Série Lordes e Ladys 04 - A Noiva Solteirona Jane Goodger 1
Série Lordes e Ladys 04 - A Noiva Solteirona Jane Goodger 1
Série Lordes e Ladys 04 - A Noiva Solteirona Jane Goodger 1
Solteirona
Jane Goodger
(Série Lordes e Ladys 04)
Sinopse
Casamenteira, Casamenteira
Marjorie abanou sua mão.
― Chantagem, extorsão. Me atrevo a dizer, qual é a diferença desde
que minha mãe não fique sabendo disso? Que excitante será. Encontros
clandestinos. Romance. Realmente, eu deveria estar pagando a você. ―
Marjorie disse com um sorriso endiabrado.
A expressão de Mr. Norris era tão surpresa, que Marjorie voltou a rir.
― Você não tem ideia de com a vida de uma solteirona pode ser
extremamente aborrecida. ― Ela disse. ― Eu quero viajar, ver o mundo, ter
aventuras. Sabe que o único sítio onde alguma vez estive foi Paris e com o
único propósito de ajustar meus vestidos? A vida de uma solteirona é
tediosa.
― Lady Marjorie, se não se incomoda com eu dizer isso, você não se
parece com nenhuma solteirona que alguma vez tenha visto.
― No entanto, estou na idade em que a maior parte das jovens moças
estão casadas.
― Que idade seria essa, madame?
― Vinte e três.
Mr. Norris elevou uma sobrancelha.
― De fato. Talvez, enquanto estamos procurando por uma esposa para
mim, possamos encontrar um marido para você.
Mr. Charles Norris precisa de ajuda para encontrar uma esposa…
Pois ele tem o hábito lamentável de se apaixonar pela mais bela
debutante de cada temporada, apenas para ter seu coração partido quando
ela se casa com outro. Certamente que Lady Marjorie Penwhistle o pode
ajudar. Ela é sensata, inteligente, conhece a sociedade e deve casar com um
lorde, coisa que ele não é. Já que se encontra decididamente fora de seu
alcance, Charles é livre de desfrutar de sua honestidade refrescante e seus
inesperadamente atraentes beijos…
Lady Marjorie Penwhistle não quer um marido…
Pelo menos não quer pretendentes com títulos, mas insuportáveis que
sua mãe está determinada que ela case. Preferiria ficar solteira e cuidar de
seu irmão excêntrico. Contudo, aconselhar Mr. Norris é uma excitante
diversão secreta. Depois de tudo, quão difícil será encontrar um par para
alguém tão justo, honorável e completamente lindo? Não é como se estivesse
em perigo de ela própria achar Charles demasiado irresistível…
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Capítulo 1
Marjorie Penwhistle chegou à alarmante realização, no dia cinco de
maio no ano de nosso Senhor de mil oitocentos e setenta e quatro, que
estava destinada a ser uma solteirona. Que já era, de fato, uma solteirona.
Tinha sido negligenciada.
Enquanto estava no salão de dança ao lado de sua mãe, reparou em
um fenômeno estranho. Todos os jovens cisnes que costumavam estar à sua
volta estavam agora em volta de Miss Lavínia Crawford. Marjorie era, pelos
padrões da sociedade londrina, bastante velha para não estar casada. Aos
vinte e três anos (e muito próxima dos vinte e quatro), ela ainda continuava
adorável, claro, mas existiam outras mulheres mais adoráveis (e mais
jovens), frescas para o mercado de casamento, cheias de riso e vida,
enquanto Marjorie tinha que admitir que estava… cansada.
― Miss Crawford parece estar atraindo uma multidão. ― Disse para
sua mãe.
Um olhar disse a Marjorie que sua mãe tinha reparado no mesmo.
Com olhos estreitos, Dorothea Penwhistle, Lady Summerfield disse:
― Pararão de andar atrás dela quando ela abrir a boca para falar.
Nunca ouvi um som tão agudo saindo da boca de uma jovem lady.
Marjorie riu baixinho e sua mãe pareceu satisfeita com sua reação.
Miss Crawford tinha, de fato, uma voz normalmente encontrada em uma
criança de dez anos, mas, apesar do comentário de sua mãe, os jovens
cavalheiros a seu lado não pareciam incomodados com isso. Marjorie
pressionou seus lábios juntos, recebendo um olhar agudo de sua mãe.
Forçou- se a relaxar a boca, tornando em um sorriso agradável destinado a
transmitir confiança e charme feminino. Era um sorriso que tinha praticado
em frente do espelho um grande número de vezes, com sua mãe ao seu lado
oferecendo sugestões.
Marjorie tinha sido um produto bastante milagroso de duas pessoas
extremamente simples. Seu pai há muito morto (alguns disseram que sua
mãe o tinha matado com um de olhares letais) tinha sido baixo, gordo, e
estava perdendo seu cabelo, com um nariz batatudo e grosso e lábios
carnudos. Sua única característica agradável, os olhos profundos cinzentos
rodeados de azul, tinham sido herdados por Marjorie. Dorothea tinha sido
seu par perfeito, uma mulher forte e de queixo quadrado com cabelo
cinzento de ferro (mesmo em seus vinte e poucos anos) e pequenos olhos
castanhos dominados por sobrancelhas fortes e grossas que precisavam de
ser aparadas uma vez por semana.
Marjorie era ligeiramente maior que seu pai e sua mãe e tinha sido
abençoada com um rosto adorável, caracóis negros e grossos, uma figura
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Jogada após jogada, o jovem olhava para a mesa ou para suas cartas
quando lhe eram dadas. Ele jogava mal, principalmente porque nunca
olhava à sua volta, não se preocupava em tentar ver se seus companheiros
estavam telegrafando o tipo de cartas que possuíam. Sir Robert, por
exemplo, puxaria de suas sobrancelhas por domar quando tinha uma mão
particularmente pobre e se sentaria direito quando tinha uma mão muito
boa. Lorde Hefford limparia sua garganta quando estava um pouco excitado
sobre sua mão: Lorde Pendergast se iria desleixar. E o amigo do jovem (não
se recordava do nome apesar de terem sido apresentados) puxava por seu
colarinho quando sua mão era particularmente má. Seus tiques nervosos
eram fáceis de perceber se alguém estivesse realmente observando.
Mas o jovem não tinha tiques, pois sua expressão nunca variava.
Charles sabia disso porque olhou para o jovem jogada após jogada, observou
seus olhos passarem por suas cartas. Ele sabia como jogar, isso era certo.
Apostava bem quando tinha uma mão para apostar. Mas, porque não olhava
a seu redor, não tinha ideia do que os outros homens tinham. E foi assim
que Charles ganhou, jogada após jogada, até que o jovem percebeu, muito
para sua surpresa aparentemente, que tinha entrado em uma dívida de
quase vinte e cinco mil libras. Era uma soma enorme. Uma soma
devastadora. E, contudo… Surpresa foi tão longe quanto sua expressão
mudou quando os homens terminaram e o dano foi totalizado, como se o
jovem tivesse tirado uma mordida de algo de aspeto doce apenas para
descobrir que tinha um sabor amargo. Uma reação tão curiosa.
Charles conhecia muito poucos homens, principalmente homens
jovens, que não teriam vomitado depois de perder uma quantidade tão
assombrosa de dinheiro. Ou começassem a chorar. Em vez disso, o jovem
disse com resignação:
― Oh céus. Mamãe vai ficar muito zangada.
O jogo terminou e Charles observou o jovem cuidadosamente. Tinha
escutado sobre homens que tomavam medidas drásticas depois de perder tal
soma e dificilmente queria se sentir culpado depois de o camarada ter
cometido suicídio. Charles o puxou a um lado de modo a não humilhar o
rapaz.
― Sir, precisa de tempo para acertar sua dívida? ― perguntou ao
homem mais novo.
Charles estudou seu rosto em busca de sinais de aflição. Não havia
nenhum.
― Perdi um total de vinte e quatro mil quinhentas e setenta e cinco
libras. ― Disse o jovem, balançando sua cabeça em cadência com suas
palavras. ― Devo a você vinte e quatro mil quinhentas e trinta e duas libras.
Possuo treze mil duzentas e vinte e duas libras em minha conta no Baring.
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Summerfield em sua mesa. Não podia tirar dinheiro deste homem, pois ele
obviamente não tinha posse de todas as suas faculdades.
― Lhe digo uma coisa, Lorde Summerfield. Perdoarei sua dívida se me
fizer um favor. Espere aqui.
Cinco minutos mais tarde, quando Charles voltou com um envelope
selado, Summerfield estava precisamente onde o tinha deixado. Perguntou-
se brevemente quanto tempo o jovem teria ficado ali se não tivesse
regressado.
― Entregue isto a sua irmã, por favor? É um assunto de vital
importância.
Marjorie desejou que seu irmão estivesse ali. Em vez disso, tinha saído
com seu primo Jeffrey, um tipo simpático o suficiente se gostasse de homens
rabugentos que se queixam constantemente de sua falta de fundos.
Ironicamente, os dois estavam jogando cartas em seu clube. Marjorie olhou
ao redor do salão, então parou quando viu o familiar e escandaloso cabelo
vermelhos vivo de seu irmão. Ao seu lado, sua mãe enrijeceu e o estômago
de Marjorie se contorceu ao ver o objeto de seus pensamentos caminhando
em sua direção.
― Bom Deus, ele não está vestido. ― Disse Dorothea com horror.
― Ele está vestido, querida mãe, apenas não de forma apropriada.
Marjorie deu a George um sorriso afetuoso. Estava usando um fato
informal com um colete verde vivo e uma gravata amarelo-mostarda. Seu
cabelo, nunca realmente domado, estava particularmente bagunçado, como
se tivesse saído de uma tempestade de vento.
Marjorie deixou o lado de sua mãe para o interceptar e o levar para
longe dela.
― Não o estava esperando esta noite, George. ― Disse, engolido grosso,
enlaçando amorosamente seu braço em um dos dele.― E por sua roupa,
acredito que nem você.
―Mamãe vai ficar tão zangada, Marjorie. ― Disse George, engolindo
grosso.
Soava assustado de morte.
Marjorie sentiu o sangue descer de sua cabeça e o puxou para um
corredor para terem maior privacidade e para fugir dos olhos curiosos de sua
mãe.
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sabia que era uma tarefa quase impossível. Mas perder tamanha soma?
Seria simplesmente adicionar achas a suas alegações de incompetência. O
pobre George não ficaria vez na audiência pública.
― Está tudo bem, Margie. Ele disse que perdoava a dívida. Me deu esta
nota para entregar a você.
O alívio que sentiu era quase tão forte quanto tinha sido o medo que
experimentou momentos antes. Talvez Mr. Norris fosse um homem bom,
justo que percebeu que George provavelmente não entendia a enormidade do
que tinha feito.
Marjorie retirou a nota, suspeitando que era simplesmente uma
explicação dos eventos da noite.
para remover George da sociedade. Porque iria qualquer cavalheiro exigir ver
uma mulher solteira em sua casa a uma hora tão vergonhosa? Apesar de
todas as suas falhas (e Marjorie tinha reparado em um bom número delas
em seus breves encontros), tinha pensado que ele era um cavalheiro.
Tentou recordar o que sabia sobre o homem, mas acabou percebendo
que tinha muitíssimo pouca informação. Lembrava- se corretamente, era o
segundo filho do Visconde Hartley e algum tipo de diplomata o tinha
recentemente regressado de algum lugar.
Deu um encolher de ombros interno. Sem dúvida descobriria seus
motivos em alguns minutos, pois sua casa em Bury Street não ficava longe
de onde se encontrava de momento. Se não fosse pela hora, poderiam ter
caminhado até lá.
― Você me acompanhará até sua casa, George, mas vai esperar na
carruagem. Se eu não sair em vinte minutos, quero que vá bater bem alto na
porta e exigir entrar.
George, com sua cabeça ainda baixa, assentiu.
― Já não estou zangada com você, George. Bem, talvez um pouco. Mas
vou exigir aquela promessa de você sobre apostar. Nunca mais, George. Está
claro que não tem talento para isso.
― Eu era o campeão da escola. ― George disse. ― Ganhei seis libras e
sete cêntimos.
― Mas aqueles eram garotos. Hoje esteve jogando contra homens que
têm apostado durante anos. Nunca mais, George. Prometa.
George olhou para cima.
― Eu prometo, Margie.
Marjorie sorriu.
― Bom. Agora, vamos chamar sua carruagem. É provável que não
esteja bloqueada, já que acaba de chegar.
Marjorie, com alguns protestos por parte de sua mãe, finalmente foi
liberada do baile depois de alegar uma horrível dor de cabeça. Acalmou sua
mãe, que estava passando um bom bocado com sua querida velha amiga
Lady Benningford, a ficar e aproveitar o serão.
― A verei pela manhã, mamãe. ― Marjorie disse, beijando sua mãe na
bochecha. ― Você vai se divertir. Quando foi a última vez que passou um
tempo só para você?
Dorothea sorriu para ela com carinho e a deixou sair, deixando
escapar alto que Marjorie realmente parecia um pouco pálida e que talvez
isso explicasse porque tão poucos jovens tivessem mostrado interesse por ela
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Capítulo 2
― Por favor, sente-se Lady Marjorie.
Ele hesitou, não querendo ser colocada em desvantagem, mas
percebendo que já estava tão em desvantagem podia muito bem fazer o que
ele pedia. Ou melhor, exigia, mesmo que educadamente. Se sentou e olhou
para ele com expectativa, medo descendo por sua espinha.
Estavam em uma sala pequena, cheia de mobília, livros e coisas que
tinham sido colecionadas, sem dúvida, em suas viagens. Coisas estrangeiras
e de aspeto assustador enchiam a sala, coisas que podiam ficar bem em um
museu, mas que eram um pouco desagradáveis em um salão. E no centro
desta pequena sala estava um homem grande em frente ao fogo como se
fosse alguma espécie de rei medieval. Seu cabelo tinha uma cor estranha,
nem loiro nem vermelho, mas em algum lugar entre os dois e com doses
dessas cores em estrias por todo o cabelo. Nesse momento estava bastante
desarrumado, despenteado, alguns poderiam dizer. Seus olhos, de um
castanho-escuro meditativo, estavam olhando para ela. Uma mão estava
fechada firmemente na cornija e quando ele viu seu olhar de curiosidade
para o punho de articulações brancas, cuidadosamente o soltou e colocou
num bolso.
― Seu irmão lhe contou o que aconteceu esta noite?
― Sim, ele disse. Apesar de não ter a certeza se George compreende
completamente o alcance de sua dívida.
― Ele sabe quanto me deve.
― Oh, sim, ele sabe. ― Ela disse agradavelmente. ― Mas ele não
compreende completamente as repercussões de acumular tal débito. Meu
irmão é assustadoramente inteligente sobre certas coisas. Mas faz um
grande esforço para perceber as complexidades da sociedade.
― É um jovem agradável, mas um pouco incomum. Eu reparei nisso.
Marjorie sorriu.
― Sim, isso é correto. Porque me convocou aqui, sir? Com certeza não
acha que eu posso conseguir a quantia de ele lhe deve.
Mr. Norris se afastou um passo da cornija e deixou escapar um som
alto, sua face se contorcendo de dor. Marjorie se levantou e começou se
movendo para a frente, mas ele levantou uma mão, a parando.
― Saia Prajit, eu, estou bem. Por amor de Deus.
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notando sua boca firme, mas sensual, seu nariz reto com uma pequena
fenda, suas proeminentes sobrancelhas por cima de olhos castanho-escuros
e não conseguiu encontrar nada que pudesse repelir uma mulher. De fato,
ele era muito mais atraente de perto do que tinha reparado antes.
― É em realidade muito atraente. Talvez seja sua personalidade. Ou
talvez esteja simplesmente escolhendo as mulheres erradas.
Ele sorriu largamente.
― Sim. ― Disse com entusiasmo. ― É isso. E é por isso que preciso de
sua ajuda. Continuo escolhendo as mulheres erradas e com sua ajuda
poderei escolher a certa.
Marjorie voltou a se sentar.
― Porquê eu? Certamente tem amigos que o podem ajudar. Eu nem
sequer o conheço, do que gosta e do que não gosta. Que tipo de mulher quer.
Mr. Norris abanou sua cabeça como se esses detalhes não fossem
importantes.
― Tenho estado longe de Inglaterra por dez anos. Não conheço
ninguém, principalmente jovens moças. Meus amigos estão todos casados e
raramente aparecem em eventos sociais nestes dias. Muito ocupados tendo
crianças. ― Disse com uma pequena quantidade de escárnio.
― Não gosta de crianças?
Ele olhou para ela, momentaneamente confuso por sua pergunta.
― É claro que gosto de crianças. Mas deveriam ser minhas crianças.
Fui eu quem se quis casar, não eles. Mas aqui estou eu, dez anos depois, o
último de nós por casar e eu fui o primeiro a anunciar minha intenção de me
casar.
Marjorie estremeceu quando a última parte foi dita a gritos.
― Foi sempre tão barulhento?
Mr. Norris se sentou pesadamente, uma mão apertando sua coxa, a
que, Marjorie supunha, estava lesionada.
― Estou tentando controlar essa tendência. ― Disse suavemente. ―
Mas quando me sinto arrebatado sobre alguma coisa, tendo a ser um pouco
barulhento, sim.
― Estrondoso seria a expressão mais acertada. ― Disse Marjorie com
um leve riso. ― Pode fazer fugir a sua futura esposa.
Marjorie estava levemente divertida o vendo apertar sua mandíbula em
frustração.
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― Não tema, por favor, miladie. Estou apenas avisando. Protegerei sei
segredo ― lhe fez uma reverência ― com toda minha vida, se necessário for.
Mas achei que era necessário apontar quão ingénua é.
Ela inclinou sua cabeça, seus olhos fechando, mas ele conseguia ver
um pequeno sorriso a querer surgir em sua boca bastante adorável.
― Começo a ver agora porque você ainda continua solteiro, sir. É
demasiado direto.
― Não sou deste modo com as mulheres que cortejo. Sou um completo
idiota no que toca a mulheres bonitas.
― É bom saber que é completamente imune a meus charmes. ― Disse
Lady Marjorie secamente.
― Enquanto seus charmes são consideráveis. ― Ele disse, incapaz de
impedir seus olhos de flutuarem para sua boca. ― Eu sou, como disse,
completamente imune.
Mesmo enquanto dizia essas palavras, percebeu, um pouco surpreso,
que estava mentindo.
― Maravilhoso.
― Preferiria que ficasse totalmente apaixonado e tivesse meu coração
partido de novo?
Ela sorriu, seus olhos se tornando meias-luas adoráveis.
― Duvido muito que seu coração tenha sido alguma vez realmente
partido, sir. E também duvido muito que alguma vez tenha estado realmente
apaixonado.
― Está dizendo, miladie, que eu não sei o que está em meu próprio
coração?
Ela inclinou a cabeça em pensamento.
― Por quem você morreria?
― Minha irmã. ― Disse imediatamente. ― Talvez meu pai e minha mãe.
― E eu. Não se esquece que acabou de dizer que guardaria meu
segredo com sua vida. ― Ela parecia demasiado satisfeita por relembrar esse
fato. ― Você dá sua vida muito facilmente, sir. Sem dúvida morreria por
qualquer mulher que aceitasse dançar com você. Posso ver que não foi uma
pergunta muito esclarecedora.
Ele sorriu altivo para ela, levantando seu rosto, notando sua expressão
presunçosa.
― Isso é problema meu, sabe. Eu dou meu coração muito facilmente.
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― O que de novo prova meu ponto. Você está enfeitiçado. Não está
apaixonado.
― Acredito que isso é o que venho dizendo o tempo todo, madame. E é
seu trabalho me afastar das mulheres que são impróprias, desinteressadas e
indisponíveis.
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aluta e sabia que lhe estava dando uma tarefa difícil. ― No processo, talvez
encontremos um marido para você também.
Marjorie abanou a cabeça.
― Duvido muito que vá suceder onde minha mãe falhou. Encontrar
um marido tem sido seu domínio por quarenta anos, começando com sua
própria caçada.
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Dorothea sabia que Mary tinha pena dela, mas o escondia bem a
maior parte do tempo. Viu o olhar de hesitação de Mary toda a vez que
Dorothea mencionava Lorde Smythe. Sabia que não tinha nenhuma chance
com ele, não quando havia tantas outras garotas mais novas e mais bonitas
por onde escolher. Mas não podia parar seu coração de querer o que queria.
Quatro anos querendo. Quatro anos deitada em sua cama à noite, olhando
para o teto e se questionando se existia alguma esperança de que ele
estivesse fazendo o mesmo que ela.
Regent Street estava movimentada a esta hora do dia, com homens
continuando seus negócios e mulheres passeando e fazendo compras. A
grande rua estava cheia de tráfico, os sons altos de rodas de carruagens
contra o pavimento e passeios de tijolo que se estendiam em cada lado da
rua. Apenas tinham cruzado Hanover Street quando Dorothea viu uma
querida velha amiga dando a mão a uma criança pequena. Enquanto
observava, sua amiga se baixou e tocou o nariz da criança, depois beijou sua
bochecha antes de se endireitar e se afastar delas.
― Oh, olhe Mary, é Lenore. ― Ela disse, puxando Mary consigo para
que a conseguissem alcançar.
Mary estacou, resistindo.
― Não podemos, Dottie. ― Mary sussurrou de modo severo. ― Não a
podemos reconhecer. Você sabe disso. Seria embaraçoso para ela, para não
mencionar no que faria a nossas reputações.
Dorothea parou de caminhar.
― É claro. ― Disse em triste resignação. ― Me pergunto como estará
passando.
― Como você acha? Ela casou com um administrador de terras, pelo
amor de Deus. Pensei que estariam vivendo no campo em sua quinta. Me
pergunto o que ela está fazendo em Londres?
Dorothea observou sua velha amiga se perder na multidão de
pedestres e então desaparecer completamente de vista.
― Talvez se tenha reconciliado com sua família.
― Duvido muito disso. ― Disse Mary. ― Além disso, viu o que ela
estava vestindo? Estou surpresa de que a tenha reconhecido, mas era
Lenore.
