Livro Costurando Contos e Amarrando Pontos Ebook Ok 1

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COSTURANDO CONTOS E

AMARRANDO PONTOS:
tecendo o Piauí pelo
imaginário popular
Ana Carolina Landim Pacheco
Simone Vieira Batista
Suzana Gomes Lopes
Tamaris Gimenez Pinheiro
Organizadoras

COSTURANDO CONTOS E
AMARRANDO PONTOS:
tecendo o Piauí pelo
imaginário popular

2017
Reitor
Prof. Dr. José Arimatéia Dantas Lopes

Vice-Reitora
Profª. Drª. Nadir do Nascimento Nogueira

Superintendente de Comunicação
Profª. Drª. Jacqueline Lima Dourado

COSTURANDO CONTOS E AMARRANDO PONTOS: tecendo o Piauí pelo imaginário popular

© Ana Carolina Landim Pacheco • Simone Vieira Batista • Suzana Gomes Lopes • Tamaris Gimenez Pinheiro

1ª edição: 2017

Apoio Revisor

,
Gardner de Andrade Arrais
Universidade Federal do Piauí campus Senador
Helvídio Nunes de Barros – UFPI/CSHNB Editoração
Curso de Licenciatura em Educação do Campo
Ciências da Natureza – UFPI/CSHNB
, Francisco Antonio Machado Araujo

Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Diagramação


Pessoal de Nível Superior do Ministério da Wellington Silva
Educação - CAPES/MEC
Editor
Ilustradores Ricardo Alaggio Ribeiro
Francisco Charles Camelo Rosa
Margareth Costa Coelho de Lavôr EDUFPI – Conselho Editorial
Vaneilson José dos Santos Ricardo Alaggio Ribeiro (presidente)
Acácio Salvador Veras e Silva
Colorista Antonio Fonseca dos Santos Neto
Emerson Santos Castro Cláudia Simone de Oliveira Andrade
Solimar Oliveira Lima
Capa Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz
Emerson Santos Castro Viriato Campelo

Ficha Catalográfica elaborada de acordo com os padrões estabelecidos no


Código de Catalogação Anglo-Americano (AACR2)
C837 Costurando contos e amarrando pontos: tecendo o Piauí pelo imaginário popular
19 módulos

/ Ana Carolina Landim Pacheco, Simone Vieira Batista, Suzana Gomes Lopes,
Tamaris Gimenez Pinheiro, organizadores. – Teresina: EDUFPI, 2017.

E-Book. 53 módulos

ISBN: 978-85-509-0203-6

1. História - Piauí.  2. Cultura - Piauí.  3. Lendas e Fábulas – Piauí.  I.


Pacheco, Ana Carolina Landim.  II. Batista, Simone Vieira.  III. Lopes, Suzana
Gomes.  IV. Pinheiro, Tamaris Gimenez.  V. Título.

CDD: 981.22

Bibliotecária Responsável:
Nayla Kedma de Carvalho Santos CRB 3ª Região/1188
Autores
ADEVÂNIO ANTÔNIO DE BRITO KEITYLLE ELLEN RAMOS VELOSO
AILTON DE PAULA SILVA KIRISSON JOSÉ DE ARAÚJO
ALINE DE SOUSA PEREIRA LUCAS DE HOLANDA MONTEIRO
ALMILENA MARTHA BATISTA SOUSA LUIZA EVA DE SOUSA SANTOS VIEIRA
ALZENEIDE GRACILIANA DOS SANTOS MARGARETH COSTA COELHO DE LAVÔR
BEZERRA MARIA APARECIDA DE LIMA
ANA JÉSSICA ALVES COSMO MARIA DA CRUZ MENEZES DE LIMA
CAROLINE LUCENA DE SOUSA MARIA DO AMPARO REIS
CHIRLEY SILVA DOS SANTOS MARIA DO SOCORRO LUZ
CLARISSE DE CARVALHO VELOSO MARIA GORETE MENESES DA SILVA
EDILENE DE MOURA LEAL SOUSA MARIA JOANA DA SILVA
ELBA DE MOURA VELOSO MARIA NEUMA FLORENTINO
ELCIMARA DE SÁ ALVES MARIA VALDEANA DE BRITO
ELIVESTE FIRMINA DA CONCEIÇÃO MARIA VITÓRIA DE CARVALHO VELOSO
VELOSO MARILENA DOS REIS COSTA
ÉRIKA ROBERTA DE ARAÚJO LEÃO MARINÍZIA WELMA MENESES DA SILVA
FABIANA JOSEFA DE SOUSA MATEUS LEAL DA SILVA
FELICIANA DE CARVALHO SILVA MIRIAM DE JESUS COSTA
FRANCISCA CARVALHO SANTOS NATIÉLIA BORGES LEAL
FRANCISCA MARIA DOS ANJOS NICAELE DA CONCEIÇÃO RAMOS
FRANCISCO DA COSTA SANTOS RAIANE HOLANDA DE SOUSA
GABRIELA SALES DE MOURA RITA DE CÁSSIA GONÇALVES
IDÊ DA COSTA XAVIER RODRIGUES SAMÁRIA DA SILVA
ISABEL MATILDE DE CARVALHO XAVIER SANDRA DA CONCEIÇÃO SALES LEITE
IVO FARIAS DE OLIVEIRA SINVALDO FRANCISCO DE SOUSA
JACQUELINE DOS SANTOS LUZ SUELLY SANTOS FEITOSA
JEAN FELIPE VIEIRA TAMIRES DE MOURA MATOS
JOSEFA ANDRÉIA DE CARVALHO TERESINHA DE JESUS SILVA
RODRIGUES VALTÂNIA MARIA DA SILVA
JOSELITA DA COSTA CARVALHO VANDERLÉIA SILVA SOUSA
JOSUENE DE CARVALHO SANTOS VANDIELA DE SOUSA SILVA
JUVANI JOSÉ DE CARVALHO VANEILSON JOSÉ DOS SANTOS
Sumário
Apresentação ..................................................................................09

PICOS.............................................................................................11
Os dois caçadores e o monte de dinheiro....................................15
Goró, a menina sapeca..............................................................18
Beleza não se põe à mesa........................................................ 21
Os caçadores e a furna..........................................................24
Vicente Melado.......................................................................28
O pé de oiticica casamenteiro.................................................. 32
A princesa e o peixe.................................................................36
Um lugar chamado Trindade................................................. 41

MASSAPÊ DO PIAUÍ .......................................................... 44


História do homem-lobisomem ............................................... 46
O falso vaqueiro ......................................................................51

ITAINÓPOLIS ........................................................................56
As sete estrelas ......................................................................58
Umbuzeiro verdadeiro...............................................................61

MONSENHOR HIPÓLITO................................................... 64
Cachorrinho Benne..................................................................66
JAICÓS.......................................................................................69
Camões.....................................................................................71

SÃO JOÃO DO PIAUÍ........................................................... 74


Cuidado com a peraltice..........................................................76

ALAGOINHA DO PIAUÍ..................................................... 79
Negro santo..............................................................................81
Os bichinhos do Fulorêncio....................................................... 88

SUSSUAPARA...........................................................................91
Odilon e seu martelo desacunhado........................................... 93

PIO IX.........................................................................................96
Um forró pé de serra..............................................................98

PARNAÍBA............................................................................... 101
Viagem inesquecível ............................................................... 103

Vocabulário nordestino.................................................................. 107

Suplemento pedagógico................................................................... 109

Referências consultadas.................................................................. 131

Ficha de leitura............................................................................. 133


9

Apresentação

A
ideia de elaborar um livro composto por lendas, fábulas,
contos e causos piauienses foi sendo tecida durante os
encontros formativos do Programa de Iniciação à Docência
para a Diversidade – PIBID Diversidade – da Universidade Federal
do Piauí, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, município de
Picos, Piauí. Um dos motivos foi a ausência de material paradidático
que possibilitasse um fazer docente contextualizado, interdisciplinar e
significativo, entremeado por conteúdos típicos do Semiárido piauiense
como a cultura, as tradições, a paisagem, os ofícios, as histórias
memorialísticas dos povos do campo, as festas, enfim, toda a vivacidade,
alegria e cor deste mosaico cultural chamado Piauí. Foi então que
começamos, coordenadores, bolsistas e supervisores do Programa, a cortar,
costurar e alinhavar ideias na e para a elaboração deste livro.
A princípio tínhamos um emaranhado de retalhos que aos poucos
foi se harmonizando, tal como no processo da confecção de uma colcha.
A primeira etapa deste processo foi coletar contos, causos, fábulas,
lendas típicas da região que não possuíam registro escrito. Em seguida
realizamos o composê de estampas com as histórias selecionadas. O processo
de tessitura seguiu com a ilustração, pesquisa de expressões piauienses,

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localização geográfica das comunidades onde foram vivenciadas ou


coletadas as histórias. Por fim, realizamos o acabamento com debrum ou
viés adicionando uma ficha de leitura e um suplemento pedagógico com
sugestões de atividades interdisciplinares para serem usadas em sala de
aula pelos/as educadores/as.
Assim, vamos pôr um arremate nesta costura convidando a todos/as
para adentrar nesse ateliê de histórias, aventuras, fantasia e imaginação
num cenário encantador com personagens fascinantes do Semiárido
piauiense.

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PICOS

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PICOS

P
icos é o cenário das histórias “Os caçadores e o monte de
dinheiro” e “Goró, a menina sapeca”. Tem hoje 73.414
habitantes. O município se localiza a 309 km da capital
Teresina e é conhecida como “Cidade Modelo” e “Capital do Mel”. Tem
como principal característica social a mistura étnica, pois sua população
é formada por indivíduos das mais diversas partes do país.
Geograficamente é cortada pelo rio Guaribas, tendo a Caatinga
como principal bioma e clima tropical. Situa-se na região centro-
sul do Piauí. Está entre as 50 melhores cidades do interior para se
morar, segundo a Revista Exame. Essa característica aliada ao seu
posicionamento geográfico lhe confere a condição de polo comercial no
Piauí e até para outros estados, especialmente para combustíveis, serviços
e mel.
A cidade conta ainda com vários pontos turísticos como a Catedral
de Nossa Senhora dos Remédios; o Morro da Mariana, de onde se tem
uma vista panorâmica da cidade; Igreja do Sagrado Coração de Jesus,
que foi a primeira igreja da cidade de Picos; o Museu Ozildo Albano
com peças e gravuras que retratam a história da cidade; e a feira-livre
que é uma das maiores do Piauí e do Nordeste. Picos é rica culturalmente
em diversos aspectos, como danças folclóricas, escrita, música, artesanato,
cinema e teatro.
Entre os bairros mais importantes de Picos, encontra-se o Bairro
Ipueiras, onde aconteceu a história “Beleza não se põe à mesa”. A
origem do mesmo está atrelada à chegada da família Luz que há uns

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200 anos se estabeleceu naquele local. O bairro foi fundado por essa
família de origem espanhola, vinda da Bahia, que formou pequenos
povoados. Segundo o censo do IBGE (2010) a população do Bairro
Ipueiras é representada por 3.588 mil pessoas. No que diz respeito à
economia, vale ressaltar que o bairro passou por avanços significativos
que, apesar de estar em zona urbana, possui uma economia rural cujas
principais atividades econômicas são o plantio de milho, arroz, feijão,
entre outros cereais. Nos dias atuais essa realidade mudou e a maior
parte da população vive do comércio e outros são funcionários públicos.
Quanto aos atrativos paisagísticos destaca-se o Morro Quebra-Pescoço
(também conhecido como Morro da Santa Cruz), que pode ser observado
de vários ângulos, assemelhando-se a uma pirâmide arredondada, e no
topo existe uma cruz secular que foi fincada em meados do século XIX
por moradores e alguns missionários religiosos.
Uma prática que tem se tornado comum entre os ipueirenses é a
subida a esse morro no dia 03 de maio. Todos os anos, dezenas de pessoas
realizam a subida como forma de agradecer aos pedidos atendidos ou
simplesmente por devoção. A cultura ipueirense tem se destacado em
diversos segmentos e é representada por diversos artistas como Marcelo
Luz, Zé Armando, Fábio dos Teclados, Nataniel e Edimar Luz.
O povoado Cristovinho, onde aconteceram as histórias “Os caçadores
e a furna” e “Vicente Melado”, é uma localidade pertencente ao município
de Picos e tem seu nome, segundo os moradores locais, originado da
junção de duas palavras: “Cristo” e “vinho”. O povoado está localizado
a sete quilômetros do centro da cidade de Picos. Atualmente, existem
140 famílias, com aproximadamente 400 moradores, vivento em tal
localidade. Possui a agricultura familiar como atividade de subsistência.
Como atrativos paisagísticos existem o Purão, o Poço do Jacaré e uma

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barragem. Nesse povoado persiste a cultura das benzedeiras e a tradição


dos festejos da igreja católica no mês de julho que tem como padroeira
Nossa Senhora do Carmo.
A história “O pé de oiticica casamenteiro” é uma adaptação
de história contada pela população do povoado Curralinho, também
pertencente ao município de Picos. Foi criada a partir de relatos de
integrantes da família Sales, conhecida como família dos caboclos, uma
das fundadoras do Povoado Curralinho. O povoado recebeu esse nome
porque, ao se localizar a oito km da cidade de Picos, os feirantes que
vinham das cidades vizinhas para a feira livre do município construíram
currais para descanso dos animais neste local. Muitos pernoitavam por
lá e seguiam para a feira pela manhã. Atualmente, existem mais de 400
pessoas, distribuídas em 126 famílias. A atividade econômica e renda
do povoado é baseada na agricultura, no serviço público e também no
comércio. A comunidade, até hoje, mantém viva a cultura e a crença das
benzedeiras, das festas juninas, do forró pé de serra, e dos festejos em
honra à Santa Luzia, padroeira da comunidade.
As histórias “A princesa e o peixe” e “Um lugar chamado Trindade”
foram obtidas por meio de relatos de moradores da cidade de Picos, no
entanto, os cenários onde as histórias se passam não são conhecidos.

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OS DOIS CAÇADORES E O
MONTE DE DINHEIRO

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OS DOIS CAÇADORES E O
MONTE DE DINHEIRO

U
m certo dia, Francisco e Tadeu foram caçar em uma
mata. Eles avistaram de longe um monte de dinheiro. À
medida que eles se aproximavam do dinheiro aumentava o
tamanho do sorriso.
– Eita! Não vou mais precisar trabalhar! Uhuuu! – pensavam os
caçadores empolgados.
– Como a gente leva esse monte de dinheiro para casa? A gente não
tem como carregar tudo isso – falou Tadeu.
– Vamos voltar lá na cidade e comprar um saco de estopa – falou
Francisco com os olhos esbugalhados ao ver tanto dinheiro.
– Combinado! – disseram os dois caçadores ao mesmo tempo.
– Mas quem vai ficar guardando todo esse dinheiro? E se passar
mais alguém por aqui? – indagou Tadeu.
– Vou lá na cidade comprar esse bendito saco e você fica aqui
guardando o dinheiro – disse Francisco.
Chegando à cidade, Francisco pensou:
– Vou dar um jeito para que esse dinheiro fique só para mim! Vou
passar na bodega do Zé, comprar uma cachaça e colocar veneno de rato.
Aí entrego ela para Tadeu, ele toma e morre, e eu fico com o dinheiro só
para mim.
Tadeu, enquanto vigiava o dinheiro, teve a mesma ideia:
– Vou dar um jeito para que esse dinheiro fique só para mim –

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pensou maleficamente enquanto esfregava suas mãos uma contra a outra.


