A Escuta de Vozes Na Infância Uma Revisão Integrativa-2018

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ARTIGO DE REVISÃO

A escuta de vozes na infância: uma revisão integrativa


Hearing voices in childhood: an integrative review

La escucha de voces en la infancia: una revisión integrativa

Cardoso, Clarissa de Souza 1; Pereira, Viviane Ribeiro2; Oliveira, Naiana Alves3; Coimbra, Valéria
Cristina Christello4

Como citar este artigo: Cardoso CS, Pereira VR, Oliveira NA, Coimbra VCC. A escuta de vozes na
infância: uma revisão integrativa. J. nurs. health. 2018;8(n.esp.):e188413

RESUMO

Objetivo: identificar e analisar a produção científica acerca da escuta de vozes na infância por meio
da revisão integrativa. Métodos: a busca ocorreu nas bases de dados National Library of Medicine,
Literatura Científica e Técnica da América Latina e Caribe e Publishier Medline, realizada no mês de
março de 2018, com os descritores: criança, comportamento infantil, esquizofrenia infantil, delusões
e a palavra-chave escuta de vozes, integraram a revisão 10 artigos publicados no período de 2013 a
2017. Resultados: percebe-se que as pesquisas apontaram para a predominância de saberes
hegemônicos, os quais relacionam as experiências das crianças que ouvem vozes, com o diagnóstico
de esquizofrenia, baseando o tratamento pela prescrição de psicofármacos. Considerações Finais:
identificou-se uma produção incipiente de pesquisas na área da saúde mental que dão ênfase a
temática da escuta de vozes na infância, principalmente no cenário científico brasileiro.
Descritores: Crianças; Comportamento infantil; Esquizofrenia infantil.

ABSTRACT

Objective: to identify and analyze the scientific production about the voice hearing in childhood
through the integrative review. Methods: the search was carried out in the National Library of
Medicine, Scientific and Technical Literature of Latin America and Caribbean and Publishier Medline,
conducted in March 2018, with the descriptors: child; child behavior; schizophrenia, childhood;
delusions and the keyword hearing voices, have integrated the review 10 articles published in the
period from 2013 to 2017. Results: it is noticed that the researches pointed to the predominance of
hegemonic knowledge, which relate the experiences of children who hear voices, with the diagnosis
of schizophrenia, basing the treatment by the prescription of psychoactive drugs. Final
Considerations: it was identified an incipient production of researches in the area of mental health
that emphasizes the theme of hearing voices in childhood, particularly in the Brazilian scientific
scenario.
Descriptors: Child; Child behavior; Schizophrenia, childhood.

1 Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). E-mail:


[email protected] http://orcid.org/0000-0002-7109-2008
2 Enfermeira. Mestre em Ciências. Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). E-mail:
[email protected] http://orcid.org/0000-0002-5553-4056
3 Enfermeira. Doutora em Ciências. Prefeitura Municipal de Pelotas/RS. E-mail: [email protected]
http://orcid.org/0000-0001-5116-9082
4 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). E-mail:
[email protected] http://orcid.org/0000-0001-5327-0141
RESUMEN

Objetivo: identificar y analizar la producción científica acerca de la escucha de voces en la infancia


por medio de la revisión integrativa. Métodos: la búsqueda ocurrió en las bases de datos National
Library of Medicine, Literatura Científica y Técnica de América Latina y el Caribe y Publishier
Medline, en el mes de marzo de 2018, con los descriptores: niño, conducta infantil, esquizofrenia
infantil, delusiones y la palabra clave escucha de voces, integraron 10 artículos publicados en el
período de 2013 a 2017. Resultados: predominan saberes hegemónicos, relacionados a las
experiencias de los niños que oyen voces con el diagnóstico de esquizofrenia, basándose el
tratamiento por la prescripción de psicofármacos. Consideraciones finales: se identificó una
producción incipiente de investigaciones en el área de la salud mental que den énfasis a la temática
de la escucha de voces en la infancia, principalmente en el escenario científico brasileño.
Descriptores: Niños; Comportamiento infantil; Esquizofrenia infantil.

