Cristianismos, Sociabilidade e Espaço Público: Reflexões Sobre As Relações Entre Religião e Sociedade
Cristianismos, Sociabilidade e Espaço Público: Reflexões Sobre As Relações Entre Religião e Sociedade
Cristianismos, Sociabilidade e Espaço Público: Reflexões Sobre As Relações Entre Religião e Sociedade
1° Edição
Editora
Campinas / SP
2020
Fabrício Roberto Costa Oliveira
Reinaldo Azevedo Schiavo
Ramon da Silva Teixeira
Mauro Rocha Baptista
Luiz Ernesto Guimarães
Cáio César Nogueira Martins (Orgs.)
Copyright D7 Editora
Copyright Organizadores
ISBN - 978-65-86317-81-7
1º Edição
www.d7livros.com.br
Fone: 3273.1426
R. Thomas Alves Brown, 151 - Vila João Jorge
Campinas - SP - 13041-316
“(...) quando se considera uma religião apenas como uma ‘força política’ entre
outras, sem levar em conta o simbolismo verbal e ritual que encerra, não é
possível compreender o peso e o lugar da religião na política”.
APRESENTAÇÃO........................................................................... 9
1. Ensino Religioso e Estado laico: a tensão entre o STF e a BNCC
............................................................................................................ 16
Mauro Rocha Baptista
Autoras e autores.............................................................................207
APRESENTAÇÃO
2
Isto é, os trabalhos reunidos neste livro foram submetidos ao escrutínio de diversos
pesquisadoras e pesquisadores, dos mais variados níveis, durante o IV CONACIR,
com o tema “Religião e Democracia: desafios no espaço público”, ocorrido de 8 a 10
de outubro de 2019, em Juiz de Fora. Assim, versões preliminares dos textos foram
publicadas nos anais do evento.
Boa leitura!
Introdução
A história recente do componente curricular de Ensino
Religioso (ER) tem reproduzido a mesma tensão social que podemos
observar em outros ambientes públicos no que se refere à relação entre
a religiosidade dos indivíduos e a laicidade do Estado. O legislativo, por
exemplo, discute temas conturbados como a legalização do aborto, a
partir de um choque entre os argumentos conservadores da chamada
“bancada da Bíblia” e as propostas laicas do feminismo. O debate não
atende ao princípio laico de afastamento entre os interesses religiosos e
as necessidades estatais, creditando à religião funções superiores às
destinadas, por exemplo, à saúde pública.
Enquanto isso na gestão da cultura se enfrenta com resistência à
possibilidade de uso de recursos públicos para promover shows gospéis,
como os estipulados pela prefeitura do Rio de Janeiro no réveillon. A
virada do ano é assumida como um evento tipicamente pagão, para o
qual não poderiam ser destinados recursos que não para rituais
profanos. Paradoxalmente, a sociedade brasileira ainda recorre aos
conceitos religiosos para formular sua legislação básica, mas, parece se
assustar com a destinação de recursos para entidades religiosas. Como
se ao vetar a legalização do aborto não se estivesse destinando recurso
público para valorização de ideais religiosos. Essa relação demonstra o
quanto nos falta de amadurecimento social para compreender o sentido
de um Estado realmente laico.
O ER tem vasta história na educação brasileira, contudo sua
presença na constituição cidadã de 1988 (BRASIL, 2017a, art. 210) não
foi um ponto pacífico. Neste caso o embate foi vencido pelos mais
tradicionalistas, fiéis à ideia de um ER catequético, que conseguiram
manter a sua obrigatoriedade no ensino público como uma condição
para a plena formação moral dos cidadãos, derrotando os mais
3
Cf. Baptista (2018).
4
Cf. Baptista (2020).
5
Cf. Baptista (2019).
4. Parecer do relator
O voto do ministro-relator Luís Roberto Barroso (BRASIL,
2017g), proferido em 30 de agosto de 2017, coerentemente com as
manifestações da audiência convocada por ele e com as primeiras
versões da BNCC, foi favorável à ADI. Suas considerações se
formulam a partir da noção de que a religião se desenvolveu ao longo
dos anos, perdendo a sua função de centralidade na organização da
realidade, mas sem perder a sua relevância no mundo secular. Ou seja,
embora a religião não assuma mais o papel de guiar o Estado, tampouco
pode ser alijada dele. Concluindo seu argumento inicial o ministro
Barroso afirma que:
5. O acórdão
Encerrado em 27 de setembro de 2017, o julgamento definiu
postura contrária à do relatório do ministro Barroso. Apesar de
amplamente fundamentado e de estar de acordo com o resultado da
audiência pública e da BNCC em desenvolvimento, o argumento do
relator foi voto vencido em resultado apertado de seis a cinco. Com o
voto pelo ensino confessional dos ministros Alexandre de
Considerações finais
A história recente do ER nos coloca diante de um contexto em
que o STF define o ER como confessional e veta a possibilidade de o
Estado definir uma proposta curricular para a disciplina. E no mesmo
ano desta decisão o Estado homologa uma BNCC em que, pela primeira
vez, a disciplina possui um currículo definido. Por um lado, o STF
afirma a necessidade de o ER se embasar nos dogmas de fé em uma
metodologia catequética; por outro, a BNCC define que a ciência da
religião é o método para garantir o debate escolar sobre a diversidade
de crenças.
A decisão do STF foi por maioria simples, 6 votos pelo
confessionalismo contra 5 pelo não confessionalismo. Uma decisão que
reverte a posição das diversas entidades que se manifestaram em
audiência pública majoritariamente pelo não confessional, uma
proporção de 22 para apenas 5 favoráveis ao confessional. Em sua
Referências Bibliográficas
Introdução
Este trabalho aborda a 29ª Romaria dos Trabalhadores e
Trabalhadoras ocorrida no dia 1º de maio de 2019, Dia do Trabalhador,
na cidade de Carandaí/MG. A Romaria é um evento organizado pela
Dimensão Sociopolítica da Arquidiocese de Mariana, sendo Carandaí
parte da Região Pastoral Sul 6. De acordo com o Censo de 2010 (IBGE,
2010), Carandaí possui aproximadamente 23 mil habitantes, destes 84%
são católicos e 12% evangélicos. O município fica às margens da BR-
040, distante 135 quilômetros da capital Belo Horizonte.