Quando Francisco se aproximou, Tadeu pegou um pedaço de madeira
e bateu na cabeça do amigo. Ao ver o que tinha feito, Tadeu pegou o
saco para pôr o dinheiro e, para sua surpresa, dentro do saco tinha uma
garrafa de pinga.
– Oh, o que eu fiz meu Deus?! O coitado do Francisco gostava
tanto de mim que até comprou uma garrafa de pinga para comemorar
a nossa sorte! – falou Tadeu com os olhos cheios de lágrimas e o peito
cheio de remorso.
Com os olhos marejados, Tadeu agradeceu a Francisco, em mente,
enquanto se preparava para tomar um gole da pinga. Quando, de repente,
Tadeu ouviu um grito:
– Não! – berrou Francisco ainda meio atordoado da pancada,
enquanto batia na mão de Tadeu.
Francisco confessou ao amigo que tinha envenenado a pinga, pois
ele queria o dinheiro só para ele. Tadeu também falou do seu plano de
fugir com o dinheiro sem reparti-lo com Francisco. Os dois, vendo o que
estavam prestes a fazer e pensando em sua amizade de longos anos,
pediram desculpas um ao outro e resolveram enterrar o dinheiro para que
nenhuma amizade fosse testada como foi a deles.

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GORÓ, A MENINA SAPECA

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GORÓ, A MENINA SAPECA

N
a cidade de Picos, em um bairro muito conhecido chamado
Junco, nasceu uma menina melequenta, magrinha, feia e
muito doente, nomeada carinhosamente pelo pai de Goró.
Por conta de sua saúde frágil os pais da menina não tinham descanso.
Senhor José lhe dava remédio, a balançava na rede, penteava seus
cabelos colocando laços de fita e cuidava da garota fazendo graça.
Goró para cá, Goró para lá. Senhor José só falava de sua preciosa
filha. O cuidado excessivo de seus pais fez com que a menina passasse
a ser uma criança saudável, mas também mimada, moleca e medonha.
Goró não parava de aprontar: quanto mais crescia, mais peraltice fazia!
Quando Goró se tornou uma mocinha era presença certa nos eventos da
região. Batizado, casamento, aniversário. Nem velório escapava!
Um belo dia, Goró se arrumou para ir a uma matinê no Parque
de Exposições da cidade de Picos. Vestiu seu vestido bordado azul da
cor do céu, colocou seu laço de fita mais bonito e calçou sua chinela
de couro trançada na perna. Goró chamou sua amiga Conceição para
acompanhá-la e lá se foram as duas pela estrada de chão batido.
No meio do caminho Goró observou dois jumentos amarrados em uma
mangueira. Como menina sapeca que era, não pensou duas vezes. Goró
montou no jumento e o pocotó começou! Conceição, pensando em não ficar
sozinha naquela estrada, pegou o outro jumento emprestado e começou
a cavalgar. Então, Goró e Conceição começaram a disparar em uma
corrida arretada; pocotó para lá, pocotó para cá! Só se via as barras

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do vestido a voar no trote do jumento. De repente, Conceição observa que


está sozinha na estrada:
– Ué? Cadê Goró? – diz Conceição com espanto ao olhar para
trás e não ver a amiga.
Preocupada, Conceição volta pela estrada até ouvir os gritos de
desespero da menina sapeca:
– Socorro! Socorro! O jumento me derrubou! – berrava Goró no meio
da estrada.
Conceição não conseguiu conter as gargalhadas ao ver a sua amiga.
O vestido, que antes era azul, estava vermelho de tanto que ela tinha
rolado no barro; Goró só usava uma chinela, pois a outra tinha voado no
meio do caminho; e o laço de fita, que estava no topo da cabeça, tinha
descido para o meio das ventas impedindo que a menina sapeca conseguisse
enxergar o caminho com clareza. Conceição acudiu a amiga, ajudou Goró
a bater o barro da roupa, arrumar seu laço de fita e ainda foi no meio
do mato caçar a chinela que tinha ido parar longe da estrada devido ao
desespero da menina sapeca. Após todo esse furdunço, Conceição montou
no jumento novamente, colocou Goró em sua garupa e dispararam para
a matinê. Mesmo com o joelho doendo e toda desgrenhada da queda do
jumento, Goró dançou a noite inteira. Por isso, Conceição não parava de
pensar:
– Goró! Goró! Eita menina danada! Dança nem que seja com um
pé só!
Ao irem para casa, já de noitinha com o céu estrelado, as duas
amigas riam do que aconteceu. Goró sapeca, com o laço de fita em uma
mão, as chinelas na outra, só conseguia pensar na sua cama devido às
dores no corpo que a queda do jumento causou.

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BELEZA NÃO SE PÕE À MESA

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BELEZA NÃO SE
PÕE À MESA

N
o bairro Ipueiras, no município de Picos, havia um senhor
chamado Gerônimo que tinha três filhas: Isabel, Luiza
e Júlia. As duas primeiras filhas tinham uma beleza
mediana, mas a caçula, Júlia, parecia pintada à mão: cabelos longos,
pele iluminada e corpo de violão. Por serem muito bonitas, seu pai tinha
ciúmes e se tornou um homem muito rígido, o que fazia com que ele
exagerasse no cuidado com suas filhas e as proibisse de ir para qualquer
lugar, até para a escola.
Certo dia, a filha mais velha conheceu um rapaz e começou a
namorar com ele às escondidas. Os encontros se tornavam cada vez
mais difíceis, por isso resolveram fugir. E assim fizeram! O pai furioso
chamou as duas filhas mais novas e disse que a outra filha tinha morrido
para ele. Continuou dizendo ainda que se uma das duas repetisse o ato
imperdoável da irmã ingrata mataria a que restasse para não ter que
viver o desgosto pela terceira vez.
Passados dois anos, a filha do meio também conheceu um rapaz,
porém o pai se tornava cada vez mais irredutível com seu ciúme. Então
o casal decidiu que também fugiriam. Preocupada com a irmã, Luísa
decidiu chamar a caçula e comunicar o que fariam. A irmã entrou em
desespero e decidiu que fugiria junto com eles por medo do pai matá-la.
Assim, na madrugada, as meninas saíram de casa e foram para o pé de
juazeiro onde encontrariam o rapaz.
Antônio, muito preocupado com o que as pessoas iriam falar da

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namorada, resolveu levar um amigo como testemunha para que ninguém


difamasse a moça, pois o fato de fugirem era apenas por conta da valentia
do seu pai, mas ele nada tinha feito com ela. Quando se encontraram,
Luiza explicou para Antônio que precisou levar a irmã com medo da
reação do pai. Antônio também mostrou o amigo que tinha levado como
testemunha. Estava muito escuro e não dava para ver o rosto de ninguém,
mas o amigo de Antônio logo se ofereceu para casar com Júlia. Essa,
com medo do pai, aceitou o convite logo de cara. Andaram durante
muitas horas até amanhecer o dia, mas quando o dia amanheceu, Júlia
ficou inconformada com a feiura de Joaquim e já não dava mais para
voltar atrás, tinha dado sua palavra. O jeito agora era casar! Os dois
casais casaram na igreja mais próxima.
Apesar de não ser bonito, Joaquim era um homem digno, trabalhador
e respeitava a esposa. Com ela, constituiu uma família com filhos e
netos e estão juntos até hoje. Os dois viveram dias felizes e de muita
cumplicidade.
Moral da história: A beleza não se põe à mesa, pois quem vê cara,
não vê coração.

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OS CAÇADORES E A FURNA

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25

OS CAÇADORES
E A FURNA

C
erto dia, dois amigos caçadores chamados Bernardo e
João da Cruz resolveram ir para uma caçada no povoado
Cristovinho, na cidade de Picos. Bernardo era medroso, mas
também era inteligente e dissimulado.
– Doido é quem se embrenha em mata sozinho! Vou levar João para
me proteger de tudo o que tiver por lá – pensava o homem tremendo de
medo de ver alguma assombração pelo caminho.
Bernardo passou foi cedo na casa do amigo. Os dois munidos de
espingarda e facão, subiram no lombo de seus jumentos e foram para
a mata esperando uma grande caçada. Os caçadores chegaram ainda
em dia claro. João foi logo pensando em montar sua barraca e cochilar
um pouco, pois estava cansado. Bernardo, querendo demonstrar uma
coragem que não tinha, bateu no peito e bradou aos quatro cantos:
– Vou logo ver o que se tem por essas matinhas. Aqui nada me
assusta não. Nem alma penada, nem fantasma, muito menos bicho ou
assombração.
E lá se foi Bernardo, todo de peito estufado, fazer uma ronda
no local. De repente o homem avista uma furna em formato de oratório.
Como ela estava em cima de um morro, Bernardo tinha a desculpa
perfeita para dizer ao amigo porque não tinha investigado a tal furna.
Já um pouco assustado, mas ao mesmo tempo curioso, Bernardo correu
de volta ao acampamento.

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– João, você não sabe o que eu acabei de ver! – falou Bernardo


entusiasmado.
– O que você viu Bernardo? Diga logo! – disse João.
– Eu vi umas pedras lindas! – falou Bernardo com um brilho no
olhar.
– Ah, só umas pedras? Você nunca tinha visto pedras?! Me poupe
Bernardo! – retrucou João enfurecido por ter sido acordado.
– Mas João, não eram só pedras! Elas estavam juntas formando
um oratório! Tem também um letreiro que eu não consegui ler o que estava
escrito.
– Nossa Bernardo, isso é verdade mesmo? Sendo assim, quero ir lá
ver também! – falou João empolgado.
Assim, os dois caçadores saíram em direção a furna. João era
curioso e bastante corajoso, por isso resolveu subir logo de uma vez.
– Vamos subir e entrar lá Bernardo? – chamou João.
Bernardo, medroso, só ficava se escondendo detrás de João. Quando
se aproximaram da furna, os dois começaram a sentir uma forte rajada
de vento e ouviram algumas vozes sussurrando. Bernardo, já se segurando
para não mijar nas calças, agarrou João pelas costas e gritou bem alto:
– Valei-me, Padim Ciço!!!
João deu um “chega para lá” em Bernardo e já questionou logo:
– Você não é homem, Bernardo? Toma jeito, cabra!
João agarrou logo Bernardo pelo braço e o jogou para dentro da
furna, forçando-o a ir na frente. Quanto mais eles se aproximavam do
fundo da furna, mais alto as vozes ecoavam. Então, de repente, Bernardo
não aguenta mais! Ele saiu correndo da furna, todo mijado, fazendo o
sinal da cruz sem parar, e berrando para quem quisesse ouvir:

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– Socorro! Socorro! Valei-me! Valei-me!


João, ao ver a cena, caiu na gaitada, pois viu que seu plano para
desmascarar a suposta valentia de Bernardo deu certo. João ria tanto
que começou a rolar no chão e suas gargalhadas ecoavam do interior da
furna para quem mais quisesse ouvir. Depois que se recuperou da crise de
riso, João desceu ao acampamento acompanhado de seus dois sobrinhos,
Zezinho e Marquinhos, as duas vozes sussurrantes da furna. Chegando
lá, encontrou Bernardo, com as calças molhadas, enroladinho na rede,
todo se tremendo, tamanho foi o susto que levou.
– Te peguei! Cabra frouxo! Sabia que você iria se pelar de medo e
fugir – falou João caindo na gargalhada mais uma vez.
Bernardo, ao ver que tudo não tinha passado de uma brincadeira,
caiu no choro de tão aliviado que ficou. João, ao ver o que tinha acontecido
com o amigo, ficou com remorso de tudo o que tinha acontecido. No
final, ele se abraçou com Bernardo e começou a chorar também pedindo
desculpas sem parar.

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28

VICENTE MELADO

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29

VICENTE MELADO

C
onta a lenda que, certo dia, em uma comunidade vizinha
à cidade de Picos chamada Cristovinho, um acontecimento
marcou a vida de Vicente, um jovem que tinha medo de tudo,
principalmente de histórias de assombração. Vicente morava nas terras
de seu bisavô que fica na beira de um purão que havia na comunidade.
Ele morava em uma casa bem simples somente com a sua mãe, Zuleide,
e com o seu avô, Belarmino, um homem bastante velho mas muito vívido.
Vicente passava todas as noites por esse purão para poder ir para a
casa de sua namorada, Mariana, que morava em um povoado vizinho. A
sua mãe sempre contava sobre o caixão flutuante que existia naquele local,
pois era uma lenda da sua família contada desde a morte do seu bisavô, mas
Vicente sorria e achava que era mentira, apesar de morrer de medo da história.
Em uma noite, como de costume, Vicente se arrumou para sair. E lá
se foi ele passar pelo purão para ir à casa de sua namorada. Vicente,
apaixonado, ficou com sua amada e não viu a hora passar. Quando já
era muito tarde, Vicente resolveu voltar para sua casa. No caminho de
volta, de longe, ele vê algo alumiar, mas pensou que fosse coisa de sua
cabeça. Ao se aproximar das águas do purão, ele avistou de longe, no
escuro, uma luz que saía do lajeiro.
Vicente, ao ver essa cena, lembrou das histórias que sua mãe contava,
olhou de novo e a luz ficava cada vez mais forte. O jovem, com medo,
começou a se tremer todinho e quando se deu conta estava todo “borrado”.
De repente, uma voz bem grossa falou com ele:

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– Vicente, venha até aqui. Você já é um homem, venha!


O medo de Vicente só aumentou. Mas agora, além do medo, estava
a vergonha de ter melado suas calças. E, enquanto se perdia na confusão
de suas sensações, pensou:
– Vicente, tu és homem ou não és? Vá em frente, cabra!
Em seguida, Vicente percebeu que ele não tinha outro caminho,
senão o que estava atravessado pela luz, pois de um lado da passagem
era água e de outro era mata fechada. Então, resolveu se aproximar. Ele
viu um caixão preto flutuando em cima do lajeiro e não teve jeito: mais
uma vez Vicente se borrou todo de medo! Quando se aproximou do caixão,
ele viu que dentro dele havia uma imagem de Cristo, rendas brancas
e duas velas acesas. De repente, as velas se apagaram e ficou tudo
escuro deixando Vicente ainda mais apavorado. Um forte vento soprou e
Vicente, todo sujo, correu em direção à sua casa gritando pela sua mãe:
– MAINHA, ME ACUDA!!!
Ao chegar em casa e contar tudo o que havia acontecido, sua mãe
disse:
– Isso que você viu hoje foi presenciado por todos os homens de
nossa família. Já havia lhe contado, mas você não quis acreditar em
mim.
Enquanto conversavam, seu avô adentra a casa. Vicente se assusta
novamente, pois pensava que o homem estivesse dormindo. O avô, com um
sorrisinho no rosto, pergunta o que estava acontecendo e Vicente, morrendo
de vergonha e ainda apavorado, conta para o velho o ocorrido. Ele então
cai na gargalhada e diz:
– Você caiu direitinho. Todo mundo da família já passou por isso,
mas se borrar?! Ah, você foi o primeiro.

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A mãe do rapaz deu um suspiro e continuou:


– É, meu filho... Ele faz isso com todos, mas você foi o único que se
melou e se sujou. Precisava não. A partir de agora, se prepare para ser
um homem corajoso e forte.
Vicente demorou alguns segundos para entender que toda aquela
arrumação não passava de uma brincadeira de seu avô gaiato. Vicente
ficou louco da vida! Tão bravo, mas tão bravo, que resolveu ir embora
de lá.
Anos se passaram e a saudade foi maior que o orgulho e Vicente
retornou ao povoado para visitar sua mãe e fazer as pazes com seu avô.
Quando chegou lá, descobriu que sua história havia se espalhado e ele,
ao invés de ser o Vicente da Zuleide, passou a ser conhecido por Vicente
Melado. Coisas de seu Belarmino mais uma vez. Os anos se passaram
e acabou que ele nem ligava mais para essa conversa. Mesmo porque,
depois da morte de seu avô Belarmino, o tal do caixão flutuante não
fora visto só por gente da família de Vicente. Muitos outros homens
relataram que o viram também. E nessa altura da vida, no pequeno
povoado, não havia só o Vicente Melado, tinha também o Tonho Frouxo,
o Zeca Mela Cueca, o Chico Cagão... Seu Belarmino, seja lá onde
estiver, continua frescando com a cara do povo!

