Ariela Pereira - Bem Vinda Ao Jogo
Ariela Pereira - Bem Vinda Ao Jogo
Ariela Pereira - Bem Vinda Ao Jogo
Ariela Pereira
1º Edição
2016
Amber Mitchell cresceu em uma fazenda no interior do Texas, com a mãe e os
avós. Ao concluir o Ensino Médio, é contemplada, pela Prime, uma das maiores
empresas construtoras do país, com uma bolsa de estudos e se torna o
primeiro membro da sua família a cursar uma faculdade.
E as coisas não param por aí. Com a conclusão da faculdade, ela novamente é
contemplada pela Prime, que oferece vagas na sua sede para estagiários recém
formados.
A tempestade que caía lá fora podia ser classificada como a mais violenta
dos últimos tempos. Através das frestas nas janelas podia-se ver o clarão dos
raios rompendo a escuridão daquela madrugada de sábado, os estrondos das
trovoadas se faziam tão altos que nos alcançava, assim como o uivo do vento
forte.
Embora não pudesse gerar filhos e optasse pela adoção, Cecily, minha
esposa, se recusava a adotar minha filha de sangue, como fizera com os dois
garotos, Joshua, de sete anos e Noah, de três, alegando que não suportaria
viver toda uma vida olhando para o rosto da menina que representaria a prova
da minha traição, assim como o seu fracasso em não ser dona do corpo que a
concebeu.
Eu teria lutado para ficar com aquela criança, sangue do meu sangue, se
Cecily não tivesse ameaçado pedir o divórcio, me acusando de adultério, de
modo que todos os nossos bens materiais passariam automaticamente a lhe
pertencer e eu não podia abrir mão da Prime, a empresa que representava toda
uma vida de trabalho árduo e que era tudo para mim.
Era fácil culpar nossa infelicidade pela minha traição, e embora esta tenha
contribuído, não foi a razão pela qual me envolvi com a filha do meu motorista,
mas sim o desejo latente que surgiu entre nós desde que descobri a mulher
linda e encantadora que ela se tornou.
Ainda tentei lutar contra aquele sentimento que se intensificava mais a cada
dia, afinal ela era quase uma criança e seus pais trabalhavam para nós há
anos, eu não podia trair a confiança deles, não podia trair Cecily. Mas foi
inevitável. O desejo se transformou em paixão e tudo ficou incontrolável.
Durante cerca de seis meses não passamos da troca de olhares. Até que
durante uma das viagens que Cecily costumava fazer, Emma tomou a
iniciativa, que não me atrevi a tomar e veio a mim, em meu quarto, com seu
corpo lindo, moreno e esguio coberto por apenas um roupão, que ela deixou
cair no instante em que meus olhos encontraram os dela.
Humildes e passivos como sempre foram, mesmo sabendo que podiam ter
tirado muito mais de mim, os Mitchell aceitaram a oferta sem discutir e se
mudaram logo em seguida, me deixando com a certeza de que minha filha
cresceria em um lugar seguro e tranqüilo, sem que nada faltasse a ela, afinal a
fazenda era rica na criação de gado e forneceria recursos necessários para que
a família nunca mais precisasse trabalhar para ninguém. Além do que, fiz uma
gorda conta bancária no nome deles.
O combinado foi que eu nunca mais voltasse a vê-los, mas não consegui
ficar longe quando soube que minha filha nasceria hoje. Entretanto, seria a
última vez. A partir de agora, eu tentaria não fazer parte da vida dela, pois se
me aproximasse, dificilmente encontraria forças para deixá-las novamente.
— Está ótima. A menina também. Nasceu forte e saudável. Com três quilos e
meio.
Precisei respirar fundo várias vezes para conter aquela agonia que preenchia
meu peito, por saber que olharia para o rosto da mulher que eu amava, para o
fruto do nosso amor e que ela me acharia o covarde que de fato eu era. Ela não
abriria a boca para me acusar de nada, jamais abriu. Mesmo quando teve que
deixar a casa onde nasceu e cresceu para se enfiar em uma fazenda, por minha
causa, jamais reclamou de nada, o que me fazia sentir ainda pior, um
verdadeiro verme.
Fui guiado pela enfermeira através do corredor largo e bem iluminado até o
quarto onde ela estava. Emma me recebeu com um sorriso meio tímido, mas
ainda um sorriso, quando qualquer outra no lugar dela se negaria a olhar para
mim novamente. Fazia meses que eu não a via e olhar para ela foi como
derramar um bálsamo sobre minhas feridas. Ela estava deitada em seu leito,
linda como sempre, apesar do rosto meio pálido por ter acabado de enfrentar
um parto normal, tinha a pele aveludada, os olhos negros brilhavam como
duas pérolas. Usava uma camisola branca folgada.
Quando olhei para ela, constatei que minha saudade era muito maior do que
eu percebera.
Ao seu lado, no pequeno berço, estava o bebê, tão imóvel que parecia
adormecido, porém, foi apenas ao me aproximar o suficiente, que vi seus
olhinhos abertos.
— Posso segurá-la?
— Pode.
Era a minha única chance de segurar minha filha em meus braços e o fiz
emocionado, pois quando se tem trinta e quatro anos de idade e se é casado
com uma mulher que não pode ter filhos, não se espera ser pai um dia. Mas
Emma me deu essa honra.
— Por Deus! Ela é linda. — Sentei-me na beirada do leito com minha filha
nos braços.
— Tem os seus olhos.
— Amber.
— Não precisa dizer nada. — Emma interveio. — Nós dois erramos, embora
eu não me arrependa de nada.
— Eu sabia que você era casado. Nunca me iludi acreditando que ficaríamos
juntos. Eu só lamento ter durado tão pouco.
— Foi um erro?
— Sim. Como eu já disse, não me arrependo de nada, mas nós erramos feio,
com a sua mulher, com essa criança. Agora só nos resta nos punirmos para
que ninguém mais sofra por nossa causa.
— Eu também te amo.
— Nós ficaremos. Morar em uma fazenda sempre foi o sonho dos meus pais
e não posso imaginar um lugar mais perfeito para nossa filha crescer. Como
meu pai trabalhará no rebanho para garantir nosso sustento, não precisarei
trabalhar fora e me dedicarei exclusivamente a educá-la.
Vasculhei minha mente em busca de algo mais para dizer, mas não havia
nada. Tudo já fora dito. E Emma estava certa em cada palavra. Não seria
saudável para uma menina crescer sabendo que era fruto de uma relação
adúltera como a nossa. Seria melhor para todos que as coisas ficassem como
estavam, que nunca mais nos víssemos.
Procurei forças dentro de mim para dizer adeus pela segunda vez e não
encontrei. Então as deixei em silêncio, praticamente obrigando minhas pernas
a me levarem para fora do quarto e depois da maternidade. Entrei em meu
carro me movendo mecanicamente, como um zumbi, dirigindo até em casa sem
ver o percurso à minha frente.
CAPÍTULO I
Aliás, aquele era o segundo milagre que acontecia em minha vida partida da
mesma empresa, que há quatro anos ofereceu bolsas de estudo universitário
aos alunos notáveis do colégio onde eu estudava, no interior. Meu nome era o
primeiro da lista entre os selecionados, embora eu não me lembrasse de ter
sido uma aluna notável, pelo contrário, eu precisava fazer uso da minha
popularidade para colar nos verdadeiros alunos estudiosos em épocas de
provas, e só assim conseguir passar de ano, afinal, naquela época eu ainda
tinha uma vida social e afetiva à qual me dedicar, não me restava tempo para
estudar.
Enfim, a Prime estava a fim de ajudar os menos favorecidos e cá estava eu,
formada em Engenharia Civil na Lancaster University at Tyler. Não era a maior
faculdade do país, mas era bem-conceituada e foi a que escolhi por ser
localizada em uma cidade pequena e tranquila, a duas horas do centro
comercial de Dallas, onde tudo acontecia, inclusive as oportunidades.
A Prime custeara meu curso, mas eu ainda tinha que trabalhar como
garçonete para pagar o aluguel e me sustentar. Tive muita sorte em conhecer
Kate, que também estudava com bolsa financiada por uma empresa petrolífera
de Houston, e concordou em dividir o aluguel comigo.
“É isso aí garota!”
Senti todo o ânimo esvaindo-se do meu corpo quando deixei o edifício de dois
andares e só então descobri que estava chovendo. Uma chuva fina, mas
suficiente para que o asfalto estivesse molhado.
Até era suportável dirigir dentro do perímetro urbano, porém, foi quando
peguei a autoestrada que o pavor tomou conta de cada uma das células do
meu organismo. Tudo me lembrava aquela noite. O brilho do asfalto molhado,
os outros carros correndo mais que o necessário, de modo que faziam os jatos
de água jorrarem para os lados, o para-brisas salpicado de água com o
limpador movendo-se em vai e vem diante dos meus olhos.
“Clama, Amber, não vai acontecer de novo... não vai acontecer de novo...”
Repetia para mim mesma, mentalmente.
— Pois não?
Abri um largo sorriso. Era isso que eu fazia quando estava nervosa, sorria e
falava demais, além de ter todo o meu sangue concentrado na minha face.
— Amber Mitchell.
— Só um momento.
Ela fez uma ligação, trocou algumas palavras com a pessoa que parecia
responsável pela minha entrevista e desligou.
— Trigésimo andar, sala cento e seis. Você vai falar com a Srta. Walker. Pode
subir.
O alívio me tomou como uma corrente de eletricidade que passeava pelo meu
corpo.
— Obrigada.
Outra fobia que eu tinha adquirido depois do que aconteceu, foi o medo de
lugares fechados, como os elevadores, mas este já estava quase superado,
afinal, eu precisava dos elevadores. Então, escolhi aquele que ficava mais ao
canto, para onde ninguém parecia se dirigir, por ser provavelmente o que
subiria mais vazio e entrei. As portas estavam se fechando quando um dos
executivos enfiou sua mão entre elas apressadamente, e entrou. Apertando o
último andar.
O homem muito alto, com ombros largos, cabelos negros, foi o único, até
aquele momento, que não me olhou com indiscrição por causa da minha
aparência, e de súbito eu me peguei observando-o mais que o necessário.
Estava parado como uma estátua ao lado e um pouco adiante, de modo que eu
não podia ver seu rosto inteiro, mas apenas o maxilar rijo, coberto pela sombra
de uma barba negra. Parecia muito sério e compenetrado, talvez até meio mal-
humorado.
Como se fosse capaz de sentir o peso do meu olhar, ele virou-se de repente e
seus olhos, de um azul claro como as águas de uma piscina fixaram nos meus,
diretamente, inquiridoramente, expressando algo que não consegui decifrar,
mas que fez minha face corar de imediato, como se eu fosse uma criança que
acabava de ser flagrada fazendo algo errado.
Sem dúvida, o rosto dele era o mais bonito e masculino que eu já vi. Tinha
um formato perfeito, bem emoldurado, com o queixo másculo, o nariz afilado, a
pele ligeiramente bronzeada, a boca meio bicudinha e aqueles olhos, que olhos!
Eu podia apostar que havia uma centena de garotas na fila de espera ansiosas
para arriarem a calcinha para ele. Era gostosura demais em um ser humano
apenas!
Ele fitou-me em silêncio por um instante e por fim, agindo como todos os
homens agiam, desceu o olhar pelo meu corpo, muito devagar, estudando-me
detalhadamente e senti minha face pegando fogo, o que não era comum, pois
eu estava acostumada com essa atitude por parte dos homens.
O fato de ele voltar à sua posição inicial, ignorando-me por completo, poderia
ser considerado algo normal, afinal, não nos conhecíamos, éramos apenas dois
estranhos dividindo um elevador, como obviamente acontecia com frequência
na vida de alguém que trabalhava em um lugar como aquele, entretanto, sem
que eu compreendesse a razão, sua indiferença serviu para intensificar o
nervosismo que eu sentia por me encontrar dentro de um elevador e quando eu
estava nervosa, não conseguia ficar de boca fechada.
— Talvez nos tornemos colegas de trabalho. Estou aqui para uma entrevista.
Não de emprego, mas de estágio. Mas é um começo, sabe? — Eu simplesmente
não conseguia parar de falar. — Acho que é uma grande oportunidade para
quem acabou de se formar, quer dizer, quem nunca sonhou em trabalhar na
Prime?
O homem virou-se de frente para mim, seu tamanho avantajado, seu peito
muito largo dentro do paletó caro, me parecendo terrivelmente familiares,
trazendo-me lembranças do meu pior pesadelo, o pavor me fazendo recuar até
que minhas costas encontraram o limite do pequeno espaço.
— Fica calma. Deve ter sido uma falha no sistema. Daqui a pouco isso se
resolve.
Sua voz era grossa, máscula e ao mesmo tempo doce, de um timbre tão
gostoso que me atraiu a ponto de me arrancar do poço escuro para o qual as
lembranças me puxavam.
— O que diabos está acontecendo aqui?! — Desta vez ele gritou, ríspida e
autoritariamente, sua voz parecendo ainda mais grossa, estrondosa. — Estou
preso no elevador. Tratem de arrumar essa porcaria, não tenho tempo para
isto. — Ouviu por um instante, sua fisionomia se contraindo e então desligou.
— Já vão dar um jeito nisso. Respira. Você está muito pálida. — A sua voz
abrandou, novamente me impedindo de mergulhar na escuridão. Sem
conseguir falar, apenas meneei a cabeça em resposta. — Como você se chama?
— Tentei responder, mas a voz não saiu. — Tudo bem. Fica calma. Nada de
mal vai acontecer. Elevadores param o tempo todo. E eu já falei com o técnico,
daqui a pouco sairemos daqui.
— Não precisa ter medo de mim. Eu só quero ajudar. Você não me parece
bem.
Sua voz me acalmou um pouco, mas o pânico ainda estava lá. Puxei o ar
várias vezes e soltei devagar, tentando voltar ao normal, quando então a luz do
elevador se apagou, repentinamente, a escuridão tomando conta de tudo, para
que no instante seguinte o grito agudo saltasse da minha garganta.
CAPÍTULO II
— Onde estou?
— Ficamos quase uma hora no elevador, tem uns quinze minutos que
saímos de lá. Acho que você só precisava respirar. Está se sentindo melhor?
Não era a primeira vez que aquilo acontecia. Os primeiros meses, depois do
cativeiro, foram os mais difíceis, eu desmaiava sempre que as lembranças
voltavam tão nítidas. Segundo os psiquiatras era um mecanismo de defesa do
qual meu corpo se valia para fugir das lembranças.
— Não se preocupe com nada. A pessoa que vai entrevistar você é minha
irmã. Já pedi que ela aguardasse até que a médica da empresa venha dar uma
olhada em você. Ela já deve estar chegando.
— Sim.
Embora nunca o tivesse visto antes, seu nome era absurdamente familiar,
frequentemente citado na faculdade como um dos engenheiros mais brilhantes
do mundo. Era o filho mais velho do dono da Prime, uma verdadeira lenda no
mundo das construções por ter revolucionado a engenharia com projetos
modernos e futurísticos, adotados em todo o mundo. Mas eu não podia
imaginar que fosse tão jovem, devia ter no máximo trinta anos. Era também
irresistivelmente bonito e charmoso, como se tivesse sido projetado a partir das
fantasias mais íntimas das mulheres mais exigentes.
— Desculpe, mas não gosto de falar sobre isso. Realmente não preciso de
uma médica. Prefiro ir para a entrevista. Você pode me dizer onde estão
minhas coisas? — Disparei, falando depressa devido ao nervosismo.
Ele estava indo longe demais com a sua indiscrição, o que despertou a raiva
dentro de mim.
— Eu já disse que não gosto de falar sobre isso. É algo muito íntimo. Você
não devia ser tão indiscreto.
— É um perigo para uma mulher que tem aversão ao toque pelo sexo oposto
ficar desacordada junto com um homem, por uma hora, dentro de um espaço
tão pequeno quanto o de um elevador.
Tarde demais. Não acreditei nele, minha mente já tinha concebido a ideia de
que ele se aproveitara de mim. Bastardo!
Realmente as coisas estavam piorando para o meu lado. Eu nem devia ter
ido à Prime tentar ingressar no mundo dos negócios, pois estava estragada
para a vida profissional. Ninguém admitiria uma paranoica como eu.
— E a entrevista?
— Claro que está. Todos nós temos problemas. Você não é a única.
Certificando-me de que suas mãos estavam longe de mim, busquei seus
olhos com os meus, perguntando-me que problemas um homem como ele, rico,
lindo e brilhante poderia ter.
Foi nesse instante que a porta da sala se abriu e uma mulher com cerca de
trinta e cinco anos, alta, morena, sofisticada e linda entrou, anunciando:
— Sr. Walker, a médica está aqui para ver a moça. Posso deixá-la entrar?
Não tive dúvidas: O Sr. Walker falou a ela sobre minha fobia bizarra de não
suportar ser tocada, o que ele aparentemente não sabia era que meu
organismo rejeitava apenas o toque masculino, ou então estava me testando.
Realmente aquele bastardo contou tudo a ela. Agora eram dois achando que
eu era louca.
— Não.
— Não preciso disso. Não estou sentindo nada, doutora. Só tive uma tontura
e desmaiei no elevador porque tenho claustrofobia. Nada além disso.
Aproveitando a deixa, levantei-me também, desta vez devagar, para que não
tivesse outra vertigem e ele acabasse me mandando para um hospital.
Ele refletiu por um instante, até que por fim gesticulou para a parte de trás
do sofá onde eu estivera sentada.
— Aí atrás.
Com minhas pernas ainda trêmulas, atravessei outra sala menor, onde se
encontrava a mulher que levara a médica até mim, obviamente a secretária do
presidente, e me dirigi para o elevador. Estávamos no último andar,
quadragésimo quinto, eu precisava descer até o trigésimo e, definitivamente,
não me senti encorajada a entrar no elevador de novo. Assim, cometi a sandice
de descer pelas escadas, de modo que estava encharcada de suor e tinha todo o
meu corpo trêmulo quando alcancei meu destino, quase uma hora depois.
Na ante sala indicada, fui anunciada pela secretária da Srta. Walker, que
logo me mandou entrar.
Sua sala era tão grande e sofisticada quanto a do Sr. Walker, a diferença
estava no toque feminino, perceptível nos arranjos de flores e porta-retratos
sobre a mesa.
Quando me aproximei, ela cravou seus grandes olhos azuis em meu rosto,
com uma expressão meio dura, depois examinou-me dos pés à cabeça, como
todos ali faziam.
— Então você é a garota que ficou presa no elevador com o meu irmão.
Ela examinava meu currículo enquanto falava e senti minha face queimando
ao imaginar se o irmão lhe dissera tudo.
— Isso mesmo.
— Certo, não foi. Mas isso porque esperamos sempre que um aluno de
engenharia procure trabalho em algo que se pareça com seu curso, mesmo que
seja um trabalho braçal, e um trabalho de garçonete não é exatamente voltado
para a construção.
Ela falava com desdém, destruindo os meus sonhos com tanta naturalidade
que senti vontade de subir naquela mesa e dar-lhe uns tapas no rosto. Mas
não era sua culpa. Se aquele quesito que ela mencionava fosse realmente
necessário, estaria descrito na oferta, ela estava inventando aquilo como
pretexto para me dispensar, estava cumprindo ordens. Eu não precisava
refletir muito sobre o assunto para deduzir que o excelentíssimo presidente da
companhia lhe dera ordens para não me contratar por causa do episódio
ocorrido no elevador. E eu sequer podia tirar a razão dele. Quem contrataria
uma louca? A única coisa que me enfurecia era sua hipocrisia em me dizer que
eu seria contratada, que tinha falado com sua irmã para fazê-lo, quando na
verdade fizera exatamente o oposto.
— Ok.
Seus olhos verdes, profundos, estudavam meu rosto com muito interesse,
embora não fosse o interesse de um homem por uma mulher, eu reconheceria,
pois estava acostumada com a malícia dos homens. Era mais que isto, algo
genuíno, incompreensível.
Eu não costumava falar sobre mim mesma com ninguém, que não Kate, que
dirá com um estranho, contudo, sua voz era tão afetuosa que acabei
desabafando.
Ele desviou seu olhar para o suntuoso edifício da Prime, diante de nós.
CAPÍTULO III
Talvez por isto seu rosto me pareceu familiar: fotos dele eram exibidas pelos
professores durante algumas palestras sobre engenharia civil.
— O prazer é todo meu. — O sorriso que ele esboçava era terno, caloroso e
exercia um carisma tão radiante sobre mim, que eu não sentia o mínimo desejo
de sair de perto dele, pelo contrário, sua proximidade me agradava, como a de
poucas pessoas. — Sabe Amber, eu estou precisando de uma assistente. A
idade já não me permite lembrar de todos os compromissos. Talvez você possa
me ajudar. O que acha?
No primeiro instante, quase pulei de euforia com a sua oferta, mas logo me
ocorreu que eu não podia aceitá-la, simplesmente porque não seria justo
aceitar uma oferta de emprego sem fazer nada para merecê-la, sem passar por
uma seleção, sem que ele sequer tenha visto meu currículo, mas apenas
porque foi com a minha cara.
— Porque não houve concorrência, eu não fiz nada para merecê-la. Isso não
seria justo.
— Tenho que concordar com você. — Falou. — O que me faz acreditar ainda
mais que você seria uma boa funcionária. Então, o que acha de começar por
baixo? Tirando xerox, levando o café durante as reuniões. Apenas até você se
familiarizar com o ambiente e conseguir um cargo melhor. Não deixa de ser
uma forma de estágio.
— Ótimo. Vou falar com o cara dos recursos humanos e você pode começar
amanhã. Está bom assim?
— Está ótimo. Muito obrigada. Agora preciso ir. Estou com fome e ainda
preciso dirigir até Tyler. Amanhã eu volto. Até lá.
Virei-me e segui pela calçada, imaginado se eu não devia ter fornecido a ele
minhas informações profissionais para o cargo, mas minha ficha devia ter
ficado nos arquivos, eu duvidava que isso fosse necessário.
— Considerando que você precisa chegar cedo ao trabalho, talvez você deva
deixar Tyler e se mudar para o nosso condomínio para os funcionários aqui do
lado.
E não ter que dirigir de Tyler até Dallas todos os dias? Era o mesmo que ele
perguntar se macaco quer banana. Mas ainda havia Kate, eu não podia deixá-
la sem a minha parte no aluguel.
— Oh, não querida. Ele é adotado. Meus três filhos são. Minha esposa não
pôde ter filhos, então optamos pela adoção. — Que cacetada! Aquela era uma
informação que ninguém no mundo da engenharia ou do jornalismo tinha. Os
Walker eram bastante conhecidos no país inteiro devido à prosperidade da
Prime, contudo, ninguém sabia que os filhos eram adotados e eu não entendia
porque aquele homem me revelava algo tão íntimo, se sequer me conhecia. —
Primeiro veio o pequeno Joshua. O adotamos quando tinha cinco anos depois
que seus pais foram presos por dirigirem uma rede de pedofilia. Depois veio o
pequeno Noah, com um ano. Foi abandonado pela mãe na porta do orfanato. E
por fim veio Candice, ela tinha sete anos quando a encontramos em um
orfanato.
Eu ia perguntar porque ele contou-me então, mas minha voz faltou quando
vi o prédio de dois andares no final da rua, o último do condomínio. Era
simplesmente a construção mais bizarra sobre a qual já posei os meus olhos.
Tinha toda a sua estrutura de vidro escuro espelhado, de modo que dava a
impressão de que quem estava do lado de dentro podia ver tudo aqui fora,
enquanto que quem estava fora, não podia ver lá dentro. Tinha o formato
redondo, como uma minitorre, a estrutura lisa, sem qualquer saliência. Não
parecia com os outros edifícios com pele de vidro, este era uniformemente
negro, um projeto brilhante, mas também sinistro, o cenário perfeito para um
filme de terror.
— Oh! É onde mora Joshua. Foi projetado por ele próprio. Entre meus três
filhos é o único que mora aqui. Nunca entendi a razão disto. As pessoas
costumam dizer que é porque ele gosta de ter o controle de tudo durante as
vinte e quatro horas do dia. — A bizarrice do prédio combinava com ele e mais
uma vez meu corpo estremeceu ao relembrar o terror no elevador. — Então,
agora que você já viu tudo, gostaria de almoçar comigo?
— Gostaria sim.
Estávamos voltando pela rua, quando um homem muito alto e forte, com
cerca de vinte e cinco anos, usando camiseta sem mangas, deixando à mostra
os braços musculosos, surgiu em nosso caminho, com uma bola de basquete
nas mãos.
— Fugiu da luta né, Sr. Walker. — Ele se dirigiu ao homem com espantosa
naturalidade, como se o Sr. Walker não fosse o dono do quarteirão inteiro e do
maior edifício da quadra ao lado.
Após a conversa rápida e jovial com Sam, eu e meu novo patrão almoçamos
no restaurante do condomínio, um lugar simples, porém bastante
aconchegante, acolhedor e com uma culinária deliciosa.
***
— Esse velho está a fim de você! — Kate exclamou, com os olhos negros
arregalados, quando terminei de contar-lhe todos os acontecimentos daquele
dia. — Como você pode não ver isso?
— Não está Kate. Eu conheço bem os homens. Ele não me olhou com
malícia, apenas se afeiçoou a mim, como eu a ele.
Enfim, eu estava aliviada por não precisar deixá-la sem o aluguel, ao mesmo
tempo que queria minha amiga ao meu lado naquela nova etapa da minha
vida.
Eu não sabia por que fui falar sobre isso com ela.
— Eu diria dez.
— Ai, amiga, é tão bom ver você se interessar por alguém depois de tanto
tempo.
— Ei, calma lá. Eu não disse que estou interessada nele, só o achei bonito.
Aliás, lindo.
— Isso é um grande avanço. É a primeira vez que você olha para um homem
com olhos de mulher depois do que aconteceu.
— Ele disse com todas as letras que nenhuma decisão ali dentro era tomada
sem a permissão dele.
— Talvez ele nem saiba que a vaca não te contratou. — Ela veio até mim, me
fez parar de jogar as pescas de roupas dentro da mala, segurou-me pelos
ombros e fixou seus olhos nos meus, dizendo: — Me promete que vai tentar,
Amber. Já está na hora de recomeçar.
Kate conhecia cada uma das minhas cicatrizes deixadas pelo horror que
passei quando fui sequestrada e aprisionada no porão de uma casa no meio do
mato por um ex-presidiário que me violentou várias vezes durante os três dias
que me manteve presa. Foram os três piores dias da minha existência, durante
os quais passei frio, fome, medo e enfrentei a violência doentia do meu raptor,
o qual deixou marcas profundas em minha alma.
Quando fui encontrada pela polícia, eu estava tão traumatizada que estive
muito perto de cortar os meus pulsos. Passei uma semana sem conseguir falar,
com medo de ficar sozinha, com medo do escuro, de dirigir, de praticamente
tudo. Durante esses três anos que se passaram, superei a maioria desses
medos, mas alguns ainda estavam presentes em mim, muito vívidos, como o
medo de ser tocada por alguém do sexo oposto. Eu não suportava sequer o
aperto de mão de um velho amigo. Se precisasse ir ao médico ou ao dentista,
tinha que ser um profissional do sexo feminino.
No início da noite, como combinado, Dean nos levou no seu carro até o
Prime Condominium, em Dallas, quando descobri que uma das chaves que o
porteiro me entregara mais cedo era na verdade do grande portão de grades de
ferro que guardava a entrada e agora se encontrava trancado. Ao entrarmos,
fiquei surpresa com o quanto o lugar parecia mais movimentado que durante o
dia, quando obviamente os moradores se encontravam em seus trabalhos. Não
eram apenas os funcionários da sede principal que moravam ali, como
explicara o Sr. Walker mais cedo, mas também das empreiteiras que existiam
pelos arredores da grande metrópole. Era quase a população de uma pequena
cidade.
Nos dirigimos direto para o prédio onde moravam os sem família, como eu.
Meu apartamento ficava no segundo andar e era muito melhor do que eu
esperava. Com um desenho arquitetônico moderno, como tudo mais ali, era
composto por dois quartos grandes, closet, sala e cozinha americana. Os
móveis eram práticos e de bom gosto, deixando o ambiente aconchegante,
embora precisasse de um toque feminino, que eu não daria, pois nunca me
liguei muito nessa coisa de decoração, tampouco era uma pessoa caseira.
— Só espero que não seja aquele tipo de lugar que não se pode trazer os
amigos, pois quero os dois vindo aqui me ver constantemente.
— Nós viremos, mas acho que você vai fazer novos amigos aqui e depressa,
afinal, você foi contratada pessoalmente pelo CEO, as pessoas têm que te
respeitar.
— Olha só, tem um bar do outro lado da rua e está aberto. — Dean falou,
olhando para o lado de fora através da janela. — Quem está a fim de uma
cerveja?
Como estava fazendo calor, dispensei uma calça ou uma jaqueta e saí
vestida como estava, usando o shortinho jeans curto, justo e com o cós abaixo
da cintura, minha camiseta vermelha curta e botas. A juba estava armada,
como sempre.
O bar era pequeno por dentro, porém organizado, com uma decoração
moderna. Havia mesas com estofados nas laterais, a pista de dança ao centro,
máquina de música e balcão, para onde nos dirigimos. Sentamo-nos lado a
lado e pedimos as cervejas geladas.
Talvez pelo fato de que todos ali se conheciam, logo nos tornamos o centro
das atenções, embora os olhares fossem amistosos.
— Divertindo-se?
CAPÍTULO IV
Quase não o reconheci, pois estava muito diferente do CEO elegante que
conheci esta tarde na Prime. Usava apenas uma camiseta de malha branca
sem mangas, jeans surrado e tênis. Tinha os cabelos desalinhados e a barba
por fazer. Sua aparência lembrava a de um motoqueiro selvagem, tornando-o
ainda mais irresistível, infernalmente atraente, com os braços musculosos à
mostra, assim como o tórax perfeito, visível por sob o tecido fino da camiseta.
Sua pele com aquele tom bronzeado parecia um afrodisíaco capaz de despertar
o desejo em qualquer mulher.
— Não é adequado que uma garota entre em um bar usando um short tão
pequeno. Isso pode despertar a libido dos homens. — Ele percorreu o olhar
pelo meu corpo, devagar, devorando cada detalhe, com uma expressão gritante
de “quero te foder”.
Há pouco mais de três anos, eu teria correspondido àquele olhar com uma
expressão “estou pronta para você, meu bem”.
— Tem certeza que você não está querendo dizer que não é apropriado sair
vestida assim no seu condomínio?
Ele sorriu de um jeito meio safado, que o tornava ainda mais charmoso.
— O condomínio não é meu. E o verdadeiro dono, meu pai, não se importaria
se as pessoas saíssem desfilando por aí nuas.
Me perguntei porque ele não estava estranhando minha presença ali se não
concordara com a minha admissão. Ou não fora o responsável por eu não ter
sido selecionada, ou o pai lhe dissera que me contratou. Isso já não parecia
importar tanto, diante da forma selvagem como ele me olhava.
— Eu notei que você tem fobia de ser tocada, aparentemente, apenas pelas
pessoas do sexo oposto e eu espero que seja fobia apenas ao toque e não
aversão sexual, pois estou muito a fim de levar você para a minha cama. —
Atônita, vire-me para encará-lo novamente, deparando-me com um par de
olhos azuis escurecidos, muito intensos, que pareciam me devorar. — Eu não
vou tocar minhas mãos em você, eu prometo, mas vou arrancar esse shortinho
com os dentes, para depois enterrar minha língua nessa sua bocetinha que
deve ser uma delícia e, acredite, você vai gostar disto, vai pedir pelo meu pau e
eu o darei todo a você, vou te comer de tantas formas que você vai ficar
dolorida por uns dias. Estou pensando nisso desde que a segurei em meus
braços e basta você dizer sim, para eu te levar para o meu apartamento e te
comer todinha.
Eu o encarava quase chocada pela forma direta como ele falava. Eu sabia
que todos os homens pensavam aquilo quando estavam cantando uma garota
em um bar, mas nunca um deles tinha falado com tanta franqueza.
Naquele instante, realmente quis que ele fizesse comigo tudo o que
propunha, ah! Como eu queria ser tocada por ele, mas da forma como ele
colocava as coisas, deixava claro que pretendia apenas me usar para satisfazer
sua tara e isso era inadmissível, pois me fazia sentir como se fosse um objeto
descartável.
— Usar um short pequeno não faz de mim uma vadia. — Foi tudo que
consegui dizer.
— Eu não disse que você é uma vadia. Só quero te comer, e quero muito.
Venha comigo, você vai gostar. — Ele percorreu os dedos pelos cabelos negros,
em um gesto de nervosismo.
— Impressionante como os homens são babacas. Você não disse, mas está
me tratando como uma. Não vê isso?
A música romântica foi substituída por outra agitada. Bebi um grande gole
da minha cerveja, antes de voltar a fitá-lo.
— Vai se ferrar, cara! — Com isto, levantei-me e fui depressa para a pista de
dança quase vazia, juntando-me a Kate e Dean para me embalar ao sabor da
música eletrônica, sentindo meu corpo vivo, como há muito não sentia.
— Joshua Walker.
— Não, você me disse que ele era lindo, mas não um tesão.
Pela primeira vez em três anos, eu desejava ser possuída por um homem.
Entre uma música e outra, fazíamos pausas para beber cerveja, durante
uma das quais percebi que éramos o centro de todas as atenções. As pessoas
nos observavam atônitas, obviamente porque não estavam acostumadas a ver o
chefe deles ali, se comportando de forma tão jovial.
Vasculhei minha mente em busca do que ela estava falando, mas tudo o que
consegui foi relembrar o par de olhos azuis me fuzilando com luxúria.
— Não lembro.
— E daí? Dá pra ele, divirta-se. Se ele está te usando, usa ele também. Vai
ser um passo grande na sua recuperação.
— Ótimo. Vamos.
— Meu apartamento fica perto daqui. Vamos pra lá. Eu prometo respeitar
todos os seus limites. — Disse ele.
— Não dá. Eu acabei de te conhecer. Isso seria rápido demais para mim.
— Sinto muito. Isso não vai acontecer hoje. Quando eu estiver pronta, eu te
aviso.
Com a sensação de que ouvia passos por todo o apartamento, fechei os olhos
e me forcei a pegar no sono.
