Práticas Integrativas e Complementares Como Recurso Da SM Na AB
Práticas Integrativas e Complementares Como Recurso Da SM Na AB
Práticas Integrativas e Complementares Como Recurso Da SM Na AB
RESUMO
Como citar este artigo:
Objetivo: Verificar o conhecimento dos profissionais atuantes na Atenção Básica sobre as Práticas Integrativas e Complementares
Carvalho JLS, Nóbrega MPSS.
(PIC) e se as percebem como um recurso de cuidado em Saúde Mental.
Práticas integrativas e comple-
mentares como recurso de saúde Método: Estudo quantitativo, realizado com 70 profissionais de uma Unidade Básica de Saúde no município de São Paulo entre
mental na Atenção Básica. Rev Gaúcha maio e junho de 2016. Os dados foram coletados mediante questionário elaborado pelas pesquisadoras. Para análise estatística,
Enferm. 2017;38(4):e2017-0014. doi: considerou-se a distribuição de frequência das variáveis e o teste de Fisher.
http://dx.doi.org/10.1590/1983- Resultados: Os profissionais afirmam conhecer alguma PIC (73,9%), que usuários do serviço com questões de Saúde Mental se be-
1447.2017.04.2017-0014. neficiariam das mesmas (94,2%), que gostariam de receber capacitação (91,3%) e que as consideram uma possibilidade de recurso
para o cuidado em Saúde Mental (92,8%).
doi: http://dx.doi.org/10.1590/1983- Conclusão: O conhecimento dos profissionais precisa ser aprofundado. Ainda assim, os mesmos consideram as PIC como um recurso
1447.2017.04.2017-0014 em Saúde Mental na Atenção Básica.
Palavras-chave: Terapias complementares. Atenção primária à saúde. Saúde mental.
ABSTRACT
Objective: To verify the knowledge of Primary Care professionals about Integrative and Complementary Practices (PIC – “Práticas
Integrativas e Complementares”) and if they perceive these Practices as a care resource in Mental Health.
Method: Quantitative study carried out with 70 professionals from a Basic Unit of Health in the city of São Paulo between May and
June of 2016. The data were collected through a questionnaire elaborated by the researchers. For statistical analysis, the frequency
distribution of the variables and the Fisher test were considered.
Results: The professionals said that they were aware of some PIC (73.9%), that users of the service with Mental Health issues would
benefit from them (94.2%), that they would like to receive training (91.3%), and that they consider the practices a possible resource
for care in Mental Health (92.8%).
Conclusion: The professionals’ knowledge needs to be deepened. Still, they consider PIC as a resource for Mental Health in Primary Care.
Keywords: Complementary therapies. Primary health care. Mental health.
RESUMEN
Objetivo: Verificar el conocimiento de los profesionales que actúan enla Atención Primaria obre las Prácticas Integrativas y Comple-
mentares (PIC) y su percepción como un recurso de cuidadoen Salud Mental.
Método: Estudio cuantitativo, llevado a cabo con 70 profesionales de una Unidad Básica de Salud en la ciudad de São Paulo entre
mayo y junio de 2016. Los datos fueron recolectados a través de cuestionario elaborado por los investigadores. El análisis estadístico
consideró la distribución de frecuencias de las variables y la prueba exacta de Fisher.
Resultados: El 73,9% de los profesionales afirman conocer alguna PIC, el 94,2% piensan que los usuarios del servicio cometas de
Salud Mental se beneficiarían de las mismas, el 91,3% les gustaría recibir capacitación, y el 92,8% las considera una posibilidad para
el cuidado en Salud Mental.
a
Universidade de São Paulo (USP), Escola de Enfer- Conclusión: El conocimiento de los profesionales necesita ser profundizado. Sin embargo, los mismos consideran las PIC como un
magem, Departamento de Enfermagem Materno- recurso en Salud Mental en la Atención Básica.
