Série Lordes e Ladys 04 - A Noiva Solteirona Jane Goodger 1

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A Noiva

Solteirona
Jane Goodger
(Série Lordes e Ladys 04)

Jo Pacheco, Nair Dias, Sarah Cristina e Val Nascimento


A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Sinopse
Casamenteira, Casamenteira
Marjorie abanou sua mão.
― Chantagem, extorsão. Me atrevo a dizer, qual é a diferença desde
que minha mãe não fique sabendo disso? Que excitante será. Encontros
clandestinos. Romance. Realmente, eu deveria estar pagando a você. ―
Marjorie disse com um sorriso endiabrado.
A expressão de Mr. Norris era tão surpresa, que Marjorie voltou a rir.
― Você não tem ideia de com a vida de uma solteirona pode ser
extremamente aborrecida. ― Ela disse. ― Eu quero viajar, ver o mundo, ter
aventuras. Sabe que o único sítio onde alguma vez estive foi Paris e com o
único propósito de ajustar meus vestidos? A vida de uma solteirona é
tediosa.
― Lady Marjorie, se não se incomoda com eu dizer isso, você não se
parece com nenhuma solteirona que alguma vez tenha visto.
― No entanto, estou na idade em que a maior parte das jovens moças
estão casadas.
― Que idade seria essa, madame?
― Vinte e três.
Mr. Norris elevou uma sobrancelha.
― De fato. Talvez, enquanto estamos procurando por uma esposa para
mim, possamos encontrar um marido para você.
Mr. Charles Norris precisa de ajuda para encontrar uma esposa…
Pois ele tem o hábito lamentável de se apaixonar pela mais bela
debutante de cada temporada, apenas para ter seu coração partido quando
ela se casa com outro. Certamente que Lady Marjorie Penwhistle o pode
ajudar. Ela é sensata, inteligente, conhece a sociedade e deve casar com um
lorde, coisa que ele não é. Já que se encontra decididamente fora de seu
alcance, Charles é livre de desfrutar de sua honestidade refrescante e seus
inesperadamente atraentes beijos…
Lady Marjorie Penwhistle não quer um marido…
Pelo menos não quer pretendentes com títulos, mas insuportáveis que
sua mãe está determinada que ela case. Preferiria ficar solteira e cuidar de
seu irmão excêntrico. Contudo, aconselhar Mr. Norris é uma excitante
diversão secreta. Depois de tudo, quão difícil será encontrar um par para
alguém tão justo, honorável e completamente lindo? Não é como se estivesse
em perigo de ela própria achar Charles demasiado irresistível…
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 1
Marjorie Penwhistle chegou à alarmante realização, no dia cinco de
maio no ano de nosso Senhor de mil oitocentos e setenta e quatro, que
estava destinada a ser uma solteirona. Que já era, de fato, uma solteirona.
Tinha sido negligenciada.
Enquanto estava no salão de dança ao lado de sua mãe, reparou em
um fenômeno estranho. Todos os jovens cisnes que costumavam estar à sua
volta estavam agora em volta de Miss Lavínia Crawford. Marjorie era, pelos
padrões da sociedade londrina, bastante velha para não estar casada. Aos
vinte e três anos (e muito próxima dos vinte e quatro), ela ainda continuava
adorável, claro, mas existiam outras mulheres mais adoráveis (e mais
jovens), frescas para o mercado de casamento, cheias de riso e vida,
enquanto Marjorie tinha que admitir que estava… cansada.
― Miss Crawford parece estar atraindo uma multidão. ― Disse para
sua mãe.
Um olhar disse a Marjorie que sua mãe tinha reparado no mesmo.
Com olhos estreitos, Dorothea Penwhistle, Lady Summerfield disse:
― Pararão de andar atrás dela quando ela abrir a boca para falar.
Nunca ouvi um som tão agudo saindo da boca de uma jovem lady.
Marjorie riu baixinho e sua mãe pareceu satisfeita com sua reação.
Miss Crawford tinha, de fato, uma voz normalmente encontrada em uma
criança de dez anos, mas, apesar do comentário de sua mãe, os jovens
cavalheiros a seu lado não pareciam incomodados com isso. Marjorie
pressionou seus lábios juntos, recebendo um olhar agudo de sua mãe.
Forçou- se a relaxar a boca, tornando em um sorriso agradável destinado a
transmitir confiança e charme feminino. Era um sorriso que tinha praticado
em frente do espelho um grande número de vezes, com sua mãe ao seu lado
oferecendo sugestões.
Marjorie tinha sido um produto bastante milagroso de duas pessoas
extremamente simples. Seu pai há muito morto (alguns disseram que sua
mãe o tinha matado com um de olhares letais) tinha sido baixo, gordo, e
estava perdendo seu cabelo, com um nariz batatudo e grosso e lábios
carnudos. Sua única característica agradável, os olhos profundos cinzentos
rodeados de azul, tinham sido herdados por Marjorie. Dorothea tinha sido
seu par perfeito, uma mulher forte e de queixo quadrado com cabelo
cinzento de ferro (mesmo em seus vinte e poucos anos) e pequenos olhos
castanhos dominados por sobrancelhas fortes e grossas que precisavam de
ser aparadas uma vez por semana.
Marjorie era ligeiramente maior que seu pai e sua mãe e tinha sido
abençoada com um rosto adorável, caracóis negros e grossos, uma figura
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

feminina que, até aquela temporada, tinha atraído um grande enxame de


pretendentes. Sabia que sua falta de namorados podia ter tanto a ver com
sua idade como com o fato de que tinha rejeitado quase todos os que se
aproximaram dela. A mina de homens adequados estava diminuindo
rapidamente não só por sua exigência, mas também devido à exigência de
sua mãe de que ela se cassasse apenas com um lorde. Era bem conhecido
entre a alta sociedade que, a menos que tivesse um título importante (um
mero barão nunca serviria, pelo menos não nesta altura) ninguém se
aproximava de Lady Marjorie Penwhistle, nem com um simples convite para
dançar. Se Marjorie fosse honesta, ela teria desfrutado de sua reputação
perspicaz nos primeiros dois anos de sua estreia, mas estava cansada disso
agora. Perguntou- se se sua mãe estava sequer consciente de que Marjorie já
mão era mais a bela da temporada.
― Ela se parece com um delicado canário rodeado de gatos famintos. ―
Marjorie comentou sobre Lavínia no ouvido de sua mãe, ganhando um
sorriso dela.
Era fácil agradar a sua mãe. Marjorie precisava apenas respirar para
fazer sua mãe feliz. Sabia que sua mãe acreditava que Marjorie era o produto
de seu próprio trabalho árduo, uma peça de arte a exibir orgulhosamente.
Marjorie amava muito sua mãe, mas muitas vezes se encontrava não
gostando dela. O peso de ser sempre s filha boa, bonita, encantadora e
especial se tornava cansativo. Se ela era a criança de ouro, seu pobre irmão
George era o pária. George, com todas suas maravilhosas imperfeições,
embaraçava amargamente a sua mãe. Doce George, que não possuía um
único osso mau em seu corpo magro, era o objeto do desprezo de Lady
Summerfield. E, portanto, por muito que Marjorie amasse sua mãe, não
gostava dela, também. Não gostava do modo com tratava seu amado irmão,
da forma como seus olhos ficam frios sempre que ele entra numa sala.

Algo estava errado com o jovem sentado à sua frente na mesa de


cartas, mas Charles não conseguida identificar o quê. Era mais do que seu
cabelo horrivelmente vermelho e indisciplinado ou a forma estranhamente
intensa com que olhava para suas cartas. O jovem rapaz, que não poderia
ter mais de vinte anos, continuava perdendo, principalmente para ele. E,
contudo, sua expressão nunca se alterava, mesmo quando seu amigo muito
mais velho perdeu. Ele não suava nem praguejava. Não se envolvia em
nenhuma das provocações que os outros trocavam depois de uma mão
desastrosa, o tipo de troca verbal que tinha a intenção de anunciar aos
outros que perder quinhentas libras em uma única jogada era apenas uma
gota no balde. Parecia como se não se importasse realmente se ganhava ou
perdia.
E Charles ainda tinha que conhecer um homem que realmente não se
importe.
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Jogada após jogada, o jovem olhava para a mesa ou para suas cartas
quando lhe eram dadas. Ele jogava mal, principalmente porque nunca
olhava à sua volta, não se preocupava em tentar ver se seus companheiros
estavam telegrafando o tipo de cartas que possuíam. Sir Robert, por
exemplo, puxaria de suas sobrancelhas por domar quando tinha uma mão
particularmente pobre e se sentaria direito quando tinha uma mão muito
boa. Lorde Hefford limparia sua garganta quando estava um pouco excitado
sobre sua mão: Lorde Pendergast se iria desleixar. E o amigo do jovem (não
se recordava do nome apesar de terem sido apresentados) puxava por seu
colarinho quando sua mão era particularmente má. Seus tiques nervosos
eram fáceis de perceber se alguém estivesse realmente observando.
Mas o jovem não tinha tiques, pois sua expressão nunca variava.
Charles sabia disso porque olhou para o jovem jogada após jogada, observou
seus olhos passarem por suas cartas. Ele sabia como jogar, isso era certo.
Apostava bem quando tinha uma mão para apostar. Mas, porque não olhava
a seu redor, não tinha ideia do que os outros homens tinham. E foi assim
que Charles ganhou, jogada após jogada, até que o jovem percebeu, muito
para sua surpresa aparentemente, que tinha entrado em uma dívida de
quase vinte e cinco mil libras. Era uma soma enorme. Uma soma
devastadora. E, contudo… Surpresa foi tão longe quanto sua expressão
mudou quando os homens terminaram e o dano foi totalizado, como se o
jovem tivesse tirado uma mordida de algo de aspeto doce apenas para
descobrir que tinha um sabor amargo. Uma reação tão curiosa.
Charles conhecia muito poucos homens, principalmente homens
jovens, que não teriam vomitado depois de perder uma quantidade tão
assombrosa de dinheiro. Ou começassem a chorar. Em vez disso, o jovem
disse com resignação:
― Oh céus. Mamãe vai ficar muito zangada.
O jogo terminou e Charles observou o jovem cuidadosamente. Tinha
escutado sobre homens que tomavam medidas drásticas depois de perder tal
soma e dificilmente queria se sentir culpado depois de o camarada ter
cometido suicídio. Charles o puxou a um lado de modo a não humilhar o
rapaz.
― Sir, precisa de tempo para acertar sua dívida? ― perguntou ao
homem mais novo.
Charles estudou seu rosto em busca de sinais de aflição. Não havia
nenhum.
― Perdi um total de vinte e quatro mil quinhentas e setenta e cinco
libras. ― Disse o jovem, balançando sua cabeça em cadência com suas
palavras. ― Devo a você vinte e quatro mil quinhentas e trinta e duas libras.
Possuo treze mil duzentas e vinte e duas libras em minha conta no Baring.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Charles fez uma careta.


― Então você precisa de tempo.
― Preciso de onze mil trezentas e dez libras de modo a conseguir
saldar minha dívida com você.
― Claro. ― Charles franziu o cenho.
Algo não estava bem. O homem obviamente era inteligente o suficiente
para calcular números altos em sua cabeça, mas era a maneira como estava
falando que disse a Charles que ele era um pouco incomum.
― E você tem essa quantia?
― Não. ― Aquela palavra foi dita com a mesma inflexão que se usa
para recusar um copo de água.
― Permita que me apresente. Sou Mr. Charles Norris.
O homem continuou a olhar para um ponto um pouco à direita de
Charles, não encontrando seu olhar, apesar de ter lançado olhadas para ele
uma ou duas vezes. O jovem levantou sua mão e os dois se
cumprimentaram.
― Sou George Penwhistle, Conde de Summerfield.
As sobrancelhas de Charles se levantaram e tirou um momento para
considerar.
― Sua irmã é Lady Marjorie?
Se lembrava de ter conhecido Lady Marjorie e sua mãe bulldog numa
festa no outono passado. O nome de Lady Marjorie, que tinha aparecido em
sua lista de potenciais noivas, tinha um grande “X” ao seu lado. Sua mãe
não só o assustava, mas ela também insistia com uma ferocidade que nunca
tinha visto (e isso era uma grande afirmação) que sua filha apenas se casaria
com um lorde. Portanto, Charles, um segundo filho de um visconde com um
irmão que já tinha gerado três filhos homens, estava bem longe da lista de
herdeiros.
George sorriu pela primeira vez.
― Marjorie é minha irmã mais velha. ― Disse com entusiasmo. ― É
dois anos nove meses e dois dias mais velha do que eu.
― Estou vendo.
Charles estava começando a ver claramente, de fato. Apesar de o
homem demonstrar uma inteligência aguçada, alguma coisa não estava
correta. Charles não tinha estado em Inglaterra tempo suficiente para se
inteirar de todas as fofocas, mas agora que tinha pensado nisso, seus
companheiros de cartas tinham parecido um pouco reticentes em aceitar
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Summerfield em sua mesa. Não podia tirar dinheiro deste homem, pois ele
obviamente não tinha posse de todas as suas faculdades.
― Lhe digo uma coisa, Lorde Summerfield. Perdoarei sua dívida se me
fizer um favor. Espere aqui.
Cinco minutos mais tarde, quando Charles voltou com um envelope
selado, Summerfield estava precisamente onde o tinha deixado. Perguntou-
se brevemente quanto tempo o jovem teria ficado ali se não tivesse
regressado.
― Entregue isto a sua irmã, por favor? É um assunto de vital
importância.

Marjorie desejou que seu irmão estivesse ali. Em vez disso, tinha saído
com seu primo Jeffrey, um tipo simpático o suficiente se gostasse de homens
rabugentos que se queixam constantemente de sua falta de fundos.
Ironicamente, os dois estavam jogando cartas em seu clube. Marjorie olhou
ao redor do salão, então parou quando viu o familiar e escandaloso cabelo
vermelhos vivo de seu irmão. Ao seu lado, sua mãe enrijeceu e o estômago
de Marjorie se contorceu ao ver o objeto de seus pensamentos caminhando
em sua direção.
― Bom Deus, ele não está vestido. ― Disse Dorothea com horror.
― Ele está vestido, querida mãe, apenas não de forma apropriada.
Marjorie deu a George um sorriso afetuoso. Estava usando um fato
informal com um colete verde vivo e uma gravata amarelo-mostarda. Seu
cabelo, nunca realmente domado, estava particularmente bagunçado, como
se tivesse saído de uma tempestade de vento.
Marjorie deixou o lado de sua mãe para o interceptar e o levar para
longe dela.
― Não o estava esperando esta noite, George. ― Disse, engolido grosso,
enlaçando amorosamente seu braço em um dos dele.― E por sua roupa,
acredito que nem você.
―Mamãe vai ficar tão zangada, Marjorie. ― Disse George, engolindo
grosso.
Soava assustado de morte.
Marjorie sentiu o sangue descer de sua cabeça e o puxou para um
corredor para terem maior privacidade e para fugir dos olhos curiosos de sua
mãe.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― O que aconteceu George?


― Eu gosto de jogar cartas na escola. Sou bom nisso também. Quase
sempre ganho porque sei que cartas há. Vou tomando nota das que vão
sobrando, está vendo.
― Você aposta, George? ― Marjorie perguntou, temendo que que viria a
seguir.
― Apenas por alguns cêntimos na escola. Mas fui para o clube. É
quarta-feira, sabe.
Sim, Marjorie sabia que dia era e também sabia que cada quarta-feira
George ia para seu clube sem falta. Contudo, nunca soube que tivesse
estado em um jogo de cartas.
― Vi Lorde Hefford e Lorde Pendergast e lhe perguntei se me poderia
juntar a seu jogo. Um Mr. Norris estava lá também.
― Charles Norris? ― Marjorie perguntou, com o sentimento de pavor
crescendo. Tinha conhecido Charles Norris durante uma festa. O rude Mr.
Norris tinha perseguido brevemente sua querida amiga Katherine Wright,
agora a Condessa de Avonleigh.
― Sim. Charles Norris. Ele ganhou muito dinheiro de mim.
Marjorie podia sentir o suor se formando junto da linha do cabelo
enquanto sua trepidação aumentava. Com certeza Mr. Norris não iria tirar o
dinheiro de George. Por outro lado, talvez não tivesse reparado que seu
irmão era ligeiramente… diferente. Oh, ela adorava George, mas se
preocupava com ele em situações sociais. Ele era brilhante pesquisando
sobre a lei, que era o motivo para ser um advogado, mas nunca tinha sido
um advogado efetivamente praticante. Era, para dizer no mínimo,
desajeitado.
― Quanto dinheiro ele ganhou, George?
― Vinte e quatro mil quinhentas e trinta e duas libras.
O pouco sangue que ainda restava em sua cabeça desapareceu e
Marjorie chegou mesmo a balançar.
― Oh não, George.
Sabia que não era a perda do dinheiro o mais importante, era o fato de
que George tinha perdido o dinheiro. Se tivesse sido Marjorie, sua mãe a
teria perdoado, até teria rido da loucura tola de sua filha. Mas tinha sido
George e ele nunca seria perdoado. Era simplesmente outra falha que nunca
seria esquecida, outra razão para sua mãe afirmar que ele não merecia o
título. Quantas vezes tinha dito sua mãe que desejava poder fazer uma
petição na Casa dos Lordes para retirar o seu título? Até Lady Summerfield

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

sabia que era uma tarefa quase impossível. Mas perder tamanha soma?
Seria simplesmente adicionar achas a suas alegações de incompetência. O
pobre George não ficaria vez na audiência pública.
― Está tudo bem, Margie. Ele disse que perdoava a dívida. Me deu esta
nota para entregar a você.
O alívio que sentiu era quase tão forte quanto tinha sido o medo que
experimentou momentos antes. Talvez Mr. Norris fosse um homem bom,
justo que percebeu que George provavelmente não entendia a enormidade do
que tinha feito.
Marjorie retirou a nota, suspeitando que era simplesmente uma
explicação dos eventos da noite.

Por favor, me encontre em minha casa da cidade, 25 Burry St.


Imediatamente para podermos negociar os termos da dissolução da
dívida de seu irmão.
Seu
Charles Norris.

O medo voltou com força. Imediatamente? Era quase uma da manhã.


Ela não podia possivelmente…
Oh, ela tinha que o fazer, maldição. Marjorie olhou para George,
zangada com seu irmão por a colocar em tal situação. E frustrada por ele
parecer tão completamente ignorante deste fato.
― George, estou muito, muito zangada com você.
―Você está?
― Sim. Você não deve voltar a apostar de novo, me entende, George?
Nunca mais.
George baixou a cabeça, suas bochechas pálidas e sardentas ficando
encarnadas. Marjorie imediatamente sentiu remorsos, pois não se conseguia
lembrar da última vez que tinha levantado a voz para George. Usando um
tom mais suave, disse:
― Isto foi muito mais de sua parte George. Ele não perdoou a dívida,
mas exigiu um encontro. Ainda bem que ele perguntou por mim e não por
mamãe.
George não podia saber quão impróprio tal exigência seria e se ela
sentisse que tinha alguma escolha, teria recusado. Mas como podia? Se Mr.
Norris não perdoasse a dívida, sua mãe iria possivelmente tomar medidas
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para remover George da sociedade. Porque iria qualquer cavalheiro exigir ver
uma mulher solteira em sua casa a uma hora tão vergonhosa? Apesar de
todas as suas falhas (e Marjorie tinha reparado em um bom número delas
em seus breves encontros), tinha pensado que ele era um cavalheiro.
Tentou recordar o que sabia sobre o homem, mas acabou percebendo
que tinha muitíssimo pouca informação. Lembrava- se corretamente, era o
segundo filho do Visconde Hartley e algum tipo de diplomata o tinha
recentemente regressado de algum lugar.
Deu um encolher de ombros interno. Sem dúvida descobriria seus
motivos em alguns minutos, pois sua casa em Bury Street não ficava longe
de onde se encontrava de momento. Se não fosse pela hora, poderiam ter
caminhado até lá.
― Você me acompanhará até sua casa, George, mas vai esperar na
carruagem. Se eu não sair em vinte minutos, quero que vá bater bem alto na
porta e exigir entrar.
George, com sua cabeça ainda baixa, assentiu.
― Já não estou zangada com você, George. Bem, talvez um pouco. Mas
vou exigir aquela promessa de você sobre apostar. Nunca mais, George. Está
claro que não tem talento para isso.
― Eu era o campeão da escola. ― George disse. ― Ganhei seis libras e
sete cêntimos.
― Mas aqueles eram garotos. Hoje esteve jogando contra homens que
têm apostado durante anos. Nunca mais, George. Prometa.
George olhou para cima.
― Eu prometo, Margie.
Marjorie sorriu.
― Bom. Agora, vamos chamar sua carruagem. É provável que não
esteja bloqueada, já que acaba de chegar.
Marjorie, com alguns protestos por parte de sua mãe, finalmente foi
liberada do baile depois de alegar uma horrível dor de cabeça. Acalmou sua
mãe, que estava passando um bom bocado com sua querida velha amiga
Lady Benningford, a ficar e aproveitar o serão.
― A verei pela manhã, mamãe. ― Marjorie disse, beijando sua mãe na
bochecha. ― Você vai se divertir. Quando foi a última vez que passou um
tempo só para você?
Dorothea sorriu para ela com carinho e a deixou sair, deixando
escapar alto que Marjorie realmente parecia um pouco pálida e que talvez
isso explicasse porque tão poucos jovens tivessem mostrado interesse por ela
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

essa noite. Marjorie se forçou a concordar com ela, apesar de ressentir a


habilidade de sua mãe de trazer a conversa de volta para sua busca por um
marido.
Uma vez na carruagem, sentada em frente a seu irmão, Marjorie
tentou permanecer calma. Aquelas palavras na nota enigmática a
continuava incomodando – “negociar os termos”. O que diabos queria? Sua
imaginação sugeriu todos os cenários desde sua mão em casamento, até sua
virtude, ou uma das propriedades de sua família. Mas se ele queria uma
propriedade, não podia ter negociado com George? Seu irmão era o chefe da
família e era bem capaz de tal negociação.
Oh, Deus, será que ele queria… Favores? Seu estômago se contorceu
enquanto se lembrava de tudo o que podia sobre Charle Norris. Ele era um
cavalheiro, pelo menos tinha sido educado dessa forma. Seu irmão, herdeiro
do título, era um homem bastante respeitado com uma reputação excelente.
Tentou lembrar o Mr. Norris do tempo em que este perseguia Katherine. Mr.
Norris era grande, rude e… bonito. Era atraente se gostasse de homens
grandes e rudes. E, frustrantemente, isso era tudo o que conseguia lembrar
dele. Tinha ido a um jogo de cricket com Lorde Avonleigh e sua amiga
Katherine. Ela se recordava simplesmente porque se tinha sentado não
muito longe deles e o tinha achado anormalmente entusiasmado sobre o jogo
enquanto o tentava ensinar a Katherine.
― Como era Mr. Norris? Qual era sua disposição? ― Ela perguntou. ―
Foi simpático?
― Oh, sim. Ele sorriu para mim e isso significa que gostou de mim.
Não é? ― George perguntou incerto.
― Tenho certeza de que ficou muito feliz depois de ter ganho aquela
soma de dinheiro. ― Marjorie murmurou.
― Não. Não penso isso. É por isso que está dando o dinheiro de volta.
Ele me perguntou se eu tinha o dinheiro e lhe disse apenas tinha treze mil
duzentas e vinte e duas libras em minha conta no Baring. Isso significa que
preciso de onze mil trezentas e dez libras.
― Isso continua sendo uma grande soma. ― Disse Marjorie. ― O que
exatamente ele disse a você?
― Ele disse ‘Sir, precisa de tempo para saldar sua dívida? E então me
pediu para lhe entregar a nota.
Marjorie franziu o cenho em pensamento. Ela supunha que a única
forma de descobrir as intenções de Mr. Norris era encontrando com ele.
Apenas desejava que não fosse a esta hora da madrugada.
Em breve, a carruagem parou em frente da casa na rua da moda de
Bury Street, não muito longe de St. James Square. As ruas estavam
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

desertas, mas bem iluminadas por lâmpadas de gás sibilando no silêncio da


noite. Com um profundo suspiro, Marjorie desceu da carruagem, ignorando
o olhar preocupado de seu criado e subiu as escadas da porta da frente.
Torcendo a campainha, se afastou para trás, apertando seus punhos em seu
estômago numa tentativa desesperada de acalmar o nervoso doente que
sentia. Mal teve tempo para se recompor quando a porta foi aberta por um
índio alto usando o tradicional dhoti e um turbante branco.
― Lady Marjorie, por favor entre. Mr. Norris a está esperando.
― Encantador. ― Disse Marjorie, entrando no hall mal iluminado.
― Por aqui. ― O criado caminhou pelo corredor longo e escuro, o que
apenas aumentou a agitação de seu coração. Pensou ter escutado um
estranho grunhido vindo da direção que estavam seguindo e parou onde
estava.
O homem se voltou em sua direção interrogativo.
― Eu… Não há nenhuma luz?
― Ah, perdoe minha rudeza. Estou acostumado a caminhar por estes
corredores na escuridão e me esqueci completamente de que não está
familiarizada com a casa. ― Ele tirou um fósforo de seu bolso e acendeu uma
arandela. ― Melhor, não?
Marjorie sorriu,
― Muito melhor, obrigada.
― Agora podemos conti... ― Sua frase foi interrompida por uma
maldição muito desagradável e muito alta. ― A noite pode ser muito difícil
para Mr. Norris. ― Disse Índio enigmaticamente, antes de continuar pelo
corredor.
― Talvez uma outra altura seja melhor? ― Marjorie sugeriu atrás dele.
Ele se voltou, sorrindo de modo agradável.
― Por aqui, miladie.
Com um suspiro de resignação, Marjorie começou caminhando até o
final do corredor, parando quando o homem bateu suavemente na porta, que
mostrou uma suave luz por baixo. Aqui iriam sem dúvida encontrar o
barulhento e mal-educado Mr. Norris.
― Maldição, Prajit, se ela ainda não chegou, me deixe em paz, droga.
― Talvez eu deva voltar a uma hora mais respeitável, sir?
Charles se voltou em seu lugar junto do fogo onde estava, na
esperança de que o calor das chamas amenizasse a dor agoniante que
atacava sua perna. Murmurou ainda outra maldição, apertou sua
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

mandíbula e forçou um sorriso, que mesmo ele sabia que provavelmente o


fazia parecer um louco.
― Lady Marjorie, peço desculpas pela hora tão tarde, mas queria isto
resolvido o mais depressa possível.
Através da neblina da dor, estava consciente de que a dama estava
vestida para um baile e tinha inteligência suficiente para perceber que ela
tinha sido arrastada do dito baile para o atender.
― E me desculpo de novo por a ter afastado do que imagino estava
sendo um serão agradável.
― Talvez mais agradável do que isto. ― Ela disse, levantando uma
sobrancelha em seu rosto adorável.
Agora que ela estava a sua frente, percebeu que se lembrava dela
muito bem. Era difícil conhecer Lady Marjorie Penwhistle e não se lembrar
dela. Ela era, de facto, a fantasia de qualquer homem inglês do que uma
mulher inglesa deveria ser, se preferissem as belezas de cabelos negros às
loiras. Sua cútis era quase perfeita, cremosa e suave com um pequeno rubor
ao longo de suas maçãs do rosto delicadas. Seu nariz era pequeno, seu
queixo talvez um pouco forte (um presente, sem dúvida, de sua mãe), mas
em nenhuma maneira era masculina. Seus olhos eram escuros e a essa luz,
não conseguia dizer se eram um azul escuto ou talvez castanhos. Todo seu
semblante lhe conferia um ar de autoridade e inteligência… E frieza. Não, ele
não estava nem um pouco atraído por ela.
Ela seria perfeita para ele.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 2
― Por favor, sente-se Lady Marjorie.
Ele hesitou, não querendo ser colocada em desvantagem, mas
percebendo que já estava tão em desvantagem podia muito bem fazer o que
ele pedia. Ou melhor, exigia, mesmo que educadamente. Se sentou e olhou
para ele com expectativa, medo descendo por sua espinha.
Estavam em uma sala pequena, cheia de mobília, livros e coisas que
tinham sido colecionadas, sem dúvida, em suas viagens. Coisas estrangeiras
e de aspeto assustador enchiam a sala, coisas que podiam ficar bem em um
museu, mas que eram um pouco desagradáveis em um salão. E no centro
desta pequena sala estava um homem grande em frente ao fogo como se
fosse alguma espécie de rei medieval. Seu cabelo tinha uma cor estranha,
nem loiro nem vermelho, mas em algum lugar entre os dois e com doses
dessas cores em estrias por todo o cabelo. Nesse momento estava bastante
desarrumado, despenteado, alguns poderiam dizer. Seus olhos, de um
castanho-escuro meditativo, estavam olhando para ela. Uma mão estava
fechada firmemente na cornija e quando ele viu seu olhar de curiosidade
para o punho de articulações brancas, cuidadosamente o soltou e colocou
num bolso.
― Seu irmão lhe contou o que aconteceu esta noite?
― Sim, ele disse. Apesar de não ter a certeza se George compreende
completamente o alcance de sua dívida.
― Ele sabe quanto me deve.
― Oh, sim, ele sabe. ― Ela disse agradavelmente. ― Mas ele não
compreende completamente as repercussões de acumular tal débito. Meu
irmão é assustadoramente inteligente sobre certas coisas. Mas faz um
grande esforço para perceber as complexidades da sociedade.
― É um jovem agradável, mas um pouco incomum. Eu reparei nisso.
Marjorie sorriu.
― Sim, isso é correto. Porque me convocou aqui, sir? Com certeza não
acha que eu posso conseguir a quantia de ele lhe deve.
Mr. Norris se afastou um passo da cornija e deixou escapar um som
alto, sua face se contorcendo de dor. Marjorie se levantou e começou se
movendo para a frente, mas ele levantou uma mão, a parando.
― Saia Prajit, eu, estou bem. Por amor de Deus.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Marjorie se virou para ver o criado parado na entrada, sua expressão


cheia de preocupação. Se afastou e silenciosamente fechou a porta, os
deixando de novo sozinhos.
― Está lesionado?
― No Gana. A Guerra Ashanti.
Marjorie assentiu. Apesar de saber muito pouco sobre guerra, ela e
todo o mundo em Inglaterra tinha escutado sobre o General Garnet Wolseley
e seus esforços lá.
― Conheceu o General Wolseley?
― De fato, o conheci. Um homem impressionante e um grande
inteligência. Extremamente… Eficiente.
Algo em seu tom disse a Marjorie que a discussão a curta Guerra de
Ashanti tinha terminado.
― Lamento por sua lesão e agradeço o seu serviço, mas gostaria de
saber porque estou aqui.
― Preciso de uma esposa.
Marjorie se voltou a sentar, seus joelhos cedendo debaixo dela, incapaz
de parar o audível arquejar que escapou de sua boca.
― Não com você, sua boba.
Apesar de casar com ele fosse a última coisa que queria, Marjorie não
pode evitar se sentir ligeiramente insultada pelo comentário.
― Continuo confusa com o que estou fazendo aqui, sir.
― Como desejar. ― Ele disse, apesar de parecer a Marjorie que preferia
não fazer como ela desejava.
Parecia mais um homem que esperava que ela fizesse o que lhe
mandasse, simplesmente porque ele pediu. E obviamente, estava certo, pois
ela estava lá a meio da noite apenas porque ele tinha pedido por um
encontro.
Lhe deu um olhar altivo que até mesmo na pouca luz da sala era
intimidante. Por isso, quando finalmente começou sua explicação, Marjorie
ficou quase livida de surpresa.
― Quando tinha vinte e cinco anos, decidi que queria uma esposa,
casamento e filhos e tudo o que lhe está associado, junto com o tipo de vida
sedentária que meus pais têm. Por isso, me propus a procurar a garota que
melhor encaixaria nesse papel. A encontrei imediatamente. Me apaixonei,
assim mesmo. ― Ele estalou os dedos.

16
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― As coisas não funcionaram? ― Marjorie perguntou, afirmando o


óbvio.
― Ela estava apaixonada por um de meus melhores amigos. Você a
deve conhecer como Lady Willington. ― Marjorie assentiu. ― Lambendo
minhas feridas, me dirigi para a índia. E me apaixonei de novo. E de novo.
Sempre por mulheres que ou eram completamente impróprias ou tinham
suas afeições em outro lugar ou estavam, digamos, menos apaixonadas por
mim. Depois de dez anos longe de Inglaterra, voltei para casa e encontrou
outra garota que pensei que poderia amar.
― Katherine Wright.
Ele sorriu finamente.
― De fato. Cheguei à conclusão de que há algo errado comigo e preciso
de assistência.
Marjorie começou a abanar a cabeça antes que ele pudesse fazer a
proposta.
―Este é o acordo, Lady Marjorie. Perdoarei a dívida de seu irmão se
você me conseguir encontrar uma noiva esta temporada. Esta temporada.
― Mas é impossível. ― Ela proferiu abruptamente e imediatamente se
arrependeu disso, pois o homem parecia muito incomodado com suas
palavras. ― Não queria dizer que é impossível lhe achar uma noiva, mas que
é altamente improvável que, quando você não teve sucesso em dez anos, eu
vá ter sucesso em dois meses! A temporada já está no seu auge, sir. E, não é
isso chantagem?
― Extorsão na realidade. Mas não usemos uma palavra tão feia no que
poderia ser um acordo mutuamente benéfico. ― Ele lhe deu um sorriso
estreito. ― Olhe para mim, madame e me diga o que vê. Estou delirante? Sou
um monstro e ainda não me apercebi disso? Há algo em mim que seja
desagradável ou repugnante? Cheiro mal? ― Ele estava sorrindo um pouco e
ela não conseguia detectar nenhuma dor emocional em seus olhos, por isso
tinha certeza de que ele não acreditava em nenhuma dessas coisas.
Marjorie olhou para ele e abanou a cabeça.
― Você é um homem atraente. Acima da média, realmente. E também
é rico, se não me engano?
Ele assentiu, sua expressão, se possível, ficou ainda mais negra.
― Excessivamente.
Ela se levantou e se aproximou dele o cheirando delicadamente,
detetando o odor de uma colónia muito boa e muito subtil, uma que, ser
fosse honesta, a atraía para ele, não o contrário. Olhou sua face quadrada,

17
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

notando sua boca firme, mas sensual, seu nariz reto com uma pequena
fenda, suas proeminentes sobrancelhas por cima de olhos castanho-escuros
e não conseguiu encontrar nada que pudesse repelir uma mulher. De fato,
ele era muito mais atraente de perto do que tinha reparado antes.
― É em realidade muito atraente. Talvez seja sua personalidade. Ou
talvez esteja simplesmente escolhendo as mulheres erradas.
Ele sorriu largamente.
― Sim. ― Disse com entusiasmo. ― É isso. E é por isso que preciso de
sua ajuda. Continuo escolhendo as mulheres erradas e com sua ajuda
poderei escolher a certa.
Marjorie voltou a se sentar.
― Porquê eu? Certamente tem amigos que o podem ajudar. Eu nem
sequer o conheço, do que gosta e do que não gosta. Que tipo de mulher quer.
Mr. Norris abanou sua cabeça como se esses detalhes não fossem
importantes.
― Tenho estado longe de Inglaterra por dez anos. Não conheço
ninguém, principalmente jovens moças. Meus amigos estão todos casados e
raramente aparecem em eventos sociais nestes dias. Muito ocupados tendo
crianças. ― Disse com uma pequena quantidade de escárnio.
― Não gosta de crianças?
Ele olhou para ela, momentaneamente confuso por sua pergunta.
― É claro que gosto de crianças. Mas deveriam ser minhas crianças.
Fui eu quem se quis casar, não eles. Mas aqui estou eu, dez anos depois, o
último de nós por casar e eu fui o primeiro a anunciar minha intenção de me
casar.
Marjorie estremeceu quando a última parte foi dita a gritos.
― Foi sempre tão barulhento?
Mr. Norris se sentou pesadamente, uma mão apertando sua coxa, a
que, Marjorie supunha, estava lesionada.
― Estou tentando controlar essa tendência. ― Disse suavemente. ―
Mas quando me sinto arrebatado sobre alguma coisa, tendo a ser um pouco
barulhento, sim.
― Estrondoso seria a expressão mais acertada. ― Disse Marjorie com
um leve riso. ― Pode fazer fugir a sua futura esposa.
Marjorie estava levemente divertida o vendo apertar sua mandíbula em
frustração.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Aceito seus termos. Se não se importa, sir, gostaria de me encontrar


com você em breve para discutirmos nosso acordo.
― A visitarei amanhã.
Marjorie estava imediatamente alarmada. Já podia ver sua mãe
discursando uma e outra vez sobre como não deveria encorajar o Charles
Norris sem título. Tentaria muito provavelmente remover de forma corporal
Mr. Norris de sua casa se ele se atrevesse a mostrar interesse nela. Claro,
Marjorie nunca poderia explicar o acordo que tinha feito com ele.
― Não, não teremos nenhuma privacidade que precisamos. Já sei o
que podemos fazer. Quando George for à Christy Collection. Ele me pode
levar junto e podemos discutir as coisas lá.
― E pode me dizer o que é a Christy Collection?
― Antiguidades e coisas do género. Homens das cavernas e suas
pedras. O que isso importa? Não estamos indo olhar para elas, mas para nos
encontrarmos discretamente. É em Victoria Street, Westminster.

― Tenho o guia. ― George acrescentou. ― Está em nossa biblioteca na


terceira prateleira do topo, décimo livro a contar da direita.
Marjorie sorriu.
― Isso é maravilhoso. O engano está completo. ― Disse, rindo.
Obviamente, Mr. Norris franziu o cenho.
― Não me agrada a ideia de mentir para sua mãe. Eu nunca minto.
― Diz o homem que me está chantageando. E você não estará
mentindo para ela, eu estarei.
― Extorsão.
Marjorie abanou sua mão.
― Chantagem, extorsão. Me atrevo a dizer, qual é a diferença desde
que minha mãe não fique sabendo disso? Que excitante será. Encontros
clandestinos. Romance. Realmente, eu deveria estar pagando a você. ―
Marjorie disse com um sorriso endiabrado.
A expressão de Mr. Norris era tão surpresa, que Marjorie voltou a rir.
― Você não tem ideia de com a vida de uma solteirona pode ser
extremamente aborrecida. ― Ela disse. ― Eu quero viajar, ver o mundo, ter
aventuras. Sabe que o único país onde alguma vez estive foi Paris e com o
único propósito de ajustar meus vestidos? A vida de uma solteirona é
tediosa.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Lady Marjorie, se não se incomoda com eu dizer isso, você não se


parece com nenhuma solteirona que alguma vez tenha visto.
― No entanto, estou na idade em que a maior parte das jovens moças
estão casadas.
― Que idade seria essa, madame?
― Vinte e três.
Mr. Norris elevou uma sobrancelha.
― De fato. Talvez, enquanto estamos procurando por uma esposa para
mim, possamos encontrar um marido para você.
― Um marido com título. Minha mãe realmente mencionou esta
mesma manhã que a Duquesa de Marlborough se tem sentido doente e não
seria verdadeiramente terrível se ela falecesse, deixando um lugar aberto
para sua substituta. Isto, sir, é com o que tenho que lidar diariamente. Mas
se quer tomar a tarefa de me achar um marido, por favor o faça.
Ele sorriu, depois fez uma careta, agarrando sua perna.
― Mr. Norris foi ferido em Elmina em vinte de janeiro de mil oitocentos
e setenta e quatro. ― Disse George. ― Três outros homens, Patrick Gilwood,
Sir Elmer Huff e Benjamin Fredericks foram mortos. Patrick Gilwood morreu
por seus ferimentos três dias depois da batalha.
O queixo de Mr. Norris caiu um pouco.
― Foi exatamente isso que aconteceu. Como…
― Li o relato do jornal em vinte e quatro de janeiro. Estava na página
dois do London Times. ― Disse George.
― Ele possui uma memória de fato impressionante para tudo o que lê.
É um advogado brilhantes. Adora tudo o que esteja relacionado com história.
― Mas é um jogador de cartas bastante mau. ― Disse Mr. Norris, um
toque de ameaça em seu tom.
― Não se preocupe, sir, George não voltará a jogar cartas de novo.
― Bom. E a que horas nos devemos encontrar na exibição?
Marjorie se voltou para George.
― Você vai na quinta-feira, não vai, George? A que horas?
― Amanhã é quinta-feira. Vou ao Hyde Park à uma e à Christy
Collection às quatro.
Marjorie explicou.
― Oh, sim. É verdade. Talvez às quatro então. George.
20
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Seu irmão abanou a cabeça em concordância.


― Vai correr bem, George. Eu estarei lá, não é?
― Tenho que ir a Hyde Park na quinta-feira à uma.
Marjorie podia sentir suas faces roborizando levemente. Ela adorava
George, mas também sabia que seu comportamento podia ser um pouco
desagradável para muita gente. Bem, todo o mundo, se fosse honesta.
― Sim e depois disso, iremos à exibição. Não se incomoda se o
acompanho, não é, George?
George pressionou seus lábios juntos, algo que fazia quando estava
incomodado.
― Está bem. Depois de eu ir à uma ao Hyde Park.
― Bom. Então podemos nos encontrar amanhã pouco depois da hora?
Marjorie sabia que seu intercâmbio com seu irmão tinha sido
estranho, mas a expressão de Mr. Norris não o demonstrou.
― Fico ansioso por isso, Lady Marjorie. Lord Summerfield.

― É uma pedra. ― Disse Marjorie, franzindo o cenho para um pequeno


pedaço de pedra deitada em um pedaço de veludo dentro de uma caixa de
vidro.
― Ah, mas é uma pedra que foi uma vez segurada por uma mão antiga
Lady Marjorie. E se olhar mais de perto, vai ver que consegue perceber como
foi moldada. Consegue ver esses ângulos?
Charles observou, sem uma pequena ponta de impaciência, como a
cética lady espreitava, sem se deixar impressionar, para as peças de pedra.
George, por outro lado, parecia fascinado por elas e continuava se referindo
a seu livro-guia.
Que par estranho eram aqueles dois, pensou Charles. Lady Marjorie,
autoproclamada solteirona, usava um delicioso vestido azul real que tornava
seus olhos azuis acinzentados. Era surpreendente ver uma cor tão adorável
olhando de volta para ele quando pensara que ela provavelmente teria olhos
castanhos aborrecidos como os seus. Se perguntou, não pela primeira vez
desde que a conhecera, porque ela continuava incapaz de encontrar um
marido. Sim, ela queria um título, mas havia muitos desses na Inglaterra.
Não a tinha achado rabugenta. Pelo contrário, ela era bastante
agradável com uma tendência para sorrir e encontrar prazer no incomum.
Então, porquê?
21
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Tenho que ir para casa às seis horas.


Era, talvez, a quinta vez que seu irmão tinha dito isso e cada vez Lady
Marjorie concordava com ele gentilmente. E foi aí que percebeu que o motivo
para ela continuar solteira poderia não ter nada a ver com ela, mas tudo a
ver com seu irmão mais novo.
― Você o está protegendo. ― Ele disse suavemente, olhando para
George, que pairava sobre uma exibição do outro lado da sala. ― De quem,
eu me pergunto?
Ela olhou para ele, assustada, depois lançou um olhar afetuoso a seu
irmão.
― Minha mãe. ― Disse finalmente. ― Se não estou por perto, ela o iria
esmagar. Talvez não de propósito, mas ela o iria esmagar. Ele precisa de
mim. Eu o compreendo. Eu sei que ele é brilhante e amável, mas tenho
medo que tudo o que ela vê é…
― Um embaraço. ― Charles sugeriu gentilmente.
Quando era um jovem, o poderia ter julgado da mesma maneira. Tinha
sido um pouco mente fechada nessa época, mas era um homem mudado
agora. Os anos o tinham amenizado e feito dele muito mais tolerante e
compreensivo do que tinha sido em tempos. Por isso estava um pouco
surpreso pelo olhar feroz de Lady Marjorie.
― Ele não é um embaraço. ― Sussurrou duramente.
― Não compreendeu, miladie. Não acredito que ele o é, mas me
pergunto se é assim como sua mãe se sente.
Seu rosto imediatamente suavizou.
― Oh, peço desculpas. Tendo a ser, como se diz, muito protetora com
George. ― Deixou escapar um riso suave. ― Minha mãe está mais do que
embaraçada dele. Temo que por vezes não queira nada mais do que lhe
retirar o título e o ver passando o resto de sua vida em um asilo. Enquanto
continuar respirando, isso não vai acontecer. E é por isso que estou aqui,
sir. Porque minha mão não pode nunca vir a saber que ele perdeu todo
aquele dinheiro.
Charles lhe sorriu gentilmente.
― Minha querida lady, nunca mostre todas as suas cartas. Não me
conhece e, contudo, acabou de me contar seu maior medo. Me deu poder
sobre você, mais poder do que tinha anteriormente.
Suas sobrancelhas se juntaram e ele riu alto.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Não tema, por favor, miladie. Estou apenas avisando. Protegerei sei
segredo ― lhe fez uma reverência ― com toda minha vida, se necessário for.
Mas achei que era necessário apontar quão ingénua é.
Ela inclinou sua cabeça, seus olhos fechando, mas ele conseguia ver
um pequeno sorriso a querer surgir em sua boca bastante adorável.
― Começo a ver agora porque você ainda continua solteiro, sir. É
demasiado direto.
― Não sou deste modo com as mulheres que cortejo. Sou um completo
idiota no que toca a mulheres bonitas.
― É bom saber que é completamente imune a meus charmes. ― Disse
Lady Marjorie secamente.
― Enquanto seus charmes são consideráveis. ― Ele disse, incapaz de
impedir seus olhos de flutuarem para sua boca. ― Eu sou, como disse,
completamente imune.
Mesmo enquanto dizia essas palavras, percebeu, um pouco surpreso,
que estava mentindo.
― Maravilhoso.
― Preferiria que ficasse totalmente apaixonado e tivesse meu coração
partido de novo?
Ela sorriu, seus olhos se tornando meias-luas adoráveis.
― Duvido muito que seu coração tenha sido alguma vez realmente
partido, sir. E também duvido muito que alguma vez tenha estado realmente
apaixonado.
― Está dizendo, miladie, que eu não sei o que está em meu próprio
coração?
Ela inclinou a cabeça em pensamento.
― Por quem você morreria?
― Minha irmã. ― Disse imediatamente. ― Talvez meu pai e minha mãe.
― E eu. Não se esquece que acabou de dizer que guardaria meu
segredo com sua vida. ― Ela parecia demasiado satisfeita por relembrar esse
fato. ― Você dá sua vida muito facilmente, sir. Sem dúvida morreria por
qualquer mulher que aceitasse dançar com você. Posso ver que não foi uma
pergunta muito esclarecedora.
Ele sorriu altivo para ela, levantando seu rosto, notando sua expressão
presunçosa.
― Isso é problema meu, sabe. Eu dou meu coração muito facilmente.

23
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― O que de novo prova meu ponto. Você está enfeitiçado. Não está
apaixonado.
― Acredito que isso é o que venho dizendo o tempo todo, madame. E é
seu trabalho me afastar das mulheres que são impróprias, desinteressadas e
indisponíveis.

Passaram a próxima hora visitando o museu e fazendo planos para


sua operação. Seria difícil, ambos sabiam, continuarem com seu esquema
quando a mãe de Marjorie estivesse presente. A operação tinha que ser
clandestina. Iriam tocar notas, sussurrar palavras de passagem, encontrar
em segredo. Charles estava encantado com o entusiasmo de Lady Marjorie.
Ela parecia não carregar nenhum ressentimento pelo que lhe estava a ser
forçado por sua extorsão.
― Já sei! ― Ela disse, agarrando seu braço. ― Devemos ter um local
onde podemos deixar uma nota. Posso dar instruções e você pode responder
ou me deixar saber a que festa ou baile vai comparecer essa noite e eu terei
a certeza de estar lá. Ou, pelo menos, posso tentar. ― Ela juntou suas mãos
e as pressionou contra seus lábios, seus olhos brilhando de excitação. ―
Tenho o local perfeito. ― Ela anunciou. ― Por detrás de nossa casa na
cidade, tem uma parede separando nosso jardim dos estábulos. Existe um
caminho estreito lá que qualquer um pode usar. Perto do portão existe um
tijolo solto onde costumo deixar minha chave de casa para George e eu caso
alguma vez precisarmos. Quando saímos sem mamãe a usamos o tempo
todo. Não goste de caminhar com criados atrás, sabe. Podemos deixar notas
aí. ― Ela bateu suas mãos como uma pequena menina prestes a abrir seus
presentes de aniversário.
Charles já tinha tido suficiente excitação nos últimos dez anos para
lhe durar uma vida, mas estava claro que esta jovem levava uma vida
bastante calma. Esperava que quem se casasse com ela lhe desse um pouco
de excitação de vez em quando.
― Com que frequência devo verificar o tijolo? ― Ele perguntou.
― Todos os dias. Devo escrever todos os dias. Não será divertido?
O sorriso de Marjorie murchou um pouco, quase como se tivesse
esquecido para o que toda esta troca de notas era.
― Não será tão fácil para mim lhe achar uma esposa, como parece
acreditar. E se você se apaixonar por alguém que eu sei que não devia?
Como poderei possivelmente o dissuadir se o fizer?
― Terei simplesmente que confiar em seu julgamento. ― Disse, se
perguntando se iria ser uma coisa tão simples. Conhecia muito bem a esta

24
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

aluta e sabia que lhe estava dando uma tarefa difícil. ― No processo, talvez
encontremos um marido para você também.
Marjorie abanou a cabeça.
― Duvido muito que vá suceder onde minha mãe falhou. Encontrar
um marido tem sido seu domínio por quarenta anos, começando com sua
própria caçada.

Quarenta anos atrás


Dorothea Stockbridge sabia que quando olhava para um espelho o que
via não era nenhuma beleza. Sua mãe dizia que era bonita e ela presumiu
que era. De fato, tinha um queixo quadrado um pouco masculino e sua
figura também podia ser considerada quadrada. A única maneira de que
poderia mostrar sua cintura era se apertasse extremamente seu espartilho, o
que fazia sua criada regularmente. Contudo, para uma rapariga sem
atrativos físicos, fazia tudo o que podia para parecer o seu melhor. Usava os
estilos mais recentes, quer a favorecessem ou não, vestia os mais finos
materiais, a renda mais cara. Adorava chapéus e estava bastante orgulhosa
de ser quem criava as tendências nesse departamento. A touca que utilizava
agora, por exemplo, tinha uma aba extremamente grande decorada com
pequenas flores e tinha que estar constantemente a segurando em sua
cabeça, já que estava bastante ventoso. O grande laço de cetim abaixo de
seu queixo roçara suas bochechas quando caminhara por Regent Street com
sua melhor amiga Mary Marshall, Lady Benningford. Estavam fazendo
compras, claro. Mas o que Dorothea estava realmente fazendo era procurar
por Lorde Smythe, um homem por quem estava impossivelmente apaixonada
nos últimos quatro anos.
Dorothea, claro, era solteira e estavam em uma idade em que a
maioria das mulheres já teriam filhos e um lar. Com vinte e oito anos, já
estava tão na prateleira que já tinha ganho poeira. Mas mesmo naquela
idade continuava tendo esperanças de que um dia casaria, teria seu próprio
lar e talvez crianças (apesar de sua mãe ter indicado que já estava
demasiado velha para começar por esse caminho). E Lorde Smythe, sempre
tão educado, sempre tão atencioso, era sua última esperança. Sempre a
convidava para dançar e os dois tinham caminhado juntos em mais jardins
do que poderia contar. Enquanto ele nunca expressava nenhum sentimento
além de amizade, já que partilhavam um interesse em botânica, Dorothea se
permitiu imaginar que ele os tinha.
― Ele sempre vai ao Briggs na quarta-feira às duas horas porque é a
essa hora que a nova remessa de livros chega. ― Esta pequena informação
veio de Mary. E então, era para aí que elas estavam indo.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Dorothea sabia que Mary tinha pena dela, mas o escondia bem a
maior parte do tempo. Viu o olhar de hesitação de Mary toda a vez que
Dorothea mencionava Lorde Smythe. Sabia que não tinha nenhuma chance
com ele, não quando havia tantas outras garotas mais novas e mais bonitas
por onde escolher. Mas não podia parar seu coração de querer o que queria.
Quatro anos querendo. Quatro anos deitada em sua cama à noite, olhando
para o teto e se questionando se existia alguma esperança de que ele
estivesse fazendo o mesmo que ela.
Regent Street estava movimentada a esta hora do dia, com homens
continuando seus negócios e mulheres passeando e fazendo compras. A
grande rua estava cheia de tráfico, os sons altos de rodas de carruagens
contra o pavimento e passeios de tijolo que se estendiam em cada lado da
rua. Apenas tinham cruzado Hanover Street quando Dorothea viu uma
querida velha amiga dando a mão a uma criança pequena. Enquanto
observava, sua amiga se baixou e tocou o nariz da criança, depois beijou sua
bochecha antes de se endireitar e se afastar delas.
― Oh, olhe Mary, é Lenore. ― Ela disse, puxando Mary consigo para
que a conseguissem alcançar.
Mary estacou, resistindo.
― Não podemos, Dottie. ― Mary sussurrou de modo severo. ― Não a
podemos reconhecer. Você sabe disso. Seria embaraçoso para ela, para não
mencionar no que faria a nossas reputações.
Dorothea parou de caminhar.
― É claro. ― Disse em triste resignação. ― Me pergunto como estará
passando.
― Como você acha? Ela casou com um administrador de terras, pelo
amor de Deus. Pensei que estariam vivendo no campo em sua quinta. Me
pergunto o que ela está fazendo em Londres?
Dorothea observou sua velha amiga se perder na multidão de
pedestres e então desaparecer completamente de vista.
― Talvez se tenha reconciliado com sua família.
― Duvido muito disso. ― Disse Mary. ― Além disso, viu o que ela
estava vestindo? Estou surpresa de que a tenha reconhecido, mas era
Lenore.
― Ela tem uma filha. ― Dorothea disse, incapaz de esconder a tristeza
de sua voz.
― Sim, sem dúvida que estão se divertindo muito batendo manteiga
juntas e ordenhando vacas.

26
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Apesar de si mesma, Dorothea riu.


― Ainda não consigo acreditar que tenha fugido com aquele homem.
Não consigo imaginar como seus pais se sentiram quanto a isso. Me lembro
que na altura estava tão zangada com ela por não me contar. Certamente a
teria convencido a esquecer seus planos. E suas irmãs ainda estão solteiras,
sabia? Será que ela não pensou em como suas ações as afetariam? ―
Dorothea abanou a cabeça. ― Acho que ainda estou zangada com ela.
― Foi bastante chocante na época. A filha de um duque fugindo para
casar em Gretna Green com um administrador de terras. Em que é que ela
estava pensando? E ele? Que canalha para atrair uma jovem garota dessa
forma. Deveria saber que não poderiam continuar na família. O que estava
pensando, que seria convidado para viver com a família, a fazer suas
refeições com eles?
Dorothea lembrava que por trás da raiva que tinha sentido por sua
amiga não confiar nela, estava o pensamento de quão romântico seria fugir
com o homem que se ama. Que Lenore estava tão apaixonada que estava
disposta a deixar tudo para estar com ele, administrador de terras ou não.
Agora, contudo, percebia quão tola tinha sido Lenora. Seus pais cortaram
relações com ela, assim como suas amigas. Quem eram as amigas de Lenore
agora, as esposas de outros administradores? Do que diabos falariam elas?
― Aqui estamos. ― Disse Mary, laçando seu braço com um de
Dorothea. ― Vamos comprar um livro? ― Mary deu a Dorothea um sorriso
endiabrado.
Entraram na livraria e foram imediatamente atingidas pelo
maravilhoso cheio de cera de abelha e livros. O funcionário olhou para elas
enquanto entravam e lhes deu sorriso educado. Dorothea imediatamente se
dirigiu à seção de botânica nas traseiras da loja e apertou ainda mais o
braço de Mary quando viu a figura familiar de Lorde Smythe. Era
simplesmente lindo.
O sol entrava pela janela logo acima dele, atingindo seu cabelo
dourado e criando uma auréola de luz em volta de sua cabeça. Ele olhou
para cima e viu as duas se aproximando e deu a Dorothea um sorriso. Ela
quase desmaiou.
― Boa tarde, Lorde Smythe. ― Disse Mary.
Graças a Deus, porque Dorothea não conseguia se forçar a dizer uma
única palavra. Seu estômago estava tremendo e ela podia sentir seu rosto
ficando roborizado.
― Lady Benningford, Lady Dorothea. ― Acenou, olhando para o livro
que estava segurando e, com alguma hesitação, disse ― O último Revue
Horticulture está disponível. Possui adoráveis fotografias de rosas.

27
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Oh? ― ela estava sem ar, mal se consegui mover. Mas Mary lhe deu
um pequeno empurrão em sua direção e ela se forçou a caminhar para ele,
seus olhos na revista. Se olhasse para ele, estava certa de que ele poderia ver
o arrebatamento de adoração em seu rosto.
― Aqui, fique com este. Existem outras cópias. ― Lhe entregou o
periódico e Dorothea o pegou como se estivesse tocando um objeto raro.
― Obrigada. ― Disse, se atrevendo a olhar para ele.
Ela sorriu, esperando parecer pelo menos um pouco bonita e ele sorriu
de volta.
― Irá a Ascot este ano, milorde? ― Ela perguntou, bastante orgulhosa,
perante as circunstâncias, de ter introduzido um novo assunto.
Ele lançou uma olhada a Mary e depois voltou a olhar para ela.
― É claro. Tenho um cavalo correndo este ano. Emilius. O melhor
cavalo que alguma vez tive. Fique de olho nele, sim?
Lhe deu um piscar de olho e teria sido melhor lhe ter dado seu coração
pois a vibração tinha acontecido.
― Estarei torcendo com todo meu coração por Emilius. ― Disse
Dorothea.
― Muito bem, então. Talvez a veja lá. Se me desculparem, devo ir. Bom
dia.
Dorothea se moveu a um lado, o deixando passar, apertando o
periódico a seu coração. Quando tinha ido embora, ela se virou para Mary e
sussurrou.
― Ouviu isso? Ele me irá procurar em Ascot.
Mary sorriu.
― Ele não disse bem isso. ― Disse gentilmente.
Dorothea recusava ter seu humor diminuído pela verdade.
― Não importa. Eu o irei procurar.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 3

Baile dos Hebert, Sábado.

Marjorie olhou para a enigmática nota e sorriu. Que divertido tinha


sido tirar o tijolo e encontrar aquele pequeno pedaço de papel lá.
― Baile dos Hebert. Sábado. ― Ela leu alto, imitando sua voz de
barítono.
Tirando seu lápis do bolso, escreveu:
Sim. E tenho uma lista.
Colocou a nota de volta no buraco e, sorrindo, caminhou por seu
jardim e para dentro de casa. Ela tinha feito, de fato, uma lista. No topo
estava Miss Susan Mitchell, filha de Sir Robert Mitchell. Dezanove. Bonita.
Rica o bastante para atrair títulos mais pequenos, mas, tanto quanto
Marjorie sabia, não possuía grandes aspirações. Depois estava Penelope
Richardson, filha do terceiro filho do Barão de Werington. Tinha passado por
muito nas duas últimas temporadas (ela tinha um nariz bastante grande que
tinha a tendência de gotejar), mas era inteligente e bastante agradável. No
final estava Lavínia Crawford, lá colocada apenas porque Marjorie gostava
demasiado de Mr. Norris para o submeter a tal boba.
Era uma lista boa, sólida, mas Marjorie franziu o cenho. Conhecendo
os homens como conhecia, ela temia que a primeira vez que visse Miss
Crawford, ele ficaria tão encantado quanto qualquer outro homem em
Londres. Ela não era horrível, mas havia alguma coisa sobre a garota de que
Marjorie não gostava. Talvez fosse porque os mesmos homens que
costumavam estar à sua volta estavam agora de volta de Miss Crawford.
Marjorie abanou a cabeça, não gostando do caminho que seus pensamentos
estavam tomando. Se fosse honesta, não se conseguia imaginar casada com
nenhum dos homens que a tentaram cortejar ou até pediram por sua mão.
Por isso, por que estava com ciúmes da garota tola?

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Porque você uma vez foi essa garota tola, é por isso. Verdade seja dita,
ela sentia saudades de ser o centro das atenções, de ter seu cartão de dança
cheio antes de a orquestra começar a tocar uma única nota. Sentira falta dos
homens bem-intencionados lutando para ver quem teria a honra de a levar
para jantar. Da entrada cheia de flores. Do correio cheio de súplicas para a
levar a cavalgar por Rotten Row.
Seria ela tão superficial?
Deixou escapar um riso suave enquanto se dirigia à entrada da casa.
Claro que era.
― Esteve lá fora no jardim a esta hora da noite?
As mãos de Marjorie voaram para seu peito.
― Mamãe, quase me assusta de morte. E sim, estava. Está uma noite
agradável.
― O ar noturno não faz bem a sua tez, minha querida. Estava prestes
a procurar por você para podermos discutir o baile dos Hebert. O que estava
pensando usar?
― O vestido novo azul, eu acho. Tem estado tão quente ultimamente,
não me consigo imaginar usando outra coisa que não seja seda.
Dorothea caminhou para o salão de espera principal e Marjorie a
seguiu. A chocou nesse momento, como tantas vezes no passado, quão vazia
sua casa parecia. Quando seu irmão estava em casa, como sem dúvida
estava agora, ficava em seu quarto devorando livros de história. Marjorie
sabia que estava evitando sua mãe, tal como sabia que sua mãe estava do
mesmo modo contente por não o ter em seu caminho. Assim que sua mãe
finalmente aceitasse que Marjorie iria permanecer solteira, suas saídas serão
cada vez menos frequentes sem dúvida. Era suposto ser esta sua vida? Era
improvável que seu irmão se casasse (tinha mostrado pouco interesse pelo
sexo oposto depois de um infeliz incidente) ou que sua mãe voltasse a se
casar. O pensamento de passar o restante de seus anos em uma casa vazia
era deprimente. Talvez ela pudesse viajar como sempre desejou fazer.
Encontrar um grupo de solteironas e passear por Itália e França.
Talvez se conseguisse encontrar uma esposa para Mr. Norris, se
pudesse tornar em uma casamenteira profissional. Ela suspirou alto.
― Que humor você tem hoje. ― Disse sua mãe, olhando para ela
rispidamente depois de ter suspirado.
― Estou apenas cansada esta noite. ― Ela forçou um sorriso. ― Acha
que o azul servirá?
― Claro. É um de seus vestidos mais adoráveis. Lhe assenta muito
bem. Mas…
30
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Mas? ― Marjorie a incitou.


― Azul é a cor característica de Miss Crawford. Se você o usar, todas
vão pensar que a está tentando ofuscar. Ou pior, a copiar.
― Não se pode ter direitos exclusivos sobre uma cor, mamãe. E eu
adoro esse vestido. Que desperdício se nunca for capaz de o usar. Não me é
permitido usar vestido azuis? Usei um vestido azul ontem. As pessoas devem
ter ficado chocadas.
Dorothea lhe deu um olhar punitivo, depois abanou a cabeça.
― Borgonha. Poderá usar o azul quando tivermos certeza de que Miss
Crawford não estará presente. Mesmo aí, será um risco.
Marjorie sabia que não havia como mudar a ideia de sua mãe, por isso
aquiesceu.
― Como desejar.
― O que desejo é que tente um pouco mais esta temporada, Marjorie.
Estava tudo bem em recusar a todos quando era a Incomparável da
temporada. Mas não é mais essa garota.
Sua mãe raramente lhe falava de um modo tão severo e Marjorie ficou
um pouco surpresa.
― Eu sei disso, mamãe.
― Você não quer se casar?
― Quero. Mas estamos ficando sem títulos, não estamos? ― Marjorie
perguntou, rindo.
Seu sorriso murchou ao ver a expressão de sua mãe.
― Eu sei porque rejeitou todo o mundo e quero que pare.
Imediatamente.
Marjorie sentiu seu rosto ruborizar e seu estômago se contorcer.
― Não sei do que fala.
― Seu irmão. É sempre por ele. Lorde Kingsley disse isso sobre ele,
Lorde Whisford disse aquilo sobre ele. Não me importa o que eles digam, o
que façam ou até se o têm comprometido. O próximo homem que se declarar
a você receberá uma resposta positiva. Me entendeu?
― Não quer dizer o próximo título, mamãe?
Os olhos de Dorothea se estreitaram.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― É precisamente isso o que quero dizer. ― Sua expressão suavizou. ―


Querida, eu sei o quão difícil isto tem sido para você, mas é hora de parar.
Terá vinte e quatro em poucos meses. Percebe o que isso significa?
― Não o diga, porque não é verdade. Pelo menos por enquanto.
Para horror de Marjorie, os olhos de sua mãe se encheram de
lágrimas.
― Se não encontrar ninguém esta temporada, já estará fora de prazo.
Quatro homens lhe tinham proposto casamento, incluindo um barão
(rejeitado fora de controle) e dois viscondes (opressivo e velho), por isso
Marjorie dificilmente acreditava que isso qualificasse como estar “fora de
prazo”. Tinha considerado aceitar a proposta de Lorde Whisford até que o
escutou dizendo:
― Ela servirá contanto que seu irmão idiota não esteja por perto.
Seu irmão estaria sempre por perto, porque sem ela, ele estaria
perdido.
― Tentarei ao máximo encontrar um marido, mamãe. Prometo.
Marjorie se sentiu ainda mais deprimida por essa promessa do que
pela perspetiva de nunca chegar a casar.

Na noite do baile dos Hebert, Marjorie chegou usando seu vestido


borgonha e notou, imediatamente que Miss Crawford estava de facto usando
azul. E então reparou em Mr. Norris, encostado a um canto, olhando para
Miss Crawford. Droga. Colocou seus olhos na garota que provavelmente não
poderia ter, não com sua imensa popularidade. Metade dos jovens
masculinos já estavam apaixonados por ela. Era apenas uma questão de
tempo, se o que Mr. Norris disse fosse verdade, antes que se apaixonasse por
ela. Do que tinha aprendido, Ruthersford já estava negociando com seu pai.
― Azul. ― Sua mãe disse.
― Sim, eu reparei. Aliás, como diabos é que reparou que é o que ela
sempre usa?
― É o que eu faço, querida. Reparo nas coisas. Por exemplo, reparei
que Lorde Wentworth está aqui esta noite. É a primeira vez que é visto em
público desde que sua esposa faleceu no ano passado.
― Qual deles é, de novo?
Dorothea assentiu ligeiramente, indicado o lado direito do salão.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Está falando com Lady Hebert.


Marjorie percorreu o lado direito do salão até que viu um homem alto e
magro, com uma face agradável e linhas do cabelo ligeiramente recuadas
conversando com sua anfitriã. Teve uma vaga lembrança de o ter conhecido,
mas essa era o alcance do que sabia sobre o homem.
― Posição social?
― Marquês. Rico. Uma bela casa na cidade em Mayfair. Grande
propriedade em Leeds. Cinco crianças. ― Franziu o cenho. Marjorie sabia
que sua mãe pensava que sua filha não daria à luz um futuro marquês. ―
Ainda assim, é um belo título.
― E quanto ao homem? ― Marjorie perguntou, mordazmente.
Dorothea abanou a mão como se a questão não tivesse consequências.
― Nunca escutei uma palavra contra ele.
Por outras palavras, sua mãe sabia tanto dele quanto Marjorie. E cinco
crianças! Só o pensamento a deixou ligeiramente enjoada. Oh, ela sem
dúvida conseguiria cuidar e amar cinco de suas crianças, mas poderia
chegar a amar as de outra pessoa? E chegariam eles a amá-la?
― Vou em busca da mesa de refrescos, mamãe. Quer alguma coisa?
― Um pouco de ponche seria bom. Acho que irie cumprimentar Lady
Hebert.
Marjorie deu uma última olhada a Lorde Wentworth antes de se dirigir
à mesa de refrescos do outro lado do grande salão. Não acreditava em amor
à primeira vista, mas não se conseguia imaginando a beijar o homem, casar
com ele estava fora de questão. Mas se ele fosse carinhoso, se cuidasse de
George, então talvez pudesse casar com ele. Com certeza que um homem
com cinco filhos não poderia ser tão mau.
― Está encantadora esta noite.
Marjorie virou para ver seu primo, Jeffrey.
― Ainda não está na sala de cartas? ― Ela perguntou docemente.
Culpava Jeffrey por levar George para o clube onde tinha perdido todo
aquele dinheiro para Mr. Norris. Se não o tivesse feito, ela não estaria em
seu atual dilema. Tinha poucas dúvidas de que a única razão para que
Jeffrey tenha levado George com ele fora para que pudesse usar o dinheiro
de seu irmão.
― Ainda não. ― Respondeu em concordância. ― Tia, está encantadora
esta noite.
Dorothea lhe deu um sorriso e fez uma reverência.
33
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Obrigada, Jeffrey. Por favor, não se esqueça de convidar Marjorie


para dançar, sim? Seu cartão ainda não está cheio.
Marjorie olhou para sua mãe com incredulidade. Em cinco anos desde
de sua estreia, nunca perdera uma dança porque nenhum homem a
convidara. Se perdia uma, tinha sido por escolha própria.
― Claro. ― Disse Jeffrey com uma pequena reverência.
― Enquanto eu agradeço seu nobre gesto, primo, duvido que será
necessário.
― Necessário? ― Ele perguntou com confusão simulada. ― Seria um
prazer e nada mais.
Mesmo quando dizia essas palavras, olhava casualmente para Miss
Crawford, que tinha um pequeno enxame de homens à sua volta. Marjorie
sentiu a raiva fermentar e um pouco de vergonha tocou sua face. Teria
tornado em alguém de quem ter pena?
― Ela me lembra um pouco de você. ― Disse Jeffrey, então se inclinou
para ela para que Dorothea não escutasse o que dizia. ― Bem, como você era
há cinco anos. Como abelhas atraídas para o mel até que apareça a próxima
flor bonita. E ela é uma bela flor.
Marjorie levantou seu queixo e fingiu que suas palavras não a tinham
afetado. Nunca gostou de seu primo e esse sentimento tinha apenas crescido
depois da morte de seu pai. Pois com essa morte, Jeffrey estava apenas a um
parente de conseguir o título que tanto ambicionava. Nunca disse nada
abertamente; era apenas um sentimento que Marjorie tinha quando ele e seu
irmão estavam juntos. Não era o que ele dizia que era tão irritante, mas
antes como o dizia, aquele tom desonesto, condescendente. E era também a
forma como olhava para George quando achava que ninguém estava vendo,
com uma frieza e nojo que era palpável.
Marjorie o tinha mencionado uma vez a sua mãe, mas Dorothea tinha
recusado a observação como sendo exagerada, fazendo Marjorie sentir que
tinha imaginado tudo. Sua mãe gostava de Jeffrey e não queria escutar nada
contra ele.
A orquestra ainda não tinha começado a tocar e o salão de dança
estava cheio de gente se esmagando. O barulho e o forte perfume no ar já
estavam dando a Marjorie uma pequena dor de cabeça. Enquanto se dirigia
para a tijela de ponche, foi parada várias vezes por conhecidos, muitas delas
amigas que tinham casado faz muito e que a olhavam ou com pena ou com
curiosidade. E, por vezes, um pouco de inveja.
― Pensei que este poderia ser seu destino.
Ah, Mr. Norris.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Sim. E vejo que já encontrou alguém que prendeu seu olhar. Miss
Lavínia Crawford.
― A loira, rodeada de garotos se babando? Não. Não tenho estômago
para enfrentar esse tipo de competição.
Estavam lado a lado, olhando a parede. Ele juntou pequenos doces no
prato enquanto ela cuidadosamente enchia dois copos de ponche. Qualquer
pessoa que olhasse casualmente para ele não saberia do que estavam
falando.
― Você tem uma lista?
― Tenho. A colocarei na parede esta noite. Não tive a chance de o fazer
mais cedo. Ficará feliz de saber que é uma lista bastante longa.
Ela virou para espiar sua mãe, que estava de costas para ela, depois
enfrentou Mr. Norris, que estava olhando para ela com um pequeno sorriso
em seus lábios esculpidos. Céus, ele era um homem com uma bela
aparência e ela não conseguia perceber porque não tinha tido sucesso em
sua busca por uma noiva, se fosse considerar a aparência. Seus olhos
castanhos profundos percorreram sua face, parando brevemente em sua
boca e Marjorie ficou chocada pelo que viu. Ele tinha o olhar de um homem
que queria beijar uma mulher. Ele recuou um pouco, alarmada.
― O que está fazendo?
― A estou admirando. Está muito encantadora esta noite, Lady
Marjorie. E sua boca foi sem dúvida feita para beijar, não é assim?
Ela estava espantada.
― Você está bêbado?
― Tão sóbrio quanto você. ― Ele levantou uma sobrancelha como se
estivesse questionando sua sobriedade.
― Mas, você disse que não se sentia atraído por mim. ― Era uma
acusação
― Eu menti.
Marjorie inclinou a cabeça e lhe deu um olhar de raiva simulada.
― Isto não vai funcionar, então. Se está atraído por mim, então eu
posso frustrar seus planos. Você vai se apaixonar por mim e isso não vai
funcionar.
― Só porque quero enterrar minha cabeça entre seus seios e ficar lá
por uma quinzena não significa que quero casar com você. ― Isto foi dito
secamente.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Marjorie abriu a boca, chocada. Se qualquer outro homem tivesse


usado as mesmas palavras com ela, lhe teria dado um estalo na cara. Mas
não era o que Charles Norris tinha dito, era como o tinha diro, como se não
se devesse levar nada do que dizia a sério. E, contudo, ela sabia que ele
estava provavelmente falando a verdade. Por isso, em vez de lhe dar a
estalada que ele merecia, ela riu.
― Você é terrível. Não admira que não esteja casado.
― Bom Deus, realmente acha que diria tais coisas a uma mulher que
estivesse cortejando? ― Ele parecia realmente ofendido.
― Mas o disse a mim.
Ele abanou a cabeça.
― Totalmente diferente. Você não é uma candidata para minha esposa
e não estamos cortejando. Somos mais… Companheiros de negócios.
Ela levantou levemente seu queixo.
― Costuma olhar seus companheiros de negócios como se os quisesse
beijar?
Sorrindo, se voltou para a mesa de refrescos, depois deixou escapar
uma maldição baixa, mas audível e muito suja.
― Sir, recomendaria que dominasse sua linguagem se pensa atrair
alguma destas belas damas. ― Ela disse, o olhando preocupada.
Não conseguia imaginar o tipo de dor se podia apoderar tal homem e o
fazer amaldiçoar em um salão de baile.
― Não usaria esse tipo de linguagem em frente a uma mulher que
estivesse cortejando. ― Disse por dentes serrados.
Aquela afirmação estava começando a se tornar maçante.
― Começo a ficar ofendida, sabe. Sou uma dama. Uma dama solteira.
― Marjorie sabia que deveria estar insultada. Não conseguia imaginar porque
não estava, mas pensou que devia estar e apontar isso alto.
Encontrou o seu desprezo casual por ela cativante, na realidade. Que
estranho.
Ele lhe deu um olhar curioso.
― Quer que me desculpe?
― Acho que quero.
― Não tem certeza?