Acordei com olheiras imensas no dia seguinte. Após o banho, fucei minha
mala, ainda montada, em busca de algo adequado para o primeiro dia de
trabalho. Como era um trabalho braçal, achei que não teria importância usar
minhas roupas habituais e acabei dispensando os terninhos que comprei,
optando pelo meu jeans colado, uma camiseta de malha e botas de cano longo
sem saltos. Passei um pouco de maquiagem e estava pronta.
Na sala indicada, fui recebida por um sujeito muito alto e magro, com olhos
castanhos meio esbugalhados, que desfez o sorriso dos lábios, mostrando-se
sério e assumindo uma postura hostil, no instante em que me apresentei como
sendo a pessoa contratada pessoalmente pelo Sr. Walker. Pela forma como
agiu, como me olhou de cima a baixo, com julgamento, o sujeito deixou claro
que acreditava que eu fosse alguma vadia, que deu para o Sr. Walker em troca
do emprego.
Com o passar das horas, descobri que o chefe dos recursos humanos não
era o único imbecil ignorante por ali, todos os outros pensavam como ele, que
eu era a vadia que fodeu com o dono da empresa em troca do cargo, pois por
onde eu passava, empurrando o carrinho com café, havia pessoas me olhando
de soslaio, cochichando às minhas costas. Contudo, os ignorei totalmente,
empinando meu nariz e me empenhando em realizar meu trabalho fatigante.
Quanto a mim, dei uma boa olhada nele, extasiada com o quanto era lindo.
Estava com a barba bem-feita, os cabelos bem-arrumados, usando um terno
caro que parecia feito sob medida. Constatei, mais uma vez, que realmente era
o homem mais bonito sobre o qual já pousei os meus olhos.
Ao meio-dia, fui liberada por uma hora e meia para o almoço, quando fiz
uma refeição rápida no restaurante do condomínio, lembrando-me de que
precisava ir às compras ou no final do mês, meu salário ficaria todo no
restaurante.
Aconteceu quando fui levar café na sala da Srta. Walker, a mesma que não
me contratou para o cargo de estagiária. Encontrei-a conversando com uma
mulher de meia-idade, que ocupava a cadeira do lado de cá da sua mesa. Ao se
deterem em meu rosto, seus grandes olhos azuis se arregalaram surpresos, ao
passo que o sorriso se desfazia do seu rosto.
— Olá. Boa tarde. — Falei, muito sem graça, forçando meus lábios a
esticarem em um sorriso. — O Sr. Walker me contratou para servir o café. —
Merda! Eu não devia ter mencionado o pai dela, agora pensaria como todos os
outros.
— Como é?! — A Srta. Walker falou, com sua cara de nojo. — O meu pai
contratou uma funcionária sem me consultar e a senhora sabia disso?
— Amber.
— Obrigada, senhora.
— Você não conhece o pai que tem? Ele faz coisas que nem ele mesmo pode
explicar. — Virou-se novamente para mim. — Não dê confiança para essa gente
que fala o que não sabe. Apenas use algo mais adequado para o trabalho. Não
é recomendável sair por aí com o abdômen de fora. Vou pedir que providenciem
um uniforme para você. — Pegou sua bolsa cara de sobre a mesa da filha, de
onde tirou um pequeno bloco de anotações e uma caneta. — Qual o seu nome
completo para que eu mande providenciar o uniforme?
— Amber Mitchell.
Fui rápida ao segurá-la antes que caísse no chão e com a ajuda da filha, que
veio correndo ao seu socorro, a sentei de volta na cadeira estofada.
Mais tarde, fiquei sabendo por meio de uma das garotas que cuidava da
limpeza, que a Sra. Walker estava bem, tivera apenas uma queda momentânea
de pressão e foi medicada ali mesmo na sala da filha, sem que houvesse
necessidade de ir ao hospital.
À tarde, as pessoas pareciam beber mais café que pela manhã, pois tive
horas puxadas, correndo de sala em sala com o café quente, que embora
estivesse em garrafas térmicas, precisava ser trocado com frequência.
CAPÍTULO V
E Candice sabia disso, eu nunca escondi dela que tinha problemas, ainda
assim ela decidiu acreditar que seu amor seria suficiente para nós dois e que
conseguiria me mudar. O resultado da sua decisão foi chegar a um desespero
tão grande que a levou a cortar os próprios pulsos, passando muito perto da
morte.
A partir daquele momento, a culpa que me tomou foi tão imensa que decidi
procurar tratamento, mas para isto eu precisava me abster dela também. E cá
estava eu, solitário, sem vida fora do trabalho, porém, livre da minha
dependência por sexo, até esta tarde, quando tudo saiu do controle por causa
daquela maldita garota no elevador.
Eu precisava comer aquela garota, meu tesão por ela tinha florescido de
forma desenfreada. Uma garota que tinha fobia de ser tocada, obviamente por
ter sido violentada por algum vagabundo.
No bar, fui alvo de ainda mais olhares indiscretos, pois nunca tinha entrado
ali antes, contudo, eu só conseguia ver os olhares de cobiça que os outros
homens direcionavam a Amber, sentada sozinha no bar. Eu queria que matar
não fosse ilegal, para acabar com a raça de cada um daqueles que a desejava.
Quando ela me deixou sozinho no bar, indo para a pista de dança, quase
perdi a cabeça ao ver um dos marmanjos se aproximando dela e fui tomar o
lugar que já tinha demarcado como meu, ao seu lado. Mesmo detestando
dançar, eu dancei com ela, colocando-me muito perto, tão perto que podia
sentir o seu cheiro gostoso, o que contribuía para o crescimento da minha
excitação.
Durante o resto do dia, tentei localizá-la para indagar a esse respeito, mas o
dia foi cheio de compromissos, não restou tempo para mais nada que não o
trabalho. Ademais, eu precisava ter em mente que manter-me longe seria
melhor para mim, embora eu soubesse que não conseguiria, minha compulsão
era muito mais forte que eu, tanto que ao longo da minha vida cometi muitas
loucuras em nome dela.
— Isso nem me passou pela cabeça. — Ela não podia nem imaginar o que se
passava pela minha cabeça agora. — Venha, eu te levo pra descansar em um
lugar mais confortável. — Estendi-lhe a mão e ela escondeu as suas sob os
braços cruzados diante do corpo. — Claro, você tem fobia ao toque.
— Esse é o nosso mundo. Ninguém almoça bem por aqui. Mas tenho
suplementos emergenciais. — Enfiei minha mão no bolso do paletó, de onde
tirei duas das barras de cereais que costumava carregar para me dar energia
durante a rotina de trabalho. Estendi uma para ela. — Uma para mim, outra
para você. É cereal, ajuda a dar vigor e energia. — Quando ela recebeu a barra
da minha mão, sua pele roçou a minha, muito suavemente, o calor da luxúria
me invadindo como uma descarga elétrica que quase me fez avançar sobre ela.
Esperei pela sua reação exacerbada ao contato, mas não houve, finalmente ela
estava superando a fobia e isso me agradava muito. — E então, vai me dizer
porque mentiu pra mim?
— Você me disse que estava aqui para uma vaga de estagiária, no entanto,
está servindo o café.
— Me espanta me fazer uma pergunta dessas, já que foi você quem não
permitiu a minha contratação.
— Não seja hipócrita. Ela me dispensou e você disse que nenhuma decisão
era tomada aqui sem o seu consentimento.
A verdade era que Candice jamais mudaria. Mesmo que não tivéssemos nada
há anos e jamais voltaríamos a ter, ela continuaria com aquele joguinho que
sempre fez questão de jogar sozinha, armando das suas para afastar as outras
mulheres de mim, como se isso fosse possível.
— Nem morta. As pessoas aqui já estão dizendo que transei com seu pai
para conseguir o cargo de arrastar o carrinho de café, imagina se eu fosse
promovida tão depressa. Iam dizer que fiz uma suruba com o pai e o filho.
Não consegui conter o riso e soltei uma sonora gargalhada, como eu não
fazia há muito tempo.
— Eu ouvi o boato, mas não sabia que era você. Eu sei que meu pai não
teria um caso com uma garota da sua idade, ou mesmo mais velha. Mas ainda
não entendi essa coisa de ele ter te contratado pessoalmente. Ele nunca fez
isso antes. Vocês já se conheciam?
— Não. Nunca o vi antes, a não ser nas fotografias que eram exibidas nas
palestras sobre engenharia na faculdade. E também não entendi nada.
Eu podia gastar meus neurônios pensando naquilo, afinal, meu pai não
contrataria uma completa estranha, todavia, a imagem de Amber nua tomava
conta da minha mente, de modo que não havia espaço para qualquer outro
pensamento.
Qualquer outro homem no meu lugar a teria convidado para jantar, depois
lhe mandaria flores, até conseguir o que queria, mas eu tinha uma compulsão
que me fazia agir por instinto, sem pensar com a cabeça de cima.
CAPÍTULO VI
— Por favor não me toque! — Ela suplicou, seu lábio inferior tremendo, seus
olhos arregalados de medo.
— Shhh, fica calma, eu não estou te tocando. Está vendo? — Ela meneou a
cabeça afirmativamente. — Fica calma, respira fundo, eu não vou tocar em
você a menos que você se mova e esbarre em mim. — Puta merda! Aquele jogo
era excitante demais. Eu estava tarado por aquela garota, obcecado por fazer
sexo com ela e agora a tinha completamente sob o meu domínio. — Está mais
calma? — Minha voz saiu arrastada, devido ao crescimento da minha
excitação.
— Sim. Estou. — Para minha satisfação, a voz dela também estava ofegante,
deixando claro que também estava excitada.
— Eu prometo que não vou encostar minhas mãos em você. Mas lembre-se
que estou falando das mãos. — Ela engoliu em seco e abriu a boca para puxar
o ar. — Fecha os olhos. — Ela hesitou. — Confia em mim, fecha os olhos. —
Ela fechou e fiz o que meus instintos ordenaram, aproximando minha boca da
sua, quase a beijando, embora não o fizesse, pois sabia que isto a afastaria.
Afetado pela sua deliciosa proximidade, desci o meu rosto pelo seu pescoço,
mantendo-o muito perto, embora apenas o calor da minha respiração tocasse
sua pele, arrepiando-a. Continuei descendo e quando alcancei o seu sexo,
protegido pelo jeans, fechei os olhos e inalei profundamente, embriagando-me
com o cheiro gostoso da sua excitação, quando então não consegui mais me
conter. Fui para o seu abdômen à mostra e a provei com a ponta da minha
língua, deslizando-a do seu umbigo até o cós da calça.
Ela arquejou, um gemido abafado partindo dos seus lábios, o que serviu de
estopim para que eu perdesse o pouco do controle que me restava. Quando dei
por mim, minhas mãos já estavam abrindo o zíper do seu jeans, com uma
ansiedade crescente e Amber gritou como uma desesperada, arrancando-me do
meu estado de torpor. Ergui-me para fitá-la no rosto, quando vi seu olhar
perdido no infinito e soube que ela não via mais a mim e sim o cara que
supostamente a violentou. Estava em choque, se perdendo no poço negro para
o qual o pânico a puxava.
Imediatamente, tirei minhas mãos dela, afastando-me o suficiente para lhe
dar espaço.
— Calma, Amber, sou eu, Joshua. Olha pra mim. — Como se guiada pelo
som da minha voz, ela focou o meu rosto e foi se acalmando aos poucos. —
Isso, respira fundo. Tudo vai passar. — Minha consciência pesou ao vê-la
naquele estado por minha causa, por causa da minha libido desenfreada. Eu
era um bosta mesmo. — Me desculpe, eu não fiz de caso pensado. Eu não
queria te deixar assim.
— Tudo bem. Eu gostei do que você fez no início. — Ela tentou sorrir, me
surpreendendo com sua atitude, pois eu esperava que estivesse puta da vida
comigo. — Isso foi um grande avanço na minha recuperação. — Completou.
— É bom saber que fui útil. — Como aconteceu quando ela teve um ataque
de pânico no elevador, tive a certeza de que foi violentada e me perguntei quem
fez aquilo. Se existisse um instinto assassino dentro de mim, este acabava de
ser aflorado pelo maldito estuprador. Era bom que ele estivesse preso ou
morto, pois se o encontrasse, o estrangularia com minhas próprias mãos. —
Você foi violentada, não foi? — Indaguei, com cautela.
— Como?
Caralho! Eu não estava preparado para falar sobre aquilo com alguém que
apesar de exercer uma atração descontrolada sobre mim, era praticamente
uma estranha.
— Qual o seu problema. Você também foi violentado? — A naturalidade com
que ela falava de um tema tão difícil para si, me incentivou a me abrir.
— Não.
— Aversão ao sexo você não me parece ter. Então qual o seu problema?
— Não vai me dizer que você tem compulsão por sexo. — Ela continuava se
divertindo com a situação.
Por que todo mundo mencionava esse filme, quando ouvia aquela revelação?
— Bom, desde que você não esteja me comparando ao gordinho que colocou
uma câmera debaixo da saia da chefe, é isso, sou mais ou menos como eles.
Amber ficou me olhando em silêncio por mais um instante, até que caiu na
gargalhada.
— Puta que pariu, estou com pena de você, cara. — Ela voltou a gargalhar,
me enfeitiçando com sua espontaneidade. — Os caras do filme se ferraram.
— Pelo que entendi vendo os filmes, uma compulsão leva à outra. Com isto,
eu posso deduzir que, depois de me deixar na entrada do prédio ontem a noite
você... — Ela se deteve.
— Sim. Eu tive uma noite bastante agitada, mas acredite, eu não me orgulho
disso, muito pelo contrário.
— Minha nossa! Eu não sabia que essa coisa existia na vida real.
— E você se trata?
— Sim. Muito.
— E como você acha que pode me ajudar? Ir com você a uma terapia em
grupo, em uma sala cheia de tarados, não é bem o caminho para a minha
recuperação. — Ela arregalou os olhos, como se dando conta de algo. —
Desculpe, não quis chamar você de tarado.
— Não.
— Parece bom.
— Pode ser.
— Sim. É uma das poucas, entre os funcionários, que sabe. — Amber ficou
pensativa, com uma ruga se formando no centro da sua testa. — Sim, eu já
transei com ela, de tantas formas que você ia se espantar. Aliás, você se
espantaria com a quantidade de mulheres com quem já estive. Agora vamos, o
expediente já vai encerrar.
Deixamos a sala escura, caminhando lado a lado pelo corredor bem
iluminado.
— Aí está você. Estávamos indo para a sua sala. — Meu pai falou,
mostrando-se mais jovial que o normal. — E você, como está, Amber? — Sorriu
largamente para a garota, o que achei demasiado estranho, já que ele não
costumava se comportar de forma tão despojada.
— Não vão me apresentar? — Noah, meu irmão mais novo falou, fuzilando
Amber com olhos carregados de malícia, o que me irritou, pois Noah era o tipo
de cara que dava em cima de todas as mulheres bonitas que passavam por ele,
e o pior nisso era que geralmente conseguia o que queria. Diferente de mim, ele
tinha o controle sobre todas as situações e sabia manter um relacionamento,
até que este se tornasse cansativo, antes de partir para o próximo.
— Esta é Amber Mitchell, nossa nova funcionária. — Meu pai falou com
orgulho exorbitante. Logicamente ele gostava da garota e seria a favor de que
ela se envolvesse com o filho normal, não comigo. — Amber, esse é meu filho
mais novo, Noah.
— Olá, Noah. — Amber falou, retribuindo o sorriso que meu irmão lhe
direcionava, enquanto enfiava as mãos sob os braços cruzados, de forma
mecânica.
Meu irmão era um idiota, mas sabia ser cativante quando queria, e estava
conseguindo conquistar a atenção de Amber, o que me deixava furioso e em
completa desvantagem, já que era mais parecido com ela, tinha mais ou menos
a mesma idade, acabara de cursar a faculdade e apesar de vir se mostrando
brilhante no seu desempenho profissional na Prime, insistia em se vestir como
um surfista, com jeans e camiseta, como Amber.
— O que os traz aqui, a essa hora? — Perguntei, alterando o tom da voz para
capturar a atenção também de Noah e desviá-la da garota que eu queria.
Pela forma como agiu, concordando com a ideia de Noah ficar no saguão com
Amber, meu pai deixou claro que preferia ver a garota com ele, por ser o filho
que não a magoaria tanto quanto eu e minha anomalia. No entanto, meu pai
não tinha o direito de me julgar ou dar preferência a um filho em detrimento do
outro, pois a primeira regra para que se tivesse filhos adotados seria saber que
existe uma grande possibilidade de eles não serem pessoas totalmente normais
ou certinhas, já que carregam uma herança genética ruim, afinal, uma pessoa
completamente normal e boa não abandonaria seus filhos em orfanatos. No
meu caso, eu tinha o DNA de pedófilos filhos da puta; Candice era filha de uma
prostituta viciada em craque que passava mais tempo na cadeia que nas ruas.
Entre nós, Noah era o menos complicado, pois era filho de uma adolescente
que o abandonou na frente do orfanato apenas porque não tinha idade
suficiente para assumir a responsabilidade.
Apesar de tudo, meus pais nunca fizeram distinção entre nós, essa era a
primeira vez, mas tudo podia não passar de fruto da minha imaginação afetada
pela obsessão em ter aquela garota.
— Não posso falar. Uma das condições que ele exigiu foi que eu guardasse
sua identidade de todos.
— Foi a condição que ele exigiu, pai. Eu tive que aceitar porque ele era o
mais... digamos, adequado para o trabalho.
— Sim. Ontem. O novo projeto que minha equipe elaborou foi apresentado
pela Forx, mas não era o projeto verdadeiro. Fizemos este como isca e o outro
em sigilo, de modo que não fomos prejudicados.
— Exatamente.
— Não. Pode ser qualquer um. Desde o técnico de informática até o vice-
presidente. As informações estão nos computadores, basta acessar a fonte de
dados.
— Isso seria impossível, pois são muitos setores. O espião pode estar
infiltrado em qualquer um. Tentar implementar o sigilo em todos levaria o
plano ao conhecimento dele.
Meu pai não era um mentiroso, eu conhecia bem o seu caráter para ter
certeza disto, mas alguma coisa naquela história parecia não se encaixar.
Talvez o fato de que em meio aos problemas de vazamento de informações que
estávamos enfrentando, ele dificilmente colocaria uma completa estranha entre
nós. Por outro lado, Amber era encantadora e podia ter conquistado o afeto
dele também.
— Ela não é uma completa estranha. — Ele completou, como se fosse capaz
de ler os meus pensamentos. — Fez a faculdade de engenharia com uma das
bolsas que doamos aos menos favorecidos.
Isto não era justificativa, pois ele não conhecia o currículo dela quando
ambos se esbarraram na rua. Enfim, aquilo não parecia ter tanta importância,
diante do fato de que meu irmão certamente estava dando em cima dela agora.
Ao nos despedirmos dos outros dois, que partiriam de carro, houve uma
troca de olhares calorosa entre Amber e meu pai, o que teria passado
despercebido aos olhos de qualquer pessoa que não estivesse obcecado pela
garota e estudava cada um dos seus gestos.
CAPÍTULO VII
Era a primeira vez que eu voltava para casa sem pressa alguma depois de
um cansativo dia de trabalho. Pelo contrário, eu andava com muita lentidão
para prolongar o tempo perto daquela garota.
— Tirando a Candice, que aparentemente não foi com a minha cara, sua
família é maravilhosa.
— Nada de mais. Bobagens. Somos fãs das mesmas bandas de rock. Então
ele me convidou para um show com algumas dessas bandas que acontecerá no
sábado.
— Deveria?
— Ainda. — Completei.
— E nem teremos. Depois que me comer e satisfazer sua tara, você vai
procurar outra, ou outras, para amenizar a depressão que o sexo comigo vai
deixar em você. É assim que funciona. Pelo que sei, pessoas com compulsão
sexual não costumam ter relacionamentos duradouros. É assim com você
também?
— Sim.
— Só um.
— E o que aconteceu?
Amber levou as duas mãos à boca, seus olhos verdes refletindo perplexidade.
— Sim, eu tenho.
Seu queixo caiu e seus olhos se arregalaram. E quando esperei pelo seu nojo
e sua repulsa, ela simplesmente começou a sorrir, gargalhando alto, me
contagiando e me arrancando um pouco do meu estado de anomalia.
— Eu não vou te tocar, não muito. No máximo vou fazer uma massagem em
seus pés.
— Eu quero ficar com você, mas ainda não estou preparada. — Observou-me
em silêncio, como se esperasse que eu dissesse algo, mas, com a sua dispensa,
eu já estava elaborando mentalmente minha noite, imaginando onde iria
buscar a satisfação para a necessidade mais urgente do meu corpo. — Fica
quieto, quero tentar uma coisa. — Ela me surpreendeu ao dizer.
— O quê?
— Eu prometo.
Cada célula do meu corpo clamou pelo dela, por tocá-la, por tomá-la e fazê-
la minha ali mesmo na calçada, mas se a tocasse eu a afastaria. Então me
contentei com o que tinha, o que embora parecesse pouco diante do que eu
precisava, vindo dela era muito, e a beijei com toda a ferocidade da luxúria que
jazia em mim, enquanto todo o sangue do meu organismo parecia concentrado
na minha ereção.
— Podemos continuar.
— Você vai sair esta noite? — Ela indagou, como se fosse capaz de ler meus
pensamentos.
— Provavelmente sim.
Eu não podia ficar mais nenhum minuto diante dela, estava prestes a
explodir. Desejo, ansiedade, nervosismo, frustração, tudo me tomando ao
mesmo tempo, me massacrando.
— Tenho que ir. Até amanhã. — Com isto, a deixei a segui para o meu
apartamento.
AMBER
Após o banho relaxante, vesti uma camiseta de algodão que se estendia até o
meio das coxas, preparei um macarrão instantâneo e fiz a refeição enquanto
conversava pela webcam com Kate e Dean.
Puta merda! Como eu sentia falta deles, da descontração, da ausência total
de preocupação com as coisas sérias e problemáticas de uma vida na qual a
única regra era se divertir. Queria muito que eles estivessem aqui, pois me
sentia desolada e sozinha naquele apartamento tão grande. Mas a vida era
assim, nunca se podia ter tudo.
Após as horas de conversa, precisei falar com a minha mãe pelo telefone, já
que ainda não tinha internet na fazenda. Contei-lhe sobre o novo trabalho e
como sempre, tive a impressão de que ela não apoiava meu crescimento
profissional, ou então tinha uma bronca muito grande contra a Prime, pois
tentava a todo custo me convencer a não aceitar as ofertas da empresa, desde
que esta me ofereceu a bolsa de estudos. Porém, a menos que ela me desse
uma boa razão para a sua implicância, eu continuaria aproveitando as
oportunidades que a Prime me oferecia.
Tudo nele me atraí: seus olhos azuis sempre tão duros, seu rosto perfeito,
seu corpo grande e másculo, sua voz gostosa. Foi magnífica a forma como ele
me resgatou do poço escuro para o qual o pânico me puxava esta tarde, com
sua voz, depois de me deixar loucamente excitada com um contato tão simples.
O primeiro contato com um homem depois que fui violentada.
Mas não seria fácil adormecer. Eu não conseguia parar de pensar na forma
como Joshua correspondeu ao meu beijo antes de me deixar sozinha. Ele
quase devorou minha boca, com uma fome descomedida, despertando a
luxúria dentro de mim, me levando a pensar em como seria o resto. Eu devia
ter tentado, devia tê-lo deixado subir, talvez tivesse conseguido vencer os meus
medos e estaria me divertindo nos braços dele agora e não aqui sozinha, me
sentindo abandonada.
Rolei de um lado para o outro durante horas, sem conseguir adormecer. Até
que o som do toque do celular encheu o quarto e atendi sem olhar o número no
visor, pois apenas minha mãe me ligaria uma hora daquelas, com a sua
paranoia em se certificar de que eu estava bem.
— Não é sua mãe. — A voz grossa de Joshua partiu do outro lado da linha e
foi o suficiente para me desestabilizar, uma corrente de calor gostosa me
percorrendo.
Ocorreu-me que muito facilmente ele podia estar em um bordel, rodeado por
prostitutas e não resisti em falar.
— Acredite, não estou me divertindo nem um pouco aqui. — Sua voz estava
arrastada pela respiração ofegante e ao mesmo tempo parecia meio triste.
— No meu apartamento.
— Não. Na verdade, estou sozinho desde que cheguei. — Fez uma pausa
antes de continuar, talvez esperando por mais um comentário maldoso da
minha parte. — Eu decidi atender seu pedido e não saí, também não recebi
ninguém.
Meu coração bateu em ritmo descompassado por saber que ele me queria a
ponto de abdicar do seu vício para atender a um pedido meu. Eu podia
imaginar o quanto estava sendo difícil para ele.
— Imagino.
— Por favor.
— Por quê?
— Não sei. Acho que não estou acostumada a morar sozinha. E... — Hesitei
antes de continuar, me perguntando se minhas palavras não atiçariam ainda
mais a libido dele. Ainda assim, falei: — Estava pensando em você.
— Sério? Como?
— Não.
— Então me deixe imaginar que estou aí. Me diz o que você está vestindo.
Ele queria fazer sexo por telefone. Pensei sobre aquilo, perguntando-me se
não me levaria ao pânico, o que seria perigosamente mortal, já que eu estava
sozinha, entretanto, a ideia me pareceu excitante demais para ser rejeitada e
decidi arriscar. Se me sentisse mal, eu pararia.
— Estou usando uma camiseta branca e uma calcinha preta e você?
— Tirei.
CAPÍTULO VIII
— Eu ia gostar disto. — Falei, quase com um gemido.
— Eu sei... abre mais as pernas e enfia dois dedos na sua vagina. — Fiz como
ele disse e outro gemido me escapou. — Isso é bom, não é?
— Ah... sim...
— Você tá molhadinha?
— Sim.
— Então diga.
— Dizer o quê?
— Me pede...
— Espera. Não goza ainda. Tira os dedos da sua vagina e os leve à sua boca.
— Cega de luxúria, fiz o que ele disse, sugando os meus dedos lambuzados,
provando meu próprio gosto. — Me diz como é o seu gosto.
— É... bom...
— Ah! — Gemi alto. — Joshua, estou chegando perto... ah! Ah! Ah!
Porra! Aquilo foi muito bom. Foi como emergir de um mundo sombrio e
encontrar o prazer que há muito eu não tinha, sem que em nenhum momento
o medo do passado me assolasse.
— Você está bem? — A voz grossa, gostosa, partiu ainda ofegante do outro
lado da linha.
— Mas acontece que eu preciso dormir. Tenho um carrinho com café para
empurrar amanhã.
— Definitivamente não. Agora vou dormir. Boa noite. — Antes que ele me
convencesse a continuar com aquele jogo, desliguei o aparelho e ajeitei-me
sobre o colchão, minha boca insistindo em manter-se esticada com um sorriso
bobo.
Dois minutos depois, o celular tocou novamente. Desta vez tomei o cuidado
de olhar no visor antes de atender. Era Joshua.
— O que foi?
— Eu só queria dizer que foi maravilhoso gozar com você e que continuarei
com você no meu pensamento até pegar no sono.
— Foi maravilhoso pra mim também e com certeza vou pensar em você até
pegar no sono.
Com o meu corpo relaxado, minha alma mergulhada numa paz gostosa e
meus lábios curvados em um sorriso, livrei-me dos lençóis e me espalhei na
cama, muito à vontade com a minha nudez, como há muito não me sentia, até
que pouco a pouco fui adormecendo, sem que Joshua deixasse os meus
pensamentos nem por um instante sequer.
Como aconteceu no dia anterior, fui alvo dos olhares indiscretos dos demais
funcionários ao entrar no edifício da Prime. Ou ainda estavam cochichando
sobre meu suposto caso com o Sr. Walker, ou estavam falando das minhas
roupas, que consistiam em jeans colado, de cintura baixa, blusa de malha e
botas de couro sem saltos. Desta vez não deixei o abdômen de fora, mas como
não recebi o uniforme que a primeira dama disse que mandaria fazer para
mim, não vi necessidade de vestir algo diferente das minhas roupas de sempre.
E que se fodessem se estivessem falando de mim, nenhum deles pagava as
minhas contas.
Me perguntei se Joshua tinha falado a ela para fazer isto, já que me flagrara
descansando em um depósito.
Imagina se soubessem que fiz sexo por telefone com o tarado filho do dono,
aí sim, teriam o que falar.
Como não tinha visto Joshua durante todo o dia, em uma das ocasiões em
que fui levar café em uma sala no penúltimo andar, tomei a arriscada decisão
de dar um pulo na sala dele, nem que fosse para dizer um rápido oi. Então,
deixei o carrinho ali no andar anterior ao seu e hesitei várias vezes antes de
entrar no elevador, pois não sabia se ele ia gostar de me receber ali no seu local
de trabalho, talvez eu estivesse sendo inconveniente indo procurá-lo, mas o
fato era que eu não via nada de mais nisso, apesar de haver uma ligação
altamente sexual e nada sentimental entre nós, ainda podíamos ser amigos, eu
acreditava.
Como a secretária não estava lá para me anunciar, fui direto para a porta,
dei uma leve batida e, como não obtive resposta, girei o trinco e entrei, quando
então me deparei com uma cena tão absurda que precisei esfregar os olhos só
para ter certeza de que estava enxergando direito.
Joshua estava sentando atrás da sua mesa, com sua cadeira inclinada para
trás. Diante dele, quase montando-o, estava sua irmã Candice. Ela tinha uma
das pernas, que escapava da saia longa, encolhida sobre ele, pressionava seu
tórax no dele, enquanto tentava desfazer o nó da sua gravata muito devagar. O
rosto de ambos se encontrava muito próximos e a mão de Joshua estava na
perna desnuda dela.
Ciente disto, tentei sair antes que minha presença fosse notada, mas minhas
pernas pareciam petrificadas, recusando-se a me levarem para fora, ao passo
que minha mente girava, vários pensamentos invadindo-a ao mesmo tempo.
Não tive dúvidas de que ela o amava verdadeiramente e embora meu coração
sangrasse ao admitir, eu não podia me tornar um obstáculo no caminho dos
dois, que já tinham uma história.
— Nada. Vim só dizer um oi. Já estou de saída. — Virei-me pronta para sair,
quando Joshua me alcançou, surpreendendo-me ao tomar-me o caminho.
— Você tem uma reunião agora, não é? — Ele respondeu com uma frieza
cortante e entendi toda a situação.
— Então quer dizer que a Prime te paga pra servir o café e você fica aí
sentada olhando revista de moda!? — Disparou, seca e ríspida.
— E quanto a invadir a sala do meu irmão? O que você queria dele? — Desta
vez ela gritou e a raiva queimou em minhas entranhas, embora eu não
estivesse disposta a desafiá-la.
“O mesmo que você, vadia! A única diferença é que a mim ele teria comido e
não mandado sair da sala”. As palavras ecoaram em minha mente.
Estive muito perto de perder a linha, avançar para ela e dar-lhe as bofetadas
que merecia, mas era exatamente isso que ela queria que eu fizesse, a fim de
ter uma razão para me demitir, ou para me fazer desistir do emprego,
mantendo-me longe de Joshua. Mas eu não cairia no jogo dela. Não lhe daria
esse gostinho. Se tivesse que desistir da Prime, pelo menos sairia de cabeça
erguida.
— N-nós estávamos conversando... então Amber deixou o café cair e... — Ela
se deteve diante do olhar com que Joshua a encarou. Parecendo uma fera
raivosa, ele observou-me por um instante, para depois estreitar seus olhos
enfurecidos e duros sobre os delas, seu maxilar contraindo, uma veia pulsando
em seu pescoço com tanta ferocidade, que ficava visível.
Fiquei orgulhosa do homem que ele se mostrava ser por perceber o que de
fato acontecia ali, e não se deixar enganar pela mentira que ela tentava
inventar. Então, parei o que fazia para observá-los, embora continuasse no
chão.
CAPÍTULO IX
A fúria mortal voltou a reluzir nos olhos azuis de Candice, embora, diante de
Joshua, não destilasse seu veneno por meio das palavras.
— E você? O que faz aqui? — Ela perguntou, os olhos muito arregalados,
quase saltando das órbitas.
— Na verdade, vim buscar Amber para assumir o cargo de assistente que lhe
ofereci.
A mulher fechou as mãos com tanta força, que vi suas unhas crescidas
entrarem em sua carne. Era uma demente.
— Olha, Joshua. O que você viu aqui não é o que parece. — Apelou.
— Sim, mas...
Fitei diretamente o rosto abalado e muito pálido de Candice, antes der dar-
lhe as costas, junto com Joshua e deixarmos a sala, seguindo em silêncio pelo
corredor.
— Por que você deixou ela te humilhar daquela maneira? — Ele indagou,
com sua voz gostosa, quando já nos encontrávamos no elevador, subindo para
o último andar.
— Eu não queria arranjar problemas. Ela é a pessoa que contrata aqui e me
dispensou uma vez.
— Ninguém nessa empresa tem mais poder que eu. Ninguém pode te demitir
sem a minha permissão. Além do mais, ela não pode passar por cima do meu
pai e foi ele quem te contratou. Só não entendi porque ele não te deu um cargo
de acordo com a sua formação acadêmica.
Ele me encarou surpreso, para que em seguida sua boca linda se curvasse
em um sorriso fascinante.
— O quê?
— Foi Candice a garota que cortou os pulsos por não ter o seu amor.
— Pode. Mas não me sentirei culpado de novo. Ela sabia exatamente como
eu sou quando se envolveu comigo. Eu jamais a enganei.
— Mas você se sentiu culpado quando ela tentou se matar, ou não teria
decidido se tratar.
— Você sabe que minha libido é algo que eu não posso controlar. Mas com
ela não vai acontecer. Definitivamente não.
— Prática se adquire com o tempo. É importante que você saiba o que está
acontecendo atualmente na Prime e se adéque com a forma como estamos
trabalhando.
— Não. Eu tenho um detetive aqui que está atrás dele, mas isso é altamente
sigiloso, só quem sabe é minha equipe, os membros da minha família e agora
você.
— Mas eu sou quase uma estranha. Por que você está confiando tanto em
mim?
Imaginei o quanto a vida dele devia ser tensa, pois além de ter que lidar com
a sua compulsão, controlando-a durante todo o dia de trabalho, ainda
precisava elaborar estratégias para contornar coisas como aquela. Parecia
difícil, mas também parecia excitante, como um jogo, o qual eu estava
gostando de fazer parte.