― Ela tem uma filha. ― Dorothea disse, incapaz de esconder a tristeza
de sua voz.
― Sim, sem dúvida que estão se divertindo muito batendo manteiga
juntas e ordenhando vacas.
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― Oh? ― ela estava sem ar, mal se consegui mover. Mas Mary lhe deu
um pequeno empurrão em sua direção e ela se forçou a caminhar para ele,
seus olhos na revista. Se olhasse para ele, estava certa de que ele poderia ver
o arrebatamento de adoração em seu rosto.
― Aqui, fique com este. Existem outras cópias. ― Lhe entregou o
periódico e Dorothea o pegou como se estivesse tocando um objeto raro.
― Obrigada. ― Disse, se atrevendo a olhar para ele.
Ela sorriu, esperando parecer pelo menos um pouco bonita e ele sorriu
de volta.
― Irá a Ascot este ano, milorde? ― Ela perguntou, bastante orgulhosa,
perante as circunstâncias, de ter introduzido um novo assunto.
Ele lançou uma olhada a Mary e depois voltou a olhar para ela.
― É claro. Tenho um cavalo correndo este ano. Emilius. O melhor
cavalo que alguma vez tive. Fique de olho nele, sim?
Lhe deu um piscar de olho e teria sido melhor lhe ter dado seu coração
pois a vibração tinha acontecido.
― Estarei torcendo com todo meu coração por Emilius. ― Disse
Dorothea.
― Muito bem, então. Talvez a veja lá. Se me desculparem, devo ir. Bom
dia.
Dorothea se moveu a um lado, o deixando passar, apertando o
periódico a seu coração. Quando tinha ido embora, ela se virou para Mary e
sussurrou.
― Ouviu isso? Ele me irá procurar em Ascot.
Mary sorriu.
― Ele não disse bem isso. ― Disse gentilmente.
Dorothea recusava ter seu humor diminuído pela verdade.
― Não importa. Eu o irei procurar.
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Porque você uma vez foi essa garota tola, é por isso. Verdade seja dita,
ela sentia saudades de ser o centro das atenções, de ter seu cartão de dança
cheio antes de a orquestra começar a tocar uma única nota. Sentira falta dos
homens bem-intencionados lutando para ver quem teria a honra de a levar
para jantar. Da entrada cheia de flores. Do correio cheio de súplicas para a
levar a cavalgar por Rotten Row.
Seria ela tão superficial?
Deixou escapar um riso suave enquanto se dirigia à entrada da casa.
Claro que era.
― Esteve lá fora no jardim a esta hora da noite?
As mãos de Marjorie voaram para seu peito.
― Mamãe, quase me assusta de morte. E sim, estava. Está uma noite
agradável.
― O ar noturno não faz bem a sua tez, minha querida. Estava prestes
a procurar por você para podermos discutir o baile dos Hebert. O que estava
pensando usar?
― O vestido novo azul, eu acho. Tem estado tão quente ultimamente,
não me consigo imaginar usando outra coisa que não seja seda.
Dorothea caminhou para o salão de espera principal e Marjorie a
seguiu. A chocou nesse momento, como tantas vezes no passado, quão vazia
sua casa parecia. Quando seu irmão estava em casa, como sem dúvida
estava agora, ficava em seu quarto devorando livros de história. Marjorie
sabia que estava evitando sua mãe, tal como sabia que sua mãe estava do
mesmo modo contente por não o ter em seu caminho. Assim que sua mãe
finalmente aceitasse que Marjorie iria permanecer solteira, suas saídas serão
cada vez menos frequentes sem dúvida. Era suposto ser esta sua vida? Era
improvável que seu irmão se casasse (tinha mostrado pouco interesse pelo
sexo oposto depois de um infeliz incidente) ou que sua mãe voltasse a se
casar. O pensamento de passar o restante de seus anos em uma casa vazia
era deprimente. Talvez ela pudesse viajar como sempre desejou fazer.
Encontrar um grupo de solteironas e passear por Itália e França.
Talvez se conseguisse encontrar uma esposa para Mr. Norris, se
pudesse tornar em uma casamenteira profissional. Ela suspirou alto.
― Que humor você tem hoje. ― Disse sua mãe, olhando para ela
rispidamente depois de ter suspirado.
― Estou apenas cansada esta noite. ― Ela forçou um sorriso. ― Acha
que o azul servirá?
― Claro. É um de seus vestidos mais adoráveis. Lhe assenta muito
bem. Mas…
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― Sim. E vejo que já encontrou alguém que prendeu seu olhar. Miss
Lavínia Crawford.
― A loira, rodeada de garotos se babando? Não. Não tenho estômago
para enfrentar esse tipo de competição.
Estavam lado a lado, olhando a parede. Ele juntou pequenos doces no
prato enquanto ela cuidadosamente enchia dois copos de ponche. Qualquer
pessoa que olhasse casualmente para ele não saberia do que estavam
falando.
― Você tem uma lista?
― Tenho. A colocarei na parede esta noite. Não tive a chance de o fazer
mais cedo. Ficará feliz de saber que é uma lista bastante longa.
Ela virou para espiar sua mãe, que estava de costas para ela, depois
enfrentou Mr. Norris, que estava olhando para ela com um pequeno sorriso
em seus lábios esculpidos. Céus, ele era um homem com uma bela
aparência e ela não conseguia perceber porque não tinha tido sucesso em
sua busca por uma noiva, se fosse considerar a aparência. Seus olhos
castanhos profundos percorreram sua face, parando brevemente em sua
boca e Marjorie ficou chocada pelo que viu. Ele tinha o olhar de um homem
que queria beijar uma mulher. Ele recuou um pouco, alarmada.
― O que está fazendo?
― A estou admirando. Está muito encantadora esta noite, Lady
Marjorie. E sua boca foi sem dúvida feita para beijar, não é assim?
Ela estava espantada.
― Você está bêbado?
― Tão sóbrio quanto você. ― Ele levantou uma sobrancelha como se
estivesse questionando sua sobriedade.
― Mas, você disse que não se sentia atraído por mim. ― Era uma
acusação
― Eu menti.
Marjorie inclinou a cabeça e lhe deu um olhar de raiva simulada.
― Isto não vai funcionar, então. Se está atraído por mim, então eu
posso frustrar seus planos. Você vai se apaixonar por mim e isso não vai
funcionar.
― Só porque quero enterrar minha cabeça entre seus seios e ficar lá
por uma quinzena não significa que quero casar com você. ― Isto foi dito
secamente.
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― Lady Avonleigh, sabia que seu marido uma vez fez pouco de mim por
ter a audácia de me apaixonar?
― Isso soa como algo que ele faria.
― O que, em nome de Deus, fez com ele, miladie? ― Perguntou Mr.
Norris.
Katherine olhou para Graham, seus olhos brilhando.
― O fiz sorrir.
― Se isso é tudo o que é preciso, já deveria estar casada faz tempo. ―
Disse Marjorie.
Katherine parecia tão feliz, tão apaixonada e Marjorie não conseguiu
evitar sentir uma pequena pontada de inveja. Seria capaz de alguma vez
amar alguém assim? Iria algum homem olhar para ela da mesma forma que
Lorde Avonleigh estava olhando sua noiva?
Marjorie viu sua mãe franzindo o ceno para ela, mas Marjorie sabia
que aprovava Lorde e Lady Avonleigh, apesar do cortejo infeliz. Estava sem
dúvida tolerando a presença de Mr. Norris porque era amigo de Lorde
Avonleigh.
Quando a primeira valsa começou, Lorde Avonleigh convidou sua
esposa para dançar e os dois flutuaram juntos, olhando sonhadoramente
nos olhos um do outro.
― Ele nem queria se casar. ― Disse Charles, soando um pouco
teimoso. ― E aí está ele, parecendo um tolo pateta, dançando com sua
encantadora esposa. Será que não sabe que isso não se faz?
Marjorie riu.
― Não se preocupe. Vamos ter você olhando para sua esposa desse
modo antes que termine a temporada. Por enquanto, contudo, minha mãe
está atirando dardos para mim só por ter a impertinencia de falar com um
homem sem um “lorde” junto de seu nome. Devo ir. Fico esperando a
próxima nota. Que divertido.
Sem dúvida Charles não teria outra chance de falar com Lady
Marjorie, um pensamento que o fez ficar ligeiramente deprimido. Olhou o
salão, seu olhar parando em cada criatura jovem de saia. Deus, todas
pareciam iguais. Cabelo cuidadosamente encaracolado, vestidos brancos ou
de cores claras, pairando perto de suas mães e olhando esperançosamente
em volta do salão por um potencial pretendente.
Miss Lavínia Crawford era, sem dúvida, a mais bela garota do grupo.
Apesar de a ter riscado de sua lista no início, lhe deu uma segunda longa
olhada. Pelo menos não se parecia com uma criança. Enchia seu vestido de
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uma forma encantadora que apelava a sua imaginação. Ela pode ter todos
esses garotos pairando à sua volta, mas ele não era um garoto e talvez isso
pudesse fazer a diferença.
E então, Charles se convenceu de que podia conseguir ganhar a mãe
de Miss Crawford. Sorriu para a forma como ela inclinava sua cabeça
encantadora. Tão charmosa que ela era. Ela tinha seu enxame de garoto
agindo com cachorrinhos pedindo por um prazer. E ela era um prazer. Tão
adorável. O tipo de mulher com quem ele se imaginava. Teriam crianças
loiras com seus adoráveis olhos azuis. Os imaginava azuis para combinar
com seu cabelo loiro platina. E, bom Deus, ela tinha o mais pequeno e mais
intrigante sinal logo acima de seu lábio, como as falsas que as belezas do
século passado que costumavam colocar em seus rostos. Como Marie
Antoinette.
Decisão tomada, começou a se mover para ela, se sentindo cada vez
mais atraído para ela com cada passo que dava. Ela riu e foi, se não o mais
delicioso, o tipo de riso que fazia uma pessoa se querer juntar a el.
― Oh não, nem pense. ― As palavras vieram de uma mulher a sua
esquerda. Lady Marjorie.
― O que estou fazendo? ― Seus olhos ainda na encantadora Miss
Crawford.
― Por seu ridículo olhar em seu rosto, está se apaixonando por Miss
Crawford e Ruthersford já está tratando das negociações com o pai dela. Ele
é um visconde. ― Ela acrescentou esta última parte com enfase.
― Eu não me estou apaixonando por ela. Acha que sou um grande
tolo? Nem sequer falei com ela ainda. ― Ele finalmente olhou para baixo para
ver Lady Marjorie olhando para ele da mesma maneira que sua velha
governanta olhava quando estava desagradada.
― Você me envolveu em uma missão de o para de se vincular à mulher
errada. Miss Crawford é a mulher errada.
Como que atraído tal flor para o sol, voltou sua cabeça para de novo
beber da visão de Miss Crawford.
― Vamos ver.― Disse e passou por Lady Marjorie com determinação.
Pensou ter escutado ela fazer algum tipo de som atrás dele, mas sabia que
não o iria seguir.
― Desisto.
Aquilo sim o parou. Frio. Ele virou lentamente, tentando esconder sua
irritação.
― Há o ligeiro problema de uma dívida.
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Porque tinha que ser tão complicado? Não precisava ser, ela supunha,
se estivesse simplesmente procurando por alguém que lhe desse herdeiros.
Mas um herdeiro não importava, não para alguém em quinto na linha de
sucessão para o título. Queria o que seus pais tinham, o que seu irmão
tinha. Certamente não queria o que sua irmã tinha, uma vida de monotonia
desapaixonada. Charles franziu o cenho. Pobre Laura, tinha estado tão
apaixonada por seu tolo marido quando tinha dezanove anos. Aos vinte e
nove, não tinha filhos e estava presa a um homem que continuavam a se
dedicar mais a sua horrível mãe do que a se dedicar a Laura.
Brincando com a carta de Marjorie, se sentou em sua secretária,
acendeu sua lâmpada e se dedicou a criar sua lista de atributos.
Bonita.
Inteligente.
Honesta.
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Capítulo 4
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última vez que aqui esteve, falamos sobre a possibilidade de você ir viver
com ela. Lhe fazer companhia. Está tão isolada lá em Ipswich.
Terror caiu forte e pesado no estômago de Dorothea. Ir viver com uma
tia viúva era o equivalente a desistir completamente de qualquer esperança
de conseguir um marido.
― Quando estava pensando ir?
― Pensei que você poderia ir no início da próxima semana. ― Sua não
indicou uma carta em seu prato. ― Ela está solitária e está muito
entusiasmada em ver você.
― Mas o Ascot é daqui a duas semanas. Eu queria tanto ir este ano. E
estamos a meio da temporada. Não posso possivelmente ir agora, mamãe.
Sua mãe olhou para o lado, dando a sua cabeça um pequeno abano.
― Não quero ser cruel, Dorothea, mas acredito que esse barco em
particular já partiu. Tem vinte e oito anos, minha querida. É altura de que
aceite que nunca vai casar. Não há nada de errado com ser solteirona. Olhe,
uma de minhas mais queridas e feliz amiga nunca casou. Você não teve uma
única proposta em dez anos. Para continuar com tem sido é negar as
circunstâncias.
Dorothea engoliu forte. Era verdade. Nenhum homem alguma vez a
cortejou, apesar de que ela tinha um dote bem grande. Não era incomum se
ser ignorada, mas Dorothea nunca pensou que seria uma delas.
― Lorde Smythe…
― Por amor de Deus, Dorothea, Lorde Smythe não tem mais interesse
em casar com você do que tem em um de seus cães de caça.
Lágrimas inundaram os olhos de Dorothea e sua garganta doía tanto
que parecia como se alguém a estivesse apertando.
― Isso foi cruel, mamãe.
Os olhos de sua mãe se suavizaram.
― Não, minha querida, é a verdade. E está na altura de que o
compreenda. É uma boa garota, doce e generosa. Mas nem todas as garotas
boas e generosas encontram um marido. ― Voltou a pegar em seu garfo. ―
Provavelmente deva começar a embalar sua roupa amanhã.
― Quanto tempo estarei longe? ― Perguntou Dorothea, sua voz
sumida. Limpou sua garganta. ― Preciso saber quanto tempo estarei fora
para poder empacotar corretamente.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Lamento, pensei que tinha entendido. Ficará vivendo com sua tia.
Indefinidamente. ― Sua mãe riu da expressão de Dorothea. ― Minha
querida, ela tem setenta e cinco anos. Não será para sempre.
Mas seria para sempre. Se estivesse fora por anos, Lorde Smythe
certamente se esqueceria dela. Ela poderia nem sequer voltar a Londres
alguma vez e na altura em que finalmente voltasse, ela seria (oh, Deus) em
seus trinta anos. Dorothea olhou seu prato, sua comida agora intocada.
― Posso pelo menos ficar até Ascot? Prometi a Mary que iria com ela.
― Até depois de catorze de junho? ― Sua mãe soltou um suspiro
pesado. ― Sua tia vai ficar desapontada, mas suponho que sim.
Alguma da tristeza abandonou Dorothea. Ainda tinha mais uma
chance de ver se Lorde Smythe a amava ao menos um pouco.
Capítulo 5
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antes que pudesse tirar a mão, ele colocou sua palma em cima da dela,
quente e grande, por um breve momento antes de a soltar.
Oh, Deus. O que tinha acabado de acontecer? Uma descarga de algo
elétrico a fez soltar respirações profundas e sua face ruborizou. Foi
instantâneo. Ela rezou para que ele tivesse interpretado essa respiração e
rubor como raiva, mas ficou realmente desapontada quando olhou para ele
através de suas pestanas e viu a expressão convencida mais irritante em sua
boca encantadora. Boca encantadora?
― Rogo que pare, Mr. Norris.
Ele levantou sua sobrancelha com ar inocente.
― Parar o quê, Lady Marjorie?
― De me atormentar. ― Ela disse com um pouco de exasperação
depois de procurar brevemente a palavra. ― Isto não é um jogo. ― Ela tentou
soar zangada, mas, maldito homem, sorriso dele apenas aumentou.
― Você está se divertindo.
Marjorie pressionou sua boca junta, desesperadamente tentando não
sorrir.
― Talvez. ― Cedeu.
― Não há nenhum “talvez” nisso. E, minha querida garota, estou me
divertindo muito também. Quem diria que encontrar uma noiva seria tão
divertido?
Oh, sim. A noiva. Marjorie se sentiu murchar um pouco ao ser
lembrada do motivo de se sentarem juntos.
Ele descaradamente abriu sua nota na mesa de jantar e olhou a lista.
― Alguma destas damas está presente esta noite? ― Perguntou depois
de um momento.
― Duas. Miss Elizabeth Vincent e Miss Petunia Peterson.
― Não posso casar com alguém chamado Petunia.
― Ela é muito simpática.
― Não gosto de petúnias.
Marjorie olhou para ele, incrédula.
― Quem não gostaria de petúnias? Elas são umas flores encantadoras.
Muito coloridas. E muito semelhantes à garota com o seu nome. É a que está
sentada ao lado do Almirante Clarkson.
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― Tem certeza que sua mãe não irá mesmo considerar um homem sem
título? Há aquele homem muito simpático Charles Norris. Ele é filho de um
visconde, sabe. Uma família de boas posses. Sua mãe é adorável. Talvez sua
mãe possa considerar…
― Não, tia. Ela não vai.
― Lorde Ruthersford…
― Está noivo. ― Marjorie caminhou calmamente até onde estava Miss
Peterson com seus pais.
― Sim, sim. Penso lembrar de ter lido algo sobre isso. Uma pena que
se tenha sentado junto de dois homens inaceitáveis.
― Por vezes acontece. ― Disse Marjorie alegremente. ― Não é todos os
dias que tenho a chance de relaxar e apreciar a refeição em vez de me exibir.
Sua tia riu.
― Ah, eu me lembro desses dias. Pode ser cansativo, querida, eu sei.
As duas conversaram amigavelmente, mas Marjorie estava sempre
consciente de Miss Peterson (e Mr. Norris). Ele tinha a subtileza de um
canhão e ela o podia sentir observando seu progresso até sua possível futura
esposa. À medida que Marjorie caminhava para Miss Peterson, pretendeu ter
recebido o encontrão e se apoiou levemente na mulher mais nova.
― Oh, peço desculpas. ― Ela exclamou. Depois colocou um sorriso
brilhante. ― Miss Peterson, como está? E Mr. e Mrs. Pertson. Não os vejo a
todos desde…― Ela fingiu procurar em sua memória― … O baile dos Halford
na última temporada. Se lembram de minha tia, Lady Southbridge.
― Os Halford…― Disse Mrs. Peterson, seu rosto ficando de um tom
vermelho alarmante. Mr. Peterson limpou sua garganta alto e puxou seu
colarinho. ― É claro. ― Disse Mrs. Peterson, lançando um olhar a seu
marido. ― Temos estado… Viajando pelo estrangeiro.
― Na Itália. ― Petunia acrescentou alegremente, se bem que um pouco
excessivamente. ― E outros lugares. Passamos um tempo maravilhoso, não
foi? ― Voltou para seus pais, que pareciam mortificados, mas pelo quê.
Marjorie não podia começar a adivinhar.
― É bom ver você, Susan. ― Disse sua tia calorosamente, agarrando as
mãos de Mrs. Peterson e lhes dando um leve aperto.
Mrs. Peterson deu um sorriso trémulo, aparentemente agradecida
pelas palavras carinhosas. E deixando Marjorie completamente confusa. Ela
procurou em sua cabeça por qualquer tipo de informação eu possa ter
escutado sobre os Peterson. Teria alguém morrido? Teriam perdido toda a
sua fortuna? Algo tinha acontecido desde o baile dos Halford, isso era certo.
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― Oh, mas deve. ― Ela disse, depois parou rapidamente. ― Não, não
deve. ― Sorriu para ele então, um verdadeiro sorriso e ele sentiu uma
pontada de perda. Ela teria sido perfeita para ele.
Terminaram seu passeio e concordaram em permanecer amigos. E
Charles, porque tinha um ponto fraco em seu coração do tamanho de todo
seu coração, parecia, lhe prometeu que encontraria uma posição de trabalho
melhor pago para o homem que ela amava.
― Não faço promessas. E não acredito que deva alimentar muitas
esperanças em relação a seus pais.
― Eu sei. Não irei. Mas meus pais me amam e não gostam de me ver
tão infeliz. Eles pensaram que a viagem a Itália me faria esquecê-lo, me
distrair. Mas ainda o amo. Obrigada, Mr. Norris, mesmo que não resulte.
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pensar sobre isso. Especialmente porque sabia já há algum tempo que era
tudo por nada.
―Bom dia.
Marjorie olhou para cima e sorriu para seu irmão, que tinha
aparentemente escapado às garras de seu valete antes que este passasse
uma escova por seus cabelos.
― Bom dia, George. Estávamos mesmo agora falando do baile dos
Fielding. Espero que possa comparecer.
George rapidamente ficou pensativo.
― Em que noite é?
― Quarta-feira. Não tem nada planeado, não é?
George rapidamente encheu seu prato e Marjorie sabia que sua mente
estava procurando pelo que normalmente fazia às quartas-feiras.
― Eu vou. ― Disse finalmente.
― Marjorie. ― Sua mãe disse, levemente exasperada.
― Se George não for, quem dançará comigo? ― Disse Marjorie
levemente e deu a seu irmão uma piscadela.
― Um grande número de jovens. ― Disse Dorothea.
― Tenho estado um pouco encalhada ultimamente, mamãe.
― Besteira.
― E George pode salvar se isso acontecer. Isto é, se o conseguir afastar
de todas as garotas bonitas.
George roborizou e Marjorie perguntou se existia uma garota bonita
em particular que tinha causado esse rubor. Dorothea tinha dito em
inúmeras ocasiões que nenhuma garota alguma vez casaria com George (e
secretamente Marjorie se questionava se estaria correta, pois ele tinha
mostrado pouco interesse pelo sexo oposto). Seria encantador ver George se
apaixonar e ainda mais encantador ter uma sobrinha ou sobrinho.