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Ela mordeu seu lábio inferior e ficou ligeiramente consternada quando


viu o seu olhar baixar para sua boca e se manter lá.
― Pare de fazer isso. Se é suposto eu ajudar você, não me posso
preocupar com a possibilidade de que me vá atacar a qualquer momento.
― Mas eu a quero atacar. Iria gostar bastante de arrebatar essa sua
boca encantadora. ― Suas palavras diziam uma coisa, mas seus olhos
diziam outra. Ele estava simplesmente brincando com ela, deliciosamente a
chocando.
Ela se encontrou rindo de novo.
― Mr. Norris, por favor tente resistir aos meus encantos e coloque toda
sua energia em tentar encontrar uma mulher que esteja realmente
interessada.
Sua expressão imediatamente mudou, ficou mais séria, como se ela
fosse uma secretária o lembrando sobre uma reunião importante.
― Muito bem. Quem está no topo de sua lista e está aqui esta noite?

Talvez Charles não tivesse completamente chocado Lady Marjorie com


seu comportamento, mas certamente se tinha chocado a si mesmo. Nunca
em sua vida tinha falado com uma mulher da mesma maneira que tinha
falado com ela. Era das coisas mais estranhas, quase como se a retirar de
sua lista de potenciais noivas o tivesse libertado para agir como quisesse.
Tinha realmente acabado de lhe dizer que queria enterrar seu rosto entre
seus seios? E tinha ela realmente rido disso?
Era um problema que sentisse uma atração física tão grande por ela.
Quando primeiro idealizou seu plano, tinha pensado que ela era perfeita
porque não se conseguia lembrar de ter estado atraído por ela. Sim, ela era
bonita e sua mãe era uma das pessoas mais assustadoras da sociedade, mas
ele achava que tinha estado tão arrebatado por Miss Wright que não tinha
realmente dado a Lady Marjorie uma boa olhada. E ele sabia da futilidade de
a cortejar, então porque olhar sequer para ela?
Agora, contudo, ela estava a seu lado em vestido feito para fazer um
homem pensar coisas que não devia, muito menos dizer em voz alta. Por
outro lado, estava feliz por ela ter conhecimento de sua atração. Esconder tal
coisa era difícil e agora que tinham dado boas risadas por isso, podiam
prosseguir. Talvez algum dia pudesse vir a ter aquele beijo. Só o pensamento
de seus lábios suaves em cima dos seus lhe mandou um forte aumento de
desejo por todo seu corpo.
― A dama no topo de minha lista é Miss Susan Mitchell.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Não reconheço o nome. ― Em realidade, tendo em conta que tinha


estado fora do país por dez anos, era provável que não reconhecesse a
maioria dos nomes de sua lista.
― Seu pai é Sir Robert Mitchell. São muito ricos e ele está de alguma
forma relacionado com o Duque de York.
Charles olhou a salão.
― Onde ela está?
― A garota no vestido amarelo pálido. Cabelo castanho. Está junto de
uma dama mais velha com o vestido lavanda, sua avó eu acho. Perto da
orquestra.
Ali estava ela, a primeira possibilidade para Mr. Charles Norris. Ela era
uma garota pequena e era apenas uma garota. Uma garota sem peito e
magrinha.
― Quantos anos tem ela? ― Perguntou.
― Dezanove. Ela é um pouco pequena, mas esta é sua segunda
temporada.
― Ela não vai servir. Nem pensar.
― Muito jovem?
― Muito tudo. Quem é a próxima?
Marjorie olhou pelo salão e subitamente estacou.
― É Katherine.
Do outro lado do salão Charles viu Katherine Wright, a garota
americana por quem esteve arrebatado, mas que estava agora casado com
seu amigo, Graham Spencer, Lorde Avonleigh.
― Realmente não me interessa cortejar uma mulher casada. ― Ele
disse, provocando Marjorie.
Mas ela estava tão distraída por ver sua amiga que aparentemente não
compreendeu imediatamente seu sarcasmo, mas então olhou para cima e
lhe deu um brilhante sorriso. Garota esperta.
E então Katherine os viu e começou a caminhar para eles. Ele tinha
estado muito apaixonado por Katherine antes de perceber, mais uma vez,
que esta estava apaixonada por um de seus amigos. Olhando para ela agora,
não sentiu nada exceto um pouco de embaraço por se ter passado por tolo.
Ainda bem que a maioria de seus amigos estavam casados ou ele sem dúvida
se apaixonaria por uma de suas escolhidas.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Charles olhou para a mãe de Marjorie, a viu franzindo o cenho em sua


direção e decidiu se remover da companhia de Lady Marjorie. Meu Deus, sua
mãe teria sido um grande general.
― Deixarei que as duas se voltem a familiarizar uma com a outra. ―
Ele disse e deixou Marjorie antes que ela pudesse protestar, mas achou ter
escutado ela dizer debaixo de um suspiro:
― Oh, bolas. ― Céus, ela o fazia sorrir.

Marjorie viu Katherine e seu novo marido, o Marquês de Avonleigh,


antes conhecido como o Marquês Miserável, caminharem para ela. O par
parecia decididamente feliz e estavam praticamente brilhando de bom
ânimo. Talvez Katherine a tivesse perdoado por quase os ter separado.
― Olá, Lady Marjorie. ― Disse Katherine de forma agradável, mas o
estômago de Marjorie enrolou. Katherine nunca a tinha chamado de “lady”
nada.
― Por favor, podemos falar em privado? ― Marjorie perguntou, se
sentindo quase no limite das lágrimas.
Apesar de se terem conhecido por pouco tempo durante a temporada
do ano passado, se tinham tornado imediatamente amigas, até Marjorie ter
traído essa amizade num plano mal concebido de tentar “salvar” Lorde
Avonleigh de Katherine. A mãe de Marjorie a tinha convencido de que
Katherine estava armando uma cilada para Lorde Avonleigh se casar com
ela. Dorothea tinha forçado Marjorie a contar a Lorde Avonleigh suas
suspeitas. E, sendo perfeitamente honesta, apesar de parecer que Katherine
estava mesmo armando uma cilada para amarrar Lorde Avonleigh, acabou
acontecendo que Marjorie estava completamente enganada.
― Vá Katherine. ― Disse Graham. ― Vou manter Norris ocupado
enquanto vocês duas falam.
Marjorie levou Katherine do salão apinhado para um pequeno
corredor. Quando as duas mulheres ficaram sozinhas, Marjorie se voltou e
disse:
― Não posso dizer quão arrependida estou pelo que fiz. Estou tão
contente por ver que vocês são felizes juntos. Foi minha mãe. Eu mencionei,
por alto, o que você me tinha contado depois de ter sido encontrada com
Lorde Avonleigh. Apenas falei porque ela parecia tão entusiasmada em ver
vocês dois juntos. Não podia prever sua reação. Ela ficou indignada e exigiu
que contasse a Lorde Avonleigh o que me tinha dito.
― Está tudo bem. Tudo está bem agora e somos muito felizes.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Você não o planeou, pois não? ― Disse Marjorie, se recordando de


como Katherine e Lorde Avonleigh tinham sido apanhados muito
publicamente em uma posição comprometedora.
Katherine abanou a cabeça.
― Não, não o fiz.
― Eu sabia que não o tinha feito. Mas…
― Eu compreendo. Eu e Graham nunca fomos muito discretos. Estava
destinado a acontecer. E agora estamos os dois muitos felizes de que
aconteceu.
― Oh, isso é maravilhoso. ― Disse Marjorie. ― Eu ia escrever, mas não
sabia bem o que dizer.
― Por favor, está perdoada. Apenas fez o que achou que estava certo. E
quanto a você? Está aqui com Mr. Norris?
Marjorie pareceu um pouco surpresa.
― Não. ― Disse rapidamente. E depois: ―Sim. Não. Bem, sim.
Katherine riu.
― Qual dos dois?
― Sim. Mas não estamos cortejando. É uma longa e ridícula história. O
acho bastantes irritante, de fato.
― Ele é bonito. E rico.
― Não tem título. ― Marjorie apontou com uma gargalhada. ― E além
disso, aposto que já deve estar meio apaixonado por outra pessoa.
― Há sempre Lorde Mandeville. ― Katherine disse, se referindo a um
idoso viúvo.
Marjorie riu.
― Estou tão contente que não esteja zangada.
― Eu estive zangada. ― Disse Katherine. ― Mas isso apenas durou até
que Graham se acalmou.
As duas mulheres voltaram, de braços entrelaçados, para o salão de
dança. Katherine imediatamente encontrou Graham e levou Marjorie a seu
marido, que estava falando com Mr. Norris. Parecia que Mr. Norris tinha dito
algo para fazer Lorde Avonleigh se zangar.
Quando as duas mulheres chegaram junto dos homens, Mr. Norris
disse:

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Lady Avonleigh, sabia que seu marido uma vez fez pouco de mim por
ter a audácia de me apaixonar?
― Isso soa como algo que ele faria.
― O que, em nome de Deus, fez com ele, miladie? ― Perguntou Mr.
Norris.
Katherine olhou para Graham, seus olhos brilhando.
― O fiz sorrir.
― Se isso é tudo o que é preciso, já deveria estar casada faz tempo. ―
Disse Marjorie.
Katherine parecia tão feliz, tão apaixonada e Marjorie não conseguiu
evitar sentir uma pequena pontada de inveja. Seria capaz de alguma vez
amar alguém assim? Iria algum homem olhar para ela da mesma forma que
Lorde Avonleigh estava olhando sua noiva?
Marjorie viu sua mãe franzindo o ceno para ela, mas Marjorie sabia
que aprovava Lorde e Lady Avonleigh, apesar do cortejo infeliz. Estava sem
dúvida tolerando a presença de Mr. Norris porque era amigo de Lorde
Avonleigh.
Quando a primeira valsa começou, Lorde Avonleigh convidou sua
esposa para dançar e os dois flutuaram juntos, olhando sonhadoramente
nos olhos um do outro.
― Ele nem queria se casar. ― Disse Charles, soando um pouco
teimoso. ― E aí está ele, parecendo um tolo pateta, dançando com sua
encantadora esposa. Será que não sabe que isso não se faz?
Marjorie riu.
― Não se preocupe. Vamos ter você olhando para sua esposa desse
modo antes que termine a temporada. Por enquanto, contudo, minha mãe
está atirando dardos para mim só por ter a impertinencia de falar com um
homem sem um “lorde” junto de seu nome. Devo ir. Fico esperando a
próxima nota. Que divertido.
Sem dúvida Charles não teria outra chance de falar com Lady
Marjorie, um pensamento que o fez ficar ligeiramente deprimido. Olhou o
salão, seu olhar parando em cada criatura jovem de saia. Deus, todas
pareciam iguais. Cabelo cuidadosamente encaracolado, vestidos brancos ou
de cores claras, pairando perto de suas mães e olhando esperançosamente
em volta do salão por um potencial pretendente.
Miss Lavínia Crawford era, sem dúvida, a mais bela garota do grupo.
Apesar de a ter riscado de sua lista no início, lhe deu uma segunda longa
olhada. Pelo menos não se parecia com uma criança. Enchia seu vestido de

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

uma forma encantadora que apelava a sua imaginação. Ela pode ter todos
esses garotos pairando à sua volta, mas ele não era um garoto e talvez isso
pudesse fazer a diferença.
E então, Charles se convenceu de que podia conseguir ganhar a mãe
de Miss Crawford. Sorriu para a forma como ela inclinava sua cabeça
encantadora. Tão charmosa que ela era. Ela tinha seu enxame de garoto
agindo com cachorrinhos pedindo por um prazer. E ela era um prazer. Tão
adorável. O tipo de mulher com quem ele se imaginava. Teriam crianças
loiras com seus adoráveis olhos azuis. Os imaginava azuis para combinar
com seu cabelo loiro platina. E, bom Deus, ela tinha o mais pequeno e mais
intrigante sinal logo acima de seu lábio, como as falsas que as belezas do
século passado que costumavam colocar em seus rostos. Como Marie
Antoinette.
Decisão tomada, começou a se mover para ela, se sentindo cada vez
mais atraído para ela com cada passo que dava. Ela riu e foi, se não o mais
delicioso, o tipo de riso que fazia uma pessoa se querer juntar a el.
― Oh não, nem pense. ― As palavras vieram de uma mulher a sua
esquerda. Lady Marjorie.
― O que estou fazendo? ― Seus olhos ainda na encantadora Miss
Crawford.
― Por seu ridículo olhar em seu rosto, está se apaixonando por Miss
Crawford e Ruthersford já está tratando das negociações com o pai dela. Ele
é um visconde. ― Ela acrescentou esta última parte com enfase.
― Eu não me estou apaixonando por ela. Acha que sou um grande
tolo? Nem sequer falei com ela ainda. ― Ele finalmente olhou para baixo para
ver Lady Marjorie olhando para ele da mesma maneira que sua velha
governanta olhava quando estava desagradada.
― Você me envolveu em uma missão de o para de se vincular à mulher
errada. Miss Crawford é a mulher errada.
Como que atraído tal flor para o sol, voltou sua cabeça para de novo
beber da visão de Miss Crawford.
― Vamos ver.― Disse e passou por Lady Marjorie com determinação.
Pensou ter escutado ela fazer algum tipo de som atrás dele, mas sabia que
não o iria seguir.
― Desisto.
Aquilo sim o parou. Frio. Ele virou lentamente, tentando esconder sua
irritação.
― Há o ligeiro problema de uma dívida.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Viu como ela firmou sua mandíbula. Então se aproximou alguns


passos, parecendo fazer questão de que ninguém os estivesse observando
curiosamente.
― Como posso manter meu lado do acordo com o diabo se você não vai
manter o seu. ― Ela perguntou, sua voz apenas acima de um sussurro. ― Me
instruções muito específicas. Miss Crawford está praticamente noiva. E sua
mãe.
― Quer um maldito título. Sim. Não é o que querem todas? ― Charles
terminou por ela.
Deixou escapar uma respiração áspera, depois se virou, se
fortalecendo contra a dor cortante em sua perna que sempre parecia
aparecer quando menos esperava. Mesmo depois de todo este tempo.
― Dançarei uma dança com ela. ― Ele disse, se perguntando se
poderia sequer conseguir uma dança com sua perna começando a dar de si.
― Suponho que uma dança não causará muitos danos. ― Disse Lady
Marjorie.
Detestava a resignação que escutava em sua voz, como se ele fosse tão
tolo que poderia se apaixonar depois de uma simples dança.
Marjorie o observou caminhar até à bela Miss Crawford com um
sentimento de medo. Ela gostava de Mr. Norris e não desejava o ver passar
por tolo. Afastou para o lado oposto do salão, onde podia observar sua ruína
de longe.
Era mais alto dos que os outros cisnes em volta de Miss Crawford. E
seu cabelo, aquele glorioso cabelo vermelho-loiro-dourado, o fazia se
destacar ainda mais. No momento em que caminhou para o grupo, se
afastaram, o acolhendo. Marjorie observou como, curiosamente, um a um,
os outros homens se afastavam, até que só Mr. Norris estava com Miss
Crawford, até que ele beijou sua mão, obviamente pedindo uma dança. Era
impossível que a garota ainda tivesse espaço em seu cartão de dança, mas
ela assentiu, retirando seu pequeno lápis e escrevendo seu nome antes de
timidamente olhar para ele.
― É Charles Norris. ― Os ouvidos de Marjorie levantaram à menção de
seu nome, dito com uma respiração de admiração.
À sua direita estava um pequeno grupo de jovens debutantes, rindo
baixinho a nesse momento olhando com ansiedade para Mr. Charles Norris.
Oh, céus. Talvez lhe achar uma noiva fosse mais fácil do que tinha pensado.
― Meu pai disse que é um herói de guerra. Tem o coxear mais
romântico. Repararam?
― E é tão alto.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Porque é que Miss Crawford é quem recebe toda a atenção? ― Isto de


uma garota com cabelo castanho claro e comum.
Marjorie abafou um sorriso. Que tumulto que os dois estavam fazendo.
Eram um casal impressionante, apesar de não saber como ele conseguia
suportar a pequena voz com um guincho de Miss Crawford.
― Se quer saber a minha opinião ele é muito velho. E não tem título,
sabe?
― Ele não parece muito velho para mim. E é o filho de um visconde.
Não pode esquecer disso.
Como podiam todas saber tanto sobre ele? Foi aí que Marjorie
percebeu algo que deveria ter reparado antes. Charles Norris era tema de
conversa da sociedade: o misterioso herói de guerra que tinha regressado a
Inglaterra depois de dez anos de ausência. Estavam criando um personagem
principal romântico em seu pequeno teatro de amor e casamento. Que sorte.
Em vez de ser ele a perseguir as encantadoras damas da sociedade, elas
estariam o perseguindo. Ele encontraria uma noiva bem rápido e a dívida de
seu irmão seria esquecida. E talvez os rumores sobre Ruthersford não
fossem verdade. Talvez Miss Crawford conseguisse ser conquistada por Mr.
Norris.
Marjorie olhou em volta do salão até que se encontrou com a imagem
de Lady Hawthorne, mãe de Miss Crawford, franzindo o cenho. A baronesa
estava olhando sua filha, que estava olhando com arrebatamento a face de
um certo Mr. Charles Norris. Oh, Deus, pensou Marjorie, Lady Hawthorne
não parece muito satisfeita com este desenvolvimento. Sem dúvida tinha
estado gozando do brilho do sucesso de sua filha… Até agora. Marjorie
tentou se recordar quem tinha estado com Miss Crawford antes de Mr.
Norris ter separado o grupo. Mentalmente marcou cada um, percebendo
rapidamente que quase todos ou tinham títulos ou eram herdeiros de um
título. Lady Hawthorne devia estar muito desapontada.
Marjorie se dirigiu à dama mal-humorada e passou por ela
casualmente, esperando que Lady Hawthorne fizesse contato visual com ela
o tempo suficiente para levar a um cumprimento (e talvez alguma conversa).
Lady Hawthorne era um pouco densa, mas era óbvio de onde sua filha tinha
recebido sua grande beleza. Marjorie passeou pelo salão, fingindo estar
interessada em observar os casais dançando a dança escocesa e
caminhando diretamente para onde a dama ainda observava sua filha.
Marjorie estava prestes a ficar desesperada por a mulher nunca tirar a vista
do par quando ela se voltou, viu Marjorie e assentiu.
― Boa noite, Lady Hawthorne. ― Disse Marjorie com um pouco de mais
entusiasmo do que o que era necessário, dado que ainda não conhecia bem
a mulher.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

A dama assentiu agradada.


― Boa noite. ― Marjorie suspeitava que a mulher já tinha esquecido
seu nome.
― Minha mãe, Lady Summerfield, estava justamente me fazendo notar
quão encantadora está sua filha esta noite. Que sucesso ela é esta
temporada.
Lady Hawthorne sorriu.
― Obrigada. Ela é uma garota adorável. ― A mulher mais velha se
voltou, dando a Marjorie um olhar de avaliação, como se estivesse
lembrando quem ela era.
― Ela está falando com Mr. Norris. Um bom homem. ― Disse Marjorie,
rogando que não soasse ensaiado. Mas precisava descobrir se Miss Crawford
já estava noiva, ou prestes a estar.
― Ainda não conheço o homem. ― Disse Lady Hawthorne
amargamente. ― O conhece?
― Não muito bem. Apenas sei que é o segundo filho do Visconde
Hartley e que é um herói de guerra. Não escutei nada que pudesse deixar
uma mãe preocupada.
― E o que saberia a menina das preocupações de uma mãe? ―
Perguntou Lady Hawthorne, virando sua cabeça lentamente e fazendo com
que a face de Marjorie se ruborizasse.
― Apenas que tenho uma mãe e sei o que a preocupa.
Lady Hawthorne assentiu lentamente.
― Eu tenho as mesmas preocupações, acredito. ― Seus olhos se
estreitaram enquanto observava sua filha rir.
― Dada a grande popularidade de sua filha, acredito que assentará
rapidamente. Todos pensam isso.
― E estariam corretos.
Marjorie mordeu seu lábio, se perguntando se conseguiria ser tão
arrojada a ponte de perguntar sobre o Visconde Ruthersford, que em
realidade, estava na lista de possibilidades de sua mãe. Marjorie não gostava
do homem; o tinha achado frio, mas isso não significava que não seria um
bom marido para alguém. Ela gostava da ideia de o ter oficialmente riscado
da lista de sua mãe de potenciais pretendentes. Apesar de a lista estar
ficando cada vez mais pequena nestes dias.
― Mamãe estava pensando convidar o Visconde Ruthersford para
nosso baile daqui a duas semanas.

45
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Lady Hawthorne se virou rapidamente para olhar para ela. Então


sorriu, como um jogador de xadrez reconhecendo um movimento astuto.
― Claro, sua mãe pode convidar quem quiser a seu baile. É no dia
vinte e três de maio, não é?
― Sim.
― Terei que deixar claro esta noite nosso pesar de não podermos
comparecer, receio. Temos outros planos. E espero que não fique muito
desiludida por saber que Ruthersford também estará, sem dúvida, enviando
seu pesar de não poder comparecer.
Uma vaga de triunfo e algo que estranhamente parecia alivo passou
por Marjorie.
― Estou feliz por vocês todos. ― Disse Marjorie.
E porque nada era oficial ainda, Lady Hawthorne lhe deu um olhar
curioso, como se não tivesse a mais pequena ideia sobre o que Marjorie
estava falando.
― Estarei mais satisfeita depois de amanhã. ― Disse Lady Hawthorne
depois de um longo silêncio. ― Se me desculpar, tenho que ir falar com
minha filha. Boa noite.

Noiva! A fedelha estava noiva. Logo quando pensava que tinha


encontrado uma potencial noiva encantadora (bem, com aspeto encantador)
e logo no dia seguinte ela anuncia seu noivado. Que sorte malvada.
Charles, ruborizado pelo que tinha pensado que tinha sido um sucesso
e pelas imagens bastante carnais de Miss Crawford deitada por baixo dele,
olhava o Times com total desalento dois dias depois do baile dos Hebert.
Tinha enviado um pecaminosamente caro ramalhete de flores e recebeu uma
pequena nota bonita de agradecimento essa mesma tarde. E então, nem um
dia depois, tinha visto a notícia. O Visconde Ruthersford, o mal-encarado, a
tinha conseguido amarrar.
Charles dirigiu seu cavalo pelo caminho escurecido que passava pelas
traseiras da casa de Londres de Summerfield, uma nota em seu bolso de
camisa. Os convites que vinha recebendo deveriam ser encorajadores para
um homem determinado em encontrar uma noiva. Mas esses montes e
montes de cartões apenas o deprimiam. Ele queria uma esposa, mas esta
busca, esta dança que tinha que fazer para conseguir uma esposa, era
totalmente cansativa. Talvez fosse por isso que tinha tido tão pouco sucesso
em achar uma noiva. Ele queria que fosse fácil. Conhecer uma garota, lhe
apontar um dedo e dizer:
― Você é a tal.
46
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

E ela iria, claro, desfalecer enquanto dizia:


― Sim, eu caso com você.
Não era assim que era feito anos atrás? Casamentos arranjados eram
muito mais práticos.
Era uma tarde quente e o caminho estava cheio do cheiro fecundo da
primavera, rico, húmido e tão Inglês. Era bom estar em casa, ser capaz de
respirar sem uma porção de poeira. Mesmo o bastante amadurecido cheiro
dos estábulos o faziam sorrir porque também era maravilhosamente familiar.
Parou no portão traseiro da casa de Summerfield, sua mão
imediatamente se dirigindo ao tijolo, um pouco projetado, indicando seu
compartimento. O puxou para fora e sentiu o interior, sorrindo quando sua
mão tocou um pequeno pedaço de papel dobrado. Sua nota apenas dizia:
Ópera de Convent Garden. Terça-feira. Queria escrever mais. Talvez
reconhecer que ela tinha estado certa sobre Miss Crawford. Mas ele nunca
tinha sido dado a notas e essas coisas, então tinha deixado algo simples.
Esperava que ela pudesse ir a Convent Garden. O evento não seria
uma performance completa, mas uma receção para os patronos da casa da
ópera a quem seria dada uma performance privada pela grande Adelina
Patti. Ele ia no lugar de seu irmão, pois o futuro Visconde Hartley estava
com sua família na propriedade do campo em Northumberland. Deus sabia
que invejava seu irmão. Não por seu título, mas por sua felicidade com sua
família. Parecia que toda sua vida as pessoas tinham esperado que seu
irmão, que sempre tinha sido doente, morresse. Em vez disso, enquanto
entrava na idade adulta, parecia que melhorava e ficava mais forte, deixando
para trás qualquer doença de infância que o tinha atormentado. Robert
sempre tinha sido forte de espírito, se não de corpo e Charles tinha ficado
apenas feliz por ele. Mas visitar Robert e sua esposa era um pouco como que
uma tortura. Tinham que parecer sempre tão completamente satisfeitos? Tão
completamente felizes com seus três garotos agitados e desordenados?
Parecia a Charles que a vida estava passando por ele e um dia iria acordar e
ser um desses solteiros de quem as pessoas tinham pena, ou evitavam.
A nota em sua mão podia ser sua salvação, a prometida lista de
possíveis noivas.
Apesar de estar muito escuro para ler, podia imediatamente ver que
tinha escrito um pouco mais do que ele. Aparentemente, ela era do tipo com
jeito para notas e essas coisas. Sorrindo um pouco, pressionou o papel a seu
nariz e respirou, cheirando nada mais do que papel e tinta. Então, se
sentindo idiota, guardou o papel em seu bolso, o mesmo onde tinha estado a
sua nota apenas momentos antes e recolocou o tijolo.

47
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Eu o avisei sobre Miss Crawford e espero que seu coração, dado


sua vulnerabilidade para uma garota bonita de cabelos loiros, não se
tenha envolvido muito. Porque ela está. Noiva, quero dizer. Fiz uma lista
de mulheres que acredito serão potenciais candidatas, mas depois de a
ter revisto não estou completamente satisfeita com ela. Você apontou
que não queria uma garota acabada de sair da escola e parece que
muitas na minha lista são terrivelmente jovens. Estaria disposto a
considerar uma jovem viúva? Ou está decidido pelas jovens e inocentes?
Ou simplesmente alguém que goste de cricket tanto quanto você?
Como pode ver, estou um pouco perdida quanto ao que você está
procurando numa noiva. Lhe peço que crie uma lista de características
que lhe agradam e, baseada nessa lista, irei criar minha própria lista.

Porque tinha que ser tão complicado? Não precisava ser, ela supunha,
se estivesse simplesmente procurando por alguém que lhe desse herdeiros.
Mas um herdeiro não importava, não para alguém em quinto na linha de
sucessão para o título. Queria o que seus pais tinham, o que seu irmão
tinha. Certamente não queria o que sua irmã tinha, uma vida de monotonia
desapaixonada. Charles franziu o cenho. Pobre Laura, tinha estado tão
apaixonada por seu tolo marido quando tinha dezanove anos. Aos vinte e
nove, não tinha filhos e estava presa a um homem que continuavam a se
dedicar mais a sua horrível mãe do que a se dedicar a Laura.
Brincando com a carta de Marjorie, se sentou em sua secretária,
acendeu sua lâmpada e se dedicou a criar sua lista de atributos.

Bonita.
Inteligente.

Parou, se sentindo mais deprimido do que tinha estado em muito


tempo. Bom Deus, ele apenas queria deixar de se sentir tão sozinho o tempo
todo. Se sentar à mesa do café da manhã com uma mulher que lhe sorrisse.
Se virar na cama e a aproximar e enterrar seu nariz contra seu cabelo
cheiroso. Isso era o que ele queria. Supunha que uma palavra o resumia
tudo. Amor. Queria amar alguém que o amasse.
Charles olhou sua lista lamentavelmente inadequada por um momento
antes de continuar.

Honesta.

48
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Não uma criança.


Tem que gostar de crianças.
Tem que ser carinhosa.
Tem que gostar de cricket.

Sorriu depois desta última e podia imaginar Marjorie fazendo o


mesmo.
Tem que gostar do campo tanto quanto de Londres.
Não servia ter uma esposa frívola empenhada em gastar todo seu
dinheiro em vestidos e essas coisas.
E então, a coisa mais importante:
Não deve querer um título.
Pronto. Isso teria que ser o suficiente.

Capítulo 4

Quarenta anos antes

― Vi Lorde Smythe hoje cedo. ― Disse Dorothea, então tirou


delicadamente uma mordida de um scone. Sua mãe insistia, apesar da
forma completamente pouco delicada de Dorothea, que ela agisse de forma
delicada e feminina o tempo todo.
― Oh? ― A mãe de Dorothea lhe deu um olhar afiado, então pressionou
seus lábios juntos. ― Acredito que é hora de que desista dessa frente, minha
querida. Escutei que tem estado cortejando a filha de Lorde Orford, Matilda.
Lady Matilda era uma simplória cuja única preocupação era ter
certeza que cada caracol de seu cabelo estava no lugar. Enquanto Dorothea
se preocupava tanto quanto Matilda por sua aparência, não era a única
coisa em que pensava. Tinha quase certeza que a cabeça da garota estava
vazia de qualquer pensamento além de sua adorável aparência.
― Simplesmente mencionei que o vi. ― Disse Dorothea, olhando para
seu prato.
― Muito bem. ― Sua mãe colocou de lado seu garfo, uma indicação de
que tinha algo importante a dizer. ― Sua tia Frances está ficando velha. A

49
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

última vez que aqui esteve, falamos sobre a possibilidade de você ir viver
com ela. Lhe fazer companhia. Está tão isolada lá em Ipswich.
Terror caiu forte e pesado no estômago de Dorothea. Ir viver com uma
tia viúva era o equivalente a desistir completamente de qualquer esperança
de conseguir um marido.
― Quando estava pensando ir?
― Pensei que você poderia ir no início da próxima semana. ― Sua não
indicou uma carta em seu prato. ― Ela está solitária e está muito
entusiasmada em ver você.
― Mas o Ascot é daqui a duas semanas. Eu queria tanto ir este ano. E
estamos a meio da temporada. Não posso possivelmente ir agora, mamãe.
Sua mãe olhou para o lado, dando a sua cabeça um pequeno abano.
― Não quero ser cruel, Dorothea, mas acredito que esse barco em
particular já partiu. Tem vinte e oito anos, minha querida. É altura de que
aceite que nunca vai casar. Não há nada de errado com ser solteirona. Olhe,
uma de minhas mais queridas e feliz amiga nunca casou. Você não teve uma
única proposta em dez anos. Para continuar com tem sido é negar as
circunstâncias.
Dorothea engoliu forte. Era verdade. Nenhum homem alguma vez a
cortejou, apesar de que ela tinha um dote bem grande. Não era incomum se
ser ignorada, mas Dorothea nunca pensou que seria uma delas.
― Lorde Smythe…
― Por amor de Deus, Dorothea, Lorde Smythe não tem mais interesse
em casar com você do que tem em um de seus cães de caça.
Lágrimas inundaram os olhos de Dorothea e sua garganta doía tanto
que parecia como se alguém a estivesse apertando.
― Isso foi cruel, mamãe.
Os olhos de sua mãe se suavizaram.
― Não, minha querida, é a verdade. E está na altura de que o
compreenda. É uma boa garota, doce e generosa. Mas nem todas as garotas
boas e generosas encontram um marido. ― Voltou a pegar em seu garfo. ―
Provavelmente deva começar a embalar sua roupa amanhã.
― Quanto tempo estarei longe? ― Perguntou Dorothea, sua voz
sumida. Limpou sua garganta. ― Preciso saber quanto tempo estarei fora
para poder empacotar corretamente.

50
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Lamento, pensei que tinha entendido. Ficará vivendo com sua tia.
Indefinidamente. ― Sua mãe riu da expressão de Dorothea. ― Minha
querida, ela tem setenta e cinco anos. Não será para sempre.
Mas seria para sempre. Se estivesse fora por anos, Lorde Smythe
certamente se esqueceria dela. Ela poderia nem sequer voltar a Londres
alguma vez e na altura em que finalmente voltasse, ela seria (oh, Deus) em
seus trinta anos. Dorothea olhou seu prato, sua comida agora intocada.
― Posso pelo menos ficar até Ascot? Prometi a Mary que iria com ela.
― Até depois de catorze de junho? ― Sua mãe soltou um suspiro
pesado. ― Sua tia vai ficar desapontada, mas suponho que sim.
Alguma da tristeza abandonou Dorothea. Ainda tinha mais uma
chance de ver se Lorde Smythe a amava ao menos um pouco.

Capítulo 5

― A ópera? Pensei que não gostava de ópera. ― Dorothea parou no ato


de colocar uma colher de consommé salgado em sua boca franzida.
Marjorie esperava essa reação a seu pedido de que estivessem
presentes na performance especial em Convent Garden e estava preparada
com a única resposta que sabia que convenceria sua mãe.
― É um evento especial, mamãe, com um jantar leve antes do
espetáculo. Você sabe que isso apenas atraí os altos membros da sociedade.
E escutei que Lorde Wentworth estará lá. Acho que estava correta. Acho que
está pronto para voltar a casar.
Dorothea deu a sua filha um olhar altivo, quase como se estivesse
tentando ler a sinceridade do pedido de sua filha e Marjorie usou tudo o que
tinha aprendido para manter a postura e não se contorcer.
― E suponho que estarão outros. ― Disse sua mãe, finalmente e então
lhe deu um sorriso. ― Estou feliz por ver você com um pouco mais de
entusiasmo, minha querida. Mas infelizmente, não posso participar. Lady
51
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Benningford me convidou para uma sessão de leitura e já aceitei, não posso


mudar meus planos.
― Oh. ― Disse Marjorie, sentindo um profundo desapontamento. Tinha
estado ansiosa por discutir a lista de Mr. Norris com ele e a correspondendo
com a sua lista de mulheres.
― Que desapontada está. ― Disse sua mãe, olhando para ela
pensativa. ― Poderá ser que realmente desenvolveu uma afeição por Lorde
Wentworth?
Marjorie deu a sua mãe um sorriso fugaz.
― Não é apenas isso, mamãe. Suponho que estava ansiosa por
participar de um evento em que Miss Crawford não estará. Quero tanto usar
azul. É a cor que me fica melhor.
Sua mãe deixou escapar uma gargalhada.
― De fato fica, minha querida. Muito bem, vamos ver se sua tia pode ir
com você.
― Tia Gertrude? ― Perguntou com esperança.
Gertrude era uma encantadora senhora idosa e a pior acompanhante
possível. Uma vez que sua encontrasse um velho amigo com quem fofocar,
Marjorie poderia desaparecer por horas sem ser questionada.
― Claro, tia Gertrude. Acha que a confiaria a alguma das irmãs de seu
pai? Umas solteironas trêmulas, todas elas.
Marjorie se apressou para o lado de sua mãe e lhe deu um beijo na
bochecha.
― Obrigada, mamãe, eu adoro tia Gertrude. Iremos passar um tempo
maravilhoso. E eu sei que ela adora a ópera, apesar de seu não. Mas isto não
é uma ópera, é uma atuação a solo de Adelina Patti.
― Sim, eu sei. Ela é extraordinária. Mas a vi no ano passado. Não fico
muito desapontada. E você nunca a ouviu cantar, pois não?
― Não, e estou ansiosa por isso.
― Mal posso esperar para escutar sobre a sua noite. Espero que se
sente ao lado de alguém que valha a pena sentar a seu lado durante o
jantar.

― Minha mãe me mataria se me visse neste momento. ― Disse Marjorie


com uma gargalhada.

52
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Estava sentada entre dois homens inaceitáveis, Charles Norris e Lorde


Ruthersford, que não parecia ter tornado mais amistoso desde seu noivado
com Lavínia Crawford. O primeiro sorriu para seu prato, o segundo a
ignorou completamente. Ela quase sentiu pena de Miss Crawford agora que
já não estava no mercado do casamento e teria que passar o resto de sua
vida com Rutherford.
― Parece que tem um pouco de maldade em você, Miladie.
― Oh, muito mais do que um pouco, lhe posso assegurar. Infelizmente,
tem havido poucos momentos em que tenho sido capaz de expressar. ― Ela
se inclinou um pouco de modo a que pudesse ver sua tia e abanou seus
dedos.
Sua tia sorriu de volta e imediatamente se voltou para falar com seu
companheiro de jantar, um velho amigo de seu falecido marido. Esta noite, o
estreito vestíbulo do edifício virado uma sala de jantar improvisada, com três
mesas compridas colocadas para acomodar a multidão de elite. Tia Gertrude
a tinha avisado para não esperar muito da refeição, pois tinha sido
preparada em um restaurante ao lado e trazida por um exército de criados.
Aparentemente, a famosa soprano tinha exigido que “os itens menos
aromáticos” fossem preparados, para que seu sentido de olfato não fosse
afetado.
― Tenho a lista. ― Ela disse num sussurro. ― Temo, depois de ver seus
requisitos, que seja curta.
― Não sabia que estava sendo detalhista. ― Ele disse.
― Suponho que esteja procurando por alguém mais velho e sendo
homem, provavelmente gostaria que ela fosse um pouco atraente. Aqui. ―
Ela procurou por baixo do grande laço de renda em sua cintura e tirou um
pequeno pedaço de papel. Colocou sua mão, palma para cima, em cima de
seu colo e indicou com um pequeno aceno que ele deveria pegar nele.
Deveria ter sabido. Mr. Norris olhou para seu rosto, seu colo onde ela
segurava o papel e de novo para seu rosto, levantando uma sobrancelha de
um modo tão sugestivo que sentiu um terrível calor a envolvendo. Terrível,
porque ela sabia o que aquele calor significava e não tinha absolutamente
nenhuma intenção de alguma sentir esse tipo de calor quando estava com
Mr. Norris.
― Você é insuportável.
― Sou um homem. Um homem que acabou de ser convidado a colocar
sua mão no colo de uma dama.
― Eu não fiz tal coisa. ― Ela disse, tentando suar e parecer zangada,
mas falhando miseravelmente. Fez um punho, amassando o pedaço de papel
e o colocando sem cerimónia na mesa ao lado de seu prato de jantar. Mas
53
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

antes que pudesse tirar a mão, ele colocou sua palma em cima da dela,
quente e grande, por um breve momento antes de a soltar.
Oh, Deus. O que tinha acabado de acontecer? Uma descarga de algo
elétrico a fez soltar respirações profundas e sua face ruborizou. Foi
instantâneo. Ela rezou para que ele tivesse interpretado essa respiração e
rubor como raiva, mas ficou realmente desapontada quando olhou para ele
através de suas pestanas e viu a expressão convencida mais irritante em sua
boca encantadora. Boca encantadora?
― Rogo que pare, Mr. Norris.
Ele levantou sua sobrancelha com ar inocente.
― Parar o quê, Lady Marjorie?
― De me atormentar. ― Ela disse com um pouco de exasperação
depois de procurar brevemente a palavra. ― Isto não é um jogo. ― Ela tentou
soar zangada, mas, maldito homem, sorriso dele apenas aumentou.
― Você está se divertindo.
Marjorie pressionou sua boca junta, desesperadamente tentando não
sorrir.
― Talvez. ― Cedeu.
― Não há nenhum “talvez” nisso. E, minha querida garota, estou me
divertindo muito também. Quem diria que encontrar uma noiva seria tão
divertido?
Oh, sim. A noiva. Marjorie se sentiu murchar um pouco ao ser
lembrada do motivo de se sentarem juntos.
Ele descaradamente abriu sua nota na mesa de jantar e olhou a lista.
― Alguma destas damas está presente esta noite? ― Perguntou depois
de um momento.
― Duas. Miss Elizabeth Vincent e Miss Petunia Peterson.
― Não posso casar com alguém chamado Petunia.
― Ela é muito simpática.
― Não gosto de petúnias.
Marjorie olhou para ele, incrédula.
― Quem não gostaria de petúnias? Elas são umas flores encantadoras.
Muito coloridas. E muito semelhantes à garota com o seu nome. É a que está
sentada ao lado do Almirante Clarkson.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Marjorie observou com alguma consternação como sua expressão


mudou quando viu Petunia. Ela era uma garota encantadora, com um
aspeto de frescura do campo. Seu cabelo louro escuro brilhava à luz do gás e
seus olhos era de um tom verde pouco comum. Era tão encantadora, de
fato, que Marjorie se questionou porque, aos vinte anos, continuava por
casar. Vinha de uma boa família, tinha um dote significante e Marjorie
nunca escutara nenhum escândalo a ela relacionado. Fora por essas razões
que acrescentara Miss Peterson à lista. Mas agora que pensava nisso, tinha
que haver algo errado com ela. Algo a estava incomodando em sua memória.
Talvez ela fosse um pouco inteligente?
― Suponho, ― disse Charles lentamente ― que me poderia acostumar
a seu nome. Poderia dar um apelido. Pet ou Tuni ou algo do género.
― Não pode chamar a sua espose de “Pet1”. É degradante.
Seu olhar continuava em Petunia quando disse:
― Então Nia. Uma de suas sílabas pode certamente ser usada como
nome. ― Parecia ligeiramente irritado.
― Nia não está tão mau. ― Disse Marjorie, se perguntado subitamente
porque tinha incluído a garota em sua lista e recusando questionar porque
subitamente não queria a garota na lista.
― E quem mais está aqui da lista?
― Miss Vincent. Está sentada na mesa ao fundo, por isso temo que
não será capaz de a ver muito bem.
Charles esticou seu pescoço um pouco para espiar a mesa ao longo.
― De que cor é seu cabelo?
― Avermelhado.
― Não. Não casarei com uma garota de cabelo vermelho.
― Mas você tem um pouco de cabelo vermelho. ― Disse Marjorie.
― Não tenho. Mas quando eu era criança eu sofri muito por causa
disso. E com uma esposa de cabelo vermelho, é mais que seguro que teria
crianças com cabelo vermelho e não deixarei que ninguém chame a meu
filho ou filha “Ginger2”. ― Deixou escapar um suspiro forte. ― Por isso,
suponho que hoje deveria concentrar minha atenção em Miss Peterson.
E foi isso que fez, com um empenho que Marjorie achou um pouco
engraçado e Miss Peterson parecia encontrar assustador. O grupo tinha,
possivelmente uma hora antes de o concerto começar, durante o qual muitos
1
Pet= Animal/animal de estimação
2
Nome pejorativo normalmente dado a pessoas com cabelo vermelho. Eram consideradas com sendo
inferiores a seus pares e, portanto, mereciam ser descriminados.
55
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

homens foram para o exterior fumar ou roubar um sorvo ou dois de seus


cantis. Miss Adelina Patti não permitia que se fumasse no edifício quando
atuava.
Charles deu um olhar de cobiça aos homens que estavam lá foram
apreciando seus cigarros, mas então perguntou a Marjorie por uma
apresentação.
― Tenho que estar com minha tia por enquanto. Mamãe tem muitos
amigos aqui e não era bom se um deles comentasse que tinha estado a seu
lado toda a noite. Minha tia e eu nos dirigiremos a Miss Peterson e aí você
pode se juntar a nós e aí posso fazer as apresentações.
Ele assentiu e se distanciou sem uma palavra, deixando Marjorie para
encontrar sua tia. Encontrou Gertrude sentada a um canto com duas de
suas mais queridas e mais antigas amigas e Marjorie sentiu um pouco de
culpa de que teria que afastar sua tia dali.
Depois de cumprimentar as senhoras mais velhas, Marjorie disse:
― Lamento, tia, mas mamãe insistiu a que me misturasse nestes
eventos, por mais tedioso que isso seja. Se importaria de caminhar comigo?
Depois a devolverei sã e salva a suas amigas.
― Meu Deus, não há necessidade de se desculpar! Criei três filhas,
sabe? É claro que sabe. Elas são suas primas! ― Deixou escapar uma
gargalhada enquanto se levantava.
Marjorie estava consciente de suas primas e de seus casamentos com
homens bem colocados, todos com título e bastante simpáticos. Sua mãe
nunca admitiria em voz alta, mas Marjorie sabia que a incomodava imenso
que sua irmã tenha conseguido três filhas casadas e ela não tinha sucesso
em levar apenas uma ao altar.
Sua tia observou a sala, sem dúvida mirando em todos os homens
aceitáveis.
― Que pena. ― Disse suavemente.
― O que é uma pena, tia?
― Oh, nada. ― Mas os olhos de sua tia estavam presos em alguém do
outro lado da sala.
Marjorie seguiu seu olhar e sentiu seu rosto roborizar. Ele parecia
bastante magnifico parado naquele grupo de homens. Era quase como se
estivesse vibrando com vitalidade enquanto os outros homens eram
meramente cascas da humanidade. Mesmo do outro lado da sala, podia
escutar sua gargalhada, ruidosa e inconsciente.

56
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Tem certeza que sua mãe não irá mesmo considerar um homem sem
título? Há aquele homem muito simpático Charles Norris. Ele é filho de um
visconde, sabe. Uma família de boas posses. Sua mãe é adorável. Talvez sua
mãe possa considerar…
― Não, tia. Ela não vai.
― Lorde Ruthersford…
― Está noivo. ― Marjorie caminhou calmamente até onde estava Miss
Peterson com seus pais.
― Sim, sim. Penso lembrar de ter lido algo sobre isso. Uma pena que
se tenha sentado junto de dois homens inaceitáveis.
― Por vezes acontece. ― Disse Marjorie alegremente. ― Não é todos os
dias que tenho a chance de relaxar e apreciar a refeição em vez de me exibir.
Sua tia riu.
― Ah, eu me lembro desses dias. Pode ser cansativo, querida, eu sei.
As duas conversaram amigavelmente, mas Marjorie estava sempre
consciente de Miss Peterson (e Mr. Norris). Ele tinha a subtileza de um
canhão e ela o podia sentir observando seu progresso até sua possível futura
esposa. À medida que Marjorie caminhava para Miss Peterson, pretendeu ter
recebido o encontrão e se apoiou levemente na mulher mais nova.
― Oh, peço desculpas. ― Ela exclamou. Depois colocou um sorriso
brilhante. ― Miss Peterson, como está? E Mr. e Mrs. Pertson. Não os vejo a
todos desde…― Ela fingiu procurar em sua memória― … O baile dos Halford
na última temporada. Se lembram de minha tia, Lady Southbridge.
― Os Halford…― Disse Mrs. Peterson, seu rosto ficando de um tom
vermelho alarmante. Mr. Peterson limpou sua garganta alto e puxou seu
colarinho. ― É claro. ― Disse Mrs. Peterson, lançando um olhar a seu
marido. ― Temos estado… Viajando pelo estrangeiro.
― Na Itália. ― Petunia acrescentou alegremente, se bem que um pouco
excessivamente. ― E outros lugares. Passamos um tempo maravilhoso, não
foi? ― Voltou para seus pais, que pareciam mortificados, mas pelo quê.
Marjorie não podia começar a adivinhar.
― É bom ver você, Susan. ― Disse sua tia calorosamente, agarrando as
mãos de Mrs. Peterson e lhes dando um leve aperto.
Mrs. Peterson deu um sorriso trémulo, aparentemente agradecida
pelas palavras carinhosas. E deixando Marjorie completamente confusa. Ela
procurou em sua cabeça por qualquer tipo de informação eu possa ter
escutado sobre os Peterson. Teria alguém morrido? Teriam perdido toda a
sua fortuna? Algo tinha acontecido desde o baile dos Halford, isso era certo.

57
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Se divertiu na Itália? ― Perguntou Marjorie, sem saber o que mais


dizer.
― Foi…― Petunia olhou sua mãe como se procurasse ajuda para
encontrar a melhor palavra para descrever Itália. ― … Encantadora. Sim,
encantadora. ― Petunia disse a palavra encantadora, mas bem que podia ter
disso “terrível” se Marjorie tivesse interpretado corretamente sua expressão
de completo desconforto. E foi nesse momento que Mr. Norris caminhou
para o grupo, parecendo um cachorrinho ansioso.
― Mr. Norris. ― Disse Marjorie, pretendendo surpresa. ― Esta é minha
tia, Lady Southbridge. Mr. e Mrs. Peterson e sua filha, Miss Petunia
Peterson.
Charles fez uma reverência às senhoras e apertou a mão de Mr.
Peterson.
― Estávamos discutindo a recente viagem ao estrangeiro dos Peterson.
― Disse Marjorie, prosseguindo com o plano. ― Você tem uma coisa em
comum com Mr. Norris, Miss Peterson. Ele acabou de regressar do
estrangeiro, também.
― Oh? ― Isto veio de Mr. Peterson, que pareceu subitamente
encantado por conhecer Charles.
― Sim. Passei os últimos dez anos na Índia. E África.
― Mr. Norris foi ferido na Guerra Ashanti. Serviu o General Garnet
Wolseley.
― Não me diga. ― Disse Mr. Peterson, parecendo ainda mais agradado,
o que parecia uma reação um pouco estranha para quem acaba de escutar
que uma pessoa tinha sido ferida. ― Então esteve longe do país.
― Regressei apenas alguns meses atrás. ― Disse Charles. ― Estou um
pouco perdido dentro da sociedade. Espero encontrar alguém que me guie. ―
Marjorie quase estremeceu quando ele olhou para Petunia enquanto dizia
essas palavras. Bom Deus, o homem não podia ser um pouco mais sutil
quanto a suas intenções?
― Tenho certeza que minha filha estaria mais que feliz de
desempenhar esse papel.― Disse Mr. Peterson com um entusiasmo
inesperado.
Petunia enrijeceu, depois baixou sua cabeça e Marjorie ficou com a
sensação distinta de que o gesto não era de timidez, mas de algo mais.
Miséria?
E então a atingiu. Marjorie se lembrou do que tinha pensado na altura
ser simplesmente um comentário malicioso. Tinha escutado apenas uma vez
e o ignorado completamente, dado sua origem. Tinha estado em um jantar, a
58
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

mais de um ano e Priscilla Montgomery tinha dito algo sobre Petunia,


implicando que Petunia parecia um pouco mais cheia do que o normal, mas
apenas na barriga e não era esse um local estranho para ganhar peso
quando se é tão magra. As outras garotas arfaram e riram baixinho e
Marjorie não voltou a pensar no assunto. Primeiro, Prsicilla tinha sempre
sido desagradável e era conhecida por espalhar falsos boatos e, segundo,
Marjorie mal conhecia Petunia e não estava realmente interessada em
escutar tais rumores.
Disfarçadamente olhou o estômago da moça e não viu nada além de
uma cintura fina e lisa. Mas quando levantou seu olhar, olhou diretamente
nos de Mrs. Peterson que parecia (só poderia ser descrito em uma palavra)
horrorizada. Marjorie deu à senhora mais velha um sorriso ameno para a
deixar descansada.
― Se importaria se fosse visitar sua filha amanhã? Talvez possamos
dar uma volta por Rotten Row.
― Bem, Petunia, gostaria disso? ― Perguntou alegremente Mr.
Peterson.
― Sim. Isso seria bastante agradável. Obrigada, Mr. Norris. ― Mas a
garota parecia como se fosse se banhar em lágrimas a qualquer momento.
Marjorie rapidamente analisou o cenário e deu um suspiro interno de
derrota. Esta garota nunca serviria para Mr. Norris.

Vinte minutos depois, Charles estavam esperando conseguir ficar


sozinho com Marjorie. Queria agradecer. Ela era uma casamenteira
maravilhosa. Petúnia, apesar de seu desafortunado nome, era perfeita para
ele. Era ainda mais encantadora de perto do que de longe e parecia ser uma
garota inteligente e calma, que seria uma maravilhosa companheira e mãe.
Já conseguia imaginar os dois observando suas crianças brincando a seus
pés. Aliás, ele poderia apostar com seu velho amigo John Willington no
número de filhos que teriam. John tinha cinco (e contando) e Charles queria
mais. Mais e mais. E eles passariam seus dias no campo, vendo seus filhos
crescer e florescer e…
― Ela está apaixonada por outro.
Marjorie tinha vindo por trás dele enquanto estava perdido em suas
fantasias.
― Você é um balde de água gelada que fala e anda. ― Ele disse
sombriamente.

59
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Como tenho certeza de que já estava caminhando para o altar com


Miss Peterson, pensei que lhe informaria imediatamente de que ela não é a
garota para você.
Charles teve um ataque de desapontamento, mas estava começando a
confiar em seu julgamento. Deus sabia que não poderia confiar em seu
próprio julgamento.
― O que a faz dizer isso? Como sabe? E se ela está apaixonada por
outro, como é que terminou parando em sua lista?
Ela lhe deu um sorriso atrevido e ele não conseguiu resistir e sorriu de
volta.
― Estava tão ocupado mimando seu pai que não reparou que a ideia
de ir cavalgar com você a fez terrivelmente triste.
― Ela não estava triste. ― Ele disse. ― Ela sorriu para mim. Mais do
que uma vez.
― Muito bem. Vá cavalgar. Tem que ir de qualquer modo, já que a
convidou. Mas preste atenção desta vez.

Os Peterson viviam em uma casa encantadora, apesar de modesta, em


Leicester Square. Era um dia quente ventoso e o sol brilhava fraco por entre
as nuvens que enchiam o céu. Lançou um olhar preocupado às nuvens,
fazendo uma pequena prece para que não chovesse.
Estava uma pilha de nervos, como sempre estava quando estava
prestes a começar a cortejar uma mulher. Não importa quantas vezes se
castigasse por agir como um garoto, o pensamento de estar sozinho com
uma mulher sempre fazia seu estômago se irritar, suas mãos suar. Deu um
toque afiado à campainha e esperou no patamar, chapéu em uma mão
enluvada enquanto tamborilava um ritmo contra sua coxa.
Para sua surpresa, Mr. Peterson, sorrindo abertamente, abriu a porta.
― Bom dia, Mr. Norris, bom dia. ― Se afastou para trás, dando as boas
vindas a Charles a sua casa.
Miss Peterson estava logo atrás de seu pai, uma visão em um suave
vestido amarelo e o coração de Charles alargou. Lady Marjorie tinha que
estar enganada sobre ela. Ela não podia estar apaixonada por outro homem
se estava sorrindo tão alegremente para ele.
Charles lhe fez uma elegante revrência, ignorando a pequena pontada
de dor em sua perna. Maldição e fogo do inferno, não o ia incomodar este
dia.

60
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Se importa se dou uma olhada a sua parelha? ― Perguntou Mr.


Peterson e saiu pela porta sem esperar uma resposta.
O pequeno grupo, incluindo uma mulher vestida com roupa simples
que Charles assumiu ser a criada de Miss Peterson, o seguiu fora, Miss
Peterson ficando um pouco para trás. Charles olhou a estátua de George I
sentado em seu magnífico corcel no centro da praça e se questionou se Mr.
Peterson tinha escolhido a praça por causa da estátua.
― Um belo par.― Disse Mr. Peterson.
Eram do estábulo de seu irmão já que Charles não tinha estado
inclinada a comprar seus próprios cavalos. Queria esperar até comprar sua
própria casa e ter um pouco mais de constância em sua vida. Um lar, uma
esposa, alguns belos cavalos, o que mais poderia um homem querer?
― São dos estábulos de Hartley. Transmitirei sua admiração a meu
irmão. Ele é um excelente juiz de todo o tipo de cavalos e espero ter sua
ajuda quando comprar minha própria parelha.
― Petunia tem um excelente cavalo. ― Disse Mr. Peterson com ares de
grandeza e o objeto de seus elogios baixou sua cabeça. Charles gostava de
uma garota tímida, decidiu instantaneamente.
― Devemos ir, então? ― Miss Peterson levantou sua cabeça e sorriu
para ele de modo brilhante. Por Deus, ele soube que ela era a tal nesse
preciso momento.
Charles ajudou primeiro Miss Peterson, depois a criada, a subir a
carruagem antes de subir ele mesmo. Ficaram em silêncio enquanto
conduziam por Picadilly e Charles procurou em sua mente algo para iniciar
uma conversa. Porque tinha que ficar de linga presa quando estava à volta
de mulheres? Não era assim com sua irmã, mas dificilmente conseguiria
imaginar Miss Peterson como sua irmã. E não tinha tido nenhum problema
com Lady Marjorie. Porque, então, era tão difícil encontrar algo espirituoso
para dizer?
― Qual foi a parte favorita de sua viagem a Itália? ― Disse, se
lembrando de que ela tinha estado no estrangeiro.
Seu rosto se roborizou instantaneamente.
― O clima. Era muito solarengo e quente quase todo o dia.
Charles olhou para o sol leitoso, lutando para conseguir aparecer
através das nuvens e franziu o cenho.
― O sol foi a parte que menos preferia da Índia e de África. ― Disse.
Ela lançou um olhar surpreso para ele, depois baixou seus olhos como
se estivesse confusa por seu comentário. Seu passo para Hyde Park estava

61
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

terrivelmente lento por causa do trânsito e Charles de repente desejou que


tivesse sugerido um outro tipo de saída. Ao lado de Miss Peterson, sua
criada tinha adormecido, sem dúvida embalada pelo movimento esporádico
da carruagem.
Olhou para Miss Peterson, que parecia conscientemente evitar olhar
para ele. A luz e brilho que tinha transmitido quando primeiro tinha chegado
parecia ter desaparecido completamente. Ela não tinha sorrido uma única
vez desde que a carruagem se tinha afastado de sua casa. Até a piada de
Charles, sobre o fato de um cavalheiro usando um púrpura intenso o estar
fazendo querer comer uvas, falhou em produzir um sorriso. As palavras de
Lady Marjorie ecoaram em sua mente e, por muito que as tentasse ignorar,
rapidamente se tornou obvio que Miss Peterson desejava estar em qualquer
outra parte do mundo do que sentada com ele em sua carruagem em direção
a Rotten Row.
Ela era encantadora, sim, mas parecia estar envolvida em um manto
de tristeza, agora que seus pais não estavam pairando sobre ela com
histérica alegria, que se fazia bastante aparente. Questionou- se, se Lady
Marjorie não tivesse mencionado nada, ele teria visto quão infeliz estava a
garota.
Ele tentou fazer conversa. E dando crédito a Miss Peterson, ela
respondeu da forma que devia, educadamente. Não podia evitar, mas desejar
que ela o pudesse amar a ele e talvez com o tempo…
Ele parou esse pensamento.
― Miss Peterson, me perdoe, mas preciso lhe perguntar algo. ― Deixou
escapar.
Suas bochechas ficaram pálidas e ela engoliu pesadamente, como se
estivesse se preparando para algo horrível. Ele tinha reparado nestas coisas
agora, simplesmente por causa de Marjorie. Diabos, nem sequer estavam tão
escondidas assim; ele simplesmente tinha estado cego para elas todos estes
anos.
― Claro, Mr. Norris. ― Suas mãos enluvadas estavam dobradas
recatadamente em seu colo, mas ele reparou que seu aperto tinha
aumentado e seu sorriso estava um pouco congelado.
― Está apaixonada por alguém?
Miss Peterson não conseguiu esconder seu choque, apesar de tentar se
recuperar rapidamente.
― Oh, não. Porque pensaria… Não, é claro que não. Eu…
Charles levantou uma mão, a parando.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Por favor, se acalme, Miss Peterson. E por favor responda de novo a


minha questão, desta vez honestamente.
Olhou para ele como se tentasse perceber se realmente queria a
verdade.
― Sim. ― Disse finalmente. ― Estou.
― E ele é inaceitável, suponho?
Ela baixou sua cabeça.
― Sim. ― Sussurrou. ― Terrivelmente.
Charles franziu o cenho, ficando com raiva deste homem por
machucar tanto esta jovem.
― Casado.
Ela disse rapidamente:
― Oh, céus, não. Nada como isso. Ele… É pobre. Um funcionário de
uma casa de contabilidade.
― Ah.
― Ele me ama também. Nós…― Ela fechou seus olhos com força.
― Já disse o bastante, Miss Peterson. ― Disse Charles gentilmente. ―
Não me voltarei a impor e não guardo qualquer rancor.
Pânico encheu seus olhos.
― Oh, não, Mr. Norris. Meus pais têm tantas esperanças. Não pode. ―
Parou abruptamente e roborizou. ― Não compreende. Você não escutou
porque estava fora do país, mas existem terríveis e falsos rumores circulando
sobre mim. Minha mãe se culpa por não ter pensado bem nas coisas, sabe.
Ela queria me afastar dele e então pensou que uma viagem seria o remédio
certo. Mas uma família partindo tão abruptamente com uma garota em
prantos a reboque… Priscilla Montgomery estava passando por nossa casa
quando estávamos saindo. É uma garota odiosa. E agora há rumores de que
tive que sair do país. Que eu…― Ela não se conseguia forçar a dizer as
palavras em voz alta. ― E ficamos fora por nove meses. Nove. Oh, no que
mamãe estava pensando?
Ela impediu as lágrimas de cair e Charles observou desamparado
enquanto ela ganhava o controlo de suas emoções.
― Você pode ser minha única esperança. ― Ela disse.
― Temo não ter estômago para cortejar uma garota que está
apaixonada por outro homem.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Oh, mas deve. ― Ela disse, depois parou rapidamente. ― Não, não
deve. ― Sorriu para ele então, um verdadeiro sorriso e ele sentiu uma
pontada de perda. Ela teria sido perfeita para ele.
Terminaram seu passeio e concordaram em permanecer amigos. E
Charles, porque tinha um ponto fraco em seu coração do tamanho de todo
seu coração, parecia, lhe prometeu que encontraria uma posição de trabalho
melhor pago para o homem que ela amava.
― Não faço promessas. E não acredito que deva alimentar muitas
esperanças em relação a seus pais.
― Eu sei. Não irei. Mas meus pais me amam e não gostam de me ver
tão infeliz. Eles pensaram que a viagem a Itália me faria esquecê-lo, me
distrair. Mas ainda o amo. Obrigada, Mr. Norris, mesmo que não resulte.

Você estava certa. Baile dos Fielding.

Marjorie sorriu para a enigmática nota e a escondeu em seu bolso.