— E sou. — Falei.
Ele percorreu os dedos pelos cabelos, como fazia quando estava nervoso, seu
olhar se perdendo um pouco de mim e percebi que não estava bem.
— Como foi sua noite ontem? — Indagou, colocando malícia no tom da sua
voz e, instantaneamente, o calor gostoso se manifestou entre minhas pernas.
— Foi bom pra mim também, mas acho melhor não pensar nela agora, ou
perderei o controle e preciso trabalhar. — Fez uma pausa, examinando a pilha
de documentos sobre a sua mesa, como se tentasse tirar a sua concentração
do assunto anterior. — Vamos fazer assim. Você vai precisar se organizar para
o novo cargo, estudar o que estamos trabalhando atualmente, pelo menos por
alto, já que é muita coisa. Então tire o resto da tarde de folga e faça isso. Vou
aproveitar para providenciar sua mesa na sala de Rebecca.
Que beleza, eu passaria o dia olhando para o par de peitos gigantes que ele
conhecia muito bem.
— Está bem.
Falou com tanta autoridade que não deixou espaço para contestação, mas
apenas para obediência e foi o que fiz, obedeci, retirando-me da sala. Na
antessala, Rebecca já me aguardava com os documentos que deviam ser
estudados e me perguntei em que momento ele dissera a ela para providenciá-
los.
Por meio do porteiro, fiquei sabendo que havia uma lavanderia no térreo do
edifício e foi para onde me dirigi com a cesta de roupas sujas. Me surpreendi
com a precariedade do lugar, em contraste com o prédio bem arquitetado.
Resumia-se em um cômodo pequeno, abafado, que mais parecia um calabouço
semiescuro, com as paredes manchadas, uma única lâmpada no teto baixo e a
fila de máquinas velhas. Meia dúzia delas. Com exceção da porta e de uma
pequena janela com persianas encardidas, não havia outra saída dali, de modo
que se o prédio pegasse fogo e houvesse muitas pessoas lavando roupas, mais
da metade morreria.
Foi inevitável, logo as lembranças daquele maldito porão, onde fiquei presa
por três dias, estavam de volta à minha mente, mas eu precisava me controlar,
não podia fugir todas as vezes que as recordações me abalassem.
Então, com os nervos à flor da pele, joguei as roupas em uma das máquinas
antigas, completei a quantidade de água adequada para o sabão líquido e a
liguei, o ruído fantasmagórico preenchendo o ambiente.
Com o meu corpo ligeiramente trêmulo pelo medo das lembranças que
aquele lugar escuro e abafado me trazia, recostei-me na parede fria recoberta
por azulejos, esforçando-me para conter a minha respiração, que se tornava
irregular devido ao pânico, quando de súbito houve um estrondo violento,
indefinível, partido de cima, do andar superior, para que em seguida a lâmpada
piscasse várias vezes, antes se apagar, deixando-me mergulhada na mais
completa escuridão.
Dominada pelo mais intenso pavor, corri para a porta, tentei abri-la, mas
não consegui, estava trancada, o que contribuiu para o meu total descontrole.
Vasculhei minha mente buscando me lembrar quem era Sam, tentei focar
meus olhos na sua imagem, o corpo muito grande e forte conta a luz que
entrava do corredor e não soube quem era ele.
Puxei em minha mente e por fim me lembrei, ele era o segurança noturno da
Prime, que de fato o Sr. Walker me apresentou. Estava diferente com o seu
uniforme.
— Ela não estava trancada. Deve ter emperrado. Isso acontece de vez em
quando.
— Minha nossa! Você teve muita sorte. Isso podia ter te matado.
Ele desviou a luz da lanterna para o teto, nos permitindo ver as falhas
deixadas pelo gesso.
— Não sei. Deve ter sido alguma infiltração no piso superior. Vou olhar isso
agora mesmo. — Fez menção de se retirar. — Você vem?
— Com certeza.
Deixando minhas roupas para trás, o segui para fora pelo longo corredor e
consegui voltar a respirar normalmente apenas quando entrei de volta em meu
apartamento, sentindo-me mais segura, embora não completamente.
Meu primeiro impulso foi ligar para Joshua e pedir que viesse ficar comigo,
pois me sentiria mais segura e protegida perto dele, entretanto, precisei me
conter, pois eu não podia telefonar para alguém toda vez que algo me
acontecesse. Aquilo provavelmente foi um acidente bobo, eu precisava aprender
a controlar o medo dentro de mim e deixar de ser dependente das pessoas, ou
acabaria me tornando um peso na vida daqueles que me cercavam.
Então, decidi não incomodar ninguém com os meus problemas e não liguei
nem mesmo para Kate, agindo como se nada tivesse acontecido.
Meu desapontamento foi colossal quando deram dez horas da noite e Joshua
não tinha aparecido. Por várias vezes, cogitei telefonar para seu celular, mas
me contive, afinal, ele podia estar com alguma mulher satisfazendo seu vício,
eu não ia dar uma de intrometida.
CAPÍTULO X
Ansiosa para ver o homem que ocupava meus pensamentos desde que me
deitei, joguei o vestido de volta sobre o corpo e corri para a porta, tomando o
cuidado de verificar pelo olho mágico antes de abri-la.
— Oi. — Ele disse, com um sorriso tão lindo que me contagiou e sorri de
volta.
— Oi.
Ele desceu os olhos brilhante pelo meu corpo, de cima a baixo, detendo-os
nos meus pés.
— Então, quer dizer que a garota que usa botas de cowboy o dia inteiro,
calça pantufas cor-de-rosa à noite.
Só então me dei conta de que, na pressa para abrir a porta, enfiei os pés nas
minhas pantufas de coelhinho confortáveis e fofas, que usava apenas quando
ninguém estava olhando.
— Eu fiz a planta deste prédio, mas ainda não tinha entrado em um dos
apartamentos. — Falou, examinando a sala, enquanto eu trancava a porta pelo
lado de dentro. — Está gostando daqui?
— A essa hora?
— Saí mais tarde da Prime. E precisava correr para gastar minhas energias,
ou não conseguiria me conter em vir aqui e não arrancar sua calcinha.
— Como você está indo com isto? — Um frio atravessou meu estômago,
temendo pela resposta.
— Com certeza.
— Os pedaços do gesso do forro. O cara que abriu a porta disse que pode ter
sido uma infiltração no piso superior.
— Meu Deus, Amber! Por que você não me ligou? Isso é muito grave!
— Sam. Ele é segurança noturno. Fomos apresentados pelo seu pai no dia
que fui contratada.
— E então?
— Eu nunca fui lá, mas confio em você. Amanhã vou falar com um dos
arquitetos para ver o que pode ser feito. Esse projeto no qual estamos
trabalhando está tragando todo o meu tempo.
— Concordo.
Quando fui pegar o prato sujo que ele usara de sobre o balcão para levar à
pia, ele tentou fazer o mesmo e suas mãos grandes cobriram as minhas, em
cima do objeto, o contato me parecendo surpreendentemente gostoso.
Fascinada pelo fato de, pela primeira vez em três anos, conseguir ser tocada
sem entrar em pânico, sorri satisfeita.
Sem afastar sua boca da minha, ele me ergueu do chão, me fazendo abraçar
seus quadris com as minhas pernas, nossos sexos se colando de novo e me
carregou para a pia, sentando-me, mantendo-se entre minhas pernas.
Suas mãos entraram novamente sob o meu vestido, alcançando meus peitos
livres do sutiã, seus dedos grandes massageando meus mamilos,
deliciosamente, e, movida por instintos, movi meus quadris para esfregar meu
sexo muito molhado no dele, por sob as roupas.
Ele trouxe sua mão para baixo, infiltrando-a na minha calcinha, tocando a
minha mais secreta intimidade e foi assim que, subitamente, travei, o pânico
me tomando com uma força assustadora, as lembranças daquele maldito
tocando meu sexo enquanto eu estava amarrada me assolando, meu corpo se
tornando frio, meu sangue gelando nas veias. Trêmula, cerrei os meus lábios e
espalmei minhas duas mãos no peito de Joshua, empurrando-o, mas era como
empurrar uma montanha rochosa e ele sequer se moveu, continuou buscando
meu sexo com os seus dedos, enquanto eu entrava em choque.
— Para! Por favor! — Gritei mais alto do que pudesse controlar e ele
finalmente se afastou, os olhos brilhando sobre os meus, expressando uma
mistura selvagem de fúria e luxúria, o maxilar contraído, os punhos cerrados,
o que contribuiu para o crescimento do pavor dentro de mim.
Fiquei ali paralisada, trêmula, o misto de pânico e desejo correndo pelo meu
sangue, minha respiração tão alterada que se tornava audível, meu coração
disparado no peito. Puxei o ar para meus pulmões várias vezes e soltei,
tentando me acalmar, conseguindo me conter aos poucos. Quando consegui
voltar a raciocinar, me dei conta do tamanho da merda que tinha feito. Joshua
estava tentado se recuperar da sua compulsão e eu o provocara,
desencadeando a sua reação exacerbada. Agora ele teria uma recaída ainda
maior e a culpa era toda minha. De novo. Puta merda!
Parecia loucura, mas olhei para ele e vi o homem mais sexy do universo, com
os cabelos molhados, as gotículas de água respingadas no tórax musculoso, os
olhos ainda um pouco mais escuros que o normal.
— Me desculpa por isso. — Ele falou, com sua voz branda, grossa, deliciosa
de ouvir e pegou sua camiseta do chão, vestindo-a. — Você não é a única que
está tendo seus limites testados aqui.
Invadida por um misto de piedade, afeto e algo mais que não consegui
definir, cedi a um impulso e corri para ele, abraçando-o pela cintura,
descansando minha cabeça em seu peito, me refestelando em seu corpo
grande.
Senti seu corpo enrijecendo contra o meu, tenso. Ele retesou os braços ao
longo da sua silhueta, depois passou os dedos entre os cabelos, nervoso, até
que por fim me abraçou de volta, relaxando um pouco.
— Você não devia me tocar. Já teve uma amostra de como posso reagir.
Devia se afastar de mim.
— Eu não quero me afastar. Confio em você. Sei que não me forçaria a nada.
— Ele estremeceu de encontro a mim e o abracei ainda mais apertado, alguma
coisa dentro de mim me dizendo que ele precisava daquele afeto que tanto me
despertava. — Dorme aqui esta noite. — Murmurei.
— Você sabe que eu não conseguiria passar a noite com você sem te atacar
de novo.
Ele fitou-me em silêncio por um instante, até que por fim concordou.
— Bem, quanto às roupas você pode usar uma das minhas camisetas de
dormir e um moletom, vão caber em você. Quanto ao banheiro, você já sabe
onde fica. — Sorri amplamente e ele retribuiu, meio surpreendido, muito mais
calmo e relaxado, quando pude presumir que talvez fosse a primeira vez que
alguém o tratava com carinho, sem julgamentos, devido ao seu problema e
talvez fosse apenas disso que pessoas como ele, ou eu, precisassem para se
recuperar.
— Não reclame se eu te atacar de novo, foi você quem colocou a fera na sua
cama.
Então, respirei fundo para me certificar de que minha voz não sairia trêmula
e comecei:
— Foi há três anos. Eu estava na faculdade e minha mãe quis que eu fosse
passar o Dia de Ação de Graças na fazenda com ela e meus avós.
— Sim.
— Mas tinha uma festa na véspera do feriado e eu não queria perder. Então
decidi ir à festa e depois dirigir à noite para estar na fazenda pela manhã. Mas
tinha um cara estranho nessa festa, observando-nos, certamente esperando
alguma das garotas sair sozinha e fui eu a sair. Ele me seguiu de longe até
uma estrada deserta, em algum lugar entre Tyler e Waco, e então jogou o carro
dele em cima do meu, me fazendo entrar no mato. Quase perdi a consciência
quando minha cabeça se chocou no volante, mas fiquei acordada durante todo
o tempo. Ele me tirou do carro, me amarrou e me jogou no porta-malas do dele.
Só parou quando chegamos à cabana, onde me manteve presa por três dias,
em um porão, com sede, com fome, com frio. E todos dias ele me... — Um
soluço escapou-me dos lábios e não consegui continuar, só então me dando
conta de que estava chorando.
— Eu...
— E vai continuar lá pelo resto da vida. Nunca mais vai fazer mal a você nem
a ninguém. — Afundou o rosto em meus cabelos, beijando-os afetuosamente.
— Você está segura agora.
Ali, agarrada a ele, um homem que tinha a alma tão quebrada quanto à
minha, sentindo-me reconfortada, eu chorei até pegar no sono.
CAPÍTULO XI
— Bom dia, Amber. Como você está? — Ele indagou, caminhando ao meu
lado para o lado de fora.
— Estou morando aqui. — Lembrei-me de que Joshua dissera que ele saiu
de casa, mas me espantava que viesse morar no condomínio para funcionários,
quando podia estar em um apartamento de luxo no bairro mais caro da cidade.
— Eu saí de casa. Me desentendi com minha mulher. — Completou.
— Eu sinto muito por isso. Espero que não tenha sido por causa dos boatos
que estão inventando sobre nós dois na companhia.
— Ah, não, imagina. Cecily sabe que eu jamais me envolveria com uma
menina da sua idade. Aqueles linguarudos me conhecem a ponto de saber
disso também. Esse falatório deve ser falta do que fazer.
— Quando se chega a uma certa idade, se olha para trás e percebe quanta
burrada fez na vida por causa de um casamento e se pergunta se valeu a pena.
— Eu tentava entender o que ele dizia. — E no meu caso, não valeu. Eu abri
mão de algo precioso por Cecily, pela estabilidade familiar e financeira, e depois
de um certo tempo cheguei à conclusão de que joguei minha felicidade no lixo.
Caramba! Eu podia apostar que ele teve uma amante, a quem abandonou
para manter o casamento e agora estava arrependido. Homens! Mesmo os mais
poderosos agiam como tolos.
— Eu acho que nunca é tarde para voltar atrás e tentar reaver a felicidade
perdida. — O que eu estava dizendo? Botando ainda mais lenha na fogueira
que o fizera deixar a esposa! “Destruidora de lares!” — Faz de conta que apenas
adiou a decisão certa e não deixou de tomá-la.
— Você acha mesmo isso? — Ele me fitou com muita seriedade nos olhos
verdes, como se uma garota de vinte e três anos tivesse sabedoria suficiente
para dar conselhos a um homem com mais de cinquenta.
— Eu acho, Sr. Walker. Corra atrás da sua felicidade, afinal, nunca é tarde
para isto. Não é o que dizem?
— Não ligue para eles, são uns alienados. — O Sr. Walker falou.
— Aí está você. Achei que não viria mais. — Ela falou, com uma jovialidade
que eu não esperava, levantando-se para vir ao meu encontro. — O chefão não
nos apresentou formalmente, mas faço isso, sou Rebecca Whitney. —
Estendeu-me a mão e a apertei.
A simpatia daquela mulher era surpreendente, pois ao olhar para ela antes,
eu podia jurar que não passava de mais uma perua metida, como Candice,
devido ao fato de que se vestia como uma, com os terninhos caros, saltos altos,
os cabelos negros sempre impecáveis.
— Eu sei. Você está certa. Eu vou mudar meu visual. Só que para isto
preciso receber meu salário primeiro. — Sorri, sem graça.
— Entendi. Bem, em todo caso, se você sentir necessidade de mudar antes
disso, me avisa, pois tenho muitas roupas, posso te emprestar algumas.
Ela falava com tanta franqueza e naturalidade, que não consegui me sentir
ofendida, pelo contrário, eu estava agradecida que estivesse se mostrando tão
prestativa, sem sequer me conhecer.
— Obrigada mesmo.
— De nada. — Com isto, voltou para o seu posto, dedicando sua atenção a
digitar algo no computador, enquanto eu me segurava para não perguntar por
Joshua, ansiosa por vê-lo, saber como ele estava naquela manhã, mas não abri
a boca a respeito, pois isso não ficaria bem para uma funcionária que ele
acabara de contratar.
Aproveitei que ainda não sabia o que tinha que fazer ali e continuei
estudando os documentos. Tratava-se de um projeto de construção de uma
usina hidrelétrica em Nevada, uma das maiores do país, cuja estrutura
precisava de muita precisão devido ao fato de que as regiões ribeirinhas eram
povoadas e tudo precisava ser feito de modo a preservar essa população. Era
um projeto tão arriscado, que dava medo de se envolver, pois o menor deslize
podia ser fatal para toda uma comunidade, por outro lado, esse risco chegava a
ser excitante para quem estudou Engenharia Civil.
Não fiz nada além de ler a papelada durante horas. Até que pouco antes do
meio-dia, executivos engravatados começaram a entrar na sala do presidente e
Rebecca me comunicou que aconteceria uma reunião, durante a qual eu devia
apenas observar para ficar por dentro do que era tratado. Me alertou ainda de
que nada do que fosse dito naquela sala, deveria sair de lá e compreendi que
aquela era a equipe de confiança de Joshua, entre os quais estavam seu pai e
seus dois irmãos, Candice e Noah.
A sala de Joshua se ligava diretamente à sala de reuniões, para onde todos
se dirigiram. Ele estava sentado na cabeceira da grande mesa, com lugar para
umas vinte pessoas, ao centro da sala ampla e bem iluminada. Parecia um rei
ocupando seu lugar de presidente, usando o terno caro, feito sob medida, com
os cabelos bem penteados, as feições sérias, muito compenetradas nos
documentos que examinava.
Ao erguer o olhar dos papéis e focar diretamente meu rosto, sentada ao lado
de Rebecca, na última cadeira da mesa, curvou os lábios em um meio-sorriso,
dando uma rápida piscadela, que não passou despercebida ao olhar astuto de
Candice.
Nós dois éramos os únicos na sala a usar roupas casuais. Como eu, ele
também se vestia de forma despojada, com jeans e camisa pólo.
Sua forma de se vestir era a principal característica que o diferia dos irmãos.
Fisicamente era bastante parecido, como se os Walker estipulassem um
determinado biótipo para as crianças que adotavam. Como Candice, Noah
tinha os cabelos loiros, bem curtos, com um corte da moda, meio arrepiados,
os olhos eram escuros e a pele bronzeada. Se portava de forma displicente e
parecia muito simpático.
— Exatamente.
— Ainda preciso falar com meus amigos. Você não se importa se eles vierem
junto, não é?
— Ok, fico no aguardo. Se cuida. — Com isto, seguiu a fila de executivos que
deixava a sala, apenas Candice permanecendo sentada à mesa, organizando
uma papelada, ou fingindo organizá-la para prolongar sua estada ali e dar um
jeitinho de ficar sozinha com Joshua depois que todos saíssem. Eu conhecia
bem esse tipo de joguinho feminino, fui mestre nele no passado.
Eu poderia ter recusado para evitar que a loira se sentisse ainda mais
magoada, mas quem podia resistir ao convite daquele homem? À chance de
ficar perto dele por alguns minutos? Nenhuma mulher com sangue nas veias
seria tão forte.
Sentei-me, imaginando o quanto ele era pretensioso por pedir almoço para
dois antes mesmo de me convidar, certo e seguro de que eu aceitaria. Ou se
não aceitasse, talvez convidasse outra.
O pensamento me incomodou.
— Eu sei. — Fez uma pausa, uma ruga se afundando na sua testa. — O que
você estava conversando com meu irmão?
— Nada de mais. Ele me lembrou do show que vai ter no sábado. Perguntou
se eu iria.
— E você vai?
Me recusei a me iludir a acreditar que ele pudesse estar com ciúmes, embora
em meu íntimo eu desejasse que fosse verdade, o que não teria o menor
fundamento, já que o irmão, apesar de sua boa aparência, não chegava aos pés
do homem que ele era. Nenhum outro chegava. Joshua era simplesmente a
fantasia mais secreta de uma mulher transformada em ser humano. Tudo nele
me atraía e me excitava, desde o seu sorriso carismático, ao seu olhar
penetrante. Não podia haver outro como ele.
— Você acha que devo mudar meu visual agora que sou sua assistente? Me
vestir de maneira mais sóbria e social? — Indaguei.
— Não mude nada. Deixe que reparem. Além do mais, eu adoro o seu cabelo
assim. É lindo.
— Com Rebecca?
— Eu sei. Mas sou um benfeitor também. As duas agora estão casadas e fui
eu quem as apresentou.
— Rebecca é lésbica?
— Ela era bissexual na época que eu a comia. Acho que agora escolheu um
lado apenas.
— Fico feliz em ser sua cobaia. — Disse sorrindo, para depois ficar sério. —
E você foi a minha primeira.
— Primeira o quê?
— A primeira mulher com quem consegui dormir sem ter relações sexuais.
Obrigado por me ajudar a manter o controle.
Eu não sabia de onde saía tanto documento para digitar, mas o fato foi que
eles me ocuparam durante toda a tarde. Neste período, Candice esteve na sala
de Joshua por duas vezes, permanecendo por horas lá dentro, quando tive
quase certeza de que tentava levá-lo ao descontrole, e me senti
verdadeiramente temerosa de que conseguisse.
— Sim.
— Eu te acompanho.
— Tudo bem.
Rebecca nos observou por um instante, deslocando seu olhar do rosto dele
para o meu, do meu para o dele, para em seguida apressar-se em sair antes
que eu terminasse de organizar minha mesa.
— Meu pai me convidou para jantar com ele. Você gostaria de vir junto? —
Joshua indagou assim que entramos no elevador.
— Ótimo.
CAPÍTULO XII
Perto deles, me senti acolhida, querida, envolvida por sentimentos bons que
os dois conseguiam me despertar, como se eu também fizesse parte da família.
Foi uma noite encantadora, tão agradável que não vi o tempo passar. Era
mais de dez horas da noite quando retornamos ao condomínio. Joshua deixou-
nos diante do prédio e seguiu para o seu apartamento, plantando-me a
incerteza se o veria ainda aquela noite ou se sairia para buscar satisfação para
o seu vício. A insegurança em relação àquilo me incomodava muito mais do
que eu gostaria, mas foi dissipada no instante que me deitei, pronta para
dormir e o telefone tocou, meu coração disparando no peito ao ver seu número
no visor.
Não era a coisa mais romântica de se ouvir, mas partindo de Joshua Walker
era como dançar tango nas nuvens, considerando que, mais uma vez, ele
conseguia manter o autocontrole, abrindo mão de ir se refestelar na noitada
atrás de sexo devasso e em grande quantidade, para ficar comigo, mesmo que
apenas por telefone.
As causas para esta compulsão eram diversas, no caso de Joshua foi o fato
de que ele fora molestado durante a infância, pelos pais adeptos da pedofilia e
como todos os pacientes portadores desta compulsão, podia alcançar a cura
definitiva, com risco de recaídas acarretadas por ansiedade aguda e outros
estresses que o levassem aos traumas da infância.
Como ainda era cedo e o dia estava belo e ensolarado, decidimos aproveitar o
resto da tarde para caminharmos no White Rock Lake Park, apreciando as
sombras das árvores, o cheiro de ar puro, a vista magnífica do lago. Sentamo-
nos sobre a grama verde, recostados no tronco de uma árvore centenária e nos
beijamos até perder o fôlego, antes de descansarmos nos braços um do outro,
apenas observando a beleza do lugar, aproveitando a tranquilidade que ele
oferecia.
— Isso o quê?
— Pra ser sincero, não me lembro de ter sido tão feliz antes.
Meu peito inundou de contentamento, mas não resisti em fazer uma
brincadeira.
— Com isto, você está me dizendo que namorar é melhor que transar?
Ele sorriu de lado, de um jeito meio safado, que deixou minha calcinha um
pouco mais molhada e falou:
Mais tarde, Joshua recebeu um telefonema do pai, avisando que tinha feito
uma viagem de última hora, sem revelar o destino, o que o deixou preocupado
e lembrei-me da conversava que tivemos, quando deduzi que supostamente o
Sr. Walker tivera uma amante no passado. Perguntei-me se não teria ido
procurá-la nesta viagem, seguindo os meus conselhos. Contudo, nada falei a
Joshua, para não estragar a sua paz.
— Sim.
Com meu coração disparado por causa da adrenalina, busquei Rebecca com
meus olhos e a vi grudada no muro do lado de lá da calçada larga, muito
trêmula e pálida.
Busquei algum possível ferimento em meu corpo, mas felizmente não havia
nada além de um arranhão no joelho, por sob o jeans rasgado.
— Ele deve tá muito doido pra fazer uma coisa dessas. Logo vai cometer
outra tolice e a polícia o apanha. — Outro estranho falou.
Passei toda a tarde com aquelas sensações ruins no meu coração. Sentindo
que Joshua estava se esbaldando nos braços de outra ou outras mulheres, o
que não era da minha conta, mas ainda assim me enchia de tristeza. E
sentindo uma energia negativa que parecia me rondar, atraindo coisas ruins,
como aquele carro dirigido por um louco. Eu precisava fazer alguma coisa por
mim mesma, não podia ficar ali remoendo meus problemas. Sair com Kate e
Dean para tomar algumas cervejas não resolveria as coisas, mas me faria
esquecê-las. Assim, liguei o computador e chamei Kate na webcam.
— Está fazendo o quê? — Perguntei, quando ela apareceu com cara de sono
na tela.
— Ainda tem gás pra hoje à noite? Estou a fim de sair. Não aguento mais
isso aqui.
— O que houve? — Não quis falar a ela sobre os meus problemas para não
contaminá-la com o meu baixo-astral.
— Acho que é solidão. Saudade das nossas farras. Depois de umas cervejas,
eu melhoro.
— Deixa isso com a gente. Você prefere que vamos a Dallas ou você vem?
— Já volto.
— Estou com Kate na web. Vou falar com ela. Fica na linha.
— Ok.
— Kate o que acha de irmos a um show com várias bandas de rock, inclusive
a Royal Bood, no Makerspace esta noite?
Kate quase pulou no sofá.
— Do chefe gostoso?
— Ahan.
— Diga a ela que tenho quatro ingressos. — Noah falou, deixando-me saber
que podia ouvi-la, inclusive ouviu a parte do chefe gostoso. Mas eu tinha
certeza que não era a primeira vez que Noah ouvia uma mulher se referir a
Joshua com um adjetivo como aquele.
— Kate, ele tem quatro ingressos. Será que Dean topa ir?
— Se ele topa?! Menina, ele vai surtar com uma notícia dessas! Um show de
rock no Makerspace é quase o sonho americano.
— Você ouviu isso, Noah? — Perguntei. — Eles topam. Que horas você vem
me pegar?
— Está sim.
CAPÍTULO XIII
Merda! Eu devia ter agido como um covarde e comprado as terras deles por
um preço abaixo do custo, assim estaria livre desses problemas.
Era noite quando cheguei de volta a Dallas. Ansioso por ver Amber, a mulher
que se tornou o bálsamo para as minhas dores, o calmante para a minha
ansiedade e o alvo da minha obsessão. Fui direto para o apartamento dela no
Prime Condominium, constatando que ela não estava.
— Fala mais alto, não estou te entendendo. — Ela gritou e percebi que não
estava me ouvindo.
Droga!
Imaginei Noah pondo suas mãos nela e a fúria cega me tomou, de modo que
desliguei o aparelho de supetão, quase o esmagando. Puxei o ar para os meus
pulmões e soltei devagar, tentando me acalmar, afastando a ansiedade que
poderia me levar por caminhos perigosos. Cogitei ir até o maldito show
procurá-la, mas eu não podia interferir na sua vida desta forma. Amber era
jovem, linda, inteligente, merecia ser feliz e eu não podia dar essa felicidade a
ela, já que não passava de um doente fodido, mas o meu irmão podia. Noah
podia ser considerado o cara normal da nossa família, sem distúrbios
emocionais, pacífico e bom, isso sem mencionar que combinava perfeitamente
com Amber, era possível enxergar isso claramente quando os dois estavam
juntos, afinal, tinham a mesma idade, se vestiam da mesma forma despojada e
tinham os mesmos gostos. Ele era o homem certo para fazê-la feliz e eu não
tinha o direito de interferir nisso, pois só lhe levaria problemas.
Minha presença em sua vida acarretaria seu sofrimento, essa era uma
certeza que eu tinha. Ela me queria assim como eu a ela, eu sabia disso da
mesma forma que estava ciente também de que seríamos um do outro, sem
que eu me envolvesse, pois eu nunca me envolvia, esse era meu carma, mas
ela talvez se envolveria. E mesmo que a teoria do psiquiatra estivesse errada e
eu conseguisse manter um relacionamento com ela, em algum momento eu
teria uma recaída, a deixaria para ir a procura de satisfação nos braços de
outras que nada representavam para mim. Não importava em quanto tempo, o
fato era que aconteceria e qualquer mulher que se envolvesse comigo
terminaria como Candice, ou pior.
Merda! Merda! Merda! Por que as coisas tinham que ser assim? Por que eu
tinha que ser esse maldito filho da puta anormal que não possuía o controle
sobre si mesmo? Amber não era uma garota qualquer, eu a queria de uma
forma diferente, especial, com carinho, como eu jamais me senti em relação a
outra mulher. Não era apenas tesão, embora meu tesão por ela fosse
absurdamente grande. Entretanto, gostar dela de uma forma diferente, não me
dava o direito de ir lá e estragar as coisas entre ela e meu irmão, estragar uma
chance que ela tinha de ser feliz.
Por fim, perdi o controle e fui para o meu quarto correndo. Rapidamente,
troquei o moletom por jeans e jaqueta. Ainda correndo, fui para o meu carro e
deixei o condomínio, indo para o local do show. Que se fodesse o mundo, que
se fodesse tudo, Amber seria minha e não me importava o resto.
Assim, procurei incansavelmente, por cada metro quadrado do lugar, até que
a avistei de longe, linda como uma miragem, usando um vestido preto muito
curto e justo e as botas que a deixavam ainda mais atraente, irresistivelmente.
Dançava em um ritmo frenético com seus cabelos cacheados, rebeldes,
balançando de acordo com os seus movimentos. Não havia um só homem por
perto que não olhasse para ela, com cobiça, atiçando a raiva dentro de mim,
dando-me a sensação de que cobiçavam algo que me pertencia.
Noah e o casal de amigos dela dançavam ao seu lado e uma veia pulsou mais
forte em meu pescoço quando meu irmão segurou-lhe a mão para ajudá-la a
rodopiar. Pelo visto, ela não tinha perdido a fobia só pelo meu toque.
Avancei para eles como uma fera descontrolada, cego pelo sentimento de
posse que eu não fazia ideia de onde vinha. Sem pensar, me inseri entre ela e
Noah, afastando-os, tomando-a em meus braços, buscando sua boca com a
minha, com uma sofreguidão meio louca. Eu não queria apenas beijá-la,
embora todo o meu corpo suplicasse por isto, eu queria também mostrar ao
meu irmão a quem ela pertencia.
Pega de surpresa, Amber manteve os lábios cerrados, atônita, tentando
entender, até que aos poucos se rendeu e me beijou de volta, sugando minha
língua, colando seu corpo no meu, despertando o animal que existia dentro
mim, uma forte corrente de calor me tomando inteiro, minha ereção se fazendo
firme e dolorida.
Nos beijamos até quase perder o fôlego. Quando a soltei, ela fitou-me no
rosto com seus olhos verdes brilhantes, carregados de luxúria e de afeto,
abrindo a boca para puxar o ar, sorrindo amplamente, o contentamento
evidente nas suas feições.
Por Deus! Como ela era linda. Tinha um tom de pele dourado como eu nunca
vi antes, seu rosto era perfeitamente desenhado, com traços delicados e
femininos, contrastando com os cabelos selvagens, cacheados, que me
fascinavam.
Olhei para o meu irmão, que interrompeu sua dança para nos observar, os
olhos brilhando de raiva, o cenho franzido.
— Foi mal, cara. — Falei, dando-lhe um tapinha nas costas, mas ele
continuou emburrado, embora voltasse a dançar.
Ela sorriu ainda mais amplamente, seus olhos brilhando sobre os meus e
voltou a me abraçar, enterrando seus dedos nos meus cabelos na altura da
nuca, torturando-me com um tesão que não seria saciado, mas era uma
tortura prazerosa que eu queria demais, como tudo o que vinha dela.
Apenas quando nos desgrudamos de novo, percebi que éramos alvo da
observação dos seus amigos, quando então, Amber nos apresentou
formalmente.
Ela soltou uma gargalhada e voltou a dançar, balançando o corpo com muita
sensualidade dentro do vestido pequeno, atiçando a luxúria que me tomava.
Eu detestava dançar, mas para ficar perto dela sem estragar sua diversão,
eu arrisquei alguns passos e passamos a nos mover juntos, muito próximos,
como fizemos no bar do condomínio, com a diferença de que desta vez eu podia
tocá-la, seu corpo roçando no meu de vez em quando, deixando-me cada vez
mais excitado, enquanto Noah continuava nos observando muito emburrado.
Amber sabia como deixar um homem louco e estava fazendo isso comigo,
esfregando seu corpo no meu enquanto dançava, cada homem que passava por
nós me invejando. As luzes coloridas partidas em flashes do alto da pista de
dança a deixavam ainda mais irresistível, muito sexy, com seus cabelos
selvagens balançando de acordo com os movimentos. Eu estava totalmente
enfeitiçado, sem conseguir desviar meus olhos e minhas mãos dela.
— Obrigado.
Apesar de o rock não ser meu estilo preferido de música, me diverti como em
poucas ocasiões, dançando com Amber, beijando-a e abraçando-a, sem ver o
tempo passar. Era bem tarde, quando finalmente tocaram uma música lenta e
juntei-me a ela para nos embalarmos ao sabor da canção, abraçando-a pela
cintura, puxando-a para mim, seu corpo quente e gostoso colando-se todo ao
meu, de cima a baixo, suas mãos alcançando a minha nuca, acariciando-a, seu
cheiro gostoso me inebriando e o mundo à nossa volta simplesmente parecia
ter deixado de existir.
Movido por meus instintos mais primitivos, levei minha boca à pele macia do
seu pescoço, deslizando os lábios ali, sentindo seu braço arrepiando de
encontro ao meu. Necessitando de um contato mais íntimo, como um viciado
necessitava da sua droga, busquei sua boca com a minha e a beijei com aquela
fome descontrolada que jazia dentro de mim, apertando-a com mais força,
pressionando minha ereção no seu ventre liso, por sob as roupas, engolindo o
gemido que partiu da sua boca.
Ela sorriu.
— Eu fiquei chateada por você ter saído sem me dizer para aonde ia.
