Impactos Na Saúde Das Deficiências de Acesso A Água

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Impactos na Saúde das Deficiências de Acesso a

Água
Health Impacts Due to Deficient Water Access

Maria Tereza Pepe Razzolini Resumo


Professora Doutora do Departamento de Saúde Ambiental da Fa-
culdade de Saúde Pública da USP O acesso regular à água potável e segura tem causado
Endereço: Av. Dr. Arnaldo, 715, Cerqueira Cesar, CEP 01246-904, preocupação, principalmente em países em desenvol-
São Paulo, SP, Brasil
E-mail: [email protected]
vimento e, mais enfaticamente em áreas periurbanas,
que abrigam a população socialmente excluída. O ob-
Wanda Maria Risso Günther
jetivo deste trabalho é abordar questões de acesso à
Professora Doutora do Departamento de Saúde Ambiental da Fa-
água em regiões periurbanas e para tanto foi realizado
culdade de Saúde Pública da USP
Endereço: Av. Dr. Arnaldo, 715, Cerqueira Cesar, CEP 01246-904, levantamento bibliográfico nas bases de dados Pub-
São Paulo, SP, Brasil med, Medline e SciELO assim como relatórios da OMS,
E-mail: [email protected] OPAS, IBGE e Ministério das Cidades. A falta ou a pre-
cariedade do acesso à água representa situação de
risco que propicia aumento da incidência de doenças
infecciosas agudas e da prevalência de doenças crôni-
cas. O estabelecimento do grau de acesso à água de
qualidade considera fatores como distância e tempo
percorrido até a fonte de água, volume coletado, de-
manda atendida e nível de prioridade de ações de in-
tervenção. Na qualidade da água, consideram-se como
fatores de impacto o manuseio – maneira como ocorre
a coleta, o transporte, o armazenamento e o uso –, a
presença de patógenos nas fontes e as práticas roti-
neiras da população. A determinação da presença de
patógenos nas fontes evidencia o risco à saúde e a
identificação do agente etiológico indica a origem da
contaminação. O caminho para reverter esse cenário é
a implementação integrada de políticas públicas de ges-
tão, que envolvam ações conjuntas e ajustadas nos seto-
res de desenvolvimento urbano, habitação, saneamento
e saúde e que visem à promoção e à proteção da saúde da
população local e ao enfrentamento da complexidade de
fatores que evidenciam sua vulnerabilidade.
Palavras-chave: Acesso à água; Saúde Pública; Sanea-
mento Ambiental; Qualidade sanitária de água de con-
sumo.

Saúde Soc. São Paulo, v.17, n.1, p.21-32, 2008 21


Abstract Introdução
Regular water access has caused concern, mainly in Questões relativas ao acesso regular à água potável e
developing countries and especially in periurban areas, segura têm causado preocupação, principalmente em
where socially excluded people live. The aim of this países em desenvolvimento, que sofrem com a rápida
work is to approach water access issues in periurban expansão urbana, o adensamento populacional e a ocu-
regions. A bibliographical survey was carried out in pação de áreas periurbanas e rurais, com evidentes
the Pubmed, Medline and SciELO databases, as well deficiências e dificuldades no suprimento de água
as in reports from WHO, PAHO, IBGE and Brazilian para satisfazer às necessidades básicas diárias. O
Ministries. A non-existent or precarious water access provimento adequado de água, em quantidade e quali-
represents a risk situation that increases the inci- dade, é essencial para o desenvolvimento socioeconô-
dence of infectious diseases and the prevalence of mico local, com reflexos diretos sobre as condições de
chronic diseases that affect susceptible groups. The saúde e de bem-estar da população. Condições ade-
criteria to establish water access level consider dis- quadas de abastecimento resultam em melhoria das
tance and time to reach water sources, collected volu- condições de vida e em benefícios como controle e
me, water demand and the priority level of interventi- prevenção de doenças, prática de hábitos higiênicos,
on actions. Factors such as handling - the way in whi- conforto e bem-estar, aumento da expectativa de vida
ch collection, transport, storage and use are carried e da produtividade econômica.
out -, pathogens determination in water sources and Em regiões carentes e excluídas da rede básica de
the population’s routine practices can interfere in the serviços públicos, a falta de acesso a fontes seguras
sanitary quality of water. Pathogens determination de água é fator agravante das condições precárias de
in water sources is important to highlight health vida. A busca por fontes alternativas pode levar ao
risks, and the etiologic agent identification can indica- consumo de água com qualidade sanitária duvidosa e
te contamination origin. Daily activity can contribute em volume insuficiente e irregular para o atendimen-
to disseminate pathogenic microorganisms among to das necessidades básicas diárias.
people and to spread infectious diseases. The way to Este texto trata das questões de acesso à água em
change this scenario is to implement integrated pu- regiões periurbanas carentes de infra-estrutura de
blic policies in the sectors of urban development, hou- serviços de saneamento e resulta de levantamento bi-
sing, sanitation and health. The main goal is to pro- bliográfico efetuado em bases de dados de publica-
mote and protect people’s health and to face the com- ções científicas da área da saúde. Foi consultada a
plexity of factors that disclose their vulnerability. base Pubmed, serviço da US National Library of
Keywords: Water Access; Public Health; Environment Medicine, que inclui mais de 17 milhões de citações
Sanitation; Drinking Water Sanitary Quality. da Medline e outros periódicos da área biomédica
(acessado pelo endereço eletrônico www.ncbi.nlm.
nih.gov/entrez/query.fcgi?DB=pubmed). Também fo-
ram consultados artigos das bases SciELO e textos e
relatórios publicados por instituições relevantes como
Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização
Pan-americana da Saúde (OPAS), Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) e Ministério da Saú-
de e Ministério das Cidades. A busca para seleção dos
artigos de periódicos nas bases consultadas baseou-
se nos termos acesso a água (“water access”), saúde
(“health”), saneamento (“sanitati$”), doenças infeccio-
sas (“infectious diseases”).