― Mamãe. ― Chamou enquanto entrava em casa. ― Fomos convidadas
para o baile dos Fielding?
Encontrou sua mãe no salão do café da manhã, tomando café da
manhã farto de ovos fritos, pudim negro e rins com torrada. Dorothea amava
o café da manhã e tinha anunciado três anos atrás que já não se
preocuparia com sua figura. Marjorie quase tinha cuspido o chá que tinha
na boca, pois não se recordava de sua mãe alguma vez parecer um pouco
preocupada com sua figura. Todas as suas preocupações eram gastas em
Marjorie.
― Sim, não podemos nos dar ao luxo de perder os Fielding. ― Ela
disse. ― Pode usar seu vestido azul, claro. Os Crawford já embalaram e
partiram para o campo para se prepararem para o casamento lá. ― Sua mãe
apertou os lábios, um claro sinal de que ainda estava descontente por a
garota Crawford ter fisgado um dos potenciais pretendentes de Marjorie.
O vestido azul de Marjorie era uma espetacular criação Worth que
ainda não tinha estreado. Era um vestido encantador com uma saia de
tartalana do mais profundo tom de azul e renda Valenciana
pecaminosamente cara, totalmente adequada para uma mulher solteira.
Perguntava se sofreria ter que usar veludo tão leve para o resto de sua vida.
Ainda assim, o vestido, com sua renda azul escura que acentuava o corpete
azul claro e sua azáfama de pregas, era bonito. E era, claro, um Worth.
Alguns dias, Marjorie pensava sobre todos esses vestidos, todo o dinheiro
sendo gasto para atrair um homem. A fez ficar ligeiramente indisposta

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

pensar sobre isso. Especialmente porque sabia já há algum tempo que era
tudo por nada.
―Bom dia.
Marjorie olhou para cima e sorriu para seu irmão, que tinha
aparentemente escapado às garras de seu valete antes que este passasse
uma escova por seus cabelos.
― Bom dia, George. Estávamos mesmo agora falando do baile dos
Fielding. Espero que possa comparecer.
George rapidamente ficou pensativo.
― Em que noite é?
― Quarta-feira. Não tem nada planeado, não é?
George rapidamente encheu seu prato e Marjorie sabia que sua mente
estava procurando pelo que normalmente fazia às quartas-feiras.
― Eu vou. ― Disse finalmente.
― Marjorie. ― Sua mãe disse, levemente exasperada.
― Se George não for, quem dançará comigo? ― Disse Marjorie
levemente e deu a seu irmão uma piscadela.
― Um grande número de jovens. ― Disse Dorothea.
― Tenho estado um pouco encalhada ultimamente, mamãe.
― Besteira.
― E George pode salvar se isso acontecer. Isto é, se o conseguir afastar
de todas as garotas bonitas.
George roborizou e Marjorie perguntou se existia uma garota bonita
em particular que tinha causado esse rubor. Dorothea tinha dito em
inúmeras ocasiões que nenhuma garota alguma vez casaria com George (e
secretamente Marjorie se questionava se estaria correta, pois ele tinha
mostrado pouco interesse pelo sexo oposto). Seria encantador ver George se
apaixonar e ainda mais encantador ter uma sobrinha ou sobrinho.
Na noite do baile dos Fielding, Marjorie chegou com sua mãe; George
viajava separadamente a maior parte das vezes, já que era muito particular
sobre quando chegava e quando partia. Os Fielding viviam em uma grande
casa antiga em Mayfair, um bairro encantador não muito longe de Hyde Park
que já tinha visto melhores dias, mas ainda era um dos melhores bairros de
Londres. Era, a mãe de Marjorie disse com uma fungadela, um bairro que
estava atraindo mercadores e os de sua raça. Mas não se podia ignorar o
baile dos Fielding simplesmente porque eram vizinhos do comerciante
fabulosamente rico Charles Magniac.
65
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Pegue seu cartão, querida. A encontrarei na entrada do salão de


baile. ― Disse Dorothea, observando a sala. ― Wentworth está aqui, querida.
― Este último foi dito com um sussurro satisfeito. Uma gargalhada ruidosa
veio de sua esquerda e Marjorie sorriu. ― Mr. Norris está aqui também. ―
Disse Dorothea, os cantos de sua boca se aprofundando em desagrado.
― Não sei porque considera Mr. Norris tão ofensivo. Ele vem de uma
família muito boa.
― Ele é barulhento, seu cabelo é muito longo, sua pele é muito
bronzeada e suas patilhas muito cheias. Parece mais um camponês do que
um cavalheiro.
Marjorie se voltou e descobriu o objeto de sua conversa parado no
meio de alguns homens. Ele lhe parecia bastante impetuoso, mas ela notou
imediatamente que se estava inclinando imenso em sua bengala e que seus
nós dos dedos da mão que apertava a empunhadura estavam muito brancos.
Era a coisa mais estranha, pois naquele momento, Marjorie sentiu uma
necessidade quase arrebatadora de ir para seu lado e colocar sua mão na
dele, de lhe dar a entender silenciosamente que ela compreendia um pouco
do que ele estava sentindo. Ele sorriu, ele riu, mas o tempo todo apertava
aquela bengala tão forte, que era de admirar que não destruísse a bola de
metal e cabeça de garra.
― Sim, mamãe, ele é todas essas coisas. ― E todas essas coisas a
tinham irritado uma vez. Agora, contudo, estava achando sua gargalhada
barulhenta cativante, sua energia palpável estimulante.
Virou abruptamente sua cabeça para longe dele. Não seria bom que
começasse a desenvolver sentimentos por ele. Só poderia ter um fim
desastroso. Uma onda de depressão a atacou nesse momento, justo quando
estendia sua mão para pegar seu cartão de dança com relevo de renda. Teve
uma vontade urgente de retirar sua mão, de se recusar a participar nesta
farsa absurda. Não iria se casar, por isso porque estava aqui, usando seu
vestido mais encantador, seu cabelo intricadamente arranjado, suas joias
brilhando e atraindo olhares tanto de inveja como de ciúme? Em vez disso,
ela calmamente pegou o cartão e amarrou o cordão com uma borla dourada
em seu pulso. Talvez com Miss Crawford oficialmente fora do mercado de
casamento, seu cartão estaria uma vez mais cheio.
Ela olhou seu cartão e reparou que os Fielding tinham programado
três valsas aquela noite. Talvez ela pudesse guardar uma para Charles; uma
dama nunca podia recusar uma dança com um cavalheiro a menos que essa
dança já estivesse preenchida. Era uma desculpa preparada para dar a sua
mãe, que sem dúvida desaprovaria que ela dançasse com ele.
Esse pensamento ainda estava em sua cabeça quando Charles
apareceu a seu lado.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Lady Summerfield. ― Disse, lhe fazendo uma reverência antes de se


voltar para ela. ― Lady Marjorie, me pergunto se me daria a honra de dançar
comigo durante a segunda valsa.
― Oh, meu caro Mr. Norris, temo que esteja atrasado, seu cartão de
dança está bastante cheio. ― Disse Dorothea, com tal doçura que Marjorie
queria gritar. Centenas de vezes sua mãe tinha dito essas mesmas palavras
a cavalheiros que considerava indignos dela. E cada vez, Marjorie tinha
assentido recatadamente e tinha deixado sua mãe conseguir o que queria.
Mas não desta vez.
― Meu Deus, mamãe, deve estar enganada. Acabamos de chegar,
afinal de contas. Seria uma honra dançar com você, sir.― Ela disse, mesmo
quando sentia sua face roborizar de sua rebelião óbvia.
Ela não sabia o que a tinha possuído, realmente não sabia. Mas
Marjorie levantou seu cartão de dança vazio e o mostrou a sua mãe para
provar seu ponto, mesmo enquanto via a labareda de raiva nos olhos de sua
mãe.
― Assim parece. ― Disse Dorothea sucintamente.
Estava muito zangada, pensou Marjorie e se perguntou se esta
pequena porção de desafio valeria a pena. Ela escutaria um sermão esta
noite. Sua mãe estaria falando e falando sobre como ela devia ser mais
seletiva, deveria encontrar um título, deveria apenas dançar com homens
que sua mãe aprovasse, deveria, deveria, deveria, deveria, deveria.
― Nesse caso, Lady Marjorie, posso ser tão arrojado como para pedir
um galope também? ― Oh, o atrevido.
Ele devia saber que sua mãe estava lívida. Ele não sorria, mas seus
olhos tinham o diabo neles. Marjorie escutou a forte inalação de sua mãe e
sentiu uma fenda alarmante na base de sua nuca.
― Seria um prazer, Mr. Norris. ― Ambas as danças requeriam que ela
fosse abraçada e ela já quase podia sentir sua mão quente contra suas
costas.
Removeu o cartão de seu pulso e o entregou a Charles, que retirou um
lápis de seu bolso, depois escreveu seu nome audaciosamente no primeiro
galope e na segunda valsa. Marjorie pegou o cartão de volta com um sorriso
que se destinava a lhe dizer um pouco sobre quão corajosa essa pequena
ação tinha sido. Ele piscou o olho enquanto fazia uma nova reverência e
Marjorie sentiu seu mundo girar, seu pulso acelerou e sua garganta ficou
seca. Uma piscadela e ela quase tinha seu coração.
Quando ele partiu, Marjorie se preparou para as palavras mordazes de
sua mãe, mas elas não vieram. E isso era um pouco pior, ela pensou. Ela
receberia uma descompostura, mas sua mãe nunca faria a mais pequena
67
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

cena em público. Marjorie desejou que o fizesse, se pelo menos conseguisse


que terminasse depressa. Em vez disso, Dorothea sorriu para ela e disse:
― Vamos ver se conseguimos encher o resto de seu cartão de dança.
Com cavalheiros mais apropriados.
Ah, aí estava, uma pequena insinuação do que estava para vir.
Marjorie devolveu o sorriso de sua mãe e voltou a colocar o cordel do cartão
de dança em seu pulso.
Antes que a Grande Marcha começasse, o cartão de Marjorie estava
quase cheio e sua mãe parecia ter perdoado sua pequena transgressão.
Lorde Wentworth tinha pedido a primeira valsa e ela pensou que sua mãe
iria explodir de satisfação.
― A primeira valsa. ― Disse Dorothea. ― Deixe a última valsa livre,
querida. Nunca se sabe o que pode acontecer.
Claro que se sabe, pensou Marjorie sombriamente. Sem dúvida sua
mãe irai continuar sua campanha com o pobre homem, que não nem sequer
parecia que queria estar nessa sala com um grupo de debutantes dando
risadas. Mas ela supunha que participar num baile era melhor do que ficar
em casa com cinco crianças sem mãe, todas exigindo sua atenção. Ela sabia
que Lorde Wentworth lhe pediria aquela última valsa e não conseguia parar
o terror que se formou no fundo de seu estômago.
Lorde Wentworth, acabou sendo um homem bastante agradável que
parecia surpreendentemente alegre para um viúvo recente com cinco
crianças em casa. Ele tinha o hábito desafortunado de cuspir um pouco
enquanto falava, mas Marjorie supunha que, se mantivesse sua distância
durante as conversas, o poderia tolerar bem o bastante.
― Sua residência no campo fica em Coventry, não é? ― Perguntou
Marjorie num esforço para quebrar o silêncio constrangedor enquanto
dançavam. Lorde Wentworth era um homem alto e magro, com uns olhos
cinzentos agradáveis e cabelo castanho fino. Não havia nada de desagradável
sobre ele (para além do cuspir), mas Marjorie não sentia nem o mais
pequeno arroubo de interesse nele.
― Sim, é.
― Fiz um passeio pela Catedral de St. Michael em Coventry uma vez,
quando estava visitando uma amiga. Talvez a conheça. Miss Anne Barnes?
Seu pai é um escudeiro.
― É claro, eu conheço a família Barnes. Sir Alfred é um pescador ávido
e costumamos pescar juntos. Como está Miss Barnes? Não a tenho visto há
anos.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Ela casou com o Baronete Redgrave. Ainda nos correspondemos,


mas ela está muito ocupada com suas duas crianças.
― Meu Deus. A pequena Annie Barnes tem duas crianças. Eu tenho
cinco, sabe e quase não consigo acreditar nisso.
Marjorie riu de sua expressão perplexa.
― Cinco é um número bastante grande. São todos muito novos?
― O mais velho tem dez― seu sorriso se tornou melancólico enquanto
margeavam o bordo da pista de dança. Ele pareceu se aperceber de que
estava dançando com uma mãe em potencial para sua grande ninhada e
adicionou com entusiasmo. ― Mas nunca pensaria que tenho algum filho.
Um bando muito quieto. Estudiosos e bem-comportados, sabe.
― Tenho certeza de que todos são boas crianças. ― Ela podia ter
adicionada. ― Com um pai como você. ― Mas não conseguiu forçar a fazê-lo.
Não queria flertar com ele. Não lhe queria dar qualquer esperança. Enquanto
dançavam, viu Mr. Norris parado a um lado do salão, sua cabeça
ligeiramente abaixada para que pudesse escutar o que uma jovem garota,
que Marjorie não reconhecia, estava dizendo. Quem quer que a bela garota
fosse, ela definitivamente não estava em sua lista. Marjorie tentou não olhar
para o par, mas não consegui evitar. Como podia uma jovem tão
encantadora ter sido apresentada à sociedade sem que Marjorie soubesse
quem é? Considerando que a temporada estava no seu auge.
― Aquela é Isabella DeRiccio. Filha de um duque italiano. Mas os
títulos deles não são tão elevados como os nossos. ― Lorde Wentworth tinha
obviamente reparado em seu interesse pelo casal e ela ruborizou ao ser
descoberta.
― Me pergunto porque ela está aqui? ― Disse Marjorie, apesar de já
saber qual a razão.
Porque qualquer mulher solteira comparece a um baile? Mais
competição em um mar cheio de belos pequenos peixes. Sua mãe não ficaria
feliz. E de momento, vendo Charles sorrir para a garota encantadora,
Marjorie também não estava muito contente. A italiana não estava em sua
lista. E… Ela era completamente errada para ele. Marjorie sabia que o que
estava sentindo não tinha nada a ver com Isabella DeRiccio e tudo a ver com
seus sentimentos por Charles. Seus sentimentos inúteis e ridículos.
Estava tudo errado, deveria ter sido uma grande aventura, uma
diversão para escapar do tédio que acompanhava cada temporada. Ela tinha
que lhe encontrar uma noiva para que a dívida de seu irmão fosse perdoada.
Mas aqui estava ela, se fixando em um homem que não podia ter e odiando
uma garota que nunca conheceu. Não era do seu feitio.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Porque qualquer pessoa está aqui? ― Disse Lorde Wentworth, com


um pouco mais de amargura. ― Temos que nos casar.
― Você quer se casar?
― Por vezes, Lady Marjorie, o que queremos e o que temos que fazer
são duas coisas completamente diferentes. ― Ele abanou a cabeça. ― Me
desculpe, mas esta estadia em Londres e em sociedade depois de tanto
tempo apreciando o campo não tem sido fácil para mim.
A dança terminou e Lorde Wentworth a soltou e se afastou.
― Porque não vai para casa, milorde? ― Disse Marjorie gentilmente. ―
Londres ainda estará aqui quando estiver pronto.
Ele olhou para ela e nesse momento, Marjorie reconheceu sua
profunda tristeza.
― Tenho cinco crianças. ― Disse, como se isso explicasse tudo.
― E neste momento, posso imaginar que sentem imenso sua falta e
estão provavelmente um pouco aterrorizados de que possa realmente voltar a
casa com uma nova mãe para eles. Eu sei que eu ficaria.
Ele franziu o cenho e deixou escapar uma pequena gargalhada
divertida.
― Acho que vou para casa. Tem razão, Londres estará sempre aqui.
Apenas não conte a minha mãe.
Marjorie riu.
― Realmente desejo que as mães deixassem seus filhos decidir suas
próprias vidas.
Ele sorriu para ela, o primeiro sorriso verdadeiro o que tinha visto em
seu rosto. Agora que o via, percebeu que todos aqueles sorrisos anteriores
tinham sido falsos.
― Prometo não contar a sua mãe que você foi a que me afugentou. ―
Ele disse. ― Ela tem uma tenacidade assustadora.
Marjorie estremeceu.
― Ela será a minha morte. Boa sorte, milorde.
O galope estava prestes a começar e Marjorie procurou por Mr. Norris,
uma tola antecipação fazendo seu estômago se agitar. Mas ele não estava em
nenhum lugar que pudesse ver. Teria pedido para dançar com ela apenas
para irritar sua mãe? Estava prestes a desistir quando o viu através das
portas francesas abertas, suas costas para o salão de baile, suas mãos
pousadas no corrimão do terraço. Ele devia ter esquecido, ela percebeu, ou

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

talvez perdeu a conta das danças enquanto estava falando com a garota
DeRiccio.
Isto nunca lhe tinha acontecido. Ela nunca foi deixada esperando em
um canto da sala enquanto um homem que lhe tinha pedido uma dança
falhava em aparecer. Franzindo o cenho. Caminhou para o terraço, andando
pela borda do chão do salão de dança e dos casais dançando
entusiasticamente. Era um jogo para Mr. Norris, ela sabia disso. Ele
possivelmente podia não saber que a tinha magoado um pouco ao esquecer
sua dança. Talvez ela lhe devesse fazer saber precisamente o quão canalha
ele era.

De todas as noites, porque é que sua maldita perna lhe tinha que fazer
isto? Ele tinha estado se sentindo melhor. Tinha até mesmo dançado uma
vez ou duas na noite anterior. Talvez esse fosse o problema; ele tinha se
sobrecarregado ao dançar uma maldita valsa. Bom Deus, ele iria se tornar
um inválido, incapaz de dançar ou até conversar com uma garota bonita?
Rogou que o ar frio da noite de alguma maneira acalmasse sua perna, mas
tão logo saiu para o terraço, foi agarrado por uma grande dor enquanto sua
perna ficou presa. Cambaleando, se dirigiu ao corrimão e disse uma corta,
embora vulgar, prece para que não gritasse. Não era bom assustar todas
aquelas damas que eram suas potenciais noivas.
Um suor frio surgiu em todo seu corpo e suas mãos começaram a
tremer. Não grite. Não grite.
E então, uma mão, pequena e firme, agarrou sua mão enluvada, lhe
dando suficiente distração que o grito se formando em sua garganta foi
esquecido.
― Respire. ― Ela disse.
― Minha querida dama. ― Ele disse por dentes cerrados ― Se não
estivesse respirando estaria no chão.
Ela riu e apertou sua mão.
― Se esqueceu de nossa dança. ― Ela disse. ― Agora terá que me
compensar outra noite.
Charles olhou para ela e sorriu sombriamente.
― Sua mãe é capaz de me matar se eu o fizer. ― Ele inspirou
profundamente. ― Não devia ter vindo esta noite. Minha perna tem estado
terrível o dia todo. Devia saber melhor do que tentar isto. Prajit estava muito
zangado comigo.
Outra dor intensa o agarrou e ele cuspiu outra maldição. Doía como o
diabo, mas mesmo através disso, ainda sentia a mão dela na sua, apertando
71
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

com mais força. Ainda sentia seu perfume, escutou seu pequeno arfar, como
se fosse ela a que sofria. Ela não devia estar ali com ele. Qualquer pessoa os
podia ver, estando muito próximos, a mão dela na dele. Deus, ela era
quente. Ele a podia sentir a seu lado e rogou por algo proibido naquele
momento. Rogou para que tivesse as forças para a empurrar para as
sombras e a beijar, que se danem as consequências.
Finalmente, a dor diminuiu e se manteve em uma pequena dor
incessante. Ele conseguia lidar com essa dor. Ele podia manter uma
conversa, até conseguia dirigir uma valsa. Ela soltou sua mão e se afastou.
― Imagino que já foi aos médicos?
― Sim, Três. Foi uma ferida grave. Todos dizem a mesma coisa, que a
perna deveria ter sido cortada. Talvez estejam certos. Algumas vezes me
questiono se não teria sido melhor perder a perna a ter que sofrer isto.
Ela deixou escapar um pequeno som.
― Certamente a dor vai diminuir com o tempo.
― E diminuiu, na realidade. ― Ele riu de sua expressão, como se ela
dificilmente conseguisse acreditar que ele tinha passado por pior.
― Estou feliz de não ter visto isso. É difícil de ver você dessa maneira.
Não sei como você o esconde.
Ele se perguntou a mesma coisa na realidade. Quando estava falando
com a mulher italiana, quase tinha gritado e ela esteve completamente
ignorante, mesmo quando gotas de suor se formaram em sua testa. Ocorreu
que Marjorie teve conhecimento de sua agonia.
― Obviamente não o escondi de você. ― Ele disse.
― Eu sabia que sua perna o estava incomodando mais cedo, quando
estava de pé junto daquele grupo de homens. Estava agarrando sua bengala
com muita força. ― Ela olhou em volta. ― Onde está sua bengala?
― A pousei. Estava chamando muita atenção.
― Por amor de Deus, Mr. Norris, mulheres consideram as bengalas
muito atraentes.
― Verdade?
― Claro.
― Então devo ir recuperá-la…― Parou abruptamente.
Ela era tão incrivelmente bela, tão doce. O motivo para ter sido
ignorada era um mistério para ele, mesmo tendo em conta seu irmão. Ele até
achava George um personagem interessante. Certamente apenas isso não

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

podia explicar porque ainda não estava casada. Certamente alguém na


sociedade a poderia apreciar. Ele sabia que ele o fazia. Ele fazia. Ele…
― Alguma vez considerou como seria se me beijasse? ― Os olhos dela
aumentaram logo antes de seu olhar baixar para a boca dele.
― É claro. ― Ela disse. ― Me questiono como seria beijar cada homem
que me é apresentado.
Agora ela o tinha surpreendido.
― Você o faz?
― Se uma pessoa não se consegue imaginar beijando um homem,
então certamente não se consegue imaginar estar casada com ele.
Ele sorriu.
― Ah, mas você sabia que eu não era um homem com quem casaria.
Por isso, porque se imaginou beijando-me?
Suas maças do rosto se ruborizaram ligeiramente e ela levantou sua
cabeça de forma altiva.
― Porque está tentando fazer com que admita que gostaria de o beijar?
― Porque é a única coisa em que não deixo de pensar. Beijar você,
quero dizer. Gostaria de o fazer um dia.
Ela sorriu então e ele quase gemeu, não de dor desta vez, mas de uma
sensação completamente diferente. Algo nesse sorriso parecia uma caricia,
uma que enviava um forte calor até sua virilha. Ela bateu um dedo indicador
contra seu queixo enquanto analisava suas palavras, então disse
lentamente:
― Acho que isso seria…
Maravilhoso, ele pensou, por favor diga “maravilhoso”.
― Um erro.
Droga. Palavra errada.
― E eu acho que seria algo muito bom, de fato. ― Ele disse, consciente
de como sua voz soava rouca. Por alguma razão, toda essa conversa sobre a
beijar estava fazendo difícil falar.
Ela franziu o cenho.
― Você acha?
Ele se aproximou e ela deu um olhar nervoso em direção ao salão de
baile.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Agora não, sua tola. Mas em breve. Realmente não sei quanto tempo
posso resistir.
― Acho que devia tentar. Resistir, quero dizer. ― Ela adicionou esta
parte numa precipitação de palavras.
― Realmente deseja que resista beijar-lhe?
Ela pressionou os lábios juntos e se afastou outro passo.
― O galope acabou, tenho que ir ter com meu parceiro para a próxima
dança. ― Ela continuou se afastando, com o brilho mais estranho em seus
olhos encantadores. Justo antes de entrar no salão de dança, ela disse. ―
Quanto a sua questão… não, não desejo que resista. ― E então ela se virou,
seu vestido girando ao redor dela lhe dando um vislumbre sedutor de seu
calcanhar elegante. Ele deu um passo e sentiu uma dor aguda em sua
perna, mas não se importava. Sofreria quase qualquer coisa para conseguir
aquele beijo.
O salão de baile na casa dos Fielding terminava em uma galeria e a
biblioteca, ambos estando cheios de participantes do baile que se
movimentavam de sala para sala procurando amigos ou tentando evitar falar
com inimigos. Uma grande parede separava essas salas do escritório de
Lorde Fielding (esta noite servia de salão de jogos de cartas) e um dos salões
da casa.
Charles espreitou o salão e franziu o cenho quando espiou um grande
grupo de debutantes tagarelando, que instantaneamente pararam de falar
quando ele olhou a sala.
― Boa noite, senhoritas. ― Disse e quase estremeceu com as risadas e
reverências instantâneas que surgiram após sua saudação.
Ele se curvou e continuou andando para o fundo do corredor,
escutando os risos ficarem mais altos, acompanhados de silvos fervorosos
para que fizessem silêncio.
Após dez anos além-mar, Charles percebeu de que não conhecia quase
ninguém. Seus amigos estavam todos casados, rodeados por sua prole de
crianças que ia aumentando, o deixando a vaguear pelos corredores dos
bailes sozinho. Era desagradavelmente depressivo. Quando é que todos se
tinham tornado tão jovens?
Ou melhor, quando é que ele se tinha tornado tão condensadamente
velho?
Ele passou por uma das entradas do salão de baile e espiou Lady
Marjorie dançando com Lorde Pemberton, um cavalheiro ancião que já tinha
sobrevivido a três esposas. Seria de suspeitar, não tivessem todas as suas
esposas morrido de causas naturais. A velha raposa estava a olhar com

74
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

luxuria os seios da dama e ela estava valentemente o tentando ignorar.


Charles riu e nesse momento ela olhou para cima e encontrou seu olhar, um
sorriso surgiu em seu rosto, um que fez suas entranhas se sentirem
decididamente estranhas.
Era uma coisa sentir luxuria por uma dama, flertar com ela e talvez
um dia (muito em breve) roubar um beijo. Era uma coisa completamente
diferente começar a se sentir sonhador quando olhava para ela. Luxuria
podia esmorecer. Amor, por outro lado, o podia deixar enrolado por meses,
tinha aprendido. Voltou abruptamente e começou a procurar por algumas
criaturas jovens e bonitas para se distrair da encantadora Marjorie e de seu
sorriso brilhante.
Depois de uma dança country antiga, era altura de sua valsa com
Lady Marjorie e ele seria condenado se sua perna o afastasse da pista de
dança desta vez. A dor palpitante normalmente o pararia de tentar tal feito,
mas ele queria agarrá-la em seus braços, mesmo que fosse de forma
apropriada e em frente de dezenas de outras pessoas. Abanou a cabeça,
divertido com a direção de seus pensamentos. Era realmente um tolo, mas
por essa noite decidiu esquecer a prudência e fingir que tinha alguma
hipótese com ela.
― Acredito que esta é nossa dança, miladie. ― Disse, fazendo uma
reverência a Marjorie enquanto esta se mantinha ao lado de sua mãe de
cenho franzido. Marjorie lhe deu um belo sorriso enquanto a senhora mais
velha lhe encarava pelos olhos. Charles deu a Dorothea seu sorriso mais
agradável e educado, esperando secretamente que fizesse o sangue da
mulher ferver. Não era como se ele fosse o filho de um banqueiro, por amor
de Deus. Seu pai era um visconde. Ele não se importava com sua opinião e
se divertida vendo seus finos lábios se pressionando juntos em desagrado.
― Acho que sua mãe me odeia. ― Disse com uma gargalhada quando
estavam na pista de dança.
― Oh, isso é certo. ― Ela disse alegremente.
― Ela sabe quem é meu pai, não sabe?
― É claro, sir. Acho que ela desaprova de seus modos selvagens. Seu
cabelo, por exemplo, é um pouco longo demais. E parece que você ri
bastante alto. Não é aceitável que se divirta em público. Ou melhor, que
permita que outros saibam que se está divertindo. E o título. ― Ela suspirou
de forma dramática. ― Apesar de sua linhagem, não possui um título. E essa
é sua falha fatal.
Ele sorriu para ela, observando sua expressão mudar, a forma como
sua boca formava as palavras, seus lábios fazendo beicinho enquanto dizia a
palavra falha. Um calor aumentou por seu corpo de forma imprevisível e sua
mão em sua cintura fina apertou com um pouco mais de força, levando a
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

proximidade com que a segurava ao limite do inapropriado. Ela não era uma
garota pequena, por isso não precisava forçar seu pescoço e seus ouvidos
para a ouvir. Sua testa estava ao nível de sua boca, de modo que se
quisesse, poderia se inclinar e beijar aquele pequeno cenho franzido que por
vezes aparecia.
― Pare com isso. ― Disse ela, sorrindo para ele.
Ele levantou uma sobrancelha em forma de questão.
― Está me olhando daquela forma de novo.
― Ah. O olhar eu-quero-te-devorar?
Ela riu alto.
― Sim, é esse. Sei que minha mãe está olhando e não vai ficar
agradada. ― Mas Marjorie soava bastante agradada, por isso ele lhe deu um
olhar tão quente que ninguém que os estivesse observando poderia
confundir quais eram seus pensamentos.
E Marjorie, garota tonta e maravilhosa, riu, deliciada com seu sentido
de humor. Foi nesse momento, quando deveria ter protegido seu coração,
quando a música e os dançarinos rodavam a sua volta, que ele sentiu
apenas um pouco de amor por Lady Marjorie Penwhistle. Limpou sua mente
para que esse pensamento em particular não fosse tão evidente.
― Mas realmente a quero devorar. ― Disse maliciosamente. ― O que
faria se a beijasse aqui e agora, nesta pista de dança?
― Lhe daria um tapa muito forte. ― Ela disse de forma severa, mas
havia uma luz de satisfação em seus olhos.
― E, contudo, sinto que você quer que eu a beije.
― Esse não é, de todo, o ponto. Se permitisse um beijo sem mostrar
um grande protesto, seria forçada a caminhar para o altar consigo. E ambos
sabemos que isso seria um desastre. Por isso, sim, lhe daria um tapa.
Nesse momento, outro par de dançarinos os empurrou um pouco,
fazendo Charles colocar mal o pé. O resultado foi o ataque de uma dor
terrível que quase o levou a cair ao chão em agonia.
Marjorie ficou arrasada, mas ele sorriu sombriamente, apesar de todo
seu corpo estar quase instantaneamente banhado em suores frios. Ele
sofreu todo o tempo, continuando a dançar e apenas quando a musica
finalmente terminou misericordiosamente e a dor começou a diminuir, é que
percebeu, para seu horror, de que tinha estado esmagando a mão dela. E ela
tinha permanecido em silêncio, o deixando fazer isso, o deixando quase
partir seus ossos frágeis.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Meu Deus, me perdoe, miladie, ficará com marcas. Eu lamento


tanto.
Ela sorriu para ele e esfregou uma mão com a outra.
― Por favor, não se preocupe. Não doeu muito. ― Ela levantou sua mão
e a flexionou à frente dele para provar que não estava magoada, mas tudo o
que ele viu foram as marcas vermelhas evidentes deixadas por seus dedos. ―
Por Deus, Mr. Norris, você parece como se acabasse de matar um gatinho.
Lhe asseguro que estou perfeitamente bem.
Ele assentiu, mas não acreditava nela. De repente, seu objetivo de
encontrar uma esposa pareceu inútil. Como podia cortejar uma garota se
não conseguia dançar nem uma dança com ela, se mal conseguia manter
uma conversa? Desejava que pudesse pôr de parte tudo isso e simplesmente
escolher alguém.
Ele sabia, claro, que isso nunca iria acontecer. Ele ainda era um tolo
romântico o bastante para querer amar sua esposa.
― Quem é a próxima na sua lista? ― Perguntou abruptamente, quase
zangado, apesar de não ter a certeza de onde vinha essa raiva.
Marjorie se afastou, como se a pergunta a surpreendesse, mas
respondeu imediatamente.
― Miss Mary Crandall. Seu pai, Sir Arthur, foi ordenado cavaleiro há
algum tempo. Foi um dos primeiros atos da rainha quando tomou a coroa.
― Conheço os Crandall. Seu filho foi para a escola conosco. Era mais
novo, mas era um jogador de cricket extraordinário. ― Ele parou
momentaneamente quando ela fez uma cara à sua referência ao cricket. Ele
a ignorou e continuou. ― Passou para a equipe principal em seu primeiro
ano em Cambridge. ― Tentou se lembrar do que sabia da família, já que não
via Jonathan Crandall há mais de quinze anos. ― Mas como não vou casar
com Jonathan Crandall, me fale sobre Mary.
― Ela é um pouco tímida, mas muito simpática. É uma patrona das
artes e está bastante envolvida com o Asilo de Londres para Pobres Meninas
Órfãs. Está aqui, se quiser que a apresente.
Sua perna lhe deu um puxão.
― Esta noite não. Não sou muito boa companhia e gostaria de estar no
meu melhor se estou prestes a conhecer minha futura esposa.
Ela olhou o salão e ele não pode evitar que seus olhos se desviassem
para a curva graciosa de seu pescoço; um caracol negro tinha caído justo
atrás de sua orelha e subitamente se imaginou o afastando para colocar
seus lábios lá.

77
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Ah, aí está ela, dançando com Lorde Maplewood.


Ele afastou seus olhos de seu cabelo e seguiu seu olhar.
― A garota com o vestido cinzento? Com o cabelo castanho pardo?
Marjorie bateu de forma brincalhona em seu braço.
― Ela é uma garota muito encantadora. ― Disse.
― Não. É muito pequena. ― Charles apontou para uma jovem garota
impressionante, seu cabelo louro arranjado artisticamente em sua cabeça
encantadora. Soube imediatamente que nunca a tinha visto antes. ― O que
sabe dela? ― Perguntou com um aceno da cabeça em direção da loura.
Marjorie franziu o cenho.
― Essa é Lady Caroline Stanley.
― A filha de Lorde Warwick?
― Sim. Suponho que os conhece?
― Meu pai é um bom amigo de Warwick. ― Ele sorriu. ― Descubra
mais sobre ela. Descubra se está comprometida com alguém. Diabos, eu
mesmo posso descobrir. Escreverei a minha mãe. Ela saberá.
― Mas ela é.… tão jovem e seu pai é um conde.
― Meu pai é um visconde. Porque continua se esquecendo disso?
Deixe que lhe diga uma coisa, Lady Marjorie, não há uma única mãe,
tirando uma exceção flagrante, que não ficaria encantada por ficar ligada ao
nome Norris e ao título Hartley. A linhagem de minha família é antiga e me
atrevo a dizer que existem poucos títulos tão respeitados quanto o de meu
pai. Suspeito que sua opinião tenha sido afetada pelo preconceito de sua
mãe. Ou talvez seja seu próprio preconceito que se está deixando ver. Lady
Caroline é perfeita para mim. ― Ele estava zangado e sabia que suava
zangado, tão zangado que nem se preocupou que ela parecesse magoada.
Marjorie sabia porque não tinha sugerido Lady Caroline. Era porque
ela era perfeita para Mr. Norris. Sentia puramente horrorizada por esta
realização.
― É claro que é. Apresentarei você amanhã à noite. Eles vão à ópera
nas noites de estreia de cada espetáculo e La Traviata vai começar amanhã.
Estarei lá, com certeza. ― Marjorie sentiu uma inexplicável vontade de
chorar.
Lembrava de considerar Lady Caroline, mas a tinha riscado
imediatamente de sua lista. Era porque seu pai era um conde, mas parte
dela sabia agora que também era porque sabia, no fundo de seu coração,
que Lady Caroline e Mr. Norris fariam um par maravilhoso. E seu trabalho

78
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

estaria feito. Não teria nenhuma razão para o encontrar em segredo,


nenhuma razão para deixar notas. Nenhuma razão para dançar com ele.
Nenhuma razão para o tocar.
― Esta é minha dança, acredito.
Marjorie olhou para cima para encontrar um jovem de rosta solene
olhando para ela, sua mão enluvada estendida. Quem era ele de novo? Ela
não possuía a mais pequena noção. Mas sorriu e colocou sua mão na dele
enquanto ele a conduzia à pista de dança.
O resto da noite se arrastou de forma interminável. Charles tinha
desaparecido, talvez tivesse ido para casa ou para o salão de jogos. Ela
dançou todas as suas danças com entusiasmo, notando que sua mãe estava
prestando pouca atenção a ela. Em vez disso, passou a maior parte da noite
atirando adagas pelos olhos a George, que praticamente não saiu do lado de
Lilianne Cavendish, sua vizinha em Ipswich. Seu pai era um fidalgo rural,
possuidor de uma boa posição, que tinha sempre sido um homem agradável.
George tinha dançado duas vezes com ela e Marjorie se perguntou se alguma
vez o tinha visto tão encantado.
Finalmente, era hora de partir. Os pés de Marjorie doíam quase tanto
quanto sua mão, ela pensou pesarosamente. Havia uma longa fila de
pessoas esperando por seus chapéus e casacos; sua mãe se manteve rígida e
silenciosa a seu lado, sem dúvida ainda um pouco irritada por sua rebelião
no início da noite. Algum tipo de comoção à frente delas estava atrasando o
seu avanço e Marjorie esticou o pescoço para ver o que estava acontecendo.
Quando percebeu o que era, ficou lívida. Algo tinha acontecido com George.
Se inclinando para sua mãe, Marjorie sussurrou:
― É George. Vou ver o que está acontecendo, pode ser?
A expressão de sua mãe ficou ainda mais empedernida.
― Vá em frente.
Marjorie se encaminhou para a frente da fila de pessoas esperando
seus chapéus e casacos para encontrar George extremamente agitado e
segurando um chapéu com uma mão trémula.
― Este não é meu chapéu, sir. Meu chapéu é de Beale & Inman. ― Ele
apontou para a etiqueta de seda dentro da cartola. ― Este chapéu é do
Tollings. Este não é o meu chapéu, sir.
O criado cercado continuava a se desculpar e tentando explicar que o
chapéu de George deveria ter sido entregue por engano a outro cavalheiro,
mas George não queria (ou não conseguia) para de protestar.
― Este não é o meu chapéu. ― Disse de novo.

79
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Enquanto Marjorie avançava, escutou um homem dizer baixinho.


― Acredito que já está estabelecido que esse não é o chapéu. Ele é
doido?
Marjorie sentiu seu rosto enrubescer enquanto o criado tentava retirar
o chapéu errado da mão de George, o que apenas criou mais ansiedade a seu
irmão. Nesse momento, uma figura masculina grande passou por ela e em
direção a seu irmão, que agora estava batendo seus dedos uns contra os
outros num bater de mau humor.
― Lorde Summerfield. ― Disse Mr. Norris. ― Onde compra seus
chapéus?
George ficou momentaneamente distraído e sorriu em reconhecimento,
primeiro a Marjorie e depois a Mr. Norris, que olhou para ela e lhe deu uma
piscada tranquilizadora. Que gesto encantador, aquela piscada.
― Beale & Inman. Mas aquele chapéu, ― disse George, apontando, ― é
do Tollings.
― Muito bem, certamente posso compreender sua preocupação. O
Tollings é bastante mais inferior ao Beale & Inman. Eu próprio compro meus
chapéus lá. Lhe proponho algo. Porque não vamos lá amanhã e lhe
compramos um novo chapéu, exatamente como o de esta noite? Lhe
emprestarei o meu, mas reparei que prefere cartolas mais altas e a minha
apenas tem quinze centímetros. A sua tem quase vinte, não é assim?
Seu primo Jeffrey se colocou ao lado dela, aparentemente atraído pela
pequena comoção.
― Seu irmão é tão encantador, não é? Devo ir amanhã ao Beale &
Inman e lhes contar sobre a grande lealdade que seu irmão tem por seus
chapéus.
Marjorie ignorou as palavras de seu primo e em vez disso observou
com alívio como Charles controlava a situação.
― Dezanove e sessenta e nove. ― Disse George, relaxando visivelmente.
Era como se o incidente embaraçoso nunca tivesse acontecido. Mr. Norris
tinha afastado George para que os outros pudessem recolher seus chapéus e
casacos e os sussurros impacientes tinha terminado.
― Amanhã é terça-feira. Posso me encontrar com você lá às duas da
tarde.
― Às duas, então. ― Então Mr. Norris olhou para ela brevemente e
acrescentou. ― Talvez sua irmã nos possa acompanhar.
― Ela não pode. ― Disse Dorothea num tom tão frio que Marjorie
quase esperava que gelo saísse de seus lábios.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Mr. Norris fez uma reverência educada a sua mãe e se virou para
George.
― O verei amanhã, então, Summerfield. Talvez depois possamos ir ao
Brooks.
Dorothea pegou no braço de Marjorie com alguma força e a empurrou
até seus xailes, que foram rapidamente devolvidos. Marjorie não se atreveu a
olhar para trás para dar a Mr. Norris um sorriso de agradecimento.
A viagem para casa na carruagem foi silenciosa e cheia de tensão.
Dorothea estava lívida, Marjorie podia perceber e sentava rigidamente em
frente a ela. Era raro, sem dúvida, que sua mãe expressasse raiva por ela.
Estava muitas vezes desapontada, mas raramente zangada e Marjorie sentiu
um pouco mais de ansiedade do que o normal. Ainda assim, não tinha
paciência para sua mãe essa noite e estava se sentindo inexplicavelmente
deprimida sobre toda a noite. E sua mão doía terrivelmente. Tinha mentido a
Mr. Norris sobre quanto tinha doído quando tinha apertado sua mão, mas
agora desejava que tivesse sido mais honesta. Tinha visto muito pouco dele
no baile depois de sua discussão sobre Lady Caroline e toda a conversa a
tinha deixado baralhada. Pior, antes de sair do salão de baile, ele olhou para
Lady Caroline como se estivesse deixado seu desejo para a noite.
Quando entraram em sua casa da cidade, Dorothea estourou.
― Quero falar com você na sala de estar.
― Estou cansada, mamãe. Vou para a cama. ― Marjorie estava farta
dos sermões de sua mãe de como ela devia ou não devia agir. Com quem
devia dançar ou flertar ou considerar como marido.
Tudo o que queria era se enrolar em sua cama e dormir, talvez por
uma semana ou duas para que pudesse escapar de ver Mr. Norris se
apaixonar. Tinha começado a se afastar de sua mãe quando o lado de seu
rosto explodiu com uma dor abrasadora e um estalido alto de carne batendo
em carne ressonou em seus ouvidos zumbindo.
A mão de Marjorie foi para sua bochecha quente enquanto olhada,
pasma, para o rosto enraivecido de sua mãe.
― Não vai voltar a me desobedecer. ― Ela cuspiu. ― Investi muito em
você para que você despreze tudo pelo que trabalhei. Vai casar e vai casar
este ano. Vou escolher seu marido e você vai casar. E nunca mais voltará a
falar com Mr. Norris. Quero ver o que acontece se resolver se casar com
alguém que eu não aprove. Nunca mais será recebida nesta casa. A
deserdarei completamente. É quão séria estou sobre isto. É isso o que quer
Marjorie? Está tentando partir meu coração com sua teimosia? Sacrifiquei
muito durante estes anos por você. Gastei dinheiro que não temos nos
vestidos do Worth e bailes e entretenimentos caros, tudo com o propósito de
lhe encontrar o melhor marido possível. E é este o agradecimento que
81
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

recebo. Me atirar isso à casa, fazer pouco de mim em frente de meus amigos
mais próximos e mais queridos. Sabe os comentários que tive que suportar
esta noite por causa de sua tolice? Não se preocupa com nossa reputação?
Nunca mais dançará com aquele homem. Será uma filha boa e obediente
como tem sido até esta noite. Fará estas coisas porque é uma boa filha. Me
fiz entender?
Com a mão ainda esta pressionada a seu rosto, os olhos de Marjorie se
encheram de lágrimas. Sua mãe, por mais severa e resoluta que fosse,
nunca lhe tinha batido.
― Me responda! Me fiz entender?
― Sim, mãe.
― Isto já durou demasiado tempo. Culpo a mim mesma por minha
indulgência com você. Se tornou voluntariosa e desobediente. Lhe permiti
que tomasse suas próprias decisões, mas isso acabou. Vou decidir com
quem casará. Desistiu de seus direitos nessa matéria esta noite ao me
desobedecer tão abertamente e dançar com aquele homem.
Terror encheu Marjorie enquanto compreendia o que isso iria significar
ela se casar, estar fora de sua casa, estar longe de George, que precisava
tanto dela. Sua mente começando a funcionar e sentindo sua vontade se
dissolvendo, abanou a cabeça. Ela poderia ter rido da expressão de sua mãe
se não estivesse tão aterrorizada.
― Não sou uma criança, mamãe. Não me pode forçar a fazer a sua
vontade. Compreendo sua raiva, de verdade que sim, mas não me pode
forçar a casar com um homem que não quero.
Sua mãe lhe deu seu sorriso mais terrível nesse momento, um que
gelava Marjorie e era mais assustador do que a ameaça de lhe bater.
― Vamos ver quanto a isso, minha querida. Boa noite.
Sua mãe marchou pelas escadas, deixando Marjorie sozinha para se
questionar que tipo de plano estava por detrás daquela ameaça.

82
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 6

Quarenta anos antes

Era dia dez de junho. Em apenas mais cinco dias, Dorothea estaria em
um coche em direção a Ipswich e a uma vida de isolamento com sua tia
viúva Frances. Cada dia que passava a tornava mais desesperada por
encontrar alguma razão para adiar a viagem. Até começou a rezar para que
ficasse desesperadamente doente e fosse incapaz de viajar. Talvez Lorde
Smythe escutasse sobre sua doença e a fosse visitar, percebendo o quanto a
amava e lhe rogasse que casasse com ele.
Ela sabia que tais fantasias eram ridículas, mas não conseguia parar
sua mente de criar cenários em que ele se ajoelhava e lhe pedia em
casamento.
Ascot deve ser perfeito. Ela deve estar no seu melhor. Deve usar seu
vestido mais apelativo, o chapéu mais encantador, especialmente no
primeiro dia, quando a procissão real chegasse. Deve se destacar. Deve fazer
com que Lorde Smythe olhe para ela com novos olhos. Não era uma amiga.
Não, ela podia ser uma esposa, carregar seus filhos. Nunca tendo sido uma
garota magra, tentou desesperadamente perder peso e conseguiu um pouco.
Mesmo sua criada tinha comentado que seus vestidos estavam um pouco
folgados. Era um pequeno triunfo.
Sua criada tinha tentado uma variedade de penteados e finalmente se
decidiu por um que seria mais adulador debaixo de um chapéu. Dorothea
praticou seus sorrisos, suas gargalhadas. Pretendia conversar com ele de
maneira a que não ficasse tão nervosa quando finalmente o visse. Ele olharia
para ela, abismado e perceberia que ela era mais do que atraente. Ela era
bonita e ainda bastante jovem. E ela tinha um cérebro e gostava das
mesmas coisas que ele. Ela estudou sua cópia de Revue Horticulture para
que tivessem um tema de conversa. Leu cada artigo do Spectator sobre a
corrida que estava agendada, os cavalos que competiriam. Tudo o que fez,
tudo o que leu, todo o pensamento que teve nas duas semanas antes de
Ascot estava focado em atrair Lorde Smythe.
A única coisa que faltava fazer era comprar um chapéu para a
primeira corrida. Tinha sido uma falha terrível não ter já encomendado um.

83
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Tinha apenas quatro dias, afinal, até as corridas. Mas sua chapeleira, Mrs.
Gibson, a receberia. Dorothea era a sua melhor cliente, afinal de contas.
Sua loja estava localizada na saída de Regent Street num pequeno
edifício de tijolos encantador. Caminhou com seu estômago nervoso e o viu.
Chegou realmente a arfar e apertou a mão de sua criada.
― Tillie, é aquele. ― Ela disse.
Mrs. Gibson, uma mulher de meia-idade com cabelo loiro começando a
ficar cinzento, sorriu quando Dorothea entrou.
― É minha criação favorita deste ano, acho. ― Disse, caminhando para
onde estava o chapéu no balcão. ― Mas temo que é para outra dama.
Era grande e alto, com grandes laços azuis de cada lado e flores o
adornando, como se nascessem da grande aba. Dorothea tinha que o ter.
― Estou vendo. Posso mesmo assim experimentá-lo? Talvez você possa
fazer algo semelhante.
Mrs. Gibson hesitou, mas, sem dúvida recordando quanto dinheiro
Dorothea tinha gasto ao longo dos anos, aquiesceu. Dorothea pegou no
chapéu carinhosamente, caminhou até o espelho e colocou o chapéu em sua
cabeça. Atrás dela, Tillie ofegou.
― Oh, miladie, é lindo.
E era. Havia algo sobre esse chapéu, a cor das flores, a grande aba e a
alta grinalda que, tudo combinado, de certa forma transformou seu rosto.
Nunca em sua vida se tinha sentido tão bonita.
― Vou levá-lo. ― Disse.
Mrs. Gibson tinha vindo para trás dela, parecendo um pouco doente.
― Lamento, miladie, mas este chapéu foi desenhado ― E pago. ― Por
outra dama. Talvez um diferente…
Dorothea abanou a cabeça.
― Não. É este, ou uma réplica exata. Deve fazê-lo Mrs. Gibson. Com
certeza duplicou chapéus no passado.
Parecendo dividida, Mrs. Gibson disse:
― Sim, mas este é tão especial e desenhado pela própria jovem…
Claro, vou fazer para você. Fica encantadora com ele, miladie. É, de longe, o
mais encantadora que alguma vez a vi.
Dorothea olhou de novo para o espelho e sorriu. Este chapéu, junto
com seu vestido novo, fariam uma grande diferença. Quais eram as chances

84
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

de que a outra dama fosse convidada a entrar na Royal Enclousure no


Ascot?
No caminho para casa, Dorothea foi assaltada por uma dúvida
familiar. Se voltou para Tillie.
― Me diria se fosse absurdo, não diria? É um chapéu bastante grande
e único.
― Mas isso é o que o distingue, miladie. E fica tão bonita com ele. De
verdade.
Alívio a percorreu.
― Obrigada, Tillie. ― A peça final estava em seu lugar.

85
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 7

A manhã depois do baile dos Fielding, Marjorie olhou para o espelho,


examinando o lado esquerdo de sua face, que ainda estava vermelha e um
pouco inchada. Rogou para que não ficasse com uma pisadura. Ainda não
podia acreditar que sua mãe lhe tinha batido com tanta força. Agora tinha
uma mão dolorida e um rosto dolorido. Sorriu sombriamente para seu
reflexo, notando que seu sorriso estava um pouco torto nesse momento.
Maravilhoso.

Apesar de querer ficar em seus quartos o dia todo e se esconder,


Marjorie se forçou a descer as escadas para o café da manhã. Estava com
fome e se recusava a passar fome por medo de outro confronto com sua mãe.
Quando chegou à sala luminosa, sua mãe estava lá e o estômago de Marjorie
se apertou.

Sua mãe olhou para cima e a cumprimentou calorosamente, como se a


noite anterior nunca tivesse acontecido, como se seu rosto não estivesse
ligeiramente vermelho e inchado.

― Bom dia, querida. O peixe está especialmente bom hoje. ― Depois se


voltou para o criado que estava silenciosamente junto à porta e disse: ― Pode
ir.

Marjorie deu a sua mãe um olhar cauteloso. Nunca antes tinha pedido
a um criado que saísse.

Caminhou para o aparador e encheu seu prato com um scone, ovos e


salsicha, apesar de ter perdido qualquer apetite que tinha tido. Sentou em
frente de sua mãe, que, como de costume, esteva apreciando um café da
manhã rico.

― Tenho algo para você ler. ― Disse Dorothea docemente. ― Acho que
vai achar esclarecedor. ― Sua mãe lhe entregou várias folhas de pergaminho
grosso cheio de um manuscrito escrito nelas. A Marjorie parecia um
documento legal e ela o pegou de sua mãe com alguma ansiedade.

86
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Sem tocar na comida em seu preto, Marjorie começou a ler as


palavras, de início, confusa sobre o que o documento era. Depois, começou a
perceber e sua respiração ficou fraca.

― Oh, mãe, não pode. ― Ela disse, colocando de lado as páginas


ofensivas.

Sua mãe lhe deu aquele horrível sorriso.

― Tenho sido paciente com você, querida. Deixei recusar muitos


pretendentes. Bons homens, muitos deles, que você afastou sem bons
motivos. É seu dever casar bem, Marjorie. É a única coisa nesta vida que lhe
pedirei, que se case. E agora você o fará. Pois se não o fizer, seu irmão vai
sofrer as consequências.

A completa perceção do que sua mãe planeava deixou Marjorie doente


e a encheu de um sentimento de desamparo que nunca pensou vir a sentir.
Isto não era um ato espontâneo. O documento deveria ter demorado
semanas a ser preparado.

― Mamãe, se me ama, de todo…

Dorothea levantou uma mão, a parando.

― Isto tem tudo a ver com amor. Pensa que iria a tais extremos por
uma criança que não amo?

Lágrimas quentes encheram os olhos de Marjorie.

― E quanto a George, mãe? Não o ama nem um pouco?

― É claro que o amo. É meu filho. Mas isso não me torna cega a seus
defeitos. ― Disse calmamente. ― Mas você, querida, você é a joia da família.
No dia em que nasceu, soube que era especial. Tenho perfeita consciência de
que não sou uma beleza. Mesmo em minha juventude não era. E Deus sabe
que seu pai era um homem incomumente feio. ― Ela pressionou seus lábios
como se tivesse provado algo desagradável. ― Mas você é um milagre. Soube
nessa altura e ainda acredito nisso agora. Você pode casar com um Príncipe
se assim o decidir.

Marjorie apenas podia olhar para sua comida, agora fria em seu prato.
Sua garganta doía pelas lágrimas por derramar.

― Olhe para mim, Marjorie. ― Disse Dorothea apaixonadamente.


Marjorie se forçou a olhar para sua mãe. ― Deveria ser a dona de seu próprio
lar agora. Deveria ter gerado um herdeiro. Não é demasiado tarde. Ainda é
jovem o bastante. Ainda é bonita. Lorde Shannock está interessado e ele é
agora minha primeira escolha. Suas propriedades fazem fronteira com as
nossas e ele mencionou você em mais de uma ocasião ao longo dos anos.
87
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Lorde Shannock era um homem em seus cinquenta anos, que já tinha


sobrevivido a duas esposas. Parecia um ancião a Marjorie, pois apesar de
não ser terrivelmente velho em idade, era magro e encurvado, com um
pedaço de cabelo cinza e oleoso. E seu hálito sempre cheirava a cebolas.

― Está disposta a ver o título ser suspenso para me forçar a casar com
o homem mais rico que conhecemos? Se acha que ele é tão bom homem,
case você com ele.

O sorriso de Dorothea vacilou.

― O título irá para seu primo Jeffrey. E Lorde Shannock quer filhos,
algo que eu não lhe posso dar. Mas a você pode.

Marjorie sentiu a bile subir por sua garganta com o pensamento de


Lorde Shannock a tocando.

― Eu casarei, mas não vou casar com Lorde Shannock. Não vou, mãe.
Estamos em mil oitocentos e setenta e quatro. Não me pode forçar a casar
contra minha vontade.

Dorothea sorriu.

― Claro que não posso. Mas posso retirar o título de seu irmão se me
desobedecer neste aspeto.

― Isso não é possível. ― Mesmo quando dizia essas palavras, se


perguntou se seria verdade. Não sabia nada da legalidade do documento que
agarrava. Nunca tinha escutado de alguém perder o seu título, mas isso não
significava que não tenha sido ou não pudesse ser feito. ― Além disso,
Jeffrey é um sapo.

Sua mãe bateu a mão contra a mesa, fazendo as chávenas dançar em


seus pires.

― Ele tem todas as suas faculdades e isso é suficiente para mim. ―


Dorothea tomou outro folego estimulante. ― Agora, minha querida, aproveite
seu café da manhã. Acredito que devemos fazer algumas compras antes da
ópera de hoje à noite.

Isto não podia estar acontecendo. Não podia. Sua mente rodopiou,
tentando pensar em uma saída, mas não encontrou nada. Nunca se tinha
sentido tão sozinha em sua vida, tão indefesa. Quem a podia ajudar? Talvez
Mr. Norris soubesse o que fazer. Talvez lhe pudesse dar algum conselho
sábio. Certamente ele a ajudaria se ela lhe perguntasse. Eram amigos, afinal
de contas.

Levantou sua cabeça e deu a sua mãe seu sorriso vencedor.

88
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Planeio ir esta tarde à Christy Collection, se estiver bem para você.

Sua mãe pressionou seus lábios em desagrado, sem dúvida sabendo


que era o dia em que George sempre ia à exibição.

― Certamente. Esteja em casa às seis para que tenha tempo de


descansar e se preparar.

Marjorie se levantou, seu café da manhã intocado e se preparou para


deixar a sala.

― E Marjorie. ― Disse Dorothea. ― George não precisa de saber nada


dista conversa. Não quero que fique alterado. Sabe como ele pode ser.

89
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 8

George estava com um humor invulgarmente alegre enquanto se


dirigiam nessa tarde para Victoria Street. Tinha passado o dia com Mr.
Norris e estava cheio de novidades sobre suas aventuras. Era óbvio para
Marjorie que George tinha colocado Mr. Norris na categoria de herói. Era
bom ver seu irmão fazer um amigo.

― Este é um belo chapéu, não é? ― Perguntou George pela terceira vez.


― É mais pequeno que o outro. Não tinha certeza se iria gostar de seu
aspecto, mas Charles disse que ficava elegante e acho isso também. O outro
chapéu era muito alto, não era Marjorie?

― Acho que você fica bem com ambos, mas este é um pouco mais
moderno.

― Sim, de fato. Mais moderno. E elegante, acho. Reparei que muitos


homens no clube de Charles tinham chapéus iguais. ― Ele franziu o cenho.
― Espero que ninguém confunda meu chapéu com o deles de novo e o leve.
Suponho que se isso acontecer posso comprar outro chapéu, igual a este. ―
Disse, batendo levemente no precioso chapéu, que estava a seu lado no
banco da carruagem. ― Acha que Miss Cavendish vai gostar?

― Está interessado nela, George?

Seu rubor o denunciou antes que suas palavras o fizesse.

― Acho que ela é muito bonita e é incrivelmente inteligente. Ela sabe


quase tanto de história quanto eu.

― Meu Deus, uma sabichona.

George assentiu.

― Ela é incrivelmente inteligente. E bonita.

― Então, devia cortejá-la.

A expressão em seu rosto disse a Marjorie que tal pensamento já lhe


tinha ocorrido, mas ele abanou a cabeça.

― Acho que não.

90
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Miss Cavendish é muito simpática. Não é nada como Miss Jones,


George.

― Acho que não podia suportar se ela fosse. ― Disse suavemente. ―


Miss Jones me disse que nunca casaria com um idiota. Não sou um idiota.
Sou mais inteligente do que ela de longe.

Marjorie se inclinou e apertou o joelho dele.

― Você é amável e inteligente e qualquer garota seria sortuda por ter


você.

― Miss Cavendish não é como Miss Jones. Vou pensar nisso. Ela é
muito bonita.

― Ela parece gostar de você.

George abaixou a cabeça e sorriu.

― Talvez pergunte a seu pai se a posso cortejar.

O coração de Marjorie sofria por George e ela rogou que o pai de


Lilianne Cavendish fosse tão bondoso quanto sua filha. Tinha visto tanta
crueldade contra George ao longo dos anos. Se ela tivesse nascido homem,
teria estado em pelo menos uma dúzia de lutas para o defender. Demorava
um pouco uma pessoa se acostumar a George e qualquer mulher com quem
ele ficasse teria que lidar com seus hábitos, seus temperamentos. Mas essa
mulher também teria ficado com um marido carinhoso que seria
anormalmente devoto. Apesar de conhecerem os Cavendish há anos,
Marjorie nunca se tinha percebido muito de Lilianne. Ela parecia
extremamente tímida e era um pouco simples. No baile dos Fielding, quando
estava falando com George, a garota parecia se iluminar e ficava
encantadora. Quanto mais Marjorie pensava nisso, mais gostava da ideia. Se
George casasse. Não teria que se preocupar por ele. Não teria….

Não teria que permanecer uma solteirona. Poderia casar sem


preocupações. George não precisaria mais dela. Olhou para seu irmão,
vendo o homem em que se tinha tornado, não o atrapalhado menino que
mantinha em seu coração. Apesar de ser apenas dois anos mais novo,
sempre tinha pensado nele como um menino que precisava de cuidados.
Mas ele era um homem pensando em casamento. Marjorie estendeu a mão e
apertou a de seu irmão.

― Estou muito orgulhosa de você, George. E aprovo


incondicionalmente Lilianne. Ela fará uma ótima condessa. E pense só, ela
seria a dona da casa, não mamãe.

91
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Marjorie sorriu à medida que a ideia criava raízes na mente de seu


irmão.

― Quer dizer que mamãe não iria viver com a gente?

― Ela vai ter sua própria casa, acho. Talvez The Glen seja um lar
apropriado para ela. ― The Glen era uma casa adorável em Exeter, uma que
tinham visitado poucas vezes, mas que era muito encantadora. E bem longe
de Londre e Ipswich.

― Você também iria viver em The Glen?

Sim, percebeu Marjorie, ela iria. Droga. Não queria viver em Exeter,
mas em que outro lugar poderia viver uma filha solteirona do que com sua
mãe? Talvez sua avó gostasse de alguma companhia?

― Podia viver com vovó Penwhistle. Mamãe a detesta e nunca iria


visitar. ― Disse Marjorie, rindo.

Sentia um pouco de culpa com o pensamento, mas Dorothea não era


sua pessoa preferida nesse momento. Durante anos, tinha sido uma filha
dedicada, obedecendo sua mãe sem questionar. E Dorothea tinha sido uma
mãe indulgente, uma que, se Marjorie fosse completamente honesta, tinha
sido demasiado tolerante com as opiniões de sua filha. Em tempos tinham
sido as melhores amigas, rindo e apreciando a temporada social, partilhando
piadas e segredos.

Mas em alguma parte do caminho, sua mãe tinha perdido sua


tolerância com os caprichos de Marjorie. Talvez outras mães que tinham
casado suas filhas tenham feito comentários. Talvez a ideia de que sua filha
pode terminar uma solteirona se estivesse tornando real em sua mente. Ou
talvez Marjorie simplesmente estivesse farta de constantemente tentar
agradar a todos menos a ela.

Não sabia o que tinha levado a que as duas estivesse em conflito.


Marjorie já não conseguia reconhecer a mulher que lhe tinha batido, a
mulher que tinha contratado um advogado para retirar o título de George.
Durante seis temporadas as duas tinham se divertido tanto. Seis anos. Não
era de admirar que sua mãe estivesse perdendo a paciência!

Se George realmente casasse, Marjorie teria que tomar uma decisão.


Casar ou continuar solteira. A ideia de não casar agora parecia difícil de
contemplar. O que ela faria, passar de parente a parente, lentamente se
tornando o que era alvo de compaixão dentro da sociedade. ― Uma velha
solteirona? Terminaria seus dias sozinha, sem filhos, sem netos, apenas
sobrinhos e sobrinhas dedicados que visitariam uma vez por ano?

92
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Meu Deus, se George pôde encontrar uma garota para amar,


certamente que ela podia encontrar um marido.

― Podia viver com a gente. ― Disse George, suas sobrancelhas


vincadas em preocupação. Oh, bendito fosse.

― Não George. Acho que esta temporada, se você tiver sucesso com
Lilianne, devo encontrar um marido. Está na hora.

Mr. Norris estava esperando na porta quando eles chegaram,


parecendo impaciente, a energia parecia emanar dele como uma corrente
elétrica. Entraram juntos e passearam pela exibição por algum tempo,
George exclamando pelos artefatos que na verdade entediavam Marjorie.
Como podia ficar tão excitado com pedaços de pedra lascava ficava além de
sua compreensão.

As salas, com seus chãos de madeira que rangiam, estavam bem


iluminadas com candeeiros de gás. Muita pouca gente estava lá e a maior
parte do tempo os três ficavam sozinhos na sala.

― Suponho que a piada está em encontrar as coisas, não em olhar


para elas. ― Disse Marjorie, olhando com dúvida para a exibição cheia de
pedras que aparentemente tinham sido escavadas de uma caverna na
França. George lhe deu um olhar aborrecido e Marjorie franziu o nariz e
cruzou os olhos para ele.

― Que expressão encantadora. ― Disse Mr. Norris, rindo e então sua


expressão mudou e ele ficou quieto. ― George, estaremos na Sala Dois. ― Ele
a agarrou e a fez atravessar o corredor para a segunda sala, que, Marjorie
rapidamente determinou, estava vazia exceto pelas caixas de exibição ao
longo das paredes. Ele a conduziu a uma pequena alcova entre duas grandes
caixas, para que caso alguém entrasse, não os veriam imediatamente ali.

― O que aconteceu com você? ― Exigiu Mr. Norris, seus olhos presos
em sua bochecha. ― Quem bateu em você?

Marjorie se tinha esforçado antes de sair para a Christy Collection,


colocando pó em sua bochecha, que tinha escurecido para uma leve
pisadura ao longo do dia. Apenas o olhar mais perspicaz conseguiria ver algo
de errado e Marjorie tinha saído sentido confiança de que ninguém iria
reparar.

Se sentindo humilhada, ela rapidamente tentou encontrar uma


explicação para sua bochecha pisada.
93
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Eu bati na porta.

― Não. Quem bateu em você?

― Mr. Norris, não é de sua conta. De verdade.

― É por isso que me trouxe aqui? Está com algum problema?

Ela abanou a cabeça.

― Não. É um outro assunto inteiramente diferente.

― Gostaria de saber quem foi para que lhe possa ensinar o que é
receber uma surra.

Por amor de Deus, o homem não ia largar o assunto.

― Foi minha mãe. Ela ficou zangada com meu comportamento a noite
passada. Ela nunca me tinha batido antes e me atrevo a dizer que não vai
voltar a fazê-lo. Ela perdeu a compostura.

Essas palavras pareceram incomodar ainda mais Mr. Norris.

― Foi minha culpa. Eu a provoquei ao lhe pedir para dançar comigo.

Apesar de ser parcialmente verdade, Marjorie não queria que Mr.


Norris assumisse qualquer culpa pelo que tinha acontecido.

― Não teve nada a ver com nossa dança, mas tudo a ver comigo. Até
agora recusei casar e ela foi ficando cada vez mais frustrada comigo. Ela
congeminou um ultimato e é por isso que pedi para o ver aqui. Mas pelo
caminho recebi algumas notícias, por isso pode não passar de um ponto
irrelevante.

Mr. Norris baixou sua cabeça e procurou em seu rosto a verdade.

― Me conte de qualquer modo.

― A menos que me case com um homem que ela escolha, ela irá retirar
o título de George. ― Disse, sua garganta se fechando enquanto pronunciava
as últimas palavras. Lágrimas inesperadas estavam correndo por seu rosto e
ela se encontrou pressionada a um corpo quente e firme, grandes mãos
batendo em suas costas. Ele cheirava tão bem, ela pensou, mesmo quando
deixava escapar um soluço. ― Mas George pode vir a casar e se ele o fizer,
posso casar e ela me vai deixar em paz. Mas se George não casar, e isso não
é uma certeza de qualquer modo, temo que ela vai seguir em frente com sua
ameaça. ― Ela disse isto numa corrente de palavras.

― Você sabe que isso é impossível. ― Ele disse e mal pôde sentir a
profunda vibração de suas palavras contra seu rosto. Se afastando de seu
abraço, ela olhou para ele.
94
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― É? ― Perguntou com um pequeno soluço.

― Sim. Maldita mulher por colocar esse medo em você. ― Ele


murmurou. ― Os membros da nobreza podem ter seus títulos retirados
apenas por um ato do Parlamento. Tem existido casos de membros da
nobreza que eram mais loucos do que qualquer paciente de Bedham que
mantiveram seus títulos. Membros que cometeram assassinatos e roubaram
e mesmo assim mantiveram seus títulos. Simplesmente não pode ser feito.
Foi, minha querida garota, uma ameaça vazia.

Marjorie se encheu de alívio. Ela sabia que Mr. Norris podia ajudar.

― Ela tem um documento. Parecia bastante oficial.

― Não tenho dúvidas de que ela se deu a bastante trabalho para a


assustar, mulher infernal. Mas pense, miladie. Sua mãe é o tipo de mulher
que iria trazer esse tipo de escândalo e vergonha a sua família? Tal
procedimento não só iria refletir negativamente no título, mas em você
também. Você afirma que ela não quer mais do que a ver casada de forma
vantajosa. Tal registo seria ruina imediata de suas chances de ter um bom
casamento. ― Ele sorriu para ela e Marjorie ficou subitamente consciente de
como estavam sozinhos, quão perto ele estava. Como ele estava atraente na
luz suava do candeeiro de gás. Como ele era carinhoso. Seus olhos baixaram
brevemente para seus lábios firmes.

― Por outro lado, se ela fosse registar esse documento. ― Ele disse, se
inclinando um pouco mais perto com cada palavras. ― Você poderia casar
com quem quisesse.

Seus lábios estavam quase tocando os dela e ela se encontrou


subitamente com dificuldade em respirar.

― O quer está fazendo Mr. Norris?

― Acredito. ― Ele disse, pressionado o mais suave beijo contra sua


boca. ― Que estou beijando você.

― Oh.

E então sua boca já não era suava, mas exigente e quente. Ela agarrou
suas lapelas, tentando desesperadamente não dissolver como um monte no
chão. Algo estava acontecendo com ela, algo que nunca tinha sentido em sua
vida, certamente não a este nível surpreendente. Marjorie tinha
experimentado alguns beijos castos de seus pretendentes, mas isto não era
um beijo casto. Isto era fome e paixão e quase falta de controlo. Isto era todo
o desejo que se tinha acumulado, explodindo em um momento
dolorosamente doce.

95
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Ele grunhiu baixo, seu peito vibrando e aprofundando o beijo, sua


língua tocando seus lábios sensíveis.

― Abra para mim. ― Ele sussurrou e ela o fez, deixando sua língua
entrar, insaciável e insistente.

E mais maravilhoso do que qualquer coisa que tenha sentido em sua


vida. Não devia ser maravilhoso. Devia ser assustador e chocante e errado.
Mas quando Marjorie empurrou sua língua contra a dele e ele deixou
escapar outro grunhido selvagem, sentiu uma onda de calor e quase
desmaiou. Sua mão se moveu atrás de seu pescoço e ele a puxou para si,
inclinando sua cabeça para aprofundar o beijo. Era o instinto que a movia
agora, uma estranha insistência de que fizesse mais, sentisse mais. Ela
deixou escapar um pequeno som, de felicidade ou frustração, ela não tinha
certeza. Tudo o que sabia era que pela primeira vez em sua vida se sentiu
desejada.

Ele se afastou subitamente, se movendo para o centro da sala, seu


olhar quente nunca a deixando, seu peito se levantando com esforço.

― Seu irmão está vindo. ― Ele disse, sua voz rouca. ― Me devo
desculpar pelo que aconteceu?

Marjorie abanou sua cabeça, sua respiração ridiculamente fraca.


Tinha sido apenas um beijo breve. Ela podia ter continuado por horas. E,
contudo, ela tinha a sensação de que nunca seria o mesmo. Que não tinha
sido um beijo normal. Tinha sido o céu.

― Eu me devia desculpar. ― Ele protestou. ― Porque me arrependo do


que aconteceu com cada fibra de meu ser. Agora apenas quero. ― Droga,
miladie, eu não quero isto. ― Ele olhou para ela zangado e Marjorie não
sabia porquê. Tinha feito algo errado?

― Aí estão vocês. ― Disse George, sorrindo enquanto entrava na sala.


― Perderam as duas últimas exibições, sabem.

Charles continuou olhando para Marjorie como se estivesse muito,


muito zangado.

― Sua irmã e eu estávamos discutindo a ópera de hoje. Ela vai


apresentar a minha futura noiva. Sabia disso? E eu farei o meu melhor por
não me apaixonar até que Lady Caroline se perca de amores por mim. E
então nos casaremos. Esse é o plano.

O plano, pensou Marjorie desanimada. Tinha esquecido tudo sobre


isso.

96
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

George estava ignorante da tensão na sala e imediatamente foi para a


primeira caixa e sua exibição de facas de ossos e cabeças de arpões.

― Gostaria de me casar um dia. Não seria incrível se você também


casasse, Charles? E você também, Marjorie.

Marjorie olhou para Mr. Norris, não se importando em esconder sua


dor, que ele a beijasse e depois no seguinte suspiro falasse em casar com
outra pessoa.

― Sim, gostaria muito que isso acontecesse, George. Mamãe até já


escolheu um barão.

― Um mero barão? ― Mr. Norris disse pausadamente. ― Minhas


condolências.

Charles se afastou dela, de seus olhos tristes e magoados.

― Perdemos duas exibições? ― Meu Deus, ele ainda estava se


recuperando daquele beijo, dos sons que ela tinha feito. Sua reação ao beijo
inocente dela era simplesmente surpreendente. Se tinha sentido como um
menino de dezasseis anos experimentando sua primeira ânsia de louca
luxuria. Não podia acontecer de novo.

― Oh, sim. ― Disse George. ― Os artefatos da Rússia e de Portugal. E é


claro da Ásia. Esses são os mais fascinantes para mim, sabe. Machados de
pedra de Sumatra, sabe.

Charles sorriu com o entusiasmo de George, se espantando com o


modo como o homem ficava articulado quando falava de algo que amava.

― Fique aqui. Sua irmã e eu vamos voltar e ver essas exibições.

― Realmente, preferiria não ir. ― Sua voz tinha uma nota que ele
nunca tinha escutado antes nela.

― Por favor, miladie, apreciaria sua opinião.

Ela lhe deu uma olhar firme antes de assentir.

― Muito bem.

Assim que estavam de novo sozinhos, ele pegou sua mão e a


pressionou contra seu coração, se arrependendo pela resistência que sentiu,
um pequeno puxão lhe mostrando que a tinha magoado. Ela cedeu,
finalmente, espalhando seus dedos devagar, seus olhos fixos em sua mão.

― Temo que se a beijar de novo. ― Disse ― Estarei perdido.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Ela pareceu tão surpresa por suas palavras que Charles quase riu.

― Isto é culpa minha, eu sei. Eu a beijei. Você não fez nada errado.
Não tinha percebido como. ― Ele lhe deu um olhar ferido. Não tinha
percebido como um simples beijo poderia tornar tudo tão complicado. Ele se
apaixonava muito facilmente e aqui estava ele, se apaixonando de novo. Não
deveria acontecer.

― O que não tinha percebido? ― Ela perguntou suavemente.

― O quanto o desfrutaria, acho.

Ela deixou escapar uma risada.

― Beijar é agradável. Como não pode saber isso? Com certeza já beijou
outras mulheres.

― Sim, claro. ― Ele riu quando ela franziu o cenho. ― Mas todos esses
beijos não foram tão …

― Agradáveis? ― Ela perguntou, com uma adorável nota de esperança


em sua voz.

― Sim. Agradáveis. ― Disse, irritado por a achar tão encantadora. ―


Apesar de essa palavra parecer um pouco branda para meu gosto. ― Esta
última parte foi murmurada por beijo de sua respiração.

Marjorie afastou sua mão e ela deixou. Não faria nenhum bem a trazer
para seus braços como queria fazer. Não faria bem deixar sua mente
imaginar ela em sua cama, sorrindo sonolenta para ele de manhã. Ele tinha
que desviar sua mente para outras coisas, outras mulheres. Era ridículo ele
se apaixonar (de novo) por uma mulher que não podia ter.

O pior dessa situação é que ele gostava muito dela. Eles eram amigos
e ele estava balançando na borda do amor. Ele nunca tinha sido amigo de
uma mulher; era um pouco desnorteante. Tinha o horrível pressentimento
de que nunca tinha amado nenhuma dessas mulheres no passado, mas
estava atraído à ideia de estar casado, de ter o tipo de família com que tinha
crescido. Ele a queria tão desesperadamente, talvez simplesmente se tenha
convencido de que era amor. Não foi isso o que Marjorie tinha insinuado
quando ele primeiro propôs a ideia de ela lhe achar uma noiva? Ou talvez ele
apenas amasse o que, sabia bem no fundo, não poderia ter. Seu amigo John
tinha sugerido essa falha mais de uma vez. Que idiota ele era.

― Vamos ter você bem casado, sir, nem que seja a última coisa que
faça. ― Ela disse com um assentimento de autoridade. ― Tem sido uma
grande ajuda para mim, é o mínimo que posso fazer. Você perdoou a dívida
de George…
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Ainda não.

Ela o ignorou.

― … Me ajudou a compreender que minha mãe não pode retirar o


título de George. Dançou comigo quando não deveria.

― Como está sua mão?

Ela lhe deu um olhar acanhado.

― Estava um pouco dorida, mas está melhor agora. Sabe, estive


pensando um pouco sobre essas dores que tem. É porque os seus músculos
prendem ou é outra coisa?

― A maioria das vezes é uma contração, um músculo preso, como você


disse.

Ela bateu palmas.

― Bom. Bem, não bom. ― Ela emendou, obviamente vendo seu cenho
franzido. ― Eu acordo a meio da noite com terríveis cãibras nas pernas,
especialmente depois de uma noite de dança. Descobri que se flexionar os
meus dedos, posso parar a cãibra e a dor é muito breve. Cheguei ao ponto
em que consigo parar quase completamente todas as cãibras usando este
método simples. Me perguntei se você poderia fazer o mesmo, de algum jeito.

Bem, danação, justo quando estava tentando desesperadamente não a


amar, ela tinha que dizer algo tão doce, seu coração derreteu.

― Vou tentar isso. ― Disse bruscamente, apesar de pensar que não iria
fazer muita diferença. Obrigado. Devemos voltar para seu irmão. Ela sem
dúvida ficará afrontado conosco se não virmos todas as exposições.