INTRODUÇÃO

é o reconhecimento desse fenômeno


A escuta das vozes1 ou
como uma experiência singular
tradicionalmente chamada de
vivenciada pelas crianças, e mais
alucinações auditivas são tipicamente
desafiador é compreendê-lo para além
estudadas no contexto da
de sintomas clínicos.
esquizofrenia, entrando no cenário de
códigos de doenças psiquiátricas.2 Uma pesquisa realizada na
Ainda, a presença de outros sintomas Holanda4, com ouvidores de vozes,
ou o uso de psicofármacos, direciona a demonstrou que a escuta de vozes é
investigação dos mecanismos uma experiência normal, e com o
neurocognitivos das alucinações, para passar do tempo, em torno de 60% das
a patologização.1 crianças deixam de ouvir as vozes.1,4
Desse modo, entende-se que as
Na infância, as experiências com
crianças lidam de forma diferente com
as alucinações, mostram uma
a escuta de vozes uma vez que
prevalência alta em crianças, estando
aprendem a conviver com sua presença
associadas, também, a uma série de
naturalmente, além das emoções e
condições médicas, isto é,
sentimentos envolvidos nas situações.
acometimentos que ocorrem
interferência ou lesões nas vias Tem-se que, neste sentido
sensoriais periféricas que podem quando as crianças revelam suas
produzir alucinações.2 A escuta de experiências com as vozes, há uma
vozes, também, pode adquirir tendência da sociedade, pais e
contornos patológicos devido à família profissionais entenderem o processo
e os profissionais não conseguirem como sintomas que fazem parte de
lidar com este fenômeno.3 uma doença psiquiátrica, indicando
que a criança não terá condições de
Entretanto, existe uma parte da
conviver com suas experiências de
população geral que não necessita
acessar serviços em saúde mental e escutar vozes.
lida com essas experiências sem a Sendo assim, entendendo a
necessidade de cuidados específicos.3 necessidade de resgatar os estudos
Um dos desafios para os pesquisadores realizados acerca da escuta de vozes

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por crianças que, além de sua (PubMed), por meio do portal da
relevância, pode subsidiar ações para o Coordenação de Aperfeiçoamento de
cuidado em saúde mental, esta Pessoal de Nível Superior (CAPES), no
pesquisa objetivou identificar e mês de março de 2018, contemplando
analisar a produção científica acerca publicações internacionais. Utilizou-se
da escuta de vozes na infância por os seguintes Descritores em Ciências da
meio da revisão integrativa. Neste Saúde (DECS) criança, comportamento
sentido, elaborou-se a seguinte infantil, esquizofrenia infantil,
questão norteadora: De que forma as delusões e a palavra-chave escuta de
pesquisas tratam a temática da escuta vozes.
de vozes na infância? Para a pesquisa na PubMed todos
os termos foram traduzidos para a
MATERIAIS E MÉTODOS
língua inglesa segundo o Medical
Trata-se de uma revisão Subject Headings (MeSH): child, child
integrativa da literatura, que tem por behavior, childhood schizophrenia,
finalidade resgatar as publicações delusions e voice hearing. Em ambas as
científicas sobre a temática da escuta buscas se utilizou os booleanos AND e
de vozes na infância. A revisão OR conforme a Figura 1.
integrativa caracteriza-se por ser um Os critérios de inclusão
método que busca organizar abordaram publicações originais nos
sistematicamente estudos atuais sobre últimos cinco anos (entre 2013 a 2017),
um determinado tema de investigação, que contextualizaram pesquisas com
a fim de incorporar resultados de crianças, nos idiomas Português, Inglês
pesquisas científicas relevantes ao e Espanhol, considerando-se os
desenvolvimento de novos estudos na objetivos deste estudo. Como critérios
área da saúde, que venham contribuir de exclusão da amostra, optou-se por
para qualidade do cuidado prestado não utilizar artigos duplicados,
por profissionais em sua prática resenhas, anais de congresso, artigos
clínica.5 de opinião, artigos de reflexão,
Para isso, a elaboração da revisão editoriais, artigos com idosos, adultos
integrativa, seguiu um protocolo que e adolescentes ouvidores de vozes,
organizou o processo de construção a artigos que não abordassem
partir da identificação de um diretamente o tema deste estudo, e
problema, a formulação de uma artigos publicados fora do período de
questão relevante, a busca das análise.
evidências, avaliação das evidências, A busca resultou um total de 720
interpretação dos dados e, por fim, a publicações, sendo 583 na PubMed e
síntese e apresentação do 137 artigos na LILACS. Após leitura de
conhecimento.5 títulos e resumos, e levando em
Foi realizada a busca em duas consideração os critérios de inclusão e
bases de dados online para composição exclusão, 710 publicações foram
do estudo: Literatura Latino- excluídas por não cumprirem os
Americana e do Caribe em Ciências da requisitos da revisão e não
Saúde (LILACS) e Publishier a Medline responderem à questão de pesquisa.