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Acesso a Água: uma preocupação zadas; e ii) o deslocamento de parcela da população de
camadas de renda média e alta para a região periféri-
ainda atual ca dos centros urbanos, passando a habitar os condo-
Nas regiões metropolitanas e nas grandes cidades mínios de alto padrão, movimento iniciado ao final da
brasileiras, o processo de urbanização e expansão ur- década de 1970 (Silva, 2004). Esse fenômeno caracte-
bana foi condicionado pelo modelo urbano-industrial rizou a segregação intensiva1 e determinou o acesso
característico das sociedades capitalistas em expan- diferenciado à infra-estrutura de saneamento, dado
são e resultou na formação de centros de alta concen- em função das condições socioeconômicas, embora os
tração populacional e na ocupação do espaço de modo grupamentos populacionais ocupassem territórios
polarizado e desigual. contíguos, no mesmo momento histórico.
A expansão urbana, num primeiro momento, se- Enquanto nos condomínios de alto padrão o acesso
guiu o padrão periférico, no qual as áreas centrais e à água potável e segura ocorre por meio de solução
dotadas de infra-estrutura de serviços urbanos foram localizada, geralmente representada pela captação de
destinadas à população de alta renda, enquanto as água subterrânea em poços artesianos, nas áreas de
áreas periféricas distantes do centro e desprovidas população de baixa renda o acesso é precário, median-
dos serviços urbanos básicos foram ocupadas pelas te solução individual (poço freático ou nascente), o
camadas mais pobres da população, que passaram a que compromete a quantidade necessária para os usos
praticar a técnica de autoconstrução de suas moradi- diários e, principalmente, a qualidade da água capta-
as, muitas vezes situadas em loteamentos ilegais e da e armazenada. O mesmo ocorre com os esgotos sa-
clandestinos (Rolnik e col., 1990, p. 13). A ausência ou nitários que são coletados mediante rede coletora in-
o baixo alcance das políticas habitacionais, a especu- terna nos condomínios de alto padrão, mas lançados a
lação imobiliária, a deficiente ação do Estado e as de- céu aberto, nas periferias carentes. Essas últimas,
sigualdades sociais são fatores que contribuíram para áreas de exclusão social carentes de infra-estrutura
o agravamento deste cenário. de serviços urbanos, ainda padecem com a incerteza
Este modelo de urbanização foi caracterizado pela do acesso à água sanitariamente segura para suprir
¨aparente¨ desordem dos espaços urbanos “, porém orde- as necessidades básicas de abastecimento em pleno
nado segundo a lógica de reprodução do capital (Kowarick, século XXI, quando a atenção é voltada para questões
1979) “ e pela ocupação irregular do território, que inva- ambientais de ponta como mudanças climáticas e ge-
diu áreas vulneráveis e de proteção ambiental e culmi- ração de energia renovável.
nou em assentamentos humanos irregulares e contri- Acesso a água é entendido como alcance a uma
buiu para a degradação da qualidade ambiental. fonte de água, definido num contexto espacial e tem-
Nas décadas de 1980 e 1990, a crise econômica e a poral. Para Howard e Bartram (2003), há acesso a água
política neoliberal, que resultaram na concentração quando a fonte de abastecimento está situada a até 1
da renda nas mãos dos mais favorecidos e na paupe- km de distância e o tempo gasto para atingi-la é, no
rização da maioria da população brasileira, aliadas à máximo, 30 minutos. Ainda segundo os autores, o su-
ausência de políticas habitacionais voltadas à popu- primento mínimo per capita recomendado é de 20 L/
lação de baixa renda, trouxeram nova dinâmica ao hab. por dia.
modelo periférico, induzida por dois mecanismos dis- O acesso regular à água potável e segura, embora
tintos: i) o deslocamento das classes remediadas, sem seja um direito humano básico, não tem sido estendi-
condições de se manter nos bairros valorizados, para do a toda a população, especialmente àquela encon-
as áreas periurbanas (nesta época, já providas de infra- trada em áreas periurbanas esquecidas pelas políti-
estrutura de serviços urbanos) e a condução das clas- cas públicas de saneamento e saúde. Segundo a Orga-
ses mais pobres rumo às áreas ainda mais desvalori- nização Pan-Americana de Saúde2, 152 milhões de pes-

