Afecções Dos Cabelos e Do Couro Cabeludo
Afecções Dos Cabelos e Do Couro Cabeludo
Afecções Dos Cabelos e Do Couro Cabeludo
CABELUDO
INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES
Autores:
Erick Dancuart Omar
Anelise Ghideti
A aparência dos cabelos apresenta um importante papel em nossa imagem e bem-estar geral. Além
de contribuir para percepção de beleza e atratividade, protege o couro cabeludo da radiação ultravioleta (UV) e
diminui a sua perda calórica.
As afecções dos cabelos incluem alterações adquiridas ou congênitas que afetam quantitativa e/ou
qualitativamente a estrutura do fio, podendo, em algumas doenças, afetar inclusive o couro cabeludo.
A associação do folículo piloso com uma glândula sebácea e com o seu músculo eretor corresponde à
unidade pilossebácea (UP). Em algumas regiões corpóreas, há, além desse conjunto, o ducto excretor de uma
glândula apócrina.
O crescimento dos cabelos ocorre em ciclos de atividade intermitente, seguidos por períodos de
repouso (fase latente). A taxa de crescimento dos cabelos é de aproximadamente 1 cm/mês.
A duração e a velocidade do crescimento do pêlo na fase anágena (intensa atividade mitótica) varia
devido à predisposição individual, idade e nas diferentes regiões do corpo. É no couro cabeludo que está a
maior duração dessa fase (2 a 5 anos). Segue-se a fase catágena, com duração de cerca de 3 semanas, em
que o pêlo pára de crescer. Na fase telógena, há o desprendimento do pêlo com duração entre 3 e 4 meses. A
análise do couro cabeludo normal evidencia 80 a 90% dos cabelos na fase anágena, 10 a 20% na fase telógena
e 1 a 2% na catágena. É importante ressaltar que, devido à quantidade de folículos no couro cabeludo (100 a
150 mil), é considerada normal a eliminação média de 100 a 200 cabelos/dia.
Fatores genéticos e hormonais determinam as características e a distribuição dos pêlos nas diversas
raças e individualmente.
Leucotricose Congênita
Síndrome de Vogt-Koyanagi-Harada;
síndrome de Waardenburg;
piebaldismo;
albinismo.
Leucotricose Adquirida
Vitiligo;
após radioterapia;
após queimadura.
A coloração esverdeada dos cabelos, observada principalmente em indivíduos que praticam atividades
em piscina, é decorrente da deposição de partículas de cobre no córtex capilar após permanência prolongada
na água. É evidenciada mais facilmente nos cabelos claros e loiros. Para o seu tratamento, é necessário evitar o
contato direto dos cabelos com a água da piscina.
DISPLASIAS PILOSAS
Displasias pilosas são alterações da haste do pêlo. Podem ser congênitas (Tabela 1) ou adquiridas
(Tabela 2).
ALOPECIAS
O desprendimento do pêlo é denominado eflúvio e a condição resultante chama-se alopecia (do grego
alópekia, que significa diminuição dos pêlos ou cabelos). Os distúrbios caracterizados pela perda dos cabelos
são didaticamente classificados em alopecias não-cicatriciais – sem inflamação clínica, cicatriz ou atrofia da
pele –, e alopecias cicatriciais, na qual existem evidências de destruição tecidual, como inflamação, atrofia e
fibrose.
Alopecia Não-cicatricial
A alopecia não-cicatricial pode ser difusa ou focal (Tabela 4)
Eflúvio Telógeno
É caracterizado pelo desprendimento aumentado dos pêlos telógenos normais dos folículos do couro
cabeludo em repouso, secundário ao deslocamento acelerado da fase anágena (fase de crescimento) para
catágena e para a telógena (fase de repouso). Resulta em perda aumentada dos fios, levando até a rarefação
difusa dos cabelos.
São causas de eflúvio telógeno;
pós-parto;
deficiência protéica;
Deficiência de ferro;
regimes de emagrecimento;
estresse;
doenças sistêmicas: caquexia, anemias graves, hiper ou hipotireoidismo, diabetes mal
controlado, hepatites, lúpus eritematoso sistêmico, dermatomiosite;
alguns medicamentos (Tabela 5).
Eflúvio Anágeno
A perda dos cabelos resulta da parada ou da lesão dos pêlos na fase anágena, na qual se
desprendem sem passar pelas outras fases do ciclo. Geralmente o início é rápido e extenso.
São causas de Eflúvio anágeno:
radioterapia;
quimioterapia sistêmica;
drogas citostáticas/imunossupressoras (Tabela 5);
desnutrição protéica grave;
intervenções cirúrgicas prolongadas;
Sífilis secundária.
Alopecia Areata
A alopecia areata é uma afecção frequente que pode acometer até 2% da população. É caracterizada
por áreas de alopecia arredondadas ou ovais, com localização mais comum no couro cabeludo. Pode ser
localizada, total (afetando de forma generalizada o couro cabeludo) e até universal, com perda total de pêlos e
cabelos do corpo. Normalmente acomete adultos jovens e crianças. A incidência é igual em ambos os sexos e
sua etiologia é desconhecida. A associação com outras doenças auto-imunes (Vitiligo, doença de Hashimoto,
hipoparatireoidismo, Addison e candidose mucocutânea) sugere um processo auto-imune antibulbo piloso.