— Eu sei.
Ela plantou uma trilha de beijos da minha orelha até meu queixo,
mordiscando-o levemente, deixando-me a ponto de explodir dentro da calça.
— Ah... Amber, eu te quero esta noite, não me faça esperar mais, estou a
ponto de ficar louco. — Foi a minha vez de beijá-la, desta vez na orelha,
passando a ponta da minha língua. — Vem comigo, vamos pro meu
apartamento.
Ela afastou-se para trocar algumas palavras com os amigos e com Noah, que
já não parecia tão furioso dançando com a garota morena, depois segurou-me a
mão, para que juntos deixássemos o lugar, abrindo passagem por entre as
pessoas.
Movido pelo tesão insano que me engolfava, enfiei minha mão sob a saia
curta do seu vestido, acariciando o interior da sua coxa, subindo até o seu sexo
quente, tocando-o por sob o tecido delicado da calcinha, sempre esperando que
ela me impedisse, mas em vez disso ela arquejou excitada, o que incentivou-me
a continuar.
Minha nossa! Como era bom senti-la, saber que ela seria minha.
Sem afastar minha boca da dela, eu usei minhas pernas para abrir as suas e
introduzi um dedo na sua vagina quente, molhada e apertada, quando então
ela arfou novamente, deixando claro que estava pronta para mim, sem que
palavras fossem necessárias para que eu soubesse.
Amber abraçou meus quadris com suas pernas, a saia do seu vestido
subindo até a cintura, seus dedos se enterrando nos meus cabelos, como se me
desse autorização para seguir em frente.
— Você quer que eu continue? — Sussurrei contra a sua boca, apenas para
ter certeza.
E foi assim que entrei nela, me enterrando devagar, inteiro, até a raiz, sua
vagina apertada engolindo o meu pau, tão deliciosamente, que um gemido alto
saiu dos meus lábios, misturando-se com o dela.
— Puta merda! Como esperei por esse momento. — Minha voz saiu num
grunhido.
Movido pela lascívia, puxei meu pau e o enterrei novamente no seu canal
estreito e quente, desta vez com força, minha pélvis chocando-se com a sua,
um gritinho saindo da sua boca. Estoquei novamente e novamente, até chegar
ao ponto que não conseguiria parar enquanto não alcançasse a minha
satisfação, o que não demoraria muito, já que eu estava excitado demais,
esperando por ela há tempo demais.
CAPÍTULO XIV
Por Deus! Como eu tinha esperado por aquele momento, por ser possuída
por ele e agora que meu corpo finalmente aceitava ir até o final, eu nunca mais
queria parar, queria e precisava tê-lo dentro de mim, como uma viciada
necessitava da sua droga.
Joshua interrompeu o beijo para levar sua boca à pele do meu pescoço,
plantando um rastro de beijos e lambidas de lá até o meu colo, mordiscando
um dos meus peitos por sobre a malha do vestido. Depois, fitou-me
diretamente no rosto, seus olhos mais escuros que o normal, suas feições
contorcidas de prazer, sua boca linda aberta para puxar o ar.
— Porra, gata, isso vai ser muito rápido... eu estou com muito tesão. —
Falou, a voz arrastada pela respiração pesada. — Goza comigo, Amber...
Ele não precisou falar duas vezes, enlouquecida, abri um pouco mais
minhas pernas, recebendo-o ainda mais fundo, mais duro, mais gostoso e foi
assim que cada músculo do meu corpo se retesou, para que depois o êxtase me
arrastasse, me fazendo vibrar e convulsionar em seus braços, gozando muito
gostoso, sentindo-me verdadeiramente viva.
Eu começava a ficar mole, quando chegou a vez de ele gozar e o fez, soltando
um único gemido, seus espasmos se fazendo dentro de mim tão fortes, que
pude senti-los contra as paredes da minha vagina e explodi novamente,
gozando pela segunda vez, como uma descontrolada, enquanto seu sêmen me
enchia, quente e viscoso.
Sem se retirar do meu interior e sem que eu esperasse, ele nos levou para a
frente do carro, deitando-me de costas sobre o capô, seus olhos fervorosos
presos aos meus, devorando-me com fome.
Ergueu o seu corpo e deu uma única estocada dentro de mim, deixando-me
saber o quanto ainda estava duro, o que foi suficiente para que eu perdesse o
juízo de novo e não conseguisse mais assimilar qualquer pensamento, mas
apenas sentir, e o sentia me tomando toda com sua selvageria e sua deliciosa
masculinidade.
Usou as duas mãos para descer meu vestido até a cintura, desnudando
meus seios, observando-os com cobiça, a expectativa de sermos apanhados a
qualquer momento deixando tudo ainda mais excitante.
Levou a boca para o outro peito, ao mesmo tempo que enterrava seus dedos
nos meus cabelos, no ápice da minha cabeça, fazendo pressão para baixo,
enquanto empurrava seu pau dentro de mim, de modo que eu estava toda
tomada por ele, frágil e subjugada sob seu corpo grande, prisioneira do meu e
do seu desejo.
Joshua chupava meus peitos com uma fome descomedida, a medida que
metia em mim cada vez mais forte, mais fundo, enlouquecendo-me de prazer.
Agindo como o esfomeado que era, Joshua colocou um dos meus peitos na
boca, chupando e lambendo ao mesmo tempo, deixando-me ainda mais doida,
suas mãos me ajudando a me mover em seu colo, em um ritmo cada vez mais
acelerado, a luxúria me dominando, me fazendo incendiar, até que tudo se
concentrou na altura do meu ventre e eu explodi mais uma vez, gozando em
cima dele, convulsionando descontroladamente.
Desta vez, Joshua gozou junto comigo, seus espasmos se misturando aos
meus, seu rosto muito lindo contorcido de prazer, seu leite quente me
enchendo um pouco mais, até que ficamos moles no assento e sorrimos juntos,
tomados pelo mais perfeito júbilo.
Sua outra mão passeou pelo meu corpo seminu, devagar, mas quando
recomeçávamos os movimentos, o farol de um carro estacionado diante do dele
bateu sobre nós e tivemos que parar, ou seríamos presos por atentado ao
pudor.
— Precisamos sair daqui. — Ele falou, com bom humor, seus olhos
brilhando como duas joias preciosas.
— Desde que vim pra Dallas. — Ele fitou-me, ainda mais surpreso. — Nunca
se sabe, né? — Completei, dando de ombros.
— Esse lugar me faz lembrar aquela cidade perdida do filme “Kongo”, com
todos aqueles olhos nas ruínas para avisar de que os intrusos estavam sendo
vigiados. — Falei e Joshua soltou uma sonora gargalhada.
— Disponha.
No instante que fechei a boca, ele avançou para mim, agarrando-me pela
cintura, tomando-me a boca em um beijo esfomeado que me deixou sem fôlego,
suas mãos grandes passeando pelo meu corpo, se infiltrando sob o meu
vestido.
— Agora quero te comer bem devagar, bem ali, naquele sofá. — Virou-me de
costas para si, lambendo minha orelha por trás, enquanto cobria meu peito
com uma mão por sobre o vestido e enfiava a outra sob minha saia,
despertando o calor gostoso que se alastrava depressa pelo meu sangue
agitado. — Não reclame se ficar dolorida por uns dias, vou te dar uma pequena
lição por me fazer esperar tanto tempo. — Com isto, deu um tapinha na minha
bunda, arrancando-me um gritinho de susto, ao mesmo tempo que puxava
meus cabelos por trás, escorregando sua boca molhada pela minha garganta,
pressionando meu sexo por sobre a calcinha.
Senti sua ereção se formando contra minha bunda e a pressionei contra ela,
louca, excitada, quando de súbito, Joshua me soltou, afastando-se.
— Não estou com fome. Não de comida. — Seus olhos brilharam sobre os
meus.
Sem separar sua boca da minha, usou o seu corpo grande para me conduzir
até o sofá e acomodar-me sobre o estofado de couro, inclinada sobre o braço,
quase deitada. Depois, desnudou os meus seios, escorregando o vestido para
baixo e colocou sua boca deliciosa em um deles, mordendo meu mamilo duro
antes de chupar.
Com isto, apoiou uma das minhas pernas, encolhida e ainda com a bota, no
espaldar do sofá, afastando a outra para o lado oposto, até que o salto da bota
tocasse o chão e assim, sob meu olhar, trouxe sua boca para mim, lambendo-
me bem ali no meio das pernas, com muita experiência, sua língua ávida se
movendo depressa sobre meu clitóris, antes que seus lábios o sugassem de
leve, levando-me à beira da loucura, a uma insanidade gostosa, da qual eu
nunca mais queria sair.
Eu gemia alto, enquanto observava Joshua chupando a minha boceta com
maestria, enlouquecendo-me de prazer, me tornando uma viciada, uma
devassa. Em algum momento, ergueu seu olhar para fitar o meu rosto, quando
pude ver o brilho de satisfação brincando na sua expressão, deixando claro que
ele sabia exatamente o estava fazendo comigo, era mestre naquela arte.
Cada vez mais tomada pela luxúria, eu enterrei novamente meus dedos em
seus cabelos curtos, puxando-o mais para mim, meu corpo se contraindo
inteiro, anunciando a chegada do gozo, quando então ele parou, trouxe sua
boca para a minha e quase me devorou, sugando minha língua como um
esfomeado.
— Agora me mostra o que você sabe fazer com essa boquinha. — Ele
levantou-se, livrando-se muito rapidamente do seu jeans e da cueca, o pau
muito duro saltando para fora. Era maior do que eu tinha constatado, muito
grosso, com veias protuberantes, tão atraente que me dava água na boca.
— E é todinho seu.
Chupei com uma fome quase descontrolada, levando-o até o fundo da minha
garganta, trazendo de volta, refazendo o percurso, para depois passar minha
língua ao redor, no saco e recomeçar tudo, extasiada com o tamanho e com o
sabor.
Entre um gemido e outro, Joshua inclinou-se para mim, levando sua mão
para o meio das minhas pernas ainda abertas, tocando meu sexo, ora
massageando meu clitóris completamente duro, ora fodendo a minha vagina
com seus dedos, e para me deixar ainda mais doida, deu alguns tapinhas no
meu clitóris, quando quase gritei por mais.
Joshua agarrou-me por trás, na altura do torso, mantendo seu braço e sua
mão sobre meus seios, enquanto usava a mão livre para esfregar seu pênis
sobre o meu sexo lambuzado, provocando-me, me fazendo abrir mais as pernas
e empinar o traseiro, excitada, ansiosa por senti-lo inteiro dentro de mim.
Não que fosse ruim aquele ritmo lento, pelo contrário, tudo o que ele fazia
era bom, mas eu precisava de estocadas fortes para saciar aquela fome
devastadora que ele me despertava.
CAPÍTULO XV
— Me diz como você quer, Amber... — Sua voz saiu rouca, sussurrada em
meu ouvido.
— Quero forte...
— Assim?
— Ahhh... sim...
— Me pede...
Puta que pariu! Como aquilo era bom! Eu já estava viciada, ia querer toda
hora.
Joshua continuou me fodendo cada vez mais forte, mais fundo, com muita
pressão, ameaçando partir-me em duas, até que meu corpo todo se contraiu,
implorando pelo alívio e ele subitamente parou, virou-me de frente, deitando-
me no sofá e montou-me, voltando a me penetrar forte e fundo.
Logo, o êxtase se aproximou novamente, meu corpo dando sinais claros disto
e Joshua afastou-se o suficiente para fitar-me o rosto, prendendo meus olhos
aos seus e foi assim que eu gozei, uma intensidade absurda tomando conta de
tudo, de modo que as lágrimas começaram a partir dos meus olhos, enquanto
eu gemia, convulsionava e me contorcia inteira sob o corpo delicioso dele.
A tempestade de sensação estava quase passando quando ele deu mais três
estocadas firmes e parou, todo enterrado em mim, seus espasmos se fazendo
no meu interior, me dando um segundo orgasmo, desta vez nossos corpo
ondulando juntos, nossos gemidos se misturando, até que caímos moles no
sofá, Joshua se mostrando muito intenso ao tomar-me os lábios, beijando-me
com paixão.
Ele levou seu dedo indicador à minha testa, deslizando-o dali até o meu
queixo.
— Você é um safado.
— Eu sei.
— Não ia adiantar, foi tudo tão rápido que ninguém teve tempo de anotar a
placa.
— O quê?
— Claro que não. — Respondi sem pensar, para que logo a imagem dos
olhos dourados, terríveis, sempre enfurecidos, do meu raptor voltasse-me à
mente com uma nitidez impressionante, causando-me um impacto tão violento
que todo o meu corpo estremeceu de pavor.
O que não passou despercebido a Joshua, que imediatamente colocou-se em
pé, puxando-me para tomar-me em seus braços, ternamente, carinhosamente,
seus dedos afagando meus cabelos.
— Ei, não precisa ficar assim, não falei isso pra te assustar. Pode não ser
nada.
Em todo caso, isso tudo ainda parecia um absurdo. Foram apenas dois
incidentes infelizes.
— Não vamos mais pensar nisso. — Joshua falou, me apertando forte contra
seu corpo grande. — Eu não vou permitir que nada de mal te aconteça. Vou te
proteger de qualquer um que sonhar em te fazer mal.
— Obrigada.
Depois de três anos sem sexo, meu corpo parecia exigir a compensação pelo
tempo perdido, sempre querendo mais. Seria necessário que passássemos pelo
menos uma semana em algum lugar longe de tudo e de todos para que aquele
fogo amenizasse.
— Oi. — Falou, com a voz rouca pelas horas de sono. Ouviu por um instante
e então respondeu: — Pode subir, mãe. Vou abrir a porta.
“Nada de mais, só estão falando que eu transei com o marido dela, e embora
ela tenha afirmado que não acreditava nos boatos, o cara saiu de casa”.
— Nada. Só não sei o que ela vai pensar quando me vir aqui. — Respondi,
sem graça.
— Vai pensar o que qualquer pessoa pensaria: que sou um cara de muita
sorte.
— Que demora pra abrir essa porta. — Ela reclamou, fitando-lhe o rosto. —
Não vai me dizer que estava dormindo a essa hora.
— Sim, eu estava.
— Está doente?
— Ainda bem. — Ela deu um beijo estalado no rosto dele e avançou pela
sala, detendo-se ao me ver, seus olhos assumindo uma expressão de fúria ao
fitarem o meu rosto, sua fisionomia se contraindo. — O que ela faz aqui? —
Indagou, com rispidez, demonstrando tanto ódio, desprezo e agressividade, que
recuei um passo, desejando que o chão se abrisse sob os meus pés e me
engolisse.
Joshua veio depressa para o meu lado, passando o braço sobre os meus
ombros.
— Mãe, o que é isso? — Ele me puxou mais para si, protetoramente, e senti
que estava propagando a desunião entre ambos, desejando, mais uma vez,
desaparecer dali. — Amber não fez nada contra a senhora.
E eu era louca de dizer que não queria e enfurecer ainda mais aquela fera?!
Primeiro Joshua deu uma bronca enorme nela, pela forma como me tratou,
indagou se o motivo de tanta hostilidade eram os boatos sobre mim e o Sr.
Walker, mas ela não soube, ou não quis responder, mudando de assunto, sua
voz assumindo um tom de súplica ao falar sobre o marido, que segundo ela,
tinha saído de casa e não dava notícias há dois dias. Se dizia preocupada, sem
compreender as atitudes do homem com que vivia há tantos anos e sem saber
onde ele estava. Joshua explicou a ela que recebera um rápido telefonema do
pai, dizendo que faria uma viagem, embora não lhe revelasse o destino ou
quanto tempo ficaria fora.
— E essa garota aqui? Por acaso você está com aquela doença de novo?
Filha da puta, chamando o próprio filho de doente, como não percebia que o
estava magoando?
— Você sabe que eu só quero o bem de todos vocês. — Ela disse com
súplica.
— O que aconteceu entre mim e Candice acabou, não vai mais acontecer.
— Mas agora que está recuperado, você devia tentar. Ela te ama tanto.
Por fim, ouvi os passos de ambos indo para a porta de saída e apressei-me
em fechar a do quarto, indo para a cama, fingir que estava quase dormindo, até
que logo o furacão chamado Joshua entrou no quarto e as coisas ficaram
muito quentes e movimentas por ali.
CAPÍTULO XVI
Eu podia esperar que Emma viesse a esse festival para encontrá-la, já que
era proprietária de uma das fazendas que havia aos arredores, mas não
consegui controlar a minha ansiedade em revê-la, que se tornou ainda mais
crescente depois que tomei a decisão de procurá-la. Assim, aluguei um carro e
parti rumo à fazenda dela, as terras que doei à sua família quando nossa filha
nasceu, há vinte e três anos.
Talvez eu devesse ter telefonado antes para avisar que estava indo, mas temi
que ela não concordasse em me receber, afinal, vinte e três anos era muito
tempo. Durante todos esses anos, eu a deixei como prometera à Cecily e aos
seus pais, mas jamais consegui esquecê-la ou ficar longe, pois ela era a única
mulher que amei de verdade. Por meio de detetives particulares, mantinha-me
informado sobre a sua vida e principalmente da minha filha. Esperei que ela se
casasse, que reconstruísse sua vida, mas Emma jamais o fez, jamais teve outro
homem depois que a abandonei naquele fim de mundo com nossa filha nos
braços.
Quanto a Amber, minha linda Amber, eu cuidei para que tivesse um bom
futuro, mesmo à distância, sem permitir que ela me conhecesse. Primeiro, doei-
lhe a bolsa de estudos para que fosse à faculdade, depois inventei uma vaga de
estagiária na Prime e dei um jeito de que ela fosse a candidata, mas eu não
esperava que Candice a dispensasse por ciúmes de Joshua.
Eu amava todos os meus filhos adotivos, apesar dos seus problemas, mas
quando vi Amber de perto pela primeira vez, naquela manhã quando deixava a
Prime, arrasada por não ter conseguido a vaga, eu me apaixonei perdidamente
por ela, pela sua espontaneidade, sua simplicidade, sua humildade. Mesmo eu
tendo lhe oferecido um cargo alto dentro da empresa, ela preferiu começar por
baixo, servindo o café, dando-me provas de que tinha um excelente caráter,
quando me fez perceber o quanto fui tolo e fraco ao me negar a passar minha
vida ao lado dela e de sua mãe.
Na realidade, poucos anos depois que ela nasceu, eu percebi que tinha
tomado a decisão errada, que devia ter ficado com ela e com Emma, pois
jamais fui feliz ao lado de Cecily, uma mulher mesquinha a ponto de optar por
adotar outra menina em vez de ficar com aquela que tinha o meu sangue nas
veias. E quando ficou sabendo que Amber estava na Prime, onde era o seu
lugar, mostrou-se ainda mais mesquinha, baixa e egoísta ao exigir que eu a
expulsasse. Sua atitude foi o estopim para que eu a deixasse, uma decisão que
eu devia ter tomado há anos, afinal, ela nunca me mereceu.
E como minha amada filha disse: nunca era tarde para se voltar atrás em
uma decisão errada, o que me trouxe aqui, ao encontro da mãe dela.
Não demorou muito para que eu avistasse o tapete amarelo de girassóis, que
se estendia por milhas e mais milhas de terras, com uma estradinha cortando-
o, dando acesso à casa que sediava a fazenda. Uma moradia simples, de
madeira, bem-cuidada e preservada.
Meu coração passou a bater em um ritmo mais acelerado quando avistei a
casa, meu sangue fluindo agitado nas veias pela certeza de que em poucos
minutos estaria diante de Emma, a única mulher que amei durante toda a
minha vida.
Apesar dos anos, ela continuava a mesma menina que deixei para trás, com
o corpo esguio, a silhueta longa e bem-definida, a pele cor de jambo. Os
cabelos agora estavam curtos, ressaltando seu rosto perfeito. Continuava linda,
sensual, como se os anos não tivessem passado.
Parei perto dela e saltei, tudo rebulindo dentro de mim ao vê-la de perto,
meu coração dando saltos no peito, a expectativa pela sua reação tomando
conta de todo o meu ser.
— Robert?! — Ela disse atônita, quando cheguei perto, seus olhos chocados,
seu lábio inferior ligeiramente trêmulo.
— O que você faz aqui? — Ela ainda parecia incrédula, embora eu pudesse
ver em seu olhar o quanto estava emocionada também.
— Vim te ver.
— Não, ela está ótima. É uma ótima menina, você a educou muito bem.
Estou orgulhoso de vocês.
— Eu disse que educaria. Cumpri minha promessa, mas você não cumpriu a
sua parte de ficar longe. — Seu tom era acusador.
— Não diga isso. Eu sei que fui um tolo. Mas estou arrependido. E sei que
você também não me esqueceu. Podemos recomeçar de onde paramos.
— Não diga absurdos. O tempo passou. Tudo mudou. — Ela pegou o cesto
cheio de lençóis do chão. — Por favor, vá embora e não volte mais aqui,
também não diga a nossa filha o que você é dela. Eu não pude evitar que você
interferisse no destino dela e agora ela está perto daquela cobra que você
chama de esposa. — Seus olhos negros se encheram de lágrimas. — Eu peço a
Deus, todos os dias, para que aquela mulher não toque em um fio de cabelo da
minha filha, porque se ela tocar, eu a mato sem pestanejar. Agora vá embora
daqui. — Deu-me as costas, caminhando para a casa.
Então era isto? Ela me odiava também porque interferi na vida de Amber?
Embora eu apenas quisesse ver minha filha bem, fazendo uma faculdade,
seguindo uma grande carreira, eu tinha que admitir que também a quis perto
de mim e que isto a colocou na mira do ódio de Cecily. Entretanto, nada me
faria desistir de ter Emma de volta. Nada!
— Olha dentro dos meus olhos e me diz que não sente mais nada por mim.
— Exigi.
O lábio dela tremeu, seus olhos ainda marejados de lágrimas. Antes que
tivesse tempo de falar, a porta da casa se abriu, sua mãe, minha antiga
empregada, castigada pelos anos, apareceu na varanda.
— Eu não vou sair daqui enquanto você não me disser que posso voltar.
— Aceito sim.
— Jeffrey nem vai acreditar quando vir o senhor. Faz muito tempo.
Segui a mulher para o lado de dentro sob o olhar resignado de Emma, que
embora contrariada pela atitude da mãe em me convidar para entrar, era tão
pacífica que não protestou.
Do lado de dentro, a casa era simples, com móveis antigos, porém, muito
bem organizada, limpa e conservada. Jeffrey, meu antigo motorista, estava
sentado em uma cadeira de balanço, em frente a uma janela lateral, lendo um
livro, muito concentrado.
— Sr. Walker. Quanto tempo. Como vão as coisas? — Disse, com a polidez
de sempre, seus olhos meio confusos.
— Estou bem. Feliz em rever vocês. Como está indo com os girassóis?
— Muito bem. Não traz tanto lucro quanto a criação do gado, mas o trabalho
é mais prazeroso e leve.
Aquela sim era uma família de verdade, unidos, vivendo em paz em meio à
simplicidade, muito diferente da minha, sempre em guerra por causa de
alguma coisa. E essa união, essa tranquilidade que eles transmitiam formou o
caráter admirável de Amber, que de acordo com os avós, trabalhara na fazenda
até ir para a faculdade.
— Sim, ponche. — Emma gesticulou para uma das barracas, para onde nos
dirigimos, ela cumprimentando a dona, como se fossem velhas conhecidas e
nos servimos do ponche. — Huum, fazia tempo que eu não bebia um desses. —
Ela falou, a hostilidade que demonstrara quando cheguei na fazenda se
dissipando aos poucos.
O que eu poderia dizer? Joshua não era o tipo de cara que se envolvia com
uma mulher, ele tinha problemas com isto, tinha compulsão desenfreada por
sexo, clinicamente diagnosticada, e não podia oferecer nada a uma garota que
fosse além de algumas noites na sua cama. Na certa faria Amber sofrer, como
fizera com Candice e com tantas outras. Eu não apoiava que ele se
aproximasse dela, mas não era uma coisa que eu podia evitar, afinal, ambos
tinham o direito ao livre arbítrio. Entretanto, minha filha era uma garota
esperta, obviamente já conhecia a realidade de Joshua quando se envolveu e
não esperaria mais do que ele pudesse lhe dar, se esperasse, o tempo se
encarregaria de curar suas feridas.
— Eu os vi juntos algumas vezes, mas não sei se é coisa séria. Você gostaria
de se sentar?
— Sim.
Fomos para perto do palco, ocupando uma mesa que estava vazia e
continuamos envolvidos naquela conversa gostosa, sua proximidade me
fazendo muito mais bem do que eu esperava.
Era bem tarde quando a deixei de volta na fazenda, e no dia seguinte, perto
do meio-dia, fui buscar a todos para irmos ao festival, seus pais aproveitando a
presença de todos no evento para conversar com os vizinhos e conhecidos,
enquanto nós nos afastávamos um pouco do grupo em busca de privacidade
sob as sombras das árvores frondosas da pracinha, onde o evento acontecia.
Foi então que falamos sobe o que aconteceu a Amber há três anos, quando ela
foi raptada, mantida em cativeiro e violentada por um traficante de drogas, um
acontecimento que abalara toda a família, que quase destruiu nossa menina.
Enquanto falava, Emma deixou claro o quanto me culpava por aquilo,
insinuando, com dor e amargura, que se eu não as tivesse abandonado não
teria acontecido, e eu me senti obrigado a concordar com ela. A minha covardia
em deixar Cecily para ficar com elas, na época, causou todo aquele sofrimento
na vida da minha menina, tão preciosa para mim agora que eu a conhecia
pessoalmente.
— Isto vai fazê-la ter ainda mais ódio da minha filha. — Emma estava aflita.
— Eu sei que faz. Mas esses anos não conseguiram apagar o amor que sinto
por você. Eu ainda te amo, como amei desde que nos conhecemos.
— Eu não tenho pressa. Posso ficar aqui em Cibolo até você decidir.
— Eu te perdoo por ter optado por ficar com sua família ao invés de comigo e
com Amber, mas se ela não te perdoar, eu apoiarei a decisão dela. Só pra você
saber.
— Eu sei. E concordo.
Imaginei a reação da minha filha quando soubesse a verdade. Ela era boa,
mas não tão pacífica quanto a mãe. Na certa, me odiaria e com toda a razão,
pois eu fui um covarde ao deixá-las, admitia isso, assim como também me
arrependia pela decisão errada que tomei. No entanto, foi ela mesma quem
disse que sempre se podia voltar atrás e tentar recomeçar. Eu estava tentando.
CAPÍTULO XVII
Apesar de ter iniciado minha vida sexual aos quinze anos e de tê-la mantido
ativa até passar pelo terror que passei, tendo vários namorados durante esse
período, jamais conheci um homem como Joshua. Ele era capaz de despertar-
me as mais incríveis e desconhecidas sensações, me levava a um prazer
indescritível, de modo que a cada dia em seus braços, eu o desejava mais, a
ponto de ter meu corpo eriçado durante as vinte quatro horas do dia, tudo em
mim transformado em sensibilidade, minhas zonas erógenas despertando com
coisas do cotidiano, como o roçar do sutiã em meus mamilos, ou da calcinha
apertando meu clitóris de uma forma que eu estava pronta para o sexo a
qualquer hora do dia ou da noite.
E não era apenas sexo o que existia entre nós, embora eu me recusasse
terminantemente a admitir, sentia um afeto imensurável por aquele homem,
uma admiração que crescia a medida que eu o conhecia mais. Ele era um ser
humano fascinante, inteligente, sensível, perceptivo, dono de um caráter raro,
do tipo que não se via com muita frequência por aí, principalmente em um
homem que vivia no mundo dos negócios, onde um jogo de disputa pelo poder
era constantemente jogado, no qual ele se destacava como uma peça rara por
não ser mesquinho e egoísta a ponto de pisar nos mais fracos para subir ao
topo, alcançando seus objetivos por meio dos próprios esforços.
Era algo magnífico o que eu estava vivendo nos braços daquele homem. A
cada dia me apegava mais a ele e às vezes me flagrava pensando que tudo não
passava de uma aventura, uma experiência que podia acabar a qualquer
momento, quando ele me deixasse de lado para ir em busca de satisfação para
o seu desejo compulsivo de ter múltiplas parceiras, como o psiquiatra deixou
claro que podia acontecer, embora até então Joshua não tinha dado o menor
sinal de necessidade disto. Ainda assim, eu me recusava a acreditar que o que
tínhamos seria algo duradouro, para evitar uma decepção maior se ele
realmente tivesse uma recaída. Como Kate me aconselhara: eu estava
aproveitando ao máximo aquele momento.
Tudo estaria ainda mais perfeito se Joshua não estivesse lidando com a
depressão que sua mãe enfrentava, acarretada pelo fato de que o Sr. Walker
entrou com o processo de divórcio, de forma degradante, sem ao menos vir
comunicar pessoalmente sua decisão à esposa, mandando o advogado no seu
lugar. Desde que viajara, sem revelar seu destino, ele ainda não voltara a
Dallas, apenas telefonava de vez em quando para o filho, para que todos
soubessem que estava bem.
Mas para Kate eu contei tudo, nas raras ocasiões em que tínhamos tempo de
conversar via internet. Na opinião dela, eu e Joshua encontramos a cura para
nossas enfermidades um no outro, afinal, ele praticamente fez um milagre
banindo minha aversão pelo sexo oposto em tão poucos dias, considerando que
eu a mantive por três anos. Como eu, ela também acreditava que se houvesse
tentativa de assassinato contra mim por trás do que aconteceu na lavanderia e,
mais tarde, na rua, Candice ou a mãe de Joshua podiam ser as responsáveis,
as duas por acreditar que eu transei com o homem delas. Compartilhava da
mesma certeza de que não podia ser o meu raptor, pois sua violência era
descomedida e já teria sido exteriorizada se ele me encontrasse.
Nunca antes na minha vida me senti tão só quanto ao fazer aquele rápido
percurso sem a companhia de Joshua depois de tantos dias tendo-o ao meu
lado, o que comprovava o quanto eu estava me tornando dependente dele, e
isso não era bom.
Eu sempre achei aquele sujeito meio estranho, talvez pelo fato de que ele
ficava ali o dia inteiro sozinho, já que trabalhava à noite, enquanto todos os
demais moradores trabalhavam durante o dia. Nem os outros seguranças
noturnos eu via zanzando por ali, só ele. O achava estranho também por ter
sido o único a ouvir os meus gritos quando fiquei presa na lavanderia. Apesar
de ele ter me resgatado, desde aquele episódio não consegui mais ficar à
vontade na sua presença.
— Nunca é tarde para tentar. Você ainda é jovem. Pode fazer um curso
superior.
Agradeci aos céus que era apenas um andar para subir e saí depressa
quando a porta do elevador se abriu, Sam vindo atrás de mim, o que me
incomodou, embora não era de estranhar, já que ele morava ali também.
— Joshua Walker?
— Isso não tem nada a ver. Ele me chamou pra sair antes de você.
— Não seja hipócrita. Uma garota não abriria mão de uma promoção boa
como a que você recebeu.
Desta vez ele foi longe, conseguiu atiçar a raiva dentro de mim. Furiosa,
falei:
— Você não sabe de nada! Não estou saindo com Joshua para ser promovida
e sim pelo homem que ele é.
— Talvez essa sua aparência de garota durona, que me atraiu de início, seja
só aparência mesmo. No fundo, você deve ser tão promíscua quanto ele.
Com isto, dei-lhe as costas, indo depressa para a porta do meu apartamento.
— Eu preferia foder você, mas já deve estar muito gasta. — Ouvi, quando já
entrava no apartamento.
Soltando fogo pelas ventas, tranquei a porta pelo lado de dentro, liguei o
computador e chamei Kate na webcam, mas ela não estava, então, respirei
fundo várias vezes para me acalmar, troquei as roupas apertadas por algo mais
confortável e dei início à faxina que o apartamento precisava.
Eu tinha certeza que tranquei bem a porta por dentro, como podia haver
alguém no apartamento?
Por Deus! Não era difícil deduzir o que ele pretendia com aquilo.
Apavorada, meu primeiro impulso foi gritar por socorro, mas isso além de
não adiantar nada, já que ninguém me ouviria, atrairia a atenção do sujeito.
No entanto, eu não podia ficar ali parada esperando ele me encontrar, pois
se abria o gás, era porque sabia que eu estava no apartamento, ou que
chegaria logo, não fazia aquilo para matar a si mesmo. Assim, tentando conter
o tremor em meu corpo, caminhei na ponta dos pés até o celular, alcançando-
o, mas antes que pudesse digitar os números, o invasor flagrou-me, agarrando-
me por trás com braços fortes, um em torno da minha cintura, a outra mão
tapando-me a boca, imobilizando-me contra seu corpo grande e sólido.
Agindo por impulso, cravei meus dentes na mão dele, afastando-a da minha
boca.
CAPÍTULO XVIII
Aquela maldita reunião estava começando a se tornar fatigante, não apenas
pelo cansaço físico e mental que me assolava depois de uma semana árdua de
trabalho, mas pela ausência de Amber na sala. Eu estava praticamente
dependente daquela mulher, como se tivesse substituído um vício pelo outro,
ou seja, trocado a promiscuidade em que vivi no passado pela monogamia, algo
nunca antes experimentado.
Não era apenas o meu tesão irrefreável que me ligava àquela mulher, mas
um carinho desconhecido, um afeto imensurável, como jamais me senti em
relação a qualquer outra. E não era apenas o fato de gostar dela a ponto de me
recusar a magoá-la que me impedia de ter uma recaída, como o médico me
alertara de que poderia acontecer, eu simplesmente não queria.
Milagrosamente, meu corpo não exigia por mais sexo, depois de fazê-lo com
Amber, como exigia antes. Aquela necessidade de ter várias parceiras, de fazer
as coisas de forma mecânica, sem estar emocionalmente ligado, já não fazia
parte de mim. Definitivamente, minha compulsão por sexo sem razão, com
múltiplas parceiras, parecia ter sido erradicada do meu organismo.
Eu não sentia a falta de Amber naquela última reunião do dia apenas pelo
fato de que amava trabalhar olhando para ela, aliás eu amava olhar para ela a
qualquer momento do dia ou da noite, ouvir sua voz, sentir o seu cheiro,
admirar a inteligência e o talento para a engenharia civil que vinha
demonstrando ao opinar sobre a construção do projeto em que trabalhávamos.
