TEMA 5 - Tipos de Processos Inflamatóriso e Neoplasias
TEMA 5 - Tipos de Processos Inflamatóriso e Neoplasias
TEMA 5 - Tipos de Processos Inflamatóriso e Neoplasias
PROPÓSITO
Os processos inflamatórios são divididos em processos agudos e crônicos, compreender como
acontece esses processos possibilita identificar as alterações morfológicas em cada tipo de
inflamação. As neoplasias podem acometer qualquer tecido do organismo. Analisar as
peculiaridades de cada tipo de neoplasia e as alterações causadas na estrutura do tecido
auxilia a interpretação dos exames histopatológicos.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
/
Identificar as neoplasias
INTRODUÇÃO
Ao longo deste tema, vamos estudar os processos inflamatórios agudos e crônicos e entender
as suas diferenças, como são desencadeados e as alterações morfológicas que cada um
desses tipos de inflamação pode ocasionar nos tecidos. Além disso, vamos explorar os
diferentes tipos de neoplasias e a peculiaridade de cada um desses processos nos diferentes
tecidos do corpo.
MÓDULO 1
INFLAMAÇÃO
Inflamação deriva do latim inflamare e do grego phlogos, que significa “pegar fogo”. A
inflamação é a manifestação das respostas imunitárias inata e adaptativa orquestradas por
mediadores inflamatórios (pró-inflamatórios, anti-inflamatórios e pró-resolução).
/
Primeira linha de defesa do organismo. Não gera memória imunológica e é altamente
inespecífica. Exemplos: barreiras físicas, químicas, barreiras microbiológicas (microbiota
normal), presença de macrófagos (fagócitos) nas mucosas; produção de proteínas (enzimas),
como a lisozima na lágrima que tem poder antimicrobiano. Principais células: macrófagos,
neutrófilo e células NK.
ADAPTATIVA
MEDIADORES INFLAMATÓRIOS
Mediadores inflamatórios são substâncias produzidas pelas células que atuam na comunicação
entre as células. O reconhecimento pelas células desses mediadores gera uma cascata de
ativação intracelular que culmina em uma resposta celular que pode ser pró-inflamatória, anti-
inflamatória ou pró-resolução.
Essa é uma resposta protetora que acontece em uma série de etapas e tem a finalidade de
recrutar células e moléculas de defesa da circulação para os locais da agressão com o objetivo
de eliminar o agente agressor.
Você imagina por que quando uma farpa entra no nosso pé em poucas horas ela fica vermelha,
quente e dolorida? Vamos entender?
INFLAMAÇÃO AGUDA
/
A inflamação aguda é a primeira resposta do organismo frente a um agente agressor, inicia-se
em poucos minutos após a agressão, tem uma pequena duração e é autolimitada. Essa
resposta é uma manifestação do sistema imune inato, que acontece em tecidos altamente
vascularizados e pode ser desencadeado por diferentes estímulos.
Toxinas microbianas
Fonte: O autor.
O edema denota excesso de fluido no tecido intersticial ou das cavidades serosas, que
pode ser ou um exsudato ou um transudato.
Essa resposta vai gerar os 5 sinais cardinais (clássicos) da inflamação, que são: calor,
vermelhidão, edema, dor e perda de função.
A dor: A vasodilatação comprime fibras nervosas que ocasionam a dor e são liberados
mediadores que causam dor (prostaglandinas, neuropeptídios e citocinas).
SAIBA MAIS
A partir dessas informações, você imagina por que quando vamos a praia a queimadura de sol
só aparece algum tempo depois? A Resposta é a seguinte: a queimadura de sol vai
desencadear um aumento da permeabilidade vascular pela lesão ao endotélio leve e contração
endotelial. No entanto, nesse caso, a vasodilatação e o aumento da permeabilidade com o
extravasamento de proteínas e células da corrente sanguínea, vai acontecer de forma tardia e
prolongada. A vasodilatação e o aumento da permeabilidade vão causar vermelhidão, dor e
edema na pele característico da queimadura de sol, que vão aparecer tempos depois da
exposição ao sol.
Além disso, os leucócitos passam a expressar na membrana plasmática, estimulados por
citocinas, moléculas de adesão, ou seja, moléculas de reconhecimento dos leucócitos com as
células endoteliais. Em um primeiro momento, a marginação e a expressão de moléculas de
adesão (chamadas de seletinas) permitem a ligação dessas células à parede vascular de forma
transitória, separando e se ligando novamente, ocorrendo assim o rolamento da célula na
parede endotelial.
