setor mais amplo chamado Departamento de Doenças de Condições
Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis”. Isto, obviamente, levou a diversas
manifestações de desapreço e revolta de ativistas pelo País. Como é o caso do pronunciamento do
ex-ministro da Saúde e atual deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP). Para o deputado
federal “a mudança é muito grave, pois o setor perde em autonomia para a execução de políticas.

299
https://conselho.saude.gov.br/recomendacoes-cns/1225-recomendac-a-o-n-044-de-15-de-junho-de-2020
E a retirada do termo AIDS do nome é uma forma de tentar colocar no esquecimento algo grave,
que é a epidemia do vírus, existente no Brasil e no mundo”.

364. Além do SUS, o Sistema de Previdência Social e de proteção dos


trabalhadores também têm sido alvo de ações de desmonte que, no contexto da pandemia,
enfraquecem a capacidade de resposta ao coronavírus.

365. Têm sido observados concentração de casos de covid-19 em locais de


trabalho em função das características que estas atividades são desenvolvidas, como por exemplo
nos setores de frigoríficos e de teleatendimento o que reforça a necessidade da Inspeção do
Trabalho para fiscalizar os ambientes de trabalho para a adoção de medidas de controle como o
distanciamento dos postos de trabalho, uso de máscaras, afastamento precoce dos trabalhadores
sintomáticos e a adoção das medidas de etiqueta respiratória.

366. O Presidente Bolsonaro em direção oposta na edição da MP 927/2020


incluiu o artigo 31, que limitava a atuação de auditores fiscais do trabalho apenas à atividade de
orientação, sem poder autuar os empregadores caso constatassem irregularidades. Houve reação
da sociedade e entidades a esta medida e no julgamento de medida liminar em sete Ações Diretas
de Inconstitucionalidade (ADIs) ajuizadas contra a MP, o Plenário do Supremo Tribunal Federal
(STF), suspendeu a eficácia deste dispositivo, restabelecendo o poder de polícia da Inspeção do
Trabalho, importante ferramenta de proteção da saúde e da segurança dos trabalhadores e
trabalhadoras.

367. Sob o manto de uma alegada modernização e redução dos “custos absurdos
em função de uma normatização absolutamente bizantina, anacrônica e hostil”, o então Secretário
Especial de Trabalho e Previdência afirmou a intenção de reduzir em até 90% as obrigações
contidas nas normas regulamentadoras de segurança e saúde no trabalho, conhecidas sob a sigla
NR. Leis e regulamentações isoladamente não mudam uma sociedade, mas a sua inexistência ou
fragilidade promovem a agudização da injustiça e podem se constituir, no caso das NR em um país
que apresenta indicadores alarmantes de acidentalidade no trabalho, um retrocesso evidente.
Nenhuma economia é sustentável tendo um dos pilares baseado no adoecimento e morte de parcela
significativa de sua força de trabalho. Esta opção governamental pela naturalização das
iniquidades fica ainda mais evidente com a edição das Portarias Conjuntas nº 19 e 20, de 18 de
junho de 2020, que disciplinam as “medidas a serem observadas visando à prevenção, controle e
mitigação dos riscos de transmissão da Covid-19”, respectivamente nas atividades desenvolvidas
na indústria de abate e processamento de carnes e derivados destinados ao consumo humano e
laticínios e de uso geral. Seus conteúdos e obrigações constrangem a boa técnica e o consenso
científico mundial por sua insuficiência e fragilidade, em meio a uma pandemia que no início de
julho já tinha atingido mais de 1,5 milhão de brasileiros e produzido mais de quase 64 mil óbitos.
Mantidas intenções e objetivos, nos esperarão, em um futuro próximo, legiões de trabalhadores e
trabalhadoras adoecidos, mutilados, mortos em nome do luxo e fastio de uma falsa modernização.

368. Os povos originários são outro alvo preferencial dos ataques do governo
federal à saúde do povo brasileiro. Com mais um Projeto de Lei de iniciativa do executivo (PL
1911/2020) de natureza necropolítica, busca o governo atual “regulamentar o § 1º do art. 176 e o
§ 3º do art. 231 da Constituição para estabelecer as condições específicas para a realização da
pesquisa e da lavra de recursos minerais e hidrocarbonetos e para o aproveitamento de recursos
hídricos para geração de energia elétrica em terras indígenas e institui a indenização pela
restrição do usufruto de terras indígenas”.

369. Ora, os ataques aos povos nativos já se expressam nas investiduras do


Congresso Nacional em larga escala, não fosse a PEC 187 que, em defesa do agronegócio e da
bancada ruralista, busca suavizar a exploração do meio ambiente, atentando para o fato que
“originalmente, pretende alterar a Constituição para que ela permita, explicitamente, que os
povos indígenas possam produzir em suas terras e comercializar a sua produção”, como se isso
já não acontecesse nas terras indígenas, onde nada obsta que os povos indígenas produzam e
comercializem seus produtos;

370. As investidas desastrosas do governo Bolsonaro contra os povos originários


têm sido em diversas frentes, mesmo em situação de estado de emergência porque passa a
esmagadora maioria do povo brasileiro em razão do enfrentamento da pandemia do Covid-19.
Nesse sentido, as medidas emergenciais como parte de política pública do Estado redutora e
miniminizadora das necessidades básicas de quem está em isolamento social e em situação de
quarentena, com base e vetos do presidente da república, o Projeto de Lei (PL 873/2020) foi
aprovado pelo Senado que ampliou os beneficiários do auxílio emergencial de R$ 600,00.

371. Não obstante, a aplicação da Lei de n. 13.998/2020 causou, e vem causando,


embaraços aos que dela buscam o auxílio emergencial, o que levou Ministério Público Federal e a
Defensoria Pública da União a impetrar Ação Civil Pública contra a CAIXA ECONÔMICA
FEDERAL – CEF e o INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS “objetivando
provimento jurisdicional que determine aos réus a adoção de medidas diferenciadas em favor dos
povos indígenas do Estado do Acre, especificamente a prorrogação dos prazos para saques dos
benefícios de auxílio emergencial e previdenciários, com o fito de impedir o deslocamento das
populações indígenas aos municípios, em conformidade com as orientações de isolamento social
recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS)”.

372. Como consequência do deliberado desmonte do SUS do Brasil se tem o


descaso com o calendário de coberturas vacinais da população e consequente recrudescimento de
enfermidades cujo controle se dá através da vacinação de suscetíveis, e que agora salienta-se a
elevada piora da situação em razão da ausência de política emergencial pelo governo federal do
enfrentamento da pandemia do Covid-19.

373. E, ainda mais, com o agravante que dadas às mudanças no Plano Nacional
de Atenção Básica (PNAB) que estabeleceu “que os municípios tenham autonomia para o
direcionamento dos recursos federais que recebem. Isso significa que parte da verba destinadas
a programas como o Estratégia Saúde da Família (ESF) e do Programa de Agentes Comunitários
de Saúde (PACS) possam ser destinadas a outras iniciativas”, ou seja, o que se posta como
temerário e vem trazendo graves problemas de assistência e atenção básicas à saúde dos munícipes.

374. Agindo desta forma, o Presidente demonstra sua incapacidade para o cargo,
devendo ser responsabilizado pela insuficiente, descoordenada e atrasada adoção de medidas
efetivas, o que tem implicado em maior número de casos e em mais mortes pela covid-19. Não se
trata apenas de “destempero verbal”. Ao descumprir a quarentena obrigatória, após voltar de
viagem internacional, onde mais de duas dezenas de seus assessores e ministros apresentaram
testes positivos para a covid-19, participar de manifestação pelo fechamento do Congresso e do
STF e afirmar que iria comemorar seu aniversário no dia 21/03, o Presidente passa à população a
mensagem de que o distanciamento físico e a quarentena de sintomáticos e seus contatos não são
necessários, o que favorece a transmissão acelerada do coronavírus. Em pronunciamento à Nação
na noite do dia 24/03/2020, o Presidente questionou o porquê de fechar escolas, repassou
informações equivocadas sobre a covid-19, criticou o distanciamento social e mais uma vez,
desrespeitando as milhares de vítimas fatais no mundo e também seus familiares, classificou a
doença como uma “gripezinha ou resfriadinho”. O pronunciamento gerou imediatamente forte
reação contrária de várias entidades de saúde, como da ABRASCO que chamou o pronunciamento
de “manifestação incoerente e criminosa” e do Conselho Nacional de Saúde – CNS que considerou
o pronunciamento, “uma afronta grave à Saúde e à vida da população”.
375. Ao proferir pronunciamentos absurdos, questionando a decisão dos estados
ao adotarem ações protetivas, estimulando a ajuntamento populacional em cultos religiosos e
insuflando os ânimos contra o isolamento populacional ao destacar o impacto na economia, o
Presidente dá um péssimo exemplo e demonstra um desprezo pela vida dos brasileiros e brasileiras,
principalmente dos mais pobres, que sofrerão as maiores consequências.

376. Num episódio recente Bolsonaro estava sendo entrevistado por alguns
repórteres quando retirou a máscara justamente para informar que estava com covid-19, o que
certamente representa uma violação aos artigos 131 e 132 do Código Penal. Ademais, no dia
seguinte, o Presidente disse que tinha tomado a hidroxicloroquina e estava se sentindo muito bem.
Chegou a mostrar-se em suas redes sociais num vídeo engolindo um comprimido que seria de
hidroxicloroquina. A aparência era de uma propaganda comercial o que é totalmente de
equivocado e inapropriado, principalmente considerando o cargo que ocupa e a indução a
automedicação da população e do relaxamento com os cuidados, ao acreditar que existiria um
tratamento eficaz.

377. Deve-se ressaltar que a prescrição de medicamentos é ato profissional


exclusivo do(a) médico(a) e que até o momento não existe evidência científica que comprove o
benefício do uso da cloroquina e nem da hidroxicloroquina no tratamento dos pacientes
acometidos pela covid-19. Além disto, são medicamentos que têm conhecidos efeitos colaterais,
potenciais riscos e contraindicação de uso para determinados pacientes.

378. Questionada, a Secretaria Geral da Presidência da República disse que vem


tomando medidas para tornar o ambiente de trabalho "o mais seguro possível" para os servidores
e informou que 108 funcionários da Presidência da República testaram positivo para a nova doença
desde o início da pandemia. Certamente as medidas de controle não estão sendo adotadas,
considerando o elevado número de servidores contaminados.

379. Ainda estamos com um número elevado de casos não justificando as


medidas de flexibilização do distanciamento social que vem sendo estimuladas pelo governo
federal. Se tivessem sido adotadas no Brasil medidas adequadas de controle, com restrições de
deslocamento, bloqueio de locais (lockdown) certamente poderíamos ter chegado numa fase
consistente de redução do número de casos novos e estar fazendo a flexibilização das medidas de
controle, de forma gradual e segura. O que se está se observando no Brasil é a que pressionados
pelo falso discurso de “salvar a economia” prefeitos e governadores estão fazendo a abertura do
comércio e de outros setores, sem critérios técnicos, observando-se em seguida o aumento
descontrolado de casos.

380. Conforme publicado na Revista Veja, o jornal americano The Washington


Post publicou em 14/04/2020, um editorial que apontou o presidente Jair Bolsonaro como o pior
líder mundial a comandar uma reação contra a pandemia do novo coronavírus. Segundo a
publicação, o chefe de Estado brasileiro coloca vidas em risco ao minimizar a força da Covid-19.

381. Em abril a ABJD (Associação Brasileira de Juristas pela Democracia) e em


junho, o PDT, denunciaram o presidente Jair Bolsonaro por crime contra a humanidade no
Tribunal Penal Internacional (TPI) por sua postura no combate ao avanço da Covid-19 no país.

382. Enfim, são muitos os ataques do governo Bolsonaro ao SUS e à saúde dos
brasileiros, o que permite que seja caracterizado como inimigo da saúde do povo, conforme
identificaram as entidades da área da Saúde Coletiva, desde o discurso presidencial transmitido
em cadeia nacional de rádio e TV no dia 24 de março de 2020.300

383. As entidades que compõem a Frente pela Vida lançaram em 03/07/2020 o


Plano de Enfrentamento à Covid-19[1]. O Plano é muito claro em dizer que “a Presidência da
República é, de ofício, diretamente responsável pelo reconhecimento do potencial danoso da
pandemia da COVID-19, tendo como competência irrecorrível propor e coordenar ações e
políticas emergenciais, necessárias e adequadas para controlá-la e reduzir seus impactos
econômicos e sociais sobre a nação. Assim, além das estratégias sanitárias e epidemiológicas,
frente à crise, muitas medidas são necessárias, notadamente de natureza política e econômica, que
somente o Governo Federal pode executar. Não é demais enfatizar que, como a economia,
impactada pela pandemia, não pode garantir a renda do trabalho, devem ser urgentemente
concretizadas a implementação, manutenção e expansão de políticas de proteção social”. O que se
vê, por tudo o exposto aqui, é que o governo federal caminha na direção oposta. Muitas mortes
pela covid-19 poderiam ter sido evitadas. Muitas mortes ainda podem ser evitadas, é imperiosa a
tomada de medidas urgentes para reversão desta tragédia.

384. Tal descrição minuciosa de fatos assevera que o Presidente da República,


lastimavelmente, incorreu na prática de crimes de responsabilidade contra a probidade da

300
https://conselho.saude.gov.br/recomendacoes-cns/1143-recomendacao-n-030-de-27-de-abril-de-2020
administração, conforme o art. 9º, incisos 3, 4 e 7, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950. 301 Sua
postura em relação aos atos insensatos e desatinados levados a efeito por inúmeros subordinados
jamais esteve à altura da responsabilidade do cargo que ocupa. A repetida e progressiva escalada
de descuidos e atos contraproducentes dessas autoridades, em desalinho com a Constituição e com
a regularidade funcional de seus postos contou não apenas com o beneplácito presidencial, senão
também com seu incentivo, o que perfaz com absoluta suficiência o tipo criminal estampado no
texto citado.

II.5. DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE CONTRA A EXISTÊNCIA DA UNIÃO


PRATICADOS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA - SOBERANIA NACIONAL E
RELAÇÕES EXTERIORES.

385. A análise da responsabilidade jurídica do atual mandatário da Presidência


da República demanda, ainda, a apreciação de suas condutas à luz dos imperativos decorrentes do
Direito Internacional Público.

386. A relação dos Estados com a comunidade internacional pressupõe o pleno


respeito às normas decorrentes de tratados e convenções firmados em âmbito supranacional. O
avanço recente desse campo específico da normatividade jurídica tem implicado o reconhecimento
de que eventual transgressão a tais ditames impõe a submissão das nações aos princípios de
responsabilidade internacional dos Estados.

387. Do ponto de vista histórico, o momento posterior à Segunda Guerra Mundial


costuma ser fixado como o marco principal de desenvolvimento dos principais pactos e
entendimentos que puseram em atividade uma rede universal de direitos humanos para a promoção
da paz e da segurança internacional e, mesmo com a imposição da Guerra Fria e de modelos de
Estado que priorizavam elencos específicos de direitos, foi possível avançar nos consensos contra
a tortura, contra as odiosas práticas de violação de direitos experimentada em contextos de guerra,
bem como a violação direcionada à população civil e sujeitos mais vulneráveis, como mulheres,
crianças e população autóctone.

301
Art. 9º São crimes de responsabilidade contra a probidade na administração: (...) 3- não tornar efetiva a
responsabilidade dos seus subordinados, quando manifesta em delitos funcionais ou na prática de atos contrários à
Constituição; 4- expedir ordens ou fazer requisição de forma contrária às disposições expressas da Constituição; (...)
7- proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decôro do cargo.
388. Durante parte relevante do período de emergência de referidas normas
jurídicas, o Brasil experimentava um momento de descompasso com as tendências
democratizantes e vivia os anos de chumbo da ditadura civil-militar. Somente com a Constituição
de 1988, que enumerou os princípios regentes de atuação do país no campo das relações exteriores,
o Brasil passou a assegurar amplo respaldo às normas decorrentes do direito internacional,
consoante se extrai do art. 4º:

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações


internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração
econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina,
visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

389. Desde então, nos sucessivos governos a partir da redemocratização, os


princípios fundamentais das relações internacionais passam a ser parâmetro inafastável de relações
com países independentes e restabeleceram a vocação histórica da diplomacia altiva e pacifista,
agregando a essa trajetória a missão de promover e priorizar a integração com os povos latino-
americanos.

390. No entanto, durante o governo do ora Denunciado, tem-se ignorado a


trajetória anterior da diplomacia brasileira e subvertido os comandos constitucionais nesse
segmento, promovendo-se uma guinada sem precedentes que destrói o trabalho de acúmulo
sucessivo em matéria de soft power e desqualifica a diplomacia pautada pelo entendimento
progressivo e coordenado entre os povos.
391. Significativo observar que, em recente debate promovido pela Universidade
de Harvard, durante a prestigiada Brazil Conference, os ex-chanceleres Celso Amorim, Celso
Lafer e Aloysio Nunes Ferreira, bem como ex-Ministro da Fazenda e ex-embaixador em
Washington, Rubens Ricupero, além do ex-Secretário Especial de Assuntos Estratégicos, Hussein
Kalout, foram unanimes em condenar a condução da política externa de Jair Bolsonaro, concluindo
que “o Brasil está contra o mundo, impondo um autoisolamento”302.

392. Tal constatação decorre de posturas concretas de Jair Bolsonaro no curso de


seu mandato como Presidente da República, as quais põem em xeque a prevalência dos interesses
nacionais, a soberania brasileira, a reciprocidade entre as nações e a política de paz e respeito à
autodeterminação dos povos.

393. Veja-se que, já no seu primeiro ato como chefe de Estado em missão
internacional, o Denunciado empreendeu intensa agenda de desarticulação de atributos da
soberania brasileira. Em março de 2019, poucos meses após a sua posse, Bolsonaro compareceu
em visita oficial aos Estados Unidos da América, durante a qual anunciou que o Brasil abdicaria
de suas vantagens competitivas junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) em troca de
uma ilusória promessa de apoio norte-americano ao ingresso do Brasil na Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)303.

394. Observe-se que o tratamento diferenciado do Brasil perante a OMC


garantia-lhe condição mais benéfica nas negociações com países de economia mais desenvolvida,
favorecendo as exportações e as contas externas nacionais, bem como as políticas de incentivo à
produção interna. Por outro lado, o apoio ao ingresso na OCDE, até o presente momento, não se
traduziu em medidas concretas que favoreçam a economia nacional ou as condições sociais e
políticas dos cidadãos brasileiros perante a comunidade internacional.

395. O relacionamento do atual governo com os Estados Unidos da América,


diga-se, denota a absoluta inobservância aos preceitos da reciprocidade nas relações bilaterais com
as nações e a completa subserviência a interesses estranhos ao desenvolvimento nacional. Prova
disso é a isenção de exigência de visto para que cidadãos estado-unidenses ingressem em território
brasileiro em um contexto no qual resta cada vez mais restrito o ingresso de cidadãos brasileiros

302
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,brazil-conference-debate-politica-externa-com-ex-chanceleres-
siga,70003286305.
303
https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2019-03/brasil-abrira-mao-de-direitos-na-omc-para-
ingressar-na-ocde.
em território norte-americano304. Tal conduta rompe com o paradigma da reciprocidade e
igualdade entre os Estados e se assenta sobre premissas discriminatórias a respeito dos cidadãos
brasileiros, consoante se extrai do discurso do próprio Denunciado305.

396. A aproximação subserviente em relação aos interesses norte-americanos


contrasta, por outro lado, com um isolamento cada vez maior em relação às demais nações. A
posição brasileira em fóruns internacionais tem conduzido o país a se deslocar da sua posição de
solidariedade e cooperação em direção a comportamentos divisionistas, que vêm sendo percebidos
pela cúpula dos organismos multilaterais como movimentos no sentido de esvaziar os espaços de
construção de políticas globais306.

397. Como resultado da violação de compromissos previamente firmados pelo


Estado Brasileiro, bem assim em virtude dos posicionamentos exarados em comitês temáticos e
organizações internacionais, o país tem sido alvo de sanções difusas, tais como recuos em acordos
de comércio (tal como aquele entabulado entre o Mercosul e a União Europeia, fortemente atingido
pela política ambiental interna descomprometida com os pactos internacionais de proteção aos
ecossistemas307) e distanciamento de posições estratégicas em organismos multilaterais (vide, por
exemplo, a cada vez mais improvável admissão na OCDE, decorrente da ingerência presidencial
em órgãos anticorrupção e na proteção da Amazônia308).

398. As condutas da diplomacia brasileira têm causado, ainda, ameaças ao


comércio exterior, como aquelas provenientes da China – maior compradora de produtos agrícolas
brasileiros309. Ameaçam, por outro lado, a estabilidade e paz internas, ao promoverem abertamente
o fomento de conflitos com nações como a Venezuela310 e a Palestina311, em franco desrespeito à
autodeterminação daquelas nações e em oposição à postura negocial priorizada historicamente
pela diplomacia brasileira.

304
https://exame.com/brasil/bolsonaro-publica-decreto-que-cancela-visto-dos-eua-e-mais-tres-paises/.
305
https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/03/19/bolsonaro-diz-que-liberou-visto-porque-turistas-americanos-
nao-vao-ao-brasil-em-busca-de-emprego.ghtml.
306
https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/06/26/aos-75-anos-onu-e-alvo-de-campanha-inedita-do-
brasil-para-esvazia-la.htm.
307
https://brasil.elpais.com/brasil/2020-06-25/desmatamento-sob-bolsonaro-afasta-investidores-e-ameaca-acordo-
mercosul-uniao-europeia.html.
308
https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/04/30/ocde-critica-interferencia-de-bolsonaro-em-luta-anti-
corrupcao-e-amazonia.htm
309
https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/politica/2018/10/655095-china-faz-alerta-a-bolsonaro-e-diz-que-
custo-pode-ser-grande-ao-brasil.html.
310
https://www.correiodobrasil.com.br/bolsonaro-fala-guerra-contra-venezuela-irrita-militares-brasileiros/
311
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47751065.
399. Relativamente à Venezuela, veja-se que o Presidente da República, em meio
à pandemia da COVID-19, tentou expulsar do território brasileiro – sem que existissem até mesmo
meios de transporte para tal – o corpo diplomático daquele país, investida que somente não foi
levada às últimas consequências em razão da intervenção do Supremo Tribunal Federal312.

400. O governo Bolsonaro também tem se distanciado do cumprimento das


determinações provenientes do sistema interamericano de direitos humanos no que tange aos
processos de preservação da memória e da verdade históricas. Marca registrada dos processos de
redemocratização na América Latina foi a revisão da herança autoritária em cada país e a
revogação dos pactos normativos de anistia, consideradas leis do silêncio ou do esquecimento.
Mesmo que, no Brasil, a Lei de Anistia nº 6.683, de 28 de agosto de 1979, não tenha sido revogada,
é de se valorizar o acúmulo de anos de consciência histórica e luta pelos direitos à verdade, justiça
e reparação, processo que representou um valoroso marco de revisão para que os tristes eventos
históricos que marcaram o país antes da Constituição de 1988 não sejam esquecidos ou repetidos.