Infantil e Psiquiátrica. São Paulo, São Paulo, Brasil. Palabras clave: Terapias complementarias. Atención primaria a la salud. Salud mental.
atuantes na Atenção Básica sobre as Práticas Integrativas e capacitação para aplicar as PIC em SM, se podem ser um
Complementares (PIC) e se as percebem como um recurso recurso para cuidado da SM na AB, se podem atrapalhar o
de cuidado em Saúde Mental. tratamento psiquiátrico, se há risco de abandono do tra-
tamento, se usuários teriam boa adesão). Essas questões
MÉTODO foram construídas tomando por base a Política Nacional
de Práticas Integrativas e Complementares(2) e na proposta
Pesquisa quantitativa descritiva, realizada entre os me- de Hill que descreve as correntes terapêuticas básicas das
ses de maio e junho de 2016, em uma Unidade Básica de medicinas alternativas/complementares(10).
Saúde (UBS). Dos 80 trabalhadores que atuam na área da Os dados foram inseridos no Software Excel®2007 e re-
saúde desta unidade, 70 aceitaram participar do estudo. alizada análise estatística considerando a distribuição de
Como critério de inclusão foi considerado: ser profissional frequência das variáveis descritas. Aplicou-se o teste exato
de saúde de nível fundamental, médio ou superior atu- de Fisher para associação entre diferentes variáveis, consi-
antes na AB; como critério de exclusão: profissionais de derando p ≤ 0,05 estatisticamente significativos.
licença e/ou férias no período da coleta de dados. A esco- O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pes-
lha deste cenário se deu por ser campo de prática de um quisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São
Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Men- Paulo, de acordo com a Resolução 466/12 do Conselho
tal vinculado ao Ministério da Saúde, e localiza-se na zona Nacional de Saúde, sob o parecer de número 1.508.573.
oeste do Município de São Paulo, Brasil. Respeitaram-se os preceitos éticos, todos que participaram
O serviço onde a pesquisa foi realizada trata-se de uma o fizeram de maneira voluntária e assinaram o Termo de
UBS Integrada, que funciona em horário ampliado (segun- Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
da a sexta das 07h às 19h e sábado das 08h às 14h) e aten-
de moradores, trabalhadores e estudantes do território, RESULTADOS
com atividades programadas ou demandas espontâneas,
visando oferecer resolutividade e integralidade no cuidado A amostra da presente pesquisa caracterizou-se por
aos usuários. 70 profissionais de uma Unidade Básica de Saúde do Mu-
Conta com equipe de ESF e com equipe multiprofissio- nicípio de São Paulo. A idade predominante (48,6%) dos
nal destinada ao cuidado das demandas de SM. São ofere- participantes foi de 29-39 anos; o sexo feminino represen-
cidas aos usuários da unidade algumas PIC como Medicina tou a maior parte (81,4%) dos sujeitos; a maioria dos parti-
Tradicional Chinesa/Acupuntura, Plantas Medicinais/Fito- cipantes (38,6%) registraram ser casados. Em sua maioria
terapia; alguns grupos envolvem técnicas de Meditação, os profissionais possuem entre 6-10 anos de experiência
Relaxamento e Trabalho Corporal. na área de atuação (40,0%); trabalham 1-3 anos na referida
Para a coleta de dados elaborou-se um questionário unidade (52,2%) e com carga horária semanal de trabalho
em três etapas contendo perguntas sobre dados sócios de 40h (72,9%).
demográficos (idade, sexo, estado civil, formação profis- Com relação a formação dos profissionais obteve-se a
sional, tempo de atuação na área, tempo de atuação na seguinte representatividade: Agente Comunitário (18,6%),
unidade, carga horária semanal total); questões sobre a Assistente Social (4,3%), Auxiliar de Saúde Bucal (1,4%),
caracterização do conhecimento (ouvir falar ou conhecer Dentista (4,3%), Enfermeiro (14,3%), Farmacêutico (2,9%), Fi-
alguma PIC, nível de conhecimento em relação a cada sioterapeuta (4,3%), Fonoaudiólogo (1,4%), Médico (10,0%),
PIC, se desperta interesse, se já utilizou na vida pessoal, se Psicólogo (2,9%), Técnico de Enfermagem (22,8%), Técnico
conhece a PNPIC, se devem ser disponibilizadas no SUS, de Farmácia (5,7%), Técnico de Saúde Bucal (1,4%), Terapeu-
se são oferecidas na UBS que atua, se algum usuário do ta Ocupacional (1,4%) e outra formação (4,3%), sendo esses
serviço já solicitou PIC, se a comunidade se interessaria, se últimos Agente de Promoção Ambiental, Nutricionista e
indica o uso ao usuário, para quais questões recomenda- Profissional de Educação Física, totalizando 70 sujeitos.
ria, se teve algum conteúdo durante a formação profissio- Quanto ao conhecimento dos profissionais acerca do
nal ou se teve alguma capacitação/curso); relativo às PIC termo “Práticas Integrativas e Complementares” obteve-se
e a opinião dos profissionais acerca de sua aplicação no resposta afirmativa em 76,8%, enquanto sobre o conheci-
campo da SM (se poderia ser utilizada no tratamento de mento de alguma PIC, o resultado foi afirmativo em 73,9%.