A pesquisa foi realizada a partir da observação participante,
além de entrevistas semiestruturadas e conversa informal. Dois
pesquisadores, estudantes da Universidade do Estado de Minas Gerais
(Campus Barbacena), participaram ativamente das reuniões
preparatórias para a realização do evento juntamente com a comissão
organizadora. Eles viajaram para Carandaí na segunda-feira, dia 29 de
abril, ou seja, dois dias antes do evento, o que possibilitou a participação
nas atividades que aconteceram na cidade nesses dias que antecederam
a Romaria. Importante salientar que um destes pesquisadores já
conhecia os organizadores, em razão de ter participando de cursos de
formação e encontros realizados por essas lideranças e por já ter
participado da organização de um evento junto à Dimensão
7 A música “Pai nosso dos mártires” tem como autoria Zé Vicente. Há outras
9
Reunião de fundamentos e práticas religiosas, isto é, são ritos e cerimonias de cultos
presentes em igrejas ou seitas religiosas.
Considerações finais
O presente trabalho buscou analisar, a partir da observação
participante da 29º Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras, em
Carandaí/MG, como os fiéis presentes vivenciam e interpretam um
evento ligado à religiosidade popular. Assim, percebeu-se que o evento
Referências Bibliográficas
ADAM, Júlio Cézar. Liturgia como prática dos pés: A Romaria da Terra do
Paraná: reapropriação de ritos litúrgicos na busca e libertação dos espaços de
vida. Estudos teológicos, v. 42, n.3, p. 52-69, 2002.
BRAGA, Antônio. A subida do Horto: ritual e topografia religiosa
nas romarias de Juazeiro do Norte, Ceará, Brasil. Debates do NER, Porto
Alegre, RS, ano 15, v.1, n.25, p. 197-214, jan. /jun. 2014.
10
Segundo definição da Igreja Católica, são aqueles que professam a fé em Jesus
Cristo, no âmbito da Comunidade Católica, tendo recebido o batismo, mas não
pertencentes ao grupo dos ministros que receberam o Sacramento da Ordem.
Fontes Documentais
AGÊNCIA IBGE NOTÍCIAS. Desemprego sobe para 12,7% com 13,4 milhões de
pessoas em busca de trabalho. Disponível em :
<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
noticias/noticias/24283-desemprego-sobe-para-12-7-com-13-4-milhoes-de-
pessoas-em-busca-de-trabalho >. Acesso em: 17 jun. 2019.
ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Informativo 5ª Romaria dos
Trabalhadores. Urucânia, maio 1995.
______. Informativo 17ª Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras.
Piranga, maio 2007.
CARANDAÍ. Disponível em
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/carandai/panorama> Acesso em: 10
jun. 2019.
JORNAL FOLHA DA MATA. Ponte Nova, 02 maio 2013, n. 2301.
Introdução
As inquietações que orientam este artigo surgiram do interesse
em pesquisar a ligação entre religião e política. Tal problemática é
derivada do projeto de pesquisa “Sociedade civil e Estado brasileiro”.
A partir disso, fomos a campo pesquisar ações empreendidas pela
Dimensão Sociopolítica (DSP) da Arquidiocese de Mariana/MG.
Percebemos que estávamos diante de questões etnográficas
importantes a serem pesquisadas, tais como a relação do grupo diante
dos símbolos religiosos que servem como parâmetro para a ação
política desenvolvida.
Conhecemos esse grupo através de uma interlocução com um
colega da Universidade, Fábio, que atuava na DSP. Depois dos nossos
diálogos sobre o interesse em pesquisar o tema religião e política,
começamos a acompanhar algumas das reuniões da DSP da Região
Pastoral Sul da Arquidiocese 11 (doravante, Região Sul), na cidade de
Barbacena/MG, ainda em 2018.
Após a participação em algumas reuniões do grupo da Região
Sul, em Barbacena, descobrimos que aconteceria a III Assembleia da
Dimensão Sociopolítica, e que este evento contaria com um contingente
maior de membros da DSP, em que representantes de todas as regiões
da Arquidiocese de Mariana estariam presentes. Deste modo, este
evento se mostrou importante para nós pela possibilidade de ser alvo de
uma análise etnográfica. Diante disso, pressupomos que este grupo –
11
Como já mencionado neste livro por Guimarães, Silva e Faria, a Arquidiocese de
Mariana se divide em cinco regiões pastorais, quais sejam: Região Pastoral Sul –
composta por 19 municípios, entre os quais se encontra Barbacena, local onde
desenvolvemos a pesquisa –; Região Pastoral Norte;Região Pastoral Leste; Região
Pastoral Oeste e Região Pastoral Centro. Mais à frente essas regiões serão melhor
abordadas.
1. A Dimensão Sociopolítica
A Dimensão Sociopolítica (DSP) faz parte da atuação pastoral
da Arquidiocese de Mariana e tem suas ramificações a partir da
perspectiva da ação social e política da Igreja Católica (Doutrina Social
da instituição), carregando em seus discursos e pautas uma forte relação
com as ações desenvolvidas no âmbito das Comunidades Eclesiais de
Base (CEBs), que inauguraram e ganharam destaque e influência no
Brasil a partir do ano de 1960, após as transformações na Igreja Católica
(MAUES, 2010). Tais fatos nos ajudarão a observar, mais a frente, à
conexão dos símbolos com a condição política que este grupo carrega.
Na “Cartilha da Dimensão Sociopolítica da Arquidiocese de
Mariana”, construída no Primeiro Fórum Social pela Vida, em 2001,
com atualização até 2017 12, compreende-se que a DSP, faz parte de uma
12
A última atualização encontrada em anexo na cartilha, foi a “Declaração dos Bispos
das Dioceses da Bacia Hidrográfica do Rio Doce”, manifesto em apoio às
comunidades atingidas pelo rompimento da Barragem de Fundão.