401. O governo Jair Bolsonaro, bem assim o comportamento individual do


Presidente, fizeram do combate à memória histórica uma das mais importantes plataformas do seu
governo. Passou-se a combater todo o acúmulo de políticas da justiça de transição e consensos que
são fruto da luta pela vida e pela sobrevivência de milhares de pessoas durante a ditadura militar,
defendendo-se abertamente o regime autoritário que perdurou entre 1964 e 1985 313 e seus
agentes314. Essa responsabilidade é interna – desmonte de políticas públicas e legado de
redemocratização – e internacional, pois os consensos sólidos a respeito das ditaduras latino-
americanas estão plasmados nas cartas convencionais e na jurisprudência da Corte Interamericana
de Direitos Humanos.

402. Não por acaso, em apenas um ano, o ora Denunciado foi alvo de 37
acusações perante instâncias internacionais315, fato que, por si, traduz o desmonte dos mecanismos
de proteção aos direitos humanos por intermédio da desinstitucionalização das políticas públicas

312
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/05/barroso-suspende-ordem-do-governo-bolsonaro-de-expulsao-de-
diplomatas-venezuelanos.shtml.
313
https://www.metropoles.com/brasil/politica-brasil/bolsonaro-comemora-golpe-militar-de-1964-dia-da-liberdade.
314
https://veja.abril.com.br/politica/em-israel-bolsonaro-defende-homenagem-a-torturador-da-ditadura-militar/.
315
https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/certas-palavras/bolsonaro-denuncias/.
em amplo espectro, sendo especialmente alarmantes a questão indígena316 e a destruição das
políticas ambientais317.

403. A questão da proteção à Amazônia, em particular, tem representado sérios


prejuízos para a diplomacia brasileira, uma vez que o intenso desmatamento verificado desde o
início da gestão Bolsonaro é estimulado por pronunciamentos pessoais do Presidente da República
e ministros em exercício, tal como já demonstrado no tópico específico dirigido à temática
ambiental. Tal postura submete o país a ameaças de sanções internacionais e pode ocasionar sérios
prejuízos diplomáticos, econômicos e sociais.

404. A partir do mês de abril de 2020, as denúncias contra o Brasil passaram a


contemplar a condução inadequada diante da crise pandêmica da COVID-19. Relatores da ONU
pronunciaram-se imediatamente diante dos primeiros passos da estratégia no combate à doença,
denunciando o governo brasileiro diante do que chamam de “políticas irresponsáveis” durante a
pandemia da Sars-CoV-2. Em um comunicado, eles apontaram que o Brasil deveria abandonar
imediatamente “políticas de austeridade mal orientadas que estão colocando vidas em risco” e
“aumentar os gastos para combater a desigualdade e a pobreza exacerbada pela pandemia”, uma
vez que “As políticas econômicas e sociais irresponsáveis do Brasil colocam milhões de vidas em
risco”318.

405. Se as denúncias dizem respeito ao governo como um todo, é importante


destacar que a conduta individual do Presidente da República também tem merecido destaque entre
as denúncias internacionais. A Associação Brasileira de Juristas pela Democracia acionou o
Tribunal Penal Internacional para denunciar pessoalmente a conduta do Presidente em analogia ao
crime de epidemia, agravado para pandemia, e fazendo uso do sentido ampliado de crimes de lesa
humanidade previsto no artigo 7º do Estatuto de Roma319. É importante compreender que a conduta
de Jair Bolsonaro como representante máximo de acordo com o mandato constitucionalmente
estabelecido gera imediatas consequências de mando, de comando governamental e de exemplo
como autoridade maior, para além do comportamento pessoal que, com tal displicência, com ou
sem dolo, poderá atingir diretamente um grupo expressivo de pessoas.

316
https://cimi.org.br/2020/06/indigenas-amazonicos-estao-em-grave-risco-frente-ao-covid-19-alertam-onu-direitos-
humanos-e-cidh/.
317
https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2019/12/02/deputados-denunciam-brasil-na-onu-por-
desmantelamento-de-politica-ambiental.htm.
318
https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/04/29/relatores-da-onu-denunciam-governo-por-colocar-
milhoes-de-vidas-em-risco.htm.
319
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2020/04/03/coronavirus-bolsonaro-e-Denunciado-no-tpi-por-
crime-contra-a-humanidade.htm.
406. Tais circunstâncias apontam para uma crescente tendência de
responsabilização internacional do Estado Brasileiro e colocam em risco os preceitos
determinantes das relações internacionais, preconizados pela Constituição de 1988, bem como a
soberania nacional e a segurança interna do país.

407. Patentes, pois, as condutas descritas no art. 85, I e IV, da Constituição, no


artigo 5º, incisos 6 (pelos acordos subservientes e prejudiciais ao interesse nacional entabulados
pelo Presidente da República), 7 (pela tentativa de expulsão de diplomatas venezuelanos) e 11
(pelas violações a tratados internacionais em matéria de direitos humanos e proteção ambiental),
e no artigo 8º, inciso 8 (também pelo descumprimento de normas jurídicas extraídas de acordos e
tratados internacionais), da Lei nº 1.079/1950.

III. DOS PEDIDOS

408. Por todo o exposto, apresentam os seguintes requerimentos:

a) Que seja recebida, processada e julgada procedente a denúncia contra o


Presidente da República por crime de responsabilidade, com fundamento no art.
85, caput e incisos III, IV e V da Constituição da República e nos termos das
tipificações previstas no art. 5º, incisos 1, 2, 3, 7 e 11; art. 7º, incisos 5, 6 e 9; no art.
8º, incisos 7 e 8; e no art. 9º, incisos 3, 4 e 7, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950,
aptos a amparar o seu respectivo recebimento, na forma estatuída pelo art. 218, § 2º,
do RICD, seguida da autorização pela Câmara dos Deputados para a instauração do
processo e subsequente remessa ao Senado Federal, para processar e julgar o Presidente
da República, nos termos dos art. 51, inciso I; art. 52, inciso I e art. 86, caput da
Constituição da República, visando à suspensão das funções presidenciais e ao
julgamento definitivo do impeachment, com a prolação de decisão condenatória e
consequentes destituição do acusado do cargo de Presidente da República e inabilitação
para a função pública pelo prazo de oito anos, conforme os arts. 52, parágrafo único, e
86 da Constituição da República e os artigos 15 a 38 da Lei nº 1.079, de 10 de abril de
1950 e de acordo com o objeto adiante delimitado em tópico introdutório específico.

b) Uma vez que os Autores e as Autoras da presente denúncia procedem ao seu respectivo
protocolo em formato virtual, com assinaturas de apenas parte dos Denunciantes
certificadas eletronicamente, na forma da Medida Provisória nº 2.200-2/2001 e, assim
reconhecida sua autenticidade para a finalidade constante no art. 218, §1º, do
Regimento Interno da Câmara dos Deputados; e considerando as excepcionais
circunstâncias atualmente vivenciadas em face da pandemia da COVID-19, que não
permitem deslocamentos para certificação digital, reconhecimentos de firma em
cartórios nem mesmo a autenticação presencial de documentos (conforme Ato da Mesa
Diretora nº 118/2020, a impossibilitar o comparecimento individual às dependências
da Câmara dos Deputados), requerem a validação presencial ou eletrônica posterior das
assinaturas restantes, sem que haja prejuízo ao andamento da denúncia, tampouco
impugnação da autoria daqueles que suprirão os requisitos formais tão logo seja
restabelecida a normalidade dos serviços cartoriais e de secretarias referenciados;
c) a juntada dos documentos anexos como elementos de comprovação da prática dos
crimes de responsabilidade narrados na presente denúncia;
d) a produção de prova testemunhal, mediante a oitiva das pessoas indicadas a seguir, as
quais deverão ser intimadas para tal finalidade em conformidade ao que dispõe o artigo
18 da Lei n. 1.079/50, sem prejuízo da produção de outras provas de qualquer natureza,
visando à comprovação dos fatos ora apontados como ensejadores de crimes de
responsabilidade, conforme o art. 16 da mesma lei;

ROL DE TESTEMUNHAS

1. DEBORAH DE MAGALHÃES LIMA


2. EDMAR BATISTELA TONELI
3. ELIESER DE ALMEIDA QUEIROZ
4. ENÉIAS DA ROSA
5. GULNAR AZEVEDO E SILVA.

Pedem deferimento.
Brasília, 14 de julho de 2020.
MAURO DE AZEVEDO MENEZES
DÉBORA DUPRAT
SILVIO LUIZ DE ALMEIDA
KENARIK BOUJIKIAN
CEZAR BRITTO
CAROLINE PRONER
JUVELINO STROZAKE
LUIZ HENRIQUE ELOY AMADO
PAULO TAVARES MARIANTE
JOSÉ EYMARD LOGUERCIO
MARCO AURÉLIO DE CARVALHO
CAMILA GOMES DE LIMA
JOÃO GABRIEL PIMENTEL LOPES
SHEILA SANTANA DE CARVALHO
WILSON RAMOS FILHO
MARCELISE DE MIRANDA AZEVEDO
MONYA RIBEIRO TAVARES
GUSTAVO TEIXEIRA RAMOS
VERA LÚCIA SANTANA ARAÚJO
FÁBIO KONDER COMPARATO
FRANCISCO BUARQUE DE HOLANDA
FREI BETTO (CARLOS ALBERTO LIBANIO CHRISTO)
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
MARIA VICTORIA BENEVIDES SOARES
LUIZ GONZAGA MELLO BELLUZO
FERNANDO GOMES DE MORAIS
JUCA KFOURI JOSÉ CARLOS AMARAL KFOURI
GREGORIO BYINGTON DUVIVIER
WALTER CASAGRANDE JUNIOR
EDUARDO ALVARES MOREIRA
PADRE JÚLIO RENATO LANCELLOTTI
JOÃO PEDRO STÉDILE
SÉRGIO NOBRE
IAGO MONTALVÃO OLIVEIRA CAMPOS
CARMEN HELENA FERREIRA FORO
ATNÁGORAS TEIXEIRA LOPES
DENISE CARREIRA SOARES
JOSE ANTONIO MORONI
IÊDA LEAL DE SOUZA
SONIA GUAJAJARA
DANIEL SEIDEL
ROMI MÁRCIA BENCKE
JOSÉ ARBEX JR.
LUIZ BERNARDO PERICÁS
ERIC NEPOMUCENO
ANA MERCES BAHIA BOCK
DIRA PAES (ECLEIDIRA MARIA FONSECA PAES)
OLIVIA BYINGTON
VERA HELENA BONETTI MOSSA
LUCÉLIA SANTOS
ANA LUIZA CASTRO
CASSIO LUIZ DE FRANÇA