1 Segregação intensiva: aproximação físico-territorial entre população de camadas de renda média e alta e população de baixa renda,
sem que haja o convívio entre ambas, pois embora próximas, não se misturam (Rolnik e col., 1990, p.13).
2 Relato de Mirta Roses, Diretora da Organização Pan-Americana da Saúde, no Seminário “O Futuro da Saúde Pública: uma visão para
as Américas”, realizado no Rio de Janeiro, em setembro de 2004.

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soas na América Latina e Caribe não têm acesso à água Datasus, as doenças relacionadas a deficiências no
ou encontram deficiências no abastecimento e preca- saneamento ambiental resultaram em 3,4 milhões de
riedade nos serviços básicos de saneamento. No Bra- internações no país, no período de 1995 a 1999. Servi-
sil, dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Bási- ços adequados de saneamento ambiental poderiam ter
co (PNSB) mostraram que as preocupações em relação prevenido 80% dos casos de febre tifóide e paratifóide,
às condições de saneamento ambiental são pertinen- 60% a 70% dos casos de tracoma e esquistossomose e
tes e emergentes (IBGE, 2001). Nas áreas urbanas bra- de 40% a 50% das doenças diarréicas e outras para-
sileiras havia, em 2000, aproximadamente 18 milhões sitoses (Brasil, 2004a).
de pessoas sem acesso ao abastecimento público de Segundo Feachem e col. (1983), do ponto de vista
água, 93 milhões sem coleta adequada de esgotos sa- de saúde pública e ambiental, as doenças associadas
nitários e 14 milhões sem serviços de coleta de resí- a água agrupam-se em cinco classes de enfermidades:
duos sólidos. Na área rural, dados do Ministério das a) vinculadas à falta de higiene pessoal e doméstica
Cidades apontavam a necessidade de atendimento a em razão da deficiência no abastecimento ou inacessi-
13,8 milhões de pessoas com rede de distribuição de bilidade à água; b) causadas por contato com a água;
água e a 16,8 milhões com sistemas de esgotamento c) transmitidas por vetores aquáticos; d) dissemina-
sanitário (Brasil, 2004a). das pela água e e) transmitidas pela água. Acesso pre-
O abastecimento de água, cada vez mais, tem preo- cário a água significa risco iminente de aumento na
cupado os gestores públicos, pois a falta de acesso a incidência de doenças associadas a ela, as quais, em
água tem sido considerada fator de risco à saúde, além geral, atingem populações mais suscetíveis, represen-
de limitante ao desenvolvimento. Dados do relatório tadas por crianças menores de 5 anos, idosos, desnu-
“Saúde no Mundo”, editado pela Organização Mundial tridos e imunodeficientes.
da Saúde, em 2004 (WHO, 2006), mostram que 85 de 102 O não acesso à água potável e segura ou o acesso
agravos à saúde e traumatismo são atribuídos ao sa- de forma intermitente3 compromete os usos menos
neamento ambiental deficiente. Estimativas, em âm- imediatos e as condições de higiene. Essas situações
bito mundial, retratam que 24% das enfermidades e induzem à busca de água em fontes alternativas, de
23% das mortes prematuras resultam da exposição a qualidade sanitária duvidosa, ao uso de vasilhames
ambientes insalubres e sem atenção sanitária (WHO, não apropriados para seu acondicionamento e a condi-
2006). Publicação produzida pela Organização Mundial ções inadequadas de transporte e armazenamento da
da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a água. Em casos de escassez, as práticas de higiene
Infância (Unicef) relata que 90,5% das mortes por diar- pessoal, doméstica e dos alimentos são comprometi-
réia aguda, em países em desenvolvimento, atingem po- das. Portanto, o abastecimento de água de qualidade e
pulação menor de 15 anos de idade, distintamente do em quantidade suficiente tem importância fundamen-
observado em países desenvolvidos (WHO/Unicef, 2005). tal para promover condições higiênicas adequadas,
Neste contexto, o Programa das Nações Unidas para proteger a saúde da população e promover o desenvol-
o Desenvolvimento (PNUD), mediante documento vimento socioeconômico, principalmente em regiões
intitulado “Objetivo de Desenvolvimento do Milênio”, de vulnerabilidade socioambiental.
estabeleceu metas para garantir a sustentabilidade
ambiental, as quais propõem, até 2015, reduzir em 50% Condições de Acesso a Água e suas
a proporção da população atual sem acesso permanen-
te e sustentável à água segura (PNUD, 2005).
Implicações
O saneamento ambiental, que envolve as ativida- No Capítulo 6 da Agenda 21, há referência ao requeri-
des básicas de esgotamento sanitário, limpeza públi- mento básico de água para satisfazer às necessidades
ca, drenagem urbana, controle de vetores de impor- humanas fundamentais, proposto pela United Nations
tância sanitária, tem o abastecimento de água como Water Conference, em Mar del Plata (Argentina), em
atividade primordial. No Brasil, segundo dados do 1977, e reiterado na Conferência das Nações Unidas