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O PÉ DE OITICICA
CASAMENTEIRO

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O PÉ DE OITICICA
CASAMENTEIRO

E
m um lugarzinho perdido no meio do mato, onde Judas
perdeu as botas, vivia uma família bastante unida e
divertida, formada por pai, mãe e sete filhos: três mulheres
e quatro homens. A mãe se chamava Maria, mas era conhecida na
comunidade como Dona Prechedes de Seu Miculau. Todos sobreviviam
da agricultura familiar e tinham suas tarefas. As meninas ajudavam
a mãe nos afazeres de casa e depois iam para a escolinha. Os rapazes
ajudavam na plantação e a noite iam para a cidade estudar. A filha
mais velha, Miliquinha, só pensava em se casar, pois tinha muito medo de
ficar para o caritó, por isso a sua preocupação era preparar o enxoval.
Quando não estava bordando as peças para o enxoval, Miliquinha estava
na porteira, debaixo de um pé de oiticica, esperando o filho de Chico
Facão passar para poder piscar os olhos para ele. Fugêncio era um rapaz
forte, charmoso, trabalhador e muito tímido, pois sempre que ia sorrir
baixava a cabeça e tapava a boca com a mão. Fugêncio de Chico Facão
também piscava os olhos para Miliquinha de seu Miculau. Entretanto,
a comunidade era muito pequena e os rapazes eram poucos. Fugêncio era
considerado um bom partido, por isso todas as moças queriam se casar
com ele.
Uma certa feita, Seu Miculau recebeu o dinheiro de uma herança
e pôde realizar um sonho antigo: comprar uma sanfona. Todo feliz e
decidido a promover uma festança, Seu Miculau decidiu organizar um
forró e convidou toda a comunidade para arrastar o pé ao som da sua

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sanfona. Miliquinha ficou radiante de felicidade com a notícia, afinal


essa era a oportunidade perfeita para ela, finalmente chegar perto de
Fugêncio e conversar com ele. Chega o dia da festa e Miliquinha foi
decidida a conquistar de vez o coração de Fugêncio. Ela colocou o seu
melhor vestido, sapato alto, arrumou os cabelos, pintou as unhas e foi
para o forró.
Chegando lá, Miliquinha tratou de encontrar Fugêncio e garantir
que ele seria o seu parceiro de dança a noite toda. Mas o plano de
Miliquinha não deu muito certo, pois haviam muitas moças interessadas
em Fugêncio, que estava se sentindo um galã de novela, na verdade, parecia
um pavão de tão vaidoso e faceiro distribuindo piscadas de olho para
todas no salão. A fila de moças para dançar com ele estava enorme,
Miliquinha era praticamente a última da fila! Não conformada com a
situação, a moça foi se sentar e daí percebeu que o salão era muito pequeno
e os casais dançavam e esbarravam uns nos outros, tanto que vez ou outra
se ouvia alguém reclamando de pisadas no pé e de vários empurrões.
Percebendo isto, Miliquinha, que não era nada boba, arquitetou um
plano para eliminar a concorrência: passou o braço no seu irmão Beroso
e saiu dançando! Nesta ocasião, Miliquinha estava inaugurando um
sapato alto plataforma que acabara de ganhar de sua madrinha e, ao
se aproximar das moças que estavam de olho em Fugêncio, ela dava um
pisão daqueles. Não demorou muito tempo para quase todas as moças da
festa ficarem mancando e impossibilitadas de dançar. Logo, todos os
rapazes da festa começaram a fazer fila para dançar com Miliquinha.
Fugêncio, ao ver aquela cena, ficou com muito ciúme e tratou de furar a
fila, não deixando mais ninguém dançar com a moça. Miliquinha ficou
toda satisfeita, feliz da vida e, como nunca tinha conversado ou chegado
tão perto do moço, decidiu que essa era a chance para conquistar de vez

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o seu grande amor. Assim, enquanto dançava, Miliquinha aproveitou


para fazer várias perguntas a Fugêncio que nunca abria a boca. Ele
só acenava com a cabeça: ora concordando, ora discordando dela. Já
exausta de tanto dançar e falar sem parar e vendo que o rapaz só mexia
com a cabeça, nem um sorriso dava, Miliquinha decide lhe contar uma
piada e, para sua surpresa, Fugêncio caiu na gargalhada. Foi então
que ela percebeu que o rapaz era banguela e por isso não sorria e nem
conversava. Miliquinha ficou arrasada e para sorte sua aquela era
a última música da noite. Ela se despediu do rapaz e foi para casa
desencantada da vida.
No dia seguinte, Seu Miculau, que tinha visto toda a tramoia da
filha, foi à casa de Seu Chico Facão tratar logo do casamento da filha,
pois fazia muito gosto com o casório e já sabia que os dois se gostavam,
pois passaram toda a festa dançando. Chegando na casa, Seu Niculau
foi bem recebido e Seu Chico Facão já foi logo querendo confirmar
a data do casório, pois fazia muito gosto que o filho se casasse com
Miliquinha. Ao voltar para casa, Seu Niculau deu a notícia à filha
que caiu no choro, mas concordou com a decisão. O pai entendeu que o
choro da filha era de felicidade e logo decidiu que a cerimônia seria
realizada na sombra do pé de oiticica, pois era lá onde ela passava
horas esperando para ver o seu amado todos os dias.

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A PRINCESA E O PEIXE

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A PRINCESA E O PEIXE

E
ra uma vez...
Em uma casa viviam três jovens: Maria, Josefa e Aparecida.
Maria sempre foi uma pessoa tímida e meiga, diferente das
suas irmãs que eram mais atiradas. Todos os dias suas irmãs iam banhar
no rio e chamavam Maria, mas ela nunca quis ir com suas irmãs, apenas
falava:
– Não vou, não!
Quando as irmãs voltavam do rio, iam almoçar junto com Maria
e, depois do almoço, Maria ia para o rio e suas irmãs iam se deitar.
Maria pegava a comida dela e levava para o rio, porque lá ela tinha
um amigo peixe que era um príncipe encantado disfarçado. Todos os dias
Maria fazia a mesma coisa.
Um dia Maria foi levar comida para o peixinho e chegando lá
chamou o peixe por um nome: Brada Luz. E ele a chamava de Minha
Aiá. Chegando na beira do rio, Maria começou a chamar o peixinho
cantando:
– Brada Luz, ô Brada Luz, vem ver quem te criou, vem ver quem
te criou!
E ele imediatamente respondeu:
– Eu já vou Minha Aiá, eu já vou Minha Aiá, já vou cravo de
flor, já vou cravo de flor!
Um dia, as irmãs perceberam que Maria levava comida para o rio

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todos os dias na hora que ia tomar banho, então elas disseram:


– Vamos seguir Maria até o rio para descobrir para quem ela leva
essa comida!
Elas fingiram que estavam dormindo, enquanto Maria saía com
a comida para o peixinho. Depois que Maria saiu, suas irmãs saíram
atrás dela. Chegando lá, Maria foi para a beira do rio e as irmãs
ficaram escondidas atrás de uma moita. Então, Maria cantou:
– Brada Luz, ô Brada Luz, vem ver quem te criou, vem ver quem
te criou!
E o peixinho respondeu:
– Eu já vou Minha Aiá, eu já vou Minha Aiá, já vou cravo de
flor, já vou cravo de flor!
Quando o peixinho chegava na beira do rio, Maria jogava a comida
e ele comia. As irmãs dela voltaram bem caladinhas e quando chegaram
em casa falaram:
– Amanhã nós não vamos deixar ela dar comida a esse peixe! Nós
já sabemos como ela o chama. Amanhã vamos estraçalhá-lo!
No dia seguinte as irmãs chamaram:
– Maria vem almoçar!
Ela disse:
– Não!
Elas insistiram:
– Beba pelo menos um copo de suco.
As irmãs de Maria pegaram um comprimido para dormir e colocaram
no suco, então Maria caiu em um sono profundo. Imediatamente as irmãs
pegaram o prato de comida e foram para a beira do rio chamar o peixe
e pensaram:

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– Vamos matar o peixe com esse facão.


Quando chegaram no rio, as irmãs cantaram:
– Brada Luz, ô Brada Luz, vem ver quem te criou, vem ver quem
te criou!
O peixinho ouviu, mas estava desconhecendo aquelas vozes, ele pensou:
– Essa voz não é de Maria.
Então elas tornaram a cantar:
– Brada Luz, ô Brada Luz, vem ver quem te criou, vem ver quem
te criou!
O peixinho disse:
– Não é ela! Não é a voz dela!
Elas insistiram tanto que o peixinho acabou cedendo, subiu até a
beira do rio e cantou:
– Eu já vou Minha Aiá, eu já vou Minha Aiá, já vou cravo de
flor, já vou cravo de flor!
Elas disseram:
– Olha o peixe!
Quando ele chegou para comer, uma delas jogou a comida e a outra
o acertou com o facão. O peixinho, assustado, sumiu dentro d’agua. À
tardinha, Maria acordou atordoada e lembrou da comida que tinha
que levar para o peixinho. Ela saiu correndo para o rio. Chegando lá,
chamou, chamou, chamou, mas o peixinho não respondeu. Após Maria
insistir bastante, o peixinho respondeu e subiu até a beira do rio. Chegando
lá, ele falou:
– Maria, o que tu fizeste comigo?! Tu me sangraste!
– Não fui eu! A culpa é das minhas irmãs. Elas me seguiram!

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– Você não vai me ver nunca mais! Eu não consigo acreditar em


você! Estou muito triste com sua atitude. Não me procure mais!
O peixinho saiu da beira do rio e Maria ficou tão triste que se
trancou em seu quarto e chorou muito até que um dia ela decidiu lutar
pelo seu amor. Maria voltou ao rio e chamou o peixinho cantando:
– Brada Luz, ô Brada Luz, vem ver quem te criou, vem ver quem
te criou!
Então o peixe respondeu lá do fundo do rio e se aproximando dela
cantou:
– Eu já vou Minha Aiá, eu já vou Minha Aiá, já vou cravo de
flor, já vou cravo de flor!
Os dois conversaram e Maria disse:
– Brada Luz não fui eu que lhe machucou!
E ele respondeu:
– Eu acredito em você minha Aiá e nunca mais quero me afastar
de você!
De repente, o peixe começou a se transformar em um lindo rapaz, um
príncipe encantado! Saindo do rio, ele pegou Maria pela mão e a pediu
em casamento. Ela imediatamente aceitou. Os dois se casaram e foram
felizes para sempre.

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UM LUGAR
CHAMADO TRINDADE

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UM LUGAR
CHAMADO TRINDADE

H
avia um povoado chamado Trindade que era muito
isolado e distante de tudo. Trindade ficava localizado
em uma serra bem alta cujo caminho era estreito e perigoso.
Nenhum automóvel conseguia subir as íngremes ladeiras, por isso só se
entrava e se saía de lá no lombo de um jumento. Nele moravam três
irmãos: o mais velho, Agenor, José e o caçula Francisco, no auge de seus
60 anos.
Certo dia, conversando sobre a vida, embaixo do pé de juazeiro,
constataram que boa parte de seus amigos e parentes já haviam batido
as botas, abotoado o paletó de madeira, batido a caçoleta, comido capim
pela raiz. Enfim, passaram dessa para uma melhor. Ao contrário das
outras conversas que sempre terminavam em gargalhadas desdentadas,
nessa noite os três irmãos ficaram pensativos.
Agenor, por ser o mais velho, sentia que sua viagem para a cidade
dos pés juntos podia estar chegando. Como sempre ouviu que para ir
para o céu precisava ser batizado, decidiu que no outro dia bem cedo ia
se dirigir à igreja para completar essa etapa que, naquela noite, após a
agorenta conversa, parecia ser imprescindível.
Na manhã seguinte, preparou então o seu jumento e, pela madrugada,
saiu em direção à cidade mais próxima (que já era muito distante para
eles que moravam em Trindade). Apesar de nunca ter participado de
uma missa, ele era um homem de muita fé.

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Chegando à cidade, foi em busca da igreja para realizar o batismo.


Desceu de seu cavalo e foi procurar o padre para saber o que precisava
fazer para ser batizado. Coincidentemente, naquele dia o padre ia
realizar o batismo de outras pessoas e, sentindo o desespero do pobre
velho, perguntou se o mesmo queria aproveitar o momento. Ele prontamente
disse que sim, sem saber o que realmente ia acontecer. Acanhadamente ele
perguntou ao padre como seria e o pároco disse:
– Não se preocupe, meu filho. Você só precisa responder umas
perguntinhas. Me diga, quem morreu por nós?
O senhor muito preocupado disse:
– Não sei não, Seu Padre! Logo eu moro lá na Serra da Trindade
e não ouvi ninguém falar nada por lá.
Nesta hora, o padre notou que ele não sabia de nada mesmo e disse:
– Meu filho, quem morreu por nós foi nosso Senhor Jesus Cristo.
O senhor muito envergonhado falou:
– Oh, Seu Padre, me desculpe. Coisa ruim é morar na serra, porque
as coisas acontecem e a gente não sabe de nada.
O padre resolveu fazer mais uma pergunta:
– Meu filho, você sabe quem são as três pessoas da Santíssima
Trindade?
Nessa hora o senhor se animou todo, arregalou os olhos e disse:
– Ah! Seu Padre, essa aí eu sei! Essa pergunta é muito fácil! Vou
lhe responder agora: as três pessoas da Santíssima Trindade sou eu, o
José e o Francisco, meus irmãos.
O padre totalmente admirado com a inocência do velho, concluiu:
– É... coisa ruim é morar na serra!!! Vá com Deus meu filho.

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MASSAPÊ DO PIAUÍ

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MASSAPÊ DO PIAUÍ

M
assapê do Piauí é o município onde foram coletadas “A
história do homem lobisomem” e o “Falso vaqueiro”. É
uma cidade que possui cerca de 6 mil habitantes e está
localizada à 394,2 km da capital, Teresina.
A vegetação nativa é característica da Caatinga e seu clima é
semiárido. O comércio local constitui-se de pequenas e médias mercearias,
bares e botequins. Suas principais atividades econômicas são a criação
de animais (bovinos, ovinos, caprinos e galinha caipira); a apicultura
organizada em associações e cooperativas; o cultivo de hortaliças e verduras
como o coentro, alface, cebola de folha, pimentão, tomate, batata doce,
melancia e abóbora; e o extrativismo da palha, pó e cera de carnaúbas.
Os seguintes pontos turísticos fazem parte das sete maravilhas
do município: 1o– Sítio Arqueológico, na localidade Morrinhos; 2o –
Morro do Chapéu, no bairro Espinheiro; 3o – Morro Chapada do
Jaburu, na localidade Peixe; 4o – Morro do Pico, na localidade Saco;
5o – Caldeirão Rio Boa Vista, na localidade Abóbora; 6o – Morro
do Morcego, na localidade Morcego; e 7o – Encosto de Pedra, na
localidade Cercadinho. No que diz respeito à cultura, destacam-se as
danças populares como reisado, quadrilhas juninas, festas de sanfona,
cantoria, São Gonçalo e valsa.