Em seguida, os leucócitos tornam-se ativados e aderem ao endotélio com uma ligação mais
(via moléculas de adesão chamadas de integrinas). Após essa adesão forte, os leucócitos
passam entre as células endoteliais (diapedese), ultrapassando a membrana basal,
provavelmente, pela a produção de colagenases que clivam o tecido conjuntivo, entram no
tecido extravascular e migram ao local da lesão através de estímulos quimiotáxicos
/
Na figura a seguir, temos um esquema resumindo as etapas da resposta que acontece durante
a inflamação aguda. Vamos conhecer?
Esquema mostrando a Inflamação aguda. No exemplo, a agressão foi causada pelo prego.
/
Hematopoese. Esquema ilustrando a síntese das células sanguíneas na medula óssea.
Vamos agora conhecer cada uma dessas células e quando elas são ativadas.
NEUTRÓFILOS E MACRÓFAGOS
NEUTRÓFILOS
Os neutrófilos ou polimorfonucleares ou neutrófilos segmentados são leucócitos presentes na
corrente sanguínea que apresentam núcleos formados com 3 ou 5 lóbulos, ligados entre si por
pontes de cromatinas e são as células mais abundante na circulação periféricas. Essas células
fazem parte da imunidade imune inata e apresentam alta capacidade fagocítica atuando,
principalmente, na defesa contra as bactérias.
/
Ilustração 3D dos neutrófilos. Na imagem, a célula apresenta o núcleo com 3 lóbulos. Essa
célula é um fagócito e, normalmente, está presente nas primeiras horas da resposta
inflamatória aguda.
Na grande maioria dos processos inflamatórios agudos, nas primeiras 24 horas, os neutrófilos
são as primeiras células a serem recrutadas, pois estão em maior concentração na corrente
sanguínea, respondem mais rapidamente aos mediadores inflamatórios e aderem com maior
facilidade ao endotélio vascular.
Após a entrada nos tecidos, os neutrófilos têm vida curta, pois realizam a fagocitose e, em
seguida, entram rapidamente em apoptose. Nas infecções bacterianas, como as produzidas
pela bactéria Pseudomonas sp., o infiltrado celular é predominantemente de neutrófilos, que
são continuamente recrutados por vários dias seguidos.
FAGOCITOSE
Fagocitose é o processo pela qual uma célula engloba partículas sólidas (patógenos ou restos
celulares) a partir de projeções na membrana plasmática (pseudópodes) com posterior
eliminação dessa partícula. Células como macrófagos e neutrófilos são exemplos de fagócitos.
Também realizam fagocitose as células dendríticas e as células Natural Killer (NK).
APOPTOSE
MACRÓFAGOS
Após um determinado período da resposta inflamatória aguda (aproximadamente 24-48 horas),
o recrutamento de neutrófilos diminui e o predomínio passa a ser dos monócitos com maior
presença de macrófagos no local da inflamação. De forma diferente dos neutrófilos, essas
células quando saem da corrente sanguínea, sobrevivem por mais tempo, pois se diferenciam
em macrófagos, conseguem se proliferar nos tecidos.
/
Esquema ilustrando os monócitos. Os monócitos apresentam núcleo ovoide em forma de
ferradura, com a cromatina frouxa e o citoplasma basófilo com alguns grânulos (lisossomos).
Essa célula está presente na corrente sanguínea e é uma fase de maturação da célula
mononuclear fagocitária originária na medula óssea, que, após alguns dias na circulação
sanguínea, passa para os órgãos terminando sua diferenciação em macrófagos.
/
PRINCIPAIS MEDIADORES
INFLAMATÓRIOS
No vídeo a seguir, serão apresentados os principais tipos de mediadores inflamatórios.
Hematopoese
As células sanguíneas são sintetizadas na medula óssea a partir das células pluripotentes
hematopoéticas. Essas células respondem a diferentes estímulos (fatores de crescimento), que
estimulam a proliferação e diferenciação celular. /
Os macrófagos são fagócitos do sistema imune inato e que condicionam a resposta imune
adaptativa, pois funcionam como uma célula apresentadora de antígenos aos linfócitos T,
iniciando assim a resposta imune adaptativa.
Os macrófagos residentes dos tecidos, quando em contato com o agente agressor, são
capazes de fagocitar na tentativa de eliminá-lo e produzir mediadores inflamatórios,
destravando o processo inflamatório.
Não são só os macrófagos que ativam a inflamação. As células residentes do tecido também
apresentam a capacidade de produção de mediadores inflamatórios.
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Esquema ilustrando os macrófagos. No esquema são apresentados inúmeros grânulos que
representam os lisossomas.
Foto ilustrando os macrófagos (seta). Na foto podemos observar que os macrófagos são
moléculas grandes, com núcleos arredondados, citoplasma abundante e granular (seta).