Me preocupava saber que ela estava lá fora sozinha e podia estar correndo
risco de vida, pois nada me convencia que os dois incidentes pelos quais ela
passara foram apenas acidentes, minha intuição, assim como o fato de terem
acontecido de forma estranha, inexplicável e consecutiva, me diziam que havia
algo por trás daquilo, alguém queria vê-la morta, de modo que parecesse um
acidente. Mas quem? O sujeito que a raptou há três anos certamente a culpava
por ter sido preso de novo, mas ele estava bem preso, eu me certifiquei disto.
Então quem mais na face da Terra podia atentar contra a vida de Amber? Era
uma pergunta sem resposta.
Por outro lado, minhas suspeitas podiam não passar de uma ilusão, excesso
de preocupação. Talvez o teto da lavanderia tenha desabado apenas pelo
impacto do ventilador no piso superior e o carro que invadiu a calçada
estivesse sendo dirigido por algum louco drogado que não via o que fazia.
— Alô.
— Eu mesmo.
— Sou Kate, amiga de Amber, uma vez ela ficou sem créditos e me ligou do
seu celular, por isso tenho o número. — Ela falava muito depressa, parecendo
muito nervosa. — Cara, você precisa correr. Amber está em perigo. Eu vi pela
webcam. Um cara entrou no apartamento dela... — Enquanto ela falava,
levantei-me e corri em disparada para a porta sob o olhar especulativo dos
demais presentes na sala, meu sangue gelando nas veias, meu coração
apertando no peito. — Eu não vi tudo, mas sei que ele a atacou e a deixou lá
desmaiada. Já chamei a polícia, mas você está mais perto dela, pode chegar
primeiro.
— Ok.
Merda!
Sem esperar por mais nada, peguei-a em meus braços e a levei para fora. Ao
alcançar uma distância segura do gás, verifiquei sua respiração, estava muito
lenta, mas estava lá. Eu precisava levá-la a um hospital, com urgência, mas
antes precisava conter o vazamento de gás para evitar que uma explosão
acontecesse, o que seria fatal para os demais moradores do prédio. Então, a
deitei no chão do corredor, cuidadosamente, e peguei o celular, chamando uma
ambulância ao mesmo tempo que retornava ao apartamento, o gás voltando a
queimar-me por dentro enquanto o penetrava, indo até a cozinha, desligando
as bocas do fogão, todas abertas, fechando a trave, para em seguida abrir as
janelas, eliminando a possibilidade de uma explosão fatal.
Ainda correndo, voltei para Amber, tão frágil, tão sem vida, deitada no chão,
uma imagem de cortar o coração, se comparada à garota ativa que era ela. A
peguei novamente em meus braços, carregando-a para fora do prédio, pelas
escadas, para economizar o tempo que perderia esperando pelo elevador.
— Aqui na frente.
— Me dá as chaves.
— Sim, senhor.
— Vocês já perceberam que eu não vou sair. Então me diga se ela vai ficar
bem.
A reação dela foi violenta e inesperada. Ao focar o meu rosto, seus olhos se
arregalaram mais e o grito surdo partiu do fundo da sua garganta.
Eu apenas os ignorei.
— Eu tive tanto medo. Pensei que morreria ali sozinha, respirando o gás.
— Eu não sei. Foi um homem, mas ele estava usando uma máscara. Não
consegui ver o rosto.
A raiva passeou solta pelas minhas veias. Que espécie de covarde atacaria
uma mulher sozinha e indefesa? Pela forma como ele agiu, tudo indicava que
seu objetivo era assassiná-la, fazendo com que parecesse um acidente,
exatamente como aconteceu das outras vezes. Pelo menos agora nós tínhamos
certeza de que alguém queria matá-la.
— Não. Tudo aconteceu muito rápido. Ele me agarrou por trás e pressionou
o clorofórmio em meu rosto.
— Tudo bem mocinha, mas aproveite que a polícia está aqui e preste queixa
contra quem a atacou.
— Farei isso.
— Ela está perfeitamente bem, mas é recomendável que fique aqui por pelo
menos duas horas, em observação. — Balbuciou algo para a enfermeira, para
depois deixar o recinto.
— Essa mesmo. — Ele tirou uma caderneta e uma caneta do bolso da sua
calça. — Vamos lhe fazer algumas perguntas, você está em condições de
responder?
— Claro.
— Eu preciso subir para pegar uma muda de roupa. — Amber falou, ainda
visivelmente chocada.
— Humm está me levando para morar com você? — Ela indagou com tom
brincalhão, fascinando-me por ainda conseguir manter o bom humor mesmo
em uma situação como aquela.
Ela sorriu satisfeita e meu peito inundou de contentamento, por ter lhe dado
aquele sorriso, um gesto tão simples, mas que tinha um grande significado,
como tudo o que vinha dela.
Se Sam inventou que estava na Prime, foi porque tinha uma boa razão para
mentir e essa razão podia ser facilmente o fato de ter sido ele a entrar no
apartamento e atacar Amber. Mas por que ele tentaria matá-la? Era o que eu
pretendia descobrir.
— Quem o contratou?
Merda! Certa vez, quando perguntei a Amber se ela tinha algum inimigo que
porventura poderia atentar contra a sua vida, ela mencionara o cara que a
raptou e depois Candice. Será que minha irmã era mesmo capaz de chegar a
tanto por ciúme?
Virei-me para observar Amber, que se encontrava sentada no sofá da grande
sala, com seus olhos arregalados presos a mim, certamente prestando atenção
na conversa.
— Jack, mande outro homem. Alguém que seja da sua total confiança.
— Enviarei, senhor.
— Obrigado.
— Não quero te deixar com medo, mas eu telefonei pra ele mais cedo e ele
me disse que estava trabalhando, no entanto, o supervisor dele disse que ele
acabou de chegar lá.
— Que coisas?
— Não. Seu pai nos apresentou no dia que me contratou. Sempre o vejo por
aí com aquela bola de basquete e, como você sabe, foi ele quem me encontrou
na lavanderia no dia que o teto desabou. Desde esse dia, tomei certo receio
dele.
— Ele está na Prime, agora. Eu podia aproveitar para ir dar uma olhada no
apartamento dele e tentar descobrir alguma coisa.
— Vão sim.
CAPÍTULO XIX
Quando acordei pela manhã, Joshua não estava mais na cama ao meu lado,
embora o calor gostoso do seu corpo, que me acolheu durante as horas de
sono, ainda estivesse presente em mim.
Eu nunca me acostumaria com a vista daquele apartamento, à minha volta
eu podia ver todo o condomínio através da vidraça fumê, como se olhasse para
o dia de sol usando óculos escuros. Como era sábado e poucos funcionários
trabalhavam, o lugar estava mais movimentado que o normal com as pessoas
trafegando pelas ruas, sem olhar na minha direção, pois não faziam ideia de
que eu as observava. E embora soubesse que não era possível quem estava lá
fora enxergar aqui dentro, eu me sentia pouco à vontade com a sensação de
que estava em um aquário gigante, rodeada de pessoas por todos os lados.
Ainda bem que havia paredes de verdade no banheiro.
Uma pena! Eu precisava daquele descanso e dos dias com Joshua sem a
interferência do trabalho.
Ao final do meu relato, como Joshua, o detetive tinha Sam como o número
um na sua lista de suspeitos.
— Para quando?
— Para agora.
— Sim.
— Vem comigo.
— Eu ia levar na cama pra você, mas o cara chegou e tive que conversar com
ele.
— Nem pensar, isto pode ser perigoso. Você fica aqui. — Ele puxou uma
cadeira e acomodou-se ao meu lado, observando-me fazer a refeição.
— Na casa da minha irmã. — Ele gesticulou para Joshua, que fuçava tudo,
até embaixo das almofadas dos sofás. — Ele não pode mexer nas minhas
coisas desse jeito!
Não era tão esperto, pois sabia que algo seria encontrado e mesmo assim
cometeu a tolice de ficar em casa esperando a polícia chegar.
Sam tentou reagir, mas antes que pudesse, um dos policiais o segurou por
trás, imobilizando-o, enquanto que o outro fazia o mesmo com Joshua.
— Foi esse bastardo que tentou matar Amber! — Vociferou. — E isso não é
tudo, ele também está roubando informações na minha companhia e as
entregando a um concorrente, o computador que ele usa está cheio de provas.
— Sim. Era.
— Sr. Finn, o senhor está sendo preso por tentativa de assassinato, roubo de
informações e invasão de domicílio. O senhor tem o direito de permanecer em
silêncio... — O detetive continuou recitando os direitos dele, enquanto o
algemava com os pulsos atrás das costas, os olhos furiosos de Sam queimando
sobre Joshua, diabolicamente.
— Por que, seu desgraçado?! Por que tudo isso? — Joshua indagou, também
furioso.
— Não sei do que você está falando. — Joshua falou, a voz mais branda, a
certeza de sua culpa evidente no seu olhar.
— Claro que não, seu miserável! Foram tantas que você não se lembraria
nem da metade. Samantha estava no último ano da faculdade quando você a
seduziu e a levou para a cama algumas vezes, para depois desprezá-la. Ela era
ingênua e se apaixonou, o resultado disso foi que ela encheu a cara e bateu
com o carro em cheio em um poste. Morreu poucas horas depois no hospital,
chamando pelo seu maldito nome!
— Isso eu fiz por dinheiro e pela diversão. — Fixou seus olhos diabólicos em
mim. — Pode mandar encomendar o caixão, garota. A pessoa que me contratou
pra te matar, não vai descansar até vê-la morta.
No instante que ele fechou a boca, Joshua avançou para ele novamente, com
tudo, sem que o policial conseguisse segurá-lo, esmurrou-lhe a face
repetidamente, tão violentamente que um dente de Sam caiu no chão, junto
com um lago de sangue.
— Vocês nunca vão saber. Podem me matar, mas não vou falar. Esse vai ser
seu castigo, otário. Ela vai morrer, como a minha irmã morreu.
— Na lavanderia não. Ou não a teria tirado de lá. Mas foi quando conheci a
pessoa que me contratou. Com o carro fui eu.
— Podem me torturar e até matar, mas eu nunca vou falar até ela estar
morta. — Soltou uma gargalhada bizarra.
— Ela é importante pra você, não é? Minha irmã também era pra mim,
babaca! Eu nunca vou falar! Ela vai morrer!
— Claro, Sr. Walker. A polícia tem seus métodos. Antes de tudo, vamos
procurar saber quem esteve neste prédio no dia do incidente na lavanderia.
— Deixe isso conosco. Agora vão embora daqui. Logo uma equipe da polícia
vai chegar e não será bom para mim se souberem que trouxe civis durante o
cumprimento de um mandato.
— Ok, nós vamos, mas por favor, me avise assim que tiver alguma
informação.
— Sim, confio. — E eu confiava mesmo, no entanto, sabia que ele não podia
passar as vinte e quatro horas do dia ao meu lado. Em algum momento, eu
estaria sozinha.
No saguão do prédio, Joshua foi com toa a sua ira para cima do porteiro,
intimidando, com palavras de ameaça, o sujeito magro, velho e curvilíneo,
tentando fazê-lo falar quem esteve no prédio no dia em que fiquei presa na
lavanderia, mas o homem afirmou veementemente, que apenas os moradores
estiveram lá, ninguém diferente passou por ele, a porta do seu apartamento
não foi arrombada e parecia estar falando a verdade, não conseguiria mentir
diante do olhar furioso de Joshua, o que me levou a duas grandes certezas: a
pessoa que queria me ver morta trabalhava na Prime, talvez morasse no
condomínio e era muito esperta.
— Quem você acha que pode estar por trás disso? — Joshua indagou, ainda
visivelmente tenso e nervoso, o que acarretava o risco de ele ter uma recaída
drástica.
— Por que tem que ser alguém da minha família? — Indagou, visivelmente
irritado.
— Não.
— Desculpa não ter vindo ontem, amiga, mas já era muito tarde quando você
saiu do hospital.
Nos afastamos e fui abraçar Dean, que me abraçou de volta, meio hesitante.
— Eu ainda preciso me acostumar com essa coisa de ser abraçado por você,
a Srta. Não me toque. — Ele disse e todos sorrimos em uníssono, com exceção
de Joshua.
CAPÍTULO XX
— Não vamos deixar que tudo isso estrague nosso final de semana. —
Sussurrou, ao meu ouvido, a voz arrastada pela respiração pesada. — Vou tirar
folga na segunda-feira para irmos para a praia, passarmos esses dias. Quero te
comer dentro da água do mar.
Suas palavras, seu contato, sua voz, tudo nele me excitava loucamente,
tirando-me a razão. E foi assim que pressionei mais meu corpo no seu,
esfregando meu ventre na sua firme ereção, minha fragilidade contra a sua
força física.
— Isso seria incrível, mas não vai prejudicar os negócios você se ausentar na
segunda?
Tomada pela luxúria, enterrei meus dedos nos seus cabelos curtos,
puxando-o mais para mim, ao mesmo tempo que abria mais as pernas,
pendurando uma perna no seu ombro, quando então, sua língua escorregou
para dentro da minha vagina e ele me fodeu assim, entrando e saindo,
deliciosamente, enlouquecedoramente, todo o meu corpo em alerta, meu
sangue agitado, o gozo se aproximando depressa.
Mas eu não queria gozar assim, sentia uma necessidade urgente de tê-lo
dentro de mim, me tomando, me fazendo sua, como só ele sabia fazer.
Com ímpeto, ele virou-me de frente para a parede, deu um tapinha na minha
bunda e colou seu corpo ao meu por trás, penetrando-me com um golpe único,
muito duro, indo fundo, sua carne rija pressionando as paredes da minha
vagina, tão deliciosamente que todo o meu corpo parecia em chamas,
suplicando por mais e ele me deu, metendo com força, em vai e vem, cada vez
mais depressa, as estocadas bruscas, como eu gostava.
Empinei mais minha bunda para recebê-lo ainda mais fundo, mais meu, me
sentindo tomada, tão dele, magnificamente realizada como fêmea.
— Não há nada... que eu possa... gostar mais... que comer essa... bocetinha
apertada... e gostosa... — Ele sussurrou ao meu ouvido, sua voz entrecortada
pela respiração pesada, sua língua passeando na minha orelha.
— Ah... Joshua... como eu gosto de... dar ela... pra você... ah! Gostoso! Me
come! Assim! Assim!
Ele metia cada vez com mais força, socando depressa, entrando e saindo, até
que meu corpo se contraiu violentamente, anunciando o êxtase e, como eu já
esperava, ele parou, para mudar de posição, porque ele gostava de olhar o meu
rosto enquanto eu gozava.
— Você não tem ideia do quanto é importante para mim. — Sussurrou, para
depois saquear-me a boca, beijando-me com selvageria, roubando-me o fôlego,
obstruindo minha sanidade e voltou a me foder, com força, com rapidez, seu
pau se tornando mais duro dentro do meu canal, até que explodi, gozando
como uma alucinada, sua boca engolindo meus gritos, meu corpo se
contorcendo entre ele e a parede, minha carne quente e macia palpitando.
Depois foi a sua vez, seus espasmos se fazendo tão gostosos, vibrantes, que,
como sempre, me arrancaram um segundo orgasmo, seu esperma me
enchendo, quente, me levando à plenitude de um júbilo que conheci apenas em
seus braços.
Aquilo tinha sido simplesmente perfeito, como sempre era com ele, mas
estávamos apenas começando, não parávamos até sermos tomados pela mais
completa exaustão.
Fiquei impressionada.
— Existe algum lugar no mundo onde você não tenha uma casa?
Não fazia ideia de que horas eram quando acordei. O quarto enorme se
encontrava escuro e muito silencioso. Um silêncio que chegava a ser
fantasmagórico aos ouvidos de alguém que morava no barulhento centro de
Dallas, onde mesmo à noite, a poluição sonora era constante.
Percebi que o cômodo estava todo cercado por grossas cortinas e levantei-me
para afastá-las, deparando-me com o sol escaldante banhando uma vista tão
encantadora que me deixou quase sem fôlego. Eu estava no segundo andar de
uma casa que ficava a poucos metros de distância do mar; o luxo me cercava
por todos os lados, desde os móveis, até as paredes, todas de vidro. O que
Joshua tinha com paredes de vidro? A praia era imensa, se estendendo até
onde as vistas alcançavam, com a areia muito branca, o mar agitado, o lugar
completamente deserto.
Abri as cortinas do outro lado do cômodo e descobri que estávamos isolados
da civilização, pois tudo o que havia ali era uma floresta.
Não pude evitar, ao olhar para ele, meu coração bateu em um ritmo
descompassado, meus lábios se esticando em um sorriso de pura gratidão pelo
simples fato de ele existir.
— Muita.
— Pobre menino rico. Tem dinheiro para comprar uma casa em um paraíso
desses e não tem tempo de desfrutá-la.
Ele fitou o vazio à sua frente por um instante, com uma ruga profunda se
formando no centro da sua testa, como se buscasse as lembranças.
— Eu não me lembro de muita coisa, pois era muito jovem. Só sei que era
tratado como um animalzinho pelos meus pais, não frequentava a escola, não
saia de casa e era agraciado com doces e outras recompensas quando fazia o
que eles queriam.
— E o que eles queriam?
— Me ver fazendo sexo com outras pessoas. Eles filmavam isso, depois
vendiam. Era sua fonte de renda.
Imaginei as cenas e fui tomada por uma sensação ruim, um misto de ódio,
piedade e, ao mesmo tempo, tristeza.
— E depois que eles foram presos e você foi adotado pelos Walker, como
percebeu que tinha adquirido compulsão pelo sexo?
— Devia sim. Não há nada nesse mundo que possa me fascinar mais que o
seu sorriso.
— E depois disso?
— Sim, quero.
— Troque-se, já volto pra te apanhar. Vou dar ordens para o almoço, alguma
preferência?
— Certo.
Animada para conhecer um lugar tão lindo de perto, tomei um banho rápido,
coloquei o biquíni preto, os óculos de sol e joguei a saída de praia quase
transparente por cima. Completei o traje com minha bolsa de palha, onde
tomei o cuidado de guardar o protetor solar.
— Eu adoraria.
Ele alugou a maior e mais cara das lanchas e, para minha surpresa,
partimos sem o auxílio de um marinheiro, o próprio Joshua conduzindo a
embarcação.
— Sim, eu confio. — Ele desviou seu olhar da direção para virar o rosto e
alcançar minha boca com a sua, beijando-me com aquela fome selvagem que
nunca passava, mas apenas crescia. O beijei de volta, mas logo afastei-me,
usando minhas duas mãos para virar sua face para a frente novamente. — Só
não se esqueça de manter-me viva.
CAPÍTULO XXI
Enquanto nos afastávamos depressa da costa, tirei a saída de praia, espalhei
um pouco mais de protetor solar no meu corpo e rosto, sobre a camada que já
havia passado antes de sair da casa e espichei-me sobre uma das
espreguiçadeiras que havia na popa da lancha, os raios de sol banhando
minha pele, gostosamente, me fazendo relaxar ainda mais.
Embora o sol fosse forte, a temperatura era amena, devido à brisa fresca que
soprava e isso, unido à bela paisagem à nossa volta, podia ser denominado de
pequeno paraíso.
No entanto, era de Joshua que eu não conseguia desviar meu olhar. Ele
pilotava a lancha, de costas para mim, fascinando-me com o quanto era lindo,
com sua alta estatura, os ombros largos, as pernas bem-torneadas, firmes e
peludas. Tinha os cabelos negros cortados bem curtos, contrastando com a
pele branca da nuca. Eu não me cansava de admirá-lo, era realmente o homem
mais bonito sobre o qual já pousei os meus olhos.
Por trás das lentes dos meus óculos escuros, o observei tirando a camiseta e
a bermuda, ficando só de sunga, dando-me uma visão gloriosa do seu corpo
lindo, cheio de músculos bem-esculpidos, sem excesso, o peito se revelando
largo e forte, os braços musculosos, a barriga sarada e uma bunda de dar água
na boca.
Excitada, esperei que ele me atacasse, mas em vez disso, Joshua mergulhou
de repente na água, deixando-me em pânico ali sozinha. E se a âncora falhasse
e a embarcação saísse à deriva?
— Você é um safado.
— Eu sei.
Como era de esperar, ele se colocou sobre mim, devagar, apoiando-se nas
mãos e nos joelhos, me cobrindo inteira, sem me tocar.
Ainda em pé, muito perto de mim, com o seu sexo na altura do meu rosto,
ele tirou sua sunga, ficando completamente nu, o pau muito duro, grande e
todo babado se revelando diante da minha face e o quis com tanta força que
um gemido me escapou.
— Me mostre o quanto.
Assim, segurou meus cabelos atrás da minha cabeça e guiou o meu rosto até
ele, a oitava maravilha do mundo tocando meus lábios e o abocanhei gulosa,
chupando com muita sofreguidão, como se minha vida dependesse daquilo.
Puta que pariu! Como o seu gosto era bom! Era o sabor da luxúria, do
pecado, mas de um pecado bom, do qual eu me tornava cada dia mais
prisioneira.
Torturada por um desejo que não podia ser saciado, continuei chupando seu
pau gostoso, como uma esfomeada, em meu ritmo, lambendo seu saco limpo e
depilado, passando a língua em volta da carne rija. Até que Joshua segurou o
meu rosto para me fazer encará-lo, debaixo para cima, enquanto movia seus
quadris em vai e vem, entrando e saindo de mim, fodendo minha boca.
Mas Joshua não me fez esperar, logo seu corpo estava sobre o meu, sua
boca gostosa em mim. Abocanhou minha nuca, dando uma única mordida,
antes de descer, lambendo e mordiscando minha pele, deliciosamente. Tirou a
peça de baixo do meu biquíni, pelos pés, e usou as duas mãos para afastar
minhas nádegas, observando-me ali por um breve instante antes de prosseguir,
levando sua boca habilidosa para o meu ânus, sua língua gostosa se movendo
sobre ele, em círculos, fazendo uma suave pressão.
Sua língua passeou por todo o meu sexo, indo do ânus para a vagina, depois
para o clitóris, lambendo-o com maestria, refazendo o percurso, me deixando
mais doida a cada instante, necessitada daquilo como uma viciada necessitava
de sua droga.
Trouxe sua boca gostosa para o meu pescoço, ora mordendo minha nuca,
ora lambendo minha orelha, tirando o que restava do meu juízo.
Sem se retirar de mim, Joshua se moveu com muita agilidade para mudar de
posição, colocando-nos deitados de lado na espreguiçadeira, ficando atrás de
mim, enterrado até a raiz no meu canal mais estreito, enlouquecendo-me de
prazer com os seus movimentos bruscos, me fodendo gostoso como apenas ele
sabia fazer, a bela paisagem à nossa volta como testemunha.
Com uma mão, ergueu minha perna no ar, enquanto levava a outra ao meu
clitóris, massageando-o em círculos, intensificando toda a loucura dentro de
mim, meus gemidos quase se transformando em gritos. E me movi junto com
ele, arremetendo meus quadris para trás, buscando-o cada vez mais, me
deliciando com o seu tamanho me enchendo inteira, sua carne rija
pressionando a minha.
Novamente, ele mudou nossa posição sem deixar o meu interior, desta vez
deitou-se de frente, colocando-me sentada sobre seu colo, uma perna de cada
lado, minhas costas na direção do seu rosto.
E fiz como ele disse, movendo-me freneticamente sobre ele, seu pau
entrando e saindo de mim, girando, me enlouquecendo, me aproximando do
êxtase.
Mais uma vez seus dedos habilidosos foram para o meu clitóris,
massageando-o antes de se enterrarem na minha vagina lambuzada, movendo-
se dentro dela, em vai e vem, me preenchendo ainda mais, me fazendo sentir
completa, como se nada mais me faltasse. E foi assim que me perdi, explodindo
em um orgasmo arrebatador, que por pouco não me tirou a consciência,
tamanha foi sua intensidade.
Ergui meus olhos e vi sua face linda contorcida de prazer, seu corpo grande
e delicioso ondulando inteiro e fui tomada por uma nova onda de tesão que me
levava ao descontrole.
Tentei levar minha boca ao seu pau, ainda duro e chupar até me cansar,
mas Joshua não permitiu. Quando seu êxtase passou, puxou-me para cima,
pelos cabelos, tomando-me a boca, beijando-me daquela forma selvagem e
faminta, como apenas ele sabia fazer.
— Parece que alguém vai ter que cair na água. — Ele falou com um sorriso
safado, afastando-se alguns centímetros.
Só então me dei conta de qual era a sua intenção ao banhar-me inteira com
seu esperma.
— Isso é jogo sujo, Joshua Walker. — Falei, sem conseguir parar de sorrir.
Antes que eu tivesse tempo de responder, ele se jogou na água comigo nos
braços.
Era mesmo um idiota, mas um idiota que conseguia, entre muitas outras
coisas, me fazer sorrir, como agora.
Era fim de tarde quando retornamos à costa. Famintos, nos dirigimos para o
restaurante mais próximo, um lugar agradável ao ar livre, enfeitado com folhas
de palmeiras, com uma música animada ao fundo, que se encontrava pouco
movimentado devido ao horário.
Assim como o desejo insaciável, o assunto nunca faltava entre nós, com
Joshua eu aprendi a me sentir livre para falar sobre absolutamente tudo, sobre
meus medos, meus sonhos e intimidades, assim como ele falava de si mesmo
comigo, tratando nossos fantasmas com muita naturalidade, como se
realmente fôssemos a cura um para o outro, um bálsamo para feridas antigas,
que iam cicatrizando aos poucos, a medida que passávamos mais tempo
juntos.
Foi no final da tarde que precisamos nos despedirmos daquele paraíso, com
a promessa de que voltaríamos em breve, desta vez para passarmos mais
tempo.
— Não, segurança nunca é demais. — Ele tirou uma chave do bolso do seu
paletó e entregou-me. — Essa é a chave do seu carro, use-o se precisar sair,
mas nunca deixe de levar os seguranças junto com você.
— Pode e vai. Até porque você precisa dele para não se tornar uma
prisioneira da Prime.
E para piorar um pouco mais meu estresse, no instante em que ocupei meu
lugar em minha mesa, recebi um telefonema da minha mãe avisando que
estava a caminho de Dallas para me fazer uma visita, a fim de ter uma
conversa séria comigo. Estava agitada ao telefone, mais alarmada que o
normal, mas não quis dizer do que se tratava, o que, unido ao fato de que ela
quase nunca vinha à cidade, me deixou preocupada.
CAPÍULO XXII
Era o que todos me diziam naquela manhã desde que cheguei ao trabalho,
encontrando uma pilha de documentos para ser analisada. Eu nunca pensei
que faltar um dia na Prime acumularia tanta coisa e acarretaria tantos
problemas.
Eu examinava tudo o que precisava fazer e não sabia por onde começar, já
estava completamente estressado só em olhar a quantidade de mensagens na
caixa de entrada do meu e-mail.
Na verdade, o que eu queria realmente era ter ficado por mais tempo na
praia com Amber, vivendo aquele momento tão raro e tão feliz. Eu podia
classificar aqueles dois dias como os melhores da minha existência, quando
pude me desligar do mundo e me entregar apenas às minhas emoções, que
eram muitas e inacreditavelmente boas. Suscitadas por Amber, a mulher que
parecia me completar em todas as esferas da minha vida.
Quando estava com ela, eu tinha a sensação de que não precisava de mais
nada, de que nada mais me faltava, ela preenchia cada sequela deixada na
minha alma pelo meu passado obscuro, me tornava um novo ser, alguém de
quem eu gostava finalmente. Era a minha cura, assim como eu era a sua.
Eu simplesmente amava tudo naquela garota, seu cheiro, sua voz, seu jeito
espontâneo de ser, seu sorriso carismático, o prazer indescritível que dávamos
um ao outro. Nunca houve outra que se comparasse a ela em minha vida,
nunca houve outra que me fizesse desejá-la durante as vinte quatro horas do
dia e desejar apenas ela, sem aquela necessidade constante de variar.
Minhas palavras não a detiveram, mas meu gesto pareceu incentivá-la e ela
sentou-se na cadeira diante de mim, cruzando uma perna sobre a outra, de
forma sensual, sem me despertar qualquer emoção.
— Como é? Você foi xeretar a vida de Amber? — Ao que parecia, ela tinha
voltado à loucura de perseguir cada mulher que se aproximava de mim, o que
me aproximou mais da suspeita de que tentara assassinar Amber.
Eu devia expulsá-la da minha sala antes que dissesse mais algum absurdo,
pois a conhecia bem e sabia que nada de bom partiria dela, mas a curiosidade
falou mais alto.
Definitivamente, desta vez ela tinha ido longe demais na sua loucura.
— Fala sério, Candice! Eu tenho muito trabalho pra fazer aqui. Não tenho
tempo para as suas loucuras.
— O que é isso?
— Leia.
Impaciente, apenas com a intenção de livrar-me dela o quanto antes, fiz
como disse, analisando o documento. Tratava-se de um teste de DNA, feito com
a uma amostra de sangue do meu pai, que a Prime colhia de todos os
funcionários para exames de rotina anualmente e o sangue de Amber, coletado
durante seu processo de admissão. De acordo com o resultado, havia cem por
cento de chance de ambos serem pai e filha.
— Você falsificou isso? — Perguntei, indignado com o quanto ela podia ser
cínica.
— Acho.
Minha mente girava com todas aquelas informações. Ao mesmo tempo que
tentava entender, buscava as lembranças dos momentos que passei com
Amber, meu consciente tentando detectar qualquer sinal de falsidade no
comportamento dela enquanto nos conhecíamos. Seriam as teorias de Candice
verdadeiras? Teria Amber sido fingida comigo desde o início, com a intenção de
me ter em suas mãos e me tomar a presidência da Prime quando decidisse que
chegara a hora? Ela saiu também com Noah, estaria realmente rondando a
nossa família para conhecer nossas fraquezas antes de revelar quem era? Meu
pai teria deixado minha mãe por causa da intromissão dela?
— Se ela é filha dele, podia ter exigido um teste de DNA e depois os direitos
que ela tem. — Falei, apegando-me a um último lampejo de esperança de que a
mulher que significava tanto para mim não era uma cobra dissimulada, de que
tudo o que aconteceu entre nós não foi uma grande mentira.
— Se ela é filha de uma antiga empregada, nossa mãe deve saber de alguma
coisa. Você falou com ela?
— Tentei, mas ela se recusa a se abrir. Está cada dia mais deprimida com o
divórcio e aposto como essa garota está por trás dessa separação. No mínimo,
deve ter revelado uma verdade que nossa mãe desconhecia, com a intenção de
fazer todo esse inferno e se vingar por ter sido rejeitada.
— Vamos falar com ela. Quero saber o que tem a dizer sobre isso tudo. —
Falei, pegando o interfone.
— Ela vai negar. — Candice afirmou com muita segurança, cruzando seus
braços diante do corpo.
— Não tem mais como você esconder a verdade, as provas estão aqui. Nós já
sabemos quem você é. Agora falta você explicar com qual objetivo mentiu. —
Minha raiva era tão grande que minha voz saía áspera.
Por que ela insistia em continuar mentindo? O que pretendia com isto?
— Eu não sei o que isso significa, mas não sou filha do Sr. Walker. Eu juro.
Por favor, acredita em mim. — Falou com tom de súplica.
Se as provas não estivessem ali, diante de mim, eu me sentiria tentado a
acreditar, pois ela realmente parecia estar sendo sincera, e foi então que me dei
conta do quanto me deixei manipular por aquela mulher, acreditando que ela
realmente se importava comigo, que gostava da minha companhia tanto quanto
eu apreciava a dela, que não ligava para a minha maldita compulsão, quando
no fundo, devia estar sorrindo de mim o tempo todo, zombando, me julgando o
tolo que me fizera.
— Eu não sei o que você pretendia com isto, Amber, mas se era ficar com a
Prime só pra você, como Candice está dizendo, seu plano deu errado. Você teria
lucrado mais se tivesse agido de forma honesta, exigindo a parte que lhe cabe
por ser tão filha dele quanto nós. Ou você acha que por sermos adotados não
temos os mesmos direitos que você? — Realmente eu pouco me importava com
a Prime, ou com aquela maldita herança, eu apenas queria magoá-la assim
como estava me sentindo magoado por toda a mentira que ela inventara, por
ter sido fingida o tempo todo, por não ter se importado comigo como eu queria.
— Por que você está falando assim? — As lágrimas desceram pela sua face e
por um instante quase vacilei. — Eu nunca menti pra você. Eu não sou filha do
Sr. Walker. Por que você não acredita em mim? O que aconteceu entre nós,
tudo o que vivemos, não significou nada pra você?
— Essa garota nunca me enganou, desde que a vi pela primeira vez, senti
que havia algo errado. E você agiu certo. Estou orgulhosa. Não podemos deixar
que essa gente aproveitadora chegue aqui e se aproprie do que é nosso. —
Candice voltou a sentar-se na cadeira diante da minha mesa. Olhei em seu
rosto, notando sua expressão de pura satisfação e, naquele instante a odiei por
me trazer a verdade, pois eu preferia viver na mentira para o resto da vida, do
que perder Amber daquela forma. Minha alma estava estraçalhada.
— Está bem. Mas você sabe que se precisar conversar, desabafar, sempre
pode contar comigo. Eu sempre estarei do seu lado.
— Sr. Walker, aqui é David Stewart. A Srta. Mitchell deixou o edifício, está
indo para o condomínio correndo, como devemos proceder? — Indagou um dos
seguranças que contratei, do outro lado da linha.
Merda! O que eu tinha feito?! Por mais errada, dissimulada e ambiciosa que
fosse, Amber não merecia morrer e eu a colocara em perigo. Havia um louco
solto por aí tentando assassiná-la e eu a tratei de forma abrupta, induzindo-a a
deixar o prédio fora de si, sem capacidade de raciocinar com a clareza
necessária para defender-se da morte. Merda! Merda! Merda! Por mais errada
que ela fosse, eu não suportaria a sua morte!
CAPÍTULO XXIII
Com o rosto banhado de lágrimas, desci do último andar até a rua sem ver o
percurso. As palavras duras de Joshua, seu olhar frio e acusador, repetindo-se
em minha mente, como marteladas incessantes, machucando-me
dolorosamente.
Como ele podia acreditar que eu era tudo aquilo de que me acusou, depois
do que aconteceu entre nós? Que eu era a filha do Sr. Walker tentando dar um
golpe? Como podia me acusar de algo tão sórdido? Como podia colocar o
dinheiro acima do que tínhamos vivido nos braços um do outro?