13
Pode-se identificar o uso do termo “leigo e leiga” na Igreja Católica para referir-se
aqueles que atuam dentro da organização da Igreja, cumprindo funções vocacionais e
eclesiásticas que não dentro de sua lógica hierárquica, como demonstra este trecho do
DOC: Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na sociedade: “A vocação própria dos
leigos é administrar e ordenar as coisas temporais, em busca do Reino de Deus.
Vivem, pois no mundo, isto é, em todas as profissões e trabalhos, nas condições
comuns da vida familiar e social, que constituem a trama da existência. (p. 16)”
14
Mapas e informações retirados de <https://arqmariana.com.br/>. Acesso em: 27 jun.
2020.
15
Informações retiradas do material impresso e entregue no evento.
16
A composição de Alceu Valença, é uma clássica canção da MPB lançada em 1983,
e as suas interpretações populares variam a temática, que aborda temas que vão do
Considerações Finais
Depois de dias intensos acompanhando a III Assembleia da
Dimensão Sociopolítica da Arquidiocese de Mariana, algumas questões
sobrevieram, e então refletimos sobre o intenso quadro de representação
simbólica apresentado pelas reuniões desse grupo, voltadas para a
atuação política guiada pela perspectiva evangelizadora. Suscitando
assim um comprometimento da equipe, dos palestrantes e dos leigos,
respaldado pela idealização de mundo pautada pelo termo que revestia
as representações e os símbolos da “ação política evangelizadora”.
Referências Bibliográficas
17
Ao longo do texto me refiro às categorias analíticas com a marcação em itálico e às
categorias nativas com “aspas”, exceto quando as “aspas” são seguidas de um autor
explícito, o que se refere à uma citação direta de acordo com as normas da ABNT.
18
Para saber mais sobre o Mobon conferir Araújo (1999) e Gomes e Andrade (2011).
19
As conferências aconteceram respectivamente em Medellin (1968), Puebla (1979),
Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007).
20
“Na linguagem da Igreja Católica o leigo não é aquele que não sabe de nada não. O
leigo é aquele cristão, que foi batizado e que tá comprometido com a transformação
da sociedade” (João Resende, Campanha da Fraternidade 2018). Opto pelo não uso
do termo leigo, dada a confusão de significados que pode trazer ao leitor, ou então, o
utilizo entre aspas, mostrando que é uma categoria nativa.
22
O saber fazer faz parte do que Teixeira (2020, p. 152) chamou de “sistema de
aprendizado ‘do’ Mobon”.
23
Para saber mais sobre a comunicação e a representação simbólica no Mobon, ver
Oliveira (2010) e Teixeira (2020).
24
O método “Ver-Julgar-Agir” é atribuído à Joseph Léon Cardijn, fundador da
Juventude Operária Cristã (JOC). Cf. Castelhano (2017).
25
Uma liderança que participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
em seu município já fazendo parte da direção aos 18 anos foi classificada como
primeira geração.
26
Refiro-me novamente a Rabelo (2019).
27
Apesar do marco simbólico da fundação da Casa do Mobon em 1979, é importante
lembrar que os cursos eram oferecidos em outras casas de cursos, em salões
paroquiais, escolas, debaixo de árvores etc.
28
O conteúdo deste curso está presente no material de Cora Furtado de Melo. De agora
em diante, sempre que citar livretos ou manuscrito de cursos colocarei apenas o título,
o ano e a página referente.
29
Os cursos para formação de lideranças consistiam no Pré-Boa Nova e no Boa nova.
30
Para saber mais sobre a Casa do Mobon ver Oliveira (2012), Teixeira e Rabelo
(2019).
31
Os nomes aqui citados são pseudônimos.
Considerações finais
O Mobon, movimento católico pós-conciliar com objetivo de
formar lideranças religiosas e transmitir conhecimentos bíblico-
religiosos, foi um importante agente na formação de lideranças e
comunidades na Zona da Mata e Leste de Minas Gerais. A formação
não se relaciona com o objetivo de obtenção de um diploma, mas sim a
um modo de ser e agir no mundo, o “testemunho de vida”. E por ser o
exemplo a melhor forma de transmitir a mensagem é que as lideranças
de comunidades, que chamei de primeira geração, se esforçaram para
criar comunidades semelhantes aos preceitos morais ensinados durante
os cursos e vivências no Mobon. Sendo os responsáveis por “levar a
palavra” não só aos irmãos contemporâneos, mas também às gerações
futuras.
Trabalho com a categoria geração para compreender a
centralidade de uma primeira geração de lideranças na transmissão do
saber fazer do Mobon para as gerações posteriores. Entretanto, geração
(marcada em itálico) não diz respeito à idade cronológica, mas sim à
etapa do processo de formação religioso-político em que a liderança
entra no “movimento”. Podemos perceber que lideranças da segunda e
terceira geração, mesmo não tendo participado dos cursos na Casa do
Mobon, aprenderam os elementos essenciais do saber fazer 32 em outros
32
Saberes organizacionais, saberes comunicacionais e saberes comportamentais. Para
saber mais sobre o saber fazer do Mobon, conferir Rabelo (2019, p. 42).
Referências Bibliográficas
Introdução
Consoante à proposta de aggiornamento proveniente do
Concílio Vaticano II (1962-1965), o Movimento da Boa Nova (Mobon)
foi (re)fundado pelos sacerdotes da Congregação dos Missionários
Sacramentinos de Nossa Senhora no final da década de 1960. Deste
modo, o movimento é uma espécie de continuidade ‘com mudanças’ 33
do Movimento de Apostolado dos Pioneiros do Evangelho (Mape),
iniciado em 1946 na Diocese de Caratinga, na Zona da Mata de Minas
Gerais.
O Mobon é um movimento católico de evangelização que parte
de um método pastoral (ARAÚJO, 1999) ou de formação bíblico
teológica popular continuada, que se efetiva a partir de cursos de
formação de lideranças – nomeadamente cursos “Pré-Boa Nova”, “Boa
Nova”, “Campanha da Fraternidade” e “Mês da Bíblia” –, que ocorrem
nos espaços e casas de curso da Igreja Católica ou na Casa do Mobon 34,
e de “cursos de base”, realizados in loco nas comunidades de base.