EOSINÓFILO
Os eosinófilos são células que estão presentes em pequenas concentrações no sangue
periférico, estando mais distribuídos nas regiões de mucosa, ou seja, no trato gastrointestinal,
respiratório e geniturinário. Essas células apresentam núcleos com dois lóbulos e seu
citoplasma repleto de grânulos altamente catiônicos que se coram em vermelho pelo corante
eosina.
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Esquema ilustrando os eosinófilos. No esquema são apresentados inúmeros grânulos
coráveis com o corante de eosina.
Corte histológico de fígado, corados com HE, aumento de 40x. Na foto vemos a presença
de eosinófilos com núcleo bilobado e grânulos acidófilos (seta azul), que coram pela eosina.
Essa lâmina foi obtida de um paciente com granuloma provocado por Schistosoma mansoni.
Os eosinófilos são recrutados da mesma forma que os neutrófilos (pela ação de mediadores
inflamatórios e ligação ao endotélio pelas moléculas de adesão). No entanto, são recrutados
/
nas infecções parasitárias (parasitas muito grandes não conseguem ser fagocitados) e nas
reações alérgica.
GRÂNULOS
Proteína básica principal que apresenta toxicidade para parasitas, induz a degranulação
de mastócitos e basófilos, e ativa a síntese de fatores de remodelação por células
epiteliais.
Peroxidase eosinofílica, que têm grande potencial citotóxico sobre parasitas, mas
também podem causar lesão tecidual.
SAIBA MAIS
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Os basófilos derivam de progenitores da medula óssea e circulam no sangue. Os
grânulos dos basófilos, que se coram em azul-escuro com um corante básico, contêm
histamina e outros mediadores bioativos da inflamação. A imunoglobulina E (IgE),
secretada por plasmócitos, se liga a basófilos deflagrando a liberação de histamina e
agentes vasoativos dos grânulos dos basófilos.
Após o recrutamento dos leucócitos para o local da inflamação, à medida que o agente é
eliminado pela fagocitose, o organismo libera mediadores anti-inflamatórios que visam a
diminuição da resposta inflamatória e o retorno da homeostase (resolução completa).
No entanto, os leucócitos ao serem ativados liberam metabólitos tóxicos e proteases que
geram danos ao tecido. Nesse caso, no final do processo inflamatório, ocorre um reparo com a
substituição pelo tecido conjuntivo (fibrose ou cicatrização).
A cicatrização também ocorre nos locais onde não é possível a regeneração tecidual e em
cavidades serosas (como a pleura e o peritônio). Caso o agente agressor não seja eliminado, o
resultado é a evolução para a inflamação crônica, que estudaremos no próximo módulo.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
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MÓDULO 2
INFLAMAÇÃO CRÔNICA
O que é inflamação crônica?
No quadro a seguir (Quadro 02), podemos ver as diferentes causas das inflamações crônicas.
Doenças de hipersensibilidade
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Doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer; a síndrome metabólica e o
diabetes do tipo 2; certas neoplasias, em que as reações inflamatórias promovem o
desenvolvimento de tumores
Fonte: O autor.
FIBROSE
O termo fibrose é utilizado para descrever a deposição extensa de colágeno que ocorre nos
pulmões, fígado, rins e outros órgãos, como consequência da inflamação crônica ou no
miocárdio, após a necrose isquêmica extensa (infarto). A fibrose é um processo patológico
induzido por estímulos lesivos persistentes, como infecções crônicas e reações imunológicas,
tipicamente associado à perda tecidual. Já organização é uma fibrose que ocorre em um
espaço tecidual ocupado por exsudato inflamatório.
Nesse tipo de resposta inflamatória, as células dominantes são os macrófagos. Como visto,
essas células são residentes dos tecidos e são recrutados ao local da inflamação em resposta
aos mediadores inflamatórios. Em uma inflamação aguda, normalmente, essas células são
recrutadas após 48 horas do início da inflamação e apresentam a capacidade de se instalar e
proliferar no local da agressão, persistindo assim por bastante tempo. Essas células:
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Fagocitam e eliminam os microrganismos e tecido necrosado.
Dessa forma, os macrófagos iniciam uma cascata de ativação que é essencial para a defesa
contra muitos microrganismos através de respostas imunológicas mediadas por células.
Entretanto, em inflamações crônicas, podemos observar o predomínio de linfócitos como
acontece nas doenças de hipersensibilidade e em algumas doenças autoimunes.
LINFÓCITOS
Os linfócitos B e T são originários da medula óssea a partir do mesmo progenitor linfoide, mas
a maturação dessas duas células acontece de forma distinta. As células que vão originar os
linfócitos T saem da medula e vão para o timo, onde ocorre todo o processo de diferenciação;
após a diferenciação, os linfócitos T maduros atingem a circulação.