3 Acesso intermitente: aquele cuja provisão de água se dá de forma descontínua.

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para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) permopsina e saxitoxinas sejam realizadas observan-
(Earth Summit), realizada no Rio de Janeiro (Brasil), do os valores-limites propostos de, respectivamente,
em 1992. Segundo essa referência, a área da saúde 15,0 μg/L e 3,0 μg/L. As recomendações dessa portaria
depende do meio ambiente saudável, o que inclui o indicam que os rumos para a avaliação da qualidade
abastecimento de água e outros serviços de sanea- da água de consumo se tornam cada vez mais comple-
mento. Enfatiza-se, entretanto, que água potável e segu- xos devido à decrescente qualidade de água bruta cap-
ra destinada a satisfazer às necessidades humanas tada em mananciais deteriorados, reforçando que
deve atender a padrões de qualidade determinados ações na área de saneamento ambiental são dinâmi-
por lei. Esse capítulo reforça, ainda, a importância de cas e devem refletir as contínuas alterações ambien-
esforços de promoção a saúde e educação sanitária e tais. A despeito da importância dos avanços dessa
garantia ao direito universal de acesso à água potável portaria, deve-se investigar se todos os brasileiros têm
e segura (UN, 1992; Brundtland e Mello, 2003). acesso à água com a qualidade ditada por ela.
No Brasil, a normativa que estabelece procedimen- O estabelecimento do grau de acesso à água consi-
tos e responsabilidades relativos ao controle e à vigi- dera vários fatores, cujo entendimento é essencial na
lância da qualidade da água para consumo humano e avaliação de possíveis intervenções de promoção à
define seu padrão de potabilidade é a Portaria nº. 518/ saúde e à qualidade de vida da população exposta a
2004, do Ministério da Saúde (Brasil, 2004b), que se situações de escassez de água. O acesso é classifica-
refere a valores máximos permitidos para parâmetros do em níveis, subdivididos em: sem acesso, com acesso
físico-químicos, químicos e indicadores bacteriológi- básico, com acesso intermediário e com acesso ótimo.
cos de contaminação fecal. Recomenda também a pes- Segundo Howard e Bartram (2003), os fatores determi-
quisa de patógenos emergentes e reemergentes como nantes dessa classificação são: distância percorrida e
Cryptosporidium e Giardia, respectivamente, e entero- tempo gasto para se atingir a fonte de água, o que
vírus. Impõe limite para a concentração máxima de indica o provável volume coletado e a conseqüente
cianotoxinas, como as microcistinas (1,0 μg/L), e reco- demanda atendida, condições que determinam o grau
menda que análises para a determinação de cilindros- de efeitos à saúde, conforme apresentado no Quadro 1.

Quadro 1 - Nível de acesso a água versus necessidades atendidas e grau de efeitos à saúde

Nível de acesso Distância percorrida Provável volume coletado Demanda atendida Grau de efeitos
e tempo gasto nocivos à saúde

Sem acesso > 1 km e > 30 minutos Muito baixo (em torno de Consumo não assegurado, o que compromete Muito alto
5 L per capita por dia) a higiene básica e dos alimentos
Acesso básico < 1 km e < 30 minutos Média não excede a 20 L Consumo pode ser assegurado e deve-se Alto
per capita por dia possibilitar a higiene básica e dos alimentos.
Há dificuldade de se garantir a lavagem
da roupa e banho, atividades que podem
ocorrer fora dos domínios do domicílio
Acesso Água fornecida por Média aproximada de Consumo assegurado. Não há Baixo
intermediário torneira pública 50 L per capita por dia comprometimento da higiene básica e dos
(à distância de 100 m alimentos. É possível garantir a lavagem da
ou 5 minutos para roupa e o banho,, que provavelmente ocorrem
coleta) dentro dos domínios do domicílio
Acesso ótimo O Suprimento de água Média aproximada de Consumo assegurado. Práticas de higiene Muito baixo
ocorre mediante 100 L a 200 L per capita não comprometidas. Lavagem da roupa e
múltiplas torneiras por dia banho ocorrem dentro dos domínios do
domicílio

Fonte: Howard e Bartram, 2003.