Charles não era fã de ópera. Preferia a versão do trágico caso entre


Violetta e Alfredo de Alexandre Dumas. E francamente, é possível uma
mulher que estava morrendo de consumo realmente cantar tão bem como
Thérèse Tietjens? Tinha três atos interminavelmente longos à sua frente,
pensava enquanto entrava em Convent Garden.

― Você detesta ópera. Deve haver uma mulher envolvida.

Charles se voltou, contente por ver Lord Avonleigh e, a seu lado,


Katherine.

― Pensei que estaria de volta à selva por esta altura. ― Disse Charles,
se referindo à propriedade de Avonleigh em Northumberland.

99
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

―Ainda estaremos aqui mais uma semana antes de voltarmos. ― Disse


Katherine. ― Sinto falta do lugar e temos muito que fazer.

Charles deu um olhar inquiridor a seu velho amigo.

― Está tudo bem nessa frente então? ― Perguntou. Avonleigh tinha


estado em apertos financeiros desesperados até pouco tempo.

Graham sorriu para sua nova noiva.

― Afinal, parece que me casei bem.

Katherine olhou para seu marido com raiva fingida e lhe bateu no
braço.

― Ele casou comigo pensando que seriamos pobres.

― E te amava loucamente. Não se esqueça disso. ― Graham se voltou


para ele. ― E você? É uma mulher o que o trouxe à ópera?

Charles vislumbrou Lady Marjorie e não conseguiu pensar em


controlar sua expressão. Mesmo que tivesse tentado, duvidada de que teria
sucesso, pois ela estava deslumbrante nessa noite. Seu cabelo negro estava
arranjado para cima, permitindo que algumas pontas encaracoladas
acariciassem seu pescoço pálido e ombros. O vestido que usava era
magnifico, uma criação de ouro cintilante que abraçava sua figura antes de
cair em cascata numa série de camadas de renda intricada.

― Talvez.

Katherine seguiu seus olhos e sorriu.

― Lady Marjorie está encantadora esta noite.

Charles disse, como se não percebesse que estava olhando fixamente


para ela.

― Está? Não tinha reparado. ― Disse de forma evasiva. ― Na verdade


estou esperando ver outra. ― Lady Caroline, filha de Warwick.

― Oh? ― Disse Graham pausadamente. ― Pensava que ela ainda


estava na escola.

― Elas todas parecem assim, não parecem? Mas não, ela é uma idosa
de dezanove anos. ― Charles deixou escapar um forte suspiro. ― Ou são as
escolares e as viúvas. Lady Marjorie me está ajudando, veja. Tenho estado
fora por muito tempo, dificilmente conheço alguém agora. Ela é minha guia,
por assim dizer.

Katherine o olhou deliciada com as novidades.

100
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Ela está fazendo de casamenteira?

― Algo do genero. ― Murmurou Charles e, vendo o olhar travesso de


Graham, disse. ― E nem uma palavra de sua parte, seu idiota apaixonado.

Katherine agarrou o braço de Graham.

― Ele está apaixonado, não está?

― Completamente. ― Disse Graham, parecendo a todo o mundo como


se fosse beijar sua noiva bem no meio do vestíbulo do teatro.

Charles franziu o cenho para o par. Nenhum deles quis se casar e,


contudo, aqui estavam eles, olhando nos olhos um do outro como se fossem
as duas únicas pessoas do mundo. Charles tinha trabalhado duro ao longo
dos anos para encontrar este tipo de amor e aqui estava, o último do seu
grupo por casar.

― Talvez se deixar de procurar tão fervorosamente, você encontre o


amor. ― Disse Katherine, olhando para onde estava Lady Marjorie ao lado de
sua mãe megera.

Ele desejava ser o tipo de homem que bate em mulheres, pois se havia
mulher que precisava de apanhar, era Lady Summerfield. Apenas pensar na
mulher teimosa batendo em Marjorie com sua mão grande era o suficiente
para fazer esquecer sua educação.

― Pode parar seus esforços de casamenteira bem aí, Lady Avonleigh. ―


Disse Charles, sombrio. ― Lady Summerfield é uma força a temer e eu
acredito que ela mataria qualquer homem sem título que se atrevesse a
cortejar sua filha. Ou até a dançar com ela. Por alguma razão, ela tem uma
antipatia particular por mim.

Katherine riu, mas ambos sabiam que ele não estava exagerando
muito.

― Realmente desejava que fosse até elas, apenas para poder ver a
expressão de Lady Summerfield.

― Não quero assistir a um assassinato esta noite. ― Disse Graham.

― Mas eu? Estou sentindo aventureiro. ― Disse Charles, com um


brilho nos olhos. ― Além disso, Lady Caroline acabou de se juntar a seu
grupo e me foi prometida uma apresentação.

Charles se estava sentido um pouco imprudente, apesar de não saber


porquê. Se unir a seu grupo era, talvez, a pior coisa que podia fazer, mas
nesse momento ele não se importava. À medida que se aproximava, Lady

101
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Marjorie alargou os olhos e abanou a cabeça apenas um pouco, mas Charles


a ignorou.

― Lady Summerfield, está encantadora esta noite. ― Disse


exageradamente. Ela estava usando um vestido de um castanho acinzentado
sem graça, de cor e da forma de um carrinho de fazendeiro.

― Mr. Norris. ― No que tocava a cumprimentos, estava a um passo de


ser rude. Não olhou para ele e enrijeceu consideravelmente.

― Lady Marjorie. ― Ele tentou dizer o seu nome sem o modificar, sem
dar uma pista de sua intimidade. E então olhou para Lady Caroline, que
estava olhando para ele com curiosidade, claramente sem saber quem ele
era.

― Se fosse tão amável. ― Disse a Lady Summerfield. Sua boa


educação não permitia que o ignorasse completamente, por isso ela deixou
escapar um bufo e fez seu dever. ― Lady Caroline, por favor me permita que
lhe apresente Mr. Charles Norris.

― Na verdade já nos conhecemos. ― Disse Charles. ― Você tinha um


cão manchado que torturava ao obrigá-lo a carregar sua boneca.

Os olhos de Lady Caroline aumentaram.

― Oh, é claro. Seu pai é o Visconde Hartley. ― Ela abanou a cabeça. ―


Desculpe por não o reconhecer imediatamente.

― Estive fora do país nestes últimos dez anos e você era apenas uma
criança quando a vi da última vez.

Ela corou rapidamente, olhando para Marjorie antes de voltar a olhar


para ele.

― Meus pais e eu visitamos sua casa no verão passado. Como está


Laura?

― Está bem. ― Disse Charles sem dar muita informação, pois


suspeitava que sua irmã estava profundamente infeliz com seu casamento.

― Meu Deus, não a vejo há anos. Apesar de visitar muitas vezes seu
irmão e sua esposa. Adoro as crianças deles. O Christopher é um ótimo
pianista, mas tenho a certeza que já sabe disso.

― Ele me deu um concerto na última vez que visitei. ― Charles sentiu


algo dentro de si clicar em seu lugar.

Sim. Esta era a garota que deveria casar. Ela conhecia sua família, era
sem dúvida querida por sua mãe. Seus nomes começavam ambos com a
letra ‘C’; isso tinha que contar para algo. E seus filhos teriam seu adorável
102
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

cabelo loiro, apesar de ultimamente ele imaginar seus filhos com um cabelo
mais escuro. Perguntou se sua mãe alguma vez tinha sugerido Lady Caroline
como uma potencial esposa, mas talvez ela simplesmente tenha se esquecido
de a mencionar. Ou o fez e ele não tinha escutado.

Nesse momento, Lady Warwick veio para seu pequeno grupo e


Caroline fez as apresentações. Ao longo da feliz reunião, Lady Summerfield
ficou que nem uma estátua, seu queixo firme, seus olhos como aço frio.
Marjorie, por outro lado, tinha o sorriso mais estranho cimentado em seus
lábios, como ase estivesse firme em algum tipo de gesso que não permitia
que parasse de sorrir.

Marjorie achava que usar um sorriso constantemente permitia que


ninguém notasse que seu coração estava se partindo lentamente. Era um
pensamento muito tolo, mas um que ela não conseguia parar de ter. Lady
Caroline era perfeita para Mr. Norris. Eles praticamente já se conheciam
bem e faziam um casal impressionante com seus cabelos loiros. Caroline
claramente não era uma dama tímida e não parecia se encolher perante a
gargalhada de Mr. Norris. Eles estavam conversando sobre experiências
partilhadas, pessoas que ela não conhecia, lugares em que nunca esteve.
Como velhos amigos que estavam encantados por se terem reencontrado ao
fim de muitos anos.

Com a adição de Lady Warwick ao grupo, as recordações apenas


aumentaram em intimidade, excluindo Marjorie ainda mais, que se
encontrou lentamente se afastando, procurando outros conhecidos com
quem falar. Quando ela viu sua amiga Katherine, por puco suspirou
abertamente de alívio.

―Mamãe, vou falar com Lorde e Lady Avonleigh. Gostaria de se juntar


a mim?

― Se nos desculparem? ― Disse Dorothea, mas o casal dificilmente


prestou atenção enquanto elas deixavam o grupo animado. Charles não
olhou uma única vez em sua direção. Estava tão empenhado em olhar, com
um sorriso estúpido e tonto, para Lady Caroline, que tinha um sorriso
igualmente estúpido e tonto.

― Essa seria uma boa união. ― Disse Dorothea quando estavam longe
do grupo. Marjorie apenas conseguia olhar para sua mãe com descrença.
Dado seus preconceitos, como podia pensar que Lady Caroline, a filha de um
conde, poderia possivelmente ter uma boa união com um segundo filho sem
título?

103
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Dorothea deu a Marjorie um olhar afiado, percebendo imediatamente


suas palavras não ditas.

― Ela é a quarta filha. Você é minha única filha.

Quando chegaram perto de Lorde e Lady Avonleigh, a mãe de Marjorie


mudou completamente. Era de fato impressionante observar. Ela podia ser
encantadora quando se esforçava para o ser.

― Vejo que continua sorrindo para sua noiva, Avon. ― Disse, com uma
pequena gargalhada.

― Sim, madame. Não tenho sido capaz de parar por semanas.

― Raramente consigo vislumbrar essa lenda agora. ― Disse Katherine.


De alguma forma, a carranca lendária de Lorde Avonleigh tinha produzido
uma estória afirmando que ele casaria com a primeira mulher para quem
sorrisse. ― Uma estória que muitos estavam esquecendo rapidamente agora.

― Eu sabia que tinha razão sobre vocês os dois. Eu disse, não disse,
Marjorie? Disse que eles pertenciam um ao outro no momento em que vi
aquele primeiro sorriso.

Atrás dela, Marjorie podia escutar a gargalhada exuberante de Mr.


Norris e parecia que tinha pequenas agulhas na base de seu crânio. Depois
escutou o riso manso de Lady Caroline e grossos fragmentos de inveja
substituíram essas agulhas. Na realidade, Caroline tinha uma gargalhada
musical, mas para os ouvidos esquentados de Marjorie, era pura tortura ter
que a escutar. Certamente que ela tinha uma falha. Ela tinha que ter.

Contudo, Marjorie estavam certa de que sua única falha era que ela
estava disponível para casar com quem quisesse. ― Dentro do razoável, é
claro. Ela olhou de volta para o grupo, esperando ver preocupação e
ansiedade no olhar de Lady Warwick, mas tudo o que viu foi o prazer de uma
mãe observando sua filha a encontrar um potencial marido.

Droga.

O candeeiro de gás diminuiu por um momento, indicando que era


altura de encontrar seus assentos e Marjorie observou, deprimida, como Mr.
Norris era convidado para o camarote do Warwicks.

― Gostariam de se juntar a nós? ― Dorothea perguntou a Lorde e Lady


Avonleigh.

― É claro. ― Disse Katherine, envolvendo seu braço no de Marjorie. ―


Temos muito que colocar em dia.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

A ópera começou e ela teve que usar de todas as suas forças para não
olhar para o camarote dos Warwick, que estava a três camarotes do deles. Se
ela quisesse, podia ver o perfil encantador de Lady Caroline e observar
enquanto Charles olhava. ― Uma e outra vez. ― Para a garota sentada a seu
lado. Sem dúvida já estava meio apaixonado por ela. Marjorie tentou não
olhar para o casal e usando de pura determinação apenas lhes deus duas
breves olhadelas. Talvez três.

― Está apaixonada por ele? ― Sussurrou Katherine em seu ouvido


depois de Marjorie ter muito casualmente olhado na direção do camarote de
Warwick.

Ela sentiu sua face enrubescer e afastou sua cabeça quase


violentamente.

― Shhh. ― Silvou e olhou para sua mãe, que estava sentada bem em
frente a elas.

― Está? ― Katherine sempre tinha sido do tipo persistente e não era


capaz de seguir as regras rígidas da sociedade inglesa, o que era de se
esperar visto ser americana.

― É claro que não. ― Disse Marjorie.

Silêncio invadiu por algum tempo enquanto a famosa soprano


representava sua aria encantadora.

― Então porque continua olhando para ele e porque olha para ele
como se o quisesse matar neste momento?

Marjorie virou sua cabeça e olhou para sua amiga, que encolheu os
ombros de forma inocente.

― Porque ele me está chantageando. ― Ela sussurrou, bastante


orgulhosa de si por se lembrar de algo que era tanto verdade como mentira.
Não era por isso que ela estava olhando para ele, mas ele a estava
chantageando. Ou talvez fosse extorsão. Mas chantagem soava mais covarde.

À medida que a orquestra tocava um tema de transição, Marjorie


rapidamente explicou a ela as fracas capacidades nas cartas de seu irmão
que conduziram a todos os seus problemas. E disse que estava mais do que
satisfeita por Mr. Norris parecer ter encontrado uma potencial noiva para
que ela pudesse terminar com essa farsa, as de seu irmão seriam esquecidas
e ela poderia seguir com sua vida. Ao longo de todo o monólogo sussurrado,
sua mãe apenas se voltou para lhe lançar um olhar aborrecido por estar
falando.
105
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Katherine assentiu, à medida que ia compreendendo. Então, se


aproximou uma vez mais e sussurrou.

― Mentirosa.

Três dias depois, Marjorie passeava pelo jardim, que estava a abraçar
completamente a primavera. Pequenos botões de rosa tinham aparecido e as
azálias tinham florescido completamente. Nem mesmo as cores vibrantes
conseguiam melhorar seu humor. Sua mãe tinha escrito a Lorde Shannock e
lhe pedira que fosse a Londres para uma “visita”. Marjorie não conseguia
juntar forças para discutir, porque sabia que não ia adiantar. Dorothea ia
convidar o homem, ele viria e sua mãe começaria seu ataque.

Marjorie supunha que ele não seria uma escolha assim tão má de
marido. Ele parecia agradável o bastante. Não parecia ter um temperamento
horrível ou mau humor. Ela mal conseguia se lembrar de ele sequer falar.
Mas como poderia ela aguentar um homem que a fazia querer vomitar cada
vez que se aproximasse o bastante para ela cheirar seu hálito? E ele tinha
unhas muito longa e muitas vezes sujas. Ele podia pedir que ela as cortasse.
E as limpasse.

― Oh, Deus. ― Disse, se sentindo enjoada.

Pelo menos Mr. Norris seria feliz. Talvez eles se vissem ao longo dos
anos e rissem sobre sua pequena aventura. Ele não tinha deixado nenhuma
nota para ela em três dias, apesar de ela ter deixado duas. ― Duas que
tinham permanecido escondidas atrás do tijolo sem ler.

Caro Mr. Norris:

Que sucesso! Lady Caroline parece ser uma boa escolha. Estou
tão feliz por ver você sorrir. Espero que encontre o amor que estava
procurando.

Sua,

E…

Caro Mr. Norris:

Eu e George estamos planejando visitar o Museu Britânico


amanhã se quiser se juntar a nós. Mais pedras e osso, acho.

Sua
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Se sentindo desanimada, ela abriu o portão para a apertada rua que


dividia seu jardim dos estábulos, suspeitando que se olhasse atrás do tijolo,
encontraria suas notas ainda lá. Ela tirou o tijolo e sentiu um sentimento de
alívio ridículo a assaltar. Suas notas tinham sumido e uma nova estava lá.
Ela a pegou, seu coração dando voltas, feliz. Ela rapidamente recolocou o
tijolo e voltou ao jardim para sentar num banco e ler. Encontrou seu banco
agradavelmente rodeado de azáléias que subitamente lhe pareciam mais
bonitas do que antes, abriu a nota.

Preciso de sua ajuda uma vez mais. Por favor me deixe saber
quando você pode visitar.

Não estava assinada, mas Marjorie sabia que era dele. Sua escrita era
distinta, contudo masculina e arrojada. Um pouco como o próprio homem,
pensou com um sorriso. Ela franziu o cenho para as palavras “uma vez
mais”, mas afastou o pensamento.

Marjorie correu para a casa, chamando sua criada, Alice.

― Vamos sair. ― Anunciou, se dirigindo a seu guarda-roupa. ― Acho


que quero o de seda verde. ― Ela retirou o vestido do guarda-roupa e
começou a atacar os botões até que Alice vagarosamente assumiu a tarefa.

― Onde estamos indo? ― Perguntou Alice.

― A Bury Street. Tenho um amigo lá que precisa de ajuda.

Prajit abriu a porta, seus olhos aumentando um pouco.

― Mr. Norris me está esperando. ― Disse Marjorie.

E para sua grande surpresa, Prajit sorriu e se afastou, permitindo que


ela e Alice entrassem. Ele realmente era um homem bastante encantador
quando sorria, apesar de deixar um pouco inquieta.

― Pode por favor mostrar a Alice a cozinha para que ela possa tomar
um pouco de chã? Esperarei aqui até que regresse.

Prajit assentiu regiamente, então conduziu a criada para o que


Marjorie supôs era a cozinha da casa. A casa da cidade de Mr. Norris parecia
bastante diferente à luz do dia. O que tinha parecia um lugar sombrio e
proibido, era na realidade bem agradável e bem iluminado. As paredes eram
de um amarelo cremoso, colorido de forma encantadora por uma claraboia
de vitrais em forma de rosa dos ventos. Em poucos momentos, Prajit
retornou.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

―Se me seguir, ele está em seu escritório. Não se tem sentido bem
hoje, kumari.

― Oh, então talvez eu deva voltar em outra hora. ― Disse Marjorie,


ficando um pouco para trás. Ele tinha pedido que ela lhe informasse quando
fosse visitar, mas ela tinha estado tão apressada em o ver que nem tinha
refletido nesse ponto.

― Não, ele vai ficar feliz em ver você. Ele não tem sido ele mesmo
nestes últimos dias. ― Disse Prajit e a preocupação de Marjorie apenas
aumentou.

Ele a conduziu através do mesmo corredor longo da primeira noite que


ela esteve nessa casa e ela reconheceu a porta para o escritório. Prajit a
abriu, permitindo que ela entrasse, depois saiu sem uma palavra, fechando
firmemente a porta ― E de forma muito imprópria ― Atrás dela.

E ali estava Mr. Norris. Despido.

Não totalmente, ela percebeu um segundo depois. Ele tinha apenas


um par de cuecas tão curtas que mostravam tudo da metade da coxa para
baixo (incluindo a ferida mais horrível que Marjorie alguma vez viu).

Mr. Norris imediatamente se voltou, deixando escapar um gemido de


dor enquanto o fazia.

― Diabos, Marjorie, o que está fazendo aqui? Prajit!

Ela se manteve com suas costas para a porta, torcendo suas mãos
miseravelmente.

― Eu... Eu…. Você escreveu que queria que eu viesse.

― Eu disse para me deixar saber quando você poderia vir. ― Ele


rosnou.

― Sim, você disse, mas… Como pode ver, não o fiz. ― Ela olhava para
suas costas, tão fascinada como horrorizada que Prajit a tivesse deixado
entrar no escritório quando ele estava praticamente sem roupa. Suas costas
eram uma série de grandes lajes largas de músculos, brilhando na sala
iluminada, como se ele estivesse superaquecido. Suas mãos agarravam a
secretária em frente a ele e seus antebraços tremiam. Ela reparou que sues
braços, lustrosos pelo suor, mostravam cada pedaço de músculo e tendões,
como se ele estivesse tentando levantar a enorme secretária em vez de
simplesmente se apoiar nela.

― Eu devia ir embora. ― Disse ela de forna hesitante. É claro que ela


devia. Ela já deveria ter saído. Mas ela queria mais do que tudo colocar as
mãos em suas costas tensas e tentar lhe dar conforto. Sua ferida era muito,
108
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

muito pior do que ela tinha imaginado. Não era de admirar que o homem
sofresse. Não era de admirar que cada movimento fosse um tormento para
ele. E pensar que ela tinha sugerido esticar o músculo para parar os
espasmos. Meu Deus, não havia músculo, apenas um buraco manchado de
um vermelho agressivo onde seu músculo esteve uma vez.

― Me sinto tola, por ter sugerido que simplesmente flexionasse o seu


músculo. Eu não sabia.

Ele virou sua cabeça de forma que ela pôde ver as linhas duras de seu
queixo antes de que ele lentamente se virasse para ela. À medida que o fazia,
pegou numa camisa que tinha sido atirada para cima da secretária. Se
moldava a sua figura enquanto ele lutava por apertar os botões.

Ele lhe deu um sorriso arrependido.

― Na realidade, afasta alguma da dor quando está no seu pior.

Marjorie olhou para sua perna, lágrimas pressionando seus olhos.

― Lamento. ― Disse, olhando para ele. ― É só que… Eu não tinha


percebido que era assim tão terrível. Posso? ― Ela se aproximou e ele
assentiu, um pequeno sacudir, lhe dando permissão.

Marjorie se chegou à frente, seus olhos em sua ferida, seu coração se


partindo por uma razão totalmente diferente desta vez.

― Deve ter sido uma ferida terrível. ― Disse, engolindo fortemente,


incapaz de parar de olhar para a sua perna.

― Foi, de fato. Mas cada semana que passa, realmente fica melhor.
Apesar de que devo dizer que estes últimos dias fizeram com que tivesse
algum retrocesso. ― Ele colocou sua mão debaixo de seu queixo para que ela
parasse de olhar para sua perna. ― Lamento ter demorado em recolher suas
notas. ― Disse suavemente.

― Eu sei que está ocupado.

― Ocupado. ― Ele disse isso com um pouco de amargura. ― Nestes


últimos dias, tenho estado fechado aqui quase todas as horas do dia.

― Porque precisava me ver?

― Eu não sei como falar com as damas quando estou sozinho com
elas. Fico com a língua presa e desajeitado, é impossível. Preciso ter você
comigo. Posso relaxar quando você está lá. Você pode conduzir a conversa,
me cutucar quando cometo um erro. Cavalguei com Lady Caroline dois dias
atrás, no dia depois da ópera e foi um desastre.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Foi realmente assim tão mau? ― Perguntou Marjorie, tentando não


demonstrar sua alegria em sua voz.

― Pior. Eu estava com alguma dor e não tinha o melhor dos humores
para ir cavalgar em primeiro lugar. Ela falou e falou e eu dificilmente tive a
oportunidade de dizer uma palavra. Podia ver que ela estava confusa, visto
eu ter estado tão animado na noite anterior. Quando estou no meio da
multidão sou diferente. Sempre foi assim.

― Me conte sobre passeio juntos.

Ele se encolheu, como se tivesse sido uma experiência brutal.

― Não fui capaz de juntar mais de duas palavras, tinha as palmas das
mãos suadas e o estômago nervoso. Quanto mais tentava dizer algo
engraçado ou até mesmo interessante, mais meu cérebro se recusava a
trabalhar. Terminava dizendo futilidades.

Marjorie sorriu.

― Tenho a certeza de que não pode ter sido tão horrível assim. O que
disse a ela?

― Lhe disse que seu cabelo era ouro, como se ela já não soubesse de
que cor era. E não o disse apenas, eu o disse abruptamente. Lady Caroline
olhou para mim como se estivesse tentando entender um homem que não
consegue falar a língua inglesa. Apenas posso imaginar o que estaria
passando por sua cabeça. Porque não consigo relaxar quando estou sozinho
com uma mulher? Porque tenho que me tornar num garoto atrapalhado de
catorze anos que tem sua primeira paixão.

―Eu devia tê-la deixado continuar a falar. Ela era bastante boa nisso,
passando de um assunto a outro, praticamente sem deixar de respirar. Ela
tinha estado falando sobre seu irmão quando viu uma mulher passeando
um cachorro branco felpudo e imediatamente passou para outro tema e
começou a falar de seu cão, o que levou a um monólogo sobre erva, vá-se
saber porquê. quer fosse suave ou picasse ou outra coisa qualquer. Não
consigo me lembrar de todo. Mas me lembro de quão desesperadamente
queria adicionar algo à conversa, mas não conseguia.

― Você mencionou a cor do cabelo dela. ― Disse Marjorie, claramente o


provocando e ele sorriu sombriamente.

― Sim, foi uma observação brilhante. E nem sequer é dessa cor. É


mais da cor do trigo. Mais castanho, mesmo, com pedaços de amarelo, que
combinados parecem ouro. Meu Deus, quem se preocupa com a cor de seu
maldito cabelo?

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Marjorie lhe deu um olhar compreensivo.

― Você nunca teve sua língua presa ao pé de mim. ― Ela disse, então
levantou sua mão porque sabia o que ele ia dizer. Ele não a estava
cortejando, por isso era uma situação totalmente diferente. ― Não pode fingir
que não está cortejando ela? Que ela é apenas uma pessoa que você quer
conhecer, não uma potencial noiva?

― Não. Não posso. Eu estou cortejando ela. E ela é uma potencial


noiva.

Marjorie ficou um pouco rubra, irritada que ele fosse fazer tal
distinção.

― Eu não entendo seu fascínio com o casamento, de qualquer forma.


Você não precisa de um herdeiro. Porque não pode simplesmente viver sua
vida alegremente sozinho? Enquanto George estiver em casa, não desejo
casar. E apesar do que minha mãe diz, eu temo que não irei casar. Nunca.

Ele deixou escapar um som muito semelhante a um rosnar.

― Eu quero uma esposa. Quero acordar para o mesmo rosto feliz todas
as manhãs. Quera um monte de crianças me acordando antes de o sol
nascer e correndo escadas abaixo no dia de Natal. Quero ensinar meus filhos
a pescar e ver minhas filhas trançar seus cabelos.

Marjorie se afastou dele, envolvendo seus braços em sua cintura. Ela


também queria todas essas coisas, com um desejo que era quase doloroso.
Raramente se permitia pensar em cenários tão felizes, se tinha condicionado
a não o fazer.

― Acho. ― Disse, feliz que sua voz estivesse forte e clara. ― Que Lady
Caroline será perfeita para você.

Voltou e seu cenho franziu, pois algo tinha acontecido a suas cuecas.
Havia algo bastante grande dentro delas que estava cutucando. Mesmo
quando ela compreendeu o que estava vendo, Marjorie continuou a olhar,
fascinada. E ficou tão horrorizada por estar tão fascinada, que ela
simplesmente não conseguia afastar seus olhos dessa visão.

― Diabos. ― Disse Charles, se ajustando. ― Acho que preciso colocar


minhas calças.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Como ela continuava a olhar, Charles ficou ainda mais agitado. ― E


sentia que ficava ainda maior. O que diabos ela estava fazendo, olhando para
ele dessa forma?

― Isso acontece sempre? ― Ela perguntou, seus olhos ainda presos em


sua ereção percetível.

― Apenas quando… Não. ― Apenas quando uma mulher encantadora


estava na mesma sala que ele. Esta mulher encantadora, corrigiu
silenciosamente. Ele tinha estado claramente disfuncional quando esteve
com Lady Caroline. Ele passou sua mão por seu cabelo e procurou por suas
calças, que estavam penduradas em cima de uma cadeira do outro lado do
escritório. ― Se importa de me trazer minhas calças? Temo que minha perna
não me permite fazer a viagem ao outro lado da sala.

Ela se voltou para olhar para suas calças, como se estivesse tentando
perceber o que no mundo elas eram.

― Posso ver? ― Ela parecia um pouco chocada consigo mesma, mas


agora, felizmente, mantinha seu olhar firme em seu rosto.

Levou um momento antes que ele percebesse o que ela estava


perguntando. Se ela tivesse a mais pequena indicação do que estava fazendo
com ele, ela não teria perguntado tal coisa. Ele estava cheio de desejo, em
agonia por seu toque e aí estava ela calmamente perguntando se o podia ver.

― Lady Marjorie, não acho que isso seja uma boa ideia. ― Disse,
tentando suar formal.

― Posso nunca mais ter essa oportunidade. Como disse, temo que não
irei casar e, bem, está bem aqui. E eu estou aqui.

― Está preso a mim e eu não acho que deveríamos estar tendo esta
conversa. ― Ele disse horrorizado. O que se estava passando com ela?

― Muito bem. ― Disse Marjorie, se voltando e pegando suas calaças.


Mas ela se manteve afastada dele, as segurando como se fossem uma isca.
Ela tinha o brilho diabólica mais adorável em seu olhar. ― Uma espreitadela,
depois posso lhe devolver suas calças rapidamente.

Ele firmou o queixo e rapidamente baixou e voltou a subir seus


calções.

― Pronto, já viu.

― Isso foi muito rápido. Quase não vi nada. ― Disse afrontada.

― O que está possuindo você?

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Algo desesperado e triste passou pelos olhos dela tão depressa que ele
ficou momentaneamente atordoado. E então ela sorriu e isso tinha sumido,
levando a que se perguntasse se realmente tinha visto alguma coisa.

― O diabo, parece. ― Ela abanou a cabeça ligeiramente e lhe entregou


as calças.

Ele pegou nelas, as segurando contra seu peito.

― Obrigado. ― Suas bochechas estavam vermelhas e ela não conseguia


olhar em seus olhos.

― Peço perdão. ― Disse, miserável. ― Eu realmente não sei…

― Aqui. Veja de uma vez.

Ela olhou para o resto dele primeiro, atordoada, depois, devagar, foi
olhando para baixo de seu corpo, para o objeto de sua curiosidade, seus
olhos alargando quando fixaram sua ereção bastante impressionante. Ela se
aproximou um passo e, por Deus, ele ficou ainda mais duro à medida que
seu corpo reagia à aproximação dela. Ela não compreendia o que estava
fazendo com ele, como cada nervo parecia estar ardendo e doendo.

― Você. ― Ele engoliu com força. ― Quer tocar nele?

Os olhos dela prenderam os dele e ela deixou escapar um pequeno


arfar.

― Isso estaria bem?

― Não. ― Ele disse com um grunhido. ― Mas se você quiser…

― Talvez um pouco?

Deus, sim.

― Apenas um pouco.

Estava ficando difícil respirar e seu cérebro estava se desligando. Isto


era errado, errado, errado. Ele devia ter se voltado e subido as cuecas. Ele
deveria estar gritando para que ela saísse de seu escritório. Em vez disso,
ficou ali encostado, a sua secretária, a dor há muito esquecida, olhando
como ela se aproximava dele, uma mão estendida e prestes a tocá-lo. Ela
hesitou pouco antes de seus dedos delicados passarem pela ponta e ele não
conseguiu se controlar. Gentilmente pegou na mão dela e envolveu os seus
dedos em seu membro, tremendo à medida que o fazia. Ele podia sentir que
aumentava por baixo da mão quente dela, conseguia se sentir endurecer e
empurrou as ancas para ela inconscientemente.

― Marjorie, mova sua mão. ― Sussurrou.


113
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

E então, ela já não o estava tocando mais e ele quase chorou.

― Não disse remova, mova, me deixe lhe mostrar. ― Ele há muito


tinha deixado de ser o cavalheiro que deveria ser, por isso pegou na mão
dela e a colocou de volta em cima dele, lhe mostrando como lhe dar prazer.
Errado, errado, errado. Mas ela tinha um toque tão bom e ele a queria há
tanto tempo. Não podiam ir mais longe, ele sabia disso. Ele não podia fazer o
que há muito ansiava fazer. Ele não podia enterrar seu membro bem dentro
dela, não a poderia sentir o envolvendo, não podia gozar dentro dela. ― Sabe
tão bem. ― Todos os pensamentos coerentes tinham sumido. Tudo o que ele
sabia era que a mão de Marjorie estava em cima dele, apertando
gentilmente, movendo para cima e para baixo, o fazendo se sentir tão perto
de encontrar a libertação que era quase deprimente.

Ele não a estava tocando. Não podia tocar nela senão perderia
qualquer controlo que ainda possuía. Mas então ela se inclinou para a
frente, sua mão ainda se movendo e beijou seu queixo. E isso foi o fim da
resistência dele. Ele colocou suas mãos nos ombros dela e a puxou contra
ele, encontrando sua boca e a beijando forte e por longo tempo,
pressionando sua ereção entre eles, sua mão agora presa. Ele a beijou, a
devorou, a desejava.

― Quero fazer amor com você. ― Disse contra o pescoço dela, seu
corpo gritando pela doce liberação. ― Quero lhe mostrar como.

Ela enrijeceu um pouco e ele disse:

― Não, não dessa forma. Quero lhe dar prazer. Quero que tenha um
orgasmo.

― Eu não compreendo.

― Você vai compreender. Me deixe lhe mostrar.

Ele a beijou, movendo seu quadril contra ela e o aperto da mão dela
em seu membro aumentou ligeiramente. Teria alguma coisa alguma vez
sentido tão bem antes? Ele colocou as mãos em seu traseiro firme e puxou o
seu centro contra a ereção, movendo ritmicamente, a fazendo sentir um
pouco do que ele estava sentindo.

― Oh. ― Ela respirou em sua boca e ele sabia que ela estava
começando a compreender que algo mais, algo maravilhoso estava vindo.

― Vou tocar você. Vou fazer você sentir da mesma maneira que você
me faz sentir. ― Enquanto dizia estas palavras, suas mãos trabalhavam para
levantar suas saias, uma infindável quantidade de tecido que a escondia
dele. E quando ele colocou sua mão no centro dela e a descobriu molhada e
profundamente excitada, ele quase teve o seu orgasmo.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Marjorie estava perdida nas sensações que ele estava criando nela. Se
ela pensasse sobre o que ele estava fazendo, onde ele a estava tocando, as
palavras que estava dizendo, ela teria fugido da sala e nunca teria voltado.
Mas ela tinha parado de pensar há algum tempo. Agora era só sensações.
Como podia algo, qualquer coisa, sentir tão maravilhosamente como o que
ele estava fazendo com ela? Todo o seu corpo cantava com novas sensações,
uma necessidade que ela apenas tinha levemente experimentado no
passado. Agora, à medida que ele movia seu dedo dentro e fora dela, ela não
conseguia se conter. Ela moveu contra ele, exultando em cada nova
sensação, da construção de algo, desta deliciosa experiencia. Enquanto ele a
tocava, ela tocava nele, seu membro longo e macio que esticava contra sua
mão. Se o que ela estava fazendo com ele era como o que ele estava fazendo
com ela, tocar era uma coisa maravilhosa.

Ele subitamente acelerou o seu ritmo, tanto contra a mão dela como
entre suas pernas e ela se agarrou a ele, ofegante, sentindo cada movimento,
empurrando contra ele e então… Êxtase. Oh, era positivamente a única
coisa mais maravilhosa que ela alguma vez sentiu em sua vida.

Enquanto ela deixava escapar um grunhido não muito feminino, ele se


afastava dela. Sua mão ainda estava agarrada a ele e ela sentiu uma vaga
pulsante enquanto ele atingia o clímax.

Ela baixou a mão, ele caiu um pouco sobre a secretária e ela caiu um
pouco por cima dele.

― Oh, céus. ― Ela disse, tentando controlar a sua respiração.

― Oh, céus, sem dúvida. ― Ele disse, rindo. Ele inspirou


profundamente uma e outra vez. Ficou silencioso por um longo momento até
que finalmente disse. ― Não tinha planejado que isto acontecesse, mas estou
realmente feliz que tenha acontecido, ― Ele lhe deu um sorriso endiabrado.
― Posso colocar minhas calças agora? ― Perguntou, levantando uma
sobrancelha.

Apesar da intimidade que tinham partilhado, Marjorie ruborizou


imenso.

― É claro. Lamento muito. ― Agora ela estava simplesmente


mortificada. O que ela tinha estado pensando? Que tipo de mulher fazia o
que ela acabou de fazer? E que tipo de mulher pensaria Charles (ela não
podia mais pensar nele como Mr. Norris) que ela era? Tinha ficado louca?

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Nem pense nisso. ― Disse Charles severamente. ― Somos dois


adultos e nenhum dano foi sofrido. Sua virtude está intacta. Minha
consciência, nem por isso, mas aí está. Agora que tiramos isto dos nossos
sistemas, podemos prosseguir com nossos negócios.

Claro. Como tinha sido tola por pensar por um momento que o que
eles tinham feito significava qualquer outra coisa do que uma liberação
animalista. Ela estava mortificada, ela não tinha visto o olha de desejo em
sua face, o profundo arrependimento e essa era provavelmente uma coisa
boa. Marjorie precisava se lembrar que, não importa o que aconteça, eles
tinham que permanecer amigos, parceiros de negócios. Charles precisava de
ajuda para cortejar outra mulher. Ele pode desejá-la, mas ele não a amava.
E mesmo que o fizesse, não importaria. Sua mãe nunca permitiria que se
casasse com ele.

― Tem que admitir que nunca se comportou dessa forma com nenhum
de seus parceiros de negócios. ― Ela soava decididamente sofisticada, como
se o que tinha acontecido não fosse a experiencia, mas devastadora mais
maravilhosa que alguma vez teve. Ela ainda estava profundamente
consciente de quão molhada estava entre as pernas.

Como esperava, ele riu.

― Tem razão. E suponho que não deve acontecer de novo. Tentarei não
permitir que nossa profunda atração mutua nos cegue para nosso objetivo,
que é me encontrar uma noiva. E um marido para você. Apesar do que diga,
acho que você vai achar um.

Marjorie sorriu corajosamente, apesar de suas palavras serem um


pouco esmagadora. Era impossível, ela sabia. Por muito que ela quisesse
pensar que podia enfrentar sua mãe, ela sabia, quando chegasse o
momento, que não o faria. Vinte e três anos sendo a filha boa e obediente era
um hábito que seria difícil de quebrar. Ainda assim…

Se ele a amasse, se Charles lhe dissesse que a amava e rogasse por


sua mão, ela o faria. Ela enfrentaria sua mãe, sairia pela porta e nunca mais
voltaria atrás. Partiria seu coração, sim, mas se ele lhe pedisse… O faria?
Ela o amava assim tanto? Ou estava seu coração confundido pela luxúria?

― Nós nos desviamos um pouco. Então, vai me ajudar com Lady


Caroline? Estou planejando uma viajem ao zoo e talvez você possa ir com
George.

Marjorie sorriu, mesmo que suas palavras fizessem sua respiração


parar. Garota tola, tola, por pensar que ela deixaria tudo por ele. Se Charles
a amasse, estaria discutindo o cortejo de outra garota? E lhe pedindo ajuda?
Os homens era criaturas estranhas. Uns quantos beijos, uma grande paixão
116
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

e ela estava pronta para deixar tudo o que sempre conheceu para trás. Esses
mesmos beijos não eram tão importantes para ele.

― É claro. Esse foi nosso acordo, não foi?

Ela se afastou e enquanto a observava se aproximar da porta, Charles


franziu o cenho a suas costas. Ele já não gostava se seu acordo. Nem um
pouco.

Já sentia um grande arrependimento pelo que tinha deixado


acontecer. Não seria bom pedir desculpas, apesar de seus instintos lhe
dizerem que deveria. Seu maior medo era que nunca mais fosse capaz de ter
em seus braços de novo, nunca faria realmente amor com ela da maneira
que desejava. Horas e horas a fazer amor, dia após dia. E por isso, ele a
deixou sair sem dizer palavra.

Ela o surpreendera. Sem dúvida, ele estava desconcertado. Porque


tinha vindo, de qualquer forma, sem anunciar primeiro? Posso ver, tinha
perguntado. Posso ver? Ele apostaria sua vida de que Marjorie nunca tinha
pronunciado tais palavras. Ele contorceu-se para vestir suas calças,
amaldiçoando sua perna, amaldiçoando sua fraqueza no que dizia respeito a
mulheres bonitas com cabelo encaracolado castanho-escuro.

Ela sem dúvida estava mortificada pelo que tinha acontecido. Ele
podia ver em seu rosto momentos antes de ela se afastar dele. ― E ele, reles
como era, não tinha feito nada para fazer se sentir melhor. Ele não a tinha
abraçado ou beijado nem lhe tinha dito que se estava apaixonando por ela. O
que, se ele tentasse muito, muito forte, seria capaz de evitar. Ele não iria,
nunca mais, se apaixonar por uma mulher que não podia ter.

Charles ficou muito agradecido quando Prajit bateu na porta e entrou


sem esperar resposta.

― Chamou, milorde?

Charles deu a seu criado e amigo um olhar irritado.

― Não, não chamei. E o que demônios estava pensando ao trazer Lady


Marjorie aqui quando sabia que estava sem roupa?

― Você estava sem roupa, sir? ― Prajit levantou uma sobrancelha, mas
o resto de sua expressão permaneceu decisivamente submissa.

― E você sabia muito bem que eu estava.

117
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Sim. Talvez. ― Prajit foi arrumando a sala, colocando livros de volta


na prateleira, pegando numa chávena de chã vazia. ― Você parece estar com
melhor humor.

― Não estou com melhor humor. ― Disse, mesmo sabendo que estava.
Ter uma mulher a levar um homem aos céus certamente ajuda o humor de
um homem. ― Não foi bonito de sua parte a ter deixado aqui comigo. Sei que
você não está acostumado à sociedade inglesa, Prajit, mas se fossemos
descobertos juntos, sozinhos, comigo meio vestido, teria terminado muito
mal.

Prajit levantou uma de suas sobrancelhas interrogativamente.

― Ela teria ficado comprometida. É uma mulher solteira e mulheres


solteiras não deveriam ficar sozinhas com homens meio vestidos. Inferno,
elas não deveriam ficar sozinhas com homens completamente vestidos. ―
Charles olhou para a expressão cuidadosamente em branco de Prajit. ― O
que tenho a certeza que sabe. Porque lhe estou dizendo isto? Apenas não o
faça de novo.

É claro, Charles teria pedido pela mão dela, uma ideia que ele achou
um pouco assustadora. Ele tinha estado em batalhas, tinha discutido com
generais, quase tinha morrido. Mas estava, sinceramente, aterrorizado por
encontrar a mãe de Marjorie. Alguma coisa sobre essa mulher gelava seu
sangue.

118
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 9

Quarenta anos antes

As corridas de Ascot eram o ponto alto da temporada. Cinco dias de


corridas assistidas pelos mais latos níveis da sociedade britânica, incluindo
o rei e a rainha. Dorothea tinha estado em muitas corridas de Ascot, mas
nunca tinha estado tão ansiosa como estava para esta (e apreciara ser parte
de uma grande família). Porque seu pai era um marquês, ela e sua família
tinham o privilégio de sentar no Recinto Real, uma área ao longo da pista de
corridas, reservada para os que tinham títulos. Era uma das poucas vezes
cada ano em que estavam todos juntos, apesar de neste ano apenas seus
pais e Dorothea estavam presentes. Suas irmãs, todas casadas, estavam
ausentes.

Ela e sua mãe estavam alojadas com seus amigos próximos, Lorde e
Lady Chesterfield, durante a semana. Eles viviam logo fora de Berkshire,
onde as corridas se realizavam e tinham a carruagem mais encantadora para
se apresentarem. Dorothea era amiga de sua filha, Esther, apesar de agora
ela viver em Cambridge com seu marido e seus três filhos.

Logo, pensou Dorothea, ela mesma seria uma dama casada e


demasiado ocupada para participar do evento.

Na manhã da primeira corrida, Tillie sorriu com satisfação enquanto


colocava a última presilha em sua touca.

― Encantadora, miladie, realmente.

― Minha querida, é verdade. Nunca a tinha visto tão bonita. ― Sua


mãe estava na entrada, contemplando sua filha como se nunca a tivesse
visto antes.

Dorothea olhou seu reflexo maravilhada. Como podia um chapéu a


mudar tanto? Claro, ela tinha perdido algum peso e seu cabelo estava

119
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

perfeito, mas Dorothea deu a maior parte do crédito ao chapéu. Era como se
fosse mágico.

Chegaram a Ascot à uma da tarde, uma hora antes da Procissão Real e


se reuniram no jardim para esperar o rei e a rainha. Dorothea, sentindo uma
confiança maravilhosamente nova, se encontrou conversando facilmente
com antigos conhecidos, recebendo olhares de aprovação de sua mãe. Mas
não importava com quem falava, ela estava sempre bem consciente de Lorde
Smythe.

Ele usava um fato cinzento escuro e uma cartola e de vez em quando


ela podia escutar seu riso, profundo e masculino. Dorothea estava
desesperada para que ela a notasse, que olhasse para ela com olhos
esbugalhados e finalmente a visse. Tinha tentado se manter voltada na sua
direção e quando parecia que ele poderia olhar em sua direção, ela sorriu
imenso a qualquer coisa que tinha sido dita. Praticamente uma hora de
constantes sorrisos lhe estava a pesar e Dorothea estava começando a
pensar que ele nunca iria reparar nela.

E então, como por providencia divina, a multidão se separou entre eles


e ele olhou para ela. Houve aquele olhar de espanto e confusão que ela tinha
sonhado. Aí estava aquele sorriso que a fazia querer se atirar a ele e fazer
um espetáculo de si mesma.

Em vez disso ela sorriu serenamente para ele e assentiu. Ele deu um
passo em sua direção e seu coração quase explodiu. Estava acontecendo, tal
como tinha rezado que acontecesse. Oh, estava acontecendo!

― Esse é meu chapéu. Onde o conseguiu? Onde?

Assustada, Dorothea se voltou para ver uma garota (pois não podia ter
mais de dezassete anos) lançando adagas a seu chapéu por baixo de um
chapéu que era uma réplica do que estava na própria cabeça de Dorothea.

― Esse é meu chapéu. Meu desenho. Como se atreve!

― O seu não favorece sua cor de cabelo, de qualquer forma. ― Disse


Dorothea, olhando a criança com escárnio.

Os olhos da garota aumentaram, suas bochechas ficaram de um


vermelho intenso e então, sem qualquer aviso, ela se esticou e puxou o
chapéu da cabeça de Dorothea, o atirando ao chão. E pisou nele, o
arruinando completamente.

Vinte e oito anos de comportamento adequado, de se lembrar de fazer


tudo com graça e elegância, de nunca perder o temperamento em público,
ficaram arruinados juntamente com seu belo, belo chapéu. Ela dificilmente
se lembrava de o ter feito, mas Dorothea se atirou à garota e antes que
120
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

percebesse o que estava acontecendo, ambas estavam no chão, dando


cambalhotas e batendo e puxando enquanto a multidão de espectadores
aumentava.

― Anne. ― Um homem de voz cortante chamou. Em segundos, tinha


terminado. Um homem, provavelmente o pai indignado para jovem garota, a
estava retirando de cima de Dorothea.

Dorothea se sentou, atordoada, o crescente horror do que tinha


acontecido se instalando. Ela ouviu um risinho e olhou para baixo para ver
um seio completamente exposto.

― Oh! ― Ela gritou, tentando em vão puxar seu vestido destruído e se


cobrir.

Lágrimas quentes encheram seus olhos enquanto se esforçava para se


colocar de pé. Um par de mãos fortes a ajudaram a levantar e ela se sentiu
envolvida por um casaco de homem. Quando teve forças para olhar para
cima, viu os olhos encantadores de Lorde Smythe olhando para ela com
pena.

― Ninguém viu. ― Disse suavemente.

A seu lado estava Lady Matilda, a garota que sua mãe tinha dito que
Lorde Smythe estava cortejando.

― Achei que o chapéu ficava encantador em você. ― Disse Lady


Matilda, tentando sorrir.

Dorothea olhou para ela e começou a chorar. Ela queria odiar Lady
Matilda, mas como o podia fazer quando era tão doce?

Sua mãe chegou, a abraçou e a levou rapidamente para sua


carruagem. Dorothea se encostou no acento, suas mãos ainda agarrando o
casaco de Lorde Smythe, desesperadamente consciente do cheiro que
carregava, dele, de todos seus sonhos perdidos.

― Ainda bem que vai partir. ― Disse sua mãe suavemente. ― As


pessoas esquecerão, minha querida. Pelo menos espero que o façam.

As pessoas podem vir a esquecer, percebeu Dorothea enquanto a


carruagem as conduzia de volta à propriedade Chesterfield. Mas ela nunca
esqueceria.

― Quem era aquela garota, mamãe? Eu nem a conheço.

― Lady Anne Wadsworth. É a filha de Lorde e Lady Dunlop. Que


desgraça deve ser para seus pais.

Anne Wadsworth. Não, ela nunca iria esquecer.


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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 10

― Não. ― A palavra era afiada e final como o estalar de um rifle.

Embora Charles não estivesse surpreso pela resposta de Lady


Summerfield a sua questão, ele estava surpreendido pelo irregular pedaço de
desapontamento que sentiu. Doía. E bastante. Será que gostava de Marjorie
mais do que pensava? Bom Deus, ele era um maldito idiota. Estava claro
que a amava, e também era claro, parado em seu feio salão olhando o cenho
franzido de Lady Summerfield, que seria capaz de casar com ela.

― Eu a amo, miladie. ― E acredito que Lady Marjorie me ama.

Lady Summerfield levantou seu queixo.

― A menos que haja uma razão além de amor para um casamento


entre vocês dois, minha resposta se mantém.

― Não entendo. Eu sei que não tenho um título, mas meu pai é um
visconde. Procedo da melhor das famílias.

Ela levantou uma mão para o parar.

― Sua família não me interessa. Minha filha, contudo, é preocupação


minha. E ela não casará com você. Mais importante, ela não vai saber desta
conversa. Fui clara?

― Sim, madame.

― Bom dia, sir.

― Mas...

― John. ― Ela gritou e um grande criado apareceu quase


instantaneamente. ― Por favor dirija Mr. Norris à porta.

Surpreso e se sentindo um pouco atordoado, Charles seguiu o criado à


saída. Nem cinco minutos desde que tinha chegado e Charles se encontrou
parado nos degraus da casa, olhando para sua carruagem. Fechou seus
olhos e tentou libertar aquela maldita dor. Não valia a pena revirar no
assunto. Fazê-lo nunca tinha resultado antes. Ele tinha que seguir em

122
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

frente, descartar Marjorie de sua mente e rezar para que conseguisse


facilmente afastá-la de seu coração.

― Aqui, pode enviar isto por mim? ― Nem trinta minutos depois de sua
conversa com Lady Summerfield, Charles entregou a Prajit uma nota para
Lady Caroline lhe pedindo para o acompanhar ao zoo. Queria ver Jumbo, o
elefante.

Na verdade, esperava que Lady Caroline ficasse assustada com o


animal de modo a se aproximar mais dele. Ou talvez um leão rugiria e ela se
pressionaria a seu lado. Essa era a ideia, mas agora parecia tola e ele
realmente não a queria pressionada a si. Não com Marjorie lá.

Prajit olhou para a direção indicada na nota selada e franziu o cenho.

― Lady Marjorie e seu irmão também irão.

― Ah, isso é bom.

― Lorde Summerfield é um bom rapaz. ― Disse Charles, ignorando o


verdadeiro motivo porque Prajit considerava a ideia boa. De alguma forma,
Prajit tinha engraçado com Marjorie. Talvez tivesse ficado impressionado
com sua coragem, entrando na casa de um cavalheiro a meio da noite aquela
primeira vez. Prajit nunca diria nada em voz alta, mas ele pressentia a
desaprovação de qualquer mulher menos de Marjorie.

― Prajit, lhe agradeço por seu interesse em minha vida romântica, mas
devia saber que Lady Marjorie não pode casar comigo. Sua mãe não
permitiria que se casasse com um cavalheiro sem título. Por isso, seus
esforços subversivos para nos juntar são inúteis.

Prajit pareceu imediatamente afrontado.

― Nunca presumiria em interferir com sua vida pessoal, milorde.

Charles olhou para ele por um segundo, não acreditando em uma


palavra que seu valete disse.

Os Jardins Zoológicos de Regents Park possuía uma maravilhosa


coleção de animais, maioritariamente de África, aquelas criaturas grandes e
exóticas eram um fascínio para uma população habituada a cavalos, raposas
e pequenas criaturas de mato.

Estava um dia excessivamente quente, o sol batia nos visitantes que


caminhavam pelos caminhos de gravilha. Mulheres segurando sombrinhas
fúteis e homens com seus chapéus de palha passeavam de exibição em
123
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

exibição enquanto os animais, entediados e gordos, os ignoravam. Marjorie


tinha visto alguns alojamentos de feras particulares, mas nunca tinha
visitado o zoo. Sua mãe pensava que tal atividade era demasiado pedestre.
De fato, ela pensava que Marjorie e George estavam em uma exposição de
Mestres italianos no Museu de Arte. Engraçado como mentir para sua mãe
tinha tornado quase uma segunda natureza. Era melhor mentir do que
enfrentar a ira e o desprezo de Dorothea. Ela e George o estavam fazendo há
anos.

Esperaram, ela e George, na entrada sul perto da Casa dos Leões pela
chegada de Charles, Lady Caroline e sua mãe. De tempos a tempos, o ar
tremia com o som excitado de um leão ou a trompete de um dos elefantes.
Apesar de seu motivo para estar ali, Marjorie tinha aguardado este dia e
disse a si mesma que nada tinha a ver com o fato de que veria Charles. Ele
iria, afinal, estar com outra mulher.

― Ali estão eles. ― Disse Marjorie, seu estomago dando um aperto


engraçado ao ver Charles com Lady Caroline. Lady Warwick caminhava
alegremente ao lado deles, sem dúvida pensando já no enxoval de sua filha.
Lady Caroline parecia incrivelmente encantadora num vestido branco com
destaques de azul pálido, o vestido perfeito para um dia extremamente
quente. Ela estava tão fresca quanto uma rosa acabada de desabrochar,
enquanto que Marjorie se sentia como uma rosa que tinha aberto e já
perdera algumas de suas pétalas.

Porque tinha concordado com este encontro? Porque tinha que


continuar fingindo indiferença quando sabia que seu coração estava
completamente comprometido?

― Boa tarde, Lady Caroline, Lady Warwick. Estou tão feliz por termos
este belo tempo para nosso passeio. Alguma de vocês esteve no zoo antes?

Lady Caroline sorriu para Marjorie por baixo de sua sombrinha branca
e azul pálido. O sol brilhava através do fino material, lhe dando quase um
brilho etéreo.

― Quando era muito pequena. ― Disse. ― Dificilmente recordo alguma


coisa, exceto que tinha muito medo das avestruzes. Não tinha, mamãe?

― Você tinha muito medo de tudo. ― Disse sua mãe, rindo.

― Por onde devemos começar? ― Perguntou Marjorie, se inclinando


para ver o mapa do zoo que George segurava. ― Os Leões são os primeiros se
virarmos à esquerda.

― Oh, sim, os leões. ― Disse Lady Caroline com um pequeno pulo de


alegria. ― Tive um gato quando era pequena que se parecia muito com um
124
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

leão. Bem, não muito, mas da mesma cor. No entanto, ela tinha duas
pequenas patas brancas e não acho que os leões têm patas brancas. Lembro
de uma vez aquela gata marota trepou pelas cortinhas da biblioteca de papai
e as destruiu. Depois tivemos que a manter lá fora. Qual era seu nome,
mamãe?

― Ginger.

― Oh, sim, Ginger. Por causa da cor. Eu gosto de gatos pretos. Nunca
tive um. Talvez um dia. Tem algum animal de estimação, Mr. Norris? Acho
que uma casa precisa de algum tipo de animal de estimação. Sempre
tivemos animais, não tivemos, mamãe?

E então ela continuou, uma frase depois de outra, tão rápido que
Marjorie se perguntou se ela iria desmaiar por falta de oxigénio. Ao longo de
seu monólogo, Charles caminhava silenciosamente, assentindo
ocasionalmente. À medida que o dia prosseguia, ele deu a Marjorie cada vez
mais expressões de pânico. Não tinha dito mais que duas sílabas em vinte
minutos; não conseguia, com a tagarelice incessante de Lady Caroline.

George olhava para o mapa constantemente, parando para ler as


placas de cada exibição, o que abrandava as coisas um pouco, mas ninguém
parecia se importar. Ele estava fascinado com cada detalhe dos animais e lia
alto cada placa para esclarecer o resto do grupo. Lady Warwick se tinha
juntado a Marjorie, dando ao “jovem casal alguma privacidade”. Como se
Marjorie fosse uma coconspiradora em seu amor. Apesar de ela
supostamente ser, Marjorie não pôde evitar se sentir mais que um pouco
ressentida por seu papel.

De vez em quando, Lady Warwick daria a Charles e sua filha um olhar


conhecedor e depois se voltava para Marjorie para garantir que ela estava
percebendo como eles eram maravilhosos, encantadores e perfeitos juntos.

A exibição dos elefantes era o destino final, já que estava do lado


oposto da entrada. Marjorie não tinha dúvidas sobre o porquê, pois era uma
criatura enorme, parecendo ainda maior estando próximo do único outro
elefante do zoo, Alice. Estava no centro do composto atirando palha para sua
boca enquanto um homem, anão ao lado da besta, batia em seus lados como
se fosse um cão de estimação.

― Ele é de Paris, sabia? ― Disse Charles, finalmente capaz de dizer


mais que um grunhido porque a visão do elefante tinha deixado Lady
Caroline, felizmente, sem palavras.

― Verdade? ― Perguntou Lady Caroline, de olhos esbugalhados. ― Têm


elefantes em Paris? Já fui a Paris e nunca vi… Oh, está brincando comigo. ―
Ela lhe deu uma batida amigável no braço e Marjorie queria lhe dar um tapa.
125
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Bom Deus, porque tinha concordado com isto? Charles ficou ali,
devastadoramente atraente em seu casaco castanho claro e calças de cor
creme, parecendo precisamente o cavalheiro que devia estar num passeio
pelo zoo. Seus traços se suavizaram quando olhou para Lady Caroline e
Marjorie dificilmente conseguia aguentar olhar para ele. Quando o fez, tudo
o que conseguia lembrar era como a boca dele se sentia contra a dela, como
ele a tinha tocado. Seus grunhidos altos de prazer, suas palavras sedutoras,
enquanto movia sua mão entre as saias dela.

Isto era insuportável. Ainda agora, ela podia sentir o calor da


excitação. Como é que ele podia agir de forma tão natural pelo que
aconteceu entre eles? Como podia ser completamente insensível ao ponto de
mostrar seu desejo por outra mulher um dia depois de a ter abraçado em
seus braços? O zoo exigia alguma caminhada e ela podia perceber que ele
estava começando a sofrer com isso. Não conseguia parar de se preocupar.

― Ele foi trazido de Paris quando era ainda pequeno. ― George


adicionou, enquanto lia a placa em frente da exibição. ― Mas, originalmente,
é da África.

― Gosta de elefantes, Mr. Norris? ― Perguntou Lady Caroline, olhando


para Charles como se qualquer palavra que saísse de sua boca fosse
maravilhosa e engraçada.

Ele parecia surpreso ao perceber que ela realmente esperava por uma
resposta. Ele olhou na direção de Marjorie e ela podia ver que relaxava
visivelmente. Subitamente, todos os pensamentos amargos foram apagados.
Ele podia estar com Lady Caroline, mas precisava dela. O fato de esse
pensamento deprimente ser reconfortante era um mistério para Marjorie.

― Os considero criaturas grandiosas e majestosas e uma parte de mim


fica triste por ver um animal tão belo colocado numa exibição. Mas ele
parece feliz e li que é um gigante gentil, que até permite que pessoas o
montem. Gostaria que a levantasse para o montar, lady Caroline?

― Meu Deus, não, Mr. Norris. E se eu caísse?

― Com certeza que a apanharia. ― Disse ele dignamente, recebendo


um sorriso radiante tanto de Lady Caroline como de sua mãe. Marjorie se
preparou para outro olhar conhecedor de Lady Warwick e não ficou
desapontada. ― Acho que ficaria imponente montando um leão também, mas
temo que você seria uma refeição muito tentadora para a besta.

Oh, bom Deus, pensou Marjorie. Mas Lady Caroline riu, deliciada com
sua provocação.

126
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

O resto da tarde foi um pouco do mesmo. Lady Caroline diria alguma


coisa, Charles responderia com esperteza e Lady Caroline riria. A repetição
era extremamente tediosa. De vez em quando, Charles lhe dava um olhar
agradecido e ela ficava tentada a lhe perguntar o que ele pretendia fazer
quando estivessem casados e ele ficasse com a língua presa e ela não
estivesse perto para lhe dar coragem.

O tagarelar incessante do par feliz era irritante e Marjorie mal podia


esperar até que a excursão terminasse. Sem dúvida Charles sentia o mesmo
(mas por um motivo inteiramente diferente), pois pela altura em que fizeram
seu percurso de volta para a entrada sul, ele estava mancando visivelmente.
Ela disse a si mesma que não se importava. E não o fazia, até que viu que
ele estava transpirando de uma forma que não tinha nada a ver com o calor
do dia. De fato, o sol tinha sucumbido às nuvens e a temperatura tinha
diminuído de forma dramática. Parecia que a chuva era eminente enquanto
Charles encaminhava as duas damas a suas carruagens.

― George, o encontro em nossa carruagem. Preciso falar em privado


em Mr. Norris, se não se importar.

― Claro. Bom dia, Mr. Norris.

― Bom dia, Summerfield. Nos vemos amanhã à noite. ― Quando


George partiu. Ele se voltou para ela. ― Obrigado. Correu extremamente
bem, não foi?

― Desisto. ― Ela não tinha percebido que era isso o que ia dizer, mas
aí estava. Ela desistia. Simplesmente não podia passar por outro dia como o
que tinha acabado de suportar.

― Não pode. Agora não. Porquê?

― Fiz o que combinamos. Achei uma noiva para você.

Suas sobrancelhas instantaneamente se juntaram.

― Acho que isso é um pouco apressado, para ser honesto. Não tenho
certeza se combinamos.

― Vocês combinam perfeitamente. Bom dia e adeus, Mr. Norris. ―


Apesar de suas palavras de despedida, ela não se voltou para sua
carruagem, mesmo quando as primeiras gotas de chuva começavam a cair.
Ela imediatamente abriu sua sombrinha.

― Isto é sobre o que aconteceu ontem, não é?

Marjorie levantou seu queixo.

― Não faço ideio do que está falando.


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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Por causa do que fizemos. Do que eu fiz. Lamento. Assumo total


responsabilidade. Devia ter feito com que partisse, me voltar de costas,
alguma coisa, qualquer coisa, para evitar o que aconteceu entre nós. Foi
errado.

― O que aconteceu? ― Ela perguntou, por algum motivo ofendida pelo


uso de uma palavra tão estéril para descrever algo que ela achava que tinha
sido maravilhoso. ― Você tem razão. O que aconteceu nunca devia ter
acontecido e nunca voltará a acontecer. Foi sem sentido e nunca mais se
repetirá. Nunca.

Ele enrijeceu.

― Claro que não.

Marjorie ignorou a dor e desapontamento que essas palavras lhe


causaram.

― Por isso já vê porque não posso continuar a ajudá-lo.

― Muito pelo contrário, miladie. ― Disse, parecendo e soando zangado.


― Se o que aconteceu foi sem sentido, o que aparentemente é como você o
vê, então não deveríamos ter problemas em continuar como antes.
Deveríamos ser capazes de voltar a nossa relação de negócios sem conflito.
Eu coloco a culpa apenas em mim mesmo. Eu paquerei com você. Beijei
você. Eu… ― Ele parou de repente e olhou para longe. ― Eu, talvez, lhe dei a
impressão errada de minhas intenções. ― Esta última parte foi dita
suavemente e provavelmente foi o que doeu mais.

― Não o fez. ― Disse ela, orgulhosa por soar tão segura e forte. ―
Contudo, sinto que é do interesse dos dois que não tenhamos qualquer
relação, de negócios ou de qualquer outro tipo.

― Mas você, miladie, ainda não cumpriu as condições de nosso acordo.


― Ele disse friamente. ― A menos que seu irmão encontre vinte e quatro mil
libras no bolso de seu casaco.

― Eu o odeio.

Ele baixou a vista, depois lhe fez uma reverência, zombando.

― Tenho certeza de que o faz. Ficará satisfeita em saber que muito


provavelmente pedirei a mão de Lady Caroline antes do fim da temporada. E
aí você ficará livre de mim. Bom dia, miladie.

― Bom dia. ― Ela disse, sufocada, sentindo a ameaça das lágrimas.

― Oh, quase esqueci. Estarei no Baile de Maio amanhã à noite.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Claro que estaria lá. Tal como ela. Sua mãe nunca perdia esse grande
evento. Ela não respondeu, mas caminhou pelo lado dele sem olhar para
cima, temendo que ele visse as lágrimas por cair em seus olhos.

Capítulo 11

No dia seguinte, Marjorie, juntamente com seu irmão e Miss


Cavendish, visitaram Katherine em sua suite no Hotel Brown para o chá.
Qualquer dúvida que tivesse quanto à afeição entre seu irmão e Miss
Cavendish foi rapidamente aliviada. Ela era uma criatura bastante quieta e
calma, com cabelo castanho e olhos verdes, completamente comum, exceto
quando olhava para George. Marjorie nunca acreditara que alguém pudesse
amar seu irmão tanto quanto ela, mas estava começando a acreditar que era
possível.

No caminho para o Brown, os dois olhavam atentamente um livro que


descrevia a arquitetura de uma pirâmide egípcia, transbordando de câmaras
secretas e de dimensões monumentais. George claramente tinha lido o livro
antes disto e continuou recitando fatos e números sobre as pirâmides. Até
Marjorie, que estava acostumada a estas tendências, ficou um pouco
incomodada, mas Miss Cavendish ficou mais confusa que outra coisa. E
quando George começou a se repetir, ela gentilmente introduzia um
comentário na conversa, parando seu monólogo. Ela tinha um jeito de ser
que era tanto gentil quanto forte.

O Hotel Brown estava localizado no coração de Mayfair, uma estrutura


grandiosa de quarenta e quatro andares de pedra clara e Marjorie ficou
surpresa, dado sua crença de que Avonleigh estava apertado em questões de
dinheiro, de que estivessem alojados lá. Ainda assim, ele era um Marquês e
um marquês certamente não podia ficar em um dos hotéis indigentes.

Katherine os cumprimentou enquanto eles entravam o hotel com sua


habitual exuberância. Usava um vestido que Marjorie reconheceu do ano
anterior, uma criação verde floresta com laços cor creme e um colarinho e
punhos amarelos claros.

― Pensei que depois do chá podíamos passear por Green Park. Por isso
estou usando verde. ― Disse, rindo. ― Muito inteligente de minha parte, eu
sei. Além disso, é tão bonito e nem de perto tão lotado quanto o Hyde. Tenho
estado fechada neste hotel por demasiado tempo. Graham tem estado
129
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

ocupado encontrando seus advogados e investidores e estou prestes a ficar


louca de aborrecimento.

Marjorie olhou para o jovem casal e rapidamente concordou. Havia


muito poucas atividades em que um casal podia ficar sozinho, mas também
atentamente acompanhado e um passeio no parque era um deles. Ela queria
observar o par um pouco mais, apenas para se assegurar que Miss
Cavendish queria George e não seu título.

― É uma ideia maravilhosa.

Os quatro caminharam para o pequeno restaurante dentro do hotel e


imediatamente foram encaminhados para uma mesa. Marjorie olhou em
volta, acenando para Lady Cartwright, uma senhora idosa que era amiga de
sua mãe e para sua recentemente enviuvada filha.

― Oh, céus, aí está Jennie Jerome e sua mãe. ― Disse Katherine,


aparentemente agradada. Marjorie abanou sua cabeça; ela não conhecia a
garota.

Katherine se inclinou para ela.

― Sabe, ela pegou o interesse do filho de Marlborough, Lorde


Randolph. Eu iria cumprimenta-la, mas nós realmente não frequentamos os
mesmos círculos. Ainda assim, ela é uma americana…

― Sim, agora me lembro. ― Disse Marjorie, se lembrando de ter lido


algo sobre a herdeira americana e Lorde Randolph. ― Não estão noivos?

― Sim, muito para o pesar de ambos os pais. Eu simpatizo com o que


têm passado. ― Katherine hesitou, depois se levantou e caminhou para a
mesa onde Jennie Jerome se sentava com uma mulher mais velha.
Conversaram um pouco, então Katherine voltou, sorrindo.

― Que garota encantadora. ― Disse Katherine.

Marjorie olhou a outra garota americana cautelosamente.

― Por favor, não fique insultada. ― Começou, depois parou,


pressionando seus lábios juntos. A afluência de garotas americanas com
dinheiro vindo e casando com títulos britânicos era um pouco
desconcertante, principalmente para uma lady britânica solteira.

Katherine abanou uma mão em sinal de perdão.

― Não se preocupe. ― Disse com uma gargalhada. ― Não vamos roubar


todos os vossos homens. Apenas os que possuem títulos, mas são pobres.

Marjorie não pôde evitar rir de sua exorbitante amiga.

130
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― E você está feliz, não está?

― Terrivelmente feliz. ― Disse Katherine. ― Isso era tudo que meu pai
precisava ver para nos dar meu dote. Mas acho que teríamos sido felizes
mesmo sem ele. Realmente acho. ― Adicionou quando viu o olhar cético de
Marjorie.

― Se uma pessoa vai ser feliz, é melhor que seja rica e feliz do que
pobre e feliz.

Katherine riu.

― Você soa tão esnobe quando fala assim. Mas ainda a adoro.

Depois do chá, o quarteto caminhou para Green Park, logo ao fim de


Albemarle e em direção a Piccadilly, onde ficava a entrada do parque.

― Goste mais deste parque do que qualquer outro. ― Disse Katherine.


Enquanto caminhavam pelos portões maciços.

― E porquê?

― Porque é apenas relva, árvores e flores. É tão natural.

― Também costumava ser sua colonia de leprosos e um paraíso de


ladrões. ― Disse Marjorie, olhando em volta da extensão de verde.

Katherine torceu o nariz.

― Não pode simplesmente apreciar um lugar sem saber cada detalhe


de sua história?

― E a Rainha Elizabeth quase foi assassinada bem ali. ― Disse


Marjorie, ignorando a reprimenda e apontando em direção a Constitution
Hill. Ela parou sua lição de história para sorrir a George e Miss Cavendish,
que estavam caminhando à sua frente, cabeças próximas numa conversa
animada.

― Acredito que fiz pelo menos um casal de sucesso esta temporada. ―


Disse Marjorie.

― Eles realmente parecem ter conquistado um ao outro. Fico feliz.

― Eu também. ― Disse Marjorie sinceramente.

― E quanto a você? Como vai sua aventura de casamenteira?

Marjorie franziu o cenho e olhou para longe da amiga,


momentaneamente surpresa por quanto doía apenas pensar em Charles.

― Ele parece bastante interessado em Lady Caroline. Suas famílias são


próximas por isso é quase certo que ele a irá pedir em casamento antes do
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

final da temporada. ― Ela tentou afastar toda a emoção de sua voz, mas deve
ter falhado.

― Lamento. ― Disse Katherine, tocando seu braço.