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Linfócitos. Os linfócitos são divididos em linfócitos T e B e são células que podem amplificar
e propagar a resposta inflamatória.
ATENÇÃO
Em inflamações agudas, podemos ter como primeiras células recrutadas os linfócitos, são
exemplos nas infecções virais e algumas reações de hipersensibilidade que temos o
predomínio de linfócitos ativos, macrófagos.
Vamos agora ver a importância dos linfócitos T e B nos processos inflamatórios crônicos.
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LINFÓCITO T
Os linfócitos T são responsáveis pela resposta celular e são divididos em linfócitos T CD4+
(auxiliares) e TCD8+ (citotóxicos), mas os linfócito T CD4+ é o tipo de linfócito mais importante
na manutenção do processo inflamatório crônico.
O linfócito T CD8+: Esse tipo de linfócito T é ativado quando a célula é infectada com
antígenos intracitoplasmáticos (infecção viral), e nas células tumorais. Após o reconhecimento
e interação das células infectadas com os linfócitos T CD8+, há fusão das membranas (por
exocitose) e liberação dos grânulos citoplasmáticos do linfócito T, a granzima (que induz
apoptose da célula danificada) e perforina (que cria poros na membrana), gerando a destruição
das células. Além disso, há liberação de citocinas que ativam as células inflamatórias.
LINFÓCITOS B
Os linfócitos B são responsáveis pela resposta humoral, que se caracteriza pela produção de
anticorpos (imunoglobulinas) capazes de neutralizar, ou até mesmo destruir os antígenos.
Durante a resposta imune, os linfócitos B são ativados através do reconhecimento de uma
parte do antígeno por um receptor de membrana.
Essa ligação gera uma cascata de ativação que culmina na proliferação e diferenciação em
várias células capazes de secretar anticorpos com alta afinidade chamadas de plasmócitos.
Nas inflamações crônicas, estão presentes os linfócitos B ativados e os plasmócitos. Os
anticorpos produzidos por essas células podem ser específicos para antígenos estranhos,
contra o tecido lesado e até mesmo contra o próprio organismo.
SAIBA MAIS
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antígenos e os plasmócitos se agrupam para formar tecidos linfoides que lembram linfonodos.
Eles são chamados de órgãos linfoides terciários.
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A INFLAMAÇÃO CRÔNICA INESPECÍFICA (OU NÃO
GRANULOMATOSA)
Consiste em um acúmulo difuso de macrófagos e linfócitos, com distribuição no tecido
lesionado ao redor do vaso e/ou no interstício conjuntivo. Nesse tipo de inflamação crônica,
também ocorre a proliferação de fibroblastos, com subsequente formação de uma cicatriz que
substitui o tecido conjuntivo normal.
CICATRIZ
Associada à cura de feridas na pele, também é usada para descrever a substituição de células
parenquimatosas em qualquer tecido por colágeno, como ocorre no coração após infarto do
miocárdio.
Exsudato inflamatório crônico inespecífico, com linfócitos (seta azul), plasmócitos (seta
vermelha), macrófagos (seta preta) e fibroblastos (seta verde) distribuídos difusamente e ao
redor dos vasos sanguíneos.
/
Nas fotos, podemos observar as diferentes características morfológicas dos linfócitos,
plasmócitos, macrófagos e fibroblastos jovens (núcleo ovalado ou alongado, volumoso,
cromatina frouxa. Citoplasma escasso, às vezes, de difícil identificação, podendo formar
prolongamentos saindo dos polos nucleares) presentes no exsudato inflamatório crônico
inespecífico (aumento de 40X).
Os granulomas podem ser de dois tipos de acordo com a sua patogenicidade, os granulomas
de corpo estranho e os granulomas imunes. No quadro a seguir (Quadro 03), podemos
conhecer as diferentes causas dos granulomas.
Fonte: O autor. /
Você sabe o que é um granuloma?
O principal constituinte dos granulomas são as células epitelioides, que são macrófagos com
um volume aumentado, alongado com a cromatina frouxa e que, na coloração de hematoxilina
e eosina, apresenta um citoplasma granular rosa com limites indistintos. Essas células estão
interligadas entre si, o que se assemelha a um epitélio, e são circundados por linfócitos. Em
granulomas mais antigos, eles podem ainda estar envolvido por tecido conjuntivo e
fibroblastos.
ATENÇÃO
As células epitelioides são os constituintes obrigatórios dos granulomas. Caso não tenha essa
célula, não é considerado um granuloma.