SM, se usuários com transtornos mentais poderiam se be- O nível de conhecimento do profissional em relação às
neficiar do uso, se conhece alguém com transtorno men- PIC citadas na Política Nacional de Práticas Integrativas e
tal que utiliza ou tenha utilizado, se gostaria de receber Complementares encontra-se a seguir, na Tabela 1.
Tabela 1 - Nível de conhecimento declarado pelos profissionais acerca das PIC da PNPIC. São Paulo - SP, 2016
O conhecimento das PIC foi coletado de maneira a per- neira que os profissionais que conhecem a Massagem/
mitir ao profissional acrescentar outra (s) prática (s) além das Massoterapia tendem (p = 0,012) a desacreditar que as
descritas, tendo sido citadas por 5,71% dos profissionais ao PIC podem atrapalhar o tratamento medicamentoso des-
menos uma das seguintes: Cromoterapia, Danças Circulares, sas pessoas.
Ginástica Laboral, Lian Gong, Meditação, Reiki e Tai Chi Pai Lin. O número de profissionais que refere conhecer as PIC
Quanto ao interesse acerca das PIC, 94,3% manifestou contempladas e não contempladas na Política Nacional
interesse pelo assunto. A utilização de PIC na vida pessoal de Práticas Integrativas e Complementares está represen-
apontou que 72,9% já utilizou PIC para tratamento de saú- tado no Gráfico 1.
de, enquanto uma parcela menos representativa de 27,1% Dos sujeitos do presente estudo, 92,8% acreditam que
referiu nunca ter utilizado. Verificou-se uma tendência (p = as PIC devem ser disponibilizadas no Sistema Único de
0,059) daqueles que afirmam ter utilizado alguma PIC na Saúde, enquanto 4,3% afirmaram que não e 2,9% declara-
vida pessoal em acreditar que essas práticas devam ser dis- ram que não sabem responder à pergunta.
ponibilizadas à população por meio do SUS. Em relação à disponibilização de alguma PIC na uni-
Apenas 14,5% dos profissionais afirmam conhecer a PN- dade, 91,3% responderam que sim, 5,8% responderam
PIC, enquanto 29,0% apenas ouviram falar sobre essa política que não e 2,9% responderam que não sabem se alguma
e 56,5% desconhecem a mesma. O tempo de atuação na dessas práticas é oferecida na unidade. A solicitação das
área mostrou-se significativo (p = 0,003) quando relaciona- PIC por algum usuário do serviço ocorreu para 65,3% dos
do nesse sentido. Os profissionais entre 6-10 anos de expe- profissionais, 33,3% nunca recebeu esse tipo de solicita-
riência na saúde, que representam 40% da amostra, são os ção, 1,4% não se lembra se isso aconteceu alguma vez e
que mais conhecem a política, seguidos dos com mais de 1 não respondeu.
10 anos de atuação, que representam 25,7% dos sujeitos. Os Entre os profissionais, 94,3% afirmam acreditar que a
demais profissionais, que atuam há menos de 5 anos na saú- comunidade se interessaria por PIC, 4,3% não sabem, 1,4%
de, são os que afirmam desconhecer a existência da política. acredita que não despertaria interesse da população e 1
Quanto às práticas contempladas na PNPIC a Medicina deixou de responder.
Tradicional Chinesa/Acupuntura é conhecida por 92,9%, Quanto à indicação de PIC aos usuários do serviço,
Crenoterapia/Termalismo por 2,9%, Plantas Medicinais/ 82,6% afirmaram exercer essa prática, 17,4% não exer-
Fitoterapia por 75,7%, Homeopatia por 75,7% e Medicina cem e 1 não respondeu. Sobre a finalidade da indicação
Antroposófica por 12,9%.Quanto as práticas não contem- constatou-se que 47,1% pensam em PIC para o cuidado a
pladas na PNPIC a Aromaterapia é conhecida por 32,9%, questões físicas, enquanto 62,9%para o cuidado de ques-
Terapia pela Cor/Cromoterapia por 30%, Essências Florais/ tões emocionais/mentais/comportamentais.
