Sumários Desenvolvidos de DF - 2020
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Sumários Desenvolvidos de DF - 2020
1.º SEMESTRE
DIREITO FISCAL
E-MAIL: [email protected]
UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020
ÍNDICE
6.2. O princípio da capacidade contributiva como princípio ordenador das normas fiscais:
a igualdade do sacrifício. A justa distribuição dos encargos tributários. 23
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1. Introdução. 41
Bibliografia 80
Textos de apoio 81
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PROGRAMA DA DISCIPLINA*:
(*O programa desenvolvido da disciplina está disponível na Reprografia da UGS.)
Temas a estudar até à 1.ª prova parcelar (PARTE I): Noção, objecto e âmbito do
Direito Fiscal; Direito Financeiro, Direito Tributário e Direito Fiscal; Conceito de
imposto; Distinção entre imposto e figuras próximas; Fontes do Direito Fiscal e
princípios constitucionais do Direito Fiscal; Classificações dos impostos; Relações do
Direito Fiscal com os outros ramos de Direito; Interpretação e integração das normas
fiscais.
Temas a estudar até à 2.ª prova parcelar (PARTE II): Relação jurídica tributária e
exemplificação prática em sede de Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:
ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, Princípios de Direito Fiscal, 2.ª ed., Almedina, Coimbra,
1979.
JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, Direito
Fiscal Angolano Segundo a Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015.
JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011. [Disponível
na Biblioteca da UGS]
NUNO DE SÁ GOMES, Manual de Direito Fiscal, vol. I, 11.ª ed., Editora Rei dos Livros,
Lisboa, 2000, e vol. II, 8.ª ed., Editora Rei dos Livros, Lisboa, 1999.
SALDANHA SANCHES, Manual de Direito Fiscal, 3.ª ed., Coimbra Editora, Coimbra,
2002. [Disponível na Biblioteca da UGS]
SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, Manual de Direito Fiscal Angolano,
Coimbra Editora, Coimbra, 2010. [Disponível na Biblioteca da UGS]
SOARES MARTÍNEZ, Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997.
LEGISLAÇÃO BÁSICA:
Constituição da República de Angola (CRA)
Código Geral Tributário (CGT) – Lei n.º 21/14, de 22 de Outubro
Regime Geral das Taxas (RGT) – Lei n.º 7/11, de 16 de Fevereiro
Código do Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho (CIRT) – Lei n.º 18/14, de 22 de
Outubro
Código do Imposto Industrial (CII) – Lei n.º 19/14, de 22 de Outubro
SITES:
Ministério das Finanças: www.minfin.gov.ao
Portal da Administração Geral Tributária (AGT): www.agt.minfin.gov.ao
Instituto Nacional de Segurança Social (INSS): www.inss.gv.ao
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Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 3-10; JÓNATAS
E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, Direito Fiscal Angolano Segundo a
Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015, pp.11-15; ELISA RANGEL NUNES, Lições de Finanças
Públicas e de Direito Financeiro, 5.ª ed., Luanda, 2014, pp. 71-74; J. L. SALDANHA SANCHES/JOÃO
TABORDA DA GAMA, Manual de Direito Fiscal Angolano, Coimbra Editora, Coimbra, 2010, pp. 15-21;
SOARES MARTÍNEZ, Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997, pp. 22-25.
Esquema:
Direito Fiscal => imposto => receita pública => receita tributária / tributo => receita
coactiva ou estabelecida por lei => com finalidade financeira e não sancionatória
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deparamos com o Direito dos impostos, o Direito das taxas, etc. E tendo o termo tributo
raízes na nossa língua que não o afastam do conceito de imposto, afigura-se legítimo, e até
conveniente, empregar a expressão Direito Tributário com o significado de Direito Fiscal,
ou Direito dos Impostos.
Aliás, a designação Direito Fiscal é menos precisa que a de Direito Tributário ou a de
Direito dos Impostos. Por «fiscus» - do nome de um cesto de vime, onde as moedas
recebidas seriam lançadas, - designou-se em Roma o tesouro do Imperador, por oposição
ao «aerarium», onde se arrecadavam os rendimentos das províncias senatoriais e das
alfândegas. Com o tempo, o «fiscus» acabou por abranger todos os dinheiros públicos; e,
de harmonia com essa tradição, também entre nós as expressões «fisco» e «fiscal» foram
utilizadas com referência a todo o complexo financeiro estadual.
(...)
Destas confusões terminológicas resulta que a expressão Direito Tributário melhor
corresponde à ideia de Direito dos Impostos. Mas esta mesma ideia também se exprime
correntemente entre nós, na legislação como na doutrina, pela expressão Direito Fiscal. E
não se vê inconveniente em que as expressões Direito Tributário, Direito Fiscal e Direito
dos Impostos sejam usadas como sinónimas (...). Observar-se-á, a propósito, que os
vocábulos «imposto» e «tributo» também são sinónimos.” (SOARES MARTÍNEZ, pp. 22-25.)
Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, p. 81; SOARES
MARTÍNEZ, Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997, p. 63.
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Questões: 1) Qual é o objecto do Direito Fiscal? 2) Quais são os dois elementos
essenciais que estão na base da construção de um conceito jurídico de tributo? 3) O que se
entende por «constituição fiscal»?
Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 38-42; JOAQUIM
FREITAS DA ROCHA, Lições de Procedimento e Processo Tributário, 4.ª ed., Coimbra Editora, Coimbra,
2011, pp. 201-205; AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, Impostos. Teoria Geral, 4.ª ed., Almedina, Coimbra,
2014, pp. 69-70 e 93-94; SOARES MARTÍNEZ, Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997, pp. 126-128;
CREMILDO FÉLIX PACA, Justiça Administrativa, Fiscal e Aduaneira, Luanda, 2017, p. 307 e ss.
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CGT). Atendendo, agora, a um critério temporal, pode falar-se ainda em: liquidação
provisória (feita a partir dos elementos declarados pelo sujeito passivo e dependente de um
controlo posterior, no caso de retenções na fonte a título de pagamento por conta que
consubstanciam pagamentos provisórios do imposto, como é o caso do disposto no art.
67.º, n.º 3, do CII), liquidação definitiva (acto da Administração Tributária de natureza
definitiva e impugnável, e que precede a cobrança, vide art. 69.º do CII) e liquidação
adicional (acontece nos casos em que há uma revisão da liquidação definitiva, por motivo,
por exemplo, de erro na declaração apresentada pelo contribuinte, ou de apuramento de
imposto superior ao devido/entregue). Atendendo, por fim, aos sujeitos que intervêm na
liquidação, podemos distinguir: autoliquidação (quando o acto de liquidação é feito pelo
próprio sujeito passivo, mediante a apresentação de declaração em modelo normativamente
aprovado, vide art. 122.º do CGT) e heteroliquidação (quando o acto de liquidação é feito
por entidade diversa do sujeito passivo, seja a administração tributária ou um terceiro, vide
art. 119.º do CGT). [Sobre todos estes conceitos, v. JOAQUIM FREITAS DA ROCHA, pp. 201-
203].
4) Cobrança/Pagamento: é a operação através da qual o imposto vai dar entrada nos
cofres do Estado. “A cobrança, enquanto procedimento autónomo, consiste no conjunto de
actos (administrativos) materiais conducentes à arrecadação da receita tributária e que, em
regra, têm como correspectivo, do lado do contribuinte, o acto de pagamento. Pode-se
assim afirmar que cobrança e pagamento do tributo são as duas faces da mesma moeda,
distinguindo-se apenas pelo sujeito que leva a cabo a respectiva actuação material.” (Cfr.
JOAQUIM FREITAS DA ROCHA, p. 205) A cobrança pode ser voluntária ou coerciva. A
cobrança voluntária é assegurada pelos serviços da Administração Tributária, dentro do
prazo legal estabelecido para o efeito (art. 135.º, n.º 2, do CGT). Já a cobrança coerciva
dos tributos é efectuada através do processo de execução fiscal e tem natureza judicial (art.
135.º, n.º 3, e art. 140.º, ambos do CGT). [Vide CREMILDO FÉLIX PACA, p. 307 e ss.]
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Questões: 1) Distinga liquidação do imposto de pagamento do imposto. 2) O art. 102.º,
n.º 1, da CRA e o art. 24.º do CGT referem-se a algum momento da vida do imposto? 3)
Comente a seguinte afirmação: «A cobrança das dívidas fiscais é sempre uma cobrança
coerciva.»
Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 11-20; JÓNATAS
E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, Direito Fiscal Angolano Segundo a
Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015, pp.15-17; J. L. SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA
GAMA, Manual de Direito Fiscal Angolano, Coimbra Editora, Coimbra, 2010, pp. 16-21; AMÉRICO
FERNANDO BRÁS CARLOS, Impostos. Teoria Geral, 4.ª ed., Almedina, Coimbra, 2014, pp. 35-43; JOAQUIM
FREITAS DA ROCHA/MARCO CARVALHO GONÇALVES, Direito Fiscal: Elementos de Apoio, 2ª ed., AEDUM,
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Braga, 2005, pp. 159-164; ELISA RANGEL NUNES, Lições de Finanças Públicas e de Direito Financeiro, 5.ª
ed., Luanda, 2014, pp. 248-269.
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contraprestação sendo que se uma das partes não cumprir a outra pode invocar excepção do
não cumprimento, e equivalência económica, ou seja, terá que existir uma correspondência
económica materialmente relevante entre o valor pago e a sua contrapartida.
2. Como avaliar/medir a equivalência económica de uma prestação de um ente
público a favor do particular? Há limitações legais ao valor da taxa? A taxa não é um
preço fixado nos termos determinados pelas regras do mercado. O art. 9.º do RGT consagra
o princípio da proporcionalidade e o valor das taxas deverá ser consagrado de acordo com
este princípio e “não deve ultrapassar o custo da actividade pública ou o benefício auferido
pelo particular”. A criação de taxas a favor das entidades públicas está subordinada,
também, aos princípios da proporcionalidade, da justa repartição dos encargos públicos, do
interesse público e da publicidade.
JOSÉ CASALTA NABAIS tem uma visão dicotómica dos tributos. Para efeitos jurídico-
constitucionais interessa uma visão dicotómica ou binária dos tributos: independentemente
do nome que tenham ou são impostos ou taxas. Como poderemos saber se, do ponto de
vista jurídico-constitucional, estamos perante um tributo unilateral ou imposto ou perante
um tributo bilateral ou taxa? JOSÉ CASALTA NABAIS apresenta dois critérios: 1) Critério da
capacidade contributiva; 2) Critério da proporcionalidade prestação/contraprestação. (Cfr.
JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 20-21).
d) Prestação estabelecida por lei ou coactiva. Distinção face ao preço. Consagra o
art. 102.º, n.º 1, da CRA que tanto a criação do imposto como a disciplina dos seus
elementos essenciais (incidência, taxa, benefícios fiscais e garantias dos contribuintes)
serão sempre operadas por lei. É o princípio da legalidade tributária que vai reger a relação
jurídica do imposto e assim nem o contribuinte nem o Estado podem dispor desta relação.