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Assim, foram selecionados para a de coleta de dados contendo: nome dos
análise final 10 artigos que atenderam autores, fonte, ano de publicação,
aos critérios e objetivos desta revista e os principais resultados.
pesquisa. Desse modo, na análise final os artigos
foram identificados e verificados por
Após ser realizada uma leitura
dois avaliadores na busca por
minuciosa dos artigos na íntegra,
evidências que pudessem contribuir
obtidos a partir da coleta de dados,
com a revisão.
passou-se à organização dos dados,
com a elaboração de um instrumento

Figura 1: Fluxograma da estratégia de busca

construção da revisão integrativa


RESULTADOS proposta.

Os resultados foram organizados A Figura 2 apresenta os dados


e apresentados em duas etapas, a referentes aos artigos encontrados nas
primeira relacionada à caracterização bases de dados PubMed e LILACS, entre
dos estudos selecionados e a segunda os anos de 2013 a 2017.
etapa relativa à discussão dos dados
encontrados.

Caracterização dos estudos

Construiu-se um quadro com as


seguintes informações: nome dos
autores, fonte, ano de publicação,
revista e os principais resultados. Após
prosseguiu-se a leitura na íntegra dos
artigos para extração de informações
que fornecessem subsídios para a

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Figura 2: Artigos que compõe a amostra da Revisão integrativa, publicados nas bases de dados
PubMed e LILACS, entre 2013 a 2017.
Nº Nome dos Fonte Ano Revista Principais resultados
autores
1 Pubmed 2015 Br j Os resultados apontam alto índice de
Tiffin, Kitchen Psychiatri hospitalização e medicalização frente ao
quadro psicossocial das crianças.
2 Jeppesen et Pubmed 2015 Schizophr Conclui-se que fatores genéticos (parentes de
al. Bull primeiro grau- pai mãe e irmãos) e ambientais
podem contribuir para o desenvolvimento de
transtornos psicóticos na infância.
3 Pubmed 2016 Eur Child Experiências incomuns vivenciadas pelas
Ruffel et al.
Adolesc crianças e a importância do desenvolvimento
Psychiatr de abordagens e intervenções direcionadas
para a redução do estresse e o impacto na vida
cotidiana.
4 Sikich PubMed 2013 Child Algumas crianças dizem que "ouvem coisas que
Psychiatr os outros não ouvem", embora raramente
Clin Am. apresentem queixas de alucinações ou
delírios.
5 Agnew-Blais LILACS 2015 Schizophr Os resultados são consistentes com o
et al. Bull comprometimento neurocognitivo ao longo da
primeira infância, especificamente para
crianças que mais tarde desenvolvem
esquizofrenia.
6 Haug et al. LILACS 2015 Comp Trauma infantil (TC) foi postulado como fator
Psychiatry de risco para o desenvolvimento de
esquizofrenia.
7 Ahn, Shugart, LILACS 2016 Mol A esquizofrenia de início na infância (COS) é
Rapoport Psychiatr uma forma rara e grave do distúrbio, mais
notáveis em relação a transtornos do
desenvolvimento pré-psicóticos e
anormalidades no desenvolvimento do cérebro
em comparação com esquizofrenia de início
tardio.
8 Schoroeder et LILACS 2016 Comp Experiências adversas na infância (por
al. Psychiatr exemplo, violência doméstica, perda precoce,
abuso sexual e físico são relatadas como
principais fatores envolvidos no
desenvolvimento da esquizofrenia.
9 Zhou, LILACS 2016 Am J Med Influência de fatores genéticos ao
Gochman, Genet B aparecimento da esquizofrenia de início na
Broadnax, infância (COS), com alterações cromossômicas
Rapoport, Ahn 15qq13.3 herdadas paternalmente em
portadores de COS.

10 Lancaster e LILACS 2016 Br J Alterações cerebrais influenciam o


Hall Neurology desenvolvimento da esquizofrenia de início na
infância.