Definitivamente, o dinheiro, a Prime, eram muito mais importantes na vida dele
do que eu, ou teria me dado pelo menos a chance de me defender. Eu não
entendia como podiam existir pessoas assim, tão gananciosas.
Obviamente havia o dedo podre de Candice por trás daquela história toda,
influenciando a opinião dele, todavia, ele não era uma criança tola, sabia o que
estava dizendo, preferiu acreditar nos absurdos que ela inventava, dando mais
importância ao dinheiro que tinham, que a tudo o que vivemos, provando que
era tão ambicioso quanto ela.
Que se fodesse a porra do dinheiro deles! Eu nunca mais queria ver aquela
gente na minha frente, nunca mais queria ver Joshua! Para mim, ele acabava
de morrer. Se realmente acreditava que eu era uma mentirosa, uma simulada,
como me acusara, era porque não me merecia.
Eu corria como uma louca pela calçada na direção do condomínio, não sabia
ao certo para aonde ir, sabia apenas que queria me afastar dele o mais
depressa possível. Assim, fui direto para a garagem do seu prédio, onde estava
o carro com o qual me presenteou. Não que eu pretendesse ficar com aquela
porcaria, dele eu não queria nada, mas o usaria para sair dali, pois era a forma
mais rápida de me afastar.
Mas eu não estava com paciência para falar e, se ele pegasse o volante,
precisaria explicar-lhe para onde me levar e ainda não fazia ideia de para
aonde ir, queria apenas me afastar.
Quando abri os olhos, sentia a minha garganta muito seca, minha cabeça
parecia pesar uma tonelada, meu corpo estava dolorido, a luz forte no teto
ofuscava-me os olhos, de modo que precisei piscar várias vezes antes de
conseguir distinguir as imagens à minha volta, constatando que se tratava de
um quarto de hospital.
O que ela fazia aqui? Puxei as lembranças em minha mente até que as
imagens do acidente voltaram, o carro capotando no asfalto. Teria sido tão
grave assim?
— Estou bem aqui, meu amor. — Minha mãe segurou minha mão entre as
suas. — Vou avisar ao médico que você acordou.
— Não vou deixar. — Ela se virou para a porta, quando só então vi o homem
usando terno e gravata parado ali. Um dos seguranças. Ai meu Deus! Será que
eu tinha matado os outros dois? — Por favor, avise ao médico que Amber
acordou.
— Por vinte e quatro horas. Os médicos disseram que não foi grave, você
apenas bateu a cabeça com muita força. Por sorte, estava usando o cinto de
segurança. — Fez aquele olhar de mãe preocupada que já era parte dela.
— Meu amor, o que deu em você pra sair correndo daquele jeito?
— Eu fui acusada de algo que não fiz. — Minha voz saiu trêmula, junto com
uma lágrima que escorreu pelo canto do meu olho. — Joshua e Candice, os
filhos do Sr. Walker, me acusaram de ser uma golpista que estava atrás da
herança deles. Falsificaram um teste de DNA, dizendo que sou filha dele. Mas
nós sabemos que não sou. Você pode esclarecer isso a eles. Não que eu precise
dar satisfação, mas quero que Joshua saiba o quanto errou se deixando
enganar pela irmã. — Um soluço me escapou. — Ele era importante pra mim,
mãe, mais do que eu tinha percebido.
— O quê?
— Um pouco dolorida.
— Isso é normal. E a cabeça, dói muito?
Sentei-me no leito com dificuldade por causa das dores no corpo e foi apenas
ao assumir a posição vertical que senti a fisgada forte na cabeça, quando então
levei a mão até ali e descobri que havia um grande curativo em minha testa.
— Não se apavore, você se cortou e precisou de alguns pontos, mas não foi
um corte profundo, logo a dor vai passar. Se sente tonta?
— Não.
— Com enjoo?
— Não.
— Isso é ótimo.
— Você está bem. Teve muita sorte em estar usando o cinto de segurança.
— Hoje não. Quero observá-la mais um pouco, mas se nada mudar até
amanhã, você pode. — Fez algumas anotações no meu prontuário. — Mas pode
receber visitas, inclusive daquele sujeito que tentou me subornar para deixá-lo
entrar aqui.
— Quem?
— Joshua Walker.
— Mãe, por favor não o deixe entrar aqui. Eu não quero vê-lo. Nunca mais
quero olhar pra cara dele. Me promete que ele não vai entrar, mãe.
— Calma moça, você não pode ficar agitada desse jeito. — O médico alertou.
— Se você não quer recebê-lo, vou dar ordens à minha equipe para proibir a
entrada dele aqui. Está bom assim?
— Sim. Obrigada.
— Então é isto. Receitei um remédio para a dor e uma vitamina para esta
palidez. Amanhã volto para te dar alta.
— Ah, minha querida, eu sei que Joshua errou em te acusar, mas ele teve
razões para isto. — Minha mãe me encarava com aquela cara de dor.
— Como é?
— Eu espero que você me perdoe pelo que vou te dizer agora, mas está na
hora de você saber a verdade.
— Que verdade?
Ela respirou fundo, soltando o ar devagar, hesitou várias vezes e por fim,
falou:
— Robert Walker é o seu pai.
— O quê?
— Seus avós eram empregados na casa dele, sua avó cozinhava e seu avô
era o motorista. Eu nasci naquela casa. Não o via muito durante a minha
infância, porque morávamos na casa dos fundos e quando adotaram o pequeno
Noah, fui contratada para ser babá dele, passando a morar na casa principal.
Foi então que aconteceu. Eu me apaixonei e por dois anos fomos amantes.
Meu sangue gelava nas veias a medida que ela fazia aquela macabra
revelação. Fatos como a Sra. Walker ter desmaiado ao ouvir meu sobrenome,
ou o Sr. Walker ter me contratado sem me conhecer, passando a fazer todo o
sentido.
Ele sabia que estava contratando a própria filha, nada foi por acaso, até
mesmo a porra da bolsa para cursar a faculdade ele me deu. Por quê? Estaria
tentando amenizar sua culpa?
Eu não sabia o que pensar sobre tudo aquilo, me lembrava das palavras de
Candice, dizendo que meu pai não quis assumir-me como sua filha, que nos
expulsou quando descobriu que minha mãe estava grávida, que minha mãe
engravidou com o intuito de dar o golpe e minha mente girava, meu estômago
embrulhando, o pouco sangue que restava em minha face desaparecendo.
— Ele estava com você durante todos esses dias? — Me encolhi no leito,
temendo a resposta.
As lágrimas marejaram seus olhos e soube qual seria a sua resposta mesmo
antes que ela falasse.
— Sim. Estava. Ele está arrependido por ter nos abandonado quando fiquei
grávida. Eu o perdoei, mas vou te apoiar se você não o perdoar.
— Mas que absurdo! É claro que não vou perdoar! E você também não
deveria. Mãe, esse cara nos rejeitou! Nos jogou fora! Pior que isso, ele nos
isolou em uma fazenda pra preservar seu casamento com aquela víbora! Ele
preferiu adotar três crianças desconhecidas a assumir a filha de sangue.
Quando eles adotaram Candice, eu já tinha nascido e mesmo assim optaram
por ela, me rejeitando! — Eu estava fora de mim, um turbilhão de sentimentos
ruins conflitando-se no meu interior, raiva, mágoa, rejeição, revolta, tudo se
misturando. — Como você pôde perdoar uma coisa dessas?!
— Calma, Amber, você não pode se agitar tanto. — A enfermeira que ouvia
tudo em silêncio, falou, vindo aplicar o soro na minha veia.
— Me desculpa, filha. Eu sinto muito por tudo. Eu entendo como você está
se sentindo e estou do seu lado. O que você decidir, terá o meu apoio.
Eu nunca vi minha mãe chorar daquele jeito, como também nunca a vi com
um homem. Às vezes a flagrava pensativa e acreditava que sentia saudades do
meu pai. Agora eu sabia que estava certa. Isto, unido ao fato de que ela estava
com ele durante todos esses dias, não me deixava ter dúvidas de que ainda o
amava.
— Ele pediu o divórcio por sua causa. Como você pôde destruir assim o
casamento de alguém?
Ela soluçou alto, levando as mãos à boca para sufocar um segundo soluço.
— Ele nos abandonou pra ficar com ela! Como nunca a amou?!
— Eu não acredito que esteja. E se ama tanto o dinheiro que tem, que fique
com ele e somente ele. São todos gananciosos, pais e filhos. Nunca mais quero
olhar pra cara de nenhum deles. Nunca mais!
— Eu apoio a sua decisão. Volte comigo pra fazenda até você melhorar, de
corpo e de alma. Depois recomece sua vida, longe deles.
Lembrei-me das tentativas de assassinato contra mim, depois de tudo o que
ouvi, não tive mais dúvida nenhuma de que o responsável era alguém daquela
família maldita, tentando se livrar da filha legítima para não ter com quem
dividir o maldito dinheiro que tanto prezavam. Eles que ficassem com tudo. Eu
não queria um centavo sequer! Queria apenas esquecer que um dia os conheci.
Não apenas porque assim eu estaria segura, mas porque eles realmente me
enojavam, com a sua ambição descomedida.
Pelo menos até colocar minha cabeça em ordem eu ficaria no campo, junto
com minha família, depois pensaria sobre o que fazer da minha vida. Não seria
tão difícil recomeçar, eu já tinha uma formação acadêmica e Kate e Dean para
me apoiar.
Era difícil olhar para ela com os mesmos olhos depois de tudo, mas ela era a
pessoa que eu mais amava nesse mundo, não seriam os seus erros a destruir
esse amor.
— Claro, mãe.
Certamente, a esta altura, seu pai tinha lhe explicado que eu desconhecia a
minha verdadeira origem e queria se desculpar, mas era tarde, ele me magoou
demais, irremediavelmente.
Apesar de toda a raiva e toda a mágoa que eu sentia por aquele homem,
bastou-me olhar para ele para que meu corpo reagisse violentamente, as
emoções se conflitando no meu interior. Meu coração saltou como um louco no
peito, minha respiração se tornando irregular, minhas mãos transpirando. Era
impressionante a atração que ele ainda exercia sobre mim, mas eu faria com
que isto acabasse. Definitivamente.
— Por favor, não me olha assim. — Ele continuou, colocando-se muito perto
de mim, em pé ao lado da cama estreita. — Eu sei que não mereço, mas
sinceramente gostaria que você me desculpasse. Eu não estava pensando
direito. Fiquei cego quando Candice...
Ele me encarava com angústia visível nos olhos azuis. Me faria vacilar
facilmente se eu não estivesse tão cega de ódio.
— Não fala assim, Amber. Claro que você é importante pra mim. Você é a
pessoa mais importante na minha vida. O que aconteceu entre nós foi a única
coisa boa que já tive. Não diga que estou morto. Eu preciso de você.
Enquanto ele falava, as lágrimas estiveram muito perto de cair dos meus
olhos, mas eu não me permitiria chorar. No fundo da minha alma, de alguma
forma, suas palavras pareciam verdadeiras, mas a mágoa me impedia de
acreditar, a raiva me cegava para tudo o mais que não o momento de
humilhação na sua sala, seu julgamento ao meu respeito, o desvanecimento do
que existia entre nós dois.
— Não, você não precisa. Você tem o dinheiro e a presidência da Prime, isso
me pareceu mais importante pra você ontem. Ah! E antes que eu me esqueça,
você também tem Candice pra te dar conselhos quando você precisar. Portanto,
vá embora daqui e me deixa em paz.
— Você está magoada, eu entendo, como também entendo que causei isso,
eu reconheço o meu erro. Mas saiba que eu nunca vou desistir de você. Eu sei
esperar e vou esperar por você.
— Nem perca seu tempo pensando nisso. De você e da sua família, eu quero
apenas distância. Vou voltar pra fazenda, onde é o meu lugar. Não foi isso que
seu pai achou que eu merecia quando me rejeitou? Então é pra lá que eu vou.
— O fato de ele ter me colocado no ventre da minha mãe não faz dele meu
pai. Eu preferia viver na mentira de que tinha um pai morto a descobrir a
verdade: que fui rejeitada!
— Não vai pra fazenda, fica comigo. Eu não sou nada sem você. — Sua
última frase saiu trêmula, e estive muito perto de esquecer tudo e correr para
os seus braços, pois eu o queria também e queria demais, no entanto, a
bagagem que ele trazia era imensa e pesada, foi toda uma vida de educação
voltada para as coisas materiais, na primeira chance, colocou seu cargo na
presidência, sua família e o dinheiro que possuíam em primeiro lugar, acima de
tudo o que vivemos. Eu não podia lhe dar a chance de fazer de novo.
— Palavras nada significam diante das atitudes e ontem você provou que o
dinheiro e o poder são tudo pra você, não eu.
— Não dá pra esquecer. Se seu pai não tivesse voltado pra te falar a verdade,
você ainda estaria me julgando, me chamando de golpista.
Novamente, ele fitou o chão, encolhendo os ombros, com consternação.
— Eu sei que errei feio e estou aqui me desculpando por isto. Se ponha no
meu lugar! Se você visse um teste de DNA e uma doação feita pelo meu pai, o
que pensaria?
— Ainda não. Estou aqui no hospital desde ontem. Mas estou à beira do
abismo. — Percorreu os dedos pelos cabelos, se mostrando nervoso.
Mais uma vez relembrei suas palavras e a expressão dos seus olhos quando
me acusou, o que me levou a acreditar que tudo o que dizia agora era falso e
teatral.
— Foi o que te pedi ontem, lembra? Pra não falar daquele jeito comigo. Agora
você sabe o quanto foi injusto, mas eu não estou sendo, essa é outra certeza
que você pode levar.
Ele me encarou em silêncio por um instante, com dor e amargura na
expressão dos seus olhos, o que, mais uma vez, quase me desmontou, me
levando muito perto de me atirar em seus braços.
— Eu sei que também sou importante pra você e um dia você vai perceber
isso. Só espero que não seja tarde quando esse dia chegar.
Vendo o meu desespero, minha mãe correu para me tomar em seus braços,
abraçando-me apertado, fraternalmente.
— Oh, meu benzinho, você o ama, não é? — Ela disse ao meu ouvido.
Então aquela era a verdade que eu ainda não tinha enxergado: eu amava
Joshua e amava demais, com todas as forças do meu ser, por isso sua atitude
me magoou tão dolorosamente. E o pior erro que uma mulher podia cometer,
era se apaixonar por um homem como ele, Candice era a prova viva disto.
— Eu sei como é, minha princesa, quando se ama, as mágoas ficam mais
dolorosas. Mas eu te prometo que com o tempo isso tudo vai passar. Você vai
conhecer outra pessoa que te fará feliz.
Afundei meu rosto em seu peito e chorei como nunca tinha chorado na vida.
— Quero ir embora daqui na hora que o médico me der alta amanhã. Nunca
mais quero ver a cara dele na minha frente.
— É uma pena que não tenha dado certo, pois sei que ele também te ama.
— Está na cara. Ele passou a noite toda no hospital, não saiu nem pra
comer. Quando chegamos ontem, ele já estava aqui. Não dormiu, não se
alimentou, apenas caminhou de um lado para o outro na sala de espera.
Isto justificava sua aparência desleixada. Ele não tinha passado a noite na
farra como eu imaginara, mas isso não mudava nada, a dor ainda latejava
dentro de mim e eu ainda queria distância dele.
Pela ausência injustificada da minha mãe no quarto, soube que ela queria
nos deixar deliberadamente sozinhos, apoiando aquele encontro, o que me
levou a odiá-la um pouco também.
— Lamento. Não existe perdão para o que você fez. Você optou por filhos
adotivos ao invés de mim, por Cecily ao invés da minha mãe, pelo seu maldito
dinheiro ao invés de uma família de verdade. Agora fique com o que escolheu e
me deixe em paz. — Fui ríspida e grossa.
— Você não nos perdeu e sim nos jogou fora. Há uma grande diferença
nisso.
— Você se lembra do que me disse uma vez? Que podíamos sempre voltar
atrás em uma escolha ruim, que podíamos apenas adiar o que era certo a fazer
e não desistir do que realmente queríamos?
— Eu disse?!
— Pois eu retiro o que disse. Algumas situações não podem ser remediadas.
— Sim, podem quando existe amor e eu amo a sua mãe, sempre amei e amo
você. Quero ter vocês duas em minha vida. Quando fui ao encontro dela na
fazenda, eu estava seguindo seu conselho, o conselho da minha filha, que
parece infinitamente mais sábia do que eu.
— Eu já disse que não sou a porra da sua filha! — Desta vez eu gritei.
— Sim, você é. Queira ou não, o meu sangue corre nas suas veias e quero ter
você e sua mãe de volta.
— Tarde demais. Fica com a cobra que você escolheu como esposa e com
seus filhos adotados. Eles combinam mais com você.
— Deixa que eu levo isso. — Ele pegou a sacola e se dirigiu para a porta.
— Não! — Gritei tão alto que ele se deteve-se assustado, virando-se para
mim. Fitando-me com perplexidade e entregou a bolsa ao segurança.
— Então deixa que Anthony leve. Ele vai com vocês para a fazenda.
— Não. Ele vai nem que seja em outro carro seguindo vocês. Isso não está
em discussão. Não podemos ignorar o fato de que tem alguém por aí tentando
te matar. Não sabemos de quem se trata, por isso não podemos deixá-la
correndo perigo.
Embora acreditasse que a pessoa que tentou me matar fosse alguém daquela
família a fim de livrar-se de mais uma herdeira com quem teria que dividir o
dinheiro que tanto amavam, e que, portanto, me deixaria em paz depois que eu
me fosse para sempre e sem levar nada, segurança nunca era demais, então,
mesmo não sendo consultada sobre a ida do guarda-costas, não fiz objeção ao
fato. Restava saber se o homem afrodescendente, muito alto e parrudo,
conseguiria viver em uma fazenda, longe das mordomias da cidade.
— Sim. Ele cresceu em uma. Por isso Joshua o contratou. — O Sr. Walker
respondeu no lugar dele.
Sem dizer mais nada, sentindo meu peito pesado de angústia, minha alma
dilacerada de dor, deixei o aposento, com os dois homens me seguindo de
perto.
CAPÍTULO XXV
Como ainda não tinha chegado a época da colheita dos girassóis, não havia
nada a se fazer por ali, que não jogar conversa fora e às vezes eu optava por
ficar sozinha em meu quarto, ainda arrumadinho, como se minha mãe sempre
esperasse que eu voltasse.
Embora eu não atendesse seus constantes telefonemas, talvez por saber que
não conseguiria me manter longe ao ouvir sua voz, com o passar dos dias eu já
não tinha certeza se tomei a decisão certa ao me afastar, pois a sua ausência
se tornava a cada instante mais insuportável. Nada do que aconteceu, nada do
que ele me disse ou fez, me doeu mais do que doía não tê-lo por perto, não
poder olhar para ele e tocá-lo todos os dias, o que me levou a uma depressão
pungente e à necessidade de ficar sozinha. No entanto, eu só conseguia me
livrar do segurança quando saía para cavalgar nas terras da fazenda, o lugar
que ninguém podia alcançar sem antes passar por ele, portanto, eu estaria
segura.
Me dediquei àquela atividade dia após dia, quando podia relembrar meus
momentos com Joshua sem que ninguém reparasse na minha expressão triste
e pensativa ou tentasse me animar com uma conversa desinteressante. Esperei
que o tempo apagasse nossa história, que o levasse da minha memória, que
cicatrizasse minhas feridas abertas e alentasse minha alma, mas não
aconteceu, a cada dia eu me sentia mais infeliz, tão sem ele, tão só, que
chegava a ser insuportável.
E o pior era ver a minha mãe no mesmo estado. Embora ela tentasse
disfarçar, eu sabia que estava sofrendo por causa do Sr. Walker, por minha
culpa, porque eu os separei.
Enfim, nós duas estávamos no fundo do poço por minha causa e eu já não
sabia se tinha valido à pena jogar tudo para o alto e tentar recomeçar.
Assim, quando a noite caiu, vesti um jeans colado, uma regata apertada de
alças finas, calcei botas pretas de cano longo e saltos altos, passei um pouco
de creme nos cabelos para domar os cachos rebeldes, me maquiei e estava
pronta. Fui na caminhonete antiga do meu avô, enquanto o segurança me
seguia de perto no Mercedes, por insistência minha, pois se dependesse dele,
eu teria ido junto no mesmo carro, como uma prisioneira.
O percurso até a estrada principal foi demorado, já que não chovia há dias e
a estradinha sem asfalto que ligava a fazenda a ela estava coberta pelo barro
vermelho, cuja poeira dificultava a visão. Ao alcançar a autoestrada, em quinze
minutos estávamos na cidade.
— Olha só quem está aqui, pompom. — Aquele era meu apelido no colégio,
por causa do meu cabelo sempre alto, rebelde e cacheado, como um pompom
que as animadoras de torcida usavam.
— Mas seu cabelo ainda se parece com um pompom. Como está indo a vida?
— Ele indagou com um sorriso, ignorando um cliente que tentava fazer um
pedido.
— Uma cerveja.
Ele olhou para Anthony que se recostou na parede, muito sério, a poucos
metros de distância.
Pouco depois, Angelina, outra antiga colega da escola, veio falar comigo,
muito animada ao me rever, me apresentando seu namorado, para depois de
alguns minutos de uma conversa animada sobre os velhos tempos, ambos me
levarem para a pista de dança, onde passei a me balançar ao sabor da música,
sentindo-me cada vez mais relaxada, livre da tristeza e da melancolia que me
acompanhou nos últimos dias.
Mas eu não sentia interesse nenhum em ficar com ninguém, apesar de ser
um gato, o cara não me atraía, como se meu organismo estivesse programado
para desejar apenas um homem e esse homem era Joshua, o único que eu
queria, em quem pensei durante todos aqueles dias, com quem gostaria de
estar agora.
Mas como aquilo era possível? Como ele tinha vindo parar ali? Será que era
uma alucinação? Eu esperava que não.
— Oi. — Ele disse, com um sorriso que me deixou sem chão, completamente
presa a si, à sua voz linda, à sua proximidade gostosa.
Tudo dentro de mim se revirou, cada uma das células do meu corpo
tomando consciência da presença dele, quando então percebi que senti sua
falta muito mais do que tinha imaginado e me perguntei como consegui passar
tantos dias sem olhar para ele.
— É sério isso?
— Não. O Anthony me ligou avisando que você tinha saído e vim te ver. —
Desta vez falou olhando nos meus olhos e meu coração bateu ainda mais feroz,
como se tentasse saltar do meu peito.
— De avião. — Fred veio atendê-lo e Joshua pediu vodca com gelo. — Senti
sua falta.
— Sim. — Ele desviou seu olhar para o chão. — Mas nada se compara a não
ter você por perto. — Ele voltou a fitar-me nos olhos, com paixão.
— Você teve uma recaída? — Minha voz saiu trêmula por temer a resposta.
— Eu posso te garantir que fui ao inferno e voltei depois que você se foi,
estive muito perto de cometer essa loucura, mas não cometi, por você, porque
no fundo eu nunca deixei de ter esperança de que você seria minha de novo. —
Eu podia sentir meu coração pulsando forte contra as costelas enquanto ele
falava. — Você me enfeitiçou Amber Mitchell, mas também me curou.
— Nesse caso não vejo uma razão maior para que estejamos separados.
— E quem é você pra me dizer o que fazer, babaca? — Sem mais nem menos,
o sujeito esmurrou-lhe o peito com as duas mãos espalmadas.
Porra! O cara era enorme, se Joshua não baixasse a bola ia levar uma surra.
Tentei falar alguma coisa que pudesse amenizar a situação, mas antes que
tivesse tempo de abrir a boca, Joshua partiu para cima do homem com tudo,
mostrando-se agressivo como uma fera selvagem, esmurrando-lhe a face,
violentamente, repetidamente, até que este estivesse meio baqueado, quase
caindo no chão inconsciente, quando então seu amigo veio em seu socorro,
junto com Angelina e o afastaram de Joshua, levando-o para longe.
Segurou-me firmemente pelo pulso, com a mesma mão que esmurrou o rosto
do sujeito e puxou-me para fora do bar sob o olhar curioso das pessoas, com o
segurança nos seguindo a uma certa distância. Do lado de fora, gesticulou
para que Anthony ficasse onde estava e me levou para um beco escuro que se
abria entre o prédio em que funcionava o bar e um depósito de bebidas
fechado.
— Isso.
Porra! Como senti falta dele! Como senti falta do seu calor!
Agindo como uma viciada que encontrava sua droga, fechei minhas mãos
nos músculos duros dos seus braços, apertando com força, querendo-o um
pouco mais e em resposta, Joshua inclinou os joelhos, nivelando nossos sexos,
pressionando sua firme ereção diretamente sobre minha intimidade por sobre
as roupas, esfregando-se em mim como um animal no cio, arrancando-me um
gemido alto.
— Caramba! Como senti falta disso. — Confessei, quase sem voz por causa
da respiração pesada, quando sua boca desceu para explorar a pele do meu
pescoço.
— Eu também. Quase enlouqueci sem você. Nunca mais me diga para ficar
longe. — Sua voz lembrava o grunhido de um animal.
Logo, suas mãos vieram para o zíper da minha calça, abrindo-o com uma
pressa meio desesperada, ao mesmo tempo que as minhas iam para o fecho da
calça dele, trabalhando com a mesma urgência.
Quando comecei a ficar mole, foi a sua vez e com um único gemido, ele se
esvaiu dentro de mim, seus espasmos se fazendo contra a minha carne, me
arrancando um segundo orgasmo, enquanto seu leite me enchia quente e
delicioso.
— Me diz que nunca mais vai me deixar. — Sussurrou contra a minha pele.
Ele afastou o seu rosto alguns centímetros, apenas o suficiente para que seu
olhar encontrasse o meu.
— Eu não sou...
— As coisas não são assim. — Vesti-me, enquanto ele fazia o mesmo. — Nem
tudo se resolve com sexo. Você me...
A tentação era quase irresistível. Voltar com ele para Dallas, viver em seu
apartamento, passar meus dias ao seu lado. O que mais eu podia querer? Ele
tinha razão, eu o desejava e desejava demais. Mais que isso, eu estava
completamente apaixonada por ele, embora não o deixaria saber até ter certeza
de que meus sentimentos eram correspondidos, mas eu precisava pensar com
o meu lado racional no quanto me senti magoada em seu escritório. Eu não
estava preparada para viver assim, mas também não estava preparada para
viver sem ele. Na verdade, eu não sabia o que fazer.
— Vem comigo, Amber, por favor. — Ele deslizou suas mãos pelos meus
braços, para fechá-las sobre as minhas. — Eu te dou minha palavra de que
nunca mais voltarei a te magoar. E se algum dia eu faltar com esta promessa,
então eu te deixo ir e nunca mais você ouvirá falar de mim.
Pensei uma, duas, três vezes antes de responder, mas a reposta não podia
ser outra.
— Eu venho te buscar.
— Está bem.
CAPÍTULO XXVI
— Ah, não. Eu vim na picape do meu avô. — Gesticulei para a lata velha
estacionada do outro lado da rua e quase sorri da expressão que Joshua fez ao
olhar para ela. Um misto de pena e incredulidade surgindo em seus olhos
azuis.
— Antony, você volta na picape que eu levo Amber no Mercedes. Depois você
me traz até o avião.
— Sim, senhor.
Não consegui dormir nas poucas horas que restavam daquela noite, me
sentindo exultante porque voltaria a viver perto do homem que eu amava, e ao
mesmo tempo arrasada porque minha mãe continuaria ali, ainda mais sozinha,
sem o homem por quem sofreu e a quem amou durante toda a sua vida. Eu
estava sendo no mínimo egoísta por partir em busca da minha felicidade e
continuar impedindo a dela. Mas o que eu podia fazer? Eu sequer perguntei a
Joshua se o Sr. Walker ainda estava separado da esposa. E mesmo que
estivesse, o que eu diria ele? Que voltasse para a minha mãe? Eu não tinha o
direito de manipular a vida dos outros de tal forma.
Como Joshua não me disse a que horas viria, assim que o dia clareou,
arrumei minhas poucas peças de roupas em uma mochila, tomei café com
minha família, comunicando a todos que voltaria a Dallas e depois fui
aproveitar o sol ainda fraco para uma última cavalgada de despedida.
Ansiosa por revê-lo, voltei com o animal em uma corrida veloz e senti o
sangue fugir da minha face quando encontrei todos sentados na varanda:
minha família, Joshua, que estava lindo demais em um terno impecável, com a
barba bem-feita e os cabelos arrumados, e o Sr. Walker. O que ele fazia ali?
— Olá. Está pronta para irmos? — Joshua deixou sua cadeira para vir me
encontrar no meio da varanda, plantando um selinho em meus lábios,
deixando-me imensamente constrangida ao fazer aquilo na frente de todos.
Embora eu jamais aceitaria o fato de que ele era meu pai, consegui sentar-
me na varanda, perto de Joshua e olhar para ele sem aquele ódio medonho que
sentia antes, como se este fosse abrandado com os dias que se passaram.
Durante todo o tempo, o Sr. Walker e minha mãe não deixaram de trocar
olhares apaixonados, embora nada falassem sobre a possibilidade de uma
reconciliação, por isso não fiquei surpresa, tampouco furiosa, quando, no
momento de entrarmos no helicóptero e nos despedirmos, ele declarou:
Ele estava pedindo a minha permissão para ficar com a minha mãe. E o que
eu podia dizer? Que ele não ficasse e assim impedir que ela fosse finalmente
feliz? Eu não podia ser egoísta a este ponto.
Eu passei menos de um mês com Joshua e uma semana inteira sem ele foi
como viver no inferno, podia imaginar como minha mãe se sentiu durante toda
a sua vida, amando aquele homem sem poder tê-lo. Definitivamente, eu não
podia atrapalhar a chance que ela tinha de ser feliz, talvez a última.
— Acho uma boa ideia, Sr. Walker. Até porque as hélices do seu helicóptero
estragaram algumas flores e isto vai requerer uma mão de obra maior. —
Declarei e vi o rosto da minha mãe se iluminar com um sorriso largo, seus
olhos negros brilhando como duas pérolas.
E foi assim que ela veio me abraçar, com gratidão e despedida. Abracei
também meus avós e partimos todos no helicóptero, inclusive Antony, deixando
o Mercedes para que o Sr. Walker fosse à cidade comprar algumas roupas, já
que parecia ter vindo sem trazer nada.
Eu não sabia quantas horas demoraria o percurso até Dallas. Então, como
não tinha dormido nada durante a noite, descansei minha cabeça no ombro de
Joshua, que se sentava ao meu lado e peguei no sono, sem ver o caminho.
Esperava que fôssemos direto para o apartamento dele, matar a saudade que
eu tanto senti durante aqueles dias, mas quando acordei estávamos pousados
na pista no topo do edifício da Prime, onde mais três seguranças nos
aguardavam, Antony indo cumprimentá-los como se fossem velhos conhecidos.
Era fim de tarde e dali podia-se ver o sol se pondo atrás do tapete de
edifícios, enviando seus raios amarelados, em um belíssimo espetáculo.
— Não. Eu quero é que você me diga logo o que tem pra dizer.
Ele só podia estar brincando. Por que seu pai faria uma coisa dessas?
— Porque você disse que o dinheiro era mais importante para nós dois do
que você e ele quis provar que não é. Por isso o ajudei no processo, para que
você saiba que está acima de tudo o mais na minha vida e na dele.
Aos poucos, a ficha foi caindo junto com o meu queixo, a medida que meus
olhos se arregalavam atônitos. Eu não estava preparada para ser dona de todo
um império e nem queria ser. Se a família dele já pretendia me matar antes
disso, eu podia imaginar o que fariam agora.
— Não tem como devolver, ele impôs essa condição como lei. Você agora é
dona de tudo. É a rainha do jogo e a mais nova presidente da Prime.
Me senti mais segura com suas palavras, mas ainda não queria nada
daquilo, pois dinheiro e poder só levavam problemas à vida de uma pessoa. Eu
preferia viver em paz.
— Como você pode saber se não vai gostar antes mesmo de tentar? Tente,
experimente as possibilidades, aí então se você realmente ainda não quiser, eu
volto a assumir tudo. Mas não farei isso antes que você tente.
— Assim eu vou ficar ainda mais na mira da pessoa que quer me matar.
Joshua ficou visivelmente tenso, pois sabia que eu insinuava que essa
pessoa podia ser sua mãe ou sua irmã, as únicas que eu conhecia com razões
para me odiar a ponto de quererem me ver morta.
— Tem uma coisa que ninguém sabe. — Ele afastou-se, passando os dedos
entre os cabelos curtos. — Um dos executivos da Prime, o Morris, do setor
administrativo, já foi espião da CIA, era ele quem investigava o roubo de
informações. — Eu lembrava do homem a quem ele se referia, um sujeito com
cerca de cinquenta anos, dono de olhos muito sagazes para a sua idade. — E
está ajudando a polícia a investigar quem está por trás dessa história.
Descobriu que Bruce usava um celular dentro da cadeia, portanto, há uma
grande chance de que seja o mandante das tentativas de assassinato que você
sofreu.
Eu não acreditava que fosse Bruce, pois ele não esperaria três anos, a não
ser que não tivesse um meio de se comunicar com seus comparsas antes.
Ainda assim, algo me dizia que Candice ou Cecily estavam por trás de tudo
aquilo, mas não insistiria em dizer isso a Joshua para não o magoar ainda
mais.
— Era isso que eu tinha pra te falar. A decisão de passar a Prime para o seu
nome foi tomada em consenso por mim e por meu pai. Nós dois acreditamos
que você merece isso.
— Só esqueceram de me perguntar se eu queria.
— Você vai. Eu estarei sempre aqui pra te ajudar. Amanhã cedo faremos
uma reunião com todos os acionistas para comunicar a novidade, então você
estará no controle de tudo.
Que gente louca! Eu não sabia controlar nem minha vida e eles me
confiavam uma construtora multimilionária. Estávamos todos ferrados, ele
mais do que eu.
— Você não vai. Eu já conheço o seu trabalho, sei que você é competente.
— Elas têm as coisas delas. Casas, carros. Não precisam de mais nada. —
Isso era o que ele pensava. — Vamos pra casa, tenho outra surpresa pra você.