Assim, os objetivos principais do movimento são a criação e
manutenção de comunidades; e a formação de lideranças (GOMES,
ANDRADE, 2011; OLIVEIRA, 2012; RABELO, 2019; TEIXEIRA, R.
S., 2020).
A base da formação de lideranças do Mobon é o diálogo em toda
sua complexidade. Em outras palavras, partindo-se de uma
comunicação dialógica e contextualizada, sobretudo, considerando a
realidade dos participantes advindos de comunidades rurais – o maior
33
Ao longo do texto utilizarei aspas simples (‘x’) para problematizar termos e
expressões, bem como para marcar as aspas duplas dentro de citações bibliográficas
longas; aspas duplas (“x”) para as falas dos informantes e citações bibliográficas;
itálico para as categorias nativas e palavras estrangeiras (x) e o sublinhado para marcar
minhas próprias ênfases (x).
34
Sobre a Casa do Mobon, cf. Teixeira, R. S.; Rabelo (2019).
35
As expressões “leigo”, “leiga” ou “liderança leiga” é recorrente tanto entre
missionários quanto entre os fiéis com que tive contato. O termo é utilizado para
designar aqueles que possuem o papel de missionário, mas que não fizeram votos
religiosos. Embora o termo “leigo” no seu sentido comum seja um termo pejorativo –
isto é, quem não possui conhecimento especializado em determinada área, visto como
“ignorante” –, aparece no discurso tanto dos clérigos quando dos fiéis como uma
qualidade, um status importante. Nas narrativas clericais, o termo “leigo” vinha
sempre seguido da sua importância e dever, leigo é todo aquele que foi batizado e
assume o compromisso de ser cristão. Na perspectiva “da libertação”, como escreveu
o missionário sacramentino Denilson Mariano da Silva, “Trata-se de pessoas que
assumem a missão própria de seu batismo e exercem o seu protagonismo na vida
eclesial e social” (SILVA, Denilson Mariano da, 2019, p.69). Entre as ditas
“lideranças leigas”, o termo aparece como “eles chamava a gente assim”. Neste
trabalho, tal como em Rabelo (2019), sempre que me referir a “lideranças” estou
remetendo a ditas “lideranças leigas”.
36
O termo se refere à persistência de longa duração, social e política, de alguma
prática. Cf. Silva, Douglas Mansur da (2006, p.132 e 145).
37
Barão de Cocais, Belo Horizonte, Caratinga, Cataguases, Divino, Dom Cavati,
Espera Feliz, Ipatinga, Manhumirim, Muriaé, Paula Cândido, Tarumirim, Viçosa.
Enquadrando esses municípios nos “territórios de governança da Igreja Católica”,
circulei pelas dioceses de Caratinga, Itabira e Coronel Fabriciano, Leopoldina e pelas
arquidioceses de Mariana e Belo Horizonte.
38
O Mape possuía o objetivo de formar lideranças leigas para combater os
protestantes e defender a Doutrina Positiva da Igreja Católica. O Mobon, por sua vez,
possui o objetivo de formar comunidades de base e formar lideranças que assumam
seu papel de protagonistas nas comunidades, replicando cursos e assumindo alguns
serviços religiosos, como o ministério da palavra, da eucaristia e outros serviços,
como o engajamento em pastorais, grupos e movimentos da igreja Católica.
39
Baseado em anotações do caderno de campo, dia 09/02/2018 (p.2).
40
Ao fim das chaves de leitura propostas em cada encontro do livreto de curso, as
questões problematizadoras provocavam a reflexão aproximando “vida e fé”, levando
os cursistas a pensarem e proporem uma ação comunitária concreta. As chaves de
leitura enquadram as situações sobre as quais o indivíduo ou o grupo quer conversar
e refletir durante os cursos. Em última instância, as questões problematizadoras
querem indagar “o que a fé cobra de nós?”, aqui e agora.
41
Como descreveu Oliveira (2012), “Dona Cora, [é] uma leiga participante do Mobon,
desde sua fundação, que: anota cuidadosamente, desde 1970, o conteúdo dos cursos
que eram escritos nos quadros, arquiva os livros distribuídos pelos missionários, as
respostas construídas pelos grupos formados durantes os cursos e, algumas vezes, seus
sentimentos em relação ao curso. O caderno de Dona Cora é uma fonte importante.
Sua formação em história contribuiu muito para que valorizasse o arquivamento de
tantas informações” (p.35).
42
Composição o painel de Rodrigo Teixeira.
43
Ao analisar o trabalho cotidiano na terra entre agricultores e criadores sitiantes do
bairro dos Pretos, nas encostas paulistas da serra da Mantiqueira, em Joanópolis,
Brandão (1999) considera a relação não só entre seres humanos-e-sociais e os seres
não-humanos naturais (animais, plantas, minerais, enfim, os elementos que compõem
o ecossistema que circunda os camponeses), como também considera a relação entre
estes e os seres não-humanos supranaturais (Deus, Jesus Cristo, a Sagrada Família, a
Trindade, o espírito dos mortos, etc.). Essa perspectiva nos é útil, uma vez que
Brandão fala em termos de um pensamento camponês. Consideradas as devidas
particularidades locais, os termos de sua análise podem ser replicados para os
camponeses da “Zona da Mata”.
44
Extraído das anotações do caderno de campo do dia 10/02/2018 (p.18). Tratamento
digital do desenho de Rodrigo Teixeira.
45
Importante mencionar que o que está escrito em vermelho se trata do que registrei
das explicações de João Resende sobre o desenho ou comentários do público.
46
Reprodução do desenho feito por João Resende no quadro. Extraída de anotações
do caderno de campo do dia 10/02/2018 (p.25). Tratamento digital do desenho de
Rodrigo Teixeira.
47
Entrevista, novembro de 2009. In: Oliveira (2010, p.49).
48
Entrevista, 06/01/2018. É provável que o missionário, ao dizer esta frase, quisesse
se referir à famosa citação do educador popular que diz: “Não basta saber ler que ‘Eva
viu a uva’. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto
social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”. Nesta
Referências Bibliográficas
entrevista, João Resende disse ter estudado o livro “Pedagogia do Oprimido”, obra
publicada em 1968.