Terapia Floral por 62,9%, Hidroterapia por 40%, Iridologia No que concerne à indicação de práticas que não fo-
por 7,1%, Massagem/Massoterapia por 84,3%, Meditação ram citadas no questionário elaborado pelas pesquisado-
por 72,9%, Musicoterapia por 52,9%, Reflexoterapia/Refle- ras, 7,14% dos profissionais relataram que indicam pelo
xologia por 40%. menos uma das seguintes práticas: Dança Circular, Lian
Os profissionais que conhecem a Medicina Tradicional Gong, Reiki, Tai Chi Pai Lin e Hipnose.
Chinesa/Acupuntura tendem (p = 0,022) a desacreditar A frequência de indicação das PIC declarada pelos pro-
que as PIC possam atrapalhar o tratamento de pessoas fissionais da Unidade Básica de Saúde encontra-se a seguir,
que utilizam medicamentos psiquiátricos. Da mesma ma- na Tabela 2.
Crenoterapia/Termalismo Social 2 68
Plantas Medicinais/Fitoterapia 53 17
Homeopatia 53 17
Medicina Antroposófica 9 61
Aromaterapia 23 47
Hidroterapia 28 42
Iridologia 5 65
Massagem/Massoterapia 59 11
Meditação 51 19
Musicoterapia 37 33
Reflexoterapia/Reflexologia 28 42
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Não há evidências da correlação entre o nível de co- relacionado ao tema, 24,6% afirmam ter tido algum conte-
nhecimento dos profissionais acerca das PIC presentes na údo e 7,2% não se recordam. Com relação a terem recebi-
política nacional e a indicação das mesmas. do alguma capacitação/curso sobre PIC, 23,2% responde-
Quanto ao conteúdo de PIC na formação profissional, ram afirmativamente, 76,8% negam qualquer preparo após
identificou-se que 68,2% dos profissionais não teve nada a inserção no trabalho.
Tabela 2 - Frequência de indicação das PIC pelos profissionais da unidade. São Paulo - SP, 2016
Ainda com relação a formação, obteve-se que 91,3% nal Chinesa/Acupuntura. Esta realidade deve-se ao fato de
gostariam de receber algum tipo de capacitação para utili- que na UBS, campo de pesquisa, é oferecida essa modali-
zar PIC no cuidado prestado em questões de SM, 8,7% não dade de PIC. Dentre as PIC não incluídas na PNPIC, destaca-
gostariam e 1deles não respondeu. se a Massagem/Massoterapia, possivelmente por ser a de
Questionados sobre a utilização de PIC no tratamento caráter mais próximo do cotidiano da população.
de SM 92,8% afirmam que as práticas podem ser utilizadas A PNPIC prevê a divulgação de conhecimentos básicos
nesses casos, 7,2% declarou não saber responder à per- de cada uma das PIC para os profissionais de saúde, gesto-
gunta e 1deixou em branco. Para 94,2%dos profissionais, res e usuários. No presente estudo, identificou-se fragilida-
pessoas com necessidades relativas a SM poderiam se be- de quanto à disseminação de informações sobre essas prá-
neficiar do uso de PIC, 5,8% declarou não saber responder ticas e seu potencial em diferentes contextos de cuidado.
à pergunta e 1 deixou em branco. Destaca-se ainda que, os profissionais declararam não ter
Conhecer alguém com questões no âmbito da SM que tido qualquer conteúdo sobre PIC durante a sua formação
utilize ou tenha utilizado alguma PIC foi a resposta de 43,5%, e grande parte nega ter passado por algum curso/capaci-
enquanto 56,5% respondeu negativamente e 1não respon- tação envolvendo o tema.
deu. Conhecerem alguém com questões de SM que utilize Concorda-se que, o conhecimento insuficiente sobre o
ou tenha utilizado PIC, demonstrou correlação (p = 0,023) assunto pode levar a concepções errôneas sobre o tema,
com profissionais que referiram contato prévio com o termo prejuízos na sua aplicabilidade, desvalorização do alcance
“práticas integrativas e complementares”, e foi possível corre- das PIC. Essa lacuna pode ser superada com atendimento
lacionar o fato de conhecer alguém que as utilize ou tenha ao que é preconizado pela PNPIC que prevê qualificação
utilizado (p = 0,011) com o conhecimento de alguma delas. para os profissionais atuantes no SUS por meio de educa-
Para 85,5% profissionais as PIC não atrapalham o tra- ção permanente, sendo esta de responsabilidade da gestão
tamento de pessoas que utilizam medicamentos psiqui- federal e estadual(11).