Segurou-me a mão e me conduziu para fora, depois para o elevador e por fim
para a rua, já mergulhada na penumbra da noite, sem que os seguranças
saíssem de perto de nós nem por um segundo. Caminhamos até o condomínio,
quando só então me dei conta do quanto senti falta daquele curto trajeto, como
se aquele fosse verdadeiramente o meu lugar neste mundo, como se eu tivesse
nascido para viver ali, em meio à movimentação da cidade, trabalhando na
Prime, morando no condomínio, fazendo aquele percurso todos os dias.
Ao alcançarmos seu prédio, Joshua deu ordens para que os seguranças
ficassem do lado de fora, em alerta, sem permitir a passagem de ninguém sem
a sua prévia autorização e subimos.
Fiquei encantada ao entrar na grande sala principal, onde havia uma mesa
ao centro, ornamentada com flores, velas perfumadas, pratos de porcelana e
taças de cristais, postos para duas pessoas.
Eu não estava com fome, na verdade, preferia que ele me jogasse sobre a
mesa e arrancasse minhas roupas, mas tudo tinha sido preparado com tanto
capricho, que não tive como recusar.
— Sim, quero.
Agindo como um perfeito cavalheiro, Joshua puxou uma cadeira para que eu
me acomodasse, foi até o bar no canto da sala, de onde trouxe uma garrafa de
vinho tinto gelado e nos serviu, para em seguida ocupar a cabeceira da mesa.
— Sim.
— Ainda bem, pois é o que temos para hoje.
— Parece que você planejou isso muito bem. — Falei, saboreando a comida,
maravilhada com o sabor.
— Só estou tentando ser um homem romântico, como nunca fui. Você acha
que exagerei?
Eu não ia lhe dizer isto, mas gostava dele exatamente como era: uma
máquina sexual irrefreável, louco pelo prazer carnal, como me tornou. Muitos
homens românticos já tinham passado pela minha vida, mas apenas ele, com
seu jeito safado de ser, foi capaz de conquistar o meu amor. Não que eu
estivesse reclamando daquele gesto tão belo, pelo contrário, eu gostava de tudo
o que vinha dele.
Mas Joshua estava decidido a me dar uma noite romântica, então, após a
refeição, foi pessoalmente à cozinha em busca da sobremesa, quando
aproveitou para colocar uma música clássica romântica no volume baixo, antes
de voltar com as duas taças cheias de chandelle de chocolate com chantili em
uma bandeja de cristal, pousando-a sobre a mesa. Voltou a sentar-se, fixando
seus olhos em meu rosto.
Eu gostava daquele joguinho de sedução, afinal, que mulher não gostaria de
ser servida por um homem lindo como ele? Mas havia algo de que eu gostava
mais. E foi pensando nisso que levei uma colherada de chandelle à boca e,
deliberadamente, passei a língua bem devagar na colher vazia,
provocantemente, sem desviar meus olhos dos dele.
CAPÍTULO XXVII
Com isto, pegou a única taça que permaneceu na mesa, cheia com o doce e
levou uma colherada à boca, sem engolir, trouxe seus lábios de volta para os
meus e derramou a sobremesa na minha boca, me alimentando assim e todo o
meu corpo vibrou com expectativa crescente.
Abandonou a taça sobre uma cadeira e trouxe sua boca gostosa novamente
para mim, beijando-me sofregamente nos lábios antes de descer, lambendo o
doce que espalhara sobre mim, devorando-o devagar, seus lábios e sua língua
quentes saboreando minha pele, em contraste com o frio do doce, atiçando o
calor da lascívia que jazia no meu interior, me deixando prestes a explodir de
prazer.
Com um gesto único, sua língua deliciosa foi do meu ânus até o meu clitóris,
me limpando do doce, me fazendo arquejar, cada fibra do meu corpo
implorando por mais e Joshua me deu, lambendo avidamente meu clitóris com
a ponta da sua língua, em círculos, de cima para baixo, aceleradamente, me
levando muito perto do clímax.
Mas antes que eu explodisse, ele levou sua língua para a minha vagina,
enterrando-a ali, movendo-a lá dentro, me fodendo assim, meus gemidos de
súplica se tornando mais altos, ecoando pela sala.
E voltou a me beijar, enterrando sua língua gostosa na minha boca para que
eu a sugasse com uma fome meio descontrolada.
Sem separar sua boca da minha, ele me ergueu em seus braços, carregando-
me para o quarto, onde fiquei extasiada ao ver a cama coberta por pétalas de
rosas vermelhas, o vidro das paredes oculto por paredes móveis, o ambiente
meio escurinho, com velas perfumadas acesas por todos os lados.
Puta que pariu! Não podia existir um gosto melhor que aquele. O gosto da
luxúria e do prazer.
Ah! Porra! Que delícia! Definitivamente, não existia nada melhor do que fazer
sexo com aquele homem.
— Ah, gostosa, rebola no meu pau... — Ele sussurrou, com um tom meio
animalesco, que me deixou ainda mais excitada.
— Não existe nada melhor no mundo que estar dentro de você, Amber. —
Sussurrou, com tom rouco e, com muita agilidade, inverteu as posições,
colocando-se sobre mim, montando-me, seu corpo inteiro colando-se ao meu,
de cima a baixo, sua boca tomando a minha com fúria, com paixão, enquanto
me penetrava cada vez mais forte, mais fundo, com estocadas bruscas, me
fodendo gostoso demais.
Tentei me segurar para prolongar o quanto mais aquele momento, mas foi
impossível, logo meu corpo todo se contraiu, exigindo o alívio e eu explodi,
gozando como uma desesperada debaixo dele com o seu pau enterrado em mim
até a raiz, meus gemidos se transformando em gritos, as lágrimas fugindo dos
meus olhos, meu corpo se contorcendo todo.
— E você a mim.
Quando acordei na manhã seguinte, Joshua estava beijando meu corpo, que
parecia incendiar de tanto desejo sob o toque da sua boca. Após transarmos
mais uma vez, tomamos um banho demorado juntos e fiquei nervosa ao
escolher o que vestir, pois seria um momento crucial em minha vida, quando
declararia a toda uma empresa que me tornei dona dela da noite para o dia.
— Claro que vai. Você é brilhante, tem boas ideias e o sangue do maior
engenheiro desse país corre nas suas vezes. — Joshua falou, encorajando-me.
Então, respirei fundo e escolhi o que havia de mais careta entre minhas
peças de roupas: um casaco xadrez de mangas compridas, que coloquei junto
com o jeans e as botas. Me lembraria de ir às compras mais tarde.
A sala de Joshua agora ficava no penúltimo andar, mas ele fez questão de
me acompanhar até a sala da presidência, onde agora era o meu lugar.
Fomos recebidos por uma Rebecca simpática e sorridente como sempre, que
veio me perguntar se já podia convocar os demais acionistas para a grande
reunião.
— Você pode pedir que esperem um pouco, até você se acalmar. — Joshua
falou, ao adentrarmos à grande sala sobriamente decorada, com uma vista
esplendorosa para o centro de Dallas.
Ele sorriu admirado e fomos para a sala de reuniões, onde ocupei meu lugar
na cabeceira da mesa, com ele sentando-se na primeira cadeira, ao meu lado.
— Isso não pode ser possível! Meu pai deve estar esclerosado. Ele não ia
entregar a presidência da sua empresa a uma pessoa como você.
Podiam se passar cem anos, mas Candice jamais me desceria pela garganta.
— Você não tem preparo algum, tampouco tem experiência para assumir
tanta responsabilidade.
Olhei para a pilha de documentos que tinha trazido da outra sala, entre eles
projetos inacabados, outros por começar, outros para serem aprovados e todos
esperando pela minha palavra final. Comecei pelo projeto da construção de
hidrelétrica em Nevada por ser o maior de todos, do qual eu já estava inteirada.
E durante uma apresentação de slides, me senti livre para mudar aquilo que
eu achava necessário, como o fato de deixarmos um pedaço de terra maior para
os habitantes das comunidades ribeirinhas que viviam da pesca e, portanto,
seriam prejudicados. Ressaltei que o objetivo era construir algo moderno e
arrojado, interferindo o menos possível na natureza, afinal, durante a
faculdade, a preservação do ecossistema foi a minha disciplina preferida.
No entanto, nem tudo era diversão. Após a reunião, apareceu tanto trabalho
na minha mesa que eu mal tive tempo de respirar. Percebi que com o poder
vinham as responsabilidades, eu precisava ser objetiva, sensata e pensar
rápido para que as coisas dessem certo, pois o menor deslize, podia acarretar
prejuízo para milhares de pessoas.
O melhor momento do meu dia foi quando Joshua deixou sua sala para vir
almoçar comigo quando o desejo falou mais alto, como sempre, e acabamos nos
entregando um ao outro ali mesmo, sobre a mesa, sem receio e sem pudores.
Ainda era dia quando deixamos a clínica e aproveitamos o tempo livre para
caminharmos no parque, atraindo a atenção de todos por sermos seguidos
pelos seguranças armados, o que não interferiu em nosso momento de lazer.
Mesmo sendo observados, conseguimos nos sentar abraçadinhos sobre a
grama, sob a sombra de uma árvore frondosa e curtirmos a proximidade do
outro.
Ainda assim decidi arriscar e convidei Kate para irmos às compras. Seguida
pelos seguranças, que ocupavam outro carro, mas não saíam da minha cola,
fui apanhá-la em Tyler, com o meu Camry consertado, novinho em folha.
“E eu nunca imaginei que podia me apaixonar mais a cada dia pelo mesmo
homem.” Pensei, mas não me atrevia a falar.
O restaurante era simples, porém tinha uma decoração de muito bom gosto,
toda em estilo country e o melhor de tudo era que ficava bem no centro do
parque, em meio às árvores centenárias, o mais perto possível da natureza que
se podia chegar ao se fazer uma refeição em Dallas.
Após saborearmos a deliciosa comida em uma área do restaurante que ficava
ao ar livre, continuamos ali jogando conversa fora e bebendo vinho gelado, sem
pressa nenhuma de irmos embora, aproveitando o momento tão agradável,
interrompido pela libido descontrolada de Joshua, que a todo instante trazia
seus lábios ao meu ouvido para me lembrar do quanto estava ansioso para
ficar sozinho comigo e arrancar meu vestido novo com os dentes.
Era fim de tarde quando nos despedimos, Kate e Dean voltando para Tyler
no carro dele, eu e Joshua indo para o condomínio na limusine, com os
seguranças nos seguindo.
— Tirando o fato de que meu pau está quase tendo uma câimbra por ficar
tanto tempo duro, te olhando nesse vestidinho, acho que me diverti sim.
Com isto, ele usou um botão para erguer o vidro negro que nos separava do
motorista e voltou a me agarrar, suas mãos arrastando a saia do vestido para
cima com urgência, as minhas abrindo o fecho da sua calça.
Ele usava suas duas mãos para me ajudar a mover-me sobre seu membro,
me levando para cima e para baixo, escorregando dentro de mim,
enlouquecendo-me como só ele sabia fazer, até que nossos corpos enrijeceram
ao mesmo tempo e sua boca encontrou a minha para beber meus gemidos
enquanto gozávamos juntos, nossos corpos ondulando em igualdade, nossos
espasmos se fazendo ao mesmo tempo, antes de se cessarem de vez.
— Você tem mesmo a quem puxar. — Abaixou o vidro que nos separava da
cabine e deu ordens para que o motorista nos deixasse ali.
Era fim de tarde e por ser sábado, o prédio estava praticamente deserto, com
exceção dos vigias e algumas pessoas que ainda se empenhavam em fazer a
limpeza, não havia mais ninguém além de nós por ali. Na minha sala, peguei os
documentos de que precisava e fizemos todo o percurso de volta, envolvidos em
uma conversa íntima e gostosa.
Com todo o meu corpo trêmulo, do mais puro horror, eu estaquei, ficando ali
na calçada, meu sangue fugindo da minha face, meu coração ameaçando parar
de bater, os documentos caindo da minha mão sem que eu percebesse.
— Por Deus, Amber! O que você tem? — Joshua indagou aflito, seus olhos
buscando a direção para a qual eu olhava.
— Bruce. — O nome daquele monstro saiu da minha boca num fio de voz
muito fraco.
— Onde?!
— Ali. — Gesticulei para o lugar exato onde ele estivera a um segundo atrás,
embora já não o visse mais.
Joshua mirou seu olhar naquela direção, sem também encontrá-lo, depois
deu ordens para que dois dos seguranças fossem à procura do monstro
enquanto me conduzia para o condomínio com o outro segurança atrás de nós.
As lembranças dos dias que passei presa naquele maldito porão, com fome,
com frio, sendo violentada por aquele monstro me voltaram tão nítidas, que eu
podia sentir tudo de novo, a dor, a humilhação, o horror e, abraçada a Joshua,
pouco a pouco fui perdendo a consciência, mergulhando na negra escuridão, a
saída que meu cérebro encontrara para fugir das lembranças.
Quando recobrei os sentidos, estava deitada confortavelmente na cama de
Joshua, usando uma camisola de algodão folgada, sob o olhar aflito dele, que
estava sentado na beira do colchão.
— Alguns minutos. O médico está vindo dar uma olhada em você. — Ele
falou, visivelmente preocupado.
A visão do monstro me voltou, junto com um calafrio que desceu pela minha
espinha.
— Sim. Eu vi.
— Absoluta.
— Eu estou confortável.
— Melhor assim.
Enquanto o ouvia, meu sangue gelava nas veias, meu coração batendo muito
devagar, a inconsciência ameaçando me pegar. Vinte e quatro horas depois de
sair da cadeia Bruce já estava me rondando, ele queria vingança, queria a
minha cabeça e não descansaria até que eu estivesse morta.
— Não tenha medo, Amber. Aquele safado não vai chegar perto de você
enquanto eu estiver vivo. — Joshua me garantiu, me apertando contra seu
corpo.
— Então quer dizer que ele era o mandante das tentativas de assassinato?
— Não tem como provar que ele tentou matar Amber e assim perder essa
retratação?
— Espera. Sam disse que não foi o responsável pela queda do gesso no teto
da lavanderia, que foi a pessoa que o contratou. Se Bruce ainda estava preso,
quem foi então?
— Não sei, Amber. Estão faltando muitas peças nessa história ainda. Na
certa, Sam estava mentindo. Mas estou investigando tudo junto com a polícia e
vou tentar acionar a CIA. — Morris falou. — Não fique preocupada, com o
tempo apanharemos esse miserável. Até lá, não se afaste dos seguranças.
Ele e Joshua trocaram mais algumas palavras sobre o caso, sem chegarem a
uma conclusão clara de nada e por fim Morris se foi.
— Me desculpa. — Balbuciei.
— Pelo quê?
— Por pensar que sua mãe ou sua irmã estavam por trás dessa história, por
seu pai ter se divorciado da sua mãe.
— Não pense nisso. — Ele afundou seu rosto em meus cabelos. — No seu
lugar, qualquer pessoa teria pensado o mesmo e você não é culpada por meu
pai amar sua mãe.
CAPÍTULO XXIX
Na cozinha, usei tudo o que encontrei de gostoso para preparar uma bandeja
farta com café fresco, leite, sanduíches e frutas e levei para Joshua, no quarto.
O encontrei ainda mergulhado em seu sono tranquilo e o despertei colando
minha boca na sua, fazendo com que o nosso café fosse adiado, pois quando se
tratava de Joshua, um beijo na boca de manhã era como uma overdose de
afrodisíaco.
No instante em que abriu os olhos, ele me jogou na cama e me fez sua, com
tanta intensidade, tanta paixão, que fiquei ainda mais inebriada, loucamente
apaixonada.
Merda! Não seria fácil ter que engolir aquela mulher, mas ela era mãe do
homem que eu amava, por mais que eu quisesse, não conseguiria evitá-la.
— Você sabe que sua mãe me odeia. Antes eu não entendia, mas agora eu
entendo o motivo, assim como entendo que o ódio dela deve ter crescido depois
que seu pai pediu o divórcio por causa da minha mãe.
— Ela que engula o ódio. Você é a mulher que escolhi para mim. Ela vai ter
que aceitar isso.
Joshua interrompeu a tarefa de vestir-se para vir até mim, seu olhar
confuso, como se desse-se conta de alguma constatação. Sentou-se na beira do
colchão, com seus olhos presos aos meus e acariciou minha face com a ponta
dos dedos.
— Claro que você é, Amber. Eu não sou muito bom com as palavras, aliás
sou mais de agir do que de falar, mas eu achei que você já tinha percebido o
quanto estou apaixonado por você. — Fogos de artifícios pareceram se fazer no
meu interior, enquanto meu coração assumia um ritmo ainda mais acelerado
no peito, meus lábios se curvando em um sorriso largo. — Eu te amo Amber
Mitchell, sempre amarei. Você é a mulher da minha vida, com quem quero
passar o resto dos meus dias e nada nem ninguém pode mudar isso.
Caramba!
Fiz como ele disse, vestindo um short confortável e regata. Deixamos o
quarto de mãos dadas, encontrando a mulher já acomodada em um dos sofás
da sala, elegante como uma rainha no conjunto de saia e blusa marfim, com os
cabelos escuros, lisos, caindo pelos ombros.
— O que ela faz aqui?! — Indagou, entre dentes, os olhos reluzentes de fúria.
— Ela está morando comigo, é a mulher que escolhi para a minha vida e a
senhora precisa aceitar isso. — Joshua falou, com calma.
— Você realmente espera que eu aceite ver meu filho agarrado com a filha de
uma prostituta barata que destruiu meu casamento?! E como se não bastasse
ainda tirou tudo de nós!
— Ela não tirou nada de nós. A decisão de transferir a Prime pro nome dela
foi exclusivamente minha e do papai. — Quanto mais Joshua me defendia,
mais eu me sentia culpada pela sua desunião com a mãe, pois por mais ruim
que ela fosse, era a única mãe que ele tinha. Eu não queria afastá-los.
Com isto, ela deu meia volta e saiu, pisando pesado, batendo a porta com
força atrás de si.
— Ela não perdeu meu pai pra sua mãe. Eu cresci ouvindo os dois brigarem,
gritando para o outro o quanto eram infelizes juntos. E quanto à Prime, não vai
fazer falta, minha mãe é rica, talvez mais que você. Ela só está magoada.
Quando essa raiva passar ela vai encontrar outra pessoa e ser feliz, então
perceberá que você nem sua mãe são culpadas pela infelicidade dela.
Ele segurou minha face com uma mão e trouxe seus lábios deliciosos para
mim, para em seguida me segurar em seus braços e me carregar para a cama,
onde nos entregamos de corpo e alma à paixão visceral que jazia em nosso
íntimo.
Como esperado, o dia foi fatídico, cansativo e de muito trabalho, com pausas
para as visitas de Joshua, que vinha para tornar meu dia mais gostoso e
quente, muito quente.
Como sempre fizera desde que saí de casa para cursar a faculdade, minha
mãe me telefonava todos os dias e fiquei maravilhada por saber o quanto ela
estava feliz, vivendo com o Sr. Walker, que estava construindo uma casa maior
para os dois ali mesmo na fazenda. Para não deixá-la preocupada, não lhe
contei sobre a saída de Bruce da cadeia.
Meu primeiro impulso foi gritar por socorro, mas ele esperava que eu fizesse
aquilo e agiu rápido, correndo para mim, tapando-me a boca com uma mão
enquanto me aprisionava contra a pia com o seu corpo muito grande e
musculoso, a outra mão apontando a arma para a minha cabeça.
Ali, no pequeno banheiro, havia uma janela com o vidro quebrado no alto da
parede que parecia dar acesso ao lado de fora.
— Vamos sair por ali. — Falou, gesticulando para a janela. — Você vai na
frente, mas não tenta nenhuma gracinha porque eu não estou sozinho.
Logo que meus pés tocaram o gramado do lado de fora, com os dois homens
me segurando, um de cada lado, foi a vez de Bruce atravessar a janela, com
dificuldade em passar pelo espaço muito pequeno para o seu corpo enorme.
Segurou-me firme pelo braço, afastando-me dos seus comparsas, olhando para
os dois lados a fim de se certificar de que ninguém notava o que acontecia e
ninguém nos olhava. Então, me conduziu na direção de uma das ruas de
pedras que cortava o parque, a mais próxima, com os dois homens nos
seguindo.
Assim, guiada por um impulso, usei toda a força e a agilidade do meu corpo
para lançar-me na direção do motorista, levando minhas mãos aos seus olhos,
cravando-lhe minhas unhas crescidas, por um milésimos de segundos, pois
logo o monstro puxou-me para trás, desferindo-me uma bofetada violenta no
rosto antes de me imobilizar no assento com seus braços musculosos. Mas o
estrago que eu pretendia tinha sido feito, o motorista levou uma mão aos olhos
feridos pelas minhas unhas, sem conseguir enxergar e assim perdeu o controle
da direção, seguindo com o carro em ziguezague pela rua, em alta velocidade,
perigosamente, até que por fim bateu no tronco grosso de uma árvore, o
impacto fazendo com que todos nós fossemos lançados para a frente,
violentamente.
CAPÍTULO XXX
Intimamente eu rezava para que eles nos alcançassem, essa era a minha
última chance de salvação, pois se chegássemos à rua, Bruce teria mais
chance de desaparecer comigo, já que era perito em roubar carros e eu preferia
a morte que passar por tudo o que passei sob os domínios dele de novo.
— Me deixa em paz seu maldito! Eu não vou com você! Pode me matar se
quiser, mas não vou ser sua prisioneira de novo!
— Eu não vou ficar esperando que nos encontrem por causa dessa mulher.
— Seu comparsa declarou e seguiu em frente sozinho, correndo com
velocidade.
Estávamos muito próximos da rua, quando, para o meu total alívio, as vozes
nos alcançaram de perto, de trás.
— Pare aí mesmo e coloque a moça no chão! — Ressoou a voz masculina,
ríspida.
Com isto, começou a recuar, sem dar as costas para os homens, nos
conduzindo devagar para o interior da floresta.
— Atirem nele! — Gritei, tomada pelo mais terrível pavor de que ele
conseguisse me levar. — Atirem, por favor!
— Cala a boca vadia! — Ele grunhiu, ao mesmo tempo que desferia uma
coronhada violenta na minha cabeça, me deixando tonta, quase desfalecida.
Tomada pelo mais doloroso desespero, gritei pelo seu nome e tentei alcançá-
lo, mas o mostro continuava me aprisionando contra si, o que não se
prolongou por muito mais tempo, pois logo um dos seguranças atirou em nossa
direção, uma única vez, um tiro certeiro que arremessou o monstro para trás,
para o chão, seu braço musculoso quase me levando junto.
Livre, com todo o meu corpo trêmulo, corri para Joshua, agachando-me ao
seu lado sobre o solo forrado por folhas secas, rezando intimamente para que
ele estivesse vivo.
— Joshua. — Chamei, com a voz trêmula, acariciando sua face com a ponta
dos meus dedos, quando então ele abriu os olhos e a vida voltou a existir
dentro de mim.
— Sim, estou. Mas o que deu em você pra se jogar na frente do revolver
daquele louco?
Senti vontade de abraçá-lo, por gratidão, por me dar o seu amor de forma
tão genuína.
— Não fala mais meu amor, isso pode te fazer mal. — Virei-me para os
seguranças. — Por favor, chamem uma ambulância.
Sentei-me ao lado do meu amor, apoiando sua cabeça nas minhas pernas,
acariciando seus cabelos macios.
— Eu já estou bem. Como eu poderia não estar com essas pernas gostosas
debaixo de mim e essas mãos delicadas nos meus cabelos?
Não consegui conter o riso, o alívio me tomando pela certeza de que seu
estado não era grave.
Graças aos seus céus, a bala não atingiu nenhum órgão vital, embora ele
fosse precisar de uma cirurgia simples para extraí-la. Enquanto esperava, me
senti na obrigação de avisar sua família, então decidi telefonar para Noah, já
que era o único que nunca me tratou com hostilidade. E em menos de uma
hora, todos estavam lá: Noah, Cecily e Candice, as duas mulheres me
encarando com ódio e desprezo, como era de esperar. Apenas Noah veio falar
comigo.
Todavia, Noah era seu irmão, tinha o direito de saber de tudo. Então,
sufoquei os meus traumas, respirei fundo e falei a verdade, Noah se mostrando
estupefato ao fim da minha narrativa.
— Nossa! Esse sujeito era mesmo um louco! Mas não se sinta mal com isto,
a culpa não é sua.
— Obrigada.
Joshua passou três dias internado, dias em que não consegui deixar o
hospital para nada, incapaz de sair do lado dele.
Durante este período, a Prime ficou nas mãos dos demais acionistas, embora
Rebecca me mantivesse informada, por telefone, sobre as principais transações
realizadas.
Decidimos que seria melhor não falarmos nada do que aconteceu à minha
mãe nem ao Sr. Walker, pelo menos enquanto Joshua não estivesse totalmente
recuperado.
Embora ainda tivesse uma bandagem em torno do ombro, no terceiro dia ele
recebeu alta e voltamos para o seu apartamento, Candice e Cecily nos
acompanhando durante o percurso, como sempre me tratando com hostilidade.
Entretanto, nem aquelas duas seriam capazes de estragar a felicidade que eu
sentia por finalmente estar fora de perigo, sem um batalhão de seguranças me
seguindo. Com Bruce morto, eu finalmente tinha minha liberdade de volta, isto
não tinha preço.
Joshua precisaria ficar de repouso por uma semana ainda antes de voltar a
trabalhar e fiz questão de cuidar dele pessoalmente, dispensando a contratação
de uma enfermeira, não por ciúmes, ou receio de que ele tivesse uma recaída,
mas simplesmente porque eu não conseguia me afastar dele, existir em mundo
sem que ele estivesse constantemente ao meu lado.
Voltei ao trabalho com muito gás e logo nas primeiras horas descobri que
Candice passara por cima das ordens de Rebecca e aprovara um grande projeto
que eu deixara claro, por meio da minha secretária, que não devia ser aceito de
forma alguma. Era um projeto de construção de um condomínio de luxo em um
local onde a natureza precisaria ser destruída para a sua concretização, além
de acarretar a desapropriação de fazendeiros que viviam da agropecuária
nessas terras. Seria um projeto bastante lucrativo, mas não valia a pena pelo
mal que causaria ao meio ambiente e aos donos das terras e Candice sabia
disso, tomara esta decisão obviamente para me afrontar. Era uma ordinária
filha da puta.
— Quem você pensa que é pra chegar aqui e mudar completamente a nossa
forma de trabalhar?! — Ela gritou, fuzilando-me com olhos mortais. — Você
acha que construímos uma das maiores companhias do país preservando a
natureza?
— Eu não preciso te dizer quem sou, porque disso você já sabe. E se for
necessário que a Prime deixe de ser uma das maiores construtoras do país,
para que o meio ambiente seja preservado, então ela deixará de ser, pois esta é
a minha decisão. — Fui firme ao falar.
— Mas não com a nossa ajuda. — Desviei minha atenção do rosto dela. —
Senhoras e senhores, estão dispensados.
Não esperei que Candice viesse me dizer mais das suas asneiras e me dirigi
para a minha sala, enquanto os demais acionistas se retiravam.
— Obriga Brian. Fico feliz em saber, mas é como ela disse, nós não pegamos
o projeto, mas sempre haverá alguém que pegue e vai lá fazer merda.
— Olha, eu trabalho aqui desde que me formei e sempre tentei abordar esse
lado da engenharia civil, mas nunca fui ouvido. O meio ambiente será
prejudicado pelo desenvolvimento, disto não há dúvida, mas não com a nossa
ajuda.
— É muito bom saber que tem pessoas aqui que pensam igual a mim.
Joshua cravou seu olhar quase mortal no rosto do outro homem, sua
fisionomia se contraindo de uma fúria tão selvagem que vi o rosto de Brian
empalidecer.
— O que você faz aqui? Não tinha ido para Nevada? — Indaguei.
— Queria que eu estivesse longe para ficar mais à vontade com Brian? —
Embora ele as tivesse proferido com tom de seriedade, suas palavras me
pareceram uma piada e soltei uma sonora gargalhada, que ecoou pela sala
enorme. Como podia passar pela sua cabeça que eu teria olhos para outro
homem? — Está caçoando de mim, Amber Mitchell?
— Sim, eu estou.
— Nada de mais. Ele veio me dizer o quanto gosta de trabalhar comigo, mas
pela forma como você o encarou eu acho que nunca mais ouvirei isso dele.
— Esse babaca está a fim de você. Por acaso ele não sabe que você é minha?
— Dessa vez ele grunhiu e me dei conta de que a coisa estava ficando séria
demais.
— Relaxa Joshua. O cara não está a fim de mim. Veio apenas me fazer um
elogio. — Fingi examinar alguns papeis para dissipar a seriedade que o assunto
assumia. — E então, vai me dizer porque não está em Nevada?
CAPÍTULO XXXI
— Eu não quero esses marmanjos cobiçando a minha garota cada vez que
eu der as costas. — Falou, firme e ao mesmo tempo rouco.
— Jamais permita que outro homem te toque, deixe-os saber que você é
minha, somente e totalmente minha.
Sua boca deliciosa escorregou para o outro peito, lambendo meu mamilo
intumescido antes de chupá-lo com volúpia, intensificando o desejo selvagem
dentro de mim, minha lubrificação me inundando no meio das pernas.
Assim, abracei seus quadris com as minhas pernas e esfreguei o meu sexo
muito lambuzado na sua firme ereção, por sobre as roupas, sibilando ansiosa,
sequiosa por tê-lo dentro de mim.
— Você.
— Como?
— Dentro de mim.
— Peça.
Que porra de jogo era aquele que ele estava jogando? Era uma forma de me
punir por ter conversado com Brian? Se fosse isso, eu ia querer a cabeça de
Brian em uma bandeja e nem precisaria ser de prata. E desde quando Joshua
tinha autocontrole suficiente para chegar tão perto do ato sexual e não concluí-
lo?
Frustrada e ainda mais estressada que antes, não tive alternativa que não
colocar minhas roupas de volta no lugar e voltar ao trabalho, à imensa pilha de
documentos que havia sobre a minha mesa.
— Que foi, veio me torturar mais um pouco? — Indaguei, fingindo uma raiva
que não existia.
— Não. Na verdade pretendia te deixar de castigo por pelo menos vinte e
quatro horas, mas perdi a batalha contra mim mesmo.
Bastou que ele trancasse a porta por dentro e viesse na minha direção para
que todo o meu organismo reagisse violentamente, o desejo acordando dentro
mim, incendiando em minhas veias. Eu poderia me negar a ele agora, para lhe
dar o troco, mas que mulher resistiria àquele corpo grande e gostoso e àquela
cara de tarado que ele tinha?
— Por dar atenção para aquele imbecil. — Ele me segurou pela cintura, uma
mão de cada lado, ergue-me da cadeira e sentou-me na beirada da mesa, na
lateral, exatamente como fez antes.
Eu tinha pelo menos uma dúzia de argumentos para contestar àquilo, mas
não tive a chance de citar nenhum deles, pois logo a sua boca estava na minha
silenciando-me, me fazendo esquecer do mundo à nossa volta, minha mente
sucumbindo ao desejo visceral que jazia dentro de mim, meu corpo muito
consciente do dele.
Puta merda! Como eu queria aquele homem! Fazer amor com ele nunca me
cansava, nunca era suficiente.
Suas mãos grandes ergueram minha saia com muita urgência para que seus
quadris se encaixassem entre minhas pernas abertas, desta vez sua ereção
pressionando diretamente meu sexo, com força, por sobre as roupas, enquanto
meu gemido era bebido pelos seus lábios.
Ansiosa, enterrei minhas mãos nos seus cabelos curtos, atrás da cabeça,
puxando-os com força, para em seguida ajudá-lo a se livra do paletó e ir abrir
os botões da sua camisa.
Eu o despia das peças de roupas enquanto ele fazia o mesmo comigo e como
era muito mais experiente, logo eu estava quase nua, com apenas a saia
enroscada em torno da cintura e os sapatos, enquanto sua calça continuava no
lugar, quando então ele afastou-se um pouco para contemplar o meu corpo,
seus olhos mais escuros que o normal, brilhantes como duas pedras
preciosas.
Quando voltou para mim, usou suas mãos poderosas para me colocar de
quatro sobre a mesa, todo o meu corpo vibrando pela expectativa do que
aconteceria em seguida. Empurrou meu torso para baixo, de modo que minha
bunda ficou muito empinada e abriu mais minhas pernas, passando a mão na
fenda entre uma nádega e outra para em seguida colocar sua boca em mim, ali
atrás, sua língua quente e úmida dançando devagar sobre o meu ânus antes
de escorregar para a entrada lambuzada da minha vagina e penetrá-la,
movendo-se em vai e vem, me fodendo assim, me tirando de vez o juízo.
Ah! Porra! Como aquilo era bom! Como ele fazia gostoso!
Joshua se movia dentro de mim em vai e vem, metendo com força, indo
fundo, me abrindo, me enlouquecendo. Desferiu uma palmada na minha
bunda e fui ao delírio, pedindo por mais e ele me deu, batendo do outro lado,
de novo e de novo, sem jamais deixar de me foder gostoso, até que nossos
corpos se contraíram ao mesmo tempo, exigindo o alivio, quando então, sem
deixar o meu interior, ele me virou de frente, pendurou minhas pernas em seus
ombros, fixou seus olhos profundamente escurecidos nos meus e estocou
ainda mais forte dentro de mim, mais fundo, mais gostoso e foi assim que
gozamos juntos, nossos espasmos se fazendo ao mesmo tempo, seu gemido se
misturando aos meus, nossos corpos ondulando em uma harmonia perfeita, o
que me fez amá-lo um pouco mais.
— Eu te amo Amber Mitchell. — Ele disse, com seus olhos ainda prendendo
os meus.
— E não há nada nesse mundo que eu possa apreciar mais que encher essa
sua bocetinha com a minha porra. — Não pude conter o riso e deixei escapar
uma gargalhada. — Você gosta de sorrir de mim, não é mesmo?
Foi a vez dele sorrir e logo estávamos gargalhando juntos, como dois tolos
que não tinham mais o que fazer.
Ficamos ali presos ao outro até que a batida na porta nos obrigou a nos
desgrudarmos. Era Rebecca, com mais trabalho para mim, documentos a
serem analisados. Ainda tinha mais duas horas daquilo pela frente antes de
voltar para casa.