O início é brusco, com alopecia em áreas circulares ou ovais, única ou múltiplas, sem outras
alterações. A placa é lisa e brilhante, apresentando em sua borda pêlos peládicos (são pêlos facilmente
removíveis e com afilamento em direção à raiz – semelhante ao ponto de exclamação). A sua presença indica
atividade da doença. Os cabelos brancos são frequentemente poupados. Diagnósticos diferenciais incluem
Sífilis secundária (aparência de “roído de traça”), Tinha do couro cabeludo, Tricotilomania, Alopecia por tração,
lúpus eritematoso cutâneo crônico em fase inicial e Alopecia androgenética.
A evolução é, em regra, favorável, ocorrendo repilação entre 2 e 6 meses. As ocorrências repetidas e
o acometimento de outras áreas (barba, sobrancelha e cílios) são eventos de pior prognóstico. Depressões
puntiformes das lâminas ungueais podem acompanhar os casos.
Dentre as modalidades de tratamento destacam-se:
1. Formas localizadas:
infiltrações com corticóides;
drogas sensibilizantes (p. ex., difenciprona, antralina);
fotoquimioterapia – exposição ao ultravioleta após uso de psoraleno;
crioterapia.
Alopecia Androgenética
A Alopecia androgenética (AAG), referida como padrão de queda de cabelo masculino ou calvície
comum no homem e padrão de queda de cabelo feminino na mulher, afeta pelo menos 50% dos homens com
50 anos e até 70% dos homens no final da vida. Estimativas da prevalência nas mulheres sugerem que 6% das
mulheres até 50 anos são afetadas, aumentando essa proporção para 30 a 40% em mulheres com 70 anos ou
mais. A perda de cabelos é hereditária, dependente de andrógenos e tem um padrão definido. Os folículos dos
cabelos geneticamente predispostos são alvos para o estímulo androgênico causar a sua miniaturização,
levando à substituição gradual dos fios terminais (pigmentados e grossos) por fios despigmentados e finos.
Como resultado, há um progressivo declínio na densidade de fios visíveis no couro cabeludo. Enquanto o
padrão masculino de AAG é caracterizado pela típica recessão bitemporal e calvície no vértice, na mulher
ocorre um afinamento difuso na parte superior e manutenção da linha do cabelo frontal.
O mecanismo hereditário é pouco conhecido. Maiores avanços encontram-se na elucidação do
metabolismo androgênico na patogênese da AAG. O processo dependente de andrógenos é causado sobretudo
pela ligação da di-hidrotestosterona (DHT) ao receptor de andrógenos (RA). A área predisposta do couro
cabeludo apresenta altos níveis de DHT e expressão aumentada de RA nos folículos pilosos. A conversão de
testosterona para DHT pela enzima 5-alfa-redutase tipo II desempenha o papel central na gênese da AAG.
As formas de tratamento são descritas a seguir.
Tratamento Tópico
Minoxidil: produz diminuição da fase de latência, engrossamento do fio e aumento o tempo da
fase anágena;
alfaestradiol: aumento da produção de 17-betaestradiol pela testosterona, com consequente
diminuição de DHT;
progesterona: utilizado na AAG feminina.
Tratamento Sistêmico
Finasterida: inibe a ação da 5-alfa-redutase tipo II existente na papila do pêlo, próstata e aparelho
geniturinário, diminuindo a conversão de testosterona em DHT;
dutasterida: inibe a ação dos dois subtipos de 5-alfa-redutase; em estudos iniciais, parece ser
superior à finasterida.
Em mulheres, a finasterida só pode ser usada na pós-menopausa devido aos efeitos teratogênicos da
droga nos fetos masculinos. O seu uso é controverso na literatura, com resultados negativos e positivos na AAG
feminina.
Tratamento Cirúrgico
Transplante de cabelos (cirurgia restauração capilar): quando bem indicada, apresenta bons
resultados.
Sífilis
Na Sífilis secundária, há uma perda de cabelos em “clareiras”, que pode constituir a queixa principal. A
presença de micropoliadenopatia, dados de história e sorologia confirmam o diagnóstico.
O tratamento consiste em penicilina benzatina no total de 4.800.000 unidades (divididas em 2 injeções
com intervalo de 1 semana).
Alopecias Cicatriciais
Nas alopecias cicatriciais, há ausência ou diminuição dos pêlos pela destruição dos folículos por
processos inflamatórios, geralmente não-infecciosos. São definitivas e acompanham-se de atrofia cicatricial
(Quadro 1 e Tabela 6).
CONCLUSÕES
As afecções dos cabelos e couro cabeludo podem comprometer a qualidade de vida do paciente.
O médico generalista pode reconhecer as principais patologias dos cabelos, fornecendo a
primeira orientação ao paciente.
As alterações dos pêlos em doenças sistêmicas pode complementar o raciocínio clínico para
elucidação diagnóstica.
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