Na noite do baile dos Fielding, Marjorie chegou com sua mãe; George
viajava separadamente a maior parte das vezes, já que era muito particular
sobre quando chegava e quando partia. Os Fielding viviam em uma grande
casa antiga em Mayfair, um bairro encantador não muito longe de Hyde Park
que já tinha visto melhores dias, mas ainda era um dos melhores bairros de
Londres. Era, a mãe de Marjorie disse com uma fungadela, um bairro que
estava atraindo mercadores e os de sua raça. Mas não se podia ignorar o
baile dos Fielding simplesmente porque eram vizinhos do comerciante
fabulosamente rico Charles Magniac.
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talvez perdeu a conta das danças enquanto estava falando com a garota
DeRiccio.
Isto nunca lhe tinha acontecido. Ela nunca foi deixada esperando em
um canto da sala enquanto um homem que lhe tinha pedido uma dança
falhava em aparecer. Franzindo o cenho. Caminhou para o terraço, andando
pela borda do chão do salão de dança e dos casais dançando
entusiasticamente. Era um jogo para Mr. Norris, ela sabia disso. Ele
possivelmente podia não saber que a tinha magoado um pouco ao esquecer
sua dança. Talvez ela lhe devesse fazer saber precisamente o quão canalha
ele era.
De todas as noites, porque é que sua maldita perna lhe tinha que fazer
isto? Ele tinha estado se sentindo melhor. Tinha até mesmo dançado uma
vez ou duas na noite anterior. Talvez esse fosse o problema; ele tinha se
sobrecarregado ao dançar uma maldita valsa. Bom Deus, ele iria se tornar
um inválido, incapaz de dançar ou até conversar com uma garota bonita?
Rogou que o ar frio da noite de alguma maneira acalmasse sua perna, mas
tão logo saiu para o terraço, foi agarrado por uma grande dor enquanto sua
perna ficou presa. Cambaleando, se dirigiu ao corrimão e disse uma corta,
embora vulgar, prece para que não gritasse. Não era bom assustar todas
aquelas damas que eram suas potenciais noivas.
Um suor frio surgiu em todo seu corpo e suas mãos começaram a
tremer. Não grite. Não grite.
E então, uma mão, pequena e firme, agarrou sua mão enluvada, lhe
dando suficiente distração que o grito se formando em sua garganta foi
esquecido.
― Respire. ― Ela disse.
― Minha querida dama. ― Ele disse por dentes cerrados ― Se não
estivesse respirando estaria no chão.
Ela riu e apertou sua mão.
― Se esqueceu de nossa dança. ― Ela disse. ― Agora terá que me
compensar outra noite.
Charles olhou para ela e sorriu sombriamente.
― Sua mãe é capaz de me matar se eu o fizer. ― Ele inspirou
profundamente. ― Não devia ter vindo esta noite. Minha perna tem estado
terrível o dia todo. Devia saber melhor do que tentar isto. Prajit estava muito
zangado comigo.
Outra dor intensa o agarrou e ele cuspiu outra maldição. Doía como o
diabo, mas mesmo através disso, ainda sentia a mão dela na sua, apertando
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com mais força. Ainda sentia seu perfume, escutou seu pequeno arfar, como
se fosse ela a que sofria. Ela não devia estar ali com ele. Qualquer pessoa os
podia ver, estando muito próximos, a mão dela na dele. Deus, ela era
quente. Ele a podia sentir a seu lado e rogou por algo proibido naquele
momento. Rogou para que tivesse as forças para a empurrar para as
sombras e a beijar, que se danem as consequências.
Finalmente, a dor diminuiu e se manteve em uma pequena dor
incessante. Ele conseguia lidar com essa dor. Ele podia manter uma
conversa, até conseguia dirigir uma valsa. Ela soltou sua mão e se afastou.
― Imagino que já foi aos médicos?
― Sim, Três. Foi uma ferida grave. Todos dizem a mesma coisa, que a
perna deveria ter sido cortada. Talvez estejam certos. Algumas vezes me
questiono se não teria sido melhor perder a perna a ter que sofrer isto.
Ela deixou escapar um pequeno som.
― Certamente a dor vai diminuir com o tempo.
― E diminuiu, na realidade. ― Ele riu de sua expressão, como se ela
dificilmente conseguisse acreditar que ele tinha passado por pior.
― Estou feliz de não ter visto isso. É difícil de ver você dessa maneira.
Não sei como você o esconde.
Ele se perguntou a mesma coisa na realidade. Quando estava falando
com a mulher italiana, quase tinha gritado e ela esteve completamente
ignorante, mesmo quando gotas de suor se formaram em sua testa. Ocorreu
que Marjorie teve conhecimento de sua agonia.
― Obviamente não o escondi de você. ― Ele disse.
― Eu sabia que sua perna o estava incomodando mais cedo, quando
estava de pé junto daquele grupo de homens. Estava agarrando sua bengala
com muita força. ― Ela olhou em volta. ― Onde está sua bengala?
― A pousei. Estava chamando muita atenção.
― Por amor de Deus, Mr. Norris, mulheres consideram as bengalas
muito atraentes.
― Verdade?
― Claro.
― Então devo ir recuperá-la…― Parou abruptamente.
Ela era tão incrivelmente bela, tão doce. O motivo para ter sido
ignorada era um mistério para ele, mesmo tendo em conta seu irmão. Ele até
achava George um personagem interessante. Certamente apenas isso não
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― Agora não, sua tola. Mas em breve. Realmente não sei quanto tempo
posso resistir.
― Acho que devia tentar. Resistir, quero dizer. ― Ela adicionou esta
parte numa precipitação de palavras.
― Realmente deseja que resista beijar-lhe?
Ela pressionou os lábios juntos e se afastou outro passo.
― O galope acabou, tenho que ir ter com meu parceiro para a próxima
dança. ― Ela continuou se afastando, com o brilho mais estranho em seus
olhos encantadores. Justo antes de entrar no salão de dança, ela disse. ―
Quanto a sua questão… não, não desejo que resista. ― E então ela se virou,
seu vestido girando ao redor dela lhe dando um vislumbre sedutor de seu
calcanhar elegante. Ele deu um passo e sentiu uma dor aguda em sua
perna, mas não se importava. Sofreria quase qualquer coisa para conseguir
aquele beijo.
O salão de baile na casa dos Fielding terminava em uma galeria e a
biblioteca, ambos estando cheios de participantes do baile que se
movimentavam de sala para sala procurando amigos ou tentando evitar falar
com inimigos. Uma grande parede separava essas salas do escritório de
Lorde Fielding (esta noite servia de salão de jogos de cartas) e um dos salões
da casa.
Charles espreitou o salão e franziu o cenho quando espiou um grande
grupo de debutantes tagarelando, que instantaneamente pararam de falar
quando ele olhou a sala.
― Boa noite, senhoritas. ― Disse e quase estremeceu com as risadas e
reverências instantâneas que surgiram após sua saudação.
Ele se curvou e continuou andando para o fundo do corredor,
escutando os risos ficarem mais altos, acompanhados de silvos fervorosos
para que fizessem silêncio.
Após dez anos além-mar, Charles percebeu de que não conhecia quase
ninguém. Seus amigos estavam todos casados, rodeados por sua prole de
crianças que ia aumentando, o deixando a vaguear pelos corredores dos
bailes sozinho. Era desagradavelmente depressivo. Quando é que todos se
tinham tornado tão jovens?
Ou melhor, quando é que ele se tinha tornado tão condensadamente
velho?
Ele passou por uma das entradas do salão de baile e espiou Lady
Marjorie dançando com Lorde Pemberton, um cavalheiro ancião que já tinha
sobrevivido a três esposas. Seria de suspeitar, não tivessem todas as suas
esposas morrido de causas naturais. A velha raposa estava a olhar com
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proximidade com que a segurava ao limite do inapropriado. Ela não era uma
garota pequena, por isso não precisava forçar seu pescoço e seus ouvidos
para a ouvir. Sua testa estava ao nível de sua boca, de modo que se
quisesse, poderia se inclinar e beijar aquele pequeno cenho franzido que por
vezes aparecia.
― Pare com isso. ― Disse ela, sorrindo para ele.
Ele levantou uma sobrancelha em forma de questão.
― Está me olhando daquela forma de novo.
― Ah. O olhar eu-quero-te-devorar?
Ela riu alto.
― Sim, é esse. Sei que minha mãe está olhando e não vai ficar
agradada. ― Mas Marjorie soava bastante agradada, por isso ele lhe deu um
olhar tão quente que ninguém que os estivesse observando poderia
confundir quais eram seus pensamentos.
E Marjorie, garota tonta e maravilhosa, riu, deliciada com seu sentido
de humor. Foi nesse momento, quando deveria ter protegido seu coração,
quando a música e os dançarinos rodavam a sua volta, que ele sentiu
apenas um pouco de amor por Lady Marjorie Penwhistle. Limpou sua mente
para que esse pensamento em particular não fosse tão evidente.
― Mas realmente a quero devorar. ― Disse maliciosamente. ― O que
faria se a beijasse aqui e agora, nesta pista de dança?
― Lhe daria um tapa muito forte. ― Ela disse de forma severa, mas
havia uma luz de satisfação em seus olhos.
― E, contudo, sinto que você quer que eu a beije.
― Esse não é, de todo, o ponto. Se permitisse um beijo sem mostrar
um grande protesto, seria forçada a caminhar para o altar consigo. E ambos
sabemos que isso seria um desastre. Por isso, sim, lhe daria um tapa.
Nesse momento, outro par de dançarinos os empurrou um pouco,
fazendo Charles colocar mal o pé. O resultado foi o ataque de uma dor
terrível que quase o levou a cair ao chão em agonia.
Marjorie ficou arrasada, mas ele sorriu sombriamente, apesar de todo
seu corpo estar quase instantaneamente banhado em suores frios. Ele
sofreu todo o tempo, continuando a dançar e apenas quando a musica
finalmente terminou misericordiosamente e a dor começou a diminuir, é que
percebeu, para seu horror, de que tinha estado esmagando a mão dela. E ela
tinha permanecido em silêncio, o deixando fazer isso, o deixando quase
partir seus ossos frágeis.
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Mr. Norris fez uma reverência educada a sua mãe e se virou para
George.
― O verei amanhã, então, Summerfield. Talvez depois possamos ir ao
Brooks.
Dorothea pegou no braço de Marjorie com alguma força e a empurrou
até seus xailes, que foram rapidamente devolvidos. Marjorie não se atreveu a
olhar para trás para dar a Mr. Norris um sorriso de agradecimento.
A viagem para casa na carruagem foi silenciosa e cheia de tensão.
Dorothea estava lívida, Marjorie podia perceber e sentava rigidamente em
frente a ela. Era raro, sem dúvida, que sua mãe expressasse raiva por ela.
Estava muitas vezes desapontada, mas raramente zangada e Marjorie sentiu
um pouco mais de ansiedade do que o normal. Ainda assim, não tinha
paciência para sua mãe essa noite e estava se sentindo inexplicavelmente
deprimida sobre toda a noite. E sua mão doía terrivelmente. Tinha mentido a
Mr. Norris sobre quanto tinha doído quando tinha apertado sua mão, mas
agora desejava que tivesse sido mais honesta. Tinha visto muito pouco dele
no baile depois de sua discussão sobre Lady Caroline e toda a conversa a
tinha deixado baralhada. Pior, antes de sair do salão de baile, ele olhou para
Lady Caroline como se estivesse deixado seu desejo para a noite.
Quando entraram em sua casa da cidade, Dorothea estourou.
― Quero falar com você na sala de estar.
― Estou cansada, mamãe. Vou para a cama. ― Marjorie estava farta
dos sermões de sua mãe de como ela devia ou não devia agir. Com quem
devia dançar ou flertar ou considerar como marido.
Tudo o que queria era se enrolar em sua cama e dormir, talvez por
uma semana ou duas para que pudesse escapar de ver Mr. Norris se
apaixonar. Tinha começado a se afastar de sua mãe quando o lado de seu
rosto explodiu com uma dor abrasadora e um estalido alto de carne batendo
em carne ressonou em seus ouvidos zumbindo.
A mão de Marjorie foi para sua bochecha quente enquanto olhada,
pasma, para o rosto enraivecido de sua mãe.
― Não vai voltar a me desobedecer. ― Ela cuspiu. ― Investi muito em
você para que você despreze tudo pelo que trabalhei. Vai casar e vai casar
este ano. Vou escolher seu marido e você vai casar. E nunca mais voltará a
falar com Mr. Norris. Quero ver o que acontece se resolver se casar com
alguém que eu não aprove. Nunca mais será recebida nesta casa. A
deserdarei completamente. É quão séria estou sobre isto. É isso o que quer
Marjorie? Está tentando partir meu coração com sua teimosia? Sacrifiquei
muito durante estes anos por você. Gastei dinheiro que não temos nos
vestidos do Worth e bailes e entretenimentos caros, tudo com o propósito de
lhe encontrar o melhor marido possível. E é este o agradecimento que
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recebo. Me atirar isso à casa, fazer pouco de mim em frente de meus amigos
mais próximos e mais queridos. Sabe os comentários que tive que suportar
esta noite por causa de sua tolice? Não se preocupa com nossa reputação?
Nunca mais dançará com aquele homem. Será uma filha boa e obediente
como tem sido até esta noite. Fará estas coisas porque é uma boa filha. Me
fiz entender?
Com a mão ainda esta pressionada a seu rosto, os olhos de Marjorie se
encheram de lágrimas. Sua mãe, por mais severa e resoluta que fosse,
nunca lhe tinha batido.
― Me responda! Me fiz entender?
― Sim, mãe.
― Isto já durou demasiado tempo. Culpo a mim mesma por minha
indulgência com você. Se tornou voluntariosa e desobediente. Lhe permiti
que tomasse suas próprias decisões, mas isso acabou. Vou decidir com
quem casará. Desistiu de seus direitos nessa matéria esta noite ao me
desobedecer tão abertamente e dançar com aquele homem.
Terror encheu Marjorie enquanto compreendia o que isso iria significar
ela se casar, estar fora de sua casa, estar longe de George, que precisava
tanto dela. Sua mente começando a funcionar e sentindo sua vontade se
dissolvendo, abanou a cabeça. Ela poderia ter rido da expressão de sua mãe
se não estivesse tão aterrorizada.
― Não sou uma criança, mamãe. Não me pode forçar a fazer a sua
vontade. Compreendo sua raiva, de verdade que sim, mas não me pode
forçar a casar com um homem que não quero.
Sua mãe lhe deu seu sorriso mais terrível nesse momento, um que
gelava Marjorie e era mais assustador do que a ameaça de lhe bater.
― Vamos ver quanto a isso, minha querida. Boa noite.
Sua mãe marchou pelas escadas, deixando Marjorie sozinha para se
questionar que tipo de plano estava por detrás daquela ameaça.
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Capítulo 6
Era dia dez de junho. Em apenas mais cinco dias, Dorothea estaria em
um coche em direção a Ipswich e a uma vida de isolamento com sua tia
viúva Frances. Cada dia que passava a tornava mais desesperada por
encontrar alguma razão para adiar a viagem. Até começou a rezar para que
ficasse desesperadamente doente e fosse incapaz de viajar. Talvez Lorde
Smythe escutasse sobre sua doença e a fosse visitar, percebendo o quanto a
amava e lhe rogasse que casasse com ele.
Ela sabia que tais fantasias eram ridículas, mas não conseguia parar
sua mente de criar cenários em que ele se ajoelhava e lhe pedia em
casamento.
Ascot deve ser perfeito. Ela deve estar no seu melhor. Deve usar seu
vestido mais apelativo, o chapéu mais encantador, especialmente no
primeiro dia, quando a procissão real chegasse. Deve se destacar. Deve fazer
com que Lorde Smythe olhe para ela com novos olhos. Não era uma amiga.
Não, ela podia ser uma esposa, carregar seus filhos. Nunca tendo sido uma
garota magra, tentou desesperadamente perder peso e conseguiu um pouco.
Mesmo sua criada tinha comentado que seus vestidos estavam um pouco
folgados. Era um pequeno triunfo.
Sua criada tinha tentado uma variedade de penteados e finalmente se
decidiu por um que seria mais adulador debaixo de um chapéu. Dorothea
praticou seus sorrisos, suas gargalhadas. Pretendia conversar com ele de
maneira a que não ficasse tão nervosa quando finalmente o visse. Ele olharia
para ela, abismado e perceberia que ela era mais do que atraente. Ela era
bonita e ainda bastante jovem. E ela tinha um cérebro e gostava das
mesmas coisas que ele. Ela estudou sua cópia de Revue Horticulture para
que tivessem um tema de conversa. Leu cada artigo do Spectator sobre a
corrida que estava agendada, os cavalos que competiriam. Tudo o que fez,
tudo o que leu, todo o pensamento que teve nas duas semanas antes de
Ascot estava focado em atrair Lorde Smythe.
A única coisa que faltava fazer era comprar um chapéu para a
primeira corrida. Tinha sido uma falha terrível não ter já encomendado um.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Tinha apenas quatro dias, afinal, até as corridas. Mas sua chapeleira, Mrs.
Gibson, a receberia. Dorothea era a sua melhor cliente, afinal de contas.
Sua loja estava localizada na saída de Regent Street num pequeno
edifício de tijolos encantador. Caminhou com seu estômago nervoso e o viu.
Chegou realmente a arfar e apertou a mão de sua criada.
― Tillie, é aquele. ― Ela disse.
Mrs. Gibson, uma mulher de meia-idade com cabelo loiro começando a
ficar cinzento, sorriu quando Dorothea entrou.
― É minha criação favorita deste ano, acho. ― Disse, caminhando para
onde estava o chapéu no balcão. ― Mas temo que é para outra dama.
Era grande e alto, com grandes laços azuis de cada lado e flores o
adornando, como se nascessem da grande aba. Dorothea tinha que o ter.
― Estou vendo. Posso mesmo assim experimentá-lo? Talvez você possa
fazer algo semelhante.
Mrs. Gibson hesitou, mas, sem dúvida recordando quanto dinheiro
Dorothea tinha gasto ao longo dos anos, aquiesceu. Dorothea pegou no
chapéu carinhosamente, caminhou até o espelho e colocou o chapéu em sua
cabeça. Atrás dela, Tillie ofegou.
― Oh, miladie, é lindo.
E era. Havia algo sobre esse chapéu, a cor das flores, a grande aba e a
alta grinalda que, tudo combinado, de certa forma transformou seu rosto.
Nunca em sua vida se tinha sentido tão bonita.
― Vou levá-lo. ― Disse.
Mrs. Gibson tinha vindo para trás dela, parecendo um pouco doente.
― Lamento, miladie, mas este chapéu foi desenhado ― E pago. ― Por
outra dama. Talvez um diferente…
Dorothea abanou a cabeça.
― Não. É este, ou uma réplica exata. Deve fazê-lo Mrs. Gibson. Com
certeza duplicou chapéus no passado.
Parecendo dividida, Mrs. Gibson disse:
― Sim, mas este é tão especial e desenhado pela própria jovem…
Claro, vou fazer para você. Fica encantadora com ele, miladie. É, de longe, o
mais encantadora que alguma vez a vi.
Dorothea olhou de novo para o espelho e sorriu. Este chapéu, junto
com seu vestido novo, fariam uma grande diferença. Quais eram as chances
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Capítulo 7
Marjorie deu a sua mãe um olhar cauteloso. Nunca antes tinha pedido
a um criado que saísse.
― Tenho algo para você ler. ― Disse Dorothea docemente. ― Acho que
vai achar esclarecedor. ― Sua mãe lhe entregou várias folhas de pergaminho
grosso cheio de um manuscrito escrito nelas. A Marjorie parecia um
documento legal e ela o pegou de sua mãe com alguma ansiedade.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Isto tem tudo a ver com amor. Pensa que iria a tais extremos por
uma criança que não amo?
― É claro que o amo. É meu filho. Mas isso não me torna cega a seus
defeitos. ― Disse calmamente. ― Mas você, querida, você é a joia da família.
No dia em que nasceu, soube que era especial. Tenho perfeita consciência de
que não sou uma beleza. Mesmo em minha juventude não era. E Deus sabe
que seu pai era um homem incomumente feio. ― Ela pressionou seus lábios
como se tivesse provado algo desagradável. ― Mas você é um milagre. Soube
nessa altura e ainda acredito nisso agora. Você pode casar com um Príncipe
se assim o decidir.
Marjorie apenas podia olhar para sua comida, agora fria em seu prato.
Sua garganta doía pelas lágrimas por derramar.
― Está disposta a ver o título ser suspenso para me forçar a casar com
o homem mais rico que conhecemos? Se acha que ele é tão bom homem,
case você com ele.
― O título irá para seu primo Jeffrey. E Lorde Shannock quer filhos,
algo que eu não lhe posso dar. Mas a você pode.
― Eu casarei, mas não vou casar com Lorde Shannock. Não vou, mãe.
Estamos em mil oitocentos e setenta e quatro. Não me pode forçar a casar
contra minha vontade.
Dorothea sorriu.
― Claro que não posso. Mas posso retirar o título de seu irmão se me
desobedecer neste aspeto.
Isto não podia estar acontecendo. Não podia. Sua mente rodopiou,
tentando pensar em uma saída, mas não encontrou nada. Nunca se tinha
sentido tão sozinha em sua vida, tão indefesa. Quem a podia ajudar? Talvez
Mr. Norris soubesse o que fazer. Talvez lhe pudesse dar algum conselho
sábio. Certamente ele a ajudaria se ela lhe perguntasse. Eram amigos, afinal
de contas.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Capítulo 8
― Acho que você fica bem com ambos, mas este é um pouco mais
moderno.
George assentiu.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Miss Cavendish não é como Miss Jones. Vou pensar nisso. Ela é
muito bonita.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Ela vai ter sua própria casa, acho. Talvez The Glen seja um lar
apropriado para ela. ― The Glen era uma casa adorável em Exeter, uma que
tinham visitado poucas vezes, mas que era muito encantadora. E bem longe
de Londre e Ipswich.