SAIBA MAIS
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INFLAMAÇÃO CRÔNICA GRANULOMATOSA IMUNES
Corte histológico, corado pela HE de linfonodo, aumento de 10X. Na foto, paciente com
tuberculose linfodonal. Exemplo de granuloma de corpo estranho. O granuloma é formado por
um amontoado de macrófagos que sofreram alterações, circundados por linfócitos T e que
pode estar associado à necrose tecidual.
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Corte histológico, corado pela HE de linfonodo, aumento de 40X. Na foto, paciente com
tuberculose linfodonal. Observar a presença de células epitelioides, sem limites definidos e
com o plasma corado em vermelho e células gigantes do tipo Langhans, que são células com
os núcleos em forma de ferradura.
/
Inflamação crônica granulomatosa de corpo estranho. Corte histológico de tecido subcutâneo
corado pela HE, com aumento de 10X e 40X. No tecido, há acúmulo de lipídeos, que
funcionam como um corpo estranho. Na foto, a gotícula de lipídeo é envolvida por macrófagos,
com depósito das células epitelioides e gigantes. As células gigantes no granuloma de corpo
estranho apresentam vários núcleos que se agrupam no centro da célula.
/
EFEITOS SISTÊMICOS DA INFLAMAÇÃO
No vídeo a seguir, você vai conhecer os efeitos sistêmicos da inflamação.
O reparo representa a restauração da arquitetura e da função dos tecidos após uma lesão, que
pode ocorrer por dois mecanismos diferentes, dependendo do tamanho e local da lesão:
/
REGENERAÇÃO TECIDUAL
Processo pelo qual as células lesionadas são substituídas por células do mesmo tecido,
restaurando a morfologia e o funcionamento normal do tecido. A restauração tecidual ocorre
pela proliferação de células residentes que sobreviveram à agressão e, em alguns casos, a
partir das células-tronco desses tecidos.
Esse processo é coordenado por fatores de crescimento que são liberados pelos macrófagos
ativados durante a inflamação e pelas células epiteliais e endoteliais localizadas próximas ao
local da lesão.
A regeneração acontece nas lesões leves e superficiais. Além disso, vai depender da
capacidade de proliferação intrínseca das células lesadas. Com base na capacidade
proliferativa, as células dos tecidos são divididas em 3 grupos (Quadro 04).
Tecido
hematopoiético da
São células que medula óssea; Esses tecidos
estão Maioria dos epitélios podem regenerar-
continuamente de superfície (pele, se prontamente
Lábios ou em divisão pela cavidade oral, após a lesão,
instáveis proliferação das vagina e cérvice), contanto que a
células troncos e epitélio do pâncreas, reserva de células-
de células glândulas salivares, tronco esteja
maduras. trato biliar, do trato preservada.
gastrointestinal,
trompas de falópio.
São
terminantemente Neurônios, células
Realizado pela
diferenciadas e musculares
Permanentes formação de
não cardíacas e
cicatriz.
proliferativas na esqueléticas.
vida pós-natal.
Fonte: O autor.
O reparo por reposição do tecido conjuntivo que seguem as lesões teciduais e em uma
resposta inflamatória ocorre em etapas conectadas (inflamação, proliferação, contração da
ferida e remodelamento) e didaticamente são divididas em dois grandes grupos:
Quando a perda de células ou tecidos é mais extensa, como ocorre em grandes feridas,
abscessos, ulcerações e na necrose isquêmica (infarto) de órgãos parenquimatosos. Nesses
casos, o processo de reparo segue as mesmas etapas (inflamação, proliferação e
remodelamento). No entanto, como a lesão é maior, o processo envolverá maior reação
inflamatória, maior quantidade de restos necróticos e exsudato inflamatório. Há
desenvolvimento abundante de tecido de granulação, acúmulo de MEC e formação de uma
grande cicatriz, além de uma contração da ferida pela ação de miofibroblastos.
A fase inflamatória inicia-se com o recrutamento de neutrófilos para o local da lesão. Após
24 h, os macrófagos se juntam aos neutrófilos para continuar a ingestão de fragmentos
celulares; estes desempenham papel essencial na produção de fatores de crescimento para a
fase proliferativa. Os macrófagos são células-chave constituintes do reparo tecidual,
removendo os resíduos extracelulares, a fibrina e outros materiais estranhos, além de
promover angiogênese e deposição de MEC.
Nos tecidos, uma lesão persistente leva à inflamação crônica e perda da arquitetura tecidual.
Os mediadores inflamatórios produzidos pelos leucócitos e células residentes do tecido, além
de desencadear o processo inflamatório, vão estimular a migração e proliferação de
fibroblastos e miofibroblastos, além da deposição de colágeno e outros tecidos de matriz, com
substituição do tecido normal pela fibrose.