GUSTAVO LEMOS PETTA


HELOISA BUARQUE DE ALMEIDA
HERSON CAPRA FREIRE
JOÃO VICENTE GOULART
LIA ZANOTTA MACHADO
MILTON RODRIGUES LEITE
WAGNER DE MELO ROMÃO
ADEMAR ARTHUR CHIORO
DIRCEU BRAS APARECIDO BARBANO
JOSE HERMES DE AZEVEDO JUNIOR
MAMEDE SILVA JUNIOR
SANDRA MARIA SALES FAGUNDES
LAURA FEUERWERKER
ANA PAULA DO REGO MENEZES
ABRAAO COSTA RODRIGUES
ADA CARVALHO
ADÍLIA NOGUEIRA SOZZI
ADILSON DIAS DE OLIVEIRA
ADROALDO QUINTELA SANTOS
ÁGUA DOCE - SERVIÇOS POPULARES
AIRTON CANO
ALAN EDUARDO ALVES JUNIOR
ALCYON VICENTE PINTO DAS COSTA JUNIOR
ALDENOR MARCELINO DE LIMA
ALDO SILVA ARANTES
ALECSANDRA ALVES DOS SANTOS
ALEXANDRA FERNANDES DO AMARAL MARQUES
ALEXANDRE BRASIL CARVALHO DA FONSECA
ALEXANDRE OLIVEIRA TELLES
ALÉXIA PRESTES AIRES
ALINDAI SANTANA PEREIRA
ALINE PINTO BABINSCK DA SILVA
ALUISIO FIRMIANO DA SILVA JUNIOR
ALVARO JUSCELINO LANNER
AMABILE DE OLIVEIRA CORDEIRO
AMANDA GOMES CORCINO
AMANDA RIBEIRO NASCIMENTO GUARANÁ
AMARILDO PEDRO CONCI
AMARO MICHEL BISSONHO CALIL
AMILTON ANDRADE SANTOS JUNIOR
ANA CRISTINA PEREIRA DA SILVA
ANA FLÁVIA FELIX COSTA
ANA LÚCIA RAMOS PINTO
ANA PAULA FERREIRA DE MELO
ANA PAULA MILA VASQUES SOTO
ANA PAULA SILVEIRA PEREIRA
ANA PITTA
ANA SIMONE DAS DORES ROCHA
ANDRÉ BUONANI PASTI
ANDRÉA CRISTINA TEODORO
ANDRÉA MARIA RITTER
ANDREA MATOS DOS SANTOS
ANDREIA CRISTIANA SOARES
ANDREIA CRIVARO
ANDRESSA DE SOUZA ALVES
ANDRESSA DONADIO DELBONS
ANE MORAES PEREIRA
ANGELA CRISTINA SANTOS GUIMARAES
ANGÉLICA CRISTINA STRAPASSON
ANGELINA DE OLIVEIRA COSTA
ANNA JULIA RODRIGUES
ANTONIA RODRIGUES CORREA DE PAULA
ANTONIETA LUISA COSTA
ANTONIO BARBOSA DOS SANTOS
ANTÔNIO DA SILVA DORIA SOBRINHO (ANTÔNIO DORIA)
ANTONIO FERREIRA DUARTE
ANTÔNIO GONÇALVES FILHO
ANTONIO GUSTAVO LOPES
ANTÔNIO LUIZ BATTISTI
ANTONIO PINHEIRO DO NASCIMENTO
ANTÓNIO VALDEMIR ALMEIDA MARQUES
APARECIDA ELVIRA TONETTO ZANONI
APARECIDO DONIZETI DA SILVA
ARANY MONTEIRO ALVES
ARILSON WUNSCH
ARNALDO ANTONIO DA SILVA
AROLDO CAREAGA
ARTUR NOGUEIRA FELLOWS
ASSOCIAÇÃO RIBEIRINHA QUILOMBOLA FAMÍLIA BISPO
ASSOCIAÇÃO RIBEIRINHA QUILOMBOLA FAMÍLIA BISPO
ATILIO BERGAMINI JUNIOR
ATNÁGORAS TEIXEIRA LOPES
AYALA FERNANDA SANTERIO
BEATRIZ ALVES DE PAULA
BELMIRO APARECIDO MOREIRA
BENONES COSTA DOS SANTOS
BETINA DURANTE
BRÍGIDO ROLAND RAMOS
BRISA SILVA BRACCHI
BRUNO DROZDEK MANEA
CAIO LUIZ TAVARES FREIRE JARDIM
CAMILA CRISTINA LANES DA SILVA
CAMILA SANCHES GUIMARÃES
CARLA DE CARVALHO
CARLA HENRIQUE DA SILVA
CARLA ROCHA PAVÃO
CARLOS ALBERTO GABIATTO
CARLOS ALBERTO SILVA XAVIER
CARLOS ALVES DE LIMA
CARLOS DANIEL DUTRA
CARLOS DE SOUZA
CARMEM SILVIA FERREIRA SANTIAGO
CARMEN LUCIA RIBEIRO PEREIRA
CARMEN SILVIA MARIA DA SILVA
CÁSSIA BARBOSA REIS
CÁSSIA LIBERATORI
CECILIO MOURA LAGO
CELI NELZA ZULKE TAFFAREL
CÉLIA GONÇALVES SOUZA
CELIO ANTONIO DE BARROS NORI
CELONI CHAPPUIS
CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES
CENTRO ACADÊMICO DE JORNALISMO VLADIMIR HERZOG
CIRLENE ORNELAS DE GODOY
CIRO CALEB BARBOSA GOMES
CLARICE DE FREITAS SILVA ÁVILA
CLAUDIA CUNHA DE OLIVEIRA NERY
CLAUDIA DA SILVA COSTA MACHADO
CLAUDIA REGINA DOS SANTOS
CLAUDIA RIBEIRO DA CUNHA FRANCO
CLAUDIMIRA DAMASCENO BASTOS
CLAUDINEI DONIZETI CECCATO
CLAUDIO DA SILVA GOMES
CLAUDIO DE SOUZA MELLO
CLAUDIO LEITE LEAL
CLAUDIO MARQUES DA SILVA GONÇALVES
CLEIA ANICE PORTO
CLEIDE SILVA PEREIRA PINTO
CLEIDE
CLEONI BORTOLLI SALVIANO
CLEONICE FERREIRA RIBEIRO
CLEUNICE DA C ARAUJO
CLEUSA CALDEIRA
CLOVIS FRANCISCO DO NASCIMENTO FILHO
COLETIVO ALVORADA
COMISSÃO BRASILEIRA DE JUSTIÇA E PAZ – CBJP
COMISSÃO DOMINICANA DE JUSTIÇA E PAZ DO BRASIL
COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ DE SÃO PAULO
CONCEIÇÃO APARECIDA DE OLIVEIRA MARTINS
CRISTIANE MARRYAM DE MATOS QUIUMENTO
DAIANE ARAUJO LOPES
DALVA LUCIO DE OLIVEIRA
DAMIRES DOS SANTOS FRANÇA
DANIEL VIEIRA SEBASTIANI
DANIELLE DA SILVA SANTA BRÍGIDA
DANIELLE DE CASSIA FRANCO MOURA
DANILO ARAÚJO
DARCI FRIGO
DARCILENE SILVA SANTOS DE LIRA
DARCY DA SILVA COSTA
DARIO GIULIANO BOSSI
DAVI LESSA DO NASCIMENTO
DAVID GOMES LEAL
DAVID MARCOS DE SALLES
DEISE APARECIDA CAPELOZZA
DELIRIO FERREIRA BORGES
DENISE MOTTA DAU
DERMIO A FILIPPI
DEYVID SOUZA BACELAR DA SILVA
DOUGLAS HENRIQUE MONTEIRO DOS SANTOS
DOUGLAS MARTINS IZZO
DULEIMA CRESPO DE AZEVEDO
EDGAR COSTA SPERRHAKE
EDILENE NASCIMENTO DE MORAIS
EDISON MUNHOZ FILHO
EDIVALDO BISPO CARDOSO
EDIVALDO SANTANA SANTA RITA
EDIVANIA ZANARDO
EDNA AMADO NONATO
EDSON CARLOS ROCHA DA SILVA
EDSON RICARDO TAVARES DE MOURA
EDUARDA LIMA CORDIAKA
EDUARDO LIRIO GUTERRA
ELEONORA LISBOA MASCIA
ELESSANDRO SIQUEIRA VILETE
ELIANA BELLINI ROLEMBERG
ELIANA BELLINI ROLEMBERG
ELIANA BRASIL CAMPOS
ELIANA DA CRUZ LOPES
ELIANA MARIA DE MORAES
ELIDIANE DOS SANTOS MERCÊS
ELIESER DOMINGOS DE OLIVEIRA
ELISABETH GUASTINI
ELISANDRA GONÇALVES LIMA
ELIZABETH PARADELA DA SILVA
ELIZETE APARECIDA DE ALMEIDA BORELA
ELOY BRAVIM
EMANUEL GEORGE
EMANUEL MENDES TORRES
EMERSON MARCELO GOMES MARINHO
ÉMERSON SILVA SANTOS
ENÉIAS DA ROSA
ENIVALDO DA GAMA FERREIRA JUNIOR
ERIC BOMFIM FONTOURA
ÉRICA MEIRELES DE OLIVEIRA
ERIKA PARDAL LANHAS DE MORAES
ERIKA SURUAGY ASSIS DE FIGUEIREDO
ERINALDO ALCÂNTARA DE OLIVEIRA
ERNESTO YIUKI DOI
ERONIDES CASSIANO DA CUNHA
ESPAÇO QUILOMBOLA TETO ABERTO PINHÕES – EQTA.
EUCI ANA DA COSTA GONCALVES
Evandro Moura Dias
ÉVERTON SIMÃO LIMA
FABIANA KEFFRAAUS PINGE
FABIANO ELLER
FABIO AUGUSTO LINS
FABIO JEAN DA SILVA GONCALVES
FÁBIO LUCAS PESTILE
FABIO LUCAS PESTILE
FARNCISCO MANOEL DA SILVA
FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS NA AGRICULTURA FAMILIAR DE MINAS GERAIS
FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES EM EMPRESAS DE CRÉDITO DE SANTA CATARINA - FETRAFI-SC
FELIPE COLLAR BERNI
FELIPE DA SILVA
FERNANDA LOU SANS MAGANO
FERNANDO ANTONIO PEREIRA
FERNANDO JOSE CAMARGO
FERNANDO JOSÉ DE PAULA CUNHA
FERNANDO SAEGER
FLAVIA APARECIDA VEIGA
FLAVIA APARECIDA VEIGA
FLAVIO BEZERRA DA SILVA
FLÁVIO MIGUEL HENN
FLAVIO REZIN
FRANCISCA ELISABETE LOPES FRANCO
FRANCISCO ALANO
FRANCISCO ANTÔNIO DE SOUZA MARTINS
FRANCISCO CELSO CALMON FERREIRA DA SILVA
FRANCISCO CESAR MARIANO RODRIGUES
FRANCISCO DE ASSIS GOMES FILHO
FRANCISCO IRAILSON NUNES COSTA
FRANCISCO PEREIRA DOS SANTOS FILHO
FRANCISCO SALES VIEIRA
FRANCISCO TEIXEIRA DE ARAÚJO NETO
FRANCISCO WIL E SILVA PEREIRA
FRANKLIM LACERDA DA SILVA
FREDERICO GARCIA FERNANDES
GABRIELA RÊGO DE CASTRO SANTOS
GENALDI FERREIRA DA SILVA
GERALDO MÁRCIO PERES MAINENTI
GERLY LUCY MICELI
GERMANA DE SOUSA VASCONCELOS
GERVÁSIO FOGANHOLI
GETÚLIO VARGAS DE MOURA JUNIOR
GHEIDLLA JHEYNNATA MENDES NOGUEIRA
GILBERTO RIBEIRO DO NASCIMENTO
GILMAR GONÇALVES
GILMAR MOREIRA DE OLIVEIRA
GILSON KERLY MANDES PINHEIRO
GILTON ARAÚJO DE JESUS
GIOVANA FASOLO LANGE
GISLAYNE CRISTINA FIGUEIREDO
GIVALDO SANTOS SENA
GLAUBER CARDOSO SOARES
GLAUCIELE AVELAR DA SILVA
GLAUCO BARBIERI SANCHEZ
GUILHERME HRUBY
GYSELE FONSECA DA SILVA MARCHIOTTI
HELENO ARAUJO FILHO
HELIANA HEMETERIO DOS SANTOS
HENRIQUE SAMPAIO ARAÚJO
IDALMO DA PAIXÃO SANTOS ARAÚJO
IDISON JOSÉ DA SILVA
IGOR FERNANDO ACIOLY SILVA BAIMA
ILCE PIEROZAN
INDALÉCIO WANDERLEY SILVA
IONE BAPTISTA LINDGREN
IRINA CIBELE E SILVA
ISABEL VALENTIM DA SILVA
ISOLETE WICHINIESKI
IVAN OLIVEIRA DE JESUS
IVANIA PEREIRA DA SILVA TELES
IVETE ULRICH
IVONE MARIA DA SILVA
IVONETE ALVES CRUZ ALMEIDA
JACIARA DA SILVA SANTOS
JACIRA DUARTE DE OLIVEIRA
JADIR BAPHTISTA DE ARAÚJO
JAILSON DAMASECNO
JAIME MUNIZ MARTINS
JAIRO DE JESUS
JAIRO NOGUEIRA FILHO
JAKSON RIBEIRO SANTOS
JAMACY JOSÉ ALBUQUERQUE DE SOUZA
JANAINA BARBOSA DE OLIVEIRA
JANAÍNA MARQUES DE ABREU
JANDIR JOSÉ SELZLER
JANDIRA MAWUSÍ SANTANA
JANILSON SOUSA SANTOS
JANSEN NUNES ROSA
JARDEL NEVES LOPES
JEFFERSON LEANDRO TEIXEIRA DA SILVA
JEREMIAS FRANCISCO SANTOS MOURA
JERONIMO JOSE GOMES
JERONIMO MIRANDA NETTO
JESSY DAYANE SILVA SANTOS
JESUS ROSÁRIO
JOACIR PEDRO
JOANA D'ARC BARROS DE LIMA
JOÃO ALOISIO
JOÃO BATISTA XAVIER DA SILVA
JOAO DE DEUS DOS SANTOS
JOAO DE MOURA NETO
JOÃO GILBERTO MARTINS
JOÃO GOMES DE OLIVEIRA
JOÃO MARCIO MOULIN ROCHA
JOÃO MARCOS ANDRADE DA SILVA
JOÃO PIRES JÚNIOR
JOÃO RICARDO GUEDES
JOÃO SALINO DA SILVA NETO
JOÃO VICTOR TORRES DUARTE
JOAQUIM ALVES DOS SANTOS SILVEIRA
JOEL SANTANA DE SOUZA
JONAS BRAZ
JONATAS MOTA PAULINO
JORGE ALVES SCHELL
JORGE ANTONIO MARTINS OLIVEIRA
JORGE GUEDES DA SILVA
JORGE LUIS SANCHES DE SOUZA
JOSÉ ABRAÃO MATIAS MOURA
JOSÉ ADAILTON DE SOUZA
JOSÉ ADÃO NASCIMENTO FERNANDES
JOSÉ AGONALTO SANTOS
JOSÉ AMARAL BOAVENTURA
JOSE ANTONIO CONCEICAO
JOSE ANTONIO DE SOUSA
JOSÉ ANTONIO GARCIA LIMA
JOSÉ ANTONIO MORONI
JOSÉ BOEING
JOSÉ CARLOS RIBAS CAGIDO
JOSÉ CELSO CARDOSO JR
JOSE CLAUDECY SILVA BASTOS
JOSÉ DIONES LOPES BATISTA
JOSÉ EVANDRO ALVES DA SILVA
JOSÉ EVANTUIL DE SOUSA
JOSÉ FERNANDO DA SILVA
JOSE FRANCISCO BARRETO
JOSÉ FREIRE DA SILVA
JOSE ILTEMAR MARTINS
JOSÉ IRAN NUNES SOARES
JOSE JUNHO DA COSTA
JOSÉ LAERCIO PINTO DE OLIVEIRA
JOSÉ LAURINDO ALVIM
JOSÉ MARIA DE ALMEIDA
JOSÉ MÁRIO BARBOSA DA COSTA
JOSE NOGUEIRA FILHO
JOSE RIBAMAR DE LIMA
JOSÉ ROMUALDO NETO
JOSE TADEU PEIXOTO DA COSTA
JOSÉ THIAGO PINTO MOREIRA
JOSE VALMIR BRAZ
JOSÉ VYTOR MOGNON SILVA
JOSETE MARIA CANGUSSÚ RIBEIRO
JOSIRENE CUSTÓDIO CÂNDIDO
JOSSIER BOLEÃO
JOVITA JOSÉ ROSA
JUCELE DEVOS MARTINS
JULIANA DE CARVALHO CORDEIRO
JULIANO MEDEIROS
JULIMAR ROBERTO DE OLIVEIRA NONATO
JULIO CESAR FÉLIX DOS SANTOS
JULIO FRANCISCO CAETANO RAMOS
JUVENIL NUNES DA COSTA
KARINA BERNARDES DE OLIVEIRA RIBEIRO
KARINE DE OLIVEIRA GONÇALVES
KATIA CILENE DA SILVA
KEILA MACHADO FARIA
KENNEDY JUSTINO ALFREDO
KLEYTTON GUIMARÃES MORAIS
LACY DA SILVA BANDEIRA
LAEL MARTINS NOBRE
LAURA MOZENA MARINS
LAYRANE MAYARA LINO SANTOS
LAZARO SANTANA CARVALHO
LEILA CRISTINA PILGER HERMES
LEOCIR MORETTO
LEONARDO HENRIQUE FRETES BARBIERI
LEONARDO LÉGORA DE ABREU
LEONARDO PERICLES VIEIRA ROQUE
LEONEL QUERINO DA SILVA NETO
LEONETE MARÍA SPERCOSKI RIBAS
LEONICE TANIA PEREIRA
LETÍCIA MAGALHÃES FERNANDES
LETÍCIA PUSSO DA SILVA
LETÍCIA RADDATZ
LICIÊ IASMIN HENCKER SCOLARI
LIGIA ARNEIRO TEIXEIRA DESLANDES
LILIAN PARAGUAI
LISIANE KISNER SILVEIRA TORRES
LÍVIA GOMES TERRA
LIZEU MAZZIONI
LORENA DE OLIVEIRA ELIAS
LOURIVAL REIS JÚNIOR
LOURIVALDO ROHLING SCHÜLTER
LUCAS ALVES DE MELO
LUCAS IAGO MOURA DA SILVA
LUCAS MENDES DE BRITO
LUCIA HELENA C DE SOUZA
LUCIANA BARBOSA DE OLIVEIRA SANTOS
LUCIANA VIEIRA BELÉM
LUCIANO FERREIRA DE OLIVEIRA
LUCIANO LEITE SANTOS
LUCIENE DE MATOS SILVA
LUCIMAR RODRIGUES DOS REIS
LUCINEIDE VARJÃO SOARES
LUIS FERNANDO NOVOA GARZON
LUIS PAULO VALENTE
LUIS VENÂNCIO COELHO VIEIRA
LUIZ ALBERTO MONTALVÃO MARANGON
LUIZ CARLOS GABAS
LUIZ CARLOS RIBEIRO
LUIZ CARLOS VIEIRA
LUIZ CEZAR SCHORNER
LUIZ DA ROCHA CARDOSO
LUIZ GONZAGA LOURENÇO DE FIGUEIREDO
LUÍZA BATISTA PEREIRA
LUIZA DE FATIMA DANTAS DE SOUZA
LUIZA DE FÁTIMA DANTAS DE SOUZA
MAGALY LUCAS FAGUNDES
MAGNA SOARES OLIVEIRA DOMINGOS FERREIRA
MANOEL BRITO DE SOUZA
MANOEL RAMOS DA SILVA
MANOEL VAZ DE LIMA
MANUEL ROSA BUENO
MARA NEIDE FERREIRA LINHARES HORA
MARCELO DIAS
MARCELO RENATO FIORIO
MARCELO RODRIGUES DA SILVA
MÁRCIA ABRÃO LACERDA
MARCIA ANGELITA TIBURI
MÁRCIA HELENA CARVALHO LOPES
MARCIA MARIA JUCÁ DOS SANTOS
MÁRCIA MARIA MENENDES MOTTA
MÁRCIA MARIA RODRIGUES DA SILVA
MARCIO CESÁRIO TELLES
MARCIO LISIAS BARONE
MARCIO MARIO DE FARIA
MARCIO MAURI KIELLER GONCALVES
MARCO ANTONIO MITIDIERO JUNIOR
MARCO ANTONIO SANTOS PEREIRA
MARCO AURÉLIO BARBOSA DA SILVA
MARCOS ANDRÉ MIRANDA ALVARENGA
MARCOS AURÉLIO HARTUNG
MARCOS FELIPE NASCIMENTO TEIXEIRA
MARCOS GUILHERME ROGALSKI
MARCOS LUIZ
MARCOS MENDES RIBEIRO
MARCOS NASCIMENTO AFONSO
MARCOS VINICIUS BERNARDO DE MELO
MARGARETH ALVES DALLARUVERA
MARIA CATARINA FERRARI LUCAS DE OLIVEIRA
MARIA DA CONCEIÇÃO COSTA
MARIA DA CONCEIÇÃO DANTAS MOURA BEZERRA
MARIA DA PAZ SILVA PEREIRA
MARIA DA PENHA SILVA E SILVA
MARIA DANTAS DE MELO
MARIA DAS GRAÇAS SILVA MAIA
MARIA DO LIVRAMENTO MESQUITA DE SENA
MARIA EDUARDA QUIROGA PEREIRA FERNANDES
MARIA EMILIA MEDEIROS DO NASCIMENTO
MARIA EUZEBIA DE LIMA
MARIA GIZELIA DA ROCHA FONSECA
MARIA GÓES DE MELLO
MARIA GÓES DE MELLO
MARIA IZABEL MONTEIRO LOURENÇO
MARIA LUIZA PEREIRA GONÇALVES
MARIA MACHADO
MARIA MADALENA NUNES
MARIANA RODRIGUES DE FRANÇA PIRES
MARILDA DOS SANTOS LIMA
MARILE TEIXEIRA SATURNINO
MARINA BLANK VIRGILIO DA SILVA
MARINA PERSEGANI AMARAL
MARIO SERGIO ZUNARELLI
MARISA PEREIRA GOES DE ARAÚJO
MARIZAR MANSILHA DE MELO
MARLENE FEMININO PAVANI
MARLENE SILVA DE MIRANDA
MARTA BERNARDINO SENA DA SILVA
MARTA REGINA LOPES VIEIRA TEIXEIRA
MARTINHO AFONSO DA CRUZ SOUZA
MARTINHO ANDRÉ RODRIGUES DE OLIVEIRA
MAURICIO HUERTAS
MAX JOSÉ NEVES BEZERRA
MAX PEREIRA ZILLER
MICHELA KATIUSCIA CALAÇA ALVES DOS SANTOS. RG 1852642 SSP RN
MIKICELE DJALMA MARCEL
MILENA CRISTIANA CASTRO OLIVEIRA MASIERO
MILENA DA COSTA FRANCESCHINELLI
MILTON ALVES JUNIOR
MILTON NUNES DE BRITO
MIRIAM NADIM ABOU-YD
MIRIAM OLIVEIRA DE ANDRADE
MÔNICA CORRÊA DOS SANTOS
MÔNICA DE ALKMIM MOREIRA NUNES
MORGAN PEREIRA ALVES
MOVIMENTO DE MULHERES DO NORDESTE PARAENSE
MURYELL TEIXEIRA PAIL ALVES
NAYARA TEIXEIRA MAGALHAES
NEIDE MARIA RODRIGUES
NEILA GOMES DOS SANTOS
NELSON MORELLI
NICOLAU NERI GOMES
NIVALDO ALVES DA SILVA
NOEMI DE ANDRADE
NÚBIA DIAS COSTA CAETANO
ODARA INSTITUTO DA MULHER NEGRA
ODILON PEDRO DALAGNOL
ODIRLEI VIEIRA DA FONSECA
OERTEZ BARBOZA FILHO
OLGA FREITAS
OLIMPIO ALVES SANTOS
ORLANDO GUILHON
ORLANDO SOARES BEZERRA
ORLANDO SOUZA DOS SANTOS
OSVALDO DE JESUS PASOTTO
OSWALDO LUIS CORDEIRO TELES
OTON PEREIRA NEVES
OVÍDIO JOSE ALVES DE ANDRADE
PABLO CAMPOS DE OLIVEIRA
PASCHOALI CONCORDIA NETO
PASTORAL OPERÁRIA na Diocese de Volta Redonda/Barra do Pirai.
PAULA PROENÇA
PAULINO RODRIGUES DE MOURA
PAULO ANTONIO LAGE
PAULO APARECIDO SILVA CAYRES
PAULO BENICIO VICENTE
PAULO CÉSAR CARBONARI
PAULO CESAR COPELO DOS SANTOS
PAULO CESAR LOURENÇO
PAULO DE TARSO GUEDES BRITO COSTA
PAULO DOS REIS BRAGA
PAULO HENRIQUE PASTORELLI
PAULO JORGE SALGUEIRO BARATA
PAULO JOSÉ DOS SANTOS
PAULO ROBERTO DA SILVA
PAULO ROBERTO PEREIRA GOMES