Introdução
Este trabalho analisa a maneira como a política é interpretada
por fieis carismáticos em um grupo de oração na paróquia Bom Pastor,
na cidade de Barbacena/MG 49, em 2019, ano não eleitoral.
A inserção da Renovação Carismática Católica (RCC) no campo
da política é um fenômeno que tem crescido nas últimas décadas no
Brasil. Embora em seu início houvesse um distanciamento dos católicos
carismáticos em relação à política, com o passar do tempo, e em
especial a partir da década de 1990, os fiéis passaram a se aproximar
mais da política, em especial da partidária (SILVEIRA, 2008).
Na atualidade, há vários parlamentares vinculados à RCC no
Brasil. Isso ocorre não apenas em grandes centros, mas também em
municípios menores. Em Barbacena, por exemplo, cidade com
aproximadamente 140 mil habitantes, há um vereador carismático
ocupando uma das quinze cadeiras do legislativo municipal 50.
Júlia Miranda (1999) percebe o período eleitoral, ou, “tempo da
política”, como o momento privilegiado para a construção da política
carismática. Todavia, como se constrói a relação entre religião e política
entre os católicos da RCC, em um momento não eleitoral? Assim, é
proposta deste trabalho responder a essa questão.
Partindo de uma perspectiva etnográfico, a pesquisa de campo
foi realizada no período de junho a outubro de 2019, junto ao grupo de
oração “Maanaim” – um dos principais grupos carismáticos atuantes na
cidade de Barbacena - MG. Além da observação participante, foram
49
Barbacena está localizada na região da Zona da Mata de Minas Gerais. A cidade é
cortada pela BR-040, rodovia que dá acesso à capital Belo Horizonte (170
quilômetros) por um lado, e por outro, à capital do Rio de Janeiro (275 quilômetros).
50 Para aprofundamento do tema, cf. Guimarães e Lemuchi (2018).
51
De acordo com o documento 105 da CNBB, os leigos são todos aqueles que foram
batizados, demonstrando sua fé às outras pessoas, sem, no entanto, terem recebido a
ordem sacerdotal.
52
Neste grupo se encontram fiéis oriundas de várias paróquias da região interessadas
no tema da Família. No folheto de divulgação que tivemos acesso, havia uma foto
com de um homem, uma mulher e uma criança, retratando o modelo de família que
acreditam.
53
Em uma pesquisa realizada em Cambé – norte do Paraná, esse fato foi percebido.
O pároco, alinhado à Teologia da Libertação, setor progressista da Igreja Católica,
permitia a formação de um grupo carismático na paróquia. Esse grupo participava
ativamente das programações da paróquia, sendo um importante aliado. Para maiores
informações, cf. Guimarães (2017).
2. Ritual / Reuniões
Os encontros do grupo de oração “Maanaim” seguem
normalmente a mesma sequência de momentos, quais sejam: a) oração
à Maria; b) músicas e orações c) pregação; d) encerramento / avisos /
apresentação dos aniversariantes da semana. Todos esses momentos
possuem em comum a busca pelo Espírito Santo, que é uma das
principais características da RCC. Nesse sentido, percebe-se uma
grande aproximação com as diversas igrejas pentecostais no Brasil, em
que a figura do Espírito Santo também é predominante.
Assim, a cada momento, de formas específicas, a imagem dessa
figura sagrada vai sendo construída, provocando a busca e confiança
por parte do fiel. A maioria das músicas aborda, além da busca pelo
Espírito Santo, a fé, a confiança em Deus etc. Além disso, o caráter de
sensibilizar as pessoas contribui para assegurar um espaço simbólico
importante, já que não há a figura de membros do clero que, nas missas
tradicionais, conseguem desenvolver esse tipo de sentimento.
Diferentemente das igrejas evangélicas que separam as músicas
das orações, no grupo de oração isso é feito de forma simultânea. Ou
seja, as orações são feitas nos intervalos entre uma música e outra.
Enquanto os instrumentistas continuam a tocar alguma música, alguma
liderança começa a direcionar as orações, levantando temas específicos,
como: família, trabalho, saúde, perdão, reconciliação etc. Nesses
momentos é comum ouvir fiéis falarem “línguas estranhas” – ou, se
expressarem em glossolalia 55 –, às vezes com pulos, mãos erguidas ao
céu, tom de voz mais elevado. Nisso, se mistura com as orações dos
demais presentes. Assim, ao chegar no momento da pregação, as
músicas cantadas e as orações feitas asseguram e legitimam o conteúdo
da mensagem pregada posteriormente, sendo este um dos momentos
principais.
55 Glossolalia é o ato do fiel falar línguas estranhas, como demonstração de estar sob
domínio do Espírito Santo. Muito comum nas igrejas pentecostais e também entre os
carismáticos.
58
Jessé Souza (2017) denomina de “ralé brasileira” não apenas a população negra,
descendente dos escravos, mas todas as camadas populares que sofrem vários tipos de
preconceitos hoje, parecido com aquilo que escravos sofreram após o fim da
escravidão.
59
Eros Biondini é deputado federal pelo PROS-MG.
Considerações finais
O presente trabalho analisou a relação que estabelece um grupo
de oração carismático com a política em um ano não eleitoral. Nesse
tempo, não há um trabalho explícito sobre política, com a menção de
nomes de candidatos, por exemplo. Mas, a política se expressa na
abordagem de temas como sexo, formação familiar e aborto a partir de
uma perspectiva moral. Alguns de seus membros, demonstram
legitimar o atual governo federal, que durante sua campanha em 2018
utilizou o slogan “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos”, cujo
significado se aproxima de alguns valores expressos durante o debate
sobre as temáticas.
Embora nas entrevistas os atores façam questão de defender o
não uso do grupo de oração para fins políticos, o fato de haver
consonância de suas principais pautas com o atual governo, impediu
que houvesse qualquer tipo de iniciativa com formulações críticas, a
despeito dos diversos retrocessos que o país vem sofrendo já no
primeiro ano de mandato nas áreas da previdência, da educação, da
saúde 61, da cultura etc.
