Saúde Da População Brasileira
Saúde Da População Brasileira
Saúde Da População Brasileira
A
Saúde Coletiva é um campo cien-
tífico e âmbito de práticas funda-
mentado nas relações entre a saúde
e a estrutura da sociedade, capaz
de orientar intervenções mais amplas sobre
problemas e necessidades de saúde. Distin-
gue-se da Saúde Pública, entendida como
“ideologia do possível” (MENÉNDEZ, 1992),
em diversas dimensões: histórica, teórica, po-
lítica e ideológica.
Esta distinção não é trivial, sobretudo
num momento em que o Conselho Nacional
de Saúde inclui a expressão “saúde pública” Neste texto pretende-se contribuir nos de-
no tema central da 15ª. Conferência Nacio- bates para a 15ª CNS, com o objetivo de dis-
nal de Saúde (15ª CNS). Possivelmente a in- cutir políticas de saúde na conjuntura atual e
tenção dos conselheiros era apresentar um certas restrições impostas ao desenvolvimen-
contraponto em relação à “saúde privada”, to do SUS.
associada à mercantilização e à privatização Breve análise de conjuntura, a questão da
da saúde. Esta opção, entretanto, pode resul- dívida e o financiamento do SUS
tar numa cilada, dada a ideologia dominante O exame da situação atual do SUS não
que a vincula ao liberalismo econômico e ao deve ignorar o que se passa nos países euro-
Estado capitalista quando atua nos problemas peus e na América Latina com as chamadas re-
em que a iniciativa privada e os indivíduos, formas do setor saúde orientadas pelo merca-
isoladamente, não podem resolver. do, via organismos internacionais, no bojo da
Portanto, num Congresso de Saúde Cole- crise do capitalismo de 2008. Nesse contexto,
tiva não é aconselhável negligenciar possíveis reaparece um conjunto de medidas já conheci-
consequências. A Constituição definiu o Sis- das: cortes com restrições de serviços, aumen-
tema Único de Saúde (SUS), não um “Sistema to de copagamentos, transferência de custos
Nacional de Saúde”, muito menos um “Servi- para os usuários, diminuição de responsabili-
ço de Saúde Pública”. A questão não é somen- dades por parte do Estado, aumento nas for-
te de nomes. As palavras também enganam mas de privatização (CONILL, 2014). Mesmo
e trazem concepções políticas e ideológicas, em sistemas nacionais de saúde (Espanha,
mesmo imperceptíveis ao senso comum. Alemanha e Inglaterra) constata-se o compro-
O debate sobre o tema “Saúde da Popu- metimento da universalidade aprofundando
lação Brasileira” no 11º. Congresso Brasilei- políticas de competição regulada e comercia-
ro de Saúde Coletiva demanda uma análise lização (TRAVASSOS, 2013; GIOVANELLA e
concreta de situação concreta. Cabe considerar STEGMÜLLER, 2014). O relatório publicado
os problemas do sistema de serviços, seus deter- pela Comissão The Lancet/Oslo University
minantes políticos, econômicos e ideológicos, aponta interesses de mercado que impõem
assim como ameaças e oportunidades. Essa aná- políticas de austeridade fiscal neoliberais pela
lise pode recorrer ao conhecimento produzi- troika (FMI, Banco central Europeu e Comissão
do pela Saúde Coletiva brasileira que ofere- Europeia), resultando no aumento de doenças
ce sustentação científica e técnica para uma e no desmonte de instituições de saúde estru-
abordagem crítica da realidade. turadas no século XX (BUSS, 2014).
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Saúde da população brasileira
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Contribuições do 11º ABRASCÃO
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