Sim, percebeu Marjorie, ela iria. Droga. Não queria viver em Exeter,
mas em que outro lugar poderia viver uma filha solteirona do que com sua
mãe? Talvez sua avó gostasse de alguma companhia?
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Não George. Acho que esta temporada, se você tiver sucesso com
Lilianne, devo encontrar um marido. Está na hora.
― O que aconteceu com você? ― Exigiu Mr. Norris, seus olhos presos
em sua bochecha. ― Quem bateu em você?
― Eu bati na porta.
― Gostaria de saber quem foi para que lhe possa ensinar o que é
receber uma surra.
― Foi minha mãe. Ela ficou zangada com meu comportamento a noite
passada. Ela nunca me tinha batido antes e me atrevo a dizer que não vai
voltar a fazê-lo. Ela perdeu a compostura.
― Não teve nada a ver com nossa dança, mas tudo a ver comigo. Até
agora recusei casar e ela foi ficando cada vez mais frustrada comigo. Ela
congeminou um ultimato e é por isso que pedi para o ver aqui. Mas pelo
caminho recebi algumas notícias, por isso pode não passar de um ponto
irrelevante.
― A menos que me case com um homem que ela escolha, ela irá retirar
o título de George. ― Disse, sua garganta se fechando enquanto pronunciava
as últimas palavras. Lágrimas inesperadas estavam correndo por seu rosto e
ela se encontrou pressionada a um corpo quente e firme, grandes mãos
batendo em suas costas. Ele cheirava tão bem, ela pensou, mesmo quando
deixava escapar um soluço. ― Mas George pode vir a casar e se ele o fizer,
posso casar e ela me vai deixar em paz. Mas se George não casar, e isso não
é uma certeza de qualquer modo, temo que ela vai seguir em frente com sua
ameaça. ― Ela disse isto numa corrente de palavras.
― Você sabe que isso é impossível. ― Ele disse e mal pôde sentir a
profunda vibração de suas palavras contra seu rosto. Se afastando de seu
abraço, ela olhou para ele.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Marjorie se encheu de alívio. Ela sabia que Mr. Norris podia ajudar.
― Por outro lado, se ela fosse registar esse documento. ― Ele disse, se
inclinando um pouco mais perto com cada palavras. ― Você poderia casar
com quem quisesse.
― Oh.
E então sua boca já não era suava, mas exigente e quente. Ela agarrou
suas lapelas, tentando desesperadamente não dissolver como um monte no
chão. Algo estava acontecendo com ela, algo que nunca tinha sentido em sua
vida, certamente não a este nível surpreendente. Marjorie tinha
experimentado alguns beijos castos de seus pretendentes, mas isto não era
um beijo casto. Isto era fome e paixão e quase falta de controlo. Isto era todo
o desejo que se tinha acumulado, explodindo em um momento
dolorosamente doce.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Abra para mim. ― Ele sussurrou e ela o fez, deixando sua língua
entrar, insaciável e insistente.
― Seu irmão está vindo. ― Ele disse, sua voz rouca. ― Me devo
desculpar pelo que aconteceu?
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Realmente, preferiria não ir. ― Sua voz tinha uma nota que ele
nunca tinha escutado antes nela.
― Muito bem.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Ela pareceu tão surpresa por suas palavras que Charles quase riu.
― Isto é culpa minha, eu sei. Eu a beijei. Você não fez nada errado.
Não tinha percebido como. ― Ele lhe deu um olhar ferido. Não tinha
percebido como um simples beijo poderia tornar tudo tão complicado. Ele se
apaixonava muito facilmente e aqui estava ele, se apaixonando de novo. Não
deveria acontecer.
― Beijar é agradável. Como não pode saber isso? Com certeza já beijou
outras mulheres.
― Sim, claro. ― Ele riu quando ela franziu o cenho. ― Mas todos esses
beijos não foram tão …
Marjorie afastou sua mão e ela deixou. Não faria nenhum bem a trazer
para seus braços como queria fazer. Não faria bem deixar sua mente
imaginar ela em sua cama, sorrindo sonolenta para ele de manhã. Ele tinha
que desviar sua mente para outras coisas, outras mulheres. Era ridículo ele
se apaixonar (de novo) por uma mulher que não podia ter.
O pior dessa situação é que ele gostava muito dela. Eles eram amigos
e ele estava balançando na borda do amor. Ele nunca tinha sido amigo de
uma mulher; era um pouco desnorteante. Tinha o horrível pressentimento
de que nunca tinha amado nenhuma dessas mulheres no passado, mas
estava atraído à ideia de estar casado, de ter o tipo de família com que tinha
crescido. Ele a queria tão desesperadamente, talvez simplesmente se tenha
convencido de que era amor. Não foi isso o que Marjorie tinha insinuado
quando ele primeiro propôs a ideia de ela lhe achar uma noiva? Ou talvez ele
apenas amasse o que, sabia bem no fundo, não poderia ter. Seu amigo John
tinha sugerido essa falha mais de uma vez. Que idiota ele era.
― Vamos ter você bem casado, sir, nem que seja a última coisa que
faça. ― Ela disse com um assentimento de autoridade. ― Tem sido uma
grande ajuda para mim, é o mínimo que posso fazer. Você perdoou a dívida
de George…
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Ainda não.
Ela o ignorou.
― Bom. Bem, não bom. ― Ela emendou, obviamente vendo seu cenho
franzido. ― Eu acordo a meio da noite com terríveis cãibras nas pernas,
especialmente depois de uma noite de dança. Descobri que se flexionar os
meus dedos, posso parar a cãibra e a dor é muito breve. Cheguei ao ponto
em que consigo parar quase completamente todas as cãibras usando este
método simples. Me perguntei se você poderia fazer o mesmo, de algum jeito.
― Vou tentar isso. ― Disse bruscamente, apesar de pensar que não iria
fazer muita diferença. Obrigado. Devemos voltar para seu irmão. Ela sem
dúvida ficará afrontado conosco se não virmos todas as exposições.
― Pensei que estaria de volta à selva por esta altura. ― Disse Charles,
se referindo à propriedade de Avonleigh em Northumberland.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Katherine olhou para seu marido com raiva fingida e lhe bateu no
braço.
― Talvez.
― Elas todas parecem assim, não parecem? Mas não, ela é uma idosa
de dezanove anos. ― Charles deixou escapar um forte suspiro. ― Ou são as
escolares e as viúvas. Lady Marjorie me está ajudando, veja. Tenho estado
fora por muito tempo, dificilmente conheço alguém agora. Ela é minha guia,
por assim dizer.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Ele desejava ser o tipo de homem que bate em mulheres, pois se havia
mulher que precisava de apanhar, era Lady Summerfield. Apenas pensar na
mulher teimosa batendo em Marjorie com sua mão grande era o suficiente
para fazer esquecer sua educação.
Katherine riu, mas ambos sabiam que ele não estava exagerando
muito.
― Realmente desejava que fosse até elas, apenas para poder ver a
expressão de Lady Summerfield.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Lady Marjorie. ― Ele tentou dizer o seu nome sem o modificar, sem
dar uma pista de sua intimidade. E então olhou para Lady Caroline, que
estava olhando para ele com curiosidade, claramente sem saber quem ele
era.
― Estive fora do país nestes últimos dez anos e você era apenas uma
criança quando a vi da última vez.
― Meu Deus, não a vejo há anos. Apesar de visitar muitas vezes seu
irmão e sua esposa. Adoro as crianças deles. O Christopher é um ótimo
pianista, mas tenho a certeza que já sabe disso.
Sim. Esta era a garota que deveria casar. Ela conhecia sua família, era
sem dúvida querida por sua mãe. Seus nomes começavam ambos com a
letra ‘C’; isso tinha que contar para algo. E seus filhos teriam seu adorável
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
cabelo loiro, apesar de ultimamente ele imaginar seus filhos com um cabelo
mais escuro. Perguntou se sua mãe alguma vez tinha sugerido Lady Caroline
como uma potencial esposa, mas talvez ela simplesmente tenha se esquecido
de a mencionar. Ou o fez e ele não tinha escutado.
― Essa seria uma boa união. ― Disse Dorothea quando estavam longe
do grupo. Marjorie apenas conseguia olhar para sua mãe com descrença.
Dado seus preconceitos, como podia pensar que Lady Caroline, a filha de um
conde, poderia possivelmente ter uma boa união com um segundo filho sem
título?
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Vejo que continua sorrindo para sua noiva, Avon. ― Disse, com uma
pequena gargalhada.
― Eu sabia que tinha razão sobre vocês os dois. Eu disse, não disse,
Marjorie? Disse que eles pertenciam um ao outro no momento em que vi
aquele primeiro sorriso.
Contudo, Marjorie estavam certa de que sua única falha era que ela
estava disponível para casar com quem quisesse. ― Dentro do razoável, é
claro. Ela olhou de volta para o grupo, esperando ver preocupação e
ansiedade no olhar de Lady Warwick, mas tudo o que viu foi o prazer de uma
mãe observando sua filha a encontrar um potencial marido.
Droga.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
A ópera começou e ela teve que usar de todas as suas forças para não
olhar para o camarote dos Warwick, que estava a três camarotes do deles. Se
ela quisesse, podia ver o perfil encantador de Lady Caroline e observar
enquanto Charles olhava. ― Uma e outra vez. ― Para a garota sentada a seu
lado. Sem dúvida já estava meio apaixonado por ela. Marjorie tentou não
olhar para o casal e usando de pura determinação apenas lhes deus duas
breves olhadelas. Talvez três.
― Shhh. ― Silvou e olhou para sua mãe, que estava sentada bem em
frente a elas.
― Então porque continua olhando para ele e porque olha para ele
como se o quisesse matar neste momento?
Marjorie virou sua cabeça e olhou para sua amiga, que encolheu os
ombros de forma inocente.
― Mentirosa.
Três dias depois, Marjorie passeava pelo jardim, que estava a abraçar
completamente a primavera. Pequenos botões de rosa tinham aparecido e as
azálias tinham florescido completamente. Nem mesmo as cores vibrantes
conseguiam melhorar seu humor. Sua mãe tinha escrito a Lorde Shannock e
lhe pedira que fosse a Londres para uma “visita”. Marjorie não conseguia
juntar forças para discutir, porque sabia que não ia adiantar. Dorothea ia
convidar o homem, ele viria e sua mãe começaria seu ataque.
Marjorie supunha que ele não seria uma escolha assim tão má de
marido. Ele parecia agradável o bastante. Não parecia ter um temperamento
horrível ou mau humor. Ela mal conseguia se lembrar de ele sequer falar.
Mas como poderia ela aguentar um homem que a fazia querer vomitar cada
vez que se aproximasse o bastante para ela cheirar seu hálito? E ele tinha
unhas muito longa e muitas vezes sujas. Ele podia pedir que ela as cortasse.
E as limpasse.
Pelo menos Mr. Norris seria feliz. Talvez eles se vissem ao longo dos
anos e rissem sobre sua pequena aventura. Ele não tinha deixado nenhuma
nota para ela em três dias, apesar de ela ter deixado duas. ― Duas que
tinham permanecido escondidas atrás do tijolo sem ler.
Que sucesso! Lady Caroline parece ser uma boa escolha. Estou
tão feliz por ver você sorrir. Espero que encontre o amor que estava
procurando.
Sua,
E…
Sua
106
A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Preciso de sua ajuda uma vez mais. Por favor me deixe saber
quando você pode visitar.
Não estava assinada, mas Marjorie sabia que era dele. Sua escrita era
distinta, contudo masculina e arrojada. Um pouco como o próprio homem,
pensou com um sorriso. Ela franziu o cenho para as palavras “uma vez
mais”, mas afastou o pensamento.
― Pode por favor mostrar a Alice a cozinha para que ela possa tomar
um pouco de chã? Esperarei aqui até que regresse.
―Se me seguir, ele está em seu escritório. Não se tem sentido bem
hoje, kumari.
― Não, ele vai ficar feliz em ver você. Ele não tem sido ele mesmo
nestes últimos dias. ― Disse Prajit e a preocupação de Marjorie apenas
aumentou.
Ela se manteve com suas costas para a porta, torcendo suas mãos
miseravelmente.
― Sim, você disse, mas… Como pode ver, não o fiz. ― Ela olhava para
suas costas, tão fascinada como horrorizada que Prajit a tivesse deixado
entrar no escritório quando ele estava praticamente sem roupa. Suas costas
eram uma série de grandes lajes largas de músculos, brilhando na sala
iluminada, como se ele estivesse superaquecido. Suas mãos agarravam a
secretária em frente a ele e seus antebraços tremiam. Ela reparou que sues
braços, lustrosos pelo suor, mostravam cada pedaço de músculo e tendões,
como se ele estivesse tentando levantar a enorme secretária em vez de
simplesmente se apoiar nela.
muito pior do que ela tinha imaginado. Não era de admirar que o homem
sofresse. Não era de admirar que cada movimento fosse um tormento para
ele. E pensar que ela tinha sugerido esticar o músculo para parar os
espasmos. Meu Deus, não havia músculo, apenas um buraco manchado de
um vermelho agressivo onde seu músculo esteve uma vez.
Ele virou sua cabeça de forma que ela pôde ver as linhas duras de seu
queixo antes de que ele lentamente se virasse para ela. À medida que o fazia,
pegou numa camisa que tinha sido atirada para cima da secretária. Se
moldava a sua figura enquanto ele lutava por apertar os botões.
― Foi, de fato. Mas cada semana que passa, realmente fica melhor.
Apesar de que devo dizer que estes últimos dias fizeram com que tivesse
algum retrocesso. ― Ele colocou sua mão debaixo de seu queixo para que ela
parasse de olhar para sua perna. ― Lamento ter demorado em recolher suas
notas. ― Disse suavemente.
― Eu não sei como falar com as damas quando estou sozinho com
elas. Fico com a língua presa e desajeitado, é impossível. Preciso ter você
comigo. Posso relaxar quando você está lá. Você pode conduzir a conversa,
me cutucar quando cometo um erro. Cavalguei com Lady Caroline dois dias
atrás, no dia depois da ópera e foi um desastre.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Pior. Eu estava com alguma dor e não tinha o melhor dos humores
para ir cavalgar em primeiro lugar. Ela falou e falou e eu dificilmente tive a
oportunidade de dizer uma palavra. Podia ver que ela estava confusa, visto
eu ter estado tão animado na noite anterior. Quando estou no meio da
multidão sou diferente. Sempre foi assim.
― Não fui capaz de juntar mais de duas palavras, tinha as palmas das
mãos suadas e o estômago nervoso. Quanto mais tentava dizer algo
engraçado ou até mesmo interessante, mais meu cérebro se recusava a
trabalhar. Terminava dizendo futilidades.
Marjorie sorriu.
― Tenho a certeza de que não pode ter sido tão horrível assim. O que
disse a ela?
― Lhe disse que seu cabelo era ouro, como se ela já não soubesse de
que cor era. E não o disse apenas, eu o disse abruptamente. Lady Caroline
olhou para mim como se estivesse tentando entender um homem que não
consegue falar a língua inglesa. Apenas posso imaginar o que estaria
passando por sua cabeça. Porque não consigo relaxar quando estou sozinho
com uma mulher? Porque tenho que me tornar num garoto atrapalhado de
catorze anos que tem sua primeira paixão.
―Eu devia tê-la deixado continuar a falar. Ela era bastante boa nisso,
passando de um assunto a outro, praticamente sem deixar de respirar. Ela
tinha estado falando sobre seu irmão quando viu uma mulher passeando
um cachorro branco felpudo e imediatamente passou para outro tema e
começou a falar de seu cão, o que levou a um monólogo sobre erva, vá-se
saber porquê. quer fosse suave ou picasse ou outra coisa qualquer. Não
consigo me lembrar de todo. Mas me lembro de quão desesperadamente
queria adicionar algo à conversa, mas não conseguia.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Você nunca teve sua língua presa ao pé de mim. ― Ela disse, então
levantou sua mão porque sabia o que ele ia dizer. Ele não a estava
cortejando, por isso era uma situação totalmente diferente. ― Não pode fingir
que não está cortejando ela? Que ela é apenas uma pessoa que você quer
conhecer, não uma potencial noiva?
Marjorie ficou um pouco rubra, irritada que ele fosse fazer tal
distinção.
― Eu quero uma esposa. Quero acordar para o mesmo rosto feliz todas
as manhãs. Quera um monte de crianças me acordando antes de o sol
nascer e correndo escadas abaixo no dia de Natal. Quero ensinar meus filhos
a pescar e ver minhas filhas trançar seus cabelos.
― Acho. ― Disse, feliz que sua voz estivesse forte e clara. ― Que Lady
Caroline será perfeita para você.
Voltou e seu cenho franziu, pois algo tinha acontecido a suas cuecas.
Havia algo bastante grande dentro delas que estava cutucando. Mesmo
quando ela compreendeu o que estava vendo, Marjorie continuou a olhar,
fascinada. E ficou tão horrorizada por estar tão fascinada, que ela
simplesmente não conseguia afastar seus olhos dessa visão.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Ela se voltou para olhar para suas calças, como se estivesse tentando
perceber o que no mundo elas eram.
― Lady Marjorie, não acho que isso seja uma boa ideia. ― Disse,
tentando suar formal.
― Posso nunca mais ter essa oportunidade. Como disse, temo que não
irei casar e, bem, está bem aqui. E eu estou aqui.
― Está preso a mim e eu não acho que deveríamos estar tendo esta
conversa. ― Ele disse horrorizado. O que se estava passando com ela?
― Pronto, já viu.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Algo desesperado e triste passou pelos olhos dela tão depressa que ele
ficou momentaneamente atordoado. E então ela sorriu e isso tinha sumido,
levando a que se perguntasse se realmente tinha visto alguma coisa.
Ela olhou para o resto dele primeiro, atordoada, depois, devagar, foi
olhando para baixo de seu corpo, para o objeto de sua curiosidade, seus
olhos alargando quando fixaram sua ereção bastante impressionante. Ela se
aproximou um passo e, por Deus, ele ficou ainda mais duro à medida que
seu corpo reagia à aproximação dela. Ela não compreendia o que estava
fazendo com ele, como cada nervo parecia estar ardendo e doendo.
― Talvez um pouco?
Deus, sim.
― Apenas um pouco.
Ele não a estava tocando. Não podia tocar nela senão perderia
qualquer controlo que ainda possuía. Mas então ela se inclinou para a
frente, sua mão ainda se movendo e beijou seu queixo. E isso foi o fim da
resistência dele. Ele colocou suas mãos nos ombros dela e a puxou contra
ele, encontrando sua boca e a beijando forte e por longo tempo,
pressionando sua ereção entre eles, sua mão agora presa. Ele a beijou, a
devorou, a desejava.
― Quero fazer amor com você. ― Disse contra o pescoço dela, seu
corpo gritando pela doce liberação. ― Quero lhe mostrar como.
― Não, não dessa forma. Quero lhe dar prazer. Quero que tenha um
orgasmo.
― Eu não compreendo.
Ele a beijou, movendo seu quadril contra ela e o aperto da mão dela
em seu membro aumentou ligeiramente. Teria alguma coisa alguma vez
sentido tão bem antes? Ele colocou as mãos em seu traseiro firme e puxou o
seu centro contra a ereção, movendo ritmicamente, a fazendo sentir um
pouco do que ele estava sentindo.
― Oh. ― Ela respirou em sua boca e ele sabia que ela estava
começando a compreender que algo mais, algo maravilhoso estava vindo.
― Vou tocar você. Vou fazer você sentir da mesma maneira que você
me faz sentir. ― Enquanto dizia estas palavras, suas mãos trabalhavam para
levantar suas saias, uma infindável quantidade de tecido que a escondia
dele. E quando ele colocou sua mão no centro dela e a descobriu molhada e
profundamente excitada, ele quase teve o seu orgasmo.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Marjorie estava perdida nas sensações que ele estava criando nela. Se
ela pensasse sobre o que ele estava fazendo, onde ele a estava tocando, as
palavras que estava dizendo, ela teria fugido da sala e nunca teria voltado.
Mas ela tinha parado de pensar há algum tempo. Agora era só sensações.
Como podia algo, qualquer coisa, sentir tão maravilhosamente como o que
ele estava fazendo com ela? Todo o seu corpo cantava com novas sensações,
uma necessidade que ela apenas tinha levemente experimentado no
passado. Agora, à medida que ele movia seu dedo dentro e fora dela, ela não
conseguia se conter. Ela moveu contra ele, exultando em cada nova
sensação, da construção de algo, desta deliciosa experiencia. Enquanto ele a
tocava, ela tocava nele, seu membro longo e macio que esticava contra sua
mão. Se o que ela estava fazendo com ele era como o que ele estava fazendo
com ela, tocar era uma coisa maravilhosa.
Ele subitamente acelerou o seu ritmo, tanto contra a mão dela como
entre suas pernas e ela se agarrou a ele, ofegante, sentindo cada movimento,
empurrando contra ele e então… Êxtase. Oh, era positivamente a única
coisa mais maravilhosa que ela alguma vez sentiu em sua vida.
Ela baixou a mão, ele caiu um pouco sobre a secretária e ela caiu um
pouco por cima dele.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Claro. Como tinha sido tola por pensar por um momento que o que
eles tinham feito significava qualquer outra coisa do que uma liberação
animalista. Ela estava mortificada, ela não tinha visto o olha de desejo em
sua face, o profundo arrependimento e essa era provavelmente uma coisa
boa. Marjorie precisava se lembrar que, não importa o que aconteça, eles
tinham que permanecer amigos, parceiros de negócios. Charles precisava de
ajuda para cortejar outra mulher. Ele pode desejá-la, mas ele não a amava.
E mesmo que o fizesse, não importaria. Sua mãe nunca permitiria que se
casasse com ele.
― Tem que admitir que nunca se comportou dessa forma com nenhum
de seus parceiros de negócios. ― Ela soava decididamente sofisticada, como
se o que tinha acontecido não fosse a experiencia, mas devastadora mais
maravilhosa que alguma vez teve. Ela ainda estava profundamente
consciente de quão molhada estava entre as pernas.