― Pelo quê? Tive sucesso. Agora a dívida de George ficará limpa e


mamãe nunca saberá quão tolo ele foi. Mas culpo um pouco o meu primo
por isto. Ele não tinha nada que levar George para um jogo de apostas altas.
Encontrar uma noiva apropriada para Mr. Norris é o que eu queria. ― Ela
não conseguia olhar nos olhos de Katherine, por isso manteve seu olhar em
seu irmão enquanto mentia. Parou de andar e olhou para o caminho de
gravilha debaixo de seus pés. Não, ela não conseguia continuar a mentir a
sua amiga. ― É claro que não é o que eu queria. Você sabe disso.

― Oh, Marjorie. Eu tinha minhas suspeitas.

Marjorie engoliu, recusando ceder às emoções que estavam fervilhando


para saírem à superfície. Ela não se podia permitir mostrar a profundidade
de seu desespero num lugar tão público. Por isso, ela sorriu. ― Não há nada
a fazer. Não posso desobedecer a minha mãe e ele não está interessado.

― Não posso acreditar que isso seja verdade. Vi a forma como olha
para você.

Marjorie sentiu uma centelha de raiva.

― E viu como olha para Lady Caroline? Me atrevo a dizer que sorri de
um modo mais brilhante do que quando olha para mim. Ele é um
mulherengo, realmente. Rude e barulhento. Não tenho a mínima ideia de
porque gosto dele.

― Homens podem ser confusos. ― Disse Katherine.

― Confusos? Desconcertantes! ― Marjorie sentiu um arremesso de


lágrimas e rapidamente as afastou.

― O que se passa Marjorie? Me conte.

Marjorie engoliu profundamente, tentando controlar suas emoções.

― Tenho que lhe dizer algo. ― Sussurrou. ― Se não contar a ninguém,


vai começar a apodrecer dentre de mim e me matará com certeza.

― Vá em frente.

― Nos beijamos. ― Ela disse rapidamente. ― Mais do que beijar, na


realidade.

― Quanto mais? ― Katherine perguntou cautelosamente.

Marjorie deu a sua amiga um olhar de miséria adequado.


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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Um pouco mais. E é minha culpa.

― Não o fez! ― Disse Katherine num ataque alegre. ― Oh e depois de


todos os sermões que me deu. Que vergonha!

Marjorie ficou momentaneamente confusa antes de perceber o que


tinha dito.

― Não, não. Não fizemos isso. Mas estivemos muito perto. ― Deixou
escapar outro forte suspiro. ― O fui ver para falarmos sobre Lady Caroline.

― Sozinha?

― Levei minha criada, claro. Mas não fui apenas para falar sobre Lady
Caroline. Isso foi apenas uma desculpa para minha visita. Seu criado levou
Alice para as cozinhas para tomar chá e então me conduziu para o escritório
dele e ele estava... Bastante despido.

― Ele estava nu?

― Perto disso. Usava apenas suas cuecas. E sua ferida, é


simplesmente horrível, pobre homem. Deveria ter saído, mas não o fiz. E
então, bem, sua coisa, sua coisa de homem, era…

― Grande?

Marjorie enterrou sua cabeça em suas mãos e assentiu, mortificada


por estar tendo tal conversa. Mas não havia outra pessoa na terra a quem
pudesse contar isto.

― Não vai acreditar no que fiz, no que disse. Eu ainda não acredito.
Não é meu feitio. Vai contra tudo o que fui ensinada a ser.

― O que fez? ― Disse Katherine sem folego e Marjorie podia ver que ela
estava presa entre o horror e a curiosidade.

― Lhe pedi para o ver. ― Marjorie olhou para o céu azul e abanou a
cabeça. ― Pode acreditar que diria uma coisa dessas?

― Não. ― Disse Katherine com uma pequena gargalhada. ― Não posso.


E ele o fez? Deixou ver?

― Não. Não no começo. Exigiu suas calças. Ele estava com tanta dor
que era incapaz de pegar ele mesmo. Estavam do outro lado da sala. Peguei
e não as entregava a ele. ― Ela disse essa última parte num sussurro
mortificado. ― Depois ele fez como eu pedi. Rapidamente. O acusei de
batoteiro e ele, bem, baixou suas cuecas para que eu pudesse ver melhor.
Coisas estranhas, não são?

― Homens?
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Não, suas partes de masculinas.

― Oh, sim, bastante. ― Disse Katherine, roborizando.

― Então as coisas se descontrolaram um pouco e nos beijamos e…


outras coisas. No dia seguinte, o acompanhei e a Lady Caroline ao zoo e ele
agiu como se nada tivesse acontecido entre nós.

― Ele é um mulherengo.

― Eu sei! ― Marjorie caminhou um pouco mais à frente, as mãos em


punho ao lado do corpo, antes de se voltar para ficar de frente a sua amiga.
― E apesar de saber que é um mulherengo ― E acredite que eu o sei ― Não
consigo evitar pensar nele e desejar que ele sentisse um pouco do que eu
sinto por ele. ― Ela cruzou os braços zangada. ― O amo. Amo um
mulherengo. ― Levantou seus braços em rendição. ― E para piorar as coisas,
minha mãe quer que me case este ano. Com Lorde Shannock.

― Quem é Lorde Shannock?

― Um velho amigo de meu pai e vizinho. É enfadonho. E velho. Já está


nos seus cinquenta anos.

Katherine tocou seu pulso.

― Sua mãe a pode forçar a casar com um homem que não deseja?

― Claro. Ela pode me expulsar de casa e então para onde iria? E não
se atreva a dizer que podia ir para sua casa. ― Katherine rapidamente
fechou a boca. ― Além disso, não gosto de desobedecer. Ela tem sido tão
paciente comigo. Tenho quase vinte e quatro anos e tive todas as
oportunidades para casar. Agora temo que seja muito tarde.

Katherine deixou escapar uma gargalhada.

― Sim, porque você está velha e cheia de rugas.

Marjorie não conseguiu evitar e riu.

― A maioria das mulheres da minha idade já estão casadas faz tempo


e são mães a esta altura. Você está casada e é mais nova do que eu. Não
pense que isso não ficou atravessado na garganta da minha mãe. Meu
estatuto de solteira é algo que minha própria mãe me aponta diariamente.
Vejo garotas como Lady Caroline e elas parecem tão jovens. ― Ela olhou para
seu irmão e sorriu tristemente. ― Não pensei que chegasse a casar. Estava
convencida disso. Mas agora…

Katherine seguiu a direção do olhar de Marjorie.

― Se George casar, não há nada que a impeça de se casar. É isso?


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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Marjorie assentiu.

― Suponho que pensei que ele nunca encontraria ninguém que o


compreendesse como eu. Mas acho que ele encontrou alguém que o
compreende ainda melhor.

O jovem casal se voltou então, seus rostos acessos de pura felicidade e


esperaram que Marjorie e Katherine os alcançassem.

― Marjorie. ― George disse Bruscamente. ― Vou falar com o pai de


Liliane esta tarde. Esperamos nos casar.

― Isso é maravilhoso. ― Ela disse, agarrando as mãos de seu irmão e


lhes dando um puxão afetuoso. Depois fez o mesmo com Miss Cavendish. ―
Que maravilhoso vai ser ter uma irmã. ― Miss Cavendish lhe deu um sorriso
tímido antes de olhar para George e ficou mais óbvio do que nunca o quanto
ela o adorava.

― Posso falar com Miss Cavendish em privado por um momento,


George?

Marjorie poderia ter pedido a seu irmão que saltasse sobre a lua que
sem dúvida ele pelo menos o tentaria. Nunca tinha visto seu irmão tão
incrivelmente feliz.

Marjorie continuou ao longo do caminho com Miss Cavendish a seu


lado.

― Eu amo meu irmão com todo o meu coração, Miss Cavendish e


nunca quereria que algo o machucasse.

― Eu nunca magoarei seu irmão, miladie. O amo. E por favor, me


chame de Lilianne.

― Sim, posso ver que o ama. Como é que os seus pais se sentem em
relação a esse cortejo?

― Eles aprovam. ― Ela disse, com apenas um pouco de hesitação que


aumentaram a preocupação de Marjorie. ― Eles sabem que George é um
pouco diferente dos outros homens da sua idade. Mas eles confiam em meu
julgamento. Acho que temem por mim, que me arrependa de minha decisão,
que não conheça meu coração. Que o que eu sinto por George é o mesmo
que sentiria por um cachorrinho abandonado e ferido. Mas não é nada disso.

Marjorie se perguntava se a garota não se estava iludindo.

― O George pode ser difícil de lidar. É bem firme em seu regime e pode
passar horas trabalhando em suas pesquisas. Não será capaz de o afastar e
isso pode ser frustrante.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Eu o compreendo. Sou muito parecida com ele em vários aspetos.


Acho que é por isso que combinamos. Nunca me senti confortável com
garotas da minha idade e tenho um medo de morte da maioria dos homens.
Mas quando conheci George, foi como conhecer uma segunda metade de
mim, como se ele fosse aquela peça de mim que estava faltando e que se
encaixava perfeitamente.

Os olhos de Marjorie queimavam pelas lágrimas por derramar e ela


impulsivamente agarrou a mão de Lilianne.

― Foi dito lindamente. Há muito poucos de nós que encontram essa


pessoa. Estou tão feliz por você e George terem se encontrado.

Enquanto caminhavam de volta ao hotel, o jovem casal conversando


alegremente, Katherine disse:

― Penso que não compreende a seriedade do que se passou entre você


e Mr. Norris. Sabe o que teria acontecido se tivessem sido descobertos?
Escândalo, é isso. Teria ficado comprometida e Mr. Norris seria forçado a se
casar com você. E isso teria sido desastroso. Olhe o que aconteceu com
Graham e eu. Pegos, envergonhados e forçados a nos casar. E vivendo felizes
para sempre.

― Não estou achando graça nenhuma. ― Disse Marjorie secamente.


Ela tinha dito praticamente a mesma coisa (tirando a parte do felizes para
sempre) a Katherine não faz muito tempo. Suspeitara que o casal tinha
estado agindo de maneira indiscreta e tinha avisado Katherine que um
casamento forçado seria o pior resultado possível. ― O seu caso foi uma
situação inteiramente diferente. ― Disse Marjorie, fungando.

― Oh? De que maneira?

― Lorde Avonleigh estava claramente destinado a outra.

― Eles não estavam noivos. Pelo menos, não no começo. ― Katherine


adicionou encabulada. ― Apesar de que quando nos pegaram juntos ele já
estava noivo.

― Vê? Completamente diferente.

― Deve esperar até que Mr. Norris esteja noivo antes de lhe dizer que o
ama e se atirar a ele? Funcionou comigo. ― Katherine deixou escapar um
risinho de prazer.

― É ridícula. ― Disse Marjorie, mas não conseguiu evitar de sorrir um


pouco. ― E é diferente. Avonleigh amava você.

― Você não sabe como Mr. Norris se sente em relação a você.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― É claro que sei. Ele me pediu que o ajudasse a cortejar outra


mulher. Se estivesse apaixonado por mim, acha que pediria tal coisa?

Katherine franziu o cenho.

― Não vejo como pudesse. Talvez tenha razão. Mas se ela realmente a
amar, ficarem comprometidos seria a solução perfeita.

Marjorie abanou a cabeça.

― Ele não me ama, por isso não faz sentido sequer pensar tais coisas.
― Mas pelo resto do passeio de volta ao Brown, foi tudo no que podia pensar.

― Sabe Charles, sua situação não é muito diferente da minha. ― Disse


Avonleigh, rodando preguiçosamente seu brandy.

Os dois homens estavam sentados no escritório de Charles, apreciando


o seu brandy e a companhia um do outro. Graham estava fascinado com os
artefatos que Charles fora colecionando ao longo dos anos que esteve fora de
Inglaterra, mas ficou ainda mais fascinado pelas estórias que
acompanhavam cada item. O copo de Charles estava vazio e lançou um
olhar saudoso à garrafa meio cheia que estava no aparador.

― Oh?

― Você precisa de uma esposa.

― Quero uma esposa. Bem diferente.

― Muito bem, você quer uma esposa, apesar de não conseguir perceber
porque pensa isso. Ainda assim, tudo correu bem para mim no final.

Charles cedeu à tentação e se levantou para buscar mais brandy.

― Me pergunto como se sentiria se tivesse casado com a sirigaita da


Von Haupt em vez de com Miss Wright.

― Me atrevo a dizer que me sentiria bem diferente, pelo menos em


relação ao casamento. O dinheiro, agora, isso teria sido incrível.

Charles largou uma risada afiada.

― Descobri, sir, que o dinheiro não pode comprar o que uma pessoa
realmente quer. Uma perna, por exemplo. Ou um título.

― Para que precisa você de um título? É um manto à volta do pescoço,


eu digo. Dever e preocupação, preocupação e dever.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Se tivesse um título, não estaríamos tendo esta conversa. Já estaria


há muito a caminho do casamento. ― Ele amaldiçoou baixo. ― Onde está
John quando preciso dele? Ele é muito melhor neste tipo de coisas.

― Quer dizer que ele é melhor a pensar como uma mulher? Está
contando todos os seus filhos. Acabaram de ter o quinto, sabe?

Charles sorriu. Ele vinha de uma família de três e sempre tinha tido
um pouco de ciúmes de famílias grandes. Não podia imaginar ser filho único.
A solidão devia ser esmagadora. Talvez uma pessoa compensasse a falta de
irmãos com amigos.

― Por amor de Deus, tire esse sorriso ridículo da cara. ― Disse


Graham com raiva fingida. ― Se você não tivesse barba, pensaria que é uma
mulher.

Charles deitou uma grande quantidade de brandy no copo.

― Porquê, porque quero me casar?

― Não, porque quer se apaixonar.

― Você o fez.

Isso calou Avonleigh por um tempo.

― Não o fiz de propósito. Apenas aconteceu. De fato, não queria que


tivesse acontecido. Não era uma coisa agradável, sabe.

― Sim, sei.

Avonleigh se encostou a sua cadeira e lançou um olhar uniforme a seu


velho amigo.

― De verdade? Lady Caroline? Não, ela não. Demasiado tagarela.


Demasiado jovem. Vamos ver, quem é que Charles ama agora? ― Bateu em
sua cabeça como se estivesse massajando seu cérebro por uma resposta. ―
Título. Mulher. Mulher que quer um título. Homem que não tem um. ―
Estalou os dedos. ― Lady Marjorie.

― Deveria trabalhar para a Scotland Yard. ― Disse Charles secamente.


― Claro que é Lady Marjorie. Mas ela não tem interesse nenhum em um
homem sem título e sua mãe me mataria se a cortejasse. Já conheceu
aquela mulher? ― Charles tremeu na brincadeira.

― Tem medo da mãe dela?

― Quem não tem? Acredito que é uma das razões porque a pobre
garota ainda não casou.

Graham sorriu, seus olhos em seu brandy rodopiante.


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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Sabe. ― Disse suavemente. ― há mais do que uma forma de se


declarar a uma garota que é totalmente inadequada para você.

Charles franziu o cenho e caminhou de volta a sua cadeira.

― O que quer dizer?

― Nunca compactuaria com tal ato, acredite. Mas resultou muito bem
para mim e para Katherine. Muito bem mesmo.

― Ela me mataria se eu a comprometesse.

― Lady Summerfield?

― Não, Lady Marjorie. Nunca a colocaria em tal posição. Preocupo


demasiado com ela para fazer passar por tal escândalo.

Graham colocou seu copo ainda cheio de lado.

― Entendeu mal o que eu disse. E se ambos concordassem em serem


comprometidos?

Charles estava pasmo com tal sugestão.

― Quer dizer um comprometimento planejado? Um em que ambos


seriamos culpados? Ela nunca concordaria.

― E você?

Charles ficou em silêncio por um longo minuto. Criaria tal plano se


Marjorie concordasse com ele? Realmente parecia ser a única maneira em
que poderiam casar com a bênção relutante de sua mãe. Ainda assim, o
escândalo. Charles estudou seu amigo, seu amigo casado e muito feliz, que
tinha não tinha sofrido graves consequências da sociedade por seu
casamento forçado. De fato, até mesmo o mais velho indivíduo com um
coração de pedra olhava carinhosamente para o casal porque era óbvio que
os dois eram felizes.

― Se ela concordar, então, sim, o faria. Alegremente. Mas Marjorie


nunca concordaria com tal coisa.

― E como pode saber se ela não concordaria com o plano?

― Primeiro, ela me disse no outro dia que me odeia. ― Disse Charles,


rindo. ― Por isso, como vê, tenho total certeza que seu coração não estará
empenhado. Não é diferente de toda a mulher por quem tolamente me
apaixonei. Eu juro, estou amaldiçoado.

― Não seria tão precipitado em seu julgamento dos sentimentos de


Lady Marjorie em relação a você. Algo que Katherine me disse me faz pensar
que ela não se oporia assim tanto.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Aquilo melhorou o humor de Charles um pouco.

― Algo que Lady Marjorie disse?

― Sim. ― Ele bateu de novo em sua cabeça. ― O que foi mesmo? Era
bastante obscuro e aberto a interpretações, é claro. Oh, sim, já me lembro.
Ela me disse que Lady Marjorie estava apaixonada por você.

Agora era a vez de Charles afastar seu copo.

― O quê? Lady Marjorie realmente disse algo a sua esposa? Ou é só


uma conjetura?

― Conjetura. Mas quando ela acusou Lady Marjorie de ter tais


sentimentos, ela não o negou completamente.

― O que ela disse?

― Na realidade, ela chegou a negar, ― Admitiu Graham. ― Mas


Katherine está convencida de que ela não estava falando a verdade.
Aparentemente ela não conseguia manter seus olhos longe de você na outra
noite na ópera. E já que você não pode pedir por sua mão com esperanças de
que sua mãe concorde com o enlace, realmente não tem outra alternativa,
tem?

Charles pegou seu copo de novo e bebeu um longo trago. Não,


realmente, ele não conseguia pensar em outra maneira de eles casarem. Mas
Marjorie teria que concordar completamente. E se ela o amasse tanto quanto
ele a amava, então seria a solução perfeita.

― Você o quê?

― Estou noivo, mamãe.

O coração de Marjorie quase se partiu pela forma como seu irmão


estava ali, parecendo desalinhado e incerto, sua cabeça baixa. Ele era um
homem diferente quando estava frente a sua mãe.

― Que garota diria sim a você? Alguma pequena gananciosa apenas


interessada em seu título, sem dúvida. Posso lhe dizer desde já, vou pôr um
fim nisso.

― É Miss Cavendish, mamãe.

― A filha do escudeiro? ― Ela deixou escapar uma gargalhada horrível.


― Oh, eles têm altas aspirações, não têm?

― Ela me ama. ― Disse George, levantando a cabeça num pequeno


sinal de rebeldia. Suas bochechas estavam vermelhas e Marjorie apenas
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

queria que essa reunião terminasse. ― Ela me disse. Ela me ama. Foi ter
com o pai dela e ele nos deu sua bênção.

― Tenho certeza que sim. Ele não é tolo. Posso lhe dizer uma coisa,
meu jovem, você não vai casar com essa garota. Ela não o ama, ela ama seu
título, a ideia de ser a esposa de um conde. Não o permitirei. Não vai
acontecer.

Marjorie não conseguia escutar mais uma palavra.

― Não o pode parar, mamãe. ― Disse gentilmente. Apesar das coisas


horríveis que sua mãe estava dizendo, estava claro que Dorothea estava
preocupada que George pudesse ser magoado. Francamente, Marjorie estava
surpresa que sua mãe estivesse defendendo seu filho tão ardentemente. ―
Ele é maior de idade e é o chefe da família. Não o pode impedir de casar com
quem escolher. Eu entendo suas preocupações, mamãe, realmente
compreendo. Pois eu mesma as tive. ― Ela deu a George um olhar de
desculpa. ― Mas acredito firmemente que Miss Cavendish ama George, que
ela casaria com ele mesmo que ele fosse um plebeu. E você sabe que não
tem qualquer poder sobre George nem pode dizer nada sobre quem ele
escolhe para casar.

Dorothea olhou sua filha como se lhe tivesse crescido uma segunda
cabeça.

― Como se atreve a me contradizer em frente de seu irmão? Mulheres


que desejam algo podem ser muito espertas. Olhe só para sua amiga
americana.

― Você gosta de Katherine.

― Eu a admiro por sua esperteza, se é isso o que insinua. É o


esperado, suponho. Mas não permitirei que uma mulher igualmente esperta
se case com meu filho por razões egoístas. A filha de um escudeira,
realmente. Francamente, George, porque não casa simplesmente com uma
empregada ou com uma criada de cozinha? Certamente que não. ― Ela
olhou para George com simpatia. ― É melhor que tire essas ideias de
casamento de sua cabeça.

― Não, mamãe. Eu amo Lilianne e vou casar com ela. Tenho a bênção
de seus pais. Gostaria de ter a sua, mas se não a consegue dar, casarei com
Miss Cavendish. Eu a amo. No casaremos a vinte de setembro deste ano. Eu
a amo e casarei com ela.

― Não fique histérico, George. ― Disse Dorothea com um longo suspiro


sofredor. ― Sabe que me deixa com enxaqueca.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

George apertou seus punhos ao lado de seu corpo e Marjorie sabia que
estava lutando por permanecer calmo.

― Eu amo Miss Cavendish e vou casar com ela.

― Oh, por amor de Deus, se cale. ― Dorothea gritou. ― Me deixem, os


dois, agora. Me deram uma enxaqueca.

Marjorie e George estavam mais do que contentes por deixar sua mãe
sozinha. Quando chegaram ao segundo andar, Marjorie tocou a mão de
George.

― Estou muito orgulhosa de você.

Ele baixou a cabeça, sua bochechas ficando vermelhas.

― Eles nos deram suas bênçãos. ― Ele disse, só no caso de Marjorie


necessitar de ser convencida.

― Eu sei que o fizeram e estou contente. Lilianne o ama muito, como


deveria. Você é um homem maravilhoso e será um marido maravilhoso.

George se virou para seu quarto, depois hesitou.

― Acha que ela pode impedir o casamento? ― Perguntou, parecendo


muito novo.

― Não, George, ela não pode. Você é maior de idade e chefe desta
família. É o Conde de Summerfield e pode casar com quem escolher.

Ele sorriu e relaxou, caminhando para seu quarto para se trocar para
o Baile de Maio, mas enquanto Marjorie se voltava para ir para seu quarto,
franziu o cenho. Rezou para que Dorothea não fizesse nada que afastasse o
casal. Mas, afinal, o que ela poderia fazer?

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 12

Trinta anos antes

Dez anos depois de Ascot, Dorothea Stockbridge não possuía qualquer


semelhança com a jovem que tinha sido um dia. Apesar de ter regressado a
casa para ver sua família em breves ocasiões, tinha criado seu lar junto a tia
Frances, que continuava prosperando na idade de oitenta e cinco. Com
ambos os pais agora em suas campas, Dorothea raramente tinha
oportunidade de sair. Duas vezes por ano viajava para visitar seu irmão e
irmãs, mas as visitas eram sempre breves e ela sentia que seus irmãos
ficavam aliviados quando lhe diziam adeus. Nesse ano que passou, ela nem
sequer os tinha visitado, nem tinha sido convidada. Por isso Dorothea
passava seus dias intermináveis com tia Frances, sabendo que algum dia, se
a velha dama morresse, ela estaria à mercê de seus parentes. Se sentia
razoavelmente segura, já que tia France ser a tão são e saudável como era
má e miserável. Dorothea pensava muitas vezes que era o diabo que a
mantinha viva simplesmente para a atormentar.

Sem ter lugar para ir, Dorothea permanecia em Ipswich em


Stonebridge Hall, um lugar velho e esfriado no Rio Orwell e era relembrada
quase todos os dias de que tinha muito poucas opções. Já não vestia a
última moda e não comprava um chapéu novo há quase oito anos. O último
tinha sido para uma festa no jardim, em que se tinha permitido estar
ansiosa por ir, apenas para sua tia lhe dizer que ela estava ridícula, como se
fosse uma carriça tentando parecer um pavão.

Seu cabelo, que há muito tinha ficado áspero e cinzento, estava


constantemente puxado para trás num coque útil. Seus vestidos eram de
três cores: cinzento, castanho e preto. Ela usava o uniforme do negligenciado
e a expressão de uma mulher cuja vida estava cheia de dias de dever e
monotonia. E quando saía para passeios, como fazia cada dia, usava um
casaco de homem.

Dorothea adorava suas caminhadas diárias. Eram uma das poucas


coisas que sua tia aprovava. Exercício, dizia muitas vezes, mantém uma
pessoa viva e sua tua lamentava o fato de seus joelhos doloridos já não o
permitirem. Essas caminhadas eram o escape de Dorothea, o único
momento em que ela podia ficar sozinha com seus pensamentos. O único

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

momento em que podia agarrar uma peça de Lorde Smythe junto a si, seu
casaco que ela tinha “esquecido” de devolver a ele. Antes de ter sido forçada
a se mudar para Ipswich, o tinha colocado com alguma culpa no fundo de
seu baú e depois de ter saído de casa, o retirava frequentemente. Muito
frequentemente no início. Agora era simplesmente um casaco útil para usar
numa caminhada rápida.

Ele tinha casado com Lady Matilda claro, a garota vaga e doce com
quem tinha estado naquele dia. Ela lera a publicação do Times que descrevia
seu casamento e que em certas ocasiões os mencionava ou seus filhos.

Isso era, talvez, o pior de sua vida. Ela percebeu depois de se mudar
para Ipswich que queria filhos muito mais do que queria um marido. A visão
de uma mulher passeando com sua pequena ninhada sempre fazia com que
ficasse um pouco triste. Nunca aconteceria com ela. O tempo estava se
acabando. Tinha trinta e seis anos. Muitos dos filhos de suas velhas amigas
já estavam casados ou na universidade.

Dorothea suspirou fortemente enquanto atravessava a ponte de pedra


do jardim da casa. Parou um momento olhando para o velho lugar, o
odiando, odiando o que estava lá dentro. Porque não conseguia encontrar
contentamento com sua vida? Ela conhecia mulheres que tinha vidas muito
piores que a sua. O que existia dentro dela que a fazia sentir como se tivesse
sido vitima de uma grande partida e que estava vivendo a vida que alguém
muito menos vibrante deveria estar vivendo?

Com um sentimento de resignação, atravessou os últimos passou do


jardim e abriu a porta do lado. Puxando seu casando e o colocando na pega
de madeira, ela viu uma criada se apressando com uma bandeja.

― Sally, para onde vai com tanta pressa?

― Oh, madame, Lorde Summerfield está aqui e na sala de estar. ― Ela


fez uma rápida reverência e continuou seu caminho enquanto Dorothea se
encostava à parede em total derrota. Com um rápido olhar de anseio para a
porta por onde acabara de entrar, Dorothea começou a caminhar para a sala
de estar onde tia Frances sempre entretinha seus convidados. De todos os
convidados que frequentemente passavam por lá, Lorde Summerfield era o
de que menos gostava.

Ele era um homem pomposo no final de seus cinquenta anos cuja


atitude de superioridade irritava os nervos de Dorothea. Não era tanto o que
ele dizia, mas a maneiro como o dizia. Ele podia lhe dizer que ela estava
linda (o que nunca fez) e Dorothea de alguma forma entenderia que ele
queria dizer o contrário. Quando tinha aparecido pela primeira vez, Dorothea
tinha temido que estivesse visitando com a intenção de a cortejar. Sua
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

esposa estava morta faz tempo e ele não tinha crianças, não possuía
herdeiro para seu título grandioso. Ao longo dos anos, ela tinha ficado
aliviada por perceber que Lorde Summerfield parecia feliz por deixar seu
irmão mais novo ou seu sobrinho herdar o título.

Dorothea se tinha sentido uma tola por pensar que suas visitas
tinham inicialmente sido precipitadas por ela. Agora ela finalmente
compreendia que não tinha muito a oferecer a um homem exceto um dote,
sem dúvida acumulando pó nos cofres de seu pai. Ela tinha percebido ao
longo dos anos que nenhum homem a iria querer. Nem mesmo um homem
molesto, velho e feio como Summerfield. Era um pensamento bastante
sensato.

Dorothea entrou na sala de estar, não se incomodando sequer em


olhar no espelho para ter certeza que estava apresentável. Pelo olhar que
tanto sua tia como Lorde Summerfield lhe deram, ela sabia que não estava.

― Aqui está ela. ― Disse Lorde Summerfield, se levantando, seus olhos


sonolentos a avaliando. Ao longo dos anos, a parte superior de sua pálpebra
continuava caindo, por isso era impossível para o homem abrir totalmente os
olhos. Seu nariz, se parecendo muito com um pequeno tomate balançando
acima de seus lábios muito grossos, estava constantemente pingando. Em
mais do que uma ocasião, Dorothea teve que olhar para o outro lado. Ele
tinha um lenço em sua mão esquerda a toda a hora e dava pancadinha na
umidade incessantemente, mas muitas vezes não fazia diferença.

― Aqui estou. ― Disse Dorothea com simpatia forçada e se sentou


perto de sua tia.

― Lorde Summerfield, devo sair? ― Sua tia perguntou e Dorothea


sentiu um arrepio de inquietação.

― Não, não. ― Ele abanou a mão, então se voltou para Dorothea. ―


Como deve saber, Miss Stockbridge, tenho estado procurando uma esposa
há muito tempo.

Dorothea não sabia de tal fato, mas mesmo assim assentiu.

― E escolhi você,

― Eu?

― Sei que não é jovem, mas eu também não. E estou ficando sem
opções.

Dorothea olhou para sua tia em busca de ajuda, sabendo que não teria
nenhuma.

145
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― É maravilhoso, Dorothea, apesar de que sentirei sua falta, querida.


E o momento não podia ser mais propício. Vou viver com Christina por uns
tempos. ― Tia Frances bateu sua bengala para pontuar sua decisão. ―
Minha filha me escreveu na semana passada, me pedindo que fosse. ― Ela
disse a Summerfield, deixando Dorothea abismada. Sua tia sabia que estava
partindo por uma semana e não tinha dito uma palavra. Com sua mãe e seu
pai ambos mortos, ela não tinha para onde ir.

O cérebro de Dorothea praticamente tinha parado.

Summerfield fungou.

― Claro, eu aprovo a união de todo o coração. ― Continuou tia


Frances. ― Já está tudo acertado.

― Mas eu não concordei com nada.

Um pesado silêncio encheu a sala.

― Poderia nos desculpar, madame? Temo que afinal preciso falar com
sua sobrinha a sós.

Dorothea viu sem acreditar enquanto sua tia se levantava e caminhava


lentamente até à porta, sua bengala batendo suavemente na carpete.

― Peço desculpas, milorde, mas nunca me deu nenhuma indicação de


que sequer gostasse de mim, nem falar de casar comigo.

Ele olhou para ela por um longo e incomodo momento, como se


estivesse reavaliando sua oferta.

― Quantos anos tem?

Dorothea sentiu suas bochechas ficarem vermelhas.

― Trinta e seis.

Ele levantou uma sobrancelha e inclinou a cabeça como se tivesse


pena dela.

― E quantos homem pediram por sua mão?

Suas bochechas ficaram ainda mais quentes.

― Nenhum, sir.

― E quantos a cortejaram?

― Nenhum.

― Seguraram sua mão? A beijaram? Sequer admiraram você?

A garganta de Dorothea estava queimando.


146
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Me responda. Quanto? ― Ele disse as palavras gentilmente, mas


com uma arrogância que era humilhante.

― Nenhum.

― Nenhum. Nem um. E ainda assim você pensa em me recusar? Estou


dando o maior dos elogios. Estou dizendo que é merecedora de mim e do
título de Summerfield. E você pensa em me recusar?

Um sentimento terrível de inevitabilidade caiu sobre ela.

― Eu não o recusei, sir. Apenas questionei porque fez o pedido.

Ele pareceu acalmar com suas palavras.

― Pedi porque espero que seja jovem o bastante para me dar um


herdeiro. Ainda tem suas regras?

Ela conseguiria aguentar tal humilhação?

― Sim.

Ele bateu as mãos juntas tão alto que Dorothea se encolheu.

― Bem, então, está tratado. Farei o anúncio e farei com que leiam os
proclamas. Penso que uma cerimónia pequena é apropriada, não acha?
Escreva a seu irmão e irmãs, minha querida. Talvez eles possam ajudar no
planejamento do casamento.

Ele logo saiu, cheio de satisfação. Ante de partir, pegou sua mão e a
beijou. Ela tentou sorrir, mas se encolheu com o sentimento de umidade que
permaneceu depois que ele retirou sua mão. Quando ele virou as costas, ela
limpou furiosamente sua mão a sua saia.

Oh, Deus, no que tinha acabado de concordar?

147
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 13

O Baile de Maio, realizado todos os anos na residência Ashton a vinte


minutos fora de Londres, era um dos principais eventos da temporada. Para
se ser convidado para o Baile de Maio era como ser convidado para um baile
real. Os Cavendish, infelizmente, não foram convidados, por isso George se
recusou a ir. Marjorie ficou um pouco orgulhosa por sua posição, mas
Dorothea parecia, contrário ao esperado, aliviada. Ela estava sempre
inquieta de que George fosse fazer ou dizer alguma coisa que lhe provocasse
vergonha. E para ser justa, Marjorie admitia para si mesma, ele quase
sempre fazia. Por muito que amasse e compreendesse seu irmão, ela
também compreendia e amava sua mãe, mesmo se não concordasse com ela.

Castle Ashton rivalizava com o Palace Blenheim de Marlborough em


tamanho e grandeza. Quando era mais jovem, Marjorie tinha ficado muito
profundamente desapontada por descobrir que Castle Ashton nem sequer
era um castelo, mas apenas uma grande casa, muito parecida com a que
eles tinham em Ipswich. O edifício Barroco, desenhado com uma simetria
atroz, era o preferido de Marjorie porque guardava muitas memórias felizes.
As festas eram sempre suntuosas e longas e ela passou muitos dias de verão
ali, explorando os extensos terrenos. Devido a sua proximidade com
Londres, muitas das pessoas que apareciam não ficavam a passar a noite
para o Baile de Maio e Lorde e Lady Ashton sempre convidavam um grande
número de pessoas. A rainha Vitória muitas vezes comparecia no baile, mas
este ano ela não podia, para grande desapontamento de todos os que
participavam. Ainda assim, era um grande evento, um que toda a jovem lady
de alto berço da Inglaterra desejava comparecer. Era o quinto de Marjorie.

Charles, juntamente com seu irmão, pai e irmã, foram convidados,


apesar de ele ser o único que compareceu. O marido de sua irmã não
deixaria o lado de sua mãe doente, uma mãe que estava, de uma forma
muito suspeita, doente durante os últimos doze anos. Seu irmão, que nunca
apreciou as reuniões da sociedade, estava mais que feliz em enviar seu
irmão mais novo como substituto. Charles não se importava nem um pouco.

Enquanto aceitava a mão do lacaio de Ashton e descia para o


pavimento de pedra meticulosamente cuidado, Marjorie sentiu que o ar
148
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

noturno continha uma ameaça de chuva que estava chegando. Sem dúvida
que ela encontraria muitos velhos amigos, alguns que ela não via há meses.
Parecia como se seu pequeno grupo se tivesse espalhado pelos quatro cantos
da Inglaterra. Uma de suas amigas mais próximas, Lenore. Tinha casado
com um americano e agora vivia em Filadélfia. Ela se recordava de sua
despedida chorosa, suas promessas de se verem pelo menos uma vez por
ano. Não recebia uma carta de Lenore há seis meses.

Ela usava seu melhor e mais recente vestido Worth, como sempre fazia
para o Baile de Maio. O vestido ela de um tom pêssego claro, com mangas
que agarravam seus ombros, um corpete baixo o suficiente para revelar o
topo de seus seios. Renda na borda da gola podia ser ajustada um pouco
para dar alguma cobertura, mas quando Marjorie apresentou uma versão
mais modesta do vestido, Dorothea estalou a língua e baixou a renda.

― Lorde Shannock vai estar lá esta noite. ― Disse com um sorriso. ―


Queremos que esteja no seu melhor.

Marjorie se tinha olhado, claramente vendo seus seios exibidos e fez


uma careta.

― Realmente, mamãe certamente que ele consegue usar de sua


imaginação.

― Mr. Worth desenhou este vestido especialmente para você mostrar


seus melhores atrativos.

― Estes são meus melhores atrativos? Pensava que minha esperteza e


sagacidade é que eram.

Dorothea ajustou a renda um pouco mais para criar o efeito desejado.

― Esses podem muito bem ser seus melhores atrativos, mas tenho
certeza que Lorde Shannock vai se preocupar mais com estes. ― Disse de
forma pragmática, dando um último puxão à renda.

Enquanto caminhava pelas escadas de Castle Ashton, Marjorie soltou


a cauda do vestido, a deixando cair artisticamente atrás dela. Era um lindo
vestido e Mr. Worth tinha estado muito orgulhoso dele. Sua armação era
moderna, uma forma natural que não lembrava as jaulas muitas vezes
dolorosas que seus anteriores modelos requeriam. Em vez de uma saia em
forma de sino, a frente agarrava suas pernas muito de perto. Quanto
experimentou o vestido, os olhos de Dorothea tinham aumentado em
apreciação e Mr. Worth lhe tinha dado uma pequena revêrencia. Marjorie
pode não a debutante mais jovem no baile, mas sem dúvida seria a mais
bem vestida.

149
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Marjorie suspeitava que ele iria lamentar a perda de sua melhor cliente
se ela casasse este ano, como sua mãe queria. Cinco temporadas
significavam cinco anos dos vestidos mais caros e mais bonitos que o
dinheiro podia comprar e ela não tinha dúvidas que Mr. Worth ficaria um
pouco triste por a ver se casar. Ela ainda continuaria sendo uma cliente,
mas sua necessidade por tantos vestidos novos todos os anos iria
certamente diminuir.

Uma vez no grande vestíbulo, Marjorie recolheu sua cauda, colocando


a fita de cetim, decorada com renda e pequenas pérolas, em volta de seu
pulso direito. Não importa a quantos bailes fosse, essa parte de cada noite
era sempre a preferida de Marjorie. Era a parte onde ela podia procurar por
velhos amigos, recolher seu cartão de dança e sentir um estremecimento de
antecipação de que essa noite ia ser diferente de todas as outras. Em sua
primeira temporada, tinha estado tão excitada com a perspetiva do baile, que
seu estômago tremia pelas possibilidades. Tinhas estado perfeitamente
ciente da atenção que atraía e tinha regozijado disso.

Agora, havia muito menos excitação, mas ainda sentia um prazer em


ser parte de algo especial. mesmo enquanto Marjorie olhava em volta tentou
encontrar alguns amigos, ela sabia que até ao final da noite, um novo e
estranho vazio se iria instalar. Era como estar ansiosa por um aniversário
maravilhoso, apenas para perceber que a única coisa que tinha acontecido é
que estava um ano mais próxima de morrer. Marjorie franziu o cenho. Não
era bom ter tais pensamentos de deploração num dos principais eventos da
temporada. Meu Deus!

― Um cêntimo por seus pensamentos.

Marjorie se voltou para ver Katherine ao seu lado.

― Oh, Katherine, você não quer saber. ― Quando os olhos de sua


amiga aumentaram, se lembrou de sua última conversa e disse rapidamente.
― Estava pensando que os bailes se estão tornando muito tediosos.

― Sempre achei que fossem. ― Disse Katherine. ― Este, felizmente,


será nosso último até o próximo ano. Vamos partir depois de amanhã.
Graham está impaciente para regressar a Avonleigh. Temos tantos planos.

Katherine laçou seu braço ao de Marjorie e a puxou para o grande


salão de dança. Lá fora, as damas solteiras estavam de pé, em fila para
pegar seus cartões de dança e as duas mulheres se juntaram à fila.

― Ele está aqui, sabia?

― Quem?

Katherine lhe deu um pequeno olhar de exasperação.


150
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Mr. Norris. Ele está aqui. Ele e Graham já foram para o salão de
bilhar.

Marjorie ainda estava dolorida de seu último encontro com Mr. Norris
e não tinha certeza se sequer queria ver o homem.

― Mr. Norris pode ir para o inferno. ― Disse em voz baixa.

― Não quis dizer isso. ― Katherine disse suavemente,

Oh, mas ela quis dizer sim. Pelo menos desejava se sentir dessa
forma.

Marjorie recolheu seu cartão e as duas amigas entraram no salão de


dança, dando um arfar coletivo. Estava além de impressionante, com cestas
suspensas de heras e delicadas lobélias e cristais brilhantes que cintilava à
luz das lâmpadas de gás, fazendo com que o grande salão parecesse ter sido
decorado por uma fada.

― Oh, é adorável. ― Disse Katherine. ― Acho que terei que pedir


emprestada esta ideia quando tivermos nosso primeiro baile em Avonleigh.

― E quando é que isso será? ― Perguntou Marjorie.

― Pelo menos não será em um ano, acho. Nossa primeira prioridade e


colocar o moinho a funcionar e então Graham tem planos para construir
uma fábrica de cerveja para dar aos agricultores de lúpulo um sítio para
vender sua colheita.

Marjorie sorriu com o entusiasmo de sua amiga e reparou no seu uso


das palavras “nossa primeira prioridade”. Se perguntava se alguma vez iria
sentir tal entusiasmo pelos interesses de Lorde Shannock. Oh, falando no
diabo, ela pensou, vendo o homem olhando em volta do salão. Ela engoliu
forte, tendo esquecido quão pouco atraente ele era. E trémulo. Seus
movimentos eram aguçados e distintos, com um lagarto procurando uma
presa. Ela percebeu com um sobressalto que ela era a presa quando ele
apanhou seu olhar e começou se movendo para ela.

― Me salve. ― Sussurrou no ouvido de Katherine. ― Vê o homem


magro vindo em nossa direção? ― Katherine assentiu. ― Mamãe quer que me
case com ele.

Katherine se voltou e lhe deu um olhar afiado.

― Mas ele é idoso.

― Ele tem um título e é nosso vizinho. Era amigo de meu pai e desde
que tive minha estreia ele tem dado indícios de estar interessado em uma
união. Minha mãe o recusava porque achava que me sairia melhor, mas
151
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

agora…. Oh, olá, Lorde Shannock. ― Disse com um pouco de excesso de


entusiasmo. ― Me deixe lhe apresentar minha querida amiga, Katherine
Spencer, Condessa de Avonleigh.

― Lady Marjorie. ― Ele fez uma revêrencia e uma pequena folha de


cabelo oleoso se soltou, revelando um pouco de sua careca. ― Um prazer
conhecê-la, Lady Avonleigh.

― Um prazer, Lorde Shannock. Lady Marjorie estava agora mesmo me


dizendo que são vizinhos.

As sobrancelhas peludas brancas e pretas de Lorde Shannock se


levantaram.

― É americana. ― Disse. Soou como se fizesse uma acusação.

― Sou. E você é inglês. ― Disse Katherine, como se estivesse jogando


um jogo de salão e acabasse de dar a resposta correta.

― Sim. ― Disse Lorde Shannock rigidamente. ― Lorde Avonleigh está


aqui esta noite?

― Está, de fato. O vi se dirigindo para o salão de bilhar nem faz dez


minutos. É um conhecido de meu marido?

― Meu filho andou com ele em Cambridge.

Katherine sorriu.

― Me parece demasiado novo para ter um filho da idade de Graham.

Marjorie pressionou os lábios juntos para não rir alto. Katherine


conseguia ser cá uma paqueradora. Mas Lorde Shannock sorriu, revelando
um conjunto de dentes com péssimo aspeto. Nesse momento, ela o imaginou
a beijando do mesmo modo que Charles tinha feito, a tocando e se sentiu
enjoada.

― Me perdoe, milorde, mas tenho que encontrar minha mãe. Lhe


prometi que levaria Lady Avonleigh até ela assim que a encontrasse. E como
pode ver, assim o fiz.

Lorde Shannock olhou em volta, depois voltou a fazer uma reverência,


soltando aquela secção firme de cabelo.

― Antes de ir, minha querida, posso ser tão ousado como para pedir
que me dê a honra da primeira valsa.

Marjorie sorriu como se estivesse encantada.

― É claro, sir. ― Lhe entregou o cartão e Lorde Shannock escreveu seu


nome. Dando ao homem uma pequena reverecia, Marjorie agarrou o braço
152
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

de Katherine e a afastou como se Lorde Shannock pudesse começar a


persegui-las.

― Não, não, não, você não pode casar com ele. ― Disse Katherine
quando estavam longe dos ouvidos de Lorde Shannock.

― Eu sei. ― Disse Marjorie miseravelmente. ― Mas mamãe está


determinada. Ela insiste. Que escolha tenho, realmente? Há três anos que
não recebe nenhuma proposta de casamento. Apenas ontem percebi disto.
Três anos. Diria que as chances são muito baixas de que vá ter outra
proposta esta temporada. Meu cartão de dança já quase não fica cheio agora
e se fica, é porque George está presente.

Katherine apertou seu braço.

― Ainda não é hora de entrar em pânico.

― Sim, é. É a hora perfeita para entrar em pânico. Viu seus dentes?


Oh, Deus.

― Você não vai casar com Lorde Shannock. ― Disse Katherine, como
se fosse uma certeza.

― Não vou?

― É claro que não. Você vai casar com ele. ― Disse Katherine,
apontando para sua direita.

Marjorie olhou para lá e viu Lorde Avonleigh e Mr. Norris se dirigindo


para elas.

― Lorde Avonleigh já está casado. ― Ela disse sombriamente.

Katherine riu.

― Quis dizer o outro. O grande e atraente empertigado que está ao lado


de meu maravilhoso marido. O grande e atraente empertigado que está a
olhar para você como se você fosse o sol que surgiu após uma longa noite de
inverno.

― Pare. ― Disse Marjorie. ― Se não se recorda, estou muito zangada


com esse grande empertigado, quer seja atraente ou não. ― Apesar de suas
palavras, sentiu um sorriso querer aparecer porque Mr. Norris estava
olhando para ela da forma que Katherine descrevera. Se não tivesse cuidado,
começaria a acreditar que tudo era possível.

Marjorie fez uma reverencia aos homens e disse.

― Pensei que estariam jogando bilhar a noite toda.

153
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Eu bem queria, mas Mr. Norris insistiu que saíssemos e dessemos


algumas voltas pelo salão de baile.

― Acho que Lady Caroline ainda não chegou. ― Disse Marjorie,


friamente. ― Pelo menos ainda não a vi.

― Não estou procurando Lady Caroline neste momento. ― Disse Mr.


Norris com uma estranha intensidade.

A seu lado, Katherine se moveu para o lado de seu marido.

― Gostaria de ver a mesa de refrescos. ― Disse, puxando Lorde


Avonleigh para o outro lado do salão. Katherine deu ao casal desatento um
olhar pontudo e Graham logo pegou seu significado.

Marjorie nem sequer tinha percebido que eles tinham partido. Não
estava consciente de mais nenhuma pessoa no salão. Tudo em que
conseguia pensar era no que Katherine lhe tinha dito, que ela tinha a certeza
de que Charles a amava. E ali, não muito fundo em sua mente, estava um
plano que faria o casamento não só possível, como uma certeza.

― Se importaria de dar uma volta pelo salão comigo? ― Perguntou Mr.


Norris.

― Acho melhor não. ― Disse Marjorie, as palavras cruéis dele ainda


vibrando em seus ouvidos. Ela podia até se derreter por dentro quando o viu,
mas não seria uma tola por ele. Não iria passar por parva se ele apenas
pensava nela como uma encantadora distração de seu verdadeiro propósito.

― Sei que me comportei terrivelmente ontem. Peço as mais profundas


desculpas. Por favor, não vai caminhar comigo?

Ele parecia francamente sincero e Marjorie se sentiu ceder.

― Minha mãe pode objetar. ― Disse.

― Que se dane sua mãe. ― Ele estava sorrindo, mas o olhar de


determinação em seu rosto era emocionante.

― Muito bem, apesar de que não quero realmente que minha mãe se
dane.

― Claro que não. Me contentaria em simplesmente deixá-la frustrada.

O coração de Marjorie começou a acelerar. Algo estava diferente em


Charles nessa noite. Ele era mais intenso, mais sério do que ela alguma vez
vira. Começaram caminhando em volta do salão em silêncio. Passando por
vários grupos que se tinham reunido para conversar.

154
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Não pretendo pedir a mão em casamento de Lady Caroline. ― Disse


Charles espontaneamente.

Oh, seu coração quase parou à medida que uma esperança terrível a
invadiu.

― Oh? Vocês não combinam?

― Combinamos. Mas estou apaixonado por outra pessoa. Extrema e


profundamente.

Marjorie não conseguia responder, porque em seu coração, ela


desejava que fosse ela essa outra pessoa. Mas e se não fosse? E se Katherine
estivesse errada?

― Não está curiosa por saber quem roubou meu coração? Pensaria
que, como minha casamenteira, você ficaria. Afinal de contas, foi você quem
me juntou a meu amor em primeiro lugar.

Seu coração vacilou um pouco ao ouvir isso. Ele estava sendo tão
indiferente, tão calmo.

― Quem é a dama sortuda? ― Disse Marjorie, tentando


desesperadamente não soar como se realmente se preocupasse de qualquer
forma.

― Ela é encantadora. Inteligente. Me faz rir. Acho que ela me ama, mas
não tenho certeza. Acredito que posso desistir completamente do amor se ela
não retribuir meus sentimentos. Acho que não vou conseguir superar esta,
se ela quebrar meu coração.

Marjorie parou de andar e estar bastante consciente de que eles


estavam num salão de baile rodeados de pessoas que ela conhecia, pessoas
que muito provavelmente iriam relatar para sua mãe que ela esteve se
exibindo pelo salão de baile de braço dado com o único homem que sua mãe
parecia antipatizar mais do que qualquer outro.

― Mr. Norris, por favor não me mantenha em suspense nem um


momento mais. Quem é ela?

― Você. ― Ele disse suavemente, com a mais pequenas das


gargalhadas. Começou caminhando de novo e ela o seguiu, agarrando seu
braço com um pouco mais de força, seu coração quase explodindo. ― Espero
que retribua meus sentimentos pelo menos um pouco.

Marjorie queria gritar de felicidade, atirar seus braços em volta dele e o


beijar e beijar, mas estava no meio de um salão de baile e em vez disse
sorriu educadamente.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Mal consigo respirar de tanto que o amo.

Seus passou para apenas um momento.

― Graças a Deus.

Ela apertou seu braço um pouco e os dois caminharam


silenciosamente como se tivessem acabado de falar sobre o tempo e tinham
ficado sem tema de conversa. Quando fizeram uma volta completa ao salão,
se voltaram um para o outro, seu segredo queimando em seus olhos.

― Tenho um plano.

― Eu sei o que fazer.

Falaram ao mesmo tempo, depois pararam. Marjorie viu sua mãe


vindo em sua direção e todo o seu corpo ficou tenso.

― Tenho que ir. Minha mãe.

― Deixarei uma nota. ― Ele sussurrou e depois disse mais alto. ―


Obrigado, miladie. Passarei a Lady Caroline suas felicitações quando ela
chegar.

Dorothea, cujos olhos não tinham deixado Marjorie enquanto ela


caminhava pelo salão com Mr. Norris, relaxou visivelmente.

― Mr. Norris. ― Disse, Dorothea com um assentimento. ― Acredito que


Lady Caroline chegou.

Mr. Norris fez uma revrencia e, dando a Marjorie um último olhar, se


dirigiu para a entrada do salão de dança, onde Lady Caroline estava com sua
mãe. Mas Marjorie não se importava. Ela não se importava que Charles se
baixasse para a mão de Lady Caroline e a beijasse. Porque ela sabia que ele
a amava, que ele tinha um plano. Talvez eles pudessem fugir. Ou talvez ele
de alguma forma convencesse sua mãe de que um título era uma coisa sem
importância. Ela mal podia esperar para descobrir o que era. E se ela não
gostasse do plano, tinha um de sua autoria.

Sim, serem apanhados juntos estava cheio de perigos e ela teria que
suportar o escândalo e o profundo desapontamento de sua mãe. Ela se
lembrava de como sua mãe tinha dicado chocada quando lhe falou dos
perigos em que Katherine e Graham se tinham colocado por poderem ser
encontrados. Seria simplesmente horrível desapontá-la, mas ela o faria se
significasse que ela e Charles podiam ficar juntos.

Não seria fácil enfrentar a censura das pessoas que conhecia por toda
sua vida, que sem dúvida pensariam nela com menos estima. Mas ela não
conseguia evitar recordar como tudo tinha corrido bem para Katherine.
156
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Ninguém a afastou. Ela estava nesse baile, cumprimentando pessoas que


tinha conhecido durante a pequena temporada como se nada de escandaloso
tivesse alguma vez ocorrido.

Claro, Graham tinha um título elevado e isso protegeu Katherine de


outros efeitos malignos. Também era visível para qualquer um que os visse
juntos que estavam muito apaixonados. Seriam essas mesmas pessoas
capazes de deixar passar o erro de Marjorie quando ela se tornasse uma
simples senhora?

― Mr. Norris veio lhe trazer alguma boa notícia sobre seu cortejo a
Lady Caroline? ― Perguntou Dorothea. ― Você parece satisfeita.

― Estou satisfeita, mamãe. Veja, a grande marcha vai começar.


Prometi a Lorde Shannock a primeira valsa. Até agora é o único nome em
meu cartão.

― Mr. Norris não a convidou para dançar?

― Não, não convidou.

― E isso a deixa desapontada? ― Marjorie estava observando muitos


dos convidados se reunindo para a grande marcha, mas podia perceber os
olhos de sua mãe nela.

― Nem um pouco.

― É bom ouvir isso. Temi que sentisse mais afeição pelo homem do
que devia.

Marjorie se voltou para olhar sua mãe.

― Eu sinto alguma afeição por ele mãe. ― Disse cuidadosamente. ― É


um homem maravilhoso.

― Desde que não sinta demasiada, pois parece que suas atenções
agora são para Lady Caroline. E que par encantador que fazem, não é? Aqui
vem Lorde Shannock, está bastante elegante esta noite.

Ele parecia tão elegante quanto era possível, percebeu Marjorie.


Subitamente, não se importava se tinha que dançar todas as danças com
Lorde Shannock, porque sabia que casaria com Charles. Apenas precisavam
determinar como o fariam.

Quando Marjorie acordou no dia seguinte, era quase meio dia. Ficou
deitada na cama por um momento, a excitação borbulhando dentro dela.
Saltou da cama e correu para seu roupeiro, procurando por seu novo vestido
de tarde purpura escuro com botões de pérola à frente. Estava lutando com

157
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

o corpete quando Alice entrou no quarto, um pouco zangada por sua


senhoria não ter chamado por ela.

― Nunca vestirá o púrpura sem minha ajuda, miladie. ― Disse Alice, se


movendo para trás dela e puxando as fitas. ― Sua mãe já se levantou e saiu.

― Sério? Sabe para onde foi?

― Não, não sei. Mas ela foi na nova carruagem, se estava pensando em
sair, miladie.

― Não planejei nada definido. Por outro lado, ainda não vi o correio da
manhã e tenho negligenciado minhas amigas, como bem me lembraram
ontem à noite. Ficaram tão zangadas comigo e não posso dizer que as culpo.
Foi tão bom as ver e fizemos planos para nos visitarmos antes de deixarmos
Londres em agosto.

De fato, Marjorie tinha passeado pelo salão como se andasse nas


nuvens, falando com amigos, alegremente fazendo planos de participar de
almoços e chás. Ela e Charles não dançaram, mas durante toda a noite
apanhavam os olhares um do outro e sorriam (muito subtilmente) para não
atrair atenção indesejada. Tinha sido uma coisa tão deliciosa guardar seus
segredos para si mesma. Apenas Katherine sabia o que tinha acontecido e
ela tinha ficado tão encantada, quase deitando tudo a perder.

― É bom voltar a vê-la sorrir. ― Disse Alice carinhosamente.

― Tenho estado um pouco deprimida ultimamente, não tenho?

― Oh, não, não diria isso. Mas devo dizer que tem faltado um certo
brilho em seus olhos nestes últimos meses.

Marjorie olhou para o espelho e sorriu para seu reflexo. Engraçado, ela
não tinha percebido como tinha estado desligada até agora.

― Acho que estarei sorrindo bem mais daqui a diante.

― Oh?

― É um segredo. ― Marjorie deu a sua criada uma piscadela e


caminhou para a porta, fazendo Alice rir.

― Em outras palavras, é um homem. ― Disse Alice com um suspiro


depois que sua senhora saiu do quarto.

Marjorie se dirigiu à sala de café da manhã e agarrou um scone e um


guardanapo e se dirigiu ao jardim, tirando uma grande dentada pelo
caminho. Não tinha tempo para delicadezas essa manhã. Cantarolando “O
Danúbio Azul”, a música que estava tocando quando dançou com Lorde
Shannock, caminhou pelos jardins e fora do portão traseiro. Com uma
158
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

rápida olhada para cima e para baixo da rua, puxou o tijolo livre, sorrindo
imenso quando viu o simples papel branco que Charles usava.

Abriu a nota bem ali, o sol da tarde aquecendo seu pescoço enquanto
se curvava para ler a mensagem. Eram apenas duas frases.

Precisamos ficar comprometidos. Estarei no baile Hartford


amanhã à noite.

Ela deixou escapar uma pequena gargalhada antes de correr de volta


pelo portão. Abraçou o papel a seu peito antes de dobrar e o colocar na saia
de seu vestido.

Isto era uma ideia horrível e maravilhosa. Sua mãe ficaria


positivamente horrorizada, pensou Marjorie com muito pouca culpa. Para
além de fugir, pensou, era a única forma e a que causaria menos conflitos.
Confrontar sua mãe criaria uma cena feia e uma que poderia acabar em
mais ameaças e castigos contra seu irmão. Marjorie não percebia porque sua
mãe insistia em que tivesse um título. A maioria das mães ficavam
perfeitamente contentes que suas filhas casassem com um bom homem de
boas famílias que tivesse um bom rendimento. Charles preenchia todos
esses requisitos. Essa obsessão que sua mãe tinha era positivamente
insondável. Ainda assim, ela tinha alinhado com isso por anos simplesmente
para a apaziguar. Honre sua mãe. Era algo que tinha levado muito a sério.
Queria honrar sua mãe, a queria agradar. Que filha não queria? O
pensamento de a desapontar ia contra tudo em que acreditava.

Mas se ela fosse comprometida, a decisão deixaria de ser de sua mãe.


Ela não podia objetar publicamente, não podia discutir contra um
casamento quando o casamento era a única solução para o escândalo. De
fato, o casamento seria uma bênção, uma forma de impedir a desgraça. Sua
amiga Katherine não era o exemplo perfeito?

Lady Summerfield desceu de sua carruagem e deu uma fungadela.


Russel Square dificilmente era considerado um bairro que ela visitasse
muito. Os Cavendish tinham arrendado uma casa agradável, mas pequena,
no que se poderia considerar ser o limiar de uma morada da moda. O
pessoal do campo muitas vezes ignorava como era importante a morada
certa e esta não era a morada certa se uma pessoa quisesse introduzir sua
filha na sociedade.

Ela subiu, determinada, as escadas de mármore, notando com alguma


satisfação que estavam limpas e deu um forte puxão na campainha. Em
159
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

poucos momentos, a porta abriu e um mordomo lhe estava fazendo uma


reverencia.

― Por favor, informe o Escudeiro Cavendish que Lady Summerfield


está aqui. ― Disse.

Os olhos do mordomo aumentaram um pouco após escutar o elevado


título da mulher que estava à sua frente e a deixou entrar com uma
reverencia deferente. Pareceu momentaneamente confuso sobre onde deveria
levar tão fina dama para esperar, então decidiu-se por uma pequena sala
bem iluminada na parte da casa virada para a rua.

― Gostaria de algum chá enquanto espera? ― Perguntou.

― Claro que não. ― A dama vociferou enquanto olhava pela sala. Não
estava bem mobilada, pelo menos não da forma que impressionasse uma
boa dama. Permaneceu de pé avaliando os materiais gastos do sofá um
pouco preocupada. Não, não se podia sentar e dar a entender que isto era
uma visita social. Não era.

Dentro de poucos minutos, um grande homem que ela imediatamente


reconheceu com sendo o escudeiro estava na entrada, olhando para ela com
um grande sorriso, como se estivesse feliz por vê-la em sua casa.

― Seja bem-vinda, miladie. Que prazer é vê-la e em tão feliz ocasião


quanto esta.

― Não é um prazer de maneira nenhuma. ― Disse Dorothea. ― O meu


filho não se vai casar com sua filha. Claramente pode ver que não é uma boa
união, para nenhum deles.

O sorriso do escudeiro vacilou e seus olhos ficaram um pouco mais


frios.

― Temo que não compreendo. Seu filho pediu pela mão dela, minha
filha aceitou e eu lhes dei minha bênção.

― Seria sem dúvida uma união vantajosa para sua filha. Imagino que
lhe dar uma estreia em sociedade foi bastante dispendioso. Muitos
cavalheiros do interior não se aventuram por Londres por essa razão.
Quantos anos tem sua filha?

Ele levantou o queixo e colocou suas mãos atrás das costas, agora
bastante ciente do que era tudo isto.

― Vinte e dois.

Lady Summerfield pareceu chocada.

― E esta é sua primeira temporada?


160
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Sim, miladie, é. Sentimos que ela deveria ter uma. Como tenho
certeza que está ciente, Ipswich é um distrito sossegado sem muitos
entretenimentos pôs uma jovem garota.

― Jovem. ― Ela respondeu pensativa. ― Sim. E ela conseguiu


encontrar um marido com um impressionante título durante sua primeira
temporada. Parabéns. Mas este casamento não pode acontecer. Certamente
sabe disso. A menos, claro, que haja uma razão para que aconteça?

― Tenho certeza que não pretende insultar, miladie, mas lhe devo dizer
que realmente insultou a mim e a minha filha.

Lady Summerfield levantou uma sobrancelha como se estivesse


chocada por suas palavras.

― Não quis insultar nem você nem sua filha, sir. No entanto, pretendo
injetar algum senso comum nas crianças. Certamente que apenas suas
diferentes posições sociais fariam a união inaceitável.

― Lilianne está disposta a colocar de lado o título, miladie, por isso


não tem que se preocupar de que estejamos incomodados com isso.

Os olhos de Dorothea ficaram decididamente mais frios.

― Tenho certeza que pretendia ser engraçado, Mr. Cavendish, mas lhe
asseguro que não achei piada nenhuma. Vamos ao ponto da questão, sim?
Meu filho é um idiota e nunca deveria casar ou ter filhos. Não o permitirei. ―
Olhou em volta da sala, avaliando a pobre mobília, a carpete gasta,
silenciosamente dando sua opinião do lugar. ― Certamente podemos chegar
a um acordo que seria lucrativo para ambos.

A mandíbula de Mr. Cavendish ficou tensa.

― Quer dizer, nos pagar? Se esse é seu plano, temo que tenha perdido
seu tempo vindo aqui.

Um pequeno barulho vindo da porta atraiu sua atenção e ambos se


voltaram para ver Lilianne parada lá, seus olhos arregalados. Ela deu uma
profunda reverencia.

― Miladie, que honra que tenha vindo a nossa casa. ― Disse


suavemente. ― Papai, ofereceu a Lady Summerfield chá?

― Temo que Lady Summerfield não permanecerá muito mais tempo


aqui, minha querida.

― Então. ― Disse Dorothea, voltando seu olhar para Lilianne. ― Você


afirma amar meu filho. Acho isso muito difícil de acreditar.

161
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― O amo, madame. Lorde Summerfield e eu nos conhecemos desde


que eramos crianças e sempre fomos amigos.

― Me perdoe, mas não posso permitir que meu filho case com uma
garota de tão baixo berço. De fato, não posso permitir que meu filho case de
todo. sabe que ele não está muito bem e que o force a um casamento dessa
forma é imoral.

As bochechas de Lilianne ficaram vermelhas e seu pai soltou um com


de protesto.

― George é um homem brilhante e maravilhoso. A verdadeira tragédia


aqui, Lady Summerfield, é que tem uma mãe que não reconhece esse fato.

― Trinta mil libras. ― Disse Dorothea de forma sucinta.

Mr. Cavendish ficou pasmo ao escutar soma tão ridícula.

― Poderia dar a todas as suas filhas, se não me engano tem outras


três, verdade? Uma temporada. Certamente que tal quantia tornaria sua
vida mais fácil.

― Faria. ― O escudeiro disse pensativo.

― Papai!

― Vamos, Lilianne, eu não aceitei.

― Nem o fará. ― Chorou Lilianne. ― É um insulto e é obsceno.

― É uma grande quantia de dinheiro. ― Disse o escudeiro


pensativamente, enquanto Lady Summerfield lhe dava um sorriso de
satisfeito.

― Então temos um acordo? Trinta mil libras e termina o noivado.

― Não, papai. Se fizer isso, nunca mais falarei com o senhor.

O escudeiro olhou sua filha e lhe deu a mais subtil das piscadelas.

― É uma grande quantia de dinheiro, Lilianne. Precisamos reparar os


estábulos. E as cozinhas estão tão desatualizadas que o cozinhas está
constantemente se queixando. E suas irmãs, ficaram incrivelmente
ciumentas de que tivesse sua apresentação e levarão anos até que possam
ter as suas.

― Posso passar um cheque imediatamente. ― Disse Lady Summerfield,


abrindo sua retícula. Tirou um cheque. ― Pena e tinta, se não se importa.

― Pena e tinta? ― Perguntou o escudeiro, como se ela tivesse pedido


por um pêssego em fevereiro. ― Temo que não temos nenhum em casa. Oh,
162
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

céus. Parece que afinal não temos acordo. ― O escudeiro parecia prestes a
explodir de riso e sua filha a seu lado tinha um pequeno sorriso no rosto. ―
Realmente acredita que iria vender a felicidade de minha filha por trinta mil
libras, miladie? Não o faria nem por um milhão. Bom dia, madame.

Os olhos de Lady Summerfield ficaram com as emoções mais estranha,


como se tivesse morrido, já que estavam frios e sem vida. Ela fecho a
retícula, suas bochechas vermelhas. Marchou para a porta, cabeça alta e a
frieza em seus olhos se tornou raiva quente.

― Se pensa que vai haver um casamento em setembro, ― Disse da


porta ― Está muito enganado. Bom dia.

Depois que ela partiu, Lilianne se atirou aos braços de seu pai.

― Oh, obrigada, papai. Quase me assustou de morte.

― Queria me divertir um pouco com o velho machado de guerra, mas


me perdoe se lhe causei algum distúrbio. Que pessoa horrível que ela é. Tem
certeza que quer ser parte dessa família?

Lilianne assentiu.

― Adoro George e sua irmã. E decidimos enviar Lady Summerfield para


sua casa em Exeter. Nunca teremos que a ver.

O Escudeiro Cavendish sorriu para sua filha.

― Posso apenas esperar por seu bem que seja verdade.

Marjorie não se sentia tão nervosa num baile desde sua apresentação.
Seu estômago estava cheio de borboletas, suas mãos enluvadas tremiam
enquanto recolhia seu cartão de dança. Com sua mãe observando
cuidadosamente, Marjorie tentou o seu melhor por não parecer demasiado
constrangida.

― Lorde Shannock já está aqui. ― Disse Marjorie, olhando além da


cabeça com turbante de sua mãe. Ela começou usando o horrível adereço
quando leu um artigo no Times elogiando a rainha Vitória, que tinha usado
um em Ascot. ― Vou fazer o possível para lhe guardar uma dança.

― Estou feliz que tenha mudado de ideias, querida.

Marjorie deu a sua mãe um sorriso fraco.

― Não mudei completamente, mamãe, mas reconheço que minhas


opções ficaram limitadas.

― Hush. Você podia ter qualquer homem deste salão, minha querida.
163
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Marjorie levantou uma sobrancelha.

― Mudou de ideias sobre Lorde Shannock?

Dorothea, numa rara demonstração pública de carinho, colocou sua


mão no pulso de sua filha.

― Eu quero que seja feliz, querida, não importa o que possa pensar.
Parece que meus poderes para persuadir meus filhos a fazer o que digo têm
vindo a diminuir.

― Oh?

― Seu irmão está determinado a casar com aquela garota Cavendish e


não tenho nenhum poder para parar. Uma filha de escudeiro. Realmente.

― Mas mamãe, acho que eles serão felizes juntos. Ela conhece George
desde sempre e o compreende. Ele tinha que casar a certa altura.

Sua mãe abanou a cabeça.

― Ele terá um herdeiro e temo que o defeito continue.

Marjorie sentiu sua cara arder de raiva.

― Sabe que não gosto quando diz essas coisas sobre George.

― Sua opinião do que eu digo não muda a verdade do assunto. ― Disse


Dorothea sucintamente. ― Lamento que fique magoada por ouvir a verdade,
mas não posso oferecer outra coisa.

Marjorie sufocou um suspiro zangado e tentou não se irritar com as


palavras de sua mãe.

― Não vamos brigar esta noite.

― Eu não estava brigando. ― Dorothea disse, quase docemente. ― Você


estava, minha querida.

Marjorie deu a sua mãe um grande sorriso.

― Sim, é sempre gratificante brigar sozinho.

Ela não deixaria sua mãe arruinar o que seria a noite mais feliz de
todas. Nessa noite ela ficaria noiva. Saberia que seu futuro estaria com o
único homem que alguma vez amou. Podia não acontecer da maneira com
que sempre tinha sonhado, mas aconteceria. Se preparou mentalmente para
a horrível cena que certamente ocorreria assim que sua mãe soubesse dos
eventos.

Na questão de bailes, o baile Hartford era um assunto pequeno e


íntimo com menos de cinquenta pessoas a comparecer. Marjorie se
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

perguntou como Charles, que tinha estado longe da Inglaterra tanto tempo,
tinha conseguido adquirir todos os convites que tinha. Enquanto olhava em
volta do salão, viu Lady Caroline ao lado de sua mãe e Marjorie sentiu uma
pontada de culpa. Esperava que a pobre garota não estivesse esperando por
um pedido de casamento de Charles, mas tinha poucas dúvidas de que
assim fosse. Ela parecia uma garota simpática e Marjorie não lhe desejava
nenhum mal, apenas que se mantivesse bem solteira por apenas mais um
dia.

Marjorie olhou para baixo, sorrindo, tentando esconder de sua mãe a


completa felicidade que sentia.

Desejava que Katherine estivesse no baile, mas ela e Lorde Avonleigh


estava a caminho de Avonleigh e Marjorie se sentiu um pouco triste por sua
amiga não estar lá para a apoiar. Era a única mulher que conhecia que iria
compreender como ela se sentia.

Charles chegou, parecendo impetuoso e maravilhoso e Marjorie


reparou pela primeira vez na reação das outras mulheres do salão.
Principalmente na reação das mãe e acompanhantes. Subitamente ficou
claro como Charles tinha conseguido ser convidado para todos os melhores
eventos da temporada. Era obviamente considerado o melhor partido. Ela viu
mais que uma mulher mais velha cutucando uma mais nova a seu lado para
indicar que ele tinha chegado. Ele é meu, Marjorie gritou feliz e
silenciosamente para as pobre e miseráveis garotas que não tinham
nenhuma hipótese de o ganhar.

Charles a viu e sua respiração parou. Ela era tão bonita e ela
conseguia ver a travessura em seus olhos enquanto ela observava o salão,
cuidadosamente evitando olhar para ele. Ela adorava aventuras e ele usaria
cada dia de sua vida para que ela as tivesse. Viajariam pelo mundo, veriam
tudo o que ela sempre sonhou ver. Quando tivessem filhos (e os teriam),
educariam pequenas pessoas felizes que teriam tanta alegria em si quanto
sua mãe. Nessa noite sua verdadeira aventura começaria. Ele dificilmente se
conseguia conter, mal conseguia caminhar pelo salão como se esta não fosse
a noite mais importante de sua vida.