Não é a vontade das partes que define os elementos da obrigação do imposto, é a lei.
Concluindo: o imposto é uma prestação coactiva ou ex lege. O imposto nasce da lei, o
preço de um prévio vínculo contratual/vontade. Vide art. 25.º do CGT.
e) Prestação a favor de entidades que exerçam funções públicas. O imposto é uma
prestação exigida a detentores (pessoas singulares ou colectivas) de capacidade
contributiva a favor de entidades que exerçam funções públicas.
f) Prestação destinada à satisfação de fins públicos. Vide art. 101.º da CRA e art. 10.º
do CGT. O imposto tem como finalidades: satisfazer as necessidades financeiras do
Estado; assegurar a realização da política económica e social do Estado; e proceder à justa
repartição dos rendimentos e da riqueza nacional. As finalidades financeiras e as
finalidades extrafinanceiras.
g) Prestação não sancionatória. Distinção em face da multa. O imposto não constitui
uma sanção de um acto ilícito. Assim o distinguimos da multa, consistindo esta numa
sanção pecuniária, como é sabido.
JOSÉ CASALTA NABAIS apresenta a definição de imposto com base em três elementos: 1)
Elemento objectivo: o imposto é uma prestação pecuniária, unilateral, definitiva e coactiva.
2) Elemento subjectivo: o imposto é uma prestação exigida a (ou devida por) detentores
(individuais ou colectivos) de capacidade contributiva a favor de entidades que exerçam
funções ou tarefas públicas. 3) Elemento teleológico ou finalista: o imposto é exigido pelas
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entidades que exerçam funções públicas para a realização dessas funções conquanto que
não tenham carácter sancionatório. (Cfr. JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 11 e ss).
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Esta bilateralidade vem destacada no conceito legal de taxa: art. 4.º, n.º 7, do CGT e art.
4.º, n.º 1, alínea a), do RGT. Na relação jurídica tributária vemos se há ou se não há uma
relação de troca «prestação – contraprestação».
Ainda, quando destacamos a coactividade do imposto queremos realçar que o
imposto só pode ser estabelecido por lei, e por uma lei em sentido formal. Aprofundaremos
este elemento apresentado para o conceito de imposto quando estudarmos o princípio da
legalidade fiscal, que tem consagração constitucional (ver: art. 102.º, n.º 1, art. 165.º, n.º 1,
alínea o), e art. 170.º, todos da CRA, e conjugar com o art. 4.º, n.º 4, do CGT). Para a
criação de um imposto ou alteração dos seus elementos essenciais (que são a incidência, a
taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes), a Constituição exige sempre a
intervenção da Assembleia Nacional que é o legislador originário ou o legislador
autorizante em matéria de impostos. O imposto há-de ser criado por uma Lei ou por um
Decreto Legislativo Presidencial autorizado. Em matéria de taxas, esta exigência de lei em
sentido formal só se aplica quanto ao seu regime geral (art. 165.º, n.º 1, alínea o), da CRA),
e depois cada taxa criada em concreto há-de obedecer a esse regime geral e pode ser criada
pelo Executivo com faculdade de delegação aos seus ógãos auxiliares (ver art. 12.º, n.º 1,
do RGT), sem necessidade de intervenção neste nível da AN como é exigido para os
impostos. O imposto há-de ser criado por uma Lei ou por um Decreto Legislativo
Presidencial autorizado, a taxa pode ser disciplinada por um Decreto Presidencial. Vamos,
pois, mais adiante distinguir o princípio da legalidade dos impostos (mais rígido) em
relação ao princípio da legalidade das taxas (menos rígido).
Também o imposto se define como uma prestação não-sancionatória. Este
elemento que trouxemos para delimitar o conceito de imposto visa realçar a sua finalidade
que é financeira. A finalidade do imposto reside na satisfação das necessidades financeiras
do Estado; é uma finalidade financeira. Mais tarde veremos que o imposto também pode
ter finalidades extrafinanceiras quando é usado como um instrumento para atingir
finalidades de ordem económica ou social (exemplos: quando se aumenta os impostos
aduaneiros sobre certos produtos importados para incentivar a produção nacional, quando
se baixa os impostos aduaneiros sobre certas matérias-primas, ou quando se concede
isenções de imposto a micro, pequenas e médias empresas). Agora, se num caso concreto
estiver em causa uma quantia a ser exigida a um contribuinte com uma finalidade
sancionatória, aí já não poderá ser classificada como tributo nem analisada à luz dos seus
princípios constitucionais. Essa quantia com uma finalidade sancionatória, repressiva,
deverá ser classificada como uma multa (distinguindo a multa aplicada em resultado da
prática de um crime da “multa” aplicada em resultado de uma mera trangressão
administrativa ou tributária).
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Questões: 1) Relacione definitividade do imposto e restituição do imposto. 2) Apresente
dois elementos distintivos do imposto em face do preço. 3) Apresente dois elementos
distintivos do imposto em relação ao empréstimo público.
Bibliografia: ELISA RANGEL NUNES, Lições de Finanças Públicas e de Direito Financeiro, 5.ª ed., Luanda,
2014, pp. 269-270; JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 27-33; JOSÉ
CASALTA NABAIS, O Dever Fundamental de Pagar Impostos, Coimbra, Almedina, 2012, pp. 321 e ss;
AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, Impostos. Teoria Geral, 4.ª ed., Almedina, Coimbra, 2014, pp. 38-41 e
43-45; J. L. SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, Manual de Direito Fiscal Angolano, Coimbra
Editora, Coimbra, 2010, pp. 42-52; JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO
MACAIA, Direito Fiscal Angolano Segundo a Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015, pp. 25-28;
HERMENEGILDO FM KOSI, «Direito Fiscal», in Direito de Angola, 2.ª ed., Faculdade de Direito da
Universidade Agostinho Neto, Luanda, 2014, pp. 305-360.
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um imposto sobre o rendimento, definindo-a como uma contribuição especial, “um tributo
com uma taxa proporcional suportado, em parte, pela entidade patronal e, noutra parte,
pelos tabalhadores” (p. 48).
Ver o art. 3.º, n.º 6, al. b), e n.º 9 do CGT.
Há, ainda, doutrina que define as contribuições para a Segurança Social como prémios
de seguro público. (Cfr. AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, pp. 40-41.)
Alargamento da discussão: o debate nos países desenvolvidos ocidentais sobre o
problema da sustentabilidade da segurança social, devido às baixas taxas de natalidade,
diminuição da população activa e envelhecimento das populações.
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INOCÊNCIO GALVÃO TELLES, Introdução ao Estudo do Direito, Vol. I, 11.ª ed., Coimbra
Editora, Coimbra, 2001, p. 63). Dito de outra forma: são modos de formação e revelação
de normas jurídicas. (Cfr. OLIVEIRA ASCENSÃO, O Direito: Introdução e Teoria Geral,
Almedina, Coimbra, 1999, p. 244.)
Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 133-143;
AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, Impostos. Teoria Geral, 4.ª ed., Almedina, Coimbra, 2014, pp. 88-118;
J. L. SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, Manual de Direito Fiscal Angolano, Coimbra Editora,
Coimbra, 2010, pp. 79-93; JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA,
Direito Fiscal Angolano Segundo a Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015, pp. 64-72.
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imposto, nem actividade tributária, sem lei”. (AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 90)
Nota: Ver neste contexto o art. 6.º da CRA (sobre o princípio da legalidade geral) e o art.
198.º da CRA (quanto aos princípios constitucionais da actividade administrativa).
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deixa de entrar nos cofres públicos). O conceito de «férias fiscais». (Vide JÓNATAS E. M.
MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, p. 25).
o Garantias dos contribuintes: “incluem-se todas as normas que consagram meios de
defesa dos particulares em face da prática, ou da omissão, de actos da Administração fiscal
que lesem direitos ou interesses legítimos, bem como as prerrogativas gerais concedidas
aos particulares em matéria fiscal.” (AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 95.)
Para discussão: O princípio da legalidade fiscal e o art. 4.º, n.º 4, do CGT. A fonte
deste princípio é a CRA ou o CGT?
“Os impostos só podem ser criados por lei, que determina a sua incidência, a taxa, os
benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes.”
Para discutir em sala de aula: Por exemplo, o conceito de lucro tributável é definido
como um conceito “normativo” e, em certa medida, indeterminado. Veja-se o elenco
meramente exemplificativo de “Proveitos ou ganhos” (art. 13.º - “designadamente”) e
“Custos ou gastos” (art. 14.º - “nomeadamente”) do Código do Imposto Industrial (CII).
Estamos perante uma tipicidade aberta que não é inconstitucional; este grau de
indeterminação não colide com o princípio da segurança tributária ou da protecção da
confiança.
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“Artigo 101.º
(Sistema fiscal)
O sistema fiscal visa satisfazer as necessidades financeiras do Estado e outras entidades
públicas, assegurar a realização da política económica e social do Estado e proceder a
uma justa repartição dos rendimentos e da riqueza nacional.” (sublinhado nosso)
Norma programática
GOMES CANOTILHO: normas programáticas são normas-fim ou normas-tarefa que
vinculam o legislador ordinário a agir no sentido da sua realização.
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Decorrem daqui duas consequências: 1.º) Os impostos devem operar uma redistribuição
da riqueza e tal não seria possível num sistema onde todos, apesar das diferenças de
riqueza, pagassem o mesmo valor de imposto; 2.º) Uma justa repartição só se consegue
com a regra de que as pessoas devem pagar impostos de acordo com a sua capacidade
contributiva. (Por exemplo, os impostos progressivos funcionam como instrumento de
igualdade tributária.) [AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 119]
A igualdade fiscal tem sido entendida em dois sentidos: igualdade em sentido
horizontal (quando pessoas nas mesmas condições pagam o mesmo imposto) e igualdade
em sentido vertical (quando pessoas em condições diferentes pagam diferentes impostos,
na medida da diferença). [AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, pp. 120-121.] Na clássica
lição de ARISTÓTELES: “igualdade é tratar igualmente os iguais e desigualmente os
desiguais, na medida da sua desigualdade.”
Em conclusão:
Bibliografia: AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, Impostos. Teoria Geral, 4.ª ed., Almedina, Coimbra,
2014, pp. 122-132; JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, Direito
Fiscal Angolano Segundo a Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015, pp. 72-83.
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norma pode não ser retroactiva mas pode violar o princípio da proporcionalidade, se a lei
nova, por exemplo, alterar de forma gravosa e inesperada uma taxa imposto (imaginemos
de 15% para 45%.]
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Consultar os artigos 102.º, n.º 3 e 215, n.º 2, ambos da CRA, e o art. 3.º, n.os 1, 2 e 3, do
CGT.