61
Sobre a pandemia da Covid-19, desde seu começo o presidente da República foi
contra as medidas de distanciamento social, defendida pela OMS e demais cientistas
Referências Bibliográficas
da área de saúde. Mesmo após três meses do início da pandemia no país, e com o
número total de mortes acima de 50.000, segundo dados oficiais, Jair Bolsonaro
mantêm sua posição em defesa da economia, sem propor qualquer medida de
enfrentamento ao vírus, além de tecer várias críticas a governadores e prefeitos que
fizeram lockdown, – o impedimento da circulação de pessoas para impedir a
proliferação do vírus.
Introdução
A investida organizada de grupos pentecostais na política
partidária brasileira, a partir da década de 1980, estabelece um novo
componente nas relações entre religião e política. O modo estratégico e
pragmático pelo qual essa empreitada foi elaborada gerou fenômenos
como a criação da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) em 2003
(TREVISAN, 2013) que desde então vem mostrando acentuado
protagonismo político, principalmente a partir das eleições de 2010 63.
Neste processo a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) é
uma das instituições religiosas preponderantes. Sua atuação política
serviu de modelo para outras denominações. Podemos pensar em dois
sentidos de um mesmo processo. Por um lado, atores do campo político
procuram a denominação a fim de receber apoio nas eleições,
reconhecendo sua capacidade de mobilização frente a um grande
número de pessoas (ORO, 2003). Concomitante a isso, a própria IURD
ingressa no mundo político, lançando candidaturas “oficiais” com o
objetivo de ter representados seus interesses na política institucional.
Os candidatos a cargos eletivos que têm vínculo com a IURD se
concentram sob a sigla do Partido Republicano Brasileiro (PRB) 64. Essa
62
A pesquisa que originou esse trabalho possui financiamento da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
63
Alguns pesquisadores, acertadamente, apontam para a necessidade de relativizar o
poder da FPE (também referida como Bancada Evangélica), pois sua mobilização e
capacidade de influência se dão em oposição a pautas específicas, como a
liberalização do aborto, descriminação das drogas e ampliação de direitos da
comunidade LGBTQI+.
64
Em maio de 2019, o PRB alterou o nome do partido para Republicanos, com isso
espera demarcar sua postura conservadora nos costumes e liberal na economia. Neste
trabalho, optamos por manter a sigla PRB, pois à época da pesquisa era o nome sob a
qual o partido era conhecido. Não foi a primeira vez que houve troca no nome da sigla,
1. A Teoria do Discurso
Segundo Laclau (1992, p.136-137) o discurso é “anterior à
distinção entre linguístico e o extralinguístico” sendo uma instância
limítrofe com o social. O discurso se dá em caráter relacional, portanto,
permite uma “generalização quanto ao conjunto das relações sociais”.
Além disso, o caráter relacional da ação discursiva faz com que exista
uma contingência radical de ações, umas em referências a outras, em
situações de disputas hegemônicas. Ou seja, baseado nas contribuições
2. Discursos de campanha
Tia Ju é natural de Conceição do Jacuípe/BA, chegou à cidade
do Rio de Janeiro em 2003, acompanhando seu marido, Pedro de
Queiroz Freitas, pastor da IURD. Em parte destinada à sua biografia em
sua página na rede social Facebook®, Tia Ju se identifica como
“mulher, negra e nordestina, com muito orgulho”, e além de outras
informações divulga sua formação como pedagoga e pós-graduada em
Direito da Infância e da Juventude, pela Escola Superior do Ministério
Público do Estado do Rio de Janeiro (FEMPERJ), ressaltando sua
atuação e seu destaque enquanto alguém que luta pelas crianças e
adolescentes. De imediato podemos observar que sua identidade é
explorada para além do componente religioso.
Porém, existe uma presença forte da Igreja Universal do Reino
de Deus (IURD) em sua biografia. Tia Ju ocupa a função de obreira e
esteve à frente da Coordenação Nacional da Escola Bíblica Infantil
(EBI), onde também foi educadora, trabalhando com crianças e
adolescentes, daí decorre o nome “Tia Ju”. Em seu perfil na rede social
Instagram®, se descreve como “esposa, tia, irmã, amiga e mãe por
adoção”. Atualmente, a deputada está licenciada, desde 2019 é
Secretária de Assistência Social e Direitos Humanos da cidade do Rio
de Janeiro, cidade governada por Marcelo Crivella (PRB), bispo
licenciado da IURD.
Essas características tornam a candidatura em questão caso
relevante para estudar como o religioso e o político se articulam,
produzindo um discurso diferenciado dentro dos campos. Essa
combinação se torna ainda mais interessante devido ao tratamento
66
Este momento não se configurou uma entrevista, nem ao menos um momento de
fala pública. Decorre disso, que apesar de levar em consideração o teor do que foi dito
para empreender as análises aqui presentes, não cito de forma direta nenhum trecho
deste diálogo no presente texto.
67
Tia Ju se refere a fala do então deputado Átila Nunes (MDB), que por ocasião da
sessão ordinária do dia 09/08/2017 da ALERJ, se referiu aos políticos ligados à Igreja
Universal reprovando os vínculos entre a igreja e estes religiosos. No site do PRB era
possível encontrar uma matéria sobre o ocorrido que afirmava que Tia Ju foi vítima
de ataque religioso e de gênero do plenário da ALERJ. Para acesso à fala de Tia Ju
conferir: <https://www.youtube.com/watch?v=Km9k2xwQEcI>. Acesso em: 04 nov.
2019. Fala de Átila Nunes disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=XzOsFRPUnLA>. Acesso em 04 nov. 2019.
68
A candidata estava se referindo a Marcio Ferreira, seu assessor de comunicação.
Marcio foi meu interlocutor na pesquisa, foi ele quem proporcionou meu contato com
a deputada.
69
O termo é usado para se referir à divulgação de material educacional de combate à
homofobia e à desigualdade de gênero.
Conclusão
Diante do recorrente interesse e sucesso da participação de
evangélicos na política partidária brasileira, em especial do papel
preponderante da IURD neste processo, este capítulo procurou elucidar
as articulações discursivas de uma candidata evangélica.