átricos, para 2,9% deles essas práticas podem atrapalhar, As experiências de implementação da PNPIC têm ocorrido
11,6%declararam não saber responder e 1não assinalou ne- de forma desigual ou até descontinuada no país, por vezes
nhuma resposta. Pessoas que fazem tratamento com medi- sem ações de acompanhamento ou avaliação, com forneci-
camentos psiquiátricos não abandonariam o uso dos mes- mento inadequado de materiais e sem o devido registro das
mos para utilizar PIC de acordo com 46,4% dos profissionais, ações realizadas(11). Nesse sentido, identificou-se que poucos
11,6% acreditam que isso poderia acontecer, 42,0% decla- profissionais desta pesquisa conhecem a PNPIC, o que é um
raram não saber responder e 1 optou por não responder. paradoxo devido ao fato dos participantes serem trabalhado-
Constatou-se associação (p = 0,045) entre ter ouvido res do SUS, local onde é prevista a implantação e implemen-
falar de PIC e acreditar que pessoas que fazem tratamento tação dessa importante política pública, vigente desde 2006.
psiquiátrico abandonariam o uso das medicações para uti- O desconhecimento por parte de alguns profissionais
lizar somente PIC. Igualmente, foi significativo (p = 0,027) sobre determinadas PIC deve-se também à divergência de
que aqueles que afirmaram conhecer alguma PIC também nomenclatura existente nesse campo. Esse achado é com-
não acreditam haver risco de usuários deixarem de utilizar preensível, uma vez que algumas práticas fazem parte da
seus medicamentos psiquiátricos. Portaria 971/2006 e diversas outras não estão regulamen-
A boa adesão às PIC por parte de pessoas com ques- tadas. Portanto, somente com a inserção das mesmas na
tões relacionadas à SM não representa um fator limitante PNPIC possibilitaria que os profissionais se familiariza sem
de acordo com 78,3% dos profissionais, enquanto 20,3% e as utilizassem em seus campos de atuação(12).
não souberam responder, 1,4% afirmou que não teriam Quanto ao tema PIC os mesmos mostram interesse so-
boa adesão e 1não respondeu a essa pergunta. bre essa proposta e já as utilizaram na vida pessoal como
As PIC foram consideradas uma possibilidade de recurso tratamento de saúde. Por terem vivido a experiência do
para o cuidado em SM na AB por 92,8% dos profissionais da uso, mostram-se mais favoráveis a sua disponibilização no
UBS campo de pesquisa, 7,2% declarou não saber responder. SUS. Ainda que reconhecendo que as PIC contribuem para
as demandas emocionais/mentais/comportamentais, não
DISCUSSÃO se sentem capazes de aplicá-las às demandas de Saúde
Mental. Diante disso, concorda-se que para superar a ca-
Com relação ao conhecimento referido pelos profissio- rência de equipes devidamente capacitadas para executar
nais acerca de cada uma das práticas incluídas na PNPIC, as PIC é necessário um corpo de profissionais qualificados
constatou-se que a mais conhecida é a Medicina Tradicio- para ministrar conteúdos sobre o tema(13).
Achado relevante na presente pesquisa mostra que terapia, homeopatia, práticas corporais e outros recursos
em relação aos profissionais que conhecem a Medicina terapêuticos complementares(15).