Quanto à consideração de elementos de personalização: impostos pessoais e impostos
reais. “Os impostos pessoais enquanto impostos que atendem à situação económica, social
ou familiar do sujeito passivo e os impostos reais enquanto impostos que desatendem a tal
situação.” Exemplos de factores de personalização dos impistos: a isenção do mínimo de
existência e a existência de taxas progressivas. (JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/MARCO
CARVALHO GONÇALVES, p. 165.)
Quanto à incidência sobre a capacidade contributiva: impostos directos e impostos
indirectos. Há vários critérios de distinção entre impostos directos e impostos indirectos: o
critério da manifestação directa ou indirecta da capacidade contributiva; o critério da
permanência ou intermitência das manifestações da capacidade contributiva; o critério do
lançamento administrativo; o critério do rol nominativo; o critério da repercussão. Vamos
desenvolver aqui apenas este último. “Impostos directos serão aqueles que não são
susceptíveis de repercussão e impostos indirectos serão aqueles que são susceptíveis de
repercussão.” (JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/MARCO CARVALHO GONÇALVES, p. 166.) A
repercussão consiste na transferência do encargo tributário para outra pessoa. Ex.: No
Imposto de Consumo aquele que deve o imposto (como é o caso do prestador de serviços
de telecomunicações, do prestador de serviços de segurança privada, do prestador de
serviços de consultoria, do prestador de serviços de informática, etc.) vai repercuti-lo no
consumidor final. Isto é, o consumidor final é quem vai suportar economicamente o
imposto devido, uma vez que ao contratar o serviço o imposto está incluído no preço. Ver
o art. 28.º, n.º 5, do CGT: «Não é sujeito passivo (...) quem suporte por mera repercussão o
encargo económico do imposto.» Como veremos, o «contribuinte indirecto» não é sujeito
passivo na relação jurídica tributária. Impostos directos: impostos sobre o rendimento e
sobre o património. Impostos indirectos: impostos sobre o consumo, o IVA.
Quanto à diferente estabilidade das faculdades contributivas (AMÉRICO FERNANDO
BRÁS CARLOS, p. 48): impostos periódicos e impostos de obrigação única. Os impostos
períódicos (ou impostos duradouros) têm uma periodicidade regular, em regra anual, sendo
o facto gerador do imposto é de formação sucessiva no tempo (ex.: Imposto Industrial), ao
passo que os impostos de obrigação única (ou impostos instantâneos) não têm uma
periodicidade regular, uma vez que o facto que faz nascer a obrigação de pagar imposto se
traduz na prática de um acto instantâneo (ex.: Imposto de Consumo; impostos aduaneiros
pagos no acto de desembaraço alfandegário de bens importados). [Cfr. AMÉRICO
FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 55.]
Quanto à taxa: impostos proporcionais, progressivos e regressivos. Impostos
proporcionais: são impostos em que a taxa é fixa. O imposto aumenta proporcionalmente
em face do aumento da matéria colectável. Impostos progressivos: são impostos em que a
taxa sobe à medida que aumenta a matéria colectável. Aqui, o imposto aumenta mais do
que proporcionalmente em relação ao aumento da matéria colectável. Nota: A partir do
último escalão, os impostos progressivos funcionam como impostos proporcionais.
Impostos regressivos: são impostos em que a taxa diminui à medida que aumenta a matéria
colectável. (Cfr. AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, pp. 53-54).
Quanto à liquidação: impostos autoliquidáveis e impostos heteroliquidáveis.
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Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 81-119.
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Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 211-222;
ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, Princípios de Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1979, pp. 105-121;
NUNO DE SÁ GOMES, Manual de Direito Fiscal, vol. I, 11.ª ed., Editora Rei dos Livros, Lisboa, 2000, pp.
328-390.
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Administração Financeira. O Direito das Receitas Públicas inclui o Direito das Receitas
Patrimoniais, o Direito do Crédito Público e o Direito Tributário. Por sua vez, o Direito
Tributário abrange o Direito Fiscal e o Direito das Taxas e das Contribuições.
• O Direito Financeiro é mais amplo no seu objecto do que o Direito Fiscal. O Direito
Fiscal é o conjunto de normas jurídicas que disciplina os impostos. É um sub-ramo do
Direito Tributário, ou seja, um ramo do Direito Financeiro. O Direito Fiscal é o ramo do
Direito Financeiro que disciplina as receitas tributárias unilaterais.
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Caso n.º 1
“Licença de publicidade”
Suponha que o Executivo, mediante um Regulamento de Publicidade, estabelece que
a afixação de publicidade em bens ou espaços afectos ao domínio público fica,
nomeadamente, sujeita a:
a) Licenciamento prévio do respectivo Governador Provincial;
b) Pagamento de uma contrapartida;
c) Pagamento de uma quantia entre UCF 230 e UCF 1.200, relativamente às mensagens
publicitárias que não respeitem as condições previstas na respectiva licença.
Pergunta-se: Poderão as quantias referidas nas alíneas b) e c) constituir impostos?
Fundamente a sua resposta.
PROPOSTA DE RESOLUÇÃO
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Caso n.º 2
“Autorização legislativa”
Suponha que o Executivo, ao abrigo de autorização legislativa referente ao ano 2014,
e que, portanto, já havia caducado, procedeu, no presente ano de 2015, à actualização de
um imposto em matéria ambiental e retroagiu os seus efeitos ao ano de 2012, como
forma de compensar o facto de a actualização não ter sido feita durante o ano em que
tinha sido concedida a autorização.
António, jovem agricultor, que se dedica à produção e comercialização de cereais, foi
notificado pela Administração Fiscal, com base no diploma legislativo acima descrito,
para proceder ao pagamento de um imposto relativo à sua actividade profissional que,
nos termos preditos, mereceu, assim, uma actualização. António crê que tal imposto é
inconstitucional, primeiro, porque o Executivo legislou segundo uma autorização
legislativa que já não se encontrava em vigor e, depois, porque o mesmo retroage os seus
efeitos a 2012.
a) Pronuncie-se, desta feita, quanto à inconstitucionalidade da referida
actualização do imposto e à sua aplicação retroactiva.
(Adaptado de Luís Duarte Manso/ Leandro Caldas Esteves, Direito Fiscal. Casos Práticos
Resolvidos, Quid Iuris, Coimbra, 2010, pp. 33-39. [Disponível na Biblioteca da UGS])
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PROPOSTA DE RESOLUÇÃO
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Por outro lado, sairia beliscado ainda o princípio da não retroactividade das leis fiscais,
consagrado no art. 102.º, n.º 2, da CRA, que prescreve especificamente o seguinte: “as leis
fiscais não têm efeito retroactivo, salvo as de carácter sancionatório, quando sejam mais
favoráveis aos contribuintes.”
A razão de ser de um quadro normativo restritivo assenta na protecção dos direitos,
liberdades e garantias dos sujeitos de direito contributivos, porque o Estado quando fixa
um imposto deve fazê-lo com base nos princípios da proporcionalidade, segurança
jurídica, igualdade e capacidade contributiva (cfr. artigos 2.º, 23.º e 88.º da CRA e ver
também o art. 23.º, n.º 1, al. a), do CGT).
Caso n.º 3
Considere que é estabelecida por Decreto Presidencial uma taxa sobre bombas de
combustíveis cujas instalações funcionem na via pública; considere também que o valor
dessa taxa é determinado pelo número de bombas de combustíveis instaladas no espaço
público e é pago anualmente. Imagine então que Adão, estudante de Direito, entende
que a taxa assim estabelecida é um verdadeiro imposto porque, ao tributar a utilização
de uma área do domínio público com base no número de bombas e não com base no
número de metros quadrados ocupados, funda-se no critério da capacidade contributiva
e evidencia a ausência do carácter sinalagmático da taxa. Em sua opinião, esta falta de
correspondência entre a prestação e a contraprestação faz com que o tributo exigido
ofenda o disposto nos artigos 102.º, n.º 1 e 165.º, n.º 1, al. o) da CRA, sendo
inconstitucional.
1. Como distingue, sob os pontos de vista financeiro e jurídico, imposto e taxa?
2. A partir da resposta dada na questão anterior, diga justificadamente se concorda
com a qualificaçao feita por Adão.
3. Refira-se ao princípio da reserva de lei em matéria tributária, evidenciando as
suas especificidades.
TÓPICOS DE RESOLUÇÃO
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Caso n.º 1
Analise as medidas a seguir apresentadas e diga se do ponto de vista jurídico-constitucional
poderiam ser tomadas pelo Presidente da República, fundamentando devidamente a sua posição:
a) Extinguir o Imposto de Consumo.
b) Reduzir as taxas do Imposto sobre a Aplicação de Capitais.
c) Alterar o Estatuto Orgânico da Administração Geral Tributária (AGT).
Caso n.º 2
Analise as medidas a seguir apresentadas e diga se do ponto de vista jurídico-constitucional
poderiam ser tomadas pelo Presidente da República, fundamentando devidamente a sua posição:
a) Aumentar as taxas do Imposto sobre a Aplicação de Capitais, a vigorar apenas a partir de 1 de
Janeiro de 2021.
b) Alterar as normas de incidência objectiva do Imposto Industrial, em estrito respeito ao
princípio da tipicidade fiscal.
c) Alterar as taxas notariais e registais para constituição de sociedades comerciais e
desenvolvimento da sua actividade no país.
Caso n.º 3
Imagine agora que, tendo como pano de fundo um projecto de sensibilização para as questões
ambientais e urbanísticas, é criado por Decreto Presidencial um tributo denominado "imposto de
recolha de lixos domésticos". Este tributo seria obrigatório para todos os proprietários de imóveis
situados em Luanda, teria um valor mensal proporcional ao lixo produzido, e estaria destinado a
custear o serviço de recolha de lixos domésticos.
Em face destes elementos, pronuncie-se sobre as seguintes questões:
a) Natureza jurídica do tributo em causa.
b) Legitimidade do procedimento de criação do imposto de recolha de lixos domésticos do
ponto de vista jurídico-constitucional.
Caso n.º 4
Analise as medidas a seguir apresentadas e diga se do ponto de vista jurídico-constitucional
poderiam ser tomadas pelo Presidente da República, fundamentando devidamente a sua posição:
a) Criar um tributo, com a taxa de 25%, a incidir sobre o aumento de valor de prédios rústicos
beneficiados com a realização de obras públicas de construção de infra-estruturas.
b) Eliminar parte das isenções previstas no Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho.
c) Alterar a taxa de licenciamento e de emissão de alvará para as sociedades que pretendam
desenvolver uma actividade industrial.
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I
“A percepção de que a fiscalidade tem impacto na economia e que pode ser utilizada
como instrumento económico é muito antiga. Basta, a este propósito, relembrar o episódio
bíblico da governação de José no Egipto. Nesse episódio encontramos, com muita nitidez,
a apresentação de um ciclo económico e os efeitos económicos nas fases alta e baixa do
ciclo. O sonho do faraó, que José soube interpretar, apresentava, primeiro, sete vacas belas
e gordas, que se puseram a pastar na relva, depois saíram do rio sete vacas enfezadas e
magras – que devoraram as sete vacas belas e gordas… (Génesis, 41). As vacas gordas e as
vacas magras eram a prefiguração de sete anos de abundância e de sete anos de penúria.