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HISTÓRIA DO
HOMEM-LOBISOMEM

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HISTÓRIA DO
HOMEM-LOBISOMEM

E
ra uma vez, um homem ruivo, muito alto e forte, com olhos
verdes, chamado Jurandir, que se apaixonou por uma moça
baixinha e de longos cabelos negros, pele dourada pelo
sol, olhos castanhos chamada Jurema. Jurandir era um rapaz pobre,
não tinha estudos, nem propriedades e trabalhava como aboiador nas
fazendas da região. A família de Jurema possuía propriedades, muito
gado, muitos empregados e por isso não aceitava que a moça se casasse
com um rapaz pobre como Jurandir. Impedidos de namorar, Jurema
e Jurandir conseguiram se encontrar um certo dia depois da missa. O
encontro foi debaixo do pé de tamarindo atrás da igreja. Lá os dois
fizeram juras de amor eterno e decidiram que naquela noite iriam fugir
para a cidade para se casar e viveriam felizes para sempre.
Ao anoitecer, Jurema pediu a benção aos pais e foi se deitar mais
cedo do que o costume, alegando dor de cabeça. Passadas algumas horas,
a moça pegou uma pequena mala que estava embaixo da cama, trocou
o pijama, calçou suas botas, abriu a janela do quarto silenciosamente
e desapareceu na escuridão da noite. Cerca de uns dois quilômetros
dali, Jurandir a esperava ansioso com uma pequena maleta nas mãos.
Ao avistar Jurandir, a moça correu para os seus braços extasiada de
alegria e a passos largos os dois se foram estrada a dentro. Alguns
dias depois, o casal chegou à cidade. O primeiro passo foi procurar o
padre para oficializar a união. Como Jurema ainda não tinha dezoito
anos completos, o casamento não pôde ser realizado sem o consentimento

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da família. Jurandir, apesar de ser um rapaz trabalhador, teve muitas


dificuldades para arrumar emprego na cidade, pois não tinha estudos.
Depois de bater de porta em porta à procura de trabalho, ele finalmente
conseguiu um emprego numa carvoaria que ficava um pouco afastada
da cidade. Para alegria do casal, o patrão de Jurandir lhes ofereceu um
pequeno casebre que ficava nos fundos do estabelecimento. Apesar das
dificuldades, os dois estavam juntos, felizes e apaixonados.
Sete anos se passaram e, em uma bela noite de lua cheia, após o
jantar, Jurandir decidiu ir caçar na mata que ficava perto da carvoaria.
Ao chegar no centro da mata, em um lugar onde os jumentos costumavam
deitar e rolar na areia, ele começou a sentir sensações estranhas e, tomado
por forças estranhas, tirou as roupas, colocou-as do lado avesso, e depois
rolou e deu cambalhotas na areia. Quando a luz do luar ficou forte, ele
olhou para o céu e, em um piscar de olhos, virou um bicho cheio de pelos
e garras enormes. Jurandir havia virado um lobisomem! Logo depois, o
lobisomem saiu correndo no meio da mata e pelas estradas. Ao ouvir o
galo cantar à meia noite, o homem-lobisomem voltou ao lugar onde as
roupas tinham ficado, deu três cambalhotas na areia e em um passe de
mágica voltou a sua forma humana. Jurandir vestiu suas roupas e foi
para casa. Por muitos dias, todas as noites Jurandir jantava com Jurema
e depois ia para a mata e lá virava lobisomem. E assim acontecia em
todas as noites de lua cheia. Jurema, muito ciumenta, começou a suspeitar
das saídas noturnas de Jurandir e decidiu que na próxima noite que ele
saísse ela iria segui-lo e descobrir se Jurandir a estava traindo com
outra mulher.
E assim foi! Depois do jantar, Jurandir deu um beijo na testa da
esposa e disse que ela não o esperasse acordada, pois ele iria caçar e
só chegaria de madrugada. Jurema acenou positivamente com a cabeça

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e soltou-lhe um beijo. Assim que Jurandir saiu, ela prontamente calçou


suas botas, pegou um casaco e, se escondendo aqui e acolá, seguiu o
esposo mata adentro. Entretanto, as árvores na mata eram muito altas e
cobriram toda a luz da lua. Era um breu total! Quando ela deu por si,
Jurandir havia sumido no meio da mata. Decepcionada, Jurema decidiu
voltar para casa e foi quando, de repente, surgiu um bicho enorme com
garras e dentes afiadíssimos. Ela começou a correr desesperadamente,
mas acabou tropeçando e caindo. Ao perceber que o bicho ia lhe atacar,
Jurema, em um ímpeto de coragem, pegou um grande galho de árvore no
chão e começou a bater no bicho, ferindo-o no peito. Passado o sufoco,
Jurema levantou-se e correu para casa antes que Jurandir voltasse e
descobrisse sua aventura.
Na manhã seguinte, Jurema levantou cedinho e preparou o café da
manhã para o esposo que, diferentemente dos outros dias, não levantou da
cama e já estava atrasado para o trabalho. Surpresa com o atraso de
Jurandir para o desjejum, Jurema foi até o quarto do casal. Chegando
lá, a esposa encontrou Jurandir com febre e um grave ferimento. Ao ver
o ferimento no peito do marido, Jurema ficou paralisada e, como se fosse
um filme diante de seus olhos, se lembrou de todo o episódio da noite
passada. Ainda sem acreditar que o marido era um lobisomem, Jurema
resolveu perguntar o que tinha acontecido com o marido, que lhe explicou:
– Ontem, quando fui caçar na mata, estava muito escuro e acabei
me machucando com um galho de árvore que me furou o peito.
Sem acreditar na história, Jurema cuidou dos ferimentos do marido,
mas planejando tirar toda essa história a limpo. Passaram-se algumas
semanas e Jurandir já estava novinho em folha! Entretanto, Jurema cada
dia estava mais certa de que seu marido era realmente um lobisomem!
Naquela noite, após o jantar, Jurandir, como de costume, deu um beijo

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na esposa e lhe avisou que estava indo caçar e que só voltaria muito
tarde da noite. Durante o período de recuperação do marido, Jurema fez
algumas pesquisas e descobriu que se uma pessoa fosse mordida por um
lobisomem ela também se transformaria em um lobisomem toda noite de
lua cheia. Sabendo disto e sendo totalmente apaixonada por Jurandir,
ela decidiu que iria se transformar na primeira mulher loba do Nordeste
e assim permanecer eternamente com seu amado! Assim, Jurema saiu em
direção à mata com o objetivo de encontrar o lobisomem e se deixar ser
mordida por ele. A certa altura da noite, ela avistou o lobisomem e,
apesar do medo, caminhou em sua direção. O bicho, ao vê-la, pulou em
cima dela e lhe mordeu! Jurema desmaiou e quando acordou estava em
sua cama ao lado de Jurandir que estava com um enorme sorriso no rosto.
Sem pronunciar nenhuma palavra, o casal se olhou com cumplicidade e
se abraçou.
Reza a lenda que Jurema e Jurandir nunca mais foram vistos e
que, depois de alguns dias, um casal de lobos apareceu na região e que
lá viveram por muitos e muitos anos e que durante todas as noites de lua
cheia os moradores da cidade ouviam uivos assustadores. Alguns diziam
que eles corriam na mata e dançavam sobre os lajedos do sertão, sob a
luz do luar.

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O FALSO VAQUEIRO

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O FALSO VAQUEIRO

M
irô era um homem simples do campo que morava do
interior de Massapê do Piauí. Naquele ano, ele passava
por um momento muito difícil, porque a colheita havia
sido fraca devido à escassez de chuva e toda a plantação e criação
estavam perecendo com a seca. Mas Mirô era um homem persistente e,
devido às dificuldades, resolveu sair à procura de emprego. Pensou:
– Vou fazer o que for preciso, de fome eu não morro!
Só que o tal emprego estava difícil. Ele era uma pessoa que não teve
a oportunidade de estudar e só conhecia o trabalho do campo: plantar,
colher e criar pequenos animais. Mas ele era muito esperto.
Mirô acabou fazendo uma longa viagem até chegar em uma fazenda
chamada Vidal. Lá havia emprego para vaqueiro. Só tinha um detalhe:
Mirô nunca sequer tinha montado em um cavalo! Em conversa com o dono
da propriedade, ele perguntou:
– Mirô, você sabe montar?
– Sei sim, senhor. Sou o melhor vaqueiro lá da minha região!
– Então vou lhe apresentar meus melhores cavalos para você escolher o seu.
Mirô tentou disfarçar o desespero e acompanhou o fazendeiro até
os cavalos. Ele lhe apresentou vários animais e o falso vaqueiro escolheu,
sem saber, justo aquele que já havia tirado a vida de três outros homens
de tão arisco que era. Ao escolher o animal, o dono da fazenda ainda
perguntou:

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– O senhor tem certeza dessa escolha? Esse animal é muito bravo.


Mirô, temendo perder o emprego que estava quase conseguindo,
afirmou:
– É esse mesmo que eu quero. Não precisou nem o senhor falar que
senti o perigo só pelo cheiro dele. E é disso que eu gosto: de perigo!
O fazendeiro, ainda desconfiado da conversa do homem, pediu para
que ele capturasse uma novilha muito brava que, até aquele momento,
nenhum vaqueiro havia pego antes. Então, Seu Mirô, na ânsia de firmar-
se naquele emprego e manter sua mentira, montou no cavalo escolhido, se
apegou a todos os santos, fechou os olhos e saiu desembestado atrás da
novilha. De repente, sem que ele percebesse, a danada estava embaixo do
seu cavalo. Rapidamente ele berrou por ajuda para que outros vaqueiros
amarrassem a novilha. Nesse momento, ele convenceu o fazendeiro não só
a dar-lhe o emprego como também, de tão satisfeito com a coragem e
agilidade do trabalho, pagar-lhe além do que foi combinado.
As mentiras de Seu Mirô não pararam por aí. Tudo ele sabia!
Tudo ele fazia! E a sorte sempre esteve ao seu lado, livrando-o das
enrascadas. No final, até ele passou a acreditar nas coisas que inventava
e o fazendeiro, então, nem se fala: ele estava cada vez mais admirado
com tanta qualidade em um homem só! Quando menos percebeu, Seu Mirô
já era capataz. Mirô estava bem contente com o que havia conseguido
conquistar e mais feliz ainda porque tudo foi na base da mentira. Ele
nem teve que fazer tanto esforço assim para chegar onde chegara.
Um belo dia, o dono da fazenda mandou chamar Mirô e na
conversa revelou que estava muito velho e doente para administrar a
fazenda, e preocupado porque tinha uma filha e queria encaminhá-la
na vida. Mirô pensou:
– É agora que dou meu golpe mesmo!

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O velho continuou:
– Queria que ela se casasse com um sujeito trabalhador, esforçado...
Mirô encheu o peito e continuava pensando:
– Sou eu, sou eu.
– Honesto... – continuou o velho.
E o pensamento de Mirô:
– É... aí, não sou eu.
– Cheio de vida... – disse o velho.
– Sou eu, sou eu sim!!! – pensou Mirô. E o velho concluiu:
– Mas não sei quem poderia ser, porque minha filha é muito
caçadora de conversa. Não sei a quem aquela menina puxou. Deus tenha
compaixão do homem que vai viver com aquela carniça!
Mirô então murchou. Será que estava disposto a enfrentar esse
destino? Lembrou da promessa que fez de nunca passar fome e de que
iria fazer o que fosse necessário para crescer na vida e, considerando que
o velho logo ia abotoar o paletó de madeira, pensou:
– Se eu consegui domar aquele cavalo e aquela novilha, não é
possível que não consiga lidar com essa moleca.
Mirô então disse ao velho:
– Pois seu problema acabou! Se confia em mim, eu caso com sua
filha e cuido de todo seu patrimônio.
O homem ficou muito emocionado, afinal gostava de Mirô, e deu
um abraço em seu futuro genro. O dia do encontro entre ele e a filha do
dono da fazendo havia chegado. Mirô vestiu sua melhor roupa, calçou
suas botas brancas de festa e foi para a casa da fazenda. Quando
chegou lá encontrou o homem todo nervoso, porque não tinha tido coragem
de anunciar o casamento à filha e disse que isso ia ser feito ali, naquela

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hora. Vendo o desespero do pai, Mirô pensou preocupado:


– Se o próprio pai tem medo da danada, imagina o quão ruim
esse diabo não era!!! – Fechou os olhos, se agarrou com todos os santos
e entrou na sala.
Quando o casamento foi anunciado foi grito para cá, choro para
lá, bandejas, copos e espelhos rebolados para todos os lados, tamanha
a indignação da moça. Mirô, ao ver a cena, pensou:
– É... acho que agora me dei mal.
Os dias se passaram e a menina se conformou com o casamento. No
altar, enquanto o padre dizia os votos aos noivos, a menina falou bem
baixinho no ouvido de Mirô:
– Eu já te observei, cabra! Tu achas que engana todo mundo? A
mim não. Suas mentiras vão lhe custar caro. Você que não ande na linha
comigo que sua vida vai virar um inferno!
Mirô sentiu o frio na espinha. Preferia ter feito o pacto com o diabo
a ter tomado aquela decisão sem jeito. Agora não podia voltar mais
atrás. Os anos se passaram... Mirô realmente teve que se endireitar para
não despertar a ira da mulher e virou um homem cheio de qualidades,
tantas que acabou conquistando-a. A convivência então os aproximou
e eles conseguiram constituir uma família feliz. Quando Mirô já era
velhinho, em uma conversa com um dos seus filhos, revelou:
– É meu filho, a vida nos ensina da forma mais dolorosa. Nem tudo
que temos hoje foi conseguido com a verdade. Mas posso lhe garantir que
tudo que somos hoje foi conseguido com a maior e única verdade que esse
mundão de Deus possa ter: o amor. Foi o amor que nasceu e cresceu entre
eu e sua mãe que nos transformou e fez ser o que somos hoje. Portanto,
faça tudo que for preciso... Mas pelo amor! Só pelo amor e por mais
nada.

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ITAINÓPOLIS

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ITAINÓPOLIS

O
município de Itainópolis é o palco da história “Sete estrelas”.
Está situado na região centro-sul do Piauí e possui
aproximadamente 11.375 habitantes. O nome do município
é devido ao mesmo ser banhado pelo Rio Itaim. O clima é semiárido e
sua vegetação é característica da Caatinga, sendo cercado por morros
com muitos cactos, juazeiros e macambiras. Tem como atrativo cultural o
apreço pelo forró e a vaquejada. O futebol amador é muito promissor.
As principais fontes de renda são a agricultura, a apicultura e a
piscicultura. Como atrativos turísticos, a cidade conta com uma capela
que se localiza no morro de Nossa Senhora de Fátima, também há os
festejos da cidade que ocorrem todo dia 13 de maio, e tem o Rio Itaim e
suas passagens molhadas para refrescar os visitantes e moradores.
Varginha, localidade em que se passa a história “Umbuzeiro
verdadeiro” é uma localidade localizada a 700 metros da cidade de
Itainópolis. Possui uma terra fértil bastante receptiva ao feijão, milho,
caju, carnaúba e umbu. A comunidade, assim como o município, tem como
fonte de renda a agricultura, a apicultura e a piscicultura.