― Tem razão. E suponho que não deve acontecer de novo. Tentarei não
permitir que nossa profunda atração mutua nos cegue para nosso objetivo,
que é me encontrar uma noiva. E um marido para você. Apesar do que diga,
acho que você vai achar um.
e ela estava pronta para deixar tudo o que sempre conheceu para trás. Esses
mesmos beijos não eram tão importantes para ele.
Ela sem dúvida estava mortificada pelo que tinha acontecido. Ele
podia ver em seu rosto momentos antes de ela se afastar dele. ― E ele, reles
como era, não tinha feito nada para fazer se sentir melhor. Ele não a tinha
abraçado ou beijado nem lhe tinha dito que se estava apaixonando por ela. O
que, se ele tentasse muito, muito forte, seria capaz de evitar. Ele não iria,
nunca mais, se apaixonar por uma mulher que não podia ter.
― Chamou, milorde?
― Você estava sem roupa, sir? ― Prajit levantou uma sobrancelha, mas
o resto de sua expressão permaneceu decisivamente submissa.
117
A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Não estou com melhor humor. ― Disse, mesmo sabendo que estava.
Ter uma mulher a levar um homem aos céus certamente ajuda o humor de
um homem. ― Não foi bonito de sua parte a ter deixado aqui comigo. Sei que
você não está acostumado à sociedade inglesa, Prajit, mas se fossemos
descobertos juntos, sozinhos, comigo meio vestido, teria terminado muito
mal.
É claro, Charles teria pedido pela mão dela, uma ideia que ele achou
um pouco assustadora. Ele tinha estado em batalhas, tinha discutido com
generais, quase tinha morrido. Mas estava, sinceramente, aterrorizado por
encontrar a mãe de Marjorie. Alguma coisa sobre essa mulher gelava seu
sangue.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Capítulo 9
Ela e sua mãe estavam alojadas com seus amigos próximos, Lorde e
Lady Chesterfield, durante a semana. Eles viviam logo fora de Berkshire,
onde as corridas se realizavam e tinham a carruagem mais encantadora para
se apresentarem. Dorothea era amiga de sua filha, Esther, apesar de agora
ela viver em Cambridge com seu marido e seus três filhos.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
perfeito, mas Dorothea deu a maior parte do crédito ao chapéu. Era como se
fosse mágico.
Em vez disso ela sorriu serenamente para ele e assentiu. Ele deu um
passo em sua direção e seu coração quase explodiu. Estava acontecendo, tal
como tinha rezado que acontecesse. Oh, estava acontecendo!
Assustada, Dorothea se voltou para ver uma garota (pois não podia ter
mais de dezassete anos) lançando adagas a seu chapéu por baixo de um
chapéu que era uma réplica do que estava na própria cabeça de Dorothea.
A seu lado estava Lady Matilda, a garota que sua mãe tinha dito que
Lorde Smythe estava cortejando.
Dorothea olhou para ela e começou a chorar. Ela queria odiar Lady
Matilda, mas como o podia fazer quando era tão doce?
Capítulo 10
― Não entendo. Eu sei que não tenho um título, mas meu pai é um
visconde. Procedo da melhor das famílias.
― Sim, madame.
― Mas...
122
A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Aqui, pode enviar isto por mim? ― Nem trinta minutos depois de sua
conversa com Lady Summerfield, Charles entregou a Prajit uma nota para
Lady Caroline lhe pedindo para o acompanhar ao zoo. Queria ver Jumbo, o
elefante.
― Prajit, lhe agradeço por seu interesse em minha vida romântica, mas
devia saber que Lady Marjorie não pode casar comigo. Sua mãe não
permitiria que se casasse com um cavalheiro sem título. Por isso, seus
esforços subversivos para nos juntar são inúteis.
Esperaram, ela e George, na entrada sul perto da Casa dos Leões pela
chegada de Charles, Lady Caroline e sua mãe. De tempos a tempos, o ar
tremia com o som excitado de um leão ou a trompete de um dos elefantes.
Apesar de seu motivo para estar ali, Marjorie tinha aguardado este dia e
disse a si mesma que nada tinha a ver com o fato de que veria Charles. Ele
iria, afinal, estar com outra mulher.
― Boa tarde, Lady Caroline, Lady Warwick. Estou tão feliz por termos
este belo tempo para nosso passeio. Alguma de vocês esteve no zoo antes?
Lady Caroline sorriu para Marjorie por baixo de sua sombrinha branca
e azul pálido. O sol brilhava através do fino material, lhe dando quase um
brilho etéreo.
leão. Bem, não muito, mas da mesma cor. No entanto, ela tinha duas
pequenas patas brancas e não acho que os leões têm patas brancas. Lembro
de uma vez aquela gata marota trepou pelas cortinhas da biblioteca de papai
e as destruiu. Depois tivemos que a manter lá fora. Qual era seu nome,
mamãe?
― Ginger.
― Oh, sim, Ginger. Por causa da cor. Eu gosto de gatos pretos. Nunca
tive um. Talvez um dia. Tem algum animal de estimação, Mr. Norris? Acho
que uma casa precisa de algum tipo de animal de estimação. Sempre
tivemos animais, não tivemos, mamãe?
E então ela continuou, uma frase depois de outra, tão rápido que
Marjorie se perguntou se ela iria desmaiar por falta de oxigénio. Ao longo de
seu monólogo, Charles caminhava silenciosamente, assentindo
ocasionalmente. À medida que o dia prosseguia, ele deu a Marjorie cada vez
mais expressões de pânico. Não tinha dito mais que duas sílabas em vinte
minutos; não conseguia, com a tagarelice incessante de Lady Caroline.
Bom Deus, porque tinha concordado com isto? Charles ficou ali,
devastadoramente atraente em seu casaco castanho claro e calças de cor
creme, parecendo precisamente o cavalheiro que devia estar num passeio
pelo zoo. Seus traços se suavizaram quando olhou para Lady Caroline e
Marjorie dificilmente conseguia aguentar olhar para ele. Quando o fez, tudo
o que conseguia lembrar era como a boca dele se sentia contra a dela, como
ele a tinha tocado. Seus grunhidos altos de prazer, suas palavras sedutoras,
enquanto movia sua mão entre as saias dela.
Ele parecia surpreso ao perceber que ela realmente esperava por uma
resposta. Ele olhou na direção de Marjorie e ela podia ver que relaxava
visivelmente. Subitamente, todos os pensamentos amargos foram apagados.
Ele podia estar com Lady Caroline, mas precisava dela. O fato de esse
pensamento deprimente ser reconfortante era um mistério para Marjorie.
Oh, bom Deus, pensou Marjorie. Mas Lady Caroline riu, deliciada com
sua provocação.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Desisto. ― Ela não tinha percebido que era isso o que ia dizer, mas
aí estava. Ela desistia. Simplesmente não podia passar por outro dia como o
que tinha acabado de suportar.
― Acho que isso é um pouco apressado, para ser honesto. Não tenho
certeza se combinamos.
Ele enrijeceu.
― Não o fez. ― Disse ela, orgulhosa por soar tão segura e forte. ―
Contudo, sinto que é do interesse dos dois que não tenhamos qualquer
relação, de negócios ou de qualquer outro tipo.
― Eu o odeio.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Claro que estaria lá. Tal como ela. Sua mãe nunca perdia esse grande
evento. Ela não respondeu, mas caminhou pelo lado dele sem olhar para
cima, temendo que ele visse as lágrimas por cair em seus olhos.
Capítulo 11
― Pensei que depois do chá podíamos passear por Green Park. Por isso
estou usando verde. ― Disse, rindo. ― Muito inteligente de minha parte, eu
sei. Além disso, é tão bonito e nem de perto tão lotado quanto o Hyde. Tenho
estado fechada neste hotel por demasiado tempo. Graham tem estado
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Terrivelmente feliz. ― Disse Katherine. ― Isso era tudo que meu pai
precisava ver para nos dar meu dote. Mas acho que teríamos sido felizes
mesmo sem ele. Realmente acho. ― Adicionou quando viu o olhar cético de
Marjorie.
― Se uma pessoa vai ser feliz, é melhor que seja rica e feliz do que
pobre e feliz.
Katherine riu.
― Você soa tão esnobe quando fala assim. Mas ainda a adoro.
― E porquê?
final da temporada. ― Ela tentou afastar toda a emoção de sua voz, mas deve
ter falhado.
― Não posso acreditar que isso seja verdade. Vi a forma como olha
para você.
― E viu como olha para Lady Caroline? Me atrevo a dizer que sorri de
um modo mais brilhante do que quando olha para mim. Ele é um
mulherengo, realmente. Rude e barulhento. Não tenho a mínima ideia de
porque gosto dele.
― Vá em frente.
― Não, não. Não fizemos isso. Mas estivemos muito perto. ― Deixou
escapar outro forte suspiro. ― O fui ver para falarmos sobre Lady Caroline.
― Sozinha?
― Levei minha criada, claro. Mas não fui apenas para falar sobre Lady
Caroline. Isso foi apenas uma desculpa para minha visita. Seu criado levou
Alice para as cozinhas para tomar chá e então me conduziu para o escritório
dele e ele estava... Bastante despido.
― Grande?
― Não vai acreditar no que fiz, no que disse. Eu ainda não acredito.
Não é meu feitio. Vai contra tudo o que fui ensinada a ser.
― O que fez? ― Disse Katherine sem folego e Marjorie podia ver que ela
estava presa entre o horror e a curiosidade.
― Lhe pedi para o ver. ― Marjorie olhou para o céu azul e abanou a
cabeça. ― Pode acreditar que diria uma coisa dessas?
― Não. Não no começo. Exigiu suas calças. Ele estava com tanta dor
que era incapaz de pegar ele mesmo. Estavam do outro lado da sala. Peguei
e não as entregava a ele. ― Ela disse essa última parte num sussurro
mortificado. ― Depois ele fez como eu pedi. Rapidamente. O acusei de
batoteiro e ele, bem, baixou suas cuecas para que eu pudesse ver melhor.
Coisas estranhas, não são?
― Homens?
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Ele é um mulherengo.
― Sua mãe a pode forçar a casar com um homem que não deseja?
― Claro. Ela pode me expulsar de casa e então para onde iria? E não
se atreva a dizer que podia ir para sua casa. ― Katherine rapidamente
fechou a boca. ― Além disso, não gosto de desobedecer. Ela tem sido tão
paciente comigo. Tenho quase vinte e quatro anos e tive todas as
oportunidades para casar. Agora temo que seja muito tarde.
Marjorie assentiu.
Marjorie poderia ter pedido a seu irmão que saltasse sobre a lua que
sem dúvida ele pelo menos o tentaria. Nunca tinha visto seu irmão tão
incrivelmente feliz.
― Sim, posso ver que o ama. Como é que os seus pais se sentem em
relação a esse cortejo?
― O George pode ser difícil de lidar. É bem firme em seu regime e pode
passar horas trabalhando em suas pesquisas. Não será capaz de o afastar e
isso pode ser frustrante.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Deve esperar até que Mr. Norris esteja noivo antes de lhe dizer que o
ama e se atirar a ele? Funcionou comigo. ― Katherine deixou escapar um
risinho de prazer.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Não vejo como pudesse. Talvez tenha razão. Mas se ela realmente a
amar, ficarem comprometidos seria a solução perfeita.
― Ele não me ama, por isso não faz sentido sequer pensar tais coisas.
― Mas pelo resto do passeio de volta ao Brown, foi tudo no que podia pensar.
― Oh?
― Muito bem, você quer uma esposa, apesar de não conseguir perceber
porque pensa isso. Ainda assim, tudo correu bem para mim no final.
― Descobri, sir, que o dinheiro não pode comprar o que uma pessoa
realmente quer. Uma perna, por exemplo. Ou um título.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Quer dizer que ele é melhor a pensar como uma mulher? Está
contando todos os seus filhos. Acabaram de ter o quinto, sabe?
Charles sorriu. Ele vinha de uma família de três e sempre tinha tido
um pouco de ciúmes de famílias grandes. Não podia imaginar ser filho único.
A solidão devia ser esmagadora. Talvez uma pessoa compensasse a falta de
irmãos com amigos.
― Você o fez.
― Sim, sei.
― Quem não tem? Acredito que é uma das razões porque a pobre
garota ainda não casou.
― Nunca compactuaria com tal ato, acredite. Mas resultou muito bem
para mim e para Katherine. Muito bem mesmo.
― Lady Summerfield?
― E você?
― Sim. ― Ele bateu de novo em sua cabeça. ― O que foi mesmo? Era
bastante obscuro e aberto a interpretações, é claro. Oh, sim, já me lembro.
Ela me disse que Lady Marjorie estava apaixonada por você.
― Você o quê?
queria que essa reunião terminasse. ― Ela me disse. Ela me ama. Foi ter
com o pai dela e ele nos deu sua bênção.
― Tenho certeza que sim. Ele não é tolo. Posso lhe dizer uma coisa,
meu jovem, você não vai casar com essa garota. Ela não o ama, ela ama seu
título, a ideia de ser a esposa de um conde. Não o permitirei. Não vai
acontecer.
Dorothea olhou sua filha como se lhe tivesse crescido uma segunda
cabeça.
― Não, mamãe. Eu amo Lilianne e vou casar com ela. Tenho a bênção
de seus pais. Gostaria de ter a sua, mas se não a consegue dar, casarei com
Miss Cavendish. Eu a amo. No casaremos a vinte de setembro deste ano. Eu
a amo e casarei com ela.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
George apertou seus punhos ao lado de seu corpo e Marjorie sabia que
estava lutando por permanecer calmo.
Marjorie e George estavam mais do que contentes por deixar sua mãe
sozinha. Quando chegaram ao segundo andar, Marjorie tocou a mão de
George.
― Não, George, ela não pode. Você é maior de idade e chefe desta
família. É o Conde de Summerfield e pode casar com quem escolher.
Ele sorriu e relaxou, caminhando para seu quarto para se trocar para
o Baile de Maio, mas enquanto Marjorie se voltava para ir para seu quarto,
franziu o cenho. Rezou para que Dorothea não fizesse nada que afastasse o
casal. Mas, afinal, o que ela poderia fazer?
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Capítulo 12
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
momento em que podia agarrar uma peça de Lorde Smythe junto a si, seu
casaco que ela tinha “esquecido” de devolver a ele. Antes de ter sido forçada
a se mudar para Ipswich, o tinha colocado com alguma culpa no fundo de
seu baú e depois de ter saído de casa, o retirava frequentemente. Muito
frequentemente no início. Agora era simplesmente um casaco útil para usar
numa caminhada rápida.
Ele tinha casado com Lady Matilda claro, a garota vaga e doce com
quem tinha estado naquele dia. Ela lera a publicação do Times que descrevia
seu casamento e que em certas ocasiões os mencionava ou seus filhos.
Isso era, talvez, o pior de sua vida. Ela percebeu depois de se mudar
para Ipswich que queria filhos muito mais do que queria um marido. A visão
de uma mulher passeando com sua pequena ninhada sempre fazia com que
ficasse um pouco triste. Nunca aconteceria com ela. O tempo estava se
acabando. Tinha trinta e seis anos. Muitos dos filhos de suas velhas amigas
já estavam casados ou na universidade.
esposa estava morta faz tempo e ele não tinha crianças, não possuía
herdeiro para seu título grandioso. Ao longo dos anos, ela tinha ficado
aliviada por perceber que Lorde Summerfield parecia feliz por deixar seu
irmão mais novo ou seu sobrinho herdar o título.
Dorothea se tinha sentido uma tola por pensar que suas visitas
tinham inicialmente sido precipitadas por ela. Agora ela finalmente
compreendia que não tinha muito a oferecer a um homem exceto um dote,
sem dúvida acumulando pó nos cofres de seu pai. Ela tinha percebido ao
longo dos anos que nenhum homem a iria querer. Nem mesmo um homem
molesto, velho e feio como Summerfield. Era um pensamento bastante
sensato.
― E escolhi você,
― Eu?
― Sei que não é jovem, mas eu também não. E estou ficando sem
opções.
Dorothea olhou para sua tia em busca de ajuda, sabendo que não teria
nenhuma.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Summerfield fungou.
― Poderia nos desculpar, madame? Temo que afinal preciso falar com
sua sobrinha a sós.
― Trinta e seis.
― Nenhum, sir.
― E quantos a cortejaram?
― Nenhum.
― Nenhum.
― Sim.
― Bem, então, está tratado. Farei o anúncio e farei com que leiam os
proclamas. Penso que uma cerimónia pequena é apropriada, não acha?
Escreva a seu irmão e irmãs, minha querida. Talvez eles possam ajudar no
planejamento do casamento.
Ele logo saiu, cheio de satisfação. Ante de partir, pegou sua mão e a
beijou. Ela tentou sorrir, mas se encolheu com o sentimento de umidade que
permaneceu depois que ele retirou sua mão. Quando ele virou as costas, ela
limpou furiosamente sua mão a sua saia.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Capítulo 13
noturno continha uma ameaça de chuva que estava chegando. Sem dúvida
que ela encontraria muitos velhos amigos, alguns que ela não via há meses.
Parecia como se seu pequeno grupo se tivesse espalhado pelos quatro cantos
da Inglaterra. Uma de suas amigas mais próximas, Lenore. Tinha casado
com um americano e agora vivia em Filadélfia. Ela se recordava de sua
despedida chorosa, suas promessas de se verem pelo menos uma vez por
ano. Não recebia uma carta de Lenore há seis meses.
Ela usava seu melhor e mais recente vestido Worth, como sempre fazia
para o Baile de Maio. O vestido ela de um tom pêssego claro, com mangas
que agarravam seus ombros, um corpete baixo o suficiente para revelar o
topo de seus seios. Renda na borda da gola podia ser ajustada um pouco
para dar alguma cobertura, mas quando Marjorie apresentou uma versão
mais modesta do vestido, Dorothea estalou a língua e baixou a renda.
― Esses podem muito bem ser seus melhores atrativos, mas tenho
certeza que Lorde Shannock vai se preocupar mais com estes. ― Disse de
forma pragmática, dando um último puxão à renda.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Marjorie suspeitava que ele iria lamentar a perda de sua melhor cliente
se ela casasse este ano, como sua mãe queria. Cinco temporadas
significavam cinco anos dos vestidos mais caros e mais bonitos que o
dinheiro podia comprar e ela não tinha dúvidas que Mr. Worth ficaria um
pouco triste por a ver se casar. Ela ainda continuaria sendo uma cliente,
mas sua necessidade por tantos vestidos novos todos os anos iria
certamente diminuir.
― Quem?
― Mr. Norris. Ele está aqui. Ele e Graham já foram para o salão de
bilhar.
Marjorie ainda estava dolorida de seu último encontro com Mr. Norris
e não tinha certeza se sequer queria ver o homem.
Oh, mas ela quis dizer sim. Pelo menos desejava se sentir dessa
forma.
― Ele tem um título e é nosso vizinho. Era amigo de meu pai e desde
que tive minha estreia ele tem dado indícios de estar interessado em uma
união. Minha mãe o recusava porque achava que me sairia melhor, mas
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Katherine sorriu.
― Antes de ir, minha querida, posso ser tão ousado como para pedir
que me dê a honra da primeira valsa.
― Não, não, não, você não pode casar com ele. ― Disse Katherine
quando estavam longe dos ouvidos de Lorde Shannock.
― Você não vai casar com Lorde Shannock. ― Disse Katherine, como
se fosse uma certeza.
― Não vou?
― É claro que não. Você vai casar com ele. ― Disse Katherine,
apontando para sua direita.
Katherine riu.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Marjorie nem sequer tinha percebido que eles tinham partido. Não
estava consciente de mais nenhuma pessoa no salão. Tudo em que
conseguia pensar era no que Katherine lhe tinha dito, que ela tinha a certeza
de que Charles a amava. E ali, não muito fundo em sua mente, estava um
plano que faria o casamento não só possível, como uma certeza.
― Muito bem, apesar de que não quero realmente que minha mãe se
dane.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Oh, seu coração quase parou à medida que uma esperança terrível a
invadiu.
― Não está curiosa por saber quem roubou meu coração? Pensaria
que, como minha casamenteira, você ficaria. Afinal de contas, foi você quem
me juntou a meu amor em primeiro lugar.
Seu coração vacilou um pouco ao ouvir isso. Ele estava sendo tão
indiferente, tão calmo.
― Ela é encantadora. Inteligente. Me faz rir. Acho que ela me ama, mas
não tenho certeza. Acredito que posso desistir completamente do amor se ela
não retribuir meus sentimentos. Acho que não vou conseguir superar esta,
se ela quebrar meu coração.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Graças a Deus.
― Tenho um plano.
Sim, serem apanhados juntos estava cheio de perigos e ela teria que
suportar o escândalo e o profundo desapontamento de sua mãe. Ela se
lembrava de como sua mãe tinha dicado chocada quando lhe falou dos
perigos em que Katherine e Graham se tinham colocado por poderem ser
encontrados. Seria simplesmente horrível desapontá-la, mas ela o faria se
significasse que ela e Charles podiam ficar juntos.
Não seria fácil enfrentar a censura das pessoas que conhecia por toda
sua vida, que sem dúvida pensariam nela com menos estima. Mas ela não
conseguia evitar recordar como tudo tinha corrido bem para Katherine.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Mr. Norris veio lhe trazer alguma boa notícia sobre seu cortejo a
Lady Caroline? ― Perguntou Dorothea. ― Você parece satisfeita.
― Nem um pouco.
― É bom ouvir isso. Temi que sentisse mais afeição pelo homem do
que devia.
― Desde que não sinta demasiada, pois parece que suas atenções
agora são para Lady Caroline. E que par encantador que fazem, não é? Aqui
vem Lorde Shannock, está bastante elegante esta noite.
Quando Marjorie acordou no dia seguinte, era quase meio dia. Ficou
deitada na cama por um momento, a excitação borbulhando dentro dela.
Saltou da cama e correu para seu roupeiro, procurando por seu novo vestido
de tarde purpura escuro com botões de pérola à frente. Estava lutando com
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Não, não sei. Mas ela foi na nova carruagem, se estava pensando em
sair, miladie.