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intervenção direcionada para redução
Evidenciou-se, por meio desta
do estresse e diminuição do risco para
revisão integrativa, que as publicações
doenças psíquicas em crianças,
na grande maioria contemplam estudos
utilizando a Terapia Cognitiva
com abordagens quantitativas,
Comportamental como abordagem
publicadas nas bases de dados
eficaz15, um dos artigos enfatiza a
internacionais, no idioma inglês. Para
importância do diagnóstico
esta revisão não foram encontrados
diferenciado e precoce na
artigos publicados no idioma português
identificação e tratamento da
e apenas dois no idioma espanhol, os
esquizofrenia16, a maioria dos artigos
quais foram descartados por não
utiliza a entrevista semiestruturada
atenderem os critérios de inclusão.
para a análise dos dados, sendo que um
Os 10 artigos selecionados estão deles utiliza a escala de inteligência
distribuídos nos seguintes revistas (Teste de QI).17
internacionais: The British Journal of
Os artigos foram publicados entre
Psychiatry, Schizophrenia Bulletin
os anos de 2013 (um artigo), 2015
(dois artigos), European Child
(quatro artigos), 2016 (cinco artigos).
Adolescent Psychiatry, Child
Adolescent Psychiatric Clinics, A discussão geral dos dados sobre
Comprehensive Psychiatry (dois a produção científica acerca da escuta
artigos), American Journal of Medical de vozes na infância foi realizada de
Genitics, Brain a Journal of Neurology, forma descritiva.
Molecular Psychiatry.
DISCUSSÃO
Foram publicados: no ano de
2013, um artigo (10%); em 2015, quatro A maioria dos estudos6-10 apontam
artigos (40%) e 2016, cinco artigos que as crianças que experimentam a
(50%). Com relação aos anos de 2017 e escuta das vozes foram submetidas a
2018 evidenciou-se a ausência de situações adversas que desencadearam
publicações que correspondesse aos traumas, como o abuso físico, abuso
objetivos do estudo. sexual, negligência, testemunho de
Quanto aos conteúdos abordados violência doméstica e perda de alguém
nos artigos, quatro deles avaliam os próximo, como parentes ou amigos.
fatores genéticos e ambientais e As pesquisas9,11-12 indicam como
alterações cerebrais no hipóteses para o desenvolvimento das
desenvolvimento de distúrbios experiências psicóticas a relação entre
psicóticos na infância,9,11-13 dois artigos os diferentes fatores de risco:
reconhecem a esquizofrenia na demográficos, genéticos e ambientais
infância como uma doença rara porém e também associam outros problemas
grave13-14, três artigos apontam a de saúde mental como à depressão,
questão do trauma e as experiências tendência suicida, rebaixamento
negativas e adversas vivenciadas pelas cognitivo e a presença de mais de uma
crianças como um fator de risco para patologia psiquiátrica.13
doenças psicóticas6,10,15, um dos
estudos fala da importância da As experiências psicóticas podem
ser um fator de risco para psicose, mas

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provavelmente apenas para um grupo medida para a redução da
da população. Para a maioria das incapacidade e sofrimento que podem
crianças e adolescentes as vozes perdurar na vida adulta. Constata-se
desaparecem com o tempo, por esta que uma grande proporção de crianças
razão supõe-se que sejam um em sofrimento mental não recebe o
fenômeno heterogêneo com diferentes tratamento de que necessitam.8,16 A
subtipos, associados ao risco de importância de reconhecer
psicose, associados a outros precocemente o que a criança enfrenta
transtornos psiquiátricos e estar dentro repercute na maneira como ela fará o
da faixa normal de experiências.7 enfrentamento das vozes.
Tradicionalmente os Um dos estudos17 indicou a
pesquisadores estabelecem existência entre o desenvolvimento da
previamente critérios para a avaliação esquizofrenia e a baixa cognição na
das experiências, como exemplo: primeira infância, sabe-se que o
questionários de autoavaliação, no sofrimento mental causa um
entanto sem utilizar instrumentos que rebaixamento no funcionamento
apontem na direção de experiências neurológico de crianças.
tão sutis e subjetivas. Considera-se a Destaca-se o estudo realizado no
escuta das vozes um assunto complexo, Reino Unido14, no qual participaram
principalmente quando envolve a oito crianças com risco moderado para
experiência das crianças, neste sentido
violência (n=5); três com risco
o desenho do estudo e a metodologia moderado para automutilação; sete
do processo de avaliação podem ter apresentavam comorbidades
impacto significativo nos resultados psiquiátricas, entre as mais comuns: o
obtidos.7-8 São poucos os trabalhos transtorno do espectro do autismo.
mais detalhados que avaliam Porém, chama-se atenção para o
especificamente como experiências número de internações psiquiátricas,
auditivas. Acredita-se que o principal pois quatro já haviam sido internadas
fator que contribui para essa situação até o início do estudo. Durante a
é a compreensão incompleta desse realização da pesquisa, houve pelo
fenômeno que é a escuta das vozes.7 menos uma internação hospitalar para
Percebe-se que as pesquisas são cinco crianças concomitante a
orientadas a partir de saberes realização do estudo. Apenas um
hegemônicos relacionando as participante não recebeu medicação
experiências das crianças com o psiquiátrica e sete foram tratados com
diagnóstico de esquizofrenia e por esta pelo menos dois medicamentos
razão dando ênfase para um diferentes, o psicofármaco mais
tratamento específico e baseado no utilizado foi a clozapina. A partir
uso de antipsicóticos.14-15 destes dados pode-se perceber a
necessidade de uma mudança na
Para além de diagnosticar as
maneira de conduzir os casos,10
alucinações auditivas e/ou visuais,
sobretudo de crianças ouvidoras de
diversos autores1,8,16 dialogam com a
vozes, pois a maioria delas apresentou
necessidade de reconhecimento
precoce e tratamento eficaz como