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AS SETE ESTRELAS

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AS SETE ESTRELAS

E
ra uma vez, um lavrador chamado José, que era casado com
dona Anísia. Eles viviam de forma humilde no interior do
Piauí com seus sete filhos. Eram quatro meninas, chamadas
Zuleica, Zulmira, Zuleide, Zenaide; e três meninos, Zenóbio, Zenaro e
Zuzinha. Todos tinham um ano de diferença entre suas idades e eram
inseparáveis. Seus pais os chamavam de suas estrelinhas e faziam de
tudo para que seus filhos não passassem por dificuldade. O casal se
preocupava muito com o futuro de seus filhos, pois acreditavam que a
única maneira de ter uma vida melhor seria através dos estudos.
Todos os dias, as sete estrelinhas caminhavam vários quilômetros
para chegar até a escola e era durante este percurso que muitas peraltices
aconteciam. Às vezes eles encontravam no caminho alguns jumentos e
terminavam chegando à escola montados nos animais. Na estrada, eles
conversavam, cantavam, gritavam e sorriam. Era muita diversão no
caminho da escola. Na volta para casa os irmãos sempre faziam uma
parada para descansar debaixo de três grandes árvores que ficavam
à beira de um riacho, para comer os frutos e também tomar banho se
refrescando do sol escaldante.
Um certo dia, trepado no pé de tamarindo, o irmão mais novo,
Zuzinha, avistou um enxame de abelhas e, querendo pregar uma peça nos
irmãos, pegou a sua baladeira e acertou em cheio o enxame. Ao ver a
quantidade de abelhas vindo em sua direção, o moleque pulou da árvore
e saiu correndo. Enquanto isso, os demais irmãos estavam tomando banho

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no riacho. As meninas estavam sentadas brincando e nem imaginavam


que um enxame de abelhas estava vindo na direção delas. De repente, as
meninas escutaram o zumbido, mas já era tarde para correr. As abelhas
se entranharam em seus cabelos e picaram o rosto, os braços e as pernas.
Foi um Deus nos acuda! Ao ver o desespero e gritaria das meninas,
Zenóbio e Zenaro correram para acudir as irmãs que chegaram em casa
descabeladas e com o rosto, pernas e braços inchados e doloridos. Ao
ver aquela situação, dona Anísia, que conhecia bem as traquinagens
de Zuzinha, soube imediatamente quem era o culpado. Zuzinha, ao ver
o estado das suas irmãs, pediu desculpas pela brincadeira, mas não se
conteve e caiu na risada que acabou contagiando a todos. Mesmo assim,
sua mãe lhe colocou de castigo por um mês!
Muitos anos se passaram e as sete crianças se tornaram adultos,
felizes e sempre se reúnem para relembrar com saudade as peraltices de
criança.

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UMBUZEIRO
VERDADEIRO

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UMBUZEIRO VERDADEIRO

E
ssa história aconteceu lá pela década de 20, na localidade
Varginha, pertencente ao atual município de Itainópolis,
Piauí, com o Senhor Isidoro e a Senhora Cristina Maria,
que moravam em um pedacinho de terra neste lugar. Naquela terrinha,
nasceu um umbuzeiro. Ninguém imaginava que ele iria gerar tantos frutos,
mas o Senhor Isidoro e a Dona Maria tinham muito cuidado para que
a árvore crescesse forte, bonita e a regava todos os dias.
Com o passar do tempo, a árvore ia crescendo e frutificando cada
vez mais. Os frutos eram doces como favo de mel e atraíam também
os pássaros que se alimentavam, faziam seus ninhos e cantarolavam
alegremente usando os galhos do pé de umbu como poleiro. Naquela
época, os vaqueiros, vendedores e viajantes aproveitavam a sombra da
árvore para descansar. Seus animais também aproveitavam os frutos
caídos para matar a fome. Com seus surrões, selas e cangalhas, lá era a
garantia de um bom repouso depois de léguas viajadas.
As netas do Senhor Isidoro e da Dona Maria gostavam muito de
brincar debaixo dela quando crianças, pois a árvore tinha muitas folhas
em sua copa e seus galhos serviam para armar redes e balanços. Elas
varriam as folhas caídas como se estivessem no terreiro de suas casas e
isso tornava a sombra daquela árvore um lugar aconchegante. Nos meses
de inverno, as netas do Senhor Isidoro e da Dona Cristina entravam em
cena juntando os frutos do umbuzeiro em uma cuia para vender na feira

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da cidade. Na época, o litro valia alguns cruzeiros e garantia a compra


de alguns itens para a casa, ajudando no sustento da família.
Assim é o umbuzeiro, uma árvore símbolo de resistência no semiárido:
no período da estiagem ela permanece com suas folhas verdes, servindo de
abrigo para os animais e ajudando a amenizar o calor do sertão, além
de suas raízes armazenarem água que serve para o sertanejo sobreviver; e
no inverno produz em abundância seu nutritivo fruto.

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GEMINIANO

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GEMINIANO

O
município de Geminiano, palco da história “Cachorrinho
Benne”, segundo o censo do IBGE (2010), tem 5.475
habitantes, o que coloca o município na posição 125
dentre 224 do mesmo Estado. A sua densidade demográfica é de
11,84 habitantes por km2. Localizado na região centro-sul do Piauí,
o município fica a 345 km da capital, Teresina, nos baixos agrícolas
da macrorregião de Picos. Apresenta uma temperatura variada entre a
mínima de 22 oC e a máxima de 35 oC. A economia do município é
basicamente oriunda da agricultura familiar e são produzidos feijão,
milho, mandioca, castanha de caju e mel de abelha. O município está na
região do semiárido. As tradições culturais e o lazer são compostos por
manifestações nas festas juninas, festa da padroeira (Nossa Senhora
Aparecida) e o reisado.

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CACHORRINHO BENNE

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CACHORRINHO BENNE

E
m um pequeno sítio no interior do Piauí, morava um senhor
chamado Zeca que tinha como companheiro inseparável um
cachorrinho muito esperto chamado Benne. Seu Zeca tinha
uma pequena roça e todos os dias pela manhã, bem cedinho, Seu Zeca
ia para o curral tirar leite das vacas, depois ia buscar água no poço,
e mais tarde, umas 7h da manhã, ia para a lavoura. Em todas essas
tarefas, Benne sempre ia junto, fazendo companhia ao Seu Zeca. Até
que um dia, Seu Zeca adoeceu e foi levado às pressas para o hospital.
Benne não abandonou o amigo e correu atrás da ambulância que levava
Seu Zeca. Chegando ao hospital, Benne ficou lá de prontidão. Até
que certo dia, Seu Zeca teve uma melhora e saiu do coma. Assim que
retomou a consciência, a primeira palavra que ele pronunciou foi “Benne”
e assobiou. Surpresos, os enfermeiros perguntaram para ele como era o
Benne, e Seu Zeca respondeu:
– Meu amigo é branco com melado. Ele deve estar com frio e fome.
Queria tanto me despedir do meu amigo.
– Despedir? – perguntaram os enfermeiros.
– Seu Zeca, o senhor vai ficar bom.
Logo em seguida, os enfermeiros mandaram trazer o cachorro e os
dois amigos ficaram super felizes. Todos podiam ver a alegria de Seu
Zeca e Benne. Apesar de toda a alegria pelo reencontro, Seu Zeca sentia
que sua vida estava no fim e decidiu se despedir do seu querido amigo:

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– Amigão, eu terei que fazer uma viagem e você não poderá vir
comigo, mas não fique triste pois eu não vou lhe abandonar – e reclinando
a cabeça, Seu Zeca chorou muitíssimo.
Benne abanou o rabo e uivou. Diante desta cena, os enfermeiros
tiraram o cachorro e, poucas horas depois, Seu Zeca faleceu. A partir
daquele dia, Benne voltou para o sítio onde morava com Seu Zeca e
continuou com a mesma rotina pela manhã: cedinho ia para o curral,
depois seguia para o poço, ia na lavoura e, por fim, ia ao cemitério.
Chegando lá, o cachorrinho pulava, corria, abanava o rabo, até parecia
que brincava com Seu Zeca. E isso se repetiu por muito tempo! Todos no
cemitério já estavam acostumados com a presença de Benne sempre no
final do dia.

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JAICÓS

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JAICÓS

A
história “Camões” foi obtida por meio de relatos de
moradores da cidade de Jaicós, no entanto, o cenário onde
a mesma se passa não é conhecido. O referido município
possui população de 18.501 mil habitantes e encontra-se a 379 km
da capital Teresina, localizado na mesorregião do sudeste piauiense.
Pertence ao Bioma Caatinga e o seu clima é semiárido.
A agricultura praticada no município é baseada na produção
sazonal de algodão, arroz, feijão, mandioca e milho. A feira livre da
cidade representa para o município uma atividade muito importante e
de grande valor para a comunidade: além de ser um cartão de visitas
da cidade, é também, um canal de comercialização diferenciado,
ainda oferece uma alternativa econômica e social para muitos pequenos
proprietários rurais.

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CAMÕES

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CAMÕES

H
á muito tempo, na época dos reis e rainhas, existia um rei
entediado que mandou contratar alguém para o divertir.
Seus soldados contrataram Camões, um jovem cheio
de travessuras que todo dia saía para aprontar algo e imediatamente
voltava para contar ao seu rei o que havia feito. Para o rei não existia
mais tristeza, eram risos o tempo todo, mas também não havia mais
paz naquele lugar, pois Camões tirava o sossego de todos com suas
trapalhadas.
Um dia, cansado das reclamações que chegavam a ele, o rei decidiu
se livrar de Camões. Assim, pediu aos seus soldados para que o jogasse
no fundo do rio. No caminho, os soldados decidiram parar em um boteco
para tomar uma cerveja e deixaram Camões preso dentro do surrão na
beira do caminho. Camões esperneava e gritava:
– Eu não quero! Eu não quero!
Um homem que passava de jumento parou ao ouvir os gritos de
Camões e perguntou ao homem preso no saco:
– O que você não quer?
Camões, esperto, respondeu:
– Eu não quero me casar com a filha do rei, por isso estou preso aqui!
O homem disse:
– Pois se você não quer, eu quero! Como faço para me casar com
ela?

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Camões respondeu:
– É só trocar de lugar comigo! Você descostura o surrão, eu saio e
você entra. Quando eles voltarem, você diz “eu quero, eu quero”.
E assim fizeram! Quando os soldados voltaram, já bêbados,
ouviram o homem dizendo:
– Eu quero! Eu quero!
Eles riram e perguntaram:
– Você quer o que, abestado?
O homem respondeu:
– Quero me casar com filha do rei.
Os soldados disseram:
– Você vai é morrer, sua besta!
E jogaram o surrão no fundo do rio. Muitos anos depois, Camões
rico e bem de vida, voltou a casa do rei e todos ficaram abismados. A
rainha, surpresa, perguntou:
– Você não tinha morrido?!
– Claro que não! O fundo do rio é o melhor lugar que tem para se
viver! É cheio de riquezas, ouro, joias etc. – respondeu Camões.
A rainha ambiciosa disse:
– Camões, se tem tudo isso mesmo, eu quero ir para lá também!
Meu marido não está em casa, mas pode me jogar lá, e quando ele
chegar joga ele também.
Camões jogou os dois no fundo do rio e se casou com a filha deles.
Moral da história: enquanto a esperteza é a salvação de uns, a
ganância é o abismo de outros.

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SANTO ANTÔNIO DE LISBOA

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SANTO ANTÔNIO
DE LISBOA

O
município de Santo Antônio de Lisboa é o cenário da história
“Cuidado com a peraltice”. É conhecido como “Capital do
Caju”, tem 6.207 habitantes, o que o coloca na posição
114 dentre 224 do mesmo estado. Sua densidade demográfica é de
15,51 habitantes por km2. A economia deste município é baseada no
cultivo do cajueiro que hoje já possui uma área plantada superior a 10
mil hectares, sendo o maior produtor de caju do Estado do Piauí. Essa
atividade desenvolveu-se consideravelmente, gerando emprego e renda ao
atrair indústrias de beneficiamento da castanha do caju e de produção
de sucos e refrigerantes a partir do pedúnculo dessa fruta.
O município possui como atrativo cultural as danças típicas, os
trabalhos artesanais, as festas religiosas, a gastronomia típica e os
locais de exposição (Feiras das Alfaias e Casa Açoriana).

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CUIDADO COM A PERALTICE

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CUIDADO COM
A PERALTICE

E
ra uma vez um menino que se chamava Carlinhos. Ele era
muito peralta e não conseguia ficar quieto um minuto sequer.
Todos já sabiam: aonde Carlinhos estivesse, aconteceria uma
peraltice na certa! Em um belo dia de sol, Carlinhos foi visitar o Sítio de
Dona Catarina juntamente com seu amigo Ricardo. Lá no sítio tinha de
tudo um pouco: cachorro, galinha, jumento, porco... Era o local perfeito
para as estripulias de Carlinhos, afinal só o que tinha era oportunidade
para aprontar. E assim ele o fez! Jogou alguns ovos em Ricardo, logo
da galinha choca mais premiada de Dona Catarina. Correu atrás do
cachorro e ainda lhe puxou o rabo. Soltou o jumento que estava preso em
uma jurema. Aí a confusão só aumentou! Era galinha cacarejando para
lá, cachorro latindo para cá, comida de porco voando para tudo que é
lado. Pense em uma confusão arretada! Hilda, filha de Dona Catarina,
acabou notando esse mafuá e saiu correndo descabelada gritando:
– Carlinhos, menino danado! Você vai ver! Vou fazer uma mandinga
para te capar! Assim, você vai aprender a se comportar!
Carlinhos saiu em disparada juntamente com Ricardo, correndo
desesperado em direção ao rio.
– Eita! Dessa vez estou ferrado! – pensou o peralta enquanto corria
já tirando a roupa para atravessar o rio, afinal sua mãe não podia
desconfiar de suas peraltices. Ao avistar o rio, só se ouviu o “tchibum!”.
Carlinhos e Ricardo nadaram o mais rápido que conseguiram. Ao saírem

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da água gelada, Carlinhos tomou um susto e começou logo a chorar de


soluçar. Ricardo, também assustado, foi logo perguntando:
– O que houve Carlinhos? Você está bem?
Carlinhos nem ouviu a pergunta de Ricardo, pois estava correndo
desesperado para casa, berrando enquanto não parava de chorar:
– Sumiu! Sumiu! A Hilda me capou mesmo! Ela é uma bruxa!
Culpa da Hilda! Praga da Hilda!
Ao chegar em casa, a mãe de Carlinhos ficou preocupada ao
ver seu filho desconfiado. A mãe de Carlinhos perguntou o que estava
havendo e o filho contou toda a história para sua mãe que explicou:
– Filho, você não foi capado. A água do rio estava muito gelada,
por isso seus testículos ficaram encolhidinhos. A Hilda não tem culpa
de nada – falou a mãe enquanto tentava não sorrir da situação do filho.
Depois de tudo isso, Carlinhos se acalmou e respirou aliviado ao
notar que não estava capado. Daquele dia em diante, sempre que pensava
em fazer uma peraltice, Carlinhos se lembrava da praga da Hilda e da
água gelada do rio, por isso acabou se comportando melhor.

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ALAGOINHA DO PIAUÍ

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ALAGOINHA DO PIAUÍ

O
município localiza-se ao sul do estado do Piauí, a
aproximadamente 378 Km de Teresina e conta com uma
população de 7.515 habitantes. Tem como sua principal
atividade econômica a agropecuária com mão de obra familiar,
desenvolvida por pequenos produtores rurais. O clima predominante é o
semiárido e a região tem como vegetação nativa a Caatinga.
A cidade mantém firme as tradições culturais religiosas alusivas ao
padroeiro, São João Batista, cujos festejos acontecem no mês de junho.
A principal atração turística e cultural do Povoado é o local onde foi
construída a pequena capela onde são celebradas as promessas e as
devoções ao negro santo, no local conhecido como a Cruz do Negro. A
história “Negro Santo” foi resgatada a partir de relatos da população do
povoado Serra Velha, zona rural situada à 9 Km da sede do município.