― Não planejei nada definido. Por outro lado, ainda não vi o correio da
manhã e tenho negligenciado minhas amigas, como bem me lembraram
ontem à noite. Ficaram tão zangadas comigo e não posso dizer que as culpo.
Foi tão bom as ver e fizemos planos para nos visitarmos antes de deixarmos
Londres em agosto.
― Oh, não, não diria isso. Mas devo dizer que tem faltado um certo
brilho em seus olhos nestes últimos meses.
Marjorie olhou para o espelho e sorriu para seu reflexo. Engraçado, ela
não tinha percebido como tinha estado desligada até agora.
― Oh?
rápida olhada para cima e para baixo da rua, puxou o tijolo livre, sorrindo
imenso quando viu o simples papel branco que Charles usava.
Abriu a nota bem ali, o sol da tarde aquecendo seu pescoço enquanto
se curvava para ler a mensagem. Eram apenas duas frases.
― Claro que não. ― A dama vociferou enquanto olhava pela sala. Não
estava bem mobilada, pelo menos não da forma que impressionasse uma
boa dama. Permaneceu de pé avaliando os materiais gastos do sofá um
pouco preocupada. Não, não se podia sentar e dar a entender que isto era
uma visita social. Não era.
― Temo que não compreendo. Seu filho pediu pela mão dela, minha
filha aceitou e eu lhes dei minha bênção.
― Seria sem dúvida uma união vantajosa para sua filha. Imagino que
lhe dar uma estreia em sociedade foi bastante dispendioso. Muitos
cavalheiros do interior não se aventuram por Londres por essa razão.
Quantos anos tem sua filha?
Ele levantou o queixo e colocou suas mãos atrás das costas, agora
bastante ciente do que era tudo isto.
― Vinte e dois.
― Sim, miladie, é. Sentimos que ela deveria ter uma. Como tenho
certeza que está ciente, Ipswich é um distrito sossegado sem muitos
entretenimentos pôs uma jovem garota.
― Tenho certeza que não pretende insultar, miladie, mas lhe devo dizer
que realmente insultou a mim e a minha filha.
― Não quis insultar nem você nem sua filha, sir. No entanto, pretendo
injetar algum senso comum nas crianças. Certamente que apenas suas
diferentes posições sociais fariam a união inaceitável.
― Tenho certeza que pretendia ser engraçado, Mr. Cavendish, mas lhe
asseguro que não achei piada nenhuma. Vamos ao ponto da questão, sim?
Meu filho é um idiota e nunca deveria casar ou ter filhos. Não o permitirei. ―
Olhou em volta da sala, avaliando a pobre mobília, a carpete gasta,
silenciosamente dando sua opinião do lugar. ― Certamente podemos chegar
a um acordo que seria lucrativo para ambos.
― Quer dizer, nos pagar? Se esse é seu plano, temo que tenha perdido
seu tempo vindo aqui.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Me perdoe, mas não posso permitir que meu filho case com uma
garota de tão baixo berço. De fato, não posso permitir que meu filho case de
todo. sabe que ele não está muito bem e que o force a um casamento dessa
forma é imoral.
― Papai!
O escudeiro olhou sua filha e lhe deu a mais subtil das piscadelas.
céus. Parece que afinal não temos acordo. ― O escudeiro parecia prestes a
explodir de riso e sua filha a seu lado tinha um pequeno sorriso no rosto. ―
Realmente acredita que iria vender a felicidade de minha filha por trinta mil
libras, miladie? Não o faria nem por um milhão. Bom dia, madame.
Depois que ela partiu, Lilianne se atirou aos braços de seu pai.
Lilianne assentiu.
Marjorie não se sentia tão nervosa num baile desde sua apresentação.
Seu estômago estava cheio de borboletas, suas mãos enluvadas tremiam
enquanto recolhia seu cartão de dança. Com sua mãe observando
cuidadosamente, Marjorie tentou o seu melhor por não parecer demasiado
constrangida.
― Hush. Você podia ter qualquer homem deste salão, minha querida.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Eu quero que seja feliz, querida, não importa o que possa pensar.
Parece que meus poderes para persuadir meus filhos a fazer o que digo têm
vindo a diminuir.
― Oh?
― Mas mamãe, acho que eles serão felizes juntos. Ela conhece George
desde sempre e o compreende. Ele tinha que casar a certa altura.
― Sabe que não gosto quando diz essas coisas sobre George.
Ela não deixaria sua mãe arruinar o que seria a noite mais feliz de
todas. Nessa noite ela ficaria noiva. Saberia que seu futuro estaria com o
único homem que alguma vez amou. Podia não acontecer da maneira com
que sempre tinha sonhado, mas aconteceria. Se preparou mentalmente para
a horrível cena que certamente ocorreria assim que sua mãe soubesse dos
eventos.
perguntou como Charles, que tinha estado longe da Inglaterra tanto tempo,
tinha conseguido adquirir todos os convites que tinha. Enquanto olhava em
volta do salão, viu Lady Caroline ao lado de sua mãe e Marjorie sentiu uma
pontada de culpa. Esperava que a pobre garota não estivesse esperando por
um pedido de casamento de Charles, mas tinha poucas dúvidas de que
assim fosse. Ela parecia uma garota simpática e Marjorie não lhe desejava
nenhum mal, apenas que se mantivesse bem solteira por apenas mais um
dia.
Charles a viu e sua respiração parou. Ela era tão bonita e ela
conseguia ver a travessura em seus olhos enquanto ela observava o salão,
cuidadosamente evitando olhar para ele. Ela adorava aventuras e ele usaria
cada dia de sua vida para que ela as tivesse. Viajariam pelo mundo, veriam
tudo o que ela sempre sonhou ver. Quando tivessem filhos (e os teriam),
educariam pequenas pessoas felizes que teriam tanta alegria em si quanto
sua mãe. Nessa noite sua verdadeira aventura começaria. Ele dificilmente se
conseguia conter, mal conseguia caminhar pelo salão como se esta não fosse
a noite mais importante de sua vida.
Esperar seria a parte mais difícil. Teria que atuar como um homem
que ainda estava procurando uma noiva, mas não conseguia ignorar
Marjorie completamente. Pareceria estranho a trazer à sala sem trocar uma
única palavra com ela antes. Decidiu que deveria enfrentar a hostilidade de
sua mãe e pedir uma dança a Marjorie. Encontrou o par na borda da pista
de dança, vendo os dançarinos. No que dizia respeito a salões de dança, o
dos Hartford era bastante pequeno e podia apenas acomodar uma mão cheia
de casais de cada vez. Lady Summerfield reparou em sua aproximação antes
de Marjorie e enrijeceu, seu maxilar quadrado apertando notavelmente.
Charles sorriu por sua obvia indicação de que ele deveria estar em
outro lugar.
― Não faço a mínima ideia. Vim aqui pedir uma dança a sua filha. Por
coincidência, tem alguma dança livre em seu cartão, Lady Marjorie?
― De fato tenho, sir. ― Marjorie lhe entregou seu cartão que tinha
apenas duas danças reservadas ambas, reparou Charles, por Lorde
Shannock. Se conseguisse o que queria, estas seriam as últimas ocasiões
que permitiria que Lorde Shannock a tocasse. Não tinha dúvidas de que
Lorde Shannock era o velho lascivo que esteve com os olhos cravados em
Marjorie de forma tão óbvia.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Não tenho certeza se minha perna pode aguentar este pular por uma
dança inteira. ― Disse Charles enquanto girava Marjorie pela pista. ― Duas
portas em frente. A sala. À meia noite e meia.
― Oh, Mr. Norris, é tão fácil de provocar. É claro, sim. Sim e sim. ― Ela
estava ficando sem folego pela dança. Sem dúvida que seu corpete estava
bastante apertado. Francamente, ele mesmo precisava de uma desculpa
para parar de dançar; começava a sentir o incessante pulsar de sua perna
que antecedia a verdadeira dor se ele continuasse.
― Oh, minha querida menina, será a coisa mais agradável que fiz em
muito tempo. ― Ele disse e observou como ela tentava conter um sorriso.
Mas ela não se importava. Não se importava que ele olhasse, que seu
cartão de dança não estivesse cheio, que Lorde Hartford pisasse seus pés
duas vezes durante sua dança, que sua mãe se regozijasse da atenção que
Lorde Shannock lhe dava. Apenas se preocupava com o relógio de cobre na
grande lareira por detrás da orquestra que dizia que passavam vinte e sete
minutos da meia noite. Sua mãe estava falando animadamente com Lady
Hartford, o que lhe permitiu sair do salão sem ser notada, enquanto dizia
“sala duas portas à frente” baixinho. Abriu a porta e ele já estava lá,
sentando num sofá diretamente virado para a porta.
seu estômago e ficou ainda mais dura quando ele se deitou no sofá com ela
por cima dele.
― Talvez beijar não tenha sido tão boa ideia. ― Ele disse, seus olhos
castanhos vidrados de paixão. Ele moveu seu quadril, a deixando sentir
quão excitado estava e gemeu de novo. ― Quero estar dentro de você. ―
Disse, levantando seu quadril de novo.
― Agora não, garota tola. Mas um dia muito, muito em breve. ― Ele
fechou os olhos e ela beijou sua boca suavemente, adorando como o sentia
debaixo dela. Ele era grande, sólido e muito masculino. Cada músculo
estava firme e ela se perguntou se existia outra parte dele que fosse suave
como sua boca. Deitou a cabeça no peito dele e escutou o bater do seu
coração por alguns segundos antes de ceder à tentação e o beijar de novo.
Ela moveu sua língua contra os lábios dele e ele abriu a boca, tornando seu
beijo algo maravilhoso e carnal. Ela nunca soubera como o mero ato de
beijar podia ser tão estimulante. Quando ele moveu as mãos para as
nádegas dela, ela deixou escapar um som que nem sabia que conseguia
fazer. Calor se acumulou no meio de suas pernas, fazendo se mover contra
ele para procurar por algum tipo de alívio da estranha pressão que se estava
acumulando lá.
quis lhe implorar que levantasse suas saias e a fizesse gritar. Em vez disso,
pressionou o seu centro contra sua excitação e se moveu num ritmo que lhe
disse o que ela queria.
― Sim. ― Ele sussurrou, movendo sua mão para longe de seu seio e
para baixo, entre suas pernas. Ele pressionou sua mão ali e a respiração
dela ficou presa.
― Oh, mas deve dizer. Isto é terrível, não é, Charles? ― Disse Marjorie,
sentindo um pouco de pânico surgir pelo fato de que este homem não os ia
denunciar.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Ele não vai nem sequer se lembrar de ter estado neste baile, esqueça
se lembrar de nos encontrar juntos. Realmente, o homem é uma desgraça. ―
Ela soltou um xingamento e se voltou para encarar pelos olhos a Charles
quando este começou a rir.
Ele se inclinou para ela, tão perto que os seus lábios roçaram os
caracóis próximos de sua orelha.
― Costumava ter. Mas você tem sido uma péssima influência, sir.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Parecia uma coisa estranha de sua mãe dizer, pensou Marjorie, porque
ela sempre tivera a distinta impressão que sua mãe não se tinha preocupado
nem um pouco com a morte de seu pai. Eles raramente passavam tempo
juntos quando ele estava vivo e quando estavam mal trocavam duas palavras
um com o outro. Se eles se amavam, escondiam-no muito bem.
Dorothea sorriu.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Os olhos de sua mãe, que uns momentos atrás possuíam tanto calor,
ficaram gelados.
Mas ela sabia que Gertrude iria compreender no final. Tia Gertrude
tinha amado seu marido profundamente e ainda falava dele com carinho. Se
alguém conseguia perdoar sua transgressão, era Gertrude. Talvez fosse
melhor que sua mãe ficasse em casa. Assim poderia ser ela a dar a notícia
sem a humilhação de sua mãe ver sua ruina.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Capítulo 14
Lady Summerfield olhou com carinho para sua filha. Com oito anos,
era a luz da sua vida, a única coisa que fazia valer a pena se levantar a cada
dia. Olhava para ela maravilhada. Como diabos tinham ela e Summerfield
produzido uma garota tão bonita e doce? Sua cabeça estava cheia de
caracóis grossos que saltavam enquanto ela pulava pelo corredor. E ela
estava sempre pulando. Sempre cheia de alegria e felicidade. Mesmo aos oito
anos, ela tinha a capacidade de cativar tanto seus pares como os mais
velhos. Summerfield adorava sua filha, a mimava demasiado e mostrava,
pela primeira vez em sua vida, um lado mais suave que Dorothea raramente
via. Ver seu marido com sua filha era a única alegria que tinha no
casamento.
pequeno George era uma vergonha para Summerfield. Não queria estar perto
da criança. Não permitia que estivesse na presença de visitas. E utilizava
todas as oportunidades que tinha para culpar Dorothea pelo defeito do filho.
Dorothea passou várias horas por dia no quarto das crianças apesar
de terem contratado uma governanta competente. Ela via seus filhos
aprender e ficou alivada quando George mostrou uma aptidão fora do
comum a ler e a memorizar. Mesmo com seis anos ele lia muito melhor que
Marjorie.
George sorriu.
Ela abriu o livro, um mar de aventura escrito para crianças bem mais
velhas que George e ele começou. Um arrepio tocou sua espinha. Era
impossível. Como é que ele podia ter memorizado tão detalhadamente o livro
quando nunca tinha mostrado sinais de uma inteligência admirável antes?
Mesmo enquanto recitava as palavras com uma precisão admirável, olhava
175
A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Nessa tarde, Dorothea levou George para visitar seu pai. Transbordava
de entusiasmo por seu extraordinário menino que tinha não só lido, mas
memorizado cinco páginas de texto nesse mesmo dia. Summerfield não tinha
ficado impressionado.
― Seu filho idiota consegue ler tanto quanto eu consigo voar. Desejar
que o faça não significa que consegue. Temo que esteja desesperada para
que ele seja normal que inventou este truque para provar que não gerou
uma criança com defeito.
Agora, ela sorriu para seu filho para o encorajar enquanto ele ficava
parado em frente a seu pai, o livro apertado entre suas mãozinhas ossudas.
― Pode brincar com seus soldados de chumbo depois que ler para o
seu pai, George. ― Disse ela gentilmente, mesmo quando parte dela queria
dar um pequeno abanão a George. ― Agora, venha e mostre a seu pai o
maravilhoso leitor que é.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
George continuou brincando como se ela não tivesse dito uma palavra,
mas Marjorie lentamente pousou sua boneca e desceu da cadeira, olhos
arregalados.
― Vou tirar seus soldados de chumbo. Vou levá-los e você nunca mais
vai voltar a vê-los. ― Dorothea avançou e pegou numa mão cheia deles e os
colocou em seu bolso. George se esforçou para manter os outros em fila
mesmo enquanto Dorothea afastava suas mãozinhas e pegava no resto.
Dorothea olhava para ele e queria chorar. Parte dela sabia que George
não a tinha humilhado de propósito, que ele era apenas um pequeno rapaz
estranho. E se perguntava, não pela primeira vez, se Summerfield tinha
razão, que era sua culpa que seu filho tinha saído errado. Teria feito
demasiadas caminhadas durante sua gravidez? Comido demasiados figos no
Natal, apertado demasiado seu corpete? Summerfield estava sempre
insinuando que ela estava gorda e era obvio que ele pensava que seu corpo
de grávida era grotesco. Observando George brincar com seus soldados de
Chumbo essa noite, ela apenas viu sua estranheza e nenhuma de sua beleza
única. E, de algum modo, estranhamente, era um alívio.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Capítulo 15
― Ele apenas faz isso quando está nervoso. Por algum motivo você
deve fazê-lo ficar nervoso. Talvez ele veja através de sua fachada educada a
raiva e ressentimento que fervem por baixo da superfície.
Jeffrey riu.
― Imagino que deva ser difícil para você saber que é próximo na linha
e que George está casando e logo terá filhos. ― Disse Marjorie, tentando ser
compreensiva.
o que quer. Certamente que isso mudaria se eu fosse conde. Esse vestido
que está usando provavelmente vale mais que todo meu rendimento anual,
sabia disso? Ah, posso ver que não sabia. Está tão acostumada a ter essa
colher de prata em sua boca que se esqueceu que está aí.
― Sim, imagino que tudo o que seja a verdade seja difícil de ouvir.
― Nunca disse ou fiz nada para gerar tal antipatia. E nem George o fez.
― Vá ser uma pessoa terrível para outro lugar então. Vim a este baile
para me divertir e você está estragando a noite.
― Não me agrada aquele jovem. ― Disse tia Gertrude, vindo por trás
dela.
― Ele não pode evitar ser desagradável. Sua vida inteira lhe foi dito
que era o segundo na linha de sucessão do título. A verdade é que sei que
George alegremente o daria se pudesse.
― Ele esbanjaria do mesmo modo que seu pai esbanjou tudo o que lhe
tinha sido dado. Pode ter sido o segundo filho, mas tinha propriedade que
produziam bons rendimentos. Agora tudo o que têm é aquela propriedade
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
em ruinas em Nottingham. Escutei que não falta muito para até isso
desaparecer também.
Marjorie acenou a sua amiga Theresa, que tinha sido uma de suas
primeiras amigas a casar. Não a via há anos.
― Agora é Lady Westcott, tia Gertrude. Ela está casada há… ― Parou,
contando em sua cabeça. ― … Cinco anos. Meu Deus, cinco anos.
― Parece que passaram anos. Fiquei tão feliz com sua nota. Se lembra
de minha tia, Gertrude, não lembra?
Marjorie tinha certeza que sua amiga queria que soasse como um
elogio, mas algo em seu tom estava ligeiramente estranho. Ou talvez
estivesse imaginando coisas.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Oh, mas você não é assim tão velha. ― Disse Theresa, de olhos
arregalados.
Realmente? Vai se casar? Não sabia disso. Será que perdi o anuncio
no Times? Primeiro seu irmão e agora você. Que maravilha. Quem é o
homem sortudo?
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Porque tem ciúmes, minha querida. Agora, o que é isso de esta ser
sua última temporada? E não tente me enganar com novidades de Lorde
Shannock. Esse homem a tem desejado desde que era uma menina e se sua
mãe acha que ele serve, perderei todo o respeito que tenho por ela.
― Minha querida, você está apaixonada. Não sou cega. É aquele Mr.
Norris, não é? E sua mãe não aprova. Espero que não esteja planejando
fugir.
Marjorie podia sentir seu rosto ficar quente, não só por ter sido
apanhada em uma mentira, mas também por recordar o que tinha estado
fazendo.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Sei que no início será difícil. Mas acredito piamente que esta é uma
situação em que os fins justificam os meios.
― Na realidade, já o fiz.
― Quando é que você…? ― Sua voz sumiu. ― Oh, suponho que não
importa quando, apenas que ela recusou. Mas será que ninguém me diz
nada?
― Ela está tão adversa a você. Sabia, tia, que mamãe ameaçou retirar
o título de George se eu permitisse que Mr. Norris me cortejasse?
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Alguma coisa aqui não bate certo. Sei que Dorothea pode ser
teimosa e tem um fascínio ridículo por títulos, mas Mr. Norrie é filho de um
visconde. Tem um excelente rendimento. ― Ela olhou para Charles à procura
de confirmação e ele assentiu. ― Quem é sua mãe?
― Não, não. Quem era ela antes de casar com seu pai?
― Anne Wadsworth.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Parece que, afinal, esse foi o momento em que meu pai percebeu o
quanto amava minha mãe.
― Oh, céus, não. Mais importante que isso. Elas lutaram por causa de
um chapéu.
― Foi cá uma briga. ― Disse Charles. ― Minha mãe, claro, disse que foi
Miss Stockbridge quem começou. Aparentemente (e isto é a versão da minha
mãe, entenda), sua mãe viu um chapéu no chapeleiro que ambas
frequentavam. Minha mãe tinha encomendado o chapéu e o tinha
desenhado. Sua mãe o viu e pediu uma cópia. Minha mãe era bastante mais
jovem que a sua, vê e era um pouco mais enérgica do que é agora. Ficou
indignada quando viu sua mãe usando o chapéu dela – ainda para mais no
Ascot. Ela caminhou até sua mãe e exigiu saber onde ela tinha conseguido o
chapéu.
― É claro. Mas ela exigiu saber de qualquer forma. E sabe, minha mãe
pode ser bastante intimidante. Sua mãe apenas olhou para minha mãe e
disse “O seu não favorece sua cor de cabelo, de qualquer forma”. Essa foi a
última gota.
Marjorie se encolheu.
― O que aconteceu?
― O. Que. Aconteceu.
― Ela agarrou o chapéu de sua mãe, o arrancou e o pisou com seu pé.
Mesmo enquanto o fazia, minha mãe me disse que sabia que estava sendo
horrível. Sempre teve um certo temperamento. E então o diabo ficou à solta.
Elas acabaram no chão, batendo uma na outra, rodeadas por algumas das
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Marjorie desejou que pudesse esconder sua cabeça nas mãos, mas
havia tanta gente.
― Oh, não. Não, não, não. Porque é que nós não sabíamos?
― Uma ideia terrível. ― Disse Gertrude, mas algo no tom da dama fez
Marjorie pensar. Era como se Gertrude estivesse dizendo as coisas que
devia, mas não acreditava mesmo nisso. Talvez quando chegasse o
momento, ela pudesse dizer com a consciência mais tranquila a todos os que
quisessem escutar que ela os tinha avisado a não agir precipitadamente.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Que ironia que era, quando finalmente tinha encontrado uma mulher
que o amava tanto quanto ele a ela, ela tinha que ser a filha da rival de sua
mãe. Obviamente, não era uma estória que Lady Summerfield relataria. Sem
dúvida todo o episódio era humilhante para ela e ele se preguntava se essa
era a razão pela qual Lady Summerfield tinha casado tão tarde. Teria o
escândalo a transformado em uma velha solteirona? Terá sido forçada a
casar com alguém simplesmente para ficar casada?