À noite, optei por usar um modelito preto, de alças estreitas, com um decote
generoso, apertado de cima a baixo, com taxinhas metálicas na mine saia e
sandálias de saltos altos. Enquanto que Joshua ganhava mais vinte por cento
de gostosura ao se enfiar em um Armani que parecia feito sob medida.
Como não podia deixar de ser, Kate e Dean foram conosco e fizemos a pés o
percurso do condomínio até o hotel, apreciando a brisa gostosa daquela noite
de verão.
Estaria tudo ainda mais perfeito se minha mãe pudesse estar ali para
presenciar o meu sucesso, mas não seria bom que ela e o Sr, Walker
aparecessem juntos no mesmo espaço fechado que Cecily. Além do mais,
quando me telefonou, há duas noites, ela disse que ambos passariam alguns
dias na praia, em Los Angeles. Deviam estar se divertindo muito, pois ela não
voltou a me ligar, como fazia todos os dias. E eu não poderia deixar de me
sentir feliz por ela.
Logo que nos acomodamos à mesa, um dos garçons veio nos servir do
champanhe gelado.
— Minha nossa! Gente rica passa bem mesmo! Olha só isso aqui. — Kate
falou, percorrendo os olhos em volta depois de beber um gole do champanhe.
— Pára de fazer drama, Amber. Você adora ser a presidente. — Joshua falou.
E ele estava certo, no jogo do poder, nada era mais excitante que dar as
cartas.
— Mas isso porque tenho muita disposição para o trabalho. — Notei que
Joshua lançou um olhar triste na direção da sua mãe. — Vai lá falar com ela.
— Tentei.
Ver sua dor e não poder fazer nada para sará-la, estragou um pouco a
minha noite, pois tirou quase toda a minha alegria. Minha felicidade jamais
estaria completa se a de Joshua também não estivesse. Porém, só me restava
torcer para que aquela perua do cacete o procurasse para fazer as pazes,
porque se bem o conhecia, eu sabia que ele não iria.
A orquestra tocava hits românticos dos anos oitenta e alguns casais, todos
muito bem vestidos com roupas caras e elegantes, arriscavam-se a alguns
passos no centro do grande salão. Logo Joshua me convidou para a dança
também, seguido por Dean, que convidou Kate. Nos colocamos os quatro no
centro do salão, Joshua contornando minha cintura com seus braços fortes,
me apertando contra seu corpo grande, enquanto eu o abraçava pelo pescoço,
me aconchegando no seu calor gostoso, seu cheiro tão familiar e tão amado me
inebriando.
— Me avise se eu estiver sendo chata, mas acho que você devia tentar puxar
assunto com sua mãe. Ela parece estar feliz agora, já deve ter esquecido as
mágoas e o rancor.
— Eu não posso fazer isso. Não posso conviver de boa com ela enquanto ela
não te aceitar como minha mulher.
Por sobre o ombro de Joshua, olhei mais uma vez na direção dela e a vi
dançando coladinha com seu acompanhante, o homem sussurrando algo em
seu ouvido que a fez gargalhar. Ela parecia feliz e apaixonada, uma pessoa
nesse estado, não tinha muita disposição para odiar. Eu falaria com ela, estava
decidida, tentaria uni-la de novo a Joshua. Restava criar coragem de chegar
perto.
— São frutos do mar. No Havaí tem uma mesa dessas em cada restaurante.
— Peguei uma porção de salmão lomi, com um garfo e levei à boca dela. —
Experimenta isso.
— Humm minha nossa! Isso é como fazer amor com os deuses. — Kate falou
saboreando a comida.
O que ele diria? Seria a tal homenagem que me fariam? Eu não esperava que
fosse ele o porta voz dos funcionários, pois não me disse nada.
CAPÍTULO XXXIII
— Eu não sei até que ponto todos aqui sabem da minha vida, mas o fato é
que eu nunca antes fui feliz, ou sequer me senti vivo até conhecer Amber
Mitchell. — Joshua continuou, enquanto que todos os olhares se voltavam para
mim, as pessoas gesticulando insistentemente para que eu me aproximasse do
palco e o fiz, muito nervosa, com meu coração batendo forte no peito. — Ali
está ela. Eu estou perdidamente apaixonado por essa mulher linda, inteligente
e maravilhosa que me resgatou de um mundo de escuridão, onde eu vivia
sozinho por muito tempo. Ela trouxe um sentido para a minha vida, me curou
de um tormento que me destruía aos poucos. Por ela eu finalmente reconheço
que vale a pena estar vivo. É por ela que eu acordo todas as manhãs e é por
isso que, aqui, diante de todos vocês, eu quero pedir a ela que me dê a honra
de se casar comigo. — Meu coração dava saltos no peito, as lágrimas
marejando meus olhos, lágrimas de pura emoção. — Amber Mitchell, você
aceita ser minha esposa?
— Eu disse sim! — Gritei o mais alto que consegui e houve uma explosão de
aplausos por parte de todos os que assistiam um dos momentos mais
emocionantes da minha existência.
— Há alguns dias. Estava esperando o momento certo pra pedir a sua mão.
— Ele tirou a jóia delicada e preciosa da caixinha e enfiou em meu dedo. — Eu
não pretendia fazer todo esse escarcéu, ia me ajoelhar quando estivéssemos na
mesa, mas não resisti.
— É de emoção.
— Você está ouvindo, precisamos obedecer. — Joshua falou, com tom jovial
e sorri ainda mais amplamente, para que logo sua boca viesse para a minha,
beijando-me devagar, sem aquela selvageria que existia quando estávamos a
sós e houve outra enxurrada de aplausos à nossa volta.
Foi então, que as pessoas vieram nos cumprimentar, primeiro Kate e Dean,
que nos abraçaram apertado, nos dando os parabéns, depois Noah, Rebecca e
os funcionários mais próximos e por fim, para a minha total satisfação e
surpresa, Cecily veio falar com Joshua.
E foi assim que Joshua deixou suas resistências caírem por terra e tomou a
mulher em um abraço apertado.
— É tudo verdade sim, mãe. Graças a ela eu estou sendo feliz pela primeira
vez na minha vida.
Quando se separaram do abraço, ela encarou-me com seus olhos marejados
de lágrimas, dizendo:
— Será que eu posso roubar a noiva para uma dança? — Noah falou, com
seu jeito despojado de sempre, quando pude ver a fisionomia de Joshua se
contraindo, seu corpo enrijecendo de tensão. — Relaxa maninho, é só uma
dança.
Sem esperar resposta, Noah segurou-me pelo pulso e saiu me puxando para
o meio do salão, já abarrotado de dançarinos. Contornou minha cintura com
um braço, puxando-me, colando seu corpo no meu, quando então afastei-me
alguns centímetros.
— Não provoca seu irmão. Você já deve ter notado o quanto ele é ciumento.
— Alertei, sentindo-me chateada com a intromissão dele, embora não quisesse
dar uma de mal educada negando-lhe uma dança.
— É só uma dança. Não vou arrancar pedaço. — Ele sorriu com jovialidade.
— Você realmente transformou Joshua em outro homem.
— E meu pai está com sua mãe, minha mãe arranjou um namorado. Pelo
visto só faltamos eu e Candice nos darmos bem nessa história. — Achei a sua
colocação de péssimo gosto, era como se estivesse me culpando por algo, mas
preferi ficar calada. Quando voltou a falar, a voz de Noah tinha assumido um
tom de gravidade. — Eu preciso conversar com você em particular. Não pode
ser aqui. Tem uma sala no final daquele corredor. — Ele gesticulou para uma
direção do salão. — Eu vou na frente, você dá um tempo e vai depois. Não deixe
de ir. É muito importante.
— Mas que doideira é essa? Eu não vou sair daqui.
Fiquei paralisada no meio do salão, vendo tudo girar à minha volta, minha
mente enevoada por pensamentos sombrios. Do que Noah estava falando? Por
que minha mãe estaria em perigo? Era ele que a estava ameaçando?
Percebi que mesmo conversando com sua mãe, Joshua não tirava os olhos
de mim e me esgueirei devagar entre os convidados para sumir das vistas dele
antes de seguir pelo corredor que Noah me indicou, alcançando a porta ao
final, a qual abri e entrei, encontrando-o em pé ao lado de um piano.
Era uma sala ampla, cheia de antiguidades, como um mine museu que
trazia a história do hotel.
— Significa o que você está vendo. Eles estão presos e só você pode libertá-
los.
— Quem ta fazendo isso com eles? — Embora tudo estivesse claro como
água, eu me recusava a acreditar que Noah era a pessoa por trás de tudo. Das
tentativas de assassinato contra mim.
— Por quê...?
— A Prime?
_ Ele não lembrou disso quando te deu tudo o que era nosso.
— Eu te dou tudo. Vamos agora mesmo ao escritório. Eu passo tudo pro seu
nome. Só não os machuque, por favor.
— Não é tão simples assim. Se você passar tudo pro meu nome assim sem
mais nem menos todos vão desconfiar de mim.
Processei suas palavras e meu coração falhou sua batida. Entendi o que ele
quis dizer com o fato de eu desaparecer, significava que mesmo lhe dando
tudo, ele ainda acabaria comigo. Entretanto, aquilo não parecia ter nenhuma
importância diante do quanto Joshua sofreria se acreditasse que o traí durante
todo esse tempo, isso seria suficiente para destruí-lo.
— E Joshua? Ele vai ficar mal se achar que o traí. Pode voltar para a vida de
antes.
— Eu gosto muito do meu irmão, mas não acho que seja tão terrível viver
uma vida regada a muito sexo. Acho até que ele se divertia mais naquela época.
Uma fúria cega, violenta tomou conta de mim e avancei para ele como uma
louca, tentando golpeá-lo no rosto, mas nem cheguei perto de acertá-lo, pois
ele era muito mais forte.
— Mesmo que você consiga o que quer, se me matar depois, seu pai pode
ligar o meu desaparecimento ao seqüestro deles.
— Meu pai não, SEU pai! — Desta vez ele gritou, assustando-me. Nunca me
passaria pela cabeça que Noah pudesse ser uma pessoa tão perigosa e
ambiciosa. — Se ele me considerasse seu filho não teria dado tudo a você, tudo
o que Candice e Joshua o ajudaram a construir com muito trabalho. Mas ele
não pensou em nenhum de nós, deu tudo pra puta que tem o sangue dele e
nos deixou sem nada. Eu sempre soube que seria assim. Estava prevendo.
Desde que fiquei sabendo sobre sua existência eu imaginei que aquele velho
safado nos deixaria sem nada.
Noah soltou um riso bizarro, sem que seu olhar frio acompanhasse o gesto.
— Quando eu era adolescente, ouvi uma briga dos meus pais. Eles brigavam
muito. E desta vez mencionaram a filha bastarda da empregada negra, mas
que também era a filha de sangue. Eu não pensei que teria que me preocupar
em dividir minha herança e dos meus irmãos com você até aquele velho
maldito de dar uma bolsa pra faculdade. Foi aí que eu me dei conta de que
precisava me livrar de você antes que acontecesse o que aconteceu. — Eu
ficava mais apavorada a cada palavra que ele proferia. — Eu não me importaria
em dividir minha herança com Candice e Joshua, afinal eles trabalharam duro
na Prime, mereciam a parte deles, mas com você eu não aceitaria dividir nada.
Você nunca mereceu nada. É só a filha de uma vadia que fodeu com um
homem casado pra se dar bem na vida.
— Você disse que decidiu se livrar de mim quando o Sr. Walker me deu a
bolsa de estudos, isso quer dizer que...
— Como você passou pelo porteiro? Ele disse que não viu ninguém entrar lá
naquele dia.
— Eu arranjei tudo. Mandei alguém dar o celular pro Bruce e outro pro Sam,
já com o número gravado. Foi tudo muito fácil, mas você é uma pessoa de
sorte, se recusou a morrer.
— Depois que você mandou Bruce me matar, há três anos, por que não
tentou de novo?
— Você vai ter que confiar em mim. — Enfiou o iphone de volta no bolso. —
Decida agora. Ciumento como é, em minutos Joshua estará aqui te
procurando. — Ele desabotoou todos os botões da sua camisa, deixando-a
aberta.
Assim, fui até ele, trêmula, nervosa e o deixei me abraçar pela cintura, seu
contato me despertando a mais insuportável repulsa. Ele usou o seu corpo
para me empurrar até um sofá cujo modelo se equiparava aos móveis da idade
média, onde deitou-me, debruçando-se sobre mim. Sua boca nojenta estava no
meu pescoço, quando sua mão foi para a minha perna, escorregando devagar,
se enfiando debaixo da minha saia, quando o detive.
— Não precisa tudo isso. Se nos ver como estamos ele já estará convencido.
— Nenhum homem com sangue nas veias ficaria só nos amassos com uma
garota que usa um vestido desse tamanho. — Tirou minha mão da sua. —
Precisamos ser convincentes.
— Desculpa Joshua. Nós íamos te contar. — Noah falou, com muito cinismo
e levantei-me também, já sem conseguir encarar Joshua no rosto, as lágrimas
começando a cair dos meus olhos.
— Desde que você nos apresentou na Prime no primeiro dia de trabalho dela.
Não leva a mal cara, ela só estava indecisa entre nós dois, mas decidimos que
vamos morar juntos.
— Então diz isso olhando na minha cara! — Joshua gritou e não me senti
encorajada a olhar para ele.
— Diga a ele Amber. — Noah sabia que seu plano estava prestes a ir por
água abaixo e se fosse, quem pagaria era a minha mãe.
Então, buscando forças dentro de mim, erguei o rosto, deparando-me com a
dor latente nos olhos azuis que me fuzilavam.
— Por que? Por que fez isso comigo. Por que fez isso conosco. O que
tínhamos era tão lindo. Era a melhor coisa que já tive. Você esteve fingindo
esse tempo todo?
— Ela quer dizer que não fingiu, assim como foi verdadeira comigo também.
— Noah remendou o vacilo. — Mas no fim das contas, ela me escolheu. Aceita
isso irmão.
Eu não sabia o que dizer. Não tinha idéia do que uma pessoa falaria em
momento desses.
— É como ele disse. Eu te amo, mas amo ele também. Agora estou
escolhendo ficar com ele. Eu sinto muito. — Para ser mais convincente, tirei o
anel de noivado do meu dedo e devolvi a ele, enquanto a dor me dilacerava por
dentro, tortuosamente, as lágrimas se recusando a parar de descer.
— Eu devia te dar uma surra, seu moleque, não vou fazer porque apesar de
tudo você é meu irmão. Eu espero que a vida dê aquilo que vocês dois
merecem.
Com isto. Joshua deu-nos as costas, foi para a porta e saiu, com passos
meio cambaleantes, incertos.
CAPÍTULO XXXIV
— Você foi muito bem. Só não devia ter chorado tanto na frente dele. —
Noah falou, levantando-se do chão, despertando-me um ódio mortal. Se eu
tivesse a chance de resgatar minha mãe antes de ele acabar comigo, eu o
mataria com as minhas próprias mãos. Maldito! — Agora vamos. Você vai ficar
uns dias no meu apartamento, até todos se convencerem de que estamos
apaixonados e então você passa tudo pro meu nome.
— Se você for uma boa menina, talvez eu te presenteie com uma passagem
só de ida para o Marrocos. Você pode até levar sua mamãe junto.
Eu não acreditava no que ele dizia. Se vinha me perseguindo desde que
entrei na faculdade, por medo de perder a sua maldita herança, não me
deixaria viva para acarretar-lhe o risco de ficar sem tudo de novo.
— Você acha mesmo que ele iria pra casa depois do que acabou de passar? E
que não vai falar comigo na Prime?
Por mais que doesse, eu precisava admitir que ele podia estar certo. O baque
foi grande demais para Joshua, desta vez ele não conseguiria evita uma
recaída. Sua vida estava destruída, por minha causa.
Arrasada, deixei a sala de mãos dadas com Noah, como ele exigiu. Ao
atravessarmos o salão da festa, ainda abarrotado de pessoas, todos pararam
para nos observar, com perplexidade, como se fôssemos dois ETs, afinal
estávamos de mãos dadas e ele era o irmão do cara que acabou de me pedir em
casamento. Estávamos quase alcançando a porta de saída, quando uma Kate
boquiaberta tomou-nos o caminho.
— O que está acontecendo Amber? Joshua, passou aqui igual uma bala.
— Depois eu te explico.
Ela deslocou seu olhar do meu rosto para o de Noah, muito desconfiada.
— Não quero comer, mas gostaria de falar com minha mãe. — Respondi.
— Isso não vai ser possível, pois eles não podem saber que você está ligada a
esse seqüestro.
— Como você os pegou? A essa altura meus avós já devem ter chamado a
polícia.
— Não, baby. Eles estavam na casa de praia em Los Angeles, ninguém além
de nós dois e dos homens que contratei para fazer o serviço sabem sobre isso.
— Que tal uma noite de sexo selvagem? — Fiquei gelada, olhando para ele
apavorada. Até que de repente ele começou a sorrir, gargalhadamente. — Cara,
você devia ter visto sua cara. Muito engraçado. Relaxa. Você é linda, mas não
como uma mulher a menos que ela queira dar pra mim.
— Aquela noite em que me levou ao show de rock, você ia me matar, não ia?
Minha mãe e o Sr. Walker continuavam amarrados com as mãos para trás,
mas desta vez estavam deitados em um colchão no chão, juntinhos, sem as
vendas, pareciam aterrorizados e cansados, embora nada dissessem.
Senti meu peito angustiado por ver minha mãe daquele jeito, prisioneira, tão
frágil e indefesa, sem que eu pudesse fazer nada para ajudá-la, se chamasse a
polícia, seria muito pior. Noah os mataria antes que os encontrasse, já tinha
dado provas suficientes de que era louco o bastante para isto. Aproveitei para
dar uma boa olhada no lugar onde estavam. Se tratava de uma construção
antiga, com as paredes descascando, o assoalho de madeira velho e nenhum
móvel por perto. Porém, um barulho estranho despertou minha atenção.
Precisei levar o aparelho até meu ouvido para distinguir do que se tratava e
consegui identificar o som das ondas do mar, portanto, eles ainda estavam na
praia.
Assim, ele deixou o quarto de hóspedes e pude mergulhar ainda mais fundo
na minha insuportável tristeza, imaginando onde Joshua estaria agora. Era
impressionante como as coisas mudaram depressa. Em um instante estávamos
felizes com seu pedido de casamento e agora, menos de duas horas depois, eu
sequer sabia onde ele estava, apenas dividia com ele a dor de não mais termos
um ao outro.
Passei todo o domingo assim, sem conseguir comer, nem dormir, apenas
sentia a dor que se recusava a me deixar.
Até mesmo Rebecca, que sempre se mostrou muito simpática, virou a cara
mim naquela manhã. Mas quem podia culpá-la?
Noah me acompanhou até a minha sala e quando ocupei meu lugar atrás da
minha mesa, ele se acomodou em uma das poltronas que havia no centro da
sala, pegando uma das revistas de sobre a mesinha de centro, cruzando uma
perna sobre a outra bastante á vontade.
— Então é isso? Você vai ficar aí me olhando trabalhar? — Perguntei,
esmorecida.
Peguei o interfone e liguei para Rebecca, falando bem alto para ter certeza de
que ele ouvia.
— Rebecca, por acaso você sabe me dizer se Joshua veio trabalhar hoje?
Suas palavras aqueceram meu coração. Se ele perguntou, era porque ainda
se preocupava comigo, apesar de tudo.
— Ele veio trabalhar. Mas nem por isso você precisa ficar aqui. Eu não vou
contar nada a ele e colocar a vida da minha mãe em perigo.
— Eu sei que você não arriscaria a vida dela intencionalmente, mas você
está apaixonada pelo meu irmão e uma mulher apaixonada fica cega e burra.
Minha ansiedade por ver Joshua, pelo menos olhar para ele, era tanta, que
cada vez que a porta se abria ou o telefone tocava, eu esperava que fosse ele,
mas sempre me desapontava. Na certa ele não queria me ver e eu nem podia
culpá-lo por isto.
— Não. Desculpe.
— Sim, passou.
— Por que?
— Você está mentindo. Os dois estão. Ele disse que vocês estão juntos desde
que os apresentei, mas quando os apresentei você ainda tinha fobia ao toque.
Isso não faz sentido algum.
— Por favor Joshua. Sai daqui. — Por dentro eu tremia, temendo que Noah
pudesse voltar a qualquer momento e nos flagrar juntos.
— Mentirosa!
Sem qualquer aviso prévio, ele tomou-me os lábios, beijando-me com aquela
forma selvagem que me enlouquecia, tão sofregamente que não consegui
resistir e correspondi, me entregando à saudade que jazia dentro de mim, até
que estivesse em fôlego e então ele parou.
Busquei forças dentro de mim para mentir mais uma vez, mas não
encontrei, minha mente foi traída pelo turbilhão de sentimentos que explodia
em meu peito e olhando em seus olhos, deixei as lágrimas descerem, enquanto
falava a verdade:
— Ele seqüestrou minha mãe e o seu pai. Me disse que se eu não mentisse,
mataria os dois. Por favor me perdoa.
— Ele quer a Prime e todos os bens. Quer que eu passe tudo pro nome dele,
mas quer que eu finja que estou apaixonada antes, pra ninguém desconfiar
que fui forçada a isto. Foi ele quem contratou Bruce pra me matar, há três
anos e contratou Sam recentemente.
— Pelo amor de Deus! Não faz isso. Se ele não telefonar de meia em meia
hora, as pessoas que estão com minha mãe vão matá-la. Se ele souber que te
contei, acontece o mesmo.
Joshua estava transtornado, seus olhos saltando nas órbitas. Refletiu por
um instante e então me estreitou em seus braços amados.
— Eu sinto muito por duvidar de você. Quase enlouqueci achando que você
não me ama. Desculpe.
— Não.
— Você precisa sair daqui. Ele é capaz do pior se nos ver juntos.
— Eu também te amo.
Com isto, ele saiu da sala, me deixando um vazio tão grande, que parecia
levar parte de mim. Por outro lado, me deixava também mais leve, por ter
dividido toda aquela carga.
Para minha satisfação, Noah não voltou à minha sala mais naquela tarde, na
certa por se dar conta de que sua presença constante despertaria suspeitas. No
meio da tarde, Rebecca me entregou o pequeno celular escondido em uma
pilha de documentos e, fitando-me com piedade, pediu-me desculpas pela
forma como me tratou mais cedo, deixando claro que Joshua lhe contou tudo.
Mais tarde, ele me ligou para dizer que a CIA tinha sido acionada por Morris
e vários homens treinados estavam à procura dos nossos pais, nos restava
apenas esperar pelo melhor.
CAPÍTULO XXXV
— Encontraram nossos pais, meu amor. Acabei de falar com eles por
telefone. Estão bem, sendo trazidos para cá de helicóptero. Estavam em uma
área isolada de Los Angeles. — Joshua falou, vindo para mim.
— Você está bem? Quer ir a um hospital? Minha nossa! Você está gelada. —
Ele falava, sem deixar de me abraçar.
— Eu não sei o que essa mulher andou inventando, mas eu não fiz nada. —
A voz de Noah nos alcançou, quando só então percebi que os homens o
algemavam.
— Eu devia te dar a surra que você não levou na infância, seu moleque. —
Joshua falou, entre dentes.
Com isto, Joshua perdeu o controle e avançou para Noah com toda a sua
fúria, atirando-se sobre ele, arrancando-o dos dois homens que o seguravam
um de cada lado, ambos caindo no chão, Joshua por cima e começou a
esmurrar-lhe a face com os punhos cerrados, repetidamente, até que os
homens o tiraram de sobre o outro.
— Não só aceito como apoio a decisão dele! — Joshua gritou, fora de si. —
Amber é a verdadeira dona disso tudo aqui, sempre foi, ninguém fez favor a ela
passando a Prime para o seu nome, pelo contrário, o que fizeram foi privá-la de
uma vida melhor da qual ela sempre teve direito. E tem outra coisa, presta
bastante atenção porque só vou falar uma vez: agora que eu sei que era você
tentando assassiná-la, reze para que não caia um fio de cabelo da cabeça dela,
para que ela não quebre uma unha ou se machuque de outra forma, porque
qualquer coisa que acontecer à ela de agora em diante, você será o responsável.
Eu te mato com as minhas próprias mãos, seja na cadeia ou onde quer que
você esteja. Fui claro? — Noah não respondeu. — Fui claro!? — Joshua gritou.
— Sim, foi.
— Ótimo.
— Não ligue pra isso. Ele errou feio e merece pagar. Agora vamos pra casa
esperar nossos pais. Eles já devem estar chegando. — Antes de sairmos,
Joshua enfiou a mão no bolso do seu paletó, de onde tirou o anel de noivado
que me dera quando pediu minha mão em casamento. — Acho que já posso te
devolver isso.
— Sim. Finalmente.
No centro da grande sala, havia uma mesa posta com diversos tipos de
comidas e finalmente, depois de tantos dias sem conseguir comer nada, eu
senti o meu estômago roncar.
— Acho que vou aceitar. — Abasteci um prato com salada e filé e sentei-me
em um dos sofás para fazer a refeição, enquanto Joshua me observava com um
afeto genuíno que me fazia sentir amada, especial, com aquela certeza gostosa
de que ali, ao lado dele era meu lugar no mundo.
Me bastou olhar em seu rosto tão amado, para que as lágrimas voltassem a
marejar-me os olhos e corri para encontrá-la, emocionada, aliviada, feliz por
vê-la bem. Aninhei-me em seus braços tão amados e deixei que as lágrimas
banhassem de vez minha face, enquanto ela fazia o mesmo, o amor
incondicional nos ligando.
— Não chora filha. Graças Deus ta tudo acabado. — Ela falou, se esforçando
para conter o próprio pranto.
— Sim, querida. Eles não nos machucaram, foi só o susto. Seu pai estava lá
para cuidar de mim.
Olhei para o homem que ela dizia ser meu pai, estava conversando com
Joshua, de muito perto e olhou para mim com afeição, cumprimentando-me
com o aceno de cabeça que correspondi. Foi ali, que, pela primeira vez,
agradeci aos céus por ele ter entrado na vida da minha mãe novamente, ou ela
teria enfrentado todo aquele pesadelo sozinha.
— Ainda bem que ele estava lá. — Falei e abracei minha mãe de novo.
Em meu coração não havia mais espaço para raiva nem rancor, o que me
dava a certeza de que um dia eu aceitaria o Sr. Walker na minha vida como
meu pai. Não seria hoje, mas esse dia chegaria. Até lá, eu aprenderia a amá-lo
como tal.
Como não queríamos nada muito grande, decidimos fazer uma cerimônia
religiosa em uma pequena capela ali perto, seguida da festa ali mesmo nas
ruas do condomínio, tudo muito simples.
Assim, Kate e minha mãe passaram a dedicar grande parte do tempo delas
com a organização, já que o meu tempo era bastante limitado.
Minha mãe pediu com tanta insistência e carinho, que acabei concordando
em aceitar que o Sr. Walker me levasse até o altar, mas daí a chamar ele de
pai, ainda tinha muito chão pela frente, embora eu soubesse que com o tempo
eu chamaria, já que não havia espaço dentro de mim para rancor algum, eu
conseguia apenas amar e ser feliz.
Ali, com toda a população do condomínio reunida, junto com minha mãe,
meus amigos, meus avós e meu amor, eu tive o dia mais feliz da minha
existência, o dia em que me tornei a Sra. Walker. Agora vinha a parte mais
interessante do processo: a tão esperada lua de mel.
Eu tinha bebido champanhe suficiente por uma semana na festa, mas não
pude recusar.
— Aceito.
Ele foi até o frigobar no canto do compartimento, servindo duas taças com a
bebida gelada. Estava entregando-me a minha quando uma comissária de
bordo apareceu do corredor, sugerindo que ele colocasse seu cinto, pois íamos
decolar em minutos.
— Não tenho certeza, mas acho que foi Kate, com a ajuda de Rebecca.
— Ai meu Deus, espero que minha mãe não esteja envolvida nisso. Seria
constrangedor demais.
Joshua sorriu amplamente, antes de estender-me sobre a cama, em meio às
pétalas, deitando-se ao meu lado, com o corpo erguido para fitar-me no rosto.
— Acho que ela tem uma idéia do que aconteceria aqui durante a viagem. E
agora que somos casados, não vejo porque se constranger.
— Você está certo. Somos casados agora e pessoas casadas fodem o tempo
todo. — Joshua soltou uma sonora gargalhada. — Qual foi a graça?
— Eu também estou muito feliz. Como nunca fui antes na minha vida. Eu
sinto que finalmente estou completa agora. Tudo está perfeito, nada mais me
falta nessa vida.
EPÍLOGO
Com a chegada da nossa doce Cassie, nos mudamos para uma das casas de
família do condomínio, pois não queríamos que a nossa pequenina crescesse
olhando para a população, através das paredes transparentes do apartamento
planejado de Joshua, como se isso fosse algo natural. A casa era adequada
para se ter filhos, com três quartos grandes, duas salas e um cozinha bem
equipada, no entanto, o jardim era pequeno e com o intuito de ter um espaço
recreativo maior, ficamos também com a casa dos fundos, que foi implodida,
para que construíssemos uma piscina grande, um parquinho e plantássemos
algumas árvores, assim daríamos à nossa menina o conforto que ela merecia
sem precisar nos mudarmos dali.
Trabalhei na presidência da Prime até o último minuto de gestação, para
passar todo o período de licença maternidade ao lado do meu anjinho, no
entanto, os seis meses já tinham se passado e eu não me sentia encorajado a
deixá-la com uma baba. Eu simplesmente estava adorando acordar todas as
manhãs e ir para o jardim amamentá-la, passar o dia todo cuidando dela,
enquanto andava descalça e com roupas curtas pela casa, sem precisar me
preocupar com horários, em vestir roupas sofisticadas, usar maquiagem, ou
mesmo pentear os cabelos. Me recusava a trocar a função de ser apenas mãe,
pelo estresse do trabalho.
Naquela manhã, acordei cedo como sempre para amamentar Cassie e depois
tomarmos banho juntas. Estávamos deitadas em uma rede confeccionada com
palha no jardim, eu de um lado, com as pernas dobradas e ela em cima das
minhas pernas, aproveitando os primeiros raios do sol daquele dia.
Eu brincava fazendo cócegas com minha boca na sola dos seus pezinhos,
apaixonada por seu sorriso infantil, fascinada com o quanto era linda,
rechonchuda, com suas bochechas rosadas. Ela tinha dado a sorte de herdar
os olhos azuis do pai, assim como os traços perfeitos dele, mas a pobrezinha
herdou os meus cabelos difíceis, que por enquanto serviam para lhe dar ainda
mais encanto, já que os cachinhos dourados lhe caíam lindamente pela testa,
mas que no futuro lhe renderiam horas no cabeleireiro.
— Bom dia. Como estão as garotas mais bonitas do Texas? — Joshua falou,
aproximando-se, vindo da direção da casa, já vestido com seu terno elegante e
carregando sua valise, pronto para o dia de trabalho. Tinha os cabelos
molhados bem penteados e o cheiro gostoso da sua loção pós barba chegou em
mim antes dele, inebriando-me, me deixando mais apaixonada, como acontecia
todas as manhãs.
— Estamos nos divertindo, papai. — Falei, fazendo uma vozinha infantil.
— Obrigada, papai.
— Agora preciso ir, alguém tem que cuidar dos negócios da família.
Com isto, ele deu-nos as costas e ia se afastando, quando então fui atraída
para ele, como se por uma espécie de ímã, meu corpo suplicando pelo seu e me
levantei depressa, deixando Cassie bem acomodada na rede, indo atrás dele.
Com toda liberdade que tínhamos um com o outro, tomei-lhe o caminho,
abraçando-o apertado, colando meu corpo no seu, minha pele ardendo com o
contato.
— Só vim te desejar um bom dia de trabalho. — Mentira, eu queria senti-lo
um pouco mais, pois as noites pareciam insuficientes para nós.
— Se realmente era só isso, eu lamento por você. — Ele colou sua valise no
chão, sobre o gramado e segurou-me pelas costas, para me apertar ainda mais
contra seu corpo. — Porque agora você vai ter que apagar um incêndio.
Joshua usou o seu corpo grande para me conduzir até o esconderijo atrás do
tronco de uma árvore, tirou meu short pelos pés, abaixou meu top de malha
sem alças e me fez sua, ali, em pé, como dois animais, do jeito que me
enlouquecia, como se jamais fosse suficiente, como de fato não era.
Depois que me entreguei a Joshua pela primeira vez, por muito tempo eu
acreditei que não podia existir nada mais prazeroso na vida que fazer amor
com ele, mas descobri que existia apenas uma coisa: ser mãe. Foi na
maternidade que eu aprendi que sempre se podia ser um pouco mais feliz, foi
onde encontrei minha plena realização. Por isso, quando nossa Cassie tinha
dois aninhos, trouxemos ao mundo nosso príncipe Brayden, quando Joshua
me fez prometer que nossa família estava completa, embora eu ainda estivesse
indecisa sobre isto.
Alguns anos depois do divórcio, o Sr. Walker se casou com a minha mãe.
Eles continuaram morando na fazenda e vinham nos visitar de vez em quando,
quando passavam dias em nossa casa e apesar de me dar bem com ele, eu
jamais consegui chamá-lo de pai.
Candice foi outra que finalmente desencalhou. Para minha total satisfação,
casou-se com um italiano que conheceu durante o curso de história da arte
que estudava naquele país e mudou-se de vez para lá. Da última vez que ouvi
falar nela, estava grávida de gêmeos, trabalhando como professora em uma
renomada universidade.
Como todos encontravam seu lugar no mundo, depois de cumprir cinco anos
de prisão por tentativa de homicídio, Noah deixou a cadeia, se mudou para
Nova Iorque e passou a integrar uma quadrilha de lavagem de dinheiro, um
negócio ilegal e perigoso, mas que dava a ele o estilo de vida multimilionário
que sempre quis ter.
Plenamente realizada com meus três amores, eu não voltei a trabalhar fora,
passando a me dedicar à atividade de amar e ser amada, integralmente, como
mãe de duas crianças lindas e esposa de um grande homem, porque não havia
nada que me fizesse mais feliz nessa vida.
FIM
Outras Obras na Amazon:
- Pecados Íntimos
- A Primeira Noite
- Quando Te Amei
- Predestinados
- Irresistível Paixão
- Quando Me Apaixono
- FUGITIVA
- FUGITIVA 2
- O Amante
- Intenções Perigosas
- Coração Selvagem