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Informações contidas nesse quadro podem ser utiliza- do domicílio poderia representar economia de 16% de
das na determinação das prioridades de ação de inter- tempo (Orrico, 2003).
venção para propiciar o acesso à água potável e segura, A quantidade de água disponível para uso domés-
em áreas desprovidas de serviços de saneamento. tico tem influência direta nas práticas básicas de hi-
Considera-se sem acesso os casos em que não há giene pessoal, domiciliar e no preparo dos alimentos.
disponibilidade de água, ou quando há, a fonte se en- O comprometimento dessas práticas pode acarretar
contra a uma distância superior a 1 km e o tempo con- agravos à saúde. A condição da disponibilidade da
sumido para alcançá-la é superior a 30 minutos. Nesse água também é fator de risco e contribui para os efei-
caso, o volume coletado é muito baixo, geralmente em tos à saúde. Esses fatores podem favorecer o incre-
torno de 5 L/habitante/dia, o que compromete as con- mento da incidência de doenças de transmissão
dições de higiene básica, pessoal e domiciliar. hídrica, pois tanto a coleta de água, como seu trans-
Segundo os autores, a possibilidade de encontrar porte e armazenamento, caso necessários, podem ser
água dentro das condições-limites, de tempo máximo realizados de forma inadequada. A coleta, quando efe-
de 30 minutos e distância máxima de 1 km, caracteri- tuada em vasilhames sujos ou mal lavados e com prá-
za o acesso a água, que pode ser classificado em três ticas de higiene duvidosas, pode tornar-se fonte de
níveis distintos: básico, intermediário e ótimo. contaminação da água, a qual será repassada aos usos
O acesso básico corresponde ao volume médio co- que se fizerem dela. Vale mencionar que o transporte
letado que não excede 20 L/habitante/dia; o acesso da água é geralmente efetuado em utensílio sem ne-
intermediário pressupõe a existência de torneira pú- nhuma proteção (cobertura) e em vasilhames que, não
blica (bica), a uma distância máxima de 100 m e ao raro, são utilizados para outros fins. Além disso, o
tempo de 5 minutos gastos para acessá-la. Nesse caso, armazenamento domiciliar também pode ocorrer em
o volume coletado está em torno de 50 L/habitante/ locais impróprios, sem proteção contra as intempéries
dia. Já o acesso efetuado mediante múltiplas tornei- ou contra o acesso de animais – especialmente vetores
ras, instaladas dentro do domicílio, cujo volume con- de doenças –, pois geralmente são situados fora de
sumido varia de 100 a 200 L/habitante/dia, caracteri- áreas cobertas do domicílio, onde são comuns condi-
za o acesso ótimo. ções precárias de saneamento, como proximidade de
A condição sem acesso, conforme visualizado no lançamento de dejetos a céu aberto e disposição ina-
Quadro 1, pressupõe volume insuficiente de água para dequada de lixo.
satisfazer o consumo mínimo e realizar a higiene pes- Outro fator a ser considerado consiste no aumento
soal básica e dos alimentos, implicando em grau mui- da ocorrência de doenças crônicas, como dores nas
to alto de efeitos à saúde. No acesso básico, há com- costas, devido ao esforço desenvolvido na coleta e no
prometimento do banho diário e da higienização ade- transporte manual de água, ou em práticas inadequa-
quada de roupas e utensílios domiciliares, o que, por das induzidas pelo não acesso a água em torneiras
sua vez, são garantidos no acesso intermediário e óti- domiciliares, como a lavagem de roupa em bacia colo-
mo, enquanto o grau de efeitos à saúde é inversamen- cada em altura inadequada ou no chão.
te proporcional à melhoria da qualidade do acesso. O transporte manual de água é associado a gênero,
A falta de acesso a água leva as pessoas a percorre- pois a responsabilidade pelo provimento de água no
rem longas distâncias, em detrimento do tempo dis- domicílio é atribuição feminina, compartilhada somen-
pensado a outras atividades consideradas importan- te com as crianças. O elemento masculino somente
tes no cotidiano, como o cuidado com os filhos, o apren- aparece quando o transporte da água é efetuado com a
dizado e o lazer, entre outros benefícios que a dispo- utilização de animais ou equipamentos com rodas, como
nibilidade de tempo poderia proporcionar. De acordo bicicleta, carrinho de mão ou outros veículos. Prática
com Cairncross e Feachem (1993), em áreas onde o tem- comum entre as mulheres coletoras de água é o trans-
po gasto com o transporte de água supera 10 minutos, porte de recipientes de água na cabeça, o que se ini-
observa-se consumo per capita inferior a 20 L/habi- cia, geralmente, na infância, quando a ossatura das
tantes/dia. Se essa atividade fosse encarada como meninas não está devidamente formada. Orrico (2003)
parte da jornada de trabalho, o acesso a água dentro relatou que, em comunidades estudadas do semi-ári-