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NEGRO SANTO

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NEGRO SANTO

H
á muito tempo, em uma terra distante, existia um jovem
negro chamado Francisco, que vivia numa fazenda muito
bonita, cheia de cactos, macambiras, carnaúbas, juazeiros,
cajueiros, mangueiras e umbuzeiros. Lá havia também vários cavalos,
bois, vacas, bodes, cabritos, jumentos, galos, galinhas e um cachorro muito
esperto chamado Tomé. Francisco era um moço muito bonito, forte, alto,
cabelos pretos encaracolados, lábios grossos e sua pele era preta como
a noite. Francisco trabalhava cultivando a terra: plantava, colhia e
ensacava o algodão. Ele também cuidava dos animais. Não descansava
um só minuto! Ele trabalhava desde o amanhecer até o anoitecer todos
os dias.
Apesar da beleza natural do lugar, a vida de Francisco na fazenda
Porteira Velha não era nada fácil, pois ele era um escravo e devia
obediência ao seu senhor. O dono da propriedade era um velho coronel,
chamado Pedro, que nunca estava satisfeito com nada e sobrecarregava
a todos com muito trabalho. O coronel Pedro era um homem cruel e
adorava castigar os escravos, especialmente Francisco. O coronel sempre
inventava algum motivo para castigar Francisco, mas o escravo fazia
tudo bem certinho e rápido, deixando o coronel ainda mais furioso.
Uma vez o coronel passou a noite toda matutando um trabalho
que fosse impossível de Francisco realizar, para que ele pudesse castigá-
lo. Na manhã seguinte, ele mandou chamar o escravo e lhe incumbiu de
um trabalho impossível de ser realizado e, o pior de tudo, determinou

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pouquíssimo tempo para Francisco realizá-lo. O trabalho era o seguinte:


colher algodão para encher 100 sacas e plantar 100 novas mudas de
algodão em quatro horas. Tudo isso sozinho! E mais, se Francisco não
realizasse tudo no tempo determinado seria açoitado no tronco com 100
chicotadas.
Ao ouvir o trabalho ordenado pelo seu senhor, o pobre Francisco
ficou demasiadamente triste, mas decidiu realizar a tarefa mesmo assim.
As horas se passaram muito depressa e Francisco estava exausto! Apesar
de já ter colhido e ensacado todo o algodão, ainda faltava plantar
50 novas mudas. De repente, o coronel chegou montado em seu cavalo e
perguntou:
– Ainda não terminou o trabalho, escravo preguiçoso? Seu tempo
está quase acabando.
O escravo quase sem fôlego respondeu:
– Senhor, o trabalho é impossível de ser realizado em tão pouco
tempo. Me dê mais uma hora e o senhor verá todo o trabalho realizado
como deseja.
O coronel logo o repreendeu:
– Seu preguiçoso! Você é meu escravo e me deve obediência. Por
causa do seu atrevimento, irei lhe dar mais trabalho – falou o coronel
com um sorriso diabólico no rosto.
– Você deverá capinar 3.600 tarefas da plantação de algodão
com um arado em apenas uma hora! E quando eu voltar aqui, se não
tiver cumprido todo o trabalho, você será duplamente castigado.
Assustado, o pobre escravo sussurrou:
– Por favor, não faça isso senhor. Eu sempre tenho feito tudo que
o senhor ordena.

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O coronel, com toda sua arrogância, gritou:


– Farei sim, negro preguiçoso! Palavra minha, é palavra cumprida!
Agora faça o que lhe ordenei.
O coronel saiu em um galope e só voltou uma hora depois, conforme
havia dito. Ao chegar perto da plantação, o coronel avistou Francisco
caído ao lado do arado com sua perna sangrando.
– Senhor, me perdoe! Eu estava capinando quando, de repente,
apareceu uma cascavel, eu me assustei e machuquei minha perna no
arado.
O coronel logo gritou:
– Não quero saber dessa história! Levanta, escravo preguiçoso! E
trate de terminar logo o trabalho, pois ainda restam 20 minutos e quero
todo o trabalho realizado.
Francisco obedeceu e se levantou. A dor era insuportável e o
sangue escorria pela perna sem parar. Apesar de muito fraco, Francisco
continuou trabalhando. O coronel permaneceu ali, sentado em seu cavalo,
esperando os minutos restantes para castigar o escravo conforme havia
prometido. Sem forças e com muita dor, Francisco se debruçou no chão
e pediu compaixão ao coronel. O coronel, com toda sua arrogância e
perversidade, disse:
– Seu tempo acabou, negro! E você não terminou sua tarefa.
Portanto, você terá seu castigo conforme prometido.
O coronel desceu do seu cavalo, arrastou o escravo até uma árvore,
o amarrou e começou a lhe dar chicotadas. Francisco só gemia, mas
nenhuma lágrima caía de seus olhos. O coronel, ao ver que Francisco
nem chorava e nem implorava por sua vida, ficou ainda mais furioso.
Cansado de tanto bater no escravo, o coronel parou e se aproximou dele

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para verificar se ele estava morto. Francisco morreu sem pronunciar uma
única palavra e isso deixou o coronel furioso. O coronel montou em seu
cavalo e saiu em disparada. No meio do caminho, surgiu uma cascavel
que assustou o cavalo fazendo com que o velho coronel caísse de sua cela
e batesse com a cabeça em uma pedra. Meio tonto, o coronel levantou
e avistou embaixo de um pé de oiticica um negro velho e barbudo, com
cabelos brancos e um cajado na mão. Este negro veio em sua direção
flutuando e dizendo:
– Pedro, tu és um homem cruel e avarento! Por causa do teu coração
perverso, a partir de hoje, essa fazenda está amaldiçoada. Tudo que
aqui plantares, a praga irá destruir! Seca e fome serão tuas companhias!
E, como se fosse mágica, o velho negro evaporou no ar. O coronel
ficou de olhos esbugalhados e, ainda atônito, bateu o pó das vestes, montou
em seu cavalo e foi para casa. Lá chegando, deu ordens para que um
dos criados fosse enterrar o escravo Francisco. Naquela noite, o coronel
não pregou o olho, pensando se o que ele tinha visto era imaginação de
sua cabeça ou se era realmente um fantasma.
Depois desse episódio, o coronel Pedro nunca mais teve paz. Todas as
noites o coronel tinha pesadelos horríveis, que faziam com que ele gritasse
tão alto a noite inteira que assustava a todos que moravam na casa
grande e até mesmo na senzala. Com o tempo o coronel passava as noites
zanzando pela casa, com medo de dormir. O mesmo deixou o cabelo e
a barba crescerem, falava sozinho e até brigava, dava chute e pontapés
no ar. Alguns meses depois, uma praga de bicudos destruiu quase toda
a plantação de algodão, e o que tinha sobrado foi destruída por uma
seca que durou quatro anos. Extremamente velho, descabelado, falido e
completamente louco, o coronel Pedro foi levado para um hospício na capital
e sua propriedade foi leiloada para quitar uma enorme dívida no banco.

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Desde então a Fazenda Porteira Velha teve vários donos. Todos


que lá moraram diziam que a propriedade era amaldiçoada. O último
dono da fazenda foi o Senhor Martins Cícero de Sousa que se mudou
para lá em meados de 1920 com toda a sua família. Seu Cícero
era um agricultor bastante experiente e comprou aquelas terras com o
propósito de ganhar uma fortuna com o plantio de algodão, pois ouviu
dizer que antigamente a Fazenda Porteira Velha era a maior produtora
e exportadora de algodão da região.
Certo dia, Seu Cícero e sua esposa, Dona Isolda, convocaram todos
os filhos e empregados para o trabalho. Todos foram capinar e arar
a terra para o cultivo quando, de repente, próximo a um velho pé de
oiticica, o casal ouviu umas batidas de pedras que faziam a terra tremer
e um gemido pavoroso. Assustados, os dois largaram as ferramentas e
saíram correndo para casa. Depois, os empregados e os filhos, ao se
aproximarem do local, também escutaram o gemido, o que causou um
pavor tão grande que eles começaram a correr, fazer o sinal da cruz, um
desespero total. Passado o susto, Seu Cícero voltou ao campo e mais uma
vez escutou as batidas e o gemido que tinham lhe arrepiado os cabelos.
Tentando resolver a situação, ele decidiu buscar a ajuda do padre da
comunidade para expulsar o mal assombro. No dia seguinte, o padre veio
até a fazenda e, antes de expulsar o tal fantasma, contou a Seu Cícero
e família o que havia acontecido com Francisco e que suspeitava que o
local onde o escravo estava enterrado era debaixo do pé de oiticica.
Ao descobrir este fato, Seu Cícero pediu ao padre que rezasse uma
missa para a alma de Francisco, a fim de acabar com o gemido e os
tremores de terra que estavam espantando todos os trabalhadores da
propriedade. Dona Isolda, comovida pela história do escravo, fez uma
promessa para que a plantação de algodão não fosse atacada pelo

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87

bicudo e que chovesse bastante trazendo fartura para a região como


antigamente. E o pedido tornou-se realidade! A colheita do algodão
foi extraordinária, não houve praga para destruir a lavoura e tudo
estava verdinho, o gado estava gordo e todos estavam muito felizes
comemorando: finalmente a maldição estava quebrada! Dona Isolda
atribuiu o milagre ao escravo Francisco. Logo a notícia se espalhou por
toda a região, atraindo muitos romeiros que iam até a fazenda fazer
promessas, as quais se cumpriam milagrosamente. Isso fez com que o
escravo Francisco se tornasse um santo milagroso da região. Até hoje a
fazenda recebe vários romeiros de todos os lugares, especialmente no dia
dois de novembro, quando é celebrada uma missa no local batizado de
Cruz do Negro.

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OS BICHINHOS
DO FULORÊNCIO

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OS BICHINHOS
DO FULORÊNCIO

U
m homem chamado Fulorêncio viveu na localidade Serrinha
dos Fernandes, município de Alagoinha do Piauí, por volta
da década de 60. Ele era um homem muito ruim, daqueles
de negar até um copo d’água. Ao morrer, seu corpo não foi velado, pois
ninguém compareceu ao velório e sua fazenda ficou abandonada por um
longo tempo, pois Senhor Fulorêncio era um homem solitário e não tinha
herdeiros.
Com o passar dos anos, figuras estranhas de animais começaram a
aparecer próximo a fazenda do finado Senhor Fulorêncio. Essas figuras
eram tão assustadoras que nem os adultos tinham coragem de passar
próximo à fazenda, principalmente quando a noite caía. As pessoas
começaram a chamar tais criaturas como os bichinhos do Fulorêncio,
pois elas eram assustadoras e corriam atrás das pessoas para atacá-
las. Quando alguém se encorajava e se aproximava de algum deles para
pegá-lo, o animal desaparecia misteriosamente. Isso causava grande
medo e fazia com que os bichinhos do Senhor Fulorêncio ficassem cada
vez mais famosos na região.
No final dos anos 90, após mais de trinta anos de aparições,
uma mulher teve um sonho com o Senhor Fulorêncio. Ele dizia que seus
bichinhos só deixariam de aparecer naquela região quando todos se
esquecessem do seu nome, de sua história e do quanto ele tinha sido
mau. Senhor Fulorêncio dizia que estava sofrendo muito e que queria se
libertar para poder alcançar a luz divina. A mulher contou o seu sonho,

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que acabou passando de boca em boca e se espalhando pelo povoado


como pólvora. As pessoas começaram a não tocar mais no nome dele e os
bichinhos do Fulorêncio foram sumindo pouco a pouco.
Atualmente, os bichinhos do Fulorêncio não apareceram para aquela
população e nem para mais ninguém. A mulher do sonho avisou ainda
que, se voltassem a falar das aparições destas criaturas, elas poderiam
voltar a acontecer. Será que é bom contarmos essa história?

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SUSSUAPARA

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SUSSUAPARA

S
ussuapara é o cenário da história “Odilon e seu martelo
desacunhado”. É uma cidade com área aproximada de
220 km2, que se localiza a 340 km da capital, Teresina.
O município tem cerca de 6.229 habitantes e se localiza na mesorregião
do sudeste piauiense. O município apresenta temperatura mínima de 22
o
C e máxima de 36 oC, características de áreas semiáridas. A vegetação
nativa é característica do bioma Caatinga. Sua atividade econômica
se baseia na agropecuária. A agricultura praticada no município é
baseada na produção sazonal de arroz, feijão e milho. O principal curso
d’água que drena o município é o rio Guaribas.

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ODILON E SEU
MARTELO DESACUNHADO

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ODILON E SEU
MARTELO DESACUNHADO

E
ra uma vez, um poeta chamado Odilon que cantava com seu
pai Sinázio. Um belo dia, Odilon chegou na casa de seu
padrinho, o Senhor Raimundo Veloso, carregando uma viola
debaixo do braço e uma sacola cheia de roupas.
– Odilon, rapaz! Por onde andavas? – disse seu padrinho admirado
com a visita.
– Ah! Senhor Raimundo, eu andava pelos povoados de Pimenteiras.
Fiquei maravilhado com a cidade! Por lá, cantei e encantei com as minhas
poesias e ganhei um bom dinheiro – falou Odilon sorridente.
– Ah! Dá para notar! Odilon está parecendo até um doutor vestido
com essa gravata e esse terno – disse Senhor Raimundo orgulhoso.
O jantar já estava para ser servido, pois eram quase seis horas da
tarde. Então, Senhor Raimundo falou:
– Odilon, rapaz! Agora entra para cá! Vamos jantar!
Depois do jantar tão farto, o Senhor Raimundo disse:
– Odilon, meu afilhado, afina essa viola, acunha esse martelo e
canta para nós.
– É para já! – falou Odilon empolgado, enquanto pegava sua
viola.
Odilon então começou a tocar e cantarolar:
– Olha onde está o velhinho... Tronchudo e sambudo... Deitado
numa preguiçosa velha, fumando um cachimbo velho enrolado com um

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arame. E a morte quando vem, Raimundo, leva o velho com cadeira,


cachimbo e tudo.
– Ah, Odilon! Que cantoria de mau agouro! Pode parar que eu não
quero nem saber desse martelo desacunhado praguejando!
Odilon caiu na gargalhada com a cara de assustado do Senhor
Raimundo e a noite continuou ao som da viola...

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PIO IX

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PIO IX

A
história “Forró pé de serra” é contada na comunidade
Anacleto, distante cerca de 2 Km da sede do município
de Pio IX, ao qual pertence. Aproximadamente 0,5% da
população do município vive na comunidade. Sua maior fonte de renda
é o cultivo do caju. Além disso, o mel, o feijão e o milho representam
outras fontes de renda. No entanto, várias pessoas trabalham na cidade
e também nas minas de mármore e de granito. A população participa das
comemorações festivas da cidade e das comunidades vizinhas preservando
a cultura da região.
O município de Pio IX é a cidade situada mais a leste no estado
do Piauí, por isso é considerada “Terra do sol nascente”. O município
localiza-se a 444 km da capital, Teresina e sua população é estimada
em 17.714 habitantes. O nome da cidade é em homenagem ao Papa Pio
IX. O município possui como fonte de renda duas minas de mármore e
também minas de granito que ficam localizadas na fazenda Quixaba e
no povoado Sobrado. O caju é cultivado em praticamente toda a área
de serra do município e representa uma fonte de renda importante para a
economia local. O mel também é produzido no município inteiro, além do
feijão, milho e outras culturas em menor escala. Em relação a cultura,
ainda são preservadas as festas juninas, o forró pé de serra e outras
comemorações festivas da cidade. Nos meses chuvosos, e apenas por
alguns dias por ano, uma bela cachoeira se forma entre grotas e pedras
na Fazenda Quixaba, atraindo pessoas de várias regiões.