O mecanismo que esse reparo acontece é o mesmo que ocorre na pele. No entanto, nos
tecidos, a fibrose é um processo patológico e pode ser responsável pela perda da função e
insuficiência dos órgãos.
Os distúrbios causados pela fibrose incluem diversas doenças crônicas e debilitantes, como
cirrose hepática, esclerose sistêmica, doenças fibrosantes do pulmão, doença renal terminal /
e pericardite constritiva.
Fibrose pulmonar idiopática, pneumoconioses e fibrose pulmonar induzida por radiação e por
drogas.
Na figura a seguir, podemos observar o padrão histológico do reparo tecidual por fibrose.
Vamos observar?
A foto mostra o parênquima pulmonar, com granuloma encapsulado por uma rede de fibrina
(Seta).
/
A foto mostra o tecido de granulação (com a presença de novos capilares e células
inflamatória). Na foto, também estão demostrados fibroblastos e a síntese de colágenos. A
fibrose é a evolução final do tecido de granulação.
A foto mostra fibroblastos com núcleo alongado, volumoso, cromatina frouxa e com
prolongamentos saindo dos polos nucleares. Os fibroblastos estão envoltos de uma substância
amorfa, altamente proteica que se cora de rosa, que representam as fibras colágenas.
/
ATENÇÃO
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
Identificar as neoplasias
/
NEOPLASIA
O que é Neoplasia?
Neoplasia ou tumor significa um “novo crescimento” e é uma massa anormal de tecido, cujo
crescimento é excessivo, não coordenado e persistente.
/
No tecido epitelial, as células apresentam hiperqueratose (produção anormal de queratina) e
coilocitose (célula com citoplasma claro e núcleo picnótico). O tecido conjuntivo faz projeções
afiladas que acompanham o epitélio e é composto de vasos sanguíneos, arteríolas e fibras
colágenas, o chamado eixo conjuntivo-vascular.
Corte histológico, corado com HE, aumento de 10X. A foto está representando um Papiloma
urotelial de bexiga. O papiloma é uma neoplasia de tumor benigno onde o tumor não infiltra o
estroma. O epitélio apresenta projeções papilares (círculo) ao longo de eixos conjuntivo-
vasculares.
ADENOMAS
São tumores epiteliais benignos que surgem no epitélio da mucosa (estômago, intestino
delgado e intestino grosso), nas glândulas (endócrinas e exócrinas) e tubos. Os adenomas
podem evoluir para neoplasias malignas, muito comum nos adenomas de cólon, que causam
complicações sérias, como a compressão de outros órgãos e podem produzir quantidades
anormais de hormônios.
As células apresentam variação no volume celular, com dois ou três núcleos, hipercromasia
citoplasmática e nuclear e perda da capacidade de diferenciação em células colunares e
caliciformes. Em órgãos com cavidade oca, como no trato digestivo, o adenoma cresce acima
do lúmen, formando o chamado pólipo.
PÓLIPO /
NEOPLASIAS EPITELIAIS
As neoplasias epiteliais são classificadas de acordo com as células de origem, o padrão
macroscópico e microscópico. No quadro a seguir (Quadro 05), podemos conhecer melhor a
nomenclatura das neoplasias nesse tecido.
Tumor
Origem Tumor Maligno
Benigno
Fonte: O autor.
Veremos a seguir um pouco mais sobre esses tipos de neoplasias e o padrão histológico de
cada uma delas.
PAPILOMAS
Neoplasias epiteliais benignas que originam projeções no epitélio de revestimento.
Macroscopicamente, apresentam-se como uma lesão com a superfície irregular ou verrugosa
com aspecto de couve-flor. Histologicamente, há projeções digitiformes (em forma de dedos)
do epitélio de revestimento. /
Tudo aquilo que se eleva acima da mucosa, independente da natureza do tecido que origina.
Tipos:
Pólipos neoplásicos benignos: Pólipos maiores (a partir de 0,5 cm), que tendem a ser
pedunculados.
Corte histológico, corado com HE, aumento de 10X. Na foto, está representado um
adenoma de reto. A foto mostra o componente granular do adenoma, com os ápices das
células voltados para o lúmen envoltas de tecido conjuntivo (círculo).
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Corte histológico, corado com HE, aumento de 10X. Na foto, está representado um
adenoma de reto. A foto mostra o componente viloso do adenoma, com longas projeções em
dedo de luva, com células cilíndricas assentadas sobre eixos conjuntivo-vasculares, e o ápice
está voltado para a superfície da vilosidade.