Efetuei a classificação dos sentidos do discurso da candidata em
3 eixos. Primeiro a justificação da inserção dos evangélicos na política
e reafirmação da pertença religiosa. Essa classe de discurso se direciona
aos evangélicos que representam a maioria dos votos da candidata e
Referências Bibliográficas
Introdução
A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), popularmente
conhecida como Universal, é uma instituição religiosa evangélica
fundada no Brasil em 1977. É uma igreja que possui diversos templos,
variada gama de redes de rádio e uma emissora de televisão, além de
exercer importante influência no campo político. Sua sede é o Templo
de Salomão, um suntuoso edifício localizado na região do Brás, na
cidade de São Paulo/SP. Atualmente a Universal se faz presente em
todos os estados da federação brasileira, além de possuir filiais em
diversos outros países.
Lima e Werneck (2012) apontam que agindo em defesa da
prosperidade financeira, praticando a cura divina e a libertação do poder
do demônio, a IURD é a igreja que mais tem atraído fiéis desde a década
de 1990. Segundo dados do IBGE é a terceira maior igreja Pentecostal
em números de fiéis no Brasil, com um total de 1.783.243 seguidores,
ficando atrás apenas da Assembleia de Deus e da Congregação Cristã
do Brasil. Dentre as instituições Neopentecostais 70 é tida como a maior
em número de fiéis.
Uma das marcas características desta instituição religiosa é a
utilização de variados veículos de comunicação em massa para
evangelizar, informar e se posicionar sobre diferentes assuntos. Tais
habilidades têm sido demonstradas pela instituição através do grande
crescimento da Rede Record TV e da Rede Aleluia de emissoras de
rádio; da inserção da igreja no mundo virtual através de seu site
70
O termo Neopentecostalismo designa a Terceira Onda do Movimento Pentecostal
brasileiro. Teologicamente se baseia na constante guerra contra o Diabo e seus
representantes na terra, na difusão da crença de que todo cristão deve ser próspero,
feliz e vitorioso em seus empreendimentos terrenos, e por rejeitar usos e costumes de
santidades pentecostais. Destaca-se pela realização de programas de conteúdo
religioso transmitidos por emissoras de rádio e TV.
71
Durante o ano de 2018, o jornal Folha Universal publicou 51 edições de seu
semanário. Cada edição contou com tiragem superior a 1.850.000 unidades.
72
Charles Parham foi um pastor norte-americano ligado à Igreja Metodista, mas que
se afastou desta instituição por crenças particulares acerca da cura divina e do batismo
no Espírito Santo.
73
Por tipos ideais queremos nos referir a uma construção mental de modelos que não
necessariamente reproduzem ou refletem a realidade, mas aproxima-se desta servindo
de ferramenta para a sua compreensão. Para Weber (1999), o pesquisador deve sempre
comparar o mundo objetivo com os conceitos formulados, verificando se eles se
aproximam ou se distanciam de seu “tipo ideal” dentro de um espectro.
74
Evangélicos de Missão são todos aqueles que professam ensinamentos das igrejas
Adventista, Batista, Congregacional, Luterana, Metodista, Presbiteriana, dentre
outras.
75
Evangélicos Pentecostais são aqueles que compartilham dos ensinamentos das
igrejas Comunidade Evangélica, Evangélica Renovada não determinada, Assembleia
de Deus, Casa da Bênção, Congregação Cristã do Brasil, Deus é Amor, Igreja do
Evangelho Quadrangular, Maranata, Nova Vida, O Brasil para Cristo, Igreja
Universal do Reino de Deus, dentre outras.
76
Romildo Ribeiro Soares se desligou da instituição religiosa no ano de 1980 para
fundar a Igreja Internacional da Graça de Deus. Em 1987 Roberto Augusto Lopes
também se desligou da instituição e reingressou na Igreja da Nova Vida.
77
Em outras palavras, referimo-nos ao Escândalo do Mensalão, um esquema
descoberto no ano de 2005 que consistia em pagamentos de propina mensalmente a
diversos partidos políticos e parlamentares para darem sustentação ao governo do
então presidente Lula. Disponível em: <https://www.politize.com.br/mensalao-o-que-
aconteceu/>. Acesso em: 25 maio2020.
78
No ano de 1989, 22 candidatos postularam ocupar o Palácio do Planalto.
79
Reportagem veiculada no Jornal Estadão em 30/09/2018, às vésperas da realização
do Primeiro Turno das Eleições Presidenciais 2018. Disponível
em:<https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,edir-macedo-declara-apoio-a-
bolsonaro,70002526353>. Acesso em: 04 nov.2018.
Pré-eleitoral 31 60,78
1º Turno 7 13,72
2º Turno 4 7,85
Pós-eleitoral 9 17,65
Total 51 100,00
Considerações Finais
Nossa pesquisa indica que houve uma grande atenção da IURD
com as eleições de 2018 e que suas pautas foram mudando enquanto se
desenrolavam processos sociais e políticos relacionados ao pleito
eleitoral. Verificou-se grande preocupação do jornal com a
participação cívica no processo eleitoral, destacando a constante
menção da responsabilidade que paira sobre os leitores ao escolher
candidatos, devendo estes sempre optar por aqueles que defendam
valores como a família e a religiosidade.
No início do primeiro turno houve aumento do número de
matérias de cunho político/eleitoral, tais matérias foram abordadas em
todas as edições analisadas. O jornal procurou destacar os principais
problemas a serem enfrentados pelo próximo presidente, tais como
saúde, educação, desemprego e segurança pública, reforçando a ideia
de “necessidade da mudança”. Merece destaque o posicionamento
editorial acerca da Ideologia de Gênero, tema que permeou os debates
políticos no ano de 2018 e que foi fortemente explorado pelo candidato
Jair Bolsonaro (PSL/RJ). A afinidade de ideias tanto do semanário
quanto do candidato pode ter corroborado significativamente no
convencimento dos evangélicos a atribuírem seu voto a Bolsonaro
naquele turno.