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UM FORRÓ PÉ DE SERRA

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UM FORRÓ PÉ DE SERRA

E
m uma comunidade no interior da cidade de Pio IX, estado
do Piauí, chamada Anacleto, as pessoas se reuniam com
frequência para participar de um forró pé de serra com
zabumba, sanfona, triângulo e pandeiro. Era um momento em que as
pessoas caíam na dança. Normalmente essas festas aconteciam na bodega
do Seu Louro Paulo, que tinha como palco um enorme umbuzeiro.
Os moradores passavam a semana trabalhando na roça e nos finais
de semana iam se divertir no forró. Mas, virava e mexia, aconteciam
brigas. No melhor da festa, sempre havia uma confusão, um quebra pau
dos diabos! E o pior eram os motivos, os mais bestas possíveis: bastava
um olhar torto de um para o outro que era faca daqui, facão de lá. O
terreiro se tornava pequeno para tanta gente correndo de lá para cá, de
cá para lá. Era um corre-corre danado! Mas do jeito que a confusão
começava ela acabava e todos voltavam para a festa dançando até o
amanhecer do dia.
Certo dia, Bafureto, Joaquim da Josefa, pisa no pé de Cabeça
de Galo, Seu Zé Marques, que cai em cima do Mané da Chica, que se
engasga com a pinga que estava bebendo e, pronto: a peia começa! E
lá se vão xingamentos, empurra-empurra, gritos, correria, olhos roxos e
costelas quebradas. Tudo isso aconteceu até os ânimos se acalmarem e o
sanfoneiro voltar a tocar.
Assim que o forró começou a troar novamente e as pessoas voltaram
a dançar, uma voz abafada pôde ser ouvida. Todos se assustaram e

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pararam de dançar, procurando entender o que se passava. Descobriram


que Dona Maria Martins estava lá em cima do pé de umbu. Na agonia
para se defender do furdunço, Dona Maria subiu desembestada na
árvore e acabou ficando pendurada em seus galhos. Aí, toca sanfoneiro,
zabumbeiro, Seu Louro Paulo, menino Severino, Dona Biliu, Seu Zé do
finado Firmino, todo mundo do arrasta pé para tentar resgatar Dona
Maria. Quando finalmente conseguiram descer a pobre da mulher, foi
festa para mais um dia.

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PARNAÍBA

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PARNAÍBA

O
nome da cidade é devido ao Rio Parnaíba, pois a mesma é
banhada por um de seus afluentes, o Rio Igaraçu. Possui
belezas incontestáveis, como a praia da Pedra do Sal e o
Porto das Barcas. Sua área territorial é de 436 km2 e é considerada
a segunda maior cidade do estado do Piauí. Foi o primeiro município
do estado do Piauí a proclamar independência do domínio português.
Situado a 318 km da Capital, Teresina, sua população está estimada
em 180.282 habitantes. Em seu território está localizada a Ilha Grande
de Santa Isabel, e a comunidade do Morro da Mariana com acesso
à praia Pedra do Sal. No artesanato, destacam-se as tradições locais
como seus vasos de cerâmicas e o sisal, além das tecelagens com fibras
das palmeiras de tucum, buriti e palha de carnaúba. As esculturas e
os bordados, os quadros e as talhas de madeira, os tradicionais doces e
licores também compõem as riquezas desse estilo de produção.

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VIAGEM INESQUECÍVEL

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VIAGEM INESQUECÍVEL

C
erta vez, eu, minha família e alguns amigos nos organizamos
e fizemos uma viagem ao litoral piauiense. Saímos da nossa
Picos por volta das vinte e duas horas e trinta minutos
da noite. Durante a viagem alguns iam dormindo, outros observando
a estrada e, por volta das cinco horas e trinta minutos da manhã,
chegamos ao município de Buriti dos Lopes. Fizemos uma parada para
o café da manhã e logo seguimos viagem, pois estávamos ansiosos para
chegar à praia, principalmente minha tia Vera que, no auge dos seus
quase 70 anos de idade, nunca tinha posto seus pés na água do mar.
Por volta das oito horas da manhã chegamos à casa que ficaríamos no
litoral. Deixamos nossas malas na casa e fomos direto aproveitar o dia.
Nesse momento, minha tia Vera estava eufórica de tanta ansiedade
e felicidade, e dizia repetidamente que aquela viagem seria inesquecível.
Quando viu o mar pela primeira vez ela ficou maravilhada com a imensidão,
o cheiro, o som.... Tudo a encantou! Fomos, então, logo entrando na água.
O mar estava muito agitado, com muitas e fortes ondas. Tia Vera
se assustou com as primeiras ondas, mas depois se deixou levar. E quando
digo “se deixou levar” falo isso literalmente. Ela se distraiu tanto com
a tal novidade da água salgada que não percebeu uma onda enorme
se aproximando e, de repente: TCHAAAAA!!!! Lá se foi tia Vera
rolando na areia, como se fosse a carne do “frito” na marmita do viajante.
Quando conseguimos resgatá-la e colocá-la de pé, ainda atordoada,
uma outra sensação terrível a acometeu. Sensação essa que gelou sua

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espinha tortinha do tempo. Além do susto do tombo, ela se deu conta que
havia perdido algo.... Algo muito importante, fundamental e que todo
mundo notaria que estava sem. É, minha gente, a tia Vera não perdeu seu
maiô preto básico. É, maiô, porque uma senhora de quase 70 anos não
usaria biquíni (ou usaria? Por que não?). Bom! Mas não. Não foi isso
que ela perdeu. Ela ficou foi sem sua dentadura. Exato, DEN-TA-
DU-RA!!! Em meio a sua agonia com a onda, Iemanjá resolveu ficar
com os dentes da pobre da Tia Vera.
Quando percebemos, foi só risada. Até a pobrezinha não aguentou
seu infortúnio e, quando seu desespero passou, danou-se a rir da situação.
Só que agora seu riso que era branquinho, ficou fofo... bem fofo!
Essa viagem foi realmente bem inesquecível. Tão inesquecível que
deu até um sorriso novo para a Tia Vera.

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Vocabulário Nordestino

Aboiador: pessoa que aboia; vaqueiro que canta chamando a


boiada para o curral.
Baladeira: Arco atirador com elásticos presos pelas extremidades
que, sendo ativado por um gatilho, arremessa pedras.
Cabra: homem.
Cabra frouxo: homem covarde.
Carniça: pessoa chata, indesejada.
Cuia: vasilha feita, por processo manual, do fruto da cuieira
(Crescentia cujete e Lagenaria siceraria).
Eita: indica, geralmente, espanto e surpresa.
Frescar: tirar sarro de alguém; fazer brincadeiras com alguém.
Frito: tipo de farofa feita com muita carne (frango ou bovina), bem
frita. Prato normalmente feito para se levar em viagens, pois não precisa
de refrigeração e é bastante nutritivo.
Frouxo: covarde.
Pé de juazeiro: árvore típica do Semiárido brasileiro que está sempre
verde e com flor, mesmo em épocas de seca prolongada. Nome científico:
Ziziphus joazeiro Mart. - Rhamnaceae.

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Pé de tamarindo: árvore cujos frutos tem forma de vagem, que


são muitos consumidos nas regiões Norte e Nordeste. Nome científico:
Tamarindus indica L. - Fabaceae.
Pé de umbu: árvore com grande resistência à seca, conhecida como
“árvore sagrada do sertão” devido à importância das suas raízes que
estocam água e podem ser utilizadas como alimento em épocas de estiagem.
Nome científico: Spondias tuberosa L. - Anacadiaceae.
Peia: bater em alguém com agressividade.
Pinga: aguardente de cana-de-açúcar; cachaça.
Purão: olho d´água coberto pela copa das árvores.
Sambudo: de barriga crescida ou inchada; barrigudo.
Seu...: no Nordeste, a palavra “Seu” pode ser utilizada como pronome
de tratamento e possui o mesmo sentido que senhor. Para identificar no
texto, essa palavra utilizada como pronome se diferencia por sua letra
inicial maiúscula.
Tronchudo: torto; tortuoso.

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Suplemento Pedagógico

A
lmejando contribuir com o trabalho docente e enriquecer
a sala de aula com ideias práticas, criativas e saberes
contextualizados, elaboramos este suplemento com sugestões
de atividades para que o/a professor/a assuma o papel “mediador da
aprendizagem”, não apenas ministrando aulas, mas também desenvolvendo
pesquisas e construindo conhecimento junto com os/as alunos/as, através
de situações de aprendizagem multidisciplinar, instigadoras e desafiantes.
Para cada fábula, conto, lenda ou causo elegemos temas seguidos
de sugestões de atividades integradoras que englobam os conteúdos
conceituais (saber), procedimentais (saber fazer) e atitudinais (ser) que
são fundamentais para a formação integral da pessoa humana crítica
e responsável. Logo, o professor poderá utilizar este suplemento como
item integrante da intervenção pedagógica cotidiana substituindo a
exposição tradicional de conteúdos por rodas de contação de história,
aulas/visitas de campo, dramatizações etc. potencializando os diferentes
tipos de habilidades cognitivas, motoras, interpessoais dos/as alunos/as,
tornando-os capazes de intervir e transformar a realidade para além
das fronteiras e rótulos impostos pelos vários grupos sociais via ensino
emancipador e libertário.

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OS DOIS CAÇADORES E O MONTE DE DINHEIRO

Temas a serem abordados


• Animais silvestres
• Processo de produção e destilação do álcool
• Fermentação
Sugestões de atividades
Conceitual
• Pesquisa com a comunidade sobre os animais silvestres
utilizados na alimentação
• Vídeo sobre o processo de produção e destilação de álcool
• Atuação dos microrganismos no processo de fermentação
Procedimental
• Atividade prática para demonstração do processo de
fermentação para produção de álcool
• Montar uma réplica de alambique
Atitudinal
• A fauna regional e sua importância para a manutenção dos
ecossistemas
• O dinheiro e a corrupção do ser humano

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GORÓ, A MENINA SAPECA


Temas a serem abordados
• Doenças causadas por bactérias e vírus
• Vacinas
• Morfologia: adjetivo e substantivo
• Mecânica
• Brinquedos e brincadeiras
Sugestões de atividades
Conceitual
• Principais doenças causadas por bactérias e vírus
• Importância das vacinas para o controle de doenças
• Apresentar problemas sobre movimento, distância e velocidade
• Pesquisa dos brinquedos e brincadeiras que existiam no tempo
de nossos avós
Procedimental
• Palestras com profissionais da saúde
• Contação de história destacando os adjetivos encontrados no texto
• Atividade prática para aplicação da cinemática
• Confecção e exposição de brinquedos antigos e recentes e
gincana resgatando as brincadeiras do passado
Atitudinal
• Conhecendo e valorizando a cultura do brincar
• Padrões de beleza
• Adultização da criança

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BELEZA NÃO SE PÕE À MESA


Temas a serem abordados
• Padrões de beleza
• Relacionamentos abusivos
• Relações de gênero
Sugestões de atividades
Conceitual
• Debate sobre relacionamentos abusivos e violência simbólica
• História do feminismo
• Análise de imagens sobre a evolução dos padrões de beleza ao
longo dos tempos
Procedimental
• Elaborar campanhas de valorização e respeito da mulher
• Dramatizações sobre relacionamentos abusivos e violência contra
a mulher
• Realizar uma pesquisa sobre a ocorrência de casos de violência
ou relacionamentos abusivos com alunos da escola
Atitudinal
• Os diferentes tipos de belezas existente na sociedade
• Equidade entre os gêneros
• Atitudes não sexistas

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OS CAÇADORES E A FURNA
Temas a serem abordados
• Caça ilegal
• Bioma Caatinga
• Religiosidade
• Tipos de ventos
• Energia eólica
• Acidentes de relevo
• Sistema de orientação e localização
Sugestões de atividades
Conceitual
• Aula de campo para identificar os diferentes tipos de relevo da
região, fauna e flora da Caatinga
• Visita ao complexo eólico para conhecer como funciona essa
fonte de energia
• Entrevista com os moradores locais para saber quais animais
são caçados na região
• Mesa-redonda com diferentes representantes religiosos
Procedimental
• Elaborar maquete dos diferentes tipos de relevo
• Criação de rosa dos ventos, biruta e cata-vento
• Criar catálogo fotográfico de espécies botânicas e de animais
da região
Atitudinal
• Respeito às diferentes religiões
• O uso racional da energia
• O risco de extinção dos animais silvestres devido à caça e
destruição de habitat
• Preservação do meio ambiente local

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VICENTE MELADO
Temas a serem abordados
• Folclore brasileiro
• Gêneros textuais
• Mananciais brasileiros
• Hereditariedade
• Bullying
• Formações rochosas
Sugestões de atividades
Conceitual
• Exposição com diferentes gêneros textuais
• Roda de conversa sobre as principais lendas do folclore
brasileiro
• Vídeo que aborde o tema bullying
• Pesquisa sobre as formações rochosas
Procedimental
• Pesquisar histórias de assombração da região
• Montar uma árvore genealógica para observar caracteres
herdados
• Criação e dramatização de histórias que retratem experiências,
sofridas ou praticadas, de bullying pelos alunos
• Exposição fotográfica dos principais mananciais da região
Atitudinal
• Violência simbólica e psicológica
• Poluição dos mananciais em áreas urbanas e rurais
• Os diferentes tipos de família na atualidade

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O PÉ DE OITICICA CASAMENTEIRO
Temas a serem abordados
• Bioma Caatinga
• Agricultura familiar
• Biologia do desenvolvimento e reprodução
• Concordância verbal e nominal
Sugestões de atividades
Conceitual
• Aula de campo para o reconhecimento do bioma Caatinga
• Aula de campo para reconhecimento das práticas da
agricultura familiar
• Leitura de imagens sobre a biologia do desenvolvimento
• Pesquisa sobre reprodução humana e métodos contraceptivos
Procedimental
• Palestra com profissionais da saúde sobre doenças sexualmente
transmissíveis
• Mostra fotográfica sobre o bioma Caatinga
• Entrevista com agricultores para compreender os procedimentos
para produção, coleta e sustentabilidade da agricultura familiar
• Produção de uma revista com informações sobre as mudanças
no corpo de um adolescente
Atitudinal
• Valorização do bioma Caatinga e sua biodiversidade
• Questões de gênero no campo
• Conhecer e cuidar do corpo

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A PRINCESA E O PEIXE
Temas a serem abordados
• Fábulas
• A classificação dos peixes
• Rios e lagos
Sugestões de atividades
Conceitual
• Roda de contação de fábulas brasileiras e nordestinas
• Visita à um criatório de peixe
• Biologia básica dos peixes por meio de exposição de imagens de
diversos animais dessa classe
• Exposição de documentários sobre rios e lagos e sua importância
para os ecossistemas
Procedimental
• Pesquisa, nos livros da biblioteca da escola ou na Internet, de
fábulas, identificando as principais características das mesmas
• Contação e ilustração da história
• Criação de histórias em quadrinhos com fábulas escritas pelos
alunos
• Elaboração de uma tabela comparativa entre os grupos dos
peixes cartilaginosos e ósseos
• Realizar a brincadeira de “pescaria” com as características
biológicas desse grupo animal
• Confecção de painéis ilustrativos sobre rios e lagos
• Pesquisa sobre os rios que abastecem a região
Atitudinal
• A importância das fábulas para o desenvolvimento da leitura,
interpretação e escrita
• Conservação dos recursos hídricos
• Incentivo à criação de peixes para fins econômicos

