Estudo Sobre A Paz e Cultura Da Paz
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INTRODUÇÃO
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dever ser (Cox, 1981; Devetak, 1995; Pureza, 1999). Foram fundamental-
mente três, as representações do mundo que este senso comum empiricista
sacralizou como padrões de normalidade.
A primeira é a do individualismo estatal. O senso comum realista reduz
a paisagem mundial a uma vasta planície caoticamente povoada de
Estados (e apenas de Estados). E a leitura que o senso comum realista faz
dessa planície é fundada num contraste entre o que está dentro e o que
está no exterior dos Estados. No sistema interestatal vigora o estado de
natureza eterno, sem instâncias de monopolização da violência legítima
(“ni législateur, ni juge, ni gendarme”), pelo que cada Estado zela acima de
tudo pela sua segurança e sobrevivência recorrendo a todos os meios
incluindo a força, desafiado que está pelo dilema de segurança em que
vive a olhar suspeitosamente para os demais, como inimigos potenciais
e não como parceiros possíveis.
A segunda representação do mundo entronizada pelo senso comum
realista é a de que o sistema interestatal é um campo de luta pelo poder.
Toda a política é powerpolitics e a política internacional é-o obviamente
por excelência, assumindo o “interesse nacional definido em termos de
poder” como referência primordial. Na síntese de René-Jean Dupuy, esta
representação do campo de poder mundial assenta em três pilares essen-
ciais: dispersão do poder, incondicionalidade do poder e violência do
poder (Dupuy, 1986: 43).
Finalmente, a terceira componente do senso comum realista é a apologia
do eterno presente. Na sua busca de regularidades que permitam uma
interpretação da realidade internacional, o realismo olha obsessivamente
para o passado, na tentativa de “aprender com a História”, demitindo-se,
portanto, de pensar a transformação dessa realidade.
Este senso comum tem sido objecto de acesas críticas. Delas destacarei
apenas as de carácter metodológico. A distinção entre observação objec-
tiva e discurso normativo sobre a realidade, que preside a todo o discurso
positivista, é uma construção artificial. Ora, a epistemologia das ciências
sociais ensina-nos que não há factos sociais que se apresentem indepen-
dentes e superiores a um desarmado e asséptico observador. Todo o
trabalho de investigação em ciências sociais é trabalho de interpretação.
Por isso, a escolha entre uma metodologia normativa ou uma metodologia
empiricista é efectivamente uma escolha livre e conduzida por critérios
não factuais, ou seja, normativos. A aversão do senso comum realista aos
discursos normativos sobre a realidade é, pois, fruto muito menos de uma
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Um programa de transformação
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Cox, R. (l981): “Social forces, states and world orders. Beyond international
relations theory”, Millenium, 10 (2), 126-155.
Devetak, R. (l995): “Critical theory”, in S. Burchill et al. (orgs.): Theories of
international relations. New York: St. Martin’s Press, 145-177.
Dupuy, R.J. (l 986): La communauté internationale entre le mythe et l’histoire.
Paris, Julliard.
Falk, R. (l 995): On humane governance. Toward a new global politics,
University Park – Pennsylvania, The Pennsylvania State University Press.
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