No segundo turno pode-se dizer que a IURD trabalhou melhor
no apoio à eleição de Jair Bolsonaro, reforçando a perspectiva da
instituição na necessidade de mudanças e de que seus fiéis precisavam
Referências Bibliográficas
ORO, Ari Pedro. A Política da Igreja Universal e seus reflexos nos campos
religioso e político brasileiros. Revista Brasileira de Ciências Sociais, Rio
de Janeiro, v. 18, n. 53, p. 52-79, out. 2003.
Fontes Documentais
Folha Universal. Ano 25, Edição Nacional, n. 1344 à 1394. São Paulo:
2018.
Introdução
A situação política e humanitária na Venezuela vem se
agravando nos últimos quatro anos e tem-se observado uma diáspora de
venezuelanos em busca de uma vida melhor em outros países. Segundo
a Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados
(ACNUR) 80, mais de 5 (cinco) milhões de venezuelanos deixaram seu
país, o que configura o maior êxodo da história recente da região. Entre
os países latino americanos, o Brasil é um dos destinos escolhidos pelos
refugiados para “recomeçar”.
Ainda segundo a ACNUR, no ano de 2018 os venezuelanos
foram os que mais deram entrada de refúgio no país, com cerca de
61.687 pedidos em vários estados, sendo Roraima (50.770), Amazonas
(10.500) e São Paulo (9.977), respectivamente, os estados mais
solicitados. Em 2020, segundo o site G1 81, o governo brasileiro aprovou
38 mil solicitações de refúgio de venezuelanos no país, o que significa
88% do total de pedidos– situação que foi agravada devido a pandemia
de COVID-19 que assola o mundo.
Diante dessa realidade em curso, o estudo em desenvolvimento
possui o intuito de compreender as dinâmicas e contextos referentes ao
processo de deslocamento e refúgio de cidadãos venezuelanos em
situação de perigo (econômico, político e social) em seu país de origem
e a inserção deles em outro país, neste caso, o Brasil, a partir da análise
80
Venezuela – ACNUR Brasil – Proteja seus refugiados. Disponível em:
<https://www.acnur.org/portugues/venezuela/>. Acesso em: 15 jun. 2020.
81
Número de refugiados no Brasil aumenta mais de 7 vezes no semestre; maioria
é de venezuelanos. Disponível em:
<https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/06/09/numero-de-refugiados-no-brasil-
aumenta-mais-de-7-vezes-no-semestre-maioria-e-de-venezuelanos.ghtml>. Acesso
em: 22 jun. 2020.
Algo que nos chama a atenção é que, antes das minas, Rafael
era um estudante comum. Todavia, com a chegada da crise econômica
(2015: ano de início da crise-atual) se vê obrigado a amadurecer e a
ajudar a mãe com o sustento da família. Assim, ao fugir para as minas
se vê também com mais responsabilidades, agora com sua recém esposa
que decide se desligar de sua família de origem para compor a família
Gonzalez. Supõe-se que a ideia de vir para o Brasil – caso a experiência
das minas não desse certo – era algo já presente nos pensamentos da
família. Tal situação acontece também com o irmão Miguel.
A permanência nas minas, no entanto, durou poucos meses e se
tornou insustentável diante do domínio e do controle da região por
82
A Aliança de Misericórdia. Disponível em: <https://misericordia.com.br/a-alianca-
de-misericordia/>. Acesso em: 15 de jun.2020.
83
Empresa de produção avícola da região do Campo das Vertentes, localizada em
Barbacena/MG.
84
A JBS S. A. é uma multinacional de origem brasileira, reconhecida como uma das
líderes globais da indústria de alimentos.
Conclusão
Vimos que o refugiado pode ser entendido como um indivíduo
invariavelmente em situação complexa e desafiadora que busca
reconstruir sua identidade numa espécie de alquimia dolorosa entre as
características de sua cultura e tradição que o formaram como ator
social em momento anterior ao deslocamento, com os elementos novos
Referências Bibliográficas
Introdução
Em todos os espaços e tempos, as religiões estiveram e estão
intimamente vinculadas à sociedade, estabelecendo laços sociais entre
indivíduos, determinando normas de conduta, preceitos morais e
influenciando significativamente as dimensões da vida individual e
social. Desta forma, o estudo sobre o fenômeno religioso e de sua
interação com a cultura agindo sobre as transformações sociais, é um
dos mais importantes mecanismos a serem acionados para a análise da
organização e estruturação das sociedades.
Este artigo parte do debate sobre os desdobramentos do
espiritismo no campo religioso de Ponte do Cosme, a fim de se realizar
uma leitura sobre a inserção de uma religião moderna e dinâmica como
o espiritismo, dentro de uma comunidade rural fundada por imigrantes
italianos e que se organizam de maneira tradicional.
O trabalho irá contribuir para a elucidação das questões
concernentes ao campo religioso do distrito de Ponte do Cosme, bem
como da cidade de Barbacena, visto que não se encontram disponíveis
estudos sociológicos sobre a inserção espírita no campo religioso local.
Desta forma, esta pesquisa se faz pertinente uma vez que no Brasil,
segundo Camurça (2014), a doutrina espírita, ao sofrer duros ataques da
Igreja Católica, viria a organizar suas ações e a legitimar-se enquanto
instituição religiosa tornando-se uma religião legitimamente brasileira.
Uma vez que a religião enquanto instituição transita e opera na
história, se faz presente na dimensão cultural, tem um grande peso nos
moldes de nossa democracia, interfere diretamente nos padrões
comportamentais dos indivíduos e dos grupos sociais, a análise do
85
Instituição financiadora da pesquisa: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES).
86
Arribas aponta que “por volta de 1889 havia só no Rio de Janeiro cerca de 35 grupos
espíritas” (GIUMBELLI, 1997, p. 62 apud ARRIBAS, 2009, p.28).
87
A título de informe, a revista ainda é publicada nos dias de hoje.
88
Segundo o último censo o Espiritismo cresceu 65% de 200 até 2010.
89
Existe um boato que houve a tentativa de se introduzir uma igreja evangélica no
distrito, mas sem sucesso.
90
Reunião com maior fluxo de pessoas, contando com participantes até mesmo de
fora da cidade de Barbacena.
Referências Bibliográficas