PAULO ROBERTO PEREIRA ROCHA
PAULO ROGÉRIO DE SOUZA OLIVEIRA
PAULO SERGIO CARDOSO DA SILVA
PAULO SÉRGIO DA SILVA LIMA
PAULO TADEU BARAUSSE
PAULO TAVARES MARIANTE
PAULO VALENÇA JÚNIOR
PEDRO ALESSANDRO MACIEL DOS SANTOS
PEDRO BATISTA FRAGA HENRIQUES
PEDRO BLOIS TABAJARA ROSÁRIO
PEDRO CESAR BATISTA
PEDRO ERNESTO SILVA LAMEIRA
PEDRO GABRIEL DOS SANTOS PEREIRA
PEDRO LUIS TOTTI
PEDRO RODRIGUES HAMUDE
PETRA SILVIA PFALLER
PHELIPE DA SILVA COELHO
RACHEL MORENO
RAFAEL RODRIGUES DA SILVA
RAFAEL SANTOS OLIVEIRA
RAFAEL SOARES DE OLIVEIRA
RAFAELA DA SILVA ALVES
RAFANELE ALVES PEREIRA
RAFANELE ALVES PEREIRA
RAIMUNDO NONATO FEITOSA MONTEIRO
RAIMUNDO SOUZA SUZART LIMA
RAIMUNDO VIEIRA BONFIM
RAIMUNDO VIEIRA BONFIM
RAQUEL NERY LIMA BEZERRA
REGINALDO DE FREITAS SOUZA
RENATA MIELLE
RENE MUNARO
RENIER EMANUEL ANTOINETTA GERTRUDIS PARREN
RICARDO DA SILVA LEAL
RICARDO GONÇALVES BARRETO
RICARDO SALGADO CARVALHO
RILDA MARIA ALVES
RITA CORRÊA BRANDÃO
RITA DE CASSIA LIBERATORI
RITA DE CASSIA RODRIGUES
RITA DE CÁSSIA SANTOS DE OLIVEIRA
ROBERT DAMASCENO RODRIGUES
ROBERT DAMASCENO RODRIGUES
ROBERTO FERDINAND
ROBERTO LUQUE DE SOUSA
ROBERTO PIANA
ROBERTO SILVA DOS SANTOS
ROBSON ANSELMO
ROBSON HONORATO DE SANTANA
ROBSON SÁVIO REIS SOUZA
ROBSON TERRA SILVA
RODOLFO DE RAMOS
RODRIGO BARBOSA DE FREITAS
RODRIGO SOUZA SIQUEIRA JÚNIOR
RODRIGO SOUZA SIQUEIRA JÚNIOR
RODRIGO VILHENA RABELO
ROGERIO BRAZ DE OLIVEIRA
ROGERIO DE ALMEIDA SALVADOR
ROGERIO DOS REIS SOUZA BRAGA
ROGÉRIO MANOEL CORRÊA
ROMMEL ALTINO MENDES FONSECA BOTAFOGO
RONALDO CABRAL TAVARES
RONALDO DE OLIVEIRA
RONEY ILIDIO DE OLIVEIRA
RONI DA SILVA OLIVEIRA
ROSA HELENA LEMES OLIVEIRA MARTINS
ROSA MARIA REIS
ROSALVINO SOUZA GAMA
ROSANGELA DA SILVA SOUZA
ROSELAINE DIAS DA SILVA
ROSEMARY MANOZZO
ROSILENE FATIMA TIBURSKI SCOPEL
ROSILENE TORQUATO DE OLIVEIRA
ROZANA FONSECA BARROSO DA SILVA
RUBEM ANTUNES BRASIL
RUBIA IRENE GOMES ALVES
RUI COSTA PIMENTA - Presidente da Executiva Nacional do Partido da Causa Operária. Brasileiro
SALOMÃO BARROS XIMENES
SAMARA REJANE DOS SANTOS ALENCAR
SAMIRA RODRIGUES MIGUEL
SAMUEL CALIXTO DE MOURA
SANDRA LÚCIA COUTO BITTENCOURT
SANDRA MAURA SAMPAIO RIBEIRO
SANDRO ALEX DE OLIVEIRA CEZAR
SANDRO ALEX DE OLIVEIRA CEZAR
SAULO XAVIER DE BRITO AMORIM
SEBASTIÃO JOSÉ DOS SANTOS
SEBASTIAO WAGNER BERRIEL
SEEB PATOS DE MINAS E REGIÃO
SELIM ANTONIO DE SALLES OLIVEIRA
SENILDA LEOPOLDINA GOMES DA SILVEIRA
SERGIO ABBADE PINTO NETO
SERGIO BORGES CORDEIRO
SERGIO LUIS MARCONDES CARASSO
SERGIO MAGALHÃES GIANNETTO
SERGIO RICARDO ANTIQUEIRA
SÉRGIO RONALDO DA SILVA
SÉRGIO SÉRVULO DA CUNHA
SEVERINO FELIX DE LIMA
SEVERINO RAMOS DA SILVA FILHO
SIDNEY ARAÚJO DOS SANTOS
SILVANILDE DA CONCEIÇÃO SANTOS
SILVIA MARQUES DANTAS DE OLIVEIRA
SILVIA RIBEIRO DA SILVA
SILVIO EXPEDITO DA SILVA JUNIOR
SIM
SIMÃO ZANARDI FILHO
SIMONE BARBOSA
SINDICATO DOS BANCÁRIOS DE TRABALHADORES DO RAMO FINANCEIRO DE DOURADOS E REGIÃO MS
SINDICATO DOS ENGENHEIROS DO ESTADO DE RONDÔNIA - SENGE/RO
SINDICATO DOS SERVIDORES MUNICÍPAIS DE MADALENA
SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS NA AGRICULTURA FAMILIAR DE ESPERA FELIZ
SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS AGRICULTORES E AGRICULTORAS FAMILIARES DE RUSSAS
SINDIPREV SERGIPE
SINDUSPUC
SINTERN
SINTTEL/RS
SOLANGE DA SILVA BANDEIRA
SOLANGE RIBEIRO VIANA
SONIA DA SILVA ARAUJO
SÔNIA GOMES DE OLIVEIRA
SUSANA SALOMÃO PRIZENDT
SUTRAF-AU
SUZANE TEIXEIRA BARROS
SUZELEY KALIL
TADEU CARDOSO DA PERCIUNCULA
TALITA DOS SANTOS COIMBRA SALES
TÂNIA IZOLINA CHUPEL ZENE RIBEIRO
TEANY MOREIRA
TEZEU FREITAS BEZERRA
THIAGO SANT´ANNA MARTINS
THOMAZ FERREIRA JENSEN
TIAGO DIAS DAMACENO
UBIRACI PINHO
VALDECIR JOSE CANTON
VALDIR APARECIDO MESTRINER
VALÉRIA CRISTINA SANTOS PEREIRA
VALMIR DE LEMOS
VANDA MARIA MARTINS SOUTO
VANDERLEI DALPIAZ
VANESSA DOMINGOS
VANESSA FERREIRA DOS SANTOS
VANI POLETTI
VANIA MARIA MACHADO
VERA DAISY BARCELLOS COSTA
VICENTE OLIVEIRA DA SILVA JUNIOR
VICTOR NARCISO DOS REIS
VICTÓRIA GUILHERME PEREIRA SILVEIRA
VILANI DE SOUZA OLIVEIRA
VILMAR ZOLLNER
VITOR LUIZ DA SILVA CARVALHO
VITOR MOTA GOMES DA CRUZ
WALBER CAVALCANTI FERNANDES
WALLACE FREITAS RODRIGUES
WALTER TOMAZ FOGAÇA DE OLIVEIRA
WASHINGTON PEREIRA DA SILVA
WATOIRA ANTONIO DE OLIVEIRA
WELLINGTON PHILLIP DE OLIVEIRA MAIA
WILIAN FRAGA GUIMARÃES
WILLIAM FREDERICO MARQUES SANTOS
WILLIAN JESUS DOS SANTOS
WILSON RAMOS FILHO
WLADIMIR CERVEIRA DE ALENCAR
YASMIM LIANDRA DA SILVA NASCIMENTO
YURI STEFFANN BORGES GOLFETTO
YVES LESBAUPIN
ADÉLIA OLIVEIRA DE FARIAS
ADEMAR ARTHUR CHIORO
ADRIÁN PABLO FANJUL
ADRIANA RIBEIRO FRANZIN
ALZIRA DE OLIVEIRA JORGE
ANA CAROLINA MARINHO DANTAS
ANA DO AMARAL MESQUITA
ANA LUCIA PEREIRA
ANA PAULA CAVALCANTI SIMIONI
ANA PAULA DE LIMA
ANAMARIA AZEVEDO FIGUEIREDO DE SOUZA
ANDRE BONIFACIO
ANDRÉ J.A VILLAS BÔAS
ANDRÉIA GALVÃO
ANNA PAULA UZIEL
ANTONIO VIRGILIO BASTOS
APARECIDA LINHARES PIMENTA
ARILSON SOARES DA SILVA
ARTIONKA MANUELA GÓES CAPIBERIBE
BEATRIZ BORGES BRAMBILA
BEATRIZ RAPOSO DE MEDEIROS
CARINA VITRAL COSTA
CARLA PIRES DE CASTRO
CARLOS EDUARDO RITTL FILHO
CARLOS HENRIQUE LATUFF DE SOUZA
CARLOS ORLETTI
CASSIO LUIZ DE FRANÇA
CELSO ZILBOVICIUS
CHRISTINA OSWARD
CLARISSA MAGALHÃES
CLARISSA MAGALHÃES
CLÁUDIA REGINA LAHNI
CLÁUDIA REGINA LAHNI
CLAUDIO ADALBERTO ADÃO
CRISTINA SILVA
DANIEL ILIESCU
DANIEL SOUZA BARROSO
DANIEL TOJEIRA CARA
DANIELA AUAD
DANIELA REGINA CONDE TORRES
DAPHNE RATTNER
DÉBORA CRISTINA BERTUSSI
DIRA PAES (ECLEIDIRA MARIA FONSECA PAES)
DIVA LUCIA GAUTERIO CONDE
DORA APARECIDA MARTINS
EDNA MARIA SEVERINO PETERS KAHALE
ELAINE MARIA GIANNOTTI
ELIANE CRUZ
ELISA ZANERATTO ROSA
ELISABETE GONÇALVES ZUZA
ERNESTO PICCOLO NETO
EUGÊNIO JOSÉ ZOQUI
FABIANA CARVALHO CARNEIRO DINIZ [email protected]
FRANCISCO JOSE MACHADO VIANA
FRANKLIN SIQUEIRA
GABRIELA SAMPAIO
GIBRAN TEIXEIRA BRAGA
GISELE FIGUEIREDO SILVA
GRACE VANDERLEY DE BARROS CORREIA
GUILHERME SILVA PIRES DE FREITAS
GUSTAVO LEMOS PETTA
HERSON CAPRA FREIRE
IOLETE SILVA
ISABEL CRISTINA RIBEIRO DA CUNHA FRONTANA CALDAS
ISADORA ZUZA DA FONSECA
ISMAEL DE ALMEIDA CARDOSO
JANE FELIPE BELTRÃO
JANETE MARIA GÓES CAPIBERIBE
JAYME PANERAI ALVES
JOANA DOMINGUES VARGAS
JOÃO LUIZ SILVA FERREIRA
JORGE HARADA
JOSÉ MARCOS THALENBERG
JUANA NUNES PEREIRA
JULIANA SCHIEL
JUREUDA DUARTE GUERRA
KIRA SANTOS PEREIRA
LAÍZ BODANSKY
LENORA CANINI AVILA
LILIANE ALCÂNTARA DE ABREU
LILIANE ALCÂNTARA DE ABREU
LUANE NEVES SANTOS
LUCÉLIA SANTOS
LUCIA HELENA REILY
LUCIANA BOITEUX
LUDIMILLA SANTANA TEIXEIRA
LUIS CARLOS DE OLIVEIRA CECILIO
LUIZ FERNANDO DE CAMARGO RODRIGUES
LUIZ FERNANDO DIAS DUARTE
LUIZ LINDBERGH FARIAS FILHO
Avenida Marques de São Vicente
1992- 1993.
LUMENA ALMEIDA CASTRO FURTADO
MARAÍSA DE MELO RIBEIRO
MARCELO BRITO DA SILVA
MARCELO GIATTI TIEPPO ( JORNALISTA)
MARCELO NUNES SEGURADO
MARCO ANTONIO MANFREDINI
MARCOS ANTONIO DE OLIVEIRA TEIXEIRA
MARCOS ANTONIO MACHADO MELO
MARCOS RIBEIRO FERREIRA
MARI ABREU BARROS
MARIA ADRIANA ALVES DANTAS
MARIA CHRISTINA BARBOSA VERAS
MARIA CLARA SALGADO SOLBERG (VÔLEI)
MARIA CRISTINA MARQUES
MARIA DA GRAÇA MARCHINA GONÇALVES
MARIA DAS DORES DO ROSÁRIO ALMEIDA DURICA ALMEIDA"
MARIA DE FATIMA BOENO FISCHER
MARIA GABRIELA JAHNEL DE AAUJO
MARIA LUÍSA LEITE SILVA
MARIA LUIZA HEILBORN
MARIA ZIENHE CARAMEZ DE CASTRO
MARIANA ARANTES NASSER
MARIANA LIMA
MARIANNA DIAS DE SOUZA
MARLUI NOBREGA MIRANDA
MARTA DE SOUZA SOBRAL
MARTA ELIZABETE DE SOUZA
MAURO GUIMARÃES PANZERA
MILTON DO SANTOS BICALHO
MILTON RODRIGUES LEITE
MITSUKO ANTUNES
MOACYR MINIUSSI BERTOLINO
NAYARA LÚCIA SOARES DE OLIVEIRA
NEUSA MARIA BARBOSA
ODAIR FURTADO
OLIVIA BYINGTON
PATRÍCIA PONTES ZAIDAN
PATRÍCIA VALIM
PAULA VILLELA BARRETO BORGES
PEDRO LUCAS GORKI AZEVEDO DE OLIVEIRA
PEDRO MEIRA MONTEIRO
RAIZEL RECHTMAN
RAQUEL MEDONÇA MARTINS
RENATA BORTOLETTO SILVA
RENATA DEL MONACO
RITA MARIA DE MIRANDA SIPAHI
RONALDO RÔMULO MACHADO DE ALMEIDA
ROSANGELA DE JESUS SILVA
ROSE SATIKO GITIRANA HIKIJI
ROSEMRIE ANDREAZZA
RUBENS ARNALDO REWALD
SAMIRA EL SAIFI
SARAH FELDMAN
SENILDE ALCÂNTARA GUANAES
SILVIO HOTIMSKY
SONIA NUSSENZWEIG HOTIMSKY
SUSANA MARA DA SILVA LIRA (DIRETORA DE CINEMA)
SUZEL ANA REILY
TALIRIA PETRONE SOARES
TULIO FRANCO
ULIANA DIAS CAMPOS FERLIM
VERA HELENA BONETTI MOSSA
VERA LÚCIA SANTANA ARAÚJO
VERONICA FABRINI MACHADO DE ALMEIDA
VINÍCIUS AUGUSTUS FERNANDES ROSA CASCONE
VIRGÍNIA GOMES DE BARROS E SILVA
VITOR MAURICIO RUIZ GUEDES JORNALISTA
WADSON NATHANIEL RIBEIRO
WAGNER DE MELO ROMÃO
WALTER CASAGRANDE JUNIOR
WANDA MARIA JUNQUEIRA AGUIAR
WLADIMIR DE BRITO SPINELLI
YANN EVANOVICK LEITÃO FURTADO
YARA DE NOVAES GOMES
ZÉLIA AMADOR DE DEUS
ZENAIDE MAIA CALADO PEREIRA DOS SANTOS
ZULEICA CAMPAGNA
ADAIR COELHO BARCELOS - Professor. RG 1003407952 - Rua José Maia Filho
ALEXANDRO CARDOSO
ANA LUIZA DE MESQUITA GARCIA DIAS
ANA MARIA FERREIRA HAASE
ÂNGELA REGINA ELTZ DE LIMA
ANGELO FRANCISCO DOS SANTOS
ANTONIO ELPIDIO DA SILVA
Atílio Dengo
BEATRIZ CARLESSO
BEATRIZ S. B. BRACHER
BENEDITO TADEU CÉSAR
BERNARDO MANÇANO FERNANDES - Universidade Estadual Paulista - UNESP
CARLINDA MARIA FISCHER MATTOS – aposentada
CARLOS FREDERICO MARÉS DE SOUZA FILHO
Carolina Rodrigues
CERES REGINA MOREIRA CUNHA
CLAUDIA CANTO DE LUCENA
COMITÊ EM DEFESA DA DEMOCRACIA E DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
COMITÊ GOIANO DE DIREITOS HUMANOS DOM TOMÁS BALDUINO
CRISTIANO NICOLA FERREIRA
DALVA MARIA PEREIRA PADILHA
ELEONORA ALLGAYER CANTO DE LUCENA
ERIC NEPOMUCENO
FÁBIO KONDER COMPARATO
FERNANDO GOMES DE MORAIS
FLÁVIO GILBERTO TRESCASTRO UEBEL – bancário
FREI BETTO (CARLOS ALBERTO LIBANIO CHRISTO)
HÉLIO GOMES PINHEIRO FILHO
INSTITUTO JOAO GOULART – IJG
JANINE FERREIRA HAASE
JOSÉ ARBEX JR
LAURA CANTO DE LUCENA
LEDA MARIA PAULANI
LETÍCIA SOUZA DO CANTO
LUCIANE BRACHER ROCHA - autônoma - RG 3029933664.
LUIZ BERNARDO PERICÁS
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
LUIZ GONZAGA DE MELLO BELLUZZO
MARCIA KNORRE MORAES – professora – RG 7025757472 – Porto Alegre
MARGARIDA BULHÕES PEDREIRA GENEVOIS
MARIA APARECIDA DE AQUINO
MARIA AUXILIADORA ARANTES
MARIA DO CÉU DE LIMA
MARIA HELENA FIGUEIRÓ
MARIA JOSÉ LEIVAS WAQUIL
MARIA REGINA PEREIRA FIGUEIRÓ
MARIA TEREZA GOUDARD TAVARES
MARIA VICTORIA BENEVIDES SOARES
MARIE LOUISE BULHÕES PEDREIRA Genevois
MARILIA RAMOS DA MOTA
MARILU AMARAL
MARINA ZANCANER BRITO MALUF
NAIA GEILA INNOCENTE DE OLIVEIRA
NATÁLIA ROCHA
PATRICIA RODRIGUES
RODOLFO RECKZIEGEL DE LUCENA
TAMARA C MATTOS
TANIA MARIA FRANCO MORAES
THAÍS BRAGA ALVES NEVES
THOMAZ FERREIRA JENSEN
UNIÃO DE NEGRAS E NEGROS PELA IGUALDADE – UNEGRO
ZULMIRA GENECY TRINDADE PEREIRA DA COSTA
ABDON GERALDO GUIMARAES
ABEL VICENTE DA SILVA JÚNIOR
ABRAÃO COSTA RODRIGUES
ACACIO CASTRO
ACSIA LINO DE ALENCAR GREGÓRIO
ADA DE MACÊDO MOTTA
ADAILTON DOS SANTOS
ADAIR COELHO BARCELOS
ADALBERTO BORGES DE SOUSA
ADALIO SEBASTIÃO DE ARAUJO
ADAUTO BEZERRA DE MELO FILHO
ADÉLIA MARILENE EMMEL
ADEMAR RODRIGUES DE SOUZA
ADEMIR GIOVANI HERRMANN
ADEMIR JOSE WIEDERKEHR
ADENILDE DE SOUZA DANTAS
ADILSON BRUMMER
ADILSON JORGE DOS SANTOS
ADILSON JOSÉ COUTINHO
ADILSON LUIZ MACRUZ RONDO
ADILSON NASCIMENTO DOS SANTOS
ADILSON TAVARES DA SILVA
ADMILSON LIMA RAMOS
ADMIRSO MEDEIROS FERRO JÚNIOR
ADONAI ROCHA
ADRIANA ARDUINO MENDES
ADRIANA CECILIO MARCO DOS SANTOS
ADRIANA COSTA DE CARVALHO
ADRIANA COSTA RODRIGUES
ADRIANA CRISTINA LEOCADIO MONGUINE
ADRIANA DOS SANTOS FILANDO BOEIRA
ADRIANA FÊRREIRA DA SILVA
ADRIANA FERREIRA DA SILVA
ADRIANA MARIA ANTUNES DE SOUZA
ADRIANA MARTINS
ADRIANA SANTANA PALMEIRA DOS SANTOS
ADRIANO DA ROCHA BARTH
ADRIANO NUNES DA SILVA
ADSON CONCEICAO DE BRITO SILVA
ADYR FERREIRA DA MOTTA FILHO
AEMERSON JANUÁRIO DA SILVA
AERTON LUIZ SOARES
AFONSO BANDEIRA FLORENCE
AFONSO CELSO TEIXEIRA
AGLAÉ MORGANA ALCÂNTARA BASTOS
AGNALDO QUINTA JUNQUEIRA
AIDA M MONTENEGRO
AIR ZORZI
AIRTON DE SOUZA
AIRTON LUIZ FALEIRO
AIRTON STORI
ALAIDE PAES DOS SANTOS
ALAN LEITE DA SILVA
ALAN SILVA FEITOSA
ALANA CRISTINA MACHADO
ALAOR DORNELES DE OLIVEIRA
ALAS CASTRO MARQUES OLIVEIRA
ALBERTINA PENNA NOGUEIRA
ALBERTINA VIEIRA DE ANDRADE SANTOS
ALBERTO ALEXANDRE MARTINS
ALBERTO DOS SANTOS
ALBERTO HENRIQUE BECKER
ALBERTO MARQUES DE SOUSA
ALBERTO OLIVEIRA SANTOS
ALBERTO SILVA DE JESUS
ALCEMIR ANTÔNIO BAGNARA
ALCILÉA DANTAS DE MEDEIROS
ALCILENE PEREIRA MACIEL
ALDA MARIA SANTOS DO NASCIMENTO
ALDENIR BATISTA DE FARIAS
ALDERON PEREIRA DA COSTA
ALDES MARQUES GABRIEL
ALECSANDRA ALVES DOS SANTOS
ALENCAR SANTANA BRAGA
ALESSANDRA CAMARANO
ALESSANDRA DE ANDRADE LIMA
ALESSANDRA DOS SANTOS PETENON
ALESSANDRA NATALINA VIRGÍLIO DA COSTA
ALESSANDRA TORRES VAZ MENDES
ALESSANDRO DA SILVEIRA NEVES
ALESSANDRO MARTINS PRADO
ALEX SANDRO DOS SANTOS
ALEXA KARINA DE MELO GUERRA
ALEXANDRA FERNANDES DO AMARAL MARQUES
ALEXANDRE BARBOSA RODRIGUES
ALEXANDRE CANIBAL MACHADO
ALEXANDRE DA ROSA GARCIA
ALEXANDRE FINAMORI FRANÇA BAPTISTA
ALEXANDRE GASPARI RIBEIRO
ALEXANDRE GONCALVES FREITAS
ALEXANDRE LEAL DA SILVEIRA
ALEXANDRE MAGNO NUNES ROLLEMBERG
ALEXANDRE MARTINS DE SOUZA
ALEXANDRE MENDONÇA
ALEXANDRE REIS COUTINHO
ALEXANDRE ROCHA SANTOS PADILHA
ALEXANDRE RUBENS MEIRA
ALEXANDRE VALVERDE
ALEXANDRE YURI FERREIRA DE ASSIS BEZERRA
ALEXANDRO CARDOSO
ALEXIA TAIS SILVA PLOST
ALEXSANDER FERREIRA AVALY
ALEXSANDRA VITÓRIA DE LIMA OLIVEIRA
ALEXSANDRO ALVES NASCIMENTO
ALEXSANDRO SOUZA
ALFREDO LEOCADIO RIBAS LAMEIRA
ALFREDO SANTANA SANTOS JR
ALICE GABRIELA VENCESLAU ROCHA MOTA
ALICE MAZZUCO PORTUGAL
ALICE RUIZ SCHNERONK
ALICEU LUCAS MADER
ALINE CRISTINA CERQUEIRA MATHEUS
ALINE PRADO RIBEIRO
ALINE RIBEIRO CAETANO
ALINE SALES PEREIRA
ALLAN DIEGO DE ARAUJO
ALLISSON JOSÉ DE FARIAS ALVES
ALMERINDA NEVES BATISTA DE DEUS
ALMIR COSTA DE AGUIAR
ALMIRA MACHADO ANDRADE
ALONSO BATISTA DOS SANTOS
ALUÍSIO URBANO DA SILVA
ALVANIR PEREIRA CAIXETA VEIGA
ÁLVARO CÔRREA PEDROSA
ÁLVARO KLEIN
ALYNE KELLY ALBUQUERQUE DA COSTA
AMANDA ARCANJO CAMPOS
AMANDA CARDOSO
AMANDA CLÁUDIA FERREIRA AMORIM
AMANDA KATLEN NEGRÃO DE SOUZA
AMANDA MACIEL DOS SANTOS