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do baiano (Vila Cardoso, Lajinha, Jacunã, Piaus, Taquari zadas, secas e protegidas. Orrico (2003) relatou que,
e Gameleira), 95,9% das mulheres e das crianças en- em seis comunidades estudadas no semi-árido baiano,
trevistadas, que se dedicavam à coleta de água, quei- a coleta, o transporte e o armazenamento da água acon-
xaram-se de dores nas costas seguidas de outros agra- teciam, na maioria dos casos, em baldes (30%), potes
vos, como diarréias (70,9%), dores de barriga (44,9%) (23%) e tonéis (23%), muitas vezes instalados em fren-
e doenças de pele (22,1%). O autor ressalta que a lite- te às casas, em áreas abertas e descobertas.
ratura técnica não inclui o relato de dores nas costas As práticas básicas de higiene pessoal, como lava-
como fator associado à falta de acesso a água, mas que gem das mãos antes da coleta, nem sempre são obser-
a constante tarefa de carregar lata de água sobre a vadas, conforme relatado por Trevett e col. (2005).
cabeça, em longo prazo, pode ocasionar danos crôni- Deve-se considerar que crianças também exercem essa
cos na coluna vertebral, pois essa prática tem início função e, na maioria das vezes, não observam essa
quando as meninas ainda têm pouca idade. Nas regi- prática que contribui para a não contaminação da água
ões estudadas, foi encontrado o caso de uma criança coletada. Muitas vezes, a retirada parcial de água ar-
com seis anos de idade que já executava essa tarefa. mazenada realiza-se mediante a imersão de canecas
Nesse mesmo trabalho, Orrico (2003) relata que o tem- ou outros utensílios menores, que podem estar im-
po médio gasto para a obtenção de água nas comuni- pregnados de sujeira e ferrugem, em casos de utensí-
dades estudadas é de 1,3 horas, com o máximo de 2 lios metálicos. Outro aspecto observado é a imersão
horas e o mínimo de 42 minutos – situação observada desses utensílios com as próprias mãos, o que com-
antes da intervenção que resultou na implantação dos promete a qualidade da água de consumo, pois a parte
serviços de abastecimento de água e o esgotamento inferior das unhas pode albergar microrganismos
sanitário locais. patogênicos. Há relatos da presença de bactérias,
como Escherichia coli ETEC (enterotoxicogênica), e
evidências de contaminação fecal nas unhas de do-
Fatores de Impacto na Qualidade nas-de-casa (Pinfold 1990; Trevett e col., 2005).
Sanitária da Água Coletada, O hábito de “coar” a água, presente em algumas
Transportada e Armazenada comunidades, prática que pode ser realizada com o
uso de tecido, é passível de contaminação por bactéri-
A transmissão de doenças infecciosas consiste em as patogênicas, como relatado por Islam e col. (2001)
processo complexo, que apresenta vários fatores de- in Trevett e col. (2005). Esse procedimento é adotado
terminantes. Indubitavelmente, a qualidade sanitá- com a finalidade de reter sólidos suspensos ou impu-
ria da água de consumo pode ser alterada tanto por rezas que conferem turbidez à água; ao agir assim, há
aspectos comportamentais quanto ambientais. a percepção errônea de que se purifica a água. Em
Trevett e col. (2005) desenvolveram um modelo de comunidades rurais de São Paulo do Potengi (RN), os
rede de coleta de informações específico para possí- usuários informaram que tratavam a água antes de
veis causas de contaminação de água de consumo hu- usá-la, referindo que a “coavam no pote” (filtro de bar-
mano no intervalo entre a coleta e o uso. Nesse mode- ro) (Carlos, 2006). Essa prática possibilita a formação
lo, o risco de contrair doenças encontra-se no centro de biofilmes, que podem albergar microrganismos os
como resultado da utilização de água com qualidade quais ocasionam doenças, como Aeromonas, Helico-
sanitária inadequada, o que decorreria de fatores pri- bacter pylori e Mycobacterium não causadora de tuber-
mários “ como manuseio, higiene e ambiente “, secun- culose (Hunter, 2001; WHO 2004; Pavlov e col., 2004).
dários “ como a presença de microrganismos patogê- A determinação da presença de patógenos em fon-
nicos “ e comportamentais e socioeconômicos. tes de água é importante para evidenciar a existência
O manuseio da água refere-se à maneira como ocor- de situações de risco à saúde e às interações entre
re a coleta, o transporte, o armazenamento e o uso. homem, ambiente e agente etiológico. Características
Nem sempre a coleta ocorre em utensílios adequados, do agente etiológico, como virulência, persistência,
providos de tampa ou higienizados adequadamente. O dose infectante e taxa de crescimento, têm grande
armazenamento nem sempre ocorre em áreas higieni- relevância, pois são distintas entre patógenos e po-