Seria difícil, sem dúvida, ter uma sogra que odiava a sua família. O
casamento seria… Doloroso. Sem dúvida que as duas mulheres não se viam
desde aquele fatídico dia. Ele se perguntava como elas manejariam o
encontro. Ao longo dos anos, sua mãe tinha expressado verdadeiro remorso
pelo que tinha feito (e tudo por um estúpido chapéu).
Como a tia Gertrude os tinha deixado sozinhos para ir falar com uma
amiga, ele pôde ver que Marjorie estava incomodada com as novidades. Ele
desejava poder tirá-la desse salão de baile, de Londres e a levar para casa.
Em vez disso, colocou uma mão suave no fundo de suas costas para lhe dar
um pouco de conforto. Era altamente impróprio que ele o fizesse, já que não
estavam oficialmente noivos, mas nesse momento ele não se importava nem
um pouco. Ela olhou para ele com gratidão antes que seus olhos ficassem
impassíveis e ele ficou com a impressão distinta de que ela tinha de fato
herdado algum do aço de sua mãe.
― Porque não agora mesmo? Acabei de ver um casal sair para lá. Não
sei quem e não me importo realmente. Apenas sei que certamente teremos
uma audiência. É muito cedo na noite para eles estarem bêbados.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Isso vai ser a parte mais difícil de toda esta farsa. ― Ele disse,
fechando as portas atrás deles. Pegou na mão dela e praticamente correu
escadas abaixo, adorando sentir sua mão na dele, adorando que ela risse
enquanto ele a puxava até seu destino. ― Vamos para o folly, sim? Esse
parece um destino provável para quem dá um passeio.
Ele apertou mais a mão dela. Sentiu seu peito inchar para dimensões
impossíveis apenas de pensar em seus filhos brincando a seus pés enquanto
estavam sentados junto do fogo nas tardes de inverno. Se lembrava de como
sua infância tinha sido maravilhosa, os longos dias de pesca com seu pai ou
trepando árvores com sua irmã e seu bom amigo John. Ele queria que suas
próprias crianças tivessem o mesmo tipo de infância despreocupada e feliz.
― Quatro serão.
Estava decidido. Agora, tudo o que tinham que fazer era se casarem.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Passou suas mãos pelas costas dela até seu traseiro, redondo e firme e
tão adorável. Apertou gentilmente e ela soltou um gemido abafado enquanto
a puxava mais firmemente contra sua ereção. Porque estava se torturando,
ele não sabia dizer. Apenas sabia que precisava de tê-la contra ele, precisava
abraçá-la, beijá-la. Do que realmente precisava era de a ter nua, mas isso
teria que esperar por outro momento. Uma imagem tentadora surgiu, ela
deitada em sua cama de barriga para baixo, seu belo traseiro branco
brilhando suavemente à luz das velas. E então surgiu um segundo
pensamento torturante Marjorie deitada de costas, nua, olhando para ele
enquanto entrava nela, fechando os olhos de prazer, enrocando seus braços
magros em seu pescoço, movendo seus quadris sem controle…
Ele se afastou.
Ele agarrou a mão dela de novo e a puxou escada acima e então contra
a coluna.
― Como antes? ― Ela perguntou, sua voz cheia de uma urgência que o
deixou ainda mais excitado.
― Desejava que pudesse ser melhor. Queria que tivéssemos uma cama
suave para que pudesse estar dentro de você. ― Ele engoliu. Apenas dizer as
palavras quase o destruiu. ― Mas não podemos. Por isso, sim, como antes.
Mas melhor. Vou beijar você, querida, onde a toquei antes. ― Ele podia ver
seus olhos arregalarem. ― A choquei?
― Não. ― Ela disse. ― Sim. Sim, chocou. Não sabia que um homem
podia beijar uma mulher… Ali.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Ele moveu sua mão entre as pernas dela e ela se derreteu contra ele.
Deus, ela estava tão quente e ele imaginava que já conseguia sentir como
estava molhada, apesar das camadas de roupa que separavam sua mão
dela.
― Deus, sim.
Ele moveu sua mão livre para sua braguilha e rapidamente desapertou
os botões e baixou as cuecas, permitindo que seu membro se soltasse. Se ela
o tocasse agora ele não tinha certeza se conseguiria se controlar. Mas ela o
fez e ele curvou as costas e quase explodiu. Deus, não queria que ela
parasse, mas também queria prova-la. Se baixou, beijando seu pescoço,
seus seios, seu estómago, até que ela já não conseguia alcança-lo. Ele puxou
suas cuecas para que tivesse melhor acesso, para que pudesse colocar sua
língua contra ela. Seu cheiro o encheu, seus sons o instavam a prosseguir.
― Está alguém aí? ― Ela perguntou, sua voz soando alta de mais no
silencio da noite.
― Olá. Não sabia que o folly era um lugar tão popular esta noite. ―
Uma voz feminina chamou lá de baixo. Aos dois casais se juntou um grupo
de várias damas – incluindo tia Gertrude, bendita fosse. ― Uma noite
encantadora. ― Disse tia Gertrude.
― Ela não tinha um grande dote. ― Ele disse, como se isso explicasse
tudo. O que, infelizmente, explicava. ― Juro que não diremos nada sobre
vocês dois.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Capítulo 16
Ela baixou a cabeça e riu. Tinha que estar louca por sequer considerar
tal coisa. Quem diria que fiz comprometida era tão difícil? Katherine o tinha
feito, sem qualquer intenção, sem planear e sem qualquer esforço.
Ela e Charles estavam dançando e qualquer tolo que olhasse para eles
saberia que estavam desesperadamente apaixonados um pelo outro. Sem
dúvida sua mãe iria saber disso, mas nesse momento, Marjorie não se
importava. Podia ver algumas amigas de sua mãe olhando para eles,
curiosas. Deixe-as olhar o quanto quiserem.
― Como posso sentir dor quando tudo o que sinto é amor? ― Ele sorriu
para ela, obviamente sabem como soava ridículo.
― Muito bem, então. Quero você nua debaixo de mim. Quero beijar
cada canto de seu corpo até que você faça aqueles sons que me põem...
Ele encolheu os ombros como se dizer tais coisas em voz alta para
uma garota solteira não fosse escandaloso de todo. E delicioso. Todo seu
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
corpo estava ardendo por ele e era difícil controlar suas expressões para que
aquelas matronas na borda da pista de dança não soubessem no que estava
pensando precisamente.
― Amanhã à noite.
― Não tem de quê, Mr. Norris. Espero que desfrute do resto da noite.
era seu marido para sua cama. Apesar de sua mente gritar o quão errado
era, seu corpo e coração não estavam ouvindo. Toda mulher era ensinada
desde uma tenra idade que sua virgindade tinha que ser protegida como
uma comodidade preciosa. Ela supunha que havia muitas, muitas garotas
que sofriam os resultados de não seguir essa regra. Afinal de contas, se uma
garota ficasse grávida, era ela quem tinha que sofrer todas as
consequências,
― Suponho que tem razão em não me dizer. Quero que seja cuidadosa,
mesmo que goste de seu homem e ele parece completamente cativado por
você.
Marjorie deu a sua tia outro sorriso sonhador e a mulher mais velha
riu.
― Está tão apaixonada, minha querida, poderia lhe dizer que ele era
um assassino e você sorriria para mim.
Marjorie riu.
― Oh, minha querida garota, você é otimista, não é? Quando era uma
menina e um pai não dava permissão para o casamento, as coisas eram
muito diferentes. Era fugir para a Escócia e Gretna Green. Mas isso era
apenas para as garotas com menos de vinte e um anos. Sabe que pode casar
com quem quiser.
― Mas, Mr. Norris pediu a permissão de sua mãe. Ela deve ter alguma
suspeita.
― Acredito que estou ficando muito velha para estas saídas noturnas.
Já que você é minha última sobrinha por casar, devo dizer que estou feliz
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
que estes deveres de acompanhante estejam acabando. ― Sua tia lhe deu um
olhar significativo e Marjorie a abraçou.
― Sempre foi minha tia favorita. Vou sentir falta de nossas noites
juntas.
Era uma nota taciturna pouco comum para ela, mas Marjorie estava
de tal maneira quando a escreveu que era o melhor que conseguia fazer.
Imagine, palnear sua própria ruina.
Arruinada.
Era isso o que queria. Não ser arruinada, claro, mas o resultado final
de ser arruinada. Planear isso tinha sido muito divertido, mas afora parecia
uma ideia muito má. Errado. O que ela estava fazendo essa noite ia contra
tudo o que lhe tinham ensinado. Tudo em que ela acreditava. Parte dela
queria correr para a porta e trancá-la.
Marjorie assentiu.
― Preparada e disposta.
― Tenho sonhado com este momento. Não queria ser tão poético. Tive
um sonho em que você estava na minha frente como está agora. Rezo para
que isto não seja outro sonho para me atormentar, em que acordo sozinho
em minha cama.
― Isto não é um sonho. ― Ela percebeu que sua voz estava tremendo e
inspirou para se acalmar. ― Estou terrivelmente nervosa.
― Por favor, não esteja. Você é tudo o que sempre quis. Sabe há
quanto tempo tenho procurado por você? Tenho trinta e cinco anos e nunca
encontrei uma mulher que me amasse. Tem certeza?
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Ele se afastou para olhar para ela, seus olhos percorrendo sua figura.
― Meu Deus, você é tão bonita. Nem acredito que estou preste a dizer.
― O quê?
Ele a beijou no rosto, sua boca, o lugar sensível na base de sua orelha,
suas mãos se movendo para cima e para baixo, de seu traseiro até seus
ombros, carícias longas e extensas que a faziam derreter por dentro.
― Tudo isto é errado. ― Ele disse, então gemeu enquanto lhe dava um
beijo longo e profundo e a pressionou contra sua evidente ereção. ― Não
posso.
Marjorie se afastou.
― Não pode?
― Não posso fazer tudo errado. Quero que seja virgem em nossa noite
de núpcias. ― Sua boca e mãos contrariavam o que ele dizia. Uma mão se
movera para seus seios, seu polegar se movendo para a frente e para trás
sobre seu mamilo, o provocando até se tornar um botão duro. O que ele
estava fazendo com ela, lhe dizendo que não podia e ao mesmo tempo
fazendo impossível parar?
― Não.
Ela se afastou.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Não?
Ele olhou para ela e ela não tinha dúvidas de que ele a queria, de que
a amava, mas havia determinação em seu olhar.
― Quero você mais do que alguma vez quis alguma coisa em minha
vida. Mas eu quero que pelo menos uma coisa neste nosso cortejo ridículo
seja certa. ― Ele baixou a cabeça e colocou um mamilo em sua boca, lhe
dando um prazer tão extraordinário que seus joelhos cederam. ― Contudo. ―
Disse ainda com a boca em seu seio. ― Não sou um santo.
Marjorie cobriu sua boca e riu, tentando não fazer barulho. A última
coisa que queria era ser apanhada agora.
tal coisa poderia ser tão incrivelmente maravilhosa? Quem diria que caricias
em seus seios a fariam sentir como se ele a estivesse tocando entre suas
pernas?
Uma mão grande se moveu para baixo por seu flanco até o lado de fora
de sua coxa, então, lentamente, para o interior.
― Não sou um santo. ― Ele disse de novo, depois se moveu para baixo,
beijando o estômago dela, os caracóis suaves no topo de suas coxas, a pele
delicada e sensível, primeiro de sua coxa esquerda, depois da direita. E
então, oh, então o meio, um beijo com a língua e a boca, sugando, ela queria
que continuasse para sempre. Suas mãos se moviam inquietas, finalmente
descansando no topo da cabeça dele, exercendo um pouco de pressão para
lhe dizer silenciosamente que ele estava fazendo algo muito, muito bom.
Sensações que ela lembrava de sua primeira vez voltaram para ela e
ficou perdida. Seu quadril começou a se mover enquanto a pressão
aumentava e finalmente ela alcançou seu clímax, se sacudindo debaixo dele
e tentando não gritar de prazer.
Pobre homem.
― Isso foi bastante agradável. ― Ela provocou. ― O que posso fazer por
você?
201
A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Podia me beijar.
― Como um apito?
― Bom Deus. ― Ele finalmente disse. ― Mal posso esperar por nossa
noite de núpcias.
Por alguma razão, essa simples expressão fez Marjorie bastante feliz.
Ela iria se acostumar, durante uma vida longa e maravilhosa com este
homem.
― Eu amo você.
Outra batida.
― É Sua Excelência. Não o vejo já faz duas noites. Não é do jeito dele.
Confesso que estou preocupado, miladie. Sabe onde ele poderia estar?
Se qualquer outro jovem não voltasse a casa por duas noites, não seria
preocupante. Mas seu irmão estava tão preso a sua rotina que estas
novidades eram perturbantes.
203
A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Fico feliz que me tenha dito, Mr. Billings. Ele não lhe disse nada?
― Não, miladie. Esperava que ele lhe tivesse dito algo. ― O pobre Mr.
Billings parecia perto das lágrimas.
Marjorie abanou a cabeça. Ela não tinha ideia do que fazer, onde
começar. George nunca tinha feito uma coisa dessas antes. Ele nunca ficava
mais de um dia inteiro fora, nem sequer dois.
― Acho que George está com problemas. Algo aconteceu com ele. ―
Lágrimas encheram seus olhos e ela rapidamente estava nos braços dele,
tentando conseguir forças de Charles.
Marjorie tentou pensar, mas tudo o que podia imaginar era como
George deveria estar aborrecido. E se ele estivesse ferido e num hospital? E
se estivesse estirado na berma da estrada?
204
A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Por favor, não se desculpe. Assim que fale com sua mãe, partirei.
Ela pode saber alguma coisa que nós não sabemos sobre seu irmão. Ficarei
aqui até o escutar.
― Volto logo.
Dorothea estava imóvel, ofegante, seu rosto ficando cada vez mais
vermelho. Sua boca abriu, então fechou, antes dela desviar seu olhar para
sua filha.
― Como pôde?
― Por favor, me diga que não é Mr. Norris quem está em seu quarto,
meio nu.
Marjorie deu a Charles um olhar desesperado, então foi para sua mãe
e se ajoelhou a seu lado, agarrando uma das suas mãos.
― O chapéu?
― Não foi apenas o chapéu. Foi minha vida que ela arruinou. Fui
banida para Ipswich para viver com minha tia, uma mulher terrível. Vivi com
ela por dez anos, esperando por cada ordem dela, escutando suas criticas.
Foi aí que conheci seu pai. ― Ela torceu a boca. ― Todos os dias que passei
lá pensava Em Miss Anne Wadsworth, sobre como suas “ações” acabaram
com qualquer esperança que alguma vez tive de felicidade. E ela se
arrepende de suas “ações”. Que maravilha.
206
A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Ela era muito nova, mamã. Apenas tinha dezassete anos. Tenho
certeza que não fazia ideia.
― Como poderia? Como poderia alguém saber que suas “ações” seriam
minha sentença? ― Dorothea olhou para sua filha, depois levantou o olhar
para Charles. Algo tinha mudado nos olhos de Dorothea, ficaram frios e
assustadoramente calculadores. ― Eu não entrei aqui e o encontreu com
minha filha. Nunca falarei disto.
Charles se aproximou.
― Sim, Marjorie.
tinham feito, Marjorie sentia uma suavidade em sua postura e rezou para
que sua mãe, se não conseguisse suportar o enlace, fosse, eventualmente,
pelo menos capaz de aceitar.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Capítulo 17
Na manhã seguinte, tão cedo quanto era decente, Marjorie e sua mãe
foram visitar os Cavendish. Eram nove horas e Dorothea fez um comentário
de que a família era indecente o suficiente para estarem acordados a essa
hora. Marjorie sufocou um suspiro e a tentação de apontar a sua mãe que
ela já estava acordada à duas horas.
Mr. e Mrs. Cavendish, com Lilianne logo atrás deles, entraram na sala,
suas expressões curiosas, mas tingidas de preocupação.
― Era para termos ido ao baile Westin duas noites atrás. Ele vinha me
buscar e quando ele não chegou, não tinha certeza do que pensar. Ele não
disse nada, nem uma nota. E não ouvi nada dele desde então. Não é do feitio
dele.
210
A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Não. Nada. Nos encontramos à uma. Ele estava excitado pelo baile.
Por isso quando ele não apareceu para me escoltar, fiquei um pouco
surpresa. Pensei que tinha feito algo que o deixou zangado. O que é tolice,
porque George raramente se zanga.
― Oh, Deus, algo terrível aconteceu com ele. ― Chorou Lilianne. Então
seu rosto se iluminou. ― Devemos perguntar a seu primo Jeffrey.
― Sir, aprecio sua lealdade, mas Mr. Penwhistle está em casa. Não
tenho nenhum disputa com o senhor e percebo que está apenas fazendo seu
trabalho. Mas se não me deixar entrar e ver Mr. Penwhistle, temo que terei
que forçar minha entrada.
que com lealdade. Charles tinha chegado à conclusão que uma lealdade cega
era quase tão perigosa quanto a deslealdade.
― Onde ele está? Onde está seu primo? Sei que você sabe. ― Ele não
sabia, claro, mas tinha uma forte suspeita.
213
A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Como saberia onde ele está? ― Disse Jeffrey, mas não tinha sido
capaz de evitar seu momentâneo olhar de pânico antes de colocar um olhar
de ultraje. Charles sabia que ele mentia e se sentiu doente por isso.
― Não, não. Fomos juntos a um pub duas noites atrás. O Lamb &
Flag. ― Charles lhe deu um olhar de desgosto e Jeffrey se apressou a
acrescentar. ― Sim, sim, eu sei que não deveríamos ter ido lá, mas estava
entediado com os clubes e pensei que indo a um sitio com um pouco mais de
excitação era necessário. Escutei que estava acontecendo uma boa luta
nessa noite. George não queria ir, claro. Tinha que ir a um baile com sua
nova noiva. Começou uma luta (não aquela que esperávamos, é claro) e nos
separamos. Não o conseguia encontrar por isso deduzi que tinha ido para
casa.
― Porque mentiria? Num minuto ele estava a meu lado, no outro tinha
sumido. Procurei por todo o lado. Até fui a sua casa e depois ao baile, mas
não estava lá.
214
A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Não queria preocupar minha tia. Afinal de contas, ele podia ter ido a
qualquer lugar. Podia ter conhecido alguma sirigaita e tem estado se
divertindo, tanto quanto sei. George é um adulto, mesmo que seja um idiota.
Diz que ainda está desaparecido? Isso é curioso.
Jeffrey riu.
― Sim, senhor.
Talvez a última coisa que Charles queria fazer era ficar com Jeffrey. O
homem tresandava de fraqueza e álcool. Como era um homem de apostas,
desejava poder colocar sua aposta em como Jeffrey sabia exatamente onde
George estava. Quando voltou à sala, se sentou pesadamente na cadeira em
frente de onde Jeffrey se tinha arrastado de volta. Tomou mais um gole de
brandy, reprimindo um vómito.
― Tenho certeza que sabe mais do que o que nos está contando. ―
Disse Charles ao policial depois de o afastar de lado.
216
A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Charles deixou a sala, apenas para case tropeçar em Mr. Stavers que
estava claramente incomodado.
Marjorie tentou parar de pensar nas coisas terríveis que poderiam ter
acontecido a George, mas era quase impossível. Dorothea estava silenciosa;
a única indicação de que estava incomodada era a forma como apertava as
mãos em seu colo, uma bola apertada de preocupação.
― Ele deve estar aqui. Onde mais poderia estar? Devo falar com ambos
os rapazes sobre isto. Como seremos todos tolos por nos preocuparmos tanto
quando os encontrarmos.
― Ele estará aqui. ― Disse Dorothea com certeza. ― Onde mais poderia
estar?
217
A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Jeffrey, venha aqui neste momento. ― Ela chamou. ― Isto está além
do ridículo.
― Espere, espere. Mamãe, por favor. Pare. Por amor de Deus, escute
Mr. Norris. O que quer dizer, que não acredita nele. Porque que não?
― É apenas um palpite.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Acho que Jeffrey sabe mais do que o que diz. Talvez esteja tentado
proteger George.
― Eu não sei.
― Vou procurar por ele. ― Disse Charles suavemente. ― Acho que você
deveria.
― Não. ― Gritou Dorothea. ― Não posso ter vocês dois passeando por
Londres sem companhia e estou muito cansada para ir saltitando por
Londres à procura de George.
― Londres é uma cidade muito grande Marjorie e acho que isso é uma
caça aos gambozinos. Mas compreendo sua necessidade de não ficar em
casa esperando noticias. Eu iria se o conseguisse.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Charles a seguiu, seu rosto sério. Tentou a porta do pub, sorrindo com
satisfação quando esta abriu. Dentro, um homem usando um avental estava
varrendo vidro partido do chão, sem dúvida uma confusão criada por outra
ronda de luta de punhos.
― Lorde Summerfield esteve aqui duas noites atrás. Este foi o último
lugar em que foi visto. Estávamos nos perguntando se nos poderia dizer
alguma coisa dessa noite que nos pudesse ajudar a encontra-lo. Ele é um
rapaz alto e magro com cabelo vermelho flamejante.
― Há duas noites? Essa foi uma noite de luta. Não consigo me lembrar
de ver o homem que descreveu. Foi uma grande escaramuça essa noite e
quando a luta começou, o bar esvaziou rapidamente.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Quando os três olharam para ele, ele retirou o chapéu da cabeça e arrastou
os pés, parecendo como se desejasse de todo o coração ter ficado calado.
― Lhes diga o que sabe, Mickey, seja um bom garoto. ― Disse o dono
do bar, sua voz gentil.
Marjorie sorriu.
― Voltei para o lugar onde o cavalheiro caíra e ele tinha partido. Pensei
que simplesmente tinha ido para casa.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Mickey olhou para o dono do bar a pedir permissão para ficar com a
moeda e a colocou no bolso quando o homem assentiu.
― Ele pode ter perambulado, sem sentido. Ou ele pode ter sido
encontrado e levado para um hospital.
Marjorie assentiu, apesar de que sabia que ele estava omitindo outra
possibilidade: que seu irmão poderia estar morto.
― De fato.