AMANDA ROSSI COUTO GHIGGINO DE ALCÂNTARA SÁ
AMARILDO PEDRO CENCI
AMILCAR REINALDO LUDKA
AMILTON ANDRADE SANTOS JUNIOR
ANA BEATRIZ BARBOSA
ANA BEATRIZ PEREIRA REIS
ANA CARLA MESQUITA VERGUEIRO DA CRUZ
ANA CARLA RODRIGUES DE OLIVEIRA
ANA CLARA VERAS BRITO DE ALMEIDA
ANA CLAUDIA CHAVES TEIXEIRA
ANA CLAUDIA DA CUNHA
ANA CLÁUDIA SILVA DE SOUSA
ANA CRISTINA COSTA SANTOS
ANA CRISTINA OLIVEIRA MARQUES
ANA EVELY OLIVEIRA DE SOUSA
ANA FÁTIMA MACHRY
ANA HEIDE NASCIMENTO DOS SANTOS
ANA LEIDENS
ANA LÚCIA DOS SANTOS
ANA LUCIA ROJAS
ANA LUIZA DE MESQUITA GARCIA DIAS
ANA LUZIA COSTA SANTOS
ANA MARCIA FASSBENDER PRATA
ANA MARIA ALMEIDA DA COSTA
ANA MARIA DO NASCIMENTO EVANGELISTA
ANA MARIA DO NASCIMENTO EVANGELISTA
ANA MARIA FERREIRA HAASE
ANA MARIA REZENDE ALVES
ANA PAULA SANTOS DE OLIVEIRA
ANA RODRIGUES DE MACEDO E CANDIDO TRIGUEIROS
ANA ROSA GARCIA DA COSTA
ANA SOARES DE SOUSA
ANAIDES MAYCÁ DE SOUZA
ANALICE SOARES DA SILVA PINTO
ANDERSON HERMENEGILDO LEITE
ANDRÉ ALVAREZ GROHE COMIM
ANDRÉ ANTÔNIO FONSECA DINIZ
ANDRÉ BARTILOTTI
ANDRÉ BORGES MACHADO
ANDRÉ BRANDÃO HENRIQUES MAIMONI
ANDRÉ LUIZ MARDEGAN
ANDRÉ MUNIZ SANT’ANNA E SILVA
ANDRÉ VALLIAS DE OLIVEIRA LIMA
ANDREA BUSSOLO ARAUJO
ANDREA HERMOGENES MARTINS
ANDREIA NUNES
ANDRÉIA PINZON CORSO
ANDRESA DE PAULA
ANELI REMUS GREGÓRIO
ANELISE MANGANELLI
ANGELA DA COSTA CORREA
ANGELA DE JESUS ARAÚJO NASCIMENTO
ANGELA MARIA AQUINO REIGOTTA
ANGELA MARIA COSTA MORAES TOKUMITSU
ANGELA MARIA DE SOUZA LEMOS
ÂNGELA MARIA LINHARES ALVES
ÂNGELA REGINA ELTZ DE LIMA
ANGÉLICA CRISTINA STRAPASSON
ANGÉLICA LUÍSA EHRENBRINCK
ANGELO FRANCISCO DOS SANTOS
ANGELO JHOMATAS DA SILVA
ANGELO RAIMUNDO RIZZI
ANIEIDE FONTES DOS SANTOS
ANÍSIA ANTUNES BALDUÍNO NETA
ANNA CANDIDA ALVES PINTO SERRANO
ANNA LORENA TORRES DE ARAÚJO
ANNA PAULA PASCOAL BONFÁ
ANSELMO LUCIANO DA SILVA BRAGA
ANSELMO OLIVEIRA
ANSELMO PEREIRA SOARES DE ALBUQUERQUE
ANTENOR JOSÉ DE MORAIS
ANTENOR MARTINS DE LIMA FILHO
ANTENOR PACHECO NETTO
ANTENOR SILVA JUNIOR
ANTONIA LUCIENE FERREIRA DA SILVA
ANTONIELIA RIBEIRO SANTOS FONTES
ANTONIO AMORIM DE CARVALHO
ANTONIO CARLOS NASCIMENTO
ANTONIO CARLOS NOLETO GAMA
ANTONIO CARLOS SILVA RIBEIRO
ANTÔNIO CARLOS SILVA RIBEIRO
ANTONIO DA CRUZ CORREIA
ANTONIO DANTAS SANTOS
ANTONIO DE GÓES E VASCONCELLOS PRATA
ANTONIO EDUARDO RAMIRES SANTORO
ANTONIO ELPIDIO DA SILVA
ANTÔNIO FERNANDES DA SILVA
ANTÔNIO FERNANDO DE ARAÚJO SÁ
ANTONIO GUIMARAES DE OLIVEIRA
ANTONIO GUNTZEL
ANTÔNIO JOSÉ DECHECHI
ANTONIO JOSÉ LOPES ROCHA JÚNIOR
ANTONIO JOSÉ MAFFEZOLI LEITE
ANTONIO LUIZ DANTAS COSTA
ANTÔNIO MARCOS DE MEDEIROS
ANTONIO PEREIRA CHAGAS
ANTÔNIO RIBEIRO (FREI ANASTÁCIO)
ANTONIO RIBEIRO DA COSTA NETO
ANTONIO RODRIGUES
ANTÔNIO VIEIRA NETO
ANTONIO VINICIUS SILVA DA COSTA
ANTONIO WELLINGTON DOS SANTOS
ANTONIO WELLINGTON DOS SANTOS
APARECIDA BATISTA DA SILVA
APARECIDO CACIO COSTA
APARECIDO DOS REIS
ARCIELLI ROYER NOGUEIRA
ARIADNE JACQUES
ARIANE BARBISA
ARIEL MARZAGÃO TOMMASINI
ARINEIDE CARLOS SILVA
ARIOSMAR NERIS
ARIOVALDO DE CAMARGO
ARIOVALDO RAMOS
ARLETE DORES SILVA SOUZA
ARLETE SILVA COSTA
ARLINDO CHINAGLIA JÚNIOR
ARLINDO RODRIGUES CRUZ JUNIOR
ARMANDO JOSÉ DOS SANTOS
ARMINDO JOSÉ LONGHI
ARNALDO DIAS DA COSTA JÚNIOR
ARRIGO BARNABÉ
ARTICULAÇÃO BRASILEIRA DE GAYS
ARTUR CARDOSO ACCACIO DOS SANTOS
ARTUR MACHADO SCAVONE
ASSOCIAÇÃO DE PAIS DE ALUNOS DO ES
ASTARUTH MARIA LIRA RIBEIRO
ATHAYDE JOSÉ DA MOTTA FILHO
ATÍLIO DENGO
AUGUSTO IASHUA RISTOW DOS SANTOS
AUGUSTO RETAMAL NETO
ÁUREA CAROLINA DE FREITAS E SILVA
ÁUREA ELIZABETH DA GAMA
AURINO BAPTISTA DA COSTA JUNIOR
AYLLU ACOSTA
AYTAN MIRANDA SIPAHI
BARBARA DAUSTER SETTE
BEATRIZ ALVES DA SILVA
BEATRIZ CARLESSO
BEATRIZ CARNEIRO
BEATRIZ DO VALLE BARGIERI
BEATRIZ EMANUELLE ZACHARIAS PINTO
BEATRIZ FERREIRA LESSA
BEATRIZ LIMA MONTEIRO
BEATRIZ MACHADO KUNTZEL
BEATRIZ S. B. BRACHER
BEATRIZ VARGAS RAMOS G. DE REZENDE
BELAIR APARECIDA STEFANELLO
BELMIRO APARECIDO MOREIRA
BENALVA DOS SANTOS
BENEDITA D. SOARES
BENEDITA DONIZETE SOARES
BENEDITA LYRA BRUNI
BENEDITA SOUZA DA SILVA SAMPAIO
BENEDITO ARRUDA RIBEIRO LOPES
BENEDITO AUGUSTO DE OLIVEIRA
BENEDITO DO AMARAL PEDROSO
BENEDITO TADEU CÉSAR
BENIZÁRIO CORREIA DE SOUZA JÚNIOR
BENIZARIOJUNIOR@HOTMAIL
BENONI DIAS COVATTI
BERNARDO AJZENBERG
BERNARDO CARVALHO
BERNARDO CORREIA CORASSA
BIANCA DA SILVA
BIANCA DE LIMA CRUZ
BIANCA GARBELINI
BIANCA SANTOS LOPES
BILMAR SOUZA PIRES
BRANCA JUREMA PONCE
BRAZ ATHANAZIO DOS SANTOS JÚNIOR
BRENO KUPERMAN
BRIGIDO ROLAND RAMOS
BRUNA ALVES MACIEL DE LIMA
BRUNA BIANCA VERMOHLEN
BRUNA DIAS ALBOREDO
BRUNA MEDINA BENHAMI
BRUNA NATÁLIA AMORIM LAET
BRUNA VENTURIN
BRUNO DE CATÃO MASCARENHAS
BRUNO EMANUEL CLEMENTE DA SILVA
BRUNO JOSÉ BALBINO SANTOS
BRUNO RICARDO MIRAGAIA SOUZA
BRUNO SANTANA ANDRADE
BRUNO SANTANA ANDRADE
BRUNO SILVA DE CARVALHO
CALISTRATO LOPES DE MUROS
CAMILA APARECIDA PIMENTA DE SOUZA
CAMILA GEOVANA VIEIRA DE SOUSA
CANDIDA MARIA DE CARVALHO LOBATO
CARLA BENITEZ MARTINS
CARLA BISPO DE FREITAS
CARLA C STORINO
CARLA FERNANDES DE OLIVEIRA
CARLA ROSANE DUARTE BORGES
CARLA SIMONE SPERLING
CARLA XAVIEE DA SILVEIRA DELFINO
CARLIENE SENA DA CUNHA
CARLINDA MARIA FISCHER MATTOS
CARLOS ACACIO BARBOSA DIAS
CARLOS ALBERTO ALVES
CARLOS ALBERTO DA SILVA
CARLOS ALBERTO MARTINS
CARLOS ALBERTO ROLIMZARATTINI
CARLOS ALEXANDRE DE OLIVEIRA
CARLOS ANTONIO COUTRIM CARIDADE
CARLOS ANTONIO SILVA DE CASTRO JUNIOR
CARLOS AUGUSTO ABICALIL
CARLOS AUGUSTO CALIL
CARLOS AUGUSTO VASCONCELOS
CARLOS EDUARDO FABIO
CARLOS FABIO
CARLOS FELIPE LOPES WERNECK HIRSCH
CARLOS FERNANDO DA SILVA PALMER
CARLOS GREGÓRIO GAMA DOS REIS
CARLOS PEDRO DOS SANTOS
CARLOS ROBERTO DOS PASSOS
CARLOS TADEU VILANOVA
CARLOS VIEIRA DOS SANTOS
CARMEL CARDOSO JORGE
CARMELITA GONÇALVES DA SILVA PROENÇA
CARMEN DA POIAN
CARMEN LUIZA BITARAES
CARMEN NARCISA DALMASO
CARMEN VERA CERQUEIRA DA COSTA
CAROLINA ALICE G. DE SOUZA
CAROLINA PASTORIN CASTINEIRA
CAROLINA PUCU DE ARAUJO
CAROLINA RODRIGUES
CAROLINA VIEIRA DOS SANTOS
CAROLINE PRONER
CAROLINE REJANE SOUSA SANTOS
CAROLINE VEIGA DE PAULA DE OLIVEIRA
CASEMIRO REIS
CASEMIRO REIS
CÁSSIA BARBOSA REIS
CASSIA CARVALHO DE SOUZA
CASSIA MEYRE GONÇALVES DOS ANJOS
CASSIANE SALETE GUADAGNIN DA SILVA
CASSIO FILIPE GALVAO BESSA
CÁSSIO RICARDO RITTER
CÁTIA CILENE FLORES OLIVEIRA QUARESMA
CECÍLIA ALVES CORREIA
CECÍLIA APARECIDA AMIM CASTRO
CECÍLIA DIAFÉRIA
CECÍLIA HELENA DE SOUZA BRITO
CECILIA LEVY PIZA FONTES
CECÍLIA MARIA MARTINS FARIAS
CELI LOPES DE OLIVEORA
CÉLIA MARIA DA SILVA AMADO FERREIRA
CÉLIA REGINA COSTA
CÉLIA REGINA MILANEZ
CELINA DIAFÉRIA
CÉLIO ALVES DE MOURA
CELIO ANTONIO DE BARROS NORI
CÉLIO BERMANN
CÉLIO GONÇALVES MOREIRA
CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO
CELSO COSIN
CELSO EDUARDO DORNELLES FIALHO
CELSO FLORIANO STEFANOSKI
CELSO WOYCIECHOWSKI
CERES REGINA MOREIRA CUNHA
CESARIANO RODRIGUES FERNANDES
CHARLES FERNANDO CHAGAS
CHARLES HENRIQUE DO NASCIMENTO PIEROTE
CHARLOTTE CHANTAL DOMINIQUE GOUTTEBARON
CHRISTIAN LUAN DE SOUSA DESTERRO
CIBELE GRANITO SANTANA
CIBELE KUSS
CICERA ISABEL BATISTA DE MELO
CICERO MITSUYOSHI KAMIYAMA
CÍCERO WALLIKON BEZERRA DE LIMA
CID BARBOSA LIMA JR
CINÉZIA MARIA COSTA DOS SANTOS NORAT
CINTHIA COSTA MAIA
CINTIA LUGON ARANTES
CIRA MARIA GASSEN KAUFMANN
CIRIO ALVES DE MOURA
CIRO MARÇAL DE SOUZA
CLAIR DA FLORA MARTINS
CLARE ISABELLA PAINE
CLARICE APARECIDA BUDACH
CLARICE DA SILVA WEISHEIMER
CLARICE DE FREITAS SILVA AVILA
CLARISSA JULIANA VIEIRA CARDOSO
CLARISSA TENÓRIO SOUSA
CLAUDEMIR BRITO DA SILVA
CLAUDEMIR RINALDO DOMINGUES
CLAUDIA AMANDA SOARES SOUZA
CLAUDIA APARECIDA PROTON XAVIER
CLAUDIA CANTO DE LUCENA
CLAUDIA CASTANHO DOSS
CLAUDIA DOS SANTOS VALENTIM
CLAUDIA FREIRES DA SILVA
CLÁUDIA GARCIA
CLAUDIA MARIA DE SOUZA TEIXEIRA
CLAUDIA MARQUES MARIA
CLÁUDIA OLIVEIRA SANTOS
CLAUDIA PATRÍCIA DE LUNA SILVA
CLAUDIA REGINA ALVES
CLAUDINEI DIVINO ALVES
CLAUDINEI DONIZETI CECCATO
CLAUDIO AUGUSTIN
CLAUDIO DE AZAMBUJA FERRAS
CLÁUDIO JESUS DE OLIVEIRA ESTEVES
CLAUDIO MANOEL DA SILVA
CLÁUDIO NISXOTA SIMMI
CLAUDIO UBIRATA DE ARAUJO
CLAUDIR NESPOLO
CLAYTON GOMES DE MEDEIROS
CLEBER RIBEIRO SOARES
CLEIA ANICE DA MOTA PORTO
CLEIDE DE OLIVEIRA LEMOS
CLEIDE MARQUES BORGATO
CLEIDISMAR MARIA DE OLIVEIRA
CLEISA MORENO MAFFEI ROSA
CLÉO GASTÃO FIGUEIRÓ CARVALHO
CLEOMARA TRENTIN
CLEOMENES FERREIRA MOTA
CLEONICE COELHO CARDOSO
CLEONICE DE SOUSA
CLEONICE FABIANE BACK
CLEUDETE HERMÍNIA PICCOLI
CLEVERSON VALDIR DE OLIVEIRA
CLEZIVANHE RAMOS LINS
CLODOALDO GOMES DE OLIVEIRA
CLOVERTON SANTOS
CLOVIS DA ROSA PINTO
CONSUELO CHAVES JONCEW
COOPERATIVA DOS POVOS TRADICIONAIS DE MOSTARDAS
CRESCENCIO PINHAO DE SENA
CRIS RABSCH ZANELLA
CRISLAINE CAROLINE DE SOUZA
CRISTIANE BRASILEIRO
CRISTIANE CAROLINE SCHULMEISTER
CRISTIANE DA COSTA DOS SANTOS
CRISTIANE DA SILVA CARVALHO
CRISTIANE MARIA MAINARDI
CRISTIANE RABSCH ZANELLA
CRISTIANE VIEIRA DA IGREJA
CRISTIANEDE ARAÚJO RODRIGUES
CRISTIANO ALMEIDA PEREIRA
CRISTIANO AVILA MARONNA
CRISTIANO NICOLA FERREIRA
CRISTIANO SILVA SANTOS
CRISTINA ELISA GEHLEN ZORZANELLO
CRISTINA VIANA
DAFNE DAMASCENO FREIRE
DAGMAR APARECIDA TEODORO GATTI
DAGOBERTO SCHEFFER HERTZOG FILHO
DAILTON PEDREIRA CERQUEIRA
DAISY FALCONI
DALILA DOS SANTOS GONÇALVES
DALVA MARIA PEREIRA PADILHA
DANDARA REGO MUNIZ DA SILVA
DANIEL ALVES MOREIRA0Ï
DANIEL GOMES
DANIEL LUCAS DA SILVA
DANIEL MARQUES DOS SANTOS
DANIEL MORAIS ANGELIM
DANIEL PECEGO VIEIRA CAETANO
DANIELA MARIA MOREAU
DANIELA THOMAS
DANIELLA MEGGIOLARO PAES DE AZEVEDO
DANIELLE DE PAULA LIRA
DANIELLE JORGE SASAKI
DANIELLE ROSA DE PINHO
DANIELLE SIQUEIRA DOS SANTOS
DANILO ARAÚJO
DANILO DA SILVA OLIVEIRA
DANILO SOUZA DO NASCIMENTO
DARIO ROQUE THOMAZ
DARIO
DARLENE TESTA
DARY BECK FILHO
DAURI CORREIA DA SILVA
DAVID CALASANS CASTRO
DAVID MICHAEL DOS SANTOS MIRANDA
DAVID MUNARO
DAVIDSON ANGELO DE SIQUEIRA
DÉBORA JANETE ZENI
DÉBORAH DANOWSKI
DEBORAH DE MAGALHÃES LIMA
DEBORAH DUPRAT
DEBORAH WAINER
DEISE APARECIDA CAPELOZZA
DEISE MARA DO NASCIMENTO
DEIVID CHRISTIAN DOS SANTOS
DEJALMAR FRANCISCO DE PINHO
DELMA MARQUES SILVA
DELMA ZUCCO ZAPAROLI
DELNEBIO P. MARTINS
DENIA CRISTINA DE JESUS FARIA ALMEIDA
DENILSON APARECIDO TOCHIO
DENILSON DOS SANTOS SILVA
DENILSON RODRIGUES FERNANDES
DENISE BEIRÃO
DENISE DA VEIGA ALVES
DENISE OLIVEIRA DA SILVA
DENISE VARGAS
DEOCLECIANO DA SILVA MOREIRA NETO
DERIVALDO SANTOS OLIVEIRA
DEUZIRENE MOURA SILVA
DEVANI NEVES DOS SANTOS
DEYSE DE SOUZA COUTINHO
DEYVID SOUZA BACELAR DA SILVA
DIEGO FONSECA DE AZEVEDO
DIEGO GOMES AGUIAR
DIEGO VINICIO GOMES DE ALMEIDA
DILENE CASTRO DO NASCIMENTO
DILMA GOMES DA SILVA
DILMA OLIVEIRA RIOS
DILSON DO NASCIMENTO
DILSON RIBEIRO BARBOSA
DIMAS FRANCISCO COLOMBO
DIOGO DA SILVA CORRÊA
DIOGO DE OLIVEIRA CORREIA
DIONILSO MATEUS MARCON (Marcon)
DIOVANA ANDRADE LEITE
DIVANIR PELEGRINO GARCIA
DIVANIR PELEGRINO GARCIA
DORA DA CONCEIÇÃO CUNHA GARCIA
DORA SUGIMOTO
DORIS REGINA ACOSTA NOGUEIRA
DOUGLAS BARBOSA SCHLABITZ
DOUGLAS CENCI
DULCE COSTA OLIVEIRA
DULCE SCHMOELLER
EBER LOPES FERREIRA
EDER DE OLIVEIRA FERNANDES
EDEVALDO JOSE DOS SANTOS
EDEVANDRO MIOLA
EDGAR GERARDO RODRIGUEZ SANCHEZ
EDI CARLOS MIRANDA DE LIMA
EDICARLOS SILVA SOUZA
EDIERSON GAIARDO
EDILEUZA FERNANDES DA SILVA
EDILSON MARTINS MELGUEIRO
EDINALDO GONÇALVES SANTANA
EDINALVA DA SILVA MENDES
EDINEIDE SOARES DA ROCHA
EDIR ISABEL BOTELHO
EDISIO OLIVEIRA DE AZEVEDO
EDISON MUNHOZ FILHO
EDLA GONÇALVES RIOS
EDMAR PEREIRA FABRICIO
EDMILSON BRITO RODRIGUES
EDMILSON CASTRO DE FREITAS
EDMUNDO DE NOVAES GOMES
EDNA ROSANGELA SOARES NOBRE
EDNALDO ALVES DO CARMO
EDNALDO LEITE PEREIRA
EDNALDO MARTINS SILVA OLIVEIRA
EDSON CARLOS FEDELINO
EDSON CARNEIRO DA SILVA
EDSON DA SILVA FERREIRA
EDSON DOS SANTOS SANTANA
EDSON FERNANDO ALVES MACHADO
EDSON GOMES DE SOUSA
EDSON LUIZ CIRILO
EDSON MENDES
EDSON PAULO DAMIN
EDSON RIBEIRO CABRAL
EDSON RICARDO RIBEIRO DE JESUS
EDUARDO ANTONIO TRICHES
EDUARDO BATALHA VIVEIROS DE CASTRO
EDUARDO BRUNO DA SILVA GALVAO
EDUARDO COVAS SALOMÃO
EDUARDO DA CONCEIÇÃO SANTOS
EDUARDO DE ALBUQUERQUE MELO
EDUARDO DE SOUSA GUILHERME
EDUARDO DIAS BOTELHO
EDUARDO HENRIQUE ANDRADE DE LIMA
EDUARDO HENRIQUE TORRES MENEZES DE MELO
EDUARDO MIRANDA LACERDA
EDUARDO PEREIRA DE OLIVEIRA
EDUARDO STERZI DE CARVALHO
EDUARDO WEBER DOS REIS
EDVALDO FAUSTINO DA COSTA
EDVALDO MUNIZ
EDVIRGEM LOPES DE ALMEIDA DIAS
EGBERTO ALVES DOS SANTOS
EGHON LAMEIRA FERNANDES
EIDER VIEIRA SCHUTZ
ELAENE CRISTINA DA SILVA MENDES
ELAINE GOMES ALVES
ELAINE LEONE DOS SANTOS
ELARA ATOUGUIA CORREIA LEITE
ELCIO DA SILVA SANTANA
ELEANE RODRIGUES DOS SANTOS
ELEONORA ALLGAYER CANTO DE LUCENA
ELEONORA RANGEL NACIF
ELIANA ARRIVABENE DINIZ
ELIANA BRASIL CAMPOS
ELIANA CHITTO
ELIANE REIS RIOS
ELIANE ROBERT MORAES
ELIANE SILVA DE OLIVEIRA
ELIANE TERESINHA DE SOUZA SILVEIRA
ELIANED OS SANTOS VALANSUELO
ELIASER DA SILVA LEITE
ELIENE SANTOS DE JESUS
ELIETE FIGUEIRA DOS ANJOS PEREIRA
ELINETE LOURENÇO ROLIM
ELINILCE DALAGNOL
ÉLIO ÉLVIO CHAVES JUNIOR
ELIS COSTA
ELIS CRISTIANE DE FREITAS BRANCO
ELIS NICE OLIVEIRA DE ARAUJO
ELISA ALVES
ELISABETE ANDRADE VILELA DOS SANTOS
ELISABETE GONÇALVES
ELISABETH MACHADO DE MORAIS
ELISANDRA GONÇALVES LIMA
ELISANGELA BARBOSA NICÁCIO
ELISANGELA COUTINHO DE FRANÇA
ELISÂNGELA MENESES DE MELO
ELISÂNGELA OLIVEIRA
ELIZABETE DE JESUS SACRAMENTO
ELIZABETE MARQUES CONCEIÇÃO COSTA
ELIZABETH DE SOUZA DIAS
ELIZABETH PARADELA DA SILVA
ELIZABETH RODRIGUES GOUVEIA
ELIZANGELO MARQUES SANTOS
ELIZANI KAIZER
ELIZETE APARECIDA DE ALMEIDA BORELA
ELIZEU PEREIRA DA SILVA
ELLEN CRISTINA KLEIN SCHNEIDER
ELOIZ GUIMARÃES CRISTINO
ELTON JHONY SILVA DE CARVALHO
ELVINO JOSÉ BOHN GASS (BohnGass)
ELVIRA ROCHA
ELZA DISSENHA
ELZA MARIA CAMPOS
EMANNUELA SANTOS ALVES PEREIRA
EMANUEL ALVES LIMA
EMANUEL EVALDO DE SANTANA
EMANUEL PONTES MEIRELLES
ÉMERSON GUZZO
EMERSON RONALD PEREIRA
EMILLY DE JESUS FRANCO SILVA
EMIS FLORÊNCIO DOS SANTOS
ENÉCIODA SILVA
ENELINDA MARIA APARECIDA DOS SANTOS SCALA065
ENI BACK
ENIO JOSÉ VERRI
ENÚZIA DAS GRAÇAS RODRIGUES DE MEDEIROS
ERACLITO MONTE CRAVO