Tradicional Chinesa/Acupuntura, contemplada na PNPIC, A PNPIC tem como premissa o desenvolvimento das PIC
tendem a acreditar que esta não atrapalha o tratamento em caráter multiprofissional. Nesse sentido faz-se relevante
de pessoas que utilizam medicamentos psiquiátricos. Esse constar que o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN)
dado era esperado, uma vez que essa modalidade já é di- emitiu a Resolução 197/1997 que visava estabelecer e re-
fundida como importante terapêutica no sistema público conhecer as Terapias Alternativas como especialidade e/ou
e privado de saúde no país. Da mesma forma, a Massagem/ qualificação do profissional de enfermagem, no entanto a
Massoterapia, não contemplada na PNPIC, os profissionais revogou por meio da Resolução 0500/2015(16-17). A Reso-
tendem a desacreditar que essa prática possa atrapalha o lução 389/2011 lista as especialidades reconhecidas pelo
tratamento medicamentoso em SM, possivelmente por ser mesmo conselho e nela consta “Enfermagem em Terapias
prática, acessível e amplamente utilizada. Holísticas e Complementares” como uma das áreas(18).
Os profissionais concordam que as PIC devem ser ofe- A introdução do tema PIC é algo essencial desde a gra-
recidas na rede pública de saúde, os usuários se interes- duação em Enfermagem, sendo possível fazê-la por meio de
sam por essas práticas e as têm solicitado na unidade em diferentes estratégias de ensino: palestras, cursos teóricos e
que atuam. Nesse caminho, a PNPIC avançou com a re- grupos de discussão; disciplina optativa; inserção de disciplina
cente publicação da Portaria 849/2017 que insere novas no currículo; incentivo às pesquisas. Fica a cargo da universi-
PIC: Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Me- dade a responsabilidade de efetivar a inserção de uma dessas
ditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiro- estratégias para abordar as PIC a fim de contribuir para a for-
praxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária mação de profissionais com visão de integralidade e interdis-
Integrativa e Yoga, ressaltando que as mesmas atendem ciplinaridade do cuidado, como esperado de enfermeiros(19).
as diretrizes SUS(14). A atuação da Enfermagem nesse campo certamente é
A disponibilização de alguma PIC na unidade, campo de grande valia para a área e para a massiva implantação
dessa pesquisa, demonstra êxito em respeito às diretrizes da PNPIC no SUS, por esses profissionais constituírem uma
da PNPIC. Por ser classificada como uma UBS Integrada, das maiores forças de trabalho do sistema público de saúde.
modalidade recentemente instituída no município de São Desse modo, salienta-se que os enfermeiros generalistas po-
Paulo, oferece atendimento ampliado, contando inclusive dem enriquecer significativamente sua prática profissional se
com uma equipe de Saúde Mental, diferentemente de ou- agregarem ao seu conhecimento os saberes acerca das PIC.
tras unidades. Da mesma forma, acredita-se que a valoriza- Observa-se notório movimento em prol das PIC no
ção de tais práticas por parte da gestão é fator determinan- país. O surgimento do Bacharelado em Naturologia, curso
te para a verdadeira inclusão das PIC nos serviços do SUS, destinado a formar profissionais para o desenvolvimento
refletida na elevado interesse e solicitação de PIC e pelos de pesquisa e aplicação das PIC considerando o indivíduo
usuários do território em questão. em todos os seus aspectos, é um sinal da crescente valida-
Considera-se um achado importante que algumas PIC ção das mesmas. O naturólogo é o profissional com visão
que não estavam contempladas na PNPIC, como Dança multidimensional do processo de vida-saúde-doença ca-
Circular e Reiki, foram citadas como práticas indicadas/ pacitado a utilizar as PIC no cuidado e atenção à saúde(20).
orientadas por alguns profissionais da UBS a seus usuários. A publicação “Cadernos de Atenção Básica: Saúde Men-
Dado relevante uma vez que essas duas modalidades pas- tal” do Ministério da Saúde valida que as PIC podem cola-
saram a fazer parte da PNPIC recentemente, posteriormen- borar no cuidado em SM e reafirma que as mesmas devem
te a coleta de dados da presente pesquisa, apontando que estar presentes nos diferentes pontos de atenção, prioritaria-
algumas práticas são inseridas no SUS antes mesmo de se- mente na AB(6).
rem regulamentadas pela PNPIC. Diante disso, pensar na inclusão de PIC na elaboração
Nesse sentido, é relevante destacar a existência de re- do cuidado dos usuários seria um importante recurso para
gulamentações locais acerca do tema como a Política Mu- fazer SM na AB e garantir a integralidade na atenção à saú-
nicipal de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. de, assim como preconizado no SUS e na própria PNPIC.
