Capítulo 1 - Ebook - Matriz
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Objetivos
O termo demografia foi utilizado pela primeira vez por Achille Guillard (1799-1876), em
1855 – Éléments de statistique humaine ou demographie comparée – (Bandeira, 2004)
inventando o nome de Demografia Comparada dando destaque ao seu aspeto
quantitativo (estatístico) (Nazareth, 2004).
Mas antes da invenção do termo demografia por Achille Guillard, o comerciante inglês
John Graunt (1620-1674) já apresentava no seu livro Natural and Political Observations
upon the Bills of Mortality (1662), a primeira tábua de mortalidadade – dando início a
uma era da abordagem numérica dos factos da vida humana como o nascimento, a
doença, a morte, medidos e analisados a partir de dados de observação em registos
paroquiais (Bandeira, 2004).
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se renovam “através do jogo dos nascimentos, dos óbitos e dos movimentos
migratórios” (citado em Bandeira, 2004, p. 59).
Um dos aspetos mais interessantes da Demografia é que quase todos os tópicos são
relevantes para algo que já se vivenciou ou ainda se irá vivenciar em algum momento
da vida.
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3. Qual é a probabilidade de casar-se, de divorciar-se, de voltar a casar-se ou ainda de
poder vir a ser-se viúvo/a?
4. Vai ter filhos? Quantos filhos irá ter? Vai ter netos? Irá estar vivo para ver, caso os
tenha, os seus netos e/ou os seus bisnetos?
5. Quantas vezes irá mudar de residência na vida? Irá mudar-se para o exterior do
país?
6. Por quanto tempo terá saúde na sua vida? Quando vai morrer? Como vai morrer?
Cada uma destas questões remete para uma questão demográfica relevante
(Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015).
Para Piché (2013), a Demografia é uma ciência social e, como tal, partilha com as
outras ciências sociais o estudo de uma parte da vida em sociedade.
Pode ainda ser definida, de forma mais ampla, como o estudo científico do tamanho,
composição e distribuição das populações humanas e as suas mudanças resultantes da
fecundidade, mortalidade e migração.
Com efeito, a ciência demográfica preocupa-se com a dimensão das populações; como
as populações são compostas de acordo com a idade, sexo, etnia, estado civil e outras
características; como as populações estão distribuídas fisicamente no espaço (por
exemplo, se os meios são mais urbanos ou mais rurais) nas mudanças ao longo do
tempo no tamanho, na composição e na distribuição das populações humanas e como
estas resultam dos processos de fecundidade, mortalidade e migração (Poston &
Bouvier, 2017).
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só elementos estatísticos, mas também tem em conta as realidades económicas,
sociológicas. Vejamos algumas definições de Demografia que encontramos nos
principais manuais e dicionários especializados.
Vimos que existe uma Demografia quantitativa cujo objeto essencial é o estudo dos
movimentos que se produzem numa população, acompanhado dos resultados desses
movimentos; mas também existe uma Demografia qualitativa que se ocupa das
qualidades dos seres humanos e que diz respeito aos aspetos qualitativos do fenómeno
social das populações e ainda à genética demográfica ou biologia das populações, à
biometria (estatística aplicada à investigação biológica).
António Barreto (2004, p.2), por sua vez, observa que “Se queremos perceber
os conteúdos das políticas de população de um governo, de um Estado ou de
um grupo de Estados, somos obrigados, as mais das vezes, a detetar as
implicações demográficas das políticas públicas, nomeadamente das políticas
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sociais, nos planos das intenções, dos objetivos, dos meios utilizados e dos
resultados, a fim de compreender as políticas implícitas de população”.
Todos nós somos atores populacionais, realizamos atos demográficos nas nossas
vidas diárias através da criação de um filho, da mudança para um novo lugar, da
escolha de um estilo de vida saudável ou da obtenção de escolaridade. A Demografia
estuda estes eventos da vida, como nascimentos, mortes, casamentos, divórcios e
migrações (Poston & Bouvier, 2017).
Todos somos atores populacionais e devemos refletir sobre isso. Os nossos pais
realizaram um ato demográfico ao conceber-nos. Por sua vez, nós realizamos atos
demográficos semelhantes quando decidimos ter (ou não ter) filhos. Em algum
momento, ao longo da vida, podemos mudar-nos uma ou talvez várias vezes para
outro local de residência. Estes são todos atos demográficos. E, por fim, morreremos.