José aconselhou então o faraó a lançar o imposto de um quinto sobre as colheitas do Egipto
durante os sete anos de abundância. Assim, acumularam-se reservas que permitiram fazer
face à fome que depois veio.”
GUILHERME D’OLIVEIRA MARTINS e ANA SOFIA ASSIS PACHECO, Aspectos Económicos e Sociais da
Extrafiscalidade in «Da Extrafiscalidade», coord. Manuel Pires, Lisboa, Universidade Lusíada Editora, 2011,
pp. 55-56.
II
“Atendendo à diversidade de estruturação legal, o vínculo jurídico de taxa tem por
causa a prestação por uma entidade pública de utilidades individualizadas. Quer dizer que a
taxa, como, aliás, o preço, também, apresenta origem sinalagmática. É este aspecto que
separa com nitidez a taxa do imposto. Porque a taxa tem por causa a realização de uma
utilidade individualizada, ela depende de outro vínculo jurídico, o que não acontece com o
imposto. O estudante que deve uma taxa escolar, ou propina, já recebeu, ou tem a receber,
uma prestação correspondente: o ensino que lhe foi, ou vai ser, ministrado.
(…) Esta destrinça entre imposto e taxa oferece o maior relevo à face do princípio da
legalidade do imposto que não respeita às taxas. Mas importa naturalmente evitar que
aquele princípio seja infringido através de simples arbitrariedades de terminologia,
nomeadamente usando-se a expressão «taxa» para designar impostos.”
SOARES MARTINEZ, Pedro, Manual de Direito Fiscal, Coimbra, Almedina, 1983, pp. 35-36.
Pergunta-se: Como distinguir os tributos para efeitos jurídico-constitucionais?
III
“Atento quanto vimos de dizer, parece claro que pretender aplicar às taxas o critério da
capacidade contributiva redunda no resultado inaceitável de se querer tratar igualmente o
que é desigual: o imposto, que se concretiza numa “pura” repartição de encargos com
eficácia integralmente oneradora do contribuinte, e a taxa, em que a eficácia oneradora e a
eficácia desoneradora se devem equilibrar. Daí que a generalidade da doutrina, incluindo a
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IV
“Capacidade Contributiva e progressividade do imposto.
(...) A progressividade do imposto existe, no limite, mesmo com uma taxa única,
quando a lei fiscal garante a não tributação do rendimento correspondente ao mínimo de
existência, mas corresponderá a uma progressividade de grau mínimo ou meramente
residual.
No caso angolano, aquilo que o texto constitucional exige é que todos contribuam para as
despesas públicas “em função da sua capacidade económica” (art. 88.º) e que o sistema
fiscal obtenha “uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza nacional” (art. 101.º) –
objectivos a que não pode corresponder uma progressividade mínima.
A Constituição exige, através dos seus princípios, uma maior progressividade, já que
institui um modelo de Estado Social de Direito a que corresponde um sistema fiscal
compatível. A teleologia constitucional é assim a existência de uma tributação do
rendimento pessoal que vise a diminuição das desigualdades, o que em princípio implica
um grau elevado de progressividade (não basta que um qualquer sistema fiscal, sem conter
preocupações redistributivas, se limite a não tributar os rendimentos mínimos).”
J. L. SALDANHA SANCHES / JOÃO TABORDA DA GAMA, Manual de Direito Fiscal Angolano, Coimbra,
Wolters Kluwer Portugal sob a marca Coimbra Editora, 2010, pp. 191-192.
Pergunta-se:
Segundo estes Autores, em que consiste uma «progressividade mínima»? É este o
tipo de progressividade exigido pela CRA?
V
“Poderá pretender-se, no entanto, que, nos casos em que o empréstimo se encontre
sujeito a um regime de coacção para recolha do dinheiro e em que não seja feito
posteriormente o seu reembolso, a distinção entre as duas figuras praticamente não existe,
ocultando-se sob a aparência formal do empréstimo um verdadeiro imposto.
38
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O que ocorre, porém, efectivamente nestes casos, não é a alteração da natureza e fins do
empréstimo, que, apesar de tudo, permanecem os mesmos, mas sim o eventual não
cumprimento da lei por parte do Estado, que a impotência do indivíduo para exigir as
correspondentes responsabilidades torna impune. Aliás, a impedir a identificação do
empréstimo forçado com o imposto restaria sempre nestes casos o seu carácter bilateral e a
circunstância do vencer juros.”
ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, Princípios de Direito Fiscal, Coimbra, Almedina, 1979, p. 50.
Como se distingue o imposto em face do empréstimo público forçado? Esses
elementos distintivos encontram-se presentes no texto apresentado? Identifique-os.
VI
“Como vimos, o cerne fundamental, nuclear, do direito fiscal, é composto pelo conjunto
de normas de direito tributário material que, como dissemos, são as que estabelecem e
regulam os impostos. Mas, como lembrámos parte da doutrina distingue os conceitos
jurídicos de imposto e tributo. Ora, não obstante as nossas preocupações teóricas se
dirigirem apenas à análise dos impostos, nada impede que demos também aqui uma noção
de tributo, que, como veremos, é o género de que o imposto é a espécie, pois o primeiro
abrange prestações patrimoniais coactivas entre as quais cabe o segundo. Trata-se pois de
definições materiais e jurídicas e não formais e económicas.
Assim, podemos definir tributo como «a prestação patrimonial definitiva estabelecida
por lei, em sentido lato, a favor de uma entidade que tem a seu cargo o exercício de
funções públicas, para satisfação de fins públicos, que não constituam sanção de actos
ilícitos e não depende de vínculos anteriores».”
NUNO DE SÁ GOMES, Manual de Direito Fiscal, Vol. I, 11.ª Edição, Lisboa, Editora Rei dos Livros, 2000, p.
59.
Distinga imposto e tributo. Traga, na sua resposta, o enquadramento dado pelo
CGT.
VII
“Nas sociedades modernas o imposto é, actualmente, sempre estabelecido por lei.
Porém, segundo parece, já no Antigo Egipto as grandes obras públicas foram realizadas
com o concurso do serviço de vassalagem, constante de regras costumeiras e não de leis
escritas, e que se configurava como um verdadeiro tributo. E a história dá-nos igualmente
exemplos de comunidades não estaduais que estabeleceram impostos por autoridade
própria, como a Igreja e outras comunidades religiosas, algumas cidades e até
universidades. E, ainda na época contemporânea, algumas universidades inglesas têm
mantido, parece, poderes tributários sem que estes estejam reconhecidos por lei e, portanto,
com base apenas no direito consuetudinário.
E note-se: se é certo que nas sociedades modernas o imposto é estabelecido em leis
escritas não devemos esquecer que historicamente existiram impostos tendo por base leis
orais, nas culturas e povos que ainda não conheciam a escrita, o mesmo sucedendo nos
povos primitivos actuais. Nestes casos, o imposto é determinado oralmente pelos chefes,
conselhos e outros órgãos públicos competentes.
A circunstância de os impostos serem estabelecidos por lei heterónoma e não resultarem
de actos voluntários dos contribuintes, designadamente de convenções jurídicas, leva
certos autores a referirem-se à natureza coactiva do imposto. Sucede, porém, que a
sujeição à grande maioria dos impostos depende da prática de actos voluntários do
contribuinte, como veremos, pelo que não me parece sugestiva a sugestão.
39
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E como esclarece o Prof. A. Xavier, ao dizermos que o imposto tem origem legal «não
queremos referir-nos ao princípio da legalidade que se reporta à natureza e conteúdo da lei
– e que pode não vigorar em certas ordens jurídicas; queremos apenas significar que a
obrigação tributária não decorre, por natureza, da vontade, de um acto voluntário, mas de
um mero facto a que a lei (ainda que entendida no seu mais amplo sentido) atribui o efeito
de o constituir».
Quer dizer: o imposto enquanto conceito universal tem origem legal apenas na medida
em que dá origem a uma obrigação ex lege, independente da vontade do obrigado. Daí que
a expressão lei seja empregada em sentido lato, de ordem jurídica.”
NUNO DE SÁ GOMES, Manual de Direito Fiscal, Vol. I, 11.ª Edição, Lisboa, Editora Rei dos Livros, 2000, pp.
63-65.
Pergunta-se: Qual é a posição do Autor sobre a definição do imposto como
prestação coactiva?
VIII
“Da legalidade no Direito Fiscal resulta também a tipicidade do imposto, que se traduz
no brocardo «nullum tributum sine lege», ou «nullum vectigal sine lege», paralelo àquele
outro segundo o qual «nullum crimen sine lege». Assim como não há crime que não
corresponda a uma definição legal, a um tipo legal, também não haverá imposto que não
corresponda a uma definição legal, a um tipo legal. Nisso consiste a tipicidade do imposto.
A tributação resulta da verificação concreta de todos os pressupostos tributários, como tais
previstos e descritos, abstractamente, na lei de imposto. Se não se verificar um desses
pressupostos já não é possível a tributação, por obediência a este princípio da tipicidade do
imposto.”
SOAREZS MARTÍNEZ, Direito Fiscal, Vol. I, 9.ª Edição, Coimbra, Almedina, 1997, p. 108.
Explique a frase sublinhada no texto. Diga também se o princípio da tipicidade do
imposto está consagrado constitucionalmente e, em caso afirmativo, apresente-o.
XIX
“Natureza pecuniária, origem legal, capacidade contributiva, obrigatoriedade ou
coactividade, são elementos que os autores incluem muitas vezes nas suas definições de
imposto; mas que ou não correspondem a qualquer estruturação jurídica ou constituem
elementos meramente acidentais, alheios à essência do imposto. Se, porém, a relação
jurídica criada não tiver natureza creditícia e, portanto, patrimonial, se não tiver por fim a
realização de uma receita pública, se não resultar de outros vínculos legais ou se
determinar para o respectivo sujeito activo qualquer dever de prestar específico – não
estaremos em presença da figura jurídica do imposto. Porque a natureza obrigacional, ou
creditícia, o fim de criação de ingressos públicos e a autonomia – no sentido de não
depender de qualquer dever do sujeito activo, nem criar para ele novos vínculos legais –
constituem elementos essenciais do imposto.”
SOAREZS MARTÍNEZ, Direito Fiscal, Vol. I, 9.ª Edição, Coimbra, Almedina, 1997, pp. 33-34.
Diga qual é o elemento definidor do imposto em evidência neste excerto.