ERENILDE CELINA TESSARO PECCIN
ERICA DAS NEVES SANTANA
ERICK ALVES DA LUZ
ERICO SAMUEL VIEIRA DO NASCIMENTO
ÉRIKA DAL COLLETO
ÉRIKA KOKAY
ERIKA PARDAL LANHAS DE MORAES
ERISVALDO PINHEIRO DOS SANTOS
ERIVONALDO BARBOSA DOS SANTOS
ERLE MARTINS DE ASSIS
ERLON VERONEZ SCHULER
ERNESTO YIUKI DOI
EROS ALBERTO MAGALHÃES DE SOBRAL
ERROLFLYNN DE SOUZA PAIXÃO
ESTEFANE LINDEBERG SANTOS
ESTEFANE LINDEBERG SANTOS
ESTELA ARANHA
ESTELA LUDOVICO DE ALMEIDA/ IR. GUIDA
ESTELIANO PEREIRA GOMES NETO
ESTELIANO PEREIRA GOMES NETO
ESTER LETÍCIA DA S AMARAL
ESTER LUCINETE SOARES
ESTÊVÃO ANDOZIA AZEVEDO
ESTEVÃO FIRMO SOARES
ESTHER HAMBURGER
ETEL GOLBERT
EUDES WESLEY DIAS MELO
EUGÊNIO AMÉRICO RANNA DE MACEDO
EUNICE HENRIQUE DOS SANTOS
EUNICE ROMEU PITREZ
EUNICE TIEKO MIYAMOTO
EUZAMARA DE CARVALHO
EVA APARECIDA FERNANDES
EVA DE MENEZES ASSIS
EVANDRO RIBEIRO ROSSO
FABIANA DE SOUSA ALVARENGA
FABIANA KEFFRAAUS PINGE
FABIANA RITA DESSOTTI
FABIANE DE CARVALHO SPIER
FABIANO DANIEL SERINI
FABIANO SILVA DOS SANTOS
FABIO DE GODOY
FÁBIO DE SOUZA ANDRADE
FÁBIO DE SOUZA SANTOS
FABIO JÚNIOR LIMA ARAGÃO
FÁBIO KONDER COMPARATO
FÁBIO LIRA
FABIO LUIS BARBOSA DOS SANTOS
FÁBIO M. TEER
FABIO MONTEIRO DE LIMA
FÁBIO PORTO
FÁBIO ROBERTO GASPAR
FABIOLA POLYANA DA SILVA PIMENTEL
FABIOLA SOUZA E SILVA
FABIOLA VEIGA CORTE REAL
FÁBRICIA NUNES
FÁBRICIA NUNES
FABRÍCIO MARTINS FELÍCIO
FATIMA CAMPOS
FÁTIMA REGINA FERREIRA LIMA
FATIMA ZAFFONATO
FECHER MOREIRA
FELIPE DIEGO DA SILVA
FELIPE FABLICIO DE MELO
FELIPE FRANCO MUNHOZ
FELIPE JOSÉ LINDOSO
FELIPE MEDEIROS CARVALHO
FELIPE PINHEIRO MARTINS DE PAIVA
FELIPE SCHENA LANHI
FELIPE TOMÁS DOS SANTOS
FELIX ALFREDO QUENTASI ZURITA
FERNANDA CAMARGO BRESOLA
FERNANDA DUCLOS CARISIO
FERNANDA FERREIRA MENEZES
FERNANDA GUINDANI
FERNANDA MARIA DA COSTA VIEIRA
FERNANDA MAY
FERNANDA MELCHIONA E SILVA
FERNANDA SOARES DE CASTRO AMPARO
FERNANDO BONASSI
FERNANDO CESAR LEMOS
FERNANDO CÉSAR LEMOS
FERNANDO GOMES DE MORAIS
FERNANDO GRAMOZA
FERNANDO HADDAD
FERNANDO HIDEO LACERDA
FERNANDO JOSÉ HIRSCH
FERNANDO LUIZ DINIZ PEREIRA
FERNANDO MAIA DA COSTA
FERNANDO MARQUES VENTURA
FERNANDO NONNEMACHER
FERNANDO PAIXÃO
FILIPI ARTHUR DE SOUZA BARRILLI
FLAVIO DA SILVA PEREIRA
FLÁVIO GILBERTO TRESCASTRO UEBEL
FLAVIO MOURA
FLÁVIO PEREIRA DE SOUSA
FLAVIO SOARES
FLORINDA DE LIMA BASSI
FLORISVALDO RODRIGUES
FORA BOLSONARO
FRANCINALDO SANTOS FERREIRA
FRANCINEIDE RAIMUNDA DE LIMA
FRANCIS MANZONI
FRANCISA ARAUJO GOMES
FRANCISCA HELENICE PEREIRA
FRANCISCA LIDUÍNA RODRIGUES CARNEIRO
FRANCISCO ALANO
FRANCISCO AMARAL CAMPINA
FRANCISCO ANTONIO DE MELO
FRANCISCO ASSIS ROCHA
FRANCISCO CARLOS DUTZIG
FRANCISCO CLAUDIO FRIAS XAVIER
FRANCISCO DE ASSIS CARVALHO GONÇALVES (Assis Carvalho)
FRANCISCO DE ASSIS DA SILVA
FRANCISCO FILHO DE OLIVEIRA
FRANCISCO GOMES SOBRINHO
FRANCISCO IRAILSON NUNES COSTA
FRANCISCO JANDERSON PEREIRA CAVALCANTE
FRANCISCO JOSE DE OLIVEIRA
FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS
FRANCISCO JOSE LIMA PEREIRA DOS SANTOS
FRANCISCO OLIVEIRA
FRANCISCO RAMOS CÂMARA DE LIMA
FRANCISCO RODRIGUES JUNIOR
FRANCISCO SIDNEY ROCHA DE OLIVEIRA
FRANCISCO SOLANO LOPES
FRANCISCO VICTOR FEITOZA DA SILVA
FRANCISCO WAGNER PIRES DA SILVA
FRANCO DE REZENDE MENDES GROIA
FREDERICO DE ANDRADE APRATTO
FREI BETO
GABRIEL ARCANJO DE SOUZA FILHO
GABRIEL DA SILVEIRA ZAMBIASI
GABRIEL SOUZA MELO
GABRIELA GOMESMIRANDA
GABRIELA MARIGA
GABRIELA SOARES BRUM
GARDÊNIA BELÉM NASCIMENTO SILVA
GAUDÊNCIO FRIGOTTO
GEANE ANDREZA SCATOLIN
GENELUCE CRUZ SIQUEIRA SANTANA
GENEROSA DE O SILVA
GENEZIO DARCI BOFF
GENILSON FERREIRA DE ARAÚJO
GEOMAR VILELA DA SILVA
GEORGE SILVA
GERALDO ALVES DE SALES
GERALDO RODRIGUES DE OLIVEIRA
GERLANE CORREIA DOS SANTOS
GERSON VIEIRA GUIMARÃES
GHEORGE VITTI HOLOVATIUK
GICELDA SERAFIM SILVA
GIGLIOLA CÓRDOVA
GILBERTO C ARAÚJO
GILBERTO DOS SANTOS FERNANDES JUNIOR
GILBERTO DOS SANTOS SANTANA
GILBERTO FIGUEIREDO
GILBERTO GONCALVES CAIXETA
GILBERTO JOSÉ CEDREZ MACEDO
GILBERTO PAULINO DE OLIVEIRA
GILDO GOES RIBEIRO
GILENALDO VIEIRA DE MATOS
GILENALDO VIEIRA DE MATOS
GILENE PINHEIRO
GILMAR FRANCISCO BARRENSE
GILMAR JOSÉ DOS SANTOS
GILMAR KENNE DE JESUS
GILMAR ZACHI CLAVISSO
GILSON LUIZ DE SOUZA
GILSON MENDES DE GOIS
GILSON S. R. BRANCO
GILSON SOUZA
GILVANETE FERREIRA DOS SANTOS
GILVANIA SANTANA
GILVANIR MENDES DE JESUS
GILZA SILVA ALMEIDA
GINALDO FRANCISCO DOS SANTOS
GIOVANA DOS SANTOS TUDE
GIOVANE CARLOS DA SILVA
GIOVANNA LENZI
GIOVANNA MARCUCCI DA SILVA
GISELE CITTADINO
GISELE GUIMARÃES CITTADINO
GISLAINE BEATRIZ DOS REIS BRAZEIRO
GIULIA COELHO FERREIRA
GIULIANA PRISCILLA DROGANDO
GIVALDO SANTOS DE JESUS
GIVALDO SANTOS SENA
GIVANILDA SANTOS AQUINO ROCHA
GLAUBER DE MEDEIROS BRAGA
GLAUCIA DE SOUZA DE OLIVEIRA
GLÁUCIA KRUSE VILLAS BÔAS
GLEIDE SELMA SANTOS NASCIMENTO
GLEISI HELENA HOFFMANN
GLÓRIA CELESTE PIRES BITTENCOURT
GLORIA LEITE DE SOUZA
GRAZIELLY MAYRA G DE O HENRIQUE
GUILHERME CARVALHO ALVES
GUILHERME CASTRO BOULOS
GUILHERME GONÇALVES ALBUQUERQUE
GUILHERME MATOS SIPAHI
GUSTAVO BARBOSA GUIMARÃES
GUSTAVO FARAON LEITE
GUSTAVO FONTES DUARTE
GUSTAVO GUEDES BARBOSA
GUSTAVO HELMOLD
HEBER ALVES DE SOUZA
HELBERTH AVILA DE SOUZA
HÉLCIO APARECIDO MARCELINO
HELDER IGNACIO SALOMÃO
HELDER NOGUEIRA ANDRADE
HELENA MARIA RIVERA
HELENITA SIPAHI
HÉLIO DE OLIVEIRA
HÉLIO GOMES PINHEIRO FILHO
HÉLIO SCHAIDHAUER PACHECO
HELIO TOMAL
HELOISA HELENA FONSECA
HENRIQUE CESAR JESUS DE SOUSA
HENRIQUE FONTANA JR (Henrique Fontana)
HENRIQUE LOPES DO NASCIMENTO
HERICSSON BUENO MARCHIORATO
HERIKA LORENA SERRA CAMPOS
HERNANY DONATO DE MOURA
HERYKO QUEIROZ ALVES
HILDEBRANDO OLIVEIRA MAIA JÚNIOR
HISLÂNDIA VIEIRA DOS SANTOS
HORACIANO ESTEVAO PENA
HUGO HUDSNEY SANTANA DE SOUZA
HUGO M. S. SARAIVA
HUMBERTO SÉRGIO COSTA LIMA
IAN KELVIN MATTOS COSTA
IANA OLIVEIRA DA SILVA AGUIAR
IANE DE JESUS
IASMIN CAROLINA BISPO CUNHA
ÍCARO VERGNE ALONSO
IDELI SALVATTI
IDELTINO BARRETO FILHO
IEDA LEAL DE SOUZA
IEDA MARIA DA SILVA
ILMA MARIA
ILONA CAROLINA ADAMI
INÁCIO LEMKE
INDAIANE MARQUELI CABRAL BRANCO
INES BARBOSA DE OLIVEIRA
INÊS GRANADA PEDRO
INÊS GRANADA PEDRO
INGEBORG DANILA EICHWALD
INGRID MARTINS BRITO
INOCÊNCIO UCHOA
IOLANDA MOREIRA GUIMARÃES
IONE CRISTINA MENDES
IONECI TERRA BRANDAO
IPOJUCAN DEMETRIUS VECCHI
IRACEMA CORSO GUIMARÃES CABRAL MONTEIRO
IRANI FERNANDES LEANDRO
IRENE NASARET KIRST
IRINEU ROBERTO DE OLIVEIRA
IRWING VERSANI DE SOUZA SOARES CALLOU
ISA CRISTINA DA COSTA SANTOS OLIVEIRA
ISABEL CHRISTINA REINOSO HOMEM
ISABEL CRISTINA GONÇALVES SANTOS
ISABEL DOS SANTOS MOURA
ISABEL PERES DOS SANTOS
ISABELA CAIXETA VEIGA
ISABELA DE SOUZA DAMASCENO
ISABELA GONÇALVES ZENI
ISADORA W. C. VIRGOLIN
ISIS GARCIA MARQUES
ISMAEL CESAR
ISMAEL GONÇALVES NUNES
ISRAEL LEOCÁDIO DA CUNHA
ITALO MORICONI
ITISMAR SOUSA DE MENEZES
IVADIR DE SOUSA
IVADIR DE SOUSA
IVAIR BISSI
IVALÔNY MACIEL MANGUEIRA
IVAN CASSERES DE MATOS
IVAN MARTINS PINHEIRO
IVAN OLIVEIRA DE JESUS
IVAN VALENTE
IVAN YURI BEVILAQUA DE VASCONCELOS
IVANA ARRUDA LEITE
IVANA MARIA SANTANA ANDRADE
IVANDA BISPO DOS SANTOS
IVANEIDE ALVES DE CARVALHO
IVANIA DE BRITO COSTANZI
IVANICE DA SILVEIRA SANTOS
IVANIL DO CARMO SILVA GOMES
IVANY ALMEIDA
IVETE ULRICH
IVONE GOSSE
IVONIA APARECIDA FERREIRA
IZABEL CRISTINA LEÃO VIEIRA
JACILDO DE SIQUEIRA PINHO
JACILENE MARIA DA SILVA
JACINTO VITORINO DOS SANTOS
JACQUELINE APARECIDA RESENDE
JACQUELINE CARDOSO DOS SANTOS
JACQUELINE CASTRO
JACQUELINE LEIRNER
JACQUES FUX
JACSON GIL SCHOSSLER
JACSON SILVA RODRIGUES
JAILSON CORREIA DA SILVA
JAILTON BARBOSA MATOS ANDRADE
JAILZA BARBOSA DOS SANTOS
JAILZA CARVALHO DE ANDRADE
JAIME GARCIA SIQUEIRA JR.
JAIRO BATISTA SILVA SANTOS
JALMIR CESAR GONÇALVES DE ARAÚJO
JAMES CARNEIRO DA SILVA
JANAINA LUIS MONTEIRO
JANAÍNA LUNA SANTOS
JANAÍNA MARIA SANTOS RIBEIRO
JANAÍNA RUTE DA SILVA DOURADO
JANDIRA FEGHALI
JANDYRA MASSUE UEHARA ALVES
JANE CARDOSO COSTA
JANE MARIA DO ROSÁRIO GOMES DE SANT'ANA
JANE SILVA DE ARAUJO SANTOS
JANICE MARTINS DA ROSA
JANICE SIMPLICIO DA SILVA
JANIELSON JOSÉ DE OLIVEIRA
JANIERE TAVARES DE JESUS
JANINE DE SOUZA MEDEIROS DA SILVA
JANINE FERREIRA HAASE
JAQUELINE ANDRESSA MÜLLER GIROTTO
JAQUES WAGNER
JARBAS ARAÚJO DE OLIVEIRA JÚNIOR
JARDEL ANTÔNIO DA SILVA MOURA
JEAN BATISTA SANTOS
JEAN MAURO MENUZZI
JEAN PAUL TERRA PRATES
JEAN PEDROSO GONÇALVES JUNIOR
JEANCARLO DE SOUZA PENHA
JEANE RODRIGUES NUNES
JEFERSON LUIS LIMA CUNHA
JENISSON ALVES DE ANDRADE
JENNIPHER TAYTSOHN
JENNYFER NATHALIA OLIVEIRA DE ALMEIDA
JESSICA IOLANDA DA ROCHA
JESSICA SAMECIMA DE OLIVEIRA
JESSICA SAMECIMA
JESSICA SANTOS DE ANDRADE
JHONNY DIAS MARTINS SIQUEIRA
JIVALDO BATISTA GOES
JOANA DARC FERREIRA SOARES
JOANA LOPO DANTAS DA SILVA
JOANNE DE OLIVEIRACOSTARAMOS
JOAO ANIBAL SALGADO
JOÃO ANTONIO DE MORAES
JOAO ANTONIO FERREIRA
JOAO AUGUSTO MADEIRA
JOÃO BATISTA GOMES
JOÃO BATISTA GOMES
JOÃO BATISTA JACÓ DO NASCIMENTO
JOÃO BATISTA PINHEIRO SANTOS FILHO
JOÃO BATISTA TANCREDO
JOÃO BATISTA
JOÃO CALDAS
JOÃO CARLOS HEISSLER
JOÃO CARLOS REINERS TERRON
JOÃO CARLOS RODRIGUES
JOÃO CARLOS SANTOS PINTO
JOÃO CARLOS SIMMI
JOÃO CARLOS SIQUEIRA (Padre João)
JOÃO CLIMARIO LACERDA VARGENS
JOÃO DA FONSECA SANTANA
JOÃO DE SALES ANDRADE
JOÃO GABRIEL PIMENTEL LOPES
JOÃO GONZAGA SANTOS DE SANTANA
JOÃO HENRIQUE DE SOUZA ASSUNÇÃO
JOÃO IVO PUHL
JOAO JESUS DE OLIVEIRA
JOÃO LEONAR DA SILVA
JOÃO LUÍS ANZANELLO CARRASCOZA
JOÃO LUÍS BENTO
JOÃO LUIZ ANDRIOTTI DE OLIVEIRA
JOÃO MARCELO PEREIRA DOS SANTOS
JOÃO MAURO FIDALGO
JOÃO PAULO DOS SANTOS
JOÃO ROBERTO AZEVEDO
JOAO ROBERTO DE JESUS FILHO
JOÃO SILVÉRIO TREVISAN
JOÃO SOMARIVA DANIEL
JOÃO TEODÓRIO PEREIRA ROSA NETO
JOÃO VICENTE GOULART
JOÃO VICENTE SILVA CAYRES
JOÃO VICTOR DIAS DE SOUZA
JOÃO VITOR MORAIS
JOAQUIM ALVES DOS SANTOS SILVEIRA
JOAQUIM ANTONIO F DE SOUZA
JOB MARTINS DOS SANTOS
JOBSON TAVARES DE JESUS
JOCIENE MATILDE SILVA DE AMORIM
JOCILENE MATOS MAIA
JOCIMAR LOMBA ALBANEZ
JOEL CARLOS DO NASCIMENTO
JOEL DE ALMEIDA SANTOS
JOEL ISRAEL CARDOSO
JOEL PIZZINI
JOELMA DANTAS SANTANA ANDRADE
JOELMA MARIA GONÇALVES ROLIM
JOELMIR JORGE DA SILVA
JOENILZA LOPES RIBEIRO SANTOS
JOHNNY DAVI DOS SANTOS
JOICE JAQUELINE LOPES DOS SANTOS
JOICIANE XAVIER BRAYER
JOILDA MENEZES DE AQUINO ELOI
JOILMA SILVEIRA NASCIMENTO
JONACIR SIQUEIRA DE ANDRADE
JONAS NOVAIS DE OLIVEIRA JUNIOR
JONES MANOEL RIBEIRO DA SILVA
JORASE SILVA RODRIGUES
JORGE ALEXANDRE B. DE SENNA
JORGE ANTONIO SORIANO MOURA
JORGE AUGUSTO PORTELA BRAGA
JORGE COSTA VIEIRA
JORGE DA CUNHA LIMA
JORGE DE SOUZA VALVERDE
JORGE ELIAS HAKIM
JORGE EMANUEL WADI SANTOS
JORGE FERREIRA DOS SANTOS FILHO
JORGE JOSÉ SANTOS PEREIRA SOLLA
JORGE LUIZ DE ARAÚJO ALVES
JORGE LUIZ DOS SANTOS
JORGE LUIZ VIEIRA DA SILVA
JORGE SARTORATO COSTA
JORGE TADEU CALMON SENA
JORGE RODRIGO NASCIMENTO SPÍNOLA
JORGEVAL DE ALMEIDA SANTOS
JORGINA DOS SANTOS
JOSCIMAR APARECIDA MARINS SANTIN
JOSÉ AIRTON FELIX CIRILO DA SILVA
JOSE ALDERNEI DE SOUZA LIMA JUNIOR
JOSÉ AMARÍLIO SOUZA DE OLIVEIRA JÚNIOR
JOSÉ ANJULI MAIA
JOSÉ ANTÔNIO DE ALBUQUERQUE ARAÚJO
JOSE ANTONIO DOS SANTOS
JOSÉ APARECIDO AMÂNCIO DOS SANTOS
JOSÉ AUGUSTO GARCIA DE SOUSA
JOSE BITTENCOURT BARRETO FILHO
JOSE CANDIDO DA SILVA FILHO
JOSE CARLOS BALBINO
JOSÉ CARLOS BECKER DE OLIVEIRA E SILVA (ZECA DIRCEU)
JOSÉ CARLOS DA SILVA LEITE
JOSÉ CARLOS NUNES JUNIOR
JOSE CARLOS OLIVEIRA DA SILVA
JOSE CARLOS PINTO DE OLIVEIRA
JOSÉ CARLOS SALVADOR
JOSÉ CARLOS TEIXEIRA
JOSÉ CARLOS TRINDADE DA SILVA
JOSÉ CARLOS VERAS DOS SANTOS
JOSÉ CERQUEIRA DE SANTANA NETO (ZÉ NETO)
JOSÉ DE ARIMATEIA LEITE DE MENEZES
JOSÉ DE JESUS SANTOS
JOSÉ DENIS LANTYER MARQUES
JOSÉ DUARTE CARDOSO RIBEIRO DIAS
JOSÉ EDMAR REIS DE MATOS
JOSE EDUARDO FERREIRA MILIONE
JOSÉ EDUARDO MARTINS CARDOZO
JOSE EYMARD LOGUERCIO
JOSÉ FELIPE DE OLIVEIRA
JOSE FREIRE DA SILVA
JOSÉ GERALDO DA COSTA
JOSÉ GONÇALVES COSTA FILHO
JOSÉ GUIMARÃES CASTELLO BRANCO
JOSÉ HENRIQUE GALLI
JOSÉ HERMETO HOFFMANN
JOSÉ IDELMAR RODRIGUES
JOSÉ IRAN BARBOSA FILHO
JOSÉ JAIR POLO
JOSÉ JORGE MAGGIO
JOSÉ LEONARDO COSTA MONTEIRO
JOSÉ LÚCIO BARBOSA
JOSÉ LUIZ AMALIO DA SILVA
JOSÉ LUIZ CHICANI TAHAN
JOSE LUIZ DIAS ALMEIDA
JOSÉ LUIZ MENEZES
JOSÉ LUIZ PEREIRA
JOSÉ MARCELO DE ALMEIDA MIOTE
JOSÉ MÁRCIO APRÍGIO DOS SANTOS JÚNIOR
JOSÉ MARIA DOS SANTOS
JOSÉ MIGUEL SOARES WISNIK
JOSÉ MILLANO COSTA FREIRE
JOSÉ MILLANO COSTA FREIRE
JOSÉ MONTEIRO SILVA
JOSÉ NESTOR SILVA MELO
JOSÉ NILTON AQUINO CAJÉ
JOSÉ NILTON EZEQUIEL DE LIMA
JOSÉ NOBRE GUIMARÃES
JOSÉ OSCAR BEOZZO
JOSÉ PEDRO DOS SANTOS NETO
JOSÉ RENATO INÁCIO DE ROSA
JOSÉ RIBAMAR DOS SANTOS FILHO
JOSÉ RICARDO WENDLING
JOSÉ ROBERTO LEMOS
JOSÉ ROBERTO OLIVEIRA FARO
JOSÉ ROMULO BATISTA XAVIER
JOSE RROBERTO RODRIGUES DA CUNHA
JOSE SANTOS DA PAIXAO
JOSÉ SÉRGIO COSTA FRANÇA
JOSÉ VALÉRIO CAVALLI
JOSÉ VALMIR BRÁZ
JOSÉ VALTER ALVES DA ROCHA
JOSÉ VANDERLEI SANTOS SILVA
JOSÉ VICENTE DA COSTA
JOSE VIEIRA MIRANDA
JOSEFA ALMEIDA CRUZ MAGALHÃES
JOSEILDO RIBEIRO RAMOS
JOSELIA AGUIAR
JOSEMAR BEZERRA DA NOBREGA
JOSEMARA GOS SANTOS RODRIGUES
JOSENELE CRISTINE RODRIGUES
JOSENILDA ARAÚJO DE JESUS
JOSENILTON FERREIRA PEREIRA
JOSETE MARIA CANGUSSÚ RIBEIRO
JOSIANE ABRUNHOSA DA SILVA ULRICH
JOSIANE APARECIDA GONCALVES DE SOUZA
JOSIANE DOS SANTOS DIAS
JOSIANE TRINDADE FERNANDES
JOSINEY DAVIDSON BEZERRA GOMES
JOSIVALDO DA SILVA
JOSIVALDO SAMPAIO SANTOS
JOVITA JOSÉ ROSA
JOYCE DELGADO DE ALMEIDA
JOZA SANTOS
JUAN SANCHEZ
JUCILEIDE TAVARES DA SILVA CORREIA
JUDITE DOS SANTOS RAMOS
JULIA BARRETO BORGES
JULIA HELENA CARVALHO
JULIA MACHADO DE OLIVEIRA
JULIA MARGARIDA ANDRADE DO ESPÍRITO SANTO
JULIA MARIA MORAIS
JÚLIA MURAT E ADDARIO
JULIA REJANE DE SOUZA
JULIÁN MIGUEL BARBERO FUKS
JULIANA CAMPOS MARTINS DINI
JULIANA CLAUDIO
JULIANA DE FARIAS MELLO E LIMA
JULIANA NEUENSCHWANDER MAGALHÃES
JULIANA REGO DE OLIVEIRA
JULIANA SALLES DE CARVALHO
JULIANA SANTOS DA SILVA
JULIANDER XERETA
JULIANO CALEGARI
JULIANO COSTA CARVALHO
JULIO CESA FONTES
JÚLIO CÉSAR BARBOSA PEDROSO DA CRUZ
JÚLIO CÉSAR DE LIMA
JULIO CÉSAR DE MELO FERRAZ
JULIO CESAR DOS SANTOS
JURACI ZAMBON
JURANDIR CALIJORNE RODRIGUES