Estava muito inquieto. De uma maneira estúpida. A única coisa pelo


que conseguia estar grato era que nenhum de seus amigos estava por perto
para o ver tão perdidamente apaixonado. Mal se conseguia impedir de olhar
para ela enquanto ela estava com sua mãe e um homem magro e dicando
careca que não parava de olhar descaradamente para os seus seios. Queria
bater no indivíduo, mas Charles não faria nada para perturbar seus planos.
E Marjorie parecia mais perplexa pelo franco exame do homem do que
ofendida, por isso deixou passar. Por enquanto.
165
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Passeou pelas áreas públicas da casa de Hartford, procurando por um


quarto onde eles poderiam estar em privado por um bocado, mas onde quase
com certeza seriam descobertos. Espreitando em algumas salas, escolheu
uma sala duas portas depois do salão e do outro lado de um escritório
pequeno e escuro. A sala tinha um sofá (perfeito para a sedução) e estava
iluminada o suficiente para que, se alguém se aventurasse a entrar, ele ou
ela os veriam imediatamente. Analisou a sala com olho crítico, decidindo
finalmente que o sofá deveria ser posicionado de maneira a dar uma melhor
visibilidade. Com um rápido empurrão, o sofá estava agora diretamente
frente à porta. Perfeito.

Esperar seria a parte mais difícil. Teria que atuar como um homem
que ainda estava procurando uma noiva, mas não conseguia ignorar
Marjorie completamente. Pareceria estranho a trazer à sala sem trocar uma
única palavra com ela antes. Decidiu que deveria enfrentar a hostilidade de
sua mãe e pedir uma dança a Marjorie. Encontrou o par na borda da pista
de dança, vendo os dançarinos. No que dizia respeito a salões de dança, o
dos Hartford era bastante pequeno e podia apenas acomodar uma mão cheia
de casais de cada vez. Lady Summerfield reparou em sua aproximação antes
de Marjorie e enrijeceu, seu maxilar quadrado apertando notavelmente.

― Lady Summerfield, Lady Marjorie. Estão disfrutando da noite até


agora?

― Claro. ― Disse Dorothea. ― Porque não estaríamos?

― Mamãe, ele estava apenas tentando ser educado.

― Claro que estava. ― Disse Dorothea, como se nunca o tivesse


questionado. ― Onde está Lady Caroline?

Charles sorriu por sua obvia indicação de que ele deveria estar em
outro lugar.

― Não faço a mínima ideia. Vim aqui pedir uma dança a sua filha. Por
coincidência, tem alguma dança livre em seu cartão, Lady Marjorie?

― De fato tenho, sir. ― Marjorie lhe entregou seu cartão que tinha
apenas duas danças reservadas ambas, reparou Charles, por Lorde
Shannock. Se conseguisse o que queria, estas seriam as últimas ocasiões
que permitiria que Lorde Shannock a tocasse. Não tinha dúvidas de que
Lorde Shannock era o velho lascivo que esteve com os olhos cravados em
Marjorie de forma tão óbvia.

― Vejo que tem a próxima polca livre. Vamos?

166
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

A polca começou imediatamente e Marjorie, rindo, pegou a mão dele


enquanto ele a conduzia para a pista. Charles teria preferido a valsa, mas a
polca teria que servir seus propósitos da mesma maneira.

― Não tenho certeza se minha perna pode aguentar este pular por uma
dança inteira. ― Disse Charles enquanto girava Marjorie pela pista. ― Duas
portas em frente. A sala. À meia noite e meia.

Ela sorriu para ele.

― Temo que não consegui entender. ―Ela disse, e o coração dele


estremeceu. Ela não percebeu sua nota? Então Marjorie riu.

― Oh, Mr. Norris, é tão fácil de provocar. É claro, sim. Sim e sim. ― Ela
estava ficando sem folego pela dança. Sem dúvida que seu corpete estava
bastante apertado. Francamente, ele mesmo precisava de uma desculpa
para parar de dançar; começava a sentir o incessante pulsar de sua perna
que antecedia a verdadeira dor se ele continuasse.

― Temo que minha perna não consegue continuar, Lady Marjorie. Se


me desculpar?

― Claro. ― Enquanto a conduzia para fora da pista de dança, evitando


os outros dançarinos, ela disse. ― Isto não será agradável, sabe.

― Oh, minha querida menina, será a coisa mais agradável que fiz em
muito tempo. ― Ele disse e observou como ela tentava conter um sorriso.

Quando chegaram junto de Lady Summerfield, ele soltou Marjorie.

― Peço desculpas. Minha perna está atacando de novo e tive que


encurtar nossa dança.

― Sua perna, sir?

― Ferido, madame, em Ashanti.

― Que horror. Minhas simpatias. Oh, veja, Marjorie, Lorde Shannock


está vindo reclamar sua valsa. Tenha uma boa noite, Mr. Norris. ― Sua
subtil acentuação em cada uma de suas denominações era mais divertida
que outra coisa, ele decidiu. Logo, ela o estaria chamando de filho. Ele
deixou escapar uma risada, fez uma reverencia à dama e se afastou.

Marjorie aguentou duas valsas com Lorde Shannock, que


valentemente tentava não olhar os seios dela o tempo todo. Não tinha tido
sucesso. Era isso ou o pobre homem tinha algum tipo de problema dos olhos
que não deixava seus olhos subirem acima de um determinado nível que
dava a coincidência de corresponder à localização de seu decote.
167
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Mas ela não se importava. Não se importava que ele olhasse, que seu
cartão de dança não estivesse cheio, que Lorde Hartford pisasse seus pés
duas vezes durante sua dança, que sua mãe se regozijasse da atenção que
Lorde Shannock lhe dava. Apenas se preocupava com o relógio de cobre na
grande lareira por detrás da orquestra que dizia que passavam vinte e sete
minutos da meia noite. Sua mãe estava falando animadamente com Lady
Hartford, o que lhe permitiu sair do salão sem ser notada, enquanto dizia
“sala duas portas à frente” baixinho. Abriu a porta e ele já estava lá,
sentando num sofá diretamente virado para a porta.

― Venha aqui e permita que a comprometa. ― Disse com um grande


sorriso.

Marjorie mordeu o lábio e silenciosamente fechou a porta atrás dela.

― Tem certeza disto? Já antes pensou conhecer completamente seu


coração, apenas para descobriu que o tinha enganado.

― Você é a única mulher com quem consigo falar sem gaguejar. É a


única mulher que posso verdadeiramente imaginar fazendo parte da minha
vida para sempre. Te amo. Por favor, acredite nisso.

Ela lhe deu um pequeno aceno.

― Minha mãe pode matá-lo. Se prepare.

― Acredito que me consigo me defender de uma mulher pequena.


Agora, comecemos a nos comprometer.

Marjorie pressionou o ouvido à porta.

― Mas ainda não está vindo ninguém.

― Não me importo. Se não a beijo neste momento, devo morrer e sua


mãe nunca terá a satisfação de me matar.

Ele se levantou do sofá e caminhou para ela com determinação no


olhar.

― Acho que podemos ficar completamente comprometidos


simplesmente por estarmos sozinhos nesta sala. ― Disse ela. ― Não penso
que seja necessário nos beijarmos. ― Mesmo enquanto dizia estas palavras,
seus braços flutuaram para o pescoço dele e ela o puxou mais próximo.

― Eu acho que é necessário. ― Com um gemido, ele pressionou seus


lábios contra os dela e ela derreteu, bem onde estava. Era tão repentino, tão
intenso, que seus joelhos realmente se curvaram. Ele a levantou contra ele e
caminhou de costas, sem deixar de a beijar, até o sofá. Ela sentiu cada
pedaço firme dele, incluindo aquela parte masculina que pressionava contra
168
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

seu estômago e ficou ainda mais dura quando ele se deitou no sofá com ela
por cima dele.

Ele quebrou o beijo, ofegante.

― Talvez beijar não tenha sido tão boa ideia. ― Ele disse, seus olhos
castanhos vidrados de paixão. Ele moveu seu quadril, a deixando sentir
quão excitado estava e gemeu de novo. ― Quero estar dentro de você. ―
Disse, levantando seu quadril de novo.

Os olhos dela alargaram e ele riu.

― Agora não, garota tola. Mas um dia muito, muito em breve. ― Ele
fechou os olhos e ela beijou sua boca suavemente, adorando como o sentia
debaixo dela. Ele era grande, sólido e muito masculino. Cada músculo
estava firme e ela se perguntou se existia outra parte dele que fosse suave
como sua boca. Deitou a cabeça no peito dele e escutou o bater do seu
coração por alguns segundos antes de ceder à tentação e o beijar de novo.
Ela moveu sua língua contra os lábios dele e ele abriu a boca, tornando seu
beijo algo maravilhoso e carnal. Ela nunca soubera como o mero ato de
beijar podia ser tão estimulante. Quando ele moveu as mãos para as
nádegas dela, ela deixou escapar um som que nem sabia que conseguia
fazer. Calor se acumulou no meio de suas pernas, fazendo se mover contra
ele para procurar por algum tipo de alívio da estranha pressão que se estava
acumulando lá.

Ele se virou então, a pressionando contra as costas do sofá. Não era


uma peça de mobília muito grande, mas podia acomodar os dois facilmente,
mesmo com aquele pequeno alvoroço. Ele levantou sua cabeça e olhou para
ela, movendo uma mão e tocando o lábio superior inchado com o seu dedo
indicador.

― Você parece completamente arrebatada. ― Ele disse, movendo seu


dedo para baixo, até seu queixo, seu pescoço e finalmente para o topo de
seus seios.

― Não estou completamente arrebatada o suficiente. ― Disse ela,


arruinando sua declaração atrevida com um rubor. Ele passou o dedo dentro
do vestido dela e roçou levemente contra um mamilo, a fazendo arfar. Ela
fechou os olhos e tentou controlar sua necessidade de gemer, mas quando
ele apertou gentilmente o mamilo, ela perdeu a batalha. ― Isso é bastante
agradável. ― Sussurrou.

O olhar dele ficou ardente e voltou a beijá-la, de boca aberta e sem


controlo. Maravilhoso, maravilhoso beijar e tocar, mas ela queria aquela
sensação de novo, aquela que ele lhe tinha dado da última vez, quando tinha
colocado sua mão entre as pernas dela e a fez gozar. Ela quis lhe dizer isso,
169
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

quis lhe implorar que levantasse suas saias e a fizesse gritar. Em vez disso,
pressionou o seu centro contra sua excitação e se moveu num ritmo que lhe
disse o que ela queria.

― Sim. ― Ele sussurrou, movendo sua mão para longe de seu seio e
para baixo, entre suas pernas. Ele pressionou sua mão ali e a respiração
dela ficou presa.

― Quero que você … ― Ela disse. Ambos ficaram tensos quando a


porta da sala abriu, depois fechou.

― Oh, olá. ― Disse um homem.

Marjorie imediatamente tentou se sentar, mas era impossível, presa


entre as costas do sofá e o grande corpo de Charles. Charles resolveu o
problema caindo do sofá sem grande graciosidade de então se levantando.

― Oh, céus. ― Disse, se mostrando um péssimo ator. ― Fomos


apanhados.

Marjorie finalmente se sentou, colocando a roupa no lugar e olhou à


volta de Charles para ver um homem parado na sala, olhando sombriamente
para eles. Não se podia dizer que o que o homem estava fazendo era estar em
pé. Era mais como um gingar, como se estivesse no convés de um navio e
tentava não cair com o movimento.

― Ah. ― Disse o homem com um movimento extravagante da mão. ―


Não precisam se preocupa comigo. Não contarei a ninguém. ― E procurou
pressionar um dedo aos lábios, falhou, então encontrou o lugar correto e
soltou um “Shhh” bastante húmido. Mesmo de onde estava sentada,
Marjorie conseguia cheirar o álcool no hálito do homem.

― Oh, mas deve dizer. Isto é terrível, não é, Charles? ― Disse Marjorie,
sentindo um pouco de pânico surgir pelo fato de que este homem não os ia
denunciar.

― Porque diria? Não vi nada. ― Disse, arrastando as palavras.

― Mas sou uma jovem solteira. E Charles Norris é um homem solteiro


e fomos apanhados em uma posição comprometedora. Ora, nem sequer
deveríamos estar nesta sala juntos. Eu… estou tão envergonhada.

Charles olhou para ele e levantou uma sobrancelha, incrédulo.

― Isho é verdade? ― O homem tropeçou em direção ao sofá e Marjorie


se levantou antes que o cavalheiro se sentasse em cima dela. Ele deu uma
grande palmada nas costas de Charles antes de se deixar cair no móvel. Se
sentou, ainda balançando por alguns momentos, antes de se deitar, pés

170
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

ainda no chão e fechou os olhos. Dentro de poucos segundos estava


ressonando.

Marjorie cruzou os braços de puro desgosto e encarou ao homem

― Talvez quando acorde de manhã ele se lembre? ― Charles ofereceu


esperançoso.

― Ele não vai nem sequer se lembrar de ter estado neste baile, esqueça
se lembrar de nos encontrar juntos. Realmente, o homem é uma desgraça. ―
Ela soltou um xingamento e se voltou para encarar pelos olhos a Charles
quando este começou a rir.

― Tem que admitir que foi bastante divertido tentar ficar


comprometida. Apenas teremos que tentar de novo. ― Ele levantou seu
relógio de bolso. ― Mas temo que terá que ser noutra noite. Já passa
bastante da uma hora.

Os olhos de Marjorie alargaram.

― Mas isso é maravilhoso. Minha mãe certamente terá reparado em


minha ausência. E talvez outros tenham reparado em sua ausência e isso
chegará. Vamos voltar para o salão de baile.

Contudo, enquanto estiveram fora, a pobre Lady Smythe, que tinha


estado se queixando por horas de que não se estava sentindo bem,
desmaiou, chamando bastante a atenção de todos no salão. Ninguém, nem
mesmo Dorothea, tinham reparado na ausência do casal. Todos estavam de
volta da dama, que parecia bastante pálida, seu resto de um tom cinzento
alarmante e sua respiração audível e áspera, um médico tinha sido chamado
e estava agora a atendê-la.

― Desejava que se tivessem lembrado de a levar para a sala de estar. ―


Disse Marjorie suavemente a Charles. ― Aquele sofá teria sido mais
confortável do que o pequeno canapé onde está sentada.

Ele se inclinou para ela, tão perto que os seus lábios roçaram os
caracóis próximos de sua orelha.

― Não tem vergonha?

― Costumava ter. Mas você tem sido uma péssima influência, sir.

Ele riu suavemente, depois se afastou quando Dorothea os viu juntos.


Marjorie foi para o lado de sua mãe, pois parecia terrivelmente agitada.

― Espero que esteja bem. ― Disse Marjorie, se sentindo culpada por


sua piada anterior.

171
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Dorothea pressionou os lábios juntos e Marjorie ficou com a certeza


que sua mãe estava tentando evitar chorar.

― Conheço Lady Smythe há quarenta anos. Sempre foi tão doce


comigo. Depois da morte do seu pai, ela me visitava quase todas as semanas
para ter certeza que eu estava bem.

Parecia uma coisa estranha de sua mãe dizer, pensou Marjorie, porque
ela sempre tivera a distinta impressão que sua mãe não se tinha preocupado
nem um pouco com a morte de seu pai. Eles raramente passavam tempo
juntos quando ele estava vivo e quando estavam mal trocavam duas palavras
um com o outro. Se eles se amavam, escondiam-no muito bem.

Dois lacaios, carregando uma maca entre eles, chegaram e ajudaram a


colocar a pobre dama sobre ele.

― Para onde a estão levando?

― Para casa, claro. Ela quer morrer em sua própria cama.

Marjorie observou como os homens carregavam a mulher do salão,


seguidos de convidados preocupado.

― Ela pode recuperar, mamãe.

― Não. Já antes vi o olhar da morte. Pedirei ao Bispo Fraser para fazer


uma oração especial no sábado.

Era tarde e todos os que estavam presentes ficaram bastante


deprimidos. Muitos dos convidados já tinham partido e agora era altura de
eles também irem embora.

― Vamos ter uma noiva calma e confortável amanhã, sim?


Ultimamente tenho achado estes entretenimentos tão cansativos. ― Disse
Dorothea.

― Está se sentindo bem, mamãe?

Dorothea sorriu.

― Sã como um pero. Simplesmente acho estas noites longas


cansativas, principalmente sem uma pausa entre elas.

― Amanhã é o baile Westin e prometi a Theresa que estaria lá. Se


importaria se fosse com George? Sei que ele vai lá estar.

― Com aquela garota Cavendish, sem dúvida.

― Eles estão noivos.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Os olhos de sua mãe, que uns momentos atrás possuíam tanto calor,
ficaram gelados.

― Sua tia pode ir com você.

― Tudo bem. Lhe enviarei uma nota de manhã.

Ela detestava imaginar a reação de tia Gertrude se ela e Charles


fossem apanhados juntos no baile Westin. Ela era uma dama idosa tão doce
e realmente amava Marjorie. Partiria seu coração.

Mas ela sabia que Gertrude iria compreender no final. Tia Gertrude
tinha amado seu marido profundamente e ainda falava dele com carinho. Se
alguém conseguia perdoar sua transgressão, era Gertrude. Talvez fosse
melhor que sua mãe ficasse em casa. Assim poderia ser ela a dar a notícia
sem a humilhação de sua mãe ver sua ruina.

Uma onda de culpa apertou seu estômago, mas Marjorie a afastou.


Afinal de contas, se sua mãe não tivesse sido tão teimosa, ela e Charles não
seriam forçados a executar uma medida tão drástica.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 14

Quinze anos antes.

Lady Summerfield olhou com carinho para sua filha. Com oito anos,
era a luz da sua vida, a única coisa que fazia valer a pena se levantar a cada
dia. Olhava para ela maravilhada. Como diabos tinham ela e Summerfield
produzido uma garota tão bonita e doce? Sua cabeça estava cheia de
caracóis grossos que saltavam enquanto ela pulava pelo corredor. E ela
estava sempre pulando. Sempre cheia de alegria e felicidade. Mesmo aos oito
anos, ela tinha a capacidade de cativar tanto seus pares como os mais
velhos. Summerfield adorava sua filha, a mimava demasiado e mostrava,
pela primeira vez em sua vida, um lado mais suave que Dorothea raramente
via. Ver seu marido com sua filha era a única alegria que tinha no
casamento.

Quando George nasceu, Summerfield lhe deu um belo broche de rubis


em agradecimento. Vermelho, como o cabelo de seu pequeno filho. Ele a
tinha elogiado por lhe ter dado um filho, como se ela tivesse alguma coisa a
ver com o fato de que tinha gerado um filho. Mesmo em bebé, seu cabelo
tinha sido assustadoramente chamativo. Que pai orgulhoso era
Summerfield. Marjorie tinha sido um bom bebé, chorando apenas quando
tinha fome ou estava molhada e cresceu rapidamente para se tornar uma
menina de temperamento brando que ambos amavam. George chorava
incessantemente. Nada conseguia pará-lo exceto o sono. Chorava quando
acordava, chorava até à exaustão. Eles tiveram cinco amas de berço antes
que ele finalmente superou o que quer que o tinha feito tão miserável. Tinha
três anos quando Dorothea começou a suspeitar que algo não estavam muito
certo em seu filho. Algo estava… Faltando. Ela tinha Marjorie como exemplo
de como uma criança perfeita seria. E, apesar de ter tentado não fazer
comparações, era impossível não o fazer. Marjorie tinha sido capaz de ter
uma conversa aos dois anos, enquanto que George sabia apenas algumas
palavras. Marjorie procurava contato físico enquanto que George ficava tenso
sempre que ela o abraçava. E ele tinha uma forma estranha de oscilar que
irritava Summerfield.

Pela altura em que tinha seis anos, as diferenças entre George e os


outros meninos de sua idade eram óbvias. Algo estava errado com seu
herdeiro, algo que não podia ser tratado e era impossível de ignorar. O
174
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

pequeno George era uma vergonha para Summerfield. Não queria estar perto
da criança. Não permitia que estivesse na presença de visitas. E utilizava
todas as oportunidades que tinha para culpar Dorothea pelo defeito do filho.

Dorothea passou várias horas por dia no quarto das crianças apesar
de terem contratado uma governanta competente. Ela via seus filhos
aprender e ficou alivada quando George mostrou uma aptidão fora do
comum a ler e a memorizar. Mesmo com seis anos ele lia muito melhor que
Marjorie.

― Vê isso, miladie? George é brilhante. ― Disse sua governanta,


Rebecca, com um sorriso quando Dorothea entrou no quarto das crianças
um dia. ― Nem sequer tentei ensinar alguma coisa. Vi-o com o livro e pensei
que estava apenas olhando para as páginas, mas então reparei que seus
lábios se moviam como se o estivesse lendo. E estava.

George ficou no quarto, apertando o livro em suas mãos como se


Dorothea o fosse afastar dele e seu coração derreteu.

― Isso foi maravilhoso, George. ― Disse Rebecca. ― É o melhor leitor


que alguma vez ouvi.

George sorriu.

― Já decorei as três primeiras páginas.

Dorothea olhou para Rebecca a pedir uma explicação.

― Ele as memorizou, miladie. Palavra por palavra. É um milagre, isso


sim. Nunca vi nada disso em toda minha vida.

Dorothea olhou para seu filho.

― Me mostre, George. Me deixe ver.

Ele relutantemente entregou o livro.

― Agora, me diga o que diz. ― Pediu ela.

― Por onde devo começar? Que página?

Admirada, Dorothea olhou para Rebecca de novo, que simplesmente


abanou a cabeça e sorriu.

― Página dois. Do meio para baixo.

Ela abriu o livro, um mar de aventura escrito para crianças bem mais
velhas que George e ele começou. Um arrepio tocou sua espinha. Era
impossível. Como é que ele podia ter memorizado tão detalhadamente o livro
quando nunca tinha mostrado sinais de uma inteligência admirável antes?
Mesmo enquanto recitava as palavras com uma precisão admirável, olhava
175
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

para o chão, sua cabeça abanando enquanto repetia, palavra a palavra, o


que estava escrito no livro.

― Sua excelência deve tomar conhecimento disto. ― Disse Dorothea. ―


É realmente extraordinário.

Nessa tarde, Dorothea levou George para visitar seu pai. Transbordava
de entusiasmo por seu extraordinário menino que tinha não só lido, mas
memorizado cinco páginas de texto nesse mesmo dia. Summerfield não tinha
ficado impressionado.

― Um papagaio pode repetir palavras, Dorothea. Duvido seriamente


que o rapaz saiba ler. Ele mal consegue falar, por amor de Deus.

― Eu mesma escutei, Summerfield. Foi surpreendente.

Ele deixou escapar uma gargalhada zombeteira e lhe deu uma


expressão trocista.

― Seu filho idiota consegue ler tanto quanto eu consigo voar. Desejar
que o faça não significa que consegue. Temo que esteja desesperada para
que ele seja normal que inventou este truque para provar que não gerou
uma criança com defeito.

Dorothea tinha simplesmente sorrido. Sabia do que seu filho era


capaz. Sabia que ele era um leitor brilhante e mal podia esperar para provar
a Summerfield que estava errado. Deus, como ela o odiava. Seria de fato um
doce prazer ver a cara de seu marido enquanto George recitava o livro.

Agora, ela sorriu para seu filho para o encorajar enquanto ele ficava
parado em frente a seu pai, o livro apertado entre suas mãozinhas ossudas.

― Vamos, George. Leia para seu pai.

― São sete horas.

Dorothea olhou para o relógio. De fato, eram sete horas.

― Sim, George, são. Agora leia.

― Eu brinco com meus soldados de chumbo às sete horas. São sete


horas.

Pavor e um pouco de pânico começaram a surgir em seu coração.


Summerfield deixou escapar uma risada maligna.

― Pode brincar com seus soldados de chumbo depois que ler para o
seu pai, George. ― Disse ela gentilmente, mesmo quando parte dela queria
dar um pequeno abanão a George. ― Agora, venha e mostre a seu pai o
maravilhoso leitor que é.
176
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― É hora de brincar com meus soldados de brincar com meus


soldados de chumbo. ― Ele repetiu baixinho.

Summerfield pousou sonoramente suas mãos nos braços da cadeira.

― Bem. Isso foi impressionante, Dorothea. Sem dúvida temos um


pequeno gênio em nossas mãos. Vá brincar com seus soldados de Chumbo,
George. Vá logo.

George imediatamente deixou a sala, alivio evidente em cada músculo


de seu pequeno corpo.

― Ele sabe ler. ―Disse Dorothea.

― Sim, tenho certeza que pode. ― Disse Summerfield, arrastando as


palavras.

Dorothea se virou e imediatamente se dirigiu ao quarto das crianças,


raiva e humilhação incitando seus passos. Quando entrou, Marjorie estava
sentada em uma cadeira de balanço enorme, cantando para sua boneca e
George estava deitado sobre sua barriga, cuidadosamente posicionando seus
soldados de chumbo. Aqueles malditos, infernais soldados de chumbo.

― George, deve ser castigado. Me desobedeceu de propósito.

George continuou brincando como se ela não tivesse dito uma palavra,
mas Marjorie lentamente pousou sua boneca e desceu da cadeira, olhos
arregalados.

― Vou tirar seus soldados de chumbo. Vou levá-los e você nunca mais
vai voltar a vê-los. ― Dorothea avançou e pegou numa mão cheia deles e os
colocou em seu bolso. George se esforçou para manter os outros em fila
mesmo enquanto Dorothea afastava suas mãozinhas e pegava no resto.

E então ele se levantou e começou a gritar. Gritos agudos,


ensurdecedores e completamente dolorosos.

― Pare, George. Pare ou vou bater em você.

Ele parou, mas apenas para respirar e recomeçou a gritar.

― Mamãe, devolva seus soldados. ― Suplicou Marjorie, lágrimas


descendo por seu rosto. ― Por favor, mamãe, George precisa de seus
soldados. Por favor.

Dorothea olhou para as bochechas manchadas de lágrimas de sua


filha, então para sua pequena mão agarrando seu vestido e lentamente se
acalmou. Tinha sido uma tola por pensar que George alguma vez poderia ser
alguma coisa próxima do que era um rapaz normal. Foi a seu bolso e deixou
os soldados, um a um, cair no chão de madeira. No momento que o primeiro
177
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

caiu, George parou de gritar. Se baixou e os juntou. E, quando o último


soldado de chumbo estava no chão, se deitou sobre sua barriga e começou a
alinhá-los, um a um, até que formavam um V perfeito.

Dorothea olhava para ele e queria chorar. Parte dela sabia que George
não a tinha humilhado de propósito, que ele era apenas um pequeno rapaz
estranho. E se perguntava, não pela primeira vez, se Summerfield tinha
razão, que era sua culpa que seu filho tinha saído errado. Teria feito
demasiadas caminhadas durante sua gravidez? Comido demasiados figos no
Natal, apertado demasiado seu corpete? Summerfield estava sempre
insinuando que ela estava gorda e era obvio que ele pensava que seu corpo
de grávida era grotesco. Observando George brincar com seus soldados de
Chumbo essa noite, ela apenas viu sua estranheza e nenhuma de sua beleza
única. E, de algum modo, estranhamente, era um alívio.

178
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 15

― Compreendo que os parabéns estão em ordem para meu querido


primo. ― Jeffrey estava ao lado de Marjorie, olhando para George e Lilianne
com uma careta desagradável. Ele tinha se aproximado dela no baile de
Westin enquanto ela esperava no saguão por tia Gertrude que tinha ido ao
banheiro. Nunca conheceu ninguém que passasse tanto tempo lá quanto
sua querida tia.

― Transmitirei seus profundos sentimentos. ― Disse Marjorie,


friamente. Se voltou para seu primo, mas ele continuava a olhar para o casal
com uma hostilidade palpável. ― Sabe que eles estão muito felizes. Lilianne é
uma garota maravilhosa.

― Deve ser uma santa. ― Disse Jeffrey. ― George é um companheiro


bastante agradável, mas é difícil passar demasiado tempo com ele. Todos
aqueles fatos e números e balançar de cabeça.

― Ele apenas faz isso quando está nervoso. Por algum motivo você
deve fazê-lo ficar nervoso. Talvez ele veja através de sua fachada educada a
raiva e ressentimento que fervem por baixo da superfície.

Jeffrey riu.

― É a maldição do segundo filho ficar verde de inveja.

― Mas você é o filho mais velho.

― O filho mais velho de um segundo filho. Meu pai morreu cedo


porque estava atormentado de inveja. Sabe que idade tinha sua mãe quando
ela teve George? Quarenta. Que mulher tem uma criança nessa idade? E seu
pai tinha quase sessenta. Meu pai, compreensivelmente eu acho, acreditava
completamente que iria herdar o título. Me educou dessa forma, sabe. Era só
dar algumas bebidas ao homem e ele dava início à mesma lenga-lenga. “Você
é quem devia ser o próximo conde, não aquele filho idiota de meu irmão.”
Chegou ao ponto de eu também gritar junto com ele. ― Olhou para Marjorie
para julgar sua reação. ― Ele não gostava muito disso. ― Esfregou seu
queixo como se ainda estivesse sentindo uma lesão de há muito tempo.

― Imagino que deva ser difícil para você saber que é próximo na linha
e que George está casando e logo terá filhos. ― Disse Marjorie, tentando ser
compreensiva.

― Oh, detecto pena de minha prima gelada? ― Ele riu zombeteiro. ―


Você não se importa com o modo como me sinto e porque deveria? Tem tudo
179
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

o que quer. Certamente que isso mudaria se eu fosse conde. Esse vestido
que está usando provavelmente vale mais que todo meu rendimento anual,
sabia disso? Ah, posso ver que não sabia. Está tão acostumada a ter essa
colher de prata em sua boca que se esqueceu que está aí.

Marjorie franziu o cenho.

― Soa tão mal quando fala assim.

― Sim, imagino que tudo o que seja a verdade seja difícil de ouvir.

― Nunca disse ou fiz nada para gerar tal antipatia. E nem George o fez.

Ele abanou a cabeça, como se tivesse pena de sua ingenuidade.

― Vocês dois nasceram, querida, querida prima.

― Isso é uma coisa terrível de se dizer.

― É mesmo? Sou uma pessoa terrível. ― Bateu seu dedo indicador no


nariz dela e sorriu. ― É melhor se lembrar disso.

Ela abanou uma mão, mais irritada que assustada.

― Vá ser uma pessoa terrível para outro lugar então. Vim a este baile
para me divertir e você está estragando a noite.

Ele fez uma reverencia se desculpando e fez como ela disse. O


observando ir, se perguntava quão profundos eram sua raiva e
ressentimento. Sem dúvida que ele amaldiçoou quando leu o anúncio no
jornal.

― Não me agrada aquele jovem. ― Disse tia Gertrude, vindo por trás
dela.

― Tia Gertrude. ― Disse Marjorie, bastante chocada. ― Ele é


praticamente de sua família.

― Não há sangue partilhado entre nós, graças a Deus, pelo que me é


permitido dizer estas coisas.

Marjorie riu. Tia Gertrude gostava de todo o mundo e o fato de não


gostar de Jeffrey dizia muito.

― Ele não pode evitar ser desagradável. Sua vida inteira lhe foi dito
que era o segundo na linha de sucessão do título. A verdade é que sei que
George alegremente o daria se pudesse.

― Ele esbanjaria do mesmo modo que seu pai esbanjou tudo o que lhe
tinha sido dado. Pode ter sido o segundo filho, mas tinha propriedade que
produziam bons rendimentos. Agora tudo o que têm é aquela propriedade
180
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

em ruinas em Nottingham. Escutei que não falta muito para até isso
desaparecer também.

Marjorie acenou a sua amiga Theresa, que tinha sido uma de suas
primeiras amigas a casar. Não a via há anos.

― Não tinha percebido que as coisas estavam tão más. ― Disse.

― Aquela é Theresa Billings vindo para cá?

― Agora é Lady Westcott, tia Gertrude. Ela está casada há… ― Parou,
contando em sua cabeça. ― … Cinco anos. Meu Deus, cinco anos.

― Quando tinha sua idade, estava casada há seis. ― Disse Gertrude


com um aceno. ― E tinha quatro crianças. Quantos filhos tem Lady
Westcott?

― Dois. Um menino e uma menina. ― O sorriso de Marjorie aumentou


quando Theresa chegou perto delas. Engraçado, ela parecia uma mulher que
estava casada há cinco anos. Estava um pouco cheia na cintura e seu
vestido era decididamente matronal. Ela tinha apenas cinte e três anos, mas
parecia muito mais velha.

― É maravilhoso ver você, Margie. ― Disse Theresa, roçando sua


bochecha com um beijo.

― Parece que passaram anos. Fiquei tão feliz com sua nota. Se lembra
de minha tia, Gertrude, não lembra?

― É claro. ― Disse, se voltando para a tia. ― É encantador ver você de


novo, madame. Marjorie parece exatamente igual a uma debutante em seu
primeiro baile, não é mesmo?

Marjorie tinha certeza que sua amiga queria que soasse como um
elogio, mas algo em seu tom estava ligeiramente estranho. Ou talvez
estivesse imaginando coisas.

― Não me sinto muito como uma debutante. ― Disse rindo.

― O casamento não é para todas. ― Respondeu Theresa e desta vez


Marjorie tinha certeza que tinha detetado uma certa presunção. ―Veja, este
é meu primeiro baile em duas temporadas. Cuidar dos meus pequenos
ocupa a maior parte de meu tempo.

Marjorie sorriu, mas sua expressão tinha ficado decididamente mais


fria.

― Não tem uma ama?

181
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― E uma enfermeira, é claro. E Lorde Westcott tem insinuado que quer


mais crianças. ― Seus olhos foram para a barriga lisa e cintura fina de
Marjorie. ― As crianças trazem tanta alegria. ― Ela pareceu subitamente
abalada. ― Lamento, Margie. Que imprudente da minha parte.

― Não penso que tenho sido imprudente de todo. ― Disse Marjorie,


esperando que sua amiga percebesse que ela suspeitava que suas pequenas
piadas tinham sido bem pensadas de fato. Ela não recordava Theresa sendo
tão desagradável. Ou talvez ela estava sendo muito sensível. Queria gritar
para sua amiga que estava para se casar, que se casaria dentro de um mês.
Em vez disso disse. ― Não trocaria estes últimos anos por nada. Passei um
tempo muito agradável, fui a muitas festas e bailes, foi um longo redemoinho
de entretenimentos.

A seu lado, tia Gertrude tossiu.

― Não fica cansativo depois de um tempo? ― Perguntou Theresa com o


que parecia curiosidade sincera.

― Sim, mas tenho o pressentimento que esta será minha última


temporada.

― Oh, mas você não é assim tão velha. ― Disse Theresa, de olhos
arregalados.

Marjorie levantou uma sobrancelha.

― Não foi bem isso o que quis dizer, querida.

Theresa e Gertrude arfaram coletivamente.

Realmente? Vai se casar? Não sabia disso. Será que perdi o anuncio
no Times? Primeiro seu irmão e agora você. Que maravilha. Quem é o
homem sortudo?

Maldição. Porque tinha dito aquilo? Orgulho tolo e estúpido.

― Lorde Shannock tem expressado grande interesse.

― Aquele bode velho? ― Isto de Gertrude, que parecia tão


entusiasmada quando ela ante a perspetiva de Marjorie casar come ele.

Marjorie não pôde evitar, começou a rir.

―Veremos, tia Gertrude. Nunca se sabe o que pode acontecer.

Depois que Theresa partiu, tia Gertrude inspirou e disse.

182
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Aquela garota decididamente estava com ciúmes de você. Sempre


esteve.

― Duvido muito, tia. Ela se estava gabando de quão maravilhosa era


sua vida.

― Porque tem ciúmes, minha querida. Agora, o que é isso de esta ser
sua última temporada? E não tente me enganar com novidades de Lorde
Shannock. Esse homem a tem desejado desde que era uma menina e se sua
mãe acha que ele serve, perderei todo o respeito que tenho por ela.

Marjorie considerou dizer a sua tia, mas decidiu não o fazer.

― Apenas estava tentando dissuadi-la. Não há ninguém.

Gertrude lhe deu um sorriso incrédulo.

― Minha querida, você está apaixonada. Não sou cega. É aquele Mr.
Norris, não é? E sua mãe não aprova. Espero que não esteja planejando
fugir.

― Quem é Mr. Norris? ― Não doía fingir ignorância.

Gertrude riu. Aparentemente não adiantava também.

― Se esquece, minha querida, que fui a muitos bailes em que esteve. O


baile Hartford, por exemplo. Pobre e querida Lady Smythe. Escutei que está
se recuperando. Achei estranho, contudo, que você não estava no salão
durante toda aquela confusão. Nem Mr. Norris.

Marjorie podia sentir seu rosto ficar quente, não só por ter sido
apanhada em uma mentira, mas também por recordar o que tinha estado
fazendo.

Gertrude abanou a mão, ignorando o desconforto de Marjorie.

― Planejei falar com você sobre essa indiscrição em particular, minha


querida, mas já que o mencionou, mais vale que o discutamos agora. ― Ela
olhou para além de Marjorie e acenou a alguém para se aproximar. Marjorie
se voltou e quase fugiu quando percebeu que sua tia estava chamando
Charles. E ele estava caminhando para elas. Com um olhar tolo e
apaixonado em seu doce, doce rosto.

― Boa noite, Mr. Norris. ― Disse Gertrude entusiasmada, puxando o


casal para um canto do salão onde poderiam ter alguma privacidade. ―
Minha sobrinha e eu estávamos falando sobre você e como se podem casar
quando Lady Summerfield está tão violentamente contra você. Apesar de
que, devo dizer, não entendo a razão dela para isso.

183
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Marjorie teria rido alto da expressão no rosto de Charles, mas ela


também estava horrorizada pela franqueza de Gertrude.

― Não disse nada, Charles. ― Disse ela, para o tranquilizar, depois


encarou a sua tia. ― Tia Gertrude consegue ser bastante astuta.

Charles lançou um olhar a Marjorie, depois sorriu abertamente a sua


tia.

― Como o faremos é um segredo. E infalível.

― Não completamente. ― Murmurou Marjorie, o lembrando de seus


esforços falhados na noite anterior.

― O plano é infalível. ― Ele insistiu.

― Um plano infalível que não envolve fugirem. ― Murmurou Gertrude.


Ela pensou por um momento, depois ficou pálida. ― Não. Não pode.
Realmente Marjorie, está tentando matar sua mãe? Ou a sua, Mr. Norris?
Não podem pensar em… em… ― A pobre senhora idosa nem conseguia dizer
em voz alta suas suspeitas.

Marjorie tocou a mão de sua tia.

― Sei que no início será difícil. Mas acredito piamente que esta é uma
situação em que os fins justificam os meios.

Gertrude abanou a cabeça e tentou apelar a Charles.

― Meu querido jovem, você teve sequer a coragem de perguntar a Lady


Summerfield? Sei que minha irmã pode ser teimosa, mas ela já me
surpreendeu em ocasiões.

Ela olhou rapidamente a Marjorie.

― Na realidade, já o fiz.

― Fez? ― Perguntou Marjorie, completamente surpreendida.

― Ela rapidamente me rejeitou. Por esse motivo somos forçados a


tomar medidas drásticas.

― Quando é que você…? ― Sua voz sumiu. ― Oh, suponho que não
importa quando, apenas que ela recusou. Mas será que ninguém me diz
nada?

― Ela me pediu que não o fizesse e depois de alguma consideração,


pensei que fosse o melhor.

― Ela está tão adversa a você. Sabia, tia, que mamãe ameaçou retirar
o título de George se eu permitisse que Mr. Norris me cortejasse?
184
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Mas que absurdo. ― Disse Gertrude.

― Sem mencionar que é impossível. ― Adicionou Charles, rindo, o


homem enlouquecedor.

― Alguma coisa aqui não bate certo. Sei que Dorothea pode ser
teimosa e tem um fascínio ridículo por títulos, mas Mr. Norrie é filho de um
visconde. Tem um excelente rendimento. ― Ela olhou para Charles à procura
de confirmação e ele assentiu. ― Quem é sua mãe?

― Lady Anne Hartley.

― Não, não. Quem era ela antes de casar com seu pai?

― Anne Wadsworth.

― Wadsworth. Wadsworth. ― Compreensão começou a aparecer no


rosto de Gertrude. ― Eurecas, minha querida. Sua mãe detesta a mãe de
Charles. ― Ela começou a rir, depois tossiu, abanando a mãe ao casal
quando suas expressões ficaram alarmadas. ― Estou bem. ― Ela parou. ―
Oh, céus. Agora tudo faz sentido. Oh, céus. Temo que ela nunca concordará
com um casamento entre os dois.

― Já sabemos disso. ―Disse Marjorie. ― Está dizendo que existe


história entre a mãe de Charles e a minha?

― Isso é colocar as coisas de uma forma muito branda, minha querida.

― Sua mãe se chamava Dorothea Stockbridge? ― Perguntou Charles


hesitante, como se realmente não quisesse ouvir a resposta.

― Conhecia minha mãe antes de nos conhecermos? ― Disse Marjorie,


parecendo confusa.

Charles começou a rir, mas era um riso ligeiramente manchado de


tragédia.

― Eu sabia sobre sua mãe. Ela é lendária em minha família. Até


fazemos referência a ela às vezes apenas para provocar minha mãe quando
queremos torturá-la um pouco.

― É assim tão horrível o que aconteceu entre elas? ― Sussurrou


Marjorie.

― Causou um tumulto na época que todos pensamos que sua mãe e


Lady Anne ficariam manchadas pelo escândalo por anos e nunca casariam.
― Tia Gertrude estalou a língua.

Charles riu suavemente.

185
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Parece que, afinal, esse foi o momento em que meu pai percebeu o
quanto amava minha mãe.

Marjorie apertou os punhos em frustração.

― Será que alguém em vai contar o que aconteceu, por favor?

― Uma luta de socos. ― Disse Gertrude com um aceno enfático. ― Em


Ascot – de todos os lugares.

― Elas lutaram por causa de uma corrida de cavalos? ― Perguntou


Marjorie, abismada.

― Oh, céus, não. Mais importante que isso. Elas lutaram por causa de
um chapéu.

― O quê? ― Era impossível. Todo seu futuro estava sendo arruinado


por um chapéu? Marjorie queria chorar, mas em vez disso riu. Como é que
ela nunca ouviu aquela estória?

― Foi cá uma briga. ― Disse Charles. ― Minha mãe, claro, disse que foi
Miss Stockbridge quem começou. Aparentemente (e isto é a versão da minha
mãe, entenda), sua mãe viu um chapéu no chapeleiro que ambas
frequentavam. Minha mãe tinha encomendado o chapéu e o tinha
desenhado. Sua mãe o viu e pediu uma cópia. Minha mãe era bastante mais
jovem que a sua, vê e era um pouco mais enérgica do que é agora. Ficou
indignada quando viu sua mãe usando o chapéu dela – ainda para mais no
Ascot. Ela caminhou até sua mãe e exigiu saber onde ela tinha conseguido o
chapéu.

― Ela devia saber. ― Disse Marjorie.

― É claro. Mas ela exigiu saber de qualquer forma. E sabe, minha mãe
pode ser bastante intimidante. Sua mãe apenas olhou para minha mãe e
disse “O seu não favorece sua cor de cabelo, de qualquer forma”. Essa foi a
última gota.

Marjorie se encolheu.

― O que aconteceu?

― Deve lembrar que minha mãe era bastante, bastante nova…

― O. Que. Aconteceu.

― Ela agarrou o chapéu de sua mãe, o arrancou e o pisou com seu pé.
Mesmo enquanto o fazia, minha mãe me disse que sabia que estava sendo
horrível. Sempre teve um certo temperamento. E então o diabo ficou à solta.
Elas acabaram no chão, batendo uma na outra, rodeadas por algumas das

186
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

pessoas mais importantes da sociedade. Estava no royal enclosure, vê. Na


luta, o vestido de sua mãe ficou arruinado. Bastante arruinado.

― Ela ficou exposta. ―Gertrude disse sucintamente.

Marjorie desejou que pudesse esconder sua cabeça nas mãos, mas
havia tanta gente.

― Oh, não. Não, não, não. Porque é que nós não sabíamos?

Charles encolheu os ombros.

― Dorothea era um nome bastante popular entre as mulheres da idade


de sua mãe. Eu conheço bastantes. E minha mãe é tão mais nova que a sua
que eu nunca associei os fatos.

― Minha mãe não casou até ter trinta e seis.

― Ah. E minha casou aos dezoito. Então, aí está. Descobrimos a


verdadeira razão para sua recusa.

― E agora estamos completamente condenados. ― Marjorie sentia


vontade de chorar. Não conhecia ninguém que guardasse um rancor como
sua mãe fazia. E pensar que ela estava apaixonada pelo filho da única
mulher na terra que Dorothea odiava acima de todos os outros. Pelo menos
agora sua teimosia fazia sentido.

― Nada disto muda nossos planos. ― Disse Charles. ― Eu a amo e nós


vamos nos casar. Simplesmente temos que nos comprometer em grande
estilo. Quanto mais testemunhas, melhor.

― Uma ideia terrível. ― Disse Gertrude, mas algo no tom da dama fez
Marjorie pensar. Era como se Gertrude estivesse dizendo as coisas que
devia, mas não acreditava mesmo nisso. Talvez quando chegasse o
momento, ela pudesse dizer com a consciência mais tranquila a todos os que
quisessem escutar que ela os tinha avisado a não agir precipitadamente.

Charles não conseguia acreditar em sua sorte. De todas as mulheres


por quem se poderia apaixonar, tinha que ser pela filha da infame Dorothea
Stockbridge. Em sua casa, a estória era lendária. Quantas vezes tinha sua
irmã usado um chapéu apenas para olhar de lado para sua mãe e fingir
medo de que ela poderia atacar e arrancar o objeto de sua cabeça? Todos
eles riram imenso disso ao longo dos anos. Sua mãe ficaria horrorizada ao
saber que suas ações de há tantos anos estavam causando tantos problemas
agora.

187
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Que ironia que era, quando finalmente tinha encontrado uma mulher
que o amava tanto quanto ele a ela, ela tinha que ser a filha da rival de sua
mãe. Obviamente, não era uma estória que Lady Summerfield relataria. Sem
dúvida todo o episódio era humilhante para ela e ele se preguntava se essa
era a razão pela qual Lady Summerfield tinha casado tão tarde. Teria o
escândalo a transformado em uma velha solteirona? Terá sido forçada a
casar com alguém simplesmente para ficar casada?

Ele pensou em suas características, as grossas sobrancelhas, o cabelo


grisalho, o bigode e tentou imaginá-la mais jovem e vibrante. Não conseguia.
Mas ela teria sido? Teria ela usado o chapéu pensando em quão bonita
ficava, apenas para enfrentar uma das piores humilhações de sua vida? A
pelas mãos de sua própria mãe. Não era de admirar que ela se opusesse ao
casamento.

Seria difícil, sem dúvida, ter uma sogra que odiava a sua família. O
casamento seria… Doloroso. Sem dúvida que as duas mulheres não se viam
desde aquele fatídico dia. Ele se perguntava como elas manejariam o
encontro. Ao longo dos anos, sua mãe tinha expressado verdadeiro remorso
pelo que tinha feito (e tudo por um estúpido chapéu).

Como a tia Gertrude os tinha deixado sozinhos para ir falar com uma
amiga, ele pôde ver que Marjorie estava incomodada com as novidades. Ele
desejava poder tirá-la desse salão de baile, de Londres e a levar para casa.
Em vez disso, colocou uma mão suave no fundo de suas costas para lhe dar
um pouco de conforto. Era altamente impróprio que ele o fizesse, já que não
estavam oficialmente noivos, mas nesse momento ele não se importava nem
um pouco. Ela olhou para ele com gratidão antes que seus olhos ficassem
impassíveis e ele ficou com a impressão distinta de que ela tinha de fato
herdado algum do aço de sua mãe.

― Vamos fazê-lo hoje e não vamos estragar as coisas. O terraço,


digamos, às onze horas?

Ele sorriu, adorando a ferocidade em seu olhar.

― Porque não agora mesmo? Acabei de ver um casal sair para lá. Não
sei quem e não me importo realmente. Apenas sei que certamente teremos
uma audiência. É muito cedo na noite para eles estarem bêbados.

Os dois caminharam para as portas francesas que levavam ao grande


terraço, então desceram para o jardim onde Charles podia ver as sombras de
várias pessoas passeando.

― Perfeito. ― Disse, indicando o jardim. ― Procuraremos por um lugar


não-tão-privado, a beijarei até ficar sem folego, então seremos apanhados.

188
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― E ficaremos chocados e horrorizados. Não pode parecer muito


agradado.

― Isso vai ser a parte mais difícil de toda esta farsa. ― Ele disse,
fechando as portas atrás deles. Pegou na mão dela e praticamente correu
escadas abaixo, adorando sentir sua mão na dele, adorando que ela risse
enquanto ele a puxava até seu destino. ― Vamos para o folly, sim? Esse
parece um destino provável para quem dá um passeio.

Lanternas, suas velas tremulando na brisa suave, tinham sido


colocadas ao longo dos caminhos, conferindo um pouco de magia ao
ambiente. Charles podia ouvir o murmúrio de vozes e sorrisos. Ficar
comprometido neste jardim lotado seria uma certeza.

― Quantos filhos devemos ter? ― Ela perguntou.

Ele apertou mais a mão dela. Sentiu seu peito inchar para dimensões
impossíveis apenas de pensar em seus filhos brincando a seus pés enquanto
estavam sentados junto do fogo nas tardes de inverno. Se lembrava de como
sua infância tinha sido maravilhosa, os longos dias de pesca com seu pai ou
trepando árvores com sua irmã e seu bom amigo John. Ele queria que suas
próprias crianças tivessem o mesmo tipo de infância despreocupada e feliz.

―Seis. ―Disse finalmente.

― Isso é muito. E que tal três? Isso é um bom número.

― Não, é impar. Precisamos de um número par. Eramos uma família


de cinco e era sempre difícil encontrar mesas nos restaurentes.

Marjorie riu, depois parou, se colocou em bicos de pés e beijou a


bochecha dele, um gesto rápido que parecia maravilhosamente natural.

― Certamente sentar oito pessoas seria ainda mais difícil.

― Muito bem. Quatro.

― Quatro serão.

Estava decidido. Agora, tudo o que tinham que fazer era se casarem.

A noite era quente, as estrelas estavam visíveis através de nuvens


finas e claras. Charles queria lembrar cada detalhe dessa noite. Tinha
esperado por muito tempo.

Nas escadas do folly, parou.

― Isto servirá. ― Ele disse, a puxando para seus braços.

― Mas nem sequer estamos escondidos.

189
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Precisamente. Além disso, não consigo esperar para a beijar. ―


Roçou os lábios dela com os seus e ela suspirou, rodeando o pescoço dele
com seus braços. Deus, ela era suave e encantadora e tinha um cheiro tão
doce. Ele podia ficar assim para sempre, agarrá-la junto a si para sempre.
Aprofundou o beijo e ela soltou um som que parecia uma carícia arrojada e
ele ficou instantaneamente duro. Eles se beijaram, devagar e
profundamente, como se tivessem toda a noite para se explorar um ao outro.
Ela sabia a chocolate com um pouco de champanhe e com ela em seus
braços ele sentia que estava no céu.

Passou suas mãos pelas costas dela até seu traseiro, redondo e firme e
tão adorável. Apertou gentilmente e ela soltou um gemido abafado enquanto
a puxava mais firmemente contra sua ereção. Porque estava se torturando,
ele não sabia dizer. Apenas sabia que precisava de tê-la contra ele, precisava
abraçá-la, beijá-la. Do que realmente precisava era de a ter nua, mas isso
teria que esperar por outro momento. Uma imagem tentadora surgiu, ela
deitada em sua cama de barriga para baixo, seu belo traseiro branco
brilhando suavemente à luz das velas. E então surgiu um segundo
pensamento torturante Marjorie deitada de costas, nua, olhando para ele
enquanto entrava nela, fechando os olhos de prazer, enrocando seus braços
magros em seu pescoço, movendo seus quadris sem controle…

Ele se afastou.

― Temo que minha imaginação está se adiantando. ― Ele disse, sua


voz áspera. ― Nosso plano que se dane. Se não a tiver agora, acho que vou
morrer. Vamos para o folly. Não me importo se somos apanhados ou não.

Ele agarrou a mão dela de novo e a puxou escada acima e então contra
a coluna.

― Sei que isto é errado, mas preciso ter você.

― Como antes? ― Ela perguntou, sua voz cheia de uma urgência que o
deixou ainda mais excitado.

― Desejava que pudesse ser melhor. Queria que tivéssemos uma cama
suave para que pudesse estar dentro de você. ― Ele engoliu. Apenas dizer as
palavras quase o destruiu. ― Mas não podemos. Por isso, sim, como antes.
Mas melhor. Vou beijar você, querida, onde a toquei antes. ― Ele podia ver
seus olhos arregalarem. ― A choquei?

― Não. ― Ela disse. ― Sim. Sim, chocou. Não sabia que um homem
podia beijar uma mulher… Ali.

― Sabe bastante bem.

190
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Ele moveu sua mão entre as pernas dela e ela se derreteu contra ele.
Deus, ela estava tão quente e ele imaginava que já conseguia sentir como
estava molhada, apesar das camadas de roupa que separavam sua mão
dela.

― Sim. ― Ela sussurrou. ― Imagino que sabe.

Como tinha feito em seu escritório, ele começou a lentamente levantar


seu vestido, mas desta vez, ela ajudou, agrupando suas saias enquanto
continuava a beijá-lo. Ele descobriu a fenda de suas cuecas e, diabos, ela
estava tão quente e molhada que ele quase chorou. Tocou seu botão úmido e
ela soltou um som suave, metade sussurro, metade gemido e afastou as
pernas um pouco mais.

― Devo tocá-lo? ― Ela sussurrou contra seus lábios.

― Deus, sim.

Sua mão foi infalivelmente para sua ereção e apertou gentilmente.

― Deveria desapertar você?

― Se insiste. ― Ele disse, rindo enquanto beijava seu pescoço. ― Temo


que estou um pouco distraído no momento. ― Ele agitou seu polegar para a
frente e para trás e moveu seu indicador dentro dela.

― Não consigo… ― Ela sussurrou. ― Não consigo pensar quando faz


isso.

Ele moveu sua mão livre para sua braguilha e rapidamente desapertou
os botões e baixou as cuecas, permitindo que seu membro se soltasse. Se ela
o tocasse agora ele não tinha certeza se conseguiria se controlar. Mas ela o
fez e ele curvou as costas e quase explodiu. Deus, não queria que ela
parasse, mas também queria prova-la. Se baixou, beijando seu pescoço,
seus seios, seu estómago, até que ela já não conseguia alcança-lo. Ele puxou
suas cuecas para que tivesse melhor acesso, para que pudesse colocar sua
língua contra ela. Seu cheiro o encheu, seus sons o instavam a prosseguir.

― Shhhh. Está alguém aqui.

Surpreendido pelo som da voz de outro homem, Charles congelou.


Deus, tão perto, tinha estado tão perto de a beijar. Mas isto era o que eles
tinham vindo ali fazer, afinal de contas. Serem apanhados no ato de fazer
amor. Mas, diabos, que péssimo momento. Com grande relutância, ele se
levantou, baixando as saias dela enquanto o fazia. Se voltou para ver outro
casal, pouco visível, parados do outro lado do folly. Fazendo praticamente o
mesmo que ele tinha acabado de descrever a Marjorie. Sorriu enquanto
voltava a apertar as calças.
191
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Temos companhia. ― Sussurrou Charles. Marjorie espreitou por


cima do ombro dele.

― Está alguém aí? ― Ela perguntou, sua voz soando alta de mais no
silencio da noite.

Escutaram uma maldição masculina resmungada e o som de pânico


de uma lady sussurrando ferozmente.

― Por favor, ninguém pode saber.

O casal nas sombras caminhou para eles e Charles rapidamente os


reconheceu. Mrs. Williams e Lorde Seaton. Vera Williams estava casada há
um mês. Lorde Seaton estava casado há dois anos.

― Não diremos a vivalma se vocês não o fizerem. ― Disse Vera. ― Por


favor.

― Olá. Não sabia que o folly era um lugar tão popular esta noite. ―
Uma voz feminina chamou lá de baixo. Aos dois casais se juntou um grupo
de várias damas – incluindo tia Gertrude, bendita fosse. ― Uma noite
encantadora. ― Disse tia Gertrude.

― Sim. ― Disse Mrs. Williams, sua voz tremendo um pouco. ― Lady…

― Marjorie. ― Ajudou Charles suavemente.

― … Marjorie e eu estávamos passeando e nos encontramos com estes


dois cavalheiros. ― Sua voz soava invulgarmente aguda e ela limpou a
garganta. ― É uma noite agradável para um passeio. Que era o que
estávamos fazendo, passeando.

― Que outra coisa poderiam estar fazendo? ― Murmurou Gertrude,

Mrs. Williams agarrou o braço de Marjorie e começou a caminhar de


volta para a casa. Rapidamente se juntaram a elas a damas mais velhas.
Marjorie olhou de volta para ele impotente e Charles queria gritar de
frustração.

― Obrigado. ― Disse Lorde Seaton comovidamente.

Charles apenas grunhiu.

― Não entende. Nos amamos a anos.

― Então porque não casou com ela?

― Ela não tinha um grande dote. ― Ele disse, como se isso explicasse
tudo. O que, infelizmente, explicava. ― Juro que não diremos nada sobre
vocês dois.

192
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Obrigado por sua discrição, ― Charles disse com forte ironia.

Havia apenas uma coisa a fazer. A comprometer completamente. Em


sua própria casa. Em sua própria cama.

E ser descoberto por sua mãe.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 16

― Você está louco.

― Louco por você.

Marjorie estava entusiasmada e horrorizada por sua sugestão. No


entanto, estava mais entusiasmada. E isso era uma coisa maravilhosamente
terrível.

― E se minha mãe o mata? Temos armas em casa, sabe. Muitas delas.

― Então morro um homem feliz.

Ela baixou a cabeça e riu. Tinha que estar louca por sequer considerar
tal coisa. Quem diria que fiz comprometida era tão difícil? Katherine o tinha
feito, sem qualquer intenção, sem planear e sem qualquer esforço.

Ela e Charles estavam dançando e qualquer tolo que olhasse para eles
saberia que estavam desesperadamente apaixonados um pelo outro. Sem
dúvida sua mãe iria saber disso, mas nesse momento, Marjorie não se
importava. Podia ver algumas amigas de sua mãe olhando para eles,
curiosas. Deixe-as olhar o quanto quiserem.

― Sua perna não parece estar incomodando muito esta noite.

― Como posso sentir dor quando tudo o que sinto é amor? ― Ele sorriu
para ela, obviamente sabem como soava ridículo.

― Se vai começar com esses disparates, não acho que teremos um


futuro de todo.

Ele lhe deu um olhar magoado.

― Pensei que estava sendo poético.

― Preferiria que fosse você mesmo. Rude e grosseiro e ligeiramente


arrogante. ― Essa era, ela percebeu, os aspetos de seu caracter que tanto a
tinham desgostado quando primeiro o conheceu. No entanto, agora, era tudo
o que ela amava nele.

― Muito bem, então. Quero você nua debaixo de mim. Quero beijar
cada canto de seu corpo até que você faça aqueles sons que me põem...

― Pare! Isso é grosseiro o bastante. ― Ela disse, rindo. ― Além disso,


qualquer um pode escutá-lo. Estava praticamente gritando.

Ele encolheu os ombros como se dizer tais coisas em voz alta para
uma garota solteira não fosse escandaloso de todo. E delicioso. Todo seu
194
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

corpo estava ardendo por ele e era difícil controlar suas expressões para que
aquelas matronas na borda da pista de dança não soubessem no que estava
pensando precisamente.

― Amanhã à noite.

A musica parou e eles se mantiveram na pista de dança. Ela mordeu o


lábio e olhou para ele, vendo o homem que amava mais que qualquer coisa
em sua vida. Vendo amor e paixão mal contida que fazia seus dedos do pé
curvarem.

― Então, muito bem. Amanhã a noite.

Ele fez uma reverencia.

― Obrigado pela dança, Lady Marjorie. ― Disse.

Ela fez o mesmo.

― Não tem de quê, Mr. Norris. Espero que desfrute do resto da noite.

No caminho de volta a casa, Marjorie não conseguia para de sorrir.


Observava as lamparinas a gás ao longo da rua que passavam, suavizadas
pelo nevoeiro que pairava sobre Londres. Encostou a cabeça no encosto,
adorando os sons dos cascos dos cavalos e das rodas da carruagem no
caminho de pedra. Era um som que, nas horas antes da madrugada, sempre
pareciam um pouco melancólicas. Tantas noites tinham terminado em
desapontamentos, a viagem para casa silenciosa e triste. Mas nessa noite,
esses sons guardavam uma promessa, as rodas da carruagem a conduziam
cada vez mais perto para o resto de sua vida.

― Me lembro dessa sensação. ― Disse tia Gertrude, quebrando o


silencio dentro da carruagem.

Marjorie olhou para sua tia, curiosa.

― De estar apaixonada, minha querida. De cada pensamento ser sobre


um homem. É uma coisa rara, Marjorie e pode ser passageira.

― Não desta vez. ― Ela disse. ― Não conosco.

Tia Gertrude soltou uma pequena gargalhada.

― Talvez. Vocês com certeza têm idade suficiente para conhecerem


seus corações. ― Ela ficou em silêncio por um momento. ― O que estão
planejando?

― É melhor que não saiba. ― Disse Marjorie depois de uma pausa. Já


era mau o bastante que tivessem tentado se comprometer sendo apanhados
se beijando; era uma coisa totalmente diferente convidar um homem que não
195
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

era seu marido para sua cama. Apesar de sua mente gritar o quão errado
era, seu corpo e coração não estavam ouvindo. Toda mulher era ensinada
desde uma tenra idade que sua virgindade tinha que ser protegida como
uma comodidade preciosa. Ela supunha que havia muitas, muitas garotas
que sofriam os resultados de não seguir essa regra. Afinal de contas, se uma
garota ficasse grávida, era ela quem tinha que sofrer todas as
consequências,

― Suponho que tem razão em não me dizer. Quero que seja cuidadosa,
mesmo que goste de seu homem e ele parece completamente cativado por
você.

Marjorie deu a sua tia outro sorriso sonhador e a mulher mais velha
riu.

― Está tão apaixonada, minha querida, poderia lhe dizer que ele era
um assassino e você sorriria para mim.

Marjorie riu.

― Provavelmente tem razão. Não temos escolha espero que um dia


mamãe compreenda que ela nos forçou para esta terrível posição.

― Oh, minha querida garota, você é otimista, não é? Quando era uma
menina e um pai não dava permissão para o casamento, as coisas eram
muito diferentes. Era fugir para a Escócia e Gretna Green. Mas isso era
apenas para as garotas com menos de vinte e um anos. Sabe que pode casar
com quem quiser.

― Eu sei. ― Disse Marjorie com um suspiro. ― É só que mamãe tem


feito tanto por mim, acredito que um casamento em segredo a machucaria
ainda mais que o que temos planejado. Pelo menos ela terá tempo para se
conformar com isso e será capaz de comparecer ao casamento. Eu sei que,
dado o que aconteceu com a mãe de Charles, ela não vai ficar feliz. Mas pelo
menos pode me ver casar. Acho que ela eventualmente vai mudar de opinião.
Ela não tem ideia de como nos amamos.

Tia Gertrude parecia ligeiramente alarmada.

― Mas, Mr. Norris pediu a permissão de sua mãe. Ela deve ter alguma
suspeita.

― Não acho que tenha.

A carruagem abrandou e parou e com o som dos passos indo


diminuindo, toa Gertrude, com alguma ajuda de Marjorie, se levantou.

― Acredito que estou ficando muito velha para estas saídas noturnas.
Já que você é minha última sobrinha por casar, devo dizer que estou feliz
196
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

que estes deveres de acompanhante estejam acabando. ― Sua tia lhe deu um
olhar significativo e Marjorie a abraçou.

― Sempre foi minha tia favorita. Vou sentir falta de nossas noites
juntas.

― Obrigada, querida. ― Disse Gertrude, batendo nas costas de


Marjorie. ― Mas não pense que meus nervos podem aguentar muito mais.

Cinco minutos. Dentro de cinco minutos ela estaria arruinada. Bem,


talvez demorasse um pouco mais que isso; ele ainda não estava sequer no
quarto dela. Marjorie tinha deixado a porta dos criados aberta e lhe tinha
dado instruções estritas numa nota escondida de como encontrar o quarto
dela.

Assim que estiver na porta, vire imediatamente à direita. Suba as


escadas até o segundo andar – em silencio, por favor! Minha porta é a
quarta à esquerda.

Era uma nota taciturna pouco comum para ela, mas Marjorie estava
de tal maneira quando a escreveu que era o melhor que conseguia fazer.
Imagine, palnear sua própria ruina.

Charles era um homem tão grande que ela se preguntou se


conseguiria fazer alguma coisa em silencio. Tinha deixado sua porta um
pouco aberta e se sentou em sua cama, olhando para ela com olhos
arregalados, suas mãos apertadas em seu colo.

Arruinada.

Era isso o que queria. Não ser arruinada, claro, mas o resultado final
de ser arruinada. Planear isso tinha sido muito divertido, mas afora parecia
uma ideia muito má. Errado. O que ela estava fazendo essa noite ia contra
tudo o que lhe tinham ensinado. Tudo em que ela acreditava. Parte dela
queria correr para a porta e trancá-la.

Em vez disso, ela se levantou e caminhou, seus olhos ainda presos


naquela fenda da porta, esperando para que abrisse e o deixasse entrar em
seu quarto. Onde fariam amor.

Oh, Deus, ela mal conseguia respirar. Um som do corredor a congelou.


Então ele entrou silenciosamente pela porta e a fechou com um pequeno
click.
197
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Ele se voltou com um sorriso endiabrado em seu rosto e de alguma


forma isso tornou tudo um pouco melhor.

― Está preparada para ser arrebatada, minha querida? ― Ele


perguntou suave e baixo.

Marjorie assentiu.

― Preparada e disposta.

Charles riu, então tirou seu casaco e gravata e os colocou


ordenadamente numa cadeira. Ele parecia tão grande em seu quarto, tão
masculino quando tudo à volta dele era delicado e feminino. A luz de sua
lamparina fazia com que parecesse mais endiabrado do que o que era.
Charles era um homem maravilhoso e gentil, ela se recordou. Uma homem
maravilhoso e gentil que estava preste a arrebata-la.

― Tenho sonhado com este momento. Não queria ser tão poético. Tive
um sonho em que você estava na minha frente como está agora. Rezo para
que isto não seja outro sonho para me atormentar, em que acordo sozinho
em minha cama.

Marjorie mordeu seu lábio e sorriu.

― Isto não é um sonho. ― Ela percebeu que sua voz estava tremendo e
inspirou para se acalmar. ― Estou terrivelmente nervosa.

Suas palavras pareciam provocar dor nele,

― Por favor, não esteja. Você é tudo o que sempre quis. Sabe há
quanto tempo tenho procurado por você? Tenho trinta e cinco anos e nunca
encontrei uma mulher que me amasse. Tem certeza?

― Você já fez anos? Porque não me disse?

― Está tentando ganhar tempo? Lhe fiz uma pergunta.

Ela riu, afastando seus nervos um pouco.

― É claro que amo você. E isto é precisamente o que quero. Pensei


muito e percebi que não há outra forma de ficarmos juntos sem ferir minha
mãe. Temos nossas diferenças, sim, mas eu a amo. Quero que ela esteja em
meu casamento, mesmo que não esteja sorrindo. ― Ela riu um pouco,
esperando apaziguar as preocupações dele.

Ele se aproximou e ela prendeu a respiração. Mas ele apenas levantou


a mão e agarrou seu cabelo.

198
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Não imaginava seu cabelo tão comprido. Podia nadar nele. ―


Lentamente moveu sua mão para a nuca dela e a puxou para ele. ― Não
pode saber o quanto a amo.

Ele se inclinou e tocou gentilmente seus lábios nos dela, mal a


beijando, mas enviando uma corrente forte por todo o corpo dela. Com um
suspiro, ela envolveu seus braços no pescoço dele.

Ele se afastou para olhar para ela, seus olhos percorrendo sua figura.

― Meu Deus, você é tão bonita. Nem acredito que estou preste a dizer.

Ele a envolveu em seus braços e soltou um som profundo de satisfação


enquanto suas mãos na base das costas dela a puxavam para ele, movendo
o material sedoso contra sua pele sensível. É agora, ela pensou, ele vai me
arrebatar. Até agora era bastante bom. Ela dificilmente conseguia pensar,
nem sequer falar, mas ainda conseguiu dizer.

― O quê?

Ele a beijou no rosto, sua boca, o lugar sensível na base de sua orelha,
suas mãos se movendo para cima e para baixo, de seu traseiro até seus
ombros, carícias longas e extensas que a faziam derreter por dentro.

― Tudo isto é errado. ― Ele disse, então gemeu enquanto lhe dava um
beijo longo e profundo e a pressionou contra sua evidente ereção. ― Não
posso.

Marjorie se afastou.

― Não pode?

― Não posso fazer tudo errado. Quero que seja virgem em nossa noite
de núpcias. ― Sua boca e mãos contrariavam o que ele dizia. Uma mão se
movera para seus seios, seu polegar se movendo para a frente e para trás
sobre seu mamilo, o provocando até se tornar um botão duro. O que ele
estava fazendo com ela, lhe dizendo que não podia e ao mesmo tempo
fazendo impossível parar?

― Não, não, não. ― Disse Marjorie, o beijando de boca aberta, lhe


mostrando o quão desesperada estava por ele. Ela moveu seu corpo contra o
dele e ele deixou escapar outro gemido baixo, ela adorava aquele som,
adorava saber que ele a queria tanto quanto ela o queria a ele. ― Está tudo
bem Charles. Nessa altura não preciso ser virgem. Pode acontecer esta noite.
Por favor.

― Não.

Ela se afastou.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Não?

Ele olhou para ela e ela não tinha dúvidas de que ele a queria, de que
a amava, mas havia determinação em seu olhar.

Ele deixou escapar uma suave gargalhada e voltou a se aproximar


dela.

― Quero você mais do que alguma vez quis alguma coisa em minha
vida. Mas eu quero que pelo menos uma coisa neste nosso cortejo ridículo
seja certa. ― Ele baixou a cabeça e colocou um mamilo em sua boca, lhe
dando um prazer tão extraordinário que seus joelhos cederam. ― Contudo. ―
Disse ainda com a boca em seu seio. ― Não sou um santo.

― Vamos fazer o que fizemos antes? ― Ela perguntou sem folego.

― E mais. Mas você permanecerá uma virgem. Espero. ― Olhou para


ela, seus olhos focando ardentemente em seus mamilos eretos e disse. ―
Vamos tirar isso de você.

― Minha túnica? Mas você disse.

― O que tenho planejado será muito melhor se você estiver nua.

Marjorie corou, mas começou a desabotoar os pequenos botões de


marfim, revelando cada vez mais ao olhar ardente dele, até que finalmente
foi capaz de retirar o material por seus ombros. Com um delicado encolher
de ombros, a túnica caiu em um sussurro ao chão. E ela estava nua.

― Não sou um santo. ― Ele murmurou, então freneticamente começou


a tirar as suas próprias roupas. ― Mas maldição, deveria ser canonizado por
esta noite.