Corte histológico, corado com HE, aumento de 40X. Na foto, está representado um
adenoma da supra renal, em que o tumor apresenta células com dois núcleos, células com
diferentes tamanhos, hipercromasia nuclear, citoplasmática e desorganizados.
/
Corte histológico, corado com HE, aumento de 10X. Na foto, está representado um
adenoma folicular da Tireoide, em que o tumor apresenta uma cápsula fibrosa de espessura
variável. O tecido neoplásico é mais compacto que o tecido tireoidiano normal e apresenta
pequenos folículos.
Corte histológico, corado com HE, aumento de 10X. Na foto, está representado um
adenoma de reto. Nos adenomas epiteliais, as células perdem a capacidade de se diferenciar
em células caliciformes e colunares.
/
Corte histológico, corado com HE, aumento de 40X. Na foto, está representado um
cistoadenoma de ovário. Mostra-se o epitélio de revestimento cilíndrico, semelhante ao
encontrado na trompa de falópio, e com cílios, pela ação do estrogênio. O epitélio do ovário é
caracterizado por um epitélio cilíndrico simples.
CARCINOMA EPIDERMOIDE
Neoplasia maligna comum na pele, com grande capacidade de metástase para linfonodos,
hematogênicas, fígado e pulmão. Esse tumor pode ser originado no epitélio escamoso ou outro
epitélio que tenha sofrido metaplasia para o epitélio escamoso, como o epitélio cilíndrico ciliado
(mucosa brônquica) ou epitélio simples mucoso (endocérvice).
As células imitam a epiderme normal, mas apresentam uma arquitetura desorganizada, com
diferentes formas, atipias nucleares e mitoses típicas e atípicas. Há áreas bem diferenciadas
com grupamentos celulares com condensação da queratina, a chamada pérola córneas e
desmossomos (junção intracelular que mantém as células unidas) e áreas menos
diferenciadas, com figuras de mitoses mais frequentes.
/
Carcinoma epidermoide da pele. Corte histológico de lesão epitelial, corado por HE,
aumento de 10x e 40x.
CARCINOMA BASOCELULAR
Neoplasia maligna de pele, comum em áreas expostas, principalmente, na face (sobrancelhas,
região malar, orelhas, nariz e lábios). É um tumor de invasividade local, que, se não tratado,
pode destruir extensas áreas (chamado úlcera roedora), mas, raramente, verifica-se mitoses
para linfonodos e, na maioria dos casos, após remoção cirúrgica, há cura.
Nessa neoplasia, o tumor destrói a epiderme e ocupa a derme em blocos celulares com
formato arredondado, formados por massas de células que lembram as células da camada
basal da epiderme. O limite com a derme é nítido e há um infiltrado inflamatório na derme.
/
Carcinoma Basocelular da pele. Corte histológico de lesão epitelial, corado por HE,
aumento de 10x e 40x.
ADENOCARCINOMAS
Neoplasia maligna que surge no epitélio da mucosa (estômago, intestino delgado e intestino
grosso), nas glândulas (endócrinas e exócrinas) e tubos, e pode aparecer com diferentes
padrões de diferenciação celular.
Em muitos tumores, há presença de células neoplásicas junto aos adipócitos, nesta região,
observa-se a reação desmoplásica, ou seja, a produção de tecido fibroso induzido pelas
células cancerígenas, que é dependente da secreção de hormônios que estimulam a
proliferação de fibroblastos e a síntese de colágeno, dando uma consistência dura ao tumor.
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Adenocarcinoma diferenciado de intestino grosso. Corte histológico do intestino grosso,
corado por HE, aumento de 10x e 40x.
Em alguns casos, as células neoplásicas podem produzir muco, produzindo vacúolos que
deslocam o núcleo para a periferia, anel de sinete. Também há invasão de camadas de tecido
subsequentes de forma difusa.
NEOPLASIAS MESENQUIMAIS
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As neoplasias mesenquimais são um grupo de neoplasias que correspondem aos tumores
encontrados no tecido conjuntivo, tecido sanguíneo e muscular.
Agora, vamos conhecer um pouco mais dos principais tumores benignos e malignos,
observando o quadro a seguir (Quadro 06).
Mesmo os tumores benignos, que apresentam o crescimento lento são capazes de comprimir
partes importantes do Sistema nervoso. Além disso, a incisão cirúrgica para a remoção é
sempre uma cirurgia de alto risco pela localização da maioria dos tumores é complicada.
Corte histológico do nervo ventricular, corado por HE, aumento de 10X. Tumor de
Scwannomas, principal tumor do SNP, constituído por feixes de células neoplásicas alongadas.
Os núcleos posicionam-se lado a lado formando paliçadas.