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Bibliografia: JOAQUIM FREITAS DA ROCHA/HUGO FLORES DA SILVA, Teoria Geral da Relação Jurídica
Tributária, Almedina, Coimbra, 2017; J. L. SALDANHA SANCHES, A quantificação da obrigação tributária:
deveres de cooperação, autoavaliação e avaliação administrativa, 2.ª ed., Lex, Lisboa, 2000; JOSÉ CASALTA
NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 235-297; JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO
NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, Direito Fiscal Angolano Segundo a Reforma de 2014, Coimbra
Editora, Coimbra, 2015, pp.193-217; J. L. SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, Manual de
Direito Fiscal Angolano, Coimbra Editora, Coimbra, 2010, pp. 201-234; AMÉRICO FERNANDO BRÁS
CARLOS, Impostos. Teoria Geral, 4.ª ed., Almedina, Coimbra, 2014, pp. 57-85; ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA,
Princípios de Direito Fiscal, 2.ª ed., Almedina, Coimbra, 1979, pp. 147-318; SOARES MARTÍNEZ, Direito
Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997, pp. 161-287.
1. Introdução.
O Direito Fiscal é um ramo do direito público. Vimos ao longo das nossas aulas vários
traços desta natureza publicista do Direito Fiscal:
O Direito Fiscal é um sub-ramo de um outro ramo do direito público que é o Direito
Financeiro (Público), sendo aquele que trata as receitas públicas unilaterais / receitas
tributárias unilaterais / impostos. Por isso usamos a expressão Direito Fiscal como
equivalente a «Direito dos Impostos».
Os impostos resultam de uma intromissão juridicamente regulada da Administração
na esfera patrimonial do cidadão (o direito de propriedade é também um direito
fundamental – art. 37.º da CRA, e as leis restritivas desses direitos têm de obedecer à
Constituição – art. 57.º da CRA), sendo-lhe exigido por lei um determinado sacrifício
patrimonial na medida da sua capacidade contributiva (como vimos, à luz do art. 88.º da
CRA). [J. L. SALDANHA SANCHES/JOÃO TABORDA DA GAMA, p. 165 e ss.]
No exercício da sua actividade, a Administração fiscal tem um conjunto de poderes
vinculados à lei quando se fala nos elementos essenciais do imposto (preeminência de lei,
prevalência de lei, precedência de lei, reserva absoluta de lei).
Como vimos, o imposto é uma prestação coactiva, quer dizer: ex lege ou
estabelecida por lei.
Enquanto prestação, a obrigação de imposto surge integrada na «relação jurídica
fiscal» ou «relação jurídica de imposto».
A obrigação de pagar o imposto nasce assim de uma relação jurídica determinada
anteriormente numa previsão legal de um tipo de imposto (e é esta previsão legal (=lei em
sentido formal) que vai tipificar o que vai ser tributado em sede daquele imposto (ou seja,
nas normas de incidência objectiva temos o conjunto de pressupostos que definem a
realidade sujeita a imposto/o facto tributável), “quem” paga o imposto (isto é, nas normas
de incidência subjectiva encontramos o conjunto de pressupostos que definem o sujeito
passivo) e o quantum da base tributável (base da medida do sacrifício patrimonial exigido).
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Concluindo, é a lei que define os elementos essenciais do imposto (art. 102.º, n.º 1, da
CRA – princípio da legalidade fiscal/ princípio da tipicidade).
O Estado e demais entes públicos surgem numa posição de supremacia na relação
jurídica de imposto, enquanto titulares de um jus imperii (poder de autoridade).
E a finalidade do imposto é financeira, ou até pode ser instrumento para alcançar
finalidades extrafinanceiras ou extrafiscais, sendo que o interesse é público, porque a
actividade financeira do Estado tem como propósito a satisfação das necessidades
colectivas.
O Direito Fiscal tem natureza publicista. Na summa divisio clássica “Direito Público” e
“Direito Privado”, enquadramos, portanto, o Direito Fiscal no Direito Público. E o
princípio da legalidade é um princípio estruturante no Direito Público. Pensemos noutros
ramos do Direito Público, como o Direito Penal e o Direito Administrativo, e recordemos o
papel central da lei. Facilmente contrapomos o princípio da legalidade do Direito Público
ao princípio da autonomia privada ou autonomia da vontade das partes no Direito Privado.
Veremos que o Direito Fiscal, que é um ramo do Direito Público, adoptou algumas
técnicas criadas pelo Direito Privado, como a relação jurídica (=> relação jurídica fiscal) e
a obrigação (=> obrigação fiscal).
42
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deve pagar a renda ao senhorio. Estamos então perante uma relação jurídica abstracta.
[P]odemos, ao invés, considerar a expressão com referência a uma relação jurídica
existente na realidade, entre pessoas determinadas, sobre um objecto determinado, e
procedendo de um facto jurídico determinado: o senhorio A pode exigir do inquilino B a
renda de € 500 pelo arrendamento do prédio X. estamos então perante uma relação
jurídica concreta”.
No seu art. 2.º, n.º 1, al. r), o CGT define relação jurídica tributária como «o vínculo
jurídico estabelecido entre o Estado ou entes públicos equiparados, enquanto
Administração Tributária, e as pessoas singulares ou colectivas e os entes fiscalmente
equiparados a estas, nos termos da lei». Esta definição legal ajuda-nos a perceber melhor o
conteúdo do art. 1.º do CGT que delimita o âmbito de aplicação do Código às relações
tibutárias e às relações de direito público que não tenham natureza tributária, quando assim
o determine a própria lei.
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abaixo desse plano legal comum, já a lei não é a origem, não é o facto constitutivo, nem de
umas, nem de outras. Essa origem, esse facto constitutivo, será, em todos os casos, um
evento previsto pela lei: um negócio jurídico, um acto delituoso, um facto tributário. (…)
As obrigações ou são sempre legais, só a norma jurídica tendo vigor suficiente para as
constituir, e cabendo ao facto legalmente previsto o papel de simples condição, ou são
criadas por esse facto. Esta segunda solução parece preferível. As obrigações, mesmo as
ditas legais, não encontram na lei a sua origem directa, imediata, até porque a norma, pela
sua generalidade e abstracção, não cria directamente situações individuais, concretas,
subjectivas. A origem de uma obrigação jurídica há-de estar sempre num facto pela lei
previsto e que da lei recebe o vigor bastante para constituir a obrigação. (…) Realmente, a
origem de uma relação jurídica está sempre num facto pela lei previsto. É essa previsão
legal, e não a circunstância de tal facto ser ou não voluntário, que lhe confere o vigor para
desencadear certos efeitos jurídicos. (…) Pode justificar-se a distinção frequentemente
estabelecida entre obrigações legais, ou «ex lege», e obrigações voluntárias, negociais ou
contratuais; mas não assentando o critério de destrinça na diversidade de origem das
obrigações. O que distingue umas das outras é a intervenção maior ou menor da lei na
definição do respectivo conteúdo. No caso das obrigações legais o seu conteúdo é fixado
pela lei; no caso das obrigações voluntárias a lei permite que esse conteúdo seja
preenchido, em termos mais ou menos amplos, conforme os casos, pela vontade das
partes.» (SOARES MARTÍNEZ, pp. 173-174.)
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define-o como «aquele facto que conjuga os pressupostos previstos na lei tributária.» O
facto tributário combina os pressupostos tributários e desta conjugação nasce a relação
jurídica tributária. O autor define os pressupostos tributários como «aquelas situações,
pessoais e reais, previstas, expressa ou tacitamente, pelas normas de incidência tributária.»
(SOARES MARTÍNEZ, p. 184.)
«Artigo 24.º
(Constituição)
A obrigação tributária constitui-se com a verificação dos factos que definem a
incidência do respectivo tributo, salvo nos casos previstos na lei.»
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2) Dimensão formal (ou quantitativa): diz respeito à matéria colectável (que é a base
de rendimentos à qual se aplica a taxa do imposto). A “intensidade” do facto tributário irá
depender do nível de capacidade contributiva, isto é, do nível de rendimento, do valor do
património ou da natureza dos bens consumidos.
3) Dimensão espacial: diz respeito ao lugar da ocorrência do facto tributário, com
base nos princípios da territorialidade e da fonte. Chama-se aqui a temática da
nacionalidade e da residência do contribuinte. Ver, a propósito da aplicação da lei fiscal no
espaço, o art. 9.º do CGT.
4) Dimensão temporal: diz respeito ao momento da realização do facto tributário e à
aplicação das leis fiscais no tempo. É importante ver a data em que se considera ocorrido o
facto tributário, se é de formação imediata (ex.: emissão de factura, aquisição de um
imóvel), ou de formação sucessiva (ex.: obtenção de lucros, obtenção de rendimentos do
trabalho). Vimos nas nossas aulas também a problemática da aplicação das leis fiscais no
tempo (art. 102.º, n.º 2, da CRA e art. 8.º do CGT).
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n.º 5, do CGT: «Não é sujeito passivo (...) quem suporte por mera repercussão o encargo
económico do imposto.» Exemplificando num esquema, temos:
Imposto de Consumo
Hotel A Cliente B
Contribuinte
Estado
indirecto
(Não é sujeito
passivo)
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Agora: Será que o CGT tem uma concepção ampla de sujeito passivo? Analisemos os
números 4 e 5 do art. 28.º do CGT. [Debate deste ponto.]
«Artigo 28.º
(Sujeito activo e passivo da relação tributária)
(…)
4. Sujeito passivo da relação tributária são as pessoas singulares ou colectivas, as sociedades
irregulares, os sócios das sociedades civis não constituídas sob a forma comercial e os
membros dos patrimónios autónomos, incluindo a herança indivisa e a herança jacente, ou
das organizações de facto, bem como outras entidades que, nos termos legais e ainda como
substitutos ou responsáveis, devam cumprir a obrigação tributária principal.
5. Não é sujeito passivo quem procede à retenção na fonte ou quem suporte por mera
repercussão o encargo económico do imposto.» (sublinhado nosso)
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Vamos analisar estes dois conceitos jurídicos que se referem tanto ao lado activo como
ao lado passivo da relação jurídica fiscal. Assim dispõe o art. 28.º, n.º 1, do CGT: «A
personalidade tributária consiste na aptidão de ser sujeito activo ou passivo da relação
tributária.» No art. 30.º do CGT, diz-se que «[t]em capacidade tributária quem possui
personalidade tributária e capacidade de exercício de direitos nos termos da Lei Civil, a
qual é também aplicável ao suprimento da incapacidade.»
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Em princípio, quem tem personalidade jurídica (no direito civil) terá personalidade
tributária. Contudo, quando a lei fiscal disponha em contrário, poderemos ter i) situações
em que a lei fiscal considera sujeitos tributários entidades desprovidas de personalidade
jurídica e ii) situações em que a lei fiscal não considera sujeitos tributários entidades
detentoras de personalidade jurídica. (Vide JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 259-261.)
Sociedade de advogados
(imaginem uma sociedade civil que não foi constituída sob a forma comercial)
Sociedade de advogados
(sociedade de profissionais) Imposto Industrial sobre os lucros da
Obs.: ver art. 109.º dos Estatutos da
sociedade
Ordem dos Advogados de Angola
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que são sujeitos passivos de imposto industrial «[a]s sociedades comerciais ou civis sob
forma comercial (...).» (Cfr. art. 5.º, n.º 1, al. a), do CII.)