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dem variar entre cepas de uma mesma espécie. Além As condições locais de saneamento ambiental po-
da dose infectante, a capacidade de defesa do orga- dem contribuir decisivamente para a qualidade sani-
nismo contra um agente etiológico, de modo a impedir tária da água de consumo. Em localidades onde se ve-
que uma infecção se converta em doença, deve ser rifica inexistência ou precariedade do esgotamento
considerada. Indivíduos com sistema imunológico sanitário, disposição de resíduos sólidos a céu aberto,
comprometido, por desnutrição ou pelo fato de ainda fatores que induzem à proliferação de insetos e roedo-
não se encontrarem totalmente desenvolvidos – caso res vetores, contaminantes podem ser disseminados
de crianças menores de cinco anos –, além de idosos e e alcançar as fontes de água e os reservatórios de
imunodeprimidos, formam o grupo mais suscetível às armazenamento, e conseqüentemente doenças infec-
doenças relacionadas à infra-estrutura sanitária defi- ciosas relacionadas com excretas, lixo e vetores po-
ciente. Deve-se considerar que em áreas carentes a dem atingir a população exposta. Essas doenças são
desnutrição infantil e de idosos é freqüente. categorizadas em doenças feco-orais não-bacterianas,
Os serviços que propiciam o acesso à água potável feco-orais bacterianas, helmintos do solo, teníases,
e segura, ao esgotamento sanitário e à coleta regular helmintos hídricos e doenças transmitidas por inse-
de lixo contribuem para o incremento da qualidade de tos (Heller, 1997), conforme apresentadas no Quadro
vida de comunidades que vivem em condições precári- 2, que mostra também a via dominante de transmis-
as, resultando também na diminuição da incidência e são e as principais medidas de controle. Nesses ca-
da prevalência de doenças infecciosas (Gasana e col., sos, verifica-se que a provisão do abastecimento de
2002; Bailey e Archer, 2003; Costa e col., 2005; Fewtrell água não é suficiente como medida sanitária, mas a
e col., 2005). promoção de ações associadas na área de saneamento

Quadro 2 - Exemplos da classificação ambiental das infecções relacionadas a excretas, a via dominante de transmissão
e as principais medidas de controle

Classificação Infecção Via dominante de transmissão Principais medidas de controle


Doenças feco-orais Enterobíase,amebíase, Pessoale doméstica • Abastecimento doméstico de água
não-bacterianas giardíase, balantidíase • Educação sanitária
• Melhorias habitacionais
• Instalação de fossas

Doenças feco-orais Salmonelose, cólera, disenteria Pessoal, doméstica, por água • Abastecimento doméstico de água
bacterianas bacilar, diarréia por E. Coli e alimentos • Educação sanitária
• Melhorias habitacionais
• Instalação de fossas
• Tratamento dos excretas antes do
lançamento ou do reuso da água
Helmintos do solo Ascaridíase, tricuríase, Jardim, campos e culturas • Instalação de fossas
ancolostomíase agrícolas • Tratamento dos excretas antes da
aplicação no solo
Teníases Teníases Jardim, campos e pastagens • Instalação de fossas
• Tratamento dos excretas antes da
aplicação no solo

Helmintos hídricos Esquistossomose e outras Água • Instalação de fossas


doenças causadas por helmintos • Tratamento dos excretas antes do
lançamento na água
• Controle do reservatório animal
Doenças Filariose e todas as infecções Vários locais contaminados • Identificação e eliminação de criadouros
transmitidas por anteriores, das quais moscas por fezes de insetos vetores
insetos e baratas podem ser vetores

Fonte: Feachem e col. citados por Heller, 1997.