New Row não lhes deu nada. Aas poucas pessoas que encontraram
afirmavam que não tinham visto nada, apesar de Marjorie ter a distinta
impressão que pelo menos duas das pessoas com quem falaram estavam
mentindo. Era tudo muito estranho e perturbador.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
enluvadas. Charles lhe entregou seu lenço e ela assuou o nariz nele. ― Ainda
não desisti. ― Ela disse ferozmente.
Ela não tinha ideia do que estava prestes a enfrentar. St. Bart’s e os
outros hospitais voluntários eram instituições que serviam os mais pobres
de Londres. Os ricos podiam pagar as despesas de viagem de um médico até
eles; muitos acreditavam que o hospital era um lugar para onde ir apenas
em última instancia. Era geralmente sabido que uma vez que se era
admitido em um hospital, sua próxima paragem era o cemitério.
― Ele pode ter sido ferido ou… ― Marjorie não se conseguia forçar a
dizer a palavra em voz alta, por isso Charles terminou suavemente a frase
dela. “Morto”. Ao lado dele, Marjorie se encolheu.
A enfermeira assentiu.
―Não posso acreditar no que estamos fazendo. Não parece real. Como
ele pode estar neste lugar? ― Ela abanou a cabeça. ― Ele não está aqui. Sei
disso.
― Queria que ela não nos dispensasse. Expliquei como era importante
que ela visse os registros de homens admitidos.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Então vamos ao edifício sul, apesar de que devo dizer que se alguém
tivesse trazido um homem sem os sentidos vestido como um nobre, eu teria
escutado alguma coisa.
Marjorie assentiu. Ela parecia perdida, tão triste que Charles desejava
poder tornar tudo melhor para que ela não tivesse que sofrer o que estava
por vir. Se seu irmão estava morto, seu primo seria o conde. Ele sabia o
suficiente para compreender que, dada a falta de provas, seria bastante
improvável que Jeffrey fosse julgado, nem se colocava a hipótese de ser
enforcado por seu crime. Estava convencido que Jeffrey tinha contratado
aqueles valentões, mas infelizmente não tinha provas e duvidava que a
Scotland Yard fosse encontrar alguma.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Lamento, miladie, mas não posso permitir que entre nessa ala.
― Se ele estiver vivo, ele tentaria enviar uma nota. Ele podia nos ter
informado. Passaram quase dois dias desde que foi atacado, se o que o
garoto disse for verdade. Porque é que ninguém veio ainda até nós? ― Ela
fechou os olhos como se fechasse seus pensamentos.
― Ele pode estar inconsciente. Ele pode ter sido levado para uma casa
privada e está sendo cuidado por alguém que não sabe quem ele é. Qualquer
possibilidade poderia ter acontecido. ― Charles colocou uma mão atrás da
cabeça dela e a puxou para si. Ela estava tão tensa, era como abraçar uma
grande boneca de madeira.
― Eu sei, amor.
― Westminster.
― Alice, pode esperar aqui. ― Disse Marjorie, tal como tinha dito nos
outros hospitais. Alice estava mais que satisfeita em esperar lá fora, pois ela
admitira livremente que os hospitais a deixavam nervosa. Em realidade,
também deixavam Marjorie nervosa.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Pensamos que Sua Excelência podia estar morto, como pode ver. ―
Ele explicou.
― Oh, céus, mas enviamos uma nota para sua casa, logo de manhã,
informando que ele estava aqui. Não é todos os dias que temos um conde em
nosso meio.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Oh, George. ― Chorou Marjorie e fez o seu melhor para abraçar seu
irmão. ― Não peça perdão. Nada disto foi culpa sua. ― Ela se afastou e olhou
para seu querido rosto. ― No entanto, estava tão preocupada. Tememos que
tivesse sido morto. ― Soltou uma gargalhada chorosa. ― Obviamente,
estávamos enganados.
― De tudo, não. Não me lembro de ter sido trazido para cá. Perdi o
baile. Lilianne deve estar terrivelmente ofendida.
Marjorie puxou uma cadeira para o lado da cama para que pudesse se
sentar ao pé de seu irmão.
― Não, ela estava apenas preocupada. Como todos nos. Nos fale do que
se lembra.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Fomos a um pub. Não queria ir, mas Jeffrey insistiu. Era suposto eu
acompanhar Lilianne ao baile e precisava me preparar. Eram seis horas e
precisava voltar para casa, mas Jeffrey não me queria ouvir. Fomos ao Lamb
& Flag. Fica em Rose Street. Bebi uma cerveja e Jeffrey bebeu várias.
Quatro, bebeu tão depressa quanto eu bebo uma. Então começou uma luta e
eu queria ir embora. Queria chamar uma carruagem de aluguel. Ia escoltar
Lilianne ao baile e sabia que ia chegar tarde.
Marjorie sorriu.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Não posso dizer quão feliz estou por alguma alma caridosa o ter
trazido para aqui. ― Disse Marjorie.
Quanto mais George pensava sobre tudo o que estava faltando, mais
agitado ficava. Marjorie pousou uma mão em seu ombro e lhe deu um aperto
gentil.
― George, não se perdeu nada que não possa ser substituído. A coisa
mais importante é que você está bem.
― Claro.
Uma hora mais tarde, George estava em sua própria cama sendo
examinado pelo médico dos Summerfield, Dorothea pairando por perto,
fingindo não estar preocupada de morte. Quando voltaram para casa, ela
estava apertando a nota do hospital e disse:
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Claro que eu sabia que estava bem. ― Mas seus olhos estavam de
um tom vermelho bem intrigante.
― Acho que nunca apreciei tanto uma boa chávena de chá. ― Disse
Marjorie, pousando sua chávena. ― Estou exausta.
Dorothea se afirmou.
― Não vamos fazer nada. O nome de nossa família não vai se arrastado
pela lama num julgamento e prisão.
― Não entendo.
― Acho que sei o que sua mãe quer dizer. ― Disse Charles, sentindo
que a tensão entre as mulheres poderia levar a uma discussão. ― Se formos
às autoridades, George será questionado. E ele apresentará os fatos da
forma que George o faz. E eles irão reparar como ele é estranho e eu temo (e
acho que sua mãe também) que eles não vão acreditar nele. Estou correto,
Mrs. Summerfield?
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Charles, que tinha cultivado uma aversão por Dorothea, não pôde
evitar admirar sua iniciativa e inteligência. Ela tinha razão, ele percebeu.
Qualquer advogado que valesse seu dinheiro faria George parecer um idiota
na tribuna. Ele apenas precisava perguntar a George sobre seus ancestrais e
lá iria o pobre homem, relatando sua linhagem com um detalhe excruciante.
― O que pode ser melhor que ter Jeffrey pagando pelo que ele fez? ―
Perguntou Marjorie.
Dorothea sorriu.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Ele não vai se preocupar, nem inquietar. A única coisa com que
provavelmente se preocupa é se George está vivo ou morto. Se estiver morto,
Jeffrey é o conde. Se George estiver vivo, meu primo saberá que está em
sérios problemas.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Ele vai ver George. Pequenos vislumbras aqui e ali vão precisar de
um pouco de planeamento de nossa parte. E, claro. Podemos apenas
começar quando George estiver pronto para a tarefa.
Marjorie se levantou.
― Muito bem, mas você deve acompanhá-la. Eles não devem ficar
sozinhos.
Charles quase riu alto porque ele quase conseguia ver como Marjorie
se controlava para não dizer a sua mãe como era idiota ter que acompanhar
o casal.
― Não.
― Antes que vá, Mr. Norris, gostaria de lhe agradecer. ― Parecia como
se as palavras fossem forçadas de sua garganta, como se limpasse até ao
último pedaço de geleia de um frasco.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Dorothea lhe deu um olhar murcho, como se soubesse que ele estava
sendo demasiado simpático para conseguir cair em suas boas graças. O que
era verdade, claro.
― Acho que sua mãe me está tentando matar. ― Ele disse roucamente,
voltando a beijá-la. Marjorie se pressionou contra ele e ele quase chorou de
alivio por a ter em seus braços. Se eles não se casassem logo, ele realmente
acreditava que iria morrer. Ele a beijou, profunda e duramente, como se
tentasse pegar o equivalente a uma semana de beijos num só. Era
desenfreado, selvagem e maravilhoso, mas muito, muito curto. O som de
passos atrás deles os forçou a se separarem. Estes encontros rápidos era
uma doce tortura para Charles.
― Diabos.
― Sim, diabos.
― Deixo essa decisão com você. Mas não pode ir mais longe. Seu primo
não pode suspeitar de nada.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Acho que ela nunca me vai aceitar. ― Disse Lilianne sem inflexão.
― Deixe que a leve até George. Sei que ele ficará feliz em vê-la.
garota que tinha sido ferido muitas, muitas vezes pelas circunstancias de
sua vida. Ela percebia agora que tal estratégia tinha sido um total fracasso.
George era seu filho e ela o amava. E se aquela garota o fazia feliz,
então ela supunha que teria que aceitá-la. Em privado, claro.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Capítulo 18
― Eu sei. Não estou aqui para ver Mr. Penwhistle. ― Disse Charles. ―
Estou aqui para ver você.
― Vai perceber em breve. ― Charles olhou além de Mr. Stavers para ver
uma criada espiando curiosamente o par. ― Onde podemos falar em privado.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Mas tenho uma posição, sir. Estou com a família Penwhistle há mais
de trinta anos.
― Sim, machucou.
― Então irei ajudar. E aprecio sua oferta de emprego. Mas, sir, você
não possui um mordomo? Não quero tirar a posição de outro homem.
Charles riu.
― Claro, sir.
― E sua esposa?
― A governanta.
― Duas filhas, sir, mas ambas estão bem casadas e com suas vidas.
― Ainda bem. Minha casa não é assim tão grande. Obrigado, Mr.
Stavers. Algum dia vai ficar sabendo sobre o que é tudo isto.
― Temo que algo terrível tenha acontecido com ele. ― Disse Marjorie. ―
Mas a polícia não vai fazer nada. Eles dizem que ele podia estar em qualquer
lugar, com qualquer pessoa. Mas eu sei que estão enganados. Eu sei que
George nunca desapareceria sem dizer nada.
― Pensamos que ele pode ter sido forçado a embarcar num navio. ―
Disse Dorothea e Marjorie teve que se controlar para não começar a rir. Isto
não fazia parte do plano, por isso ela ficou completamente surpresa pelo
comentário de sua mãe. ― Pode demorar anos antes que regresse. Sem
dúvida que escreverá e ficaremos saber que está bem em breve. Esses
americanos estão sempre atracando no porto e roubando homens.
― Ele pode ter fugido com uma sirigaita. ―Ela disse e Marjorie teve que
apertar as mãos com força para impedir outro ataque de riso.
― Essas são suas teorias? Certamente que percebeu que algo mais
obscuro pode ter acontecido. Já procurou nos hospitais? Nas morgues?
― Ou forçado a embarcar num navio, por muito difícil que isso seja de
acreditar.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Não quero mais ter esta conversa. George não está morto. Me recuso
a acreditar nisso. Não quero mais ter esta conversa.
― Acho que sua mãe tem que admitir que seu irmão não vai voltar.
Marjorie sorriu.
― Que ele foi forçado a embarcar num navio. Ou que fugiu. Me recuso
a contemplar a ideia de que ele já não está entre nós. Assim como mamãe.
― O futuro de quê?
Sim, essa noite na ópera seria maravilhosa. Deus, como ela o odiava.
Sempre que ele dizia o nove de George, ela queria gritar com ele. Não, bater
nele. Com força. Em sua boca presunçosa.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Juro que acabei de ver seu irmão sentado ao lado de Mr. Norris. Isso
é possível?
― Me atrevo a dizer que Mr. Norris nos teria contado se George tivesse
vindo à ópera, Jeffrey. ― Disse Marjorie suavemente. ― Mas talvez possamos
investigar durante o intervalo. Oh, espero que esteja certo.
― Mamãe, Jeffrey afirma que viu George sentado com Mr. Norris.
Vamos investigar.
Enquanto Marjorie saía, sua mãe lhe lançou o sorriso mais travesso,
quase parecendo uma garota jovem. Jeffrey e Marjorie se encaminharam
entre a multidão até o camarote de Charles, apenas para o encontrar com
um homem mais velho que ele apresentou como sendo seu tio.
― Ele acha que viu George com você. ― Disse Marjorie, soando
perplexa. ― Me deu tantas esperanças.
― Tem certeza de que era para meu camarote que estava olhando?
― Não tenho dormido bem. Toda esta estória sobre George tem me
deixado um pouco agitado.
Dorothea olhou para ele por um longo momento, tão longo que
Marjorie temia que sua mãe fosse dizer algo e desistir do jogo.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Esses últimos dias também tinham afetado George, que detestava que
sua rotina fosse interrompida. Ele estava ficando cada dia mais agitado,
apesar de compreender a necessidade daquilo que estavam fazendo. Ele não
se divertia tanto ao enganar Jeffrey; ele simplesmente queria acabar com
aquilo e dizer à Scotland Yard o que sabia.
― Se ele vir você, pode parar a carruagem. Assim que ele esteja longe
de sua vista, se encoste a um lado e corra para a outra sala.
― Apenas fique aí. Tente não sorrir, George. Ele está olhando? Ele o
vê?
Jeffrey apontou para a janela, seu rosto coberto por uma fina camada
de transpiração.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Ele estava parado aí na janela. Estava usando, oh, Deus. Ele estava
ali. Ele me acenou.
― Quem, Jeffrey?
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Capítulo 19
― Tamisa.
Ele não conseguia evitar olhar para a boca dela, seus seios, o contorno
de suas pernas. Ele não conseguia parar seus pensamentos carnais, não
quando conhecia o sabor dela, os sons que fazia quando gozava. Mas ele
tentou esconder esses pensamentos sempre que Dorothea olhava em sua
direção.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Onde, querida?
― Ali.
― Ele está usando… um casaco verde com um colete laranja. Ele tem,
oh Deus, ele tem cabelo vermelho.
― É George. Por Deus, não podem me dizer que não o veem. Ele está
olhando bem para mim. ― Jeffrey parou como se se engasgasse. ― Ele
acabou de me acenar. Mesmo agora. Bem ali. ― Ele apontou, sua mão
tremendo tanto que mal a conseguia manter levantada.
― Lilianne Cavendish?
― Não diga tal coisa. ― Disse Marjorie. ― George não o pode assombrar
porque não está morto.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Ele não está morto. Como pode possivelmente dizer tal coisa? Como
poderia possivelmente saber tal coisa?
― Ele era tão estúpido, tão crédulo. Tão pouco merecedor. Não era
justo.
― Desejava nunca o ter feito. Tem que acreditar em mim. Desejava não
ter contratado aqueles homens. Eu os devia ter parado, eu os devia ter
parado. ― Ele disse, finalmente vomitando no chão.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Jeffrey, por favor não faça uma cena. ― Disse Dorothea. ― Já é mau
o bastante que tenha vomitado em publico. Enviarei uma nota a sua mãe
para que ela saiba onde você está. Adeus, Jeffrey.
― Tia, o que quer dizer? O que está acontecendo? Eu não fiz nada.
Nunca toquei nele. ― Jeffrey olhou para o policial que tinha uma mão firme
em seu braço. ― Me solte, seu vira-lata. Está cometendo um erro terrível.
Sabe quem eu sou?
― Por favor venha calmamente, sir. Se o que você diz é correto, estará
em casa para o jantar. ― Disse o policial calmamente.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Capítulo 20
Um mês depois de sua prisão, ele tinha sido julgado e sentenciado pelo
crime de tentativa de assassinato. Ele estava, numa palavra, chocado. Como
podia ele ser culpado de um crime que não cometera? Ele não tinha tocado
em George. Tinham sido dois valentões criminosos que tinham desaparecido
nas entranhas de St. Giles. George tinha testemunhado, mas talvez o
testemunho mais incriminatório tenha vindo do policial e de Lady
Summerfield que tinham escutado Jeffrey confessar o crime. O júri deliberou
por vinte minutos.
últimas semanas e claro que não ficavam sozinhos. A família tinha estado
envolvida num escândalo terrível e renunciara a quaisquer atividades fora de
casa. Nem sequer se aventuravam por Hyde Park. Charles compreendeu,
claro, pois os jornais tinham estado cheios de detalhes sensacionalistas da
tentativa de assassinato. George se tinha tornado numa espécie de herói,
não só por ter sobrevivido ao ataque, mas por participar num plano tão
engenhoso para incriminar Jeffrey. Os detalhes vieram do próprio Jeffrey,
que parecia apreciar imenso sua celebridade e quem, talvez, pensasse que
contando sua estória conseguiria alguma simpatia. Seu plano tinha saído
pela culatra, pois as pessoas se regozijavam de sua queda e celebraram
quando foi condenado.
― Deve saber, miladie. Vim para pedir a mão de sua filha. De novo.
― Podemos parar com esta farsa, por favor? Sabe que sua filha e eu
nos vamos casar, com ou sem sua permissão. Marjorie gostaria de seu apoio
em nosso casamento e que estivesse na cerimónia. É meu desejo também, de
coração.
― Oh?
― Dificilmente posso me zangar com você por não ter arruinado minha
filha, pois não?
― Não, madame.
― Não o farei.
― Muito bem.
Por alguma razão, essa pequena admissão tocou Marjorie. Sua mãe
nunca dizia uma palavra indelicada sobre seu pai, apesar de ela se
perguntar muitas vezes se seus pais alguma vez se amaram.
― Sei que amanhã não vai ser fácil para você, mas estou muito feliz
que vá estar lá, mamãe. Seria simplesmente horrível se não estivesse.
― Pensei que tiraria suas coisas para esta noite. ― Ela disse, indo para
o guarda-roupa onde estava o vestido de noiva pendurado. Era um modelo
Worth, claro e já que não tinham tempo para viajar a Paris para comprar um
novo vestido, Marjorie teria que usar um que já possuía, para deceção de
sua mãe. O vestido era um de seus favoritos, com uma azáfama absurda que
tornava quase impossível sentar, perfeito para caminhar até o altar. Era de
tom creme com renda rosa claro e um decote modesto perfeitamente
adequado para um casamento.
Marjorie subiu a sua cama, puxou seus joelhos para seu queixo e
observou o trabalho de sua criada.
Marjorie sorriu para Alice enquanto esta saía, feliz que pelo menos
algo seria familiar em sua nova casa. Charles tinha atraído uma grande
parte dos funcionários da casa de Jeffrey, aparentemente e seria bom ver
tantas caras familiares.
― Estou tão feliz que tenha sido capaz de vir. Charles fala muito de
você. Espero que nos venha visitar a Londres mais vezes.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
um tigre. O tigre, neste caso particular, era sua maldita perna. Nesse dia, de
todos os dias, doía como o diabo depois de lhe dar dias e dias de descanso.
Ele não estava nervoso. Não, nervoso era demasiado leve. Depois de
arrastar o desfloramento de Marjorie, ele sentia pressão adicionada para
tornar aquela noite perfeita para ela. E como é que ele possivelmente poderia
tornar as coisas perfeitas quando estava preste a machucá-la?
Ainda assim, havia sangue. E dor. E prazer, pelo menos para ele. E
Deus sabia que ele tinha passado demasiadas noites sem dormir se
imaginando empurrando dentro dela. Apenas o pensamento o fazia tremer, o
fazia esquecer a dor de sua perna por um momento. Sim, era mesmo isso.
― Sua perna o tem estado incomodando todo o dia. Tem certeza que
você...
― Está assustada?
― Não tenho ideia. ― Passou uma mão por seu cabelo, soltando as
mechas antes domadas.
Marjorie riu.
Ele mordeu seus lábios e ele deu dois passou e, colocando uma mão
atrás da cabeça dela, a puxou para um beijo longo e profundo que lhe dizia o
quanto ele a queria. Sua outra mão foi inequivocamente para um seio, seu
polegar raspando o mamilo duro. Quando ele se afastou vários segundos
depois, ela mal conseguia respirar. Suas bochechas estavam rubras, desta
vez não de vergonha, mas de excitação.
― Não posso acreditar que posso ter você agora, sempre que eu quiser.
― Sempre?
― Por favor. ― Ele disse. ― É seu para tocar sempre que quiser.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Está ferido.
Ela assentiu e se preparou, o que fez com que ele risse de novo.
Oh, céus.
Ela não soltou um único som. Ele olhou para ela, tentando ver se ela
estava ferida, mas ela apenas sorriu.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
Epílogo
― Vovó, atire!
Dorothea pegou na bola e a atirou a seu neto, agora de dois anos, que
corria atrás de cada bola que ela atirava como um pequeno cachorrinho. Ele
tinha um bastão bastante pequeno e mesmo tão novo, conseguia balança-lo
violentamente e conectar com a bola mais vezes do que falhava.
negros saltando, correndo atrás da bola. Era a coisa mais estranha, ser uma
avó. Já não se preocupava tanto sobre como as coisas se desenvolveriam.
Esse era o trabalho de Marjorie e um que ela parecia estar fazendo bastante
bem. O pequeno Michael já demonstrava ser um rapaz inteligente e educado,
mas cheio de travessuras e tão charmoso quanto seu pai.
Seu neto olhou para ela seriamente, seus pequenos olhos azuis
arregalados.
― Ela sorriu.
― Ainda não.
― Eu estou cansada e ainda não fiz nada o dia todo. ― Ela disse.
― Ele vai estar jogando pelo All-England Eleven antes que dê por isso.
Dorothea fungou.
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A Noiva Solteirona - Jane Goodger
― Eu espero que ele aspire a melhor que isso. ― Ela disse. ― O North
Eleven, por exemplo.
Quatro netos. Quatro. Deveria fazer com que se sentisse velha. Em vez
disso, Dorothea experimentou uma ligeireza que a fez se sentir como aquela
garota jovem e cheia de esperanças que tinha sido antes.
Não, não teria. Porque aquele sentimento que tinha nesse momento
não teria sido alcançado sem toda a dor e sofrimento. Ela seria uma mulher
diferente e as chances eram de que ela não teria esta ligeireza e este ar em
seu coração apenas por ver sua filha com sua pequena família.
Fim
270