Como vimos, o regime da transparência fiscal está previsto no CGT (art. 29.º, n.º 1).
Contudo, já em 2010, SALDANHA SANCHES e JOÃO TABORDA DA GAMA (p. 249) defendiam
que, por razões de ordem prática, o regime da transparência fiscal deveria ter sido inserido
no Código do Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho (CIRT), que tributa os
rendimentos derivados do trabalho por conta própria (da actividade de profissões liberais),
salientando que os advogados estão expressamente previstos na lista de profissões anexa ao
CIRT. Os autores criticaram a opção do legislador quando inseriu o regime da
transparência fiscal no CGT (Diploma Legislativo n.º 3.868, de 30 de Dezembro de 1968),
opção que se manteve no CGT aprovado pela Lei n.º 21/14, de 22 de Outubro, actualmente
em vigor. [Discussão: Artigo 5.º, n.º 1, alínea a), do Código do Imposto Industrial (com a
redacção dada pela Lei n.º 4/19, de 18 de Abril).]
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CGT. Chama-se a atenção para a importância em termos práticos do n.º 2, do art. 38.º do
CGT: «Sempre que a direcção efectiva seja exercida no território nacional, mas a sede
estatutária se situe no exterior, considera-se domicílio o local dessa direcção efectiva.»
Sobre o conceito de estabelecimento estável, ver o art. 39.º, n.º 1: «compreende uma
instalação fixa, através da qual a empresa exerça toda ou parte da sua actividade».
Identificar o art. 39.º, n.os 1 e 2, do CGT como um caso de tipicidade aberta. JOSÉ CASALTA
NABAIS (p. 266) traz a distinção entre estabelecimentos reais (“instalação fixa”) e
estabelecimentos pessoais (“uma pessoa”). O CGT refere-se a estabelecimentos pessoais
no art. 39.º, n.º 3, ao estabelecer que «quando uma pessoa singular ou colectiva que não
seja um agente independente a que é aplicável o n.º 6 actue, no País, para uma empresa e
tenha ou habitualmente exerça, em território nacional, poderes para concluir contratos em
nome desta empresa, é considerado que a mesma tem aqui um estabelecimento estável
relativamente a qualquer actividade que essa pessoa exerça ou possa exercer para a
empresa, se a referida pessoa: dispuser de poderes para concluir habitualmente contratos
no País em nome da empresa ou não dispondo de tais poderes, conserve habitualmente no
País um «stock» de mercadorias para entrega por conta da empresa.» [Sublinhado nosso]
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acessórias, pois estas pertencerão, por força da lei, ao substituto. Por isso se diz que nos
casos em que a retenção na fonte é caracterizada como uma retenção liberatória ou
definitiva estamos perante uma substituição total: cobrindo tanto a obrigação de
imposto/obrigação principal, como a generalidade das obrigações acessórias. Exemplos:
retenção na fonte em sede de tributação dos rendimentos do trabalho dependente (CIRT –
Grupo A); tributação em sede do regime de tributação dos serviços acidentais (CII – art.
4.º, n.º 2, e art. 71 e ss).
2) Retenção na fonte não liberatória ou a título de pagamento por conta de imposto
de terceiro. A retenção na fonte não liberatória ou a título de pagamento por conta de
imposto de terceiro devido a final visa uma mera antecipação do pagamento do imposto, de
forma provisória, entendendo-se que o imposto não é retido de forma total e definitiva.
Atenda-se, por exemplo, aos impostos que são devidos apenas no final do ano. Assim, o
imposto que for sendo retido na fonte ao longo do ano, no final, com a apresentação da
declaração e liquidação definitiva do imposto, será levado em conta e deduzido à colecta,
ao valor do imposto a pagar no final do ano. Para o substituído fica então o cumprimento
de algumas obrigações acessórias, como a apresentação da declaração anual de
rendimentos para liquidação e pagamento definitivo do imposto. A substituição tributária
aqui não é total, é uma substituição parcial. Exemplos: retenção na fonte em sede de
tributação dos rendimentos do trabalho por conta própria (CIRT – Grupo B); liquidação e
pagamento provisório sobre prestação de serviços (CII – art. 67.º).
Sobre estes conceitos, v. JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 268-270.
Regime jurídico. O regime jurídico da substituição fiscal concretiza-se numa relação
triangular ou trilateral. Estamos perante uma relação jurídica de tipo triangular entre o
substituto, a Administração Fiscal e o contribuinte/substituído. Nessa relação «credor
devedor» temos, do lado passivo/do devedor, um devedor originário (a quem vai ser
exigido em primeira linha o pagamento do imposto) que é o substituto, e um devedor não
originário (a quem vai ser exigido em segunda linha o pagamento do imposto) que é o
substituído ou o contribuinte (V. José Casalta Nabais, p. 271). Tomemos a seguinte
hipótese como ponto de partida para analisar a substituição fiscal: António, jovem de 25
anos, trabalha na empresa “ABC, Lda”, auferindo um salário mensal de AKZ 45 000,00.
Pergunta-se: Quem é o devedor do imposto? Este é um caso típico de substituição fiscal
em que o imposto vai ser exigido a pessoa diversa (ABC, Lda) do contribuinte efectivo (Sr.
António), nos termos do art. 45.º, n.º 1, do CGT. Porque, em concreto, nesta relação
jurídica de IRT (por conta de outrem) é à ABC, Lda que a lei atribui a obrigação de fazer a
liquidação, a retenção na fonte e a entrega do imposto devido nos cofres do Estado (art.
10.º, n.º 1 e 11.º, n.º 1 do CIRT). Em IRT por conta de outrem a retenção na fonte é
definitiva ou a taxas liberatórias/taxas finais. A ABC, Lda é o devedor originário ou em
primeira linha enquanto substituto nesta concreta relação jurídica de imposto e o Sr.
António será o devedor não originário ou em segunda linha (substituído/contribuinte
efectivo) do imposto.
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dívida, que serve de base ao processo de execução fiscal (art. 139.º do CGT). Natureza
judicial do processo de execução fiscal (art. 140 do CGT). Dação em cumprimento (art.
57.º do CGT).
Compensação de créditos (arts. 58.º e 59.º do CGT).
Confusão [na mesma entidade das qualidades de sujeito activo e passivo da obrigação
tributária] (art. 60.º do CGT). Exemplo de confusão: quando o terceiro sub-rogado nos
direitos da Administração Tributária ocupa o lugar de herdeiro de contribuinte, passando a
estar “ao mesmo tempo” nos lugares de sujeito activo e sujeito passivo, operando-se, então,
extinção da relação jurídica fiscal por confusão.
Caducidade do direito à liquidação e prescrição da dívida tributária. Conceitos:
caducidade da obrigação de liquidação (na redacção do art. 2.º, n.º 1, alínea c), do CGT -
«caducidade do direito à liquidação»): extinção do direito e dos poderes de liquidação que
a Administração Tributária dispõe em relação às declarações fiscais dos contribuintes por
força do decurso do prazo para o efeito fixado na lei; prescrição da dívida tributária (art.
2.º, n.º 1, alínea p), do CGT): a extinção do direito de cobrança da dívida tributária por
parte da Administração Tributária pelo decurso do período de tempo estabelecido por lei.
Regime jurídico: caducidade da obrigação de liquidação – art. 62.º do CGT; prescrição da
dívida tributária – art. 63.º do CGT. Distinção pelos momentos da vida do imposto:
caducidade – liquidação; prescrição – cobrança.
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Hipótese prática:
A relação jurídica de IRT (Grupo A) caracteriza-se como uma relação jurídica tributária
triangular ou trilateral; caso de substituição tributária/retenção na fonte; noção de
substituição tributária (art. 45.º do CGT); substituição tributária na relação jurídica de IRT
(artigos 10.º, n.º 1, e 11.º, n.º 1, do CIRT); substituto tributário (MegaTec, Lda) e
substituído tributário (Sr. Adriano), sujeitos passivos de IRT; conceito amplo de sujeito
passivo (art. 28.º, n.º 4, do CGT).
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Dados:
Identificamos no caso uma relação jurídica laboral (trabalhador/Sr. Adriano –– entidade
empregadora/MegaTec, Lda);
Estamos perante rendimento do trabalho dependente;
Sabemos que o rendimento é uma das formas de manifestação de capacidade económica.
No caso: a capacidade económica manifesta-se através do salário e dos subsídios.
No caso: quem manifesta esta capacidade económica é o trabalhador/Sr. Adriano.
Perguntas:
Há obrigação de pagar imposto?
Ou, melhor:
Há obrigação de pagar imposto por via de retenção na fonte sobre os rendimentos pagos?
Os salários e os subsídios pagos são objecto de tributação?
O trabalhador é contribuinte/sujeito passivo numa relação jurídica de imposto?
Qual é o tipo de imposto?
O facto constitutivo da relação jurídica de imposto é complexo, sendo possível identificar dois
elementos: primeiro, um facto real e concreto (o facto tributário) e, segundo, uma norma que o
preveja como sendo um facto apto a desencadear efeitos tributários (Joaquim Freitas da Rocha).
Assim, a circunstância de um trabalhador manifestar capacidade económica obtendo um salário
(verificação de um facto) faz nascer a obrigação legal (previsão normativa) de pagar IRT.
[Esquema: 1.º verificação de um facto → 2.º previsão desse facto numa norma tributária de
incidência]. A incidência inclui a incidência real ou objectiva e a incidência pessoal ou
subjectiva. Podemos definir a incidência real como o conjunto de pressupostos que define a
realidade sujeita a imposto. E definimos a incidência pessoal como o conjunto de pressupostos
que define o sujeito passivo da obrigação de imposto. (AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS)
Incidência objectiva:
Incidência subjectiva:
Art. 1.º (Base do imposto)
Art. 4.º (Incidência subjectiva e
Art. 3.º (Grupos de tributação)
âmbito de sujeição)
Art. 2.º (Não sujeição)
2.ª ideia: Perguntar se estão ou não sujeitos a retenção na fonte tanto o vencimento
como os dois subsídios atribuídos ao Sr. Adriano equivale a perguntar se estes
rendimentos constituirão matéria colectável na sua totalidade. Em sede de tributação dos
rendimentos do trabalho dependente (rendimentos do Grupo A), a matéria colectável
corresponde ao salário base (no caso, a remuneração mensal de kz.: 165.000,00), somando
a este outras componentes remuneratórias sujeitas a tributação e que a lei não isente de
tributação, e deduzindo o valor das contribuições obrigatórias para a Segurança Social
(vide o art. 7.º, em especial, o n.º 2, alíneas a) e b), do CIRT). No caso em análise, temos
duas componentes remuneratórias além do salário base: um subsídio de chefia e um
subsídio de renda da casa. Constituirão ambos os subsídios (na sua totalidade) matéria
colectável? Os subsídios integram o elenco dos rendimentos que são base de tributação
para efeitos do cálculo do IRT, isto é, constituem em regra remunerações acessórias
sujeitas a IRT (art. 1, n.º 2, do CIRT – tipicidade aberta). Todavia, para efeitos de
determinação da matéria colectável há que ver se há alguma componente remuneratória
não sujeita a tributação ou dela isenta nos termos do CIRT. O art. 2.º do CIRT, sob a
epígrafe “não-sujeição” determina que não constituem matéria colectável os subsídios de
renda de casa até ao limite de 50% do valor do contrato de arrendamento, desde que
cumpridas certas obrigações acessórias (art. 2.º, n.º 1, alínea f), e n.os 2 e 3, do CIRT). Para
que o subsídio de renda de casa, quando atribuído “até ao limite de 50% do valor do
contrato de arrendamento”, não constitua matéria colectável na sua totalidade é necessário
que os interessados façam a entrega da cópia do contrato de arrendamento na Repartição
fiscal competente, no prazo de 15 dias contados a partir da data da assinatura do contrato,
pois na falta de entrega o legislador determina que os montantes atribuídos ao trabalhador a
título de subsídio de renda de casa constituam matéria colectável na sua totalidade. O
subsídio de chefia não é contemplado por nenhuma das alíneas do art. 2.º do CIRT, pelo
que, sendo definido como base de tributação, constituirá matéria colectável na sua
totalidade.