JURANDIR M CRAVEIRO JR
JURANDYR LORENA PIMENTEL
JUSCÉLIA OLIVEIRA PEREIRA DE SANT'ANNA
JUSCELINO A CRUZ
JUSSARA GRIFFO
JUSSARA LANFERMANN
JUSSARA TEIXEIRA RAMOS
JUVELINO STROZAKE
KAREN PRISCILA BROTTO CAETANO
KARIN DIAZ GONZALEZ
KARINA DOS SANTOS PEREIRA
KARINA PACHECO
KARINE DE OLIVEIRA GONÇALVES
KATHERINE SÉRIO DA COSTA
KÁTIA APARECIDA DOS SANTOS
KATIA CADENA RIBAS
KÁTIA DAVID LIMA DOS SANTOS
KÁTIA LOURDES DOS SANTOS
KÁTIA REGINA NASCIMENTO DA SILVA
KATIA ROGERIA RDRIGUES DOS SANTOS
KATIA VALERIA VIANA NOVAIS SILVA
KEILA MARIA PIMENTEL ARAÚJO
KELLEN MOREIRA DA FONSECA
KELLY BENEDITA DOMINGOS
KENARIK SP: KENARIK BOUJIKIAN
KIMBERLY CHRISTINE DA SILVA CAMPOS
KLEBER LUIZ DOS SANTOS
LAÍS DA SILVA ALMEIDA
LAIS HELENA AIRES BARREIRA
LAÍSLA LIMA BARBOSA
LANDSTONE TIMÓTEO FILHO
LARA CECILIA XAVIER LIMA
LARISSA CAMILA NASCIMENTO PINHEIRO
LARISSA MARIA IACHENSKI
LAUDICEIA OLIVEIRA PEREIRA
LAURA CANTO DE LUCENA
LAURA ELIANE LAGRANHA SANTOS ROCHA
LAURA MARIA DA SILVA
LAURA PETIT DA SILVA
LAURA VINCI
LAUREN MACIEL BUENO
LAVINIA AZEVEDO PANNUNZIO
LAVÍNIA PECK DOS SANTOS MACHADO
LEANDRO AULY DE ALMEIDA
LEANDRO CARDOSO DOS SANTOS
LEANDRO DA SILVA CUNHA
LEANDRO FERREIRA
LEANDRO GASPAR SCALABRIN
LEANDRO KAUMANN
LEANDRO KLEMANN
LEANDRO MEDEIROS DE LIMA
LEANDRO REIS FREITAS
LEDA MARIA PAULANI
LEIDSON DA SILVA NETO
LEILA ANGÉLICA O. MORAIS DE ANDRADE
LEILA ANGELICA OLIVEIRA MORAES DE ANDRADE
LEILA DUARTE LACERDA
LEILA REGINA MARTINS CASOTE
LELIA BRAZIL PROTASIO DE OLIVEIRA
LENICE PARREIRA
LENILTON SANTOS NICÁCIO
LENIO LUIZ STRECK
LEONARDO AUIM DE SOUZA CHAVES
LEONARDO BOFF
LEONARDO CAIXETA VEIGA
LEONARDO DAS MERCES MARQUES
LEONARDO DE SOUZA URPIA
LEONARDO FÉLIX
LEONARDO ISAAC YAROCHEWSKY
LEONARDO LIMA SILVA
LEONARDO RANGEL ALVES SZEZESZEK
LEONICE GABANA
LEONIDES ALVES DA ROCHA NETTO
LETÍCIA SCALABRINI
LETICIA SOARES DE OLIVEIRA
LETÍCIA SOUZA DO CANTO
LEYLA BEATRIZ PERRONE MOISÉS
LÍDIA CUSTÓDIO SANTOS COSTA
LIDIA MARIA ANTUNES DA GLORIA
LILIA MORITZ SCHWARCZ
LILIAN SANTO SANTANA
LILIANE KELLY DE OLIVEIRA
LINCOLN LUIZ FIUZA LIMA JUNIOR
LINDALVA LINHARES DA SILVA MARTINS
LINDON JHONSON ALMEIDA DE ARAÚJO
LIONARDSON COSTA CABRAL
LIRIA WEINFURTER REISDÖRFER
LISIANE CAUMO CEARINI
LIVIA LUCIANA S DA SILVA
LÍVIA SAGUMA BATISTA
LÍVIA SANTANA GUIMARÃES
LÍVIO SANTOS E ASSIS
LOHAN PEREIRA DOS REIS
LOIDE MACHADO DOS SANTOS
LOIVO ABIGAIR DA SILVA
LORI ALTMANN
LORICARDO OLIVEIRA
LOURDES APARECIDA DE JESUS
LOURDES CARVALHO
LOURDES DE FÁTIMA PIRES
LOURDES HELENA ROSA
LOURDES HLENA SIEBEN
LOURDES LAYSA
LOURDES MENDONÇA DE JESUS
LOURIVAL HOLANDA
LOURIVAL REIS JÚNIOR
LOURIVAL REIS JÚNIOR
LOURIVALDO ROHLING SCHÜLTER
LUANA BRIANO DE SANTANA
LUANE MOREIRA DE CARVALHO PEREIRA
LUCAS ANDRÉ SZKLARCZYK
LUCAS DE QUEIROZ VALENÇA
LUCAS OLIVA DE SOUSA
LUCAS SANTANA GUIMARÃES
LUCAS SATOSHI CIPRIANO OIKAWA
LUCAS TEIXEIRA REIS BARBOSA
LUCAS TRUTA BARBOSA
LUCÉLIA MARTINS ABREU
LUCIA ALBERTA ANDRADE
LÚCIA CRISTIANE PENKAL
LÚCIA CRUZ
LUCIA DE FATIMA DE FIGUEIREDO
LUCIA MARIA SILVEIRA DE QUEIROZ
LÚCIA MURAT
LUCIANA ATHAIDE BRANDÃO BAGNO
LUCIANA BOITEUX
LUCIANA DE PAULA DA FONSECA CRISÓSTOMO
LUCIANA DUARTE LOPES
LUCIANA PASCHOAL
LUCIANA RIBEIRO
LUCIANA TROMBINI NARESSI
LUCIANA VILLAS BÔAS
LUCIANA ZAFFALON LEME CARDOSO
LUCIANE BRACHER ROCHA
LUCIANO BOTELHO LIMA
LUCIANO CARDOSO
LUCIANO FERREIRA
LUCIANO MARQUES DOS SANTOS
LUCIANO ROLLO DUARTE
[email protected]
LUCIENE DA CRUZ FERNANDES
LUCIENE MARIA DE SANTANA (LU SANTANA)
LUCIENE MARTINS DE SIQUEIRA
LUCIENY ALVES DOS SANTOS
LUCILENE BINSFELD
LUCILENE LINO NORMANDIA
LUCIMAR DE LOURDES GONÇALVES MARTINS
LUCIVALDINA BRITO DA BOA MORTE
LUCIVALDO PEREIRA DA SILVA
LUIS ANTONIO PASQUETTI
LUÍS CARLOS MORO
LUÍS CÉSAR MODESTO DO ROSÁRIO
LUIS FERNANDO DE FRAGA SILVA
LUIS FILIPE DOS SANTOS MELCIA
LUIS GUSTAVO GRANDINETTI CASTANHO DE CARVALHO
LUIS PAULO VALENTE
LUISA DUARTE
LUIZ ABEL DA SILVA CAVALLI
LUIZ ANDRE SANTOS SOUSA
LUIZ ANTONIO CORRÊA BARBOSA
LUIZ ANTONIO GEMELLI
LUIZ ANTONIO VIEIRA
LUIZ AUGUSTO PONTUAL
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
LUIZ CARLOS CINTRA GORDINHO DE CARVALHOSA
LUIZ CARLOS DOS SANTOS
LUIZ CARLOS VELOSO GOUVEA
LUIZ CEZAR SCHORNER
LUIZ CLAUDIO MARCOLINO
LUIZ DE SOUZA FILHO
LUIZ EDUARDO BENTO DE MELLO SOARES
LUIZ ENJOLRAS VENTURA
LUIZ GONZAGA DE MELLO BELLUZZO
LUIZ HENRIQUE ELOY AMADO
LUIZ HOMERO MITIDIERI
LUIZ MANSUR CAVALCANTE
LUIZ MOREIRA DA CUNHA
LUIZ NUNES CORIOLANO NETO
LUIZ PAULA RIBEIRO
LUIZ PAULO TEIXEIRA FERREIRA (Paulo Teixeira)
LUIZ RUFFATO DE SOUSA
LUIZ TETSUO SETO
LUIZA ERUNDINA DE SOUSA
LUIZA MARIA SANTOS MOTTA
LUIZA MOTTA
LUIZA NEDDERMEYER VAN KRIMPEN LODDER
LUIZA PORTUGAL FARIA
LUIZA RICHTER DENDENA
LUIZIANNE DE OLIVEIRA LINS
LUSMARINA CAMPOS GARCIA
LUZANIRA MORAIS DE SOUZA
LUZENIRA LINHARES ALVES
MADALENA MARGARIDA DA SILVA TEIXEIRA
MADEL THEREZINHA LUZ
MAGALI PONTES DA SILVA
MAGDA BARROS BIAVASCHI
MAGNA DOS REIS FERREIRA VINHAL
MAIBY T. BALBINOT
MAIQUE ARGENTA RIBEIRO
MAÍRA CALIDONE RECCHIA BAYOD
MAÍRA SANTANA MARINHO DA CUNHA
MANOEL FERNANDO MARQUES DA SILVA
MANOEL PEDRO CARVALHO PEREIRA
MANOELA CRISTINA DE SOUZA
MANOELA DA SILVA PEDROZA
MANUELA CRISTINA DE ALENCAR SILVA
MANUELA PINTO VIEIRA D’ÁVILA
MARA REJANE WEBER
MARÇAL AQUINO
MARCELA ALMEIDA DOS SANTOS
MARCELA BEZERRA
MARCELA DA PENHA DUARTE
MARCELISE DE MIRANDA AZEVEDO
MARCELL JOSE DE AQUINO MENDONÇA
MARCELO A. GARCIA
MARCELO ANDRADE CATTONI DE OLIVEIRA
MARCELO AQUINO CORTE REAL DA SILVA
MARCELO AUGUSTO GERMANO
MARCELO BRAZ MORAES DOS REIS
MARCELO CHAGAS
MARCELO COELHO
MARCELO DA COSTA PINTO NEVES
MARCELO DANTAS DE MEDEIROS
MARCELO FERREIRA
MARCELO FREIXO
MARCELO GUERRA RAUSIS
MARCELO JORGE DOS SANTOS TEIXEIRA
MARCELO MACHADO CARLINI
MARCELO MAIA TEODORO
MARCELO NABAS
MARCELO PEREIRA DO NASCIMENTO
MARCELO PIRAIBA DA SILVA
MARCELO POLIDORI
MARCELO PORTO BRANDÃO
MARCELO RENATO FIORIO
MARCELO RIBEIRO UCHOA
MARCELO SALAZAR
MARCIA APARECIDA OVEJANEDA LIA
MÁRCIA CALDAS
MARCIA DENIZ DA SILVA SANTOS
MÁRCIA EMA LENZI
MÁRCIA FERREIRA DOS SANTOS
MÁRCIA GILDA MOREIRA COSME
MÁRCIA JAIME
MARCIA KNORRE MORAES
MÁRCIA MARIA MONTEIRO DE MIRANDA
MÁRCIA MARINS
MÁRCIA NAZARÉ DE LIMA
MARCIA PANTALEÃO DE OLIVEIRA
MARCIA REGINA GONÇALVES VIANA
MÁRCIA SAEKO HIRATA
MARCIAL LUIZ MAIATO
MÁRCIO AUGUSTO BOLZONI
MÁRCIO BOEIRA SOUZA
MÁRCIO COLOMBO
MARCIO FERREIRA DOS SANTOS
MÁRCIO JOSÉ BRANDO SANTILLI
MARCIO JOSÉ DE SOUZA CHAVES
MARCIUS LEANDRO JUNIOR
MARCO ABEL DA SILVA MORAIS
MARCO ANTÔNIO CAMPOS
MARCO ANTONIO DE CARVALHO
MARCO ANTÔNIO GOMES DA SILVA
MARCO AURELIO ALVES
MARCO AURÉLIO BOTELHO DOS SANTOS
MARCO AURÉLIO DE CARVALHO
MARCO HENRIQUE SOARES PEREIRA
MARCOS ALBERTO DE LIMA FERNANDES
MARCOS ANTÔNIO DO NASCIMENTO
MARCOS ARENGHERI
MARCOS AURELIO DA SILVA MEDEIROS DE OLIVEIRA
MARCOS DE OLIVEIRA LIMA
MARCOS DOS SANTOS JUNIOR
MARCOS DOS SANTOS NASCIMENTO
MARCOS IBIDAYO PEREIRA
MARCOS JULIO FUHR
MARCOS KAMMER
MARCOS LIMA DE MELO SILVEIRA
MARCOS NOBRE
MARCOS PAULO DE LIMA BASSETTI
MARCOS PAULO FEITOSA SOUZA
MARCOS PENNA SATTAMINI DE ARRUDA
MARCOS ROBERTO ANDRADE
MARCOS VINICIUS SANTIN
MARCUS VINICIUS VIDAL
MARGARETE PEDROSO
MARGARETI MACENA DE LIMA BRITO
MARGARIDA BULHÕES PEDREIRA GENEVOIS
MARGARIDA CAVALHEIRO
MARGARIDA DONAS
MARGARIDA MARIA DE OLIVEIRA
MARGOT JOHANNA CAPELA ANDRAS
MARIA ABADIA DO BRASIL DE OLIVEIRA
MARIA ALBANISA MACHADO
MARIA ALICE NELLI MACHADO
MARIA ALICE PEREIRA ROCHA
MARIA ANATALIA FERREIRA DAS MERCÊS
MARIA ANGÉLICA DA ANUNCIAÇÃO
MARIA ANNA EUGENIA STOCKLER
MARIA ANTONIA MARTINS DOS SANYOS
MARIA APARECIDA DE AQUINO
MARIA APARECIDA DE DEUS R. ALVES
MARIA APARECIDA DO AMARAL GODOY DE FARIAS
MARIA APARECIDA PINTO RIBEIRO
MARIA APARECIDA VIEIRS
MARIA AUGUSTA ALVES DE OLIVEIRA
MARIA AUGUSTA PIRES PINTO
MARIA AUXILIADORA ARANTES
MARIA AUXILIADORA DE SANTANA SILVA
MARIA BERNADETTE FIGUEIREDO
MARIA CANDELARIA ALBERO FERREIRA
MARIA CARMEN AYRES DE A GOMES
MARIA CARMEN COUTINHO CAVALCANTI
MARIA CECILIA MARTHA CAMPOS
MARIA CELINA PEDROSO ALVES
MARIA CELMA DE SOUZA
MARIA CELY DE ANDRADE
MARIA CLAUDIA OLIVEIRA DOS SANTOS
MARIA CRISTINA BRITO COSTA
MARIA CRISTINA RODRIGUES EVANGELISTA
MARIA DA CONCEIÇAO DOS REIS SANTOS
MARIA DA CONCEIÇÃO DOS SANTOS
MARIA DA CONCEICAO MICHIYO KOIDE
MARIA DA HORA R. NASCIMENTO
MARIA DA PAZ LINHARES ALVES
MARIA DA PENHA ARAUJO
MARIA DACONCEICAO DOS SANTOS
MARIA DAS DORES PEREIRA MOTA
MARIA DAS DORES SALES DE MEDEIROS
MARIA DAS GRAÇAS COSTA
MARIA DAS GRAÇAS DO NASCIMENTO
MARIA DAS GRAÇAS DO NASCIMENTO
MARIA DAS GRAÇAS PERERA DE MELLO
MARIA DAS GRAÇAS SILVA ARAUJO
MARIA DE FÁTIMA FARIAS DOMINGUES
MARIA DE FÁTIMA GOMES PACHECO DE FREITAS
MARIA DE FÁTIMA MARQUES RIBEIRO
MARIA DE FATIMA SANTOS
MARIA DE FATIMA SILVA DE JESUS
MARIA DE FÁTIMA UCHOA SOUSA
MARIA DE LOURDES LOZANO GRANERO E SILVA
MARIA DE LOURDES RAFAEL
MARIA DE LOURDES S. GONSALVES
MARIA DE LOURDES SILVA
MARIA DO CARMO DE SOUZA SANTOS
MARIA DO CARMO LUCCA AITA
MARIA DO CÉU DE LIMA
MARIA DO SOCORRO DE FREITAS GOMES
MARIA DO SOCORRO RAMALHO
MARIA DO SOCORRO XAVIER BATISTA
MARIA DOS DISTERRO HOLANDA DE NOGUEIRA COSTA
MARIA EDILUZIA LEOPOLDINO SANTOS
MARIA EDIVANIA DA SILVA COSTA
MARIA EDNA BEZERRA DA SILVA
MARIA ELIANA BARRETO
MARIA ELIETE LEÃO
MARIA EMILIA BENDER
MARIA ESTHER MACIEL DE OLIVEIRA BORGES
MARIA FERNANDA PINGUELLI SODRÉ
MARIA FERNANDA SOEIRO CAMPOS
MARIA GEOVANA SOARES DA SILVA
MARIA GIZELDA BEZERRA LOPES
MARIA HELENA DE OLIVEIRA
MARIA HELENA FIGUEIRÓ
MARÍA HELENA LORENA PIMENTEL
MARIA IZABEL CAVALCANTI MENEZES
MARIA IZABEL KERTI
MARIA JIZOLDA EVANGELISTA SOARES
MARIA JOSÉ LEIVAS WAQUIL
MARIA JOSÉ NASCIMENTO FILHA
MARIA JOSÉ ROZADO DE OLIVEIRA
MARIA JOSÉ SILVEIRA LINDOSO
MARIA JOSÉ TORRES
MARIA JUCIENE NELIS BARBOSA
MARIA JUSSARA MELO
MARIA LETICIA DE SIQUEIRA VIRGILIO
MARIA LUANA TEIXEIRA LIMA
MARIA LUCI LIMA SANTOS
MARIA LUCIA ALVES FERREIRA
MARIA LUCIA COELHO CORREA
MARIA LUCIA DE ARAUJO OLIVEIRA MOREIRA
MARIA LÚCIA MORAIS SANTANA
MARIA LÚCIA MORAIS SANTANA
MARIA LÚCIA PEREIRA
MARIA LÚCIA SANTIAGO SILVA
MARIA LUIZA FLORES DA CUNHA BIERRENBACH
MARIA LUIZA FRANCO BUSSE
MARIA LUIZA NEVES MONTEIRO COSTA
MARIA LUIZA VASCONCELOS NASCIMENTO
MARIA MADALENA OLIVEIRA FIRMO
MARIA MADALENA RODRIGUES
MARIA MICILENE VIEIRA
MARIA MIRTES DE PAULA
MARIA NEILDES DO NASCIMENTO GOIS
MARIA OLDEIDE PEREIRA GOMES
MARIA OSMARINA MODESTO DE SOUSA
MARIA OZANEIDE DE PAULO
MARIA PERPÉTUA DE ALMEIDA
MARIA PERPETUA SOUZA
MARIA REGINA PEREIRA FIGUEIRÓ
MARIA RISONEIDE QUEIROZSANTOS
MARIA RODRIGUES SILVA
MARIA ROSELY CAVALCANTE
MARIA ROSILENE BEZERRA RODRIGUES
MARIA SANDRA SILVA JACINTO
MARIA SILVIA DE CARVALHO NETA
MARIA SILVIA DE CARVALHO NETA
MARIA SOCORROJERONIMO DA SILVA
MARIA TELMA FERREIRA CRUZ
MARIA TEREZINHA DOS SANTOS
MARIA VALÉRIA VASCONCELOS REZENDE
MARIA VANIRA SANTOS DE JESUS
MARIA VICTORIA BENEVIDES SOARES
MARIA WELIA MATIAS REBOUÇAS
MARIALVA OLIVA LUNKES
MARIANA MOREAU
MARIANA MOREIRA RAUPP
MARIANA PEREIRA SOARES
MARIANI APARECIDA DO AMARAL PADILHA
MARICELMA AGUIAR MASTRANDÉA DE GOES
MARIE LOUISE BULHÕES PEDREIRA GENEVOIS
MARILDA DE OLIVEIRA COSTA
MARILEIDE CASTELO BRANCO DE MELO
MARILEIDE DOS SANTOS
MARILENE SANTOS MÁXIMO
MARÍLIA DOMINGUES TRAVASSOS
MARÍLIA FERRARO ROCHA
MARÍLIA GARCIA SANTOS GANDOLFI
MARILIA RAMOS DA MOTA
MARILISA DEZORDI PEREIRA
MARILU AMARAL
MARILUCE DE SOUZA MOURA
MARINA KAHN
MARINA PEREIRA DE ANDRADE
MARINA ZANCANER BRITO MALUF FERNANDO MORAIS
MARINETE APARECIDA DE AZEVEDO
MARIO ANTONIO DUARTE BOMFIM
MARIO DE OLIVEIRA LIMA
MARIO DE SOUZA SOARES NETO
MARIO GABRIEL COCO
MÁRIO MACEDO NETTO
MARISA MAREGA
MARISTELA DE PAULAANDRADE
MARISTELA FERNANDES MIRANDA
MARISTELA MIRANDA
MARIUZE INEZ P. MIRANDA
MARIZA PEREIRA ALVARENGA
MARIZA PEREIRA ALVARENGA
MARIZE MOTTA
MARIZE SOUZA CARVALHO
MARLEIDE DIAS SANTOS
MARLEIDE DIAS SANTOS
MARLENE FÁTIMA DA SILVA
MARLENE JOSÉ MACHADO
MARLENE RITA DE QUEIROZ
MARLENE SOARES FRANÇA
MARLI APARECIDA THOMASSIM MEDEIROS
MARLISE MIRIAM DE MATOS ALMEIDA
MARTA AGUIAR DE SOUZA
MARTA BERTANI
MARTA FERNANDA DA SILVA
MARTA REGINA HEINZELMANN
MATEUS ALVES LINS
MATEUS ANDRADE DA ROCHA FARIAS
MATEUS BRANT DA SILVA
MATEUS VINICIUS FREITAS DA SILVA
MATHEUS FHAIHA DE SOUZA COELHO
MATHEUS FRANCISCO DOS SANTOS
MATHEUS NASCIMENTO DE ALBUQUERQUE
MATHEUS NAVES GONÇALVES
MATHEUS NEVES PADILHA
MATILDE SANTOS DE OLIVEIRA
MAURI B. DOS SANTOS FILHO
MAURICIO ALEXANDRO RODRIGUES
MAURÍCIO JOSÉ ARAUJO DE ANDRADE
MAURO DE FREITAS MAZZITELLI
MAURO DE AZEVEDO MENEZES
MAURO JOSÉ AUACHE
MAURO NASCIMENTO
MAXSUELLY SANTOS
MAYRA CAMILO DA SILVA CRISTE
MEIRIVONE FERREIRA DE ARAGÃO
MELVINO FONTES OLIMPIO
MERCEDES DE SOUSA PENNA
MERIUCHE FEITOSA CORTES DE SOUZA
MICHEL LAUB
MICHELINY VERUNSCHK PINTO MACHADO
MICHIKO SHIROMA DE CARVALHO
MIGUEL BRUNO SOARES SILVA
MIGUEL LORENZON
MIGUEL THIMOTEO DE LIMA FILHO
MILA PUGLIESE CARDOZO
MILENA DOS SANTOS ROLIN
MILENKO FERREIRA XAVIER
MILTON ANTONIO GRIZA
MILTON HATOUM
MILTON PINHEIRO
MILTON RODRIGUES CRUZ JUNIOR
MILTON SILVEIRA
MIRELA MAGNANI PACHECO
MÍRIAN GONÇALVES
MOACIR FERREIRA LIMA
MONICA CARRIS ARMADA
MONIQUE GARDENBE
MONIQUE MOREIRA ZANDONADE
MURILO LEAL PEREIRA NETO
MURILO ZANELLO MILLÉO JUNIOR
MURYELL TEIXEIRA PAIL ALVES
NÁDIA BARNES PAIS DE OLIVEIRA
NADIR CARDOZO DOS SANTOS
NADJA C. DE SOUZA
NADJA MILENA SANTANA
NAIA GEILA INNOCENTE DE OLIVEIRA
NAIARA AGUILERA SOARES
NAIARA CAVANHA
NAIARA GUIMARÃES ABREU
NAIARA SOARES BENTO
NAÍMA MARMITT WADI
NAPOLEÃO BATISTA FERREIRA DA COSTA
NARA CAMPOS DE MEDEIROS
NARIA ELISA SANTANA
NATÁLIA BASTOS BONAVIDES
NATÁLIA BISPO DOS SANTOS
NATÁLIA MONTES DA FONSECA
NATÁLIA ROCHA
NATALIE DE CASTRO ALMEIDA
NAVA HANAN
NAZARÉ DOS SANTOS
NAZON BARBOSA DE SOUZA
NEIDE FERNANDES RIBEIRO
NEIDE SAMICO DA SILVA
NEILA NAZARÉ MONTEIRO DA CONCEIÇÃO
NEILA RUIZ ALFONZO
NELCIOR
NÉLIO JOSÉ DA SILVA
NELMA DINIZ ALVES
NELSON ANACLETO PEREIRA
NELSON CRISTALINO GOULART SAMPAIO
NELSON GONÇALVES DA SILVA
NELSON LUIS BORGES DE BARROS
NELSON QUEIROZ SOBRINHO