A morte não será do mesmo tipo de ato como a tomada de decisão dos nossos pais
quando fomos concebidos, dado que não se decide durante quanto tempo se vai viver
e quando se vai morrer. No entanto, podemos ter muito a dizer sobre quantos anos
teremos quando morrermos, ou seja, temos diversas opções que podem, ou não,
aumentar a probabilidade de estender as nossas vidas. Estas incluem comportamentos
como parar ou nunca começar a fumar, limitar a ingestão de álcool, manter uma dieta
saudável e praticar exercício.
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Outro comportamento muito importante que surge associado à probabilidade de
prolongamento das nossas vidas é o investimento na carreira escolar. De acordo com
estudos já realizados, podemos verificar, por exemplo, que com a idade de 25 anos,
espera-se que, os indivíduos com diploma universitário, vivam mais cinquenta e sete
anos enquanto, para os indivíduos com ensino médio, espera-se uma sobrevivência de
cinquenta e um anos, ou seja, estamos perante uma diferença de seis anos, em função
do nível de ensino (Poston & Bouvier, 2017).
Em sentido geral, uma população pode ser encarada como um conjunto de indivíduos
ou de unidades que podem ser de natureza muito diversa. Numa perspetiva
demográfica, as populações humanas são consideradas como detentoras de
características específicas, num espaço limitado e com um certo significado social.
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No que diz respeito ao significado social, a população considerada deverá ter um
elemento claro de coerência social.
Com base em inúmeras definições, observamos que a Demografia tem por objeto o
estudo científico da população. Mas o que é exatamente o estudo científico da
população?
Em quarto lugar, a Demografia trata também dos efeitos que cada uma das variáveis
demográficas tem nos aspetos globais e estruturais da população, bem como o inverso
(por exemplo, até que ponto um aumento da natalidade modifica estruturalmente a
população ou em que medida uma mudança estrutural da população se reflete na
modificação da evolução da natalidade).
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Finalmente, a Demografia também se preocupa com questões relacionadas com os
determinantes dos comportamentos demográficos e com as consequências da
evolução do estado da população.
A Demografia é uma Ciência Social, tal como a sociologia, a etnologia, a história. Faz
parte das Ciências que têm por objeto os diferentes aspetos das sociedades humanas.
O estudo da Demografia insere-se nesse contexto mais vasto das Ciências Sociais,
exigindo que à partida haja uma clarificação dos principais conceitos. No entanto,
sabemos que não é possível traçar fronteiras entre as diversas ciências sociais, tendo
todas elas o Homem ou o ser humano como objeto de estudo. Nesta ótica, a
Demografia não difere das outras ciências sociais. O seu objeto de estudo também é o
comportamento do Homem em sociedade e também necessita das informações das
outras ciências sociais.
A Demografia não é uma Ciência natural, e envolve dois aspetos: por um lado, tem
como fundamento realidades suscetíveis de serem facilmente quantificadas (os
nascimentos, os casamentos, as mortes, as ruturas de união, as deslocações de
pessoas); por outro lado, para compreender as causas e as consequências das
evoluções quantitativas destes eventos, a Demografia deve aceder a outros tipos de
conhecimentos como os relativos aos denominados eventos demográficos elementares.
Em causa aqui, está o estudo dos fatores determinantes associados a esses eventos,
como os efeitos derivados das quantidades e das evoluções, o estudo dos
comportamentos e dos dados psicossociológicos (Dumont, 1993).
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A procura de um grande rigor na medição dos fenómenos demográficos desenvolveu
um vasto número de métodos e técnicas de análise, próprios da ciência demográfica, o
que veio reforçar ainda mais a construção do objeto de estudo da Demografia.