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ambiental é fundamental (Vanderslice e Briscoe, condições sanitárias favoráveis. Políticas públicas vol-
1995). Heller e col. (2005) realizaram estudo epidemio- tadas para a conquista de eqüidade social e universa-
lógico na área urbana de Betim (MG), mediante dese- lização da educação trariam, sem dúvida, melhores
nho epidemiológico caso-controle com o objetivo de condições de vida e saúde a populações excluídas.
desenvolver e aplicar estudo epidemiológico orienta- Estudo conduzido por Fewtrell e col. (2005) reali-
do para a priorização de propostas de intervenção. Na zou revisão sistemática de publicações relativas à efi-
realização da pesquisa, foram utilizados grupos de ciência de ações de intervenção de saneamento e edu-
crianças menores de cinco anos, sendo 997 casos, nos cação sanitária e a conseqüente redução de incidên-
quais se constatou episódio de diarréia, e 999 contro- cia de diarréia em países em desenvolvimento. Para
les. As variáveis de exposição avaliadas foram: supri- isso, foram avaliadas 2120 publicações, das quais 46
mento de água; práticas individuais de higiene; dis- foram selecionadas por apresentarem conteúdo rele-
posição de esgotos; existência de córregos próximo vante e informações completas e detalhadas. Todos os
às residências; armazenamento e disposição de resí- resultados apresentados nesse estudo evidenciaram
duos sólidos; existência de pontos de inundação e ala- que intervenções de promoção à saúde humana, como
gamento; e presença de vetores. Os resultados obti- abastecimento de água, saneamento e práticas higiê-
dos sugeriram a seguinte ordem de prioridades para nicas, isoladamente, assim como a implantação con-
as ações de intervenção: higiene pessoal e doméstica, junta dessas três intervenções, levam à redução da
disposição adequada de resíduos sólidos, disposição incidência de doenças diarréicas na população aten-
adequada de esgotos, estocagem adequada de água dida. Os autores ressaltaram como resultado da pes-
para consumo e eliminação de pontos de inundação. quisa que essas intervenções são mais efetivas do que
A cultura e a prática de atividades, levadas a cabo se postulava anteriormente. Enfatizaram que as ações
de modo distinto em diferentes sociedades, podem de saneamento se tornam ainda mais efetivas quando
contribuir para a disseminação de microrganismos acompanhadas de intervenções de educação sanitá-
patogênicos e resultar em maior incidência de doen- ria, capazes de promover mudança comportamental
ças infecciosas. Esse fato pode ser constatado em co- na população, que se traduz na incorporação de hábi-
munidades onde as relações interfamiliares são in- tos e práticas de higiene. Isso se torna especialmente
tensas, como participação em festas sociais e religio- importante em população exposta a condições am-
sas, em caso de compartilhamento de terreno para o bientais vulneráveis.
cultivo de hortaliças e criação de animais para ali- Aspecto preocupante em âmbito mundial, diz res-
mentação, em práticas migratórias e utilização de peito ao número per capita de anos potenciais de vida
excretas na fertilização de hortas. Trevett e col. (2005) perdidos ajustados para incapacidade (DALY – Disabi-
apontaram que em comunidades isoladas, como vilas lity-Adjusted Life Year), que em decorrência de riscos
em montanhas, há menos oportunidade de contato com ambientais é aproximadamente cinco vezes maior em
uma maior diversidade de patógenos do que em comu- crianças menores de cinco anos em relação ao total da
nidades periurbanas em regiões adensadas. população. O uso do indicador DALY mostra que, em
Fatores socioeconômicos como educação e conheci- média, crianças que vivem em países em desenvolvi-
mento de boas práticas higiênicas também são impor- mento perdem, por doenças associadas ao ambiente,
tantes para reduzir a circulação de microrganismos oito vezes mais anos de vida saudável per capita em
patogênicos. Em caso de pobreza extrema, encontram- relação a seus pares em países denominados desen-
se muitas limitações para propiciar e manter condi- volvidos (WHO, 2006). Portanto, a promoção de ações
ções sanitárias adequadas, que certamente protege- de intervenção que resultem no, no mínimo, ao nível
riam famílias em situações de risco, como o contato básico de acesso à água é ação de alta prioridade para
com agentes patogênicos. No Brasil, atribuiu-se o au- gestores públicos de serviços de saneamento e de saú-
mento de infecções por Cryptosporidium, em áreas de pública (Howard e Bartram, 2003). Caso contrário,
periurbanas adensadas, ao baixo peso de crianças nas- não há como romper o ciclo da pobreza, que no caso
cidas nessas áreas vulneráveis (Newman e col., 1999). aqui enfocado, decorre da espoliação urbana, da falta
Nesses locais não há água suficiente para atender às de saneamento ambiental e do precário acesso a água,
necessidades básicas, tampouco cenário que revele como ilustra a figura 1.

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Figura 1 - Água, saneamento e o ciclo da pobreza setores de desenvolvimento urbano, habitação, sanea-
mento e saúde e visando a promoção e proteção da
saúde da população local e o enfrentamento da comple-
xidade de fatores que evidenciam sua vulnerabilidade.
Ações isoladas de intervenção, mesmo represen-
tando melhores condições de acesso a serviços bási-
cos de saneamento, por exemplo, não atingem por si
só o nível desejado. Educação sanitária e mobilização
da população para uma maior participação social repre-
sentam o complemento indispensável na busca de me-
lhores condições de saúde e qualidade de vida em áreas
de exclusão social. Além de benefícios individuais nas
condições de saúde, essas ações de promoção e prote-
ção agem como fator de inserção de populações excluí-
das, tornando-as mais participativas e produtivas.

Fonte: Adaptado de WHO/Unicef 2005.


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nota-se a falta de acesso sustentável à água potável,
ambiental 5. Brasília, DF, 2004a.
assim como carência de infra-estrutura de saneamento,
o que coloca a população local em situações de risco à BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 518 de 25
saúde, tanto individual como coletiva, resultando no de março de 2004. Estabelece os procedimentos e
aumento da incidência de doenças infecciosas agu- responsabilidades relativos ao controle e vigilância
das e na prevalência de doenças crônicas, que acome- da qualidade da água para consumo humano e seu
tem especialmente crianças, idosos, desnutridos e padrão de potabilidade, e dá outras providências.
imunodeprimidos. Nessas localidades, o acesso a ser- Brasília, DF, 2004b. Disponível em: <http://
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Recebido em: 28/09/2006


Reapresentado em: 04/05/2007
Aprovado em: 16/05/2007

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