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UM LUGAR CHAMADO TRINDADE


Temas a serem abordados
• Formas de relevo
• Linguagem oral X escrita
• Cultura nordestina
Sugestões de atividades
Conceitual
• Leitura de textos relacionados aos temas
• Contagem de histórias referentes aos temas
• Apresentação de vídeos sobre o uso da linguagem oral e escrita
Procedimental
• Elaboração de uma maquete do relevo da região
• Pesquisas relacionadas à cultura nordestina: literatura de cordel,
artesanato, música e dança que influenciaram a cultura brasileira
• Dramatização da história
• Concurso de contação de piadas
Atitudinal
• A linguagem nordestina enquanto instrumento de interação e
expressão cultural
• Características do patrimônio cultural, social, material e imaterial
da região
• Respeito à diversidade cultural regional

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118

HISTÓRIA DO HOMEM LOBISOMEM


Temas a serem abordados
• Índice de Desenvolvimento Humano
• Perda da biodiversidade
• Poluição do ar
• Fases da lua
Sugestões de atividades
Conceitual
• Identificar os índices de pobreza e de desemprego existentes no
estado e no país
• Importância da conservação da biodiversidade
• Reconhecer as fases da lua e sua importância para o funcionamento
do planeta
Procedimental
• Construir tabelas e gráficos para demonstrar os índices de
pobreza e desemprego
• Confeccionar as fases da lua com material reciclável para melhor
entender
• Identificar elementos na comunidade que contribuem com a
poluição do ar
Atitudinal
• A importância da biodiversidade
• Uso racional dos recursos naturais
• Índices de pobreza e de desemprego entre as regiões do país e
entre os países

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O FALSO VAQUEIRO
Temas a serem abordados
• O campo e a cidade
• Êxodo rural
• Profissões
Sugestões de atividades
Conceitual
• Exposição dialogada sobre a vida no campo e na cidade
• Música: “Asa branca” de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
• Materiais utilizados nas diversas profissões: debate “a quem
pertence?”
Procedimental
• Confeccionar uma maquete estabelecendo a diferença entre o
campo e a cidade
• Coreografar a música “Asa Branca” de Luiz Gonzaga e
Humberto Teixeira
• Feira de profissões
Atitudinal
• Respeito às pessoas do campo e da cidade
• Reflexão acerca do êxodo rural
• Valorização das profissões

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120

AS SETE ESTRELAS
Temas a serem abordados
• Corpos celestes
• Importância das abelhas
• Classificação das plantas: Gimnospermas e Angiospermas
Sugestões de atividades
Conceitual
• Vídeos sobre corpos celestes
• Aula de campo para identificação de plantas melíferas
• Abordagem da importância das abelhas para o ecossistema
• Diferenciação das plantas gimnospermas e angiospermas
Procedimental
• Confecção de instrumento para observação dos corpos celestes
• Aula prática com os diferentes tipos de frutos
• Visita à um meliponário
• Visita à uma beneficiadora de mel
• Elaboração de um livro com receitas que utilizem o mel como
ingrediente
Atitudinal
• O cuidado e a preservação da vegetação nativa
• Conservação das abelhas nativas
• O mel na alimentação

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121

UMBUZEIRO VERDADEIRO
Temas a serem abordados
• Plantas nativas
• O Semiárido nordestino
• Renda familiar
• Sistema monetário
Sugestões de atividades
Conceitual
• Aulas de campo para reconhecimento de algumas plantas nativas
da região
• A ideia de sertão na obra “Grande sertão: veredas”, de Guimarães
Rosa
• Convivência com o Semiárido
• Aula de campo: visita à feira livre da cidade
Procedimental
• Demonstração das partes de uma planta da Caatinga
• Pesquisa sobre as belezas encontradas no Semiárido
• Roda de conversa sobre os efeitos da seca na região Nordeste
do Brasil, analisando possíveis soluções
• Elaborar jogos pedagógicos com as características de clima, solo
e biodiversidade da região
• Trabalhar a letra da música “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga
e Humberto Teixeira, na perspectiva das consequências naturais e
sociais da seca no Semiárido
Atitudinal
• Preservação das plantas nativas da região
• Valorizar as práticas de convivência com o Semiárido
• A importância cultural da feira livre, um elo entre o campo e a
cidade

COSTURANDO CONTOS E AMARRANDO PONTOS: tecendo o Piauí pelo imaginário popular


122

CACHORRINHO BENNE
Temas a serem abordados
• Ciclo da vida
• Animais vertebrados e invertebrados
• Decomposição
Sugestões de atividades
Conceitual
• Vídeos que retratam o ciclo da vida
• Pesquisa de textos literários que abordem tenham a morte como
tema
• Aula prática com apresentação de animais vertebrados e
invertebrados
Procedimental
• Saída de campo para identificação de animais vertebrados e
invertebrados
• Experimento para observação do processo de decomposição
• Exposição de biografias de autores e textos que abordem o
tema da morte
• Dramatização da história contada
Atitudinal
• Campanha de valorização à vida
• Campanha de adoção de animais
• Campanha de arrecadação de alimentos e produtos de higiene e
limpeza para alguma instituição filantrópica

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123

CAMÕES
Temas a serem abordados
• Brasil Imperial
• Corpos d’água: diferentes tipos de rio
• Minérios
• Discurso direto e indireto
• Substantivo abstrato
• Alcoolismo
Sugestões de atividades
Conceitual
• Usar os emojis dos meios virtuais para conceituar os diferentes
substantivos abstratos
• Sessão de cinema: Carlota Joaquina, capítulos de novelas de época
• Aula de campo para conhecer alguns rios da região
• Contação de história para trabalhar os conceitos de discurso
direto e indireto
Procedimental
• Reescreva a história transformando a personagem principal em
uma pessoa ética
• Criação de um portfólio com os diferentes tipos de minérios
• Transforme as passagens do texto que estão como discurso
direto em indireto
• Elabore uma charge sobre o Brasil Imperial
• Criação de bonecos de papel que ilustrem as classes sociais do
Brasil Imperial
Atitudinal
• O álcool é uma droga
• O “jeitinho” brasileiro e os impactos para a sociedade
• Degradação de rios da região: a situação do Rio Guaribas
• Divisão de classes na sociedade atual e as desigualdades sociais

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124

CUIDADO COM A PERALTICE


Temas a serem abordados
• Corpo humano: sistema reprodutor
• Características físico-químicas da água
• Corpos d’água
• Sistema de criação de animais
• Religiões de origem africana
Sugestões de atividades
Conceitual
• Aulas de campo para reconhecimento dos corpos d’água que
abastecem a região e seus usos
• Aulas de campo e entrevista para conhecer locais da
celebração de religiões africanas e os sistemas de criação da região
• Vídeo sobre as religiões de origem africana
Procedimental
• Criação de maquetes com isopor, massa de modelar, palito de
picolé e materiais recicláveis representando o aparelho reprodutor
do corpo humano; alguma criação de animais; de cerimônias de
religiões africanas; dos diferentes corpos d’água que abastecem a
região
• Experimentos para acompanhar as mudanças nas
características físico-químicas da água, como analisar a relação
entre a temperatura e o estado físico
Atitudinal
• O cuidado e a valorização do corpo
• Respeito a sexualidade e gênero
• Respeito a diversidade religiosa
• Respeito aos animais durante a criação
• Preservação dos corpos d’água
• O uso consciente da água

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125

NEGRO SANTO
Temas a serem abordados
• Escravidão
• Coronelismo
• Animais peçonhentos
• Monoculturas
• Preconceito racial, socioeconômico e cultural
Sugestões de atividades
Conceitual
• Apresentação de vídeos ligados aos temas coronelismo e
escravidão
• Aula sobre animais peçonhentos
• Visitas à museus para observação de objetos de época
• Visita à comunidade quilombola
Procedimental
• Ler e discutir os artigos da Declaração Universal dos Direitos
Humanos
• Trabalhar com interpretação, ilustração e coreografia de
músicas que abordem o tema de preconceito racial
• Pesquisa de dados sobre trabalho escravo no Brasil e no mundo
• Palestra com especialistas em serpentes peçonhentas e primeiros
socorros em acidentes com esses animais
Atitudinal
• Condição da pessoa negra na atualidade: preconceito à estética,
cultura e participação social
• Atitudes preconceituosas, etnocêntricas e discriminatórias

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126

OS BICHINHOS DO FULORÊNCIO
Temas a serem abordados
• Lendas e mitos
• Folclore
Sugestões de atividades
Conceitual
• Roda de conversa sobre as lendas e mitos da comunidade
• Folclore brasileiro
Procedimental
• Narrar a lenda utilizando fantoches
• Confeccionar animais utilizando o tangram e dobraduras
• Exposição de desenhos de lendas e mitos resgatados a partir de
pesquisa na comunidade
• Pesquisa de histórias do folclore brasileiro e mundial
Atitudinal
• Valorização das lendas e mitos da comunidade
• Resgate da cultura local

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127

ODILON E SEU MARTELO DESACUNHADO


Temas a serem abordados
• Aspectos biológicos do envelhecimento
• Versos, poesias e sua metrificação
• Drogas lícitas e ilícitas
• Conotação e denotação
Sugestões de atividades
Conceitual
• Doenças que acometem idosos e seus cuidados
• Pesquisa de dados sobre o consumo de drogas licitas e ilícitas
na região, estado e país
• Apresentação e identificação dos diferentes estilos poéticos
Procedimental
• Produção de fanzines que abordem a temática “drogas”
• Produção e exposição de versos e cordéis para toda a
comunidade escolar
• Pesquisa de outras palavras que podem ser empregadas no
sentido literal (denotação) ou figurado (conotação)
Atitudinal
• Valorização da poesia e do cordel
• Mobilização para o respeito e valorização do idoso
• Campanha educativa alertando sobre o perigo do uso de drogas

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128

UM FORRÓ PÉ DE SERRA
Temas a serem abordados
• Física do som
• Agricultura familiar
• Violência no cotidiano
• Cultura popular
Sugestões de atividades
Conceitual
• Experimentos com diferentes tipos de aparelhos sonoros
• Pesquisa da história e evolução do ritmo forró
• Importância da agricultura familiar para a produção de
alimentos
• Roda de conversa para abordagem do tema violência no cotidiano
• Pesquisa de dados sobre a violência na região, no estado,
no país e no mundo. Usar como fontes de pesquisa delegacias,
Conselho Tutelar, Centro de Referência Especializado de
Assistência Social
Procedimental
• Sarau cultural com apresentação de danças, poesias, cordéis e
grupos musicais
• Levantamento das atividades agrícolas desenvolvidas pelos
pequenos produtores rurais da região
• Elaboração de vídeos amadores sobre casos de pessoas que já
foram agredidas de alguma forma.
Atitudinal
• A importância da agricultura familiar para a alimentação
saudável
• Sensibilização a respeito do uso de agrotóxicos e danos que os
mesmos podem causar.
• Mobilização para redução da violência cotidiana

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VIAGEM INESQUECÍVEL
Temas a serem abordados
• Oceanos e mares
• Zonas litorâneas do Brasil
• Corpo humano: sistema digestório
• Característica físico-química da água: salinidade
• Ciclo da água
• Unidades de medida: tempo e distância
• Divisão silábica
Sugestões de atividades
Conceitual
• Vídeos sobre o sistema digestório, zonas litorâneas, oceanos e
mares
• Observação de modelo anatômico da boca para que os alunos
consigam identificar os diferentes tipos de dente
• Medir a sala de aula com fita métrica e transformar nas
diferentes unidades de medida;
• Competição de soletração para trabalhar a divisão silábica
Procedimental
• Confecção de dentaduras com massa de biscuit ou papel machê
• Criação de um quebra-cabeça do sistema digestório
• Confecção dos diferentes tipos de relógio
• Preparação de livro de parede com as diferentes fases do ciclo
da água
• Experimento para avaliar a diferença entre a água “doce” e a
água “salgada”

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130

Atitudinal
• Aceitação do corpo
• Vivendo em função do tempo
• O lixo nos oceanos e mares
• Degradação das áreas costeiras
• Preconceito linguístico: formal e coloquial
• Higiene bucal e sua relação com a saúde

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Referências Consultadas
CIDADE BRASIL. Disponível em: <http:// http://www.cidade-
brasil.com.br/>. Acesso em: 15 mai 2017.
ESCOLA MUNICIPAL MANOEL JOAQUIM DE
CARVALHO. Histórico de Massapê do Piauí – PI. Disponível
em: <https://unidadescolarmanoeljoaquimdecarvalho.wordpress.
com/2014/06/10/historico-de-massape-do-piaui-pi/>. Acesso em:
20 mai 2017.
FUNDAÇÃO CEPRO. Piauí em Números. Teresina. 10. ed. 2013.
GUIA DO TURISMO BRASIL. Atrativos paisagísticos e
culturais. Disponível em: <http://www.guiadoturismobrasil.com/cidade/
PI/612/picos>. Acesso em: 18 mai 2017.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Demográfico de 2010.
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Dados
referentes à comunidade de Ipueiras, Picos, Piauí.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA – IBGE. Divisão Territorial do Brasil e
Limites Territoriais. 2008. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home>.
Acesso em: 11 mai 2017.

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132

PIAUITOUR RECEPTIVO. Parnaíba: histórico de Parnaíba.


Disponível em: <http://www.piauitour.com/parnaiba/>. Acesso em: 15
mai 2017.
PORTAL RIACHAONET. Qual a cara do seu bairro? Conheça
o bairro da família LUZ! –Disponível em: <http://www.riachaonet.
com.br/qual-a-cara-do-seu-bairro-conheca-o-bairro-da-familia-
luz/>. Acesso em: 22 mai 2017.
PREFEITURA DE GEMINIANO. História. Disponível em:
<www.geminiano.pi.gov.br>. Acesso em: 20 mai 17.
TELES, M. Feira Livre de Jaicós-PI: produtos destaques e
características. Disponível em: <http://www.faculdadersa.com.br/
vemverosemiarido/feira-livre-de-jaicos-pi-produtos-destaques-e-
caracteristicas/>. Acesso em: 20 mai 2017.

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Ficha de Leitura
Nome do leitor: ______________________________________________
Início da leitura: ____/____/____  Término da leitura: ____/____/____
Identificação da Obra
Título:

Autor(es):

Ilustrador(es):

Editora:

Gênero:
O que mais aparece na história?
Diálogos Narrações Descrições
A história é escrita em:
Primeira pessoa Terceira pessoa
A história poderia realmente ter acontecido ou não? Justifique.

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Análise da Trama
Quais são os personagens?
Protagonista:

Antagonista:

Secundário(s):
Onde se passa a maior parte da história?

Como é o ambiente da história?

Tempo em que acontece a história:


Atual Outra época
Qual o clímax da história?

Qual o desfecho da história?

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Apreciação do Leitor 135

Apreciação do Leitor
Qual a mensagem principal da história?

Qual a mensagem principal da história?

Transcreva o trecho da história que você mais gostou.


Transcreva o trecho da história que você mais gostou.

Invente um novo título para a história baseando-se no enredo.


Invente um novo título para a história baseando-se no enredo.

O que você achou da história?


O que você achou da história?

Você indicaria esse livro para mais alguém? Justifique.


Você indicaria esse livro para mais alguém? Justifique.

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ISBN: 978-85-509-0203-6

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