Marjorie observou, fascinada, como mais e mais da carne dele era


exposta, até que ele finalmente permaneceu ante ela, todo músculo e
masculinidade. Ela mordeu o lábio enquanto olhava uma vez mais sua
ereção.

― Sua perna está bem?

― Se minha perna caísse neste momento, nada me poderia parar.

Marjorie cobriu sua boca e riu, tentando não fazer barulho. A última
coisa que queria era ser apanhada agora.

― Na cama? ― Ela perguntou.

― Na cama. ― Ele a carregou e depositou no meio, imediatamente a


seguindo, sua boca encontrando infalivelmente um mamilo e o sorvendo.
Marjorie arquejou, suas mãos indo para trás da cabeça dele. Quem diria que
200
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

tal coisa poderia ser tão incrivelmente maravilhosa? Quem diria que caricias
em seus seios a fariam sentir como se ele a estivesse tocando entre suas
pernas?

Uma mão grande se moveu para baixo por seu flanco até o lado de fora
de sua coxa, então, lentamente, para o interior.

― Afaste as pernas um pouco, amor. ― Disse― sua cabeça levantando


para que a pudesse ver. Ela o fez, seus olhos nunca deixando os dele,
enquanto sentia sua mão mover para cima até que finalmente, finalmente,
ele a tocou naquele lugar particular que lhe dava tanto prazer.

Ele gemeu quando a encontrou molhada e gemeu de novo quando ela


moveu o quadril, silenciosamente pedindo por mais. Ela não conseguia se
segurar. Nada podia se comparar com esta sensação de ser tocada por ele.

― Não sou um santo. ― Ele disse de novo, depois se moveu para baixo,
beijando o estômago dela, os caracóis suaves no topo de suas coxas, a pele
delicada e sensível, primeiro de sua coxa esquerda, depois da direita. E
então, oh, então o meio, um beijo com a língua e a boca, sugando, ela queria
que continuasse para sempre. Suas mãos se moviam inquietas, finalmente
descansando no topo da cabeça dele, exercendo um pouco de pressão para
lhe dizer silenciosamente que ele estava fazendo algo muito, muito bom.

Sensações que ela lembrava de sua primeira vez voltaram para ela e
ficou perdida. Seu quadril começou a se mover enquanto a pressão
aumentava e finalmente ela alcançou seu clímax, se sacudindo debaixo dele
e tentando não gritar de prazer.

Lentamente, muito lentamente, ela voltou à terra, sentindo seu corpo


languido e saciado. Mas ela estava consciente de que apesar de ela estar
languida e saciada, Charles continuava tenso e duro.

Pobre homem.

Ele se levantou e, com um pouco de triunfo masculino, a beijou.

― Isso foi bastante agradável. ― Ela provocou. ― O que posso fazer por
você?

― Uma Cruz Vitória seria adequado.

― Ou uma condecoração de cavaleiro?

Enquanto falavam, os dedos de Marjorie brincavam com o pelo do


peito dele. A fazia sentir de alguma maneira mais feminina ficar ao lado de
tal homem. Lentamente, desenhou círculos com a mão, movendo cada vez
mais abaixo, até que os nós dos dedos roçaram sua ereção ainda presente.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Podia tocar em você. ― Ela disse e moveu um dedo da base para o


topo, deliciada quando ele fechou os olhos e seu rosto ficou tenso. Ela o
cobriu com sua mão e o acariciou, tal como antes, observando suas reações
a tudo o que ela fazia.

― Podia me beijar.

Ela parou, então olhou para sua mão, se perguntando se tinha


compreendido o que ele estava dizendo.

― Quer dizer, da mesma forma como você me beijou?

― Sim, por favor.

Um riso fugiu de sua garganta.

― Dificilmente penso que seria o mesmo. ― Ela pensou sobre isso,


sobre as coisas que aconteciam para um homem e que não aconteciam para
uma mulher e ficou sem certeza do que fazer. Dificilmente poderia
perguntar. Mas talvez um pequeno beijo fosse suficiente.

Com uma determinação implacável, se baixou e beijou a ponta,


sentindo ele ficar ainda mais duro debaixo da mão dela. Era realmente
incrível, ela pensou, se perguntando o que deveria fazer depois. Charles,
olhando para ela com um calor tão intenso, forneceu a resposta.

― Se não se importar terrivelmente, poderia me colocar em sua boca.

― Como um apito?

Ele riu, mas parecia que sofria.

― Um pouco como isso, sim.

E então ela o fez, colocando a sua língua sobre ele, experimentando,


avaliando quanto prazer lhe dava pelos sons que ele fazia e a tensão de seu
corpo. Então, num movimento frenético, ele a puxou, seu quadril se
sacudindo debaixo dela e a beijou, soltando um gemido longo e retumbante.

Marjorie jazia sobre ele, sentindo ele relaxar lentamente.

― Bom Deus. ― Ele finalmente disse. ― Mal posso esperar por nossa
noite de núpcias.

Ela sorriu contra seu pescoço, respirando o cheiro dele.

― Tenho sono. ― Ela murmurou.

― Oh, não, não adormeça, quando formos descobertos, temos que


estar ambos vestidos. Ou parcialmente vestidos. Não desejo que sua mãe
nos encontre nus.
202
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Marjorie amuou e saiu de cima dele, torcendo o nariz quando viu um


liquido espeço em seu estômago. Charles simplesmente riu e pegou um lenço
para o limpar.

―Vai se acostumar a todo este negócio. ― Disse, observando o seu


trabalho.

Por alguma razão, essa simples expressão fez Marjorie bastante feliz.
Ela iria se acostumar, durante uma vida longa e maravilhosa com este
homem.

― Eu amo você.

Ele olhou para cima, como se suas palavras o surpreendessem. Então


seus olhos ficaram duvidosamente nublados e ele olhou para longe,
engolindo fortemente.

― Esperei por tanto tempo para ouvir essas palavras. Nunca me


acostumarei a escutá-las. ― Então, abanou a cabeça como se afastasse essa
emoção incomoda e com movimentos eficazes, se vestiu. Marjorie pegou sua
túnica, sorrindo pela picardia de tal ato e a vestiu, então congelou. Alguém
tinha batido na porta suavemente.

― Não abra. ― Ele disse.

― Mas não é isso o que queremos? Ser apanhados?

― Ainda não ― Ele disse. ― Quero abraçá-la um pouco mais.

Outra batida.

Ela lhe deu um olhar exasperado, então riu.

― Vá para o guarda-roupa então. Provavelmente é apenas um dos


criados com uma pergunta. ― Ela o empurrou e esperou até que ele estivesse
bem escondido antes de vestir seu roupão e se dirigir à porta.

― Boa noite, miladie. ― Era o valete de George, Mr. Billings. ― Lamento


incomodar tão tarde na noite.

― Está tudo bem, Mr. Billings. Me diga, o que há de errado? ― Porque


era claro que algo estava errado. O valete de George, sempre agradável e
calmo mesmo quando George não estava, parecia bastante perturbado.

― É Sua Excelência. Não o vejo já faz duas noites. Não é do jeito dele.
Confesso que estou preocupado, miladie. Sabe onde ele poderia estar?

Se qualquer outro jovem não voltasse a casa por duas noites, não seria
preocupante. Mas seu irmão estava tão preso a sua rotina que estas
novidades eram perturbantes.
203
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Quando foi a última vez que o viu?

― Quinta-feira à tarde. Ele estava indo à Christy Colletion, como gosta


de fazer toda quinta-feira. O esperava nessa noite, mas ele não voltou. Não a
queria alarmar então, porque ele, em raras ocasiões, mudava de planos. Mas
não o ver dia todo hoje…

― Fico feliz que me tenha dito, Mr. Billings. Ele não lhe disse nada?

― Não, miladie. Esperava que ele lhe tivesse dito algo. ― O pobre Mr.
Billings parecia perto das lágrimas.

― Farei algumas perguntas, Mr. Billings. Tenho certeza que há uma


explicação lógica e que ficaremos muito zangados com Sua Excelência por
nos causar tamanha preocupação. ― Ela forçou um sorriso e ele lhe devolveu
um bastante hesitante.

― Boa noite, miladie. ― Disse e retornou pelo corredor para seu


alojamento.

Depois que ele partiu, Charles saiu do guarda-roupa.

― Eu ouvi. O que posso fazer?

Marjorie abanou a cabeça. Ela não tinha ideia do que fazer, onde
começar. George nunca tinha feito uma coisa dessas antes. Ele nunca ficava
mais de um dia inteiro fora, nem sequer dois.

― Acho que George está com problemas. Algo aconteceu com ele. ―
Lágrimas encheram seus olhos e ela rapidamente estava nos braços dele,
tentando conseguir forças de Charles.

― Onde é que ele iria?

Marjorie tentou pensar, mas tudo o que podia imaginar era como
George deveria estar aborrecido. E se ele estivesse ferido e num hospital? E
se estivesse estirado na berma da estrada?

― A seu clube. É aí que o iria encontrar. Ele vai lá toda a quinta-feira à


noite, mas apenas durante uma hora. ― Ela soltou uma pequena gargalhada
histérica. ― Uma hora. Precisamente. Então vem para casa. Mas quinta-feira
à noite foi a noite do baile. Ele tinha planos com Lilianne. Não teria ido a seu
clube.

― Ele esteve lá e bem tarde, na noite em que o conheci. Talvez ele


tenha ido a seu clube e se distraiu.

Marjorie de afastou de seus braços e começou a andar.

204
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Jefrrey deve tê-lo convencido. George tem uma espécie de adoração


de herói por nosso primo, sabe.

― Talvez tenha se encontrado com Jeffrey de novo. Talvez seu primo o


tenha convencido a ir a outro lugar.

― Por dois dias? George nunca concordaria. Nem sequer Jeffrey o


poderia convencer a fazer tal coisa. Pelo menos acho que não. Tenho que
falar com mamãe. ― Subitamente, Marjorie se apercebeu que Charles estava
em seu quarto, tarde na noite e que ela muito provavelmente aparentava ser
o que era – uma mulher que acabava de ser amada. ― Lamento que isto
tenha acontecido, mas…

Ele levantou uma mão.

― Por favor, não se desculpe. Assim que fale com sua mãe, partirei.
Ela pode saber alguma coisa que nós não sabemos sobre seu irmão. Ficarei
aqui até o escutar.

Marjorie lhe deu um pequeno sorriso.

― Volto logo.

Marjorie abriu a porta e soltou um pequeno berro. Lady Summerfield


estava lá, sua mão levantada como se fosse bater, seus olhos presos em
Charles.

Dorothea estava imóvel, ofegante, seu rosto ficando cada vez mais
vermelho. Sua boca abriu, então fechou, antes dela desviar seu olhar para
sua filha.

― Como pôde?

― Não aconteceu nada, mamãe. ― Nada permanente.

― Não aconteceu nada? Não aconteceu nada? Está um homem em


seu quarto, Marjorei Anne. Um homem de camisa e sem gravata. Dorothea
piscou os olhos e Marjorie pensou que sua mãe iria desmaiar bem ali.

― Por favor, me diga que não é Mr. Norris quem está em seu quarto,
meio nu.

― Ele não está meio nu, mamãe.

Marjorie viu a mão de sua mãe contorcer-se e recuou um passo. Ela


sabia que estava provocando sua mãe e não desejava voltar a sentir a mão
de Dorothea em seu rosto.

― Desejamos nos casar. ― Disse Charles, avançando e colocando uma


mão nas costas de Marjorie.
205
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Não toque em minha filha, seu vira-lata. Como se atreve? Como se


atreve a entrar em minha casa e no quarto de minha filha e a deflorar?

― Me atrevo porque a amo e era a única forma de a convencer a que


nos deixe casar. ― Disse Charles, sua voz tomando um tom duro que
Marjorie nunca antes tinha escutado. Era bastante intimidante, mas sua
mãe não era uma mulher que se intimidava facilmente.

― Planejou isto? ― Os olhos de Dorothea foram de Charles para


Marjorie.

― Não conseguíamos pensar noutra forma de a convencer e não


queríamos o escândalo de uma fuga. ― Disse Marjorie. Ela soube que esse
momento seria horrível, mas não tinha percebido quão terrível seria. ― Ele
pediu por minha mão e você recusou. Eu lhe disse que o admirava e você me
proibiu de o ver. Nós nos amamos, mamãe.

A respiração de Dorothea estava ficando acelerada.

― Preciso me sentar. ― Ela disse e entrou no quarto quase caindo na


banqueta.

Marjorie deu a Charles um olhar desesperado, então foi para sua mãe
e se ajoelhou a seu lado, agarrando uma das suas mãos.

― Sabemos sobre o chapéu. ― Ela disse suavemente.

Dorothea olhou para ela confusa.

― O chapéu?

― A mãe de Charles. Ascot. Nós sabemos.

― Oh, bom Deus.

― Se serve de consolo, ― disse Charles, ― minha mãe se arrepende


profundamente de suas ações.

Dorothea começou a rir e Marjorie olhou para Charles, sua


perturbação clara.

― Não foi apenas o chapéu. Foi minha vida que ela arruinou. Fui
banida para Ipswich para viver com minha tia, uma mulher terrível. Vivi com
ela por dez anos, esperando por cada ordem dela, escutando suas criticas.
Foi aí que conheci seu pai. ― Ela torceu a boca. ― Todos os dias que passei
lá pensava Em Miss Anne Wadsworth, sobre como suas “ações” acabaram
com qualquer esperança que alguma vez tive de felicidade. E ela se
arrepende de suas “ações”. Que maravilha.

206
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Ela era muito nova, mamã. Apenas tinha dezassete anos. Tenho
certeza que não fazia ideia.

― Como poderia? Como poderia alguém saber que suas “ações” seriam
minha sentença? ― Dorothea olhou para sua filha, depois levantou o olhar
para Charles. Algo tinha mudado nos olhos de Dorothea, ficaram frios e
assustadoramente calculadores. ― Eu não entrei aqui e o encontreu com
minha filha. Nunca falarei disto.

― Mãe, não ― Marjorei arfou.

Charles se aproximou.

― Temo, miladie, que o fato está consumado. É que, sabe, não me


apanhou no ato de despir. Na realidade, me apanhou no ato de me vestir.
Estava prestes a sair. ― O olhar de Charles era firme, sua voz baixa e clara e
Marjorie nunca o tinha amado mais que naquele momento. Ele nunca
mentira. Lhe tinha dito isso e ainda assim estava mentindo por ela.

Para seu horror, sua mãe começou a chorar, pequenos solucços


suaves que partiam o coração de Marjorie.

― Nunca esteve apaixonada, mamãe? Tão apaixonada que faria


qualquer coisa por essa pessoa?

Dorothea olhou para ela, seu rosto a imagem da miséria.

― Sim, Marjorie.

― O que aconteceu? ― Sussurrou Marjorie.

― Ele não me amava. Não amava. ― Ela soltou um suspiro tremulo e


fechou os olhos por uns segundos. Agora sei disso. Acho que também sabia
na altura.

― Imagine se ele a amasse. ― Marjorie olhou para Charles e ele sorriu


para ela.

― Eu amo a sua filha e vou casar com ela.

― Mas quero você lá, mamãe. Por favor.

Dorothea abanou a cabeça.

― Vou pensar nisso. Você me feriu, Marjorie. Me enganar junto a este


homem que sabia que eu reprovava apenas para me forçar a aceitar foi
muito mal feito.

― Eu sei. ― Apesar de se sentir horrível por trair sua mãe, Marjorie


também sentia a alegria borbulhando dentro dela. Tinha terminado. Eles se
casariam. Apesar de que sua mãe ainda estivesse perturbada pelo que
207
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

tinham feito, Marjorie sentia uma suavidade em sua postura e rezou para
que sua mãe, se não conseguisse suportar o enlace, fosse, eventualmente,
pelo menos capaz de aceitar.

Dorothea levantou uma mão ainda trémula a sua testa.

― Porque vim a seu quarto em primeiro lugar? ― Ela murmurou. ―


Escutei uma comoção, vozes. Pensei ter escutado Mr. Billings.

A mão de Marjorie voou para sua boca. Quase tinha esquecido de


George.

― É George, mamãe. Não tem estado em casa desde há duas noites e


Billings está muito preocupado. Eu também estou, para ser honesta. Sabe
como George gosta de seguir o seu regime. Temo que algo lhe tenha
acontecido.

― Duas noites? ― Perguntou Dorothea, claramente assutada. ― Tem


certeza?

― É isso que disse Mr. Billings.

Doroteha olhou para Marjorie, a dor presente em seus olhos.

― Acha que ele poderá ter fugido?

Marjorie sentiu o sangue sair de seu rosto.

― Nunca pensei nisso. Mas porque o faria? Eles já anunciaram seu


noivado.

― Talvez pensassem que eu faria alguma coisa para os impedir.

Marjorie estreitou os olhos.

― Porque pensariam isso, mamãe?

Dorothea se levantou, bastante recuperada de seu choque anterior.

― Porque fui visitar os Cavendish e expressei minha oposição ao


casamento. Realmente Marjorie, se seu irmão não estivesse afetado como
está, ele consideraria sequer casar com a filha de um escudeiro?

― Talvez não. ― Disse Marjorie relutante. ― Mas conhecemos a família


há muitos anos e seu pai é um escudeiro. Isso não é muito abaixo.

― É para um conde. Vamos visitar a família de manhã. Você, sir, ― Ela


disse, voltando um olhar gelado na direção de Charles, ― vai sair
imediatamente.

― Sim, madame. ― Charles lhe deu um sorriso convencido e a


carranca de Dorothea apenas ficou mais severa.
208
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― E se voltar a tocar minha filha antes de que tome minha decisão, o


matarei. ― Ela lançou um olhar feroz a Charles. ― Estamos entendidos, sir?

― Sim, madame. ― As palavras foram ditas com seriedade, como uma


promessa.

― Nem mesmo para uma dança? ― Perguntou Marjorie.

― Nem mesmo para uma dança. ― Dorothea assentiu. ― Agora vá. E


Marjorie, volte para a cama. Precisamos de uma boa noite de sono para
nossos negócios de amanhã.

Dorothea o observou com olhos de águia enquanto ele partia,


certificando-se que ele nem sequer tocava a mão de Marjorie.

209
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 17

Na manhã seguinte, tão cedo quanto era decente, Marjorie e sua mãe
foram visitar os Cavendish. Eram nove horas e Dorothea fez um comentário
de que a família era indecente o suficiente para estarem acordados a essa
hora. Marjorie sufocou um suspiro e a tentação de apontar a sua mãe que
ela já estava acordada à duas horas.

Bateram na porta e foram recebidas pelo mordomo, que não se


preocupou em esconder sua surpresa ao encontrar as duas paradas na
varanda tão cedo.

―Gostaria de ter uma audiência com Mr. e Mrs. Cavendish. E com


sua filha. ― Anunciou Dorothea regiamente. Estava claro para Marjorie que
sua mãe não esperava ver Lilianne de todo.

O mordomo assentiu e entrou na casa antes de as conduzir para uma


sala de visitas pequena.

― Estão tomando o café da manhã, miladie. Os informarei de que estão


aqui.

Dorothea fungou e olhou em volta da sala, seu desagrado claro.

― Tente ser educada, mamãe. ―Disse Marjorie.

― Eu sou sempre educada.

― Então tente ser simpática.

Mr. e Mrs. Cavendish, com Lilianne logo atrás deles, entraram na sala,
suas expressões curiosas, mas tingidas de preocupação.

― Isto é inesperado. ― Disse Mr. Cavendish.

― O que aconteceu? Onde está George? ― Isto veio de Lilianne que


nada fez para mascara a preocupação que claramente sentia.

― Esperávamos que você soubesse. ― Disse Marjorie, se sentindo cada


vez mais desesperada. Quase tinha esperado que Lilianne tivesse fugido com
George. Pelo menos assim saberia onde ele estava.

― Era para termos ido ao baile Westin duas noites atrás. Ele vinha me
buscar e quando ele não chegou, não tinha certeza do que pensar. Ele não
disse nada, nem uma nota. E não ouvi nada dele desde então. Não é do feitio
dele.

210
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Dorothea sentou pesadamente num sofá e os outros a seguiram,


encontrando um lugar para se sentarem.

― Quando o viu pela última vez, Miss Cavendish. ― Perguntou


Dorothea.

― Fomos ao Christy Collection juntos. Ele vai lá toda a quinta-feira à


tarde.

― Eu sei. ― Disse Dorothea. ― Ele disse alguma coisa a você? Se


encontraram com alguém? Pense, garota.

Os olhos de Lilianne se encheram de lágrimas e a mãe dela, sentada a


seu lado, agarrou a sua mão para confortar a garota.

― Não. Nada. Nos encontramos à uma. Ele estava excitado pelo baile.
Por isso quando ele não apareceu para me escoltar, fiquei um pouco
surpresa. Pensei que tinha feito algo que o deixou zangado. O que é tolice,
porque George raramente se zanga.

― Não estão exagerando? Ele é um jovem, afinal de contas e todos os


jovens fazem coisas sem pensar de vez em quando. ― Disse Mr. Cavendish.

― O George não. ― Isto foi dito simultaneamente por Marjorie e


Lilianne.

― Ele é um homem com uma rotina estrita. Incomoda a George ter


seus planos alterados. ― Disse Marjorie. ― É tão incomum para ele não ir ao
baile com Lilianne como seria se um gato começasse a latir. Ele
simplesmente não o faria. É por esse motivo que estamos tão preocupadas,
sir.

― Oh, Deus, algo terrível aconteceu com ele. ― Chorou Lilianne. Então
seu rosto se iluminou. ― Devemos perguntar a seu primo Jeffrey.

― Porque diz isso? ― Perguntou Dorothea.

― Porque Jeffreu é a única pessoa, além de Marjorie e eu, que


conseguiria persuadi-lo de mudar seus planos.

― Ela tem razão, mamãe. Vamos visitar Jeffrey.

A casa de Penwhistle em Mayfair tinha visto dias melhores, mostrando


visíveis sinais de negligencia. Os canteiros de flores estavam vazios, a tinta
começando a descascar e uma calha de cobre pendia precariamente do
telhado. Era uma casa em clara necessidade de fundos, fundos que Charles
pressentia que o dono da casa estava tentando obter através de medidas
nefastas.
211
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Eram apenas as nove horas da manhã e Charles não tinha dormido


desde que deixara Marjorie e sua mãe. Estava com um humor de cão e
preparado para uma luta. Apesar de não conhecer George há muito tempo,
sabia o suficiente para perceber que o primo Jeffrey era o único homem que
George considerava como um verdadeiro amigo. Jeffrey foi quem convenceu
George a apostar naquela noite no clube, provavelmente porque seus
próprios bolsos estavam vazios. Apenas um homem desesperado usaria o
dinheiro de outro em apostas e Jeffrey Penwhistle estava claramente
desesperado. Talvez até um homem desesperado o bastante para ferir outro
se isso significasse ganhar algumas libras.

Ele bateu ma porta e esperou apenas alguns minutos antes do


mordomo atender.

― Gostaria de uma audiência com Mr. Penwhistle.

― Mr. Penwhistle não está.

― Sir, aprecio sua lealdade, mas Mr. Penwhistle está em casa. Não
tenho nenhum disputa com o senhor e percebo que está apenas fazendo seu
trabalho. Mas se não me deixar entrar e ver Mr. Penwhistle, temo que terei
que forçar minha entrada.

Um pouco de medo surgiu nos olhos do mordomo, pois era um homem


pequeno e parecia já estar em seus sessenta anos.

― Temo que não possa, sir.

Charles soltou um suspiro cingido.

― Realmente, sir, não tenho desejo de machucá-lo, mas isto é um


assunto de grande preocupação. A vida de um homem pode estar em perigo
e temo que me está dando poucas escolhas a não ser usar a força.

As sobrancelhas do mordomo se franziram como se considerasse as


palavras de Charles, ditas educadamente na altura, mas com um tom de aço
à sua volta.

― Muito bem, sir. Se esperar no saguão.

Charles entrou, sorrindo ao mordomo e disse:

― Não há necessidade. Apenas me diga onde está Mr. Penwhistle e lhe


pouparei da viagem.

― Mas sir… muito bem. Terceira porta ao fundo do corredor à direita.


― Charles dicou surpreso pela rápida aquiescência do mordomo, mas não o
mostrou. Prajit poderia muito bem ter feito o mesmo se confrontado numa
situação semelhante. Tinha mais a ver, pensou, com o carater do homem
212
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

que com lealdade. Charles tinha chegado à conclusão que uma lealdade cega
era quase tão perigosa quanto a deslealdade.

Depois de recusar a oferta do mordomo de ficar com seu casaco e


chapéu, Charles imediatamente começou a percorrer o corredor.

― Sir? ― Chamou o mordomo, ― Ele realmente não está em condições


de receber visitas, se percebe o que quero dizer.

Charles parou, depois saudou o homem mais velho. Então, Mr.


Penwhistle estava com os copos, não estava? Porque estariam um jovem
cavalheiro intoxicado às nove da manhã? Um pavor o começou a encher
enquanto pensava sobre todas as razões que levariam Jeffrey Penwhistle a se
embebedar e como isso estaria ligado ao desaparecimento de George.

Quando chegou à porta, não se preocupou em bater, mas entrou sem


aviso. A sala tresandava de brandy e de um jantar meio comido, seus
conteúdos congelados num prato colocado no chão junto da lareira. A sala
era escura, grossas cortinas de veludo bloqueando efetivamente o sol da
manhã. Mr. Penwhistle estava sentado numa grande cadeira, um frasco em
sua mão. Estava tão bêbado que nem tinha se mexido quando Charles
entrou na sala e olhou demasiado tarde para ele com pouco interesse,
enquanto este abria as cortinas, deixando entrar a luz do sol na sala.

― Maldição. ― Disse Jeffrey, protegendo os olhos. ― Feche as malditas


cortinas, seu vadio.

Charles se voltou lentamente, percebendo com um pouco de prazer


que Mr. Penwhistle não sabia quem ele era, que provavelmente acreditava
que estava falando com um criado. Com a janela atrás dele, depreendeu que
provavelmente era só uma silhueta para Jeffrey. Charles ficou com uma
satisfação sombria ao observar a expressão de Penwhistle mudar enquanto
Charles se aproximava lentamente do jovem ultrajado. Assim que o
reconheceu, Penwhistle se sentou rapidamente, se bem que um pouco
desleixado.

― Devo dizer, Mr. Norris, o que está...

Charles cortou suas palavras, pegando em sua lapela, o levantando da


cadeira e empurrando contra a parede mais próxima.

Seus olhos vermelhos pelo álcool alargaram, Penwhistle cuspiu.

― Quero saber, o que está acontecendo?

― Onde ele está? Onde está seu primo? Sei que você sabe. ― Ele não
sabia, claro, mas tinha uma forte suspeita.

213
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Como saberia onde ele está? ― Disse Jeffrey, mas não tinha sido
capaz de evitar seu momentâneo olhar de pânico antes de colocar um olhar
de ultraje. Charles sabia que ele mentia e se sentiu doente por isso.

― O que você fez, pequeno tolo? ― Disse suavemente. ― O que você


fez?

― Eu… Eu… ― O rosto de Jeffrey desmoronou um pouco antes que


conseguisse se controlar, aumentando as suspeitas de Charles ainda mais.
― Ele desapareceu.

Charles tomou ar calmamente.

― Sabemos que ele desapareceu. É por isso que estou aqui.

― Não, não. Fomos juntos a um pub duas noites atrás. O Lamb &
Flag. ― Charles lhe deu um olhar de desgosto e Jeffrey se apressou a
acrescentar. ― Sim, sim, eu sei que não deveríamos ter ido lá, mas estava
entediado com os clubes e pensei que indo a um sitio com um pouco mais de
excitação era necessário. Escutei que estava acontecendo uma boa luta
nessa noite. George não queria ir, claro. Tinha que ir a um baile com sua
nova noiva. Começou uma luta (não aquela que esperávamos, é claro) e nos
separamos. Não o conseguia encontrar por isso deduzi que tinha ido para
casa.

― Levou George ao Balde de Sangue. Bom Deus, homem. ―Disse


Charles, se referindo ao apelido do pub.

― Não estávamos pensando em irmos lutar, apenas observar. ― Disse


Jeffrey. ―Não há mal nisso.

― Obviamente houve algum “dano nisso”. Ele puxou seu relógio.


―Porque está bêbado às nove e meia da manhã?

― Gosto de beber. ― Disse Jeffrey com um sorriso que não chegava a


seus olhos. ― Além disso, o que mais há para fazer?

― Está mentindo. ― Charles não tinha certeza, claro, mas sentia em


seus ossos que Jeffrey estava escondendo alguma coisa. O que poderia ser,
ele não tinha ideia.

Jeffrey deu um encolher de ombros exasperado.

― Porque mentiria? Num minuto ele estava a meu lado, no outro tinha
sumido. Procurei por todo o lado. Até fui a sua casa e depois ao baile, mas
não estava lá.

― Porque não disse nada a Lady Summerfield?

214
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Não queria preocupar minha tia. Afinal de contas, ele podia ter ido a
qualquer lugar. Podia ter conhecido alguma sirigaita e tem estado se
divertindo, tanto quanto sei. George é um adulto, mesmo que seja um idiota.
Diz que ainda está desaparecido? Isso é curioso.

Talvez estivesse enganado, mas a Charles parecia que Jeffrey estava


mentindo e realmente se estava divertindo com isso. Estava agindo como um
homem que acabava de ganhar um concurso que ele sabia que era
impossível o seu adversário ganhar.

― Eu estava no baile. Não o vi por lá.

― Isso não me surpreende. Estive lá muito brevemente procurando por


George. Quando não o encontrei, vim para casa.

― Alguém o viu por lá?

Jeffrey riu.

― O que? É policial agora?

Charles apertou os punhos perante o tom trocista do outro homem.

― Na realidade. ― Disse Charles, mantendo os olhos presos no rosto de


Jeffrey. ― Chamar a policia seria uma boa ideia. Se George está sumido, ele
quererá falar com você. Foi a última pessoa que sabemos que viu George.

Jeffrey sorriu de novo.

― Claro. Chame um agora. Sabe, Mr. Norris, realmente não me


incomodo com suas suposições.

Foi a vez de Charles parecer inocente.

― Não faço ideia do que está falando.

― Realmente. Entrou por minha casa, me atacou e exigiu saber o que


tinha feito com meu primo.

― Sim, estou vendo seu ponto. ― Disse Charles, fingindo desilusão.

― Porque quereria machucar meu primo? Ele me é muito querido.

― Tenho certeza que é. E tenho tanta certeza de que se preocupar mais


por George que por seu título.

A expressão de Jeffrey ficou de pedra, mas seus olhos vermelhos se


afastaram. Charles nunca tinha ficado tão enojado com outro ser humano
em toda sua vida.

Charles caminhou calmamente para a porta, onde o mordomo estava,


rosto pálido e solene.
215
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Por favor, mande alguém chamar a policia, Mr?

― Stavers. ― Respondeu o mordomo.

― Obrigado, Mr. Stavers. Ficarei aqui com Mr. Penwhistle.

― Sim, senhor.

Talvez a última coisa que Charles queria fazer era ficar com Jeffrey. O
homem tresandava de fraqueza e álcool. Como era um homem de apostas,
desejava poder colocar sua aposta em como Jeffrey sabia exatamente onde
George estava. Quando voltou à sala, se sentou pesadamente na cadeira em
frente de onde Jeffrey se tinha arrastado de volta. Tomou mais um gole de
brandy, reprimindo um vómito.

― Curioso. ― Disse Charles e Jeffrey escarneceu, fazendo questão de


tomar mais um longo gole.

A policia tinha vindo e partido, deixando Charles frustrado e zangado.


Jeffrey, um pouco mais sóbrio agora, estava começando a recobrar seu
espírito.

― Tenho certeza que sabe mais do que o que nos está contando. ―
Disse Charles ao policial depois de o afastar de lado.

― Eu não. ― Chamou-os jovialmente Jeffrey. Aparentemente Charles


não tinha falado tão suavemente como tinha esperado. ― E estou insultado
por dizer tal coisa. Difamação de carater e tudo isso. Nisso não é um crime,
sir? Prenda esse homem. ― Começou a rir e Charles teve que se controlar
para não atravessar a sala e colocar um punho no rosto sorridente de
Jeffrey.

O policial parecia mais divertido que preocupado. Não tinha


compreendido que George nunca teria se desviado de seus planos para
passar a noite com alguma sirigaita. Olhou para ele com pura incredulidade
quando Charles lhe disse que isso era quase impossível.

O policial colocou seu bloco e lápis no bolso de seu casaco.

― Escute, se fossemos procurar por cada janota que bebe demasiado e


passa a noite onde não devia, nunca teríamos tempo para fazer outra coisa.
― Ele levantou uma mão para parar a resposta zangada de Charles. ― Neste
momento tudo o que temos é um jovem que não voltou a casa. Não houve
nenhum crime. Nem sequer sabemos se realmente desapareceu. Não é como
se fosse uma criança. Tem vinte e um anos. Se ele quiser sair sem ter que
contar para a mamã aonde vai, isso é negócio dele.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Temo que não compreende completamente as circunstancias. ―


Disse Charles por entre dentes cerrados.

O policial tirou o chapéu e saiu da sala, completamente pouco


convencido de que alguma coisa estava errada. Charles o observou partir,
depois se voltou para Jeffrey, que estava encostado contra a cornija,
parecendo como se não tivesse uma única preocupação na vida.

― Se vier a descobrir que teve alguma coisa a ver com o


desaparecimento de George, farei todos os possíveis para o ver pendurado.

Jeffrey sorriu, embora um pouco tremulo. ― Eles não penduram um


homem por ir a um pub, da última vez que me informei.

Charles deu um passo em direção ao outro homem, ganhando alguma


satisfação quando viu um vislumbre de medo em seus olhos.

― É melhor rezar para que o encontremos, Mr. Penwhistle, forte e


saudável.

Charles deixou a sala, apenas para case tropeçar em Mr. Stavers que
estava claramente incomodado.

― É Lady Summerfield e Lady Marjorie. acabam de chegar, sir.

Marjorie tentou parar de pensar nas coisas terríveis que poderiam ter
acontecido a George, mas era quase impossível. Dorothea estava silenciosa;
a única indicação de que estava incomodada era a forma como apertava as
mãos em seu colo, uma bola apertada de preocupação.

― Ficarei muito zangada com George por nos causar tantas


preocupações. ― Disse Marjorie, tentando desesperadamente permanecer
otimista. Dorothea não respondeu.

― Ele deve estar aqui. Onde mais poderia estar? Devo falar com ambos
os rapazes sobre isto. Como seremos todos tolos por nos preocuparmos tanto
quando os encontrarmos.

― Ele estará aqui. ― Disse Dorothea com certeza. ― Onde mais poderia
estar?

Marjorie não quis responder, não queria pensar nas possibilidades. E,


quando em vez de Jeffrey viu o rosto sério de Charles vindo na sua direção,
apertou o braço de sua mãe. Dorothea tinha ficado calada e Marjorie podia
sentir que tremia debaixo de sua mão.

― George? ― Disse Dorothea, sua voz quebrando ligeiramente.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Vamos procurar um lugar confortável, miladie. Mr. Stavers, se não


se incomodar?

O mordomo se voltou para os conduzir dentro da casa, mas Dorothea


não se moveu.

― Me diga agora, Mr. Norris.

Charles olhou para Marjorie, depois para Dorothea.

― Temo que não tenho novidades, Lady Summerfield. ― Dorothea


soltou um som angustiado. ― Aqui, vamos sentar. ― Ele puxou uma cadeira
encostada à parede e a colocou atrás de Dorothea, que caiu nela, ainda
agarrando a mão de Marjorie.

― Conte. ― Disse Marjorie.

― Sabemos um pouco mais do que sabíamos ontem à noite. Seu primo


diz que viu pela última vez Lorde Summerfield num pub chamado Lamb &
Flag perto de Convent Garden, mas há lugares piores em que poderia ter ido.
É um lugar duro, para ficar aaber e não é um aonde levaria George. De
alguma forma, os dois se separaram. Mr. Penwhistle diz que procurou por
ele, mas não foi capaz de encontrar. Diz que não sabia que George ainda
estava sumido.

Marjorie estreitou os olhos.

― Mas você não acredita nele.

― Me perdoe, mas não acredito.

― Porque Jefrey iria mentir? ― Disse Dorothea, insultada pela


sugestão. ― Se ele soubesse onde George estava, ele nos diria.

Dorothea se levantou e caminhou mais para o interior da casa,


seguida por um Mr. Stavers agitado.

― Jeffrey, venha aqui neste momento. ― Ela chamou. ― Isto está além
do ridículo.

― Espere, espere. Mamãe, por favor. Pare. Por amor de Deus, escute
Mr. Norris. O que quer dizer, que não acredita nele. Porque que não?

Charles hesitou e Marjorie teve vontade de abaná-lo.

― É apenas um palpite.

― Seu palpite está denegrindo meu sobrinho. Como disse, se Jeffrey


soubesse onde George estava, ele nos diria. Tenho certeza disso.

218
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Charles gentilmente afastou Marjorie de sua mãe, quebrando sua


promessa de não a tocar. Sua mão forte em seu braço era um conforto
enorme.

― Acho que Jeffrey sabe mais do que o que diz. Talvez esteja tentado
proteger George.

― Protege-lo de quê? E tire as mãos de minha filha. ― Gritou Dorothea.

Fazendo o que Dorothea pediu, Charles disse.

― Eu não sei.

― O policial esteve aqui e o questionou. É claro que Mr. Penwhistle


negou qualquer conhecimento do paradeiro de George. O policial deu a
entender que isto não era um caso para a Scotland Yard.

― Estou vendo. ― Disse Marjorie. ― Então, temos que ser nós a


encontra-lo. Sem dúvida que a policia não está tomando a sério o
desaparecimento de um jovem porque eles não compreendem George. Mas
nós sim. Sei que podemos encontra-lo. E ele terá que dar uma grande
desculpa quando o fizermos.

Marjorie se voltou para a entrada da casa, precisando fazer mais do


que debater se seu primo sabia ou não onde estava George. Ela queria
apenas encontrar George, ter certeza de que estava bem. Charles foi com ela
até à porta e Marjorie sorriu quando sentiu a mão dele no fundo de suas
costas. Que homem valente ao arriscar a raiva de sua mãe.

― Vou procurar por ele. ― Disse Charles suavemente. ― Acho que você
deveria.

Marjorie parou e lhe deu um olhar altivo.

― Irei ao Lamb & Flag eu mesma. Você pode me acompanhar ou não.

― Não. ― Gritou Dorothea. ― Não posso ter vocês dois passeando por
Londres sem companhia e estou muito cansada para ir saltitando por
Londres à procura de George.

Marjorie reprimiu um suspiro.

― Pararei em casa e levarei Alice comigo. Isso servirá, mamãe?

Dorothea olhou de um para o outro e assentiu e Marjorie relaxou


visivelmente.

― Londres é uma cidade muito grande Marjorie e acho que isso é uma
caça aos gambozinos. Mas compreendo sua necessidade de não ficar em
casa esperando noticias. Eu iria se o conseguisse.
219
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― É claro que iria, mamãe.

Depois de pararem em casa para pegar Alice, os três se dirigiram ao


Lamb & Flag, um velho pub escondido numa pequena estrada estreita
chamada Rose Street.

― Deveria esperar aqui. ― Disse Charles quando a carruagem parou.

― Ele é meu irmão. ― Respondeu Marjorie, forçando sua passagem por


Charles para descer da carruagem com a ajuda do criado. O pub parecia
vazio, as ruas desertas, exceto por um rapaz que polia um par de sapatos. O
rapaz olhou para cima, seus olhos alargaram de surpresa ao ver uma dama
tão ilustre. Quando ela pisou o pavimento de pedra da frente do pub, o rapaz
se levantou e levantou o chapéu de sua cabeça, os sapatos esquecidos em
sua mão.

Charles a seguiu, seu rosto sério. Tentou a porta do pub, sorrindo com
satisfação quando esta abriu. Dentro, um homem usando um avental estava
varrendo vidro partido do chão, sem dúvida uma confusão criada por outra
ronda de luta de punhos.

― Não está aberto. ― Disse o homem sem olhar para cima.

― Estou aqui à procura de informação, não de bebida. ― Disse


Charles.

― Estamos procurando meu irmão.

Ao escutar a voz feminina educada, o dono do bar levantou a cabeça e


se endireitou.

― Lorde Summerfield esteve aqui duas noites atrás. Este foi o último
lugar em que foi visto. Estávamos nos perguntando se nos poderia dizer
alguma coisa dessa noite que nos pudesse ajudar a encontra-lo. Ele é um
rapaz alto e magro com cabelo vermelho flamejante.

O dono do bar franziu o cenho em pensamento, então abanou a


cabeça.

― Há duas noites? Essa foi uma noite de luta. Não consigo me lembrar
de ver o homem que descreveu. Foi uma grande escaramuça essa noite e
quando a luta começou, o bar esvaziou rapidamente.

― Eu o vi. E sei o que aconteceu.

Os três adultos na sala se voltaram para o jovem garoto que tinha


estado lá fora a polir os sapatos. Ele estava na entrada de olhos arregalados.

220
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Quando os três olharam para ele, ele retirou o chapéu da cabeça e arrastou
os pés, parecendo como se desejasse de todo o coração ter ficado calado.

― Lhes diga o que sabe, Mickey, seja um bom garoto. ― Disse o dono
do bar, sua voz gentil.

― Me lembro dele porque nunca tinha visto um cabelo daquela cor


antes. E ele também era alto. Agia um pouco estranho.

Marjorie sorriu.

― Você é um garoto muito observador. ― Ela disse, esperando


encorajá-lo mesmo que seu coração gaguejasse quando escutou “e eu sei o
que aconteceu com ele”.

― Ele estava com outro janota. ― Torceu o rosto. ― Não me lembro de


como ele se parecia, apenas que estavam juntos. Assim que a luta começou,
eles saíram. Foi aí que eu vi três valentões. Eles bateram no homem de
cabelo vermelho com um cano.

Marjorie arfou e o rapaz parou.

― Continue, diga o resto. ― Disse Charles, se aproximando dela e


agarrando uma mão.

― Então outro homem deu um murro na cabeça do homem de cabelo


vermelho. ― Mickey lançou um olhar a Marjorie como se avaliando se deveria
dizer o resto. ― Ele caiu e não se moveu e os outros homens fugiram todos.
Não tiraram nada dele. Pensei que seu amigo tinha ido procurar ajuda, por
isso esperei que o homem de cabelo vermelho acordasse.

― Onde ele está agora?

O rapaz abanou a cabeça.

― Ele se levantou e foi tropeçando um pouco. Eu o segui, pensando


que poderia deixar o outro cavalheiro saber onde ele estava, mas ele nunca
mais voltou. Ele estava mesmo com os copos, por isso talvez tenha esquecido
o que tinha acontecido.

― Mais alguma coisa, Mickey?

― Voltei para o lugar onde o cavalheiro caíra e ele tinha partido. Pensei
que simplesmente tinha ido para casa.

Marjorie sentia como se fosse vomitar. Seu irmão estava ferido,


sozinho e desaparecido. Ela mal conseguia aguentar, nem sequer falar e foi
apenas a força da mão de Charles na sua que a manteve de pé.

221
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― É um bom garoto, Mickey. ― Disse Charles e entregou ao rapaz um


guinéu.

Mickey olhou para o dono do bar a pedir permissão para ficar com a
moeda e a colocou no bolso quando o homem assentiu.

Eles saíram do pub escuro, o sol da manhã quase os cegando.

― Onde ele poderá estar? ― Perguntou Marjorie, sentindo mais


desespero a cada momento.

― Ele pode ter perambulado, sem sentido. Ou ele pode ter sido
encontrado e levado para um hospital.

Marjorie assentiu, apesar de que sabia que ele estava omitindo outra
possibilidade: que seu irmão poderia estar morto.

― Vamos a New Row. Fica do outro lado do Garrick. Talvez alguém lá


tenha visto alguma coisa.

― Charles. ― Disse Marjorie enquanto ele estendia sua mão para a


ajudar a subir na carruagem. ― Porque Jeffrey não nos contou o que
aconteceu?

Seus olhos suavizaram.

― O rapaz está provavelmente certo. Ele certamente estava tão bêbado


que nem se lembrava do que tinha acontecido.

― Parece uma coisa bastante importante para se esquecer. ― Ela disse.

― De fato.

New Row não lhes deu nada. Aas poucas pessoas que encontraram
afirmavam que não tinham visto nada, apesar de Marjorie ter a distinta
impressão que pelo menos duas das pessoas com quem falaram estavam
mentindo. Era tudo muito estranho e perturbador.

― Qual é o próximo? ― Perguntou Marjorie, se sentindo mais cansada


que alguma vez se sentiu em sua vida.

― Estou levando você e Alice para casa e depois vou verificar os


hospitais. ― Disse Charles. A seu lado, Alice se animou.

― Não. Eu quero ir. ― Disse Marjorie, ignorando o desapontamento


óbvio de sua criada. ― Alguém que ele ama e que o ama deveria ser quem o
encontre. Você entende? Eu sei que você não é um estranho, mas se ele
estiver em um hospital ou pior, quero ser a pessoa que o reclama. ―
Lágrimas grossas caíram por seu rosto e ela as limpou com suas mãos

222
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

enluvadas. Charles lhe entregou seu lenço e ela assuou o nariz nele. ― Ainda
não desisti. ― Ela disse ferozmente.

Começaram suas buscas no Hospital de St. Bartolomeu, o hospital


mais antigo de Londres. Estava localizado no coração de St. Giles e, por isso,
era o lugar mais lógico para começar suas buscas. Charles se sentava em
frente a Marjorie na carruagem de Summerfield, procurando nela por algum
sinal de choque. Depois de sua explosão de lágrimas, ela ficou
estranhamente calma, o rosto dela assustadoramente pálido.

― Desejava que ficasse na carruagem. ― Ele disse, mas ela


simplesmente abanou a cabeça.

Ela não tinha ideia do que estava prestes a enfrentar. St. Bart’s e os
outros hospitais voluntários eram instituições que serviam os mais pobres
de Londres. Os ricos podiam pagar as despesas de viagem de um médico até
eles; muitos acreditavam que o hospital era um lugar para onde ir apenas
em última instancia. Era geralmente sabido que uma vez que se era
admitido em um hospital, sua próxima paragem era o cemitério.

Enquanto a carruagem se movia por Springfield Circle, Marjorie moveu


a cortina para o lado e olhou para fora, seus olhos arregalando. St. Bart’s
era um conjunto de quatro edifícios imponentes que ocupavam uma praça
inteira. No centro da praça estava um pequeno parque com um fonte
jorrando alegremente, apesar de que fazia muito pouco para suavizar a
arquitetura dura dos edifícios que a rodeavam.

― Por onde começamos? ― Ela perguntou e o coração de Charles se


partiu ao escutar o desespero silencioso dessas três palavras.

― Deveríamos começar pela ala norte.

A ala norte recebia os visitantes com um grande arco de entrada. Sem


dúvida que entrar no edifício era mais como entrar numa propriedade rica
do que num lugar para tratar dos pobres de Londres. O hospital era um
monumento para as boas ações, uma demonstração a todos de que os
londrinos tratavam de seus pobres com alto estilo. O Grande Hall estava
dominado por um mural de Cristo no Tanque de Betesda, curando dos
doentes. Os chãos brilhavam e o ar estava impregnado com o cheiro de cera
de abelha, que dava a Charles um estranho conforto. Ele tinha estado em
hospitais do campo de combate cheios de cheiros e sons que ficariam com
ele pelo resto de sua vida. Este lugar, com seus tetos elevados e pinturas de
bom gosto, pareciam ter sido construídos para impressionar. Ou enganar.

― Isto parece uma propriedade, não uma instituição. ― Disse Marjorie,


seu cenho franzido de preocupação. ― Nunca estive em um hospital, mas
não era isto o que eu esperava.
223
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Nem eu. E eu estive em bastantes hospitais, apenas não em


Londres.

Enquanto entravam, uma mulher usando um vestido preto com um


avental cinzento se aproximou deles. Ela observou sua vestimenta elegante e
fez uma reverencia de apresentação.

― Como os posso ajudar?

― Estamos procurando por um conhecido nosso que pode ter sido


trazido para aqui. ― Disse Charles. ― Lorde Summerfield. Deve ter sido
trazido à duas noites atrás.

― Um conde? Aqui? ― Ela abanou a cabeça.

― Ele pode ter sido ferido ou… ― Marjorie não se conseguia forçar a
dizer a palavra em voz alta, por isso Charles terminou suavemente a frase
dela. “Morto”. Ao lado dele, Marjorie se encolheu.

A enfermeira olhou de Charles para Marjorie.

― Por favor, me deixem verificar o registo e ver se alguém não


identificado foi trazido para cá durante os últimos dois dias. Se puderem
esperar. ― A mulher indicou uma pequena zona de espera e Marjorie se
moveu para lá enquanto Charles ficava com a enfermeira.

― É muito importante que Lady Marjorie não seja autorizada na casa


dos mortos. ― Ele disse, mantendo a voz baixa para que Marjorie não o
escutasse. ― Se seu irmão estiver lá, não quero que ela o veja assim. Lhe
diga que é uma politica vossa não autorizar mulheres. E por favor, verifique
os registros de entrada. Não temos certeza do que aconteceu com sua
excelência. Ele pode muito bem estar vivo.

A enfermeira assentiu.

― Como desejar. Voltarei em breve.

Quando Charles se juntou a Marjorie, ela já estava sentada, seus olhos


vazios de tristeza.

―Não posso acreditar no que estamos fazendo. Não parece real. Como
ele pode estar neste lugar? ― Ela abanou a cabeça. ― Ele não está aqui. Sei
disso.

― Espero que não. ― Disse Charles.

― O que esteve falando com a enfermeira?

― Queria que ela não nos dispensasse. Expliquei como era importante
que ela visse os registros de homens admitidos.
224
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

A enfermeira voltou, sua expressão difícil de ler.

― Dois homens não identificados chegaram durante os últimos dois


dias. Um está no edifício sul recuperando. O outro está em nossa morgue.

― Quero vê-lo. ― Disse Marjorie, se levantando.

A enfermeira lançou a Charles um olhar nervoso.

― Lamento, é politica de St. Bart’s não permitir que as mulheres


entrem na morgue.

― Mas sou sua irmã. O reconhecerei imediatamente.

― Tal como eu. ― Disse Charles, colocando gentilmente uma mão em


um ombro. ― Terei certeza. Prometo. Por favor, miladie, penso que será
melhor assim.

Marjorie lhe deu um assentimento tremulo e ele a puxou para si,


beijando sua testa antes de se voltar para seguir a enfermeira para as
entranhas do edifício onde o hospital mantinha os seus mortos. A beleza
brilhante da arquitetura fora deixada para trás assim que começaram a
descer.

Charles soube quando se estavam aproximando, pois, o cheiro de um


corpo se decompondo era difícil de esquecer. Quanto mais próximos estavam
da pequena sala que guardava os corpos, mais certeza ele tinha de que tinha
tomado a decisão correta em manter Marjorie longe. A enfermeira pegou
numa chave de seu avental e abriu a porta, se afastando.

― Se não se importa, ficarei aqui. Nunca me acostumarei a esta sala.

Vários corpos, cobertos por lençóis brancos, estavam deitados numa


mesa comum. Apesar de ser uma cave fria, não estava fria o bastante para
parar completamente a decomposição e Charles tirou um lenço e o levou ao
nariz numa tentativa de abafar o cheiro pútrido.

Seis corpos. Charles engoliu a bile que ameaçava subir e levantou o


primeiro lençol. Uma mulher idosa. O segundo, um garoto tragicamente
jovem com traços angelicais e cabelo loiro platinado. O terceiro, um homem
nos seus trinta anos com cabelo negro espeço e barba. Um a um, ele
levantou os lençóis, rapidamente determinando que George não estava entre
os mortos de St. Bart’s.

― Não. ― Ele respondeu ao olhar inquiridor da enfermeira quando saiu


da sala.

225
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Então vamos ao edifício sul, apesar de que devo dizer que se alguém
tivesse trazido um homem sem os sentidos vestido como um nobre, eu teria
escutado alguma coisa.

Charles subiu as escadas atrás da enfermeira, se sentindo


constrangido. Isto era uma situação terrível e ele temia que o resultado não
seria bom. Seria de partir o coração ter que trazer Marjorie para ver um
homem que não podia ser possivelmente o seu irmão. Apesar de não querer
retirar a esperança dela, sentia que era improvável que encontrassem George
vivo. Se estivesse vivo, porque não tinham sido informados? Um membro da
nobreza chamava bastante a atenção num lugar como St. Bart’s ou em
qualquer dos hospitais voluntários para onde poderia ter sido levado.

Quando entraram no Grande Hall, Marjorie se levantou, seus olhos


cheios de apreensão. Ele rapidamente sorriu e abanou a cabeça e ela
imediatamente voltou a se sentar, como se seus joelhos tivessem cedido.

― Vamos ver o paciente da ala sul? ― Perguntou a enfermeira.

Marjorie assentiu. Ela parecia perdida, tão triste que Charles desejava
poder tornar tudo melhor para que ela não tivesse que sofrer o que estava
por vir. Se seu irmão estava morto, seu primo seria o conde. Ele sabia o
suficiente para compreender que, dada a falta de provas, seria bastante
improvável que Jeffrey fosse julgado, nem se colocava a hipótese de ser
enforcado por seu crime. Estava convencido que Jeffrey tinha contratado
aqueles valentões, mas infelizmente não tinha provas e duvidava que a
Scotland Yard fosse encontrar alguma.

Enquanto os três atravessavam a praça, grossas gotas de chuva caiam


ao acaso no caminho de pedra, criando manchas negras antes de
desaparecerem. Ele olhou para o céu, vendo o sol a oeste e olhou na direção
oposta para ver um arco-íris brilhante se estendendo ao longo o céu negro.

― Veja, miladie. ― Ele disse, parando para olhar o arco-íris. Marjorie


parou e se voltou para a exibição colorida, sorrindo tristemente.

― É demasiado bonito. ― Ela disse. ― Preferia que apenas chovesse.

Charles compreendeu o que ela quis dizer. Apesar de suas bravas


palavras, ele sabia que Marjorie estava imaginando que o pior tinha
acontecido a George. A morte era uma coisa tão final e terrível que era difícil
perceber que a beleza podia continuar sem um deslize.

A entrada do edifício sul era menos grandiosa. Era um vestíbulo


simples de chão de mármore brilhante e um conjunto de escadas que
subiam e se separavam para os andares superiores.

226
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Aqui é onde colocamos as vitimas de acidentes. Ele estará na ala dos


homens. Se me pudesse descrevê-lo.

― Cabelo vermelho. ― Disse Charles. ― Alto, magro. Mas o cabelo


vermelho é inconfundível.

― Se esperarem aqui, vou ver se este paciente corresponde a sua


descrição.

Marjorie avançou como se a fosse seguir a enfermeira, mas ela a parou


a meio com um olhar.

― Lamento, miladie, mas não posso permitir que entre nessa ala.

Marjorie se abraçou e assentiu.

― E se ela se enganar? E se estiver olhando para o homem errado? Ele


podia estar lá, algures e nunca saberemos?

― George é inesquecível. ― Disse Charles.

Ela soltou uma pequena gargalhada.

― É a primeira vez que fico realmente agradecida por seu cabelo


flamejante. Se ele não estiver aqui, aonde vamos depois?

― Penso que Lambeth.

― Se ele estiver vivo, ele tentaria enviar uma nota. Ele podia nos ter
informado. Passaram quase dois dias desde que foi atacado, se o que o
garoto disse for verdade. Porque é que ninguém veio ainda até nós? ― Ela
fechou os olhos como se fechasse seus pensamentos.

― Ele pode estar inconsciente. Ele pode ter sido levado para uma casa
privada e está sendo cuidado por alguém que não sabe quem ele é. Qualquer
possibilidade poderia ter acontecido. ― Charles colocou uma mão atrás da
cabeça dela e a puxou para si. Ela estava tão tensa, era como abraçar uma
grande boneca de madeira.

― Quero que tudo acabe.

― Eu sei, amor.

O som de uma mulher clareando a garganta chamou sua atenção.

― O paciente não identificado está pelos sessenta nos e é careca. Seu


irmão não está aqui.

Enquanto viajavam de hospital e hospital, o humor de Marjorie


flutuava loucamente, de esperança dolorosa a desapontamento seco. Num
momento ela estava imaginando um reencontro emotivo e no segundo estava
227
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

se imaginando usando preto ao lado de uma campa. Ela tinha começado a


temer que o corpo de seu irmão tinha simplesmente sido largado em
qualquer lugar (ou estava sendo usado para propósitos científicos). Tinham
ido a três hospitais, onde Marjorie era sempre impedida de entrar na
morgue porque era uma mulher. Em vez dela, Charles tomava a
desagradável tarefa de procurar nos corpos acabados de chegar,
muitas vezes guardados em lajes de salas sem janelas.
Não parecia ser a realidade quando esperava pelo regresso de
Charles com notícias sobre o que tinha encontrado. Ela esperava na
entrada com uma enfermeira, quieta, silenciosa e olhava para a porta,
rezando para que George fosse encontrado e rogando da mesma forma
para que não fosse encontrado. De cada vez, Charles aparecia e
abanava a cabeça. Em cada hospital, perguntavam por qualquer
homem de cabelo vermelho que tinha sido trazido com uma ferida na
cabeça. E pelo menos tinham sido informados de que não tinham
encontrado nenhuma comparação entre a descrição e os que tinham
chegado lá.
Foram a Lambert, Miller e St. Thomas, deixando cada um com
um sentimento crescente de desalento por George não se encontrar em
nenhum deles (quer na morgue ou em uma ala, deitado em coma).
― Qual é o próximo? ― Perguntou Marjorie cansada. Tinham verificado
os hospitais mais próximos onde Mickey afirmara ter ocorrido o ataque e
estavam ficando sem opções.

― Westminster.

Westminster era um enorme edifício do outro lado de Westminster


Abbey. Olhando para o edifício de três andares, Marjorie tinha uma sensação
de como sua tarefa era impossível. O alto canelado do edifício parecia mais
com um castelo fortificado do que com um hospital. Marjorie tremeu.

― Alice, pode esperar aqui. ― Disse Marjorie, tal como tinha dito nos
outros hospitais. Alice estava mais que satisfeita em esperar lá fora, pois ela
admitira livremente que os hospitais a deixavam nervosa. Em realidade,
também deixavam Marjorie nervosa.

― É tão grande. Como vamos encontra-lo? ― Ela perguntou para


ninguém em particular.

Charles colocou uma mão na base de suas costas enquanto eles


subiam os degraus rasos que conduziam a três enormes arcos que

228
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

conduziam os visitantes para a entrada do hospital. Enquanto caminhavam,


uma enfermeira os encontrou a meio caminho.

― Estou procurando por meu irmão, Lorde Summerfield.

― Oh, sim, por aqui. ― Disse a enfermeira com um sorriso e Marjorie


apertou a manga de Charles, sentindo o sangue abandonar sua cabeça.

― Espere, quer dizer que ele está aqui? Lorde Summerfield?

Surpresa, a enfermeira se voltou para eles.

― A menos que o jovem esteja mentindo e confuso. O que não seria


demasiado chocante dada a condição com que chegou aqui. Foi atacado na
cabeça, isso sim. No entanto, acordou na noite passada, um pouco confuso,
mas tirando isso está bem. É claro que no início não acreditamos nele.
Imagine, um lorde sendo trazido aqui. E sem qualquer roupa além de suas
calças. Mas ele estava inflexível e todos decidimos que se ele era um lorde e
estivesse usando seus melhores trajes, faria sentido ter chegado sem nada
no corpo. Ladrões, sabe. Roubam tudo que não esteja colado ao corpo e isso
inclui as belas roupas de um lorde.

Marjorie riu, inebriada e zonza. George estava vivo. Ela continuava


repetindo isso uma e outra vez.

― Ele quer ir para casa, mas já que nem conseguimos sentá-lo


propriamente sem se inclinar, achamos melhor mantê-lo aqui. E não
estávamos completamente convencidos de que ele era quem dizia ser.

― De que cor é seu cabelo? ― Perguntou Charles.

― Mais laranja que cenoura. ― Disse a enfermeira, uma covinha


aparecendo em sua maçã do rosto.

Marjorie começou a chorar copiosamente, como se todos os seus


medos e tristezas a tivessem deixado juntamente com as lágrimas.

― Oh, Deus, Charles, ele está bem.

Ela chorou em seu peito e Charles a abraçou, falando com a


enfermeira por cima de sua cabeça.

― Pensamos que Sua Excelência podia estar morto, como pode ver. ―
Ele explicou.

― Oh, céus, mas enviamos uma nota para sua casa, logo de manhã,
informando que ele estava aqui. Não é todos os dias que temos um conde em
nosso meio.

229
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Temo que já tínhamos saído quando a nota chegou. Mamãe deve


saber a esta altura. Ela ficará tão aliviada. Obrigada, enfermeira. Pode nos
levar até ele?

A enfermeira sorriu e fez uma reverencia antes de se voltar e os


conduzir escada acima.

― Ele pode estar dormindo, mas não se preocupe. Apanhar na cabeça


pode deixá-lo sonolento por uns tempos. O truque é não deixar o corpo
dormir demasiado. Assim que começando acreditando em sua estória, o
movemos para um quarto privado como é adequado. Aqui estamos.

E lá estava ele, seu cabelo vermelho flamejante contra a atadura


branca em sua cabeça. Seus olhos estavam fechados, mas Marjorie sabia
imediatamente que ele estava apenas dormindo.

Ela se apressou para o lado da cama e colocou uma mão em seu


ombro.

― George? ― Seus olhos abriram, de um azul belo e brilhantemente


conscientes.

― Esteve chorando. ― Ele disse. ― Me perdoe.

― Oh, George. ― Chorou Marjorie e fez o seu melhor para abraçar seu
irmão. ― Não peça perdão. Nada disto foi culpa sua. ― Ela se afastou e olhou
para seu querido rosto. ― No entanto, estava tão preocupada. Tememos que
tivesse sido morto. ― Soltou uma gargalhada chorosa. ― Obviamente,
estávamos enganados.

George olhou para o lado, seu cenho franzido.

― Se lembra do que aconteceu? ― Perguntou Charles, se aproximando


do lado oposto da cama.

― De tudo, não. Não me lembro de ter sido trazido para cá. Perdi o
baile. Lilianne deve estar terrivelmente ofendida.

Marjorie puxou uma cadeira para o lado da cama para que pudesse se
sentar ao pé de seu irmão.

― Não, ela estava apenas preocupada. Como todos nos. Nos fale do que
se lembra.

― Foi horrível, Marge. Simplesmente horrível. Não quero mais pensar


nisso. Faz doer minha cabeça.

― Pode nos dizer mais tarde.

230
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Não. ― Disse Charles, subitamente alerta. ― O que aconteceu


George?

Lágrimas encheram os olhos de George e Marjorie soltou um som


baixo antes de apertar sua mão.

― O que aconteceu? ― Ela sussurrou.

― Fomos a um pub. Não queria ir, mas Jeffrey insistiu. Era suposto eu
acompanhar Lilianne ao baile e precisava me preparar. Eram seis horas e
precisava voltar para casa, mas Jeffrey não me queria ouvir. Fomos ao Lamb
& Flag. Fica em Rose Street. Bebi uma cerveja e Jeffrey bebeu várias.
Quatro, bebeu tão depressa quanto eu bebo uma. Então começou uma luta e
eu queria ir embora. Queria chamar uma carruagem de aluguel. Ia escoltar
Lilianne ao baile e sabia que ia chegar tarde.

Marjorie sorriu.

― Sei como se sente por chegar atrasado.

― Sim, de fato. ― Disse George. ― E então Jeffrey começou falando


como lamentava, mas que ele é quem deveria ser o herdeiro. Eu lhe disse
que isso era impossível, já que eu era o herdeiro e logo estaria casado e teria
mais herdeiro diretos ao titulo. Eu lhe disse que ele não podia ser o herdeiro,
já que meu pai era o conde. Ele ficou um pouco zangado comigo. Jeffrey não
gosta de fatos como eu. Pensei que era um pouco tolo da parte dele dizer tal
coisa e queria mostrar que estava errado. E então ele me disse que era uma
certeza que ele era o herdeiro. Foi aí que eu vi os homens. Um estava
segurando um grande cano. Jeffrey me empurrou para eles e o que tinha o
cano o balançou. Bateu em meu ombro. Dói como o diabo. ― Ele moveu o
ombro um pouco e se encolheu. ― Então, Jeffrey disse “Na cabeça, seu
imbecil.” E o outro homem balançou na minha cabeça e isso é tudo o que me
lembro, até ter acordado aqui.

Marjorie olhou por cima da cabeça de seu irmão para Charles,


horrorizada pela estória que George acabara de contar. Jeffrey tinha tentado
matar George. Para escutar realmente essa história horrível da boca de seu
irmão era devastador. Ela sabia quanto seu irmão gostava de Jeffrey. Seu
único amigo tinha tomado providencias para que fosse morto. Estava além
de horrível. Ela queria que Jeffrey sofresse pelo que tinha feito e porque
George estava vivo, ele certamente sofreria. A lei não protegeria seu primo
porque ele não tinha a proteção de um título.

― Tem certeza de que foi isso que aconteceu? ― Perguntou Marjorie,


sabendo, mesmo enquanto dizia estas palavras, que seu irmão tinha certeza.
Ele nunca exagerava nem mentia.

231
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

George assentiu, lágrimas caindo para suas queridas patilhas


vermelhas.

― Não posso dizer quão feliz estou por alguma alma caridosa o ter
trazido para aqui. ― Disse Marjorie.

― Alguém rasgou minhas roupas. Meu casaco verde, meu colete


amarelo e meu melhor par de calças. Meu chapéu também, mas eu sei onde
posso encontrar outro desses.

― Irei comprar um ainda hoje. ― Disse Charles.

― E sapatos. John Lobb, Mestre Sapateiro.

― Sim, passarei lá também. Imagino que eles tenham suas medidas?

― O relógio de papai sumiu. Era um Longines.

― Podemos procurar nas lojas de penhores.

Quanto mais George pensava sobre tudo o que estava faltando, mais
agitado ficava. Marjorie pousou uma mão em seu ombro e lhe deu um aperto
gentil.

― George, não se perdeu nada que não possa ser substituído. A coisa
mais importante é que você está bem.

― Mas vai tentar encontrar o relógio, não vai?

― Claro.

George fechou os olhos.

― Estou um pouco cansado. Minha cabeça dói. Quando posso ir para


casa?

Marjorie se levantou e encontrou a enfermeira que estava na outra


ponta do corredor cuidando de outro homem.

― Gostaríamos de levar Lorde Summerfield para casa se pudermos.

― Me deixe encontrar o médico e veremos o que podemos fazer quanto


a movê-lo.

Uma hora mais tarde, George estava em sua própria cama sendo
examinado pelo médico dos Summerfield, Dorothea pairando por perto,
fingindo não estar preocupada de morte. Quando voltaram para casa, ela
estava apertando a nota do hospital e disse:
232
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Claro que eu sabia que estava bem. ― Mas seus olhos estavam de
um tom vermelho bem intrigante.

Com George descansando, Charles, Marjorie e Dorothea se reuniram


na sala principal da casa para tomar chá.

― Acho que nunca apreciei tanto uma boa chávena de chá. ― Disse
Marjorie, pousando sua chávena. ― Estou exausta.

Charles se sentava em frente a Marjorie e sua mãe, desejando poder


estar a sós com Marjorie. Por mais cansada que ela estivesse, ela nunca lhe
parecera mais bonita. Mesmo depois das tensões do dia, suas bochechas
estava ligeiramente rosas, seus olhos brilhantes e vivos. Ele mal conseguia
afastar seus olhos dela, mas de vez em quando olhava para o lado, vendo
Dorothea franzindo o cenho para ele. Ela deixava bem claro que ele estava
excedendo sua estadia, mas ele a ignorou quando ela disse “Oh, vai ficar
para o chá, Mr. Norris?” de uma maneira que soava muito mais como “Por
favor, me diga que não vai ficar para o chá Mr. Norris.”

― Precisamos decidir o que fazer em relação a Jeffrey. ― Disse Marjorie


depois de os três terem passado pelo ritual do chá.

Dorothea se afirmou.

― Não vamos fazer nada. O nome de nossa família não vai se arrastado
pela lama num julgamento e prisão.

― Mamãe, não podemos deixar que o orgulho nos governe e ignorar o


fato de que Jeffrey tentou matar George. ― Disse Marjorie incrédula.

― Me entendeu mal, minha querida. Não estou protegendo Jeffrey.


Estou protegendo seu irmão.

Marjorie olhou para Charles e depois para sua mãe, confusa.

― Não entendo.

― Acho que sei o que sua mãe quer dizer. ― Disse Charles, sentindo
que a tensão entre as mulheres poderia levar a uma discussão. ― Se formos
às autoridades, George será questionado. E ele apresentará os fatos da
forma que George o faz. E eles irão reparar como ele é estranho e eu temo (e
acho que sua mãe também) que eles não vão acreditar nele. Estou correto,
Mrs. Summerfield?

A mulher mais velha olhou para Charles com surpresa e um pouco de


admiração.

233
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Eles o iriam arrasar. ― Disse Lady Summerfield. ― O fariam parecer


um idiota e desacreditá-lo completamente. E Jeffrey escaparia de uma
tentativa de assassinato. Tenho um plano melhor.

Charles, que tinha cultivado uma aversão por Dorothea, não pôde
evitar admirar sua iniciativa e inteligência. Ela tinha razão, ele percebeu.
Qualquer advogado que valesse seu dinheiro faria George parecer um idiota
na tribuna. Ele apenas precisava perguntar a George sobre seus ancestrais e
lá iria o pobre homem, relatando sua linhagem com um detalhe excruciante.

― O que pode ser melhor que ter Jeffrey pagando pelo que ele fez? ―
Perguntou Marjorie.

― Me lembro de ter pegado em um dos anéis de minha mãe em


criança. Não devia ter mais de cinco ou seis anos. Era um grande rubi e um
de seus favoritos, o admirava cada vez que ela o usava. Quando ele
desapareceu, todo o mundo, incluindo eu, foi interrogado. Ter aquele anel,
temendo que minha mãe o encontrasse, se tornou insuportável. Depois de
apenas alguns dias, eu confessei tudo em lágrimas. Sugiro que façamos algo
desse genero a Jeffrey.

― Não tenho certeza se compreendo, mamãe. ― E num instante, o


rosto de Marjorie se iluminou. ― Oh, que ideia maravilhosa.

Dorothea sorriu.

― Precisamente. Jeffrey ficará louco, se perguntando quando e se


George, ou o corpo de George, irá aparecer. Vamos simplesmente continuar
agindo como se George ainda estivesse desaparecido. Não vai demorar muito
até que ele ceda.

― E a beleza disso, ― disse Charles, ― é que Jeffrey não será capaz de


reclamar o título a menos que ele admita que sabe que George está morto. E
a única maneira que ele poderia saber era se ele confessasse o que tinha
feito. É genial.

― É diabólico! ― Disse Marjorie e ela e Charles traçaram um olhar,


lembrando de outro plano diabólico que tinham criado juntos. ― Oh, isto
será a coisa mais divertida que faço desde, bem, desde que Charles e eu
criamos nosso plano.

Dorothea franziu imenso o cenho.

― Dificilmente acho que isto se compare com o desastre que vocês os


dois planearam. Nunca em toda minha vida escutei um plano mais ridículo.