No quadro a seguir (Quadro 07), podemos conferir a classificação dos tumores do sistema
nervoso central e suas principais características microscópicas e macroscópicas.
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Conhecendo esses aspectos, vamos observar alguns cortes histológicos de tumores
neuroectodérmicos originados a partir dos Astrócitos.
GLIOBLASTOMA
GLIOBLASTOMA
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GLIOBLASTOMA
GLIOBLASTOMA
Células neoplásicas difusas no tecido nervoso.
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ASTROCITOMA
Astrócito com aspecto gemistocítico (citoplasma rosa, abundante e núcleo excêntrico.
ASTROCITOMA
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ASTROCITOMA
Astrócitos com prolongamento encobrindo os vasos (pé sugador).
ASTROCITOMA
Celularidade moderada, sem proliferação vascular.
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NEOPLASIAS DE PEQUENAS CÉLULAS
REDONDAS
Esse é o nome dado para um grupo de tumores altamente agressivo, formados por células
indiferenciadas, pequenas e com alta relação núcleo-citoplasma. As neoplasias que compõem
esses grupos de tumores estão descritas no quadro a seguir (Quadro 08).
• Sarcoma de Ewing
• Neuroepitelioma periférico, também conhecido como tumor
neuroectodérmico primitivo (PNET), ou sarcoma de Ewing
extraesquelético;
Tumores mais
• Neuroblastoma periférico (tipo clássico);
comuns na idade
• Rabdomiossarcoma;
pediátrica.
• Tumor desmoplásico de pequenas células redondas (DSRCT);
• Linfomas e leucemias, geralmente do tipo linfoblástico;
• Osteossarcoma de pequenas células;
• Condrossarcoma mesenquimatoso.
Fonte: O autor.
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Durante a análise histopatológica, o diagnóstico diferencial é muito difícil, você imagina por
quê?
Como as células são altamente indiferenciadas, elas apresentam alta semelhança morfológica
quando as amostras são coradas pela coloração convencional (Hematoxilina-eosina), sendo
necessário realização de testes imunohistoquímicos para chegar a uma conclusão diagnóstica.
Esse padrão de células indiferenciados pode ser observado na figura a seguir.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Ao longo desta jornada, apreendemos como são desencadeados os processos inflamatórios e
as peculiaridades da inflamação aguda (curta duração) e crônica (longa duração). Vimos que
todo o processo inflamatório é orquestrado pelas células inflamatórias, células residentes do
tecido lesado e mediadores inflamatórios.
Se o agente agressor não for eliminado, o processo inflamatório agudo evolui para o crônico.
Na inflamação crônica, os macrófagos desempenham importante papel na manutenção e
propagação do processo inflamatório e iniciam o processo de reparação tecidual, que nos
tecidos é conhecido como fibrose.
Vimos também que a inflamação crônica pode ser classificada como granulomatosa ou não
granulomatosa de acordo com o agente agressor. Ao final do módulo, abordamos os diferentes
tipos de neoplasias (malignas e benignas) do epitélio, células mesênquimas, do sistema
nervoso e de pequenas células redondas, verificando o padrão histopatológico das principais
neoplasias.
PODCAST
REFERÊNCIAS
CRUVINEL, W.M. et al. Sistema Imunitário – Parte I: Fundamentos da imunidade inata com
ênfase nos mecanismos moleculares e celulares da resposta inflamatória. São Paulo: Revista
Brasileira de Reumatologia, 2010.
/
GASPARD, K. J. Células sanguínea e sistema Hematopoiético. In: PORTH, C. M.; MATFIN,
G. Fisiopatologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; ASTER, J. C. Robbins & Contran: Bases morfológicas das
doenças. 9. ed. Holanda: Editora Elsevier, 2016.
PORTH, C. M.; MATFIN, G. Fisiopatologia. 8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan LTDA.
2008.
PORTH, C. M.; SOMMER, C. Inflamação, reparo tecidual e cura de feridas. In: PORTH, C. M.;
MATFIN, G. Fisiopatologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
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Fases da cicatrização.
Fagocitose.
Hematopoese.
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Sistema Imunitário – Parte III O delicado equilíbrio do sistema imunológico entre os polos
de tolerância e autoimunidade, de Alexandre Wagner Silva de Souza, Danilo Mesquita
Júnior, Júlio Antônio Pereira Araújo, Tânia Tieko Takao Catelan, Wilson de Melo Cruvinel,
Luís Eduardo Coelho Andrade, Neusa Pereira da Silva, publicado em 2010 na Revista
Brasileira de Reumatologia.
CONTEUDISTA
Helena Horta Nasser
CURRÍCULO LATTES