Embora o INE continue a deter o poder sobre a maior parte dos dados estatísticos
sobre a população portuguesa, matéria-prima necessária aos estudos demográficos,
perde, no entanto, a capacidade de determinar o sentido que o percurso da produção
científica em demografia toma em Portugal, dado que os estudos demográficos passam
a ser produzidos, sobretudo, pelas universidades, a partir dos anos de 1970 (Baptista,
2007). Tal mudança traz consigo um forte aumento em produção científica que
envolve o cruzamento das variáveis demográficas com as questões sociais e
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económicas que passam a afetar os comportamentos da população portuguesa. De
facto, as novas realidades, como o envelhecimento demográfico, a acentuada queda
da fecundidade e a coexistência de um país de emigração com um país de retorno e de
imigração, dominam a problemática demográfica das três últimas décadas. (Baptista,
2007)
Evolução dos
Evolução dos
Mortalidade Dinâmica Volumes populacionais
Volumes
(óbitos)
Natural
populacionais
Natalidade/ fecundidade
(nados- vivos)
Evolução da
Mobilidade Populacional Dinâmica Estrutura
(migrações) Migratória Etária
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Destas cinco variáveis demográficas, duas tratam do estado (volumes e estrutura
etária) e as outras três referem-se aos comportamentos que influem diretamente sobre
as alterações observadas no “estado” da população (mortalidade, natalidade/
fecundidade, mobilidade populacional).
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tipos de fontes, normalmente registos paroquiais, listas nominativas e genealógicas.
Em Portugal, este ramo da demografia representou cerca de 31% do total de
referências encontradas em estudos demográficos, para o período de 1970 a 2005
(Baptista, 2007).
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populações no passado. Muito do que sabemos sobre o papel do casamento e da
limitação da fecundidade dentro do casamento, durante o início do declínio da
fecundidade europeia, vem desses estudos em demografia histórica (Lundquist,
Anderton, Yaukey, 2015).
Assim, sem pretendermos ser exaustivos, podemos dizer que as grandes preocupações
da Demografia Social nos dias de hoje são as seguintes:
• A Demografia escolar;
Para além destes dois principais ramos da Demografia (histórica e social) existem
outros dois domínios importantes nos quais a Demografia tem um papel fundamental:
nas Políticas Demográficas e na Ecologia Humana.
O objetivo teórico das Políticas Demográficas consiste em atuar sobre os modelos (ou
sobre os efetivos) tendo em conta determinados objetivos económicos e sociais. A
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ideia de atuar sobre o movimento demográfico a fim de que este se adapte a
imperativos económicos e sociais é uma preocupação de muitos países. Mas até que
ponto esta preocupação se traduziu na existência de autênticas políticas demográficas?
De acordo com Lundquist, Anderton, Yaukey, (2015, p.2-3) “os termos Demografia
pura e Demografia formal às vezes são usados para distinguir interesses mais restritos
na composição da população e dinâmica demográfica, lidando inteiramente com
variáveis demográficas. Uma abordagem mais ampla está implícita nos estudos
populacionais, onde se acrescenta o estudo das relações entre varáveis demográficas e
não demográficas”.
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Um dos pontos fortes da Demografia é que nos permite ver como o indivíduo e as suas
experiências se encaixam no quadro demográfico mais amplo do mundo. A Demografia
lida com populações, e as características das populações são medidas contando as
pessoas na população total, ou em segmentos dela (Lundquist, Anderton, Yaukey,
2015).
Fonte : https://population.un.org/dataportal/home ;
https://databank.worldbank.org/home.aspx
Fonte: https://www.unfpa.org/8billion
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Com efeito, ao compararmos as populações, observa-se que a China e a Índia juntas
têm mais de um terço de toda a população mundial. Embora os Estados Unidos sejam
o terceiro maior país em tamanho da população, representa apenas cerca de um
quarto da população da Índia.
Países como México, China, Índia e as Filipinas são chamados de países remetentes.
Têm mais pessoas que saem dos seus países do que as que entram e, portanto, são
caracterizados pela migração internacional líquida negativa. As Filipinas enviam cerca
de 1,5 milhão de pessoas para o exterior todos os anos, incluindo 300.000 que
trabalham em navios em todo o mundo. Cerca de 10% da população do país vive no
exterior (Martin, 2013).
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“A longo prazo a continuação da diminuição natural resultará na diminuição
contínua da população, e eventualmente ao seu desaparecimento, a menos que
o excesso de óbitos sobre os nascimentos seja compensado pela migração
líquida” (Poston & Bouvier, 2017, p. 7).
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ATIVIDADE FORMATIVA
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