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uma piora significativa no quadro vozes como fenômeno complexo na
psicossocial.17 infância necessita que os profissionais
possam ir além de cuidados
Nota-se que a experiência com a
prescritivos, justamente porque sua
escuta de vozes na infância é um
complexidade exige uma grande
assunto pouco explorado no contexto
capacidade da equipe multiprofissional
da psiquiatria, pois a maioria das
para lidar com todo o contexto da
pesquisas preocupa-se em determinar
criança e sua(s) voz(es).15
apenas epidemiologicamente as
relações existentes entre as variáveis e É incontestável a necessidade de
desfechos, como por exemplo, a reformulação das práticas de cuidado
relação familiar em parentes de na enfermagem em saúde mental,
primeiro e segundo graus com a sobretudo na abordagem com crianças
prevalência das alucinações, delírios e que experimentam o fenômeno da
assim chamadas de experiências escuta das vozes.1,3,11
psicóticas.1,6 Neste sentido entende-se
a necessidade de ampliar o CONSIDERAÇÕES FINAIS
conhecimento a respeito das
experiências das crianças que lidam de O presente estudo evidenciou que
maneira positiva com as vozes.14 a experiência da escuta das vozes na
infância é percebida como uma
As alucinações auditivas verbais sintomatologia relacionada à
ou escuta das vozes são comumente esquizofrenia, estabelecendo critérios
associadas à psicose, contudo uma de tratamento a partir de referenciais
parte da população geral, inclusive tradicionais e biomédicos.
crianças vivenciam com frequência e
sem sofrimento. Essas experiências não A partir da análise dos artigos
clínicas podem oportunizar o estudo incluídos nesta revisão integrativa
dos mecanismos das alucinações para identificou-se uma produção incipiente
além de sintomas clínicos.3,7 de pesquisas na área de novas
Recentemente algumas teorias1,7 abordagens em saúde mental,
apóiam que a escuta das vozes decorre relacionadas à escuta das vozes na
de um desequilíbrio entre as infância, a maioria dos estudos
expectativas prévias e informações encontrados manteve o foco nos
sensoriais, entretanto permanece aspectos epidemiológicos relacionando
desconhecido se este desequilíbrio fatores genéticos e ambientais
interfere ou influencia o processo de interferindo no processo de
percepção auditiva das vozes.17 saúde/doença.
A maioria das pesquisas Pretende-se que a leitura deste
argumenta sobre a necessidade de artigo contribua com o
qualificação da escuta terapêutica no redirecionamento das práticas da
momento da entrevista, afirmam a enfermagem, no sentido de oferecer
importância de revisar a realização de subsídios sobre como lidar com a
testes laboratoriais e psicológicos e escuta das vozes na infância.
também as escalas de avaliação, Faz-se necessária a continuação
contudo acredita-se que a escuta das de pesquisas que possam oferecer, aos

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profissionais, novas possibilidades na 6 Schroeder K, Langeland W, Fisher H,
assistência as crianças ouvidoras de Huber C, Shäfer I. Dissociation in
vozes ao subverter a lógica impressa na patients with schizophrenia spectrum
patologia. Neste sentido, considera-se disorders: what is the role of different
que esta revisão integrativa contribui types of childhood adversity?
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