NEREIDE LACERDA BEIRÃO
NERIVALDO MONTEIRO
NEUDI ANTONIO GIACHINI
NEUMORA LIRA B GORDO
NEUSA APARECIDA MENDES
NEUSA DO CARMO ALBUQUERQUE
NEUSA MARIA BONGIOVANNI RIBEIRO
NEUSA MARIA DIAS ANDRADE
NEUSA MARIA FERREIRA DE CASTRO
NICANOR PINTO
NILCIO COSTA
NILO DA CUNHA JAMARDO BEIRO
NILO HAR TRINDADE
NILSON POLINARIO
NILTO IGNÁCIO TATTO
NILTON DAMIÃO ESPERANÇA
NILVANCAMPOSSERRA
NILZA MARIA RODA DA S NASCIMENTO
NIVALDO ALVES DA SILVA ALVES
NIVALDO HOLMES DE ALMEIDA FILHO
NOEME BARRETO LIMA DOS SANTOS
NOEMI JAFFE
NUNO RAMOS
OBEDE DA SILVA MARICAUA
ODACIR SCOPEL
ODORICO FERREIRA CARDOSO NETO
OLAVO BILAC 319 PORTO ALEGRE RS
OLDINEIA COSCIA DE FERRO CEBALHO
OLENKA AIRES BARREIRA
ORLANDO LUIZ DA SILVA
ORLANDO SOARES BEZERRA
ORLINEY DE JESUS SILVA
OSCAR VIRGILIO CARNEIRO FILHO
OSMAR ANTÔNIO SCHROH
OSMAR MÜLLER
OSNEI BARRETO DA SILVA
OSVALDO DA SILVA GABRIEL
OTÁVIO AFONSO FORNECK
OTAVIO LUIZ MARTINS
OTAVIO PINTO E SILVA
PALMIRA AMANCIO DA SILVA
PALOMA EMMANUELLE SANTOS DE MENEZES
PALOMA VIDAL
PAOLA GIRALDO
PATRÍCIA CALAZANS MOTA
PATRÍCIA COSTA
PATRICIA CRISTINA ALVES CAMPANATTI
PATRÍCIA DYONISIO DE CARVALHO
PATRÍCIA G. DE MEDEIROS
PATRICIA HELENA MASSA
PATRICIA MACÁRIO GOMES
PATRÍCIA MARIA ROSA DE SOUZA
PATRÍCIA REGINA RODRIGUES GUTERER
PATRICIA REINHEIMER
PATRICIA RODRIGUES
PATRICK DE OLIVEIRA COSTA
PAULA FABRIO
PAULA MARGARIDA MOREIRA VIANA
PAULA PROENÇA
PAULINHO OLIVEIRA
PAULO ALEXANDRE PEREIRA DA SILVA
PAULO CELSO O MACEDO
PAULO CHITOLINA
PAULO DE OLIVEIRA BARROS
PAULO DE TARSO LUGON ARANTES
PAULO DE TARSO VIEIRA
PAULO FERNANDO ALVES DE FARIAS
PAULO FÜHR
PAULO GUSTAVO GROSSI DA SILVA
PAULO HENRIQUE SANTOS FONSECA
PAULO JOSÉ ADISSI
PAULO JOSÉ PEDROSO JUNQUEIRA
PAULO JOSÉ ROSSI
PAULO JOSÉ VILLELA LOMAR
PAULO JUAREZ ALVES GOMES
PAULO MEDEIROS BARRETO
PAULO MÜLLER LOPES
PAULO RENATO PAIM
PAULO ROBERTO GALVÃO DA ROCHA
PAULO ROBERTO ÍNDIO DO BRASIL
PAULO SÉRGIO CORDEIRO SANTOS
PAULO TAVARES DA SILVA
PAULO TAVARES MARIANTE
PEDRO ALVES MARTINS JÚNIOR
PEDRO BERNARDO ALVES CARDOSO
PEDRO CESAR BATISTA
PEDRO EDSON DA SILVEIRA
PEDRO EDUARDO CORTES ALMEIDA DA COSTA
PEDRO ESTEVAM ALVES PINTO SERRANO
PEDRO GOETTEMS
PEDRO HENRIQUE DE MORAES KOLTON
PEDRO HENRIQUE VIANA MARTINEZ
PEDRO LUCAS CRUZ DA SILVA
PEDRO LUCAS MONTUANI E GARCIA
PEDRO MEIRA MONTEIRO
PEDRO PAULO LOURIVAL CARRIELLO
PEDRO PAULO SUAREZ RODRIGUEZ
APEOESP
PERICLES ASSUNÇÃO SANTOS
PERICLES DE LIMA
PETER JOHN LENNY
PETERSON DE JESUS MORAIS
PLÍNIO PUGLIESI CARDOZO
POLIANA ALVES SILVA DE OLIVEIRA
PRISCILA DOS PASSOS SILVA
PRISCILA DOS SANTOS RODRIGUES PITTA
PRISCILA VEIGA
QUITERIA DA SILVA SANTOS
RAFAEL DOS SANTOS
RAFAEL FELIPE MARTINS
RAFAEL FELIX LARA
RAFAEL FREITAS BEZERRA
RAFAEL GERALDO DE QUEIROZ SOUSA
RAFAEL JÚNIOR TOLEDO DE LIMA
RAFAEL MAGALHÃES
RAFAEL MORAIS PORTUGUÊS DE SOUZA
RAFAEL SANTOS DE AZEVEDO
RAFAELA DA SILVA GARCIA
RAILDO MOTA DE JESUS
RAIMUNDA ALVES DE PINHO
RAIMUNDA AUDINETE DE ARAÚJO
RAIMUNDO MENDES
RAIMUNDO AUGUSTO DE OLIVEIRA
RAIMUNDO CEZAR BRITTO ARAGÃO
RAIMUNDO LUCENA MACIEL
RAIMUNDO MENDES
RAIMUNDO NONATO DOS SANTOS
RAÍSSA GUIMARÃES LIMA
RAMON SILVA PERES
RAQUEL BISPO DAMASCENO
RAQUEL GONÇALVES DE OLIVEIRA
RAQUEL SCHNEIDER DUARTE
RAUL LAURENCE SANTOS CAMPOS
RAUL LOUREIRO
RAYSON RIPOLLI DE OLIVEIRA
REBECA SANTOS DE OLIVEIRA
REBECCA VERAS BRITO DE ALMEIDA
REGINA APARECIDA BUENO PAIVA
REGINA CÉLIA TEIXEIRA PINHEIRO
REGINA RIBEIRO BORGES
REGINALDO DE FREITAS SOUZA
REGINALDO MEDRADE DOS SANTOS
REGINALDO PEIXOTO
REGINO MARQUES DOS SANTOS FILHO
REINALDO ALVES RIBEIRO
REINALDO CRUZ
REINALDO ESTEVES CORREA DE MORAES
RENAN SOUSA CARVALHAES
RENATA ALVES DE ALMEIDA
RENATA AZEVEDO MOREIRA
RENATA CONSUL KAZMIRCZAK
RENATA DE ALMEIDA LUCAS
RENATA LOPES SOPENA
RENATA MEDEIROS PAOLIELLO
RENATA PEREIRA DA SILVA
RENATA SCAQUETTI G. NEVES
RENATO CAMPOS PINTO DE VITTO
RENATO CARVALHO ZULATO
RENATO DOS SANTOS SANT'ANNA
RENATO LUIS HANSEN DA ROSA
RENATO PARREIRAS MACIEL
RENATO SIMOES
RIBERTO CACHEIRO
RICARDO ABRAMOVAY
RICARDO APARECIDO DOS SANTOS
RICARDO DA SILVA LEAL
RICARDO DE MEDEIROS RAMOS FILHO
RICARDO DE OLIVEIRA VIEIRA
RICARDO DE OLIVEIRA
RICARDO DE SOUZA MANZI
RICARDO FERREIRA
RICARDO JOSÉ ALEIXO DE BRITO
RICARDO MUSSE
RICARDO OZIMO DA SILVA
RICARDO VEIGA
RICARDO ZANELLA
RINALDO DE NOVAES GOMES
RITA DA COSTA PEREIRA
RITA DE CASSIA AMORIM SANTOS SANTANA
RITA DE CÁSSIA DE AGUIRRE BERNARDES DEZENA
RITA DE CÁSSIA DOS SANTOS OLIVEIRA
RITA DE CÁSSIA L. DE LEMOS
RITA DE CASSIA NATAL CHAVES
RITA DE CASSIA OLIVEIRA MAGALHAES
RITA DE CASSIA SANTOS
RITA DE CÁSSIA SANTOS
RITA MENDONCA
RITA MOREIRA
RIVANIA LIMA DE OLIVEIRA
ROBERTA DUBOC PEDRINHA
ROBERTA SHOLL DA SILVA BECKER
ROBERTA SIMONETTI
ROBERTO AMORIM FERREIRA
ROBERTO CAVALCANTE AMORIM
ROBERTO DELANO SANTOS ROCHA
ROBERTO ERVINO ZWETSCH
ROBERTO PONCIANO GOMES DE SOUZA JUNIOR
ROBERTO PORTUGAL DE BIAZI
ROBERTO REQUIÃO DE MELO E SILVA
ROBERTO ROMANO TADDEI
ROBERTO TARDELLI
ROBSON MARQUES
ROBSON SANTOS SILVA
RODOLFO IZAIAS BARBOSA
RODOLFO RECKZIEGEL DE LUCENA
RODRIGO LACERDA
RODRIGO LEONARDES SANTOS SILVA
RODRIGO LOPES BRITTO
RODRIGO NUNES LELES
RODRIGO PERLA MARTINS
ROGER CARVALHO DA SILVA
ROGER CARVALHO DA SILVA
ROGÉRIO CARVALHO SANTOS
ROGERIO DA COSTA CAMPANATE
ROGÉRIO DE JESUS BARROSO FERREIRA
ROGÉRIO DUTRA DOS SANTOS
ROGÉRIO FERREIRA DE ANDRADE
ROGÉRIO GOMES ROSSIGNOLI
ROGERIO TAVARES DE ALMEIDA
ROMILDA GUNTZEL
RONALDO CEZAR SILVA POLITO
RONALDO CEZAR SILVA POLITO
RONALDO CORREIA DE BRITO
RONALDO MARQUES FERREIRA
ROQUE SOTERO DOS SANTOS
ROSA HELENA LEMES OLIVEIRA MARTINS
ROSA MARIA DE PAIVA LEAL
ROSANA APARECIDA DA SILVA
ROSANA BATISTA DOS SANTOS
ROSANA MARIA BARBOSA
ROSANA MORAIS WEG
ROSANA FÁTIMA DE ARRUDA
ROSANE DA SILVA
ROSANE PEREIRA FONSECA
ROSANGELA DE LIMA BREITEMBACH
ROSÂNGELA GOMES SOARES DA COSTA
ROSÂNGELA MARIA AMARAL
ROSÂNIA APARECIDA RIBEIRO
ROSEANE RAMOS SILVA DOS SANTOS
ROSELAINE KUHN
ROSELI APARECIDA ILIDIO
ROSEMERI MIRANDA PRADO
ROSEVALDO SANTOS DE JESUS
ROSI LOPES PETERSEN
ROSILAINE DECORINA DA SILVA
ROSILENE DE OLIVEIRA SILVA
ROSILENE FATIMA TIBURSKI SCOPEL
ROSIMERI DA SILVA CHAVES
ROSINETE BATISTA DOS ANJOS
ROSIVALDO ALVES
ROSSANA DE MORAES BUENO
ROZENEIDEDE FARIA
RSIMUNDA SOARES DA COSTA
RUBEM CARVALHO DA ROCHA
RUBENS DA SILVA
RUBENS JUNIOR DE ALMEIDA EVANGELISTA
RUBENS MARQUES DE SOUZA
RUBSON PATRIK SENA RIBEIRO
RUMBA GABRIEL
SABRINA COSTA SOUSA
SABRINA EMERICK
SALETE TONON
SALUSTIANO FERREIRA DA LUZ
SAMARA AYRES DOMIT
SAMARA MARIANA DE CASTRO
SAMIA DE SOUZA BOMFIM
SAMUEL EDUARDO LEON
SAMYLLE CHRYSTINE SANTOS DE SOUSA
SANDOVAL FERNANDES DE OLIVEIRA
SANDRA ADEGAS PÊRA
SANDRA ANTUNES RAMOS
SANDRA BALBÉ DE FREITAS
SANDRA CRISTINA RODRIGUES DAHER
SANDRA DE ANCHIETA SANTOS
SANDRA DE FÁTIMA INOCÊNCIO
SANDRA DE SOUZA PENNA
SANDRA EDE
SANDRA ESPILOTRO
SANDRA MARA MOURA PEREIRA
SANDRA MARIA XAVIER BEIJU
SANDRA OLIVEIRA SANTOS REIS BATISTA
SANDRA OLIVEIRA
SANDRA REGINA LEITÃO DA SILVA
SANDRINE
SANDRO GORSKI
SANDRO SILVA
SANDRO VIEIRA DE MELO
SANDRO VINICIUS COUTO
SANI BELFER CARDON
SARA CAVALCANTE DO Ó
SAULLO GUEDES RESENDE
SAULO FELIPE NUNES
SEBASTIÃO CORREIA DOS SANTOS
SEBASTIÃO DA SILVA MARIA
SEBASTIÃO PAULO DE ASSIS
SELASSIE DAS VIRGENS JÚNIOR
SELMA CAETANO
SELMA CARVALHO
SÉRGIO ALCIDES PEREIRA DO AMARAL
SÉRGIO ANDRADE
SERGIO AUGUSTO DE ALBUQUERQUE FERNANDES
SERGIO DE ARAUJO FONSECA
SERGIO HADDAD
SÉRGIO LUÍS BAIAK
SÉRGIO MACEDO GOMES DE MATTOS
SÉRGIO MAMBERTI
SERGIO MEIRELLES PENA
SERGIO MURILO RABELO
SÉRGIO SALOMÃO SHECAIRA
SERGIO TEIXEIRA RODRIGUES
SERGIO XAVIER MENEZES
SHEILA SANTANA DE CARVALHO
SHIRLEI ZAMBONI
SICLINDE WERLE
SIDNEI ANTÔNIO EUZÉBIO PITA
SIDNEY BATISTA ROCHA
SILAS DAVI GOMES
SILAS LAURIANO NETO
SILMARA AMARAL NEVES GRASSI
SILVANA APARECIDA BRETAS
SILVANA APARECIDA LOCH
SILVANA FARIAS CORRÊA
SILVANA PIROLI
SILVANA SILVEIRA
SILVANEIDE FERREIRA LIMA
SILVANIA ALVES DE MATOS NETA
SILVANILDE DA CONCEIÇÃO SANTOS
SILVIA ANDRUCHOW SIMÕES
SILVIA CARVALHO DE BAPTISTA
SILVIA DE MELO CASTRO
SILVIA ELIZABETH CONTRERAS MORALES
SILVIA ILG BYINGTON
SILVIA PÉROLA TEIXEIRA COSTA
SÍLVIA SERBER
SILVIA VIRGINIA SILVA DE SOUZA
SILVINA PERES
SILVINA PERES
SILVIO CÉSAR GOMES
SILVIO CEZAR BRITTO ALEXANDRE
SILVIO FREIRE DE OLIVEIRA
SILVIO LUIZ DE ALMEIDA
SIMONE CRISTINA ROSSI UONO
SIMONE DA S. M. JERONIMO
SIMONE DE FREITAS GAMA
SIMONE DE FREITAS GAMA
SIMONE MENDES DE LIMA BALDUINO
SIMONE VIEIRA GOMES
SIMONEREGINA CHECCHI
SINARA DE SOUZA MACHADO
SINOMAR FERREIRA DO RIO
SINVALDO SILVA COSTA
SIRIO SCHWAMBORN JÚNIOR
SIRLEI AUGUSTA SILVA
SIRLEIA VANDERLEI LIMA SILVA
SIRLENE DE LIMA TAPIA DE OLIVEIRA
SIVANILDO NUNES COSTA
SOLANGE CRISTINA RIBEIRO
SOLANGE GEIBEL
SOLANGE ROSA
SOLANGE SOARES ROSA
SOLANGE VIEIRA TRICHES
SONALE SANTANA FREITAS ALCÂNTARA RAMOS
SÔNIA FIRETTE NUNES DA SILVA
SÔNIA GOMES DE OLIVEIRA
SÔNIA MARIA SANTOS
SONIA REGINA DA SILVA GOMES
SÔNIA REGINA HOFFMANN
STELLA SCHUSTER DA SILVA
STELLA ZILIOTTO FARIAS
STEPHANIE BASTOS
SUELI APARECIDA LOPES
SUELI VEIGA MELO
SUELY BURATTI
SUELY CORREA SALES COUTINHO
SUELY LUCENA DO BRASIL
SULENE FREITAS SCHUBERT
SUSANA RAMOS VENTURA
SUZANA DE PAULA ROSA
SUZANA DE PAULA ROSA
SUZANA KENIGER LISBOA
SYLVIO DA COSTA JUNIOR
SYMONE DOS SANTOS MONTEIRO FONSECA
TADEU DA ROCHA BATISTA
TAIGUARA LIBANO SOARES E SOUZA
TAINÃ DA SILVA RODRIGUES
TAIOMARA NETO DE PAULA
TAIS ADAMS GRAMOWSKI
TAMARA C. MATTOS
TANIA BACCELLI
TANIA CELESTINO DE MACÊDO
TANIA FATIMA CALVI TAIT
TÂNIA FRANZONI FERREIRA DA SILVA
TÂNIA IVONE LIMA MOURA DOS SANTOS
TANIA MARIA FRANCO MORAES
TARCILIO MÁRCIO DA SILVA ROCHA
TARCIO SANTIAGO CHAMON
TARCÍSIO JOSÉ AQUINO OLIVEIRA FILHO
TARSO GENRO
TARSO MENEZES DE MELO
TATIANA LAURA PRATA
TATIANA MUNIZ DE SIQUEIRA
TATIANA TEIXEIRA
TATIANE APARECIDA FONSECA
TATIANE APARECIDA FONSECA
TATIANE DOS SANTOS DUARTE
TATIANE NASCIMENTO SILVA
TATIANE VIEIRA FERREIRA
TAYON FERNANDO MOURA BRAATZ SANTOS RODRIGUES
TELMA APARECIDA ANDRADE VICTOR
TEREZA CRISTINA VIDAL DE NEGREIROS MOURA TENÓRIO
TEREZA DA SILVA
TEREZA RAQUEL MENESES DE SOUZA
TEREZINHA DE JESUS AGUIAR
TEREZINHA DE JESUS VICENTE FERREIRA
TEREZINHA DE SOUSA SANTOS
TEREZINHA
TESSA MOURA LACERDA
THAÍS AMARAL OLIVEIRA
THAÍS BRAGA ALVES NEVES
THAÏS BRETANHA
THAÏS BRETANHA
THAIS MENDONÇA DA SILVA
THAÍZA EMANUELLE DA SILVA
THALES SANTOS
THALITA DA SILVA VAZ
THAMY FREITAS FRISSELLI
THAWANA JACYARA SILVA SOUZA
THAYNA DE AQUINO ARAUJO
THAYNA DE AQUINO ARAUJO
THAYNÁ JESUINA FRANÇA YAREDY
THAYNÁ JESUINA FRANÇA YAREDY
THIAGO ANDRADE QUINTEIRO
THIAGO EMANOEL PINHEIRO DA SILVA
THIAGO FERNANDO MARINHO
THIAGO JONATAS DINIZ VIANA PEIXOTO
THIAGO MACHADO SAMPAIO RIBEIRO
THIAGO MIO SALLA
TIAGO ALMEIDA DO NASCIMENTO
TIAGO FACHINELLI
TIAGO LUCAS DA SILVA
TIAGO ROCHA MACHADO
TIBÉRIO GOMES DINIZ
TONIA MARIA DE ALMEIDA
TONY SÉRGIO RODRIGUES CAVALCANTE
TRACY BARBARA LIMA
TUANI SERINI MARTINS
UEBER RIBEIRO BARBOSA
UELTON ALVES MACEDO
UMBELINA DA CONCEIÇÃO RODRIGUES
VAGNER DO NASCIMENTO
VALDECI PORTUGUÊS DE SOUZA
VALDECIR PUSHMANN
VALDEGIL DANIEL DE ASSIS
VALDEMIR MEDEIROS DA SILVA
VALDENIA A ALMEIDA
VALDEVAN OLIVEIRA DE JESUS SANTOS
VALDINEI FERREIRA DE JESUS
VALDINETE SOUSA PIRES
VALEIR ERTLE
VALÉRIA ALVES DOS SANTOS
VALÉRIA CRISTINA REZENDE LOBO
VALÉRIA LUÍSA
VALÉRIA LUZIA FERNANDES
VALÉRIA MÁRCIA PENA
VALERIA OCHOA
VALERIA PUGLIESE CARDIZO
VALFRIDO AALVES DA SILVA
VALFRIDO ALVES DA SILVA
VALMIR DOS SANTOS
VALMIRA DA SILVA
VALQUIRIA APARECIDA ASSIS
VALTER AMBONI
VALTER CEZAR DIAS FIGUEIREDO
VANDERCI ANTONIO DA SILVA
VANESSA CARVALHO DE MELLO
VANESSA FERREIRA DOS SANTOS
VANESSA FERREIRA DOS SANTOS
VANESSA NASCIMENTO DOS SANTOS MENEZES
VANESSA OLIVEIRA BATISTA BERNER
VANESSA RÉGIA PEREIRA DE MELO
VANESSA SANTOS ARAUJO
VANESSA SANTOS CASTRO
VANESSA SOBREIRA PEREIRA
VANI POLETTI
VANIA DOS SANTOS NUNES
VANIA LUCIA MIGUEZ FORTE
VANIA MARIA MACHADO
VANUSA REIS EUGENIO
VERA LÚCIA DA SILVA
VERA LUCIA DAL FORNO
VERA LUCIA FRACASSO
VERA LUCIA FREITAS
VERA LUCIA FREITAS
VERA LUCIA GOMES NUNES
VERA LUCIA MARQUES FIGUEIREDO FILHA
VERA LUCIA PEDROSO NOGUEIRA
VERA LUCIA VIEIRA DE ALMEIDA
VERA REGINAGOMES DA ROSA
VERA ROSA
VERONICA ANTONINE STIGGER
VERÔNICA DO COUTO ABREU
VERONICA FABRICIO PIRES
VICTOR DE OLIVEIRA FREITAS
VICTOR HUGO CARNEIRO CABRAL
VICTOR HUGO FERREIRA BENFICA
VILMA APARECIDA DE MORAES
VILMA MOREIRA DOS SANTOS
VILMA RAMOS
VILSON JOÃO SANTIN
VILSON ROGÉRIO VELASQUES CORDEIRO
VINICIUS DE ASSUMPÇÃO
VINÍCIUS DRAGAUD RIBEIRO
VINÍCIUS EDUARDO WASSMANSDORF
VINICIUS MACULAM RIBEIRO
VINICIUS MACULAM RIBEIRO
VINICIUS RAUBER E SOUZA
VIRGINIA DIRAMI BERRIEL
VIRGÍNIA HELENA DE SOUSA
VIRGINIA MARIA MELO CORRÊA
VIRGÍNIA MARIANNE FARIA JORGE
VITALINA CONCEIÇÃO MARQUES GONÇALVES
VITOR LUIZ PEREIRA SILVA
VIVIA ALVES MARTINS
VIVIANE APARECIDA SOARES
VIVIANE SILVA DE JESUS
VLAMIR LIMA
VÓLIA BARREIRA
WAGNER DE SOUZA NASCIMENTO
WAGNER LUIZ ALVES DA SILVA
WAGNER LUIZ CANCELA
WAGNER MARINS DE CARVALHO
WAGNER MENEZES
WAGNER RIBEIRO DOS SANTOS
WALDEMBERG ALMEIDA DE ARAÚJO
WALDEMIR ARNALDO SILVA DIREITO
WALDEMIR BARGIERI
WALDINEI VINAGRE
WALDINEI VINAGRE
WANDER DE CASTRO GARCIA
WANDERCLAN N DE OLIVEIRA
WANDERCLAN NASCIMENTO DE OLIVEIRA
WANESSA DE OLIVEIRA FRANCISCO
WÂNIA SOUZA ANDRADE
WASHINGTON DANTAS SANTOS
WEIDA ZANCANER BANDEIRA DE MELLO
WELLINGTON DE MELO
WELLINGTON SILVA BATISTA JÚNIOR
WELLINGTON VIEIRA DO NASCIMENTO
WENDELL FERREIRA DA SILVA
WENDELL SANTOS LEITE
WENDELL SANTOS LEITE
WERBET CHIMENDES NUNES
WILLAMS DANTAS SANTANA
WILLIAMS DANTAS SANTANA
WILMAR JORGE JIUKOWSKI
WILSON JOSE CAMPOS DE FIGUEIREDO
WILSON MADEIRA FILHO
YAAUKI NIIUCHI
YANAIA TAINA OLIVEIRA ROLEMBERG
YANNE TELES
YARA CRISTINA BATISTA DINIZ
YARA NOVAES
YEDA GLAUCE SILVA PAURA
YGO RABELO DE DEUS
YOLANDA MAGALHÃES RODRIGUES
YUDITH ROSENBAUM
ZAIAS SOUZA DOS SANTOS
ZELIANE SANTOS DE ARRUDA
ZILÁ REGINA KOLLING
ZITA CINTRA GORDINHO BARROS DE CARVALHOSA
ZULEIDE MAGALHÃES SIQUEIRA
ZULMIRA GENECY TRINDADE PEREIRA DA COSTA

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