― Quase resultou, mamãe.

234
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Charles limpou a garganta, distraindo as duas mulheres que agora se


encaravam.

― É essencial que você, Lady Summerfield, pareça mais irritada que


preocupada com o desaparecimento de George. E você, Marjorie, deve
parecer preocupada de morte. Gostaria de ver a reação de seu primo a tudo
isso.

Marjorie abanou uma mão para ele.

― Ele não vai se preocupar, nem inquietar. A única coisa com que
provavelmente se preocupa é se George está vivo ou morto. Se estiver morto,
Jeffrey é o conde. Se George estiver vivo, meu primo saberá que está em
sérios problemas.

Charles bateu as palmas, assustando as duas mulheres.

― Minhas desculpas. ― Ele disse, rindo imenso. ― Mas, minha


querida, você é um genio.

― Sou? ― Perguntou Marjorie, parecendo adoravelmente confusa.

― Jeffrey precisa ver George. Em todo o lado. Pelo menos precisa


pensar que o vê.

Marjorie franziu o cenho.

― Não tenho certeza do que está dizendo.

― Alguma vez leu uma estória chamada “O Coração Revelador”?

Marjorie abanou a cabeça.

― Confesso que não sou uma grande leitora de ficção.

Dorothea também abanou a cabeça.

― Na estória, um homem comete um assassinato e esconde o corpo


debaixo do chão. Depois de algum tempo, cheio de remorsos, sem dúvida, ele
pensa que ouve o coração do velho homem, batendo. É uma estória bastante
tenebrosa e no final, o homem que cometeu o assassinato fica bastante
louco.

As duas mulheres pareciam horrorizadas pela estória.

― É isso o que quero fazer a Jeffrey. Quero deixá-lo louco, levá-lo a


confessar o que ele fez. Ele pensará que vê George, mas nós agiremos como
se ele estivesse vendo coisas.

Desta vez foi Marjorie quem bateu palmas.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Oh, Charles… ― Dorothea a encarou. ― Mr. Norris, ― ela continuou,


― É um plano maravilhoso. O que acha mamãe?

― Acho que vou apreciar muito as próximas semanas. Apenas uma


coisa, como vamos convencer Jeffrey de que está vendo George, Mr. Norris?

― Ele vai ver George. Pequenos vislumbras aqui e ali vão precisar de
um pouco de planeamento de nossa parte. E, claro. Podemos apenas
começar quando George estiver pronto para a tarefa.

Nesse momento, o mordomo apareceu e anunciou que uma Miss


Lilianne Cavendish estava esperando na pequena sala de visitas.

― Devo deixá-la entrar? ― Perguntou ele.

Marjorie se levantou.

― Claro. Por favor o faça. Ela deve estar preocupada de morte.

― O que essa garota faz aqui? ― Perguntou Dorothea.

― Eu escrevi uma nota a informando de que tínhamos encontrado


George. Ela estava muito preocupada, mamãe e é noiva dele. ― Enfatizou
Marjorie. ― Ela tem o direito de o ver.

Dorothea enrijeceu mas disse:

― Muito bem, mas você deve acompanhá-la. Eles não devem ficar
sozinhos.

Charles quase riu alto porque ele quase conseguia ver como Marjorie
se controlava para não dizer a sua mãe como era idiota ter que acompanhar
o casal.

― Eu irei agora. ― Disse Charles, caminhando com Marjorie até à


saída da sala. ― Lady Summerfield, posso beijar o rosto de Lady Marjorie?

― Não.

Charles sorriu para Marjorie e ela sorriu de volta, evocando um som de


desgosta da mulher mais velha.

― Antes que vá, Mr. Norris, gostaria de lhe agradecer. ― Parecia como
se as palavras fossem forçadas de sua garganta, como se limpasse até ao
último pedaço de geleia de um frasco.

― Não tem de quê, Lady Summerfield, eu gosto muito de George e amo


sua filha. Faria tudo o que estivesse em meu alcance para garantir que
estivessem bem e felizes.

236
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Dorothea lhe deu um olhar murcho, como se soubesse que ele estava
sendo demasiado simpático para conseguir cair em suas boas graças. O que
era verdade, claro.

Quando deixaram a sala, Charles deu a Lady Summerfield um aceno


educado e agiu como se realmente não fosse beijar Marjorie no momento em
que estivessem longe de sua vista. Ele deve ter feito um bom trabalho
fingindo, porque quando puxou Marjorie para seus braços, ela soltou um
pqueno som de surpresa, que ele rapidamente abafou com sua boca.

― Acho que sua mãe me está tentando matar. ― Ele disse roucamente,
voltando a beijá-la. Marjorie se pressionou contra ele e ele quase chorou de
alivio por a ter em seus braços. Se eles não se casassem logo, ele realmente
acreditava que iria morrer. Ele a beijou, profunda e duramente, como se
tentasse pegar o equivalente a uma semana de beijos num só. Era
desenfreado, selvagem e maravilhoso, mas muito, muito curto. O som de
passos atrás deles os forçou a se separarem. Estes encontros rápidos era
uma doce tortura para Charles.

― Diabos.

― Sim, diabos.

Ele riu enquanto ambos se voltaram para caminhar em direção à


entrada.

― Céus, Lady Marjorie, que linguagem.

― Venha sorrateiramente para meu quarto esta noite. ― Ela


sussurrou. ― Mamãe vai ficar exausta de todas as excitações do dia e ― Ela
se calou. ― Porque não fugimos?

― Já estaríamos casados. Teria em minha cama todas as noites,


quente e suave. ― Ele baixou a voz ainda mais. ― E molhada.

― Pare, seu homem terrível.

― Lady Marjorie. ― Exclamou Lilianne, vindo em sua direção. Ela


lançou a Charles um breve, mas curioso, olhar antes de continuar. ― George
está bem? Sei que disse que sim em sua nota, mas uma pessoa nem sempre
é sincera numa nota.

― Ele está bem. ― Disse Marjorie, acalmando a jovem exaltada. ― Ele


levou na cabeça e está com uma ferida de mau aspeto em seu ombro, mas
está perfeitamente bem. ― Marjorie se voltou para ele. ― Devemos contar a
ela sobre nossos planos?

― Deixo essa decisão com você. Mas não pode ir mais longe. Seu primo
não pode suspeitar de nada.
237
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Lilianne olhou de um para o outro, seus olhos arregalados.

― Eu vou contar a ela. ― Disse Marjorie.

A seu lado, Lilianne sorriu.

― Talvez possamos ter um casamento duplo? ― Ela perguntou.

Marjorie soltou uma pequena gargalhada.

― Isso seria maravilhoso, mas mamãe está contra. Os homens têm


muito mais liberdade do que nós. E a verdade é que não quero ferir minha
mãe. No entanto, ela vai acabar por aceitar.

― Acho que ela nunca me vai aceitar. ― Disse Lilianne sem inflexão.

― Provavelmente não. ― Disse Marjorie com total honestidade. ― Eu


sei que ela parece uma mulher duras e ela é, realmente. Mas ela tem um
coração suave.

As duas mulheres riram, então se despediram de Charles.

Enquanto fazia seu caminho para o vestíbulo, escutou Marjorie dizer:

― Deixe que a leve até George. Sei que ele ficará feliz em vê-la.

Dorothea caminhou para seu quarto, passando por onde Lilianne


estava visitando George. Ela parou, escutando apenas o suave murmúrio de
vozes femininas e suspeitava que George estava dormindo de novo. Seu
médio disse que era comum para quem tinha um ferimento na cabeça
dormir e que isso o ajudaria a se curar. Então ela escutou um estrondo
baixo de risos e seu coração deu uma guinada repentina antes que se
forçasse a se afastar para seus quartos.

Se Jeffrey tivesse tido sucesso em matar George, seria apenas culpa


sua. Quantas vezes tinha ela pensado que Jeffrey teria sido um conde
melhor, que era um homem melhor? Quantas vezes ela tinha dado a
entender isso mesmo a ele? Ela estava cansada disso, de se sentir culpada e
com remorsos. Apesar de tudo, da dor, da preocupação e da humilhação de
ter um filho como George, ela o amava.

Ela o amava mais do que pensava.

Ninguém saberia o que se passava em seu coração quando George


desapareceu. Ninguém acreditaria se ela lhes dissesse. Ela sabia que se
tinha tornado uma mulher dura e fria ao longo dos anos. Ela se tinha
glorificado na reputação que tinha criado como a condessa fria. Se uma
pessoa não sentisse, não se machucaria. Parecia um plano prático para uma
238
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

garota que tinha sido ferido muitas, muitas vezes pelas circunstancias de
sua vida. Ela percebia agora que tal estratégia tinha sido um total fracasso.

Sua respiração prendeu quando percebeu que estava prestes a chorar.


De novo. Por amor de Deus, ela não chorava há anos. Nem sequer tinha
chorado no funeral de seu marido, apesar de que isso não surpreendeu
ninguém. Ela não era uma tola sentimental. E contudo, quando George
tinha desaparecido, quando ela temeu que algo realmente terrível tinha
acontecido com ele, ela tinha chorado.

George era seu filho e ela o amava. E se aquela garota o fazia feliz,
então ela supunha que teria que aceitá-la. Em privado, claro.

― Vou descansar antes do jantar. ― Disse Dorothea quando viu a


criada remendando no canto de sua sala de estar privada.

― Sim, miladie. ― Sua criada se levantou e silenciosamente saiu da


sala, fechando a porta suavemente atrás dela.

E então, Dorothea cedeu às lágrimas de alívio que tinha estado


escondendo por horas. Eram lágrimas por George e por ela mesma, por amar
Jeffrey quase tanto quanto amava seu filho e não ter visto o monstro em que
se tinha tornado. Não foi uma grande corrente de lágrimas. Dorothea nunca
faria nada tão comum quanto isso. Quando é que as lágrimas faziam alguma
coisa além de libertar um pouco da pressão causada pela vida?

Quando ela terminou, acabou se deitando, algo que raramente fazia a


meio do dia. Ela não dormiu imediatamente, mas ficou deitada a pensar em
George, em sua filha e principalmente sobre como seria satisfatório fazer
Jeffrey pagar pelo que tinha feito a seu filho.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 18

― Lamento, sir, mas Mr. Penwhistle não está. ― Mr. Staver, o


mordomo angustiado dos Penwhistle, parecida decididamente nervoso
enquanto permanecia na porta da casa.

― Eu sei. Não estou aqui para ver Mr. Penwhistle. ― Disse Charles. ―
Estou aqui para ver você.

― A mim, sir? Não compreendo.

― Vai perceber em breve. ― Charles olhou além de Mr. Stavers para ver
uma criada espiando curiosamente o par. ― Onde podemos falar em privado.

― Em meu alojamento. ― Mr. Stavers hesitou um momento, então se


afastou para permitir a entrada de Charles, antes de fechar a porta atrás
deles. ― Por aqui, Mr. Norris.

Mr. Stav ers conduziu Charles por um andar e até as traseiras da


casa, para um corredor apertado antes de se voltar para um pequeno
conjunto de quartos. O alojamento do mordomo consistia de uma sala de
espera com uma única cadeira e mesa, atrás da qual Charles viu uma cama
pequena, dificilmente grande o bastante para uma criança, quanto mais
para um homem adulto. Era quase indigno.

Quando a porta foi fechada, Charles disse:

― Vim lhe oferecer um emprego, Mr. Stavers.

240
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

O homem mais velho parecia surpreso, então sentou lentamente em


sua secretária, assimilando o que acabava de lhe ser oferecido.

― Mas tenho uma posição, sir. Estou com a família Penwhistle há mais
de trinta anos.

― Mr. Penwhistle está prestes a perder sua posição na sociedade. Não


posso falar dos detalhes neste momento, mas posso dizer sem qualquer
dúvida que você vai se encontrar desempregado no futuro próximo.

Mr. Stavers olhou para baixo, suas sobrancelhas brancas se unindo


em consternação.

― Tem algo a ver com o desaparecimento de Lorde Summerfield, sir?

― Temo que sim.

― Bom Deus. ― As noticias afetaram o mordomo mais do que Charles


tinha pensado, pois ele parecia realmente angustiado. ― Tenho certo carinho
pelo rapaz, como pode ver. ― Ele disse. ― Isto são notícias terríveis. Terríveis.

― São sim. Mr. Stavers, minha oferta de emprego tem condições.

Mr. Stavers levantou a cabeça e Charles teve a sensação de que estava


testando o orgulho do homem, algo que não desejava fazer. ― Eu
compreendo que possui certa lealdade para com Mr. Penwhistle e admiro
sua fidelidade. Mas Mr. Penwhistle fez algo terrível e preciso de sua ajuda,
sir, para garantir que será feita justiça.

― Minha ajuda, sir?

― Não é algo demasiado grave, lhe garanto. Simplesmente preciso


saber onde Mr. Penwhistle estará e quando. Prometo que não sofrerá
qualquer dano físico. Tem minha palavra.

Mr. Stavers ponderou por um longo momento.

― Ele… Ele machucou Lorde Summerfield? ― Ele perguntou


suavemente.

― Sim, machucou.

O rosto do mordomo endureceu e sem hesitação ele disse:

― Então irei ajudar. E aprecio sua oferta de emprego. Mas, sir, você
não possui um mordomo? Não quero tirar a posição de outro homem.

Charles riu.

― Dificilmente chamaria Prajit de meu mordomo. De momento, meu


homem é valete, mordomo, criado e algumas vezes criada. Mas acredito que
241
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

em breve expandirei minha residência e vou precisar de uma equipe


adequada. Espero que me ajude nessa empreitada.

― Claro, sir.

Charles estendeu sua mão para selar o acordo.

― Muito bem, Mr. Stavers. Se você tiver um criado de confiança, ele


pode entregar as notas. Tem?

Mr. Stavers não hesitou.

― Tenho o homem certo, sir. E se puder ser franco, se precisa de um


criado, ele serviria perfeitamente. É meu filho, sir.

― E sua esposa?

― A governanta.

Charles quase conseguia escutar a esperança e excitação na voz do


homem mais velho. Ele sorriu.

― Sir, é realmente um dia auspicioso para sua família. Dá a


coincidência que também preciso de uma governanta. Por acaso não tem
mais filhos, tem? ― Ele perguntou com medo fingido.

Mr. Stavers riu.

― Duas filhas, sir, mas ambas estão bem casadas e com suas vidas.

― Ainda bem. Minha casa não é assim tão grande. Obrigado, Mr.
Stavers. Algum dia vai ficar sabendo sobre o que é tudo isto.

― Não sei se serei capaz de ser agradável com Jeffrey. ― Disse


Marjorie. ― Continuo imaginando minhas mãos apertando seu pescoço.

A seu lado na carruagem, Dorothea riu.

― Acho que vou apreciar isto muito mais do que devia.

Elas iam até a ópera de Covent Garden. Jeffrey estariam no camarote


delas e George no de Charles. Era bastante conveniente que os camarotes
estivessem praticamente de frente um para o outro, tornando praticamente
impossível que Jeffrey não visse George. Marjorie mal podia esperar para ver
o olhar de surpresa em seu rosto mentiroso.

As últimas semanas tinham sido preenchidas de planeamento e


falsidades. Ficou decidido que sempre que Jeffrey visse George, ele estaria
usando roupas semelhantes às que esteve usando na noite em que foi
atacado, um memorável fato verde com colete laranja. Dorothea, Marjorie e
242
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Charles se divertiram imenso ao pensarem nos vários cenários onde Jeffrey


poderia ver momentaneamente George.

Pouco depois de terem criado o plano, Jeffrey tinha sido convidado


para o jantar, onde Marjorie e Dorothea se sentaram desesperadas e Jeffrey,
o vadio, fingiu juntamente com elas.

― Temo que algo terrível tenha acontecido com ele. ― Disse Marjorie. ―
Mas a polícia não vai fazer nada. Eles dizem que ele podia estar em qualquer
lugar, com qualquer pessoa. Mas eu sei que estão enganados. Eu sei que
George nunca desapareceria sem dizer nada.

― Isso parece de fato improvável. ― Disse Jeffrey antes de colocar um


grande pedaço de bife grelhado em sua boca mentirosa.

― Pensamos que ele pode ter sido forçado a embarcar num navio. ―
Disse Dorothea e Marjorie teve que se controlar para não começar a rir. Isto
não fazia parte do plano, por isso ela ficou completamente surpresa pelo
comentário de sua mãe. ― Pode demorar anos antes que regresse. Sem
dúvida que escreverá e ficaremos saber que está bem em breve. Esses
americanos estão sempre atracando no porto e roubando homens.

Jeffrey quase se engasgou.

― Certamente que isso não pode ter acontecido.

― Prefiro isso à outra alternativa.

― E qual é essa, mamãe?

― Ele pode ter fugido com uma sirigaita. ―Ela disse e Marjorie teve que
apertar as mãos com força para impedir outro ataque de riso.

Jeffrey tinha lançado a Dorothea um olhar de pura descrença.

― Essas são suas teorias? Certamente que percebeu que algo mais
obscuro pode ter acontecido. Já procurou nos hospitais? Nas morgues?

Marjorie lançou a Jeffrey um olhar altivo e usou toda sua força de


vontade para não lhe dar a entender quanto sabia sobre o que realmente
tinha acontecido a seu irmão.

― Fomos, de fato. Não encontramos nada. Percorremos todos os


hospitais da cidade e não encontramos nada. É um grande alívio. E por isso
concluímos que ele deve ter fugido.

― Ou foi forçado a embarcar num navio. ― Acrescentou Dorothea.

― Ou forçado a embarcar num navio, por muito difícil que isso seja de
acreditar.
243
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Jeffrey parecia bastante perturbado por essa conclusão e Marjorie o


encarou enquanto ele olhava para seu prato, apenas para lhe sorrir
agradavelmente quando ele levantou a cabeça.

― Ele pode ter caído no Tamisa. ― Ele sugeriu.

Dorothea tinha batido na mesa com sua palma da mão, assustando


Jeffrey.

― Não quero mais ter esta conversa. George não está morto. Me recuso
a acreditar nisso. Não quero mais ter esta conversa.

É claro que não se voltou a tocar no assunto. Durante os dias


seguintes, as duas mulheres passar uma excessiva quantidade de tempo
com Jeffrey. Lhe explicaram docemente que se sentiam muito mais seguras
com um homem pela casa e as acompanhando aos vários entretenimentos. A
cada dia que passava, Jeffrey ficava visivelmente cada vez mais
desconfortável com toda a conversa sobre George. Finalmente, afastou
Marjorie a um lado.

― Acho que sua mãe tem que admitir que seu irmão não vai voltar.

Marjorie olhou para ele como se estivesse louco.

― Porque diria tal coisa? É claro que ele vai voltar.

― Sim, sim. Eu também espero que sim, de todo o coração, mas em


algum momento, vocês têm que aceitar que ele pode muito bem ter morrido.
Detesto ter que dizer isto, querida prima, mas que outra conclusão podemos
possivelmente tirar?

Marjorie sorriu.

― Que ele foi forçado a embarcar num navio. Ou que fugiu. Me recuso
a contemplar a ideia de que ele já não está entre nós. Assim como mamãe.

― Mas em algum momento não terão que considerar o futuro de ― Ele


parou abruptamente.

Marjorie inclinou a cabeça de lado curiosamente.

― O futuro de quê?

Jeffrey abanou a cabeça.

― Apenas… o futuro. ― Murmurou.

Sim, essa noite na ópera seria maravilhosa. Deus, como ela o odiava.
Sempre que ele dizia o nove de George, ela queria gritar com ele. Não, bater
nele. Com força. Em sua boca presunçosa.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Me sinto como uma criança em sua festa de aniversário. ―Disse


Dorothea enquanto sua carruagem encostava na frente do Royal Opera
House. ― Ali está ele.

Jeffrey estava esperando por elas debaixo do arco central.

― Não sei como consegue, mamãe. É melhor atriz do que eu.

― Tenho anos de prática, minha querida.

Marjorie riu e saiu de sua carruagem com a ajuda de um criado.


Dorothea foi a seguinte e quando as duas mulheres estavam na calçada,
caminharam para Jeffrey que estava elegante em seu fraque de noite.

― Vamos para nosso camarote imediatamente? ― Disse Dorothea, o


que significava, claro, que eles tinham que ir imediatamente para seu
camarote. O plano era que os três se sentassem em seu camarote e que
George aparecesse longo antes do intervalo. Jeffrey sem dúvida iria correr
para o encontrar, mas George já teria partido há muito.

Marjorie se sentou ao lado de Jeffrey, seu estômago uma pilha de


nervos. E se Jeffrey falhassem em ver George? E se ele se levantasse
imediatamente e fosse atrás dele? Ou pior, se ele o visse e parecesse
encantado, criando dúvidas quanto à estória de George.

Se a Rainha de Inglaterra estivesse sentada ao lado de Marjorie


durante a atuação, ela não teria reparado. Quando o primeiro ato estava
terminando, ela estava tão tensa que mal conseguia respirar. E então,
George, com seu cabelo vermelho quase brilhando, apareceu sentado ao lado
de Charles. Jeffrey nem reparou.

Marjorie olhou para Charles, que claramente estava esperando que


Jeffrey olhasse para cima e para o outro lado do edifício, mas Jeffrey parecia
arrebatado pelo que estava acontecendo no palco. Marjorie não sabia que
Jeffrey era um fã de ópera.

Então, Charles, abençoado fosse, aplaudiu muito alto num momento


inoportuno, chamando a atenção de vários olhos para seu camarote,
incluindo os de Jeffrey. Marjorie ignorou os aplausos, mas estava consciente
do momento em que Jeffrey viu George. Ele enrijeceu notavelmente e soltou
um pequeno som que era difícil de interpretar. Jeffrey olhou de volta para
Marjorie, como para ver se ela também viu seu irmão e quando voltou a
olhar para o camarote, George tinha sumido. Marjorie queria gritar de
alegria.

Jeffrey se inclinou para ela.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Juro que acabei de ver seu irmão sentado ao lado de Mr. Norris. Isso
é possível?

Marjorie olhou para o outro lado do teatro.

― Não vejo ninguém que se pareça com George.

― Agora não. Antes. Ele estava lá, depois desapareceu.

― Me atrevo a dizer que Mr. Norris nos teria contado se George tivesse
vindo à ópera, Jeffrey. ― Disse Marjorie suavemente. ― Mas talvez possamos
investigar durante o intervalo. Oh, espero que esteja certo.

― Sim, eu também. ― Disse Jeffrey, soando ligeiramente preocupado.

No palco, um tenor estava cantando sua última nota, marcando o final


do primeiro ato. Depois dos aplausos, Marjorie se levantou.

― Mamãe, Jeffrey afirma que viu George sentado com Mr. Norris.
Vamos investigar.

― O quê? George está aqui? ― Dorothea parecia tão genuinamente feliz


e surpresa, que por um momento Marjorie pensou que sua mãe se tinha
esquecido de seu engodo. ― Claro que devem ir. Oh, espero que tenha razão.
No entanto, porque não estaria sentado aqui conosco?

Enquanto Marjorie saía, sua mãe lhe lançou o sorriso mais travesso,
quase parecendo uma garota jovem. Jeffrey e Marjorie se encaminharam
entre a multidão até o camarote de Charles, apenas para o encontrar com
um homem mais velho que ele apresentou como sendo seu tio.

― Não havia mais ninguém em seu camarote’ eu olhei e vi outro


homem aqui. ― Jeffrey disse, parecendo um pouco preocupado.

― Outro homem? Não, era só eu e meu tio.

― Ele acha que viu George com você. ― Disse Marjorie, soando
perplexa. ― Me deu tantas esperanças.

Jeffrey olhou em volta do pequeno camarote como se alguém se


estivesse escondendo.

― Juro que vi um homem de cabelo vermelho sentado bem a seu lado.

― Tem certeza de que era para meu camarote que estava olhando?

― Absoluta. ― Disse Jeffrey, agora soando zangado. Tomou uma


profunda inspiração. ― Suponho que posso ter me enganado.

― Todos queremos muito encontra-lo. ― Disse Marjorie com simpatia,


mas por detrás das costas de seu primo, ela franzia o nariz em desgosto.
246
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

A noite foi um grande sucesso. A confusão de Jeffrey era palpável e


durante os dias seguintes, ficou ainda pior. Ele viu George numa livraria, em
Hyde Park. E em cada situação, quando tinha possibilidade de investigar,
George tinha desaparecido. Para piorar as coisas para o pobre, pobre Jeffrey,
ninguém com quem ele estava vira George. Ele claramente estava ficando
agitado.

Três dias depois da ópera, Jeffrey visitou para o chá, parecendo


cansado e no limite. Se sentaram na sala de espera da frente, que ficava
virada para a rua, falando por cima do barulho da ocasional carruagem que
passava, já que era um dia quente e as janelas estavam abertas para
permitir alguma birsa. Marjorie se sentava à janela, mordiscando um
pequeno sanduiche e sua mãe se sentava ao lado de Jeffrey no sofá. Falaram
sobre a regata que se aproximava e fizeram planos de comparecerem todos
juntos. Apesar de Marjorie tentar incluir Jeffrey na conversa, ele apenas
murmurou algumas palavras, então ficou silencioso.

― Não está se sentindo bem, Jeffrey? ― Ela perguntou inocentemente.

Seu primo abanou a cabeça.

― Não tenho dormido bem. Toda esta estória sobre George tem me
deixado um pouco agitado.

― Tenho certeza que vamos ouvir noticias dele a qualquer momento. ―


Disse Dorothea alegremente e Jeffrey lhe lançou um olhar de completa
descrença.

― Não estão preocupadas de que algo terrível tenha acontecido com


ele?

Dorothea olhou para ele por um longo momento, tão longo que
Marjorie temia que sua mãe fosse dizer algo e desistir do jogo.

― Claro que estou preocupada. Meu único filho desapareceu. Mas me


atrevo a dizer que a Scotland Yard está fazendo progressos no caso. Têm
vários investigadores procurando por pistas e essas coisas. Aparentemente,
havia um barco americano que desancorou na mesma noite que George
desapareceu e pelo menos um outro homem foi forçado a bordo. Estou
convencida de que George também foi levado.

― Isso é promissor. ― Disse Jeffrey, nada convencido. ― Não


encontraram nada mais?

― Não, não encontraram.

247
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Jeffrey penteou a sobrancelha e Marjorie notou um ligeiro tremor em


sua mão. Alguns minutos depois, Jeffrey se despediu e se dirigiu porta fora
afirmando que tinha um encontro importante.

Marjorie saltou de sua cadeira e se apressou até à sala contígua.

― George. ― Ela sussurrou severamente. ― Está na hora.

Esses últimos dias também tinham afetado George, que detestava que
sua rotina fosse interrompida. Ele estava ficando cada dia mais agitado,
apesar de compreender a necessidade daquilo que estavam fazendo. Ele não
se divertia tanto ao enganar Jeffrey; ele simplesmente queria acabar com
aquilo e dizer à Scotland Yard o que sabia.

Marjorie puxou George até a janela aberta. ― Fique aqui. E se Jeffrey o


vir, acene. Não sorria. Acene lentamente, como se estivesse em transe. ―
Marjorie olhou até de seu irmão e sorriu a Dorothea. ― Isto vai deixá-lo
completamente louco.

― Muito bem. ― Disse George. ― E se ele não me vir?

― Então tentaremos outra coisa. ― Disse Dorothea, sua voz tingida


com um pouco de impaciência.

― Se ele vir você, pode parar a carruagem. Assim que ele esteja longe
de sua vista, se encoste a um lado e corra para a outra sala.

Marjorie voltou a se sentar onde tinha estado e continuou com seu


bordado.

― Aqui vem sua carruagem. ― Disse George, parecendo excitado.

― Apenas fique aí. Tente não sorrir, George. Ele está olhando? Ele o
vê?

Dorothea, ainda sentada no sofá, sussurrou:

― Ele o vê. ― Ela começou a rir e Marjorie pressionou seus lábios


juntos para não começar a rir também. Atrás dela, George rapidamente se
afastou da janela e desajeitadamente correu para a porta adjacente, mal
conseguindo passar por ela antes de Jeffrey entrar de rompante pela sala,
seus olhos selvagens.

― Onde ele está?

Marjorie calmamente pousou seu bordado.

― De quem está falando? ― Ela disse, olhando em volta da sala.

Jeffrey apontou para a janela, seu rosto coberto por uma fina camada
de transpiração.
248
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Ele estava parado aí na janela. Estava usando, oh, Deus. Ele estava
ali. Ele me acenou.

― Quem, Jeffrey?

― George. ― Gritou Jeffrey como se elas é que fossem as loucas.

Ele começou a se movimentar pela sala, procurando detrás de mobília,


em lugares que nenhum homem poderia eventualmente caber. Então se
dirigiu até a porta por onde George desaparecera e a abriu. Marjorie prendeu
a respiração, rogando para que George tivesse pensado em se esconder.
Marjorie e sua mãe olharam uma para a outra por um longo momento,
prendendo a respiração.

Dorothea se levantou, alisou suas saias e caminhou até a sala onde


Jeffrey aparentemente procurava por George.

― Está sendo indelicado, Jeffrey. ― Disse Dorothea. ― Sabe muito bem


que George não está aqui e continuar afirmando que o vê vai além do cruel.

Respirando asperamente, Jeffrey voltou à sala da frente, parecendo


perplexo e derrotado.

― Juro que o vi. Juro.

― A luz pode pregar partidas na mente, meu querido. Estamos todos


perturbados com o desaparecimento de George, mas isto parecer ter afetado
você mais do que teria pensado. Talvez se sinta culpado porque estava com
ele na noite em que ele desapareceu. Espero que isso não seja o caso,
Jeffrey. Nada disto é culpa sua. ― Disse Dorothea com simpatia.

― Nada disso é. ― Disse Jeffrey, ainda olhando em volta da sala. ― Se


pelo menos conseguisse dormir um pouco.

― Tem sido muita pressão para todos nós. ― Disse Dorothea.

Quando Jeffrey saiu de novo, Dorothea disse:

― Quase sinto pena dele.

― Eu não. ― George e Marjorie disseram em uníssono e riram um para


o outro.

― De qualquer forma, está quase terminando. Ele parece um homem


preste a ceder. ― Dorothea suspirou a pegou noutra sanduiche. ― Toda esta
excitação melhorou meu apetite.

― O meu também. ― Disse Marjorie, pegando no último scone. ― Acho


que a regata será sua perdição.

249
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 19

No segundo dia do Henley Royal Regatta, Charles, de aspeto impecável


com seu chapéu Panama, se sentou na tribuna perto da linha de chegada
com Marjorie, Lady Summerfield e Jeffrey, apreciando o sol brilhante e a
excitação da corrida que iria começar. Eles já tinham visto um grande
número de corridas e agora antecipavam o concurso final da regata, o Grand
Challenge Cup. Ambas as margens e a leve elevação acima do rio estavam
pontilhados de homens com seus melhores fatos de verão e sombrinhas
brancas usadas por mulheres em seus vestidos de verão. Um conjunto de
óculos de ópera estavam pousados no banco ao lado de um cesto enorme
cheio de mais comida do que a que os quatro conseguiam comer.

Jeffrey se sentava nervosamente, olhando em volta da multidão como


se fosse ver um fantasma. Muito certamente iria, pensou Charles. Jeffrey
estava no lado oposto do banco dele e muitas vezes se levantava e andava de
um lado para o outro. O homem não parecia bem. Não, não de todo. As
últimas semanas o tinham afetado. Olheiras negras marcavam seu rosto
debaixo dos olhos e as rugas em cada lado de sua boca tinham ficado mais
profundas. Era tudo muito gratificante.

― Jeffrey. ― Disparou Charles, deliciado ao ver Jeffrey realmente


saltar. ― Em quem colocou seu dinheiro este ano?
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Parecendo ligeiramente irritado, Jeffrey disse:

― Tamisa.

― Eu tenho Londres. Ganhou nos últimos dois anos e parecem fortes


de novo este ano. Espero que não tenha apostado muito.

― Na realidade não apostei este ano. ― Disse Jeffrey.

― Bom homem. ― Charles piscou a Marjorie que claramente estava


tentando esconder um sorriso. Eles se sentavam próximos um do outro, uma
coisa frustrante para um homem que sabia o que estava por debaixo de
todas aquelas camadas fortificantes de seda e renda. Dorothea, o encarando,
se sentava no lado oposto de Marjorie, ao lado de Jeffrey, como se o
desafiasse a sequer tocar a mão de sua filha. Ele o fez, claro. Seu dedo
mindinho no dela. Ocasionalmente ele se movia para a frente e para trás, se
sentindo ridiculamente estimulado por essa carícia inocente.

Ele não conseguia evitar olhar para a boca dela, seus seios, o contorno
de suas pernas. Ele não conseguia parar seus pensamentos carnais, não
quando conhecia o sabor dela, os sons que fazia quando gozava. Mas ele
tentou esconder esses pensamentos sempre que Dorothea olhava em sua
direção.

Inspirando profundamente, Charles se forçou a olhar para o Tamisa,


que corria languidamente. Os espectadores se alinhavam em ambas as
margens, mas Charles sempre preferira a tribuna. Uma jovem garota, com
caracóis saltitando, corria atrás de seu irmão mais velho no corredor de
relva entre as tribunas e o rio e Charles não pôde evitar se perguntar se ele
alguma vez tinha visto Marjorie quando era um rapaz tão jovem nesse
mesmo lugar. Ela não seria muito mais velha que essa menina perseguindo
seu irmão. O fez se sentir um pouco velho.

― Acha que sou velho? ― Ele perguntou, subitamente se sentindo


inseguro.

― Sim. Idoso. ― O canhão de partida se fez ouvir e ela bateu palmas. ―


Oh, que bom. O Grand Challenge começou. ― Ela pegou em seus óculos e
espreitou por eles rio acima.

― É um pouco cedo para ver que está à frente. ― Disse Jeffrey.

Marjorie baixou seus óculos e olhou para seu primo.

― Não estava vendo os remadores, estava tentando vislumbrar a


rainha.

Ela entregou os óculos a Jeffrey.

251
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Aqui. Não me importo com quem ganha.

Charles se apoiou em seus ombros e inclinou a cabeça para o sol,


fechando os olhos. Não se sentia tão quente desde que deixara África. Em
breve, os mais ricos londrinos deixariam a cidade e partiriam para o campo
mais frio.

― Assim que nos casarmos, podemos visitar meu irmão em


Nottingham. É muito mais fresco lá.

― Gostaria disso. ― Disse Marjorie, olhando para ele e sorrindo. A


grande aba do chapéu dela colocou uma sombra em grande parte de seu
rosto, revelando apenas aqueles lábios encantadores dela. Deus, ele não
queria mais nada a não ser a puxar para cima dele e a beijar loucamente.

― Ainda não está estabelecido que haverá um casamento. ― Interveio


Dorothea, com lábios enrugados, mas havia ligeiramente menos mordida em
seu tom ultimamente. Charles tinha a sensação de que estava ganhando o
afeto da velha mulher ao ajudar a planear o fim de Jeffrey. O homem estava
num estado completo de nervos. Olhava continuamente à volta e mais que
uma vez agarrou os óculos para examinar alguém com mais cuidado. Sem
dúvida qualquer pessoa com cabelo vermelho chamava suficiente atenção do
homem para o deixar nervoso.

Como uma onda subtil, a atenção da multidão na corrida aumentou,


até que era óbvio que as posições das equipes seriam visíveis.

― Quem lidera? ― Perguntou Charles a Jeffrey, que ainda segurava os


óculos.

― Londres. ― Disse Jeffrey com repulso, baixando os óculos. ― E


Tamisa nem se vê. No entanto, parece que Eton vem chegando.

Sem dúvida, as equipes pareciam estar quase equilibradas. Todos na


colina se levantaram e os gritos de encorajamento ficaram cada vez mais alto
quando os homens se aproximavam da linha de chegada, os respingos dos
remos entrando na água ficando ainda mais alto.

― Vamos lá! Vamos lá, rapazes, vocês conseguem. ― Charles gritou,


alheio ao olhar assustado que Dorothea lhe lançou.

― Ele gosta de seus desportos. ― Disse Marjorie, rindo, depois gritou.


― Vamos lá, rapazes.

Um tiro se fez escutar, sinalizando o fim da corrida e a vitória de


Londres.

Marjorie se levantou e tirou seu chapéu, o abanando à sua frente para


criar uma bisa. Charles observou como George, tendo visto o sinal dela, saiu
252
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

de detrás de um pequeno grupo de pessoas (que curiosamente se pareciam


com Mr. Stavers e sua família) e caminhou colina acima até ficar isolado,
olhando para eles.

― Mamãe. ― Disse Marjorie, olhando para cima na direção geral de


onde George estava, usando seu ridículo casaco verde e colete laranja. ―
Aquele é Lorde Sewall? Não o vejo há anos.

Dorothea olhou para o cimo da colina.

― Onde, querida?

― Ali.

Jeffrey olhou, tal como tinham planejado e ficou de um tom


assustadoramente cinzento.

― Oh não, não é. Continuou Marjorie. ― Me pergunto porque ele já


não vem mais à regata? Ele sempre se divertia. Se lembra dos bailes que
costumavam realizar em Henley.

― Marjorie. ― Disse Jeffrey, olhando para Geoge. ― Olhe para ali.


Aquele homem. O vê?

É agora, ela pensou. Seu primo parecia um homem prestes a ceder.


Marjorie voltou a pensar nas palavras de Jeffrey: Sou uma pessoa terrível. É
melhor se lembrar disso. Estaria ele tentando dizer-lhe algo, dar a entender
que algo iria acontecer?

― Aquele não é Sewall, Jeffrey. Sewall estava bastante careca da


última vez que o vi.

― Não. À direita. Mais acima. Aquele homem parado sozinho. Ele


está… olhando para nós.

Marjorie franziu os olhos e a seu lado, ela pensou detetar um pequeno


som de Charles, como se estivesse abafando um riso.

― Que homem? Não vejo ninguém ali. Como ele se parece?

Jeffrey começou a suar e Marjorie manteve sua compostura inocente.


Tudo dependia deste momento. Se Charles estava certo, Jeffrey iria suplicar
para que tudo terminasse. Pelo aspeto de seu primo, ele parecia pronto para
livrar sua alma da culpa que sem dúvida o estava corroendo. Não importa o
que ele tinha feito, Marjorie se recusava a acreditar que ele era totalmente
mau. Ela conhecia Jeffrey toda sua vida e se George não lhe tivesse contado
aquilo de que se lembrava, ela teria dificuldade em acreditar que Jeffrey
fosse capaz de um ato tão mau.

Sua voz tremendo notavelmente, Jeffrey disse:


253
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Ele está usando… um casaco verde com um colete laranja. Ele tem,
oh Deus, ele tem cabelo vermelho.

Marjorie olhou para Dorothea e para ele, como se estivesse confusa.

― Eu não vejo ninguém assim. Você vê, mamãe?

― O quê? Não estava prestando atenção. ― Disse Dorothea, soando


aborrecida.

― É George. Por Deus, não podem me dizer que não o veem. Ele está
olhando bem para mim. ― Jeffrey parou como se se engasgasse. ― Ele
acabou de me acenar. Mesmo agora. Bem ali. ― Ele apontou, sua mão
tremendo tanto que mal a conseguia manter levantada.

Marjorie colocou uma mão no braço de seu primo.

― Não há ninguém ali, Jeffrey. ― Ela disse, colocando uma face de


total preocupação. ― Ninguém. ― Ela se voltou para Charles. ― Você vê de
quem ele está falando?

― Não. ― Disse Charles fingindo analisar a colina. ― Meu Deus, Mr.


Penwhistle, parece que vai desmaiar.

― Ele me está assombrando. ― Murmurou Jeffrey. ― O vejo em todo o


lado. ― Ele olhou para Marjorie e Charles, como se estivesse desesperado de
que acreditassem nele. ― O vi na livraria, em Market Street. Ele estava
caminhando com a garota de quem está noivo.

― Lilianne Cavendish?

― Sim, ela. E eu o vi parado na janela de sua casa. Se lembra disso.

― Sim, me lembro. Mas nós não o vimos, pois não mamãe?

― Que bobagem. ― Disse Dorothea, soando zangada.

― Estou dizendo, ele me está assombrando.

― Não diga tal coisa. ― Disse Marjorie. ― George não o pode assombrar
porque não está morto.

― Como você sabe? ― Disse Jeffrey, olhando para a inclinação de novo,


então gritando quando percebeu que o homem que tinha estado observando
desapareceu. ― Ele estava ali. Oh meu Deus. Não aguento mais, não
consigo. Ele me está assombrando.

― Pare de dizer isso. ― Disse Marjorie. ― É horrível e falso.

― É verdade. Ele está morto e me está assombrando.

254
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Ele não está morto. Como pode possivelmente dizer tal coisa? Como
poderia possivelmente saber tal coisa?

― Porque eu o vi morrer. ― Disse Jeffrey destroçado. Ele baixou a


cabeça e adicionou suavemente. ― Eu estava lá.

― O que está dizendo, Mr. Penwhistle? ― Perguntou Charles. ― Como


pode ter guardado isto para você e deixar sua tia e prima sofrerem estas
últimas semanas procurando por ele?

― Ele era tão estúpido, tão crédulo. Tão pouco merecedor. Não era
justo.

― Do que você está falando? ― Preguntou Marjorie, se sentindo doente.


Apesar de tudo o que tinha esperado e planejado para este momento, agora
que estava acontecendo, realmente esperava que Jeffrey não tivesse estado
envolvido.

― Eu era o herdeiro. ― Disse Jeffrey, olhando de um para o outro. ―


Pelos primeiros dez anos de minha vida, eu era o herdeiro. E então ele
nasceu. Ele arruinou tudo, não veem? Eu era o herdeiro.

― Meu Deus. ― Disse Charles. ― O que você fez, homem?

Jeffrey enterrou a cabeça em suas mãos.

― Desejava nunca o ter feito. Tem que acreditar em mim. Desejava não
ter contratado aqueles homens. Eu os devia ter parado, eu os devia ter
parado. ― Ele disse, finalmente vomitando no chão.

― Mas você não o fez. ― George, acompanhado de outro homem, tinha


chegado por trás deles. ― Você me conduziu àqueles homens. Você me
deixou para morrer. Porquê, Jeffrey? Não compreendo. Pensei que fosse meu
amigo. Meu melhor amigo.

― George? ― Jeffrey olhou de George para os outros de seu pequeno


grupo. Marjorie agarrou a mão de seu irmão e o olhar de Jeffrey seguiu esse
gesto. Compreensão lentamente surgiu, até que parecia que Jeffrey iria
vomitar de novo. ― Me enganaram. Todos vocês.

― Mr. Penwhistle, o estou prendendo pelo crime de tentativa de


assassinato. Preciso que venha comigo, sir.

― O quê? ― Jeffrey olhava incrédulo para o homem, finalmente


reconhecendo o policial que tinha estado em sua casa quando George
primeiro tinha desaparecido.

255
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Jeffrey, por favor não faça uma cena. ― Disse Dorothea. ― Já é mau
o bastante que tenha vomitado em publico. Enviarei uma nota a sua mãe
para que ela saiba onde você está. Adeus, Jeffrey.

― Tia, o que quer dizer? O que está acontecendo? Eu não fiz nada.
Nunca toquei nele. ― Jeffrey olhou para o policial que tinha uma mão firme
em seu braço. ― Me solte, seu vira-lata. Está cometendo um erro terrível.
Sabe quem eu sou?

― Por favor venha calmamente, sir. Se o que você diz é correto, estará
em casa para o jantar. ― Disse o policial calmamente.

Jeffrey levantou o queixo.

― Muito bem, então. Ainda assim falarei com seu superior.

― Tratarei disso, sir. ― Disse o policial.

Enquanto o policial começava a afastar Jeffrey, seu primo olhou para


trás para o grupo com puro ódio e Marjorie não conseguiu evitar o arrepio
que subiu por suas costas.

Dorothea voltou suas costas a seu sobrinho e os restantes fizeram o


mesmo, mentalmente o dispensando.

― Aquilo foi extremamente desagradável. ― Disse Dorothea, laçando


seu braço no de George. ― Se portou muito bem estas últimas semans,
George. Restaurou minha confiança.

George sorriu e Marjorie sentiu as lágrimas pressionando por detrás de


suas pálpebras. Ela não ouvira sua mãe dizer coisas agradáveis a George há
anos. Talvez quase o perder a tenha suavizado um pouco.

― E por amor de Deus, tire essa roupa horrível quando chegarmos a


casa.

Marjorie sufocou uma gargalhada. Ela nunca entenderia sua mãe.

256
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Capítulo 20

Há treze anos atrás, Jeffrey Penwhistle teria sido sentenciado à morte


por enforcamento. Mas em 1861, o Parlamento decidira que tentativa de
assassinato era melhor punida de outras formas e a Inglaterra tinha deixado
de fazer os transportes para colonias penais distantes. Por isso, pelos menos
Mrs. Penwhistle tinha a conveniência de visitar seu filho em New Gate. Mas
ninguém o visitava.

Um mês depois de sua prisão, ele tinha sido julgado e sentenciado pelo
crime de tentativa de assassinato. Ele estava, numa palavra, chocado. Como
podia ele ser culpado de um crime que não cometera? Ele não tinha tocado
em George. Tinham sido dois valentões criminosos que tinham desaparecido
nas entranhas de St. Giles. George tinha testemunhado, mas talvez o
testemunho mais incriminatório tenha vindo do policial e de Lady
Summerfield que tinham escutado Jeffrey confessar o crime. O júri deliberou
por vinte minutos.

Duas semanas depois do julgamento, Charles chegou, com uma


licença especial na mão e exigiu ver Dorothea. Pouco tinha visto Marjorie nas
257
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

últimas semanas e claro que não ficavam sozinhos. A família tinha estado
envolvida num escândalo terrível e renunciara a quaisquer atividades fora de
casa. Nem sequer se aventuravam por Hyde Park. Charles compreendeu,
claro, pois os jornais tinham estado cheios de detalhes sensacionalistas da
tentativa de assassinato. George se tinha tornado numa espécie de herói,
não só por ter sobrevivido ao ataque, mas por participar num plano tão
engenhoso para incriminar Jeffrey. Os detalhes vieram do próprio Jeffrey,
que parecia apreciar imenso sua celebridade e quem, talvez, pensasse que
contando sua estória conseguiria alguma simpatia. Seu plano tinha saído
pela culatra, pois as pessoas se regozijavam de sua queda e celebraram
quando foi condenado.

Charles não tinha estado no julgamento naquele último dia. Tinha


passado esse dia procurando por uma casa na cidade adequada para
comprar. Sua casa arrendada nunca serviria e ele queria algo que fosse
arejado e confortável e grande o bastante para uma família de seis.

Agora que tinha uma casa e a licença, apenas precisava convencer a


mãe de sua futura noiva de que deveria aprovar sua união de todo o coração
(apesar da terrível história entre suas famílias).

Foi-lhe pedido que esperasse numa pequena sala de espera com


almofadas cor-de-rosa, mobília delicada e figuras de porcelana de aspeto
frágil pousadas em cada superfície. A sala o fazia ficar decididamente nervos;
um movimento em falso e ele destruiria uma herança sem preço. Não
duvidava que Lady Summerfield sentiu um pouco de prazer quando disse a
seu mordomo para o conduzir àquela sala.

Ele se sentou, cuidadosamente, na ponta de uma cadeira, temendo


que esta se partiria sob seu peso. Quando Lady Summerfield entrou, ele se
levantou, fazendo com que a cadeira se movesse contra uma pequena mesa
elegante, que por sua vez fez com que a figura de uma dama segurando um
pequeno cão abanasse precariamente. Lady Summerfield sorriu de
satisfação (ou pelo menos assim pareceu a Charles).

― Obrigado por me ver, miladie.

Dorothea assentiu, então se sentou numa cadeira oposta. Ele não


pôde evitar reparar que ela parecia quase tão fora de lugar quanto ele no
refúgio feminino. Ela indicou que ele se podia sentar e ele o fez, sorrindo
sombriamente.

― A que devo o prazer de sua visitar hoje, Mr. Norris?

― Deve saber, miladie. Vim para pedir a mão de sua filha. De novo.

Ela levantou uma sobrancelha peluda como se estivesse surpresa.


258
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Eu lhe disse que pensaria nisso, sir.

― Sim, madame, mas isso foi há algumas semanas. E agora eu


gostaria de ver o fato consumado. Comprei uma casa em Piccadilly e adquiri
uma licença especial.

Dorothea inclinou a cabeça como que confusa.

― Que presunçoso de você, sir.

― Podemos parar com esta farsa, por favor? Sabe que sua filha e eu
nos vamos casar, com ou sem sua permissão. Marjorie gostaria de seu apoio
em nosso casamento e que estivesse na cerimónia. É meu desejo também, de
coração.

Os olhos da dama ficaram afiados e Charles pensou que tinha


cometido um erro tático.

― Se portou muito mal com minha filha, sir. Se esquece que o


encontrei no quarto dela? Graças a Deus que não houve consequências do
que ocorreu nessa noite, por isso não há razão para se casarem. Tratar uma
mulher com tal desrespeito não abona bem a seu favor como futuro marido.

― Lady Summerfield, temo que tenho uma confissão a fazer.

Dorothea levantou seu queixo e Charles inspirou fundo para se


preparar.

― Oh?

― Eu lhe menti antes. Sua filha ainda é virgem.

Os olhos de Dorothea se alargaram e sua fúria era palpável. Muito


como na noite em que ela os tinha apanhado juntos, ela abriu a boca e a
fechou, como se estivesse prestes a dizer algo tão horrível que sua língua
fidalga não conseguia formar as sílabas. E então, ela sorriu.

― Dificilmente posso me zangar com você por não ter arruinado minha
filha, pois não?

― Não, madame.

― Nunca mais minta para mim.

― Não o farei.

Lady Summerfield se levantou e Charles rapidamente a seguiu.

― St. Paul’s está disponível no próximo sábado se você estiver.

Havia apenas uma maneira de a dama saber isso; ela tinha


obviamente feito perguntas.
259
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Sim. Claro que estou. Obrigado, miladie. ― Disse Charles, lançando


a sua futura sogra um sorriso.

Lady Summerfield parecia que ia deixar a sala, mas se voltou,


hesitante.

― Sua mãe vai ter oportunidade de vir à cidade a tempo?

― É meu profundo desejo que meus pais atendam a meu casamento,


madame.

Lady Summerfield assentiu, sua expressão difícil de decifrar.

― Muito bem.

Na noite antes do casamento, Dorothea foi ver Marjorie, num encontro


constrangedor no qual Marjorie lhe assegurou que não precisava continuar
quando ficou claro qual o objetivo desse encontro.

― Sinto que seu casamento vai ser diferente do meu. ― Disse


Dorothea. ― Espero realmente que sim.

Por alguma razão, essa pequena admissão tocou Marjorie. Sua mãe
nunca dizia uma palavra indelicada sobre seu pai, apesar de ela se
perguntar muitas vezes se seus pais alguma vez se amaram.

― Sei que amanhã não vai ser fácil para você, mas estou muito feliz
que vá estar lá, mamãe. Seria simplesmente horrível se não estivesse.

Sua mãe olhou para longe.

― Lamento se a fiz passar por muito, que minha mente fechada a


tenha forçado a agir de uma maneira que ia contra seus princípios. Talvez
venha a compreender melhor quando tiver seus próprios filhos. Apenas
quero o que é melhor para você. Suponho que queria que você provasse a
todo o mundo que é merecedora de grandeza. Que você não estava num
plano secundário.

Mais tarde, Marjorie voltaria a pensar na estranha escolha de palavras


de sua mãe. Um plano secundário. Era assim que ela se sentia? Como se ela
devesse estar grata por qualquer migalha que alguém lhe atirasse? Ela
nunca pensou em sua mãe como um jovem garota, apaixonada, com
esperanças e sonhos. Ela sabia, claro, que Dorothea tinha casado bastante
tarde, mas tinha simplesmente assumido que sua mãe era bastantes
exigente: que ela apenas tinha demorado mais tempo a encontrar o homem
que queria.
260
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Marjorie olhou para seu quarto, percebendo com tristeza e um pouco


de excitação pelo que estava por vir e que esta seria a última vez que
dormiria ali. Ela tocou seu toucador, passando seu dedo pela superfície
polida seus olhos passando em volta do quarto. Era para aqui que tinha
vindo quando seu pai morrera, para chorar em seu travesseiro. Era onde,
enquanto garota, tinha sonhado casar com um duque (ou talvez um príncipe
atraente de alguma terra distante). E era onde ela tinha feito amor com o
amor de sua vida pela primeira vez.

Sua criada bateu na porta e ela chamou Alice para entrar.

― Pensei que tiraria suas coisas para esta noite. ― Ela disse, indo para
o guarda-roupa onde estava o vestido de noiva pendurado. Era um modelo
Worth, claro e já que não tinham tempo para viajar a Paris para comprar um
novo vestido, Marjorie teria que usar um que já possuía, para deceção de
sua mãe. O vestido era um de seus favoritos, com uma azáfama absurda que
tornava quase impossível sentar, perfeito para caminhar até o altar. Era de
tom creme com renda rosa claro e um decote modesto perfeitamente
adequado para um casamento.

Marjorie subiu a sua cama, puxou seus joelhos para seu queixo e
observou o trabalho de sua criada.

― Está entusiasmada por ir trabalhar numa nova casa, Alice?

― Oh, sim, miladie. É bom que eu já conheça a maior parte dos


funcionários, por isso não será demasiado estranho para mim. ― Alice
analisou seu trabalho. ― Se não precisa de mais nada, boa noite, miladie.

― Obrigada, Alice. Boa noite.

Marjorie sorriu para Alice enquanto esta saía, feliz que pelo menos
algo seria familiar em sua nova casa. Charles tinha atraído uma grande
parte dos funcionários da casa de Jeffrey, aparentemente e seria bom ver
tantas caras familiares.

― Boa noite, quarto. ― Ela disse, se sentindo um pouco tola e


nostálgica.

As duas mães não se falaram no casamento ou no copo de água que se


seguiu, algo que Marjorie não tinha a certeza se deveria ficar feliz ou não. Na
cerimónia em si, sua mãe nem sequer olhou para os pais de Charles, um
casal encantador que Marjorie sabia que viria a amar. A irmã dele tinha
comparecido, sozinha; seu marido não podia deixar o lado de sua mãe
doente. Marjorie ficou encantada por ter uma irmã, pois Laura parecia ser
uma mulher alegre.
261
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Temos esperado que mamãe Brewster morra há dez anos. Me atrevo


a dizer que ela não vai conhecer seu criador na semana em que eu estiver
fora. ― Marjorie não tinha certeza se deveria rir, mas quando Laura o fez, ela
logo a imitou.

― Estou tão feliz que tenha sido capaz de vir. Charles fala muito de
você. Espero que nos venha visitar a Londres mais vezes.

Laura olhou em volta da sala e sorriu.

― Acho que vou. ― Ela disse, suavemente, mas com convicção.

Marjorie tinha entendido da parte de Charles que Laura não estava


completamente feliz com sua situação, por isso talvez algumas viagens a
Londres tornassem a vida de sua irmã mais agradável.

A cerimónia fora breve e privada, com apenas a família e alguns


amigos próximos presentes. Não fora o grande casamento que Dorothea
tinha sonhado durante muitos anos, mas fora perfeito. Charles estava
elegante em seu fraque preto, com seu cabelo encaracolado penteado para
trás em ondas grossas. Marjorie quase conseguia sentir sua necessidade de
o desarrumar, mas ele mostrou um controle notável. George era o padrinho
dele e Lilianne , para decepção de Dorothea (a melhor amiga de Marjorie,
Lady Blackwood, estava no continente e indisponível) foi a dama de honra
dela. Seu próprio casamento seria em duas semanas e Lilianne,
provavelmente pensando em seu dia de casamento próximo, chorou quase
sem parar durante a cerimónia.

De volta a casa, tia Gertrude a abraçou calorosamente e disse:

― Meu único arrependimento é que não tenho mais sobrinhas para


casar. Foi tão divertido, minha querida.

― Foi a melhor das aventuras. ― Disse Marjorie, dando um beijo a sua


tia. ― E agora me espera uma aventura ainda melhor.

Tia Gertrude riu e abanou a cabeça.

― Espero que consiga guardar esse sentimento em uma caixa e o solte


sempre que a vida ficar difícil.

― Acho que o vou fazer, tia. É uma esplendida ideia.

― Pode ir, Prajit. ― Disse Charles, um pouco mais bruscamente do que


pretendia. Prajit pairava na porta do quarto dele, se movendo e um pé para o
outro, como se estivesse preparado para saltar para o quarto e lutar contra

262
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

um tigre. O tigre, neste caso particular, era sua maldita perna. Nesse dia, de
todos os dias, doía como o diabo depois de lhe dar dias e dias de descanso.

― Um pouco de morfina, sir, vai tirar a dor e permitir que desempenhe


seus deveres de marido. ― Disse Prajit teimosamente.

― Um pouco de morfina provavelmente terá o efeito oposto, Prajit. ―


Ele falara um pouco mais alto do que pretendia e olhou para a porta que
separava suas divisões das de sua nova esposa.

Ele não estava nervoso. Não, nervoso era demasiado leve. Depois de
arrastar o desfloramento de Marjorie, ele sentia pressão adicionada para
tornar aquela noite perfeita para ela. E como é que ele possivelmente poderia
tornar as coisas perfeitas quando estava preste a machucá-la?

Seu pai tinha achado seus nervos adoráveis.

― Filho, se todo o marido matasse sua esposa na primeira noite, a


humanidade há muito estaria extinta.

Ainda assim, havia sangue. E dor. E prazer, pelo menos para ele. E
Deus sabia que ele tinha passado demasiadas noites sem dormir se
imaginando empurrando dentro dela. Apenas o pensamento o fazia tremer, o
fazia esquecer a dor de sua perna por um momento. Sim, era mesmo isso.

― Prajit, aprecio sua preocupação quanto a minhas capacidades de


desempenhar meus deveres de esposo. ― Ele disse, querendo dizer
completamente o oposto. ― Mas está dispensado. Até amanhã ao meio dia.

Prajit levantou seu queixo impercetivelmente, então fez uma reverencia


e saiu do quarto, fechando a porta silenciosamente atrás dele. Mas Charles
ainda conseguia sentir sua preocupação. Ele ficaria extremamente
agradecido quando ninguém se preocupasse com ele.

Charles apertou o cinto à volta do robe e caminhou determinado até a


porta de sua esposa. Abriu sem bater e, agora pensando nisso, essa talvez
não tivesse sido a decisão mais inteligente, pois a criada de sua esposa
berrou como se ele fosse um louco determinado a matar.

― Oh, me perdoe, sir. ― Disse Alice, então riu nervosamente.

Marjorie, parecendo encantadora num vestido de noite espumoso e


num robe, riu junto com sua criada.

― Vamos nos habituar a isto, Alice. Já pode ir.

― Até ao meio dia. ―Disse Charles, causando surpresa a ambas as


damas. ― Dei meio dia livre a Prajit, por isso é apenas justo.

Marjorie roborizou de seu pescoço a suas bochechas.


263
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Meio dia, então, Alice. Boa noite.

― Boa noite, miladie. ― Disse Alice, fazendo uma rápida reverencia e


correndo porta fora.

― Aqui estamos. ― Disse Marjorie quando a criada partiu.

― Sim. ― Charles olhou em volta do quarto. ― Vejo que já se


acomodou. ― Educado. Desconfortável. Deus, porque é que isto subitamente
ficou tão difícil?

― Sua perna o tem estado incomodando todo o dia. Tem certeza que
você...

Ele levantou uma mão, a calando.

― Minha querida esposa, se uma horda de bestas selvagens entrasse


agora por este quarto, eles não seriam capazes de me parar de fazer amor
com você. ― Ele soava zangado, ele sabia, mas a última coisa que queria era
que sua nova esposa se preocupasse com ele.

Ela riu, insegura.

― Muito bem, então. ― Ela levantou o queixo como se concordasse com


algum tipo de acorde de negócios.

― Está assustada?

Ele pareceu surpresa por um momento. ― Não, ― Ela disse, ― Deveria?

Charles encolheu os ombros.

― Não tenho ideia. ― Passou uma mão por seu cabelo, soltando as
mechas antes domadas.

― Vamos descobrir juntos, está bem?

Ele observou, com o desejo crescendo a cada movimento, como


Marjorie saía de seu robe de seda e o soltava numa cadeira próxima. O que
ela usava por debaixo tirou-lhe o folego. Era transparente, deixando muito
pouco que imaginar, seus mamilos escuros e a sombra negra no topo de
suas pernas claramente visíveis. Mais valia que já a tivesse completamente
nua, mas algo sobre esse pedaço de tecido frágil era incrivelmente excitante.
Ele ficou duro instantaneamente.

― Minha tia. ― Ela disse, roborizando de novo. ― Consegue acreditar?

― Sua tia usou esse vestido? ― Perguntou Charles,

Marjorie riu.

― Não. Ela o comprou para mim.


264
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Eu amo sua tia. ― Enquanto olhava para ela, os mamilos dela


ficaram duros, formando dois pontos óbvios através do tecido e ele gemeu
alto. ― Temo que terei que deitar fora a prudência e a arrebatar mais rápido
do que tinha planejado.

Ele mordeu seus lábios e ele deu dois passou e, colocando uma mão
atrás da cabeça dela, a puxou para um beijo longo e profundo que lhe dizia o
quanto ele a queria. Sua outra mão foi inequivocamente para um seio, seu
polegar raspando o mamilo duro. Quando ele se afastou vários segundos
depois, ela mal conseguia respirar. Suas bochechas estavam rubras, desta
vez não de vergonha, mas de excitação.

― Não posso acreditar que posso ter você agora, sempre que eu quiser.

― Sempre?

― Sim. ― Ele disse fervorosamente, beijando o rosto dela e movendo


para baixo, até seu doce pescoço. Ela se inclinou contra ele e ela empurrou
sua excitação contra ela, incapaz de parar.

― Mesmo na mesa de jantar?

Ele se afastou e riu.

― Se você insiste. Apesar de que os criados podem ficar um pouco


mortificados.

Ela enroscou os braços em volta do pescoço dele; ele adorava quando


ela fazia isso. Era uma coisa tão possessiva para ela fazer.

― Tire meu vestido. ― Ela sussurrou contra os lábios dele antes de


colocar a língua em sua boca.

Ele estava perdido. Perdido para a suavidade sedosa dela, os pequenos


sons que ela fazia, o calor por entre suas pernas, os mamilos duros
pressionando contra o peito dele. Varreu suas mãos pelo corpo dela abaixo,
depois para cima, desta vez agarrando o material e puxando, devagar, por
cima da cabeça dela. Pedaço a cremoso pedaço, ela era despida ao seu olhar
quente, até que ele o estava passando por cima da cabeça dela. Ela era
gloriosa nua. Ele não usava nada debaixo do robe e sua ereção empurrou
pela abertura, ganhando a atenção dela.

― Por favor. ― Ele disse. ― É seu para tocar sempre que quiser.

― Na mesa do café da manhã? ― Ela perguntou, a pequena atrevida.

― Onde. ― Ele prendeu a respiração subitamente quando ela colocou


a mão em volta dele. ― Você quiser.

265
A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Ele a levantou e ela o envolveu com as pernas, seus braços apertados


firmemente ao pescoço dele, seu traseiro aninhado contra a ereção dele e ele
a levou para a cama. Ignorando a estocada de dor em sua perna, ele
lentamente a baixou, a seguindo até que estava deitado a seu lado.

― Está ferido.

― Não. Nada dói. ― Ele murmurou, levando a mão entre as pernas


dela. Ela estava sempre tão quente e molhada para ele. Era o suficiente para
fazer um homem pensar que podia conquistar o mundo. Ela prendeu a
respiração quando ele tocou seu cerne, então lentamente, como se estivesse
em êxtase, a soltou. Ele colocou um mamilo em sua boca, sorveu, amando a
forma como ela se movia contra a mão dele, os pequenos sons que
escapavam de sua linda boca, enquanto ele procurava dar-lhe prazer.

― Quero você. Preciso de você dentro de mim. Por favor.

Lentamente, cuidadosamente, ele pressionou seu dedo indicador


dentro dela. Ela era tão apertada ele fechou os olhos contra o pensamento do
que sentiria ao se pressionar dentro dela. Ele soltou um gemido e ela
levantou o quadril numa tentativa quase desesperada de sentir mais.

― Por favor, Charles. ― Sua respiração estava pesada enquanto ele a


continuava acariciando, a levando cada vez mais perto do precipício. Ela
moveu sua cabeça para frente e para trás, movendo seu quadril cada vez
mais rápido, soltando pequenos movimentos que ele já reconhecia como
sinais de seu gozo iminente. ― Oh, por favor. ― E então ele a sentiu contrair
em volta de seu dele e ele quase gozou apenas por observá-la.

Lenta e languidamente, ela regressou, abrindo os olhos e sorrindo para


ele.

― Porque não fez como pedi?

Ele riu e a beijou.

― Estou prestes a fazê-lo, miladie. ― Ele se posicionou entre as pernas


dela e ela subitamente ficou tímida e vulnerável. Ele acariciou o interior de
sua coxa, afastando ainda mais suas pernas.

― Tentarei não machucar você, meu amor.

Ela assentiu e se preparou, o que fez com que ele risse de novo.

― Por favor relaxe. ― Ele a acariciou e observou como seus olhos se


fechavam. Então lentamente empurrou para dentro dela, onde ela estava
quente, molhada e demasiado apertada. Ele soube quando encontrou seu
hímen e parou, apenas para respirar, antes de se empurrar todo para
dentro.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Oh, céus.

Ela não soltou um único som. Ele olhou para ela, tentando ver se ela
estava ferida, mas ela apenas sorriu.

― Eu amo você. ― Ele disse, as palavras parecendo incrivelmente


desadequadas para o que ele sentia por sua esposa. Ele saiu ligeiramente, a
observando atentamente por sinais de que a estivesse machucando, então
voltou a empurrar. ― Envolva suas pernas à minha volta… Sim, assim. ― Ele
se moveu para dentro, depois para fora, cada nervo de seu corpo centrado
em um só lugar. Quando ela respondeu, quando ele sentiu suas pernas
delgadas o puxarem para ele, quando ela soltou um som de prazer, ele não
conseguia se controlar mais. Ele empurrou, duro e rápido, incapaz de usar
nenhuma delicadeza que pensava usar. Não tinha controle, seu corpo
precisava se libertar, o exigia. E então ele lhe deu tudo o que tinha, se
soltou. E quando finalmente gozou, ele enterrou a cabeça no travesseiro ao
lado do dela e soltou um longo gemido de pura satisfação.

Quando lentamente se voltou a incorporar, tornou-se consciente


primeiro da suave respiração contra seu rosto, da mão dela acariciando sua
nuca.

― Estou feliz por termos esperado. ― Ela sussurrou.

Ele lentamente se afastou, então a puxou contra ele, era o momento


mais feliz e satisfeito de toda sua vida.

― Eu também. Mesmo que isso quase me tenha matado. ― Ele riu de


novo, ignorando a pequena pontada de dor em sua perna. Ele podia ignorar
qualquer coisa desagradável desde que ela estivesse em seus braços.

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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

Epílogo

― Vovó, atire!

Dorothea pegou na bola e a atirou a seu neto, agora de dois anos, que
corria atrás de cada bola que ela atirava como um pequeno cachorrinho. Ele
tinha um bastão bastante pequeno e mesmo tão novo, conseguia balança-lo
violentamente e conectar com a bola mais vezes do que falhava.

Ela tinha dois netos agora e outro estava a caminho. A pequena


menina de George estava quase com dois anos e Lilianne tinha anunciado
apenas na semana passada que estava de esperanças de novo e esperava
que fosse um rapaz.

Dorothea, finalmente, estava encontrando contentamento. Ela


percebeu que os primeiros dois terços de sua vida a tinham simplesmente
preparado para a melhor parte. Pela primeira vez na vida, Dorothea estava
feliz. Puramente satisfeita.

Todos aqueles anos de preocupação, medo e vivendo uma vida que


detestava, tinham valido a pena, por este momento, vendo seu neto, caracóis
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

negros saltando, correndo atrás da bola. Era a coisa mais estranha, ser uma
avó. Já não se preocupava tanto sobre como as coisas se desenvolveriam.
Esse era o trabalho de Marjorie e um que ela parecia estar fazendo bastante
bem. O pequeno Michael já demonstrava ser um rapaz inteligente e educado,
mas cheio de travessuras e tão charmoso quanto seu pai.

Dorothea gostava de Charles, talvez até o amasse. Mas ela gostava de


manter o homem alerta. Não seria bom que permitisse que ele relaxasse
completamente junto dela. Era maravilhoso ver suas crianças tão felizes.

Às vezes Dorothea olhava para trás e pensava na rapariga que tinha


sido (que coisa tão triste). Contudo, como podia ela se arrepender de algo
quando tudo tinha corrido tão bem no final?

― Não canse demasiado a vovó, Michael. ― Disse Marjorie.

Seu neto olhou para ela seriamente, seus pequenos olhos azuis
arregalados.

― Está cansada, vovó?

― Ela sorriu.

― Ainda não.

― Tem certeza, mamãe? ― Perguntou Marjorie.

― Lhe direi quando estiver.

Marjorie se sentou a seu lado no banco do jardim e inclinou a cabeça


para pousa-la em seu ombro.

― Eu estou cansada e ainda não fiz nada o dia todo. ― Ela disse.

Michael atirou a bola para o colo de Dorothea, depois levantou as


mãos para a apanhar. Ele não o conseguia a maioria das vezes, mas nunca
parecia ficar cansado de tentar. Era uma pequena coisa perseverante.
Dorothea atirou a bola e ela passou por entre as pernas dele e saltitou pelo
caminho de gravilha.

Subitamente, uma enorme figura masculina passou por elas, rosnando


ferozmente. Michael berrou de alegria enquanto seu pai o levantava e o
segurava bem acima de sua cabeça, um viking capturando seu prémio. O
coração de Dorothea parava de cada vez que ele fazia isso, mas Michael
adorava o voo.

Charles segurou o rapaz com um braço.

― Ele vai estar jogando pelo All-England Eleven antes que dê por isso.

Dorothea fungou.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger

― Eu espero que ele aspire a melhor que isso. ― Ela disse. ― O North
Eleven, por exemplo.

Charles parecia horrorizado e Dorothea riu.

― Mamãe, não torture assim o pobre Charles. ― Disse Marjorie, se


levantando para dar um beijo no rosto a seu filho e a seu marido. ― Temos
novidades.

Dorothea já sabia, ou pelo menos suspeitava.

― Vamos ter outro bebé. ― Disse Marjorie.

― Dois já está, só faltam mais dois. ― Disse Charles, dando um beijo a


Marjorie que foi um pouco longo de mais para o conforto de Dorothea.

Quatro netos. Quatro. Deveria fazer com que se sentisse velha. Em vez
disso, Dorothea experimentou uma ligeireza que a fez se sentir como aquela
garota jovem e cheia de esperanças que tinha sido antes.

Ela se perguntava o que diria a essa garota enquanto ela se observava


no espelho na loja de chapéus. A teria avisado lhe diria que se apenas
aguentasse um pouco, ela conseguiria ser feliz finalmente?

Não, não teria. Porque aquele sentimento que tinha nesse momento
não teria sido alcançado sem toda a dor e sofrimento. Ela seria uma mulher
diferente e as chances eram de que ela não teria esta ligeireza e este ar em
seu coração apenas por ver sua filha com sua pequena família.

Dorothea nunca encontrou o amor, mas estranhamente, o amor a


tinha finalmente encontrado.

Fim

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