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NOTA
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Art. 20.º do CIRT – “Nos casos em que se verificar falta de liquidação do imposto ou
em que este tenha sido liquidado por importância inferior à devida, a entidade responsável
pela entrega pode, espontaneamente, proceder às liquidações adicionais que se mostrem
necessárias, salvo se antes houver sido iniciado procedimento de fiscalização”; regime da
responsabilidade do substituto tributário; art. 21.º, n.º 1, do CIRT («liquidação adicional»)
– “Havendo lugar à liquidação adicional, a responsabilidade pelo pagamento do imposto
pertence às entidades obrigadas à retenção na fonte, sem prejuízo do direito de regresso
que possa caber-lhes, e, subsidiariamente, às pessoas sujeitas a imposto”.
c) Se a sua situação tributária seria diferente caso não fosse de nacionalidade angolana
e/ou tivesse idade superior a sessenta anos.
2.ª questão: Pressupostos que definem a isenção subjectiva (art. 5.º, n.º 1, alínea e), do
CIRT)
Questionar a possibilidade de haver uma isenção subjectiva caso se verifiquem todos os
pressupostos definidos no art. 5.º, n.º 1, alínea e), do CIRT: «1. Estão isentos de Imposto
sobre os Rendimentos do Trabalho: e) Os rendimentos auferidos pelos cidadãos nacionais
com idade superior a 60 (sessenta) anos derivados do trabalho por conta de outrem.»
No caso em análise, o Sr. Adriano trabalha por conta de outrem. Mas para estar
abrangido pela isenção definida no art. 5.º, n.º 1, alínea e), do CIRT – e desta forma não
sofrer retenção na fonte de IRT (Grupo A) – o Sr. Adriano teria de ter também
nacionalidade angolana e ainda idade superior a sessenta anos. Basta que não se verifique
qualquer um destes pressupostos e já não há lugar a isenção.
Uma isenção é uma excepção à regra. A “regra”, neste contexto, é a tributação em IRT
(Grupo A). A lei que estabelece a regra pode prever uma excepção, como a estabelecida no
art. 5.º, n.º 1, alínea e), do CIRT. Se não se verificarem todos os pressupostos da isenção,
dizemos que não há excepção e aplica-se a regra, isto é, a tributação dos rendimentos desse
sujeito passivo em IRT (Grupo A).
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Caso n.º 1
Aristóteles é trabalhador na "ABC, Lda.", sociedade comercial do ramo informático que
tem a sua sede e direcção efectiva em Luanda, auferindo um vencimento mensal de kz.:
75 000,00 (setenta e cinco mil kwanzas) e um subsídio de deslocação de kz.: 7 500,00
(sete mil e quinhentos kwanzas) mensais.
Após analisar atentamente os recibos de vencimento, constatou que, em 2019, a sua
entidade patronal não lhe fez quaisquer retenções na fonte para efeitos de IRT e ficou
apreensivo. Assim sendo, pretende saber:
a) Se o seu vencimento e subsídio estão ou não sujeitos a retenção na fonte e, em caso
afirmativo, se tal retenção é feita a título definitivo ou não;
(Nascimento da obrigação de pagar IRT pela verificação dos factos que definem a incidência no
CIRT. O trabalhador como sujeito passivo de IRT (A))
Aristóteles é sujeito passivo de IRT; nascimento da obrigação fiscal (art. 24.º do CGT) – a
obrigação tributária constitui-se com a verificação dos factos que definem a incidência;
normas de incidência no CIRT – artigos 1.º a 4.º do CIRT; incidência objectiva (art. 1.º do
CIRT/rendimentos do trabalho por conta de outrem); salário e subsídio (art. 1.º, n.º 1, 2 e 3,
alínea a), do CIRT); não-sujeição: apenas os subsídios de deslocação atribuídos aos
funcionários do Estado (art. 2.º, n.º 1, al. j), do CIRT); tributação de rendimentos do
«Grupo A» (art. 3.º, n.º 2, do CIRT); incidência subjectiva (art. 4.º, n.º 1, do CIRT) –
irrelevância da nacionalidade ou da residência por aplicação do critério da fonte.
(A substituição tributária ou retenção na fonte em IRT (A) e a relação jurídica tributária trilateral)
A relação jurídica de IRT (Grupo A) caracteriza-se como uma relação jurídica tributária
triangular; caso de substituição tributária/retenção na fonte; noção de substituição tributária
(art. 45.º do CGT); substituição tributária na relação jurídica de IRT (artigos 10.º, n.º 1, e
11.º, n.º 1, do CIRT); substituto tributário (ABC, Lda) e substituído tributário (Aristóteles),
sujeitos passivos de IRT; conceito amplo de sujeito passivo (art. 28.º, n.º 4, do CGT).
A retenção na fonte de IRT a efectuar sobre a atribuição de rendimentos do Grupo A é
sempre uma retenção na fonte liberatória ou a título definitivo.
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Art. 20.º do CIRT – “Nos casos em que se verificar falta de liquidação do imposto ou
em que este tenha sido liquidado por importância inferior à devida, a entidade
responsável pela entrega pode, espontaneamente, proceder às liquidações adicionais que
se mostrem necessárias, salvo se antes houver sido iniciado procedimento de
fiscalização”; regime da responsabilidade do substituto tributário; art. 21.º, n.º 1, do
CIRT («liquidação adicional») – “Havendo lugar à liquidação adicional, a
responsabilidade pelo pagamento do imposto pertence às entidades obrigadas à retenção
na fonte, sem prejuízo do direito de regresso que possa caber-lhes, e, subsidiariamente,
às pessoas sujeitas a imposto”.
Artigo 51.º do CGT: «1. São devidos juros compensatórios sempre que, por facto
imputável ao contribuinte, for retardada a liquidação de parte ou da totalidade do tributo
devido ou a entrega do tributo retido ou a reter no âmbito da substituição tributária, sem
prejuízo da multa cominada ao infractor. 2. Os juros compensatórios contam-se dia a dia
desde o termo do prazo da entrega da declaração ou do termo do prazo da entrega da
prestação tributária a pagar ou a reter, até ao suprimento, correcção ou detecção da falta
que motivou o retardamento da liquidação.»
Art. 21.º do CIRT (Falta de retenção): «1. As entidades obrigadas à retenção de
imposto na fonte que não cumpram essa obrigação são punidas com pena de multa nos
termos do Código Geral Tributário. 2. A multa a apurar nos termos do número anterior
não pode ter um valor inferior a kz: 50.000,00 (cinquenta mil Kwanzas).»
Caso n.º 2
Ana Júlia trabalha, desde Novembro de 2017, numa fábrica de conservas, no Lobito,
onde desempenha funções administrativas. Apesar de estar convencida que as retenções
na fonte estão a ser feitas mensalmente, aquando do pagamento dos respectivos salários,
Ana Júlia tem andado bastante preocupada, pois corre um boato na empresa de que face
às dificuldades económicas o patrão não tem feito a entrega dos montantes retidos aos
trabalhadores nos cofres do Estado.
1. Apreensiva, Ana Júlia consulta-a(o), questionando-a(o):
a) Se lhe poderão ser exigidos esses montantes;
(Nascimento da obrigação de pagar IRT pela verificação dos factos que definem a incidência no
CIRT. O trabalhador como sujeito passivo de IRT (A))
Ana Júlia é sujeito passivo de IRT; nascimento da obrigação fiscal (art. 24.º do CGT) – a
obrigação tributária constitui-se com a verificação dos factos que definem a incidência;
normas de incidência no CIRT – artigos 1.º a 4.º do CIRT; incidência objectiva (art. 1.º do
CIRT/rendimentos do trabalho por conta de outrem); tributação de rendimentos do «Grupo
A» (art. 3.º, n.º 2, do CIRT); incidência subjectiva (art. 4.º, n.º 1, do CIRT) – irrelevância
da nacionalidade ou da residência por aplicação do critério da fonte.
(A substituição tributária ou retenção na fonte em IRT (A) e a relação jurídica tributária trilateral)
A relação jurídica de IRT (Grupo A) caracteriza-se como uma relação jurídica tributária
triangular; caso de substituição tributária/retenção na fonte; noção de substituição tributária
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(art. 45.º do CGT); substituição tributária na relação jurídica de IRT (artigos 10.º, n.º 1, e
11.º, n.º 1, do CIRT); substituto tributário (empresa) e substituído tributário (Ana Júlia),
sujeitos passivos de IRT; conceito amplo de sujeito passivo (art. 28.º, n.º 4, do CGT).
b) Se, pressupondo que o patrão não fez a retenção, poderá ser chamada a pagar os
montantes que deveriam ter sido retidos.
Art. 20.º do CIRT – “Nos casos em que se verificar falta de liquidação do imposto ou em
que este tenha sido liquidado por importância inferior à devida, a entidade responsável pela
entrega pode, espontaneamente, proceder às liquidações adicionais que se mostrem
necessárias, salvo se antes houver sido iniciado procedimento de fiscalização”; regime da
responsabilidade do substituto tributário; art. 21.º, n.º 1, do CIRT («liquidação
adicional») – “Havendo lugar à liquidação adicional, a responsabilidade pelo pagamento
do imposto pertence às entidades obrigadas à retenção na fonte, sem prejuízo do direito de
regresso que possa caber-lhes, e, subsidiariamente, às pessoas sujeitas a imposto”.
Caso n.º 3
Adalberto é proprietário de um estabelecimento comercial situado em Viana, onde
emprega Bernardo, Carlos e Dinis. Com todos eles celebrou contratos de trabalho,
mediante os quais ficou acordado pagamento de kz.: 75 000,00 (setenta e cinco mil
kwanzas) mensais a título de salário e de kz.: 7 500,00 (sete mil e quinhentos kwanzas)
mensais a título de subsídio de deslocação.