Em sua descrição “[...] entende-se por práticas integrativas
e complementares todas aquelas que, devidamente regu- CONCLUSÃO
lamentadas e desenvolvidas por meio de ações integradas
de caráter interdisciplinar, se somam às técnicas da medi- O presente estudo mostra-se relevante para reflexão
cina ocidental modernas [..]”, incluindo acupuntura, fito- sobre a implantação e implementação da Política Nacional
de Práticas Integrativas e Complementares no SUS e, espe- 8. Pires ML. Entre a estratégia saúde da família e o núcleo de apoio à saúde da
cialmente, sua aplicabilidade em demandas no âmbito da família: o que se nomeia demanda de saúde mental? [dissertação]. Porto Ale-
Saúde Mental na Atenção Básica. Para os profissionais que gre (RS): Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
participaram dessa pesquisa, é relevante que informações 2014 [citado 2016 jan 11]. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/han-
acerca da PNPIC sejam difundidas e que as PIC se tornem dle/10183/108954.
acessíveis à população. 9. Souza IMC, Tesser CD. Atenção primária, atenção psicossocial, práticas integra-
Foi expressivo o número de profissionais que afirmou não tivas e complementares e suas afinidades eletivas. Saúde Soc. 2012; [citado
ter tido acesso a nenhum conteúdo de PIC durante sua forma- 2016 jan 01];21(2):336-50. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/sausoc/
ção e nunca ter recebido nenhuma capacitação/curso sobre v21n2/a08v21n2.pdf.
o tema, entretanto alguns afirmam indicar o uso das práticas 10. Hill, A. Guia das medicinas alternativas: todos os sistemas de cura natural. Belo
Horizonte: Mandala; 2003.
e consideram que as mesmas poderiam contribuir com a SM
11. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de
quando aplicadas no nível básico de atenção à saúde.
Práticas Integrativas e Complementares no SUS: atitude de ampliação de acesso.
São imperativos o interesse e a aceitação dos profis-
2. ed. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2015.
sionais em relação às PIC. Portanto, investir na qualificação
12. Papa MAB, Dallegrave D. Práticas integrativas e complementares em centros de
dos mesmos, para que se tornem aptos a conceber tais
atenção psicossocial: possibilidade de ampliação do cuidado em saúde [Inter-
técnicas como mais um recurso terapêutico em SM, contri- net]. Porto Alegre; 2014 [citado 2017 mai 29]. Disponível em: http://saudepub-
bui para a oferta de cuidado mais amplo e para efetivação lica.bvs.br/pesquisa/resource/pt/sus-28044.
do princípio da integralidade preconizado pelo SUS. 13. Azevedo E, Pelicione MCF. Práticas Integrativas e Complementares de desafios
Reconhece-se como limitação da presente pesquisa para educação. Trab Educ Saúde. 2011 [citado 2015 dez 22];9(3):361-78. Dis-
a restrição da leitura a uma única unidade de saúde. Por ponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-
outro lado, mesmo que circunscrito, este estudo apresenta 77462011000300002&lng=pt.
magnitude ao oferecer elementos que podem contribuir 14. São Paulo (SP). Câmara Municipal. Projeto de Lei 124/2011. Institui no âmbito
para ampliar o cuidado em SM na AB e incorporar as práti- do Município de São Paulo a Política Municipal de Práticas Integrativas e Com-
cas da PNPIC a esse nível de atenção. plementares no Sistema Único de Saúde e dá outras providências. Diário Oficial
da Cidade de São Paulo. 2011 abr 6 [citado 2017 mai 29];56(63):99. Disponível
REFERÊNCIAS em: http://dobuscadireta.imprensaoficial.com.br/default.aspx?DataPublicacao
=20110406&Caderno=DOC&NumeroPagina=99.
1. Ministério da Saúde (BR). Prática integrativas e complementares: plantas me- 15. Ministério da Saúde (BR). Portaria 849, de 27 de março de 2017. Inclui a Arteter-
dicinais e fitoterapia na Atenção Básica. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2012. apia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopa-
2. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de tia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária
Práticas Integrativas e Complementares no SUS: PNPIC: atitude de ampliação de Integrativa e Yoga à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares.
acesso. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2008. Diário Oficial da União [da] República Federativa do Brasil. 2017 mar 28 [citado
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