Nos últimos seis meses, em face de enormes dificuldades financeiras, Adalberto:
Não reteve IRT relativamente ao salário e subsídio de Bernardo;
Não reteve IRT relativamente ao subsídio de Carlos;
Reteve IRT relativamente ao salário e subsídio de Dinis não tendo, todavia,
entregue as referidas quantias nos cofres do Estado.
Quid iuris?
Contributos para a interpretação da questão
Há obrigação de pagar imposto?
Que tipo de imposto?
Há substituição tributária (= retenção na fonte)?
Quantas relações jurídicas tributárias podem ser identificadas na hipótese apresentada?
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(Nascimento da obrigação de pagar IRT pela verificação dos factos que definem a incidência no
CIRT. O trabalhador como sujeito passivo de IRT (A))
Bernardo é sujeito passivo de IRT; nascimento da obrigação fiscal (art. 24.º do CGT) – a
obrigação tributária constitui-se com a verificação dos factos que definem a incidência;
normas de incidência no CIRT – artigos 1.º a 4.º do CIRT; incidência objectiva (art. 1.º do
CIRT/rendimentos do trabalho por conta de outrem); salário e subsídio (art. 1.º, n.º 1, 2 e 3,
alínea a), do CIRT); não-sujeição: apenas os subsídios de deslocação atribuídos aos
funcionários do Estado (art. 2.º, n.º 1, al. j), do CIRT); tributação de rendimentos do
«Grupo A» (art. 3.º, n.º 2, do CIRT); incidência subjectiva (art. 4.º, n.º 1, do CIRT) –
irrelevância da nacionalidade ou da residência por aplicação do critério da fonte.
(A substituição tributária ou retenção na fonte em IRT (A) e a relação jurídica tributária trilateral)
A relação jurídica de IRT (Grupo A) caracteriza-se como uma relação jurídica tributária
triangular; caso de substituição tributária/retenção na fonte; noção de substituição tributária
(art. 45.º do CGT); substituição tributária na relação jurídica de IRT (artigos 10.º, n.º 1, e
11.º, n.º 1, do CIRT); substituto tributário (empresa) e substituído tributário (Bernardo),
sujeitos passivos de IRT; conceito amplo de sujeito passivo (art. 28.º, n.º 4, do CGT).
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(Nascimento da obrigação de pagar IRT pela verificação dos factos que definem a incidência no
CIRT. O trabalhador como sujeito passivo de IRT (A))
O enquadramento legal é o mesmo, com as devidas adaptações respeitantes aos factos
concretos.
(A substituição tributária ou retenção na fonte em IRT (A) e a relação jurídica tributária trilateral)
O enquadramento legal é o mesmo, com as devidas adaptações respeitantes aos factos
concretos.
(Nascimento da obrigação de pagar IRT pela verificação dos factos que definem a incidência no
CIRT. O trabalhador como sujeito passivo de IRT (A))
O enquadramento legal é o mesmo, com as devidas adaptações respeitantes aos factos
concretos.
(A substituição tributária ou retenção na fonte em IRT (A) e a relação jurídica tributária trilateral)
O enquadramento legal é o mesmo, com as devidas adaptações respeitantes aos factos
concretos.
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Caso n.º 1
Suponha que a jovem Alana, de nacionalidade espanhola, celebrou um contrato de trabalho
com a empresa «Magna-Tour, Lda.», uma agência de viagens angolana. Alana trabalha no
departamento de vendas, em Luanda. Imagine que, no mês de Junho, são atribuídas a
Alana as seguintes componentes remuneratórias que se somam ao salário base de 250 mil
kwanzas: o subsídio de férias no valor de 125 mil kwanzas, um prémio no valor de 70 mil
kwanzas e um subsídio de comunicações no valor de 50 mil kwanzas.
Perante a situação descrita na hipótese, responda fundamentadamente às seguintes
questões:
1. Estarão todos os rendimentos atribuídos a Alana sujeitos a retenção na fonte? Qual
é a posição de Alana no contexto da relação jurídica tributária? Desta relação jurídica
resultam obrigações acessórias para Alana?
2. Suponha que, desde o início do ano, o imposto tem sido pago em montante inferior
ao legalmente devido. Quid iuris?
Caso n.º 2
Suponha que a jovem Alana, de nacionalidade espanhola, celebrou um contrato de trabalho
com a empresa «Magna-Tour, Lda.», uma agência de viagens angolana. Alana trabalha no
departamento de vendas, em Luanda. Imagine que, no mês de Junho, são atribuídas a
Alana as seguintes componentes remuneratórias que se somam ao salário base de 250 mil
kwanzas: o subsídio de férias no valor de 250 mil kwanzas, um subsídio de viagem no
valor de 250 mil kwanzas e um subsídio de renda da casa no valor de 250 mil kwanzas.
Perante a situação descrita na hipótese, responda fundamentadamente às seguintes
questões:
1. Estarão todos os rendimentos atribuídos a Alana sujeitos a retenção na fonte? Qual
é a posição de Alana no contexto da relação jurídica tributária? Desta relação jurídica
resultam obrigações acessórias para Alana?
2. Suponha que, desde o início do ano, o imposto tem sido pago em montante superior
ao legalmente devido. Quid iuris?
3. As respostas dadas nas alíneas anteriores seriam as mesmas se Alana tivesse
sessenta e dois anos de idade?
Caso n.º 3
Suponha que a jovem Alana, de nacionalidade espanhola, celebrou um contrato de trabalho
com a empresa «Magna-Tour, Lda.», uma agência de viagens angolana. Alana trabalha no
departamento de vendas, em Luanda. Imagine que, no mês de Junho, são atribuídas a
Alana as seguintes componentes remuneratórias que se somam ao salário base de 250 mil
kwanzas: o subsídio de férias no valor de 300 mil kwanzas, um subsídio de chefia no valor
de 100 mil kwanzas e um prémio no valor de 25 mil kwanzas.
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Caso n.º 4
Abel é técnico de informática na “ABC – Recursos Humanos, Lda”, empresa com sede e
direcção efectiva em Luanda, que desenvolve a sua actividade em diversas vertentes dos
recursos humanos, nomeadamente nas áreas de recrutamento e selecção, formação e
consultoria em recursos humanos. Abel celebrou o contrato de trabalho por tempo
indeterminado com a “ABC – Recursos Humanos, Lda” no dia em que completou 26 anos
de idade, em 1 de Junho de 2016.
Considere agora o mês de Maio de 2020, e imagine que a “ABC – Recursos Humanos,
Lda” atribui o seguinte pacote mensal de remuneração a Abel:
Salário base: 115.000,00 kz (cento e quinze mil kwanzas);
Subsídio de refeição: 33.000,00 kz (trinta e três mil kwanzas);
Subsídio de deslocação: 25.000,00 kz (vinte e cinco mil kwanzas).
Perante a situação descrita na hipótese, responda às seguintes questões, não deixando de
fundamentar a sua resposta e de invocar os preceitos legais relevantes para as soluções
dadas:
1. Diga se o salário e os subsídios elencados na hipótese, referentes ao mês de Maio
de 2020, estão sujeitos a retenção na fonte. Caracteriza a posição de Abel e da “ABC –
Recursos Humanos, Lda” no contexto da relação jurídica tributária.
2. A lei estabelece obrigações acessórias de natureza não pecuniária para Abel?
3. Diga também quem pode ser, e em que termos, responsável pelo imposto não pago.
Caso n.º 5
Kate, de nacionalidade britânica, é professora de inglês num colégio privado, em Luanda.
Suponha que a empresa que contratou Kate, enquanto entidade promotora deste colégio,
tem a sua sede e direcção efectiva em Angola e paga a Kate um salário mensal de kz.:
350.000,00 (trezentos e cinquenta mil kwanzas), atribuindo-lhe também uma viatura para
sua utilização pessoal. Admita ainda que Kate recebe o subsídio de férias neste mês.
Imagine que só agora detecta que, por um erro na liquidação, tem sido retido imposto em
quantia superior à devida, tal sucedendo desde Julho de 2019, altura em que Kate celebrou
o seu contrato de trabalho com a empresa angolana. Perante esta situação, que garantias
tem Kate? E o que diria se o imposto tivesse sido liquidado por quantia inferior à devida?
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Caso n.º 6
Amadeu é técnico de informática na “ABC – Recursos Humanos, Lda.”, empresa com sede
e direcção efectiva em Luanda, que desenvolve a sua actividade em diversas vertentes dos
recursos humanos, nomeadamente nas áreas de recrutamento e selecção, formação e
consultoria em recursos humanos. Amadeu celebrou o contrato de trabalho por tempo
indeterminado com a “ABC – Recursos Humanos, Lda” no dia em que completou 30 anos
de idade, em 1 de Junho de 2016.
Considere agora o mês de Junho de 2020, e imagine que a “ABC – Recursos Humanos,
Lda” atribui o seguinte pacote mensal de remuneração a Amadeu:
Salário base: 115.000,00 kz (cento e quinze mil kwanzas);
Subsídio de renda de casa: 33.000,00 kz (trinta e três mil kwanzas);
Subsídio de comunicações: 25.000,00 kz (vinte e cinco mil kwanzas);
Subsídio de férias: 115.000,00 kz (cento e quinze mil kwanzas).
Perante a situação descrita na hipótese, responda às seguintes questões, não deixando de
fundamentar a sua resposta e de invocar os preceitos legais relevantes para as soluções
dadas:
1. Diga se o salário e os subsídios elencados na hipótese, referentes ao mês de Junho
de 2020, estão sujeitos a retenção na fonte. Caracteriza a posição de Amadeu e da “ABC –
Recursos Humanos, Lda.” no contexto da relação jurídica tributária.
2. A resposta dada na alínea anterior seria a mesma se Amadeu fosse de nacionalidade
portuguesa e tivesse começado a trabalhar na “ABC – Recursos Humanos, Lda.” apenas
em Abril de 2020?
3. Amadeu tem andado bastante preocupado, pois corre um boato na empresa de que
face às dificuldades económicas a entidade empregadora não tem feito a entrega dos
montantes retidos aos trabalhadores nos cofres do Estado. Poderão ser esses montantes
exigidos a Amadeu?
4. Suponha agora que em Julho de 2020 é aprovado um aumento das taxas a incidir
sobre os rendimentos do trabalho dependente auferidos desde Janeiro de 2020. Quid iuris?
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Direito da Universidade Agostinho Neto, Luanda, 2014.
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Elementos de Apoio, 2ª ed., AEDUM, Braga, 2005.
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TEIXEIRA, António Braz, Princípios de Direito Fiscal, 2.ª ed., Almedina, Coimbra,
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UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.º ANO / 2020
TEXTOS DE APOIO
SOARES MARTÍNEZ, Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997, pp. 286-287.
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